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INFORMATIVOS ESTRATÉGICOS STF 935 Prof. Jean Vilbert - DIREITO CONSTITUCIONAL - 1/39 - DIREITO CONSTITUCIONAL – @jeanvilbert [email protected] SUMÁRIO DIREITO CONSTITUCIONAL ........................................................................................ 2 1. SACRIFÍCIO de animais em culto RELIGIOSO ............................................................. 2 1.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................... 2 1.2. Análise ESTRATÉGICA. .......................................................................................................... 3 1.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO. .............................................................................. 6 1.4. Gabarito. ............................................................................................................................... 7 2. ADI questionando lei revogada por MP .................................................................... 7 2.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................... 7 2.2. Análise ESTRATÉGICA. .......................................................................................................... 7 3. Proibição de REEDIÇÃO de MP na mesma sessão legislativa ...................................... 8 3.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................... 8 3.2. Análise ESTRATÉGICA. .......................................................................................................... 9 3.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO. ............................................................................ 13 3.4. Gabarito. ............................................................................................................................. 13 4. Lei de iniciativa PARLAMENTAR disciplinando órgãos ou entidades da Administração Pública Estadual ............................................................................................................ 14 4.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 14 4.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 14 5. UNICIDADE da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal pela PGE .... 17 5.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 17 5.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 17 5.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO. ............................................................................ 18 5.4. Gabarito. ............................................................................................................................. 19 6. Procuradores AUTÁRQUICOS ................................................................................. 19 6.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 20 6.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 20 7. Cargo em comissão de Procurador-Geral da UNIVERSIDADE estadual ..................... 22 7.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 22 7.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 22 DIREITO ADMINISTRATIVO ..................................................................................... 23 8. Organização básica dos Ministérios é matéria DECISÓRIA do Presidente da República 23 8.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 24 8.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 24

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INFORMATIVOS ESTRATÉGICOS STF Nº 935

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SUMÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL ........................................................................................ 2

1. SACRIFÍCIO de animais em culto RELIGIOSO ............................................................. 2 1.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................... 2 1.2. Análise ESTRATÉGICA. .......................................................................................................... 3 1.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO. .............................................................................. 6 1.4. Gabarito. ............................................................................................................................... 7

2. ADI questionando lei revogada por MP .................................................................... 7 2.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................... 7 2.2. Análise ESTRATÉGICA. .......................................................................................................... 7

3. Proibição de REEDIÇÃO de MP na mesma sessão legislativa ...................................... 8 3.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................... 8 3.2. Análise ESTRATÉGICA. .......................................................................................................... 9 3.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO. ............................................................................ 13 3.4. Gabarito. ............................................................................................................................. 13

4. Lei de iniciativa PARLAMENTAR disciplinando órgãos ou entidades da Administração Pública Estadual ............................................................................................................ 14

4.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 14 4.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 14

5. UNICIDADE da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal pela PGE .... 17 5.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 17 5.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 17 5.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO. ............................................................................ 18 5.4. Gabarito. ............................................................................................................................. 19

6. Procuradores AUTÁRQUICOS ................................................................................. 19 6.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 20 6.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 20

7. Cargo em comissão de Procurador-Geral da UNIVERSIDADE estadual ..................... 22 7.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 22 7.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 22

DIREITO ADMINISTRATIVO ..................................................................................... 23

8. Organização básica dos Ministérios é matéria DECISÓRIA do Presidente da República 23

8.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 24 8.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 24

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL .................................................................................... 25

9. Conflito FEDERATIVO ............................................................................................. 25 9.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 26 9.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 27

10. CONSTITUCIONALIDADE do art. 86 do ADCT ....................................................... 29 10.1. Regime dos PRECATÓRIOS. ................................................................................................. 30

DIREITO PROCESSUAL PENAL .................................................................................. 33

11. In dubio pro SOCIETATE na fase da pronúncia ..................................................... 33 11.1. Situação FÁTICA. ................................................................................................................. 34 11.2. Análise ESTRATÉGICA. ........................................................................................................ 34 11.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO. ............................................................................ 38 11.4. Gabarito. ............................................................................................................................. 38

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. SACRIFÍCIO de animais em culto RELIGIOSO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade

religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz

africana. STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio,

red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 28/3/2019 (Info 935).

Votação: Maioria.

1.1. Situação FÁTICA.

Algumas religiões de matriz africana realizam sacrifício de

animais (geralmente galinhas, patos, bodes, carneiros, bois) em seus

cultos. É o caso, por exemplo, do Candomblé.

O caput do art. 2º da Lei estadual nº 11.915/2003, do Rio Grande do Sul, proíbe uma série de condutas consideradas maus-tratos

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de animais. O parágrafo único deste artigo, no entanto, prevê que tais vedações não se aplicam para o sacrifício de animais em rituais de

cultos de religiões de matriz africana.

O Ministério Público do Rio Grande do Sul ingressou com ADI no

TJ/RS alegando que esse dispositivo seria inconstitucional tanto sob o

ponto de vista formal como material.

Sob o aspecto formal, a lei teria violado a competência da União para legislar sobre direito penal (art. 22, I, da CF/88) ao criado

causa excludente de ilicitude para afastar a incidência de crime

ambiental.

Além disso, haveria inconstitucionalidade material pela violação ao art. 19, I, da CF/88 considerando que a lei estadual

privilegiou indevidamente os cultos de matriz africana, deixando de

fora os cultos de outras religiões.

1.2. Análise ESTRATÉGICA.

1.2.1. Questão JURÍDICA.

Conforme a Lei 11.915/2003 do estado do Rio Grande do Sul:

Art. 2º É vedado: I – ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-

os a qualquer tipo de experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem

como as que criem condições inaceitáveis de existência; II – manter animais

em local completamente desprovido de asseio ou que lhes impeçam a

movimentação, o descanso ou os privem de ar e luminosidade; III – obrigar

animais a trabalhos exorbitantes ou que ultrapassem sua força; IV – não dar

morte rápida e indolor a todo animal cujo extermínio seja necessário para

consumo; V – exercer a venda ambulante de animais para menores

desacompanhados por responsável legal; VI – enclausurar animais com outros

que os molestem ou aterrorizem; VII – sacrificar animais com venenos ou

outros métodos não preconizados pela Organização Mundial da Saúde – OMS

–, nos programas de profilaxia da raiva.

Parágrafo único. Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos cultos

e liturgias das religiões de matriz africana.

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1.2.1. Há inconstitucionalidade FORMAL?

R: Não.

A Lei gaúcha (tche!!) não tratou sobre matéria penal.

A Lei Estadual nº 11.915/2003, que instituiu o Código Estadual

de Proteção aos Animais, estabelece TÃO SOMENTE regras de proteção à fauna, define conceitos e afasta a prática de determinadas condutas.

Não há, portanto, nenhuma matéria criminal envolvida, razão pela qual

não houve usurpação de competência da União.

Segundo o STF, o parágrafo único do art. 2º da Lei prevê uma hipótese de exclusão de responsabilidade administrativa, que em nada

se relaciona com a excludente de ilicitude penal.

Igualmente não se pode considerar ofensa à competência da

União para editar normas gerais de proteção do meio ambiente,

sobretudo ante o silêncio da legislação federal acerca do sacrifício de animais com finalidade religiosa. Os dispositivos da Lei de Crimes

Ambientais pertinentes (arts. 29 e 37 da Lei 9.605/1988) cuidam tão somente do abate de animais silvestres, sem abranger os domésticos,

utilizados nos rituais.

A se lembrar que a competência para legislar sobre proteção da

fauna e do meio ambiente em geral é concorrente (art. 24, VI c/c art. 30, I, da CF/88), competindo à União editar normas e aos Estados

suplementar a legislação federal (art. 22, § 2º).

E as regras federais, para os ministros, foram editadas em

contexto alheio aos cultos religiosos, voltando-se à tutela da fauna silvestre, especialmente em atividades de caça. A União não legislou

sobre a imolação de animais. A omissão na edição de normas gerais sobre meio ambiente outorga ao estado liberdade para estabelecer

regras a respeito, observado o § 3º do art. 24 da CF.

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1.2.2. Há inconstitucionalidade MATERIAL?

R: Não.

O colegiado asseverou que a temática envolve a exegese de normas fundamentais, alcançando a conformação do exercício da

liberdade de culto e de liturgia. A religião desempenha papel importante em vários aspectos da vida da comunidade, e essa

centralidade está consagrada no art. 5º, VI, da CF.

Mas e quanto aos princípios da laicidade e da igualdade?

CF, art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,

embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes

relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração

de interesse público;

Os ministros pontuaram que o Estado brasileiro tem o dever de

proteger as “manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo

civilizatório nacional” (art. 215, § 1º, da CF).

Religiões de matriz africana é uma nomenclatura utilizada para designar as religiões que tiveram origem ou buscaram inspiração nas

religiões tradicionais africanas. Exemplos: Candomblé, Cabula,

Catimbó, Umbanda, Quimbanda, Xambá e Omolocô.

Pois bem. A CF promete uma sociedade livre de preconceitos, entre os quais o religioso. A cultura afro-brasileira merece maior

atenção do Estado, por conta de sua estigmatização, fruto de preconceito estrutural. A proibição do sacrifício negaria a própria

essência da pluralidade cultural, com a consequente imposição de determinada visão de mundo. Essa designação de especial proteção

aos cultos de culturas historicamente estigmatizadas não ofende o

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princípio da igualdade, sendo válida a permissão do sacrifício de animais a determinado segmento religioso, como previsto na norma

questionada.

Por fim, a Corte entendeu que admitir a prática de imolação não

significa afastar o amparo aos animais estampado no art. 225, § 1º, VII, da CF. Deve-se evitar que a tutela de um valor constitucional

relevante aniquile o exercício de um direito fundamental, revelando-se desproporcional impedir todo e qualquer sacrifício religioso quando

diariamente a população consome carnes de várias espécies.

1.2.3. Votos divergentes.

Vencidos, em parte, os ministros Marco Aurélio (relator),

Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, que admitiram a constitucionalidade da lei, porém para dar interpretação conforme à

Constituição no sentido de ser estendida a excludente de

responsabilidade a cultos de quaisquer religiões que realizem a sacralização com abates de animais, afastando maus-tratos e tortura.

O relator ainda condicionava o abate ao consumo da carne.

1.2.4. Resultado final.

É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar

a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana. O Plenário, por maioria, negou provimento

a recurso extraordinário em que discutida a constitucionalidade da Lei

estadual 12.131/2004.

1.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO.

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Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É constitucional a permite o sacrifício ritual

de animais em cultos de religiões de matriz africana, sem estender tal benefício a

outras religiões.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. A competência para legislar sobre proteção

da fauna e do meio ambiente em geral é comum.

1.4. Gabarito.

Q1º. ERRADO: Segundo a maioria do STF, a cultura afro-brasileira merece maior

atenção do Estado, por conta de sua estigmatização, fruto de preconceito estrutural.

Q2º. ERRADO: Competência “comum” é para fazer (material); competência para

legislar é concorrente. A competência para legislar sobre proteção da fauna e do meio

ambiente em geral é concorrente.

2. ADI questionando lei revogada por MP

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Enquanto não votada a Medida Provisória que revogou lei questionada por

meio de ADI, não há perda do objeto da Ação Direta de Inconstitucionalidade.

STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI

5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 27/3/2019 (Info 935).

Votação: Maioria

2.1. Situação FÁTICA.

Foi proposta ADI contra a Lei nº 13.502/2017. Em 2019, antes que a ação fosse julgada, o Presidente da República editou a Medida

Provisória nº 870, revogando a Lei nº 13.502/2017. Ao tempo do

julgamento da ADI, a MP ainda não fora votada nem esgotou seu prazo

de duração.

2.2. Análise ESTRATÉGICA.

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A edição de medida provisória não tem eficácia normativa

imediata de revogação da legislação anterior com ela incompatível, mas apenas de suspensão, paralisação, das leis antecedentes até o

término do prazo do processo legislativo de sua conversão.

Embora seja espécie normativa com força de lei, a medida

provisória precisa ser confirmada (é lei sob condição resolutiva). Dessa maneira, enquanto não aprovada a MP, não se pode falar em perda de

interesse (perda do objeto).

2.2.1. Resultado final.

Enquanto a medida provisória não for aprovada, será possível

julgar a ADI que questiona a lei por ela revogada. Se chegar o dia do julgamento da ADI e a MP ainda não tiver sido votada, o STF poderá

apreciar livremente a ação, não tendo havido perda do interesse de

agir (perda do objeto).

3. Proibição de REEDIÇÃO de MP na mesma sessão legislativa

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

É inconstitucional medida provisória ou lei decorrente de conversão de medida

provisória cujo conteúdo normativo caracterize a reedição, na mesma sessão

legislativa, de medida provisória anterior rejeitada, de eficácia exaurida por

decurso do prazo ou que ainda não tenha sido apreciada pelo Congresso

Nacional dentro do prazo estabelecido pela Constituição Federal. STF.

Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF,

Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 27/3/2019 (Info 935).

Votação: Maioria.

3.1. Situação FÁTICA.

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EM 03/02/2017, o então Presidente da República Michel Temer publicou a Medida Provisória 768/2017, que criou a Secretaria-Geral

da Presidência da República, o Ministério dos Direitos Humanos, e alterou a Lei nº 10.683/2003, que dispõe sobre a organização da

Presidência da República e dos Ministérios.

A MP 768/2017 iria perder a eficácia pelo decurso do prazo em

maio de 2017, ou seja, ela teria que ser votada pelo Congresso até esta data. Ocorre que, em maio de 2017, Temer editou nova medida

provisória (a MP 782/2017), que estabeleceu a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios, ou seja, tratou

sobre o mesmo assunto da MP 768/2017, com algumas pequenas

diferenças em relação à primeira MP.

Além disso, esta segunda medida provisória (MP 782/2017) revogou expressamente a primeira (MP 768/2017). A segunda medida

provisória (MP 782/2017) foi votada e aprovada pelo Congresso

Nacional, tendo sido convertida na Lei nº 13.502/2017.

Pode isso???

3.2. Análise ESTRATÉGICA.

3.2.1. Questão JURÍDICA.

Medida Provisória é um modo de o Presidente da República

“legislar”. Ele edita o ato sozinho e então remete para o Congresso Nacional, que tem 60 dias, sendo prorrogada automaticamente por

mais 60 dias (= 60 + 60 + eventuais recessos do Congresso).

Se a MP não for convertida em lei no prazo legal ela perde eficácia

desde a sua edição (sua eficácia fica exaurida), caso em que o Congresso Nacional deverá editar um decreto legislativo disciplinando

como ficarão as relações jurídicas que foram afetadas pela MP no

período em que ela vigorou (CF, art. 62, § 3º).

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E se a MP não for aprovada (rejeitada expressamente ou perder a eficácia pela não votação no prazo), pode o Presidente editar uma

nova MP? Não na mesma sessão legislativa (no mesmo ano).

CF, art. 62 [...] § 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de

medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia

por decurso de prazo.

ATENÇÃO! A sessão legislativa ordinária vai de 02 de fevereiro

até 22 de dezembro, com uma pausa (intervalo) entre 18 de julho até

31 de julho. É o ano legislativo.

3.2.2. Uma MP pode REVOGAR outra MP?

R: Em tese, SIM.

O Presidente da República NÃO pode “desistir” da medida

provisória que ele editou. Mas ele pode editar outra medida provisória

com efeito ab-rogante (revogando a MP anterior).

A segunda MP irá apenas suspender a eficácia jurídica da medida provisória revogada – o Congresso Nacional permanece com o poder

de deliberar sobre a validade da MP, podendo rejeitar a MP revogadora

e aprovar a MP revogada.

“1. Porque possui força de lei e eficácia imediata a partir de sua publicação, a

Medida Provisória não pode ser “retirada” pelo Presidente da República à

apreciação do Congresso Nacional. Precedentes. 2. Como qualquer outro ato

legislativo, a Medida Provisória é passível de ab-rogação mediante diploma de

igual ou superior hierarquia. Precedentes. 3. A revogação da MP por outra MP

apenas suspende a eficácia da norma ab-rogada, que voltará a vigorar pelo

tempo que lhe reste para apreciação, caso caduque ou seja rejeitada a MP ab-

rogante. 4. Consequentemente, o ato revocatório não subtrai ao Congresso

Nacional o exame da matéria contida na MP revogada”. STF. Plenário. ADI

2984 MC, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 04/09/2003.

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3.2.3. Com a edição de nova MP, mantém-se a

URGÊNCIA?

R: Não.

O Presidente, ao revogar determinada MP, renuncia ao caráter

de urgência sobre a matéria.

“O ato de revogação pura e simples de uma medida provisória outra coisa não

é senão uma autorejeição; ou seja, o autor da medida a se antecipar a

qualquer deliberação legislativa para proclamar, ele mesmo (Poder

Executivo), que sua obra normativa já não tem serventia. Logo, reeditá-la

significaria artificializar os requisitos constitucionais de urgência e relevância,

já categoricamente desmentidos pela revogação em si”. STF. Plenário. ADI

3964 MC, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em 12/12/2007

Se o Presidente apresentar nova regulação sobre o tema, deve fazê-lo por meio de um projeto de lei (e não mais por MP, que exige

urgência).

OBSERVAÇÃO: Do ponto de vista lógico, o posicionamento é

questionável. A matéria pode ser urgente, mas o tratamento dado

inicialmente (pela primeira MP) pode se mostrar incorreto (ineficiente, por exemplo). O Presidente deveria ter capacidade de alterar essa

medida, o que de modo algum afasta (de modo necessário) a urgência do tema. Em suma, na ânsia de evitar burlas à regra, o STF acabou

entortando a realidade.

3.2.4. O que vale é o CONTEÚDO da MP?

R: Exato!

A MP 782/2017, ao tratar sobre o mesmo assunto da MP 768/2017, significou, na realidade, a reedição da medida provisória, o

que é vedado de ser feito na mesma sessão legislativa, por força do

art. 62, § 10 da CF/88.

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O sistema instituído pela EC nº 32 leva à impossibilidade -sob pena de fraude

à Constituição - de reedição da MP revogada, cuja matéria somente poderá

voltar a ser tratada por meio de projeto de lei. (...) STF. Plenário. ADI 2984

MC, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 04/09/2003.

O fato de a MP 782/2017 ter algumas (poucas) diferenças em relação à MP 768/2017 NÃO serve de argumento para se dizer que não

se trata de uma reedição. Se não há modificações substanciais (mas emra maquiagem na medida provisória para não repetir o teor da outra

pura e simplesmente), deve-se considerar que há reedição.

Em suma, a reedição, ainda que parcial, de medida provisória

revogada é causa necessária e suficiente para sua incidência na

vedação prescrita no § 10 do art. 62 da CF.

3.2.5. O fato de a MP 782/2017 ter sido aprovada e,

portanto, convertida na Lei nº 13.502/2017 convalida

seus vícios?

R: NÃO!

Os vícios formais que surgiram com a edição da MP 782/2017

não podem ser convalidados com a sua conversão em lei.

3.2.6. Votos divergentes.

O ministro Alexandre de Moraes avaliou ser preciso ter cuidado com a abrangência do pronunciamento. A seu ver, não é cabível a

limitação do assunto de forma genérica. Segundo o ministro, é possível a edição de medidas provisórias sequenciais sobre reorganização,

desde que sem copiar da outra o conteúdo específico. Por exemplo, editar-se medida para reorganizar os ministérios da área social e,

depois, outra para os da área econômica.

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3.2.7. Resultado final.

É inconstitucional medida provisória ou lei decorrente de conversão de medida provisória cujo conteúdo normativo caracterize a

reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória anterior rejeitada, de eficácia exaurida por decurso do prazo ou que ainda não

tenha sido apreciada pelo Congresso Nacional dentro do prazo

estabelecido pela Constituição Federal.

3.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Considerando que o Presidente da República

não pode desistir de MP editada, também não pode editar MP revogando outra MP

anterior ainda não votada.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Ao editar nova MP sobre um tema, o

Presidente da República reforça a urgência da matéria.

Q3º. Estratégia Carreiras Jurídicas. reedição, ainda que parcial, de medida

provisória revogada é causa necessária e suficiente para sua incidência na vedação

prescrita no § 10 do art. 62 da CF.

3.4. Gabarito.

Q1º. ERRADO: O presidente da República, embora não tenha disponibilidade sobre

medida provisória já editada, tem legitimidade para editar outra com efeito ab-

rogante. Não existe, na Constituição, proibição explícita a respeito. O efeito primeiro

da medida provisória é o de suspender a eficácia jurídica da medida revogada, de

modo a permanecer com o Congresso Nacional a função de deliberar sobre sua

validade legislativa.

Q2º. ERRADO: o chefe do Poder Executivo da União, ao revogar determinada

medida provisória, abre mão do poder de disposição sobre aquela matéria, com o

caráter de urgência que justificava a edição do ato normativo..

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Q3º. CORRETO: A finalidade da reforma constitucional ocorrida por meio da EC

32/2001 e a realidade do processo legislativo levada a cabo nos anos precedentes.

Atentou para o fato de que, muitas vezes, quando se busca fraudar o dispositivo

constitucional, faz-se uma maquiagem na medida provisória para não repetir o teor

da outra pura e simplesmente.

4. Lei de iniciativa PARLAMENTAR disciplinando órgãos ou

entidades da Administração Pública Estadual

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

É inconstitucional emenda à Constituição Estadual, de iniciativa parlamentar,

que trate sobre as competências da Procuradoria Geral do Estado. Isso porque

a iniciativa de lei ou emenda constitucional que discipline a organização e as

atribuições dos órgãos e entidades da Administração Pública estadual é de

iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, da CF/88).

STF. Plenário. ADI 5262 MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em

27 e 28/3/2019 (Info 935).

Votação: Unanimidade.

4.1. Situação FÁTICA.

A Assembleia Legislativa de Roraima aprovou emenda alterando

o dispositivo da Constituição Estadual que trata sobre as competências da Procuradoria Geral do Estado. Essa emenda à Constituição Estadual

foi de iniciativa parlamentar – proposta por 1/3 dos Deputados

Estaduais.

Foi ajuizada uma ADI contra esta emenda sob o argumento de que ela seria formalmente inconstitucional tendo em vista que a

iniciativa privativa para propor emendas constitucionais tratando sobre

órgãos públicos estaduais seria do Governador do Estado.

4.2. Análise ESTRATÉGICA.

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4.2.1. Questão JURÍDICA.

Os projetos de lei que tratem sobre o regime jurídico dos

servidores públicos ou a respeito da estrutura e organização dos órgãos públicos são de iniciativa privativa do Governador do Estado, nos

termos do art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88:

CF, art. 61 [...] § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as

leis que: I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; II -

disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na

administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; b)

organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária,

serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios; c) servidores

públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos,

estabilidade e aposentadoria; d) organização do Ministério Público e da

Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do

Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e

dos Territórios; e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração

pública, observado o disposto no art. 84, VI; f) militares das Forças Armadas,

seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade,

remuneração, reforma e transferência para a reserva.

4.2.2. E se o art. 61, § 1º, da CF fala em “leis” e o ato

impugnado era uma Emenda Constitucional?

R: Mesmo assim! O STF entende que se houver uma emenda à

Constituição Estadual tratando sobre algum dos assuntos listados no art. 61, § 1º, da CF, essa emenda deve ser proposta pelo chefe do

Poder Executivo.

A disciplina normativa pertinente ao processo de criação, estruturação e

definição das atribuições dos órgãos e entidades integrantes da Administração

Pública estadual, ainda que por meio de emenda constitucional, revela matéria

que se insere, por sua natureza, entre as de iniciativa exclusiva do chefe do

Poder Executivo local, pelo que disposto no art. 61, § 1º, inciso II, alínea “e”,

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da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 2654/AL, Rel. Min. Dias Toffoli,

julgado em 13/8/2014 (Info 754).

Mas CUIDADO!! A proibição de que emendas constitucionais tratem sobre as matérias do art. 61, § 1º da CF/88 só vale para

emendas à Constituição Estadual.

É possível que emenda à Constituição Federal proposta por iniciativa

parlamentar trate sobre as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88. As

regras de reserva de iniciativa fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são

aplicáveis ao processo de emenda à Constituição Federal, que é disciplinado

em seu art. 60. STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado

em 18/5/2016 (Info 826).

Constituição FEDERAL Constituição ESTADUAL

É POSSÍVEL emenda constitucional

de iniciativa parlamentar tratando

sobre os assuntos que, em caso de

propositura de projeto de lei, seriam

de iniciativa reservada ao chefe do

Poder Executivo (art. 61, § 1º, da CF).

O poder constituinte estadual NÃO é

originário. Por essa razão, as Assembleias

Legislativas se submetem a limites mais

rigorosos quando pretendem emendar as

Constituições Estaduais e NÃO podem,

por iniciativa própria, tratar das matérias

do art. 61, § 1º, da CF.

4.2.3. Resultado final.

Declarou a inconstitucionalidade formal da Emenda Constitucional 42/2014, de iniciativa parlamentar, haja vista ser

reservada ao chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei ou emenda constitucional pela qual se discipline a organização e a definição de

atribuições de órgãos ou entidades da Administração Pública Estadual.

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5. UNICIDADE da representação judicial dos Estados e do

Distrito Federal pela PGE

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que a

Procuradoria Geral do Estado ficará responsável pelas atividades de

representação judicial e de consultoria jurídica apenas “do Poder Executivo”.

Essa previsão viola o princípio da unicidade da representação judicial dos

Estados e do Distrito Federal, pois de acordo com o art. 132 da CF/88 as

atribuições da PGE abrangem também os demais Poderes. STF. Plenário.

ADI 5262 MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 27 e 28/3/2019

(Info 935)

Votação: Unanimidade.

5.1. Situação FÁTICA.

A Constituição do Estado de Roraima, ao tratar sobre a PGE,

estabeleceu o seguinte:

CE-RR, art. 101. A Procuradoria-Geral do Estado é a instituição que representa

o Estado, bem como os Secretários de Estado em razão de suas atividades,

judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos temos da Lei Complementar

que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de

consultoria e assessoria jurídica do Poder Executivo Estadual.

Pode norma da Constituição Estadual restringir a representação

judicial e consultoria jurídica da PGE apenas ao Poder Executivo?

5.2. Análise ESTRATÉGICA.

5.2.1. Questão JURÍDICA.

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Segundo princípio da unicidade da representação judicial,

os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal serão os únicos responsáveis pela representação judicial e pela consultoria jurídica das

respectivas unidades federadas.

CF, art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados

em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e

títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as

suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das

respectivas unidades federadas.

Logo, é inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que a Procuradoria Geral do Estado ficará responsável pelas

atividades de representação judicial e de consultoria jurídica apenas “do Poder Executivo”. Essa previsão viola o princípio da unicidade da

representação judicial dos Estados e do Distrito Federal (art. 132 da CF), de acordo com o qual as atribuições da PGE não ficam restritas ao

Poder Executivo, abrangendo também os demais Poderes.

5.2.2. Resultado final.

Declarou a inconstitucionalidade da expressão “do Poder

Executivo” contida no caput do art. 101 da Constituição do Estado de

Roraima, na redação da EC 42/2014, e, por arrastamento, da idêntica expressão prevista na redação da Emenda Constitucional 14/2003 e na

redação originária do dispositivo. O art. 132 da CF atribuiu aos procuradores dos estados e do Distrito Federal exclusividade no

exercício da atividade jurídica contenciosa e consultiva dos órgãos e entidades das respectivas unidades federadas. Essa atividade não está

restrita ao Poder Executivo.

5.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO.

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Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. À Procuradoria-Geral do Estado cabe as

atividades de consultoria e assessoria jurídica do Poder Executivo Estadual.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. As PGEs são regidas pelo princípio da

unicidade da representação judicial.

5.4. Gabarito.

Q1º. ERRADO: O art. 132 da CF atribuiu aos procuradores dos estados e do Distrito

Federal exclusividade no exercício da atividade jurídica contenciosa e consultiva dos

órgãos e entidades das respectivas unidades federadas. Essa atividade não está

restrita ao Poder Executivo.

Q2º. CERTO: Segundo este princípio, os Procuradores dos Estados e do Distrito

Federal serão os únicos responsáveis pela representação judicial e pela consultoria

jurídica das respectivas unidades federadas.

6. Procuradores AUTÁRQUICOS

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que “a

representação judicial e extrajudicial dos órgãos da administração indireta é

de competência dos profissionais do corpo jurídico que compõem seus

respectivos quadros e integram advocacia pública cujas atividades são

disciplinadas em leis especificas. STF. Plenário. ADI 5262 MC/RR, Rel.

Min. Cármen Lúcia, julgado em 27 e 28/3/2019 (Info 935)

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que cria o cargo de

procurador autárquico em estrutura paralela à Procuradoria do Estado.

Também é inconstitucional dispositivo de constituição Estadual que

transforma os cargos de gestores jurídicos, advogados e procuradores

jurídicos em cargos de procuradores autárquicos. STF. Plenário. ADI

5215/GO, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27 e 28/3/2019

(Info 935).

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que os

procuradores autárquicos e os advogados de fundação terão competência

privativa para a representação judicial e o assessoramento jurídico dos órgãos

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da Administração Estadual Indireta aos quais vinculados, e que, para os

efeitos de incidência de teto remuneratório, eles serão considerados

“procuradores”, nos termos do art. 37, XI, da CF/88. STF. Plenário. ADI

4449/AL, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27 e 28/3/2019 (Info

935)

Votação: Unanimidade.

6.1. Situação FÁTICA.

Em 2014 foi editada uma emenda à Constituição do Estado de

Roraima prevendo que:

Art. 101-A. A representação judicial e extrajudicial dos órgãos da

administração indireta é de competência dos profissionais do corpo jurídico

que compõem seus respectivos quadros e integram advocacia pública cujas

atividades são disciplinadas em leis especificas. Parágrafo único. Os

profissionais do corpo jurídico da Procuradoria-Geral do Estado que integram

a advocacia pública continuarão a representar judicial e extrajudicialmente os

órgãos da Administração Indireta até o provimento dos cargos dos quadros

próprios dos mesmos.

As leis estaduais, portanto, deveriam criar um “corpo jurídico” que faria a representação judicial e extrajudicial nas entidades da

administração pública indireta. Em outras palavras, este dispositivo autorizou que fossem criadas procuradorias autárquicas para a

defesa das entidades.

6.2. Análise ESTRATÉGICA.

6.2.1. Questão JURÍDICA.

Como acabamos de ver, pelo princípio da unicidade da

representação judicial, só um órgão pode desempenhar as funções

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de representação judicial e de consultoria jurídica nos Estados e DF e

este órgão é a Procuradoria-Geral do Estado (ou PGDF).

Há apenas DUAS exceções a esse princípio: (1) a criação jurisprudencial e consiste na possibilidade de criação de procuradorias

vinculadas ao Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas, para a defesa de sua autonomia e independência perante os demais Poderes; (2)

será permitido aos Estados manter consultorias jurídicas separadas de suas Procuradorias-Gerais ou Advocacias-Gerais, desde que, na data

da promulgação da Constituição, tenham órgãos distintos para as

respectivas funções (ADCT, art. 69).

Logo, são inconstitucionais as leis estaduais que previam cargos de procurador jurídico em entidades da Administração Indireta com

atribuições próprias dos Procuradores do Estado (representação

judicial e consultoria jurídica).

6.2.2. Resultado final.

O Plenário, em julgamento conjunto de três ações diretas,

declarou a inconstitucionalidade de normas dos estados de Roraima, Goiás e Alagoas, que criam e disciplinam cargos jurídicos, bem como

definem atribuições de órgãos e entidades da Administração Pública

Estadual.

Considerou inconstitucional a norma que instituiu nova representação judicial e extrajudicial dos órgãos da Administração

Indireta, de responsabilidade “dos profissionais do corpo jurídico que compõem seus respectivos quadros”. Os preceitos violam os artigos

37, II, e 132 da CF. No mesmo sentido, declarou inconstitucionais as normas estaduais criaram cargos em entidades da Administração

Indireta com atribuições de Procuradoria de Estado.

NÃO se admite a criação de órgãos distintos das procuradorias

dos estados para a atividade de representação ou consultoria jurídica.

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7. Cargo em comissão de Procurador-Geral da UNIVERSIDADE

estadual

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

É constitucional lei estadual que preveja o cargo em comissão de Procurador-

Geral da universidade estadual. Esta previsão está de acordo com o princípio

da autonomia universitária (art. 207 da CF/88). STF. Plenário. ADI 5262

MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 27 e 28/3/2019 (Info 935).

Votação: Maioria.

7.1. Situação FÁTICA.

Lei estadual 581/2007, de Roraima, criou o cargo em comissão

de Procurador-Geral da Universidade Estadual de Roraima.

Pode? Como fica o princípio da unicidade?

7.2. Análise ESTRATÉGICA.

O STF considerou que esta previsão é constitucional e não viola

o princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal (art. 132 da CF/88). Isso porque está de acordo com o

princípio da autonomia universitária, consagrado no art. 207 da CF/88:

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica,

administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio

de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão

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PROCURADOR AUTÁRQUICO PROCURADOR-GERAL DE

UNIVERSIDADE

Princípio da unicidade de representação

(CF, art. 132)

Princípio da autonomia universitária

(CF, art. 207)

NÃO pode PODE

7.2.1. Votos divergentes.

Os ministros Marco Aurélio e Dias Toffoli afirmaram que, em se tratando de universidade, fundação ou autarquia, a representação

também deve ser feita pela procuradoria do estado.

7.2.2. Resultado final.

É constitucional lei estadual que preveja o cargo em comissão de

Procurador-Geral da universidade estadual. Esta previsão está de

acordo com o princípio da autonomia universitária (art. 207 da CF/88).

DIREITO ADMINISTRATIVO

8. Organização básica dos Ministérios é matéria DECISÓRIA do

Presidente da República

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Não é inconstitucional medida provisória que, ao tratar sobre os órgãos

vinculados à Presidência da República, confere status de Ministro de Estado

ao chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, ainda que seu titular

a ser nomeado, venha a ter foro por prerrogativa de função no STF. Não há

desvio de finalidade na edição deste ato. STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI

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5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber,

julgados em 27/3/2019 (Info 935).

Votação: ####Unanimidade Maioria##### .

8.1. Situação FÁTICA.

O então Presidente da República Michel Temer editou uma

medida provisória, que alterou a Lei nº 10.683/2003, que dispõe sobre

a organização da Presidência da República e dos Ministérios. Uma das mudanças implementadas pela MP foi a criação da Secretaria-Geral da

Presidência da República. A MP estabeleceu que o chefe dessa Secretaria-Geral ocuparia o cargo de Ministro de Estado. Michel Temer

nomeou, por decreto presidencial, o político Moreira Franco para o

referido cargo.

Foi ajuizada uma ADI contra esta medida provisória, em vista de Moreira Franco ser alvo de investigações criminais – a

transformação do cargo teria por objetivo conferir a ele foro por

prerrogativa de função no STF (art. 102, I, “b”, da CF/88).

8.2. Análise ESTRATÉGICA.

O STF entendeu que não restou configurado desvio de finalidade

na edição da medida provisória.

A referida MP, posteriormente convertida em lei, promoveu a

reestruturação organizacional no âmbito da Administração Pública

Federal.

A norma estabelece a organização básica dos Ministérios e demais órgãos ligados à Presidência da República. Trata-se, portanto,

de matéria que está no âmbito decisório do chefe do Poder Executivo da União, pois disciplina política administrativa de seu interesse e

competência.

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Por não ser matéria vedada a medida provisória, não há que se falar em ilegitimidade na escolha decisória. Não se sustenta, do ponto

de vista jurídico, o argumento de que a criação da Secretaria-Geral com status de Ministério de Estado implicaria burla aos postulados

constitucionais de moralidade e probidade na Administração, porque a criação ou extinção de ministérios e órgãos da Presidência também

está no campo de decisão do chefe do Poder Executivo.

A situação em tela espelha hipótese abstrata de criação de órgão,

que não está relacionado com o favorecimento de pessoa específica. A nomeação de determinada pessoa para o cargo de Ministro de Estado

é um ato subsequente e que, em princípio, está na alçada político-

administrativa do Presidente da República (art. 84).

O Min. Luis Roberto Barroso acrescentou que a escolha de Ministro de Estado é decisão política discricionária do Presidente da

República, insuscetível de exame no mérito. Concluir que dar foro

privilegiado é desvio de finalidade ou obstrução de justiça é entender

que a jurisdição do STF não funciona.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

9. Conflito FEDERATIVO

RECLAMAÇÃO

Não é qualquer causa envolvendo União contra Estado que irá ser julgada pelo

STF. Deve-se conferir interpretação restritiva ao art. 102, I, “f”, da CF/88,

sendo indispensável que, além de haver uma causa envolvendo União e

Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o pacto

federativo. Configura conflito federativo a ação na qual a União e o Estado-

membro, em polos antagônicos, discutem se determinado projeto se enquadra

como atividade de transporte de gás canalizado (art. 177, IV, da CF/88) ou

fornecimento de gás canalizado (art. 25, § 2º). STF. 2ª Turma. Rcl

4.210/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 26/3/2019

(Info 935).

Votação: Unanimidade.

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9.1. Situação FÁTICA.

A Petrobrás e a empresa White Martins celebraram parceria para liquefação e distribuição de gás natural oriundo da Bolívia até o

Município de Paulínia (SP) – Projeto Gemini. A Petrobras ficou responsável por fornecer gás natural à White Martins, mediante ramal

do gasoduto Brasil-Bolívia. Já a empresa privada é responsável por

transformar o gás natural em gás natural liquefeito (GNL).

A planta de liquefação está localizada no Município de Paulínia (SP), dentro da área do contrato de concessão de distribuição de gás

natural obtido pela Companhia de Gás de São Paulo (Comgás).

O Estado de São Paulo não concordou com esta parceria, por

entender que o serviço público de distribuição de gás canalizado é competência exclusiva do Estado (art. 25, § 2º da CF/88) e que o

contrato entre Petrobras e a White Martins violou essa competência.

A Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE), vinculada à Secretaria de Energia de SP, editou uma portaria para regular a

distribuição de gás canalizado oriundo de gasodutos de transporte. Essa portaria prejudicou a parceria entre a Petrobrás e a White Martins,

razão pela qual elas ajuizaram ação ordinária, na Justiça Federal de

São Paulo, contra o Estado de São Paulo e a CSPE questionando o ato.

Segundo as autoras, o fornecimento de gás canalizado desta parceria é mera atividade de transporte, de competência da União

(art. 177, IV, da CF/88).

A União e a Agência Nacional de Petróleo (ANP) requereram o

ingresso no feito como assistentes do polo ativo. O Juiz da 11ª Vara Federal da Seção Judiciária de São Paulo concedeu liminar para ordenar

que o Estado de São Paulo se abstivesse de praticar qualquer ato

contra o Projeto Gemini.

O Estado de São Paulo e a Comissão de Serviços Públicos de

Energia (CSPE) ajuizaram a Reclamação no STF alegando que o caso

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trata de conflito federativo, o que atrairia a competência do Supremo

para julgar a ação.

9.2. Análise ESTRATÉGICA.

9.2.1. Questão JURÍDICA.

Nos termos do art. 102, I, “f”, da CF/88:

CF, art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda

da Constituição, cabendo-lhe: I — processar e julgar, originariamente: f) as

causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal,

ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração

indireta.

É preciso, de toda forma, diferenciar conflito entre entes

federados e conflito federativo.

No conflito entre entes federativos, pelo prisma subjetivo,

observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da Federação. No conflito federativo, para além da participação desses

na lide, a conflituosidade da causa importa em potencial

desestabilização do próprio pacto federativo.

CONFLITO ENTRE ENTES

FEDERATIVO

CONFLITO FEDERATIVO

Trata-se de disputa judicial envolvendo a União (ou suas

Trata-se de disputa judicial envolvendo a União (ou suas entidades) e Estado-

membro (ou suas entidades) e que, em

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entidades) e Estado-membro (ou

suas entidades).

razão da magnitude possa gerar

desestabilização do próprio pacto federativo.

Julgado pelo juiz federal de 1ª

instância.

Julgado pelo STF (art. 102, I, “f” da

CF/88).

Há, portanto, distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o legislador constitucional restringiu a atuação do STF ao

conflito federativo.

9.2.2. No caso, houve conflito FEDERATIVO?

R: SIM.

A 2ª Turma considerou que existe, no caso, um conflito federativo. Tanto a competência dos Estados-membros encontra

limitações nas atividades abrangidas pelo monopólio da União, quanto o monopólio da União é limitado pela competência atribuída aos

Estados-membros. Há, pois, na verdade, uma limitação recíproca

estabelecida em razão do pacto federativo.

9.2.3. E como ficou o gás?

O debate judicial envolve a correta interpretação do art. 177, IV

e do art. 25, § 2º, ambos da CF/88.

CF, Art. 25. [...] § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante

concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a

edição de medida provisória para a sua regulamentação.”

CF, “art. 177. Constituem monopólio da União: [...] IV – o transporte marítimo

do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo

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produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo

bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem.”

A interpretação das normas constitucionais mencionadas conduz a conclusão de que se fixou uma gradação de competências para o

cuidado dos serviços de gás.

Assim, à União ficou reservado o monopólio do transporte de gás

da empresa produtora até as empresas distribuidoras em todo o país. Por outro lado, o cuidado jurídico e administrativo das relações

estabelecidas entre as empresas distribuidoras e os destinatários do produto ficou a cargo dos Estados-membros onde elas estiverem

localizadas.

Afirmou que compete “aos Estados explorar, diretamente, ou

mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado”, que corresponde, exatamente, à situação fática revelada nos autos (CF,

art. 25, § 2º)

9.2.4. Resultado final.

Julgou procedente a reclamação para determinar que a Justiça Federal de 1ª instância de São Paulo remeta ao STF a ação ordinária

que lá tramita.

Salientou que a situação fática disciplinada por ato normativo

emanado de agência reguladora controlada pelo estado de São Paulo não conflita com o monopólio da União, revelado no art. 177, IV, da CF

como “transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus

derivados e gás natural de qualquer origem”.

10. CONSTITUCIONALIDADE do art. 86 do ADCT

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

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É harmônica com a normatividade constitucional a previsão do art. 86 do

ADCT na dicção da EC 37/2002 de um regime de transição para tratar dos

precatórios reputados de pequeno valor, já expedidos antes da promulgação

da Constituição Federal. STF. Plenário. RE 587.982/RS e RE 796.939/RS, Rel.

Min. Edson Fachin, julgados em 27/3/2019 (repercussão geral) (Info 935)

Votação: Unanimidade.

10.1. Regime dos PRECATÓRIOS.

Quando a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou

Municipal é condenada a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento não é feito de maneira ordinária (é só pagar o dinheiro e

ponto)... tem toda uma mística (uma burocracia).

Os pagamentos, portanto, são feitos sob o regime especial

chamado de “precatório” (art. 100 da CF/88), que nada mais é do

que uma espécie de “fila” para pagamento.

CF, art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,

Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão

exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à

conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas

nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.

(Redação dada pela EC 62/2009).

Há, porém, uma exceção a esse regime, que é o caso das condenações de “pequeno valor”, quando o pagamento é feito por RPV

(requisição de pequeno valor).

CF, art. 100, § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição

de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis

como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de

sentença judicial transitada em julgado.

10.1.1. O que é PEQUENO valor?

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Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado

(União, Estado, DF, Município) por meio de leis específicas, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do

maior benefício do regime geral de previdência social (INSS).

Para as condenações envolvendo a União, pequeno valor

equivale a 60 salários mínimos (art. 17, § 1º, da Lei nº 10.259/2001).

10.1.2. E se houver omissão do ente federado em editar

lei prevendo esse quantum?

R: EC 37/2002.

A EC 37/2002 acrescentou o art. 87 ao ADCT da CF/88 prevendo

que, se o ente permanecesse omisso na definição do que é “pequeno

valor”, deveriam ser aplicados determinados parâmetros fixados.

ADCT, art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição

Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das

respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto

no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou obrigações

consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a:

I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito

Federal;

II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios.

Parágrafo único. Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido neste

artigo, o pagamento farse-á, sempre, por meio de precatório, sendo facultada

à parte exeqüente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa

optar pelo pagamento do saldo sem o precatório, da forma prevista no § 3º

do art. 100.

10.1.3. E quantos aos pequenos valores anteriores à EC

37/2002?

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R: Não podem ser pagos por RPV.

A EC 37/2002 trouxe uma espécie de regra de transição

estabelecendo que os débitos com precatório expedido que estavam pendentes de pagamento até a data de publicação da emenda, mesmo

que se enquadrem no conceito de “pequeno valor”, deverão ser pagos

por precatório.

ADCT, art. 86. Serão pagos conforme disposto no art. 100 da Constituição

Federal, não se lhes aplicando a regra de parcelamento estabelecida no caput

do art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, os débitos

da Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal oriundos de sentenças

transitadas em julgado, que preencham, cumulativamente, as seguintes

condições:

I - ter sido objeto de emissão de precatórios judiciários;

II - ter sido definidos como de pequeno valor pela lei de que trata o § 3º do

art. 100 da Constituição Federal ou pelo art. 87 deste Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias; III - estar, total ou parcialmente, pendentes de

pagamento na data da publicação desta Emenda Constitucional.

§ 1º Os débitos a que se refere o caput deste artigo, ou os respectivos saldos,

serão pagos na ordem cronológica de apresentação dos respectivos

precatórios, com precedência sobre os de maior valor.

§ 2º Os débitos a que se refere o caput deste artigo, se ainda não tiverem

sido objeto de pagamento parcial, nos termos do art. 78 deste Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias, poderão ser pagos em duas parcelas

anuais, se assim dispuser a lei. § 3º Observada a ordem cronológica de sua

apresentação, os débitos de natureza alimentícia previstos neste artigo terão

precedência para pagamento sobre todos os demais.

Em outras palavras, a EC 37/2002 proibiu a conversão dos

créditos já inscritos em precatório no momento da emenda em RPV. Se não fosse isso, muitos Estados e Municípios simplesmente não

conseguiriam pagar os RPVs já que, de uma hora para outra, seriam

obrigados a quitar inúmeras dívidas.

10.1.4. Os credores PIRAM!

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Os credores de quantias de “pequeno valor” não se conformaram com essa regra de transição e questionaram a constitucionalidade da

medida, chegando o tema até o STF – Tema 112 da repercussão geral,

(recurso extraordinário).

Mas o STF colocou água no chope da moçada.

Segundo os Ministros, o legislador constituinte reformador, ao

editar o art. 86 do ADCT, teve por objetivo conciliar a satisfação dos credores de dívidas de “pequeno valor” com o planejamento da

atividade financeira do Estado.

Portanto, não há arbitrariedade uma vez que se trata de regime

transitório com parâmetros razoáveis de satisfação dos créditos, em face do Poder Público. Não se extrai do Texto Constitucional qualquer

limitação de ordem substancial, para que o Constituinte disponha sobre

a sistemática dos precatórios, tal como foi posto na EC 37/2002.

10.1.5. Resultado final.

A instituição do regime transitório do art. 86 do ADCT é decisão

constituinte adequada e possível para conciliar a satisfação dos débitos de pequena monta de credores da Fazenda Pública e o planejamento

da atividade financeira do Estado.

O Tribunal salientou que a alteração formal do texto

constitucional em questão não consiste em discrimen arbitrário nem violação substancial à igualdade fática entre os credores do poder

público, haja vista a finalidade constitucional de eficiência organizativa

e continuidade do Estado Fiscal.

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11. In dubio pro SOCIETATE na fase da pronúncia

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Para a pronúncia, não se exige uma certeza além da dúvida razoável,

necessária para a condenação. Contudo, a submissão de um acusado ao

julgamento pelo Tribunal do Júri pressupõe a existência de um lastro

probatório consistente no sentido da tese acusatória. Ou seja, requer-se um

standard probatório um pouco inferior, mas ainda assim dependente de uma

preponderância de provas incriminatórias. STF. 2ª Turma. ARE

1067392/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/3/2019 (Info

935).

Votação: Maioria.

11.1. Situação FÁTICA.

Os recorrentes foram denunciados pela suposta prática do delito

previsto no art. 121, § 2º, I, III e IV, do Código Penal (CP). Após o regular trâmite da instrução, os réus foram impronunciados pelo juízo

de primeiro grau, nos termos do art. 414 do Código de Processo Penal.

O magistrado consignou que: “não vislumbro nos autos qualquer indício de autoria do crime ora perpetrado que possa ser atribuído ao

réu, pois as testemunhas presenciais não o viram golpeando a vítima.” Os únicos relatos incriminadores são da mãe e da esposa da vítima,

mas nenhuma delas presenciou efetivamente os fatos. Elas teriam

apenas “ouvido dizer” que os réus foram autores do homicídio.

O Ministério Público interpôs apelação, que foi provida, com fundamento no princípio do in dubio pro societate, para que eles

fossem pronunciados – havendo dúvida, deve ela ser resolvida em

favor da pronúncia.

11.2. Análise ESTRATÉGICA.

11.2.1. Questão JURÍDICA.

####

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11.2.2. O que é in dubio pro societate?

R: Em uma tradução literal, seria algo como “na dúvida, em favor da sociedade”. Significa que, na dúvida, havendo indícios mínimos da

autoria, deve-se dar prosseguimento à ação penal, ainda que não se tenha certeza de que o réu foi o autor do suposto delito. Contrapõe-se

ao in dubio pro reo (“na dúvida, em favor do réu”).

A doutrina garantista hiperbólica monocular critica a existência

desse princípio, afirmando que ele é contrário às garantias conferidas

(em algum ou todo lugar) aos réus.

Apesar disso, a jurisprudência majoritária continua aplicando

esse princípio em duas fases: (a) denúncia e (b) pronúncia.

Na fase de deliberação quanto à possibilidade de recebimento da denúncia,

na qual vigora o princípio do in dubio pro societate, afigura-se como suficiente

para que se autorize a instauração da ação penal tão somente a existência de

indícios suficientes de autoria e materialidade. STF. 1ª Turma. AO 2275, Rel.

Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2018.

No momento da denúncia, prevalece o princípio do in dubio pro societate. STF.

1ª Turma. Inq 4506/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto

Barroso, julgado em 17/04/2018 (Info 898)

Na sentença de pronúncia deve prevalecer o princípio in dubio pro societate,

não existindo nesse ato qualquer ofensa ao princípio da presunção de

inocência, porquanto tem por objetivo a garantia da competência

constitucional do Tribunal do Júri. STF. 2ª Turma. ARE 986566 AgR, Rel. Min.

Ricardo Lewandowski, julgado em 21/08/2017.

Nos crimes dolosos contra a vida, o princípio in dubio pro societate é amparado

pela Constituição Federal, de modo que não há qualquer inconstitucionalidade

no seu postulado. STF. 2ª Turma. ARE 1082664 ED-AgR, Rel. Min. Gilmar

Mendes, julgado em 26/10/2018

O Min. Gilmar Mendes (esse mesmo que acabamos de citar aí em cima), com a coerência que lhe é característica, fez críticas ao in dubio

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pro societate afirmando que tal princípio não encontra amparo constitucional ou legal e “acarreta o completo desvirtuamento das

premissas racionais de valoração da prova”.

Além disso, segundo ele, o princípio desvirtua por completo o

sistema bifásico do procedimento do júri brasileiro, esvaziando a função da decisão de pronúncia – a primeira fase do procedimento do

Júri consolida um filtro processual, que busca impedir o envio de casos

sem um lastro probatório mínimo da acusação.

Ainda que represente uma abertura para o exercício

democrático e a manifestação do povo na justiça criminal, o Júri

Popular ocasiona riscos em razão da falta de conhecimentos jurídicos pelos jurados e da ausência do dever de motivação do veredicto.

Diante disso, são estabelecidos mecanismos para reduzir tais riscos de arbitrariedades e, um deles, sem dúvidas, é a necessidade de uma

análise prévia do caso por um juiz togado, que condiciona o envio do processo ao Tribunal do Júri. A pronúncia é uma forma de garantir

que o acusado seja submetido a um julgamento injusto.

Assim, não deveria ser aplicado o princípio do in dubio pro

societate por duas razões: 1) por absoluta ausência de previsão legal; 2) em razão da existência expressa do princípio da presunção de

inocência, que faz com que seja necessário adotar o princípio do in

dubio pro reo.

11.2.3. STANDARD probatório

A questão em debate deve ser resolvida a partir da teoria da prova no processo penal, em uma vertente cognitivista, a qual dispõe

de critérios racionais para valoração da prova e standards probatórios

a serem atendidos para legitimação da decisão judicial sobre fatos.

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Os standards probatórios (modelos de constatação) são

níveis de convencimento ou de certeza, que servem de critério para

que seja proferida decisão em determinado sentido.

Para a pronúncia, não se exige uma certeza além da dúvida

razoável, necessária para a condenação. Contudo, a submissão de um acusado ao julgamento pelo Tribunal do Júri pressupõe a existência de

um lastro probatório consistente no sentido da tese acusatória. Ou seja, requer-se um standard probatório um pouco inferior, mas ainda

assim dependente de uma preponderância de provas incriminatórias.

Surge a necessidade de adoção de uma teoria racionalista da

prova, em que, embora inexistam critérios de valoração rigidamente definidos na lei, o juízo sobre fatos deva ser orientado por critérios de

lógica e racionalidade, passíveis de controle em âmbito recursal

ordinário.

Assim, a valoração racional da prova impõe-se constitucionalmente, a partir do direito à prova (CF, art. 5º, LV) e do

dever de motivação das decisões judiciais (CF, art. 93, IX).

No caso em comento, verifica-se a existência de preponderância

de provas no sentido da não participação dos imputados nas agressões

que ocasionaram o falecimento da vítima. E se houver dúvida sobre a preponderância de provas, deve ser aplicado o in dubio pro reo: CF,

art. 5º, LVII; Convenção Americana de Direitos Humanos, art. 8.2; e

CP arts. 413 e 414.

11.2.4. Votos divergentes.

Vencidos os ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia, tão somente em relação à concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus. Ambos

entenderam que o acórdão recorrido reconheceu haver a presença de acervo probatório mínimo a levar o processo para a apreciação do

tribunal do júri, a incidir o princípio in dubio pro societate.

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11.2.5. Resultado final.

A Segunda Turma, com base no art. 21, § 1º (1), do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF), negou seguimento a

recurso extraordinário interposto em face de acórdão que pronunciou acusados da prática de homicídio doloso. Entretanto, por maioria,

concedeu, de ofício, a ordem de habeas corpus para restabelecer sentença de impronúncia anteriormente proferida por magistrado de

primeiro grau.

STANDARDS probatórios In dubio pro SOCIETATE

A submissão de um acusado ao julgamento

pelo Tribunal do Júri pressupõe a existência

de um lastro probatório consistente no

sentido da tese acusatória

Se há acervo probatório mínimo,

deve-se levar o processo para a

apreciação do tribunal do júri.

3 2

11.3. Questões objetivas: CERTO ou ERRADO.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O STF não adota mais o princípio do in dubio

pro societate na fase de pronúncia.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O in dubio pro reo é a regra geral no processo

penal.

11.4. Gabarito.

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Q1º. ERRADO: apesar das críticas tecidas, não se pode dizer que o STF tenha

abandonado a aplicação do princípio do in dubio pro societate na fase de pronúncia.

O que o STF fez foi entender que, no caso específico, não havia provas suficientes à

pronúncia. Veremos como ficará em casos futuros...

Q2º. CORRETO: a jurisprudência só admite o in dubio pro societate nas fases de

denúncia e pronúncia.

***

Concurso público tem muito mais a ver com resiliência do que com inteligência. Por isso, só abaixe a cabeça se for para estudar um pouco mais!