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Eixo 10 – Outros Temas Aprendendo pelos exemplos: casos práticos de Turismo Inclusivo Bruna de Castro Mendes 1 Scott Rains 2 Resumo: O texto deve ter entre dez e doze linhas, escrito em fonte Arial, tamanho 10 e com entrelinhas simples. O resumo deve ter uma extensão mínima de 100 e máxima de 150 palavras. No texto, é necessário explicitar o objeto de estudo, objetivos, metodologia e os principais resultados da pesquisa. Palavraschave: Turismo Acessível. Pessoas com deficiência. Mercado. Introdução Nas cidades e na vida urbana, as relações deixam de ser naturais para se tornarem sociais, surgindo o conceito de indivíduo, que passa a viver de forma mais autônoma e livre, conforme destaca Ross (2006). Contudo, isso apenas ocorre se esse indivíduo pertencer e cumprir às regras estabelecidas pelo estereótipo de “ser normal”. Porém, perguntase: o que significa e representa essa normalidade, defendida por uma assim conceituada maioria? Em primeiro lugar, é preciso compreender que a sociedade caracterizase por definições pautadas por conceitos de produtividade, segundo os quais aquele indivíduo que não cumprir com o esperado (seja em produção, seja em métodos de elaboração) é taxado por determinados termos que marcam essa diferenciação: ou ele é burro ou é gênio; ou ele é normal ou é anormal; entre outros. Em segundo lugar, destacase o fato de que o “diferente” assusta e por isso as pessoas tentam controlar, da melhor maneira possível, as suas rotinas, os seus esquemas de trabalho e as suas amizades e áreas de convívio social. Dessa maneira, as comunidades costumam ter regras implícitas que podem segregar ou não indivíduos que não pertençam a um ideal estabelecido, tornando os que estão fora das normas, muitas vezes, pessoas estigmatizadas. Ribas (2003) acredita que sejam essas diferenças sociais valorativas que 1 Mestre em Hospitalidade e Professor no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio. Email: [email protected] 2 Consultor de Turismo Inclusivo, no Brasil e no mundo. Email: [email protected] 1

Inclusão em Hotéis: Aprendendo pelos Exemplos

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Eixo 10 – Outros Temas

Aprendendo pelos exemplos: casos práticos de Turismo Inclusivo

Bruna de Castro Mendes1

Scott Rains2

Resumo: O texto deve ter entre dez e doze linhas, escrito em fonte Arial, tamanho 10 e com

entrelinhas simples. O resumo deve ter uma extensão mínima de 100 e máxima de 150

palavras. No texto, é necessário explicitar o objeto de estudo, objetivos, metodologia e os

principais resultados da pesquisa.

Palavras­chave: Turismo Acessível. Pessoas com deficiência. Mercado.

Introdução

Nas cidades e na vida urbana, as relações deixam de ser naturais para se tornarem

sociais, surgindo o conceito de indivíduo, que passa a viver de forma mais autônoma e livre,

conforme destaca Ross (2006). Contudo, isso apenas ocorre se esse indivíduo pertencer e

cumprir às regras estabelecidas pelo estereótipo de “ser normal”. Porém, pergunta­se: o que

significa e representa essa normalidade, defendida por uma assim conceituada maioria?

Em primeiro lugar, é preciso compreender que a sociedade caracteriza­se por

definições pautadas por conceitos de produtividade, segundo os quais aquele indivíduo que

não cumprir com o esperado (seja em produção, seja em métodos de elaboração) é taxado

por determinados termos que marcam essa diferenciação: ou ele é burro ou é gênio; ou ele

é normal ou é anormal; entre outros.

Em segundo lugar, destaca­se o fato de que o “diferente” assusta e por isso as

pessoas tentam controlar, da melhor maneira possível, as suas rotinas, os seus esquemas

de trabalho e as suas amizades e áreas de convívio social. Dessa maneira, as comunidades

costumam ter regras implícitas que podem segregar ou não indivíduos que não pertençam a

um ideal estabelecido, tornando os que estão fora das normas, muitas vezes, pessoas

estigmatizadas. Ribas (2003) acredita que sejam essas diferenças sociais valorativas que

1 Mestre em Hospitalidade e Professor no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio. E­mail: [email protected]

2 Consultor de Turismo Inclusivo, no Brasil e no mundo. E­mail: [email protected]

1

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podem determinar que as pessoas deficientes não sejam capazes de conviver com outros

indivíduos, fabricando mecanismos de exclusão. Contudo, estamos inseridos em relações

sociais e dependemos delas para o desenvolvimento social. Ao isolarmos grupos sociais

que não pertençam ao que a maioria considera o ideal de produtividade e convivência,

negamos essa inter­relação entre o homem e a sociedade.

Nesse sentido, não se pode esquecer que quando se pensa em diversidade,

pensa­se em uma minoria, excluída e isolada de todo e qualquer convívio social, porém

Guijarro (1998) reforça que falar em diversidade é falar do coletivo, que traz em seu interior

as diferenças habituais (grifo nosso). Ao debater a relação dos direitos e deveres de cada

pessoa na sociedade, aborda­se, obrigatoriamente, o conceito de cidadania dos grupos

conhecidos como minorias. Tratando­se especificamente das pessoas com deficiência, o

artigo 3º da Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência diz que as

pessoas deficientes têm o direito inerente ao respeito por sua dignidade humana; qualquer

que seja a origem, a natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos

fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, que implicam antes de tudo, no

direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível.

A Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de

Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência, mais conhecida como a

Convenção de Guatemala, ocorrida em 28 de maio de 1999, enfatiza ainda que as pessoas

com deficiência têm o direito de não serem submetidas à discriminação com base na

deficiência, emanando a dignidade e a igualdade que são inerentes a todo ser humano

(BRASIL, 2006a).

Todos esses conceitos expostos preconizam o debate da inclusão social, que

representa um dos diversos movimentos sociais que consideram a liberdade pessoal como

um direito universal, independentemente de raça, sexo, aparência física, sendo que, segundo

Castells (1983 apud KAUCHAKJE, 2003, p.68), esses movimentos sociais são considerados

os principais protagonistas na formulação e na demanda por direitos. Portanto, falar em

cidadania das pessoas com deficiência envolve, obrigatoriamente, falar da inclusão social

desse segmento e da qualidade de vida.

Contudo, possibilitar que pessoas com deficiência convivam com os diversos grupos

sociais e que a discriminação seja atenuada exige um tempo prolongado de espera. Ao

comentar sobre mudanças sociais, Krippendorf (1989, p.152) ressalta que “a mudança só é

efetiva quando se galgam todas as etapas, sendo que ela não pode ser forçada, e sim no

2

Page 3: Inclusão em Hotéis: Aprendendo pelos Exemplos

máximo encorajada”. Em busca desse encorajamento é que se discutem conceitos de

inclusão social, buscando­se uma transformação da sociedade. O resultado dessa alteração

não é imediato, mas é preciso permitir que cada deficiente possa controlar a sua vida, e “dar

orientação básica a seus impulsos” (OLIVEIRA, 1993, p.12).

Enfatiza­se ser necessário o conhecimento das diferenças para garantir a

concretização do processo de inclusão, pois, conforme afirma Fávero (2004), apenas o

tratamento diferenciado é que irá promover a igualdade, respeitando as diferenças e as

capacidades de cada pessoa. Apenas a convivência garante a formação completa do ser

humano, pois, segundo Oliveira (1993, p.13), “o homem só se faz no mundo através de sua

ação, sendo que sua dignidade consiste fundamentalmente na liberdade de decisão”.

Conquistar, disseminar o respeito e não erguer barreiras diante das diferenças

implica construir uma atmosfera inclusiva. Acredita­se, diante disso, que é por meio da

disseminação da informação e de exemplos inclusivos que poderemos demonstrar para a

sociedade que a convivência integral de todo e qualquer ser humano pode se tornar uma

realidade e não mais um debate meramente utópico. Nesse sentido é que o presente artigo

expõe exemplos de estabelecimentos e cidades que caminham no processo de inclusão

social. Reforça­se o fato de que todo esse levantamento ocorreu pelas experiências dos

autores, que lutam pela inclusão ao turismo de toda e qualquer pessoa, independente de

suas características particulares. Para tanto, caracteriza­se a pesquisa como exploratória,

utilizando­se do levantamento bibliográfico, experiências empíricas (e por isso a utilização de

escrita mais pessoal) e debates no mundo académico para a elaboração da mesma. Como

complemento, utilizou­se de uma rede de contatos internacionais, recebendo sugestões de

pessoas da Ìndia, Suècia, Estados Unidos e outras localidades, além de indicações de sites

e entidades que estudam e pesquisam o tema da inclusão no turismo.

Parte 1. Turismo para Pessoas com Deficiência

Para diversos autores que trabalham com o tema da deficiência, como Ribas (2003),

Amaral (1995), Werneck (1997) e Silva e Bóia (2006), além das barreiras físicas, a falta de

informação aliada à “subinformação” (conceitos errôneos disseminados pela sociedade) são

os principais entraves para a inclusão social das pessoas com deficiência, pois a ignorância

sobre o assunto acarreta preconceito – e, a partir deste, se formam os estereótipos que se

tornam presentes na cultura e originam estigmas.

3

Page 4: Inclusão em Hotéis: Aprendendo pelos Exemplos

Percebem­se, assim, poucas ações efetivas que auxiliam na quebra de paradigma,

ocorrendo apenas um cumprimento forçado das leis, sem a mudança de comportamento

necessária para a efetivação do processo de inclusão social. Para uma mudança cultural

em relação ao tratamento destinado às pessoas deficientes, que resulte em uma

acessibilidade plena, é preciso mais do que simplesmente garantir a ocupação do espaço

físico. É preciso envolver toda a sociedade nessa complicada conquista.

Aproveitando­se desses conceitos, e delimitando a análise no campo das atividades

turísticas, percebe­se que é durante essa prática que as pessoas interagem com os mais

diversos públicos, inclusive com aqueles que não pertenceriam ao seu ciclo habitual de uma

convivência marcada pela “normalidade”. Ao contemplar essa relação, nota­se a

preocupação com o bem­estar do outro, com a recepção, com o atendimento das

necesidades, em suma, nota­se, poder­se­ia notar um olhar marcado pela hospitalidade,

mas o que se encontra é a inospitalidade.

Para que possamos falar de um turismo hospitaleiro, marcado pelos conceitos da

hospitalidade, é preciso nos preocuparmos não só com a melhoria do serviço prestado, mas

também com o conforto e o bem­estar dos clientes em relação à infra­estrutura e aos

equipamentos (TRINDADE, 2004, p.74). Conhecer o seu público e adequar os serviços para

que todas as necessidades sejam atendidas são iniciativas primordiais para que o turismo

contribua para a inclusão social das pessoas com deficiência.

Segundo o Programa de Ação Mundial das Nações Unidas, “as autoridades de

turismo, agências de viagens, organizações voluntárias e outras envolvidas na organização

de atividades recreativas ou oportunidades de viagem devem oferecer seus serviços a todos

e não discriminar as pessoas com deficiência” (SASSAKI, 2003, p.20).

Pessoas com deficiência almejam um tratamento idêntico ao destinado às demais

pessoas em recintos comuns e em atividades diversas, como a turística. Acresce­se

apenas a necessidade de algumas adaptações, respeitando as capacidades e

possibilidades individuais. Com o objetivo de garantir o acesso ao turismo, algumas atitudes

devem ser tomadas. Segundo Muller (2003, p.68), o “turismo deve, além de se tornar mais

eficiente e melhorar sua qualidade, ser mais autêntico e mais humano”. É apenas

considerando o outro em sua plenitude que o turismo poderá auxiliar no processo de

inclusão.

A contribuição do turismo é possibilitar que as pessoas com deficiência conheçam

suas capacidades e desenvolvam suas habilidades de maneira prazerosa, em contato com

4

Page 5: Inclusão em Hotéis: Aprendendo pelos Exemplos

ambientes diversos e pessoas fora do seu círculo habitual; é ajudá­las a compreender

melhor aquilo que desejam e necessitam, com vistas a um aumento na qualidade de vida e

maior participação como cidadãs; em suma, é fazer com que elas migrem do papel de

coadjuvantes para o de protagonistas.

Nesse sentido, define­se turismo inclusivo como "the application of the seven

principles of Universal Design to the products, services, and policies of the tourism industry

at all stages of their lifecycle from conception to retirement and introduction of a replacement 3

", complementado pelo conceito de que esse é o turismo “ that is accessible to all people,

with disabilities or not, including those with mobility, hearing, sight, cognitive, or intellectual

and psychosocial disabilities, older persons and those with temporary disabilities ”.4

Os principios do Desenho Universal foram criados durante a era dos direitos civis nos

Estados Unidos e formalizados em 1997, representando as principais demandas para o

proceso de incluso social, seja no ámbito do trabalho, do lazer, do turismo e demais áreas.

De qualquer maneira, nós enfatizamos que o desenho universal é uma aproximação do

ideal, e não uma lista única de soluções, de medidas ou de produtos predefinidos.

Os princípios envolvidos são a Equiparação nas posibilidades de uso, reforçando a

flexibilidade em sua utilização, para atender a uma ampla demanda de indivíduos,

preferencias e habilidades. Debe­se contemplar, também, o uso Simples e Intuitivo,

permitindo que qualquer pessoa, independente da experiênca, nível de formação,

conhecimento, possa usar o produto ou serviço em questão. A captação de informação deve

ser avaliado, comunicando eficazmente ao usuário as informações necessárias, ocorrendo

tolerancia ao erro, sendo esse o quinto conceito, já que o desing minimiza o erro, mas não o

previne totalmente. O mínimo esforço físico debe ser considerado, seguido pela Dimensão e

espaço para uso e interação, independente do tamanho, postura, ou mobilidade da pessoa .5

Acredita­se que o Design Universal debe ser contemplado em toda e qualquer

decisão. Apenas a partir disso é que poderemos pressupor que a Hospitalidade, turismo e

3 Tradução livre: “A aplicação dos sete principios do Design Universal para productos, serviços e políticas da

industria do turismo para todos os estágios do seu ciclo de vida, desde a sua concepção até a reforma, e a

introdução de um substituto”. Disponível em: http://www.livestream.com/PoloITHandicap. Acesso em 03

abr.2012.4 Tradução livre: “atividade acessível a toda e qualquer pessoa, com deficiencias ou não, incluindo aqueles

com dificuldades de mobilidade, escuta, visão, cognitivas ou intelectuais, pessoas idosas, ou aqueles com

deficiencia temporária”. Disponível em:

http://www.accessibletourism.org/resources/takayama_declaration_top-e-fin_171209.pdf.5 Escrito por Scott Rains, sendo o documento completo disponível em: acessobrasil.org.br/index.php?itemid=42

5

Page 6: Inclusão em Hotéis: Aprendendo pelos Exemplos

incluso, conceitos que devem nortear um trabalho, uma mudança de paradigma, afinal, a

hospitalidade pode ser entendida como um meio de criar e consolidar relacionamentos; o

turismo, uma das atividades pelas quais os relacionamentos se fortalecem; e a inclusão,

uma meta direcionadora desse envolvimento. Se bem estruturado e pesquisado, o turismo

poderá se tornar o mecanismo da disseminação da sociabilidade e da inclusão social,

baseado nos preceitos da hospitalidade.

Parte 2. Aprendendo pelos Exemplos

Quando inicia­se a discussão ou debate acerca de turismo inclusivo, não é incomum

escutarmos que tudo não passa de conceitos utópicos, sem aplicabilidade e interesse ao

profissional da área, pois não gera lucratividade. Segundo Butler e Jones (2003), a população

com deficiência raramente aparece em estimativas ou previsões como um grupo específico,

apesar de ser um grupo grande e que tende a crescer com o aumento da expectativa de

vida, além de viajarem com mais freqüência. Para Trindade (2004, p.74), a pessoa com

deficiência é vista como doente, sem necessidade de fazer turismo; visão que inibiu as

oportunidades e os direitos desse segmento e afetou a qualidade do turismo, que passa pela

adaptação e acessibilidade dos serviços existentes.

Para Buhalis e Eichhorn (2005), a demanda por acessibilidade no continente europeu

é de mais de 127 milhões de pessoas, sendo que 89 milhões delas representam um

potencial mercado de consumo de produtos turísticos; se multiplicarmos esse número por

0,5, referente a amigos e familiares, chegamos a um total de 134 milhões de pessoas com

potencial de consumo para viagens adaptadas na Europa.

Em estudo realizado na Alemanha, segundo Neumann (2005), as pessoas com

limitações representam um potencial de consumo considerável. A intensidade de viagem

desse segmento é de 54,3%, o que equivale a 3,64 milhões de indivíduos com restrições de

mobilidade. Já nos Estados Unidos, de acordo com Zografopoulos (2005), pessoas com

deficiência gastam U$13,6 milhões com turismo todo ano, e quase 70% dos adultos com

deficiência viajaram pelo menos uma vez nos últimos dois anos. O estudo americano revela

ainda que, dentro desses 70%, há um subgrupo, que representa 20%, que viaja, pelo menos,

seis vezes a cada dois anos.

Em 2011, a Organização Mundial da Saúde e o Banco Mundial divulgaram o primeiro

resultado de um estudo global acerca da deficiencia, estimando que cerca de um bilhão de

pessoas sofrem algum tipo de restrição, sendo que o estudo reforça também que a maioria

6

Page 7: Inclusão em Hotéis: Aprendendo pelos Exemplos

das pesquisas para nesse tipo de informação. Buscando ir além e englobar os conceitos

económicos e de consumo dessa parcela da população, em uma pesquisa realizada por

Simon Darcy (Austrália), sugere que se deve considerar que uma pessoa com deficiencia

raramente viaja sozinha, pois, na maioria das vezes, está acompanhada de famílias, amigos

ou colegas de trabalho. Portanto, após suas pesquisas, o estudioso sugere multiplicar por

três os efeitos económicos de uma única pessoa com deficiencia viajando, tornando ese

mercado muito interesante para se investir . Ainda segundo o estudo australiano 6

supracitado, os dados mais recentes demonstram que cerca de 88% das pessoas com

deficiencia tiram férias todos os anos; o tamanho médio do grupo desse segmento é de 2,8

pessoas para uma viagem doméstica de um pernoite e de 3,4 pessoas para um dia de

viagem; cada vez mais se quebra a imagen de que ese segmento não se expande em

decorrência das baixas condições económicas, sendo esse pressupsoto falso já que há um

nicho muito interesante a ser explorado nesse grupo; eles viajam e consomem das mesmas

maneiras que a população geral; o crescimento do turismo desse grupo equivale a US$8

bilhões por ano ou 11% do turismo mundial (seja inclusivo ou não).

Ressalta­se, porém, que a estimativa acima envolve apenas as pessoas com

deficiencia. Se expandir para as pessoas que não possuem deficiencia, mas viajam com

esse grupo, pode­se dizer que o potencial económico gira em torno de US$24 bilhões ou

30% do turismo geral. Como vantagens, este segmento de clientes revela preferência pela

baixa temporada, boa fidelidade e razoável efeito multiplicador, pois um turista com

deficiência dificilmente viaja sozinho (TRINDADE, 2004, p.75).

Outro estudo realizado pelo Grupo Keroul, de Quebec, denominado Study on the

behaviours and attitudes of people with a physical disability, with respect to tourism, culture

and transportation in Québec . O estudo procurou descobrir os hábitos desse segment, 7

referente a restaurants, hotéis, teatros, cinemas, além de examiner a participação em

celebrações e festas. Entre as descobertas destaca­se que, nas suas mais recentes

viagens a Quebec, esse segmento gastou em torno de US$175 milhões, sendo que esse

mercado rendeu, apenas à cidade, mais de US$1 bilhão. Além do mais, destaca­se o

constante crescimento desse segmento, em decorrência do envelhecimento da população,

6 Informações retiradas do site http://travability.travel/papers/occasional_4.html#significence. Acesso em 07

de abril de 2012.7 “Estudo sobre os comportamentos e atitudes das pessoas com deficiencia, referente ao turismo, cultura e

transporte em Quebec”. Disponível em: http://www.keroul.qc.ca/en/. Acesso em: 07 de abril de 2012.

7

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sendo que 65% da amostra tinham mais do que 55 anos. As principais motivações para a

viagem envolvem negócios, visita a famílias e amigos, além de visitar áreas turísticas e

atrações culturais, sendo que 59%, pelo menos, viajaram uma média de seis viagens ao

ano, normalmente acompanhados por familiares e amigos.

Aproveitando­se desse mercado, o grupo Microtel Inns & Suites se propõe a seguir as 8

diretrizes da ADA (Americans with Disabilities Act), assegurando que todos os seus hotéis

tenham quartos acessíveis para todo e qualquer tipo de deficiência. Porém, cientes de que a

barreira atitudinal é uma das mais complexas a serem transpostas, pois estão enraizadas

em nossa vida, comunidade e família, o grupo oferece um treinamento a todo funcionário de

cada um dos seus hotéis, ensinando como ser amigável e útil às pessoas com deficiência,

como também ensina habilidades de atendimento de ordem prática, procedimentos

operacionais, de emergência e segurança. Acredita­se ser esse um grande exemplo de

turismo inclusivo, já que as barreiras atitudinais estão tão incorporadas no nosso cotidiano,

por meio de leis, senso comum, que apenas quando não houver mais preconceitos,

estigmas, estereótipos e discriminações, como resultado de programas e práticas de

sensibilização e de conscientização das pessoas em geral e da convivência na diversidade

humana que poderemos falar na quebra dessas barreiras.

Outro exemplo a ser citado e seguido é o da cidade de Takayama (Japão),

reconhecida pelas habilidades da população em carpintaria. Em decorrência da sua alta

altitude e consequente separação de outras áreas japonesas, o que a manteve bem

afastada de influências, a cidade desenvolveu a sua própria cultura, fato presente na

Declaração de Takayama para o Desenvolvimento de uma Comunidade para Todos na Ásia

e Pacífico . Nesse documento, afirma­se o principio “nothing about us without us”, ou seja, 9

“nada sobre nós sem nós”, ao destacar a importância da participação de pessoas com

deficiência, idosos e famílias no processo de desenvolvimento de políticas, implantação,

monitoramento e avaliação das práticas inclusivas.

Destaca­se também o Scandic Victoria Tower, um hotel de 34 andares em Estocolmo,

que demonstrou que é possível oferecer quartos adaptados em andares mais altos, já que o

tradicional é elaborá­los no térreo, apenas com a ajuda de elevadores que permitam a

cadeirantes uma fácil evacuação em caso de incêndios. Junto com a supervisão de Magnus

8 Para maiores detalhes, consultar o site: http://www.microtelinn.com/9 Disponível em: http://www.accessibletourism.org/resources/takayama_declaration_top-e-fin_171209.pdf.

Acesso em 03 de abril de 2012.

8

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Berglund, que desde de 2003, tornou­se o Embaixador da Acessibilidade e que, em 2012, foi

indicado como uma das principais pessoas na luta pela inclusão na Suécia, o hotel

desenvolveu um check­list com mais de cem exigências, implantados em um período de

três meses. Após somente um ano de implantação, eles já perceberam um aumento na taxa

de ocupação apenas pela facilidade, compreensão e acessibilidade dos seus quartos e

áreas sociais.

O grupo Hoteleiro ITC, especializado em Hoteis de Luxo na Índia, estabeleceu e

acredita que as pessoas com deficiencia podem contribuir com o trabalho e com a

receptividade de toda e qualquer pessoa. Ao empregar pessoas que apresentam alguma

limitação, outros funcionarios começaram a mudar suas atitudes e receptividade para o

“diferente”. Os hóspedes que lá se hospedam, tanto os com alguma deficiencia ou sem

nenhuma limitação, sentem uma maior e melhor receptividade e atenção dos funcionarios.

Para maiores detalhes em relação a esse grupo hoteleiro, contactamos Niranjan Khatri,

responsável pela iniciativa em debater a inclusão dentro do mercado da hospitalidade. Além

do óbvio benefício financeiro dos novos contratados, e do valor publicitário que acompanha a

ação, também confirma aos hóspedes a seriedade com que o tema “inclusão” é

considerado pelo grupo ITC. Segundo relato obtido, as ações internas só foram realizadas

após a contratação de pessoas com deficiencia, sendo que no início eles não sabiam nada

desse segmento. Para iniciar essa ação inclusiva, foi decidido que pequenos pilotos seriam

adotados em diferentes locações do grupo hoteleiro em questão. Simultaneamente, um

treinamento foi realizado com os demais funcionarios com o objetivo de sensibilização para

que eles pudessem se tornar um apoio no processo de integração.

Para tal, a crença disseminada é que a empatía nos negocios é construída diretamente

com os hóspedes, tornando como principal desafio, “to shift this attribute to the basement of

the pyramid as the sector is mired in sympathy leading to no large outcomes &

we decided to discard sympathy and deploy empathy ”. Prosseguindo com as ações, 10

identificaram­se as principais vagas que poderiam receber pessoas com deficiencia, sendo

que eles precisavam ser seguros, fáceis de se aprenderem e que pudessem ser realizados

internamente, podendo­se citar como exemplos, porteiros, área de reservas, vendas e

marketing, salão de beleza, entre outros. Após finalizarmos as principais questões, pode­se

definir que o destaca ao grupo ITC perpassa pelo fato de que eles, deliberamente, adotaram

10 Tradução Livre: Para mudar este atributo para a base da pirámide, como o setor esta atrelado à simpatía,

nós decidimos descartar a simpatía e implantar a empatía.

9

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um sistema para facilitar a inclusão por intermédio de sua cultura corporativa, e que

assumiram como missão disseminar essa conceito ela borando livros que possam guiar

outras ações de outros empreendimentos (concorrentes ou não) , e, finalmente, eles 11

substituíram a pena pela empatía como valor corporativo.

No Brasil, podemos citar como exemplo o Novotel Jaraguá, sob então gerencia do Sr.

Carlos Bernardo, que realizou um treinamento com todos os seus funcionarios sobre como

atender e se preparar para as particularidades de atendimento que envolvem um hóspede

com deficiencia. Já em relação à ciudades, Balneário Camboriú deu os primeiros passos

com a construção de rampas e adequação de calçadas, porém com um longo caminho

ainda a ser percorrido. Não poderíamos deixar de citar Socorro, considerada um dos

maiores exemplos de turismo acessível em territorio nacional, que conseguiu unir o mercado

de aventuras com a inclusão social de todo estilo de turista. Marta Gil, uma socióloga e

miliante pela inclusão, ainda destaca Porto de Galinhas, com jangada acessível, jet ski e

demais esportes, além de profissionais preparados para o atendimento específico, tanto nas

pousadas, como também nos diversos passeios oferecidos. A mesma autora destaca

Maceió, com o Projeto Jangada Acessível, desenvolvida pelo arquiteto Jorge Luiz, permitindo

o acesso de pessoas com deficiencia, de idosos, além de famílias com crianças pequenas,

com a utilização de uma esteira que leva até a faixa de areia mais dura.

Nessa busca de cenários que pudessem se qualificar como exemplos de inclusão

social, consideramos que as ações realizadas pela ADA e pelo ACAA nos Estados Unidos 12

poderão se tornar um dos principais marcos de 2012.. Durante o check in, é oferecida ajuda

com a bagagem, geral e a de mão, como também é oferecido a uma diversidade de

funcionarios um treinamento para que eles estejam aptos a entrevistar passageiros que

apresentem algum tipo de limitação com o objetivo de determinar a gravidade dessa

limitação e a necessidade de alguma assistência específica, se solicitado.

Além disso, durante o vôo, a legislação permite que passageiros carreguem

equipamentos médicos ou cão guía para apoio e conforto da pessoa. Certos lugares ao

longo do corredor possuem braços que podem ser levantadas para facilitar a entrada de

cadeiras de rodas (infelizmente ainda há um ponto a ser modificado, pois apesar das

11 Physical Accessibility Manual. Disponível em:

http://www.slideshare.net/srains/hotel-accessibility-manual-by-itc-india e Disability Handbook for Industry.

Disponível em: http://www.itcportal.com/pdf/Welcomgroup-Disability-Handbook-for-Industry.pdf

12 ADA: Americans with Disabilities; ACAA: Air Carriers Access Act.

10

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pessoas com deficiencia terem o direito de serem os primeiros a embarcar, são também os

últimos a desembarcar pela necessidade de apoio durante essa etapa). Posteriormente, se

a pessoa quiser alugar um carro, as operadoras são obrigadas a fornecer opções de

condução manual, enquanto postos de gasolina com mais de um empregado devem prestar

assistência a esses motoristas.

Após esses breves relatos, podemos afirmar que escolhas arquitetônicas e de design

valorizam o espaço e, ao mesmo tempo, tem a capacidade de ensinar. Uma simples rampa,

construída de maneira adequada, em um hotel, relembra um hóspede e um funcionario de

que a área do turismo valoriza todo e qualquer consumidor, e que por isso, todos merecem o

melhor atendimento possível. Não podemos, ainda, citar e apontar um exemplo que

contemple todos os aspectos da inclusão das pessoas com deficiencia no turismo. Porém,

os casos citados acima são exemplos de que esse segmento não mais precisa ser visto e

interpretado com dó e com asistencialismo, mas sim visto como um mercado a ser

explorado.

Conclusões

Apesar de crescente, o acesso das pessoas com deficiência ao turismo ainda é

pequeno. Primeiro, pela dificuldade de a pessoa com deficiência e a sociedade, incluindo

aqui os familiares, lidarem com essas diferenças; e, segundo, pela falta de acessibilidade

das cidades, atrativos turísticos, meios de hospedagem e setores de alimentação e aviação.

Contudo, isso não significa que esse mercado deva ser ignorado. Faz­se necessário

compreender esse mercado e as pessoas com deficiência, já que a demanda por serviços

de turismo adaptados cresce proporcionalmente ao aumento da expectativa de vida e das

ocorrências de trauma, como já se percebe em países desenvolvidos, como Estados

Unidos, Alemanha, Canadá e Japão (estudos europeus já demonstram preocupação com os

baby boomers e o acesso ao lazer). Nesse sentido, recomenda­se que novos estudos

abordem os benefícios obtidos pelos familiares e pessoas mais próximas ao deficiente

quando este se torna mais independente e passa a viajar.

Como acelerar a evolução desse mercado?

É preciso provocar uma mudança na atitude das pessoas, a qual perpassa pela

educação, desde o nível básico até o superior, englobando os profissionais direta e

indiretamente envolvidos no setor de turismo. Esse mercado deve ser pesquisado, analisado

11

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e estudado, obtendo­se, com isso, um perfil do consumidor e o produto turístico que ele

busca. Faz­se necessário, ainda, pressionar os órgãos públicos e o sistema judiciário para a

aplicação das diversas leis já existentes, auxiliando o ingresso no mercado de trabalho de

pessoas com deficiência, seja ela física, visual, auditiva ou mental.

Prioritariamente, é ideal não confundir a busca de reconhecimento dos direitos dos

deficientes com vistas à melhora de qualidade de vida com mero assistencialismo. Diante

dessa situação, acredita­se ser importante que novos estudos analisem os benefícios

previdenciários disponíveis, além de uma possível obrigatoriedade de participarem das

atividades escolares; como garantir que as empresas não contratem simplesmente a

pessoa com deficiência, mas também a qualifique quanto ao seu potencial de trabalho,

permitindo melhor rendimento, maior satisfação pessoal, a entrada da mesma no mercado

consumidor e reduzindo, naturalmente, as barreiras atitudinais.

Já que o tratamento ao deficiente deve ser distante do assistencialismo, deve­se

compreender que o turismo inclusivo é um negócio como qualquer outro. A pessoa com

deficiência é um cliente e, como tal, deve ser bem atendido. Isso deve ser percebido pela

sociedade, pois esse nicho de mercado tem grande potencial de crescimento, devendo ser

mais bem trabalhado. Os lucros virão, mas investimentos têm que ser realizados,

especialmente em adaptação arquitetônica, educação profissional, adequação de

equipamentos e esforços de marketing.

Referências (Normas APA)

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