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INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO EM CABECEIRAS DE DRENAGENS DO RIO PIONEIRO NA CIDADE DE PALOTINA, REGIÃO OESTE DO ESTADO DO PARANÁ. Anderson Sandro da Rocha, UNIOESTE, [email protected] Greicy Jhenifer Tiz, UNIOESTE, [email protected] José Edézio da Cunha, UNIOESTE, [email protected] Valdeir Welter, UNIOESTE, [email protected] RESUMO: A cidade de Palotina teve nas décadas de 1970 e 1980 um adensamento populacional devido a modernização das técnicas agrícolas que favoreceu o êxodo rural na região Oeste do estado do Paraná. O núcleo urbano desta cidade foi originalmente instalado sobre o divisor de águas dos rios Santa Fé e Pioneiro e atualmente vem se expandindo para as áreas de média e baixa vertente. Por esse motivo, o presente estudo tem como objetivo compreender como o processo de urbanização da cidade, tem influenciado na dinâmica natural das cabeceiras de drenagem do Rio Pioneiro, particularmente nos afluentes: Sanga Iracema, Sanga Jequetiba e Sanga Princezinha. Para desenvolvimento deste trabalho foram realizadas medições da largura e profundidade de feições erosivas, sempre acompanhadas de registros fotográficos. Foi possível identificar, que na cabeceira da Sanga Iracema, a canalização das águas pluviais, juntamente com a alteração do seu curso normal, promovem alterações drásticas no seu leito. Já na Sanga Jaquetiba as obras de drenagem realizadas para a construção do Lago Municipal faz com que não exista nenhuma forma erosiva evidente, no entanto, a construção do lago, tem alterado vários elementos naturais e favorecido a construção de loteamentos em lugares inadequados. E, por fim, na sanga Princezinha foi identificada formas erosivas do tipo ravina/voçoroca na saída de galerias pluviais. Este estudo tem sua relevância porque evidencia como as alterações realizadas em cabeceiras de drenagens geram impactos que refletem um planejamento urbano que se preocupa mais com os aspectos econômicos e políticos do que com a análise sistêmica das Bacias Hidrográficas. PALAVRAS-CHAVE: Cabeceiras de drenagem, urbanização, degradação ambiental. Introdução O processo de urbanização aliado ao uso e ocupação inadequada dos solos vem promovendo alterações drásticas no ciclo hidrológico das bacias hidrográficas, particularmente nas áreas próximas as cabeceiras de drenagem. Essas alterações têm gerado problemas ambientais tanto em áreas urbanas como em áreas rurais, tais como desmoronamentos, desequilíbrio fluvial e o desenvolvimento de formas erosivas, evidentes na forma de sulcos, ravinas e voçorocas. De acordo com Tucci e Collischonn, (2009) o ciclo hidrológico sofre fortes alterações nas áreas urbanas devido, principalmente, à alteração da superfície e a canalização do escoamento. A urbanização produz grande impermeabilização do solo, fazendo com que a vazão máxima das bacias urbanas aumentem com as áreas impermeáveis e com a canalização

INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO EM CABECEIRAS DE … · do Rio Pioneiro (Figura 1). Como pode ser observado na Figura 1 a o trecho do Rio Pioneiro que corta a cidade de Palotina, possui

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INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO EM CABECEIRAS DE DRENAGENS DO RIO PIONEIRO NA CIDADE DE PALOTINA,

REGIÃO OESTE DO ESTADO DO PARANÁ. Anderson Sandro da Rocha, UNIOESTE, [email protected] Greicy Jhenifer Tiz, UNIOESTE, [email protected] José Edézio da Cunha, UNIOESTE, [email protected] Valdeir Welter, UNIOESTE, [email protected] RESUMO: A cidade de Palotina teve nas décadas de 1970 e 1980 um adensamento populacional devido a modernização das técnicas agrícolas que favoreceu o êxodo rural na região Oeste do estado do Paraná. O núcleo urbano desta cidade foi originalmente instalado sobre o divisor de águas dos rios Santa Fé e Pioneiro e atualmente vem se expandindo para as áreas de média e baixa vertente. Por esse motivo, o presente estudo tem como objetivo compreender como o processo de urbanização da cidade, tem influenciado na dinâmica natural das cabeceiras de drenagem do Rio Pioneiro, particularmente nos afluentes: Sanga Iracema, Sanga Jequetiba e Sanga Princezinha. Para desenvolvimento deste trabalho foram realizadas medições da largura e profundidade de feições erosivas, sempre acompanhadas de registros fotográficos. Foi possível identificar, que na cabeceira da Sanga Iracema, a canalização das águas pluviais, juntamente com a alteração do seu curso normal, promovem alterações drásticas no seu leito. Já na Sanga Jaquetiba as obras de drenagem realizadas para a construção do Lago Municipal faz com que não exista nenhuma forma erosiva evidente, no entanto, a construção do lago, tem alterado vários elementos naturais e favorecido a construção de loteamentos em lugares inadequados. E, por fim, na sanga Princezinha foi identificada formas erosivas do tipo ravina/voçoroca na saída de galerias pluviais. Este estudo tem sua relevância porque evidencia como as alterações realizadas em cabeceiras de drenagens geram impactos que refletem um planejamento urbano que se preocupa mais com os aspectos econômicos e políticos do que com a análise sistêmica das Bacias Hidrográficas. PALAVRAS-CHAVE: Cabeceiras de drenagem, urbanização, degradação ambiental.

Introdução

O processo de urbanização aliado ao uso e ocupação inadequada dos solos vem

promovendo alterações drásticas no ciclo hidrológico das bacias hidrográficas,

particularmente nas áreas próximas as cabeceiras de drenagem. Essas alterações têm gerado

problemas ambientais tanto em áreas urbanas como em áreas rurais, tais como

desmoronamentos, desequilíbrio fluvial e o desenvolvimento de formas erosivas, evidentes na

forma de sulcos, ravinas e voçorocas.

De acordo com Tucci e Collischonn, (2009) o ciclo hidrológico sofre fortes alterações

nas áreas urbanas devido, principalmente, à alteração da superfície e a canalização do

escoamento. A urbanização produz grande impermeabilização do solo, fazendo com que a

vazão máxima das bacias urbanas aumentem com as áreas impermeáveis e com a canalização

do escoamento. Este aumento ocorre em detrimento da redução da evapotranspiração e do

escoamento subterrâneo e da redução do tempo de concentração da bacia.

De acordo com Anjos e Pereira (2005) os núcleos urbanos genericamente são

desenvolvidos próximos às fontes de águas o que significa dizer que são comuns a ocupação

de várzeas, fundos ou sopés de vales e encostas, quase sempre, sem dar a devida relevância as

condições de dispersão das águas e da redução da intensidade dos ventos dessas áreas. Assim,

segundo os autores, a necessidade de espaços tem promovido a expansão das cidades e dos

subúrbios para as áreas antes destinadas as formações vegetais naturais, como é o caso das

áreas próximas às redes de drenagens.

Para Guerra e Cunha (1996) essas modificações ambientais induzidas pelo homem, no

processo de utilização dos recursos naturais, são inúmeras e estão relacionadas,

principalmente, ao processo de urbanização sem planejamento adequado. Segundo os autores,

esse tipo de ação, quase sempre, culmina no aceleramento de processos erosivos, ou melhor,

na degradação do solo e de outros recursos do meio ambiente, tais como contaminação das

águas fluviais e desequilíbrio das matas ciliares (corredor de biodiversidade) que

comprometem a qualidade de vida da sociedade.

Nessa discussão, destacam-se dois pontos que ajudam a entender as causas, os efeitos

e a contenção de processos erosivos em áreas urbanas e periurbanas. Um deles é que boa parte

da literatura ressalta o crescimento urbano como causa principal, tanto da instalação como da

evolução da erosão, e outro, é que embora, na maioria dos casos, as obras, voltadas ao

crescimento urbano, estejam sendo realizadas por empresas vinculadas a órgãos públicos,

estas, quase sempre, desprezam as necessidades específicas de cada ambiente, particularmente

aquelas relativas às características do solo, de topografia, de tempo e intensidade das

precipitações (ROCHA et al., 2009).

Nesse sentido é importante salientar, que as formas de uso e ocupação inadequada dos

solos, nas áreas urbanas e periurbanas podem gerar problemas culturais, sociais e ambientais à

comunidade, mesmo àquelas cidades de sítios urbanos pequenos, como indica Tiz e Cunha

(2007).

Neste contexto, o presente estudo tem como intuito mostrar os problemas oriundos dos

usos e ocupações inadequados dos solos, através das formas de degradação do ambiental

ocorridos na cidade de Palotina. Dessa forma, o estudo realizado em três cabeceiras de

drenagem (Sanga Iracema, Sanga Jequetiba e Sanga Princezinha) do rio Pioneiro, permitiu

identificar os problemas causados pelo processo de expansão urbana, que são evidenciados a

partir dos desmoronamentos ocorridos as margens dos rios e das formas erosivas presentes na

área periurbana do município.

Material e Método

Buscando compreender a influência da urbanização nas cabeceiras de drenagem do rio

Pioneiro, avaliou-se o tipo de uso e ocupação do solo, bem como os problemas oriundos de

um planejamento inadequado, sempre com o cuidado de verificar os indicadores de risco e

fragilidade ambiental da malha urbana e periurbana do município.

A partir dos objetivos propostos, foram desenvolvidas as seguintes etapas:

- Levantamento bibliográfico sobre o tema proposto;

- Observação dos fatores antrópicos que contribui para o avanço dos processos erosivos:

construção de novos loteamentos em áreas vulneráveis, crescimento urbano sem planejamento

adequado;

- Observação das características morfológicas, pedológicas e climáticas do perímetro urbano:

declividade do relevo, impermeabilização do solo, concentração de água pluvial;

- mapeamento da área através de fotos de satélites, com o objetivo de entender as

modificações e os pontos de concentração de água;

- Utilização do software Google Earth para delimitação da área de estudo e digitalização de

imagem para representação dos processos erosivos com o uso do software Corel Draw;

- análise e correlação dos dados.

Resultados e Discussões

O presente estudo tem como área o município de Palotina, localizado na região Oeste

do Estado do Paraná, na latitude 24° 33'40'' S e longitude 54° 04'12'' W. De acordo com o

IBGE (2009), este município possui uma área de 651,23 km2, e encontra-se a 333m de

altitude em relação ao nível do mar, com uma população de aproximadamente 27.545

habitantes.

Segundo o IAPAR (1994) predomina o clima subtropical úmido (Cfa), com verões

quentes, geadas menos freqüentes, com tendência a concentração das chuvas nos meses de

verão, sem estação seca definida, apresentando graus pluviométricos que oscilam da

1400mm/ano a 1800mm/ano.

O embasamento geológico do município tem suas origens em duas formações

geológicas: a basáltica e a sedimentar. Por conseguinte, predominam no município solos

argilosos, alterando para arenosos apenas nas bordas do rio Piquiri.

Quanto a geomorfologia, o município de Palotina, apresenta uma topografia com

patamares planos para suave ondulado, sendo pouco comum elevações significativas de

relevo. Quanto à rede hidrográfica, os principais rios são: Azul, Pioneiro, Santa Fé, São

Camilo e Piquiri (WILKOMM, 2005).

A cidade de Palotina teve nas décadas de 1970 e 1980 um adensamento populacional

devido a modernização das técnicas agrícolas que favoreceu o êxodo rural na região Oeste do

estado do Paraná. O núcleo urbano desta cidade foi originalmente instalado sobre o divisor de

águas dos rios: Santa Fé e Pioneiro e atualmente vem se expandindo para as áreas de média e

baixa vertente.

Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo compreender como o processo

de urbanização da cidade, tem influenciado na dinâmica natural das cabeceiras de drenagem

do Rio Pioneiro (Figura 1). Como pode ser observado na Figura 1 a o trecho do Rio Pioneiro

que corta a cidade de Palotina, possui três cabeceiras principais denominadas de: Sanga

Iracema, Sanga Jequetiba e Sanga Princezinha.

Figura 1 - Localização das cabeceiras do rio Pioneiro em relação à cidade de Palotina - Paraná – Brasil.

Tendo em vista esta condição, os resultados serão apresentados tomando como

referência tais afluentes, apresentando as principais feições e suas causas relacionadas aos

aspectos do uso e ocupação realizados em cada um deles.

Como frisado no tópico referente à metodologia, para o desenvolvimento deste

trabalho, foram realizadas medições da largura e da profundidade de feições erosivas, sempre

acompanhadas de registros fotográficos. Com esses procedimentos foi possível identificar as

causas da existência de tais feições, bem como propor formas de prevenção e contenção a

processos erosivos.

A cabeceira da sanga Iracema, está localizada ao norte da área urbana do município, e

sofre a influencia de vários loteamentos, a partir dos quais são canalizadas as águas pluviais

coletadas nas vias públicas de vários pontos a partir das avenidas Presidente Kennedy, tida

como o divisor de águas entre as bacias dos rios: Pioneiro e Santa Fé, e rua Independência

ponto mais elevado entre as sangas Iracema e Jequetiba.

Como pode ser visto na figura 2, que contém parte do mapa de bairros e da expansão

urbana da cidade de Palotina, tal cabeceira recebe a influencia das águas coletadas em parte

do Centro, além dos bairros Jardim Social, Imigrantes e Bela Vista. Quanto a evolução

urbana, pode se dizer que a parte que abrange o centro da cidade foi implantada entre os anos

de 1950 e 1960, enquanto os outros bairros tiveram uma ocupação mais tardia como pode ser

observado na mesma figura 2.

Figura 2: Mapa de bairros e da expansão urbana da cidade de Palotina.

A figura 2 demonstra que cada bairro teve períodos diferentes de expansão. Os

Bairros: Bela Vista e Jardim Social tiveram sua parte mais próxima ao centro construída em

1978 e expandida nos anos de 1982 e 1992. Já o Bairro dos Imigrantes, foi construído nos

anos de 1978 e 1992.

A figura 1 demonstra que a cabeceira de drenagem possui uma pequena parte

urbanizada nas proximidades das nascentes, sendo o restante destinado a pecuária e a

agricultura e em alguns pontos localizados a piscicultura, evidenciadas pela presença de

açudes ao longo do médio a baixo curso da Sanga.

Mesmo em tais circunstancias, a coleta das águas de parte do Centro, além dos bairros

Jardim Social, Imigrantes e Bela Vista, e direcionamento em apenas um ponto próximo as

nascentes da sanga, bem como a alteração do curso normal da sanga fez com que o processo

de retirada e transporte de materiais ao longo do leito da mesma fosse intensificado,

particularmente na sua parte mais declivosa, nas proximidades das nascentes devido ao

aumento da vazão da sanga principalmente nos períodos mais chuvosos.

Isso ocorre, pois, o processo de expansão urbana promoveu um gradual aumento de

superfícies impermeabilizadas, fazendo com que uma maior quantidade de águas pluviais

chegasse com maior velocidade a sanga, promovendo a intensificação da retirada e transporte

de materiais alterando o leito do rio (Figura 3). Esta realidade fica evidente na figura 4 que

demonstra um ponto da sanga cujo leito chega a conter mais de cinco metros de profundidade.

Nota-se uma pequena árvore caída dentro do córrego produto da retirada de materiais ao

longo do leito.

Figura 3- Galerias pluviais as margens da Sanga Iracema.

Figura 4 – Sanga Iracema. Ponto com mais de cinco metros de profundidade. Acervo Pessoal.

Além do trabalho das águas fluviais esculpindo o canal da sanga, com a alteração do

curso da sanga a profundidade no ponto onde foi realizado o desvio possui uma profundidade

pouco expressiva (figura 5), o que faz com que nos períodos de chuva intensa o mesmo seja

facilmente extravasado pelas águas pluviais que se juntam as águas oriundas das nascentes.

O extravasamento das águas da sanga faz com que ocorra o escoamento superficial, o

que tem levado a esculturação da superfície, que no ponto em que os trabalhos de campo

foram feitos é ocupado por pastagem. As águas superficiais ao chegarem as margens da sanga,

que em vários pontos possui vegetação bem abaixo do recomenda a pela legislação ambiental

vigente, favorece a evolução lateral das margens do leito da sanga nos locais onde ocorre a

entrada das águas superficiais (figura 6).

Figura 5 - Local em que as águas superficiais

estão alargando o leito da Sanga Iracema

Figura 6 – Leito da Sanga Iracema

A sanga Jequitibá é a que possui a cabeceira mais urbanizada dos três afluentes em

estudo (figura 1). Como pode ser visualizado na figura 7, tem sofrido influencia de quatro

bairros a partir dos quais são coletadas e conduzidas águas pluviais, sendo eles: Parte do

Centro, Pioneiro, Jequetibá e Interlagos.

O fragmento de mapa exposto na mesma figura 7 demonstra os períodos de expansão

em direção a Sanga Jequitibá. O centro que se consolidou como visto anteriormente nos anos

de 1950 e 1960, o bairro Pioneiro nos anos de 1978, 1982, 1984 e 1992 e o bairro Jequitibá

construído no ano de 1984. Além desses bairros, existe ainda o bairro Interlagos que teve no

ano de 1978 a parte de sua área construída, e bem mais recentemente a expansão nos anos de

1996 e 2004.

Figura 7: Mapa de bairros e da expansão urbana da cidade de Palotina.

Mesmo sendo o afluente que possui as cabeceiras de drenagem mais urbanizadas,

pode-se observar através do campo e da interpretação de imagens de satélite que as obras de

drenagem realizadas para a construção do Lago Municipal faz com que não existam formas

erosivas evidentes (figura 8).

Figura 8: Construção de loteamento próximo

ao lago Municipal.

Figura 9: Fundo de vale nas proximidades

do lago Municipal

A relativa planura das baixas vertentes também é um fator que tem favorecido a não

existência de formas erosivas. No entanto, este mesmo relevo plano e a construção do Lago

Municipal de Palotina, tem valorizado as áreas ao entorno do mesmo, favorecendo a

construção de loteamentos em lugares inadequados, como pode ser visualizado na figura 9.

Essas imagens demonstram a proximidade que os lotes novos tem do curso da Sanga

Jequitibá. Nota-se que os mesmos possuem uma baixa densidade de casas e que os terrenos

são deixados sem qualquer cobertura vegetal. Esse tipo de situação faz com que aumente a

carga de materiais finos (argila e silte) durante o escoamento superficial, o que potencialmente

pode com o passar do tempo gerar linhas de escoamento preferencial de águas que podem

evoluir no tempo chegando sulcos ou ravinas.

A sanga Princesinha, último afluente do rio Pioneiro a ser estudado, é a menos

urbanizada das três cabeceiras. Como pode ser visualizado na figura abaixo existe apenas um

bairro a partir do qual são direcionadas as águas pluviais denominado de Osvaldo Cruz. Tal

bairro teve dois períodos de expansão nos anos de 1978 e 2006 (figura 10).

Figura 10: Mapa de bairros e da expansão urbana da cidade de Palotina

Embora a área urbanizada seja a menor das três cabeceiras de drenagem, é a que

possui as formas erosivas mais intensas, pois, no campo foram identificadas formas do tipo

ravina/voçoroca a partir da saída de uma galeria pluvial na saída do Bairro Osvaldo Cruz.

A forma erosiva possui em torno de 450 metros de extensão, e como foi dito

anteriormente, está localizada na saída do loteamento Osvaldo Cruz, em área rural. No local a

forma erosiva perpassa locais com pastagem e áreas com vegetação mais densa como pode ser

visto nas figuras 11 e 12.

Durante o processo de medição das feições erosivas foi possível perceber que devido a

particularidade da topografia local, que possui áreas mais declivosas intercaladas a mais

planas, a forma erosiva versa áreas com profundidade maior em que é considerada como

voçoroca nos pontos de maior declive e outros em que passa a ravina/sulco nas áreas mais

planas, podendo ser subdividido em quatro segmentos.

Também foi possível perceber que o atual processo de expansão em direção a tal

cabeceira tem dado uma nova dinâmica à área, uma vez que o escoamento superficial

decorrente do adensamento urbano tem aumentado gradativamente alargando e aprofundando

as formas através do solapamento e queda das bordas das formas erosivas (figura 11).

Figura 11: Detalhe da Voçoroca

Figura 12: Processo de erosivo

Como foi dito anteriormente a forma pode ser classificada como ravina/voçoroca

dependendo da topografia da área. Medições demonstraram que no segmento superior da

forma erosiva, a partir da galeria pluvial na saída do loteamento, a mesma possui em média

1,40 a 1, 70 metro de profundidade por 3,50 a 3,90 de largura tendo formato em “U” (figura

12).

A jusante ocorre uma redução na declividade o que faz com que seja alterado o

formato da voçoroca que passa a ser “v” e a redução de suas dimensões para em média de

1,70 a 1,90 de metros de largura por 1,50 a 1,60 de profundidade. No seguimento seguinte,

novamente ocorre uma aumento do declive do terreno alterando as dimensões reduzindo em

profundidade em media 1,40 mais aumentando em largura 3,50m.

No seguimento, a jusante, o aumento na declividade faz com que a largura seja

reduzida para uma media de 2, 40 metros, mas em contrapartida a feição se aprofunda a uma

média de 2, 60 metros, devido ao escoamento ocorrer de maneira mais concentrada. A partir

desse ponto as formas tendem a reduzir gradualmente para sulco nas proximidades da mata

ciliar da sanga Pricezinha.

A problemática erosiva diagnosticada, nas cabeceiras de drenagem do rio Pioneiro,

está profundamente relacionada à forma como se é pensada a expansão da cidade de Palotina

– Paraná. Tal qual em outras cidades, durante o processo de planejamento do crescimento da

cidade priorizou-se apenas a simples alocação de contingente populacional, em detrimento a

uma reflexão mais integrada dos elementos da paisagem citadina.

Tal descaso é evidenciado pela proximidade com que os loteamentos têm sido

construídos das nascentes das sangas, desconsiderando que as áreas de concavidades

(cabeceiras de drenagem) a montante delas que fornecem importante contribuição para a

mesma, podem atingir até centenas de metros de extensão. A não construção de dissipadores

de energia na saída das galerias pluviais e a construção das vias longas situadas

perpendicularmente as curvas de nível do terreno tem aumentado o potencial erosivo, e tem

tornado ainda mais visível a forma como o planejamento urbano tem sido feito de maneira

inadequada.

Diante de tais considerações foi possível identificar alguns procedimentos que deverão

reduzir os impactos ambientais e sociais causados pela expansão urbana da cidade de Palotina

nas cabeceiras de drenagem do Rio Pioneiro. São eles:

- Adequação das APPs: pois como pode ser observado na figura 1 as áreas de preservação

permanente estão fora dos parâmetros exigidos por lei chegando em alguns pontos a não

existir. É necessário que essas áreas sejam reconstituídas, visto que a vegetação ajuda a

diminuir o impacto da gota de chuva no solo, ou seja, previne a instalação e evolução de

processos erosivos a fim de preservar as cabeceiras de drenagem.

- Melhor planejamento da rede de drenagem: como foi dito a construção de vias longas

com galerias pluviais que seguem a elas situadas perpendicularmente as curvas de nível é

inadequada uma vez que promove um aumento da velocidade de deslocamento das águas

pluviais. É necessário que se situe as vias principais paralelamente as curvas de nível. Além

dessa sugestão, são necessários cuidados permanentes com a manutenção das galerias pluviais

evitando que as mesmas sigam diretamente em direção ao córrego e que suas dimensões

sejam adequadas ao volume de água precipitado nos períodos de maior excedente hídrico.

- Instalação de dissipadores de água: os dissipadores de água são necessários, pois além de

ajudar a reduzir a velocidade da água, diminuem seu impacto no solo, contendo a instalação e

evolução de processos erosivos.

- Instalação de loteamentos e ruas mais distantes do córrego: vários processos erosivos

presentes nas margens do córrego Guavirá estão vinculados à proximidade dos loteamentos e

das ruas ao córrego. Por isso, é necessário que essas construções sejam instaladas fora dos

limites da área de preservação.

Com tudo, Guerra e Marçal (2006) dizem que os conhecimentos geomorfológicos

podem auxiliar no planejamento mais adequado das áreas urbanas, pois reduzem as chances

de impactos ambientais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados obtidos demonstram que as construções dos novos loteamentos, bem como

das novas pavimentações asfálticas, têm ignorado as características naturais do relevo e dos

solos, desconsiderando os problemas ambientais que podem ocorrer a partir dessas

instalações, em especial, os processos erosivos. Ressalta-se por fim, a necessidade de um

planejamento que outros aspectos alem dos econômicos e políticos, e que considere a análise

sistêmica das Bacias Hidrográficas.

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