Informativo Mensal Marco 2015

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Informativos do mês de março do STF.

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  • Informativo STF Mensal

    Braslia, maro de 2015 - n 47 Compilao dos Informativos ns 776 a 779

    O Informativo STF Mensal apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo Informativo STF concludos no ms a que se refere e organizado por ramos do Direito e por assuntos.

    SUMRIO

    Direito Administrativo

    Concurso Pblico

    Estatuto do Idoso e critrios de desempate em concurso pblico - 1 Estatuto do Idoso e critrios de desempate em concurso pblico - 2 Concurso pblico: prova objetiva e resolues do CNMP e CSMPF - 2

    Princpios da Administrao Pblica Verba indenizatria e publicidade - 3 Verba indenizatria e publicidade - 4

    Sistema Remuneratrio PSV: reajuste de vencimentos e correo monetria (Enunciado 42 da Smula Vinculante) MS e reconhecimento de legalidade de incorporao de quintos e dcimos pelo TCU - 2 Incorporao de quintos e princpio da legalidade - 1 Incorporao de quintos e princpio da legalidade - 2 Incorporao de quintos e princpio da legalidade - 3

    Direito Constitucional

    Controle de Constitucionalidade Contribuio previdenciria de inativos e pensionistas: iseno e patologias incapacitantes - 3 Lei municipal e vcio de iniciativa Notrios e oficiais de registro e regime previdencirio ICMS: benefcio tributrio e guerra fiscal Telecomunicaes: competncia legislativa - 4 Modulao: precatrio e EC 62/2009 - 12 Modulao: precatrio e EC 62/2009 - 13 Contrato nulo e direito ao FGTS - 1 Contrato nulo e direito ao FGTS - 2

    Direitos e Garantias Fundamentais

    Inscrio de ente pblico em cadastro federal de inadimplncia e devido processo legal - 1 Inscrio de ente pblico em cadastro federal de inadimplncia e devido processo legal - 2

    Extradio Priso para extradio e adaptao ao regime semiaberto - 1 Priso para extradio e adaptao ao regime semiaberto - 2

    Reclamao Reclamao e sala de Estado-Maior - 4

    Repartio de Competncia Legislao sobre meio ambiente e competncia municipal - 1 Legislao sobre meio ambiente e competncia municipal - 2 PSV: competncia legislativa e funcionamento de estabelecimento comercial (Enunciado 38 da Smula Vinculante) PSV: competncia legislativa e fixao de vencimentos (Enunciado 39 da Smula Vinculante)

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  • Tribunal de Contas TCU: medida cautelar de indisponibilidade de bens e tomada de contas especial

    Direito da Criana e do Adolescente

    Medida Socioeducativa Menor e parecer psicossocial

    Direito do Trabalho

    Contribuio Confederativa PSV: contribuio confederativa e sujeio passiva (Enunciado 40 da Smula Vinculante)

    Direito Financeiro

    Crdito No Tributrio Prescrio no tributria e Enunciado 8 da Smula Vinculante - 3

    Direito Penal

    Extino de Punibilidade Cumprimento de decreto presidencial e extino da punibilidade Marco temporal da prescrio em 2 instncia: sesso de julgamento ou publicao do acrdo

    Direito Processual Civil

    Competncia MS: pagamento de quintos e autoridade competente

    Conflito de Competncia Conflito de competncia e art. 115 do CPC

    Recursos ED: interposio antes da publicao do acrdo e admissibilidade

    Direito Processual Penal

    Competncia Interceptao telefnica e autoridade competente - 2

    Habeas Corpus Cabimento de habeas corpus e prequestionamento

    Princpios e Garantias Processuais Recurso exclusivo da defesa: reduo da pena e reformatio in pejus

    Priso Processual Investigao criminal promovida pelo Ministrio Pblico e aditamento da denncia - 10

    Provas Prova ilcita: desvinculao causal e condenao

    Tribunal do Jri Tribunal do jri: leitura de pea em plenrio e nulidade

    Direito Processual Penal Militar Crime praticado por militar e competncia

    Direito Tributrio

    Tributos PSV: remunerao do servio de iluminao pblica (Enunciado 41 da Smula Vinculante)

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  • DIREITO ADMINISTRATIVO

    Concurso Pblico

    Estatuto do Idoso e critrios de desempate em concurso pblico - 1 O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, no se aplica como critrio de desempate, no concurso pblico

    de remoo para outorga de delegao notarial e de registro, porque existente lei estadual especfica reguladora do certame, a tratar das regras aplicveis em caso de empate. Com base nessa orientao, a 1 Turma denegou a ordem em mandado de segurana. Na espcie, deciso do CNJ determinara o afastamento do impetrante do cartrio em que exerce atividade, por concurso pblico, h mais de dois anos. Entendera o CNJ que, no caso, prevaleceria a legislao especial reguladora dos concursos pblicos de remoo para outorga de serventias extrajudiciais de notas e registro pblico, a Lei 8.935/1994 e a Lei paranaense 14.594/2004, em detrimento do Estatuto do Idoso. Assim, o tribunal de justia estadual deveria adotar o critrio previsto no item II do artigo 11 da referida lei estadual, a recair sobre o candidato que contasse com maior tempo de servio pblico e no o de maior idade. Em preliminar, a Corte rejeitou questo de ordem suscitada no sentido do deslocamento do processo ao Plenrio, porque a lei estadual teria sido impugnada na ADI 3.748/PR, pendente de julgamento. Apontou que a referida pendncia no tornaria prevento o Colegiado para debater demanda em que a validade da norma fosse discutida. No mrito, quanto aos servios notariais e de registro, a Turma destacou que o constituinte originrio teria fixado poucas diretrizes na Constituio, e que deixara a critrio de legislao ordinria a maior parte da disciplina sobre o assunto. Por isso, ao intentar regulamentar o art. 236 da CF, que dispe sobre os servios notariais e de registro, o legislador federal teria editado a Lei 8.935/1994. O referido diploma teria sedimentado qualquer controvrsia existente a respeito da competncia para disciplinar as normas e os critrios a respeito dos concursos de notrios e registradores. Dispusera expressamente que, em se tratando de concurso de remoo, seria dos Estados-membros a iniciativa de regulament-los. Nesse contexto, e no exerccio de sua competncia, o ente federativo teria editado a Lei estadual 14.594/2004, que prev critrio prprio em caso de empate de candidatos (Art. 11. Havendo empate entre os candidatos, a precedncia na classificao ser decidida de acordo com os seguintes critrios, sucessivamente: I - o mais antigo na titularidade de servio notarial ou de registro; II - aquele que contar com maior tempo de servio pblico; III - o mais idoso). Aduziu que, no plano dogmtico, o conflito entre o critrio de especialidade e o critrio cronolgico deveria ser resolvido em favor do primeiro.

    MS 33046/PR, rel. Min. Luiz Fux, 10.3.2015. (MS-33046) (Informativo 777, 1 Turma)

    Estatuto do Idoso e critrios de desempate em concurso pblico - 2

    A Turma enfatizou que no se estaria a negar vigncia ao Estatuto do Idoso, responsvel por concretizar os direitos fundamentais da proteo do idoso na ordem jurdica brasileira, amparado nos princpios da cidadania e da dignidade da pessoa humana. Ocorre que, nesse certame em particular, a lei estadual, por ser norma especial a regular o concurso pblico de remoo para outorga de delegao notarial e de registro, deveria prevalecer sobre o Estatuto do Idoso no ponto em que tratasse de critrios de desempate. No obstante, dentre os critrios previstos na lei estadual, o primeiro deles, a favorecer o candidato mais antigo na titularidade no servio notarial ou de registro, no poderia ser utilizado para desempatar o certame, uma vez que fora considerado inconstitucional no julgamento da ADI 3.522/RS (DJe de 12.5.2006). Frisou que, no caso, teriam concorrido dois servidores/delegatrios, j aprovados em concurso pblico, que realizaram concurso de remoo para titularizar outra serventia e, ao obterem a mesma pontuao, fora privilegiado, com base em escolha legislativa especfica, aquele que possuiria o maior tempo de servio. Desse modo, apenas se poderia adotar o critrio de desempate que privilegiasse o mais idoso, como requeria o impetrante, se os candidatos tivessem tambm empatado quanto ao tempo de servio pblico.

    MS 33046/PR, rel. Min. Luiz Fux, 10.3.2015. (MS-33046) (Informativo 777, 1 Turma)

    Concurso pblico: prova objetiva e resolues do CNMP e CSMPF - 2

    A 1 Turma, em concluso de julgamento e por maioria, julgou prejudicado agravo regimental e denegou mandado de segurana impetrado contra ato da Comisso Examinadora do 26 Concurso para ingresso na carreira de Procurador da Repblica. Na espcie, fora negado provimento a recurso interposto pela impetrante para atacar a formatao conferida a questes da primeira fase do certame, que apontava padecerem de nulidade insanvel pela no observncia de parmetros de transparncia e objetividade v.

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  • Informativo 759. A Turma destacou que o exame jurisdicional da controvrsia no demonstraria potencial para que se excedesse o controle de legalidade e se avanasse na seara do mrito administrativo. Dessa forma, o debate seria diferente de outros precedentes relativos ao amplo tema dos concursos pblicos, em que a ordem fora indeferida diante da inviabilidade de substituio do juzo de mrito administrativo pelo jurisdicional. Asseverou que no existiria deficincia no modo de redao das perguntas sob o aspecto da pronta resposta exigida pelas resolues que disciplinaram o certame, de modo a traduzir violao s normas reguladoras do concurso, nos moldes em que postas poca, ou ao edital. Vencido o Ministro Marco Aurlio, que concedia a segurana para declarar a nulidade das questes apontadas pela impetrante e reconhecer a validade de seu ingresso na carreira de Procurador da Repblica. Afirmava que as perguntas questionadas no se revestiriam da objetividade necessria. Aduzia que o padro adotado nas trs questes impugnadas no seria compatvel com fase objetiva de concurso pblico.

    MS 31323 AgR/DF, rel. Min. Rosa Weber, 17.3.2015. (MS-31323) (Informativo 778, 1 Turma)

    Princpios da Administrao Pblica

    Verba indenizatria e publicidade - 3

    Em concluso de julgamento, o Plenrio concedeu a ordem em mandado de segurana impetrado por veculo da imprensa contra ato do Senado Federal, que indeferira pedido de acesso aos comprovantes apresentados pelos senadores para recebimento de verba indenizatria, no perodo de setembro a dezembro de 2008 v. Informativo 770. De incio, reconheceu a legitimidade ativa da impetrante, por considerar haver direito lquido e certo obteno desses elementos, com base no princpio da publicidade (CF, art. 37, caput) e em outras disposies constitucionais correlatas, notadamente a liberdade de informao jornalstica (CF, art. 220, 1). Ressaltou que as referidas verbas destinar-se-iam a indenizar despesas direta e exclusivamente relacionadas ao exerccio da funo parlamentar. Sua natureza pblica estaria presente tanto na fonte pagadora o Senado Federal quanto na finalidade, vinculada ao exerccio da representao popular. Nesse contexto, a regra geral seria a publicidade e decorreria de um conjunto de normas constitucionais, como o direito de acesso informao por parte dos rgos pblicos (CF, art. 5, XXXIII) especialmente no tocante documentao governamental (CF, art. 216, 2) , o princpio da publicidade (CF, art. 37, caput e 3, II) e o princpio republicano (CF, art. 1), do qual se originariam os deveres de transparncia e prestao de contas, bem como a possibilidade de responsabilizao ampla por eventuais irregularidades. Recordou que o art. 1, pargrafo nico, da CF enuncia que todo o poder emana do povo. Assim, os rgos estatais teriam o dever de esclarecer ao seu mandante, titular do poder poltico, como seriam usadas as verbas arrecadadas da sociedade para o exerccio de suas atividades. A Constituio ressalvaria a regra da publicidade apenas em relao s informaes cujo sigilo fosse imprescindvel segurana da sociedade e do Estado (CF, art. 5, XXXIII, parte final) e s que fossem protegidas pela inviolabilidade conferida intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas (CF, art. 5, X, c/c art. 37, 3, II). Por se tratar de situaes excepcionais, o nus argumentativo de demonstrar a caracterizao de uma dessas circunstncias incumbiria a quem pretendesse afastar a regra geral da publicidade.

    MS 28178/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 4.3.2015. (MS-28178) (Informativo 776, Plenrio)

    Verba indenizatria e publicidade - 4 O Plenrio consignou que a autoridade impetrada teria justificado sua recusa nas duas excees acima

    citadas. Refutou a assertiva de que a concesso da ordem poderia gerar um perigoso precedente, uma vez que permitiria igualmente o acesso a informaes sobre verbas indenizatrias pagas no mbito de outros rgos estratgicos, como a ABIN, o Centro de Inteligncia do Exrcito e da Marinha, a Comisso Nacional de Energia Nuclear do Ministrio da Cincia e da Tecnologia, a Presidncia da Repblica e mesmo os tribunais superiores. Sublinhou que o carter estratgico das atividades desenvolvidas por determinado rgo no tornaria automaticamente secretas todas as informaes a ele referentes. No caso do Senado Federal, as atividades ordinrias de seus membros estariam muito longe de exigir um carter predominantemente sigiloso. Em se tratando de rgo de representao popular por excelncia, presumir-se-ia justamente o contrrio. Nesse domnio, eventual necessidade de sigilo no poderia ser invocada de forma genrica, devendo ser concretamente justificada. Quanto segunda exceo que justificaria a restrio publicidade informaes relacionadas intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas , no seria pertinente que se invocasse a intimidade, de forma genrica, para restringir a transparncia acerca do emprego de verbas pblicas exclusivamente relacionadas ao exerccio da funo parlamentar. A hiptese nada teria a ver com uma devassa genrica na vida privada dos agentes polticos. No se cuidaria da

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  • divulgao, pelo Poder Pblico, da forma como os senadores gastariam o subsdio recebido a ttulo de remunerao ou mesmo sobre o emprego de outras rendas privadas auferidas a ttulo diverso. Alm disso, anotou que o custo das cpias solicitadas seria arcado pela impetrante.

    MS 28178/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 4.3.2015. (MS-28178) (Informativo 776, Plenrio)

    Sistema Remuneratrio

    PSV: reajuste de vencimentos e correo monetria (Enunciado 42 da Smula Vinculante)

    O Plenrio acolheu proposta de edio de enunciado de smula vinculante com o seguinte teor: inconstitucional a vinculao do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a ndices federais de correo monetria. Assim, tornou vinculante o contedo do Verbete 681 da Smula do STF.

    PSV 101/DF, 12.3.2015. (PSV-101) (Informativo 777, Plenrio)

    MS e reconhecimento de legalidade de incorporao de quintos e dcimos pelo TCU - 2 Em concluso, o Plenrio, por maioria, conheceu de mandado de segurana e concedeu a ordem

    para assentar a ilegalidade da incorporao de quintos/dcimos aos vencimentos de servidores federais, no perodo compreendido entre 9.4.1998 e 4.9.2001, com base no artigo 3 da MP 2.225/2001 v. Informativo 590. A Corte asseverou que no se trataria de norma em tese e, por isso, no incidiria o Enunciado 266 da Smula do STF (No cabe mandado de segurana contra lei em tese). Apontou que seriam aplicados os mesmos fundamentos da deciso proferida no RE 638.115/CE (v. em Repercusso Geral). Vencidos os Ministros Eros Grau (relator), Crmen Lcia e Rosa Weber, que no conheciam do writ. Entendiam que a ausncia de efeitos concretos no ato impugnado denunciaria a falta de interesse de agir da impetrante.

    MS 25763/DF, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acrdo Min. Gilmar Mendes, 18 e 19.3.2015. (MS-25763) (Informativo 778, Plenrio) 1 Parte: 2 Parte:

    Incorporao de quintos e princpio da legalidade - 1 Ofende o princpio da legalidade a deciso que concede a incorporao de quintos pelo exerccio de

    funo comissionada no perodo entre 8.4.1998 edio da Lei 9.624/1998 at 4.9.2001 edio da Medida Provisria 2.225-45/2001 , ante a carncia de fundamento legal. Essa a concluso do Plenrio que, por maioria, deu provimento a recurso extraordinrio em que discutida possibilidade da incorporao de quintos decorrente do exerccio de funes comissionadas e/ou gratificadas no perodo. Preliminarmente, o Colegiado, por deciso majoritria, conheceu do recurso. Assentou que haveria jurisprudncia da Corte no sentido de ser inadmissvel o recurso extraordinrio interposto contra deciso do STJ que, em recurso especial, se fundamentasse em matria constitucional j apreciada e decidida na instncia inferior e no impugnada diretamente no STF mediante recurso extraordinrio. Assim, no interposto o recurso extraordinrio contra a deciso de segunda instncia dotada de duplo fundamento legal e constitucional ficaria preclusa a oportunidade processual de se questionar a matria constitucional. Novo recurso extraordinrio somente seria admissvel para suscitar a questo constitucional surgida originariamente no recurso especial pelo STJ. Porm, o caso seria peculiar. O tema, por suscitar a interpretao da legislao aplicvel matria, costumaria ser tratado como de ndole estritamente infraconstitucional. No entanto, essa forma de abordar a questo representaria apenas um dos enfoques possveis quanto legalidade. Nada impediria que a controvrsia debatida nas instncias inferiores, inclusive no STJ, fosse abordada por outra perspectiva no STF, porque a causa de pedir em recurso extraordinrio seria aberta. A mesma questo debatida, devidamente prequestionada, poderia ser apreciada no Supremo, o qual poderia enfrentar o tema sob o enfoque constitucional. Nessa hiptese, seria cabvel o recurso extraordinrio, tendo em vista que, apreciada a questo novamente pelo STJ, apenas restaria a via recursal extraordinria para que o STF analisasse a controvrsia. No caso, a questo seria visivelmente constitucional. No se cuidaria de mera discusso sobre ilegalidade, por ofensa ao direito ordinrio. Constituiria, em verdade, afronta ao postulado fundamental da legalidade. O Tribunal aduziu que se, de um lado, a transferncia para o STJ da atribuio para conhecer das questes relativas observncia do direito federal reduzira a competncia do STF s controvrsias de ndole constitucional, por outro, essa alterao dera ensejo ao Supremo para redimensionar o conceito de questo constitucional. Nesse sentido, o significado do princpio da legalidade, positivado no art. 5, II, da CF, deveria ser efetivamente explicitado, para que dele se extrassem relevantes consequncias jurdicas. Esse postulado, entendido como o princpio da supremacia ou da preeminncia da lei, ou como o princpio da reserva legal, conteria limites para os trs Poderes constitudos. Dever-se-ia indagar, no ponto, se o tema versaria simples questo legal, insuscetvel de apreciao na via extraordinria, ou se teria contornos

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  • constitucionais e mereceria ser examinado no STF. Ademais, dever-se-ia questionar se a deciso judicial adversada por suposta falta de fundamento legal poderia ser considerada contrria Constituio, a suscitar questo constitucional. Nessa linha, seria necessrio perquirir se a aplicao errnea do direito ordinrio poderia dar ensejo a uma questo constitucional. Reputou que o princpio da reserva legal explicitaria as matrias que deveriam ser disciplinadas diretamente pela lei. Esse postulado afirmaria a inadmissibilidade de utilizao de qualquer outra fonte de direito distinta da lei. Por outro lado, admitiria que apenas a lei pudesse estabelecer eventuais limitaes ou restries. Por seu turno, o princpio da supremacia ou da preeminncia da lei submeteria a Administrao e os tribunais ao regime da lei, a impor a exigncia de aplicao da lei e a proibio de desrespeito ou de violao da lei.

    RE 638115/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18 e 19.3.2015. (RE-638115) (Informativo 778, Plenrio, Repercusso Geral) 1 Parte: 2 Parte:

    Incorporao de quintos e princpio da legalidade - 2

    O Colegiado ponderou que uma deciso judicial que, sem fundamento legal, afetasse situao individual, revelar-se-ia contrria ordem constitucional, pelo menos ao direito subsidirio da liberdade de ao. Se admitido, como expressamente estabelecido na Constituio, que os direitos fundamentais vinculariam todos os Poderes e que a deciso judicial deveria observar a Constituio e a lei, ento a deciso judicial que se revelasse desprovida de base legal afrontaria ao menos o princpio da legalidade. Essa orientao poderia converter a Corte em autntico tribunal de reviso, se fosse admitido que toda deciso contrria ao direito ordinrio seria inconstitucional. Por isso, deveria ser formulado um critrio a limitar a impugnao das decises judiciais mediante recurso constitucional. A admissibilidade dependeria da demonstrao de que, na interpretao e aplicao do direito, o juiz tivesse desconsiderado por completo ou essencialmente a influncia dos direitos fundamentais, que a deciso fosse manifestamente arbitrria na aplicao do direito ordinrio ou, ainda, que tivessem sido ultrapassados os limites da construo jurisprudencial. Assim, uma deciso que, por exemplo, ampliasse o sentido de um texto penal para abranger determinada conduta seria inconstitucional, por afronta ao princpio da legalidade. Seria, portanto, admitida uma aferio de constitucionalidade tanto mais intensa quanto maior fosse o grau de interveno no mbito de proteo dos direitos fundamentais. Em suma, seria possvel aferir uma questo constitucional na violao da lei pela deciso ou ato dos Poderes constitudos. A deciso ou ato sem fundamento legal ou contrrio ao direito ordinrio violaria, portanto, o princpio da legalidade. O Ministro Teori Zavascki tambm conheceu do recurso, mas por outro fundamento. Afirmou que, em razo de o mesmo tema tambm chegar ao STF por meio de mandados de segurana, a Corte no fugiria do exame do mrito da questo. No faria sentido distinguir uma deciso com repercusso geral de outra, sem essa qualidade, a conferir eficcias diferentes para decises do Supremo. Todas elas, por sua prpria natureza, teriam eficcia expansiva necessria e peso institucional semelhante. O Ministro Marco Aurlio acresceu que no se deveria exigir, para ter-se configurado o prequestionamento, a referncia no acrdo recorrido a dispositivo da Constituio. Seria suficiente a adoo de entendimento sobre a norma constitucional. No caso, a deciso recorrida trataria claramente da existncia de direito adquirido por parte dos servidores. Alm disso, citou precedentes da Corte em recursos extraordinrios nos quais discutida transgresso ao devido processo legal ou ao princpio da legalidade. Frisou que se estaria diante de situao concreta a reclamar manifestao do STF, para pacificar-se o tema. O Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente) sublinhou que, na repercusso geral, o STF teria a discricionariedade de admitir certos casos, se eles se enquadrassem nos conceitos abertos de relevncia poltica, econmica, social ou jurdica. Vencidos, quanto ao conhecimento, os Ministros Rosa Weber, Luiz Fux, Crmen Lcia e Celso de Mello. Entendiam que o tema cuidaria de ofensa meramente reflexa Constituio. Alm disso, o acrdo recorrido seria calcado em matria infraconstitucional.

    RE 638115/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18 e 19.3.2015. (RE-638115) (Informativo 778, Plenrio, Repercusso Geral)

    Incorporao de quintos e princpio da legalidade - 3

    No mrito, o Plenrio pontuou que a deciso judicial a determinar incorporao dos quintos careceria de fundamento legal e, assim, violaria o princpio da legalidade. A deciso recorrida baseara-se no entendimento segundo o qual a Medida Provisria 2.225-45/2001, em seu art. 3, permitiria a incorporao dos quintos no perodo compreendido entre a edio da Lei 9.624/1998 e a edio da aludida medida provisria. O referido art. 3 transformara em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada - VPNI a incorporao das parcelas a que se referem os artigos 3 e 10 da Lei 8.911/1994 e o art. 3 da Lei 9.624/1998. No se poderia considerar que houvera o restabelecimento ou a reinstituio da possibilidade de incorporao das parcelas de quintos ou dcimos. A incorporao de parcelas remuneratrias remontaria Lei 8.112/1990. Seu art. 62, 2, na redao original, concedera aos servidores pblicos o direito incorporao da gratificao por exerccio de cargo de direo, chefia ou

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  • assessoramento razo de um quinto por ano, at o limite de cinco quintos. A Lei 8.911/1994 disciplinara a referida incorporao. Por sua vez, a Medida Provisria 1.195/1995 alterara a redao dessas leis para instituir a mesma incorporao na proporo de um dcimo, at o limite de dez dcimos. A Medida Provisria 1.595-14/1997, convertida na Lei 9.527/1997, extinguira a incorporao de qualquer parcela remuneratria, com base na Lei 8.911/1994, e proibira futuras incorporaes. As respectivas parcelas foram transformadas em VPNI. A Lei 9.527/1997 no teria sido revogada pela Lei 9.624/1998, pois esta seria apenas a converso de uma cadeia distinta de medidas provisrias reeditadas validamente iniciada anteriormente prpria Lei 9.527/1997. Desde a edio da Medida Provisria 1.595-14/1997, portanto, seria indevida qualquer concesso de parcelas remuneratrias referentes a quintos ou dcimos. Em suma, a concesso de quintos somente seria possvel at 28.2.1995, nos termos do art. 3, I, da Lei 9.624/1998, enquanto que, de 1.3.1995 a 11.11.1997 edio da Medida Provisria 1.595-14/1997 a incorporao devida seria de dcimos, nos termos do art. 3, II e pargrafo nico, da Lei 9.624/1998, sendo indevida qualquer concesso aps 11.11.1997. Nesse quadro, a Medida Provisria 2.225/2001 no viera para extinguir definitivamente o direito incorporao que teria sido revogado pela Lei 9.624/1998, mas somente para transformar em VPNI a incorporao das parcelas referidas nas Leis 8.911/1994 e 9.624/1998. Assim, o direito incorporao de qualquer parcela remuneratria, fosse quintos ou dcimos, j estaria extinto. O restabelecimento de dispositivos normativos anteriormente revogados, a permitir a incorporao de quintos ou dcimos, somente seria possvel por determinao expressa em lei. Em outros termos, a repristinao de normas dependeria de expressa determinao legal. Assim, se a Medida Provisria 2.225/2001 no repristinara expressamente as normas que previam a incorporao de quintos, no se poderia considerar como devida uma vantagem remuneratria pessoal no prevista no ordenamento. Em concluso, no existiria norma a permitir o ressurgimento dos quintos ou dcimos levada a efeito pela deciso recorrida. Vencidos os Ministros Luiz Fux, Crmen Lcia e Celso de Mello, que desproviam o recurso. Assentavam que a incorporao de gratificao relativa ao exerccio de funo comissionada no perodo de 8.4.1998 a 5.9.2001, transformando as referidas parcelas em VPNI, teria sido autorizada pela Medida Provisria 2.225-45/2001, em razo de ter promovido a revogao dos artigos 3 e 10 da Lei 8.911/1994. Por fim, o Plenrio, por deciso majoritria, modulou os efeitos da deciso para desobrigar a devoluo dos valores recebidos de boa-f pelos servidores at a data do julgamento, cessada a ultra-atividade das incorporaes concedidas indevidamente. Vencido o Ministro Marco Aurlio, que no modulava os efeitos da deciso.

    RE 638115/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18 e 19.3.2015. (RE-638115) (Informativo 778, Plenrio, Repercusso Geral)

    DIREITO CONSTITUCIONAL

    Controle de Constitucionalidade

    Contribuio previdenciria de inativos e pensionistas: iseno e patologias incapacitantes - 3 O Plenrio, em concluso de julgamento e por maioria, acolheu, em parte, pedido formulado em

    ao direta para estabelecer que o pargrafo nico do art. 3 da Lei 8.633/2005 do Estado do Rio Grande do Norte [Art. 3. Os aposentados e os pensionistas de qualquer dos Poderes do Estado, do Ministrio Pblico e do Tribunal de Contas do Estado, includas suas autarquias e fundaes, e dos Militares Estaduais contribuiro para o regime prprio de previdncia social, com 11 % (onze por cento) incidentes sobre o valor da parcela dos proventos de aposentadorias e penses que supere o limite mximo estabelecido para os benefcios do regime geral de previdncia social, fixado pela legislao federal. Pargrafo nico. So isentos da contribuio de que trata o caput deste artigo, os aposentados e pensionistas que sejam portadores de patologias incapacitantes, abrangidos pela iseno oferecida pela legislao do Imposto de Renda] deve ser interpretado luz do limite previsto no art. 40, 21, da CF ( 21. A contribuio prevista no 18 deste artigo incidir apenas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de penso que superem o dobro do limite mximo estabelecido para os benefcios do regime geral de previdncia social de que trata o art. 201 desta Constituio, quando o beneficirio, na forma da lei, for portador de doena incapacitante) v. Informativo 646. O Colegiado destacou que a norma adversada seria extremamente simptica do ponto de vista da justia social, a qual deveria valer para todos, sob pena de se ferir a isonomia. Ademais, ela alcanaria grande parte dos aposentados e pensionistas. Entretanto, o mencionado pargrafo nico, ao conceder iseno total, seria mais amplo do que o 21 do art. 40 da CF, que confere benefcio limitado. Vencido, em parte, o Ministro Cezar Peluso (relator), que julgava o pedido parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do aludido pargrafo nico, que criaria iseno no prevista constitucionalmente.

    ADI 3477/RN, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, 4.3.2015. (ADI-3477) (Informativo 776, Plenrio)

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  • Lei municipal e vcio de iniciativa Por vcio de iniciativa, o Plenrio deu provimento a recurso extraordinrio para declarar a

    inconstitucionalidade dos incisos II, III, VIII, bem como dos 1 e 2 do art. 55 da Lei Orgnica de Cambu/MG, que concede benefcios a servidores pblicos daquela municipalidade. Na espcie, a norma questionada decorrera de iniciativa de cmara legislativa municipal. A Corte asseverou que lei orgnica de municpio no poderia normatizar direitos de servidores, porquanto a prtica afrontaria a iniciativa do chefe do Poder Executivo.

    RE 590829/MG, rel. Min. Marco Aurlio, 5.3.2015. (RE-590829) (Informativo 776, Plenrio)

    Notrios e oficiais de registro e regime previdencirio

    O Plenrio julgou procedentes pedidos formulados em aes diretas para declarar a inconstitucionalidade da Lei 15.150/2005 do Estado de Gois que cria regime diferenciado de aposentadoria para determinadas categorias profissionais (participantes: do servio notarial e registral, no remunerados pelos cofres pblicos; da serventia do foro judicial, admitidos antes da vigncia da Lei 8.935/1994 e facultativos com contribuio em dobro) e da LC 412/2008 do Estado de Santa Catarina, que inclui os cartorrios extrajudiciais entre os segurados obrigatrios do regime prprio de previdncia social do Estado-membro. De incio, no que se refere lei goiana, o Colegiado explicou que ela fixara um regime especfico para as trs classes de agentes colaboradores do Estado de Gois: a) os delegatrios de servio notarial, que tiveram seus direitos assegurados na Lei 8.935/1994; b) os serventurios do foro judicial, admitidos antes da vigncia da Lei 8.935/1994; e c) os antigos segurados facultativos com contribuio em dobro, filiados ao regime prprio de previdncia estadual antes da Lei 12.964/1996. O Colegiado assentou que a Lei estadual 15.150/2005 alterara o regime vigente desde 1986, e passara a regulamentar: a) as modalidades de aposentadoria; b) a frmula de cmputo das contribuies, dos respectivos proventos e das penses; c) as condies de desvinculao espontnea e automtica do sistema; d) o cmputo do tempo de servio e contribuio; e) a cobertura do sistema; f) as condies para a vinculao na qualidade de dependente; g) a autoridade responsvel pela administrao do sistema; e h) as condies de reajuste dos benefcios. A lei impugnada estruturara, em proveito de agentes que h muito teriam migrado para o regime geral, sistema previdencirio indito, com condies de contribuio, elegibilidade e cobertura diversos daqueles previstos tanto no regime prprio estadual quanto no regime geral. Destacou, entretanto, que a lei impugnada no tratara de estender o regime prprio de previdncia local aos destinatrios por ela especificados, mas criara modelo alternativo. O legislador estadual, no pretenso exerccio de sua competncia concorrente (CF, art. 24, XII), dispusera sobre matria previdenciria, no desiderato de regular situaes jurdicas especficas, respeitantes a colaboradores sem vnculo efetivo com o Estado, de modo inteiramente distinto do regime prprio de previdncia. O sistema institudo pela lei adversada no poderia ser classificado como um regime previdencirio complementar, pois, embora fosse de adeso facultativa, no seria destinado a complementar a renda obtida com outro vnculo previdencirio, mas funcionaria como regime exclusivo. Assim, a lei local desviara-se do desenho institucional, bem assim houvera usurpao de competncia, o que resultaria na invalidade de todo o diploma. O Colegiado assinalou que estariam violados, em suma, os artigos 40, 201 e 202 da CF. Explicitou que a lei catarinense incorreria nas mesmas inconstitucionalidades, embora no tivesse sido criado novo regime. No caso, as mesmas categorias de profissionais teriam sido incorporadas no regime prprio de previdncia estadual. Por fim, o Plenrio, por maioria, modulou os efeitos da declarao de inconstitucionalidade, para preservar as situaes dos segurados que, abrangidos pelas leis impugnadas, tivessem sido inseridos nos respectivos regimes previdencirios, bem assim efetuado o recolhimento das contribuies devidas e, cumpridos os requisitos legais, tivessem passado a receber os benefcios. Desse modo, deveriam ser ressalvadas dos efeitos da deciso as situaes dos destinatrios dessas leis que estivessem percebendo ou tivessem reunido as condies para obter os benefcios at a data da publicao da ata de julgamento. Vencido, quanto modulao, o Ministro Marco Aurlio.

    ADI 4639/GO, rel. Min. Teori Zavascki, 11.3.2015. (ADI-4639) ADI 4641/SC, rel. Min. Teori Zavascki, 11.3.2015. (ADI-4641) (Informativo 777, Plenrio)

    ICMS: benefcio tributrio e guerra fiscal O Plenrio julgou parcialmente procedente pedido formulado em ao direta para declarar a

    inconstitucionalidade do art. 1, II, e dos artigos 2 a 4; 6 a 8; e 11, todos da Lei 14.985/1996 do Estado do Paran. O diploma impugnado trata da concesso de benefcios fiscais vinculados ao ICMS. O Colegiado asseverou que o entendimento do STF seria no sentido de que a concesso unilateral de benefcios fiscais relativos ao ICMS sem a prvia celebrao de convnio intergovernamental, nos termos

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  • da LC 24/1975, afrontaria o art. 155, 2, XII, g, da CF. Primeiramente, no que se refere ao art. 1, caput, I e pargrafo nico; bem assim ao art. 5 da lei impugnada, afirmou serem constitucionais. Esses dispositivos estabeleceriam apenas a suspenso do pagamento do ICMS incidente sobre a importao de matria-prima ou de material intermedirio, e transferiria o recolhimento do tributo do momento do desembarao aduaneiro para o momento de sada dos produtos industrializados do estabelecimento. No ponto, a jurisprudncia do STF permitiria diferir o recolhimento do valor devido a ttulo de ICMS se no implicasse reduo ou dispensa do valor devido , pois isso no significaria benefcio fiscal e prescindiria da existncia de convnio. Por outro lado, a lei deveria ser declarada inconstitucional quanto aos dispositivos que preveriam parcelamento do pagamento de ICMS em quatro anos sem juros e correo monetria; bem assim que confeririam crditos fictcios de ICMS de forma a reduzir artificialmente o valor do tributo. Haveria deferimento indevido de benefcio fiscal. Ademais, seria tambm inconstitucional dispositivo que autorizaria o governador a conceder benefcio fiscal por ato infralegal, inclusive por afronta regra da reserva legal. Por fim, o Plenrio, por maioria, deliberou modular os efeitos da declarao de inconstitucionalidade, para que tivesse eficcia a partir da data da sesso de julgamento. Ponderou que se trataria de benefcios tributrios inconstitucionais, mas que se deveria convalidar os atos jurdicos j praticados, tendo em vista a segurana jurdica e a pouca previsibilidade, no plano ftico, quanto s consequncias de eventual decretao de nulidade desses atos, existentes no mundo jurdico h anos. Entretanto, o STF no poderia permitir que novos atos inconstitucionais fossem praticados. Vencido, no ponto, o Ministro Marco Aurlio, que no modulava os efeitos da deciso.

    ADI 4481/PR, rel. Min. Roberto Barroso, 11.3.2015. (ADI-4481) (Informativo 777, Plenrio)

    Telecomunicaes: competncia legislativa - 4

    Em concluso, o Plenrio, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ao direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.908/2001 do Estado de Santa Catarina. A norma fixa as condies de cobrana dos valores da assinatura bsica residencial dos servios de telefonia fixa v. Informativos 378 e 610. O Colegiado reputou caracterizada ofensa aos artigos 21, XI; e 22, IV, da CF, tendo em vista que a competncia para legislar sobre telecomunicaes seria privativa da Unio. Vencido o Ministro Ayres Britto, que julgava o pedido improcedente.

    ADI 2615/SC, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acrdo Min. Gilmar Mendes, 11.3.2015. (ADI-2615) (Informativo 777, Plenrio)

    Modulao: precatrio e EC 62/2009 - 12 O Plenrio, em concluso de julgamento e por maioria, resolveu questo de ordem na qual proposta

    a modulao dos efeitos, no tempo, do quanto decidido no julgamento conjunto de aes diretas de inconstitucionalidade em que declarados parcialmente inconstitucionais dispositivos da EC 62/2009, que institura regime especial de pagamento de precatrios pelos Estados-membros, Distrito Federal e Municpios v. Informativos 725, 739 e 778. Na ocasio, o Tribunal, por maioria, rejeitara a arguio de inconstitucionalidade formal consistente na inobservncia do interstcio entre os turnos de votao. No mrito, tambm por maioria, declarara inconstitucional: a) a expresso na data de expedio do precatrio, contida no 2 do art. 100 da CF, na redao da EC 62/2009. A Corte explicara que a regra configuraria critrio de aplicao de preferncia no pagamento de idosos, contudo, esse balizamento temporal discriminaria, sem fundamento, aqueles que viessem a alcanar 60 anos em data posterior expedio do precatrio, enquanto pendente e ainda no ocorrido o pagamento; b) os 9 e 10 do art. 100 da CF, includos pela EC 62/2009, e o art. 97, II, do ADCT, que fixam regime unilateral de compensao dos dbitos da Fazenda Pblica inscritos em precatrio. O Colegiado considerara que esse critrio beneficiaria exclusivamente o devedor pblico, em ofensa ao princpio da isonomia. Alm disso, os dispositivos instituiriam ntido privilgio em favor do Estado e em detrimento do cidado, cujos dbitos em face do Poder Pblico sequer poderiam ser compensados com as dvidas fazendrias; c) a expresso ndice oficial de remunerao bsica da caderneta de poupana, constante do 12 do art. 100 da CF, includo pela EC 62/2009, para que aos precatrios de natureza tributria se aplicassem os mesmos juros de mora incidentes sobre o crdito tributrio; d) por arrastamento, a mesma expresso contida no art. 1-F da Lei 9.494/1997, na redao dada pela Lei 11.960/2009, porquanto reproduziria a literalidade do comando contido no 12 do art. 100 da CF; e) a expresso independentemente de sua natureza, sem reduo de texto, contida no 12 do art. 100 da CF, includo pela EC 62/2009, para afastar a incidncia dos juros moratrios calculados segundo ndice da caderneta de poupana quanto aos crditos devidos pela Fazenda Pblica em razo de relaes jurdico-tributrias; f) por arrastamento, a expresso ndice oficial de remunerao da caderneta de poupana, contida no art. 1-F da Lei 9.494/1997, com a redao dada pelo art. 5 da Lei 11.960/2009; e g) o 15 do art. 100 da CF e todo o art. 97 do ADCT. A Corte

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  • entendera que, ao criarem regime especial para pagamento de precatrios para Estados, Distrito Federal e Municpios, veiculariam nova moratria na quitao dos dbitos judiciais da Fazenda Pblica e imporiam contingenciamento de recurso para esse fim, a violar a clusula constitucional do Estado de Direito, o princpio da separao de Poderes, o postulado da isonomia, a garantia do acesso justia, a efetividade da tutela judicial, o direito adquirido e a coisa julgada v. Informativos 631, 643, 697 e 698.

    ADI 4357 QO/DF, rel. Min. Luiz Fux, 25.3.2015. (ADI-4357) ADI 4425 QO/DF, rel. Min. Luiz Fux, 25.3.2015. (ADI-4425) (Informativo 779, Plenrio)

    Modulao: precatrio e EC 62/2009 - 13

    A Corte resolveu a questo de ordem nos seguintes termos: 1) modulou os efeitos para que se desse sobrevida ao regime especial de pagamento de precatrios, institudo pela EC 62/2009, por cinco exerccios financeiros a contar de 1.1.2016; 2) conferiu eficcia prospectiva declarao de inconstitucionalidade dos seguintes aspectos da ADI, fixado como marco inicial a data de concluso do julgamento da questo de ordem (25.3.2015) e mantendo-se vlidos os precatrios expedidos ou pagos at esta data, a saber: 2.1.) seria mantida a aplicao do ndice oficial de remunerao bsica da caderneta de poupana (TR), nos termos da EC 62/2009, at 25.3.2015, data aps a qual (i) os crditos em precatrios deveriam ser corrigidos pelo ndice de Preos ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii) os precatrios tributrios deveriam observar os mesmos critrios pelos quais a Fazenda Pblica corrige seus crditos tributrios; e 2.2.) seriam resguardados os precatrios expedidos, no mbito da Administrao Pblica Federal, com base nos artigos 27 das Leis 12.919/2013 e Lei 13.080/2015, que fixam o IPCA-E como ndice de correo monetria; 3) quanto s formas alternativas de pagamento previstas no regime especial: 3.1) seriam consideradas vlidas as compensaes, os leiles e os pagamentos vista por ordem crescente de crdito previstos na EC 62/2009, desde que realizados at 25.3.2015, data a partir da qual no seria possvel a quitao de precatrios por essas modalidades; 3.2) seria mantida a possibilidade de realizao de acordos diretos, observada a ordem de preferncia dos credores e de acordo com lei prpria da entidade devedora, com reduo mxima de 40% do valor do crdito atualizado; 4) durante o perodo fixado no item 1, seria mantida a vinculao de percentuais mnimos da receita corrente lquida ao pagamento dos precatrios (ADCT, art. 97, 10), bem como as sanes para o caso de no liberao tempestiva dos recursos destinados ao pagamento de precatrios (ADCT, art. 97, 10); 5) delegao de competncia ao CNJ para que considerasse a apresentao de proposta normativa que disciplinasse (i) a utilizao compulsria de 50% dos recursos da conta de depsitos judiciais tributrios para o pagamento de precatrios e (ii) a possibilidade de compensao de precatrios vencidos, prprios ou de terceiros, com o estoque de crditos inscritos em dvida ativa at 25.3.2015, por opo do credor do precatrio; e 6) atribuio de competncia ao CNJ para que monitorasse e supervisionasse o pagamento dos precatrios pelos entes pblicos na forma da deciso proferida na questo de ordem em comento. Vencidos o Ministro Marco Aurlio, que no modulava os efeitos da deciso, e, em menor extenso, a Ministra Rosa Weber, que fixava como marco inicial a data do julgamento da ao direta de inconstitucionalidade. Reajustaram seus votos os Ministros Roberto Barroso, Dias Toffoli e Gilmar Mendes.

    ADI 4357 QO/DF, rel. Min. Luiz Fux, 25.3.2015. (ADI-4357) ADI 4425 QO/DF, rel. Min. Luiz Fux, 25.3.2015. (ADI-4425) (Informativo 779, Plenrio)

    Contrato nulo e direito ao FGTS - 1 Os contratos de emprego firmados pela Administrao Pblica, sem o prvio concurso pblico,

    embora nulos, geram direitos em relao ao recolhimento e levantamento do FGTS. Com base nessa orientao, o Plenrio, por maioria, reputou improcedente pedido formulado em ao direta ajuizada contra o artigo 19-A e seu pargrafo nico e a expresso declarao de nulidade do contrato de trabalho nas condies do artigo 19-A, constante do inciso II do artigo 20 da Lei 8.036/1990, com a redao dada pela Medida Provisria 2.164-41/2001 (Art. 19-A. devido o depsito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de trabalho seja declarado nulo nas hipteses previstas no art. 37, 2, da Constituio Federal, quando mantido o direito ao salrio. Pargrafo nico. O saldo existente em conta vinculada, oriundo de contrato declarado nulo at 28 de julho de 2001, nas condies do caput, que no tenha sido levantado at essa data, ser liberado ao trabalhador a partir do ms de agosto de 2002. Art. 20. A conta vinculada do trabalhador no FGTS poder ser movimentada nas seguintes situaes: ... II - extino total da empresa, fechamento de quaisquer de seus estabelecimentos, filiais ou agncias, supresso de parte de suas atividades, declarao de nulidade do contrato de trabalho nas condies do artigo 19-A ...). A Corte reputou que o art. 19-A da Lei 8.036/1990, includo pela Medida Provisria 2.164-41/2001, no teria afrontado o princpio do concurso pblico contido no art. 37, II e 2, da CF. A norma questionada no infirmara a nulidade da contratao feita margem dessa exigncia, mas apenas

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  • permitira o levantamento dos valores recolhidos a ttulo de FGTS pelo trabalhador que efetivamente cumprira suas obrigaes contratuais e prestara o servio devido.

    ADI 3127/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 26.3.2015. (ADI-3127) (Informativo 779, Plenrio

    Contrato nulo e direito ao FGTS - 2

    O Colegiado entendeu que, ao contrrio do alegado, a Medida Provisria 2.164-41/2001 no teria interferido na autonomia administrativa dos Estados, Distrito Federal e Municpios para organizar o regime funcional de seus respectivos servidores. Essa assertiva se verificaria no fato de que a norma no teria criado qualquer obrigao financeira sem previso oramentria, mas dispusera sobre relaes jurdicas de natureza trabalhista, a dar nova destinao a um valor que, a rigor, j seria ordinariamente recolhido na conta do FGTS vinculada aos empregados. Ao autorizar o levantamento do saldo eventualmente presente nas contas de FGTS dos empregados desligados at 28.7.2001, e impedir a reverso desses valores ao errio sob a justificativa de anulao contratual, a norma do art. 19-A da Lei 8.036/1990 no teria acarretado novos dispndios, no desconstitura qualquer ato jurdico perfeito e tampouco investira contra direito adquirido da Administrao Pblica. Por fim, o carter compensatrio dessa norma teria sido considerado legtimo pelo Tribunal no julgamento do RE 596.478/RR (DJe de 1.3.2013) com repercusso geral reconhecida. Vencido o Ministro Marco Aurlio, que julgava procedente o pleito. Frisava que o art. 169 da CF disporia que a concesso de qualquer vantagem ou aumento de remunerao, a criao de cargos, empregos e funes ou alterao de estrutura de carreiras, bem como a admisso ou contratao de pessoal, a qualquer ttulo, pressuporia prvia dotao oramentria. Apontava que no teria sido prevista dotao oramentria para se atender ao FGTS para os casos de contratao ilcita e ilegtima, sob o ngulo constitucional, porque sem a observncia do concurso pblico.

    ADI 3127/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 26.3.2015. (ADI-3127) (Informativo 779, Plenrio)

    Direitos e Garantias Fundamentais

    Inscrio de ente pblico em cadastro federal de inadimplncia e devido processo legal - 1 O Plenrio julgou parcialmente procedente pedido formulado em ao cvel originria para assentar

    a suspenso do registro lanado com o nome do autor o Estado da Bahia no Cadastro nico de Convnios CAUC, at que lhe sejam disponibilizados os elementos indispensveis prestao de contas, e para determinar r Unio que se abstenha de, com base na mencionada restrio, obstar a contratao de emprstimos pelo Estado-membro. No caso, sustentava-se que a Unio teria feito a inscrio no CAUC e no Sistema Integrado de Administrao Financeira SIAFI, por haver ocorrido reprovao na prestao de contas alusiva a convnios, em que figuravam como partes a Secretaria Estadual de Educao e a Unio, todos relativos a verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao FNDE. Alegava-se que, por motivo de fora maior, o Estado-membro no tivera possibilidade de encaminhar a documentao necessria manuteno dos convnios, e que, em virtude dessa pendncia, a Secretaria de Educao fora inserida no CAUC, o que supostamente violaria o devido processo legal. Ademais, em razo disso, estariam paralisadas as operaes de crdito necessrias continuidade dos programas de educao estaduais. O Colegiado, preliminarmente, firmou a competncia do STF para julgar a ao. Alm da presena, em polos distintos, de Estado-membro e Unio, estaria em jogo a inscrio do ente local em cadastro federal de inadimplncia, a impedir a contratao de operaes de crdito, a celebrao de convnios e o recebimento de transferncias de recursos. A situao revelaria possvel abalo ao pacto federativo, a ensejar a incidncia do art. 102, I, f, da CF. Ademais, embora o FNDE possusse personalidade jurdica prpria, caberia Unio, na qualidade de gestora, proceder inscrio no CAUC e no SIAFI.

    ACO 1995/BA, rel. Min. Marco Aurlio, 26.3.2015. (ACO-1995) (Informativo 779, Plenrio)

    Inscrio de ente pblico em cadastro federal de inadimplncia e devido processo legal - 2

    No mrito, o Plenrio entendeu configurada ofensa ao devido processo legal apenas quanto a um dos convnios em discusso. No tocante a esse convnio, teria sido demonstrada a ocorrncia de incndio que destrura a documentao concernente execuo dos recursos advindos de convnios anteriores alusivos a programas educacionais. A inscrio nos cadastros federais de inadimplncia teria sido lanada, ademais, sem que o autor tivesse pleno conhecimento dos elementos necessrios apresentao de defesa. No caso, com a notcia de reprovao de contas alusivas ao mencionado convnio ante a perda acidental da documentao, o rgo estadual solicitara ao FNDE o fornecimento de cpia da prestao de

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  • contas que fora destruda, pedido este que fora atendido em parte, pois no teriam sido fornecidos dados essenciais reapresentao da prestao de contas. Assim, seria imprprio categorizar ao ente federado a condio de inadimplente no tocante ao citado convnio. A respeito, o Colegiado reafirmou entendimento no sentido de ser necessrio observar o devido processo legal, o contraditrio e a ampla defesa no tocante inscrio de entes pblicos nos cadastros federais de inadimplncia. O Plenrio reputou que os outros convnios em comento, por sua vez, no estariam atingidos por violao aos mencionados princpios, pois no estariam diretamente relacionados ao evento configurador de fora maior.

    ACO 1995/BA, rel. Min. Marco Aurlio, 26.3.2015. (ACO-1995) (Informativo 779, Plenrio)

    Extradio

    Priso para extradio e adaptao ao regime semiaberto - 1 A 2 Turma acolheu questo de ordem suscitada pelo Ministro Gilmar Mendes (relator) no sentido de

    deferir a adaptao de priso para extradio s condies do regime semiaberto. No caso, o extraditando fora condenado no Brasil pena unificada de 32 anos, um ms e 20 dias de recluso, pelos crimes de homicdio, lavagem de dinheiro e uso de documento falso, j tendo sido cumpridos cerca de 11 anos e trs meses de priso. Deferida a extradio instrutria, fundada em acusaes da prtica de crimes patrimoniais no violentos, aguardar-se-ia cumprimento de pena privativa de liberdade imposta no Brasil para a sua execuo. A Turma, de incio, afastou a alegao de prescrio da pretenso punitiva. Ressaltou que haveria a suspenso da prescrio, por ambos os ordenamentos jurdicos. Salientou que, na hiptese de condenao no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/1980, art. 89) condicionaria a execuo da extradio entrega do extraditando ao Estado requerente ao cumprimento da pena aqui imposta, ressalvada a faculdade de o Poder Executivo optar pela entrega imediata. Ponderou que, enquanto no efetivada a entrega, conviveriam dois ttulos de priso. Um, a sentena condenatria que embasaria a execuo penal. Outro, a ordem de priso para extradio. Na execuo penal, o condenado poderia satisfazer os requisitos para cumprir a pena no regime semiaberto ou no aberto. No entanto, a priso para extradio seria uma priso processual que, via de regra, seria executada em regime semelhante ao fechado. Cumulando-se as duas ordens de priso, prevaleceria a mais gravosa. Isso no decorreria de hierarquia entre a ordem do STF e a do juiz da execuo, pois bastaria um ttulo de priso para aplicar o regime mais gravoso. Dessa forma, se persistisse a priso para a extradio em todos seus efeitos, o extraditando cumpriria, em regime integralmente fechado, a pena em execuo no Brasil. A execuo da pena nesse regime reduziria sobremaneira o espao da individualizao da pena. Assim, seria necessrio buscar critrios para, na medida do possvel, compatibilizar a individualizao da pena na execuo penal com a extradio.

    Ext 893 QO/Repblica Federal da Alemanha, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.3.2015. (Ext-893) (Informativo 777, 2 Turma)

    Priso para extradio e adaptao ao regime semiaberto - 2

    A Turma observou que o juzo da execuo estaria limitado pelos termos do ttulo e pelo comportamento superveniente do executado. No poderia, dessa maneira, inserir o executado em regime mais gravoso do que o da condenao, ou indeferir a progresso de regime quele que satisfizesse as condies objetivas e subjetivas. Por outro lado, o STF, na qualidade de juzo da extradio, teria condies de avaliar a priso do ponto de vista de sua necessidade para assegurar a entrega do extraditando e, durante a execuo da pena, garantir a ordem pblica e a ordem econmica. Diante disso, a priso para extradio no impediria o juzo da execuo penal de deferir progresses de regime. Entretanto, essa providncia seria ineficaz at que o STF deliberasse acerca das condies da priso para extradio. Destarte, o STF teria a competncia para alterar os termos da priso para extradio e adapt-la ao regime de execuo da pena. Essa adaptao no seria automtica, pois seria necessrio observar as balizas do art. 312 do CPP. Alm disso, levaria em conta a eventual necessidade da priso para extradio em regime mais rigoroso do que o da execuo penal. Na espcie, a manuteno da priso para extradio em regime fechado seria desnecessria. O extraditando j cumprira mais de 11 anos de pena privativa de liberdade no Brasil e seu comportamento seria bom, conforme atestado pelo juiz da execuo penal. Assim, a manuteno do extraditando em regime fechado no seria indispensvel para a garantia da ordem pblica. Alm disso, nada impediria que o Poder Executivo optasse pela entrega do extraditando antes de esgotado o prazo mximo de priso. Desse modo, na hiptese dos autos, a priso para extradio deveria ser adaptada ao regime semiaberto. Com isso, o extraditando poderia gozar dos benefcios compatveis com esse regime, como as sadas temporrias e o trabalho externo. Contudo, essa deciso no impediria o juzo da execuo de prosseguir na fiscalizao disciplinar do condenado e, se fosse o caso, regredir o regime prisional.

    Ext 893 QO/Repblica Federal da Alemanha, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.3.2015. (Ext-893) (Informativo 777, 2 Turma)

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  • Reclamao

    Reclamao e sala de Estado-Maior - 4 Em concluso, o Plenrio, em julgamento conjunto e por maioria, julgou improcedentes pedidos

    formulados em reclamaes ajuizadas por advogados em que se alegava afronta autoridade da deciso proferida nos autos da ADI 1.127/DF (DJe de 11.6.2010), em que reputado constitucional o art. 7, V, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil - EOAB, na parte em que determina o recolhimento dos advogados, antes de sentena transitada em julgado, em sala de Estado-Maior e, na sua falta, em priso domiciliar v. Informativo 596. Em preliminar, a Corte rejeitou proposta de converso do julgamento em diligncia para verificar se os reclamantes ainda estariam presos provisoriamente. Segundo o proponente, se houvesse ttulo condenatrio transitado em julgado, no se poderia questionar a priso provisria. Nesse ponto, o Colegiado destacou que, a despeito de a provocao ocorrer dentro de uma situao especfica tutela de direito subjetivo , ao decidir o caso concreto a Corte tambm daria soluo ao tema. Ressaltou, ainda, que a reclamao no seria instrumento processual a permitir instruo mais ampla. Vencidos os Ministros Marco Aurlio e Crmen Lcia, que convertiam o julgamento em diligncia. O Ministro Marco Aurlio, ademais, concedia habeas corpus de ofcio. No mrito, a Corte explicou que, embora sala de Estado-Maior, em seu sentido estrito, apenas existisse dentro de instalaes militares, seria inegvel que sua destinao nica e a existncia de apenas uma dessas salas em cada unidade de comando ou superior tornaria inexequvel sua utilizao para o encarceramento de integrante da classe dos advogados, sob pena de inviabilizar o funcionamento regular das Foras Armadas. Nos termos do art. 102, I, l, da CF; art. 156 do RISTF; e art. 13 da Lei 8.038/1990, a reclamao seria instrumento destinado: a) preservao da esfera de competncia do STF; b) garantia da autoridade de suas decises; e c) a infirmar decises que desrespeitassem enunciado de Smula Vinculante editado pela Corte. Nesse contexto, os casos sob julgamento seriam distintos, porquanto as decises reclamadas no estariam assentadas em fundamento constitucional. O debate se circunscreveria s condies prisionais e se o local de cumprimento da priso provisria se enquadraria no conceito de sala de Estado-Maior. Concluiu que em nenhum momento as decises reclamadas teriam se amparado na inconstitucionalidade do art. 7, V, do EOAB, hiptese em que se poderia cogitar do descumprimento do que fora decidido no julgamento da ADI 1.127/DF (DJe de 11.6.2010). Vencidos os Ministros Crmen Lcia (relatora), que julgava procedente o pedido, e o Ministro Ayres Britto. Para a relatora, deveria ser assegurado o cumprimento da norma prevista no art. 7, V, da Lei 8.906/1994, na forma como interpretada pelo Supremo, e os reclamantes deveriam ser transferidos para uma sala de Estado-Maior ou, na ausncia dela, para a priso domiciliar, at o trnsito em julgado da ao penal.

    Rcl 5826/PR rel. orig. Min. Crmen Lcia, red. p/ o acrdo Min. Dias Toffoli, 18.3.2015. (Rcl-5826) Rcl 8853/GO, rel. orig. Min. Crmen Lcia, red. p/ o acrdo Min. Dias Toffoli, 18.3.2015. (Rcl-8853) (Informativo 778, Plenrio)

    Repartio de Competncia

    Legislao sobre meio ambiente e competncia municipal - 1 O municpio competente para legislar sobre o meio ambiente, com a Unio e o Estado-membro,

    no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmnico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (CF, art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II). Esse o entendimento do Plenrio, que, por maioria, deu provimento a recurso extraordinrio para declarar a inconstitucionalidade da Lei 1.952/1995 do Municpio de Paulnia/SP. A referida norma, impugnada em sede de representao de inconstitucionalidade estadual, probe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de limpeza e preparo do solo no referido municpio, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-acar e de outras culturas. Discutia-se a competncia de municpio para legislar sobre meio ambiente e editar lei com contedo diverso do que disposto em legislao estadual. A Corte, inicialmente, superou questes preliminares suscitadas, relativas alegada impossibilidade de conhecimento do recurso. No mrito, o Plenrio destacou que a questo em anlise, diante de seu carter ecltico e multidisciplinar, envolveria questes sociais, econmicas e polticas possibilidade de crise social, gerao de desemprego, contaminao do meio ambiente em razo do emprego de mquinas, impossibilidade de mecanizao em determinados terrenos e existncia de proposta federal de reduo gradativa do uso da queima , em conformidade com informaes colhidas em audincia pblica realizada sobre o tema. Ao se julgar a constitucionalidade do diploma legal municipal em questo, em um prisma socioeconmico, seria necessrio, portanto, sopesar se o impacto positivo da proibio imediata da queima da cana na produtividade seria constitucionalmente mais relevante do que o pacto social em que o Estado brasileiro se comprometera a conferir ao seu povo o pleno emprego para o completo gozo da sua dignidade. Portanto, no caso, o STF, por estar diante de um conjunto ftico composto pelo certo e previsvel

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  • desemprego em massa, juntamente com a mera possibilidade de aumento de produtividade, deveria se investir no papel de guardio da Constituio, em defesa do interesse da minoria qualitativamente representada pela classe de trabalhadores canavieiros, que mereceriam proteo diante do chamado progresso tecnolgico e a respectiva mecanizao, ambos trazidos pela pretenso de proibio imediata da colheita da cana mediante uso de fogo. Com o dever de garantir a concretude dos direitos fundamentais, evidenciar-se-ia o carter legitimador desse fundamento protecionista da classe trabalhadora, o que levaria ao vis representativo das camadas menos favorecidas, cujos interesses estariam em jogo. Portanto, mesmo que fosse mais benfico, para no dizer inevitvel, optar pela mecanizao da colheita da cana, por conta da sade do trabalhador e da populao a viver nas proximidades da rea de cultura, no se poderia deixar de lado o meio pelo qual se considerasse mais razovel para a obteno desse objetivo: a proibio imediata da queima da cana ou a sua eliminao gradual. Por bvio, afigurar-se-ia muito mais harmnico com a disciplina constitucional a eliminao planejada e gradual da queima da cana. Por outro lado, em relao questo ambiental, constatar-se-ia que, se de uma parte a queima causaria prejuzos, de outra, a utilizao de mquinas tambm geraria impacto negativo ao meio ambiente, como a emisso de gs metano decorrente da decomposio da cana, o que contribuiria para o efeito estufa, alm do surgimento de ervas daninhas e o consequente uso de pesticidas e fungicidas.

    RE 586224/SP, rel. Min. Luiz Fux, 5.3.2015. (RE-586224) (Informativo 776, Plenrio, Repercusso Geral) 1 Parte: 2 Parte:

    Legislao sobre meio ambiente e competncia municipal - 2

    O Plenrio asseverou que, na espcie, no seria permitida uma interpretao na qual no se reconhecesse o interesse municipal em fazer com que sua populao gozasse de um meio ambiente equilibrado. Mas, neste caso, tratar-se-ia de uma questo de identificao da preponderncia desses interesses notadamente comuns. A partir desse impasse recorrer-se-ia ao texto constitucional para extrair a mens legis da distribuio de competncia legislativa. Nesse sentido, o art. 24 da CF estabeleceria uma competncia concorrente entre Unio e Estados-membros, a determinar a edio de norma de carter genrico pela Unio e de carter especfico pelos Estados-membros. Sendo assim, o constituinte originrio teria definido que o sistema formado pela combinao da legislao estadual com a edio de um diploma legal federal traduziria a disciplina de todos os interesses socialmente relevantes para os temas discriminados no citado dispositivo. Destarte, interessaria analisar a questo do ponto de vista sistmico, visto que no mbito das normas gerais federais, a orientao do legislador seguiria no mesmo sentido da disciplina estabelecida em nvel estadual (Lei estadual paulista 11.241/2002). As normas federais paradigmticas a tratar do assunto, expressamente, apontariam para a necessidade de se traar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como mtodo despalhador e facilitador para o corte da cana (Lei 12.651/2012, art. 40, e Decreto 2.661/1998). Portanto, seria foroso admitir que todo o sistema do meio ambiente, no tocante situao dos autos, proporia determinada soluo estrita, qual seja, planejar a diminuio gradual da queima da cana, enquanto que o diploma normativo atacado disciplinaria de maneira completamente diversa, na contramo da inteno que se extrairia do plano nacional. Seria, pois, cristalino que o tratamento dispensado pela legislao municipal iria de encontro ao sistema estruturado de maneira harmnica entre as esferas federal e estadual. Outrossim, no se poderia enquadrar a matria como de interesse local, especfico de um nico municpio. O interesse seria abrangente, a atrair, portanto, para a disciplina do tema, a competncia do Estado-membro, a apanhar outros municpios. Contudo, no haveria dvida de que os municpios disporiam de competncia para tratar da questo do meio ambiente. Esse seria um tema materialmente partilhado, seja no plano legislativo, seja no plano administrativo, entre as diversas entidades de direito pblico. Por fim, a soluo trazida pela norma impugnada encontraria bice na anlise de sua proporcionalidade, porquanto j seria prevista pelo ordenamento soluo menos gravosa, que equilibraria de maneira mais correta a relao custo-benefcio. Desta feita, seria intransponvel a concluso pela sua inconstitucionalidade material. Vencida a Ministra Rosa Weber, que negava provimento ao recurso, considerado o que disposto no art. 23, VI, da CF (Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios: VI - proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas).

    RE 586224/SP, rel. Min. Luiz Fux, 5.3.2015. (RE-586224) (Informativo 776, Plenrio, Repercusso Geral)

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  • PSV: competncia legislativa e funcionamento de estabelecimento comercial (Enunciado 38 da Smula Vinculante)

    O Plenrio acolheu proposta de edio de enunciado de smula vinculante com o seguinte teor: competente o Municpio para fixar o horrio de funcionamento de estabelecimento comercial. Assim, tornou vinculante o contedo do Verbete 645 da Smula do STF.

    PSV 89/DF, 11.3.2015. (PSV-89) (Informativo 777, Plenrio)

    PSV: competncia legislativa e fixao de vencimentos (Enunciado 39 da Smula Vinculante) O Plenrio, por maioria, acolheu proposta de edio de enunciado de smula vinculante com o

    seguinte teor: Compete privativamente Unio legislar sobre vencimentos dos membros das polcias civil e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal. Assim, tornou vinculante o contedo do Verbete 647 da Smula do STF, acrescido da expresso e do corpo de bombeiros militar. Vencido o Ministro Marco Aurlio no que tange ao acrscimo da referida expresso, em razo da ausncia de reiterados pronunciamentos sobre a matria (CF, art. 103-A).

    PSV 91/DF, 11.3.2015. (PSV-91) (Informativo 777, Plenrio)

    Tribunal de Contas

    TCU: medida cautelar de indisponibilidade de bens e tomada de contas especial

    A 2 Turma denegou mandado de segurana impetrado em face de acrdo do TCU, que, em procedimento de tomada de contas especial, decretara a indisponibilidade de bens dos ora impetrantes. Estes apontavam a violao ao contraditrio e ampla defesa, ao direito de propriedade, bem como a nulidade da deciso impugnada, em razo da inexistncia de fundamentao, da ausncia de individualizao das condutas supostamente irregulares e da falta de demonstrao dos requisitos legais autorizadores da medida constritiva. O Colegiado asseverou que no haveria que se falar em ilegalidade ou abuso de poder em relao atuao do TCU, que, ao determinar a indisponibilidade dos bens, teria agido em consonncia com suas atribuies constitucionais, com as disposies legais e com a jurisprudncia do STF. Com efeito, o ato impugnado estaria inserido no campo das atribuies constitucionais de controle externo exercido por aquela corte de contas (CF, art. 71). A jurisprudncia do STF reconheceria assistir ao TCU um poder geral de cautela, que se consubstanciaria em prerrogativa institucional decorrente das prprias atribuies que a Constituio expressamente lhe outorgara para seu adequado funcionamento e alcance de suas finalidades. Seria possvel, inclusive, ainda que de forma excepcional, a concesso, sem audincia da parte contrria, de medidas cautelares, por deliberao fundamentada daquela Corte, sempre que necessrias neutralizao imediata de situaes de lesividade ao interesse pblico ou garantia da utilidade prtica de suas deliberaes finais. Ademais, o TCU disporia de autorizao legal expressa (Lei 8.443/1992, art. 44, 2) para decretao cautelar de indisponibilidade de bens, o que tambm encontraria previso em seu regimento interno (artigos 273, 274 e 276). Destacou, outrossim, que o relatrio da deciso atacada seria integrado por diversidade de elementos e anlises decorrentes de aprofundados relatrios de fiscalizao elaborados pela equipe de auditoria do TCU, o que afastaria a alegao de nulidade da deciso atacada no ponto em que supostamente ausente a individualizao de condutas comissivas ou omissivas a ensejar possvel responsabilizao. Alm disso, dever-se-ia ressaltar que, de fato, estariam presentes os requisitos legais para a decretao cautelar da medida de indisponibilidade de bens, na medida em que o ato impugnado teria acentuado a robustez dos elementos de convico colhidos, a vislumbrar alta reprovabilidade das condutas identificadas e elevado prejuzo causado. A referida determinao de indisponibilidade guardaria pertinncia com os requisitos legais para que se evitasse a ocorrncia de danos ao errio ou a inviabilidade de ressarcimento (Lei 8.443/1992, art. 44, caput). Essa medida tambm se coadunaria com a exigncia legal de promover a indisponibilidade de bens dos responsveis para garantir o ressarcimento dos danos em apurao (Lei 8.443/1992, art. 44, 2). Por fim, a mera cogitao de que o valor dos bens eventualmente tornados indisponveis por meio da medida constritiva fosse muito inferior ao valor supostamente devido a ttulo de ressarcimento, como alegado, no seria justificativa apta a impedir a adoo da medida cautelar pelo TCU.

    MS 33092/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 24.3.2015. (MS-33092) (Informativo 779, 2 Turma)

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  • DIREITO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE

    Medida Socioeducativa

    Menor e parecer psicossocial Parecer psicossocial, que no se reveste de carter vinculante, elemento informativo para auxiliar

    o magistrado na avaliao da medida socioeducativa mais adequada a ser aplicada. Com base nessa orientao, a 1 Turma negou provimento a recurso ordinrio em habeas corpus em que pretendida a progresso da medida socioeducativa de internao. Na espcie, o Ministrio Pblico estadual oferecera representao em face do recorrente pela suposta prtica de atos infracionais equivalentes aos crimes de homicdio qualificado, na forma tentada, roubo majorado, formao de quadrilha e dano. O Tribunal a quo mantivera o indeferimento do benefcio com base na fuga noticiada nos autos e na reiterao do reeducando em atos infracionais graves e com violncia pessoa. A Turma asseverou que a deciso recorrida fora lastreada em fundamentao idnea, observada a condio peculiar do adolescente em desenvolvimento.

    RHC 126205/PE, rel. Min. Rosa Weber, 24.3.2015. (RHC-1262015) (Informativo 779, 1 Turma)

    DIREITO DO TRABALHO

    Contribuio Confederativa

    PSV: contribuio confederativa e sujeio passiva (Enunciado 40 da Smula Vinculante) O Plenrio acolheu proposta de edio de enunciado de smula vinculante com o seguinte teor: A

    contribuio confederativa de que trata o art. 8, IV, da Constituio Federal, s exigvel dos filiados ao sindicato respectivo. Assim, tornou vinculante o contedo do Verbete 666 da Smula do STF.

    PSV 95/DF, 11.3.2015. (PSV-95) (Informativo 777, Plenrio)

    DIREITO FINANCEIRO

    Crdito No Tributrio

    Prescrio no tributria e Enunciado 8 da Smula Vinculante - 3 Em concluso de julgamento, a 1 Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental em

    recurso extraordinrio para afirmar que o Enunciado 8 da Smula Vinculante do STF (So inconstitucionais o pargrafo nico do artigo 5 do Decreto-lei n 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei n 8.212/1991, que tratam de prescrio e decadncia de crdito tributrio) no se aplica aos casos de prescrio de crditos no tributrios. Na espcie, o acrdo recorrido entendera que a pretenso da Unio de executar crdito inscrito em dvida ativa, decorrente de multa administrativa imposta em razo de descumprimento da legislao trabalhista, por possuir natureza administrativa, sujeitar-se-ia prescrio quinquenal de que trata o art. 1 do Decreto 20.910/1932, aplicvel ao caso analogicamente. A Unio invocara em seu favor o pargrafo nico do art. 5 do Decreto-lei 1.569/1977 (Sem prejuzo da incidncia da atualizao monetria e dos juros de mora, bem como da exigncia da prova de quitao para com a Fazenda Nacional, o Ministro da Fazenda poder determinar a no inscrio como Dvida Ativa da Unio ou a sustao da cobrana judicial dos dbitos de comprovada inexequibilidade e de reduzido valor). O argumento, porm, fora afastado pelo tribunal a quo, tendo em conta o referido enunciado sumular v. informativos 767 e 770. A Turma, inicialmente, assentou que a matria em anlise possuiria envergadura constitucional, notadamente por envolver a interpretao do aludido enunciado e a sua eventual incidncia sobre os crditos no tributrios. Aduziu, ento, que o texto do pargrafo nico do art. 5 do Decreto-lei 1.569/1977 abrangeria duas diferentes normas: a) a aplicao do caput do art. 5 daquele diploma normativo, com a consequente suspenso da prescrio de crditos tributrios; e b) a aplicao do caput do mesmo dispositivo, com a suspenso da prescrio de crditos no tributrios. No entanto, segundo se depreenderia da anlise dos precedentes que deram origem ao Enunciado 8 da Smula Vinculante, somente a primeira norma teria sido submetida apreciao da Corte e considerada inconstitucional por ofensa ao art. 18, 1, da CF/1969, que exigia lei complementar para tratar de normas gerais de direito tributrio. Extrair-se-ia desses precedentes, portanto, o sentido de que o pargrafo nico do art. 5 do Decreto-lei 1.569/1977 teria sido declarado inconstitucional apenas na parte em que se referisse suspenso da prescrio dos crditos tributrios, por se exigir, quanto ao tema, lei

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  • complementar. Teria permanecido, assim, com presuno de constitucionalidade a segunda norma do dispositivo, isto , a suspenso da prescrio de crditos no tributrios. Vencidos os Ministros Marco Aurlio (relator) e Rosa Weber, que negavam provimento ao agravo.

    RE 816084 AgR/DF , rel. orig. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Dias Toffoli, 10.3.2015. (RE-816084) (Informativo 777, 1 Turma)

    DIREITO PENAL

    Extino de Punibilidade

    Cumprimento de decreto presidencial e extino da punibilidade O Plenrio, ao resolver questo de ordem em execuo penal trazida pelo Ministro Roberto Barroso

    (relator), declarou extinta a punibilidade de condenado, nos autos da AP 470/MG (DJe de 22.4.2013), pena de 4 anos e 8 meses de recluso e 180 dias-multa pelo crime de corrupo ativa (CP, art. 333). O Colegiado registrou que o apenado efetuara o pagamento integral da multa e que cumpriria a pena desde 15.11.2013. Ademais, atenderia os requisitos objetivos e subjetivos do Decreto 8.380/2014, por meio do qual a Presidncia da Repblica concedeu indulto natalino e comutao de penas.

    EP 1 QO/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 4.3.2015. (EP-1) (Informativo 776, Plenrio)

    Marco temporal da prescrio em 2 instncia: sesso de julgamento ou publicao do acrdo

    A prescrio da pretenso punitiva do Estado, em segundo grau de jurisdio, se interrompe na data da sesso de julgamento do recurso e no na data da publicao do acrdo. Com base nesse entendimento, a 1 Turma, por maioria, negou provimento a recurso ordinrio em habeas corpus em que se alegava a extino da punibilidade do delito pela ocorrncia da prescrio da pretenso punitiva. O Colegiado afirmou que, por se tratar de acrdo, a publicao do ato ocorreria com a realizao da sesso de julgamento. O Ministro Roberto Barroso enfatizou que a prescrio seria a perda de uma pretenso pelo seu no exerccio, dentro de um determinado prazo. Portanto, a prescrio estaria associada inrcia do titular do direito. Dessa forma, com a realizao da sesso de julgamento, no se poderia reconhecer essa inrcia. Vencido o Ministro Marco Aurlio, que dava provimento ao recurso. Reputava que a interrupo da prescrio s ocorreria com a publicao da sentena ou acrdo condenatrio recorrvel (CP, art. 117, IV). Pontuava que o acrdo somente se tornaria recorrvel com a sua confeco. Observava que a publicao do aresto teria ocorrido cinco meses depois da sesso de julgamento.

    RHC 125078/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 3.3.2015. (RHC-125078) (Informativo 776, 1 Turma)

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    Competncia

    MS: pagamento de quintos e autoridade competente Em concluso, o Plenrio julgou prejudicado mandado de segurana preventivo em que servidores

    pblicos do TCU discutiam o limite temporal, em razo de sucessivas edies de medidas provisrias e leis, para a incorporao de quintos/dcimos. A Corte deliberou que o STF seria competente para processar e julgar atos do Presidente do TCU. Na espcie, houvera ato prvio impetrao, praticado pelo Secretrio-Geral da Administrao do TCU, que determinara o pagamento das parcelas de quintos/dcimos referente ao perodo de 9.4.1998 a 4.9.2004. Dessa forma, o writ teria sido impetrado em relao a ato que no fora e no seria praticado por Presidente do TCU.

    MS 25845/DF, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acrdo Min. Gilmar Mendes, 18 e 19.3.2015. (MS-25845) (Informativo 778, Plenrio) Parte 1: Parte 2:

    Conflito de Competncia

    Conflito de competncia e art. 115 do CPC

    O Plenrio acolheu embargos de declarao, com efeitos modificativos, para conhecer de conflito de competncia e assentar a competncia da justia comum para o processamento e julgamento de processos que tratam de complementao de aposentadoria. O Tribunal afirmou que, em regra, a admisso do conflito de competncia, com base no art. 115, III do CPC, exigiria divergncia entre juzos diversos quanto reunio ou separao dos feitos. Todavia, seria cabvel, por meio de interpretao extensiva do art. 115 do

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  • CPC, o acolhimento do incidente, mesmo quando no houvesse a apontada divergncia. Esse entendimento ficaria evidenciado, sobretudo, em aes conexas, com possibilidade de prolao de decises conflitantes em trmite perante justias distintas, no bojo das quais o apontamento de conexo no se demonstrasse suficiente definio da competncia para seu processamento e julgamento. Ademais, o caso concreto trataria de demandas em trmite perante a justia comum e a justia trabalhista, em que se discutiria complementao de aposentadoria com decises conflitantes j proferidas, a justificar o conhecimento do conflito. Alm disso, seria inaplicvel a regra de soluo de conexo entre os feitos prevista no art. 105 do CPC, uma vez que as aes tramitariam perante juzos com competncia material distinta.

    CC 7706 AgR-segundo-ED-terceiros/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 12.3.2015. (CC-7706) (Informativo 777, Plenrio)

    Recursos

    ED: interposio antes da publicao do acrdo e admissibilidade Admite-se a interposio de embargos declaratrios oferecidos antes da publicao do acrdo

    embargado e dentro do prazo recursal. Essa a concluso do Plenrio que, por maioria, converteu embargos declaratrios em agravo regimental e a ele deu provimento para que o Ministro Luiz Fux (relator) analise o cabimento de embargos de divergncia anteriormente interpostos. O Colegiado assentou que se a parte tomasse conhecimento do teor do acrdo antes de sua publicao e entendesse haver omisso, contradio ou obscuridade, poderia embargar imediatamente. A jurisprudncia no poderia punir a parte que estivesse disposta a superar certo formalismo para ser mais diligente, sem intuito meramente protelatrio. No se trataria de recurso prematuro, porque o prazo comearia a correr da data de intimao da parte, e a presena do advogado, a manifestar conhecimento do acrdo, supriria a intimao. Assim, se a parte se sentisse preparada para recorrer antecipadamente, poderia faz-lo. Ademais, esse recurso no poderia ser considerado intempestivo, termo relacionado prtica do ato processual aps o decurso do prazo. Vencido, em parte, o Ministro Marco Aurlio, apenas quanto converso.

    AI 703269 AgR-ED-ED-EDv-ED/MG, rel. Min. Luiz Fux, 5.3.2015. (AI-703269) (Informativo 776, Plenrio)

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    Competncia

    Interceptao telefnica e autoridade competente - 2 Em concluso de julgamento, a 1 Turma negou provimento a agravo regimental e manteve deciso

    que negou sequncia a recurso extraordinrio por falta de prequestionamento. No caso, o juzo autorizara a quebra do sigilo telefnico do agravante, vereador poca dos fatos. Em seguida, o tribunal de origem declarara a incompetncia dessa autoridade judicial com base em norma da Constituio do Estado do Rio de Janeiro que estabelece a competncia do tribunal de justia para processar e julgar ao contra vereador, mas legitimara as provas produzidas na fase investigatria v. Informativo 640. O Colegiado, por maioria, rejeitou a proposta formulada pelo Ministro Dias Toffoli (relator) no sentido da concesso da ordem, de ofcio. O Ministro Luiz Fux salientou que a nulidade no seria proclamada nas hipteses em que fosse possvel a ratificao de atos prolatados por juiz incompetente inclusive em desfavor do ru. O Ministro Marco Aurlio sublinhou que a Constituio (CF, art. 28, X) garantiria ao tribunal de justia a competncia para julgar os prefeitos. Entretanto, essa regra no poderia ser ampliada pelas Constituies estaduais para abarcar os vereadores. Pontuou, ademais, que poca em que determinada interceptao telefnica, haveria deciso do rgo Especial do Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro no sentido da inconstitucionalidade dessa prerrogativa de foro. Vencido o proponente, que aduzia que a prova coligida seria nula, porquanto autorizada por magistrado sabidamente incompetente.

    RE 632343 AgR/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 3.3.2015. (RE-632343) (Informativo 776, 1 Turma)

    Habeas Corpus

    Cabimento de habeas corpus e prequestionamento

    desnecessria a prvia discusso acerca de matria objeto de habeas corpus impetrado originariamente no STJ, quando a coao ilegal ou o abuso de poder advierem de ato de TRF no exerccio de sua competncia penal originria. Com base nesse entendimento, a 1 Turma deu provimento a recurso ordinrio em habeas corpus para determinar o retorno dos autos ao STJ, para que conhecesse de

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  • impetrao l ajuizada e analisasse seu mrito. Na espcie, aps o recebimento de denncia em face do ora recorrente detentor de foro por prerrogativa de funo no mbito de TRF , a defesa impetrara habeas corpus no STJ, no qual se alegava, dentre outras, a nulidade de prova decorrente de interceptao telefnica. O STJ, todavia, no conhecera da impetrao, porquanto substitutiva de recurso especial, e, alm disso, no examinara a tese relativa referida nulidade, em razo da ausncia de prvio debate no tribunal de origem. A Turma ressaltou que a jurisprudncia do STF seria no sentido de que, tratando-se de habeas corpus originrio, como na hiptese em comento, no se exigiria que a matria tivesse sido previamente discutida. Ademais, no caberia transportar para o exame do habeas corpus requisito prprio recorribilidade extraordinria, qual seja, o debate e a deciso prvios do tema veiculado na petio inicial do writ, que poderia, inclusive, ser subscrito por qualquer pessoa.

    RHC 118622/ES, rel. Min. Roberto Barroso, 17.3.2015. (RHC-118622) (Informativo 778, 1 Turma)

    Princpios e Garantias Processuais

    Recurso exclusivo da defesa: reduo da pena e reformatio in pejus

    Ante o empate na votao, a 2 Turma concedeu a ordem em habeas corpus impetrado em favor de condenada pelo crime do art. 33, c/c o art. 40, I, da Lei 11.343/2006. No caso, a sentena de 1 grau impusera-lhe a pena de 7 anos e 9 meses de recluso. Aps apelao interposta pela defesa, dera-se parcial provimento ao recurso, para reduzir a reprimenda para 6 anos e 5 meses de recluso. Alegava-se que a 2 instncia teria incorrido em reformatio in pejus, pois, no obstante o total da pena tivesse sido reduzido, o tribunal fixara a pena-base em patamar superior ao estabelecido anteriormente. A Turma registrou que a quantidade da pena fixada no seria o nico efeito a permear a condenao, e que o rearranjo da pena-base levado a efeito quando do exame de recurso exclusivo da defesa poderia provocar, por exemplo, o agravamento do regime inicial de reprimenda. Seria vedado ao tribunal agravar, qualitativa ou quantitativamente, a sano imposta. O STF, no entanto, admitiria que, em hipteses como essa, fosse dada nova definio jurdica ao fato delituoso, desde que no agravada a pena ou no piorada, de alguma forma, a situao do apelante. No caso, embora, ao final, o clculo da pena tivesse resultado em nmero inferior, o tribunal reconhecera em desfavor da paciente circunstncias no firmadas na sentena. Aparentemente sem prejuzo prtico para a condenada, a deciso reconhecera vetoriais negativas outrora inexistentes, o que configuraria prejuzo e constrangimento ilegal. Assim, seria necessrio realizar nova dosimetria, mantidos, quanto pena-base, os termos definidos em 1 grau. Os Ministros Teori Zavascki (relator) e Crmen Lcia indeferiam a ordem. Entendiam que, ainda que em recurso exclusivo da defesa, o efeito devolutivo da apelao permitiria a reviso de toda a matria e, portanto, dos critrios de fixao da pena, respeitados os limites da acusao e da prova produzida. Se, ao final, a pena fosse reduzida, no haveria que se falar em reformatio in pejus.

    HC 103310/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acrdo Min. Gilmar Mendes, 3.3.2015. (HC-103310) (Informativo 776, 2 Turma)

    Priso Processual

    Investigao criminal promovida pelo Ministrio Pblico e aditamento da denncia - 10

    O Plenrio, em concluso de julgamento e por maioria, concedeu em parte a ordem em habeas corpus apenas para revogar o decreto de priso preventiva e manteve, hgida, a denncia contra o paciente. Na espcie, pretendeu-se o trancamento de ao penal movida contra acusado da suposta prtica do crime de homicdio, e a invalidao da deciso que decretara sua priso preventiva. Para a defesa, no haveria base legal para a priso, bem como no seria admissvel a investigao promovida pelo Ministrio Pblico, que viera a servir de base ao aditamento denncia, a partir do qual o paciente fora envolvido na ao penal v. Informativos 471, 671, 672 e 693. O Tribunal destacou que houvera o deferimento da medida acauteladora e consequente expedio de alvar de soltura e, por isso, desde 2004 o paciente responderia ao processo em liberdade. Frisou que os requisitos autorizadores descritos no art. 312 do CPP no teriam sido concretamente demonstrados pelo juzo de 1 grau. O magistrado teria se limitado a inferir a possvel periculosidade do ru a partir da gravidade abstrata do delito, o qual teria, ademais, gerado intensa repercusso pblica. Aduziu que, nos termos de remansosa jurisprudncia do Tribunal, seria exigido que a priso preventiva estivesse justificada em fatos concretos. No seria aceitvel invocar abstratamente a possvel perturbao da ordem pblica, de um lado, e tampouco a repercusso negativa na comunidade. Refutou, de outro lado, os argumentos da defesa quanto insubsistncia da denncia porque teria sido baseada apenas em investigao por parte do Ministrio Pblico. Asseverou que o Ministrio Pblico no se fundara exclusivamente em investigaes feitas por ele, Parquet, mas com base em provas colhidas na investigao policial e

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  • tambm decorrentes de quebra de sigilo telefnico do paciente autorizadas judicialmente. Salientou que a pea acusatria, mesmo com o aditamento, poderia subsistir apenas com base nos elementos produzidos no inqurito policial. Nesse ponto, a Corte esclareceu que a matria atinente eventual possibilidade de investigao criminal pelo Ministrio Pblico seria oportunamente trazida para anlise do Colegiado. Por fim, apontou a existncia de fato novo, consistente em deciso da 1 Turma no HC 115.714/SP (DJe de 23.2.2015) em relao ao mesmo paciente. No referido julgamento, a Turma determinara que fosse anulado parcialmente o processo principal, a partir de interrogatrio de corrus e, ainda, que o juzo a quo observasse o disposto no art. 188 do CPP. Vencidos, em parte, os Ministros Cezar Peluso, Crmen Lcia e Ayres Britto, que denegavam a ordem, e o Ministro Marco Aurlio (relator), que a implementava em maior extenso.

    HC 84548/SP, rel. orig. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo o Min. Gilmar Mendes, 4.3.2015. (HC-84548) (Informativo 776, Plenrio)

    Provas

    Prova ilcita: desvinculao causal e condenao

    A 2 Turma denegou a ordem em habeas corpus em que alegada ausncia de justa causa para a propositura de ao penal em desfavor do paciente, ento denunciado, em concurso de agentes, pela suposta prtica do crime do art. 168-A do CP e dos delitos previstos no art. 1, I, II e pargrafo nico, da Lei 8.137/1990. A defesa sustentava que a pea acusatria embasara-se em prova ilcita, constituda por elementos colhidos mediante quebra de sigilo bancrio requisitado diretamente pela Receita Federal s instituies financeiras. A Turma consignou que o STJ, ao conceder parcialmente a ordem em habeas corpus l apreciado, reconhecera a nulidade da prova colhida ilicitamente, mas deixara de trancar a ao penal, tendo em conta remanescerem outros elementos de prova, regularmente colhidos, que seriam suficientes par