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Inácio e a benção

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Inácio e a benção

São Paulo, 2011

Luiz Antonio Ramos dos Santos

Inácio e a benção

Editor responsávelZeca MartinsProjeto gráfico e diagramaçãoClaudio Braghini JuniorControle editorialManuela OliveiraCapaZeca MartinsRevisãoTiago Soriano

Esta obra é uma publicação da Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.6466.0001-33www.editoralivronovo.com.br@ 2011, São Paulo, SP

Impresso no Brasil. Printed in Brazil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser

criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

S237i

Santos, Luiz Antonio Ramos dos Inácio e a Benção / Luiz Antonio Ramos dos Santos -- São Paulo: Livronovo, 2011.

120 p.ISBN 978-85-8068-042-3Inclui Bibliografia

1. Religião. 2. Fé - Esperança. I. Título.

CDD - 234.2

Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, diagramadores, ilustradores, revisores, livreiros e mais uma série de profissionais responsáveis por transformar boas ideias em realidade e trazê-las até você.

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Inácio e a benção

Inácio, homem de boa aparência, casado e dono do único jornal da ci-dade. Estava sempre ocupado com as obrigações de um bom editor. Tinha que publicar seu jornal, arrumar matérias, patrocínio e publicidade. Um trabalho árduo para uma cidade com poucos habitantes. O que mais enchia as páginas de seu jornal eram reportagens sobre comércio, produtividade, denúncia de descaso do poder público, ocorrência policial, entre outras coisas.

Inácio não era filho da cidade, mudou-se para fugir do agito da cidade grande. O jornal e alguns negócios que ele mantinha davam para sobreviver.

Certo dia ao retornar para casa ele observou um homem que descansava embaixo de uma árvore. O que chamou atenção de Inácio foi ver aquele homem sentado naquele chão úmido, pois havia chovido bastante. Parou e ficou olhando.

Sem se incomodar com o fato de Inácio estar lhe observando, o homem dizia algo que Inácio não entendia, e não aguentando a curio-sidade, perguntou:

— Meu senhor, está com algum problema? Eu posso ajudá-lo em alguma coisa?

O homem continuou conversando como se não estivesse ouvindo Inácio falar. Mas Inácio insistiu.

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— Senhor! Seja lá quem você for eu estou falando! Não está me ouvindo?

O homem olhou lentamente para Inácio e respondeu: — Você está atrapalhando uma reunião importante que eu e

meus amigos estamos tendo. — Mas eu não estou vendo ninguém além do senhor — disse

Inácio. — Nesta reunião só eu posso ver os demais participantes.— O senhor deve estar com algum problema, o que está dizendo

não faz sentido. Como pode estar vendo alguém além de mim, aqui embaixo desta árvore e, além do mais o chão está todo molhado, não está percebendo?

— De fato, o chão está molhado, mas isso não importa! O assunto que temos para tratar é muito importante.

— O senhor insiste em dizer que tem mais alguém aqui, você deve ser louco ou débil mental, vou chamar a polícia — disse Inácio muito indignado.

O homem, porém, não deu importância para o que Inácio esta-va dizendo e continuou conversando, continuando a sua reunião. Será que estou louco? Meu Deus! Este homem fala com tanta convicção, não se importa com a minha presença, nesta suposta reunião imaginária ele parece ser o líder, pensou Inácio.

Inácio não acreditava no próprio pensamento, como podia imagi-nar uma coisa daquela. Que loucura! Por que se preocupar com alguém que aparentemente está mentalmente desequilibrado? Alguma coisa misteriosa parecia manter Inácio ali, a fim de ajudar aquele homem, todavia, o editor poderia simplesmente ignorar aquela pessoa e seguir seu caminho.

Então, Inácio perguntou:— Senhor, diga-me, como se chama? O senhor deve estar com

algum tipo de problema, e eu me acho no dever de ajudá-lo. — Meu nome é Angelus e posso lhe assegurar que não estou com

problema algum. Estou vendo que o senhor está confuso com tudo isso que está acontecendo aqui, mas o que lhe digo é a mais pura verdade.

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Sempre faço estas reuniões e, geralmente, o povo passa despercebido. Você é a primeira pessoa a fazer perguntas, sei que para qualquer um que não seja eu, é difícil entender e por que não dizer quase incompreensível. Mas como o senhor demonstra preocupação, posso conversar com o senhor a respeito disso que está vendo, só não posso fazer isso hoje, há de compreender as minhas razões pela qual não lhe dou mais detalhes. Seria uma longa conversa e, nesse momento, tenho que terminar o que estou fazendo. Diga-me, qual o seu nome, meu senhor?

— Meu nome é Inácio, sou um cidadão importante dessa cidade e posso lhe ajudar de alguma forma, falarei com quem você quiser, está me entendendo?

— Perfeitamente, entendo tudo que está falando, é uma pena que não acredite em mim, se acreditasse não puxaria este assunto. O senhor, sendo quem se diz ser, deve ser o dono do jornal. Eu conheço todos os cidadãos dessa cidade. Não é permitido conhecer a fisionomia da pessoa, só através do nome, a menos que o cidadão faça um contato como fez o senhor agora, eu realmente estou muito ocupado, não posso lhe dar mais atenção, queira-me desculpar. Tenha um bom dia e passar bem.

— Espere... Como posso encontrá-lo novamente? Como vou saber que não está mentindo e querendo me impressionar?

— Você sabe que não minto. Encontrara-me neste mesmo local. Agora, por favor, não insista, você está tomando o meu tempo e, o senhor deve ser muito ocupado. Está tomando o seu tempo também, até mais vê.

Diante da insistência, Inácio resolveu ir embora daquele lugar. Não entendeu nada e sabia que não descansaria enquanto não esclarecesse aquilo que tinha visto, mas conversar com quem? Qualquer pessoa que ouvisse uma história daquela jamais acreditaria, e sem provas poderiam achar que ele estava louco. As imagens daquele homem falando com convicção não saiam de sua cabeça, as coisas pioraram quando ele disse que o conhecia pelo nome e qual era o papel dele na sociedade, ou seja, sabiam que ele era dono do jornal. Bem, até aí, tudo bem, muita gente na cidade conhecia o dono do jornal, isso o deixava mais tranquilo, mas não parava de pensar.

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Preciso falar com alguém ou não aguentarei, Inácio pensou em falar com sua esposa assim que chegasse em casa. Ela o compreenderia. Com quem mais ele poderia desabafar? Ele tem um papel muito importante na sociedade, afinal, é dono de um jornal, quem acreditaria num jornal cujo dono não bate bem da cabeça?

Precisava tomar muito cuidado com isso chegou a ponto de não saber se era seguro falar com a própria mulher, temia que ela pudesse sair falando para outras pessoas e, do jeito que as más notícias correm logo alguém iria querer saber que história era aquela. No primeiro momento vão pensar de mim justamente o que pensei daquele homem, pensou Inácio, não encontrando uma solução, percebendo agora que não havia sido uma boa hora ter parado para conversar com aquele homem.

O homem estava muito convincente. Inácio percebeu uma coisa. A vida não era mais a mesma depois que ter falado com Angelus, e aquilo tudo o deixava com uma angústia danada. Continuava com seus pen-samentos — oh, meu Deus, por que fui parar justamente naquela árvore e ouvir aquele homem? Poderia ter ignorado e seguido em frente, ter pensado que era mais um mendigo, mas o homem não tinha traje de mendigo, tal-vez por isso dei tanta atenção e agora estou numa angústia danada, quem poderá me ajudar? Pelo amor de Deus. Inácio já não sabia se era confiável conversar com a própria esposa, o jeito era se pegar com Deus para que ele o ajudasse, estava disposto a tudo para resolver aquela situação. Constrangido, procurava uma saída rápida e objetiva para poder voltar à sua vida normal.

Antes de ir para casa, Inácio passou na padaria, pediu um café e ficou no balcão, onde de costume tomava seu café. Sempre que passava por ali, o dono da padaria, que era muito seu amigo, logo lhe faria companhia, afinal, era o jornal do amigo que fazia publicidade de sua padaria.

— Como vai, Inácio, tudo bem? — disse o dono da padaria. — Olá, Ricardo — respondeu Inácio, continuou respondendo

a pergunta do amigo —, hoje não estou muito bem. — Mas é alguma coisa com os negócios? Ou é problema de

saúde?

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— Não, não sei exatamente o que é, acho que deve ser alguma enxaqueca, deve passar logo. E você, como está?

— Estou bem, apesar de sempre receber mercadorias com preços reajustados. Isso é péssimo para manter o negócio estável, não queira nem saber o que é isso. Bom mesmo é ser dono de jornal, não precisa ficar se lamentando, não é mesmo? Sabe, Inácio, estive pensando em mudar o modo como tenho divulgado o meu negócio, estive pensando em pagar uns cachês para aquela moça bonita que mora ali na esquina. Quando ela vem aqui todos param para olhar a moça, é como se ela desfilasse. Que corpo, que pernas, que boca, enfim, tudo em cima. Então, estive pensando em fazer umas fotos, ela com uma roupa bem sensual, todo mundo dessa cidade vai querer ver, e consequentemente, estarão vendo minha padaria, não é uma beleza? O que você acha? Inácio, você está me ouvindo?

— Desculpe, Ricardo, mas não prestei atenção no que você falou.

— Não acredito! Inácio, você não ouviu uma só palavra que eu falei? Logo você, que fica tudo entusiasmado quando o assunto é mulher, você deve estar completamente desorientado, não estou te reconhecendo, vá procurar um médico, falarei com você em outra oportunidade, não é preciso pagar o café, fica por conta da casa, você nem tomou mesmo.

Inácio se despediu do dono da padaria e foi embora. O que será que Ricardo falou? Sai completamente do ar, não me lembro de uma só palavra. Pronto, já está começando, eu preciso fazer alguma coisa para reverter esta situação. Eu não estou conseguindo esconder das pessoas, não posso continuar assim, quando chegar em casa falarei com minha esposa, ela vai me ajudar a encontrar uma saída, ou terei que encontrar aquele homem misterioso o mais rápido possível. Só que desta vez vai ser diferente, se ele não esclarecer as coisas chamarei a polícia imediatamente, onde já se viu falar sozinho e dizer que está em uma reunião. Isso é loucura e agora estou ficando pirado com tudo isso, se ele não for louco, eu estou ficando. Pior, não penso em outra coisa, mas se estou assim a culpa é minha, por dar ouvidos a estranho que fala sozinho, pensou Inácio.

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Inácio chegou em casa e, como não iria sair novamente, colocou o carro na garagem e foi direto tomar banho. Durante o banho, seu pen-samento voltou a atormentá-lo, só que dessa vez ele pensava em coisas mais construtivas, tentando achar resposta para tudo aquilo. Aquele ho-mem sabendo quem eu sou armou tudo aquilo para deixar-me neste estado. Mas o que ele ganharia com isso? Será que foi a mando de alguma pessoa que não simpatiza com o meu jornal? A vida de um jornalista sempre tem turbulência, mas temos que contar a verdade acima de tudo. O povo dessa cidade acha que algumas coisas melhoraram depois da publicação do jornal, e com isso alguém não deve estar muito contente. Certamente, é isso. Mais cedo ou mais tarde vou descobrir a verdade.

O pensamento de Inácio começava a tranquilizá-lo, finalmente uma luz no fim do túnel, mas precisava ter cuidado, caso seu pensamento esteja correto isso seria só um aviso, o pior estaria por vir. De novo aquela sensação de insegurança, será que não vou ter paz?, pensou. Depois do banho, Inácio foi para biblioteca, entrou, fechou a porta e começou a ler um livro. Ele foi interrompido por sua esposa.

— Inácio, não vai assistir o jornal? Já está começando. — Não, hoje não, estou entretido com minha leitura, está muito

interessante, não pretendo parar. — Está bem, é que você nunca perde o jornal, até reclama quando

começa e não lhe chamo. — É, mas hoje prefiro ler, obrigado. — Bem o jantar será servido no horário de sempre. — Vou me lembrar disso. Na hora do jantar, Inácio falou para

sua esposa: — Gabriela, você já viu alguém falando sozinho? — Mas é claro, todos nós falamos. Quando estamos sozinhos,

pensamos às vezes em voz alta, gesticulamos, isso acontece diariamente com as pessoas. É estranho você me perguntar isso.

— Não é nada de mais, já sabia que responderia assim, querida. Durante o resto do jantar Inácio não deu mais uma palavra. Sua esposa achou tudo aquilo muito estranho, mas não quis quebrar o silêncio. Antes de dormir ela falou:

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— O que está acontecendo com você? Depois do jantar não deu uma palavra.

— Sabe, querida, eu não estou muito bem. Hoje aconteceram algumas coisas, que de certa forma mexeram comigo.

— De certa forma! Você está completamente estranho, acha que não percebi? Primeiro vai para biblioteca, depois, lê um livro na hora do jornal, contrariando o que sempre me diz, “todo homem tem que ficar bem informado, principalmente se ele é um jornalista”. Sabe quando você deixou de assistir o jornal pra ler livros? Nunca! — Ela mesma respondeu. — E agora fica em silêncio, e vem me dizer de certa forma. Diga-me o que está acontecendo? Vamos lá, sempre dividimos os problemas, não é desta vez que vai ser diferente.

— Gabriela, você não vai acreditar no que aconteceu? Eu falarei tudo, mas você vai me prometer uma coisa, não vai contar nada para ninguém, prometa!

— Eu prometo, mas tudo isso é muito estranho, você nunca falou assim, está me deixando com medo.

Ela por alguns instantes pensou, será que ele descobriu alguma coisa ligado a alguém muito importante, e está com receio de publicar. Com medo que Inácio notasse que estava pensando, falou:

— Diga logo o que aconteceu! Não percebe que quanto mais fica em silêncio mais angustiada eu fico?

Então Inácio disse: — Você não imagina o que o Ricardo quer fazer? — Não imagino mesmo, mas já estou mais aliviada. Ele continuou. — O Ricardo está envolvido com uma moça, ele disse que ela é

muito bonita e que pode até deixar a família por causa dela. — Ah! Isso é muito grave. A esposa dele já sabe? — Nem pensar, isso é segredo de estado, lhe falei porque você

prometeu que não falará com ninguém. — Coitada, mas como é que esse homem tem coragem? Que cara

de pau, certamente mudará de cidade, porque aqui não é tão grande a

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ponto de esconder tamanha safadeza, mais cedo ou mais tarde o povo ficará sabendo... Inácio a interrompeu e disse:

— Calma, isso que lhe falei, pode ser até que não aconteça. — É, mas só pelo fato do envolvimento com esta moça, já dá

para perceber o caráter que ele é. — Vamos dormir. Tive um dia muito agitado. Neste momento, Inácio começou a pensar, oh, meu Deus, o que

eu fiz? Como pude inventar uma história dessas? E ainda envolver terceiros. Eu não tive coragem de dizer a verdade, e ainda por cima difamei meu amigo, estou perdido, agora é que estou percebendo a burrice que fiz, se isso vier à tona o Ricardo nem a Gabriela me perdoarão. Preciso concertar este meu erro o mais rápido possível. Amanhã consertarei tudo isso, quando for à noite tudo já estará solucionado, encontrarei com aquele homem, que é o maior responsável por esta situação.

Quando Inácio finalmente conseguiu dormir já era muito tarde, por isso não se levantou cedo no outro dia, e sua esposa, como tinha se levantado antes, viu que Inácio dormia tranquilamente, e não quis acordá-lo. Ela desceu, e falou para a empregada:

— Hoje estou a fim de andar, por isso vou dar uma volta no quarteirão, e quando vier comprarei o pão, enquanto isso prepare o café, pois não demorarei e o patrão desce já.

— Tá bem, senhora — respondeu a empregada. Gabriela saiu para sua caminhada, enquanto isso o dono da

padaria, já estava trabalhando, ele ficava sempre no caixa, quando de repente chegou a moça que ele queria que fosse garota propaganda do seu negócio, e pensou

imediatamente, é hoje que vou falar com ela a respeito da minha ideia.

Quando ela se aproximou do caixa, ele perguntou: — Oi, será que posso ter um minuto da sua atenção? — Mas é claro — respondeu a moça. Ricardo chamou um dos

funcionários que sempre o substituía, e disse: — Segura aí que volto já.

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Ricardo saiu de trás do balcão e foi em direção à moça. — Como é o seu nome? — É Patrícia — respondeu. — Bem, Patrícia, eu vou direto ao assunto, eu estive pensando

em você fazer um trabalho para mim. — Que tipo de trabalho? Antes que Ricardo a respondesse ela falou: — Eu já tenho um emprego, não é grande coisa, mas desculpe

a franqueza, é melhor que trabalhar numa padaria. — Eu tenho certeza disso, mas não é para trabalhar na padaria

não. — Então, onde é? Perguntou a moça, já com certa curiosidade. — Patrícia o negócio é o seguinte: preciso divulgar meu negócio,

sabe como é que é, tem a concorrência e eu preciso estar de olhos bem abertos. Eu gostaria que você, que é muito bonita, fosse garota propa-ganda da padaria, o que você acha?

— Obrigado por me achar bonita! Explique melhor? — Bem o negócio funciona assim: vamos tirar algumas fotos

sua, depois colocaremos estas fotos na frente de uma foto da padaria, aí fica por conta do jornal que vai fazer o resto. Eu vou te pagar aí um cachê, não será grande coisa, mas já é um começo. Tudo isso que lhe falei, quero que você pense, fale com seus pais, quero as coisas bem claras. Se aceitar, daremos continuidade, e quem sabe se isso não abrirá uma porta para você, hein?

— Estou começando a gostar da ideia. — Acho que só temos a ganhar. Eu pretendo com isso melhorar

meu negócio, e você, além de ganhar um dinheiro extra, pode dar um passo para uma eventual fama.

Neste momento se aproximava da padaria a esposa do Inácio. De longe ela viu os dois conversando. Então começou dizer para si mesma. É o cafajeste do Ricardo, e aquela deve ser a tal moça com quem ele tem um caso, imediatamente começou a pensar, mas que pouca vergonha, poderia

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procurar um lugar mais reservado para conversar. Onde se viu isso, não tem nenhum respeito pela pobre esposa, que há essa hora deve estar dormindo, ou até mesmo fazendo um café para os dois. Acho que não vou me controlar, preciso dizer algumas coisas a esses dois. Mas lembrou que havia prometido ao marido que guardaria segredo. Então continuou se aproximando dos dois e evitando olhar diretamente para ele e foi entrando na padaria. Ricardo perguntou:

— Olá, Gabriela, como é que está o Inácio? — Ele está muito bem — respondeu Gabriela, evitando olhar

diretamente para Ricardo. — Que legal, ontem ele me pareceu muito estranho quando

passou aqui na padaria. — Deve ser impressão sua, e com licença que estou com muita

pressa, passar bem. Ricardo achou um pouco estranho, mas não ligou. Ele precisava

dar atenção para moça. Depois da conversa com a moça, ele voltou a ocupar o posto dele na padaria.

Gabriela chegou em casa com os pães, colocou-os em cima da mesa e foi para o chuveiro tomar um banho, enquanto tirava a roupa olhava para Inácio que dormia tranquilamente. Achando estranho ele dormir até aquela hora. Ela foi direto para o chuveiro, tomou seu banho e voltou para o quarto para vestir-se. Neste momento, Inácio despertou.

— Olá, bom dia — disse Gabriela. — Bom dia, que hora é essa? — São oito horas. — Por que você não me chamou? Sabe que levanto cedo, tenho

muito que fazer. — Eu sei disso, acontece que achei melhor deixar você dormir.

Você anda muito estressado, percebi que não conseguia pegar no sono ontem à noite. Você anda se preocupando à toa, quem devia estar preo-cupado não está nem aí. Acabo de ver os dois pombinhos batendo papo em frente à padaria. Dá para acreditar numa coisa dessas?

Inácio a interrompeu e disse:

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— Não estou entendendo nada, o que foi que você viu? — Vi o Ricardo e a tal moça, conversando em frente à padaria sem

nenhuma preocupação. O que estou querendo dizer é que você está mais preocupado que ele, no entanto, ele tá aí, esbanjando tranquilidade.

Inácio percebeu que o estrago tinha sido maior que o espera-do. Agora ele tinha que resolver o mais rápido possível, ele não podia imaginar que logo no outro dia, a esposa ia ver o Ricardo, conversando com uma moça. Ele contara aquela história para ganhar tempo, mas acabou lhe sufocando ainda mais. Parecia que tudo estava contra ele. Primeiro não prestou atenção na conversa do amigo, porque se tivesse ouvido atentamente, saberia que a moça com quem Ricardo conver-sava era a moça da esquina, com quem Ricardo pretende divulgar o seu negócio.

— Gabriela, pelo amor de Deus, o que você falou para o Ricardo? —perguntou Inácio.

— Por enquanto não falei nada, você me fez prometer que não é para falar a ninguém, lembra-se?

— Claro. — Pois é, estou tentando arrumar um jeito de me livrar dessa

promessa, e quando me livrar, saberei o que tenho que fazer. — Nem pense nisso, ele é meu amigo, como eu ficaria numa

situação como esta? — Ficaria despreocupado. Inácio não dá para acreditar que se

preocupa tanto com os outros, sinceramente pensei que fosse um pro-blema mais sério.

Inácio estava perdendo terreno a cada hora que passava, viu em menos de vinte e quatro horas sua vida mudar completamente. Ele sa-bia a origem dos problemas. Quando ele estava com seus pensamentos até reagia querendo encontrar forças para a solução, só que na hora H via tudo indo por água a baixo, não conseguia fazer nada para mudar aquela situação.

* * *