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1Petronila Rocha-Pereira, 2010
Infecção Urinária
O Papel do Laboratório no Diagnóstico e no Tratamento
2
• Diferenças entre homens e mulheres
• No sexo masculino a uretra inicial é envolvida pela glândula
prostática. Nos indivíduos “normais” a urina flui no sentido
descendente havendo mecanismos valvulares que previnem a inversão
em sentido inverso. A uretra é comprimida e estende-se do colo da
bexiga até ao hiato urinário
• No sexo feminino, a principal diferença do sexo masculino é o
tamanho da uretra. É muito mais curta na mulher, sendo o seu maior
eixo quase paralelo à vagina
• A micção é um acto reflexo mas voluntário na medida em que a
contração do musculo vesical e o relaxamento do esfincter uretral, o
qual permite a continência urinária, podem ser controladas pela
vontade Petronila Rocha-Pereira, 2010
Aparelho Urinário
3Petronila Rocha-Pereira, 2010
Aparelho Urinário
O que é o aparelho urinário? Qual a sua função?
Principal função
Excretar do organismo as substâncias nocivas ou já degradadas. Os
seus órgão “nobres” são os rins, que filtram sangue (filtração
glomerular) para produzir a urina, a qual é transportada pelos ureteres
para a bexiga, onde é armazenada. Periodicamente a bexiga é
esvaziada e a urina sai para o exterior, através da uretra (micção)
4
• São as infecções mais comuns no meio clínico-laboratorial e médico
• Os coliformes são responsáveis pela maioria das infecções urinárias
não hospitalares e não complicadas, sendo a Escherichia coli a mais
comum
• São sensíveis a uma ampla variedade de antibióticos administrados
por via oral com resposta rápida.
• As infecções urinárias hospitalares são também causadas por
bactérias Gram + e resistentes e pode ser necessária antibioterapia
endovenosa. A % de Escherichia coli é cerca de 50% enquanto que no
ambulatório pode apresentar prevalência de 70-85%.
• As infecções urinárias podem ser responsáveis, quando não tratadas,
por lesões no rim Petronila Rocha-Pereira, 2010
Infecções Urinárias
5Petronila Rocha-Pereira, 2010
O que é uma infecção urinária?
• No aparelho urinário, ao contrário do que se passa
noutros aparelhos em comunicação com o meio exterior
não existem quaisquer micróbios
• No intestino e na vagina existem agentes microbianos – a
respectiva flora – os quais, nesse meio, não são
habitualmente perigosos, não provocam infecção, mas no
aparelho urinário podem causar
6Petronila Rocha-Pereira, 2010
O que é uma infecção urinária (IU)?
• Infecção urinária pode definir-se como a invasão e
multiplicação de bactérias no aparelho urinário (na urina) e
a respectiva inflamação causada na bexiga e/ou nos rins
• As bactérias mais frequentes causadoras de infecção do
tracto urinário são a Escherichia coli, a Klebsiella e o
Proteus, todas componentes da flora intestinal e muitas
vezes presentes no meio vaginal
7Petronila Rocha-Pereira, 2010
Quais as causas de uma infecção urinária?
• A via de infecção mais frequente é a via ascendente
•As bactérias existentes no recto, ânus e vagina penetram
ascendentemente no aparelho urinário através da uretra
Não havendo normalmente micróbios no tracto urinário,
como e porquê podem aí surgir e multiplicar-se, conduzindo à
infecção?
8Petronila Rocha-Pereira, 2010
Quais as causas de uma infecção urinária?
Os hábitos e as doenças que comprometem estes
mecanismos de defesa ou estimulam a agressividade das
bactérias podem ser factores predisponentes
Assim:
• A diminuição da ingestão de líquidos, condicionando
hiperconcentração urinária
• As doenças que provocam obstrução urinária
• Alguns procedimentos ou tratamentos agressivos com
alteração da flora microbiana ou invasão do tracto urinário
9Petronila Rocha-Pereira, 2010
Quais as causas de uma infecção urinária?
Porque: no sexo feminino existe o reservatório vaginal,
junto à uretra e porque, sendo a uretra muito curta e sem a
protecção de secreções (ao contrário do homem, que tem
secreções prostáticas)
10Petronila Rocha-Pereira, 2010
Qual é a frequência da infecção urinária?
Muito variável
IdosoInfância
No caso de malformações
congénitas há doenças
próprias da infância
(atrofias epiteliais, tumores da
prostata e prostatites, no
homem) podem também
aumentar a frequência de IU
Mas é sobretudo nas mulheres adultas, sexualmente
activas e grávidas que as IU são mais frequentes
11Petronila Rocha-Pereira, 2010
Que outros factores podem favorecer a manutenção e agravamento das IU?
• Todas as doenças que provocam obstrução e estases urinárias
• O refluxo de urina da bexiga para os rins
• Os cálculos renais
• Corpos estranhos (incluindo algálias)
• Tumores e alteração do funcionamento da bexiga
Poderão também existir doenças que são factores de agravamento
como: as doenças que causam imunodepressão, a diabetes e o
abuso de analgésicos, a obstrução, estase e refluxo urinários,
os quais podem condicionar, para além de sintomas de maior
gravidade, consequências importantes para a função renal
12Petronila Rocha-Pereira, 2010
Infecção urinária na grávida e na infância
Malformações congénitas detectáveis/não detectáveis –
com consequências no rim em crescimento
1) Infecção urinária na grávida com
possibilidade de Partos Prematuros
13Petronila Rocha-Pereira, 2010
Quais os sintomas de uma Infecção urinária?
-No Homem as infecções urinárias têm, quase sempre, um
factor predisponente obstrutivo e um componente de
prostatite frequente com infecção febril
- A presença de algumas bactérias alcanizadoras do meio
(Proteus) pode conduzir à formação de cálculos urinários
(litiase)
14Petronila Rocha-Pereira, 2010
- Se a infecção é na bexiga, peso na zona baixa do
abdómen, sensação de dor e ardor ao urinar, micções
frequentes, urina apresenta-se turva e com cheiro
- Se a lesão é renal, dores lombares, febre elevada
Quais os sintomas de uma Infecção urinária?
15Petronila Rocha-Pereira, 2010
Infecção urinária - Prevalência
- No ambulatório
Escherichia coli 70 – 85%
Proteus spp
Klebsiella spp
Enterococcus faecalis
Staphylococcus sp
- No Hospital
Escherichia coli 50%
Enterobacter sp
Serratia sp
Pseudomonas sp
Bactérias Gram +
- Pacientes idosos em unidades de acolhimentoEscherichia coli 50 – 60%
16Petronila Rocha-Pereira, 2010
Infecção urinária - Etiologia
- Depende de:
Área geográfica
Sexo e idade do doente
Tipo de infecção urinária
Local e modo de colheita
Presença ou ausência dos factores de risco
17Petronila Rocha-Pereira, 2010
Infecção urinária – Factores de risco
Susceptibilidade do Hospedeiro ↔ Virulência da Bactéria
Inerentes ao Hospedeiro Sexo – sexo feminino > sexo masculino
Idade > 60 anos
Imunossupressão
Factores genéticos
Alterações do tracto genitourinário
Inerentes à Bactéria
Factores de colonização, flagelos, adesinas
Resistência a antibióticos
18Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária
Diagnóstico
• Diagnóstico Clínico Sintomatologia
• Diagnóstico Laboratorial Exame microbiológico de urina
Confirmação do diagnóstico clínico
Exame Microbiológico
de urina asséptica
Urocultura
Presença de Bacteriuria
Presença de Leucocitúria
> 104 /mL ou = 5 Leucócitos/campo
19Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária
Urina
Produto fácil de obter
Normalmente é estéril
É um bom meio de cultura
Pode conter pequeno nº de bactérias provenientes da flora
normal da uretra
Para distinguir Contaminação de Infecção é necessário a
realização de exames quantitativos de urina
20Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária
Exame Microbiológico de Urina
Colheita
Transporte e conservação
Exame microscópico do sedimento
Exame cultural
Identificação do germen isolado
Teste de sensibilidade aos antibióticos
21Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária
Colheita de Urina
Feita pela manhã, preferencialmente a 1ª micção ou após
retenção vesical de 2 ou 3 horas
Após lavagem do meato urinário, com água e sabão e antes
de qualquer terapêutica antimicrobiana
Vários tipos de Colheita
Colheita por jacto
Colheita com saco colector (com tempo limite de 30’)
Colheita com doente algaliado
Colheita por sonda vesico-transuretral
Colheita por punção suprapubica
22Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Transporte e conservação das Amostras
A urina deve ser transportada ao Laboratório (sob refrigeração) o mais rapidamente
possível, uma vez que deve ser semeada até uma hora após a colheita
Se não for possível, deverá ser refrigerada a 4 ºC, até 24 horas
As amostras, sempre que possível, devem ser acompanhadas de dados referentes a:
1. Proveniência
2. Tipo de colheita efectuada
3. Identificação do doente
4. Situação Clínica / Factor de risco
5. Antibioterapia préviaPorquê?
• Porque orientam o processamento da amostra: escolha dos meios de
cultura, temos de incubação e antibióticos a testar
• Porque permitem a correcta interpretação dos resultados obtidos
23Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Exame Microscópico
• Exame Microscópico directo
Observação a fresco do
sedimento urinário com
objectiva de 40x
• Células
• Leucócitos
• Eritrócitos
• Bactérias
• Exame Microscópico após coloração
• Observação de gota de urina com coloração de Gram
• Observação do sedimento urinário após coloração de Ziehl-Neelsen
Conhecimento das características dos microorganismos presentes
São procedimentos de Triagem e não de Diagnóstico
24Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Exame Cultural
Método de referência no diagnóstico de infecção urinária
Confirma o diagnóstico clínico
Fornece uma estimativa viável do número de microorganismos
viáveis por mL de urina
Fornece informação sobre o género, espécie e fenótipo do
agente etiológico
25Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Importância do Exame Bacteriológico
• Confirmação da infecção urinária e escolha do antibiótico adequado
• Conhecimento dos agentes etiológicos mais frequentes por área geográfica
• Conhecimento dos padrões de sensibilidade e evolução das resistências
bacterianas aos antibióticos de uso comum, em cada área geográfica
Diminuição dos insucessos Terapêuticos
Imprescindível
• Nas infecções urinárias complicadas
• Nas infecões urinárias recorrentes
• Nos casos de insucessos terapêuticos anteriores
26Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Meios de Cultura
Meios não selectivos
Gelose Sangue
Gelose CPS ID3
Meios selectivos
(para bactérias Gram -)
Gelose MacConkey
Gelose Sangue
Este meio é cromogénio para isolamento e identificação de bactérias com
substâncias específicas das actividades enzimáticas de algumas bactérias
Permite: A contagem de colónias mediante método de sementeira
padronizado
Identificação presuntiva de alguns grupos de bactérias
27Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Sementeira (Técnica quantitativa – métodos padronizados)
Exemplos
− Método da ansa calibrada: sementeira por estrias finas com uma
ansa calibrada de 10 µL
− Método da diluição: sementeira por espalhamento de 0,1 mL de
urina diluida a 1:100 em água destilada estéril
28
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Incubação
• Incubar em atmosfera de aerobiose a 37 ºC, 18 – 24 horas
• Contar colónias
Exemplo
Contagem de colónias Interpretação da Bacteriuria
1 Colónia 103 UFC/mL
10 Colónias 104 UFC/mL
100 Colónias 105 UFC/mL
< 104 UFC/mL – Ausência de contaminação
> 104 e < 105 UFC/mL – Provável contaminação
> 105 UFC/mL – Provável infecção
Petronila Rocha-Pereira, 2010
29Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
• Método automatizado e padronizado de identificação e
antibiograma
• Após preparação, padronização e diluição do inócuo
• Permite a determinação de CMIs e os prováveis
mecanismos de resistência aos antibióticos da bactéria
identificada (antibiograma)
30Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Método Manual tradicional (Método de Kirloy-Bauer)
31Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Critérios de Diagnóstico de IU (IDSA/ESCMID)
• Cistite aguda não complicada na mulher 10 GB/mm3
103 UFC/mL
• Pielonefrite aguda não complicada 10 GB/mm3
103 UFC/mL
• IU complicada com ou sem pielonefrite 10 GB/mm3
105 UFC/mL (mulheres)
104 UFC/mL (em homens com
cataterismo prolongado)
• Bacteriuria assintomática 10 GB/mm3
103 UFC/mL (em duas uroculturas consecutivas)
32Petronila Rocha-Pereira, 2010
O Laboratório na Infecção urinária - Diagnóstico
Interpretação dos Resultados
A valorização dos resultados deverá ter em conta uma
série de parâmetros, tais como:
Método de colheita de urina
Tipo de doente (urológico, geriatrico, etc)
Sintomatologia
Observação microscópica do sedimento urinário
Resultados de exames bacteriológicos anteriores
Petronila Rocha-Pereira, 2010 33
O Laboratório no Diagnóstico
Diagnóstico
Sedimento urinário e urina II
Urocultura com antibiograma (ou TSA)
34Petronila Rocha-Pereira, 2010
Como diagnosticar laboratorialmente uma IU?
No Laboratório
A análise bacteriológica de uma urina será positiva quando
existe um número de bactérias (urina semeada em meios
apropriados) clinicamente significativo, 105 UFC/mL, com
identificação da estirpe bacteriana
Teste de sensibilidade a antibióticos
Petronila Rocha-Pereira, 2010
Laboratório – Ajuda no tratamento
• A maior parte das resistências a antibióticos ocorre pelo
uso inadequado de medicação terapêutica
• Deve, sempre que possível, administrar-se o antibiótico
mais adequado à situação
• O antibiótico deve-se adequar à bactéria em causa, com
menos efeitos colaterais e na dose adequada
36Petronila Rocha-Pereira, 2010
Tratamento
• O antibiograma é, assim, fundamental e decisivo na
instrução da terapêutica
• Na gravidez e na infância encontram-se alguns problemas
na escolha do antibiótico, assim como nas prostatites,
devido à especificidade de entrada de alguns antibióticos
na próstata
37Petronila Rocha-Pereira, 2010
Infecção urinária
Gravidez – muitas vezes assintomática e urocultura (+)
Cistite – sintomatologia característica com bacteriuria e
urocultura (+)
Pielonefrite – sintomatologia mais específica e análises
laboratoriais mais completas: hemograma, proteína C
reactiva, ionograma, provas da função renal e urocultura (+)
38Petronila Rocha-Pereira, 2010
Infecção urinária - Conclusões
Assim, as infecções urinárias podem ser:
– Agudas, Crónicas ou Recorrentes (recidivantes)
1) Por recidiva pelo micróbio que causou a 1ª infecção e apenas
“adormeceu” com a antibioterapia
2) Por reinfecção (90%) em que é outro micróbio diferente do da 1ª
infecção, já curada, que provocou a IU, por exemplo, em casos
de mecanismos de defesa diminuídos