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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 112 – DEZEMBRO/2005 1 POTAFOS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA PESQUISA DA POTASSA E DO FOSFATO Rua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone e fax: (19) 3433-3254 - Website: www.potafos.org - E-mail: [email protected] Endereço Postal: Caixa Postal 400 - CEP 13400-970 - Piracicaba-SP, Brasil INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N 0 112 DEZEMBRO/2005 Promover o uso apropriado de P e K nos sistemas de produção agrícola através da geração e divulgação de informações científicas que sejam agronomicamente corretas, economicamente lucrativas, ecologicamente responsáveis e socialmente desejáveis. MISSÃO MISSÃO MISSÃO MISSÃO MISSÃO 1 Engenheiro Agrônomo, M.S., Doutor, diretor da POTAFOS; e-mail: [email protected] 2 Engenheira Agrônoma, M.S., POTAFOS; e-mail: [email protected] WORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL WORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL WORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL WORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL WORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM) COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM) COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM) COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM) COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM) DESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE DESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE DESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE DESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE DESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE O Workshop SASCEM – Sistema Agrícola Susten- tável com Colheita Econômica Máxima –, promovi- do pela POTAFOS em 7 de Outubro último na Es- cola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba-SP, reu- niu estudantes, professores e pesquisadores para discutir manejos agrícolas eficientes, econômicos e sustentáveis. O Workshop teve por objetivos: (1) resgatar a história do plantio direto no Brasil, (2) entender o que está ocorrendo com o manejo do mato no sistema plantio direto, principalmente quando se pratica o “aplique e plante” e (3) entender os mecanismos de defesa da planta contra as doenças. Os slides das apresentações encontram-se no site: http:// www.potafos.org/ppiweb/pbrazil.nsf/$webcontentsbydate! OpenView&Start=1&Count=60&Expand=10#10. As principais men- sagens deixadas pelos palestrantes estão resumidas a seguir. HERBERT ARNOLD BARTZ, agricultor e proprietário da fazenda Rhinania, em Rolândia, no norte do Paraná, contou A histó- ria e a evolução do plantio direto no Brasil e no mundo, história esta que se confunde com a de sua vida, grande parte dedicada à defesa do sistema plantio direto como única alternativa sustentável para a agricultura mundial. Segundo Bartz, a técnica do plantio direto nasceu há 33 anos, quando, durante uma viagem aos Estados Unidos, trouxe em sua bagagem uma plantadeira desenvolvida exclusivamente para tra- balhar no plantio direto. A agricultura naquela época se baseava no revolvimento indiscriminado do solo com arados, grades e subsoladores, causando grande desagregação do solo e, com isso, graves problemas de erosão, agravada pelo pastejo intensivo e queima dos restos das lavouras. Veja também neste número: Enxofre elementar como fertilizante ..................... 4 Deficiência de níquel gera “orelha-de-rato” ........ 8 Potássio na produtividade e qualidade da soja .. 10 Professor Malavolta premiado pela IFA .............. 13 Como sobreviver na agricultura? ....................... 16 Encarte: PLANTAS PARA COBERTURA DO SOLO E ADUBAÇÃO VERDE APLICADAS AO PLANTIO DIRETO Tsuioshi Yamada 1 Silvia Regina Stipp e Abdalla 2 De acordo com Bartz, o princípio do plantio direto é revolver o solo o mínimo possível, mantendo-o sempre coberto por palha e/ou cobertura vegetal, através da rotação de culturas. Ele permite colher mais com melhor eficiência no uso dos nutrientes porque há menor perda por erosão, lixiviação e oxidação da matéria orgânica. Com a utilização da rotação de culturas aumenta-se a taxa de maté- ria orgânica e a biodiversidade no solo e, em conseqüência, sua fertilidade. O solo, a água, o ar e a biota são preservados. Esses quatro fatores são a base da atividade agrícola e do meio ambiente. Além disso, com a redução dos custos provocada pelo uso de plantio direto, a pequena propriedade voltou a ser viável econo- micamente no Sul do País. Desde então, o crescimento do plantio direto no Brasil se deu de forma bastante rápida, principalmente através da troca de experiência entre produtores rurais e da criação, mais tarde, da Fe-

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - ipni. · PDF filecontrole de espécies ... primeiro fluxo de infestação da cultura. A conjunção destes três ... dem vir da colheita (redução da

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 112 – DEZEMBRO/2005 1

POTAFOS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA PESQUISA DA POTASSA E DO FOSFATORua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone e fax: (19) 3433-3254 - Website: www.potafos.org - E-mail: [email protected]

Endereço Postal: Caixa Postal 400 - CEP 13400-970 - Piracicaba-SP, Brasil

INFORMAÇÕESAGRONÔMICAS

N0 112 DEZEMBRO/2005Promover o uso apropriado de P e K nossistemas de produção agrícola através da

geração e divulgação de informações científicas que sejamagronomicamente corretas, economicamente lucrativas,ecologicamente responsáveis e socialmente desejáveis.

MISSÃOMISSÃOMISSÃOMISSÃOMISSÃO

1 Engenheiro Agrônomo, M.S., Doutor, diretor da POTAFOS; e-mail: [email protected] Engenheira Agrônoma, M.S., POTAFOS; e-mail: [email protected]

WORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVELWORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVELWORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVELWORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVELWORKSHOP SOBRE SISTEMA AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL

COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM)COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM)COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM)COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM)COM COLHEITA ECONÔMICA MÁXIMA (SASCEM)

DESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADEDESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADEDESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADEDESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADEDESTACA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE

OWorkshop SASCEM – Sistema Agrícola Susten-tável com Colheita Econômica Máxima –, promovi-do pela POTAFOS em 7 de Outubro último na Es-

cola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba-SP, reu-niu estudantes, professores e pesquisadores para discutir manejosagrícolas eficientes, econômicos e sustentáveis.

O Workshop teve por objetivos: (1) resgatar a história doplantio direto no Brasil, (2) entender o que está ocorrendo com omanejo do mato no sistema plantio direto, principalmente quandose pratica o “aplique e plante” e (3) entender os mecanismos dedefesa da planta contra as doenças.

Os slides das apresentações encontram-se no site: http://www.potafos.org/ppiweb/pbrazil.nsf/$webcontentsbydate!OpenView&Start=1&Count=60&Expand=10#10. As principais men-sagens deixadas pelos palestrantes estão resumidas a seguir.

HERBERT ARNOLD BARTZ , agricultor e proprietário dafazenda Rhinania, em Rolândia, no norte do Paraná, contou A histó-ria e a evolução do plantio direto no Brasil e no mundo, história estaque se confunde com a de sua vida, grande parte dedicada à defesado sistema plantio direto como única alternativa sustentável para aagricultura mundial.

Segundo Bartz, a técnica do plantio direto nasceu há 33 anos,quando, durante uma viagem aos Estados Unidos, trouxe em suabagagem uma plantadeira desenvolvida exclusivamente para tra-balhar no plantio direto. A agricultura naquela época se baseavano revolvimento indiscriminado do solo com arados, grades esubsoladores, causando grande desagregação do solo e, com isso,graves problemas de erosão, agravada pelo pastejo intensivo equeima dos restos das lavouras.

Veja também neste número:

Enxofre elementar como fertilizante ..................... 4

Deficiência de níquel gera “orelha-de-rato” ........ 8

Potássio na produtividade e qualidade da soja .. 10

Professor Malavolta premiado pela IFA .............. 13

Como sobreviver na agricultura? ....................... 16

Encarte: PLANTAS PARA COBERTURA DO SOLO EADUBAÇÃO VERDE APLICADAS AO PLANTIO DIRETO

Tsuioshi Yamada 1

Silvia Regina Stipp e Abdalla 2

De acordo com Bartz, o princípio do plantio direto é revolvero solo o mínimo possível, mantendo-o sempre coberto por palhae/ou cobertura vegetal, através da rotação de culturas. Ele permitecolher mais com melhor eficiência no uso dos nutrientes porque hámenor perda por erosão, lixiviação e oxidação da matéria orgânica.Com a utilização da rotação de culturas aumenta-se a taxa de maté-ria orgânica e a biodiversidade no solo e, em conseqüência, suafertilidade. O solo, a água, o ar e a biota são preservados. Essesquatro fatores são a base da atividade agrícola e do meio ambiente.

Além disso, com a redução dos custos provocada pelo usode plantio direto, a pequena propriedade voltou a ser viável econo-micamente no Sul do País.

Desde então, o crescimento do plantio direto no Brasil sedeu de forma bastante rápida, principalmente através da troca deexperiência entre produtores rurais e da criação, mais tarde, da Fe-

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2 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 112 – DEZEMBRO/2005

WORKSHOP SASCEMWORKSHOP SASCEMWORKSHOP SASCEMWORKSHOP SASCEMWORKSHOP SASCEM

deração do Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP), da qual Bartz épresidente. Assim, passou-se de 200 hectares plantados por ele em1972, para 22 milhões de hectares de área plantada atualmente noPaís, dos quais um terço na região dos cerrados.

A técnica que entrou para o sistema como forma alternativade controle da erosão é hoje uma filosofia para a agricultura susten-tável, pois é economicamente viável, ecologicamente aceitável esocialmente justa.

Após sua palestra, Herbert Bartz foi homenageado pelaESALQ e pela POTAFOS pelo seu trabalho pioneiro que o fez o “Paido Sistema Plantio Direto no Brasil”.

JAMIL CONSTANTIN , professor da Universidade Estadualde Maringá-PR, discorreu sobre os sistemas alternativos de con-trole de infestantes com a palestra Plantas daninhas na cultura dasoja e do milho: não basta controlar, tem que ser na hora certa.

Um dos sistemas alternativos aprovados consiste na desse-cação antecipada com glifosato das áreas com alta infestação e/ouelevada cobertura do solo por ocasião da operação de manejo. As-sim, demonstrou que as culturas que têm seu desenvolvimentoinicial em meio à cobertura de plantas daninhas não totalmentedessecadas [sistemas aplique-plante (AP) e sete dias antes do plan-tio] apresentam clorose e estiolamento, menor desenvolvimento eprodutividade reduzida, causados pelo sombreamento. Ao contrário,a dessecação realizada 20 dias antes da semeadura resulta num incre-mento na produtividade da soja de 6,8 sacos ha-1 e 7,8 sacos ha-1,respectivamente, e do milho de 10,9 sacos ha-1 e 18,5 sacos ha-1,respectivamente, quando comparadas às dessecações realizadasna data de semeadura (AP) e sete dias antes da semeadura.

Outro sistema alternativo diz respeito à associação do glifo-sato a um acelerador de dessecação, no caso o flumioxazin, nasocasiões em que não for possível adotar o sistema de manejo ante-cipado, tornando possível a semeadura em curto espaço de tempoapós a dessecação e evitando grandes perdas de produtividade.Dentre os aspectos favoráveis desta associação, em comparaçãocom a utilização do glifosato isoladamente, destacam-se a maiorvelocidade de dessecação da biomassa presente, estabelecendomelhores condições de emergência para a cultura, a maximização decontrole de espécies consideradas de difícil controle (corda-de-viola, erva-quente, apaga-fogo) e um efeito residual no controle doprimeiro fluxo de infestação da cultura. A conjunção destes trêsfatores permite a emergência no limpo e impede o sombreamentoinicial da cultura, além de retardar a instalação da infestação deplantas daninhas. Ressalta, no entanto, que quando ocorrem altasinfestações e a cobertura vegetal é de grande porte, principalmenteem áreas com infestação de gramíneas, deve-se preferir o sistemaSokko (2,5 L ha-1 de glifosato, 15 a 20 dias antes do plantio, e 1 L ha-1

de glifosato + 80 g ha-1 de flumioxazin no plantio).

O texto integral da palestra foi publicado no InformaçõesAgronômicas no 111, de Setembro último.

A convidada do exterior foi ANNE ANDERSON, micro-biologista, professora de Utah State University, Logan-UT (fone1-435-797-3407; e-mail: [email protected]), especialista naárea de resistência das plantas às doenças. Tendo em vista a possi-bilidade de pesquisas futuras com os estagiários da POTAFOS,Anne visitou pomares afetados pela morte súbita dos citros (Figu-ra 1), assim como outros com manejo conservacionista (Figura 2).

Em sua palestra Desempenho sustentável da planta, mos-trou que os estresses que a cultura sofre durante seu desenvolvi-mento podem ser causados pelo ambiente e pelas práticas agríco-

las. Os estresses ambientais provêm de luz do sol, água, solo, tem-peratura e patógenos. Já os estresses pelas práticas agrícolas po-dem vir da colheita (redução da fotossíntese e perdas de água), dospatógenos, da compactação do solo e dos déficits nutricionais. Omanejo do estresse pode ser feito por indução de resistência nasplantas, por nutrição apropriada e por manutenção de microrganis-mos benéficos no solo.

Segundo Anne, muitas plantas respondem ao ataque locali-zado de herbívoros ou patógenos com a produção de compostosprotetores, reduzindo ou inibindo ataques posteriores de seus ini-migos. As respostas ocorrem no órgão da planta originalmente ata-cado (resposta local) e em partes distantes, não afetadas, comoparte aérea (resposta sistêmica). As respostas localizadas incluemmudanças na composição da parede celular, que pode inibir a pene-tração do patógeno. Estas respostas localizadas causam um sinalque se espalha pela planta e introduz mudanças sutis na expressãogenética mesmo nas partes não afetadas da planta. A respostasistêmica envolve a produção, em alguns casos, de fitoalexinas e deenzimas e proteínas protetoras.

Anne explicou que na resistência sistêmica adquirida e nainduzida as defesas da planta são pré-condicionadas por um trata-mento ou infecção inicial, através de colonização microbiana darizosfera, ou de tratamentos químicos, que resulta em resistência(ou tolerância) ao ataque de patógenos ou parasitas, incluindo fun-gos, bactérias, viroses, nematóides, plantas parasíticas e mesmoinsetos herbívoros.

Figura 1. Anne Anderson e T. Yamada em pomar com sintomas de mortesúbita dos citros (MSC).

Figura 2. Tsuioshi Yamada, Anne Anderson, Jussara Regitano (CENA/USP) e Milton Minowa (Fazenda Yamaguishi) em pomar commanejo conservacionista.

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Como exemplo de indução por colonização microbiana darizosfera tem-se o das rizobactérias não patogênicas promotoras decrescimento, entre as quais as cepas de Pseudomonas, colonizado-ra radicular agressiva, com atividade anti-fúngica e que tambéminduz resistência sistêmica à seca, exemplo gritante da importânciada biodiversidade no sistema de produção (Figura 3).

Porém, não há uma estrutura única como um elicitor universal entretodas as espécies de plantas.

De acordo com ele, quando a planta não sintetiza fitoale-xinas, o equilíbrio nutricional da planta favorece esse processo dedefesa, bem como outros metabólitos constitutivos originários dometabolismo secundário, entre eles fitoanticipinas, alcalóides,

compostos fenólicos e flavonóides.

No caso de deficiências ou ex-cessos nutricionais, ocorrem alteraçõesanatômicas e bioquímicas nas plantasque favorecem a infecção por pató-geno, desencadeando todo o proces-so bioquímico de produção das fitoale-xinas pelo sistema de defesa vegetal.Além disso, a nutrição pode afetar aspropriedades bioquímicas como redu-ção de compostos fenólicos que atuamcomo inibidores do desenvolvimentode pragas e doenças ou acúmulo decompostos orgânicos de baixa massamolar (glicose, sacarose e aminoáci-dos), resultado da maior atividade deenzimas decompositoras como ami-lase, celulase, protease e sacarose,muito comum na deficiência de potás-

sio. A germinação dos esporos de fungos nas folhas, raízes e caulesão estimulados pela presença de exsudados da planta. Por exem-plo, nas plantas deficientes em potássio, a concentração de açúca-res solúveis e aminoácidos nas folhas é alta, podendo aumentar aeficiência de germinação dos esporos em relação às plantas sadias.

Quanto às estruturas anatômicas, a lignificação e o acúmulode sílica nas paredes constituem numa efetiva barreira física contra apenetração das hifas e pode ser diminuída ou aumentada pelo efeitoda nutrição mineral sobre elas, como por exemplo, células epidér-micas e cutículas mais finas, parede celular com menor grau de sili-ficação, parede celular com menor grau de suberização e lignificação.

O equilíbrio nutricional e a ação equilibradora de algunsinsumos empregados na agricultura ecológica, com baixo impactoambiental, como biofertilizantes e calda sulfocálcica, podem ter aver com a indução de resistência natural nas plantas. A caldasulfocálcica, por exemplo, é um insumo estratégico em termos decusto e operacionalidade, atuando de modo a aumentar a resistên-cia das plantas, agindo troficamente no controle de pragas (inse-tos), ácaros e doenças (fungos) e prevenindo viroses (leprose).Provavelmente, isso se deve aos efeitos do enxofre no sistemaproteossintético, especialmente ligado à metionina e cisteína,aminoácidos sulfurados associados à síntese de glutadion.

Concluiu comentando que há necessidade de se investigar,com seriedade e persistência, métodos alternativos para o controlede enfermidades de plantas que sejam, ao mesmo tempo, eficientese menos agressivos à saúde humana e ao equilíbrio de ecossistemas.O isolamento de produtos naturais com atividade antimicrobianaserá componente indispensável em medidas de controle integradode doenças e síntese de pesticidas naturais, nos anos vindouros.

Saber como os vegetais se protegem é essencial para a bioen-genharia, visando obter variedades mais resistentes, o que pode au-mentar a produção e a qualidade dos alimentos. E encontrar uma formade ativar os mecanismos de defesa da planta deixando que ela própriase proteja contra patógenos, ao invés de saturá-la e intoxicá-la comdefensivos, por certo será a estratégia politicamente correta do futuro.

WORKSHOP SASCEMWORKSHOP SASCEMWORKSHOP SASCEMWORKSHOP SASCEMWORKSHOP SASCEM

Figura 3. Resistência sistêmica à seca induzida em plantas de Arabdopsis através da colonização radicularpor Pseudomonas chlororaphis O6 (PcO6). A planta com colonização radicular com PcO6 (àdireita) suportou 8 dias sem irrigação e voltou à turgescência normal com irrigação, enquanto aplanta sem colonização radicular com PcO6 (ao centro) não conseguiu recuperar-se com a irriga-ção após 8 dias de seca.

Plantas-testemunha Plantas sem colonização Plantas com colonizaçãocom irrigação radicular com PcO6, radicular com PcO6,

sem água por 8 dias sem água por 8 dias

Anne finalizou dizendo que o uso futuro de resistência ad-quirida sistêmica e de resistência sistêmica induzida para controlede doenças na agricultura convencional parece promissor, já queos elicitores sintéticos e cepas de rizobactérias promotoras de cres-cimento da planta não exibem qualquer atividade antimicrobianadireta e fornecem um modo de controle de doenças sem pressãoseletiva direta sobre as populações de patógenos, ao contrário dospesticidas atuais.

WAGNER LUIZ POLITO , professor do Instituto de Quími-ca de São Carlos, USP, tratou das Fitoalexinas e a resistência natu-ral de plantas às doenças.

Segundo Wagner, as plantas possuem um sistema de defesasemelhante ao sistema imunológico dos animais e respondem aoataque de patógenos alterando seu metabolismo e sintetizando subs-tâncias capazes de protegê-las das doenças, denominadas fitoale-xinas (do grego phyton = planta e alexin = composto que repele).

Ao contrário dos anticorpos produzidos pelos animais, asfitoalexinas não são proteínas, não apresentam especificidade e nãoimunizam a planta. São produtos naturais, ausentes na planta sadia,acumulados temporariamente no local e nos arredores da infecção.São, na sua maioria, compostos lipofílicos, cujas propriedades quími-cas permitem cruzar a membrana plasmática e atuar dentro da célula.Não apenas a lipofilicidade, mas outras características como maiornúmero de hidroxilas, o caráter ácido da molécula e a presença desubstituintes, como grupos fenólicos, conferem-lhe maior toxicidade.Elas possuem atividade inibidora sobre bactérias, fungos, nematóidese efeito tóxico para animais e para as próprias plantas. Podem seracumuladas em resposta a vários microrganismos, mas também comoconseqüência de fatores que causam estresse na planta, comoferimentos, temperatura, danos devido à luz e substâncias tóxicas.

Polito explicou que nos processos normais de infecção daplanta, o estímulo para a síntese de substâncias de defesa provémdo microrganismo invasor e normalmente é representado por molé-culas liberadas ou secretadas por ele. Essas moléculas podem sercarboidratos, lipídeos ou proteínas e são conhecidas como elicitores.