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INDICADORES EDUCACIONAIS NO BRASIL E NO MUNDO: AS DIVERSAS FACES DA EDUCAÇÃO Luís Antônio Fajardo Pontes Introdução O objetivo deste texto é discutir a ideia de indicadores educacionais como instrumentos necessários para descrever e analisar as diversas dimensões de que a educação pode se revestir na sociedade contemporânea, que abrangem desde aspectos mais especificamente relacionados aos processos internos às escolas como os resultados educacionais alcançados pelos alunos até considerações de caráter externo a elas, como os aspectos demográficos associados às demandas pela educação em contextos geográficos mais amplos, como estados e países. Dessa forma, primeiro, argumenta-se sobre a necessidade dos indicadores como instrumentos capazes de numericamente sintetizar aspectos relevantes da situação educacional, e discutem - se as suas especificidades, particularmente em contraste com os chamados índices educacionais. A seguir, é discutida uma tipologia de indicadores proposta pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INEP , ao mesmo tempo em que se descrevem e se discutem aspectos específicos da situação educacional brasileira e mundial, com base numa coleção relevante desses indicadores. SEÇÃO 1 - Indicadores versus índices Quando se fala em educação, um tema que comumente vem à tona é a questão da sua qualidade, que, por sua vez, encontra-se estreitamente associada à aprendizagem dos alunos. Afinal de contas, fazer os alunos aprender deve ser o objetivo de todos os profissionais que trabalham nessa área, além de também ser uma preocupação por parte de vários outros atores envolvidos com as questões educacionais, desde os pais ou responsáveis pelos alunos até as autoridades públicas nos níveis mais elevados, interessados em fornecer às crianças as condições necessárias para se tornarem adultos independentes, conscientes e produtivos em nossa sociedade contemporânea. Portanto, mensurar a aprendizagem escolar é outra grande preocupação, já que é um processo que costuma ocupar grande parte das atenções daqueles que se dedicam aos temas educacionais. E, devido à importância de que o tema da aprendizagem se reveste nos mais variados setores da atividade humana econômico, político, social e científico, entre tantos outros. Ele, portanto, permeia toda a sociedade, indo dos cidadãos em geral, preocupados com a educação de seus filhos ou com a sua própria, até os meios políticos, constantemente pressionados pelos diversos setores da sociedade, no sentido de fazer com que o Estado seja capaz de promover, cada vez mais, uma maior eficiência e equidade na aprendizagem formal de sua população. É um tema que interessa também ao setor produtivo: o crescimento econômico de uma sociedade vem dependendo, cada vez mais, da capacitação literária, técnica e científica de sua população, para fazer frente às demandas de uma economia crescentemente dependente da comunicação, da informação e da tecnologia. Entretanto, avaliar a aprendizagem dos alunos não basta. A educação é um tema extremamente abrangente e complexo, que se articula com um enorme número de variáveis demográficas,

INDICADORES EDUCACIONAIS NO BRASIL E NO MUNDO: …central.caedufjf.net/arquivos/indicadores-educacao.pdf · Educacionais Anísio Teixeira – INEP – do Ministério da Educação

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INDICADORES EDUCACIONAIS NO BRASIL E NO MUNDO: AS

DIVERSAS FACES DA EDUCAÇÃO

Luís Antônio Fajardo Pontes

Introdução

O objetivo deste texto é discutir a ideia de indicadores educacionais como instrumentos

necessários para descrever e analisar as diversas dimensões de que a educação pode se revestir

na sociedade contemporânea, que abrangem desde aspectos mais especificamente relacionados

aos processos internos às escolas – como os resultados educacionais alcançados pelos alunos –

até considerações de caráter externo a elas, como os aspectos demográficos associados às

demandas pela educação em contextos geográficos mais amplos, como estados e países. Dessa

forma, primeiro, argumenta-se sobre a necessidade dos indicadores como instrumentos capazes

de numericamente sintetizar aspectos relevantes da situação educacional, e discutem - se as suas

especificidades, particularmente em contraste com os chamados índices educacionais. A seguir,

é discutida uma tipologia de indicadores proposta pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais – INEP –, ao mesmo tempo em que se descrevem e se discutem

aspectos específicos da situação educacional brasileira e mundial, com base numa coleção

relevante desses indicadores.

SEÇÃO 1 - Indicadores versus índices

Quando se fala em educação, um tema que comumente vem à tona é a questão da sua qualidade,

que, por sua vez, encontra-se estreitamente associada à aprendizagem dos alunos. Afinal de

contas, fazer os alunos aprender deve ser o objetivo de todos os profissionais que trabalham

nessa área, além de também ser uma preocupação por parte de vários outros atores envolvidos

com as questões educacionais, desde os pais ou responsáveis pelos alunos até as autoridades

públicas nos níveis mais elevados, interessados em fornecer às crianças as condições

necessárias para se tornarem adultos independentes, conscientes e produtivos em nossa

sociedade contemporânea.

Portanto, mensurar a aprendizagem escolar é outra grande preocupação, já que é um processo

que costuma ocupar grande parte das atenções daqueles que se dedicam aos temas educacionais.

E, devido à importância de que o tema da aprendizagem se reveste nos mais variados setores

da atividade humana – econômico, político, social e científico, entre tantos outros. Ele, portanto,

permeia toda a sociedade, indo dos cidadãos em geral, preocupados com a educação de seus

filhos ou com a sua própria, até os meios políticos, constantemente pressionados pelos diversos

setores da sociedade, no sentido de fazer com que o Estado seja capaz de promover, cada vez

mais, uma maior eficiência e equidade na aprendizagem formal de sua população. É um tema

que interessa também ao setor produtivo: o crescimento econômico de uma sociedade vem

dependendo, cada vez mais, da capacitação literária, técnica e científica de sua população, para

fazer frente às demandas de uma economia crescentemente dependente da comunicação, da

informação e da tecnologia.

Entretanto, avaliar a aprendizagem dos alunos não basta. A educação é um tema extremamente

abrangente e complexo, que se articula com um enorme número de variáveis demográficas,

sociais e econômicas, demandando ainda pesados investimentos e um gerenciamento

consciencioso de recursos que, com frequência, se apresentam escassos ou insuficientes.

Nesse sentido, uma visão mais completa e aprofundada da educação somente é alcançada

através da obtenção e da análise de uma grande diversidade de informações, que costumam se

apresentar na forma de indicadores educacionais.

Indicadores são medidas específicas que têm por objetivo transmitir uma informação referente

a uma dimensão particular e relevante da educação, expressando-se através de números que

sintetizam essa dimensão. Por sua vez, os números que expressam os indicadores são calculados

a partir de uma fórmula pré-definida e com base em dados levantados segundo critérios

específicos e rigorosos, como censos e pesquisas sociais, demográficas, econômicas ou

educacionais.

A vantagem do uso de números para expressar os indicadores é óbvia: os símbolos números, se

bem fundamentados e calculados, têm a capacidade de exprimir, de forma condensada e

informativa, a real situação de dimensões mais relevantes às questões educacionais. Por

exemplo: Saber que, num determinado estado da federação, há cerca de 50 mil crianças em

idade pré-escolar, permite-nos estimar as demandas de recursos materiais e humanos em

educação necessários para atender a elas ao longo de sua trajetória escolar. E saber que,

digamos, em uma determinada rede de ensino, apenas 12% dos concluintes do Ensino Médio

estão alcançando uma proficiência considerada satisfatória em Matemática, dá-nos uma ideia

consideravelmente precisa do desafio que os professores e gestores educacionais têm diante de

si para promover uma maior eficácia no aprendizado dessa disciplina entre os alunos dessa rede.

Neste ponto, cabe fazer uma distinção formal entre indicadores e índices:

Indicador é um valor calculado segundo critérios rígidos e que retrata uma dimensão

específica de interesse (educacional, no nosso caso).

Índice é uma medida que numericamente combina, ou sintetiza, as informações contidas em

dois ou mais indicadores relevantes para um dado objeto em estudo.

Algumas questões de grande interesse para o acompanhamento da eficácia dos sistemas

educacionais são:

o fluxo dos alunos ao longo das diversas séries do Ensino Fundamental, associado às

taxas de aprovação nessas mesmas séries;

o desempenho desses alunos em disciplinas específicas, como Língua Portuguesa e

Matemática.

Pois bem, para tratar dessas diferentes questões, é possível obter indicadores específicos. Nesse

caso, o fluxo de alunos, por exemplo, pode ser expresso através de um indicador que é a taxa

de aprovação, digamos, no 5º ano do Ensino Fundamental numa dada unidade educacional

(como uma escola, um município, um estado ou mesmo o país como um todo).

Por sua vez, seria possível estimar o desempenho desses mesmos alunos por meio de outro

indicador, ou, antes, por dois deles: um poderia ser, digamos, a média de proficiência dos alunos

num teste de Língua Portuguesa, como, por exemplo, na avaliação externa da Prova Brasil, ao

passo que outro indicador poderia ser a média de Matemática desses estudantes obtida na

mesma avaliação.

Com base nesses três indicadores – a taxa de aprovação, a média de Língua Portuguesa e a

média de Matemática –, é possível criar um único índice, que é o IDEB, ou Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica, cujo cálculo combina, numa fórmula matemática, os

resultados de todos esses indicadores (INEP, 2010). Dessa forma, quanto maiores forem a taxa

de aprovação e as médias nas duas disciplinas mencionadas, maior também será o IDEB,

conforme detalhes de cálculo e de interpretação que serão devidamente tratados em partes

posteriores deste curso. Podemos dizer, portanto, que os indicadores são medidas mais “puras”,

ou unidimensionais, de um aspecto relevante da educação, ao passo que os índices são medidas

“combinadas”, ou multidimensionais, relacionados a uma abordagem mais abrangente de um

determinado tema educacional.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado pelo Inep em 2007 e

representa a iniciativa pioneira de reunir, em um só indicador, dois conceitos igualmente

importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas

avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico dos resultados das avaliações em larga escala do

Inep a possibilidade de resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar

metas de qualidade educacional para os sistemas. O indicador é calculado a partir dos dados

sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do

Inep, o Saeb – para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios.

(Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb/o-que-e-o-ideb)

SEÇÃO 2 - Indicadores educacionais: uma proposta tipológica

Devido ao caráter complexo e multifacetado da educação, é natural que haja, também, um

número e uma variedade muito grandes de indicadores. E, com efeito, quando nos debruçamos

sobre as informações fornecidas por diferentes órgãos encarregados do estudo e do

acompanhamento das questões educacionais, tanto no Brasil quanto no exterior, podemos

perceber não somente um grande número de indicadores, mas também grandes diferenças

quanto à sua seleção e tipologia, diferenças essas que se relacionam, naturalmente, às

especificidades e aos pontos de maior interesse das respectivas instituições que os produzem e

os divulgam.

Uma dessas instituições, bastante conhecida mundialmente, é a Organização para a Cooperação

e o Desenvolvimento Econômicos, a OCDE. A Organização para a Cooperação e o

Desenvolvimento Econômicos – OCDE – é um órgão supranacional sediado em Paris, França,

que congrega principalmente os países de economia mais avançada do mundo. A OCDE

também é responsável pela aplicação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o

PISA.

O PISA é, possivelmente, a avaliação educacional de caráter internacional mais conhecida

mundialmente, da qual o Brasil também vem participando desde o seu início, em 2003, como

país convidado, visto não ser membro da OCDE. A cada três anos, a OCDE vem divulgando,

em diversas línguas (português, inclusive), os resultados das avaliações do PISA, muitas vezes

contrastados com informações recolhidas de modo a cobrir uma grande variedade de áreas de

interesse educacional, como o nível de escolaridade das populações de diversos países, os

recursos financeiros e humanos investidos em educação, o acesso às redes de ensino, o ambiente

de aprendizagem, a organização das escolas etc.

Por outro lado, um exemplo de tipologia para os indicadores mais adaptada à realidade

brasileira é a que foi proposta pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira – INEP – do Ministério da Educação do Brasil, através de

sua Geografia da Educação Brasileira, publicada pela primeira vez no ano de 2002.

Segundo essa tipologia, os diversos indicadores educacionais puderam ser agrupados nas

seis seguintes categorias, que abrangem (INEP, 2002):

1. O contexto sociodemográfico;

2. As condições de oferta;

3. O acesso e a participação na educação;

4. A eficiência e o rendimento escolar;

5. O desempenho escolar;

6. O financiamento e o gasto em educação.

A seguir, apresentaremos alguns detalhes significativos de cada uma dessas categorias,

fornecendo, também, alguns exemplos ilustrativos para cada uma delas.

2.1 - O contexto sociodemográfico

Neste grupo, como seu próprio nome diz, encontram-se os indicadores referentes a

características sociais e demográficas de uma população de interesse, e que são

extremamente relevantes, entre outros aspectos, para a realização de macroanálises

visando a investigar o nível de demanda pela educação existente numa determinada

sociedade. Dois exemplos bastante representativos dessa categoria são os indicadores que

informam:

a população em idade escolar;

taxa de analfabetismo de um país ou de uma determinada região.

Em relação à população em idade escolar, a preocupação central desse indicador é estimar

o contingente humano que se situa nas diferentes faixas etárias associadas à frequência,

obrigatória ou opcional, em determinadas etapas do ensino. Essas faixas podem, por

exemplo, ser divididas da seguinte forma:

de 0 a 5 anos - Ensino Infantil;

de 6 a 14 anos - Ensino Fundamental;

de 15 a 17 anos - Ensino Médio;

de 18 a 24 anos - Ensino Superior.

O Brasil, por ser o quinto país mais populoso do mundo (com cerca de 194 milhões de

habitantes, atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia), e por se constituir

também num país com uma população predominantemente jovem, apresenta, nesses

indicadores, números muito elevados, que colocam quadros extremamente desafiadores

para as autoridades políticas e educacionais resolverem. Não obstante, igualmente se pode

perceber, em anos mais recentes, uma estabilização e, em certos casos, até mesmo um

ligeiro decréscimo, em vários desses números, decorrentes da diminuição das taxas de

fertilidade no país. Outro ponto notável é o fato de que, dadas as grandes disparidades

sociais e demográficas existentes nas diferentes regiões e estados brasileiros, observam-

se consideráveis diferenças geográficas quanto ao tamanho da população a receber

instrução formal em cada um dos níveis de ensino acima especificados.

A taxa de analfabetismo, por sua vez, corresponde ao percentual de pessoas em idade

escolar própria para a alfabetização, ou acima dela, que são consideradas analfabetas.

Embora tal definição seja aparentemente simples, ela, na verdade, encerra uma série de

complicações de ordem conceitual e técnica, referentes, por exemplo, a quais critérios se

devem adotar para se concluir se alguém é, de fato, analfabeto ou não.

Por exemplo, pode-se definir como alfabetizada a pessoa que (1) sabe escrever seu

próprio nome, (2) tenha sido aprovada nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ou

ainda (3) sabe ler e escrever um bilhete simples. Cabe observar que alguém que se

enquadra numa dessas categorias acima não necessariamente se situa nas demais, o que

faz com que a definição de analfabetismo que se venha a adotar pode influenciar

enormemente os valores obtidos para esse indicador.

Outro ponto importante diz respeito ao modo de obtenção dessa informação. Ainda que

se chegue ao consenso, de que alfabetizado é aquele capaz de ler e escrever um bilhete

simples, de que modo se chegará a essa informação acerca das pessoas entrevistadas:

fazendo-as ler e escrever um bilhete simples ou simplesmente perguntando-lhes se

elas são capazes de fazer isso?

Caso esta última opção seja a escolhida (e ela costuma sê-lo, dadas as limitações de tempo

e de recursos financeiros nesse tipo de pesquisa), corre-se o risco de superestimar

consideravelmente o número de pessoas alfabetizadas, devido ao fato de que responder

sim a essa pergunta é, em termos sociais, altamente desejável, em decorrência do enorme

desprestígio de que historicamente padecem os analfabetos no país. Portanto, indefinições

e imprecisões metodológicas são capazes de produzir vieses consideráveis nas taxas de

alfabetização, podendo levar a grandes inconsistências entre as estimativas dessas taxas

ao longo dos anos, ou entre os resultados obtidos por diferentes instituições.

Gráfico 1: Percentual de analfabetismo no Brasil no período 1996-2009

Fonte: MEC (2012)

A taxa de analfabetismo, no Brasil caiu de 8,7% em 2012 para 8,5% em 2013,

considerando a população com 15 anos ou mais.

2.2 - As condições de oferta

Nesta categoria, situam-se os indicadores que quantificam a aplicação, na educação, dos

recursos disponíveis, visando a atender demandas que podem ser de natureza tanto

material quanto humana. Em relação à demanda material, alguns indicadores bastante

utilizados são os que informam os percentuais de estudantes que frequentam escolas nas

quais se encontram diversos itens de infraestrutura ou outras facilidades. Exemplos disso

são os percentuais de alunos estudando em escolas que contam com luz elétrica, água

encanada e rede de esgoto – para ficar nas condições mínimas de infraestrutura –, até os

percentuais de alunos matriculados em escolas que dispõem também de outros recursos

relevantes para as suas respectivas atividades pedagógicas e recreativas, como

bibliotecas, laboratórios, salas de informática, quadras esportivas etc.

Em relação especificamente a esses últimos indicadores, uma crítica que comumente se

lhes faz é que eles, sozinhos, fornecem um panorama incompleto dos recursos escolares,

visto não bastar que tais recursos existam, mas também importa que eles sejam utilizados

de modo efetivo e eficaz. Não obstante essa ressalva, cabe reconhecer que, se não é

suficiente, é ao menos necessário que tais recursos sejam, de fato, disponibilizados aos

alunos, cabendo às autoridades educacionais promover levantamentos adicionais com o

propósito de verificar a eficiência na utilização dessas facilidades.

Outros indicadores de oferta dizem respeito aos recursos humanos investidos na

educação, dos quais dois de grande relevância são: nível de escolaridade; remuneração

dos professores atuantes nos diversos níveis educacionais.

Quanto ao nível de escolaridade dos docentes, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional de 1996 determinou que, até 2007, somente seriam admitidos para atuar na

educação de qualquer nível os professores que possuíssem curso superior. O que se

observa, como decorrência de iniciativas desse tipo, é um aumento consistente e

significativo do percentual de docentes com formação universitária nos diversos níveis

de escolarização, muito embora também se pode perceber, principalmente nos primeiros

anos do século 21, que ainda persistiam diferenças consideráveis quanto ao nível de

formação entre professores dos diferentes níveis de ensino (com maiores proporções de

egressos das universidades naturalmente predominando nos níveis superiores de

escolarização) e entre diferentes estados (com as regiões Sudeste e Sul apresentando os

maiores percentuais de graduados universitários atuando na docência). Entretanto, com o

tempo, tomaram vulto alguns movimentos voltados para a formação universitária dos

docentes, que levaram, por exemplo, a fazer com que um grande número de professores

que possuíam somente o Ensino Médio ingressassem em cursos de licenciatura. Essa

tendência resultou numa maior homogeneização da formação docente atual que se

observa no país, pela qual a grande maioria dos professores, em todos os níveis,

atualmente possui curso superior.

Tal fato é ilustrado pelo gráfico a seguir, que apresenta os percentuais de professores com

formação superior atuando nos Ensinos Fundamental e Médio no Brasil, ao longo dos

últimos anos. Por ele, percebe-se que, em 2011, os graduados no Ensino Superior

correspondem a mais de 60% dos profissionais atuantes nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, a 83,2% nos anos finais e a mais de 90% daqueles que atuam no Ensino

Médio.

Gráfico 2: Percentuais de professores com nível superior atuantes nos Ensinos Fundamental (EF) e

Médio(EM)

Fonte: MEC/INEP http://portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais

Quanto à remuneração dos professores, também se observam consideráveis variações

de valores médios entre os diferentes níveis de ensino em que esses profissionais atuam

– com a remuneração naturalmente aumentando com as etapas de escolarização – e

também variando entre os diferentes estados da federação (com os maiores valores

médios concentrando-se no Distrito Federal e nas regiões Sudeste e Sul). Além disso,

também há variações notáveis entre as redes de ensino, sendo que, em geral, as redes

municipais são as responsáveis pela menor remuneração média, o que se explica

parcialmente pelo fato de que a elas também cabe oferecer principalmente o Ensino

Fundamental, que remunera menos que os Ensinos Médio e Superior.

No gráfico a seguir, produzido pela OCDE, apresenta-se uma comparação internacional

entre os salários médios anuais de professores do Ensino Fundamental para diferentes

níveis de experiência profissional. Por ele, é possível observar grandes variações quanto

aos níveis salariais, mesmo entre os países mais desenvolvidos da OCDE. Naturalmente,

parte dessas diferenças se deve ao custo de vida e a outras características conjunturais

econômicas de cada país; entretanto, parte também pode se relacionar a diferenças entre

os países quanto às prioridades e políticas de remuneração docente estabelecidas, seja na

esfera governamental, seja na esfera privada.

Gráfico 3: Salários de professores (mínimo, após 15 anos de experiência e máximo) no ciclo final

do Ensino Fundamental, segundo uma perspectiva internacional comparada.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

E.F. E.M.

2011

2012

2013

2014

Fonte: OCDE (2011).

2.3 - O acesso e a participação na educação

Os indicadores deste grupo mensuram o grau com que a população em idade escolar vem

sendo atendida pelos diversos sistemas de ensino, e permitem que se observe esse

atendimento segundo critérios variados. Um indicador bastante conhecido dessa categoria

é a taxa de atendimento.

Taxa de atendimento é um indicador que informa, para uma determinada faixa etária da

população em idade escolar, o percentual das pessoas que estão frequentando a escola,

não importando o fato de estarem ou não matriculadas na série própria para a sua

respectiva idade.

Observando a tabela a seguir, percebe-se que o Brasil encontra-se bastante próximo de

atingir a meta de universalização do Ensino Fundamental, visto que, já em 2009, mais

97% da população com idade entre 6 e 14 anos encontrava-se matriculada. Em relação à

faixa etária entre 15 e 17 anos, a taxa de escolarização em 2013 foi de cerca de 83%. Isto

poderia, a princípio, indicar que o Ensino Médio também está se aproximando da

universalização, mas este não é o caso, conforme se percebe ao se constatar que uma

grande parte desses adolescentes ainda se encontram retidos no Ensino Fundamental, em

decorrência da reprovação e do abandono temporário da escola.

Tabela 1: Taxas de atendimento educacional no Brasil em anos recentes.

Faixa etária 2009 2011 2012 2013

4 e 5 anos 83,0 85,6 85,9 87,9

6 a 14 anos 97,6 98,1 98,2 98,3

15 a 17 anos 82,4 82,3 82,6 83,3

Fonte: IBGE/Pnad

Para tratar desse problema sobre a participação do ensino, levando-se em conta uma série

específica e o fato dos alunos estarem ou não nela matriculados segundo a idade certa, há

dois indicadores muito utilizados nas análises educacionais: as taxas de escolarização

líquida e bruta.

• A taxa de escolarização líquida mensura o percentual de jovens em idade escolar que

estão matriculados nas séries adequadas para a sua respectiva idade.

• A taxa de escolarização bruta informa o percentual daqueles que estão matriculados

numa determinada série, independentemente dessa série ser ou não adequada para a sua

faixa etária.

O gráfico a seguir mostra essas duas taxas para o Brasil como um todo, para cada ano do

período compreendido entre 2001 e 2011. Por eles, observa-se que, no Ensino

Fundamental, a taxa de escolarização líquida está se aproximando dos 100%, indicando

que, neste caso, o país está conseguindo fazer com que quase todas as suas crianças

estejam matriculadas nas escolas, e na idade certa para as suas respectivas séries. Ao

mesmo tempo, observa-se que, também no Ensino Fundamental, a taxa de escolarização

bruta manteve-se em cerca de 120% ao longo desses anos, indicando o fato de que existe

ainda um contingente considerável de alunos mais velhos que se encontram retidos no

ensino fundamental, estudando, portanto, em séries que, na verdade, já deveriam ter

concluído.

Por outro lado, as taxas líquidas do Ensino Médio, que somente em 2008 e 2009

alcançaram o patamar dos 50%, apontam para um problema sério decorrente dos baixos

níveis de aprovação nessa etapa do ensino. E as taxas brutas de escolarização no Ensino

Médio, que oscilam em torno de 85%, indicam a coexistência e um certo equilíbrio entre

dois fenômenos relevantes: de um lado, as baixas taxas de aprovação; de outro, os níveis

consideráveis de evasão, impedindo que as taxas brutas fiquem excessivamente elevadas.

Taxas de Escolarização Bruta e Líquida - Brasil 1995/2011

Fonte: MEC/Inep/DTDIE.

Nota: Exclusive a população rural de RO, AC, AM, RR, PA e AP de 1995 e 2001 a 2003.

2.4 - A eficiência e o rendimento escolar

Os indicadores desta categoria fornecem, basicamente, dados sobre a trajetória escolar

dos alunos matriculados, informando, por exemplo, como estão se comportando as taxas

de aprovação, repetência e abandono nas diferentes etapas da escolarização. Associada

a esses valores, há também a taxa de defasagem idade-série, que indica o percentual de

alunos matriculados numa determinada série e que se encontram, não obstante, com idade

superior àquela recomendada para frequentarem essa mesma etapa.

O tabela, a seguir, fornece as taxas de aprovação na 6º ano do Ensino Fundamental,

no período de 2007 a 2013, para o Brasil como um todo.

Taxa de aprovação no 6º ano do Ensino Fundamental 2007-2013

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

76,20% 76,30% 77,70% 79,70% 80,10% 80,90% 82,20%

Fonte: MEC/INEP http://portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais

Por ele, podem-se constatar o seguinte: As baixas taxas de aprovação no Ensino

Fundamental que anteriormente se verificavam eram vistas como um obstáculo

extremamente sério ao progresso da educação brasileira, o que explica os esforços que se

vêm fazendo nos últimos anos para se combater esse problema. Os indicadores mostram

que tais esforços vêm sendo relativamente bem-sucedidos no Ensino Fundamental, visto

que se observa, nos anos mais recentes, elevadas taxas de aprovação em todas as séries,

inclusive naquelas mais suscetíveis a esse problema, como a 1º e o 6º anos do ensino

fundamental, que, em 2013, atingiram os valores de 97,4% e 82,2% de aprovação,

respectivamente. Com o passar dos anos, houve uma nítida tendência de alta das taxas de

aprovação em todas as séries, cuja causa está associada às políticas de aceleração da

aprendizagem que começaram a ser implementadas nos últimos anos do século 20.

A distorção idade-série, por sua vez, possui, naturalmente, uma estreita relação com as

taxas de aprovação. O gráfico a seguir apresenta a evolução dessas taxas ao longo dos

últimos anos, tanto para o Ensino Fundamental como para o Ensino Médio.

Tabela 2: Percentual de defasagem idade-série por nível de ensino 2003-2014

Categorias 2003 2004 2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Brasil (E.F I) 33,3 31 29,4 22,6 17,6 18,6 18,5 17,8 16,6 15,4 14,1

Brasil (E. M.) 45,9 44,4 42,6 42,5 33,7 34,4 34,5 32,8 31,1 29,5 27,3

Brasil (E.F. II) 40,6 39,3 36,4 34 27,4 28,9 29,6 28,8 28,2 27,9 28,2 Fonte: MEC/INEP http://portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais

Conforme já se comentou anteriormente, os problemas de distorção idade-série são ainda

maiores no Ensino Médio, quando comparados com o Ensino Fundamental (algo que

ficou evidente quando se mencionaram as taxas de escolarização líquida, que são maiores

no Ensino Fundamental, quando comparadas com o Ensino Médio). Dessa forma,

percebe-se, também, a superioridade das taxas de defasagem do Ensino Médio, ao mesmo

tempo em que, também seja possível observar uma consistente queda dessas taxas para

ambos os tipos de ensino, ao longo dos últimos anos.

2.5 - O desempenho escolar

A mensuração do desempenho escolar propriamente dito, ou seja, daquilo que os

estudantes são capazes de realizar com base nos conteúdos previstos nos currículos e

trabalhados em sala de aula, é algo que, como se disse na introdução deste texto, se reveste

da maior importância para um diagnóstico eficaz da real situação de ensino e

aprendizagem num determinado sistema educacional. De certa forma, essa mensuração é

uma prática cujas origens se confundem com a própria origem dos sistemas educacionais,

visto que ensino e avaliação são atividades que possuem um estreito vínculo entre si.

Entretanto, pondo de parte as avaliações comumente realizadas internamente às escolas

(ou seja, as aplicadas aos alunos pelos próprios professores e que existem para fins tanto

de diagnóstico como para de aprovação e certificação), observa-se, hoje em dia, uma

presença cada vez mais marcante das chamadas avaliações externas ou em larga escala.

O nome avaliação “externa” decorre do fato de que, via de regra, quem elabora, aplica e

corrige essas avaliações são agentes externos à própria escola, muitas vezes representados

por centros de avaliação contratados pela administração de sistemas educacionais de nível

nacional, estadual ou municipal. Dessa forma, os agentes avaliadores não possuem, em

geral, uma vinculação direta com as escolas que avaliam, e tal fato garante, ao menos em

tese, um saudável distanciamento e independência dos avaliadores em relação às

instituições avaliadas.

A expressão “larga escala”, ou, como querem alguns, “grande escala”, refere-se ao fato

de que, nesses exames, um enorme número de alunos e/ou escolas são envolvidos no

processo de avaliação, seja através da realização de exames censitários – que cobrem

todas as instituições ou indivíduos que são alvo do processo avaliativo –, seja através da

adoção de procedimentos de amostragem capazes de fazer com que um número mais

restrito de resultados obtidos representem, com margens de erro aceitáveis, toda uma

população, a qual pode abranger contextos muito amplos, chegando eventualmente a

níveis nacionais e internacionais.

Avaliações educacionais em larga escala

Quando fazemos menção aos indicadores educacionais de desempenho, naturalmente

estamos, com isso, nos referindo a essas grandes avaliações externas, que permitem uma

visão ao mesmo tempo abrangente e detalhada do estado da aprendizagem em regiões ou

populações consideravelmente amplas. Existe, atualmente, um grande número de

exemplos relevantes desses sistemas de avaliação, tanto no Brasil quanto no exterior.

Especificamente no caso brasileiro, destaca-se, entre outros, o Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Básica – SAEB –, como uma iniciativa pioneira e de âmbito

nacional de diagnóstico da situação de aprendizagem dos alunos em diversas etapas da

escolarização e redes de ensino, e que possui também a preocupação de levantar dados

que sejam representativos de todos os estados e regiões do país.

O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foi criado pelo MEC em 1988. A

partir de 1995 incorporou nova metodologia, baseada na Teoria de Resposta ao Item, que

permite a comparabilidade dos dados ao longo do tempo, em série histórica. Também

realizou, em âmbito nacional, a primeira aplicação amostral de testes padronizados em

leitura e resolução de problemas nas séries finais de cada ciclo do Ensino Fundamental

(4ª série/5º ano e 8ª série/9º ano) e 3º ano do Ensino Médio, de todas as unidades da

Federação e redes de ensino público (municipal, estadual, federal) e particular, o que

passou a ser feito a cada dois anos. A partir de 2005, a atenção aos resultados das escolas

obtidos nas avaliações se intensificou. Primeiro com a reestruturação do Saeb pela

Portaria Ministerial nº 931 de 21 de março de 2005, que foi desmembrado em duas

avaliações: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e a Avaliação Nacional

do Rendimento no Ensino Escolar (Anresc), esta última mais conhecida como Prova

Brasil, aplicada de modo censitário em todas as escolas públicas.

Em seguida, com a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),

que reúne, em um só indicador, os conceitos de fluxo, expressos nas taxas de aprovação

registradas no Censo Escolar, e de desempenho nas provas padronizadas em leitura e

resolução de problemas. Calculado como a média das notas padronizadas, o Ideb varia de

0 a 10 e seus resultados permitem traçar metas bianuais, o que possibilitou que se tornasse

ferramenta para o acompanhamento das metas de qualidade para a educação básica do

Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Desde então, estados e municípios vêm adotando e desenvolvendo sistemas próprios de

avaliação. A maioria baseia-se na metodologia utilizada pelo Saeb, mas com a inclusão

de elementos próprios aos interesses de cada rede.

Disponível em: http://www.fundacaoitausocial.org.br/biblioteca/artigos-e-

publicacoes/publicacao-avaliacao-e-aprendizagem.html

Avaliação Educacional em larga escala: sim ou não?

A avaliação educacional em larga escala, entretanto, apesar de sua crescente aceitação

pública em anos recentes, traz em seu bojo debates que estão longe de serem encerrados.

Com efeito, é possível ver, com certa frequência, por exemplo, notícias sobre embates

entre governos e sindicatos de professores, em que um dos pontos de maior contenda é o

repúdio sindicalista a essas avaliações. Tais fatos têm, como dois de seus exemplos mais

extremos (ao menos em termos de consequências práticas), o SAERS (Sistema de

Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul) e o SAERJ (Sistema de

Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro). Em ambos os casos, a presença de

uma forte disputa sobre a validade e mesmo sobre a legitimidade das avaliações externas,

associada à alternância de partidos ou facções rivais no governo estadual, fizeram com

que, no caso do Rio Grande do Sul, as avaliações fossem interrompidas em 2011 e, no

caso do Rio de Janeiro, houvesse uma enorme variação de objetivos e procedimentos de

uma edição para outra, além de interrupções, o que terminou por ocasionar problemas

sobre a eficiência do programa em alcançar seus objetivos.

Os defensores das avaliações externas argumentam sobre a capacidade que estas têm de

permitir um olhar mais crítico e preciso da realidade educacional, pelo qual as escolas

deixam de ser uma caixa preta para os gestores educacionais e para o público em geral,

passando, dessa forma, a ter que prestar contas do desempenho de seus alunos e, por

conseguinte, do seu próprio desempenho, perante o governo e o povo que a financiam.

Outro aspecto importante, argumenta esse grupo, é o fato de que, com os resultados, é

possível, tanto para os gestores dos sistemas educacionais quanto para os profissionais

mais diretamente envolvidos no dia a dia escolar, diagnosticar os pontos fracos e fortes

da aprendizagem dos alunos, para assim, conceber e implementar estratégias de

aprimoramento educacional que visem a corrigir os pontos fracos e a reforçar ou

disseminar os pontos fortes. Naturalmente, para que tais objetivos sejam alcançados, é

preciso conceber e implementar sistemas avaliativos capazes de fazer com que seus

respectivos instrumentos possuam um grau, no mínimo, razoável, de eficácia e eficiência,

o que implica a resolução apropriada de uma série de problemas conceituais, relacionados

à elaboração das provas, e logísticos, associados à sua respectiva aplicação.

Acompanhe sua escola

Para acompanhar os resultados de sua escola e é necessário associar a leitura dos

percentuais alcançados nas escalas de proficiência em Português e Matemática com as

taxas de aprovação. Esses indicadores, não só compõem os cálculos do Ideb, como

também permitem um acompanhamento longitudinal (série histórica), pois permitem que

a escola compare seu próprio rendimento na avaliação externa e verifique seus avanços.

Para acompanhar sua escola acesse: www.inep.gov.br / www.qedu.org.br /

www.todospelaeducacao.org.br

2.6 - O financiamento e o gasto em educação

Uma última categoria proposta para os indicadores – e, naturalmente, não menos

importante que as demais – é a que trata da destinação de recursos para financiar a

educação, nos seus mais diversos níveis e localidades. Nesse sentido, indicadores comuns

a essa categoria costumam informar os gastos com a educação expressos de diferentes

modos e comparados com diferentes parâmetros. Por exemplo, é possível, tomando-se

como referência uma determinada unidade administrativa, como um estado da federação

ou um país, calcular o percentual que os gastos com a educação representam em relação

ao Produto Interno Bruto – PIB – dessa unidade de interesse num determinado período.

Além disso, também é possível calcular, por exemplo, os gastos per capita em educação,

ou seja, pode-se dividir a quantidade de gastos despendidos pelo número de estudantes

atendidos pelo investimento. Em termos das três principais etapas de escolarização –

fundamental, média e superior – os números em geral mostram que os gastos per capita

aumentam com os níveis, o que é previsível, visto que, quanto mais avançada for a etapa,

mais qualificação se exige do corpo docente, e maior costuma também ser a necessidade

de equipamentos e infraestrutura próprios de cada nível. Além disso, os gastos com o

pessoal docente tendem a ser o fator de maior peso no financiamento da educação, de

modo que isso também explica, em boa parte, os maiores gastos verificados no Ensino

Superior, onde a remuneração dos docentes é, via de regra, consideravelmente maior que

a dos níveis mais baixos de escolaridade.

O gráfico a seguir, informa quanto valem os gastos por estudante no Ensino Superior em

diversos países, quando comparados com o que se gasta em média e per capita no seu

respectivo Ensino Fundamental:

Gráfico 4: Gastos com instituições por estudante em diversos níveis de educação,

para todos os serviços, em relação ao ciclo inicial do E.F.

Notas: Uma razão de 300 em favor da educação superior significa que os gastos com instituições educacionais por

estudante na educação superior são 3 vezes mais altos em comparação aos gastos com instituições educacionais por

estudante de EF1.Uma razão de 50 em favor da Educação Infantil significa que os gastos com instituições educacionais

por estudante na educação infantil são 50% mais baixos em comparação aos gastos com instituições educacionais por

estudante de ensino fundamental 1. Os países estão classificados em ordem descendente de gasto de instituições

educativas por estudante de ensino médio em relação ao EF1.

Fonte: OCDE. Argentina: Instituto de Estadística de la Unesco (Programa Mundial de Indicadores de Educación). Tabla

B1.1a. Para ver notas, consulte Anexo 3 (www.oecd.org/edu/eag.htm).

Pelo gráfico, é possível ver, por exemplo, que o Brasil vive, no Ensino Superior, uma

situação sui generis, pela qual proporcionalmente se gasta, por aluno, muito mais do que

nos países da OCDE. Tal situação, portanto, pode suscitar críticas baseadas também no

fato de que a educação superior é, no Brasil, financiada principalmente com o dinheiro

público, e de principalmente direcionar-se, pela sua própria natureza seletiva, às camadas

mais favorecidas da população.

CONCLUSÕES

Vimos, portanto, que a descrição da situação educacional de um país ou de uma região

envolve a consideração de múltiplas e variadas dimensões, e que a concepção e o cálculo

dos indicadores educacionais deve não somente abarcar toda essa diversidade, como

também fazê-lo do modo mais claro e preciso possível. A consideração de alguns

exemplos de indicadores nacionais referentes aos aspectos demográficos brasileiros

mostra-nos que o país tem diante de si enormes desafios relacionados ao atendimento

educacional de uma volumosa parcela de sua população. Por outro lado, também é

possível observar um progresso notável feito nos últimos anos, que se traduz, por

exemplo, na consistente queda das taxas de analfabetismo, acompanhada de elevações,

também consistentes, nas taxas de eficiência escolar, como as de aprovação dos alunos.

Outra questão importante se refere à utilização desses indicadores educacionais

(especialmente dos dados fornecidos pelas avaliações em larga escala) pelos gestores

escolares, já que são dados que podem ser uma importante ferramenta para tratar dos

padrões de desempenho e do currículo escolar de maneira mais eficaz.

Ainda assim há muitos e grandes problemas que restam por serem solucionados. Um dos

mais relevantes diz respeito à qualidade da educação oferecida, e que é um assunto

constantemente tratado pelos indicadores de desempenho que se vêm produzindo

regularmente no país nos últimos anos, através da implementação e do desenvolvimento

de diversos sistemas de avaliação em grande escala.

REFERÊNCIAS

CAED. Boletim de resultados: PROALFA 2008. Juiz de Fora: CAEd, 2009.

FERRARO, A. Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: o que dizem os censos?

Educação e Sociedade, v. 23, n. 81, p. 21-47, 2002.

INEP. Geografia da educação brasileira. Brasília: INEP, 2002.

_____. Nota técnica: índice de desenvolvimento da educação básica – IDEB.

Disponível em:

<http://www.inep.gov.br/download/Ideb/Nota_Tecnica_n1_concepcaoIDEB.pdf>.

Acesso em: 18 set. 2010.

OCDE. Panorama da Educação 2007. Disponível em:

<http://www.oecdbookshop.org/oecd/display.asp?lang=en&sf1=DI&st1=5KZPLFFZ59

VB>. Acesso em: 19 set. 2010.

RIBEIRO, S. C. A pedagogia da repetência. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/ea/v5n12/v5n12a02.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2010.