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www.ostrabalhistas.com.br/informativostst Período: 5 a 18 de abril de 2016. Informativo TST nº 132 Comentado e Anotado Raphael Miziara (Advogado e Professor) e Roberto Wanderley Braga (Juiz do Trabalho – TRT 22ª Região e Professor) ÍNDICE TRIBUNAL PLENO Súmula nº 288. COMPLEMENTAÇÃO DOS PROVENTOS DA APOSENTADORIA. (nova redação para o item I e acrescidos os itens III e IV em decorrência do julgamento do processo TST-E-ED-RR-235- 20.2010.5.20.0006 pelo Tribunal Pleno em 12.04.2016). OJ nº 155 da SBDI-II. AÇÃO RESCISÓRIA E MANDADO DE SEGURANÇA. VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA NA INICIAL. MAJORAÇÃO DE OFÍCIO. INVIABILIDADE. (cancelada). SUBSEÇÃO I ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS INDIVIDUAL. ACÚMULO DE FUNÇÕES. Motorista e cobrador. Acúmulo de funções. Possibilidade. Atividades compatíveis com a condição pessoal do empregado. Art. 456, parágrafo único, da CLT. PROCESSUAL. Embargos. Decisão de Turma que reinterpreta os depoimentos transcritos no acórdão recorrido. Contrariedade à Súmula nº 126 do TST. Configuração. SUBSEÇÃO II ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS – SBDI-2 PROCESSUAL. Conflito de competência. Ação proposta no domicílio do advogado. Incompetência. Remessa ao juízo do local da prestação dos serviços. Prejuízo à defesa do autor. Competência da Vara do Trabalho que tem jurisdição sob o local da contratação. PROCESSUAL. Ação rescisória. Atualização de débito trabalhista. Incidência da taxa de juros do cheque especial em substituição à taxa de juros prevista no § 1º do art. 39 da Lei nº 8.177/91. Impossibilidade.

Informativo TST nº 132 Comentado e Anotado esquematizado 132 TST.pdfas promessas, porque isso implicaria em violação ao art. 468 da CLT, quando causar prejuízo ao empregado. Para

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Período: 5 a 18 de abril de 2016.

Informativo TST nº 132 Comentado e Anotado

Raphael Miziara (Advogado e Professor) e Roberto Wanderley Braga (Juiz do Trabalho – TRT 22ª Região e Professor)

ÍNDICE

TRIBUNAL PLENO

Súmula nº 288. COMPLEMENTAÇÃO DOS PROVENTOS DA APOSENTADORIA. (nova redação para o item I

e acrescidos os itens III e IV em decorrência do julgamento do processo TST-E-ED-RR-235-

20.2010.5.20.0006 pelo Tribunal Pleno em 12.04.2016).

OJ nº 155 da SBDI-II. AÇÃO RESCISÓRIA E MANDADO DE SEGURANÇA. VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA NA

INICIAL. MAJORAÇÃO DE OFÍCIO. INVIABILIDADE. (cancelada).

SUBSEÇÃO I ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS

INDIVIDUAL. ACÚMULO DE FUNÇÕES. Motorista e cobrador. Acúmulo de funções. Possibilidade.

Atividades compatíveis com a condição pessoal do empregado. Art. 456, parágrafo único, da CLT.

PROCESSUAL. Embargos. Decisão de Turma que reinterpreta os depoimentos transcritos no acórdão

recorrido. Contrariedade à Súmula nº 126 do TST. Configuração.

SUBSEÇÃO II ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS – SBDI-2

PROCESSUAL. Conflito de competência. Ação proposta no domicílio do advogado. Incompetência.

Remessa ao juízo do local da prestação dos serviços. Prejuízo à defesa do autor. Competência da Vara do

Trabalho que tem jurisdição sob o local da contratação.

PROCESSUAL. Ação rescisória. Atualização de débito trabalhista. Incidência da taxa de juros do cheque

especial em substituição à taxa de juros prevista no § 1º do art. 39 da Lei nº 8.177/91. Impossibilidade.

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SÚMULAS E OJs DO TST

O Tribunal Pleno, na sessão extraordinária do dia 12.4.2016, aprovou as seguintes modificações na jurisprudência da Corte, publicadas no DEJT divulgado em 18, 19 e 20.4.2016:

SÚMULA Nº 288 DO TST

Antiga redação Nova redação

COMPLEMENTAÇÃO DOS PROVENTOS DA APOSENTADORIA (inclusão do item II) -

Res. 193/2013, DEJT divulgado em 13, 16 e 17.12.2013.

I - A complementação dos proventos da

aposentadoria é regida pelas normas em

vigor na data da admissão do empregado, observando-se as alterações posteriores desde que mais favoráveis ao beneficiário do direito.

II - Na hipótese de coexistência de dois regulamentos de planos de previdência

complementar, instituídos pelo empregador ou por entidade de previdência privada, a opção do beneficiário por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do outro.

COMPLEMENTAÇÃO DOS PROVENTOS DA APOSENTADORIA. (nova redação para o item I e acrescidos os itens III e IV em

decorrência do julgamento do processo TST-

E-ED-RR-235-20.2010.5.20.0006 pelo Tribunal Pleno em 12.04.2016)

I – A complementação dos proventos de aposentadoria, instituída, regulamentada e

paga diretamente pelo empregador, sem vínculo com as entidades de previdência privada fechada, é regida pelas normas em vigor na data de admissão do empregado, ressalvadas as alterações que forem mais

benéficas (art. 468 da CLT);

II – Na hipótese de coexistência de dois regulamentos de planos de previdência

complementar, instituídos pelo empregador ou por entidade de previdência privada, a opção do beneficiário por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do outro; III – Após a entrada em vigor das Leis Complementares nºs 108 e 109, de 29/05/2001, reger-se-á a complementação

dos proventos de aposentadoria pelas

normas vigentes na data da implementação dos requisitos para obtenção do benefício, ressalvados o direito adquirido do participante que anteriormente implementara os requisitos para o benefício e o direito acumulado do

empregado que até então não preenchera tais requisitos;

IV – O entendimento da primeira parte do

item III aplica-se aos processos em curso no TST em que, em 12/04/2016, ainda não haja sido proferida decisão de mérito por suas Turmas e Seções.

COMENTÁRIOS

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Complementação de aposentadoria – natureza jurídica e competência para julgamento Segundo a doutrina complementação de aposentadoria

é benesse pactuada durante o contrato de trabalho, entre o empregado

e o empregador ou entre empregado e empresa do grupo econômico do

empregador, com a anuência deste, para surtir efeitos após a aposentadoria do trabalhador”.1

A Emenda Constitucional nº. 20/98, que deu nova redação ao §2º, do art. 202 da CR/88, suprimiu a natureza salarial da complementação de aposentadoria. Previamente à alteração, a corrente majoritária adotava a posição pela qual a complementação de aposentadoria, mesmo paga após a extinção do contrato, tinha natureza salarial. Diante dessa alteração, o STF pacificou o entendimento de que é da Justiça Comum a competência para julgar casos de previdência complementar privada (RE 586.453 e RE 583.050). Entendeu-se que a relação entre o fundo fechado de previdência complementar e o beneficiário não seria trabalhista, nos termos do art. 202, § 2º, da CR/88:

Art. 202, § 2º, da CR/88. [...] As contribuições do empregador, os

benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos,

regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência

privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a

remuneração dos participantes, nos termos da lei. (gn)

Competência residual da Justiça do Trabalho Não obstante, no mesmo julgamento, modularam-se os efeitos da decisão para definir que permanecem na Justiça do Trabalho todos os processos que já tiverem sentença de mérito até a data do julgamento (20.02.2013). Dessa forma, todos os demais processos que tramitavam na Justiça Trabalhista, mas ainda não tinham sentença de mérito, a partir de 20.02.2013 deverão ser remetidos à Justiça Comum. Nesse sentido:

RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. PREVIDÊNCIA PRIVADA. A Suprema Corte, por ocasião do julgamento do RE 586.453, de relatoria da Ministra Ellen Gracie, determinou a manutenção da competência da Justiça do Trabalho para as demandas contendo controvérsias ligadas à complementação de aposentadoria

paga por entidade de previdência privada, nas quais haja sentença proferida antes de 20/2/2013 (data do julgamento do aludido recurso extraordinário). No caso em apreço, a sentença é anterior a essa data, restando inconteste a competência desta Justiça Especializada. O

conteúdo vinculante da decisão mencionada torna superada a discussão relativa à alegação de violação de dispositivos legais ou constitucionais e à alegação de divergência jurisprudencial. Há

1 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2013. p. 811.

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precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR 13611420105030060, Relator: Augusto César Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 24/06/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/06/2015).

A aposentadoria é evento futuro e incerto (condição) ou é evento futuro e certo

(termo)?

Existem duas vertentes. Para uma primeira linha de pensamento, a

aposentadoria é evento futuro e incerto (condição), pois não há garantias se o

trabalhador vai conseguir reunir todos os requisitos para sua aposentadoria, já que

pode parar de recolher a previdência, pode morrer antes do fato, etc.

Por outro lado, há o entendimento de que aposentadoria é termo, isto é, evento

futuro e certo.

E qual o efeito prático dessa diferenciação?

Caso se entenda que a aposentadoria é uma condição, nos termos do art. 125

do Código Civil2, o empregado somente terá direito às regras previstas no regulamento

interno após preencher todos os requisitos para aposentadoria. Nesse caso, não

haverá direito adquirido do empregado, pois se trata de mera expectativa de direito e o

empregador poderia alterar todas as promessas feitas durante o contrato, sem que

esse ato seja considerado uma afronta ao art. 468 da CLT, pois a aposentadoria seria

uma promessa futura e não um direito atual.

Vólia Bomfim Cassar é adepta da primeira corrente. Afirma que de acordo com o

dispositivo constitucional as “promessas” não se incorporam ao contrato de trabalho,

quer dizer, não há direito adquirido nessa situação. De acordo com o teor do §2º deve

ser aplicada ao trabalhador a norma em vigor no momento de sua aposentadoria,

independente de qualquer vantagem prometida anteriormente. Logo, as normas podem

ser alteradas e modificadas antes do implemento da condição, pois não há direito

adquirido às promessas futuras, prevalecendo, no momento da aposentadoria, a última

norma pactuada, seja ela melhor ou pior que a anterior. Desta forma, a Súmula 288 do

TST fere o art. 202, §2º, da CR/88.

De outro vértice, na esteira da segunda linha de entendimento – aposentadoria

como termo (art. 131 do CC3) –, há a suspensão do exercício, o que não impede sua

aquisição imediata. Logo, sendo direito adquirido, não poderá o empregador modificar

as promessas, porque isso implicaria em violação ao art. 468 da CLT, quando causar

prejuízo ao empregado.

Para esse entendimento, como dito, aplica-se o art. 131 do CC, que protege expectativas legítimas do empregado, estando de acordo com o princípio da segurança jurídica.

2 Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. 3 Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.

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Alteração da Súmula 288 do TST Antes da alteração do item I da súmula em comento, o TST era integralmente adepto ao entendimento pelo qual a complementação dos proventos da aposentadoria é regida pelas normas em vigor na data da admissão do empregado, observando-se as alterações posteriores desde que mais favoráveis ao beneficiário do direito. Ou seja,

a aposentadoria é direito adquirido e não poderia o empregador modificar as promessas. Havia, de fato, proteção às expectativas legítimas do empregado, estando de acordo com o princípio da segurança jurídica. Após a alteração, o antigo entendimento do item I continua sendo aplicável apenas se a complementação for instituída, regulamentada e paga diretamente pelo empregador, sem vínculo com as entidades de previdência privada fechada. Nesses casos, a complementação continua regida pelas normas em vigor na data de admissão do empregado, ressalvadas as alterações que forem mais benéficas (art. 468 da CLT). Caso contrário, ou seja, se a complementação não for instituída, regulamentada e paga diretamente pelo empregador, sem vínculo com as entidades de previdência privada fechada, será regida pelas normas em vigor na data da implementação dos requisitos para obtenção do benefício, ressalvados o direito adquirido do participante

que anteriormente implementara os requisitos para o benefício e o direito acumulado do empregado que até então não preenchera tais requisitos (conforme item III, acrescentado na alteração). Esse entendimento constante da primeira parte do item III aplica-se aos processos em curso no TST em que, em 12/04/2016, ainda não haja sido proferida decisão de mérito por suas Turmas e Seções. Histórico Segundo noticiado pelo TST, a alteração foi proposta pela Comissão de Jurisprudência e Precedentes Normativos depois que a SDI-1, no julgamento de embargos, se inclinava no sentido de não aplicar a disposição contida no item I da Súmula 288 num caso que envolve a complementação de aposentadoria de um técnico em operação da Petróleo Brasileiro S. A. (Petrobras) admitido em 1987, quando a norma regulamentar não tratava sobre a necessidade ou não de se desligar do emprego para receber o benefício. O entendimento da SDI-1, naquele momento, tendia à aplicação da norma que previa que a complementação deveria ser paga nos moldes da regra prevista na data da admissão. Com isso, o julgamento foi suspenso e afetado ao Pleno. O relator do processo, ministro Aloysio Corrêa da Veiga, fez um histórico da evolução do instituto da previdência privada. Segundo ele, a previdência privada foi inicialmente inserida no contexto da ordem social. Após, transformou-se e, no decorrer do tempo, foi integrando o contexto da ordem econômica. Ainda, segundo o relator, com a EC nº 20/1998 (Reforma da Previdência) e as Leis Complementares 108/2001 e 109/2001, “a previdência complementar ganha novo e grande impulso, advindo daí novos instrumentos, novos tipos de entidades e a

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transparência do caráter associativo dos partícipes deste sistema atuarial de previdência complementar”.

Essa mudança acabou levando a uma mudança da jurisprudência nas cortes superiores sobre a matéria. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou entendimento no sentido da natureza contratual e cível do contrato previdenciário e da aplicação da norma de regência do plano vigente na data em que o beneficiário cumprir os requisitos para recebimento do benefício. O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, declarou a incompetência da Justiça do Trabalho para julgamento das ações relativas a previdência complementar. Conduto, ressaltou o relator que a discussão ainda é importante na seara juslaboral, pois a Justiça do Trabalho mantém, residualmente, um grande número de processos que ainda se examinam com fundamento no princípio da inalterabilidade das condições ajustadas, em face das normas pertinentes aos princípios regedores do direito do trabalho. Caso concreto4 Um técnico de operação da Petrobras em Sergipe afirmou que trabalhava na empresa desde 1987 e, em 2009, aposentou-se pelo INSS, mas continuou trabalhando. Na reclamação trabalhista, ajuizada em 2010, pleiteou o direito à complementação da aposentadoria pela Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) independentemente da rescisão contratual, com a alegação de que as regras do Regulamento Básico do plano de benefícios da Petrobras vigentes ao tempo da contratação exigem apenas a condição de que o participante esteja aposentado pelo órgão previdenciário. O pedido foi julgado improcedente pelo juízo da 6ª Vara do Trabalho de Aracaju. A sentença foi mantida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 20ª Região (SE), com o entendimento de que a finalidade da suplementação da aposentadoria é "manter o padrão salarial do empregado que se aposenta pelo órgão previdenciário" e que,

portanto, a manutenção do vínculo, e consequentemente do salário, afasta o direito. A Sétima Turma do TST, porém, deu provimento ao recurso do trabalhador, afastando a premissa da necessidade do desligamento, e determinou o retorno do processo à primeira instância, para julgamento do pedido. A decisão baseou-se no item I da Súmula 288, segundo o qual a complementação de aposentadoria é regida pelas normas em vigor na data da admissão do empregado, observando-se as alterações posteriores somente quando forem mais favoráveis ao beneficiário direto. No julgamento de embargos, a SDI-1 inclinou-se no sentido da prevalência das normas vigentes no momento da implementação dos requisitos – contrariando o item I da Súmula 288, levando a afetação do processo ao Tribunal Pleno. No julgamento do caso pelo Pleno, ficaram vencidos parcialmente, quanto à redação final da Súmula 288, os ministros Aloysio Corrêa da Veiga, Vieira de Mello

4 O resumo dos fatos foram extraídos do site oficial do Tribunal Superior do Trabalho.

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Filho, Alberto Bresciani, Maria de Assis Calsing, Dora Maria da Costa, Guilherme Caputo Bastos, Cláudio Brandão, Brito Pereira e Emmanoel Pereira. Quanto à modulação dos efeitos, ficaram parcialmente vencidos os ministros Alberto Bresciani, Maria de Assis Calsing, Cláudio Brandão, Douglas Alencar Rodrigues, Renato de Lacerda Paiva, Emmanoel Pereira e Ives Gandra Martins Filho, que não modulavam os efeitos, e os ministros José Roberto Freire Pimenta, Vieira de Mello Filho, Mauricio Godinho Delgado, Kátia Magalhães Arruda, Augusto César Leite de Carvalho, Delaíde Miranda Arantes, Hugo Scheuermann e Maria Helena Mallmann, que modulavam de forma mais ampla. Por unanimidade, o Pleno determinou o retorno dos autos à SDI-1 para prosseguir no julgamento.

OJ Nº 155 DA SBDI-II DO TST

Antiga redação Nova redação

AÇÃO RESCISÓRIA E MANDADO DE SEGURANÇA. VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA NA INICIAL. MAJORAÇÃO DE OFÍCIO. INVIABILIDADE. (cancelada)

Atribuído o valor da causa na inicial da ação rescisória ou do mandado de segurança e não havendo impugnação, nos termos do art. 261 do CPC, é defeso ao Juízo majorá-lo de ofício, ante a ausência de amparo legal.

Inaplicável, na hipótese, a Orientação Jurisprudencial da SBDI-2 nº 147 e o art. 2º, II, da Instrução Normativa nº 31 do TST.

CANCELADA.

COMENTÁRIOS

Valor da causa O art. 291 do Código de Processo Civil estabelece que “a toda causa será atribuído valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível”.

Ao exigir a atribuição de um valor para toda e qualquer causa, o código parte do pressuposto de que as causas sempre terão conteúdo econômico, ainda que mediatamente. Por conseguinte, ainda que o bem material objeto da pretensão do autor não tenha um valor economicamente aferível, é necessária a indicação de valor à causa, ainda que seja calculado de forma meramente estimativa.5 Qual a importância da fixação do valor da causa? O valor da causa tem grande relevância processual. Exemplificativamente:

5 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 454.

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para fins de recolhimento das custas processuais;

para aplicação de sanções processuais (artigos 77, §§ 2º e5º, 81, 331, § 8º, 468, §1º, 1.021, §§ 4º e 5º, e1.026, §§ 2º e 3º);

dimensionamento da sucumbência;

fixação do depósito prévio na ação rescisória (5% do valor da causa);

no Brasil, o valor da causa não é utilizado como critério rígido para fixação da competência (art. 63), embora ele defina o limite para competência dos juizados especiais (art. 3º, inc. I, Lei 9.099/95).6

No processo do trabalho, a indicação do valor da causa é requisito

obrigatório? Há divergência sobre a obrigatoriedade ou não do valor da causa na petição inicial. Parte da doutrina sustenta que não é requisito da petição inicial, pois não há exigência expressa na CLT. Nesse sentido, assim afirma Manoel Antônio Teixeira Filho:

Em rigor, o processo do trabalho não exige que o valor da causa conste da inicial. Basta um lançar de olhos ao art. 840 da CLT, para atestar-se a veracidade desta assertiva. A Lei nº 5.584, de 26 de julho de 1970, aliás, veio lançar uma pá de cal sobre a questão. Com efeito, estabelece o art. 2º da sobredita norma legal que o juiz, antes de passar à instrução da causa, “fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido”. Não se diz aí que o juiz deverá intimar a parte para suprir a falta: cumprirá a ele atribuir um valor à causa.

7

Por outro lado, lembra Élisson Miessa que, para parcela da doutrina, trata-se de requisito essencial, pois define o rito procedimental (sumário, sumaríssimo ou ordinário).

8

Por influência do princípio da simplicidade, entendo mais consentânea com o processo do trabalho a primeira linha de pensamento, de modo que, como regra, não

se exige como requisito da petição inicial trabalhista a indicação do valor da causa. No entanto, é preciso observar que o TST, editou a IN nº 39 de 2016 que, em seu artigo 3º, incisos IV e V, estabelece:

Art. 3° Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face

de omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes temas: [...] IV - art. 292, V (valor pretendido na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral); V - art. 292, § 3º (correção

de ofício do valor da causa); [...]

Portanto, pode-se afirmar que, pelos menos nos casos de ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o TST entende que o valor da causa deverá constar da petição inicial ou da reconvenção.

6 OLIVEIRA JÚNIOR, Zulmar Duarte; GAJARDONI, Fernando da Fonseca; ROQUE, Andre Vasconcelos; DELLORE, Luiz. Teoria geral do processo: comentários ao CPC de 2015 parte geral. São Paulo: Método, 2016. p. 840. 7 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Comentários ao novo código de processo civil sob a perspectiva do processo do trabalho. São Paulo: 2015, LTr. p. 292. 8 MIESSA, Élisson. Impactos do novo CPC nas súmulas e orientações jurisprudenciais do TST. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 153.

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Também neste caso, pode-se afirmar que é requisito da inicial trabalhista o pedido certo e determinado quanto ao valor da indenização, seja por danos morais ou materiais, sob pena de indeferimento da petição inicial, caso intimado o autor, não vier a sanar o vício no prazo legal. O juiz pode fixar ou corrigir de ofício o valor da causa? Não indicado o valor da causa ou indicado de forma incorreta, deverá o juiz, nos termos do art. 2º da Lei 5.584/70, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido.9

Igualmente, nos termos do § 3º, do art. 292 do Código de Processo Civil – que não encontra correspondência no CPC/73 – “o juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao recolhimento das custas correspondentes”.

Superada assim a discussão sobre a possibilidade de fixação ou de correção do valor da causa de ofício pelo magistrado, notadamente no processo do trabalho, em que permanece o jus postulandi.

No processo do trabalho, na Ação Rescisória e no Mandado de Segurança, a

indicação do valor da causa é requisito obrigatório? Por força de construção jurisprudencial se tem exigido, no processo do trabalho, a menção ao valor da causa em iniciais como de ação rescisória, de ação de mandado de segurança, de ação de consignação em pagamento, enfim, de determinadas causas regidas pelo processo civil, submetidas ao procedimento especial, mas utilizadas para veicular pretensões na Justiça do Trabalho.

10

O valor da causa na ação rescisória é disciplinado nos artigos 2º e 3º da IN nº 31 do TST:

Art. 2º O valor da causa da ação rescisória que visa desconstituir decisão da

fase de conhecimento corresponderá: I - no caso de improcedência, ao valor dado à causa do processo originário ou aquele que for fixado pelo Juiz; II - no caso de procedência, total ou parcial, ao respectivo valor arbitrado à condenação.

Art. 3º O valor da causa da ação rescisória que visa desconstituir decisão da

fase de execução corresponderá ao valor apurado em liquidação de sentença.

Em que pese a obrigatoriedade de indicação do valor da causa nesses procedimentos especiais, com cancelamento da OJ nº 155 da SBDI-2 do TST, pode-se afirmar que, atribuído o valor da causa na inicial da ação rescisória ou do mandado de

9 Como dito, entendo que este dispositivo não se aplica aos pedidos de indenização, por força do art. 292, V, CPC c/c art. 3º, incisos IV, da IN nº 39 do TST. Ainda, em homenagem à precisão terminológica, é preciso observar que o art. 2º da Lei 5.584/70 somente se aplica nos casos de indeterminação do pedido (é o que se extrai da parte final do dispositivo). No entanto, reconhece-se que na práxis se tem admitido a fixação do valor pelo juiz mesmo nos casos de pedidos determinados. 10 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Comentários ao novo código de processo civil sob a perspectiva do processo do trabalho. São Paulo: 2015, LTr. p. 298.

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segurança e, não havendo impugnação, deve o magistrado corrigi-lo de ofício, se for o

caso.11

Em não havendo atribuição do valor, ou seja, ausente por completo o requisito

na ação rescisória ou no mandado de segurança, o juiz mandará intimar o autor para que, nos termos do art. 321, parágrafo único do CPC, aplicável subsidiariamente, possa o mesmo atribuir um valor à causa, sob pena de indeferimento da petição inicial. Nesse sentido, inclusive, o enunciado 284 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “aplica-se à ação rescisória o disposto no art. 321”.

Vale ressaltar que o § 3º do art. 292 somente se aplica aos casos de indicação errônea do valor da causa e não aos casos de ausência de indicação, exatamente porque o texto legal fala em “corrigir” e só se pode corrigir algo que foi feito de forma

errada. Em qual prazo deve o juiz tomar tal providência? Existem basicamente dois entendimentos diametralmente opostos sobre o tema. Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, apesar de o art. 292, § 3º, do CPC, ter previsto expressamente a correção do valor da causa de ofício, nenhuma menção fez ao prazo que o juiz teria para tal providência.

12

Segundo o mesmo autor, parece ser melhor entender que o valor da causa não é matéria de ordem pública

13, afinal, interessa às partes e à Fazenda Pública, e por

essa razão preclui tanto para o réu quanto para o juiz, cabendo a alegação pelo primeiro e o reconhecimento pelo segundo até o vencimento do prazo de resposta do réu. Seria mais um exemplo da rara “preclusão pro iudicato” temporal. No entanto, referido autor reconhece que a redação do art. 293 do CPC14, ao associar a preclusão à ausência de alegação pelo réu em preliminar de contestação da impugnação do valor da causa, permite a legítima conclusão de qual tal preclusão atingirá somente o réu.

11 Antes da alteração, “se o valor atribuído à ação rescisória não observasse o disposto na IN nº 31 do TST, ouo mandado de segurança não arbitrasse corretamente o valor da causa, caberia ao réu impugná-lo, sob pena de presumi-lo aceito e impedir sua alteração ex officio”. (MIESSA, Élisson. Impactos do Novo CPC nas súmulas e orientações jurisprudenciais do TST. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 154). 12 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 459. 13 Há fortes entendimentos no sentido de que o valor da causa tem caráter de ordem pública, uma vez que este extrapola o interesse patrimonial do autor e do réu e possui repercussão em todo o processo (Nesse sentido: MIESSA, Élisson. Impactos do Novo CPC nas súmulas e orientações jurisprudenciais do TST. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 155). 14 Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das custas.

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Motorista e cobrador. Acúmulo de funções. Possibilidade. Atividades compatíveis com a condição pessoal do empregado. Art. 456, parágrafo único, da

CLT.

O parágrafo único do art. 456 da CLT permite ao empregador exigir do

empregado qualquer atividade compatível com sua condição pessoal,

desde que lícita e dentro da jornada de trabalho. Assim, tendo em conta

que a atividade de cobrador é, em regra, compatível com a atividade de

motorista, não existe justificativa para a percepção de acréscimo salarial

em decorrência do exercício concomitante das duas funções na mesma

jornada.

COMENTÁRIOS

Acúmulo de função O enfrentamento da temática alusiva ao acúmulo de funções pressupõe, necessariamente, a conceituação de função e de tarefa. Com efeito, tal diferenciação é essencial ao estudo das alterações qualitativas do contrato empregatício. Função e tarefa Segundo Maria do Rosário Palma Ramalho o conceito de função tem a ver com a delimitação horizontal do conteúdo da atividade laboral devida pelo trabalhador e pode ser entendido em dois sentidos: a) num sentido formal, a função corresponde ao cargo, lugar ou posto de trabalhado ocupado pelo trabalhador; b) num sentido substancial, a função corresponde ao conjunto de tarefas, mais ou menos definidas, que cada cargo inclui no seio da organização do empregador.15 A atribuição da função ao empregado compete ao empregador e é de extrema relevância, pois, em consequência dessa delimitação, este último apenas poderá exigir daquele o desempenho das tarefas compreendidas dentro do âmbito delimitado, que ficou determinado por meio da atribuição da função. É o princípio que a doutrina denomina de princípio da invariabilidade da prestação.16 No sentido substancial de função, Maurício Godinho Delgado leciona que a função corresponde a um conjunto coordenado e integrado de tarefas, formando um todo unitário. É, pois, um feixe de tarefas. Em outras palavras, função é um conjunto de tarefas que se reúnem em um todo unitário, de modo a situar o trabalhador em um posicionamento específico no universo da divisão do trabalho da empresa.

17

Logo, no momento da celebração contratual, deve o empregador atribuir função ou funções específicas ao empregado, sendo que referidas funções, por certo,

15 RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Tratado de direito do trabalho. Parte II – situações laborais individuais. 5. ed. Lisboa: Almedina, 2015. p. 459. 16 Idem. Ibidem. 17 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 1137.

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abrangerão um conjunto de tarefas específicas. Fora desse quadrante, não pode o empregador, em princípio, exigir a prestação de trabalho do empregado. Advirta-se que não é necessário que o empregador discrimine as tarefas. Se o fizer, não poderá, em princípio, exigir a prestação de trabalho do empregado fora desse rol. Não o fazendo, o empregado estará obrigado a desempenhar todas as tarefas inerentes à função. Tal possibilidade, qual seja, de estar o empregado obrigado a desempenhar todas as tarefas inerentes à função, está inserta no chamado ius variandi, nos termos

do art. 456, parágrafo único, da CLT.18 Acumulo de função: conceito Acúmulo de função é expressão utilizada quando o empregado, contratado especificamente para exercer uma determinada função, passa a desempenhar, no decorrer da relação de emprego, outra função, cumulada com aquela para a qual foi contratado. Passa-se, assim, a exigir do empregado capacidade ou esforço que ultrapassa o que foi, originalmente, ajustado.19 Com efeito, o acúmulo de funções pressupõe uma alteração qualitativa do contrato de trabalho, de modo que o acúmulo ocorrerá caso evidenciada situação em que o trabalhador exerce, concomitantemente com as funções contratadas, novas tarefas, estranhas às tarefas originalmente contratadas ou absolutamente incompatíveis com a natureza destas. Tal situação, por certo, provoca um desequilíbrio entre as funções inicialmente constantes do contrato e aquelas exigidas pelo empregador, o que gera prejuízo ao empregado, que deve receber um plus salarial.

Critérios para aferição da alteração funcional ou do acúmulo de função20 A aferição de uma alteração funcional passa pela prévia definição de sua função. Somente após efetivamente identificada a exata dimensão funcional é que se pode avaliar sobre a ocorrência ou não de real modificação contratual. Existem três regras ou critérios sucessivos e prejudiciais: 1º critério: exame contratual quanto a configuração funcional (feixe de tarefas) atribuída ao empregado. A função será aquela atribuída no contrato; 2º critério: a prática contratual cotidiana prevalece sobre possível rótulo aposto no respectivo cargo atribuído ao empregado (primazia da realidade). É o domínio da prática laborativa cotidiana sobre o envoltório formal; 3º critério: à falta de prova sobre a função pactuada (ou exercida) e inexistindo cláusula expressa a esse respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e

18 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: Método, 2015. p. 996. 19 LIMA, Maria Luiza Gama. In Dicionário brasileiro de direito do trabalho. [Org.: PINTO, José Augusto Rodrigues; MARTINEZ, Luciano; MANNRICH, Nelson]. São Paulo: LTr, 2013. p. 17. 20 Devido à precisão didática, valemo-nos, neste tópico, das lições do Ministro Maurício Godinho Delgado.

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qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal (art. 456, parágrafo único da CLT) A partir dessas regras, Godinho afirma que em primeiro lugar é necessário atentar-se às cláusulas contratuais estabelecidas (ou pelo menos à intenção contratual), inferindo-se qual a efetiva função a que se obrigou o obreiro. Depois, há que se pesquisar o real exercício funcional, verificando-se se ele traduz real cumprimento das cláusulas originais fixadoras da função. Nessa trilha, concluindo-se pela compatibilidade ou incompatibilidade entre o ajuste contratual e a prática laborativa, encerra-se a pesquisa acerca da função contratual do empregado. Em terceiro lugar – e apenas se frustrados os dois procedimentos investigatórios anteriores –, é que desponta a regra supletiva do art. 456, parágrafo único, da CLT. Neste caso, à falta de outros elementos preponderantes, o operador jurídico deverá deduzir que as partes pactuaram o exercício, pelo empregado, de função compatível com sua qualificação profissional. O exercício de algumas tarefas componentes de outra função implica em

alteração funcional? Não. Segundo Maurício Godinho Delgado, o simples exercício de algumas

tarefas componentes de uma outra função não traduz, automaticamente, a ocorrência de uma efetiva alteração funcional no tocante ao empregado. Segundo o autor, é preciso que haja uma concentração significativa do conjunto de tarefas integrantes da enfocada função para que se configure a alteração funcional objetivada.

21

Portanto, a mera execução de atividades distintas ou de menor complexidade não configura acúmulo de funções, sendo decorrência do ius variandi patronal. Logo,

só haverá acúmulo quando a atividade acumulada constituir, de fato, outra função estranha e que comprometa o sinalagma, o equilíbrio ou a correspondência do contrato de trabalho. Se as atribuições forem consecutivas, se complementarem e forem exercidas no mesmo horário, não demandando esforço superior ao aceitável ou conhecimento específico mais complexo do que aquele inerente à função principal, não há que se falar em pagamento de diferenças salariais. Função de motorista: quais são as tarefas inerentes a tal função? Segundo a CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, a função de motorista engloba o seguinte feixe de tarefas:

“CBO 7824-10 – Motorista de ônibus urbano: conduzem e vistoriam ônibus e

trólebus de transporte coletivo de passageiros urbanos, metropolitanos e ônibus rodoviários de longas distâncias; verificam itinerário de viagens; controlam o embarque e desembarque de passageiros e os orientam quanto a tarifas, itinerários, pontos de embarque e desembarque e procedimentos no interior do veículo; executam procedimentos para garantir segurança e o conforto dos passageiros; habilitam-se periodicamente para conduzir ônibus”.

22

21 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 1138. 22 http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf

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A partir da análise da CBO do motorista, o TST entende que as atividades de cobrador, assim entendido como aquele que recebe as passagens daqueles que utilizam o transporte coletivo, são, em regra, compatíveis com a atividade de motorista, que era, no caso, a principal, estando inseridas no elenco de obrigações decorrentes do contrato de trabalho (conforme consta no documento intitulado Classificação Brasileira de Ocupações - CBO), e desde que exercidas dentro da mesma jornada de trabalho. É certo que na discriminação das tarefas da CBO não consta, expressamente, a tarefa de “receber passagens”. No entanto, em relação ao tema, o TST tem dirimido a questão com fulcro no artigo 456, parágrafo único, da CLT, segundo o qual “a falta de prova ou inexistindo cláusula expressa a tal respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição pessoa”.

Exsurge desse dispositivo que há permissão legal para o empregador exigir do empregado qualquer atividade compatível com a condição pessoal do empregado, desde que lícita, não havendo justificativa, portanto, para a percepção de acréscimo salarial, pelo reclamante, que exerce, cumulativamente, a função de motorista e cobrador. Como dito, é preciso que, no contrato, tenha ficado, claramente, estabelecida a função que o empregado foi desempenhar na empresa. Faltando prova sobre isso ou tendo havido omissão sobre a exata fixação das atribuições do empregado, subentende-se que este se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal. Sob esse fundamento, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos da reclamada, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, deu-lhes provimento para excluir da condenação as diferenças salariais pelo acúmulo de funções. Vale observar que, em que pese a posição dominante, representada pela SBDI-1 do TST, há diversos entendimentos turmários que sustentam o contrário, dentre os quais, pode-se destacar:

“não sendo a função de cobrador inerente à de motorista, ou sequer desdobramento dela, sendo, assim, justo o recebimento de um plus salarial. Ressalte-se que o Reclamante não se enquadrava nas exceções permitidas na norma coletiva para o acúmulo das funções de motorista e cobrador. Recurso de Revista não conhecido. (RR-1643-42.2011.5.01.0070, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de Julgamento: 10/09/2014, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/09/2014).

EMENTA DA DECISÃO

EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. DIFERENÇAS SALARIAIS - ACÚMULO DE FUNÇÕES - MOTORISTA E COBRADOR - CABIMENTO. Nos termos do art. 456, parágrafo único, da CLT, há permissão legal para o empregador exigir do empregado qualquer atividade compatível com a condição pessoal do empregado, desde que lícita e dentro da mesma jornada de trabalho. Não há justificativa, portanto, para a percepção de acréscimo salarial pelo Reclamante, que exerce, cumulativamente, a função de motorista e cobrador, quando patente que as obrigações em liça estão

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inseridas no elenco de obrigações decorrentes do contrato de trabalho, conforme consta da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Precedentes do TST. Recurso de embargos conhecido por divergência jurisprudencial e provido.

PROCESSO

TST-E-RR-67-15.2012.5.01.0511, Relator Ministro: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data de Julgamento: 14/04/2016, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 22/04/2016.

SÚMULAS E OJs

Não há súmulas ou OJs aplicáveis diretamente ao caso comentado.

REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS

Art. 456 da CLT – A prova do contrato individual do trabalho será feita pelas

anotações constantes da carteira profissional ou por instrumento escrito e suprida por todos os meios permitidos em direito. Parágrafo único. A falta de prova ou inexistindo cláusula expressa e tal respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal.

BIBLIOGRAFIA RELACIONADA

CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: Método, 2015. p. 996.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr,

2016. p. 1138. LIMA, Maria Luiza Gama. In Dicionário brasileiro de direito do trabalho. [Org.: PINTO, José Augusto Rodrigues; MARTINEZ, Luciano; MANNRICH, Nelson]. São Paulo: LTr, 2013. RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Tratado de direito do trabalho. Parte II – situações laborais individuais. 5. ed. Lisboa: Almedina, 2015.

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Embargos. Decisão de Turma que reinterpreta os depoimentos transcritos no acórdão recorrido. Contrariedade à Súmula nº 126 do TST. Configuração.

Contraria a Súmula nº 126 do TST a decisão de Turma que reforma decisão

do Regional com fundamento na reanálise dos depoimentos transcritos,

pois configurado o reexame da prova. Na espécie, o TRT negou a

existência de vínculo de emprego entre o reclamante e a Igreja Universal

do Reino de Deus pautado não apenas na ausência de pessoalidade e de

subordinação, mas também por vislumbrar vocação religiosa. Desse modo,

ao reinterpretar os depoimentos constantes do acórdão recorrido e deles

extrair conclusão diversa da prova produzida, ou seja, de que houve

vínculo empregatício, a Turma reavaliou o conjunto de fatos e provas, o

que é vedado na instância extraordinária por força da Súmula nº 126 do

TST.

COMENTÁRIOS

Classificação dos recursos quanto ao objeto A depender do direito que se busca tutelar, os recursos podem ser de natureza ordinária e de natureza extraordinária. A respeito do tema, didático o escólio de Élisson Miessa

23, abaixo transcrito:

a) Recurso de natureza ordinária: visa à tutela do direito subjetivo (interesse

particular da parte), de modo que permite a rediscussão ampla da matéria, seja de direito seja de fato. Tais recursos podem estar fundamentados no mero inconformismo com a decisão judicial (injustiça da decisão), citando-se, como exemplo, na seara trabalhista, os seguintes recursos: ordinário, agravo de petição, embargos de declaração, agravo interno e/ou regimental, pedido de revisão e agravo de instrumento;

b) Recurso de natureza extraordinária: funda-se na tutela do direito objetivo (a lei), buscando sua exata aplicação. Por visar à exata aplicação do direito, tais recursos impedem a verificação fática, inclusive o reexame de provas, ficando restritos à análise do direito (súmula 126 do TST). São exemplos o recurso de revista e o de embargos para SDI.

Ainda sobre os recursos de natureza extraordinária, bem aponta Ricardo José Macêdo de Britto Pereira que

os recursos de natureza extraordinária possuem como características comuns o não reexame de fatos e provas, a exigência de prequestionamento e o julgamento de questões estritamente jurídicas, sendo cabíveis por violação à lei federal ou Constituição e/ou por dissenso jurisprudencial.

24 (gn)

23 MIESSA, Élisson. Recursos trabalhistas. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 27. 24 PEREIRA, Ricardo José Macêdo de Britto. Recursos de natureza extraordinária no TST. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 59.

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Recursos de Revista e reexame de provas O TST tem função de unificar a jurisprudência trabalhista. Havendo divergência entre tribunais regionais diferentes é cabível o Recurso de Revista para unificar o entendimento em âmbito nacional. Nesse prumo, diz-se que o Recurso de Revista ataca divergência externa. Ainda, o Recurso de Revista é de natureza extraordinária, ou seja, há impedimento de verificação fática, inclusive o reexame de provas, nos termos da súmula 126 do TST. Nesses casos, restringe-se à tutela do direito objetivo, buscando sua exata aplicação. É também recurso de fundamentação vinculada, ou seja, exige-se que o recorrente indique vício específico na decisão impugnada, qual seja, a demonstração da divergência. Por fim, o recurso de revista não busca corrigir injustiça na solução da lide – tarefa atribuída aos recursos de natureza ordinária –, mas verificar se a norma foi corretamente aplicada ao caso concreto. Reexame de fatos e provas Como asseverado, nos termos da súmula 126 do TST é incabível o recurso de revista para reexame de fatos e provas:

SUM-126 do TST – RECURSO. CABIMENTO. Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts. 896 e 894, "b", da CLT) para reexame de fatos e provas.

Sobre o tema, Élisson Miessa traz importante lição que se amolda perfeitamente ao caso julgado. Vale a pena a leitura:

É necessário registrar que, nesses recursos, o direito subjetivo pode ser

tutelado, mas apenas de modo indireto, ou seja, a tutela do direito

objetivo pode provocar benefícios para o direito subjetivo. Isso ocorre porque o TST poderá fazer a qualificação jurídica dos fatos. Esses fatos, porém, somente podem ser qualificados se forem incontroversos ou se constarem do acórdão regional. Desse modo,

se a parte pretende aduzi-los no recurso de revista e eles não são incontroversos, incumbe-lhe interpor os embargos de declaração para que todos os fatos importantes constem expressamente no acórdão

regional, levando-os ao TST para sua qualificação jurídica. Assim, o TST não irá analisar, por exemplo, o conteúdo de um depoimento, mas nada obsta que invalide o depoimento de uma

testemunha por ser impedida de depor. Nesse caso, se os fatos que demonstram seu impedimento (por exemplo, for cônjuge da parte) forem incontroversos ou constarem no acórdão regional, o TST qualificará tais

fatos com enfoque imediato na violação do art. 829 da CLT e artigo 405, § 2º, do CPC, atingindo apenas reflexamente a prova dos autos. [...] (gn)25

25 MIESSA, Élisson. Recursos trabalhistas. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 251.

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Como se vê, é possível o reenquadramento jurídico do quadro fático apresentado. O que se veda é a revisão do depoimento das partes, para formar convicção distinta em relação ao conteúdo dos depoimentos. Caso concreto No caso julgado, o TRT negou a existência de vínculo de emprego entre o reclamante e a Igreja Universal do Reino de Deus pautado não apenas na ausência de pessoalidade e de subordinação, mas também por vislumbrar vocação religiosa. Desse modo, a SBDI-1 do TST entendeu que, ao reinterpretar os depoimentos constantes do acórdão recorrido e deles extrair conclusão diversa da prova produzida, ou seja, de que houve vínculo empregatício, a turma reavaliou, indevidamente, o conjunto de fatos e provas, o que é vedado na instância extraordinária por força da Súmula nº 126 do TST. Sob esse entendimento, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos por contrariedade à Súmula nº 126 do TST e, no mérito, deu-lhes provimento para não conhecer do recurso de revista do reclamante em relação ao pedido de reconhecimento de vínculo de emprego, restabelecendo, portanto, a decisão do Regional no tópico. Vencido o Ministro Alexandre Agra Belmonte.

EMENTA DA DECISÃO

RECURSO DE EMBARGOS. VIGÊNCIA DA LEI Nº 13015/2014. PASTOR DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS. VÍNCULO DE EMPREGO. REEXAME DE FATOS E PROVA PELA C. TURMA. ÓBICE DA SÚMULA Nº 126 DO C. TST. Há contrariedade à Súmula 126 do c. TST quando a c. Turma reforma decisão do Tribunal Regional pela análise dos depoimentos transcritos, incorrendo em reexame da prova produzida. O Eg. TRT ao negar o vínculo de emprego entre o reclamante, Pastor da Igreja Universal, o fez pautado não apenas na ausência de pessoalidade e de subordinação, mas, também, pela demonstração de que o caso em exame se tratava de vocação religiosa. Ao entender pela inexistência desses elementos, a c. Turma o fez em reinterpretação dos depoimentos, para extrair a conclusão de que efetivamente houve vínculo de emprego. A impossibilidade do reexame da prova, in casu, determina que a c. Turma,

que nela incursionou para reconhecer vínculo de emprego que a v. decisão entendeu inexistir, em face da ausência de subordinação, pessoalidade e onerosidade, contrariou a Súmula 126 do c. TST, cujo óbice impede o conhecimento do recurso de revista. Embargos conhecidos e providos.

PROCESSO

TST-E-ED-RR-1007-13.2011.5.09.0892, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 14/04/2016, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 29/04/2016.

SÚMULAS E OJs

SUM-126 do TST – RECURSO. CABIMENTO. Incabível o recurso de revista ou de embargos

(arts. 896 e 894, "b", da CLT) para reexame de fatos e provas.

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REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS

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BIBLIOGRAFIA RELACIONADA

MIESSA, Élisson. Recursos trabalhistas. Salvador: JusPodivm, 2015. PEREIRA, Ricardo José Macêdo de Britto. Recursos de natureza extraordinária no TST. Salvador: JusPodivm, 2015.

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Conflito de competência. Ação proposta no domicílio do advogado. Incompetência. Remessa ao juízo do local da prestação dos serviços. Prejuízo à

defesa do autor. Competência da Vara do Trabalho que tem jurisdição sob o local da contratação.

Para a fixação da competência territorial devem prevalecer os critérios

objetivos estabelecidos no art. 651, caput e § 3º, da CLT, admitindo-se o

ajuizamento da reclamação trabalhista no domicílio do reclamante apenas

se este coincidir com o local da prestação dos serviços ou da contratação.

Assim, na hipótese em que o autor foi contratado na cidade de Alvorada do

Norte/GO, e posteriormente transferido para Porto Velho/RO, local da

extinção do pacto laboral, não atende ao comando legal o ajuizamento da

reclamação em Brasília/DF, domicílio do advogado que patrocina a

reclamação. De outra sorte, o declínio da competência em favor de uma

das varas do trabalho de Porto Velho/RO também não se mostra adequado,

eis que impediria a defesa dos direitos do autor, domiciliado no Estado de

Goiás.

COMENTÁRIOS

Competência territorial Na Justiça do Trabalho, a matéria é tratada pelo art. 651 da CLT, que pode ser assim esquematizado:

Regra geral

foro do loca da prestação dos serviços, ainda que contratado o reclamante em outro local ou no estrangeiro (art. 651, caput, CLT).

Agente ou viajante comercial

localidade da agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado. Na falta desta, domicílio do empregado ou localidade mais próxima.

Empregador que promova atividades fora do local do contrato

local da prestação dos serviços ou no foro da celebração do contrato.

Obs.: A competência estabelecida no art. 651 da CLT estende-se aos dissídios

ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário.

Sobre competência territorial, local da prestação de serviços e local do domicílio do empregado, despontam como principais correntes: 1ª corrente: as normas de competência territorial previstas no art. 651, CLT, despontam caráter público, razão pela qual não se admite sua ampliação interpretativa.

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Desse modo, não caberia ao Julgador estabelecer exceções diversas daquelas já expressamente previstas no texto legal, sob pena de se frustrar a segurança jurídica e, ainda, de se incorrer em usurpação de competência do Poder Legislativo. Nessa linha de pensamento, não se poderia fixar a competência do Juízo de acordo com o domicílio do empregado quando ele não foi contratado ou prestou serviços neste local, por não haver, no artigo 651, previsão expressa nesse sentido. 2ª corrente: para outra parcela jurisprudencial, a norma legal deve ser lida a partir do “espírito da lei” (mens legis). Indubitavelmente, a vontade do legislador foi de facilitar o acesso à justiça pelo trabalhador. Destarte, qualquer interpretação favorável ao empregado é tida como legítima, de forma que o ajuizamento da demanda no foro de domicílio do trabalhador é insuscetível de questionamento por exceção de incompetência. Busca-se, por meio desse entendimento, consolidar o amplo acesso à justiça por meio da parte hipossuficiente, já que, por vezes, o empregado não dispõe de meios para locomover-se ao local da prestação de serviços. Também é possível ao empregado propor a ação trabalhista no município da sua residência, apesar de a prestação dos serviços e a própria contratação ter ocorrido em outra cidade, bem distante daquele local. Isso porque, mesmo inexistindo previsão expressa nesse sentido no art. 651 da CLT, essa seria a solução que mais se amoldaria à hipossuficiência do trabalhador e ao princípio constitucional do amplo acesso à justiça. Explica-se: as despesas que o trabalhador teria que suportar para se deslocar até o local da audiência (realizada em foro distante do seu domicílio) poderiam acabar inviabilizando o seu acesso ao Judiciário e o efetivo exercício do direito de ação, em razão da sua presumida hipossuficiência financeira. É uma corrente mais principiológica. No entanto, é de se relembrar que, em argumento contrário, essa segunda acepção pode dificultar excessivamente ou inviabilizar o acesso à justiça pela reclamada, a qual nem sempre goza de recursos financeiros para efetuar esse deslocamento. Tal fato implicaria, portanto, em possível ofensa aos princípios da ampla defesa e do contraditório, também previstos constitucionalmente. 3ª corrente: destaca-se a existência de uma corrente intermediária, que busca conciliar, de um lado, o acesso à justiça pelo reclamante e, de outro, garantir a ampla defesa e o contraditório à reclamada. Consoante esse entendimento, para além das hipóteses legais, admite-se o ingresso de demanda no foro de domicílio do reclamante quando neste, concomitantemente, a reclamada possuir filial ou realizar a prestação de serviços. Inclusive, no informativo nº 100 do TST, a SBDI-1 adotou posicionamento similar a este ora retratado:

Exceção de incompetência em razão do lugar. Ajuizamento de reclamação trabalhista no foro do domicílio do empregado.

Aplicação ampliativa do § 3º do art. 651 da CLT. Impossibilidade. Não demonstração de que a empresa demandada presta serviços

em diferentes localidades do país. Em observância ao princípio

constitucional do amplo acesso à jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF), é possível o ajuizamento de demanda trabalhista no foro do domicílio do empregado, desde que seja mais favorável que a regra do art. 651 da CLT e que fique demonstrado que a empresa reclamada regularmente

presta serviços em diversas localidades do território nacional. No caso, o reclamante foi contratado e prestou serviços na cidade de Brusque/SC, local diverso do seu atual domicílio, Pelotas/RS, onde ajuizou a reclamatória. Contudo, não há notícia nos autos de que a

empresa demandada preste serviços em diferentes localidades do país, razão pela qual não há cogitar em aplicação ampliativa do § 3º do art.

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651 da CLT, prevalecendo, portanto, a regra geral que estabelece a competência da vara do trabalho do local da prestação dos serviços. Com esse entendimento, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pelo reclamante, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento. Vencidos os Ministros

José Roberto Freire Pimenta, Lelio Bentes Corrêa, Hugo Carlos Scheuermann e Cláudio Mascarenhas Brandão. TST-E-RR-420-37.2012.5.04.0102, SBDI-I, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 19.2.2015.

RECURSO DE EMBARGOS. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR - APRESENTAÇÃO DA RECLAMAÇÃO TRABALHISTA EM FORO DIVERSO DAQUELE ONDE O RECLAMANTE FOI CONTRATADO E PRESTOU SERVIÇO. Não se

nega que o critério de fixação da competência da Justiça do Trabalho tem a clara diretriz de proteção ao hipossuficiente, como se observa do artigo 651 da Consolidação das Leis do Trabalho. Em atendimento a este primado, a CLT faculta ao empregado optar entre apresentar

reclamação trabalhista no foro da celebração do contrato ou no local da prestação de serviços, nas situações em que o empregador realiza atividades fora do lugar do contrato de trabalho (art. 651, §3º). No caso, contudo, a hipótese é outra: o reclamante foi contratado e prestou serviços na cidade de Brusque/SC, local diverso do seu atual domicílio,

Pelotas/RS, aonde ajuizou a presente reclamatória. Assim, a situação atrai a aplicação da regra geral da competência territorial do foro da prestação dos serviços. Até porque, a competência territorial, nas

hipóteses em que há oposição de exceção nos moldes do disposto

supracitado, deve ser fixada de maneira objetiva, obedecendo aos critérios estritos previstos no artigo 651 da Consolidação das Leis do

Trabalho. Todavia, nos termos da jurisprudência do TST, em observância ao princípio constitucional do amplo acesso à jurisdição (art. 5º, XXXV), é competente para o julgamento da demanda trabalhista o foro do domicílio do empregado, quando lhe for mais favorável que a regra do art. 651 da CLT, nos casos em que ficar inconteste que a empresa reclamada regularmente presta serviços em diversas localidades do território nacional. Essa interpretação, repita-se, na hipótese de tratar-se de empresa de grande porte, prestadora de

serviços em distintas localidades do país, além de não cercear o direito de defesa da demandada dado o seu vasto âmbito de atuação, mostra-se consonante ao princípio da proteção, ínsito ao

Direito do Trabalho, atendendo ao objetivo da facilitação do acesso do

hipossuficiente à justiça. Tratando-se, pois, de empresa de âmbito

nacional, que realiza contratação e presta serviços em localidades distintas do país, é possível a aplicação ampliativa do § 3º do artigo 651 da CLT, permitindo ao reclamante o ajuizamento da reclamação trabalhista no local do seu domicílio, se mais favorável. Em tal situação

o reconhecimento da competência da Vara do Trabalho com jurisdição no local do domicílio do reclamante atende de forma harmônica aos fins sociais do artigo 651 da CLT e do já citado art. 5º, inciso XXXV, da Carta Constitucional, que garante o livre acesso ao Judiciário. No caso, não há notícia nos autos que a empresa demandada preste serviços em diferentes localidades do país. Nesse contexto, não há que se cogitar na aplicação da exceção firmada por esta Corte em relação ao artigo 651 da CLT. Precedentes da SDI12 e de Turmas do TST. Recurso de embargos conhecido e desprovido. (E-RR-420-37.2012.5.04.0102,

Relator Ministro: Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento:

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19/02/2015, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 06/03/2015).

Nesse último caso, segundo o relator, a jurisprudência do TST, atenta ao princípio constitucional de amplo acesso à jurisdição, vem se posicionando pela validade da ação no foro do domicílio do empregado nos casos em que é muito longa a distância entre o local da contratação ou da prestação do serviço e o domicílio do trabalhador, "desde que se trate de empresa que preste serviços em várias localidades do país", o que não foi comprovado na ação. Também nesse último caso, o empregado foi contratado e prestou serviços em local diverso de seu atual domicílio, o que atrai a aplicação da regra geral de competência da CLT, e não há notícia nos autos de que a empresa preste serviços em diferentes localidades do país", observou o ministro Renato de Lacerda Paiva. "Nesse contexto, não há que se cogitar na aplicação da exceção firmada pelo TST em relação ao artigo 651 da CLT".

A terceira corrente se mostra razoável. No entanto, entendemos que nos casos em que se verificar o aliciamento ou arregimentação de mão de obra de uma localidade para outra, em manifesto prejuízo ao trabalhador hipossuficiente, deverá ser aplicada a segunda corrente, independentemente de a empresa possuir ou não agência, filial ou estabelecimento no local de ajuizamento da demanda. Isso porque, se ela possuía prepostos para arregimentar referidos trabalhadores, também deverá possuir condições de enviar representantes adequados para o comparecimento em juízo. Caso concreto No caso ora em comento, em que pese se tratar de empresa de âmbito nacional, o TST entendeu ser incabível o ajuizamento da ação no foro de domicílio do advogado que patrocina a reclamação (Brasília/DF). O Relator afirmou que

“sendo fato público e notório a circunstância de que a empresa excipiente, uma das maiores empresas que operam no Brasil e no exterior, mantém sede em diversas localidades, inclusive na capital da República, entendi, de início, não se mostraria juridicamente adequado afastar a competência do juízo suscitado para o processamento da ação respectiva.

Afinal, se as regras que definem a competência territorial dos órgãos da Justiça do Trabalho objetivam facilitar o acesso do trabalhador, reputado insuficiente, à jurisdição, não haveria sentido ético, lógico ou jurídico em impedir a eleição de foro pelo trabalhador, notadamente nos casos em que não existem prejuízos objetivamente aferíveis ao exercício regular do direito de defesa por parte da empresa demandada (CLT, art. 794 c/c o art. 5º, LV)

Haveria de se ter em conta, ainda, a circunstância de que se cuida de empresa de âmbito nacional, que recrutou o trabalhador em localidade diversa daquela em que celebrado o contrato, transferindo-o para atuar na execução de importante obra de interesse nacional.

Conclui, assim, que, nesses casos, negar a possibilidade de que o trabalhador mova a ação em local distinto daquele em que, temporariamente, exerceu sua

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atividade profissional, significaria negar a própria possibilidade de acesso ao Poder Judiciário (CF, art. 5º, XXXV).

No entanto, após os votos divergentes dos Exmos. Ministro Emmanoel Pereira e Alberto Bresciani de Fontan Pereira, o relator restou convencido de que a solução do conflito de competência passa realmente pela incidência da regra inserta no art. 651 da CLT, admitindo-se o ajuizamento da reclamação trabalhista no domicílio do reclamante apenas se este coincidir com o local da prestação dos serviços ou da contratação. Assim, entendeu-se que na hipótese em que o autor foi contratado na cidade de Alvorada do Norte/GO, e posteriormente transferido para Porto Velho/RO, local da extinção do pacto laboral, não atende ao comando legal o ajuizamento da reclamação em Brasília/DF, domicílio do advogado que patrocina a reclamação. De outra sorte, o declínio da competência em favor de uma das varas do trabalho de Porto Velho/RO também não se mostra adequado, eis que impediria a defesa dos direitos do autor, domiciliado no Estado de Goiás. Portanto, a SBDI-II, por unanimidade, admitiu conflito negativo de competência instaurado entre a 6ª Vara do Trabalho de Porto Velho/RO (suscitante) e a 18ª Vara do Trabalho de Brasília/DF (suscitado) para declarar a competência do Juízo da Vara do Trabalho de Posse/GO, que tem jurisdição sob a cidade de Alvorada do Norte/GO, local da contratação e domicílio do reclamante.

EMENTA DA DECISÃO

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXCEÇÃO OPOSTA POR EMPRESA DE CONSTRUÇÃO CIVIL DE ÂMBITO NACIONAL. AÇÃO PROPOSTA NA CAPITAL DA REPÚBLICA. CONTRATO DE TRABALHO CELEBRADO EM ALVORADA DO NORTE (GO) E EXECUTADO EM PORTO VELHO (RO). 1. De acordo com os dados inscritos na petição inicial e não contestados na exceção de incompetência territorial produzida, o Autor foi contratado na cidade de Alvorada do Norte (GO) e posteriormente transferido para a cidade de Porto Velho (RO), local em que foi extinto o pacto laboral. Movida a ação na cidade de Brasília-DF, a exceção de incompetência foi apresentada com fundamento exclusivo na literalidade do art. 651 da CLT. 2. Consoante a jurisprudência da SBDI-2 do TST, a fixação da competência territorial deve levar em contra os critérios objetivos previstos na regra do art. 651, caput e § 3º, da CLT. No caso, como o trabalhador tem domicílio na cidade de Alvorada do Norte, a declaração da competência 6ª Vara do Trabalho de Rondônia, local da prestação de serviços, dificultaria seu amplo acesso à jurisdição. Nesse cenário, na esteira de precedentes desta Corte, reconhece-se a competência do Juízo da Vara do Trabalho de Posse, que tem jurisdição sob a cidade de Alvorada do Norte e que dela dista apenas 54 quilômetros. Conflito de competência admitido para declarar a competência do Juízo da Vara do Trabalho de Posse/GO.

PROCESSO

TST-CC-1-64.2014.5.14.0006, Relator Ministro: Douglas Alencar Rodrigues, Data de Julgamento: 12/04/2016, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 22/04/2016.

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SÚMULAS E OJs

Não há súmulas ou OJs relacionadas diretamente ao caso julgado.

REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS

Art. 651 da CLT – A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é

determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. § 1º Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a localidade mais próxima. § 2º A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário. § 3º Em se tratando de empregador que promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços.

BIBLIOGRAFIA RELACIONADA

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Ação rescisória. Atualização de débito trabalhista. Incidência da taxa de juros do cheque especial em substituição à taxa de juros prevista no § 1º do art. 39 da Lei

nº 8.177/91. Impossibilidade.

Os juros de mora incidentes sobre os débitos trabalhistas estão

expressamente previstos no art. 39, § 1º, da Lei nº 8.177/91, razão pela qual,

ausente qualquer lacuna normativa, não se aplica, na Justiça do Trabalho,

a taxa de juros do cheque especial ou a taxa SELIC (art. 406 do CC).

COMENTÁRIOS

Juros Conceito e classificação Segundo Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, os juros estão incluídos na classe dos frutos civis, como rendimento de capital, sendo, portanto, coisas acessórias.26 Os juros podem ser assim classificados:

a) Conforme a sua destinação: a.1 – juros compensatórios ou remuneratórios: objetivam remunerar o capital emprestado no período em que o seu titular dele ficou privado. Eles representam uma espécie de preço pelo “aluguel” do capital a.2 – juros moratórios: traduzem uma indenização para o inadimplemento

no cumprimento da obrigação de restituir pelo devedor. Funcionam como uma sanção pelo retardamento culposo no reembolso da soma mutuada. Se diferenciam dos juros compensatórios, pois se assentam na ideia de culpa do devedor. Por isso, localizam-se no Código Civil, ao lado das demais consequências do inadimplemento das obrigações, como as perdas e danos, cláusula penal e arras.

27

b) Conforme a sua origem:

b.1 – juros legais: quando expressamente referidos na norma, como nas hipóteses previstas nos artigos 406, 591, 677 e 706 do Código Civil; b.2 – juros convencionais: quando estipulados no título constitutivo da obrigação, seja por negócio jurídico bilateral ou unilateral, tais como os juros praticados pelas instituições financeiras.

Juros de mora nos débitos trabalhistas Os juros de mora incidentes sobre os débitos trabalhistas estão expressamente previstos no art. 39, § 1º, da Lei nº 8.177/91, verbis:

26 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: obrigações. Volume 2. 6. ed. Salvador: JusPodivm, 2012. p. 614. 27 Em razão da diversidade de fundamentos, admite-se perfeitamente a cumulação entre juros compensatórios e moratórios, não constituindo tal prática anatocismo vedado em lei (nesse sentido: súmula 102 do STJ)

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Art. 39, § 1º, da Lei nº 8.177/91 – Os débitos trabalhistas de qualquer natureza, quando não satisfeitos pelo empregador nas épocas próprias assim definidas em lei, acordo ou convenção coletiva, sentença normativa ou cláusula contratual sofrerão juros de mora equivalentes à TRD acumulada no período compreendido entre a data de vencimento da obrigação e o seu efetivo pagamento. § 1° Aos débitos trabalhistas constantes de condenação pela Justiça do Trabalho ou decorrentes dos acordos feitos em reclamatória trabalhista, quando não cumpridos nas condições homologadas ou constantes do termo de conciliação, serão acrescidos, nos juros de mora previstos no caput, juros de um por cento ao mês, contados do ajuizamento da reclamatória e aplicados pro rata die, ainda que não explicitados na sentença ou no termo de conciliação.

O TST tem entendido que o Código Civil de 2002 (art. 406), embora superveniente, não revogou a Lei 8.177/91. Logo, na Justiça do Trabalho não se pode afirmar que os juros aplicáveis sejam aqueles que vigorarem para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional, que são aqueles previstos na taxa SELIC. No caso concreto, o Juízo prolator do acórdão rescindendo determinou que, sobre os créditos trabalhistas devidos à trabalhadora, fosse aplicada a taxa de juros do cheque especial, em substituição à taxa de juros prevista no § 1º do art. 39 da Lei 8.177/1991. Entretanto, como já dito, na Justiça do Trabalho, nas lides entre empregado e empregador, os juros de mora sobre os débitos trabalhistas encontram-se expressamente previstos no art. 39, § 1º, da Lei 8177/1991. Portanto, diante da ausência de lacuna normativa (arts. 8º e 769 da CLT), em face da regência de legislação específica (Lei 8.177/1991), não se aplica na Justiça do Trabalho a taxa de juros do cheque especial ou a taxa SELIC prevista no art. 406 do Código Civil. Assim, a SBDI-II, por unanimidade, conheceu do recurso ordinário e, no mérito, negou-lhe provimento, mantendo a decisão do TRT que julgara procedente a pretensão rescisória para desconstituir acórdão proferido nos autos de reclamação trabalhista e, em juízo rescisório, determinar a observância da taxa de juros prevista na Lei nº 8.177/91. Uma última observação se mostra necessária: sobre a correção monetária na Justiça do Trabalho, vale lembrar que o TST, seguindo a trilha do STF, definiu a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) como fator de atualização a ser utilizado na tabela de atualização monetária dos débitos trabalhistas na Justiça do Trabalho. Nesse sentido, recomenda-se a leitura aos comentários do Informativo TST nº 113 (ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, Relator Ministro: Cláudio Mascarenhas Brandão, Data de Julgamento: 04/08/2015, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DEJT 14/08/2015).

EMENTA DA DECISÃO

RECURSO ORDINÁRIO EM AÇÃO RESCISÓRIA. DETERMINAÇÃO DE INCIDÊNCIA DA TAXA DOS JUROS DO CHEQUE ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART.

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39, § 1º, DA LEI Nº 8.177/1991. CONFIGURAÇÃO. 1. Ao proferir a decisão rescindenda, o Tribunal Regional determinou que, sobre os créditos trabalhistas devidos à trabalhadora, fosse aplicada a taxa de juros do cheque especial, em substituição à taxa de juros prevista no § 1º do art. 39 da Lei 8.177/1991. 2. A pretensão rescisória, deduzida pela instituição bancária com lastro no art. 485, V, do CPC de 1973, está fundada na alegação de violação dos arts. 5º, II, da CF, 883 da CLT, 5º, V, 128 e 460 do CPC/1973 e 39, § 1º, da Lei 8.177/1991. 3. Na Justiça do Trabalho, nas lides entre empregado e empregador, os juros de mora sobre os débitos trabalhistas encontram-se expressamente previstos no art. 39, § 1º, da Lei 8177/1991. Diante da ausência de lacuna normativa (arts. 8º e 769 da CLT), em face da regência da legislação específica, não se aplica nesta Justiça Especializada a taxa de juros do cheque especial ou a taxa SELIC prevista no art. 406 do Código Civil. 4. Desse modo, o órgão prolator do acórdão rescindendo, ao determinar a aplicação da taxa de juros do cheque especial, violou a norma do art. 39, § 1º, da Lei 8.177/1991. Recurso ordinário conhecido e não provido.

PROCESSO

TST-RO-5218-45.2015.5.15.0000, Relator Ministro: Douglas Alencar Rodrigues, Data de Julgamento: 12/04/2016, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 15/04/2016.

SÚMULAS E OJs

Não há súmulas e OJs aplicáveis diretamente ao caso julgado.

REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS

Art. 39, § 1º, da Lei nº 8.177/91 – Os débitos trabalhistas de qualquer natureza,

quando não satisfeitos pelo empregador nas épocas próprias assim definidas em lei, acordo ou convenção coletiva, sentença normativa ou cláusula contratual sofrerão juros de mora equivalentes à TRD acumulada no período compreendido entre a data

de vencimento da obrigação e o seu efetivo pagamento. § 1° Aos débitos trabalhistas constantes de condenação pela Justiça do Trabalho ou decorrentes dos acordos feitos em reclamatória trabalhista, quando não cumpridos nas condições homologadas ou constantes do termo de conciliação, serão acrescidos, nos juros de mora previstos no caput, juros de um por cento ao mês, contados do ajuizamento da reclamatória e aplicados pro rata die, ainda que não

explicitados na sentença ou no termo de conciliação.

Art. 406 do Código Civil – Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

BIBLIOGRAFIA RELACIONADA

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: obrigações.

Volume 2. 6. ed. Salvador: JusPodivm, 2012.