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[Sessão Estratégica] IMPLEMENTANDO A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS Um Relatório Sumário da FÓRUM INTERNACIONAL SOBRE GLOBALIZAÇÃO (IFG) e FUNDAÇÃO TEBTEBBA 27-28 de Outubro de 2008 Washington, DC

IMPLEMENTANDO A DECLARAÇÃO UNIVERSAL … 2009; a Cúpula Global dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas em Anchorage, Alasca, em abril de 2009; o Fórum Permanente da ONU

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[Sessão Estratégica]

IMPLEMENTANDO A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS

DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS

Um Relatório Sumário da

FÓRUM INTERNACIONAL SOBRE GLOBALIZAÇÃO (IFG)

e

FUNDAÇÃO TEBTEBBA

27-28 de Outubro de 2008 Washington, DC

AGRADECIMENTOS

Produção e Pesquisa: Victor Menotti, Claire Greensfelder,

Laura Delman, Katie Damasco, Alexis Halbert, Nia MacKnight

Tradução: Ana Paula Aragão, Rodrigo Garcez Guimarães, Sonia Gonçalves, Esther Neuhaus

Editora: Katherine Wright

Projeto: Laura Delman

Data de Publicação: Janeiro de 2009

Produzido e publicado pelo Fórum Internacional sobre Globalização (IFG)

1009 General Kennedy Avenue, #2 San Francisco, CA 94129 USA

Telefone: +1 (415) 561-7650 Fax: +1 (415) 561-7651 Web: www.ifg.org

O IFG agradece ao Christensen Fund pelo seu apoio em tornar esta reunião possível.

[ R E L A T Ó R I O S U M Á R I O ] I M P L E M E N T A N D O A D E C L A R A Ç Ã O U N I V E R S A L

D O S D I R E I T O S D O S P O V O S I N D Í G E N A S

ÍNDI C E

Histórico e Objetivos 1

Sessão de Abertura 2

Pessoas Indígenas de Apoio Para Ajudar na Orientação 3 da Discussão

ELEMENTOS-CHAVE DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS POVOS 4

INDÍGENAS: APRESENTAÇÕES RELATÓRIOS DE CAMPO: PERSPECTIVAS LOCAIS, GLOBAIS 11

E REGIONAIS

A DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS 15 INDIGENAS E O CAPITAL: AS INSTITUÎÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS (IFIS)

A DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS 21 INDÍGENAS E O LIVRE COMÉRCIO: A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO, ACORDOS BILATERAIS, E O COMÉRCIO GLOBAL DE BIOCOMBUSTÍVEIS

A DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS 29 INDÍGENAS E A CONVENÇÁO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA

INSTITUCIONALIZANDO A PARTICIPAÇÃO INDÎGENA NA CONVENÇÃO-QUADRO 35 SOBRE MUNDANÇAS CLIMÁTICAS DAS NAÇÕES UNIDAS (UNFCCC)

O PROTOCOLO DE KYOTO & O MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO 39 REDD: COMO PODEM NOSSAS PROPOSTAS PROMOVER A DECLARAÇÃO DAS 43

NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS INDÎGENAS? FINANCIANDO UM NEGÓCIO GLOBAL 55 INTERIORIZANDO A UNDRIP EM NOSSAS PRÓPRIAS INSTITUIÇÕES / AÇÕES 65

COLABORATIVAS E AS PRÓXIMAS ETAPAS RESUMO DAS RECOMENDAÇÕES 82

Lista de Participantes 84 Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas 88

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HIS TÓRI CO E O BJ E TI VOS

Em Setembro de 2007, após 25 anos de esforços, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (UNDRIP) por uma votação de 144 a 4. Este foi um momento histórico, no mesmo nível da aprovação da Declaração Universal dos Direitos humanos de 1948. Não apenas finalmente são reconhecidos direitos inerentes aos povos indígenas, mas também a própria Declaração é uma profunda e conceitualmente ousada afirmação com grandes implicações positivas para todos os povos e o planeta. Entretanto, para que a Declaração possa surtir impacto, seus mandamentos devem ser aplicados tão amplamente quanto possível. O propósito da reunião estratégica de 27-28 de outubro de 2008, conjuntamente patrocinado pelo Fórum Internacional sobre Globalização de São Francisco, Califórnia e a Fundação Tebtebba das Filipinas, foi discutir a Declaração e seus princípios, e buscar modos para todos os participantes da reunião, tanto indígenas como não-indígenas, trabalharem no sentido de desenvolver campanhas e programas para atualizar o completo potencial da Declaração. Na reunião, nós discutimos o conteúdo da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas em detalhes colhemos relatórios sobre os esforços atuais para aplicar seus dispositivos no trabalho de organizações não-governamentais (ONGs). Nós também exploramos quais meios adicionais estão a nossa disposição para incluir a Declaração em nosso trabalho ao nível local, estatal, regional, nacional e internacional. Atenção especial foi dada a negociações internacionais importantes que ocorrerão em breve, inclusive os debates de políticas no âmbito da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), a Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CDB), o Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas (UNPFII), o Banco Mundial, e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Também identificamos algumas reuniões globais chave que acontecerão em 2009 como oportunidades para os povos indígenas e a sociedade civil trabalharem em conjunto para encontrar agendas comuns que apóiem os objetivos de ambos mutuamente. Tais reuniões incluem o Fórum Social Mundial em Belém, Brasil, em janeiro de 2009; a Cúpula Global dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas em Anchorage, Alasca, em abril de 2009; o Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas, em maio de 2009, em Nova Iorque, dentre outros eventos. Nós fechamos esta reunião com uma discussão estratégica sobre iniciativas individuais e conjuntas que poderiam ser feitas pelos participantes para apoiar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. O resultado principal de nossa reunião foi um mandato claro para formar uma nova rede de ONGs não-indígenas, em consulta constante com lideranças indígenas internacionais, para estimular e ajudar a coordenar esforços de ONGs não-indígenas para apoiar a implementação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. O Fórum Internacional sobre Globalização aceitou servir como secretariado deste esforço que começa em 2009.

O Fórum Internacional sobre Globalização e

Tebtebba Fundação

21 de Janeiro, 2009

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SES SÃ O D E A B E RTUR A

Victor Menotti do Fórum Internacional sobre Globalização (IFG) deu as boas-vindas a todos os participantes e explicou que o IFG foi formado em 1994 como uma voz de contraponto a corporações e governos que prometeram que a globalização econômica ajudaria os pobres, alimentaria os famintos, e salvaria o meio ambiente. Um momento decisivo no processo de globalização está em curso neste momento, disse. O fracasso do comércio global e das instituições financeiras, combinado com o momento político para um novo acordo global sobre clima e a recente aprovação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, significa que a sociedade civil global tem uma oportunidade histórica para criar um novo sistema internacional baseado no interesse público e em valores universais. Os povos indígenas têm assumido um papel cada vez mais importante no debate sobre a globalização, e Menotti disse que o IFG ajudou dar visibilidade a voz a eles. Na reunião de 1999 da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Seattle, Vicky Tauli-Corpuz, Tom Goldtooth e um punhado de outras lideranças indígenas estava presente com o IFG, mas suas temáticas de trabalho não eram tão visíveis quanto as de outros movimentos sociais nas ruas de Seattle. Imediatamente após o evento, o IFG iniciou seu Programa de Povos Indígenas para ampliar na divulgação de suas perspectivas únicas. Em 2003, após consultas extensivas com lideranças indígenas internacionais, o IFG imprimiu um grande Mapa da Resistência dos Povos Indígenas à Globalização para distribuição pública. Em 2005, o IFG lançou o relatório especial Guerras de Paradigma sobre este mesmo assunto, que foi publicado em 2006 através da Sierra Club Books. Em 2006, o IFG organizou uma aula pública em Nova Iorque para apoiar os 25 anos de campanha para a aprovação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Em 2007, o IFG organizou uma sessão estratégica de emergência para ONGs não-indígenas aliadas, mobilizando votos para assegurar a aprovação da Declaração pela Assembléia Geral da ONU. Agora se trata da implementação, disse Menotti, de forma que a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas de fato tenha incida nas decisões políticas. Ele deu ênfase ao fato de que como o IFG continua seu trabalho para substituir o comércio e as instituições financeiras atuais, e se torna cada vez mais ativo nos processos referentes ao clima na ONU, a Declaração é um instrumento internacional muito importante para orientar a transição da governança global para o futuro. Menotti acredita que os valores indígenas são o antídoto para a visão de mudo industrial que conduz a crise ecológica global. Os grupos não-indígenas trabalhando com lideranças indígenas poderiam ajudar a orientar esta transição global, ele disse. Claire Greensfelder do IFG apresentou perguntas importantes ao grupo, do tipo: “Como a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas vai impactar o nosso trabalho? Como vai mudar o que nós fazemos, e o modo como fazemos o que fazemos?” Ela disse aprová-la foi o primeiro passo, mas agora, implementá-la é o próximo passo. Greensfelder disse que o IFG manteve o tamanho desta reunião em torno de 40 pessoas a fim de realmente promover um diálogo de trabalho. Tom Goldtooth (Diné e Mdewakanton Dakota) da Rede Ambiental Indígena em Minnesota agradeceu o IFG por reunir a todos, e pelo tabaco para as orações. Goldtooth então passou para uma oração para o grupo, em Dakota. Passando adiante na agenda para as Introduções, Claire Greensfelder pediu para os delegados indígenas que se apresentassem.

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PES S OAS I NDÍ G E NAS D E A POI O PA R A AJ U DA R NA ORI E N TA Ç Ã O DA DI SC US SÃ O

Victoria Tauli-Corpuz (Igorot) da Fundação Tebtebba das Filipinas, e atualmente Presidente do Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas (UNPFII), agradeceu ao IFG por ter organizado esta reunião e expressou a importância estratégica deste diálogo em como implementar a Declaração. Ela disse que o trabalho de sua vida foi com organizações comunitárias em aldeias onde as lutas contra barragens, corporações madeireiras, etc. lhe ensinou bastante sobre os direitos humanos Muitos ativistas indígenas, jovens e velhos, foram vítimas de agressões militares, apreensões arbitrárias e detenção, torturas e assassinatos extrajudiciais. Tais fatos a incitaram, junto com outros ativistas, a levar as questões indígenas ao Grupo de Trabalho da ONU sobre Populações Indígenas (UNWGIP), o primeiro organismo da ONU montado em 1982 para receber relatórios sobre violações de direitos humanos de povos indígenas. Na primeira sessão do Grupo de Trabalho, os únicos representantes de povos indígenas presentes, à parte dos norte-americanos, os australianos, o Saami e os Maori, eram um Igorot das Filipinas e os Juma de Bangladesh. Tauli-Corpuz tinha sido enviada pela organização dela para trabalhar com o rascunho da Declaração que começou em l985. Em 1994 ela foi convidada a ser membro do IFG. Joseph Ole Simel (Maasai) da Organização Mainyoito para o Desenvolvimento Pastoral Integrado no Quênia expressou sua gratidão aos organizadores desta reunião, e concordou que esta reunião é estratégica e oportuna porque faz com que povos indígenas e não-indígenas venham a pensar conjuntamente como um time, e desenvolver estratégias baseadas na solidariedade. Ole Simel disse que, na África, a adoção da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas era a parte fácil; sua implementação será mais dura. No Quênia, disse ele, um país colonizado pelo Império Britânico em meados dos anos sessenta, e onde ambos investidores europeus e americanos ainda estão de olho nas terras, agora para a produção de biocombustíveis, as populações indígenas continuam ameaçadas. Ele disse que esperava adquirir um senso melhor de “como nós nos movemos para promover a implementação da Declaração, tanto em nível local, como em nível internacional”.

Chefe Kokoi, também conhecido por Tony James (Wapichan), da Associação dos Povos Ameríndios da Guiana, América do Sul, falou da importância das florestas para o seu povo, e para todas as pessoas. “Eu tenho uma obrigação para com meus netos, eu tenho a obrigação de lhes ensinar como caçar, de lhes ensinar como pescar, de lhes ensinar a serem capazes de usar as folhas, os galhos, as raízes, a copa das árvores para sobreviver. Nossa conexão com o meio ambiente é tão diferente do que está por aí. Vocês têm supermercados, vocês têm universidades, e vocês têm todas estas outras coisas. Nós temos as nossas, também, lá. Temos o nosso supermercado - nosso rio é o nosso supermercado porque se queremos comer peixe, sabemos onde pegá-lo. E se estivermos nos sentindo doentes, vamos à floresta para conseguir medicamentos. Se quisermos ensinar para as nossas crianças como sobreviver como pessoas, temos que ter certeza que a nossa floresta, o nosso meio ambiente, estão intatos, tal como hoje.” Ele disse que a implementação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas vai ajudar as pessoas a entender que eles têm os mesmos direitos que qualquer um. Estes direitos incluem o direito a uma vida saudável, o direito a passar seus conhecimentos adiante, e o direito à terra. Juan Carlos Jintiach (Shuar) da Aliança Amazônica falou sobre a responsabilidade de ter sido eleito co-diretor de uma organização que junta tanto grupos indígenas como não- indígenas, e reúne as lideranças dos movimentos indígena e ambiental na Amazônia para trabalhar como parceiros iguais para tratar de forma efetiva os desafios enfrentados pela região. A Aliança é governada por um Conselho Diretivo, uma parceria de organizações indígenas reconhecidas e ONGs que definem as prioridades e estratégias da Aliança. Além de proporcionar para os seus membros informação e assessoria técnica, a Aliança também garante que as perspectivas dos povos indígenas sejam ouvidas pelos organismos tomadores de decisão ao redor do mundo, incluindo governos e instituições multilaterais. Jintiach disse que a importância tanto do conhecimento tradicional como científico deveria ser tratada nesta reunião.

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ELE M E N TO S- CH AV E DA D ECL AR A ÇÃ O DAS NA ÇÕ ES UNI DA S S OB RE OS DIR EI TO S D OS P OVO S

INDÍ G E NAS : AP RE SE N TA Ç Õ ES

Jerry Mander do IFG disse que espera focar naquilo que está de fato na Declaração de ONU, e como pode ser usado. Ele disse, “A aprovação da Declaração pela ONU depois de um quarto de século foi verdadeiramente um evento único na história dos direitos humanos, mas foi um evento único do qual a maioria das pessoas nunca ouviu falar. Nem o debate feroz sobre a Declaração durante 25 anos, nem sua aprovação, receberam qualquer atenção por parte dos maiores veículos de imprensa dos Estados Unidos, Reino Unido ou muitos outros países. Este é um sinal continuado da invisibilidade das causas indígenas neste país. Como resultado, mesmo aqueles com interesse em política têm pouco conhecimento do que o documento é, ou seu impacto potencial”, disse Mander e declarou que esta é uma situação importante que devemos reverter. Disse então, “A Declaração é um documento único, profundo e conceitualmente ousado, o qual merece grande estudo e profunda discussão, merece ser lido e relido muitas vezes.” Mander disse que a Declaração formalmente tem a intenção de codificar pela primeira vez em um organismo internacional um conjunto de direitos e conceitos inerentes para os 350 milhões de indígenas no mundo, os quais são pelo menos equivalentes ao padrão prévio para estes assuntos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948. Mander disse então, “Entre os 24 parágrafos preâmbulares e 46 artigos operacionais encontramos muitos que tratam e tentam diretamente superar as situações difíceis que os povos nativos enfrentaram durante o último milênio. Várias partes da Declaração, por exemplo, reconhecem pela primeira vez oficialmente os direitos dos povos indígenas que precederam os Estados-nação e territórios por séculos, e que continuam ocupando tais lugares, e que deveriam decidir o que acontece com as suas próprias terras ancestrais. Quer dizer, quando e como o desenvolvimento deveria acontecer e no benefício de quem, e nos termos de quem. Em alguns lugares são chamados direitos anteriores ou direitos aborígines.” Mander notou que alguns países, notavelmente do grupo CANZUS, ou seja, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, e, Estados Unidos, lutaram fortemente contra este documento, desafiando sua autoridade e enfraquecendo potencialmente a

capacidade de um Estado-nação a desenvolver recursos sempre e onde julgar apropriado. Ele disse que desafiar a freqüentemente arbitrária, entretanto legal, autoridade do Estado sobre terras indígenas pode ter sido um dos pontos principais para criar uma nova ferramenta para a proteção de terras indígenas. Mander disse, “Em outro caso, no preâmbulo e de novo repetidamente nos artigos, os povos indígenas são reconhecidos como “povos distintos” nos termos do significado da carta das Nações Unidas e do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos.” Mander disse que agora, pela primeira vez, existe o reconhecimento do direito da autodeterminação para os povos indígenas: “o direito de determinar livremente seu status político e buscar livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural e o direito de definir livremente a sua relação com o Estado num espírito de coexistência, benefício mútuo e respeito.” Explicou, então, que durante as negociações este direito incomodou muito alguns países de recursos escassos que estavam preocupados que seus povos indígenas pudessem alcançar a soberania e então separar-se. Ele disse que muitos povos indígenas não consideram ser parte de qualquer Estado-nação. Mander disse que a Declaração menciona especificamente o direito de nacionalidade, economia, e auto-governança, de fazer leis e criar instituições como bem lhes pareça, de estabelecer sistemas legais e judiciais, idioma, escolas, e mídia (e isto é um ponto muito importante), e de proteger sua arte e cultura da exploração externa e afins, inclusive de intervenções militares. Ele disse também que garante o direito de defender o conhecimento indígena sobre plantas e remédios, e de proteger a propriedade intelectual, a qual está constantemente agredida por corporações agrícolas e farmacêuticas globais. O documento lista muitos outros direitos específicos dos povos indígenas. Por exemplo, controlar o uso da água, da terra, das sementes, do gelo e todos os outros recursos. Também cita especificamente materiais perigosos, ainda outro assunto importante para os povos indígenas, cujas terras se tornaram um lixão para tóxicos, urânio e outros dejetos perigosos de todos os tipos. Todos estes direitos se encontram

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entre dúzias de outros nomeados especificamente no documento. Mander disse, “Talvez o direito mais importante no contexto global presente seja o direito do Consentimento Livre, Prévio e Informado. Durante séculos, as terras indígenas foram invadidas e exploradas sem o mínimo esforço para consultar ou ganhar a aprovação de quem viveu lá durante milênios. Ainda hoje, as corporações nos países usam meios tão variados como a intervenção militar, negociações-duplas, e, recentemente, regulamentações da OMC para negar aos povos indígenas o controle sobre seus recursos tradicionais. O amplo reconhecimento do direito do Consentimento Livre, Prévio e Informado torna sumamente difícil para corporações, Estados-nação ou exércitos continuarem agindo unilateralmente em terra indígena. A Declaração seguramente é o primeiro acordo internacional relevante para garantir especificamente os direitos indígenas coletivos – o direito de um povo – em adição aos direitos indígenas individuais. Logo, validando a governança coletiva tradicional indígena, a propriedade coletiva, e conceitos de decisão coletivos.” Mander mostrou então que este conceito fantástico é mencionado de forma específica várias vezes no documento. Em outros locais, protege os lugares religiosos e culturais, artefatos, idiomas, e artes, e o direito para apreciar e viver de uma maneira tradicional, inclusive o direito de escolher e praticar economias de subsistência. Mander asseverou, “Este último ponto não chamou atenção suficiente. Também é completamente único neste documento e muito importante para a proteção das práticas de caça e pesca, como também da agricultura, e também para a proteção do direito de não se ´desenvolver´ e de deixar minerais no chão, árvores na terra, e de escolher não se tornar uma parte de uma economia global desesperada pelos últimos recursos do mundo. Isto tudo está se tornando sumamente importante para lugares na América do Sul, em particular Equador, Bolívia, e outros.” Ele defendeu então, “Estes artigos e vários outros garantem proteções avançadas para os povos indígenas além de qualquer coisa que os precedeu e vem também protegendo provavelmente milhões de milhas quadradas de terra as quais poderiam ter sido saqueadas pela economia global atual conduzida por corporações e atrás destes recursos. Mander falou então sobre a votação da Declaração, e como depois de 25 anos de obstáculos, a votação para aprovação na Assembléia Geral da ONU foi de 144 a

4, com 11 abstenções. Os votos de “não” vieram predominantemente de países que dependem de terras indígenas para a extração de recursos: os Estados Unidos, Austrália, Canadá, e Nova Zelândia; embora os últimos dois sejam conhecidos pelas suas posições positivas nas áreas de direitos humanos. Rússia, o Reino Unido, China, Botsuana e Namíbia também se opuseram à Declaração em várias fases, mas cederam na votação final, apesar da pressão política particularmente sobre as nações africanas. “A situação dos povos nativos não pode ser separada da crise ecológica do planeta inteiro”, disse Mander. Ele então descreveu o impulso para o crescimento como a base da economia global, tal como os efeitos de expansão continuada na natureza. “A globalização moderna, conduzida pelas corporações, é totalmente dependente da sustentação de uma taxa voraz de crescimento econômico. Alcançar crescimento rápido requer todo uso de recursos naturais, especialmente óleo e gás, água doce, produtos da floresta, pescado dos oceanos, solo e minerais… Tudo se desenvolveu a uma taxa terrível... Muito desta extração de recursos ocorreu em terras indígenas, em geral através de força, fraude ou coerção”. Mander concluiu, “Como resultado deste último século de pilhagem, todos esses recursos estão seriamente ameaçados no momento, levando à crise global de depleção dos recursos”. A idéia fundamental de projetar um sistema econômico global baseado em crescimento econômico ilimitado, mas baseado nos recursos de um planeta finito é incoerente e fadada ao fracasso desde seu momento de concepção. Mander lembrou novamente a situação particular dos povos indígenas, uma porcentagem alta dos quais cuida o que sobrou dos recursos do planeta (alguns dizem até 50% dos recursos que sobram estão situados em terras de povos nativos). “Estas terras são, atualmente, cada vez mais visadas por corporações globais”, disse Mander. Além disso, ele notou que os nativos se tornaram um alvo justamente porque conseguiram durante milênios manterem práticas culturais, econômicas e espirituais que não refletem idéias de crescimento econômico visando o lucro a curto prazo, e assim garantiram que sua terra natal permaneceria como área de abundância física e natural. Muitos povos indígenas vêm rejeitando os modelos de desenvolvimento ocidental, abraçando valores como reciprocidade e relação com a natureza, economias com limites e equilíbrio, e propriedade coletiva da comunidade. “Estes valores são todos

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bem refletidos no documento das Nações Unidas”, disse Mander. Ele também disse que a Declaração da ONU é uma ferramenta crucial para as nações indígenas que lutaram pela sua aprovação durante os últimos 25 anos. Os povos indígenas têm se organizado regionalmente durante os últimos 50 anos para lutar contra barragens, empreendimentos petrolíferos, obras de mineração e a conversão à agricultura industrial, bem como obras em florestas, além de, ultimamente, os biocombustíveis, em todos os continentes. “Eles foram o instrumento de uma conversão surpreendente de quase um continente inteiro para fora da globalização conduzida por corporações. Em todos estes casos, eles lutaram pelos direitos à soberania, auto-governança e padrões de propriedade coletivos… “ disse Mander. Trabalharam para proteger o seu idioma, cultura, e práticas religiosas, particularmente contra os grandes interesses farmacêuticos, e pelo direito de definir quando, se é que em algum momento, serão permitidas remoção de recurso e outras intrusões nas suas terras ancestrais, e sob quais condições (este é o direito do consentimento livre, prévio, e informado, finalmente incorporado pela Declaração da ONU). Mander não crê que as pessoas deveriam lamentar uma possível falta de mecanismos de implementação na Declaração. “É uma declaração de padrões e princípios, como a Declaração de ONU de Direitos Humanos, e os países não podem ignorar isto”, disse Mander. “A aprovação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas cria um conjunto visível de padrões que a comunidade mundial afirma deve ser honrado.” Na realidade, a Declaração já foi citada em decisões judiciais importantes. Mander ressaltou, então, o quão importante foram os esforços de apoio das pessoas presentes para atualizar as expressões específicas da Declaração em todas as negociações internacionais que estão em curso com relação às comunidades indígenas, seja uma discussão com foco em recursos, comércio, ou clima, etc. “No final das contas, a meta é ter a Declaração oficialmente reconhecida e incorporada por países individualmente, como também por governos regionais e locais”, disse Mander. Victoria Tauli-Corpuz da Fundação Tebtebba, e atualmente presidente do Fórum Permanente da

ONU sobre Assuntos Indígenas (UNPFII), apresentou então uma avaliação rápida da história de como a Declaração foi adotada e o papel futuro das ONGs em apoiar a sua implementação. Ela explicou que as sementes da Declaração foram plantadas no início dos anos 1920, quando o chefe Cayuga Deskaheh, das Seis Nações do Iroquois no Canadá, foi até a Liga das Nações para se queixar da violação pelo Canadá de direitos de tratados para os povos indígenas. Os representantes nativos foram afastados da Liga precisamente porque os povos indígenas não possuíam reconhecimento como nações. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919, abordou a escravidão em minas de povos indígenas no Peru e Bolívia, e assuntos indígenas começaram a receber mais atenção internacional. Uma pesquisa subseqüente da OIT levou à Convenção 107, a qual focalizou em povos indígenas e tribais. Até aquele momento, a solução proposta para assuntos indígenas era assimilar e integrar os povos indígenas nas sociedades dominantes, mas os povos nativos lutaram contra isto. Em 1971, a ONU comissionou um estudo especial para tratar o assunto da discriminação contra populações indígenas. Para implementar algumas recomendações expressadas em 1981 pelo Estudo Martinez-Cobo sobre a Situação da Discriminação contra Povos Indígenas e pela Conferência de ONGs sobre Povos Indígenas das Américas, a Comissão das Nações Unidas sobre Direitos Humanos estabeleceu o Grupo de Trabalho da ONU sobre Populações Indígenas em 1982. Este organismo designou cinco peritos independentes para verificar o desenvolvimento em territórios de povos indígenas, e esboçar um padrão internacional para proteger os direitos dos povos indígenas. O grupo de trabalho envolveu números crescentes de povos indígenas, especialmente quando a ONU montou um Fundo Voluntário para a participação de povos indígenas neste organismo. Em 1993, um rascunho da Declaração foi adotado pela Subcomissão de Prevenção da Discriminação e Proteção de Minorias. Isto foi submetido à Comissão de Direitos Humanos que estabeleceu em 1995 o Grupo de Trabalho da Comissão para elaborar um rascunho de Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas. No primeiro dia da Primeira Sessão deste Grupo de Trabalho, foi informado aos povos indígenas que uma vez que aquele era um processo

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intergovernamental, eles não teriam direito à voz. “Eu estava nesta primeira reunião, e nós nos retiramos, porque nós achamos isto inaceitável, apenas escutá-los negociando sem podermos contribuir com nossas visões. Nós dissemos ao Presidente, o Embaixador do Peru, já que estavam sendo negociados nossos direitos, nós exigíamos ter uma voz igual à dos membros da ONU na Comissão de Direitos Humanos. Se isto não fosse concedido, nós nos retiraríamos de todo o processo e a Comissão pareceria ridícula mantendo os proprietários dos direitos fora de um processo que estaria negociando seus direitos, disse Tauli-Corpuz. “A Presidência pediu um intervalo, consultou com os Países se eles concordavam em mudar as regras de participação e permitir a nos ter uma voz igual à deles”. Isso foi uma mudança enorme na ONU, a qual foi viabilizada pelo ativismo dos povos indígenas. Duas sessões (2006 e 2007) levaram a um texto, sobre o qual se concordava em linhas gerais. A última sessão concordou que a versão final seria feita pela Presidência, considerando-se todas as mudanças propostas. Isto seria distribuído para os grupos e para os Estados-membros para as mudanças finais, finalizados pela Presidência. “Isto foi submetido ao Conselho de Direitos Humanos”, disse Tauli-Corpuz. “Em 2006, um dos primeiros atos do Conselho de Direitos Humanos foi adotar o Texto do Presidente que foi em seguida levado para a Assembléia Geral da ONU.” Então o mesmo foi levado à Assembléia Geral, onde os países africanos protestaram contra o que se declarava no texto, afirmando que como eles não haviam participado das negociações desde o princípio, gostariam de mais tempo para discuti-las. O Grupo de Trabalho Africano sobre Comunidades Indígenas e Populações, um organismo no âmbito da Comissão Africana de Direitos Humanos e Direitos dos Povos desempenhou um papel crucial focalizando as preocupações do Grupo Africano de Países. “Junto com o Grupo dos Povos Indígenas Africanos, o Grupo Global e eu, como Presidente do Fórum, nos encontramos com alguns negociadores africanos e também com os co-patrocinadores para a adoção da Declaração para diminuir a resistência do Grupo Africano até que finalmente os trouxemos para o nosso lado”, disse Tauli-Corpuz Foram feitas mudanças na Declaração para acomodar as preocupações dos africanos, como podemos ver nos 24 parágrafos do preâmbulo e nos 46 parágrafos

operacionais. O último artigo, o Artigo 46 foi um dos artigos de composição de interesses. Este artigo declara que a integridade territorial de Estados não será violada pela Declaração, mas que os Estados têm que respeitar o Direito Internacional dos Direitos Humanos. No dia 13 de setembro de 2007, a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas foi aprovada pela Assembléia Geral da ONU. Não apenas a própria Declaração é importante, mas “o processo de criação da própria Declaração realmente fortaleceu os povos indígenas mundialmente. Se não fosse pela Declaração, nós não teríamos tido a chance de nos unirmos entre nós mesmos”, disse Tauli-Corpuz. “Ninguém acreditou que a Declaração pudesse ser adotada porque ela é muito forte, e refere-se a direitos coletivos, como o direito à autodeterminação, direitos coletivos à terra, recursos e territórios, direitos culturais, entre outros.” A Declaração já apoiou reivindicações de direitos à terra por povos indígenas em Belize, Bolívia, e Suriname. “Cada vez mais, a Declaração está se tornando uma parte do direito consuetudinário, porque países estão usando isto como parte das constituições deles e de decisões judiciais”, disse Tauli-Corpuz. “É assim que ela se torna direito consuetudinário internacionalmente.” Tauli-Corpuz também cita o Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas como uma vitória para os povos indígenas. O Fórum Permanente é atualmente responsável pela implementação de assuntos relacionados à Declaração e agirá como um organismo do tratado. Além disso, o Fórum Permanente tratará dos assuntos dos povos indígenas e mudanças climáticas, seus esforços de adaptação, e impactos de medidas de mitigação, como também de um mapa para os povos indígenas no caminho da Convenção para Copenhague e além. O Fórum Permanente também terá um seminário especializado internacional sobre indústrias extrativas, o qual acontecerá em março de 2009. Todos estes esforços servirão para a implementação da Declaração.

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DISCUSSÃO

Trevor Stevenson da Aliança Amazônica declarou que a experiência na Amazônia reforça as lições aprendidas na campanha vitoriosa para a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, porque “construir a unidade, a organização, e a efetividade do movimento indígena é a chave para poder avançar”. Ele disse que corporações e governos usam táticas de divisão para minar as forças que os movimentos indígenas estão construindo, e a Declaração poderia ser usada como um modo para combater esses ataques. “Nós temos visto muitos esforços para dividir a liderança do movimento indígena, determinar quem são as lideranças, e o que estas lideranças fazem”, disse Stevenson. Ele advertiu que tanto os amigos com boas intenções, como também grandes organizações conservacionistas e corporações, às vezes, pagam as lideranças indígenas para agir como seus representantes dentro do movimento indígena. Ele também encorajou as organizações a rejeitar as táticas de divisão desses adversários dos direitos indígenas usando os Artigos 32 e 34 da Declaração. O artigo 32 declara: os “Estados deverão consultar e cooperar de boa fé com as preocupações dos povos indígenas pelas suas próprias instituições representativas para obter seu consentimento livre, prévio, e informado. O Artigo 34 estatui que “os povos indígenas têm o direito de promover, desenvolver e manter suas estruturas institucionais". Estes artigos também promovem a capacitação dentro das organizações indígenas. Victoria Tauli-Corpuz respondeu declarando que “o processo elaborar um rascunho e negociar a Declaração levou ao desenvolvimento da confiança entre os diferentes membros do grupo. Houve conflitos e tensões, mas foram resolvidos pelo caminho, porque havia uma meta comum a qual tinha que ser alcançada com a cooperação de todos. Durante todo este processo nós pudemos discernir quem são aqueles que representam os indígenas internacionalmente. Nas Filipinas, eles concordaram que independentemente de políticas individuais, a base de sua unidade é a Declaração. Ela alertou contra nomear qualquer pessoa indígena como marionete de organizações e interesses, e identificou

isto como uma prática potencialmente divisionista. Além disso, ela apoiou o respeito às pessoas indígenas dentro de seus muitos papéis como representantes, mas também apontou, “Talvez o que estamos tentando fazer agora é apenas melhorar, em termos de tentar apoiar os nossos próprios representantes indígenas". Marcos Orellana do Centro para Direito Ambiental Internacional (CIEL) compartilhou suas observações sobre os “estudos legais” da Declaração. “É dito freqüentemente que a mesma não é auto-executável e que os Estados não estão obrigados a obedecê-la. Eu não penso que isto é particularmente apropriado ou útil”, disse Orellana. Para combater isto, declarou Orellana, “A Declaração pode ser vista como consuetudinária como primeira abordagem.” Ele achou que a distinção entre a velha Declaração, ou revisões específicas da velha Declaração, era muito importante. “Em segundo lugar, este não é o primeiro instrumento reconhecido como conferindo direitos às lutas dos povos indígenas”, declarou Orellana. “O reconhecimento desses direitos em outras convenções de direitos humanos ou em outros instrumentos internacionais pode informar como um meio de interpretação com relação à Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas.” Em terceiro lugar, ele se referiu ao princípio de não-regressão como um aliado na implementação: “que Estados não podem falhar em reconhecer implementar direitos já reconhecidos sob pretexto de seus outros instrumentos que lhes reconheceram menos, ou de forma reduzida.” Ele citou que o ILO rejeitou o Artigo 169 porque violou a constituição e o princípio de não-regressão. Tom Goldtooth concordou que muitos artigos diferentes podem ser captados ao nível nacional para “fortalecer esses aspectos de direitos de tratado, ou nossos direitos consuetudinários, nos Estados Unidos e no Canadá.” Ele lembrou a alerta de Stevenson que a indústria pode trabalhar com os governos para co-optar comunidades indígenas, o que é vinculado aos assuntos históricos de colonização e opressão internalizada. Goldtooth notou, “Muitos de nós que são da comunidade e trabalham para construir uma comunidade sustentável e saudável sabem que não é trabalho fácil as lideranças equilibrar este tipo de coisa. É trabalho duro.” Ele encorajou o diálogo aberto e ativo entre as comunidades indígenas e as ONGs para evitar armadilhas políticas e criar

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colaborações claras. “Tudo se resume ao relacionamento”, disse Goldtooth. Victor Menotti do IFG pediu para alguém do grupo descrever os diferentes espaços institucionais ou processos políticos os quais poderíamos utilizar para adquirir impulso para implementar a Declaração. A Bolívia está adotando a Declaração como lei nacional e uma decisão de um tribunal em Belize que invocou a Declaração foram avanços importantes. “Mas para divulgar a mesma ainda mais e torná-la uma ferramenta facilmente acessível, onde podemos encontrar esses diferentes espaços e processos onde podemos, de fato, obter impulso dos diferentes princípios da Declaração?” perguntou Menotti. Juan Carlos Jintiach da Aliança Amazônica respondeu a comentários anteriores dizendo, “Às vezes, o governo faz contratos com algumas lideranças indígenas convencendo-as e corrompendo-as com suas próprias políticas. Eles sabem como enganar as pessoas.“ Ele espera que as ONGs ajudem as pessoas indígenas a identificar coerção e corrupção dentro destas negociações questionáveis. Além disso, ele disse esperar que as ONGs ajudassem os grupos indígenas que estão lutando contra a mineração e concessões de petróleo, mas não têm os fundos ou apoio, e não sabem usar recursos de mídia. “Temos que assessorar as alianças legítimas e organizações para trabalhar junto”, disse Jintiach. Victoria Tauli-Corpuz disse, “Na minha visão, qualquer Declaração será um documento vivo se houver um conjunto de cidadãos reivindicando sua implementação.” Ela comparou a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas à Declaração Universal dos Direitos Humanos em termos de seus princípios básicos. Convenções que são legalmente coercitivas normalmente seguem a aprovação de declarações, ela explicou. Tauli-Corpuz chamou a Declaração “um instrumento internacional que define os padrões mínimos que deveriam ser observados para assegurar que os direitos dos povos indígenas estão sendo respeitados e protegidos.” Ela rebateu argumentos anteriores do Banco Mundial declarando, “Agora que há uma Declaração, instituições não podem se eximir de usá-la como um padrão. De fato, agora há uma tênue linha de divisão entre convenções e declarações, porque a Declaração Universal dos Direitos Humanos se tornou lei consuetudinária.”

Por conta da linguagem usada em documentos de direitos humanos, Tauli-Corpuz disse que “talvez parte da Declaração seja legalmente coercitiva, porque muito disto já é encontrado nas convenções que já foram adotadas.” Além do mais, ela declarou que agora a Declaração está influenciando todas as outras políticas que estão sendo desenvolvidas por outras agências. “Eles surgiram agora com uma agência chamada Grupo de Desenvolvimento da ONU, o qual … será um guia em nível local para assegurar que quando eles criem sua própria estratégia e programas nacionais, [eles] realmente cairão sobre essas diretrizes [da Declaração]”, disse Tauli-Corpuz. Ela mencionou várias conferências que criam espaços para a discussão da implementação da Declaração, como a Conferência do Sudeste Asiático dos Povos Indígenas sobre Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas (REDD) de novembro de 2008, seguida por uma conferência global sobre REDD. Haverá seminários durante o Fórum Permanente de 2009 viabilizado por facilitadores de processos regionais para ajudar os povos indígenas a identificar seus próprios indicadores para bem-estar, sustentabilidade e pobreza. “Queremos desenvolver isto muito fortemente, porque estes também são indicadores de como a Declaração está sendo implementada”, disse Tauli-Corpuz. Respondendo à pergunta de Menotti sobre como ganhar impulso para a implementação da Declaração, ela explicou que o Fórum Permanente da ONU tem um corpo dinâmico, representativo, com amplos recursos para direcionar-se para temas de implementação. “Em março de 2008, o Conselho de Direitos Humanos da ONU designou James Anaya que é indígena e advogado como Relator Especial para Direitos Humanos Indígenas. Seu mandato de seis anos é para monitorar como a Declaração está sendo implementada”, disse Tauli-Corpuz. O Conselho de Direitos Humanos também possui um Mecanismo Especialista para os Direitos dos Povos Indígenas composto por cinco peritos que estão monitorando a implementação da Declaração. Também há uma transversalidade com vários outros organismos no sistema ONU que pode fortalecer a Declaração, como é o caso dos direitos de crianças indígenas para ter educação bilíngüe e não serem levadas para longe de suas comunidades; estes aspectos da Declaração também são apoiados pela

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legislação em defesa dos direitos da infância. Assim, vários comitês existentes e instrumentos, como o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial e o Comitê para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres podem ajudar na implementação da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas. Ela também citou a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) como futuros espaços para mecanismos de implementação. Tauli-Corpuz declarou a necessidade de estabelecer mecanismos na forma de tribunais de povos indígenas e seus aliados para colaborar como peritos independentes em assuntos como a UNCCC ou REDD. Deste modo, países como a Noruega podem utilizar membros do Conselho Indígena Saami para ajudar a monitorar e implementar REDD, que está custando ao governo norueguês apenas US$600 por ano. Devido à troca de poder e a influência crescente de povos indígenas em políticas nacionais… “prevemos que haverá mais conflitos entre povos indígenas e corporações e povos indígenas e Estados”, disse Tauli-Corpuz. Ela á a favor do desenvolvimento destes tribunais como mecanismos que também podem monitorar e tratar destes conflitos potenciais. Jerry Mander do IFG antecipou que haverá batalhas crescentes pelos direitos sobre terras indígenas, para tudo, desde a construção de barragens até empreendimentos petrolíferas, a mineração, indústrias extrativistas, agricultura, a criação de gado e silvicultura, no mundo inteiro. Ele disse, “O fracasso do sistema econômico de hoje em funcionar está baseado em sua confiança continuada na falsa premissa de expansão infinita. Os povos indígenas estão verdadeiramente na linha de frente daquele fracasso, porque é lá onde o sistema tem seu último suspiro pela recuperação de recursos e a dominação de matérias-primas que usará durante seus últimos dez minutos de vida”. Pessoas que são ativas inventando, concebendo e articulando movimentos alternativos e conceitos econômicos alternativos são essenciais para ajudar a recriar um sistema novo. “Isso é um verdadeiro gancho direto com relação aos desejos dos povos indígenas, para que possam tomar suas próprias decisões sobre os recursos em suas terras, controlar o desenvolvimento e fazer uma conexão com as várias alternativas que estão começando a surgir”, disse Mander. O trabalho do IFG continuará focando em novos mecanismos, e ele chamou a atenção para o Manifesto sobre Transições

Econômicas Globais para tratar a presente crise econômica global. Victoria Tauli-Corpuz respondeu que o tema especial do Fórum Permanente da ONU para 2008 é mudança climática; para 2009 é desenvolvimento socioeconômico; e em 2010 será desenvolvimento e identidade cultural. O Fórum Permanente também tem uma rede informal de povos indígenas chamado Povos Indígenas para o Desenvolvimento Auto-determinado que critica o modelo dominante e desenvolve as práticas dos povos indígenas para promover sua própria visão e perspectiva de desenvolvimento “social”. Mas, agora que a bolha da “riqueza virtual” do sistema financeiro global estourou, Tauli-Corpuz antecipa que a China voltará a extrair a “real riqueza” que é encontrada hoje em dia principalmente em territórios indígenas. Leila Salazar-Lopez da Rede de Ação para Florestas Tropicais citou o Artigo 26 da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas que se refere aos direitos dos povos indígenas a terras e territórios que eles têm ocupado durante os milênios, como um lugar fértil para ação. “O que realmente importa do meu ponto de vista, tendo trabalhado na Amazônia por tantos anos…[é] como podemos apoiar o direito dos povos indígenas a adquirir sua terra”, disse Salazar-Lopez. Títulos de terra são a fronteira para verdadeiros direitos de consentimento livre, prévio, e informado, e são “uma das coisas essenciais que os povos indígenas precisam para poder resistir ao governo e às corporações”. Quando ela se dirigiu recentemente a acionistas na conferência do Conselho da Interfaith sobre Responsabilidade Corporativa, as pessoas perguntaram sobre o consentimento livre, prévio e informado e queriam informação para levar de volta às corporações das quais possuíram ações. “Nas reuniões que eu tive durante o último ano com os gigantes da soja ADM, Bunge, e Cargill, eu posso lhes falar que nenhum dos gerentes de responsabilidade corporativa ou vice-presidentes de responsabilidade tinha qualquer idéia do que é o consentimento livre, prévio e informado, de forma que é algo que precisamos ensinar a estas pessoas, e trabalhar com acionistas como aliados para produzir resoluções especificamente com relação ao consentimento livre, prévio e informado”, disse. Salazar-Lopez disse que “o nosso advogado deveria encontrar modos diferentes para impetrar processos.” O Artigo 28 que identifica os direitos dos

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povos indígenas para reparação e restituição poderia ser usado para reparações por danos causados por corporações. Daphne Wysham do Instituto para Estudos Políticos disse que REDD é “particularmente controverso” entre as comunidades indígenas e as ONGs. Ela propôs, “se nós pudéssemos fazer do título de terra um precursor para qualquer discussão sobre REDD, então poderíamos chegar a um consenso.” Wysham mostrou que títulos de terra fazem parte da Declaração, mas não de REDD. Ela questionou, também, a possibilidade de fiscalizar o Banco Mundial nos termos da Declaração quando “encontramos tão poucas oportunidades para fiscalizá-los, mesmo quanto às suas próprias diretrizes”. Wysham perguntou se algum advogado na sala conhecia um caso em que o Banco Mundial tinha sido forçado com sucesso a cumprir sequer uma declaração ou convenção da ONU. Ela identificou o momento de agir contra o Banco Mundial em muitas questões internacionais, inclusive na convenção do clima, como o desafio maior, e expressou a necessidade de achar um caso legal que pode apoiar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Chefe Kokoi expressou preocupações sobre as relações entre as ONGs do comércio e da indústria e os governos no que tange aos direitos dos povos indígenas. Ele sentia que estas ONGs eram cúmplices dos governos na violação dos direitos indígenas e

que deveriam ser responsabilizadas pelo papel que desempenham. “Elas têm uma relação com o governo na qual poderiam dizer 'Ei, você está violando Artigo 32 da Declaração da ONU, assim nós nos recusamos a trabalhar com você neste projeto a menos que você inverta sua decisão',” disse Kokoi. Ele disse esperar que a Declaração da ONU pudesse ajudar a responsabilizar as ONGs do comercio e da indústria ao nível nacional. Roman Czebiniak de Greenpeace International fez um comentário sobre a questão da implementação, dizendo que sempre é “um assunto complicado em conversações internacionais”. Ele sugeriu que o grupo encontre algum modo para se manter atualizado e informado no assunto. “Podemos cobrir a Convenção de Clima, e o Banco Mundial, e os pontos focais-chave onde a discussão política vai acontecer, onde vai ter dinheiro, e como investimentos são feitos nos países em desenvolvimento”, disse Czebiniak. Ele urgiu os outros a identificar os elementos cruciais da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas que devem ser integrados em nosso trabalho, apontando que deve haver pressão em algumas disposições chave ou linguagem dentro das negociações de clima ou leis governamentais que se referem à necessidade de implementar a Declaração. Ele insistiu o grupo a identificar uma linguagem que seria importante incluir em legislação e financiamento bancário.

REL A TÓRI OS D E C AMP O: P ERS PE C TI VA S LO C AIS , GL OB AI S E RE GI O NAI S

Joseph Ole Simel (Maasai) da Organização Mainyoito para o Desenvolvimento Pastoral Integrado no Quênia disse que cabe aos próprios povos indígenas entender a Declaração se é para a mesma ter sucesso, e que o desafio de informar às pessoas sobre a Declaração deve ser tratado através de educação. Ole Simel vê “a implementação a um nível local, onde as pessoas exigem que o governo respeite seus direitos, e a um nível nacional onde o governo queniano está trabalhando agora na constituição. Os povos indígenas estão trabalhando em conjunto para ver como aquela constituição pode aproveitar certos princípios da Declaração.” Outra pergunta que Ole Simel levantou era: “Como o Conselho de Direitos Humanos da ONU vai pedir para o governo que implemente a Declaração?” Ele

explicou a necessidade de mobilizar recursos, de modo que os ativistas possam planejar nos níveis local, nacional e internacional. Atossa Soltani do Amazon Watch disse que os territórios dos povos indígenas contêm entre 70 e 80% de toda a biodiversidade do planeta, e quase um quinto de emissões de gases de efeito estufa globais vem do desmatamento de florestas tropicais. Soltani explicou como as florestas regulam a estabilidade do clima agindo como bombas de calor e bombas de água para o planeta. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas poderia ser usada para lutar por diretos a terra e recursos, salientou. Mas Soltani disse que primeiro há uma necessidade por ferramentas educacionais mais populares, e seminários. “Eles precisam de

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estudos de caso, mais programas de vídeo e rádio como modelos educacionais - porque este realmente é o passo fundamental para mover adiante,” ela colocou. Disse, ainda, que existem avanços visíveis na nova constituição do Equador que consolidou os direitos da natureza, os direitos indígenas a territórios, e os direitos dos povos indígenas a ter suas próprias instituições administrativas. Soltani disse, “A campanha no Peru é um pouco mais desafiadora, uma vez que o governo peruano passou por turbulências, distribuindo mais de 70% da Amazônia peruana para indústrias extrativistas nos últimos três anos.” Casos importantes para assistir são os que envolvem territórios com povos isolados. Apesar de reivindicações legais trazidas à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, disse ela, são necessárias mais estratégias legais tanto em nível nacional, como internacional. Tom Goldtooth da Rede Ambiental Indígena falou das dúvidas que as tribos nativas de índios americanos e do Alaska têm ao levar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas ao Congresso ou aos tribunais. “Há uma urgência para desenvolver materiais educacionais adequados, não só informar nossas lideranças tribais, mas toda a comunidade. Foi essa comunidade tribal que levantou os assuntos de justiça ambiental”, disse. Goldtooth disse que parece haver interesse entre grupos nos Estados Unidos em usar a Declaração. Um exemplo é a Tribo Healing River do Arizona que adotou a Declaração, e o governo tribal está começando a implementá-la. Ele disse, “as pessoas não precisam de aprovação dos poderes do governo dos EUA”. Goldtooth disse que Roberta Blackgoat dos Navajo foi para Genebra para denunciar que os direitos deles tinham sido violados quando ocorreu mineração de urânio em terras Navajo, uma vez que nunca deram sua aprovação para tais atividades, fazendo disto uma violação do princípio do consentimento livre, prévio, e informado da Declaração. Goldtooth disse que as Primeiras Nações do Canadá impetraram um processo contra os governos nacionais e provincianos, dizendo que eles não foram consultados corretamente no desenvolvimento do piche dentro dos seus territórios no norte de Alberta, Canadá. Victoria Tauli-Corpuz explicou como apenas na Ásia, há cerca de 200 milhões de pessoas consideradas indígenas, das quais em torno de 50

milhões estão na Índia. Embora a região possua a maioria dos povos indígenas do mundo, muitos países asiáticos nem mesmo os reconhecem como indígenas. A Índia, por exemplo, reivindica que todas as pessoas na Índia são indígenas. Em agosto de 2008, a Tebtebba co-organizou com o Pacto Asiático dos Povos Indígenas uma consulta na Ásia sobre a implementação efetiva da Declaração. Povos indígenas de 14 países participaram. Eles desenvolveram um programa comum de ação para implementar a Declaração nas áreas de educação, desenvolvimento sócio-econômico, direitos à terra, cultura, direitos humanos, e saúde. Está disponível na página web deles (www.tebtebba.org). Um mês antes disto, uma feira regional de povos indígenas da Ásia foi realizada para celebrar a adoção da Declaração e compartilhar os esforços feitos pelos povos indígenas para implementar a Declaração. Os povos indígenas vieram exibir o trabalho que estão fazendo para implementar a Declaração, seja na área de educação e formação, publicações, desenvolvimento sócio-econômico, saúde, etc. No que concerne o Fórum Permanente sobre Povos Indígenas, Tauli-Corpuz compartilhou passos realizados pelo Fórum para a implementação da Declaração. Todas as traduções da Declaração em língua nacional e idiomas locais podem ser encontradas na página web Web do Fórum (www.un.org/esa/socdev/unpfii), e será logo disponível em vários idiomas. Nas Filipinas, a Tebtebba facilitou a tradução da Declaração aos 3 idiomas principais. Foi traduzida ao nepalês, tailandês, khmer e bahasa indonésio. “Estes são modos ativos de tentar divulgar a Declaração mais amplamente”, explicou. Uma feira de povos indígenas asiáticos celebrou a adoção da Uma consulta em toda a Ásia sobre violência contra mulheres indígenas foi recentemente realizada na índia. Mulheres indígenas consideram todos os artigos da Declaração como relevantes para elas, mesmo que o termo mulheres indígenas só tenha sido mencionado nos Artigos 21 e 22. “É crucial que sejam rwalizadas discussões mais detalhadas sobre os direitos das mulheres indígenas s para elaborar mais profundamente as conexões entre direitos coletivos e individuais e os direitos das mulheres", explicou. Ela também descreveu como a Tebtebba está participando ativamente na revisão da política sobre povos indígenas do Banco de Desenvolvimento Asiático. Ela foi convidada anteriormente pelo Banco

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de Desenvolvimento Asiático (ADB), como Presidente do Fórum Permanente, para falar para as pessoas de administração sênior do Banco sobre consentimento livre, prévio e informado. Por que a política do Banco sobre povos indígenas deveria ir além do consentimento livre, prévio e informado, que está incluído na política do Banco Mundial. Ela informou que haverá uma Cúpula Asiática dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas, a ser realizada na última semana de fevereiro de 2009, em Bali, na Indonésia. Pesquisadores indígenas documentarão medidas locais de adaptação e de mitigação em suas comunidades, e irão compartilhar isto na cúpula. Para concluir, Tauli-Corpuz disse que um guia para mudanças climáticas e povos indígenas está disponível na página web da Tebtebba (www.tebtebba.org). Tom Kruse do Fundo Rockefeller Brothers falou sobre a escalada de hostilidades do governo estadunidense em relação ao governo boliviano do Presidente Evo Morales, o primeiro presidente indígena do país. Na semana anterior, uma nova constituição foi aprovada, incorporando a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Ele explicou como a administração Bush encarava a situação na América Latina atualmente, onde o Presidente Lula da Silva do Brasil representa um governo esquerdista “bom”, e os governos da Bolívia e Venezuela representam os “esquerdistas ruins.” O Presidente Corrêa do Equador apresenta-se também como um governo esquerdista “ruim”. “A diferença principal entre bom e ruim é o grau com o qual um governo faz o que sua população exigiu em políticas macroeconômicas e as relações com agências multilaterais e políticas sobre recursos naturais, disse Kruse. Ele disse que a Bolívia já não desfrutaria acesso isento de direitos aduaneiros aos mercados dos EUA porque a administração Bush disse que eles não estão fazendo o suficiente na guerra dos EUA contra as drogas.” Mas se existe um exemplo gritante na América do Sul hoje de violação dos direitos culturais dos povos indígenas, são as penalidades impostas pelos EUA para o uso da folha de coca. “Isso é a base daquela política, e é isso que empurrou a Bolívia a ser colocada para fora do acesso aos mercados dos EUA, disse Kruse. Ele explicou como o rascunho da constituição reconhece o espanhol como o idioma oficial do Estado, junto a 32 outros idiomas oficiais. O quarto capítulo inteiro contém vários artigos que falam sobre os direitos dos povos indígenas e identifica diferentes concepções

indígenas sobre ética e relações com a terra, refletindo noções de soberania nativa. A constituição atualmente diz que a Bolívia renuncia ao uso de guerra, subscreve-se aos princípios da paz, somente usará violência organizada em sua própria defesa, e nunca permitirá bases de exército estrangeiras na Bolívia. Ruben González da Aliança para Conservação e Desenvolvimento do Panamá explicou como ele ajudou a submeter uma petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre a violação de direitos humanos em comunidades panamenhas. Ele disse que a comissão solicitou uma audiência especial sobre a situação de pessoas indígenas no Panamá. “O governo abriu terras dos povos indígenas para companhias privadas do Canadá, Estados Unidos, e Europa, para atividades de mineração, barragens hidrelétricas e projetos de silvicultura”, disse González. Ele reiterou que existem pouquíssimos mecanismos que permitem aos povos indígenas ou às ONGs a levar companhias privadas para os tribunais. Isso é precisamente porque um dos argumentos principais no caso da Aliança contra o governo panamenho é a negação de justiça e direitos humanos, disse. González também mencionou que as violações de direitos humanos cometidas incluem perseguição pela polícia, prisão das principais lideranças sem alegação de crime, e o confinamento de mulheres e crianças. González disse esperar que usando as regras do Banco Interamericano e do Banco Mundial contra eles, pudessem ser interrompidas as próprias iniciativas de tais instituições. Anke Stock de Mulheres na Europa para um Futuro Comum (WECF) descreveu um novo modelo para a tomada de decisões, fixando novos padrões para acesso à informação e participação pública que podem ser um exemplo útil para os povos indígenas. A Convenção da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE) sobre Acesso à Informação, Participação Pública em Tomada de Decisões e Acesso à Justiça Ambiental foi adotada em junho de 1998. Stock explicou que é o primeiro instrumento legalmente vinculante que garante o acesso à informação, participação pública e tomada de decisão e justiça; 43 Estados membros participaram da Convenção. Ela descreveu como o instrumento inclui uma abordagem baseada em direitos com três pilares. “O primeiro é o pilar da informação, que garante acesso à informação sobre

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projetos ambientais e atividades. O segundo é o pilar da participação pública, que garante a participação pública. E o terceiro é o pilar do acesso à justiça, onde indivíduos aos quais foram negados direitos de informação ou participação pública podem revisar os procedimentos em um tribunal. Stock disse que fóruns internacionais estão atualmente tentando implementar a Convenção de Aarhus, um novo mecanismo que trouxe princípios democráticos à região pan-européia.

DISCUSSÃO Janet Redman do projeto da Rede por Economia e Energia Sustentáveis do Instituto para Estudos Políticos disse que “ao pensar sobre caminhos regionais de olhar para a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, vêm à mente os mercados de carbono, porque todos os bancos regionais (o Banco de Desenvolvimento Asiático, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco de Desenvolvimento Africano, etc.) trabalham com este tipo de esquema nos seus planos para lidar com a mudança do clima”. Ela disse que os mercados de carbono são especialmente restritivos com relação à participação de comunidades locais porque as decisões são tomadas através de mecanismos da ONU com possibilidades muito pequenas de participação, ou então com empresas ou governos nacionais onde a representação não é clara e/ou uma prioridade. Marcos Orellana do Centro para Direito Ambiental Internacional (CIEL) perguntou ao grupo, “Ouvimos falar de corporações, indústrias extrativas, e organizações conservacionistas que possam ser uma ameaça para os povos não-contatados, mas alguém tem informação sobre missionários ou igrejas, ou as diretrizes do Smithsonian ou os princípios científicos que foram usados?” Daphne Wysham do projeto da Rede por Economia e Energia Sustentáveis no Instituto para Estudos Políticos explicou que o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) sofre abusos no mundo inteiro, e defendeu que as ONGs que cometem este tipo de abuso dos direitos humanos devem ser

mencionadas. Wysham disse que muitas Agências de Crédito para Exportação não providenciam nenhuma informação sobre os seus investimentos. “Existe algum questionamento dirigido a estas agências de crédito referente ao seu impacto sobre as mudanças climáticas, e existe algum tipo de esforço para exigir delas transparência?” perguntou. Trevor Stevenson da Aliança Amazônica falou de um caso que aconteceu no Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro onde os grupos de agricultura industrial reivindicaram a propriedade de algumas terras, baseado principalmente no uso que fizeram dela. Ele disse que o Tribunal recentemente adiou uma decisão neste caso, assim James Anaya, o novo Relator Especial das Nações Unidas para Direitos Humanos Indígenas, foi ao Brasil para se reunir com os juízes do Tribunal, citando de forma clara a Declaração da ONU. “Isto teve realmente algum impacto, pois dificultou para o STF revogar a demarcação de terras indígenas, porque tinham recebido uma visita especial do Relator da ONU dizendo que se vocês fizerem isto, vocês estarão desrespeitando a Declaração da ONU que vocês acabam de assinar”, disse Stevenson. Chad Dobson do Centro de Informação sobre Bancos perguntou, “Como podemos mover as discussões progressivas das Nações Unidas para locais como os bancos que controlam o dinheiro?” e disse, “Nas minhas reuniões no Fundo de Investimento do Clima do Banco Mundial, o ator mais importante na sala era a Noruega, seguida de perto pelo Reino Unido. São nestes governos que devemos ficar de olho.” John Fitzgerald da Sociedade para Biologia de Conservação mencionou que a Lei Lacey dos EUA, uma proibição com duração de 100 anos da importação de produtos da vida selvagem colhidos ilegalmente, tinha proporcionado uma grande oportunidade para o movimento. Ele explicou que o Departamento de Agricultura dos EUA está atualmente começando o processo para definir o que significa comercializar madeira que foi cortada ilegalmente ou soja ou outros produtos que são colhidos ou crescem freqüentemente em terras reivindicadas por povos indígenas. Victoria Tauli-Corpuz falou sobre como o Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas das Nações Unidas realiza reuniões com Instituições Financeiras Internacionais, especialmente aquelas que estão

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implementando os Princípios do Equador. Estes são um conjunto comum e coerente de políticas ambientais e sociais e diretrizes que poderiam ser aplicadas globalmente e por todos os setores da indústria. Os bancos signatários são chamados os Bancos do Equador. Nas reuniões realizadas com estes bancos, os membros do Fórum enfatizaram que os bancos deveriam aderir aos direitos da Declaração. Quando eles emprestam dinheiro a governos ou ao setor privado para projetos que impactam territórios indígenas, eles deveriam obter o consentimento livre, prévio e informado de tais comunidades. Ela mencionou a existência de um Representante Especial do Secretário-Geral em Comércio e Direitos Humanos. Esta pessoa é John Ruggie que está cumprindo atualmente o segundo mandato. Ruggie deveria produzir um relatório sobre os direitos dos povos indígenas e corporações, mas ele nunca o entregou. Tauli-Corpuz disse que é importante saber quais são os mecanismos de proteção existentes nos

bancos multilaterais e como estes podem ser usados. Os bancos multilaterais também têm painéis de inspeção, os quais podem ser chamados para investigar projetos que são criticados Os povos indígenas da República Democrática de Congo (RDC, os Pigmeus, protocolaram, por exemplo, uma carta ao Banco Mundial se queixando do desmatamento feito pelas companhias madeireiras financiadas pelo Banco Mundial. O Banco Mundial foi forçado a formar um painel de inspeção que visitou a RDC e recomendou uma moratória ao desmatamento até que fossem implementadas as políticas certas para regular tais atividades. Ela disse, “Esta recomendação levou ao estabelecimento de uma lei nacional sobre florestas que reconhece a necessidade de consultar as pessoas que moram nas florestas como os Pigmeus, antes de qualquer atividade feita nestes locais, a Lei sobre Florestas.”

A DE CL AR AÇ Ã O DAS NA ÇÕES UN ID AS S OBRE OS D IRE IT OS DOS PO VOS I ND IGE NAS E O C API TA L: AS INST IT UÎÇÕES FINA NCE IRAS INTER NAC IONA IS ( IF Is )

Como podemos aplicar melhor a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas na definição de políticas, tanto nas IFIs como no Banco Mundial e no FMI e em agências governamentais nacionais tal como a US-AID e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos? Que lições foram aprendidas a partir dos esforços de estabelecer políticas para os povos indígenas nestas instituições? A Parceria para o Carbono Florestal é atualmente o foco de muita atenção, mas quais são as grandes oportunidades? Janet Redman, Rede para Economia e Energia

Sustentáveis (SEEN)/IPS Dr. Robert Goodland, ex-assessor para políticas para

os povos indígenas do Banco Mundial John Fitzgerald, Sociedade para Biologia de

Conservação, trabalhou na USAID, Chade Dobson, Centro de Informação sobre Bancos Dr. Robert Goodland, ecologista e ex-assessor ambiental do Banco Mundial disse que esboçou a Política para os Povos Indígenas do Banco Mundial em 1981, motivado por um programa particular: No final de 1979, o Banco Mundial tinha estado planejando construir uma estrada reta através da

floresta amazônica. Era o objetivo principal de um projeto maior chamado Programa Pólo Noroeste no Brasil. Goodland afirmou que o Programa Pólo Noroeste demonstrou que o Banco não teve nenhum respeito pelos povos indígenas, as terras ou os rios. Ele disse que o Banco não adotou a política até que o projeto da estrada teve o financiamento garantido. Quando o Pólo Noroeste foi concluído, o Banco estava financiando 60% de todas as reservas indígenas no Brasil. Goodland disse existir uma oportunidade para usar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas quando a política do Banco for revisada em 2009. Ele acredita que a revisão seja boa e a política não seja ruim, mas que existe falta total na implementação. Goodland disse os povos indígenas foram excluídos freqüentemente da tomada de decisões quando o Banco Mundial executava projetos. “Os maroons tinham sido excluídos das políticas [quando o Banco Mundial teve um projeto na Jamaica], e os quilombolas foram afastados das políticas [quando o Banco Mundial teve um projeto] no Brasil”, explicou.

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Além disso, Goodland disse que o Banco desrespeitou o princípio da realizar uma consulta prévia informada, e antes de começar qualquer projeto, tentou desrespeitar ainda mais este princípio buscando apenas apoio comunitário amplo. Goodland disse que buscando este tipo de apoio significou que o coordenador do projeto e o seu assistente foram ao campo para falar com uma ou duas lideranças indígenas perguntando se tinham ouvido falar do projeto. Eles disseram que podia ser bom ou ruim. O coordenador do projeto então informou no Banco que tinham apoio. Goodland disse que “apoio comunitário amplo” é tão vago e mal definido que o Banco Mundial adora o conceito, usando ele em vez de buscar consentimento informado claro. Outra coisa que Goodland mencionou é que o Banco Mundial resiste em usar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas porque ela não é obrigatória. “Como mudar o foco ético de todo o desenvolvimento econômico?” quis saber. “Se você não tiver consentimento, você está usando força, e existem 30 milhões de pessoas que foram forçadas a deixar as suas pequenas fazendas durante as últimas décadas, devido a projetos para usinas hidrelétricas. É o uso sistemático da força para promover o desenvolvimento econômico. Parte do debate deveria ser, sim, aplicar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas em primeiro lugar, mas sem deixar de considerar pessoas pobres em geral”, disse Goodland. Janet Redman do projeto da Rede para Economia e Energia Sustentáveis do instituto para Estudos Políticos falou sobre espaços específicos dentro do novo programa de mudança de clima do Banco Mundial onde apareceu “consentimento X consulta”. Ela disse que mudança de clima é um a temática boa para entrar na discussão sobre o Banco Mundial e as IFIs porque não apenas as mudanças climáticas afetam povos indígenas no mundo inteiro, particularmente aqueles que dependem da floresta, mas muitas soluções propostas podem ameaçar os povos indígenas do mesmo jeito. Redman chamou atenção para a Parceria para o Carbono Florestal (FCPF), a nova proposta do Banco Mundial para reduzir emissões provenientes do desmatamento e da degradação das florestas (REDD) e explicou como a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas poderia se vincular a esta proposta. Redman disse que o Fundo

é financiado por onze países desenvolvidos e a TNC (The Nature Conservancy) que se comprometeu com $5 milhões durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em Bali, Indonésia em 2007. Esses doadores, junto aos governos de dez países em desenvolvimento constituem o conselho de administração do Fundo. Redman disse que o lançamento do programa durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em Bali gerou muita resistência por parte dos povos indígenas da Indonésia, que disseram que não tinham sido feitas as devidas consultas sobre o programa. O Fundo recentemente aprovou um programa de capacitação para povos indígenas que dependem da floresta. O programa destinou $1 milhão em financiamentos pequenos para capacitação de povos indígenas sobre emissões. O Banco respondeu realizando três consultas regionais. Em setembro de 2008, o Banco lançou seus Fundos de Investimento para o Clima, inclusive o Fundo de Tecnologia Limpa e outro “fundo estratégico” para acesso a energia verde. O Fundo de Tecnologia Limpa já estabeleceu estruturas de um conselho de administração no qual os povos indígenas possuem status de observador, mas não de incidir em votações decisivas. Enquanto o Banco Mundial estabeleceu com sucesso estes fundos no papel, fundos estadunidenses foram bloqueados para desembolso ao Banco no final de 2008 devido a preocupações no Congresso sobre e impactos sociais e ambientais. Redman disse que é momento é perfeito para juntar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e as IFIs através da lente do clima. Uma das oportunidades é a Parceria para o Carbono Florestal, já que um elemento-chave na Declaração é o direito ao consentimento livre, prévio e informado, mas que tais procedimentos devem fazer parte do processo de planejamento da Parceria para o Carbono Florestal, como também de sua implementação. Oportunidades para garantir a posse de terra também são possíveis devido à importância de definir primeiro a posse de terra em nível nacional antes de estabelecer os direitos de carbono. Os artigos 20 e 23 da Declaração, que estabelecem o direito ao uso auto-determinado de recursos, à atividade econômica, desenvolvimento, e economia de subsistência, também poderiam ser aplicados às propostas de carbono florestal do Fundo. O Fundo também deve se pronunciar, pois os criadores dos Fundos de Investimento de Clima

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do Banco confessaram que não houve tempo para consultas adequadas. O Artigo 10 da Declaração sobre deslocamento forçado e compensação poderia ser um ponto importante para que as organizações dos povos indígenas e ONGs iniciem a discussão sobre grandes obras hidrelétricas e de mineração, já que o Banco já anunciou aumentar os investimentos em grandes barragens hidrelétricas de 800 milhões de megawatts em 2007 até 1,3 bilhões em 2011. “A briga sobre REDD e os Fundos de Investimento da Clima é para garantir que é a Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas receba financiamento, e não o Banco Mundial. Podemos influenciar o que está acontecendo no Banco batendo duro nos países doadores pelo dinheiro que estão dando a programas questionáveis”, ela disse. John Fitzgerald da Sociedade para Biologia de Conservação explicou a importância de usar o marco legal existente, especialmente quando as leis estão baseadas em metas de desenvolvimento multilaterais ou tratados da ONU. Ele disse que as leis internas de uma instituição financeira internacional como o Banco Mundial foram desrespeitadas. “Uma das metas que deveriam guiar a próxima administração na sua seleção de diretores executivos no Banco Mundial é a meta de que todo projeto que demande financiamento ao Banco deveria incluir as condições e os recursos para assegurar que as leis aplicáveis sejam respeitadas”, explicou. Fitzgerald disse que os direitos internacionais e leis domésticas devem ser considerados também, e, por definição, são incluídas as leis da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e a Convenção sobre Diversidade Biológica. Fitzgerald disse que para aplicar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas às normas de empréstimo do Banco Mundial, deveria haver um reconhecimento específico de cada lei, inclusive da Declaração, e que cada lei deveria ser respeitada e ser incorporada no projeto proposto, e que uma explicação de como isto será feito seja incluída nas avaliações ambientais que são apresentadas aos sócios de Banco antes da votação. Ele sugeriu que a avaliação ambiental e todas as observações da USAID, da Agência para proteção Ambiental (EPA), do Departamento de Tesouro, das ONGs e dos grupos indígenas sejam apresentadas para cada um dos sócios e que sejam disponibilizadas para todos os grupos ambientalistas,

de indústria e desenvolvimento em cada país bem antes de chegar ao Conselho do Banco. Ele também sugeriu uma discussão sobre todos os pontos fortes e fracos do projeto, o impacto sobre as mudanças climáticas, o débito de carbono, e se a proposta vai aumentar emissões de gases de efeito estufa e diminuir o carbono florestal. “Fazendo assim, teremos finalmente uma massa crítica de diretores no Banco votando a favor ou contra eles de modo que podem honrar com os princípios da Parceria para o Carbono Florestal”, disse Fitzgerald. Chad Dobson do Centro de Informação sobre Banco (BIC) focalizou a apresentação na crise financeira e como a mesma afeta o monitorando e a implementação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Dobson realçou o fato que é importante lembrar o que os bancos de fato fazem. Por exemplo, o Banco Mundial empresta aproximadamente $23 milhões por ano, o que representa mais ou menos um terço de seus custos totais de projeto. “O Banco libera dinheiro, e libera de forma crescente para programas, e não para projetos.... O que podemos ver é uma instituição que está liberando dinheiro para orçamento[s] nacionais”, disse. Dobson explicou que para ter um impacto, deve haver uma interação em nível nacional. “Com alguma freqüência,” disse, “o que fizemos no passado foi usar a ONU ou os bancos multilaterais de forma a ter uma interlocução com nossos próprios governos. Eu acho que para avançar, precisamos pensar como trazer a discussão de volta para tê-la em nível nacional sobre as questões de orçamento para o país, porque é aí onde o banco está colocando o dinheiro.” Dobson também mostrou que os bancos expressaram claramente que Declarações da ONU não governam as atividades deles. “Eu também penso o que a Vicky [Tauli-Corpuz] disse sobre diferentes partes serem consideradas na legislação, também é verdade, mas penso que devem ser muito consistentes com relação a isso, e penso que é uma briga que não vale a pena”, acrescentou. Ele explicou que as políticas e diretrizes do banco sobre povos indígenas, pelo menos do Banco Mundial, nos dão tanto material para trabalhar, que ter outra briga para mudar esta política, ao contrário de exigir a sua implementação, seria um erro. “Acho que podemos chegar a ter políticas perfeitas que não são implementadas. O que não temos e precisamos construir é a capacidade de garantir a implementação tanto em nível global como

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em nível de projeto no país, e não é o que temos agora”, disse Dobson. Ele alegou que embora acredite em fundos de investimento de clima por causa das participações dos noruegueses e britânicos, todo mundo apenas usa o discurso para destacar a importância de ter uma contribuição específica dos povos indígenas. “[Se] houvesse uma possibilidade estes países destinarem parte dos seus fundos para instituições, e capacitar as organizações indígenas para terem um diálogo real e poder realmente participar da discussão... mas neste exato momento não temos tal capacidade, e não há ninguém em Washington que pode acompanhar os fundos de investimento de clima, e nem políticas específicas baseadas na visão indígena. Eu acho que o desafio é usar esta discussão sobre clima para conseguir financiamento para este tipo de coisas, e eu acho que poderíamos fazer isso”, disse. Dobson acrescentou que uma coisa para levar em consideração seria usar os painéis de inspeção das instituições para avaliar os seus projetos. “Realizar discussões sérias sobre fracassos nas políticas do banco, nos projetos e trazer isto ao painel é sempre útil”, acrescentou. Dobson também identificou que outra coisa que as ONGs não costumaram fazer é colocar o próprio departamento de avaliação independente do Banco mais na mídia. “Não temos aproveitado o material publicado pelo próprio Banco e transformado isto em ação política”, disse. Na conclusão de sua apresentação, Dobson listou algumas coisas que ele acha que o grupo não deveria fazer. “Eu não acho que deveríamos focalizar nos Fundos de Investimento de Clima”, disse. Pediu ao grupo, pelo contrário, focar onde “está o dinheiro”, e olhar para novas políticas. O Banco Mundial, por exemplo, está se preparando para revisar a sua política energética. “Haverá muito mais dinheiro entrando no portfólio regular, seja para barragens, carvão, infra-estrutura, do que para os Fundos de Investimento de Clima. Este Fundo estabelecerá as regras sobre a arquitetura financeira para definir quais valores serão usados no futuro”, acrescentou. Dobson antecipou que se trata de um ensaio, uma chance para o Banco entender como organizar o fundo de forma que é possível avançar. “Qual é o enfoque democrático para mover grandes quantias de dinheiro para este sistema? “quis saber Dobson.

DISCUSSÃO Trevor Stevenson da Aliança Amazônica explicou que depois das preocupações sobre a Parceria para o Carbono Florestal expressas no Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas em 2008, a Aliança Amazônica organizou uma reunião em Washington com funcionários do Banco Mundial para conhecer as idéias deles com relação aos programas de mudanças climáticas. Lideranças das organizações indígenas que constituem a Aliança Amazônica responderam aos funcionários, compartilhando as preocupações delas e explicando por que estavam convencidas que o plano do Banco Mundial não era uma idéia boa. “O Banco falou para elas que responderiam por escrito, informando o que fariam com relação a estas preocupações, mas, um mês e meio depois, recebemos uma carta dizendo que estas preocupações não eram válidas e que o Banco não ia efetuar nenhuma mudança, na essência”, disse Stevenson. Depois disso, Stevenson provocou o Banco Mundial e informou que embora eles dissessem que tinham feito consultas, uma análise de suas ações provava que não eram consultas verdadeiras. Stevenson exigiu que o Banco Mundial explicasse o que fariam ao respeito, mas a resposta foi simplesmente que reconheciam não estar obedecendo ao direito internacional sobre consultas, mas o que fariam seria informar ao Conselho do G8 que os povos indígenas não foram consultados de forma completa. Porém, Stevenson disse que quando a Aliança Amazônica descobriu o que disseram de fato quando se reuniram com o Conselho, concluíram que eles disseram que “os povos indígenas foram consultados de forma completa”. Nesta altura, a Aliança Amazônica contatou o Conselho Diretivo para informar o que estava acontecendo, e com um pouco de ajuda da Fundação Moore realizou uma reunião com o Banco e com várias das organizações indígenas da Amazônia para discutir mudança climática. Logo depois disso, o

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Banco Mundial aprovou a Guiana e a Bolívia na Parceria para o Carbono Florestal. A proposta para o Banco Mundial da Guiana propõe a eliminação de sistemas agrícolas baseados em queimadas, para os quais o governo da Guiana recebe dinheiro que será usado então para desenvolver as comunidades indígenas nessas áreas e integrá-las na economia de mercado. Stevenson pediu sugestões sobre o que a Aliança Amazônica deveria recomendar aos seus membros, e o que as organizações indígenas deveriam fazer no geral com relação à Parceria para o Carbono Florestal do Banco Mundial. Victoria Tauli-Corpuz da Fundação Tebtebba explicou que o dinheiro do Banco Mundial para estes projetos vem de governos, como a Noruega e o Reino Unido. “Deveríamos procurar diretamente as pessoas que estão dando dinheiro”, insistiu. Tauli-Corpuz descreveu uma discussão que ela teve na Noruega com o Ministro do Desenvolvimento Ambiental, responsável pelo Fundo REDD da Noruega. “Estão dando para o Programa de Investimento para Florestas, estão dando para a Parceria para o Carbono Florestal. Perguntamos, indo direto ao ponto, se eles colocariam [os direitos e princípios da] Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas como condições prévias, e disseram que não impõem condições na ajuda bilateral”disse. Tauli-Corpuz disse que ela ficou surpresa, pois se existem salvaguardas ambientais, ela gostaria de saber que diferença faria incluir salvaguardas com relação aos povos indígenas. “Se você apoiou a adoção da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, você deveria pelo menos assumir este papel. Se você não quer fazer isso, deveria pelo menos apoiar a capacidade dos povos indígenas para defender os seus direitos na prática,” disse. Como resposta a um comentário feito por Trevor Stevenson, Chad Dobson do Centro de Informação sobre Bancos destacou que há apenas 20 pessoas trabalhando no Centro, enquanto há mais de 5000 pessoas no Banco Mundial. Disse que o Banco Mundial não sabe lidar com temas ambientais e sociais, e que precisamos falar para eles o que deveriam fazer, e então convencê-los. “Precisamos desenvolver um plano e pedir para os noruegueses vendê-lo e apoiarem isto. Mas, se sai algo do Fórum Permanente dizendo que precisamos disso para

acreditar na Declaração, então precisaremos desenhar isso”, disse. Dr. Robert Goodland, ecologista e ex-assessor ambiental do Banco Mundial, lembrou do tempo quando tinha sido convidado para ajudar em um esboço dos procedimentos operacionais ambientais e sociais do Banco do Sul. Ele tinha ouvido que o Banco do Sul estava infeliz com o FMI e o Banco Mundial, e iam desenhar algo completamente oposto. “Mas quando cheguei lá, percebi que naquela reunião muitos não sabiam muito sobre os povos indígenas”, disse. “Existe uma grande oportunidade para o Banco Mundial. Era maior quando Peter Woicke era a cabeça da CFI (Corporação Financeira Internacional). Ele tinha adotado a maioria dos padrões de trabalho da OIT. Usamos isso para dizer que se a CFI pode fazer isto, então nós também podemos. Agora, o Banco fica constrangido em adotar estas salvaguardas.” Goodland também disse que existe um livro do Mac Darrow, Entre Luz e Sombra, que é o melhor informe do progresso interno em direitos humanos dentro do Banco Mundial. “Existe espaço para progresso sobre direitos humanos, se você realmente tem uma campanha com um foco claro”, disse. Daphne Wysham da Rede para Economia e Energia Sustentáveis do Instituto de Estudos Políticos fez um comentário sobre o ponto em que Chad Dobson disse que os fundos de investimento de carbono são secundários se comparados à alocação de energia no orçamento do Banco Mundial. “Se o Banco Mundial continua com os seus fundos de investimento de clima e fundos de adaptação, centenas de bilhões de dólares irão, potencialmente, para o Banco Mundial e suas subsidiárias”, disse. Wysham sugeriu ficar de olho para monitorar o que o Banco Mundial está fazendo com relação aos fundos de investimento de carbono. Wysham disse, “Com respeito à REDD e o MDL existe uma divisão dentro das comunidades ambientais e indígenas - algumas pessoas acham que é a coisa certa a fazer e outras acham que não. Eu acho o que não fizemos bem, é capacitar os nossos próprios amigos e aliados ambientalistas e indígenas com relação a todos estes problemas associados com estes projetos.” Wysham insistiu que isto aconteça de forma rápida, porque muitos projetos estão avançando de forma muito rápida. Ela acrescentou

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que atualmente existe uma campanha sobre o direito de denúncia dentro das IFIs, e sugeriu que deveríamos apoiar a mesma, para conseguir mais pessoas que possam falar sobre todos estes projetos problemáticos no Banco Mundial. Victor Menotti do IFG identificou o capital privado como a força principal da qual precisamos exigir transparência com relação à Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, contudo não existe nenhuma arena política clara para governar as finanças globais na qual a Declaração poderia ser introduzida. Lembrou que as três metas da reunião do G-20 de novembro 2008 em Washington seriam: 1) construir um consenso sobre as causas da crise atual; 2) avaliar a efetividade de vários pacotes de socorro; e 3) chegar a um acordo sobre princípios para reformar o sistema financeiro. Ele sugeriu o Banco para Pagamentos Internacionais e o Fórum para Estabilidade Financeira – instâncias globais que coordenam a regulação nacional das finanças - como as duas instâncias principais a serem consideradas. Um ponto de entrada para a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas poderia ser explorar como estas instâncias estão repensando as muitas considerações que devem ser calculadas quando os investidores avaliam riscos, de forma que reconheçam a propriedades de terras, o consentimento prévio informado, e outros princípios da Declaração. Ignorar os direitos indígenas está se tornando um risco significante cada vez maior para investidores, de forma a representar um caminho para classificar estas considerações. Athena Ballesteros do Instituto Mundial para Recursos concordou que os fundos de investimento de clima são atualmente “apenas uma gota na água” em termos dos investimentos globais do Banco Mundial e seu orçamento de $6.1 bilhões. “Isto nos dá um espaço para expor a hipocrisia do Banco Mundial, se posicionando como um banco para o clima”, demonstrou. Ballesteros sugeriu trabalhar com o Fundo Mundial pela Natureza (WWF) em Beijing, como também com a Academia Chinesa para Planejamento Ambiental, envolver a sociedade civil e elaborar ou revisar as políticas de salvaguarda dos investimentos internacionais chineses. “É uma parceria muito frágil, mas eu acho que vale a pena tentar, e penso mencionar a Parceria para o Carbono Florestal e a

Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas valeria a pena”, disse. Acrescentou que isto poderia ser útil também para influenciar o Banco Japonês para Cooperação Internacional (antigamente chamado o Banco Japonês para Exportação e Importação). “O portfólio japonês é assustador, combinado com o do Banco Mundial e do Banco de Desenvolvimento Asiático. Gastam tanto para energia nuclear, combustíveis fósseis, hidrelétricas, setor madeireiro, a mineração e qualquer coisa e tudo do que falamos anteriormente. As ONGs japonesas exercem muito pouca influência sobre estas instituições”, disse Ballesteros. Ballesteros destacou duas oportunidades. A primeira é que os Padrões de Desempenho da Corporação Financeira Internacional devem se revisados em 2009, e a segunda é a revisão que deverá acontecer da política de salvaguardas do Banco de Desenvolvimento Asiático, particularmente a sua política para os povos indígenas e a sua política de recepção involuntária. Victoria Tauli-Corpuz refletiu sobre o fato de que as muitas pessoas com as quais ela falou sobre REDD estão inseguras sobre como se posicionar com relação ao mesmo. “Deveríamos propor um desenho que corresponde às necessidades e direitos dos povos indígenas, e é precisamente por isso que estamos realizando estas reuniões globais no Extremo Oriente para as quais trazemos as pessoas que trabalham para REDD na ONU, o Secretariado da Convenção sobre Biodiversidade, e povos indígenas de todos os países afetados que são considerados países para REDD. Tentamos definir os elementos que consideramos serem as diretrizes para a estratégia de REDD”, disse. Levantou a pergunta de como continuar definir REDD de forma que se torne significativo para os povos indígenas. “Se não for significativo, que tipo de campanhas podemos montar para rejeitar a idéia? “ questionou. Também mostrou que o Banco Mundial não é mais o ator-chave. De acordo com Tauli-Corpuz, os bancos de investimento europeus e os grandes bancos privados são agora os atores-chave, e nossos esforços devem ser dirigidos a eles. Tom Goldtooth encerrou a sessão de discussão, dizendo que enquanto uma posição está sendo formulada com relação a REDD, muitas comunidades sofrem os impactos e são estas comunidades que estamos tentando convencer que

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REDD é a solução para elas. “Como povos indígenas, somos constantemente lembrados, a partir das últimas décadas, a confiar em um paradigma econômico, e até mesmo alguns de nossos povos

indígenas investiram para se tornar capitalistas de REDD. Em muitos casos, colocamos em risco as nossas cosmovisões, nossos valores espirituais. Isso é algo que devemos reconciliar”, disse.

A DE CL AR AÇ Ã O DAS NA Ç ÕE S U NI DAS S OB R E OS DIR EI TO S D OS P OVO S I NDÍ GE NA S E O LI V RE

CO M É RCIO: A O RG ANI ZA Ç Ã O MU N DIAL D O C OM É RCI O, A CO RD OS BILA TER AIS , E O C OM É RCIO

GLO B AL DE BI O C OM BU S TÍV EIS

Os povos indígenas vêm participando do movimento global para desafiar a liberalização comercial e mudar as regras do comércio, desde Seattle até Cancun e Hong Kong. Agora que a Rodada Doha da OMC está paralisada, ainda estamos enfrentando acordos bilaterais com o Peru e a Colômbia, e uma tendência para ampliar o comércio global de biocombustíveis. Considerando a possível renegociação da NAFTA e da OMC, e repensando a política comercial em geral, como podemos dar mais voz aos povos indígenas usando a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas para transformar as políticas de comércio? Victor Menotti, Fórum Internacional sobre

Globalização Leila Salazar-Lopez – Rede de Ação para Florestas

Tropicais Trevor Stevenson, Aliança Amazônica Kate Horner, Amigos da Terra, EUA Victor Menotti do Fórum Internacional sobre Globalização (IFG) convidou as pessoas a olhar onde está acontecendo hoje a liberalização do comércio e dos investimentos. A Organização Mundial do Comércio (OMC) é o “governo invisível” da economia global e deve ser eventualmente substituída, assim pediu para as pessoas lerem o capítulo Guerras de Paradigma para saber mais sobre os impactos da OMC sobre soberania dos povos nativos. Porém, a OMC está atualmente “paralisada”, assim devemos mudar o nosso foco para monitorar os acordos bilaterais atuais e comércio global crescente de biocombustíveis. Não é uma coincidência que uma das discordâncias principais que impedem a conclusão da Rodada Doha de negociações na OMC era a demanda do Brasil que as suas exportações agrícolas ganhem mais acesso aos mercados dos Estados Unidos (EUA) e da União Européia (UE). Os EUA e a UE recusaram isso,

ao não ser que, em troca, Brasil, China, Índia e outros países em desenvolvimento primeiro abram os seus mercados para permitir mais importações de bens industriais e serviços. Porém, tentativas para chegar a um consenso em qualquer uma das decisões ignoraram o impacto que o as exportações crescentes do Brasil - de soja, açúcar, cítricos, algodão, carne bovina, madeira, minerais, e outros recursos - terão sobre os povos indígenas, disse Menotti. O Brasil continuará tentando desmantelar o sistema estadunidense de cotas, tarifas e subsídios que fazem a produção de etanol baseado no milho economicamente viável nos EUA. A diferença é que agora o Brasil tentará pleitear o que não conseguiram negociar previamente. O Brasil já ganhou disputas legais na OMC contra os subsídios ilegais dos EUA e da UE para algodão e açúcar. O problema é que, enquanto os EUA e a UE estão certamente “discriminando” as exportações brasileiras, as regras atuais da OMC também discriminam os povos indígenas e pequenos camponeses – favorecendo grandes corporações e exportadores tais como a Cargill. Os direitos dos povos indígenas precisam ser considerados antes de uma possível ampliação de qualquer exportação destas indústrias insustentáveis, especialmente o etanol da cana-de-açúcar (biocombustíveis). Defender a produção de etanol do milho nos EUA é difícil já que muitos dos seus custos excedam os seus benefícios. Porém, Menotti disse que “os norte-americanos também querem deixar de invadir outros países pelos recursos limitados que possuem. Quase todos os sistemas de energia domésticos requerem algum apoio estatal, especialmente quando se trata de ter uma transição para um sistema energético novo. Menotti acredita que precisamos de uma regra da OMC, declarando que as nações têm o direito de subsidiar os seus próprios sistemas energéticos autônomos desde que forem sustentáveis. A

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sociedade civil brasileira não quer ver uma expansão de seu sistema insustentável do etanol de cana-de-açúcar, mas se o seu governo ganhar o caso, as exportações irão crescer para servir o mercado estadunidense, declarou Menotti declarou. Outra consideração é que as terras que foram roubadas dos povos indígenas produzem muito da soja, madeira e do ouro colhido e exportado. Tal como a escravidão, propriedade roubada deveria ser considerada um subsídio ilegal sob as regras comerciais. Deve-se verificar se todos os produtos se originam de fontes legais, afirmou Menotti, o que é uma das razões para ampliar a implementação da Lei Lacey nos EUA. No Canadá, as Primeiras Nações examinaram a indústria madeireira para documentar a sua produção de bens provenientes de terras roubadas. Tais subsídios permitem ao Canadá exportar madeira por um terço do preço da madeira norte-americana. Menotti explicou que estes grupos das Primeiras Nações submeteram um Amicus [Curiae] para a OMC e o Representante Comercial dos EUA, defendendo os direitos prévios à terra e recursos, e exigindo ser compensadas por eles. Podem exigir o mesmo para a energia que Canadá exporta para os EUA. Divulgando tais argumentos estratégicos como “terras roubadas são subsídios” poderia fortalecer os grupos que protestam contra expansão de soja e etanol no Brasil. Ele concluiu que é por isso que existe uma necessidade para maior comunicação entre as comunidades que trabalham com biocombustíveis e as comunidades do comércio, e também entre os ativistas estadunidenses, brasileiros e europeus. Menotti acredita que enquanto não forem feitos bons trabalhos para lutar contra a expansão de biocombustíveis, não estamos prontos para a pressão brasileira de aumentar as suas exportações para os mercados europeus e norte-americanos, entrando com um processo na OMC. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas poderia ser um instrumento útil para ser aplicada ao comércio global de biocombustíveis. Leila Salazar-Lopez da Rede de Ação para Florestas Tropicais (RAN) contou ao grupo que uma das maiores ameaças para as florestas tropicais e para os povos indígenas no mundo todo é a expansão do comércio global de biocombustíveis. Do coração da Amazônia até o coração de Bornéu, o comércio de biocombustíveis está se expandindo e povos

indígenas estão sendo deslocados como resultado. As suas terras são queimadas para dar lugar a plantações de soja, açúcar e palma, explicou. Salazar-Lopez explicou que, “o óleo de palma pode ser até dez vezes pior que os combustíveis fósseis se você levar em conta o inteiro ciclo de vida energético: queimando florestas tropicais ardentes, secando áreas de turfa, usando fertilizantes baseados em petróleo, transportando o mesmo até o outro lado do mundo, onde será processado. Não se trata de uma solução positiva para as mudanças climáticas. A RAN prefere usar o termo “agrocombustíveis” já que o “bio” em “biocombustíveis” significa “vida” e não há nada que sustente a vida em “produtos que estão deslocando pessoas, destruindo o meio ambiente, e poluindo as terras dos povos indígenas com pesticidas da Monsanto, “disse Salazar-Lopez. Grandes proprietários de terras e corporações estão comprando terra e dividindo as comunidades. Os governos também estão dividindo as comunidades. Os povos indígenas estão perdendo a sua soberania alimentar, perdendo os seus direitos de caçar e pescar e praticar o seu modo tradicional de vida por causa da expansão de agrocombustíveis, explicou Salazar-Lopez. É irônico que os agrocombustíveis são promovidos como alternativas para os combustíveis fósseis, como modo de reduzir as nossas emissões globais de gases de efeito estufa e de forma a atingir a nossa independência energética. Isso pode ser verdade para algum agrocombustível, mas não é verdade para o meio ambiente global, ou para a nossa independência energética, acredita Salazar-Lopez. “Os agrocombustíveis são uma falsa solução para reduzir emissões e ganhar independência energética”, disse Salazar-Lopez. “A queimada de florestas tropicais e terras de turfa na Indonésia e no Brasil é a razão pela qual estes países representam o terceiro e quarto emissor de gases de efeito estufa no mundo, logo atrás os EUA e a China”, declarou Salazar-Lopez. A expansão de óleo de palma no Sudeste Asiático e no Pacífico, junto com a expansão de soja, são duas áreas que a RAN mais trabalha. O óleo de palma é usado para óleo de cozinha, detergente, cosméticas e lanches, mas a expansão de óleo de palma é para os agrocombustíveis, explicou. Por isso, há uma demanda crescente na Europa e nos EUA para agrocombustíveis, devido a aumentos previstos no consumo de combustíveis renováveis. Salazar-Lopez

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disse que 99% do óleo de palma que entra os Estados Unidos vem da Malásia e Indonésia, sendo 87% da Malásia e 13% da Indonésia. A expansão, porém, está mais acentuada na Indonésia, acrescentou. Na Indonésia, foram preparados já 20 milhões de hectares para plantações de óleo de palma, contou ao grupo. Porém, a Agência de Investigação Ambiental (EIA) descobriu que apenas 6 milhões de hectares foram de fato plantados. Isto porque a indústria madeireira e a indústria da palma trabalham de mãos dadas, explicou. O governo da Indonésia está seguindo um procedimento “fast track” para liberar arrendamentos e concessões para plantações de óleo de palma, devido ao aumento na demanda global, embora 14 mil hectares de terra já preparados para plantações de óleo de palma não tenham sido plantados ainda. Salazar-Lopez sugeriu uma moratória para a expansão de agrocombustíveis porque é uma falsa solução para as mudanças climáticas. O mega-projeto do Óleo de Palma poderia expulsar até 1,4 milhões de pessoas em Malásia e até 5 milhões de pessoas em Indonésia, de acordo com Sawit Watch, uma rede da Indonésia contra plantações de óleo de palma. O relatório de do Sawit Watch que foi submetido à Comissão da ONU para Igualdade Racial revela que a plantação enorme do projeto deverá ser construída na fronteira da Malásia, entre a Indonésia e Sarawak, no meio de uma floresta tropical montanhosa. A indústria do óleo de palma da Malásia está convencendo o estado do Havaí a substituir suas refinarias de diesel por refinarias de biodiesel. A idéia é substituir refinarias que usam combustíveis fósseis por refinarias que usam “energia alternativa” e, por conseqüência, reduzir as emissões do Havaí. Porém, Salazar-Lopez mostrou que a fonte do estoque de sementes para os biocombustíveis seria óleo de palma da Malásia. A Cargill providenciaria as sementes. Salazar-Lopez explicou que há resistência contra as refinarias de biodiesel por parte de comunidades indígenas locais no Havaí, como também do Sierra Club, do Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais (NRDC), da Defesa Ambiental (Environmenal Defense), da Rede de Ação para Florestas Tropicais e da Terra é Vida (um grupo de comunidades locais). Salazar-Lopez disse a RAN pedirá para um aliado de acompanhá-los à reunião dos acionistas do gigante de soja Archer Daniels

Midland (ADM) para informar à ADM diretamente sobre as preocupações entorno da expansão de agrocombustíveis. As plantações de óleo de palma na Malásia estão promovendo o seu modelo na Amazônia também, disse Salazar-Lopez. De todas as ameaças para a floresta tropical a partir da criação de gado e os agrocombustíveis, a soja é atualmente a maior. Ela explicou que a indústria do óleo de palma da Malásia recentemente propôs a construção de uma plantação de 100.000 hectares de óleo de palma na Amazônia. Está sendo proposto como projeto do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto. A terra está atualmente degradada, disse, assim a indústria está propondo cobertura verde na terra da plantação para compensar emissões. O Estado do Mato Grosso, no Brasil, é a capital mundial da soja, e possui a maior savana tropical do planeta, chamada cerrado, do qual 80% foi destruído por causa de plantações de soja, explicou Salazar-Lopez. Ela disse que a produção de soja se expandiu para o Norte recentemente. Em Santarém (no meio da Amazônia), uma planta da Cargill foi construída em 2002 e desde então, o desmatamento dobrou. Nos EUA, concluiu Salazar-Lopez, precisamos olhar para os nossos padrões de combustíveis renováveis, que apontam para um aumento na produção de agrocombustíveis na faixa de 36 bilhões galões. Explicou que isto subsidiaria e promoveria a indústria do etanol e deslocaria a soja, cuja produção se expandiria então para a Amazônia como resultado. Em agosto de 2008, Mato Grosso por si só incrementou a taxa de desmatamento em 288%, disse Salazar-Lopez. “É um bom exemplo de como as nossas políticas energéticas domésticas afetam também outros países e as políticas energéticas deles”, disse Salazar-Lopez. Trevor Stevenson falou de como o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) afetou os povos indígenas no México. Quando o NAFTA começou, incluiu algumas providências claras que mudariam a Constituição do México permitindo a privatização de propriedades indígenas comunitárias chamadas ejidos. O NAFTA permitiu a perda de ejidos através do parcelamento, do aluguel, leasing, e outras formas de privatização, explicou Stevenson. A liberalização do comércio preocupou um grupo das pessoas no Estado de Chiapas chamado os Zapatistas. O grupo escolheu este nome porque

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durante a Revolução mexicana, os homens de Emiliano Zapata lutaram para estabelecer propriedades comunitárias, explicou Stevenson. Ele mencionou que esta pequena região de Zapatistas no México consegue administrar a sua autonomia, mas o resto de México não consegue, e “foram impactados de forma bem dura pelo NAFTA.” O povos indígenas fora do território dos Zapatistas perderam controle sobre mais da metade de suas terra durante os 15 anos de existência do NAFTA, explicou Stevenson. O comércio do milho também prejudicou as comunidades, e a maioria dos mexicanos agora come milho norte-americano e não consegue vender milho que cresceu localmente. “É uma das razões pelas quais vemos um aumento grande na imigração do México para os EUA”, disse Stevenson. Uma grande maioria de imigração mexicana durante a última década foi dos povos indígenas. “Para os povos indígenas no México, o NAFTA foi um desastre absoluto”, acredita Stevenson. A Aliança Amazônica tentou informar às comunidades indígenas no Peru sobre o Acordo de Livre Comércio entre os EUA e o Peru. A campanha não foi um sucesso, pois as comunidades não tinham certeza como o acordo lhes afetaria e tiveram outras prioridades urgentes, assim decidiram focalizar a atenção em outros assuntos. Stevenson informou que os povos indígenas enviaram uma carta ao Congresso, mas faltou informação específica e foi ignorada. Depois que o Acordo de Livre Comércio entre os EUA e o Peru foi aprovado, as comunidades indígenas olharam a Acordo novamente. Enquanto isso o governo peruano, explicou Stevenson, teve que aprovar algumas novas leis para adequá-las às providências do acordo, no sentido de remover qualquer barreira ao comércio. Uma destas novas leis era um Decreto Presidencial, o Decreto Presidencial 1015 que foi projetado para destruir propriedade comunitária para povos indígenas e possibilitar que estas terras pudessem ser privatizadas, acrescentou Stevenson. Em 2008 de julho, o grupo principal que representa os povos indígenas da Amazônia peruana (AIDESEP) realizou várias conversações com o governo peruano sobre a lei, mas não chegou a nenhum lugar, disse Stevenson. Organizaram, então, um bloqueio na Amazônia inteira que cobriu quase toda a Amazônia peruana que representa 60% do país. Fecharam os

principais sistemas de transporte fluvial, rodovias, e poços de petróleo até que o Congresso peruano concordou em se reunir com eles. Depois de duas semanas, conseguiram que o Congresso revogasse a lei, contou Stevenson ao grupo. Era uma mobilização grande de milhares de povos indígenas. Conseguiram muita cobertura de mídia no Peru e no mundo todo, incluindo da BBC, mas não nos EUA. A ação direta deles teve sucesso, concluiu Stevenson. Porém, o Presidente peruano ainda está indeciso se vetar ou não a revogação da Lei do Congresso. Mas Stevenson acredita que será difícil e pouco inteligente por parte do governo tentar dominar os povos indígenas no Peru. Esta mobilização de povos indígenas foi uma das maiores e mais efetivas com relação a um acordo de livre comércio com os EUA que ameaçou interesses indígenas. Kate Horner dos Amigos da Terra - EUA falou do Acordo de Livre Comércio entre os EUA e a Colômbia, enfatizando os seus principais efeitos. “A economista recentemente designada no Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que o México, que é a menina-dos-olhos, quando se fala de integração econômica, seria prejudicado de forma muito mais forte. E que os países que tinham sido muito resistentes às políticas de ajuste estrutural do Banco Mundial e do FMI sofrerão menos”. Horner explicou que o Acordo de Livre Comércio entre os EUA e Peru e o Acordo de Livre Comércio colombiano incluíram salvaguardas ambientais e sociais mínimas. Apesar de muito esforço para combater os mesmos, há, lamentavelmente, proteções de investimento ultrajantes para corporações transnacionais. Isto é extremamente ruim para as lutas dos povos indígenas no sentido de manter o controle sobre as suas terras, explicou Horner. Na Colômbia, o Presidente Álvaro Uribe que é o aliado estratégico de Bush na região tem promovido o acordo de livre comércio como uma intervenção política e econômica, descreveu Horner. A Colômbia já tem acesso relativamente livre aos mercados dos EUA dentro do Programa de Preferência Comercial para a Região Andina. A sua participação naquele programa nunca foi questionada, apesar de seu pobre registro em políticas de drogas o qual, observou Horner, é interessante. Houve protestos enormes na Colômbia contra o Acordo de Livre Comércio e especificamente contra o Acordo de Livre Comércio como uma continuação da intervenção

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estadunidense na região, começando com o Plano Colômbia, explicou. Horner informou ao grupo que houve muitas declarações da Organização Indígena Nacional Colombiana (ONIC), que está fortalecendo os protestos contra o Acordo de Livre Comércio. Infelizmente, e estes protestos da ONIC foram reprimidos “de forma trágica e violenta” pelo governo. Na primeira declaração da ONIC consta,

“Pedimos ao governo para aceitar os princípios da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, e que ela seja respeitada como lei na Colômbia. Não exigimos isto apenas como comunidades indígenas, mas também junto aos camponeses e sindicatos, e exigimos respeito pelo mandato agrário - o direito de se sindicalizar, o respeito a serviços públicos, os direitos das mulheres, e uma defesa para os direitos fundamentais de todos os colombianos.”

Horner notou como de forma recorrente as lutas dos povos indígenas se articularam com as lutas de outras pessoas dentro de um contexto no qual estão lutando para alcançar os direitos coletivos como também os seus próprios direitos. Ela mencionou que as lutas dos povos indígenas para defender os seus direitos coincidem freqüentemente com as lutas dos movimentos sociais.

Na Colômbia, uma séria de reformas legais já foi aprovada ou está sendo proposta atualmente, ou estão sendo discutidas, para facilitar o investimento privado às custas dos povos indígenas e das suas terras, disse Horner. A maior destas reformas legais é o Plano de Desenvolvimento Rural e o Estatuto de Desenvolvimento Rural. A Colômbia tem a segunda maior população de pessoas expulsas de suas terras no mundo, atrás do Sudão. Obviamente, disse Horner, a capacidade dos povos indígenas a proteger as suas terras é muito afetada pelo papel dos paramilitares que operam no país. Ela explicou que o Estatuto Rural define que se alguém pode provar que esteve em determinada terra por mais de cinco anos, então podem conseguir o título legal sobre aquela terra. Se algum deslocamento violento de povos indígenas aconteceu há mais de cinco anos, então não

têm nenhum recurso legal. Além disso, o Estatuto de Desenvolvimento Rural dá subsídios adicionais a todos os cultivos de exportação em vez de dar aos cultivos de subsistência, o que é uma hipocrisia clássica do livre comércio, promovendo um desenvolvimento voltado à exportação, disse Horner. A Lei de Silvicultura, acredita Horner, foi rejeitado pelo governo colombiano pela falta de consultas com os povos indígenas. Foi uma vitória enorme para os povos indígenas que estavam lutando contra esta lei. De qualquer forma, a Colômbia recentemente voltou a debater a Lei de Silvicultura com algumas pequenas mudanças, especificamente com relação às regras sobre o uso de plantações, mas os mesmos problemas persistem, disse Horner. Horner levantou a pergunta de como alguém deveria defender a implementação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas em países que se abstiveram ou votaram contra a Declaração. A Colômbia se absteve na votação da Declaração. A sociedade civil vem reivindicando a implementação da Declaração, mas o apoio que recebem é através da Convenção 169 da Organização Internacional de Trabalho, que era a base para destruir a Lei de Silvicultura, Horner concluiu. Os Acordos de Parceria Econômica da UE pretendem ampliar o comércio de biocombustíveis, explicou Horner. O Fórum Internacional de Biocombustíveis tem centro de suas ações em harmonizar padrões para commodities, facilitar o comércio global com países que têm os padrões de produção mais eficientes e a custos mais baixos, o que são o Brasil e a Malásia. Ela disse, “Considerando as preocupações ambientais em torno dos biocombustíveis, a tendência clássica é para melhorias tecnológicas. O raciocínio é que se pudermos promover os biocombustíveis de segunda geração, poderemos então fazer tudo com menos água, sem desmatamento, e sem qualquer dos impactos que foram levantados até agora”, explicou. “Isto levanta a pergunta do papel da OMC em relação à produção de biocombustíveis, porque as proteções de patentes de monopólio tornam provável que serão corporações globais que operam nestas regiões que se beneficiariam da produção de biocombustíveis e não as pessoas que mantiveram uma agricultura de subsistência de forma sustentável nas suas regiões”, disse Horner.

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DISCUSSÃO Aaron Goldzimer do Fundo de Defesa Ambiental declarou que o Acordo de Livre Comércio entre os EUA e o Peru é ruim por muitas razões, mas pela primeira vez possui obrigações ambientais que são bastante significativas e específicas. Pela primeira vez, um capítulo específico coloca exigências para enfrentar o desmatamento ilegal. O acordo teve alguns poucos bons efeitos. Existe agora uma fiscalização no setor florestal no Peru que nunca teria havido, explicou. Em segundo lugar, o Congresso do Peru deu poder ao presidente para criar leis e, infelizmente, observou Goldzimer, este poder não apenas permitiu ao presidente implementar o acordo, mas promover o comércio e os investimento de forma mais liberal. Como resultado, o presidente do Peru, explicou Goldzimer, baixou aproximadamente 100 decretos legislativos e só uma minoria pequena deles trata da implementação do Acordo de Livre Comércio. “A maioria [dos decretos] apenas conserta tudo o que o governo quis consertar”, disse. Como resultado, isto levou à maior expulsão de poder indígena no Peru, acrescentou Goldzimer. Eles conseguiram revogar dois dos piores decretos legislativos que foram aprovados. Porém, o Decreto 1090 ainda existe e possibilitaria entregar a Amazônia para os biocombustíveis, disse. Goldzimer informou ao grupo que na semana seguinte, um Representante Comercial dos EUA iria ao Peru para dar seguimento à conversa sobre a implementação e pedir ao Peru não ir adiante com o Decreto 1090. Atossa Soltani do Amazon Watch comentou que a votação sobre o Acordo de Livre Comércio entre os EUA e a Colômbia acontecerá em breve, na sessão do Congresso estadunidense em novembro. Se não passar em novembro, é muito provável que o próximo Congresso aprovaria o Acordo. Assim é realmente importante organizar os movimentos de base para derrotar o acordo, acredita Soltani. O Amazon Watch apóia as pessoas U'wa da Colômbia expulsas de seus territórios em 2002. Quase mil U'wa fizeram uma marcha até o território

onde a Occidental Petroleum estava operando um poço de petróleo e ocuparam aquela terra durante o Dia de Colombo, um feriado, e durante os três dias seguintes. Porém, as pessoas U'wa, uma tribo indígena tradicional que vive nas florestas no Nordeste da Colômbia, continuam sendo ameaçadas pelas companhias de petróleo estatais, acrescentou. Em coordenação com as U'wa, Amazon Watch está lançando uma nova campanha para tratar da privatização, explicou Soltani. Os U'wa irão para Wall Street para dizer aos investidores que não comprem ações de empresas petrolíferas colombianas. Soltani também falou sobre os conflitos em terras de povos indígenas na Colômbia, entre o exército, os paramilitares, o exército da guerrilha, e os povos indígenas. Os povos indígenas acreditam que estes conflitos são fabricados, de acordo com Soltani. Ela acredita que os povos indígenas estão sendo expulsos de suas terras de forma que grandes corporações possam entrar e desenvolver biocombustíveis, petróleo e gás. Isto deu ao exército um pretexto para militarizar a terra U'wa, acredita. Soltani acrescentou que as reformas que estão acontecendo no âmbito dos acordos comerciais bilaterais são destinadas a agilizar a aprovação de projetos industriais de grande escala, tais como as licenças ambientais para um empreendimento petrolífero, e a acelerar o prazo omitindo qualquer participação ou recurso por parte das comunidades. Em uma nota de esperança, concluiu Soltani, os povos indígenas na Colômbia continuam afirmando os seus direitos às terras subterrâneas, tais como títulos do Rei da Espanha, datados do século dos 1700. Isto lhes dá direitos absolutos sobre a terra, inclusive o direito aos minerais subterrâneos. Janet Redman do Instituto para Estudos Políticos fez duas perguntas. Primeiro perguntou se a Lei Lacey que Fitzgerald tinha mencionado que impõe restrições sobre importações de madeira ilegais poderia ser aplicada com respeito aos biocombustíveis. E se isso é possível, será que a Lei Lacey está à prova da OMC, ou quais seriam as implicações para a OMC? Redman também perguntou, “em termos de energias renováveis de pequena escala que seriam propostas ou desenhadas por comunidades indígenas, quais

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seriam as ameaças e oportunidades para implementar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas em política comerciais sobre renováveis de pequena escala?” Aaron Goldzimer do Fundo de Defesa Ambiental respondeu que a Lei Lacey barra a importação de produtos plantados. Ele acredita que a proposta de Fitzgerald era estender isto a fruticultura e desmatamento ilegal. Victor Menotti do IFG acrescentou que onde a Lei Lacey poderia provocar um desafio legal como violação do Acordo da OMC sobre Barreiras Técnicas ao Comércio é que se coloca um fardo indevido sobre um país para providenciar informação adicional. “Este é o problema com a política comercial”, disse Menotti. “São dados tais poderes amplos e vagos aos exportadores e corporações que podem desafiar qualquer medida política; quase qualquer coisa pode ser objeto de ação na justiça”. Com relação aos Padrões para Combustíveis Renováveis que promovem os biocombustíveis, o Brasil e possivelmente a Malásia indicaram que poderiam desafiar os critérios sociais e ambientais que a Europa e os EUA estão desenvolvendo como uma violação das Barreiras Técnicas ao Comércio, explicou Menotti. Trevor Stevenson da Aliança Amazônica disse que, na Colômbia, a marcha do Dia de Colombo começou com alguns mil povos indígenas que fazendo uma marcha de forma pacífica, protestando contra várias coisas. Porém, o exército colombiano os atacou, matou algumas pessoas e feriu muitas outras. Como reação, a marcha indígena cresceu enormemente. A partir da noite de sábado, 25 de outubro de 2008, havia aproximadamente 60.000 pessoas indígenas que marcharam em direção da capital. O presidente da Colômbia teve que reunir-se com os líderes da marcha para negociar uma resolução. Este é um exemplo do tremendo poder que os povos indígenas possuem no campo, um poder que freqüentemente é esquecido no Norte Global, acredita Stevenson. Os povos indígenas provaram muitas vezes que eles podem fechar regiões inteiras de um país. Stevenson declarou, “em termos de defensores dos povos indígenas no Banco Mundial, há 40 pessoas em Washington, contra 5000 pessoas no Banco Mundial. Há 5000 pessoas no Banco Mundial contra 4 milhões de povos indígenas na

Amazônia.” Ele continuou, “Precisamos nos afastar do pensamento de que nós vamos salvar o mundo ou salvar os povos indígenas com este pequeno grupo de indivíduos comprometidos no Norte. Nós precisamos realmente nos articular com as comunidades.” Paul Little da Fundação Gordon e Betty Moore pensou que o grupo precisava tratar da questão do petróleo e gás. Petróleo e gás no Peru e na Colômbia, ele disse, estão adquirindo uma dimensão particularmente relevante”. “A Proposta dos Yasuni-ITT do Equador, uma iniciativa do governo equatoriano sob o Presidente Rafael Corrêa, vai morrer na água”, disse Little. Há quase uma guerra civil na Bolívia por causa do gás, ele mostrou. Energia tem que estar o nosso foco o tempo todo, Little declarou. Ele disse que não está seguro como isto pode ser feito, mas é aparente que precisamos ter novas formas de pensar sobre energia e povos indígenas. “Porque isto já é um assunto pesado, e ficará mais pesado ainda”, Little disse. Daphne Wysham do Instituto de Estudos Políticos respondeu mencionando um relatório em espanhol disponível na página web do Instituto, sobre energia nas Américas e estratégias alternativas de energia para a América Latina. Kate Horner dos Amigos da Terra (EUA) disse que Little estava correto destacando a importância do petróleo e gás e sugeriu que devessem ser incluídos biocombustíveis no contexto do petróleo e gás. Isto é porque muitos países estão aumentando sua produção doméstica de biocombustíveis para poder aumentar as exportações de petróleo. O Comitê de Relações Exteriores do Senado recentemente aprovou uma lei chamada o Ato de Cooperação no Campo de Energia para o Hemisfério Ocidental que estabelece o Memorando de Entendimento Brasil-EUA para buscar consolidar uma parceria de energia em toda a região. É fortemente focado em biocombustíveis, mas inclui outras questões de cooperação técnica tratando de carvão limpo e barragens. Victoria Tauli-Corpuz da Fundação Tebtebba tinha uma pergunta para os presentes sobre a crise de financeira/econômica. A força da desregulamentação, liberalização, e privatização vem causando esta crise, de acordo com Tauli-Corpuz. A legitimidade dos países desenvolvidos para dar lições aos países em desenvolvimento sobre a

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desregulamentação de seus mercados foi arruinada, Tauli-Corpuz acredita. O que precisa ser feito, explicou Tauli-Corpuz, é entender quais são as alavancas para abolir os argumentos de que os países pobres precisam seguir o sistema econômico ditado pelos países ricos. Ela perguntou ao grupo se eles sabiam se este tópico estava sendo discutido nas negociações comerciais. Tauli-Corpuz sugeriu criar uma matriz que mostre todos os acordos comerciais, e como eles se articulam e violam a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Na Noruega, as comunidades costeiras Sámi já não podem mais pescar, pois eles possuem barcos de pesca pequenos, que não atendem às regras do governo com relação ao tamanho mínimo. Tauli-Corpuz acredita que os modos tradicionais de vida desaparecerão, na medida em que mais restrições são fixadas pelos acordos comerciais internacionais. Victoria Tauli-Corpuz compartilhou algumas estatísticas: Para produzir um galão de soja você precisa de 9000 galões de água, e para produzir um galão de biodiesel de etanol de milho você tem que usar 4000 galões de água. Então, ela diz, os biocombustíveis ameaçam o direito à água. “Se nós usarmos uma abordagem de direito à terra, usando a Declaração como um padrão pelo qual analisar os diferentes efeitos do desenvolvimento, então estará claro que tipo de apoio precisamos dar aos povos indígenas”, ela declarou. Victor Menotti do IFG declarou que há uma grande oportunidade agora para conectar as diferentes comunidades indígenas no sentido de promover a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, especialmente neste momento - quando a OMC está paralisada e os EUA estão repensando a sua abordagem de políticas comerciais e financeiras. Tom Kruse do Fundo Rockefeller Brothers concordou com Tauli-Corpuz e afirmou que alguém precisa criar uma grade para mostrar que a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos

Povos Indígenas é uma ferramenta útil para desfazer os Acordos de Livre Comércio. Ele também concordou que os EUA deveriam usar a Declaração nas suas políticas comerciais. Enquanto pode parecer que estamos ganhando apoio para mudar parte da linguagem destes Acordos, Kruse advertiu que é importante voltar atrás e entender aquele pedaço como um todo. Ele continuou, “Você não pode dar passos significativos com a coisa toda.” Resistência e crise criam estas oportunidades que temos atualmente, Kruse acredita. Kruse prosseguiu lendo uma citação de Bill Clinton da semana de 20 de outubro de 2008. Todos “nós fizemos besteira, inclusive eu, quando nós tratamos os alimentos como televisões em cores, em vez de [tratá-los como] uma commodity vibrante para os pobres do mundo.” Kruse exclamou, “Não podemos ficar atrás de Bill Clinton. Precisamos pensar pelo menos tão grande quanto Bill Clinton está pensando.” Finalmente, Kruse adicionou que é de extrema importância que os povos indígenas consigam conhecer e ler a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Muito do poder da Declaração como ferramenta dependerá de quão bem os povos indígenas conhecem a Declaração. Juan Carlos Jintiach da Aliança Amazônica explicou que quando estava falando com algumas lideranças no Peru, ele lhes falou sobre como a comunidade dele ganhou controle sobre o território através de uma proibição constitucional. Esta vitória é um bom exemplo para mostrar a outras comunidades como podem usar a Declaração, acredita ele. Tom Goldtooth da Rede Ambiental Indígena mencionou que poderia contar que a organização das comunidades está realmente crescendo nas Américas. O papel das ONGs, Goldtooth acredita, deveria ser apoiar aquilo que os povos indígenas defendem, como tratados que eles desenvolvem para suas comunidades. É necessário mais apoio para o movimento no sentido de usar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas como uma ferramenta no Ocidente, Tom concluiu.

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A DE CL AR AÇ Ã O DAS NA Ç ÕE S U NI DAS S OB R E OS DIR EI TO S D OS P OVO S I NDÍ GE NA S E A C O NV EN Ç Á O

SO BR E DIV ERSI DA D E BI O LÓ GI CA

A Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica se sobressai como um espaço estratégico na arquitetura internacional onde os povos indígenas lutaram e ganharam o direito a participar na tomada de decisões políticas globais. Como pode a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas ser usada na medida em que a CDB avança? Quais são as lições aprendidas para participação indígena na Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), e outras cujas decisões impactam na diversidade cultural e biológica? Victoria Tauli-Corpuz – Fundação Tebtebba Chefe Kokoi (Tony James), Associação de Povos

Ameríndios da Guiana Victoria Tauli-Corpuz da Fundação Tebtebba resumiu que a Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CDB) é uma das instituições que forneceram um espaço para a participação dos povos indígenas dentro do qual foi criado o Fórum Indígena Internacional sobre Diversidade Biológica. Ela afirmou que o Fórum teve um papel fundamental, influenciando muitos aspectos da CDB. Tauli-Corpuz contou ao grupo que povos indígenas participaram da 9ª Conferência das Partes da CDB que aconteceu em Bonn em 2008, e isto foi fundamental porque foi o primeiro ano após a aprovação da Declaração. Os povos indígenas realmente fizeram sua parte em garantir que a Declaração se torne um marco para as muitas dimensões da CDB, ela disse. Tauli-Corpuz explicou que o Fórum Indígena Internacional sobre Diversidade Biológica se dividiu em muitos grupos de trabalho: Biodiversidade de agricultura, Biodiversidade de Floresta, o Programa de Áreas Protegidas, etc. Ela descreveu como os povos indígenas participaram dos diferentes grupos para realmente garantir a aplicação da Declaração nas diferentes áreas. Infelizmente, o Canadá se opôs fortemente a usar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas como marco, Tauli-Corpuz

explicou. Então, em todas as sessões, o Canadá tinha seus “melhores diplomatas” naquela convenção. Às vezes, a oposição e a presença forte do Canadá dentro destes grupos de trabalho enfraqueceram os avanços que os povos indígenas tinham feito em implementar a Declaração, disse Tauli-Corpuz. Ela declarou que é por isto que é importante para os povos indígenas estarem presentes em cada convenção, para terem suas vozes ouvidas. Tauli-Corpuz concluiu que, no final, a única coisa relativa à Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas que saiu da CDB dentro dos grupos de trabalho foi a menção sobre a adoção da Declaração no dia 13 de setembro de 2007. Isto não é o que eles queriam, ela declarou, mas eles disseram, “não importa, contanto que a Declaração da ONU seja mencionada lá.” Eles teriam gostado que o documento declarasse que a Declaração deveria ser um marco para a implementação dos diferentes programas no âmbito da CDB, mas por causa do Canadá não havia nenhuma menção a isto, explicou Tauli-Corpuz. Ela indicou, porém, que a CDB ainda tem muitas disposições que se referem às comunidades indígenas. Tauli-Corpuz previu que a próxima questão a ser tratada pelos povos indígenas seria o Acesso e Repartição de Benefícios (ABS), que determinou como pessoas de fora podem acessar recursos biológicos em territórios indígenas em troca de alguns benefícios, se esses recursos forem eventualmente comercializados. O próximo fórum a tratar esta questão será a reunião da CDB a ser realizada no Japão em 2010. De acordo com Tauli-Corpuz, estão negociando um regime internacional no âmbito do ABS para recursos biológicos. Ela acrescentou que foi acordado que a participação dos povos indígenas deveria ser facilitada, e que fundos para ajudar os povos indígenas a participar das negociações deveriam estar disponíveis. Tauli-Corpuz apontou, “É claro que acesso e repartição de benefícios dos recursos biológicos se relacionam com o comércio, os direitos de propriedade intelectual, direitos de subsistência, e todos os diferentes assuntos no âmbito da Declaração que entrarão em jogo quando o regime inteiro for negociado.”

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Tauli-Corpuz concluiu, “[os povos indígenas] estão olhando ativamente a questão dos indicadores na implementação dos programas da CDB para monitorar o sucesso dos programas. Um dos indicadores sobre o qual já concordaram é a vitalidade dos idiomas indígenas. Eles concordam que se os idiomas indígenas são vivos, então a biodiversidade e diversidade cultural também são vivas. Outro assunto são as ocupações tradicionais dos povos indígenas. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) está ajudando neste tema através de sua Convenção 111 - uma convenção que trata da discriminação contra ocupações tradicionais. A OIT está elaborando um estudo para ver onde existem ocupações tradicionais são vibrantes e como recebem apoio pela Convenção e outros acordos internacionais. Idiomas tradicionais, ocupações e conhecimento são as áreas chave dentro da negociação… Tomara que as preocupações de todos possam ser ouvidas quando o regime sobre Acesso e Repartição de Benefícios for negociado.” Ela também notou que a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) finalmente endossou a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas no seu Congresso de Conservação Mundial em Barcelona, 2008. Ela disse que isto afetaria o trabalho de conservação. Ela anunciou também, “Vai haver um grupo de trabalho aberto de especialistas sobre mudanças climáticas e biodiversidade que acontecerá no Reino Unido, de 17 a19 de novembro de 2008.” O resultado das conferências sobre REDD e povos indígenas nas Filipinas fornecerá subsídios para este seminário, porque eles “agora são também muito envolvidos em influenciar os debates na convenção sobre mudanças climáticas, especialmente no que concerne os impactos sobre a biodiversidade.” Finalmente, a Tebtebba prioriza a implementação nacional da CDB realizando treinamentos na África, Ásia e também na América Latina sobre como implementá-la em nível nacional. Uma das coisas que eles descobriram foi que os governos freqüentemente têm programas de biossegurança nacional, mas raramente os implementam nos territórios de povos indígenas, Tauli-Corpuz explicou. “A Tebtebba está promovendo projetos piloto sobre como aplicar a abordagem ecossistêmica na implementação dos programas nacionais de diversidade biológica.” Ela explicou que estão avançando com isto, porque realmente está incentivando os governos e preparando os povos indígenas para que possam

exigir dos seus governos que cumprem com os acordos assinados em nível internacional. No final das contas, a implementação em nível nacional é a área mais visível de implementação da CDB pelos povos indígenas, Tauli-Corpuz concluiu. Chefe Kokoi, também conhecido por Tony James, da Associação dos Povos Ameríndios da Guiana contou uma história sobre uma companhia que estava tentando persuadir os povos indígenas de que eles se beneficiariam de um dos seus projetos. O representante da companhia tentou explicar como eles se beneficiariam apresentando um diagrama confuso com muitas caixas e setas e então na parte inferior do diagrama tinha caixas que representavam os benefícios para os povos indígenas. Os benefícios eram de fato menos que 1%. O Chefe Kokoi declarou que os povos indígenas agora têm a ferramenta necessária para avançar. Ele declarou, “Nós somos o martelo, e agora nós temos o cinzel da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Cabe a nós continuar cinzelando, e manter o cinzel afiado.” Ele afirmou que é muito trabalho, e que, às vezes, as Convenções podem ser uma arena confusa para os povos indígenas. O Chefe Kokoi explicou que diferenças regionais são freqüentemente barreiras para o entendimento compreensivo de uma situação. Ele deu o exemplo, “Às vezes na Amazônia, nós não entendemos o que está acontecendo na África ou na Ásia.” Ele sugeriu que para melhorar a compreensão de um problema regional ou situação, os povos indígenas precisam de uma boa rede para trocar informações. Ele reivindicou que estas redes ajudariam a explicar como uma situação está funcionando dentro de cada região, de forma que “quando você chega onde você está indo, já tem uma posição comum que você pode apoiar.” Kokoi observou que é importante adquirir estas informações tanto quanto possível das instâncias regionais que representam as diferentes regiões, grupos que podem alcançar as pessoas de suas regiões. Às vezes, estas organizações nacionais não têm os recursos para alcançar as suas populações ou mesmo fazer cópias da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas para estudar durante um seminário de três dias, semelhante a esta reunião, explicou. Ele disse que o único modo que isto pode ser feito é com boa cooperação e entendimento entre as ONGs. Ele

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acrescentou que as ONGs também são o lugar onde os povos indígenas podem conseguir recursos. O Chefe Kokoi mencionou que às vezes é difícil entrar em reuniões especiais. Ele acredita que é difícil entrar na Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas, “está muito fechada.” Sim, há povos indígenas envolvidos, mas outros precisam ser incluídos na Convenção, declarou. Ele afirmou que onde quer que os povos indígenas vão, eles estão sempre em minoria.” Dentro das próprias comunidades indígenas e seus países, eles agora têm seus próprios advogados, mencionou Chefe Kokoi. Ele acredita que a iniciativa que vai acontecer muito em breve nas Filipinas é um movimento muito bom. Ele sugeriu que esta iniciativa devesse ser ampliada a outras regiões, de forma que estes advogados indígenas pudessem ser levados até lá, de forma que “possam acompanhar os representantes deles, os nossos representantes, para estas reuniões, de forma que haja jogo nivelado. “Por exemplo, muito recentemente em uma reunião de Banco Mundial, alguém chegou até o Chefe Kokoi e disse que ele realmente admira o presidente dele. O homem explicou, “Ele conhece tão bem os assuntos de REDD”. O Chefe Kokoi explicou ao homem que isto era bom, mas que o presidente da Guiana não compartilha esta informação com seu povo. Ele afirmou que muita desta informação é mantida dentro de círculos fechados e entre pequenos grupos de pessoas. O Chefe explicou que quando os povos indígenas se levantam e dizem, “Não, nós não concordamos”, então são vistos de repente como “anti-governo, anti-desenvolvimento, ou até mesmo extremistas.” Ele disse, “É dito às pessoas indígenas, ´Vocês não querem ver o desenvolvimento, porque vocês não o conhecem, e vocês não estão em uma posição para tomar uma decisão', o que significa que o Consentimento livre, prévio e informado não está sendo implementado.” Kokoi concluiu que é um momento oportuno para repensar e para se articular para fortalecer a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

DISCUSSÃO

Leila Salazar-Lopez da Rede de Ação para Florestas Tropicais (RAN) anunciou que no decorrer do último ano e meio ela monitorou diálogos de acionistas chamados Mesas-Redondas sobre Óleo de Palma Sustentável, a Mesa-Redonda sobre a Soja Responsável, e a Mesa-Redonda sobre Biocombustíveis Sustentáveis. Um dos assuntos que surgiram é que há “um linha de divisão entre [RAN] e outras ONGs”, particularmente no que tange a apoiar pessoas locais em comunidades indígenas, é a definição de terras que poderiam ser usadas para soja, óleo de palma, ou expansão de agrocombustíveis. A RAN propõe uma moratória para a expansão de soja, óleo de palma, cana-de-açúcar e agrocombustíveis, Salazar-Lopez declarou. “Atualmente não há nenhuma participação indígena na Mesa-Redonda sobre Soja Responsável”, disse Salazar-Lopez. Atossa Soltani do Amazon Watch perguntou se existe alguma história de sucesso ou estudos de caso positivos que alguém poderia compartilhar com as comunidades. Ela disse que há uma necessidade de desenvolver estudos de caso e programas de formação que sejam realmente boas ferramentas. Ela disse, ainda, que ferramentas funcionais são necessárias para ajudar a levar a CDB, a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, e REDD às comunidades indígenas. Soltani propôs que as ferramentas baseadas em direitos sejam usadas. Soltani também quis discutir planos de ação. Ela perguntou para os presentes se era apenas na Ásia onde são criados planos de ação da Declaração. Victoria Tauli-Corpuz respondeu à última pergunta de Atossa Soltani, dizendo que ela não estava segura de existir outro programa fora da Ásia. Tauli-Corpuz continuou dizendo que planos de ação da Declaração são a melhor ferramenta para unir os povos indígenas. Ela defendeu que nas Filipinas a implementação da Declaração pela recém formada Rede dos Povos Indígenas para a Implementação da Declaração trabalhou para unir os povos indígenas, embora eles sejam freqüentemente politicamente

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muito divididos. Tauli-Corpuz observou que a implementação da Declaração é diariamente visível na vida dos povos indígenas. Ela deu como um exemplo o plano de ação sobre o direito dos povos indígenas à educação e como isto ajudou a trazer consciência sobre os altos índices de analfabetismo dos povos indígenas, o que é uma questão realmente importante na vida cotidiana dos povos indígenas. Ela disse que sentia que estes planos de ação são um grande caminho para usar a Declaração para unir os povos indígenas em vez de dar visibilidade as divisões deles. Ela comentou que se uma pessoa é mais positiva, pode conseguir mais coisas. No que tange os estudos de caso positivos na implementação da CDB, Tauli-Corpuz explicou que na página web da CDB há exemplos de estudos de caso sobre como a abordagem ecossistêmica está sendo aplicada nos diferentes países. Estes estudos não só foram submetidos pelo governo, mas também por ONGs e povos indígenas, ela indicou. Também, depois de todos os treinamentos sobre a implementação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas que a Fundação Tebtebba realize, seu pessoal produz publicações de informes sobre estes treinamentos, que são divulgados na página web da Tebtebba. Estes livros são úteis, porque contêm todas as perguntas que os Povos Indígenas levantaram e as experiências que viveram nos seus próprios países, explicou Tauli-Corpuz. No que tange REDD e a abordagem ecossistêmica, é importante incorporar todos os países vizinhos nas mesmas práticas de conservação, declarou Tauli-Corpuz. Ela deu o exemplo de florestas na República Democrática de Congo (DRC), as quais de fato cobrem terras em Camarões, como também no Gabão. Assim, se o desmatamento é permitido em Camarões e Gabão, mas não no DRC, então a conservação das florestas na República Democrática de Congo não ajudará, na realidade, na diminuição das emissões globais de CO2. Todas as emissões de carbono evitadas nas florestas na República Democrática de Congo vazarão para estes países vizinhos. “Vazamento não é algo que se limita às fronteiras nacionais”, disse Tauli-Corpuz. Ela sugeriu que os grupos que trabalham com REDD realmente precisam debater como trabalhar os limites nacionais, como no exemplo acima. REDD realmente precisa ser tratado dentro de uma abordagem ecossistêmica e direitos humanos, Tauli-Corpuz acredita.

Chefe Kokoi respondeu aos comentários de Tauli-Corpuz sobre estudos de caso. Ele observou que havia alguns estudos de caso Artigo 10c da CDB. O Chefe Kokoi acredita que “estes estudos de caso são interessantes nos países onde estão sendo feitos – é só que os governos não estão prestando atenção a eles.” Mas, como foram feitos por povos indígenas, e como levaram a um plano de administração de recursos, o qual levaria eventualmente a um território para os povos indígenas, os governos não apoiariam tal coisa, ele indicou. O Chefe Kokoi acredita que uma troca de informação através de documentários seria muito útil. “Porque em algumas áreas, especialmente na Amazônia, você tem muitas boas ações. Se você pudesse colocá-las em forma de documentário e enviar a outras comunidades indígenas, eles poderiam ver o que outros povos indígenas estão fazendo em outras partes do mundo”, ele explicou. O Chefe Kokoi disse que dentro da comunidade dele na Guiana (um país de língua inglesa) eles, às vezes, sentem que “são os únicos que tentam lutar contra o grande e ruim governo.” Ele seguiu dizendo que a comunidade dele não sabe que outros povos estão lutando também, porque eles não têm acesso a rádios ou jornais (a não ser que em certas ocasiões, quando recebem um jornal que é um mês velho). “Não temos acesso a qualquer coisa”, disse o Chefe Kokoi, “assim, estamos vivendo em nosso próprio mundinho.” Ele observou que as únicas transmissões de rádio que eles recebem são do Brasil (em português), ou de língua espanhola dos países vizinhos – idiomas que eles não entendem. É muito importante divulgar esta informação tão amplamente quanto possível, porque faria com que os povos indígenas soubessem que a luta deles é mundial, ele concluiu. Trevor Stevenson de Aliança Amazônica acrescentou: “Existe muita conversa sobre participação, e dentro da CDB há um mecanismo formal pelo qual povos indígenas participam, uma articulação de povos indígenas. Nas negociações sobre mudanças climáticas da ONU não há.” Ele disse que as lideranças indígenas estão reclamando disto. Ele perguntou para os presentes: o que vocês todos pensam funciona bem dentro da articulação dos povos indígenas da CDB –o mecanismo dos povos indígenas para participação – e o que vocês gostariam de melhorar ou mudar se nós fôssemos criar um mecanismo para os povos indígenas nas negociações sobre mudanças climáticas?”

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Tom Goldtooth da Rede Ambiental Indígena respondeu dizendo que ele acredita que se todos nós começarmos a mobilizar os povos indígenas no mundo inteiro, podemos começar “um caminho novo de unificação ao redor de nossas próprias soluções para todas as questões.” Ele adicionou que a linguagem sobre desenvolvimento sustentável está dentro da Declaração, e este é um fato relevante que os Estados Unidos negligenciaram. Goldtooth resumiu que todo mundo concordou que a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas é uma ferramenta, mas não todo mundo concordou com a Declaração palavra por palavra. Ele pensa que organização e construção nas bases são fundamentais para usar a Declaração como uma ferramenta nas regiões. Goldtooth disse que dentro da Campanha Canadense sobre o Piche as “ONGs de língua inglesa” estão arrecadando entre $7 e $10 milhões na campanha. O grupo das Primeiras Nações que é o mais afetado pelos projetos de piche não está conseguindo nenhuma parte destes fundos para a organização indígena, ele declarou. Há muitas injustiças quando se trata de dinheiro que é arrecadado e não vai para a organização indígena, quando são elas que devem enfrentar os desafios. “Este é um assunto de capacidade”, Goldtooth inferiu. Ele contou uma história sobre uma reunião com um grupo de financiadores, na qual um financiador disse que não faz sentido investir o dinheiro deles em organizar os marginalizados. Ele declarou que este é um sentimento comum entre finnanciadores. Daphne Wysham do Instituto para Estudos Políticos disse que a produção de óleo de palma na Indonésia começou como resultado de uma condicionalidade que foi imposta à Indonésia pelo Banco Mundial e o FMI. A condicionalidade era que Indonésia teve que desenvolver óleo de palma a fim de receber empréstimos adicionais do Banco Mundial e do FMI. Wysham perguntou se alguém tinha examinado os impactos sobre o carbono florestal dos empréstimos bancários do passado e das condicionalidades, e então comparou isso ao carbono florestal que as pessoas acreditam preservar com a Parceira para o Carbono Florestal. Ela acredita que este seria uma boa maneira de expor a hipocrisia. Wysham também perguntou se propostas para ter comércio no âmbito da biodiversidade estão surgindo, da mesma maneira que o comércio de carbono e água está “agora sobre a mesa.” Ela quis

saber se há uma discussão sobre comercializar espécies em extinção. Ela mencionou que o Grupo Katumba tinha trabalhado este tipo de temas. John Fitzgerald respondeu à pergunta de Wysham, dizendo que a maioria do comércio sobre espécies selvagens raras, ameaçadas, ou em extinção, ocorre no âmbito da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES). Fitzgerald acredita que a CDB precisa tratar do comércio de espécies selvagem que ainda não estão ameaçadas ou em extinção, para assegurar que tal comércio é verdadeiramente sustentável. Fitzgerald acredita que a CDB evitou este assunto. Ele pensou que aplicando os dois tratados, todo o comércio sobre espécies selvagem se tornaria sustentável. Daphne Wysham interrompeu Fitzgerald para dizer o que ela pretendeu perguntar era se há propostas para a “comodificação” de espécies em extinção. Ela deu um exemplo: “Você diz que quer preservar X espécies em extinção, então você pode matar esta quantidade de tigres por aqui.” John Fitzgerald disse que ele não tem a resposta à pergunta de Wysham, mas ele sabe que de forma semelhante, a administração Bush, nos EUA, impôs uma mudança na implementação da Lei sobre Espécies em Extinção. Esta mudança permitirá tirar mais biodiversidade de terras públicas na esperança que acordos de terra privados possam compensar isto. Tom Kruse do Fundo Rockefeller Brothers disse, ainda, que a comodificação de biodiversidade aconteceu de uma forma para tentar abater parte da dívida externa da Bolívia. No início dos anos 1990s, a Bolívia concordou em proteger parte de um de seus parques nacionais eternamente, contanto que o Fundo concordasse em cancelar parte de sua dívida. Jill Blockhus da The Nature Conservancy (TNC) mencionou o papel do Grupo Katumba neste assunto. O Grupo Katumba está baseado em Forest Trends. É um grupo global que se encontra para falar sobre comércio. Monitora e promove comércio em biodiversidade, água, e compensações de carbono, Blockhus explicou. Desenvolveu o que chama a “Feira de Desenvolvimento”, que é um centro de informação usado para avaliar o que está sendo feito

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para compartilhar conhecimento nestes tópicos, semelhante ao Índice de Bloomberg. Tom Goldtooth acrescentou que tinha lido um artigo que discutia a idéia de comodificação da biodiversidade – quanto mais ameaçada a espécie, mais alto o valor monetário ela teria como commodity. Roman Czebiniak do Greenpeace International disse, “a maioria das partes Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas não estão particularmente interessadas em biodiversidade, questões sociais e assuntos indígenas.” Ele contou ao grupo que uma vez quando compareceu a uma reunião no Banco Mundial, facilitada pela Parceria sobre o Carbono Florestal. Alguém perguntou por que o grupo estava apenas focalizando em carbono e por que não em biodiversidade e assuntos indígenas. O facilitador respondeu, “Bem nossos doadores não pagarão por este tipo de ação”, contou Czebiniak ao grupo. “É carbono trocado por carbono”, Czebiniak declarou. Ele disse ainda que alguns pensamentos nos mercados voluntários unem benefícios sociais e biodiversidade ao comércio de carbono, mas explicou que está discussão não parece ter muito peso no Banco ou nas negociações de clima da ONU. Chefe Kokoi acredita que é necessário haver mais organização entre organismos regionais quando eles se encontram. Quando as pessoas se encontram no Fórum Indígena Internacional sobre Biodiversidade, precisa haver uma reavaliação da liderança dentro daquele organismo, e um foco em incorporar as vozes de todos na decisão nas posições do grupo sobre as questões abordadas, ele declarou. Isto ajudará a dar ao grupo mais foco e rumo, e prevenirá a divisão crescente entre os povos indígenas. Victoria Tauli-Corpuz declarou que há uma diferença grande entre a CDB e a Convenção sobre Mudanças Climáticas: A UNFCCC é muito fechada comparada à CDB. Ela disse que alguém lhe falou que esta diferença é porque há metas na UNFCCC, e os países têm que atingir suas metas. A razão para a natureza fechada da UNFCCC é que os governos não gostam de outros interferindo nestes acordos legalmente vinculantes, Tauli-Corpuz acredita. A solução, ela indicou, é os povos indígenas se organizarem através das várias cúpulas regionais e apresentarem um plano de como abordar os vários processos.

O Fórum Permanente da ONU também publicará um relatório sobre as medidas locais de adaptação e de mitigação de povos indígenas, a fim de mostrar ao mundo que “nós somos os que estão se adaptando”, enfatizou Tauli-Corpuz. Ela continuou dizendo que os povos indígenas têm se adaptado ao longo da história e eles continuarão a se adaptar. Ela disse que os povos indígenas também mitigaram a remoção de petróleo, e gás, e minerais do subsolo e mantiveram as árvores nas florestas. Ela declarou que, “Contribuímos mais que todos os outros para a mitigação das mudanças climáticas.” Tauli-Corpuz explicou que o próximo movimento que a Tebtebba está tentando fazer é estabelecer um capítulo sobre povos indígenas no Capítulo Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Ela contou ao grupo que eles já tinham alertado os cientistas a não usar os seus atuais padrões nos processo de revisão deles porque os povos indígenas têm suas próprias epistemologias, visões de mundo, e indicadores, e os cientistas deveriam respeitar este tipo de quadro que os povos indígenas trazem aos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Com estas mudanças, Tauli-Corpuz espera que a Convenção sobre Mudanças Climáticas poderia então considerar os povos indígenas como atores principais nas decisões. Ela disse ainda que os direitos e preocupações dos povos indígenas são realmente amplos, porque os povos indígenas e as comunidades locais foram incluídos no Plano de Ação de Bali, no âmbito das Medidas de Mitigação dentro do REDD. “É claro que realmente não era uma boa idéia que entramos por conta do REDD”, ela indica, “mas mesmo assim queria dizer que estamos lá agora, oficialmente no documento, e já há submissões de muitos governos relativas aos direitos dos povos indígenas, na medidade que se trata de processos de mitigação.” Tauli-Corpuz concluiu que a Tebtebba está buscando apoio de todo mundo na reunião porque esta tarefa requererá muita documentação, pesquisa, e visibilidade. Através deste trabalho, ela pensa que, “Podemos realmente quebrar as paredes na Convenção sobre Mudanças Climáticas.” Com relação à pergunta de Wysham sobre comércio na CDB, continuou Tauli-Corpuz, existe o Conselho de Manejo Florestal (Forest Stewardship Council) que faz a certificação de árvores cortadas de forma sustentável, que estão realmente vivas porque, como

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muitos dos exemplos da Malásia provam, as árvores não são de fato cortadas de forma sustentável. Estes esquemas de certificação precisam ser estudados para explorar melhor o que é bom e ruim e expor a verdade. Isto nos ajudaria a corroborar nosso argumento que estes processos estão conduzindo a uma “comodificação” adicional da natureza, Tauli-Corpuz acredita. “A questão maior agora é o acesso e a repartição de benefícios”, disse Tauli-Corpuz. Ela sente que o acesso e a repartição de benefícios é realmente um assunto de comércio, e a pergunta é quem tem acesso à biodiversidade e ao conhecimento tradicional nesta questão. Há, também, a pergunta de quem vai se beneficiar e como os benefícios serão repartidos. Junto com o acesso e repartição de benefícios vem o assunto da propriedade intelectual, Tauli-Corpuz mencionou. Este assunto precisa ser tratado também, de forma que o conhecimento possa ser compartilhado livremente. Então, surge a pergunta sobre as leis consuetudinárias e como isto afetará o cumprimento dos acordos. “Que mecanismos serão usados para assegurar que as leis consuetudinárias dos povos indígenas serão

respeitadas?” Tauli-Corpuz perguntou. Ela informou ao grupo que haverá aproximadamente quatro reuniões antes de chegar a um acordo sobre o acesso e a repartição de benefícios, e há necessidade de especialistas e de apoio de todos para avançar nestes assuntos. Tom Goldtooth disse que ele e outras pessoas indígenas tinham exigido durante anos que seria necessário haver um grupo de trabalho junto à UNFCCC, mas nunca acharam um país doador que estivesse disposto a financiar o grupo. “Esta era uma das maiores deficiências. Eu penso que não havia nenhum problema com esta necessidade”, Goldtooth disse. Também havia o problema de participação. Às vezes, em reuniões sobre a substância das negociações de clima, haveria apenas duas pessoas representando mais de 350 milhões de indígenas, acrescentou. Ele acredita que a situação ainda é a mesma e reiterou que vê uma demanda de incorporar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas na Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas.

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Povos indígenas têm impulsionado a formalização de seu próprio papel no caminho para Copenhague, mas quão bem as ONGs entendem as estratégias atuais dos povos indígenas ou como melhor apoiá-los? Quais países estão mais abertos para avançar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas na UNFCCC, e como as ONGs podem apoiar esforços através de delegações para defender interesses indígenas? Victoria Tauli-Corpuz, Tebtebba / Fórum

Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas

Tom Kruse, Fundo Rockefeller Brothers Victoria Tauli-Corpuz da Tebtebba e atualmente presidente de Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Assuntos Indígenas (UNPFII) compartilhou o relatório novo dela, o Guia sobre Mudanças Climáticas & Povos Indígenas que aponta modos pelos quais os povos indígenas podem influenciar a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).

“Os povos indígenas estiveram de fato lá desde o começo das reuniões sobre clima da ONU, mas eles não são significantemente incluídos”, Tauli-Corpuz notou. Uma das coisas principais que eles têm exigido é algum tipo de mecanismo de participação para permitir aos povos indígenas se engajar mais efetivamente. Em 2007, o Fórum Permanente decidiu que mudanças climáticas seria caracterizada como um tema principal em 2008. O Fórum Permanente publicou um relatório, Impactos das Medidas de Mitigação das Mudanças Climáticas sobre Povos Indígenas e sobre seus Territórios e Terras, o qual discute o impacto das medidas de mitigação como a expansão da produção e biocombustíveis na vida e na diversidade biocultural tradicional dos povos indígenas. A conclusão principal do mais recente relatório do Fórum Permanente foi que “embora os povos indígenas contribuíssem o menos para as mudanças climáticas, agora estão lhes pedindo que levem o

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peso maior em termos de mitigar tais mudanças”. Ela ressaltou que as alternativas para energia renovável que são promovidas atualmente, como biocombustíveis ou barragens hidroelétricas, continuam, de fato, a expulsar as comunidades indígenas de suas terras. O relatório também notou a capacidade decrescente dos povos indígenas para se adaptar às mudanças climáticas, visto que a magnitude da situação que eles enfrentam debilita a sua capacidade para se adaptar. Ela enfatizou como os povos indígenas assumiram um papel importante mitigando emissões através de suas lutas concretas para manter petróleo, gás, e carvão no solo, e árvores em pé na floresta. As práticas dos povos indígenas “deveriam ser reconhecidas como uma grande contribuição para a redução de emissões de gases de efeito estufa.” O relatório recomenda um engajamento mais efetivo dos povos indígenas no processo de clima. O Fórum Permanente submeteu seu relatório à Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas. Desde então, muitas outras ONGs começaram a olhar os aspectos sociais das mudanças climáticas. Os povos indígenas também participaram da Conferência de Clima da ONU em Bali, Indonésia, em dezembro de 2007, onde o assunto da Redução de Emissões provenientes do Desmatamento e da Degradação de Florestas, ou REDD, surgiu fortemente. O Plano de Ação de Bali reconhece que REDD pode impactar povos indígenas, e então eles deveriam ser consultados sempre que as várias políticas ou programas são discutidos. As lideranças indígenas também fizeram uma grande campanha em Bali contra a Parceria para o Carbono Florestal do Banco Mundial, porque descobriram que nenhuma pessoa indígena tinha participado do planejamento. Depois que ela protestou pessoalmente no evento paralelo do Banco em Bali, Tauli-Corpuz foi incluída no painel deles para discutir a inclusão dos povos indígenas nas conversas de clima. Assim, a rejeição pública a eles por parte do Banco Mundial em Bali teve como resultado algum envolvimento dos povos indígenas no processo do qual tinham sido excluídos previamente. Os povos indígenas levaram depois uma grande delegação às conversas em Acra, Gana, para falar diretamente com vários governos sobre como focalizar os assuntos de REDD, finanças, transferência de tecnologia, e adaptação.

“Como resultado de nosso engajamento no processo da ONU, os governos aprenderam que os povos indígenas não se beneficiaram em nada do Fundo de Adaptação. Na realidade, alguns fundos e projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) estão causando, de fato, muitos outros problemas para os povos indígenas, por entrar em suas comunidades e encorajá-los a participar do comércio de carbono. No processo, aumentaram as violações de direitos humanos dos povos indígenas”, Tauli-Corpuz disse. Ela também notou a importância da transferência de tecnologia, a qual ela vê como parte da solução. Ela explicou que é difícil para os países em desenvolvimento terem acesso a tecnologias de clima, uma vez que as regras globais sobre patentes da OMC demandam compensações para os direitos de propriedade intelectual. Tauli-Corpuz reforçou a demanda para: “1) pressionar a Convenção a estabelecer um grupo de trabalho sobre medidas locas de adaptação mitigação para os povos indígenas, e 2) consolidar os esforços dos povos indígenas em termos de mudança do clima”. Em maio de 2009, o Fórum Permanente da ONU planeja consolidar um relatório sobre medidas locais de adaptação e mitigação empreendidas por povos indígenas, definindo um mapa do caminho para os povos indígenas com o objetivo de alcançar um acordo global de clima em Copenhague no final de 2009, e indo além disto. Tauli-Corpuz está encorajando os próprios povos indígenas fazer a pesquisa de campo, adquirir estudos de caso e submetê-los como base do relatório que será entregue ao Fórum Permanente e à Convenção. Tom Kruse do Fundo Rockefeller Brothers disse que ele não falaria em nome de coordenador de programa de fundação, mas relembraria sua experiência com o primeiro governo indígena do mundo, na Bolívia. Lá, ele conheceu os desafios e oportunidades enfrentados pelos governos ao utilizar a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas no caminho deles para Copenhague. Kruse enfatizou o poder da linguagem, notando: “o processo acelerado atual de mudança provê uma oportunidade enorme, na qual a articulação dos valores dos povos indígenas assume um papel

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extraordinariamente importante.” Refletindo sobre a experiência da OMC, em Seattle, Kruse disse haver uma invasão extraordinária de um tipo novo de linguagem de resistência na linguagem e nos mecanismos de um acordo comercial, e mudou realmente a forma com que as coisas acontecem. “Mas agora, não é sobre parar algo, é sobre começar algo completamente diferente. O que os povos indígenas sabem é fundamental para ajudar-nos a entender como abordar estes temas.” Kruse em seguida falou sobre a oportunidade criada pelo surgimento de governos pequenos, progressivos, que reconhecem as lutas e os direitos dos povos indígenas, e poderiam ser impulsionados em se alinhar com as demandas destes povos. Ele vê uma enorme curva de aprendizagem para os governos, mas também para organizações comunitárias. “É necessário traduzir para os governos porque precisam prestar atenção, e em que prestar atenção”, ele reivindicou. Também há muito trabalho intenso de tradução com organizações comunitárias sobre os temas de clima. Kruse disse que o tempo, o tom, a linguagem, e o temperamento da UNFCCC são profundamente alienantes, talvez até mesmo coloniais. “Isto não significa que não deveríamos aprender a linguagem deles, mas deveríamos deixar claro constantemente de que é profundamente alienante e reflete um longo padrão colonial.” Kruse salientou a que o processo precisa fazer perguntas às pessoas, e escutar muito cuidadosamente as respostas dos movimentos de base. No que tange aos governos, Kruse disse, “o que precisamos fazer é entender como mostrando para eles que, agindo eticamente, e escutando, e trabalhando com os povos indígenas, eles podem: 1) assegurar recursos para fazer as coisas boas que eles deveriam fazenr, e 2) desempenhar um papel de liderança política, o que faz parte do que eles deveriam fazer.” Com governos progressivos, e governos se esforçando para ser progressivos, Kruse disse que enfrentamos um “desafio de como engajar os governos positivamente, em vez de atacar e criticar. Os movimentos sociais podem começar a impulsionar a coerência dos governos.”

DISCUSSÃO Tom Goldtooth da Rede Ambiental Indígena disse que Tauli-Corpuz tratou de momentos cruciais no caminho da UNFCCC. Ele disse ser importante notar certos passos na luta, de forma que as pessoas pudessem entender a história de porque “o fator confiança” no papel das ONGs (e os protocolos para trabalhar com povos indígenas e assegurar o apoio indígena para suas agendas) é extremamente importante. No final dos anos 1990, quando o Protocolo de Kyoto estava sendo ratificado e suas modalidades desenvolvidas, havia um impulso através dos Países para permitir “sumidouros de carbono”, como florestas, no MDL. Goldtooth disse, “havia resistência consistente através dos povos indígenas dentro da UNFCCC, opondo-se a mecanismos do mercado de carbono”. Em 2000, em uma reunião em Haia, povos indígenas, muitas ONGs, e alguns Países resistiram à inclusão de contar as reduções de emissões por sumidouros de carbono. O debate sobre os sumidouros foi o que afundou qualquer acordo que saísse Haia. As ONGs apoiaram as preocupações indígenas de que a inclusão de florestas em mercados de carbono poderia afetar negativamente seus direitos. Em 2001, em Bonn, pressão política dos Países, grandes ONGs, e corporações transnacionais forçou concessões e acordos. “Em Bonn, o Terceiro Fórum Internacional dos Povos Indígenas e Comunidades Locais sobre Mudanças Climáticas criticou fortemente qualquer medida de mitigação da UNFCCC baseada em visões mercantilistas e utilitárias das florestas, mares, territórios, e recursos de nossos povos indígenas. Estes mecanismos entraram em conflito e negaram as nossas práticas culturais tradicionais e valores espirituais”, Goldtooth disse. “Assim, havia uma linha clara naquele momento, onde os povos indígenas sentiram que a nossa posição estava abandonada nas negociações. Não havia nenhuma resposta em Bonn para nossas

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perguntas de sobre assegurar o direito dos povos indígenas de representação na UNFCCC”, Goldtooth indicou. Nossas preocupações sobre a importância de usar nosso próprio conhecimento tradicional para lidar com as mudanças climáticas, mitigação, e adaptação, como também nossa necessidade por financiamento, não foram ouvidos, e este problema ainda continua até hoje”, Goldtooth afirmou. Athena Ballesteros do Instituto Global de Recursos (WRI) apoiou o ponto de vista de Kruse adicionando: “Todo mundo tem que perceber que a paisagem está mudando. Quando nós entramos em Bali, dez anos depois de Kyoto, tudo era diferente”, ela disse. “Havia aquele momento em Bali que confirmou onde o real poder está agora: quando a China falou na plenária e fez chorar o Secretário da UNFCCC.” Ballesteros notou como algumas das propostas mais corajosas e ambiciosas saíram de fato dos países do G77 “o que nunca havíamos visto antes. Aquele grau de ambição, aquele nível de ambição, nunca se manifestou a partir de qualquer grupo de governos”, ela disse. Ballesteros também propôs modos para institucionalizar a representação dos povos indígenas nas negociações da UNFCCC. Enquanto ela concordou que um grupo de trabalho indígena formalizado pudesse ser útil, poderia ser mais importante participar diretamente nas estruturas de governança dos mecanismos distintos da UNFCCC, como o mecanismo de REDD. Ballesteros acredita que os povos indígenas têm uma chance muito maior que as ONGs de adquirir um assento em algumas das estruturas de governança. Joseph Ole Simel da Organização Mainyoito para o Desenvolvimento Pastoral Integrado no Quênia levantou as perguntas “Que capacidade têm os povos indígenas quando eles negociam com os governos? E como nós aumentamos aquela capacidade?” Em segundo lugar, Ole Simel observou que “ precisamos trazer idéias muito inventivas, específicas à mesa, em lugar de declarações gerais.” Ole Simel também deu ênfase à necessidade de identificar alguns governos progressivos e instituições que apoiariam a linguagem e idéias dos povos indígenas. Ole Simel concluiu propondo “um seminário e uma oficina entre povos indígenas, ONGs, e essas outras instituições, inclusive governos, no meio de 2009 de forma que todos possam entender melhor os desafios e frustrações que os povos indígenas enfrentam.”

John Fitzgerald da Sociedade para Biologia de Conservação levantou a questão de representação na UNFCCC. Ele disse acreditar que dois caminhos poderiam ser seguidos. O primeiro é para estruturas de governança específicas como REDD, porque, “Como Primeiras Nações”, Fitzgerald defendeu, “como gerentes de áreas, temos que defender que certo grau de representação, como uma presença quase-governamental, está legalmente garantida.” O segundo é o caminho da sociedade civil, desde que certas negociações de tratado estão bastante abertas a qualquer ONG tecnicamente qualificada. “Precisamos assegurar que tanto como ONGs, sejam ONGs indígenas ou outras ONGs, e como representantes quase-governamentais, tenhamos representação”, disse Fitzgerald discutiu. Na pergunta sobre o pacote de políticas, Fitzgerald disse, “Vimos uma grande mudança, até mesmo dentro do Senado dos Estados Unidos… com pessoas muito progressivas que dizem que sabiam que esta lei Lieberman-Warner sobre clima não era o suficiente”. Isto, Fitzgerald acredita, ilustra o fato de que muitas pessoas estão agora mesmo abertas à negociação. “Assim, deveríamos ser imaginativos naquilo que propomos”, Fitzgerald sugeriu. Claire Greensfelder do Fórum Internacional sobre Globalização (IFG) falou sobre como ONGs e outros podem ajudar a apoiar as agendas dos povos indígenas. “Se você olhar para a página web da UNFCCC, você vê que o número de ONGs e organizações indígenas está crescendo exponencialmente”, disse. Greensfelder acredita que isto é devido, em parte, ao aumento na preocupação global, mas também à idéia de que a ciência está piorando. “Uma oportunidade das ONGs”, Greensfelder continuou, “é aumentar a visibilidade dos povos indígenas para as novas pessoas que estão vindo agora para estas negociações.” Greensfelder enfatizou que isto dá às ONGs a responsabilidade de apoiar as agendas dos povos indígenas nas reuniões que virão, e também de educar as novas pessoas que estão entrando no debate. Victor Menotti do IFG lembrou uma reunião do IFG sobre clima com uma reação interessante dos povos indígenas e camponeses, os quais simplesmente estavam dizendo “Não queremos seu financiamento ou sua tecnologia. Apenas saiam de nossa terra, e nos devolvam nossos direitos.” Menotti disse que a apresentação de Tauli-Corpuz o fez perceber “como

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poderíamos trabalhar para reconhecer os direitos de terra e demarcação de territórios indígenas nas medidas de mitigação legítimas.” Ele sugeriu que seria válido “gastar nosso tempo para entender como movemos isto adiante, legitimamos isto, e descobrimos as aberturas na arquitetura da UNFCCC”. Menotti também pediu para Tauli-Corpuz que esclarecesse o que é que os povos indígenas querem em termos de representação formal nas conversas, e “como ONGs não-indígenas podem apoiar as demandas deles sobre formalizar a participação.” Na resposta, Tauli-Corpuz identificou uma oportunidade importante que aparece em Copenhague. “Um dos objetivos da Cúpula de Copenhague é para os Governos adotarem uma 'visão compartilhada' de longo prazo sobre “mudanças climáticas”. Tauli-Corpuz disse, “eu penso que deveríamos usar esta oportunidade para desafiar o modelo econômico que realmente está causando todos os problemas.” Para Tauli-Corpuz, a mudança do clima é realmente a prova do fracasso deste modelo, e ela afirmou que precisa agora definir quais são as alternativas. “Eu penso que isto realmente é onde muitos povos indígenas podem ajudar na transição para uma sociedade de baixa emissão de carbono,” Tauli-Corpuz disse. Ela acrescentou que a idéia de desafiar o modelo de desenvolvimento é precisamente porque o Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas afinou seu tema para as próximas sessões afim de focar sobre o desenvolvimento com identidade cultural.

Em resposta à pergunta de Menotti sobre medidas de mitigação indígenas, Tauli-Corpuz disse que as ONGs poderiam contribuir olhando de perto para o que já é conhecido por funcionar para o desenvolvimento dos povos indígenas. Isto, ela afirmou, deveria realmente ser o marco principal para guiar a transição para o desenvolvimento de baixo-carbono. “Porém, não podemos continuar criticando de modo generalizado. Nós temos que entrar nas situações concretas - identificar, por exemplo, o que o Banco Mundial está fazendo de errado, o que todos estes outros países estão fazendo de errado, e jogar isto na cara deles”. Assim, Tauli-Corpuz acredita, podemos levar preocupações locais para a discussão. Com respeito à pergunta de Menotti sobre institucionalizar participação indígena, Tauli-Corpuz disse que acredita que os povos indígenas ainda não possuem visões muito claras sobre isto, e que é algo ainda sendo explorado, assim a sugestão de Athena Ballestero sobre tomar um tempo para pensar sobre como povos indígenas poderiam melhor se representar dentro da estrutura é algo que deve ser pensado mais detalhadamente. Na pergunta sobre trabalhar com governos, Tauli-Corpuz contou como as pessoas Saami da Finlândia, Suécia, e Noruega asseguraram a ela que pelo menos um membro do parlamento Saami seria parte de cada uma das delegações de seu governo nacional na UNFCCC. Tendo povos indígenas como representantes das delegações de governos nacionais, Tauli-Corpuz acredita que há uma chance melhor para os povos indígenas de influenciar as posições dos governos.

O P RO TO C OL O D E K YO TO & O M E CA NIS M O D E DE SE N VO LVI M E N TO LIM PO

A implementação do Protocolo de Kyoto teve impactos específicos nos direitos dos povos indígenas. Sua revisão atual e possível expansão em áreas novas, especialmente em mercados de carbono, nuclear, biocombustíveis, e modos mais eficientes para explorar combustíveis fósseis, poderiam prejudicar interesses indígenas. O que são as principais questões nos esforços atuais para ampliar o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, e como os princípios da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas , como o

Consentimento Livre, Prévio e Informado podem ser aplicados para impedir a implementação de falsas soluções? Marcos Orellana, Centro para Direito Ambiental

Internacional Claire Greensfelder, Fórum Internacional sobre

Globalização, Marcos Orellana do Centro para Direito Ambiental Internacional (CIEL) explicou brevemente o histórico

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do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), um mecanismo de mercado que foi estabelecido pelo Protocolo de Kyoto. O MDL permite a países industrializados que têm de reduzir os gases de efeito estufa investir em projetos que reduzam as emissões em países em desenvolvimento como uma alternativa para reduções de emissão mais caras nos próprios países deles. Orellana disse que 4400 projetos forma registrados no âmbito do MDL, e este mecanismo está crescendo. A maioria dos projetos não está acontecendo nos países menos desenvolvidos, mas nos países em desenvolvimento maiores, como a China e Índia. Por causa dos investimentos internos crescentes, “o MDL é um dos mecanismos que está mantendo países em desenvolvimento engajados na UNFCCC”, disse Orellana. O MDL baseia-se em investimento privado internacional em países em desenvolvimento para alcançar seus dois objetivos, que são mitigação das mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável. Mas o MDL pode ter projetos de barragens com impactos ambientais e sociais, como violações dos direitos de povos indígenas. Orellana disse que por estas e outras razões, a integridade do MDL foi pelo menos questionada em três dimensões: 1) Na dimensão de direitos, devido a deslocamentos e à destruição de locais sagrados por barragens e projetos geotérmicos; 2) Na dimensão ambiental, devido a suposições questionáveis determinando se uma diminuição real em emissões é alcançada; 3) Na dimensões processual, devido à estrutura de governança, que alguns investidores ameaçaram desafiar legalmente por suas decisões. Propostas para reforma são oportunas porque o MDL está se expandindo além de um nível de projeto para um nível de setor, e se expandindo em termos do volume de seus investimentos. Uma prioridade é desafiar o papel do Estado para determinar se um projeto contribui para o desenvolvimento sustentável apesar de implicações associadas sobre os direitos humanos. Porém, Orellana propõe, “Se uma abordagem baseada em direitos indígenas substituísse o marco arbitrário do Estado para avaliar o MDL, então os projetos não comprometeriam os direitos de comunidades indígenas. A Declaração das

Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas poderia ser um possível marco de direitos para substituir os direitos do Estado. Porém, alguns acreditam que este é um impasse político na UNFCCC, visto que os custos de incorporar uma abordagem baseada em direitos indígenas no mecanismo seriam muito altos. Porém, uma abordagem baseada em direitos para o MDL poderia possivelmente resolver muitos destes problemas, como Orellana notou na apresentação dele. De acordo com Orellana, uma abordagem baseada em direitos para o MDL poderia produzir uma ferramenta para prevenir algumas das violações de direitos humanos. “Significaria: passo um, faça uma análise de situação; passo dois, forneça informação; passo três, faça consultas, incluindo o consentimento livre, prévio e informado; passo quatro, tome decisões; e passo cinco, monitore e avalie”, ele disse. Orellana concluiu a apresentação dele dizendo que modalidades e procedimentos do MDL já contêm certas ferramentas necessárias para aplicar uma abordagem baseada em direitos, mas certos elementos fundamentais estão faltando, como o consentimento livre, prévio e informado. Ele aconselhou que neste momento de expansão e reforma do MDL, a abordagem baseada em direitos poderia ajudar a prevenir a infração de direitos que vêm da mitigação das mudanças climáticas. Claire Greensfelder do IFG apresentou um estudo de caso de como direitos indígenas e a questão da energia nuclear estão sendo incluídos no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Uma das reais fraquezas do MDL, de acordo com Greensfelder, é que está permitindo a volta de tecnologias de larga escala, como grandes barragens e carvão limpo, tecnologias que realmente não deveriam ter um papel na mitigação das mudanças climáticas. Para Greensfelder, entretanto, o mais chocante é que a indústria da energia nuclear está voltando. De acordo com Greensfelder, isto é de grande preocupação para povos indígenas e também tem uma grande conexão com a Declaração. A indústria da energia nuclear, “a falsa solução que não irá embora”, vem participando das negociações de clima desde o começo do Protocolo de Kyoto. Participou constantemente destas negociações, pronta para oferecer energia nuclear como uma

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solução, porque tecnicamente o processo de geração não produz gases de efeito estufa. “Basicamente, é um modo muito caro para ferver água”, Greensfelder disse. Porém, ela advertiu, “Estamos entrando agora em uma nova era, onde crescem as preocupações sobre o aumento das emissões de gases de efeito estufa, que os esforços de mitigação não têm realmente feito o que precisariam fazer na Europa e ao redor do mundo, e uma vez mais a indústria nuclear está tentando se reafirmar.” Embora muitos observadores da UNFCCC nunca pensassem que isto aconteceria, a energia nuclear estava de volta nas negociações de clima nas reuniões de Acra, Gana em agosto 2008. Greensfelder apontou para o Item 3a das Conclusões do Grupo de Trabalho Ad-Hoc de Acra sobre Compromissos Adicionais para os Países do Anexo I no âmbito do Protocolo de Kyoto: O Artigo I-D, com o título “Inclui Atividades Nucleares.” Ela disse que isto mostra que “ainda há um movimento global ativo que promove a energia nuclear como parte de um novo acordo de clima.” Embora o nuclear ainda esteja sendo proposto como possível solução, estudos durante muitos anos mostraram que o investimento em nuclear é muito menos eficiente que investimentos em outras fontes, de acordo com ela. Greensfelder disse que muito lixo nuclear e muitas minas de urânio estavam localizadas em terras indígenas. “Muitos povos indígenas vivem em áreas de deserto secas onde o mundo propõe pôr lixo nuclear”, ela disse. Greensfelder apontou para vários exemplos nos quais os artigos da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas tenham sido violados pela indústria nuclear. Cita o exemplo do caso da Aldeia Puwati em Laguna Pueblo, onde a mina Jack Powell, uma mina aberta de urânio, operou por dezenas de anos, 24 horas por dia, violando, pelo menos, os Artigos 5, 7, e 11. Greensfelder acredita que a indústria da energia nuclear poderia tentar virar os direitos indígenas de cabeça para baixo, distorcendo algumas partes da Declaração, como o Artigo 21: “1. Os povos indígenas têm o direito, sem discriminação, à melhoria de suas condições econômicas e sociais, incluído, entre outros, nas áreas de educação, emprego, treinamento vocacional e repetido, moradia, saneamento básico, saúde e previdência social”. “A indústria afirmará que, de fato, gerará empregos para a comunidade indígena, cumprindo desta forma o Artigo”. Em realidade, o que estarão de fato criando, de acordo

com Greensfelder, são empregos perigosos que põem em risco a saúde da comunidade e degradam as terras. “Um acidente nuclear poderia destruir totalmente a medicina tradicional e o acesso a terras tradicionais”, Greensfelder mostrou. Isto violaria, assim, o Artigo 24. Greensfelder deu o exemplo de como um dos piores acidentes nucleares da história aconteceu em terras indígenas, e ninguém nem mesmo ouviu falar disto. Foi chamado o acidente de Rio Puerco, onde houve um enorme vazamento de urânio no Rio Puerco. Não recebeu praticamente nenhum reconhecimento internacional, e Greensfelder acredita que isto é, em parte, devido ao fato que aconteceu em terras indígenas. Outra área de direitos indígenas que é afetada pela energia nuclear é tratada no Artigo 25 que menciona uma relação espiritual com a terra. “Como você tem uma relação espiritual com a terra, se ela vai ser poluída durante 250.000 anos, o que é a meia-vida de alguns dos poluentes nucleares encontrados no lixo nuclear na mineração de urânio? “ se surpreendeu Greensfelder. Greensfelder acredita que é importante utilizar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas para lutar contra a indústria da energia nuclear nas negociações sobre mudança de clima. “Em [estes artigos], há muitos elementos para apoiar os povos indígenas, tanto para definir como a Declaração poderia avançar nas discussões que envolvem o MDL, quanto para fazer alianças com os povos indígenas nesses casos específicos, onde existem ameaças a suas terras, seus modos de vida, e o seu futuro”, disse Greensfelder.

DISCUSSÃO Leila Salazar-Lopez, da Rede de Ação para Florestas Tropicais, disse que ela teve o privilégio de se juntar a 1000 lideranças indígenas no Encontro no Xingu em 2008 em Altamira, Brasil. O propósito era resistir a

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uma barragem gigantesca que está sendo proposta pelas companhias elétricas brasileiras. Salazar-Lopez disse que isto chamou muita atenção na ocasião, e que ela tem muita esperança que a barragem sofrerá “resistência até o fim e não será construída.” Porém, o que a preocupa mais são as várias propostas para as chamadas “pequenas barragens” que seriam construídos na calha superior do rio. Ao menos uma destas barragens já foi construída com apoio do MDL. Havia uma que foi construída em Mato Grosso, onde os povos indígenas nunca foram consultados, Salazar-Lopez acrescentou. De acordo com Salazar-Lopez, estas barragens estão sendo promovidas com a reivindicação que forneceriam eletricidade local. Porém, “a real razão para construir estas barragens é fornecer eletricidade para as grandes plantações de soja”, ela afirmou. Salazar-Lopez insistiu fortemente com os participantes que mantivessem um olhar atento às barragens propostas e apoiadas pelo MDL, porque “da mesma maneira que não existe algo como 'carvão limpo', não existe algo como 'uma represa limpa'.” Jake Schmidt do Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais disse que embora haja uma longa lista de roupa suja de opções na mesa, nem todas elas vão estar no acordo final. “Eu duvido fortemente que a opção nuclear estará lá”, afirmou Schmidt. “Eu apostaria que haverá um grande movimento para evitar a opção nuclear na mesa de negociações.” Em segundo lugar, Schmidt disse, “Com o MDL, o que importa é olhar o que acontecerá posteriormente, porque o MDL de hoje será o MDL do futuro. Você não vai ter o mesmo mecanismo no acordo em Copenhague como você tem hoje”, ele disse. Para concluir, Schmidt pediu o grupo a acompanhar bem as discussões sobre o MDL que estão acontecendo, especialmente com respeito a assegurar que disposições-chave, como essas envolvendo consulta, sejam de fato efetivas. Tom Goldtooth de Rede Ambiental Indígena disse que é importante olhar para os direitos, direitos consuetudinários, direitos dos povos indígenas, e aplicar a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas a todos os níveis dentro da discussão do MDL. “As ONGs precisam estar lá para nos apoiar, na medida em que avançamos com aquela agenda”, Goldtooth disse. “E os povos indígenas precisam estar nestas discussões sobre reformas do MDL. Goldtooth urgiu os representantes de ONGs a obter ajuda dos que estão na mesa para definir quem dos povos indígenas deveria ser chamado para esta discussão. Goldtooth disse que a

outra questão aqui, que é realmente uma preocupação, é que há algumas ONGs que investem em tentar fazer o MDL funcionar na discussão de reforma. Daphne Wysham do Instituto para Estudos Políticos disse que em discussões ao redor do MDL freqüentemente acontece que as pessoas se distraem sobre “o que está funcionando, pode funcionar, pode ser melhorado” em lugar de focar no fato de que precisamos de quantidades volumosas de renda a ser transferida de Norte para Sul. Ela disse que o MDL, tal como qualquer medida, nunca poderia ser capaz de fazer isto, assim é necessário procurar uma alternativa, não só em termos de fluxo de renda, mas também em termos de estrutura institucional alternativa. “Eu fico frustrada pelo nível de discussão dentro da comunidade ambiental que assume que o MDL está aqui para ficar, assume que é a única opção para atingirmos nosso objetivo, e na realidade, defende que precisa crescer”, ela disse. “E apesar de todas as evidências iniciais de corrupção, incentivos perversos com relação a abusos de direitos humanos por indústrias sujas, e deslocamento de povos indígenas, ainda temos que dizer que este mecanismo não está funcionando. Precisamos apenas repensar nossa abordagem e não tentar consertar algo que está tão quebrado que está além de conserto.” Victoria Tauli-Corpuz disse que teve uma conversa com a Noruega, porque compraram duas das maiores barragens na região dela, as Filipinas, e ela suspeitava que estas barragens fizeram parte, de fato, de um processo do MDL. “Eu suspeito que eles vão reabilitar estas barragens”, ela disse, “e claro que estão falando sobre como pagar serviços ambientais ao nosso povo que vive nas montanhas e que estão fornecendo, de fato, a água para as barragens. É claro que funcionários do governo gostariam disso, porque se eles conseguiram obter ingressos da reabilitação da barragem a partir de dinheiro norueguês, realmente lhes ajudaria a realizar seus próprios tipos de desenvolvimento sustentável.” Ela também falou com o Embaixador e lhe perguntou por que eles queriam fazer todas estas coisas. Ele disse, porque “mesmo se nós fizermos tudo o que precisamos fazer na Noruega, ainda não poderemos reduzir o bastante as nossas emissões. Tauli-Corpuz disse que o que eles realmente querem fazer é outsourcing através de um processo do MDL, “porque isso realmente não

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vai os ajudar. Você tem que mudar estilos de vida, mudar os processos de consumo e de produção”. Tauli-Corpuz também sublinhou a questão do financiamento da transferência de tecnologia, porque “se eles são realmente sinceros em querer reduzir as emissões de gases de efeito estufa, por que é tão difícil os países ricos transferirem tecnologias para os países mais pobres?” Ela afirmou que isto é o que realmente vai ajudar os países pobres a desenvolver um impacto menor de carbono. “Mas os países ricos não estão fazendo isto”, ela disse, “e este tipo de hipocrisia me dá muita raiva, porque você continua falando sobre emissões de gases de efeito estufa ameaçadoras, mas a coisa mais importante para fazer em termos de transferência de tecnologias, de respeito aos direitos dos povos indígenas, de salvar as florestas, não está sendo feito”. Isto, ela disse, é o problema maior com o MDL, e nos impede de focalizar no objetivo mais importante, ou processo, que realmente fará a diferença. “Eu quero que as ONGs por aqui façam uma análise do que realmente foi reduzido com o processo do MDL”, Tauli-Corpuz urgiu. “Há alguma evidência empírica para provar que houve metade das emissões por causa do processo do MDL? Se não, então esqueça. Vá para as outras áreas onde isso vai realmente fazer um impacto.” Juan Carlos Jintiach da Aliança Amazônica disse que ele não vai “viajar pelo planeta para representar [seus] povos indígenas para sempre. De forma alguma.” Ele disse, “eu fui eleito por quatro anos, e assim o próximo sujeito que vai assumir a minha posição vai precisar de apoio e informação.” Às vezes, de acordo com Jintiach, falta a estas novas lideranças a informação necessária, e não apenas alguns governos não querem compartilhar informação com eles, mas mesmo algumas ONGs não querem compartilhar informação com novas lideranças, ou com representantes de organizações indígenas ou comunidades. Jintiach pediu apoio das ONGs presentes para estas futuras lideranças e representantes no processo das negociações de clima. Claire Greensfelder do IFG respondeu, acrescentando que dentro das ONGs há atualmente três posições essenciais no debate sobre o Mecanismo

de Desenvolvimento Limpo. Posição um: Reforme o MDL ou reestruture-o; Posição dois: Abandone-o completamente; Posição três: Crie um novo mecanismo. Greensfelder acredita que um dos problemas reais com este debate é que nos afasta da idéia de nos engajar em atividades mais locais, usando menos energia, usando tecnologias mais eficientes em consumo energético, como tinha mencionado Vicky Tauli-Corpuz. “Estas tecnologias realmente precisam ser transferidas de países desenvolvidos aos em desenvolvimento”, acrescentou Greensfelder. No caso dos enormes projetos nucleares e de barragens, Greensfelder disse que grandes quantias de dinheiro e recursos que estão indo para estes projetos poderiam ser economizadas usando tecnologias novas. “Persiste o financiamento de tecnologias do século XX para responder a um problema do século XXI, quando temos tecnologias novas que realmente são necessárias e poderiam ser uma grande parte de um acordo global que poderia satisfazer algumas das preocupações do G77 e de outros por uma transferência de tecnologia massiva do tipo certo, e não abandonar velhas indústrias”, ela disse. Com relação à questão nuclear, Greensfelder disse que é uma pergunta difícil, porque continua aparecendo. “Nós debatemos quanto tempo deveríamos pôr nisto, mas eu penso que esta é uma área onde precisamos fazer causa comum com nossos aliados indígenas, porque eles sofreram tão desproporcionalmente”, ela disse. “Você tem que fazer uma declaração contra o nuclear, porque se você não fizer, é como se não houvesse nenhum movimento contra isto”, ela advertiu. Greensfelder disse que mais ativistas ambientalistas e outros no mundo todo estão aparecendo diariamente dizendo que querem dar ao nuclear uma segunda chance. “Embora não acreditemos necessariamente que isto vai acontecer, temos que agir como se pensássemos que poderia acontecer, e trabalharmos conjuntamente para conter esses governos que trabalham de forma crescente para promover isto”, ela defendeu

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RE DD: C OM O P OD E M N OSS AS P RO PO S TA S P R OM OV ER A DE CL AR AÇÃ O DAS NA ÇÕES U NID AS SO BRE OS D IRE IT OS DOS PO VOS IND ÎGE NAS ?

As propostas da UNFCCC poderiam compensar países detentores de florestas tropicais por Redução de Emissões provenientes do Desmatamento e da Degradação de Florestas (REDD), visando às comunidades indígenas. Mas, propostas de REDD também causaram controvérsia devido a alguns dos mecanismos de financiamento. Olhando pela lente da Declaração, esta sessão examina várias propostas para explorar como poderiam realmente promover os direitos dos povos indígenas. Juan Carlos Jintiach, Aliança Amazônica Bard Lahn, Amigos da Terra, Noruega Roman Czebiniak, Greenpeace Internacional Paula Moreira, Instituto de Pesquisa Ambiental da

Amazônia Juan Carlos Jintiach da Aliança Amazônica leu o Artigo 34 da Declaração:

“Os povos indígenas têm o direito de promover, desenvolver e manter suas estruturas institucionais e seus próprios costumes, espiritualidade, tradições, procedimentos, práticas e, quando existam, costumes ou sistema jurídicos, em conformidade com as normas internacionais de direitos humanos.”

Jintiach descreveu como, quando ele era criança, o pai dele que era o presidente da Federação Shuar lhe falava, “Temos nosso próprio governo, temos nossa própria institucionalidade.” Jintiach disse que este sentimento de que eles vieram antes, que eles estavam lá até mesmo antes do governo equatoriano, e que “a terra, lá bem no fundo” é deles, está amparado por este Artigo da Declaração. Ele disse que esta unidade inspirou povos indígenas para priorizar a organização coletiva, em lugar de matar uns aos outros. Ele descreveu como as lideranças indígenas tinham criado a organização internacional COICA. “Por favor nos dêem este crédito.” Jintiach pediu. “Nós não somos selvagens, nós somos humanos. Temos nossas organizações.”

Ele explicou como ele teve um mandato para representar seu povo, para acompanhar as mudanças climáticas, e agora, seguir o próximo passo que ele acredita ser REDD. Jintiach explicou então como os povos indígenas tinham sido deixados de fora do processo de REDD anteriormente. Ele lembrou como o assunto de REDD tinha sido uma surpresa pra ele na reunião de junho 2008 da UNFCCC em Bonn, e como os povos indígenas não tinham sido informados desde o começo das discussões sobre REDD. “Ninguém falou comigo antes para explicar que as reuniões iniciais sobre REDD eram reuniões importantes”, disse. “Eu falei com alguns colegas e lhes disse que eu quero colocar preocupações sociais na mitigação das mudanças climáticas. Eu lhes falei, porque eu tenho um mandato, eu preciso da ajuda deles para levar o conceito real de REDD para a discussão dos povos indígenas.” Jintiach disse que os povos indígenas, e até mesmo ele, sentem-se atrasados nesta questão de REDD. “Me sinto triste porque nossos colegas, que são membros da Aliança Amazônica, a qual criou esta coalizão, têm muita informação para compartilhar.” Jintiach urgiu o grupo então a “por favor fazer o esforço para traduzir isto pelo menos ao espanhol, inglês, português, e holandês”, de forma que os povos indígenas possam se familiarizar mais com as discussões sobre REDD. Jintiach terminou dizendo que embora ele não saiba o que acontecerá amanhã, ele tem esperança. “Nós temos sonhos”, disse. “Eu acordei com um sonho lindo hoje. Mas, nós não sabemos sobre REDD no interior da Amazônia. Nós precisamos saber.” Em um argumento final, Jintiach explicou que como os EUA estão a ponto de mudar seu presidente, as lideranças das organizações indígenas também mudam, e pediu a todos para ajudar o próximo líder a se informar nestes assuntos. Bard Lahn dos Amigos da Terra - Noruega - disse que a iniciativa do governo norueguês em REDD não é um mecanismo de financiamento para REDD, está financiando projetos de REDD. “Não é uma proposta para um futuro mecanismo de REDD na negociação,

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mas de fato financiamento para projetos de REDD no período até 2012”, Lahn explicou. A oportunidade que os Amigos da Terra-Noruega vêem nisto é que isto poderia providenciar bons exemplos de como as necessidades dos povos indígenas podem ser tratadas. “Quer dizer, se temos sorte e conseguimos influenciar o modo com que o governo norueguês administra esta iniciativa”, acrescentou. O ponto de partida desta iniciativa foi uma proposta de ONGs norueguesas (inclusive os Amigos da Terra e a Fundação Floresta Tropical da Noruega) em fevereiro de 2007. Eles pediram ao governo concretizar uma promessa de financiamento para projetos de REDD e mostrar vontade política de contribuir com financiamento para ajudar a construir um cenário propício em Bali, “para demonstrar que os governos dos países desenvolvidos estão realmente dispostos a contribuir com financiamento que é adicional aos mercados e às obrigações que os países desenvolvidos têm para reduzir suas próprias emissões”, Lahn explicou. Para a surpresa deles, o governo, de fato, adotou esta proposta, e o primeiro-ministro anunciou em Bali que a Noruega estaria gastando entre $500 e $600 milhões por ano até 2012. “Propusemos alguns princípios norteadores sobre como este dinheiro deveria ser gasto para usar esta oportunidade e fornecer um exemplo de que tipos de coisas poderiam sair de REDD se for feito corretamente.” Incluído nestes princípios norteadores estava a declaração de que eles queriam a iniciativa para apoiar planos em nível nacional para reduzir emissões oriundas do desmatamento e através destes planos, para “assegurar que você tem um marco político coerente no país que é consistente com outras convenções, como a CDB, com os direitos humanos, com a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas , etc”, disse Lahn. “Seria muito importante ter estes planos nacionais desenvolvidos através de processos participativos que são abertos, amplos e transparentes, de forma que todos os interessados fossem incluídos”, ele declarou. Aqueles que são afetados poderiam participar na formulação destes planos. A proposta também pediu para a Noruega que trabalhasse para estabelecer mecanismos internacionais para coordenar este tipo de mecanismos de financiamento, separados do Banco Mundial. “Para não canalizar o dinheiro deles pelos mecanismos do Banco Mundial

que estavam sendo implementados, disse Lahn, “mas possivelmente pedir para um organismo da ONU criar um mecanismo internacional para isto.” De acordo com Lahn, o que aconteceu até o momento é que o governo investiu algum dinheiro nos mecanismos do Banco Mundial: Deram um recurso pequeno para a Parceria para o Carbono Florestal, e uma quantia mínima de dinheiro para o Programa de Investimento para Florestas (a quantia mínima necessária para conseguir um assento no Conselho deste Fundo de Investimento para Clima). Mas fora disso, concentraram-se no trabalho de pressionar algumas das agências da ONU para trabalharem juntas e propor diferentes alternativas aos mecanismos do Banco Mundial que foram lançados agora como, o REDD da ONU. “Ainda é bastante novo, assim, ainda não temos muita informação de como este mecanismo vai funcionar de fato”, Lahn advertiu, “Mas a Noruega está providenciando algum recurso para começar com este mecanismo, e financiará também alguns programas nacionais do REDD da ONU quando este mecanismo estiver funcionando.” O governo norueguês também montou uma equipe dentro do Ministério do Meio Ambiente para trabalhar com toda esta iniciativa. Esta equipe também já está negociando com alguns países receptores potenciais sobre acordos para entrar em projetos de REDD. Até agora, um acordo foi assinado com o Brasil. A Noruega contribuirá com $100 milhões por ano para o Fundo Amazônico que foi criado pelo governo brasileiro. A Noruega também destinou algum dinheiro ao Fundo da Floresta da Bacia do Congo, que está sendo criado pelo Reino Unido e será controlado pelo Banco de Desenvolvimento Africano. Lahn explicou que houve contribuições pequenas para um projeto na Tanzânia, e que a Noruega vem conversando também com a Indonésia, mas nada foi decidido ainda sobre com quais outros países a Noruega estará trabalhando em possíveis projetos. Lahn acrescentou que pediram ao governo para adotar um enfoque baseado em direitos através de processos de participação amplos. “O governo [norueguês] está apoiando uma necessidade de basear um mecanismo não apenas em carbono, mas também nas necessidades e direitos das populações locais, dos povos indígenas, e em preocupações com a biodiversidade”, ele explicou.

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Mas quando tratamos de objetivos específicos a serem medidos, o foco até agora ainda tem sido principalmente em reduzir carbono. Quando perguntam se a Noruega requererá processos participativos - o envolvimento de povos indígenas, ou implementação da Declaração como uma condição prévia para entrar em acordo com um país que detenha floresta - o governo diz “Bem, não se trata necessariamente de uma condição prévia - não queremos condicionalidades na ajuda bilateral, mas deveria estar lá e queremos trabalhar para assegurar que esteja lá.” “Mas contanto que eles tenham certeza que deveria ser uma condição prévia, não sabemos como se dará este processo,” Lahn disse. Lahn acrescentou que nas negociações da UNFCCC sobre o mecanismo futuro de REDD, eles também estão pedindo para a Noruega propor uma referência à Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas no texto. Porém, de acordo com Lahn, o governo respondeu dizendo, “Bem, isto é difícil. É óbvio que apoiamos isto, mas nunca será aceito pelos EUA ou Canadá, assim não tem sentido propô-lo.” Isto levou Lahn a acreditar que embora o governo da Noruega esteja apoiando e compartilhando os objetivos que temos, eles não querem colocar pressão sobre as coisas no sentido de incluí-las no processo da UNFCCC. Lahn listou quatro coisas necessárias para garantir que estes fundos sejam usados de forma a representar alguns bons exemplos para o trabalho futuro de REDD: 1) Uma avaliação dos países com os quais a Noruega está falando para entender como o trabalho nos possíveis receptores está sendo realizado. Por exemplo, são feitas consultas aos povos indígenas? Como os governos receptores estão trabalhando nisto? É muito importante conseguir esta avaliação. 2) Ajuda para construir alianças. Se conseguirmos criar um “G5” de países que podem referenciar a Declaração no texto da UNFCCC, se pudéssemos ajudar o governo norueguês a construir alianças com países que apóiam os direitos indígenas, tendo estes aliados tornaria bem mais fácil para a Noruega pressionar por isto nas negociações. 3) Propostas concretas sobre como incluir povos indígena em todos os níveis do processo. É muito importante assegurar a participação dos povos indígenas no mecanismo REDD da ONU, o qual está sendo criado neste mesmo momento. “Eu penso que

se trata de um momento muito importante para influenciar isso, porque podemos ajudar a desenhar isto se aproveitarmos o momento certo que é agora mesmo”, Lahn disse. 4) Garantia do mesmo tipo de participação em nível nacional dentro dos países no inteiro processo da UNFCCC. Lahn circulou o documento-base do governo norueguês com relação à iniciativa deles que explica as suas metas e objetivos, e inclui uma lista de pessoas na equipe que está trabalhando nisto no Ministério do Meio Ambiente. Ele disse que têm uma pessoa de contato para ONGs, e que a Amigos da Terra da Noruega lhes pediu para não tratar o documento como algo concluído, mas como parte de um processo aberto, e eles concordaram em considerar qualquer comentário futuro sobre isto. Lahn concluiu dizendo que se alguém tivesse algum comentário para fazer com relação ao documento-base do governo norueguês, poderiam, e deveriam,, enviar diretamente ao governo. Roman Czebiniak do Greenpeace International começou a apresentação dele mostrando um diagrama para representar a organização. De acordo com Czebiniak, Greenpeace International não aceita dinheiro de governos, não aceita dinheiro de corporações, não possui nenhuma terra, e não compra nenhuma floresta. “Assim se estivermos errados em algum assunto, é porque estamos simplesmente errados”, disse Czebiniak. Ele explicou, então, como as decisões que seriam tomadas antes do final de 2009 em Copenhague gerariam impactos em terras indígenas. Ele fez o que chamou de uma “pequena petição” ao grupo, dizendo que “precisamos ter a capacidade de consultar os povos da floresta, elaborar estratégias juntos, e ter um impacto nestas negociações, e entre estas negociações reunirmos com os governos e reivindicar está pauta [dos povos].” Na sua apresentação, Czebiniak ilustrou como aproximadamente 65% de emissões vêm de energia e indústria, e aproximadamente 20% de emissões vêm do desmatamento. “Assim, se queremos evitar uma mudança climática catastrófica”, disse, “precisamos fazer tudo para reduzir ambos de forma agressiva, do modo mais eficiente e justo possível.” Czebiniak explicou que da forma que o Protocolo de Kyoto funciona atualmente, e isto também se aplicaria à

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legislação antecipada dos EUA sobre clima, como também à legislação da UE, licenças de carbono são fornecidas para as companhias, e em vez de regulamentar todas as suas atividades para reduzir suas emissões em certa quantidade, eles podem comercializar estas emissões entre eles - a idéia é que podem funcionar assim de uma forma mais eficiente. Caso contrário, as companhias que não têm estas licenças teriam que fechar. Mas a proposta de algumas nações de floresta tropical e outros foi de permitir que estas companhias continuem produzindo, contanto que “compensassem” as emissões, plantando ou protegendo algumas florestas. “O Greenpeace tem problemas sérios com estas propostas, porque pensamos que elas não são consistentes com uma política climática que nos manterá abaixo de dois graus”, Czebiniak explicou. “Estamos preocupados com um modelo que é projetado para fornecer bens e serviços ao custo mais baixo, e como isso afetaria os direitos dos povos indígenas e também a biodiversidade.” De acordo com Czebiniak, a coisa boa dos mercados é que eles entregam bens e serviços ao custo mais baixo, mas a coisa ruim é que eles fazem isso freqüentemente assim, através da externalização de custos o que afeta de forma negativa as pessoas ou o meio ambiente. O Greenpeace defendeu que propostas para compensar e comercializar créditos de florestas não deveriam ser permitidas, e que instalações que precisam deles deveriam simplesmente fechar se não puderem cortar as suas emissões. Ele também acrescentou que, atualmente, estas licenças são fornecidas gratuitamente para as companhias, mas elas deveriam pagar por elas. Pagamentos para estas licenças poderiam criar um novo fundo de florestas, o que poderia então gerar um incentivo para manter para manter as florestas em pé. “Esta não é, de fato, uma proposta do Greenpeace”, disse Czebiniak. “A idéia que o poluidor deveria pagar já se discute faz bastante tempo.” Mas geralmente, esta abordagem para financiar REDD é chamada de “leiloar.” Czebiniak disse que a proposta do Greenpeace nos leva um passo adiante para defender a criação de uma “unidade financeira específica para florestas” que não deveria simplesmente buscar o benefícios do carbono, mas também os benefícios para a biodiversidade que coadunam com os direitos dos povos indígenas locais. “Isto”, disse, “é importante

porque a UNFCCC trata todas as árvores atualmente de forma igual. Assim, uma floresta de plantação que foi plantada trinta anos atrás é tratada igual a uma floresta que está em pé faz 800 anos. E não queremos criar um incentivo para desmatar e compensar isso com plantações.” Compensar tem uma força política grande. Os países ricos querem conseguir compensar as suas emissões de forma que possam continuar com as suas práticas comerciais usuais: alguns governos de países em desenvolvimento também têm esta visão, contanto que conseguem financiamento; e quem perde são o clima e as pessoas. Czebiniak disse que a proposta para compensação pelo mercado de créditos de florestas foi promovida de forma mais clara aqui nos Estados Unidos, e há uma coalizão chamada O Diálogo sobre o Carbono Florestal que é composto pelo Fundo de Defesa Ambiental, The Nature Conservancy (TNC), a Conservação Internacional, a Companhia de Petróleo Shell, American Electric & Power, Pacific Gas & Electric, AIG, Gestão Sustentável de Florestas, e uma organização indígena dos Países Baixos que não foi transparente com relação ao seu envolvimento (de acordo com Tom Goldtooth). De acordo com Czebiniak, o que deveríamos reivindicar é ter sociedade civil / representação indígena no Conselho de qualquer fundo de REDD. “E me parece que já existem certos fóruns formalizados, como o Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas e o Fórum Indígena Internacional sobre Biodiversidade”, disse Czebiniak. Ele espera que esses possam ser modificados ou desenhados de forma a representar um fórum real onde os povos indígenas possam levantar questões, como o consentimento livre, prévio e informado e outras questões que estão surgindo no âmbito de projetos de REDD para alimentar diretamente a governança do fundo que consistiria de países em desenvolvimento com florestas tropicais e países industrializados. Com relação a outros assuntos da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas , Czebiniak participou de uma reunião com um representante da Tebtebba que tinha apresentado a idéia de que se os governos não aceitarem a Declaração inteira, talvez possamos usar alguma linguagem estratégica para inserir no texto de REDD com a qual poderíamos trabalhar então

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posteriormente, quando os assuntos entrem na pautas? “Eu gostaria muito de trabalhar com isso”, disse. Paula Moreira da Organização brasileira Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) disse, “REDD é uma coisa nova, e as pessoas estão mudando as suas posições sobre isso o tempo todo.” Ela acredita que os povos indígenas não deveriam sentir que estão ficando atrás, porque todo o mundo ainda está aprendendo sobre isto. O Brasil, por exemplo, mudou a sua posição significativamente em REDD durante a reunião da UNFCCC em Acra, Gana, em agosto de 2008, reconhecendo finalmente que pessoas que empreenderam esforços para conservar áreas de florestas também deveriam receber incentivos positivos por estes esforços, não só aquelas que apresentaram altas taxas de desmatamento alto no início e agora estão fazendo esforços para ajudar a reduzir o desmatamento. “Esta foi uma grande mudança”, disse Moreira, “porque desta forma você evita o incentivo perverso em recompensar apenas os países que desmatam. Agora há uma possibilidade para recompensar os esforços de conservação também.” Moreira disse que existem quatro significados diferentes de REDD, e todos são reconhecidos na definição da UNFCCC de REDD de acordo com o Plano de Ação de Bali que foi aprovado em dezembro de 2007. Moreira leu o seguinte trecho da Decisão 1/CP.13 do Plano de Ação de Bali:

[As Partes decidem] lançar um processo abrangente que permita a implementação plena, efetiva e sustentada da Convenção, por meio de medidas de cooperação de longo prazo, com início imediato, até 2012 e posteriormente, visando alcançar um resultado por consenso e adotar uma decisão em sua 15a sessão, que aborde, entre outros: ...(b) A intensificação das medidas nacionais/internacionais de mitigação da mudança climática, inclusive, entre outras coisas, a consideração de: ...(iii) Criação de políticas e incentivos positivos com relação a questões referentes à redução de

emissões provenientes do desflorestamento e da degradação florestal nos países em desenvolvimento; e o papel da conservação, do manejo sustentável das florestas e do aumento dos estoques de carbono das florestas nos países em desenvolvimento.

Moreira disse que estes quatro elementos listados na seção (iii) ilustram os quatro significados diferentes de REDD: 1) redução de emissões provenientes do desflorestamento e da degradação florestal nos países em desenvolvimento, 2) o papel da conservação, 3) manejo sustentável das florestas, e 4) aumento dos estoques de carbono das florestas nos países em desenvolvimento. Depois de explicar o significado de REDD em termos de definição de políticas no âmbito da ONU, Moreira destacou que o mesmo envolve quatro elementos completamente diferentes, os quais as pessoas estão chamando “REDD.” Ela sugeriu que quando as pessoas perguntam “o que acha você de REDD?” você tem que esclarecer o que eles querem dizer por REDD. “Você quer dizer os quatro elementos na Convenção da ONU, ou se refere a projetos pilotos de REDD, ou você quer dizer o Fundo do Banco Mundial para REDD, ou se refere ao Fundo REDD para a Amazônia?” ela ilustrou. “Existem quatro conceitos completamente diferentes de REDD. Assim, quando as pessoas lhe pedirem para assumir um posicionamento, você tem que esclarecer o que é sobre o qual você está opinando”, disse Moreira. Moreira acrescentou que o Mapa do Caminho de Bali estabeleceu um período de dois anos para desenhar o marco de REDD. Assim, neste tempo de dois anos, qualquer ator social pode influenciar o processo submetendo propostas. “Em minha opinião”, disse ela, “os povos indígenas são os que possuem mais legitimidade para submeter propostas, porque estão morando nas florestas. Graças a eles, nós ainda temos as florestas em pé e preservadas como estão hoje.” Ela disse que temos que aumentar a participação dos povos indígenas, fazer ouvir as vozes deles, e capacitá-los como negociadores com os governos. “Se os povos indígenas percebem que não conseguem construir a própria proposta deles durante este período de dois anos, eles deveriam pedir uma moratória para permitir a construção de idéias e uma coleção de informações e dados de fundo”, disse Moreira.

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Ela descreveu, então, uma recente proposta chamada “Abordagem em Fluxo de Estoque” que recomenda que dois tipos de compensações, ou recompensas, deveriam ser dados a REDD. Ela disse que é um pouco semelhante à proposta de Greenpeace, pois também cria um fundo separado para ser usado de dois modos diferentes. Uma parte do dinheiro iria para países que já reduziram o desmatamento de acordo com a própria linha-base deles, e então a outra parte recompensaria os países de acordo com os estoques de carbono que têm. Moreira disse que isto poderia ajudar a tratar da questão de como recompensar em primeiro lugar os países que têm taxas baixas de desmatamento e de carbono. “Esta discussão apareceu em Acra, e estarão tentando fazer uma simulação deste projeto na Amazônia”, acrescentou. Moreira apoiou a proposta de Vicky Tauli-Corpuz para estabelecer um grupo de trabalho sobre medidas locais de adaptação e mitigação para os povos indígenas em comunidades locais, como descrito no relatório da Tebtebba sobre mudanças climáticas e povos indígenas. Ela notou que esta é a primeira proposta relativo à REDD que veio diretamente dos povos indígenas, e acredita que isto é extremamente importante, como também criativo. Moreira disse que ela também apóia a idéia de criar um fundo para os povos indígenas para mudanças climáticas para financiar projetos de REDD e atividades de capacitação de povos indígenas para REDD. Com respeito à linguagem, Moreira afirmou que é importante defender a linguagem da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas no desenho do marco pós-2012 que incluirá REDD. Ela enfatizou os seguintes quatro elementos da Declaração que ela acredita terem uma linguagem importante que deve ser utilizada: 1) O direito à autodeterminação, como explicado no Artigos 3, 20, 23, e 10. 2) O direito à terra, território, e recursos naturais, como explicado no Artigo 26. 3) O direito à cultura e à identidade, inclusive o direito ao desenvolvimento com identidade. 4) O direito ao consentimento livre, prévio e informado, como explicado nos Artigos 10, 19, 28, 29, e 32.

Sobre o nível de implementação de REDD, Moreira descreveu alguns exemplos de como a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas poderia ser utilizada. “Por exemplo”, ela disse, “os países deveriam provar que reconheceram os seus povos indígenas e os direitos dos povos indígenas à terra, por exemplo, através da demarcação do território tradicional deles, para poder receber fundos de REDD.” Ela também acrescentou que poderia existir algum tipo de instância de monitoramento externo, talvez do Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas, para assegurar que isto está sendo realmente realizado. Moreira também mencionou o Fundo Amazônico de REDD que recebeu dinheiro da Noruega. A COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), ela disse, tem um assento permanente no comitê executivo deste fundo. O comitê executivo é responsável por tomar as decisões sobre como aplicar os recursos do fundo. “Embora eles não estivessem incluídos na criação do fundo, as pessoas indígenas têm agora pelo menos um pouco de influência sobre as decisões sobre o que o fundo fará”, ela disse. Talvez o comitê pudesse, por exemplo, utilizar os princípios da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas como exigências para acesso ao fundo, tal como usar a demarcação como ferramenta de mitigação. Moreira enfatizou que há oportunidades dentro do REDD que poderiam dar visibilidade aos povos indígenas e aos direitos dos povos indígenas. “Pode ser uma grande oportunidade”, ela disse, “Também temos uma oportunidade para educar as pessoas, os negociadores de REDD, e as grandes ONGs sobre a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas , e trazer a Declaração ao debate, e tirar vantagens desta crise que estamos enfrentando.” De acordo com Moreira, há oportunidades de financiamento para ajudar a capacitar os povos indígenas para que possam falar com os países e fortalecer a visibilidade da Declaração. Moreira terminou a apresentação enfatizando que os países do Anexo-1 têm que cumprir as obrigações deles antes mesmo de começar a dizer que os países em desenvolvimento devem ter ações. “As mudanças climáticas são a prova do fracasso do modelo”, Moreira concluiu, lembrando uma declaração semelhante de Vicky Tauli-Corpuz.

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“Agora”, ela disse, “temos uma oportunidade de desenhar REDD de forma que possa beneficiar os povos indígenas.”

DISCUSSÃO Robert Goodland, ecologista e ex consultor ambiental do Banco Mundial, disse que realmente apreciou as apresentações desta seção e isto foi muito proveitoso. “Eu não sabia muito sobre REDD”, ele percebeu. Entretanto, ele também percebeu que nenhuma apresentação havia mencionado gado industrial. “Uma grande parte do desmatamento é devido a gado industrial”, Goodland argumentou. O Banco Mundial está financiando atualmente projetos de gado industrial que custam $2 bilhões, tais como fazendas de gado, muitos dos quais estão acontecendo na Bacia Amazônica. “Desse modo, de todo o desmatamento e degradação, grande parte, se não a maioria, vem do desenvolvimento da criação de gado”, disse ele. A criação de gado causa dezoito por cento do desmatamento e degradação, de acordo com a estimativa mais utilizada, a da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Mas de acordo com Goodland, esta estimativa está “totalmente errada. Eles negligenciam, subestimam, ou até omitem classes inteiras de emissões de gás estufa do ciclo de vida do gado”, disse ele. “Se você recalcular utilizando os próprios números deles... os dezoito por cento aumentam para um enorme quarenta por cento, e isso é um salto muito grande.” Uma solução, de acordo com Goodland, é simplesmente comer menos carne. “De acordo com o IPCCC”, disse Goodland, “o modo mais rápido, mais barato de reduzir a mudança climática sem a necessidade de qualquer intervenção do governo ou CDM é comer menos carne.” Goodland mencionou vários efeitos globais positivos que viriam com o fato de comer menos carne, o que inclui a prevenção de crises de água e alimento, melhoria da saúde humana, redução do desmatamento, e a prevenção

de extinções. Além disso, cria apoio para povos indígenas. Victoria Tauli-Corpuz acrescentou que quando os povos indígenas foram consultados sobre REDD, um dos destaques foi a necessidade de identificar os causadores do desmatamento. “Se nós pudermos identificá-los corretamente, estaremos no caminho certo”, disse ela. Tauli-Corpuz advertiu que quando o Banco Mundial apresentou os causadores do desmatamento, eles reivindicaram que a causa eram as inconstâncias na agricultura. “Nós protestamos”, disse ela, “porque, realmente, a mineração, corte de árvores, exploração de petróleo e gás, criação de gado, etc. tudo isso causa o desmatamento. Cultivo inconstante - Meu Deus! Isto realmente demonstra como eles podem apresentar um quadro distorcido.” Tauli-Corpuz enfatizou que este é o primeiro desafio para todos nós - identificar de fato as causas de desmatamento e lidar corretamente com elas, porque isso é uma oportunidade que o REDD fornece. Tauli-Corpuz também acrescentou que uma das outras propostas dos povos indígenas nestas consultas foi o estabelecimento de um órgão consultivo ou painel internacional que seria composto por povos indígenas, possivelmente incluindo alguns membros do Fórum e representantes indígenas dos países financiadores bem como dos países onde os projetos estão sendo realizados. “Pensamos que este painel poderia monitorar exatamente o modo como os projetos do REDD estão sendo realizados na prática”, Disse Tauli-Corpuz, “e assegurar que todos os princípios da UNDRIP realmente estão sendo respeitados pelo governo, doadores, e os outros agentes.” Ela encerrou seu comentário dizendo que talvez este seja outro mecanismo que poderíamos propor para ser estabelecido. Joseph Ole Simel da Mainyoito Pastoralist Integrated Development Organization [Organização para o Desenvolvimento Integrado dos Pastores de Mainyoito] levantou a questão de como os países que realmente estavam por trás da adoção da UNDRIP, como a Noruega, realmente não estão trazendo os elementos da Declaração para o desenvolvimento do REDD. “Para mim” disse ele, “isso é realmente um retrocesso. Quando você possui uma Declaração, os países que a assinaram e de fato apoiaram precisam fazer cumprir os princípios da Declaração.” Ole Simel afirmou que estes países na

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realidade não tendem a se conscientizar da Declaração, e que precisamos lembrar de que onde quer que estes projetos do REDD estejam sendo desenvolvidos, o respeito aos elementos da Declaração deve ser assegurado. “Precisamos de um mecanismo para assegurar que tudo o que será desenvolvido tem que levar em conta a existência da Declaração”, ele declarou que “Precisamos ter um mecanismo que possa dizer, bem, há algo errado aqui quando houver algo errado.” Ole Simel também destacou a necessidade de discutir com grupos indígenas os benefícios e ameaças do REDD. “Acho que precisamos sair e reconhecer que o REDD não apenas vai proporcionar soluções - vai representar ameaças”, afirmou. A segunda parte do comentário de Ole Simel foi direcionada a Bard Lahn, da Friends of the Earth – Norway [Amigos da Terra – Noruega]. “Por que a captação de recursos da Noruega vai para o Banco Mundial e para o Banco de Desenvolvimento Africano?” perguntou, “Há alguma razão particular para este dinheiro ir para bancos e não para alternativas como o Fórum Permanente da ONU sobre Povos Indígenas? Há uma razão particular para isto?” Concluindo, Ole Simel apoiou a ideia de que os povos indígenas precisam de um fundo. “Este processo será longo, e muito caro”, reconheceu. Siri Damman da Rainforest Foundation Norway [Fundação de Floresta Tropical da Noruega] disse que gostaria de acompanhar o que disse Bard Lahn sobre o estado da Noruega com relação aos direitos dos povos indígenas. Ela afirmou que em uma conferência que aconteceu na Noruega em 15 a 17 de outubro de 2008, Erik Solheim, o Ministro de Desenvolvimento e Meio Ambiente da Noruega, foi convidado a falar. Damman disse que ele fez um bom discurso, e falou sobre a importância de apresentar os direitos dos povos indígenas nas negociações sobre o clima. “No entanto,” disse ela, ”no final ele foi questionado sobre se a Noruega seria capaz de acompanhar e pressionar sobre os direitos dos povos indígenas nas iniciativas.” Damman leu então uma citação do Development Today:

Em uma conferência em Oslo na semana passada, o Ministro do Desenvolvimento e Meio Ambiente Erik Solheim rejeitou a noção de

reconhecer os direitos dos povos indígenas a florestas, uma condição da ajuda norueguesa. Salvo se houver casos de extrema privação ou supressão direitos, disse o Ministro, condicionalidade está fora de questão. Referindo-se à Indonésia que provavelmente será o próximo receptor de uma grande doação de carbono florestal norueguês ele declarou: “A maioria dos países sobre os quais estamos falando são nações democráticas com seus próprios sistemas em funcionamento. Se começássemos a impor condições sem primeiro embarcar no diálogo, simplesmente seríamos expulsos.

Damman disse que não haveria oportunidade para esclarecer o que Solheim quis dizer com isto, porque ele foi embora. Ela leu então do mesmo artigo:

O Development Today perguntou a Inger Næss, oficial daNorwergian Climate and Forest Initiative [ Iniciativa Climática e Florestal Norueguesa], sobre a discrepância entre a recusa do Ministro em assumir uma linha dura sobre os direitos e declarações que sugerem que as comunidades e locais indígenas devem ter uma função central no REDD. “Deve haver processos de consulta aos povos indígenas e povos dependentes da floresta”, disse Næss. “Se os direitos humanos e os direitos dos povos indígenas não forem respeitados, obviamente tentaremos influenciar os processos. Mas se isto não obtiver sucesso, os fundos de ajuda noruegueses podem ser retirados”.

Atossa Soltani do Amazon Watch perguntou sobre o painel, “Dado o prazo de dois anos, e falando sobre a construção de capacidade e o fundo do REDD, praticamente falando, onde estamos em termos de adquirir um mecanismo para representação indígena?” Ela perguntou se os delegados indígenas poderiam falar sobre as viabilidades de um processo

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para os povos indígenas ajudarem a elaborar algumas de suas propostas conduzindo ao REDD, e também perguntou se alguém poderia explicar como o comércio de carbono trabalharia no REDD. Tom Goldtooth da Indigenous Environmental Network [Rede Indígena Ambiental] disse ser da opinião de que é um pouco prematuro esperar uma proposta indígena sobre um mecanismo para participação indígena dentro do REDD. Ele disse também achar que “é extremamente importante haver uma necessidade de mais povos indígenas de cada área no mundo que sofre impacto... estarem envolvidos e terem uma oportunidade para esta discussão. Como desenvolvemos este mecanismo, e a participação e função de países doadores e países que recebem investimento nisto, realmente é uma grande questão de confiança”, acrescentou. Goldtooth destacou que alguns povos indígenas no Norte global veem a Noruega como “investindo no genocídio cultural dos povos indígenas investindo suas empresas nas Tar Sands [Areias Oleíginas]. “A Noruega, apesar de Kyoto, de fato aumentou a emissão de gases estufa em onze por cento de 1990 a 2007”, argumentou. “Assim o modo como eles dão baixa em seu balanço de carbono para parecer bom, é investindo em áreas arborizadas.” Isto cria uma questão de direitos humanos e uma violação aos direitos indígenas. “Portanto há mais problemas a tratar aqui, como os povos indígenas, e então precisamos que as ONGs defendam que violar os direitos humanos dos povos indígenas é, em si mesma, uma questão ética e moral”, enfatizou Goldtooth. Ele concluiu acrescentando que para muitos povos indígenas é uma questão de vida ou morte, e algo que deve ser levado em conta. David Waskow da Oxfam América destacou a necessidade de prestar muita atenção e envolver a legislação dos EUA. Ele declarou que embora a conversa estivesse principalmente no contexto internacional, a maioria das principais propostas legislativas dos EUA sobre mudanças climáticas que estão atualmente sob discussão incluíam providências significativas sobre questões do REDD, inclusive compensações e várias outras providências também. “Dado o tamanho significativo do que a obrigação dos EUA significará em termos legislativos, em seu próprio direito e em termos de como poderia afetar as negociações da ONU“,disse Waskow, “acho que é absolutamente crítico que

todos os que estão prestando atenção e se envolvendo nesta questão vejam este processo.” De acordo com Waskow, infelizmente, as ONGs na realidade estão focadas nesta dimensão social somente em um grau limitado. E francamente, disse ele, não esteve tanto no radar no Congresso também.” Para realmente colocar isto completamente no radar, será necessário um grau de mobilização por parte de ONGs e povos indígenas”, concluiu Waskow. Janet Redman do Institute of Policy Studies’ Sustainable Energy and Economy Network [Instituto de Estudos sobre Política de Rede de Energia e Economia Sustentável] fez uma pergunta para Roman Czebiniak do Greenpeace. “Você mencionou as unidades florestais, e eu gostaria de saber o que isso significa na proposta do Greenpeace e se isto é algum tipo de mecanismo de comércio de carbono?” perguntou ela. Redman disse que tinha um comentário, ou interesse, sobre a obrigação, não só da participação indígena no projeto do REDD ou qual esquema do REDD acontece ao final do dia, mas também a aplicação das leis existentes e onde isso terminou com a participação indígena. Ela afirmou que há uma necessidade de falar sobre como isto operará nos diferentes mecanismos que estão sendo propostos. Roman Czebiniak do Greenpeace respondeu ao comentário de Janet Redman dizendo que geralmente quando as pessoas estão falando sobre mercados de carbono e estão falando sobre colocar o REDD nos mercados, o argumento é que você proporcionaria eficiências permitindo que as companhias privadas no Norte lidem diretamente com países ou governos no Sul para desenvolver projetos. “Nesses casos”, disse Czebiniak, “vocês estão falando sobre colocar as florestas no mercado como uma compensação direta. A floresta está ligada ao crédito de compensação. Considerando que temos problemas com esta questão, o que propomos, essencialmente, é criar uma unidade artificial que faria parte do mercado para gerar captação de fundos que iria então para as florestas. Pode haver ideias melhores, e acho que as pessoas precisam ser criativas.” Trevor Stevenson, co-diretor do Amazon Alliance, disse que de tudo que viu, o REDD assume essencialmente que o governo é a entidade responsável pela proteção da floresta, e não os povos

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indígenas ou organizações indígenas. “E este é o motivo de tanto ignorar a função dos povos indígenas e organizações indígenas em que eu vi como sendo da boca para fora”, disse Stevenson. Na medida em que um mecanismo do REDD poderia fortalecer a administração territorial de organizações indígenas, em vez de fortalecer os mecanismos do governo para administração territorial, Stevenson acredita que poderia haver mais mérito nisto, algo que ele gostaria de ver. Com relação à Noruega, Stevenson é da opinião de que não faz sentido financiar projetos que violam princípios para os quais eles assinaram. Ele disse que talvez algum tipo de Lobby sobre eles poderia ser organizado para fazer compreender este ponto. Stevenson acrescentou que em uma reunião na semana anterior sobre o Forest Carbon Partnership Facility [Instrumento de Parceria sobre o Carbono Florestal], houve uma apresentação pelo Brasil no Fundo Amazônico onde eles estavam explicando algumas das coisas que eles estavam fazendo diferentemente do Forest Carbon Partnership Facility. Stevenson disse que pouco foi mencionado sobre questões indígenas lá, mas seria interessante ver como as questões indígenas são incluídas nisto. Stevenson perguntou à equipe se sabiam sobre alguma comparação dos diferentes modelos para o REDD e como eles lidam com questões indígenas - e se não, se alguém poderia compilar algo. “De modo ideal, eu gostaria que estes diferentes modelos competissem entre si para provar qual é o melhor inclusive UNDRIP”, concluiu, “Seria interessante, no mínimo, iniciar a comparação sobre como eles estão lidando com a UNDRIP.” Kate Horner do Friends of the Earth acompanhou no ponto sobre abordar o problema dos causadores do desmatamento. “Acho que esse é um ponto crucial a ser abordado”, disse ela. “Temos uma responsabilidade, em países consumidores, de nos dedicarmos ao nosso papel no incentivo ao desmatamento em todas as opções de política disponíveis.” Horner disse que uma questão fundamental que estamos esquecendo nesta discussão é: O que realmente pensamos que esta nova intervenção de capital vai nos trazer na proteção das florestas? “Precisamos indicar os modos nos quais estes são mecanismos que irão beneficiar os poluidores”, disse ela. Se você olha para os custos de oportunidade a serem cobertos, os mercados de

carbono estão sendo propostos porque os governos estão dizendo que você precisa deste nível de capital entrando nestes países para garantir as oportunidades de desenvolvimento que estão sendo perdidas do azeite de dendê, por exemplo. “Precisamos nos atentar para o fato de que estes custos de oportunidade e perdas de desenvolvimento precisam ser abordados, mas há um motivo pelo qual o azeite de dendê é lucrativo, e não é porque está sendo consumido na Indonésia”, disse Horner. Ela advertiu que temos que estar muito atentos aos argumentos em torno da intervenção de capital e o que isso nos trará, especialmente por causa do papel tentativas anteriores de tratar sobre a questão do desmatamento, que tem implantação zero até o momento. Kristen Walker Painemilla da Conservação Internacional enfatizou a necessidade de olhar para balança. “Estamos falando sobre a necessidade de várias balanças”, disse ela,” [Por isso] é importante olhar para o que está acontecendo no local, o que as comunidades locais precisam, bem como regionalmente e globalmente.” Walker Painemilla reconheceu o fato de haver vários exercícios de construção de capacidade acontecendo globalmente em muitas organizações, inclusive organizações presentes na reunião. “Como podemos captar recursos para torná-los mais eficazes de fato e entregar a organizações indígenas?” perguntou ela. Ela queria saber quais propostas estão vindo de organizações indígenas sobre a necessidade dessa construção de capacidade e como projetá-la. Ela destacou que o outro problema é envolver os governos no diálogo. “Como podemos estar mais conscientes sobre como nos organizar e consolidar estes esforços, de forma que não desperdicemos tempo nem dinheiro?” perguntou ela, “E como podemos nos associar às forças já estabelecidas de forma mais eficaz?” Walker Painemilla concluiu dizendo que seria interessante ouvir de Victoria Tauli-Corpuz sobre quais recursos e fundos as organizações indígenas precisam e como assegurar globalmente que as organizações indígenas sejam representadas? “Nós, organizações não indígenas, também precisamos ter certeza de que entendemos a rede complexa das organizações indígenas”, disse ela. Há muito a aprender.”

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Daphne Wysham, diretor do Institute for Policy Studies’ Susteinable Energy & economy Network [Instituto de Estudos sobre Política de Rede de Energia e Economia Sustentável], voltou à questão que Joseph Ole Simel levantou sobre por que o Banco Mundial está se tornando o repositório para muito destes fundos, especialmente envolvendo florestas. “Para os que não se recordam”, disse ela, “em 1997 o Tesouro Nacional dos EUA na verdade notou que foi um conflito de interesse para o Banco Mundial financiar combustíveis fósseis e propor o fundo de carbono protótipo“. O Tesouro Nacional reconheceu que o Banco seria mais eficaz ao tratar da mudança climática se simplesmente implantasse e fortalecesse suas diretrizes de eficiência de energia. Em vez disso, o Banco Mundial as enfraqueceu, de acordo com Wysham. Ela destacou que o mesmo tipo de argumento poderia ser feito em torno da questão que Robert Goodland tratou, isto é, que o Banco Mundial dissemina o desmatamento. Wysham disse que Janet Redman do IPS tinha esboçado alguns cálculos e descobriu que cerca de quarenta por cento do dinheiro que entra nas Readiness Plan Project Idea Notes [Notas de Ideia para o Projeto do Plano de Prontidão] (RPINs) do Banco Mundial ficariam de fato dentro do banco. “Tanto dinheiro estará basicamente beneficiando uma enorme instituição que é incentivadora do desmatamento”, argumento Wysham. ”O mesmo negócio com o Banco de Desenvolvimento Africano.” Um exemplo que ela utilizou para ilustrar este ponto é que na África Central não só é o Banco Mundial que traz os consultores externos, consultores franceses, para traçar os RPINs, mas em uma citação eles disseram, “Eles deveriam olhar como se este documento fosse escrito pelo governo.” “Obviamente,” disse Wysham, “está sendo escrito por consultores que não só não estão assessorando os governos, mas certamente não estão assessorando os povos indígenas.” Bard Lahn respondeu aos comentários feitos por Tom Goldtooth sobre a hipocrisia fundamental de nações ricas que continuam aumentando sua própria poluição enquanto saem a fazer algo que beneficie as florestas. Ele concordou que isto certamente se aplica à Noruega. Ele acrescentou que enquanto a Noruega tem se envolvido neste impulso para fornecer fundos para o REDD, o governo ainda não cumpriu sua promessa de proibir a importação de madeira ilegal. Ele disse que eles também querem saber por que a Noruega está investindo dinheiro no Banco Mundial. “Entretanto,” acrescentou, “acho que deve ser dito

que a maioria do dinheiro da Noruega não está entrando de forma alguma no Banco Mundial.” Bard enfatizou que as ONGs estão trabalhando duro e conseguiram evitar que a Noruega coloque a maioria dos fundos no Banco Mundial. “Agora,” ele disse, “eles estão muito mais dispostos a canalizar mais a captação de fundos através do mecanismo do REDD“. De acordo com Bard, isto poderia provar ser uma boa alternativa para captação de recursos do Banco Mundial, mas na realidade, eles não sabem como isto se mostrará, admitiu. Em termos de projeto de lei, John Fitzgerald da society for Conservation Biology [Sociedade para Biologia de Conservação] advertiu que não podemos inserir cada acordo internacional existente em cada novo acordo. “Precisamos ter certeza de que não estamos adquirindo por preempção quaisquer contratos de conservação ou tratados ou obrigações existentes aos quais [estes estados] estejam subordinados... quando tentarmos elaborar o próximo protocolo sobre clima“, disse ele. “Deveríamos mencionar expressamente leis mais novas que não são leis duras, como a UNDRIP, mas podemos lidar com isso simplesmente dizendo que não estamos adquirindo por preempção os direitos indígenas que existiram dentro da Convenção sobre Diversidade Biológica”, observou Fitzgerald. Ao aplicar essas leis, qualquer novo acordo ou financiamento deve exigir que o órgão demonstre que já está aplicando isto ou financiando sua aplicação conforme caminhamos junto, mas de tal modo que nenhum dano seja causado por falta de aplicação. A aplicação, argumentou Fitzgerald, sempre deve estar disponível aos cidadãos. “É a única razão pela qual as principais leis ambientais trabalham. Freqüentemente processamos o governo, e essa é a única razão pela qual fizemos essas coisas funcionarem”, disse ele. De acordo com Fitzgerald, a Convenção de Aarhus criou um precedente extremamente importante por meio do qual os cidadãos não apenas podem fazer cumprir os direitos sob este dentro de seu próprio país, mas também em outros países que fazem parte disto. Ele enfatizou que devemos utilizar este precedente. Fitzgerald disse que com relação à ciência, o alvo não precisa mais ser dois graus. “Isso foi há vários anos atrás”, enfatizou. Quando a Society for conservation Biology perguntou a Jim Hansen quais devem ser os objetivos, ele respondeu que estamos perdendo nosso gelo tão rápido, nossa chuva tão rápido, que temos que trabalhar o mais rápido possível para

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reduzir as atuais 379 partes por milhão de carbono para 350. Mesmo se chegarmos a 1,5 grau, estamos nos preparando para perder trinta por cento de todas as espécies na Terra. Marcos Orellana fez uma pergunta a todos os membros. Sabemos que algumas das propostas são designadas a doar os fundos para as florestas, disse ele. “Mas esta é uma metáfora, obviamente, pois as florestas não vão receber nenhum fundo.” Em vez disso, os fundos vão para instituições ou para pessoas, e a pergunta que Orellana levantou é: “Para onde irão estes fundos?” Para o governo? Para os próprios povos indígenas? Como, e por quem esta decisão seria tomada? Orellana também recordou o que Tom Kruse havia mencionado anteriormente que vai haver corrupção, o que é inevitável. Orellana queria saber se alguma das propostas mencionava um modo para evitar isto. Tom Kruse do Fundo Irmãos Rockefeller respondeu a Marcos Orellana dizendo que estamos vivendo agora mesmo no momento após uma desestruturação e enfraquecimento em massa de estados e governos ocorrer no mundo inteiro. A questão toda do que constitui o domínio do mercado, o que define seu relacionamento com o estado, está agora em discussão. “Mercados sem estados não trabalham”, disse ele, ” [no entanto], acho que também manifestou que não podemos renunciar o problema político hoje.” Kruse também enfatizou que temos que ser altamente suspeitos dos mercados como soluções para problemas. Com respeito à pergunta sobre de onde vem a delegação de poderes, Kruse disse não achar que é uma simples oposição binária do governo contra os mercados. Ele concluiu que em termos de buscar onde encontrar delegação de poderes, ele não se voltaria primeiro para os mercados, mas ao invés, olharia para as pessoas para ver quais mecanismos estão utilizando para obter seus poderes . Victoria Tauli-Corpuz usou seu comentário para reiterar que a situação dos povos indígenas é realmente muito medonha. “Ainda que adotássemos a Declaração, sabemos muito bem das violações de nossos direitos básicos contidos na Declaração [estão comprometidas] diariamente por governos, companhias, e mesmo por algumas organizações de conservação“.Tauli-Corpuz disse que por causa disto, os povos indígenas abordam a toda a questão

do REDD de um modo muito prático. Eles pensam que há uma oportunidade para enfatizar que a UNDRIP deve ser a peça central. Este deve ser seu ponto número um, disse ela. O segundo ponto dela foi que “não podemos suprimir os governos. Gostemos ou não, eles são os que negociam estes acordos, não nós”, disse ela. Ela também destacou que precisamos diferenciar entre governos. Nem todos os governos são semelhantes, disse ela. Há governos que são realmente sensíveis aos direitos dos povos indígenas. Tauli-Corpuz advertiu contra fazer extensas declarações afirmando que todos os governos são ruins, e por isso os governos não devem ter o direito de proteger as florestas. “Isso é totalmente ilógico”, disse ela, “porque há os governos a nível nacional, a nível local com quem estamos trabalhando. Há governos indígenas e há autoridades tradicionais dos povos indígenas que serão capazes de exercer um papel nestas [negociações].” Isto, disse ela, é particularmente o motivo pelo qual Tebtebba gostaria que os povos indígenas que são afetados por estes programas fossem aqueles a falar sobre o assunto. “Mesmo se você for uma rede nacional como COICA [Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica], lá você não pode falar aos povos indígenas locais”, disse ela. Tauli-Corpuz enfatizou que estes povos indígenas devem ser os primeiros a falar, porque são eles que sabem como e qual deve ser a situação e como desenvolvê-la. “O direito à autodeterminação é inestimável, e que [grandemente] se aplica aos povos indígenas. Nossa função é apoiar este direito”, concluiu. Trevor Stevenson do Amazon Alliance seguiu em seu comentário anterior sobre a assunção subjacente de que são os governos que protegem as florestas e não organizações realmente indígenas. “Estou aqui porque estamos muito focados nesta discussão sobre os direitos dos povos indígenas”, disse ele, “e há outro nível inteiro disto que é viabilidade.” Ou seja, o valor prático das organizações indígenas pode fortalecer sua capacidade de administrar seu território. “Quando vemos governos envolvendo povos indígenas [no processo], parece mais para a exatidão política, conforme os direitos, do que para a ideia de que isto é algo prático e útil a fazer”, acrescentou.

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O comentário final de Bard Lahn foi que, considerando como a Declaração pode ser aplicada a REDD, depende das ONGs fazer isto acontecer. Ele incentivou os outros a contribuírem para isso, tal como o governo norueguês que está designando este mecanismo REDD. Paula Moreira do IPAM [Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia] disse que sua preocupação não é sobre como levantar o dinheiro, se através dos mercados de carbono ou de doação, mas sobre como canalizar os fundos para realmente atacar os causadores do desmatamento. E também como elevar a consciência dos povos indígenas, porque em muitos países eles nem mesmo são reconhecidos, e conseqüentemente, seus direitos não são reconhecidos. “Como este novo reconhecimento da importância das florestas e a demanda para as florestas pode trazer à luz os direitos dos povos indígenas e o reconhecimento da UNDRIP?” perguntou. Roman Czebiniak do Greenpeace disse pensar que não precisamos fornecer apenas um incentivo

econômico, mas também um incentivo social. “Se quisermos que o REDD funcione no final das contas, temos que acertar a curto prazo”, disse ele. O modo como projetarmos o sistema vai determinar isto, de acordo com Czebiniak. Ele acrescentou que aguarda um retorno e espera que todos sejam criativos em termos de elaborar boas propostas. Juan Carlos Jintiach do Amazon Alliance estendeu um convite aos presentes para uma reunião que a Aliança terá com a COIAB [Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira] no Brasil. Eles terão um Fórum Amazônico, “porque queremos ter nossas próprias discussões e queremos analisar e resumir o que vamos apresentar sobre questões de mudança climática e REDD”, disse Jintiach. Eles convidaram várias ONGs a vir e se sentar com os dirigentes locais, de forma que as ONGs poderiam reconhecer quem são eles. Ele terminou dizendo que teve uma boa oportunidade para devolver ideias, porque há algumas ONGs que estão fazendo atualmente seminários com organizações locais e regionais em suas comunidades indígenas.

FI NA NCI A ND O U M N EG Ó CI O GLO B AL

Uma convenção de Copenhague é designada para financiar a adaptação e transferência de tecnologia, além de proteção de floresta (via REDD), mas como as soluções que estão sendo propostas - de planos de contingência para refugiados de clima deslocados para captação de recursos recentemente expandidos e o desenvolvimento de tecnologias de energia mundial - irão causar impacto nos interesses indígenas? As pessoas estão dizendo, “Saia da nossa terra! Não queremos sua tecnologia ou seu financiamento!” Como eles estão sendo ouvidos, se estiverem, na UNFCCC [Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas]? Onde as oportunidades na arquitetura econômica de Copenhague aplicarão a UNDRIP? David Waskow, Oxfam América Jake Schmidt, Conselho de Defesa de Recursos

Naturais David Waskow da Oxfam América discutiu o tema de adaptação com respeito a financiar a mitigação da

mudança no clima. Ao pensar em financiamento, Waskow acredita que temos que pensar nas duas questões principais: 1) A geração da própria receita 2) O mecanismo institucional, entrega, e relacionamento para pessoas na base. “Se você não der a eles o direito, você tem um problema”, disse ele. Waskow mencionou o Artigo 20, Seção 2, da Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas que ele julga ser muito interessante e potencialmente muito importante. O Artigo 20.2 diz ”Os povos indígenas privados de seus meios de subsistência e desenvolvimento têm o direito a justa reparação.” As implicações deste Artigo, Waskow acredita serem bastante poderosas. “No contexto da mudança climática, penso que esta nos levanta uma questão muito importante, ou seja, a abordagem do fato de que muitas pessoas em todo o

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mundo serão significativamente afetadas pelos impactos das alterações climáticas e dentre aqueles que serão afetados, de uma forma mais profunda, se encontram de fato os povos indígenas,” disse ele. “ Já há muitos exemplos concretos onde os povos indígenas estão sendo afetados por uma ampla gama de impactos climáticos.” Então, Waskow levantou a questão da reparação. A Oxfam vem realizando certo tipo de trabalho, mais recentemente, em um jornal lançado há alguns meses chamado Climate Wrongs and Human Rights [Ações Erradas contra o Clima e Direitos Humanos], o qual analisa as formas pelas quais a mudança climática deve ser vista através de uma perspectiva dos direitos humanos e na tentativa de integrar e fornecer a reparação para as comunidades que serão afetadas, mas que não são diretamente responsáveis por tal mudança. O grupo de 77 países em desenvolvimento juntamente com a China (ou G77 + China) tem sido certamente proativo na proposta para o financiamento das negociações da UNFCCC. Waskow advertiu que ao longo dos anos, a Oxfam tem certamente testemunhado o fracasso dos países desenvolvidos em cumprir seus compromissos em disponibilizar uma determinada porcentagem de seus PIBs ou produtos nacionais brutos. “O compromisso para conceder fundos que sejam equivalentes a sete por cento dos PIBs dos países desenvolvidos não chegou nem perto de ser cumprido, com exceção de alguns países, entre eles a Noruega,” afirmou Waskow. De acordo com Waskow, embora o G77 tenha dimensionado o problema corretamente em termos da quantidade de financiamento necessária, a pergunta é: Como vamos desenvolver um sistema que realmente seja eficaz? Waskow declarou que acredita que em sua apresentação, Roman Czebiniak do Greenpeace fez um bom trabalho ao estabelecer uma das principais ferramentas que a Oxfam pensa que deva ser realizada para realmente se conseguir o nível necessário de financiamento. A Oxfam, Waskow disse, fez uma análise e divulgou um trabalho acerca de um ano e meio, o qual discutia o que é necessário. Concluiu que em termos de adaptação, os países em desenvolvimento precisam de algo em torno de $50 bilhões ou mais todo ano. Entretanto, o UNDP (Programa de desenvolvimento das Nações Unidas) desbancou a Oxfam, argumentando que a estimativa

correta esteja mais próxima de $86 bilhões anualmente e há diversos outros números. Para Waskow, a pergunta principal é: Como você pode gerar este tipo de rendimento? A proposta na qual a Oxfam está mais interessada é aquela que tomaria algumas das licenças internacionais de emissão, ou subsídios e colocá-las de lado, em seguida levá-las a leilão tanto para entidades públicas como para privadas. “Nossos cálculos são leilões na faixa de 7,5 ou 10 por cento dos subsídios que são criados através de um acordo da UNFCCC, você poderia [potencialmente] gerar aproximadamente $50 bilhões de rendimento,” Waskow disse. “Claro, que dependente muito do preço do carbono, mas há uma oportunidade que através destas reservas se gere imensas quantias de rendimento,” adicionou ele. De forma similar, a Oxfam também irá apoiar as propostas para gerar rendimento nos setores marítimo e da aviação internacional, particularmente por meio do leilão dos subsídios naqueles setores. Agora, os voos internacionais e o transporte não se encaixam em nenhum sistema internacional de emissões, porém ao colocá-los em um sistema de emissão e leiloando aqueles subsídios, a Oxfam estima que eles possam gerar outros $20 bilhões de rendimento, aproximadamente. Quanto à entrega, Waskow acredita que uma das questões críticas é como projetar uma estrutura institucional que será sensível às comunidades na terra. “Agora, mesmo com o fundo de adaptação, que é um corpo razoavelmente novo, onde há um representante da maioria dos países em desenvolvimento no conselho, mesmo lá, questões de participação da comunidade, dos povos indígenas, não têm realmente feito parte da agenda,” disse ele. “Eu acho que uma das tarefas que temos pela frente, mesmo no cenário onde o saldo total nação-estado seja mais apropriado que tem sido o caso em todas as estruturas administrativas multilaterais restantes, nós ainda termos que descobrir como colocar estas questões de administração participativa em pauta,” concluiu Waskow. Jake Schmidt, diretor da International Climate Policy [Política Internacional para Questões Climáticas] no Natural Resources Defense Council [Conselho de Defesa dos Recursos Naturais], começou sua apresentação dizendo que fizemos alguns progressos

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em relação ao acordo de Bali, ao estabelecermos os princípios fundamentais. Algo que ele acredita ser realmente crucial é a idéia de que nós precisamos equacionar os investimentos, os recursos e as oportunidades que fluem do norte para o sul. “Temos recebido esta promessa em muitos acordos internacionais durante um longo tempo e, sendo completamente sincero, houve uma quantia de dinheiro ínfima captada para lá,” ele disse. “[Entretanto],” Schmidt continuou, “penso que há uma crescente conscientização de que precisamos distribuir os recursos que devem fluir dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento tendo como objetivo uma assistência na transição para o desenvolvimento sustentável, como energia limpa. A boa notícia é que isto já existe. Está sobre a mesa.” Embora, o Roadmap de Bali tenha a linguagem específica que as ONGs concordam ser essencial para o financiamento da mudança climática, isto não significa que os mecanismos já estejam disponíveis, Schmidt advertiu. “Como todos sabem, um acordo internacional é tão forte quanto os mecanismos que as pessoas propõem em seus governos nacionais e no fórum internacional para apresentá-los. As palavras em si não têm qualquer significado, a menos que haja substância por trás delas,” disse Schmidt. Ele acredita que seja realmente crucial nos próximos um ano e meio propor mecanismos que possam realmente implementar as propostas. Schmidt disse que uma coisa que se deve manter sempre em mente, ao se considerar a estrutura destas abordagens, é que “para melhor ou pior, os acordos climáticos constituem contratos intergovernamentais. Nós, como ONGs, tentamos influenciar as perspectivas daqueles governos e vocês povos indígenas devem igualmente tentar influenciar as perspectivas governamentais. No entanto, caso me perguntassem qual seria minha solução ideal para a mudança climática, eu diria que não sairia de Copenhague.” Disse que não estamos sequer próximos do que seja ideal. Schmidt declarou que devemos trabalhar dentro do mecanismo que dispomos, e o mecanismo que temos agora é o governo. “Não significa que vocês não possam influenciá-lo,” disse ele. “Penso que vocês podem influenciar de duas maneiras muito importantes.” Uma é através do seu governo nacional. Os governos às vezes vêm para estas negociações com uma pauta definida e às vezes sem uma. “Há uma maneira de

influenciar essa pauta de modo que quando os governos venham para as negociações, a pauta deles esteja refletindo suas opiniões como povos indígenas,” Schmidt reivindicou. O outro ponto mencionado por Schmidt é o esclarecimento a nível internacional. “Há sempre a oportunidade para se intervir em nome dos direitos dos povos indígenas em alguns destes mecanismos-chave, e isto é realmente crucial, mas eu faço a advertência de que ao entrarmos em Copenhague, estamos muito além das idéias,” disse ele. Schmidt igualmente destacou a necessidade de se apresentar idéias específicas, de forma que a linguagem seja definida, pois, ele acredita que o início do acordo em Poznan começará a gerar um texto detalhado. O acordo vai começar a tomar forma. “Assim, se você tem idéia daquilo que quer, o tempo não está do nosso lado para desenvolver essa linguagem,” disse ele. Então, Schmidt apresentou a maneira pela qual pensa que o acordo esteja sendo definido com precisão: 1) Como já declararam claramente, os países em desenvolvimento acreditam que os países desenvolvidos precisam tomar uma liderança contínua para reduzir suas emissões. “Espera-se que com o passar do tempo, os alvos dos países desenvolvidos irão se tornar ainda mais agressivos,” Schmidt disse. 2) Os países em desenvolvimento precisam tomar algum nível de ação que seja conduzida por seu desenvolvimento sustentável, segurança energética, estratégias de redução da pobreza, etc. Os países em desenvolvimento agirão não apenas movidos pelos pagamentos provenientes do norte. Há ações a serem feitas que são do seu próprio e melhor interesse. O nível dessa ação irá variar obviamente de país para país. Os países em desenvolvimento irão assumir uma ampla gama de ações. 3) Os fluxos de financiamento ajudarão os países em desenvolvimento em maiores ações de redução de emissões. “As estruturas que os países estão adotando em seus próprios objetivos de desenvolvimento devem ser consideradas,” Schmidt explicou. A favor ou contra, os mercados de carbono estarão relacionados a quaisquer mecanismos desenvolvidos. “Acredito que há significativa pressão para que os mercados de carbono exerçam um papel naqueles mecanismos, e eles podem atuar da melhor maneira ou pior dependendo dos

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projetos,” Schmidt disse. Explicou que, embora as ONGs tenham pressionado duramente a legislação doméstica dos E.U para minimizar a quantidade de compensações permitidas nas contas das questões climáticas, é uma luta muito dura. “É dura porque não existem muitos aliados do nosso lado. Entretanto, é importante assumir uma posição de que não iremos ter todas as emissões dos países desenvolvidos resolvidas simplesmente através da compra de compensações fora dos E.U.A e da Europa,” explicou. 4) Espera-se que haverá incentivos bem-desenvolvidos para a distribuição de tecnologia. “Temos tido muitos debates ao longo dos anos nas convenções sobre o clima acerca da idéia da transferência de tecnologia – debates que não estão chegando a lugar nenhum, pois não dispõem de qualquer mecanismo real,” Schmidt explicou. Assim precisamos descobrir quais devem ser aqueles mecanismos. Como você realmente entrega as tecnologias que queremos e as entrega de uma maneira que as tornem atrativas para os países em desenvolvimento? Devemos reconhecer que precisam ser atrativas tanto para os países em desenvolvimento como para aqueles que estejam exportando tais tecnologias. “Ademais, não é apenas uma questão de ter as tecnologias e ter aquelas tecnologias fluindo. Nós também precisamos de fato ter as estruturas bem implementadas nos países em desenvolvimento para ajudar a entregar as tecnologias em questão e para assegurar que elas estão atendendo as necessidades dos países em desenvolvimento,” Schmidt explicou. Em sua conclusão, Schmidt disse acreditar que haverá incentivos para o desflorestamento. “Vejo alguns mecanismos básicos para que os grupos indígenas comecem a interpor,” disse ele. “O que significa realmente FPIC e como apresentamos esse mecanismo no âmbito das contas das questões climáticas nos E.U.?” perguntou. Schmidt acrescentou que é realmente crucial em qualquer mecanismo de financiamento, ter estabelecido o registro da terra, bem definido e adequadamente aplicado. É crucial que os povos indígenas desempenhem um papel para definir como esse registro de terra se apresentará. Igualmente destacou a necessidade de mecanismos que posam de fato gerar dinheiro proveniente do capital nacional dos governos para as pessoas na terra. “É necessário que

todos contribuam com a forma pela qual isto realmente irá funcionar na terra,” ele incitou. Em conclusão, ele apoiou a idéia de que é crucial abordar alguns dos programas internacionais relacionados ao desflorestamento. “Por exemplo,” disse, “sabemos que o desmatamento ilegal é uma questão básica em muitos países. Há uma ferramenta muito boa que se encontra agora disponível nos Estados Unidos para abordar esta questão.” Ele se referiu à nova lei, a qual John Fitzgerald havia mencionado que exige que toda madeira ou produtos madeireiros que entrarem nos E.U.A devem apresentar o certificado de que foram legalmente colhidos. “É uma ferramenta muito poderosa e uma lei importante,” disse ele, “contudo, possui uma força proporcional ao mecanismo de aplicação que a implementa. Mas, é uma ferramenta que, no âmbito do sistema norte-americano, temos uma grande força para colocar em vigor através das cortes e das exigências.” Schmidt concluiu com o fato de que precisamos de pessoas que realmente atuem quando houver necessidade. “Precisamos dispor de pessoas na terra que possam sinalizar quando estes problemas surgirem, de modo que possamos utilizar as ferramentas,” ele disse.

DISCUSSÃO Athena Ballesteros do World Resources Institute [Instituo de Recursos Mundiais] destacou três diferentes questões em seu comentário. Primeiramente, abordou o fato de que, como David Waskow da Oxfam America disse, há uma submissão do G77 acerca de como “esta nova arquitetura financeira pós-2012 se apresentará. Penso o que me deixa impressionada como novo e diferente,” afirmou, “é o fato de que foram a China e a Índia que conduziram realmente as discussões do G77 com a proposta do emprego de uma determinada porcentagem do PIB dos países desenvolvidos a fim de gerar o rendimento tão necessário. No entanto, o que é interessante na política é que não dirão que aqui existem negociações, mas nas reuniões às portas fechadas, se têm realmente afirmado ser importante

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que esta proposta esteja associada às atividades de mitigação de países em vias de desenvolvimento – potencialmente obrigatórias, potencialmente voluntárias,” acrescentou Ballesteros. Ela acredita que o fato de existir pequenos sinais provenientes dos dois países em desenvolvimento de que podemos realmente falar sobre os compromissos financeiros mensuráveis, que podem ser relatados, passíveis de verificação associados a algumas atividades de mitigação por parte dos países em vias de desenvolvimento mudará um pouco as regras.

Em segundo lugar, Ballesteros reconheceu que as discussões financeiras são muito complexas e ficarão ainda mais complexas. “Mas,” disse, “penso que as ONGs, a sociedade civil e especialmente as organizações dos povos indígenas precisam recobrar o sentido de urgência. A ciência está desolada e se tornando cada vez mais desolada, dia após dia. Acredito que o sentimento de urgência precisa estar presente, embora as negociações tenham se tornado muito complexas. Penso que nós temos a responsabilidade fazer isto.” Ballesteros também enfatizou que há uma necessidade de “recobrar” o sentido de responsabilidade. Para Ballesteros, o que é interessante nas propostas financeiras que estão sendo colocadas sobre a mesa, é que não estamos falando apenas sobre a ajuda econômica determinada pelo doador. “Há igualmente muitas propostas sobre os grandes países emergentes que contribuem com uma determinada quantia de dinheiro destinada ao financiamento da mitigação da mudança climática,” disse ela.

A terceira questão que Ballesteros abordou foi como a UNDRIP poderia ser incorporada nestes processos. “Quais são as oportunidades para que a Declaração seja incorporada em alguns dos mecanismos que Jake [Schmidt] mencionou?” quis saber. Ela reiterou a análise das oportunidades no âmbito do Fundo de Adaptação. “Nós temos alguns membros do conselho muito progressistas no Fundo de Adaptação, particularmente na África do Sul, que está de forma surpreendente aberta à questão das ONGs e dos povos indígenas,” Ballesteros acrescentou. A China igualmente propôs um Fundo Multilateral para Cooperação Tecnológica como parte do tratado de Copenhague. E, embora atualmente, a lista de tecnologias que estão sendo propostas seja muito diferente da lista apresentadas pelas ONGs, Ballesteros enfatizou que há ainda muito espaço para influenciar estas discussões.

Victor Menotti do IFG disse que a pergunta “O que, exatamente, é tecnologia limpa?” será uma assunto realmente importante. Comentou que ainda não está certo se seguiu quem está propondo um fundo multilateral, e que não sabia que já havia uma lista de determinadas tecnologias que estão sendo especificadas para a proposta do G77. “Entretanto, o que posso lhe dizer,” disse, “é que estas propostas não estão sendo pensadas certamente através da visão da Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas.” Haverá certamente algumas tecnologias que terão mais impacto sobre os povos indígenas do que outras, ele enfatizou. Menotti disse que gostaria realmente de ver o grupo criar uma lista que incentivasse determinadas tecnologias e restringisse certas outras. “Não penso que chegamos de fato naquela parte da discussão – sobre uma listagem negativa de quais tecnologias devem ser mais controladas,” ele acrescentou.

Menotti disse que apóia a ideia de Tauli-Corpuz sobre o papel dos direitos de propriedade intelectual na transferência tecnológica. “Haverá um pacote inteiro sobre o que vem a ser este regime de transferência tecnológica,” disse, “e tem a ver com pesquisa e desenvolvimento e a cooperação entre o Norte e o Sul, sobre qual tipo de tecnologia deva ser financiada e desenvolvida.”

Ele explicou, “O pacote de suporte precisa conter tanto o hardware como o software.” O software é necessário para dar suporte aos países em desenvolvimento para que possam desenvolver as estruturas reguladoras, os mecanismos de política, o "know-how", e a perícia de gerenciamento a fim de desenvolver uma economia de energia limpa que dê sustentação àquelas tecnologias e incentive a adoção daquelas tecnologias.

Menotti também explicou que deve haver algo que realmente disponibiliza o equipamento, que é o hardware. “Uma das maiores barreiras para a disponibilização do equipamento,” explicou, “são as regras atuais concernentes à propriedade intelectual sob a guarda do WTO.” Menotti descreveu como sob a Lei do Ar Puro nos E.U.A há uma provisão para o licenciamento compulsório, onde se uma companhia estado-unidense não for capaz de cumprir suas exigências sob a Lei do Ar Puro, elas têm permissão para recorrer a um Advogado para obter uma direito de dispensa a fim de acessar aquela tecnologia. “Nós

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estamos pensando que os E.U.A também devem aplicar aquele dispositivo na esfera internacional,” Menotti declarou. “Não há razão alguma para que os E.U.A não devam globalizar o que nós já fizemos a nível doméstico.” Entretanto, Menotti disse que queremos fazer isso de uma forma ainda mais forte do que os E.U.A fizeram internamente. Há um número de opções que estão disponíveis para como a convenção de Copenhague pode realmente tratar esta questão. Para concluir, Menotti disse que acha que os grupos no norte não pensaram o suficiente sobre isso, e há a demanda de muita prioridade.

Kate Horner do Friends of the Earth [Amigos da Terra] apresentou uma questão para os apresentadores. Perguntou se poderiam falar substantiva e politicamente sobre as oportunidades para coligar os três blocos de entrega de financiamento de acordo com o Plano de Ação de Bali.

Karen Orenstein da FOE-US levantou uma questão para Jake Schmidt. Perguntou a ele, “Você pode falar um pouco sobre qual mecanismo tecnológico você advogaria, tanto no âmbito pessoal quanto no âmbito do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais?”

Atossa Soltani do Amazon Watch disse que em termos das próprias ações dos países em desenvolvimento para reduzir as emissões, a proposta do Equador tem sido mencionada algumas vezes. “Basicamente,” explicou, “a proposta tem sido que o governo equatoriano deixaria um bilhão de barris de petróleo na terra. É um apelo que está em debate durante uma década e está pronto para ir para os desenvolvidos, mas o presidente atual está pondo um limite sobre ele em troca da metade dos rendimentos abandonados. “Eu apenas quero dizer que é interessante, pois eles analisaram o mecanismo de financiamento para aquilo, e inclui uma grande fração do cancelamento da dívida,” Soltani disse. Uma porção do mecanismo de financiamento seria o cancelamento da dívida, e as outras seriam contribuições dos fundos do carbono da floresta e dos vários fundos do desflorestamento. Soltani destacou que a questão básica aqui são emissões evitadas do petróleo e da reserva de gás, especialmente nas áreas da biodiversidade elevada, aonde o desenvolvimento destas reservas do combustível fóssil conduziria ao desflorestamento

aumentado. “As estimativas para o carbono em 1 bilhão barris de petróleo estão sobre 400 milhões de toneladas de carbono,” Soltani explicou. De acordo com Soltani, embora a proposta continuasse sobre pressão, o governo tem realmente muito para avançar a proposta. Rafael Correa, presidente do Equador, está falando realmente sobre aderência dos países do OPEC a uma proposta para reduções da mudança da adaptação e climática do financiamento propondo um imposto sobre produtores de petróleo. Esta proposta inclui um imposto por barril na produção de petróleo para financiar a adaptação.

Falando sobre mercados do carbono, Soltani disse que ela não está pessoalmente dentro sustentação de offsets do carbono, contudo ela vê que há já muito edifício de impulso em torno dos offsets do carbono. “Estou apenas me perguntando se houve alguma conversa criativa sobre uma proposta para os offsets de carbono que poderiam ser três-para-um, ou cinco-para-um, que endereça questões de equidade, e apenas não permite a poluição, mas igualmente permite tomando a carga histórica fora dos países em vias de desenvolvimento em países desenvolvidos de ajuda do offset,” disse.

ViCtoria Tauli-Corpuz pediu para que os apresentadores falassem sobre a tributação, um assunto que ela acredita ter se tornado evidente em termos das fontes financeiras. Ela disse, “se acreditamos no princípio de que os poluidores devem pagar, então esta seria uma proposta muito racional.” Mencionou que esta idéia também surgiu em Accra. “Mas obviamente, isto não é algo que tenha sido realmente compreendido e aprofundado,” Tauli-Corpuz acrescentou.

Tauli-Corpuz continuou com uma pergunta sobre transferência tecnológica. “Estão eles pensando sobre projetos de energia renováveis grandes, em grande escala e centralizados?” quis saber. “Porque os indígenas preferem projetos de energia renováveis em escala reduzida, comunidade-controlados, mas você ainda não vê muita coisa entrar em discussões.”

Finalmente, Tauli-Corpuz reconheceu que, naturalmente, os povos indígenas já têm suas próprias tecnologias que foram capazes de adaptar à mudança climática e pelas quais estão abrandando a mudança climática, mas isto não tem sido parte da equação. “De fato,” disse ela, “o conhecimento dos povos indígenas em termos da adaptação e do

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abrandamento em sua prática, bem como em suas próprias tecnologias é realmente crucial e deve ser reconhecido. Mas este ainda não é o caso.” Para concluir, perguntou como ao menos apresentaríamos estes tipos de questões. David Waskow da Oxfam America respondeu aos comentários que tinham seguido sua apresentação. Sobre a questão de impostos, Waskow disse que uma das vantagens que vemos realmente na proposta dos leilões, os leilões de subsídios de emissão a nível internacional, é que “aqueles subsídios são identificados para os países do Anexo-1, países desenvolvidos. Leiloá-los exigiria essencialmente que os poluidores naqueles países, os quais desejam poder emitir ao nível que aqueles subsídios permitiriam, viessem e pagassem por aqueles subsídios,” ele explicou. Waskow discutiu que, sim, ele é uma forma de pagamento do poluidor, e de sua perspectiva, esta é uma das suas maiores vantagens. “Fazer um sistema fiscal talvez tivesse alguns benefícios de que você não sai dessa encenação, mas nós pensamos que é na linha da responsabilidade daquelas que poluíram e estão poluindo, fornecer a retificação,” disse.

Em resposta à pergunta acerca de sobreposições, Waskow disse que pensa haver três tipos de sobreposição que precisamos considerar. Um é dinheiro, o segundo são as instituições, e o terceiro são abordagens sobre-a-terra. Em termos de dinheiro, uma coisa que Waskow pensa que precisamos ter em mente é que há agora diversos objetivos diferentes identificados para fluxos substanciais de dinheiro: “adaptação, REDD, e tecnologia de energia limpa, para simplificar. É muito plausível imaginar uma situação onde haja um jogo de valor nulo, e aqueles começam a competir por rendimentos disponíveis,” Waskow disse. “E penso que precisamos estar muito cientes desta dinâmica e, tanto quanto possível, sinergizar as demandas por recursos.”

A questão das instituições é uma que Waskow acredita será cada vez mais importante. “Há o Fundo de Adaptação, e o conselho do Fundo de Adaptação, há propostas para algum tipo de recurso para energia limpa, e não há dúvida qualquer quanto às propostas institucionais no fronte do REDD,” disse. “Então a pergunta é: O que você faz com todas as diferentes propostas? Você tem instituições separadas para cada uma destas áreas? Você tem alguma instituição abrangente? Eu acho que é complicada porque a adaptação é algo que exige muita nuance em termos de analisar situações locais sobre a terra e de poder

descobrir o que é necessário.” Waskow explicou que a disponibilidade de um conselho de pessoas que pensam que aquele conjunto discreto de questões é razoavelmente importante, mas ao mesmo tempo, pode haver alguns argumentos para se ter algum tipo de sistema abrangente, de modo que não comecemos a ter pólos competidores e outra dinâmica que sejam improfícuos. “Eu não tenho uma resposta para isto, mas eu penso que precisamos começar a considerar completamente estes dilemas,” ele acrescentou.

Waskow então explicou que devemos também pensar sobre as maneiras em que podemos sinergizar entre a adaptação, a energia limpa e o REDD no solo. Ele enfatizou que devemos pensar sobre como conciliar estes pontos em termos do que acontece no solo. Na resposta às perguntas e aos comentários sobre transferência tecnológica, Waskow disse que uma parte faltante do enigma em muitos aspectos foi a tecnologia da adaptação. “A consideração a partir de uma perspectiva da propriedade intelectual,” ele disse, “penso que é realmente uma grande questão ausente. As barreiras da propriedade intelectual tem sido uma enorme questão, e penso que precisamos manter isto em mente como parte do que precisamos abordar.”

A respeito das tecnologias tradicionais, Waskow pensa que seja um componente absolutamente crítico e é uma das partes ausentes em termos de como o Fundo de Adaptação tem considerado as coisas completamente. “Acho que devemos pensar em como estimular tanto quanto possível,” ele acrescentou.

Jake Schmidt do NRDC disse que com respeito ao que está sendo discutido nas negociações internacionais, há três pontos do dinheiro. Alistou estes como o desflorestamento, a adaptação, e os incentivos de tecnologia. Schmidt disse que vê muitas sinergias através destas três áreas, e acredita que você pode “misturá-las e combiná-las em alguns lugares. Mas,” advertiu, “penso que também seja provável em todos nossos interesses para mantê-los separados… Porque, não vamos nos enganar, nós que estamos sentados para discutir não são aqueles que irão destruir aqueles pontos. Nós somos os amigos, geralmente. A indústria e os indivíduos do petróleo e do carvão consideram aquele ponto de adaptação e decidem que desejam aquele dinheiro. Eles estão destruindo aqueles pontos e precisamos

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ser capazes de evitá-los e precisamos estar aptos a dizer como são como um pacote, como David esboçou.” Schmidt disse que precisamos ter os advogados do REDD, da adaptação, e da luta de incentivo à tecnologia para aqueles pontos “mão e luva.” Fazem todos parte da obtenção de um bom acordo global que possa começar a resolver, disse ele, os desafios climáticos assim é importante vê-los como um quadro holístico. “Mas,” adicionou, “penso que há coisas diferentes que você faria em cada um dos desafios.” Schmidt reconheceu que há uma sobreposição, e acredita que o grupo de David Waskow (Oxfam America) fez um bom trabalho na consideração sobre as atividades de mitigação e de adaptação e como elas seriam sobrepostas. “E realmente são sobrepostas em alguns casos, mas não é a única coisa que você faria,” disse ele.

A respeito do mecanismo de entrega da tecnologia, em termos do que é o ideal contra o que é a realidade que obteremos, Schmidt disse que há provavelmente uma divisão enorme. “Penso que precisamos enfrentar o fato de que é improvável que os EUA contribuirão com quantias de dinheiro bastante grandes para algum sistema organizado e estruturado americano,” ele disse. Explicou que como um país agora, os Estados Unidos têm demasiadamente desagrado político quanto à ONU. “Assim penso que, quanto às contas das questões climáticas dos EUA, você provavelmente terá os mecanismos que oferecem incentivos para a distribuição das tecnologias chaves e dos principais países em vias de desenvolvimento. Contudo, é provável que os EUA terão algum tipo de controle em torno deles. Tanto quanto você pode, penso que você precisa conseguir as regras para começar a se harmonizar com o que os países em vias de desenvolvimento querem.” Entretanto, Schmidt pensa que não muitos países em vias de desenvolvimento sabem realmente o que querem na consideração de tecnologia. “Para as tecnologias locais e em escala reduzida, penso que há um grande interesse para os povos indígenas na defesa de questões específicas de dinheiro para estes outros tipos de tecnologias,” disse ele.

Em seu enunciado final, Schmidt disse que a respeito da tributação, a realidade política é que “você pode obter muito mais dinheiro para incrementar os rendimentos de leilão dentro dos EUA e da Europa

do que você pode provavelmente forçar em impostos de aviação. Penso que há os dois porque ambos entregarão, mas eu penso que é mais fácil discutir e advogar os rendimentos reservados do leilão,” disse.

Tom Goldtooth do Indigenous Environmental Network [Rede Ambiental Índigena] disse há alguns anos, quando freqüentava as reuniões da UNFCCC, que alguns líderes indígenas estavam em coligação com diversos países em vias de desenvolvimento, assim como com os EUA e outros países que têm populações indígenas, para ver se subscreveriam os financiamentos para a adaptação para povos indígenas no âmbito de suas iniciativas. “Não estou certo se os povos indígenas daqueles vários países continuaram,” Goldtooth acrescentou, “mas houve algum interesse.” Goldtooth concordou então com a afirmação de que há muita competição para o dinheiro que é gerado na adaptação, especial proveniente de países em desenvolvimento e de pequenos estados-ilhas. ”A competição,” disse, “tem sido sempre um problema, e tenho visto o Departamento de Estado dos Estados Unidos manipular algumas dessas negociações.” Goldtooth igualmente acrescentou que houve discussões sobre se a elevação do preço do imposto do carbono pode ser mundialmente realizada. “Nós estamos falando sobre isso dentro dos E.U.A,” disse, “mas há uma estrutura que possa ser criada globalmente?” De forma similar, reconheceu que houve um grande tumulto na questão da contração e da convergência. “Eu sei que isso virá à tona outra vez, e quero saber se eventualmente alguma ONG tem qualquer consideração pela contração e pela convergência como um modelo, e então pelo o imposto do carbono,” Goldtooth afirmou.

Trevor Stevenson, co-diretor da Amazon Alliance, disse que ele pode “garantir que não ajustaremos a taxa de imposto ao nível correto” porque ele pode “garantir que quando houver pressão, os políticos a ajustarão na mais baixa taxa”. A vantagem de um limite, disse ele, é que você sabe definitivamente quanto suas emissões totais serão. “A parte negativa, a que as companhias não gostam, é que não é possível saber quanto o preço irá custar,” acrescentou. Mas Stevenson pensa que, de um ponto de vista ambiental, você pode buscar as metas e pode abaixar o limite de uma forma muito significativa ao longo do tempo. “Acho bastante difícil acreditar que você poderia abaixar o imposto do carbono,”

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adicionou, “Entretanto, penso que estamos muitos anos distantes de agir de forma global.” Em resposta à declaração de Tom Goldtooth sobre a contração e a convergência, Stevenson disse que ele pessoalmente pensa - “estamos desperdiçando uma enorme quantidade de nosso limitado tempo debatendo qual é o melhor mecanismo para compartilhar a carga. Teremos algo a dizer sobre isso em Copenhague,” disse, “mas este é um tempo precioso que não dispomos para resolver a agenda do clima.” Stevenson adicionou que sua filosofia é: “Vamos nos mexer e reduzir as emissões até ao ponto em que possamos conduzir nossa política tanto quanto possível, e saber que devemos voltar a ela alguns anos depois para começar a dar um impulso, e com sorte terminaremos com uma estrutura um tanto justa.” John Fitzgerald da Society for Conservation Biology [Sociedade da Biologia da Conservação] adicionou que em diferentes momentos a União Europeia também apresentou as propostas, projetadas originalmente pelos franceses, para começar um sistema de tributação de, essencialmente, importações. “Isto é,” disse, “o carbono que está associado com o processo de importação, começando com a aterrissagem dos aviões no aeroporto internacional de Charles De Gaulle”. De acordo com Fitzgerald, a UE atrasou este projeto duas ou três vezes, mas afirma que é uma opção muito plausível. “Isso poderia se consolidar como um sistema global de taxação de importações e exportações e taxação dos gases estufa associados a elas,” disse. “Nós temos exatamente isso em diversas propostas que estavam sendo consideradas no congresso. Lieberman-Warner tinha um sistema que exigia que os povos que exportam bens a nós pudessem comprar licenças no leilão por volta de 2019 ou 2020. Essencialmente, isso era um imposto de importação. Fitzgerald explicou que esse tipo de ação é mesmo favorável à WTO [Organização Mundial de Comércio], de acordo com um estudo realizado pela Duke University. “Então a questão é que os impostos farão provavelmente parte de todo um pacote,” Fitzgerald afirmou. “A questão é qual nome eles tem, como são reconhecidos, que forma adotam. E você igualmente encontrará que nesse congresso que acabamos de ter, e cada vez mais em um próximo congresso, eles estarão mudando os subsídios e os impostos para a energia, tudo em relação às contas do clima além do que ao que se encontra na própria conta do clima. Portanto

não há qualquer razão para não termos as três ferramentas: limite, imposto, e leilão.”

Victor Menotti do IFG questionou a afirmação de Fitzgerald acerca dos ajustes de imposto, tais como a exigência sobre os importadores para comprar licenças de emissões, são favoráveis a WTO, advertindo que há profundas diferenças de opinião sobre se esse tipo de medidas estão ou não de acordo com as normas WTO. Há muito a ser compreendido em termos de como tais propostas serão apresentadas pelos nossos colegas em países em vias de desenvolvimento. “As medidas de fronteira devem ser um imposto utilizado como último recurso.” Menotti acredita que para engajar os países em desenvolvimento precisamos implementar a transferência tecnológica de financiamento. Ele disse que têm sido muito claro sobre o fato de que é aquilo o que quer ver, e aqueles são os tipos de incentivos para os quais precisam adotar tais tipos de medidas. “Poderíamos concordar quanto a algum tipo de sistema globalmente coordenado de impostos nacionais que sejam implementados em uníssono, no lugar de alguma espécie de imposto global,” Menotti adicionou.

Steve Kretzmann do Oil Change International disse, “Apenas quero observar que estamos conduzindo uma discussão muito disciplinada e focando o clima, e apenas participado da Reunião de Equidade da Climate Action Network’s (CAN) semana passada na Índia, parece que a política em torno da negociação do clima é um pouco mais complicada do que as noções da mitigação da pobreza, o desenvolvimento e o financiamento daqueles fazem parte dessa negociação igualmente, quer gostemos ou não.” Ele perguntou então se alguém tinha qualquer comentário sobre aquilo em termos do dinheiro e dos fluxos.

David Waskow concordou com Kretzmann que é “muito mais complicado do que uma simples conversação possa refletir.” Ele explicou que a CAN Equity Summit [Reunião de Equidade da CAN] tinha sido “um evento essencialmente patrocinado pela CAN,” reunindo os povos do norte global, sul global, e proveniente de uma grande variedade de mundos para falar sobre como tratar as questões de equidade nas negociações internacionais. “O que eu ouvi é que o que foi frustrante, mas também iluminador,” disse ele, “foi que não houve nenhum resultado concreto em termos de onde havia um acordo de ONG em

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como prosseguir com um acordo internacional estruturado em torno das emissões. Waskow disse que continua a existir certas divergências entre as organizações que são extremamente difíceis, mas que refletem de forma fundamental as divergências dentro das negociações. “Então isso deixa sobre a mesa de discussão a pergunta de como de fato se avança, e não sei se temos as respostas,” acrescentou. Mas, disse ele, precisamos encontrar uma posição intermediária das estruturas que podem então nos ajudar a pensar o que é um resultado apropriado das negociações.

Waskow adicionou que atualmente a Oxfam está trabalhando na estrutura dos Greenhouse

Development Rights. “Essencialmente,” disse, “essa é uma estrutura para se pensar acerca do que os países devem fazer, tanto analisando suas responsabilidades históricas nas emissões desde 1990, e sua capacidade econômica, e usando aquele para atribuir uma parcela da atmosfera que se pode usar, e então determinar a responsabilidade baseada naquilo para reduzir as emissões. Ele advertiu que nunca irão concordar com uma abordagem em um tipo de fórmula em uma negociação. Waskow concluiu seu comentário dizendo que o que esses tipos de estruturas realmente fazem é “nos ajudar a dar foco em um contexto para o que os resultados devem ser.”

IN TE RI ORIZ A ND O A UN DRIP EM NO SS AS PR Ó PRIA S I NS TI TUIÇ Õ ES / A ÇÕ ES COL A B OR A TI VAS E AS

PRÓ XI M AS E TA PA S

Muitas ONGs não indígenas têm políticas internas que os consideram responsáveis por tratar povos indígenas com o respeito que elas merecem. Outras estão considerando questões indígenas recentemente e explorando como melhor envolvê-los. Agora que existe um padrão universal, como nossas organizações podem interiorizar os princípios da UNDRIP [Declaração da Organização das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos Indígenas] para governar nossos próprios programas e atividades? As ONGs não devem ser consideradas responsáveis nos mesmos padrões pelos quais exigimos que governos, companhias, e instituições globais obedeçam? Evelyn Arce-White, International Funders for

Indigenous Peoples [Captadores de Fundos Internacionais para Povos indígenas]

Phil Aroneanu, 350.org Jenny Springer, World Wildlife Fund [Fundo

Mundial para a Vida Selvagem] Nurzat Abdyrasulova, UNISON Evelyn Arce-White do International Funders for Indigenous Peoples (IFIP) disse que seu grupo - uma associação de mais de 100 doadores - apoia projetos indígenas mundialmente. O IFIP também inclui sessenta ONGs e povos indígenas do mundo inteiro que tratam de questões como educação, direitos de terra, UNDRIP, juventude, e delegação de poderes das mulheres. Arce-White descreveu o IFIP como

uma organização que une os doadores com projetos que tratam das questões de povos indígenas. Ela explicou que embora a maioria dos doadores queira financiar questões indígenas, a maioria não está ciente, e que uma das missões mais importantes do IFIP é educar os doadores. Um exemplo que ela descreveu foi uma sessão do IFIP que inspirou os doadores a espontaneamente doar $40.000 para uma campanha de emergência de três meses para apoiar a passagem da UNDRIP. Arce-White observou que somente uma pequena porção das doações é utilizada para financiar projetos indígenas. A maioria dos financiamentos trata diretamente do meio ambiente. Além disso, aproximadamente 172 fundações estão atualmente ajudando programas indígenas. O IFIP também proporciona um guia que pode ser baixado na internet (Guia de Financiamento e Recursos para Povos indígenas) que fornece material para povos indígenas construírem capacidade interna em suas organizações para encontrar melhores buscadores de doação. “Até o momento, distribuímos 1.500 guias de captação de recursos em inglês e espanhol no Fórum Permanente da ONU. E todos os anos, se você verificar em nosso website, www.internationalfunders.org, no mínimo uma dúzia por dia – organizações sem fins lucrativos, organizações indígenas - está baixando nosso guia, o que é muito bom.”

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Arce-White descreveu os modos nos quais o IFIP está incorporando a UNDRIP. No outono passado, foi anfitriã de um fórum doador Amazônico, juntamente com o Amazon Alliance em que ambos incorporavam o prévio consentimento livre e esclarecido em suas melhores práticas. Além disso, o fórum doador de 2009 reunirá mais de 400 pessoas e dois grupos afins durante um dia inteiro dedicado às melhores práticas e a incorporação do idioma e princípios da UNDRIP. Os resultados serão enviados para a comunidade filantrópica, que será pedido para seu suporte inequívoco. “Este é o lugar para onde nós estamos levando nossa plataforma”, disse ela. Além disso, o IFIP criará o guia dos fabricantes de doação com Victoria Tauli-Corpuz, utilizando o idioma da UNDRIP, para aumentar os fundos destinados a povos indígenas. O IFIP enviará delegações para o Alasca para a Cúpula do Clima Indígena, bem como para Copenhague para o COP15. “Se você for um grupo indígena ou uma ONG e desejar apresentar uma sessão sobre UNDRIP ou questões indígenas, trabalhe com um doador para fazê-los apresentar-nos uma proposta para uma sessão, e nós podemos apresentá-la a nossa conferência de associação de doadores. É assim que o IFIP deve ser utilizado, para promover a UNDRIP na comunidade filantrópica”, disse Arce-White. E embora o IFIP seja um campeão em captação de recursos, sua baixa capacidade requer cooperação, assim as organizações que utilizam seus serviços devem estar dispostas a trabalharem em conjunto. “Oportunidades, existem muitas oportunidades”, declarou Arce-White. “Conforme os grupos de afinidade, o IFIP proporciona acesso ao mundo dos doadores“. Phil Aroneanu do 350.org introduziu o 350.org como uma pequena organização com uma grande ambição: levar o número 350 ao mundo inteiro para mudar as políticas do que é possível. O número refere-se a 350 partes por milhão (ppm) de gás carbônico na atmosfera, um valor que o Dr. Jim Hansen da NASA diz ser um nível seguro. Um imperativo dentro do movimento 350 é o “350 justo”, e a compreensão subjacente é que os países em desenvolvimento devem assumir a responsabilidade por sua parcela de gás carbônico, bem como ajudar países em desenvolvimento e povos indígenas a lidarem com as mudanças climáticas de um modo justo. “Acreditamos que o incrementalismo face à ciência

atual em alteração no clima não vai funcionar, que precisamos de soluções ousadas, e que precisamos, novamente, mudar as políticas do que é possível”, disse Aroneanu. “O público precisa entender que esta é realmente uma questão de vida-ou-morte, especialmente para pessoas em países em desenvolvimento e povos indígenas que estão sendo desproporcionalmente afetados pelas mudanças climáticas“. O 350.org continuará a publicar o seu benchmark de 350 ppm e a reunir o público em torno da causa, bem como visualizar como incorporará a UNDRIP nos processos internos da organização. Jenny Springer da World Wildlife Federation [Federação Mundial da Vida Selvagem] (WWF) começou descrevendo a estrutura exclusiva do WWF que opera como uma rede internacional de trinta e seis organizações nacionais e trinta e seis escritórios do programa (que são organizações legalmente independentes) coordenadas por uma secretaria na sede da organização em Gland, Suíça. Em 1996, o WWF coordenou um processo interno pelo qual a rede desenvolveu sua própria política sobre povos indígenas e conservação. Uma das principais motivações para o desenvolvimento desta política foi o reconhecimento dos direitos humanos dos povos indígenas e o desejo de articular este reconhecimento conforme tinha sido desenvolvido na Convenção 169 da OIT [Organização Internacional do Trabalho] e a primeira minuta da UNDRIP. A segunda motivação principal foi a questão mais prática de determinar como melhor servir seu principal eleitorado para facilitar a ação efetiva. “Muitas das áreas de alta-biodiversidade remanescentes no mundo abrigam povos indígenas. Estas áreas são possuídas por povos indígenas e eles são os mordomos destas terras, o que significa que os povos indígenas são eleitorados importantes, e parceiros chaves para a conservação”, disse Springer. A política interna do WWF foi atualizada e republicada com a recente adoção da UNDRIP. O WWF começou então a produzir capacidade entre a equipe e a envolver-se com povos indígenas para desenvolver uma agenda comum na importante interseção de direitos indígenas, conservação, e uso de terra sustentável. Springer nomeou a Austrália, Indonésia, a Amazônia, e a África Central como lugares onde estes processos de diálogo contínuo estão acontecendo. Várias medidas de implantação

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proporcionaram diretrizes que foram então integradas em agendas nacionais, e forneceram informações valiosas sobre o desenvolvimento do ciclo de projeto e gerenciamento para projetos coordenados pelo WWF International. Springer disse que todos nós enfrentamos o desafio de “traduzir” os amplos princípios da UNDRIP para as necessidades de um contexto nacional, e o desafio ainda maior de traduzir esses princípios para tratar de questões sobre política internacional como REDD [Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação]. Para finalizar, Springer reiterou que reunir pessoas em um nível internacional é complexo porque muitos problemas são novos e estão sempre mudando. Mas o processo de encontrar problemas comuns e interseções de agendas por regiões e níveis, e discutir como se aplicam à arena internacional, é o “tipo de processo de tradução que precisamos estar envolvidos continuamente dentro de nossas instituições particulares e mais amplamente determinar nossas agendas comuns”, Disse Springer. Nurzat Abdyrasulova da UNISSON disse que soube que a UNDRIP aplicava-se a ela como um povo indígena e esperava que fosse um instrumento que pudesse fortalecer a participação da sociedade civil em seu país tribal, Quirguistão. A UNDRIP era nova para ela, como muitas coisas historicamente são, uma vez que ela tem agora acesso à informação, o que não era possível sob a União Soviética há quinze anos atrás. Abdyrasulova também ficou entusiasmada com a organização bem sucedida na região amazônica, e disse, “Gosto de toda essa rede e coalizão trabalhando, e este grande conhecimento que você obtém sobre como interceder em favor de grandes problemas, e espero que isto também esteja vindo para nossa região. Ficaríamos gratos se houvesse uma oportunidade de cooperar com os direitos indígenas e a participação em questões de mudança climática em nossa região.” Sob o governo soviético, as pessoas não podiam falar sobre interesses em mudança ambiental ou climática, e ainda não há um processo aberto e democrático no Quirguistão, o que torna o trabalho da ONG muito desafiador. De acordo com Abdyrasulova, sua região está passando por complexos problemas de justiça ambiental, como suas pobres e marginalizadas comunidades nas altas montanhas enfrentam os problemas entrelaçados de emissões de gás carbônico e qualidade ambiental. Quirguistão é um país

pequeno de apenas 5 milhões de pessoas, mas possui uma biodiversidade muito alta. Atualmente é de grande interesse internacional por causa de suas minas de ouro. Ela afirmou que a sociedade civil não está preparada para lidar com estes problemas devido à falta de um governo democrático e à necessidade de construir capacidade. Abdyrasulova espera que a colaboração internacional possa tratar destes problemas. Concordando com Tom Goldtooth e Jenny Springer, Abdyrasulova também espera envolver-se na questão de tradução, e como utilizar estratégias e ferramentas para organizar e construir capacidade em um nível regional, e então um nível internacional. Claire Greensfelder do IFG [Fórum Internacional sobre Globalização] propôs ao grupo as seguintes questões:

• Como podemos interiorizar a UNDRIP dentro de nossas próprias organizações?

• ONGs devem ser consideradas responsáveis nos mesmos padrões que estamos exigindo de companhias, governos, e instituições globais?

• Existem ações conjuntas que devemos tomar em conjunto em reuniões nas próximas reuniões?

• Podemos fazer acordos conjuntos e declarações em defesa de ações específicas?

• Nossas organizações podem considerar a adoção da UNDRIP como política interna?

• Podemos continuar juntos como um grupo de ação?

• Estamos tentando construir compromissos e relacionamentos, então como deveríamos proceder?

DISCUSSÃO Janet Redman do Institute for Policy Studies [Instituto para Estudos de Política] discursou sobre a importância da construção de capacidade dentro das redes atuais para produzir materiais que apoiem a

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implantação mais efetiva da UNDRIP. Ela enfatizou o uso de idiomas relevantes ao criar estes materiais, bem como trabalhar dentro da linha secular atual das próximas reuniões e eventos. Redman nomeou especificamente a rede de organizações chamada Climate Justice Now [Justiça do Clima Agora] que veio de Bali em 2007, e destacou a importância das “lentes da justiça” através da qual organiza eventos e ações para tratar das mudanças climáticas. Além disso, Redman queria saber como podemos ampliar a declaração indígena dentro de redes e espaços formais e informais. Paul L. Little, da Fundação Gordon e Betty Moore, citando sua experiência como antropólogo, destacou que os problemas dos direitos indígenas tendem a ser moldados somente dentro de um contexto ambiental e que precisamos ter o cuidado de que os direitos dos povos indígenas não sejam considerados importantes apenas para o grau ao qual eles tratam de problemas ambientais, como reduzir as emissões. Tom Goldtooth da Indigenous Environmental Network [Rede Ambiental Indígena] (EIN) pensava que o grupo estivesse de fora para um bom começo, e recordou suas experiências anteriores abordando racismo ambiental dentro de organizações ambientais e, apesar dos sérios desafios, mudando os modos como as organizações ambientais e ONGs trabalham com povos indígenas e pessoas de cor. Ele acredita que precisamos de um protocolo estabelecido: As ONGs devem adotar princípios de justiça ambiental como a primeira etapa em um compromisso para reestruturar o modo como atualmente trabalhamos com povos indígenas, bem como liderança indígena. Goldtooth também observou a importância do prévio consentimento livre e esclarecido (FPIC) que é o direito dos povos indígenas à autodeterminação e a implementar tratados e contratos válidos relacionados às suas terras e recursos naturais. Ele disse, “... uma campanha emergente do IEN e o Conselho do Tratado Indígena Internacional e outras organizações indígenas no Sul global como bem o Norte (deve) trabalhar em torno desta campanha de erguer políticas em torno do prévio consentimento livre e esclarecido. Portanto, é bom que você esteja ciente disso.” Além disso, Goldtooth reconheceu o trabalho de ONGs que apoiam povos indígenas na discussão de

REDDs, mas também expressou a realidade que em algum ponto os povos indígenas terão que trabalhar questões entre elas. Em sua avaliação sobre as sociedades atuais, observou Goldtooth, “Precisamos ter esse relacionamento, e esse suporte e aliança de ONGs e entidades como o Fórum Internacional sobre Globalização que convocou esta reunião, assim há um papel importante para continuar esta fraternidade e irmandade para construir solidariedade.” Jerry Mander do IFG falou sobre seu processo interno de visualizar as questões apresentadas de um modo macro e micro. Ele concordou com Tom Kruse que “agora é um momento para grandes conceitos, para pensamento grande, para citar a mega importância de fazer algo que possa influenciar a situação do mundo” citou a mais recente conferência de economistas progressivos do IFG para definir modelos pós-capitalistas efetivos e viáveis. Ele observou que em termos de modelos globais, os povos indígenas são pré - e pós-capitalistas. Mander também sugeriu que o modelo introduzido por Victoria Tauli-Corpuz - pagar povos indígenas para salvar as florestas e isolar o carbono - deve ser abordado com mais detalhes. Mais significativamente, Mander avançou para a discussão sobre a questão de se criar ou não um corpo formal fora do grupo reunido. Ele acreditava em dar início a uma aliança internacional ou rede formal, porém livre, em defesa de povos indígenas, para elevar a bandeira da UNDRIP internacionalmente. Ele propôs cinco ideias sobre como uma estrutura para a aliança e perguntou se o grupo concordaria quanto aos princípios, ou outros povos, para dar força ao grupo e ampliar seus esforços:

• Este é um tempo de grande emergência econômica e ecológica no planeta. Povos indígenas oferecem um modo positivo em direção à sustentabilidade, i.e., eles oferecem uma visão e prática para um modo positivo, alternativo e futuro de organização...

• Reconhecemos que a proteção dos direitos e terras de povos indígenas é crucial para o futuro de todas as pessoas e nossas próprias organizações membros...

• A organização apoia fortemente a UNDRIP e todos os seus codicilos...

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• A organização busca aplicar a UNDRIP tão amplamente quanto possível e estabelecer programas internos para este propósito...

• Nossa organização aplica alguns dos princípios da UNDRIP interiormente (de algum modo podemos entender)...

Steve Kretzmann da Oil Change International identificou os processos antiquados da ONU para lidar com a sociedade civil, povos indígenas, e ONGs ambientais. Ele afirmou que a Secretaria da ONU só escuta os representantes do CAN (Rede de Ação pelo Clima), e que este ponto de contato não pode tratar das questões mais amplas da sociedade civil de forma adequada. Este ponto de contato limitado deve ser abordado para um diálogo mais rico à medida que as negociações sobre o clima avançam. Tom Goldtooth enfatizou a importância de ter uma diversidade das pessoas que trabalham na questão do clima, e espera ver o surgimento de um movimento de raiz do problema das pessoas ao redor do mundo. De modo ideal, este movimento global será uma fundação para as ONGs, grupos políticos, e outros que estão trabalhando em questões sobre o clima. Ele enfatizou a importância desta fundação em termos de legitimidade aos olhos da indústria e governos, e também falou sobre a necessidade de criar nossas redes, uma vez que estão formadas. Goldtooth mencionou os fóruns sociais como um exemplo de redes fortemente organizadas. Kristen Walker Painemilla da Conservação Internacional questionou os compromissos feitos pelo grupo na última reunião, e se algum desses compromissos tinha sido cumprido. Ela questionou sobre como construir sobre a captação de recursos atual, redes existentes, e iniciativas existentes quanto a povos indígenas. “Não acho que deveríamos estar reconstruindo a roda, acho que deveríamos estar construindo sobre iniciativas existentes catalisadas pelos povos indígenas e outras organizações para avançar [redes existentes]”, disse Walker Painemilla. Com respeito à proposta de criar uma nova rede formal, ela respondeu que era uma ideia admirável, entretanto “não temos aqui uma representação adequada de vários grupos e, obviamente, de grupos indígenas, para fazer isso. Poderia ser uma discussão proposta no Fórum Permanente da ONU, para formar esse grupo, mas já existem tantas redes...” Além disso, ela queria saber se haveria fundos para

criar uma nova rede. Walker Painemilla reiterou que preferia trabalhar com as redes existentes e propôs que o grupo encontre maneiras de alimentar e apoiar processos em andamento e existentes. Sem energia e apoio, ela acreditava que as redes existentes corriam o risco de falhar, e que todo o dinheiro que fosse gasto nos esforços existentes será desperdiçado. Victoria Tauli-Corpuz trouxe a conversa de volta à pergunta original do painel: Como a UNDRIP pode ser implantada de modo eficaz? Ela declarou que gostaria de ver as ONGs interiorizando a Declaração de um modo mais sistemático e de ver como está ajudando as organizações presentes, bem como a sociedade em geral. Apoiou a proposta de uma nova rede, citando que o povo indígena daria boas-vindas a qualquer rede ou formação que pudesse compartilhar suas experiências sobre implementação da UNDRIP. Tauli-Corpuz afirmou também que com a implantação da UNDRIP conflitos viriam. Indo contra o status que, declarou ela, eles precisariam de muito apoio, legalmente e de outras formas, para tratar das questões relevantes. Em termos de objetivos de curto prazo, Tauli-Corpuz priorizou a intermediação de governos para incluir a UNDRIP na estrutura do UNFCCC [Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima]. Além disso, ela enfatizou a importância de propor um idioma comum e conceitos básicos que todos os grupos dentro dos maiores indígenas, ONG, e redes ambientais possam utilizar nas negociações. Ela também esperava que aqueles que têm laços com governos os utilizassem para promover negociações. Tauli-Corpuz apoiou a declaração anterior de Tom Goldtooth com relação à autodeterminação e quis dar início a algum tipo de Listserv indígena para compartilhar desenvolvimentos e datas para cúpulas regionais e globais. Embora tenha reconhecido que os grupos indígenas seriam as partes principais nestes eventos, as portas estariam abertas a outros grupos para participar até o fim dos programas. Tauli-Corpuz também destacou que qualquer documentação relacionada à adoção local da UNDRIP, experiências boas e ruins, bem como experiência com medidas de mitigação seriam muito úteis para relatórios vindos do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas.

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Paula Moreira do IPAM [Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia] propôs que o pano de fundo atual da crise econômica global fosse vantajoso para trazer à luz os modos tradicionais de viver dos povos indígenas. Ela acredita que a situação econômica atual seria uma oportunidade de apresentar os problemas de direitos humanos, desenvolvimento, justiça, e as preocupações quanto à soberania dos povos indígenas contra interesses conservacionistas e mudança climática para a vanguarda. Além disso, ela enquadrou as questões de mudança climática como prova de que o sistema atual não funciona. Ela propôs que o grupo apresente uma estratégia sobre como maximizar esta mensagem, potencialmente através do próximo fórum social. Moreira visualizou uma rede de apoio para consolidar informações e educar redes dentro de populações tradicionais e organizações indígenas. Leila Salazar-Lopez da Rainforest Action Network [Rede de Ação da Floresta Tropical] (RAN) apoiou a discussão anterior de Tom Goldtooth sobre a necessidade de as ONGs adotarem princípios de justiça ambiental dentro da estrutura operacional de sua organização. Ela disse que a RUN já havia adotado estes princípios, e agora também procura adotar a UNDRIP na estrutura organizacional. Ela ansiava pelo Fórum Social Mundial para proporcionar mais redes e inspiração para a organização do futuro. Tom Kruse do Rockefeller Brother Fund [Fundo Irmãos Rockefeller] iniciou seus comentários reforçando a necessidade de encontrar modos oportunos para por a UNDRIP em ação. Kruse disse, “Se você não usá-lo, você o perderá. A legitimidade minguará quanto mais você obtém a partir da data de ratificação.” Citando o fato de que o trabalho de direitos civis e realizações do Dr. Martin Luther King, Jr. não foram apenas para as pessoas negras, Kruse declarou que a UNDRIP também não era apenas para povos indígenas, e encorajou os membros não indígenas do grupo a buscar meios de tornar a declaração “nossa” também. Ele destacou ainda que os problemas climáticos que estão acontecendo dentro de territórios indígenas devem ser vistos pelo o mundo através das lentes da UNDRIP, e que há uma oportunidade de demonstrar as formas de sustento dos indígenas são uma reserva moral para o resto da população.

Kruse propôs solicitar ao grupo Advogados para o Desenvolvimento Internacional em Londres, um grupo de advogados que trabalham pró-bono no “trabalho de desenvolvimento”, para representar os povos indígenas nas batalhas conhecidas. O estabelecimento da UNDRIP como um instrumento de litígio que pode vencer, um precedente será fixado como parte da justiça comum internacional. Ele sugeriu que o grupo determinasse onde poderia ser o “maior retorno do esforço”. Ele também sugeriu que os recursos visuais associados aos povos indígenas devem ser trocados de imagens baseadas na natureza para imagens que falam aos padrões de consumo nos Estados Unidos, realçando as verdadeiras conexões entre consumo aqui e em terras indígenas e nossas obrigações internacionais em um mundo restringido pelo clima. Kruse também sugeriu que NCOs pudessem utilizar a UNDRIP como uma ferramenta de análise crítica para gerar alternativas para acordos comerciais, contratos de investimento, investimentos específicos, finanças de desenvolvimento, e finanças de clima, mas desejou saber especificamente o que isso poderia acarretar. Ele também propôs exemplos de descoberta sobre como a UNDRIP tornará o capital mais caro para as companhias para conter o investimento. Kruse também sugeriu que o Fórum Permanente aja como um instrumento para conectar as delegações permanentes da ONU com grupos locais para criar uma força internacional, de convergência sólida. Juan Carlos Jintiach, co-diretor da Amazon Alliance, expressou sua apreciação aos comentários de Tom Kruse e teve muitas ideias semelhantes, e expressou gratidão pela reunião e todo o trabalho importante sendo realizado lá. Ele invocou o poder de processos históricos para mudar precedentes e governos rapidamente e facilmente, e esperava que isto também pudesse acontecer no importante trabalho de abordar as mudanças climáticas. Jintiach confirmou a importância da participação dos povos indígenas neste processo. Phil Aroneanu do 350.org declarou que uma sociedade civil comprometida e a participação indígena estão no núcleo de encontrar soluções para as mudanças climáticas: “Problemas climáticos e indígenas começam com pessoas e terminam com pessoas, e a questão é política, mas também é sobre

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como as pessoas entendem os problemas e como falam sobre eles, como pensam neles e como agem sobre esses problemas.” Além disso, ele compartilhou sua crença de que as pessoas que traduzem a discussão em política devem ser aquelas que diretamente comunicam os desenvolvimentos para as pessoas. Aroneanu declarou a importância da orientação para um entendimento coletivo de como podemos construir um movimento de clima abrangente que avalie a participação e comunicação como princípios principais. Ele também acredita que um movimento ousado de raiz que tenha estes princípios em seu núcleo e considere nossos líderes responsáveis no nível de raiz do problema seja essencial para ter certeza de que a mudança segura acontece. Daphne Wysham do Institute for Policy Studies [Instituto para Estudos de Política] (IPS) disse que o IPS está trabalhando muito com o Climate Justice Now (CJN), um grupo o que é um grande contrapeso para o CAN na abordagem de questões de justiça ambiental e direitos indígenas. A força de CJN está em sua política que diz “Ei, espere um minuto, precisamos consultar os povos indígenas antes avançarmos em todos estes mecanismos de negociação de carbono“. Além disso, Wysham expressou que esperava que o grupo reunido saísse da reunião com um mecanismo de finanças que apoiaria e reforçaria a UNDRIP, bem como obrigasse a preservação ambiental. Ela reconheceu que esta era uma tarefa difícil, mas queria saber como o grupo poderia fazer uma proposta bastante rápida como uma alternativa para o Banco Mundial - algo que reforçaria a UNDRIP e incluiria o melhor de REDD. Isto foi identificado como uma alta prioridade, e algo que poderia ser abordado na formação de um Listserv. De outro modo Wysham sentia que eles “perderiam” para o Banco Mundial. Jenny Springer disse que os escritórios do WWF consideram a parceria direta com organizações indígenas como sua prioridade mais alta. O WWF também está envolvido em vários outros processos colaboradores e instituições que são geograficamente ou tematicamente organizadas, como no Amazon Alliance, e ela sabe de um grupo formado que reúne ONGs e povos indígenas em torno de questões de áreas protegidas. De acordo com Springer, há várias redes relacionadas à mudança climática e questões de REDD. Ela

acredita que estas redes precisam ser fortalecidas, e “que para realmente funcionar na prática, precisa haver uma definição bastante clara do escopo, do compartilhamento das agendas dos participantes, assegurando que todas as entidades que compartilham estas agendas comuns estejam participando.” Em relação aos escritórios do WWF, há ceticismo quanto a processos internacionais mais amplos que não envolvem diretamente organizações indígenas e alianças, por causa da desconexão que pode acontecer ao traduzir políticas para o nível nacional. Springer não acreditou que o grupo reunido “já esteja lá” cumprindo os critérios de uma rede institucionalizada efetiva, e recomendou que eles continuassem a dialogar, comunicar, e compartilhar informações para criar os processos de construção de base que poderiam fortalecer o grupo com o passar do tempo. Athena Ballesteros do World Resources Institute [Instituto Mundial de Recursos] começou apoiando a ideia de Daphne Wysham que um mecanismo de finanças que apoiaria e reforçaria a UNDRIP é imediatamente essencial. Ela apontou várias propostas que o G7 propôs sobre fundos potenciais de tecnologia ou mecanismos super limpos, além da compra de “tecnologia multilateral e fundo de tecnologia da China “. Ballesteros também destacou que as propostas eram claras em termos de princípios e propôs governança e estruturas de decisão, mas não em outras áreas importantes. “Temos a responsabilidade de tentar pôr mais substância nessas propostas, se quisermos atualizá-las. Eis porque as pessoas vêm ao Banco Mundial, porque este se apresentou como estando pronto para REDD, para administrar REDD, estando pronto para um mecanismo de tecnologia limpo.” Ela também destacou que os doadores vão até o Banco Mundial porque a estrutura de governança inteira ainda é direcionada ao doador; eles estão tomando decisões em nome dos países em desenvolvimento. Além disso, Ballasteros trabalha nas bases monitorando projetos de CDM [Mecanismo de Desenvolvimento Limpo], e contatando”comitês de interagências nacionais sobre mudanças climáticas“ indicados para interromper programas ruins quando eles descem no canal de informações. Devido ao fato de não haver peritos em cada país, um sistema ou rede que transfere e compartilha conhecimento para delegar poderes aos parceiros e colegas se faz necessário para interromper maus projetos de

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desenvolvimento. “Nós estivemos em situações nas Filipinas onde paramos no mínimo três represas e três grandes usinas termelétricas a carvão que estavam sendo subsidiadas como projetos de CDM, e utilizamos a legislação nacional. Ela apoiou a ideia de Goldtooth de que a atualização da Declaração acontece através do trabalho que nossos advogados estão fazendo nas bases, “porque se pudermos parar mais três grandes projetos de infra-estrutura, mais três grandes projetos extrativos usando a Declaração, e fizermos com que o fato ressoe internacionalmente, acho que isso é uma mensagem poderosíssima.” Siri Damman da Rainforest Foundation da Noruega expressou seu apoio à proposta de Jerry Mander para a criação de uma rede ou aliança mais formal. Embora os lobistas da Noruega tenham fácil acesso ao governo em comparação com a maioria das ONGs ao redor do mundo, Damman sente que é essencial obter mais informação e um esforço coordenado para seu trabalho futuro. “Nosso mandato também é para intrigar nos direitos dos povos indígenas. Contudo, para fazer isto de modo proativo e eficiente, precisamos fazer parte de uma rede maior. Todas as ideias não vêm de nós, não - precisamos, e eu preciso, fazer parte desta rede.” Ela expressou a complexidade das questões envolvidas no trabalho pelos direitos dos povos indígenas e acrescentou que a UNDRIP é a alta base moral em discussões sobre mudanças climáticas. Além disso, Damman reconheceu que o Fórum Permanente é uma voz importante nas Nações Unidas, e quer continuar sua colaboração para a organização com Tauli-Corpuz e o foro. Claire Greensfelder do IFG advertiu que todos os grupos que entram muito facilmente no autodidatismo, e terminam como “alunos internos” que avançam com uma agenda maior. Greensfelder concordou com Damman, e deu seu apoio para classificar uma rede. Ela citou a diferença em vida de campanha “quando você dá um nome a algo” e você documenta patrocinadores. “Isto fornece a você a autoridade para dizer algo de fato”, disse Greensfelder. Ela também lembrou o grupo que as alianças poderiam ser para ações de curto prazo ou de longo prazo. Greensfelder estava interessada em ver uma forma de grupo que necessariamente não tem uma grande estrutura superior, mas reconheceu

que alguém deve ser responsável pelas comunicações e pela determinação da agenda coletiva. Greensfelder também estava muito interessada em como atualizar a UNDRIP nas instituições. Ela relembrou o início do movimento de justiça ambiental, e a função de Tom Goldtooth como um arquiteto fundamental. “Foi tão longe tão rapidamente nos Estados Unidos em 1991, foi a primeira pessoa de cor na cúpula da liderança ambiental aqui em Washington D.C... dentro de um ano e um meio tivemos um Comitê sobre Justiça Ambiental dentro do EPA.” Embora a rede que foi formada não fosse uma panacéia, Greensfelder notou que “ajudou a institucionalizar um conceito fazendo as pessoas assinarem.” Ela expressou seu desejo de que algum tipo de aliança com um compromisso sério seja formado, e que se tiver que utilizar uma rede para isto acontecer, ela endossaria. John Fitzgerald da Society for Conservation Biology [Sociedade para Biologia de Conservação] expressou a importância do desenvolvimento de um idioma para negociações sobre o clima. Ele propôs quatro pontos para negociações:

• Desenvolver mecanismos para localizar e relatar os efeitos de diferentes operações da convenção, como qualquer mecanismo de desenvolvimento que poderia ser aprovado sobre povos indígenas, ou informado por povos indígenas

• Desenvolver mecanismos de captação de recursos para apoiá-los, e conceder-lhes poder para construir capacidade

• Desenvolver mecanismos de execução por meio dos quais as pessoas possam buscar alívio

• Respeitar as leis internacionais e os direitos de povos indígenas, relatar anualmente sobre os pontos anteriores, e sobre projetos, e dedicar uma porção dos rendimentos para financiamento e proteção segura dos direitos

Trevor Stevenson da Amazon Alliance foi golpeado pelos comentários de Jerry Mander, Kristen Walker Painemilla, Victoria Tauli-Corpuz, e Jenny Springer. Ele começou reconhecendo que a última parte de uma reunião, onde as decisões são tomadas para futura ação concreta, é a parte mais difícil. Como alguém que dirige uma rede de organizações, Stevenson acredita que é realístico, fácil, e muito

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valioso reunir as pessoas para compartilhar ideias, inspirar novas ideias, e criar estratégias sobre como colocar as ideias em ação. Mas ele enfatizou a diferença entre reunir-se para compartilhar ideias, e a criação de uma rede organizada inteira com uma agenda e equipes de ação na prática. Ele deu ênfase ao valor incrível do poder da pessoa que é necessário para apoiar essa rede formal, e acreditou que Evelyn Arce-White da International Funders e o Congresso Nacional para Índios Americanos também pudessem atestar o tremendo valor do trabalho que tal mobilização exige. Stevenson incentivou o grupo a empregar as organizações que já existem em vez de tentar reproduzir uma rede já existente que somente serviria para diluir os esforços globais. Ele também esperava que o grupo desenvolvesse um Listserv, e concorda com uma reunião em Poznan e Copenhague para “reunir-nos rapidamente e ver o que podemos fazer de uma forma coordenada.” Victor Menotti do IFG disse que os comentários de Trevor Stevenson eram sensatos, fazendo-o lembrar do trabalho necessário para formar uma rede. Ele também compartilhou que o plano do IFG não era vir à reunião para lançar uma rede formal, mas que ele queria cogitar a ideia, porque atualmente, não existe uma rede de ONGs e organizações indígenas guiadas por líderes indígenas e formada exclusivamente para implantar a UNDRIP. Enquanto formalizando uma rede, Menotti acreditou que já era alguma coisa falar a respeito, especialmente no contexto do trabalho do IFG no futuro. Ele também enfatizou o momento político atual como uma tremenda oportunidade para mudança: “Neste momento político... os maiores executivos corporativos das duas últimas décadas... não possuem um plano, eles não sabem para onde vão. Há uma enorme abertura de espaço político para novos valores e precisamos de uma direção diferente para esta transição econômica global. E isso é o que eu realmente vejo que esta estrutura de valor da Declaração representa para todos nós.” Em termos de possível colaboração de grupo, Menotti viu grande potencial em ajudar a coordenar estratégias de litígio, e desejou saber se seria útil hospedar um banco de dados on-line de casos da UNDRIP como referência para advogados no mundo todo. Devido à crise financeira, ele incentivou

atividades on-line e a coordenação de recursos e informações. Quanto a finanças, Menotti incentivou dedicar capital privado diretamente, mesmo os bancos subscritos aos Princípios de Equador. Na revisão geral atual do sistema financeiro global, novo regulamento e novas ideias têm a oportunidade de decolar muito rapidamente. Menotti citou o apoio renovado para impostos sobre investimento especulativo (como negociação de moeda corrente) pelo Presidente francês Sarkozy, lembrando o grupo sobre a influência que sociedade civil francesa teve em sua campanha de 1999; após apenas dois anos, o Presidente francês Chirac levou suas ideias à Cúpula do G8 em 2001 em Gênova. Menotti, entretanto, advertiu que enquanto é importante desencorajar o investimento especulativo, “as implicações para povos indígenas poderiam ser bastante ruins se novas proteções não estiverem em funcionamento. O motivo é porque trocar investimento especulativo para investimento mais produtivo sem qualquer novo controle democrático resultará em extração intensificada de recursos em terras indígenas”, disse Menotti. ”Os interesses indígenas devem fazer parte do debate para transformar a finança global.” Em relação ao comércio, Menotti compartilhou uma matriz preliminar que revela os muitos conflitos entre a Declaração e a OMC que fornecem subsídio para a criação de possíveis estratégias de litígio. Ele observou as exportações do biocombustível brasileiro como uma oportunidade particularmente estratégica. Quanto ao clima, ele destacou a importância de influenciar o debate sobre “transferência de tecnologia”, possivelmente colocando uma “lente sobre o que são tecnologias favoráveis aos indígenas e tecnologias mortais aos indígenas” uma vez que as tecnologias forem transferidas, determinarão grandemente a pressão sobre as terras indígenas. Menotti também concordou que a discussão sobre a REDD ainda não estava focada o suficiente nos impulsionadores do desmatamento e imaginava como avançar a conversa. Ao mesmo tempo em que acreditava que a discussão sobre REDD era vantajosa, sentiu que não conseguiam chegar ao item dos mecanismos financeiros, e como esse se relaciona à implementação da UNDRIP. Disse que o IFG estaria interessado em organizar uma reunião para explorar os mecanismos financeiros para a REDD que avançam para a UNDRIP.

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Menotti propôs três medidas para o Fórum Social Mundial que está por vir. Primeiro, propôs que o IFG organize um evento que celebre a adoção da declaração e demonstre o suporte à Declaração por parte de organizações não indígenas. Essa celebração poderia transformar-se em uma sessão de estratégia para a implementação que envolveria todos os diferentes grupos de sociedade civil. Segundo, Menotti propôs que fizessem alguma coisa para abordar a comercialização de biocombustíveis, notando que o IFG já está entrando em contato com movimentos sociais Brasileiros, e que o momento para implementar a Declaração nesse caso é oportuno. Terceiro, propôs que colaborassem para dialogar sobre a REDD e mecanismos financeiros e a Declaração para o próximo estágio. Organizando uma sessão que reúna novamente os proponentes diferentes dos mecanismos financeiros com povos indígenas presentes, as ONGs poderiam ter o tipo de retorno que precisam para avançar com eficiência. Atossa Soltani da Amazon Watch apoiou Jerry Mander e Siri Damman, e sugeriu a formação de um grupo de trabalho de algum tipo que tenha uma plataforma clara das demandas em torno dos princípios centrais da UNDRIP, “que ao menos seja lançado entre agora e Copenhagen como uma ferramenta para basicamente galvanizar e somar ao grupo, e que realmente utilize o peso coletivo desse grupo para influenciar as negociações.” Ao invés de uma rede, ela apoiou um ”Caminho para o Grupo de Copenhagen” que trabalha na articulação dessas questões essenciais. Em termos de medidas concretas, Soltani focou em transmissão de mensagens da mídia e organização das raízes da questão para o Copenhagen. Perguntou ao grupo, “Qual é a manchete no artigo do New York Times que queremos que influencie nas negociações e realmente coloque esse assunto na mesa? O que diria? Quais são as questões centrais?” Além disso, Soltani notou que os acrônimos FPIC (free prior informed consent) [livre consentimento prévio informado] e UNDRIP (The United Nations Declaration on the Rights of Indigenous Peoples) [Declaração das Nações Unidas acerca dos Direitos dos Povos Indígenas] não são exatamente amistosos ou especialistas em relação à mídia, e sugeriu uma discussão mais aprofundada sobre linguagem e modos de ajustar as questões. Reconheceu que “consentimento prévio” pode ser um dos melhores termos para se focar com respeito à mídia, e sugeriu

que olhassem para ver se essa mensagem ressonava e em torno da qual pudessem galvanizar. “Em termos de incorporação da UNDRIP em nosso trabalho, acho que campanhas corporativas têm de ser uma parte da equação,” afirmou. “Não podemos ter apenas povos indígenas enfrentando governos. O campo de atuação de nível e poder não está lá, mas acho que podemos ir atrás de empresas e realmente envergonhar os governos.” Compartilhou que as campanhas corporativas com as quais sua organização esteve envolvida eram todas baseadas em fazer com que as empresas adotassem o conceito do consentimento prévio. “O Conselho Interfaith de Responsabilidade Corporativa publicou recentemente um guia sobre livre consentimento prévio informado para acionistas. Uma rede de 800 igrejas, acionistas religiosos e acionistas estão engajando todas as corporações, incluindo a maioria das empresas de petróleo e a Wal-Mart,” disse. Kits de ferramentas de medidas também foram bastante eficientes para a organização no Earth Summit em 1992, como foram road shows e teach-ins. Soltani também sugeriu uma oportunidade de enfrentar questões de frente: o 50° aniversário do American Development Bank [Banco Interamericano de Desenvolvimento] ocorrerá em março de 2009 em Medelín, Colômbia, onde se reunirão de 10.000 a 12.000 pessoas representando governos, bancos, jornalistas e a indústria. É uma oportunidade de trazer uma delegação indígena e articular questões importantes para aqueles participando da celebração de aniversário. Como membro da Christensen Fund board, também mencionou que a diretoria está conversando sobre como incorporar FPIC em qualquer projeto que afete territórios indígenas, e que houve conversas produtivas sobre isso, com bastante apoio para o processo. Roman Czebiniak do Greenpeace International expressou apoio aos comentários de Daphne Wysham e Victor Menotti no que diz respeito a REDD. Afirmou que obviamente implementação seria a chave, e que “o desenho do mecanismo terá um impacto profundo sobre o tipo de implementação que ocorrer.” Confirmou também que as discussões sobre política estão se movendo a um passo bastante rápido: Governos estão negociando e tomando decisões agora, e espera que haja uma arquitetura preliminar do Protocolo de Kyoto até o meio do ano que vem. “Meu conselho seria de que, ao menos em

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itens de visão abrangente, seria útil que quisessem que suas vozes fossem ouvidas e descrevessem o que gostam e o que não gostam, como ao menos um ponto de entrada com governos e com o COP. E então, com o tempo e assim por diante, vocês podem elaborar o que seria o mecanismo ideal. Mas precisamos de suas mentes e vozes,” afirmou. Anka Stock da Women in Europe for a Common Future (WECF) [Mulheres na Europa para um Futuro Comum] compartilhou sua própria indagação sobre como implementar a UNDRIP na rede de sua organização. Percebendo que Nurzat Abdyrasulova era a única pessoa presente de uma eco-região partilhada, determinou que primeiro iria identificar parceiros de comunidades indígenas dentro do alcance de seus programas, e então estabelecer quem estava disposto a colaborar. Determinar quais componentes de seus programas eram relevantes para a UNDRIP era um desafio futuro para a Stock, e expressou uma necessidade de treinamento dentro de sua organização e para seus membros. Também apoiou a criação de uma rede ou Listserv, e indicou que seria bastante útil para compartilharem informações com outras pessoas “que trabalharam nessas questões por muito mais tempo.” Joseph Ole Simel da Mainyoito Pastoralist Integrated Development Organization [Organização Mainyoito para o Desenvolvimento Pastoral Integrado] expressou a sua avaliação de todos os comentários e articulou a sua experiência – de que a adoção da Declaração tinha ocorrido em um vácuo; o trabalho não havia sido realizado a um nível nacional ou internacional e ele disse que uma rede tinha uma necessidade imediata. Ele então mencionou os desastres no Quênia que vieram com a adoção das Millennium Goals da ONU [Objetivos de Desenvolvimento do Milênio], onde fundos haviam sido direcionados para projetos que haviam desabrigado pessoas, destruído culturas e danificado o meio-ambiente. O governo está atualmente planejando estender Nairobi, Quênia, em cerca de 40 a 120 km para atender as crescentes pressões demográficas, o que significa tomar a terra dos povos indígenas. Atualmente, não há ninguém que possa pôr em vigor a Declaração da ONU, dizer que isto não deve ser feito. Ole Simel enfaticamente apoiou o desenvolvimento de uma rede de colaboração para as questões da UNDRIP. “Portanto, penso que o que discutimos

aqui possa avançar para o próximo nível, e tenhamos continuidade, precisamos de uma aliança e precisamos dela urgentemente. O meu apelo aos organizadores desta reunião, o IFG, realmente é para dar suporte até que outra decisão seja tomada…não podemos permitir a criação de um outro vácuo …” Ole Simel realçou a importância de se ter uma estratégia de como avançar e evitar a criação de um vácuo como aquele que ocorreu depois da campanha original para apoiar a aprovação da UNDRIP. Além do mais, Ole Simel disse que a utilização de ONGs existentes e estruturas ambientais na África só serviria para marginalizar os povos indígenas em razão do passado e da tensão em torno das questões de conservação. A forma pela qual os povos indígenas têm sido retratados, como uma ameaça por muitas dessas organizações de conservação não seria de bom presságio para futuras colaborações. “As oportunidades atuais existentes só podem ser aproveitadas se nos organizarmos,” disse Ole Simel. “Muitas boas ideias estão aqui sobre a mesa. Precisamos de uma estrutura menor a fim de avançarmos para o próximo nível. Se você não dispõe de uma estrutura para agir, então aquelas ideias serão muito difíceis de implementar.” Ele estimulou a construção de uma nova estrutura para acelerar rapidamente a implementação e evitar a má abordagem das alianças anteriores, bem como os empecilhos e os constrangimentos de se trabalhar dentro das estruturas existentes e potencialmente conflitantes das organizações individuais. Jose Aguto, do National Congress of American Indians [Congresso Nacional dos Índios Americanos], se apresentou ao grupo como um conselheiro acerca das alterações climáticas, meio-ambiente e questões de política dos recursos naturais. Ele recentemente se filiou ao National Congress [Congresso Nacional] especificamente para desenvolver uma estratégia sobre as alterações climáticas. Aguto acaba de voltar da conferência nacional em Fênix, onde esta estratégia foi apresentada a todas as tribos. Aguto conceitualmente apoiou o desenvolvimento de uma rede de implementação, mas questionou a extensão na qual ele ou outros participantes podem estar engajados, em razão do seu envolvimento atual com redes existentes. Como uma mensagem abrangente, ele acredita que os povos indígenas “definem a sustentabilidade,” como refletido pela

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sua relação bem íntima com a terra durante milhares de anos e são as melhores pessoas para atuar como administradores. Segundo Aguto, a presença dos povos indígenas nas discussões da REDD é não negociável, “e aquela mensagem, quanto à sustentabilidade inerente dos povos indígenas nas suas práticas, tem de ser colocada quando estamos falando sobre um novo modo de pensar no mundo, economicamente ou no modo pelo qual tratamos a Mãe Natureza . Os povos indígenas têm aquela primeira mensagem, que deve ser levada adiante.” Além do mais, Aguto reiterou comentários anteriores quanto à diplomacia indígena e expressou a importância de se destacar os papéis dos povos indígenas nas negociações internacionais. Ele citou o recente programa de televisão de Barack Obama, onde ele afirmou uma relação de nação para nação quando lidarmos com os povos indígenas. Aguto também expressou um sentido de urgência na comunicação e esforços diretos para com a sociedade civil com relação aos impactos atuais das alterações climáticas sobre os povos indígenas. “Temos 186 das 226 aldeias nativas do Alasca que estão ameaçadas pelas alterações climáticas atualmente. E este é um relatório da GAO, este é um relatório do governo federal … eles estão sendo inundados e as pessoas estão sendo transferidas por causa das alterações climáticas. A cultura deles, a qual eles têm praticado durante 13.000 anos, lhes está sendo tomada... esta identidade indígena essencial ...” disse Aguto. Theresa Buppert da Conservation International [Conservação Internacional] acompanhou o comentário de Atossa Soltani quanto à importância de incorporar a UNDRIP nas organizações participantes. A Conservation International tem uma política similar àquela da WWF e Buppart estará embarcando em um processo de revisão de política. Ela expressou interesse em ouvir sobre as experiências de outras organizações: como elas encaram a internalização da Declaração, onde elas obtiveram êxito, e que lições elas aprenderam. Buppart apoiou uma rede informal ou formal e destacou a importância de pessoalmente personificar os princípios da UNDRIP dentro das próprias organizações como um ponto de partida essencial. Daphne Wysham, diretor do Institute for Policy Studies’ Sustainable Energy & Economy Network [Instituto para Energia Sustentável e Rede de

Economia dos Estudos de Política], disse que ela tem trabalhado no Capitol Hill com a Congressional Progressive Caucus, e desenvolvido princípios com John Fitzgerald e outros em ações climáticas que incluem princípios que incorporam justiça ambiental e evitam compensações como a parte da solução. “Há também a inclusão de um conjunto de princípios sem carbono, livre de armas nucleares e iremos ressuscitá-lo no próximo Congresso, e de fato estamos dispostos a trabalhar com pessoas que gostariam de fazer parte da coligação, tanto no próprio país como na busca de apoio internacional, e ver como também podemos implementar a UNDRIP através daquele veículo,” disse ela. Trevor Stevenson, co-diretor da Amazon Alliance, esclareceu um comentário que havia feito anteriormente sobre uma possível rede. “Quando estava explicando as dificuldades para dirigir uma rede, não pretendia dizer que não devemos construir uma,” explicou ele. “Eu estava tentando apresentar uma parte da realidade sobre o que isto significa, no lugar de realizar reuniões para a troca de ideias. Portanto, pode ser de fato muito importante para nós construirmos uma rede que tenha um foco exclusivo no desenvolvimento da UNDRIP . Contudo, se trata de um grande empreendimento, assim eu queria apenas propor a questão.” “Algo que estamos fazendo é estabelecer um conjunto de princípios que se espera que todos os membros possam cumprir, o qual pode ser essencialmente reduzido a apenas um, ou seja, a implementação da UNDRIP dentro do âmbito da sua organização e do seu trabalho,” explicou Stevenson. “Consequentemente, estamos empenhados na sua realização, e como você a faz quanto à direção e à avaliação se as pessoas estão fazendo isto, e os ajudando na coordenação recíproca, e assim por diante.” Ele acrescentou que embora ainda haja um longo caminho a percorrer na realização deste empreendimento, a Amazon Alliance espera tal construção dentro da sua rede. Ele acrescentou que a reunião tinha sido extremamente proveitosa e agradeceu o IFG “por torná-la viável. Vocês têm realizado um grande número de eventos como este, do tipo intercâmbio de ideias que têm sido realmente úteis, certamente para nós e para muitos dos nossos membros, na consideração de um novo paradigma e na obtenção de novas ideias e formação de novas conexões, e acho que isto é muito importante,” disse ele.

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Aaron Goldzimer do Fundo de Defesa do Ambiente explicou, “trabalho principalmente com as questões ligadas aos povos indígenas e as florestas tropicais, sediados basicamente no Peru e em outros lugares, bem como com outros assuntos globais. Assim, o meu interesse principal, com respeito à Declaração, é essencialmente como posso usá-la e como os meus parceiros no Peru podem utilizá-la para ajudar a promover os seus direitos.” Goldzimer disse que a reunião tinha sido bastante útil e que ele está inclinado a descobrir o quanto mais for possível. Athena Ballesteros do Instituto Mundial dos Recursos Naturais explicou que o foco do trabalho da sua equipe está nas instituições financeiras. “Dispomos de alguns [relatórios] de pesquisa de política planejados sobre o FPIC (consentimento fundamentado prévio), e vou assegurar que a minha equipe, a qual está acompanhando a revisão dos padrões de desempenho, terá a implementação da UNDRIP e a atualização da Declaração nas nossas mentes,” disse ela. Victoria Tauli-Corpuz agradeceu a todos por assistir a conferência em nome da sua organização, Tebtebba e do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas. “Penso que foi realmente uma discussão muito substancial a que tivemos, e definitivamente não podemos pôr no papel todo o poder de todas as coisas que temos tido,” disse ela. Tauli-Corpuz incitou o IFG a fazer uma Listserv, que ela acha que seria útil porque “levaria as pessoas a se unirem mais enquanto a memória ainda está fresca, quanto ao que [tinha sido] discutido.” Ela considera a Listserv como um modo eficaz de criar ideias e dar forma à linguagem que as organizações gostariam de propor. “A minha sugestão é que seria bom se pudéssemos fazer circular a afirmação da Rainforest Foundation [Fundação Rainforest] em relação à REDD, onde eles claramente afirmaram que a UNDRIP deve ser uma estrutura central que deve prevalecer,” acrescentou. Ela aconselhou fazer circular a declaração para se adquirir mais signatários, de forma que quando ela alcançar a Poznan, já haja uma afirmação de que não seja simplesmente uma afirmação da Rainforest Foundation, mas algo que tenha sido apoiado por outras pessoas. Ela incitou as organizações que já tinham feito submissão ou afirmações para passá-las adiante e conseguir outras assinaturas daqueles que

acreditam que gostariam de endossá-la ou apoiá-la. “Teria realmente um maior impacto quanto à obtenção da atenção do governo, e este foi o modo que utilizamos no passado, e ele funcionou,” explicou ela. Tauli-Corpuz lembrou aos participantes de que Tebtebba acompanharia as reuniões dos povos indígenas, e que será realizada futuramente uma conferência sobre as indústrias extrativas, que ela denominou “uma questão principal dos povos indígenas em todo o mundo.” “Estamos estendendo o nosso convite as ONGs que estão muito envolvidas no trabalho acerca das indústrias extrativas, pois é realmente uma oportunidade para que possamos dar forma às recomendações que devem ser feitas em relação à Declaração da ONU e às indústrias extrativas,” ela acrescentou. Evelyn Arce-White, diretora executiva do International Funders for Indigenous Peoples [Patrocinadores Internacionais dos Povos Indígenas], observou que de toda a educação que havia sido dada, o que ela viu foi quase “uma transformação nas pessoas,” que elas “reconhecem a importância da UNDRIP .” Quanto ao mundo filantrópico, ela incitou as ONGs a conscientizar os doadores sobre a UNDRIP. “A promoção e a salvaguarda dos povos indígenas tem uma importância vital, porque noventa e cinco por cento da diversidade cultural pertence ao povo indígena,” ela explicou. “Oitenta por cento da biodiversidade restante estão em territórios indígenas. Basicamente, isto não está relacionado apenas aos povos indígenas, mas sim com a Mãe Natureza. Diz respeito a todas as nossas crianças, os nossos bisnetos e o nosso futuro.” Arce- White acrescentou que ela pensa em pôr a questão naquela espécie de estrutura, que estamos aqui não só para apoiar os povos indígenas, mas também para apoiar a nossa Terra e apoiar a nós mesmos, “É correto sermos um pouco egoísta, pensar nas nossas crianças, nos nossos bisnetos,” ela disse. “Isto está relacionado com todos nós como seres humanos, basicamente. Assim, por favor, falem com outras ONGs, falem com os seus colegas, [e] internalizem isto, porque é extremamente, extremamente importante.” Nurzat Abdyrasulova, diretor da fundação cívica do meio-ambiente UNISON no Quirguizistão,

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acrescentou que um outro ponto importante a ser considerado é como implementar a UNDRIP a nível local. “Por isso também é muito importante desenvolver a capacidade das ONGs locais, das populações locais que estarão se beneficiando disto e estão lidando com essas questões,” ela afirmou. Abdyrasulova acredita que o conhecimento que ela obteve a partir da reunião e que obteria por meio de uma Listserv, permitirá à sua organização levar esta informação a nível local, distribuí-la e também tentar aproximar o governo com relação à UNDRIP e outras questões. “Eu concordo completamente com a [ideia] de que não se trata só de uma questão dos povos indígenas, mas também todos nós no futuro e por isso penso que este desenvolvimento é muito importante,” ela realçou. Paul L. Little da The Moore Foundation [Fundação Moore] expressou os seus agradecimentos e disse que ele desejava falar resumidamente sobre uma das suas “vidas passadas” como professor de antropologia. Ele disse que em junho, a Associação Antropológica Brasileira (BAA) considerou a UNDRIP como o tema central e que no próximo mês, a UNDRIP também seria um tema-chave na Associação Antropológica Americana. Little observou que Rodolfo Stavenhagen foi o orador principal na conferência da BAA e valeria a pena entrar em contato com ele. Little incentivou a utilização do trabalho e das redes de antropologia como um recurso básico e convidou antropólogos para qualquer tipo de rede ou aliança que seria criada. “ Penso que o mundo da antropologia é um recurso ainda não usado porque, quer queiram ou não, os antropólogos trabalham com povos indígenas todo o tempo, em todo o mundo, sendo um bom método para disseminar a informação sobre a UNDRIP e fazer com que as coisas funcionem, e penso que há uma boa vontade por parte das associações de antropologia para proceder de tal forma,” ele declarou. John Fitzgerald, diretor de política na Society for Conservation Biology (SCB) [SOCIEDADE para a BIOLOGIA da CONSERVAÇÃO], seguiu o comentário feito por Paul L. Little, acrescentando o lembrete de que “a Society for Conservation Biology não é composta unicamente por biólogos.” Ele lembrou a todos de que ela é formada por antropólogos, economistas, advogados e outros. “Temos seções para cada região geográfica do mundo, inclusive os ecossistemas marítimos,” ele explicou.

Quanto ao mundo do investimento privado, Fitzgerald explicou como cada ano, tendo em vista que as corporações arquivam um relatório anual com a US Federal Trade Commission (FTC) [Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos], há uma oportunidade de rever o que eles consideram como sendo os passivos e os riscos potenciais dos seus investimentos. “Agora, expusemos certos direitos dos povos indígenas que podem ser afetados por minas mal dirigidas, práticas florestais, etc. Se eles não revelarem a possibilidade de que eles possam estar reduzindo ou atenuando aqueles direitos nos seus relatórios anuais, e eles estão tendo intensos efeitos naqueles povos, eles podem não ter arquivado um relatório anual completo e exato, que possa ser em seu detrimento,” disse Fitzgerald. Ele argumentou que há uma necessidade de assegurar que a Comissão Federal do Comércio esteja ciente disto, bem como “a crescente comunidade de investidores socialmente responsáveis que estão procurando por aquela informação e solicitando-a nos relatórios anuais.” Jenny Springer, diretor do World Wildlife Fund’s Livelihoods [Substência de Fundo de Proteção da Vida Selvagem] e do Governance Program [Programa do Governo], acrescentou que ela realmente pensa que seria útil ter comunicação contínua e informação compartilhada através de um mecanismo como a Listserv. “Penso que Nurzat [Abdyrasulova] levantou um ponto importante, que é especialmente útil tentar fazer isto de uma forma que permita uma disseminação mais ampla através de todas as redes que participamos em vários lugares,” ela concluiu. O chefe Kokoi, aka Tony James, presidente da Amerindian Peoples Association of Guyana, expressou o seu apoio para o que Vitor Menotti havia salientado, que alguns dos grandes executivos corporativos não têm um plano quanto à situação econômica. “Eles não sabem o que vai acontecer. Definitivamente, é um fracasso. O que está acontecendo neste país também é outro fracasso. O que significa que algo está indo errado. Quando algo está errado, você precisa repará-lo e você deve procurar as ferramentas relevantes para fazê-lo,” ele explicou. O chefe Kokoi se queixou de que os povos indígenas tenham sido considerados de pouca importância, quanto às ferramentas das alterações climáticas.

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“Mas, é apenas por causa da defesa das nossas terras em todo lugar ao redor do mundo que as pessoas ainda são capazes de respirar,” ele argumentou. “Somos um instrumento para equilibrar as alterações climáticas, mas ninguém nos considera.” “A Declaração,” ele continuou, “que é um instrumento para a sobrevivência dos povos indígenas, é a causa do meu entusiasmo e é por isso que tenho esperança.” Ele também reconheceu que o êxito do instrumento depende “de como iremos implementar esta Declaração, visto que depende da ação de cada indivíduo, de quanto do nosso tempo estamos dispostos a sacrificar para fazê-la acontecer.” O chefe Kokoi concluiu a sua afirmação final expressando os seus agradecimentos aos organizadores e ao pessoal da IFG, e observou que ele havia obtido muita informação nova para levar de volta ao seu país. Jerry Mander, fundador e diretor do Fórum Internacional sobre a Globalização, reconheceu que não tinha sido uma reunião fácil, pois o que eles estavam fazendo era tentar compreender como tornar o documento popular ou como fazer o documento circular pelas instituições e organizações a fim de ganhar vida e uma natureza prática. “A Declaração dos Direitos Humanos levou muito tempo para ganhar impulso, mas não temos realmente um tempo muito longo,” ele explicou. Apesar disso, Mander disse que ele acredita que a reunião tenha sido muito útil e crê que todo mundo tenha contribuído muito, muito bem. Mander estendeu os seus agradecimentos aos participantes indígenas, que ele chamou “a inspiração de toda a atividade...” Quanto à criação de uma aliança, Mander acredita que realmente não importa se é uma aliança com “A” maiúsculo ou uma aliança com “a” minúsculo. “Penso que do nosso lado, provavelmente atuaremos como se fôssemos um secretariado em todo o caso e com a proposta de constituirmos algo,” afirmou ele. Mander explicou que há um plano para se escrever uma cartilha de algum tipo sobre essas questões, basicamente para os públicos americanos, mas o IFG provavelmente roubaria muita informação da reunião para fazer isto, bem como de uma cartilha que o IFG tinha publicado antes da sua primeira reunião sobre os direitos indígenas.

Mander explicou que ele ficou muito impressionado com a necessidade de funcionar em dois níveis. “Temos que organizar coisas reais, tentar atender aos prazos e lidar com instituições e tentar fazer as coisas funcionarem naquele mecanismo… assim penso que é muito importante que consideremos todas essas reuniões e instituições e tenhamos um plano realmente competente,” ele disse. Ele também avisou que há uma necessidade de enfrentar o fato de que “problemas maiores, gigantescos” existem, e que eles estão todos relacionados. “Realmente temos que definir com precisão a espécie de sistema no qual de fato queremos viver, porque este é um fracasso, e estamos cientes disso faz tempo, mas aqui há a demonstração daquele direito bem diante dos nossos olhos,” ele explicou. Ele descreveu como está ocorrendo um “suicídio econômico gigantesco”, assim, cabe apenas a nós mesmos determinarmos qual será o próximo sistema, porque, atualmente, não há ninguém no comando. Mander exprimiu o seu otimismo no novo governo Obama, mas também algum pessimismo sobre o fato de que a sua nova administração seria capaz de sobrepujar o momento, alegando que é impossível saber realmente o que Obama será capaz de fazer. “Mas, em todo o caso, há certa esperança no ar, e isto é uma coisa boa,” concluiu Mander. Mander agradeceu a Victoria Tauli-Corpuz, dizendo que ela tinha estado no conselho de diretores por um longo período e ajudado o IFG a entrar no território da obra dos direitos indígenas, e que ele muito a admirava. Victoria Tauli-Corpuz agradeceu Mander pela sua avaliação e explicou como ele e o IFG tinham feito parte de um maravilhoso e novo movimento. “Você sabe,” ela refletiu, “toda vez que pensamos nos americanos, sempre dizemos ’De fato, os americanos realmente não precisam nos ajudar. Eles simplesmente precisam fazer algo sobre o seu próprio governo, a sua própria sociedade. Esta é a maior ajuda que eles podem dar nos países em desenvolvimento e para nós povos indígenas, naturalmente. Ainda acredito nisto, mas a grande parte da responsabilidade com certeza é fazer algo sobre o seu próprio governo e a sua própria sociedade.”

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Ela explicou que esta era parte da razão inicial pela qual ela havia se juntado ao conselho de diretores do Fórum Internacional sobre a Globalização, de forma que ela pudesse começar um diálogo com os americanos e informá-los sobre as suas responsabilidades. “Penso que trabalhando com o IFG, nos foi permitido entrar em contato com todos vocês e todos os diferentes ativistas nos Estados Unidos,” disse ela. Tauli-Corpuz acredita que tem sido um processo muito bom, para ela em particular, porque sabe quais ingredientes que realmente farão modificações em qualquer sociedade. “Portanto, penso que o IFG, por todas as suas limitações, ainda tem desempenhado um papel-chave em tornar as questões dos povos indígenas mais visíveis, pelo menos dentro dos Estados Unidos,” ela acrescentou. Tauli-Corpuz refletiu em como, quando ela proferiu um discurso na ONU quando a Declaração foi adotada, uma das mensagens que ela trouxe foi que os povos indígenas gostariam de ver a Declaração se tornar um documento vivo, algo para ser usado a fim de implementar realmente as mudanças que este mundo precisa. “E acredito de fato que este seja o centro de toda esta questão: torná-la um documento vivo,” ela disse sobre a reunião nos dois últimos dias. Ela também advertiu que este processo não seria uma coisa fácil. “Vai ser uma luta árdua e precisamos de todos os aliados que realmente possamos dispor para que tenhamos a capacidade de torná-la naquele tipo de documento,” ela disse. “Não lutamos por ela para que permaneça simplesmente na prateleira. Lutamos por ela, pois acreditamos que será algo que fortalecerá as nossas possibilidades de reação e também para ampliar as alternativas que consideramos ser nosso dever estabelecer,” ela acrescentou. Vicky Tauli-Corpuz fez uma oração final em sua língua materna. Vitor Menotti do Fórum Internacional sobre a Globalização disse que as observações de Tauli-Corpuz tinham-lhe lembrado sobre uma das imagens mais duradouras que ele tem sobre a compreensão do seu papel e do papel das organizações com as quais ele tem trabalhado. Ele relembrou uma história que Randy Hayes, o seu primeiro empregador na Rainforest Action Network [Rede de Ação de Floresta Tropical] em 1990, lhe havia contado sobre um chefe na área Four Corners [Quatro Cantos]. Randy tinha perguntado ao chefe o que a RAN

poderia fazer para ajudar a sua terra. Segundo Menotti, o chefe olhou Randy no olho e disse “Deixe de me pressionar.” Menotti disse aos seus colegas indígenas que é assim que ele vê o seu papel e o papel das organizações com as quais trabalha, especialmente nos Estados Unidos: “pressionar o nosso governo, os nossos bancos, as nossas corporações, e assim por diante, quanto às suas terras, territórios, e recursos.. Menotti expressou a sua gratidão a todos dizendo, “quero que saibam que vocês são parte não apenas de uma UNDRIP em desenvolvimento, mas que também está ajudando o IFG a evoluir. Pois, o que primeiro nos uniu em 1994 foi a oposição à OMC, a oposição ao comércio livre, e ao Banco Mundial, e ao Fundo Monetário Internacional. Mas, agora o debate realmente mudou, porque vimos que aquelas instituições estão fracassando. A sua crise de legitimidade, as suas políticas desastrosas, a sua falta de confiança pública, até mesmo dos membros dos seus próprios governos. Assim, agora aquele espaço político está mais aberto do que nunca e realmente estamos precisando de novas visões e de novos conjuntos de valores para guiar o que irá nos auxiliar a fazer esta transição. Menotti disse que ele pensa que mais do que qualquer outro conjunto universal de direitos que exista no momento, a Declaração é algo que dá uma visão verdadeira de como os seres humanos devem se relacionar com a natureza de uma forma diferente, caso desejemos todos realmente sobreviver. Quanto a futuras ações, Menotti afirmou que sentia que tinha havido algumas ideias claras implementadas e recomendações feitas sobre como aplicar a Declaração e levá-la para os diferentes fóruns internacionais e distintas áreas formadoras de política. “Já conseguimos obter de algumas organizações o compromisso de levar a UNDRIP de volta às suas organizações a fim de incorporá-la,” ele disse. Menotti concluiu o seu comentário final dizendo que o IFG espera ansiosamente permanecer em contato com todos e assegurar que tudo isto realmente aconteça. Claire Greensfelder do IFG fechou a reunião refletindo sobre alguns dos seus ganhos pessoais. “Como um californiano de cinco gerações … costumava pensar que era um grande negócio até que eu comecei a trabalhar com os povos indígenas e então percebi, a questão,” disse ela.

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Greensfelder destacou que a reunião aconteceu em um momento muito histórico. “É um momento incrível … quando há uma grande ameaça, também é tempo de aprendizagem, quando todos podem ver que os mercados financeiros, a situação ambiental, clima, povos indígenas, etc., estão ameaçados,” disse ela. Em uma nota otimista, ela lembrou a todos que quando as administrações nos Estados Unidos mudam, 7.000 pessoas mudam de empregos também. “Não que isto em si mesmo mude tudo, mas é um momento onde, se formos organizados, tanto nos Estados Unidos como ao redor do mundo, as pessoas estão abertas a algo diferente. Greensfelder disse que a combinação desses eventos fornece múltiplas oportunidades, tanto globalmente como dentro dos Estados Unidos, para concretizar a Declaração. “Se a concretização da UNDRIP for algo que estejamos comprometidos a realizar, [há] inúmeras oportunidades para nós,” ela disse. Sobre a ideia de formar uma aliança, Greensfelder disse que ela não a considera necessariamente como

uma aliança formal, mas, ao contrário, como uma rede de ação. “Consideramo-nos um grupo de ação que fará as coisas acontecerem. Não ficaremos apenas passivos e fazendo declarações, pensaremos de fato na realização de coisas que sejam verdadeiras e que deem suporte e certamente receber as nossas instruções dos nossos líderes indígenas e aliados,“ ela disse. Na sua conclusão, Greensfelder anunciou que, embora o IFG esteja comprometido com o trabalho com os seus aliados indígenas aqui dentro dos Estados Unidos e globalmente, é importante reconhecer que outros grupos estão fazendo um trabalho semelhante: o International Indian Treaty Council [Conselho INTERNACIONAL de Tratados Indígenas] e o Indian Law Resource Center [Centro de Recursos Jurídicos para os Povos Indígenas] nos Estados Unidos estão ambos atualmente conduzindo treinamentos sobre a Declaração. Ela convidou os participantes para coordenar com outros que já estejam fazendo um trabalho similar, e estender o círculo de conhecimento sobre a UNDRIP.

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RES U MO DAS R E CO M E N DAÇ Õ ES

(A Ç ÕE S P O SSÍV EIS PA R A UM A “ RE DE D E IM PL EM E N TA Ç Ã O DA UN DRIP ”)

EDUCAÇÃO, INTERNA E EXTERNA ! levantar a bandeira da UNDRIP internacionalmente;; ! coordenar as comunicações e preparar uma agenda coletiva e identificar as prioridades; ! consolidar informações e ajudar a educar redes dentro das populações tradicionais,

organizações indígenas e grupos não-indígenas; ! começar uma Listserv para compartilhar desenvolvimentos e datas para reuniões regionais

e globais; ! compartilhar experiências de adotar a UNDRIP em todos os níveis, incluindo tanto as boas

como as más experiências; ! aprofundar as conexões entre as delegações do Fórum Permanente da ONU e grupos locais

para criar uma força de convergência internacional; ! adotar princípios de justiça ambiental como o primeiro passo em um compromisso de

reenquadrar o modo atual de trabalhar com os povos indígenas; ! adotar a UNDRIP na estrutura operacional da nossa organização; ! compartilhar experiências sobre como internalizar a Declaração: onde as pessoas obtiveram

êxito e quais foram as lições aprendidas; ! educar os patrocinadores sobre a UNDRIP; ! engajar redes de antropólogos e biólogos de conservação para disseminar informações sobre

a UNDRIP.

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ÁREA JURÍDICA

! apoiar as estratégias de litígio internacionalmente e ajudar a coordenar esforços

apresentando um banco de dados on-line de casos da UNDRIP para advogados como referência para o mundo inteiro;

! solicitar dos grupos de trabalho pro bono a representação do povo indígena em batalhas de alto nível, estabelecendo a UNDRIP como um instrumento de litígio que possa ganhar e estabelecer precedentes como parte da jurisprudência internacional;

! apoiar esforços para implementar consentimento fundamentado prévio, como uma pré-condição de autodeterminação, isto é, incitar os agentes corporativos a adotar “consentimento prévio.”

ÁREA FINANCEIRA ! abordar o papel dos bancos privados, incluindo as companhias Equator Principle; ! forçar a divulgação completa dos riscos e das violações da UNDRIP em relatórios anuais de

companhias à US Federal Trade Commission [Comissão Comercial Federal dos Estados Unidos];

! forçar a divulgação completa dos riscos no investimento internacional através do processo do G20 a fim de reajustar novamente as finanças globais, que irão revisar como os riscos são calculados;

! explorar como a UNDRIP pode aplicar para aumentar a responsabilidade dos investidores.

ÁREA COMERCIAL ! criar uma matriz que exponha os conflitos entre a UNDRIP e a OMC a fim de fornecer ideias

para possíveis estratégias de litígio; ! usar a UNDRIP como um instrumento analítico a fim de gerar alternativas para o comércio

atual e acordos de investimento.

ÁREA CLIMÁTICA ! tornar as questões climáticas visíveis ao mundo pela lente da UNDRIP; ! defender a proposição de que os governos incluam a UNDRIP na estrutura da UNFCCC; ! compartilhar experiências com medidas de mitigação para os relatórios do Fórum

Permanente das Nações Unidas sobre as Questões Indígenas; ! desenvolver propostas, com orientação indígena direta, para mecanismos de finanças da

REDD que reforçariam a UNDRIP e incluiriam o melhor da REDD; ! desenvolver e compartilhar uma linguagem comum sobre os conceitos básicos que todos os

grupos possam usar para promover a UNDRIP nas negociações climáticas, bem como a mais ampla educação pública e a transmissão de mensagens dos meios de comunicação;

! reunir em Copenhague para a coordenação de esforços.

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LIS TA D E PA RTICI PA N TE S

Brazil Ms. Paula Moreira

IPAM - Amazon Institute for Environmental Research [email protected]

Ecuador Mr. Juan Carlos Jintiach Amazon Alliance

[email protected], [email protected], [email protected]

Germany Ms. Anke Stock Women in Europe for a Common Future (WECF) [email protected]

Guyana Mr. Tony James

(Chief Kokoi) Amerindian Peoples Association of Guyana

Org: [email protected], Personal: [email protected]

Kenya Mr. Joseph Ole Simel

Mainyoito Pastoralist Integrated Development Organization [email protected]

Krygyzstan Ms. Nurzat Abdyrasulova Civic Environmental Foundation UNISON [email protected]

Norway Ms. Siri Damman

Regnskogfondet (Rainforest Foundation Norway)

[email protected], [email protected]

Norway Mr. Bard Lahn

“Norges Naturvernforbund”/ Friends of the Earth Norway [email protected]

The Netherlands Mr. Roman Czebiniak Greenpeace International [email protected]

The Phillipines

Ms. Victoria Tauli-Corpuz Tebtebba, UNPFII [email protected]

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United States Mr. Jose Aguto National Congress of American Indians [email protected]

United States Ms. Evelyn Arce-White International Funders for Indigenous Peoples [email protected]

United States Mr. Phil Aroneanu 350.org [email protected]

United States Ms. Athena Ballesteros World Resources Institute [email protected]

United States Ms. Jill Blockhus The Nature Conservancy (TNC) [email protected]

United States Ms. Theresa Buppert Conservation International [email protected]

United States Mr. Chad Dobson Bank Information Center [email protected]

United States Mr. John M. Fitzgerald Society for Conservation Biology [email protected]

United States Mr. Tom Goldtooth Indigenous Environmental Network [email protected]

United States Mr. Aaron Goldzimer Environmental Defense Fund [email protected]

United States Mr. Robert Goodland

Ecologist, former Environmental Advisor to the World Bank [email protected]

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United States Mr. David Gordon Pacific Environment [email protected]

United States Ms. Claire Greensfelder International Forum on Globalization (IFG) [email protected]

United States Ms. Kate Horner Friends of the Earth [email protected]

United States Ms. Korinna Horta Environmental Defense Fund [email protected]

United States Mr. Steve Kretzmann Oil Change International [email protected]

United States Mr. Tom Kruse Rockefeller Brothers Fund [email protected]

United States Mr. Paul Little Gordon and Betty Moore Foundation [email protected]

United States Ms. Ellen L. Lutz Cultural Survival [email protected]

United States Mr. Jerry Mander International Forum on Globalization (IFG) [email protected]

United States Mr. Victor Menotti International Forum on Globalization (IFG) [email protected]

United States Mr. Marcos Orellana

Center for International Environmental Law (CIEL) [email protected]

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United States Mr. Stephen Porter

Center for International Environmental Law (CIEL) [email protected]

United States Ms. Janet Redman

Sustainable Energy & Economy Network (SEEN)/Institute for Policy Studies (IPS) [email protected]

United States Ms. Leila Salazar-Lopez Rainforest Action Network (RAN) [email protected]

United States Mr. Jake Schmidt Natural Resources Defense Council [email protected]

United States Ms. Atossa Soltani Amazon Watch [email protected]

United States Ms. Jenny Springer World Wildlife Fund (WWF) [email protected]

United States Mr. Trevor Stevenson Amazon Alliance [email protected]

United States Ms. Kristen Walker Painemilla

Conservation International [email protected]

United States Mr. David Waskow Oxfam America [email protected]

United States Ms. Daphne Wysham Institute for Policy Studies (IPS) [email protected]

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DE CL AR AÇ Ã O DA S NA Ç Õ ES UNI DA S S OB RE OS DIR EI TO S D OS P OVO S I NDÍ GE NA S