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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE FÍSICA TEÓRICA E EXPERIMENTAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA
INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO DIPOLAR NAS FASESMAGNÉTICAS DE NANOPARTÍCULAS ESFÉRICAS COM
ESTRUTURA NÚCLEO@CAMADA
FRANCISCO CÉSAR DE MEDEIROS FILHO
NATAL (RN)FEVEREIRO - 2016
FRANCISCO CÉSAR DE MEDEIROS FILHO
INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO DIPOLAR NAS FASESMAGNÉTICAS DE NANOPARTÍCULAS ESFÉRICAS COM
ESTRUTURA NÚCLEO@CAMADA
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Física do Departamento de Física Teórica e Experimental da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito
parcial para a obtenção do grau de Doutor em Física.
Orientador: Dr. Artur da Silva Carriço
NATAL (RN)FEVEREIRO - 2016
Setor de Informação e Referência
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
Medeiros Filho, Francisco Cesar de.
Influência da interação dipolar nas fases magnéticas de nanopartículas
esféricas com estrutura núcleo@camada / Francisco Cesar de Medeiros Filho. -
Natal, 2016.
127 f. : il.
Orientador: Artur da Silva Carriço.
Tese (Doutorado em Física) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Física.
1. Núcleo@Camada - Tese. 2. Campo Dipolar - Tese. 3. Histerese - Tese. I.
Carriço, Artur da Silva. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 537.622
A todos que estiveram ao meu ladoem especial ao meu bom DEUS.
Agradecimentos
Venho aqui expressar meus sinceros agradecimentos a todas às pessoas que de forma
direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho:
• Ao meu bom Deus, por me conceder paz, saúde e proteção, além de me agraciar com
o alcance dos objetivos almejados. Às vezes acho que agradecimento é pouco;
• Ao meu orientador Prof. Artur da Silva Carriço, pelo seu acolhimento e exemplo de
determinação, carater, conduta e coragem para enfretar as adversidades.
• A Prof. Ana Lúcia Dantas, pelas discussões, incentivo e exemplo profissional;
• Aos colegas da Pós-Gradução, pela amizade e agradável convivência durante a mi-
nha permanência neste departamento, principalmente aos da sala César Lattes (Leo,
Jânio, Heydson, Humberto, Cida, Francis, Sergio e Claudivan) e também aos da sala
Jaime Tiomo (Tarcísio, Cristovão, Neto, Pierre, Bruno Lustosa, Nilade e Biageone)
além de outros como Isaac Félix, Mackson Mateus, Dgerson e alguns que já defende-
ram como Gladstone e Madson;
• A todos do GMMM (Grupo de Magnetismo e Materiais Magnéticos) sem nenhuma
exceção e em especial ao prof. Gustavo Rebouças;
• Aos professores do DFTE, que contribuíram de forma direta e indireta para minha
formação acadêmica e científica;
• A Dona Celina, secretária da Pós-Graduação, pelas suas informações;
• Aos meus pais Francisco César de Medeiros e Tânia Regina Fernandes Maia de Me-
deiros, por sempre terem me proporcionado uma boa educação, mesmo com muitas
dificuldades, além das preocupações, do carinho e do incentivo;
• A minha querida e amada esposa Katiane Estevam Gurgel de Assis por ter me apoi-
ado mesmo quando sentia a minha falta em seu convívio. Pessoa essa, a qual com-
partilhei muito das minhas alegrias, tristezas e conquistas;
i
• Agradeço aos meus irmãos André Fernandes e Lara Graziela,
• A minha tia Maria de Fátima Fernandes e seu filho Arthur Régis Fernandes da Fon-
seca pelo apoio que recebi em sua residência durante todo o tempo que estive em
Natal e pelo carinho que os mesmos deixam claro ter por minha pessoa;
• Aos meus avós maternos Deusdete Fernandes Pimenta ("in Memorian") e Geruza
Maia Cavalcante, que mesmo distantes da minha pessoa nunca esqueceram de me
incluir em suas orações;
• A minha avó paterna Graziela Fernandes de Medeiros ("in Memorian"), pelo apoio
em Fortaleza quando ia de viagem para os congressos e também pelas suas orações;
• Aos Tios e Tias que torceram por mim, em especial a tia Fernanda que muito me
ajudou com as correções textuais;
• Finalmente agradeço a CAPES, pelo apoio financeiro durante boa parte da minha
vida acadêmica, a UFERSA - Campus Caraúbas por ter me liberado nos últimos dois
anos das atividades docentes e a UFRN pelo compromisso de formar profissionais
com qualidade;
ii
ResumoAs nanopartículas magnéticas tipo núcleo@camada tem despertado a atenção de vários
pesquisadores devido a grande aplicabilidade que estas oferecem. A possibilidade de
combinar diferentes funcionalidades de materiais magnéticos as torna peça chave em vá-
rias áreas como na informática, ímãs permanentes e sistemas biomédicos. Essas nano-
partículas são controladas por meio de propriedades intrínsecas dos materiais do núcleo
e da casca bem como das interações entre eles, além dos efeitos de tamanho e geome-
tria. Assim, foi desenvolvido nesta tese um estudo teórico acerca da contribuição da in-
teração dipolar entre materiais de propriedades magnéticas diferentes em nanopartículas
núcleo@camada convencionais de geometria esférica. Os materiais analisados foram a
CoFe2O4, MnFe2O4 e CoFe2 em várias combinações e tamanhos. Os resultados apontam
que o impacto do campo dipolar do núcleo sobre a camada, faz com que esta reverta
sua magnetização precocemente, antes do núcleo, em nanopartículas de CoFe2O4(22nm)
@CoFe2(2nm), causando com isso, uma diminuição no campo coercivo de 65% em com-
paração com as nanopartículas simples de CoFe2O4 (HC=13.6 KOe) de mesmo diâmetro.
A alta anisotropia do material do núcleo em nanopartículas convencionais torna-o uma
fonte de campo dipolar estável sobre a camada, que varia numa escala de comprimento
da ordem do raio deste núcleo. Além disso, o impacto do campo dipolar é reforçado pelas
restrições geométricas e pelas propriedades magnéticas de ambos os materiais. Em siste-
mas com núcleo revestido com uma fina camada de espessura inferior ao comprimento de
troca, a interação da interface pode prender a reversão da camada, ocorrendo assim, uma
reversão uniforme da magnetização. Contudo esse efeito só é pertinente nos sistemas em
que os efeitos do campo dipolar são fracos comparados com a interação de troca.
Palavras-chave: Núcleo@Camada. Campo Dipolar. Histerese.
iii
AbstractBi-magnetic core@shell nanoparticle has attracted attention several researchers because
great applicability that they offer. The possibility of combining different functionalities
of magnetic materials make them a key piece in many areas as in data processing perma-
nent magnets and biomagnetics sistems. These nanoparticles are controlled by intrinsic
properties of the core and shell materials as well as the interactions between them, besi-
des size and geometry effects. Thus, it was developed in this thesis a theoretical study
about dipolar interaction contribution between materials different magnetic properties
in bi-magnetic core@shell nanoparticles conventional spherical geometry. The materials
were analyzed CoFe2O4, MnFe2O4 e CoFe2 in various combinations and sizes. The results
show that the impact of the core dipole field in the shell cause reverse magnetization early
its, before of the core, in nanoparticle of CoFe2O4(22nm)@CoFe2(2nm), thereby causing
a decrease coercivity field of 65% in comparection with simple nanoparticle of CoFe2O4
(HC=13.6 KOe) of same diameter. The large core anisotropy in conventional nanoparti-
cle makes it the a stable dipolar field source in the shell, that varies length scale of the
order of the core radius. Furthermore, the impact of dipolar field is greatly enhanced by
the geometrical constraints and by magnetics properties of both core@shell materials. In
systems with core coated with a thin shell of thickness less than the exchange length, the
interaction interface can hold reversal the shell occurring an uniform magnetization rever-
sal, however this effect only is relevant on systems where the dipole field effects is weak
compared with the exchange interaction.
Keywords: Core@Shell. Dipolar Field. Hysteresis.
iv
LISTA DE FIGURAS
2.1 Número de publicações por ano sobre nanopartículas c@s durante o pe-
ríodo de 1994 até maio de 2011 [1]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 Figura esquemática de diferentes nanopartículas c@s: (a) nanopartículas
c@s esféricas; (b) nanopartículas c@s hexagonais; (c) pequenos núcleos de
múltiplos materiais revestidos por um único material; (d) materiais nano-
matryushka; (e) núcleo móvel dentro do oco do material de revestimento
[1]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3 Dependência do campo de reversão (Hr) com a espessura da casca para
diferentes raios do núcleo em sistemas núcleo@camada convencionais e
inversos[2]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4 Representação esquemática de possíveis nanoestruturas c@s otimizadas
para (a) h@s e (b) s@h. Mostrados em verde, vermelho com setas azuis e
em amarelo, as contrapartidas dos materiais magneticamente macio, duro
e não-magnético, respectivamente [2] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.5 (a) Nanoestrutura tipo c@s de mídia padronizada. (b) Simulação micro-
magnética da dependência do campo de reversão sobre a área de superfície
normalizada entre a camada macia e a camada dura [2]. . . . . . . . . . . . . 15
v
2.6 Representação esquemática de uma nanopartícula simples de CoFe2O4,
uma c@s de CoFe2O4(9nm)@MnFe2O4(3nm) e uma nanopartícula simples
de MnFe2O4. Apesar dos dois últimos têem o mesmo diâmetro os valores
de SLP são diferentes [3]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.1 Imagem esquemática de uma histerese, típica de um material ferromag-
nético mostrando como sua magnetização varia em função da intensidade
do campo magnético aplicado sobre ele. Também são mostrados detalha-
damente os pontos da magnetização de saturação, MS , da magnetização
remanente, MR, e do campo coercivo, HC , assim como o comportamento
dos momentos magnéticos em cada um desses pontos [4]. . . . . . . . . . . 21
3.2 Imagem esquemática que mostra o vetor S (em vermelho), os versores Sx,
Sy e Sz (em laranja) e os ângulos α, β e γ (em azul) que darão origem aos
cossenos diretores cosα, cos β e cos γ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3 Figura esquemática da representação entre um momento magnético i e seu
vizinho j, onde ri,j representa a distância entre eles. . . . . . . . . . . . . . . 26
3.4 Imagem esquemática representando os primeiros vizinhos numa estrutura
bcc ou fcc com parâmetro de rede a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.5 Comportamento da energia de troca de acordo com o ângulo de abertura
entre o momento magnético i e o momento vizinho j. . . . . . . . . . . . . . 35
3.6 Imagem esquemática da representação do sistema magnético estudado. O
índice i representa a célula na qual se quer conhecer os campos que atuam
sobre ela; j representa os vizinhos responsáveis pelo campo de troca sobre
i, enquanto k representa os vizinhos dipolares da célula i. . . . . . . . . . . 38
vi
3.7 Figura esquemática do perfil de todos os termos do campo local que atuam
em cada célula. O índice i representa a célula na qual se quer conhecer os
campos que atuam sobre ela, j representa os vizinhos responsáveis pelo
campo de troca sobre i, enquanto k representa os vizinhos dipolares da cé-
lula i. Perceba que no campo de interface aparecem quatro setas. Essas se-
tas não representam momentos diferentes e sim o mesmo momento só que
em direções diferentes, desde uma interface antiferromagnética até uma in-
terface ferromagnética. Aqui na figura foram representadas apenas quatro
possíveis direções identificadas pelas letras a), b), c) e d). . . . . . . . . . . . 43
3.8 Figura esquemática mostrando a metodologia do campo médio local auto-
consistente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.1 Estrutura cristalina de uma ferrita cúbica (a) sítios tetraédricos; (b) sítios
octaédricos; (c) célula unitária; (d) estrutura dos dois cubos inferiores [5]. . . 50
4.2 Figura esquemática dos sítios A e B na estrutura cristalina de uma ferrita.[6]. 51
4.3 Distribuição eletrônica do ferro e análise do Fe2+ e Fe3+ segundo a regra de
Hund. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.4 Distribuição eletrônica dos momentos magnéticos de ”spin” para os íons
Fe2+ e Fe3+ numa célula unitária de Fe3O4. Cada seta representa a orienta-
ção do momento magnético. [7]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.5 Quadro resumo com os momentos magnéticos de ”spin” líquido para al-
guns íons que podem substituir o ferro na célula unitária de Fe3O4. [7]. . . 56
4.6 Estrutura cristalina cúbica de corpo centrado da liga Fe-Co. Aqui percebe-
se que todos os primeiros vizinhos do Fe são átomos de Co, consequente-
mente todos os átomos de Co tem como primeiros vizinhos átomos de Fe.
[8]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.7 Momentos magnéticos em função da proporção de cada metal (Fe-Co). [8]. . 59
vii
4.8 Representação esquemática das estruturas c@s dura/macio (tradicional) e
macio/duro (inversa). Representação gráfica simples da curva de histe-
rese de materiais macio e duro e suas possíveis combinações: acoplado por
troca (”exchange coupled”) ou acoplados por troca ”spring magnetic”. A
magnetização de saturação, MS , a magnetização remanescente, MR e a co-
ercividade HC , são indicados na curva macio-FM . [2]. . . . . . . . . . . . . 61
4.9 Representação esquemática do sistema “exchange spring” em uma bica-
mada magnética de Sm-Co/Fe [9]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.1 Figura esquemática mostrando cada parte da nanopartícula c@s (núcleo a
esquerda, casca ou camada no centro e nanopartícula c@s a direita) com-
posta por células de simulação de estrutura cúbica. . . . . . . . . . . . . . . 67
5.2 Figura esquemática mostrando uma esfera uniformemente magnetizada re-
presentando uma nanopartícula simples com eixos de coordenandas no
centro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.3 Figura esquemática das linhas de campo de H dentro e fora de uma esfera
uniformemente magnetizada. Na parte interna as linhas de campo estão
contrárias ao sentido da magnetização representando o fator desmagneti-
zante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
5.4 Histerese da ferrita de cobalto pura com 11 nm (a) e 42 nm (b) de diâmetro
mostrando um Hc=13,6 kOe e Hc=12,8 kOe respectivamente. (c) e (e), re-
presentam o comportamento da magnetização nos pontos indicados pelas
setas em (a) e (b). Já (d) e (f) mostram o comportamento do campo dipolar
das respectivas nanopartículas para os mesmos pontos. A barra de cores em
(c) e (e) indica o ângulo dos momentos magnéticos com o plano, enquanto
que em (d) e (f) indica a intensidade do campo dipolar para as respectivas
nanopartículas também no plano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
viii
5.5 Gráfico da ferrita de cobalto pura mostrando que o campo de reversão so-
fre uma pequena diminuição a medida que o diâmetro da nanopartícula
aumenta. Os pontos (I) e (II) indicam os campos de reversão das curvas de
magnetização (a) e (b) da figura 5.4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.6 A histerese (a) é da nanopartícula de CoFe2O4(22 nm)@CoFe2(2 nm) e as
outras duas, (b) e (c), são histereses do núcleo e da casca respectivamente.
Essas duas últimas é possível fazer por tratar-se de uma simulação numérica. 78
5.7 Comportamento do campo dipolar do núcleo sobre a casca numa nanopar-
tícula c@s de CoFe2O4(22 nm)@CoFe2(2 nm). Tal comportameno dar-se na
parte superior da figura 5.6(a), onde o campo externo é negativo. Ao lado,
está a barra de cores a qual indica a intensidade do campo dipolar em cada
região da c@s. O eixo de coordenadas está no centro representando o plano
onde a componente z varia com θ, assim em θ = 0 e θ = π têm-se os polos
da c@s e em θ = π2
tem-se o equador da nanopartícula. . . . . . . . . . . . . . 79
5.8 Curvas de histerese comparando o comportamento de duas nanopartícu-
las com o mesmo núcleo de CoFe2O4(30 nm) e cascas diferentes, uma com
MnFe2O4 (esquerda) e a outra com CoFe2 (direita), ambas com 6 nm. As
curvas foram feitas considerando uma forte energia de troca de interface
da ordem do material do núcleo (A∗ = 0.8). Os pontos a), b), c) e d) serão
explicados mais adiante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
5.9 Os mapas acima representam mapas de magnetização (superior) e ma-
pas de campo dipolar (inferior) das nanopartículas de CoFe2O4(30
nm)@MnFe2O4(6 nm) e CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm) dos respectivos pon-
tos a), b), c) e d) da figura 5.8. As setas no interior dos painéis superio-
res representam a magnetização de cada região (as amarelas representam a
magnetização do núcleo e as brancas a magnetização da casca) e nos pai-
néis inferiores representam o campo dipolar do núcleo sobre a casca (setas
brancas) e da casca sobre o núcleo (setas azuis) . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
ix
5.10 Curvas de histerese de CoFe2O4(30 nm) no núcleo e cascas de MnFe2O4 (a) e
CoFe2 (b), ambas com 6 nm e energia de troca de interface nula (A*=0.0). As
curvas (c) e (d) mostram o comportamento (contribuição) apenas da casca
das respectivas nanopartículas, a qual exibe uma histerese inversa durante
o processo de reversão de toda a partícula (núcleo e camada). . . . . . . . . 83
5.11 Em (a) tem-se o campo dipolar médio do núcleo sobre a camada externa na
região do equador e em (b) o campo dipolar médio da camada externa so-
bre o núcleo, ambas as histereses é de uma nanopartícula com CoFe2O4(30
nm) no núcleo e CoFe2(6 nm) na casca. Os painéis inferiores indicam o
comportamento da magnetização nos pontos (i) e (ii) da figura 5.10 (b). . . . 84
5.12 A figura mostra a queda do campo de reversão das nanopartículas
CoFe2O4(30 nm)@MnFe2O4(6 nm) e CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm), em co-
res verde e vinho respectivamente, a medida que o parâmetro de troca A*
varia de −0, 2 até 1, 0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.13 A figura mostra a remanência das nanopartículas CoFe2O4(30
nm)@MnFe2O4(6 nm) e CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm), em cores verde e
vinho respectivamente, a medida que A* torna-se ferromagnético. . . . . . . 87
5.14 Mapas da magnetização (painéis superiores) e mapas de campo dipolar
(painéis inferiores) para a nanopartícula de CoFe2O4(30 nm)@MnFe2O4(6
nm) a campo externo nulo. A barra de cores superior no lado direito dos
painéis, indica a componente da magnetização que sai do plano, e a infe-
rior, indica a intensidade do campo dipolar do núcleo sobre a casca assim
como da casca sobre o núcleo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
5.15 Mapas da magnetização (painéis superiores) e mapas de campo dipolar
(painéis inferiores) para a nanopartícula de CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm).
A barra de cores superior no lado direito dos painéis indica a componente
da magnetização que sai do plano e a inferior indica a intensidade do
campo dipolar do núcleo na casca assim como da casca no núcleo . . . . . . 90
x
5.16 A figura mostra a variação do campo de reversão a medida que a casca
torna-se mais espessa. Perceba que o núcleo de CoFe2O4 tem o seu tamanho
constante igual a 30 nm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.17 Figura esquemática que mostra o raio do núcleo (rn), o raio da casca (rc) e a
espessura da casca (δ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
xi
LISTA DE TABELAS
4.1 Ocupação dos sítios, e suas posições [5]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.2 Momento magnético por íon, parâmetro de rede e densidade de algumas
ferritas [10]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.3 Energia de anisotropia magnetocristalina para três direções em um cristal
cúbico [11]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.4 Direções de fácil, média e difícil magnetização em um cristal cúbico [11]. . . 64
5.1 Constantes de magnetização de saturação (MS), rigidez de troca (A) e aniso-
tropia (K) introduzidas no cálculo auto-consistente e também ltro(nm) que
é o comprimento de troca. Este último serve de guia para o tamanho da cé-
lula unitária de simulação que deve ser respeitado para ambos os materiais
envolvidos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.2 Alguns sistemas de nanopartículas c@s de pequeno diâmetro mostrando
os valores experimentais, teóricos e do modelo de parâmetro médio para o
campo coercivo das mesmas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
xii
CONTEÚDO
Resumo iii
Abstract iv
Lista de Figuras v
Lista de Tabelas xii
Notações, Convenções e Símbolos xiii
Informação Eletrônica xiii
1 Introdução 1
2 Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 5
2.1 Formas das Nanopartículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.1 Ímãs Permanentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.2 Mídia de Gravação Magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
xiii
2.2.3 Biomédica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3 Micromagnetismo 20
3.1 Curva de Magnetização - Histerese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2 Energias Magnéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.3 Energias Magnéticas por Célula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.3.1 Energia de Troca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.3.1.1 Representação Micromagnética da Energia de Troca: . . . . 30
3.3.2 Energia Zeeman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3.3 Energia de Interface . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.3.4 Energia de Anisotropia Uniaxial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.3.5 Energia Magnetostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.3.6 Campo Médio Local Sobre Célula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.3.6.1 Campo de Troca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.3.6.2 Campo Zeeman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3.6.3 Campo de Interface . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3.6.4 Campo de Anisotropia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3.6.5 Campo Dipolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3.7 A célula de Simulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.3.8 Comprimento de Troca (lExc.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3.9 Largura da Parede de Domínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.3.10 Cálculo do Campo Médio Local por Célula de Simulação . . . . . . . 46
4 Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 49
4.1 Estrutura Cristalina das Ferritas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
xiv
4.1.1 Ferrita de Cobalto (CoFe2O4) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.1.2 Ferrita de Manganês (MnFe2O4) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2 Estrutura Magnética das Ferritas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2.1 Ferrita de Cobalto (CoFe2O4) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.2 Ferrita de Manganês (MnFe2O4) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.3 Liga CoFe2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.4 Anisotropia Magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.4.1 Anisotropia das Ferritas (CoFe2O4 e MnFe2O4) . . . . . . . . . . . . . 63
5 Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 66
5.1 Impacto do Campo Dipolar em Nanopartícula Magnética Simples (Uma
Esfera) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
5.2 Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Núcleo@Camada . . . . . . 77
5.3 Efeito do acoplamento de troca em nanopartículas núcleo@camada . . . . . 85
5.4 Nanopartículas Núcleo@Camada de Pequeno Diâmetro . . . . . . . . . . . . 92
6 Conclusões, Perspectivas e Considerações Finais 97
6.1 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
6.2 Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
6.3 Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Referências Bibliográficas 100
xv
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
A evolução da humanidade, desde seus primórdios, está intimamente ligada à
capacidade do Homem em criar alternativas para garantir sua sobrevivência e melhorar
seu conforto de vida. Assim, são notórios os constantes avanços científicos e tecnológicos
nas mais diversas áreas para atingir tais objetivos. Grande parte das mudanças ocorridas
até os dias de hoje se deve à disponibilidade de materiais adequados para transformar as
ideias, e mesmo os sonhos em realidade. Esta correlação é tão significativa que a evolução
do ser humano na face da Terra é cronologicamente registrada através de épocas desig-
nadas pelos uso dos materiais disponíveis até então (Idade da Pedra, Idade do Bronze,
Idade do Ferro, etc).
Neste último século, grande parte das mudanças tecnológicas realizadas pelo Ho-
mem se deve ao surgimento das novas técnicas de caracterização: ultracentrifugação, vis-
cosimetria de soluções, espalhamento de luz, espectroscopia Mössbauer, etc.. Estas, pude-
ram elucidar de uma forma mais convincente alguns aspectos sobre a Ciência de materiais
modernos. Nas últimas décadas, um grande esforço foi dedicado ao desenvolvimento de
materiais magnéticos artificiais. Universidades e empresas de tecnologia vêm investindo
forte na busca de novos materiais para suprir um mercado em grande expansão devido
às exigências sociais.
Para se ter uma ideia da representatividade da pesquisa científica, na indústria
farmacêutica, por exemplo, para se chegar a um único produto a ser usado pela popula-
ção, o processo dura cerca de 10 - 12 anos. Neste processo, começa-se por se analisar entre
cinco e dez mil compostos químicos. Em 2003, o centro de estudos Tufts Center for the Study
1
Capítulo 1. Introdução 2
of Drug Development estimou que foram investidos cerca de 897 milhões de dólares nesta
área [1]. Atualmente esses investimentos são da ordem de um bilhão e podem durar até
15 anos de pesquisa [2].
Já na área da informática, onde são necessários dispositivos de alta confiabilidade
com dimensões físicas reduzidas e alta densidade de armazenamento de informações, só
no Brasil, o faturamento foi de 165,7 bilhões de dólares em 2010. Neste caso, o mercado
brasileiro colocou-se como o sétimo maior mercado interno do mundo em Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC) [3]. Em pesquisa, as empresas do setor investiram 1,6
bilhões de reais entre 2011 e 2013 em Centros de Pesquisa e Desenvolvimento [4]. No
âmbito mundial, só em “outsourcing” (terceirização) de (TIC) o faturamento foi de 246,6
bilhões de dólares em 2011 [5].
O fato é que a indústria requer o desenvolvimento de materiais magnéticos artifi-
ciais para suprir suas necessidades, como, por exemplo, miniaturização, alta performance,
baixo custo etc.. Para isso, a pesquisa tem sido o principal víeis.
Assim os conhecimentos em micromagnetismo tiveram e tem grande relevância,
pois possibilitaram o entendimento de sistemas cada vez mais complexos, sugerindo no-
vos materiais, com novas formas (filmes finos, multicamadas etc.) e geometrias (discos,
elipsoides, esféricos). A informática é um dos setores extremamente beneficiado com no-
vas alternativas. Um bom exemplo, seria a memória RAM magnética [6] e também as
nanoantenas baseadas em osciladores magnéticos nanoestruturados [7] que são aponta-
dos como a novas tecnologias para os computadores modernos.
Os avanços nas técnicas de síntese é outro fator que têm proporcionado um me-
lhor controle dos parâmetros de interesse. Assim como a maneira de crescimento desses
materiais. Essas propriedades podem ser mais enriquecidas e manipuladas quando as na-
nopartículas são constituídas de dois materiais (ou mais), são as chamadas nanopartículas
núcleo@camada [8] ou “core@shell”.
Com esse tipo de nanoestrutura, podem-se combinar diferentes funcionalidades
(ópticas, magnéticas, catalíticas, etc.) dos constituintes, que trazem à tona novas e atra-
entes propriedades que sejam de interesse para aplicações em sistemas magnéticos ou
biomagnéticos. O estudo em bicamadas c@s, mais particularmente, onde tanto o núcleo
Capítulo 1. Introdução 3
como a casca são magnéticos [8], quando combinados, dão origem a novas fases magnéti-
cas alterando as propriedades (como diminuição do campo de reversão, por exemplo) em
comparação com as nanopartículas simples.
As nanopartículas tipo c@s são materiais altamente funcionais com propriedades
modificadas. Devido ao revestimento, as propriedades do núcleo podem ser alteradas e
com isso, a nanopartícula c@s apresentará outras características, como o aumento da es-
tabilidade e da dispersibilidade das partículas [9]. Em última análise, as nanopartículas
c@s apresentam propriedades distintas dos diferentes materiais empregados no conjunto.
Isso é especialmente desejável para manipular as propriedades magnéticas para atender
a aplicação pretendida. A finalidade do revestimento sobre o núcleo por meio da modi-
ficação da superfície, é aumentar a capacidade de funcionalidade, a estabilidade e dis-
persibilidade, melhorar a liberação controlada do núcleo, reduzir o consumo de materiais
preciosos, entre outros [9].
Com essa nanoestrutura, podem-se criar novas aplicações, além de melhorar os
sistemas já existentes, tais como aqueles utilizados na produção de ímãs permanentes
[10, 11], no armazenamento de dados [11] e na biotecnologia [12, 13, 14, 15], entre outros
que serão, concisamente, mostrados no próximo capítulo.
Então, é a partir desta motivação que se desenvolveu um estudo teórico em na-
nopartículas c@s compostas de CoFe2O4, MnFe2O4 e CoFe2, de formato esférico e com
propriedades magnéticas h@s. Foram investigados vários fatores, dentre eles, os efeitos
do campo dipolar na estrutura magnética da c@s, que para isso, a análise foi realizada
através de histereses, mapas da magnetização e do campo dipolar.
O estudo e os resultados obtidos estão descritos nos capítulos sequentes na se-
guinte didática: No capítulo 2, será descrito um pouco da história das nanopartículas c@s,
assim como o estado atual das pesquisas num cenário global, além das principais apli-
cações possíveis que despertaram a grande quantidade de pesquisa existente hoje. No
capítulo 3, será apresentado o modelo teórico do micromagnetismo, o qual foi a ferra-
menta básica para o desenvolvimento deste trabalho. Neste capítulo, serão analisados e
explicados conceitos fundamentais, limites a serem respeitados e como foram trabalhadas
as energias que compõem o sistema. No capítulo 4, será mostrada a estrutura magnética
Capítulo 1. Introdução 4
das ferritas CoFe2O4, MnFe2O4 e CoFe2 (a rede cristalina, posição dos íons, a simetria dos
sítios por íon magnético, o momento magnético e a valência de cada íon) bem como a
origem das anisotropias de cada uma delas. No capítulo 5, serão mostrados os resulta-
dos, que foram analisados tanto para nanopartículas simples como para nanopartículas
c@s, interesse maior desta busca científica. Por fim, no capítulo 6, serão mostradas as
conclusões e as perspectivas futuras de novos projetos de pesquisa.
CAPÍTULO 2
NANOPARTÍCULAS NÚCLEO@CAMADA MAGNÉTICAS E SUAS
APLICAÇÕES
UM POUCO DA HISTÓRIA
As primeiras pesquisas foram realizadas em partículas simples compostas por
um único tipo de material como, por exemplo, ferro, cobalto, níquel, etc. e suas ligas.
Essas partículas eram estudadas na escala nanométrica, devido ao surgimento de novas
propriedades as quais não existiam nos mesmos materiais quando estudados em volume
[9].
Em seguida, os fluidos coloidais com propriedades ferromagnéticas, começaram
a ser estudados por vários pesquisadores quase que simultaneamente. Um dos primeiros
sistemas, foi desenvolvido por Stephen Papell da NASA (National Aeronautics and Space
Administration) na década de 60, o qual almejava possibilitar o transporte de combustíveis
na ausência de gravidade. Esse sistema era obtido com Fe2O3 (maghemita) por meio de
moagem até dimensões coloidais, e estabilizada em líquidos apolares juntamente com
surfactantes [16].
Nos anos 70, Rosensweig formulou fluidos magnéticos algumas dezenas de vezes
mais fortes que os produzidos por Papell. Juntamente com Robert Kaiser, alcançaram uma
considerável flexibilidade na escolha de nanopartículas magnéticas, líquidos portadores
e agentes dispersivos [17]. Em 1979, René Massart descobriu um método de estabilização
em meio aquoso. O princípio deste método, era controlar todas as interações entre nano-
partículas magnéticas através de sua densidade de carga superficial [18]. Posteriormente
5
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 6
foram obtidas estabilizações através de uma dupla camada elétrica (EDL-MF, do inglês
Eletric Double Layered Magnetic Fluids) [19].
Os estudos pioneiros começaram a ser publicados no final da década de 1980. Foi
quando os pesquisadores mostraram que semicondutores coloidais, agora de compostos
heterogêneos (mais de um material) ou “sanduiches”, apresentavam características e efi-
ciência bem melhor do que os condutores compostos apenas de um único material [9]. Em
alguns casos, eles até apresentavam novas propriedades.
Mais recentemente, no começo da década de 90, os pesquisadores sintetizaram
nanopartículas em multicamadas concêntricas de um semicondutor na tentativa de me-
lhorar as suas propriedades [9]. Foi aí que subsequentemente a terminologia “core@shell”
ficou sendo utilizada em trabalhos acadêmicas [20, 21, 22].
Após isso, as pesquisas tiveram um gradual aumento devido à tremenda de-
manda de mais e mais materiais avançados e também devido à exigência da tecnologia
moderna. Simultaneamente, houve um crescente avanço nas técnicas de caracterização
que ajudaram muito a estabelecer a estrutura dessas diferentes nanopartículas tipo c@s.
A Figura 2.1 mostra a estatística do crescente aumento na publicação de artigos
científicos na área. Os dados foram coletados em maio de 2011 da “Scifinder/Scholar”
usando a palavra-chave “core/shell nanoparticle” (nanopartícula núcleo/camada).
Nº
de
Pu
blic
açõ
es
Ano
Figura 2.1: Número de publicações por ano sobre nanopartículas c@s durante o período de 1994até maio de 2011 [9].
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 7
A primeira patente usando conceitos de nanopartículas c@s, foi concedida em
1964 por R. B. Falk, que lidou com oxidação controlada de nanopartículas alongadas
de FeCo para formar uma casca de CoFe2O4 [8]. Ou seja, era uma nanopartícula do
tipo inversa, com um núcleo magneticamente mole revestido por uma casca magneti-
camente dura. Ainda nesta mesma década, nanopartículas de γ-Fe2O3 foram dopadas
com Co na superfície, levando a uma camada superficial de CoFe2O4, formando a c@s
γ-Fe2O3@CoFe2O4, que foi estudada como um material com grande potencial para mí-
dias de gravação convencional. Este tipo de estrutura permitiu um aumento no campo
coercivo (Hc) das nanopartículas, mantendo a anisotropia uniaxial (em contraste com a
anisotropia cúbica de nanopartículas puras de CoFe2O4). Por sua vez, o aumento do Hc
permitiu reduzir o tamanho dos bits gravados [8]. Já as patentes para este tipo de estru-
tura, podem ser encontradas um pouco mais tarde, em meados dos anos 90 [8].
2.1 Formas das Nanopartículas
Os nanomateriais têm, por definição, suas dimensões na escala nanométrica, e devido a
isso, apresentam novas propriedades comparadas com as propriedades intrínsecas de vo-
lume. A síntese, caracterização e aplicação das nanopartículas são extremamente relevan-
tes na nanotecnologia. As características mais importantes, dentre outras, em uma escala
nanométrica são: Em primeiro lugar, o pequeno tamanho das partículas, leva a um au-
mento da área de superfície em relação ao volume, e em segundo, é que, há um aumento
na dominância dos átomos da superfície da nanopartícula sobre aqueles do interior. Isso
é o que torna as nanopartículas mais “reativas”, quando comparadas à partículas maiores
[9].
As nanopartículas podem ser classificadas em simples ou de múltiplos materiais.
Em geral, a primeira (nanopartículas simples) é feita de um único material, enquanto
que as compostas e as c@s são constituídas por dois ou mais materiais. As c@s podem
ser genericamente definidas como uma estrutura portadora de um núcleo encapsulado
por uma camada externa, também chamado de casca ou invólucro, onde o material de
ambos possui propriedades diferentes. Estas nanopartículas podem consistir em uma
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 8
ampla gama de combinações diferentes, algumas até com metais preciosos, consoante se
pode observar:
(1) Inorgânicos/inorgânicos - considerada a classe mais importante dentre as ou-
tras, são utilizadas na melhoria da eficiência de semicondutor, armazenamento de infor-
mação, optoeletrônica, catálise, “dots” quânticos, bioimagem óptica, rotulagem biológica,
etc. [23, 24];
(2) Inorgânicos/orgânicos - apresenta algumas vantagens com relação à anterior,
pois a parte orgânica estabiliza a oxidação da parte inorgânica que está no núcleo. Bas-
tante aplicada em catálise aos aditivos, pigmentos, tintas, cosméticos e apresentam uma
melhor biocompatibilidade para bioaplicação [25, 26];
(3) Orgânicos/inorgânicos - são estruturalmente exatamente o contrário das ante-
riores, têm propriedades duais de ambos os materiais. Bastante aplicado em tintas, fluidos
magnéticos, catálise, microeletrônica e biotecnologia (como a digestão da pepsina catali-
sada por micropartículas de poliuretano revestido com ouro) [27, 28];
(4) Orgânicos/orgânicos - são conhecidas como “partículas inteligentes” e têm um
amplo campo de aplicação como em entrega de drogas (fármaco), biosensores, separação
química, biomateriais e catálises [29, 15];
(5) As magnéticas - a qual é objeto desta tese, e geralmente estão nas classes das
inorgânico/inorgânico e/ou inorgânico/orgânico.
Um fato importante é que, a escolha dos materiais que farão parte da c@s depen-
derá de sua utilização ou da sua aplicação final.
Os avanços em novas técnicas de síntese tornaram possível sintetizar não ape-
nas a forma esférica das nanopartículas, mas também uma variedade de outras formas,
tais como cubos, prisma, hexágono, octaedro, disco, haste, tubo, etc., conforme se pode
observar na Figura 2.2 [9].
As nanopartículas magnéticas, mais especificamente, vêm permitindo avanços
significativos na informática e nas tecnologias biológicas, as quais incluem armazena-
mento de informação, sensores magnéticos, bio-separadores e desenvolvimento de novos
medicamentos [30, 31]. Devido ao fato de essas nanopartículas terem o tamanho de algu-
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 9
Figura 2.2: Figura esquemática de diferentes nanopartículas c@s: (a) nanopartículas c@s esféricas;(b) nanopartículas c@s hexagonais; (c) pequenos núcleos de múltiplos materiais revestidos porum único material; (d) materiais nanomatryushka; (e) núcleo móvel dentro do oco do material derevestimento [9].
mas dezenas de nanômetros, elas aparecem como uma ótima aplicação em biomedicina,
pois as células (10 - 100 µm), vírus (20 - 450 nm), proteínas (5 - 50 nm) e até mesmo genes
(2 nm de largura e 10 - 100 nm de comprimento) [32] têm tamanhos superiores aos destas
partículas, o que as torna bastante “invasiva” biologicamente. Certamente, esses materi-
ais magnéticos podem ser revestidos com moléculas biológicas para fazer com que estes
interajam com outras espécies e, desse modo, adquirir um meio controlável de endereça-
mento no organismo [33].
Além disso, os materiais nanoestruturados magnéticos seguem a lei de Coulomb
e podem, portanto, ser manipulados por um campo magnético externo [34]. Outro fato
é que as nanopartículas magnéticas podem responder a uma variação magnética em fun-
ção do tempo, o que conduz a um efeito de transferência de energia do campo magnético
excitante para as nanopartículas [35]. Assim, as nanoestruturas podem aquecer, o que
pode torna-las substitutas de agentes epitérmicos, quimioterápicos e radioterápicos, pro-
piciando assim, a destruição das células malignas tumorais [36].
Muitas pesquisas realizadas nas últimas décadas foram focadas em óxidos de
ferro. Entretanto, mais recentemente, algumas pesquisas têm dado ênfase as nanoes-
truturas compostas por outros metais de transição e suas ligas [37]. O fato, é que estes
metais possuem propriedades que são mais atraentes do que aquelas observadas nos óxi-
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 10
dos de ferro. Por exemplo, os metais de transição magnéticos nanoestruturados, exibem
comportamento ferromagnético (produzindo um alto momento magnético), enquanto que
aqueles de óxido de ferro exibem comportamento superparamagnético [31]. Também, os
metais de transição retêm suas propriedades magnéticas na ausência de um campo mag-
nético, enquanto que as nanoestruturas de óxido de ferro não retém [37].
É interessante notar que a maioria dos estudos sobre nanopartículas de diferentes
formatos é, de fato, recente. As propriedades magnéticas de nanoestruturas são altamente
influenciadas pelas suas dimensões e geometria. As pesquisas nas últimas décadas se con-
centraram em nanoestruturas esféricas com diâmetro menor do que 100 nm. Por exemplo,
certas propriedades dos nanocristais magnéticos, tais como o bloqueamento por tempe-
ratura, saturação magnética e a magnetização permanente são todos dependentes do ta-
manho da partícula, mas a coercividade dos nanocristais, depende totalmente da forma
das nanopartículas devido aos efeitos da anisotropia na superfície. Outras propriedades
físicas e químicas das nanopartículas, como a seletividade catalítica, atividade elétrica,
propriedades ópticas e ponto de fusão, também são altamente dependentes da forma [9].
2.2 Aplicações
2.2.1 Ímãs Permanentes
Tradicionalmente, as pesquisas para novos ímãs permanentes estão focadas em materi-
ais com grande anisotropia e, principalmente, com elementos tipo terra rara que tem seu
magnetismo originado dos elétrons 4f desemparelhados, da mesma forma que o magne-
tismo de Fe, Co e Ni tem origem nos elétrons 3d. Além disso, esses elementos de transição
apresentam alto produto energético máximo, BHmax., (até 240 kj/m3) e coercividade de até
3200 kA/m [38]. O aumento da demanda por esses elementos provocou a sua escassez
tendo como consequência o aumento no preço de mercado [8].
Esse fato gerou um interesse em pesquisar novos materiais para ímãs permanen-
tes. Devido a isso, as estruturas hexagonais se destacaram, principalmente, as ferritas
duras, pois são de baixo custo, possuem alta densidade e alta força coerciva devido à
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 11
sua alta anisotropia cristalina [39, 40]. Nanopartículas c@s com este tipo de material, são
acopladas por energia de troca e combina as desejadas propriedades do material duro no
núcleo (alto HC), com as do material magneticamente macio na casca (alto MS), permi-
tindo, a princípio, superar os limites do BHmax. dos imãs atualmente comercializados no
mercado [8].
As propriedades dos magnetos acoplados por troca dependem criticamente do
tamanho das partículas, da fase dura e da fase macia. Assim, a maioria das pesquisas ci-
entíficas tem usado filmes finos. Contudo, esse tipo de multicamada não é adequado para
produção em massa [8]. Foi então que, a partir de um requintado controle químico, surgi-
ram as partículas c@s como uma promissora solução para criar novos ímãs permanentes.
Desde que as propriedades magnéticas passaram a ser controladas e otimizadas, os ma-
teriais com nanofase oferecem vantagens adicionais. Um exemplo disso, é a coercividade
dos magnetos nanoestruturados, que cai com a redução do tamanho das partículas, tendo
seu valor mais reduzido no tamanho de um único domínio da nanopartícula [41].
As recentes patentes podem ser divididas em três categorias: (i) baseadas em
magnetos duro de terras raras (FeNdB ou SmCo), acoplados com magnetos macios de
alto momento magnético, tais como Fe ou FeCo, (ii) nanopartículas de magnetos duros
baseados em metais preciosos (FePt ou FePd), acoplado com Fe, Fe3Pt, Fe3O4 ou FeCo
e (iii) novas estruturas baseadas em terras raras e magnetos duros de metais preciosos
(ε-Fe2O3, MnAl, MnBi, Ba-ferrita ou Co3C), acoplados com materiais macios (Fe, FeCo,
FeNi ou Co2C).
O objetivo da categoria (i) é reduzir a quantidade de terras raras utilizadas na
produção de ímãs permanentes, que são ótimos para várias aplicações. Já as patentes
da categoria (ii), devido ao alto valor dos metais preciosos, comprometem a produção
de ímãs em larga escala pela indústria, apesar de serem mais fáceis de fabricar, e as da
categoria (iii) objetivam produzir novos ímãs permanentes livre de terra rara. Finalmente,
a maioria dos materiais propostos baseiam-se num forte acoplamento de troca, formando
um material com nanopartículas tipo c@s [8].
A maioria dos sistemas estudados concentra-se principalmente na evolução do
MS e HC com o diâmetro do núcleo e a espessura da casca, objetivando aumentar o BHmax.
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 12
[42, 43]. Apesar do grande potencial das nanopartículas c@s para produzir ímãs perma-
nentes com pouquíssima quantidade de terra rara (ou zero), vários desafios ainda per-
manecem. Primeiro, para aumentar o (BH)max, a magnetização de remanência (MR) de-
verá ser alta (perto de MS). Isso significa que os processos teriam que ter MR (domínios)
alinhado com o eixo de anisotropia cristalina da partícula (MR/MS=1.0). Os processos
atualmente, são de alinhamento aleatório (MR/MS=0.5) [11, 10]. E, segundo, o tamanho
(espessura ou diâmetro) da camada magneticamente macia não deve ser maior que o com-
primento da parede de domínio. Assim, deve-se tomar cuidado com o volume fracionário
desta parte (casca), pois dada a dependência não linear da fração de volume no diâmetro
do núcleo e a espessura da casca, mesmo se o tamanho da camada macia for bem menor
que a parede de domínio, a fração de volume desta poderá ser muito grande, conduzindo
a uma diminuição da contribuição das propriedades magnéticas do material duro do nú-
cleo em relação ao campo externo, como se pode ver na Figura 2.3.
Núcleo@camada convencional h@s
t - Maciacasca t - Duracasca
Núcleo@camada inversa s@h
Hr
R(Duro)=2
R(Macio)=2
R(Duro)=10
R(Macio)=10
R(Duro)=2R(Duro)=4R(Duro)=6R(Duro)=8R(Duro)=10
R(Macio)=2
R(Macio)=4
R(Macio)=6
R(Macio)=8
R(Macio)=10
Figura 2.3: Dependência do campo de reversão (Hr) com a espessura da casca para diferentes raiosdo núcleo em sistemas núcleo@camada convencionais e inversos[8].
Na figura 2.3, considerou-se um material magneticamente duro com K=5 MJ/m3
e µ0MS=1 T e um material magneticamente macio com K=0.05 MJ/m3 e µ0MS=2 T. Com
essa configuração percebe-se que, na c@s com caracteristica h@s (lado esquerdo), o au-
mento da espessura da casca induz uma diminuição no campo de nucleação, contudo, a
medida que o núcleo aumenta de tamanho, o campo de nucleação do mesmo, também
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 13
aumenta para a mesma espessura da casca. Já na c@s com caracteristica s@h (lado di-
reito), ocorre literalmente o contrário, aumentando-se a espessura da casca, aumenta-se
o campo de nucleação, e aumentando-se o tamanho do núcleo, o campo de nucleação
diminui, considerando a casca com o mesmo tamanho. Dessa forma, tanto na nanopartí-
cula convencional como na nanopartícula inversa, o campo de nucleação tem mudanças
significativas com o aumento da espessura do material da casca.
Então, a partir desses requisitos, uma sugestão para a nanoestrutura favorável
seria (i) núcleo magneticamente duro (com magnetização alinhada ao longo do campo
externo), revestido com uma fina casca magneticamente macia, protegida com uma outra
fina camada não magnética, para evitar o acoplamento por troca (Figura 2.4(a)) ou (ii)
pequenos núcleos tipo macio, com uma casca magneticamente dura, protegida por uma
outra fina camada não magnética (Figura 2.4(b)) [8].
Figura 2.4: Representação esquemática de possíveis nanoestruturas c@s otimizadas para (a) h@se (b) s@h. Mostrados em verde, vermelho com setas azuis e em amarelo, as contrapartidas dosmateriais magneticamente macio, duro e não-magnético, respectivamente [8]
O intuito de evitar o acoplamento por troca em (i), é que o contato entre as ca-
madas (macio-macio) pode elevar a área das mesmas, aumentando assim a contraparte
macia da c@s que poderá até promover a reversão por nucleação e propagação de paredes
de domínio.
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 14
2.2.2 Mídia de Gravação Magnética
As mídias de gravação, segundo Nogués [8] têm passado pelo chamado trilema (escolha
difícil entre três coisas), a saber:
(1) Aumentar a densidade da área do bit implica em reduzir o tamanho do bit;
(2) Para se manter tanto uma proporção suficiente de sinal para gravação como
a alta densidade de bits seria necessário diminuir o tamanho do grão que constitui um
dado bit fazendo com que se aproxime do limite superparamagnético;
(3) Enquanto a alta anisotropia uniaxial (Ku) dos materiais iria melhorar drastica-
mente a estabilidade térmica, os campos magnéticos necessários para a mudança do bit
seriam tão altos que se tornariam muito maior que os gerados pelas cabeças de gravação
atuais.
Dessa forma, a viabilidade de suportar a gravação da mídia, a estabilidade tér-
mica e o sinal de gravação devem, simultaneamente, estar de acordo com a capacidade
de gravar de um dado bit. Para superar este obstáculo, novos tipos de mídia de grava-
ção foram propostos, tais como: compostos acoplados por energia de troca, inclinação da
anisotropia e gradiente de anisotropia [44].
A longo prazo, outros tipos de mídia devem ser desenvolvidas. O que vem se
desenhando como uma boa promessa é a chamada “mídia padronizada”, onde em vez
de gravar cada bit magnéticos sobre várias centenas de grãos, cada bit será gravado em
um ponto magnético individual (dots). No entanto, para as nanopartículas serem estáveis
magneticamente na temperatura ambiente, elas precisam ter uma alta anisotropia, o que
implica no fato de o campo disponível nos cabeçotes convencionais não ser suficiente
para escrever a informação [8]. Uma possível forma de contornar esse obstáculo seria
diminuir a anisotropia efetiva de uma nanopartícula de alta constante magneto-cristalina
Ku (material duro), por acoplamento com um material de baixo Ku (macio), como por
exemplo, em uma estrutura c@s, similar ao proposto por mídias de filme fino contínuo
[44]. Neste caso, a parte macia atua para reduzir o campo de reversão, permitindo que o
cabeçote escreva a informação, enquanto que a parte dura mantém a estabilidade térmica
[45].
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 15
A Figura 2.5 mostra essa relação. Em (a), é mostrado de forma esquemática, como
seria a estrutura do material, onde a casca (em vermelho) seria o material magneticamente
macio e no núcleo estaria o material duro (em azul). Já (b), apresenta como resultado, o
campo de reversão em função da área de superfície entre os materiais do núcleo e da casca,
percebe-se que o aumento da área reduz o campo de reversão, favorescendo a condição
de gravação exigida pelo cabeçote seguido da estabilidade térmica proporcionada pelo
núcleo, como explicado mais acima.
camada magnética macia
camada magnética dura
Área de superfície normalizada entre a camada macia e dura
Ca
mp
od
ere
ve
rsã
o(H
/H)
KS
Figura 2.5: (a) Nanoestrutura tipo c@s de mídia padronizada. (b) Simulação micromagnética dadependência do campo de reversão sobre a área de superfície normalizada entre a camada maciae a camada dura [8].
Algumas simulações com nanopartículas c@s para gravação convencional mos-
tram que as partículas podem reduzir de tamanho sem comprometer a estabilidade tér-
mica [46], no entanto a tendência vem sendo mesmo as mídias padronizadas.
Similar ao caso dos ímãs permanentes, os materiais propostos para as mídias são
baseados em ligas de terras raras [47] ou em ferritas hexagonais [48] para a parte dura.
Todos os materiais patenteados têm uma estrutura convencional de c@s tipo h@s, onde o
material macio é baseado num metal (Fe ou Co) ou num óxido (Fe3O4 ou γ-Fe2O3) [8, 47].
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 16
Atualmente, algumas características das partículas c@s já foram testadas experi-
mentalmente. Por exemplo, (i) a temperatura de bloqueio TB mostrou-se ser facilmente
aumentada pela adição de uma camada superficial de um material duro em uma nano-
partícula macia [49], (ii) tem sido mostrado que o campo de reversão de nanoparticulas
duras diminui quando as acopla numa casca tipo macia [43, 49], (iii) há a possibilidade
de se formar aglomerados de matrizes de nanopartículas de c@s [43, 49] ou (iv) possibi-
lidade de graduação da anisotropia. No entanto, outros aspectos críticos, como tamanho
livre de defeitos e autoagrupamentos de nanopartículas c@s tipo h@s ainda não foram
demonstrados.
Apesar da boa promessa da estrutura c@s para gravação de alta densidade, vários
desafios ainda permanecem. As condições para se usar estas nanopartículas na gravação
de mídia, são ainda mais rigorosas do que para ímãs permanentes, pois deve seguir os
princípios da gravação magnética atual, logo: (i) todas as nanopartículas devem ser mo-
nodomínio e exibir magnetização fora do plano, (ii) deve ter uma minuciosa mudança no
campo de reversão (ligado, entre outras coisas, à distribuição do tamanho da partícula);
(iii) as partículas não devem estar em contato, ou devem ter uma camada de proteção não
magnética para evitar o acoplamento por troca entre elas; (iv) os campos dipolares devem
ser pequenos o suficiente para evitar a gravação acidental de partículas adjacentes; (v) a
coercividade necessita de ser menor do que o campo de escrita disponível; (vi) as partí-
culas têm de ser termicamente estáveis e de preferência com uma grande magnetização
de saturação; (vii) a ordenação 2D deve ser livre de defeitos e de preferência em matrizes
quadradas [8]. Nesta última condição, permanece um dos principais obstáculos para o
desenvolvimento das mídias de gravação.
2.2.3 Biomédica
O uso das nanopartículas em sistemas biomédicos é também florescente, não só no tra-
tamento de doenças, mas também em diagnósticos. As maiores relevâncias dessas apli-
cações são em hipertermia, distribuição controlada de fármaco, biosensores, manipulação
de células e proteínas e imagens de ressonância magnética [8].
Nesta área, os números de patentes registradas ainda são poucos, mas as existen-
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 17
tes compreendem principalmente as aplicações em hipertermia magnética [50], imagem
de ressonância magnética (MRI) [51] e manipulação de células [52]. Contudo, as pesqui-
sas são focadas principalmente em hipertermia, onde a partir da aplicação de um campo
magnético alternado sobre a nanopartícula, ela tem como resposta a produção de calor
[12, 13]. Logo, se a partícula estiver em contato com um tecido orgânico, o aumento da
temperatura devido ao campo magnético pode causar a morte da célula de forma locali-
zada, ou seja, apenas a(s) célula(s) daquele local. Assim, a hipertermia é vista como uma
técnica com grande potencial e de alta eficácia para o tratamento de doenças localizadas,
como por exemplo o câncer, com o mínimo de efeitos colaterais nos pacientes [8].
Os três principais mecanismos envolvidos na hipertermia são a relaxação Brow-
niana, relaxação de Néel e perca por histerese, embora apenas este último prevaleça para
nanopartículas bloqueadas. A perda específica de calor (SLP) da nanopartícula depende
do material, da composição, do tamanho da partícula, da frequência e da intensidade
do campo magnético aplicado [8]. Então, a dissipação de calor depende dos parâmetros
intrínsecos do material tais como: anisotropia e magnetização de saturação que, combi-
nados de duas fases as quais componham a c@s, será mais vantajoso para aumentar a
resposta do material sobre a ação do campo [53]. Seung-hyun Noh et al. [54], mostrou
que a diminuição da anisotropia na superfície e no tamanho da partícula (60 nm) aparece
como fator chave para alcançar altos valores de SLP (14 vezes maior que em partículas
simples compostas por ferrita e 3 vezes maior que em nanopartículas esféricas acopladas
por troca).
A comprovação do quanto as propriedades magnéticas podem ser melhoradas
ao considerar as c@s frente as nanopartículas simples é mostrado na Figura 2.6. Nela,
observa-se nas extremidades, uma nanopartícula de ferrita de cobalto e outra de ferrita
de manganês, com 9 e 15 nm de diâmetro, respectivamente. Já ao centro, tem-se uma
nanopartícula c@s composta dos mesmos materiais e com as mesmas dimensões, 9 nm
de núcleo e 15 nm de diâmetro total. No entanto, o gráfico de SLP logo abaixo, mostra
em valores, a diferença entre elas. Embora a SLP das ferritas seja de 450 Wg−1, a SLP da
c@s exibe valores de aproximadamente uma ordem de grandeza maior, alcançando 2280
Wg−1 [14]. Isso significa um aumento de aproximadamente 400%. Logo, a combinação
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 18
de diferentes ferritas leva a relevantes valores de SLP, comparados as nanopartículas com
uma única fase.
Figura 2.6: Representação esquemática de uma nanopartícula simples de CoFe2O4, uma c@s deCoFe2O4(9nm)@MnFe2O4(3nm) e uma nanopartícula simples de MnFe2O4. Apesar dos dois últi-mos têem o mesmo diâmetro os valores de SLP são diferentes [14].
Outra aplicação de c@s, a qual vem ganhando destaque de forma experimental
assim como a hipertermia, é o seu uso em imagem de ressonância magnética (MRI), onde
essas estruturas apresentam, em certas aplicações, várias vantagens em relação aos ma-
teriais tradicionais. Por exemplo, o óxido de ferro superparamagnético é conhecido por
diminuir o tempo de relaxamento transversal, T2, dos prótons da água, quando eles são
influenciados pelo momento dipolar das nanopartículas. A relaxação, isto é, o inverso do
tempo de relaxamento r2=1/T2, é proporcional ao momento magnético. Assim, em uma
primeira aproximação, aumentando-se o momento magnético das nanopartículas tem-se
uma eficiente maneira de melhorar a imagem ponderada em T2. Essa e outras caracterís-
ticas fizeram com que houvesse um interessante aumento no estudo de bicamadas mag-
néticas tipo c@s para MRI [8]. A capacidade das nanopartículas de melhorar a MRI torna
também possível o uso de ressonância magnética baseada em sensores, como é o caso da
ressonância magnética de diagnóstico [55].
No entanto, do ponto de vista magnético, muitas das aplicações biomédicas das
Capítulo 2. Nanopartículas Núcleo@Camada Magnéticas e suas Aplicações 19
nanopartículas magnéticas dependem apenas de ter uma grande magnetização de satu-
ração (MS) e evitar ao máximo os efeitos de aglomeração. Assim, a maior parte destas
aplicações baseiam-se no uso de nanopartículas superparamagnéticas [8]. Nestes casos,
não há necessidade real de nanopartículas c@s. No entanto, em outras aplicações, a uti-
lização de bicamadas magnéticas deste tipo pode ser benéfica, como, por exemplo, em
hipertermia, conforme foi dito anteriormente. E quanto à aplicação “in vivo”, o desafio
concentra-se na sua possível citotoxicidade.
Dessa forma, o uso de nanopartículas magnéticas tipo c@s para aplicações biomé-
dicas ainda é muito recente, o que futuramente com os ajustes das propriedades magnéti-
cas, certamente, levará a novas aplicações nessa área como é o caso dos diversos tipos de
biosensores, os quais vêm se destacando.
CAPÍTULO 3
MICROMAGNETISMO
As propriedades magnéticas macroscópicas dos elementos estão associadas aos
elétrons de forma individual, o que pode ser designado de momento magnético. Assim,
pode-se pensar que cada elétron num átomo é um pequeno ímã tendo momento magné-
tico de orbital (circulando em torno do núcleo) e de auto-rotação (em torno de seu próprio
eixo - “spin”) permanentes [56]. O magnetismo, então, é um fenômeno de origem quântica
resultante da combinação do Princípio de Exclusão de Pauli com o termo coulombiano da
repulsão elétron-elétron do potencial eletrônico [39].
Neste capítulo, será apresentado um estudo resumido do micromagnetismo e um
estudo detalhado das energias e campos magnéticos, bem como das ferramentas usadas
neste trabalho.
3.1 Curva de Magnetização - Histerese
A curva de magnetização com o campo, conhecida como histerese magnética, consiste na
inversão dos momentos magnéticos com o campo aplicado. A magnetização apresenta
valores diferentes para o mesmo campo, e isto, está ligado a forma como esse material
foi preparado [57], ou seja, depende dos parâmetros do mesmo, formato, acoplamento,
interação com outros elementos, etc. Assim a curva de histerese pode nos dar muita in-
formação acerca do material estudado. Dessa maneira, seria interessante destacar duas
grandezas que estão presente na curva de magnetização, são elas:
1) Remanência: é a magnetização do elemento quando o campo é removido a
20
Capítulo 3. Micromagnetismo 21
partir da saturação. Essa grandeza é muito importante por exemplo, para a gravação
magnética de dados. Neste ponto da histerese temos a indicação se um bit é gravado ou
não, pois para produzir sinal à cabeça de leitura, o magneto deve estar com momento
magnético líquido com uma certa intensidade para produzir campo de fuga suficiente
para ser lido pelo sensor. Este campo é proporcional a magnetização do elemento [39].
2) Coercividade: indica o campo magnético onde ocorre a reversão da magneti-
zação de uma saturação para a outra, ou seja, é a capacidade de um material magnético
de manter seus momentos numa determinada posição. Num material ferromagnético,
pode-se analisar como sendo a intensidade necessária do campo magnético para reduzir
a magnetização a zero. Já na gravação, aponta a intensidade necessária do campo para a
reversão do bit gravado [39].
Observem-se esses pontos distribuídos em uma histerese esquemática, típica de
um material ferromagnético na Figura 3.1:
Figura 3.1: Imagem esquemática de uma histerese, típica de um material ferromagnético mos-trando como sua magnetização varia em função da intensidade do campo magnético aplicadosobre ele. Também são mostrados detalhadamente os pontos da magnetização de saturação, MS ,da magnetização remanente, MR, e do campo coercivo, HC , assim como o comportamento dosmomentos magnéticos em cada um desses pontos [58].
Capítulo 3. Micromagnetismo 22
A primeira grandeza, MS , é claramente identificável na curva de histerese, já na
segunda, HC , pode não ser tão fácil de se identificar. Nanoelementos podem ter curvas
onde a coercividade não é identificada claramente por apresentar estados magnéticos in-
termediários durante a reversão, bem como a assimetria nos ramos da histerese. Assim,
o que pode-se fazer é uma tentativa de identificar a coercividade aproximada quando os
ramos da histerese são assimétricos, e não se identificar claramente os campos de rever-
são como se deseja, consequentemente, é uma aproximação do deslocamento da histerese
[59].
3.2 Energias Magnéticas
A configuração magnética de uma estrutura é dada a partir das energias que estão sendo
utilizadas no sistema. Como sabemos, o mínimo de energia se dá quando o momento
magnético aponta na direção de seu respectivo campo local. No entanto, como todo o
sistema contempla diversas energias (no caso de nanopartículas magnéticas são cinco), a
configuração magnética deverá ser a que apresente torque nulo, ou seja, a que os momen-
tos magnéticos locais apontem na direção do campo efetivo local, constituindo, assim, um
menor torque entre a magnetização local e o campo local.
Para um certo volume, d3, de um material cristalino bcc, o número de átomos N é
dado por:
N = 2
(d3
a30
)(3.1)
onde a0 é o parâmetro de rede do material magnético. A fração indica o número de células
unitárias bcc e o 2 vem do fato de que cada célula unitária cristalina deste tipo apresenta
dois átomos. Por exemplo, em um cubo de ferro de lado d = 12nm e aFe0 = 0, 287nm,
utilizando a equação 3.1, tem-se que o número de átomos N , é de 146193 átomos. Logo,
o cálculo da configuração magnética (do mínimo local de energia) de todos estes átomos
é inviável computacionalmente, principalmente, se este volume for aumentado, pois há
um aumento exponencial do número de átomos. Com isso, para que se torne possível o
estudo, faz-se necessário utilizar o conceito de Célula de Simulação.
Capítulo 3. Micromagnetismo 23
A célula de simulação representa um volume do material magnético onde a di-
reção da magnetização dos momentos magnéticos não apresenta uma variação conside-
rável. O parâmetro que controla o tamanho da célula de simulação é o comprimento de
troca. Logo, isso faz com que a dimensão da célula de simulação, obrigatoriamente, tenha
tamanho da ordem do comprimento de troca do material estudado.
A célula de simulação será um cubo de lado d e representa o número de átomos
N da equação 3.1. Para um sistema de i átomos, com momento magnético representado
pelo versor s e volume V, a energia deste sistema é dada por:
E = −Je∑i
∑j
si · sj − H ·MSV∑i
si
−HINT ·MSV∑i
si −KV
2
∑i
(szi )2 (3.2)
+M2
SV
2
∑i
∑k
[si · skr3ik
− 3 (si · rik) (sk · rik)r5ik
]
onde o primeiro termo representa a energia de troca, sendo Je a integral de troca em dois
átomos i e j. O segundo termo é a energia Zeeman, H , originada do campo externos
aplicado. MS é a magnetização de saturação ou densidade de energia magnetostática e V
o volume do sistema. O terceiro termo é a interação de troca com a interface que pode ser
ferromagnética (FE) ou antiferromagnética (AF), representada por um campo de interface,
HINT . O penúltimo termo é o termo de anisotropia, K é a constante de anisotropia, ou
densidade de energia cristalina. E, por último, o termo dipolar onde rik é a distância entre
o i-ésimo e o k-ésimo átomo.
Mais adiante, a equação 3.2, que é a energia de um sistema de átomos em termos
da energia de um sistema de células cúbicas de lado d, será reescrita. Cada célula con-
terá N átomos indicado pela equação 3.1, terá um momento magnético efetivo e todos os
termos da energia magnética.
Capítulo 3. Micromagnetismo 24
3.3 Energias Magnéticas por Célula
3.3.1 Energia de Troca
A energia de troca de um dado átomo i com seus vizinhos é dada por:
He = −∑j
Jij si · sj (3.3)
Se a integral de troca é isotrópica igual a Je, temos:
He = −Je∑j
si · sj (3.4)
A energia de todos os átomos de um elemento é encontrada pela soma da equação
anterior sobre todos os átomos. Assim:
He = −Je∑j,i
si · sj (3.5)
Em certos problemas, particularmente na teoria de domínios, é apropriado consi-
derar o operador de spin da equação 3.5 como um vetor clássico. Usando-se a regra do
produto escalar, tem-se:
He = −Je∑j,i
Si · Sj cosϕij (3.6)
como Si e Sj tem o mesmo módulo, a equação 3.5 pode então ser escrita como:
He = −JeS2∑j,i
cosϕij (3.7)
Adotando um versor ui e um versor uj escritos em termos de cossenos diretores fica:
ui = |ui| cosαii+ |ui| cos βij + |ui| cos γik (3.8)
uj = |uj| cosαj i+ |uj| cos βj j + |uj| cos γj k (3.9)
Capítulo 3. Micromagnetismo 25
o produto escalar entre eles fica:
ui · uj = |ui| · |uj| cosϕij (3.10)
Substituindo as equações 3.8 e 3.9 em 3.10 e levando-se em consideração que os versores
Si e Sj são unitários, ou seja, o módulo deles vale 1, tem-se que:
cosϕij = ui · uj = (cosαiı+ cos βiȷ+ cos γik) · (cosαj ı+ cos βj ȷ+ cos γj k) (3.11)
= cosαi cosαj + cos βi cos βj + cos γi cos γj (3.12)
Renomeando os cossenos como:
cosα = α1 ; cos β = α2 ; cosγ = α3 (3.13)
e substituindo em 3.12 fica:
cosϕij = ui · uj = α1iα1j + α2iα2j + α3iα3j (3.14)
onde α1,α2 e α3 são os cossenos diretores de um vetor unitário em relação aos eixos x, y e
z, respectivamente. Observe-se, na Figura 3.2 os ângulos que deram origem aos cossenos
diretores.
Capítulo 3. Micromagnetismo 26
x
y
z
a bg
Sy
^
Sx
^
Sz
^
S
Figura 3.2: Imagem esquemática que mostra o vetor S (em vermelho), os versores Sx, Sy e Sz (emlaranja) e os ângulos α, β e γ (em azul) que darão origem aos cossenos diretores cosα, cosβ e cos γ.
Uma vez que o ângulo entre os vetores unitários ui e uj é pequeno (cf. Figura 3.3),
os cossenos diretores de ui podem ser expandidos por série de Taylor no cosseno diretor
uj .
ûi
ûj
ri,j
k
j
-î
k
-î
f
Figura 3.3: Figura esquemática da representação entre um momento magnético i e seu vizinho j,onde ri,j representa a distância entre eles.
A série de Taylor é dada por:
f(x) =∞∑n=0
1
n!
dnf(x)
dxn/x0(x− x0)
n
Capítulo 3. Micromagnetismo 27
utilizando-se essa expressão, tem-se:
α1j =1
0!α1i(α1j − α1i)
0 +dα1j
dα1i
/α1j=α1i(α1j − α1i)
1
2!
d2α1j
dα21i
/α1j=α1i(α1j − α1i)
2 + · · ·
Mas:
dα1j
dα1i
/α1j=α1i=
(∂α1j
∂x
∂x
∂α1i
+∂α1j
∂y
∂y
∂α1i
+∂α1j
∂z
∂z
∂α1i
)α1j=α1i
(3.15)
sendo que:
x = α1i |r| ı ; y = α2i |r| ȷ e z = α3i |r| k (3.16)
Tem-se que:
dα1j
dα1i
/α1j=α1i=
(∂α1j
∂x|r| ı
)α1j=α1i
= rij∂α1j
∂x(3.17)
Uma vez que é em três dimensões, fica:
dα1j
dα1i
/α1j=α1i= rij · ∇α1i (3.18)
A segunda derivada fica:
dα1j
dα1i
/α1j=α1i=
d
dα1i
(dα1j
dα1i
)α1j=α1i
=d
dα1i
(rij · ∇α1i) = (rij · ∇)2 α1i (3.19)
Então, para o α1j , em termos de potenciais de α1i, a partir das equações 3.18 e 3.19,
tem-se:
α1j = α1i + rij · ∇α1i + (rij · ∇)2 α1i + · · · (3.20)
Capítulo 3. Micromagnetismo 28
Substituindo-se a equação acima na equação 3.14, o primeiro termo fica:
cosϕij = ui · uj = α1i
[α1i + rij · ∇α1i +
1
2(rij · ∇)2 α1i + · · ·
]+ α2i
[α2i + rij · ∇α2i +
1
2(rij · ∇)2 α2i + · · ·
](3.21)
+ α3i
[α3i + rij · ∇α3i +
1
2(rij · ∇)2 α3i + · · ·
]Depois soma-se esta expressão sobre todos os vizinhos j.
Para um cristal cúbico, tem-se:
rij · ∇ =
(xij
∂
∂xij
+ yij∂
∂yij+ zij
∂
∂zij
)e
(rij · ∇)2 =
(xij
∂
∂xij
+ yij∂
∂yij+ zij
∂
∂zij
)(xij
∂
∂xij
+ yij∂
∂yij+ zij
∂
∂zij
)assim:
cosϕij = α1i
(α1i + xij
∂α1i
∂xij
+ yij∂α1i
∂yij+ zij
∂α1i
∂zij+
1
2x2ij
∂2α1i
∂x2ij
+1
2xijyij
∂2α1i
∂xij∂yij+
1
2xijyij
∂2α1i
∂xij∂zij+
(3.22)1
2yijxij
∂2α1i
∂yij∂xij
+1
2y2ij
∂2α1i
∂y2ij+
1
2yijzij
∂2α1i
∂yij∂zij+
1
2zijxij
∂2α1i
∂zij∂xij
+1
2zijyij
∂2α1i
∂zij∂yij+
1
2z2ij
∂2α1i
∂z2ij+ · · ·
)
Termos como∑
j rij · ∇α1i e termos cruzados de∑
j12(rij · ∇)2 α1i como∑
12xijyij
∂2α1i
∂xij∂yijsão zeros por causa da simetria. Logo:
∑cosϕij = α1i
[α1i +
1
2
∑x2ij
∂2α1i
∂x2ij
+1
2
∑y2ij
∂2α1i
∂y2ij
+1
2
∑z2ij
∂2α1i
∂z2ij] +
∑(α2i) +
∑(α3i)
](3.23)
Capítulo 3. Micromagnetismo 29
sendo que∑
x2ij =
∑y2ij =
∑z2ij =
13
∑j r
2ij e chamando a parte constante (α2
1i + α22i + α2
3i)
de z fica: ∑cosϕij = z +
1
2
[1
3
∑j
r2ijα1i
(∂2α1i
∂x2ij
+∂2α1i
∂y2ij+
∂2α1i
∂z2ij
)]
∑cosϕij = z +
1
6
∑j
r2iju · ∇2u (3.24)
Ao se considerar apenas a parte variável da equação acima, a energia de troca será dada
por:
Ee =−JeS
2
6
∑j
r2iju · ∇2u (3.25)
Com a ajuda da identidade vetorial abaixo:
∇2 (ui · uj) = ∇ · [∇ (ui · uj)] = 0
= 2 (∇u)2 + 2(u · ∇2u
)= 0
u · ∇2u = − (∇u)2 (3.26)
onde:
(∇u)2 = (∇α1)2 + (∇α2)
2 + (∇α3)2 (3.27)
Das equações 3.26 e 3.27 a energia fica:
Ee =JeS
2
6
∑j
r2ij[(∇α1)
2 + (∇α2)2 + (∇α3)
2] (3.28)
Para estruturas cúbicas simples, bcc ou fcc a expressão∑
j r2ij é igual a 6a2, onde
a é o parâmetro de rede (cf. Figura 3.4):
Finalmente tem-se:
Ee = JeS2a2
[(∇α1)
2 + (∇α2)2 + (∇α3)
2] (3.29)
como sendo a energia de troca de uma célula unitária com parâmetro de rede a.
Capítulo 3. Micromagnetismo 30
a2
xî
a2
yî
a2
zî
a2
-xî
a2
-yî
a2
-zî
Figura 3.4: Imagem esquemática representando os primeiros vizinhos numa estrutura bcc ou fcccom parâmetro de rede a.
3.3.1.1 Representação Micromagnética da Energia de Troca:
A partir da equação 3.29 e considerando-se uma pequena partícula cúbica de lado δ, onde
esta consiste em N partículas menores, com a em cada lado (equação 3.1):
N = φ
(δ3
a3
)(3.30)
onde φ vale 2 ou 4, dependendo se a célula é bcc ou fcc respectivamente. Logo:
E = NJS2a2∑mnk
[(∂α1(m,n, k)
∂x
)2
+
(∂α2(m,n, k)
∂x
)2
+
(∂α3(m,n, k)
∂x
)2
+
(∂α1(m,n, k)
∂y
)2
+
(∂α2(m,n, k)
∂y
)2
+
(∂α3(m,n, k)
∂y
)2
+
(∂α1(m,n, k)
∂z
)2
+
(∂α2(m,n, k)
∂z
)2
+
(∂α3(m,n, k)
∂z
)2]
(3.31)
Capítulo 3. Micromagnetismo 31
Analisando-se o termo NJ(Sa)2 temos:
NJ(Sa)2 = φJδ3
a3(Sa)2 = δ3φ
JS2
a= δ3A (3.32)
onde o parâmetro A = φJS2
aé chamado de rigidez de troca, mais conhecido como
exchange stiffness. O termo φ serve única e exclusivamente para informar a quantidade
de átomos por célula unitária. Por exemplo, para bcc, temos [59]:
Abcc = 2A = 2JS2
a(3.33)
para a fcc fica:
Afcc = 4A = 4JS2
a(3.34)
e se for para saber apenas o valor da constante de rigidez de troca (φ = 1):
Aexch. = A =JS2
a(3.35)
Ao se dar continuidade à análise da equação 3.31, será necessário utilizar a defi-
nição de derivada para o 1o termo entre colchetes:
df(x)
dx= lim
dx→0
f(x+ δx)− f(x)
δx
(∂α1(m,n, k)
∂x
)=
α1(m+ 1, n, k)− α1(m,n, k)
δ(3.36)
Fazendo-se a mesma analogia para os outros termos e utilizando-se as equações
3.32 e 3.33, a expressão 3.31 fica:
Capítulo 3. Micromagnetismo 32
E
δ3=
A
2
∑mnk
[(α1(m+ 1, n, k)− α1(m,n, k)
δ
)2
+
(α2(m+ 1, n, k)− α2(m,n, k)
δ
)2
+
(α3(m+ 1, n, k)− α3(m,n, k)
δ
)2
+
(α1(m,n+ 1, k)− α1(m,n, k)
δ
)2
+
(α2(m,n+ 1, k)− α2(m,n, k)
δ
)2
+
(α3(m,n+ 1, k)− α3(m,n, k)
δ
)2
+
(α1(m,n, k + 1)− α1(m,n, k)
δ
)2
+
(α2(m,n, k + 1)− α2(m,n, k)
δ
)2
+
(α3(m,n, k + 1)− α3(m,n, k)
δ
)2]
(3.37)
Reescrevendo a expressão 3.37:
E
δ3=
A
2
∑mnk
[(α21(m+ 1, n, k) + α2
1(m,n, k)− 2α1(m+ 1, n, k)α1(m,n, k)
δ2
)+
(α22(m+ 1, n, k) + α2
2(m,n, k)− 2α2(m+ 1, n, k)α2(m,n, k)
δ2
)+
(α23(m+ 1, n, k) + α2
3(m,n, k)− 2α3(m+ 1, n, k)α3(m,n, k)
δ2
)+
(α21(m,n+ 1, k) + α2
1(m,n, k)− 2α1(m,n+ 1, k)α1(m,n, k)
δ2
)+
(α22(m,n+ 1, k) + α2
2(m,n, k)− 2α2(m,n+ 1, k)α2(m,n, k)
δ2
)+
(α23(m,n+ 1, k) + α2
3(m,n, k)− 2α3(m,n+ 1, k)α3(m,n, k)
δ2
)+
(α21(m,n, k + 1) + α2
1(m,n, k)− 2α1(m,n, k + 1)α1(m,n, k)
δ2
)+
(α22(m,n, k + 1) + α2
2(m,n, k)− 2α2(m,n, k + 1)α2(m,n, k)
δ2
)+
(α23(m,n, k + 1) + α2
3(m,n, k)− 2α3(m,n, k + 1)α3(m,n, k)
δ2
)](3.38)
Capítulo 3. Micromagnetismo 33
Agrupando os termos em comum fica:
E
δ3=
A
2
∑mnk
{α21(m+ 1, n, k) + α2
1(m,n+ 1, k) + α21(m,n, k + 1)
+ α22(m+ 1, n, k) + α2
2(m,n+ 1, k) + α22(m,n, k + 1)
+ α23(m+ 1, n, k) + α2
3(m,n+ 1, k) + α23(m,n, k + 1)
+ 3[α21(m,n, k) + α2
2(m,n, k) + α23(m,n, k)
]− 2
[α1(m+ 1, n, k)α1(m,n, k) + α2(m+ 1, n, k)α2(m,n, k)
+ α3(m+ 1, n, k)α3(m,n, k)]− 2
[α1(m,n+ 1, k)α1(m,n, k)
+ α2(m,n+ 1, k)α2(m,n, k) + α3(m,n+ 1, k)α3(m,n, k)]
− 2[α1(m,n, k + 1)α1(m,n, k) + α2(m,n, k + 1)α2(m,n, k)
+ α3(m,n, k + 1)α3(m,n, k)]}
(3.39)
O somatório dos termos positivos é igual a 6. Logo:
E
δ3=
A
2δ2
∑mnk
{6− 2
[α1(m+ 1, n, k)α1(m,n, k) + α2(m+ 1, n, k)α2(m,n, k)
+ α3(m+ 1, n, k)α3(m,n, k)]− 2
[α1(m,n+ 1, k)α1(m,n, k)
+ α2(m,n+ 1, k)α2(m,n, k) + α3(m,n+ 1, k)α3(m,n, k)]
− 2[α1(m,n, k + 1)α1(m,n, k) + α2(m,n, k + 1)α2(m,n, k)
+ α3(m,n, k + 1)α3(m,n, k)]}
(3.40)
Considerando-se que a soma dos cossenos diretores é igual ao produto escalar
dos versores:
Capítulo 3. Micromagnetismo 34
E
δ3=
A
δ2
∑m,n,k
[3− µ(m+ 1, n, k) · µ(m,n, k)
− µ(m,n+ 1, k) · µ(m,n, k)
− µ(m,n, k + 1) · µ(m,n, k)]
(3.41)
E
δ3=
A
δ2
∑m,n,k
[1− µ(m+ 1, n, k) · µ(m,n, k)
− 1− µ(m,n+ 1, k) · µ(m,n, k)
− 1− µ(m,n, k + 1) · µ(m,n, k)]
(3.42)
A energia de troca por unidade de volume entre duas células cúbicas de lado δ
fica:
Eexch.
δ3=
A
δ2
∑i,j
(1− 1µi · µj) (3.43)
onde a soma em i, representa a soma da energia por unidade de volume de todas as
células cúbicas do sistema sobre seus primeiros vizinhos j, e µ representa o versor que
aponta na direção dos momentos magnéticos da célula unitária. A Figura 3.5 mostra o
comportamento da energia:
3.3.2 Energia Zeeman
Em 1902, o prêmio Nobel de Física foi concedido aos físicos Pieter Zeeman e Hendrik
Antoon Lorentz pelos estudos relacionados ao efeito do magnetismo sobre a radiação ele-
tromagnética.
Em 1896, Zeeman publicou um trabalho experimental na Verhandlungen der Phy-
Capítulo 3. Micromagnetismo 35
Figura 3.5: Comportamento da energia de troca de acordo com o ângulo de abertura entre o mo-mento magnético i e o momento vizinho j.
sikalischen Gesellschaft Zu Berlin 7, em que confirmou as previsões que seu professor Lo-
rentz fizera, em um trabalho publicado em 1895, sobre a ação do campo magnético sobre
as linhas espectrais. Ele observou que a linha D do sódio (Na) separava-se em 3, quando
este era colocado na região de forte campo magnético. Este fenômeno ficou conhecido
mundialmente como Efeito Zeeman Normal.
O Efeito Zeeman Anormal ou anômalo é o desdobramento de uma risca espectros-
cópica original em 2j + 1 raias diferentes, onde j é a projeção do vetor momento angular
quântico sobre o efeito de quantização. Assim, pode-se dizer que a energia Zeeman é a
interação do campo magnético externo com o momento magnético, a qual apresenta mí-
nimo quando estas duas grandezas vetoriais apontam na mesma direção e sentido do eixo
de quantização [59].
Ez = Hext. × S = 0 (3.44)
Capítulo 3. Micromagnetismo 36
3.3.3 Energia de Interface
A energia de interface ou de acoplamento é uma energia tipo troca, que atua somente nos
momentos magnéticos da interface de contato (interação local) entre dois elementos. Por
exemplo, entre um material FE e um AF [59].
A energia por unidade de volume da célula de simulação é uniforme e independe
de sua dimensão lateral d. E em todo o sistema, será a soma da célula à célula desta
energia.
A energia de interface pode ser escrita como:
1
d3(EInt.) = −HInt. ·MS
∑i
mi (3.45)
onde HInt é o campo local de interface e mi representa o momento somente da interface
de contado entre os materiais [59].
3.3.4 Energia de Anisotropia Uniaxial
Esta energia representa uma tendência direcional de uma propriedade física de um ma-
terial. Se uma propriedade, com por exemplo a susceptibilidade magnética, não variar,
quando é medida ao longo de três eixos perpendiculares, diz-se que a amostra é isotró-
pica em relação à susceptibilidade. Caso contrário, existe uma anisotropia que determina
a direção. O magnetismo dos materiais depende basicamente de três coisas: (i) da inten-
sidade dos momentos magnéticos associado aos átomos ou íons vizinhos, (ii) da distância
entre os íons vizinhos e (iii) da simetria da rede cristalina. Assim, as propriedades mag-
néticas da maioria dos materiais ferromagnéticos são dependentes da direção.
Existem três tipos principais de anisotropia: a magnetocristalina, magnetoestric-
tiva (ou magnetoelástica) e a magnetostática (ou de forma).
A simetria da estrutura da rede cristalina afeta os processos de troca, fazendo com
que existam determinados eixos preferenciais de magnetização, originando, assim, uma
anisotropia magnetocristalina. Esta preferência na orientação dos momentos magnéticos,
está associada a uma energia que é mínima quando os momentos magnéticos estão ori-
Capítulo 3. Micromagnetismo 37
entados ao longo de determinado eixo. Eixos com este perfil são chamados de eixo fácil.
Do contrário, os eixos não-preferenciais de magnetização, onde os momentos magnéticos
demandam de uma quantidade de energia maior para orientarem-se na direção destes,
são chamados de eixos duros [56]. É esta propriedade que caracteriza os sólidos como
magnetos duros ou moles.
Pode-se citar, como exemplo, (i) o cobalto, com estrutura hexagonal, sendo o eixo
c o de fácil magnetização, (ii) o ferro e o níquel, que apresentam células unitárias cúbicas,
onde a borda e a diagonal do cubo, representam o eixo fácil do ferro e do níquel, respecti-
vamente, e (iii) a hematita, com estrutura romboédrica na qual o eixo c representa o eixo
fácil.
Quando a magnetização espontânea (Ms) está a um ângulo θ do eixo c, a energia
de anisotropia uniaxial pode ser expressa por:
Ea = KV sen2θ (3.46)
onde K é a densidade de energia cristalina. Para a nossa célula cristalina de volume d3, a
energia por unidade de volume fica:
Ea
d3= Ksen2θ (3.47)
3.3.5 Energia Magnetostática
A energia magnetostática por átomo é dada por:
Edip. =M2
SS2
2
∑i
∑k
[si · skr3ik
− 3 (si · rik) (sk · rik)r5ik
](3.48)
onde rik é o vetor que representa a distância entre os momentos magnéticos i e k. No
cálculo por células, esta distância será escrita em função da aresta da célula d. r pode ser
reescrito como: r = dn, onde n é um vetor adimensional que representa a distância entre
células de simulação em função de suas arestas.
Capítulo 3. Micromagnetismo 38
A equação anterior pode ser reescrita como:
Edip. =M2
SS2
2d3
∑i
∑k
[µi · µk
n3ik
− 3 (µi · nik) (µk · nik)
n5ik
](3.49)
A partir de agora, i representa a localização das células unitárias na rede do sis-
tema e admite todas as posições. k representará seus vizinhos dipolares, ou seja, todo o
sistema. O termo 2 na fração corrige a somatória para evitar contagem dupla das ener-
gias do sistema. A Figura 3.6 mostra a representação de uma célula cristalina, a célula de
simulação e o sistema magnético.
Figura 3.6: Imagem esquemática da representação do sistema magnético estudado. O índice i re-presenta a célula na qual se quer conhecer os campos que atuam sobre ela; j representa os vizinhosresponsáveis pelo campo de troca sobre i, enquanto k representa os vizinhos dipolares da célula i.
A energia dipolar da célula de simulação por unidade de volume é:
Edip.
d3=
M2S
2
∑i
∑k
[µi · µk
n3ik
− 3 (µi · nik) (µk · nik)
n5ik
](3.50)
De posse de todas as energias por unidade de volume das células de simulação, a
densidade de energia total do sistema por unidade de volume pode ser escrita como:
Capítulo 3. Micromagnetismo 39
EVT =
A
d2
∑j
∑k
(1− mj · mk)− HInt. ·MS
∑i
mi −
H ·MS
∑j
mj −K∑j
(mx
j
)2+ (3.51)
M2S
2
∑j
∑k
[mj · mk
n3ik
− 3 (mj · nik) (mk · nik)
n5ik
]
3.3.6 Campo Médio Local Sobre Célula
Conhecendo-se a energia escrita na equação 3.51. O campo local sob uma célula de simu-
lação é dado pelo divergente da energia de cada célula de simulação com respeito a seu
momento:
Hpi = − 1
MS
∂ET
∂mpi
(3.52)
onde p indica a direção x, y e z do campo local. E, de forma análoga à seção anterior,
calcula-se separadamente cada campo usando a energia por unidade de volume na equa-
ção 3.51.
3.3.6.1 Campo de Troca
O campo de troca que atua em uma célula i na direção p será dado por:
Hpi exc. = − 1
MS
∂
∂mpi
Ee (3.53)
Hpi exc. = − 1
MS
∂
∂mpi
[A
d2
∑j
(1− mpi · mj)
](3.54)
Hpi exc. =
A
MSd2
∑j
mpj (3.55)
onde j indica as células vizinhas a i. No caso tridimensional, j representa seis vizinhos de
troca da célula i. Na Figura 3.6 i indica a célula que varre todo o sistema e j os primeiros
Capítulo 3. Micromagnetismo 40
vizinhos de cada célula no ponto i.
3.3.6.2 Campo Zeeman
O campo Zeeman fica:
Hpi zee. = − 1
MS
∂
∂mpi
[−H ·MS
∑i
mpi
](3.56)
Hpi zee. = H (3.57)
Logo o campo Zeeman apresenta-se por igual em todas as células do sistema representado
pelo vetor H .
3.3.6.3 Campo de Interface
Como já foi dito, o acoplamento de interface é do tipo troca, que será representado por
um campo chamado de campo de interface, HInt, que atua somente na primeira camada
de células de simulação (camada de interface). O valor desse campo será:
Hpi Int. = − 1
MS
∂
∂mpi
[−H i
Int. ·MS
∑i
mpi
](3.58)
Hpi Int. = H i
Int. (3.59)
O campo de interface de um sistema pode apresentar defeitos topológicos que po-
dem expor aos compostos FE diferentes acoplamentos de interface devido à exposição de
sub-redes subsequentes de um AF, por exemplo. Neste trabalho, haverá acoplamentos de
várias intensidades, representados pela varável A∗, e a exposição de sub-redes diferentes,
representada pela mudança no sinal do acoplamento. O termo H iInt. indica a exposição de
cada célula dependendo de sua posição i da interface de contato.
Capítulo 3. Micromagnetismo 41
3.3.6.4 Campo de Anisotropia
O campo de anisotropia uniaxial apresenta valores máximos para magnetização da célula
sobre o chamado eixo fácil. E consequentemente este alinhamento dá o mínimo da energia
de anisotropia. O campo de anisotropia sobre cada célula de simulação será dado por:
Hpi anis. = − 1
MS
∂
∂mpi
[−K(mp
i )2]
(3.60)
Hpi anis. =
2Kmpi
MS
(3.61)
Este campo é bastante conhecido na literatura e indica o campo de reversão de
um filme com valor de K elevado comparado com a densidade de energia magnetostá-
tica que é proporcional ao parâmetro MS . Neste caso o campo de anisotropia é uma boa
aproximação do campo coercivo. Para materiais com K de baixa intensidade, como no
Permalloy por exemplo, os efeitos dipolares representados pelo parâmetro MS dominam
a conformação magnética dos elementos deste material. Assim tanto na interpretação de
curvas de magnetização como na simulação, a energia de anisotropia é considerada nula.
3.3.6.5 Campo Dipolar
O campo dipolar é um campo de longo alcance. Cada célula i atua sobre todas as outras
do sistema k, sua direção e sentido não são tão triviais quanto aos outros campos acima.
Neste caso, todas as componentes do campo dipolar serão escritas:
Hpi dip. =
M2S
2
∑i
∑k
[mi · mk
n3ik
− 3 (mi · nik) (mk · nik)
n5ik
](3.62)
Para a componente p = x deste campo:
Capítulo 3. Micromagnetismo 42
Hxi dip. = − 1
MS
M2S
2
∂
∂mxi
∑k
[
− 3 (mxi · nx
ik + myi · n
yik + mz
i · nzik) (m
xk · nx
ik + myk · n
yik + mz
k · nzik)
n5ik
+(mx
i · mxk + my
i · myk + mz
i · mzk)
n3ik
](3.63)
Hxi dip. =
MS
2
[3nx
ik (mxk · nx
ik + myk · n
yik + mz
k · nzik)
n5ik
− mxk
n3ik
](3.64)
onde nik é a distância entre as células de simulação i e k.
Por analogia, tem-se que:
Para p = y:
Hyi dip. =
MS
2
[3ny
ik (mxk · nx
ik + myk · n
yik + mz
k · nzik)
n5ik
− myk
n3ik
](3.65)
Para p = z:
Hxi dip. =
MS
2
[3nz
ik (mxk · nx
ik + myk · n
yik + mz
k · nzik)
n5ik
− mzk
n3ik
](3.66)
A Figura 3.7 mostra o comportamento de cada campo de uma célula i sobre sua
vizinhança, representada pelo somatório em k. Assim, a exposição dos campos envolvi-
dos na configuração de equilíbrio de uma estrutura ferromagnética é terminada. O arranjo
magnético da estrutura que dá o mínimo de energia para a equação 3.51 é o arranjo em
que os momentos magnéticos locais se alinham com o campo magnético local exposto
acima para cada célula. Para encontrar esta configuração, usa-se o método do cálculo
auto-consistente descrito na seção 3.3.10.
Capítulo 3. Micromagnetismo 43
Figura 3.7: Figura esquemática do perfil de todos os termos do campo local que atuam em cadacélula. O índice i representa a célula na qual se quer conhecer os campos que atuam sobre ela, jrepresenta os vizinhos responsáveis pelo campo de troca sobre i, enquanto k representa os vizi-nhos dipolares da célula i. Perceba que no campo de interface aparecem quatro setas. Essas setasnão representam momentos diferentes e sim o mesmo momento só que em direções diferentes,desde uma interface antiferromagnética até uma interface ferromagnética. Aqui na figura foramrepresentadas apenas quatro possíveis direções identificadas pelas letras a), b), c) e d).
3.3.7 A célula de Simulação
O cálculo de estruturas magnéticas usando micromagnetismo torna possível o estudo des-
tes sistemas magnéticos. A célula de simulação, como já foi dito, contempla um número
muito grande de átomos dado pela equação 3.1. Uma escolha importante é o tamanho d
Capítulo 3. Micromagnetismo 44
da célula de simulação. Este parâmetro é escolhido de forma que seu volume não contem-
ple mudanças consideráveis de seus momentos magnéticos, uma vez que os momentos
magnéticos de todos os N átomos da célula são representados por um momento magné-
tico único, que é a média de todos os seus átomos, conforme se observa nas Figuras 3.6 e
3.7.
Há dois parâmetros de comprimentos importantes: o comprimento de parede de
domínio lDW e o comprimento de troca lExc. O primeiro é descrito em detalhes na próxima
seção e o segundo vem deste.
O parâmetro escolhido para indicar o valor máximo da dimensão da célula de
simulação é o comprimento de troca.
3.3.8 Comprimento de Troca (lExc.)
O comprimento de troca indica o comprimento abaixo do qual a interação de troca se
sobressai sobre a interação magnetostática.
Para Bertotti [60], o comprimento característico é chamado comprimento de troca,
comprimento de intercâmbio ou Exchange Length (lExc.). É este parâmetro que “decide”
se uma certa porção de material é “pequena” ou “grande”, para que se tenha espaço su-
ficiente para mudanças consideráveis dos momentos magnéticos. Em livre tradução: a
principal diferença reside no fato de que um corpo “pequeno” tende à magnetização uni-
forme, enquanto um corpo considerado “grande” tende à apresentar magnetização não
uniforme.
lExch. =
√2A
µ0M2S
(SI) (3.67)
lExch. =
√2A
M2S
(cgs) (3.68)
Capítulo 3. Micromagnetismo 45
3.3.9 Largura da Parede de Domínio
A espessura característica da parede de domínio é determinada pela intensidade relativa
entre as energias de anisotropia e a de troca. A energia de troca pode ser escrita como:
Hexch. = −2JexchS2∑i,j
cosφi,j (3.69)
onde cosφi,j é o ângulo entre as direções do vetor momento angular de spin do átomo i e
seus vizinhos j. A largura da parede de domínio é da ordem de centenas de parâmetros
de rede. Por esta razão o ângulo φi,j entre dois spins vizinhos imediatos é muito pequeno.
Então pode-se usar a aproximação cosφi,j = 1 − φ2i,j/2. Dessa forma, a parte variável da
energia de troca pode ser escrita como:
Hexch. = JexchS2∑i,j
φ2i,j (3.70)
Para dois átomos com um ângulo θ, a parte variável da energia de troca é
Eexch. = JexchS2φ2. Considerando-se o caso em que a mudança angular ocorre gradu-
almente, envolvendo N passos, com angulo π/N entre os spins vizinhos, a energia total
da parede será:
Egradual = Jexch.S2 (π/N)2N = Jexch.S
2π2
N(3.71)
Este valor mostra que a minimização da energia de troca favorece uma parede larga, já
que esse valor cai com o valor de N.
Pode-se obter uma aproximação da largura da parede de domínio desconside-
rando a energia dipolar. Considere uma parede de 180◦ e largura W ao longo da direção
[100] de um material com anisotropia uniaxial. Considere que o momento magnético
muda suavemente ao longo da direção [001]. Assumindo que θ é o ângulo da magne-
tização com respeito a [001], isto envolve uma energia de anisotropia Eanis. = Ksen2θ.
Considerando que a0 é o parâmetro de rede e que a parede se estende por N subredes do
material, pode-se estimar uma aproximação grosseira da energia de anisotropia da parede
Capítulo 3. Micromagnetismo 46
como Eanis. = KW = KNa0, onde W = Na0 é a largura da parede de domínio. O incre-
mento da energia de troca por linha de átomos ao longo da parede é E = JexchS2π2/N .
Para uma rede cúbica simples, o número de linhas de átomos por unidade de área da
parede é 1/a20. A energia de troca por unidade de área da parede é portanto:
Jexch.S2 π2
Na20ou Jexch.S
2 π2
Wa0(3.72)
Assim, a energia total por unidade de área associada com a espessura da parede de domí-
nio é:
Eparede =Jexch. (Sπ)
2
Wa0+KW (3.73)
O mínimo de energia com respeito a W é obtido por:
∂E
∂W= 0 = −Jexch. (Sπ)
2
W 2a0+K (3.74)
que leva a seguinte expressão para a largura da parede de domínio:
W =
√Jexch. (Sπ)
2
Ka0= π
√A
K(3.75)
Neste caso, a rigidez de troca A é encontrada para a rede cúbica simples: A =
JS2/a. Substituindo esta largura na equação 3.73, a energia mínima de uma parede de
domínio, se considerada somente a competição entre a energia de troca e de anisotropia,
é:
Eparede = 2π√AK (3.76)
3.3.10 Cálculo do Campo Médio Local por Célula de Simulação
Cada célula de simulação apresenta um campo efetivo sobre ela, que é dado pela soma
vetorial dos campos supracitados. A conformação que melhor representa esta estrutura
Capítulo 3. Micromagnetismo 47
em equilíbrio será aquela em que o momento de cada célula se alinha com estes campos
locais, ou seja, a configuração de menor torque entre o momento magnético de cada célula
e o campo médio que atua sobre ela devido aos diversos campos gerados pelo arranjo.
O cálculo auto-consistente é usado para encontrar esta configuração. Este cálculo
consiste em:
1. Inicializar o sistema com uma configuração magnética.
2. Calcular o campo médio local sobre cada célula.
3. Comparar este valor calculado com a configuração magnética pelo torque entre
a direção dos momentos e do campo médio.
4. Aceitar a configuração se o torque for menor que um valor baixo previamente
estabelecido (valor de tolerância).
5. Alinhar os momentos com o campo médio calculado, caso extrapole a tolerân-
cia, e volta-se para o item 2.
6. Repetir o processo até que o torque seja menor que a tolerância ou se extrapole
um número máximo de interações caso o sistema não convirja.
Para se fazer uma curva de magnetização, por exemplo, o processo supracitado é
feito para cada campo externo. O fluxograma da Figura 3.8 mostra esquematicamente o
processo.
Capítulo 3. Micromagnetismo 48
Algoritmo auto-consistente
Sim
Não
÷÷
ø
ö
çç
è
æ
¶
¶-=
jS
j
Effm
E
MH
ˆ
1
Calcula o Campo efetivo
sobre todos os spins
0=´j
EffjHmr
r
Dados de saída
Início
jm
km
.ˆ Tolmj>
.ˆ Tolmj<
Perfil Magnético
Curva de Magnetização, Mapa de spin e de campo dipolar, etc.
I
t
e
r
a
ç
ã
o
Figura 3.8: Figura esquemática mostrando a metodologia do campo médio local auto-consistente.
CAPÍTULO 4
PROPRIEDADES CRISTALINAS E MAGNÉTICAS DOS MATERIAIS
Nesta tese, foi produzida uma análise teórica através de histerese de nanopartícu-
las c@s esféricas convencionais compostas por CoFe2O4, MnFe2O4 e CoFe2. Levaram-se
em consideração várias propriedades estruturais e magnéticas que, para se entender me-
lhor serão discutidas nas próximas seções deste capítulo.
4.1 Estrutura Cristalina das Ferritas
Algumas cerâmicas apresentam um magnetismo próprio, pois a estrutura interna dos íons
magnéticos as carateriza como materiais ferrimagnéticos. Esses materiais apresentam um
emparelhamento dos momentos magnéticos semelhante ao que ocorre com os materiais
ferromagnéticos, porém com momento resultante menor devido à posição antiparalela
dos momentos magnéticos na estrutura cristalina.
A maioria das ferritas, são materiais de estrutura cúbica tipo espinel. Essa estru-
tura é formada por um empacotamento cúbico de faces centradas de átomos de oxigênio,
de tal forma que os íons metálicos ocupam os interstícios entre esses átomos gerando dois
tipos de sítios. Um é chamado de sítio A ou sítio tetraédrico, pois o íon metálico (cátion)
está localizado no centro de um tetraedro e os átomos de oxigênio (ânions) estão locali-
zados nos vértices (figura 4.1(a)). E o outro é chamado sítio B ou sítio octaédrico, pois o
cátion está localizado no centro de um octaedro e os ânions (O2−) estão localizados nos
vértices (4.1(b)).
49
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 50
Figura 4.1: Estrutura cristalina de uma ferrita cúbica (a) sítios tetraédricos; (b) sítios octaédricos;(c) célula unitária; (d) estrutura dos dois cubos inferiores [39].
A célula unitária da estrutura espinel contém tantos íons, que um desenho da cé-
lula completa seria complexo. Em vez disso, costuma-se dividir a célula unitária em oito
partes, como na 4.1(c). Os quatro cubos sombreados possuem estruturas iguais entre si e
o mesmo acontece com os cubos não sombreados. A estrutura dos dois cubos inferiores
indicados na 4.1(c) é mostrada na 4.1(d). Observando-se a figura, percebe-se um cátion em
simetria tetraédrica no centro do cubo da direita. Outros cátions em simetria tetraédrica
também estão presentes, mas ligados a ânions de cubos vizinhos. Quatro cátions em sime-
tria octaédrica estão presentes no cubo da esquerda: um está ligado por linhas tracejadas
a seis ânions; e os outros três estão ligados a ânions de cubos vizinhos. Os ânions estão
arranjados de forma tetraédrica em todos os cubos. Observa-se na Figura 4.2 como ficaria
esquematicamente a posição desses sítios.
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 51
8 Sítios A
16 Sítios B
Figura 4.2: Figura esquemática dos sítios A e B na estrutura cristalina de uma ferrita.[61].
Os espinéis podem ser classificados como normais, invertidos ou parcialmente in-
vertidos, de acordo com a disposição dos cátions nos interstícios. A representação mais
completa, que indica tanto os cátions envolvidos como sua distribuição nos sítios tetraé-
dricos e octaédricos, é a seguinte [61]:
(M2+
1−xFe3+x)A
[M2+
x Fe3+2−x
]BO2−
4 (4.1)
onde os parênteses e os colchetes representam, respectivamente, os sítios tetraédricos (A)
e os sítios octaédricos (B). O parâmetro x indica a fração de íons divalentes nos sítios
octaédricos.
Quando existem somente íons divalentes M2+ nos sítios A e íons Fe3+ nos sítios
B, o espinel é dito normal e a fórmula se torna (M2+)A[Fe3+2 ]BO2−4 , pois x = 0. No caso de
íons de ferro trivalentes ocuparem todos os sítios A, metade dos sítios B e a outra metade
ser ocupada pelos íons divalentes de ferro, o espinel é classificado como inverso, podendo
ser representado por (Fe3+)A[M2+Fe3+]BO2−4 , pois x = 1. Nas ferritas parcialmente inverti-
das, o número de sítios A ocupados por íons divalentes está compreendido entre 0 e 1 [61].
A preferência pela ocupação de sítios tetraédricos ou octaédricos pelos íons metálicos di-
valentes depende da preferência orbital para coordenações específicas do raio iônico, do
tamanho dos interstícios e, algumas vezes, do método de preparação. Em algumas ferri-
tas, o grau de inversão é variável e depende do tratamento térmico sofrido pela amostra
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 52
[62].
Existem 64 possíveis posições para os cátions nos sítios tetraédricos e 32 nos sítios
octaédricos, porém apenas 8 das 64 e 16 das 32 posições são ocupados por cátions[63].
Observe-se a Tabela 4.1 a seguir:
Sítios de Posições Número Espinel EspinelOcupação Possíveis Ocupado Normal Inverso
Tetraédrico (A) 64 8 8M2+ 8Fe3+
Octaédrico (B) 32 16 16Fe3+ 8Fe3+; 8M2+
Tabela 4.1: Ocupação dos sítios, e suas posições [39].
Os principais parâmetros que caracterizam as ferritas estão na Tabela 4.2 abaixo:
Ferrita Momento Magnético Parâmetro de rede(A)
Densidade(103kgm−3
)por íon (µB)
Zinco 4.2 8.44 5.4Manganês 4.6 8.51 5.0
Ferro 4.1 8.39 5.24Cobalto 3.7 8.38 5.29Níquel 2.3 8.34 5.38
Magnésio 1.1 8.36 4.52
Tabela 4.2: Momento magnético por íon, parâmetro de rede e densidade de algumas ferritas [64].
4.1.1 Ferrita de Cobalto (CoFe2O4)
A ferrita de cobalto (CoFe2O4) é um óxido com uma estrutura cristalina do tipo espinélio
inverso [39, 65]. Algumas referências discordam quanto ao fato de ser completamente
inverso [66] ou parcialmente inverso (com 20% no sítio A e 80% no sítio B de Co2+) [63,
67]. De qualquer maneira, sua fórmula cristalográfica é (Co2+)[Fe3+2 ]O2−4 , tem excelente
estabilidade química e elevada dureza, sendo um ótimo material para mídias de gravação
e outras aplicações tecnológicas.
Para uma célula de simulação de 3 nm de aresta, seu volume de simulação é de
27 nm3. Utilizando-se o parâmetro de rede no valor de 8, 380 A [68], o volume da célula
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 53
unitária (ou cristalina) para ferrita de cobalto, fica:
Vcel.unit. = (0, 838)3 (4.2)
= 0, 588nm3 (4.3)
logo em uma célula de simulação tem:
f =Vcel.sim.
Vcel.unit.
(4.4)
=27nm3
0, 588nm3
= 45, 91 (4.5)
f ∼= 46cel.unit. (4.6)
onde f é o número de célula unitária em cada célula de simulação.
4.1.2 Ferrita de Manganês (MnFe2O4)
Da mesma maneira como ocorre na ferrita de cobalto, a ferrita de manganês também é
um espinel inverso [39]. A literatura também diverge quanto ao tipo do espinel, se com-
pletamente inverso [69] ou parcialmente inverso (com 80% no sítio A e 20% no sítio B de
Mn2+) [63]. Esta pode ser representada pela fórmula (Mn2+)[Fe3+2 ]O2−4 , possui excelentes
características absorvedoras em micro-ondas, sendo um ótimo material para aplicações
biomédicas, como agente de contraste em diagnósticos médicos e outras aplicações tecno-
lógicas.
Uma observação a ser feita é que esta distinção entre espinélios normais e inversos
não é rígida (tanto para CoFe2O4 como para MnFe2O4). Isso se deve ao fato de íons de
espécies diferentes serem encontrados em ambos os sítios A e B no mesmo material. Essa
ocupação relativa depende da composição, condições de preparo e tratamento térmico da
amostra.
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 54
Ao se fazer a análise para a célula de simulação nas mesmas condições que foram
feitas para CoFe2O4, sendo que, neste caso, o parâmetro de rede vale 8, 510A [70]. Assim,
utilizando-se a equação 4.2, tem-se:
Vcel.unit. = 0, 616nm3 (4.7)
logo, em uma célula de simulação, tem-se (substituindo o valor acima na equação 4.4):
f = 43, 83cel.unit. (4.8)
∼= 44cel.unit (4.9)
Vale lembrar que f é o número de célula unitária em cada célula de simulação.
4.2 Estrutura Magnética das Ferritas
Para este estudo foi adotado que as ferritas apresentam estrutura inversa. As ferritas
cúbicas que apresentam composição mista podem ser produzidas pela adição de íons me-
tálicos substituindo parte dos íons de ferro na estrutura cristalina da magnetita (Fe3O4).
A fórmula para Fe3O4 pode ser escrita como Fe2+O2−(Fe3+)2(O2−)3 onde os íons do Fe
existem nos estados de valência tanto de 2+ quanto de 3+ na razão de 1 : 2. Existe um
momento magnético de “spin” líquido para cada um dos íons Fe2+ e Fe3+, que corres-
ponde a 4 e 5 magnétons de Bohr, respectivamente [56], (cf. Figura 4.3). É sabido que
os íons de Fe3+ possuem tanto posição de coordenação tetraédrica como de coordena-
ção octaédrica (4 e 6 vizinhos mais próximos de O2− respectivamente) e os cátions Fe2+
sempre têm coordenação tetraédrica. Num espinel inverso, metade dos íons de Fe3+ tem
coordenação tetraédrica e a outra metade tem coordenação octaédrica.
O fator crítico é o arranjo dos momentos de “spin” desses íons de Fe. Os momen-
tos de “spin” de todos os íons nas posições octaédricas estão alinhados paralelamente
entre si. Entretanto, eles estão direcionados no sentido oposto aos daqueles situados nas
posições tetraédricas, que também estão alinhados. Isto resulta do emparelhamento an-
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 55
26Fe = 1s 2s 2p 3s 3p 4s 3d2 2 6 2 6 2 6
Perde 2e na camada de valência-
26Fe = 1s 2s 2p 3s 3p 3d2+ 2 2 6 2 6 6
Perde 3e na camada de valência-
26Fe = 1s 2s 2p 3s 3p 3d3+ 2 2 6 2 6 5
4mB
5mB
Figura 4.3: Distribuição eletrônica do ferro e análise do Fe2+ e Fe3+ segundo a regra de Hund.
tiparalelo de íons de ferro adjacentes. Assim, os momentos de “spin” de todos os íons
Fe3+ se cancelam entre si e não fazem nenhuma contribuição à magnetização do sólido.
Já todos os íons Fe2+ têm seus momentos alinhados na mesma direção e sentido, e seu
momento total é responsável pela magnetização líquida do material, uma vez que o O2−
é magneticamente neutro (cf. Figura 4.4.) [56].
Cátion Sítio Octaédricoda rede
Sítio Tetraédricoda rede
Mom. Magnéticolíquido
Cancelamentocompleto
Figura 4.4: Distribuição eletrônica dos momentos magnéticos de ”spin” para os íons Fe2+ e Fe3+
numa célula unitária de Fe3O4. Cada seta representa a orientação do momento magnético. [56].
A Figura 4.5, apresenta um resumo do valor numérico do momento magnético
líquido de alguns íons metálicos. Esse quadro é importante para a compreensão das in-
formações ditas mais adiantes.
4.2.1 Ferrita de Cobalto (CoFe2O4)
Em ferritas ditas mistas, elas podem ser produzidas substituindo parte dos íons de ferro
na estrutura cristalina pelo elemento que se quer introduzir. Pode-se escrever a magnetita
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 56
Cátion
Mom. MagnéticoLíquido de ‘Spin’(Magnetos de Bohr)
Fe3+
Fe2+
Mn2+
Co2+
Ni2+
Cu2+
54
3
21
5
Figura 4.5: Quadro resumo com os momentos magnéticos de ”spin” líquido para alguns íons quepodem substituir o ferro na célula unitária de Fe3O4. [56].
da seguinte forma [56]:
Fe3O4 = Fe2+O2− −(Fe3+
)2
(O2−)
3(4.10)
De forma genérica pode-se escrever a fórmula das ferritas mistas como:
xFe2O4 = x2+(Fe3+
)2
(O2−)
4(4.11)
onde x2+ representa íons divalentes, os quais se quer introduzir no lugar do ferro, como
por exemplo Ni2+, Mn2+, Co2+ e Cu2+. Com isso, para a ferrita de cobalto, a contribuição
do magnetismo líquido passa a ser apenas dos íons de Co2+.
Assim, a magnetização é dada por:
Ms = nµB (4.12)
onde n é justo o número de magnetos de Bohr por célula unitária dividido pelo volume
da célula unitária:
n =nanb
Vcell
(4.13)
Ms =nanbµB
a30(4.14)
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 57
onde na é o número de átomos que contribui magneticamente, nb é a quantidade de mag-
netos de bohr por átomo e a0 é o parâmetro de rede. A variação destes parâmetros de-
pende da ferrita espinel e do tipo de íon metálico presente. Geralmente, esse parâmetro
também muda para o mesmo material, isso é devido provavelmente ao grau de pureza
da matéria inicial e da maneira como essematerial foi sintetizado [71]. Por exemplo, para
o CoFe2O4, o parâmetro da rede é de 8, 360A (para síntese por moagem), 8, 381A (para
síntese por moagem à alta energia) e 8, 356A (para síntese por combustão e decomposi-
ção térmica) [72]. Adotando os valores da figura 4.5 e que cada célula unitária tem 8Co2+
tem-se que:
Ms =8 · 3( µB
cel.unit..)
(0, 838nm)3/cel.unit.
Ms =24, 0 · (9, 27 · 10−24Am2)
0, 588 · 10−27(m3)
Ms = 3, 78 · 105Am
(4.15)
4.2.2 Ferrita de Manganês (MnFe2O4)
A distribuição catiônica não é tão simples para a ferrita de manganês, ela
apresenta uma estrutura espinel distribuída em 80% como inversa e 20% como
normal(Mn0.8Fe0.2[Mn0.2Fe1.8]O4), exibindo uma magnetização espontânea à temperatura
ambiente. A forma de ocupação dos sítios influenciará na polarização magnética de sa-
turação. Por razões magnéticas, os materiais comerciais costumam usar a estequiometria
MnFe2O4 [39].
Aqui o procedimento adotado é o mesmo para a ferrita de cobalto. Nesse sentido,
usando-se a equação 4.11 tem-se que:
xFe2O4 = MnFe2O4
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 58
Modificando-se os dados com a tabela 4.2 para os valores do parâmetro de rede
[4] e o número de magnetos de Bohr por célular unitária, a magnetização de saturação fica
(usando-se a equação 4.14):
Ms =8 · 5( µB
cel.unit..)
(0, 851nm)3/cel.unit.
Ms =40, 0 · (9, 27 · 10−24Am2)
0, 616x10−27(m3)
Ms = 6, 01 · 105Am
(4.16)
4.3 Liga CoFe2
O CoFe2 tem sido muito estudado para desenvolver dispositivos baseados em spintrô-
nica, pois este material demonstra ter boas propriedades para aplicações em nanofios [73],
sensores e memórias magnéticas de acesso aleatório. Essa tecnologia requer dois eletro-
dos com durezas magnéticas diferentes e essas durezas têm que ser controladas para que
o eletrodo seja sensível a campos magnéticos baixos quando necessário [74]. Então, o
CoFe2, que possui uma alta polarização de spin, junto com a alta anisotropia do CoFe2O4
demonstram, a priori, formar um bom par para tal aplicação [75, 76].
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 59
A liga de CoFe2 é um material que apresenta estrutura cristalina bcc (do inglês
body-centered cubic, que significa cúbica de corpo centrado) [73, 76], representado na Figura
4.6. Uma característica interessante é que, dependendo da proporção de cada metal na
célula cristalina, esta apresenta propriedades magnéticas incomuns [77].
Fe
Co
Figura 4.6: Estrutura cristalina cúbica de corpo centrado da liga Fe-Co. Aqui percebe-se que todosos primeiros vizinhos do Fe são átomos de Co, consequentemente todos os átomos de Co tem comoprimeiros vizinhos átomos de Fe. [77].
A liga apresenta uma variação no valor do momento magnético de acordo com
a proporção Co na cristalografia, como se pode ver na Figura 4.7 em que o momento
magnético será máximo quando a composição de Co for em torno de 30% [77].
% Co
Mo
men
to M
ag
néti
co
de s
pin
/Áto
mo
(µ
)B
20 40 60 80Fe Co
2.0
2.5
1.5
Figura 4.7: Momentos magnéticos em função da proporção de cada metal (Fe-Co). [77].
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 60
4.4 Anisotropia Magnética
As propriedades físicas de monocristais de algumas substâncias dependem da direção
cristalográfica na qual as medições são feitas. Por exemplo, o módulo elástico, a con-
dutividade elétrica e o índice de refração podem ter valores diferentes nas direções [100]
e [111]. Esta direcionalidade das propriedades é denominada anisotropia. Consiste em
uma substância variar uma propriedade física dependendo da direção em que a mesma
é analisada. Ela está associada com a variância do espaçamento atômico ou iônico na di-
reção cristalográfica. Do contrário, substâncias nas quais as propriedades medidas são
independentes da direção de medição, são chamadas de isotrópicas [56].
As anisotropias magnéticas estão intimamente associadas não só com a estrutura
cristalina dos átomos, mas também com a configuração eletrônica destes cristais. A exten-
são e magnitude dos efeitos anisotrópicos em materiais cristalinos dependem da simetria
da estrutura cristalina, onde o grau de anisotropia aumenta com o decréscimo da simetria
estrutural. Assim estruturas triclínicas normalmente são altamente anisotrópicas [56].
As anisotropias podem resultar de interações intrínsecas, as quais dependem de
efeitos quânticos e eletromagnéticos, ou interações extrínsecas (também chamadas de in-
duzidas), que dependem da forma cristalina ou do método do preparo, ou tensões exter-
nas posteriores a preparação da amostra. A característica principal da anisotropia (mag-
nética), como foi dito, é que ela privilegia direções de magnetização. Essas direções são
chamadas de eixo-fácil, quando a direção de saturação da magnetização ocorre minimi-
zando a energia com um menor campo; ou eixo-duro, quando a direção de saturação da
magetização exige um campo muito alto para minimizar tal energia. Em outras palavras,
a anisotropia oferece uma barreira a ser vencida, quando aplica-se um campo sobre uma
amostra em uma determinada direção [39].
Geralmente, um material macio é visto como um sistema com baixa constante
de anisotropia cristalina, K, e com uma grande magnetização de saturação, MS , o que
resulta em uma pequena coercividade, HC . Por outro lado, um material duro é tomado
como um material com um grande valor de K e um MS moderado [8]. Pode-se perceber
a diferença entre esses materiais, analisando-se as características da histerese magnética
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 61
dos mesmos. Os materiais que apresentam uma histerese larga e baixa são ditos materiais
magneticamente duro, do contrário, materiais que exibem uma histerese estreita e alta são
chamados de materiais magneticamente macios.
Quando se estudam partículas tipo c@s, entende-se que é a união de dois mate-
riais que têm características diferentes, por exemplo, um magneticamente duro e o outro
magneticamente macio. O fato é que a curva de histerese apresentará características di-
ferentes do que quando ela revela a identidade magnética de um único material. Depen-
dendo da c@s, se tradicional ou invertida, a histerese do composto apresentará alterações
de acordo com o tamanho da partícula, os materiais que a compõem e o campo magnético,
dentre outros, uma vez que o material macio tende a se reverter primeiro que o material
duro, conforme se exemplifica na Figura 4.8.
Macio-FM Duro-FM
DURO / MACIO MACIO / DURO
Acoplamento por‘exchange’
Acoplamento por‘Spring Magnet’
NANOPARTÍCULAS TIPO NÚCLEO/CAMADA
Figura 4.8: Representação esquemática das estruturas c@s dura/macio (tradicional) e macio/duro(inversa). Representação gráfica simples da curva de histerese de materiais macio e duro e suaspossíveis combinações: acoplado por troca (”exchange coupled”) ou acoplados por troca ”springmagnetic”. A magnetização de saturação, MS , a magnetização remanescente, MR e a coercividadeHC , são indicados na curva macio-FM . [8].
No estudo de c@s, o acoplamento é muito importante. Na figura 4.8 têm-se dois
tipos, o acoplamento de troca (exchange coupled) e o “exchange spring”. Ambos estão
ligados a reversão dos momentos a medida que eles se afastam da interface. Quando a fase
macia tem uma espessura muito fina, ela fica rigidamente acoplada a fase dura fazendo
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 62
com que as duas fases revertão a magnetização no mesmo campo caracterizando-se como
acoplamento de troca e exibindo uma histerese retangular. No entanto, quando a fase
macia é espessa, a reversão da magnetização não ocorre de forma simultânea, pois a fase
macia reverte num campo menor do que o campo de reversão da fase dura. Sistemas com
essa caracteristica exibe uma histerese suave, como mostrado na figura, e são chamados
de acolamento tipo “exchange Spring” [8].
A palavra “spring” vem do inglês que significa mola. Essa conotação informa
algo interessante com relação a este tipo de acoplamento. Em uma análise mais profunda,
os momentos magnéticos que estão bem próximos da interface estão fortemente acopla-
dos com os momentos da fase dura sendo então sua reversão guiada por tais momentos,
no entanto, a medida que aumenta-se a distância da interface os momentos passam a so-
frer menos influência da fase dura passando a serem influenciados pelo campo externo,
acompanhando assim a direção do mesmo (cf.figura 4.9a). No entanto, quando muda-se
o sentido do campo externo, os momentos retornam para o ponto em que estavam como
se fosse uma mola. Logo, numa histerse isso significa o retorno da curva por cima da
anterior (cf.figura 4.9b).
Sm-Co(2.5nm)/Fe(20nm)a) b)
Figura 4.9: Representação esquemática do sistema “exchange spring” em uma bicamada magné-tica de Sm-Co/Fe [78].
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 63
4.4.1 Anisotropia das Ferritas (CoFe2O4 e MnFe2O4)
No caso de um cristal de simetria cúbica, como os cristais estudados neste trabalho, a
energia magnetocristalina pode ser expressa como uma expansão em série dos cossenos
diretores dos três eixos principais da magnetização em relação aos eixos de coordenadas
no sistema cartesiano:
E = K0 +K1(α21α
22 + α2
2α23 + α2
3α21) +K2(α
21α
22α
23) + · · · (4.17)
onde α1 = senφ cos θ, α2 = senφsenθ , α3 = cos θ e K0, K1 e K2 são as constantes de
anisotropia cúbica expressas em J/m3.
O primeiro termo, K0, é independente do ângulo e pode ser ignorado, pois o
interesse está principalmente na variação da energia quando o momento magnético muda
de direção. Os valores das constantes de anisotropia magnetocristalina cúbica (K1 e K2)
variam de acordo com o tipo de material e com a temperatura [39]. A tabela 4.3 mostra a
expressão da energia de anisotropia magnetocristalina cúbica em três direçõesparticulares
[u v w] em função de K0, K1 e K2.
[uvw] α1 α2 α3 EC
[100] 1 0 0 K0
[110] 1√2
1√2
0 K0 +K14
[111] 1√3
1√3
1√3
K0 +K13 + K2
27
Tabela 4.3: Energia de anisotropia magnetocristalina para três direções em um cristal cúbico [79].
Quando K2 é zero, a direção de fácil magnetização é determinada pelo sinal de K1.
Se K1 é positiva, então E100 < E110 < E111, e [100] é a direção de fácil magnetização, pois
a energia é mínima quando o momento magnético está nessa direção. Se K1 é negativa,
então E111 < E110 < E100, e [111] é a direção de fácil magnetização. Quando K2 não é zero,
a direção de fácil magnetização depende das duas constantes [39]. O modo pelo qual as
duas constantes determinam as direções de fácil, média e difícil magnetização apresenta-
se na tabela 4.4.
Na maioria das ferritas K1 é pequena e negativa, mas na ferrita de cobalto, devido
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 64
K1 + + + − − −K2 +∞ a −9K1
4 −9K14 a −9K1 −9K1 a −∞ −∞ a 9|K1|
49|K1|
4 a 9 |K1| 9 |K1| a +∞Fácil [100] [100] [111] [111] [110] [110]
Média [110] [111] [100] [110] [111] [100]Difícil [111] [110] [110] [100] [100] [111]
Tabela 4.4: Direções de fácil, média e difícil magnetização em um cristal cúbico [79].
a uma configuração especial dos elétrons do orbital 3d, essa constante é grande e positiva.
Assim, entre as ferritas, a ferrita de cobalto é a que possui maior anisotropia e maior
campo coercitivo.
A direção de fácil magnetização da ferrita de cobalto (e de ferritas mistas com
grande quantidade de cobalto) é o eixo cristalino [100]; e sua energia de anisotropia é
muito grande se comparada com a das outras ferritas, como a de Mn, Ni e Fe, cuja direção
de fácil magnetização é a [100] [39, 80]. Isso faz dela uma ferrita muito conhecida, pois
se trata de um material duro em meio a uma grande quantidade de materiais macios da
mesma classe, a das ferritas.
Investigações teóricas sobre a anisotropia magnética das ferritas têm mostrado
que essa energia em ferritas de Manganês e de Níquel vem do acoplamento por estrutura
fina dos íons de Fe3+ nos sítios A e B, e na magnetita vem de íons Fe3+ nos sítios A e B, e
dos íons de Fe2+ nos sítios B. Já para a ferrita de cobalto, a contribuição dos íons Fe3+ para
a energia de anisotropia é negligenciável, e analisando-se os efeitos de segunda ordem
da interação dipolar magnética a qual faz com que a direção de fácil magnetização seja
[100], também são muito pequenos. Consequentemente, a conclusão é que a energia de
anisotropia da ferrita de cobalto tem origem dos íons de Co2+ [80], assim como da ferrita
de manganês vem do Mn2+ (tida como mais mole dentre as ferrita).
No que concerne aos valores, as duas diferenciam-se bastante. A CoFe2O4 possui
uma alta constante de anisotropia, K=2, 7× 105 J/m3 [81], ao passo que a MnFe2O4 possui
uma anisotropia menor, K=2, 5 × 103 J/m3 [82]. Pode-se perceber uma diferença de duas
ordens de grandeza no valor de K entre as duas ferritas.
O outro material utilizado, a liga CoFe2, apresenta, em termos de anisotropia,
um valor de ordem intermediária entre a ferrita de cobalto e a ferrita de manganês, cuja
Capítulo 4. Propriedades Cristalinas e Magnéticas dos Materiais 65
constante vale K=1, 7 × 104 J/m3 [83], o que nos leva à conclusão que se trata de um
composto magneticamente macio, quando comparada a ferrita de cobalto.
CAPÍTULO 5
IMPACTO DO CAMPO DIPOLAR EM NANOPARTÍCULAS
MAGNÉTICAS
Como já foi dito em capítulos anteriores, os estudos de nanopartículas em bica-
mada magnética tipo c@s atualmente vêm sendo muito explorados. Isso deve-se basi-
camente à capacidade desses sistemas em combinar diferentes funcionalidades de dois
ou mais materiais envolvidos. No entanto, o resultado dessa combinação não é trivial,
principalmente quando existe dependência no tamanho, na composição e no formato ge-
ométrico das nanopartículas.
Devido a essa grande quantidade de possibilidades, é que surge um novo cenário
com vastos campos de aplicações tecnológicas utilizando estas nanopartículas. Do ponto
de vista magnético, pode-se falar no interesse de novas fases magnéticas que podem surgir
a partir das combinações acima citadas, além das relações entre as propriedades intrínse-
cas dos materiais do núcleo e da casca.
Aqui, o estudo das nanopartículas c@s foi realizado através do cálculo do campo
médio local, descrito no capítulo 3, o qual calcula a configuração magnética dos momentos
magnéticos para cada campo externo aplicado. A figura 5.1 apresenta a discretização do
sistema em termos de células unitárias. A esquerda está o núcleo de CoFe2O4 que interage
com a casca de MnFe2O4 ou de CoFe2 e juntos formam a c@s representada pela imagem do
lado direito. Vale lembrar que, assim como o núcleo interage com casca, a casca também
interage com o núcleo e ambas as interações são via acoplamento de troca.
66
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 67
+ =
Figura 5.1: Figura esquemática mostrando cada parte da nanopartícula c@s (núcleo a esquerda,casca ou camada no centro e nanopartícula c@s a direita) composta por células de simulação deestrutura cúbica.
O sistema como um todo apresenta anisotropia uniaxial e o campo magnético é
aplicado ao longo deste eixo. A densidade de energia que caracteriza o sistema é regida
pela equação 3.51 e os valores das constantes estão descriminados na tabela 5.1 para todas
os materiais explorados neste sistema:
CoFe2O4 MnFe2O4 CoFe2MS (emu/g) 75 [84] 80 [82] 228 [85]
A (J/m) 3.2× 10−12 [84] 3.2× 10−12 [82] 1.9× 10−12 [86]K (J/m3) 2.7× 105 [81] 2.5× 103 [82] 1.7× 104 [83]ltro(nm) 17 17 3
Tabela 5.1: Constantes de magnetização de saturação (MS), rigidez de troca (A) e anisotropia (K)introduzidas no cálculo auto-consistente e também ltro(nm) que é o comprimento de troca. Esteúltimo serve de guia para o tamanho da célula unitária de simulação que deve ser respeitado paraambos os materiais envolvidos.
O acoplamento de interface foi tratado como sendo um campo de interface que
representa a interação entre os dois materiais, como já dito anteriormente. Contudo, como
a interface apresenta uma dependência na superfície da amostra (rugosidade e defeitos)
[87, 88], aqui ela foi tratada como uniforme, ou seja, sem rugosidade e que para controla-la
melhor, foi introduzido o parâmetro A* que caracteriza a intensidade da rigidez de troca
da interface em termos do material que estiver no núcleo.
A configuração de equilíbrio encontra-se utilizando procedimentos numéricos
que permitem encontrar os padrões magnéticos de uma maneira auto-consistente. Em
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 68
cada célula, a direção de magnetização mj é encontrada quando o campo magnético local
da mesma for paralelo ao campo médio local da equação 3.52, de modo que dentro de uma
precisão numérica razoável, o torque é zero (m×H = 0). A convergência é verificada para
garantir um torque máximo de 10−27 J. Em outras palavras, este cálculo tem por finalidade
determinar o campo efetivo que age sobre cada célula de uma determinada configuração
de spins e, a partir de então, encontrar as configurações de equilíbrio de cada célula. O
fluxograma da figura 3.8 descreve de forma esquemática o método numérico.
Dessa forma, a exigência do entendimento do comportamento das energias envol-
vidas no sistema se faz necessário. Todas elas foram rigidamente trabalhadas. Contudo,
numa energia em especial, focou-se com mais cuidado devido ao fato da literatura do
atual estado da arte, não ter atentado para a grande contribuição que a mesma pode vir a
dar ao sistema, essa energia é a dipolar.
Durante todo o estudo, a interação dipolar mostrou-se bastante influênte no surgi-
mento das fases magnéticas na casca, assim como na reversão da magnetização em campo
externo menor que quando a nanopartícula é tratada sem a casca revestidora. O acopla-
mento, que pode ter um caráter antiferromagnético ou ferromagnético, tem um papel
importantíssimo em sistemas com c@s, da mesma maneira que a geometria esférica junta-
mente com as propriedades magnéticas de ambos os materiais também reforça o impacto
do campo dipolar na nanopartícula. Sendo assim, este capítulo tratará dos vários resulta-
dos obtidos durante o desenvolvimento desse trabalho e serão apresentados nas sessões e
subseções que se seguem.
5.1 Impacto do Campo Dipolar em Nanopartícula Magnética Simples
(Uma Esfera)
Quando se estudam nanopartículas simples, ou seja, de um único material, a fenomeno-
logia utilizada é a dos livros-textos de eletrodinâmica, quando se trabalham problemas de
contorno em materiais uniformemente magnetizados. Aqui, devido ao formato geomé-
trico das nanopartículas, as coordenadas utilizadas serão as esféricas, representada pela
figura 5.2 com eixos de coordenadas no centro da esfera.
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 69
z
M
Figura 5.2: Figura esquemática mostrando uma esfera uniformemente magnetizada representandouma nanopartícula simples com eixos de coordenandas no centro.
Existem basicamente dois tipos de materiais magnéticos, a saber:
1) Material magnético linear: B = µH
2) Uniformemente magnetizado: ∇ ·M = 0
As equações fundamentais ficam:
Caso 1)
∇ ·B = 0 =⇒ ∇ ·(µH
)= 0 (5.1)
∇ · H = 0 (5.2)
Caso 2)
∇ ·B = 0 =⇒ ∇ ·[µ0
(H + M
)]=⇒ ∇ · µ0H + ∇ · µ0M︸ ︷︷ ︸
=0 (Magnetização uniforme)
(5.3)
∇ · H = 0 (5.4)
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 70
Combinando as equações 5.2 e 5.4 com o potencial escalar magnético resultante
de todas as forças tem-se:
∇ ·(−∇φ∗
)= 0
∇2φ∗ = 0 (5.5)
Dessa forma, o problema magnético de nanopartículas simples reduz-se a encon-
trar uma solução para a equação de Laplace que satisfaça as condições de contorno para
uma esfera uniformente magnetizada. Para auxiliar, podem-se usar as equações:
H = −∇φ∗ (5.6)
B = µH (5.7)
B = µ0
(H + M
)(5.8)
Assim, trata-se de determinar o campo magnético produzido por uma esfera uni-
formemente magnetizada, de magnetização M e raio a. Tomando a magnetização ao
longo do eixo z e a origem do sistema de coordenadas no centro da esfera, pode-se ex-
pandir o potencial em termos de harmônicos esféricos [89], logo:
φ1 (r, θ) =∞∑n=0
C1,nr−(n+1)Pn (θ) fora da esfera (5.9)
φ2 (r, θ) =∞∑n=0
A2,nrnPn (θ) dentro da esfera (5.10)
Ao se analisar as expressões acima, percebe-se que estão faltando alguns termos,
pois a expressão completa é:
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 71
φ (r, θ, ϕ) = (a0 + b0ϕ)∞∑n=0
[Cnr
n +Dnr−(n+1)
]Pn (cos θ) (5.11)
Contudo as expressões foram escritas na forma de 5.9 e 5.10 por três motivos: o
primeiro é devido à simetria esférica, na qual não tem dependência no ângulo ϕ de modo
que bo = 0; o segundo motivo refere-se principalmente a equação 5.9, pois ela foi escrita
propositalmente sem os harmônicos com potências positivas de r. Isso se deve ao fato
de os mesmos, tenderem a valores muito altos a grandes distâncias, ou seja, r −→ ∞ e o
terceiro refere-se a equação 5.10, em que não aparecem as potências negativas de r. Ela foi
escrita nesta forma também de maneira proposital, pois esses harmônicos tornariam-se
infinitos na origem, ou seja, r −→ 0.
Assim, o que se pode concluir sobre as outras constantes é que a sua existência
passa a depender das condições de contorno e da análise física do problema (caso dos
dois últimos motivos).
Continuando a análise do problema, tem-se que das condições de contorno,
quando r = a:
H1(θ) = H2(θ) (5.12)
B1(r) = B2(r) (5.13)
Logo utilizando a equação 5.6 nas equações 5.9 e 5.10 fica:
H1(θ) = −∇φ1
H1(θ) = −1
r
∞∑n=0
C1,nr−(n+1) d
dθPn (θ) (5.14)
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 72
H2(θ) = −∇φ2
H2(θ) = −1
r
∞∑n=0
A2,nrn d
dθPn (θ) (5.15)
para a dependência em θ em coordenadas esféricas e para a dependência em r fica:
B1(r) = −µ0
[∞∑n=0
C1,nPn (θ)d
drr−(n+1)
]
B1(r) = µ0 (n+ 1)∞∑n=0
C1,nPn (θ) r−(n+2) (5.16)
B2(r) = −µ0
[∞∑n=0
A2,nPn (θ)d
dr(rn)
]
B2(r) = −µ0
∞∑n=0
A2,nPn (θ)nr(n−1) (5.17)
Substituindo as equações 5.14, 5.15, 5.16 e 5.17 em 5.12 e 5.13 tem-se:
∞∑n=0
(C1,na
−(n+1) − A2,nan)a−1 d
dθPn (θ) = 0 (5.18)
e
µ0
∞∑n=0
[(n+ 1)C1,na
−(n+2) + A2,nna(n−1)
]Pn (θ)− µ0M cos θ = 0 (5.19)
Como cada Pn (θ) é uma função distinta de θ, nenhum deles pode ser construído
a partir de uma combinação linear de outros Pn (θ). Assim, para que as equações acima
sejam válidas ddθPn (θ) deve anular-se. Logo para n = 1:
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 73
C1,1a−3 − A2,1 = 0
2C1,1a−3 + A2,1 −M = 0
Somando as duas expressões acima tem-se:
C1,1 =1
3Ma3 (5.20)
e
A2,1 =1
3M (5.21)
Substituindo o valor das constantes nas equações 5.9 e 5.10 dos potenciais, fica:
φ1 (r, θ) =1
3M
a3
r2cos θ (5.22)
φ2 (r, θ) =1
3Mr cos θ (5.23)
Finalmente, tomando os valores das equações 5.22 e 5.23 e colocando na equação 5.6, tem-
se que H1 é:
H1 = −[∂
∂r
(1
3M
a3
r2cos θ
)r +
1
r
∂
∂θ
(1
3M
a3
r2cos θ
)θ
]H1 =
1
3M
(ar
)3 [2 cos θr + senθθ
](5.24)
e H2 vale:
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 74
H2 = −[∂
∂r
(1
3Mr cos θ
)r +
1
r
∂
∂θ
(1
3Mr cos θ
)θ
]= −1
3M
(cos θr − senθθ
)H2 = −1
3Mk (5.25)
Logo, o campo externo da esfera uniformemente magnetizada é um campo dipo-
lar, proveniente do momento de dipolo 43πa3M. A intensidade magnética dentro da esfera
é de um campo desmagnetizante. Assim a esfera magnetizada está sujeita a seu próprio
campo desmagnetizante (figura 5.3). O fator 13=
(14π
) (4π3
)depende explicitamente da
geometria esférica; a quantia 4π3
é conhecida como fator de desmagnetização de uma esfera
[89].
M
H
H
Figura 5.3: Figura esquemática das linhas de campo de H dentro e fora de uma esfera uniforme-mente magnetizada. Na parte interna as linhas de campo estão contrárias ao sentido da magneti-zação representando o fator desmagnetizante.
O campo magnético externo é (de 5.7 e 5.24):
B1 =1
3µ0M
(ar
)3 [2 cos θr + senθθ
]e a indução magnética na esfera é dada por (de 5.7 e 5.25):
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 75
B2 =2
3µ0Mk (5.26)
Dessa forma, com as ferritas não poderia ser diferente e isso pode ser percebido
na figura 5.4 que representa uma nanopartícula de ferrita de cobalto pura com tamanhos
diferentes, uma com um diâmetro menor, de 11 nm (5.4(a)) e a outra com um diâmetro
maior, de 42 nm (5.4(b)).
a)
0.01
0.492
0.975f)c)
-1.0
0.0
1.0
0.55
1.09
d)
0.0
-1.0
e)
0.0
1.0
b)
Magn
eti
zação (
em
u/g
)
Figura 5.4: Histerese da ferrita de cobalto pura com 11 nm (a) e 42 nm (b) de diâmetro mostrandoum Hc=13,6 kOe e Hc=12,8 kOe respectivamente. (c) e (e), representam o comportamento da mag-netização nos pontos indicados pelas setas em (a) e (b). Já (d) e (f) mostram o comportamento docampo dipolar das respectivas nanopartículas para os mesmos pontos. A barra de cores em (c)e (e) indica o ângulo dos momentos magnéticos com o plano, enquanto que em (d) e (f) indica aintensidade do campo dipolar para as respectivas nanopartículas também no plano.
Intuitivamente, o esperado na figura 5.4 era que o campo de reversão deveria ser
numericamente igual a HC , no entanto, o que se percebe é a histerese (a) com HC=13, 6
kOe e a histerese (b) com HC=12, 8 kOe, isto é, o campo coercivo diminui com o aumento
do tamanho da nanopartícula. A magnetização representada pelos mapas (c) e (e) mos-
tram que, tanto para a nanopartícula menor como para a nanopartícula maior, o compor-
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 76
tamento dos momentos magnéticos é muito semelhante, apresentando-se inclusive com
uma magnetização aproximadamente uniforme e no plano.
Neste sentido, a figura 5.4 cai sobre a teoria apresentada analiticamente logo
acima e assim o fator desmagnetizante passa a ter grande relevância. Para justificar, os
mapas de campo dipolar (d) e (f) mostram um comportamento bastente interessante em
duas regiões da nanopartícula: na região mais periférica da nanopartícula maior, o com-
portamento apresenta caracteristica não uniforme e com intensidades medianas (∼ 0, 490
kOe) devido aos efeitos da superfície e do campo externo, já na região central, o campo
dipolar aponta de maneira aproximadamente linear na direção inversa da magnetização
do mapa (e) com uma intensidade de ∼ 0.05 kOe, daí os motivos para que o campo de
reversão seja um pouco menor (12, 8 kOe), como mostrado na simulação.
Para a nanopartícula menor, o campo dipolar da região periférica apresenta com-
portamento semelhante ao que ocorre na nanopartícula maior. Já na região central, o
campo dipolar, como visto em (d), não apresenta-se bem caracterizado devido a ques-
tão de espaço, pois a nanopartícula tem um diâmetro muito pequeno, isso faz com que o
campo dipolar apresente intensidade aproximadamente nula nessa região, permanecendo
com o mesmo valor do campo de reversão (13, 6 kOe).
Em outras palavras, o campo de reversão esperado deveria ser Hc, no entanto,
ele é reduzido devido ao campo desmagnetizante. Isso mostra que as simulações estão
representando muito bem a teoria.
Para que fique mais claro, a figura 5.5 mostra o comportamento do campo de
reversão de uma partícula esférica de ferrita de cobalto em função do diâmetro desde 11
nm até 99 nm.
Como pode ser visto, na figura 5.5, as nanopartículas com diâmetros entre 11 e
31 nm não apresentam variação no valor do campo de reverção, onde todas revertem em
13,6 kOe. A partir de 33 nm a reversão da magnetização começa a ocorrer em campos
um pouco menores, pois a nanopartícula começa a ter espaço suficiente para criar campos
desmagnetizantes maiores. A medida que a nanopartícula aumenta de tamanho, o campo
de reversão vai diminuindo até que aos 93 nm o campo de reversão é 12 kOe. Algumas
simulações foram feitas até os 99 nm e todas elas mostraram que o campo de reversão
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 77
(I)
(II)
Figura 5.5: Gráfico da ferrita de cobalto pura mostrando que o campo de reversão sofre umapequena diminuição a medida que o diâmetro da nanopartícula aumenta. Os pontos (I) e (II)indicam os campos de reversão das curvas de magnetização (a) e (b) da figura 5.4.
permanece o mesmo (12 kOe), mostrando assim uma estabilização quanto ao campo des-
magnetizante da nanopartícula. Os pontos (I) e (II) indicam os campos de reversão das
curvas de magnetização (a) e (b) da figura 5.4.
O fato é que, ao se aumentar o tamanho do sistema, duas coisas são diretamente
afetadas: a primeira é o volume, que aumenta bastante, uma vez que a geometria é esférica
e, com isso, o fator desmagnetizante [39] torna-se cada vez mais evidente; e a segunda, é
que com o aumento do volume, o espaço interno da nanopartícula propicia o surgimento
de pequenas variações na magnetização, reduzindo assim o campo coercivo da mesma.
5.2 Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Núcleo@Camada
Específicamente, trabalhando de fato nas nanopartículas c@s, as simulações mostraram
que numa histerese de CoFe2O4(22 nm)@CoFe2(2 nm), com uma energia de troca de in-
terface no valor de A*=0,8, a sua magnetização é 35% menor em relação ao valor da mag-
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 78
netização de saturação do CoFe2 e 100% maior com relação a magnetização de saturação
da CoFe2O4. Isso pode ser visto na figura 5.6, onde a histerese (a) é a curva de magneti-
zação da c@s e as curvas (b) e (c) são do núcleo e da casca, respectivamente. Um fator de
destaque e que também pode ser visto na figura 5.6 é que, apesar da magnetização da c@s
alterar seu valor em relação a magnetização dos elementos que a formam, tanto o núcleo
como a camada revertem no mesmo valor de campo (5 kOe), como pode ser visto em (a),
(b) e (c). Aqui vale lembrar que (b) e (c) podem ser feitas devido tratar de um estudo
teórico através de simulações.
a) b)
c)
2
Figura 5.6: A histerese (a) é da nanopartícula de CoFe2O4(22 nm)@CoFe2(2 nm) e as outras duas,(b) e (c), são histereses do núcleo e da casca respectivamente. Essas duas últimas é possível fazerpor tratar-se de uma simulação numérica.
O núcleo de CoFe2O4 tem uma histerese quadrada [5.6(b)], proporcionando a
casca começar a reversão mais cedo, e como consequência, a redução da coercividade
da c@s. Tal reversão é conduzida pelo campo local na maior parte do volume da casca,
exceto para as regiões polares (θ = 0 e θ = π), onde o campo dipolar do núcleo é paralelo
à sua própria magnetização, como pode ser visto na figura 5.7.
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 79
q
z
x
0.4
0.9
1.4
1.9
2.4
2.9
1.2
2.6
Figura 5.7: Comportamento do campo dipolar do núcleo sobre a casca numa nanopartícula c@s deCoFe2O4(22 nm)@CoFe2(2 nm). Tal comportameno dar-se na parte superior da figura 5.6(a), ondeo campo externo é negativo. Ao lado, está a barra de cores a qual indica a intensidade do campodipolar em cada região da c@s. O eixo de coordenadas está no centro representando o plano ondea componente z varia com θ, assim em θ = 0 e θ = π têm-se os polos da c@s e em θ = π
2 tem-se oequador da nanopartícula.
Analisando o ramo superior da histerese (a) da figura 5.6, onde o campo externo
é negativo (H < 0), o mesmo está na mesma direção do campo dipolar do núcleo sobre a
casca numa região chamada de ”belt” (equador da esfera), onde θ = π2. Para essa região, o
campo de reversão (H ≈ −5 kOe) tem a componente z do campo dipolar do núcleo sobre a
casca, variando de 2, 68 kOe nos polos até −1, 23 kOe no equador da c@s (figura 5.7). Dessa
forma, o campo local em θ = π2
é oposto à magnetização do núcleo com uma intensidade
de aproximadamente 6 kOe. O forte acoplamento ferromagnético entre o núcleo e a casca
favorece o alinhamento da magnetização de ambos, e a reversão da partícula ocorre num
campo externo de aproximadamente 5 kOe, muito menor do que o campo de anisotropia
uniaxial do material núcleo (13, 6 kOe).
De um maneira geral, a c@s é uma partícula com propriedades magnéticas alta-
mente correlacionadas com os dois materiais. A presença da casca de CoFe2, diminui dras-
ticamente o campo de reversão da ferrita de cobalto isolada, reduzindo de 13, 6 kOe (fi-
gura 5.5) para 5 kOe (figura 5.6), isso equivale a uma diferença de aproximadamente 63%
entre uma nanopartícula simples de CoFe2O4 e uma nanopartícula c@s de CoFe2O4(22
nm)@CoFe2(2 nm), ambas com as mesmas dimensões, 26 nm. Logo a casca trás novas
propriedades ao núcleo.
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 80
Quando se aumenta um pouco o tamanho do núcleo e a espessura da casca, sur-
gem algumas características interessantes, conforme se mostra na figura 5.8 a histereses
de CoFe2O4(30 nm)@MnFe2O4(6 nm) e CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm):
Figura 5.8: Curvas de histerese comparando o comportamento de duas nanopartículas com omesmo núcleo de CoFe2O4(30 nm) e cascas diferentes, uma com MnFe2O4 (esquerda) e a outracom CoFe2 (direita), ambas com 6 nm. As curvas foram feitas considerando uma forte energiade troca de interface da ordem do material do núcleo (A∗ = 0.8). Os pontos a), b), c) e d) serãoexplicados mais adiante.
Ambas as nanopartículas da figura 5.8 apresentam uma configuração volumé-
trica, onde a casca equivale a aproximadamente 64% de toda a nanopartícula. Devido a
isso, o padrão magnético do CoFe2 impõe um grande impacto nas fases magnéticas da
nanopartícula. Com um forte acoplamento ferromagnético (A∗ = 0, 8), percebe-se uma
considerável redução no campo de reversão ao se comparar as duas nanopartículas. Vê-
se que a nanopartícula detentora de MnFe2O4 na casca reverte a magnetização em 2, 5
kOe, ao passo que na que cotém CoFe2 reverte em 6, 0 kOe.
Intuitivamente era de se esperar o oposto, pois a magnetização do CoFe2 é muito
maior. A explicação para isso pode ser dada ao se analisar os painéis da figura 5.9, em
que estes revelam grandes diferenças nos campos dipolares produzidos pelas cascas de
MnFe2O4 e CoFe2 no núcleo de CoFe2O4.
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 81
Figura 5.9: Os mapas acima representam mapas de magnetização (superior) e mapas decampo dipolar (inferior) das nanopartículas de CoFe2O4(30 nm)@MnFe2O4(6 nm) e CoFe2O4(30nm)@CoFe2(6 nm) dos respectivos pontos a), b), c) e d) da figura 5.8. As setas no interior dospainéis superiores representam a magnetização de cada região (as amarelas representam a mag-netização do núcleo e as brancas a magnetização da casca) e nos painéis inferiores representam ocampo dipolar do núcleo sobre a casca (setas brancas) e da casca sobre o núcleo (setas azuis)
Esses painéis, são na verdade os mapas de magnetização e mapas de campo di-
polar, que demonstram os momentos magnéticos locais ao longo da c@s e, do mesmo
modo, o comportamento do campo dipolar nos pontos (a), (b), (c) e (d) da figura 5.8. Os
mapas superiores são de magnetização e os inferiores são de campo dipolar. Tais ma-
pas, tanto o de magnetização como o de campo dipolar, mostram duas coisas ao mesmo
tempo. Nos superiores, a seta maior de cor amarela no núcleo representa a magnetização
deste, enquanto que as setas de cor branca presentes na casca representam a configuração
magnética da própria casca. Com relação aos mapas inferiores, as setas grandes de cor
azul, situadas no centro de cada nanopartícula, representam a direção do campo dipolar
da casca no núcleo, enquanto as setas brancas situadas no revestimento, representam o
campo dipolar do núcleo sobre a casca.
Ao se observar os mapas 5.9(a) e 5.9(b), percebe-se que, no primeiro, a magneti-
zação do revestimento é paralela à magnetização do núcleo e que, no segundo, a mag-
netização do revestimento forma o aqui chamado estado de cebola. Ao se confrontar
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 82
os mapas dos momentos magnéticos com o campo dipolar local, percebe-se que a casca
de MnFe2O4 produz um campo dipolar no núcleo paralelo à sua própria magnetização.
Por outro lado, no painel 5.9(c), cujo revestimento é de CoFe2, percebe-se que o padrão
magnético da casca é aproximadamente linear, tendo no equador da nanopartícula um
comportamento paralelo à magnetização do núcleo. No entanto, quando esta análise se
afasta do equador e caminha em direção aos pólos da mesma, nota-se que a magnetização
sofre uma pequena variação produzindo, com isso, consideráveis mudanças no campo
dipolar do revestimento sobre o núcleo. Para que isso fique evidente, o painel 5.9(c) infe-
rior apresenta tal observação, onde é possível observar que a casca produz um pequeno
campo dipolar de direção oposta a magnetização do núcleo.
Um fator que sofre influência diretamente do que foi dito acima é o campo de
reversão. Nota-se que, quando o revestimento do núcleo é de CoFe2, este produz um
campo dipolar em grande parte do volume do núcleo na direção da magnetização do
próprio núcleo. Este campo é da ordem de 3 kOe e chega a atingir cerca de 5 kOe próximo
dos polos, com se observa na figura [5.9(d)]. A interação dipolar núcleo-camada compensa
o aumento na energia Zeeman mantendo o núcleo antiparalelo ao campo externo até o
campo de 6 kOe, quando então, a magnetização é revertida por completa.
As mudanças na magnetização como no caso da CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm),
por exemplo, em que a casca, mesmo para valores positivos de campo externo, se alinha
com o campo dipolar do núcleo, se dá devido a baixa constante de anisotropia do CoFe2
em comparação com a ferrita de cobalto. Outro parâmetro que também contribui para
este comportamento é o comprimento de troca que é menor no CoFe2, logo para uma
casca com as mesmas dimensões da ferrita de manganês, o CoFe2 apresenta uma maior
possibilidade de apresentar mudanças locais da magnetização.
Tudo o que foi exposto até agora foi com uma interface acoplada por troca de
caráter ferromagnético muito intenso (A*=0.8). Contudo, quando no sistema é conside-
rado a ausência do acoplamento de interface (A*=0), a interação dipolar da nanopartícula
c@s leva a valores de campo de reversão maiores do que o próprio campo de anisotropia
da ferrita de cobalto presente no núcleo conforme apresenta a figura 5.10, a qual mos-
tra as curvas de magnetização das nanopartículas de CoFe2O4(30 nm)@MnFe2O4(6 nm) e
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 83
CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm) sem o acoplamento de interface.
a)
c) d)
b)
Figura 5.10: Curvas de histerese de CoFe2O4(30 nm) no núcleo e cascas de MnFe2O4 (a) e CoFe2(b), ambas com 6 nm e energia de troca de interface nula (A*=0.0). As curvas (c) e (d) mostram ocomportamento (contribuição) apenas da casca das respectivas nanopartículas, a qual exibe umahisterese inversa durante o processo de reversão de toda a partícula (núcleo e camada).
Ao se observar as curvas a) e b) da figura 5.10, percebe-se um aumento de 460% e
258,3% em relação aos campos de reversão da figura 5.8, que considera as mesmas nano-
partículas, com as mesmas dimensões, porém com um forte acoplamento ferromagnético.
Isso mostra que o acoplamento de interface é um parâmetro extremamente importante
quanto a reversão da magnetização da c@s. Um outro fator interessante é quanto ao tipo
de casca que envolve o núcleo. Para mostrar isso, as histereses c) e d) apresentam as cur-
vas de magnetização apenas da camada externa de cada nanopartícula e nelas percebe-se
que, quando a casca é de MnFe2O4, a reversão começa em 1, 5 kOe e apresenta uma re-
manência de −23, 17 emu/g, enquanto que, com a camada de CoFe2 a reversão começa
mais cedo, em H = 15 kOe, com uma remanência de −30 emu/g. Logo a casca tem uma
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 84
considerável contribuição para a queda da remanência da partícula.
Ao se analisar apenas o campo dipolar médio, tanto do núcleo sobre camada como
da camada sobre o núcleo, percebe-se que o valor desses campos, em θ ≈ π2
(região do
equador da nanopartícula), exibe uma histerese invertida em ambos os casos e, como
consequência, um grande impacto na camada de CoFe2, conforme se vê na figura 5.11.
Figura 5.11: Em (a) tem-se o campo dipolar médio do núcleo sobre a camada externa na regiãodo equador e em (b) o campo dipolar médio da camada externa sobre o núcleo, ambas as histere-ses é de uma nanopartícula com CoFe2O4(30 nm) no núcleo e CoFe2(6 nm) na casca. Os painéisinferiores indicam o comportamento da magnetização nos pontos (i) e (ii) da figura 5.10 (b).
A curva 5.11(a) mostra o campo dipolar médio do núcleo sobre a casca na região
do equador da nanopartícula, nesta região o campo dipolar é oposto ao campo externo
aplicado até que este último inverta, quando então os dois campos passam a ter o mesmo
sentido. Em 5.11(b) o campo dipolar médio da casca sobre o núcleo neste caso é estabili-
zante, o que explica o campo de reversão ser mais intenso que para a casca de ferrita de
manganês.
Os painéis (i) e (ii) mostram o padrão dos momentos magnéticos da casca de
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 85
CoFe2 e o respectivo campo dipolar que esta configuração produz no núcleo de CoFe2O4.
As mudanças no padrão da magnetização da camada com o campo magnético externo
aplicado, produz uma grande alteração do campo dipolar da casca sobre o núcleo, como
pode ser visto no início da nucleação do estado cebola (em i) e imediatamente antes da
reversão (em ii), em H=−3 kOe e H=−15, 5 kOe, respectivamente. A magnetização da
casca em (i), tem em sua fase um deslocamento para a esquerda, ao passo que, a medida
que ela se alinha com o campo externo em (ii), esta produz uma queda de 4, 5 kOe para
2 kOe no campo dipolar médio do invólucro. A escala de cores, que está logo abaixo de
cada painel, nos mostra que estes campos, na maior parte do espaço, são maiores que 2, 0
kOe, tornando o estado tipo cebola estável devido o alto MS do CoFe2 em comparação
com a casca de ferrita de manganês.
5.3 Efeito do acoplamento de troca em nanopartículas núcleo@camada
Um outro fator que também se apresentou bastante influente durante a evolução deste tra-
balho foi a energia de troca da interface. A sua relevância nas fases magnéticas, no campo
de reversão e na magnetização de remanência, fez com que a mesma também se tornasse
alvo de investigação. Este parâmetro demonstra desempenhar um papel relevante, tanto
quando considerado de caráter ferromagnético (FE) como de caráter antiferromagnético
(AF).
Uma característica bem peculiar da interface é que os íons magnéticos são afeta-
dos pela composição do material e pela rugosidade local. Esses dois fatores, dependem
fortemente do preparo da amostra, principalmente quando se trata da interação de troca
entre dois materiais diferentes [87, 88]. Então, devido a tais circunstâncias, a interface foi
tratada como uniforme, ou seja, com ausência de rugosidades e defeitos, como dito no
início deste capítulo. Para isto, foi introduzido um fator de troca, o qual simbolicamente
é chamado de A*. Este fator, é na verdade, um parâmetro de troca eficaz o qual introduz
uma energia de troca para a interface da ordem da rigidez de troca (A) do material que
estiver no núcleo, que no caso desta pesquisa, é o CoFe2O4. Em outras palavras, A* é um
parâmetro controlado e pode caracterizar a interface com um acoplamento AF, no caso de
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 86
A*<0, ou FE, no caso de A*>0.
Neste sentido, foram feitas simulações de nanopartículas com núcleo de ferrita de
cobalto de 30 nm de diâmetro recoberta por uma casca de 6 nm, de ferrita de manganês ou
de CoFe2, com o intuito de estudar o efeito de troca entre esses materiais. As grandezas
utilizadas para a análise das simulações foram o campo de reversão da nanopartícula e a
magnetização de remanência.
Foram feitas curvas de magnetização destas nanopartículas com A* desde −0, 2
até 1,0, como pode ser visto na figura 5.12. Para o caso em que A*=0, 0, ou seja, partí-
cula desacoplada pelo exchange, os únicos efeitos presentes entre os dois materiais são os
dipolares.
Figura 5.12: A figura mostra a queda do campo de reversão das nanopartículas CoFe2O4(30nm)@MnFe2O4(6 nm) e CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm), em cores verde e vinho respectivamente,a medida que o parâmetro de troca A* varia de −0, 2 até 1, 0.
Ao se observar as curvas de CoFe2O4(30 nm)@MnFe2O4(6 nm) e CoFe2O4(30
nm)@CoFe2(6 nm) percebe-se que a medida que o acoplamento sai de um caráter AF e
passa a tornar-se FE, o campo de reversão das nanopartículas decai bastante, podendo
ser visto claramente, tanto com MnFe2O4 na camada externa, onde o campo de reversão
cai de 14, 5 kOe (AF) para 2, 0 kOe (FE), assim como com CoFe2, onde este decai de 16
kOe (AF) para 5, 0 kOe (FE). As duas curvas apresentam caracteristicas bem semelhan-
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 87
tes, modificando apenas os valores numéricos do campo de reversão devido ao tipo da
camada externa de cada nanopartícula. Por exemplo, inicialmente ambas as curvas caem
de forma muito acentuada a medida que o valor de A* aumenta. No entanto, a partir
de A*=0, 3, ambas apresentam um carater aproximadamente constante, onde a partir de
então, o campo de reversão sofre pouquíssimas alterações, sendo 5, 0 kOe o valor limite
de coercividade para CoFe2 e 2, 0 kOe para a ferrita de manganês.
A magnetização remanente apresenta um comportamento que seria o oposto do
que ocorre com o campo de reversão, ou seja, ao invés das curvas caírem abruptamente,
elas crescem linearmente, como é mostrado na figura 5.13. Com tudo, a magnetização
remanente para a ferrita de manganês torna-se constante a partir de A*=0, 3 com 78, 09
emu/g, enquanto que para a nanopartícula com a liga de CoFe2 na casca, a remanência
tem uma tendência crescente até o acoplamento tornar-se extremamente ferromagnético
(A*=1), atingindo o valor máximo de 41, 75 emu/g.
Figura 5.13: A figura mostra a remanência das nanopartículas CoFe2O4(30 nm)@MnFe2O4(6 nm) eCoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm), em cores verde e vinho respectivamente, a medida que A* torna-seferromagnético.
Quando trata-se da ferrita de manganês na camada externa, a curva de magne-
tização da c@s tem um comportamento bem regular como visto na figura 5.8, já na c@s
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 88
que tem na casca a liga CoFe2, aparecem algumas novidades. Na remanência, onde o
campo externo é nulo, ambas as c@s apresentam características interessantes. No intuito
de entender melhor o que ocorre nesse ponto da histerese, a figura 5.14 mostra uma nano-
partícula de CoFe2O4(30 nm) no núcleo com MnFe2O4(6 nm) na casca.
A =-0.1*
A =0.2*
A =0.5*
-1.0
0.0
1.0
0.0
3.50
1.750
Figura 5.14: Mapas da magnetização (painéis superiores) e mapas de campo dipolar (painéis infe-riores) para a nanopartícula de CoFe2O4(30 nm)@MnFe2O4(6 nm) a campo externo nulo. A barrade cores superior no lado direito dos painéis, indica a componente da magnetização que sai doplano, e a inferior, indica a intensidade do campo dipolar do núcleo sobre a casca assim como dacasca sobre o núcleo.
Observando os valores de A* da figura 5.14 percebe-se que ela mostra 3 situações:
uma com um acoplamento AF e as outras duas com um acoplamento FE. O mapa de
magnetização para uma interface fracamente AF (A*=−0, 1), apresenta a camada externa
quase toda revertida devido a influência do campo dipolar do núcleo, que é por volta de 1
kOe na região do equador da nanopartícula, como mostrado no mapa de campo dipolar.
Uma exceção acontece nos polos onde o campo dipolar torna-se maior, por volta de 3 kOe,
fazendo com que a magnetização fique alinhada com o mesmo.
A medida que A* fica mais FE, a magnetização da casca vai tendendo a ficar pa-
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 89
ralela com a magnetização do núcleo (A*=0, 2), até que a partir de A*=0, 3 ela se torna
quase que totalmente paralela, exibindo uma magnetização remanente de 78, 10 emu/g,
juntamente com uma forte diminuição do campo dipolar da casca sobre o núcleo como
indicado nos diagramas inferiores de A*=0, 2 e A*=0, 5, onde chegam a ser quase nulos.
Essa remanência persiste nesse valor até mesmo numa interface fortemente FE (A*=1, 0).
Aqui duas coisas merecem destaque. A primeira delas, é que a magnetização
mostrada nos mapas da figura 5.14 aparecem sobre vários tons de cores. Pois bem, essas
cores indicam o quanto a componente da magnetização saiu ou entrou no plano, isso pode
ser visto quando utiliza-se a barra de cores que está na lateral dos mapas. Para entender
melhor, no mapa da magnetização do primeiro caso (A*=−0, 1), do lado esquerdo pró-
ximo aos polos, a magnetização apresenta a cor vermelha, indicando que esses momen-
tos magnéticos estão entrando no plano, já do lado direito também próximo aos polos, a
magnetização exibe a cor azul demonstrando que a magnetização saiu do plano. Logo, a
magnetização considerando estas duas regiões, é nula. No entanto, a magnetização resul-
tante não é apenas de um plano e sim de toda a nanopartícula, assim para se chegar ao
valor de MR ∼ −3, 8 emu/g da figura 5.13 para A*=−0, 1, tem-se que considerar a con-
tribuição de todos os outros planos da ”esfera” levando em consideração todos os tons
de cores os quais refletem a projeção da magnetização do momento magnético no plano.
Nos diagramas que sucedem, a medida que magnetização do invólucro fica paralela com
a do núcleo, os tons das cores começam a ficar cada vez mais claros dando lugar ao verde,
significando que a magnetização encontra-se no plano, e como resposta, o valor da rema-
nência sobe até 78, 09 emu/g. A segunda coisa, é alertar o leitor de que a partir de A*=0, 3
os diagramas, tanto da magnetização como os de campo dipolar, são idênticos, assim os
mapas de A*=0, 5 representa o que acontece desde A*=0, 3 até A*=1, 0.
Para uma nanopartícula com o mesmo núcleo de CoFe2O4(30 nm) porém com
a camada externa de CoFe2(6 nm) surge alguns fatores interessantes como mostrado na
figura 5.15.
Assim como na figura 5.14, a figura 5.15 mostra os mapas de magnetização e de
campo dipolar para os mesmos valores de A*. Tomando-se novamente A*=−0.1 como
referência, e olhando para a casca na região do equador, percebe-se que os dois momen-
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 90
A = 0.5*
A = -0.1*
A = 0.2*
-1.0
1.0
0.0
1.750
3.500
Figura 5.15: Mapas da magnetização (painéis superiores) e mapas de campo dipolar (painéis infe-riores) para a nanopartícula de CoFe2O4(30 nm)@CoFe2(6 nm). A barra de cores superior no ladodireito dos painéis indica a componente da magnetização que sai do plano e a inferior indica aintensidade do campo dipolar do núcleo na casca assim como da casca no núcleo
tos mais internas estão alinhadas de forma antiparalela com o momento mais externa do
núcleo e com o momento mais externa da própria casca. Agora olhando para o mapa do
campo dipolar da mesma nanopartícula na região do equador, percebe-se que o campo
dipolar do núcleo sobre a casca diminui de intensidade a medida que chega perto do
momento mais externa da casca, saindo de valores por volta de 1, 4 kOe na parte mais
interna para campos por volta de 0, 7 kOe na parte mais externa da casca. Isso explica
o motivo da camada mais externa da casca ficar antiparalela com as outras duas cama-
das. Na região dos polos, onde o campo dipolar do núcleo sobre a casca é mais intenso
(∼ 3, 0 kOe), a magnetização da casca apresenta-se no plano, semelhante a nanopartícula
que tem a ferrita de manganês como revestimento, porém não alinha-se com tal campo.
Nos outros mapas, para A*=0, 2 e A*=0, 5, devido ao acoplamento tornar-se cada vez mais
FE, a casca alinha seus momentos internos com os do núcleo e o campo dipolar começa a
ficar um pouco mais intenso na região mais periférica do núcleo. Isso faz com que os mo-
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 91
mentos magnéticos da casca na região dos polos alinhem-se com os momentos do núcleo
favorecendo uma magnetização maior.
No tocante a magnetização resultante, a explicação também é semelhante ao que
ocorre com a ferrita de manganês, ou seja, tem que considerar todos os planos da ”es-
fera” e todas as projeções da magnetização no plano (representadas pelos tons de cores).
Porém, diferentemente do que ocorre com a ferrita de manganês em A*=−0, 1, por exem-
plo, aqui, percebe-se que os momentos magnéticos da casca entram e saem do plano com
mais intensidade, incluinda até regiões periféricas do núcleo. Isso faz com que uma maior
quantidade de momentos tenham uma resultante negativa, fazendo com que o valor da
remanência chegue a −17, 84 emu/g.
Olhando agora para as outras duas situações, A*=0, 2 e A*=0, 5, em que a interface
vai tornando-se cada vez mais ferromagnética, perceba que aos poucos os tons de cores
mostram que os momentos magnéticos vão ficando cada vez mais próximos do plano,
provocando assim o aumento nos valores da remanência. No entanto, isso ocorre de ma-
neira mais lenta do que no caso com MnFe2O4, por isso que a remanência cresce de forma
contínua e aos poucos.
De uma maneira geral quando analisa-se as duas últimas figuras é fácil notar que
a nanopartícula com MnFe2O4 na camada externa apresenta características de remanência
e campo de reversão mais regulares, ao passo que quando a casca é de CoFe2 isso não
ocorre devido ao campo dipolar produzido pelo revestimento.
Um outro fator que merece destaque, trata-se do comportamento do campo de
reversão da nanopartícula com o volume do invólucro, o qual é controlado através da
espessura da casca que reveste o núcleo. Isso pode ser observado no gráfico da figura
5.16.
Tomando a curva da camada externa de MnFe2O4 como exemplo, na figura 5.16,
percebe-se que o campo de reversão da nanopartícula decai quase que linearmente com a
espessura (volume) da casca. Isso de um certo modo era de se esperar, já que quando
aumenta-se a espessura da camada externa, aumenta-se a quantidade em volume de
MnFe2O4 e como consequência aumenta-se a magnetização efetiva do invólucro. Já
quando o invólucro é de CoFe2, a diferença é bem evidente, pois o campo de rever-
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 92
Figura 5.16: A figura mostra a variação do campo de reversão a medida que a casca torna-se maisespessa. Perceba que o núcleo de CoFe2O4 tem o seu tamanho constante igual a 30 nm.
são demonstra-se aproximadamente constante com o aumento da espessura (volume) da
casca. Vale ressaltar que o aumento desta espessura varia de 2 nm até 8 nm. A causa
para ambas as características é devido a estabilização do núcleo de CoFe2O4 pelo campo
dipolar produzido pelo revestimento (CoFe2) que é paralelo a magnetização do próprio
núcleo.
5.4 Nanopartículas Núcleo@Camada de Pequeno Diâmetro
Esta seção irá tratar de nanopartículas c@s de tamanho muito pequeno, da ordem de no
máximo 15 nm de diâmetro, com forte acoplamento entre o núcleo e a camada. Com essas
caracteristicas, pode-se esperar um comportamento típico de rotação coerente, pois não
há muito espaço para consideráveis mudanças da magnetização em volume reduzido.
Contudo, o campo de reversão ou coercividade pode ser encontrado usando os parâme-
tros magnéticos médios [40]. Essa análise, trata os parâmetros magnéticos considerando a
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 93
porção volumétrica do material e a geometria das nanopartículas, que no caso em questão
são esféricas. Assim o momento magnético por unidade de volume (magnetização) pode
ser dado da seguinte forma:
⟨MT ⟩ =µM
VT
(5.27)
onde ⟨MT ⟩ é a magnetização total média da nanopartícula, µM é o momento magnético
do elemento e VT é o volume total da esfera, que da maneira como está, seria para uma
nanopartícula simples.
Direcionando o estudo para as nanopartículas c@s, o momento magnético em
questão torna-se uma soma dos momentos magnéticos do núcleo com os da casca e isso
também é análogo para o volume, logo:
⟨MT ⟩ =µn + µc
Vn + Vc
(5.28)
⟨MT ⟩ =MnVn +McVc
Vn + Vc
=MnVn
Vn + Vc
+McVc
Vn + Vc
= Mnfn +Mcfc (5.29)
onde Mn e Mc são a magnetização do material do núcleo e da casca respectivamente,
dados em emu/cm3. E as grandezas fn e fc são a fração volumétrica do núcleo e da casca
dadas por
fn =Vn
Vn + Vc
=Vn
VT
(5.30)
fc =Vc
Vn + Vc
=Vc
VT
(5.31)
na expressão 5.29 da remanência do sistema [40].
Devido a geometria das nanopartículas, o volume a ser utilizado nas expressões
acima é o volume da esfera. Observando-se a figura 5.17, tem-se uma c@s esquemática
que mostra tanto o núcleo como a casca, assim como o raio dessas estruturas.
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 94
rc
rn
d
Figura 5.17: Figura esquemática que mostra o raio do núcleo (rn), o raio da casca (rc) e a espessurada casca (δ).
Assim as equações 5.30 e 5.31 podem ser escritas em termos dos raios do núcleo
e da casca. Para isso, deve-se utilizar a relação rT = rn + δ = rc que pode ser tirada da
figura 5.17, logo:
fn =r3n
(rn + δ)3(5.32)
fc = 1− r3n(rn + δ)3
(5.33)
e a equação 5.29 agora pode ser escrita como:
⟨MT ⟩ = MnS
[r3n
(rn + δ)3
]+M c
S
[1− r3n
(rn + δ)3
](5.34)
onde MnS é a magnetização de saturação do núcleo e M c
S é a magnetização de saturação da
casca.
Observe que:
limδ→0
⟨MT ⟩ = MnS (5.35)
e
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 95
limδ→∞
⟨MT ⟩ = M cS (5.36)
As equações 5.35 e 5.36 mostram os limites inferiores e superiores da magnetiza-
ção. Em outras palavras, quando a casca fica muito espessa a remanência da c@s tende
aos valores de magnetização do invólucro, enquanto que a medida que a casca torna-se
cada vez mais fina a remanência tende aos valores da magnetização do núcleo.
Analogamente, a anisotropia é dada por:
⟨KT ⟩ = Knfn +Kcfc (5.37)
ou
⟨KT ⟩ = Kn
[r3n
(rn + δ)3
]+Kc
[1− r3n
(rn + δ)3
](5.38)
onde Kn é a constante de anisotropia do material do núcleo e Kc é a constante de aniso-
tropia do material da casca.
De acordo com R. Skomski e J. M. D. Coey [40] o campo de nucleação (coercivi-
dade) é dado por:
Hc =2⟨K⟩⟨MT ⟩
(5.39)
substituindo as equações 5.34 e 5.38 na equação 5.39 fica:
Hc = 2
MnS +M c
S
[(rn+δ)3
r3n− 1
]Kn +Kc
[(rn+δ)3
r3n− 1
] (5.40)
Baseado nessa fenomenologia foram feitas algumas simulações de nanopartículas
c@s utilizando vários materiais e comparados com estes valores médios obtidos analiti-
camente. Os resultados experimentais, teóricos (do modelo apresentado no capítulo 3) e
analíticos (modelo apresentado no início da seção) estão apresentados na tabela 5.2.
Capítulo 5. Impacto do Campo Dipolar em Nanopartículas Magnéticas 96
HC (KOe)Nanopartícula Valor Experimental Valor Simulado Mod. Parâm. Médio
CoFe2O4(9 nm)@MnFe2O4(3 nm) 2.2 [14] 2.2 3.0
MnFe2O4(9 nm)@CoFe2O4(3 nm) 9.1 [14] 9.2 10.0
CoFe2O4(9 nm)@Fe3O4(3 nm) 2.6 [14] 2.6 3.0
Fe3O4(9 nm)@CoFe2O4(3 nm) 10.0 [14] 10.0 10.0
CoFe2O4(6 nm)@MnFe2O4(2 nm) 9.7 [49] 9.0 3.0
MnFe2O4(6 nm)@CoFe2O4(2 nm) 9.7 [49] 12.0 10.0
Tabela 5.2: Alguns sistemas de nanopartículas c@s de pequeno diâmetro mostrando os valoresexperimentais, teóricos e do modelo de parâmetro médio para o campo coercivo das mesmas.
De acordo com a tabela 5.2, os dados são em sua maioria uma boa
aproximação com os valores experimentais. No entanto, as nanopartículas de
CoFe2O4(9nm)@MnFe2O4(3mn) e CoFe2O4(6nm)@MnFe2O4(2nm) têm as mesmas frações
volumétricas do núcleo e da casca (fn = 0, 22 e fc = 0, 78 respectivamente), os quais de
acordo com o modelo de parâmetros médios, apresentam uma coercividade de 3 kOe para
ambas as nanopartículas. Contudo, a medida experimental da coercividade (9, 7 kOe) [49]
e a simulação (9, 0 kOe) têm valores bem aproximados e ao mesmo tempo bastante dife-
rentes do valor do modelo médio. Há um fato muito importante a ser considerado com
essas partículas, elas têm um diâmetro muito pequeno revestido com uma camada muito
fina, o que dá a elas uma grande probabilidade de terem muitos defeitos de interface,
causando com isso, uma considerável redução da energia de troca da interface. Vale res-
saltar que esse valor reproduzido na simulação foi usando uma energia de interface de
A*=0.025.
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES, PERSPECTIVAS E CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 Conclusões
Nesta tese, investigou-se o impacto da interação dipolar e da energia de troca nas fa-
ses magnéticas e no mecanismo de reversão das nanopartículas de CoFe2O4@MnFe2O4 e
CoFe2O4@CoFe2.
A interação dipolar da nanopartícula pode ser vista através do campo dipolar
produzido pelo núcleo na camada externa onde este é paralelo à magnetização do núcleo
na região próxima aos polos e tem orientação oposta na região de θ = π2, aqui chamada
de equador da nanopartícula. A competição entre o campo dipolar e a energia de troca
ferromagnética do acoplamento favorece um padrão magnético não uniforme no invólu-
cro levando à formação do chamado onion state (estado de cebola) no mesmo. Com isso,
grande parte do volume do invólucro é magnetizado na direção do campo externo favo-
recendo a reversão global da nanopartícula num campo menor que o valor previsto pelo
modelo de campo médio.
Além disso, a camada externa também produz um campo dipolar no núcleo. As
fontes desse campo são a densidade volumétrica de cargas magnéticas e as cargas magné-
ticas superficiais desequilibradas da camada externa, que podem produzir grandes cam-
pos dipolares no núcleo.
Consoante foi dito no começo desta seção, o campo dipolar do núcleo afeta as
97
Capítulo 6. Conclusões, Perspectivas e Considerações Finais 98
fases magnéticas da nanopartícula, levando a uma reversão da magnetização mais cedo,
como é o caso da nanopartícula de CoFe2O4@MnFe2O4. Contudo, para a nanopartícula
de CoFe2O4@CoFe2, o campo dipolar produzido pelo invólucro de CoFe2 produz uma
estabilização na magnetização do núcleo de CoFe2O4, atenuando a redução do campo de
reversão da nanoparticula global.
A nanopartícula de CoFe2O4@MnFe2O4 apresenta curvas de histerese suaves
quase quadradas, indicando com isso a reversão mais cedo da camada externa e um
decaimento do campo de reversão aproximadamente linear com a fração volumétrica,
como é esperado para um forte acoplamento por troca na c@s. Já a nanopartícula de
CoFe2O4@CoFe2 exibe uma curva de histerese aproximadamente suave com um invólu-
cro de 2 nm. No entanto, quando essa espessura aumenta (para 6 nm), o comportamento
dessa histerese lembra sistemas com acoplamento do tipo ”Exchange-spring” onde a ener-
gia de troca da interface não consegue segurar a camada externa, deixando-a reverter
antes do núcleo. Isso é refletido no comportamento da histerese que se torna cada vez
menos quadrada. No caso da nanopartícula em questão percebe-se tal fato ainda em cam-
pos positivos. Contudo, o campo de reversão é aproximadamente constante com a fração
volumétrica de CoFe2 na faixa de 40% a 80%.
Em suma, a interação dipolar favorece um arranjo antiferromagnético da mag-
netização da casca com o núcleo; e a energia de troca da interface FE ou AF, leva a uma
redução ou aumento, respectivamente, do campo de reversão da nanopartícula global. O
impacto do campo dipolar na nanopartícula c@s é fortemente otimizado devido à geome-
tria e as propriedades dos materiais utilizados. A alta anisotropia do núcleo o torna uma
fonte de campo boa e estável. Além disso, há uma grande variação do campo dipolar do
núcleo no invólucro, na escala de comprimento da ordem do raio do núcleo. O campo
dipolar do núcleo na camada externa é paralelo à própria magnetização do núcleo nas
regiões próximas dos polos (θ = 0 e θ = π) e oposto nas regiões do equador da nanopartí-
cula (θ = π2). Este gradiente de campo dipolar favorece um perfil magnético não uniforme
na camada externa, e é devido a isto que são obtidos grandes efeitos em nanopartículas
c@s com grandes diâmetros de núcleo e alta magnetização do material que o encapsula.
Capítulo 6. Conclusões, Perspectivas e Considerações Finais 99
6.2 Perspectivas
Dada a relevância do trabalho desenvolvido em um formato teórico, percebe-se ainda a
necessidade de aprofundamento nos estudos levando-se em consideração efeitos de tem-
peratura, superfície e campo nos mesmos elementos.
Com a inclusão da temperatura, podem-se fazer novas análises das fases mag-
néticas destas nanopartículas, realizar medidas teóricas da Absorção de Calor Específico
(SLP - do inglês Specific Loss Power), onde este conhecimento é muito utilizado em téc-
nicas de hipertermia na área biomédica. Outra perspectiva é também produzir esse es-
tudo de forma experimental, produzindo estas nanoestruturas nos laboratórios da UFRN
realizando as medidas experimentais das grandezas citadas acima, analisadas de forma
teórica.
Podem-se utilizar outros formatos geométricos (elipsoides, cilíndricos, etc.) para
comparar os efeitos de campo dipolar em cada nanoestrutura e também observar as me-
didas de SLP. É possível, ainda, investigar outros efeitos como o magnetocalórico, assim
como outros elementos que tenham momento magnético elevado utilizando a mesma téc-
nica.
6.3 Considerações Finais
Com base nas considerações e problemática apresentada, espera-se que este trabalho con-
tribua ainda mais com os estudos e avanço dos sistemas artificiais magnéticos envolvendo
nanoestrutura c@s, e possa despertar o interesse de grupos experimentais para o desen-
volvimento dessas nanoestruturas e das técnicas de sua utilização.
Espera-se, outrossim, que esta pesquisa desempenhe um relevante papel em fu-
turas aplicações, bem como em novas tecnologias, pois o principal objetivo do Grupo de
Magnetismo e Materiais Magnéticos (GMMM) é trabalhar em benefício da sociedade dire-
cionando os estudos para possíveis aplicações, como processos de hipertermia, produção
de ímãs permanentes e outros sistemas.
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