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Informativo 552-STJ (17/12/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.361.900-SP, EDcl no REsp 1.147.595-RS, REsp 1.331.168-RJ, REsp 1.319.232-DF. Leia-os ao final deste Informativo. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL TRIBUNAL DE CONTAS Ilegitimidade do MP para execução de condenação proferida pelo Tribunal de Contas. DIREITO ADMINISTRATIVO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Imprensa tem direito de acesso a informações detalhadas do cartão corporativo do governo. EXERCÍCIO DA ADVOCACIA E CARGOS PÚBLICOS O cargo de Fiscal Federal Agropecuário é incompatível com o exercício da advocacia SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de mutuários do SFH. Sistema de amortização em série gradiente. DIREITO CIVIL BEM DE FAMÍLIA Possibilidade de penhora do bem de família do fiador. RESPONSABILIDADE CIVIL Danos sociais. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA Possibilidade de purgação da mora mesmo após a consolidação da propriedade em nome do credor fiduciário. FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA Necessidade de instrução probatória para comprovar a filiação socioativa. DIREITO DO CONSUMIDOR PROTEÇÃO CONTRATUAL Necessidade de informar que o cômputo da área total do imóvel residencial vendido está considerando também o tamanho da garagem. DIREITO EMPRESARIAL CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL Possibilidade de aval

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  • Informativo 552-STJ (17/12/2014) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 1

    Mrcio Andr Lopes Cavalcante Julgados no comentados por terem menor relevncia para concursos pblicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.361.900-SP, EDcl no REsp 1.147.595-RS, REsp 1.331.168-RJ, REsp 1.319.232-DF. Leia-os ao final deste Informativo.

    NDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

    TRIBUNAL DE CONTAS Ilegitimidade do MP para execuo de condenao proferida pelo Tribunal de Contas.

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    PRINCPIO DA PUBLICIDADE Imprensa tem direito de acesso a informaes detalhadas do carto corporativo do governo. EXERCCIO DA ADVOCACIA E CARGOS PBLICOS O cargo de Fiscal Federal Agropecurio incompatvel com o exerccio da advocacia SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAO MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de muturios do SFH. Sistema de amortizao em srie gradiente.

    DIREITO CIVIL

    BEM DE FAMLIA Possibilidade de penhora do bem de famlia do fiador. RESPONSABILIDADE CIVIL Danos sociais. ALIENAO FIDUCIRIA EM GARANTIA Possibilidade de purgao da mora mesmo aps a consolidao da propriedade em nome do credor fiducirio. FILIAO SOCIOAFETIVA Necessidade de instruo probatria para comprovar a filiao socioativa.

    DIREITO DO CONSUMIDOR

    PROTEO CONTRATUAL Necessidade de informar que o cmputo da rea total do imvel residencial vendido est considerando tambm o

    tamanho da garagem.

    DIREITO EMPRESARIAL

    CDULAS DE CRDITO RURAL Possibilidade de aval

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    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    COMPETNCIA Competncia para processar e julgar ao de divrcio quando o marido for incapaz. EXECUO Penhora diretamente sobre bens do esplio. FRAUDE EXECUO Requisitos para o reconhecimento da fraude execuo. EXECUO FISCAL Requisitos para a indisponibilidade de bens e direitos na execuo fiscal. PROCESSO COLETIVO MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de muturios do SFH. Eficcia subjetiva da ACP e art. 16 da Lei 7.347/85. Eficcia subjetiva em caso de ACP proposta pelo MP no Distrito Federal com a participao de entidades de

    mbito nacional.

    DIREITO PENAL

    APLICAO DA PENA Aumento da pena-base pelo fato de a corrupo passiva ter sido praticada por Promotor de Justia. EFEITOS DA CONDENAO E PERDA DO CARGO Inaplicabilidade do art. 92, I, do CP a servidor pblico aposentado antes da condenao criminal. EFEITOS DA CONDENAO E PERDA DO CARGO Promotor de Justia condenado e regras especiais sobre a perda do cargo. DESCAMINHO Deciso administrativa ou judicial favorvel ao contribuinte caracteriza questo prejudicial externa facultativa.

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    INDICIAMENTO Indiciamento atribuio exclusiva da autoridade policial, no podendo ser determinada por magistrado. RESTITUIO DE COISA APREENDIDA Impossibilidade de recurso de terceiro prejudicado por quem teve o mesmo pedido negado em embargos de

    terceiro transitado em julgado.

    DIREITO PREVIDENCIRIO

    AUXLIO-RECLUSO Baixa renda para fins de concesso do benefcio. PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL PREVIDENCIRIO Prvio requerimento administrativo para obteno de benefcio previdencirio.

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    DIREITO CONSTITUCIONAL

    TRIBUNAL DE CONTAS Ilegitimidade do MP para execuo de condenao proferida pelo Tribunal de Contas

    Mudana de entendimento!

    O Ministrio Pblico possui legitimidade para ajuizar a execuo de ttulo executivo extrajudicial decorrente de condenao proferida pelo Tribunal de Contas?

    NO. A legitimidade para a propositura da ao executiva apenas do ente pblico beneficirio.

    O Ministrio Pblico, atuante ou no junto s Cortes de Contas, seja federal, seja estadual, parte ilegtima.

    Essa a posio tanto do STF (Plenrio. ARE 823347 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 02/10/2014. Repercusso geral), como do STJ (2 Turma. REsp 1.464.226-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/11/2014).

    STJ. 2 Turma. REsp 1.464.226-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/11/2014 (Info 552).

    O Tribunal de Contas da Unio disciplinado pelos arts. 70 a 75 da CF/88 (Seo IX). Os Tribunais de Contas dos Estados, por sua vez, so organizados pelas Constituies estaduais. Contudo, por fora do princpio da simetria, as regras do TCU tambm so aplicadas, no que couber, aos TCEs, conforme determina o art. 75 da CF:

    Art. 75. As normas estabelecidas nesta seo aplicam-se, no que couber, organizao, composio e fiscalizao dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municpios. Pargrafo nico. As Constituies estaduais disporo sobre os Tribunais de Contas respectivos, que sero integrados por sete Conselheiros.

    No art. 71 da CF/88 esto elencadas as competncias do TCU (que podem ser aplicadas tambm aos TCEs). De acordo com o inciso VIII do art. 71, o TCU (assim como os TCEs) pode aplicar multas aos administradores e demais responsveis:

    Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, ser exercido com o auxlio do Tribunal de Contas da Unio, ao qual compete: (...) VIII aplicar aos responsveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanes previstas em lei, que estabelecer, entre outras cominaes, multa proporcional ao dano causado ao errio;

    Assim, o Tribunal de Contas poder aplicar multas ou determinar que o gestor faa o ressarcimento de valores ao errio. Esta deciso da Corte de Contas materializa-se por meio de um acrdo. Caso o condenado no cumpra espontaneamente o acrdo do Tribunal de Contas e deixe de pagar os valores devidos, esta deciso poder ser executada? SIM. As decises do Tribunal de Contas que determinem a imputao de dbito (ressarcimento ao errio) ou apliquem multa tero eficcia de ttulo executivo extrajudicial, nos termos do 3 do art. 71 da CF/88. Logo, podem ser executadas por meio de uma ao de execuo de ttulo extrajudicial. Vale ressaltar que a deciso do Tribunal de Contas dever declarar, de forma precisa, o agente responsvel e o valor da condenao, a fim de que goze dos atributos da certeza e liquidez.

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    A deciso do Tribunal de Contas precisa ser inscrita em dvida ativa? NO. A finalidade de se inscrever o dbito na dvida ativa gerar uma certido de dvida ativa (CDA), que um ttulo executivo indispensvel para o ajuizamento da execuo. Ocorre que o acrdo do Tribunal de Contas j um ttulo executivo extrajudicial por fora do art. 71, 3 da CF/88 c/c o art. 585, VIII do CPC. Desse modo, no h necessidade de esse dbito ser inscrito em dvida ativa. A execuo da deciso do Tribunal de Contas feita mediante o procedimento da execuo fiscal (Lei n 6.830/80)? NO. O que se executa o prprio acrdo do Tribunal de Contas (e no uma CDA). Assim, trata-se de execuo civil de ttulo extrajudicial, seguindo as regras dos arts. 566 e ss do CPC. Somente haver execuo fiscal se o ttulo executivo for uma CDA. STJ. 2 Turma. REsp 1390993/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/09/2013 (Info 530). O Ministrio Pblico possui legitimidade para ajuizar a execuo de ttulo executivo extrajudicial decorrente de condenao proferida pelo Tribunal de Contas? NO. A legitimidade para a propositura da ao executiva apenas do ente pblico beneficirio. O Ministrio Pblico, atuante ou no junto s Cortes de Contas, seja federal, seja estadual, parte ilegtima. Essa a posio tanto do STF (Plenrio. ARE 823347 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 02/10/2014. Repercusso geral), como do STJ (2 Turma. REsp 1.464.226-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/11/2014). O prprio Tribunal de Contas poder propor a execuo de seu acrdo? NO. O art. 71, 3, da CF/88 no outorgou ao TCU legitimidade para executar suas decises das quais resulte imputao de dbito ou multa. A competncia para tal do titular do crdito constitudo a partir da deciso, ou seja, o ente pblico prejudicado (AI 826676 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 08/02/2011).

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    PRINCPIO DA PUBLICIDADE Imprensa tem direito de acesso a informaes detalhadas do carto corporativo do governo

    Importante!!!

    Determinado jornal solicitou que o governo federal fornecesse a relao dos gastos efetuados com o carto corporativo pela chefe da representao da Presidncia da Repblica em SP.

    O Governo concedeu ao jornal a relao dos gastos efetuados no perodo, ou seja, os valores despendidos. No entanto, negou-se a fornecer informaes detalhadas como os tipos de gastos, as datas, valores individuais de cada transao, CNPJ/razo social das empresas contratadas etc.

    O STJ entendeu que essa recusa ao fornecimento do extrato completo (incluindo tipo, data, valor das transaes efetuadas e CNPJ dos fornecedores) constitui ilegal violao ao direito de acesso informao de interesse coletivo (Lei 12.527/2011), j que no havia qualquer evidncia de que a publicidade desses elementos atentaria contra a segurana do Presidente e Vice-Presidente da Repblica ou de suas famlias.

    STJ. 1 Seo. MS 20.895-DF, Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho, julgado em 12/11/2014 (Info 552).

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    O caso concreto, com adaptaes, foi o seguinte: Determinado jornal solicitou que o governo federal fornecesse a relao dos gastos efetuados com o carto corporativo pela chefe da representao da Presidncia da Repblica em So Paulo durante o perodo de 2003 a 2011. Carto de pagamento do governo (Carto corporativo) O carto corporativo utilizado na Administrao Pblica um carto de crdito comum, mas que fornecido pelo governo para que determinados funcionrios (normalmente de alto escalo) possam pagar por pequenas compras e servios de forma mais rpida e menos burocratizada. Vale lembrar que a Lei n 8.666/93 afirma que no necessrio licitao para compras e servios de pequeno valor (art. 24, I e II). Tais compras e servios devem ser, obviamente, relacionados aos interesses da Administrao Pblica, no podendo ser feitas para fins pessoais. Os cartes corporativos foram institudos no Governo Federal em 2001 como uma forma de tornar a Administrao Pblica mais gil, alm de servir como uma forma de controle dos gastos. Ocorre que, infelizmente, algumas vezes tais cartes foram utilizados de forma indevida, seja para burlar licitao (atravs do fracionamento das despesas) ou, ento, para a aquisio de bens e servios de interesse pessoal do servidor. Atendimento em parte do pedido O Governo concedeu ao jornal a relao dos gastos efetuados no perodo, ou seja, os valores despendidos. No entanto, negou-se a fornecer informaes detalhadas como os tipos de gastos, as datas, valores individuais de cada transao, CNPJ/razo social das empresas contratadas etc. Inconformado, o jornal impetrou mandado de segurana. O que decidiu o STJ? O jornal tem direito s informaes detalhadas neste caso? SIM. Em regra, a imprensa e a populao em geral tm o direito de ter acesso ao extrato completo incluindo tipo, data, valor das transaes efetuadas e CNPJ dos fornecedores do carto de pagamentos (carto corporativo) do Governo Federal utilizado por chefe de Escritrio da Presidncia da Repblica. Assim, em princpio, a recusa em fornecer tais dados constitui ilegal violao ao direito de acesso informao de interesse coletivo. Nesse caso concreto, existia alguma situao em que esses dados poderiam ser recusados? SIM. Tais dados poderiam ser recusados se houvesse evidncia de que a publicidade desses elementos colocaria em risco a segurana do Presidente e Vice-Presidente da Repblica ou de suas famlias. o que

    prev o art. 24, 1 da Lei n. 12.527/2011:

    Art. 24 (...) 2 As informaes que puderem colocar em risco a segurana do Presidente e Vice-Presidente da Repblica e respectivos cnjuges e filhos(as) sero classificadas como reservadas e ficaro sob sigilo at o trmino do mandato em exerccio ou do ltimo mandato, em caso de reeleio.

    Na situao em tela, no entanto, tais dados no envolviam diretamente a segurana do Presidente ou Vice-Presidente da Repblica, nem de suas famlias. Alm disso, o mandato j havia encerrado quando tais informaes foram solicitadas. Segundo apontou o Min. Relator, a transparncia das aes e das condutas governamentais no deve ser apenas um flatus vocis (expresso em latim que quer dizer sopro de voz, ou seja, apenas palavras sem fora/significado).

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    EXERCCIO DA ADVOCACIA E CARGOS PBLICOS O cargo de Fiscal Federal Agropecurio incompatvel com o exerccio da advocacia

    O cargo de Fiscal Federal Agropecurio incompatvel com o exerccio da advocacia por se enquadrar no inciso V do art. 28 do Estatuto da OAB.

    A vedao do inciso V do art 28 abrange no apenas a atividade policial estritamente voltada segurana pblica, mas tambm engloba o agente que possui poderes de polcia administrativa, como o caso do Fiscal Federal Agropecurio, que realiza fiscalizao, autuao, apreenso e interdio.

    Essa interpretao baseada na parte final do inciso V, que fala em atividade policial de qualquer natureza.

    Ademais, a finalidade da norma a de proibir a prtica da advocacia por agente pblico que, exercendo atividade de polcia, possa se beneficiar da sua atuao funcional, vulnerando as suas atribuies administrativas eou gerando privilgio na captao de clientela, mormente se considerado o poder de deciso que detm, com base no cargo que exerce, sobre os administrados.

    STJ. 1 Turma. REsp 1.377.459-RJ, Rel. Min. Benedito Gonalves, julgado em 20/11/2014 (Info 552).

    Incompatibilidade e impedimento para o exerccio da advocacia

    O Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/94) prev determinadas situaes em que a pessoa no poder exercer a advocacia. Tais hipteses so divididas em dois grupos:

    INCOMPATIBILIDADE IMPEDIMENTO

    Trata-se de uma proibio TOTAL. Isso significa que a pessoa no poder exercer a advocacia em nenhum caso. As hipteses esto previstas no art. 28. Exs.: magistrados, membros do MP, militares, policiais, gerentes de instituies financeiras.

    Trata-se de uma proibio PARCIAL. Isso significa que a pessoa no poder exercer a advocacia em determinadas situaes. As hipteses esto previstas no art. 30. Ex.: os servidores da administrao pblica contra a Fazenda Pblica que os remunere.

    Imagine agora a seguinte situao: Determinado servidor pblico, que ocupa o cargo de Fiscal Federal Agropecurio, tentou fazer sua inscrio na OAB, tendo sido negada sob o argumento de que o cargo que ele desempenhava enquadrava-se como uma hiptese de incompatibilidade (art. 28), ou seja, uma proibio total. Segundo entendeu a OAB, o cargo de Fiscal Federal Agropecuria, por ter entre as suas atribuies, o

    exerccio do poder de polcia, poderia ser enquadrado na vedao prevista no art. 28, V, da Lei n. 8.906/94:

    Art. 28. A advocacia incompatvel, mesmo em causa prpria, com as seguintes atividades: V - ocupantes de cargos ou funes vinculados direta ou indiretamente a atividade policial de qualquer natureza;

    Inconformado, o servidor impetrou mandado de segurana contra esse indeferimento e a questo chegou at o STJ. O STJ concordou com o pedido do autor? NO. Segundo o STJ, o cargo de Fiscal Federal Agropecurio incompatvel com o exerccio da advocacia. A vedao do inciso V do art 28 abrange no apenas a atividade policial estritamente voltada segurana pblica, mas tambm engloba o agente que possui poderes de polcia administrativa, como o caso do Fiscal Federal Agropecurio, que realiza fiscalizao, autuao, apreenso e interdio. Essa interpretao baseada na parte final do inciso V, que fala em atividade policial de qualquer natureza.

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    Ademais, a finalidade da norma a de proibir a prtica da advocacia por agente pblico que, exercendo atividade de polcia, possa se beneficiar da sua atuao funcional, vulnerando as suas atribuies administrativas eou gerando privilgio na captao de clientela, mormente se considerado o poder de deciso que detm, com base no cargo que exerce, sobre os administrados.

    SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAO MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de muturios do SFH

    O Ministrio Pblico tem legitimidade ad causam para propor ao civil pblica com a finalidade de defender interesses coletivos e individuais homogneos dos muturios do Sistema Financeiro da Habitao.

    O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem uma expresso para a coletividade e o interesse em discusso socialmente relevante.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originrio Min. Sidnei Beneti, Rel. para acrdo Min. Joo Otvio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

    SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAO Sistema de amortizao em srie gradiente

    A utilizao do Sistema de Amortizao em Srie Gradiente em contratos do Sistema Financeiro da Habitao (SFH) no incompatvel com o Plano de Equivalncia Salarial (PES).

    STJ. 3 Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originrio Min. Sidnei Beneti, Rel. para acrdo Min. Joo Otvio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

    O Sistema de Amortizao em Srie Gradiente (Tabela Gradiente) uma forma utilizada para calcular as amortizaes dos pagamentos efetuados pelos muturios nos saldos devedores. Plano de Equivalncia Salarial (PES) uma forma de reajuste do encargo mensal dos contratos de

    financiamento do SFH, estando disciplinado pela Lei n. 8.692/93. Com o PES, a prestao e os acessrios so reajustados em funo da data base da categoria profissional do muturio. Para o STJ, o contrato de financiamento do SFH com o PES pode utilizar o sistema gradiente como forma de calcular as amortizaes, no havendo incompatibilidade entre eles. Para fins de concurso, penso que seja importante apenas que voc conhea a concluso do julgado, razo pela qual no irei aprofundar a explicao sobre o tema.

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    DIREITO CIVIL

    BEM DE FAMLIA Possibilidade de penhora do bem de famlia do fiador

    Importante!!!

    possvel penhorar a casa do fiador por dvidas decorrentes do contrato de locao?

    SIM. legtima a penhora de bem de famlia pertencente a fiador de contrato de locao. Isso porque o art. 3, VII, da Lei 8.009/90 afirma que a impenhorabilidade do bem de famlia no se aplica no caso de dvidas do fiador decorrentes do contrato de locao.

    O STF decidiu que esse dispositivo constitucional e no viola o direito moradia.

    STJ. 2 Seo. REsp 1.363.368-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

    Imagine a seguinte situao hipottica: Pedro aluga seu apartamento para Rui (locatrio). Joo, melhor amigo de Rui, aceita figurar no contrato como fiador. Aps um ano, Rui devolve o apartamento, ficando devendo, contudo, quatro meses de aluguel. Pedro prope uma execuo contra Rui e Joo cobrando o valor devido. O juiz determina a penhora da casa em que mora Joo e que est em seu nome. possvel a penhora da casa de Joo, mesmo sendo bem de famlia? SIM. A impenhorabilidade do bem de famlia no se aplica no caso de dvidas do fiador decorrentes do contrato de locao. Veja: Lei n 8.009/90

    Art. 3 A impenhorabilidade oponvel em qualquer processo de execuo civil, fiscal, previdenciria, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) VII - por obrigao decorrente de fiana concedida em contrato de locao.

    Esse inciso VII do art. 3 constitucional? Ele aplicado pelo STF e STJ?

    SIM. O STF decidiu que o art. 3, VII, da Lei n. 8.009/90 constitucional, no violando o direito moradia (art. 6 da CF/88) nem qualquer outro dispositivo da CF/88.

    O Tribunal, no julgamento do Recurso Extraordinrio n 407.688-8/SP, declarou a constitucionalidade do inciso VII do artigo 3 da Lei n 8.009/90, que excepcionou da regra de impenhorabilidade do bem de famlia o imvel de propriedade de fiador em contrato de locao. (STF. 1 Turma. RE 495105 AgR, Rel. Min. Marco Aurlio, julgado em 05/11/2013)

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    RESPONSABILIDADE CIVIL Danos sociais

    Importante!!!

    O dano social uma nova espcie de dano reparvel, que no se confunde com os danos materiais, morais e estticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprovveis, que diminuem o nvel social de tranquilidade.

    Em uma ao individual, o juiz condenou o ru ao pagamento de danos morais e, de ofcio, determinou que pagasse tambm danos sociais em favor de uma instituio de caridade.

    O STJ entendeu que essa deciso nula, por ser extra petita.

    Para que haja condenao por dano social, indispensvel que haja pedido expresso.

    Vale ressaltar, no entanto, que, no caso concreto, mesmo que houvesse pedido de condenao em danos sociais na demanda em exame, o pleito no poderia ter sido julgado procedente, pois esbarraria na ausncia de legitimidade para postul-lo. Isso porque, na viso do STJ, a condenao por danos sociais somente pode ocorrer em demandas coletivas e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de aes coletivas poderiam pleitear danos sociais.

    Em suma, no possvel discutir danos sociais em ao individual.

    STJ. 2 Seo. Rcl 12.062-GO, Rel. Ministro Raul Arajo, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

    O que so danos sociais? Danos sociais e danos morais coletivos so expresses sinnimas? NO. Dano social no sinnimo de dano moral coletivo. Danos sociais, segundo Antnio Junqueira de Azevedo, so leses sociedade, no seu nvel de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimnio moral principalmente a respeito da segurana quanto por diminuio na qualidade de vida. Os danos sociais so causa, pois, de indenizao punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condies coletivas de segurana, e de indenizao dissuasria, se atos em geral da pessoa jurdica, que trazem uma diminuio do ndice de qualidade de vida da populao. (p. 376). O dano social , portanto, uma nova espcie de dano reparvel, que no se confunde com os danos materiais, morais e estticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprovveis, que diminuem o nvel social de tranquilidade. Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: o pedestre que joga papel no cho, o passageiro que atende ao celular no avio, o pai que solta balo com seu filho. Tais condutas socialmente reprovveis podem gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva, problemas de comunicao do avio causando um acidente areo, o incndio de casas ou de florestas por conta da queda do balo etc. Diante da prtica dessas condutas socialmente reprovveis, o juiz dever condenar o agente a pagar uma indenizao de carter punitivo, dissuasrio ou didtico, a ttulo de dano social. Conforme explica Flvio Tartuce, os danos sociais so difusos e a sua indenizao deve ser destinada no para a vtima, mas sim para um fundo de proteo ao consumidor, ao meio ambiente etc., ou mesmo para uma instituio de caridade, a critrio do juiz (Manual de Direito do Consumidor. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 58).

  • Informativo 552-STJ (17/12/2014) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 10

    Os danos sociais representam a aplicao da funo social da responsabilidade civil (PEREIRA, Ricardo Diego Nunes. Os novos danos: danos morais coletivos, danos sociais e danos por perda de uma chance. Disponvel em: http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11307). Ricardo Pereira cita alguns casos prticos:

    Um deles a deciso do TRT-2 Regio (processo 2007-2288), que condenou o Sindicato dos Metrovirios de So Paulo e a Cia do Metr a pagarem 450 cestas bsicas a entidades beneficentes por terem realizado uma greve abusiva que causou prejuzo coletividade. Outro exemplo foi o caso de uma fraude ocorrida em um sistema de loterias, no Rio Grande do Sul, chamado de Toto Bola. Ficou constatado que a loteria seria fraudulenta, retirando do consumidor as chances de vencer. Nesse episdio, o TJ/RS, no Recurso Cvel 71001281054, DJ 18/07/2007, determinou, de ofcio, indenizao a ttulo de dano social para o Fundo de Proteo aos Consumidores. Veja a ementa do julgado:

    (...) 1. No h que se falar em perda de uma chance, diante da remota possibilidade de ganho em um sistema de loterias. Danos materiais consistentes apenas no valor das cartelas comprovadamente adquiridas, sem reais chances de xito. 2. Ausncia de danos morais puros, que se caracterizam pela presena da dor fsica ou sofrimento moral, situaes de angstia, forte estresse, grave desconforto, exposio situao de vexame, vulnerabilidade ou outra ofensa a direitos da personalidade. 3. Presena de fraude, porm, que no pode passar em branco. Alm de possveis respostas na esfera do direito penal e administrativo, o direito civil tambm pode contribuir para orientar os atores sociais no sentido de evitar determinadas condutas, mediante a punio econmica de quem age em desacordo com padres mnimos exigidos pela tica das relaes sociais e econmicas. Trata-se da funo punitiva e dissuasria que a responsabilidade civil pode, excepcionalmente, assumir, ao lado de sua clssica funo reparatria/compensatria. O Direito deve ser mais esperto do que o torto, frustrando as indevidas expectativas de lucro ilcito, custa dos consumidores de boa f. 4. Considerando, porm, que os danos verificados so mais sociais do que propriamente individuais, no razovel que haja uma apropriao particular de tais valores, evitando-se a disfuno alhures denominada de overcompensantion. Nesse caso, cabvel a destinao do numerrio para o Fundo de Defesa de Direitos Difusos, criado pela Lei 7.347/85, e aplicvel tambm aos danos coletivos de consumo, nos termos do art. 100, pargrafo nico, do CDC. Tratando-se de dano social ocorrido no mbito do Estado do Rio Grande do Sul, a condenao dever reverter para o fundo gacho de defesa do consumidor. (...) (TJRS Recurso Cvel 71001281054 Primeira Turma Recursal Cvel, Turmas Recursais Rel. Des. Ricardo Torres Hermann j. 12.07.2007).

    Na V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ foi aprovado um enunciado reconhecendo a existncia dos danos sociais:

    Enunciado 455: A expresso dano no art. 944 abrange no s os danos individuais, materiais ou imateriais, mas tambm os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogneos a serem reclamados pelos legitimados para propor aes coletivas.

    Imagine agora a seguinte situao adaptada: Joo passou vrias horas na fila do banco para ser atendido. Inconformado, ingressou, no Juizado Especial, com ao pedindo unicamente indenizao por danos morais. O juiz julgou procedente, determinando que o ru pagasse R$ 3 mil a Joo pelos danos morais sofridos. Alm disso, de ofcio, condenou o banco a pagar R$ 15 mil a ttulo de danos sociais, valor a ser revertido em favor de uma instituio de caridade.

    O banco interps recurso inominado (art. 41 da Lei n. 9.099/95) alegando que a deciso violou o princpio da adstrio/congruncia, considerando que o condenou ao pagamento de algo que no foi pedido. A Turma Recursal, contudo, manteve a sentena.

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    Quais os recursos cabveis contra as decises proferidas pela Turma Recursal? Contra os acrdos prolatados pela Turma Recursal somente podem ser interpostos:

    embargos de declarao;

    recurso extraordinrio.

    No caso concreto, no cabe recurso extraordinrio porque a matria no envolve questo constitucional, restringindo-se apenas a aspectos processuais (de lei federal). cabvel a interposio de Recurso Especial? NO. Smula 203-STJ: No cabe recurso especial contra deciso proferida por rgo de segundo grau dos Juizados Especiais.

    O que o banco fez no presente caso? A instituio financeira ajuizou reclamao no STJ contra a deciso da Turma Recursal.

    cabvel reclamao contra acrdo da Turma Recursal? SIM. O STJ entende possvel utilizar reclamao contra deciso de Turma Recursal quando a deciso proferida:

    afrontar jurisprudncia do STJ pacificada em recurso repetitivo (art. 543-C do CPC);

    violar smula do STJ;

    for teratolgica.

    O que o STJ decidiu ao julgar a reclamao? O STJ entendeu que a deciso da Turma Recursal era teratolgica e nula por ser extra petita. Para que haja condenao por dano social, indispensvel que haja pedido expresso, sob pena de violao aos princpios da demanda, da inrcia e, fundamentalmente, da adstrio/congruncia, o qual exige a correlao entre o pedido e o provimento judicial a ser exarado pelo Poder Judicirio. No caso concreto, em uma ao individual houve condenao do ru ao pagamento de indenizao por danos sociais em favor de terceiro estranho lide, sem que houvesse pedido nesse sentido ou sem que essa questo fosse levada a juzo por qualquer das partes. Nessa medida, a deciso condenatria extrapolou os limites objetivos e subjetivos da demanda, uma vez que conferiu provimento jurisdicional diverso daquele requerido na petio inicial, beneficiando terceiro alheio relao jurdica processual posta em juzo.

    E se o autor tivesse pedido a condenao por danos sociais, seria possvel seu deferimento? NO. Mesmo que houvesse pedido de condenao em danos sociais na demanda em exame, o pleito no poderia ter sido julgado procedente, pois esbarraria na ausncia de legitimidade para postul-lo. Isso porque, na viso do STJ, a condenao por danos sociais somente pode ocorrer em demandas coletivas e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de aes coletivas poderiam pleitear danos sociais. Em suma, no possvel discutir danos sociais em ao individual.

    Observao final Interessante destacar que esse foi o primeiro caso oriundo de uma reclamao do Juizado Especial que foi submetido sistemtica de recurso repetitivo (art. 543-C do CPC).

    Obras consultadas: AZEVEDO, Antnio Junqueira de. Por uma nova categoria de dano na responsabilidade civil: o dano social. In: FILOMENO, Jos Geraldo Brito; WAGNER JR., Luiz Guilherme bda Costa; GONALVES, Renato Afonso (coord.). O Cdigo Civil e sua interdisciplinariedade. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. TARTUCE, Flvio; NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito do Consumidor. 2 ed., So Paulo: Mtodo, 2013.

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    ALIENAO FIDUCIRIA EM GARANTIA Possibilidade de purgao da mora mesmo aps a consolidao

    da propriedade em nome do credor fiducirio

    Na alienao fiduciria de bem imvel, possvel que ocorra a purgao da mora mesmo aps j ter havido a consolidao da propriedade em nome do credor? At que momento possvel a purgao?

    SIM. Mesmo que j consolidada a propriedade do imvel dado em garantia em nome do credor fiducirio, possvel a purgao da mora.

    Em verdade, a purgao admitida at a assinatura do auto de arrematao.

    Nos contratos de alienao fiduciria de bem imvel (regido pela Lei 9.514/97) aplica, subsidiariamente, o Decreto-Lei 70/1966, que prev o seguinte que lcito ao devedor, a qualquer momento, at a assinatura do auto de arrematao, purgar o dbito.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.462.210-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 552).

    Conceito A alienao fiduciria em garantia um contrato instrumental em que uma das partes, em confiana, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituio financeira, em regra) obrigada a devolver quela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrncia de determinado fato. (RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. So Paulo: Mtodo, 2012, p. 565). Regramento O Cdigo Civil de 2002 trata de forma genrica sobre a propriedade fiduciria em seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis especficas que tambm regem o tema: alienao fiduciria envolvendo bens imveis: Lei n 9.514/97; alienao fiduciria de bens mveis no mbito do mercado financeiro e de capitais: Lei n 4.728/65 e Decreto-Lei n 911/69. o caso, por exemplo, de um automvel comprado por meio de financiamento bancrio com garantia de alienao fiduciria. Nas hipteses em que houver legislao especfica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma subsidiria:

    Art. 1.368-A. As demais espcies de propriedade fiduciria ou de titularidade fiduciria submetem-se disciplina especfica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposies deste Cdigo naquilo que no for incompatvel com a legislao especial.

    Resumindo:

    Alienao fiduciria de bens MVEIS fungveis e

    infungveis quando o credor fiducirio for instituio

    financeira

    Alienao fiduciria de bens MVEIS infungveis

    quando o credor fiducirio for pessoa natural ou jurdica (sem

    ser banco)

    Alienao fiduciria de bens IMVEIS

    Lei n 4.728/65 Decreto-Lei n 911/69

    Cdigo Civil de 2002 (arts. 1.361 a 1.368-B)

    Lei n 9.514/97

    Alienao fiduciria de bem imvel O julgado ora analisado diz respeito alienao fiduciria de bem imvel.

    Como vimos acima, a alienao fiduciria de bens imveis regida precipuamente pela Lei n. 9.514/97.

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    Vencida a prestao e no paga pelo devedor fiduciante Se a dvida vencer e o devedor no pagar, a lei exige que o credor faa a notificao do devedor. Assim, o credor dever solicitar a notificao do devedor, do seu representante legal ou procurador regularmente constitudo. A intimao deve ser feita pessoalmente ao fiduciante (devedor), ou ao seu representante legal ou ao procurador regularmente constitudo, podendo ser promovida, por solicitao do oficial do Registro de Imveis, por oficial de Registro de Ttulos e Documentos da comarca da situao do imvel ou do domiclio de quem deva receb-la, ou pelo correio, com aviso de recebimento ( 3 do art. 26). Na notificao dever constar o nome correto do credor O STJ decidiu que nula a notificao extrajudicial realizada com o fim de constituir em mora o devedor fiduciante de imvel, quando na referida comunicao constar nome diverso do real credor fiducirio. A notificao em questo produz severas consequncias para o devedor, de forma que qualquer vcio em seu contedo hbil a tornar nulos seus efeitos, principalmente quando se trata de erro crasso, como o que h na troca da pessoa notificante. STJ. 4 Turma. REsp 1.172.025-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 7/10/2014 (Info 550). Se o fiduciante (devedor) estiver em local ignorado, incerto ou inacessvel, como ser feita a notificao? Por edital. Quando o fiduciante, ou seu cessionrio, ou seu representante legal ou procurador encontrar-se em local ignorado, incerto ou inacessvel, esse fato ser certificado pelo serventurio encarregado da diligncia e informado ao oficial de Registro de Imveis. Este far a intimao do fiduciante por edital publicado durante 3 dias, pelo menos, em um dos jornais de maior circulao local ou noutro de comarca de fcil acesso, se no local no houver imprensa diria. Nesse caso, o prazo para purgao da mora dever ser contado da data da ltima publicao do edital. Parcelas que devero ser pagas Na notificao constar a advertncia de que o devedor, no prazo de 15 dias, dever pagar:

    a prestao vencida e as que se vencerem at a data do pagamento;

    os juros convencionais;

    as penalidades;

    os demais encargos contratuais;

    os encargos legais (inclusive tributos);

    as contribuies condominiais;

    e as despesas de cobrana e de intimao. Dessa forma, o devedor ter 15 dias para purgar a mora. Havendo a purgao da mora, convalescer o contrato de alienao fiduciria, ou seja, ser restabelecida a sua vigncia. E o que acontece se o devedor no purgar a mora no prazo de 15 dias? Decorrido o prazo sem a purgao da mora, o oficial do Registro de Imveis certificar esse fato e promover a averbao, na matrcula do imvel, da consolidao da propriedade em nome do fiducirio (credor) ( 7 do art. 26). Em outras palavras, o credor passa a ser o proprietrio pleno do imvel. Leilo Aps ser consolidada a propriedade em nome do fiducirio (credor), este ter o prazo de 30 dias, contados da data do registro, para promover leilo pblico para a alienao do imvel (art. 27, caput). Depois de o bem ter sido alienado, lavrado um auto de arrematao.

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    Na alienao fiduciria de bem imvel, possvel que ocorra a purgao da mora mesmo aps j ter havido a consolidao da propriedade em nome do credor? At que momento possvel a purgao? SIM. Mesmo que j consolidada a propriedade do imvel dado em garantia em nome do credor fiducirio, possvel a purgao da mora. Em verdade, a purgao admitida at a assinatura do auto de arrematao. Nos contratos de alienao fiduciria de bem imvel (regido pela Lei 9.514/97) aplica, subsidiariamente, o Decreto-Lei 70/1966, que prev o seguinte que lcito ao devedor, a qualquer momento, at a assinatura do auto de arrematao, purgar o dbito. STJ. 3 Turma. REsp 1.462.210-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 552).

    FILIAO SOCIOAFETIVA Necessidade de instruo probatria para comprovar a filiao socioafetiva

    Maria e Francisca eram um casal homoafetivo. Maria registrou Carla como sua filha, sendo a criana criada por Maria e Francisca durante vrios anos, como uma famlia. Na poca em que Carla nasceu, a unio homoafetiva no era protegida pelo Direito brasileiro, razo pela qual em seu registro de nascimento constava apenas o nome de Maria como sendo sua me, no havendo qualquer referncia a Francisca. Apesar disso, para Carla, ela sempre teve duas mes, Maria e Francisca, que exerciam na prtica esse papel. Passados mais alguns anos, Maria e Francisca romperam a unio que mantinham e Francisca casou-se com Ricardo. Quando Francisca faleceu, Carla ingressou com ao judicial pedindo que fosse reconhecido que a falecida foi sua me socioafetiva, de forma que constasse em seu registro civil duas mes: Maria e Francisca.

    O juiz afirmou que no havia necessidade de produzir prova em audincia e, portanto, fez o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330, I, do CPC. Na sentena, o magistrado julgou improcedente o pedido da autora alegando que no ficou demonstrado nos autos que a suposta me socioafetiva teve, efetivamente, a pretenso de adotar a requerente em conjunto com a me registral.

    Para o STJ, o magistrado cometeu um erro processual, pois no era possvel, no caso concreto, julgar improcedente o pedido de reconhecimento post mortem da maternidade socioafetiva sem que houvesse sido permitida a realizao de instruo probatria. Em outras palavras, no era hiptese de julgamento antecipado da lide (art. 330, I, do CPC).

    O magistrado, ao no permitir que a autora demonstrasse os fatos alegados, promoveu cerceamento de defesa.

    Vale ressaltar que o pleito da autora para ter dupla maternidade um pedido juridicamente possvel.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.328.380-MS, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 21/10/2014 (Info 552).

    Imagine a seguinte situao adaptada: Maria e Francisca eram um casal homoafetivo. Maria registrou Carla como sua filha, sendo a criana criada por Maria e Francisca durante vrios anos, como uma famlia. Na poca em que Carla nasceu, a unio homoafetiva no era protegida pelo Direito brasileiro, razo pela qual em seu registro de nascimento constava apenas o nome de Maria como sendo sua me, no havendo qualquer referncia a Francisca. Apesar disso, para Carla, ela sempre teve duas mes, Maria e Francisca, que exerciam na prtica esse papel. Passados mais alguns anos, Maria e Francisca romperam a unio que mantinham e Francisca casou-se com

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    Ricardo. Quando Francisca faleceu, Carla ingressou com ao judicial pedindo que fosse reconhecido que a falecida foi sua me socioafetiva, de forma que constasse em seu registro civil duas mes: Maria e Francisca. Alm disso, pediu os direitos hereditrios decorrentes da morte de Francisca. Sentena O juiz afirmou que no havia necessidade de produzir prova em audincia e, portanto, fez o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330, I, do CPC. Na sentena, o magistrado julgou improcedente o pedido de Carla, alegando que no ficou demonstrado nos autos que a suposta me socioafetiva (Francisca) teve, efetivamente, a pretenso de adotar a autora em conjunto com a me registral (Maria). Alm disso, o juiz afirmou que no ficou provado que elas formavam um casal homoafetivo, como sugere a demandante, pois, posteriormente, a me registral casou-se com um homem, com quem formou ncleo familiar prprio. Agiu corretamente o magistrado? NO. Para o STJ, o juiz cometeu um erro processual, pois no era possvel, no caso concreto, julgar improcedente o pedido de reconhecimento post mortem da maternidade socioafetiva sem que houvesse sido permitida a realizao de instruo probatria. Em outras palavras, no era hiptese de julgamento antecipado da lide (art. 330, I, do CPC). O magistrado, ao no permitir que a autora demonstrasse os fatos alegados, promoveu cerceamento de defesa. Para que seja reconhecida a filiao socioafetiva, necessrio que fiquem demonstradas duas circunstncias bem definidas: a) vontade clara e inequvoca do apontado pai ou me socioafetivo de ser reconhecido(a), voluntria e juridicamente como tal (demonstrao de carinho, afeto, amor); e b) configurao da denominada posse de estado de filho, compreendido pela doutrina como a presena (no concomitante) de tractatus (tratamento, de parte parte, como pai/me e filho); nomen (a pessoa traz consigo o nome do apontado pai/me); e fama (reconhecimento pela famlia e pela comunidade de relao de filiao), que naturalmente deve apresentar-se de forma slida e duradoura. Assim, tais requisitos precisam ser provados nos autos, o que pode ser feito por qualquer meio idneo e legtimo de prova. No se pode subtrair da parte a oportunidade de comprovar suas alegaes. Ademais, cabe ressaltar que o casamento da pretensa me com um homem, em momento posterior, no significa que aquele alegado relacionamento com a me registral nunca existira e, principalmente, que no teria havido, por parte delas, a inteno conjunta de adotar a demandante, que, segundo alega e pretende demonstrar, fora criada como se filha fosse pelas referidas senhoras, mesmo depois do rompimento deste relacionamento. O pleito da autora para ter dupla maternidade um pedido juridicamente possvel? SIM, conforme j reconhecido por pelo STJ no REsp 889.852-RS, Quarta Turma, DJe 10/8/2010.

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    DIREITO DO CONSUMIDOR

    PROTEO CONTRATUAL Necessidade de informar que o cmputo da rea total do imvel residencial vendido est

    considerando tambm o tamanho da garagem

    Na compra e venda de imvel, a vaga de garagem, ainda que individualizada e de uso exclusivo do proprietrio da unidade residencial, no pode ser considerada no cmputo da rea total do imvel vendido ao consumidor caso esse fato no tenha sido exposto de forma clara na publicidade e no contrato.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.139.285-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 18/11/2014 (Info 552).

    Imagine a seguinte situao hipottica: A imobiliria XXX lanou para venda um edifcio de apartamentos residenciais. No material publicitrio, assim como no contrato, consta que o tamanho da rea total do imvel seria de 150m2. Joo comprou uma unidade mas, quando foi entregue, percebeu que o tamanho do apartamento em si era de 130m2 e os 20m2 restantes era da garagem. Em outras palavras, a imobiliria anunciou o tamanho do imvel somando com a rea da garagem, sem que isso ficasse explicitamente dito. Agiu corretamente a imobiliria? NO. Na compra e venda de imvel, a vaga de garagem, ainda que individualizada e de uso exclusivo do proprietrio da unidade residencial, no pode ser considerada no cmputo da rea total do imvel vendido ao consumidor caso esse fato no tenha sido exposto de forma clara na publicidade e no contrato. Diante da ausncia de informao clara e inequvoca de que a rea total do imvel vendido corresponde soma das reas do apartamento e da vaga de garagem, h violao ao princpio da transparncia, que preside toda e qualquer relao de consumo. Ademais, segundo observou o Ministro Relator, a praxe do mercado imobilirio brasileiro a de que, quando as construtoras e incorporadoras de imveis oferecem seus apartamentos para venda, a rea do imvel mencionada nos panfletos publicitrios sempre a rea do apartamento em si, e no a soma de tal rea com a da vaga de garagem, ainda que se saiba que esta privativa e caracterizada como unidade autnoma. Pode-se at admitir que a construtora ou incorporadora veicule anncio publicitrio informando como rea total do imvel a soma das reas do apartamento e da vaga de garagem. Isso pode ocorrer, por exemplo, em situaes em que o imvel possui vrias vagas, o que as torna um atrativo especfico para o negcio. Mas nesses casos ser, sempre, absolutamente imprescindvel, que a publicidade seja clara e inequvoca, de modo que os consumidores destinatrios no tenham nenhuma dvida quanto ao fato de que o apartamento, em si, possui rea menor do que aquela rea total anunciada. Trata-se de aplicao do princpio da informao ou transparncia, de especial importncia no mbito das relaes consumeristas.

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    DIREITO EMPRESARIAL

    CDULAS DE CRDITO RURAL Possibilidade de aval

    (Obs.: esse assunto cobrado em pouqussimos concursos; verifique se o edital exige a matria)

    Admite-se o aval nas cdulas de crdito rural. A vedao contida no 3 do art. 60 do Decreto-Lei 167/1967 (so nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas pessoas fsicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurdicas) no aplicvel s cdulas de crdito rural.

    Essa proibio do 3 do art. 60 s vale para notas e duplicatas rurais.

    STJ. 1 Turma. REsp 1.483.853-MS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 4/11/2014 (Info 552).

    CDULAS DE CRDITO RURAL TTULOS RURAIS Existem alguns ttulos de crdito que so gerais e mais conhecidos, como o caso da letra de cmbio, duplicata, cheque etc. No entanto, a experincia mostrou que seria interessante que fossem criados ttulos de crdito com caractersticas especficas, para facilitar as negociaes envolvendo determinados setores da economia. Em suma, verificou-se a necessidade de se criar ttulos de crdito especficos para algumas transaes empresariais. No caso da atividade rural, por exemplo, foram idealizados quatro ttulos de crdito especficos, chamados de ttulos rurais. So eles: a) cdula de crdito rural; b) cdulas de produto rural; c) nota promissria rural; d) duplicata rural. CDULA DE CRDITO RURAL Em que consiste? A cdula de crdito rural uma promessa de pagamento em dinheiro, sem ou com garantia real cedularmente constituda, sendo regulamentada pelo Decreto-Lei 167/67. Existem as seguintes modalidades de cdulas de crdito rural: I cdula Rural Pignoratcia; II cdula Rural Hipotecria; III cdula Rural Pignoratcia e Hipotecria; IV nota de Crdito Rural. possvel que haja aval em cdula de crdito rural? SIM. Admite-se o aval nas cdulas de crdito rural. A vedao contida no 3 do art. 60 do Decreto-Lei 167/1967 (so nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas pessoas fsicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurdicas) no aplicvel s cdulas de crdito rural. Essa proibio do 3 do art. 60 s vale para notas e duplicatas rurais.

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    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    COMPETNCIA Competncia para processar e julgar ao de divrcio quando o marido for incapaz

    Importante!!!

    Compete ao foro do domiclio do representante do marido interditado por deficincia mental e no ao foro da residncia de sua esposa capaz e produtiva processar e julgar ao de divrcio direto litigioso, independentemente da posio que o incapaz ocupe na relao processual (autor ou ru).

    No confronto entre o art. 100, I, do CPC (que prev o foro do domiclio da mulher) e o art. 98 (que preconiza o foro do domiclio do representante do incapaz), dever prevalecer este ltimo em virtude de o incapaz apresentar maior fragilidade, necessitando, portanto, de uma maior proteo.

    STJ. 4 Turma. REsp 875.612-MG, Rel. Min. Raul Arajo, julgado em 4/9/2014 (Info 552).

    Imagine a seguinte situao hipottica: Joo e Maria so casados e desejam se divorciar. H cerca de um ano eles j no vivem mais sob o mesmo teto. Joo est morando no Rio de Janeiro e Maria em So Paulo. Vale ressaltar que Joo foi recentemente interditado por deficincia mental, sendo escolhido seu irmo como representante do interditado, j que eles esto morando juntos. Joo, por meio de seu representante, ir ajuizar ao de divrcio contra Maria. Qual ser o foro competente para julgar essa ao: Rio de Janeiro ou So Paulo? Rio de Janeiro, por ser este o foro do domiclio do representante de Joo. Em aes de divrcio, a mulher goza da prerrogativa de a demanda ter que ser proposta em seu domiclio. Confira o que diz o CPC:

    Art. 100. competente o foro: I - da residncia da mulher, para a ao de separao dos cnjuges e a converso desta em divrcio, e para a anulao de casamento;

    Ocorre que a pessoa incapaz tambm possui a prerrogativa de litigar em seu prprio domiclio. Veja:

    Art. 98. A ao em que o incapaz for ru se processar no foro do domiclio de seu representante.

    Diante do confronto entre esses dois dispositivos, deve preponderar a regra que privilegia o incapaz, em virtude de apresentar maior fragilidade, necessitando, portanto, de uma maior facilidade para acompanhar a tramitao processual. Isso se torna ainda mais evidente em se tratando de uma ao de divrcio, em que o delicado direito material a ser discutido pode envolver ntimos sentimentos e relevantes aspectos patrimoniais. No h dvidas de que para o incapaz e seu representante ser mais fcil litigar no foro do domiclio deste (Rio de Janeiro) do que se deslocarem para outra comarca, o que dificultaria a defesa dos interesses do representado. A prevalncia da norma do art. 98 do CPC, por seu turno, no trar grandes transtornos para a demandada, por ser pessoa apta e produtiva.

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    Mas o art. 98 fala em aes em que o incapaz for ru e nesse caso foi ele quem props a demanda... No importa. Segundo decidiu o STJ, a melhor interpretao do art. 98 aquela que no faz distino entre a posio processual do incapaz. Em outras palavras, seja ele autor ou ru, em qualquer ao, sempre necessitar de proteo, de amparo, de facilitao da defesa dos seus interesses. Logo, seja na qualidade de autor ou de ru, o foro competente ser o do domiclio de seu representante.

    EXECUO Penhora diretamente sobre bens do esplio

    Em ao de execuo de dvida contrada pessoalmente pelo autor da herana, a penhora pode ocorrer diretamente sobre os bens do esplio, em vez de no rosto dos autos do inventrio.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.318.506-RS, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 18/11/2014 (Info 552).

    Imagine a seguinte situao adaptada: Pedro ajuizou uma execuo contra Joo cobrando-lhe R$ 50 mil. Ocorre que Joo faleceu, mas deixou vrios bens como herana. Foi aberto um processo de inventrio em relao aos bens deixados por Joo. O juiz da execuo, para angariar recursos para pagar Pedro, poder penhorar diretamente os bens deixados por Joo ou precisar pedir do juiz do inventrio a penhora no rosto dos autos? A penhora poder ocorrer diretamente sobre os bens do esplio. No necessrio que haja penhora no rosto dos autos do inventrio. Segundo o art. 597 do CPC e o art. 1.997 do CC, o esplio responde pelas dvidas do falecido. Logo, como ainda no houve a partilha dos bens deixados pelo falecido, o juiz da execuo poder determinar a penhora desse patrimnio. Se j tivesse havido a partilha, nesse caso a execuo teria que ser proposta contra os herdeiros que iriam ser chamados a responder dentro das foras do seu quinho. Assim, em se tratando de dvida que foi contrada pessoalmente pelo autor da herana, pode a penhora ocorrer diretamente sobre os bens do esplio. E se o devedor (executado) fosse um dos herdeiros? O juiz da execuo poderia penhorar diretamente os bens deixados pelo falecido e que, em tese, seriam transferidos ao herdeiro? NO. Se um dos herdeiros estivesse sendo executado, nesse caso o juiz da execuo deveria pedir ao juiz do inventrio a penhora nos autos deste processo. Isso porque enquanto no for feita a partilha, o bem no do herdeiro. Logo, essa penhora no rosto dos autos do inventrio seria apenas para garantir o direito do credor (exequente) na futura partilha e em eventuais bens que coubessem ao herdeiro devedor.

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    FRAUDE EXECUO Requisitos para o reconhecimento da fraude execuo

    Importante!!!

    O STJ, apreciando o tema sob o regime do recurso repetitivo, definiu as seguintes teses sobre fraude execuo:

    1) Em regra, para que haja fraude execuo, indispensvel que tenha havido a citao vlida do devedor.

    2) Mesmo sem citao vlida, haver fraude execuo se, quando o devedor alienou ou onerou o bem, o credor j havia realizado a averbao da execuo nos registros pblicos (art. 615-A do CPC). Presume-se em fraude de execuo a alienao ou onerao de bens realizada aps essa averbao ( 3 do art. 615-A do CPC).

    3) Persiste vlida a Smula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execuo depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de m-f do terceiro adquirente.

    4) A presuno de boa-f princpio geral de direito universalmente aceito, devendo ser respeitado a parmia (ditado) milenar que diz o seguinte: a boa-f se presume, a m-f se prova.

    5) Assim, no havendo registro da penhora na matrcula do imvel, do credor o nus de provar que o terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante insolvncia (art. 659, 4, do CPC).

    STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originria Min. Nancy Andrighi, Rel. para acrdo Min. Joo Otvio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

    NOES INTRODUTRIAS Princpio da responsabilidade patrimonial No processo de execuo, vigora, em regra, o princpio da responsabilidade patrimonial, segundo o qual o dbito ser quitado com o patrimnio do devedor. Assim, com exceo da prestao alimentcia, o devedor no responde com seu corpo ou sua liberdade pelas dvidas que tenha. Esses dbitos so adimplidos com o patrimnio que o devedor possua ou venha a possuir. Se no tiver patrimnio, o dbito no pago. Tal princpio encontra-se previsto no CPC:

    Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigaes, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restries estabelecidas em lei.

    Alienaes fraudulentas feitas pelo devedor para fugir da responsabilidade patrimonial Se o dbito somente pode ser quitado com o patrimnio do devedor, podemos imaginar que, em alguns casos, a pessoa se desfaa de seus bens (verdadeiramente ou de maneira simulada) apenas para no pagar a dvida. Alienando seu patrimnio, o devedor torna-se insolvente e no haver mais meio de os credores obterem a satisfao do crdito. Obs.: devedor insolvente aquele cujo patrimnio passivo (dvidas) maior que o ativo (bens). A legislao prev trs formas de se combater essa prtica (fraude do devedor). Fraude do devedor (alienao fraudulenta) A legislao prev trs espcies de fraude do devedor (alienaes fraudulentas) e as formas de combat-las: a) fraude contra credores;

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    b) fraude execuo; c) alienao de bem penhorado. Vamos tratar aqui apenas da segunda espcie: fraude execuo. FRAUDE EXECUO Conceito Fraude execuo consiste no ato do devedor de alienar ou gravar com nus real (ex.: dar em hipoteca) um bem que lhe pertence, em uma das situaes previstas nos incisos do art. 593 do CPC. A fraude contra a execuo, alm de causar prejuzo ao credor, configura ato atentatrio dignidade da Justia (art. 600, I, do CPC). Hipteses em que h fraude execuo segundo o CPC:

    Art. 593. Considera-se em fraude de execuo a alienao ou onerao de bens: I - quando sobre eles pender ao fundada em direito real; II - quando, ao tempo da alienao ou onerao, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo insolvncia; III - nos demais casos expressos em lei.

    Se o devedor alienou ou gravou com nus real determinado bem praticando fraude execuo, esse bem continua respondendo pela dvida e poder ser executado (poder ser expropriado pelo credor) (art. 592, V, do CPC). possvel que ocorra fraude execuo se a alienao ou onerao ocorreu antes que a execuo tenha sido proposta? NO. Para que ocorra a fraude execuo, necessrio que a execuo tenha sido ao menos ajuizada. possvel que ocorra fraude execuo se a alienao ou onerao ocorreu antes que o executado tenha sido citado? Em regra NO. Em regra, para que haja fraude execuo, indispensvel que a alienao ou onerao tenham acontecido aps o devedor ter sido citado. Isso porque, para que haja fraude, necessrio que o devedor soubesse que estava sendo executado quando alienou ou onerou o bem. Quando o devedor citado, existe a certeza de que a partir daquele momento ele tem conscincia da existncia do processo. Logo, se o devedor vender ou onerar o bem depois de a execuo ter sido ajuizada, mas antes de ele ser citado, em regra, no haver fraude execuo. Por que se falou em regra? possvel que se reconhea a fraude execuo se o devedor vendeu ou onerou o bem mesmo antes de ser citado? SIM. Existe uma situao em que ser possvel reconhecer a fraude execuo quando o devedor alienou ou onerou o bem aps o ajuizamento, mas antes de ser citado. Isso ocorre quando o exequente fez a averbao da execuo nos registros pblicos (art. 615-A do CPC). Vamos abrir um parntese para explicar em que consiste essa averbao e depois voltamos fraude execuo. Parntese: averbao da execuo como instrumento para evitar a fraude execuo Em 2006, o legislador acrescentou o art. 615-A ao CPC prevendo um instrumento para tentar evitar a fraude execuo. Esse artigo permite que o exequente faa a averbao do ajuizamento da execuo em registro pblico de bens sujeitos penhora ou arresto.

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    Explicando em simples palavras:

    Logo aps dar entrada na execuo, o credor pode obter uma certido no frum declarando que ele ajuizou uma execuo contra Fulano (devedor) cobrando determinada quantia.

    Em seguida, o exequente vai at os registros pblicos onde possa haver bens do devedor l registrados (exs.: registro de imveis, DETRAN, registro de embarcaes na capitania dos portos) e pede para que seja feita a averbao (uma espcie de anotao/observao feita no registro) da existncia dessa execuo contra o proprietrio daquele bem.

    Assim, se algum for consultar a situao daquele bem, haver uma averbao (anotao) de que existe uma execuo contra o proprietrio.

    Essa providncia serve como um aviso ao devedor e um alerta para a pessoa que eventualmente quiser adquirir a coisa, j que eles, ao consultarem a situao do bem, sabero que existe uma execuo contra o alienante e que aquele bem no pode ser vendido, sob pena de se caracterizar a fraude execuo.

    Se o devedor alienar ou onerar o bem aps o credor ter feito a averbao, essa alienao ou onerao ineficaz (no produz efeitos) porque haver uma presuno absoluta de que ocorreu fraude execuo.

    Leia a ntegra do art. 615-A do CPC, que tem muitas informaes importantes sobre o tema:

    Art. 615-A. O exequente poder, no ato da distribuio, obter certido comprobatria do ajuizamento da execuo, com identificao das partes e valor da causa, para fins de averbao no registro de imveis, registro de veculos ou registro de outros bens sujeitos penhora ou arresto. 1 O exequente dever comunicar ao juzo as averbaes efetivadas, no prazo de 10 (dez) dias de sua concretizao. 2 Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dvida, ser determinado o cancelamento das averbaes de que trata este artigo relativas queles que no tenham sido penhorados. 3 Presume-se em fraude execuo a alienao ou onerao de bens efetuada aps a averbao (art. 593). 4 O exequente que promover averbao manifestamente indevida indenizar a parte contrria, nos termos do 2 do art. 18 desta Lei, processando-se o incidente em autos apartados. 5 Os tribunais podero expedir instrues sobre o cumprimento deste artigo.

    Fechando o parntese e voltando a tratar especificamente sobre a fraude: Regra geral: para que haja fraude execuo, indispensvel que tenha havido a citao vlida do devedor. Exceo: mesmo sem citao vlida, haver fraude execuo se, quando o devedor alienou ou onerou o bem, o credor j havia realizado a averbao da execuo nos registros pblicos (art. 615-A do CPC). Presume-se em fraude de execuo a alienao ou onerao de bens realizada aps essa averbao ( 3 do art. 615-A). Se o credor perceber que o devedor, mesmo aps ter sido proposta a execuo, procedeu alienao ou onerao de bens, precisar ajuizar uma ao para provar que houve a fraude execuo? NO. Basta que o credor lesado apresente uma petio ao juzo onde tramita a execuo pedindo que seja reconhecida a fraude execuo e declarada a ineficcia do ato de disposio (alienao ou onerao). Ateno: o ato praticado em fraude execuo um ato vlido, mas ineficaz perante o credor (reconhecida a fraude execuo, o juiz decretar a ineficcia da alienao). Como fica a situao da pessoa que adquiriu o bem alienado (chamado de terceiro)? Esse terceiro perder o bem? Como proteg-lo? Ao mesmo tempo que se deve evitar a fraude execuo, tambm necessrio que se proteja o terceiro de boa-f. Pensando nisso, o STJ firmou o entendimento de que somente ser possvel reconhecer a fraude execuo se:

    ficar provado a m-f do terceiro adquirente; ou

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    se no momento da alienao, o bem vendido j estava penhorado na execuo e essa penhora estava registrada no cartrio de imveis ( 4 do art. 659).

    A fim de que no houvesse mais polmica, essa posio foi sumulada pelo STJ. Veja:

    Smula 375-STJ: O reconhecimento da fraude execuo depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de m-f do terceiro adquirente.

    De quem o nus de provar que o terceiro adquirente estava de m-f? Do credor (exequente). Em regra, a boa-f se presume, a m-f se prova. Logo, apesar de ser um trabalho difcil, o credor quem dever trazer aos autos provas ou indcios de que o terceiro adquirente estava de m-f quando adquiriu o bem. O que o registro da penhora? o mesmo que a averbao do art. 615-A que vimos acima? NO. O registro da penhora uma coisa e a averbao do art. 615-A do CPC outra completamente diversa. Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utiliz-los, direta ou indiretamente, na satisfao do crdito executado. A penhora ocorre depois que j existe execuo em curso e o executado j foi citado e no pagou. Aps ser realizada a penhora, o exequente, para se resguardar ainda mais, pode pegar, na Secretaria da Vara onde tramita a execuo, uma certido de inteiro teor narrando que foi realizada a penhora sobre determinado bem. Aps, de posse dessa certido, ele poder ir at o cartrio de registro de imveis e pedir que seja feita a averbao da penhora. Isso est previsto no 4 do art. 659 do CPC. Caso faa a averbao, ela ir gerar uma presuno absoluta de que todas as pessoas sabem que esse bem est penhorado. Logo, se algum adquirir o bem, tal pessoa ser considerada terceiro de m-f e essa venda no ser eficaz. Em outras palavras, o terceiro, mesmo tendo pago o preo, perder a coisa, porque adquiriu bem cuja penhora estava registrada. Leia novamente a smula 375-STJ e veja se agora ficou mais clara:

    Smula 375-STJ: O reconhecimento da fraude execuo depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de m-f do terceiro adquirente.

    Crtica Smula 375-STJ De forma muito rpida, para no complicar ainda mais esse tema, que difcil, deve-se alertar para o fato de que alguns doutrinadores criticam esse enunciado porque ele confunde o instituto da fraude execuo com a alienao de bem penhorado. Para a doutrina, quando o executado vende um bem seu que est penhorado, ele no comete fraude execuo, mas sim um ato fraudulento ainda mais grave e atentatrio jurisdio, chamado de alienao de bem penhorado. A Smula confunde os institutos no seguinte trecho: O reconhecimento da fraude execuo depende do registro da penhora do bem alienado. Repetindo: para a doutrina, alienar bem penhorado um outro vcio (mais grave). Cuidado: na grande maioria das provas, fique com o entendimento exposto na smula. Somente discorra sobre essa crtica da doutrina se voc for expressamente perguntado sobre isso. Caso contrrio, no necessrio entrar nessa celeuma. Teses definidas pelo STJ O STJ, apreciando o tema sob o regime do recurso repetitivo, reafirmou os entendimentos acima expostos e definiu as seguintes teses: 1) Em regra, para que haja fraude execuo, indispensvel que tenha havido a citao vlida do

    devedor.

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    2) Mesmo sem citao vlida, haver fraude execuo se, quando o devedor alienou ou onerou o bem, o credor j havia realizado a averbao da execuo nos registros pblicos (art. 615-A do CPC). Presume-se em fraude de execuo a alienao ou onerao de bens realizada aps essa averbao ( 3 do art. 615-A do CPC).

    3) Persiste vlida a Smula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execuo depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de m-f do terceiro adquirente.

    4) A presuno de boa-f princpio geral de direito universalmente aceito, devendo ser respeitada a parmia (ditado) milenar que diz o seguinte: a boa-f se presume, a m-f se prova.

    5) Assim, no havendo registro da penhora na matrcula do imvel, do credor o nus de provar que o terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante insolvncia (art. 659, 4, do CPC).

    EXECUO FISCAL Requisitos para a decretao de indisponibilidade de bens e direitos na execuo fiscal

    Importante!!!

    O art. 185-A do CTN prev a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade dos bens e direitos do devedor tributrio na execuo fiscal.

    Vale ressaltar, no entanto, que a indisponibilidade de que trata o art. 185-A do CTN s pode ser decretada se forem preenchidos trs requisitos:

    1) deve ter havido prvia citao do devedor;

    2) o executado deve no ter pago a dvida nem apresentado bens penhora no prazo legal;

    3) no terem sido localizados bens penhorveis do executado mesmo aps a Fazenda Pblica esgotar as diligncias nesse sentido.

    Obs.: para que a Fazenda Pblica prove que esgotou todas as diligncias na tentativa de achar bens do devedor, basta que ela tenha adotado duas providncias:

    a) pedido de acionamento do Bacen Jud (penhora on line) e consequente determinao pelo magistrado;

    b) expedio de ofcios aos registros pblicos do domiclio do executado e ao Departamento Nacional ou Estadual de Trnsito - DENATRAN ou DETRAN.

    STJ. 1 Seo. REsp 1.377.507-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

    Indisponibilidade de bens e direitos na execuo fiscal Na execuo fiscal, a Fazenda Pblica dispe de um poderoso instrumento para tentar cobrar seu crdito. Trata-se do pedido de indisponibilidade dos bens e direitos do devedor, providncia prevista no art. 185-A do CTN:

    Art. 185-A. Na hiptese de o devedor tributrio, devidamente citado, no pagar nem apresentar bens penhora no prazo legal e no forem encontrados bens penhorveis, o juiz determinar a indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a deciso, preferencialmente por meio eletrnico, aos rgos e entidades que promovem registros de transferncia de bens, especialmente ao registro pblico de imveis e s autoridades supervisoras do mercado bancrio e do mercado de capitais, a fim de que, no mbito de suas atribuies, faam cumprir a ordem judicial.

    O art. 185-A do CTN mais amplo e mais invasivo ao patrimnio do devedor do que a mera penhora on line disciplinada pelo CPC. Isso porque o art. 185-A do CTN prev a indisponibilidade universal dos bens e direitos do executado. Como pontua o STJ:

  • Informativo 552-STJ (17/12/2014) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 25

    O bloqueio universal e bens e de direitos, previsto no art. 185-A do CTN, no se confunde com a penhora de dinheiro aplicado em instituies financeiras, por meio do sistema Bacen Jud, disciplinada no art. 655-A do CPC (redao conferida pela Lei 11.382/2006). (STJ. 2 Turma. AgRg no Ag 1164948/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 02/02/2011)

    Requisitos Por ser uma medida muito grave, a indisponibilidade de que trata o art. 185-A do CTN s pode ser decretada se forem preenchidos trs requisitos que podem ser extrados da prpria redao do dispositivo. So eles:

    1) Citao do devedor A indisponibilidade s pode ser decretada se o executado j foi citado (devidamente citado). 2) Inexistncia de pagamento ou apresentao de bens penhora no prazo legal O art. 185-A afirma que somente poder ser determinada a indisponibilidade se o devedor, aps ser citado, no pagar nem apresentar bens penhora no prazo legal. 3) No localizao de bens penhorveis mesmo aps a Fazenda Pblica esgotar as diligncias nesse sentido A indisponibilidade s pode ser decretada se a Fazenda Pblica provar que providenciou o esgotamento das diligncias para achar bens do devedor e, mesmo assim, no teve xito. Segundo o STJ, para que a Fazenda Pblica prove que esgotou todas as diligncias na tentativa de achar bens do devedor, basta que ela tenha adotado duas providncias: a) pedido de acionamento do Bacen Jud (penhora on line) e consequente determinao pelo

    magistrado; b) expedio de ofcios aos registros pblicos do domiclio do executado e ao Departamento Nacional ou

    Estadual de Trnsito - DENATRAN ou DETRAN. Repare na letra b que basta que a Fazenda Pblica tenha feito pesquisas de bens nos registros pblicos localizados no domiclio do executado (cartrios existentes na cidade do devedor). Assim, no se exige que a Fazenda Pblica realize busca em todos os registros de imveis do Pas, por exemplo.

    PROCESSO COLETIVO MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de muturios do SFH

    O Ministrio Pblico tem legitimidade ad causam para propor ao civil pblica com a finalidade de defender interesses coletivos e individuais homogneos dos muturios do Sistema Financeiro da Habitao.

    O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem expresso para a coletividade e que o interesse em discusso socialmente relevante.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originrio Min. Sidnei Beneti, Rel. para acrdo Min. Joo Otvio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

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    PROCESSO COLETIVO Eficcia subjetiva da ACP e art. 16 da Lei 7.347/85

    Tema polmico!

    O art. 16 da LACP (Lei 7.347/1985), que restringe o alcance subjetivo de sentena civil aos limites da competncia territorial do rgo prolator, tem aplicabilidade nas aes civis pblicas que envolvam direitos individuais homogneos. Ressalte-se, no entanto, que se trata de tema ainda polmico, havendo decises em sentido contrrio.

    Imagine agora que o juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais homogneos e este processo chegou at o STJ, por meio de recurso especial. Aps o STJ decidir o recurso, os efeitos dessa deciso sero nacionais?

    NO. O simples fato de a causa ter sido submetida apreciao do STJ, por meio de recurso especial, no faz com que os efeitos da sentena prolatada na ACP passem a ter alcance nacional. Assim, os efeitos da ACP continuariam restritos aos limites da competncia territorial do juiz prolator da sentena. Ex.: se a sentena foi proferida por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da deciso somente valero para os titulares dos direitos individuais homogneos de Limeira (SP), mesmo tendo o STJ confirmado a sentena.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originrio Min. Sidnei Beneti, Rel. para acrdo Min. Joo Otvio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

    Falar em eficcia subjetiva significa estudarmos para quem a sentena proferida na ACP produz efeitos, isto , as pessoas que so atingidas juridicamente pelo que foi decidido.

    O art. 16 da Lei de Ao Civil Pblica (Lei n. 7.347/85) estabelece o seguinte:

    Art. 16. A sentena civil far coisa julgada erga omnes, nos limites da competncia territorial do rgo prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficincia de provas, hiptese em que qualquer legitimado poder intentar outra ao com idntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redao dada pela Lei n 9.494/97)

    Esse artigo foi alterado pela Lei n. 9.494/97, com o objetivo de restringir a eficcia subjetiva da coisa julgada, ou seja, ele determinou que a coisa julgada na ACP produza efeitos apenas dentro dos limites territoriais do juzo que prolatou a sentena. A doutrina critica bastante a existncia do art. 16 e afirma que ele no deve ser aplicado por ser inconstitucional, impertinente e ineficaz. Resumo das principais crticas ao dispositivo (DIDIER, Fredie; ZANETI, Hermes): Gera prejuzo economia processual e pode ocasionar decises contraditrias entre julgados

    proferidos em Municpios ou Estados diferentes; viola o princpio da igualdade por tratar de forma diversa os brasileiros (para uns ir valer a deciso,

    para outros no); os direitos coletivos lato sensu so indivisveis, de forma que no h sentido que a deciso que os

    define seja separada por territrio; a redao do dispositivo mistura competncia com eficcia da deciso, que so conceitos

    diferentes. O legislador confundiu coisa julgada e eficcia da sentena; o art. 93 do CDC, que se aplica tambm LACP, traz regra diversa, j que prev que, em caso de danos

    nacional ou regional, a competncia para a ao ser do foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal, o que indica que essa deciso valeria, no mnimo, para todo o Estado/DF.

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    Interessante tambm transcrever trecho do voto do brilhante Min. Luis Felipe Salomo, no REsp 1.243.887PR (STJ. Corte Especial, julgado em 19/10/2011): A bem da verdade, o art. 16 da LACP baralha conceitos heterogneos - como coisa julgada e competncia territorial - e induz a interpretao, para os mais apressados, no sentido de que os "efeitos" ou a "eficcia" da sentena podem ser limitados territorialmente, quando se sabe, a mais no poder, que coisa julgada - a despeito da atecnia do art. 467 do CPC - no "efeito" ou "eficcia" da sentena, mas qualidade que a ela se agrega de modo a torn-la "imutvel e indiscutvel". certo tambm que a competncia territorial limita o exerccio da jurisdio e no os efeitos ou a eficcia da sentena, os quais, como de conhecimento comum, correlacionam-se com os "limites da lide e das questes decididas" (art. 468, CPC) e com as que o poderiam ter sido (art. 474, CPC) - tantum judicatum, quantum disputatum vel disputari debebat. A apontada limitao territorial dos efeitos da sentena no ocorre nem no processo singular, e tambm, como mais razo, no pode ocorrer no processo coletivo, sob pena de desnaturao desse salutar mecanismo de soluo plural das lides. A prosperar tese contrria, um contrato declarado nulo pela justia estadual de So Paulo, por exemplo, poderia ser considerado vlido no Paran; a sentena que determina a reintegrao de posse de um imvel que se estende a territrio de mais de uma unidade federativa (art. 107, CPC) no teria eficcia em relao a parte dele; ou uma sentena de divrcio proferida em Braslia poderia no valer para o judicirio mineiro, de modo que ali as partes pudessem ser consideradas ainda casadas, solues, todas elas, teratolgicas. A questo principal, portanto, de alcance objetivo ("o que" se decidiu) e subjetivo (em relao "a quem" se decidiu), mas no de competncia territorial. Para o STJ, o art. 16 da LACP vlido? Trata-se de tema polmico. Podemos encontrar no STJ julgados defendendo dois entendimentos diferentes: 1 corrente: o art. 16 da LACP NO vlido. Assim, os efeitos e a eficcia da sentena prolatada em ao civil coletiva no esto circunscritos a lindes geogrficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido (STJ. Corte Especial. REsp 1.243.887PR, Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 19/10/2011) (STJ. 3 Turma. AgRg no REsp 1326477/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/09/2012). (STJ. 2 Turma. REsp 1.377.400-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 18/2/2014. Info 536). 2 corrente: o art. 16 da LACP vlido, porm, s se aplica a aes civis pblicas que envolvam direitos individuais homogneos. Logo, esse art. 16 no vale para ACPs que tratem sobre direitos difusos e coletivos stricto sensu (STJ. 3 Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originrio Min. Sidnei Beneti, Rel. para acrdo Min. Joo Otvio de Noronha, julgado em 7/10/2014). Para essa segunda corrente, o art. 16 da LACP somente se aplica aos direitos individuais homogneos porque estes podem ser divididos, ou seja, o tratamento pode ser diferente para cada um dos titulares. Por outro lado, os direitos difusos e coletivos stricto sensu so indivisveis, de forma que no h lgica em algum dizer que uma deciso envolvendo o meio ambiente, por exemplo (direito difuso), ir valer apenas para determinados limites territoriais. De igual forma, se uma sentena determina a uma empresa que retire do mercado determinado produto considerado lesivo sade dos consumidores isso ir beneficiar beneficiar, de forma indistinta, todo o universo de consumidores que poderiam vir a consumi-lo, onde quer que se encontrem. interessante destacar duas observaes feitas pelo Min. Joo Otvio de Noronha para defender seu entendimento: i) o STF negou a medida cautelar para declarar o art. 16 inconstitucional (ADI 1576 MC); ii)

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    ao contrrio do que se comumente afirma, a invalidade do art. 16 da LACP ainda no foi assentada pela Corte Especial, considerando que no julgamento do REsp 1.243.887PR, a concluso de que esse dispositivo no poderia ser aplicado foi mero obiter dictum feito pelo Min. Luis Felipe Salomo, no tendo integrado a deciso. Imagine que se adote a 2 corrente. O juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais homogneos e este processo chegou at o STJ, por meio de recurso especial. Aps o STJ decidir o recurso, os efeitos dessa deciso sero nacionais pelo fato de STJ abranger todo o pas? NO. O simples fato de a causa ter sido submetida apreciao do STJ, por meio de recurso especial, no faz com que os efeitos da sentena prolatada na ACP passem a ter alcance nacional. O efeito substitutivo do art. 512 do CPC, decorrente do exame meritrio do recurso especial, no tem o condo de modificar os limites subjetivos da causa. Caso se entendesse de modo contrrio, estar-se-ia criando um novo interesse recursal, o que levaria a parte vencedora na sentena civil a recorrer at o STJ apenas para alcanar abrangncia nacional. Assim, os efeitos da ACP continuam restritos aos limites da competncia territorial do juiz prolator da sentena. Ex.: se a sentena foi proferida por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da deciso somente valero para os titulares dos direitos individuais homogneos de Limeira (SP), mesmo tendo o STJ confirmado a sentena. Resumindo o que foi decidido: O art. 16 da LACP (Lei 7.347/1985), que restringe o alcance subjetivo de sentena civil aos limites da competncia territorial do rgo prolator, tem aplicabilidade nas aes civis pblicas que envolvam direitos individuais homogneos. Ressalte-se, no entanto, que se trata de tema ainda polmico, havendo decises em sentido contrrio, conforme vimos acima. Imagine agora que o juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais homogneos e este processo chegou at o STJ, por meio de recurso especial. Aps o STJ decidir o recurso, os efeitos dessa deciso sero nacionais? NO. O simples fato de a causa ter sido submetida apreciao do STJ, por meio de recurso especial, no faz com que os efeitos da sentena prolatada na ACP passem a ter alcance nacional. Assim, os efeitos da ACP continuariam restritos aos limites da competncia territorial do juiz prolator da sentena. Ex.: se a sentena foi proferida por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da deciso somente valero para os titulares dos direitos individuais homogneos de Limeira (SP), mesmo tendo o STJ confirmado a sentena. STJ. 3 Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originrio Min. Sidnei Beneti, Rel. para acrdo Min. Joo Otvio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

    PROCESSO COLETIVO Eficcia subjetiva em caso de ACP proposta pelo MP no Distrito Federal com a participao de

    entidades de mbito nacional

    Tem abrangncia nacional a eficcia da coisa julgada decorrente de ao civil pblica ajuizada pelo Ministrio Pblico, com assistncia de entidades de classe de mbito nacional, perante a Seo Judiciria do Distrito Federal, e sendo o rgo prolator da deciso final de procedncia o STJ. o que se extrai da inteligncia dos arts. 16 da LACP, 93, II, e 103, III, do CDC.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.319.232-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2014 (Info 552).

    Logo aps a deciso acima explicada (REsp 1.114.035-PR), a 3 Turma do STJ deparou-se com o seguinte caso concreto:

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    O MPF ajuizou, na seo judiciria do Distrito Federal, ao civil pblica contra a Unio, o Banco Central e o Banco do Brasil. Na ao, intervieram, como assistentes do autor, algumas entidades de classe de mbito nacional. A lide proposta pelo MPF versava sobre direitos individuais homogneos. O juiz julgou procedente o pedido e, aps passar pelo TRF, a questo chegou, por meio de recurso especial, at o STJ. Primeiro ponto enfrentado no recurso: o art. 16 da LACP vlido? SIM. A 3 Turma reafirmou expressamente o entendimento exposto no REsp 1.114.035-PR (2 corrente. Assim, neste julgado ficou claro que a 3 Turma do STJ entende que o art. 16 da LACP deve ser aplicado nas aes civis pblicas que envolvam direitos individuais homogneos (no se aplica para direitos difusos e coletivos em sentido estrito). Segundo ponto: o STJ confirmou a sentena de procedncia. Qual a abrangncia dos efeitos dessa deciso? Qual a sua eficcia subjetiva? Tendo em conta as peculiaridades envolvendo o caso concreto, a 3 Turma do STJ entendeu que essa deciso tem eficcia nacional. Segundo ficou decidido, tem abrangncia nacional a eficcia da coisa julgada decorrente de ao civil pblica ajuizada pelo Ministrio Pblico, com assistncia de entidades de classe de mbito nacional, perante a Seo Judiciria do Distrito Federal, e sendo o rgo prolator da deciso final de procedncia o STJ. STJ. 3 Turma. REsp 1.319.232-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2014. Este julgado (REsp 1.319.232-DF) contrariou o precedente estudado anteriormente (REsp 1.114.035-PR)? Em tese, NO. Neste julgado (REsp 1.319.232-DF), o Min. Paulo de Tarso Sanseverino concorda e menciona expressamente a deciso proferida no julgado anterior (REsp 1.114.035-PR), no entanto, diante das peculiaridades do caso concreto (ter sido a ao proposta contra a Unio, no Distrito Federal e contendo a participao de entidades de carter nacional), a eficcia da coisa julgada dever ter abrangncia nacional. Reconheo que tudo isso parece ser contraditrio, mas at que haja uma definio mais segura sobre o tema, preciso que voc guarde as diferenas entre os casos concretos porque isso pode ser cobrado exatamente dessa forma nas provas. Havendo alguma definio sobre o assunto, voc ser avisado no site.

    DIREITO PENAL

    APLICAO DA PENA Aumento da pena-base pelo fato de a corrupo passiva ter sido praticada por Promotor de Justia

    O fato de o crime de corrupo passiva ter sido praticado por Promotor de Justia no exerccio de suas atribuies institucionais pode configurar circunstncia judicial desfavorvel na dosimetria da pena. Isso porque esse fato revela maior grau de reprovabilidade da conduta, a justificar o reconhecimento da acentuada culpabilidade, dadas as especficas atribuies do promotor de justia, as quais so distintas e incomuns se equiparadas aos demais servidores pblicos latu sensu.

    STJ. 5 Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info 552).

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    Imagine a seguinte situao adaptada: Determinado Promotor de Justia foi condenado pelo Tribunal de Justia pela prtica de corrupo passiva (art. 317 do CP). No momento da dosimetria, na 1 fase (circunstncias judiciais), o Tribunal aumentou a pena-base sob o argumento de que havia acentuada culpabilidade, j que o delito foi cometido por quem deveria ser o fiscal da lei. Essa argumentao utilizada para aumentar a pena vlida? SIM. O fato de o crime de corrupo passiva ter sido praticado por Promotor de Justia no exerccio de suas atribuies institucionais pode configurar circunstncia judicial desfavorvel na dosimetria da pena. Isso porque esse fato revela maior grau de reprovabilidade da conduta, a justificar o reconhecimento da acentuada culpabilidade, dadas as especficas atribuies do promotor de justia, as quais so distintas e incomuns se equiparadas aos demais servidores pblicos latu sensu. Assim, a referida circunstncia no inerente ao prprio tipo penal.

    EFEITOS DA CONDENAO E PERDA DO CARGO Inaplicabilidade do art. 92, I, do CP a servidor pblico aposentado antes da condenao criminal

    Importante!!!

    Ru, servidor pblico, foi denunciado pela prtica de crime contra a Administrao Pblica. Durante o curso do processo criminal, ele se aposenta. O juiz profere sentena, condenando-o pena de 5 anos de recluso.

    possvel que o juiz o condene tambm perda da aposentadoria com base no art. 92, I, do CP?

    NO. Ainda que condenado por crime praticado durante o perodo de atividade, o servidor pblico no pode ter a sua aposentadoria cassada com fundamento no art. 92, I, do CP, mesmo que a sua aposentadoria tenha ocorrido no curso da ao penal.

    O rol do art. 92 do CP taxativo e nele no est prevista a perda da aposentadoria.

    STJ. 5 Turma. REsp 1.416.477-SP, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 18/11/2014 (Info 552).

    O art. 92, I, do CP prev, como efeito extrapenal especfico da condenao, o seguinte:

    Art. 92. So tambm efeitos da condenao: I - a perda de cargo, funo pblica ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violao de dever para com a Administrao Pblica; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.

    Imagine agora a seguinte situao hipottica: Ailton, servidor pblico, foi denunciado pela prtica de crime contra a Administrao Pblica (art. 318 do CP). Durante o curso do processo criminal, ele se aposenta. O juiz profere sentena condenando o ru a uma pena de 5 anos de recluso e multa. possvel que o juiz o condene tambm perda da aposentadoria com base no art. 92, I, do CP? NO. Ainda que condenado por crime praticado durante o perodo de atividade, o servidor pblico no pode ter a sua aposentadoria cassada com fundamento no art. 92, I, do CP, mesmo que a sua aposentadoria tenha ocorrido no curso da ao penal. Os efeitos de condenao criminal previstos no art. 92, I, do CP, embora possam repercutir na esfera das

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    relaes extrapenais, so efeitos penais, na medida em que decorrem de lei penal. Sendo assim, pela natureza constrangedora desses efeitos (que acarretam restrio ou perda de direitos), eles somente podem ser declarados nas hipteses restr