INCLUSÃO ESCOLAR NA PERSPECTIVA DA · PDF fileVII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X

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  • VII ENCONTRO DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X Pg. 3762-3774

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    INCLUSO ESCOLAR NA PERSPECTIVA DA EDUCAO PARA TODOS DE

    PAULO FREIRE

    Maria da Piedade Resende da Costa

    Paulo Cesar Turci

    Universidade Federal de So Carlos

    Programa de Ps-Graduao em Educao Especial

    Resumo

    O objetivo do presente estudo foi investigar se a incluso escolar na perspectiva da educao

    para todos de Paulo Freire pode ser considerada como um conceito de uma real incluso, uma

    referncia, sobre o tema. Para tanto foi desenvolvida uma pesquisa bibliogrfica a partir da

    produo literria do referido autor, dissertaes, teses e artigos cientficos, a ele relacionado.

    Leis, decretos, entre outros que abordam as polticas pblicas para a incluso escolar. Os

    resultados evidenciaram que a incluso ainda no se materializou como a promessa de uma

    escola para todos, deixando de exercer o seu potencial para o efetivo exerccio da cidadania.

    As concluses do estudo indicam que a incluso escolar na perspectiva da educao para

    todos de Paulo Freire deve ser considerada como um conceito de uma real incluso. Traz em

    sua prxis libertadora a gnese da incluso, traduzindo-se em uma autntica pedagogia da

    incluso, expressando toda diversidade e a pluralidade tnica e cultural que compem os seres

    humanos.

    Palavras-chave: Paulo Freire. Incluso escolar. Necessidades educacionais especiais.

    __________________

    Psicloga, Professora do Programa de Ps-graduao em Educao Especial da UFSCar.

    E-mail [email protected]

    Graduao em Pedagogia (UFSCar), Mestrando no Programa de Educao Especial da

    UFSCar. E-mail [email protected]

    Universidade Federal de So Carlos Programa de Ps-Graduao em Educao Especial

    Rodovia Washington Luiz, Km 235 - Caixa Postal 676 13565-905 - So Carlos-SP Tel/Fax:

    (16) 3351-8357, Tel: (16) 3351-8487 e-mail: [email protected]

    Introduo

    As Polticas Pblicas para Incluso e o Cotidiano da Escola para Todos

  • VII ENCONTRO DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X Pg. 3762-3774

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    Analisando as polticas pblicas para a educao inclusiva desenvolvidas no Brasil,

    idealizadas e referenciadas pela ONU e pelo Banco Mundial, constata-se que embora tenham

    sido desenvolvidas por meio de um discurso democrtico pautado nos princpios da

    igualdade, da valorizao da convivncia na diversidade e da solidariedade, tais polticas

    educativas no se traduziram em uma escola inclusiva. Este fato ocorreu porque se evidenciou

    que o discurso inclusivo foi elaborado sobre os mesmos princpios da cultura capitalista

    hegemnica e opressora que imps a excluso a determinados segmentos da populao

    educacional. Freire (2005, p.7) explica que: Em sociedades cuja dinmica estrutural conduz

    dominao de conscincias, "a pedagogia dominante a pedagogia das classes dominantes".

    Os mtodos da opresso no podem, contraditoriamente, servir libertao do oprimido.

    Especificamente no caso dos alunos com NEEs, eles foram segregados por meio de

    prticas homogeneizadoras construdas e delimitadas a partir de um padro de normalidade

    referenciado pelo principio da individualidade e da competitividade. Foram ignorados pelo

    poder pblico e deixados a merc da solidariedade das instituies filantrpicas ou dos

    servios das escolas privadas de educao especial.

    Nas escolas de Educao Especial, os alunos com NEEs foram privados do convvio

    social e estigmatizados como seres diferentes e excepcionais. Conseqente mente, perderam o

    direito autonomia intelectual, e em muitos casos perderam o direito dignidade humana, e

    at mesmo a sua condio de ser humano, ao serem intitulados como seres vegetantes. Em

    outras palavras, rompeu-se a relao de alteridade entre os seres humanos, agora classificados

    como normais e anormais, caracterizando-se assim, entre eles, a relao opressor-oprimido.

    Portanto, essa ideologia opressora no pode ser tomada como objeto referencial para a

    construo de uma escola inclusiva. Pois esta retrata a posio subalterna que o Brasil ocupa

    perante os poderosos pases de primeiro mundo. Fato este que nos impem modelos

    educacionais totalmente desconectados da realidade da escola pblica brasileira. Esses

    modelos no consideram fatores presentes no cotidiano escolar que se constituem em

    verdadeiras barreiras para a execuo bem sucedida do projeto inclusivo, tais como o

    excessivo nmero de alunos presentes nas salas de aula e o alto ndice de alunos que

    concluem o ensino mdio mesmo sendo analfabetos funcionais.

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    A formao de professores para o ensino fundamental nos cursos de Pedagogia, nas

    Universidades mais nobres do pas aborda a incluso de forma descomprometida e superficial,

    negando a legislao educacional, por vezes ocultando pensadores, como Paulo Freire. Para

    no se comprometer h a explicao: Mas isso se trata de uma utopia, imprimindo o

    significado impossvel palavra utopia expressada de forma satrica, para descredibilizar o

    discurso e evitar a problematizao do tema. Esta atitude implica o questionamento da escola

    tradicional segregadora, que constantemente criticada na academia, mas mesmo assim

    continua formando os gestores, os professores, influenciando e compactuando com as

    polticas que reproduzem a lgica excludente.

    Essa postura a mesma adotada em relao aos seus alunos com NEEs, aos quais so

    negadas as mnimas condies de igualdade e de oportunidade em relao aos seus pares.

    Mas, quando estes educandos reivindicam seus direitos assegurados pela Constituio

    Brasileira, escutam que a incluso um processo ainda em desenvolvimento, e, portanto as

    prticas inclusivas tambm esto sendo construdas gradativamente. Contudo, aqueles que

    insistem em fazer valer seus direitos passam a ser vistos como oportunistas que fazem uso de

    suas necessidades educacionais especiais para obter privilgios. Ento, alm de terem sua

    idoneidade questionada, ainda comum terem sua capacidade intelectual subjugada a um

    nvel inferior aos demais alunos, como explicitado na frase, muitas vezes ouvida: Voc foi

    longe, conseguiu chegar at a Universidade. E, na realidade, esta frase totalmente

    verdadeira, pois as dificuldades que um aluno com NEEs deve superar para ingressar e

    permanecer na Universidade so inmeras e variadas. Inicia-se com as barreiras

    arquitetnicas e passa pelas estruturais, culminando com a formao inadequada dos atores

    envolvidos no processo educativo e por vezes configurando-se como obstculos

    intransponveis. Todavia elas no esto relacionadas deficincia do aluno, mas sim ao

    descaso das instituies pblicas em relao diversidade humana que constitui a populao

    brasileira.

    Mediante a realidade descrita, faz-se necessria a presena de Paulo Freire, de acordo

    com os ensinamentos deste mestre da educao brasileira, poltica e educao no podem ser

    dissociadas, e desta forma torna-se necessrio compreender o contexto poltico, econmico,

    social e cultural em que o sistema de ensino est inserido. O Brasil um pas cujo sistema

    econmico capitalista, influenciado por uma perspectiva neoliberal, imerso no fenmeno da

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    globalizao do capital, sendo a escola uma instituio que assimila e reproduz as tendncias

    majoritrias que imperam na sociedade. Atualmente, podemos inferir que sua ao educativa

    construda a partir da ideologia neoliberal, segundo Freire (1996, p.141) A ideologia tem

    que ver diretamente com a ocultao da verdade dos fatos, com o uso da linguagem para

    pernumbrar ou opacizar a realidade ao mesmo tempo em que nos torna "mope".

    Paralelamente ao discurso da incluso, as instituies escolares esto sujeitas aos

    mecanismos de controle externo, atravs de avaliaes externas da escola, tais como o Plano

    de Metas Compromisso Todos pela Educao, que tem por objetivo a melhoria da qualidade

    da educao bsica. Essa qualidade, segundo o Plano, ser dimensionada pelo IDEB ndice

    de Desenvolvimento da Educao Bsica, conforme previsto no Decreto n. 6094, em seu

    captulo II, no artigo 3:

    A qualidade da educao bsica ser aferida, objetivamente, com base no IDEB,

    calculado e divulgado periodicamente pelo INEP, a partir dos dados sobre

    rendimento escolar, combinados com o desempenho dos alunos, constantes do censo

    escolar e do Sistema de Avaliao da Educao Bsica - SAEB, composto pela

    Avaliao Nacional da Educao Bsica - ANEB e a Avaliao Nacional do

    Rendimento Escolar (Prova Brasil) (BRASI, 2007).

    Estas avaliaes implicam no comprometimento de todos os profissionais da educao

    que atuam na instituio de ensino na busca do cumprimento das metas exigidas por tais

    exames, pois estas podem influenciar no salrio do professor e em maiores ou menores

    recursos financeiros para escola. Dessa forma a escola e seus profissionais concentram seu

    trabalho quase que exclusivamente na direo de atingir os ndices satisfatrios das referidas

    avaliaes, mesmo que este fato apresente como conseqncia a perda da autonomi