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INFLUÊNCIA DE GRUPOS AMINAS PRESENTES NA ESTRUTURA QUÍMICA DE
CORANTES FOTOCRÔMICOS NAS PROPRIEDADES REOLÓGICAS E
MECÂNICAS DO POLI(METACRILATO DE METILA) (PMMA)
J. K. M. A. do Rêgo1*, J. H. O. do Nascimento2, P. Agrawal3, T. J. A. Mélo3, M. C. B. C. do Nascimento4, E. N. Ito4#
1 Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, CEP: 59078-970, Natal/RN, Brasil.
2 Departamento de Engenharia Têxtil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, CEP: 59078-970, Natal/RN, Brasil.
3 Departamento de Engenharia de Materiais, Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, CEP: 58.429-900, Campina Grande/PB, Brasil
4 Departamento de Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, CEP: 59078-970, Natal/RN, Brasil.
* [email protected], # [email protected]
Resumo
A modificação de polímeros tem sido utilizada como ferramenta para melhorar a
adesão/união de compostos e/ou partículas às cadeias poliméricas, porém nem
sempre isso é alcançado de forma desejada. Alguns compostos apresentam
naturalmente grupos reativos que, em contato com o polímero, modificam uma ou
mais de suas propriedades. O objetivo desse trabalho foi a caracterização reológica
(reometria de torque e de placas paralelas) e mecânica (tração e impacto) do PMMA
com os corantes amínicos DV31, DBL3 e DB79 e o corante inerte DR73. Os
resultados reológicos apresentaram variação no torque final (reometria de torque)
com o aumento da concentração dos corantes, e comportamentos distintos
(reometria de placas paralelas) para os diferentes corantes estudados. Os ensaios
mecânicos mostraram que, de uma forma geral, a presença dos corantes pouco
impactou nas propriedades do polímero, com excessão do DV31 que causou a
redução da resistência ao impacto em virtude da possibilidade de ligação entre
cadeias ou seguimentos de cadeias do polimero. A presença, quantidade e tipo de
amina presente nos corantes proporcionaram alterações reológicas significativas
para o PMMA em virtude da reatividade existente entre a amina e o grupo éter do
PMMA.
Palavras-chave: PMMA, amina, azocorante, antraquinona, reatividade.
INTRODUÇÃO
O poli(metacrilato de metilo) (PMMA) é, comercialmente, o polímero mais
importante de uma variedade de acrílicos que podem ser considerados como
estruturalmente derivados do ácido acrílico(1). A uso comercial do PMMA é devido,
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em grande parte, ao processo de produção do monómero a partir de acetona
desenvolvido por Crawford que permitiu ao polímero, ser produzido a um preço
competitivo(2-3).
O PMMA pode ser misturado com vários aditivos, destes os mais importantes
são os corantes e pigmentos, e estes devem ser estáveis para ambas as condições
de processamento e de serviço. Duas exigências particulares são, em primeiro lugar,
que, quando submetidos a processor térmicos (casting, mistura por extrusão e/ou
moldagem por injeção), não devem prejudicar a reação de polimerização e/ou a
integridade da cadeia polimerica, por outro, que eles devem ter boa resistência ao
ciclo de moldegem e intempéries na qual se destina o seu uso(1).
Utilizado normalmente como veículo de modificação(4-6), os compostos
amínicos tendem a reagir com o PMMA formando pontes de ligação entre o polímero
e os compostos nele contido. As aminas, compostos orgânicos normalmente de
carater básico, apresentam reatividade com diversos grupos funcioanais, entre eles
se destacam os grupos cetonas, ao qual o PMMA faz parte(4), reatividade esta que
aumenta conforme aumenta o caráter básico desses compostos, conforme mostrado
na Figura 1(7-9).
Figura 1 - Caráter básico em ordem decrescente das aminas, da mais forte (amina secundária) para a
mais fraca (amina aromática terciaria).
A modificação de polímeros e compostos tem sido utilizada mais recentemente
como método para a realização ou melhoria da compatibilidade e/ou reatividade
entre o polímero matriz e as cargas ou compostos nele disperso(10-11), permitindo
alterar desde propriedades dielétricas(12), elétricas e ópticas(13), de absorção de
radiação eletromagnetica(14), assim como, realizar a união química do polímero com
nanopartículas metálicas(4), na compatibilização de blendas poliméricas(6), como
também, na fabricação de microdispositivos(15), entre outros.
Os grupos amínicos, que são comuns em corantes orgânicos, dispertam o
interesse dos pesquisadores em razão de suas funcionalidade e reatividade, desta
forma o objetivo deste trabalho é associar os impactos causados por esses corantes
nas propriedades reológicas e mecânicas do poli(metacrilato de metila) (PMMA), em
função da quantidade e tipo de amina presente nesses compostos.
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MATERIAIS E MÉTODOS
Materiais
Neste trabalho, foi utilizado o poli(metacrilato de metila) puro (ECL100), sem
aditivos, com índice de fluidez de 2,3 g/10min (norma ASTM D-1238). Ambos os
materiais foram cedidos pela empresa UNIGEL S.A., alem de corantes comerciais,
como recebidos, fornecidos pela empresa importadora PCIL Corantes. Os corantes
e suas principais características(16-23) são apresentados na Tabela 1 e Figura 2.
Tabela 1 – corantes orgânicos utilizados e suas principais características.
DV31 DBL3 DB79 DR73
CAS 6408-72-6 539-17-3 12239-34-8 12270-46-1 Formula molecular C26H18N2O4 C14H16N4 C24H27BrN6O10 C18H16N6O2 Massa molecular
(g∙mol-1) 422,43 240,3 639,41 348,36
Densidade (g∙cm-3)
1,39 1,11 1,53 1,22
Tm (ºC) 195 190 140≈157 150 Figura 2 (a) (b) (c) (d)
O
O
NH2
NH2
O
O
NN
N
CH3
CH3
NH2
N
N
NHC
CH3
O
NCH2
CH2
OC
CH3
O
CH2CH2
OC
O
CH3
OCH2
CH3
NO O
NO
O
Br
NN
CN
N
O
O
NCH2
CH2C
N
CH2CH3
(a) (b) (c) (d)
Figura 2 - Estruturas químicas do (a) 1,4-diamina-2,3-difenoxi-antraquinona (DV31), (b) N, N-Dimetil-4,4′-azodianilina (DBL3), (c) 5'-(bis(2-acetoxietil)amino)-2'-(2-bromo-4,6-dinitrofenilazo)-4-
etoxiacetanilide (DB79) e (d) DR73 (N-(4-(2-ciano-4-nitrofenilazo) fenil) -n-etilamina) propionitrilo).
Processamento
O processamento do PMMA puro e das formulações com 0,1% em massa de
corante (nomeados como: PMMA_P, DV31_BP, DBL3_BP, DB79_BP e DR73_BP)
foram realizadas em extrusora de rosca dupla AXPlásticos modelo AX.DR.16.40 em
temperatura de 110/160/170/180/190/200/200/210/210°C e rotação de rosca 300
rpm.
Após a mistura por extrusão, parte do material foi moído/pulverizado em um
moinho criogênico, com o auxílio de nitrogênio líquido para o FTIR e o reômetro de
placas paralelas. O restante foi moldado por injeção, ASTM D-638 tipo I, em
equipamento Arburg modelo AllRounder 270S 400-100. As condições utilizadas
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foram: temperatura de injeção 230/240/245/250/250ºC, e temperatura do molde de
40ºC, com força de fechamento máxima de 400 kN e tempo de resfriamento de 35
segundos.
Caracterização
A análise de espectroscopia de infravermelho (FT-IR) por ATR foi realizada em
equipamento da PerkinElmer modelo Spectrum 65, com leitura de 4000 a 400 cm-1.
Foram analizadas as amostras de PMMA, dos corantes puros (DV31, DBL3, DB79 e
DR73) e as misturas extrudadas e pulverizadas.
Os ensaios reológicos a baixas taxas de cisalhamento foram realizados no
reômetro oscilatório/rotacional da Anton Paar modelo Physica MCR 301 utilizando
geometria de placas paralelas de 25mm de diâmetro e distancia entre placas (gap)
de 1mm. Os ensaios foram realizados variando a frequência entre 0,1 e 600 rad/s na
temperatura de 230ºC, com deformação de 1% dentro da região de viscoelasticidade
linear. As amostras ensaiadas foram as de PMMA virgem e extrudado (PMMA_V e
PMMA_P), as amostras contendo 0,01% de corante sem processamento (DV31_A,
DBL3_A, DB79_A e DR73_A), 0,1% de corante sem processamento (DV31_B,
DBL3_B, DB79_B e DR73_B) e 0,1% de corante com processamento (DV31_BP,
DBL3_BP, DB79_BP e DR73_BP). Os ensaios de reômetria de torque foram
realizados em equipamento da Thermo Scientific modelo HAAKE Polylab QC com
rotores do tipo roller. Foi utilizado velocidade de rotação de 60 rpm, temperatura de
220°C e tempo de análise de 20 minutos. A volume dentro da câmara de mistura foi
mantida constante em 70% do volume total. A tabela 2 apresenta as amostras
ensaiadas.
Tabela 2 - Formulações analisadas em reômetro de torque.
PMMA (% em massa)
Corante (% em massa)
PMMA/DV31 PMMA/DBL3 PMMA/DB79 PMMA/DR73
100 0 - - - - 99 1 DV31_C DBL3_C DB79_C DR73_C 97 3 DV31_D DBL3_D DB79_D DR73_D 95 5 DV31_E DBL3_E DB79_E DR73_E 90 10 DV31_F DBL3_F DB79_F DR73_F 85 15 DV31_G DBL3_G DB79_G DR73_G
Após a mistura por extrusão e moldagem por injeção, os corpos de prova de
PMMA e PMMA/corante foram condicionados por 24 h em temperatura de 25 °C, os
ensaios de resistência à tração foram realizados em máquina de ensaios universal
Shimadzu modelo AG-X 300kN, com célula de carga de 300kN, velocidade de
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aplicação da carga de 1,0 mm/min até 0,5% de deformação e em seguida de 10
mm/min até ruptura. O ensaio de impacto Izod foi relizado segundo a norma ASTM
D256 (Método A), utilizando uma maquina de ensaio de impacto instrumentado da
Ceast modelo Resil 5.5 com um martelo de 2,75J de energia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Espectroscopia de Absorção no Infravermelho
O espectro de FTIR do corante DV31, Figura 3a (A), revelou picos 1190 e 1066
cm-1, característico da função fenol ligada a anel aromático. O espectro de FTIR do
corante DBL3, Figura 3a (B), revelou intervalos e picos em 3690~3100 cm-1 e 1590
cm-1 o que representa a presença de aminas (NH2, NHX e/ou NXY, onde X e Y são
radicais) e do grupo azo N=N, respectivamente. O espectro de infravermelho do
corante DB79, Figura 3a (C), apresentou pico em 615 cm-1 que é indicativo da
presença de bromo (Br) na composição do corante. Espectro de FTIR do corante
DR73, Figura 3a (D), revelou picos a 1560 cm-1, relacionado ao composto nitro (-
NO2). Valores estes condizentes com a literatura(16-23). Estes resultados corroboram
com as estruturas químicas apresentadas na Figura 2. O espectro de FTIR para o
poli(metacrilato de metila) virgem, Figura 3b (E), apresenta as bandas característicos
ao polímero 1724, 1270 e 1238 cm-1, que representa a presença carbonila(24).
Figura 3 – Resultado de infravermelho para as amostras puras dos (a) corantes puros (A) DV31, (B)
DBL3, (C) DB79 e (D) DR73 e dos (b) polímeros (E) PMMA, (F) DV31_BP, (G) DBL3_BP, (H) DB79_BP e (I) DR73_BP.
Os espectros de FTIR para as amostras de PMMA puro e com DR73, Figura 3b
(E) e (I), não revelaram picos que se destacassem, não sendo possível afirmar
nenhum grau de reatividade entre esses dois compostos. Enquanto que o espectro
de FTIR para as amostras de PMMA com DV31, DBL3 e DB79, Figura 3b (F), (G) e
(H), revelaram dois intervalos. O primeiro entre 3650 e 3050 cm-1, associado as
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hidroxilas (-OH) e/ou aminas (-NH2) livres, e o segundo intervalo entre 1670 e 1530
cm-1, associado a oxidação da amina, indicando uma reatividade química da amina,
presente nos corantes, com o grupo éter do PMMA, produzindo como subproduto
desta reação o álcool metílico(25). A Figura 4 apresenta os prováveis
comportamentos de reações entre os corantes DV31, DBL3 e DB79 e o PMMA.
Figura 4 - Provável comportamento de reações entre o PMMA e o (a) DV31, (b) DBL3 e (c) DB79.
Reometria de torque
Os resultados de reometria de torque obtidos a partir de um mesmo corante
apresentaram uma tendência de decréscimo do torque final com o aumento da
concentração em massa de corante, frente aos valores apresentados pelo PMMA
puro. A Figuras 5 apresenta os resultados de reometria de torque para cada corante
por concentração em massa para o PMMA.
O comportamento apresentado pelas formulações de PMMA com DV31, Figura
5 (a), foi de uma redução menos acentuada do torque final da mistura. Esse
comportamento pode ser associado a capacidade do corante em formar múltiplas
ligações entre seguimentos distintos do PMMA. As formulações com DBL3 e DB79,
Figura 5 (b) e (c), apresentaram valores de torque final decrescentes com o aumento
do volume da fase dispersa, o que seria indicio de uma alteração nas propriedades
de viscosidade do PMMA. O comportamento apresentado pelas formulações do
DR73, Figura 5 (d), demonstrou uma baixa influencia na viscosidade final da mistura.
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Figura 5 - Resultados da curva de torque após 20 minutos, à 220ºC, velocidade de 60RPM e tempo de ensaio de 20 minutos, das amostras de PMMA com corantes (a) DV31, (b) DBL3, (c) DB79 e (d)
DR73 em concentração de (C) 1,0%, (D) 3,0%, (E) 5,0%, (F) 10,0% e (G) 15,0% em massa.
Reometria de placas paralelas
A queda nos valores de viscosidade registrado para o PMMA virgem e o
processado, Figura 6, pode está relacionada com a diminuição da massa molar do
polímero, consequência da degradação sofrida pelo PMMA durante o ciclo de
processamento em extrusora dupla rosca, associada a ausência de composto de
estabilização na variedade estudada.
O caráter reativo dos corantes, numero de grupos reativos e suas
concentrações são os principais parâmetros que influenciam na viscosidade
complexa (η*). Para uma mesma concentração de corantes e histórico térmico, os
valores de η* variam com o número e a classificação química do grupo amina no
corante (primária ou secundária). Comparando os resultados de viscosidade para as
três condições de análise, 0,01% (A) e 0,1% (B) em massa de corante sem
processamento e 0,1% (BP) em massa de corante com processado, Figura 6, é
verificado uma distinção, isso pode estar relacionado as ligações formadas entre os
corantes e o polímero. Mesmo apresentando um mesmo grupo reativo em sua
composição, os corantes DV31, DB79 e DBL3 demonstraram valores de
viscosidade.
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0,1 1 10 100 1000
100
1000
10000
Vis
co
sid
ad
e C
om
ple
xa
(Pa
.s)
Frequencia Angular (rad/s)
PMMA_V PMMA/DV31_A PMMA/DBL3_A
PMMA/DB79_A PMMA/DR73_A
0,1 1 10
8000
8500
9000
9500
10000V
iscosid
ade
Com
ple
xa
(Pa.s
)
Frequencia Angular (rad/s)
0,1 1 10 100 1000
100
1000
10000
Vis
co
sid
ad
e C
om
ple
xa
(Pa
.s)
Frequencia Angular (rad/s)
PMMA_V PMMA/DV31_B PMMA/DBL3_B
PMMA/DB79_B PMMA/DR73_B
0,1 1 10
7000
7500
8000
8500
9000
9500
10000
Vis
cosid
ade
Com
ple
xa
(Pa.s
)
Frequencia Angular (rad/s)
(a) (b)
0,1 1 10 100 1000
100
1000
10000
Vis
cosid
ad
e C
om
ple
xa
(Pa.s
)
Frequencia Angular (rad/s)
PMMA_P PMMA/DV31_BP PMMA/DBL3_BP
PMMA/DB79_BP PMMA/DR73_BP
0,1 1 10
4000
5000
6000
7000
8000
Vis
cosid
ade C
om
ple
xa
(Pa.s
)
Frequencia Angular (rad/s)
(c)
Figura 6 - Viscosidade complexa à 230ºC, com deformação de 1,0% e varredura dinâmica de frequência de 0,1 a 600 rad/s das amostras com (a) 0,01% de corante sem processamento (A), (b)
0,1% de corante sem processamento (B) e (c) 0,1% de corante com processamento (BP).
O comportamento do DV31 está relacionado a natureza reativa do par de
aminas primárias (quatro pontos reativos) presentes, o que possibilita o surgimento
de ligações cruzadas entre duas ou mais cadeias ou trechos de cadeias do
polímero, como apresentado na Figura 4a. Já o DBL3 apresenta um menor grau de
ancoramento, por apresentar uma única amina primária, sendo mais suceptivel ao
deslocamento e rotação da esturura do que o DV31. O DB79 apresenta um
comportamento próximo ao DBL3, diferenciado por apresentar uma amina
secundária (um ponto reativo) na sua estrutura. A presença de um grupo reativo com
apenas um ponto reativo com força de ligação baixa, carbono-nitrogênio igual a 305
kJ/mol, frente as ligações carbono-carbono, carbono-hidrogênio e carbono-oxigênio,
com força ligação igual a 346 kJ/mol, 411 kJ/mol e 358 kJ/mol, respectivamente(26),
favorece o deslocamento após o rompimento da ligação, enquanto que a presença
de dois ou mais pontos reativos, permitiria o ancoramento do corante e a
possibilidade da ligação ser refeita. Entre os corantes estudados, o DBL 3 pode
apresentar até um ponto de ancoramento e o DV31 até três pontos de ancoramento.
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Ensaio de tração
A Figura 7 apresenta o comportamento medio em tração para as amostras
ensaiadas. Na Tabela 3 encontram-se os valores dos diferentes parâmetros obtidos
do ensaio de resistência à tração das amostras de PMMA puro e PMMA com os
corantes DV31, DBL3, DB79 e DR73. Os dados experimentais, em conjunto com a
análise estatística, permitiram concluir que os comportamentos mecânicos em tração
das amostras de PMMA puro e com corante foram bastante similares, sobretudo
quanto ao módulo de elasticidade e ao processo de ruptura. Houve desempenhos
ligeiramente superiores ao da amostra pura, o limite de resistência à tração e o
alongamento na ruptura apresentaram valores superior a amostra pura. Esse
comportamento se deve a uma maior estabilidade que os corantes proporcionam ao
polímero, como constatado no ensaio de reometria de placas.
Figura 7 - Comportamento tensão deformação das amostras de PMMA e PMMA/corante.
Tabela 3 - Resultados do ensaio de tração.
Módulo de
Elasticidade (GPa)
Tensão Máxima (MPa)
Alongamento na Ruptura
(%) PMMA_P 2,53 ± 0,03 59,9 ± 0,4 4,6 ± 0,3
PMMA/DV31 2,60 ± 0,04 61,4 ± 0,2 5,2 ± 0,4 PMMA/DBL3 2,57 ± 0,01 61,3 ± 0,3 5,6 ± 0,3 PMMA/DB79 2,63 ± 0,03 61,4 ± 0,2 5,0 ± 0,5 PMMA/DR73 2,58 ± 0,03 60,9 ± 0,3 5,3 ± 0,5
Ensaio de impacto Izod
Os resultados de impacto, Figura 8, apresentaram uma variação considerável
para a mistura de PMMA/DV31, a redução da energia de impacto evidencia a
fragilização das amostras. As ligações cruzadas formadas pelo DV31, como
constatados nos resultados de FTIR e reometria de placa, Figuras 3 e 6, diminuem a
mobilidade das cadeias do polímero, o que consequentemente reduz a energia
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absorbida pelo polímero antes da fratura. O comportamento apresentado pelas
demais formulações apontam para uma manutença das propriedades mecânicas do
polímero na presença do corante.
Figura 8 - Resultado do ensaio de impacto
CONCLUSÃO
A partir dos estudos realizados das misturas de PMMA e corantes, evidenciou-
se que o uso de compostos com grupos reativos amínicos e hidroxílicos acarreta
mudanças reológicas significativas ao polímero.
As análises de FT-IR permitiram caracterizar os corantes utilizados e constatar
a possível reatividade existente entre o PMMA e os corantes amínicos DV31, DBL3
e DB79. Em razão das ligações em comum, o mesmo não foi possível detectar para
a amostra contendo DR73.
A reometria de torque demonstrou a influência da concentração dos corantes e
da presença dos grupos reativos no torque final dos sistemas estudados, sendo
verificado um decréscimo nos valores de torque nas amostras contendo apenas um
grupo reativo (DB79 e DBL3), quando comparadas com amostras contendo corante
sem grupo reativo (DR73) ou corante com dois grupos reativos (DV31).
Em relação ao comportamento viscoso a baixas taxas, (i) o processo de
extrusão do PMMA causa um grande impacto na viscosidade do polímero, (ii) as
amostras de PMMA com corante presenciaram uma atenuação na degradação do
polímero, sendo então um indício de estabilização termomecânica do polímero, (iii)
para todas as condições de mistura, o PMMA/DV31 apresentou viscosidade
complexa a baixas taxas, superiores ao polímero puro, principalmente em condições
sem processamento, o que seria um indício do surgimento de ligações
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intermoleculares entre o corante e duas ou mais cadeias ou trechos de cadeias do
PMMA.
A presença dos corantes não ocasionou mudanças significativas nas
propriedades mecânicas de tração das misturas quando comparado ao PMMA puro.
A amostra de PMMA/DV31 foi a única formulação a apresentar variação
siguinificativa (decréscimo) nos valores de energia de impacto absorvida, o que
pode indicar a fragilização dessa mistura.
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem ao CNPq, CAPES e FINEP pelo suporte financeiro, ao
Instituto de Química da UFRN, na pessoa do Prof. Dr. Ademir Oliveira da Silva, e a
Embrapa Agroindústria Tropical, nas pessoas do Prof. Dr Men de Sá Moreira de
Souza Filho e Adriano Lincoln Albuquerque Mattos pelo suporte experimental.
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Influence of amine groups in the chemical structure of photochromic dyes on
the rheological and mechanical properties of poly (methyl methacrylate)
(PMMA)
ABSTRACT
Polymer modification has been used as a means to improve the adhesion/bonding of
compounds and/or particles to polymer chains, but this goal is not always achieved.
Some compounds contain naturally reactive groups. which, when in contact with the
polymer, modify one or more of the latter’s properties. This work focused on the
rheological (torque and parallel plate rheometry) and mechanical (tensile and impact)
characterization of PMMA with the amine dyes DV31, DBL3 and DB79 and the inert
dye DR73. The rheological results indicated that the final torque (torque rheometry)
varied in response to increasing dye concentrations, and that the various dyes under
study exhibited distinct behaviors (parallel plate rheometry). The mechanical tests
revealed that, overall, the effect of the dyes on the properties of the polymer was
negligible, except for DV31, which reduced the polymer’s impact strength, possibly
due to the bond between chains or segments of chains of the polymer. The
presence, amount and type of amine in the dyes gave rise to significant rheological
changes in PMMA because of the reactivity between the amine and the ether group
of PMMA.
Keywords: PMMA, amine, azo dye, anthraquinone, reactivity.
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