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Rev. Pat. Trop. 8 (3 - 4):169 - 176,1979
Novas cepas deChromobacteriumgoíaniensis isoladas em águas deindústrias de carne, em Goiás *
Márcia Aives Vasconcelos Rodrigues **
RESUMO
Isolamento bacteriológico de águas provenientes de frigoríficos nos municípiosde Catalão e Luziãnia, ambos no Estado de Goiás, utilizadas na sala de matança debovinos, em operações rotineiras de limpeza das instalações, revelou a presença deChromobacterium goianiensis.
Ao constatarem a presença do microrganismo em determinadas regiões deste Es-tado, outros autores (4, 7) descreveram seus achados e, ainda, a importância do géne-ro para a Medicina e a Veterinária.
A autora do presente trabalho, ao encontrar novas amostras da bactéria, faz asua descrição e tenta demonstrar que a referida bactéria não é incomum na região doPlanalto Central brasileiro, solicitando especial atenção das autoridades sanitárias doEstado e do País.
INTRODUÇÃO A importância do germe napatogenia humana e animal sugereAo examinar amostras de águas . ... ,. ,& .
provenientes de várias regiões do raaiores cuidados com a frequênciaEstado de Goiás, constatou-se a pré- com "Jue ele_é lsolado de uma deter'sença de microrganismos com capa- mmaíla região,cidade de pigmentação violácea em Sabe-se que o microrganismoalgumas culturas e subculturas. pode, através de suas portas de en-
O isolamento e a identifica- trada, via oral e parenteral,esta últi-ção procedidos revelaram a presen- ma pelos cortes acidentais, contami-ça de Chromobacterium goianiensis nar o homem e animais e causar in-nas amostras de águas provienientes fecções semelhantes às hepatites a-de frigoríficos de Catalão e Luzia- mebianas ou ao tétano respectiva-nia, em Goiás. mente (6,7).
Trabalho realizado no Depto. de Microbiologia do Instituto de Patologia Tropi-cal da Universidade Federal de Goiás.Professora Colaboradora do Depto. de Microbiologia do Instituto de PatologiaTropical da Universidade Federal de Goiás.
170 Kov. Piu. Trop. 8 (3-4), juljdez. 1979
Desconhecendo algum casode infecção humana nestes f rigor í-l'icos, mas reconhecendo a possibi-lidade de contaminação dos traba-Ihadores destes locais, fez-se a noti-ficação dos casos.
A análise bacteriológica daságuas de outros matadores indus-tr iais , e até mesmo de fontes de á-guas servidas a eles no Estado deGoiás ? em outras regiões brasilei-ras, deve ser realizada sob a super-visão das autoridades sanitárias, porrazões óbvias.
A autora identificou uma es-pécie recentemente descrita, masoutros pesquisadores (4) isolaram oChromobacteriwn violaceum em re-giões próximas à Goiânia, capital doEstado de Goiás e Brasília, capitalFederal.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados para o isola-mento e identificação do microrga-nismo os meios de Mueller-Hintonágar ágar SS, ágar Mac Conkey, Tio-glicolato de sódio de Brener, Muel-ler-Hinton ágar com sangue de coe-lho.
Igualmente, foram realizadostestes bioquímicos em Tríplice açú-car ferro (TSI, Oxoid), provas deIndol, VM, VP, Citrato de Sim-mons, Urease, Fenil-alanina, Motili-dade em ágar semi-sólido, fermenta-ção de carboidratos: glicose, lacto-se, sacarose, manitol, dulcitol, mal-tose, salicina, xilose, arabinose, ce-lobiose, melibiose, rafinose, sorbi-tol, rhamnose e trealose. As provasde fermentação da arabinose e trea-lose não foram realizadas no meiode Hugh-Leifson.
Outros testes bioquímicosforain também observados: DNAse,Lipase em Tween 80, Catalase, Oxi-dase e Caseinase,
Os métodos empregados fo-ram os mesmos descritos por Reis(7), em seu trabalho de tese.
O antibiograma foi realizadosegundo a técnica descrita por Ro-cha & col. (8), utilizando-se de dis-cos de antibióticos", com as seguin-tes drogas: Penicilina natural, Ampi-cilina, Cloxacilina, Carbenicilina, E-picilina, Cefaloridina, Cefalexina,Cefradina, Cefalotina, Tetraciclinas,Cloranfenicol, Rifamicinas, Fosfo-micina, Novobiocina, Eritromicina,Gentamicina e Bacitracina.
RESULTADOS
Os microrganismos isolados,bastonetes Gram-negativos mesofi-lícos, com crescimento em véu, for-mando película violácea no Tioglio-colato de sódio de Brewer e turva-ção total do meio, cresceram tam-bém nos meios- de Mac Conkey eMueller-Hinton, mas não desenvol-veram-se em ágar SS.
Em Mueller-Hinton com san-gue de coelho as colónias violáceasapresentaram-se com extenso halode hemólise.
Em tríplice açúcar ferro hou-ve, em 24 horas, modificação domeio para alcalino, na superfície, eácido na base, sem produção de gásou H2S.
As provas de Indol, VM, Vo-ges-Proskauer e Fenil-alanina foramnegativas. A urease (Christensen)foilentamente positiva - 72 a 96 horas.O citrato de Simmons não foi utili-zado pelo germe em até cinco dias.
Dífco Laboratories.
Márcia A. V. Rodrigues - Novas cepas de Chromobacterium goianiensis 171
O único carboidrato fermen-tado foi a glicose. As provas deDNAse, lipase, catalase, oxidase ecaseinase foram positivas.
O antibiograma realizado emMueller-Hinton ágar, com a utiliza-ção das drogas referidas mostrou asensibilidade do germe a: eritromi-cina, cloranfenicol, gentamicina,fosfocina, novobiocina e tetracicli-na; sensibilidade intermediária à ri-famicina e resistência às penicilinas,cefalosporinas e bacitracina.
Os resultados obtidos sãoconfrontados com aqueles encon-trados por Reis (7) (Tabela 1).
A prova de caseinase das duasamostras, isoladas e reconhecidasneste trabalho, node ser vista na fi-gura 1.
COMENTÁRIOS
Num período relativamentecurto, ou seja, em dois anos, foramisolados de seis municípios goianos,amostras de Chromobacteriwn,
A importância do género paraa medicina e veterinária é patente.
O género é pouco conhecidoem outros países, tendo sido relata-dos casos de infecção fatal humana(7), nos Estados Unidos, França,Tailândia, Malásia, Vietnam e Da-kar.
As infecções animais são tam-bém muito discutidas nas regiões ci-tadas e em outras, principalmenteaquelas banhadas pelo mar da China(6).
Até agora este germe só foi i*solado no Estado de Goiás e em á-rea bem delimitada (Figura 2).
As distâncias entre as cidadesmais longínquas onde os germesforam encontrados não superam amarca de 600 km. A densidade
populacional, para a região toda, éainda baixa, de 9,64 hab./km2 (da-dos do IBGE 1971); todavia é a re-gião em mais amplo progresso noCentro-Oeste brasileiro (1).
Necessária se faz uma açãomais direta das autoridades sani-tárias para um levantamento dascondições de saneamento básicoda região e interferência em lo-cais de contaminação, a fim de quepossa ser evitada uma disseminaçãodeste e de outros germes patogéni-cos, que poderiam ser causa de sur-tos infecciosos, até mesmo fatais.
Os germes isolados, em núme-ro de dois, apenas diferem na capa-cidade de utilização do Citrato deSimmons. Acredita-se, que as a-mostras possam ser patogênicas oque necessita de comprovação emtrabalho ulterior, já programado.
SUMMARY
Bacteriológica! culturees ofwater used for slaughterhousecleaning made possible the isola-tion of C. goianiensis from twocounties (Catalão and Luziânia)in the State of Goiaz.
The strains isolated arecharacterized by several parame-ters and it is emphasized the factthat this bactéria is not uncomnonin Central Brazil; this fact requiresspeciai attention from Public He-alth authorities.
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172 Kev. l > a i . rrop.8(3-4j,jul./dcz.
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1'rovas de caseinase com as amostras encontradas.
A - Amostra de Luziânia.
B - Amostra de Catalão.
M;Írcia A. V. Koilrittui;s - Nov;is ccpu.s de í'hmm<>haftfri
Fig. 2 — Distribuição geográfica de Chromobacterium sp. no Estado tle Goiás.
Estado de Goiás: Lugares onde as amostras de águas revelaram a presençade Chromobacterium sp.Municípios: A - Goiânia
B - HidrolândiaC - IpameriD - CatalãoE - LuziâniaF -Cavalcante
Fontes: IBGE, 1971; Reis, 1975 e Freitas, 1975.
l 74 Rev. Pui. Irup. 8 (3-4),jul./dez. 1979
TABELA l
Resultados confrontantes entre as reaçoes bioquímicas observadas en-tre Chromobacterium goianiensis (Reis, 1975) e as amostras isoladas e i-dcntificadas presentemente:
Chromobacteriumgoianiensis(Reis, 1975)
Chromobacteriumgoianiensis(Rodrigues, 1977)
Crescimento em Mac ConkeyCrescimento em agar SSHemólise em agar sangueComportamento em tríplice açúcar
ferro
IndolVMVPCitrato SimmonsUreáse ChristensenDNAseCatalaseOxidaseFenil-alanina desaminaseCaseinaseFermentação da glicoseMaltoseSacaroseLactoseManitolDulcitolCelobioseRafinoseMelibioseSalicinaXiloseMotilidade em agar semi-sólidoLipase em Tween 80
Alk/ACH2S-Gás-
Alk/ACH2S-Gás
+ (72-96 hs) (lento, 72 a 96 hs)+ (72-96 hs) +
+ (sem gás) + (sem gás)
Márcia A. V. koilri^ucs- NOV:IN cepas de Chmmobacterium goianiensis 175
TABELA 2
Dados comparativos entre os resultados de antibiogramas realizadosnas mesmas condições entre Chromobacterium goianiensis (Reis, 1975) eChromobacterium goianiensis (Rodrigues, 1977), utilizando as mesmasdrogas:
Penicilina naturalAmpicilinaCloxacilinaCarbenicilinaEpiciliriaCefalotinaCefaloridinaCefalexinaCefradinaTetraciclinasCloranfenicolEritromicinaGentamicinaFosfomicinaNovobiocinaBacitracinaRifamicinasNitrofurantoínasSufametoxazol c/ TrimetoprinÁcido Nalidíxico
S - Sensível1 = IntermediárioR = ResistenteNT - Não testado.
Chromobacteriumgoianiensis
(Reis, 1975)
RRRRRRRRRSSSsN TNTNTNTSIS
Chromobacteriumgoianiensis
(Rodrigues, 1977)
RRRRRRRRRSSSSssssNTNTNT
176 Rev.Pat.Trop.8(3^),jul./dez. 1979
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