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Imputabilidade Conceito É a capacidade física, mental e intelectual que o agente deve ter para ser capaz de entender o caráter ilícito de sua conduta, sendo assim, capaz de sofrer pena. Aquele que não é dotado de imputabilidade é chamado INIMPUTÁVEL. Tem dois aspectos: a. caráter intelectivo: consistente na capacidade de entendimento acerca da ilicitude da conduta; b. caráter volitivo: consiste na faculdade de controlar e comandar a própria vontade.

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Imputabilidade Conceito É a capacidade física, mental e intelectual que o agente deve ter para ser capaz de entender o caráter ilícito de sua conduta, sendo assim,  capaz  de  sofrer  pena.  Aquele  que  não  é  dotado  de imputabilidade é chamado INIMPUTÁVEL. Tem dois aspectos:  a. caráter intelectivo:  consistente  na  capacidade  de entendimento acerca da ilicitude da conduta;b. caráter volitivo:    consiste  na  faculdade  de  controlar  e comandar a própria vontade.

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Causa que excluem a imputabilidade a) Doença mental: É  a  perturbação  mental,  cujos  efeitos  impedem  que  o  agente  entenda  o caráter  criminoso do  fato, ou mesmo  impeça de  comandar  sua  vontade.  Ex: Epilepsia  condutopática;  psicose;  neurose;  esquisofrenia;  paranóia; dependência patológica a substâncias psicotrópicas (alcool, drogas, etc.) b) Desenvolvimento mental incompleto O agente teve seu desenvolvimento mental não completado por razões psico-somáticas, externas (silvícolas) ou temporais (adolescentes). c) Desenvolvimento mental retardado O  desenvolvimento  mental  do  agente  é  incompatível  com  o  meio  em  que vive.  Ao  contrário  do  desenvolvimento  mental  incompleto,  na  hipótese  do desenvolvimento  incompleto  o  agente  jamais  será  capaz  de  discernir  a ilicitude  de  sua  conduta.  Pode  ter  vários  níveis,  como  por  exemplo,  a oligrofrênia, os débeis mentais, os imbecis e os idiotas.

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A Embriaguez: Ausência  temporária  de  exclusão  da  culpabilidade  por  intoxicação  causada  por  álcool  ou substância entorpecente. Fasesa) Excitação;b) Depressão;c) Sono. Espécies:Embriaguez não acidental: a.1) dolosa: têm o agente a intenção de alterar seu comportamento.a.2)  culposa:  embora  o  agente  tenha  a  intenção  de  ingerir  bebida  alcoólica,  não  tem  a intenção da  embriagar-se, mas  acaba ficando  ébrio  por  imprudência  na  ingestão  da  bebida alcoólica.b.1) completa: o agente não tem a mínima capacidade de discernir sua conduta.b.2) incompleta: há apenas redução da capacidade de discernimento.c) conseqüência: Há duas correntes, uma entende que jamais poderá ser causa de exclusão da culpabilidade, a outra entende que em determinadas hipóteses pode ser causa de exclusão. 

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Embriaguez acidental:a.1) Caso fortuito: o agente ingere bebida sem saber de seu conteúdo alcoolico, ou mesmo,  perde  a  compreensão  em  virtude  da  ingestão  de  bebida  alcoolica combinada com medicamento, cujo efeito não era previsível.a.2) Força maior: é o caso do agente obrigado a  ingerir álcool.b.1) completa: o agente não tem a mínima capacidade de discernir sua conduta.b.2) incompleta: há apenas redução da capacidade de discernimento.c)  conseqüência:  se  completa,  exclui  da  imputabilidade,  se  incompleta  diminui  a pena de 1/3 a 2/3.

Patológica:É o caso dos alcoólatras e dos dependentes, que se tornam ébrios em virtude de uma vontade incontrolável. Nesta hipótese, há exclusão da imputabilidade. PreordenadaÉ o  caso da  pessoa  que  se  embriaga  para  que  assim possa  praticar  determinada conduta. Além de não excluir a imputabilidade, pode ser causa que agrava a pena.(art. 61, II, l do CP). 

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Emoção e Paixão Não excluem a culpabilidade, embora sejam em alguns casos, hipótese de  diminuição  da  pena  (art.  121,  §  1º;  art.  129,  §  4º)  ou  atenuante genérica (art. 65, III, c). Há,  na  medicina  legal,  casos  em  que  a  paixão  é  causa  de desenvolvimento de doença mental, sendo nestas hipóteses de exclusão da culpabilidade. Semi-imputabilidade É  o  caso  em  que  o  agente  embora  não  seja  mentalmente  retardado, sofre de perturbação mental  (mais amplo que a doença mental). Nesta hipótese, pode o juiz tanto aplicar a pena, reduzindo-a obrigatoriamente (art. 26 do CP), como também substituí-la por medida de segurança.

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POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE

A aplicação da pena ao autor de uma infração penal somente é  justa  e  legítima  quando  ele,  no momento  da  conduta,  era dotado ao menos da possibilidade de compreender o caráter ilícito  do  fato  praticado.  Exige-se,  pois,  tivesse  o  autor  o conhecimento, ou, no mínimo, a potencialidade de entender o aspecto criminoso do seu comportamento, isto é, os aspectos relativos ao tipo penal e à ilicitude.

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CRITÉRIOS PARA DETERMINAÇÃO DO OBJETO DA CONSCIÊNCIA DA ILICITUDEJuan  Córdoba  Roda,  em  trabalho  específico  sobre  o  assunto,1 aponta  três critérios para determinação do objeto da consciência da ilicitude:1)   Critério Formal: desenvolvido por Binding, Beling e von Liszt, proclama ser necessário o conhecimento do agente sobre a violação de alguma norma penal;2)   Critério Material: defendido  por Max  Ernst Mayer  e  Kaufmann,  baseia-se em  uma  concepção  material  do  injusto,  a  qual  exige  o  conhecimento  da antissocialidade, da injustiça e imoralidade de uma conduta ou da violação de um interesse; e3)   Critério Intermediário: originário dos estudos de Hans Welzel, sustenta que o conhecimento da ilicitude não importa em conhecimento da punibilidade da conduta, nem em conhecimento do dispositivo legal que contém a proibição do seu  comportamento.  O  sujeito,  embora  não  seja  obrigado  a  proceder  a  uma valoração de ordem técnico-jurídica, deve conhecer, ou poder conhecer, com o esforço devido de sua consciência, com um juízo geral de sua própria esfera de pensamentos, o caráter ilícito do seu modo de agir. Basta, portanto, a valoração paralela da esfera do profano

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O critério  formal não encontrou acolhimento, pois  somente os  juristas, os  técnicos em Direito Penal, poderiam cometer crimes ou contravenções penais.O critério  material,  bem  mais  rebuscado,  esbarra  na existência de infrações penais de pura criação legislativa, que não  correspondem  ao  conceito  de  injusto  material,  e, inversamente,  em  condutas  reconhecidamente  danosas, embora não tipificadas pelo Direito Penal.Por  esses  motivos,  o  critério  de maior  aceitação é o intermediário. É suficiente um juízo geral acerca do caráter ilícito  do  fato,  e  também  a  possibilidade  de  se  atingir  esse juízo, mediante um simples e exigível esforço da consciência. Em suma, basta o esforço normal da  inteligência do agente para aferição da potencial consciência da ilicitude.

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EXCLUSÃOA potencial consciência da ilicitude é afastada pelo erro de proibição escusável (CP, art. 21, caput).

Erro de proibiçãoFalava-se,  no  Direito  Romano,  em erro  de  direito para  se  referir  à ignorância ou falsa interpretação da lei.Essa  opção  foi  acolhida  pela  redação  original  do  Código  Penal  de 1940, que, sob a rubrica “ignorância ou erro de direito”, dispunha: “A ignorância ou a errada compreensão da lei não eximem de pena”.Com a Reforma da Parte Geral do Código Penal pela Lei 7.209/1984, o  panorama mudou:  o  erro  de  direito,  então  tratado  pelo  art.  16, cedeu espaço ao erro sobre a ilicitude do fato, disciplinado pelo art. 21 e denominado erro de proibição, mais técnico e diverso da mera ignorância ou errada compreensão da lei.

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• Desconhecimento da lei (ignorantia legis)É  peremptório  o  art.  21, caput,  1.ª  parte,  do  Código Penal: “O desconhecimento da lei é inescusável”.Em  igual  sentido,  estabelece  o  art.  3.º  da  Lei  de Introdução  às  Normas  do  Direito  Brasileiro  –  Lei  de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.Em princípio, o desconhecimento da  lei é  irrelevante no Direito Penal. Com efeito, para possibilitar a convivência de todos em sociedade, com obediência ao ordenamento jurídico,  impõe-se  uma  ficção:  a presunção  legal absoluta acerca do conhecimento da lei. Considera-se ser a  lei  de  conhecimento  geral  com  a  sua  publicação  no Diário Oficial.

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Mas a ciência da existência da lei é diferente do conhecimento do seu conteúdo. Aquela se obtém com a publicação da norma escrita; este, inerente ao conteúdo lícito ou ilícito da lei,  somente  se  adquire  com  a  vida  em  sociedade.  E  é  justamente  nesse  ponto  – conhecimento do conteúdo da lei, do seu caráter ilícito – que entra em cena o instituto do erro  de  proibição.  Há  duas  situações  diversas:  desconhecimento  da  lei  (inaceitável)  e desconhecimento do caráter ilícito do fato, capaz de afastar a culpabilidade, isentando o agente de pena. Como define Cezar Roberto Bitencourt:

A ignorantia legis é matéria de aplicação da lei, que, por ficção jurídica, se presume conhecida por todos,  enquanto  o  erro  de  proibição  é  matéria  de  culpabilidade,  num  aspecto  inteiramente diverso. Não se  trata de derrogar ou não os efeitos da  lei, em  função de alguém conhecê-la ou desconhecê-la. A incidência é exatamente esta: a relação que existe entre a lei, em abstrato, e o conhecimento  que  alguém  possa  ter  de  que  seu  comportamento  esteja  contrariando  a  norma legal.  E  é  exatamente  nessa  relação  –  de  um  lado  a  norma,  em  abstrato,  plenamente  eficaz  e válida  para  todos,  e,  de  outro  lado,  o  comportamento  concreto  e  individualizado  –  que  se estabelecerá ou não a consciência da ilicitude, que é matéria de culpabilidade, e nada tem que ver com os princípios que informam a estabilidade do ordenamento jurídico.

Embora estabeleça o art. 21, caput, do Código Penal, ser inescusável o desconhecimento da lei, o elevado número de complexas normas que compõem o sistema jurídico permite a sua eficácia em duas hipóteses no campo penal:

a)   atenuante genérica, seja escusável ou inescusável o desconhecimento da lei (CP, art. 65, II); eb)   autoriza  o  perdão  judicial  nas  contravenções  penais,  desde  que  escusável  (Lei  das Contravenções Penais – Decreto-lei 3.688/1941, art. 8.º).

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• Conceito de erro de proibiçãoO  erro  de  proibição  foi  disciplinado  pelo  art.  21, caput,  do Código Penal, que o chama de “erro sobre a ilicitude do fato”.Varia  a  natureza  jurídica  do  instituto  em  razão  da  sua admissibilidade:  funciona  como  causa  de  exclusão  da culpabilidade,  quando  escusável,  ou  como  causa  de diminuição da pena, quando inescusável.O erro de proibição pode ser definido como a falsa percepção do  agente  acerca  do  caráter  ilícito  do  fato  típico  por  ele praticado, de acordo com um juízo profano, isto é, possível de ser alcançado mediante um procedimento de simples esforço de sua consciência. O sujeito conhece a existência da lei penal (presunção legal absoluta), mas desconhece ou interpreta mal seu conteúdo, ou seja, não compreende adequadamente seu caráter ilícito.

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• Efeitos: escusável e inescusávelNa redação original da Parte Geral do Código Penal, o erro de direito era considerado pelo art. 48, III, uma mera atenuante genérica.Atualmente, porém, o erro de proibição relaciona-se com a culpabilidade, podendo ou não excluí-la, se for escusável ou inescusável.Erro de proibição escusável, inevitável, ou invencível: o sujeito, ainda que no  caso  concreto  tivesse  se  esforçado,  não  poderia  evitá-lo.  O  agente, nada  obstante  o  emprego  das  diligências  ordinárias  inerentes  à  sua condição pessoal, não tem condições de compreender o caráter  ilícito do fato.Nesse caso, exclui-se a culpabilidade, em face da ausência de um dos seus elementos,  a  potencial  consciência  da  ilicitude.  Nos  termos  do  art. 21, caput:“O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena”.Erro  de  proibição  inescusável,  evitável,  ou vencível: poderia  ser  evitado com o normal esforço de consciência por parte do agente. Se empregasse as  diligências  normais,  seria  possível  a  compreensão  acerca  do  caráter ilícito do fato.

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Subsiste a  culpabilidade, mas a pena deve ser diminuída de um sexto a um  terço,  em  face  da menor  censurabilidade  da  conduta.  O  grau  de reprovabilidade do comportamento do agente é o vetor para a maior ou menor  diminuição.  E,  embora  o  art.  21, caput,  disponha  que  o juiz “poderá” diminuir  a pena,  a  redução é obrigatória, pois não  se pode reconhecer a menor censurabilidade e não diminuir a sanção.O critério para decidir se o erro de proibição é escusável ou inescusável é o perfil subjetivo do agente, e não a figura do homem médio.De fato, em se tratando de matéria inerente à culpabilidade, levam-se em conta  as  condições  particulares  do  responsável  pelo  fato  típico  e  ilícito (cultura,  localidade  em  que  reside,  inteligência  e  prudência  etc.),  com  a finalidade de se alcançar sua responsabilidade individual, que não guarda relação com umstandard de comportamento desejado pelo Direito Penal.Lembre-se:  quando  se  fala  em  fato  típico  e  ilicitude,  e  em  todos  os institutos  a  eles  relacionados,  considera-se  a  posição  do  homem médio, pois  se  analisa  o  fato  (típico  ou  atípico,  ilícito  ou  lícito). Questiona-se: O fato  é  típico? O  fato  é  ilícito?  O  que  vale  é  o  fato,  pouco  importando  a pessoa do agente.

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• Critérios para identificação da escusabilidade ou inescusabilidade do erro de proibição

Sabemos  que  o  caráter  escusável  ou  inescusável  do  erro  de proibição deve ser calculado com base na pessoa do agente.O  parágrafo  único  do  art.  21  do  Código  Penal  consagra  esse entendimento, ao estabelecer que “considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da  ilicitude do  fato, quando  lhe  era  possível,  nas  circunstâncias,  ter  ou  atingir  essa consciência”. Esse é o erro de proibição inescusável.A contrario sensu, conclui-se que o erro de proibição escusável, em consonância com o legislador, é aquele em que o agente atua ou se omite  sem a  consciência  da  ilicitude do  fato,  quando não  lhe  era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.Mas  ainda  é  pouco.  Podemos  então  indagar:  Há  critérios  mais seguros  e  específicos  para  a  identificação  do  erro  de proibição inescusável, vencível ou evitável?

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ERRO DE PROIBIÇÃO INESCUSÁVEL, VENCÍVEL OU EVITÁVEL1) O agente atua com uma “consciência profana” acerca do caráter ilícito do fato.

2) O agente atua sem a mencionada consciência profana, quando lhe era fácil atingi-la, nas circunstâncias em que se encontrava, isto é, com o próprio esforço de inteligência e com os conhecimentos hauridos da vida comunitária de seu próprio meio.

3) O agente atua sem a “consciência profana” sobre o caráter ilícito do fato, por ter, na dúvida, deixado propositadamente de informar-se para não ter que evitar uma possível conduta proibida.

4) O agente atua sem essa consciência por não ter procurado informar-se convenientemente, mesmo sem má intenção, para o exercício de atividades regulamentadas.

Sim, existem critérios precisos, fornecidos por Francisco de Assis Toledo, que nos permitem a elaboração de um quadro esquemático:

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• Espécies de erro de proibição: direto, indireto e mandamental

O erro de proibição pode ser direto, indireto e mandamental.No erro de proibição direto, o agente desconhece o conteúdo de uma lei penal proibitiva, ou, se o conhece, interpreta-o de forma equivocada. Exemplos:(1)   O  credor,  ao  ser  avisado  que  seu  devedor  está  de mudança para outro país,  ingressa  clandestinamente  em  sua residência  e  subtrai  bens no  valor  da dívida,  acreditando  ser lícito “fazer justiça pelas próprias mãos”; e(2)   O pescador que intencionalmente, em águas jurisdicionais brasileiras,  molesta  um  cetáceo  (baleia,  por  exemplo),  não sabe  que  comete  o  crime  tipificado  pelo  art.  1.º  da  Lei 7.643/1987, sujeito à pena de reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

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Por  sua  vez,  no  erro  de  proibição indireto,  também  chamado de descriminante putativa por erro de proibição, o agente conhece o caráter ilícito do fato, mas, no caso concreto, acredita erroneamente estar presente uma causa de exclusão da ilicitude, ou se equivoca quanto aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude efetivamente presente. Exemplo: “A”, voltando antecipadamente  de  viagem,  e  sem  prévio  aviso,  encontra  a  esposa  em flagrante  adultério.  Saca  seu  revólver  e  mata  a  mulher,  acreditando  estar autorizado a assim agir pela “legítima defesa da honra”.Finalmente, no erro de proibição mandamental, o agente, envolvido em uma situação de perigo a determinado bem jurídico, erroneamente acredita estar autorizado  a  livrar-se  do  dever  de  agir  para  impedir  o  resultado,  nas hipóteses  previstas  no  art.  13,  §  2.º,  do  Código  Penal.  Só  é  possível  nos crimes  omissivos  impróprios.  Exemplo:  o  pai  de  família,  válido  para  o trabalho, mas  em  situação de  pobreza,  abandona o filho de pouca  idade  à sua  própria  sorte,  matando-o,  por  acreditar  que  nesse  caso  não  tem  a obrigação de por ele zelar.Em  todas essas modalidades  incidem os efeitos previstos no art.  21, caput, do Código Penal: se inevitável o erro de proibição, isenta de pena; se evitável, autoriza a sua diminuição de um sexto a um terço.

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• Erro de proibição e crime putativo por erro de proibiçãoErro de proibição e crime putativo por erro de proibição não se confundem.No erro de proibição o sujeito age acreditando na licitude do seu  comportamento,  quando  na  verdade  pratica  uma infração penal, por não compreender o caráter ilícito do fato.Já  no crime  putativo  por  erro  de  proibição,  ou delito  de alucinação,  erro  de  proibição,  o  agente  atua  acreditando que  seu  comportamento  constitui  crime  ou  contravenção penal, mas, na realidade, é penalmente irrelevante. Exemplo: o pai mantém relações sexuais consentidas com a filha maior de  18  anos  de  idade  e  plenamente  capaz,  acreditando cometer  o  crime  de  incesto,  fato  atípico  no  Direito  Penal pátrio.

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• ERRO DE TIPOErro  de  tipo  é  a  falsa  percepção  da  realidade  acerca dos elementos  constitutivos  do  tipo  penal.  Extrai-se  essa conclusão  do  art.  20, caput, do  Código  Penal,  que  somente menciona  as  elementares.  É  o  chamado erro  de  tipo essencial. Exemplo:  “A”,  no  estacionamento  de  um shopping center, aperta  um  botão  inserido  na  chave  do  seu  automóvel, com a finalidade de desativar o alarme. Escuta o barulho, abre a porta do carro, coloca a chave na  ignição,  liga-o e vai para casa. Percebe, posteriormente, que o carro não lhe pertencia, mas foi confundido com outro, de propriedade de terceira pessoa.Nesse  caso,  “A”  não  praticou  o  crime  de  furto,  assim  definido: “Subtrair, para  si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Reputava sua a coisa móvel pertencente a outrem. Errou, portanto, sobre a elementar  “alheia”,  pois  o  instituto  impede  o  agente  de compreender o aspecto ilícito do fato por ele praticado.

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Para Damásio  E.  de  Jesus,  contudo,  erro  de tipo  é  o  que  incide  sobre  elementares e circunstâncias da figura típica, tais como qualificadoras e agravantes genéricas. Em sua ótica,  também  estaria  configurado  o  erro  de  tipo  quando,  por  exemplo,  o  sujeito, desconhecendo a relação de parentesco, induz a própria filha a satisfazer a lascívia de outrem.  Responderia,  no  caso,  pela  forma  típica  fundamental  do  art.  227  do  Código Penal, sem a qualificadora do § 1.º.Consequentemente, para essa posição o erro de tipo não se limita a impedir o agente de compreender o caráter ilícito do fato praticado, mas também das circunstâncias que com o fato se relacionam.15.4.1. Erro de tipo e crimes omissivos imprópriosNos crimes omissivos impróprios, também chamados de crimes omissivos espúrios ou comissivos por omissão, o dever de agir, disciplinado no art. 13, § 2.º, do Código Penal, funciona como elemento constitutivo do tipo.Destarte, nada  impede a  incidência do erro de tipo em relação ao dever de agir para evitar o  resultado,  levando-se em conta a  relação de normalidade ou perigo do  caso concreto. Em síntese, é cabível o erro de tipo na seara dos crimes omissivos impróprios. Exemplo: O salva-vidas avista um banhista se debatendo em águas rasas de uma praia e, imaginando que ele não estava se afogando (e sim dançando, brincando com outra pessoa  etc.),  nada  faz.  Posteriormente,  tal  banhista  é  retirado  do mar  sem  vida  por terceiros.  Nessa  hipótese,  é  possível  o  reconhecimento  do  instituto  previsto  no  art. 20, caput, do Código Penal, aplicando-se os efeitos que lhe são inerentes.

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• ESPÉCIESO erro de tipo essencial pode ser escusável ou inescusável.1)  Escusável,  inevitável,  invencível  ou  desculpável: é  a modalidade de erro que não deriva de culpa do agente, ou seja, mesmo  que  ele  tivesse  agido  com  a  cautela  e  a  prudência  de um homem  médio,  ainda  assim  não  poderia  evitar  a  falsa percepção da realidade sobre os elementos constitutivos do tipo penal.2) Inescusável, evitável, vencível ou indesculpável: é a espécie de erro que provém da culpa do agente, é dizer, se ele empregasse a cautela e a prudência do homem médio poderia evitá-lo, uma vez que seria capaz de compreender o caráter criminoso do fato.A natureza do erro (escusável ou inescusável) deve ser aferida na análise  do  caso  concreto,  levando-se  em  consideração  as condições em que o fato foi praticado.

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• EFEITOSO  erro  de  tipo,  seja  escusável  ou  inescusável, sempre  exclui  o  dolo. De  fato, como o dolo deve abranger todas as elementares do tipo penal, resta afastado pelo  erro  de  tipo,  pois  o  sujeito  não  possui  a  necessária  vontade de  praticar integralmente a conduta tipificada em lei como crime ou contravenção penal.Por essa razão, Zaffaroni denomina o erro de tipo de “cara negativa do dolo”.Nada  obstante,  os  efeitos  variam  conforme  a  espécie  do  erro  de  tipo. O escusável exclui o dolo e a culpa, acarretando na  impunidade total do fato, enquanto  o inescusável exclui  o  dolo,  mas  permite  a  punição  por  crime culposo, se previsto em lei (excepcionalidade do crime culposo). Nesse último o agente age de forma imprudente, negligente ou imperita, ao contrário do que faz no primeiro.Excepcionalmente,  todavia,  pode  acontecer  de  o  erro  de  tipo, ainda  que escusável, não excluir a criminalidade do fato. Esse fenômeno ocorre quando se opera a desclassificação para outro crime. O exemplo típico é o do particular que  ofende  um  indivíduo  desconhecendo  a  sua  condição  de  funcionário público.  Em  face  da  ausência  de  dolo  quanto  a  essa  elementar,  afasta-se  o crime de desacato (CP, art. 331), mas subsiste o de injúria (CP, art. 140), pois a honra do particular também é tutelada pela lei penal.

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• ERRO DE TIPO E CRIME PUTATIVO POR ERRO DE TIPOEm  que  pese  a  proximidade  terminológica,  os  institutos não se confundem.No erro de tipo o  indivíduo, desconhecendo um ou vários elementos  constitutivos,  não  sabe  que  pratica  um  fato descrito em lei como infração penal, quando na verdade o faz.Já  o crime  putativo  por  erro  de  tipo,  ou delito  putativo por erro de tipo, é o imaginário ou erroneamente suposto, que  existe  exclusivamente  na mente  do  agente.  Ele  quer praticar  um  crime, mas,  por  erro,  acaba por  cometer  um fato penalmente  irrelevante.  Exemplo:  “A” deseja praticar o  crime  de  tráfico  de  drogas  (Lei  11.343/2006,  art. 33, caput), mas por desconhecimento comercializa talco.

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• DESCRIMINANTES PUTATIVASPreceitua o art. 20, § 1.º, do Código Penal:

É  isento de pena quem, por erro plenamente  justificado pelas circunstâncias, supõe situação de  fato que,  se existisse,  tornaria a ação  legítima. Não há  isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

Descriminante é a causa que exclui o crime, retirando o caráter ilícito do fato típico praticado por  alguém.  Essa palavra é  sinônima,  portanto, de causa de exclusão da ilicitude.Putativa provém  de  parecer,  aparentar.  É  algo  imaginário,  erroneamente suposto. É tudo aquilo que parece, mas não é o que aparenta ser.Logo, descriminante putativa é a causa de exclusão da ilicitude que não existe concretamente, mas apenas na mente do autor de um fato típico. É também chamada  de descriminante  erroneamente  suposta  ou  descriminante imaginária.O art. 23 do Código Penal prevê as causas de exclusão da ilicitude e em todas elas  é  possível  que  o  agente  as  considere  presentes  por  erro  plenamente justificado  pelas  circunstâncias:  estado  de  necessidade  putativo,  legítima defesa  putativa,  estrito  cumprimento  de  dever  legal  putativo  e  exercício regular do direito putativo.

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As  descriminantes  putativas  relacionam-se  intrinsecamente  com  a  figura do erro, e podem ser de três espécies:a)   erro  relativo aos pressupostos de  fato de uma causa de exclusão da ilicitude: É o caso daquele que, ao encontrar seu desafeto, e notando que tal pessoa coloca a mão no bolso, saca de seu revólver e o mata. Descobre, depois, que a vítima fora acometida por cegueira, por ele desconhecida, e não  poderia  sequer  ter  visto  o  seu  agressor.  Ausente,  portanto,  um  dos requisitos da legítima defesa, qual seja a “agressão injusta”;b)   erro  relativo  à  existência  de  uma  causa  de  exclusão  da ilicitude: Imagine-se o sujeito que, depois de encontrar sua mulher com o amante, em flagrante adultério, mata a ambos, por crer que assim possa agir  acobertado  pela  legítima defesa  da  honra. Nessa  situação,  o  agente errou  quanto  à  existência  desta  descriminante,  não  acolhida  pelo ordenamento jurídico em vigor;c)   erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude: Temos como exemplo o fazendeiro que reputa adequado matar todo e qualquer posseiro que invada a sua propriedade. Cuida-se da figura do excesso, pois a defesa da propriedade não permite esse tipo de reação desproporcional.

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Descriminante putativa

Teoria limitada da culpabilidade

Teoria normativa pura da culpabilidade

Erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de exclusão da ilicitude

Erro de tipo Erro de proibição (teoria unitária do erro)

Erro relativo à existência de uma causa de exclusão da ilicitude

Erro de proibição Erro de proibição

Erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude

Erro de proibição Erro de proibição

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• ERRO DETERMINADO POR TERCEIROEstabelece o art. 20, § 2.º, do Código Penal: “Responde pelo crime o terceiro que determina o erro”.Cuida-se da hipótese na qual quem pratica a conduta tem uma falsa percepção da  realidade no que diz  respeito aos elementos constitutivos do tipo penal em decorrência da atuação de terceira pessoa, chamada de agente provocador.O  agente  não  erra  por  conta  própria (erro  espontâneo),  mas  sim  de forma provocada, isto é, determinada por outrem.O  erro  provocado  pode  ser doloso ou culposo,  dependendo  do  elemento subjetivo do agente provocador.Quando  o  provocador  atua dolosamente,  a  ele  deve  ser  imputado,  na  forma dolosa,  o  crime  cometido  pelo  provocado.  Exemplo:  “A”,  apressado  para  não perder o ônibus, pede na saída da aula para “B” lhe arremessar seu aparelho de telefone  celular  que  esquecera na mesa.  “B”,  dolosamente,  entrega o  telefone pertencente a “C”, seu desafeto.O provocado (que no caso seria “A”), nesse caso, ficará impune, sendo escusável seu erro. Mas,  se o  seu erro  for  inescusável,  responderá por crime culposo,  se previsto  em  lei.  No  exemplo  acima,  escusável  ou  inescusável  o  erro,  nenhum crime seria imputado a “A”, em face da inexistência do crime de furto culposo.

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• Erro determinado por terceiro e concurso de pessoasÉ  possível  que  o  agente  provocador  e  o  provocado  pelo  erro  atuem  dolosamente quanto  à  produção  do  resultado.  Imagine-se  o  seguinte  exemplo:  “A”  pede emprestado  a  “B”  um  pouco  de  açúcar  para  adoçar  excessivamente  o  café  de  “C”. Entretanto, “B”, desafeto de “C”, entrega veneno no lugar do açúcar, com a intenção de matá-lo. “A”,  famoso químico, percebe a manobra de “B”, e mesmo assim coloca veneno  no  café  de  “C”,  que  o  ingere  e morre  em  seguida.  Ambos  respondem  por homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2.º,  inc.  III): “A” como autor, e “B” na condição de partícipe.E se, no exemplo acima, “A” age dolosamente e “B”, culposamente?Não há erro provocado, pois “A” atuou dolosamente. E também não há participação culposa  por  parte  de  “B”,  pois  inexiste  participação  culposa  em  crime  doloso. Enfim, não  há  concurso  de  pessoas.  “A”  responde  por  homicídio  doloso,  e  “B”  por homicídio culposo.Como  apontava  Basileu Garcia,  a  norma  atinente  ao  erro  determinado  por  terceiro permite  situações  curiosas.  Exemplificativamente,  veja-se  o  caso  do  indivíduo  que induza ao casamento pessoa casada,  convencendo-a,  com artifícios, da cessação do impedimento. O  autor  das manobras  iludentes, sem  ter  contraído matrimônio,  será responsabilizado  por  bigamia,  a  cuja  acusação  se  subtrairá  o  nubente.  Em  suma,  o terceiro,  não  casado,  responde  por  bigamia,  o  que  não  se  verifica  com  a  pessoa casada que contrai novo matrimônio.

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• ERRO DE TIPO ACIDENTALErro  de  tipo  acidental  é  o  que  recai  sobre  dados  diversos  dos elementos  constitutivos  do  tipo  penal,  ou  seja,  sobre as circunstâncias (qualificadoras,  agravantes  genéricas  e  causas de  aumento  da  pena) e  fatores  irrelevantes  da  figura  típica.  A infração  penal  subsiste  íntegra,  e  esse  erro não  afasta  a responsabilidade penal.Pode ocorrer nas seguintes situações: (1) erro sobre a pessoa; (2) erro sobre o objeto; (3) erro quanto às qualificadoras;(4) erro sobre o nexo causal; (5) erro na execução; (6) resultado diverso do pretendido. Esses três últimos são denominados de crimes aberrantes.

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• Erro sobre a pessoa ou error in persona• É o que se verifica quando o agente confunde a pessoa visada, contra a qual 

desejava praticar a conduta criminosa, com pessoa diversa. Exemplo: “A”, com a intenção de matar “B”, efetua disparos de arma de fogo contra “C”, irmão gêmeo de “B”, confundindo-o com aquele que efetivamente queria matar.

• Esse erro é irrelevante, em face da teoria da equivalência do bem jurídico atingido. Nesse contexto, o art. 121 do Código Penal protege a “vida humana”, independentemente de se tratar de “B” ou de “C”. O crime consiste em “matar alguém”, e, no exemplo mencionado, a conduta de “A” eliminou a vida de uma pessoa.

• A propósito, estabelece o art. 20, § 3.º, do Código Penal: “O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”.

• A regra, portanto, consiste em levar em conta, para a aplicação da pena, as condições da vítima virtual, isto é, aquela que o sujeito pretendia atingir, mas que no caso concreto não sofreu perigo algum, e não a vítima real, que foi efetivamente atingida. Nesses termos, se no exemplo acima “A” queria matar seu pai, mas acabou causando a morte de seu tio, incide a agravante genérica relativa ao crime praticado contra ascendente (CP, art. 61, inc. II, alínea “e”), embora não tenha sido cometido o parricídio.

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• Erro sobre o objeto• Nessa espécie de erro de tipo acidental, o sujeito crê que a sua conduta recai sobre um determinado objeto, mas na verdade incide sobre objeto diverso. Exemplo: O agente acredita subtrair um relógio Rolex, quando realmente furta uma réplica de tal bem.

• Esse erro é irrelevante, e não interfere na tipicidade penal. O art. 155, caput, do Código Penal tipifica a conduta de “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”, e, no exemplo, houve a subtração do patrimônio alheio, pouco importando o seu efetivo valor.9 A coisa alheia móvel saiu da esfera de vigilância da vítima para ingressar no patrimônio do ladrão.

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• Erro sobre as qualificadoras• O sujeito age com falsa percepção da realidade no que diz respeito a uma qualificadora do crime. Exemplo: O agente furta um carro depois de conseguir, por meio de fraude, a chave verdadeira do automóvel. Acredita praticar o crime de furto qualificado pelo emprego de chave falsa (CP, art. 155, § 4.º, inc. III), quando na verdade não incide o tipo derivado por se tratar de chave verdadeira.

• Esse erro não afasta o dolo nem a culpa relativamente à modalidade básica do delito.10 Desaparece a qualificadora, por falta de dolo, mas se mantém intacto o tipo fundamental, ou seja, subsiste o crime efetivamente praticado, o qual deve ser imputado ao seu responsável.

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• Erro sobre o nexo causal ou aberratio causae• É o engano relacionado à causa do crime: o resultado buscado pelo agente ocorreu em 

razão de um acontecimento diverso daquele que ele inicialmente idealizou.• Não há erro quanto às elementares do tipo, bem como no tocante à ilicitude do fato. 

Com efeito, esse erro é penalmente irrelevante, de natureza acidental, pois o sujeito queria um resultado naturalístico e o alcançou. O dolo abrange todo o desenrolar da ação típica, do início da execução até a consumação. Exemplo: “A”, no alto de uma ponte, empurra “B” – que não sabia nadar – ao mar, para matá-lo afogado. A vítima falece, não por força da asfixia derivada do afogamento, e sim por traumatismo crânio-encefálico, pois se chocou em uma pedra antes de ter contato com a água.

• O agente deve responder pelo delito, em sua modalidade consumada. Ele queria a morte de “B”, e efetivamente a produziu. Há perfeita congruência entre a sua vontade e o resultado naturalístico produzido. No âmbito da qualificadora, há de ser considerado o meio de execução que o agente desejava empregar para a consumação (asfixia), e não aquele que, acidentalmente, permitiu a eclosão do resultado naturalístico.12

• Por fim, surge uma indagação. Qual é a diferença entre o erro sobre o nexo causal (“aberratio causae”) e o dolo geral (ou por erro sucessivo)? A resposta é simples. Naquele há um único ato (no exemplo acima, empurrar a vítima do alto da ponte); neste, por sua vez, há dois atos distintos (exemplo: “A” atira em “B”, que cai ao solo. Como ele acredita na morte da vítima, lança o corpo ao mar, para ocultar o cadáver, mas posteriormente se constata que a morte foi produzida pelo afogamento, e não pelo disparo de arma de fogo).

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• Erro na execução ou aberratio ictusEncontra previsão no art. 73 do Código Penal:Art.  73. Quando,  por  acidente  ou  erro  no  uso  dos meios  de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender,  atinge  pessoa  diversa,  responde  como  se  tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3.º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida pessoa  que  o  agente  pretendia  ofender,  aplica-se  a  regra  do art. 70 deste Código.Erro  na  execução  é  a aberração  no  ataque, em  relação  à pessoa a ser atingida pela conduta criminosa. O agente não se engana  quanto  à  pessoa  que  desejava  atacar,  mas  age  de modo  desastrado,  errando  o  seu  alvo  e  acertando  pessoa diversa. Queria praticar um crime determinado, e o fez. Errou quanto  à  pessoa:  queria  atingir  uma,  mas  acaba  ofendendo outra.

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• Resultado diverso do pretendido, aberratio delicti ou aberratio criminisEncontra-se previsto no art. 74 do Código Penal:Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do  crime,  sobrevém  resultado  diverso  do  pretendido,  o  agente  responde por  culpa,  se  o  fato  é  previsto  como  crime  culposo;  se  ocorre  também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.O referido dispositivo disciplina a situação em que, por acidente ou erro na execução do crime,  sobrevém  resultado diverso do pretendido. Em outras palavras,  o  agente  desejava  cometer  um  crime,  mas  por  erro  na execução acaba por cometer crime diverso.Ao  contrário  do  erro  na  execução,  no  resultado  diverso  do  pretendido  a relação  é crime  x  crime. Daí  o  nome: resultado (crime) diverso do pretendido.  Não  por  outro  motivo,  o  dispositivo  legal  é  peremptório  ao dizer que essa regra se aplica “fora dos casos do artigo anterior”, isto é, nas situações que não envolvam o erro na execução relativo à pessoa x pessoa.O clássico exemplo é o do  sujeito que atira uma pedra para quebrar uma vidraça (CP, art. 163: dano), mas, por erro na execução, atinge uma pessoa que passava pela rua, lesionando-a (CP, art. 129: lesões corporais).

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• Diferença entre erro de tipo e erro de proibiçãoNo erro de tipo, disciplinado pelo art. 20 do Código Penal, o sujeito desconhece a situação  fática que o  cerca, não  constatando em sua conduta a presença das elementares de um tipo penal. Exemplo: “A” leva para casa, por engano, um livro de “B”, seu colega de faculdade. Por acreditar que o bem lhe pertencia, desconhecendo a elementar “coisa alheia móvel”, não comete o crime de furto (CP, art. 155).O  erro  de  tipo,  escusável  ou  inescusável, exclui  o  dolo.  Mas,  se inescusável, subsiste a punição por crime culposo, se previsto em lei.No erro  de  proibição o  sujeito  conhece  perfeitamente  a  situação fática  em  que  se  encontra,  mas desconhece  a  ilicitude  do  seu comportamento. Consequentemente, não afeta o dolo (natural).Quanto aos seus efeitos, o erro de proibição, se escusável, exclui a culpabilidade,  diante  da  ausência  da  potencial  consciência  da ilicitude, um dos seus elementos. E, se inescusável, subsiste o crime, e  também  a  culpabilidade,  incidindo  uma causa  de  diminuição  da pena, de um sexto a um terço (CP, art. 21,caput).

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  Erro de tipo Erro de proibição

Causa

O agente desconhece a situação fática, o que lhe impede o conhecimento de um ou mais elementos do tipo penal. Não sabe o que faz.

O agente conhece a realidade fática, mas não compreende o caráter ilícito da sua conduta. Sabe o que faz, mas não sabe que viola a lei penal.

Efeitos

■ Escusável: exclui o dolo e a culpa; e■ Inescusável: exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

■ Escusável: exclui a culpabilidade; e■ Inescusável: não afasta a culpabilidade, mas permite a diminuição da pena, de 1/6 a 1/3.

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EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

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A exigibilidade de conduta diversa é o elemento da culpabilidade consistente  na  expectativa  da sociedade acerca da prática de uma conduta diversa daquela  que  foi  deliberadamente  adotada  pelo autor  de  um  fato  típico  e  ilícito.  Em  síntese,  é necessário  tenha  o  crime  sido  cometido  em circunstâncias  normais,  isto  é,  o  agente  podia comportar-se em conformidade com o Direito, mas preferiu violar a lei penal.Destarte,  quando  o  caso  concreto  indicar  a  prática da infração penal em decorrência de inexigibilidade de conduta diversa, estará excluída a culpabilidade, pela ausência de um dos seus elementos.

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• CAUSAS SUPRALEGAIS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE• Origem históricaOs pioneiros acontecimentos que resultaram no reconhecimento da inexigibilidade de conduta diversa, como dirimente, se deram na Alemanha, no início do século XX: (1) cavalo bravio; e (2) parteira dos filhos de mineradores. Como narra Odin Americano:a) Cavalo bravio:O proprietário de um cavalo indócil ordenou ao cocheiro que o montasse e saísse a serviço. O cocheiro,  prevendo  a  possibilidade  de  um  acidente,  se  o  animal  disparasse,  quis  resistir  à ordem. O  dono  o  ameaçou  de  dispensa  caso  não  cumprisse  o mandado. O  cocheiro,  então, obedeceu e, uma vez na rua, o animal tomou-lhe às rédeas e causou lesões em um transeunte. O Tribunal alemão absolveu o cocheiro sob o fundamento de que, se houve previsibilidade do evento, não seria justo, todavia, exigir-se outro proceder do agente. Sua recusa em sair com o animal importaria a perda do emprego, logo a prática da ação perigosa não foi culposa, mercê da inexigibilidade de outro comportamento.b) Parteira dos filhos de mineradores:A empresa exploradora de uma mina acordou com os seus empregados que, no dia do parto da esposa de um operário,  este ficaria dispensado do  serviço,  sem prejuízo de  seus  salários. Os operários solicitaram da parteira encarregada dos partos que, no caso de nascimento verificado em  domingo,  declarasse  no  Registro  Civil  que  o  parto  se  verificara  em  dia  de  serviço, ameaçando-a de não procurar seu mister se não os atendesse. Temerosa de ficar sem trabalho, a parteira acabou em situação difícil, por atender à exigência, e tornou-se autora de uma série de declarações falsas no Registro de Nascimento. Foi absolvida, por inexigibilidade de conduta diversa.

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Situação atual: admissibilidade e fundamentosModernamente  tem  sido  sustentada  a  possibilidade  de  formulação  de causas  excludentes  da  culpabilidade  não  previstas  em  lei,  ou  seja, supralegais  e  distintas  da  coação  moral  irresistível  e  da  obediência hierárquica.Essas causas supralegais se fundamentam em dois pontos:(1)   a exigibilidade de conduta diversa constitui-se em princípio geral da culpabilidade,  que  dela  não  pode  se  desvencilhar.  Em  verdade,  não  se admite a responsabilização penal de comportamentos inevitáveis; e(2)   a  aceitação  se  coaduna  com  a  regra nullum crimen sine culpa, acolhida pelo art. 19 do Código Penal.Na precisa lição de Francisco de Assis Toledo:

A inexigibilidade de outra conduta é, pois, a primeira e mais importante causa de exclusão da culpabilidade. E constitui um verdadeiro princípio de direito penal. Quando aflora em preceitos  legislados, é uma causa  legal de exclusão. Se não, deve  ser  reputada causa  supralegal,  erigindo-se em princípio  fundamental que está  intimamente  ligado  com  o  problema  da  responsabilidade  pessoal  e  que, portanto, dispensa a existência de normas expressas a respeito.

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São  cabíveis  nos  crimes  culposos  e  também  nos  dolosos, nada obstante sejam mais frequentes nos primeiros.Exemplificativamente,  a  mãe  viúva  que  deixa  em  casa, sozinho, o filho de pouca idade para trabalhar, pois não tem pessoas  de  confiança  para  cuidar  do  menino  e  não  pode contar com o serviço público de creche – que se encontra em greve  –,  sabe  que  a  criança  fatalmente  subirá  em  móveis, abrirá  armários  e  praticará  outras  atividades  perigosas, sendo previsível que, em virtude da sua ausência, venha a se machucar. Ainda que se fira gravemente, não deverá a mãe ser responsabilizada pela lesão corporal culposa, em face da inexigibilidade  de  conduta  diversa.  Com  efeito,  seria inadequado impor a ela comportamento diverso, pois em tal caso poderiam faltar os recursos mínimos necessários para o sustento e a sobrevivência própria e de sua prole.

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• COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVELDispositivo legal e incidênciaEstabelece  o  art.  22  do  Código  Penal:  “Se  o  fato  é  cometido  sob  coação irresistível (...), só é punível o autor da coação”.Esse dispositivo legal, nada obstante mencione somente “coação irresistível”, refere-se exclusivamente à coação moral irresistível.Com efeito, estabelece em sua parte final ser punível só o autor da coação. Em outras palavras, diz que o coagido está isento de pena, expressão que se coaduna com as dirimentes, ou seja, causas de exclusão da culpabilidade.Na coação moral, o coator, para alcançar o resultado ilícito desejado, ameaça o  coagido,  e  este,  por medo,  realiza  a  conduta  criminosa.  Essa  intimidação recai  sobre  sua  vontade,  viciando-a,  de modo a  retirar  a  exigência  legal  de agir  de  maneira  diferente.  Exclui-se  a  culpabilidade,  em  face  da inexigibilidade de conduta diversa.Por sua vez, na coação física irresistível elimina-se por completo a vontade do coagido. Seu aspecto volitivo não é meramente viciado, mas suprimido, e ele passa  a  atuar  como  instrumento  do  crime  a  serviço  do  coator.  Exclui-se  a conduta, e, consequentemente, o próprio fato típico praticado pelo coagido.

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RequisitosA coação moral irresistível depende dos seguintes requisitos:1) Ameaça do coator, ou seja, promessa de mal grave e iminente, o qual o coagido não é obrigado a suportar: se o mal é atual, com maior razão estará excluída a culpabilidade.Essa ameaça deve ser direcionada à pessoa do coagido ou ainda a indivíduos  com  ele  intimamente  relacionados.  Se  for  dirigida  a pessoa estranha, pode até ser excluída a culpabilidade, em face de causa supralegal fundada na inexigibilidade de conduta diversa.Se  não  bastasse,  essa  ameaça  precisa  ser  séria  e  ligada  a  ofensa certa. Em suma, deve ser passível de realização, pouco importando se o coator realmente deseja ou não concretizá-la.2)  Inevitabilidade  do  perigo  na  posição  em  que  se  encontra  o coagido: se  o  perigo  puder  por  outro meio  ser  evitado,  seja  pela atuação do próprio coagido, seja pela força policial, não há falar na dirimente.

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3) Caráter irresistível da ameaça: além de grave, o mal prometido deve ser irresistível.A gravidade e a  irresistibilidade da ameaça devem ser aferidas no caso  concreto,  levando em conta as condições pessoais do coagido. Trata-se, em verdade, de instituto relacionado com a culpabilidade, razão pela qual não se considera a figura imaginária do homem médio, voltada ao fato típico e ilícito, mas o perfil subjetivo do agente, que será então considerado culpável ou não.Nada  obstante,  há  entendimentos  no  sentido  de  que  a  gravidade  e  a  irresistibilidade  da coação devem ser calculadas com base nas características do homo medius.4)  Presença  de  ao  menos  três  pessoas  envolvidas: devem  estar  presentes  o  coator,  o coagido e a vítima do crime por este praticado.No  caso  do  diretor  de  uma  empresa,  que  é  obrigado por  criminosos  a  entregar  todos  os valores que se encontram guardados em um cofre que apenas ele pode abrir, sob a ameaça de seu filho, em poder de outra pessoa ligada aos assaltantes, ser morto, os envolvidos são: os delinquentes (coatores), o diretor da empresa (coagido) e a própria empresa, lesada em seu patrimônio (vítima).Admite-se,  contudo,  a  configuração  da  dirimente  em  análise  com  apenas  duas  pessoas envolvidas: coator e coagido.Nesse caso, o coator  funcionaria  também como vítima. Exemplo: em razão de tão grave e irresistível ameaça para praticar crime no futuro, o coagido, premido pelo medo e sem outra forma de agir, mata o próprio coator. Essa situação não se confunde com a legítima defesa. De fato, estaria afastada a excludente da ilicitude em face da inexistência de agressão atual ou iminente.

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• EfeitosA coação moral  irresistível afasta a culpabilidade do coagido (autor  de  um  fato  típico  e  ilícito).  Não  há,  contudo, impunidade: pelo crime responde somente o coator. Trata-se de manifestação  da autoria mediata,  pois  o  coator  valeu-se de uma pessoa sem culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa) para realizar uma infração penal.Não se pode olvidar, ainda, que o coator responde – além do crime praticado pelo coagido – pelo crime de tortura definido pelo art. 1.º, I, “b”, da Lei 9.455/1997, em concurso material.Inexiste concurso de pessoas entre coator e coagido, em face da  ausência  de  vínculo  subjetivo.  Não  há,  por  parte  do coagido, a intenção de contribuir para o crime praticado pelo coator.

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• Temor reverencialÉ o  fundado  receio de decepcionar pessoa a quem se  deve  elevado  respeito.  Exemplo:  filho  que falsifica  as  notas  lançadas  no  boletim da  faculdade com  o  propósito  de  esconder  as  avaliações negativas  do  conhecimento  dos  pais,  que arduamente custeiam seus estudos.Não  se  equipara  à  coação  moral.  Não  há  ameaça, mas apenas receio. Além disso, na seara do Direito Civil o temor reverencial sequer permite a anulação dos  negócios  jurídicos,  não  podendo,  no  campo criminal, elidir a culpabilidade.

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• OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICADispositivo legalEstabelece o art. 22 do Código Penal: “Se o fato é cometido (...) em estrita obediência a ordem, não manifestamente  ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor (...) da ordem”.ConceitoObediência  hierárquica  é  a  causa  de  exclusão  da  culpabilidade, fundada  na  inexigibilidade  de  conduta  diversa,  que  ocorre  quando um  funcionário  público  subalterno  pratica  uma  infração  penal  em decorrência do cumprimento de ordem, não manifestamente ilegal, emitida pelo superior hierárquico.FundamentosEssa regra se fundamenta em dois pilares:(1)   impossibilidade, no caso concreto, de conhecer a ilegalidade da ordem; e(2)   inexigibilidade de conduta diversa.

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• RequisitosA  caracterização  da  dirimente  em  apreço  depende  da  verificação  dos  seguintes requisitos:1)  Ordem  não  manifestamente  ilegal: é  a  de  aparente  legalidade,  em  face  da crença  de  licitude  que  tem  um  funcionário  público  subalterno  ao  obedecer  ao mandamento de superior hierárquico, colocado nessa posição em razão de possuir maiores  conhecimentos  técnicos  ou  por  encontrar-se  há mais  tempo  no  serviço público.Daí  falar-se  que  a  obediência  hierárquica  representa  uma  fusão  do  erro  de proibição  (acarreta  no  desconhecimento  do  caráter  ilícito  do  fato)  com  a inexigibilidade  de  conduta  diversa  (não  se  pode  exigir  do  subordinado comportamento diferente).Se a ordem for legal, não há crime, seja por parte do superior hierárquico, seja por parte do  subalterno. Em verdade, a atuação deste último estará acobertada pelo estrito cumprimento do dever legal, causa de exclusão da ilicitude prevista no art. 23, III, do Código Penal.2)  Ordem  originária  de  autoridade  competente: o  mandamento  emana  de funcionário público legalmente competente para fazê-lo.O  cumprimento  de  ordem  advinda  de  autoridade  incompetente  pode,  no  caso concreto, resultar no reconhecimento de erro de proibição invencível ou escusável.

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3)  Relação  de  Direito  Público: a  posição  de  hierarquia  que  autoriza  o reconhecimento da excludente da culpabilidade somente existe no Direito Público.  Não  é  admitida  no  campo  privado,  por  falta  de  suporte  para punição  severa  e  injustificada  àquele  que  descumpre  ordem  não manifestamente ilegal emanada de seu superior.Essa  hierarquia,  exclusiva  da  área  pública,  é  mais  frequente  entre  os militares.  O  descumprimento  de  ordem  do  superior  na  seara  castrense caracteriza  motivo  legítimo  para  prisão  disciplinar,  ou,  até  mesmo,  crime tipificado pelo art. 163 do Código Penal Militar.4)  Presença  de  três  pessoas: envolve  o  mandante  da  ordem  (superior hierárquico),  seu  executor  (subalterno)  e  a  vítima  do  crime  por  este praticado.5)  Cumprimento  estrito  da  ordem: o  executor  não  pode  ultrapassar,  por conta  própria,  os  limites  da  ordem  que  lhe  foi  endereçada,  sob  pena  de afastamento da excludente.A propósito, dispõe o art. 38, § 2.º, do Código Penal Militar: “Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma de execução, é punível também o inferior”.

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• EfeitosO estrito  cumprimento de ordem não manifestamente  ilegal  de superior  hierárquico  exclui  a  culpabilidade  do  executor subalterno,  com  fulcro  na  inexigibilidade  de  conduta  diversa. O fato,  contudo, não permanece  impune, pois por ele  responde o autor da ordem.Imagine  a  hipótese  de  um  Delegado  de  Polícia,  com  larga experiência em  sua atividade, que determina a um  investigador de  Polícia  de  sua  equipe,  recém  ingressado  na  instituição,  a prisão em flagrante de um desafeto, autor de um crime de roubo ocorrido há mais de uma semana, em relação ao qual não houve perseguição, fato desconhecido pelo subordinado. O subalterno, no caso, seja em face do restrito conhecimento do caso concreto, seja em respeito ao superior hierárquico, em quem muito confia, não  pode  ser  responsabilizado,  devendo  o  crime  ser  atribuído exclusivamente ao autor da ordem.

Page 54: Imputabilidade Conceito É a capacidade física, mental e intelectual que o agente deve ter para ser capaz de entender o caráter ilícito de sua conduta,

Inexiste,  na  obediência  hierárquica,  concurso  de  pessoas  entre  o mandante  e  o  executor  da  ordem  não  manifestamente  ilegal,  por falta da unidade de elemento subjetivo relativamente à produção do resultado.Se,  entretanto,  a  ordem  for manifestamente  ilegal,  mandante  e executor  respondem  pela  infração  penal,  pois  se  caracteriza  o concurso de agentes. Ambos  sabem do  caráter  ilícito da  conduta e contribuem  para  o  resultado.  Para  o  superior  hierárquico,  incide  a agravante  genérica  descrita  pelo  art.  62,  III,  1.ª  parte,  do  Código Penal.  E,  no  tocante  ao  subalterno,  aplica-se  a  atenuante  genérica delineada  pelo  art.  65,  III,  “c”  (em  cumprimento  de  ordem  de autoridade superior), do Código Penal.Na  análise  da  legalidade  ou  ilegalidade  da  ordem,  deve  ser considerado o perfil subjetivo do executor, e não os dados comuns ao homem médio, porque se trata de questão afeta à culpabilidade, na qual sempre se consideram as condições pessoais do agente, para se concluir se é ou não culpável.