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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MARINHA
Influência de peixes herbívoros na palatabilidade de
macroalgas do Atol das Rocas
Roberto Villaça
Dissertação apresentada ao Curso de
Pós-Graduação em Biologia Marinha da Universidade Federal Fluminense, como
Requisito para obtenção do grau de Mestre em Biologia Marinha
Leonardo Vidal Marques Orientado: Roberto Villaça
Niterói – RJ 2003
i
Ficha Catalográfica
Marques, Leonardo Vidal
Influência de peixes herbívoros nas populações de macroalgas do Atol das
Rocas
Niterói – RJ – Universidade Federal Fluminense – UFF, Instituto de Biologia,
2003.
Dissertação: Mestrado em Biologia Marinha
1. Atol das Rocas 2. Herbivoria 3. Macroalgas Palatabilidade
I. Universidade Federal Fluminense – Instituto de Biologia – Departamento de
Biologia Marinha
ii
À minha esposa Uâni Billio
iii
Agradecimentos Aos meus pais e meus sogros, pelo apoio nos momentos mais difíceis.
A CAPES pela bolsa concedida e a Fundação O Boticário de apoio a
Natureza pelo financiamento do projeto.
Ao IBAMA e a chefe da ReBio, Zélia Brito, por proporcionarem a estadia e
o transporte até o Atol. Ao "capitão" Zeca e "mestre" Ceará, pelas viagens e
pelas voltas rápidas a tempo de embarcarmos para o Rio.
A meu orientador Roberto Villaça, por todos os momentos nestes dois
anos de convivência. E aos meus companheiros de “No Limite” nas duas
temporadas do Atol, Alexandre Almeida, Valéria Aragão, Fernando, Elisângela,
Alexandre Bigio, Adriana.
As meninas do laboratório, Viviane e Sabrina, pela convivência agradável
e identificação das algas utilizadas nos experimentos.
Aos professores e funcionários da Biomar, em especial a Eunice, pela
boa vontade de sempre.
Aos companheiros mestrandos Luciano, Alessandro, Fred, Policarpo,
Gustavo, Leo, Jabuca, Aline, Carla, Dani, Luís, Natascha, Paulão, por todos os
momentos que passamos juntos.
Ao Dr. Joel Creed pela iniciação a pesquisa e os ensinamentos
proveitosos durante todo este tempo.
A Dra. Márcia Figueiredo pelas importantes sugestões e discussões
durante seu curso no Museu Nacional.
Em especial à minha esposa Uâni, por todos os bons e maus momentos,
e por sua total dedicação durante todos esses anos.
E por fim a todos os meus amigos e companheiros, que contribuíram de
alguma forma para a realização deste trabalho e por mais uma etapa cumprida.
iv
Sumário
Resumo ....................................................................................................... v
Abstract........................................................................................................ vi
1. Introdução .............................................................................................. 1
2. Objetivos ................................................................................................ 9
2.1. Geral............................................................................................ 9
2.2. Hipóteses..................................................................................... 9
3. Material e métodos................................................................................. 10
3.1. Área de estudo ............................................................................ 10
3.2. Método de campo ........................................................................ 12
3.2.1. Período de verão.................................................................... 13
3.2.2. Período de inverno ................................................................. 15
3.3. Tratamento estatístico ................................................................. 18
4. Resultados ............................................................................................. 19
4.1. Período de verão ......................................................................... 19
4.2. Período de inverno ...................................................................... 23
5. Discussão............................................................................................... 27
6. Conclusão .............................................................................................. 37
7. Referências bibliográficas ...................................................................... 39
v
Resumo Macroalgas são importantes componentes em todos os ambientes
bentônicos rasos, principalmente sobre substrato consolidado. Muitos dos
ambientes bentônicos rasos, como os ambientes recifais, são submetidos a
freqüentes distúrbios, originados por fatores abióticos e bióticos. A predação por
peixes é uma importante fonte de distúrbio biótico, podendo interferir na
sucessão das principais espécies. Influenciando direta ou indiretamente na
abundância e função das espécies. Para verificar esta influência, foram
transplantadas diferentes espécies de macroalgas encontradas em vários locais
do Atol das Rocas (3º 51’ S e 33º 49’ W). Nestes transplantes, algas da frente e
platô recifais foram transportadas para porções mais rasas dos recifes e
testadas também em seu próprio habitat. Os transplantes tiveram a finalidade de
avaliar se a atividade de forrageamento dos peixes herbívoros afeta a
abundância das macroalgas mais representativas do Atol das Rocas. As algas
Digenia simplex e Bryopsis plumosa, encontradas no platô e em porções rasas
da frente recifal, respectivamente, apresentaram maior preferência alimentar dos
peixes quando comparadas com algas encontradas em maiores profundidades
da frente recifal (Dictyota spp, D. jamaicensis e S. polyceratium), que tiveram
baixa preferência. Estes resultados podem estar sendo influenciados por
diversos fatores, como a ocorrência de refúgios, a complexidade estrutural do
talo da alga e/ou a produção de metabólitos secundários com efeitos
ictiotóxicos. Algumas espécies de morfologia mais simples, como as
filamentosas, podem utilizar outros tipos de estratégia, investindo numa alta
produtividade ao invés de produzirem algum tipo de defesa. O baixo consumo
alimentar mostrado nos experimentos, sugere que outros fatores que não seja a
herbivoria, possam estar impedindo a distribuição das algas mais
representativas.
vi
Abstract Macroalgae are important components in all shallow benthic
environments, especially on consolidated substratum. Many of the shallow
benthic environments, such as reef environments, frequently suffer perturbations
of both biotic and abiotic nature. Herbivory by the fishes is an important source of
biotic disturbance, as it may interfere with the succession of several species.
Herbivory may also directly or indirectly influence species abundance and algal
functional composition. In order to verify this influence, different macroalgae
species found in several spots of Atol das Rocas (3º 51’ S e 33º 49’ W), Brazil,
were transplanted. Algae from the fore reef and from the flat reef were
transported to shallower parts of the reef and were also tested in their own
habitat. The transplants were used to verify whether the foraging of herbivorous
fish affects the abundance of the atoll’s more representative macroalga species.
The algae Digenia simplex and Bryopsis plumosa, found on the flat reef and in
the shallows of the forereef, respectively, were preferentially predated by the fish
when compared to algae found on the forereef at greater depths (Dictyota spp,
D. jamaicensis and S. polyceratium), which suffered little predation. These
results may be influenced by several factors, such as the presence of refuges,
structural complexity of the algal thallus and/or production of secondary
metabolites having ichthyotoxic effects. Some species with simpler morphology,
such as filamentous, thalli may use different strategies, investing in high
productivity instead of some type of defense. The low degree of food
consumption evidenced by the experiments suggests that factors other than
herbivory may be hindering the distribution of the more common algae.
1
1. Introdução
Macroalgas são importantes componentes em todos os ambientes
bentônicos rasos, sobretudo em substrato consolidado. Os tipos de
macroalgas que caracterizam os diferentes habitats bentônicos são muito
variáveis em uma escala global (Jones & Andrew, 1990). Elas possuem uma
enorme variedade de formas, que vão desde pequenas filamentosas, de
rápido crescimento e poucos centímetros de talo, a macrófitas formando
talos com dezenas de metros, e algas coralinas incrustastes, crescendo
fortemente aderidas ao substrato. Estes diferentes tipos de algas, muitas
vezes, diferem radicalmente nas suas taxas de crescimento, habilidades
competitivas, características de deter o herbívoro, distribuição nos recifes e
susceptibilidade aos peixes recifais (Carpenter, 1986; Hay, 1981a, b, 1984a,
1991; Steneck & Dethier, 1994).
Muitos dos ambientes bentônicos rasos, como os ambientes recifais,
são submetidos a freqüentes distúrbios, originados por fatores abióticos e
bióticos. Distúrbios abióticos importantes incluem ondas, correntes, marés,
ciclones e furacões, que alteram profundamente o fundo, abrindo brechas no
substrato de carbonato de cálcio e fornecendo espaços para subseqüente
colonização dos organismos (Connell, 1978; McClanahan, 1997). A predação
também é uma importante fonte de distúrbio (Hay et al., 1983; Hixon, 1991;
McClanahan, 1997; Morrison, 1988), que pode influenciar a sucessão das
principais espécies através de seleção da presa, requerimento de
metabólitos, e os vários procedimentos de alimentação da espécie predadora
(Carpenter, 1986; McClanahan, 1995; McClanahan et al., 1994).
2
A herbivoria possui uma influência direta ou indireta na abundância de
espécies e composição funcional das algas (Carpenter, 1986; Hay et al.,
1983; Morrison, 1988; Steneck & Dethier, 1994), gramas marinhas (Hay,
1981b; McClanahan, 1997; McClanahan et al., 1994) e corais (Tanner, 1995).
Ela pode também influenciar a produtividade (Carpenter, 1986),
concentração de nutrientes, e a erosão do substrato do recife (Klumpp &
Polunin, 1989; Pari et al., 1998). A abundância e a composição dos
herbívoros também são influenciadas pela atividade de pesca humana (Hay,
1984a; McClanahan, 1997; McClanahan et al., 1994), que acabam afetando,
indiretamente, os processos do recife (McClanahan, 1995). Por outro lado, se
a pastagem for suficiente para manter a cobertura de macroalgas
relativamente baixa, fará com que alguns componentes dos bentos,
excluídos anteriormente – especialmente corais pétreos possam – estar
aptos a recolonizar (McClanahan et al., 1999).
Grande parte da produtividade de macroalgas e angiospermas
marinhos são consumidos por herbívoros locais (Carpenter, 1986; Hay,
1991). Peixes herbívoros e ouriços têm um impacto profundo na distribuição,
abundância e evolução das algas recifais tropicais, onde se estima uma taxa
de mordida por volta de 150.000 vezes.m-2.dia-1, mostrando que peixes ou
ouriços, sozinhos, são capazes de remover quase que 100 % da produção
diária (Carpenter, 1986; Hay, 1991, 1996). Conseqüentemente a produção
liquida é mais limitada por herbivoria que por fatores limitantes como luz,
nutrientes ou fluxo-d’água (Carpenter, 1986). Esta forte relação entre
produção e consumo, nas várias porções dos recifes, faz com que a
interação planta-herbívoro seja uma das mais importantes, podendo
3
modificar toda a estrutura da comunidade (Boaventura et al., 2002;
Carpenter, 1986; Hay, 1981b; Hay et al., 1983; Morrison, 1988).
Segundo Choat (1991), peixes herbívoros têm implicação em três
importantes fatores nos recifes. O primeiro refere-se ao trofodinamismo:
herbívoros promovem a ligação do fluxo energético com consumidores
residentes nos ecossistemas de recifes. Segundo, eles podem ter um
profundo impacto na distribuição e na composição das populações de algas
nos ambientes recifais. Terceiro, a interação entre peixes herbívoros,
especialmente espécies territorialistas, tem sido usado, como base para o
desenvolvimento de modelos demográficos e comportamentais de peixes
recifais em geral.
O modo, o tempo de alimentação e a mobilidade de peixes e ouriços,
são muitos diferentes, fazendo com que as algas nos recifes biológicos
sejam capazes de apresentar diferentes regimes seletivos, dependendo
apenas se seus principais consumidores são peixes ou ouriços (Hay et al.,
1983). A alga a ser consumida e o tipo de seleção do consumidor, podem
mediar o sucesso competitivo de diferentes espécies de plantas e corais
(McClanahan et al., 1994; Tanner, 1995); sendo assim, a troca na
dominância do pastador resulta em mudanças surpreendentes na
distribuição e abundância das presas (McClanahan et al., 1994).
A herbivoria pode influenciar a distribuição de algas em um recife, por
dois mecanismos. No primeiro caso, a intensidade de pastagem pode variar
espacialmente no recife. Herbívoros podem ser restringidos a pastagem na
crista recifal devido à forte ação das ondas e à ausência de refúgios contra
predação (Lewis & Wainwright, 1985). Como resultado, a intensidade de
4
pastagem nestes habitats é menor que no resto do recife (Hay, 1981a; Lewis
& Wainwright, 1985; Morrison, 1988). Portanto, a crista recifal e as partes
mais profundas do recife podem ser refúgios espaciais contra pastadores de
macroalgas. O segundo, diz respeito à composição de herbívoros (espécies
e abundância relativa), e, portanto, os herbívoros podem diferir entre os
habitats recifais. Esta possibilidade associada à efetividade das defesas das
algas contra diferentes herbívoros pode resultar na existência de algas
abundantes em alguns habitats, mas não em outros. Estes dois mecanismos
podem atuar em acordo para afetar a distribuição de algas no recife (Hay,
1991; Morrison, 1988). Isto é essencialmente importante para a manutenção
na diversidade de algas (Hay et al., 1983).
O aumento na intensidade de pastagem muda a comunidade de
algas, passando de macroalgas frondosas para tufos de filamentosas de
rápido crescimento, seguido de um desenvolvimento sucessional por outras
formas de algas, como calcárias crostosas, macroalgas foliáceas (ex.:
Dictyota e Dictyopteris) (Cheroske et al., 2000; Steneck & Dethier, 1994) e
invertebrados sésseis semelhantes a corais pétreos (Tanner, 1995). Algumas
espécies de sucessão tardia, como as do gênero Sargassum, terão
freqüentemente menor produção líquida do que os tufos de sucessão
primária, o que pode resultar em menor abundância de consumidores
(McClanahan et al., 1999).
A atividade de alimentação de peixes e ouriços pode realmente ser
vista, em relação às variações espaciais e temporais, nas suas densidades,
impactos e outros processos criando e/ou mantendo a descontinuidade
espacial na estrutura do habitat (Brock, 1979; Carpenter, 1986; Hay, 1981a,
5
b; Jones & Andrew, 1990; Morrison, 1988). Diferenças espaciais na
intensidade de pastagem, por peixes Acanthuridae, Scaridae e
Pomacentridae, criam mosaicos de distribuição das algas, formando
diferentes complexidades nos habitats (Hay et al., 1983), sugerindo que a
pastagem possa ser localmente intensa em áreas estruturalmente
complexas, e reduzidas em áreas onde há pequenos refúgios (Hay, 1981a;
Hay et al., 1983).
Tais mudanças criam mosaicos de habitats que diferem no grau em
que favorecem a algas de defesa ruim, mas com competitividade superior
versus às bem defendida (ou tolerantes ao herbívoro), mas competitivamente
inferior (Morrison, 1988). Se a pressão herbívora for reduzida
experimentalmente, o mosaico sofre um decréscimo natural em sua
comunidade, excluindo espécies típicas de comunidade altamente pastadas
e uma redução da cobertura de corais pétreos, aparentemente como
resultado de competição (Hay, 1991; Morrison, 1988; Tanner, 1995).
Mesmo em áreas recifais de altas pressões de pastagem (ex.: frente
recifais e locais estruturalmente complexos) (Hay, 1981a, b, 1984a; Hay et
al., 1983), algumas espécies de macroalgas crescem em abundância,
sugerindo uma defesa contra pastagem, muito embora diversos autores
tenham comentado que muitas algas de baixa preferência podem conter
metabólitos secundários incomuns. Estudos similares ao realizado por Paul &
Hay (1986) têm discutido as preferências de herbívoros em relação a
metabólitos secundários apresentados na literatura.
Metabólitos secundários parecem ser o mais comum e o mais
ecologicamente importante entre organismos tropicais bentônicos, que estão
6
sujeitos a altas taxas de ataques por consumidores nos recifes biológicos.
Metabólitos secundários originais, incluindo terpenos, acetogeninas,
alcalóides e polifenólicos, são produzidos por uma ampla variedade de
organismos marinhos (Hay, 1996). Até hoje, milhares de metabólitos
secundários marinhos têm sido descritos para esponjas, ascídias, octocorais,
briozoários, poliquetos, macroalgas, micróbios marinhos e outros organismos
bênticos e pelágicos (Hay, 1996; Sammarco, 1996).
Em numerosos exemplos, os metabólitos secundários das plantas têm
afetado os herbívoros de duas formas: (a) diretamente, através da qualidade
do alimento (palatabilidade da alga); e (b) indiretamente, através da interação
mediada por agentes patógenos e predadores (Hay, 1996; Stachowicz &
Hay, 1999). Uma espécie preferida pode correr menos risco quando rodeada
por espécies mais preferidas, do que quando crescendo sozinha, ou pode
ganhar proteção por crescer próxima a espécies repelentes ou não
palatáveis. No primeiro caso, os consumidores são tirados das presas,
considerando sua vizinha mais atrativa; no segundo caso, a presa não é
descoberta porque seus sinais químicos são suavizados ou mascarados por
estes vizinhos repelentes (Hay, 1996; Stachowicz & Hay, 1999).
Algas palatáveis, que são usualmente levadas à extinção local por
pastadores, podem persistir em comunidades ricas em herbívoros, se ela
desenvolver-se por cima ou por baixo de competidores resistentes a
herbívoros (Hay, 1996). Crescendo em uma forte associação com estes
competidores não palatáveis, o crescimento de espécies palatáveis é
diminuído em 85 %, mas os benefícios desta associação, em termos de
redução à herbivoria, podem mais do que compensar este custo competitivo.
7
Portanto, espécies palatáveis podem ser dependentes dos seus
competidores não palatáveis para prevenir sua exclusão da comunidade
devido à pressão herbívora (Hay, 1996).
A Reserva Biológica do Atol das Rocas foi criada em 1978 (Decreto
Lei 83.549/79), sendo a primeira reserva marinha do Brasil; desde então ela
está legalmente protegida, mas somente em 1991, com a implantação de
uma estação de pesquisa, é que se tornou possível a ocupação da reserva.
A área ocupada pela reserva vai até uma profundidade de 1.000 m, o que
proporciona uma região de aproximadamente 360 km² (Leão & Dominguez,
2000).
Atividades ligadas à pesca (comercial e recreacional), bem como o
turismo, não são permitidos. Somente atividades ligadas ao manejo,
conservação e pesquisa são permitidas. A primeira ocupação no atol ocorreu
através de barracas, no ano de 1990, por uma equipe do Projeto TAMAR-
IBAMA, para o manejo das desovas da tartaruga marinha Chelonia mydas,
que na região chega a 500 ocorrências por temporada (dezembro a julho)
(Marcovaldi & dei Marcovaldi, 1999). Mais recentemente diversas pesquisas
vêm sendo desenvolvidas no atol. Echeverría et al. (1997) estudaram a fauna
de cnidários bentônicos vivendo desde o platô recifal a profundidades de –15
m e encontraram cerca de 22 espécies distribuídas em: 8 escleractínios, 4
actínios, 3 zoantídeos, 2 octocorais, 2 milleporinas e 1 ceriantum. A fauna de
cnidários é similar à encontrada em Fernando de Noronha e à do nordeste
brasileiro. Um terço das espécies são endêmicas do Brasil, e o restante são
espécies que ocorrem no Caribe; o coral Siderastrea stellata é dominante
ocorrendo em todos os habitats o atol (Echeverría et al., 1997).
8
Gherardi & Bosence (1999) descreveram o modelo de sucessão
ecológica dos recentes organismos incrustantes: a alga Porolithon cf.
pachydermum é o componente principal da formação dos recifes, tanto no
lado do vento dominante, quanto no lado de ventos fracos. Os gastrópodes
vermetídeos, homotrematodo e foraminíferos acervulinídeos são os
segundos mais importantes construtores do recife.
Floeter et al. (2001) realizaram um estudo comparativo da ictiofauna
das províncias do Brasil, mostrando que a fauna do Atol das Rocas é muito
similar à do Arquipélago de Fernando de Noronha, apresentando apenas 5
espécies endêmicas. Rosa & Moura (1997) desenvolveram um trabalho
sobre a estrutura de comunidade da ictiofauna, encontrando 47 espécies que
foram divididas em 6 níveis tróficos: 11 herbívoros, 5 planctívoros, 4
podadores, 11 microinvertívoros, 15 macroinvertívoros e 12 piscívoros.
Aparentemente, vinte e duas espécies apresentam mais de um nível trófico,
envolvendo as seguintes combinações de categorias: herbívoro /
microinvertívoro, macro / microinvertívoro e macroinvertívoro / piscívoro. O
número de espécies observada em Rocas mostrou-se baixo, comparado com
a província da do Oeste da Índia, mas relativamente alto, se comparado com
os peixes endêmicos da província do Brasil. Thalassoma noranhanum e
Stegastes rocasensis, que são endêmicos desta província, foram os mais
observados (42,84 % das avistagens).
Em 1976, Oliveira Filho & Ugadim, fizeram um levantamento florístico
das algas do atol, encontrando 53 espécies de Rodofíceas, 22 espécies de
Clorofíceas e 18 espécies de Feofíceas; a alga Digenia simplex (Wulfen) C.
Agardh é a alga dominante do platô recifal. Mais recentemente Villaça et al.
9
(2001) desenvolveram estudos ecológicos sobre a distribuição de
macroalgas do platô recifal. Barbosa et al. (2003) e Soares et al. (2003)
trabalharam na investigação de metabólitos secundários das algas Dictyota
pfaffi e Stypopodium zonale, respectivamente.
2. Objetivos
2.1. Geral
Este trabalho teve como objetivo contribuir para o conhecimento da
atividade de peixes herbívoros, sobre a distribuição e abundância das
populações de macroalgas mais representativas do Atol das Rocas.
2.2. Hipóteses
- Peixes herbívoros são responsáveis pela pouca abundância ou
ausência de algumas espécies de algas em diferentes partes rasas
do recife;
- Peixes exercem maior pressão de pastagem nas piscinas do recife;
- Algas de morfologia mais simples (filamentosas) são preferidas às
algas de estrutura mais complexa.
10
3. Material e métodos
3.1. Área de estudo
O Atol das Rocas está localizado no topo de uma cadeia de
montanhas submarinas no oceano Atlântico sul, cuja base encontra-se a
4.000 m de profundidade no leito oceânico (Gherardi & Bosence, 1999),
a 3º 51’ S Latitude e 33º 49’ W Longitude, distante 266 km da cidade de
Natal e a 150 km a oeste do arquipélago de Fernando de Noronha, no
nordeste brasileiro (Echeverría et al., 1997; Kikuchi & Leão, 1997; Leão
& Dominguez, 2000; Oliveira-Filho & Ugadim, 1976) (Figura 1). O
substrato é composto, principalmente, por algas calcárias incrustantes e
moluscos vermetídeos (Gherardi & Bosence, 1999; Kikuchi & Leão,
1997; Leão & Dominguez, 2000; Oliveira-Filho & Ugadim, 1976). Com
forma elíptica, seu eixo mais longo possui 3,7 km de extensão no sentido
E-W, e o eixo mais curto, 2,5 km no sentido N-S (Echeverría et al., 1997;
Kikuchi & Leão, 1997; Soares-Gomes et al., 2001). O platô recifal é
composto por um anel de 100 a 800 m de largura, interrompido por
piscinas de vários tamanhos e profundidades, e dois canais, um ao
norte, “Barretão”, e outro a oeste, “Barretinha” (Gherardi & Bosence,
1999; Leão & Dominguez, 2000; Rosa & Moura, 1997). Duas ilhas
arenosas ocorrem a oeste, a Ilha do Cemitério e a ilha do Farol, onde
está localizado o farol automático da Marinha do Brasil (Leão &
Dominguez, 2000; Soares-Gomes et al., 2001).
Os ventos de leste e sudeste são predominantes ao longo do ano
com uma freqüência de 45 % e velocidades variando entre 6,0 e 10,0
m/s. Estes parâmetros possuem relativa sazonalidade: nos meses de
11
inverno (de junho a agosto), observa-se 35 % para ventos de SE e 15 %
para E, com velocidades variando entre 11,0 e 15,0 m/s; para o verão
(de dezembro a abril), a freqüência fica em torno de 20 % para os ventos
SE e E, com velocidade freqüentemente acima de 20,0 m/s (Gherardi &
Bosence, 1999; Kikuchi & Leão, 1997; Leão & Dominguez, 2000).
Figura 1: Localização geográfica do Atol das Rocas e área da Reserva Biológica.
A temperatura da água do mar possui média de 27,0 ºC, podendo
chegar a 42,0 ºC nas piscinas, com salinidade na superfície variando
entre 36,0 ‰ e 37,0 ‰ (Gherardi & Bosence, 1999; Kikuchi & Leão,
1997; Leão & Dominguez, 2000). O regime de marés é semidiurno e
mesotidal, com uma variação máxima de 2,7 m, deixando exposto o
platô recifal em maré de sizígia baixa (Gherardi & Bosence, 1999).
12
3.2. Método de campo
Os experimentos de herbivoria tiveram por finalidade oferecer
diferentes espécies de algas, simultaneamente, aos peixes herbívoros. A
técnica empregada foi uma adaptação da utilizada por McClanahan et al.
(1994), onde pregadores de roupa foram fixados, com abraçadeiras
plásticas, a uma corda chumbada (gramatura de 140,0 g/m) com 1,0 m
de comprimento. Cada corda possui dez pregadores de roupa com
intervalos de 10,0 cm. O número de cordas variou em cada experimento
entre 10 e 30, com média de 20 cordas. As cordas eram colocadas junto
ao substrato, em todos os pontos de amostragem. No lado externo do
atol elas foram amarradas na extremidade para que não se perdessem,
devido à força das correntes junto ao fundo, que as levavam para
buracos no substrato.
Amostras de algas com aproximadamente 5,0 cm de talo foram
presas nos pregadores e distribuídas de forma aleatória entre as cordas.
A alga D. simplex, foi utilizada em todos os experimentos, porque,
segundo Oliveira-Filho & Ugadim (1976) e Villaça et al. (2001) esta é a
alga mais abundante do platô recifal e Villaça et al. (2001) em testes
preliminares na piscina do cemitério, verificou que ela apresentava
grande consumo. Para a avaliação do consumo, quantificou-se
visualmente o número de talos de algas presentes, intactos ou
consumido (Figura 2). Estabeleceu-se que espécies com consumo < 25
% da amostragem apresenta um baixo consumo. O consumo moderado
varia entre 25 % e 75 %, e alto > 75 %.
13
Figura 2: Contabilização das algas consumidas ou não, ao final do experimento.
Ao todo, foram realizados 18 experimentos em duas temporadas.
Na primeira temporada (março de 2002, verão), avaliou-se o consumo
das macroalgas, testando vários períodos de tempo. A segunda (julho de
2002, inverno) testaram-se transplantes de algas do lado externo para as
piscinas, e algas do platô e do lado externo para o seu próprio habitat
(Figura 3).
3.2.1. Período de verão
O mar forte impediu coletas no lado externo do atol, obrigando-
nos a trabalhar com algas encontradas no platô recifal e coletadas no
período de baixa mar. Neste experimento variou-se o tempo de
exposição e o local. As algas utilizadas foram Bryopsis plumosa (Huds.)
C. Agardh (encontrada em pequenas piscinas localizadas em frente à
casa), Dictyota cervicornis Kütz., D. simplex (ambas coletadas na crista
14
interna) e Gelidiella acerosa (Forssk.) Feldmann & Hamel (coletada no
platô recifal em frente à casa). O primeiro experimento foi o único que
não utilizou B. plumosa; todos os demais utilizaram as quatro espécies.
Um resumo desta temporada pode ser visto na Tabela 1.
Figura 3: Pontos amostrados no Atol das Rocas; piscinas fechadas: Âncoras (A), Tartaruga (B), Cemitério (C) e Farol (D); piscina aberta: Falsa Barreta (E); Platô Casa (F); Frente Recifal rasa (G) e Frente Recifal Profunda –Cabeço das Dictyotas – (H).
O primeiro e o segundo experimentos foram realizados na piscina
da Tartaruga, numa profundidade de 2,0 m com 10 cordas, duas horas e
hora e meia de exposição, respectivamente. O terceiro experimento foi
realizado na Falsa Barreta por 2 h 30 min a uma profundidade de 3,0 m
com 10 cordas. No recolhimento das cordas, algumas destas
encontravam-se cobertas por Dictyopteris jolyana E. C. Oliveira & R. P.
Furtado soltas no fundo. No quarto experimento, apesar de ter sido outro
15
o local (Piscina do Farol) e pouco tempo (1 h 30 min), todas as 10 cordas
estavam cobertas por D. jolyana soltas. O quinto e o sexto experimentos
foram realizados na Falsa Barreta, por um período de exposição de três
e quatro horas respectivamente, a uma profundidade de 3,0 m com 20
cordas em cada um. No sexto experimento, algumas cordas
encontravam-se emboladas devido à ação das ondas. Na Piscina das
Âncoras, foram realizados do 7º ao 11º experimentos, a uma
profundidade de aproximadamente 4,0 m, variando o tempo que foi de 8
h (7º), 4 h (8º) e 24 h (9º - 11º), e o número de cordas, 10 (7º), 30 (8º) e
20 (9º - 11º).
3.2.2. Período de inverno
Com as melhores condições do mar no inverno, pôde-se realizar
coletas de algas no lado externo e a colocação do experimento no platô
recifal e no lado externo; o resumo destes experimentos encontra-se na
Tabela 2.
No experimento 12 foi realizado transplante com algas
encontradas na frente recifal: B. plumosa, Bryothamnion triquetrum (S.
G. Gmel.) M. Howe, Dictyota pfaffi Schnetter e D. simplex da crista
interna; para a Falsa Barreta, utilizaram-se 20 cordas e, após três horas
de exposição, foi realizada uma checagem do material e, como nenhuma
alga apresentasse consumo, o experimento foi deixado no campo até
completar 24 h. A alga D. pfaffi estava em cima de algas filamentosas e,
ao final do experimento, encontrava-se com coloração esbranquiçada.
16
Tabela 1: Resumo dos experimentos da temporada de verão, com número do experimento (Nº Exp), local amostrado, tempo de duração, profundidade do experimento (Prof.), visibilidade no momento da amostragem (Vis.) e espécie amostrada. Nº Exp Local Duração Prof. Vis. Espécie
1 Piscina das Tartarugas 2 h 2,00 10,00 Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
2 Piscina das Tartarugas 1 h 30 min 2,00 10,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
3 Falsa Barreta 2 h 30 min 3,00 8,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
4 Piscina do Farol 1 h 30 min 2,50 10,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
5 Falsa Barreta 3 h 3,00 10,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
6 Falsa Barreta 4 h 3,00 8,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
7 Piscina das Âncoras 8 h 4,00 15,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
8 Piscina das Âncoras 4 h 4,00 15,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
9 Piscina das Âncoras 24 h 4,00 15,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
10 Piscina das Âncoras 24 h 4,00 20,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
11 Piscina das Âncoras 24 h 4,00 20,00 Bryopsis plumosa Dictyota cervicornis Digenia simplex Gelidiella acerosa
17
O experimento 13 foi realizado com D. simplex e algas do Cabeço
das Dictyotas (Dictyota ciliolata Sond. ex Kütz., Dictyota crispata J. v.
Lamour., Dictyota menstrualis (Hoyt) Schnetter, Hörnig & Weber-Peukert
e Sargassum polyceratium Mont.), transplantadas para a Falsa Barreta
com tempo de exposição de 24 h e 20 cordas.
No experimento 14, realizado no Platô Casa foram testadas algas
do próprio platô como D. simplex, D. cervicornis, D. ciliolata e G.
acerosa; o tempo de exposição foi de 24 h utilizando 20 cordas.
Os experimentos 15 e 16 foram realizados na Frente Recifal, que
se apresentava desnuda e aparentando intensa herbivoria. No
experimento 15 realizaram-se transplantes de algas do Cabeço das
Piranjicas (B. plumosa, Dictyopteris jamaicencis W. R. Taylor, Dictyota
mertensii, S. polyceratium) e D. simplex. Após duas horas de
experimento nenhuma alga das 20 cordas havia sido consumida, tendo
sido deixadas por mais três horas. O experimento 16 repete o
procedimento do 14, com mudança do local e tempo de exposição (4 h).
No Cabeço das Dictyotas (experimento 17) foi realizado teste com algas
do próprio local (Dictyota pinnatifida Kütz., D. crispata, D. menstrualis e
S. polyceratium) e D. simplex, com tempo de cinco horas para as 20
cordas.
No último experimento (18), foi realizado um teste simultâneo de
herbivoria em quatro pontos do atol: uma piscina fechada (Piscina do
Cemitério), uma piscina aberta (Falsa Barreta), frente recifal (em frente à
casa) e um local em profundidade (Cabeço das Dictyotas). Para este
18
experimento, a alga utilizada foi D. simplex e o tempo foi de três horas
com dez cordas para cada local. As cordas foram colocadas no mesmo
horário e utilizaram-se dez cordas por local. Seis cordas da frente recifal
foram deslocadas para um buraco e não foram contabilizadas.
3.3. Tratamento estatístico
Os dados se apresentam de forma qualitativa (consumido – não-
consumido) em categorias discretas (Siegel, 1975); sendo assim, eles
foram analisados através de técnicas não-paramétricas. Para determinar
qual alga foi mais consumida em cada experimento, as espécies foram
testadas umas contra as outras, utilizando-se Tabela de Contingência 2 x
2 e teste Χ² no software STATISTICA 5.5 (StatSoft, Inc.). Segundo Siegel
(1975), o teste do Χ² apresenta resultados confiáveis para valores de n
superiores a 40 e α ≤ 0,05.
19
Tabela 2: Resumo dos experimentos da temporada de inverno, com número do experimento (Nº Exp), local amostrado, tempo de duração, profundidade do experimento (Prof.), visibilidade no momento da amostragem (Vis.) e espécie amostrada. Nº Exp Local Duração Prof. Vis. Espécie
12 Falsa Barreta 24 h 3,00 15,00 Bryopsis plumosa Bryothamnion triquetrum Dictyota pfaffi Digenia simplex
13 Falsa Barreta 24 h 3,00 15,00 Dictyota ciliolata Dictyota crispata Dictyota menstrualis Digenia simplex Sargassum polyceratium
14 Platô Casa 6 h - - Dictyota cervicornis Dictyota ciliolata Digenia simplex Gelidiella acerosa
15 Frente Recifal 5 h 3,00 8,00 Bryopsis plumosa Dictyopteris jamaicensis Dictyota mertensii Digenia simplex Sargassum polyceratium
16 Frente Recifal 4 h 3,00 6,00 Dictyota cervicornis Dictyota ciliolata Digenia simplex Gelidiella acerosa
17 Cabeço das Dictyotas 5 h 8,00 15,00 Dictyota pinnatifida Dictyota crispata Dictyota menstrualis Digenia simplex Sargassum polyceratium
18 Cabeço das Dictyotas 3 h 8,00 15,00 Digenia simplex Falsa Barreta 3,00 - Digenia simplex Frente Recifal 3,00 8,00 Digenia simplex Piscina do Cemitério 2,00 - Digenia simplex
4. Resultados
4.1. Período de Verão
A Tabela 3 e a figura 4 apresentam os resultados obtidos nos
experimentos de consumo por período de tempo, assim como os valores
de p, quando foi possível testar uma alga contra a outra.
20
Nos experimentos de curta duração (entre 1h 30 min e 4 h; 1-6, 8),
as algas não foram consumidas em as piscinas fechadas. Somente
Falsa Barreta – que é uma piscina com conexão ao lado externo – as
algas foram consumidas nos períodos de curta duração, sendo que no
de três horas (5) somente D. simplex foi consumida. Já o ensaio de
quatro horas (6) D. simplex repetiu o resultado do experimento anterior,
sendo toda consumida, com G. acerosa apresentando consumo
moderado, D. cervicornis e B. plumosa não foram consumidas em
nenhum desses experimentos. Provavelmente o tempo de até quatro
horas mostrou-se insuficiente para as piscinas fechadas.
Com o período de 24 horas, as piscinas fechadas puderam ser
visitadas por peixes herbívoros no momento de maré cheia, B. plumosa
e D. simplex apresentaram consumo acima de 75 %, nos três ensaios (9-
11). A alga D. cervicornis foi consumida moderadamente (25 – 75 %) nos
experimentos 9 e 11, e foi praticamente, toda consumida no 10; este
resultado é completamente diferente para G. acerosa, com o consumo
variando de não-consumida a muito pouco consumida (< 25 %) (Figura 4
Tabela 3).
Aparentemente, as algas B. plumosa e D. simplex são mais
palatáveis que as demais, porque foram muito consumidas em quase
todos os experimentos pelos peixes. A alga D. cervicornis apresentou um
consumo de moderado a alto, diferenciando de G. acerosa que,
praticamente, não foi consumida, apresentando um pouco consumo
significativo, mostrando-se de baixa preferência alimentar.
21 A )
G. acerosa (50)
D. s implex (50)
D. cervicornis (50)
B. plumosa (50)
B)
G. acerosa (50)
D. s implex (50)
D. cerv icornis (50)
B. plumosa (50)
C)
0 25 50 75 100
G. acerosa (25)
D. s implex (25)
D. cervicornis (25)
B. plumosa (25)
% de indiv íduos consumidos
Esp
écie
s (n
)D)
G. acerosa (50)
D. s implex (50)
D. cervicornis (50)
B. plumosa (50)
E)
G. acerosa (50)
D. s implex (50)
D. cervicornis (50)
B. plumosa (50)
F)
0 25 50 75 10
G. acerosa (50)
D. s implex (50)
D. cervicornis (50)
B. plumosa (50)
% de indiv íduos consumidos0
Figura 4: Porcentagem de indivíduos consumidos nos experimentos do período de verão: 5 (A), 6 (B), 7 (C), 9 (D), 10 (E) e 11 (F).
22
Tabela 3: Resultados encontrados no período de verão. (n) n amostral, (cons) número de indivíduos consumidos e (ñ cons) número de indivíduos não consumidos. O código ao lado da espécie corresponde à letra do resultado de X2 na comparação com as espécies do mesmo experimento; utilizou-se (-) quando não foi possível realizar o teste de X2.
Resultado teste X2 valores de p Nº Exp
Duração do Exp. Espécie (código) n cons ñ
cons A B C D
1 2 h D. cervicornis (A) 25 0 25 D. simplex (B) 26 0 26 - G. acerosa (C) 49 0 49 - -
2 1 h 30 min B. plumosa (A) 25 0 25 D. cervicornis (B) 27 0 27 - D. simplex (C) 24 0 24 - - G. acerosa (D) 24 0 24 - - -
3 2 h 30 min B. plumosa (A) 25 0 25 D. cervicornis (B) 25 0 25 - D. simplex (C) 25 0 25 - - G. acerosa (D) 25 0 25 - - -
4 1 h 30 min B. plumosa (A) 25 0 25 D. cervicornis (B) 25 0 25 - D. simplex (C) 25 0 25 - - G. acerosa (D) 25 0 25 - - -
5 3 h B. plumosa (A) 50 0 50 D. cervicornis (B) 50 0 50 - D. simplex (C) 50 50 0 - - G. acerosa (D) 50 0 50 - - -
6 4 h B. plumosa (A) 50 0 50 D. cervicornis (B) 50 0 50 - D. simplex (C) 50 50 0 - - G. acerosa (D) 50 20 30 - - < 0,001***
7 8 h B. plumosa (A) 25 25 0 D. cervicornis (B) 25 25 0 - D. simplex (C) 25 25 0 - - G. acerosa (D) 25 15 10 < 0,001*** < 0,001*** < 0,001***
8 4 h B. plumosa (A) 75 0 75 D. cervicornis (B) 75 0 75 - D. simplex (C) 75 0 75 - - G. acerosa (D) 75 0 75 - - -
9 24 h B. plumosa (A) 50 50 0 D. cervicornis (B) 50 22 28 < 0,001*** D. simplex (C) 50 45 5 < 0,05* < 0,001*** G. acerosa (D) 50 0 50 - - -
10 24 h B. plumosa (A) 50 50 0 D. cervicornis (B) 50 49 1 > 0,05 D. simplex (C) 50 50 0 - > 0,05 G. acerosa (D) 50 2 48 < 0,001*** < 0,001*** < 0,001***
11 24 h B. plumosa (A) 50 50 0 D. cervicornis (B) 50 31 19 < 0,001*** D. simplex (C) 50 50 0 - < 0,001*** G. acerosa (D) 50 7 43 < 0,001*** < 0,001*** < 0,001***
23
4.2. Período de inverno
Na Tabela 4 e Figura 5 encontram-se os resultados do consumo
de algas obtidos nos transplantes, assim como os valores de p nos
testes de X².
Em cinco dos seis experimentos (12-17), a alga D. simplex foi a
mais consumida dentre todas as algas testadas, apresentando uma faixa
de consumo variando de baixo a alto; isto faz com que esta espécie
tenha uma maior preferência alimentam entre seus consumidores. As
algas coletadas na frente recifal e colocadas na Falsa Barreta
(experimento 12), praticamente não foram consumidas, o baixo consumo
de D. pfaffi provavelmente se deve ao fato dela estar junto ao tufo de
algas filamentosas. Estas algas provavelmente não são preferidas para o
consumo dos peixes.
Com o transplante de algas do Cabeço das Dictyotas para a Falsa
Barreta (experimento 13), D. simplex obteve um consumo alto, enquanto,
S. polyceratium e D. menstrualis não foram consumidas. D. ciliolata e D.
crispata apresentaram baixo consumo, demonstrando ser de baixa
preferência alimentar. No experimento 14, D. simplex apresentou um
consumo moderado, enquanto que a alga G. acerosa, que é a alga
dominante do próprio local, foi recusada para consumo. As algas D.
cervicornis e D. ciliolata, encontradas na crista interna do atol,
apresentaram baixo consumo.
Em ambos experimentos realizados na Frente Recifal (15 e 16),
apresentaram um baixo consumo para todas as espécies envolvidas no
ensaio. No teste realizado com algas pardas, de maiores profundidades
24
do lado externo e de B. plumosa do próprio local, esta última não
apresentou consumo, enquanto que as demais foram muito pouco
consumidas; provavelmente estas algas são de baixa preferência
alimentar. No experimento 16, apesar do baixo consumo das espécies,
D. cervicornis obteve um consumo semelhante à D. simplex, não
apresentando diferenças significativas. As outras duas, G. acerosa e D.
ciliolata praticamente não foram consumidas, aparentando ser pouco
atrativa para peixes herbívoros.
Com a realização do experimento 17, realizado no Cabeço das
Dictyotas com algas do próprio local, somente D. simplex foi consumida,
mas apresentando uma taxa de consumo relativamente baixa. S.
polyceratium teve apenas um indivíduo consumido e as demais (D.
crispata, D. menstrualis e D. pinnatifida) foram recusadas para o
consumo dos peixes.
O experimento simultâneo de herbivoria (18) com D. simplex
mostrou que praticamente não existe diferença entre os pontos
amostrados para o consumo; apesar da amostragem realizada na Frente
Recifal ter sido prejudicada devido ao deslocamento das cordas, este
ponto provavelmente teria uma maior taxa de consumo. Mesmo
encontrando somente uma diferença significativa entre o Cabeço das
Dictyotas e a Falsa Barreta, a quantidade consumida mostrou-se baixa.
25
A)
D. simplex (50)
D. pfaffi (50)
B. triquetrum (50)
B. plumosa (50)E)
G. acerosa (50)
D.cervicornis (47)
D. simplex (42)
D. ciliolata (47)
F)
S. polyceratium (40)
D. simplex (39)
D. pinnatifida (40)
D. menstrualis (40)
D. crispata (39)
G)
0 25 50 75 100
C. das Dictyotas (79)
F. Recifal (39)
F. Barreta (100)
P. do Cemitério (99)
% de indivíduos consumidos
B)
S. polyceratium (40)
D. simplex (40)
D. menstrualis (40)
D. crispata (40)
D. ciliolata (40)
C)
G. acerosa (50)
D. simplex (50)
D. ciliolata (50)
D. cervicornis (50)
D)
0 25 50 75 100
S. polyceratium (34)
D. simplex (39)
D. mertensii (36)
D. jamaicensis (36)
B. plumosa (38)
% de indivíduos consumidos
Esp
écie
s (n
)
Figura 5: Porcentagem de indivíduos consumidos nos experimentos do período de inverno: 12 (A), 13 (B), 14 (C), 15 (D), 16 (E), 17 (F) e 18 (G).
26
Tabela 4: Resultados encontrados no período de inverno. (n) n amostral, (cons) número de indivíduos consumidos e (ñ cons) número de indivíduos não consumidos. O código ao lado da espécie corresponde à letra do resultado de X2 na comparação com as espécies do mesmo experimento.
Resultado teste X2 valores de p Nº Exp
Espécie ou Local(código) N Cons ñ
cons A B C D E
12 B. plumosa (A) 50 0 50 B. triquetrum (B) 50 1 49 - D. pfaffi (C) 50 4 46 - > 0,05 D. simplex (D) 50 22 28 - < 0,001*** < 0,001***
13 D. ciliolata (A) 40 10 30 D. crispata (B) 40 12 28 > 0,05 D. menstrualis (C) 40 0 40 - - D. simplex (D) 40 38 2 < 0,001*** < 0,001*** - S. polyceratium (E) 40 0 40 - - - < 0,001***
14 D. cervicornis (A) 50 8 42 D. ciliolata (B) 50 12 38 > 0,05 D. simplex (C) 50 29 21 < 0,001*** < 0,001*** G. acerosa (D) 50 0 50 - - -
15 B. plumosa (A) 38 0 38 D. jamaicensis (B) 36 4 32 - D. mertensii (C) 36 5 31 - > 0,05 D. simplex (D) 39 8 31 - > 0,05 > 0,05 S. polyceratium (E) 34 1 33 - > 0,05 > 0,05 < 0,05*
16 D. cervicornis (A) 47 12 35 D. ciliolata (B) 47 3 44 < 0,05* D. simplex (C) 42 9 33 > 0,05 < 0,05* G. acerosa (D) 50 1 49 < 0,001*** > 0,05 < 0,01**
17 D. pinnatifida (A) 40 0 40 D. crispata (B) 39 0 39 - D. menstrualis (C) 40 0 40 - - D. simplex (D) 39 15 24 - - - S. polyceratium (E) 40 1 39 - - - < 0,001***
18 C. das Dictyotas (A) 79 38 51 F. Barreta (B) 100 23 77 < 0,05* F. Recifal (C) 39 11 28 > 0,05 > 0,05 P. do Cemitério (D) 99 29 70 > 0,05 > 0,05 > 0,05
27
5. Discussão
A utilização do período de 24 h superou o ideal para a amostragem,
uma vez que a maior parte das algas testadas foram consumidas acima de
75 %. (Lewis, 1985) sugeriu a utilização um tempo de 8 h, objetivando a
verificação do consumo de peixes, colocando o experimento no inicio da
manhã. Este procedimento foi utilizado no experimento 7 e extrapolou o
tempo ideal para verificar a preferência alimentar, pois das quatro algas
amostradas, três foram completamente consumidas e uma apresentou
consumo moderado (25 – 75 %).
Os resultados encontrados para o período de verão (Tabela 3, Figura)
mostram que os experimentos 1 – 4 de curta duração (1h e 30 min à 2h e 30
min) foram insuficientes para a amostragem, onde nenhuma alga foi
consumida pelos peixes. Paul & Hay (1986), aconselham que o tempo ideal,
deve compreender até o momento em que uma das espécies amostradas,
seja consumida em sua totalidade. Seguindo este procedimento os
experimentos 5 e 6, realizados na Falsa Barreta por um período de 3 e 4 h
mostrou-se ideal, onde D. simplex foi 100 % consumida pelos peixes.
A ocorrência de macroalgas em lugares específicos do Atol das
Rocas, como D. simplex e D. cervicornis no platô recifal (Villaça et al., 2001),
pode indicar a presença de refúgios anti-herbivoria. Em toda a porção sul e
na porção nordeste do atol fortes ondas atuam durante o período de maré
cheia, dificultando o forrageamento dos peixes de recife, semelhantes ao
encontrados por Hay (1981b) nas barreiras de corais do Caribe. Na porção
noroeste a forte influência das ondas ocorre somente no verão, possibilitando
nesta região o forrageamento dos peixes nos meses de inverno. Isto foi
28
evidenciado ao testar a preferência alimentar dos herbívoros em relação às
algas mais abundantes do platô recifal nos meses de inverno, quando a alga
do local – G. acerosa – não foi consumida e as demais tiveram, um consumo
alto como D. simplex e baixo para D. cervicornis e D. ciliolata.
De acordo com Lindahl et al. (2001), a complexidade estrutural do
substrato em recifes biológicos fora da área de abundância de corais vivos
está fortemente relacionada com a riqueza e diversidade da assembléia de
peixes, podendo ser facilitada pelas várias estruturas do recife (Cheroske et
al., 2000). A complexidade topográfica do substrato e a viabilidade dos
refúgios durante as pastagens podem influenciar o desenvolvimento dos
organismos (McClanahan, 1997). Isto está de acordo com o padrão
observado para a alga B. plumosa, que ao ser coletada num local com alta
pressão de herbivoria, como a frente recifal, apresentou poucos centímetros
de talo. Contrariamente, quando foi coletada em pequenos refúgios no platô
recifal em frente a casa, seu talo apresentava aproximadamente 30 cm.
Em habitats profundos da frente recifal existe um domínio de algas
pardas, que não ocorre nas porções mais rasas da frente. Nestas porções
mais rasas, as algas calcárias crostosas dominam o ambiente. Fatores
abióticos, especificamente a alta irradiância (Morrison, 1988) e a alta
exposição às ondas (obs. pessoal), podem limitar a abundância de
macroalgas eretas nas partes rasas dos recifes. Ao final do experimento 12 a
alga D. pfaffi estava esbranquiçada, demonstrado muito provavelmente alta
irradiância, ocorrendo a fotoinibição devido a pouca profundidade do local. E
em algumas piscinas afastadas da crista recifal, pode-se encontrar a
presença de alguns gêneros como Sargassum e Dictyota (obs. Pessoal). Isto
29
deixa claro que a ocorrência de macroalgas eretas nestes habitats não é
impedida pela presença de peixes herbívoros.
Ao transplantar as algas pardas encontradas na frente recifal em
maiores profundidades (8 m) e B. plumosa (6 m) para porções mais rasas (3
m), a alga local B. plumosa não foi consumida e as demais espécies
apresentaram baixo consumo. O mesmo aconteceu com a alga
Bryothamnion transplantada da frente recifal (6 m de profundidade) para a
piscina aberta (3 m de profundidade), onde a alga teve um baixo consumo.
Hay et al. (1983) encontrou um padrão semelhante ao transplantar a alga
Bryothamnion de sua profundidade (9 – 12 m) para profundidades mais rasas
da frente recifal do Caribe, onde elas não foram consumidas. Porém, em
nossos experimentos de transplante de algas encontradas no platô recifal
para a descida recifal elas foram rapidamente consumidas. Este padrão
também foi descrito para um tipo de recife bastante diferente localizado no
complexo da Barreira de Corais de Belize (Hay, 1981b; Hay et al., 1983).
Porém não existe evidência direta para que algas como Bryothamnion
triquetrum não ocorram em áreas rasas do Atol das Rocas. Muitas algas são
mais vulneráveis a herbívoros quando jovens e estas espécies podem estar
aptas a escaparem da herbivoria apenas em profundidade e em partes do
recife topograficamente menos complexas, aonde pastadores podem estar
mais expostos a predadores e menos cuidadosos como consumidores (Hay
et al., 1983).
A variação espacial da abundância de peixes herbívoros (Lewis &
Wainwright, 1985) e da intensidade de pastagem (Hay, 1984a, b; Hay et al.,
1983) ao longo dos habitats de recife têm sido descritas para diversas
30
localidades de recifes tropicais. Porém os fatores que influenciam a
distribuição do habitat de peixes herbívoros não são bem entendidos. Os
platôs recifais entre marés e planícies arenosas remotas parecem atuar
como refúgios espaciais ou temporais de herbivoria, mas não há uma razão
a priori para esperar uma pastagem reduzida em áreas de infralitoral rasas
dominadas por macroalgas (Hay, 1981a, b; Hay et al., 1983). Porém estes
padrões não parecem ser gerais, uma vez que o platô recifal do Atol das
Rocas, por exemplo, não se mostrou um refúgio eficiente para determinadas
espécies de algas. O experimento 14 realizado no platô recifal (casa) com
algas presentes em partes do platô (Tabela 4) no período de inverno,
mostrou um baixo consumo para D. ciliolata e D. cervicornis, porém
moderado para D. simplex, enquanto a alga do próprio local (G. acerosa) não
foi consumida. Neste local do platô (casa), D. simplex não está presente e a
herbivoria parece ser responsável pela sua ausência.
Em locais de intensa herbivoria muita energia pode ser alocada para o
rápido crescimento e aumento da habilidade competitiva, sendo que,
relativamente pouca energia é gasta com defesas contra herbívoros (Hay,
1981a, b; Hay et al., 1983). Quando se compara a resistência relativa a
herbivoria das algas entre os diferentes habitats, espécies que ocorrem
somente nos platôs recifais, lagoas ou planíces arenosas tendem a ser mais
susceptível a herbívoros (ex.: D. simplex). Espécies que sempre ou
ocasionalmente ocorrem nas descidas recifais nunca estão entre estas mais
susceptíveis a herbivoria (ex.: B. triquetrum) (Barry & Ehret, 1993).
A alga D. simplex teve a melhor aceitação na preferência alimentar
entre os peixes herbívoros e foi a mais consumida nas duas temporadas de
31
experimentos (Tabelas 3 e 4, Figuras 4 e 5). Este não é um resultado
surpreendente, uma vez que esta alga não há relato na literatura de defesa
morfológica ou química para esta alga. Seu principal metabólito é o ác. α-
kaínico, que é um potente vermífugo, mas não tem efeito contra herbivoria,
assim com seu talo corticado de consistência macia. Similarmente, B.
plumosa também não possui defesa química ou morfológica, e sua forma
filamentosa é muito apreciada por pastadores. Ela foi muito consumida na
primeira temporada nos experimentos de longa duração, mas na segunda
isto não se repetiu. Apesar disso Digenia ocorre em abundância em quase
todo o anel recifal durante diferentes épocas, o que sugere que ala tenha
uma estratégia de alta produtividade. Apesar de um talo mais complexo
(corticado), ela desempenha função semelhante a algas filamentosas em
tufo, em outros ambientes recifais (Hatcher & Larkum, 1983).
Já B. triquetrum, apesar de não possuir defesa química, apresenta um
talo cilíndrico e extremamente rígido proporcionando uma defesa morfológica
bastante eficaz. O mesmo acontece com G. acerosa, que também não
possui defesa química, mas apresenta um talo coriáceo fortemente aderido
ao sedimento calcário em conjunto com Zoanthus sociatus. Este tipo de
crescimento constitui, muito provavelmente, uma estratégia de defesa contra
a pastagem, pois lhe proporciona maior dureza. Esta hipótese é confirmada
pelo seu baixo e ausente consumo na primeira e segunda temporada,
respectivamente.
Existe uma forte associação entre resistência a pastagem de peixes
herbívoros e a presença de metabólitos secundários (Paul & Hay, 1986),
como foi possível observar nos experimentos com as algas Dictyota spp, D.
32
jamaicensis e S. polyceratium (Tabela 4). Nos experimentos realizados por
Hay (1984b) e Paul & Hay (1986), eles sugeriram que defesas químicas e
morfológicas têm sido selecionadas em áreas de intensa pastagem dos
recifes biológicos. O resumo dos morfotipos das espécies estudadas e os
metabólitos secundários encontram-se na Tabela 5. No entanto, este padrão
não é geral, pois várias espécies de algas de baixa preferência alimentar
contêm metabólitos secundários e/ou defesas estruturais. Observações
realizadas por Hay (1984a, b) e Paul & Hay (1986) propõem que a
preferência alimentar das diferentes espécies de peixes pastadores é similar
nos diversos recifes. Algumas defesas características das algas podem
direcionar a uma ampla faixa de pastadores generalistas (Hay, 1984a; Paul &
Hay, 1986).
Tabela 5: Adaptações morfológicas, produção de metabólitos, efeito nos consumidores, preferencia dos peixes (0 – sem preferência e 3 – maior preferência); Adaptado de Hay (1984b, 1991) e Steneck & Dethier (1994)
Adaptação morfológica Espécie Produção de
Metabólitos Efeito Preferência dos peixes
Filamentosa B. plumosa - Sem efeito 2 Foliácea Dictyota spp Diterpenos Ictiotóxico 1 Foliácea D. jamaicensis Dictyopterenes-A e B Ictiotóxico 0 Corticada B. triquetrum - Rigidez 0 Corticada D. simplex Ácido α-kaínico Sem efeito 3 Corticada G. acerosa - Rigidez 1 Coriácea S. polyceratium Polifenol Rigidez 0
O tamanho, a forma e a composição celular da alga podem controlar a
habilidade do pastador de morder o talo, e deste modo ser comestível. A
rigidez dos filóides de S. polyceratium ou do rígido talo de B. triquetrum,
parecem proporcionar uma menor susceptibilidade a herbívoros (Hay,
1984b), como os Acanthurus spp – os mais abundantes peixes herbívoros do
33
Atol Rosa & Moura (1997) – que segundo Steneck & Dethier (1994) estes
herbívoros preferem macroalgas mais macias como as filamentosas e
foliáceas. Ao contrário dos Acanthurus spp, os Sparisoma spp são menos
abundantes (Rosa & Moura, 1997), possuindo uma boca melhor adaptada
(Choat, 1991; Horn, 1989), e com isso, são consumidores mais generalistas.
Herbívoros de uma maneira geral preferem algas de rápido crescimento,
como as filamentosas e corticadas macias (D. simplex) (Hay, 1984b), tais
algas podem estar investindo mais na crescimento, do que em defesas
morfológicas e/ou químicas.
Em áreas tropicais onde a diversidade de herbívoros é alta, plantas
que conseguem melhor se defender de predadores devem ser
caracterizadas por uma maior diversidade de mecanismos defensivos. Nos
recifes tropicais estudados por Hay (1984b), espécies com menor
susceptibilidade a herbívoros tinham freqüentemente as defesas estruturais e
químicas. Este padrão é semelhante ao encontrado no Atol das Rocas. Em
contraste, a defesa química envolvendo palatabilidade usualmente utiliza o
comportamento de prova e pode ser importante na modificação subseqüente
do forrageamento dos herbívoros, se estes forem capazes de reconhecer
visualmente ou quimicamente (através da mordida) a planta (Steneck &
Dethier, 1994). O comportamento de prova, foi muito observado em todos os
experimentos, talvez peixes jovens tenham experimentado com determinada
freqüência às espécies amostradas.
As preferências dos herbívoros por grupos particulares de algas
podem estar envolvidas em resposta a pressões seletivas baseadas em
diversos fatores incluindo qualidade do alimento e palatabilidade, além do
34
custo da busca e tempo de manuseio da presa e exposição a predadores
(peixes, pássaros e polvos) (Barry & Ehret, 1993). A química dos metabólitos
secundários e defesas estruturais das plantas proporcionam muitas funções
ecologicamente relevantes em relação à inibição do herbívoro e repressão
de competidores (Coyer et al., 1993; Stachowicz & Hay, 1999).
Numerosas espécies de algas palatáveis como as filamentosas,
susceptíveis à predação pelos peixes pastadores, são hospedeiras da epífita
D. pfaffi, que apresenta defesa química. Se a planta que impede o consumo
for removida, as espécies palatáveis serão consumidas rapidamente (Hay,
1996). Os diversos metabólitos secundários e adaptações morfológicas
podem servir como funções alternativas, tais como defesas alelopáticas
contra epífitas ou defesas contra outros herbívoros. Pastagens diferenciais
em algas por determinadas espécies dentro da guilda de peixes herbívoros
indicam que as defesas da alga podem ser interpretadas de maneira
particular quanto à herbívoros particulares (Lewis, 1985). A qualidade da
presa, localidade (Hay, 1981a, b; Hay et al., 1983), presença de toxinas ou
redutores digestíveis e a probabilidade de herbívoros serem atacados por
seus próprios predadores enquanto se alimentam (Hay, 1981a, 1984a)
podem formar um papel interativo na determinação da alimentação dos
herbívoros (Hay, 1984b).
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6. Conclusão
A alga D. simplex é a alga mais palatável do Atol das Rocas, sendo a
mais consumida em quase todos os experimentos. Apesar da alga B.
plumosa ter sido muito consumida no período de verão, não existe uma
explicação para ela praticamente não ter sido consumida no inverno. As
algas pardas encontradas no lado externo são menos palatáveis, pois nas
amostragens estas apresentaram baixo consumo.
O lado externo aparenta ter maior pressão de pastagem, pois existe
um domínio de algas pardas da Ordem Dictyotales e do gênero Sargassum,
que são característicos de locais de intensa pastagem. Diferentemente do
lado externo, o platô recifal é um ambiente que serve de refúgio para D.
simplex devido a exposição dos peixes herbívoros à predadores e forte ação
das ondas, impedindo sua alimentação.
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