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INFORMAÇÃO E MEMÓRIA NOS ARQUIVOS I. O acesso aos arquivos e à informação: um histórico Recentemente foi aprovada na Assembleia Geral do Conselho Internacional de Arquivos ICA, a Declaração Universal sobre Arquivos, um documento que apresenta o significado e importância desse tipo de registro que nossa sociedade produz há séculos. O documento afirma que os arquivos registram decisões, ações e memórias, que Arquivos são um património [patrimônio] único e insubstituível transmitido de uma geração a outra. Documentos de arquivo são geridos desde a criação para preservar seu valor e significado. Arquivos são fontes confiáveis de informação para ações administrativas responsáveis e transparentes. Desempenham um papel essencial no desenvolvimento das sociedades ao contribuir para a constituição e salvaguarda da memória individual e coletiva. O livre acesso aos arquivos enriquece o conhecimento sobre a sociedade humana, promove a democracia, protege os direitos dos cidadãos e aumenta a qualidade de vida 1 . Podemos afirmar, então, que o arquivo tem grande significado não só como fonte de informação, mas também como um patrimônio histórico e cultural, preservando a memória individual e coletiva de uma determinada sociedade. Contudo, é preciso indicar que o arquivo só adquire essa relevância se existe o livre acesso as informações contidas nestes documentos. Assim, a questão do acesso aos arquivos sejam públicos ou privados, é um dos temas mais pertinentes que vêm sendo discutido atualmente. O acesso aos arquivos é uma reivindicação antiga. De acordo com Celina M. Leite Costa e Priscila M. V. Fraiz, em seu artigo “Acesso à informação nos Arquivos Brasileiros”, a França foi o primeiro país que tratou desse tema, em 25 de junho de 1794, no qual determinava que os arquivos nacionais estariam abertos aos cidadãos franceses. Vale ressaltar que na Suécia, desde 1766 sua constituição já assegurava esse 1 Declaração aprovada na assembleia geral do Conselho Internacional de Arquivos realizada em 17 de setembro de 2010, durante a 42ª CITRA, em Oslo. Aprovada na 36ª sessão da Conferência Geral da UNESCO. Tradução para o português acordada entre o Arquivo Nacional (Brasil) e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal). Consulta feita no site: http://www.ica.org/sites/default/files/ICA_2010_Universal-Declaration-on-Archives_PT.pdf. Acesso em 07/01/2017.

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INFORMAÇÃO E MEMÓRIA NOS ARQUIVOS

I. O acesso aos arquivos e à informação: um histórico

Recentemente foi aprovada na Assembleia Geral do Conselho Internacional de

Arquivos – ICA, a Declaração Universal sobre Arquivos, um documento que apresenta

o significado e importância desse tipo de registro que nossa sociedade produz há

séculos. O documento afirma que os arquivos registram decisões, ações e memórias,

que

Arquivos são um património [patrimônio] único e insubstituível

transmitido de uma geração a outra. Documentos de arquivo são

geridos desde a criação para preservar seu valor e significado.

Arquivos são fontes confiáveis de informação para ações

administrativas responsáveis e transparentes. Desempenham um

papel essencial no desenvolvimento das sociedades ao contribuir

para a constituição e salvaguarda da memória individual e

coletiva. O livre acesso aos arquivos enriquece o conhecimento

sobre a sociedade humana, promove a democracia, protege os

direitos dos cidadãos e aumenta a qualidade de vida1.

Podemos afirmar, então, que o arquivo tem grande significado não só como

fonte de informação, mas também como um patrimônio histórico e cultural, preservando

a memória individual e coletiva de uma determinada sociedade. Contudo, é preciso

indicar que o arquivo só adquire essa relevância se existe o livre acesso as informações

contidas nestes documentos. Assim, a questão do acesso aos arquivos – sejam públicos

ou privados, é um dos temas mais pertinentes que vêm sendo discutido atualmente.

O acesso aos arquivos é uma reivindicação antiga. De acordo com Celina M.

Leite Costa e Priscila M. V. Fraiz, em seu artigo “Acesso à informação nos Arquivos

Brasileiros”, a França foi o primeiro país que tratou desse tema, em 25 de junho de

1794, no qual determinava que os arquivos nacionais estariam abertos aos cidadãos

franceses. Vale ressaltar que na Suécia, desde 1766 sua constituição já assegurava esse

1 Declaração aprovada na assembleia geral do Conselho Internacional de Arquivos realizada em 17 de

setembro de 2010, durante a 42ª CITRA, em Oslo. Aprovada na 36ª sessão da Conferência Geral da

UNESCO. Tradução para o português acordada entre o Arquivo Nacional (Brasil) e o Arquivo Nacional

da Torre do Tombo (Portugal). Consulta feita no site:

http://www.ica.org/sites/default/files/ICA_2010_Universal-Declaration-on-Archives_PT.pdf. Acesso em

07/01/2017.

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direito aos seus cidadãos também. No entanto, as autoras afirmam que “na verdade, a

preocupação com a conservação dos documentos e a abertura dos arquivos à

investigação histórica é uma questão que remonta a alguns séculos antes de Cristo”2.

No entanto, no período Medieval, de acordo com Carmem Lúcia Batista, em seu

artigo “Informação pública: controle, segredo e direito de acesso”, afirma que os

senhores feudais absorveram os direitos das comunidades e das cidades, dificultando o

acesso aos arquivos. Já nos séculos XV e XVI, Batista afirma que

Segundo Duchein (1983), surgiu a curiosidade dos historiadores

europeus pelos documentos originais (...). No entanto, a

permissão para acesso aos arquivos de governos e de grandes

instituições públicas continuava sendo um privilégio que os

príncipes acordavam ou recusavam segundo sua vontade e sem

justificação alguma3.

Já Eliany Alvarenga de Araújo, em seu artigo “Informação, Cidadania e

Sociedade no Brasil”, afirma que o processo de desenvolvimento do capitalismo

estimula a luta pelo acesso à informação, principalmente após a Revolução Inglesa e a

Revolução Francesa, no qual intelectuais da época passam a apoiar “na crença da

igualdade de todos os homens perante a lei e o reconhecimento de que a pessoa humana

e a sociedade são detentoras inalienáveis de direitos e deveres”4, ou seja, o direito de

acessar os arquivos e a informação contida nestes.

Entretanto, Costa & Fraiz afirma que no século XIX o acesso aos arquivos

permanecia problemático. Alguns países da Europa, como França, Bélgica, Inglaterra,

Itália e Países Baixos, admitiram o livre acesso aos arquivos, porém com muitas

restrições e fixavam prazos prolongados para a consulta aos documentos. Assim,

A grande revolução documental, inclusive com relação à

abertura dos arquivos ao público em geral, só aconteceu após a

Segunda Guerra Mundial (...). É desse período que data o

surgimento dos conceitos gestão de documentos e de

2 COSTA, Célia M. Leite; FRAIZ, Priscila M. V.. “Acesso à Informação nos Arquivos Brasileiros”. In:

Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro: CPDOC-FGV, vol.2, n.3, 1989, pg. 63. 3 BATISTA, Carmem Lucia. “Informação pública: controle, segredo e direito de acesso”. In: Revista

Intexto. Porto Alegre-RS: UFRGS-PPGCOM, n.26, jul.2012, pg. 209. 4 ARAÚJO, Eliany de Alvarenga. “Informação, Cidadania e Sociedade no Brasil”. In: Revista Informação

& Sociedade. João Pessoa: UFPB, v.2, n.1, jan./dez. 1992, p. 43.

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organização sistêmica de arquivos, que muito viabilizaram o

acesso às informações5.

As autoras também salientam que é a partir da década de 1950, com o

desenvolvimento científico e tecnológico, o progresso das pesquisas históricas, a

elaboração do conceito de direito à informação e a informática foram fatores que

influenciaram na abertura dos arquivos ao público.

Devemos salientar também que após a Segunda Guerra Mundial, com a criação

da Organização das Nações Unidas – ONU e a UNESCO, em 10 de dezembro de 1948,

na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi aprovada a “Declaração Universal dos

Direitos Humanos”, no qual o direito à informação é citado no artigo 19, nos seguintes

termos:

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão;

este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões

e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por

quaisquer meios e independentemente de fronteiras6.

Assim, quando o documento afirma que “Todo ser humano tem o direito de

receber e transmitir informações” estão incluindo a questão do direito à informação e o

acesso aos arquivos, no qual passa a ser “admitido como um direito democrático de

todos os cidadãos, e não somente como uma reivindicação de pesquisa cientifica ou

histórica”7.

No caso do Brasil, Batista afirma que nosso processo é diferente porque éramos

colônia de Portugal, um país que manteve um Estado centralizado e de sigilo oficial por

muito tempo. Além disso, temos que em 1808, com a vinda da família Real para a

América, a experiência de Estado português foi transportada e implantada no Brasil.

Mesmo com a criação do Jardim Botânico, Faculdade de Medicina e de Direito,

Biblioteca Real, entre outros, o Arquivo Nacional – na época chamado de “Arquivo

Público do Império”, só foi criado em 1838 – quase 50 anos depois da criação do

5 COSTA, C.M.L.;FRAIZ, P.M.V., 1989, pg. 64. 6 Declaração Universal dos Direitos Humanos – Organização das Nações Unidas para a Educação,

Ciência e Cultura – UNESCO. Consultar: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf.

Acesso em: 07/01/2017. 7 FONSECA, Maria Odila. “Informações e direitos humanos: acesso às informações arquivísticas”. In:

Revista Ciência da Informação. IBICIT: vol.28, n.2, 1999, pg. 07. Revista Eletrônica:

http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/845. Acesso em: 07/01/2017.

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Arquivo Nacional da França, por exemplo. A política de sigilo mantida pelo governo

imperial pode explicar a “ausência prolongada de uma política para os arquivos, tanto

no que se refere ao recolhimento da documentação quanto à sua liberação à consulta

pública”8.

Atualmente o Arquivo Nacional é visto como referência internacional na área

em relação a sistematização, organização, preservação e acesso aos arquivos. Também

seu acervo é considerado um dos maiores da América Latina. No entanto, em 1988,

quando da comemoração de 150 anos do AN, a revista desta instituição discorre sobre o

perfil institucional do AN que é “somente na década de 1970, na gestão de Raul do

Rego Lima (1970-1980), que o governo federal mostrou alguma sensibilidade” para

com a instituição. Assim, na gestão de Celina Vargas do Amaral Peixoto (1981-1990),

iniciou-se o processo de modernização institucional colocando o AN, conforme já dito,

como uma das maiores instituições arquivísticas da América Latina9. Também afirmam

que

O Arquivo Nacional, embora guardião de documentos

históricos, não é um mero repositório de papeis antigos expostos

à curiosidade do público (...). Seu acervo é franqueado tanto ao

pesquisador que busca elementos para o seu trabalho acadêmico

como também para o simples cidadão (...). Suas competências

são recolher, preservar e dar acesso aos documentos produzidos

e acumulados por instituições governamentais da esfera

federal10.

Mais importante ainda é que finalizam o texto indicando que um dos principais

objetivos do AN está em apoiar os cidadãos em suas demandas de informações,

situando-o como polo irradiador de uma política nacional de arquivos.

Assim, temos que desde a metade do século XX pesquisadores da área de

humanas, profissionais da área de arquivos ou até mesmo a própria sociedade civil, vem

lutando pelo direito ao acesso e à informação contida nos arquivos. No entanto, o que se

entende como informação?

8 BATISTA, C.L., 2012, pg. 206-207. 9 ARQUIVO NACIONAL. “Perfil Institucional”. In: Revista Acervo. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,

v.3, n.2, jul./dez. 1988, 100. 10 ARQUIVO NACIONAL, Acervo, 1988, pg. 99.

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Segundo Georgete Medleg Rodrigues, a informação é um fundamento da ação,

da comunicação e da decisão. Desse modo, a informação pode ser vista como matéria-

prima e o produto do processo de produção de conhecimento. Araújo afirma que a

“informação tem este caráter duplo (matéria-prima e produto) porque ela é utilizada em

todos os momentos do processo de produção e disseminação do conhecimento”11.

Assim, a informação pode ser definida como um bem tangível ou intangível, como

forma de expressão gráfica, sonora e/ou iconográfica, que consiste num patrimônio

cultural de uso comum da sociedade e de propriedade das entidades/instituições

públicas ou privadas (BATISTA, 2012, pg. 205). Podemos afirmar então que “o direito

à informação é a condição essencial para o exercício da cidadania. E esta é, por sua vez,

a maior prova de modernidade que a sociedade brasileira pode apresentar a si mesma e

ao contexto social internacional” (ARAÚJO, 1992, pg. 48).

Considerando então o direito à informação como um “direito-síntese dos direitos

humanos”, podemos afirmar que os arquivos são parte essencial deste processo. Um

arquivo organizado e disponível ao público está na direção de conquista de todo cidadão

pelos seus direitos básicos que a cidadania lhe proporciona. Assim, temos que os

arquivos, na condição de registro de uma ação, devem ser organizados e acessíveis ao

público. Conforme afirma Costa & Fraiz,

A história de um país é também escrita através de seus

documentos. O acesso a estes evidencia a vocação democrática

de uma sociedade que permite aos cidadãos o direito elementar

da informação. É isto o que esperamos que aconteça em breve

em nosso país (COSTA; FRAIZ, 1989, pg. 74).

Importante indicar aqui que, no ano em que as autoras publicaram este artigo –

1989, já tínhamos um ano da promulgação da constituição de 1988 e estávamos

vivenciando o início de um governo democrático no qual a sociedade em geral estava

ansiosa por assistir um governo que priorizasse o acesso à informação para todos os

cidadãos.

Maria Odila Fonseca também afirma que estão contidos dois níveis de

informação nos arquivos: o primeiro é a “informação contida no documento de arquivo,

11 ARAÚJO, Eliany de Alvarenga. “Informação, Cidadania e Sociedade no Brasil”. In: Revista

Informação & Sociedade. João Pessoa: UFPB, v.2, n.1, jan./dez. 1992, pg. 46.

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isoladamente, e aquela contida no arquivo em si, naquilo que o conjunto, em sua forma,

em sua estrutura, revela sobre a instituição ou sobre a pessoa que o criou” (FONSECA,

1999, pg. 06).

Desse modo, temos que o arquivo está ligado ao registro de uma ação, assim,

podemos afirmar que os arquivos também estão relacionados ao conceito de memória12:

Os arquivos constituem a memória de uma organização qualquer

que seja a sociedade, uma coletividade, uma empresa ou uma

instituição, com vistas a harmonizar seu funcionamento e gerar

seu futuro. Eles existem porque há necessidade de uma memória

registrada13 (ROBERT, Apud, JARDIM, 1995, pg. 04).

Importa indicar aqui então que quando fazemos estudos sobre arquivos também

estamos trabalhando a questão da memória, pois os arquivos “são práticas de

identidade, memória viva, processo cultural indispensável ao funcionamento no

presente e no futuro” (MATHIEU E CARDIN, 1990, pg. 114, Apud, JARDIM, 1995,

pg. 06).

Quando refletimos sobre a questão do conceito de memória, os intelectuais do

século XIX relacionavam este conceito ao conceito de nação – visto como a forma mais

acabada de um determinado grupo, ou seja, relacionavam com o conceito de memória

nacional, na época, vista como a forma mais completa de uma memória coletiva.

Já no século XX, este conceito amplia-se e passa a ser analisado como uma

memória social, pois a sociedade vive essa memória coletiva, e essa memória coletiva

transforma-se na consciência histórica que analisamos.

Piere Nora, em seu artigo “Entre a memória e História”, afirma que a memória é

o que está para fora, está nos lugares, diferentemente da tradição do século XIX. Assim,

afirma que a memória social se encontra em “Museus, arquivos, cemitérios e coleções,

festas, aniversários, tratados, processos verbais, monumentos, santuários, associações,

são os marcos testemunhais de uma outra era, das ilusões da eternidade”14.

12 RODRIGUES, Georgete Medleg. “Legislação de Acesso aos Arquivos no Brasil: Um terreno de

disputas políticas pela memória e pela história”. In: Revista Acervo. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,

v.24, nº1, pg. 257-286, jan/jun 2011, Dossiê Acesso à Informação e Direitos Humanos, pg. 258. 13 JARDIM, José Maria. “A Invenção da Memória nos arquivos públicos”. In: Ciência da Informação,

vol. 25, nº 2, 1996. On line: < http://revista.ibict.br/ciinf/index.php > 14 NORA, Piere. “Entre Memória e História: a problemática dos lugares”. In: Projeto História, São Paulo,

n. 10, dez. 1993, pg. 13.

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Michael Pollak, em seu artigo “Memória, esquecimento e silêncio”, no qual faz

uma análise do conceito de “memória coletiva”, afirma que o trabalho da memória é

indissociável da organização social da vida, seja o que ele chama de “memória oficial”

ou “memória subterrânea”. Para o autor, a “Memória Subterrânea” é aquela que se

opõem à “Memória oficial” e privilegia a análise dos excluídos, dos marginalizados e

das minorias15.

No entanto, para que pudéssemos analisar essas memórias subterrâneas, a

metodologia de pesquisa seria por meio de relatos orais e também os arquivos privados,

já que a memória oficial não se interessa em “lembrar” essas memórias. Desse modo,

quando o SPHAN/FNPM aprova o Pró-Documento, estão propondo trazer à tona as

memórias subterrâneas, pois a proposta deles é trabalhar com arquivos privados visto,

para eles, como documentos integrantes da memória nacional, como indicado a seguir:

Sua proposição [da criação do Pró-Documento] deve-se à

importância dos acervos documentais privados (grifo nosso)

para a recuperação da memória e identidade nacionais e para a

pesquisa e a cultura no País e também ao fato de grande parte

dessa documentação encontrar-se em estado extremamente

precário de conservação e inacessível (grifo nosso) aos

pesquisadores e interessados (...). (Texto base do Pró-

Documento apresentado à FNPM em 1984).

Devemos reconhecer, então, que a criação do Pró-Documento em 1984 é fruto

de lutas e reivindicações de vários setores de nossa sociedade que estavam desejosos em

ter acesso à documentação “nunca dantes navegada”.

Para entender melhor a questão do direito à memória e do acesso à informação

que será discutido nesse trabalho, devemos indicar, primeiramente, estudos e reflexões

sobre a memória social e também sobre as relações entre História e Memória feitos em

nossa área, os quais abriram espaço para essa problemática na História Social.

Josefina Cuesta Bustillo, em seu artigo “Memoria e historia. Un estado de la

cuestión”, afirma que estudos sobre memória na área de História são relativamente

recentes, e que somente no final dos anos 70, com textos de Piere Nora e Le Goff sobre

15 POLAK, Michael. “Memória, Esquecimento, Silêncio”. In: Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro:

CPDOC-FGV, Vol. 2, nº 03, 1989, pg. 3-15.

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o tema é que os estudos são intensificados16. Desse modo, a década de 80 assiste uma

expansão dos estudos sobre as relações entre Memória e História, tornando-se um

campo produtivo de pesquisa. Elisabeth Jelin afirma que há três maneiras de pensar as

relações entre História e Memória:

Em primeiro lugar, a memória como recurso para a pesquisa, no

processo de obter e construir “dados” sobre o passado; em

segundo lugar, o papel que a pesquisa histórica pode ter para

corrigir memórias equivocadas ou falsas; e finalmente, a

memória como objeto de estudo da pesquisa (tradução nossa)17.

Heloísa de Faria Cruz afirma também que no decorrer das últimas décadas, a

memória passa a ser uma terminologia utilizada não só por especialistas, mas também

foi incorporada

à linguagem de disputas políticas sobre o direito ao passado, em

uma multiplicidade de momentos e situações da história recente.

Articulando-se às demandas de grupos sociais por políticas

memoriais, as disputas de memória se colocam como

ingrediente corrente da vida política de inúmeros países18.

Desse modo, temos que, desde os anos 80, muitos países da Europa Ocidental e

posteriormente os países da América Latina, multiplicou-se demandas culturais e

políticas que têm se desdobrado em intensas disputas sobre as memórias relativas ao

passado recente, principalmente à documentação referente aos períodos de regimes

repressivos no Cone Sul. Muitos desses países assumiram como política pública de

governo a tarefa e dever do Estado de recuperar, preservar e publicizar a documentação

sobre os períodos de violência institucionalizada. Assim, temos inúmeros projetos de

instituições diversas que, nos dias de hoje, estão voltados para a ação, a pesquisa e a

reflexão sobre a história e a memória desses períodos, bem como para a preservação e a

patrimonialização da documentação referente a essas situações históricas. Mais uma vez

Cruz afirma que tais projetos não estão atuando somente nos estudos e pesquisas de

historiadores,

16 BUSTILLO, Josefina Cuesta. Memoria e historia: un estado de la cuestión. Ayer, n. 32, p. 203-246.

Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/41324823>. Acesso em: 10 jan. 2016. 17 JELIN, Elizabeth. Los trabajos de la memoria. Madri: Siglo XXI, 2002, pg. 63. 18 CRUZ, Heloísa de Faria. “Direito à Memória e Patrimônio Documental”. In: Revista História &

Perspectivas. Uberlândia: UFU-MG, Vol. 24, n. 54, 2016, pg. 28. Dossiê Memória, Arquivos e Direitos.

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mas também nos debates e na atuação de profissionais ligados à

instituições de memória, tais como arquivos, centros de

documentação, museus, instituições de patrimônio histórico e

cultural, bem como nas políticas públicas que orientam a

atuação de tais instituições (CRUZ, 2016, pg. 35).

Desse modo, podemos afirmar que as lutas pelo Direito à memória no período de

processo da democratização no Brasil estava mais próximo das discussões entre

memória, cidadania e direito, que podemos perceber em debates sobre patrimônio

cultural realizados no início da década de 1990 no qual os questionamentos referentes

ao Direito à Memória estavam articuladas as relações entre memória e cidadania, “às

demandas pelo reconhecimento e afirmação de direitos, e às lutas pela democratização

da memória e pelo alargamento do conceito de patrimônio histórico e cultural” (CRUZ,

2016, pg. 39).

Diferentemente de muitos dos movimentos pelo Direito à

Memória vividos por países saídos de ditaduras, como outros

países do Cone Sul, em um primeiro momento, são a exclusão

social e étnica e a reivindicação por direitos, e não a

responsabilização e a reparação pelos crimes cometidos, que se

colocam como principal motor das disputas de maior

repercussão pública.

Esses movimentos citados pela autora não se relacionam somente com as

políticas de memória em geral, mas também com as questões que envolvem, de alguma

forma, as políticas arquivísticas e a formação dos acervos e do patrimônio documental

referente ao período (CRUZ, 2016, pg.40).

O que temos é o surgimento de movimentos sociais diversos reivindicando

direitos e visibilidade na cena pública, o que também se alarga nas definições das

políticas em relação ao patrimônio, o que acaba abrindo e democratizando conceitos e

concepções de memória e patrimônio vigentes na época assim como temos uma

renovação nos estudos acadêmicos referentes à memória social e ao patrimônio

“gerando novos campos de pesquisa e movimentos de registro e preservação de novos

suportes de memórias” (CRUZ, 2016, pg.40)

Assim, temos que no período de transição democrática pelo qual nosso país

passava as políticas de memória coloca a necessidade de ampliar o repertório de

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referências culturais que se reflete nos processos de patrimonialização das instituições

governamentais, reconhecendo, desse modo, permanências culturais de setores

marginalizados pelas concepções elitistas que predominavam o conceito de patrimônio.

Como afirma, mais uma vez, Heloísa de F. Cruz,

o processo de alargamento dos critérios sobre avaliação e

preservação proposto pelas políticas patrimoniais das últimas

décadas do século XX amplia o conceito de patrimônio cultural

para além dos bens edificados, incorporando também os

patrimônios imaterial, documental, ambiental, genético, entre

outros19.

Dessa forma, em nosso estudo queremos mostrar que entre os anos de 1970 e

1980 assistimos a um movimento de reconhecimento do patrimônio documental

referente aos critérios sobre avaliação e preservação tanto na área acadêmica como nas

de políticas públicas. Desse movimento nas políticas públicas relacionadas a memória e

patrimônio documental é que temos a criação, em 1984, pela Fundação Nacional Pró-

Memória (FNPM), da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(SPHAN), de um programa inédito voltado exclusivamente para a preservação

documental. Indicando deslocamentos em uma tradição resistente de valorização quase

exclusiva do patrimônio edificado, entre os anos de 1984 e 1988, desenvolveu-se, no

interior do órgão, o Pró-Documento – Programa Nacional de Preservação da

Documentação Histórica –, que criou numerosos projetos de organização e preservação

de acervos no país20. Conforme afirma Cruz

19 Para saber mais ver: FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da

política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/Minc-IPHAN, 1997; e CAMARGO,

Célia Reis. A margem do patrimônio cultural: estudo sobre a rede institucional de preservação do

patrimônio histórico no Brasil (1838-1980). 1999. Tese (Doutorado em História) – UNESP, Assis,

1999. 20Importante salientar que a breve atuação do Pró-Documento indica a existência de tensões acerca de

encaminhamentos das políticas sobre patrimônio documental no período. Para maior conhecimento da

atuação do órgão em relação ao patrimônio documental e ao Pró-Documento, ver: MOLINA, Talita dos

Santos. Arquivos privados e interesse público: caminhos da patrimonialização documental. Revista

Acervo, Rio de Janeiro, n. 26 (Arquivos, Bibliotecas e Museus), p. 169-174, 2013; BASTARDIS, Jean.

O Programa Nacional de Preservação da Documentação Histórica e seu significado para a

preservação de arquivos no IPHAN. 2012. Dissertação (Mestrado em Preservação do Patrimônio

Cultural) – IPHAN, Rio de Janeiro, 2012; e ANTUNES, Gilson; RIBEIRO, Marcus V. Toledo; SOLIS,

Sydnei. O Programa Nacional de Preservação Histórica – Equipe Pró-Documento. Revista do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – RPHAN. Rio de Janeiro, n. 21, 1986.

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Naquele contexto, a questão do patrimônio documental aparece

como uma das prioridades, traduzindo-se em metas quanto à

implantação de sistemas de arquivos; à reorganização e

ampliação do acesso aos acervos documentais; e ao

desenvolvimento de projetos de História Oral e de apoio técnico

aos movimentos populares na organização e no registro de sua

própria memória (SÃO PAULO, 1992). Para a reflexão aqui

proposta, trata-se de perceber como a ênfase no Direito à

Memória enquanto dimensão básica da cidadania articula-se à

preservação dos acervos relativos às lutas sociais e à

afirmação/invenção de direitos, e ganha espaço no interior de

um movimento mais amplo de valorização do patrimônio

documental no país.

Importante salientar que no mesmo período também tínhamos a Associação dos

Arquivistas Brasileiros – AAB, destacando-se como atuante instituição com a questão

dos arquivos públicos e privados buscando a valorização da profissão e do profissional

arquivista por meio de congressos, seminários e cursos que promoveram no período. A

AAB promoveu diversos congressos nacionais de 1972 a 200021. Assim, no “VI

Congresso Brasileiro de Arquivologia”, ocorrido no Rio de Janeiro em 1986, sob o

título: “Arquivos, Política, Administração e Cultura”, destaca, principalmente, questões

sobre a formação de uma Política Nacional de Arquivos e a importância de cuidado e

preservação com os documentos22. Esta sessão plenária e o título dado ao congresso

indicam a relevância que os arquivos estavam adquirindo devido a “todo o processo da

mídia conscientizando para a preservação da memória, e no seu bojo divulgando a

importância dos arquivos para a guarda e manutenção dos documentos de valor

21 A AAB na atualidade foi dissolvida. Documentação foi doada as instituições congêneres, como, por

exemplo, o Arquivo Nacional. 22 Os relatores dessa sessão plenária foram: Cecília do Amaral Peixoto Moreira Franco – na época

diretora geral do Arquivo Nacional, que fez uma apresentação sobre “O Arquivo Nacional e a Política

Nacional de Arquivos”; Gilson Antunes da Silva – então pesquisador da FNPM/Pró-Documento, que

expôs sobre o “Programa Nacional de Preservação da Documentação Histórica”; Antônio A. B. de Lemos

– diretor do IBICT: “A Política Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e os Arquivos”;

Jorge G. da Costa – Fundação Getúlio Vargas: “O Posicionamento dos Arquivos nas Instituições Públicas

e Privadas”; Inês Etienne Romeu – diretora do Arquivo do Estado de São Paulo: “O Sistema de Arquivos

do Estado de São Paulo”. Anais do 6º Congresso Brasileiro de Arquivologia: Arquivos: Política,

Administração, Cultura”. Rio de Janeiro: Copacabana Palace Hotel, 13 a 18 de abril de 1986, pg. 18.

Disponível em: http://www.aab.org.br/wp-content/uploads/2013/07/6_cong_86-programas4.pdf .

Acessado em 30/09/2013.

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permanente produzidos e acumulados por agências governamentais (...) em

consequência do processo de recuperação democrática do país”, nas palavras do então

presidente da AAB nesta época, Jaime Antunes da Silva.

No ano de 1988, com a “área arquivística mais consolidada e valorizada em

território nacional” - palavras do presidente da AAB na época, Jaime Antunes da Silva,

na apresentação do VII Congresso da AAB, é destacado que este evento é dedicado “aos

novos arquivos, novos registros e suportes da informação, com os desafios que

representam o seu controle intelectual, conservação e acesso. O nosso congresso está

enfatizando a discussão de uma política nacional de arquivos e a implementação de

técnicas que viabilizem o domínio da produção documental, da administração de

documentos, sua avaliação e controle, possibilitando, com rapidez, o acesso às

informações neles contidas” 23. Podemos afirmar que por trás dessa preocupação com a

organização, conservação e divulgação dos arquivos privados está inserida a

importância do direito à memória e à informação que era reivindicada a todo o momento

nesta época. Importante lembrar, também, que esse congresso ocorre no mesmo ano da

promulgação de nossa constituição federal.

O Arquivo Nacional também teve importante participação nessa conjuntura.

Criado em 1838, durante muito tempo foi considerado “mero depósito”. No entanto,

diretores do arquivo como José Honório Rodrigues, Raul Lima, Celina Vargas do

Amaral Peixoto e Jaime Antunes conseguiram consolidar a imagem do Arquivo

Nacional em nosso país e internacionalmente é visto hoje como uma das instituições

arquivísticas mais modernas no que se refere à preservação e organização dos acervos,

além da facilidade no amplo acesso à documentação disponibilizada por eles. No ano de

1988, quando o Arquivo Nacional comemorava seus 150 anos sendo, no momento,

dirigida por Celina Vargas, numa publicação comemorativa da instituição, a diretora

afirma que o arquivo estava rumo

a uma modernização institucional plena, na qual se inserem um

sistema de recolhimento [de documentação pública] eficaz e a garantia

23 Programação do VII CONGRESSO BRASILEIRO DE ARQUIVOLOGIA. Nova Arquivística:

Administração de Documentos, Informática, Acesso à informação. Brasília – DF: Centro de Convenções,

de 12 a 16 de junho de 1988, Associação dos Arquivistas Brasileiros, pg. 8. Disponível em:

http://www.aab.org.br/wp-content/uploads/2013/07/7_cong_88-programas5.pdf Acessado em:

30/09/2013.

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de uma política de arquivos em âmbito nacional: a informação merece

ser democratizada. (...) É também imprescindível divulgá-lo, a fim de

servir de fonte de reflexão do significado do Arquivo Nacional na

preservação de um patrimônio que constitui a própria memória do

país24.

A década de 1980, para o Arquivo Nacional, foi marcada por profundas

transformações. Celina Vargas afirma em uma entrevista concedida à Revista Acervo,

na edição do ano de 2013 que, quando entrou no Arquivo Nacional para assumir a

direção encontrou-o numa situação de abandono, de descaso com uma instituição

pública, identificando como principais problemas a mudança de prédio, recursos

humanos para trabalhar, recursos financeiros, legislação nacional para os arquivos,

recolhimento, conservação e preservação da documentação, entre outros. Sabemos que,

na atualidade, boa parte destes problemas estão solucionados no Arquivo Nacional,

sendo que boa parte foi resolvida durante a gestão de Celina, que foi até 1991

aproximadamente. Celina também coloca que a finalização do restauro do prédio em

que se encontra hoje o Arquivo Nacional, realizada na década de 1990 já na gestão do

então diretor Jaime Antunes, a instituição pôde, enfim, “desenvolver a sua nobre função

pública, a de recolher, guardar, preservar e dar acesso às informações produzidas pela

Administração Pública Federal”, pois, “O Brasil não gosta de lembrar que teve

escravidão, que teve tortura, que tem documentos a recolher e que estes vão revelar

nossos problemas. Mas é preciso conhecer, é preciso tratar e é preciso se transformar

para que a democracia se consolide”25.

Por sua vez, o Pró-Documento26, também criado nessa conjuntura, constitui o

movimento mais articulado em termos de ação de políticas públicas no que diz respeito

à preservação documental. Como indicado anteriormente, o programa Pró-Documento

foi criado no ano de 1984 pela extinta Fundação Nacional Pró-Memória – FNPM e

24 FRANCO, Celina do Amaral Peixoto Moreira. “Introdução”. In: BRASIL, Arquivo Nacional: 150

anos. Rio de Janeiro: INDEX, 1988, pg. 12. 25 “Entrevista com Celina Vargas do Amaral Peixoto”. In: Revista Acervo, Rio de Janeiro: Arquivo

Nacional, v. 26, nº 2, pg. 7 – 30, jul./dez.2013. 26 No período de existência do Pró-Documento (1984-1988), o órgão federal de preservação na época

chamava-se SPHAN (Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), sendo, posteriormente,

integrado a FNPM (Fundação Nacional Pró-Memória), tornando-se SPHAN/FNPM, em 1979. A extinção

da Secretaria e da Fundação ocorre em 1990 e, no lugar, é criado o Instituto Brasileiro do Patrimônio

Cultural – IBPC. FONSECA, Maria C.L. O Patrimônio em processo: trajetória da política federal de

preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/Minc-IPHAN, 1997, pg. 283.

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funcionou até meados de 1988. Os principais objetivos do Pró-Documento eram

“identificar e avaliar acervos privados de interesse histórico como de valor excepcional;

identificar e cadastrar os acervos documentais privados; elaborar e divulgar

instrumentos básicos de pesquisa em arquivo; prestar assessoria técnica às atividades de

organização e conservação de acervos permanentes27; incentivar a formação e o

treinamento de profissionais em arquivística; influir junto às instituições detentoras de

acervos documentais privados de interesse histórico no sentido de torná-los acessíveis

ao público em geral, entre outros” (RPHAN, 1986, pg. 45). Assim, este programa tem

como intuito preservar documentos provenientes de instituições da sociedade civil que

consideravam de valor histórico para a identidade cultural e a preservação da memória

de uma nação.

A luta pelo direito à informação no Brasil

Quando falamos da questão do direito à informação, devemos ressaltar que, em

nossos estudos temos três instituições que muito atuaram por essa questão, qual seja,

Associação dos Arquivistas Brasileiros – AAB, Arquivo Nacional – AN e o Programa

Nacional de Preservação da Documentação Histórica – Pró-Documento da

FNPM/SPHAN.

A luta pelo reconhecimento da profissão e do profissional da arquivologia no

país na década de 1970 desencadeou um movimento em nosso país para que o governo

– também a sociedade civil, reconhecesse e valorizasse a importância da preservação e

organização dos arquivos, no qual possibilitaria o acesso à informação e à memória

contida nos arquivos que eram de difícil acesso.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ARQUIVOLOGIA – CBA/AAB

27 Como indica Knauss, o arquivo permanente seria um conjunto de documentos que transforma a

memória da ação produzida e consumada, ou seja, “ele passa a ser registro do passado e se afirma como

patrimônio cultural”. KNAUSS, Paulo. “Usos do passado, arquivos e universidade”. In: Cadernos de

Pesquisa CDHIS, nº 40, ano 22, 1º sem. 2009, UFU – Universidade Federal de Uberlândia, pg. 10.

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De acordo com Mariza Bottino, em sua obra O Legado dos Congressos

Brasileiros de Arquivologia (1972-2000): uma contribuição para o estudo do

cenário arquivístico nacional, a década de 1970 tornou-se um marco para a

profissão do arquivista em nosso país e para o estabelecimento da comunidade

científica. Os principais fatos destacados pela autora são:

florescimento dos cursos de graduação em arquivologia;

a fixação do currículo minímo dos cursos;

a criação da AAB;

o lançamento do primeiro periódico especializado na área, a

revista Arquivo & Administração;

a regulamentação da profissão de arquivista28.

A Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB), foi criada em 20 de outubro de

1971 por meio de ações de profissionais arquivistas, como José Pedro Pinto Esposel,

Helena Corrêa Machado, Marilena Leite Paes29. Segundo Yuri Queiroz Gomes, em

sua dissertação de mestrado, intitulada Processos de institucionalização do campo

arquivístico no Brasil (1971-1978): entre a memória e a história, a fundação da AAB

neste ano acabou possibilitando, para os profissionais de arquivo, reflexões, debates e

propostas de ações para o desenvolvimento e construções de pautas identificadas para o

campo arquivístico.

Nesse ínterim que podemos expor umas das principais ações da AAB que

repercutiu nacionalmente nas décadas de 1970 e 1980: os congressos nacionais de

arquivologia e a Revista Arquivo & Administração30.

De acordo com Gomes, o CBA foi a primeira experiência nacional voltada para

a constituição de uma comunidade do campo arquivístico, tendo por finalidade “discutir

28 BOTTINO, Mariza. O Legado dos Congressos Brasileiros de Arquivologia (1972-2000): uma

contribuição para o estudo do cenário arquivístico nacional. Rio de Janeiro: FGV, 2014, pg. 27. 29 José Pedro Pinto Esposel: Arquivista e Historiador renomado nas décadas de 1970 e 1980. Foi

presidente da AAB (1971-1975). Helena Corrêa Machado: arquivista, bibliotecária e mestre em

Administração Pública. Presidiu a Associação dos Arquivistas Brasileiros (1975-1976) e atualmente é

membro da Câmara Técnica de Avaliação de Documentos de Arquivo, do CONARQ – Conselho

Nacional de Arquivos, órgão vinculado ao Arquivo Nacional. Marilena Leite Paes: arquivista presidiu a

AAB (1977-1979), e é coordenadora do Conselho Nacional de Arquivos – CONARQ, desde 1994. 30 A Revista Arquivo&Administração é considerada como um dos primeiros veículos de comunicação da

comunidade arquivística em nosso país. Para saber mais ver: GOMES, Yuri Queiroz. Processos de

institucionalização do campo arquivístico no Brasil (1971-1978): entre a memória e a história. Rio de

Janeiro, 2011, pg. 87. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da

UNIRIO. Orientadora: Profª Drª Icléia Thiesen.

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o problema dos arquivos e divulgar informações técnicas”, como, por exemplo, auxiliar

os profissionais da área com cursos e capacitações para facilitar o acesso à informação

contida nos arquivos, sejam eles públicos ou privados.

De 1972 até o ano 2000 a AAB promoveu 13 congressos. Importa, em nosso

caso, o I CBA, de 1972 e os congressos realizados nos anos 1980, pois é onde se

encontra as principais discussões sobre o acesso aos arquivos públicos e privados no

Brasil.

Entre os dias 15 e 20 de outubro de 1972, foi realizado o I Congresso Brasileiro

de Arquivologia, no qual trabalhou com "temas gerais" e "temas especiais", sem um

título específico. Durante a sessão solene de abertura participaram diversas autoridades

da área, entre eles a arquivista já citada Marilena Leite Paes, representando os

arquivistas do Rio de Janeiro, colocando que, dentre os diversos objetivos que a AAB

queria firmar ao final do congresso, alguns deles são:

a) manter e estreitar os vínculos de amizade e sociabilidade entre seus

membros; (...) e)participar de todos os eventos que se relacionam com

suas atividades; f) organizar ciclos de estudos, conferências, (...)

seminários e mesas-redondas para maior difusão e aperfeiçoamento do

trabalho do arquivista; (...) h) promover por todos os meios a

valorização do trabalho de Arquivo, considerando a sua importância

administrativa e cultural; i) pugnar por uma legislação nacional sobre

Arquivos31.

Durante a 3ª sessão do congresso, no dia 17 de outubro de 1972, uma das

comunicações que seriam apresentadas neste dia tinha o seguinte título: “A importância

social dos arquivos”. Esta comunicação foi apresentada pelo arquivista Francisco José

M. Souza, no qual afirma que o arquivo é um fator de importância social. Para explicar

essa tese, Francisco utiliza como exemplo a questão da administração em empresas.

Souza coloca que os arquivos desempenham um importante papel nas empresas “como

fonte permanente de consultas e depositórios de elementos relevantes para o

31 ASSOCIAÇÃO DOS ARQUIVISTAS BRASILEIROS - AAB. ANAIS DO I CONGRESSO

BRASILEIRO DE ARQUIVOLOGIA. Rio de Janeiro, de 15 a 20 de outubro de 1972, pg. 22 e 23.

Disponível no site: http://www.aab.org.br. Acesso em: 21/04/2015.

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levantamento do perfil da organização”, assim, se pensarmos no arquivo como

de importância social, e passarmos a tratá-lo dessa forma, a empresa “disporá de

dados de irrefutável valia para estabelecer objetivos e metas, rever

procedimentos e sugerir inovações” (I CBA, 1972, pg. 205-211). Na 4º sessão,

dia 18 de outubro de 1972, são apresentadas 6 comunicações. Dentre estas a que

mais chamou a atenção foi à comunicação intitulada “O Estudo da História

Contemporânea”, relatada por Stanley E. Hilton32. O interesse desta

apresentação para este trabalho se coloca pelo fato de Hilton afirmar que, neste

período, o Brasil não acompanhava o ritmo de estudos dos países estrangeiros e,

que essa defasagem, se justificava pela inexistência de centros de depósito para

coleções de manuscritos ligadas à História Contemporânea. Para a resolução

desse problema, Stanley aponta o recém-criado Centro de História

Contemporânea, no Arquivo Nacional, “como reflexo de uma crescente

consciência de que maior ênfase precisa ser dada ao estudo do passado recente”

(I CBA, 1972, pg. 259). O autor afirma que a história contemporânea tem

sofrido um certo “descuido pelos historiadores profissionais no Brasil”, ao

contrário de outros países como Inglaterra e EUA, nos quais este mantém

instituições que dão acessibilidade aos arquivos da história contemporânea

daquele país. Assim, afirma que “Os textos de história tendem a terminar com o

advento da República, e se retratam do século XX, o fazem sumariamente”

(op.cit., 1972, pg. 262). Afirma que os cursos de História tratam de forma

superficial este período e os que tratam de maneira profunda são extremamente

raros. A hipótese para esse descaso, para o autor, repousa no “traço básico do

comportamento brasileiro: personalismo, ou seja, uma ênfase no relacionamento

pessoal. (...) o estudante de história se afaste do estudo de acontecimentos

recentes por medo de ofender alguém que esteja ou venha a estar em uma

posição de afetar adversamente o status ou carreira dele” (op.cit., 1972, pg. 262).

Afirma também que este descaso se deve a falta de instrumentos de pesquisa,

32 Stanley E. Hilton é brasilianista. Conhecido devido a suas obras referentes à personalidades de

conhecidos políticos brasileiros, como Oswaldo Aranha: uma biografia, Rio de Janeiro: Objetiva, 1994;

A guerra civil brasileira: história da Revolução Constitucionalista de 1932, Rio de Janeiro: Fronteira,

1982; entre outras obras referentes à história contemporânea do Brasil.

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como catálogos, índices, bibliografias, e “falta de acesso institucionalizado a coleções

de documentos. Por acesso institucionalizado, eu quero dizer acesso, em uma base

impessoal, que independa de prestígio, a coleções documentais depositadas em

instituições públicas” (op.cit., 1972, pg. 263). Também afirma que há problemas em

conseguir acesso aos arquivos particulares, e que seria necessário arrumar um local

central para organizá-las e colocá-las à disposição dos pesquisadores, então, essa seria a

principal razão que levou o Arquivo Nacional a criar o Centro de História

Contemporânea pelo então diretor do AN, dr. Raul Lima, “que foi estimulado a agir por

seu próprio estudo das tendências e problemas de pesquisa sobre história

contemporânea, e pela crescente atmosfera de preocupação entre os acadêmicos e

intelectuais brasileiros com a falta de tal pesquisa, por parte dos brasileiros, no país”

(op.cit., 1972, pg. 264). Este centro teria dois objetivos: 1) oferecer cursos em técnica de

pesquisa utilizando fontes primárias; 2) servir como centro de documentação no qual

procuraria de um lado, organizar coleções documentais já na posse do Arquivo, como a

Coleção Presidência da República e, de outro, persuadir as famílias que possuem

coleções de manuscritos e doá-las ao Arquivo, ou pelo menos permitir a microfilmagem

delas.

Na 7ª sessão de 20 de outubro de 1972, das 6 comunicações duas nos

interessaram: “Arquivo e Comunicação; nova função do arquivista” e, “Participação dos

Arquivos na Ação Cultural” – pg. 409.

“Levantando a importante questão de saber se é possível descobrir, nas formas

de atividade dos serviços de arquivos, outros aspectos além dos tradicionais,

prosseguem os autores: “Parece-nos lógico responder que, para valorizar inteiramente as

fontes documentais

Já no V Congresso Brasileiro de Arquivologia, realizado entre os dias 17 a 22

de outubro de 1982 com o tema “A arquivologia e a realidade brasileira”, procuraram

analisar e verificar se as atividades arquivísticas desenvolvidas no Brasil estavam

atendendo à realidade nacional daquele período.

Neste congresso, a sessão plenária “Panorama geral da arquivologia na realidade

brasileira” é a que mais nos interessa, enfatizando em dois temas que são apontados:

“arquivos e democracia”; “arquivo no Brasil: um balanço”.

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No VI Congresso Brasileiro de Arquivologia, 13 a 18 de abril de 1986

com o tema “Arquivos: política, administração e cultura”, dentre os temas que

analisaram, o que nos chama a atenção foi evento se propor a discutir o

“binômio da função dos arquivos – a ação cultural e a administrativa”. Desse

modo, a sessão plenária “Arquivo e Cultura”, sendo a comunicação “A função

cultural dos arquivos” a que mais nos interessa.

Importante salientar que nesse congresso, dentre as 23 recomendações

aprovadas na reunião dos associados que era realizada ao fim do evento, 4 delas

nos chamaram a atenção. A primeira recomendação pede que “na futura

Constituição, se determine a responsabilidade do Estado na organização e

difusão da informação em todas as áreas do conhecimento, e o direito dos

cidadãos ao livre acesso às informações em todos os serviços componentes da

infraestrutura de Informação do País”.

Na segunda recomendação ainda acrescenta que “seja encaminhada à

Constituinte proposta de inclusão de dispositivos que estabeleçam o direito de

acesso do cidadão às informações que o Estado acumula sobre sua pessoa, bem

como o limite de sua utilização pelo próprio Estado e por outros cidadãos”.

A terceira recomendação pede a AAB “que promova encontros

multidisciplinares com a participação de professores de áreas afins à

Arquivologia, objetivando encaminhar à Constituinte sugestões no sentido de

definir a contribuição dos arquivos, bibliotecas e museus na construção da

identidade Nacional”.

A quarta recomendação pede que se “estabeleça uma ampla Política

Nacional de Informação, abrangendo os arquivos, bibliotecas e outros serviços

de informação”33.

Na verdade, estas recomendações já haviam sido apresentadas em

congressos anteriores, como, por exemplo, a questão do acesso à informação. No

entanto, só será consolidada na Constituição Federal do Brasil de 1988. Como

afirma Bottino “na ocasião é aprovada a inclusão do direito de o cidadão acessar

33 BOTTINO, Mariza. O Legado dos Congressos Brasileiros de Arquivologia (1972-2000): uma

contribuição para o estudo do cenário arquivístico nacional. Rio de Janeiro: FGV, 2014, pg. 104-105.

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informações que lhe digam respeito, armazenadas pelo Estado, conforme pleito da

segunda recomendação, ou seja, a instituição do habeas data na Constituição Federal.

Em 12 de novembro de 1997, é aprovada a Lei nº 9.507, que regula o direito de acesso a

informações e disciplina o rito processual do habeas data”. Em 2011 foi aprovado a Lei

nº 12.527, conhecida como Lei de Acesso à Informação – LAI, regulamenta o direito,

previsto na Constituição, de qualquer pessoa solicitar e receber dos órgãos e entidades

públicos, de todos os entes e Poderes, informações públicas por eles produzidas ou

custodiadas.

O fato de termos recomendações neste congresso que já haviam sido

apresentadas em eventos anteriores nos indica que ainda existia “uma certa fragilidade

da comunidade, que não obtinha sucesso na concretização de suas demandas e precisava

reapresenta-las nos eventos seguintes” (BOTTINO, 2014, pg. 110).

O VII Congresso Brasileiro de Arquivologia, 12 a 16 de junho de 1988 com o

tema “Nova Arquivística: administração de documentos, informática, acesso à

informação”, “retoma e enfatiza a discussão de uma política nacional de arquivos e o

domínio da produção documental no que tange a avaliação, controle e acesso”

(BOTTINO, 2014, pg. 111). Mais uma vez, entre as sessões plenárias, a que mais nos

interessa é com a temática “Uso dos arquivos e disseminação da informação”, no qual

as apresentações dessa sessão muito pertinente ao nosso estudo, como: “A função social

dos arquivos e o direito à informação”; “Acesso à informação científica e tecnológica

dos arquivos”; “Acesso à informação nos arquivos brasileiros”.

Mais uma vez, é colocado nas recomendações a questão do acesso à informação

e da criação da Política Nacional de Arquivos, por exemplo, solicitando que essa

proposta fosse encaminhada aos constituintes para que votado em Assembleia.

REVISTA ARQUIVO & ADMINISTRAÇÃO – AAB

Considerada como uma das primeiras publicações brasileira destinada

exclusivamente ao campo arquivístico, com a finalidade de estabelecer um espaço de

difusão do conhecimento técnico-científico. Conforme afirma Yuri Q. Gomes, a revista

foi idealizada por

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profissionais de documentação e informação e seus artigos

destacaram-se na comunidade por apresentar não só a prática

arquivística, mas também as mais distintas reflexões sobre o

campo (GOMES, 2011, pg. 108).

A primeira edição da revista é de 1972, com o propósito de três publicações ao

ano. Na década de 1970 conseguiram manter essa periodicidade, sendo 22 edições. Já na

década de 1980, foram publicadas somente 9 edições, como, por exemplo, durante os

anos de 1982 a 1986 foi publicada somente uma edição.

As revistas normalmente publicavam um artigo específico sobre a área de

arquivos, relatório de prestação de contas da AAB e Informes sobre congressos, cursos,

capacitações e estudos sobre o tema.

Na edição 23 temos o artigo “A ordem jurídica e os documentos de pesquisa no

Brasil”, de Aurélio Wander Bastos, no qual o autor faz uma análise sobre os problemas

relativos à proteção legal de documentos históricos no Brasil.

Já na edição 24 temos artigos com temas variados, como história Oral;

sistemática arquivística, desburocratização dos documentos, a desordem documental no

Brasil e Informes sobre a área da arquivologia.

Na edição 25 é publicado um roteiro para um guia de arquivos privados

históricos, arquivos eclesiásticos, desburocratização dos documentos e informes.

Na edição 26, de 1981, temos a comemoração de 10 anos da AAB, portanto, a

revista publica um Índices com assuntos e autores sobre arquivos além das indicações

bibliográficas para estudos na área.

Na edição 27, também de 1981, temos artigos sobre arquivos eclesiásticos

elaborados pelo CPDOC e Informes sobre curso de graduação em Arquivologia e

também sobre o Conselho Internacional de Arquivos.

Na edição 28 temos apresentação de estudos sobre a formação dos profissionais

de arquivo e a construção de prédios de arquivos, além dos informes sobre a CIA e

eventos sobre arquivologia.

Na edição 29, publicada somente em 1986, o tema central da revista foi sobre

avaliação e preservação de fotografias. No entanto, fazem uma nota sobre a mudança do

Arquivo Nacional da antiga sede para novas instalações e publicam o artigo de Michel

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Duchein, intitulado “O respeito aos fundos em Arquivística: princípios teóricos e

problemas práticos”, no qual o autor discute a importância do respeito aos fundos como

o princípio fundamental da Arquivística.

Na edição 30, de 1986 também, temos publicação de artigos sobre arquivos

municipais, arquivos correntes em administração pública, reorganização de arquivos

empresariais, além de um levantamento bibliográfico feito pelo CPDOC sobre arquivos

privados.

Na edição 31, de 1988, foi uma publicação dedicada ao projeto “Guia brasileiro

de Fontes para a História da África, da Escravidão Negra e o Negro na Sociedade

Atual”, coordenado pelo Arquivo Nacional e considerado pelos profissionais da área, na

época, como o “registro do nascimento e desenvolvimento do mais importante trabalho

de levantamento de fontes realizados no país”.

Desse modo, percebemos que as edições da AAB, na década de 1980 priorizou

estudos e discussões sobre a questão do profissional e da profissão na arquivística,

metodologias sobre organizações e preservações de acervos, além de divulgar as ações

da própria AAB.

Assim temos que a questão do acesso à informação nos arquivos pode não ter

sido muito discutida nos artigos, no entanto, quando temos estudos sobre o profissional

do arquivo ou sobre metodologias de trabalho estamos discutindo esse tema pois sem o

acesso à informação nos arquivos o profissional da área não conseguiria trabalhar nem

discutir uma metodologia de trabalho, visto que precisamos das informações contidas

nos arquivos para a realização desse tipo de trabalho.

REVISTA ACERVO

A revista Acervo é uma publicação do Arquivo Nacional, publicada

semestralmente. Tem por objetivo divulgar estudos e fontes nas áreas de ciências

humanas e sociais aplicadas, especialmente arquivologia. Até o ano de 2016 já publicou

26 volumes, ou seja, 52 edições. Como a revista iniciou em 1986, até o início da década

de 1990, foram publicadas 9 edições.

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Na primeira edição da revista, em sua apresentação, afirma que o lançamento da

Acervo substitui o Mensário do Arquivo Nacional, publicação que durou de 1970 a

1982 no qual funcionava como um instrumento de divulgação referente as atribuições

do AN. Assim, afirmam que o intuito é continuar com o trabalho que o Mensário já

realizava, no entanto, acrescentam que a revista surge para “dotar o Arquivo Nacional

de um instrumento ágil na divulgação de suas reais atribuições”, como, recolher,

preservar e dar acesso à documentação dos arquivos públicos “além de atender aos

pesquisadores na busca dos registros que reconstituem a história brasileira”.

Composta por 7 artigos, dois deles nos chamaram a atenção: “Os arquivos

nacionais: estrutura e legislação”, escrito por Celina do Amaral Peixoto e Aurélio

Wander Bastos; e “Legislação sobre proteção do patrimônio documental e cultural”,

escrito por César A. Garcia Belsunce.

No primeiro artigo, Peixoto e Bastos analisam como ocorreu a formação dos

arquivos nacionais, descrevendo modelos de arquivos como, por exemplo, França,

E.U.A., Argentina, México, Peru e Brasil. No caso de nosso país, descrevem a

dificuldade em cuidar de nossos arquivos pois não havia ainda naquele momento uma

política nacional de arquivos ou um investimento do governo federal em trabalhar essa

questão, dificultando o trabalho dos profissionais da área. No entanto, ao final do artigo

afirmam que “cabe aos arquivos nacionais recolher e guardar a documentação pública

nacional”, a fim de possibilitar ao cidadão brasileiro o direito de acessar a

documentação e a informação contida neste34.

No que se refere ao artigo de Belsunce, o autor procura analisar a legislação

internacional sobre patrimônio cultural, como, por exemplo, a Declaração Universal dos

Direitos do Homem, de 1948; a Conferência Geral da Unesco de 1972 e 1975;

declarações de Lima (1971), Quito (1973) e Bogotá (1978) indicando que essas

recomendações não trabalham com o patrimônio documental da América Latina.

Com relação a uma legislação específica sobre patrimônio documental, Belsunce

afirma que existe uma produção de leis e regulamentos nacionais e de convenções

internacionais. Porém, mais do que fazer aqui um inventário de tais disposições legais, o

34 FRANCO, Celina do A. P. M.; BASTOS, Aurélio W. “Os arquivos nacionais: estrutura e legislação”.

In: Revista Acervo. RJ: Arquivo Nacional, vol. 1, n. 1, jan.-jun. 1986, pg. 21.

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autor deseja “considerar sobre no que deve consistir em uma política de proteção ao

patrimônio documental” destacando 3 objetivos:

1 – Conscientizar: fomentar o desenvolvimento de uma consciência sobre o

valor do patrimônio documental, tanto no nível do grande público quanto no dos

administradores e dos ‘fazedores de opinião’;

2 – Integrar: o desenvolvimento arquivístico deve ser concebido como parte

integrante do desenvolvimento nacional;

3 – Institucionalizar: estabelecer os instrumentos legais para a existência, a

organização e a ação dos arquivos como órgãos naturais para a recepção, conservação e

difusão do patrimônio documental 35.

Temos que em ambos os artigos, mesmo que não indicado de forma explicita, a

questão do acesso à informação está colocada, pois a preocupação com a questão da

organização e preservação do arquivo existe, principalmente, com o intuito de difundir o

patrimônio documental, como foi indicado por Belsunce no parágrafo anterior.

O tema da segunda edição da revista também discorre sobre arquivos, no

entanto, os artigos são mais específicos, como, por exemplo, arquivos municipais,

arquivos policiais no século XIX, organização de acervos em arquivos intermediários,

entre outros.

Nas edições de 1987 temos uma novidade, que é o tópico “Perfil Institucional”,

o qual procura discorrer sobre instituições da área da arquivologia. Na revista n.1 de

1987, descrevem sobre a história do Conselho Internacional de Arquivos – C.I.A..

Criada em 1950, têm como objetivo o de promover a conservação e utilização dos

recursos arquivísticos de todas as nações, procura atender aos objetivos da profissão

arquivística em escala mundial. Na segunda edição do mesmo ano descrevem sobre a

origem e perspectivas da Associação Latino-Americana de Arquivos – A.L.A.. Criada

em 1973, tendo o mesmo objetivo da CIA, porém, em escala menor, devemos salientar

que, divulgar essas informações naquela época em revista era de extrema relevância,

visto que a tecnologia da informação ainda não estava tão avançada como nos dias

atuais.

35 BELSUNCE, César A. Garcia. “Legislação sobre proteção do patrimônio documental e cultural”. In:

Revista Acervo. RJ: Arquivo Nacional, vol. 1, n. 1, jan.-jun. 1986, pg. 34.

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Com relação aos artigos destas duas edições, mais uma vez os temas dos artigos

são bem específicos, como, por exemplo, política municipal de arquivos; tratamento de

fontes na Bahia, historiografia brasileira, arquivos cartorários, fotografia como fonte

histórica, entre outros. No entanto, devo destacar que nas duas edições temos uma

indicação bibliográfica para futuras pesquisas com temas relacionados aos arquivos,

sendo em uma edição, bibliografia sobre História Oral e, na outra, sobre acesso aos

arquivos. Os editores afirmam que a bibliografia sobre acesso aos arquivos inclui

referências no acervo da Biblioteca do Arquivo Nacional, nos Catálogos do CPDOC-

FGV e no Boletín de informacion, editado pelo Centro de Información Documental da

Espanha. Afirmam que “a questão do acesso aos arquivos foi abordada sob os aspectos

da legislação, liberdade de informação e privacidade36.

O ano seguinte foi diferenciado para o Arquivo Nacional porque o país estava

comemorando o centenário da abolição e também a Assembleia Nacional Constituinte

estava analisando o projeto de nossa constituição federal no qual seguimos atualmente.

Desse modo, a primeira edição de 1988 foi um dossiê sobre a questão do negro em

nosso país, então os artigos apresentaram análises sobre historiografia relacionada a

temática, abolição no Brasil, escravidão no Amazonas, Rio Grande do Sul, Goiás, entre

outros. A bibliografia desta edição trouxe teses e dissertações sobre o tema e o perfil

institucional apresentou o Centro de Estudos Afro-Asiáticos do Conjunto Universitário

Cândido Mendes, criado em 1973 com o objetivo de estudar e difundir junto à

comunidade acadêmica e a sociedade brasileira, em geral, a realidade contemporânea

dos países africanos e asiáticos.

Já na segunda edição de 1988 a revista traz novamente artigos sobre a temática

arquivística pois neste ano o Arquivo Nacional também comemorava os 150 anos do

decreto de 1838 que determinava a criação do AN, conforme já citado anteriormente.

Desse modo, dos 9 artigos publicados nesta edição 4 não analisaram diretamente o AN.

Os artigos descrevem, basicamente, como foi o processo de criação e modernização do

Arquivo Nacional além da questão da gestão de documentos aqui no país que estava

sendo feito naquele período. Michel Duchein, em seu artigo “Passado, presente e futuro

36 “Perfil Institucional”. In: Revista Acervo. RJ: Arquivo Nacional, vol. 2, n. 1, jan.-jun. 1987, pg. 83.

“Perfil Institucional”. In: Revista Acervo. RJ: Arquivo Nacional, vol. 2, n. 2, jul.-dez. 1987, pg. 97.

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do Arquivo Nacional do Brasil” afirma que estava feliz e orgulhoso de ter sido chamado

por diversas vezes nos últimos dez anos pela diretoria do AN para fazer uma análise da

situação dos arquivos públicos em nosso país e que constatou, no Rio de Janeiro e em

Brasília, “o dinamismo do Arquivo Nacional e a rapidez de seu desenvolvimento. A

comemoração de seus 150 anos é a ocasião para medir seu progresso. É, também, a de

encarar com confiança seu futuro e desejar de uma juventude vigorosa a este venerável

centenário”37.

A revista de 1989 também é temática, pois comemoravam a Inconfidência

Mineira e a Revolução Francesa, ou seja, as temáticas discutidas nos artigos são sobre

esses eventos históricos. A segunda edição de 1989 na realidade acaba sendo publicada

no ano de 1990, no entanto, é a edição que mais nos interessa por que o título do dossiê

é “Arquivo e Cidadania”. Esse título muito nos chama a atenção porque no início dos

anos 1990 temos uma atuação da sociedade e de entidades não governamentais lutando

pelo direito do cidadão no que se refere ao acesso à documentação e a informação

pública, exigida como direito de todos.

Assim, a bibliografia indicada na revista, novamente, é sobre acesso aos

arquivos, o perfil institucional é sobre o Arquivo Edgard Leuenroth – AEL/UNICAMP

e a temática dos artigos discorre sobre estudos feitos na área da arquivologia. No

entanto, o artigo de Regina Maria Martins Pereira Wanderley, intitulado “A

popularização dos arquivos”, no qual a autora analisa a importância do acesso aos

arquivos não só por acadêmicos, pesquisadores ou cartorários, mas sim por qualquer

cidadão que tenha interesse em investiga-los ou acessá-los.

Wanderley afirma que cada vez mais a sociedade está exigindo a abertura dos

arquivos, pois este tem o “dever de mostrar seu potencial tanto ao leigo quanto ao

cientista”. Afirma também que o uso dos arquivos

não pode ficar circunscrito a um espaço previamente definido,

duro e compacto: é necessário traçar um itinerário complexo que

faça crescer ou aguçar os sentidos do conhecimento, e destruir a

pretensa erudição para simplesmente falar a linguagem da

História – um trabalho intelectual de esclarecimento, destinado a

todas as camadas sociais. Urge que se faça logo; a ocasião é

37 DUCHEIN, Michel. “Passado, presente e futuro do Arquivo Nacional do Brasil”. In: Revista Acervo.

Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, vol.3, n.2, jul.-dez. 1988, pg. 97.

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propícia, passível de ser aproveitada para consolidar o direito de

todos sobre o imenso patrimônio documental do país38.

Cláudia Heynemann, em seu artigo “Pesquisando a memória: o Arquivo

Nacional entre a identidade e a história”, também indica a importância de acessar os

arquivos, que este não deve ser mais visto como simples depositório de documentos,

mas sim como uma instituição que preserva e organiza os arquivos além de “disseminar

as informações” contidas nos acervos. Afirma também que possibilitar o livre acesso

aos documentos é um exercício de cidadania além de possibilitarmos o “resgate da

memória” disponíveis nessa documentação.

Heynemann salienta também que o acesso aos arquivos contextualiza os sujeitos

nos processos históricos por meio das pesquisas históricas que são realizadas a partir da

documentação pesquisada nos arquivos. Para a autora

A pesquisa histórica forma opinião, desperta controvérsia e dá

um contorno nítido, projetando o indivíduo e sua classe social

em um tempo longo que preserva através do conhecimento o

que talvez fosse tão efêmero, convergindo então com todas as

demais faces do exercício da cidadania que é a luta contra o

esquecimento no que ele tem de mais terrível: a tentativa de

tornar inútil e banal o que deu sentido aos cotidianos, obscurecer

os conflitos, e assim matar a história39.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIO DE

HISTÓRIA – ANPUH

Fundada em 1961, a entidade procurou em sua fundação a aspiração da

profissionalização do ensino e da pesquisa na área de história, opondo-se de certa forma

à tradição de uma historiografia não- acadêmica e autodidata ainda amplamente

majoritária à época. Atuando desde seu aparecimento no ambiente profissional da

graduação e da pós-graduação em história, esta associação organiza bienalmente o

38 WANDERLEY, Regina Maria M.P. “A popularização dos arquivos”. In: Revista Acervo. Rio de

Janeiro: Arquivo Nacional, vol.4, n.2, vol.5, n.1, jul.-dez.1989, jan.-jun. 1990, pg. 89. 39 HEYNEMANN, Cláudia. “Pesquisando a memória: o Arquivo Nacional entre a identidade e a

história”. In: Revista Acervo. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, vol.4, n.2, vol.5, n.1, jul.-dez.1989, jan.-

jun. 1990, pg. 83.

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Simpósio Nacional de História, estando no XXIX simpósio neste ano de 201740.

Durante a década de 1980 a Anpuh organizou 5 simpósios, todos com temáticas

específicas.

No XI Simpósio Nacional, ocorrido em 1981, tinham as seguintes sessões de

estudos: História, Historiografia, Historiador (37 autores); Pesquisas em Andamento (30

autores); Metodologia e Técnica do Ensino e da Pesquisa Histórica (5 autores);

Historiografia: Fontes Primárias e Secundárias (7 autores).

Já no XII Simpósio Nacional, realizado em Salvador, de 17 a 22 de julho de

1983, consta nos Anais o resumo de 60 trabalhos sendo as temáticas discussões sobre a

história do operário, América espanhola, história política do Brasil, entre outros.

O XIII Simpósio Nacional, realizado entre os dias 21 a 26 de julho em Curitiba,

aparece com a temática “Sociedade e Trabalho na História”, organizado pelo profa. Dra.

Raquel Glezer, no qual a programação do evento estava organizada em cursos (9

cursos); sessões de estudo; pesquisas em andamento; comunicações, encontros e

debates).

O XIV Simpósio Nacional, intitulado “Cultura e Sociedade”, ocorrido entre os

dias 19 a 24 de julho de 1987, organizado pelo prof. Antonio José Barbosa, em Brasília-

DF, temos comunicações com temáticas variadas no qual não aparece assuntos como

arquivos, acesso à informação, direito à cidadania, etc.

O XV Simpósio Nacional, com o tema “História, Terra e Poder”, realizado entre

os dias 22 a 28 de outubro de 1989 em Belém-PA, nos chama a atenção a conferência de

encerramento do evento, intitulada “A questão da cidadania”, feita pelo prof. Alex Fiuza

de Mello, no entanto, nos Anais não foi colocado a transcrição dessa conferência.

Contudo, saber que colocaram essa pauta como discussão central no evento nos indica

que os profissionais de história passam a debater melhor essa questão, ou também

poderíamos dizer que passaram a poder discutir esse tema, já que em 1989 estamos no

40 A ANPUH foi aos poucos ampliando sua base de associados, passando a incluir professores dos

ensinos fundamental e médio e, mais recentemente, profissionais atuantes nos arquivos públicos e

privados, e em instituições de patrimônio e memória espalhadas por todo o país. O quadro atual de

associados da ANPUH reflete a diversidade de espaços de trabalho hoje ocupados pelos historiadores em

nossa sociedade. A abertura da entidade ao conjunto dos profissionais de história levou também à

mudança do nome que, a partir de 1993, passou a se chamar Associação Nacional de História,

preservando-se, contudo, o acrônimo que a identifica há mais de 40 anos Para saber mais ver:

http://site.anpuh.org/. Acesso em: 18/01/2017.

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primeiro ano após a promulgação da constituição brasileira, ou seja, um governo

democrático.

O XVI Simpósio Nacional, ocorrido de 22 a 26 de julho de 1991, aparece com o

título “História em debate: problemas, temas e perspectivas”, pois estão comemorando

30 anos da existência da associação. Os Anais desse simpósio, na realidade, editaram

artigos completos de pesquisas originais que estavam sendo realizadas na época. Estes

estudos nos indicaram um novo debate na área, incluindo temas como literatura,

cinema, música, teatro, biologia, entre outros. Conforme afirmaram os organizadores:

“afloraram durante o Simpósio novos temas de reflexão: os papéis da mulher nas

sociedades escravocratas e de classes; a criança e os sistemas de poder desde os tempos

coloniais até os dias atuais; questões sobre a prostituição e a sexualidade; doenças e

mentalidades”.

A profa. Dra. Raquel Glazer afirma em seu artigo “Olhando o passado e

desenhando o futuro”, que a comunidade dos historiadores, os profissionais nos

arquivos, bibliotecas e centros de documentação em variadas atividades e funções, os

especialistas em patrimônio e preservação dos acervos históricos e os docentes no

ensino superior – comemoraram, no ano de 2011, o cinquentenário da fundação da

Associação Nacional de História – Anpuh41.

41 GLEZER, Raquel. “Olhando o passado e desenhando o futuro”. In: GLEZER, Raquel (org.). Do

passado para o futuro: edição comemorativa dos 50 anos da Anpuh. São Paulo: Contexto, 2011, pg. 09.

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