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Informativo 536-STJ – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE Direito Civil Ausência de responsabilidade civil da CEF por roubo ocorrido em casa lotérica. Credores de indenização por morte não podem exigir que o pagamento seja de uma só vez. Alimentos transitórios podem ser executados segundo o rito do art. 733 do CPC. Estatuto da Criança e do Adolescente Internação do adolescente no caso de reiteração na prática de atos infracionais graves. Direito Processual Civil Utilização de provas colhidas em processo criminal como fundamento para condenar o réu em ação de indenização no juízo cível. A sentença proferida na ação de complementação de ações não precisa ser liquidada. A regra que determina a obrigatoriedade de ser lavrado auto de penhora não é absoluta no caso de penhora on line. Execução fiscal e CDA na qual constou como devedor pessoa homônima. ACP para tutelar direitos individuais homogêneos e eficácia erga omnes da sentença. Direito Penal Valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários. Importação de gasolina por particular é contrabando e não se sujeita ao princípio da insignificância. Não configura infração penal o exercício da profissão de “flanelinha” sem cadastro nos órgãos competentes. Conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade e necessidade de contraditório e ampla defesa. No procedimento da Lei de Drogas, o interrogatório continua sendo o primeiro ato da audiência. Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no tráfico de drogas Direito Processual Penal Crimes envolvendo a Junta Comercial: somente serão de competência da Justiça Federal se houver ofensa DIRETA a bens, serviços ou interesses da União. Direito Previdenciário Incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre os valores pagos a título de salário maternidade. Incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre os valores pagos a título de salário paternidade. Não incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre o valor pago ao trabalhador a título de terço constitucional de férias, sejam elas gozadas ou indenizadas. Não incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre o aviso prévio indenizado. Não incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre a importância paga nos quinze dias que antecedem o auxílio-doença. A aposentadoria por invalidez concedida pela via judicial, sem que o segurado tenha feito prévio requerimento administrativo, deverá retroagir à data da citação do INSS. O art. 1º-F da Lei 9.494/97, modificado pelo art. 5º da Lei nº 11.960/09, tem natureza processual, devendo ser aplicado aos processos em tramitação. INSS pode cancelar benefício assistencial concedido pela via judicial caso não mais estejam presentes as condições que lhe deram origem. Devolução dos benefícios previdenciários recebidos por força de decisão judicial reformada.

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    Mrcio Andr Lopes Cavalcante

    NDICE

    Direito Civil Ausncia de responsabilidade civil da CEF por roubo ocorrido em casa lotrica. Credores de indenizao por morte no podem exigir que o pagamento seja de uma s vez. Alimentos transitrios podem ser executados segundo o rito do art. 733 do CPC.

    Estatuto da Criana e do Adolescente Internao do adolescente no caso de reiterao na prtica de atos infracionais graves.

    Direito Processual Civil Utilizao de provas colhidas em processo criminal como fundamento para condenar o ru em ao de

    indenizao no juzo cvel. A sentena proferida na ao de complementao de aes no precisa ser liquidada. A regra que determina a obrigatoriedade de ser lavrado auto de penhora no absoluta no caso de penhora on line. Execuo fiscal e CDA na qual constou como devedor pessoa homnima. ACP para tutelar direitos individuais homogneos e eficcia erga omnes da sentena.

    Direito Penal Valor mximo considerado insignificante no caso de crimes tributrios. Importao de gasolina por particular contrabando e no se sujeita ao princpio da insignificncia. No configura infrao penal o exerccio da profisso de flanelinha sem cadastro nos rgos competentes. Converso da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade e necessidade de contraditrio e ampla defesa. No procedimento da Lei de Drogas, o interrogatrio continua sendo o primeiro ato da audincia. Substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no trfico de drogas

    Direito Processual Penal Crimes envolvendo a Junta Comercial: somente sero de competncia da Justia Federal se houver ofensa DIRETA

    a bens, servios ou interesses da Unio.

    Direito Previdencirio Incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre os valores pagos a ttulo de salrio maternidade. Incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre os valores pagos a ttulo de salrio paternidade. No incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre o valor pago ao trabalhador a ttulo de tero

    constitucional de frias, sejam elas gozadas ou indenizadas. No incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre o aviso prvio indenizado. No incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre a importncia paga nos quinze dias que

    antecedem o auxlio-doena. A aposentadoria por invalidez concedida pela via judicial, sem que o segurado tenha feito prvio requerimento

    administrativo, dever retroagir data da citao do INSS. O art. 1-F da Lei 9.494/97, modificado pelo art. 5 da Lei n 11.960/09, tem natureza processual, devendo ser

    aplicado aos processos em tramitao. INSS pode cancelar benefcio assistencial concedido pela via judicial caso no mais estejam presentes as condies

    que lhe deram origem. Devoluo dos benefcios previdencirios recebidos por fora de deciso judicial reformada.

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    DIREITO CIVIL

    Ausncia de responsabilidade civil da CEF por roubo ocorrido em casa lotrica

    Ateno! Concursos federais

    A Caixa Econmica Federal CEF no tem responsabilidade pela segurana de agncia com a qual tenha firmado contrato de permisso de loterias.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.224.236-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 11/3/2014.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.317.472-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/3/2013 (Info 518).

    Imagine a seguinte situao hipottica: Cristiano estava pagando contas em uma casa lotrica, quando foi vtima de um roubo armado, tendo, inclusive, levado um tiro. Em razo do ocorrido, ele ajuza na Justia Federal uma ao de indenizao contra a Caixa Econmica Federal (empresa pblica federal), alegando que a casa lotrica um estabelecimento equiparado instituio financeira, prestando servios bancrios em nome da CEF. Em suma, a tese a de que a casa lotrica, por realizar pagamentos em nome da CEF, deve ser equiparada a uma de suas agncias bancrias. Logo, a CEF teria responsabilidade pelos roubos l ocorridos. O STJ concordou com a tese exposta? NO. O funcionamento das loterias federais regulado pela Circular Caixa n 539/2011. As instituies financeiras so regidas pela Lei n 4.595/64. O STJ, ao interpretar estes dois atos normativos, entendeu que as casas lotricas, apesar de autorizadas a prestar alguns servios bancrios (como o recebimento de contas), no possuem natureza de instituio financeira, j que no realizam as atividades definidas pela Lei n 4.595/1964 como sendo prprias das instituies financeiras (captao, intermediao e aplicao de recursos financeiros). Em sntese, as loterias no so instituies financeiras, porque no fazem captao, intermediao e aplicao de recursos financeiros. Como as casas lotricas no so instituies financeiras, a CEF no obrigada a adotar as mesmas normas de segurana exigidas para as agncias bancrias e que esto previstas na Lei n 7.102/83. Alm disso, o contrato que celebrado entre a CEF e os permissionrios das casas lotricas estabelece que a unidade lotrica assume responsabilidade direta e exclusiva por todos e quaisquer nus, riscos ou custos das atividades, inclusive por indenizaes de qualquer espcie reivindicadas por terceiros prejudicados. Outro argumento contrrio tese est no fato de que a loteria, sendo uma permisso, est submetida Lei n 8.987/95. Este diploma prev que o permissionrio exerce a delegao por sua conta e risco (art. 2, IV) e que o delegatrio responde por todos os prejuzos causados aos usurios ou a terceiros (art. 25). Assim, como no h qualquer obrigao legal ou contratual imposta CEF que conduza sua responsabilizao por dano causado no interior de unidade lotrica, fica evidente a sua ilegitimidade passiva em ao que objetive reparar danos materiais e compensar danos morais causados por roubo ocorrido no interior de unidade lotrica.

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    Por fim, deve-se ressaltar que a eventual possibilidade de responsabilizao subsidiria do concedente dos servios pblicos prestados pela agncia lotrica, verificada apenas em situaes excepcionais, no autoriza, por imperativo lgico decorrente da natureza de tal espcie de responsabilidade, o ajuizamento de demanda indenizatria unicamente em face do concedente (nesses casos, a CEF).

    Por fim, um ltimo argumento no explicitado no julgado, mas que tambm pertinente. A Lei n 12.869/2013 dispe sobre o exerccio da atividade e a remunerao do permissionrio lotrico e em seu art. 2, I reafirma a ideia j presente na Lei n 8.987/95 de que o permissionrio lotrico atua nos servios delegados por sua conta e risco. Logo, no h responsabilidade da CEF.

    Credores de indenizao por morte no podem exigir que o pagamento seja de uma s vez

    Os credores de indenizao por morte fixada na forma de penso mensal no tm o direito de exigir que o causador do ilcito pague de uma s vez todo o valor correspondente. Isso porque a faculdade de exigir que a indenizao seja arbitrada e paga de uma s vez (pargrafo nico do art. 950 do CC) estabelecida para a hiptese do caput do dispositivo, que se refere apenas a defeito que diminua a capacidade laborativa da vtima, no se estendendo aos casos de falecimento.

    STJ. 2 Turma. REsp 1.393.577-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/2/2014.

    Imagine a seguinte situao hipottica: Paulo, de 17 anos, faleceu em um determinado acidente causado por culpa de determinada empresa. Os pais de Paulo, hipossuficientes, ajuizaram, por intermdio da Defensoria Pblica, ao de indenizao contra a empresa. Pediram indenizao por danos morais e materiais, alegando que o filho ajudava com seu salrio nas despesas da casa. Como decidiu o juiz? 1) Quanto aos DANOS MORAIS: Condenou a empresa a pagar indenizao no valor de 300 salrios-mnimos, a ser paga de uma s vez. 2) Quanto aos DANOS MATERIAIS: Condenou a empresa a pagar aos pais do falecido:

    3 mil reais a ttulo de danos emergentes e

    uma penso mensal, como lucros cessantes. A fundamentao foi feita com base no art. 948 do CC:

    Art. 948. No caso de homicdio, a indenizao (os incisos tratam de dano patrimonial) consiste, sem excluir outras reparaes (dano moral): I - no pagamento das despesas com o tratamento da vtima, seu funeral e o luto da famlia; (danos emergentes) II - na prestao de alimentos s pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a durao provvel da vida da vtima. (lucros cessantes)

    Segundo o STJ, em se tratando de famlia de baixa renda, presume-se que o filho contribuiria para o sustento de seus pais, quando tivesse idade para passar a exercer trabalho remunerado, dano este passvel de indenizao, na forma do inciso II do art. 948.

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    Qual o valor da penso fixada e o seu termo final? O magistrado utilizou os seguintes critrios: No perodo em que o filho falecido teria at 25 anos: os pais deveriam receber penso em valor

    equivalente a 2/3 do salrio mnimo; No perodo em que o filho falecido teria acima de 25 anos at 65 anos: os pais deveriam receber

    penso em valor equivalente a 1/3 do salrio mnimo. Os pais de Paulo concordaram com a sentena? No. Os pais de Paulo recorreram contra a sentena, alegando que precisavam urgentemente do dinheiro e que, ao invs de uma penso mensal, eles queriam receber integralmente o valor dos danos materiais, de uma s vez. Como fundamento legal, argumentaram que o pargrafo nico do art. 950 do CC autoriza que os lesados recebam o valor da indenizao de uma s vez, se assim preferirem. Confira o que diz o dispositivo:

    Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido no possa exercer o seu ofcio ou profisso, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenizao, alm das despesas do tratamento e lucros cessantes at ao fim da convalescena, incluir penso correspondente importncia do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciao que ele sofreu. Pargrafo nico. O prejudicado, se preferir, poder exigir que a indenizao seja arbitrada e paga de uma s vez.

    A tese dos pais do falecido poderia ser aceita pelo STJ? NO. O pagamento de uma s vez da penso por indenizao uma faculdade prevista no art. 950 do CC, que se refere apenas a defeito que diminua a capacidade laborativa, no se estendendo aos casos de falecimento. Para as hipteses de morte, o fundamento legal no o art. 950, mas sim o mencionado art. 948 do CC. Assim, em se tratando de responsabilidade civil decorrente de morte, a indenizao dos danos materiais sob o regime de penso mensal no pode ser substituda pelo pagamento, de uma s vez, de quantia estipulada pelo juiz (STJ. 3 Turma. REsp 1.045.775/ES, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe 04/08/2009). O pagamento de uma s vez da penso por indenizao faculdade estabelecida para a hiptese do caput do art. 950 do CC, que se refere apenas a defeito que diminua a capacidade laborativa, no se estendendo aos casos de falecimento (STJ. 2 Turma. REsp 1393577/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/02/2014).

    Alimentos transitrios podem ser executados segundo o rito do art. 733 do CPC

    Ainda que o valor fixado a ttulo de alimentos transitrios supere o indispensvel garantia de uma vida digna ao alimentando, adequada a utilizao do rito previsto no art. 733 do CPC cujo teor prev possibilidade de priso do devedor de alimentos para a execuo de deciso que estabelea a obrigao em valor elevado, tendo em vista a conduta do alimentante que, aps a separao judicial, protela a partilha dos bens que administra, privando o alimentando da posse da parte que lhe cabe no patrimnio do casal.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.362.113-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/2/2014.

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    Os alimentos fixados devem ser pagos at quando? Existe um prazo mximo para pagamento dos alimentos? Os alimentos so fixados de acordo com um binmio: necessidade/possibilidade (alguns autores falam em um trinmio: necessidade/possibilidade/proporcionalidade). Assim, para que sejam definidos os alimentos, o juiz precisa analisar quais so as necessidades do alimentando e as possibilidades econmicas do alimentante. Enquanto esse binmio permanecer inalterado, no h, em regra, motivo para se modificar o valor pago a ttulo de alimentos. Dessa forma, dizemos que, em regra, os alimentos so fixados sob a clusula do rebus sic stantibus, isto , enquanto as coisas estiverem assim, no devem ser alteradas. O que so os alimentos transitrios? Alimentos transitrios so aqueles fixados por um prazo determinado, aps o qual cessa a obrigao de alimentar mesmo que ainda exista necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante. Assim, os alimentos transitrios no obedecem regra do rebus sic stantibus, sendo estabelecidos em razo de uma causa temporria e especfica. Terminado o prazo fixado, cessa a obrigao de alimentar, mesmo que a situao das partes envolvidas permanea a mesma. A Min. Nancy Andrighi, precursora a tratar do tema no STJ, explicou em que consiste o instituto: alimentos transitrios de cunho resolvel so obrigaes prestadas, notadamente entre ex-cnjuges ou ex-companheiros, em que o credor, em regra pessoa com idade apta para o trabalho, necessita dos alimentos apenas at que se projete determinada condio ou ao final de certo tempo, circunstncia em que a obrigao extinguir-se- automaticamente" (REsp 1.388.955/RS, DJe 29/11/2013). Em outras palavras, a obrigao de prestar alimentos transitrios a tempo certo cabvel, em regra, quando o alimentando pessoa com idade, condies e formao profissional compatveis com uma provvel insero no mercado de trabalho, necessitando dos alimentos apenas at que atinja sua autonomia financeira, momento em que se emancipar da tutela do alimentante outrora provedor do lar , que ser ento liberado da obrigao, a qual se extinguir automaticamente (REsp 1.025.769/MG, DJe 01/09/2010). Exemplo Joo e Maria foram casados durante 10 anos. Durante esse tempo, Maria, apesar de ser bacharel em Direito, nunca trabalhou porque o combinado era que ela ficaria em casa cuidando dos filhos. Na sentena de divrcio, o juiz fixou alimentos transitrios para Maria pelo prazo de 3 anos. Isso significa que, ultrapassado esse perodo, Joo no mais ter que pagar alimentos, mesmo que ela continue necessitando por permanecer desempregada. Como explica o Desembargador do TJRS Srgio Gischkow, no AgReg 596028183, citado na obra de Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald: O exemplo mais caracterstico o de uma moa que se casasse com 18 anos e se separasse com 19 anos. Ningum cogitaria que ela devesse ter direito a alimentos, porque ela viveria dos 18 aos 90 anos, sendo sustentada pelo marido! Claro que ela tem de ir trabalhar para se sustentar. S que ela no vai conseguir emprego em uma semana, nem em um ms. Haveria de se conceder um prazo, por exemplo, de seis meses, dentro do qual o emprego pudesse ser conseguido, e os alimentos seriam pagos s durante esse perodo (...) Por que fazer essa construo, o binmio necessidade-recursos no resolveria? Haveria necessidade de pr um prazo? Por que no simplesmente, em face de estar desempregada, conceder alimentos e deixar que depois o alimentante reaja? Acontece que a pode haver pelo menos em termos de lgica formal um impasse, porque a mulher pode no arrumar o emprego e exemplo fornecido ficar quieta. A, vem o homem com uma ao de exonerao, e ela alega: no houve mudana de estado algum. No se alteraram as minhas necessidades, porque no estou empregada. Assim, os alimentos comeam a se prolongar. Se tomarmos em termos estritamente lgico-formais o binmio necessidade-recursos, a necessidade prosseguiria, e ela nunca iria trabalhar, sempre alegando que precisa. (Famlias. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 769).

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    Se forem fixados alimentos transitrios e o devedor atras-los, poder essa verba ser executada sob o rito do art. 733 do CPC (que gera priso civil)? SIM. O rito da execuo cumulado com a priso (art. 733, CPC) pode ser aplicado no caso de inadimplemento de alimentos transitrios. possvel a priso mesmo que os alimentos fixados sejam muito altos? SIM. Ainda que o valor fixado a ttulo de alimentos transitrios supere o indispensvel garantia de uma vida digna ao alimentando, adequada a utilizao do rito previsto no art. 733 do CPC.

    ALIMENTOS PROVISRIOS, PROVISIONAIS E DEFINITIVOS Vale ressaltar que os alimentos transitrios no tem nada a ver com os alimentos provisrios e com os provisionais. Alimentos provisrios

    So aqueles concedidos antes da sentena, com base na Lei n. 5.478/68. Possuem a natureza jurdica de tutela antecipada. Para serem concedidos, o autor precisa juntar provas pr-constitudas (documentais) que comprovem a existncia do parentesco (ex: certido de nascimento), do casamento (certido de casamento) ou da unio estvel (ex: escritura de unio estvel). Alimentos provisionais (ad litem) So aqueles concedidos antes da sentena, com base nos arts. 852 a 854 do CPC. O CPC afirma que os alimentos provisionais constituem-se em uma medida cautelar nominada. No entanto, a doutrina afirma que se trata de providncia satisfativa, tendo tambm a natureza jurdica de tutela antecipada. A parte requer os alimentos provisionais quando no possui prova pr-constituda da obrigao alimentar. Se tivesse prova pr-constituda, os alimentos seriam os provisrios. Para que sejam concedidos os alimentos provisionais, exige-se apenas o fumus boni iuris e o periculum in mora, que so requisitos de toda e qualquer medida cautelar. Alimentos definitivos (ou regulares) So aqueles fixados na sentena ou por acordo de vontades. Apesar de serem chamados de definitivos, podem ser alterados desde que haja modificao na situao de fato (binmio necessidade/possibilidade).

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    ECA

    Internao do adolescente no caso de reiterao na prtica de atos infracionais graves

    Para se configurar a reiterao na prtica de atos infracionais graves (art. 122, II), exige-se a prtica de, no mnimo, trs infraes dessa natureza?

    1 corrente: NO. 5 Turma do STJ.

    2 corrente: SIM. 6 Turma do STJ.

    STJ. 5 Turma. HC 280.478-SP, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 18/2/2014.

    Quais so as medidas socioeducativas que implicam privao de liberdade Semiliberdade; Internao.

    Semiliberdade (art. 120 do ECA) Pelo regime da semiliberdade, o adolescente realiza atividades externas durante o dia, sob superviso de equipe multidisciplinar, e fica recolhido noite. O regime de semiliberdade pode ser determinado como medida inicial imposta pelo juiz ao adolescente infrator, ou como forma de transio para o meio aberto (uma espcie de progresso).

    Internao (arts. 121 e 122 do ECA) Por esse regime, o adolescente fica recolhido na unidade de internao. A internao constitui medida privativa da liberdade e se sujeita aos princpios de brevidade, excepcionalidade e respeito condio peculiar de pessoa em desenvolvimento. Pode ser permitida a realizao de atividades externas, a critrio da equipe tcnica da entidade, salvo expressa determinao judicial em contrrio. A medida no comporta prazo determinado, devendo sua manuteno ser reavaliada, mediante deciso fundamentada, no mximo a cada seis meses. Em nenhuma hiptese o perodo mximo de internao exceder a trs anos. Se o interno completar 21 anos, dever ser obrigatoriamente liberado, encerrando o regime de internao. Para o STJ, o juiz somente pode aplicar a medida de internao ao adolescente infrator nas hipteses taxativamente previstas no art. 122 do ECA, pois a segregao do adolescente medida de exceo, devendo ser aplicada e mantida somente quando evidenciada sua necessidade, em observncia ao esprito do Estatuto, que visa reintegrao do menor sociedade (HC 213778). Veja a redao do art. 122 do ECA:

    Art. 122. A medida de internao s poder ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaa ou violncia a pessoa; II - por reiterao no cometimento de outras infraes graves; III - por descumprimento reiterado e injustificvel da medida anteriormente imposta.

    Reiterao no cometimento de outras infraes graves Ao se interpretar essa expresso, foi construda a tese de que, para se enquadrar na hiptese do inciso II, o adolescente deveria ter cometido, no mnimo, trs infraes graves. Assim, somente no terceiro ato infracional grave (aps ter praticado outros dois anteriores) que o adolescente receberia a medida de internao.

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    A jurisprudncia acolhe esse critrio?

    STF e 5 Turma do STJ: NO 6 Turma do STJ: SIM

    Para se configurar a reiterao na prtica de atos infracionais graves (art. 122, II) NO se exige a prtica de, no mnimo, trs infraes dessa natureza. No existe fundamento legal para essa exigncia. STJ. 5 Turma. HC 277.601/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/02/2014.

    A configurao da reiterao prevista no art. 122, II, requer, no mnimo, duas outras sentenas desfavorveis, com trnsito em julgado, desconsideradas as remisses. STJ. 6 Turma. RHC 40.720/RJ, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior, julgado em 20/03/2014.

    Ressalte-se que, recentemente, o tema foi cobrado no concurso de Promotor de Justia do Acre, realizado em 09/03/2014, tendo a banca formulado a questo de um modo que a alternativa estava errada tanto para a 1 como para a 2 correntes. Veja: Para aplicao da medida socioeducativa de internao com fundamento na reiterao, exige-se a prtica comprovada, com trnsito em julgado, de, no mnimo, trs outros atos infracionais graves. (alternativa considerada ERRADA segundo o gabarito).

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    Utilizao de provas colhidas em processo criminal como fundamento para condenar o ru em ao de indenizao no juzo cvel

    Desde que observado o devido processo legal, possvel a utilizao de provas colhidas em processo criminal como fundamento para reconhecer, no mbito de ao de conhecimento no juzo cvel, a obrigao de reparao dos danos causados, ainda que a sentena penal condenatria no tenha transitado em julgado.

    No viola o art. 935 do CC a utilizao de provas colhidas no processo criminal como fundamentao para condenar o ru reparao do dano no juzo cvel.

    STJ. 1 Turma. AgRg no AREsp 24.940-RJ, Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho, julgado em 18/2/2014.

    Imagine a seguinte situao adaptada: Determinado servidor pblico praticou crimes contra a Administrao Pblica, causando prejuzos ao errio. O Ministrio Pblico ajuizou ao penal, tendo o servidor sido condenado em 1 instncia e interposto apelao, ainda pendente de julgamento.

    A Fazenda Pblica lesada poder executar, no juzo cvel, essa sentena penal condenatria a fim de obter a reparao do dano causado? NO. Ainda no. Isso porque a condenao ainda no transitou em julgado, sendo esse requisito indispensvel para que a sentena penal se transforme em ttulo executivo. o que preconiza o art. 63 do CPP:

    Art. 63. Transitada em julgado a sentena condenatria, podero promover-lhe a execuo, no juzo cvel, para o efeito da reparao do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros. O que a vtima poder fazer? Ela ser obrigada a aguardar o trnsito em julgado do processo penal para cobrar o ressarcimento? NO. O lesado no precisa aguardar o trnsito em julgado do processo penal. possvel que proponha, desde logo, uma ao cvel de indenizao (ressarcimento) pelos prejuzos causados. Nesse caso, no ser uma execuo, mas sim uma ao de conhecimento, onde ter que provar que o ru responsvel pelos danos.

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    Nesse sentido, veja o art. 64 do CPP:

    Art. 64. Sem prejuzo do disposto no artigo anterior, a ao para ressarcimento do dano poder ser proposta no juzo cvel, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsvel civil.

    O juzo cvel poder fazer o emprstimo de provas do processo penal (ainda em curso) e as utilizar para fundamentar sua deciso? SIM. O STJ decidiu que no h bice para que o Juzo cvel fundamente a sua sentena em provas colhidas na seara penal, desde que observado o devido processo legal, a includo o contraditrio e a ampla defesa. Esse emprstimo possvel mesmo a sentena penal no tendo transitado em julgado? SIM. O simples fato de a sentena penal no ter transitado em julgado no ir importar. Isso porque, conforme art. 63 do CPP, o trnsito em julgado da sentena condenatria somente pressuposto para que a vtima ajuze diretamente a execuo do ttulo no juzo cvel. Contudo, a ausncia de trnsito em julgado no impedimento para que o ofendido proponha ao de conhecimento, com o fim de obter a reparao dos danos causados, nos termos do art. 64 do CPP.

    A sentena proferida na ao de complementao de aes no precisa ser liquidada

    O cumprimento de sentena condenatria de complementao de aes dispensa, em regra, a fase de liquidao de sentena. Isso porque o cumprimento dessa sentena depende apenas de informaes disponveis na prpria companhia ou em poder de terceiros, alm de operaes aritmticas elementares.

    STJ. 2 Seo. REsp 1.387.249-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/2/2014 (recurso repetitivo).

    AES DE SOCIEDADE ANNIMA (DIREITO EMPRESARIAL) Subscrio e integralizao de aes de sociedade annima Imagine que Cludio assinou, com uma sociedade annima, um contrato de participao financeira, por meio do qual ele subscreveu aes da companhia, tornando-se acionista da empresa. Obs: quando o scio se compromete a transferir um valor na sociedade, esse ato chamado de subscrio. Consiste, portanto, em um ato por meio do qual ele se compromete a contribuir para a formao do capital social. Quando ele efetivamente paga o valor, ocorre a integralizao. Ao (processual) de complementao de aes (de S/A) Depois de ter integralizado o valor, Cludio props uma ao contra a S/A, alegando que a Companhia no cumpriu integralmente o contrato. Segundo o autor, ele subscreveu e integralizou o capital equivalente a 100 mil aes da S/A, mas somente teria recebido 80 mil aes, o que fez com que recebesse menos dividendos (parcela dos lucros da S/A). Essa demanda ajuizada por Cludio denominada de ao de complementao de aes ou ao com pedido para complementao de aes. Trata-se de uma ao de natureza condenatria ( uma espcie de demanda indenizatria).

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    LIQUIDAO DE SENTENA (DIREITO PROCESSUAL CIVIL) Em regra, a sentena deve ser lquida. O que sentena lquida? Apesar de existirem opinies em sentido contrrio, para o CPC, sentena lquida aquela que define o quantum debeatur, ou seja, aquela que fixa o valor da obrigao devida. Pode acontecer de ser prolatada uma sentena sem que conste o valor da condenao (ilquida)? SIM. O ideal que a sentena seja lquida. Em alguns casos, no entanto, pode ocorrer de no ser possvel se determinar o valor da condenao j na sentena. Nessas hipteses, dever ser realizada a liquidao da sentena, conforme prev o CPC:

    Art. 475-A. Quando a sentena no determinar o valor devido, procede-se sua liquidao.

    Desse modo, a liquidao da sentena a etapa do processo que ocorre aps a fase de conhecimento e que se destina a descobrir o valor da obrigao (quantum debeatur) quando no foi possvel fixar essa quantia diretamente na sentena. Objetivo da liquidao: Descobrir o quantum debeatur e, assim, poder permitir o cumprimento da sentena (execuo). Espcies de liquidao: O CPC previu duas espcies de liquidao: a) por arbitramento; b) por artigos.

    ESPCIES DE LIQUIDAO

    POR ARBITRAMENTO POR ARTIGOS

    Ocorre quando for necessria a realizao de uma PERCIA para se descobrir o quantum debeatur.

    Ocorre quando for necessrio alegar e provar um FATO NOVO para se descobrir o quantum debeatur. utilizada quando forem necessrios outros meios de prova para se determinar o valor da condenao, alm da percia. Obs: fato novo aquele que no tenha sido analisado e decidido durante o processo. No significa necessariamente que tenha surgido aps a sentena. Novo = ainda no apreciado no processo.

    Ex: Joo estava construindo um prdio, tendo essa construo causado danos na estrutura do imvel vizinho. O juiz condena Joo a indenizar o ru. Na fase de liquidao, um engenheiro ir fazer um laudo dos prejuzos causados.

    Ex: Pedro foi vtima de infeco hospitalar. O juiz condena o hospital a pagar todas as despesas que ele j teve por conta da infeco, bem como as que ainda ter aps a sentena. Na fase de liquidao da sentena, Pedro ir alegar e provar os gastos que teve aps a sentena.

    E a chamada liquidao por clculos? A denominada liquidao por clculos de contador aquela que exige mera operao aritmtica para se chegar ao quantum debeatur.

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    Antigamente, uma sentena que trazia uma condenao que necessitasse de clculos deveria ser obrigatoriamente remetida contadoria do juzo, fazendo com que houvesse um atraso na execuo, tendo em vista a natural demora desse rgo (por conta do volume de servio) em apresentar os clculos. Pensando nisso, e a fim de agilizar o processo, o legislador, em 1994 (Lei n 8.898), acabou com a liquidao por clculo. Assim, atualmente, quando o quantum debeatur puder ser apurado mediante simples clculo aritmtico (o que pode ser feito por programas gratuitos na internet) no ser necessria liquidao. O prprio credor dever fornecer os clculos que seriam feitos pela contadoria. Se o juiz achar que os clculos apresentados pelo exequente podem estar errados, a sim ser determinada a remessa dos autos contadoria do juzo para exame. Essa sistemtica est prevista no art. 475-B do CPC:

    Art. 475-B. Quando a determinao do valor da condenao depender apenas de clculo aritmtico, o credor requerer o cumprimento da sentena, na forma do art. 475-J desta Lei, instruindo o pedido com a memria discriminada e atualizada do clculo. (...) 3 Poder o juiz valer-se do contador do juzo, quando a memria apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da deciso exequenda e, ainda, nos casos de assistncia judiciria. 4 Se o credor no concordar com os clculos feitos nos termos do 3 deste artigo, far-se- a execuo pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora ter por base o valor encontrado pelo contador.

    Resumindo:

    Quando a determinao do valor da condenao depender apenas de clculo aritmtico.

    No ser necessria a liquidao. No o contador do juzo quem faz o clculo. O prprio credor dever apresentar a memria discriminada e atualizada do clculo.

    O juiz dever determinar que o clculo seja feito pela contadoria do juzo em duas situaes:

    a) quando o juiz desconfiar que a memria apresentada pelo credor esteja errada;

    b) quando o credor for beneficirio da justia gratuita (presume-se que ele no pode contratar algum para fazer os seus clculos).

    Voltando ao caso de Cludio. Imagine que a sentena foi procedente e transitou em julgado. Para que se inicie o cumprimento da sentena, necessrio que antes seja feita a liquidao? NO. O cumprimento de sentena condenatria de complementao de aes dispensa, em regra, a fase de liquidao de sentena. Isso porque o cumprimento dessa sentena depende apenas de informaes disponveis na prpria Companhia ou em poder de terceiros, alm de operaes aritmticas elementares. Embora os clculos possam parecer complexos primeira vista, esse fato no suficiente para justificar a abertura da fase de liquidao. Alm disso, segundo bem apontou o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, as recentes reformas no CPC buscaram privilegiar a liquidao por clculos do credor, restringindo-se a liquidao por fase autnoma apenas s hipteses estritamente previstas (arts. 475-C e 475-E do CPC): liquidao por arbitramento (quando se faz necessria percia para a determinao do quantum debeatur) e liquidao por artigos (quando necessrio provar fato novo). Nenhuma dessas hipteses se verifica nas demandas relativas a complementao de aes.

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    Dessa forma, compete ao prprio credor elaborar a memria de clculos e dar incio fase de cumprimento de sentena, sendo dispensada a fase de liquidao, conforme se depreende do disposto no art. 475-B do CPC. Vale ressaltar, no entanto, que essa a regra geral. Assim, pode ser que, em determinado caso especfico e excepcional, seja necessria a realizao de percia contbil, o que ficar a critrio do magistrado.

    A regra que determina a obrigatoriedade de ser lavrado auto de penhora no absoluta no caso de penhora on line

    A falta de lavratura de auto da penhora realizada por meio eletrnico, na fase de cumprimento de sentena, pode no configurar nulidade procedimental quando forem juntadas aos autos peas extradas do sistema BacenJud contendo todas as informaes sobre o bloqueio do numerrio, e em seguida o executado for intimado para oferecer impugnao.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.195.976-RN, Rel. Min. Joo Otvio de Noronha, julgado em 20/2/2014.

    Execuo O procedimento para execuo de quantia pode ser de duas formas: a) execuo de quantia fundada em ttulo executivo extrajudicial; b) execuo de quantia fundada em ttulo executivo judicial (cumprimento de sentena). Tanto em um caso como no outro, o devedor chamado em juzo para pagar o dbito e, caso no o faa, seus bens so penhorados. O que a penhora? Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utiliz-los, direta ou indiretamente, na satisfao do crdito executado. Auto de penhora Considera-se feita a penhora com a apreenso e o depsito do(s) bem(ns) (art. 664 do CPC). Aps o(s) bem(ns) ser(em) penhorado(s), dever ser lavrado (redigido) um auto de penhora e avaliao, ou seja, deve ter um registro escrito da coisa que foi penhorada, com todas as suas caractersticas, inclusive o valor. Contedo do auto de penhora Segundo o art. 655 do CPC, no auto de penhora devero constar as seguintes informaes: I - dia, ms, ano e lugar em que foi feita; II - nomes do credor e do devedor; III - descrio dos bens penhorados, com os seus caractersticos; IV - nomeao do depositrio dos bens. Quem faz o auto de penhora?

    Se no houver necessidade de diligncias externas para buscar o bem a ser penhorado: quem lavra o auto o escrivo/diretor de secretaria;

    Se houver necessidade de o bem ser apreendido fora do prdio do juzo: quem lavra o auto o oficial de justia.

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    Intimao do executado Aps ser lavrado o auto de penhora e de avaliao, o executado ser intimado na pessoa de seu advogado (art. 475-J, 1 e art. 652, 1 e 4, do CPC). No caso do cumprimento de sentena, a partir da intimao do auto de penhora que comea o prazo de 15 dias para que o devedor possa oferecer impugnao (defesa). A lavratura do auto de penhora dispensvel? NO. Em regra, a lavratura do auto de penhora indispensvel. No auto de penhora, o bem que sofre a constrio ser individualizado e particularizado, de modo que o devedor poder aferir se houve excesso, se o bem impenhorvel, se o valor da avaliao foi baixo etc. Trata-se, portanto, de providncia relevante para o devedor. Alm disso, como j vimos acima, somente aps a intimao da parte executada a respeito desse registro que tem incio o prazo para apresentao da impugnao. Dessa feita, em regra, a falta da lavratura do auto de penhora gera nulidade. A falta da lavratura do auto de penhora ir gerar, obrigatoriamente, a nulidade do processo mesmo em caso de penhora on line? NO. O STJ decidiu que a falta de lavratura de auto da penhora realizada por meio eletrnico (penhora on line), na fase de cumprimento de sentena, pode no configurar nulidade procedimental quando forem juntadas aos autos peas extradas do sistema BacenJud contendo todas as informaes sobre o bloqueio do numerrio, e em seguida o executado for intimado para oferecer impugnao. Na penhora on line, o juiz, no site do Banco Central, digita o nome e o CPF do devedor e emite uma ordem de penhora. Caso haja dinheiro em contas bancrias em nome do executado, esse numerrio ser bloqueado. O sistema do Bacen gera uma tela no computador informando que houve o bloqueio do dinheiro, a data em que isso ocorreu, o nmero da conta, o nome do juiz, o nmero do processo e outras informaes. Na prtica forense, esse extrato do Banco Central juntado aos autos, no sendo lavrado auto de penhora. Assim, na maioria das varas, a impresso dessas informaes e a sua juntada ao processo substitui a lavratura do auto de penhora. No caso concreto analisado pelo STJ foi isso que aconteceu. Aps ser juntada a tela do BACENJUD, o executado foi intimado. Ocorre que, em vez de apresentar impugnao, o devedor apenas peticionou informando que era necessria a lavratura de auto de penhora e que, somente aps essa providncia, ele iria oferecer impugnao. O STJ no concordou com o argumento do executado. Conforme observou o Min. Relator, no caso da realizao da penhora on-line, no h expedio de mandado de penhora ou de avaliao do bem penhorado. A constrio recai sobre numerrio encontrado em conta corrente do devedor, sendo desnecessria diligncia alm das adotadas pelo prprio magistrado por meio eletrnico. Assim, o STJ decidiu que, se a parte pode identificar, com exatido, os detalhes da operao realizada por meio eletrnico (valor, conta-corrente, instituio bancria) e se foi expressamente intimada para apresentar impugnao no prazo legal, optando por no faz-lo, no razovel nulificar todo o procedimento por estrita formalidade. Devem ser aplicados os princpios da instrumentalidade das formas e do pas de nullit sans grief (no h nulidade sem prejuzo).

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    Execuo fiscal e CDA na qual constou como devedor pessoa homnima

    Deve ser extinta a execuo fiscal que, por erro na CDA quanto indicao do CPF do executado, tenha sido promovida em face de pessoa homnima.

    STJ. 1 Turma. REsp 1.279.899-MG, Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho, julgado em 18/2/2014.

    Execuo fiscal Execuo fiscal a ao judicial proposta pela Fazenda Pblica (Unio, Estados, DF, Municpios e suas respectivas autarquias e fundaes) para cobrar do devedor crditos (tributrios ou no tributrios) inscritos em dvida ativa. A execuo fiscal regida pela Lei n 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC. Petio inicial A petio inicial da execuo fiscal ser instruda com a Certido da Dvida Ativa, que dela far parte integrante, como se estivesse transcrita (art. 6, 1 da LEF). A petio inicial e a Certido de Dvida Ativa podero constituir um nico documento, preparado inclusive por processo eletrnico. O que uma CDA? Imagine que determinado contribuinte realizou o fato gerador do tributo (exs: adquiriu renda, fez uma doao, tornou-se proprietrio de um bem imvel), tornando-se sujeito passivo de uma obrigao tributria principal (pagar o tributo). O Fisco ir realizar o lanamento, calculando o montante do tributo devido, e notificando o contribuinte a pagar. O lanamento confere exigibilidade obrigao tributria. Com o lanamento, a obrigao tributria transforma-se em crdito tributrio. Se o sujeito passivo no adimplir o dbito, esse crdito tributrio ser inscrito na dvida ativa. A inscrio ser feita por meio do termo de inscrio na dvida ativa e realizado no Livro da Dvida Ativa (atualmente, por bvio, trata-se de um sistema informatizado). Dessa inscrio extrai-se a CDA Certido de Dvida Ativa, que um ttulo executivo extrajudicial (art. 585, VII, do CPC). Com a CDA, a Fazenda Pblica pode ajuizar uma execuo fiscal contra o devedor. No necessrio que a petio inicial seja acompanhada pelo termo de inscrio na dvida ativa. Basta a CDA. A CDA pode conter erros? Sim. possvel, e at frequente, que a CDA contenha alguns equvocos. Isso porque o volume de processos administrativo-fiscais enorme e algumas vezes no momento em que os dados apurados vo ser transpostos para a CDA podem ocorrer erros no nome do devedor, valor da dvida, natureza do dbito etc. Correo dos vcios da CDA Se for detectado algum vcio na CDA passvel de correo, a certido poder ser modificada ou substituda, desde que isso ocorra antes da sentena de 1 instncia. o que determina o art. 2, 8, da LEF e o art. 203 do CTN:

    8 - At a deciso de primeira instncia, a Certido de Dvida Ativa poder ser emendada ou substituda, assegurada ao executado a devoluo do prazo para embargos.

    Art. 203. A omisso de quaisquer dos requisitos previstos no artigo anterior, ou o erro a eles relativo, so causas de nulidade da inscrio e do processo de cobrana dela decorrente, mas a nulidade poder ser sanada at a deciso de primeira instncia, mediante substituio da certido nula, devolvido ao sujeito passivo, acusado ou interessado o prazo para defesa, que somente poder versar sobre a parte modificada.

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    Sobre o tema, existe, inclusive, um enunciado do STJ:

    Smula 392-STJ: A Fazenda Pblica pode substituir a certido de dvida ativa (CDA) at a prolao da sentena de embargos, quando se tratar de correo de erro material ou formal, vedada a modificao do sujeito passivo da execuo.

    Imagine agora a seguinte situao 1: A Fazenda Pblica ajuizou execuo fiscal contra Joo da Silva. Na CDA, constou o nome de Joo da Silva, mas o seu nmero de CPF estava errado. Ser possvel corrigir essa CDA? SIM. Trata-se de vcio sanvel, que poder ser corrigido at a deciso de 1 instncia. Imagine agora a seguinte situao 2: Joo da Silva (filho de Eliana da Silva) era devedor de tributos. A Fazenda Pblica ajuizou execuo fiscal cobrando essa dvida. Na CDA constou como sendo devedor Joo da Silva, mas o nmero do CPF estava errado. O nmero que foi consignado era de outra pessoa chamada Joo da Silva (filho de Francisca da Silva) e o processo prosseguiu contra este ltimo. O devedor era Joo da Silva, titular do CPF 111.111.111-11. Na CDA constou outro Joo da Silva (pessoa homnima), titular do CPF 222.222.222-22, que foi quem sofreu a execuo. O juiz poder determinar a correo da CDA, ou ser necessria a extino da execuo? A extino. Segundo decidiu o STJ, deve ser extinta a execuo fiscal que, por erro na CDA quanto indicao do CPF do executado, tenha sido promovida em face de pessoa homnima. Em princpio, a indicao equivocada do CPF do executado constitui simples erro material, que pode ser corrigido, na forma do art. 2, 8, da Lei 6.830/1980, porque, em regra, no modifica o polo passivo se os demais dados como nome, endereo e nmero do processo administrativo estiverem indicados corretamente. Entretanto, quando se trata de homnimo, o erro na indicao do CPF acaba por incluir no processo executivo pessoa diversa daquela, em tese, efetivamente devedora do imposto. Ressalte-se que, em caso de homonmia, s possvel verificar quem o real executado por intermdio do CPF. Assim, no presente caso, a situao se enquadra na parte final da Smula 392 do STJ, segundo a qual vedada a modificao do sujeito passivo da execuo.

    ACP para tutelar direitos individuais homogneos e eficcia erga omnes da sentena

    Em ao civil pblica, a falta de publicao do edital destinado a possibilitar a interveno de interessados como litisconsortes (art. 94 do CDC) no impede, por si s, a produo de efeitos erga omnes de sentena de procedncia relativa a direitos individuais homogneos.

    STJ. 2 Turma. REsp 1.377.400-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 18/2/2014.

    Imagine a seguinte situao hipottica: O Ministrio Pblico estadual ajuizou ao civil pblica pedindo que o Estado-membro fornecesse fraldas geritricas para Joo, que sofria de um problema de sade. No pedido, o MP tambm requereu que o Poder Pblico desse as fraldas para todas as demais pessoas que se encontrassem na mesma situao. Trata-se de uma demanda proposta pelo Ministrio Pblico para tutelar direitos individuais homogneos.

    Sentena Na sentena, o juiz condenou o Estado-membro a fornecer as fraldas para Joo, mas no atribuiu efeitos erga omnes deciso, ou seja, no determinou ao Poder Pblico, de forma genrica, a obrigao de dar as

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    fraldas para toda e qualquer pessoa que estivesse em situao de necessidade. O Ministrio Pblico apresentou embargos de declarao, mas o juiz manteve a sentena afirmando que, somente poderia atribuir eficcia erga omnes em uma ao de direitos individuais homogneos se o Parquet tivesse requerido, durante a tramitao, a providncia prevista no art. 94 do CDC:

    Art. 94. Proposta a ao, ser publicado edital no rgo oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuzo de ampla divulgao pelos meios de comunicao social por parte dos rgos de defesa do consumidor.

    O argumento invocado pelo juiz est correto? NO. Segundo decidiu o STJ, em ao civil pblica, a falta de publicao do edital destinado a possibilitar a interveno de interessados como litisconsortes (art. 94 do CDC) no impede, por si s, a produo de efeitos erga omnes de sentena de procedncia relativa a direitos individuais homogneos. A sentena proferida em ao civil pblica versando sobre direitos individuais homogneos faz coisa julgada erga omnes, beneficiando todas as pessoas que se enquadrem na situao, conforme prev o art. 103, III, do CDC:

    Art. 103. Nas aes coletivas de que trata este Cdigo, a sentena far coisa julgada: III - erga omnes, apenas no caso de procedncia do pedido, para beneficiar todas as vtimas e seus sucessores, na hiptese do inciso III do pargrafo nico do artigo 81.

    Esse dispositivo aplica-se a todas as espcies de aes civis pblicas e no apenas para aquelas que versem

    sobre direitos do consumidor. Isso porque o art. 21 da Lei n. 7.347/85 determina a aplicao das regras processuais do CDC s aes civis pblicas. Vale ressaltar, ainda, que o STJ decidiu que os efeitos e a eficcia da sentena no esto circunscritos a lindes geogrficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extenso do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juzo. (REsp 1243887/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, Corte Especial, julgado em 19/10/2011). A ausncia de publicao do edital de que trata o art. 94 do CDC no pode ser considerada como nulidade? NO. A ausncia de publicao do edital previsto no art. 94 do CDC constitui vcio sanvel, que no gera nulidade apta a induzir a extino da ao civil pblica. Ora, o referido dispositivo existe para proteger o consumidor, ampliando o nmero de pessoas que podero ter conhecimento da ao e, assim, se habilitarem. No possvel que a ausncia desse chamamento prejudique o prprio consumidor, para quem a regra foi criada.

    DIREITO PENAL

    Valor mximo considerado insignificante no caso de crimes tributrios

    Qual o valor mximo considerado insignificante no caso de crimes tributrios?

    Para o STJ: 10 mil reais (art. 20 da Lei n. 10.522/2002). Para o STF: 20 mil reais (art. 1, II, da Portaria MF n. 75/2012).

    STJ. 5 Turma. AgRg no REsp 1.406.356-PR, Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 6/2/2014.

    STJ. 6 Turma. AgRg no REsp 1.402.207-PR, Min. Rel. Assusete Magalhes, julgado em 4/2/2014.

    STF. 1 Turma. HC 120617, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 04/02/2014.

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    O princpio da insignificncia pode ser aplicado no caso de crimes tributrios? SIM. plenamente possvel que incida o princpio da insignificncia tanto nos crimes contra a ordem

    tributria previstos na Lei n. 8.137/90 como tambm no caso do descaminho (art. 334 do Cdigo Penal). Existe algum limite mximo de valor para que possa ser aplicado o princpio da insignificncia nos crimes tributrios? SIM. A jurisprudncia criou a tese de que nos crimes tributrios, para decidir se incide ou no o princpio da insignificncia, ser necessrio analisar, no caso concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser pagos. E qual , ento, o valor mximo considerado insignificante no caso de crimes tributrios? Tradicionalmente, esse valor era de 10 mil reais. Assim, se o montante do tributo que deixou de ser pago era igual ou inferior a 10 mil reais, no havia crime tributrio, aplicando-se o princpio da insignificncia. Qual era o parmetro para se chegar a esse valor?

    Esse valor foi fixado pela jurisprudncia tendo como base o art. 20 da Lei n. 10.522/2002, que determina o arquivamento das execues fiscais cujo valor consolidado for igual ou inferior a R$ 10.000,00. Em outros termos, a Lei determina que, at o valor de 10 mil reais, os dbitos inscritos como Dvida Ativa da Unio no sero executados. Segundo a jurisprudncia, no h sentido lgico permitir que algum seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer ser cobrado no mbito administrativo-tributrio. Nesse caso, o direito penal deixaria de ser a ultima ratio. Esse valor de 10 mil reais permanece ainda hoje? Aqui reside a polmica. Recentemente, foi publicada a Portaria MF n 75, de 29/03/2012, na qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1, inciso II, o no ajuizamento de execues fiscais de dbitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

    Desse modo, o Poder Executivo atualizou o valor previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002 e passou a dizer que no mais deveriam ser executadas as dvidas de at 20 mil reais. Em outras palavras, a Portaria MF 75/2012 aumentou o valor considerado insignificante para fins de execuo fiscal. Agora, abaixo de 20 mil reais, no interessa Fazenda Nacional executar (antes esse valor era 10 mil reais). Diante desse aumento produzido pela Portaria, comeou a ser defendida a tese de que o novo parmetro para anlise da insignificncia penal nos crimes tributrios passou de 10 mil reais (de acordo com o art. 20

    da Lei n. 10.522/2002) para 20 mil reais (com base na Portaria MF 75). A jurisprudncia acolheu essa tese?

    STJ: NO STF: SIM

    O STJ tem decidido que o valor de 20 mil reais,

    estabelecido pela Portaria MF n. 75/12 como limite mnimo para a execuo de dbitos contra a Unio, NO pode ser considerado para efeitos penais (no deve ser utilizado como novo patamar de insignificncia).

    Para o STF, o fato de as Portarias 75 e 130/2012 do Ministrio da Fazenda terem aumentado o patamar de 10 mil reais para 20 mil reais produz efeitos penais.

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    So apontados dois argumentos principais: i) a opo da autoridade fazendria sobre o que deve ou no ser objeto de execuo fiscal no pode ter a fora de subordinar o exerccio da jurisdio penal; ii) no possvel majorar o parmetro previsto no

    art. 20 da Lei n. 10.522/2002 por meio de uma portaria do Ministro da Fazenda. A portaria emanada do Poder Executivo no possui fora normativa passvel de revogar ou modificar lei em sentido estrito. Em suma, para o STJ, o valor mximo para aplicao do princpio da insignificncia no caso de crimes contra a ordem tributria (incluindo o descaminho) continua sendo de 10 mil reais. Precedentes: AgRg no AREsp 331.852/PR, j. em 11/02/2014 AgRg no AREsp 303.906/RS, j. em 06/02/2014

    Logo, o novo valor mximo para fins de aplicao do princpio da insignificncia nos crimes tributrios passou a ser de 20 mil reais. Precedente: STF. 1 Turma. HC 120617, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 04/02/2014.

    Em suma, qual o valor mximo considerado insignificante no caso de crimes tributrios?

    Para o STJ: 10 mil reais (art. 20 da Lei n. 10.522/2002).

    Para o STF: 20 mil reais (art. 1, II, da Portaria MF n. 75/2012). provvel que o STJ, com o tempo, alinhe-se posio do STF. Vamos aguardar e qualquer novidade vocs sero comunicados.

    Importao de gasolina por particular contrabando e no se sujeita ao princpio da insignificncia

    No aplicvel o princpio da insignificncia em relao conduta de importar gasolina sem autorizao e sem o devido recolhimento de tributos. Isso porque essa conduta tem adequao tpica ao crime de contrabando, ao qual no se admite a aplicao do princpio da insignificncia.

    STJ. 5 Turma. AgRg no AREsp 348.408-RR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 18/2/2014.

    Veja o que estabelece o art. 334 do CP:

    Contrabando ou descaminho Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela sada ou pelo consumo de mercadoria: Pena - recluso, de um a quatro anos.

    Contrabando x Descaminho O contrabando e o descaminho esto, portanto, previstos no mesmo tipo penal (art. 334 do CP). Apesar disso, so crimes diferentes. Comparemos:

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    CONTRABANDO DESCAMINHO

    Previsto na 1 parte do art. 334: Importar ou exportar mercadoria proibida

    Previsto na 2 parte do art. 334: iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela sada ou pelo consumo de mercadoria

    Corresponde conduta de importar ou exportar mercadoria PROIBIDA. Obs: essa proibio pode ser absoluta ou relativa.

    Corresponde entrada ou sada de produtos PERMITIDOS, todavia elidido, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou de imposto devido pela entrada, pela sada ou pelo consumo da mercadoria. a fraude utilizada para iludir, total ou parcialmente, o pagamento de impostos de importao ou exportao. O crime de descaminho tambm conhecido como contrabando imprprio.

    INAPLICVEL o princpio da insignificncia ao crime de contrabando, uma vez que o bem juridicamente tutelado vai alm do mero valor pecunirio do imposto elidido, alcanando tambm o interesse estatal de impedir a entrada e a comercializao de produtos proibidos em territrio nacional (STJ. 5 Turma. AgRg no AREsp 342.598/PR, j. em 05/11/2013).

    O descaminho tambm considerado um crime contra a ordem tributria, apesar de estar previsto no art. 334 do Cdigo Penal e no na Lei 8.137/90. Desse modo, APLICA-SE o princpio da insignificncia ao crime de descaminho nas hipteses em que no houver leso significativa ao Fisco.

    Imagine agora a seguinte situao: Marcos entrou no Brasil, pela fronteira com a Venezuela, carregando, no porta-malas de seu carro, 60 litros de gasolina venezuelana. Em uma blitz de rotina, foi parado por policiais e, constatada a presena do combustvel, foi preso em flagrante. Qual crime praticou Marcos? Contrabando. A gasolina, por ser monoplio da Unio, somente pode ser importada se houver prvia e expressa autorizao da Agncia Nacional de Petrleo (ANP), sendo concedida esta apenas aos produtores ou importadores. Assim, a introduo de gasolina, por particulares, em territrio nacional, CONDUTA PROIBIDA, constituindo o crime de contrabando. Marcos ter xito se invocar, em sua defesa, o princpio da insignificncia? NO. Conforme vimos acima, no se aplica o princpio da insignificncia ao delito de contrabando. Confira o seguinte precedente elucidativo:

    (...) Em sede de contrabando, ou seja, importao ou exportao de mercadoria proibida, em que, para alm da sonegao tributria h leso moral, higiene, segurana e sade pblica, no h como excluir a tipicidade material to-somente vista do valor da evaso fiscal, ainda que eventualmente possvel, em tese, a excluso do crime, mas em face da mnima leso provocada ao bem jurdico ali tutelado, gize-se, a moral, sade, higiene e segurana pblica. (...) (STJ. 6 Turma. AgRg no REsp 1418011/PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 03/12/2013).

  • Informativo 536-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 20

    No configura infrao penal o exerccio da profisso de flanelinha sem cadastro nos rgos competentes

    O exerccio, sem o preenchimento dos requisitos previstos em lei, da profisso de guardador e lavador autnomo de veculos automotores (flanelinha) no configura a contraveno penal prevista no art. 47 do Decreto-Lei 3.688/1941 (exerccio ilegal de profisso ou atividade).

    STJ. 5 Turma. RHC 36.280-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/2/2014.

    Segundo o art. 1 da Lei n. 6.242/75, o exerccio da profisso de guardador e lavador autnomo de veculos automotores (flanelinha) depende de registro na Delegacia Regional do Trabalho competente. Lus exercia a profisso de guardador autnomo de veculos (flanelinha), mas no tinha registro na Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), razo pela qual o Ministrio Pblico o

    denunciou pela prtica da contraveno prevista no art. 47 do Decreto-Lei n. 3.688/41 (Lei das Contravenes Penais):

    Art. 47. Exercer profisso ou atividade econmica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condies a que por lei est subordinado o seu exerccio: Pena priso simples, de quinze dias a trs meses, ou multa, de quinhentos mil ris a cinco contos de ris.

    A conduta de Lus se amolda ao art. 47 da LCP? NO. Segundo decidiu a 5 Turma do STJ, o exerccio, sem o preenchimento dos requisitos previstos em lei, da profisso de guardador e lavador autnomo de veculos automotores (flanelinha) no configura a contraveno penal prevista no art. 47 do Decreto-Lei 3.688/1941 (exerccio ilegal de profisso ou atividade). Conforme ensina Nucci, essa contraveno do art. 47 busca coibir o abuso de certas pessoas, ludibriando inocentes que acreditam estar diante de profissionais habilitados, quando, na realidade, trata-se de uma simulao de atividade laboral especializada (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, RT, 2006, p. 169). No caso do guardador ou lavador de carros, no se pode afirmar que haja uma atividade especializada a exigir conhecimentos tcnicos para a sua realizao, no sendo a previso de registro em determinado rgo, por si s, capaz de tornar a conduta penalmente relevante. Assim, no se pode afirmar que um guardador ou lavador de carros exera profisso ou atividade econmica especializada, apta a caracterizar a contraveno penal prevista no artigo 47 do Decreto-lei 3.688/1941 (HC 273692/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 24/09/2013).

    Converso da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade e necessidade de contraditrio e ampla defesa

    imprescindvel a prvia intimao pessoal do reeducando que descumpre pena restritiva de direitos para que se proceda converso da pena alternativa em privativa de liberdade. Isso porque se deve dar oportunidade para que o reeduncando esclarea as razes do descumprimento, em homenagem aos princpios do contraditrio e da ampla defesa.

    STJ. 5 Turma. HC 251.312-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/2/2014.

  • Informativo 536-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 21

    Imagine que determinado ru preencheu os requisitos do art. 44 do CP e teve a sua pena privativa de liberdade convertida em restritiva de direitos. Esta pena restritiva de direitos pode ser convertida novamente em pena privativa de liberdade por algum motivo? SIM. Os 4 e 5 do art. 44 do CP preveem as hipteses nas quais as penas restritivas de direito podem ser (re)convertidas em pena privativa de liberdade: Converso obrigatria ( 4): A pena restritiva de direitos ser (re)convertida em privativa de liberdade se o ru descumprir injustificadamente a restrio que lhe havia sido imposta. Em palavras simples, se ele descumprir a pena restritiva de direitos, a pena volta a ser privativa de liberdade. Ex: aplicada pena de prestao de servios comunidade pelo prazo de 500 horas. O apenado cumpre apenas 100 horas e abandona a prestao. Ter que cumprir o restante da pena em um regime de pena privativa de liberdade. Converso facultativa ( 5): Se, aps a converso da pena privativa de liberdade em restritiva de direito, o apenado for condenado a nova pena privativa de liberdade, por outro crime. Ocorrendo este fato, o juiz da execuo penal decidir se converter novamente a pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade, podendo deixar de converter se for possvel ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. Ex.1: Jos estava cumprindo prestao de servios comunidade e foi condenado, por outro crime, a 8 anos de priso no regime fechado. Esta nova condenao torna impossvel que ele cumpra a pena restritiva de direitos, que dever ser reconvertida em pena de priso. Ex.2: Jos estava cumprindo prestao pecuniria e foi condenado, por outro crime, a 8 anos de priso no regime fechado. Esta nova condenao no torna impossvel que ele cumpra a pena restritiva de direitos, que no dever ser reconvertida em pena de priso. Esse tema tambm tratado, com alguns detalhamentos, pelo art. 181 da Lei de Execues Penais:

    Art. 181 (...) 1 A pena de prestao de servios comunidade ser convertida quando o condenado: a) no for encontrado por estar em lugar incerto e no sabido, ou desatender a intimao por edital; b) no comparecer, injustificadamente, entidade ou programa em que deva prestar servio; c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o servio que lhe foi imposto; d) praticar falta grave; e) sofrer condenao por outro crime pena privativa de liberdade, cuja execuo no tenha sido suspensa. 2 A pena de limitao de fim de semana ser convertida quando o condenado no comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento da pena, recusar-se a exercer a atividade determinada pelo Juiz ou se ocorrer qualquer das hipteses das letras "a", "d" e "e" do pargrafo anterior. 3 A pena de interdio temporria de direitos ser convertida quando o condenado exercer, injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer qualquer das hipteses das letras "a" e "e", do 1, deste artigo.

    Contraditrio e ampla defesa Exige-se contraditrio e ampla defesa para a (re)converso da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade? SIM. Para que o Juiz das Execues proceda converso da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, necessria a oitiva prvia do condenado, em juzo, sob pena de ofensa ao direito de ampla defesa e contraditrio. (STJ. 5 Turma. HC 256.036/SP, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 27/08/2013).

  • Informativo 536-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 22

    No procedimento da Lei de Drogas, o interrogatrio continua sendo o primeiro ato da audincia

    No gera nulidade o fato de, no julgamento dos crimes previstos na Lei 11.343/2006, a oitiva do ru ocorrer aps a inquirio das testemunhas.

    Segundo regra contida no art. 394, 2, do CPP, o procedimento comum ser aplicado no julgamento de todos os crimes, salvo disposies em contrrio do prprio CPP ou de lei especial. Logo, se para o julgamento dos delitos disciplinados na Lei 11.343/2006 h rito prprio (art. 57, da Lei 11.343/2006), no qual o interrogatrio inaugura a audincia de instruo e julgamento, de se afastar o rito ordinrio (art. 400 do CPP) nesses casos, em razo da especialidade.

    STJ. 5 Turma. HC 275.070-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/2/2014.

    A Lei n. 11.343/2006 tipifica os delitos envolvendo drogas. Alm de prever os crimes, a referida Lei tambm traz o procedimento, ou seja, o rito que dever ser observado pelo juiz. Desse modo, a Lei n. 11.343/2006 traz um procedimento especial que possui algumas diferenas em relao ao procedimento comum ordinrio previsto no CPP. Uma das diferenas reside no momento em que realizado o interrogatrio do ru. Vejamos:

    CPP (art. 400) Lei n. 11.343/2006 (art. 57)

    O art. 400 do CPP foi alterado pela Lei n. 11.719/2008 e, atualmente, o interrogatrio deve ser feito depois da inquirio das testemunhas e da realizao das demais provas. Em suma, o interrogatrio passou a ser o ltimo ato da audincia de instruo (segundo a antiga previso, o interrogatrio era o primeiro ato).

    O art. 57 da Lei de Drogas prev que, na audincia de instruo e julgamento, o interrogatrio do acusado feito antes da inquirio das testemunhas. Em suma, o interrogatrio o primeiro ato da audincia de instruo.

    O que mais favorvel ao ru: ser interrogado antes ou depois da oitiva das testemunhas? Depois. Isso porque aps o acusado ouvir o relato trazido pelas testemunhas poder decidir a verso dos fatos que ir apresentar. Se, por exemplo, avaliar que nenhuma testemunha o apontou como o autor do crime, poder sustentar a negativa de autoria ou optar pelo direito ao silncio. Ao contrrio, se entender que as testemunhas foram slidas em incrimin-lo, ter como opo vivel confessar e obter a atenuao da pena. Dessa feita, a regra do art. 400 do CPP mais favorvel ao ru do que a previso do art. 57 da Lei n. 11.343/2006. Diante dessa constatao, e pelo fato de a Lei n. 11.719/2008 ser posterior Lei de Drogas, surgiu uma corrente na doutrina defendendo que o art. 57 foi derrogado e que, tambm no procedimento da Lei n. 11.343/2006, o interrogatrio deveria ser o ltimo ato da audincia de instruo. Essa tese foi acolhida pela jurisprudncia? NO. Segundo o posicionamento que tem prevalecido no STJ e STF, a regra do art. 57 da Lei n. 11.343/2006 prevalece sobre a regra geral do CPP, sendo legtimo o interrogatrio do ru antes da oitiva das testemunhas no rito da Lei de Drogas.

    (...) Para o julgamento dos crimes previstos na Lei n. 11.343/06 h rito prprio, no qual o interrogatrio inaugura a audincia de instruo e julgamento (art. 57). Desse modo, a previso de que a oitiva do ru ocorra aps a inquirio das testemunhas, conforme disciplina o art. 400 do Cdigo de Processo Penal, no se aplica ao caso, em razo da regra da especialidade (art. 394, 2, segunda parte, do Cdigo de Processo Penal). (...) STJ. 5 Turma. HC n. 165.034/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 9/10/2012.

  • Informativo 536-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 23

    (...) Ao contrrio do que ocorre no procedimento comum (ordinrio, sumrio e sumarssimo), no especial rito da Lei 11.343/2006, o interrogatrio realizado no limiar da audincia de instruo e julgamento. (...) STJ. 6 Turma. HC 212.273/MG, Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 11/03/2014. (...) Se a paciente foi processada pela prtica do delito de trfico ilcito de drogas, sob a gide da Lei 11.343/2006, o procedimento a ser adotado o especial, estabelecido nos arts. 54 a 59 do referido diploma legal. II O art. 57 da Lei de Drogas dispe que o interrogatrio ocorrer em momento anterior oitiva das testemunhas, diferentemente do que prev o art. 400 do Cdigo de Processo Penal. (...) STF. 2 Turma. RHC 116713, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/06/2013.

    Substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no trfico de drogas

    O fato de o trfico de drogas ser praticado com o intuito de introduzir substncias ilcitas em estabelecimento prisional no impede, por si s, a substituio da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, devendo essa circunstncia ser ponderada com os requisitos necessrios para a concesso do benefcio.

    STJ. 6 Turma. AgRg no REsp 1.359.941-DF, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior, julgado em 4/2/2014.

    O que dizia a Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006):

    Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e 1, e 34 a 37 desta Lei so inafianveis e insuscetveis de sursis, graa, indulto, anistia e liberdade provisria, vedada a converso de suas penas em restritivas de direitos.

    Desse modo, a Lei de Drogas expressamente vedava a converso de suas penas em restritivas de direitos. O que os Tribunais Superiores decidiram sobre o tema? O Pleno do STF, no julgamento do Habeas Corpus 97.256, decidiu que a expresso vedada a converso de

    suas penas em restritivas de direitos contida no art. 44 da Lei n. 11.343/2006 era inconstitucional:

    EMENTA: HABEAS CORPUS. TRFICO DE DROGAS. ART. 44 DA LEI 11.343/2006: IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. DECLARAO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA GARANTIA CONSTITUCIONAL DA INDIVIDUALIZAO DA PENA (INCISO XLVI DO ART. 5 DA CF/88). ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. O processo de individualizao da pena um caminhar no rumo da personalizao da resposta punitiva do Estado, desenvolvendo-se em trs momentos individuados e complementares: o legislativo, o judicial e o executivo. Logo, a lei comum no tem a fora de subtrair do juiz sentenciante o poder-dever de impor ao delinqente a sano criminal que a ele, juiz, afigurar-se como expresso de um concreto balanceamento ou de uma emprica ponderao de circunstncias objetivas com protagonizaes subjetivas do fato-tipo. Implicando essa ponderao em concreto a opo jurdico-positiva pela prevalncia do razovel sobre o racional; ditada pelo permanente esforo do julgador para conciliar segurana jurdica e justia material. 2. No momento sentencial da dosimetria da pena, o juiz sentenciante se movimenta com ineliminvel discricionariedade entre aplicar a pena de privao ou de restrio da liberdade do condenado e uma outra que j no tenha por objeto esse bem jurdico maior da liberdade fsica do sentenciado. Pelo que vedado subtrair da instncia julgadora a possibilidade de se movimentar com certa discricionariedade nos quadrantes da alternatividade sancionatria.

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    3. As penas restritivas de direitos so, em essncia, uma alternativa aos efeitos certamente traumticos, estigmatizantes e onerosos do crcere. No toa que todas elas so comumente chamadas de penas alternativas, pois essa mesmo a sua natureza: constituir-se num substitutivo ao encarceramento e suas seqelas. E o fato que a pena privativa de liberdade corporal no a nica a cumprir a funo retributivo-ressocializadora ou restritivo-preventiva da sano penal. As demais penas tambm so vocacionadas para esse geminado papel da retribuio-preveno-ressocializao, e ningum melhor do que o juiz natural da causa para saber, no caso concreto, qual o tipo alternativo de reprimenda suficiente para castigar e, ao mesmo tempo, recuperar socialmente o apenado, prevenindo comportamentos do gnero. 4. No plano dos tratados e convenes internacionais, aprovados e promulgados pelo Estado brasileiro, conferido tratamento diferenciado ao trfico ilcito de entorpecentes que se caracterize pelo seu menor potencial ofensivo. Tratamento diferenciado, esse, para possibilitar alternativas ao encarceramento. o caso da Conveno Contra o Trfico Ilcito de Entorpecentes e de Substncias Psicotrpicas, incorporada ao direito interno pelo Decreto 154, de 26 de junho de 1991. Norma supralegal de hierarquia intermediria, portanto, que autoriza cada Estado soberano a adotar norma comum interna que viabilize a aplicao da pena substitutiva (a restritiva de direitos) no aludido crime de trfico ilcito de entorpecentes. 5. Ordem parcialmente concedida to-somente para remover o bice da parte final do art. 44 da Lei 11.343/2006, assim como da expresso anloga vedada a converso em penas restritivas de direitos, constante do 4 do art. 33 do mesmo diploma legal. Declarao incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da proibio de substituio da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos; determinando-se ao Juzo da execuo penal que faa a avaliao das condies objetivas e subjetivas da convolao em causa, na concreta situao do paciente. (HC 97256, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 01/09/2010)

    Com base nesta deciso da Corte Suprema, o STJ tambm passou a permitir a substituio de penas privativas de liberdade em restritivas de direito para os crimes da Lei de Drogas.

    Foi, ento, que o Senado Federal publicou a Resoluo n. 5, de 2012 suspendendo, nos termos do art. 52, inciso X, da CF/88, a execuo de parte do 4 do art. 33 da Lei n 11.343/2006.

    Desse modo, a parte final do art. 44 da Lei n. 11.343/2006 no mais existe no mundo jurdico, ou seja, o referido artigo dever ser agora lido assim:

    Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e 1, e 34 a 37 desta Lei so inafianveis e insuscetveis de sursis, graa, indulto, anistia e liberdade provisria, vedada a converso de suas penas em restritivas de direitos.

    Em suma, no mais existe na legislao brasileira qualquer vedao para que o juiz, ao condenar o ru pelos crimes da Lei de Drogas, substitua a pena privativa de liberdade por restritivas de direitos. Imagine agora a seguinte situao:

    Joo foi condenado a 2 anos de recluso pelo crime de trfico de drogas (art. 33 da Lei n. 11.343/2006). Na sentena, o juiz negou o pedido para converter a pena privativa de liberdade em restritiva de direitos utilizando como nico argumento o fato de que o ru vendeu droga para detentos que estavam no interior de um presdio, o que, para o magistrado, demonstra uma maior reprovabilidade social da conduta. A deciso do juiz foi correta? NO. O fato de o trfico de drogas ser praticado com o intuito de introduzir substncias ilcitas em estabelecimento prisional no impede, por si s, a substituio da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, devendo essa circunstncia ser ponderada com os requisitos necessrios para a concesso do benefcio.

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    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    Crimes envolvendo a Junta Comercial: somente sero de competncia da Justia Federal se houver ofensa DIRETA a bens, servios ou interesses da Unio

    As juntas comerciais subordinam-se administrativamente ao Governo Estadual e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do Comrcio (rgo federal).

    Os crimes envolvendo a Junta Comercial somente sero de competncia da Justia Federal se houver ofensa DIRETA a bens, servios ou interesses da Unio, conforme o art. 109, IV, CF/88. Nos demais casos, a competncia ser da Justia Estadual.

    STJ. 3 Seo. CC 130.516-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/2/2014.

    JUNTA COMERCIAL Registro Pblico de Empresas Mercantis O empresrio e a sociedade empresria so obrigados a se inscrever no Registro Pblico de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do incio de suas atividades (art. 967 do CC).

    A Lei n. 8.934/94 disciplina como funciona o Registro Pblico de Empresas Mercantis. Organizao Os servios do Registro Pblico de Empresas Mercantis so organizados da seguinte forma:

    DREI (antigo DNRC) Juntas Comerciais

    O Departamento de Registro Empresarial e Integrao (DREI) o rgo central do sistema e fica localizado em Braslia. Trata-se de um rgo federal, ligado Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidncia da Repblica. A principal funo do DREI a de estabelecer normas que devem ser observadas no registro das empresas, supervisionando e coordenando essas regras, no plano tcnico. Vale ressaltar que o DREI substituiu o antigo DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comrcio).

    Em cada Estado-membro existe uma Junta Comercial (chamada de rgo local do sistema de Registro de Empresas Mercantis). Trata-se de rgo vinculado e mantido pelo Governo do Estado. Tem a funo de executar e de administrar os servios relacionados com o registro das empresas. quem, na prtica, registra os empresrios e as sociedades empresrias, cumprindo o regramento estabelecido pelo DNRC.

    A quem esto vinculadas as juntas comerciais?

    Em matria ADMINISTRATIVA Em matria TCNICA

    As juntas comerciais subordinam-se administrativamente ao Governo do Estado.

    Tecnicamente, as juntas comerciais so subordinadas ao DREI (ex-DNRC).

    Exceo: a Junta Comercial do DF subordinada administrativa e tecnicamente ao DREI (ex-DNRC).

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    COMPETNCIA EM CRIMES ENVOLVENDO A JUNTA COMERCIAL

    A competncia para julgar crimes envolvendo a Junta Comercial ser da Justia Federal ou Estadual? Depende:

    Justia Federal: se houve ofensa DIRETA a bens, servios ou interesses da Unio (art. 109, IV, da CF/88);

    Justia Estadual: nos demais casos. Exemplo 1: Joo e Maria, ao ingressarem com pedido para constituio de sociedade empresria, apresentam documentos falsos na Junta Comercial. De quem a competncia para o crime? Justia Estadual. O STJ entende que, em casos como esse, no h ofensa DIRETA a servio da Unio. Isso porque no h nenhum prejuzo que ser suportado pela Unio e o trabalho de conferncia dos documentos e de materializao do registro no servio federal.

    (...) 1. As Juntas Comerciais exercem atividades de natureza federal, porquanto, embora sejam administrativamente subordinadas ao governo da unidade federativa em que se encontram localizadas, esto tecnicamente vinculadas ao Departamento Nacional de Registro do Comrcio, rgo federal integrante do Ministrio da Indstria e do Comrcio, conforme preceitua o art. 6 da Lei n 8.934/1994. 2. Constatada a ausncia de ofensa direta a bens, servios ou interesses da Unio, tendo em vista que o suposto delito de falsidade ideolgica foi cometido contra particular e com a finalidade de fraudar eventuais credores da sociedade empresria, no havendo qualquer relao com a lisura dos servios prestados pela Junta Comercial do Estado da Bahia, a competncia para processar e julgar o feito da Justia Estadual. (...) STJ. 3 Seo. CC 119.576/BA, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 09/05/2012.

    Exemplo 2: Nicolau, ao dar entrada no requerimento de constituio de uma empresa, utilizou-se de RG e CPF de um terceiro, que havia perdido seus documentos. De quem a competncia para jugar esse crime? Justia Estadual. Conforme decidiu o STJ, constatado que a Unio no foi ludibriada nem sofreu prejuzos, pois enganado foi o particular que teve o documento utilizado para a constituio de estabelecimento comercial, resta afastada a competncia da Justia Federal. Eventual prejuzo experimentado pela Unio na prtica delitiva seria reflexo, haja vista que se exige interesse direto e especfico. (CC 81.261/BA, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 11/02/2009). Exemplo 3: Rubens, despachante, falsificou selo da Junta Comercial. De quem a competncia para jugar esse crime? Justia Federal. O STF possui julgado recente afirmando que nesse caso h ofensa a ato da atividade-fim da Junta Comercial, no envolvendo apenas interesses de particulares, mas sim, o interesse direto e especfico da Unio, que teve seu servio violado pela falsificao do selo. Logo, a competncia da Justia Federal. (STF. 1 Turma. RE 670569 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/04/2013). Vale ressaltar que existe um precedente do STJ, mais antigo, em sentido contrrio, ou seja, concluindo que a competncia seria da Justia Estadual em situao anloga (3 Seo. CC 109.526/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/05/2010). No entanto, como a palavra final sobre o sentido e o alcance do art. 109, IV, da CF/88 do STF, penso que o mais correto ficar com a posio de que se trata de competncia da Justia Federal.

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    DIREITO PREVIDENCIRIO

    Incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre os valores pagos a ttulo de salrio-maternidade.

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    O salrio-maternidade tem natureza salarial. Por essa razo, incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre os valores pagos a ttulo de salrio-maternidade.

    STJ. 1 Seo. REsp 1.230.957-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/2/2014 (recurso repetitivo).

    SALRIO-MATERNIDADE O que o salrio-maternidade? Trata-se de benefcio previdencirio devido a todas as seguradas do RGPS, sem exceo, que visa substituir a sua remunerao em razo do nascimento do seu filho ou da adoo de uma criana, pois nesse perodo preciso que a mulher volte toda a sua ateno ao infante, sendo presumida legalmente a sua incapacidade temporria de trabalhar. (AMADO, Frederico. Direito Previdencirio sistematizado. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 636). Qual o tempo de durao do salrio-maternidade? Em regra, o salrio-maternidade ser pago pelo perodo de 120 dias, com data de incio no 28 dia que antecede o parto e vai at 91 dias aps o nascimento da criana (art. 71 da Lei n 8.213/91). Adoo ou guarda judicial:

    Art. 71-A. Ao segurado ou segurada da Previdncia Social que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoo de criana devido salrio-maternidade pelo perodo de 120 (cento e vinte) dias. (Redao dada pela Lei n 12.873/2013)

    De quanto o valor do salrio-maternidade no caso de segurada empregada? Em regra, ser uma renda mensal igual sua remunerao integral. Quem arca com os custos do pagamento do salrio-maternidade? A Previdncia Social (INSS), considerando que se trata de benefcio previdencirio. Caso da segurada empregada Se a segurada for empregada, caber empresa pagar diretamente a ela o salrio-maternidade. Posteriormente, a empresa ser reembolsada pelo valor que pagou, mediante a compensao da quantia no pagamento de suas contribuies previdencirias Unio ( 1 do art. 72 da Lei n 8.213/91). Isso feito para simplificar o pagamento, considerando que ser mais fcil que a segurada/empregada receba diretamente da empresa. O nus pelo pagamento do salrio-maternidade recai sobre a Previdncia Social, embora o recolhimento da contribuio previdenciria deva ser efetuado pelo empregador. CONTRIBUIES PARA A SEGURIDADE SOCIAL A CF/88 prev, em seu art. 195, as chamadas contribuies para a seguridade social. Consistem em uma espcie de tributo cuja arrecadao utilizada para custear a seguridade social (sade, assistncia e previdncia social).

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    Art. 195. A seguridade social ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, e das seguintes contribuies sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salrios e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdncia social, no incidindo contribuio sobre aposentadoria e penso concedidas pelo regime geral de previdncia social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognsticos; IV - do importador de bens ou servios do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

    A CF/88 determina que os recursos arrecadados com as contribuies previstas no art. 195, I, a e II sero destinados exclusivamente para o pagamento de benefcios previdencirios do RGPS (administrado pelo INSS). Em razo disso, a maioria dos autores de Direito Previdencirio denomina as contribuies do art. 195, I, a e II de contribuies previdencirias, como se fossem uma subespcie das contribuies para a seguridade social. Nesse sentido: Frederico Amado. CONTRIBUIES PREVIDENCIRIAS A contribuio previdenciria uma espcie de tributo cujo dinheiro arrecado destinado ao pagamento dos benefcios do RGPS (aposentadoria, auxlio-doena, penso por morte etc.) Existem duas espcies de contribuio previdenciria:

    PAGA POR QUEM INCIDE SOBRE O QUE

    1) Trabalhador e demais segurados do RGPS (art. 195, II).

    Incide sobre o salrio de contribuio, exceto no caso do segurado especial.

    2) Empregador, empresa ou entidade equiparada (art. 195, I, a).

    Incide sobre a folha de salrios e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio.

    O valor recebido pela empregada a ttulo de salrio-maternidade integra o salrio de contribuio? Em outras palavras, incide contribuio previdenciria sobre o salrio-maternidade? SIM. No h nenhuma dvida quanto a isso porque a Lei foi taxativa.

    O art. 28, 2, da Lei n. 8.212/1991 dispe expressamente que o salrio maternidade considerado salrio de contribuio, ou seja, o empregado paga contribuio previdenciria sobre ele.

    Art. 28 (...) 2 O salrio-maternidade considerado salrio-de-contribuio.

    E quanto contribuio previdenciria patronal, incide contribuio previdenciria sobre salrio-maternidade? No momento de fazer o clculo do valor que a empresa ir pagar como contribuio previdenciria dever a alquota incidir tambm sobre o salrio-maternidade? SIM. Incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre os valores pagos a ttulo de salrio-maternidade. O salrio-maternidade, para efeitos tributrios, tem natureza salarial, e a transferncia do encargo Previdncia Social (pela Lei 6.136/1974) no tem o condo de mudar sua natureza. As empresas devero pagar Seguridade Social 20% sobre o total da remunerao mensal dos seus

    empregados (art. 22, I, da Lei n. 8.212/91), o que engloba tambm o salrio-maternidade.

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    Pelo fato de a segurada receber o salrio-maternidade durante um perodo em que ela no est trabalhando, no poderamos dizer que se trata de uma verba indenizatria? NO. O fato de no haver prestao de trabalho durante o perodo de afastamento da segurada empregada no autoriza concluirmos que o valor recebido tenha natureza indenizatria ou compensatria. Tais verbas so consideradas como salrio, de forma que incide a contribuio previdenciria, nos termos do art. 195, I, a, da CF/88.

    Incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre os valores pagos a ttulo de salrio paternidade.

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    O salrio paternidade o valor recebido pelo empregado durante os 5 primeiros dias de afastamento em razo do nascimento de filho.

    O salrio paternidade constitui nus da empresa, ou seja, no se trata de benefcio previdencirio. Desse modo, em se tratando de verba de natureza salarial, legtima a incidncia de contribuio previdenciria sobre o salrio paternidade.

    STJ. 1 Seo. REsp 1.230.957-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/2/2014 (recurso repetitivo).

    Licena paternidade O art. 7, XIX, da CF/88 assegura aos trabalhadores o direito licena paternidade, nos termos fixados em lei. A Lei que regulamenta esse inciso ainda no foi editada. Enquanto isso, o prazo da licena paternidade de 5 dias, conforme prev o art. 10, 1 do ADCT:

    1 At que a lei venha a disciplinar o disposto no art. 7, XIX, da Constituio, o prazo da licena-paternidade a que se refere o inciso de cinco dias.

    Salrio paternidade Salrio paternidade o valor pago ao empregado durante os 5 dias em que ele fica afastado do trabalho por causa do nascimento de seu filho. Quem paga o salrio paternidade? Ao contrrio do que ocorre com o salrio maternidade, o salrio paternidade constitui nus da empresa, ou seja, pago pelo empregador. Desse modo, o salrio paternidade no um benefcio previdencirio. Voc no ir estudar o salrio paternidade nos livros de Direito Previdencirio, mas sim nos de Direito do Trabalho. Incide contribuio previdenciria sobre salrio paternidade? No momento de fazer o clculo do valor que a empresa ir pagar como contribuio previdenciria, dever a alquota recair tambm sobre o salrio paternidade? SIM. Incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre os valores pagos a ttulo de salrio paternidade. O salrio paternidade deve ser tributado por se tratar de licena remunerada prevista constitucionalmente, no se incluindo no rol dos benefcios previdencirios. Trata-se de verba com natureza salarial.

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    No incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre o valor pago ao trabalhador a ttulo de tero constitucional de frias, sejam elas gozadas ou indenizadas

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    NO incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre o valor pago ao trabalhador a ttulo de tero constitucional de frias INDENIZADAS. H expressa previso na Lei afirmando isso (art. 28, 9, d, da Lei n. 8.212/91).

    Da mesma forma, apesar de a Lei no ter sido expressa, tambm NO incide contribuio previdenciria a cargo da empresa sobre o valor pago ao trabalhador a ttulo de tero constitucional de frias GOZADAS. Isso porque essa verba no ostenta carter salarial, mas sim de natureza indenizatria.

    STJ. 1 Seo. REsp 1.230.957-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/2/2014.

    Frias O art. 7, XVII, da CF/88 assegura aos trabalhadores o direito a frias anuais. No ms das frias, o trabalhador, alm de ter direito ao descanso, receber uma verba adicional correspondente a um tero a mais do seu salrio normal. A isso chamamos de tero constitucional de frias porque foi introduzido pela CF/88.

    Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social: XVII - gozo de frias anuais rem