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INFO nº05

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Julho - Setembro 2005 Moreira da Silva, o poeta florestal

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info

Escrevo este Editorial em Agosto, período de férias, dedicado ao descan-so, ao lazer, a tudo que nos liberte da pressão do quotidiano e nos façaesquecer os problemas. Mas, se podemos gozar algum período de mere-cidas férias, a verdade é que os problemas não vão de férias e estão aíem permanência, exigindo atenção redobrada.O período de seca que se começou a sentir no final de 2004 foi-se agudi-zando, a tal ponto que esta já é considerada a pior desde 1945 e poderáatingir uma expressão sem paralelo nos últimos dois séculos. A falta deinfra-estruturas hidráulicas em certas zonas do país impede a atenuaçãodos efeitos desta situação extrema, e é sentida com grande impacto pormais de uma centena de milhar de portugueses, cujo abastecimento emágua potável ocorre apenas em poucas horas do dia ou depende da che-gada de autotanque… Mãos criminosas, aliadas às vagas de calor e àseca extrema, acarretam o flagelo dos incêndios florestais, com danosirreparáveis no ecossistema e prejuízos materiais incalculáveis. Há lacu-nas graves na organização do sistema de prevenção e de combate a estedrama, que, de ano para ano, persistem e até se reforçam…O triste anode 2003, com 425 mil hectares ardidos, parece já esquecido e não teve,seguramente, as consequências que a situação impunha! Veja-se o cená-rio de desolação em muitas zonas do país!...Na altura em que os preços do crude batem recordes, a quebra dramáti-ca da produção de energia hidroeléctrica veio agravar a nossa dependên-cia energética de forma sensível, com custos económicos e ecológicosmuito graves. A economia nacional ressente-se fortemente deste quadroconjuntural e as perspectivas de recuperação parecem estar cada vezmais distantes…Perante este cenário nada optimista, mas realista, só o engenho nospode ajudar… Fica a esperança na possibilidade da Engenharia podercontribuir com a criação de soluções que resolvam ou mitiguem deforma eficaz os problemas referidos, melhorando as nossas vidas.Deste número da Info gostaria de realçar a magnífica entrevista do Eng.Moreira da Silva, com considerações de grande pertinência sobre oactual quadro florestal e as razões que estão na base da situação dramá-tica que vivemos; na secção Destaque, a oportuna referência ao INESCPorto, um centro de excelência da Engenharia portuguesa, no vigésimoaniversário do início da sua actividade e numa altura em que o Eng. JoséMendonça recebe o testemunho das mãos do Eng. Guedes de Oliveira.Uma referência para os artigos de opinião do Eng. Fontainhas Fernandessobre Bolonha numa perspectiva das Ciências Agrárias, e do ColégioRegional de Engenharia Civil sobre aspectos fundamentais da NovaRegulamentação sobre Térmica e Certificação Energética dos Edifícios.Uma palavra final para os sessenta anos passados sobre esse aconteci-mento dramático ocorrido em Hiroxima, recordado através de um opor-tuno texto que coloca questões de grande pertinência sobre o tema.

António Machado e MouraVogal do Conselho Directivo da Ordem dos Engenheiros - Região Norte

índice4 6Artigo de Opinião

Notícias

Entrevista a Moreira da Silva 1612Vida Associativa22

Lazer

31

Destaque

30Engenharia no Mundo

32Agenda

Propriedade: Ordem dos Engenheiros – Região Norte.Director: Luís Ramos ([email protected].).Conselho Editorial: Gerardo Saraiva de Menezes, Luís Leite Ramos, FernandoAlmeida Santos, Maria Teresa Ponce Leão, António Machado e Moura, JoaquimFerreira Guedes, José Alberto Gonçalves, Aristides Guedes Coelho, HipólitoCampos de Sousa, José Ribeiro Pinto, Francisco Antunes Malcata, AntónioFontainhas Fernandes, João da Gama Amaral, Carlos Vaz Ribeiro, FernandoJunqueira Martins, Luís Martins Marinheiro, Eduardo Paiva Rodrigues, Paulo PintoRodrigues, António Rodrigues da Cruz, Maria da Conceição Baixinho.Redacção: Ana Ferreira (edição), Liliana Marques e redacção QuidNovi.Paginação: Paulo Raimundo.Grafismo, Pré-impressão e Impressão: QuidNovi. Praceta D. Nuno Álvares Pereira, 20 4º DQ – 4450-218 Matosinhos. Tel.229388155.www.quidnovi.pt. [email protected]ção trimestral: Julho/Agosto/Setembro – n.º 5/2005. Preço: 2,00 euros.Tiragem: 12 500 exemplares. ICS: 383485. Depósito legal: 29 299/89.Contactos Ordem dos Engenheiros – Região NorteJorge Basílio, secretário-geral da Ordem dos Engenheiros – Região NorteSede: Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto. Tel. 222054102/ 222087661. Fax.222002876. www.ordemdosengenheiros.ptDelegação de Braga: Largo de S. Paulo, 13 – 4700-042 Braga. Tel. 253269080. Fax. 253269114.Delegação de Bragança: Av. Sá Carneiro, 155/1º/Fracção AL. Edifício Celas – 5300-252 Bragança. Tel. 273333808.Delegação de Viana do Castelo: Av. Luís de Camões, 28/1º/sala 1 – 4900-473 Viana do Castelo. Tel. 258823522.Delegação de Vila Real: Av. 1º de Maio, 74/1º dir. – 5000-651 Vila Real. Tel. 259378473.

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editorial

Ficha Técnica

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Este documento nasce da necessidade de apresentar umaperspectiva da aplicação de um dos temas centrais quemarcam a agenda política da actualidade, a implementaçãoda declaração de Bolonha no ensino superior português noquadro das Ciências Agrárias. Os principais objectivos daimplementação de Bolonha são por demais conhecidos e, deuma forma resumida, centram-se na adopção de um sistemade graus comparável e legível baseada em dois ciclos pré-doutoramento, na promoção da mobilidade de estudantes ede docentes, bem como na generalização da diplomação aonível superior numa óptica de empregabilidade. Desde logo,o cumprimento destes objectivos pressupõe a constituição deum espaço europeu de ensino superior que promova adinamização da economia e da sociedade, com vista acompetir com os principais actores mundiais envolvidos naformação avançada, como é o caso dos Estados Unidos,cujas universidades continuam a ocupar as melhoresposições nos rankings, graças a um clima económico e socialque favorece a inovação.Até ao momento, o centro da discussão da tão badaladamudança de paradigma relacionada com o Processo deBolonha tem-se situado na fórmula a implementar emPortugal. As preocupações dos agentes que intervêm noensino superior têm incidido na opção entre “3+2” e “4+1”nas diferentes áreas de formação, tendo sido jáamplamente discutidos os relatórios dos grupos de trabalhocriados pela anterior ministra para as diferentes áreas deconhecimento. Este debate ganhou uma grande intensidadeno plano económico, uma vez que algumas daspreocupações derivam da lógica de redução do tempo deformação que conduza a uma diminuição no financiamento.Do ponto de vista organizativo, qualquer que seja a duraçãodos ciclos ou a área de formação, os cursos têm de ser

forçosamente orientados de forma diferente da existente naactualidade, numa lógica de ECTS. Nesta perspectiva, areorganização curricular inerente ao Processo de Bolonhatambém constitui uma oportunidade ímpar para introduziralguma coerência no sistema. Esta questão exige, entreoutros aspectos, a definição de competências e do perfilpara as diferentes áreas de conhecimento no espaço actualde ensino superior em Portugal. Na verdade, a acçãoreformadora de Bolonha não pode continuar a esgotar-se nadiscussão de uma fórmula, devendo ter em atenção muitosoutros factores de mudança, como os aspectospedagógicos dos docentes que devem envolver inovação naforma de ensinar e de avaliar, das questões relacionadascom a investigação e a internacionalização das instituições,embora se enquadrem num plano diferente daquele que opresente artigo pretende analisar.De acordo com o relatório apresentado ao ministério datutela no âmbito das Ciências Agrárias, no passado anolectivo foram oferecidas cerca de 1500 vagas nos sistemasuniversitário e politécnico, das quais apenas cerca de 50%foram preenchidas na primeira fase de candidatura. Nasrestantes fases de candidatura, este número não melhorousignificativamente. De acordo com o guia de acesso dopassado ano lectivo, estas vagas correspondem a umnúmero ligeiramente superior a quarenta cursos (43), nãose englobando neste grupo os cursos de ArquitecturaPaisagista e de Medicina Veterinária. Entre os cursos estãoacreditados pela Ordem dos Engenheiros nove cursos, doisde Engenharia Silvícola (UTAD e Instituto Superior deAgronomia) e oito de Engenharia Agronómica (dois daUniversidade dos Açores, dois do Instituto Superior deAgronomia, dois da UTAD, um da Universidade do Algarvee um da Universidade Católica), de acordo com os dados

Bolonha: uma perspectivadas Ciências Agrárias

António Fontainhas Fernandes, coordenador do Colégio de Engenharia Agronómica da Região Norte

infoPágina 4 OPINIÃO

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info Página 5OPINIÃO

publicados na página web da Ordem. No âmbito daEngenharia Agronómica foram consideradas as licenciaturasem Engenharias Agrícola, Alimentar e Zootécnica. Emsuma, pode-se concluir que a grande maioria dos cursosnão se encontram acreditados.Com base nestes dados, torna-se prioritário definir regrasclaras de ordenamento no espaço português de ensinosuperior a par da implementação de Bolonha. Desta forma,é necessário tomar decisões sobre o excesso de vagasoferecidas no domínio das Ciências Agrárias, que podempassar pelo encerramento de cursos. A racionalização daoferta de cursos oferecidos nos diferentes sub-sistemas deensino superior também deve ser considerada umaprioridade. Na realidade, aos cerca de 1700 cursosoferecidos no passado ano lectivo correspondem 825designações, ministrados por um vasto conjunto deinstituições de ensino. Com efeito, é urgente diminuir aenorme pulverização existente. Trata-se de uma matéria queestá a ser objecto de um estudo do Conselho de Reitoresdas Universidades Portuguesas, no âmbito da suaComissão Especializada para a Educação e FormaçãoInicial, Pós-graduada e Permanente. De referir que emEspanha existe um “catálogo de cursos” que prevê aexistência de 140 cursos, existindo comissões criadas peloConselho de Coordenação Universitária que estudam ahipótese de diminuir este número para cerca de metade.Esta reorganização da oferta educativa permitirá melhorar amobilidade nos países da União Europeia, tanto dosestudantes como dos diplomados.Outra das questões relevantes neste domínio centra-se naharmonização das qualificações exigidas aos potenciaiscandidatos ao acesso. Deste ponto de vista, importaestabelecer um conjunto de requisitos comuns para as

ofertas idênticas propostas pelas instituições nos diversossub-sistemas de ensino superior. Adicionalmente, o grauacadémico obtido em qualquer dos ciclos deve ter a mesmadesignação. De igual modo, o título profissional a quepodem aceder os respectivos diplomados deve ser idêntico,reservando-se às Ordens Profissionais o papel defiscalização do exercício da profissão. Este processo deracionalização conduziria a uma harmonização danomenclatura dos cursos oferecidos pelas diversasinstituições de ensino superior existentes em Portugal. Narealidade, a criação de cursos por critérios de marketingcomo forma de atrair candidatos ao ensino superior temconduzido a situações gritantes, traduzindo-se numaenorme disparidade da oferta de cursos.Em termos conclusivos, Bolonha constitui um desafio e uma oportunidade única para impor alguma ordem noensino superior. As mudanças previstas com a reforma de Bolonha devem exigir, obrigatoriamente, umatransparência nas designações dos cursos, a harmonizaçãotanto ao nível das condições de acesso, como dascompetências a adquirir pela formação. Neste sentido, noquadro do ordenamento do espaço português de ensinosuperior proposto, é necessário enquadrar decisões acercada racionalização da oferta educativa, em particular no domínio das Ciências Agrárias. Esta orientação deve serperspectivada numa lógica de qualidade, baseando-se emcritérios bem definidos, devendo os relatórios das OrdensProfissionais, no caso da acreditação e da Fundação dasUniversidades Portuguesas no plano da avaliação, constituir um instrumento de apoio à tomada de decisões.Em suma, é preciso ter presente que todas as preocupaçõesreferidas devem estar sempre associadas a uma garantia dequalidade das instituições de ensino superior em Portugal.

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Engenharia na net

A evolução e a expansão da internetfocalizou rapidamente a atenção dosdiferentes públicos. Perante apopularidade e o sucesso da redeelectrónica, a Ordem dos Engenheiros(OE) atribuiu-lhe importância e destaforma aderiu às novas tecnologias,criando um site com o endereçowww.ordemengenheiros.ptOs resultados são satisfatórios e o sitetem recebido cada vez mais visitas.Por mês, as páginas deste portal estãoa ser visitadas cerca de cinco milvezes. Contudo, as expectativasesperadas no final do ano, segundo aOE, devem apontar para númerosmuito superiores. A estratégia de marketing implantadapela OE começou a dar frutos,milhares de engenheiros einteressados seleccionam em primeirolugar este site em busca deinformação sobre engenharia. Nesteespaço as informações abundam:dados relativos às regalias paramembros; ligações a bancos;companhias de seguros,especialmente destinados aengenheiros; legislação, fóruns, sãoalgumas das áreas que os cibernautaspodem aceder. No entanto, algumasdelas, para poderem ser visualizadasexigem um registo prévio no Portal doEngenheiro. O visitante clica no link“N.º de Membro/Login” e desta formasurgirá um pequeno documento parapreencher. Actualmente já se registaram no site

da OE mais de três mil utilizadores,sendo a sua maioria, como seesperava, membros da Ordem. A OE está disposta a angariar o maiornúmero de cibernautas e para queestes não tenham razões de queixa foidisponibilizado um endereço de [email protected] – onde osutilizadores podem esclarecereventuais dúvidas.

Certificação energéticaem 2006

A certificação energética dos edifíciosvai passar a ser obrigatória já no iníciodo próximo ano. A medida deve-se emparte em dar a conhecer aos seusfuturos utentes as respectivascaracterísticas energéticas e aqualidade do ar no interior do edifício. A legislação da certificação energéticatem como objectivo assegurar quetodos os novos edifícios, bem comoos respectivos sistemas declimatização, submetidos alicenciamento no território nacional,cumpram as normas de eficiênciaenergética, como, por exemplo, oscolectores solares térmicos para oaquecimento da água ou outrassoluções equivalentes.

O PSD demonstrou o seu desagradoquando se pronunciou em Junhocontra o desagendamento ao projecto-lei que aprova o Sistema Nacional deCertificação Energética dos Edíficios ede Qualidade do Ar Interior dosEdifícios (SNCEQAIE) e as respectivasnormas.Neste sentido, o grupo parlamentardo PSD referiu-se em comunicado que“é cada vez mais preocupante osurgimento, associado à degradaçãoda qualidade do ar interior nosedifícios, de sintomas como a fadiga,dores de cabeça, tosse, náuseas etonturas, dificuldade em respirar,secura ou irritação nos olhos”. A urgência da aprovação baseia-sequer na obrigação de transpor adirectiva relativa ao desempenhoenergético dos edifícios quer nacriação dos mecanismos para a suaaplicação. Outro facto a ter emconsideração é que esta matéria deviaser já incluída no programa curriculardas faculdades de Engenharia e deArquitectura no próximo ano lectivo. A Ordem dos Engenheiros (OE) e aOrdem dos Arquitectos reuniram-separa debater assuntos como o novoenquadramento legal e debater asimplicações nas respectivas profissõese na qualidade dos edifícios. Contudo,de forma a garantir a qualidade foi

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considerado que é necessária a apostana formação dos técnicos paracertificação de edifícios.Fernando Santo, bastonário da OE, foium dos profissionais que sepronunciou sobre a formação detécnicos certificados. “O país teveuma explosão de construção na últimadécada, mas a qualidade regulava-semais por factores de ‘marketing’comercial do que pelo cumprimentodas normas técnicas deregulamentação”, explicou.

Propostas feitas ao Governo

Fernando Santo, bastonário da Ordemdos Engenheiros (OE), está sempreatento a novos desafios de forma aarticular melhorias e criar novosprojectos para a sua área. Neste sentido, o bastonário foi ouvidopelo Governo a 20 de Maio,nomeadamente pelo ministro dasObras Públicas, Transportes eComunicações, Mário Lino.As propostas apresentadas pelomembro superior da Ordem foramreferentes à revisão do Decreto 73/73,da Ficha Técnica da Habitação e dalegislação sobre Instruções para aElaboração de Projectos.Depois de uma breve apreciação dotema, o governante disponibilizou-separa proceder à análise dosdocumentos, meditar sobre alegislação, no sentido de encontrarmelhores soluções.Na mesma linha de intenções,Fernando Santo voltou a ser ouvido nodia 24 do mesmo mês pelo secretáriode Estado da Administração Local,Eduardo Cabrita, ao qual o bastonáriofez sobressair a emissão doscertificados de habitabilidade previstosna anterior proposta de revisão da Leido Arrendamento.Algumas destas propostas já teriamsido apresentadas ao Governo de

Santana Lopes, o qual previa que aapreciação das condições mínimas dehabitabilidade das fracções queconduziriam, ou não, à emissão docertificado de habitabilidade, estariadependente das vistorias a realizar porengenheiros ou arquitectos.Assim sendo, a OE continuará aestudar várias propostas para melhorara regulamentação sobre a matéria.

Segurança em debate

Inúmeros engenheiros reuniram-se nopassado mês de Julho num jantar paradebaterem o tema “A Intervenção doEspecialista em Engenharia deSegurança”. O encontro, além de umaaproximação entre profissionais damesma área, serviu para discutir opapel dos engenheiros em matéria desegurança e desta forma encontrar asmais vastas soluções de protecção aostrabalhadores.A temática da segurança está presenteem todas as profissões, mas como foimencionado no jantar-debate existemactividades mais expostas a acidentesde trabalho e uma delas é aEngenharia.São vários os especialistas que sepreocupam em encontrar novas

soluções para o problema. SérgioMiguel, coordenador daEspecialização de Engenharia daSegurança da Ordem dos Engenheiros(OE), considera que a segurança é umtema sempre em aberto. PoOE emrelação a este assunto tem tido umaintervenção activa. Neste âmbito, já foram apresentadasalgumas propostas, uma delasaconteceu no primeiro mandato daComissão Executiva da Engenharia deSegurança (ES), em Abril de 2000,quando foi enviado ao secretário deEstado do Trabalho uma opinião doprojecto de decreto-lei sobre acertificação profissional de Técnicos eTécnicos Superiores de Segurança eHigiene no Trabalho (SHT), bemcomo uma proposta sobre conteúdosformativos para o curso de TécnicosSuperiores de SHT.Por outro lado, outras propostas aonível da OE foram colocadas em cimada mesa, tal como o regulamento dasespecializações, aprovado naassembleia de representantes em Abrilde 1999, tendo, no entanto, sofridoalgumas alterações, sendo a últimaefectuada em Março de 2005 emapenas alguns domínios, tais como acriação e o funcionamento dasespecializações (artigo 3º e 6º),eleições para a comissão executiva

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(artigo 7º) e outorga do título deespecialista (artigo 8º).Enquanto a palavra de ordem foi asegurança, o sector da construção foi aespecialidade mais foi abordada. Destaforma alguns engenheiros alertarampara a necessidade de se criaremsubespecializações de especializaçõesde forma a definir o grau doespecialista de segurança. Ainda nestalinha de pensamento foi realçada aimportância de definir umacoordenação mais simples na área dasegurança contra incêndio.

Casa da Música com vista assegurada

O consenso em torno da controvérsiado enquadramento urbano da Casa daMúsica está assegurado. Depois dealgumas negociações, os arquitectosRem Koolhaas e Ginestal Machadopodem estar serenos, já que a Câmara

Municipal do Porto comprometeu-se aceder o terreno contíguo ao daAdicais. Com a solução encontrada a Casa daMúsica pode continuar a usufruir daboa vista na medida em que a grandejanela não vai ficar de forma algumatapada, ao contrário do projecto inicialdo gabinete do arquitecto GinestalMachado. E assim sendo irá nascernum futuro próximo um edifício,nomeadamente a sede do BancoNacional Português.Para o entendimento de todas aspartes foi importante ou mesmoimprescindível a presença de RemKoolhaas na cidade no Porto para ainauguração da Casa da Música. “Ofacto do arquitecto estar no Portopossibilitou um encontro, queprocurava há muito, mas não tinhaconseguido. Posso dar o lote 2, se fornecessário, e também estou disponívelpara aprovar tudo o que merecer oacordo de ambas as partes, dentro dacapacidade construtiva permitida”,

explicou Rui Rio, presidente daautarquia do Porto.É de salientar que a cedência do lote 2chegou até às mãos do Conservatório deMúsica do Porto e foi posteriormentedevolvido pela Direcção Regional deEducação do Norte à autarquia. A uniãodos dois lotes permitirá uma soluçãourbanística distinta, abrindo desta formaum canal para a manutenção das vistasdo auditório.Actualmente cabe a Ginestal Machadoestudar a melhor forma para umaóptima concepção urbanística,segundo o arquitecto a proposta parao novo edifício não ultrapassará a cotade referência dos 28 metros referenteao topo superior do “janelão”,conforme o recomendado pelogabinete do arquitecto holandês autorda emblemática construção da Casa daMúsica.A área total de construção será de18.570 metros quadrados e o prazoprevisto para a sua conclusão é detrês anos.

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Energia eólica

O Governo lançou em Julho umconcurso internacional para aatribuição de licenças de produção demil e setecentos megawats deenergia eólica.Trata-se de um programa quemobiliza maior investimento noquadro dos PIIP (Planos de Infra-estruturas de InvestimentosPrioritários) e desta forma aprodução de electricidade seráelevada para 44 por cento a partir defontes renováveis até 2013.Como explicou Castro Guerra,secretário de Estado-adjunto daIndústria e da Inovação, o concurso écomposto por duas fases, a primeiraque durou até Julho e a outraprolongar-se-á até ao final do ano.Além de se criar um “cluster”industrial, este concurso vai aindagerar mais de 1 600 postos detrabalho.O Governo prevê que até 2010 haja

um crescimento no investimento demais de 3,8 mil milhões de euros nainstalação dos 1 700 megawatts.Apesar desta medida ser elucidativa ebastante rentável é ainda necessárioter em conta o impacto ambiental,Eugénio Sequeira da Liga para aProtecção da Natureza apoia ainiciativa, mas alerta para anecessidade de cuidados a ter com oambiente, nomeadamente naconstrução das instalações que vãoproceder à produção de energiaeólica. Eugénio Sequeira defende que éfundamental que se conheçam oscritérios de instalação, na medidaque as zonas mais ricas em fontes deenergia renovável são áreasprotegidas, inseridas na Rede Natura.Além disso, critica a falta deiniciativas governativas nos últimosanos na produção de energiasrenováveis, apontando como exemploo facto de Portugal ser melhorescondições climatéricas do que aAlemanha para o desenvolvimento deunidades de energia fotovoltaica, masmesmo assim o que o nosso paísproduz em 10 anos, a Alemanhaconsegue num ano. Outra preocupação demonstrada peloambientalista relaciona-se com apossibilidade do incumprimento dePortugal ao compromisso que assumiuna Cimeira de Quioto: ter 39 por centoda produção eléctrica a partir deenergias renováveis em 2010.

AECOPS pede apoio ao Governo

Associação das Empresas deConstrução e Obras Públicas(AECOPS) tenta sensibilizar oGoverno para que os projectos degrande envergadura sejamadequadamente planificados.Esta preocupação subsiste devido aopouco ritmo verificado por parte das

empresas de obras públicas. Desde oinício do ano foram já perdidos maisde 540 mil postos de trabalho, vindoo número de desempregados acrescer gradualmente. O pessimismo e a preocupação sãoas características que estão adominar o comportamento dosprofissionais da área e a únicasolução encontrada foi pedir aoGoverno uma política consistentepara as obras públicas. Esta medida precisa de algumabrevidade, na medida em que asempresas têm que definir estratégiase prepararem-se para eventuaisconcursos.

Construção de pontesinovadora

Depois de 11 anos de investigação, aFaculdade de Engenharia daUniversidade do Porto (FEUP) com acolaboração da empresa Mota-Engilcoloca Portugal numa posição deprestígio no que diz respeito àconstrução de pontes.O sistema pré-esforço orgânico ouOrganic Prestressing System,inovador a nível mundial, permitecompensar as forças a que aestrutura das pontes está sujeita deforma a reduzir deformações etensões, baseando-se nofuncionamento do músculo humano,além de a segurança ser assegurada eos custos significativamentereduzidos.Os primeiros passos deste projectoestão a ser dados numa ponte queestá a ser construída sobre o RioSousa, em Lousada. Local este ondejá foram efectuadas 12 betonagens,ou seja, já deram 12 avanços notabuleiro. A obra está programadapara ser finalizada no final do ano,mas com o novo método os prazospoderão ser superados.De acordo com Pedro Pacheco,investigador da FEUP e coordenador

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da equipa que desenvolveu osistema, trata-se “de uma soluçãotecnológica que permite compensaras forças a que a estrutura metálicadas pontes está sujeita, baseando-seno funcionamento do músculohumano”. Por sua vez FernandoPinto, profissional da Mota-Engil,esclarece que “cada betonagemrepresenta um avanço na construçãoda ponte de 30 metros cada e nesseprocesso registam-se algunsacidentes de trabalho que com estesistema ficam muito minorizados”.Importa referir ainda que o principaldescobridor desta “galinha de ovosde ouro” foi Pedro Pacheco. Ao quefoi apurado a ideia começou a serincubada quando realizou umtrabalho universitário. O investigadorestá convicto que este método seráusado nos outros países “por sersimples e trazer grandes vantagens”.

Engenharia das Energias chega à universidade

Para colmatar a falha de profissionaisno ramo das energias, a Universidadede Trás-os-Montes (UTAD) vai abrirno próximo ano lectivo a primeiralicenciatura do país em Engenhariadas Energias.Salvador Malheiro, o professorresponsável pelo novo curso, deu aconhecer que inicialmente serãoabertas 15 vagas. Para o docente asvantagens são inúmeras e quemenveredar pelo curso tem à partidasucesso profissional garantido, namedida em que a evolução no sectorenergético está a sentir-segradualmente não só em Portugalmas no mundo. O responsável pelocurso atreve-se mesmo a afirmar quenas próximas décadas, se registaráum forte aumento na procura deespecialistas em Engenharia deEnergias.

A localização da universidade nãopoderia ser melhor, na perspectivaem que a cidade de Vila Real ocupa oprimeiro lugar no que diz respeito àprodução de energia eólica, seguidade Braga e Viseu. O professor elogia a zona afirmando:“estamos numa região com umapotência de crescimentoimpressionante”, contudo os seusprojectos não se ficam por aqui umavez que levanta a hipótese depromover outras formas de energiarenovável.O curso será leccionado por docentesda universidade e será composto poruma formação em Ciências deEngenharia e numa árduaespecialização em produção,distribuição e utilização de energia.No entanto, uma formação básicanos domínios de Ambiente e dasCiências Empresariais serão umasdas formações a contemplar o curso.Num futuro próximo, o desejo deSalvador Malheiro é que o curso deEngenharia das Energias sejareconhecido pela Ordem dosEngenheiros, tal como acontece comtodas as licenciaturas de engenhariasdisponíveis na UTAD.

A polémica do túnel de Ceuta

O túnel de Ceuta parece ser um temasem fim. Apesar de já ter sido abertono fim do mês de Julho à circulaçãoautomóvel no troço entre a PraçaFilipa de Lencastre e o Jardim doCarregal no centro do Porto, apolémica parece subsistir. Porconcluir ainda está parte da infra-estrutura que deveria acabar na Ruade D. Manuel II, entretantoembargada. Neste momento as questões queestão em cima da mesa são as decontinuar ou não as obras no túnelde Ceuta. Neste sentido, recorde-seque a 8 de Julho o IPPAR deu um

prazo de 45 dias à Câmara Municipaldo Porto para cobrir com terra a zonaescavada junto ao Museu NacionalSoares dos Reis. No entanto, a posição de Rui Rio foia de escrever uma carta ao primeiro-ministro, José Sócrates, a sugerir quea decisão sobre o túnel de Ceutadevia ser congelada até às eleiçõesautárquicas. "Qualquer solução quevenha a ser ali implementada é a queestiver no programa que ganhar aspróximas eleições. Em democracianão pode haver solução mais justa,equilibrada, sensata, que é de voltar adevolver ao povo a decisãosobre o túnel de Ceuta", esclareceu opresidente da autarquia portuense.Ao que parece, Rui Rio obteve já umaresposta da sua intenção, porém nãofoi adiantado qual o seu teor.Recorde-se ainda que em Abril dopresente ano a Ordem dosEngenheiros predispôs-se através dasecção regional do Porto a lideraruma comissão arbitral para gerir amá relação entre a Câmara do Porto eo IPPAR. No entanto o IPPARrecusou desde logo a suaintervenção, alegando que acomissão seria desconforme com alei. A Ordem defendeu que apenastinha como intuito ajudar numasituação que há muito se arrasta.

Polis estimulaGoverno

Um pacote de novas políticasurbanísticas está a ser preparadopelo Governo a implementar duranteos próximos anos. Esta iniciativa tempor objectivo reestruturar os actuaisprogramas Polis e assim proceder àrealização de um modelo urbanístico.Neste sentido, o Executivo vai retiraro que de melhor tem o Polis e destaforma irá elaborar um conjunto depolíticas mais amplas que definirão omodelo de cidade que se pretendepara Portugal. “O investimento

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público e privado são dois dos eixosque queremos congregar nasintervenções a realizar no âmbito dosnovos programas a serem criados”,esclareceu o secretário de Estado doOrdenamento do Território e Cidades,João Ferrão. Contudo a falta de verbas tem sidouma das principais dificuldadesencontradas pelos váriosresponsáveis ao nível local pelosprogramas Polis. A título de exemplo João Esgalhado,director-executivo do Polis Covilhãproferiu ao Mercado Imobiliário que“a insuficiência de verbas impediu aplena conclusão do programa, tendo-lhe sido retiradas diversas obrasinicialmente previstas”.No entanto as verbas não são o únicosenão. Para Matos Rodrigues, dasociedade Aveiropolis “é urgentedefinir os objectivos do programaPolis. Foram criadas sociedadesanónimas, limitadas no tempo – cercade cinco anos – para desenvolveremum plano estratégico. Não é possívelgerir e planear a actividade de umaempresa de capitais públicos, quandose introduzem frequentes indefiniçõesrelativamente aos objectivos a atingir,esclareceu. Por sua vez o presidente daCâmara Municipal de Viana do Castelo,Defensor Moura, partilhou da mesmaideia e acrescentou que “mais do que afalta de verbas, o Vianapolis debateu-se com a falta de decisão dos quatrosministros que tutelaram este programaentre 2000 e 2004”.

Espanha retira águaportuguesa

Portugal pode estar a ser prejudicadopelo país vizinho, pois Espanharetirou água do Rio Douro e doGuadiana e ao contrário do que jádevia ter acontecido ainda não arepôs, desrespeitando assim osacordos para rios luso-espanhóis.Perante a seca que o país enfrenta, as

repercussões estão-se a manifestarpreocupantes e segundo dados doInstituto da Água (INAG), desde odia 1 de Outubro do ano passado,não houve um único dia em que ocaudal do Rio Douro na Barragem deMiranda superasse os 300 metrospor segundo. E mesmo sendo estadiferença muito notória epreocupante a água não deixou deser desviada para outros locais.Importa realçar que o mês de Maiodo ano transacto foi registada amaior disparidade de todos ostempos: apenas num só dia o caudalmédio na Barragem de Miranda foide 197 metros cúbicos por segundo,mas ao Pocinho só chegaram 28.Este é um dos piores exemplos. Noentanto os outros meses não andammuito longe destes valores.

Seca faz aumentar os custos

Já todos sabemos que a seca é umaproblemática mundial. Portugaltambém sofre com esta forte ameaça.A falta de água nos rios e nasbarragens condiciona uma

diminuição na capacidade de gerarelectricidade. Esta falha actualmentetem de ser compensada pelascentrais térmicas.De acordo com José Penedos,presidente da Rede Eléctrica Nacional(REN), existem “quebras assinaláveisde um ano para o outro, pois aprodução hidroeléctrica caminha paraum terço do normal, ou seja, entre os27 e os 30 por cento do que éproduzido num ano médio”,esclareceu. José Penedos deu ainda a conhecerque os problemas começaram noúltimo trimestre de 2004 e só nãoforam mais graves porque oproblema foi amortecido pelavalorização do euro face ao dólar.A mesma fonte refere que ospequenos consumidores irão sentiras suas facturas de pagamentocrescerem no ano de 2007. Já para osclientes que possuam indústrias esteefeito irá surtir em muito menostempo e com tendência a umagravamento.“Vamos ter mais emissões e umamaior exportação de fundos para acompra de combustíveis”, refere JoséPenedos como consequência da faseque o país atravessa.

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País em chamas

José Joaquim Ribeiro Moreira da Silva, engenheiro florestal

infoPágina 12 ENTREVISTA

José Joaquim Ribeiro Moreira da Silva, nascido em Massarelos,a 10 de Dezembro de 1923, dedicou 43 anos da vida ao sectorflorestal público português. Ao longo destes anos adquiriuuma rica cultura da floresta e a realização profissional conse-quente. Mas hoje o panorama é diferente. Preocupado e desa-pontado, observa, já retirado desse meio, a falta de gestão flo-restal, de organização de meios humanos e de estruturas decombate aos incêndios. A paisagem florestal e o grau de pro-tecção civil alteraram-se, o que exige uma mudança nas medi-das políticas que têm sido prometidas, mas que para já nãotêm passado disso mesmo. De facto, o engenheiro florestal – designação profissional quesubstituiu o engenheiro silvicultor – assiste ao país em chamase recorda o que poderia ter sido feito: “Por volta de 1960 inte-

grei uma equipa que alertou o governo e os serviços florestaispara o perigo dos incêndios nas florestas e indicávamos solu-ções e políticas. Só agora é que há a primeira tentativa com acriação das zonas de intervenção florestal. Quando a Forestis –Associação Florestal do Norte e Centro foi fundada, lançámosa ideia da Gestão e Defesa Florestal Conjuntas”. Nada temsido feito porque “não há aliciantes políticos. São medidasimpopulares, pois só há resultados passados 10 ou 20 anos enão há nenhum governo com quatro anos de vida que se arris-que a fazer isso. As medidas de prevenção não são feitas de

Com 43 anos de vida dedicados ao sector florestal,Moreira da Silva já foi várias vezes homenageado. Amais marcante talvez tenha sido a homenagempromovida pelo Colégio Florestal da OE

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Texto de Ana Ferreira • Fotos de Alfredo Pinto

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um ano para o outro, podem ser realizadas para 10 anos”.Para o engenheiro a gestão de floresta assenta em três pilaresfundamentais: “Competência, o que obriga a outro pilar impor-tante que é a área. Não é possível gerir uma floresta com dois,cinco ou 20 hectares. São precisos milhares de hectares, maspara isso é preciso a junção da gestão das propriedades, masquem é que se atreve a fazer isso politicamente? Pode haveraliciantes fiscais, mas é preciso dinheiro. O terceiro ponto é oprofissionalismo. O rescaldo devia ser obrigatório, pois é umcrime deixar reacender um fogo. Quando estava nos ServiçosFlorestais, ficava de 50 em 50 metros um homem após termosapagado o fogo à noite, porque sabíamos que às 3h30 ou 4horas da madrugada mudava o vento e ele reacendia”. O grave problema do combate aos incêndios florestais, na suaopinião, surgiu em 1980, quando os serviços florestais deixa-ram de ser os responsáveis pelos combates e não se transmi-tiu o know-how aos bombeiros. Exemplificando, observa:“Outro dia vi na televisão os bombeiros a combater um fogopela frente, no sítio mais perigoso que há, pois surgem gasesletais. No meu tempo, quando éramos responsáveis pelo com-bate aos incêndios, estava sempre presente um técnico de diae de noite. Chegava a ser chamado durante a noite para substi-tuir um colega que estava cansado”.Compreende, porém, as dificuldades em travar este flagelo queconsome as áreas florestais portuguesas, especialmente noVerão, mas o que é fundamental é criar quanto antes condiçõesespeciais. “Se os incêndios atingem determinado volume e seforem puxados a vento não há nada a fazer, a única hipótese éevitar que se propague. E isso passa por aquilo que defendo háalguns anos e que passa, por exemplo, pela compartimentaçãoda floresta e pela utilização de fogos controlados”.Além disso, e num ponto de vista mais utópico, defende quese deve “pensar a sério na mudança da floresta. As pessoasque plantam um carvalho só podem ver benefícios dali a 150anos. Como ninguém dura 150 anos, ninguém planta carva-lhos. Era preciso haver a possibilidade de emprestar dinheiro alongo prazo às pessoas para plantar uma floresta, que só seriacobrado na altura do corte. E nós tínhamos obrigação de aju-dar, visto a floresta a nós também nos interessar”.Além destas observações, o engenheiro florestal acrescentamais dois problemas ao flagelo dos incêndios: “A desertifica-ção, pois o mato deixou de ser cortado. Uma vez calculei coma ajuda de um colega matemático qual o combustível existenteem mil hectares de floresta suja. Tinha mais energia acumula-da do que a libertada pela bomba atómica de Hiroshima.Outro problema é a limitada fiscalização das queimadas. Ouas pessoas se consciencializam que fazer queimadas fora dotempo é um crime contra a nação e denunciam ou então sur-gem os incêndios”.

Moreira da Silva foi em 1992 um dos fundadores daForestis - Associação Florestal do Norte e Centro, tendoassumido a presidência desde esse ano até 1998

Educação e formação florestalPara Moreira da Silva ainda não há em Portugal um forte res-peito pelas leis de defesa do ambiente e a consciência de queé necessário aproveitar e gerir os recursos da floresta para finseconómicos ou recreativos. Na sua opinião este comporta-mento deriva do facto de os “portugueses não poderem tereducação ambiental se não têm educação cívica”. Situaçãoque já vem de há muitos anos e está relacionada com o anal-fabetismo. “Estas gerações de agora têm dificuldades porquenão têm alicerces. Um aluno que está a estudar ambiente naescola primária e que tem preocupações sobre esse aspecto,deixa de estar enquadrado quando chega a casa e a mãe nãofecha a torneira e as luzes ficam acesas. O que é preciso é umgrande esforço persiste na educação das crianças”.

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Para Moreira da Silva o grave problema do combate aosincêndios florestais surgiu em 1980, quando os serviçosflorestais deixaram de ser os responsáveis pelos comba-tes e não se transmitiu o know-how aos bombeiros

José Joaquim Ribeiro Moreira da Silva, engenheiro florestal

infoPágina 14 ENTREVISTA

Considera que os jovens entre os 20 e os 30 anos começama ter preocupações ambientais, mas é insuficiente se se dáprotagonismo aos “ambientalistas de café, que só se que-rem promover e o que dizem que está mal é lugar-comum”e se os docentes não estão preparados para divulgar a men-sagem.Os conhecimentos sobre o ambiente têm de ser transmitidoslogo nos primeiros anos escolares, mas têm de ser contínuos,mesmo nos cursos específicos da área, porque só assim seformam bons engenheiros. Segundo Moreira da Silva, para que isto seja conseguido umadas condições essenciais é que os professores de EngenhariaFlorestal conheçam o terreno. “Tenho visto investigaçõessobre Fogos Controlados, por exemplo, feitas por pessoas quenão sabem o que é o ecossistema natural”. Aponta ainda outra crítica: “O Instituto de Agronomia resol-veu dividir o curso de Silvicultura em três ramos: produção,protecção e indústria, o que é um disparate, pois estas áreasestão relacionadas. A vantagem do engenheiro florestal é acapacidade de abarcar”. São levantadas várias questões para o reduzido número dejovens a procurar o curso de Engenharia Florestal nos dias de

hoje, questões essas que passam pelas saídas profissionais epela desvalorização da área.Na sua opinião existem engenheiros florestais bem formadosno país, porém há que ter em conta vários pontos: “O primei-ro é que em Portugal ainda há saídas para os engenheiros flo-restais. No meu tempo os engenheiros florestais trabalhavampara o Estado e no campo eram muito poucos. Um dos pro-blemas é que há lugares das câmaras municipais que tiveramo apoio para a criação de núcleos florestais que estão ocupa-dos por pessoas com outra formação. Mas não sou da opi-nião que por câmara é necessário um engenheiro florestal,porque não há trabalho para isso. Acho que Portugal deveriade ter 300 engenheiros florestais no campo. Temos trêsmilhões de hectares, se cada um ficasse com 100 mil, eram300 profissionais. E ao fim de alguns anos esses engenheirosjá não podem estar no campo porque deixam de ter resistên-cia e dão lugar a outros.”

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info Página 15ENTREVISTA

Outro ponto que o engenheiro realça é a importância que seconfere a esta área no Verão devido aos incêndios, mas queno resto do ano é esquecida.

“Para ser florestal tem de se ser poeta”Mas, afinal, quem é o engenheiro que trata a floresta por ‘tu’e que afirma que para se ser florestal tem de se ser poeta?“Porque o poeta acredita, quando os outros lhe demonstramque é impossível; porque o poeta é sensível, quando osoutros foram esmagados pela forja brutal do nosso quotidia-no; porque o poeta sonha, quando os outros já assentaramos pés na terra, e como diz António Gedeão: “Sempre queum Homem sonha o mundo pula e avança”; porque comodiz o poeta a ele não podemos “cortar a raiz ao pensamen-to”; porque o poeta ainda “corre de botas rotas atrás das ilu-sões”, como diria Raul Brandão. Moreira da Silva, que em jovem não pretendia ser florestal,veio a encontrar nessa área o gosto pelo trabalho. Apontaque uma das vantagens em ser florestal é trabalhar com uto-pias, com projectos que antevê, mas que dificilmente os tes-temunha na prática devido à demora dos resultados. Trabalhou durante cinco anos como encarregado da direcçãodo Parque Nacional da Peneda-Gerês, tendo sido esse o perío-do que o mais marcou na longa carreira profissional, “porquetinha uma missão extremamente importante que era juntarimensas profissões e tendências. Trabalhava com sociólogos,arqueólogos, geólogos e sentia que era o elo aglutinador deuma obra muito interessante que eram uns estudos profundossobre o parque não só da parte natural mas também humana.Sempre defendi que o parque devia ser uma universidade aber-ta. O meu projecto era um pouco romântico, uma utopia.Quando apresentei a Lei Orgânica, aprovada no tempo daMaria de Lourdes Pintasilgo, indicava uma projecção para oparque, que previa ser o cadilho do desenvolvimento do inte-rior português. E o desenvolvimento podia fazer-se não comcimento armado, mas com outros valores mais importantescomo a cultura e as tradições. O Parque Nacional era umabandeira que os investigadores gostavam de levantar”. Porém, o período que mais o marcou positivamente trouxe-lhe amargos sentimentos, explica: “Fui saneado duas vezesna minha vida profissional. Uma vez no Parque Nacional em1980, por questões políticas, porque consideravam-me umapessoa perigosa por ser de esquerda. Mas eu nunca utilizeias minhas convicções políticas na administração pública. Fuicompletamente isento, mas eles acharam que não e expulsa-ram-me do parque, fazendo-me um grande favor, porqueestava cansado. O processo demorou seis meses, porquehouve forças políticas até do próprio governo que contraria-vam a minha expulsão do parque. Isso deu-me uma força

enorme. O secretário de Estado quis recuar, mas já não con-seguia, porque eu já tinha dito muita coisa. E mais tarde,quando quiseram que voltasse, recusei. Voltei para aDirecção-Geral das Florestas. A segunda vez que fui saneadofoi quando fiz 70 anos. A administração pública mandaembora um funcionário quando atinge essa idade, não apro-veitando muito do investimento que fez nessa pessoa”. Moreira da Silva completou a formação de EngenhariaAgrónoma na Universidade Técnica de Lisboa, sem nuncaobter a licenciatura pois entretanto mudou para Silvicultura,como antigamente se designava o actual curso deEngenharia Florestal. Antes de ir para o Parque Nacional tra-balhou cerca de 10 anos no horto da família, a Casa Moreirada Silva, para onde tinha lugar marcado desde pequeno. Na década de 1950 foi convidado para trabalhar nos ServiçosFlorestais do Porto, e após um período de serviço de gabinete,começou a ir para o campo, onde descobriu a verdadeira voca-ção. Fez projectos de estradas, foi responsável pelos serviçosde caça e pesca e, entre outras tarefas, introduziu em Portugalo Paperpot, um método de criação de estufas florestais paraprodução intensiva e automatizada de árvores florestais queestudou na Finlândia e adaptou ao clima português. Do seu currículo diversificado e abrangente consta a funda-ção e a presidência da Forestis de 1992 a 1998, o que tam-bém aconteceu por acaso na sua vida. “A Comissão deCoordenação da Região Norte tinha entre mãos um projectocom associações florestais francesas e espanholas para umprograma comunitário e o então presidente da Comissão deCoordenação, o engenheiro Braga da Cruz, achava que aRegião Norte devia ter uma associação. A única que repre-sentava os florestais era a Confederação dos AgricultoresPortugueses, mas que estava mais ligada aos latifúndios doque ao minifúndio do Norte. Nessa altura vieram ter comigoa pedir para sugerir nomes para presidentes dessa associa-ção e os dois ou três nomes que indiquei foram vetados.Depois fui o escolhido”. Hoje em dia, “o pai babado daForestis” não se desloca frequentemente à associação, sóquando é requisitada ajuda, mas mesmo assim faz questãode acompanhar o seu crescimento. Com um carreira ímpar no sector florestal em Portugal,Moreira da Silva já recebeu várias distinções, como a meda-lha de honra da agricultura em 1999 e o grau de Grande-ofi-cial da ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industrial(Classe de Mérito Agrícola) em 2000. A mais marcante talvez tenha sido a homenagem promovidapelo Colégio Florestal da Ordem dos Engenheiros em 1997,cujo discurso de apresentação coube à filha que seguiu assuas pisadas, adquiriu amor à floresta e tornou-se uma enge-nheira florestal.

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INESC Porto

infoPágina 18 DESTAQUE

O INESC Porto é um ‘filho’ adulto?O INESC Porto é uma instituição independente desde 1998,que resultou da autonomização do pólo do Porto do INESC,que comemora este ano 20 anos. Estou na direcção do INESCdesde 1991 e do INESC no Porto desde 1993. Portanto, há 12anos. Mas, como presidente do INESC Porto estou desde quefoi criado em 1998. Do ponto de vista pessoal foi muito gratificante a experiência.Cheguei ao INESC no Porto em 1993, já o INESC tinha sete ouoito anos, e existia um grupo a que não pertenci que tinhalançado a iniciativa decorrente do INESC que existia emLisboa. Nessa altura estava ligado ao INESC através daUniversidade de Aveiro. Esse grupo fez um trabalho muitointeressante, porque na fase inicial havia uma parcela muitofocalizada num projecto muito grande que se chamava SIFO(Serviços Integrados de Fibra Óptica). Quando assumi a direcção, o que fizemos foi pôr ordem na‘casa’. A nível de estrutura estavam constituídos muitosgrupos pequenos e tentámos dar maior configuração aalgumas áreas de trabalho e actualmente, como resultadodesse processo de reenquadramento, existem cinco unidadesde organização. Depois criaram-se as condições internas quepermitiram a autonomização, o que passou por constituir umgrupo de pessoas capaz de assegurar toda a gestão interna,pois na altura dependia-se totalmente dos serviços de Lisboa. Na minha opinião assegurar bem a gestão de uma instituiçãodeste tipo é fundamental, porque libertar o tempo das pessoasque estão ligadas à investigação, ao desenvolvimento e àprestação de serviços das tarefas mais administrativas egarantir que o controlo que se faz dos custos, da qualidade dotrabalho e da produtividade seja bem feito é extremamenteimportante. A partir de 1996 quando se começou a pensar que o INESCprecisava de ser reestruturado, movimento do qual estivefortemente empenhado, existiam condições no Porto parapensar que a autonomia era possível. Foi uma aposta muitoforte e com alguns riscos. Tive um papel de liderança nesseprocesso, até porque como estava na direcção em Lisboapermitiu-me influenciar as decisões que levaram à

autonomização, mas só foi possível porque contou com umafortíssima mobilização interna. O INESC Porto é uma instituição grande com mais de 200trabalhadores, das quais cerca de 80 contratados. Temresponsabilidades e precisa de conseguir manter a qualidadetécnica e científica, ter novas áreas de trabalho, garantir asustentabilidade económica, a ligação ao tecido produtivo, acapacidade em ir buscar projectos, quer internacionais quernacionais, junto das empresas que permita ao INESC Portoviver sem ficar dependente do Orçamento de Estado. É muitoimportante o financiamento de projectos, mas também éfundamental que neste bolo haja trabalho para as empresas,para assim garantir a nossa actividade. O que vai de encontro

Pedro Guedes de Oliveiraem discurso directo

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Entrevista de Ana Ferreira

com uma missão fundamental da instituição: a actividade devecolaborar com o tecido produtivo no sentido de melhorar ascondições de competitividade. Até agora nestes sete anos quelevamos de vida isso tem corrido razoavelmente bem.

Não se sente agora a abandonar esse ‘filho’?Não estou a abandonar nada. Mantenho um gabinete noINESC Porto. Vou continuar a trabalhar com o INESC e a fazerinvestigação, retomando activamente algumas áreas que foramprejudicadas durante este período que tinha responsabilidadedirecta no INESC Porto. O que acho é que há duas ou três coisas que foramfundamentais para a minha saída. Em primeiro lugar, eranecessário que houvesse uma situação de estabilidade internaque permitisse que a saída de uma pessoa que esteve ligadadesde a fundação tivesse um substrato sólido para que estaagitação a nível de direcção não fosse desestabilizadora. Foramcriadas condições de organização, de estabilidade, deobjectivos, de estratégia da instituição e, ao mesmo tempo,condições económicas. Além disso era necessário que a nova equipa tivesse condiçõesestáveis para poder pensar no que vai mudar, porque tenho acerteza absoluta que isto vai mudar significativamente. Essa éoutra componente. Uma das razões pela qual acho que vale apena fazer isto é pela mudança. As pessoas não podem ficarmuito tempo ligadas porque, por muito entusiasmo que haja,julgo que é bom renovar as instituições com gente mais nova,com outra visão e experiência. A terceira componente fundamental era encontrar a pessoa. Naminha opinião, é preciso um conjunto de condições, e umadelas não é de certeza que essa pessoa seja um ‘herdeiro’. Apessoa que está a presidir, o professor José Manuel Mendonça,teve um percurso no INESC de 10 anos, mas também teve umpercurso fora do INESC de outros 10 anos. Tem umaexperiência própria, muito diferente da minha. Muito rica doponto de vista de intervenção, no sentido de políticas quer naAgência de Inovação quer na Fundação Ilídio Pinho. Teve umaintervenção de contacto com o tecido económicoextremamente enriquecedora e, na minha opinião, muito maisintensa que a minha e é 10 anos mais novo do que eu. Tem a

experiência e a vontade para assumir um barco que já égrande, onde é preciso capacidade e conhecimento de gestãode pessoas, de economia e financeira, de motivação, e paradelinear novas estratégias. Depois reúne outras condições,como, por exemplo, ser bem aceite internamente, porque umainstituição deste tipo vive muito das pessoas andaremsatisfeitas com o ambiente. Esta mudança não foi uma ruptura, foi preparada. Acontinuidade na transição, para haver descontinuidade naacção.

O que vai fazer agora?Além do meu trabalho no INESC Porto, vou tirar para o anolicença sabática, o que significa que não vou dar aulas, como ofiz há sete anos atrás. Isto vai-me permitir fazer várias coisas,entre as quais ir ao estrangeiro, onde penso estabelecerligações com alguns grupos de trabalho com quem tenhocontacto. Há zonas de investigação ao nível de trabalhopessoal que gostaria de reactivar. Há outras áreas na actividadeuniversitária em que estou muito empenhado quer com aspolíticas públicas, pois acho que nós com o dinheiro e aspessoas que temos podíamos fazer muito melhor, quer emfavorecer a articulação interuniversitária em certas áreas ondesó podemos vir a ter sucesso a nível intervencionista seaumentarmos as massas críticas. Num país como o nosso, degente capaz de produzir trabalho de grande qualidade, significainevitavelmente juntar esforços entre as várias instituições. Oque me preocupa muito é que o impacto internacional dasnossas universidades é extremamente baixo. Há uma coisa que estou pessimista, que é o facto de achar queos portugueses não percebem que aquilo que se faz emPortugal é a soma do que cada um de nós faz. As pessoasjulgam que a acção individual acaba por não resultar edesistem. O que acho em relação aos jovens de enormequalidade que continuamos a ‘produzir’, é que devemosestimular uma atitude individualmente responsável a todos osníveis com vista a que daqui a 10 anos o país esteja claramentemelhor e acho que é possível. De facto, não vou-me reformar. Eu gosto de ter a sensação quesó não me reformo porque não quero.

Página 19info DESTAQUE

Notas curricularesPedro Guedes de Oliveira assumiu a direcção do INESC em 1991 e a do INESC Porto aquando a sua fundação em 1998, cargo que desempenhouaté 2005. Além de continuar a colaborar com o INESC Porto, é professor catedrático no Departamento de Engenharia Electrotécnica e deComputadores da FEUP. A sua investigação tem incidido no âmbito dos Circuitos Electrónicos Analógicos e Digitais, VLSI Analógico, EngenhariaBiomédica, processamento de Sinal e Redes Neuronais, sendo autor de publicações e participante de conferências nacionais e internacionais. Foimembro do Conselho de Administração da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, presidente da mesa do Conselho Geral da CulturPorto e umdos membros fundadores do Departamento de Engenharia Electrónica e de Telecomunicações da Universidade de Aveiro, onde deu aulas até 1993.

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Inesc Porto

infoPágina 20 DESTAQUE

Como encara esta passagem de testemunho?É um enorme desafio. Eu estive no INESC durante 10 anos, saídurante 10 anos para estar na Agência de Inovação e naFundação Ilídio Pinho e voltei agora. Conheço os objectivos, aforma de trabalhar, mas como estive anos afastado falta-memuito conhecimento interno do INESC. Mas tenho a vantagemde ter uma visão externa. Sou capaz de olhar para o INESCcomo olham as empresas, a administração pública e osparceiros sociais.

Pretende fazer algo de novo?Uma mudança de direcção é sempre uma oportunidade demudança para a instituição. Mudança em termos estratégicos,de procedimento, de intervenção e eventualmente interna, deforma a responder a essas mudanças estratégicas. Mudar pormudar não é boa prática. É preciso mudar tendo em vista umobjectivo concreto. Neste momento há uma reflexão a nível dedirecção que vai ser estendida aos colaboradores maisseniores para repartirem algumas inquietações e algumaintenção de irreverência da instituição para os próximostempos, para que não seja só um observador na sociedadeportuguesa na sua posição de sistema científico tecnológiconacional, mas que seja um actor, uma parte interessada, uminterveniente, nas transformações e nos desafios que o país vaiter de assumir.

Como vê a investigação e o desenvolvimento em Portugal?Portugal tem um desafio. Eu sou muito sensível àqueleaspecto que é muito simples: Portugal tem um défice dabalança de transacções correntes de 35 milhões de euros pordia, portanto, todos os dias os portugueses estão cada vezmais endividados e pobres. Qualquer dia esse problema torna-se mais agudo e irresolúvel e a única maneira de se fazer issonão é com o consumo interno privado nem é com oinvestimento público, é aumentando a capacidade nacional dedesenvolver, fabricar e exportar bens e serviçostransaccionáveis competitivos no mercado internacional. Aminha tese, e de muitas pessoas com as quais concordo, é quesó é possível fazer isso com um nível elevado de qualificaçõese se formos capazes de inovar nos produtos, nos serviços enos processos e essa inovação e essas qualificações dependemmuito da base científica e tecnológica. Assim, percebe-se qualo papel de uma instituição como o INESC e outras que

existem podem ter no desenvolvimento económico e social dopaís. O INESC tem como vocação ajudar a desenvolver o país,as autarquias, as empresas, os hospitais, os utilizadores detecnologias, mas sempre com uma base científica muito forte,aquilo a que se chama science based innovation (inovaçãobaseada em ciência) que dê capacidades diferenciadoras e queaporte uma competitividade muito elevada aos produtos,processos e serviços que as empresas portuguesas sejamcapazes de vender no mercado internacional. Se não for assimvai ser muito complicado, porque nós não temos muitosoutros factores competitivos. Não somos um país de matérias-

José Manuel Mendonça em discurso directo

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Entrevista de Ana Ferreira

primas, já fomos um país de mão-de-obra barata, mas já nãosomos, portanto a única hipótese é arranjar um conjunto devantagens competitivas e nesse conjunto a inovação, asqualificações, a ciência e a tecnologia têm certamente umpapel muito importante.

Existem actualmente condições para o desenvolvimentotecnológico?Existem casos de sucesso de empresas portuguesas que estãono mercado internacional em posições fortes e de liderança. Ogrande problema é que esses exemplos de sucesso sãominoritários e não têm dimensão para arrastar tudo o resto.Portanto, nós somos capazes de ser bons internacionalmente,mas muitos dos sectores de actividade nacionais não fizeramessa aposta na inovação e a média do país é muito má. Osnossos sectores industriais não tiveram a capacidade deprospectar, de antecipar as mudanças e de as fazeratempadamente, continuando a trabalhar no mesmoparadigma de mão-de-obra barata e de uma indústria baseadaem recursos, enquanto que cada vez mais diz-se que aindústria baseada em recursos tem de ser hoje em dia umaindústria baseada no conhecimento do futuro.

Os desafios da nova direcção não são sinónimo de ruptura? Não. O INESC é uma instituição de grande dimensão e temum volume de actividade equivalente a seis milhões de eurosem trabalhos de investigação e desenvolvimento tecnológico,o que é bastante e, portanto, é como a lei da física, não hádescontinuidade. As mudanças podem ser mais rápidas oumais lentas, mas há sempre transições e continuidades. OINESC é forte em várias pontos: tem tido nos últimos anos aclassificação de excelente pela Avaliação CientíficaInternacional; tem um modelo de organização interna que éelogiado; tem sistemas e processos internos de gestão e decontrolo das suas actividades que são muitas vezes referidoscomo exemplares pela sua eficiência e pelo rigor com quetratam os aspectos de apoio administrativo ao trabalho deinvestigação. Portanto, tem muitos pontos fortes. Emalgumas áreas tem notoriedade, influência e impacto muitoimportantes. Mas se olharmos para as diferentes vertentes dedesempenho da instituição, há algumas delas que merecem anossa atenção e que é preciso trabalhar e empurrar os limites

dessas vertentes. Uma delas é precisamente a ligação àsociedade e às empresas, ou seja, aumentar o impacto que osaber, as tecnologias e os projectos têm na sociedade,aumentar o contributo que têm para as empresas, asautarquias, os hospitais, os nossos parceiros e obviamenteaumentando esse contributo, o valor da instituição aumentae os serviços que presta à sociedade são mais relevantes. Aofazer isso preserva a excelência científica e começar a olhar lápara fora a sério. O INESC tem muitos projectosinternacionais e muitas parcerias com outras instituições deinvestigação e empresas de primeira linha dentro e fora daEuropa, mas isso tem de ser reforçado e desenhado de umaforma mais sustentada estrategicamente, porque só assimconsegue manter o desenvolvimento e a geração deconhecimento científico e tecnológico e aumentar o seu valorem termos de resultados da investigação e dos projectos. Uma outra vertente é a capacidade de lançar spin-offs. OINESC tem lançado empresas, a última é a FiberSensing.Mas tem de haver ambição para ser capaz de transferirtecnologia, valor para a sociedade e para a economia e estáprovado que uma das formas mais eficazes é através dasempresas, das pessoas. Por isso, tem de haver um maioresforço nesse sentido, para que o valor não fique nosrelatórios, nos protótipos de laboratório, para que oinvestimento, às vezes de anos, não fique fechado emquatro paredes.

Daqui a 20 anos pretende olhar para trás e ver inovação?Exactamente como há 20 anos quando apareceu o INESC noPorto. Mas com uma diferença, é que hoje em dia as coisassão mais aceleradas. Mudanças semelhantes como a dos 20anos passados certamente passarão em menos de 20 anos,porque o nível de evolução é muito mais rápido. As mudançasdos últimos 20 anos podem acontecer em meia-dúzia de anos.Portanto, a instituição tem de ser capaz de se revitalizar,renovar e adaptar os seus modelos, modos de operação efuncionamento e a sua estratégia para que, sem desvirtuar asua missão e os seus objectivos e preservando os seus pontosfortes, ser capaz de ser uma instituição de maior valor nasociedade portuguesa.

Página 21info DESTAQUE

Notas curricularesJosé Manuel Mendonça tomou posse da segunda direcção do INESC Porto a 1 de Julho de 2005. Entre 1987 e 1996 esteve nesta instituição comoresponsável pela Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção, cargo que deixou para passar a ser administrador executivo em representaçãodo AIPMEI da Agência de Inovação de 1996 a 2000, e depois administrador executivo da Fundação Ilídio Pinho de 2000 a 2004. Pertence ao Departamento de Engenharia Electrotécnica e Computadores da FEUP e é docente e coordenador da Secção de Automação, Controlo eSistemas de Produção Industrial. Desempenha vários cargos de gestão de ciência e tecnologia, bem como funções consultivas na área da ciência,tecnologia e inovação a nível nacional e internacional. É autor de vários artigos académicos e participante em conferências, seminários e workshopsem Portugal e no estrangeiro. É licenciado em Engenharia Electrotécnica pela FEUP (1977), tirando o diploma em Ph.D em Engenharia no ImperialCollege of Science and Technology da Universidade de Londres (1986) e é professor catedrático pela FEUP (2003).

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infoPágina 22 VIDA ASSOCIATIVA

Estado do ambiente na Região Norte

No dia 25 de Maio realizou-se noAuditório da Associação Industrial doMinho uma palestra sobre “O Estado doAmbiente na Região Norte”. Aorganização desta iniciativa foi levada acabo pelo Colégio Regional do Ambientee pela Delegação Distrital de Braga.Fizeram parte do painel de oradoresAntónio Brito (UM) com umaapresentação sobre “O Novo PlanoEstratégico para os Resíduos Agrícolas”,Isabel Vasconcelos (CCDRN) com umaapresentação sobre “O Diagnóstico dagestão de Resíduos na Região Norte” ePedro Machado (BRAVAL) com umaapresentação sobre “O ProjectoEcobraval”. Foram moderadores dasessão Luís Marinheiro (coordenadorregional Norte do ambiente) e PauloRodrigues (delegado distrital de Braga).

Taça OE Braga/DT

A primeira Taça Ordem dosEngenheiros de Braga/DT foidisputada no dia 26 de Maio, nas

instalações da Universidade doMinho, num jogo de futsal entre aequipa dos veteranos do FC Porto e aOE de Braga.Este convívio, inserido no programadesportivo da Delegação de Braga daOE e co-organizado pela DT –Dinamismo Total, estendeu-se a umalmoço, prova de karting indoor noSportCenter em Braga, e à respectivaentrega dos prémios.

Carta geotécnica do Porto

Decorreu no passado dia 31 de Maio,no auditório da Casa do Infante, oworkshop sob o tema Carta Geotécnicado Porto, promovido pela Ordem dosEngenheiros da Região Norte (OERN),Câmara Municipal do Porto (CMP) eAssociação Portuguesa de Geólogos(APG).Estiveram presentes cerca de 75participantes (lotação máxima),incluindo representantes franceses e

italianos do projecto NOE –Património e Prevenção de RiscosNaturais.A sessão de abertura contou com aparticipação de Paulo Morais (vice-presidente da CMP), Gerardo Saraiva(Presidente do Conselho Directivo daOERN), Fernando Noronha (presidenteda APG), António Guedes Marques(vice-presidente da Comissão deCoordenação e DesenvolvimentoRegional do Norte) e M. GillesBegusseau (Projecto NOE – RegiãoProvence-Alpes-Cote D’Azur).A parte da manhã foi reservada àapresentação de diversascomunicações da autoria de Ricardo deOliveira (COBA), Fernando Noronha(FCUP), Cristina Gomes (COBA), SofiaGuimarães (Engico – Grupo COBA),Luísa Borges (CMP) e Roberto Garufi(NOE), que tiveram como objectivo oenquadramento do tema da CartografiaGeotécnica, a apresentação das várias

cartas constituintes da CartaGeotécnica do Porto e, na última,alguns exemplos de trabalhos deanálise de risco desenvolvidos naSicília.Durante a tarde decorreu a sessãoprática, na qual os participantes

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puderam familiarizar-se com autilização das várias aplicaçõesinformáticas da Carta Geotécnica doPorto, com recurso a diversosexemplos.

Visita aossubterrâneos do Porto

O Colégio Regional de EngenhariaGeológica e de Minas com o apoiodos SMAS Porto, levou a efeito, nodia 18 de Junho, uma visita aosmananciais de água subterrâneos doPorto. Esta iniciativa foi muito concorrida e,para além da parte cultural,proporcionou momentos de diversãoe alegre convívio.Os subterrâneos visitados percorremo antigo manancial de Paranhos(também conhecido como omanancial da Arca de Água ou Arcadas Três Fontes por serem três asnascentes de onde a água brotava),que foi, sem dúvida, o mais

importante, devido à excelentequalidade e pureza da água e ao seu“copioso caudal".Dado o grande interesse manifestadopor esta visita, e dado que nem todospuderam participar, o Colégio Regionalde Engenharia Geológica e de Minas irárepetir esta actividade em data aanunciar brevemente no site da RegiãoNorte.

Procedimentos de licenciamento do Porto

A Ordem dos Engenheiros - RegiãoNorte (OERN), com o apoio daCâmara Municipal do Porto (CMP),promoveu no passado dia 28 deJunho, na sua sede, uma sessão deesclarecimento e debate subordinado

ao tema “Novos Procedimentos deLicenciamento da Câmara Municipaldo Porto”. A sessão teve início às21h30, tendo sido extremamenteparticipada, dado que contou commais de uma centena e meia depresenças e teve a duração de cercade duas horas e meia.A abertura da sessão foi efectuadapelo presidente do ConselhoDirectivo da OERN, o engenheiroGerardo Saraiva de Menezes, o qualdeu as boas-vindas aos presentes,expôs os objectivos da sessão eagradeceu a colaboração doselementos que permitiram que amesma se pudesse concretizar. Emseguida deu a palavra aos oradores,tendo a intervenção de fundo ficado acargo do arquitecto José Carapeto,director municipal da CMP, o qualexpôs detalhadamente a organizaçãodo processo de licenciamentosimplementado na CMP e referiu os

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seus aspectos mais relevantes, tendoem vista a melhoria da eficiência dosistema de licenciamentoPosteriormente, o vice-presidente daCMP, Paulo Morais, fez igualmenteuma breve intervenção,complementando e sublinhandoalguns dos aspectos que foramreferidos na apresentação anterior.Após este período de intervençõesseguiu-se um animado período dedebate, em que foram colocadasdiversas questões aos oradores eexpressos pontos de vista por parte dosinúmeros colegas presentes naassistência. As respostas às questõescolocadas foram asseguradas peloselementos da CMP já referidos e aindapelo engenheiro José Duarte, directordo Departamento de Licenciamento,Salubridade e Fiscalização.

Cursos de formaçãoem Braga

No âmbito dos cursos de formaçãofinanciada realizados na sede Distrital de Braga da Ordem dosEngenheiros, coube ao delegado distrital de Braga, o engenheiro PauloRodrigues, a tarefa de abrir e encerrar os respectivos cursos.De salientar o sucesso desta 1ª acçãode formação, testemunhada por formadores e formandos, que nãopararam de enviar mensagens de agradecimento e de felicitações pelainiciativa da Ordem dos Engenheiros.Além do valor acrescentado que estainiciativa permitiu aos formandos, do ponto de vista formativo nasdiferentes disciplinas leccionadas,também tivemos o testemunho queesta acção de formação permitiuconhecer de perto a sede distrital deBraga e aproximar os engenheiros às

actividades da Ordem, assim comopermitiu juntar colegas da Universidade que não se viam àmuitos anos.É caso para dizer que esta acção deformação correu e está a correr muito bem e como tal "recomenda-se".

Bragança discuteambiente

No âmbito do II ciclo de palestras“Estado do Ambiente na RegiãoNorte”, realizou-se em Bragança, nodia 2 de Julho, uma palestrasubordinada ao tema “QualidadeAmbiental e Ordenamento doTerritório”. Este evento, organizadopelo Conselho Regional Norte doColégio de Engenharia do Ambiente,mereceu o apoio da delegaçãodistrital de Bragança e do InstitutoPolitécnico de Bragança (IPB). Nasessão de abertura, o presidente doIPB, Doutor Dionísio Gonçalves,

salientou a importância da temáticapara a região e manifestou particularagrado pelo facto do colégio terseleccionado a cidade de Bragançapara este fórum de reflexão.Os trabalhos propriamente ditosiniciaram-se com a intervenção doengenheiro Artur Gonçalves, docenteda Escola Superior Agrária deBragança, a qual versou a problemáticado planeamento ambiental a nívelurbano. Neste contexto, foram tecidasconsiderações sobre os vários níveis de actuação e deenquadramento relativamente àsfiguras de ordenamento de territórioaplicáveis. Seguiu-se a comunicação doengenheiro Pedro Santos, especialistado Grupo de Estudos Ambientais daEscola Superior de Biotecnologia daUniversidade Católica Portuguesa,que se centrou na aplicação doconceito de Agenda 21 Local e, emparticular, no caso prático de SantoTirso. A Agenda 21 Local de SantoTirso está a decorrer desde Janeiro de2005 na sequência de um protocolo

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de colaboração estabelecido com aCâmara Municipal de Santo Tirso. Oobjectivo central deste projecto é aelaboração de um diagnóstico e deum plano de acção para odesenvolvimento sustentável doconcelho nas áreas definidas comoprioritárias. Para tal têm vindo a serpromovidos diversos momentos departicipação pública, com recurso ametodologias facilitadoras edinamizadoras da participação,merecendo particular destaque asreuniões dos Fóruns Participativosassim como a realização de umquestionário à população doconcelho. Até ao momento foram jáelaborados vários documentostécnicos, tais como o perfil dacomunidade e o pré-diagnóstico desustentabilidade, que reúneindicadores ambientais, económicos esociais sobre o concelho. Todos osdocumentos produzidos até aomomento podem ser consultados napágina oficial do projecto:www.agenda21-stirso.org. Destaqueainda para a existência de um GrupoCoordenador (GC) que consiste numaequipa de trabalho de carácterexecutivo e que reúne, pelo menos,uma vez por mês, com o intuito dediscutir e decidir os próximos passosdo processo. No GC estãorepresentados o executivo municipal,técnicos da autarquia e de serviçosmunicipalizados e diversos sectoresda sociedade civil.Na sessão de encerramento, e dado ointeresse manifestado pelospresentes, o presidente do IPBaceitou o desafio lançado por partedo engenheiro Luís Marinheiro em sepromover, na cidade de Bragança,outro evento sobre a temática e maisalargado a outros agentes dasociedade.

Portugal acolhecongresso mundialdas TIC em agricultura

Numa organização conjunta daUniversidade de Trás-os-Montes eAlto Douro (UTAD), da FederaçãoEuropeia para as Tecnologias daInformação na Agricultura (EFITA) eda Associação Portuguesa para oDesenvolvimento das Tecnologias daInformação na Agricultura (APDTICA)realizou-se, de 25 a 28 de Julho de2005, na UTAD em Vila Real, aconferência internacional conjuntaEFITA/WCCA 2005 - 5th Conference ofthe European Federation forInformation Technology in Agriculture,Food and Environment e 3rd WorldCongress on Computers in Agricultureand Natural Resources.Este evento reuniu 300 dos maioresespecialistas a nível europeu emundial na área das Tecnologias daInformação e Comunicação (TIC)aplicadas à agricultura, alimentação e

ambiente. Os comités organizador ecientífico receberam 301 trabalhos deautores provenientes de 47 países,tendo seleccionado 179 trabalhos paraapresentação oral e 40 paraapresentação em poster. O programade trabalhos do EFITA/WCCA 2005 foiconstituído por 50 sessões técnicasparalelas, duas sessões de posters,dois workshops e cinco sessõestutoriais, cobrindo diversos temas:Agricultura de Precisão, Automação eControlo, Desenvolvimento Rural,eAgBusiness, Gestão de Recursos,Modelação Ambiental e Científica,Produção Animal, Redes Sensoriais,Segurança Alimentar, Sistemas deApoio à Decisão, entre outros.Os principais objectivos destaconferência visaram promover o usodas novas tecnologias, divulgar oestado da arte no uso de ferramentasde software, estabelecer contactos epromover a colaboração entre asinstituições de investigação, de ensinoe os produtores, iniciar projectos deeducação e de treino e apresentar

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planos inovadores com vista a criarnovas empresas. As conclusões dostrabalhos e as recomendações tecidaspelas várias instituições públicas eprivadas, nacionais e internacionais,representadas nesta conferência,apontaram para o potencial que as TICencerram neste sector. A gestão da

informação e a utilização das novastecnologias foram consideradasimprescindíveis ao apoio de tomadade decisões num sector agrícola cadavez mais competitivo e globalizado ecom crescentes preocupações nasegurança alimentar esustentabilidade ambiental.

Neste evento foram também atribuídosdois prémios, designados por EFITAJunior e EFITA Senior Prizes, destinadosa estimular a investigação da aplicaçãodas TIC na agricultura. O prémio EFITAJunior foi atribuído ao trabalho Dynamicmarket monitoring for agrifoodindustries over the Internet, da Drª.Melanie Fritz, da Universidade de Bona,Alemanha, e o prémio EFITA Senior aotrabalho Integrated Pest Management –Sugar Beet Model, do Dr. Verreet, doFreising Institute, Alemanha.

Português distinguidopela ASCE

O engenheiro Paulo Jorge de SousaCruz, do Departamento de EngenhariaCivil, em co-autoria com o colegainvestigador da Universidade do Minho,José Manuel Lopes Cordeiro ganharamo 2005 Thomas Fitch Rowland Prize,atribuído pela ASCE – American Societyof Civil Engineers dos Estados Unidos,ao melhor artigo científico publicadoem 2004, na área da história daEngenharia Civil.O artigo premiado “Innovative andContemporary Porto Bridges” foipublicado no número de Fevereiro de2004 na revista Practice Periodical onStructural Design and Construction econstitui a segunda parte de umconjunto de dois artigos – o primeirofoi publicado na mesma revista emNovembro de 2003 – dedicados àhistória das pontes da cidade doPorto e do seu contributo para odesenvolvimento da Engenharia Civil. Este prémio, um dos mais antigos eprestigiantes no mundo académicoanglo-saxónico, é pela primeira vezatribuído a investigadores portugueses.A entrega da distinção realiza-se emOutubro em Los Angeles.

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Em memória do engenheiro Daniel Pinto da Silva

Natural de Vila Meã, concelho deAmarante, onde nasceu a 17 de Maio de1925, faleceu no passado dia 2 de Junhoo nosso ilustre colega Daniel de SousaSoares Pinto da Silva, membroconselheiro da Ordem dos Engenheiros.Ao registar este facto e exprimir o seuprofundo pesar pelo desaparecimentodeste nosso colega, a Info deixa aquialgumas breves notas, evocativas doseu percurso profissional.Licenciado em Engenharia Civil pelaFEUP em 1950, inicia a sua actividadeprofissional em 1951 na Repartição deEstudos da Direcção Geral de ServiçosHidráulicos, em 1955 ingressa na entãoempresa Hidroeléctrica do Douro ondevem a desenvolver actividade de muitorelevo como responsável pelo SectorHidráulico e de Hidrologia, sendo dedestacar a sua acção a nível do estudo eimplementação das diversas eclusas denavegação nos aproveitamentoshidroeléctricos do Douro Nacional. Nasequência das fusões operadas noSector Eléctrico, vem a transitar em1969 para a CPE (CompanhiaPortuguesa de Electricidade) e em 1976para a EDP (Electricidade de Portugal).Em 1983 assume as funções depresidente da Comissão Directiva doentão recém-criado Gabinete deNavegabilidade do Douro, funções queexercerá até à sua aposentação. Noperíodo compreendido entre 1973 e1986 foi ainda membro da ComissãoInternacional para Estudo das Eclusasde Navegação.A sua intensa actividade profissionallevou-o a estabelecer contactos muitoestreitos com o LNEC (LaboratórioNacional de Engenharia Civil), ondedeixou a melhor das recordações como

técnico e como pessoa. A este propósito,o actual presidente do LNEC, colegaCarlos Matias Ramos, recorda: “OEngenheiro Daniel Pinto da Silva,engenheiro com E grande, abordousempre com o maior rigor e espírito deequipa todos os trabalhos em que, deforma entusiasta, se envolveu comoprojectista integrado na excelente equipada Hidroeléctrica do Douro,posteriormente integrada na CPE eactualmente na EDP. Salienta-se o seuenvolvimento, como responsável nasrelações com o LNEC no âmbito dosestudos em modelo reduzido dos órgãoshidráulicos das barragens do DouroNacional e, em particular, das eclusas denavegação. Refere-se, pelo desnívelmáximo de água entre montante ejusante, a eclusa da Barragem doCarrapatelo, que à época constituiu umrecorde mundial. O sucesso nodesempenho das diversas eclusas queforam construídas no Douro Nacional eque agora permitem usufruir daquela vianavegável resultaram da forma como sedesenvolveram esses estudos, cujoresultado muito devem à forma afável,dialogante, empenhada e conhecedoracomo o Engenheiro Daniel Pinto da Silvadesenvolvida a sua relação com ostécnicos do LNEC.

Salienta-se a este propósito, acomunicação que apresentou em co-autoria, com outros engenheiros daEDP e com investigadores do LNEC, aoXXII Congresso Internacional deNavegação, Paris – 1969, intitulada L’Écluse de Carrapatelo sur le FleuveDouro. Esta comunicação foiposteriormente publicada na sérieMemórias do LNEC (M352, 1970).”O engenheiro Daniel Pinto da Silva foiautor ou co-autor de inúmerostrabalhos na sua área de actividadeprofissional, muitos dos quaisapresentados em congressos eencontros internacionais. A terminaresta breve nota não podemos esquecerque este nosso colega dedicou sempregrande carinho às actividades da ‘sua’Ordem, tendo sido eleito para odesempenho de diversas funçõesdirectivas na Região Norte. Sem apretensão de sermos exaustivos,referem-se alguns dos mandatos a queele esteve ligado. Assim, a 1 de Julho de1975 tomou posse como secretário daComissão Directiva Provisória daSecção Regional do Porto da Ordemdos Engenheiros e a 2 de Abril de 1979tomou posse como vice-presidente doConselho Directivo. A 1 de Abril de 1982passou a exercer funções comomembro do Conselho Fiscal e, nomandato seguinte, em 1985, exerceufunções como membro da Assembleiade Representantes. Em todos estescargos demonstrou sempre as maisnotáveis qualidades profissionais ehumanas, que lhe granjearam aadmiração de todos os colegas ecolaboradores. De registar que o seu falecimento seregistou na sua casa de S. Cosmado,concelho de Armamar, em plena regiãodo Douro, pela qual nutria um especialcarinho que se reflectiu sempre nodecurso da sua vida pessoal eprofissional.

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Conselho Regional do Colégio de Engenharia Civil

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Nova regulamentaçãosobre térmica ecertificação energética:uma oportunidade paramelhorar a qualidadeglobal dos edifícios

INTRODUÇÃO Reflectindo a crescente preocupaçãoda sociedade com o desenvolvimentosustentado, que todos os Engenheirosdevem promover empenhadamentenas suas actividades, têm vindo amultiplicar-se, em contextos variadose com ecos regulares na imprensa,eventos em torno da eficiênciaenergética dos edifícios,sensibilizando os profissionais daárea da construção, a comunidade emgeral e o meio político, para anecessidade de legislar nesse sentido.Com o objectivo de melhorar odesempenho energético dos edifícios,corresponder às exigências do acordode Quioto e transpor a DirectivaComunitária 2002/91/CE, estão emcurso iniciativas legislativas em doiscampos:

Alteração dos actuais Regulamentossobre térmica dos edifícios: RCCTE – Regulamento dasCaracterísticas de ComportamentoTérmico dos EdifíciosRSECE – Regulamento dos SistemasEnergéticos de Climatização dosEdifícios

Certificação energética.Os respectivos projectos de diplomaque estão em adiantada fase dediscussão no Governo e terão grandeimpacto nas práticas actualmente emvigor no sector da construção, semque tivesse ocorrido suficiente

divulgação e adequado debate nomeio técnico interessado. Tanto mais que, além daregulamentação de caráctereminentemente técnico, as propostasintroduzem clausulado regulador dasqualificações profissionais dostécnicos responsáveis pelos projectose instalações, bem como as suasregras de licenciamento, abrindoconflito com legislação existente ouem curso de revisão. A OE tem centrado muito da sua

acção no sentido de corrigir adispersão, descoordenação econtradição que têm caracterizado aprodução legislativa do sector daconstrução. Nesta linha o Colégio deEngenharia Civil analisou aspropostas de diplomas sobre térmicados edifícios acima referidos, avalioua sua compatibilidade com osprincípios estratégicos que a OEdefende e com a legislação que estáem curso de revisão, designadamentecom a proposta estruturante, relativaà revisão do Decreto 73/73. Dessa análise resultou o parecer queestá disponível emhttp://norte.ordemdosengenheiros.pt.Nele se fazem propostas e identificamalgumas questões que seria prudenteesclarecer, num contributoconstrutivo que nos parece pertinentepara melhorar a eficácia dosdiplomas.

ASPECTOS RELEVANTESQuer o RCCTE, quer o RSECE, alémdos conteúdos eminentementetécnicos que são o escopo natural dosRegulamentos e não suscitamreservas, incluem clausulado denatureza administrativa do qualdiscordamos porque:Interfere com o regime delicenciamento;Interfere com as Ordens Profissionais

na qualificação de competênciaprofissional dos seus membros;Interfere com a esfera disciplinar dasOrdens, transferindo a sua acção paraterceiros; Ignora legislação existente, ou emcurso de alteração, com a qualinterfere, agravando a desarticulaçãolegislativa do sector.Por outro lado este clausulado colidefrontalmente com a propostaestruturante que a OE apresentoupara revisão do Decreto 73/73,designadamente:Contrariando a visão do projectocomo um todo multidisciplinar;Dá azo a que o consumidor possaencarar com desigual credibilidade osvários termos de responsabilidadeque integram um mesmo processo delicenciamento, quando a OEdesencadeia medidas para reforçar amesma credibilidade e confiançapública; Transferindo competências dequalificação profissional queestatutariamente são exclusivo da OEpara outras entidades como o CSOP,DGE e Associações de AVAC.De acordo com a proposta, aaplicação do RCCTE não seráobrigatória para todos os edifícios enão é possível assegurar a eficiênciaenergética dos edifícios semassegurar a qualidade da suaenvolvente na componente energéticae construtiva, pelo que oRegulamento das Características deConforto Térmico dos Edifícios(RCCTE) deve ser aplicado a todos osedifícios (residenciais e de serviços)independentemente da necessidade,ou não, de aplicação do RSECE.O prazo de 90 dias para entrada emvigor é claramente insuficiente, umavez que a legislação é complexa, nãose conhece programa de formação,nem manuais de aplicação e só um

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círculo muito restrito de profissionaisconhece e estará em condições de aaplicar. Nem-tão pouco conseguimosperceber na Directiva estanecessidade de precipitar soluções,uma vez que esta prevê umatolerância de 3 anos naimplementação da certificação e dasinspecções.Também os protocolos relativos àqualificação profissional não sãoconhecidos da Ordem e a certificaçãoexige a criação de estruturas técnicas,das quais pouco se sabe. Por outro lado cria um negócio novode cerca de 25 milhões de euros porano, correspondente à expectativa de100.000 certificados, relativamente aoqual é indispensável assegurartransparência, nomeadamente quantoaos critérios de atribuição de alvarásàs futuras empresas certificadoras eao regime de preços.No que respeita à utilização deenergias renováveis não vemoscondições para impor comoobrigatória a utilização de painéissolares. A Directiva impõe que “sejaestudada a viabilidade técnica eeconómica de sistemasalternativos…”. Consideramos que autilização de sistemas alternativosdeve ser estimulada, desde que estejademonstrada a sua sustentabilidadeeconómica e ambiental, comintegração urbanística assegurada.Não há indicações de que tenhamsido avaliados os vários impactes danova legislação, designadamente oagravamento do custo induzido, querpelo aumento de exigências naconstrução, quer dos novosprocedimentos administrativos (taxasde certificação), por um lado, e, poroutro, sobre os efeitos nas soluçõesconstrutivas, na durabilidade dasconstruções e ainda nos efeitos que aimposição de alterações súbitas pode

ter na indústria ao nível dos materiaisou das práticas de construção, ouainda na burocracia associada aos 2novos organismos públicos criados:O Sistema Nacional de CertificaçãoEnergética e o Observatório Para aEficiência Energética.Perante a inexistência de umenquadramento global e integrado, é natural que as propostasapresentem, como é o caso, umaideia de certificação meramentesectorial. Ora, um edifício não integraapenas sistemas energéticos; o seu projecto e execução dizemrespeito a um todo multidisciplinar enão podemos, por exemplo, encararcomo aceitável que um edifício tenhaum excepcional desempenhoacústico, mas tenha,simultaneamente, problemas deinfiltração, ou a sua estrutura ameaceruína.Ora, se a OE considera fundamental avisão do projecto como um todo,também os objectivos de qualidadedevem enquadrar-se na mesmaperspectiva integrada.

PROPOSTAÉ um imperativo de desenvolvimentoavançar com medidas concretas esustentáveis que reduzam o consumode energia e emissões quecontribuem para o efeito de estufa nosector da construção, do mesmomodo que é necessário estabelecergarantias de qualidade mais efectivasperante o consumidor. Relativamente às duas iniciativaslegislativas em apreço o Colégio deEngenharia Civil propõe:RegulamentosPor princípio os regulamentos devemcingir-se ao conteúdo técnico, sendoas questões de naturezaadministrativa ou de competênciaspara o exercício dos actos remetidas

para diplomas próprios. Nestaperspectiva concordamos com aaprovação das propostas de revisãodo RCCTE e RSECE nas seguintescondições:Manter o clausulado com conteúdotécnico;Eliminar o clausulado de naturezaadministrativa que diz respeito aolicenciamento e qualificaçõesprofissionais;Obrigar, de forma clara, à aplicaçãodo RCCTE a todos os edifícios(residenciais e de serviços); Alargar o prazo de entrada em vigorpara 1 ano;Criar uma comissão técnica deacompanhamento para aferir osimpactes de implementação destesdiplomas e propor os ajustamentosadequados.

CertificaçãoDeve procurar-se uma solução quesatisfaça a Directiva, mas que integrea visão dos projectos e obras comoum todo multidisciplinar coordenadoe homogéneo, aproveitando aoportunidade para promover um saltosignificativo na garantia de qualidadeglobal dos edifícios e criar um modelode certificação com a perspectivaintegrada, a implementar do seguintemodo:

Definição dum modelo integrado decertificação global dos edifícios;Implementar o modelo de formaprogressiva, avançandosucessivamente com as áreas cujoconhecimento técnico-científico estejamais consolidado, como parece ser ocaso do Comportamento Energéticodos Edifícios.Estabelecer uma calendarização de objectivos, para que o mercado e a comunidade técnica se preparem.

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infoPágina 30 ENGENHARIA NO MUNDO

Hiroxima, a engenhariaao serviço de quem?

“Foi um brilho”, assim descreveu VanKirk, um dos 12 tripulantes do bombar-deiro B-29 com o nome Enola Gay, abomba a explodir em Hiroxima a 6 deAgosto de 1945. A bomba Little Boy, de quatro toneladase meia (20 quilos de urânio 235), 3,5metros de comprimento e 0,75 de largu-ra, era como uma arma de disparo, emque um pequeno explosivo impelia uma‘bala’ de urânio por um cano de 1,8metros até um núcleo de urânio, desen-cadeando a fissão nuclear. Rebentou a580 metros de altitude com uma forçacorrespondente a 15 mil toneladas deTNT. Em dois minutos o cogumelo quegerou tinha 10 quilómetros de altura.Esse brilho levou à morte 66 mil pessoase feriu 69 mil, e uma segunda bombadetonada três dias depois em Nagasáquisomou o fim de 39 mil vidas humanas e25 mil feridos. Os números ainda hojenão são exactos, mas sabe-se que maispessoas viriam a morrer por contamina-ção radioactiva.Bastou que Einstein mostrasse ‘o comose faz’ para que se desse início à corridaao armamento e à energia atómica.Através da equação E=mc2, o físicodemonstrou que a matéria pode ser con-vertida directamente em energia, querpelo processo de fissão quer por fusão. Em 1938, os físicos alemães Otto Hahn eFritz Strassmann conseguiram pela pri-meira vez a fissão de um átomo, o quecomprovou que este processo produzenergia em grandes quantidades. O tra-balho levado a cabo pelo grupo lideradopor Otto Hahn empenhara-se nesse tra-jecto depois de conhecer os avanços doitaliano Enrico Fermi, que anos antes ini-ciara a experiência de bombardeamentode urânio com neutrões. Foi Fermi o pri-meiro a verificar na prática, pela constru-ção do que se poderá chamar o primeiroreactor atómico, como a energia liberta-da era imensa e poderia ter aproveita-mento para a produção de electricidade.

Em Agosto de 1942, Roosevelt, entãopresidente dos Estados Unidos, lançou oProjecto Manhattan, liderado pelo físicoRobert Oppenheimer, que conduziu oprimeiro ensaio de uma bomba atómicacom plutónio em Alamogordo (NovoMéxico), a 16 de Julho de 1945. Vivia-se aII Guerra Mundial e a bomba atómica foiconsiderada um mal menor para o seufim e a rendição do Japão.Com tantos esforços humanos reunidosabriu-se o caminho para a tecnologianuclear. Engenheiros e cientistas devários países empenham-se para criaruma arma cada vez mais poderosa, maisperigosa e mais eficaz. Existem actual-mente mais de 10 mil ogivas nucleares,sendo cada uma delas 20 vezes maispotente que a bomba atómica deHiroxima. Estados Unidos, Rússia, Reino Unido,França, China, Índia, Paquistão e Israelpossuem armas nucleares. A Coreia doNorte e o Irão possivelmente também asdetêm.

Para estar ao serviço de quem? Corre-seo risco das armas nucleares virem a serusadas novamente em conflitos bélicosou por grupos terroristas. Terá sido mesmo necessário uma bombaatómica em Hiroxima para terminar como conflito? Precisamente por este medo ser real,vários países assinaram o Tratado deNão-Proliferação Nuclear em 1968 e aIniciativa de Segurança contra aProliferação em 2003. Mas tudo issoparece um pouco contraditório, poissabe-se que potências mundiais preten-dem modernizar o seu armamento. OsEstados Unidos, por exemplo, queremtentar desenvolver um novo tipo debomba, o Penetrador Nuclear Robustoda Terra, conhecido por ‘caça-abrigos’por vir a ser utilizado para atacar alvosno subsolo.Há, porém, duas certezas: a Engenharianem sempre está ao serviço do bem enunca mais haverá recuo ao caminho tra-çado depois de Hiroxima.

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Planície Dourada

A Região de Turismo Planície Douradaabrange um vasto território no Sul dopaís, que abrange os concelhos de:Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos,Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira doAlentejo, Mértola, Moura, Ourique,Serpa e Vidigueira. A região é toda nointerior fazendo fronteira a norte como distrito de Évora, a leste comEspanha, a sul com o Algarve, e aoeste com os concelhos de Odemira,Santiago do Cacém e Grândola. Ocupauma área de cerca de 8500 km2, e temuma fraca densidade demográfica comcerca de 15,4 hab./km2. A paisagem, forte, imensa, perturbantedefine o território. No Inverno o verdedomina, na Primavera, mantos floridosde variados tons transformam a regiãonum festival de cor; no Verão asensação de secura e calor é-nostambém transmitida pelo dourado queentão conquista tudo, por fim, noOutono os campos são charruados esemeados, o castanho adquire oprotagonismo, uma infinidade de tonsde terra definem agora a paisagem. A paisagem é a primeira sensação quetemos ao chegarmos à região, importapois descobrir o que está para alémdesta primeira impressão.A fauna é também nesta região umindubitável motivo de interesse. Sãovários os habitats identificados naRede Natura 2000, como a ZPE deMoura Barrancos e Mourão onde podeencontrar várias aves de rapina,cegonha negra ou grous; a ZPE deCastro Verde, único plano zonal dopaís, onde as aves estepárias marcampresença; ou ainda a ZPE do Guadianaonde se inclui o Parque Natural doVale do Guadiana, que tem comoreferência obrigatória a queda de águaconhecida por Pulo do Lobo. História rica, desde tempos remotos,tem testemunhos da presençahumana: sítios arqueológicos, castelos,igrejas, antigas minas, museus ondesão expostos os vestígios do passado,

ou tão simplesmente as pequenas vilase aldeias com as suas construçõestradicionais reflectem bem adiversidade das influências culturais aque esta região esteve sujeita. As festas religiosas e popularesexistem por toda a região, todas asaldeias e vilas embelezam-se parafestejar os seus santos padroeiros,especialmente no período de Verão. As feiras, outrora espaços privilegiadosde reunião e comércio, modernizam-sehoje para serem as mostras dasactividades e produções locais,também o convívio em torno do Canteé pretexto para encontros nas váriaslocalidades que têm tradição nestaarte. A gastronomia é um dos melhorescartões de visita da região. São osqueijos de cabra e de ovelha, sendo omais afamado de Serpa, são ospresuntos e enchidos sobretudo os deBarrancos preparados a partir do porcopreto. Famoso, em toda a região, étambém o pão de trigo com o qualjuntando-se ervas aromáticas –coentros, poejos, ou hortelã –elaboram-se as deliciosas migas,açordas e ensopados. Gaspacho,

ensopado de borrego, carne doalguidar, sopa da panela, sopa debeldroegas, sopa de cação e açorda dealho com bacalhau são alguns dospratos eleitos, mas há mais, há asfavas guisadas, as ervilhas com ovos, ocozido de grão, e ainda os pratos decaça. Na doçaria a excelência é para osdoces conventuais como o pão de ralaou as trouxas-de-ovos, mas as popias,os nógados ou os pastéis de grão sãotambém uma tentação. Quanto aos vinhos, Vidigueira, Mourae Pias são as zonas mais afamadas ecom mais tradição nesta arte, noentanto, para além destas localidades,nos últimos anos têm surgido vinhasnoutras zonas da região.E porque falamos de paisagem ealimentação, não nos podemosesquecer do azeite, já que o olival éuma presença constante na paisageme o azeite um dos produtos regionaismais reconhecidos, destacando-se oazeite de Moura.É uma região onde os sentidos secruzam num turbilhão de sensaçõesúnicas. Uma região de visita obrigatória.

Agostinho Peixoto, consultor/especialista em Turismo

info Página 31LAZER

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infoPágina 32 AGENDA

ENCONTROS E DEBATES

24 SETEMBROLOCAL: Gerês - Terras de BouroORGANIZAÇÃO: OERNENCONTRO 2005 DE MEMBROS ELEITOS DA REGIÃO NORTE DA ORDEM DOS ENGENHEIROS

12 E 13 OUTUBROLOCAL: EXPONOR, MatosinhosORGANIZAÇÃO: OEENCONTRO NACIONAL DO COLÉGIO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICAO Colégio Nacional de Engenharia Electrotécnica vai levar acabo o seu 7º Encontro Nacional, o qual vai decorrer emsimultâneo com o 14º ENDIEL (Encontro para oDesenvolvimento do Sector Eléctrico e Electrónico), quetem lugar entre 11 e 15 de Outubro de 2005 na Exponor -Feira Internacional do Porto. As datas de realização doencontro serão os dias 12 e 13 de Outubro e o mesmo serásubordinado ao tema principal “O papel do EngenheiroElectrotécnico na Engenharia dos Edifícios”. Neste temaserão considerados quatro subtemas parciais, os quais sereferem especificamente a Sistemas de Energia, Sistemasde Telecomunicações, Automação e Segurança e ainda aEficiência Energética.O encontro, cujo programa final se encontra em processode elaboração, revestirá a forma de um conjunto deseminários e painéis, sobre o tema e subtemas referidos,em que participam, como conferencistas convidados,diversos técnicos e especialistas de reconhecido mérito.

OUTUBROLOCAL: Vidago - Chaves ORGANIZAÇÃO: OERN e Delegação Distrital de Vila Real 1.º ENGINEERS TROPHY/ENGENHARIA TOTAL

OUTUBROLOCAL: Sede da OERN ORGANIZAÇÃO: OERNASSEMBLEIA REGIONAL NORTE DA ORDEMDOS ENGENHEIROS – ORÇAMENTO 2006

CONGRESSOS E SEMINÁRIOS

12 A 14 OUTUBROLOCAL: Auditório do ISEPORGANIZAÇÃO: FEUPTRIBOSCIENCE AND TRIBOTECHNOLOGY SUPERIOR FRICTION AND WEAR CONTROL IN ENGINES AND TRANSMISSIONS

No âmbito do Programa COST, patrocinado pela ESF –European Science Foudation, está em curso um programade trabalhos a nível europeu relacionado com ainvestigação e desenvolvimento na área da Tribologiaaplicada a motores e transmissões mecânicas. Nestegrupo de trabalhos estão envolvidos mais de 100investigadores e técnicos dos países europeus elimítrofes. Face ao interesse dos resultados até agora obtidos, o“Department of Energy” dos Estados Unidos associou-seaos trabalhos, nomeadamente nos relacionados com aEngenharia das Superfícies (“Integrated engineeredsurface technology to reduce friction and increasedurability program of the department of energy”). Assim sendo, este grupo realizará a sua conferência anualno Porto de 12 a 14 de Outubro de 2005, no auditório doISEP, Departamento de Engenharia Mecânica, sendocoordenador da iniciativa o Eng. Luís Andrade Ferreira, daFaculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Esta conferência está aberta à participação de todosinteressados em Tribologia e Engenharia das Superfícies.Nela serão apresentados mais de 25 trabalhos por algunsdos mais prestigiados especialistas mundiais emTribologia. Mais informações em: http://www.fe.up.pt/cost532 e D.Fernanda Fonseca, DEMEGI/FEUP: 225081716 [email protected]

2 A 5 NOVEMBROLOCAL: UTADORGANIZAÇÃO: APEZXV CONGRESSO DE ZOOTECNIAA Associação Portuguesa de Engenheiros Zootécnicos(APEZ) vai realizar, de 2 a 5 de Novembro de 2005, o XVCongresso e I Iberoamericano de Zootecnia naUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), umainiciativa que merece o apoio da Ordem dos Engenheiros.O tema central do congresso é a investigação edesenvolvimento em ciência animal, englobando quinzesessões temáticas onde estarão presentes oradoresconvidados de renome científico e técnico internacional.Adicionalmente, o Congresso integra as III JornadasInternacionais de Cunicultura e diversos workshops sobreassuntos da actualidade, designadamente “SegurançaAlimentar”, “Diagnóstico da Gestação em Ruminantes”,“Zootecnia nos trópicos” e “Novas Tecnologias emMelhoramento Animal”.O último dia de trabalhos será dedicado ao debate dasquestões do ensino, da acreditação e da empregabilidade naZootecnia. Esta sessão pretende reunir todos osinteressados nesta matéria, em particular, os docentes einvestigadores, bem como os agentes empregadores daárea. Nesta perspectiva, serão convidados representantes

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info Página 33AGENDA

de diversas empresas privadas e de instituições públicascom interesse na ciência animal para debater as questõesda empregabilidade. De igual modo, estarão presentesrepresentantes da Ordem dos Engenheiros para debater otema da acreditação no quadro do processo de Bolonha.Mais informações em: www.apez.pt, www.zootec.org,[email protected] ou 25932261

23 E 24 DE FEVEREIRO LOCAL: FEUP ORGANIZAÇÃO: OERN, FEUP e APSET6º COLÓQUIO DE SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO

CULTURA E LAZER

SETEMBROLOCAL: Braga ORGANIZAÇÃO: Delegação Distrital de BragaINAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO - "ENGENHO E OBRA - ENGENHARIA EM PORTUGAL NO SÉCULO XX "

20 SETEMBROLOCAL: Sede da OERNORGANIZAÇÃO: OERNLANÇAMENTO DO LIVRO “PONTE MARIA PIA, AOBRA-PRIMA DE SEYRIG”

1 A 17 OUTUBROLOCAL: Sala de Convívio da OERNORGANIZAÇÃO: OERNINAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE JORGE DO CARMONascido há 65 anos em Viseu, o pintor autodidacta estárepresentado em colecções nacionais e estrangeiras. As suaspinturas fazem parte do espólio do Museu Grão Vasco,Governo Civil de Viseu, Turismo de Viseu, Auditório MiritaCasimiro, Câmara Municipal de Nelas, International House(Inglaterra) e Câmara Municipal de Castro Daire.

FORMAÇÃO

3 E 10 SETEMBRO; 12 E 19 NOVEMBRO E 10 E 17 DEZEMBROLOCAL: Sede da OERNORGANIZAÇÃO: OERNCURSO DE ÉTICA E DEONTOLOGIAPROFISSIONALA Região Norte da Ordem dos Engenheiros tem vindo apromover cursos de formação em Ética e Deontologia

Profissional com o objectivo de transmitir conhecimentos edivulgar casos de reconhecida importância para o exercício daprofissão de engenheiro, designadamente no tocante aosvalores e princípios a ela inerentes.Estes cursos constituem, desde Janeiro de 2002, umacomponente obrigatória dos estágios de admissão à Ordemdos Engenheiros. Deste modo, qualquer membro estagiárioque se tenha inscrito depois de 1 de Janeiro, só será admitidocomo membro efectivo após a frequência, comaproveitamento, daqueles cursos. A duração destes cursos é de 10 horas, a funcionar das 10h30às 13h e das 14h30 às 17h.O número de participantes por curso é limitado, sendo asinscrições consideradas por ordem de recepção na OERN.Para efectuar a inscrição deverá enviar a ficha de inscrição eproceder ao pagamento de 25,00 euros (inclui: documentação)Mais informações em: www.norte.ordemdosengenheiros.pt

SETEMBRO/OUTUBRO/NOVEMBROLOCAL: Porto, Vila Real e Viana do Castelo ORGANIZAÇÃO: OERNPLANO DE FORMAÇÃO FINANCIADO 2005 Os cursos a decorrer no Porto: Formação Avançada deFormadores (60 h), Legislação Laboral/Acidentes de Trabalho(30 h), Informática Avançada (30h); em Vila Real: Finanças eContabilidade para Não Financeiros (30h), Inglês TécnicoComercial (60h), Informática Avançada (30h); e em Viana doCastelo: Metodologias, Implementação Sistemas Gestão deQualidade (30h). Inscrições limitadas a membros e seleccionadas segundoanálise curricular. Enviar curriculum vitae com a indicação docurso para [email protected] informações em: www.norte.ordemdosengenheiros.pt

7 A 29 OUTUBROLOCAL: Departamento de Geologia da FCUP-Porto ORGANIZAÇÃO: Colégio Regional de Engenharia Geológica ede Minas e pela Associação Portuguesa de Geólogos5º CURSO DE EXPLOSIVOS Entre de 7 a 29 de Outubro vai decorrer nas instalações doDepartamento de Geologia da FCUP-Porto, promovido peloColégio Regional de Engenharia Geológica e de Minas e pelaAssociação Portuguesa de Geólogos, o 5º Curso de Explosivosdo Centro de Geotecnia do IST CEGEO/IST.Trata-se de um curso com interesse para todos os que estejamligados à aplicação de produtos explosivos industriais e a todosos que ocupam, ou pretendem ocupar, cargos deresponsabilidade técnica em pedreiras e obras de escavação,nomeadamente: licenciados em Geologia, Eng.ª de Minas,Eng.ª Geológica, Eng.ª Geotécnica e Eng.ª Química.Mais informações em: www.norte.ordemdosengenheiros.pt ouColégio Regional de Eng.ª Geológica e de Minas:[email protected]

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infoPágina 34 AGENDA

Formação 2005/2006 (1.º Semestre)

Projectista de Redes de Gás (48h) - € 350,00

7 a 22 de Novembro de 2005 Porto23 de Janeiro a 7 de Fevereiro de 2006 Braga9 a 24 de Fevereiro de 2006 Vila Real

Projecto de Aquecimento Central e Produção de Água Quente Sanitária (24h) - € 200,00

13 a 20 de Março de 2006 Braga

Projectista de Sistemas Solares Térmicos (58h) - € 510,00

20 de Março a 7 de Abril de 2006 Porto19 de Junho a 7 de Julho de 2006 Porto

Segurança contra Incêndios - Concepção e Projecto (40h) - € 320,00

6 a 17 de Março de 2006 Vila Real22 de Maio a 2 de Junho de 2006 Braga

Projectos de Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios (28h) - € 250,00

12 a 20 de Dezembro de 2005 Braga16 a 24 de Janeiro de 2006 Porto8 a 16 de Maio de 2006 Vila Real22 a 30 de Maio de 2006 Porto

Sistemas de Iluminação, Integração e Eficiência Energética (20h) - € 220,00

6 a 10 de Fevereiro de 2006 Porto5 a 9 de Junho de 2006 Vila Real

BOLETIM DE PRÉ- INSCRIÇÃO Formação 2005/2006 (1.º Semestre)

NOME ________________________________________________________________________________ N.º Regional __________________MORADA ____________________________________________________________________________________________________________CÓD. POSTAL ____-____ _____________________ Tel. Resid. ________________ Tel. Emp. _________________Telem.________________ E-mail _________________

Curso(s) pretendido(s) / Datas de realização – __________________________ / ______________ __________________________ /______________ , __________________________ / ______________ __________________________ / ______________ ,__________________________ / ______________

Data 200_/_______/_______ ___________________________________________

Caso o número de participantes pré-inscritos no curso seja considerado insuficiente em termos pedagógicos, a Ordem dos Engenheirosreserva-se o direito de adiar ou anular o mesmo.