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Informativo Oigalê www.oigale.com.br Ano 2 | Edição 3 | 1º semestre de 2010 Porto Alegre/RS | Distribuição Gratuita F azer teatro não é uma tarefa fácil, tampouco quando escolhemos tomá-la como profissão. Muitas são as dificuldades do trabalho em si, além do viver constante na contra- mão do que é estabelecido como neces- sidade. A arte nunca é vista como um bem público a ser mantido e cativado. Vivemos de arte. E arte não cura gripe, não enche barriga, não asfalta estrada. Então, pra quê serve o teatro? Deixamos aqui a pergunta em aberto. Hoje a Oigalê é um coletivo de nove pessoas, nove trabalhadores do teatro, somos: Carla Costa, Ilson Fonseca, Gian- carlo Carlomagno, Hamilton Leite, Janai- na Mello, Vera Parenza, Paulo Brasil, Di Machado e Juliana Kersting. Cada um traz em si vivências de diferentes lugares, al- guns da universidade, outros de diferen- tes oficinas de teatro e de outras artes, alguns de sua experiência de vida e outros de sua juventude. Tudo isso bem mistu- rado, com todas as suas semelhanças e diferenças, faz a Oigalê de hoje. E, enfim, tentando dar uma resposta entre muitas que possam existir ao ques- tionamento acima, fazemos teatro porque é o que sabemos fazer, é a forma de rea- lizarmos nossos anseios, sonhos viven- ciando uma utopia que nos alimenta a imaginação, alimenta a imaginação dos passantes, no caso do teatro de rua, e das pessoas que vão até o teatro. O teatro nos sensibiliza e nos trans- forma a cada novo ensaio, nova apresen- tação, novo olhar do público, novo olhar da cena. Cá estamos trazendo ao público mais uma forma de mostrar, com esta ter- ceira edição, o que engloba o nosso fazer teatral, o que pensamos, por onde anda- mos, apresentando sempre nossos par- ceiros de caminhada. Tenha uma boa leitura. Um pouquinho de teatro de rua por Hamilton Leite Coletividade, cooperativismo e colaboratividade por Trupe Olho da Rua, de Santos Rede Brasileira de Teatro de Rua: juntos e misturados Contundente retrato sobre a autodestruição por Helio Barcellos Teatro de sombras no íntimo por Alexandre Fávero O gaúcho ressignificado da Oigalê por Taís Ferreira E a Oigalê corre o mundo! Acompanhe nossa programação até maio de 2010! página 2 página 2 página 2 página 3 página 3 página 4 página 4 desde 1999 Kiran Federico Giancarlo Carlomagno Renata de Lélis Porto de Recreio, cidade de Oeiras - Portugal

Informativo Oigalê - 03

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Jornal sobre a Oigalê - Cooperativa de Artistas Teatrais que aborda sobre o Teatro de Rua, Ocupação Cênica, Políticas Públicas para a Cultura entre outros. Projeto gráfico e diagramação de Carlos Tiburski.

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Page 1: Informativo Oigalê - 03

Informativo Oigalêwww.oigale.com.br

Ano 2 | Edição 3 | 1º semestre de 2010 Porto Alegre/RS | Distribuição Gratuita

Fazer teatro não é uma tarefa fácil,

tampouco quando escolhemos

tomá-la como profissão. Muitas são

as dificuldades do trabalho em si,

além do viver constante na contra-

mão do que é estabelecido como neces-

sidade. A arte nunca é vista como um bem

público a ser mantido e cativado.

Vivemos de arte. E arte não cura gripe,

não enche barriga, não asfalta estrada.

Então, pra quê serve o teatro? Deixamos

aqui a pergunta em aberto.

Hoje a Oigalê é um coletivo de nove

pessoas, nove trabalhadores do teatro,

somos: Carla Costa, Ilson Fonseca, Gian-

carlo Carlomagno, Hamilton Leite, Janai-

na Mello, Vera Parenza, Paulo Brasil, Di

Machado e Juliana Kersting. Cada um traz

em si vivências de diferentes lugares, al-

guns da universidade, outros de diferen-

tes oficinas de teatro e de outras artes,

alguns de sua experiência de vida e outros

de sua juventude. Tudo isso bem mistu-

rado, com todas as suas semelhanças e

diferenças, faz a Oigalê de hoje.

E, enfim, tentando dar uma resposta

entre muitas que possam existir ao ques-

tionamento acima, fazemos teatro porque

é o que sabemos fazer, é a forma de rea-

lizarmos nossos anseios, sonhos viven-

ciando uma utopia que nos alimenta a

imaginação, alimenta a imaginação dos

passantes, no caso do teatro de rua, e das

pessoas que vão até o teatro.

O teatro nos sensibiliza e nos trans-

forma a cada novo ensaio, nova apresen-

tação, novo olhar do público, novo olhar

da cena. Cá estamos trazendo ao público

mais uma forma de mostrar, com esta ter-

ceira edição, o que engloba o nosso fazer

teatral, o que pensamos, por onde anda-

mos, apresentando sempre nossos par-

ceiros de caminhada.

Tenha uma boa leitura.

Um pouquinho de teatro de rua por Hamilton Leite

Coletividade, cooperativismo e colaboratividade por Trupe Olho da Rua, de Santos

Rede Brasileira de Teatro de Rua: juntos e misturados

Contundente retrato sobre a autodestruição por Helio Barcellos

Teatro de sombras no íntimo por Alexandre Fávero

O gaúcho ressignificado da Oigalê por Taís Ferreira

E a Oigalê corre o mundo!Acompanhe nossa programação até maio de 2010!

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desde 1999

Kiran

Federico

Giancarlo CarlomagnoR

enata d

e Lélis

Porto de Recreio, cidade de Oeiras - Portugal

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e x p e d i e n t eJornalista Responsável: Lisete Ghiggi - MTB 4685 • Criação e Coordenação do Informativo: Juliana Kersting • Projeto Gráfico e Diagramação: Carlos Tiburski Revisão: Tiago Dias • Colaboradores da Edição: Trupe Olho da Rua, Alexandre Fávero, Helio Barcellos Jr., Tais Ferreira, Hamilton Leite, Giancarlo Carlomagno, Ilson Fonseca e Vera Parenza. • Impressão: Jornal Pioneiro • Tiragem: 10.000

Raquel e CaioTrupe Olho da Rua

A Trupe Olho da Rua da cidade de Santos (SP) tem como foco o teatro de rua. Há sete anos o grupo vem trabalhando

constantemente em espaços ao ar livre, democratizando a arte e levando-a para onde o povo es-tá. Com oito montagens, a Trupe mantém seis espetáculos em seu repertório: “Bufonarias II”, “Alto dos Palhaços”, “Arrumadinho”, “Pra Lá de Bagdá”, “De Olho no Porto” e “Terra Papagalli”, os dois últimos estreados em 2009.

Manter um repertório ativo e significativo é um desafio que muitas companhias teatrais en-frentam de peito aberto e com

muito suor, remontando a tradi-ção das saudosas companhias de circo-teatro que, incrivelmente, mantinham um enorme repertó-rio rico e variado, apresentado alternadamente em picadei-ros, que por sua vez remetiam as companhias de Commedia dell’arte com seus repertórios de caravaggios. Manter um re-pertório nos dias de hoje, onde a arte por vezes toma a forma de produto descartável, consumida com uma voracidade por vezes desatenta, é reafirmar o trabalho de coletivos que buscam cons-truir uma trajetória alinhada com o seu tempo.

Em 2009, através do ProAC (Programa de Ação Cultural de Produção) de Espetáculos Iné-ditos (para montagem do espe-

táculo “Terra Papagalli”) do Go-verno do Estado de São Paulo e Secretaria de Cultura do Estado, realizamos a Mostra de Teatro “Olho da Rua 2009”, que pos-sibilitou aos fazedores teatrais da região conhecer os trabalhos de companhias como Pombas Urbanas (SP), Oigalê (RS), Bra-va Companhia (SP) e Núcleo Pavanelli (SP), além de outros projetos que trouxeram para a região o grupo IVO 60 (SP), Bu-raco D`Oráculo (SP) e Vem Cá, Vem Vê (PE).

Processando palavras como coletividade, cooperativismo e colaboratividade em busca de um click estético continuamos a ocupar praças e estender nosso olhar para a rua. Beijos a todos da Oigalê.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR) criada em março de 2007, em Salvador (BA), é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo. Todos os artistas-trabalhadores e grupos pertencentes a ela podem e devem ser seus articuladores para, assim, ampliar e capilarizar, cada vez mais, suas ações e pensamentos.

A missão da RBTR é lutar por políticas públicas de cultura com investimento direto do Estado em todas as instâncias: Municípios, Estados e União. E, para garantir o acesso aos bens culturais a todos os cidadãos brasi-leiros, a RBTR tem por objetivo promover também a produção, difusão, formação, registro, circulação e manu-tenção de grupos de teatro de rua e de seus fazedores.

O intercâmbio da Rede Brasileira de Teatro de Rua ocorre de forma presencial e virtual, entretanto toda e qual-quer deliberação é feita nos encontros presenciais, sendo que seus membros farão, ao menos, dois encontros anu-ais. No ano de 2009, o 5º e 6º Encontros foram, respectivamente, no estado do Rio de Janeiro e do Acre contando com a presença de 18 estados da federação. O próximo e 7º Encontro nacional será organizado pela RBTR/RS, rede estadual composta atualmente por 15 grupos de teatro de rua, e acontecerá em maio de 2010 no Rio Grande do Sul.

“O país se apresenta pelo teatro que representa”

(Paschoal Carlos Magno)

Trechos tirados da Carta de Arcozelo – 5º Encontro da RBTRReunidos por Giancarlo Carlomagno

Um pouquinho de história do Teatro de Rua em Porto Alegre

Hamilton Leite Ator e diretor

Tomar a rua como questão ética, estética e ideológica começou quando eu nem pensava em fazer teatro. Aconteceu quando nosso país ainda vivia uma ditadura, nasci e cresci nesse período. Mas foi quando estudei no Colégio Esta-dual Júlio de Castilhos, o “Julinho”, que minha vida teve um divisor de águas. Ali soube melhor o porquê que não podíamos ocupar espaços, porque não podíamos votar, porque não podíamos tomar as ruas. PORQUE TANTO NÃO...

Sexta-feira 13 de abril de 1984, “o azar é deles”, campanha das “Diretas já”. Comício em Porto Alegre pela democracia com cerca de 100 mil pessoas em frente à prefeitura velha. Mas somente em 1988 temos uma nova Consti-tuição e a eleição direta, através de um conchavo vergonhoso, só vai aconte-cer em 1989.

Começo a fazer teatro de rua no final dos anos 80, subindo em pernas-de-pau feitas com resto de madeira da reforma e restauração do hotel Magestic, hoje Casa de Cultura Mario Quintana.

É em 1991 que se concretiza um desejo daqueles anos: fazer uma Mostra de Teatro de Rua. Cinco grupos de Porto Alegre se unem por um objetivo comum e tomam durante uma semana a Esquina Democrática. No ano seguinte é con-solidada a II Mostra de Teatro de Rua e o I Encontro Nacional de Teatro de Rua. As Mostras aconteceram até a 11ª, em 2004.

Em 1998 peguei a estrada, destino: Bolívia. Lá trabalhei durante um ano com o Teatro de Los Andes. Nesta época começo a adaptar o capítulo XXI do livro Dom Segundo Sombra, de Ricardo Güiraldes e é neste momento que começa a dramaturgia do espetáculo Deus e o Diabo na Terra de Miséria.

Retorno a Porto Alegre em 1999 e o teatro de rua vivia um momento de efervescência. O Movimento dos Grupos de Teatro de Rua era referência para o Brasil pela organização que começava a surgir, pela circulação de seus espe-táculos na cidade; pela busca de um comprometimento do poder público com o teatro de rua; pelo intercâmbio com outros grupos através de festivais como o próprio “Poa Em Cena”.

Ironicamente, em 2009, vemos outra formatação: poucas apresentações acon-tecem, sejam elas centrais ou descentralizadas, e o poder público municipal pouco promove a continuidade deste trabalho. Alguns grupos ainda fazem da rua sua prática cotidiana e entre estes poucos, a Oigalê, há 10 anos, está presen-te no cenário do Teatro de Rua de nossa cidade e hoje é uma referência desta prática no Brasil.

Pontualmente, neste mesmo ano, aconteceu em nossa cidade o 1º Festival de Teatro de Rua, com a presença de importantes intelectuais e artistas de teatro de rua do nosso país, quatro grupos locais e dois nacionais, com o objetivo de apresentar e debater a atualidade desta arte. Infelizmente os debatedores não viram os espetáculos locais. Troca, estética e ética, teorizamos. Felizmente, em 2010, acontecerá a sua segunda edição e quem sabe consigamos amadurecer nossas discussões em prol deste bem comum: o teatro de rua.

Que venham novos projetos, novas circulações e novas ações concretas para quem faz um trabalho continuado. Viva a diversidade!

Rede Brasileira de Teatro de Rua: juntos e misturados

Trupe Olho da RuaI n f o r m a t i v owww.oigale.com.br

Porto Alegre 2010 | Distribuição Gratuita 2

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Porto Alegre 2010 | Distribuição Gratuita 3

Alexandre FáveroSombrista, diretor, encenador e pesquisador. Cia Teatro Lumbra – www.clubedasombra.com.br

O brasileiro procura o alento no calor escal-dante das regiões quen-tes e se apavora durante os apagões nas grandes

metrópoles. Não temos tradição da sombra como arte ou registros nos costumes indígenas. O que existe vagando por aqui é uma memória afetiva e de resíduos no inconsciente. Talvez reproduzido por algum colono europeu que, libertando seu cansado espírito

infantil, brincou no escuro da noi-te por alguns instantes, ao lado da chama de uma vela e alguns poucos olhos curiosos. Essa rara memória da sombra existe curio-samente pela ausência da luz.

Antes ou depois da lâmpa-da elétrica a escuridão sem-pre foi a grande geradora de sombras deslumbrantes. Idade das cavernas. Condomínios de apartamentos. No campo ou na cidade. Em qualquer lugar ou época a escuridão intimou alguém a produzir luz. Aí surge uma sombra diferente e intri-gante. Uma manifestação.

No silêncio noturno apa-

receram as primeiras assom-brações, brincadeiras com as mãos, silhuetas, suspense e outras projeções da imagina-ção infantil. Relato de quem brincou com sombras quando a energia cessou e iluminou uma lembrança remota. Vem a arte das sombras desse clarão do passado. Uma conexão com o inverso de um universo esque-cido e muito pessoal.

Os donos das sombras são quem têm o poder de dar um valor emotivo a elas. Quando se percebe o mistério, seja como espectador ou como ator, algo estranho, no íntimo, acontece.

Teatro de sombras no íntimo

Contundente retrato sobre a autodestruição

Helio Barcellos Jr. Jornalista e dramaturgo

Ainda que a Oigalê evite definições, Era uma Vez...uma história assombrosa inclui crianças e pré-adolescentes em sua proposta. O resultado é ousado, é uma peça que consegue ir adiante, romper com os limites entre o que pode e o que não deve ser apresentado para plateias vespertinas. O entrecho é simples, uma abordagem sobre a destruição do planeta, mas seu desenvolvimento é ímpar. Em uma cidade pequena, um menino questiona “por que não te-mos progresso?”, provocando uma sucessão de cenas contunden-tes, aparentemente sem ligação entre si, mas que podem ser vistas como possibilidades de um futuro nada promissor desse menino (o ator Paulo Brasil). As cenas, que incluem até um grupo de mendigos procurando comida no lixo, culminam em caos, com um palco que parece completamente destruído.

Há os que afirmaram que a peça teria problemas de roteiro, mas seu desenvolvimento parece mesmo identificado com elementos do teatro pós-dramático, estabelecendo fragmentos e conexões sub-jetivas, sem demérito algum para a compreensão e o interesse do espectador. O desenlace é algo estressante, ninguém sai ileso do teatro e as discussões sobre o que acabaram de ver são intensas. Pontos a favor para a diretora Vera Parenza, que conseguiu alcançar seu objetivo de fazer com que os espectadores pensem sobre o que estão fazendo com seu próprio mundo. E também para o grupo, que notou que a linguagem de muito teatro infantil se tornou datada, ultrapassada para quem tem cinco anos de idade e sabe acessar universos virtuais como se fossem brincadeira de criança.

Kiran

Federico

Alexan

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Kiran Federico

Reservamos este espaço para abordar um novo caminho que vem sendo trilhado pela Oigalê desde 2006, que é a pesquisa sobre o uso de sombras, ou teatro de sombras, em suas montagens.

Nossa pesquisa iniciou com o espetáculo “Uma Aventura Farroupilha” e é aprofundada com a montagem de “Era uma vez... uma fábula assombrosa” onde a sombra é um dos elementos es-senciais na construção da linguagem apresentada.

Temos então Alexandre Fávero, artista que trabalha especificamente com esta linguagem, que nos apresenta aqui uma reflexão a respeito da sombra. Paralelo a este texto, trazemos um comentá-rio crítico do jornalista Helio Barcellos Jr. sobre o espetáculo “Era uma vez...uma fábula assombrosa”.

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O gaúcho ressignificado

E a Oigalê corre o mundo!

JaneiroDeus e o Diabo na Terra de Miséria• Dias 5, 12 e 19, no Parque da Redenção, às 18 horas• Dia 31, Casa Band SESC Cultura – Av. Beira Mar, s/n

Praia Grande em Torres, às 19 horas

Miséria – Servidor de Dois Estancieiros• Dias 16 e 21, no Parque da Redenção, às 18 horas• Dia 17, Praça Wilmar Bertelli, Vila Santa Rosa -

Porto Alegre, às 18 horas• Dia 27, Encontro RBTR RS*, em Canoas, às 17 horas• Dia 29, Casa Band SESC Cultura – Av. Beira Mar, s/n

Praia Grande em Torres, às 19 horas

O Negrinho do Pastoreio • Dia 30, na Casa Band SESC Cultura – Av. Beira Mar,

s/n, Praia Grande em Torres, às 19 horas

OFICINAS GRATUITA! Inscrições nos dias 07 e 08 de janeiro, das 9 às 12 horas e das 13 às 18 horas, pelo fone (51) 3228-7275.

Teatro de Rua com Hamilton Leite Dias 11, 13 e 15 / 18, 20 e 22 de janeiro Hora: 9h30 às 12h30Público: alguma experiência em teatro. Maiores de 16 Local: Usina do Gasômetro, sala 309

Sensibilização para o Teatro com Vera Parenza Dias: 11, 14 e 15 / 18, 21 e 22 de janeiro Hora: 14 às 17 horas Público: sem experiência ou iniciantes. Maiores de 16Local: Usina do Gasômetro, sala 309

FevereiroIluminação para Atores e Bailarinos com Giancarlo Carlomagno Dias 03, 04 e 05 / 09, 10 e 11 de fevereiro Hora: 10 às 13 horas Local: Studio Stravaganza Rua Doutor Olinto de Oliveira, 68 - Bairro Santana - Porto AlegrePúblico: pessoas maiores de 16 anos.

MarçoO Negrinho do Pastoreio • Dias 03 e 10, na Praça da Alfândega, às 12 horas• Dias 06 e 13, no Brique da Redenção, às 16 horas

AbrilTemporada** do espetáculo Era uma vez... uma fábula assombrosa, em local a confirmar

MaioDia 06 de maio – Festa** Oigalê 11 anos e lançamento do DVD Oigalê – Uma Década de Teatro!

** Em breve mais informações no site www.oigale.com.br Acompanhe nossa programação!

* Este ano a RBTR RS estará sediando o III Encontro de Teatro de Rua da Região Sul, de 25 à 29 de janeiro, na cidade de Canoas, onde contaremos com a presença de 14 grupos de teatro de Porto Alegre e do interior do estado, do Paraná e de Santa Catarina.

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Porto Alegre 2010 | Distribuição Gratuita 4

ocupação cênica prêmio miriam munizmovimentos comparsas

No ano de 2009 tivemos a oportunidade de ir, pela primeira vez, ao velho mundo levando o espetáculo de teatro

de rua Deus e o Diabo na Terra de Miséria à cidade de Oeiras, em Portugal, dentro da Mostra Internacional do Teatro de Oei-ras - MITO. Antes de voltarmos para casa, estivemos em Soroca-ba (SP) na Mostra SESC de Teatro de Rua, no mês de Setembro.

Em novembro, marcamos presença no Festival Recife de Teatro Nacional, realizando seis apresentações do espetáculo Mi-séria – Servidor de Dois Estan-cieiros em regiões descentrali-zadas da cidade pernambucana.

No mesmo período, estive-mos pelo interior do estado com

o espetáculo O Negrinho do Pastoreio e com a intervenção cênica A Máquina do Tempo. Participamos, também, da Feira do Livro Porto Alegre com os espetáculos Era uma vez... uma fábula assombrosa e Miséria – Servidor de Dois Estancieiros.

E não paramos por ai! Tra-zemos nossa programação que se estende até maio de 2010! Vai ter muito “Xô” de teatro e oficinas de graça! Oigalê – Uma Década de Teatro, tem sua continuidade, graças ao Prêmio Miriam Muniz que o grupo re-cebeu no mês de outubro.

Nossa proposta é levar ao público de Porto Alegre uma programação completamente gratuita, que engloba duas ofici-nas de teatro e uma de ilumina-

ção para atores e bailarinos, 28 apresentações dos espetáculos em repertório, lançamento do DVD e da terceira edição nosso informativo impresso e festa pa-ra comemorar o encerramento destas atividades e celebrar os 11 anos do grupo.

Este projeto começou a ser desenvolvido no mês de novem-bro, com o espetáculo Miséria – Servidor de Dois Estancieiros, no parque da Redenção, e em dezembro levamos a contação Mboitatá e a intervenção cênica A Máquina do Tempo à esco-la municipal João Goulart e ao Instituto Ronaldo Gaúcho, am-bas as instituições localizadas em regiões descentralizadas de Porto Alegre, onde o acesso ao teatro é restrito.

ouça-me!

Taís FerreiraAtriz, pesquisadora e professora de teatro na UFPel

A questão das identidades (múltiplas, mutáveis, inconstantes e em eterno devir) está no centro de debates e discussões que interpolam os mais diversos campos na contemporaneidade.

Em um mundo globalizado, mas, no entanto, repleto de sociedades compos-tas por tribos (urbanas ou não), como se constroem as identidades? Ao que nos filiamos, quais os discursos e práticas que nos constituem e que assumimos como fazendo parte daquilo que somos/estamos? Enfim, uma série de questões muito em voga, mas que se fazem pertinentes também neste artigo, no qual discuto acerca do teatro de rua e da recepção do teatro de rua.

No centro dos trabalhos desenvolvidos pela Oigalê, como eixo temático transversal que permeia praticamente todos eles, está a figura do gaúcho.

Muitos dos cidadãos aqui nascidos ou residentes escolhem adotar os dis-cursos do gauchismo em sua constituição identitária, usando vestimentas e exer-citando hábitos cotidianos que estariam ligados ao “ser gaúcho” promovido pelos discursos do MTG. Assim, naturaliza-se no estado e fora dele a figura do “gaúcho mitológico”, viril, valoroso, corajoso, sério, guerreiro.

Bom, devem estar se perguntado os que lêem a este artigo: e o que isto tem a ver com o teatro de rua e a recepção teatral? Neste caso, a chave para o enten-dimento de algumas escolhas que determinam a recepção dos espetáculos da Oigalê está justamente vinculada à representação de gaúcho veiculada e legiti-mada pelo MTG, pela mídia, pelos livros escolares, pelos discursos governamen-tais, pela literatura, entre outros.

Como exemplo, podemos tomar a transposição do personagem Arlequim para Miséria, o andarilho, esfarrapado, faminto e, por vezes, servidor de estan-cieiros e senhores dos pampas gaúchos. O que faz a Oigalê ao transformar um personagem cômico, forjado nos moldes do que já Aristóteles nos apresenta como cômico (de baixa nobreza, ligado aos instintos, mundano), em um gaúcho dos pampas (homem sério, corajoso, viril)?

Frente a frente, em um mesmo personagem, estão os defeitos que caracterizam o personagem como cômico e as virtudes que este almeja estando inserido dentro de um ethos social específico que é o do gauchismo: desta forma, ele tenta ser valoroso, íntegro, forte e corajoso, mas não obtém sucesso em sua empreitada.

Desta forma, Miséria subverte a lógica da representação típica do gaúcho, oferecendo ao espectador, tanto sul-riograndense como de qualquer outra natu-ralidade, uma série de situações cômicas e absurdas. A coragem é substituída pela covardia, ainda que o personagem tente se justificar e aparentar valentia diante dos outros. Ele falha em suas investidas, demonstrando ser covarde. Ele não é há-bil e astuto como o homem campeiro em suas lidas com o laço e a doma: ele atrapalha-se, engana-se, em uma série de quiprocós que nos entregam um perso-nagem que não domina seu ofício de criado, sendo que este nem é especificamen-te seu ofício, pois ele eventualmente cumpre tarefas em busca de subsistência.

E assim, como em tantos outros espetáculos seus em que figura o gaudério, a Oigalê subverte e ressignifica o gaúcho, tornando-o empático e cômico aos olhos dos espectadores.

Artigo completo: Teatro de rua, recepção e identidades: Oigalê, tchê!

Arquivo/Oigalê

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