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INDISCIPLINA ESCOLAR

Professora PDE: Neci Xavier Ribeiro1

Orientadora: Isabel Cristina Ferreira2

Resumo. Esse artigo é resultado da pesquisa desenvolvida no Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (PDE/PR). As ações foram implementadas junto aos professores e pedagogos do Colégio Estadual Princesa Izabel – Umuarama-PR, Ensino Fundamental e Médio, tendo como objetivo apresentar as reflexões sobre as possíveis causas da indisciplina no ambiente escolar, visando orientações práticas para a minimização/ superação dos conflitos na relação professor aluno. O presente trabalho trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo desenvolvido no decorrer de quatro oficinas pedagógicas, perfazendo um total de 32 horas no período fevereiro a julho de 2013. Para o desenvolvimento da implementação pedagógica, foram utilizados encaminhamentos metodológicos diferenciados, envolvendo um conjunto de vivências e experiências teóricas e práticas, a partir de diferentes estratégias articuladas, envolvendo exposição teórica, recursos audiovisuias (textos, documentários, vídeos e imagens; pesquisas na internet, debates, produções escritas tanto individuais como em grupos para compreensão da problemática da indisciplina no contexto escolar. Concluiu-se que na escola, os professores podem contribuir para transformar a cultura da indisciplina, convidando os alunos a discuti-la, buscando soluções sempre que possíveis. Os alunos podem ser socializados para adquirir consciência dos atos considerados como indisciplina, sendo sensibilizados para praticar ações assertivas. Palavras-Chave: Indisciplina Escolar. Professores. Intervenção Pedagógica.

1. Introdução

Esse artigo é resultado da pesquisa desenvolvida no Programa de

Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná

(PDE/PR). As ações apresentadas foram implementadas junto aos professores e

pedagogos do Colégio Estadual Princesa Izabel – Umuarama-PR, Ensino

Fundamental e Médio, tendo como tema de estudo a questão da indisciplina escolar.

A confiança na educação como questão de igualdade e desenvolvimento

sociais tem encarregado à comunidade escolar uma função primordial na formação

intelectual, social e ética do indivíduo. A adaptação do indivíduo às demandas de

sua realidade acontece em razão não somente da edificação de conhecimentos

técnicos e científicos, mas, igualmente, pela compreensão de princípios de conduta

e valores morais que afiançam a sua vida no contexto social.

Deste modo, engloba-se, no plano para a escolarização, a expectativa da

educação moral e do preparo dos alunos, para o convívio social e respeito às

normas coletivas, implicando nos processos de ordenamento e regulamentação de

1 Professora da Escola Pública PDE.

2 Professora Do Colegiado de pedagogia da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR –

Campus de Paranavaí.

condutas que envolvem as atividades escolares e, sobretudo, a demanda da

disciplina.

Os problemas de indisciplina ocorrem com frequência nas escolas, sendo um

dos maiores obstáculos pedagógicos, ocasionando o desinteresse, baixo rendimento

escolar, evasão, desmotivação para os estudos, falta de limites e até agressividade

por parte dos educandos. Apesar de ser objeto de preocupação crescente no meio

educacional, esse tema é pouco debatido de forma efetiva na busca de

minimização/solução do problema (CALDEIRA; REGO, 2001; AQUINO, 2003,

GOTZENS, 2003). De maneira geral, os achados giram em torno de encontrarem

culpados e, na maioria das vezes, isentando a escola e/ou os professores de

qualquer influência direta nas questões disciplinares que se apresentam.

De acordo com Parrat-Dayan (2008), os conflitos em sala de aula,

comumente são caracterizados pelo descumprimento de ordens e falta de limites

como, falar durante as aulas o tempo todo, não levar o material necessário para a

escola, ficar em pé, interromper o professor, gritar, andar pela sala, jogar papeis nos

colegas ou mesmo no professor, dentre outras atitudes, que dificultam sobremaneira

o rendimento escolar.

É nesse contexto que a problemática da indisciplina escolar torna-se um

desafio para as escolas, quando se busca o alcance dos objetivos educacionais.

Num primeiro momento, porque a aprendizagem dos conteúdos curriculares não se

concretiza sem que haja certa organização e normatização das atividades e das

relações em sala de aula; e, num segundo momento, porque o aprendizado das

noções de regras e de respeito à coletividade são entendidos como métodos

constitutivos da consciência moral, constituindo-se em objetivo da educação moral a

ser ampliada ou mesmo desenvolvida na escola (GOTZENS, 2003).

A diversidade de indivíduos que atuam no ambiente escolar influencia

diretamente nas relações estabelecidas. Para Marchesi (2006), os comportamentos

anti-sociais ou violentos de determinados alunos dificultam a manutenção de um

clima de convivência na escola e nas salas de aula. As mudanças tecnológicas têm

influencia direta no modo de ser das pessoas e, na escola, não é diferente. O aluno

que obedecia passivamente o que lhe era imposto de maneira autoritária, já não

existe mais na atualidade.

Assim, temos observado que a indisciplina escolar tem se caracterizado como

fonte profunda de estresse nas relações interpessoais, especificamente, ao

associar-se a situações de conflito no interior da sala de aula. A indisciplina gera

dificuldade para o desenvolvimento da aprendizagem. Diante dessa preocupação, é

de grande importância discutir o assunto com os segmentos da comunidade escolar,

analisando os índices e as possíveis causas das diversas situações de indisciplina

ocorridas no interior da escola.

Os alunos chegam à escola com histórias e vivências próprias que não

podem ser ignoradas pelos agentes sociais envolvidos. Logo, é preciso reconhecer

as motivações dos alunos ou estar, de algum modo, aptos a expô-las e discuti-las no

conjunto da instituição, oferecendo aos mesmos, condições para que estes possam

expressar-se e se desenvolver enquanto cidadãos autônomos e responsáveis.

Acredita-se que por meio de discussões, análises e reflexões aprofundadas

sobre a temática é possível contribuir para o enfrentamento da problemática,

buscando soluções eficazes, de forma a permitir que a escola possa se constituir em

um espaço seguro e saudável de ensino e aprendizagem, de convivência mútua e

de crescimento pessoal.

Portanto, este artigo tem como objetivo apresentar as reflexões sobre a

proposta de implementação pedagógica, visando às possíveis causas da

indisciplina, no ambiente escolar, na tentativa de contribuir com algumas orientações

práticas para a minimização/ superação dos conflitos na relação professor aluno.

2. Considerações sobre a disciplina/indisciplina

O termo disciplina, além de designar um ramo do conhecimento ou matéria de

estudo, tem assumido ao longo dos tempos diferentes significações:

[...] punição, dor, instrumento de punição; direção moral; regra de conduta para fazer reinar a ordem numa coletividade; obediência a essa regra. Essas conotações tendem a interpretar-se e, hoje, quando falamos de disciplina, tendemos não só a evocar as regras e a ordem delas decorrente, como as sanções ligadas aos desvios e o conseqüente sofrimento que elas originam. Por isso, para muitos o conceito adquiriu um sentido algo pejorativo (ESTRELA, 1992, p.17).

Assim sendo, o conceito de indisciplina relaciona-se intimamente com o de

disciplina, tendendo, normalmente, a ser definido pela negação, privação ou pela

desordem das regras estabelecidas. Embora cada tipo de disciplina tenha a sua

especificidade, todas se inscrevem num fundo ético de caráter social que é

resultante de certa experiência de mundo de cada indivíduo, concorrendo para a

harmonia social.

[...] não se pode, assim, falar em disciplina ou indisciplina independentemente do contexto sócio-histórico em que ocorre. Embora alguns conceitos pareçam atravessar os tempos e as sociedades, é em relação a cada lugar e a cada tempo que assumem o seu significado específico (ESTRELA, 1992, p.17).

Embora a indisciplina ocorra comumente na relação entre professor e aluno

na sala de aula, segundo Aquino (2003), o problema não é exclusivo do professor,

mas do coletivo da escola, que deve se incumbir no delineamento de novos rumos

no âmbito escolar, denotando o compromisso de todos os envolvidos no processo,

pois o professor não entra sozinho na sala de aula; com ele vão junto os colegas, os

funcionários, as regras, normas, vivências, enfim, toda a instituição está aí

representada.

A este respeito Libâneo (2004, p. 16), assim se manifesta:

Em primeiro lugar devemos ter em mente que a escola não está isolada do sistema social, político e cultural, mas que pode criar seu espaço de trabalho junto a seus pares, em função da qualidade das aprendizagens dos alunos e de objetivos pessoais, profissionais e coletivos.

O termo “indisciplina” se relaciona com o conjunto de valores e expectativas

que variam ao longo da história (DALSAN, 2007), entre as diferentes culturas e

numa mesma sociedade: nas diversas classes sociais, nas diferentes instituições e

até mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo. Também pode ter

diferentes sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto em

que forem aplicadas. Os padrões de disciplina se transformam ao longo do tempo e

também se diferenciam, no interior da dinâmica social.

Para Aquino (2003), disciplinado é aquele que obedece e cede, sem

questionar às regras e preceitos vigentes em determinada organização. O

disciplinador é aquele que molda, modela, levando o indivíduo ou o conjunto de

indivíduos à submissão, à obediência e acomodação. Já o indisciplinado é aquele

que se rebela, que não acata e não se submete, nem tampouco se acomoda, e

agindo assim, provoca rupturas e questionamentos.

Logo, o conceito de disciplina está comprometido com princípios de

participação e cooperação. Num contexto que propõe a socialização do saber e do

poder, a disciplina não pode ser mais encarada, unicamente, como forma de

manutenção da ordem, através da obediência a regras pré-estabelecidas.

Do ponto de vista dos educadores, Aquino (2003) evidencia que o

entendimento acerca da disciplina/indisciplina no ambiente escolar é muito incerto,

dependendo da atitude com a qual os mesmos pautam a sua prática na sala de aula,

do tipo de formação que auferiram de suas experiências e, sobretudo, de seus

posicionamentos frente à escola e às questões sociais.

A disciplina entendida como o “[...] o conjunto das prescrições ou regras

destinadas a manter a boa ordem [...] (CARVALHO, 1996, p. 131)” é comumente

evocada por agentes escolares em discussões sobre indisciplina.

O referido conceito, no entendimento de Fleming (2008) parece estar ligado a

um sentido normativo e proibitivo, que define perfis e condutas, por conseguinte,

contra a expressão subjetiva e a criação. Para o autor, a preocupação relativa a

esse entendimento, diz respeito mais à necessidade de ordem e manutenção da

instituição do que com as pessoas que convivem na instituição. Nesse sentido, a

disciplina é entendida como um fim em si mesma e responsável, exclusivamente,

pela manutenção da instituição escolar com alunos imóveis e calados.

Piaget (1978) defende que a disciplina promove a construção da autonomia, a

partir da construção coletiva das regras e das atividades em grupo, não só em nome

da autonomia do indivíduo e da ação partilhada, mas, sobretudo, porque o

egocentrismo natural do comportamento infantil é superado a partir do conflito que

surge do confronto de interesses e de idéias.

A concepção de disciplina que promove a autonomia dos sujeitos, segundo

Carvalho (1996), não ignora o sujeito, pelo contrário, o fim último corresponde à

interação entre eles. Deste modo, na concepção enunciada pelo autor, o objetivo

não é a manutenção da instituição abstrata, mas a sustentação de organizações

sociais em que os agentes envolvidos possam participar e se construir no cotidiano

da instituição.

Antunes (2005) afirma que “ensinar não é fácil e educar mais difícil ainda;

mas não ensina quem não constrói democraticamente as linhas do que é ou não é

permitido”. É nesse sentido que a escola precisa se constituir num espaço no qual

se cultive o diálogo e a afetividade, um local onde a prática da observação e da

garantia dos direitos humanos seja constante.

Gadotti (1991) argumenta que o ápice da socialização, depende da

superação da coação dos adultos sobre o comportamento infantil. Cabe às escolas

garantir o convívio social das crianças para estimular seu processo de

amadurecimento moral e cívico. O sistema escolar deve favorecer a autonomia, pela

participação e co-responsabilidade em seu funcionamento. Ensina-se, assim, aos

jovens a se comprometerem com a construção de uma sociedade realmente

democrática, calcada não apenas em direitos e deveres, mas valores, que se

tornarão princípios éticos norteadores da conduta (GADOTTI, 1991).

Deste modo, merece destaque as considerações de Pearce (1982, p. 71) ao

evidenciar que:

Se o disciplinar-se exige alunos imóveis e calados, a escola pode estar conseguindo isso. Mas em que aspecto o silêncio e a passividade estão contribuindo para a formação dos cidadãos, a renovação e a transformação da sociedade em que vivem? Em que medida a criatividade, a sensibilidade, o desejo de construir, tão necessário à evolução cultural do homem pode ser adquirido num processo demasiadamente estressante, que bloqueia as capacidades de conhecer dos indivíduos? Qual a finalidade de uma educação que se revela mais como antieducação, por negar aos indivíduos a própria dinâmica do viver humano?

Deste modo, a motivação dos educadores deve afinar-se com os objetivos

propostos pela instituição de ensino, mediante um diálogo intersubjetivo entre os

seus agentes, viabilizado pela relação cognitivo-afetiva (DALSAN, 2007). É de

Fleming (2008, p.215), a afirmação de que “[...] educar significa intervir em vidas

pelo convite não pela invasão”. Portanto, cabe aos educadores, no uso de sua

autoridade, auxiliar os educandos a distinguirem que na vida, há coisas

transformáveis e que os educandos podem e devem modificá-las sempre para

melhor.

Segundo Vygotsky (1987, p.150), “ninguém nasce rebelde ou indisciplinado,

já que estas características não são inatas, e nem todo indivíduo será

necessariamente indisciplinado, já que é impossível postular um comportamento

padrão e universal para cada estágio da vida humana”.

Concordando com essa tese, pode-se dizer que todos os atores sociais estão

implicados na construção da disciplina/indisciplina e suas influências no

comportamento das crianças na escola.

Os traços de cada ser humano (comportamento, funções psíquicas, valores, etc.) estão intimamente vinculados ao aprendizado, à apropriação (por

intermédio das pessoas mais experientes, da linguagem e outros mediadores) do legado de seu grupo cultural (sistemas de representação, formas de pensar e agir etc.). Desse modo, é possível afirmar que um comportamento mais ou menos indisciplinado de um determinado indivíduo dependerá de suas experiências, de sua história educativa, que, por sua vez, sempre terá relações com as características do grupo social e da época histórica em que se insere (AQUINO, 1996, p. 98).

Nessa perspectiva, a família é caracterizada como o primeiro ambiente do

qual a criança participa ativamente. Conforme Vygotsky (1987), inicialmente, as

interações ocorrem pela relação da mãe com a criança. Aos poucos, as relações vão

se expandindo dentro do grupo familiar, formando, dentro deste sistema, vários

subsistemas, como a relação pai-criança e a relação entre irmãos.

De acordo com Osório (1996, p. 81-82), a primeira e talvez mais fundamental

tarefa da escola, “[...] seja facilitar o processo de diferenciação e individualização da

criança, oferecendo-lhe uma espécie de introdução à vida social fora do âmbito

doméstico”. Para o autor, o incentivo dos pais torna-se indispensável no processo

escolar dos filhos e, por isto, é que as escolas reclamam a falta de uma efetiva

participação e acompanhamento da família na vida escolar de seus filhos.

Costuma-se dizer que a família educa e a escola ensina, ou seja, à família

“[...] cabe o papel de oferecer à criança e ao adolescente a pauta ética para a vida

em sociedade e a escola instruí-lo, para que possam fazer frente às exigências

competitivas do mundo na luta pela sobrevivência” (OSÓRIO, 1996, p.82). Nesse

sentido, a disciplina na escola é o resultado de compromissos firmados pelo grupo.

Apoiando-se e alimentando-se na comunidade escolar, cabe ao professor mediar

situações de diálogos e confrontos.

O exercício da docência pressupõe negociação constante e, ao tratar, da

disciplina esta exige muita reflexão, uma vez que, se imposta autoritariamente,

jamais será aceita pelos alunos (SANTOS; NUNES, 2006).

Assim sendo, para que o professor possa educar sem culpa, cabe a ele

resgatar o seu papel dentro de uma concepção de educação que tenha como

fundamento basilar a formação do ser humano, com base na compreensão de que o

sujeito não se forma sozinho, necessitando da interação com o outro para vir a ser

pessoa. Entretanto, nesta relação pode ocorrer a dominação, a exploração, a

negação da possibilidade de existência plena do sujeito, reduzindo-o a objeto de

satisfação de necessidades alienadas (AQUINO, 2003; ANTUNES, 2005; SANTOS;

NUNES, 2006; DALSAN 2007).

Na visão de Gotzens (2003, p. 22), não há receitas prontas para o

enfrentamento dos problemas disciplinares no âmbito escolar:

A disciplina escolar não consiste em um receituário de propostas para enfrentar os problemas de comportamentos dos alunos, mas em um enfoque global da organização e da dinâmica do comportamento na escola e na sala de aula, coerente com os propósitos de ensino. [...] Para isso é preciso, sempre que possível, antecipar-se ao aparecimento de problemas e só em último caso reparar os que inevitavelmente tiverem surgidos, seja por causa da própria situação de ensino, seja por fatores alheios à dinâmica escolar.

Segundo Saviani (1984), normalmente, o professor se preocupa em demasia

com as exigências relativas ao aluno: a disciplina; esquecendo de se preocupar com

a contrapartida necessária: um ensino significativo e participativo. Na visão do autor,

com o tipo de curso que propõe e impõe desvinculado da realidade, o professor

acaba contribuindo para a manutenção da indisciplina. Muitas vezes, os educadores

não conseguem verbalizar o que estão sentindo, mas sinalizam com o seu

comportamento.

Para Foucault (1998, p. 118), a necessidade de manter a disciplina é

histórica, pois,

[...] muitos processos disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação. Diferentes da escravidão, pois não se fundamentam numa relação de apropriação dos corpos; é até a elegância da disciplina dispensar essa relação custosa e violenta obtendo efeitos de utilidade pelo menos igualmente grandes.

Ao professor cabe compreender que existe uma indisciplina ativa, aquela em

que o aluno faz “bagunça”, mas que existe também a forma de indisciplina passiva,

aquela em que o professor até consegue o silêncio, mas não a atenção dos alunos,

que é tão grave quanto a primeira (MORAIS, 2000). Para o autor, é preciso que o

professor trabalhe junto aos alunos a construção da disciplina ativa e coletiva

pautada, sobretudo, no diálogo.

No entender de Aquino (1996), a atitude de diálogo também é fundamental

para a superação dos problemas de disciplina. O professor deve tratar o aluno como

ser humano, ou seja, acreditar na sua racionalidade: procurar fazê-lo refletir sobre o

que está acontecendo, ajudá-lo a compreender as causas de seu comportamento,

comprometendo-se mais em colaborar com o aluno, do que em “cotá-lo” para poder

“cumprir o programa”.

Afirma-se que o aluno tem que ser „trabalhado‟. É comum o professor acreditar que está trabalhando o aluno, mas o que está fazendo? Fica dizendo: „Você precisa melhorar‟ „Você tem que mudar‟ ou faz sermão na frente de toda classe, ou manda chamar os pais. A questão fundamental aqui é o seguinte: em que momento o professor tentou estabelecer uma relação de maior proximidade, tentou ver o que realmente está acontecendo? As pessoas morrem por um gesto de amor (DAVIS, 1984, p.105).

Segundo o autor citado acima, se o vínculo afetivo não está minimamente

garantido em sala de aula, é muito difícil que o trabalho seja significativo. Para que

haja efetivo diálogo, o professor precisa saber ouvir, deixar o aluno se colocar,

deixar o aluno falar, pois o fato de poder falar, de compartilhar, já favorece o

processo.

Apesar de o trabalho coletivo ser imprescindível, não dá para resolver tudo

somente no coletivo. De acordo com Aquino (1996) é preciso que o professor esteja

atento aos alunos mais frágeis e que escapam à coletividade, ou aqueles que

resistem a ela, sabendo desenvolver uma ação paralela de orientação, também sem

discursos, mas, que, sucintamente, dê ao aluno condições de compreender as

origens de seu comportamento, permitindo a superação das suas contradições.

Estrela (1992) comenta acerca da importância de o professor revelar seu

interesse e sua preocupação pelos alunos, pois para eles é importante saber que

alguém se preocupa com a sua pessoa. Despertando no aluno um interesse pelas

novas situações em que ele se encontra, é possível ressuscitar o seu poder de

adaptação, cabendo à escola prever espaço para o professor ter este “particular”

com o aluno.

Por sua vez, Davis (1984) propõe que o diálogo precisa ser desarmado, não

acusatório, moralista ou ameaçador, mas, sobretudo, investigativo, estar atento ao

outro, tentar compreendê-lo. Para o autor, o professor precisa ser apoiado nas

condições objetivas de trabalho, para poder dialogar autenticamente: saber ouvir,

deixar o outro se expor, respeitar, não reprimir eventual raiva do aluno. O educador

pode propor, sugerir, orientar e expressar seu desejo, mas deixando o outro decidir,

com respeito á individualidade do aluno.

Isto posto, há a necessidade de o professor ter contato individual com o

aluno, de forma a criar maior intimidade na relação, possibilitando ao aluno sentir-se

reconhecido e valorizado pelo outro de sua relação (no caso o professor). Não se

trata de ser “psicólogo”, mas de ser um professor comprometido, buscando

interações, atividades que possam ser libertadoras. O desafio que se coloca,

portanto, é que, de um lado, o professor deve exigir esforço, dedicação, disciplina

dos alunos e, de outro, deve portar-se de maneira a construir uma adequada

proposta de trabalho.

3. Metodologia

O presente trabalho trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo

desenvolvido no decorrer de 05 (cinco) oficinas pedagógicas, perfazendo um total de

40 horas no período fevereiro a julho de 2013.

As oficinas se constituíram em espaços que apontaram novas descobertas

para a docente e alunos, tornando-se espaços oportunos para a comunicação,

contextualização, estabelecimento de vínculos, reflexões, debates, mudanças e

construção coletiva de conhecimentos sobre a disciplina/indisciplina escolar.

Segundo Candau et al. (1999), o procedimento de oficinas pedagógicas tem

se constituído como estratégia que valoriza a construção de conhecimentos de

forma participativa, questionadora e, sobretudo baseada na realidade de situações,

fatos e histórias de vida.

A proposta foi implementada junto aos professores e pedagogos do Colégio

Estadual Princesa Izabel – Umuarama-PR, Ensino Fundamental e Médio, para

discutir sobre a problemática da indisciplina no contexto escolar, na tentativa de

apontar as possíveis causas e contribuir com algumas orientações práticas para a

minimização/ superação dos conflitos na relação professor aluno.

Para o desenvolvimento da implementação pedagógica, foram utilizados

encaminhamentos metodológicos diferenciados, envolvendo um conjunto de

vivências e experiências teóricas e práticas, a partir de diferentes estratégias

articuladas, envolvendo exposição teórica, recursos audiovisuias (textos,

documentários, vídeos e imagens; pesquisas na internet, debates, produções

escritas tanto individuais como em grupos para compreensão da problemática da

indisciplina no contexto escolar.

Ao final de cada atividade, realizou-se uma avaliação, buscando a melhoria

do processo de ensino e aprendizagem, utilizando a autoavaliação e a avaliação dos

pares envolvidos no processo tanto individualmente, como em grupos.

As reflexões com o Grupo de Estudo em Rede (GTR) do estado do Paraná

foram fundamentais para aprofundamento nas questões relativas ao estudo

proposto, contribuindo para a implementação da proposta na escola e na elaboração

deste artigo.

4. Resultados e Discussões da Proposta de Implementação na Escola

As atividades desenvolvidas na primeira oficina pedagógica objetivaram

nortear os estudos sobre a problemática da indisciplina na escola. O objetivo deste

tópico foi refletir sobre o quanto é complexo e quão grade é a função da família na

escola, base da sustentação do ser humano e da sociedade. Inicialmente, foi

realizada uma dinâmica de boas vindas, com os participantes todos em pé, e em

círculo. Após a apresentação das palavras, os participantes faziam gestos. Por

exemplo, frente à palavra “amor” (abraços); em relação à palavra “ética” (aperto de

mão); “solidariedade” (beijo no rosto), de acordo com a criatividade e desejo das

pessoas em participar.

Na sequencia, foi apresentado um vídeo intitulado “Família-escola-

indisciplina”, seguido de debates e reflexões. Foi discutido, dentre outros aspectos,

que a família tem função primordial. Refletiu-se que na família inicia-se o convívio

social, a formação do caráter, os valores morais e religiosos. Dando continuidade a

essa ideia, Tiba (1996) comenta que a família é a célula mãe do mundo e nela se

aprende as primeiras regras da vida em sociedade; por meio das quais, irmãos, avós

e demais parentes assimilam os primeiros valores formadores da pedra fundamental

onde se constroi “a moral”.

As condições psicológicas do ambiente familiar influenciam muito na vida da

criança. Um lar harmônico e feliz é a maior garantia para o desenvolvimento normal

da mesma que começa a aprender desde o momento do seu nascimento. Weil

(2001) afirma que a natureza das relações entre pais e filhos é transmitida de

geração para geração perpetuando tradições em que impera o autoritarismo ou a

superproteção que os filhos imprimem quando adultos às suas próprias crianças.

As mudanças que têm ocorrido na sociedade devido às informações e

avanços tecnológicos vêm influenciando constantemente a relação família e escola.

Isso tem atingido diretamente a criança que, na maioria das vezes, fica em segundo

plano.

A relação entre pais e filhos também mudou, tomando novas formas através

do divórcio e segundas uniões: madrastas, padrastos, meio-irmãos, irmãos dos

irmãos que não têm relação consangüínea, “pais de fins-de-semana”. Por outro lado,

existem mães que trabalham fora de casa e, por isso, não podem ou não

conseguem manter a mesma dedicação à educação dos filhos como acontecia no

passado. “Todos esses problemas são consequências da modernidade “(P3)

Discutimos que a falta de tempo dos pais com os filhos implica uma série de

fatores que podem influenciar no relacionamento das crianças em casa e na escola.

Alguns destes fatores é a perda da autoridade, a falta de limites e regras, a liberdade

incondicional, o distanciamento, a falta de diálogo e afetividade, o aumento da

individualidade que gera um ambiente hostil, onde um não se importa com o outro

“Os comportamentos inadequados, muitas vezes, são clamores que imploram a

presença, o carinho e a atenção dos pais” (CURY, 2003, p. 43-44).

As falas dos participantes revelam o que pensam a respeito:

Os pais são exemplos para os filhos, por isso, é preciso que também reconheçam seus próprios erros e fracassos, e que saibam pedir desculpas. Dessa forma, o filho aprenderá a ter esse comportamento com outras pessoas, sejam elas da família ou não (P1). A atenção também é algo muito importante que devemos destacar entre pais e filhos (P2). Dar carinho e atenção aos filhos faz com que eles não se sintam diminuídos perante os outros (P3). Jovens e crianças apresentam diversos comportamentos, que vão desde a rebeldia à agressividade; outros, pelo contrário, são quietos e silenciosos, chegando até chamar a atenção; Tais comportamentos são formas de dizer que não estão bem, precisam de ajuda, de amigos, de alguém que perceba

seus conflitos internos (P4).

Para os professores e pedagogos da escola, os pais devem demonstrar

carinho, afeto, atenção e respeito incondicional para os filhos, isso não os tornam

superprotegidos, mas é uma atitude saudável que podem ajudá-los a resolver seus

conflitos internos.

Também, no entendimento de Tiba (1996, p. 71), “os pais precisam encontrar

um jeito, seja como for, de dar atenção para o filho no momento em que ele pedir.

Não adianta enchê-lo de atenções quando ele não quer”. Segundo este autor, é

preciso ter em mente que vivemos um momento de transição cultural que afeta

diretamente a estrutura familiar.

Na visão dos participantes, o diálogo e o respeito são caminhos para se sair

da crise, e isso só poderá ser feito caso os pais tenham um mínimo de afeto, de

tolerância e respeito diante das novas situações que surgem a cada dia, e que

acabam atingindo as famílias. “Nas casas falta diálogo e respeito e eles transferem

esse conflito para nós professores” (P6). Outro docente afirmou: “Acredito na

importância do diálogo nas famílias e na escola, para auxiliar na questão da

indisciplina escolar” (P4).

Assim, apesar de todos os problemas, o diálogo é a melhor atitude a ser

colocada em prática, para que seja possível uma boa convivência entre pais e filhos

e professores. “O verdadeiro diálogo requer um entendimento do modo de ser de

cada um. O diálogo verdadeiro abre a possibilidade de ambos mudarem seu ponto

de vista e crescer” (TIBA, 1996, p. 221). Por sua vez, Freire (1987, p. 83) comenta

que “somente o diálogo, que implica um pensar critico, é capaz, também, de gerá-lo.

Sem ele não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação”.

No lar, a criança vive suas maiores sensações de alegria, felicidade, prazer e

amor. É onde experimenta tristezas, desencontros, brigas, ciúmes, medos e ódios.

Uma família sadia sempre tem gratos e prazerosos momentos. A criança deve saber

que ela pertence a uma família e é nela que irá se espelhar para ser um cidadão

sociável e, a família, por sua vez, deveria demonstrar bons exemplos e boas

atitudes, já que é nisso que a criança se espelhará. Conforme o art. 19 do Estatuto

da Criança e do Adolescente – Brasil (1990);

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

A educação familiar é um fator muito importante na formação da criança, e

isso reflete diretamente no processo escolar. O enlace entre a educação intelectual e

a moral é essencial. É por meio da educação que o indivíduo está preparado para

ser inserido numa sociedade, onde a globalização e os indivíduos, pertencentes a

ela, tornaram-se, à medida que os avanços da modernização foram acontecendo,

seres mais exigentes e cientes dos acontecimentos e, sobretudo, passam a ter

consciência do que ocorre à sua volta.

Dando continuidade às reflexões e debates, no segundo encontro, foi

realizada a leitura de um Texto de Rubem Alves intitulado “Há escolas que são

gaiolas e há escolas que são asas” Como leitura complementar, foi realizada a

leitura de um texto proposto por Parrat-Dayan (2012).

Após as leituras e reflexões sobre os textos, os participantes foram instigados

a responder a um questionário sobre as causas da indisciplina no contexto escolar.

O que é indisciplina? Ela acontece na sua escola? Como? Ela acontece em sua

classe? Como? Ela pode ser trabalhada, minimizada ou até extinta da escola?

Como? O que causa a indisciplina? A escola em sua forma de organização contribui

para a ocorrência de indisciplina? O comportamento dos alunos é o mesmo dentro e

forma da escola?

Nas respostas dos professores pesquisados foi possível identificar a

compreensão de que é comum a presença de indisciplina no contexto da escola.

“Indisciplina está relacionada a várias causas que vão desde ao desinteresse do

aluno, ao desrespeito pelas pessoas” (P2); “Ela acontece com frequência na escola”

(P3); “A indisciplina tem muitos fatores, o meio familiar, escolar, a formação do

professor, que nem sempre está preparado para atuar, as condições de ensino e

aprendizagem, a violência social, a mídia” (P5); “Acho que a escola não tem feito

tudo o que pode, é necessário mais projetos de intervenção para ajudar na

problemática, o mundo mudou e a escola continua a mesma” (P8).

Percebe-se que na compreensão dos professores participantes, a indisciplina

não apresenta uma causa única, refletindo uma combinação de causas bastante

complexa, ligando-se às causas externas e internas à escola. Entre os fatores

internos à escola, pode-se citar o ambiente escolar, as condições de ensino e

aprendizagem, as relações humanas, o perfil dos alunos, a capacidade dos mesmos

de adaptação e assimilação, a relação professor-aluno, entre outros. Como causas

externas são possíveis observar nos relatos a influência de manifestações diversas

relacionadas à violência social, do ambiente familiar e da mídia.

Na escola as regras escolares precisam ser claras e não impostas aos alunos.

As manifestações de indisciplina podem ser decorrentes, também, da desobediência

às regras que são impostas e não dialogadas. À escola cabe a função de intervir de

maneira clara, buscando não excluir, mas incluir os alunos (AQUINO, 2003).

Assim sendo, o professor não é o único responsável pela organização da vida

escolar. Esta é uma tarefa de todos os membros da escola, envolvidos no projeto de

incentivar o desenvolvimento intelectual e a vida comunitária. Nesta perspectiva, é

importante que a coletividade se manifeste como o centro configurador da prática

escolar.

Tendo por base tais considerações, tentemos relacionar a interação dos

termos disciplina, indisciplina e educação para a transformação do cidadão,

assumida pelos principais agentes sociais no contexto escolar, visando demonstrar

que a atitude não implicada, sem cuidado ou neutra, pode contribuir para o quadro

de indisciplina nas escolas.

O terceiro encontro teve início com as discussões sobre a relação professor-

aluno. Algumas questões foram colocadas para debate entre os grupos. Os

professores foram instigados a diferenciar disciplina de indisciplina, pontuar o que

caracteriza um aluno indisciplinado, discorrer sobre as causas da indisciplina e em

outros espaços da escola, refletindo, ainda a quem atribuem a responsabilidade pela

indisciplina.

O debate foi muito interessante e contribuiu para reflexões aprofundadas

sobre o assunto. Considerou-se que embora esteja claro para muitos que a escola

não é a redentora da humanidade, muito se espera dela. É na escola que se reúne o

maior número de crianças, jovens adolescentes e onde os mesmos passam uma

boa parte de sua vida. É certo que só o envolvimento e o comprometimento dos

profissionais da educação são muito pouco para conseguirmos superar os efeitos da

indisciplina, já que a escola reflete os problemas sociais e estruturais de nossa

sociedade.

Para os professores a relação-professor aluno tem implicações diretas com a

problemática da disciplina/indisciplina na escola. “Há professores muito autoritários,

e os alunos costumam rejeitar este tipo de professor” (A 3); “Não adianta lamentar

pelos tempos passados, mas é possível conhecer, entender e propiciar novos

tempos a serem bem compartilhados dentro e fora da sala de aula”; (A7); “O

professor não pode se sentir como detentor do saber, a relação professor-aluno

precisa ser de respeito, em que um não se sobreponha ao outro” (A 9); “Para

conseguir a disciplina não basta ameaçar o aluno com uma reprova ao final do ano”

(A10).

É possível compreender dos argumentos explicitados pelos professores, que

a relação professor/aluno é, por definição, provisória porque quando não autoritária,

as diferenças dão lugar à igualdade; e a dependência dá lugar ao respeito. Em

termos de autonomia, o que define a posição de aluno é, essencialmente, o fato de

ele não a possuir em relação às determinadas áreas do saber.

Segundo Garcia (1999), a obediência nem sempre provém de uma relação de

autoridade que pode representar apenas coação. Se o professor apenas consegue

ser obedecido pelo uso de recursos punitivos, entre os quais a reprovação é o mais

forte e inapelável, ele não estará exercendo o papel de uma autoridade.

No quarto encontro refletiu-se sobre a mediação do conflito na escola, em

casos de bullying, como ato infracional. Para tal, foi proposto um debate a partir de

estudo sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que foi socializado por

meio de atividades em grupos, buscando respostas para as causas, as

consequências, os alvos da violência, quem o pratica e o que significa ser vítima

e/ou testemunha deste fenômeno no contexto escolar. Na ocasião, observou-se um

completo envolvimento dos participantes com a tarefa.

O ECA - Lei nº. 8069 de 13 de julho de 1990, em seu art. 5º diz que:

“nenhuma criança ou adolescente de qualquer forma será forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão punida na forma da lei

qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL,

1990).

Apesar do sentimento de impotência que a maioria dos professores tem em

intervir satisfatoriamente nos casos de bullying, é necessário destacar o relevante

papel da escola nas ações de intervenção e prevenção deste fenômeno tão

complexo, ou ainda, enfatizar a função social da mesma na vida dos alunos. Foi

discutido que frente às exigências da profissão, os docentes precisam estar

preparados para contribuir com o desenvolvimento integral dos alunos, ou seja, o

afetivo, o cognitivo, motor e social, incluindo, portanto, a capacidade de intervenções

efetivas no sentido de evitar atitudes de violência.

Segundo Camargo (2009, p. 43), “[...] a escola precisa buscar informações

para combater a violência”. Para tal, é necessário que os profissionais ligados à

educação tenham conhecimento sobre o fenômeno bullying, no sentido de direcionar

ações que possam superar ou mesmo minimizar as situações de violência nas

escolas. O bullying é um grave problema social, mas que pode passar despercebido

por muitas escolas, com impacto muito negativo sobre os agressores, as vítimas e

as testemunhas.

Discutiu-se que a escola não deve ser vista apenas como vítima da violência

externa, isto porque em seu interior, também pode manifestar atos de violência como

os casos de bullying É relevante que todos os envolvidos da comunidade escolar

conheçam ações que sirvam para minimizar o problema. Por isso, refletiu-se que o

bullying não pode ser interpretado pelos professores como brincadeira de criança,

pois em razão da sua gravidade pode implicar em sequelas, tanto para as vítimas

quantos para os agressores.

Por não existir uma palavra na Língua Portuguesa capaz de expressar todas

as situações de bullying possíveis, os professores refletiram sobre algumas ações

presentes no dia a dia da escola que podem caracterizar o bullying, tais como:

“Colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar” (P3); “Considero como prática de

bullying a humilhação, fazer o outro sofrer, discriminar, excluir e sacanear” (P6);

Penso que isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar

também é bullying” (P7); “ Acredito que o fato de tiranizar, dominar, agredir, bater,

chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences, entre outras coisas são práticas

inaceitáveis de bullying” (P10); “Crianças que vivenciam ou testemunham bullying

sofrem traumas, incorporando o medo, a culpa, e a raiva” (P12); “Estas vítimas

podem vir a ter suas vidas infelizes, destruídas, vivendo sempre sob a sombra do

medo, com perda de autoconfiança e confiança nos outros; falta de autoestima e

autoconceito negativo e depreciativo que leva a criança a se evadir da escola” (P13).

De tudo que foi exposto, pode-se inferir que a evasão, o rendimento escolar, o

medo, o sentimento de indefesa, entre tantos outros fatores citados pelos

professores participantes do estudo, colaboram para as manifestações de

indisciplina na escola, marcando-as negativamente para toda a vida, tornando-se

adultos inseguros, depressivos, entre tantos outros fatores negativos que dificultam

as relações humanas.

Tais considerações são úteis para sustentar o interesse e a necessidade de

os professores estarem inseridos nos processos de inovação, não somente como

meros espectadores, mas como geradores de conhecimento, seja sistematizando ou

contextualizando, para o favorecimento de processos de ensino e aprendizagem.

O quinto encontro foi marcado por discussões sobre a indisciplina e a

violência na escola. As reflexões tiveram início com a apresentação do filme “Mestre

com Carinho”. Após o filme, os professores foram organizados em grupo para

debaterem, opinarem e compartilhar experiências.

Alguns depoimentos dos participantes foram reveladores de seu

entendimento a respeito da influência da relação professor-aluno no combate à

indisciplina. “O professor autoritário não contribui para diminuir a violência, só faz

aumentar” (P4); “Nem todos os professores têm facilidade para criar vínculo positivo

com os seus alunos” (P6); “Quando o professor desrespeita o aluno, ele retribui”

(P7).

Os professores demonstram reconhecer o poder que têm em influenciar

positivamente os seus alunos. Daí a importância de atuar com ações educativas que

envolvam a paz, a solidariedade, a tolerância, o respeito às diferenças, a justiça, os

direitos e deveres dos jovens, a cooperação, a amizade e o amor, auxiliando-os a

entender que o preconceito leva à discriminação, à exclusão e à violência. Segundo

Parrat-Dayan (2012), o vínculo afetivo com os alunos contribui para auxiliar os

alunos a superarem uma história problemática e a ter uma visão positiva da vida.

Mantoan (2005, p.25) aponta que a escola é o reflexo da vida do lado de fora.

“O grande ganho, para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes

não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os

preconceitos”. Assim sendo, atitudes positivas de inclusão são auxiliares no combate

à violência na escola. “Os alunos não podem ser discriminados em razão de sua

deficiência, da classe social ou da cor da pele, pois por direito, ocupam um espaço

na sociedade” (P8).

O combate ao preconceito e à discriminação contribui para a construção de

uma nova sociedade, democrática e igualitária. A Constituição Federal Brasileira de

1988 em seu Art. 5º expõe que “todos somos iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

país a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e à

propriedade”.

Admitiu-se a possibilidade de dificuldades por parte de alguns professores em

atuar de maneira satisfatória frente aos casos de bullying ou outros tipos de violência

que ocorrem na escola. Assim, foi discutido que a prevenção da indisciplina no

contexto escolar deve iniciar com a capacitação dos profissionais da educação, a fim

de que estes tenham o conhecimento sobre as estratégias de intervenção

disponíveis. Conforme o entendimento de Middelton-Moz e Zawadski (2007, p. 89) é

preciso “[...] proporcionar às crianças espelhos honestos e sensíveis que pode

mudar suas vidas e, em alguns casos, salvá-las”.

Ao professor cabe o papel de contribuir para a construção do saber

elaborado, desvinculado de qualquer valor que vise à reprodução de preconceitos,

discriminação e subordinação.

5. Considerações Finais

A disciplina constitui-se num processo essencial para a manutenção e

normatização das relações sociais. Todavia, para que se possam garantir as

normatizações de forma respeitosa, é necessária, a observância relativa aos

princípios e valores que precisam ser constituídos coletivamente, de forma a

viabilizar o bem comum e de uma validade da lei para todos, com reconhecimento

desse outro em seus aspectos cognitivos, afetivos, psicomotores e sociais.

No que se refere à questão disciplinar os dados apontam indicativos que

possibilitam a compreensão de que os alunos no ambiente escolar, não podem ser

expostos a circunstâncias degradantes, sobretudo, porque o ser humano precisa ser

aceito em suas diferenças. Para tal, cabe à educação trabalhar no sentido de mudar

os parâmetros da autoridade dos educadores no tocante à permissividade

estabelecida nas relações educativas, viabilizando comportamentos mais práticos e

efetivos para o enfrentamento da indisciplina e manutenção da disciplina no âmbito

escolar.

A família e a escola, como instância responsáveis para educar a criança são

responsáveis no tocante ao estabelecimento de regras e promoção das condições

de aprendizagem das normas coletivas. Todavia, à sociedade formalmente

constituída, cabe em conjunto com as demais instâncias, possibilitar as condições

mais sólidas, para que as relações entre os seus componentes sejam conduzidas

com base nos princípios da igualdade e da justiça.

Merece aqui um aporte à necessária compreensão concernente ao

desenvolvimento dos meios de comunicação e das tecnologias da informação que

têm se tornado muito mais acessíveis às crianças e adolescentes, propiciando o

estabelecimento de valores involuntariamente aos desejos da família e/ou escola e

sobre os quais nem sempre as referidas instâncias têm domínio.

A prática de intervenção permitiu que os professores avançassem no

conhecimento sobre o fenômeno da indisciplina, estando atentos às causas e efeitos

negativos no âmbito escolar. As reflexões foram fundamentais para que os

participantes pudessem ter uma visão mais aprofundada a respeito do tema.

O que pais e professores precisam reconhecer que a tendência à indisciplina

não se constitui em um privilégio das crianças ou adolescentes, ou mesmo dos

indivíduos enquanto filhos ou alunos, mas de uma conduta manifestada nas mais

distintas relações dos sujeitos com os outros, com as instituições e com as leis

sociais.

Na escola, os professores podem contribuir para transformar a cultura da

indisciplina, convidando-os alunos a discuti-la, buscando soluções sempre que

possíveis. Os alunos podem ser socializados para adquirir consciência dos atos

considerados como indisciplina, sendo sensibilizados para praticar ações assertivas.

A escola é uma instituição que pode contribuir para uma reflexão sobre a

importância do direito que toda criança e/ou adolescente tem em receber um

tratamento justo e igualitário, independente da classe social, cor da pele ou de

qualquer outra característica que o diferencie da maioria.. No âmbito escolar, uma

intervenção efetiva é o reconhecido por parte dos educadores de que os alunos são

sujeitos de desejos e sentimentos, mantendo com eles uma atitude observadora e

com vínculo respeitoso.

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