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Anais do III Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí: História e Diversidade Cultural. Textos Completos.
Realização Curso de História – ISSN 2178-1281
INDÍGENAS NO LIVRO DIDÁTICO E NA SALA DE AULA: ESTUDOS DE CASO
CERES-GO (2011-2012)
Autor: Lukas Magno Borges1
(Orientadora): Dra Poliene Soares Dos Santos Bicalho2
RESUMO
Analisar como está sendo abordada a questão indígena no livro didático do Ensino
Fundamental em escolas de Ceres é o objetivo principal da pesquisa. Como toda pesquisa
historiográfica requer a seleção das fontes e a delimitação do tempo e do espaço, foram
escolhidas Colégio Estadual Hélio Veloso, da cidade de Ceres, para a realização. Foram
observadas, em trabalho de campo, as turmas da 7º série do Colégio Hélio Veloso da cidade
de Ceres e, por conseguinte, os manuais didáticos adotados pela escola, com o intuito de
verificar como tais manuais transmitem as informações concernentes ao indígena. A pesquisa
foi realizada no período de 2011 a 2012, no programa de iniciação científica cujo objetivo foi
analisar especificamente a questão indígena nos manuais e na escola e livros didáticos. Para
tanto, participei do projeto maior da professora Dra. Poliene Soares dos Santos Bicalho,
intitulado: “O Lugar do Índio no Livro Didático e na Sala de Aula: Estudos de casos em
Escolas Públicas do Vale do São Patrício”, do qual atuei como bolsistas de Iniciação
Científica (PIBIC/CNPq ).
Palavras-chaves: Escola, Livro Didático e Representações.
Antes de analisar os livros didáticos atualmente utilizados na escola onde foi
realizada a pesquisa, (Colégio Estadual Hélio Veloso), é necessário dialogarmos, com autores
que realizaram pesquisas semelhantes inseridos em contextos anteriores, em específico da
década de 1980: Norma Telles (1987), Mauro Willian Barbosa de Almeida, (1987), Aracy
Lopes da Silva, (1987-1995), Luiz Donizete Benzi Grupioni, (1995): e autores que realizaram
pesquisas mais recentes dentre eles, Pedro Paulo Funari e Ana Piñon, (2011).
1 Acadêmico graduando do quarto ano do curso de licenciatura plena em história da UEG de Itapuranga.e atua
como aluno bolsista de iniciação cientifica pelo programa PIBIC/CNPq, desenvolvendo a pesquisa intitulada:
indígenas no livro didático e na sala de aula: estudos de caso ceres-GO (2011-2012). Email:
2 Poliene Soares dos Santos Bicalho professora doutora atua na UEG de Anápolis, e orientadora do presente
trabalho. [email protected]
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Anais do III Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí: História e Diversidade Cultural. Textos Completos.
Realização Curso de História – ISSN 2178-1281
A partir do exposto, podemos fazer uma comparação com livros didáticos
utilizados na escola campo escolhida para realizar a pesquisa, que se inserem, no contexto,
das leis 10.639/03 e 11.645/08. Estas leis tornam obrigatório o ensino da história da cultura
africana, afro-brasileira e indígena em escolas públicas e particulares do Brasil, dessa forma,
poderemos perceber as mudanças e permanências em relação às representações dos indígenas
em livros didáticos, e verificar como está sendo tratada a questão atualmente (2012).
Ao dialogar com as pesquisas feitas por esses autores supracitados, nos deparamos
com diversas formas de representação no qual se inserem negros e indígenas, mas cabe
tratarmos aqui somente da questão indígena. Segundo tais autores, a visão que o livro didático
de tal período passa sobre o indígena, é aquele “ser” que está submetido à selva e sempre
retratado em tempo pretérito, ou seja, sempre mostrado no passado no contexto de
colonização portuguesa em 1500.
Nessa perspectiva o indígena sempre aparece em segundo plano nas imagens em
relação aos ditos “homens brancos”, não eram contempladas as especificidades a
complexidade cultural de tais povos que de fato, reforça a visão homogênea relacionada ao
indígena. Somente alguns aspectos de sua cultura são evidenciados e mesmo assim tratando
de elementos culturais específicos a determinado povos, referindo-se a todos os índios que
vivem no território nacional, sem respeito às especificidades frente à diversidade.
O índio é retratado como aquele que vive somente em ocas e pintam o corpo usam
penachos e acima de tudo incapacitados de trabalhar, a questão segundo Telles (1987) é que o
livro didático nunca explica a fundo a lógica de algumas sociedades indígenas, apenas
mencionam deixando lacunas, sem informações precisas, sobre a realidade cultural de tais
povos: “os manuais afirmam com insistência ser o índio incapaz de trabalhar, mas nunca
especifica o conceito de trabalho em relação à determinada sociedade, nem que a noção de
trabalho varia” (Telles, 1987, p.85).
Dessa forma, essa maneira estereotipada de mostrar o índio aos escolares, tem
conseqüências mais graves na medida em que reforça na sociedade a forma de pensar
preconizada pelo colonizador, aquela visão do índio preguiçoso, que atrapalha o
desenvolvimento do progresso e do capitalismo. São vários os pensamentos desse nível que
permeavam ao livro didático da década de 1980. Algumas representações foram atualmente
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superadas no meio acadêmico, como a de que as populações indígenas estavam fadadas à
extinção, o conceito de “descoberta” da terra que iria a se chamar Brasil, a visão do índio se
oscilando hora daquele que ataca e é bárbaro, hora do “bom selvagem” mostrado de forma
idílica e harmoniosa.
Sobre esse ultimo aspecto lembramos que os manuais não explicavam o fato de as
vezes alguns povos indígenas do tempo da colonização se unirem a algum país europeu ”,
mostrando somente o papel do colonizador, sem mostrar o lado e interesses indígenas que
também existiam, claro, como no episódio da união dos tupinambás com os franceses durante
a invasão dos mesmos na Bahia de Guanabara no contexto da administração do terceiro
governador geral do Brasil Men de Sá.
De fato o que estava mostrando os conteúdo do livro didáticos da década de 1980
é que cedo ou tarde os indígenas iriam desaparecer do território brasileiro, como nos mostra
Telles:
Na ótica dos manuais, a destruição das culturas ameríndias aparece como fatal,
inevitável, desejável, impressão que provém, em parte, da natureza da narrativa e da
seleção dos fatos, mas também do fato de nunca se mencionar a resistência ou de se
falar desses grupos como já desaparecidos.” (Telles, 1987, p.83).
Pode-se notar que os livros didáticos analisados por esses autores da década de
1980 traziam uma versão simplificada sobre as sociedades indígenas, não correspondendo
com a realidade dessa diversidade de povos, Telles mostra então como conceitos e teorias do
século XIX, que para a década de 1980 já eram ultrapassadas ainda permaneciam vivas nos
manuais didáticos, referindo-se também, a necessidade de mostrar os indígenas em outros
momentos do processo histórico que se segue nos livros didáticos, pois quando aparecia não
eram mostrados em sua totalidade:
O momento escolhido pelos autores para mencionar esses grupos é sempre
desfavorável porque são colocados em capítulos separados, e porque sua cultura não
é descrita na sua totalidade em sua lógica própria, mas através de elementos
isolados, de preferência exóticos. (Telles, 1987, p.84).
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Podemos notar então que o tratamento do indígena no livro didático da década de
1980 trazia em seus conteúdos formas de representar o indígena, que vão contribuir para
cristalizar estereótipos no imaginário popular fazendo com que a sociedade capitalista se
distancie cada vez mais da realidade indígena reforçando o preconceito existente desde o
período colonial, ao invés de seguir a via da tolerância, formando escolares para conviver com
a diferença e acima de tudo respeitá-las, em suas realidades culturais.
Analise no livro didático da escola campo: Colégio Estadual Hélio Veloso da cidade de
Ceres
Depois dessa breve percepção que permeia os conteúdos dos manuais didáticos,
da década de 1980, podemos partir para os resultados das análises feitas durante a pesquisa
que se efetivou no período de 2011 e 2012, realizadas no livro didático atual do Colégio
Estadual Hélio Veloso, na cidade de Ceres GO. Frente ao que foi analisado enquanto
pressuposto teórico-metodológico, com bases em referências bibliográficas, e a partir do que
foi constatado, a analise foi condicionada pela inquietante curiosidade de verificar como a
mesma questão está sendo representada no livro didático da escola campo mencionada, cujo
autor é Alfredo Boulos Junior, da coleção, “História Sociedade e Cidadania”, da sétima série
editada em 2009.
O livro foi analisado na integra, mais especificamente os capítulos que trata de
temas e assuntos do processo histórico brasileiro, pois não teria lógica nenhuma analisar a
questão indígena em conteúdos da história eminente do espaço Europeu, por exemplo, a
temática sobre o feudalismo, os reinos francos, e entre outros, o que logicamente pode ser
criticado pelo fato de essas temáticas serem hegemônicas nos materiais didáticos em
detrimento de outras temáticas de suma importância. A idéia então consiste em reivindicar,
mais espaços na narrativa histórica do manual didático, aos indígenas e à sua trajetória
histórica, já que como sujeitos ativos do processo histórico, os mesmos sempre foram
ocultados e/ou pouco enfatizados pela historiografia brasileira.
Para tanto, basta lembrar alguns estudiosos do IHGB, Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, e o emblemático Adolfo Varnhagen, considerado por Reis (2007) o
“Heródoto do Brasil”. A exceção deste período é Capistrano de Abreu, que tinha um
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pensamento oposto, o qual não convém aprofundar aqui. Sem delongas, vamos às análises no
livro didático. No geral, é dedicado um capítulo no livro didático para tratar dos “povos
Indígenas no Brasil” (BOULOS JÚNIOR, 2009, p. 202).
O autor é inovador na medida em que se preocupa em reservar um capitulo
específico para discutir a questão, no qual são levantados e discutidos temas como: a
diversidade linguística dos indígenas brasileiros que foram agrupadas em troncos e famílias
linguísticas, onde Boulos Junior dá ênfase às línguas cujos troncos linguísticos mais
conhecidos são o tupi e o macro-jê, tendo maior influência na sociedade brasileira as palavras
oriundas do tupi. Nesse mesmo capítulo o autor enfatiza também as semelhanças e diferenças
entre as sociedades indígenas, por exemplo, o uso comum da terra, a divisão do trabalho por
sexo e, dando seguimento no capítulo, enfatiza também as diferenças culturais existentes.
Mesmo que em poucas linhas, o autor evidencia certo protagonismo por parte dos indígenas à
medida que apresenta um capítulo intitulado “povos indígenas hoje” (BOULOS JÚNIOR,
2009, p. 209), no qual ressalta que os próprios indígenas, atualmente, se mostram contrários à
ideia de que seus povos estariam se extinguindo, pois existem dados concretos do censo do
CIMI (Conselho Indigenista Missionário e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) de que as populações indígenas estão aumentando ano após ano. O livro didático
discute também sobre as lutas indígenas atuais, destacando as organizações lideradas pelos
próprios índios e organizações lideradas também pelos não índios, mas que lutam pelos ideais
destes.
Destaca a situação dos indígenas após a chegada dos portugueses, enfatizando a
dizimação de muitos desses povos pelas doenças causadas pelo contato com os europeus, e
mostra luta dos índios pela terra, cita as leis da Constituição de 1988, como o artigo 231, que
reconhece que “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhe o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas
existente”; o artigo 67 dessa mesma Constituição que, segundo o autor, “previa , até cinco de
outubro de 1993, todas as terras indígenas deveriam estar demarcadas (delimitadas por lei)”
(BOULOS JÚNIOR, 2009, p. 211). Porém, não deixa de mencionar que mesmo esse direito
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Anais do III Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí: História e Diversidade Cultural. Textos Completos.
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estando explícito sob a forma de lei, poucas terras foram demarcadas, e mesmo sendo
delimitadas por lei, as invasões por pessoas e empresas não cessaram3.
Deve-se considerar inovador o foto de o livro didático dedicar um capitulo
exclusivo para tratar dos indígenas do Brasil, pois com vimos anteriormente, o índio mal
aparecia nos manuais didáticos em especifico da década de 1980. Porém por mais inovador
que esse manual seja sem deixar de considerar tais avanços, ainda é perceptível, que ele
dedica poucas páginas para tratar dessa questão, tudo é mencionado de forma muito rápida e
irrisória.
Embora enfatizemos o fato de o livro tratar do indígena na atualidade, não
menciona o indígena vivendo na cidade, as próprias imagens que aparecem no manual
retratam o indígena ligado somente a mata e a selva, caçando vivendo em “harmonia com a
natureza”, reforçando a ideia que tanto se buscou desconstruir durante as oficinas, ou seja,
mostrar aos escolares que o indígena não deixa de ser índio pelo fato de morar em outros
locais dentre eles as cidade.
É nesse aspecto que identificamos a necessidade da participação do professor
como mediador no processo formação do conhecimento, pois sem a inserção do professor, o
manual didático reforça preconceitos e deixa de ser uma ferramenta favorável à formação,
tornando-se uma arma perigosa ao disseminar o preconceito e não desconstruir a ideia
cristalizada de que o índio é obrigado a viver na mata e, quando sai dela, deixa de ser índio
Outro fator que não poderia deixar de citar é que, durante as análises de os outros
exemplares de manuais didáticos do 6º e 8º ano, do mesmo autor e coleção, o indígena quase
não aparece, só é mencionado na medida em que o colonizador europeu também aparece. É
inovador em alguns aspectos, no livro do 6° ano, por exemplo, o autor trabalha com a “pré-
história brasileira” (BOULOS JÚNIOR, 2009, p. 70), e considera o povoamento do continente
muito antes da chegada dos europeus. Esse tipo de abordagem é inovador frente a alguns
manuais da década de 1980, mostrando que antes do encontro de 1500 o continente já
abrigava uma complexidade de povos com dinâmicas próprias de sobrevivência, como
3 O autor diz respeito ao artigo 231 § 2.º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua
posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
E ao artigo 67 dessa mesma constituição: Art. 67. A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo
de cinco anos a partir da promulgação da Constituição.
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Anais do III Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí: História e Diversidade Cultural. Textos Completos.
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assinala Grupioni: “quando os europeus aqui chegaram, o continente americano vivia uma
dinâmica própria, que foi substancialmente alterada com sua chegada. Mas não havia um
mundo a ser criado ou à espera de seu descobridor.” (Grupioni, 1995, p. 488).
Dando continuidade a análise do manual didático, no capitulo 14 do 7º ano, que
fala sobre a “Colonização portuguesa: administração” (BOULOS JÚNIOR, 2009, p. 232), o
autor menciona que durante o governo do terceiro governador-geral do Brasil, ou seja, Men
de Sá (1558-1572), os franceses invadiram a baia da Guanabara com a ajuda dos tupinambás
e, dessa forma, conseguiram se estabelecer no local por doze anos. Menciona esse evento sem
explicitar e considerar os motivos que levaram essa relação dos indígenas com os franceses,
mostrando simplesmente a ação dos franceses, minimizando os conflitos existentes entre
indígenas e europeus, não mostra versão que poderia ser contada de forma mais democrática,
considerando também os interesses e motivos dos indígenas ao ficar do lado dos franceses
durante o conflito. Dessa forma, reforça a ideia de superioridade dos europeus na medida, que
não da ênfase ao protagonismo dos indígenas.
Apenas no livro didático do 8º ano essa questão foi enfatizada, no segundo
capítulo, quando começa o assunto sobre “A marcha da colonização portuguesa na América”
(BOULOS JÚNIOR, 2009, p. 30), onde o autor diz que:
Desde o início da colonização, piratas franceses, ingleses e holandeses atacaram o
litoral brasileiro, levando daqui o pau-brasil e outras riquezas da terra; muitas vezes
esses piratas se aliavam a grupos indígenas (revoltados contra o domínio português).
Na região onde é hoje a Paraíba, por exemplo, os franceses mantinham estreita
ligação com os Potiguaras. (BOULOS JÚNIOR, 2009, p. 32)
A questão indígena aparece assim em outras partes do processo histórico seguido
pelo manual didático, ou seja, de forma esparsa e fragmentada, como já foi dito acima,
somente na medida em que o colonizador também aparece. No geral, são dedicadas “poucas
linhas” para explicitar o protagonismo indígena durante o processo histórico brasileiro. A
resistência do indígena, quando é mencionada, se encontra somente no contexto colonial e em
função do colonizador europeu, de modo que a história hegemônica ainda continua sendo
contada a partir dos feitos do mesmo.
Ao falar da igreja e do governo da colônia, não é levado em consideração a
resistência indígena com relação à imposição religiosa, dizendo que “a igreja difundia os
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hábitos europeus de trabalho e comportamento entre os indígenas e africanos” (JÚNIOR,
2009, p. 242), o que nos remete a Viveiros de Castro em a “inconstância da alma selvagem”,
que fala justamente sobre a dificuldade encontrada por esses missionários em inculcar esses
hábitos e a fé cristã nos índios: “No Brasil, em troca, a palavra de Deus era acolhida
alegremente por um ouvido e ignorada com displicência pelo outro” ( CASTRO, 2011 p. 185)
Ainda sobre a dificuldade dos missionários, Castro remete também aos interesses dos
indígenas:
O uso dos padres para a consecução de objetivos políticos próprios, aliás, era
extensivo: os tamoios de iperoig aceitaram a embaixada de Anchieta de forma a
ganhar os portugueses como aliados contra seus adversários tradicionais, os
tupiniquins de São Vicente. (CASTRO, 2011 p. 212).
Viveiros de Castro é apenas um dos vários estudiosos que trazem informações
mais concisas quanto à realidade dos povos indígenas, tanto no passado quanto no presente.
São vários os trabalhos sobre a questão, inclusive Grupioni cita uma pequena lista
denominada “biblioteca mínima sobre as sociedades indígenas no Brasil”, no final de seu
texto “Livros didáticos e fontes de informações sobre as sociedades indígenas no Brasil”,
publicado na coletânea organizada por Aracy Lopes da Silva no livro A temática indígena na
escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º grau (1995), onde se tem uma gama de
referências para se aprofundar na questão.
Enfim, diante da análise do livro didático realizada, e frente ao diálogo com os
autores que realizaram a pesquisa em períodos anteriores, podemos perceber mudanças e
permanências em relação à forma de tratar o indígena. Como já foi mostrado acima, muito
estereótipos persistem, porém, já existem algumas mudanças positivas em relação ao
tratamento aos povos indígenas. De fato, ainda são necessárias mudanças significativas na
forma de tratar o indígena nos manuais didáticos, pois há várias pesquisas relevantes,
produzidas no meio acadêmico, sobre a diversidade de povos e culturas brasileiras, que
podem configurar nos livros didáticos para pensar a importância de trabalhar mais e melhor a
presença do indígena no processo histórico.
REFÊRENCIAS
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Anais do III Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí: História e Diversidade Cultural. Textos Completos.
Realização Curso de História – ISSN 2178-1281
CASTRO Viveiros de. A inconstância da alma selvagem. 2ª edição, São Paulo: ED. Cosac
Naify, 2011.
BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber Histórico na sala de aula. 8 ed. São Paulo: Ed.
Contexto, 2003.
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania, 7° Ano. 1 ed. São Paulo,
2009.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2000.
FUNARI, Pedro Paulo & PIÑON, Ana. A temática indígena na escola: subsídios para os
professores Pedro Paulo. São Paulo: Ed. UNICAMP. 2011.
SILVA, Aracy Lopes da (Org.). A questão indígena na sala de aula: subsídios para
professores de 1° e 2° graus. São Paulo: Brasiliense, 1987.