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Imposto de Renda na tributação - CFC

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81REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE

RBC n.º 213

O impacto da não atualização da base de cálculo do adicional do Imposto de Renda na tributação sobre o lucro das empresas

Piero HolzBacharel em Ciências Contábeis pela Ufes, atua como profissional da contabilidade na empresa escritório contábil D'Paschoal. Atu-almente, é chefe dos setores Contábil e Fiscal.

Márcia Cristina MacielMestre em Ciências Contábeis pela Fucape, atualmente é professora efetiva do Departa-mento de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Espírito Santo, atuando nas áreas de Contabilidade Societária e Tributária. Pos-sui experiência em consultoria tributária, roti-nas contábeis e controladoria.

O objetivo dessa pesquisa foi verificar o impacto da não atualização do valor de base de cálculo do adicional do Imposto de Renda sobre a tributação dos

lucros das empresas brasileiras. Para tanto, foram analisadas 185 empresas de capital aberto disponíveis no sistema Economática®, no período de 1997 a 2013. Fez-se necessário criar uma métrica para determinar o lucro tributário, visto que algumas informações são resguardadas por lei por meio do sigilo fiscal. Para a atualização da base de cálculo do adicional do Imposto de Renda, foram considerados três índices: IGP-M, IPCA e Selic. Nos cálculos realizados, foi possível identificar que as empresas brasileiras estão sofrendo impactos negativos em relação ao valor devido do IR, sendo que, na amostra, as empresas de grande porte foram as que apresentaram maiores resultados. Assim, com as evidências encontradas, foi possível mencionar que em todos os índices há diferenças, porém, considerando índices que refletem a inflação do País, o IGP-M seria o índice que apresentaria maiores valores para uma nova base do adicional do IR e, com isso, as empresas conseguiriam uma redução maior no Imposto de Renda devido.

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RBC n.º 213RBC n.º 213

1. Introdução

O Instituto Brasileiro de Plane-jamento e Tributação (IBPT) apre-sentou que, nos últimos dez anos, o Brasil aumentou o valor total de tributos arrecadados nas três es-feras de Governo (federal, esta-dual e municipal), passando de R$553.179 milhões em 2003 (sem correção), para R$1.759.593 mi-lhões em 2013 (IBPT, 2013).

Já a Receita Federal do Brasil (RFB), divulgou que, no período de janeiro a dezembro de 2013, o to-tal da arrecadação das receitas fe-derais foi de R$ R$1.138.326 mi-

lhões. Tal valor equivale a um aumento de 4,08% em re-

lação ao mesmo período de 2012, a justado

pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) (RFB, 2014). Espera-se que, para 2014, esse crescimento continue baseado nos indicadores da economia e em uma permanência das lucrativida-des das empresas.

De acordo com a expectativa da RFB (2014), de que as empre-sas tenham uma maior lucrativida-de, pressupõe-se que, consequen-temente, elas tenham que recolher uma maior tributação, incluindo o Imposto de Renda (IR) e a Contri-buição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL). Um ponto que pode corro-borar o aumento da arrecadação é o crescimento do faturamento das pequenas e médias empresas, fato esse apresentado pelo Portal Bra-sil (2013), ao demonstrar que, em 2010, elas tiveram aproximada-mente 10,7% de aumento em re-lação a 2009.

Porém, o Ban-co Central do Brasil (BCB) apresentou que

a meta para a infla-ção anual do período de 1999 até 2013, em média, era 5,23%, mas,

a inflação real brasileira atingiu uma média anual de 6,65% no mesmo período, fato este que pode influen-

ciar a compo-sição do fa-t u r a m e n t o das empresas (BCB, 2014). Ainda segundo

o BCB, o Produ-to Interno Bruto

(PIB) do País teve, no mesmo perío-

do, um crescimento médio anual de 3,3%. Assim, com base no cres-cimento do PIB e da inflação, esses indicadores podem sugerir que os faturamentos das empresas sofram com os impactos destes índices.

Segundo Costa, Lopes e Cos-ta (2006), o Brasil é um país que possui um sistema legal classifica-do como code-law, sendo que um dos fatores para essa classificação é a ligação muito próxima entre as contabilidades fiscais e societárias, e, por assim ser classificado, per-cebe-se uma forte influência da le-gislação tributária nas decisões das empresas.

Entre os diversos tipos de tri-butos e contribuições existentes no Brasil, a presente pesquisa teve como foco apresentar a carga tri-butária que se refere à tributação sobre o lucro, que é apresentada, segundo o Art. 218 do Regulamen-to do Imposto de Renda de 1999 (RIR/99), como o imposto que pro-vém dos resultados obtidos pelas entidades ou nas operações ou ati-vidades estranhas à sua finalida-de, e que surgem na medida em que os rendimentos, ganhos e lu-cros forem sendo auferidos (BRA-SIL, 1999).

Ainda no RIR/99, o Art. 219 de-termina que existem diferentes ba-ses para o cálculo da tributação sobre o lucro: o lucro real, o pre-sumido ou o arbitrado, sendo que eles devem corresponder ao seu período de apuração. No entanto, as microempresas e as empresas de pequeno porte possuem a opção de um regime diferenciado de tri-butação, que é o Simples Nacional, no qual a tributação sobre o lucro,

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assim como outros tipos de tributa-ção, possui sua base de cálculo so-bre o faturamento (BRASIL, 2006).

Dentre as possibilidades de ba-ses de cálculo para a tributação so-bre o lucro, apresentadas acima, o lucro real, que é a base de cálculo para as empresas que optam pelo regime de tributação Lucro Real, foi o escolhido como base para de-senvolvimento da presente pesqui-sa por ser o que mais aproxima a contabilidade societária da conta-bilidade tributária, como pode ser visto a seguir.

Essa aproximação da contabi-lidade societária com a contabili-dade tributária se dá pelo fato de que, no Lucro Real, a base de cálcu-lo da tributação sobre o lucro tem origem nas informações advindas da Demonstração do Resultado do Período (DRP), ou seja, da contabili-dade societária (BRASIL, 1999). Ma-ciel (2012) corrobora dizendo que, para as empresas que optam pelo Lucro Real, a apuração da base de cálculo da tributação sobre o lucro é realizada por meio do Lalur (Livro de Apuração do Lucro Real). Nele devem ser feitos os ajustes necessá-rios previstos no Decreto 3.000/99 (BRASIL, 1999) e os advindos do processo de convergência (Lei n.º 11.941/2009).

O processo de convergência, apontado por Maciel (2012), diz respeito à transição das normas brasileiras para o padrão contá-bil internacional, a partir da Lei n.º 11.638/2007. Dessa forma, se-gundo Torres (2013), para garantir a neutralidade tributária durante esse período de transição, a Lei n.º 11.941/2009 instituiu o Regime Tri-butário de Transição (RTT).

Porém, vale destacar que, de acordo com a Medida Provisória (MP) 627/13, convertida na Lei n.º 12.973/2014, o processo transitó-rio de convergência, representado pelo RTT, foi revogado e agora as alterações na contabilidade advin-

das das normas internacionais se-rão feitas, também, no Lalur (BRA-SIL, 2014).

O Art. 228 do RIR/99 (BRASIL, 1999) apresenta a forma e o per-centual a ser aplicado sobre o lucro tributável para o cálculo do Impos-to de Renda:

Art. 228. O imposto a ser pago mensalmente na forma desta Seção será determinado mediante a apli-cação, sobre a base de cálculo, da alíquota de quinze por cento (Lei n.º 9.430, de 1996, Art. 2º, § 1º).Parágrafo único. A parcela da base de cálculo, apurada mensalmente, que exceder a vinte mil reais ficará sujeita à incidência de adicional do imposto à alíquota de dez por cento (Lei n.º 9.430, de 1996, Art. 2º, § 2º).

Deste artigo, destaca-se que o valor de vinte mil reais mensais para o cálculo do adicional do IR, que foi determinado no ano de 1996 pela Lei n.º 9.430, permanece o mesmo até o ano de 2014. Vale destacar que, neste mesmo perío-do, a inflação brasileira teve uma média de crescimento anual de 6,65% conforme apresentado pelo Banco Central (BCB, 2014).

Devido a essa não atualização do RIR/99, chega-se ao questiona-mento: Qual o impacto da não atualização da base de cálculo do adicional do Imposto de Renda, proposto no Art. 228 do RIR/99, na tributação sobre o lucro das empresas?

Assim, o objetivo deste traba-lho é verificar, de acordo com os re-sultados obtidos por meio dos da-dos levantados e índices propostos, qual o impacto de uma possível atualização do valor determinado no RIR/99 na redução nos valores da tributação sobre o lucro em em-presas. Tal impacto será verificado, também, para diferentes portes de empresas e, para isso, serão utiliza-dos três índices diferentes.

2. Desenvolvimento

2.1 Definições conceituais2.1.1 Tributação Sobre o Lucro

Segundo o RIR/99, Art. 146, são contribuintes do imposto as pessoas jurídicas e as empresas individuais. Para efeitos desta pesquisa, foram escolhidas as empresas que têm como regime de tributação o Lucro Real, que é definido segundo o Art. 247 do RIR/99 como “o lucro líqui-do do período de apuração ajusta-do pelas adições, exclusões ou com-pensações prescritas ou autorizadas por este Decreto” (BRASIL, 1999).

Com o fim de obter o lucro que determina o RIR/99, as empresas de-vem utilizar o lucro contábil apre-sentado na Demonstração do Resul-tado do Período (DRP) como base. O item 5 do Pronunciamento Técni-co CPC 32 apresenta que o resulta-do contábil é o lucro ou prejuízo do período antes da dedução da tribu-tação sobre o lucro. Já o lucro tri-butável ou prejuízo fiscal é o resul-tado do período que deve obedecer às regras estabelecidas pelas auto-ridades tributárias. Apresenta, ain-da, que os valores obtidos pelas di-ferenças temporárias entre o lucro societário e o fiscal do período de-verão ser contabilizados como ati-vos e passivos diferidos (CPC, 2009).

Após os ajustes, faz-se neces-sário seguir a legislação vigente e aplicar as regras e alíquotas pro-postas para a CSLL e o IR. A Lei n.º 7.689/1988 determina que a alíquo-ta para a CSLL é de 15% para as ins-tituições financeiras, de seguros pri-vados e capitalização, e de 9% para as demais empresas. A referida lei estipula, ainda, que a apuração des-ta contribuição deve acompanhar a forma de tributação do lucro adota-da para o IRPJ (BRASIL, 1988).

Já para o IR, o RIR/99 determi-na que as empresas devem apurá-lo com base no lucro auferido, tendo alíquotas de 15% para empresas em geral e de 6 % para as concessioná-

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rias de serviços públicos de energia elétrica e telecomunicações, empre-sas de saneamento básico e trans-portes coletivos de passageiros. Além da alíquota do IR, foi estabelecido um adicional de 10% sobre a parce-la do lucro que exceder R$20.000,00 por mês (BRASIL, 1999).

2.1.2 Adicional de alíquota de IR de 10%

Em 27 de dezembro de 1996, foi sancionada a Lei n.º 9.430 que dispõe sobre a legislação tributária federal, com vigência para 1º de ja-neiro de 1997. Em seu Art. 1° foi de-terminado que o recolhimento do Imposto de Renda deverá ser feito por meio do lucro real, presumido ou arbitrado, tendo como alíquota base quinze por cento (15%) sobre a base de cálculo (BRASIL, 1996).

A mesma lei traz, em seu Art. 4º, que a parcela da base de cálculo que exceder vinte mil reais mensais deverá ser tributada adicionalmen-te a uma alíquota de dez por cento:

§ 1º A parcela do lucro real, presu-mido ou arbitrado, que exceder o valor resultante da multiplicação de R$20.000,00 (vinte mil reais) pelo número de meses do respectivo pe-ríodo de apuração, sujeita-se à inci-dência de adicional de Imposto de Renda à alíquota de dez por cento.

O adicional do IR, proposto pela Lei n.º 9.430/1996, substitui o valor estabelecido pelo Art. 39 da Lei n.º 8.981/1995:

O lucro real ou arbitrado da pessoa jurídica estará sujeito a um adicional do Imposto de Renda à alíquota de:I - doze por cento sobre a parce-la do lucro real que ultrapassar R$180.000,00 até R$780.000,00;II - dezoito por cento sobre a par-cela do lucro real que ultrapassar R$780.000,00; III - doze por cento sobre a parce-la do lucro arbitrado que ultrapassar

R$15.000,00 até R$65.000,00;IV - dezoito por cento sobre a parce-la do lucro arbitrado que ultrapassar R$65.000,00. (BRASIL, 1995)

Cabe ressaltar que, antes da determinação do adicional do IR, a alíquota desse imposto era de 25% sobre a base (BRASIL, 1992). Dessa forma, pode-se observar que o percentual da alíquota reduziu, mas foi justamente a diferença des-sa redução que constituiu o adicio-nal do IR atual.

A Tabela 1 apresenta um exem-plo de cálculo do Imposto de Renda, de acordo com a legislação vigente.

No exemplo, o lucro tribu-tável anual da empresa foi de R$249.000,00. Após serem feitos os ajustes necessários (adições e exlu-sões), foi encontrado o lucro tribu-tário de R$250.000,00. Sobre esse valor aplica-se a alíquota de 15%, gerando um IR de R$37.500.00.

Como o lucro tributário foi su-perior aos R$240.000,00 determi-nado pelo RIR/99 para cálculo do adicional IR, subtraiu-se do valor au-ferido o valor base, e, assim, foi en-contrado R$10.000,00. Sobre esse resultado aplicou-se o percentual de 10% proposto pelo RIR/99, gerando R$1.000,00 de adicional de IR.

Assim, o valor total do IR de-vido é de R$38.500,00, ou seja, R$37.500,00 de IR + R$1.000,00 de adicional.

2.1.3 Porte das empresasPara se conhecer a sistemática

de cálculo dos tributos, faz-se ne-cessário entender o porte da em-presa. No Brasil, há diversas defini-ções de porte de empresas, porém com fins específicos. Como exem-plos destaca-se a Lei Complemen-tar 123/2006, que visa a definição das micros e pequenas empresas e a definição do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas empre-sas (Sebrae), que utiliza o número de funcionários.

Dessa forma, para atender a in-tenção da pesquisa, foram utiliza-dos parâmetros com base na le-gislação fiscal e societária, como demonstrado no Quadro 1.

No Quadro 1, pode-se verifi-car que as empresas que auferirem receita bruta até R$3.600.000,00 serão consideradas como micro-empresas e empresas de peque-no porte, por assim estar defini-do na Lei complementar 123/2006 (BRASIL, 2006). Já a definição para grande porte pode ser encontra-da na Lei n.º 11.638/2007, que es-tabelece que são aquelas que au-ferirem receita bruta superior a R$300.000.000,00 (BRASIL, 2007). Na ausência de base legal para a definição de médio porte para as empresas, esta pequisa considerou que as empresas não enquadradas como microempresa, empresa de pequeno porte ou grande porte, serão de médio porte.

Destaca-se a existência de uma relação entre a receita das empresas e seu lucro, conforme Guerra, Ro-cha e Corrar (2007), o que reforça a análise desta pesquisa por diferen-tes portes de empresa. Os autores evidenciaram que essa sensibilidade do lucro em relação à receita depen-derá de sua estrutura de custos, as-pecto que não será abordado nesta pesquisa.

2.2.4 Índices e Desenvolvimento do País

Segundo o BCB (2014), o Brasil tem tido um aumento médio anu-al do PIB de 3,3% e a inflação real tem alcançado a média anual de 6,65%, assim, é possível analisar que o governo utiliza diversos índi-ces como ferramenta de avaliação e controle dos fatores macroeconô-micos do País.

A Advanced Financial Network Brasil (ADVFN, 2014) apresenta as definições dos principais índices econômicos utilizados pelo Bra-sil, sendo eles usados nos cálculos

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Tabela 1 – Exemplo do cálculo anual do IRLucro Contábil -R$ 249.000,00

Imposto de Renda(+) Adições -R$ 2.000,00

(-) Exclusões -R$ 1.000,00 Alíquota Valor(=) Resultado Tributário -R$ 250.000,00 15% R$ 37.500,00*Limite para Adicional -R$ 240.000,00 * Valor considerando 12 mesesBase Para Adicional -R$ 10.000,00 10% R$ 1.000,00

Total a Recolher R$ 38.500,00* Valor anual de limite para não incidência do adicional. O valor foi encontrado pela multiplicação do valor mensal de R$20.000,00 pelo número de meses do período, no caso 12 meses.

Quadro 1– Definição do Porte das EmpresasPorte Receita bruta Base Legal

Microempresa e empresa de pequeno porte Até R$ 3.600.000,00 Lei Complementar 123 de 2006.

Médio porte Entre R$ 3.600.000,01 e R$ 300.000.000,00 –

Grande porte Acima de R$ 300.000.000,00 Lei n.º 11.638 de 2007.

dos mais diversos tipos de situa-ções econômicas, como contratos, reajuste de preços, cálculos, acom-panhamento de indicadores macro-econômicos, entre outros, e seus dados são coletados por meio de diversas instituições e órgãos.

Dentre esses índices, destaca-se, para o desenvolvimento do presen-te, o Índice Geral de Preços do Mer-cado (IGP-M). Segundo a ADVFN (2014), o IGP-M é calculado mensal-mente pela Fundação Getúlio Vargas e divulgado a cada final de mês de referência. Funciona como um in-dicador da movimentação dos pre-ços e é o índice utilizado para rea-justes de contratos de aluguéis e de aumentos de energia elétrica; o Ín-dice de Preços ao Consumidor Am-plo (IPCA) é um índice produzido pelo Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) e é utilizado pelo Governo federal como indica-dor para verificar metas inflacioná-rias; e o Sistema Especial de Liquida-ção e de Custódia (Selic), conhecido como taxa Selic, representa a taxa básica de juros da economia do País, sendo utilizada pelo mercado como referência para o cálculo de demais taxas de juros, além de ser instru-mento para estabelecer a política monetária brasileira (ADVFN, 2014).

A escolha dos índices foi devida a suas aplicabilidades: o IGP-M, por ser utilizado para ajustes de diver-sos tipos de contratos e serviços. O IPCA, por ser o índice que serve para calcular as metas inflacionárias do País, e a taxa Selic por ser o índice utilizado para o cálculos dos tribu-tos federais.

2.2 Pesquisas anterioresPara Salvador (2011), as empre-

sas têm apresentado preocupação com a carga tributária brasileira e, cada vez mais, buscam um plane-jamento tributário. Assim, faz-se necessário conhecer a legislação tributária para tentar amenizar os impactos dos impostos em seus re-

sultados. Dentro dessa necessidade de conhecer a legislação tributária, as empresas esbarram na desatuali-zação dos valores propostos nas leis vigentes para cálculos dos tributos.

Delefrate (2009) realizou um es-tudo em empresas com a tributa-ção do lucro presumido do setor de agronegócio, objetivando verificar o impacto de fatores inflacionários em seus lucros. O autor destacou que o crescimento do setor, aliado à inflação do período de 2003 a 2006, pode ter gerado um valor aproxima-do de R$800 mil reais recolhidos a mais, só de adicional de Imposto de Renda às empresas que foram obje-to da pesquisa. Fato este, por não haver na legislação tributária federal a possibilidade de atualização dos valores previstos no RIR/99.

Outro fator que gera discussão em relação à tributação sobre os lu-cros, segundo Stankevicius (2009), é a possível reforma tributária, pois para ele a legislação brasileira é “arcaica”. O autor destaca que, no ano de 2009, o deputado federal Arnaldo Faria Sá, com o apoio do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Asses-soramento, por meio de Perícias, In-formações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon), apresentou um projeto de Lei que visava atualizar

a defasagem da legislação tributá-ria brasileira, que está em vigor des-de 1995 por meio da Lei n.º 9.249. Como ponto importante dessa atu-alização, é apresentada a propos-ta de atualização dos valores de R$20.000,00 mensais do adicional de imposto de renda. No estudo apresentado, ele utilizou o índice IPCA para a atualização, e o resul-tado obtido foi um percentual de aumento de 118,50%, o que eleva-ria o valor para cálculo do adicional para R$43.700,00 mensais.

Sobre o Projeto de Lei n.º 6308/2009, foi aprovado em 13/6/2012, por unanimidade, o pa-recer da Comissão de Finanças e Tri-butação (CFT) apontando incompa-tibilidade e inadequação financeira e orçamentária ao projeto. Contra essa apreciação da CFT, o autor do projeto apresentou um recurso, em 2/7/2012, sendo essa a última ação legislativa até então.

Após esse projeto, em 2013, o deputado Alceu Moreira apresen-tou outro Projeto de Lei sob o nú-mero PL 6174/2013. O projeto su-gere que a atualização do limite para o não pagamento do adicio-nal seja atualizado pelo IGP-M e, com isso, o valor mensal passaria de R$20.000,00 para R$82.902,60. Destaca-se que esse projeto en-

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contra-se em tramitação conclusi-va. Dessa forma, essa pesquisa vem apontar o impacto do congelamen-to desse valor até o ano de 2013.

Assim, com essa possível atua-lização, pode-se verificar que em-presas que aufiram lucros acima de R$20.000,00 mensais pode-riam se beneficiar de forma signi-ficativa. A presente pesquisa visa contribuir para esse debate, pois, diferente de Stankevicius (2009), que se baseou em um projeto de lei de 2009, utilizando apenas de um índice econômico, sem utilizar amostras de empresas na análise dos impactos da não atualização da legislação que rege o IR, a pre-sente pesquisa buscou aplicar uma possível atualização no valor pro-posto pelo RIR/99 para cálculo do adicional do IR, por meio do acu-mulado de três índices diferentes a partir do ano 1997 até 2013.

A pesquisa buscou, também, apresentar que não somente as empresas que possuem o regime tributário do lucro presumido de um setor específico, como no es-tudo do Delefrate (2009), podem estar sofrendo com uma carga tri-butária maior, devido aos impactos inflacionários em seus lucros.

3. Metodologia

3.1 Estratégia de pesquisaA fim de analisar o impacto da

não atualização do RIR/99, no que diz respeito ao valor mensal de vinte mil reais que ultrapassar o lucro tri-butável para o cálculo do adicional do IR, foi necessário encontrar, jun-to às demonstrações contábeis dos exercícios de 1997 até 2013 das em-presas da amostra, a receita bruta, o Lucro Antes do Imposto de Renda (LAIR), as despesas com IR/CS e fazer as estimativas necessárias no intuito de encontrar o lucro tributável.

Houve a necessidade de es-timar o lucro tributável, pois, de

acordo com o Art. 3º da Portaria 2.166/2000, “são protegidas por sigilo fiscal as informações obtidas em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a na-tureza e o estado de seus negócios ou atividades”.

Para encontrar a base de cálcu-lo da tributação sobre o lucro, fo-ram considerados como IR os valo-res das contas de IR/CS disponíveis nas demonstrações das empresas e Lair, como o lucro tributável. Para a aplicação da métrica foi utilizado o limite de 20 mil reais multiplicados por 12 meses, já que as demonstra-ções utilizadas foram as anuais:

IR = (LT * 24%) + [(LT-240.000)*10%]

IR = 0,24LT + (0,10 (LT – 240.000))

IR = 0,24LT + 0,10LT – 24.000IR = 0,34LT – 24.000

Para determinar o LT foi necessá-rio isolar a variável:

0,34LT – 24.000 = IR0,34LT = IR + 24.000LT = (IR +24.000)/0,34

Onde:• IR é igual aos tributos do impos-

to de renda e da contribuição social. Foram utilizadas as des-pesas de IR/CS correntes uma vez que refletem o imposto re-colhido no período.

• LT equivale ao Lucro Tributário.• Percentuais:∙ 24%éasomados15%doIR

e 9% da CSLL;∙ 10%sãoreferentesàalíquo-

ta do adicional do IR.

Depois de encontrar o valor do lucro tributário das empresas, bus-cou-se atualizar o valor anual de R$240.000,00, conforme previsto no RIR/99 para o cálculo do adicio-nal do imposto de renda.

Para tanto, foi aplicado o IGP--M acumulado desde janeiro de 1997, data de vigência da Lei n.º 9430/1996 que instituiu o valor de R$20.000,00 mensais para fins de cálculo do adicional do IR, até o mês dezembro de 2013. A mes-ma metodologia foi aplicada para a atualização do valor, segundo o IPCA e a taxa Selic.

3.2 Seleção da amostraA amostra analisada foi de 185

empresas de capital aberto, de diver-sos portes, sendo que a coleta dos dados foi feita no sistema de infor-mações Economática®, de onde fo-ram retiradas as informações neces-sárias das demonstrações contábeis dos exercícios de 1997 até 2013.

Para determinar a amostra, fo-ram aplicados parâmetros para esco-lhas de empresas, sendo: i) empresas que tiveram lucro contábil superior a R$240.000,00 anual; ii) faturamen-to superior a R$3.600.000,00; iii) de-monstrações contábeis divulgadas entre os exercícios de 1997 a 2013.

Em razão de possuir uma alí-quota de CSLL diferente, foram re-tiradas da amostra as empresas que pertencem ao setor financeiro, pois elas inviabilizariam a utilização da métrica estipulada para encontrar o valor do IR. Também foram retira-das as empresas do tipo concessio-nárias de serviços públicos de ener-gia elétrica e telecomunicações, de saneamento básico e de transportes coletivos de passageiros, pois elas, segundo o Art. 541 do RIR/99, pos-suem uma alíquota diferenciada de IR de 6% sobre o lucro inflacionário acumulado até o ano de 1987.

No trabalho, não foram utiliza-das, para fins de amostragem, as empresas consideradas micro e de pequeno porte, pois as mesmas pos-suem incentivos à opção pelo Sim-ples Nacional como regime tributário diferenciado, instituído pela Lei Com-plementar 123/2006. O que justifica o parâmetro de escolha das empre-

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sas que possuem faturamento supe-rior a R$3.600.000,00. Para definição da amostra será utilizado o conceito de médias e grandes empresas defi-nido pela legislação tributária e so-cietária vigente (vide Quadro 1), que toma como base a receita bruta au-ferida pelas empresas.

Assim, foi analisada, nas de-monstrações contábeis, qual a re-ceita bruta auferida no exercício de 2013, de forma a classificar as em-presas da seguinte maneira:

• De R$3.600.000,01 até R$300.000.000,00 – Média Em-presa;

• Acima de R$300.000.000,00 – Grande Empresa.

Para a classificação do porte da empresa, foram coletados os dados no sistema Economática®. Porém, não havia a disponibilidade da in-formação da receita bruta e, portan-to, foi necessário fazer a classifica-ção por meio da receita líquida.

O parâmetro de escolha de em-presas com lucro contábil superior a R$240.000,00 foi indicado para ten-tar captar empresas que poderiam ter impacto com o pagamento do adicional de IR, pois somente acima desse valor anual se tem a sua inci-dência. Já a escolha do período foi feita de modo a captar o tempo em que a referida base está sem atuali-zação (1997 a 2013).

3.3 Impacto da atualizaçãoA atualização, conforme propos-

to pela pesquisa do valor do adicio-nal determinado pelo RIR/99, foi feita por meio do acumulado dos ín-dices IGP-M (Tabela 2), do IPCA (Ta-bela 3) e da Selic (Tabela 4) dos anos de 1997 até o ano de 2013.

Após os devidos cálculos, foram feitas comparações entre os valores encontrados com o intuito de anali-sar os seus impactos nos resultados das empresas e, assim, conseguir jus-tificar os objetivos da pesquisa.

4. Coleta e Análise de Dados

A primeira fase da coleta de da-dos consistiu em segregar as 185 empresas que compõem o total da amostra, a quantidade de empre-sas que continham informações no sistema Economática® e o porte das empresas em cada exercício, pois o número de empresas que divulgaram as informações con-

tábeis é diferente para cada ano. Conforme apresentado acima, na Tabela 5.

Entre 1997 e 2013, houve um aumento na quantidade de em-presas que divulgaram as informa-ções, passando de 22 empresas em 1997, para 104 empresas em 2013, sendo que a maior parte das em-presas analisadas (86,67%) é con-siderada de grande porte.

RBC n.º 213

Tabela 2 – IGP-M acumulado conforme Portal Brasil de 1997 até 2013

ANO 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005IGP-M 7,73% 1,78% 20,10% 9,95% 10,37% 25,30% 8,69% 12,42% 1,20%ANO 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 TOTAL

IGP-M 3,84% 7,74% 9,80% -1,71% 11,32% 5,09% 7,81% 5,52% 146,95%

Tabela 3 – IPCA acumulado conforme Portal Brasil de 1997 até 2013

ANO 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005IPCA 5,22% 1,66% 8,94% 5,97% 7,67% 12,53% 9,30% 7,60% 5,69%ANO 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 TOTALIPCA 3,14% 4,45% 5,90% 4,31% 5,90% 6,50% 5,83% 5,91% 106,52%

Tabela 4 – Taxa Selic acumulada conforme Receita Federal do Brasil de 1997 até 2013

ANO 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005SELIC 22,35% 25,58% 23,02% 16,19% 16,08% 5,53% 7,74% 9,95% 17,56%ANO 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 TOTALSELIC 14,13% 11,25% 11,82% 9,50% 9,37% 11,04% 8,17% 7,92% 227,20%

Tabela 5 – Formação da amostraAno Total Amostra Empresas sem Receitas Empresas sem IR Amostra por Ano1997 185 151 12 221998 185 142 19 241999 185 141 19 252000 185 136 19 302001 185 135 18 322002 185 136 24 252003 185 132 16 372004 185 111 23 512005 185 111 16 582006 185 90 16 792007 185 71 21 932008 185 65 23 972009 185 56 19 1102010 185 53 24 1082011 185 53 24 1082012 185 55 23 1072013 185 61 20 104

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88 O impacto da não atualização da base de cálculo do adicional do Imposto de Renda na tributação sobre o lucro das empresas

RBC n.º 213

Por fim, nas Tabelas 6, 7 e 8, a pesquisa apresenta, em cada um dos índices propostos, a diferença no valor anual da base para o adi-cional do IR, caso este fosse atua-lizado, entre 1997 e 2013. Outro ponto apresentado foi o montante arrecadado a mais pelas empresas da amostra da pesquisa.

Pode-se verificar que, conside-rando os índices que refletem a in-flação, o IGP-M demonstrou o maior impacto por sua atualização. Dessa forma, essa pesquisa corrobora o PL 6174/2013, que sugere a atualiza-ção desse limite por tal índice.

Ou seja, se a base houvesse sido atualizada pelo IPCA, conforme su-geriu o PL 6308/2009, teria ocorri-do uma menor arrecadação de qua-se 30 milhões de reais com base na amostra dessa pesquisa. Já se a atu-alização ocorresse pelo IGP-M, con-forme sugere o PL 6174/2013, essa redução na arrecadação chegaria a mais de 50 milhões de reais.

Em relação ao porte das empre-sas que sofreram os impactos apre-sentados nesta pesquisa, a Tabela 9 apresenta, em porcentagem, qual delas mais sofre com a não atuali-zação do valor de base para o adi-cional do IR. Como pode ser obser-vado na Tabela 9, as empresas de grande porte são as mais afetadas por essa não atualização da base de cálculo do IR. Isso pode ser devido à relação existente entre a receita das empresas com seu lucro, conforme demonstraram Guerra, Rocha e Cor-rar (2007).

Com as evidências encontradas, a pesquisa contribui com Costa, Neto e Costa (2006), que menciona que as empresas sofrem influências dos valores dos tributos nas suas to-madas de decisões. Esse resultado também contribui para que as em-presas fiquem atentas ao valor dos tributos gerados.

Também corrobora a pesquisa de Delefrate (2009), na qual apresentou que empresas com regime de tribu-

tação do lucro presumido estavam sofrendo impactos negativos com a não atualização do adicional do IR. O presente estudo mostrou que, tam-bém, outros regimes de tributação, como o Lucro Real, por exemplo, po-deriam ter recolhidos menos tributos, caso houvesse a atualização proposta no trabalho.

5. Conclusão

Na busca de contribuir com a reforma tributária brasileira, faz-se necessário que os profissionais da contabilidade, empresas e demais contribuintes apresentem informa-ções concretas que façam os nos-sos representantes governamen-

Tabela 6 – Diferença anual da base para o adicional do IR – IGP-MValor anual para base de cálculo do adicional de IR - IGP-M Amostra

Ano Valor Base % Atualização

Valor Atualizado

Diferença Apurada % Empresas Valor arrecadado

a mais1997 240.000,00 7,73% 258.552,00 1.855,20 0,77% 22 40.814,401998 258.552,00 1,78% 263.154,23 2.315,42 0,96% 24 57.885,561999 263.154,23 20,10% 316.048,22 7.604,82 3,17% 25 191.120,562000 316.048,22 9,95% 347.495,02 10.749,50 4,48% 30 296.955,662001 347.495,02 10,37% 383.530,26 14.353,03 5,98% 32 488.002,872002 383.530,26 25,30% 480.563,41 24.056,34 10,02% 25 642.347,222003 480.563,41 8,69% 522.324,37 28.232,44 11,76% 37 1.098.538,492004 522.324,37 12,42% 587.197,06 34.719,71 14,47% 51 1.805.424,712005 587.197,06 1,20% 594.243,42 35.424,34 14,76% 58 2.059.761,912006 594.243,42 3,84% 617.062,37 37.706,24 15,71% 79 2.987.145,662007 617.062,37 7,74% 664.823,00 42.482,30 17,70% 93 4.078.300,802008 664.823,00 9,80% 729.975,65 48.997,57 20,42% 97 4.758.469,692009 729.975,65 -1,71% 717.493,07 47.749,31 19,90% 110 5.279.600,242010 717.493,07 11,32% 798.713,29 55.871,33 23,28% 108 5.988.938,092011 798.713,29 5,09% 839.367,79 59.936,78 24,97% 108 6.533.108,932012 839.367,79 7,81% 904.922,42 66.492,24 27,71% 107 7.181.162,102013 904.922,42 5,52% 954.874,13 71.487,41 29,79% 104 7.506.178,41

Total arrecadado a mais segundo a atualização proposta 50.993.755,30

Tabela 7 – Diferença anual da base para o adicional do IR – IPCAValor anual para base de cálculo do adicional de IR – IPCA Amostra

Ano Valor Base % Atualização

Valor Atualizado

Diferença Apurada % Empresas Valor arrecadado

a mais1997 240.000,00 5,22% 252.528,00 1.252,80 0,52% 22 27.561,601998 252.528,00 1,66% 256.719,96 1.672,00 0,70% 24 41.799,911999 256.719,96 8,94% 279.670,73 3.967,07 1,65% 25 100.176,822000 279.670,73 5,97% 296.367,07 5.636,71 2,35% 30 143.571,892001 296.367,07 7,67% 319.098,43 7.909,84 3,30% 32 268.934,652002 319.098,43 12,53% 359.081,46 11.908,15 4,96% 25 321.519,942003 359.081,46 9,30% 392.476,04 15.247,60 6,35% 37 594.656,542004 392.476,04 7,60% 422.304,21 18.230,42 7,60% 51 947.981,912005 422.304,21 5,69% 446.333,32 20.633,33 8,60% 58 1.204.203,842006 446.333,32 3,14% 460.348,19 22.034,82 9,18% 79 1.762.785,522007 460.348,19 4,45% 480.833,68 24.083,37 10,03% 93 2.312.003,372008 480.833,68 5,90% 509.202,87 26.920,29 11,22% 97 2.616.937,722009 509.202,87 4,31% 531.149,52 29.114,95 12,13% 110 3.229.821,192010 531.149,52 5,90% 562.487,34 32.248,73 13,44% 108 3.461.320,422011 562.487,34 6,50% 599.049,01 35.904,90 14,96% 108 3.913.634,252012 599.049,01 5,83% 633.973,57 39.397,36 16,42% 107 4.254.914,572013 633.973,57 5,91% 671.441,41 43.144,14 17,98% 104 4.530.134,80

Total arrecadado a mais segundo a atualização proposta 29.731.958,95

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89REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE

RBC n.º 213

tais atentarem-se aos impactos e às situações que demonstram que o sistema tributário brasileiro está desatualizado e que ele pode estar gerando reações negativas ao de-senvolvimento dos contribuintes.

Neste trabalho, buscou-se apre-sentar o impacto que a não atualiza-ção do valor do adicional do impos-to de renda, previsto pelo RIR/99, causa no valor dos tributos das em-presas. Assim, foi avaliado, em três índices econômicos diferentes, que os valores encontrados podem ge-rar uma redução significativa nos valores devidos do IR pelas empre-sas. Tal redução seria de 29 a quase 51 milhões de reais, se forem con-siderados os índices que refletem a inflação, e, como forma comparati-va ao índice utilizado pelo Governo para atualização de títulos federais (Selic), essa redução estaria superior a 114 milhões de reais.

Tal redução foi apontada devido à atualização do valor de base do adicional do IR, que, atualmente, é de R$240.000,00. Considerando as propostas de atualização, esse limi-te para pagamento do adicional de IR seria maior, como apontado na Tabela 10.

Ou seja, pela Tabela 10 é possí-vel verificar que, pelos índices que refletem a inflação, os valores men-sais de limite para não pagamen-to do adicional do imposto de ren-da, em vez dos atuais R$20.000,00, seriam R$79.572,84 pelo IGP-M e R$55.953,45 pelo IPCA. Conside-rando como base o valor anual atual do adicional da base do im-posto de renda R$240.000,00, os aumentos verificados pelas atuali-zações seriam, em percentuais, de 297,86% para o IGP-M, 179,77% para o IPCA e 725,76% para a Selic.

Ao analisar a declaração feita pelo Portal Brasil (2013), que as em-presas tiveram um crescimento de 10,7% no faturamento, leva-se a ve-rificar uma possível tendência de que essas migrem para um porte superior.

Devido ao crescimento mencionado do faturamento das empresas, per-cebeu-se que, com a não atualização do adicional do IR, os impactos nos tributos encontrados aumentavam conforme aumentasse o porte das empresas analisadas. Sendo assim, na amostra apresentada, a maior re-presentatividade é para as empresas de grande porte, e, pelos resultados encontrados, ao crescerem, as em-presas estariam sujeitas a um maior impacto pela não atualização da base de cálculo do adicional do IR.

A pesquisa apresentou como limitação a não segregação dos regimes tributários, Real e Presu-mido. Também, não foram consi-deradas, para formação do lucro tributável, a compensação de pre-juízos acumulados e as ocorrências de diferenças permanentes e tem-porárias. Essas questões poderiam influenciar a pesquisa, uma vez que foi necessário estimar o lucro tribu-tário, pois este não é divulgado nas demonstrações. Para tal estimativa, foi utilizada a informação contábil

Tabela 8 – Diferença anual da base para o adicional do IR – SelicValor anual para base de cálculo do adicional de IR – Selic Amostra

Ano Valor Base % Atualização

Valor Atualizado

Diferença Apurada % Empresas Valor arrecadado

a mais1997 240.000,00 22,35% 293.640,00 5.364,00 2,24% 22 118.008,001998 293.640,00 25,58% 368.753,11 12.875,31 5,36% 24 321.882,781999 368.753,11 23,02% 453.640,08 21.364,01 8,90% 25 535.100,202000 453.640,08 16,19% 527.084,41 28.708,44 11,96% 30 820.956,552001 527.084,41 16,08% 611.839,58 37.183,96 15,49% 32 1.242.482,382002 611.839,58 5,53% 645.674,31 40.567,43 16,90% 25 1.071.635,562003 645.674,31 7,74% 695.649,50 45.564,95 18,99% 37 1.757.173,982004 695.649,50 9,95% 764.866,63 52.486,66 21,87% 51 2.729.306,452005 764.866,63 17,56% 899.177,20 65.917,72 27,47% 58 3.789.392,322006 899.177,20 14,13% 1.026.230,94 78.623,09 32,76% 79 6.189.895,532007 1.026.230,94 11,25% 1.141.681,92 90.168,19 37,57% 93 8.618.935,972008 1.141.681,92 11,82% 1.276.628,73 103.662,87 43,19% 97 10.061.004,562009 1.276.628,73 9,50% 1.397.908,46 115.790,85 48,25% 110 12.728.790,452010 1.397.908,46 9,37% 1.528.892,48 128.889,25 53,70% 108 13.744.900,452011 1.528.892,48 11,04% 1.697.682,21 145.768,22 60,74% 108 15.725.964,352012 1.697.682,21 8,17% 1.836.382,85 159.638,28 66,52% 107 17.240.934,742013 1.836.382,85 7,92% 1.981.824,37 174.182,44 72,58% 104 18.194.555,72

Total arrecadado a mais segundo a atualização proposta 114.890.919,99

Tabela 9 – Empresas afetadas por porte – em %Porte das Empresas Média Grande Total* Média de Amostra 17 48 65

% 26,15% 73,85% 100,00%* Média aritmética das empresas no período de 1997 a 2013.

Tabela 10 – Valores da Base do Adicional do IR para o ano de 2014, conforme proposta de atualização

Valor anual do adicional pela

legislação vigenteIGP-M IPCA SELIC

R$ 240.000,00

Valor atualizado

Aumento em %

Valor atualizado

Aumento em %

Valor atualizado

Aumento em %

R$ 954.874,13 297,86 R$ 671.441,41 179,77 R$ 1.981.824,37 725,76

Page 11: Imposto de Renda na tributação - CFC

90 O impacto da não atualização da base de cálculo do adicional do Imposto de Renda na tributação sobre o lucro das empresas

RBC n.º 213

divulgada pelas empresas. Além disso, foi utilizada, para definir o porte da empresa, a receita líqui-da, pois, o sistema Economática® não oferece a informação da recei-ta bruta, conforme determina a Lei complementar 123/2006 e a Lei n.º 11.638/2007.

Outra limitação encontrada é a métrica, pois não foi analisado o

início das atividades das empresas. Assim, foi considerado para cál-culo do adicional do IR o valor de R$240.000,00, ou seja, consideran-do todos os meses do ano.

Com os resultados obtidos e evidências encontradas, o trabalho buscou colaborar com o debate so-bre a necessidade de uma reforma tributária no País, demonstrando

que a carga tributária brasileira é um fator que afeta negativamen-te a maioria das empresas brasilei-ras. Além de contribuir para futuras pesquisas acadêmicas.

Propõe-se que, em futuras pes-quisas, seja feita a mesma análise, considerando os diferentes setores da economia e, até mesmo, percen-tuais individuais de cada empresa.

Referências

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91REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE

RBC n.º 213

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