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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO Indicadores Organizacionais como Base Motivacional para a Gestão da Qualidade Autor: Plínio César Lucas Viana Orientador: Prof. Dr. Eugênio José Zoqui

Indicadores Organizacionais como Base Motivacional para a ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/264069/1/...seguintes temas: a motivação, segundo a Teoria das Expectativas

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

    COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

    Indicadores Organizacionais como Base

    Motivacional para a Gestão da Qualidade

    Autor: Plínio César Lucas Viana

    Orientador: Prof. Dr. Eugênio José Zoqui

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

    COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

    Indicadores Organizacionais como Base

    Motivacional para a Gestão da Qualidade Autor: Plínio César Lucas Viana Orientador: Prof. Dr. Eugênio José Zoqui Curso: Engenharia Mecânica - Mestrado Profissional

    Área de Concentração: Gestão da Qualidade Total

    Dissertação de mestrado apresentada à Comissão de Pós Graduação da Faculdade de

    Engenharia Mecânica, como requisito para obtenção do título de Mestre em Engenharia

    Mecânica, com ênfase em Gestão da Qualidade Total.

    Goiânia, dezembro de 2004.

    GO – Brasil

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

    COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

    Indicadores Organizacionais como Base

    Motivacional para a Gestão da Qualidade Autor: Plínio César Lucas Viana Orientador: Prof. Dr. Eugênio José Zoqui Prof. Dr. Eugênio José Zoqui Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Prof. Dr. Ademir J. Petenate Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Prof. Dr. Ricardo Caetano Rezende Universidade Estadual de Goiás - UEG

    Goiânia, dezembro de 2004.

  • Dedicatória

    Dedico este trabalho a meus pais que, além de todas as obrigações, dedicação e carinho

    doados aos filhos, em sua sabedoria, sempre priorizaram nossa educação.

  • Agradecimentos

    O presente trabalho nada mais é que a soma de esforços de pessoas e instituições que, direta

    ou indiretamente, colaboraram para que pudéssemos dedicar ao estudo deste tema que, por sua

    abrangência e complexidade, pode ser aplicado em grande parte das situações que vivemos, seja

    na vida profissional, pessoal e até mesmo em nossos relacionamentos. Em outras palavras,

    acreditamos que Qualidade e motivação têm que fazer parte de nossa rotina e isto somente

    acontecerá se tivermos parâmetros e metas, expressados por meio de indicadores, sejam eles

    formais ou apenas baseados na experiência vivida.

    Neste contexto de inter-relacionamento pessoal e colaboração mútua para realização de um

    objetivo, agradecemos sensibilizados àqueles que muito nos ajudaram:

    - A Deus, pela perseverança e conhecimento; - A meus pais, Daniel e Águeda, pelo amor incondicional em todas as horas; - A minha esposa Rosana, pela cooperação e paciência; - Aos meus irmãos, Paulo Roberto, Denise e Daniel, demais parentes e amigos pela

    compreensão diante de minhas ausências;

    - Ao meu orientador Eugênio, pela amizade, presença e disponibilidade constantes, mesmo à distância;

    - Ao Senai, na pessoa de seu Diretor Regional Paulo Vargas, pela oportunidade e confiança em nosso trabalho.

    Enfim, a todos aqueles que acreditaram e apoiaram direta ou indiretamente nosso trabalho,

    relacionados acima e também àqueles não mencionados, mas que de alguma forma colaboraram

    com ele, meu muito obrigado, de coração. Que Deus os abençoe e lhes retribua todas as graças

    por mim recebidas.

  • “Medidas são usadas em controle de processo e em

    melhoria de desempenho. Elas devem fornecer informações

    sobre o desempenho corrente do processo e do pessoal e

    motivá-los para um melhor desempenho futuro”.

    John Oakland

  • Resumo VIANA, Plínio César Lucas, Indicadores Organizacionais como Base Motivacional para a

    Gestão da Qualidade - Goiânia: Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade

    Estadual de Campinas, 2004. 76 p. Trabalho final de mestrado profissional.

    O presente trabalho apresenta como objetos de estudo, além da Gestão da Qualidade, os

    seguintes temas: a motivação, segundo a Teoria das Expectativas de Victor Vroom, que atribui

    valor e expectativa à atividade e os coloca como referência para a postura do trabalhador; e o

    Balanced Scorecard, que se apresenta como ferramenta para o gerenciamento das informações a

    serem disponibilizadas ao trabalhador para sua tomada de decisão / postura. A primeira

    proposição da dissertação diz que, para se implantar e manter uma Gestão pela Qualidade em

    uma organização, entre outras providências, deve-se desenvolver, gerenciar e melhorar

    continuamente os indicadores organizacionais que impactam fortemente a motivação das

    pessoas, pois elas são o diferencial da Qualidade. Diz ainda que a organização deve estabelecer o

    sistema de indicadores organizacionais baseado também nas Expectativas dos indivíduos. A

    segunda proposição diz que para se implantar e manter uma Gestão pela Qualidade em uma

    organização, de uma maneira mais objetiva, focada e priorizando alguns elementos, entre outras

    providências, deve-se desenvolver, gerenciar e melhorar continuamente os indicadores

    organizacionais que impactam forte e simultaneamente os três temas estudados neste

    trabalho. O embasamento das proposições foi feito por meio de pesquisa bibliográfica, análises

    comparativas entre autores de diferentes áreas e linhas ideológicas e aplicação de uma pesquisa

    com profissionais das áreas de Gestão, Recursos Humanos, Planejamento e Qualidade.

    Concluímos enfim, por meio de um método estruturado, que a Gestão pela Qualidade deve ser

    baseada nas pessoas e mantida por meio de indicadores, reforçando a tese de que a Qualidade, em

    sua essência, se faz por meios das pessoas.

    Palavras Chave: Gestão, Qualidade, Motivação, Balanced Scorecard, Recursos Humanos e Indicadores.

  • Abstract

    VIANA, Plínio César Lucas, Organizational Indicators as a Motivational Basis for Quality

    Management - Goiânia: School of Mechanical Engineering, Universidade Estadual de

    Campinas, 2004. 77 p. Final dissertation for a Master's Degree.

    In addition to Quality Management, this paper also presents the following themes:

    Motivation, according to Victor Vroom's Expectancy Theory, which ascribes value and

    expectancy to activities and uses them as reference for the worker's behavior; and the Balanced

    Scorecard, which presents itself as a tool for managing the information made available to the

    worker to help him/her in the decision making process and to establish a behavior. The first

    postulate of the dissertation is that, in order to be able to implement Quality Management in an

    organization, one should, among other things, develop, manage and continuously improve the

    organization indicators which cause a strong impact on people's motivation, since they are

    the factors that will make the difference in terms of Quality. This postulate also states that the

    organization should establish a system of indicators based on people's expectations. The second

    postulate states that in order to implement Quality Management in an organization in a more

    objective and focused manner, prioritizing some elements, it will be necessary develop, manage

    and continuously improve the organization indicators that can cause strong and simultaneous

    impact on the three themes studied in this paper, among other things. These postulates were

    based on extensive bibliographic research, comparative analysis among authors with different

    interests and ideology, and a survey carried out among Management, Human Resources, Planning

    and Quality professionals. Our conclusion, resulting from the use of structured methodology, is

    that Quality Management should be based on people and maintained by indicators, thereby

    reinforcing the thesis that Quality, in its essence, is achieved through people.

    Key Words: Management, Quality, Motivation, Balanced Scorecard, Human Resources and

    Indicators.

  • i

    Índice Lista de Figuras ------------------------------------------------------------------------------------------- ii

    Lista de Quadros ------------------------------------------------------------------------------------------ iii

    Glossário ---------------------------------------------------------------------------------------------------- iv

    Capítulo 1 – Introdução --------------------------------------------------------------------------------- 1

    Capítulo 2 – Gestão da Qualidade --------------------------------------------------------------------- 3

    2.1 – Conceitos da Qualidade----------------------------------------------------------------------- 3

    2.2 – Evolução do Conceito da Qualidade ------------------------------------------------------- 5

    2.3 – As bases da Qualidade na ótica de Deming, Juran, Crosby, Feigenbaum e

    Ishikawa----------------------------------------------------------------------------------------- 8

    2.4 – Análise Crítica da Gestão da Qualidade ---------------------------------------------------15

    Capítulo 3 – O movimento humanístico e a motivação na gestão das empresas --------------20

    3.1 – A evolução da Administração Moderna ---------------------------------------------------20

    3.2 – A motivação como ferramenta para a gestão de recursos humanos --------------------22

    3.3 – Análise Crítica do movimento humanístico e a motivação na gestão das

    empresas ----------------------------------------------------------------------------------------45

    Capítulo 4 – O Balanced Scorecard – BSC ----------------------------------------------------------50

    Capítulo 5 – Proposta do Método ----------------------------------------------------------------------59

    5.1 – Aplicação Prática do Modelo ----------------------------------------------------------------63

    Capítulo 6 – Conclusão -----------------------------------------------------------------------------------74

    Referências Bibliográficas -------------------------------------------------------------------------------76

  • ii

    Lista de Figuras

    Figura 2.1 – Evolução do Controle da Qualidade Total---------------------------------------------- 5

    Figura 3.1 – Evolução das Escolas da Administração------------------------------------------------ 21

    Figura 3.2 – A hierarquia das necessidades, segundo Maslow -------------------------------------- 22

    Figura 3.3 – Comparativo entre as necessidades de Maslow e de Alderfer------------------------ 30

    Figura 3.4 – Comparativo entre as necessidades de Maslow e de Herzberg----------------------- 33

    Figura 3.6 – As quatro conseqüências fundamentais do comportamento -------------------------- 35

    Figura 3.7 – Resumo da Teoria de Metas -------------------------------------------------------------- 40

    Figura 4.1 – O BSC como ferramenta para uma Gestão Estratégica ------------------------------- 55

    Figura 5.1 – Foco do trabalho: Convergência Gestão pela Qualidade x Teorias

    Motivacionais x BSC --------------------------------------------------------------------- 60

  • iii

    Lista de Quadros

    Quadro 2.2 – Trilogia de Juran: os três processos gerenciais para o gerenciamento da

    Qualidade------------------------------------------------------------------------------------ 11

    Quadro 2.3 – Os 10 passos de Juran para o melhoramento da Qualidade ------------------------- 11

    Quadro 2.4 – A intensidade do impacto dos itens listados na Gestão pela Qualidade ----------- 17

    Quadro 3.5 – Seqüência para se mudar o comportamento, segundo a Teoria do Reforço------- 34

    Quadro 3.8 – Equação da motivação, segundo Vroom----------------------------------------------- 43

    Quadro 3.9 – A intensidade do impacto dos itens listados na motivação das pessoas ----------- 47

    Quadro 4.2 – Abrangência e detalhamento dos indicadores em um Sistema Estratégico

    de Medição ---------------------------------------------------------------------------------- 55

    Quadro 4.3 – A intensidade do impacto dos itens listados na implantação do BSC-------------- 56

    Quadro 5.2 – Equação da motivação, segundo Vroom----------------------------------------------- 61

    Quadro 5.3 – Comparativo da intensidade dos itens em cada ferramenta de gestão ------------- 65

    Quadro 5.4 – Equação da motivação, segundo Vroom, adaptada----------------------------------- 69

  • iv

    Glossário

    Administração Científica: Abordagem à Administração, formulada por Frederick W. Taylor e

    outros entre 1890 e 1930, que procurou determinar cientificamente os melhores métodos

    para a execução de qualquer tarefa e para selecionar, treinar e motivar os trabalhadores.

    Teve este nome pois buscou aplicar métodos científicos para analisar e determinar a

    “melhor maneira” de se executar as tarefas da produção.

    Alta direção: Abrange os executivos ou líderes de escalões superiores, que compartilham a

    responsabilidade principal pelo desempenho e pelos resultados da organização.

    Análise crítica: Verificação profunda e global de um projeto, produto, serviço, processo ou

    informação com relação a requisitos, objetivando a identificação de problemas e a

    proposição de soluções.

    Aprendizado: métodos utilizados para questionar, avaliar, melhorar e/ou inovar as práticas de

    gestão e os respectivos padrões de trabalho.

    BSC - Balanced Scorecard: Também conhecido como “Painel de Bordo” ou “Painel de

    Desempenho da Organização”, o BSC é um sistema de medição bem estruturado com

    indicadores desdobrados nos vários níveis hierárquicos e alinhados de acordo com o plano

    estratégico da empresa. Deve traduzir a missão e a estratégia de uma unidade de negócios

    em objetivos e medidas tangíveis.

    Cartas de Controle: São gráficos que permitem identificar a presença de uma “causa especial”

    em um processo. Entende-se por causa especial aquela que provoca perda de controle do

    processo e que não se caracteriza como causa aleatória, sob controle estatístico.

    CCQ – Círculos de Controle da Qualidade: Grupo de empregados que se reúnem periodicamente

    para identificar e resolver problemas relativos ao trabalho.

  • v

    Ciclo de Shewart: Ferramenta desenvolvida por Shewart e muito utilizada por Deming para

    desenvolver a melhoria contínua nos processos. Envolve as etapas: Planejamento,

    Desenvolvimento, Controle (verificação) e Ação corretiva. A ferramenta é mais conhecida

    como PDCA, porém utilizada por Deming como PDSA: Planejamento, Desenvolvimento,

    Estudo e Ação corretiva. Conhecida também como Ciclo de Deming ou Ciclo de Melhoria

    Contínua.

    Desdobramento: Ato de desenvolver, de estender, de abrir, de aprofundar ou de fracionar uma

    prática de gestão, um plano de ação, uma diretriz estratégica, um indicador ou um enfoque.

    Diagrama de Causa e Efeito: O Diagrama de Causa e Efeito, também chamado Diagrama de

    Ishikawa ou Diagrama Espinha de Peixe, foi idealizado por Kaoru Ishikawa em 1943, e

    mostra sistematicamente as relações entre problemas no trabalho (efeito) e suas causas,

    permitindo mapear uma lista de fatores que julgamos afetar um problema ou um resultado

    desejado.

    Diagrama de Dispersão: São gráficos que se destinam a verificar a existência de vínculos de

    variação entre duas variáveis. Aplica-se esta ferramenta buscando-se uma relação de causa

    e efeito entre variáveis, muito útil nas análises de processos.

    Diagrama de Pareto: Uma das técnicas mais simples e poderosas para priorizar atividades.

    Criada por Vilfredo Pareto possibilita estabelecer dois grupos de causas para a maioria dos

    processos. Separa as poucas causas essenciais das muitas causas triviais. Por isso o Pareto é

    conhecido como “técnica 80-20”: Uma grande quantidade de causas (ordem de 80%), que

    contribue muito pouco (ordem de 20%) para os efeitos observados; e uma pequena

    quantidade de causas (ordem de 20%) que contribue de forma preponderante (ordem de

    80%) para os efeitos observados.

    Escola Neoclássica: É a edição da Teoria Clássica devidamente atualizada e redimensionada aos

    problemas administrativos atuais e ao tamanho das organizações de hoje. Caracteriza-se

    pelo ecletismo das teorias administrativas e aproveita a contribuição de todas as demais

    escolas.

    Estratégia: É um conjunto de decisões que orienta a definição das ações a serem tomadas pela

    organização ou uma de suas unidades.

  • vi

    Estrutura de cargos: Aspecto relacionado às responsabilidades, à autonomia e às tarefas

    atribuídas às pessoas, individualmente ou em grupo, sendo também conhecida como: perfil

    de cargos, descrição de cargos, descrição de funções ou perfil de funções.

    Expectativa: É a percepção por parte da pessoa sobre a possibilidade de que seus esforços

    atingirão com sucesso as suas metas de desempenho.

    Experiência de Hawthorne: Experiência desenvolvida em uma fábrica da Western Electric

    Company, situada em Chicago, no bairro de Hawthorne. Marca, ao longo de sua duração

    de cinco anos, o início de uma nova teoria calcada em valores humanísticos na

    Administração, deslocando totalmente a preocupação anteriormente voltada para a tarefa e

    para a estrutura para a preocupação com as pessoas.

    FCS: Fator Crítico de Sucesso - Elemento fundamental em um processo para se atingir o objetivo

    proposto. Deve ser especialmente acompanhando, pois influencia diretamente no resultado

    a ser alcançado.

    Feedback: O reverso do processo de comunicação que ocorre quando o receptor expressa sua

    reação à mensagem do emissor. Em relação aos processos, feedback pode ser parte do

    controle onde os resultados das ações são retornados aos indivíduos, permitindo que os

    procedimentos de trabalho sejam analisados e corrigidos.

    Fluxograma: Ferramenta gráfica que, a partir de uma simbologia adequada, permite descrever

    uma seqüência de ações, documentos, processos, produtos, etc.

    Folhas de Verificação: São formulários utilizados para padronizar e verificar resultados de

    trabalho ou para verificar e coletar dados.

    FPNQ: Fundação Prêmio Nacional da Qualidade. Entidade privada e sem fins lucrativos,

    fundada para administrar o Prêmio Nacional da Qualidade – PNQ e todas as atividades

    decorrentes do processo de premiação, em todo o território brasileiro, e fazer a

    representação institucional externa do PNQ nos fóruns internacionais.

    Gestão Estratégica: Processo baseado no princípio de que o projeto global de uma organização

    só pode ser efetivado se o alcance de metas for somado à política e à estratégia como um

    dos fatores principais na operação das atividades da organização pela direção da empresa.

    GQT: Gestão da Qualidade Total ou TQM – Total Quality Management.

    Histograma: Gráfico de barras construído a partir de uma tabela de freqüências.

  • vii

    Indicadores: Dados ou informações numéricas que quantificam as entradas (recursos ou

    insumos), saídas (produtos e/ou serviços) e o desempenho de processos, produtos e da

    organização como um todo. São utilizados para acompanhar e melhorar os resultados ao

    longo do tempo.

    ISO 9001:2000: Norma equivalente a NRB ISO 9001:2000, que define requisitos para sistemas

    de gestão da qualidade.

    JUSE: Union of Japanese Scientist and Engineers - União dos Cientistas e Engenheiros

    Japoneses.

    Lei do Efeito: Teoria formulado por Edward Thorndike, em 1911, a qual afirma que o

    comportamento que é seguido por conseqüências positivas provavelmente será repetido.

    Melhores práticas de gestão: Processo contínuo de comparação de práticas de gestão, que pode

    incluir a comparação de estratégias, procedimentos, operações, sistemas, processos,

    produtos e serviços dentro da própria organização ou com organizações líderes

    reconhecidas no mercado, inclusive com líderes de ramos de atividades diferentes da

    organização, para identificar as oportunidades de melhoria do desempenho.

    Meta: Níveis de desempenho pretendidos para um determinado período de tempo. É o que se

    está tentando atingir, ou uma intenção consciente de agir.

    Missão: A razão de ser de uma organização, as necessidades sociais a que ela atende e seu foco

    fundamental de atividades.

    Nível Estratégico: Posição hierárquica na estrutura organizacional de uma empresa onde se

    situam as pessoas responsáveis pelas políticas e diretrizes da organização.

    Nível Operacional: Posição hierárquica na estrutura organizacional de uma empresa onde se

    situam as pessoas que realizam as atividades ligadas à atividade fim da organização.

    Nível Tático: Posição hierárquica normalmente intermediária na estrutura organizacional de uma

    empresa onde se situam as pessoas responsáveis pela tradução das políticas e diretrizes da

    organização em planos de ação.

    Organização: Companhia, corporação, firma, órgão, instituição ou empresa, ou uma unidade

    destas, pública ou privada, sociedade anônima, limitada ou com outra forma estatutária,

    que tem funções e estruturas administrativas próprias e autônomas, no setor público ou

    privado, com ou sem finalidade de lucro, de porte pequeno, médio ou grande.

    PDCA: Ver Ciclo de Shewart.

  • viii

    Plano Estratégico: Documento da organização onde estão o conjunto de procedimentos para

    tomada de decisões sobre os objetivos e as estratégias da empresa em longo prazo.

    Processo: Conjunto de recursos e atividades inter-relacionadas que transformam insumos

    (entradas) em produtos (saídas).

    Produtividade: Eficiência na utilização de recursos.

    Psicologia Organizacional: São os conhecimentos da Psicologia aplicados à Teoria

    Administrativa. Uma metodologia mais objetiva e científica baseada na comprovação

    experimental, que trata mais do comportamento organizacional, no sentido amplo da

    palavra, do que do comportamento humano ou do comportamento de pequenos grupos

    sociais. Influenciou a Teoria Comportamental da Administração.

    Qualidade de Vida no Trabalho (QVT): Programas projetados para criar um ambiente de

    trabalho que aumente o bem-estar do funcionário.

    Qualidade: Totalidade de características de uma entidade (atividade ou um processo, um

    produto, uma organização ou uma combinação destes), que lhe confere a capacidade de

    satisfazer as necessidades explícitas e implícitas dos clientes.

    Recompensa extrínseca: Recompensa que é dada por um agente externo, como um supervisor

    ou um grupo de trabalho.

    Recompensa intrínseca: Recompensa psicológica que é experimentada diretamente por um

    indivíduo.

    Recursos Humanos: Pessoas que compõem uma organização e que contribuem para a

    consecução das suas estratégias, dos seus objetivos e das suas metas, tais como:

    empregados em tempo integral ou parcial, temporários, autônomos e contratados de

    terceiros que trabalham sob a coordenação direta da organização.

    Sistema: Conjunto de elementos que se relacionam entre si, com uma finalidade comum,

    formando um todo dinâmico.

    Teoria Burocrática: Criada por Max Weber e baseada na estrutura organizacional e no conceito

    de “burocracia”, que é uma forma de organização humana e que se baseia na racionalidade,

    isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima

    eficiência possível no alcance desses objetivos.

    Teoria Clássica: Tentativa inicial, proposta pioneiramente por Henry Fayol, de identificar os

    princípios e as habilidades que servem de base para a administração eficaz.

  • ix

    Teoria Comportamental (Behaviorista): Teoria administrativa que dá ênfase às ciências do

    comportamento das pessoas.

    Teorias de Conteúdo: Teorias da motivação que focalizam as necessidades que motivam o

    comportamento (satisfação das necessidades das pessoas).

    Teoria da Contingência: Teoria administrativa que diz que não há nada de absoluto nas

    organizações. Tudo é relativo, tudo depende. Explica que existe uma relação funcional

    entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance

    eficaz dos objetivos da organização.

    Teoria do Desenvolvimento Organizacional (D.O.): Complexo conjunto de idéias a respeito do

    homem, da organização e do ambiente, no sentido de propiciar o crescimento e

    desenvolvimento segundo as suas potencialidades. É um desdobramento prático e

    operacional da Teoria Comportamental a caminho da abordagem sistêmica, baseado na

    mudança planejada, ou seja, um processo planejado de modificações culturais e estruturais,

    permanentemente aplicado a uma organização, visando a institucionalizar uma série de

    tecnologias sociais, de tal forma que a organização fique habilitada a diagnosticar, planejar

    e implementar essas modificações com ou sem assistência externa.

    Teoria dos Dois Fatores: Abordagem de enriquecimento de cargos, de Herzberg, que distingue

    duas categorias de fatores – higiênicos e motivadores. A administração ruim dos fatores

    higiênicos resulta em insatisfação do trabalhador, mas sua boa administração não o conduz

    à satisfação. Entretanto, quando os fatores motivadores estiverem presentes, o trabalhador

    deve perceber seu trabalho como satisfatório e motivador.

    Teoria da Eqüidade: Teoria da motivação no trabalho que enfatiza o papel representado pela

    crença do indivíduo na eqüidade ou justiça das recompensas e punições ao determinar seu

    desempenho e sua satisfação. Afirma que as pessoas avaliam o quão justamente têm sido

    tratadas de acordo com dois fatores-chaves: resultados e insumos.

    Teoria ERC: Teoria de conteúdo da motivação proposta por Clayton Alderfer, que diz que as

    pessoas lutam para alcançar uma hierarquia de necessidades: Existenciais, de

    Relacionamento e de Crescimento (ERC em português ou ERG em inglês - Existence,

    Relatedness e Growth).

    Teoria Estruturalista da Administração: Surgiu como um desdobramento da Teoria da

    Burocracia, tentando conciliar as teses propostas pela Teoria Clássica e pela de Relações

  • x

    Humanas. É mais voltada para sociologia organizacional, procurando inter-relacionar as

    organizações com o ambiente externo (sociedade).

    Teoria da Expectativa: Modelo de motivação especificando que o esforço de atingir um alto

    desempenho é uma função da probabilidade percebida e que o alto desempenho pode ser

    alcançado, e que será recompensado se alcançado, e que a recompensa valerá o esforço

    despendido.

    Teoria das Metas: Ou do estabelecimento de objetivos. É uma teoria de processo e cognitiva da

    motivação do trabalho, isto é, ela diz que os trabalhadores são criaturas pensantes que

    lutam em direção a objetivos.

    Teorias Motivacionais: Teorias administrativas que abordam o tema “motivação das pessoas”

    como fator influente na gestão das organizações.

    Teorias de Processo: Teorias da motivação que estudam os processos de pensamento através do

    qual as pessoas decidem como agir.

    Teorias do Reforço / Modificação do Comportamento: Uma abordagem da motivação,

    baseada na “Lei do Efeito” – a idéia de que o comportamento com conseqüências positivas

    tende a ser repetido, ao passo que o comportamento com conseqüências negativas tende a

    não ser repetido.

    Teorias dos Sistemas: Considerando que a organização é um sistema que consiste em um

    número de partes integrantes, a Teoria dos Sistemas afirma que as propriedades dos

    sistemas não podem ser descritas significativamente em termos de seus elementos

    separados. A compreensão dos sistemas somente ocorre quando se estudam os sistemas

    globalmente, envolvendo todas as inter-relações dos seus subsistemas.

    Teoria X: Formulada por Douglas McGregor, trata-se de uma visão tradicional da motivação,

    que afirma que o trabalho é desagradável para os empregados, que têm que ser motivados

    através de força, dinheiro ou elogios.

    Teoria Y: Formulada por Douglas McGregor, é a suposição de que as pessoas são inerentemente

    motivadas a trabalhar e fazer um bom serviço.

    TGA – Teoria Geral da Administração: Administração Moderna

    Top down: De cima para baixo

    TQC: Total Quality Control ou Controle da Qualidade Total

  • xi

    Trilogia de Juran: Modelo proposto por Juran que congrega os três processos gerenciais para o

    gerenciamento da qualidade: processos de Planejamento, de Controle e de Melhoramento

    da Qualidade.

    Valência: É o poder motivador decorrente do resultado específico de um comportamento.

    Valor: É um padrão ou convicção pessoal fortemente arraigado.

    Valores organizacionais: Entendimentos e expectativas que descrevem como os profissionais da

    organização se comportam e sobre os quais todas as relações organizacionais estão

    baseadas.

    Visão: Estado que a organização deseja atingir no futuro. A visão tem a intenção de propiciar o

    direcionamento dos rumos de uma organização.

    Zero Defeito: É um padrão de desempenho proposto por Crosby, onde não se deve medir

    esforços para se “acertar desde a primeira vez”. Tem como objetivo conseguir nenhuma

    falha na fabricação.

  • 1

    Capítulo 1

    Apresentação

    A implantação da Gestão pela Qualidade nas empresas tem se tornado fator diferencial na

    competitividade destas. Apenas a certificação de processos, mesmo pelas atuais normas ou

    prêmios, ainda não garantem efetividade no processo, embora sejam passos significativos para a

    excelência. Neste cenário, algumas empresas estacionam no patamar de “certificadas” e outras

    buscam a melhoria contínua tentando alcançar uma gestão pela Qualidade.

    Assim como nas competições mais acirradas do esporte, onde milésimos de segundo fazem

    a diferença entre a glória ou o anonimato, os pequenos detalhes na gestão das empresas fazem a

    diferença entre fechar ou não um bom negócio. O presente trabalho tem como um de seus

    objetivos associar alguns fatores inerentes à Gestão pela Qualidade, traçando paralelos entre as

    Teorias Motivacionais, o Balanced Scorecard – BSC e a Gestão pela Qualidade, a fim de dar

    subsídios para melhorar a motivação das pessoas nas organizações. Embora a evolução do

    conceito de Qualidade passe por controles, estatísticas e processos, todos sempre foram

    instrumentos para a tomada de decisão, que ainda são feitas pelo Homem. Assim sendo, em sua

    essência, a Qualidade se faz por meio das pessoas e é justamente baseado nesta temática que

    abordamos o assunto motivação, acreditando que este estudo poderá servir de base ou mesmo

    alertar os gestores para a importância da motivação das pessoas no alcance da excelência

    empresarial.

    Também é escopo deste trabalho a análise crítica dos principais autores da Qualidade que

    se preocuparam com o ser humano na organização. Este assunto é abordado no Capítulo 2 (dois).

  • 2

    Seguindo a mesma estrutura, o Capítulo 3 (três) apresenta uma breve evolução das teorias

    administrativas, com ênfase nas escolas comportamentais, cujas abordagens mais recentes trazem

    estudos avançados e atuais sobre teorias motivacionais.

    O Capítulo 4 (quatro) apresenta o BSC como instrumento de implantação de uma gestão

    estratégica na empresa e o Capítulo 5 (cinco) a descrição do modelo proposto, consolidando as

    análises comparativas. As conclusões alcançadas estão descritas no Capítulo 6 (seis).

    Os resultados apresentados ao longo deste trabalho são frutos de pesquisa bibliográfica,

    análises comparativas entre autores de diferentes áreas e linhas ideológicas e aplicação de uma

    pesquisa com profissionais das áreas de Gestão, Recursos Humanos, Planejamento e Qualidade.

  • 3

    Capítulo 2

    Gestão da Qualidade

    Este capítulo traz a revisão da literatura a respeito do tema “Qualidade”. Primeiramente

    apresenta alguns conceitos da Qualidade e sua evolução ao longo do tempo. Depois, são

    apresentadas as bases da Qualidade na ótica de Deming, Juran, Crosby, Feigenbaum e Ishikawa.

    Foi feito o detalhamento das propostas destes gurus, pois apresentam em suas teses o cuidado

    com a gestão das pessoas na implantação da gestão pela qualidade nas organizações.

    2.1 – Conceitos da Qualidade

    Ao longo dos últimos 70 anos pôde-se perceber um grande dinamismo na gestão das

    empresas impulsionado pela necessidade de mercado, que exigiu posicionamento diferenciado,

    novos produtos e processos, principalmente do setor industrial. Estas exigências influenciaram

    também os inúmeros conceitos da Qualidade, que em sua maioria evoluíram para uma abordagem

    mais abrangente, incluindo-se o conceito de cliente como peça fundamental no processo

    produtivo das empresas, seja ele interno ou externo à organização. Vários autores e instituições

    comprovaram esta tendência. Seguem abaixo algumas definições da Qualidade:

    - A qualidade só pode ser definida em termos de quem a avalia (Deming, 1990). - A qualidade consiste nas características do produto que vão ao encontro das

    necessidades dos clientes e dessa forma proporcionam a satisfação em relação ao

    produto, ou seja, adequação ao uso (Juran, 1991).

  • 4

    - A combinação de características de produtos e serviços referentes a marketing, engenharia, produção e manutenção, através das quais produtos e serviços em uso

    corresponderão às expectativas dos clientes (Feigenbaum, 1994).

    - Totalidade de características de uma entidade que lhe confere a capacidade de satisfazer as necessidades explícitas e implícitas (NBR ISO 8402:1994).

    - Conformidade com os requisitos (Crosby, 1999). - Grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos (ISO

    9000:2000).

    - Totalidade de características de uma entidade (atividade ou um processo, um produto, uma organização ou uma combinação destes), que lhe confere a capacidade de satisfazer

    as necessidades explícitas e implícitas dos clientes (FPNQ, 2004).

    O conceito da Qualidade, de acordo com a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade

    – FPNQ 2004, é bastante amplo. Envolve aspectos de liderança, estratégias e planos, clientes e

    sociedade, informações e conhecimento, pessoas, processos e principalmente resultados. Em

    síntese, caminha para a Qualidade como função gerencial de todos e presente em toda a

    organização e até mesmo fora dela. Sob uma perspectiva de processo, internamente à

    organização, o conceito de cliente está presente em toda relação cliente-fornecedor. Cada

    empregado é cliente do processo anterior. Nesta relação, é fundamental preparar o consumidor

    (interno) para que seja exigente no tocante ao como ele recebe o processo - qualquer que seja ele

    – da etapa anterior. Desta forma os problemas, que por ventura existirem, serão detectados no

    início da cadeia produtiva, com os grandes benefícios que isso acarreta. (FPNQ, 2002)

    Complementando esta definição e, para que a Qualidade não seja um fim em si mesma,

    tratamento equivalente deve ser assegurado ao cliente externo, estimulando suas reclamações,

    que é a forma mais prática de detectar os problemas que escaparam do controle da empresa. É ele

    quem dita suas necessidades e exigências e toda a empresa deve traçar estratégias para atendê-lo.

    Em síntese, o cliente externo passa a ser um consumidor de produtos ou serviços e o cliente

    interno um consumidor de processos.

    Até se chegar a esta visão mais atualizada da Qualidade, houve um longo período em que

    autores emitiam suas idéias, às vezes se complementando, outras se contradizendo, mas sempre

  • 5

    com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento das organizações. O tópico a seguir mostra

    a evolução do conceito da Qualidade, que na sua essência foi influenciado pelas transformações

    das organizações, desde a revolução industrial, passando pela necessidade de reconstrução do

    Japão pós-guerra, reestruturação da indústria americana pós “milagre japonês”, até a atual

    globalização e internacionalização das empresas. Todos estes episódios no cenário mundial

    marcaram significativamente tanto a evolução da Administração como o conceito da Qualidade

    ao longo do tempo.

    2.2 - Evolução do Conceito da Qualidade

    Sob o ponto de vista de Feigenbaum (1994), a evolução do “controle” da Qualidade pode

    ser analisada através de várias etapas, conforme se observa na figura 2.1.

    Figura 2.1 – Evolução do Controle da Qualidade Total. Fonte: Feigenbaum (1994).

    1ª Etapa (1900) - Controle da Qualidade pelo Operador - Um trabalhador ou um grupo

    pequeno era responsável pela fabricação do produto por inteiro, permitindo que cada um

    controlasse a qualidade do serviço. Típica da indústria artesanal, com custos elevados e baixa

    repetibilidade.

    1900 1918 1980 1937 1960

    CONTROLE DA QUALIDADE

    TOTAL Organização, Extensão e

    Gerenciamento da Qualidade

    OPERADOR

    SUPERVISOR

    INSPEÇÃO

    ESTATÍSTICA

    CONTROLE DA QUALIDADE

    TOTAL

  • 6

    2ª Etapa (1918) - Controle da Qualidade pelo Supervisor - Um supervisor assumia a

    responsabilidade da qualidade referente ao trabalho de equipe, dirigindo as ações e executando as

    tarefas onde fosse necessário e conveniente em cada caso. Típica da indústria moderna, com

    especialização e intercambialidade. Etapa caracterizada por custos reduzidos, elevada

    repetibilidade, pequeno envolvimento e reconhecimento da mão-de-obra.

    3ª Etapa (1937) - Controle da Qualidade por Inspeção - Esta fase surgiu com a finalidade de

    verificar se os materiais, peças, componentes, ferramentas e outros estão de acordo com os

    padrões estabelecidos. Deste modo seu objetivo é detectar os problemas nas organizações. Típica

    da indústria que destacava grandes áreas autônomas de inspeção.

    4ª Etapa (1960) - Controle Estatístico da Qualidade - Esta etapa ocorreu através do

    reconhecimento da variabilidade na indústria. Numa produção sempre ocorre uma variação de

    matéria-prima, operários, equipamentos etc. A questão não era distinguir a variação e sim como

    separar as variações aceitáveis daquelas que indicassem problemas. Surgiram também as setes

    ferramentas básicas da qualidade: Fluxograma, Folha de Verificação, Diagrama de Pareto,

    Diagrama de Causa e Efeito, Histograma, Diagrama de Dispersão e Carta de Controle. Esta etapa

    permaneceu restrita às áreas de produção e no nível de chão de fábrica. Desenvolveu-se de forma

    lenta e é aplicada nas organizações até hoje. Típica de uma indústria de produção em massa, em

    que a inspeção da qualidade passou a empregar ferramentas estatísticas para avaliar a qualidade

    com amostragens da produção.

    5ª Etapa (1980) – Controle da Qualidade Total - A qualidade passou de um método restrito

    para um mais amplo, o gerenciamento. Porém, continuou com seu objetivo principal de prevenir

    e atacar os problemas, apesar de os instrumentos se expandirem além das estatísticas, tais como:

    quantificação dos custos da qualidade, controle da qualidade, engenharia de confiabilidade e zero

    defeito. Esta etapa foi concebida para eliminar as barreiras existentes entre os departamentos,

    enfatizada pela inspeção de qualidade e foi caracterizada pelo emprego de diversas técnicas

    estatísticas, operacionais e gerenciais para integração da qualidade.

    Embora Feigenbaum tenha descrito apenas 5 etapas, seria interessante acrescentar uma 6ª

    Etapa (após 1980) – Gestão da Qualidade Total (GQT) – ou "Total Quality Management"

    (TQM). Típica da atividade industrial e usando as técnicas e metodologias anteriormente

    desenvolvidas, aplicando-as situacionalmente, com ênfase no gerenciamento integral para

    garantia da qualidade, a GQT orienta-se para a qualidade e para o cliente interno e externo.

  • 7

    Promove o crescimento do ser humano e oferece métodos e ferramentas gerenciais específicas.

    Um aspecto fundamental da GQT é o conceito de rompimento, que implica em mudança da

    forma de pensar, de estilo e de postura, envolvendo todos os integrantes da empresa, havendo um

    comprometimento pessoal de cada um com o processo o qual é responsável.

    A Gestão da Qualidade Total em uma empresa não existe para ser um fim e sim um meio

    da organização alcançar seus objetivos e mantê-los em um padrão pré-determinado. Para que isso

    seja possível, entre outros instrumentos, deverá contar com um Plano Estratégico bem definido e

    um Sistema da Qualidade estruturado. Com base nestas duas ferramentas o próximo passo

    essencial é o “alinhamento de processos”. Este procedimento, de acordo com a proposta de

    Okland (1994), deve começar pela alta administração e seguir uma série de sete passos distintos,

    mas que se sobrepõem parcialmente. Desta maneira, desenvolve um ciclo de auto-reforço de

    comprometimento, comunicação e mudança de cultura. Quando se trata de mudança

    organizacional, a ordem destes passos pode ser um fator crítico:

    Passo 1: Ganhar comprometimento com a mudança através da organização da alta gerência.

    Passo 2: Desenvolver uma missão ou visão participada da empresa ou das mudanças

    necessárias.

    Passo 3: Definir os objetivos mensuráveis que devem ser aceitos pelo grupo como sendo os

    indicadores quantificáveis de sucesso relativo à missão.

    Passo 4: Desdobrar a missão em seus fatores críticos de sucesso (FCS) para forçá-la a tornar-se

    realidade.

    Passo 5: Desdobrar os fatores críticos de sucesso em processos-chave ou críticos e ganhar

    domínio sobre estes.

    Passo 6: Dividir os processos críticos em sub-processos, atividades e tarefas e formar grupos de

    melhoria em torno deles.

    Passo 7: Monitorar e ajustar o alinhamento dos processos em resposta às dificuldades no

    processo de mudança.

    Uma das chaves para integrar a qualidade total nas estratégias da empresa é um processo

    formal de “desdobramento de metas”. Se a missão e as metas mensuráveis tiverem sido

  • 8

    analisadas em termos de fatores críticos de sucesso e de processos críticos, a organização terá

    começado a entender como pode realizar sua missão.

    Como se pode notar, o processo de Gestão da Qualidade Total se mistura com o próprio

    processo de planejamento estratégico da empresa, ou seja, são parcialmente sobrepostos, porém

    devem se complementar e criar reforço da estratégia da organização.

    2.3 - As bases da Qualidade na ótica de Deming, Juran, Crosby, Feigenbaum e Ishikawa

    Estes autores foram selecionados por que estão mais ligados ao objeto deste trabalho:

    recursos humanos (motivação) e indicadores. Do lado norte-americano, Juran, Deming, Crosby e

    Feigenbaum. Do lado japonês Ishikawa.

    Juran e Deming foram os dois pioneiros do movimento da Qualidade. São considerados os

    inspiradores do milagre industrial japonês iniciado na década de 50. Após a Segunda Guerra

    Mundial, ambos alertaram os empresários norte-americanos para a importância do conceito.

    Poucos foram, no entanto, os que levaram a sério. Mas a história deu-lhes razão. A mensagem

    seria ouvida no longínquo Japão, onde a aplicação das suas idéias deu origem a um autêntico

    milagre industrial. Ironicamente, Juran e Deming são tidos como os inspiradores desse milagre,

    que tantas dores de cabeça causou aos norte-americanos anos mais tarde. Philip Crosby deu uma

    preciosa ajuda com a sua teoria do “zero defeito” e Armand Feigenbaum foi o grande

    impulsionador do conceito de “Controle da Qualidade Total - TQC”.

    Do lado japonês, Ishikawa foi o pioneiro. Deu um cunho oriental aos ensinamentos de

    Deming e Juran e criou as sete famosas ferramentas de controle estatístico da qualidade. Foi

    também o grande inspirador dos círculos de qualidade.

    A seguir, as particularidades das idéias de cada um deles:

  • 9

    a ) William Edwards DEMING

    Deming foi um dos mais influentes mestres da Qualidade Total, especialmente por sua

    atuação no Japão após a segunda guerra mundial. Segundo ele a principal responsabilidade pela

    qualidade é da alta administração. Criticou o “zero defeito”, pois segundo ele não existe o ótimo,

    o melhoramento deve ser contínuo reduzindo-se continuamente a variabilidade dos processos.

    Três marcos importantes de seu pensamento são: o Saber Profundo, os Quatorze Princípios e o

    Ciclo PDSA.

    No livro "Qualidade: A Revolução da Administração (tradução de "Out of Crisis") Deming

    apresenta o "Saber Profundo como Sistema". Este sistema é composto de: visão geral do que é

    um sistema, elementos da Teoria da Variabilidade, elementos da Teoria do Conhecimento e

    elementos de Psicologia. Estas quatro “disciplinas”, sob a ótica de Deming, podem ser

    consideradas como base para a formação de líderes voltados para o futuro, na busca da melhoria

    contínua.

    Os 14 princípios de Deming condicionam a forma de gerenciar nas empresas. De acordo

    com estes princípios, entre outros aspectos, a administração deve ter perseverança nas metas de

    melhoria, usar a estatística para não depender de inspeções, alterando o papel quantitativo da

    supervisão para uma função mais qualitativa, não se basear apenas no preço na hora da compra e

    propiciar uma gestão menos departamentalizada, mais participativa, com pessoas valorizadas e

    bem treinadas.

    O PDCA é por alguns autores chamado de Ciclo de Shewart, que foi quem primeiro

    apresentou este conceito no livro Statistical Method from the Viewpoint of Quality Control.

    Todavia, foi W. Edwards Deming que introduziu o método no Japão, com o nome PDSA, sendo a

    letra “S” para a palavra study (estudo) ao invés de check (verificar).

    Deming criticou o sistema empresarial norte-americano por não apostar na participação dos

    trabalhadores no processo de decisão. O argumento dele é que os gestores são os grandes

    responsáveis pela qualidade na empresa, cujo principal papel é remover as barreiras que impedem

    a realização de um bom trabalho. “Os executivos devem fazer os outros trabalharem melhor, e

    não apenas mais”, é uma das suas frases famosas. Embora sendo americano, como já foi dito

  • 10

    anteriormente, foram os japoneses que primeiro acataram os ensinamentos de Deming e, com

    isso, conseguiram importantes avanços tecnológicos, tornando o Japão um dos países mais

    competitivos do mundo. Em reconhecimento aos trabalhos de Deming, o Japão instituiu o

    "Prêmio Deming da Qualidade", talvez a maior condecoração da qualidade que uma empresa

    possa receber.

    b) Joseph M. JURAN

    A abordagem de Juran admite a existência de várias definições para a Qualidade em sua

    obra, o que o levou à conhecida definição “simples” de Qualidade como “adequação ao uso”.

    Liderou uma nova fase para o conceito da qualidade, que passou dos aspectos tecnológicos da

    fábrica para a preocupação com a qualidade global e holística, em todos os aspectos do

    gerenciamento e em toda a organização, especialmente dos elementos humanos. Segundo ele, o

    conceito de melhoria deve ser buscado em grupo ou por meio de círculos da qualidade, projeto a

    projeto, com o estabelecimento de metas.

    Chegou ao Japão em 1954 a convite da JUSE e deu uma contribuição valiosa para os

    aspectos gerencias da implementação da qualidade nas empresas. Propôs a aplicação da

    “Trilogia de Juran” e dos 10 passos para o melhoramento da qualidade nas empresas.

    A Trilogia de Juran congrega os três processos gerenciais para o gerenciamento da

    qualidade: processos de Planejamento, de Controle e de Melhoramento da Qualidade. De acordo

    com Oakland (1994) o Planejamento da Qualidade, proposto por Juran é a atividade de

    desenvolver produtos e processos necessários para atender às necessidades dos clientes. O

    Controle da Qualidade consiste em avaliar o desempenho, comparar o real com a meta e atuar

    nas diferenças. O Melhoramento da Qualidade é a maneira de elevar o desempenho da

    qualidade a níveis inéditos.

    O quadro 2.2 detalha os processos propostos por Juran. Cabe destacar a etapa de Controle

    da Qualidade, que, juntamente com os 10 passos para o gerenciamento, apresentados na figura

    2.3, são subsídios para a fundamentação deste trabalho.

  • 11

    Quadro 2.2: Trilogia de Juran: os três processos gerenciais para o gerenciamento da Qualidade. Fonte: Juran (1993).

    GERENCIAMENTO PARA A QUALIDADE PLANEJAMENTO DA

    QUALIDADE CONTROLE

    DA QUALIDADE MELHORAMENTO DA

    QUALIDADE

    - Determinar quem são os clientes

    - Determinar as necessidades dos clientes

    - Desenvolver características de produto que respondam às necessidades dos clientes

    - Desenvolver processos capazes de produzir as características do produto

    - Transferir os planos para as forças operacionais

    - Avaliar o desempenho real do produto

    - Comparar o desempenho real às metas do produto

    - Atuar sobre a diferença

    - Estabelecer a infra-estrutura - Identificar os projetos de

    melhoramento - Estabelecer equipes de

    projeto - Fornecer às equipes

    treinamento e motivação para diagnosticar as causas, estimular os remédios e estabelecer controles para manter os ganhos

    Quadro 2.3: Os 10 passos de Juran para o melhoramento da Qualidade. Fonte: Oakland (1994).

    Os 10 passos de Juran 1. Promover a conscientização da necessidade e da oportunidade de melhoramento. 2. Estabelecer as metas para melhoramentos. 3. Organizar para atingir as metas (estabelecer um conselho da qualidade, identificar problemas,

    selecionar projetos, formar grupos, designar coordenadores). 4. Prover treinamento. 5. Executar projetos para resolver problemas. 6. Relatar o progresso. 7. Demonstrar o reconhecimento. 8. Comunicar os resultados. 9. Conservar os dados obtidos. 10. Manter o entusiasmo fazendo do melhoramento anual parte dos sistemas e processos normais

    da companhia.

    c) Philip B. CROSBY

    Philip Crosby está associado aos conceitos de “zero defeito” (lançado em 1961) e de “fazer

    bem à primeira vez”. Na sua opinião, a qualidade significa conformidade com especificações (ou

    requisitos), que variam consoante as empresas de acordo com as necessidades dos seus clientes.

  • 12

    Defende que os responsáveis pela falta de qualidade são os gestores, e não os trabalhadores.

    As iniciativas de qualidade devem vir de cima para baixo, lideradas através do exemplo. Isso

    exige o empenho da gestão de topo e a formação técnica dos empregados em instrumentos de

    melhoria da qualidade. Defende também a criação de um grupo estratégico de especialistas da

    qualidade nas empresas.

    Nos seus famosos 14 pontos para a melhoria da qualidade Crosby encara o esforço para

    atingir a qualidade como um processo, não um programa. Logo, a melhoria da qualidade deve ser

    perseguida de modo permanente. Destes 14 pontos destacamos 7 a seguir apresentados que estão

    mais relacionados ao tema desta dissertação:

    - Formar grupos de melhoramento da qualidade com representantes de todos os departamentos;

    - Despertar a conscientização sobre a qualidade e a preocupação pessoal de todos os empregados;

    - Treinar os supervisores para realizar ativamente sua parte no programa de melhoramento da qualidade;

    - Estimular as pessoas a estabelecerem metas de melhorias para si próprias e para seus grupos;

    - Estimular os empregados a comunicarem à gerência os obstáculos que encontram para atingir suas metas de melhoria;

    - Reconhecer e valorizar os que participam; - Estabelecer conselhos da qualidade para fazer comunicações a intervalos regulares.

    d) Armand V. FEIGENBAUM

    Embora também reconhecido como pioneiro no estudo dos custos da qualidade, sua maior

    contribuição refere-se à criação do conceito de "Controle da Qualidade Total", como "um sistema

    eficiente que visa integrar esforços para desenvolvimento, manutenção e aperfeiçoamento da

    qualidade de vários grupos numa organização, de forma a permitir marketing, engenharia,

    produção e assistência dentro dos níveis mais econômicos e que possibilitem satisfação integral

    do consumidor"(Feigenbaum, 1994).

  • 13

    O argumento de Feigenbaum é em favor de uma abordagem sistêmica ou total da

    Qualidade, requerendo o envolvimento de todas as funções no processo da Qualidade, e não

    simplesmente a fabricação. A fim de garantir que a Qualidade, que é tarefa de todos, não se

    tornasse uma tarefa de ninguém, defende o enfoque que o Controle da Qualidade Total seja

    exercido essencialmente por especialistas. A Qualidade é vista como a que os clientes exigem,

    retratada através das especificações em todas as fases, com qualidade de processos compatível

    com tais especificações.

    Observa-se, portanto, que as características do sistema da Qualidade dadas por

    Feigenbaum, são baseadas numa forte infra-estrutura técnica e administrativa, com

    procedimentos minuciosamente estabelecidos e integrados dentro da estrutura organizacional.

    Tais procedimentos são gerenciados por especialistas em Qualidade, dando apoio e assistência a

    todos os departamentos para assegurar uma integração em torno da função de Qualidade. A

    gerência deve enfatizar a responsabilidade das linhas de produção pela qualidade e a

    conscientização em torno da contribuição de cada um para com esta função, sendo sua ferramenta

    o sistema de Qualidade altamente estruturado.

    Sob o ponto de vista de Feigenbaum (1994), em seu livro “Controle da Qualidade Total –

    Gestão e Sistemas”, a qualidade de produtos e serviços é afetada por nove fatores fundamentais:

    mercados, dinheiro, gerenciamento, homens, motivação, materiais, máquinas e mecanização,

    métodos modernos de informação e exigências na montagem do produto.

    A ênfase abaixo no detalhamento diz respeito apenas aos itens diretamente ligados a este

    trabalho:

    - Gerenciamento: A responsabilidade sobre Qualidade pode ser distribuída entre diversos grupos especializados durante todo o ciclo produtivo, vendas, marketing, assistência

    técnica, dentre outros... Isto aumentou a responsabilidade atribuída à alta gerência,

    particularmente em decidir que programas deverão ser adotados, sensibilização dos

    envolvidos, avaliação e manutenção desses programas alinhados com os objetivos

    estratégicos de sua empresa.

    - Homens : O crescimento rápido do conhecimento técnico e a geração de campos novos, como a eletrônica de computadores e as novas técnicas de organização de trabalho,

  • 14

    levaram a uma procura por profissionais mais qualificados. Embora a especialização

    apresente vantagens, sua desvantagem é dividir a responsabilidade pela qualidade do

    produto numa série de fragmentos... Esses numerosos aspectos dos sistemas

    operacionais em negócios tornaram-se o enfoque do gerenciamento moderno.

    - Motivação: A maior complexidade para conseguir colocar um produto com qualidade no mercado aumentou a importância da contribuição de cada funcionário no tocante à

    Qualidade. Pesquisas da motivação humana têm evidenciado que, adicionalmente à

    remuneração monetária, os funcionários atuais exigem reforço do sentido de realização

    em seus trabalhos e reconhecimento positivo de que estão dando contribuição pessoal

    para a consecução das metas da companhia. Isto levou a uma necessidade sem

    precedentes de educação para a Qualidade e comunicação aperfeiçoada sobre a

    consciência da Qualidade.

    - Métodos Modernos de Informação: A rápida evolução da tecnologia do computador tornou possível a captação, o armazenamento, a recuperação e a manipulação de

    informações em escala nunca imaginadas. Esta nova e eficaz tecnologia de informação

    propiciou os meios para um nível sem precedentes de controle de máquinas e processos

    durante a fabricação e de produtos e serviços, mesmo após estes terem chegado ao

    consumidor. Tais métodos de processamento de dados tornaram possível ao

    gerenciamento o acesso a informações mais úteis, acuradas e oportunas sobre as quais

    fundamentar as decisões que guiam o futuro da empresa. Ao mesmo tempo, as

    informações transmitidas aos funcionários (verbais, formais, visuais) desempenham um

    importante papel na melhoria e manutenção de programas de Qualidade.

    e) Kaoru ISHIKAWA

    Ishikawa aprendeu as noções básicas de controle de Qualidade com os norte-americanos.

    Com base nessas lições soube desenvolver uma estratégia de Qualidade para o Japão. Adaptou o

    ”TQC” de Feigenbaum com elementos do “saber profundo” de Deming. Uma das suas

    contribuições foi o uso das sete ferramentas da Qualidade: Fluxograma, Folha de Verificação,

    Diagrama de Pareto, Diagrama de Causa e Efeito, Histograma, Diagrama de Dispersão e Carta de

    Controle.

  • 15

    Ele enfatiza também a participação de todos nos Círculos de Controle de Qualidade (CCQ),

    cujo objetivo maior é a motivação do ser humano. De acordo com Ishikawa, CCQ é um grupo

    pequeno, para conduzir de forma voluntária as atividades de controle da qualidade, dentro da

    mesma área de trabalho. Este pequeno grupo conduz, continuamente, como parte das atividades

    de TQC, autodesenvolvimento e mútuo desenvolvimento, manutenção e melhorias dentro da

    mesma área de trabalho, utilizando técnicas de controle da qualidade com a participação de todos

    os membros.

    Como se pôde observar tanto na evolução histórica quanto na maioria dos autores da

    qualidade, não há como implantar uma gestão pela qualidade em uma empresa se atenção

    especial não for dada à variável “pessoas”. O Capítulo 3, a seguir, aborda este lado

    comportamental da gestão, dando ênfase ao item “motivação”. Nele são apresentados diversos

    conceitos e teses de motivação defendidas por especialistas ao longo dos anos. A compreensão da

    revisão literária do Capítulo 3 é fundamental para se analisar a evolução do conceito de

    motivação, bem como fundamentar a proposição deste trabalho.

    2.4 – Análise Crítica da Gestão da Qualidade

    Analisando a evolução do conceito da Qualidade, verifica-se que ele caminha para uma

    abordagem mais abrangente, envolvendo aspectos de liderança, estratégias e planos, clientes e

    sociedade, informações e conhecimento, pessoas, processos e principalmente resultados. Em

    síntese, caminha para um conceito que vem de encontro à abordagem da Fundação para o Prêmio

    Nacional da Qualidade – FPNQ, que apresenta a Qualidade como função gerencial de todos e

    presente em toda a organização e até mesmo fora dela.

    De acordo com as informações levantadas verifica-se que o modelo de Gestão pela

    Qualidade atual baseia-se em uma abordagem estratégica, sem deixar de levar em consideração

    os aspectos de adequação ao uso, o conceito de cliente (o cliente externo passa a ser um

    consumidor de produtos e/ou serviços e o cliente interno um consumidor de processos), e também

    as ferramentas criadas e testadas para darem suporte a este tipo de gestão.

  • 16

    A participação dos “gurus” na formação do conceito da Qualidade foi fundamental e,

    atualmente, por meio de uma gestão situacional e contingencial, foram disponibilizados por eles

    estudos, teorias, estratégias e ferramentas que facilitam e permitem a profissionalização da

    gestão, com resultados cada dia mais otimizados.

    As teorias da Qualidade vistas neste trabalho podem ser resumidas sob três aspectos: teoria

    para preparação dos gestores, formas ou métodos de gestão e processos de melhoria da

    Qualidade. A aplicação do Saber Profundo, de Deming, na preparação da alta administração seria

    um grande passo para preparar os gestores e se criar um ambiente favorável à Qualidade nas

    organizações. Para a forma de gerenciar são descritas várias sugestões de métodos: os 14

    princípios de Deming, os 14 pontos para a melhoria da Qualidade, de Crosby, os nove fatores

    fundamentais, de Feigenbaum e as ferramentas de Ishikawa. Neste quesito, destaque especial

    deve ser dada à Trilogia de Juran, que é bastante objetiva e clara em se tratando de método de

    gestão. Para processos de melhoria da Qualidade nada mais simples e efetivo que o Ciclo PDCA,

    de Shewart (ou PDSA, de Deming). Também figuram como estratégias os 10 passos de Juran

    para o melhoramento da Qualidade e os Círculos de Controle da Qualidade, propostos por

    Ishikawa.

    Os resultados apresentados ao longo deste trabalho foram consolidados por meio da

    realização de uma pesquisa com profissionais das áreas de Gestão, Recursos Humanos,

    Planejamento e Qualidade.

    A pesquisa realizada teve as seguintes características:

    - Formulação de questionário com 31 itens baseados nos critérios do Prêmio Nacional da Qualidade – PNQ e nos da ISO 9001:2000, que deveriam ser associados à Gestão pela

    Qualidade, à Motivação e ao Balanced Scorecard –BSC, de acordo com a intensidade do

    impacto dos itens aos temas;

    - Considerou-se que todos os itens listados, em maior ou menor intensidade, estão presentes na organização;

    - Os impactos deveriam ser classificados em “ALTO”, “NORMAL”, ou “BAIXO”, conforme sua intensidade;

    - Para que o item seja considerado de impacto “ALTO, NORMAL ou BAIXO”, o número de suas respostas na pesquisa deveria ser maior que 50%.

  • 17

    - Foram objeto de análise somente os itens que obtiveram “ALTO” impacto nos temas. - Foram distribuídos 50 questionários entre profissionais das áreas de Gestão, Recursos

    Humanos, Planejamento e Qualidade;

    - Foram obtidas 38 respostas; - Foi considerada “unanimidade” quando todas as pessoas pesquisadas (38) responderam

    impacto “ALTO” em algum item;

    - Foi considerado “consenso” quando, em um mesmo item, houve “ALTO” impacto nos três temas;

    - Para observação e possíveis inferências sobre a tabulação dos dados, anexou-se a este trabalho o questionário tabulado.

    Por meio desta metodologia de pesquisa e apresentando abaixo, e ao longo de todo o

    trabalho, os resultados alcançados, pode-se afirmar que, para a implantação de uma gestão pela

    Qualidade em uma organização, deve-se levar em consideração e dar ênfase aos seguintes

    componentes:

    Quadro 2.4: A intensidade do impacto dos itens listados na Gestão pela Qualidade, elaborado pelo autor.

    ASPECTOS RELEVANTES PARA A GESTÃO PELA QUALIDADE

    ORDEM ITENS IMPACTO L I D E R A N Ç A

    1 Aplicação do conceito de Liderança ALTO – 79 % NORMAL – 21 % BAIXO – 0 %

    E S T R A T É G I A S E P L A N O S

    2 Estabelecimento de objetivos e metas ALTO – 100 % NORMAL – 0 % BAIXO – 0 %

    3 Estabelecimento de estratégia e planos ALTO – 79 % NORMAL – 21 % BAIXO – 0 %

    4 Estabelecimento de indicadores ALTO – 84 % NORMAL – 11 % BAIXO – 5 %

    C L I E N T E S

    5 Satisfação do cliente interno ALTO – 74 % NORMAL – 16 % BAIXO – 10 %

    6 Satisfação do cliente externo ALTO – 84 % NORMAL – 11 % BAIXO – 5 %

  • 18

    S O C I E D A D E

    7 Sociologia aplicada na gestão ALTO – 16 % NORMAL – 63 % BAIXO – 21 %

    I N F O R M A Ç Õ E S E C O N H E C I M E N T O

    8 Grau de importância da gestão do conhecimento ALTO – 63 % NORMAL – 32 % BAIXO – 5 %

    9 Difusão da informação (unidirecional) ALTO – 74 % NORMAL – 26 % BAIXO – 0 %

    10 Comunicação interna, entre pessoas e departamentos (multidirecional) ALTO – 79 % NORMAL – 21 % BAIXO – 0 %

    11 Comunicação externa (sociedade/empresa) ALTO – 69 % NORMAL – 21 % BAIXO – 0 %

    P E S S O A S

    12 Psicologia aplicada na gestão ALTO – 53 % NORMAL – 42 % BAIXO – 5 %

    13 Valorização das pessoas ALTO – 74 % NORMAL – 26 % BAIXO – 0 %

    14 Treinamento das pessoas ALTO – 84 % NORMAL – 11 % BAIXO – 5 %

    15 Conscientização - Comprometimento das pessoas com os objetivos da organização ALTO – 89 % NORMAL – 11 % BAIXO – 0 %

    16 Preocupação com a motivação das pessoas ALTO – 79 % NORMAL – 21 % BAIXO – 0 %

    17 Remuneração das pessoas ALTO – 47 % NORMAL – 47 % BAIXO – 6 %

    18 Reconhecimento - Incentivos materiais e salariais ALTO – 47 % NORMAL – 47 % BAIXO – 6 %

    19 Reconhecimento - Incentivos sociais e simbólicos ALTO – 47 % NORMAL – 47 % BAIXO – 6 %

    20 Uso de avaliação de desempenho ALTO – 58 % NORMAL – 37 % BAIXO – 5 %

    P R O C E S S O S

    21 Gestão por processos ALTO – 100 % NORMAL – 0 % BAIXO – 0 %

    R E S U L T A D O S

    22 Foco nos resultados ALTO – 89 % NORMAL – 11 % BAIXO – 0 %

    23 Foco na produção ALTO – 42 % NORMAL – 42 % BAIXO – 16 %

    24 Foco na produtividade ALTO – 63 % NORMAL – 37 % BAIXO – 0 %

  • 19

    E S T R U T U R A

    25 Estilo da estrutura organizacional ALTO – 68 % NORMAL – 16 % BAIXO – 16 %

    26 Descentralização - Participação das pessoas nos processos decisórios ALTO – 53 % NORMAL – 47 % BAIXO – 0 %

    I S O 9 0 0 0

    27 Compromisso da alta administração ALTO – 100 % NORMAL – 0 % BAIXO – 0 %

    28 Uso de ferramentas estatísticas ALTO – 89 % NORMAL – 11 % BAIXO – 0 %

    29 Importância do conteúdo das tarefas ALTO – 68 % NORMAL – 26 % BAIXO – 5 %

    30 Equipes de trabalho para projetos/resolver problemas ALTO – 69 % NORMAL – 26 % BAIXO – 5 %

    31 Melhoria/aprendizado contínua(o) ALTO – 84 % NORMAL – 11 % BAIXO – 5 %

    OBS: Para melhor compreensão do quadro, convenciona-se que para a implantação da Gestão pela Qualidade:

    a) Todos os itens que estão listados, em maior ou menor intensidade, devem estar presente na organização. b) Para que o item seja considerado de impacto “ALTO, NORMAL ou BAIXO”, o número de suas respostas

    na pesquisa deve ser maior que 50%. c) Serão objetos de análise somente os itens que obtiverem “ALTO” impacto nos temas. d) - Item considerado de “ALTO” impacto para o tema.

  • 20

    Capítulo 3

    O movimento humanístico e a motivação na gestão das empresas

    Este capítulo traz a revisão da literatura a respeito do tema “Motivação”. Para que o

    assunto seja compreendido de uma maneira mais abrangente, foi descrita sua origem histórica na

    gestão das empresas, a partir de um breve resumo da evolução da Administração Moderna, dando

    ênfase para os movimentos que destacaram a importância da gestão das pessoas nas

    organizações: a Teoria das Relações Humanas e a Teoria Comportamental (ou Behaviorista). Em

    seguida, ainda neste capítulo, foram apresentadas várias teorias sobre o tema “motivação”, que é

    uma das vertentes da Teoria Comportamental e objeto de estudo deste trabalho.

    3.1 – A Evolução da Administração Moderna

    Desde os primórdios da humanidade o homem viveu em sociedade e observa-se que desde

    então os conceitos de organização e hierarquia têm sido empregados naturalmente, mesmo que

    instintivamente. Ao longo da história, vários exemplos de organizações de sucesso, porém

    estruturadas de forma empírica, podem ser citados. Organizações como as militares, eclesiásticas,

    do antigo Egito, dos Incas, Maias e Aztecas são uns dos exemplos.

    Mas foi a partir do início do século XX que o homem se preocupou em estudar

    cientificamente as organizações. Esse processo foi acelerado pela Revolução Industrial e

  • 21

    posteriormente pelo colapso econômico-empresarial de 1930. Experiências documentadas e

    estudos foram realizados seguidamente no âmbito organizacional. A Administração, antes apenas

    uma arte para alguns povos e organizações, surgiu também como uma ciência. Desde então,

    várias teorias da Administração foram estudadas e analisadas de forma a estabelecer o que hoje se

    chama de Teoria Geral da Administração ou Administração Moderna.

    Segundo Idalberto Chiavenato (1983), as teorias administrativas começaram com “ênfase

    nas tarefas” (atividades executadas pelos operários em uma fábrica), com a Administração

    Científica de Taylor. A seguir, a preocupação passou para a “ênfase na estrutura”, com a Teoria

    Clássica de Fayol e com a Teoria Burocrática de Weber, seguindo-se mais tarde a Teoria

    Estruturalista da Administração. A reação humanística surgiu com a “ênfase nas pessoas”, através

    da Teoria das Relações Humanas, mais tarde desenvolvida pela Teoria Comportamental e pela

    Teoria do Desenvolvimento Organizacional. “A ênfase no ambiente” surgiu com a Teoria dos

    Sistemas, sendo completada pela Teoria da Contingência. Esta, posteriormente, desenvolveu a

    “ênfase na tecnologia”. Cada uma dessas cinco variáveis – tarefas, estrutura, pessoas, ambiente e

    tecnologia – provocou, a seu tempo, uma diferente teoria administrativa, marcando um gradativo

    passo no desenvolvimento da Administração. A figura 3.1 traz a evolução destas teorias ao longo

    do tempo:

    Figura 3.1: Evolução das Escolas da Administração. Fonte: Chiavenato (1983).

    1903

    1909

    1916

    1932

    1947

    1951

    1953

    1954

    1957

    1962

    1972

    Escola da Administração Científica / Taylor e Gilbreth

    Teoria da Burocracia / Weber

    Escola dos Princípios de Administração / Fayol

    Escola das Relações Humanas / Mayo e Lewin

    Teoria das Decisões / Simon

    Teoria dos Sistemas / Bertalanffy, Kast e Rosenzweig

    Teoria dos Sistemas Sociotécnicos / Emery e Trist

    Teoria Neoclássica da Adm. / Koontz e O’Donnell, Newman, Drucker

    Escola Comportamental da Adm. / McGregor, Likert e Argyris

    Escola do Desenvolvimento Organizacional / Bennis, Beckhard, Schein

    As principais escolas e teorias que influenciam o atual pensamento administrativo

    Teoria da Contingência / Woodward, Lawrence e Lorsch

  • 22

    A ênfase nas pessoas, dentro da Administração, começou a ser estudada em 1932, com a

    apresentação dos resultados da Experiência de Hawthorne. As conclusões desta experiência

    compararam o comportamento social do empregado ao comportamento do tipo “máquina”

    proposta pela Teoria Clássica e acrescentaram novas variáveis à Administração, que

    anteriormente não eram levadas em consideração: a integração e o comportamento social dos

    empregados, as necessidades psicológicas e sociais e a atenção para novas formas de

    recompensas e sanções não-materiais, o estudo dos grupos informais e da chamada organização

    informal, o despertar para as relações humanas dentro das organizações, a ênfase nos aspectos

    emocionais e não-racionais do comportamento das pessoas e a importância do conteúdo dos

    cargos e tarefas para as pessoas que os realizam e/ou executam. Este período foi caracterizado

    por uma sucessão de teorias administrativas, normalmente uma se opondo à outra, e em 1957

    novamente a ênfase nas pessoas veio à tona com um movimento denominado Escola (Teoria)

    Comportamental da Administração, nascido em contraposição à Escola Neoclássica (1954) e

    reforçou a idéia da Escola das Relações Humanas, de 1932.

    A Teoria Comportamental marca a mais profunda influência das ciências do

    comportamento na gestão das empresas. Para muitos, representa a aplicação da Psicologia

    Organizacional à Administração. Esta teoria afirma que todo indivíduo é um tomador de decisão,

    baseando-se nas informações que recebe do seu ambiente, processando-as de acordo com suas

    convicções e assumindo atitudes, opiniões e pontos de vista em todas as circunstâncias. Os

    legados desta teoria se assentam em novas proposições acerca da motivação humana,

    notadamente as contribuições de, entre outros estudiosos, McGregor, Maslow e Herzberg, cujas

    proposições serão apresentadas no item 3.2 a seguir.

    3.2 – A motivação como ferramenta para a gestão de recursos humanos

    Victor Vroom (1964), um dos contemporâneos no estudo da motivação, afirma que grande

    parte das concepções contemporâneas sobre motivação teve sua origem no princípio do

    hedonismo. Este princípio foi traçado pelos filósofos gregos e escritores ingleses o utilizaram em

    seus estudos. Sua suposição central é que o comportamento é dirigido para o prazer e em direção

    oposta à dor ou ao sofrimento. Ou seja, em todas as situações as pessoas selecionam, das

    alternativas possíveis, aquela que irá maximizar o prazer ou minimizar seu sofrimento. No âmbito

  • 23

    empresarial seria como as pessoas maximizarem alguns tipos de resultados como recompensas,

    satisfação e reforço positivo e evitar resultados como punição, insatisfação ou reforço negativo.

    Porém, é por meio de um modelo cognitivo que Vroom desenvolve suas idéias, que são similares

    a de outros pesquisadores como Lewin (1938), Rotter (1955), Peak (1955), Davidson, Suppes e

    Siegel (1957), Atkinson (1958) e Tolman (1959). Eles assumem que as escolhas feitas por uma

    pessoa, entre várias alternativas disponíveis em uma ação em curso, são relacionadas a eventos

    psicológicos que ocorrem simultaneamente ao comportamento. É então a origem dos conceitos de

    “valência” e “expectativa”, que assumem sinônimos distintos em seus vários interlocutores

    citados acima, mas que têm significado similar e que serão estudados mais a frente, na Teoria das

    Expectativas.

    Neste item 3.2 são apresentadas as principais idéias sobre motivação e seus autores, com a

    seguinte estrutura:

    3.2.1 - Teorias de Conteúdo - Motivação por meio da satisfação das necessidades

    a) Teoria da Hierarquia de Necessidades, de Maslow

    b) Teorias X e Y, de Douglas McGregor

    c) Teoria ERC, de Clayton Alderfer

    d) Teoria dos Dois Fatores, de Herzberg

    3.2.2 - Teorias do Reforço / Modificação do Comportamento

    3.2.3 - Teorias de Processo

    a) Teoria das Metas

    b) Teoria da Eqüidade

    c) Teoria da Expectativa

    3.2.1 – Teorias de Conteúdo - Motivação por meio da satisfação das necessidades

    Esta corrente diz que a necessidade é um déficit dentro de um indivíduo, assim como a

    necessidade orgânica de água e comida para o corpo humano. Em outras palavras, as pessoas

    desejam atingir uma determinada meta por que ela satisfaz uma de suas necessidades

    importantes. O interesse próprio é assim uma força propulsora para suas ações rumo a uma meta.

  • 24

    As pessoas são motivadas para preencher necessidades que no momento não estão

    satisfeitas. Dois pressupostos importantes norteiam a abordagem de satisfação de necessidades:

    primeiro é preciso saber o que as pessoas desejam, que necessidades elas estão tentando

    satisfazer; segundo, é preciso dar oportunidade às pessoas para que elas satisfaçam suas

    necessidades no trabalho.

    a) Teoria da Hierarquia de Necessidades, de Maslow

    O consultor e psicólogo americano Abraham H. Maslow foi escolhido pela revista Esquire,

    na década de 50, como o psicólogo mais influente da primeira metade do século, e como uma das

    pessoas que mais contribuíram para a visão moderna da natureza humana. No decorrer da Teoria

    Comportamental da Administração, entre 1943 e 1954, estruturou uma teoria da motivação

    segundo a qual as necessidades humanas estariam organizadas e dispostas em níveis, numa

    hierarquia de importância e de influência. Em seu livro “Motivation and personality”, publicado

    em 1954 e reeditado em 1970, Maslow apresentou as necessidades estruturadas em forma de uma

    pirâmide. Essa hierarquia de necessidades foi disposta de forma que na base situam-se as

    necessidades mais baixas ou fisiológicas e sucessivamente de segurança, afeto, estima e

    chegando no topo as necessidades mais elevadas, ou seja, de auto-realização, como mostra a

    figura 3.2.

    Figura 3.2: A hierarquia das necessidades, segundo Maslow. Fonte: Chiavenato (1983).

    Necessidades Fisiológicas

    Necessidades de Segurança

    Necessidades Sociais

    Necessidades de Estima

    Neces- sidades de

    Auto Realização

    Necessidades Primárias

    Necessidades Secundárias

    HIERARQUIA DAS NECESSIDADES SEGUNDO MASLOW

  • 25

    Maslow também sugeriu que as pessoas podem subir ou descer na hierarquia. A falta de

    satisfação disponível para uma necessidade de nível mais baixo, segurança, por exemplo, pode

    reativar essa necessidade e aumentar sua importância relativa. O indivíduo passa a demonstrar

    menor interesse por necessidades de ordem mais alta, adquiridas previamente, estima, por

    exemplo.

    Idalberto Chiavenato (1983) explica as necessidades de Maslow da seguinte forma:

    - Necessidades Fisiológicas: Constituem o nível mais baixo de todas as necessidades humanas, mas de vital importância. Neste nível estão as necessidades de alimentação

    (fome e sede), de sono e repouso (cansaço), de abrigo (frio ou calor), o desejo sexual,

    etc. As necessidades fisiológicas estão relacionadas com a sobrevivência do indivíduo e

    com a preservação da espécie. São necessidades instintivas e que já nascem com o

    indivíduo. São as mais prementes de todas as necessidades humanas: quando alguma

    dessas necessidades não está satisfeita, ela domina a direção do comportamento. O

    homem com o estômago vazio não tem outra preocupação maior do que se alimentar.

    Porém, quando come regularmente e de maneira adequada, a fome deixa de ser uma

    motivação importante. Quando todas as necessidades humanas estão insatisfeitas, a

    maior motivação será a das necessidades fisiológicas e o comportamento do indivíduo

    terá a finalidade de encontrar alívio na pressão que essas necessidades produzem sobre o

    organismo.

    - Necessidades de Segurança: Constituem o segundo nível das necessidades humanas. São as necessidades de segurança ou de estabilidade, a busca de proteção contra a

    ameaça ou privação, a fuga ao perigo. Surgem no comportamento quando as

    necessidades fisiológicas estão relativamente satisfeitas. Quando o indivíduo é

    dominado por necessidades de segurança, o seu organismo no todo age como um

    mecanismo de procura de segurança e as necessidades de segurança funcionam como

    elementos organizadores quase exclusivos do comportamento. As necessidades de

    segurança têm grande importância no comportamento humano, uma vez que todo

    empregado está sempre em relação de dependência à empresa, onde ações

    administrativas arbitrárias ou decisões incoerentes podem provocar incerteza ou

    insegurança no empregado quando à sua permanência no emprego. Se essas ações ou

    decisões refletem discriminação ou favoritismo ou alguma política administrativa

  • 26

    imprevisível, podem se tornar poderosos ativadores de insegurança em todos os níveis

    hierárquicos da empresa.

    - Necessidades Sociais / de afeto: Surgem no comportamento, quando as necessidades mais baixas (fisiológicas e de segurança) se encontram relativamente satisfeitas. Dentre

    as necessidades sociais estão as necessidades de associação, de participação, de

    aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor. Quando as

    necessidades sociais não estão suficientemente satisfeitas, o indivíduo se torna

    resistente, antagônico e hostil com relação às pessoas que o cercam. Em nossa

    sociedade, a frustração das necessidades de amor e de afeição conduzem à falta de

    adaptação social e à solidão. A necessidade de dar e receber afeto são importantes

    forças motivadoras do comportamento humano.

    - Necessidades de Estima: São as necessidades relacionadas com a maneira pela qual o indivíduo se vê e se avalia. Envolvem a auto-apreciação, autoconfiança, a necessidade

    de aprovação social e de respeito, de status e de prestígio, e de consideração. Envolvem

    ainda o desejo de força e de adequação, de confiança perante o mundo, independência e

    autonomia. A satisfação das necessidades de estima conduz a sentimentos de

    autoconfiança, de valor, força, prestígio, poder, capacidade e utilidade. A sua frustração

    pode produzir sentimentos de inferioridade, fraqueza, dependência e desamparo que, por

    sua vez, podem levar ao desânimo ou a atividades compensatórias.

    - Necessidades de auto-realização: São as necessidades humanas mais elevadas e que estão no topo da hierarquia. São as necessidades de cada pessoa realizar o seu próprio

    potencial e de continuamente autodesenvolver-se. Essa tendência geralmente se

    expressa através do impulso de a pessoa tornar-se sempre mais do que é e de vir a ser

    tudo o que pode ser.

    Porém, apesar de ser uma teoria bem estruturada e muito difundida, vale a pena esclarecer

    que se trata de uma teoria que esta suscetível aos variados tipos de pessoas, tomando formas

    variadas conforme a intensidade das diferenças individuais entre as pessoas. Segundo Maslow

    (1970), a Teoria da Hierarquia de Necessidades pressupõe os seguintes aspectos:

    - Somente quando um nível inferior de necessidade está satisfeito ou adequadamente atendido é que o nível imediatamente mais elevado surge no comportamento. Em outros

    termos, quando uma necessidade de nível mais baixo é atendida, ela deixa de ser

  • 27

    motivadora de comportamento, dando oportunidade para que um nível mais elevado

    possa se desenvolver.

    - Nem todas as pessoas conseguem chegar ao topo da pirâmide de necessidades. Algumas pessoas, graças às circunstâncias de vida, chegam a se preocupar fortemente com

    necessidades de auto-realização; outras estacionam nas necessidades de estima; outras

    ainda nas necessidades sociais, enquanto muitas outras ficam preocupadas

    exclusivamente com as necessidades de segurança e fisiológicas, sem que consigam

    satisfazê-las adequadamente.

    - Quando as necessidades mais baixas estão razoavelmente satisfeitas, as necessidades localizadas nos níveis mais elevados começam a dominar o comportamento. Contudo,

    quando alguma necessidade de nível mais baixo deixa de ser satisfeita, ela volta a

    predominar, enquanto gerar tensão no organismo. A necessidade mais importante ou

    mais premente monopoliza o indivíduo e tende automaticamente a organizar a

    mobilização das diversas faculdades do organismo para atendê-la.

    - Cada pessoa possui sempre mais de uma motivação. Todos os níveis atuam conjuntamente no organismo, dominando as necessidades mais elevadas sobre as mais

    baixas, desde que estas estejam suficientemente satisfeitas ou atendidas. Toda

    necessidade está intimamente relacionada com o estado de satisfação ou insatisfação de

    outras necessidades. Seu efeito sobre o organismo é sempre global e conjunto e nunca

    isolado.

    - Qualquer comportamento motivado é como um canal pelo qual muitas necessidades fundamentais podem ser expressas ou satisfeitas conjuntamente.

    - Qualquer frustração ou possibilidade de frustração da satisfação de certas necessidades passa a ser con