inciativa para uma auditoria cidadã à dívida 2013_conhecer a dívida para sair da armadilha, relatório preliminar [janeiro]

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    1/123

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    2/123

    Conhecer a dvida

    para sair da armadilha

    RELATRIO PRELIMINAR DO GRUPO TCNICO

    Esta a primeira verso do Relatrio Preliminar do Grupo Tcnico da Iniciativa para umaAuditoria Cidad Dvida Pblica (IAC). O seu objetivo informar e animar o debate

    pblico acerca do processo de endividamento, das causas da dvida pblica e das formasde sair da armadilha da dvida. As suas omisses e possveis erros sero corrigidos ao

    longo deste debate.

    ELABORADO POR: Jos Castro Caldas, Nuno Teles, Sara Rocha (Coordenadores), Alexandre

    Romeiras, Ana Costa, Antnio Carlos Santos, Bruno Maia, Eugnia Pires, Frederico Pinheiro,

    Joo Camargo, Joo Neves, Jos Carlos Ferreira, Jos Gusmo, Lus Bernardo, Mariana

    Mortgua, Paulo Coimbra, Sandro Mendona, Susana Figueiredo

    Edio Grfica: Rita Gorgulho

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    3/123

    [2]

    INDICE

    1.INTRODUO 4

    2.OPROCESSODEENDIVIDAMENTO 6

    2.1DEQUEDVIDAESTAMOSAFALAR? 6

    2.2DOSDESEQUILBRIOSESTRUTURAISNAZONAEURO 7

    2.3AOENDIVIDAMENTOPORTUGUS 10

    2.4DOENDIVIDAMENTODVIDAPBLICA 13

    3.OQUEADVIDAPBLICA? 16

    3.1ADVIDADIRETADOESTADO 16

    3.2QUEMSOOSCREDORES? 183.3DVIDASHMUITAS 21

    3.3.1SECTORPBLICOEADMINISTRAESPBLICAS 21

    3.3.2DVIDAPBLICANATICADEMAASTRICHT 23

    3.3.3DVIDADIRECTADOESTADO 23

    3.3.4DVIDANOMBITODOPAEF 23

    3.4COMOFINANCIADAADVIDAPBLICA? 24

    3.4.1INSTRUMENTOSDEMERCADO 27

    3.4.2PAPELDOIGCPEDOSISTEMAFINANCEIRO 29

    3.4.3ATROIKA 30

    3.4.4QUANTONOSCUSTAADVIDA? 33

    4.ACONTACORRENTEDOENDIVIDAMENTO 39

    4.1DOSDFICESORAMENTAISDVIDA 39

    4.2DADESPESAERECEITAPBLICASAODFICE 43

    4.3AEROSODABASEFISCALCOMOFONTEDEENDIVIDAMENTO 48

    4.3.1CONTEXTOINTERNACIONAL 49

    4.3.2CONTEXTOORAMENTALEDASPOLTICASPBLICAS 50

    4.3.3NOPLANOLEGISLATIVO 51

    4.3.4NOPLANOADMINISTRATIVO 52

    4.3.5NOPLANODOCOMPORTAMENTODOSCONTRIBUINTES 53

    5.OUTRASFONTESDEDVIDA 55

    OESTADO(TRANSPORTES) 55

    5.1.1QUANTODEVEMASEMPRESASDETRANSPORTESPBLICOS? 55

    5.1.2PORQUEDEVEMASEMPRESASDETRANSPORTESPBLICOS? 56

    5.1.3AQUEMDEVEMASEMPRESASDETRANSPORTESPBLICOS? 58

    5.1.4IMPACTODOPAGAMENTOATODOOCUSTONOSSERVIOS 58

    5.1.5CONSIDERAESFINAIS 60

    5.2PPP 615.2.1PPPEMPORTUGAL 61

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    4/123

    [3]

    5.2.2AUDITORIASPPPENTREGUEERNST&YOUNG 64

    5.2.3NOVALEGISLAO 65

    5.2.4LUSOPONTE:OGRANDEASPIRADORFINANCEIRO 67

    5.3PPPSADE 68

    5.3.1HOSPITAISEMPPPCASOSESPECFICOS 725.4RESGATESBANCRIOS 73

    5.4.1COMOFOIFEITAAINTERVENO? 76

    5.4.2ABANCAPORTUGUESANACRISE 76

    5.4.3OUSODOFINANCIAMENTOPBLICOPELOSBANCOS 77

    5.4.4FINANCIAMENTOPBLICODOSBANCOSVERSUSFINANCIAMENTODAECONOMIA 80

    5.5ASOCIALIZAODASPERDASDOSPRIVADOS:OBPN 83

    5.5.1ADECISODENACIONALIZAR 83

    5.5.2ASLN 84

    5.5.3OPREODANACIONALIZAO 85

    5.5.4OPROCESSODEREPRIVATIZAO 86

    5.5.5CONSIDERAESFINAIS 89

    6.ADVIDAPRIVADA:DABANCASEMPRESASEFAMLIAS 92

    6.1OENDIVIDAMENTOBANCRIO 92

    6.2.DVIDADASEMPRESASEDASFAMLIAS 94

    6.2.1OENDIVIDAMENTODASSOCIEDADESNOFINANCEIRAS 94

    6.2.2OENDIVIDAMENTODOSPARTICULARES 94

    6.2.3OCRDITOHABITAOEAOCONSUMO 95

    7.ADVIDAPBLICAPODESERPAGA?AQUECUSTO? 96

    7.1AAUSTERIDADENOPAGADVIDAS 96

    7.2SERSUSTENTVEL? 103

    7.2.1PREVISESDEEVOLUODADVIDA 104

    7.2.2PODESERPAGA? 106

    8.ADVIDADEVESERPAGA? 109

    9.REESTRUTURAES 112

    9.1REESTRUTURAODADVIDA,OQUE? 112

    9.2DIFERENTESFORMASDEREESTRUTURAO 113

    9.2.1REESTRUTURAOLIDERADAPELOCREDOR 113

    9.2.2REESTRUTURAOLIDERADAPELODEVEDOR 116

    10.CONCLUSO 121

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    5/123

    [4]

    1. INTRODUOAdvida-nosapresentadacomojustificaoparatodososcortes,perdasdedireitose

    aumentosdeimpostos.Dizem-nosquegastmosacimadasnossaspossibilidadeseque

    agoratemosdeprocederaumajustamentoparapagaradvidacusteoquecustar.

    Nadadistoclaro.Dequedvidaestamosafalar?Quaisascausasdadvida?Gastmos

    mesmo acima das nossas possibilidades? com cortes nos salrios e penses, nos

    serviospblicos,comaumentodeimpostosecomrecessoeaumentododesemprego,

    isto,comausteridade,quenosvamoslivrardadvida?Advidapodeserpaga?Advidadeveserpagaatodoocusto?Comonospodemoslivrardaarmadilhadadvida?

    Perguntas como estas tm acompanhado a Iniciativa para a Auditoria Cidad Dvida

    Pblica(IAC)desdeaConvenodeLisboa,realizadaa17dedezembrode2011.Umano

    volvido,queremosdarcontadasrespostasaquefomoschegando.

    Esterelatrioumresultadopreliminarquenopretenderepresentarumatomadade

    posiodaIACfechadaedefinitiva.umdocumentoaindaincompleto,abertocrticae

    a contribuies que o permitam melhorar e aprofundar. Sendo resultado direto de

    trabalhodosmembrosdogrupotcnico,beneficioudocontributodetodo/aso/asquese envolveram no trabalho da IAC ao longo do primeiro ano de atividade e

    proporcionaram as condies para a troca de informao e o debate de ideias

    caractersticosdeumaauditoriacidad.

    Orelatriopartedadiscussodoendividamentoexterno(pblicoeprivado)eexplicao

    processo de endividamento pblico e as caractersticas da dvida. Detm-se nalgumas

    fontesespecficasdedvida(osectorempresarialdoestado,asPPP,resgatesbancrios),

    analisaoendividamentoprivadoesuarelaocomoendividamentopblico.Consideraas

    questes dapossibilidadedepagamentodadvida eda legitimidadedessepagamento.Analisa por fim as vias de sada possveis da armadilha do endividamento, isto , as

    diversasmodalidadesdereestruturaodadvidaqueseperfilam.

    aindaomissoemvriosaspetos.Noescrutinatodososcontratosdedvidapblicanem

    todas as fontes de endividamento, nomeadamente as autarquias e as administraes

    regionais,nem sequer todoosector empresarial doestadoeasPPP.A continuaodo

    trabalhodaauditoriacidadprocurarcolmatarestaslacunas.

    Orelatrionoretiratambmtodasasilaeseconsequnciaspolticasdoescrutnioat

    agoraconseguido.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    6/123

    [5]

    Umdosnossosobjectivostrazerparaodebatepblicoconceitoseanlisesmuitasvezes

    tidoscomoreservadosaprofissionais.Procurmosporissoserclaros,massemabdicardo

    rigor.Admitimos,noentanto,queotextopossausarumalinguagemdemasiadotcnica

    emalgumas das suas seces. Procuraremos nos prximosmeses criar verses destassecesdestinadasaumamaisampladivulgao.

    Parasuprirtodasessaslimitaesedeficincias,contaogrupotcnicocomacrticados

    seus leitorese com o debate entreosapoiantes da IAC e todososcidadose cidads

    interessado/as.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    7/123

    [6]

    2. O PROCESSO DE ENDIVIDAMENTO

    2.1 DE QUE DVIDA ESTAMOS A FALAR?

    Nodiscursopblicodosgovernantesedoscomentadorestelevisivostodasasatenes

    soatradasparaadvidapblica.Masseradvidapblicaanicadvidaateremconta,

    oumesmoamaisimportante?

    Em2008,nomomentoemqueacrisefinanceiracomeavaacontaminaraeconomia,a

    dvida pblica portuguesa, em percentagem do PIB, era semelhante da Frana, da

    Alemanha, da ustria e dos Pases Baixos emuito inferior da Grcia, da Itlia e da

    Blgica. Pases como a Espanha e a Irlanda tinham dvidas pblicas aindamais baixas

    relativamente mdia da eurozona. No entanto, Portugal tinhaa dvida externamais

    elevadadoconjuntodaeurozona,sendologoseguidopelaGrcia,aIrlandaeaEspanha,

    resultadodedficesexternoscrescentesnasuabalanacorrente1.

    A dvida externa ou passivo externo lquido, medida pela posio de investimento

    internacionallquida2,temumacomponentepblicaeoutraprivada 3epelomenosto

    importantecomoadvidapblica.oacumulardedvidaemrelaoaoexteriorquepe

    emcausaacapacidadedepagamentodonossopasepropiciaataquesespeculativosnos

    mercados financeiros contra a dvida pblica. Com a dvida privada a ser refinanciadaatravs de apoios pblicos (em particular com o refinanciamento do BCE banca

    portuguesa), a dvida pblica tornou-se o alvo dos mercados financeiros para a

    especulaoemtornocapacidadedepagamentodopas.

    O nosso problema no pode, portanto, ser simplista e demagogicamente caraterizado

    comouma crise dadvida soberana.Onossoproblema todaa dvida, sobretudo a

    externa,aquelacujoservioimplicaumdesviodorendimentonacionalparaoexterior,

    queinviabilizaqualquerperspetivadedesenvolvimentoaprazo.Essaadvidadeque

    devemosfalar.

    1Abalanacorrenteoregistocontabilsticodovalordasexportaeseimportaesdemercadorias(balanadebens),dovalordasexportaeseimportaesdeservios,nomeadamenteturismoetransporteinternacional(balanadeservios),dosrendimentosdeativosqueosresidentespossuemnoestrangeiroeosestrangeirospossuememterritrionacional,porexemplo,dividendosdeaesoujurosdeobrigaes(balanaderendimentos),dastransfernciasunilaterais,porexemplo,remessasdeemigrantesetransfernciasdeeparaaUnioEuropeia(balanadetransferncias).2

    Aposiodeinvestimentointernacionallquidaadiferenaentreativosepassivosfinanceirosdeumpasfaceaorestodomundo.Oseusimtricorepresentaopassivoexternolquidodopas.3Em2008,76.6%dadvidapblicaeraexterna(Fonte:Eurostat).

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    8/123

    [7]

    2.2 DOS DESEQUILBRIOS ESTRUTURAIS NA ZONA EURO

    Parahaverumdevedorprecisoexistirpelomenosumcredordispostoaemprestar.E

    para haver um credor disposto a emprestar em condies que ao devedor pareamfavorveis, precisoqueexistaumagrandeacumulao prviaderecursos financeiros

    porpartedocredor.

    Apesar da histria no se repetir, assistimos na Europa da dcada de 2000, mais

    exatamente na eurozona, a um processo muito semelhante aos processos de

    endividamento e insustentabilidade financeira presentes emmuitos pases em vias de

    desenvolvimentoduranteasdcadasdesetentaeoitenta.

    Na zonaeuro, durantea ltima dcada,produziu-se uma transformaoextraordinria

    daseconomiasdospasesintegrantesdaUnioEconmicaeMonetria.Partindodeumasituaoderelativoequilbrio,umapartedessespasescomeoua acumularexcedentes

    da balana corrente cada vez maiores, ao mesmo tempo que outra parte acumulava

    dficesdamesmabalana.

    Considerando o saldo da balana corrente dos diversos pases podemos decompor o

    conjuntodaseconomiasdazonaeuroemtrsgrupos:pasescomexcedentenadcadade

    1990queviramasuabalanadegradar-se(Blgica,Frana,Finlndia);pasescombalana

    equilibradanadcadade1990queviramoseusaldoaumentar(Alemanha,PasesBaixos,

    ustria)epases com balana equilibradaque virama sua posio agravar-se (Irlanda,Grcia,Itlia,Portugal).(vergrfico2.1)

    AAlemanha,quepassoudeumdficecorrenteempercentagemdoPIBde1,7em1995

    paraumsaldopositivode7,5em2007,ocasomaisextraordinrio.AGrciaePortugal,

    queviramosseussaldosdegradar-se(Grcia:de-2,18%em1995,para-14,6%em2007;

    Portugal:de-2,7%para-10,1%),soextraordinriostambm,maspelomotivooposto.O

    que poder explicar esta sbita transformao da Alemanha num pas fortemente

    excedentrio, acompanhado da igualmente brusca degradao da balana corrente da

    GrciaePortugal,mastambmdaItliaeEspanha?

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    9/123

    [8]

    Grfico2.1:BalanacorrenteempercentagemdoPIB,gruposdepasesdaeurozona.Fonte:

    Eurostat.

    A acumulao de excedentes por parte da Alemanha o produto de causas muito

    diversas.Resultaquerdemudanasnasestratgiasdeintegraoeuropeiaedeinsero

    daUEnaeconomiaglobal,querdeestratgiasnacionaisespecificamentealems.

    Quantoestratgiaeuropeia,sobressaialiberalizaodefluxosdebenseserviosentrea

    UE e o resto do mundo, o alargamento a Leste e naturalmente a Unio Econmica e

    Monetria,isto,oeuro.

    A liberalizao dos fluxos comerciais proporcionou Alemanha, por um lado,o acesso

    maisfcildosseusbense serviosdeexportaoaosmercadosglobais,nomeadamente

    doschamadospasesemergentese,poroutrolado,oacessoacomponenteseprodutos

    manufaturadosbaratosdeproveninciaglobal.Noconjunto,istosignificoumaismercado

    paraassuasexportaeseimportaesmaisbaratas.

    O alargamento a Leste, com a integrao na UE de estados vizinhos da Alemanha,

    proporcionou economia alemuma mo-de-obraqualificadae relativamente barata,

    quepassouaestarintegradanascadeiasdeproduodossectoresexportadoresalemes

    porviadaaquisiodeempresasousubcontratao.

    Entreasestratgiasespecificamentealemsdestacam-seaspolticasderestriosalarial.

    Apartirde2003,ogovernoalemoimplementouumprogramadereformastendente

    flexibilizaodaregulamentaodasrelaesdetrabalhoecontenosalarial,que

    resultounumareduodossalriosreaisdostrabalhadoresalemes.(vergrfico2.2)

    -8.00%

    -6.00%

    -4.00%

    -2.00%

    0.00%2.00%

    4.00%

    6.00%

    8.00%

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    Alemanha,PaisesBaixos,Austria Blgica,Frana,Finlandia

    Irlanda,Grcia,Itlia,Portugal

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    10/123

    [9]

    Grfico2.2:Alemanha19962007,Salriosbrutosanuaismdiosreaisnaindstriaeservios

    (remuneraesemnumerrioeuros-antesdededuesfiscaisedecontribuiesparaa

    seguranasocialpagaspelotrabalhador).Fonte:Eurostat.

    O neo-mercantilismo alemo4 (a estratgia de competitividade ou de acumulao

    sustentada de excedentes da balana corrente) serviu bem os interesses do sector

    exportador e financeiro daquele pas, que foram os seus mais ativos promotores. No

    entanto, preciso notar que esta foi uma estratgia promovida por governos social-democratas e consentida pelos principais sindicatos alemes. O empenho da social-

    democraciaeoconsentimentodossindicatospodemserexplicadospelaaceitaoacrtica

    dodiscursoquejustificavaestaestratgiacomanecessidadedepreservaroestadosocial

    alemo,ondeossistemasdepensesporcapitalizaosodominantes.Aacumulaode

    excedentes rentabilizadosdo ponto de vista financeiro , por isso, determinanteneste

    modelo.

    AliberalizaodefluxosdebenseserviosentreaUEeorestodomundo,oalargamento

    a Lestee a adeso aoeuroafetaramaseconomias perifricasda zona euro (Grcia,

    Portugal, Espanhae Itlia)deumoutromodo: tornaramassuas indstrias tradicionais

    vulnerveis, sujeitando-as a uma concorrncia acrescida nos mercados externos e

    internos,edesviaramosfluxosdeinvestimentoestrangeiro.

    No entanto, estas economias no entraram de imediato em recesso profunda,

    precisamente porque os excedentes da balana corrente acumulados no centro

    passaramaserrecicladossobaformadecrditoconcedidopelosbancosdaseconomias

    4 A estratgia alem de reforo da competitividade pela conteno dos custos salariais, orientada para a acumulao deexcedentes da balana corrente, tem semelhanas com as polticas mercantilistas dos monarcas europeus do sculo XVII, que

    procuravamobterexcedentessistemticosdabalanacomercialparaacumularoouroeapratacomquecusteavamosexrcitos.Porissomesmoestaestratgiaporvezesdesignadadeneo-mercantilismo.

    34500

    35000

    35500

    36000

    36500

    37000

    37500

    38000

    38500

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    11/123

    [10]

    excedentrias s periferias deficitrias. Desta forma, ao mesmo tempo que se

    acumulavamexcedentes emmeia zonaeuro, acumulavam-se dficesnaoutrametade.

    MeiaEuropatornava-secredoraeoutrameiadevedora.

    Oeuro,aoinviabilizarasdesvalorizaescambiaisquepoderiamcorrigirosdesequilbriosexternos de excedentrios e deficitrios, passou a constituir-se como travo ao

    ajustamento. Tornou-se numa moeda demasiado forte para os deficitrios e

    relativamentefracaparaosexcedentrios.

    Durante algum tempo este estado de coisas parecia servir ambos. Permitia ao

    excedentriosreciclarsobaformadecrditoosfundosacumuladosnosseusbancose,ao

    mesmotempo,sustentaraprocuraexternaparaasuaindstriaexportadora.Permitiaaos

    deficitrios manter o seu padro de consumo, apesar da substituio de produo

    nacionalporbenseserviosimportados.

    Deste modo, a zona euro fragmentou-se na dcada do euro. Numa unio monetria

    desigual do ponto de vista da estrutura econmica, sujeita a um agressivo neo-

    mercantilismo de alguns, praticamente desprovida de mecanismos de distribuio de

    rendimentointer-regionaiseemqueosmovimentosdecapitaissolivres,dificilmenteo

    resultado poderia ser outro. Nesta fragmentao reside a causa mais profunda do

    endividamentodasperiferias,incluindoPortugal.

    Oarranjoserviudurantealgumtempoaocentroeperiferia,mas,nomomentoem

    que a crise financeira chegou Europa, os bancos dos pases excedentrios

    interromperam subitamente o fluxo de crdito para a periferia e o castelo de cartas

    desmoronou-se.

    2.3 AO ENDIVIDAMENTO PORTUGUS

    O objetivo do argumento gastmos acima das possibilidades mil vezes repetido

    absolutamenteclaro:transferirparatodosaculpadoendividamento,preparar-nospara

    aexpiaodessaculpa,impormaioriaocustodoajustamento.

    Vimos j que o endividamento decorreu em grande medida de estratgias de

    competitividade neo-mercantilistas e de um desenho da Unio Monetria que as

    favoreceu. Endividamo-nos, mas ser que gastamos acima das possibilidades um

    diagnsticoadequadoquenosajudaaresolveroproblemadoendividamento?Ouantes

    um discurso enviesado, favorvel aos credores e imposio das solues que estes

    pensampoderajud-losacobrarasdvidas?

    Vejamosseopluralnogastamosacimadasnossaspossibilidadesnonomnimoum

    poucoexagerado.OPIB(produtointernobruto)muitasvezesdescritocomoumboloarepartir por diferentes usos. Na realidade, se olharmos desta forma para o PIB,

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    12/123

    [11]

    descobriremosqueapartedoboloquefoiconsumidapelasfamliasepeloEstadono

    aumentou, ou aumentou muito pouco, entre 1995 e 2007. O que mudou mais na

    repartiodobolonesteperodofoiopesodasimportaesquepassoude34%doPIB

    em1995,para40%em2007.Oqueseverificouaolongodadcadadoeurofoiumasubstituio da produo nacional por bens e servios provenientes do exterior na

    despesadeconsumo,deinvestimentoenasexportaesportuguesas.Isto,aprofundou-

    seadependnciaexternadaeconomiaportuguesa.

    O crdito obtido pelos bancos no exterior no serviu para financiar o investimento

    (Formao Bruta de Capital Fixo)5. Neste perodo, o investimento diminuiu em

    percentagemdoPIB.Paraondeforamentocanalizadosos recursosfinanceirosobtidos

    noexterior?

    5AFormaoBrutadeCapitalFixoovalordosbensdecapitaladquiridospelasempresasepeloEstado.Osbensdecapitalsobens

    que servem para produzir outros bens: mquinas, equipamentos e material de construo. Formao Bruta de Capital Fixo investimento,masnoincluiaplicaesfinanceirasemaes,obrigaeseoutrosativosfinanceiros.

    Caixa2.1:Precisadesaberque

    Quandoalgumlhedisserquegastamosacimadaspossibilidadespoderrecomendaraquem o diz a leitura de um estudo do Banco de Portugal edo INE chamado Inqurito

    SituaoFinanceiradasFamlias2010,publicadoemMaiode2012.Lendoesseestudofica-seasaberqueem2010:

    amaior parte das famlias portuguesas (63%) no devia nada aos bancosouaqualqueroutrainstituiofinanceira;

    a maior parte das dvidas das famlias dizia respeito aquisio de habitao(24,5% das famlias portuguesas estava a pagar emprstimos contrados paraadquirirhabitaoprincipal);

    poucas famlias tinhamoutras dvidas (3,3% tinham contradoemprstimos paraadquirir outros imveis, 13,3% tinham contrado emprstimos para outros fins eapenas7,5%estavamapagaremprstimosobtidoscomcartodecrdito,linhasde

    crditoedescobertosbancrios); quemdevequemtemmaiorrendimentoe riqueza(nos10%dasfamliascom

    maior rendimento, 57,4% das famlias eram devedoras; no grupo das 20% commenorrendimentoapenas18,4%dasfamliasestavamendividadas);

    Quemmaisdevequemmaistem(advidamedianadaclassederendimentomaiselevadocercadeduasvezesmaiordoqueadaclassederendimentomaisbaixo,advidamedianadaclassederiquezamaiselevadaquaseseisvezesmaiordoqueadaclassederiquezamaisbaixa).

    No ser o plural no gastamos acima das nossas possibilidades no mnimo um poucoexagerado?

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    13/123

    [12]

    Os fundos obtidos no exterior pelos bancos portugueses foram canalizados sobretudo

    paraasfamlias easempresas soba formade crdito.Entreoscrditos concedidoss

    famliasdestaca-se claramente,pelomontantee dinmicadecrescimento, o crdito

    habitao (ver grfico 2.3). No entanto, no obstante o crescimento do crdito aosparticulares,apercentagemdefamliasportuguesasquerecorreramaalgumaformade

    crditosurpreendentebaixa(vercaixa2.1).

    Amaiorpartedocrditoconcedidosempresasfoicontradapelasgrandesempresas.Em

    outubrode2012,30%dodadvidadasempresasdiziarespeitoamilgrandesempresas,

    21%a6milmdiasempresas, 19%a39mil pequenasempresaseosrestantes30%a

    321milmicroempresas(Fonte:BoletimEstatsticoBancodePortugal,dezembrode2012).

    Entreoscrditosconcedidossempresasdestacam-sedoissectores:odaconstruoeo

    doimobilirio(vergrfico2.4).

    O afluxo de crdito barato e abundante propiciou o alastramento de atividades

    especulativas de todo o tipo, particularmente no sector imobilirio. Se algum gastou

    acima das possibilidades neste perodo foram precisamente os que (empresas e

    particularesconstitudosemempresa)sededicaramespeculaoimobiliriaebolsista,

    muitas vezes com recurso a fundos emprestados sem garantias ou com garantias

    insuficientes. Estesmovimentos especulativos densificaram as relaes opacas entre a

    esfera privada dos negcios e a esfera da tomada de deciso pblica, envolvendo

    contratosdeconcessoeparceriaspblico-privadasruinosasparaoestado.

    Grfico2.3:Portugal19972011,crditodosbancosportuguesesaparticularesporfinalidade.Fonte:BancodePortugal.

    0

    20000

    40000

    60000

    80000

    100000

    120000

    140000

    01/01/2002

    01/11/2002

    01/09/2003

    01/07/2004

    01/05/2005

    01/03/2006

    01/01/2007

    01/11/2007

    01/09/2008

    01/07/2009

    01/05/2010

    01/03/2011

    01/01/2012

    01/11/2012

    01/09/2013

    01/07/2014

    01/05/2015

    01/03/2016

    m

    ilmilhesde

    Habitao

    Consumo

    Outrosfins

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    14/123

    [13]

    Grfico2.4:Portugal19972011,crditodosbancosportuguesesasociedadesno-financeiras

    porsector.Fonte:BancodePortugal.

    Aeconomiaportuguesa,quetinhacrescido13%entre1995e2000,expandiu-seapenas

    7%noscincoanosseguintes(20002005)e0,9%entre2005e2010.Criou-seempregoe

    a taxadedesempregodesceuentre1995e2001,mas a tendncia inverteu-seapartir

    dessadata.

    2.4 DO ENDIVIDAMENTO DVIDA PBLICA

    ParaPortugaladcadadoeurofoideestagnaoedesemprego,oqueajudaapercebera

    razopelaqual,numadcadamarcadapelodiscursodacriseedacontenooramental,

    osresultadosnareduodosdficespblicosforamtolimitados.

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    30000

    01/01/2002

    01/02/2003

    01/03/2004

    01/04/2005

    01/05/2006

    01/06/2007

    01/07/2008

    01/08/2009

    01/09/2010

    01/10/2011

    01/11/2012

    02/01/2014

    02/02/2015

    02/03/2016

    milmilhesde

    Agricultura,produoanimal,caa,florestaepesca

    Indstriasextracvas

    Indstriastransformadoras

    Elect.,gs,vapor,gua,saneam.,gestoresduosedespoluioConstruo

    Com.grossoeretalho,repar.veculos,automveise

    motociclosTransportesearmazenagem

    Alojamento,restauraoesimilares

    Acvidadesdeinformaoedecomunicao

    AcvidadesdasSGPSnofinanceiras

    Acvidadesimobilirias

    construo

    avidadesimobilirias

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    15/123

    [14]

    Adiscussomaisdetalhadadosesforosefracassosnacontenooramentalserfeita

    maisadiantenesterelatrio.Parajinteressam-nosalgunsmitosacercadadvidapblica

    queinquinamadiscussonoespaopblico.

    Oprimeiromitojfoireferido.AdvidapblicanofoianicanemaprincipalcausadoataqueespeculativocontraPortugalem2011.Faltareferiroutrosdoismitos:(a)advida

    pblica produto deuma festadedespesismopblico ocorrida recentemente; (b) a

    dvidapblicaresultadeumaprefernciadespesistadeumdospartidosdochamadoarco

    dagovernao.

    Comecemos pela festa despesista. Olhando numa perspetiva de longo prazo para a

    evoluodadvidapblica,comonogrfico2.5,verifica-sequehouvedoisperodosem

    queadvidapblicaempercentagemdoPIBsubiumuitoeatingiunovospatamares.O

    primeirodestesperodosocorreuentre1980e1986eosegundoapartirde2009.Entre1987e2000verifica-seumpequenodecrscimoeentre2001e2008umaumento.

    Grfico2.5:Portugal19802011,DvidadasAdministraesPblicas,dficepblicoem

    percentagemdoPIBeciclospolticos.Fonte:AMECO

    Entre1980e1986advidapblicaaumentoude29%para57%doPIB,isto,oseupeso

    noPIBduplicou.Esteextraordinriocrescimentoemseisanosocorreunoobstanteas

    elevadastaxasdecrescimentonominaisdoPIB,emconsequnciadedficesoramentais

    sistematicamente situadosentre os4% eos8% doPIB edeoperaes contabilsticas

    poucoclaras,envolvendonecessidadesdefinanciamentolquidasdoestadodecorrentes

    deoperaescomativosfinanceiroseregularizaesdesituaesdopassadosobaforma

    de assuno de dvidas de outras administraes pblicas e de entidades fora do

    permetrodeconsolidaooramental.6

    6Santos,EmanuelGonalves(2012),SemCrescimentonohConsolidaoOramental,Slabo,p.42.

    0%

    2%

    4%

    6%

    8%

    10%

    12%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    120%

    1980

    1982

    1984

    1986

    1988

    1990

    1992

    1994

    1996

    1998

    2000

    2002

    2004

    2006

    2008

    2010

    %doPIB

    Dvida

    Dfice

    PS

    D

    CD

    S

    PS

    P

    P

    D

    C

    D

    S

    PS

    PSD

    P

    S

    P

    S

    D

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    16/123

    [15]

    Em 2009 teve incio uma nova escalada do endividamento pblico que at hoje no

    terminou.Estaescaladadecorreuemprimeirolugardosgrandesdficespblicosde2009

    e2010,resultantesemgrandemedidadoimpactodarecessoglobaleemsegundolugar,

    doprolongamentodessarecessoem2011,induzidapelaausteridade.Entre1987e2008verificou-seumarelativaestabilizao.Noentanto,entre2000e2006

    houve um acrscimo da dvida, a que se sucedeu um ligeiro recuo em 2007. Este

    acrscimo ocorreu num contexto de proclamada conteno oramental e efetiva

    descidadosdficesrelativamenteaosdadcadadeoitentaeprimeirametadedadcada

    denoventa,porefeitoconjugadodofracocrescimento,querdoPIB(emvolume),quer

    dospreos.

    A dvida pblica portanto produto de um processo, que se desenrolou ao longo de

    dcadas,nodeumsurtodedespesismorecente.Verificaremosadiantequeaolongoda dcada de 2000, quer o crescimento do desemprego decorrente da estagnao

    econmica,queracriseglobaliniciadaem2008desempenharamumpapelimportanteno

    processodeendividamento.

    To infundado como o mito do surto de despesismo recente a ideia de uma

    esquerda com uma preferncia pela despesa e o endividamento e uma direita

    inclinadaparaorigororamental.Narealidade,tantooPScomooPPD-PSDeCDSsurgem

    historicamenteassociadosaalgunsperodosdeendividamentoeoutrosdeestabilidade.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    17/123

    [16]

    3. O QUE A DVIDA PBLICA?

    3.1 A DVIDA DIRETA DO ESTADO

    A dvida pblica o resultado de todos os financiamentos que o estado portugus

    solicitounopassadoparafazerfaceaosseusdfices.Nessesdficesincluem-sedoladoda

    despesa os jurosda dvida anteriormente contrada. Paralelamente, o estado tem, em

    cadaano,valoresdedvidaanterioresquedevemserpagos(amortizados)deacordocom

    acalendarizaoestabelecida.Oestadoprecisatambmderefinanciaressespagamentos.

    Senoopuderfazercomosvaloresdereceitasdoseuoramento,terdecontrairnovasdvidasparapagarasanteriores.

    Deste modo, a evoluo da dvida pblica de cada ano determinada pelo dfice

    oramental,mas tambmpela prpria estrutura da dvida contrada anteriormente. As

    emissesdedvidanosoconsignadas,isto,noestodiretamenterelacionadascom

    despesasespecficas.Osinvestidores,aocompraremumttulodedvida,sabemapenas

    queestoa financiarasdespesasdeumestado,noconhecendoaaplicaoque feita

    doseudinheiro.

    ADvida Direta doEstado (DDE) umdos principais indicadoresdadvida pblica.Houtras formas de clculo com permetros diferentes (ver ponto 3.2), mas a DDE a

    medidamaisconsistenteedetalhadaequeusadapeloInstitutodeGestodoCrdito

    Pblico(IGCP),aentidadeoficialresponsvelpelaemissoegestodedvidapblicaem

    Portugal.

    Segundo o Boletim Mensal do IGCP, a 30 de setembro de 2012 a DDE atingia

    189731milhesdeeuros,ouseja,114%doPIBprevistopara2012segundoa5.reviso

    do Programa de Ajustamento Econmico e Financeiro (PAEF) da troika. Neste valor

    incluem-se cerca de 60milmilhes de euros de emprstimos da troika, os quais

    representammaisde30%dadvidatotal.

    Podemoscaracterizarestadvidacomosendoessencialmenteemitidaemeuros(95,2%),

    aumataxadejurofixa(78,5%)etransacionvel(60%),isto,representadaporttulos

    quepodemsertrocadosnomercadosecundriodedvidapblica.Em31/12/2011esta

    percentagem era de 70%, uma descida face aos 80% verificados em 31/12/2010. A

    descidadopesodadvidatransacionvelnosltimosanosprende-secomasubstituio

    dadvidatransacionvelemOTpordvidamultilateralnotransacionvel,osemprstimos

    datroika.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    18/123

    [17]

    Oprincipal instrumento de financiamentonosmercadossoasObrigaes doTesouro

    (OTs),querepresentamagora50%daDDE.Asobrigaesmaisantigasaindaativasno

    mercado foram emitidas em 1998. O item seguinte da dvida transacionvel so os

    Bilhetes do Tesouro (BTs), que representam 9% da dvida e so emitidos com prazomximode18meses.Pelomenos85%dadvidaatualfoiemitidajnocontextodoeuro.7

    Saliente-seaindaque6%daDDEseencontraemCertificadosdeAforroeCertificadosdo

    Tesouro, instrumentosdestinados captaode poupanas dos pequenos aforradores

    domsticos.

    Seconsiderarmososdadosapartirde2000podemosterumaideiamaisclaradaevoluo

    daDDE.Assim,podemosanalisarosdadosem3momentos:31/12/2000,31/12/2008e

    31/12/2012(segundoasestimativasapresentadasnaquintarevisodoPAEF).

    VariaonoPerodo 31-12-2000 31-12-2008 31-12-2012 Perodo1 Perodo2

    N.deAnosdoPerodo 8 4

    ProdutoInternoBruto* 127,32 171,98 166,90 44,66 -5,08

    Valordadvida* 61,57 123,11 198,78 61,54 75,67

    Dvidaem%doPIB 48,4% 71,6% 119,1% 23,2% 47,5%

    Jurosdoano* 3,7 5,3 7,8 1,6 2,5

    Jurosem%doPIB 2,9% 3,1% 4,7% 0,2% 1,6%

    Quadro3.1:Variaodadvidaedosjuros.Fonte:BasededadosdoWorldEconomic(OutlookdoFMIeBancoMundial)eINE.Estimativaspara2012:5.revisodoPAEF*valoresemmilharesde

    milhesdeeuros

    Nestequadropossvelverificarque,apesardejseverificarumasubidanosvaloresda

    dvida pblica antes da crise financeira, os ltimos quatro anos apresentam uma rota

    verdadeiramente explosiva para estes nmeros, agravada tambm pela recesso e

    reduodosvaloresdoproduto.AquedadoPIBimplica,porsis,umagravamentodo

    pesodadvida,porviadeumefeitodebase,mesmoqueelasemantenhaconstanteemtermosnominais,jqueadvidasempreanalisadaemproporodoPIBcomomedida

    decapacidadedepagamentonacional.

    7 Uma das hipteses de trabalho deste grupo prendia-se com a possibilidade de o estado portugus estar a ser onerado porendividamentopblicoincorridonoperododaditadura.Osnicosttulosemcirculaoemitidosantesde1974soasrieAdosCertificadosdeAforro,quefoilanadaem1960.Estesttulosdeixaramdeseremitidosem1986mas,porseremttulosvitalcios,haindaalgunsemcirculao.Naturalmente,asdvidasatuaisincorporamemissesrealizadasparaamortizarvaloresanteriores,masnoplausvelqueseconsiganestemomentodestrinar,dosvaloresdisponveis,quaissorelativosaoperododaditaduraemPortugal.Comomeroexerccioterico,setomarmosporbaseosvaloresdadvidaportuguesapara1973calculadosporAlessandroMissale,52milmilhesdeescudos,eosatualizarmosaumataxadejuromdiade7%paraomomentoatual,fazendoaconversoparaeuros,teramosumvalortotaldestadvidadaordemdos3milmilhesdeeuros,ousejaoseuvaloratualseriamuitopoucorelevante.(Note-

    seque o valordestadvida no directamente comparvelcomo valoratual,dadosos anosde inflaoque medeiamambos osmomentos).

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    19/123

    [18]

    Grfico3.1:Composiodadvidadiretadoestado.Fonte:IGCP

    Note-sequeaDDEno inclui aquiloque soasdvidasa fornecedores,osatrasados.

    Essesvalores(designadoseminglsporarrears)nosoconsideradoscomodvidadireta

    do estado at ao momento em que este tem de emitir ttulos de dvida para o seu

    pagamento.Damesmaforma,noincluiovalordedespesascontratadas,masaindano

    concretizadas no futuro, como o caso dos custos futuros das PPPs. No se incluem

    tambm as chamadas dvidas contigentes, que s so assumidas se certos eventos

    ocorrerem.Estonestacategoriaadvidaemitidacomagarantiadoestado,entreasquaissedestacamasgarantiasdadasaosbancospblicoseprivados.Ssetransformamnum

    custo para o estado se o banco em causa no conseguir cumprir as suas

    responsabilidades.

    3.2 QUEM SO OS CREDORES?

    QuandosefaladacaracterizaodaDDE,hquesaberigualmentequemsoosnossoscredores.Issopermitecompreenderasdinmicasdofinanciamentopblico,bemcomoa

    -

    50

    100

    150

    200

    250

    01/Feb/05

    01/Aug/05

    01/Feb/06

    01/Aug/06

    01/Feb/07

    01/Aug/07

    01/Feb/08

    01/Aug/08

    01/Feb/09

    01/Aug/09

    01/Feb/10

    01/Aug/10

    01/Feb/11

    01/Aug/11

    01/Feb/12

    01/Aug/12

    01/Feb/13

    01/Aug/13

    01/Feb/14

    01/Aug/14

    01/Feb/15

    01/Aug/15

    01/Feb/16

    01/Aug/16

    milmilhes

    ObrigaesdoTesouro Cerfic.Aforro Cerfic.Tesouro PAEF Outros

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    20/123

    [19]

    dinmica subjacente performance da DDEemmercado secundrio eos problemasa

    considerar,casoseenveredeporumaoperaodereestruturaodadividaoumesmoa

    recolhadeensinamentosparafuturasoperaesdefinanciamentocominstrumentose

    operadoresdemercado.

    Grfico3.2:ComposiodaDDEportipodetomador(milhesde).Fonte:IGCP,Eurostat,Bancode

    Portugal,BarclaysBank

    De acordo com o Eurostat, a divida detida por entidades domsticas, apresentou

    sustentadamente uma reduo do seu peso at 2008, reflexo da diversificao de

    carteiras e da crescente participao de entidades no residentes nomercado deOT.

    Desde1998,comaaberturadoacessodabancanoresidenteaosleilesdeOT,abanca

    domstica foi perdendo expresso em mercado primrio. Tambm em mercado

    secundrio,vriosforamosbancosportuguesesquesedesfizeramdassuascarteirasde

    OTtirandopartidodaconvergnciadastaxasdejuroespreadsintrnsecaaoeuro.Depois

    desteperodoinicial,aquotadabancadomsticaestabilizouemtornode4%at2008.Com o Euro, as outras instituies financeiras, por exemplo seguradoras e fundos de

    penses,passaramtambmadiversificarassuascarteirasdeinvestimentoadquirindo

    dvidasoberanaquenoaPortuguesa.Asuaquotaatingiuummnimode8.3%em2007.

    Tambmasfamliascomearamadiversificarasaplicaesdassuaspoupanas.medida

    queosprmiosdepermannciadosCertificadosdeAforroforamsendopenalizados,as

    poupanas foram canalizadas para fundos monetrios e de investimento melhor

    remunerados, oferecidos pela banca privada, sendo mesmo desmobilizadas para fazer

    faceaquisiodehabitao.Asuaquotareduziu-sedeumquartodototaldadvidapara

    meros5%.Asempresas,porseuturno,tmvindoaapresentarumapresenamarginalemtornode2%.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    21/123

    [20]

    Comacriseatendnciadecontraodopesodasfamliaspermanece.Porm,abancae

    as instituies financeiras no monetrias comeam a reforar a sua presena

    aumentandode4%,em2008,para15%,em2012,noprimeirocaso;ede9%para16%em

    2011e12%em2012,nosegundocaso.Esterefororesulta,porumlado,doscarrytrade,operaes intermediadas pela bancanas quaisa dvida soberana adquirida entregue

    comocolateralnasfacilidadesdecednciade liquidezjuntodoBCE,sendoremunerados

    pelodiferencialdetaxasdejuro.Poroutrolado,tem-seassistidoaumamobilizaode

    fundos domsticos para apoiar o programade financiamento pblico,emespecialpor

    partedeoutrasentidadespblicas.

    Grfico3.3:EstruturadacomposiodaDDEportipodetomador.Fonte:IGCP,Eurostat,BancodePortugal,

    BarclaysBank

    Entre2002e2008,advidanasmosdenoresidentesfoicrescendosustentadamente

    de50%para80%,detidamaioritariamenteporbancos(cercade50%dadvidatotal)mas

    tambmporinvestidoresfinais(28%).Comacriseassiste-seaumdesfazerdasposies

    porpartedabancanoresidente.ComoPAEFeatroika,estaquedaacentua-setambm

    porpartedeinvestidoresinstitucionais.Nestemomento,bancoseinvestidoresfinaisno

    residentesrepresentam,cada,cercade12%dototaldadvida.Odesfazerdasposiesda

    banca no residente teve como contrapartida o Securities Market Programme (SMP)

    criadopeloBCEcomomedidaextraordinriadecednciadeliquidezaosectorfinanceiro.

    De acordo com o Barclays Bank, o BCE comprou cerca de 20 mil milhes de dvida

    Portuguesa(11%)atravsdoSMP.

    Poroutrolado,umanovadinmicafoiintroduzidacomo rollover(refinanciamento) da

    dividavencida.Estapassouaserfinanciadaporemprstimosmultilaterais,sendodetidapeloFMI,FEEFeMEEF(nocasodasentidadescoordenadaspelaUE,osoutrosestados-

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    22/123

    [21]

    membros so os credores finais) os quais representavam em 2012 cerca de 32%, ou

    42.5%casoconsideremosadvidaadquiridapeloBCEatravsdoSMP.Assiste-se,assim,a

    umasubstituiodoscredoresprivadosporentidadesoficiaisquereivindicamdefactoum

    estatutodesupersenioridade(ouseja,decredoresprioritrios),mesmonoscasosemqueadquiriram a divida emmercado secundrio em igualdade com os restantes credores

    privados. No caso de uma reestruturao da dvida, este aspecto particularmente

    importantedadoqueobrigaraumaescolhasobrequalotratamentoadarsentidades

    oficiais.Comosabido,existeumamenormargemdenegociaojuntodestasentidades

    por receio de penalizaes futuras no comrcio externo e nas relaes diplomticas.

    Porm, acolher as imposies das entidades oficiais obrigar imposio deumcorte

    (haircut) mais significativo sobre o sector privado e mesmo sobre os investidores

    domsticos,semelhanadoplanodeenvolvimentodosectorprivado(PSI)naGrcia.O

    pontomaisimportanteasalientarqueasubstituiodadividadetidapelabancanoresidente por entidadesmultilateraispoder limitar a realizao de uma restruturao

    selectivaqueviseprotegeralgunsdoscredores,nomeadamentepequenosaforradoresou

    fundosdepensespblicos.Investidoresfinaisquenoestiveramnaorigemdacrisee

    commenorrobustezparaacolherasperdasdirectasimpostasporumarestruturaoda

    divida podero ser obrigados a suportarestasperdas.Omesmosepassaaonveldos

    contribuintesdosestadosmembros,casoumhaircutsejatambmaplicadosentidades

    oficiais.

    3.3 DVIDAS H MUITAS

    Qualquer anlise dos valores da dvida pblica esbarra, desde logo, na definio dos

    valores que se incluem nesse conceito. Considerando a complexidade do aparelho do

    Estado,ostiposdeinstituiesqueneleseincluemeasvriasformasdefinanciamento

    queexistem,diferentes organismos foram desenvolvendodefinies especficas para a

    dvidapblica.importanteperceberasdiferenasnaconstituiodestesconceitosde

    modoaperceberqualomaisindicadoparacadatipodeanlise.

    Paraperceberalgunsdestesconceitosprecisoperceberaconstituiodosetorpublicoe

    conhecerascomponentesquesoconsideradas,ouno,emcadadefinio.

    3.3.1 Sector Pblico e Administraes Pblicas

    OSetorPblicocompostopeloconjuntodas unidadesinstitucionaispblicas .Tmem

    comumofactodeestaremsobocontrolopublico,epodemserclassificadasdediferentes

    formas.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    23/123

    [22]

    Asunidadesinstitucionaisnomercantis,repartem-seportrssubsetores:

    AdministraoCentral(Estado+ServioseFundosAutnomos)

    AdministraoLocaleRegional

    SeguranaSocial

    Asunidadesinstitucionaismercantisrepartem-seemduascategorias:

    Empresaspblicasnofinanceiras

    Sociedadespblicasfinanceiras

    Asadministraespblicasrepresentamoconjuntodasunidadesinstitucionaispblicas

    cujasnecessidadesdefinanciamentodefinemodficeeadvidapblica.Socompostas

    pelossubsectores nomercantiseaindaporalgumasunidadesdo sectormercantil que

    vieramaser consideradas comodependentes doEstadoeque,por issomesmo, foramreclassificadascomointegrandooseupermetro.Estonestasituaoasempresascujas

    receitassomaioritariamentepblicas(maisde50%)comoocasodaParqueEscolar,

    EstradasdePortugal,REFER,MetrodeLisboa,MetrodoPortoeRTP,entreoutros.Esta

    reclassificao deu origem integrao das suas contabilidades nas contas das

    administraespblicas,passandoacontribuirparaodficeedvidapblicos.

    Quadro3.2:DecomposiodoSetorPblico

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    24/123

    [23]

    3.3.2 Dvida pblica na tica de Maastricht

    Esta a medida normalmente utilizada para avaliar o nvel de endividamento das

    administraes pblicas. O conceitoencontra-se definidono Procedimento dosDficesExcessivosnoTratadodeMaastricht.ADvidaPblicanaticadeMaastrichtcorresponde

    aovalornominaldasresponsabilidadesbrutasconsolidadasdasadministraespblicas

    (no final de cada ano). uma medida bruta no sentido em que no desconta s

    responsabilidadesdoEstadoosativosfinanceirosqueestedetmperanteoutros.uma

    medida consolidada porque exclui as responsabilidades cujos ativos financeiros

    correspondentessodetidosporoutrasunidadesdosetordasadministraespblicas,

    ouseja,excluidvidasentreinstituiesdasadministraespblicas.avaliadaaovalor

    nominal, ou seja, as responsabilidades so contabilizadas ao seu valor facial, que

    corresponde ao valor contratualmente acordado com os credores, e no ao valor dos

    ativosnomercadonumdeterminadomomento.

    3.3.3 Dvida Directa do Estado

    Tal como o nome indica, a dvida direta inclui apenas a dvida emitida pelo subsetor

    Estado, enquanto a dvida de Maastricht inclui dvida emitida/contrada por todas as

    entidadesclassificadasnosetorinstitucionaldasadministraespblicas-oqueincluiumnmero de empresas pblicas que agora integram o permetro de consolidao (e.g.

    Refer, Metro de Lisboa, STCP). Ao contrrio da dvida de Maastricht, esta no

    consolidada, refletindo todos os passivos do subsetor. Diverge ainda do conceito de

    MaastrichtnamedidaemqueincluiacapitalizaoacumuladadosCertificadosdeAforro.

    3.3.4 Dvida no mbito do PAEF

    ParaefeitosdeavaliaodoProgramadeAssistnciaEconmicaeFinanceira,oGoverno

    reportaumanovamedidadedvidapblica,emtudosemelhantedvidadeMaastricht,

    exceodealgumassituaesprevistasnomemorando,nomeadamente:dvidacontrada

    para efeitosde recapitalizaodabanca;depsitosdo IGCP;pagamentoantecipadoda

    margemdosemprstimosdoFEEF;revisesaovalordadvidaposterioresaomomentode

    definiodoslimites;impactodareavaliaodadvidastaxasdecmbiodoprograma.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    25/123

    [24]

    JUN/12

    (1) Dvidanoconsolidadadosectorpbliconofinanceiro 249,8

    (2) Dvidadasempresaspblicasnofinanceirosnoincludasnasadministraespblicas 19,0

    (3)=(1-2) Dividanoconsolidadadasadministraespblicas 230,8

    Daqual:dvidanoconsolidadadaadministraocentral 217,2

    Daqual:dividanoconsolidadadaadministraolocaleregional 13,6

    (4) Dvidaentreentidadesdasadministraespblicas 28,6

    (5)=(3-4) DvidaConsolidadadasadministraespblicas 201,2

    (6) CrditoscomerciaisobtidospelasAP 3,8

    (7)=(5-6) DvidanaticadeMaastricht 198,1

    (8) DividanaticadeMaastrichtliquidadedepsitosdaadministraocentral 182,0

    (9) ExclusesparaefeitodocritriodedesempenhodoPAEF 27,2

    (10)=(7-9) DvidadasadministraespblicasparaefeitosdocritriodedesempenhodoPAEF 170,9

    Quadro3.3:ConceitosdedvidapblicaMaastrichtversusPAEF

    3.4 COMO FINANCIADA A DVIDA PBLICA?

    Habitualmente,num regimequeassentapredominantementeno financiamentoatravs

    deinstrumentosdemercado,quandofalamosememitirdvida,estamosafalardacriao

    de ttulos financeiros que representam parcelas do emprstimo que os diversos

    credoresfazem aoEstado, essencialmente ObrigaesdoTesouro (OT).Deuma forma

    simplificada, quando o Estado precisa de dinheiro, prope ao mercado financeiro a

    emissodeumttuloquerepresenteessadvidaepeloqualpagarumdeterminadojuro.

    Esses ttulos podem depois ser transacionados em mercado secundrio entreintermediriosfinanceirose/ouinvestidoresfinais.

    Namaiorpartedoscasos,oqueacontecequeoEstado,atravsdoIGCP,avisaumgrupo

    debancoscomquemtrabalhadiretamente(osOperadoresEspecializadosdeValoresdo

    TesouroOEVT)quevaiemitirumdeterminadomontantededvida,numadeterminada

    datasegundoumcalendriopreviamenteanunciadoaomercado,atravsdavendade

    ttulos com caractersticas determinadas (como o perodo de durao do ttulo

    maturidade-ouotipodepagamentodejuros).Nadatafixada,estesbancosparticipam

    num leilo em que submetem propostas (bids) para a compra de ttulos que so

    ordenados ascendentemente pela taxa de juros implcita (yield).Caso sejamaceites os

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    26/123

    [25]

    seus bids, no final entregam o dinheiro ao Estado para, de acordo com as condies

    definidas, receberem jurose,nadata devencimento dottulo, receberem devoltado

    Estadoovalortotalqueinvestiram(oprincipal,pagocomaamortizaodottulo).

    Osjurosdosttulospodemseranalisadosatravsdeduastaxasdejurodiferentesqueimportantedestacar:ataxadecupoeachamada yield.Ataxadecupoataxadejuro

    nominaloficialdottuloeataxaquedeterminaoscupesapagaranualmentenadatade

    pagamentodejuros.AyieldataxarealdecustoparaoEstadoquesedeveutilizarnas

    anlises. A diferena entreestasduas taxas est no valor inicial pago pelo ttulo que,

    habitualmente no exatamente igual ao seu valor nominal, podendo ser vendido a

    prmioouadescontoquandovendido,respetivamente,acimaouabaixodopar(100%).

    Vejamosumexemplo:seoEstadoemitirumttuloadezanoscomvalornominalde100

    euroseumataxafixadecupode5%,issoquerdizerquetodososanos,oEstadovaipagar5eurosaoinvestidorqueocomprar.Dezanosdepois,nadatadematuridadedo

    ttulo,oEstadopagarosjurosdesseano(5)maisovalornominaldottulo,ouseja,um

    totalde105.Noentanto,oleilodevendadosttulosfeitocombasenovalorentregue

    pelosinvestidoresquesesituaacimaouabaixodoparouseja,abaixodovalornominal

    dottulo.Se,nonossoexemplo,oEstadosconseguisseobter80eurospelottulode100,

    mas continuando a pagar o cupo oficial de 5 euros, a verdadeira taxa de juro que o

    Estadoteriadepagar,yield,seria:5/80=6,25%8.

    Apsestaprimeiracolocaoqueenvolveosoberanoeosintermediriosfinanceiros(os

    OEVT), a que se chamamercado primrio, os bancos podem comprar e vender estes

    ttulosentresioucoloc-losjuntodosinvestidoresfinais.Aessasoperaesdetransao

    posteriores,quejnoenvolvemoEstado,chama-semercadosecundrio.Estemercado

    funciona diariamente, ao contrrio do mercado primrio, o que quer dizer que as

    variaesdiriasdastaxasdejuroquepodemosobservarnosjornaissereferemapenas

    s yields obtidas nomercado secundrio.O seu valor variadiariamenteporque, como

    mencionmosantes,mesmoquandoastaxasdecuposofixas,oquefazvariarosjuros

    efetivosdosttulosopreooferecidopelosinvestidoreseessepodesofrerflutuaes

    significativas.

    Sebemquetaxascrescentesnestemercadonoimpliquemdiretamentecustosacrescido

    paraoEstado,essastaxasdiriassoimportantes,porquerefletemaperceoderisco

    dosmercados.Assim,estastaxaspodem,efetivamente,viracondicionarastaxasdejuro

    pagaspelosoberano.QuandochegaromomentodeoEstadoemitirnovadvida,opreo

    destasercondicionadapeloseupreonomercadosecundrio.Porexemplo,seoEstado

    quiseremitir,nomercadoprimrio,dvidaacincoanosaumataxadejurode5%,masse

    8Narealidade,esteumclculomuitosimplificado.Osclculosreaisdosmercadosfinanceirosentramem

    linhadecontacomtodosospagamentosatmaturidadedottulo,incluindoodiferencialentreovalorpago e o valor nominal pago na maturidade, que constitui tambm uma forma de remunerao doinvestidor(equenonossoexemploseria20).

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    27/123

    [26]

    temttulosseusnomercadosecundrioquetambmseroamortizadosdaquia5anos

    querendemjurosde8%nomercadosecundrio,oEstadopodenoconseguircolocara

    suadividaanoserqueaumenteataxadejuroqueestapagarparanveiscomparveis

    aosdosmercadosfinanceiros.

    Esta arquitetura financeira coloca os Estados numa posio vulnervel face a ataques

    especulativosdosagentesfinanceirosedasagnciasdenotao.Aespeculaoemtorno

    da capacidade de pagamento de um Estado permite um aumento da volatilidade de

    preosdadvida(oseujuro),ondeosagentesfinanceirosconseguemlucrarlargamente,

    quer com movimentos de aumento da taxa de juro, quer com a sua reduo (como

    aconteceucomosttuloscompradosaolongodoltimoanopelabancaportuguesa).

    medidaqueesteprocessoespeculativosedesenrola,osnveisdejurospodemcomear

    a ser considerados insuportveis. A desconfiana sobre a capacidade de pagamentonacional que alimenta a especulao torna-se assim uma profecia auto-realizada. O

    Estadodeixadeseconseguirfinanciarporqueojuroexigidodemasiadoalto.Foiesteo

    processoporquepassouPortugalnoinciode2011eaGrcianoanoanterior.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    28/123

    [27]

    3.4.1 Instrumentos de mercado

    Comomencionmosnopontoanterior,advidapodesercolocadanomercadoatravsdevrios instrumentos,comdiferentes caractersticasde juros, reembolso edestinatrios.

    Nocasoportugus,oboletimmensaldoICGPpermite-nosterumaideiadosprincipais

    instrumentos de dvida e da sua importncia. No quadro que se segue apresentamos

    algumasdasprincipais caractersticasdos instrumentosutilizados peloIGCP, ordenados

    pelasuaimportncianacomposiodaDDEem30/11/2012.

    9http://www.bportugal.pt/pt-PT/OBancoeoEurosistema/SistemaEuropeudeBancosCentrais/BCE/Comunicados/Paginas/combce20120906-1.aspx10http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2972320

    Caixa3.1:AintervenodoBCETransacesMonetriasDefinitivas

    Um dos fatores determinantes na atual crise que afeta os pases perifricos europeus encontra-se na

    ausnciadeumBancoCentralEuropeucomamesmaatuaodaobservadaempasescomoaGr-BretanhaouosEUA.Nestespases,numasituaoemqueosinvestidorespormedo,pnicoourazesespeculativas

    decidemvenderasobrigaesdotesouroquedetm,implicandoumasubidadasuataxadejuroimplcita,o

    BancoCentralpodeintervircomprandottulos,comoobjetivodemanteroseupreoe,consequentemente,

    a taxade juroimplcita. , pois, no contextodo quadroacima descrito que surge a deciso do BCE de

    assumir no Eurosistema o papel de prestamista deltimo recurso e de se comprometera comprar no

    mercadosecundrioobrigaesdotesourodeforma,senecessrio,ilimitadaparaassimgarantirofuturo

    do Euro. As transaes efetuadas com este propsito sero conhecidas por Transaes Monetrias

    Definitivas(TMD)(OutrightMonetaryTransactionsOMTs)eoquadrodoseufuncionamentofoitornado

    pblicoa6desetembroltimotendocontribudodecisivamenteparaasubsequentedescidadastaxasde

    jurodadvidasoberanaperifrica.

    Noentanto,UmacondionecessriaparaasTransaesMonetriasDefinitivasaexistnciaderigorosa

    eefetivacondicionalidade 9,oquesignificaqueospasesalvodeoperaesTMDtmobrigatoriamentede

    aceitarprogramasdeajustamentomacroeconmico,oudepreveno,associadosaprogramasdoFundo

    EuropeudeEstabilidadeFinanceira/MecanismoEuropeudeEstabilidade,comoenvolvimentodoFMI.Ou

    seja,a intervenodoBCEest condicionada aceitaodepolticas deausteridade.Por outro lado,ao

    condicionaresteapoioapasescomefetivoacessoaosmercadosfinanceiros,pasescomoPortugalesto

    nestemomentoforadoseualcance.

    Entreoutroseconomistas,JosephStiglitz10criticouofuncionamentodesteprograma,afirmandoque,[eo

    Banco Central Europeu continuar a fazer das polticas de austeridade uma condio para os seus

    financiamentos, isso s iragravaro estado da doena. Este Nobel da Economia afirmouainda que amoderadaacalmiaque seseguiu aoannciodoBancoCentral Europeu (BCE) domecanismo decompra

    ilimitadadedvidanopassadeumpaliativotemporrio.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    29/123

    [28]

    InstrumentosdeDvida

    Valor(milhes)

    %dototaldedvida

    Transacio-nvel

    Cupo/Juro Prazo DestinatrioseObservaes

    Obrigaesdo

    Tesouro(OT)

    93.626 47,48% Sim Fixo

    Mdioelongoprazo.Entre1e50anos

    (nuncaultrapassouos30anos)

    Intermediriosfinanceiros(banca)einvestidoresfinaisdosetor

    financeiro(inc.bancoscentrais,seguradoras,fundosdepenses)

    BilhetesdoTesouro(BT)

    19.833 10,06% Sim

    Fixo,pordescontojurodescontadonovaloraentregarpeloinvestidornacompradottulo.

    Curtoprazo(at18meses)

    Intermediriosfinanceiros(banca)einvestidoresfinaisdosetorfinanceiro(inc.bancoscentrais,seguradoras,fundosdepenses)

    CertificadosdeAforro(CA)

    9.667 4,90% No

    Varivelindexada,comprmiosdepermannciaelimitesmximos

    LongoPrazoSriesAeBsemprazo:ttulospermanecemativosataoresgateSrieC:10anos

    Particulares

    CertificadosEspeciaisdeDvidadeCurtoPrazo(CEDIC)

    6.028 3,06% NoFixobaseadonastaxasdeBTsComparveis

    Curtoprazo(at18meses)

    EntidadesdoSetorPblicoAdministrativoeEmpresasPblicas,sujeitasaoprincpiodeunidadedetesourariadoEstado.umaformadegarantirqueosseusexcedentessoaplicadosnoprprioEstadoenonoparaosetorfinanceiro.

    MediumTermNotes(MTN)

    2.947 1,49% Sim

    Fixo,varivelouflexveldependedoqueforacordadocomocompradorinicialdottulo.

    MdioPrazo(atcincoanos)

    Entidadesdosetorfinanceirocomnecessidadesespecficasemtermosdecondiesdeemisso,nomeadamenteaemissoemmoedasespecficasoucom

    padresdetaxadejuropersonalizados(variveisaolongodotempoouindexados).Esteinstrumentopermitedirigirprodu-tosparainvestidoresespecficosnegociadasdeformaprivadaenonosmercados.

    CertificadosTesouro(CT)

    1.419 0,72% No

    Fixomascrescenteconsoanteotempodepermannciadoinvestidor

    Longoprazo(10anos)

    Particulares

    Certificados

    EspeciaisdeDvidaPblicadeMdioeLongoPrazo(CEDIM)

    151 0,08% NoFixobaseadonastaxasdeOTsComparveis

    MdioeLongoprazovencimentosempre

    superiora18mesesecoincidentecomumadatadevencimentodeumaOTativanomercadoaacordarentreaspartes

    OsmesmosquenocasodosCEDICs.Esteinstrumento

    relativamenterecente:foicriadoapenasem2011,jnumaalturadedificuldadesnascontaspblicas,daasuafracaexpresso.

    Outros 1.012 0,51% --- --- --- ---

    Subtotal 134.683 68,29%

    ProgramadeAssistnciaFinanceira

    62.527 31,71% NoEmprstimosMultilaterais

    Longoprazo Troika:FEEF/MEEF/CE

    DvidaTotal 197.209 100,00%

    Quadro3.4:Instrumentosdedvida.Fonte:IGCP

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    30/123

    [29]

    3.4.2 Papel do IGCP e do sistema financeiro

    Em1999foicriadooInstitutodoCrditoPblico(IGCP)comfunesdeemissoegesto

    daDvidaPblica.ALei-quadrodaDvidaPblica(Lein.7/98de3defevereiro)define

    comoobjetivosdagestodadvidaaminimizaodecustosalongoprazoelimitaode

    exposio a riscos, acompanhadas da uniformizao da distribuio desses custos,

    incluindoamortizaes,pelos diferentes oramentos anuais.Nosltimosmeses o IGCP

    sofreuumamudanaimportante.Antesdemaispassouadesignar-seAgnciadeGesto

    daTesourariaedaDvidaPblica-IGCP,E.P.E.epassouaserumaempresapblicacom

    regrasdegestoecontrataodefuncionriosindependentesdaAdministraoPblica.

    Almdisso,assumiunovasresponsabilidadesnoquedizrespeitogestogeneralizadados financiamentos pblicos. A criao dos CEDIMs e CEDICs disso umexemplo: ao

    emprestarasduasdisponibilidadeemfundosdoEstado,osorganismospblicosnoesto

    a coloc-los no setor financeiro. Do mesmo modo, se os financiamentos de cada

    organismo forem obtidos pelo ICGP e no pelo organismo de modo isolado no setor

    financeiro,emprincpioserpossvelobtercustosdefinanciamentomaisbaixosparao

    conjuntodo setorpblico.Domesmomodo,a partir deagorao IGCPserresponsvel

    pelas aplicaes financeiras destes organismos, sobretudo quando estas envolverem

    produtosderivados.

    Na lei prev-se que se possa realizar uma gesto mais ativa da dvida, passando das

    simples operaes de emisso, compra e venda de ttulos, para instrumentos mais

    complexos. O ICGP temmandato para realizar asoperaes financeiras () tidaspor

    adequadas, nomeadamente operaes envolvendo derivados financeiros, tais como

    operaes detroca (swaps)doregimedetaxadejuro, dedivisaedeoutrascondies

    financeiras, bem como operaes a prazo, futuros e opes, tendo por base as

    responsabilidadesdecorrentesdadvidapblica.11

    Aimportnciadadvidapblicanosmercadosfinanceiros

    Aonvel das relaesentreos emissores dedvida pblica e osmercados financeiros,

    convm ainda realar o reverso da medalha: do lado do sistema financeiro a dvida

    soberana absolutamente crucial. Apesar da crise, o sistema financeiro continua a

    acumular enormes quantidadesde fundos que suposto o sistema canalizar para fins

    rentveiscomnveiscontroladosderisco.Atcrisedasdvidassoberanas,asobrigaes

    dedvidapblicaeramoprincipalativorentvelcomriscoquasenulo.Domesmomodo,

    entidadesquegeremfundosdemuitolongoprazocomofundosdepensesoudeseguros

    aplicampartesconsiderveisdosseusfundosemobrigaessoberanasaomesmotempo

    11Os derivados so produtosfinanceiros que tm por base outros produtosfinanceiros. Porexemplo, nomercado defuturosvendem-sepromessasdecompraevendadeumdeterminadoprodutonofuturoumderivadofuturoaumpreofixojhoje.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    31/123

    [30]

    que os bilhetes do tesouro jogam um importante papel na gesto de mercados

    monetrios e interbancrios. estanecessidadedeaplicar valores em dvida soberana

    semriscoquelevaaumatransfernciacomoaquesetempodidoobservarnaEuropa.Os

    fundosquenoestodisponveisparaospasesperifricossotransferidos,porexemplo,paraaAlemanha,ondeoafluxodefundostalqueasyieldschegamaatingirvalores

    negativos.

    Nocontexto europeu,os ttulosdedvida pblica tm vindoaganharmais relevo pelo

    factodeseremaceitespelosfinanciadores,nomeadamente,peloBancoCentralEuropeu,

    comogarantiasdosemprstimosfeitosaosbancosprivados.

    3.4.3 A troika

    OsfinanciadoresdoPAEF,normalmentereferidoscomoTroika,isto,oFundoMonetrio

    Internacional(FMI),aComissoEuropeia(CE)eoBancoCentralEuropeu(BCE).Deuma

    formamaisexata,osdoisltimosfinanciadoresnosodiretamenteestasentidadesmas

    antes dois mecanismos europeus por elas criados, com caractersticas e regras de

    funcionamentoespecficas.Trata-sedo FundoEuropeudeEstabilidadeFinanceira (FEEF)

    edoMecanismoEuropeudeEstabilizaoFinanceira(MEEF).

    Ambososfundossefinanciamelesprpriosnosmercadosfinanceiros,atravsdaemisso

    deobrigaesgarantidaspeloconjuntodosseusEstados-Membros.OFMI,porseulado,

    funcionacomumsistemadequotasdecadapaseapartirdessasquotasquegeraos

    fundosnecessriosparaosseusprogramas.NoinciodoPAEF,surgirammuitasdvidas

    sobreorealcustodoemprstimo.

    Apesardenestemomentojserpossvelobterdadosmaisconcretos,asdvidasrelativas

    aoscustosreaisdoemprstimosubsistemdadoqueelassooriginadas,porumlado,pela

    complexidadedoesquemadepagamentoscriado(queincluemtaxasdemercado,taxas

    variveis e valoresprogressivos decomisses) e,por outro, pelo factodeno ter sido

    apresentadoaopbliconenhumdocumentooficialentreaspartesondeessecustoficasse

    explicitamentedefinido.

    O Banco de Portugal procurou esclarecer estas condies numa brochura sobre o

    Programa, publicada em 2011. Segundo esse documento as condies do programa

    seriamasseguintes:

    FundosEuropeus:26milmilhes+26milmilhesdeeuros

    Valoresdisponibilizadosem14prestaes(tranches)

    Jurospagosanualmente

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    32/123

    [31]

    Jurosecustosassociados:

    MEEFcustodefinanciamentoobtidopelofundonomercadoaoemitir

    dvida para financiar cada tranche, acrescidos custos administrativos no

    especificados

    FEEF - custo de financiamento obtido pelo fundo no mercado ao emitir

    dvidaparafinanciarcadatrancheeaindavaloresdecustosadministrativos

    no especificados. Acresce 0,5% de comisso de servio por cada

    emprstimo

    Ambosos fundos cobravam, inicialmente,umamargemdelucrode2%a

    acresceraestescustos.EmJulhode2011,nasequnciadasnegociaes

    relativasGrcia,estasmargensdelucroforameliminadasparaambosos

    pases.

    FMI:23,74milmilhesdeDireitosEspeciaisdeSaque(SDR)aproximadamente26mil

    milhesdeeuros

    Valoresdisponibilizadosem13prestaes(tranches)

    Reembolso entre 2015 e 2024 - cada tranche paga em 12 prestaes

    semestrais,apagarapartirde4,5anosapsodesembolsoinicial.Osjurossopagostrimestralmente,mascalculadossemanalmentedeacordocomataxade

    juroderefernciadosdireitosespeciaisdesaque.

    Jurosecustosassociados:

    TaxadejuroSDR+1%

    Sobretaxade2%apartirdomomentoemqueoemprstimoultrapasse

    300%daquotadePortugalnoFMI(ouseja,acimadecercade3,4mil

    milhes de euros). Esta sobretaxa aumenta para 3% aps 3 anos deemprstimo. Acresce 0,5% de comisso de servio por cada

    emprstimo.

    Osvalores das taxasde juro so complexos e difceis deprever porque dependemda

    evoluodastaxasde jurodemercado,maspermitem-nosfazeralgunsclculossimples

    parabalizaraanlisedestesfinanciamentos.

    Emtermosdecustosglobaisdoprograma,dadasasincgnitasrelativasevoluodas

    taxasde juro,podemosutilizarasprevises decusto totaldos emprstimos (incluindo

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    33/123

    [32]

    comisses)apresentadaspeloIGCPnoseuBoletimmensaldedezembrode2012:3,1%

    paraosfundoseuropeuse4,1%paraofinanciamentodoFMI,oquedariaumamdiade

    3,4%aplicvelaototaldosvaloresjrecebidos(61.695milhesdeeuros).Umpontoa

    reter que, comodesenrolardoprogramae comascondiesentretantonegociadasparaospasescomprogramasdeajustamento,asmaturidadesmdiasdosemprstimos

    europeusforamaumentando,situando-seagoranos12,4anosparaoMEEFe14,6anos

    paraoFEEF.OsemprstimosdoFMImantm-secomumprazomdiodematuridadede

    7,3anos,oquelevaamdiaparaos11,3.Setomarmosporbaseastaxasematuridadesj

    conhecidas e as extrapolarmos para o total dos emprstimos acordados, que estaro

    totalmente entregues no primeiro semestres de 2013, podemos apontar para valores

    simplificadosdoscustostotais:

    Taxamdiadejuroe

    comisses*

    Valorglobaldo

    emprstimoMaturidade*

    Custoanual(mm)

    Custototal(mm)

    FEEF 3% 26 12,4 0,78 9,67

    MEEF 3% 26 14,6 0,78 11,39

    TotalEuropeu 3% 52 --- 1,56 21,06

    FMI 4,1% 26 7,3 1,07 7,78

    Totalgeral 3.4% 78 11,3 2,63 28,84

    Quadro3.5:Condiesdoemprstimodatroika.Fonte:DadosdoboletimmensaldoIGCPde

    Dezembrode2012(*)eclculosIAC.

    Estevalordariaumcustomnimodototaldosemprstimosdaordemdos29milmilhes

    de euros. Quanto aos prazos de reembolso das vrias tranches, podemos observar o

    grficodeamortizaesdedvidadomesmoboletimdoIGCP:

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    34/123

    [33]

    Grfico3.5Dvidademdioelongoprazo.Fonte:ICGP

    Quantostranchesdefinanciamentoaindaareceber,essesvaloresseroentreguesainda

    no primeiro semestre de 2013, o que implica que Portugal ter de se financiar nos

    mercadosapartirdessemomento,nomeadamenteparareembolsaramaiorpartedos6

    milmilhesdeamortizaesprevistaparasetembrode2013.Estevalordesceujdos9

    mil milhes inicialmente previstos, devido a uma trocadeOTs realizada pelo governoportugusquepassouaamortizaodecercade3milmilhesdeeurosde2013para

    2015.

    Apartirde2014ovalorafinanciarsobeparavaloresacimados9milmilhesporanopelo

    menos at 2021, com picos nos anos at 2016. Portugal estar portanto fortemente

    dependente de financiamento externo nos prximos anos. Esses 9 mil milhes

    representamcercade5.4%doPIBprevistopara2012.Semumareestruturaodedvida

    enocasodeumacessolimitadoaosmercados,estevalorteriadeserfinanciadopelo

    prpriooramentodeestadooquemanifestamenteincomportvel.

    3.4.4 Quanto nos custa a dvida?

    Entre2001e2011,ovalordadvidamaisdoqueduplicou.Oquadroseguinteapresenta

    os valoresda evoluo do volume de dvida (stock),das emisses, das amortizaes e

    respectivasvariaes,entre2000e2011.Comparandoavariaodovalordadvidatotal

    emcadaanocomasomadosfinanciamentosobtidosnesseano,possivelconstatarque

    os financiamentos forammuito superiores variao da dvida. Isso acontece porque

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    35/123

    [34]

    partedelesforamdestinadosaamortizaes,isto,partedosemprstimosserviuapenas

    para subsituir dvida antiga por dvida nova, no aumentando o valor do stock da

    dvida(emborahajaimpactonocustodessaparceladedvidaumavezque,entreasduas

    emisses,ascondiesdemercadoeastaxasdejuroterovariado).

    2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011Stockdedvida

    69.313 75.962 81.426 87.058 96.249 105.158 110.681 115.633 125.605 142.261 163.333

    Totaldeemisses(incluiPAEFem2011)

    13.975 16.527 14.465 20.912 32.261 29.499 26.474 32.726 39.623 51.128 62.147

    Variaodostockde

    dvida12

    4.747 6.649 5.464 5.632 9.191 8.909 5.523 4.952 9.972 16.656 21.072

    Amortizaescalculadas

    9.228 9.878 9.001 15.280 23.070 20.590 20.951 27.774 29.651 34.472 41.075

    Amortizaeslquidasdevaloresdecurtoprazodoanoanterior

    5.669 8.165 3.282 2.013 8.634 6.612 5.598 9.176 6.749 8.749 24.076

    Quadro3.6:EmisseseAmortizaes.Fonte:IGCPrelatrioanualde2011eclculosIAC

    Aanlisedestesvalorespermite-nosconcluirque,almdoaumentodovalordadvida,

    estadcadafoimarcadaporumaumentodovaloranualdasemisses.Ataoiniciodo

    PAEF,ovaloranualdeemissesmultiplicou-sepor4numadcadae,nomesmoperodo,

    o valor das amortizaes triplicou (se no considerarmos os valores de amortizaes

    pagasdirectamenteporvaloresdeprivatizaes).

    Nesteperodoaumentoutambmovalordasemissesdecurtoprazo,quepassaramde

    cercade4milmilhesem2001para26milmilhesem2010.Esteaumentorefletepor

    um lado uma tentativa de descida dos custos da dvida atravs da utilizao de

    financiamentosdecurtoprazo, cujo custo relativamentemais baixoe,por outro, as

    dificuldadesdefinanciamentonomercado.Apsacrisefinanceira,asubidadastaxasde

    jurode longoprazolevoualgumasagnciasdedvidaarefugiarem-seemprazosmais

    baixos.Note-seque,em2011,japsoiniciodoPAEF,oclculodasamortizaeslquidas

    de valores de curto prazo estar, concerteza, sobreavaliado. A presena de um

    financiamento levou a um crescimento muito elevado da dvida mas nem toda essa

    12Note-seos clculosdos valores deamortizaono so exactos: so uma aproximaocalculada onde no estamos a teremconsideraoosvaloresexactosdasnecessidadesdeamortizaonemeventuaismargensdecaixaquepossamtersidocriadas.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    36/123

    [35]

    emissosedestinouamortizaode ttulosdesseano.Partedessevalorpermanecia

    em caixa no final do ano para fazer face a amortizaes e outras necessidades de

    financiamentode2012.

    Osjurosforamaprimeirafacevisveldacrise:arazoevocadapelogovernoportugusparaanecessidadedefinanciamentodatroika,foiasubidadosjurosdadvidapblicanos

    mercadossecundrios.

    Valeapenaanalisarcommaiscuidadoaevoluohistricados jurosdadvidapblica

    portuguesa.Aolongodadcadade1990osjuroscaramdenveisprximosde15%para

    valores prximos de 3%. Se calcularmos a taxa de juro mdia implcita na dvida

    portuguesa,combasenosdadosdejurospagospeloestadoportugus(Eurostat)faceaos

    valoresdedvidaconstantesdas sriesdoFMIedoBancoMundial,podemosobservar

    umadescidaacentuadaat1997justificadaporummaiorcontrolodainflao,emtermosnominais,mastambmvisvelnataxadejuroreal,quedesceudevaloresacimados5%no

    inciodadcadaparavaloresdaordemdos3%naalturadoarranquedoeuro.Apartirdo

    ano2000,senosfocarmosnosvaloresnominais(ouseja,astaxasdejurosreaisacrescidas

    da inflao), mais comparveis com as taxas observveis nos mercados, esta taxa

    continuouadesceratcercade3,6%em2010.

    Grfico3.6:JuroseEncargoseTaxadeJuroImplcita.Fontes:AMECOeBancodePortugal

    0.00

    2.00

    4.00

    6.00

    8.00

    10.00

    12.00

    14.00

    16.00

    18.00

    1978

    1980

    1982

    1984

    1986

    1988

    1990

    1992

    1994

    1996

    1998

    2000

    2002

    2004

    2006

    2008

    2010

    TaxadeJuroImplcita

    JuroseEncargos(%doPIB)

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    37/123

    [36]

    Oquadroabaixoapresentaumavisogeraldosdadosdadvidaedadinmicadosjuros

    naltimadcadaapartirdos clculosdo IGCP,aosquais juntmosumclculodopeso

    destesvaloresfaceaoPIBcalculadopeloeurostat.13

    2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011Dvida

    Stockdedvidamdio* 69.313 75.962 81.426 87.058 96.249 105.158 110.681 115.633 125.605 142.261 163.333

    VariaodoStockdedvida 4.747 6.649 5.464 5.632 9.191 8.909 5.523 4.952 9.972 16.656 21.072

    VariaodoStockdedvidaem(%) 7% 10% 7% 7% 11% 9% 5% 4% 9% 13% 15%

    Juros

    Juros*3.771 3.875 3.797 3.826 4.054 4.365 4.691 4.867 4.778 4.948 6.405

    TaxadeJuroimplcita* 5,4% 5,1% 4,7% 4,4% 4,2% 4,2% 4,2% 4,2% 3,8% 3,5% 3,9%

    VariaodosJuros 136 104 -79 30 228 311 326 176 -88 170 1.457

    VariaodadespesaemJuros(%) 4% 3% -2% 1% 6% 8% 7% 4% -2% 4% 29%

    ComponentesdaVariaodosJuros

    EfeitodoStockdedvida* 267 362 279 263 404 375 229 210 420 634 733

    EfeitodoPreodosjuros* -122 -235 -333 -218 -159 -59 92 -32 -468 -410 631

    EfeitoCruzado* -9 -23 -24 -15 -17 -5 5 -1 -40 -54 93

    RelaocomoPIB

    PIB** 134.471 140.567 143.472 149.313 154.269 160.855 169.319 171.983 168.504 172.670 170.909

    Dvidamdiaem%doPIB 51,5% 54,0% 56,8% 58,3% 62,4% 65,4% 65,4% 67,2% 74,5% 82,4% 95,6%

    Jurosem%doPIB 2,8% 2,8% 2,6% 2,6% 2,6% 2,7% 2,8% 2,8% 2,8% 2,9% 3,7%

    Quadro3.7:Efeitostockeefeitopreo.Fonte:IGCP

    Oefeitodostockdedvidapermitecalcularovalordavariaodosjurosquesedeve

    variaodadvidaentredoisanosdeterminados.Isto,ocalculodovalordejurosque

    haveriaapagarseseconsiderassequeataxadejurossemantinhaconstanteeapenas

    variasseo valordadvida. Paralelamente possivel calcularo efeito contrrio: quanto

    aumentaria o valor de juros se a dvida se mantivesse constante e apenas

    considerassemosoaumentodataxadejuro.Estesdoisefeitos,somadosaumterceiro

    13Note-sequeosclculosdadvidaempercentagemdoPIBapresentadosnestequadropodemnosercoincidentescomosvaloresoficiaisparaesteindicadordadasasvariaesdemtodologiasdeclculojmencionadasnoponto1.3.4,ovalordaDDEcalculadapeloIGCPnocoincidentecomosvaloresdedvidautilizadospeloeurostat.Aindaassim,esterciopermite-nosavaliarasrelaesdegrandezaeaevoluodesteindicadordemodocomparvelcomosrestanteselementosdoquadro.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    38/123

    [37]

    efeitocruzadoentreasduasvariveisecujovalorgeralmentenegligencivel,permite

    explicaravariaodosjurosemcadaano.

    Aanlisedestequadropermite-nostirarvriasconclusesinteressantes:

    At2007,ovalordosjurosapagarcresceuporefeitodoaumentodestockde

    dvida(odecrscimodataxadejuronesteperodocontrariouoaumentodovalor

    dosjuros).

    Em2007e,sobretudo,em2011osjurosapagaraumentamemconsequnciaquer

    docrescimentodostockdedvida,querdataxadejuro.

    Aevoluoat2007,resultouempartedasalteraesnasprticasdegestodedvida,

    masficouadever-sesobretudodescidadapercepoderiscodosttulosdarepblica

    portuguesa por estes estarem emitidos em euros e serem considerados quase

    equivalentesaosrestantesttuloseuropeus.

    Apsumadescidaacentuadanosprimeirosanosdoeuro,estastaxasestabilizaram,entre

    osanos2005e2008,numvalorprximodos4%,tendomesmodescidoligeiramenteaps

    acrisefinanceira.Istodeveu-seaofactodenummomentoinicialdacrise,osttulosde

    dvidasoberanateremsidovistospormuitosinvestidorescomoumrefugiodoselevados

    nveisderiscodeoutrasaplicaes,oquedesceuastaxasdejuroexigidas.

    Nodecorrerdoanode2010,comadescidadosratingsdealgumasdvidassoberanas,

    essa tendncia inverteu-se embora no se tenha refletido imediatamente nos valoresgerais de taxas implcitas aplicveis a Portugal, que atingiram nesse ano o seu valor

    mnimo.Em2011,noentanto,asubidadataxadejurojuntou-seaoaumentodadvida

    paradeterminarumsaltodecercade1,5milmilhesdeeurosnovalordejurosapagar.

    Estasubidafoiprogressivaaolongodoanode2011.Osdiferentesleilesrealizadosforam

    registandotaxascadavezmaioresrefletindoaspressesdosmercadossecundriosmas

    nuncachegandoaosvalorespraticadosnessesmercados.NosquatroleilesdeOTsainda

    realizadosem2011,asyieldsestiveramsemprebastanteacimadataxaimplcitade2010,

    mas nunca chegaram muito falada barreira psicolgica dos 7%, que tinha j sido

    largamente ultrapassada nomercado secundrio. Esses quatro leiles registaram yields

    mdiasentreos5,3%eo6,7%,valoresqueimplicavamumretrocessoavaloresacimadas

    taxasverificadas no inicio dadcada.Aindaassim, ovalorconjuntodesses leiles no

    chegouaos4milmilhesdeeuros,oquenoeraumvalorsuficientementerelevante

    paraalterardeformasignificativaataxadejuromdiadadvidaportuguesa.Aonveldo

    pesonoPIBovalordos jurosapresenta uma tendncia crescente dadaa tendncia de

    aumentodadvida,combinadacommaiorestaxasdejuroevaloresdecrescentesdoPIB.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    39/123

    [38]

    Caixa3.2:Juroseencargosdosvriostiposdedvida

    As taxas de juro mdias implcitas que analismos no ponto anterior so calculadas pelas mdias

    ponderadasdastaxasdosdiferentesintrumentosdedvida.Nestacaixaapresentamosalgunsdadossobre

    astaxasdejurosdosprincipaisinstrumentosdedvidaportugueses.

    Comojvimos,asOTcontinuamarepresentaramaiorpartedadvidaportuguesa.SegundooIGCP,nofinal

    deNovembrohavia12sriesdeOTativas,comdatasdeamortizaoentre2013e2023eumaoutrasrie,

    demuitolongoprazo,commaturidadeem2037.AsOTtotalizam93,6milmilheseapresentamtaxasde

    cupoentreos3,35%eos6,4%,atingindoumamdiaponderada de4,35%.O custodasegundamaior

    parcela,oemprstimodaTroika,calcula-se,comovimosnosclculosdoIGCPnoponto3.3.3emvaloresda

    ordemdos3,4%porano.

    JnosBilhetesdoTesouro,noexistemtaxasdecupoeosjurossodadospelas yieldsobtidasnosleiles.

    Setivermosemconsideraoapenasosleilesrealizadosem2012,ayieldmdiaponderadafoide3.56%.

    Seprecisarmosdecomparartaxasdejurosparaavaliarsedeterminadosttulossocarosoubaratos,devemosfaze-loentrettuloscommaturidadessemelhantes.Astaxasdejuronosoindependentesda

    maturidadedeumttulo.Tipicamente,quantomaioroperododeumemprstimo,maiorataxadejuro

    anualassociadaeviceversa.porissoquecomumusar-seporexemploacomparaoentreastaxasde

    ttulos alemes a 10 anos com taxas de outros ttulos, nomeadamente portugueses, com a mesma

    maturidade.Adiferenadetaxasexigidaspelosinvestidoresnummesmoprazodematuridadedeverser

    umreflexodasdiferentespercepesderiscoqueosinvestidorestmfaceacadapasemissor.

    No caso dos certificados de Aforro, os juros de cada srie so calculados regulamente pelo estado e

    comunicados aos investidores. As taxas situam-seatualmenteentreos2,12%nocaso da srie A e os

    3,16%dasrieC.

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    40/123

    [39]

    4. A CONTA CORRENTE DO

    ENDIVIDAMENTO4.1 DOS DFICES ORAMENTAIS DVIDA

    Paracompreenderevoluodadvidapblica(empercentagemdoPIB)eascausasdessa

    evoluo, importante perspectiv-lanoplanohistrico e relacion-la, no scom os

    dficesoramentais,mascomoutrasvariveiseconmicas.Defacto,umdosprincipais

    equvocosdodebatesobreadvidaoquetendeaanalisaradvidapblicacomouma

    simplesacumulaodedficesoramentais.Essaacumulaoexiste,masapenasumadevriasdinmicasenemsempreamaisrelevante.

    Nogrfico4.1podemosobservaraevoluodostockdedvidapblicaportuguesaentre

    1977 e 2011 em percentagem do PIB. Neste grfico podemos observar trs grandes

    dinmicas:(1)umaumentodorciodvida/PIBat1986comumaaceleraoapartirde

    1981,(2)umaestabilizaoeligeirodecrscimoentre1987e2000comumainterrupo

    no binio 93/94 e (3) um aumento a partir de 2000 com uma forte acelerao na

    sequnciadacrisefinanceira.

    Grfico4.1:DficeedvidaempercentagemdoPIB(1977-2011).Fontes:AMECOeBancode

    Portugal

    A observao deste grfico ajuda a compreender que a relao entre dfice e dvida,

    existindo, est longe de ser mecnica. No perodo entre 86 e 92, apesar dos dfices

    01234

    5678910111213141516

    0.0

    20.0

    40.0

    60.0

    80.0

    100.0

    120.0

    1977

    1979

    1981

    1983

    1985

    1987

    1989

    1991

    1993

    1995

    1997

    1999

    2001

    2003

    2005

    2007

    2009

    2011

    Dfice(%doPIB)

    Dvida(%doPIB)

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    41/123

    [40]

    considerveis,opesodadvidanoPIBdiminui.Poroutrolado,noperodoquesesegue

    integrao no euro, marcado pelos dfices mais reduzidos da histria da nossa

    democracia,opesodadvidanoPIBaumentaconsideravelmente.

    DaquidecorreaevidnciadequeadinmicadadvidaempercentagemdoPIBdependedecisivamentedeoutras variveis almdodfice oramental.Alis, o simples factode

    geralmentesefalardostockdadvidaempercentagemdoPIBsugereaideiadequeoseu

    montantestemsignificadoporcomparaocomacapacidadequeopastem(ouno)

    degerarosrecursosquepermitamassegurarasuagesto:oaumentodadvidaum

    problema quando no acompanhado de crescimento da economia. Inversamente, a

    reduodadvida(oudodfice)podenocontribuirparaacapacidadedeserviradvida

    se,aomesmotempo,acapacidadeprodutivadopasdiminuir.

    Ogrfico4.2pretendeexprimiressarelaoaolongodomesmoperodo.Estaevoluo

    torna clara a importncia do crescimento econmico na dinmica da dvida. Os dois

    perodosde reduodomontantedadvidaempercentagemdoPIB (87-92e96-2000)

    coincidemcomosdoisperodosdemaiorcrescimentoeconmicodos34anosanalisados.

    Estacoincidnciadecorreevidentementedoefeitomatemticoquetemoaumentodo

    denominador do rcio da dvida (Dvida/PIB), mas tambm reflecte o impacto do

    crescimento econmico no saldo oramental, por exemplo, atravs do aumento das

    receitasfiscaisquelheestassociado.

    Inversamente,asrecessesde1984e1993tiveramimpactosnadinmicadadvida,quer

    atravsdoefeitoPIB,queratravsdoefeitodfice.Masoperododevignciadoeuro,marcadoporbaixastaxasdecrescimentoepelasrecessesde2003,2009e2011,o

    exemplomaisclarodestadinmica.

    Grfico4.2:Dvidaem%doPIBeTaxadeCrescimentoRealAnualdoPIB.Fontes:AMECOeBanco

    dePortugal

    -4.00

    -2.00

    0.00

    2.00

    4.00

    6.00

    8.00

    0.0

    20.0

    40.0

    60.0

    80.0

    100.0

    120.0

    1980

    1982

    1984

    1986

    1988

    1990

    1992

    1994

    1996

    1998

    2000

    2002

    2004

    2006

    2008

    2010

    VariaorealdoPIBDvidaem%doPIB

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    42/123

    [41]

    possveldelimitarahistriaeconmicadops-25deAbrilem5grandesperodos(ver

    quadro1):operodoqueseseguiuao25deAbril,talcomoolongoperodoentre1986e

    2000(emboracomvariaes),combinaramdficeselevadoscomtaxasdecrescimentodo

    PIBtambmelevadasecorresponderamaperodosdeestabilizaodadvidapblicaemPortugal.

    Pelo contrrio, entre 1981 e 1985 verificaram-se dfices elevados acompanhados por

    estagnao econmica, em particular nos anos de interveno do FMI (83-85), com

    recesso em 84. Finalmente, o perodo que se seguiu entrada no euro ficou

    caracterizadopelosnveismaisbaixos dodfice, factoque no impediuo aumentoda

    dvidaempercentagemdoPIB,porforadasbaixssimastaxasdecrescimentoeconmico.

    Esse perodo culmina na crise financeira, que abre um perodo de forte recesso

    econmicaqueaindaestamosaviver.

    Quadro4.1:CincoperodosnaevoluodaDvidaPblicaPortuguesa.Fontes:AMECO,Bancode

    PortugaleclculosdaIAC

    Na dinmica da dvida em percentagem do PIB h, portanto, que ter em conta trs

    dimensesfundamentais:osaldooramental(primrio),o crescimentodoPIBeastaxas

    dejuro.Noentanto,aevoluodospreos(taxadeinflao)tambmtemumimpactona

    dinmicadadvida.A inflao influenciao crescimentonominal doPIB edesvalorizao

    stockdadvidadenominadanamoedanacional,atenuandoosefeitosdosjuros,embora

    possaterconsequnciasnegativasnascondiesdefinanciamento.

    Almdestes fatoresque influenciama dinmicadadvida empercentagem doPIB, h

    variaes domontante dadvida que no decorremdiretamentedodfice oramental(vercaixa4.1).Ogrfico4.3ilustraessasvariaeseoscorrespondentesajustamentos.

    Anos PerodoDficeMdioAnual(%doPIB)

    VariaoMdiaAnual

    daDvida(%doPIB)

    CrescimentoMdioReal

    doPIB

    1977-1981 Ps-25deAbril 5,95 0,80 5,57

    1981-1986 AD/BlocoCentral 7,15 4,80 1,67

    1986-2000 Estabilizao 5,07 -0,62 4,07

    2000-2008 EntradanoEuro 4,26 2,63 0,99

    2008- CriseFinanceira 8,13 12,13 -1,07

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    43/123

    [42]

    Essasvariaespodemdecorrerdemudanasnovalordeativosdoestado,alteraesno

    permetro de consolidao oramental, receitas de privatizaes (ver anos 96-98),

    operaescomabanca,etc.

    Em2010eparticularmenteem2011,osajustamentosentredficeevariaodadvidaforam considerveis. Em 2011 o grande ajustamento corresponde a uma parcela no

    utilizadadoemprstimodatroika(10,2milmilhes)eparteaindanoregularizadados

    fundosdepensestransferidosparaaseguranasocial(2,7milmilhes).Contribuempara

    este ajustamentoo registo da contribuio do estado portugus para o emprstimo

    GrciaeIrlanda(900milhes)eopagamentoantecipadodepartedoemprstimodoFEEF

    (900milhes).

    Aquestodasalteraesaopermetrooramentaltambmparticularmenterelevante.

    DeacordocomoEurostat,asresponsabilidadescontingentesdoestadoportugusque

    se situam fora do permetro de consolidao oramental ascenderam em 2011 a

    16milmilhes de euros. No entanto, segundo o documento do FMI sobre a terceira

    revisodoacordocomatroika,essasresponsabilidadespoderoatingiros25milmilhes

    deeuros,entregarantiasa instituiesfinanceiras,empresaspblicasforadopermetro

    deconsolidaoeparceriaspblico-privado.

    Grfico4.3:Ajustamentoentredficeevariaodadvida(1991-2011).Fonte:BancodePortugal

    -5000

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    Diferena

    Dfice

    VariaodaDvida

  • 7/29/2019 inciativa para uma auditoria cidad dvida 2013_conhecer a dvida para sair da armadilha, relatrio preliminar [j

    44/123

    [43]

    Caixa4.1:Ajustamentodfice/dvida

    Para efeitos do Pacto de Estabilidade e Crescimento e de contabilidade europeia, o dfice das

    administraespblicasreportadoemvaloresnominaiserefleteaticadaContabilidadeNacional,tal

    comoadvidapblica.

    Odficedasadministraespblicasnocorresponde,demodogeral,variaodadvidapblicanesse

    perodo.A diferena entrea variaodadvida pblicaeo valordodfice designada por ajustamento

    dfice-dvida(ADD).

    SeoADDforsuperiorazero,entoadvidapblicaestaaumentarmaisqueodfice.Seforinferiorazero,

    odficequeestacresceraumritmosuperioraodadvida.

    HvriosfatoresquepodemcontribuirparavaloresdoADDdiferentesdezero:

    transaes emativos financeiros:a dvidapblicaumconceitobruto.Diz respeitoapenas aos

    passivos do sector institucionaldas administraes pblicas, no sendo deduzidos os ativos do

    sector face ao resto da economia. Variaes na posse destes ativos constituem fatores dedivergncia, por exemplo,quando seemitedvidapara adquirirum ativoouquando seutilizam

    ativosfinanceirosparafinanciarodficeouamortizardvidapblica;

    transaes em passivos no includos na dvida pblica: a dvida exclui derivados financeiros e

    outroscrditos(dvidascomerciais).Estapodeaumentarporqueserealizampagamentosrelativos

    aestascategoriasquejtinhamsidocontabilizadosanteriormentenodfice.Exemplo:quandoo

    estadorecorreacrditoscomerciaisparafinanciaracompradebenseserviosnoafetaadvida.

    Quando emite dvida para liquidar os crditos comerciais registados em perodos anteriores

    aumentaadvidasemimpactonodfice;

    diferenasdevalorizao:variaesdevaloroureclassificaescomimpac