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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL Adriana Ribeiro de Oliveira INFLUÊNCIA DO TEMPO DE REPOUSO DO SOLO NA INFILTRAÇÃO DE ESGOTO TRATADO NATAL 2017

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE REPOUSO DO SOLO NA …...unidades de disposição as valas de infiltração e os sumidouros. No entanto, a formação de biofilme (biomat) próximo à superfície

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

Adriana Ribeiro de Oliveira

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE REPOUSO DO SOLO

NA INFILTRAÇÃO DE ESGOTO TRATADO

NATAL

2017

Page 2: INFLUÊNCIA DO TEMPO DE REPOUSO DO SOLO NA …...unidades de disposição as valas de infiltração e os sumidouros. No entanto, a formação de biofilme (biomat) próximo à superfície

Adriana Ribeiro de Oliveira

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE REPOUSO DO SOLO

NA INFILTRAÇÃO DE ESGOTO TRATADO

Trabalho de conclusão de curso na

modalidade Artigo Científico,

submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte

como requisito parcial para obtenção

do título de Bacharel em Engenharia

Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Hélio Rodrigues dos Santos

NATAL

2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Sistema de Bibliotecas – SISBI

Catalogação da Publicação na Fonte - Biblioteca Central Zila Mamede

Oliveira, Adriana Ribeiro de. Influência do tempo de repouso do solo na infiltração de esgoto tratado / Adriana Ribeiro de Oliveira. - 2017. 22 f.: il.

Artigo científico (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Ambiental. Natal, RN, 2017. Orientador: Prof. Dr. Hélio Rodrigues dos Santos. 1. Tratamento de esgoto - Monografia. 2. Biomat - Monografia. 3. Colmatação - Monografia. 4. Condutividade hidráulica - Monografia. I. Santos, Hélio Rodrigues dos. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 628.32

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Adriana Ribeiro de Oliveira

Influência do tempo de repouso do solo na infiltração de esgoto tratado

Trabalho de conclusão de curso na

modalidade Artigo Científico, submetido ao

Departamento de Engenharia Civil da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

como requisito parcial para obtenção do título

de Bacharel em Engenharia Ambiental.

Aprovado em: 27 de novembro de 2017.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Dr. Hélio Rodrigues dos Santos – Orientador

__________________________________________

Dra. Juliana Delgado Tinôco- Examinadora Interna

__________________________________________

MSc. Larissa Caroline Saraiva Ferreira– Examinadora Externa

Natal

2017

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pela saúde, coragem e sabedoria para sempre

seguir em frente, vencendo os obstáculos da vida.

Agradeço de forma especial ao meu pai, Marcos, e à minha mãe, Janete, por não

medirem esforços para que eu pudesse levar meus estudos adiante;

Ao meu orientador, Hélio Rodrigues, pela oportunidade concedida e confiança

depositada na execução do projeto;

Ao apoio de Brayan, meu amigo de curso, na realização das análises laboratoriais, e

ao qual tenho grande apreço;

A Ban e a todos os vigias, funcionários da estação de tratamento de esgoto da

UFRN, por toda ajuda na operação e manutenção dos sistemas e pela troca de

conhecimentos;

À Alfredo, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte

(EMPARN), pelo acesso concedido ao laboratório para execução das análises;

Aos funcionários do LARHISA;

A todos os colegas de curso e aqueles que de alguma forma contribuíram com a

execução deste trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Formato das colunas de infiltração.............................................................11

Figura 2- Esquema experimental das colunas de percolação ......................................12

Figura 3- Curva granulométrica da areia....................................................................12

Figura 4- Condutividade hidráulica ao longo do tempo para percolação de

TS+FAn......................................................................................................................16

Figura 5- Remoção de SST, SSV e SSF nas colunas de

percolação…..............................................................................................................18

Figura 6- Remoção de ST, STV e STF nas colunas de

percolação..................................................................................................................18

Figura 7- Teor de matéria orgânica ao longo das colunas de

percolação..................................................................................................................19

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Índices físicos da areia............................................................13

Tabela 2: Delineamento experimental.....................................................14

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RESUMO

A disposição de efluentes no solo ainda é bastante comum, sendo as principais unidades de disposição as valas de infiltração e os sumidouros. No entanto, a formação de biofilme (biomat) próximo à superfície de percolação do esgoto no solo e a obstrução dos poros do solo com o passar do tempo limita a vida útil dessas unidades. Após a colmatação, a recuperação dos sistemas de percolação será desafiadora, e de modo geral, ineficiente. Dessa forma, a aplicação de esgoto de forma intercalada nos solos é uma alternativa para aumentar a vida útil desses dispositivos. O período de repouso permite que a degradação do material orgânico ocorra por microrganismos aeróbios, com metabolismo mais rápido do que o dos microrganismos anaeróbios. Desta forma, este trabalho tem o objetivo de avaliar a influência do tempo de repouso na infiltração de esgoto tratado em solos arenosos, considerando iguais períodos de aplicação de esgoto e repouso de 12h, 24h,48h e 7 dias. O experimento foi operado por 420 dias e durante esse período ensaios de condutividade hidráulica foram realizados nos efluentes de cada coluna e a análise da matéria orgânica retida em cada coluna foi feita ao final do período de operação de cada uma delas, quando já estavam colmatadas. Concluiu-se que a condutividade hidráulica diminui rapidamente com o tempo quando os intervalos de repouso e aplicação de esgoto são pequenos, a remoção de sólidos será maior quando o intervalo de aplicação e repouso for menor e que a colmatação do solo ocorre mais intensamente na camada próxima a superfície para todas as colunas, sem importar os intervalos de repouso/aplicação.

Palavras-Chave: Biomat; Colmatação; Condutividade hidráulica; Esgoto.

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ABSTRACT

The disposal of effluents in the soil is still quite common, with the main disposal units being the infiltration ditches and sinks. However, the formation of a biofilm(biomat) on its surface of contact with the sewage and the obstruction of the pores of the soil throughout the time has limitated their useful life. After clogging, the recovery of those percolation systems will be challenging, and generally inefficient. Thus, the application of sewage, in an intercalated way, in soils appears as an alternative to increase the useful life of these devices. Resting periods allows the degradation of the organic material by aerobic microorganisms, which have a more efficient metabolism than the anaerobic ones. In this way, the present work aim to evaluate the influence of the time of rest in the infiltration of treated sewage in sandy soils, considering periods of sewage application of 12h, 24h, 48h and 7 days. The experiment was operated for 420 days and during this process hydraulic conductivity tests were performed on the effluent from the percolation columns, while the analysis of the organic material retained in each column was done at the end of the operation period of each one, when they were already clogged. It was concluded that the hydraulic conductivity decreases rapidly throughout time, when the interval between the resting time and the application of sewage is small, the removal of solids will be greater when the application interval and rest is minimum and that the soil clogging occurs more intensely in the layer close to the surface for all as columns, regardless of the rest / application intervals.

Keywords: Biofilm; Clogging; Hidraulic conductivity; Wastewater.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................9

2. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................10

2.1 Instalações experimentais....................................................................10

2.2 Delineamento experimental..................................................................12

2.3 . PROCEDIMENTOS DE ENSAIO........................................................14

2.3.1 Ensaios de condutividade hidráulica................................................14

2.3.2 Análises laboratoriais.......................................................................15

2.3.3 Análise do solo.................................................................................15

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................16

3.1 CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA.........................................................16

3.2 REMOÇÃO DE SÓLIDOS....................................................................17

3.3 ANÁLISE DO SOLO.............................................................................18

4. CONCLUSÕES.....................................................................................19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................21

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1.INTRODUÇÃO

Os efluentes provenientes do tanque séptico e filtro anaeróbio geralmente são

dispostos no solo. A disposição desses efluentes no solo é uma forma de tratamento

que envolve processos físicos, químicos e biológicos (KLUSENER FILHO, 2001). As

unidades mais empregadas para a disposição desses efluentes são a vala de

infiltração e os sumidouros, sendo os sumidouros recomendados para solos de maior

permeabilidade e as valas de infiltração para solos menos permeáveis conforme a

NBR 13969 (1997).

A determinação das dimensões construtivas de valas de infiltração e sumidouros é

feita considerando-se a capacidade de absorção do terreno através de ensaios de

infiltração no solo com água limpa. Há evidências de que, mesmo em sistemas

construídos em solos bem drenados, obstruções precoces têm ocorrido por se

considerar no dimensionamento das unidades de disposição somente a condutividade

hidráulica do solo (JONES; TAYLOR, 1965), enquanto as características dos esgotos

e sua relação com o solo em que interagem são muitas vezes negligenciadas.

Nas unidades de tratamento, com o passar do tempo, ocorre o acúmulo de sólidos

provenientes dos esgotos previamente tratados, pela retenção dos mesmos nos

interstícios dos grãos constituintes do solo. Além disso, observa-se também a

formação de uma fina camada biológica ou biofilme, também denominada biomat, que

se desenvolve próximo a superfície de infiltração (TOMARAS, 2009). Conforme o

material particulado do efluente fica retido na camada em que se desenvolve o

biofilme, ocorre a diminuição da condutividade hidráulica nessa região (SOLEIMANI

et al., 2009), mesmo em solos com textura mais grosseira (WILHEM; SCHIFF;

CHERRY,1994), potencializando a colmatação e, consequentemente, reduzindo a

vida útil das unidades de disposição final.

Ainda que haja esforços para a recuperação dos sistemas de percolação, deve-se

considerar que os procedimentos para a execução de tal tarefa são desafiadores, uma

vez que será preciso parar e esvaziar a unidade, desviar os esgotos provisoriamente,

efetuar a limpeza das superfícies de infiltração, dentre outros. Além disso, mesmo que

o sistema volte a operar, a condutividade hidráulica do solo não será a mesma de um

sistema recém-construído, de modo que a alternativa em muitos casos será a

construção de novas unidades de percolação, demandando novas áreas, com custos

geralmente elevados.

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Nesse contexto, uma das estratégias potenciais para o prolongamento do tempo de

funcionamento de sistemas de disposição no solo consiste na aplicação intermitente

do esgoto tratado nas unidades, havendo, assim, o estabelecimento de diferentes

períodos de repouso entre as aplicações. Segundo Leverenz et al. (2009), a formação

da camada colmatante em solos saturados é muito mais rápida do que em solos com

dosagens intermitentes, nos quais ocorre o decaimento endógeno da biomassa no

intervalo entre as aplicações. Além disso, como vantagens, a aplicação intermitente

do esgoto é um método de baixo custo que permite, durante os períodos de repouso,

a degradação do material orgânico retido nas camadas superficiais do solo por meio

de processos aeróbios (LEVERENZ et al.,2009) nos quais atuam microrganismos que

utilizam oxigênio como aceptor de elétron, com metabolismo muito mais rápido e que

apresentam maior eficiência na degradação do material orgânico se comparado com

os microrganismos anaeróbios, comuns em sistemas nos quais o solo está

permanentemente saturado.

Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi a avaliação da influência do

período de repouso do solo na capacidade de infiltração de efluentes, provenientes

de tanque séptico e filtro anaeróbio, em sistemas de percolação.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Instalações experimentais

As instalações experimentais foram inicialmente instaladas e operadas por outro

aluno durante cerca de 52 dias, sendo este período insuficiente para obtenção de

dados mais completos sobre as características de funcionamento de cada coluna. As

colunas de percolação utilizadas no experimento foram confeccionadas com tubos de

PVC, com diâmetro de 100 mm e altura útil de 40 cm (ver Figura 1). Durante o

funcionamento do sistema, todas as colunas foram recobertas com papel alumínio, de

modo a restringir a insolação e o possível desenvolvimento de algas e outros seres

fototróficos no interior das colunas. No interior dos tubos, a base inferior foi preenchida

com brita, que serviu como meio suporte para o leito de areia. Todas as colunas

funcionavam com carga hidráulica constante e descarga livre, não havendo controle

da vazão aplicada. A vazão que percolava pelas colunas era dependente do estado

de colmatação de cada uma delas. O fluxo era vertical, de cima para baixo com saída

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pela válvula de coleta presente na porção inferior, de onde se realizava a coleta dos

efluentes para as análises.

Figura 1- Formato das colunas de infiltração

De modo a evitar o caminho preferencial do esgoto pelas faces laterais das colunas,

as paredes internas de cada coluna foram previamente recobertas por uma camada

de areia, fixada por cola.

A instalação experimental (Figura 2) foi montada em local próximo ao sistema de

tratamento (TS+FAn), em um pequeno abrigo, coberto com telha cerâmica, com toda

a área externa envolvida por uma lona preta, de maneira que o ambiente onde se

encontravam as colunas era inteiramente protegido de intempéries e outros fatores

externos (insolação, animais silvestres etc.). O reservatório responsável por alimentar

o sistema de percolação com afluente TS+FAn era abastecido através de uma bomba

centrífuga, que funcionava vinte e quatro horas por dia e bombeava o efluente final do

tratamento, através de recalque, para o reservatório de armazenamento, de onde

seguia para a alimentação, por gravidade, das colunas.

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Figura 2- Esquema experimental das colunas de percolação

O solo usado nas colunas foi uma areia com granulometria média e uniforme (Figura

3), com coloração avermelhada e a caracterização física mostrada na Tabela 1. As

amostras de solo foram originárias de sedimentos de dunas do Parque das Dunas de

Natal/RN. Em cada coluna foi introduzida por SANTOS (2016) uma massa de solo de

forma fracionada, em quatro camadas de cinco centímetros, correspondente a 621,08

g de solo por camada.

Figura 3- Curva granulométrica da areia.

Fonte: FONTOURA (2015)

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Tabela 1 – Índices físicos da areia

Índices físicos Valores

Massa especifica aparente dos

sólidos

Coeficiente de uniformidade, Cu

Coeficiente de curvatura, Cc

Diâmetro efetivo, D10

Índice de vazios mínimo, emín

Índice de vazios máximo, emáx

2,534 g/cm³

1,818

0,891

0,165

0,529

0,773

Fonte: Adaptado de SANTOS (2016)

Por sua vez, o efluente utilizado para percolação nas colunas era proveniente de um

sistema constituído de tanque séptico (TS) com duas câmeras em série seguido de

filtro anaeróbio (FAn). A vazão tratada pelo sistema (Ts+FAn) era de

aproximadamente 10 m3/dia, e a concentração de sólidos totais e sólidos suspensos

presentes no esgoto era em média, respectivamente, 488 mg/L e 48,6mg/L. O esgoto

bruto do TS apresentava características essencialmente domésticas, coletado das

residências universitárias, do departamento de educação física, do restaurante

universitário e do pouso universitário da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Além disso, o efluente do filtro anaeróbico alimentava um tanque de

armazenamento, de onde ele era recalcado para alimentar as colunas.

2.2 Delineamento Experimental

Para avaliar a influência do tempo de repouso na capacidade de percolação de

efluentes de reatores anaeróbios em solos arenosos foram construídas quatro

configurações de colunas de percolação preenchidas com amostras de solo desse

tipo, nas quais era infiltrado o efluente de um sistema composto de tanque séptico

seguido por filtro anaeróbio (TS+Fan). O efluente era aplicado nas colunas em

períodos fixos, alternados por períodos de repouso (sem aplicação de esgoto),

conforme se verifica na Tabela 2. Cada configuração de coluna foi operada em

triplicata. Durante o período de alimentação do sistema era sempre mantida uma

carga hidráulica constante de 10 cm sobre todas as colunas de percolação.

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Tabela 2- Delineamento experimental Colunas de aplicação

Período de repouso

Período de aplicação

Parâmetros monitorados

C.12h C.24h C.48h

C.7d

12h 24h 48h

7 dias

12h 24h 48h

7 dias

Sólidos (ST, STV, STF, SST, SSV e SSF) *, condutividade

hidráulica.

*ST – Sólidos Totais; STV – Sólidos Totais Voláteis; STF – Sólidos Totais Fixos; SST – Sólidos Suspensos Totais; SSV – Sólidos Suspensos Voláteis; SSF – Sólidos Suspensos Fixos.

Análises laboratoriais de sólidos foram realizadas semanalmente com os afluentes e

efluentes (TS+FAn) das colunas. A cada quatro dias era efetuada a medição da

condutividade hidráulica em cada sistema de percolação, a fim de se avaliar o grau

de colmatação em cada uma das colunas. As coletas foram realizadas nas

extremidades inferiores das unidades e mangueiras de alimentação dos dispositivos

de percolação. As colunas foram desativadas quando a condutividade hidráulica

atingiu valores próximos a 0,02 m/dia. Após a desativação, foi efetuada a análise dos

sólidos retidos nas camadas de cada coluna, através do ensaio de quantificação de

matéria orgânica do solo de preenchimento delas.

2.3 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO

2.3.1 Ensaios de condutividade hidráulica

Os ensaios de condutividade eram realizados a cada quatro dias nas colunas C.12h,

C.24h, C.48h e C.7dias. Nas colunas C.24h, C.48h e C.7dias, ele era realizado antes

das 08h da manhã, horário inicialmente designado para o encerramento e aplicação

de esgoto nas colunas. Por sua vez, o ensaio nas colunas C.12h, embora feito no

mesmo dia que as demais colunas, iniciava-se em torno das 17h, por ser próximo ao

horário de encerramento às 20h. Para a medição da condutividade hidráulica, a coleta

do efluente era realizada na base inferior das colunas com uma proveta graduada de

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50 ml, juntamente com o uso de um cronômetro para a medição do tempo necessário

para se obter um volume mensurável da amostra. De posse desses dados, e

conhecendo-se os valores da altura da camada de solo (20 cm), da carga hidráulica

de esgoto sobre o solo (10 cm) e da área da seção transversal das colunas (78,54

cm²), utilizou-se a Equação (1) para obter o valor da condutividade hidráulica (DAS,

2006).

K =V x L x 86.400

t x A x(L+h)x100 (1)

Onde: K – condutividade hidráulica (m/dia) V – volume coletado (ml) L – altura da coluna de solo (cm) t – tempo necessário para coletar V (s) A – área da seção da coluna (cm²) h – carga hidráulica sobre o solo (cm)

2.3.2 Análises laboratoriais

A análise laboratorial da concentração de sólidos era realizada uma vez por semana

nos afluentes e nos efluentes das colunas. O método utilizado na análise foi o de

gravimetria e seguiu as recomendações do Standard Methods for the Examination of

Water and Waste Water (APHA et al., 2012).

2.3.3 Análise do solo

No término da utilização de cada coluna de percolação, o solo de preenchimento das

colunas colmatadas foi analisado para obtenção do teor de matéria orgânica ao longo

da altura das colunas. Para isso, cada coluna foi particionada em quatro estratos de 5

cm de altura. Desse modo, foi possível verificar a retenção de partículas em cada

trecho da coluna, além de se conhecer a natureza deste material (orgânico ou

inorgânico) através do método da calcinação.

Primeiramente, as amostras foram removidas de cada coluna em frações separadas

e, em seguida, secas por 24 horas a 105ºC numa estufa, pesadas (P0) e levadas a

mufla por 5 horas à 550ºC. Após esse período, cada amostra foi pesada novamente

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(P1) e a diferença entre o peso inicial e o final (P0 – P1) correspondeu ao teor de

matéria orgânica (adaptado de DAVIES, 1974).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA

Analisando-se os valores da condutividade hidráulica média em cada coluna de

percolação ao longo do tempo (Figura 4), percebeu-se que inicialmente todas as

colunas apresentaram valores altos de condutividade, decaindo ao longo do tempo.

Na Figura 4, também aparecem os valores médios da condutividade hidráulica

obtidos por SANTOS (2016), responsável pela montagem e operação das colunas

utilizadas nesta pesquisa ao longo de 52 dias. Dentre as colunas que passaram pelo

processo de aplicação intermitente, somente as colunas C.12h, C.24h e C.48h

mantiveram os valores de condutividade bem próximos e praticamente constantes a

partir do 86º dia de operação, estando já próximas do valor de colmatação, estipulado

em 0,02 m/dia. No 162º dia, as colunas C.12h passaram a ter dificuldade em infiltrar

a lâmina d’água de 10 cm de esgoto (correspondente à carga hidráulica) durante o

período de repouso, uma vez que já estavam completamente colmatadas, e, por isso,

foram desativadas e removidas. O mesmo aconteceu com as colunas C.24h, C.48h e

C.7d nos 166º, 170º e 420º dias de operação, respectivamente.

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Figura 4- Condutividade hidráulica ao longo do tempo para percolação de AP e TS+FAn

Nas configurações C.7d, em que o tempo de repouso entre as aplicações de efluente

foi maior, a redução da condutividade do solo ocorreu de forma mais lenta devido à

aeração do meio granular, que propiciou a formação de um ambiente favorável ao

desenvolvimento de uma biomassa aeróbia que degrada de forma mais acelerada os

sólidos presentes no efluente do TS+FAn, impedindo por um certo tempo o

desenvolvimento do biofilme. No entanto, a aplicação constante de efluente do

TS+FAn ao longo do tempo permitiu que os sólidos retidos nos poros do solo e o

biofilme se desenvolvessem até o ponto da colmatação do solo. Nesse momento, a

condutividade hidráulica do sistema inteiro torna-se independente das diferentes

frequências de aplicações, adquirindo resistências hidráulicas semelhantes como

demonstrado por BEACH et. al (2005).

3.2 REMOÇÃO DE SÓLIDOS

A remoção de SST, SSV, SSF, ST, STV e STF nas colunas C.12h (Figuras 5 e 6) foi

maior em relação às demais configurações. Tal fato confirma que intervalos de tempo

curto entre aplicações de efluente apresentam a tendência de que mais sólidos fiquem

retidos ao longo das colunas, além de propiciar o desenvolvimento acelerado do

biofilme, que reterá uma maior parcela desses sólidos.

Por sua vez, nas colunas de C.7 dias, em que o intervalo de tempo de aplicação e

repouso era maior, a remoção de sólidos foi a menor. Isso pode ter ocorrido devido à

desobstrução dos poros do solo, consequência da maior velocidade de regeneração

dos vazios intergranulares nessas colunas, propiciada pelo contato mais longo com o

oxigênio do ar.

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Figura 5-Remoção de SST, SSV e SSF nas colunas de percolação.

Figura 6- Remoção de ST, STV e STF nas colunas de percolação

3.3 ANÁLISE DO SOLO

Observando os teores de matéria orgânica presentes em cada uma das cinco

camadas do solo nas colunas C.12h, C.24h, C.48h e C.7dias (Figura 7), as quais

foram removidas, respectivamente, no 162º,166º,170º e 420º dias de operação,

constatou-se que a colmatação foi mais intensa na superfície do solo, fato já

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demonstrado na literatura (BEACH et. al, 2005). Na coluna C.12h, o teor de matéria

orgânica retido na superfície foi um pouco menor do que nas demais configurações,

as quais retiveram valores de material orgânico bem próximos. De modo geral, isso

implica que, uma vez a superfície do solo estando colmatada, a capacidade de

infiltração no solo arenoso estará comprometida em todas as colunas.

Figura 7- Teor de matéria orgânica ao longo das colunas de percolação.

4. CONCLUSÕES

Através da pesquisa foi possível observar que os intervalos de tempo de

aplicação/repouso apresentaram uma relação direta com a condutividade hidráulica e

a remoção dos sólidos nos sistemas operados.

Todas as colunas, independente do intervalo de aplicação, sofreram ao longo do

tempo um decréscimo no valor de sua condutividade. Contudo, esse decréscimo levou

mais tempo a ser atingido pelas colunas que mantiveram maior intervalo de repouso.

Além disso, a capacidade de remoção de sólidos no sistema foi menor em sistemas

com maior tempo de repouso, evidenciando a capacidade de regeneração dos poros

intergranulares.

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Ademais, verificou-se que a colmatação no solo ocorreu de maneira mais intensa na

região próxima à superfície para todos os sistemas, independentemente do tempo de

repouso e aplicação ao qual elas estiveram submetidas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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