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1 Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em LIBRAS IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO INTÉRPRETE DE LIBRAS DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO VIGENTE Brasília - DF 2012 Autor: Dileusa Clara da Silva Orientador: Prof. Esp. Valícia Ferreira Gomes

IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO INTÉRPRETE DE ... · nível de formação igual ou ... necessidade de maior divulgação da Língua Brasileira de Sinais ... utilização

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Lato Sensu em LIBRAS

IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO INTÉRPRETE DE LIBRAS

DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO VIGENTE

Brasília - DF

2012

Autor: Dileusa Clara da Silva

Orientador: Prof. Esp. Valícia Ferreira Gomes

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DILEUSA CLARA DA SILVA

IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO INTÉRPRETE DE

LIBRAS DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO VIGENTE

Monografia apresentada ao Programa de

Pós Graduação Lato Sensu em Libras da

Universidade Católica de Brasília UCB,

como requisito obrigatório para obtenção

do Título Especialista em Libras.

Orientadora: Esp. Valícia Ferreira Gomes

Brasília-DF

2012

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Monografia de autoria de Dileusa Clara da Silva, intitulada “Importância da

formação profissional do Intérprete de LIBRAS de acordo com a legislação vigente”,

apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em LIBRAS

da Universidade Católica de Brasília, em 06 de agosto de 2012, defendida e aprovada

pela banca examinadora abaixo assinada.

___________________________________________________________

Profº Esp. Valícia Ferreira Gomes

Orientadora

___________________________________________________________

Prof. Msc. Olga Cristina Rocha de Freitas

Brasília

2012

4

Dedico este trabalho a Deus, por

suportar minhas fraquezas e me iluminar

nos momentos difíceis. A minha querida

Professora Valícia, pela paciência e

encorajamento nos momentos difíceis. A

minha família, em especial, Angélica,

Hemerson e Paulinho.

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo identificar características que valorizem a

formação profissional do intérprete de LIBRAS. Para tanto, foi investigado aspectos

relacionados à formação do Intérprete de LIBRAS, sua área de atuação, a experiência

profissional, os desafios e as expectativas em relação à profissão, confrontando os

resultados obtidos com a legislação atual vigente, o Decreto 5.626/2005. Participaram

da pesquisa dez intérpretes, escolhidos aleatoriamente. Cada participante recebeu um

questionário contendo onze perguntas. Após avaliação dos dados, foi possível

identificar que o nível de formação da maioria dos intérpretes ainda não alcançou o

nível de formação igual ou superior às determinações do Decreto 5.626/2005, que

determina a formação do tradutor e intérprete de LIBRAS – Língua Portuguesa por

meio de curso superior de Tradução e Intérprete ou Letras LIBRAS. O decreto, em seu

capítulo V, art. 18, regulamenta, ainda, que a formação do profissional intérprete e

tradutor de LIBRAS – Língua Portuguesa, deve ser cumprida até dez anos após a

publicação do Decreto, podendo ocorrer em cursos de educação profissional, cursos de

extensão universitária ou cursos de formação continuada. Constatou-se que 90% dos

intérpretes, que participaram da pesquisa, não têm curso superior em interpretação ou

Letras LIBRAS, embora 50% têm formação superior em diversas áreas. Apenas um

intérprete tem curso superior em Letras Libras e possui certificado de proficiência em

LIBRAS, nível superior, fornecido pelo Prolibras e outro intérprete tem certificação do

Prolibras em nível médio. A maioria dos intérpretes obteve formação profissional, por

meio de curso de educação profissional. Um dos fatores que justifica esse

desnivelamento da formação dos intérpretes em relação ás exigências do Decreto é seu

recente tempo de vigência. Verificou-se que a maioria dos participantes da pesquisa

possui bom nível Motivacional e interesse pela profissão. Os próprios intérpretes

reconhecem suas dificuldades e a falta de valorização da profissão, bem como a

necessidade de maior divulgação da Língua Brasileira de Sinais.

Palavras-Chave: Tradutor e Intérprete, LIBRAS, atuação profissional

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ABSTRACT

This study aimed to identify characteristics that enhance the training of interpreters

POUNDS. Therefore, we investigated aspects related to the formation of Interpreter

POUNDS, their area of expertise, professional experience, the challenges and

expectations of the profession, comparing the results obtained with the current

legislation in force, the Decree 5.626/2005. Participants were ten performers, chosen

randomly. Each participant received a questionnaire containing eleven questions. After

evaluating the data, we found that the level of training of most interpreters have not yet

reached the level of training equal to or superior to determinations of Decree

5.626/2005, which determines the formation of the translator and interpreter POUNDS -

Portuguese through a degree in Translation and Interpreting Literature or LBS. The

decree, in his chapter V, art. 18, regulates also the training of professional interpreter

and translator POUNDS - Portuguese Language, must be fulfilled until ten years after

the publication of the Decree, which may occur in professional education courses,

university extension courses or continuing education courses. It was found that 90% of

interpreters who participated in the survey have no degree in interpretation or Letters

POUNDS, although 50% have higher education in several areas. Only one performer

has degree in Letters pounds and has certificate of proficiency POUNDS, upper level,

provided by Prolibras and another interpreter certification has Prolibras on average.

Most interpreters received training through ongoing professional education. One factor

that justifies this uneven training of interpreters in relation to the demands of the Decree

is his recent time of application. It was found that the majority of respondents have

good motivational level and interest in the profession. The interpreters themselves

recognize their difficulties and lack of appreciation of the profession, as well as the need

for greater disclosure of the Brazilian Sign Language.

Keywords: Translator and Interpreter, POUNDS, professional performance

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LISTA DE SIGLAS

ILS Intérprete de Língua Brasileira de Sinais

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

ASL Língua Americana de Sinais

INES Instituto Nacional de Educação de Surdos

FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................10

CAPÍTULO 1 - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS...............................12

1.1 - ASPECTOS CULTURAIS DO SUJEITO SURDO..............................................14

1.2 - IDENTIDADE E CULTURA SURDA...................................................................15

1.3 - A QUESTÃO MULTICULTURAL DO SUJEITO SURDO................................17

2 - O PROFISSIONAL INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS - ILS................18

2.1 - A FORMAÇÃO DO ILS: O DECRETO 5.626/2005 E A LEI 12.319/2010 .......20

2.2 - O CÓDIGO DE ÉTICA DO ILS.............................................................................22

2.3 - ATUAÇÃO DO ILS NA EDUCAÇÃO.................................................................23

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA.............................................................................25

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO.........................................26

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................40

REFERÊNCIAS............................................................................................................42

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INTRODUÇÃO

A visão das pessoas e das instituições a cerca de como lidar com as pessoas com

deficiência vem mudando nos últimos dez anos, principalmente em relação aos sujeitos

surdos, a comunidade surda percebe profundas transformações sociais que valorizam o

tratamento dos ouvintes em relação aos surdos, decorrentes da organização da comunidade

surda, das políticas públicas conquistadas e da oficialização da Língua Brasileira de Sinais –

LIBRAS.

No ano de 2002, foi publicada a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe

sobre o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como língua materna da

comunidade surda. Essa Lei foi regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de

2005. Além de regulamentar a LIBRAS como língua oficial das comunidades surdas

brasileiras, reconheceu a necessidade de atuação do profissional Intérprete de Língua

Brasileira de Sinais – ILS para intermediar a comunicação entre ouvintes e surdos nas

diversas instituições públicas e na educação de surdos, estabelecendo os critérios

fundamentais para formação de intérpretes.

Considerando que os primeiros registros da atuação do profissional intérprete foram

datados, anteriormente, à década de 80, em atividades religiososas, pode-se afirmar que, ainda

assim, o trabalho do profissional ILS é recente. Por conseguinte, existem problemas

complexos, passíveis de análise e investigação minuciosa, com ênfase na literatura

especializada e na legislação.

Diante do exposto, surgem alguns questionamentos em relação a formação dos ILS,

sobre o processo de qualificação e o perfil profissional dos intérpretes; se o nível de

escolaridade e cursos de treinamentos interferem significativamente no processo de

interpretação em conformidade com a legislação vigente e com a literatura especializada e

quais as medidas possíveis para melhoria na eficiência desses profissionais intérpretes.

O objetivo desta pesquisa se fundamenta em identificar elementos que agregam valor à

formação do profissional intérprete de LIBRAS, investigando a qualificação profissional, se

está em conformidade com a legislação atual vigente, que é o Decreto 5.626/2005, outros

aspectos também foram analisados, através de uma pesquisa qualitativa, utilizando como

instrumento de pesquisa um questionário com onze questões semiestruturadas, a análise dos

dados obtidos se pautou em reconhecer se o profissional intérprete está engajado na busca por

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aperfeiçoamentos profissionais e quais as medidas são possíveis para melhoria nos níveis de

qualificação profissional, sendo os resultados obtidos organizados em categorias que

identificam as características em relação a formação profissional do ILS, como: formação dos

intérpretes, área de atuação, experiência profissional, principais desafios e expectativas para

melhorias do desempenho dos profissionais, bem como a valorização da profissão Intérprete

de LIBRAS.

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CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 – A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS

Ao contrário do que muitos imaginam a Libras não é uma língua recente. Segundo

Honora e Frizanco (2009), na idade média encontravam-se os primeiros fatos que apontaram a

utilização de sinais como forma de comunicação. As autoras relatam que, naquela época, a

Igreja Católica tinha participação ativa no modo de vida social. Os surdos não podiam se

confessar nem participar dos sacramentos, pois não tinham uma língua que os fizessem ser

entendidos, logo suas almas eram consideradas mortais. Então a igreja iniciou as primeiras

tentativas de educar os surdos para participarem dos sacramentos. Os monges que viviam em

clausura e fizeram voto de silêncio, para não tornar público os conhecimentos adquiridos nos

livros sagrados, desenvolveram uma língua gestual para se comunicarem. Esses monges

foram convidados para educar surdos.

Honora e Frizanco (2009) relatam que Pedro Ponce de Leon juntamente com seus dois

alunos surdos, descendentes de uma família espanhola, ocasionaram um marco histórico no

processo de criação e evolução da Língua de sinais. Ponce de Leon foi um monge que viveu

num monastério, na Espanha, onde havia Voto de Silêncio. Além desses dois alunos surdos,

Ponce foi tutor de muitos outros surdos, provou que o surdo era capaz de aprender, pois seus

alunos sabiam Filosofia, História, Matemática e outras ciências.

Outro pioneiro na educação de surdo, citado pelas mencionadas autoras, foi o Médico,

Matemático e Astrólogo, italiano Girolano Cardano (1501 – 1576). Ele tinha um filho surdo e

através de suas pesquisas descobriu que a escrita representava os sons da fala ou das ideias do

pensamento, baseado nessa teoria, afirmou que o surdo podia ser instruído.

Leite (2009) informa que Charles Michel de L‘ Èpée, no século XVIII, utilizou a

língua de sinais como língua de instrução na França, em sua escola de surdo. Quando, o

Congresso de Milão privilegiou o método oral de ensino em detrimento da língua de sinais,

houve um retrocesso histórico sobre a língua de sinais, em todo mundo, uma proliferação da

utilização de métodos que privilegiam a oralização.

Em 1965, William C. Stokoe publicou a obra “Dictionary of American Sign Language

on Linguistic Principles”. Essa obra foi muito importante, uma vez que descreveu a Língua

Americana de Sinais – ASL, abrangendo, inclusive, os aspectos culturais da língua e de seus

usuários, comunidade surda (LEITE, 2009).

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No Brasil, na década de noventa, diversos pesquisadores desenvolveram vários

estudos sobre a Língua Brasileira de Sinais, a influência destas pesquisas associada à

contribuição dos estudos da pesquisadora Alice Freire, da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, que após reivindicação dos alunos, professores e direção do Instituto Nacional de

Educação de Surdos – INES desenvolveu, com a contribuição dos professores, uma proposta

de ensino de Língua portuguesa como uma segunda língua para os alunos surdos. Houve,

também, diversas atividades dirigidas pela Federação Nacional de Educação e Integração do

Surdo – FENEIS. Dentre outros, esses fatos foram decisivos para o reconhecimento oficial da

Libras (LEITE, 2009).

Há também pesquisas realizadas pela Luciana Ferreira Brito que foram publicadas em

forma de um livro em 1995, voltadas para a compreensão da gramática das línguas de sinais.

Posteriormente outros trabalhos e pesquisas começaram a explorar diferentes aspectos da

estrutura da Língua Brasileira de Sinais, como Karnopp (1994) que estudou aspectos de

aquisição de fonologia por crianças surda, e Quadros (1995) que apresenta uma análise da

distribuição dos pronomes na língua brasileira de sinais e as repercussões desse aspecto na

aquisição da linguagem de crianças surdas de pais surdos, publicando parcialmente em forma

de livro em 1997 – Educação de surdos a aquisição da linguagem de sinais. (QUADROS,

2004).

A Lei nº 10.436/2002 institui a Libras no Brasil, como língua materna da comunidade

surda, sendo regulamentada no ano de 2005, pelo Decreto nº 5.626. Com a regulamentação do

Decreto Lei, que reconhece a legalidade da Língua Brasileira de sinais – Libras, como forma

de expressão e comunicação da comunidade surda brasileira, desta forma, a comunidade surda

passa a ter direito a uma língua materna oficial para os surdos, sendo no Brasil a segunda

língua oficial.

A Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS é uma modalidade de comunicação viso-

gesto-espacial, ou seja, expressa através das mãos, das expressões faciais e do corpo. Ela

possui níveis fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático, podendo ocorrer

variáveis dialéticas em todo país.

Enquanto a Língua Portuguesa é, por exemplo, uma língua falada (verbalizada e

escrita), utilizando os fonemas, que são unidades mínimas do som, usados para produzir a

palavra, a Língua de Sinais é expressa através da configuração de mãos com as localizações

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em que os sinais são produzidos, os movimentos e as direções são unidades mínimas que

formam as sinais.

Na Língua de Sinais, as unidades analisadas para compreensão dos sinais, são

consideradas como unidades mínimas que permitem a interação e compreensão do

significado. Os sinais formam-se a partir da combinação do movimento das mãos com um

determinado formato em um determinado lugar, podendo ser feito em uma parte do corpo ou

em um espaço neutro. A articulação das mãos e a direção são outras unidades mínimas na

formação do sinal.

A morfologia e a sintaxe na Língua de sinais são formadas no espaço. Palavras e frases

dependem do espaço para formular um significado. Outro parâmetro que é usado como

formador de significado da palavra é a expressão facial.

Segundo Quadros (2004), a construção de uma palavra em língua de sinais, considera-

se os parâmetros espaciais e faciais. Essa estrutura apresentada é complexa e mostra que a

Língua de sinais possui características próprias.

LIBRAS é uma língua moderna natural como qualquer outra língua materna, que

acontece no contato com seus falantes. No caso de LIBRAS, o contato acontece nas

comunidades surdas, aonde a cultura surda vai formando seus hábitos e costumes, neste caso,

é importante o contato entre as pessoas surdas, para formar uma interação favorável a

aquisição e desenvolvimento de uma identidade linguística.

1.2 – ASPECTOS CULTURAIS DO SUJEITO SURDO

Salles (2005) afirma que a surdez ainda é vista, pela maioria dos ouvintes, como uma

condição desfavorável a adaptação da pessoa surda à vida social, por ter um órgão funcional a

menos. Essa maneira de pensar é equivocada se considerar que a audição pode ser substituída

pela visão. O ser humano poderia viver perfeitamente sem a audição, sem o paladar e sem o

olfato. Inclusive nosso cérebro, os cientistas afirmam que se uma parte dele for danificada por

algum acidente, outra parte acumula funções e se adaptam a desenvolver as funções que

seriam desenvolvidas pela parte danificada.

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Se a maioria da humanidade fosse surda e tivesse apenas algumas pessoas ouvintes, os

meios de comunicação, os recursos tecnológicos, a cultura, tudo seria planejado e

desenvolvido para o surdo, o ouvinte teria que se adaptarem as situações adversas.

Ser surdo não é melhor ou pior que os ouvintes e sim, apenas diferente. Não há limite

para a inteligência humana. Toda pessoa, surda ou ouvinte, tem suas limitações. Como

exemplo, podemos citar algumas dificuldades que os ouvintes têm para se comunicarem

através da língua oral em lugares com muito barulho, enquanto o surdo se comunica

facilmente através da língua de sinais (SALLES 2005).

Perceber a surdez, não como deficiência, mas sim como uma minoria diferente, é

fundamental para respeitar sua cultura e dar-lhes oportunidades para reescrever sua história,

assim como os negros, as mulheres, dentre outros.

1.3 - IDENTIDADE E CULTURA SURDA

Salles (2005) entende que cultura surda é o conjunto de produções culturais, materiais

ou objetos, de um determinado grupo social, bem como tudo que se vê e sente quando se está

em contato com a cultura de uma comunidade.

A pessoa surda se identifica com sua cultura e sentindo-se acolhida por seus pares, na

maioria dos grupos. O contato entre os surdos proporciona-lhes maior conforto, por

compartilhar problemas comuns no seu cotidiano e discutirem juntos possíveis soluções. Por

meio desses contatos, fortalece a identidade do individuo surdo em relação aos seus pares, que

é definida por Perlin (1998 apud COSTA 2009) da seguinte maneira:

1 – Identidade flutuante, o surdo imita o comportamento do ouvinte e se identifica

com eles.

2 – Identidade inconformada, o surdo não consegue captar a representação da

identidade ouvinte, e inconformado com a surdez, se sente frustrado.

3 – Identidade de transição, o contato do surdo com a comunidade surda acontece

tardiamente, ele passa da comunicação visual-oral para a comunicação visual

sinalizada, acontece um conflito cultural.

4 – Identidade híbrida acontece nos surdos que nascem ouvintes e s ensurdeceram e

fazem uso das duas línguas.

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5 – Identidade surda, o surdo é um ser completamente visual e desenvolve sua

experiência na língua de sinais, o surdo assume a identidade surda e são sujeitos

culturais.

O sujeito surdo percebe o mundo a sua volta através da visão. Os movimentos, coisas

e objetos são observados pelos surdos e a partir daí sintetizam as conclusões referente às

situações vivenciadas. Como por exemplo, podemos citar uma situação em que numa

danceteria várias pessoas saem apressadamente e o surdo percebe uma situação de perigo.

Assim, é importante argumentar que, como o sujeito surdo percebe os acontecimentos a sua

volta através da visão, deve-se explorar o espaço visual para facilitar o acesso do surdo no seu

cotidiano e na aprendizagem (Salles 2005).

A interação entre os sujeitos surdos é fundamental para ter acesso às informações e

conhecimentos, também para construir sua identidade. Logo, é importante considerar que na

aquisição da linguagem pela pessoa surda, se desenvolverá com eficiência quando tiver

contato mais cedo com a língua de sinais. Nesse processo de comunicação através da

Língua de Sinais, é imprescindível a exploração da expressão facial, porque o surdo observa

todos os movimentos corporais e faciais para entender melhor a mensagem a ser transmitida.

A língua de sinais é um dos principais aspectos da cultura surda. Incluindo os gestos

considerados “sinais emergentes” ou “sinais caseiros” dos sujeitos surdos que vivem em

zonas rurais ou isolados de comunidade surda, que se comunicam acenando ou criando sinais,

a partir de vivencias do cotidiano.

Salles (2005) argumenta que na comunidade surda, a criança surda é mais bem aceita

por seus pais surdos do que por pais ouvintes. Os pais surdos aceitam a criança surda com

naturalidade, entendem que não haverá dificuldade para se comunicarem, oferecem mais

segurança, proporcionando mais cedo o contato da criança com a comunidade surda.

Enquanto os pais ouvintes, na sua maioria, ficam aborrecidos quando percebem que o filho é

surdo, não sabem, ainda, comunicar fazendo uso da língua de sinais e quando promovem o

contato da criança surda com a comunidade surda é mais tardiamente.

Sobre alguns aspectos da cultura surda, pode-se destacar a literatura da comunidade

surda, onde em muitos casos são narradas suas próprias experiências pessoais. Grande parte

dessas experiências está representada em língua de sinais, e que se encontram gravadas um

CD-ROM, vídeos e DVD. Muitos escritores e poetas surdos registram suas expressões

literárias também em língua portuguesa, publicam artigos e livros com temas variados.

As piadas para surdos, que exploram a expressão facial e corporal, na sua maioria em

língua de sinais, são diferenciadas pelas características naturais do surdo em contar histórias.

Essas piadas representam outra modalidade de expressão cultural da comunidade surda.

Existem vários eventos culturais, esportivos, festividades, entre outros, próprios da

comunidade surda. No Brasil, os eventos esportivos dos surdos são representados pela

Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), Comitê Internacional de Esportes

17

dos Surdos (CISS), Pan-americano de Desportes de Surdos (PANAMDES) e Confederação

Sul americana Desportiva de Surdos (CONSUDES).

As artes culturais da comunidade surda são as criações artísticas produzidas pelo povo

surdo. Através da arte visual o sujeito surdo, expressa seus sentimentos, emoções, histórias,

cultura, criatividade, subjetividade, etc. As principais produções artísticas dos surdos são

desenhos, pinturas, esculturas, teatro, dentre outros.

Em relação às questões políticas, o povo surdo se organiza em movimentos e lutas

pelos seus direitos. Principalmente, através de associações governamentais e não

governamentais. Antigamente essas organizações concentravam suas atividades em

assistência social, promovendo ajuda em casos de doenças, desemprego, morte, entre outros,

se ocupavam, ainda, em fornecer informações e incentivos através de conferências e

entretenimento. Agora se pode perceber que as associações de surdos estão mais preocupadas

com a política. Os sujeitos surdos estão se reunindo, organizadamente, para tratarem de

interesses comuns, planejando ações, a fim de obterem direitos judiciais e cidadania.

1.4 - A QUESTÃO MULTICULTURAL DO SUJEITO SURDO

A cultura dos surdos é diferente da cultura dos ouvintes. Percebe-se que essa cultura

surda possui normas, valores, tecnologia e linguagem diferentes da dos ouvintes, porém há

aspectos comuns entre os costumes dos surdos e ouvinte, o que leva Skliar (1998) defender o

conceito de cultura surda como multicultural.

A comunidade surda compartilha do mesmo espaço físico e geográfico, da

alimentação, do vestuário, entre outros hábitos e costumes. Por esse motivo tem muitos

aspectos comuns entre a cultura surda e a ouvinte, mas se diferenciam nos seus aspectos

principais, como a história de vida e pensamento, além da língua do surdo, que e

completamente diferente da usada pelos ouvintes (COSTA, 2009).

No entanto, há comportamentos e tecnologias especialmente dos surdos que fazem

parte de seu cotidiano, são os elaborados e produzidos para facilitar o cotidiano dos surdos, as

quais a maioria está relacionada à comunicação, como exemplo, os torpedos, telefones para

surdos ou centrais de atendimento em empresas de telecomunicações, que possuem

intérpretes.

Portanto, há existência de recursos e aplicativos tecnológicos, não substitui a presença

e o trabalho executado pelo profissional intérprete, que muitas das vezes está presente de

forma participativa nos eventos e atividades promovidas pela comunidade surda.

18

2 – O PROFISSIONAL INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS - ILS

O trabalho de tradução e interpretação de Língua de Sinais tem seu início através de

atividades voluntárias. Ao longo dos anos, as traduções e interpretações foram sendo

valorizadas como atividade laboral, com as participações dos surdos nas políticas sociais, bem

como o reconhecimento da língua de sinais em cada país.

Antes do profissional intérprete de L IBRAS, já existiam Intérpretes de outras línguas.

No período entre as duas grandes guerras mundiais, a interpretação adquiriu maior amplitude.

A princípio, esses atuavam basicamente na transmissão de uma língua para outra e se

fundamentavam na prática.

Segundo Quadros (2004), na Suécia, no final do século XIX, a presença dos primeiros

intérpretes de Língua de Sinais foram trabalhos religiosos. Em 1938, o parlamento daquele

país criou cinco conselheiros para surdos. Em 1947, 20 pessoas assumiram a função de

intérprete. No ano de 1968, todo surdo passa a ter direito de acesso ao intérprete sem encargos

e foi criado o primeiro curso de treinamento de intérprete. Em 1981, todo conselho municipal

deveria ler uma unidade com intérprete.

Nos Estados Unidos, no ano de 1964, foi fundada a Organização Nacional de

Intérpretes para surdos e em 1972 o início de suas atividades de selecionar os intérpretes,

certificar, manter registro, promover o código de ética e oferecer informações sobre formação

e aperfeiçoamento de intérprete.

No Brasil, o trabalho dos intérpretes teve seus primeiros reconhecimentos em atuações

de atividades religiosos na década de 80. Em 1988, aconteceu o I Encontro Nacional de

Intérprete de Língua de Sinais, organizado pela FENEIS. Em 1992, houve o II Encontro

Nacional de Intérprete de Língua de Sinais, onde aconteceram discussões e votação do

Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes. No período entre 1993 e 1994,

começam a surgir encontros estaduais e regionais com o intuito de discutir aspectos da

formação e atuação dos ILS.

No ano de 2002, no Brasil, após anos de lutas, foi publicada a Lei nº 10.436/2002, que

reconhece a legalidade da Língua Brasileira de sinais – Libras, como forma de expressão e

comunicação e reconhece o profissional Intérprete. Ela garante, por parte do poder público,

sua divulgação, inclusão nos cursos de formação do magistério e fonoaudiologia. Porém, o

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uso de Libras, pela comunidade surda, não substitui a modalidade escrita da Língua

portuguesa, conforme descrito em seu parágrafo único.

Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a

modalidade escrita da língua portuguesa. (BRASIL, 2002).

O Decreto nº 5.626, 22 de dezembro de 2005, regulamenta a Lei nº 10.436, que

reconhece a legalidade da Língua de Sinais. Ele inclui o estudo da Libras nos currículos dos

cursos de formação para professores e fonoaudiologia; estabelece as regras para formação do

professor. Instrutor, Tradutor/Intérprete de Libras. Institui o uso de Libras e de Língua

portuguesa na educação de surdo; responsabiliza empresas vinculadas ao poder público no

apoio e divulgação da Libras, bem como garante ao surdo o direito a saúde e demais serviços

públicos.

Outra Lei importante a ser considerada é a nº 12.319, de 01 de setembro de 2010, que

regulamenta a profissão de Tradutor/Intérprete. Essa Lei estabelece as regras de formação do

Intérprete somente em nível médio, bem como suas atribuições e valores éticos em relação ao

exercício profissional.

Quadros (2004) salienta que o intérprete é um agente envolvido no processo de

comunicação, com poder de influenciar o objeto e o resultado da tradução. Assim, esse

profissional necessita dominar a língua de sinais e a língua portuguesa.

Lacerda (2010) entende que a tradução não é apenas um fato linguístico, mas outras

variáveis necessitam ser consideradas, como: culturais e sociais. O intérprete precisa saber

muito sobre as possibilidades expressivas da língua, ou seja, saber além das regras

gramaticais, que é apenas um dos modos de descrição e prescrição em termos das línguas. È

necessário conhecer as diversas maneiras de expressões de uma sociedade. Nesse sentido, o

tradutor/intérprete deve se interar de todo tipo de texto (literatura, jornalístico, publicitário,

entre outro) variando autores, épocas propósitos, terminologias pertinentes a cada área a que

vai se dedicar. Seu material de trabalho é o universo dos textos, das mais diversas origens.

Lacerda (2010) argumenta que o intérprete traduz os sentidos da língua, ele é o

interlocutor entre os sentidos das duas línguas, língua fonte e língua alvo. Outro fator

importante, a considerar, são as variáveis culturais, natureza do evento e o nível intelectual do

público.

20

2.1 – O DECRETO 5.626/2005 E A LEI 12.319/2010: SOBRE A FORMAÇÃO DO

INTÉRPRETE

A formação do Intérprete no Brasil, sob o aspecto legal, pode acontecer em nível

superior e médio, de acordo com o capítulo V, artigo 17, do Decreto nº 5.626/2005, encontra-

se regulamentado que a formação do Intérprete deve acontecer em nível superior por meio de

curso de tradução e interpretação, sendo:

Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa deve

efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação

em Libras – Língua Portuguesa. (BRASIL, 2005).

Já art. 18, determina que formação do Intérprete, poderá acontecer em nível médio, por

meio de cursos de educação profissional, cursos de extensão universitária ou cursos de

formação continuada, acrescentando-se a esta formação a obtenção de certificação de

Proficiência em Libras, fornecido pelo Prolibras.

A Lei 12.319, de 1º de setembro de 2010, em seu art. 4º, também, regulamenta a

formação do Intérprete em nível médio, determinando a sua formação com a mesma

modalidade do art. 18 do Decreto 5.626/2005. Tanto a Lei 12.319/2010, como o Decreto

5.626/2005 estabelecem prazo de até dezembro de 2015 para vigência do Prolibras, ambos

determinam, ainda, que a formação do Intérprete pode ocorrer em organizações civis

representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por

instituições superior ou instituições credenciadas por secretarias de educação.

Quadros (2004) informa que existe, em diversos países da Europa e América do

Norte, a valorização da formação do ILS em médio até mestrado e que a qualificação dos

Intérpretes varia de acordo com o desenvolvimento sócio cultural da comunidade surda.

Considerando essas ideias e que a legislação estabelece níveis mínimo e ideal para a formação

de Intérprete, conclui-se que a formação profissional do Intérprete pode ir além do nível

superior. Essa questão merece atenção da comunidade surda, pois a qualidade da

comunicação dos surdos com os ouvintes está diretamente relacionada ao nível de formação

dos Intérpretes.

21

2.2 – O CÓDIGO DE ÉTICA DO ILS

Na literatura atual, no Brasil, pouco se tem destacado sobre os diversos conceitos e

técnicas sobre a atuação do intérprete de Língua Sinais, pois é recente o reconhecimento de

sua legalidade por parte das Instituições civis e governamentais. Com regulamentação da

profissão, através da Lei 12.319/2010, espera-se que seja dada maior ênfase a atuação do

profissional. Inclusa essa a literatura, encontra-se o código de Ética profissional do ILS.

A existência do código de ética sobre a atuação dos ILS é um conjunto de regras que

orientam a atuação do profissional Intérprete. Esse profissional é um interlocutor na

comunicação entre surdos e ouvintes, sendo responsável pela veracidade e fidelidade das

informações, por esse motivo é necessário que a ética seja primordial na conduta desse

profissional (QUADROS, 2004).

Quadros (2004) afirma que o código de ética do Intérprete é parte integrante do

Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes (FENEIS). De acordo com esse

código de ética, o profissional Intérprete deve ser de caráter moral, honesto, consciente,

imparcial, ter controle emocional e guardar sigilo de informações confidenciais. A fidelidade

à língua fonte deve ser considerada pelo intérprete, bem como usar a máxima habilidade

possível.

Segundo o código de ética, o intérprete deve respeitar o limite de sua competência, não

aceitando interpretar sobre alguma área que ele não se sente seguro. Quanto à forma de se

vestir, deve-se apresentar adequadamente, sem atrair a atenção para si.

Outra questão abordada pelo código de ética é a remuneração, que deve ser justa,

respeitando a tabela de cada estado, aprovada pela FENEIS, quando não houver fundos para

custear o serviço.

O código de ética dispõe que o intérprete não pode encorajar pessoa surda a pleitear

decisões em seu favor, ao interpretar, deve-se atentar para os níveis das línguas, manter

respeito, dignidade e pureza da língua alvo e da língua fonte. Em interpretações de situações

legais, deve-se informar à autoridade o nível de comunicação da pessoa em questão, inclusive

quando houver necessidade de parafrasear nos casos que não for possível a interpretação

literal. Ainda é dever do intérprete, conhecer os tipos de assistência ao surdo e esforçar-se

para ajudá-lo.

22

O código de ética também aborda sobre a interação entre os intérpretes, com os fins de

compartilhar informações e se desenvolverem profissionalmente suas habilidades pessoais e,

finalmente, o intérprete deve fornecer informações sobre surdez e comunicação com a pessoa

surda, sempre quando houver necessidade e oportunidade.

O conjunto de regras do código de ética serve para orientar o trabalho do profissional

ILS. O objetivo dessas regras vai além da determinação de normas que regem a conduta do

Intérprete, ajuda-o, ainda, na formação de seu perfil profissional ético e solidário.

2.3 - FORMAÇÕES DO INTÉRPRETE

A primeira escola criada para formação de intérprete foi a Universidade de Genebra.

Atualmente, a Europa tem os principais cursos de formação de intérprete. No Brasil, a

Universidade Católica do Rio Grande do Sul, uma das pioneiras, em relação a formação de

intérpretes de LIBRAS, propõe cursos de formação inicial para tradutores e intérpretes.

No Decreto nº 5.626/2005, em seu capítulo V, regulamenta que a formação do

intérprete de Libras – Língua Portuguesa deve acontecer em curso superior de tradução e

interpretação, com habilitação em Libras – Língua Portuguesa. Até 10 anos, após publicação

dessa lei, a formação poderá ocorrer em cursos de educação profissional, cursos de extensão

universitária ou cursos de formação continuada, porém para atuar na área de educação, o

Decreto determina a necessidade de aprovação em exame de proficiência em Língua

Brasileira de Sinais, promovido pelo Ministério da Educação e instituição de ensino superior

por ele credenciada, denominado exame Prolibras.

Segundo Quadros (2004) o PROLIBRAS, criado em 2006 pela Universidade Federal

de Santa Catarina – UFSC, em parceria com o Governo Federal e pólos universitários

espalhados em diversos Estados brasileiros, é um exame de proficiência que resulta na

certificação do profissional intérprete, conforme previsto pelo Decreto 5.626/2005. Seu

objetivo é avaliar a produção e a compreensão da Língua Brasileira de Sinais. Esse exame não

substitui a formação básica exigida para certificação para atuar como intérprete. O exame é

aplicado anualmente, onde todos os intérpretes poderão fazê-lo, independentemente de atuar

ou não na área de educação, abrangendo os níveis superior e médio.

23

Atualmente o ProLibras está sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, que delegou por meio de licitação que os

próximos exames após o ano de 2010, estivessem sob a responsabilidade do Instituto

Nacional de Educação para Surdos – INES, situado no Rio de Janeiro.

Lacerda (2010) afirma que o nível de exigência de qualificação do ILS está

diretamente relacionado ao desenvolvimento da comunidade surda. Quanto mais essa

comunidade for respeitada, através de seu envolvimento em atividades políticas e culturais,

bem como melhoria de seus níveis de escolaridade, maior será o nível de exigência quanto à

formação e qualificação do profissional intérprete.

2.4 – A ATUAÇÃO DO ILS NA EDUCAÇÃO

A história da existência de intérprete atuando na educação de surdo para intermediar a

comunicação entre surdos e ouvintes, é tão antiga quanto à existência das pessoas surdas. Essa

intermediação sempre ocorreu através de familiares, amigos, religiosos ou pessoas que

conviviam normalmente com o sujeito surdo. Aqui no Brasil, Denise Coutinho foi a primeira

pessoa a interpretar publicamente LIBRAS, no final da década 80, época que não havia

incentivos e consideravam como um retrocesso à imagem dos surdos e dos intérpretes (Leite,

2009).

Em 2002, com a realização do Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos

que o MEC publica, através da SEESP, “O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e

línguas portuguesa”, autoria de Ronice Müller de Quadros, intérprete e pesquisadora da

LIBRAS. Essa publicação trata das principais características inerentes ao profissional ao

efetivar a tradução da LIBRAS. Nessa ocasião, proliferou a interpretação em sala de aula, por

causa da inclusão (LEITE, 2009).

Leite (2009) faz um questionamento acerca dos procedimentos do intérprete

relacionados à escola inclusiva, confrontando as teorias e a prática do intérprete na sala de

aula. A autora entende que a educação de surdos deve acontecer em escolas especiais para

surdos. A educação de surdos deve ser diferenciada, por se tratar de uma modalidade de

ensino que demanda especificidade linguística, cultural, pedagógica, dentre outras.

24

No entanto, o Ministério da Educação tem uma política que consiste na contratação de

intérprete para atuar em sala de aula, em cumprimento ao Decreto 5.626/2005. O aluno surdo

é incluso em sala regulares e o intérprete atua como intermediador da comunicação. Porém, a

alguns estudos, como de Leite (2009) apontam que a participação do intérprete em sala de

aula não atende todas as necessidades de aprendizagem dos alunos surdos.

Segundo Leite (2009), não existe nenhum intérprete capaz de entender de todos os

assuntos trabalhados em sala de aula, para piorar a situação, existem muitos interpretes que

não têm formação e qualificação adequada para a função. Outro problema a se observar é que

os alunos surdos, na inclusão, ficam dispersos em várias escolas, e considerando a opinião de

diversos especialista em educação, que a criança surda precisa ter contato com outras crianças

e adultos surdos para se desenvolverem socialmente, formando sua identidade cultural e

facilitar a aquisição da Libras, como língua materna.

Leite (2009) fez uma análise detalhada dos procedimentos observados numa escola

pública de ensino fundamental. Confrontando suas observações com a fundamentação teórica

e entende dentre tantas questões analisada, a interprete atua, maior parte do seu tempo como

professora do que interpretando, em algum momento a interprete para de atender os alunos

como se recusasse o papel de professora. Esse problema parece demonstrar a indefinição de

entendimento sobre o papel do interprete por parte do professor regente. Num dado momento,

ele afirma que os alunos surdos poderiam estar espalhados por toda escola, mas para facilitar

o trabalho da intérprete eles estão reunidos numa mesma sala.

Outro problema preocupante é que a língua portuguesa, segunda língua para os alunos

surdos, é ensinada igualmente para os alunos ouvintes. Num dado momento da pesquisa, a

professora regente se esqueceu dos alunos surdos e ministrou a aula como se eles não

estivessem lá.

Dentre tantas outras questões analisadas, apenas essas citadas já fica evidente a falta

de definição quanto ao papel do intérprete e do professor regente. Outra questão preocupante

é que os alunos surdos não são completamente incluídos no processo de ensino aprendizagem,

uma vez que não tiveram aula planejada, considerando que o português é sua segunda língua e

que necessitam de processo diferenciado de ensino aprendizagem.

Leite (2009) compreende que, numa sala de aula inclusiva, a atuação do intérprete no

papel de professor, redefine o papel do professor regente. Neste caso, demanda a participação

25

do interprete junto ao professor regente, porém a dupla responsabilidade do profissional

intérprete de Libras sobrecarrega as responsabilidades deste profissional.

Existe ainda a questão da comunicação subordinada, entre alunos surdos e ouvintes,

que demandam interpretações. Além dessas questões, a autora defende que as ações

educativas em fase de aquisição e desenvolvimento da primeira língua, a língua de sinais, os

alunos surdos devem vivenciar um ambiente lingüístico próprio, metodologia e currículo

adequados às necessidades específicas.

É importante tomar uma postura crítica com relação às práticas educativas, que lidam

com a questão da surdez. Partindo desse posicionamento, entende-se que mesmo com a

inclusão da língua de sinais no processo de aprendizagem do aluno surdo ainda existe o poder

ouvinte.

26

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

Rudio (2010) afirma que o método determina os caminhos a serem percorridos no

desenvolvimento da pesquisa. Torna-se possível a orientação do pesquisador acerca das ações

no decorrer da pesquisa para se atingir determinado objetivo.

Para realização do estudo optou-se pela pesquisa qualitativa que consiste na

abordagem de diferentes aspectos subjetivos que possam ser observados, possibilitando ao

pesquisador uma análise mais elaborada do processo e respostas apresentadas.

Neves (2006) argumenta que a pesquisa qualitativa é direcionada em toda sua

amplitude, não se detém apenas a enumeração, a medição e a instrumental estatístico. Nesse

tipo de pesquisa a ênfase é na descrição dos fatos. Assim buscou desenvolver uma análise

detalhada dos fatos, considerando todos os elementos como objeto de análise para se atingir

os fins da pesquisa.

A pesquisa teve como foco um recorte qualitativo, sendo utilizado como principal

instrumento de pesquisa o uso de questionário aberto, com onze perguntas (ANEXO 1), sendo

direcionado aos intérpretes de Libras, que atuam em diferentes níveis de contextos e áreas.

Obtendo um número total dos participantes em 10 intérpretes. Para aplicação do instrumento

de pesquisa foram agendados encontros com os intérpretes em seus locais de atuação e outros

locais, fora do ambiente de trabalho.

Dos sujeitos da pesquisa, considerados intérpretes de Libras, pode-se destacar a

presença das áreas de atuação em Igrejas, Instituições públicas, Escolas de Ensino Médio e

Fundamental e voluntário descritos na análise de dados, os sujeitos da pesquisa são

apresentados nos resultados como P1 a P10.

O objetivo principal da pesquisa foi identificar elementos que agregam valor à

formação profissional do intérprete de LIBRAS, dando ênfase na qualificação profissional, se

a formação profissional está em conformidade com a legislação, se o profissional intérprete

está engajado na busca por melhorias profissionais e quais as medidas possíveis para melhoria

nos níveis de qualificação profissional.

27

CAPÍTULO III – ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO

Considerando o propósito investigativo da pesquisa de campo, serão apresentadas e

analisadas as informações colhidas no decorrer da pesquisa. Apresenta-se o resultado do

trabalho de campo realizado através de questionário distribuído a dez intérpretes. Cada

pessoa, participante da pesquisa, recebeu uma numeração, num intervalo de P1 a P10. As

perguntas do questionário (ANEXO 1) foram, criteriosamente, elaboradas e agrupadas em

diversas categorias, conforme o fato a ser investigado, com o objetivo de facilitar a análise das

respostas.

Para a realização da análise de dados de todas as respostas do questionário não houve

a necessidade de reproduzir, por meio de gráficos, todas as informações obtidas em cada

questão, pois se entendeu que as respostas da questão 08 podiam ser apenas transcritas.

Para melhor compreensão dos dados obtidos, os resultados das respostas foram

agrupadas por temas afins e apresentados e descritas em Seis Categorias, sendo:

3.1 – Nível de Formação;

3.2 – Tempo e área de atuação

3.3 – Segurança, dificuldades e desafios

3.4 – Motivação pela escolha da profissão

3.5 – Integração com colegas

3.6 – Perfil salarial

Logo abaixo estão apresentadas as categorias, com suas respectivas descrições e

análises, comparado com os resultados obtidos pelos participantes respondentes do

questionário.

3.1 - Nível de formação

Lacerda (2009) defende que a formação do Intérprete deve ser em nível superior.

Segundo esse autor quanto maior for o nível de envolvimento da comunidade surda em

28

atividades políticas e culturais e de escolaridade maior será às exigências quanto ao nível de

formação do intérprete.

Legalmente, a formação do intérprete de Libras pode acontecer em nível superior e

médio, conforme descrição do Decreto 5.626/2005. A Lei 12.319/2010 regulamenta também a

formação do intérprete de LIBRAS em nível médio.

Compartilhando com as ideias de Lacerda e do Decreto 5.626/2005, entende-se que a

formação do intérprete de LIBRAS deve acontecer em nível superior, principalmente em

algumas áreas cruciais para o desenvolvimento da comunidade surda, como a área da

educação.

CATEGORIA 01

Nesta categoria investigou a formação profissional dos intérpretes, fez-se, um

questionamento acerca do certificado de proficiência Prolibras. O certificado fornecido pelo

Prolibras acrescenta à formação básica uma garantia a mais quanto à qualificação do

intérprete caso não tenha formação superior específica para intérprete ou Letras Libras. O

Decreto nº 5.636/2005 determina a obrigatoriedade de obtenção do certificado do Prolibras

para atuação em instituições de ensino. Questiona-se, também, a atualização contínua do

intérprete frente aos novos desafios da língua, uma vez que a Libras, como qualquer outra

língua, não é estática. Possibilita, ainda, o questionamento sobre o envolvimento do intérprete

no contesto social, em relação tanto aos outros intérpretes, quanto a com comunidade surda. A

seguir apresentam-se gráficos com as sínteses das respostas das questões 01.a 04.

29

Gráfico 1- Formação/especialidade dos intérpretes

Apenas um profissional possui formação superior em Letras Libras, 40% são

graduados em áreas diversas e 50% têm apenas o Ensino médio.

O Decreto nº 5.636/2005, Art. 17, determina que a formação do tradutor e intérprete

de Libras – Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e

Intérprete ou Letras Libras. De acordo essa afirmativa, apenas a formação profissional da P8

está em conformidade com essa Lei.

Metade dos profissionais, com nível de escolaridade superior, possui mais

conhecimento em diversas áreas, a formação desses profissionais, seria suficiente, porém, ser

Matemático, Advogado, etc., por si só, não os qualifica para atuarem como intérpretes, faz-se

necessário uma complementação, preferencialmente, a nível universitário, para capacitar, por

exemplo, o professor de matemática para atuar como professor/intérprete, na sala de aula

inclusiva de surdo, em sua área específica de exatas, as outras áreas demandariam

profissionais que se enquadram em cada área. Essa idéia se espelha nas da autora Leite

(2009), que afirma não existir nenhum intérprete capaz de entender de todos os assuntos.

Outra questão importante a considerar é a escassez de profissionais qualificados

adequadamente, em Curso superior de intérprete ou Letras Libras que atendam a demanda,

conforme afirma Leite (2009), existem muitos intérpretes que não tem formação e

qualificação adequada. Sendo assim, As Instituições Governamentais poderiam criar, em

conjunto com as Universidades, programas de formação de intérpretes, com aproveitamento

de profissionais de nível superior e que já atuam na área de educação e/ou interpretação, pois

o Decreto nº 5.636/2005, Art. 17, determina que a formação do tradutor e intérprete de Libras

– Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Intérprete ou

Letras Libras.

A formação de P8 está em conformidade com a legislação. Ele apresenta um excelente

nível de formação profissional, possui, ainda, o certificado de proficiência em Libras,

Prolibras, (Gráfico 04), é completamente, interado com os outros profissionais (Gráfico 09) e

com a comunidade surda, uma vez que é filho de surdos (Gráfico 08).

30

Gráfico 2:- Cursos de formação profissional dos intérpretes

Dentre os intérpretes participantes da pesquisa, 70% frequentaram mais de um curso

de formação profissional, uma intérprete participou apenas de um curso e outra, não

freqüentou nenhum, aprendendo, apenas, através da convivência com sua mãe.

No Decreto nº 5.626/2005, em seu capítulo V, art. 18, regulamenta que a formação do

intérprete e tradutor de Libras – Língua Portuguesa, até 10 anos após publicação dessa lei,

poderá ocorrer em cursos de educação profissional, cursos de extensão universitária ou cursos

de formação continuada. Observa-se que a maioria, dentre os intérpretes, se enquadram nesse

artigo, uma vez que 70% dentre as pessoas pesquisadas fizeram mais de um curso de

educação continuada.

A situação mais crítica é a da P10, pois possui apenas o ensino médio (Gráfico 01) e

não tem curso de formação profissional, aprendeu Libras com a sua mãe surda. Esse intérprete

trabalha no serviço público, completamente, em desacordo com a legislação vigente. Faz-se

necessário um questionamento sobre a atuação desse intérprete no serviço público: quais

serão os critérios de seleção da instituição pública que a contratou, sem apresentar certificado

de curso de formação profissional? Situações como essa ocorrem por falta de profissionais

qualificados para atender a demanda e/ou, em pior caso, a falta de responsabilidade do agente

público que a contratou.

31

Embora, P2 possui formação acadêmica de nível superior (Gráfico 01), sua formação

como profissional intérprete aconteceu por meio de educação profissional (Decreto 5.626,

capítulo V, art. 18). Não possui Prolibras, não participa de eventos e palestras, não se reúne

com outros intérpretes, como consequência, conforme ela própria argumenta em sua resposta

Apêndice C, às vezes se sente insegura em sua prática de interpretar. Essa intérprete precisa se

esforçar para atingir um bom nível de qualificação para melhorar seu desempenho diante da

importância de seu trabalho voluntário.

Observa-se, através dos dados, que P1 possui formação profissional obtida por meio

de cursos profissionalizantes, complementados pela certificação do Prolibras. Participam de

reuniões sindicais, oficinas palestra e eventos. Ele tem bastante experiência profissional em

diversas áreas. No entanto, sua formação é apenas através de cursos profissionalizantes,

complementada pela certificação do Prolibras. Segundo o Decreto nº 5.636/2005, Art. 17, a

formação do tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa deve efetiva-se por meio

curso superior. Desta forma, torna-se evidente seu desnivelamento em relação ao que propõe a

legislação.

O Decreto nº 5.636/2005, Art. 17, determina que formação do tradutor e intérprete de

Libras – Língua Portuguesa deve efetiva-se por meio de curso superior, complementa, em seu

art. 19, que, caso não tenha profissionais com esse perfil para atuar nas escolas, até 10 anos

após a publicação, admite-se profissionais que possuem, além da formação profissional, o

certificado de proficiência em Libras, o Prolibras. De acordo essas afirmativas, a P9 necessita

obter a certificação de proficiência do Prolibras para atuar como intérprete em escola.

32

Gráfico 3 - Participação em cursos de atualização, eventos, palestras, outros.

Entre os intérpretes pesquisados, 50% nunca participaram de nenhum evento e 50%

são participantes assíduos de algum tipo em algum tipo se curso de atualização, eventos,

palestras e oficinas.

Percebe-se que a metade da quantidade dos intérpretes pesquisados promove seu

contínuo desenvolvimento profissional, através da participação em cursos de atualização,

eventos, palestras e outros. Enquanto que, a outra metade, não frequentam nenhuma atividade

que promove o desenvolvimento profissional.

33

Gráfico 4 - Se os intérpretes possuem Prolibras

Apenas duas pessoas possuem certificação do Prolibras, uma de nível superior e outra,

de nível médio. 80% não possuem Prolibras.

O Decreto nº 5.636/2005 determina a formação do tradutor e intérprete de Libras –

Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio curso superior em tradução e interpretação, caso

não tenha profissionais com esse perfil, até 10 anos após a publicação, admite-se profissionais

que possuem, além da formação profissional, o certificado de proficiência em Libras,

fornecidos pelo Prolibras. De acordo essas afirmativas, a maioria, dentre esses intérpretes,

necessita obter a certificação de proficiência em Libras do Prolibras para se adequar a

legislação vigente.

3.2 – Tempo e área de atuação

O tempo de atuação do intérprete representa a experiência profissional. Nessa

profissão a experiência é um dos requisitos mais valorizados para qualificar o trabalho do

intérprete. Em relação à área de atuação, existem diversas que o profissional pode atuar, como

religiosa, educacional, serviço público, dentre outras, em todas essas áreas o tempo de atuação

do profissional é relevante, pois se adquire mais habilidade com as características próprias de

cada área de atuação, podendo o intérprete atuar em diversas áreas, desde que domine os

conhecimentos técnicos necessários a cada área. Neste contexto, o código de ética orienta o

34

profissional a reconhecer seu próprio nível de competência, não aceitando trabalhos em que

não domine o assunto.

CATEGORIA 02

Questiona o tempo de atuação como intérprete, com o objetivo investigar acerca da

experiência profissional, bem como em qual área atua cada profissional. A seguir,

apresentam-se gráficos com as sínteses das respostas, das questões 05 e 06.

Gráfico 5 - Tempo de atuação dos intérpretes

30% dos intérpretes atuam por entre um ano e três anos e a maioria, 70% atuam entre

quatro e seis anos. Esses dados evidenciam que a maioria dos intérpretes possui um bom

tempo de experiência, comparando com tempo de reconhecimento legal da profissão.

P1 e P8 possuem mais tempo de experiência profissional, seis anos cada. Ambas são

engajadas na busca de melhorias profissionais, bem como se mantêm atualizadas para

enfrentar os novos desafios profissionais, as atitudes desses interpretes são participativas,

apresentam excelente nível de formação profissional. A primeira pessoa tem certificação de

proficiência em Libras, nível médio, fornecido pelo Prolibras, além de diversos cursos de

educação profissional, a segunda possui certificado de proficiência em LIBRAS formação

profissional em Letras Libras.

35

GRÁFICO 6 - Área de atuação dos intérpretes

Quatro intérpretes atuam em Igrejas, destes, apenas uma interpreta só na igreja, os

outros atuam também no serviço público, três atuam apenas em escolas, dois apenas no

serviço público, totalizando seis que atuam no serviço público e dois traduzem, também em

outros eventos.

A profissional P3 atua na área de escola, sua formação, como professora de Química,

no entanto, a formação para atuar como intérprete de Libras – Língua Portuguesa, aconteceu

em cursos de formação profissional e não possui certificação do Prolibras. Contrariando o que

determina o Decreto nº 5.626/2005, Art. 17, a formação do tradutor e intérprete de Libras –

Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio curso superior, complementa, em seu art. 19,

que, caso não tenha profissionais com esse perfil para atuar nas escolas, até 10 anos após a

publicação, admite-se profissionais que possuem, além da formação profissional, o certificado

de proficiência em Libras, fornecidos pelo Prolibras.

P4 Atua, também, na área de escola, formação em Pedagogia, a formação para atuar

como intérprete de Libras ocorreu em cursos de formação profissional e não possui

certificação do Prolibras. Contrariando o que determina o Decreto nº 5.636/2005, art. 19, que,

caso não tenha profissionais com esse perfil para atuar nas escolas, até 10 anos após a

36

publicação, admite-se profissionais que possuem, além da formação profissional, o certificado

de proficiência em Libras fornecido pelo Prolibras,

3.3 – Segurança, dificuldades e desafios

Na pretensão desta pesquisa “segurança” significa autoconfiança do intérprete em

relação ao seu próprio trabalho. Objetivou-se investigar se o intérprete se sente preparado para

trabalhar com seu público. As dificuldades estão relacionadas aos fatos que interferem no ato

de traduzir, enquanto que desafios se referem às expectativas de futuro em relação à prática de

tradução e/ou a profissional.

CATEGORIA 03

Nestes questionamentos, objetivou-se saber sobre o nível de segurança em relação ao

desempenho profissional, bem como suas dificuldades e desafios. A seguir, apresenta-se

gráfico com a síntese da resposta, da questão 07.

Grádico7 - Intérpretes que se sentem preparados para interpretar

37

Dentre os intérpretes, que participaram da pesquisa, nove responderam que se sentem

seguros ao interpretar, apenas P4 respondeu que não se sente muito preparada, porém está se

esforçando. Outro intérprete, P5 respondeu que apesar de se sentir seguro, às vezes podem

surgir situações mais difíceis.

A P7 possui formação profissional obtida por meio de cursos profissionalizantes, não

possui complementação com o certificação de proficiência fornecido pelo Prolibras. Não

participa de reuniões com os outros colegas em associações de classes, não freqüenta oficinas

palestra e eventos. Ele tem pouco tempo de experiência profissional e atual em diversas áreas.

Apesar de pouca motivação para as questões relacionadas à profissão e a pouca experiência,

ele se sente seguro com relação ao seu trabalho como intérprete, provavelmente, por ser filha

de surdos, favorece sua atuação, pois utiliza continuamente a Língua Brasileira de Sinais, e

conhece a cultura surda, através da convivência natural com pessoas surdas.

P9 Interpreta em escola, possui formação acadêmica de nível superior em Matemática,

sua formação como profissional como intérprete aconteceu por meio de educação

profissional. Não possui Prolibras, mas participa de eventos e palestras, se reúne com outros

intérpretes, como conseqüência, de um bom perfil profissional, se sente seguro no seu

desempenho profissional, pois tem prazer em ajudar as pessoas surdas e, conseqüentemente,

se sente muito motivado a se atualizar profissionalmente. O fato de não possuir certificação de

proficiência em LIBRAS faz esse profissional atuar com intérprete em sala de aula em

desacordo com o previsto no Decreto 5.626/2005.

Segundo metade dos participantes, quando responderam a questão 08 “Quais são as

dificuldades e desafios para interpretar?”, a maior dificuldade encontrada na profissão é o

fato da pessoa surda ter pouco conhecimento sobre Libras ou não ser alfabetizado em sua

língua materna e/ou na Língua portuguesa. P1 informa como dificuldade a falta de

valorização da profissão, P3 questiona a falta de sinais para sua área de atuação. Dentre os

que atuam na escola, P4 questiona a falta de envolvimento do professor regente, uma vez que

fala rápido e não há interação com o intérprete, P3 e P9 apontam como dificuldade o fato de

interpretar para diversas áreas do conhecimento, como desafio, propõe a especialização do

intérprete por área de conhecimento. Quatro intérpretes reconhecem que o desafio é a

necessidade de se atualizarem profissionalmente. Um considera como desafio a divulgação da

Libra e outra enfatiza a questão da valorização da profissão de intérprete.

38

Uma das dificuldades encontradas por P3 é a falta de existência de sinais para área de

Química, segundo ela o desafio do profissional, que atua na área de Química, é incentivar,

juntamente com a comunidade surda, os sinais para essa área, bem como promover sua

divulgação.

Com relação à atuação do profissional intérprete na escola, Leite (2009), argumenta

que mesmo com a inclusão da Língua de sinais no processo de aprendizagem do aluno surdo

ainda existe o poder ouvinte. Essa afirmativa da autora pode ser comprovada através da

resposta a questão 08, a P4 informa que a professora regente fala rápido e há pouca interação

entre professor regente e intérprete. Relatos como este demonstram a fragilidade da escola

inclusiva, por não conseguir propiciar um ambiente acolhedor, que da oportunidade iguais a

todos.

Em relação às dificuldades encontradas na profissão, P8 compartilha com o argumento

P5, elas relatam a dificuldade em traduzir para diversas áreas do conhecimento.

3.4 – Motivação pela escolha da profissão

A motivação é formada por características comportamentais psicológicas próprias de

cada pessoa. Essas características comportamentais nem sempre são conscientes. Segundo

Makron (1994) a teoria motivacional de Maslow classifica essas características

comportamentais como motivos internos que dão energia, tornam ativos ou move dirige ou

canaliza o comportamento em direção a objetivos. Motivação se relaciona com entendimento

de três coisas, a saber: necessidade, estímulos/impulsos e objetivos. Assim pode-se perceber

os motivos da escolha da profissão intérprete próprio de cada um.

CATEGORIA 04

Através desta categoria, podem-se avaliar os motivos de caráter pessoal para o

interesse em fazer parte de uma comunidade surda, interessando-se por sua cultura, e por

Libras, ou seja, os motivos que os incentivaram na escolha da profissão. A seguir,

apresentam-se as respostas, da questão 09.

39

Gráfico 8 - Motivo da escolha da área de trabalho

40% dos intérpretes se interessaram pela profissão porque são filhos de surdo ou têm

surdo na família, três através da igreja e três por convivência com amigos ou colegas na

escola.

Desperta atenção o fato de 40% dos intérpretes ter se interessado por esta área por

terem familiares surdos. Leite (2009) informa que a existência de intérprete é tão antiga

quanto à existência das pessoas surda, sempre as intermediações ocorreram por meio de

familiares, amigos e religiosos ou pessoas que conviviam com pessoas surdas. Na atualidade,

pode-se constatar, das respostas dos intérpretes, que os motivos que influenciaram na escolha

da profissão de intérprete são os mesmos de antigamente, conforme relatado pela autora.

3.5 – Integração com colegas

O capítulo 4 do código de ética aborda sobre a interação entre os intérpretes, com os

fins de compartilhar informações e se desenvolverem profissionalmente suas habilidades

profissionais. Outra questão importante a investigar na interação dos intérpretes é a

participação em associações de classe, para se organizarem politicamente e a partir daí lutar

pela valorização da profissão.

40

CATEGORIA 05

Por meio desta categoria, investiga-se o envolvimento profissional do intérprete com

os colegas para trocarem idéias acerca da prática de tradução, a fim de se ajudarem

mutuamente, pois compartilhando os saberes e as dificuldades adquirem crescimento

profissional. Avalia, ainda, o interesse do intérprete por associações de classe, com objetivos

de se organizarem politicamente, a fim de obterem melhorias para a profissão de Intérprete. A

seguir apresenta-se gráfico com a síntese das respostas da questão 09.

Gráfico 9 - Integração dos profissionais intérpretes

Dente os intérpretes participantes da pesquisa, 70% se reúnem com outros colegas,

apenas três não se reúne com outros intérpretes. Apenas uma participa de reuniões sindicais,

os outros, que se reúnem, o faz com colegas da área de trabalho.

P2 se envolve pouco em questões relacionadas à melhoria de sua prática profissional,

bem como com as relacionadas às políticas voltadas para melhoria das condições de trabalho

e valorização do profissional intérprete.

Percebe-se que 70% dos intérpretes se reúnem com os colegas. Esse comportamento

evidencia a capacidade associativa dos intérpretes, tanto no que se refere a encontros para

tratar de questões relacionadas a pratica de tradução, como nas relacionadas à valorização da

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profissão de interprete. No último caso citamos P1, que participa das reuniões do sindicato.

Os outros se reúnem para tratar de questões voltadas para o seu próprio desenvolvimento

profissional.

P6 Apresenta pouca mobilização associativa em relação às questões sociais e políticas

demandadas na profissão. A intérprete possui formação acadêmica em nível do ensino médio,

sua formação profissional ocorreu em cursos profissionais, conforme citado no Decreto nº

5.636/2005, art. 18, num período de dez anos após a publicação poderá ocorrer esse tipo de

formação. Atua na área de igreja e serviço público. Apresenta pouca mobilização associativa

quanto às questões sociais e políticas demandadas na profissão.

3.6 – Perfil salarial

A questão salarial é abordada pelo código de ética, deve ser justa, respeitando a tabela

de cada estado, aprovada pela FENEIS, quando não houver fundos para custear o serviço.

Sabe-se que a questão salarial é importante valorizar a profissão, aumentar interesse das

pessoas para se tornar um profissional intérprete, bem como motiva os que já atuam na

profissão a se desenvolverem profissionalmente.

CATEGORIA 06

O objetivo desta categoria é conhecer os neveis salariais da profissão do Intérprete. A

seguir apresenta-se gráfico com a síntese das respostas da questão l0.

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Gráfico 10 - Perfil salarial dos intérpretes

Os intérpretes que trabalham em eventos, palestras, outros, recebem entre R$ 60,00 e

90,00 por hora trabalhada, os demais recebem salários mensais, sendo que três pouco mais de

R$ 800,00 e os que atuam em escolas recebem, aproximadamente, R$ 3.800,00.

Conforme argumentado anteriormente, a profissão de intérprete foi regulamentada em

2005, pelo decreto5626/2005, trata-se de uma profissão recente, talvez por esse motivo, os

salários não são motivadores. Como exemplos, podemos citar os salários de P5, P6 e P7, que

são, aproximadamente, R$ 800,00.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve o objetivo de identificar estratégias para uma política

profissional que atenda as demanda do profissional intérprete. Tendo como premissa o

principal à qualificação profissional e valorização da recente oficializada profissão de

Intérprete de Língua Brasileira de Sinais.

Assim, pode perceber, no decorrer da pesquisa, a necessidade investimento e

incentivos, pelas autoridades políticas competentes, em ações que promovam a formação de

profissionais intérpretes em nível de formação superior.

Em nível de formação dos intérpretes não atendem o nível de qualificação

regulamentados no Decreto nº 5.636/2005, os intérpretes, que atuam em sala de aula, não

possuem formação de intérprete de Libras por meio de curso superior e não possuem o

certificado de proficiência do Prolibras. Muitas vezes, possuem o desejo de desenvolver um

bom trabalho como intérprete não recebeu preparação em sua preparação profissional

adequada.

O Decreto nº 5.636/2005 prevê a presença de intérpretes em salas de aula inclusiva

órgãos e instituições públicas, inclusive em hospitais, porém não existem profissionais

qualificados, em conformidade com a legislação, para atender essa demanda. Evidenciou-se

um, pesquisa um caso uma pessoa interpretar, no serviço público, possuir nenhum curso

formação profissional.

Por outro lado auto nível motivacional dos intérpretes para se atualizarem, no que

depender do interesse, caso haja oportunidade, alcançarão formação superior, conforme

demanda a legislação.

O perfil salarial em toda profissão é um fator diretamente relacionado à valorização

profissional. Observa-se que mesmo havendo carência de profissionais nesta área de

interpretação, os níveis salariais são baixos, considerando os níveis de formação exigidos.

A carência de formação exigida para esses profissionais vem sendo compensada por

muito esforço pessoal, e diversidade de cursos de formação profissional, que demandou longo

período de preparação, dada a quantidade de cursos que fez a maioria dos intérpretes.

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É importante considerar que a profissão de intérprete de libra é recente, não havendo,

ainda, tempo hábil para formação adequada de profissionais, com excelente nível de

formação, qual seja formação superior.

Conclui-se, também, que há urgência da necessidade de elaboração de lei específica

no Distrito Federal, que ampare o profissional intérprete, abrangendo a determinação de

regras para criação de cargo público especificamente para intérprete de Libras, preenchidos

através de concurso público, com exigência da formação adequada, em conformidade com a

lei.

O maior beneficiário em qualquer investimento na ampliação do quantitativo e

qualificação do profissional intérprete é comunidade surda, que terão mais acesso aos serviços

públicos com mais amplitude e qualidade, conseqüentemente. Partindo-se dessa premissa,

ressalta-se que a conquista da cidadania corresponde à autoconsciência, A inclusão da pessoa

surda no processo de inclusão, para aquisição da conquista de seus direitos.

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RREFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação, Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a

Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em 16 maio 2012.

_______. Ministério da Educação, Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005,

Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de

Sinais Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br. Acesso em 18 de maio 2012.

________. Lei n. 12.319, de 1º setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e

Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Diário Oficial da União. Disponível em:

www.planalto.gov.br Acesso em 09 de jun. 2012.

COSTA, Juliana Pellegrinelli Barbosa. O Surdo e as posições do sujeito ontem e hoje:

falta, excesso ou diferença. UNICAMP, 2009.

HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Desenvolvendo a comunicação

usada pelas pessoas com surdez. Ciranda Cultural, 2009.

LACERDA, Cristina B.F.de. Intérprete de LIBRAS: em atuação na educação infantil e no

ensino fundamental. Porto Alegre: Mediação, 2010.

LEITE, Emeli Marques Costa. Os Papéis do Intérprete de LIBRAS na sala de aula

inclusiva, MEC, 2009.

PERLIN, Gládis. STROBEL, Karin, Teorias da Educação e Estudos Surdos. Universidade

Federal de Santa Catarina, 1998.

QUADROS, Ronice Muller de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto

Alegre, 1997.

MAKRON, G. Boog, Manual de Treinamento e Desenvolvimento, São Paulo, 1994.

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RUDIO, Victor (37º Edição), Introdução ao Projeto de Pesquisa Científica. Editora: Vozes,

2010.

SALLES, Heloisa Moreira Lima, Caminhos para a Prática Pedagógica, Brasília, MEC,

2005.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. O tradutor e intérprete de língua brasileira

de sinais e língua portuguesa. 2ºed. Brasília: MEC; SEESP, 2007.

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ANEXO 1

ROTEIRO PARA QUESTIONÁRIO DESTINADO AOS INTÉRPRETES DE LIBRAS

1 - Qual é sua formação/especialidade?

2 – Quais cursos você frequentou para obter sua formação como tradutor/intérprete?

3 - Participam de Cursos de atualização, eventos palestras, outros?

4– Possui Prolibras?

5 – Há quanto tempo atua como intérprete?

6 – Em qual área atua como intérprete?

7 – Você se sente preparada para trabalhar com seu público?

8 – Quais são as dificuldades e desafios para interpretar?

9 - Como você se interessou por essa área de trabalho?

10 – Você se reúne com outros intérpretes para discutir questões relacionadas às práticas de

tradução e/ou os desafios relacionados à profissão?

11 – Quais são os valores monetários cobrados por hora trabalhada?