66
Maria Inês Nazaré Canadas Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre Dissertação de Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial, orientada pelo Senhor Professor Doutor Cristóvão Silva, apresentada no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra Julho de 2018

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

  • Upload
    others

  • View
    27

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Maria Inês Nazaré Canadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

Dissertação de Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial, orientada pelo Senhor Professor Doutor

Cristóvão Silva, apresentada no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

Julho de 2018

Page 2: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas
Page 3: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA

Implementação do Total Productive

Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso

Nobre Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia na Especialidade de Engenharia e Gestão Industrial

Implementation of Total Productive Maintenance in the

Food Industry: the Nobre Case

Autor

Maria Inês Nazaré Canadas

Orientadores

Professor Cristóvão Silva Sofia Morgado Norte Paulo

Júri

Presidente Professor Doutor José Luís Afonso

Professor Auxiliar da Universidade de Coimbra

Vogais Professor Doutor Paulo Joaquim Antunes Vaz

Professor Adjunto do Instituto Politécnico de Viseu

Orientador Professor Doutor Cristóvão Silva

Professor Auxiliar da Universidade de Coimbra

Colaboração Institucional

Nobre Alimentação Lda

Coimbra, julho, 2018

Page 4: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas
Page 5: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

“The task is not so much to see what no one yet has seen, but to think what nobody yet has

thought about that which everyone sees.” Arthur Schopenhauer

Aos meus.

Page 6: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas
Page 7: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Agradecimentos

Maria Inês Nazaré Canadas iii

Agradecimentos

O trabalho que aqui se apresenta assinala o fim de uma etapa cuja conclusão só

foi possível graças à colaboração e apoio de algumas pessoas, às quais não posso deixar de

prestar o meu reconhecimento.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Nobre Alimentação Lda pela

oportunidade e condições proporcionadas. Agradecer também a todos os colaboradores pelo

excelente acolhimento e integração, em especial à Sofia Paulo, pela partilha de

conhecimentos e valiosas contribuições para o meu desenvolvimento profissional, pela

paciência e compreensão, pela disponibilidade e apoio na elaboração deste documento.

Ao professor Cristóvão Silva por todo o apoio, orientação e disponibilidade.

Aos meus pais e aos meus avós, por me proporcionarem esta incrível

oportunidade de que tanto gostei e por todo o esforço que sempre fizeram para que nunca

me faltasse nada. Pelo apoio incondicional, valores transmitidos, e sobretudo pelo carinho e

confiança depositada.

À minha irmã, Andreia, por todos os ensinamentos, disponibilidade e ajuda que

sempre me prestou ao longo do meu percurso académico. Por ser o meu modelo de

inspiração.

Ao meu namorado, André, pelo apoio incondicional, por ter sempre uma palavra

de motivação e encorajamento nas horas mais difíceis, pelo amor e carinho.

Aos meus amigos, em especial aos que Coimbra me deu, por terem tornado esta

jornada inesquecível.

Page 8: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

iv 2018

Page 9: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Resumo

Maria Inês Nazaré Canadas v

Resumo

A presente dissertação teve como base o estágio curricular realizado na empresa

Nobre Alimentação Lda, que se dedica à produção de produtos à base de carne, com o

principal objetivo de implementar a Metodologia 5S e o pilar da Manutenção Autónoma em

quatro linhas: Embalagem de Fumados, Enlatamento de Fumados, Pratos Cozinhados e

Turmix.

A Metodologia 5S e a Manutenção Autónoma estão inseridas num projeto de

Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as

metodologias adotadas pela empresa mãe, a Campofrio.

Ao longo da dissertação será descrito o trabalho desenvolvido dentro da

Metodologia 5S, com ênfase nos Standards e nas Auditorias 5S, e no pilar da Manutenção

Autónoma, com destaque para os Manuais CIL e Check-Lists CIL (Cleaning, Inspection and

Lubrification). Vai ainda ser apresentada uma nova proposta para as Check-Lists CIL,

visualmente mais apelativa.

Para a realização dos Standards e das Auditorias 5S procedeu-se à identificação,

registo e simulação de situações incorretas e das situações corretas correspondentes. No caso

dos Manuais CIL foi feita a recolha e análise dos equipamentos de cada linha, seguido de

um estudo ao chão de fábrica com base na análise por observação. Para a atualização das

Check-Lists CIL com verificações de Manutenção Autónoma, foram elaborados pontos de

verificação, responsabilidades, periodicidades de verificação, estado de máquina e EPI’S

(Equipamento de Proteção Individual) a utilizar.

Em termos de resultados, não foi possível aferir o impacto do trabalho realizado,

uma vez que a recolha de indicadores de performance ainda não tinha sido efetuada.

Palavras-chave: Total Productive Maintenance, Metodologia 5S, Manutenção Autónoma, Caso de Estudo, Indústria Alimentar.

Page 10: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

vi 2018

Page 11: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Abstract

Maria Inês Nazaré Canadas vii

Abstract

The dissertation here presented was based on a curricular internship in Nobre

Alimentação Lda, a company dedicated to the production of meat products, with the main

objective of implementing the 5S Methodology and the Autonomous Maintenance pillar in

four lines: Smoked Packaging, Canned Smoked, Cooked Dishes and Turmix.

The 5S Methodology and Autonomous Maintenance are part of a Total

Productive Maintenance project, whose development is based on the methodologies adopted

by the parent company, Campofrio.

Throughout the dissertation the work developed within the 5S Methodology will

be described, emphasizing on the Standards and 5S Audits, and in the pillar of Autonomous

Maintenance, highlighting CIL (Cleaning, Inspection and Lubrification) Manuals and CIL

Check-Lists. A new proposal, visually more appealing, for CIL Checklists will also be

presented.

To accomplish the Standards and 5S Audits, it was done the identification,

record and simulation of incorrect situations and of corresponding correct situations. In the

case of the CIL Manuals, the equipment of each line was collected and analyzed, followed

by a study on the shop floor based on observation analysis. Checkpoints, responsibilities,

periodicity of verification, machine status and EPI's (Individual Protection Equipment) were

elaborated to update the CIL Check-Lists with Autonomous Maintenance verifications.

In terms of results, it was not possible to evaluate the impact of the achieved

work since the collection of performance indicators had not yet been done.

Keywords Total Productive Maintenance, 5S Methodology, Autonomous Maintenance, Case Study, Food Industry.

Page 12: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

viii 2018

Page 13: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Índice

Maria Inês Nazaré Canadas ix

Índice

Índice de Figuras .................................................................................................................. xi

Índice de Tabelas ................................................................................................................ xiii

Siglas ................................................................................................................................... xv

1. Introdução ...................................................................................................................... 1

2. Revisão da Literatura ..................................................................................................... 3 2.1. Metodologia 5S ....................................................................................................... 3 2.2. TPM ........................................................................................................................ 4

2.2.1. Os 8 Pilares do TPM ........................................................................................ 5 2.2.2. OEE ................................................................................................................. 6 2.2.3. Os 12 Passos de Implementação ...................................................................... 7

2.2.4. Benefícios ........................................................................................................ 7 2.2.5. Dificuldades ..................................................................................................... 8

2.3. Aplicação do Conceito Lean na Indústria Alimentar ............................................ 10

2.3.1. Caraterísticas do Setor Alimentar .................................................................. 12

3. Caso de Estudo ............................................................................................................ 15

3.1. Apresentação da Empresa ..................................................................................... 15 3.1.1. Campofrio Food Group SA ........................................................................... 15

3.1.2. Nobre Alimentação Lda................................................................................. 16 3.2. Unidade Industrial ................................................................................................. 16

3.2.1. Tipologia de Produtos .................................................................................... 16 3.2.2. Divisão da Unidade Fabril ............................................................................. 17

3.3. Layout Unidade Fabril .......................................................................................... 17 3.3.1. Processo Fabril .............................................................................................. 19

3.3.2. Projeto 365 MEB ........................................................................................... 25

4. Desenvolvimento do Projeto 365 MEB ....................................................................... 29 4.1. Metodologia 5S ..................................................................................................... 29

4.1.1. Organização ................................................................................................... 29

4.1.2. Normalização ................................................................................................. 30 4.1.3. Disciplina ....................................................................................................... 32

4.2. Manutenção Autónoma ......................................................................................... 34

4.2.1. Manual CIL ................................................................................................... 34 4.2.2. Check-List CIL .............................................................................................. 38

5. Conclusão .................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 45

Page 14: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

x 2018

Page 15: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Índice de Figuras

Maria Inês Nazaré Canadas xi

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 3.1. Divisão da empresa (adaptado de documentos internos Nobre) ....................... 17

Figura 3.2. Layout das zonas de Enlatamento de Fumados, Embalagem de Fumados, Pratos

Cozinhados e Turmix (adaptado de documentos internos Nobre) ........................ 18

Figura 3.3. Processo Produtivo da subfamília de Enchidos e Pastas Finas da Linha de

Fumados e da Linha de Embalagem de Fumados (adaptado de documentos

internos Nobre) ...................................................................................................... 21

Figura 3.4. Processo Produtivo da Linha de Enlatamento de Fumados (adaptado de

documentos internos Nobre) ................................................................................. 22

Figura 3.5. Processo produtivo da Linha de Pratos Cozinhados (adaptado de documentos

internos Nobre) ...................................................................................................... 23

Figura 3.6. Processo produtivo da Linha de Turmix (adaptado de documentos internos

Nobre) .................................................................................................................... 24

Figura 3.7. Estrutura do projeto 365 MEB (documentos internos Nobre) .......................... 25

Figura 3.8. Plano Mestre da Metodologia 5S (documentos internos Nobre) ...................... 27

Figura 3.9. Plano Mestre do pilar da Manutenção Autónoma (documentos internos Nobre)

............................................................................................................................... 27

Figura 4.1. Exemplo da identificação de materiais e ferramentas na Linha de Embalagem

de Fumados............................................................................................................ 30

Figura 4.2. Exemplo de um Standard da Linha de Embalagem de Fumados ...................... 31

Figura 4.3. Exemplo de Auditoria 5S na Linha de Pratos Cozinhados ............................... 33

Figura 4.4. Média de OK's por semana no ano de 2015 (documentos internos Nobre) ...... 33

Figura 4.5. Exemplo de uma LPP da Linha de Pratos Cozinhados ..................................... 38

Figura 4.6. Exemplo da Check-List da Linha de Embalagem de Fumados ......................... 41

Figura 4.7. Novo formato de Check-List da Linha de Embalagem de Fumados ................. 42

Page 16: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

xii 2018

Page 17: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Índice de Tabelas

Maria Inês Nazaré Canadas xiii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1. Barreiras e dificuldades encontradas por vários autores (Ahuja e Khamba,

2008) ........................................................................................................................ 9

Tabela 2.2. Diferenças entre a Indústria de Manufatura e o Setor Alimentar (Van

Goubergen et al., 2011) ......................................................................................... 12

Tabela 3.1. Listagem do número de produtos fabricados na Linha de Embalagem de

Fumados ................................................................................................................ 19

Tabela 4.1. Número de Standards realizados ...................................................................... 31

Tabela 4.2. Requisitos da LUP segundo vários autores (Pomorski, 2004) ......................... 35

Tabela 4.3. Descrição da numeração das LPP's .................................................................. 36

Tabela 4.4. Número de LPP's realizadas em cada linha ...................................................... 37

Tabela 4.5. Instruções dos campos de preenchimento das Check-Lists .............................. 40

Page 18: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

xiv 2018

Page 19: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Siglas

Maria Inês Nazaré Canadas xv

SIGLAS

BRC- British Retail Consortium

CAE- Código de Atividade Económica

CIL- Cleaning, Inspection and Lubrification

EPI- Equipamento de Proteção Individual

HACCP- Hazard Analysis and Critical Control Point

KPI- Key Performance Indicator

JIT- Just In Time

LPP- Lição Ponto a Ponto

LUP- Lição Um Ponto

MA- Manutenção Autónoma

MEB- Making Every Day Better

MP- Manutenção Preventiva

MTBF- Mean Time Between Failures

MTTR- Mean Time to Repair

NOK- Not Ok

PdM- Manutenção Preditiva

OEE- Overall Equipment Effectiveness

TBM- Manutenção Baseada no Tempo

TPM- Total Productive Maintenance

VSM- Value-Stream Mapping

Page 20: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

xvi 2018

Page 21: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Introdução

Maria Inês Nazaré Canadas 1

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho resultou do estágio curricular realizado no âmbito do

Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial, na empresa Nobre Alimentação Lda que se

dedica à transformação de carnes.

No ano de 2016, a indústria alimentar em Portugal representava 15% da indústria

transformadora, era constituída por 9296 empresas, empregava 94483 trabalhadores, e

representava um volume de negócios anual de 12.366 milhões de euros. (INE, 2018)

De acordo com a Classificação Portuguesa de Atividades Económicas, a

indústria alimentar está dividida em 9 grupos. A Nobre está inserida no grupo de “Abate de

animais, preparação e conservação de carne e de produtos à base de carne”, mais

concretamente na classe de “Fabricação de produtos à base de carne”, com o código de

atividade económica (CAE) de 10130.

Em 2016, o grupo de atividade económica a que a Nobre pertence gerou cerca

de 2.395 milhões de euros (cerca de 19% do volume de negócios da indústria alimentar), dos

quais 757,171 mil euros foram gerados pelas empresas incluídas na classe referida, o que

corresponde a 32% do volume de negócios do respetivo grupo e a 6% do volume de negócios

de toda a indústria alimentar. (INE, 2018)

A indústria alimentar está sujeita a um grande número de padrões e

regulamentações rigorosas, criadas para assegurar a qualidade e a segurança dos alimentos

e minimizar os riscos para o consumidor. Para além dos requisitos exigidos pelas normas de

segurança dos alimentos, as empresas que os exportam, para além de estarem sujeitas às

regulamentações nacionais estão também sujeitas às imposições das normas e regulamentos

dos países para onde exportam.

Num contexto onde a alimentação tem cada vez mais um papel importante na

vida de todas as pessoas, os padrões de qualidade são mais exigentes que nunca e onde a

competitividade entre as organizações é cada vez maior, a manutenção de máquinas e

equipamentos torna-se extremamente pertinente, uma vez que é essencial para garantir a

confiabilidade e segurança dos equipamentos, melhorar a qualidade do produto, reduzir os

custos de produção e evitar os desperdícios. Neste sentido, a implementação de ferramentas

Page 22: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

2 2018

como o Total Productive Maintenance (TPM) é essencial para uma empresa atingir

rentabilidade e garantir a sua competitividade no mercado.

O TPM está implementado na Nobre através do projeto 365 MEB (Making Every

Day Better), que se traduz em 365 dias do ano a fazer, a cada dia, melhor. Este projeto foi

implementado na Nobre em 2015, pela empresa mãe, a Campofrio. Atualmente está

implementado em toda a fábrica, com mais profundidade na Linha de Salsicha, na Linha de

Fatiados e na Linha de Fiambre.

O desafio proposto para o estágio descrito neste documento foi implementar este

projeto em quatro linhas: a Linha de Embalagem de Fumados, a Linha de Enlatamento de

Fumados, a Linha de Pratos Cozinhados e a Linha de Turmix.

O presente documento encontra-se dividido em 5 capítulos. No primeiro capítulo

é enquadrado o tema da dissertação e são traçados os objetivos propostos para o

desenvolvimento do trabalho. No segundo capítulo é feita a revisão da literatura, onde é

apresentada a metodologia 5S e os conceitos gerais do TPM, assim como os benefícios e

dificuldades da sua implementação. É ainda feita uma abordagem da aplicação do conceito

lean na indústria alimentar e são descritas as características inerentes a esta indústria. O

terceiro capítulo é dedicado à exposição do caso de estudo. É apresentada a empresa e são

descritos alguns aspetos essenciais para um melhor entendimento do funcionamento da

empresa e das linhas onde incidiu o estágio. São também apresentadas as bases do Projeto

365 MEB. No quarto capítulo são descritas as metodologias que originaram o

desenvolvimento do projeto e é analisado o trabalho resultante. Por fim, no quinto capítulo

são enumeradas as conclusões e considerações finais do trabalho desenvolvido.

Page 23: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Revisão da Literatura

Maria Inês Nazaré Canadas 3

2. REVISÃO DA LITERATURA

Neste capítulo, pretende-se apresentar os principais conceitos que irão ser

abordados ao longo do presente documento. Como tal, serão apresentados conceitos como o

5S, o TPM (Definições gerais, Benefícios e Dificuldades da sua Implementação em contexto

fabril) e por fim, e uma vez que não foi encontrada bibliografia sobre a implementação do

TPM na indústria alimentar é feita uma breve abordagem da aplicabilidade do conceito Lean

na indústria alimentar.

2.1. Metodologia 5S

A abordagem 5S surgiu da necessidade de atender os tempos de mudança e de

apoiar a restruturação organizacional resultante. (Hirano, 1995)

O 5S é uma ferramenta eficiente de Lean Manufacturing para selecionar,

organizar, limpar, normalizar e melhorar continuamente a área de trabalho. O termo 5S

surgiu no Japão, derivado de 5 palavras japonesas começadas pela letra S: Seiri, Seiton,

Seiso, Seiketsu e Shitsuke. (Agrahari et al., 2015)

Esta ferramenta ajuda a reduzir tempo de valor não acrescentado, aumenta a

produtividade e melhora a qualidade. (Omogbai e Salonitis, 2017)

De acordo com Hirano (1995), o conceito 5S é descrito como:

1. Seiri (Seleção): Distinguir claramente entre o que é necessário e deve ser

mantido e o que é desnecessário e deve ser eliminado.

2. Seiton (Organização): Organizar as coisas necessárias para que

qualquer pessoa possa encontrá-las e usá-las facilmente.

“Todas as pessoas devem ser capazes de entender facilmente como as

coisas são mantidas na fábrica. Deve-se evitar situações nas quais as pessoas têm que

aprender teorias ou perguntar a um funcionário veterano antes de entender como é

que as coisas funcionam.”

3. Seiso (Limpeza): Manter o posto de trabalho limpo e organizado.

“A limpeza deve ser integrada em tarefas de manutenção diárias, para

combinar pontos de verificação de limpeza com pontos de verificação de

Page 24: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

4 2018

manutenção. O operador do equipamento é normalmente quem melhor conhece o

funcionamento do equipamento. E muitas vezes, só quando o operador limpa a

máquina é que repara numa fuga de óleo ou que o painel de controlo está a cheirar a

queimado.”

4. Seiketsu (Normalização): O principal objetivo da normalização é

manter os três primeiros sensos.

“A normalização está relacionada com os três pilares, mas está

diretamente relacionada com a limpeza. É uma maneira de manter as condições de

limpeza já alcançadas. A um nível mais elevado, envolve prevenir a sujidade e não

só manter a rotina de limpeza de sujidade.”

5. Shitsuke (Disciplina): A disciplina significa seguir sempre os

procedimentos especificados (e padronizados).

“Os quatro primeiros sensos podem ser implementados sem dificuldade

se os funcionários manterem a disciplina.”

2.2. TPM

O TPM surge no Japão no início da década de 70 influenciado pelas práticas já

existentes de manutenção corretiva e preventiva. Foi aplicado pela primeira vez numa das

empresas integrantes da Toyota e o seu principal contribuinte foi Seiichi Nakajima.

É uma metodologia que procura que a manutenção básica dos equipamentos seja

realizada de forma autónoma pelos operadores, com o objetivo de detetar e resolver as

anomalias numa fase inicial, libertando assim a manutenção para atividades avançadas de

prevenção.

O objetivo duplo do TPM é zero avarias e zero defeitos. “Quando as avarias e os

defeitos são eliminados, as taxas de operação do equipamento melhoram, os custos são

reduzidos, o stock pode ser minimizado e como resultado a produtividade aumenta”

(Nakajima, 1988).

Esta metodologia reduz as avarias dos equipamentos, minimiza as paragens,

reduz os defeitos e reclamações de qualidade, aumenta a produtividade, reduz a mão-de-obra

e o custo, reduz os stocks, elimina os acidentes e promove o envolvimento dos funcionários.

(Suzuki, 1994)

Page 25: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Revisão da Literatura

Maria Inês Nazaré Canadas 5

2.2.1. Os 8 Pilares do TPM

O TPM é estruturado com base em 8 pilares, onde cada um representa um

objetivo específico. Segundo Ahuja e Khamba (2008) os 8 pilares são definidos como:

• Manutenção Autónoma (MA)

Promover o sentimento de posse do operador em relação ao seu equipamento

através da execução de atividades de limpeza, lubrificação, ajuste e inspeção.

• Melhoria Continua

Identificação e eliminação sistemática das perdas. Aumentar a eficiência do

sistema e aumentar o OEE (Overall Equipment Effectiveness) nos sistemas de produção.

• Manutenção Planeada

Planear eficientemente planos de Manutenção Preventiva (MP), Manutenção

Preditiva (PdM) e Manutenção Baseada no Tempo (TBM) durante o ciclo de vida dos

equipamentos. Efetuar registos de verificação das atividades de MP. Otimizar o tempo entre

falhas (Mean Time Between Failures- MTBF) e o tempo de reparação (Mean Time To

Repair- MTTR).

• Manutenção de Qualidade

Alcançar zero defeitos. Rastrear problemas de equipamentos e as suas causas

raiz.

• Formação e Educação

Formar os operadores, a manutenção e a gestão dos conhecimentos necessários

para atingir os resultados pretendidos. Avaliar periodicamente as suas habilidades e melhorá-

las.

• Administração e Áreas de Suporte

Melhorar a cooperação entre as várias áreas de negócio. Simplificar os

procedimentos (standardizar). Abordar questões relacionadas com custos. Aplicar o 5S no

escritório e áreas de trabalho.

• Higiene e Segurança

Garantir um ambiente de trabalho saudável. Eliminar acidentes e incidentes com

lesões. Standardizar os procedimentos operacionais.

• Gestão Inicial

Aplicar os conhecimentos adquiridos nos equipamentos antigos, nos

equipamentos novos.

Page 26: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

6 2018

2.2.2. OEE

O OEE é um indicador de performance utilizado para medir o desempenho dos

equipamentos, proposto por Seiichi Nakajima.

Esta métrica tornou-se amplamente aceite como uma ferramenta quantitativa

essencial para medir a produtividade em operações de manufatura. (Huang et al., 2002)

Segundo Nakajima (1988) existem seis grandes perdas que afetam a eficiência

dos equipamentos de uma forma considerável. Estão divididas em perdas de Disponibilidade

(1 e 2), de Desempenho (3 e 4) e de Qualidade (5 e 6):

1. Falhas de Equipamentos;

2. Ajustes e Setup;

3. Pequenas Paragens;

4. Redução de Velocidade;

5. Defeitos de Processamento;

6. Qualidade Reduzida.

O OEE resulta do produto da Disponibilidade, do Desempenho e da Qualidade,

que podem ser determinados conforme se indica de seguida:

• Cálculo da Disponibilidade:

𝐃𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧𝐢𝐛𝐢𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 =𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝐸𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜

𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑛𝑒𝑎𝑑𝑜 (2.1)

Onde:

𝐓𝐞𝐦𝐩𝐨 𝐝𝐞 𝐎𝐩𝐞𝐫𝐚çã𝐨 𝐄𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐨= 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑛𝑒𝑎𝑑𝑜− 𝑃𝑎𝑟𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 𝑛ã𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑛𝑒𝑎𝑑𝑎𝑠

(2.2)

• Cálculo do Desempenho:

𝐃𝐞𝐬𝐞𝐦𝐩𝐞𝐧𝐡𝐨 =𝑁º 𝑝𝑒ç𝑎𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎𝑠 × 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙

𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝐸𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 (2.3)

• Cálculo da Qualidade:

𝐐𝐮𝐚𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 =𝑁º 𝑝𝑒ç𝑎𝑠 𝑎𝑐𝑒𝑖𝑡𝑒𝑠

𝑁º 𝑝𝑒ç𝑎𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎𝑠 (2.4)

Page 27: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Revisão da Literatura

Maria Inês Nazaré Canadas 7

Segundo Nakajima (1988), as condições ideais são:

• Disponibilidade acima de 90%;

• Desempenho acima de 95%;

• Qualidade acima de 99%;

Assim sendo, o valor ideal de OEE deverá ser igual ou superior a 85%, sendo

que na maioria das empresas os valores rondam os 60%.

2.2.3. Os 12 Passos de Implementação

Segundo Nakajima (1988), principal contribuinte do TPM, o seu sucesso está

dependente de 12 etapas, divididas em 4 fases, Preparação (1-5), Implementação Preliminar

(6), Implementação TPM (7-11) e Standardização (12), e são:

1. A gestão de topo anuncia a decisão de introduzir o TPM na fábrica;

2. Campanha de divulgação e treino para a introdução da metodologia;

3. Criar uma organização para promover o TPM;

4. Estabelecer Políticas, Objetivos e Diretrizes;

5. Elaboração do Plano Mestre para a implementação do TPM;

6. Início da implementação;

7. Melhorar a eficiência dos equipamentos;

8. Estabelecer um programa de Manutenção Autónoma para os Operadores;

9. Definir um programa de Manutenção Planeada para o departamento de

manutenção;

10. Conduzir um treino para melhorar o nível de operação e manutenção;

11. Implementar a Gestão Antecipada ou controle inicial de novos produtos e

equipamentos;

12. Implementação efetiva do TPM e melhoria contínua dos seus métodos.

2.2.4. Benefícios

Segundo Suzuki (1994), os benefícios tangíveis e intangíveis da implementação

do TPM podem ser:

Benefícios Tangíveis:

- Produção:

• Aumento da produtividade entre 1,5 a 2 vezes;

Page 28: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

8 2018

• Redução do número de avarias entre 1/10 a 1/250;

• Aumento da eficiência entre 1,5 a 2 vezes;

- Qualidade:

• Redução dos defeitos de processamento em 90%;

• Redução das reclamações de clientes em 75%;

- Custos:

• Redução dos custos de produção em 30%;

- Distribuição:

• Redução dos stocks de produtos acabados e de produtos em processo para

metade;

- Segurança:

• Eliminação dos acidentes;

• Eliminação dos incidentes de poluição;

- Moral:

• Aumento das sugestões de melhoria entre 5 a 10 vezes.

Benefícios Intangíveis:

• Alcançar autogestão- os operadores têm um sentimento de posse em

relação aos equipamentos e cuidam deles sozinhos e sem serem

direcionados para isso;

• Eliminação de avarias e defeitos, incutindo assim uma atitude de

confiança nos operadores;

• Tornar os locais de trabalho anteriormente sujos em locais

irreconhecivelmente limpos e brilhantes;

• Dar aos visitantes da fábrica uma melhor imagem da empresa e assim

aumentar o número de encomendas.

2.2.5. Dificuldades

A implementação do TPM, no entanto, não é um processo fácil. Para além de ser

um processo longo, que pode demorar vários anos até dar resultados, para atingir o sucesso

é essencial o envolvimento de toda a organização, desde o chão de fábrica até à gestão de

topo, o que nem sempre acontece.

Page 29: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Revisão da Literatura

Maria Inês Nazaré Canadas 9

Ahuja e Khamba (2008) conduziram um estudo onde analisaram a literatura

existente acerca do TPM, nomeadamente barreiras e fatores de sucesso encontradas na

implementação da metodologia. As barreiras e dificuldades identificadas por esses autores

encontram-se resumidas na tabela 2.1.

Tabela 2.1. Barreiras e dificuldades encontradas por vários autores (Ahuja e Khamba, 2008)

Como é possível verificar na tabela 2.1, as barreiras que surgem em

conformidade entre a maior parte dos autores são a resistência à mudança, a falta de

Autores Dificuldades

Crawford et al

(1988) e Becker

(1993)

Resistência à mudança.

Implementação parcial do TPM.

Expetativas demasiado otimistas.

Falta de uma rotina bem definida para alcançar os

objetivos de implementação.

Falta de educação e formação dos funcionários.

Falta de comunicação na empresa.

Cooke (2000) Resistência à mudança.

Bakerjan (1994)

Falta de apoio e compreensão por parte da gestão.

Falha em permitir tempo suficiente para a evolução.

Formação insuficiente.

Davis (1997)

Falta de compromisso da gestão de topo.

Falta de educação e formação dos funcionários.

Falta de envolvimento dos funcionários.

Falta de estrutura para apoiar as atividades TPM.

Lawrence (1999) Resistência à mudança.

Mora (2002) Resistência à mudança.

Rodrigues e

Hatakeyama (2006)

Falta de formação dos funcionários.

Falta de compromisso da gestão de topo.

Ignorância por parte dos operadores acerca da

evolução do programa TPM.

Page 30: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

10 2018

compromisso/apoio por parte da gestão de topo, e a falta de educação e formação dos

funcionários.

2.3. Aplicação do Conceito Lean na Indústria Alimentar

O sucesso do lean manufacturing tem sido largamente associado à indústria

automóvel e a inúmeras outras indústrias de manufatura discreta, onde as ferramentas lean

começaram a ser amplamente implementadas. Hoje em dia, o desafio é estender a adoção

destas ferramentas à indústria de processamento (ex: químicos, produtos alimentares,

petróleo). (Abdulmalek et al., 2006)

Embora a literatura indique a maturidade da aplicação do lean dentro dos

processos industriais, a sua implementação dentro do setor alimentar não é tão evidente (Van

Goubergen et al., 2011; Lehtinen e Torkko, 2005; Dora et al., 2014). Segundo um artigo de

2007 de Tsarouhas, até essa data não tinha sido reportada nenhuma implementação do TPM

na indústria alimentar. Após essa data também não foi encontrado nenhum estudo que

tratasse esse assunto, pelo menos pelo autor do presente trabalho. O que tem sido feito na

indústria alimentar tem sido o estudo da aplicabilidade do pensamento lean no geral, sendo

que existem vários estudos a abordar a utilidade das ferramentas lean, como o Just In Time

(JIT), o Value-Stream Mapping (VSM), entre outras, a maior parte discute a adequabilidade

da linha de pensamento lean, assim como os limites e dificuldades da sua implementação na

indústria alimentar.

As opiniões dos autores que estudaram o tema diferem um pouco no que toca à

adequação dos métodos lean manufacturing no setor alimentar. Embora a maioria dos

estudos apontem para resultados encorajadores, como é evidenciado mais a baixo, alguns

autores não têm a mesma opinião. É o caso de Cox e Chicksand (2005) que discutiram os

limites do pensamento lean, baseado num caso de estudo da cadeia de abastecimento de

carne no Reino Unido. Esses autores chegaram à conclusão que as práticas de gestão do

pensamento lean, apesar de apropriadas para os participantes internos da cadeia de

abastecimento, são muito mais problemáticas de aplicar para além dos limites da empresa

na mesma.

Por outro lado, Lehtinen e Torkko (2005) discutem a implementação do conceito

do lean nas empresas do setor alimentar, através do VSM. Concluíram que o lean fornece

Page 31: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Revisão da Literatura

Maria Inês Nazaré Canadas 11

ferramentas para uma empresa analisar e eliminar stocks desnecessários e outras formas de

desperdício ao longo da cadeia de abastecimento, aumentando o valor para o cliente através

da redução de custos ou através da provisão de serviços de valor acrescentado.

Como foi referido em cima, no âmbito de preencher a lacuna sobre a falta de

informação no setor de processamento, Abdulmalek et al. (2006) desenvolveram um

esquema de classificação geral para esta indústria, com o objetivo de facilitar as empresas

deste setor a identificar e orientar a implementação de técnicas lean específicas que podem

ser aplicáveis às respetivas empresas.

O único estudo encontrado sobre a implementação do TPM na indústria

alimentar foi conduzido por Tsarouhas (2007), mais concretamente, no ramo da padaria.

Obtendo, assim, resultados como o aumento da produtividade, a melhoria da qualidade do

produto e a redução de encomendas atrasadas.

Scott, et al. (2009) conduziram uma pesquisa quantitativa de programas

estruturados de melhoria contínua no setor alimentar do Canadá. Concluíram que

características como a propriedade e o tamanho da empresa não eram significativas na

previsão do uso dos programas de melhoria contínua e que as empresas de alimentos

processados estariam 10% mais propensas a utilizar estes métodos, comparativamente com

empresas de alimentos não processados.

Van Goubergen et al. (2011) analisaram, para 35 PME’s alimentares da Europa,

o estado da aplicação do lean, bem como, os seus benefícios e desafios, concluindo que

existe uma grande falta de conhecimento das técnicas lean nesse setor industrial.

Dora et al. (2013) compilaram 29 estudos realizados entre os anos de 1998 e

2012 nas práticas na gestão da qualidade, onde verificaram a abordagem utilizada. Entre

estes, 16 estudos pertenciam ao setor alimentar, em nenhum foi focado o TPM. No todo, foi

focado o TPM num estudo. Concluindo-se que a maioria das empresas de produtos

alimentares focam-se em métodos que garantam a qualidade, como o Hazard Analysis and

Critical Control Point (HACCP), ISO e British Retail Consortium (BRC), em vez de

métodos de melhoria de qualidade, como o lean manufacturing.

Pouco mais tarde, os mesmos autores, Dora et al. (2014), concluíram que o

sucesso das práticas de lean manufacturing dependem criticamente da participação dos

funcionários, treino adequado e do compromisso da gestão de topo.

Page 32: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

12 2018

2.3.1. Caraterísticas do Setor Alimentar

O setor alimentar é um setor com características inerentes e únicas que o

distingue dos outros. São elas características dos produtos em si, dos processos, e da fábrica.

A tabela 2.2, segundo Van Goubergen et al. (2011), procura diferenciar

resumidamente as características do setor alimentar dos outros setores.

Tabela 2.2. Diferenças entre a Indústria de Manufatura e o Setor Alimentar (Van Goubergen et al., 2011)

Indústria de Manufatura Setor Alimentar

Geralmente produtos não perecíveis Produtos altamente perecíveis

Linhas de produção

semiautomáticas/automáticas

Operações manuais e poucas operações

automáticas

Matérias-primas padronizadas Variação na qualidade das matérias-

primas

Grandes lotes de produtos / componentes

/ acessórios feitos de materiais de

qualidade relativamente uniforme

Alta variação da composição, receitas,

produtos e técnicas de processamento

Número relativamente limitado de

designs

Volume baixo de lotes

Uma das características dos produtos é que estes são altamente perecíveis, o que

resulta num curto período de validade e num risco de deterioração, sendo que o ideal é não

haver stocks. No entanto, isto pode ser um problema para esta indústria uma vez que a

procura é bastante imprevisível. O processamento e o embalamento são muitas vezes mais

demorados que as expetativas dos clientes, o que significa que os produtores têm que

fornecer produtos armazenados nos seus stocks. Isto resulta num balanço contínuo entre o

risco de desperdício e da qualidade reduzida dos produtos, com o risco da rotura de stocks e

de clientes insatisfeitos (Dora et al., 2014).

Existem outras características que marcam o setor alimentar como é o caso da

inflexibilidade das máquinas usadas no processo. Embora em algumas indústrias, como é o

caso da pastelaria, sejam usados equipamentos de propósito geral, isto é, que vários produtos

podem partilhar, como é o caso dos fornos e das arcas, a maioria dos equipamentos está

restrita a um ou a um número limitado de produtos. (Abdulmalek et al., 2006)

Page 33: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Revisão da Literatura

Maria Inês Nazaré Canadas 13

Outra característica é o tempo de setup elevado. Uma vez que se trata de

processamento de alimentos, é necessário ter bastante cuidado com a limpeza, tanto das

máquinas como das linhas, o que resulta em tempos de setup elevados.

Dentro da mesma indústria, como é o caso da indústria da carne, são produzidos

produtos com um lead time completamente distinto. Esta é também uma característica muito

importante neste setor. Os consumidores esperam que o prazo de entrega de um produto de

carne (como uma salsicha), que tem um lead time de um dia e uma validade de três dias, seja

idêntico ao prazo de entrega de um produto de presunto, que tem um lead time de dez meses

e uma validade de um mês. Naturalmente, estes dois produtos vão ser controlados de maneira

diferente, no entanto, os consumidores esperam que os dois produtos estejam sempre

disponíveis nos supermercados. (Dora et al., 2014)

Page 34: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

14 2018

Page 35: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Caso de Estudo

Maria Inês Nazaré Canadas 15

3. CASO DE ESTUDO

Neste capítulo pretende-se apresentar a empresa onde o estágio teve lugar, com

especial foco nas linhas onde este incidiu.

3.1. Apresentação da Empresa

A marca Nobre tem origem num nome de família e nasceu em 1918 com a

abertura de um talho em Rio Maior. Em 1957 foi inaugurado o primeiro Matadouro Regional

de Portugal em Rio Maior. Em maio de 1962, foi constituída a sociedade “Indústrias de

Carnes Nobre, Lda”. Nos anos 70, o sucesso e o crescimento da empresa determinaram um

novo passo: a construção de uma fábrica, e a partir daí o seu crescimento foi notório tendo-

se tornado líder de mercado a nível nacional.

No entanto, deixou de ser uma empresa de capital nacional logo no início dos

anos 90, quando passou a fazer parte da divisão alimentar da BP Nutrition. No ano de 1993,

a companhia Sara Lee Corporation adquire a Nobre. Mais tarde, em 2006, a empresa é

adquirida pelo grupo Smithfield, o que permitiu novas oportunidades a nível tecnológico, de

inovação e desenvolvimento do produto. Em 2008 houve uma fusão com a empresa

espanhola Campofrio, resultando no novo grupo Campofrio Food Group, a maior empresa

de carnes processadas da Europa e uma das cinco maiores do Mundo.

Atualmente a Nobre Alimentação Lda é composta por uma fábrica, localizada

em Rio Maior, um Centro Logístico também em Rio Maior, e Escritórios situados no Lagoas

Park em Oeiras.

No que toca à certificação, a empresa é certificada pela ISO 9001, ISO 22000 e

pela IFS (International Food Standard).

3.1.1. Campofrio Food Group SA

O grupo Campofrio tem sede em Madrid, está presente em 4 continentes e

comercializa os seus produtos para 80 países. Tem mais de 250 milhões de consumidores e

conta com 30 000 mil colaboradores.

Page 36: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

16 2018

É composto por 8 Unidades de Negócio e 28 fábricas distribuídas pela Europa e

América, nomeadamente:

1. 7 Fábricas em França e Suíça;

2. 9 Fábricas em Espanha;

3. 1 Fábrica nos EUA;

4. 1 Fábrica na Alemanha;

5. 2 Fábricas em Itália;

6. 5 Fábricas na Bélgica e Luxemburgo;

7. 2 Fábricas na Holanda;

8. 1 Fábrica em Portugal.

Em 2016 produziu um volume anual de 444 000 toneladas de produto acabado e

obteve 1,948 Biliões de Euros em vendas. (Campofrio Food Group, 2018)

É número um de vendas em Espanha, França e Portugal, e número dois na

Bélgica e na Holanda.

3.1.2. Nobre Alimentação Lda

A Nobre Alimentação conta com cerca de 757 trabalhadores, dos quais 338

pertencem ao chão de fábrica. Produz um total de 434 produtos, sendo que 99 artigos são de

marca própria. Em 2017 gerou um volume de 123 Milhões de Euros em vendas.

3.2. Unidade Industrial

3.2.1. Tipologia de Produtos

Como já foi referido, a empresa está inserida no ramo da transformação de carne,

sendo esta a sua matéria-prima principal. Para além de ser desossada carne para consumo

interno (fábrica de Rio Maior), é também desossada carne para consumo externo (dentro do

grupo Campofrio).

Em termos de produto final, são produzidas 5 famílias de produtos: Fiambre,

Salsichas, Fumados, Pratos Cozinhados e Sopas.

A família de Fiambre está essencialmente dividida em Aves e Suíno.

Por sua vez, a família de Salsichas está dividida primeiramente em Lata e Frasco

e depois em Aves, Mistas (Suíno e Aves), Soja e Tofu.

Page 37: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Caso de Estudo

Maria Inês Nazaré Canadas 17

A família de Fumados está distribuída em 4 subfamílias: Enchidos, Pastas Finas,

Salmorizados e Vegetarianos.

Por fim, a família de Sopas está repartida em 3 subfamílias: Caldos, Cremes e

Purés.

3.2.2. Divisão da Unidade Fabril

A Nobre está dividida em Produção, Áreas de Suporte e Vendas, Marketing e

Shopper Marketing. As várias áreas de suporte e produção estão identificadas na figura 3.1

Figura 3.1. Divisão da empresa (adaptado de documentos internos Nobre)

O estágio teve lugar em quatro linhas: a Linha de Embalagem de Fumados, a

Linha de Enlatamento de Fumados, a Linha de Pratos Cozinhados e a Linha de Turmix.

3.3. Layout Unidade Fabril

De forma a compreender a dimensão e a organização das linhas onde decorreu o

estágio, é apresentado o layout das mesmas na figura 3.2.

PRODUÇÃO

ÁREAS DE SUPORTE

VENDAS, MARKETING E SHOPPER MARKETING

LINHA DE FATIADOS

LINHA DE FIAMBRE

LINHA DE SALSICHA

LINHA DE TURMIX

LINHA DE PRATOS

COZINHADOS

FINANCEIRA

RECURSOS HUMANOS

CENTRO LOGÍSTICO

COMPRAS

QUALIDADE INOVAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO

EXPORTAÇÃO

PLANEAMENTO

INFORMÁTICA

GESTÃO DA INFORMAÇÃO DA

PRODUÇÃO

CAIS, ARMAZENS E EXPEDIÇÃO

LINHA DE DESOSSA

MANUTENÇÃO

LINHA DE FUMADOS

Page 38: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

18 2018

Figura 3.2. Layout das zonas de Enlatamento de Fumados, Embalagem de Fumados, Pratos Cozinhados e Turmix (adaptado de documentos internos Nobre)

Page 39: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Caso de Estudo

Maria Inês Nazaré Canadas 19

3.3.1. Processo Fabril

Para um melhor entendimento do funcionamento da empresa e das linhas objeto

de estudo, é descrito o processo fabril das mesmas.

Os equipamentos existentes são pouco automatizados e todo o processo

produtivo engloba muita mão-de-obra.

Todas as linhas terminam com a paletização do produto, que é posteriormente

encaminhado para o Cais, onde é expedido para o Centro Logístico, situado no Parque de

Negócios, e daí para o cliente.

3.3.1.1. Linha de Embalagem de Fumados

A Linha de Embalagem de Fumados funciona com um turno diário das 8h às 17h

e estão alocadas 21 pessoas. Dentro desta linha existem 8 sublinhas onde é produzido um

total de 71 produtos: vários tipos de chouriço, chourição, paio, salame, linguiças, morcelas,

farinheiras, mortadelas, patés e fiambres fumados. A Tabela 3.1 apresenta uma listagem dos

produtos fabricados nesta linha.

Tabela 3.1. Listagem do número de produtos fabricados na Linha de Embalagem de Fumados

Sublinha Número de Produtos Embalados

Patés 1

Mortadela Mini 7

Mortadela Grande 9

Omori 4

Ulma 19

VS90 10

Tiromat 11

R7000 10

Total 71

Como já foi dito anteriormente, na Linha de Fumados produzem-se 4 subfamílias

de produtos: Pastas Finas, Enchidos, Salmorizados e Vegetarianos. Sendo que os últimos

são embalados na Linha de Fatiados e por isso não vão ser analisados.

Page 40: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

20 2018

As Pastas Finas são compostas pelas mortadelas, salames e paté. Os Enchidos

são constituídos pelos chouriços, morcelas, chourições, farinheiras e linguiças. Os

Salmorizados são formados pelos codillos, bacons, toucinhos, paios e fiambres.

No processo de produção de fumados pode-se considerar dois subprocessos:

processamento e embalamento.

O processamento varia de família de produto para família de produto e inclusive

entre produtos da mesma família. Este processo compreende a picagem da carne até ao clima

(sítio onde os produtos permanecem até atingirem a quebra ideal, ou seja, a percentagem de

água pretendida).

No processo produtivo do embalamento as diferenças são menos significativas,

distinguindo-se essencialmente os produtos de peso fixo, dos produtos de peso variável. Os

produtos de peso variável são pesados e etiquetados na balança eletrónica, o mesmo não

acontece nos produtos de peso fixo, uma vez que o seu peso é fixo e já está identificado no

rótulo da embalagem.

As Pastas Finas são, regra geral, produtos de peso fixo e por isso não passam na

etapa “Etiquetagem e Pesagem”. De forma a contemplar as duas variantes do processo

produtivo do embalamento, o mesmo é descrito para os Enchidos e Pastas Finas na figura

3.3.

Page 41: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Caso de Estudo

Maria Inês Nazaré Canadas 21

Figura 3.3. Processo Produtivo da subfamília de Enchidos e Pastas Finas da Linha de Fumados e da Linha de Embalagem de Fumados (adaptado de documentos internos Nobre)

Page 42: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

22 2018

3.3.1.2. Linha de Enlatamento de Fumados

Esta é uma linha com pouca produção e apenas trabalha quando a Linha de Pratos

Cozinhados não trabalha, uma vez que as mesmas pessoas operam nas duas linhas. É uma

linha pequena e apenas produz 7 produtos, desde chouriços e morcelas. Quando trabalha,

funciona com um turno diário das 8h às 17h e alguns dos operadores alocados à Linha de

Pratos Cozinhados são atribuídos a esta linha.

À semelhança da linha anterior, o processo produtivo até ao Clima é realizado

na Linha de Fumados e o restante é realizado na Linha de Enlatamento de Fumados. O

processo produtivo desta linha é descrito na figura 3.4.

Figura 3.4. Processo Produtivo da Linha de Enlatamento de Fumados (adaptado de documentos internos

Nobre)

Page 43: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Caso de Estudo

Maria Inês Nazaré Canadas 23

3.3.1.3. Linha de Pratos Cozinhados

A Linha de Pratos Cozinhados está organizada num turno diário das 8h às 17h,

onde estão alocadas 13 pessoas. Esta linha não tem produção diária e normalmente apenas

trabalha dois dias por semana. Quando esta linha trabalha e como já foi dito anteriormente,

a Linha de Enlatamento de Fumados não trabalha e a Linha de Turmix não faz o turno das

8h às 17h. As pessoas alocadas ao Turmix normalmente vão ajudar nos Pratos Cozinhados,

perfazendo um total de 23 pessoas a laborar.

São produzidos 16 produtos diferentes, desde dobrada, feijoada, chispalhada,

almondegas, jardineira, feijão com chouriço, mão de vaca com grão, etc.

A Linha de Pratos Cozinhados, como foi possível verificar no layout (figura 3.2),

é composta por várias áreas: Sala de Preparação de Vegetais, Sala de Preparação de Carnes,

Sala de Preparação de Condimentos, Cozinha, Branqueamento, Linha de Enlatamento, Sala

de Esterilização e de Embalagem de Enlatados.

O processo produtivo desta linha é descrito na figura 3.5.

Figura 3.5. Processo produtivo da Linha de Pratos Cozinhados (adaptado de documentos internos Nobre)

Page 44: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

24 2018

3.3.1.4. Linha de Turmix

A Linha de Turmix conta com 10 pessoas distribuídas pelas 24 horas do dia. São

produzidas 34 sopas diferentes, desde caldos, cremes e purés.

Como é possível constatar na observação do layout (figura 3.2), esta linha tem

várias áreas em comum com a Linha de Pratos Cozinhados, como a Sala de Preparação de

Vegetais, de Preparação de Carnes e de Preparação de Condimentos, a Cozinha e a Sala de

Esterilização. Para além destas salas, tem a Linha de Enchimento/Embalagem e a Linha de

Encartonamento.

O processo produtivo é descrito na figura 3.6.

Figura 3.6. Processo produtivo da Linha de Turmix (adaptado de documentos internos Nobre)

Page 45: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Caso de Estudo

Maria Inês Nazaré Canadas 25

3.3.2. Projeto 365 MEB

Como já foi referido anteriormente, o TPM está implementado na fábrica através

do projeto 365 MEB. Atualmente existem pilares implementados em toda a fábrica, mas

onde o projeto está mais avançado é na Linha de Salsicha, na Linha de Fatiados e na Linha

de Fiambre.

A estrutura do projeto 365 MEB encontra-se representada na figura 3.7

Figura 3.7. Estrutura do projeto 365 MEB (documentos internos Nobre)

Começa-se pela base com o objetivo de chegar ao topo. As bases do projeto são

a Metodologia 5S, Standardização, Tempos e Métodos e Gestão Visual, o Envolvimento das

Pessoas e o Conhecimento de Perdas.

A Metodologia 5S é a ferramenta utilizada para a eliminação dos desperdícios

e consequentemente o aumento da produtividade. São usados conceitos de Gestão Visual

com a principal ideia de estabelecer padrões visuais relacionados com os sentidos auditivo,

olfativo e tátil.

A objetivo da Standardização é a uniformização dos procedimentos de

trabalho. Consiste em reduzir a dispersão num posto de trabalho (que existe devido a várias

pessoas realizarem o mesmo procedimento de maneira diferente) e assim aumentar a sua

eficiência.

A área Métodos e Tempos tem como objetivo acompanhar os standards pré-

estabelecidos, tanto a nível do método de trabalho como os tempos por cada operação. Entre

outras atividades, foca-se na medição do tempo despendido por uma pessoa para realizar

uma determinada operação, com a finalidade de analisar e propor alterações/ melhorias.

Page 46: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

26 2018

A base de todas as empresas é as pessoas que a constituem. As pessoas são

responsáveis por alcançar os objetivos das empresas. É das pessoas que depende a

produtividade e a rentabilidade de uma empresa, do seu esforço, empenho e determinação.

E estes são tanto mais, quanto maior o Envolvimento das Pessoas com a empresa.

O Conhecimento de Perdas é uma ferramenta para analisar o desempenho

geral da fábrica. Tudo o que é mensurável é geralmente medido. Deste modo, consegue-se

aumentar o controlo e a visibilidade do desempenho, aumentar o dinamismo dos

colaboradores e facilitar a identificação das perdas.

Pilares

Nas linhas onde o projeto se encontra mais avançado, estão implementados 5

pilares, sendo que se pretende implementar os restantes no futuro.

Os pilares já implementados são:

• Ambiente- Neste pilar é tida em consideração a utilização responsável dos

pontos de água e a minimização do consumo de energia elétrica.

• Manutenção Autónoma- É o processo de capacitação dos operadores, com

o propósito de torná-los aptos a promover mudanças no seu ambiente de

trabalho que garantam altos níveis de produtividade.

• Manutenção Preventiva- Compreende todas as ações de manutenção que

são realizadas antes da ocorrência de uma previsível falha. É uma

intervenção de manutenção prevista preparada e planeada antes da data

provável de aparição de uma falha. A manutenção preventiva deve ser

programada de forma cíclica, com inspeções preventivas.

• Melhoria Contínua- Neste pilar são contemplados projetos de melhorias

(poupanças), através da análise dos KPI’s (Key Performance Indicatores) e

da análise de perdas.

• Formação- São ministrados conceitos chave para o desenvolvimento do

colaborador na empresa e consequentemente o trabalhador sente-se

valorizado e integrado na mesma.

O desafio proposto foi implementar a Metodologia 5S e o pilar da Manutenção

Autónoma nas 4 linhas já referidas.

Page 47: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Caso de Estudo

Maria Inês Nazaré Canadas 27

Como tal, é enumerado o plano mestre da Metodologia 5S e do pilar referido

(figura 3.8 e 3.9).

Figura 3.8. Plano Mestre da Metodologia 5S (documentos internos Nobre)

Dentro da Metodologia 5S o desafio proposto foi implementar o passo 4.1 e 5.1:

Definir Standards de organização e limpeza e Introduzir Auditorias 5S.

Figura 3.9. Plano Mestre do pilar da Manutenção Autónoma (documentos internos Nobre)

No pilar da MA, o desafio proposto foi implementar o passo 3.2 e 3.3: Atualizar

as Check-List CIL (Cleaning, Inspection and Lubrification) com verificações de Manutenção

Autónoma e Criar Manual CIL.

Page 48: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

28 2018

Page 49: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Desenvolvimento do Projeto 365 MEB

Maria Inês Nazaré Canadas 29

4. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO 365 MEB

O presente capítulo tem como objetivo descrever as metodologias que

originaram a implementação do projeto assim como a análise do trabalho resultante.

4.1. Metodologia 5S

O primeiro passo a realizar foi a implementação da Metodologia 5S

4.1.1. Organização

Dentro do 2º senso, foram criadas etiquetas para identificar e criar um sítio

específico para cada coisa. Esta atividade pertence ao passo 2.2: Definir controlos visuais

para manter a nova organização.

Este trabalho foi efetuado na Linha de Embalagem de Fumados, na Linha de

Pratos Cozinhados e na Linha de Turmix. Foram realizadas identificações em vários pontos,

como:

1. Armários/ estantes e respetivos materiais;

2. Zonas de higienização de materiais;

3. Zonas de paletização;

4. Gavetas (produto para reprocessar, desperdício, etc);

5. Rótulos/etiquetas/filmes;

6. Ferramentas.

Um exemplo da identificação dos materiais e dos espaços para os materiais é

dado na figura 4.1.

Page 50: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

30 2018

Figura 4.1. Exemplo da identificação de materiais e ferramentas na Linha de Embalagem de Fumados

4.1.2. Normalização

4.1.2.1. Standards

Os Standards são compostos por imagens da maneira incorreta e da maneira

correta das mais variadas situações. Podem ser questões de acessibilidade, segurança,

organização, qualidade, entre outras.

São colocados nas paredes das várias linhas de produção e utilizados com o

principal objetivo de incentivar os operadores a manter a organização, arrumação e

segurança do seu local de trabalho.

Pretende-se, desta maneira, aumentar o sentido de responsabilidade dos

operadores.

4.1.2.1.1. Metodologia

Para a realização dos Standards foi seguida a próxima metodologia:

1. Análise do material existente nas restantes linhas de produção;

2. Identificação e registo de situações incorretas;

3. Simulação de todas as situações incorretas possíveis;

4. Registo da forma correta;

Page 51: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Desenvolvimento do Projeto 365 MEB

Maria Inês Nazaré Canadas 31

5. Criação do documento;

6. Validação por parte do supervisor e/ou gestor de linha.

4.1.2.1.2. Análise

O número de Standards realizados está descrito na tabela 4.1. Uma vez que a

Linha de Pratos Cozinhados e a Linha de Turmix partilham várias áreas, o número de

Standards foi calculado em conjunto.

Tabela 4.1. Número de Standards realizados

Linha Número de Standards

Embalagem de Fumados 24

Turmix e Pratos Cozinhados 67

Total 91

O exemplo de um Standard é dado na figura 4.2

Figura 4.2. Exemplo de um Standard da Linha de Embalagem de Fumados

Page 52: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

32 2018

4.1.3. Disciplina

4.1.3.1. Auditoria 5S

A Auditoria 5S consiste num conjunto de Standards para verificação semanal

por um membro externo à linha.

Os livros de Auditorias têm a duração de 1 ano, sendo que ao fim de cada mês é

realizada uma análise com o intuito de verificar a percentagem de OK’s e a percentagem de

semanas auditadas. O objetivo é ter um total de semanas auditadas igual ou superior a 75%

e uma média de OK’s por semana igual ou superior a 75%.

As Auditorias 5S têm como objetivo avaliar o nível de implementação da

metodologia 5S. Desta maneira, é possível verificar e acompanhar o progresso

semanalmente.

Uma vez que as auditorias estão divididas por área/linha de produção é possível

identificar qual é a área que está melhor e a que necessita de mais intervenção.

Através das auditorias 5S, cada empresa consegue identificar o nível de

otimização da qualidade e, ao mesmo tempo, analisar a capacidade e fraqueza de cada área

da empresa (Rahman et al., 2010).

4.1.3.1.1. Metodologia

Como já foi dito anteriormente, as Auditorias 5S consistem num conjunto de

Standards, como tal, para realizar as Auditorias 5S, apenas foi necessário adaptar os

Standards realizados anteriormente e acrescentar o calendário de verificação.

4.1.3.1.2. Análise

Foram realizados os livros de Auditorias 5S para as linhas de Embalagem de

Fumados, Pratos Cozinhados e Turmix, sendo que para as últimas duas linhas foi realizado

um livro conjunto.

O exemplo de uma folha do livro de Auditoria 5S é dado na figura 4.3.

Page 53: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Desenvolvimento do Projeto 365 MEB

Maria Inês Nazaré Canadas 33

Figura 4.3. Exemplo de Auditoria 5S na Linha de Pratos Cozinhados

Na figura 4.4, pode-se observar a análise das Auditorias 5S, realizada no ano de

2015 (ano da sua implementação), na Linha de Salsicha. Como se pode verificar, desde a

implementação da Auditoria 5S (semana 22), o número de OK’s médio por semana

aumentou consideravelmente (de entre 0 a 30% para entre 70% a 100%). É expectável que

surjam resultados semelhantes nas linhas de Embalagem de Fumados, Pratos Cozinhados e

Turmix.

Figura 4.4. Média de OK's por semana no ano de 2015 (documentos internos Nobre)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52

% O

K

Semana

Média de OK's por Semana

Page 54: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

34 2018

Contudo, e após uma análise cuidada foi possível constatar que não são

contemplados parâmetros relacionados com todos os sensos. Por exemplo, não são

analisados parâmetros relacionados com o material, ferramentas e equipamentos não

utilizados (1º senso- Seleção), o que pode provocar a acumulação de materiais

desnecessários. Também não são tidos em conta critérios relacionados com o 5º senso

(Disciplina), como por exemplo formação dos funcionários, prémios e recompensações pelo

bom trabalho, etc. Como tal, é possível concluir que a Metodologia 5S não é totalmente

avaliada através das Auditorias 5S, uma vez que não são contemplados todos os sensos nos

critérios de avaliação.

Para além disso, não existem ações de correção propostas para os critérios de

verificação, desta maneira e no caso de os critérios de verificação serem negativos, não

existem medidas para os corrigir e consequentemente eliminar.

A empresa foi alertada para as lacunas das auditorias realizadas atualmente e

prevê-se que estas venham a sofrer alterações no futuro.

4.2. Manutenção Autónoma

4.2.1. Manual CIL

O Manual CIL consiste num Manual de Procedimentos composto por várias

LPP’s (Lição Ponto a Ponto).

A LPP é uma ferramenta de apoio ao TPM, com o objetivo de instruir os

operadores de um determinado procedimento. A informação é dividida por pontos e

acompanhada maioritariamente por figuras, de forma a ser facilmente compreendida.

É utilizada com dois objetivos principais, primeiro, com o intuito de formar os

operadores no seu posto de trabalho. Por exemplo, no caso de existir algum procedimento

que esteja a ser realizado de maneira incorreta e consequentemente algum componente esteja

a ficar danificado deve-se fazer uma LPP do procedimento correto a utilizar. Deve também

ser feita uma formação às pessoas que realizam este procedimento e explicá-lo de forma

clara. As pessoas que obtiveram esta formação assinam um documento que confirma a

presença na formação e a aprendizagem do procedimento, para que, caso aconteça alguma

coisa, se possa apurar responsabilidades.

Page 55: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Desenvolvimento do Projeto 365 MEB

Maria Inês Nazaré Canadas 35

O segundo objetivo é disponibilizar o livro para qualquer pessoa que necessite

de realizar algum trabalho que não o seu trabalho habitual, ou para pessoas novas na linha.

O manual está dividido primeiro por máquina e depois por procedimento

(Segurança, Inspeção, Limpeza, etc). Cada LPP corresponde a um tipo de procedimento.

4.2.1.1. Metodologia

Foi feita uma análise à literatura existente com o objetivo de identificar boas

práticas em relação à construção da LPP, que não foram encontradas porque a maioria da

documentação existente refere LUP’s (Lições de Um Ponto), que são bastante semelhantes

às LPP’s com a diferença que apenas tratam um único ponto. Estas normalmente são

realizadas pelos operadores na linha e são partilhadas com os restantes operadores também

na linha, nas reuniões de equipa.

Segundo Pomorski (2004), os requisitos que 4 autores consideram essenciais

acerca da LUP estão numerados na tabela 4.2.

Tabela 4.2. Requisitos da LUP segundo vários autores (Pomorski, 2004)

Autor Requisitos

Robinson and Ginder 1995;

JIPM 1996

Leflar 2001

Deve ser constituída maioritariamente por

imagens.

Robinson and Ginder 1995;

Leflar 2001; Robinson and

Ginder 1995

É discutido um único tópico.

JIPM 1996; Leflar 2001 Deve ser aprendida entre 5 a 10 minutos.

Robinson and Ginder 1995;

Leflar 2001

Deve ser desenvolvida pelo operador e

durante o horário de trabalho.

Leflar 2001 Deve ser apresentada à equipa em reuniões

de equipa.

Leflar 2001 Deve caber numa página.

Leflar 2001 Deve explicar a necessidade da LUP.

Page 56: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

36 2018

Tendo em conta esta análise, decidiu-se seguir as boas práticas referidas

anteriormente na definição das LPP realizadas.

Para proceder à realização dos Manuais CIL foi seguida uma metodologia com

vários passos descritos de seguida:

1. Análise dos documentos existentes nas restantes linhas de produção, de

forma a conhecer a estruturação e ideias subjacentes;

2. Análise à literatura existente com o objetivo de identificar as boas

práticas associadas à construção das LPP’s;

3. Recolha dos equipamentos existentes nas linhas e seleção dos

equipamentos a incidir, isto é, os equipamentos mais simples e

percetíveis de funcionar não foram alvo de estudo;

4. Realização de um estudo ao chão de fábrica com base na análise por

observação. Com o objetivo de aprender todos os procedimentos que os

operadores executam, associados a cada máquina;

5. Criação do documento;

6. Revisão do documento, realizada primeiro pelos operadores e supervisor

e depois pelo mecânico das respetivas linhas;

7. Realização das alterações e retificações necessárias.

4.2.1.2. Análise

Existe um backup de todas as LPP’s realizadas, em função de cada máquina e da

respetiva linha. Estas são identificadas através de uma codificação única. Esta codificação é

descrita na tabela 4.3.

Tabela 4.3. Descrição da numeração das LPP's

Numeração LPP’s

xx-xxxxx-xx 01 Linha de Salsicha

02 Linha de Fatiados

03 Linha de Fiambre

04 Linha de Fumados

05 Linha de Desossa

06 Linha de Pratos Cozinhados

07 Linha de Embalagem de Fumados

Page 57: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Desenvolvimento do Projeto 365 MEB

Maria Inês Nazaré Canadas 37

As LPP’s podem ser classificadas em vários tipos:

• Segurança- Informações gerais sobre os riscos de acidentes;

• Melhoria- Apresentação de melhorias ocorridas;

• Instrução Básica- Fornecimento de know-how prático de componentes,

máquinas e métodos;

• Outros: Qualidade; Meio Ambiente; Serviço.

A maior parte das LPP’s realizadas foram de Instrução Básica.

O cabeçalho da LPP é composto por: número e nome de identificação técnica da

máquina, área à qual pertence, tipo de classificação, numeração e autor.

Foi realizado um total de 160 LPP’s, sendo que este número está discriminado

de acordo com as várias linhas de produção na tabela 4.4. As linhas de Pratos Cozinhados e

Turmix foram contabilizadas em conjunto uma vez que partilham grande parte dos

equipamentos.

Tabela 4.4. Número de LPP's realizadas em cada linha

Linha Número de LPP

Linha de Embalagem de Fumados 69

08 Linha de Enlatamento de Fumados

09 Linha de Turmix

10 Congelação

11 AMPA

xx-xxxxx-xx 19229

(ex.)

Nome Máquina (ex.)

xx-xxxxx-xx 01 Segurança

02 Inspeção

03 Limpeza

04 Lubrificação

05 Parafinação

06 Montagem

07 Desmontagem

08 Arranque

09 Paragem

10 Substituição

11 Descrição

12 Mudança

Page 58: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

38 2018

Linha de Enlatamento de Fumados 4

Linha de Pratos Cozinhados e Turmix 87

Um exemplo de uma LPP é dado na figura 4.5.

Figura 4.5. Exemplo de uma LPP da Linha de Pratos Cozinhados

No caso de ser um Procedimento de Limpeza, Lubrificação ou Parafinação é

indicada a periodicidade do procedimento, assim como os materiais necessários, e só depois

a explicação do procedimento.

4.2.2. Check-List CIL

A Check-List CIL engloba verificações de Manutenção Autónoma, Segurança e

Materiais Quebráveis. Dentro da MA podem ser verificações de inspeção, lubrificação e

limpeza. As verificações podem ser destinadas aos operadores, ao supervisor ou aos

mecânicos e devem ser realizadas conforme o procedimento e a sua periodicidade (podendo

Page 59: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Desenvolvimento do Projeto 365 MEB

Maria Inês Nazaré Canadas 39

ser diariamente, semanalmente, bissemanal, mensal, etc.). Estão divididas primeiramente

por linha, depois por sala e/ou sublinha e de seguida por máquina.

O principal objetivo das Check-Lists é incutir um sentimento de posse em relação

à máquina no operador, e capacitá-lo para tomar conta da “sua” máquina de forma autónoma.

Desta forma, a manutenção irá ter mais tempo para realizar atividades de Manutenção

Preventiva.

Através destas verificações os operadores são obrigados a observar (o ruído

estranho de um rolamento, cheiro a queimado, óleo no chão, etc.) e assim detetar problemas

que poderiam originar uma avaria e consequentemente parar a máquina e a respetiva linha

antes que isso aconteça, evitando assim danos maiores.

Quando é detetado um problema, e no caso de o operador não conseguir

solucioná-lo sozinho, é realizado um pedido de trabalho em SAP (sistema operativo

utilizado), com o título de 365 MEB. Estes pedidos são todos os que têm origem na Check-

List ou que foram autonomamente feitos pelo operador.

Os pedidos de trabalho podem ser Corretivos, que como o nome indica ocorrem

depois de surgir uma avaria, ou podem ser Reativos, que ocorrem antes de haver uma

possível avaria.

As Check-Lists têm a durabilidade de 4 semanas, sendo que a cada 4 semanas

são revistas e são realizadas as alterações necessárias. Antes de serem arquivadas é feito um

backup acompanhado de uma análise. Esta análise consiste na revisão de todos os NOK’s

(Not Ok), e da periodicidade entre estes, com o objetivo de alterar os planos de Manutenção

Preventiva caso necessário.

No futuro, o objetivo é reduzir ao máximo o papel e aumentar os controlos

visuais. Por exemplo, um depósito de óleo deve passar a ter uma tampa de acrílico para que

seja percetível ver sem abrir a tampa, e através de cores (verde, amarelo e vermelho), indicar

imediatamente o nível de óleo e quando este deve ser alterado.

4.2.2.1. Metodologia

Todas as linhas já possuíam uma Check-List com verificações de Materiais

Quebráveis e Segurança, sendo que o objetivo passava por acrescentar verificações de

Manutenção Autónoma.

Para atualizar as Check-Lists foi necessário o auxílio dos operadores e mecânicos

responsáveis pela respetiva linha.

Page 60: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

40 2018

A metodologia utilizada para realizar as Check-Lists CIL foi a seguinte:

1. Análise do material existente: Check-Lists pertencentes a outras linhas;

2. Recolha de listagem de todos os equipamentos existentes na linha;

3. Elaboração de pontos de verificação, responsabilidades, periodicidades

de verificação e EPI’s (Equipamento de Proteção Individual) a utilizar;

4. Criação do documento;

5. Validação por parte da manutenção e gestor da respetiva linha.

4.2.2.2. Análise

As explicações dos campos de preenchimento estão representadas na tabela 4.5.

Tabela 4.5. Instruções dos campos de preenchimento das Check-Lists

Máquina Máquina a incidir.

Referência Etiqueta de referência, LPP, manual, etc.

Tipo

Segurança

Inspeção

Limpeza

Lubrificação

Máquina

parada

Se for necessária a paragem da máquina para

executar MA, está marcado com "X".

EPI's Mostra ícone do EPI necessário.

Ferramentas Mostrar ícone das ferramentas.

Elemento

Máquina

Parte da máquina a incidir.

Operação +

Valores

limite

Detalhes da operação a ser executada e valores

limite exigidos.

Calendário Cor Branco: Realizar a atividade de MA.

Cor Cinzento: Não realizar a atividade de MA.

Foram atualizadas as Check-Lists para cada linha: Embalagem de Fumados,

Enlatamento de Fumados, Pratos Cozinhados e Turmix. Na figura 4.6 pode-se verificar um

exemplo da Check-List da Linha de Embalagem de Fumados.

Page 61: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Desenvolvimento do Projeto 365 MEB

Maria Inês Nazaré Canadas 41

Figura 4.6. Exemplo da Check-List da Linha de Embalagem de Fumados

Após uma análise chegou-se à conclusão que podiam ser feitas algumas

alterações para tornar a Check-List visualmente mais apelativa.

Um dos campos a intervir foi o campo “Tipo de Atividade”. Uma vez que as

cores não eram intuitivas e era necessário acrescentar uma folha em cada Check-List com a

respetiva explicação. Como tal, decidiu-se trocar as cores por símbolos que fossem

facilmente associados aos vários tipos de atividade (Segurança, Inspeção, Limpeza e

Lubrificação).

Decidiu-se acrescentar um outro campo denominado de “Método de Ação”. Este

campo tem como objetivo indicar o método de trabalho, uma vez mais com símbolos. Isto é,

no caso de ser uma Inspeção, pode ser: Visual, Auditiva, Manual. No caso de ser Limpeza

pode ser: com pano e produto, com pistola de ar, etc.

Resolveu-se ainda alterar o campo de “Máquina Parada” para “Estado da

Máquina”, colocando símbolos a indicar o estado em que a máquina deve estar (parada ou a

em funcionamento).

As alterações feitas podem ser verificadas na figura 4.7.

Page 62: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

42 2018

Figura 4.7. Novo formato de Check-List da Linha de Embalagem de Fumados

Page 63: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Conclusão

Maria Inês Nazaré Canadas 43

5. CONCLUSÃO

Num contexto onde as organizações procuram destacar-se cada vez mais no

mercado, a implementação de ferramentas como o TPM torna-se essencial para uma empresa

atingir rentabilidade e garantir a sua competitividade.

Ainda que esta ferramenta se possa aplicar a diferentes indústrias e reúna

características gerais de bom funcionamento, cada empresa tem particularidades que devem

ser analisadas dentro do seu contexto.

No entanto, a implementação do TPM nem sempre é fácil e existem várias

dificuldades associadas e aspetos a ter em conta antes de proceder à implementação. Como

por exemplo o fator humano, que é um ponto de extrema importância no que toca à aplicação

deste tipo de ferramentas. A mudança de mentalidade e atitude é uma transformação

extremamente importante no sentido de garantir a sustentabilidade deste projeto a médio e

longo prazo.

O trabalho proposto tinha como principal objetivo implementar o projeto de

TPM denominado de 365 MEB na Linha de Embalagem de Fumados, na Linha de

Enlatamento de Fumados, na Linha de Pratos Cozinhados e na Linha de Turmix. Mais

concretamente, a Metodologia 5S, com a realização de Standards e Auditorias 5S, e o pilar

da Manutenção Autónoma, com a concretização de Manuais CIL e atualização das Check-

Lists CIL.

Numa fase inicial foi necessário o acompanhamento contínuo das linhas objeto

de estudo de forma a compreender a organização e o funcionamento das mesmas. Para a

realização dos Standards e das Auditorias 5S recorreu-se à simulação e registo de situações

incorretas e das situações corretas correspondentes. Os Standards são expostos nas paredes

e ajudam a manter a organização e a limpeza dos postos de trabalho.

Para a execução dos Manuais CIL foi utilizada uma metodologia com base na

análise por observação, onde foram registadas todas as operações realizadas pelos

operadores em todos os equipamentos. Disponibilizando desta maneira, um Manual que

possa formar os operadores no seu local de trabalho, destinado a pessoas novas ou a qualquer

pessoa que necessite de realizar um trabalho que não o seu habitual.

Page 64: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

44 2018

Por fim, para a atualização das Check-List CIL, com a ajuda dos mecânicos

responsáveis por cada linha, foram definidas verificações de Manutenção Autónoma, com

os principais objetivos de incutir um sentimento de posse em relação à máquina no operador,

e capacitá-lo para tomar conta dela de forma autónoma. Foi ainda proposta uma nova versão

visualmente mais apelativa das Check-List CIL.

Posto isto, é possível afirmar que os objetivos traçados inicialmente foram

cumpridos com sucesso.

Em termos de resultados, não foi possível quantificar a otimização resultante da

implementação do projeto, uma vez que ainda não tinham sido recolhidos os indicadores de

performance. No entanto, espera-se que no futuro, os resultados possam refletir o trabalho

desenvolvido, nomeadamente a diminuição de paragens e avarias dos equipamentos e

consequentemente a diminuição do tempo de produção, custos relacionados e o aumento da

eficiência.

Page 65: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Maria Inês Nazaré Canadas 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abdulmalek, F. A., Rajgopal, J., & Needy, K. L. (2006), "A Classification Scheme for the

Process Industry to Guide the Implementation of Lean", Engineering Management

Journal, 18(2), 15–25.

Agrahari, R. S., Dangle, P. A., & Chandratre, K. V. (2015), "Implementation of 5S

Methodology in the Small Scale Industry: a Case Study", International Research

Journal of Engineering and Technology (IRJET), 4(4), 130–137.

Ahuja, I. P. S., & Khamba, J. S. (2008), "Total productive maintenance: literature review

and directions", International Journal of Quality & Reliability Management (Vol. 25).

Campofrio Food Group (2018), “Campofrio Food Group YE2016 Results Presentation”.

Acedido em 20 de Maio de 2018, em: https://www.campofriofoodgroup.com/.

Cox, A., & Chicksand, D. (2005), "The limits of lean management thinking: Multiple

retailers and food and farming supply chains", European Management Journal, 23(6),

648–662.

Dora, M., Kumar, M., Van Goubergen, D., Molnar, A., & Gellynck, X. (2013),

"Operational performance and critical success factors of lean manufacturing in

European food processing SMEs", Trends in Food Science and Technology, 31(2),

156–164.

Dora, M., Van Goubergen, D., Maneesh, K., Molnar, A., & Gellynck, X. (2014),

"Application of lean manufacturing tools in the food and beverage industries", Journal

of Technology Management and Innovation, 116(1), 125–141.

Hirano, H. (1995), "5 Pillars of the Visual Workplace: The Sourcebook for 5S

Implementation", Productivity Press. New York: Productivity Press.

Huang, S.H., Dismukes, J.P., Shi, J., Su, Q., Wang, G., Razzak, M.A. and Robinson, D.E.

(2002), "Manufacturing system modeling for productivity improvement", Journal of

Manufacturing Systems, 21(4), 249–259.

Instituto Nacional de Estatística (2018), “Principais indicadores das Empresas por

Localização geográfica (NUTS - 2013) e Atividade económica (Subclasse - CAE

Ver.3); Anual”. Acedido em 2 de Abril de 2018, em: http://www.ine.pt.

Lehtinen, U., & Torkko, M. (2005), "The Lean concept in the food industry: a case study

Page 66: Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria ...§ão... · Total Productive Maintenance, sendo que o desenvolvimento do projeto tem como base as metodologias adotadas

Implementação do Total Productive Maintenance na Indústria Alimentar: o Caso Nobre

46 2018

of a contract manufacturer", Journal of Food Distribution Research, 36 (Lehtinen

2001), 57–67.

Nakajima, S. (1988), "Introduction to TPM (Total Productive Maintenance)", Portland OR:

Productivity Press.

Omogbai, O., & Salonitis, K. (2017), "The Implementation of 5S Lean Tool Using System

Dynamics Approach", Procedia CIRP, 60, 380–385.

Pomorski, Thomas R. (2004), “Total Productive Maintenance (TPM) Concepts and

Literature Review”, Brooks Automation, Inc.

Rahman, M. N. A., Khamis, N. K., Zain, R. M., Deros, B. M., & Mahmood, W. H. W.

(2010), "Implementation of 5S practices in the manufacturing companies: A case

study", American Journal of Applied Sciences, 7(8), 1182–1189.

Scott, B. S., Wilcock, A. E., & Kanetkar, V. (2009), "A survey of structured continuous

improvement programs in the Canadian food sector", Food Control, 20(3), 209–217.

Suzuki, T. (1994), "TPM in process industries", Productivity Press, Portland.

Tsarouhas, P. (2007), "Implementation of total productive maintenance in food industry: a

case study", Journal of Quality in Maintenance Engineering, 13(1), 5–18.

Van Goubergen, D., Dora, M., Molnar, A., & Gellynck, X. (2011), "Lean application

among European SMEs: findings from empirical research", Proceedings of the 2011

Industrial Engineering Research Conference, 1–8.