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ÍNDICE
1. Férias grandes 112. A família Stick 213. Um choque terrível 314. Contratempos 415. A meio da noite 516. O Júlio enfrenta os Sticks 617. Boas notícias 718. O plano da Zé 799. Uma noite emocionante 8910. De novo na ilha de Kirrin! 10111. A bordo do velho navio naufragado 11112. A gruta na falésia 11913. Um dia na ilha 12714. Uma noite agitada 13515. Quem estará na ilha? 14516. Os Sticks apanham um susto 15317. Um choque para o Edgar 16318. Um prisioneiro inesperado 17119. Um grito a meio da noite 18120. Troca de prisioneiros 18921. Uma visita à esquadra 19922. O regresso à ilha 209
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1. FÉRIAS GRANDES
— Zé, por favor, está quieta, ou vai fazer qualquer coisa! — pediu a tia Clara. — Ainda não paraste de andar de um lado para o outro com o Tim, e eu estou a tentar descansar!
— Desculpe, mãe — respondeu a Maria José, segu-rando na coleira do Tim. — Mas sinto-me tão sozinha sem os outros! Quem me dera que já fosse amanhã. Já não os vejo há três semanas!
A Maria José frequentava o mesmo colégio interno que a prima Ana, e, normalmente, as duas passavam as férias com os irmãos da Ana, o Júlio e o David, e diver-tiam-se imenso. Mas já lá iam três semanas das férias grandes, e o Júlio, o David e a Ana tinham ido passear com os pais; a Zé não fora, porque o pai e a mãe queriam estar com ela.
Porém, os primos chegariam ao velho Casal Kir-rin já no dia seguinte, e iriam passar o resto das férias juntos!
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— Vai ser fantástico! — disse a Zé ao seu cão, o Tim, que parecia perceber tudo o que lhe diziam. — Absoluta-mente fantástico! Não achas, Tim?
— Ão-ão — respondeu o cão, lambendo as mãos da dona.
Como de costume, a Zé estava vestida com roupas de rapaz: calças de ganga e uma camisola. Detestava ser rapariga e recusava-se a responder se a tratassem por Maria José — por isso, toda a gente lhe chamava apenas Zé. Du-rante as últimas três semanas, tivera imensas saudades dos primos.
— Antigamente, pensava que não havia nada me-lhor do que andar sempre sozinha. Mas agora sei que estava a ser pateta. É tão bom estar com outras pessoas, partilhar o que temos e fazer amigos!
O Tim bateu com a cauda no chão. Também gostava muito de estar com os outros, pois claro! Estava cheio de vontade de rever o Júlio, o David e a Ana.
A Zé levou-o até à praia. Protegeu os olhos com a mão e olhou para a entrada da baía. Mesmo a meio, como se a guardasse, erguia-se uma pequena ilha rochosa, onde se viam as ruínas de um velho castelo.
— Este verão, vamos visitar-te outra vez, querida ilha de Kirrin! — disse a Zé, afetuosamente. — Ainda não consegui ir aí estas férias, porque o meu barco está a arran-jar, mas não tarda nada vai ficar pronto… e aí vou eu! As saudades que tenho do castelo! Tim, lembras-te das aventu-ras que vivemos na ilha de Kirrin no verão passado?
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O Tim lembrava-se muito bem, porque participara nessas aventuras emocionantes. Estivera nas masmorras do castelo com os outros; ajudara-os a encontrar o tesouro que lá estava escondido e divertira-se tanto como as crian-ças, que adorava. Soltou um pequeno latido.
— Estás a recordar-te, não estás, Tim? — disse a Zé, fazendo-lhe festas. — Não vai ser divertido voltar lá? Vamos visitar as masmorras, não vamos? Lembras-te de como o David desceu pelo poço para nos salvar?
Recordar tudo o que acontecera no ano anterior era empolgante. E fez com que a Zé ansiasse ainda mais pela chegada dos primos.
«Quem me dera que a mãe nos deixasse ir passar uns dias à ilha», pensou. «Viver na minha própria ilha seria o máximo!»
A ilha era mesmo da Zé. Na verdade, pertencia à mãe, mas ela dissera, há um ou dois anos, que a filha podia ficar com ela, e a Zé sentia-se a verdadeira proprietária. Até mesmo de todos os coelhos, aves selvagens e todas as outras criaturas que habitavam a ilha!
«Quando os outros chegarem, vou sugerir-lhes irmos lá passar uma semana», pensou, cheia de entusiasmo. «Le-vamos comida e tudo o que for preciso, e vivemos com-pletamente sozinhos! Vamos sentir-nos como o Robinson Crusoe!»
No dia seguinte, foi esperar os primos, conduzindo ela mesma o pónei e a charrete. A mãe também queria ir, mas não se sentia muito bem. A Zé estava um bocadinho
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preocupada com ela — ultimamente, andava sempre adoentada. Talvez fosse apenas o calor do verão, que nos últimos dias apertara. Dia após dia, o céu mantinha-se muito azul e o Sol brilhava com intensidade, e a Zé estava bastante morena, o que lhe realçava os olhos muito azuis. Cortara o cabelo ainda mais curto do que o habitual, e agora era praticamente impossível perceber se era rapaz ou rapariga.
O comboio chegou. Numa das janelas, três mãos acenavam freneticamente, levando a Zé a soltar um grito de alegria.
— Júlio! David! Ana! Até que enfim!As três crianças empurraram-se umas às outras para
fora da carruagem, e o Júlio chamou o bagageiro.— As nossas malas estão no vagão. Olá, Zé! Como
estás? Cresceste imenso!Todos tinham dado um pulo. Estavam um ano mais
velhos e um ano mais crescidos do que quando tinham vi-vido as emocionantes aventuras na ilha de Kirrin. Até a Ana, a mais nova, já não parecia tão pequena. Abraçou a Zé (quase a deitou ao chão!) e depois ajoelhou-se para abra-çar também o Tim, que estava doido de alegria por voltar a ver os três amigos.
Foi uma chinfrineira incrível, com todos a gritar em simultâneo e o Tim a ladrar sem parar…
— Estávamos a ver que o comboio nunca mais cá chegava!
— Oh, Tim, querido, estás na mesma!
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— Ão-ão-ão!— A mãe ficou muito triste por não poder vir rece-
ber-vos.— Zé, estás com ótimo aspeto! Vamos divertir-nos
tanto!— ÃO-ÃO-ÃO!— Cala-te lá, Tim, e está quieto! Estás a dar-me cabo
da gravata! Oh, meu velho, é tão bom ver-te outra vez!— ÃO-ÃO!O funcionário da estação trouxe-lhes a bagagem
num trólei e empilhou-a na charrete. A Zé fez um estalido com a boca e o pónei começou imediatamente a trotar. As quatro crianças não se calaram um minuto, todas a falar ao mesmo tempo e muito alto… e o Tim mais alto do que todos, porque tinha uma voz muito forte e poderosa.
— Espero que a tua mãe não esteja doente… — co-mentou o Júlio, que gostava muito da tia.
A tia Clara era de facto extremamente meiga e bon-dosa, e adorava tê-los lá em casa.
— Acho que deve ser do calor — respondeu a Zé.— E o tio Alberto? — perguntou a Ana. — Está
tudo bem com ele?Nenhum dos três tinha grande simpatia pelo tio.
Conseguia ser muito rabugento, e, embora os recebesse em casa de bom grado, a verdade é que não gostava particu-larmente de crianças. Por isso, sentiam-se sempre pouco à vontade na presença dele, e era um alívio quando não estava por perto.
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— O pai está fixe — respondeu a Zé, alegremente. — Só um bocadinho preocupado por causa da mãe. Parece que nem dá por ela quando está tudo bem, mas entra em pânico se acha que tem algum problema. É melhor terem cuidado com ele por estes dias… Sabem como é quando as coisas não lhe correm de feição.
Sabiam, e bem. Quando algo não corria bem ao tio Alberto, era melhor evitá-lo. Mas hoje nem a ideia de um tio zangado os conseguiria deprimir: estavam de férias, a caminho do Casal Kirrin, à beira-mar, e com o Tim. E ti-nham pela frente dias e mais dias de alegria e divertimento.
— Vamos até à ilha de Kirrin, Zé? — sugeriu a Ana. — Não pomos lá os pés desde o verão passado. No inverno e nas férias da Páscoa o tempo estava horrível. Mas agora está maravilhoso.
— Claro que sim! — anuiu a Zé, com os olhos a brilhar. — Sabem o que me ocorreu? Que seria fantástico passarmos lá uma semana, sem mais ninguém! Como já somos mais crescidos, aposto que a minha mãe deixa.
— Passar uma semana na tua ilha! — gritou a Ana. — Oh, isso parece bom demais para ser verdade!
— Na nossa ilha — retorquiu a Zé, muito feliz. — Não te lembras de eu ter dito que a dividia em quatro, para podermos partilhá-la? Estava a falar a sério! A ilha não é minha, é nossa.
— Então e o Tim? — perguntou a Ana. — Não devia também ter um quinhão? Não podes antes dividi-la em cinco, para o incluires a ele?
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— A minha parte também é dele — respondeu a Zé.Parou o pónei, e as quatro crianças e o cão contem-
plaram a baía azul.— Ali está a ilha de Kirrin! — anunciou a Zé. —
Mal posso esperar por lá voltar. Ainda não consegui ir, por-que o meu barco está a arranjar.
— Nesse caso, podemos ir todos juntos! — propôs o David. — Será que os coelhos ainda são tão mansos como eram?
— Ão-ão — ladrou imediatamente o Tim. Bastava-lhe ouvir a palavra «coelho» para ficar logo
todo entusiasmado.— Nem vale a pena pensares nos coelhos da ilha,
Tim — avisou a Zé. — Sabes bem que não te vou deixar andar atrás deles!
O cão deixou cair a cauda e lançou à dona um olhar triste. Era a única coisa em que não se entendiam — o Tim estava absolutamente convicto de que os coelhos só exis-tiam para ele os caçar, e a Zé estava igualmente convicta de que não era bem assim.
— Avança! — ordenou a Zé ao pónei, puxando as rédeas.
O pequeno animal retomou o trote em direção ao Casal Kirrin, e ao fim de pouco tempo estavam diante do portão do jardim.
Uma mulher com uma expressão amarga saiu pela porta das traseiras, para os ajudar a descarregar as malas. As crianças nunca a tinham visto.
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— Quem é? — perguntaram à Zé, num murmúrio.— A nova cozinheira. A Joana teve de ir tomar
conta da mãe dela, que partiu uma perna. E a minha mãe contratou esta; chama-se Senhora Stick.
— É um nome muito apropriado — comentou o Júlio, a rir. — Parece mesmo um ramo seco!1 Mas espero que não crie raízes por aqui e que a Joana regresse depressa. Gosto dela... É tão amiga do Tim!
— A Senhora Stick também tem um cão — anunciou a Zé. — Uma criaturinha horrenda, mais pequena do que o Tim, cheia de sarna e imunda. O Tim não pode com ele!
— Onde é que está? — perguntou a Ana, olhando em volta.
— Fica sempre na cozinha, e o Tim está proibido de se aproximar. E ainda bem, pois tenho a certeza de que acabaria por comê-lo inteirinho! Não percebe o que é que sepassa na cozinha e está sempre a farejar à porta. Dá com a Senhora Stick em doida!
Os outros riram-se. Já todos tinham descido da charrete e estavam prontos para entrar em casa. O Júlio ajudou a Sra. Stick a carregar as malas e a Zé foi arrumar a charrete, enquanto os primos iam cumprimentar os tios.
— Olá, olá! — disse a tia Clara, do sofá onde estava recostada. — Como estão? Peço desculpa por não vos ter ido esperar. O tio Alberto foi dar uma volta. É melhor irem lá acima lavar-se; depois desçam para o lanche.
1 Trocadilho com o apelido Stick, que em inglês significa ramo. (N. da T.)
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Os rapazes dirigiram-se ao quarto que costumavam partilhar, com o teto inclinado e vista para a baía. A Ana foi para o pequeno quarto onde dormia com a Zé. Era tão bom estarem de novo em Kirrin! Iam ser umas férias mara-vilhosas, com a Zé e o Tim!