InformeConjunturalAbril-Junho2015

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Informe Conjuntural 2015

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    2000 2003 2006 2009 2012 2015*

    A economia brasileira no segundo

    trimestre de 2015

    Indstria ainda distante de uma reao

    Mercado de trabalho deteriora-se em 2015

    Inflao se aproxima do teto da meta no acumulado do primeiro semestre

    Cumprimento da meta de supervit primrio torna-se improvvel

    Comrcio externo atenua os efeitos da reduo da demanda interna

    A economia brasileira mostrou forte deteriorao no primeiro semestre de 2015. A alta da inflao e o aprofundamento da recesso que j alcana outros setores da economia e no apenas a indstria so dois fatores que explicitam essa situao. Entre as causas imediatas dessa deteriorao podemos citar o desajuste das contas pblicas, muito mais grave que inicialmente conhecido, e o processo de correo de preos administrados.

    As dificuldades atuais no so devidas unicamente ao ajuste macroeconmico em curso, ainda que esse aprofunde a recesso. De fato, o Brasil se depara atualmente com uma conjugao perversa de causas conjunturais e estruturais que limitam nosso desempenho.

    Recuperao da economia s dever ocorrer em 2016Persistncia no ajuste econmico precisa ser acompanhada de medidas pr-competitividade

    INFORMECONJUNTURAL

    Informativo CNIISSN 1983-621X Ano 31 Nmero 02 abril/junho de 2015

    Crescimento sustentado requer controle da inflaoVariao anual do PIB e da taxa de inflaoVariao percentual (%)

    (continua)

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    Fonte: IBGE - * Projeo da CNI

    AT I V I D A D E E C O N M I C A

    E M P R E G O E R E N D A

    P O L T I C A F I S C A L

    S E TO R E X T E R N O

    I N F L A O , J U R O S E C R D I TO

    PIB Inflao

  • Informe ConjunturalISSN 1983-621X Ano 31 Nmero 02 abril/junho de 2015

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    O resultado negativo do PIB no primeiro trimestre e as estatsticas (de situao atual e perspectivas) j disponveis para a maior parte do segundo trimestre sugerem que a economia brasileira sofrer significativa retrao em 2015. Os ajustes fiscal e monetrio ne-cessrios para recompor os fundamentos macroeconmicos do pas vieram acompanhados de tmidas medidas pr competitividade, tornando a deteriorao da atividade mais intensa, o que deve retar-dar a recuperao da economia.

    Como o ambiente de maior previsibilidade aos agentes econmicos ainda est sendo reconstrudo (equalizao das contas pblicas e con-trole inflacionrio) e os estmulos ao investimento privado s devem ter impactos, de forma expressiva, a partir de 2016 (Plano Nacional de Exportao e Programa de Investimentos em Logstica), avaliamos

    Indstria ainda distante de uma reaoConsumo enfraquecido tambm impe queda ao setor de servios em 2015

    O PIB brasileiro deve registrar queda de 1,6% em 2015

    A pedra angular o reequilbrio das contas pblicas

    que o PIB voltar a crescer mo-deradamente apenas no quarto trimestre ainda sem caracte-rizar recuperao , fechando o ano de 2015 com queda de 1,6%.

    A indstria a principal res-ponsvel pelo desempenho ne-gativo da atividade, do lado da oferta. Considerando o perodo de janeiro a maio, a produo industrial caiu 6,9% em 2015 na comparao com 2014 (PIM-PF/IBGE).

    O ajuste econmico continuar afetando a atividade no segundo se-mestre. Para 2015, a CNI estima que a inflao permanea em torno de 9% ao ano e que o PIB registre retrao de 1,6%, com queda de 6,4% da indstria de transformao e de 7,7% do investimento. O setor externo contribuir positivamente, em 0,9%, atenuando a re-trao do PIB, por conta, principalmente, da queda das importaes.

    Entre os fatores para o recuo do PIB, destaca-se a queda na deman-da das famlias, que se deve ao aumento do desemprego, corroso inflacionria na renda, s restries do financiamento pela alta dos juros e pela capacidade limitada de endividamento adicional. A que-da do investimento explica-se pela existncia de capacidade ociosa, alm da forte incerteza e do elevado custo do capital. Os problemas do setor de petrleo e gs, grande alavanca do investimento nos lti-mos anos, tambm restringem a retomada do investimento.

    possvel que o fundo do poo seja alcanado no segundo semes-tre, e uma gradual recuperao se inicie em 2016. As janelas de sada podem ser as exportaes e o investimento em infraestrutura. Todavia, ambos tm impacto limitado no curto prazo e dependem de coordenao adequada de polticas para se materializarem. Nesse sentido, avanos na agenda da competitividade so crticos no s no presente como tambm para preparar a economia para uma re-tomada do crescimento no futuro.

    A melhoria do ambiente de negcios com aperfeioamento de marcos regulatrios e reduo da burocracia faz parte dessa agen-da. So aes de baixo custo fiscal, mas que exigem coordenao de polticas e comprometimento poltico. A racionalizao do sistema tributrio, principalmente nos tributos sobre circulao de bens e servios, que impactam negativamente a competitividade, tambm deve fazer parte desse esforo estruturante.

    AT I V I D A D E E C O N M I C A

    A pedra angular o reequilbrio das contas pblicas. indis-pensvel assegurar aos agentes produtivos e consumidores que o crescimento dos gastos est sendo contido. Apenas assim, as incertezas quanto extenso do ciclo de ajuste fiscal e monetrio sero eliminadas.

    Essa uma condio bsica recuperao da confiana na economia e para o retorno das decises privadas de consumo e investimento. Sem a conten-o do gasto pblico haver presses para aumento de carga tributria ou elevao da dvida. Ambos so inaceitveis.

    Infelizmente, as aes recentes emitem sinais preocupantes. Medidas aprovadas pelo Con-gresso Nacional apontam para a contnua promoo de elevao de custos para as empresas e de aumento de gasto pblico. Se no forem evitadas, tais iniciati-vas iro reduzir nossa competiti-vidade e comprometer a retoma-da do crescimento, prolongando a estagnao da economia.

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    Retomada da confiana ser fundamental para que a indstria volte a investir e crescerndice de Confiana do Empresrio Industrial (ICEI) e ndice de Inteno de InvestimentoEm pontos

    O quadro ainda pior quando a avaliao se restringe indstria de transformao. A queda na produo desse segmento de 9,0%, tam-bm no acumulado dos cinco primeiros meses do ano, com destaque para os bens de capital, que caram 20,6%. Alm disso, chama ateno a disseminao dos resultados negativos entre os setores da inds-tria de transformao: todos os 25 setores pesquisados apresentaram retrao da produo entre janeiro e maio de 2015 (PIM-PF/IBGE).

    A queda na produo acompanhada pela queda de 7,3% do fatu-ramento real da indstria nos cinco primeiros meses de 2015, em relao ao mesmo perodo de 2014 (Indicadores Industriais/CNI).

    O desaquecimento da atividade industrial tambm percebido na trajetria dos estoques e da Utilizao da Capacidade Instalada (UCI). O indicador de estoque efetivo em relao ao planejado, refe-rente s empresas de grande porte, subiu para 56,7 pontos em maio, mantendo-se distante da linha divisria dos 50 pontos, o que indica grande volume de estoques indesejados na indstria (Sondagem In-dustrial/CNI).

    As empresas tm reduzido o uso de suas instalaes produtivas como resposta ao aumento dos estoques e retrao da demanda. Em maio, a UCI mdia da indstria de transformao foi de 80,1% de acordo com o ndice dessazonalizado nvel mais baixo desde maro de 2009 (Indicadores Industriais/CNI).

    Com estoques indesejados, ociosidade do parque fabril, reduo do faturamento e expectativa de fraca demanda, ajustes no quadro de trabalhadores tornaram-se recorrentes na indstria. Na compara-o dos cinco primeiros meses deste ano com o mesmo perodo de 2014, nota-se reduo de 4,5% no nvel de emprego da indstria de transformao (Indicadores Industriais/CNI).

    A realidade da indstria da cons-truo no diferente. Segundo a Sondagem Indstria da Constru-o/CNI, as empresas desse seg-mento tm apresentado sucessi-vas quedas no nvel de atividade, retrao no nmero de novos empreendimentos e servios, bai-xo nvel da Utilizao da Capaci-dade de Operao (UCO) e redu-o no nmero de trabalhadores.

    Outro segmento industrial para o qual projetamos dificuldades em 2015 o SIUP (Servios In-dustriais de Utilidade Pblica), que engloba, entre outras ativi-dades, a produo e distribuio de energia eltrica, bem como a captao, tratamento e distribui-o de gua. Em razo do dfi-cit hdrico e energtico dos pri-meiros meses do ano, tal como o acentuado encarecimento do preo da energia eltrica, enten-demos que o SIUP deve regis-trar contrao em 2015, como j ocorreu no ano passado.

    No sentido contrrio, a indstria extrativa provavelmente ter

    Confiana Inteno de Investimento

    Fonte: CNIOs dois ndices referem-se indstria total (transformao, extrativa e construo).O ICEI varia de 0 a 100 pontos. Valores acima de 50 indicam empresrios confiantes.O ndice de Inteno de Investimento varia de 0 a 100 pontos. Quanto maior o ndice, maior a propenso a investir da indstria.

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    mdia histrica 56,1

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    os a uma reduo de 1,0% este ano. O setor, que vinha liderando o crescimento da economia no perodo mais recente, registrou contra-o pela ltima vez h mais de 20 anos.

    Os resultados do comrcio varejista ilustram bem esse quadro. O vo-lume das vendas contabilizado de janeiro a abril deste ano foi 6,1% menor que o volume apurado nos mesmos meses de 2014 (PMC/IBGE). O dado de licenciamento de veculos, divulgados pela Anfa-vea, corrobora esse cenrio, j que registra baixa de 20,7% no pri-meiro semestre de 2015, comparado ao mesmo semestre de 2014.

    A agropecuria deve ser o nico segmento produtivo a crescer em 2015. Projetamos alta de 2,3%, acima da taxa apurada em 2014, de 0,4%.

    Do lado da demanda, o consumo das famlias, que j vinha desacele-rando consideravelmente nos ltimos anos, deve sofrer retrao em 2015. A CNI prev queda de 1,2%. Se confirmado, esse resultado ser o pior desde 2003. O movimento de baixa explicado pela extenso da poltica monetria restritiva, piora no mercado de trabalho, maior comprometimento da renda das famlias, taxa de inflao persisten-temente elevada, condies adversas de acesso ao crdito e aperto fiscal em curso.

    O investimento (Formao Bruta de Capital Fixo FBCF), varivel crtica para o crescimento sustentado, deve voltar a cair em 2015. A queda estimada em 7,7% est associada, principalmente, retrao da indstria de transformao, importante consumidora de mqui-nas e equipamentos, bem como contrao da indstria da cons-truo, responsvel por mais da metade da composio da FBCF no Brasil. Com isso, a taxa de investimento (FBCF em proporo do PIB) deve cair de 19,7% em 2014 para 18,5% em 2015.

    Entre os fatores mais relevantes para o menor investimento, pode-mos citar: o aumento da taxa bsica de juros, que reduz a expec-tativa de demanda e aumenta o custo de oportunidade do capital; os desdobramentos do caso Petrobras; e o ambiente de incertezas provocado pela dificuldade de se aprovar parte das medidas que compem o pacote fiscal em tramitao no Congresso Nacional.

    Frente ao atual quadro fiscal do pas, a CNI projeta queda de 0,6% no consumo do governo em 2015.

    Com a depreciao sofrida pela moeda brasileira, principalmente no primeiro trimestre, as exportaes devem aumentar 1,8% em 2015. O crescimento no ser maior porque o cmbio mais favorvel de-mora a se refletir na estratgia de comercializao das empresas, j que o processo de exportao geralmente respeita relaes con-tratuais de longo prazo, dificultando uma reinsero imediata no mercado internacional, especialmente no caso dos produtos manu-faturados. Alm disso, a perda de competitividade dos ltimos anos afastou a indstria brasileira de diversos mercados e essa retomada pode ser lenta e custosa.

    No sentido contrrio, as importaes devem cair em 2015. Com des-valorizao da taxa de cmbio, a forte queda do consumo das fam-lias e a retrao da indstria de transformao, estimamos que as importaes diminuam 4,7% este ano.

    Dado o crescimento das exportaes e, principalmente, a queda das importaes, a contribuio lquida do setor externo no crescimento do PIB deve ser de 0,9% em 2015.

    desempenho positivo este ano, embora o ritmo de expanso estimado seja um pouco inferior ao apurado em 2014. A manuteno do crescimento advm, principalmente, do aumento na produo de petrleo. Os resultados at maio mostram cres-cimento de 9,9% na produo fsica da indstria extrativa (PIM-PF).

    Nesse ambiente, o ndice de Confiana do Empre-srio Industrial (ICEI/CNI) segue oscilando em bai-xo patamar. Em junho, o ndice marcou 38,9 pon-tos, 17,2 pontos a menos que sua mdia histrica. Esse resultado indica que a baixa confiana segue intensa e disseminada por toda a indstria.

    Sem perspectivas de reverso do cenrio adverso no curto prazo, os empresrios da indstria tm se mostrado pouco inclinados ao investimento. O ndice de Inteno de Investimento (lanado pela CNI este ano) acumula queda de 11,2 pontos entre junho de 2014 e junho de 2015.

    Feito o balano entre os segmentos industriais avaliados at aqui, prevemos uma queda de 3,8% para o PIB da indstria em 2015, marcando a se-gunda queda anual consecutiva. A retrao se deve s quedas das indstrias de transformao (- 6,4%), da construo (- 5,2%) e SIUP (- 6,8%). A indstria extrativa, por sua vez, deve avanar 6,9% em 2015.

    A queda da indstria, somada ao menor poder de consumo das famlias, deve levar o setor de servi-

    Estimativa do PIB para 2015 Variao percentual dos componentes do PIB

    COMPONENTES DO PIB Taxa de variao (%)

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    Consumo das famlias -1,2

    Consumo do governo -0,6

    FBCF -7,7

    Exportaes 1,8

    (-) Importaes -4,7

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    Agropecuria 2,3

    Indstria -3,8

    Indstria extrativa 6,9

    Ind. de transformao -6,4

    Construo civil -5,2

    SIUP -6,8

    Servios -1,0

    PIB -1,6

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    O mercado de trabalho deterio-rou-se nos primeiros cinco me-ses de 2015. Todas as pesquisas que contemplam indicadores de emprego e renda apontam cenrio semelhante: taxa de de-semprego em alta, queda no em-prego em praticamente todos os setores da economia e retrao dos rendimentos mdios reais. A perspectiva de piora do merca-do de trabalho para os prximos meses.

    TAXA DE DESEMPREGO AU-MENTA E SINALIZA VOLTA A PA-TAMAR DE DOIS DGITOS. A taxa de desemprego medida pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME/IBGE) subiu para 6,7% da Populao Economicamente Ativa (PEA) em maio. Esse per-

    Mercado de trabalho deteriora-se em 2015Taxa de desemprego em alta, queda na ocupao e arrefecimento dos rendimentos marcam os primeiros meses de 2015

    centual o maior para o ms dos ltimos quatro anos. Em relao a maio de 2014, houve um aumento de 1,8 ponto percentual (p.p.). Feito os ajustes sazonais, a taxa subiu de 6,0% em abril para 6,3% em maio.

    O indicador de desemprego medido pela Pnad-Contnua (Pnad-C) corrobora a deteriorao verificada nos indicadores da PME. No tri-mestre encerrado em abril, a taxa de desemprego registrou 8,0% da PEA, um aumento 0,9 p.p. em relao ao registrado no mesmo perodo de 2014. Essa a maior taxa para o intervalo de fevereiro a abril desde o incio da srie histrica, iniciada em 2012. Para o final do ano, h expectativas de que a taxa de desemprego medida pela Pnad-C alcance dois dgitos.

    A trajetria da taxa de desemprego segue explicada pela cont-nua retrao na ocupao em 2015. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED/MTE), a economia perdeu 115,6 mil postos de trabalho formais somente em maio. No acumulado dos cinco primeiros meses do ano, houve perda de 278,3 mil empregos. Esse o pior resultado no perodo desde 2002, quando teve incio a srie histrica. Nos ltimos 12 meses terminados em maio, a economia j acumula perda de 593,3 mil empregos formais.

    E M P R E G O E R E N D A

    Observada Dessazonalizada*

    Fonte: PME/IBGE - * Elaborao: CNI.

    Taxa de desemprego segue em alta e registra pior resultado dos ltimos quatro anos Taxa de desemprego nas regies metropolitanasEm % da PEA

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    A indstria continua sendo o setor com maior perda de postos de tra-balho. Somente nos primeiros cin-co meses de 2015, o setor perdeu 215,7 mil empregos formais. No acumulado dos ltimos 12 meses terminados em maio, a perda foi de 687,5 mil vagas. Considerando apenas a indstria de transforma-o, constata-se reduo de 340,2 mil postos de trabalho nos ltimos 12 meses. A indstria da constru-o outro segmento que mostra forte retrao no nmero de em-pregados, com queda de 334 mil vagas nos ltimos 12 meses.

    Adicionalmente, a PEA segue em expanso, o que pressiona ain-da mais a taxa de desemprego. Em maio, a PEA apresentou um aumento de 1,2% na compara-o com o mesmo ms do ano anterior. Em abril e maro houve crescimento de 0,9% e 0,3%, res-pectivamente, na mesma base de comparao. No acumulado do ano at maio, a PEA apresen-tou aumento de 0,5% na compa-rao com o mesmo perodo de 2014. Essa mesma comparao, quando feita entre 2014 e 2013, apontava queda de 0,8% da PEA.

    Os impactos da fraca atividade econmica e da presso inflacionria devem manter a trajetria de expanso da PEA em 2015, na medida em que mais indivduos busquem opes de rendimento para as famlias.

    Diante deste cenrio, projetamos que a taxa mdia de desemprego metropolitano alcance 6,7% da PEA em 2015.

    RENDIMENTO MDIO REAL E MASSA SALARIAL REAL REGISTRAM FORTE QUEDA EM 2015. O rendimento mdio real habitualmente re-cebido pelos trabalhadores metropolitanos caiu significativamen-te nos primeiros meses de 2015. O indicador fechou o ms de maio com queda de 5,0% na comparao com o mesmo perodo do ano anterior. Essa quarta queda mensal consecutiva. A ltima reduo to substancial ocorreu em fevereiro de 2004, quando o indicador caiu 4,8% em relao a fevereiro de 2003.

    Para 2015, espera-se a continuidade do recuo do rendimento m-dio real, tanto por influncia das presses inflacionrias sobre o poder de compra dos trabalhadores, quanto pela retrao no em-prego em funo da baixa atividade econmica. Esse ltimo efeito potencializado pela reduo mais acentuada do emprego formal, uma vez que esse tipo de ocupao possuiu remunerao mais ele-vada que a mdia. Nesse cenrio, espera-se uma queda de 2,5% na renda mdia real, em 2015, ante crescimento de 2,7% registrado em 2014.

    A queda na ocupao e no rendimento mdio real impacta fortemente a massa salarial real, que vinha crescendo, ininterruptamente, desde 2004. Em maio, o indicador totalizou quatro meses consecutivos de queda, registrando recuo de 5,7% na comparao com o mesmo ms de 2014. A CNI prev uma retrao de 3,5% da massa salarial real em 2015. Esse ser o pior resultado anual para o indicador na srie histrica iniciada em 2002.

    Rendimento mdio real Massa salarial real

    Fonte: IBGE

    Retrao no rendimento mdio real e na ocupao compromete crescimento da massa salarial real em 2015

    Rendimento Mdio Real e Massa salarial realVariao (%) frente ao mesmo ms do ano anterior

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    Inflao se aproxima do teto da meta no acumulado do primeiro semestreAjustes de preos relativos pressionam a inflao no primeiro semestre de 2015

    I N F L A O , J U R O S E C R D I TO

    A inflao segue em ascenso no segundo trimestre de 2015, embo-ra com menor intensidade que no primeiro trimestre. O IPCA variou 2,3% no trimestre encerrado em junho, ante 3,8% no finalizado em maro. No acumulado em 12 meses, o ndice alcanou 8,9%, em ju-nho, ante 6,5% no mesmo perodo de 2014.

    No primeiro semestre do ano, o IPCA acumulou alta de 6,2%, n-vel superior meta estabelecida pelo Conselho Monetrio Nacional (CMN). A acelerao da inflao nesse perodo reflete, principalmen-te, os ajustes de preos relativos realinhamento tanto dos preos administrados em relao aos livres como dos preos domsticos em relao aos internacionais. Entre os grupos que compem o IPCA, o de preos administrados e o de alimentos e bebidas foram os que mais impactaram os preos neste incio de ano.

    No acumulado em 12 meses at junho, o conjunto de preos admi-nistrados atingiu variao de 13,8%, ante 4,1% no mesmo perodo do ano anterior. No ano, apresenta alta de 10,1%. Esse avano con-sidervel nos preos administrados no primeiro semestre de 2015 ocorreu principalmente pelo ajuste de 42,0% nos preos de energia, alm do aumento nos preos da gasolina, de 9,2%, e de produtos farmacuticos, de 6,0%. Para o segundo semestre, a expectativa de ajustes moderados no preo de energia eltrica, o que dever atenuar o avano dos preos administrados. Uma eventual presso de alta no IPCA est associada ao provvel aumento no preo da

    Preos administrados aceleram no primeiro semestreIPCA por gruposAcumulado em 12 meses (%)

    Administrados Industriais Alimentao Servios IPCA

    Fonte: IBGE - Elaborao: CNI

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    gasolina, visto como uma ma-neira de neutralizar o efeito da desvalorizao cambial e de ali-nhar os preos domsticos com as cotaes internacionais. Ain-da assim, acredita-se que esses ajustes traro menor presso in-flacionria que os ocorridos no primeiro semestre do ano. Desta forma, a CNI espera um aumento de 13,3% nos preos administra-dos em 2015.

    O grupo de alimentos e bebidas foi o segundo que mais impac-tou o ndice total. No acumulado em 12 meses terminados em ju-nho, a taxa atingiu 9,6%, maior que a 7,5% observada no mesmo perodo de 2014. Apenas no pri-meiro semestre de 2015, o grupo acumulou alta de 6,6%. Diversos fatores contriburam para esse comportamento dos preos dos

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    Nova sinalizao do Banco Central tem surtido efeito sobre as expectativas de inflao de mdio e longo prazo

    alimentos. Dentre eles podemos citar trs relevantes. Primeiro, os problemas climticos que afetaram a oferta de determinados pro-dutos agrcolas. Segundo, o impacto da desvalorizao cambial nos preos, que se deu tanto pelo aumento do custo de importao de insumos, quanto pelo direcionamento da produo ao mercado in-ternacional. Por fim, o encarecimento do custo de produo causado pelo aumento dos preos da gua, dos combustveis e da energia eltrica. Para 2015, a CNI estima um aumento de 10,9% nos preos de alimentos e bebidas.

    Os preos dos produtos industriais apresentaram alta acumulada em 12 meses de 4,5% em junho, ante 5,5% no mesmo perodo em 2014, portanto, abaixo da mdia da inflao geral. Nos seis primei-ros meses do ano, a alta acumulou 3,0%. Dentre outros fatores que contriburam para modesta variao nos preos do grupo est o fra-co desempenho da demanda, que dificulta os repasses da desvalori-zao cambial e da elevao da tarifa de energia para os preos aos consumidores. A expectativa que esse comportamento se man-tenha durante o restante de 2015, dada esperada manuteno do cenrio econmico adverso. Com isso, projetamos que os preos dos produtos industriais encerrem o ano com variao de 4,8%.

    O grupo de servios variou 8,0% em 12 meses at junho, ante 9,3% no mesmo perodo de 2014. No ano, acumula alta de 5,1%. A despei-to da fraca atividade econmica e a piora no mercado de trabalho, com impactos na renda real das famlias, o grupo mostrou modesto arrefecimento em comparao ao ano anterior. A principal razo est na inrcia caracterstica do grupo, na medida em que seus preos so diretamente afetados por reajustes indexados inflao passada e ao salrio mnimo. Essa rigidez nos preos de servios permitiu um repasse, mesmo que parcial, do aumento dos preos administrados, em especial o de energia, para os preos do grupo. Desta forma, a CNI

    Expectativas de inflao mais favorveis a mdio prazoInflao segundo a pesquisa FocusExpectativa para o ano (%)

    Fonte: Banco Central do Brasil

    09/01/2015 03/07/2015

    estima uma moderada queda no ritmo de crescimento dos preos de servios para 2015. Assim, o grupo encerraria o ano com alta de 7,4%.

    A expectativa da CNI que o IPCA atinja 9,1% no acumulado do ano em 2015, situando-se significativamente acima do topo da banda estipulada pelo programa de metas de inflao.

    CONVERGNCIA DA INFLAO PARA O CENTRO DA META DEVE ACONTECER A PARTIR DE 2016. O Banco Central optou por dar con-tinuidade ao ciclo de aumento de juros no segundo trimestre. Com isso, elevou a Selic para 13,75% 0,5 ponto percentual (p.p) em cada uma das reunies, realiza-das em abril e em junho. Desde a retomada do ciclo, em outubro passado, a taxa bsica de juros acumula alta de 2,75 p.p.

    As presses inflacionrias mais intensas que as projetadas ini-cialmente evidentemente con-triburam para os sucessivos au-mentos na taxa bsica de juros. Contudo, acredita-se que a ex-tenso do ciclo de alta, mesmo frente a um cenrio de forte re-trao da atividade econmica, teve como objetivo resgatar a credibilidade do Banco Central, comprometida nos ltimos anos. Esse resgate essencial para ancorar as expectativas e, con-sequentemente, conduzir a in-flao para o centro da meta em 2016. Para reafirmar o compro-metimento da autoridade mone-tria com o controle de preos, o CMN reduziu os limites de tole-

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    rncia inflao para 2017, em-bora tenha mantido a meta de 4,5%. O intervalo de tolerncia passou de 2,0 p.p para 1,5 p.p., limitando a banda de flutuao entre 3,0% e 6,0%.

    A nova sinalizao do Banco Central tem impactado as ex-pectativas de inflao de mdio e longo prazo. De acordo com a ltima pesquisa Focus, referente ao dia 03 de julho, os analistas de mercado projetam inflao de 5,45% para 2016, 0,25 p.p inferior estimada em janeiro deste ano. A reduo nas ex-pectativas fica explicitada nas projees para os anos de 2017, 2018 e 2019, como mostra o grfico abaixo. Ressalta-se que as projees inflacionrias arre-feceram mesmo com o aumen-to das expectativas de inflao para 2015, resultado alcanado com a atual estratgia de polti-ca monetria.

    Os efeitos das polticas mone-tria e fiscal contracionistas, somados a um cenrio de fraca atividade econmica e deterio-rao do mercado de trabalho, devem contribuir para o arrefe-cimento dos preos. Com isso, esperamos o encerramento do

    ciclo de alta dos juros em julho, com um ltimo aumento de 0,5 p.p., levando a taxa Selic para 14,25%.

    DETERIORAO ADICIONAL DO MERCADO DE CRDITO. O crdito continua a desacelerar nos primeiros meses do ano. Segundo dados do Banco Central, o crescimento real do saldo mdio dos ltimos 12 meses, comparado com o saldo mdio dos 12 meses anteriores, pas-sou de 8,1% em maio de 2014 para 3,9% em maio deste ano (ltimo dado disponvel). Para a pessoa fsica, a taxa variou de 9,4% para 5,6%, enquanto que o saldo de crdito para pessoa jurdica mostrou desa-celerao de 7,0% para 2,5%.

    Diferentes fatores tm contribudo para a desacelerao do mercado de crdito. Primeiro, as elevaes sucessivas na Selic e na TJLP provo-caram um aumento do custo de financiamento, tanto com os recursos livres, quanto com os direcionados. Segundo, o fraco desempenho da atividade econmica e a baixa confiana na economia postergaram consumo e investimento por parte das famlias e dos empresrios.

    No caso dos financiamentos com recursos direcionados, o governo tem sinalizado reduo dos desembolsos por parte do BNDES. Dados dessa instituio mostram que os desembolsos diminuram 20,3% no acumulado de janeiro a maio de 2015 em relao ao mesmo pero-do de 2014. Essa moderao nas concesses de crdito direcionan-do, alm de contribuir para a desacelerao dos preos, diminui os subsdios por intermdio de operaes de crdito, colaborando com o controle fiscal. Alm disso, a Caixa Econmica Federal, respons-vel por maior parte dos financiamentos imobilirios, elevou as taxas de financiamento e reduziu o limite de crdito para imveis usados custeados com recursos da poupana. Essas medidas possivelmente continuaro a repercutir sobre o mercado de crdito brasileiro no prximo semestre, contribuindo para uma adicional deteriorao.

    Em resumo, a moderao dos desembolsos do BNDES e a esperada manuteno do cenrio econmico negativo no curto prazo devem levar a continuidade do processo de desacelerao do estoque de crdito em 2015.

    Total Pessoa jurdica Pessoa fsica

    Fonte: Banco Central do Brasil

    Crdito continua a desacelerarSaldo de operaes de crditoVariao real do acumulado em 12 meses contra os 12 meses anteriores (%), deflacionado pelo IPCA

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    A reverso do carter expansio-nista da poltica fiscal observado nos ltimos anos no dever ser suficiente para garantir o cum-primento da meta de supervit primrio em 2015. Parte da re-duo de despesas e do aumen-to de receitas que seriam obtidos pelo Governo Federal com as medidas enviadas ao Congresso Nacional no se materializar, devido s modificaes sofridas no Legislativo. Alm disso, o im-pacto da retrao da atividade econmica sobre a arrecadao tem sido mais forte do que o ini-cialmente esperado. Finalmen-te, tambm foram observados crescimentos significativos em algumas despesas em funo de pagamentos no realizados em anos anteriores.

    DESPESAS FEDERAIS FICAM ESTVEIS NOS PRIMEIROS CIN-CO MESES DE 2015. A inteno de reverter a expanso fiscal registrada nos ltimos anos fica evidente quando se observa os gastos do Governo Federal nos primeiros meses de 2015, seja no total ou, principalmente, de forma desagregada. As despesas primrias do Governo Federal tiveram aumento real de 0,2% (deflator IPCA) entre janeiro e maio de 2015, na comparao com os mesmos meses do ano anterior. Em 2014, o crescimento real das despesas havia sido de 6,1%, em relao a 2013.

    O que dificulta um controle maior do gasto total o com-portamento de algumas despe-

    Cumprimento da meta de supervit primrio torna-se improvvelMedidas do ajuste fiscal tm seus efeitos reduzidos pelo Congresso e forte queda da atividade econmica impacta a arrecadao

    P O L T I C A F I S C A L

    Dficit primrio acumulado em 12 meses aumentou R$ 6,0 bilhes nos primeiros cinco meses de 2015

    Evoluo do resultado primrio do Setor PblicoAcumulado em 12 meses (% do PIB)

    Fonte: Banco Central do Brasil

    sas obrigatrias. Os gastos previdencirios registraram expanso real de 4,8% nos primeiros cinco meses de 2015, com relao ao mesmo perodo de 2014. Isso se deve, principalmente, ao aumen-to real de 2,3% concedido ao salrio mnimo. Esse fator tambm explica grande parte do aumento real de 6,8% nas despesas com benefcios assistenciais e de 9,0% nos gastos com Seguro De-semprego e Abono Salarial. Nesse ltimo caso, porm, parte do aumento parece estar ligada regularizao de pagamentos que deveriam ter ocorrido em anos anteriores. Essa explicao tambm se aplica ao aumento real de 61,2% nas despesas com subsdios e subvenes.

    Por outro lado, as despesas no obrigatrias, com investimento ou custeio, tiveram queda real de 8,3% nos primeiros cinco meses de 2015, na comparao com o mesmo perodo de 2014. Essa reduo nas despesas no obrigatrias foi proporcionada pela queda real de 38,3% nos investimentos do Governo Federal (exclui subsdios ao

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    Setor Pblico Consolidado Governo Federal Governos Regionais

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    Minha Casa Minha Vida) e de 5,9% nas despesas de custeio.

    FORTE QUEDA DA ATIVIDADE ECONMICA DIFI-CULTA RECUPERAO DA ARRECADAO FEDERAL. Algumas medidas que visam aumentar a arreca-dao do Governo Federal j entraram em vigor e explicam, em parte, a reduo da intensidade da queda das receitas nos ltimos meses. A receita lquida do Governo Federal registrou reduo real de 3,0% nos primeiros cinco meses de 2015, na comparao com o mesmo perodo do ano ante-rior. Essa mesma comparao, quando feita para os meses de janeiro e fevereiro de 2015, apontava queda real de 4,3%.

    Entretanto, os efeitos positivos sobre a arreca-dao das medidas do ajuste fiscal esto sendo menos percebidos devido aos efeitos negativos da reduo da atividade econmica e da massa sala-rial real. As receitas tributrias, apesar do aumento das alquotas de diversos tributos, ainda apontam queda real de 3,0% nos primeiros cinco meses de 2015, em relao ao mesmo perodo do ano an-terior. Alm da queda da atividade econmica, o aumento de 90% nas restituies tambm ajuda a explicar esse resultado. Por sua vez, a queda da massa salarial real a principal explicao para a retrao real de 3,1% nas receitas previdencirias, quando so excludas as compensaes do Tesou-ro Nacional em funo da desonerao da folha de pagamentos.

    J as receitas no administradas pela Receita Fe-deral tiveram queda real de 14,4% nos cinco pri-meiros meses de 2015, na comparao com o mes-

    mo perodo de 2014. Esse resultado explicado pela reduo no recebimento de dividendos e de compensaes financeiras pela explorao de pe-trleo pela Unio.

    DESPESAS DE ESTADOS E MUNICPIOS SE RE-TRAEM. Nos estados e municpios os resultados em termos de conteno de despesas so mais significativos do que no Governo Federal. Os da-dos disponveis possibilitam estimar que entre janeiro e abril de 2015 os governos regionais re-duziram seus gastos em 3,6%, na comparao com os mesmos meses do ano anterior.

    A melhora do resultado primrio s no foi maior em funo da reduo nas receitas de estados e municpios. Nos primeiros quatro meses de 2015, as receitas dos governos regionais registraram queda real de 2,3%, na comparao com o mesmo perodo de 2014. A retrao da atividade econmi-ca teve efeito negativo na arrecadao do ICMS, que apresentou queda real de 3,3%, e tambm nas transferncias recebidas da Unio, que caram 2,9% em termos reais.

    DFICIT NOMINAL APRESENTA ELEVAO SIG-NIFICATIVA. Apesar da poltica fiscal contracionis-ta implementada nos mbitos federal e regional, a queda nas receitas manteve a deteriorao do resultado primrio nos primeiros meses de 2015. Nos ltimos 12 meses encerrados em maio, o se-tor pblico consolidado teve dficit primrio de R$ 38,5 bilhes (0,68% do PIB). No final de 2014 o dficit primrio foi de R$ 32,5 bilhes (0,59% do PIB).

    Fonte: Banco Central do Brasil

    Aumento do dficit nominal provocou aumento de 3,86 pontos percentuais da relao Dvida Bruta/PIB nos ltimos cinco meses

    Evoluo da Dvida Lquida e da Dvida Bruta do Setor Pblico

    Em relao ao PIB (%)

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    Alm do aumento do dficit primrio, a elevao de 1,58 ponto per-centual (p.p.) do PIB nas despesas com juros fez com que o dficit nominal acumulado em 12 meses atingisse 7,9% do PIB, em maio de 2015. Mesmo com o dficit nominal nesse patamar, a relao Dvida Lquida/PIB caiu de 34,1% para 33,6% do PIB entre dezembro de 2014 e maio de 2015. Essa queda ocorreu em funo dos efeitos da desvalorizao da taxa de cmbio no endividamento interno e externo. Entretanto, a relao Dvida Bruta/PIB passou de 58,9% do PIB, em dezembro de 2014, para 62,5% do PIB, em maio de 2015. Isso ocorreu porque, no caso da Dvida Bruta, no h abatimento de crditos do setor pblico cujo valor aumenta em reais com a desva-lorizao da taxa de cmbio, como o caso das reservas internacio-nais do Banco Central.

    META DE SUPERVIT PRIMRIO NO DEVE SER CUMPRIDA. Os efeitos das medidas do ajuste fiscal devero ser mais sentidos nos prximos meses e, com isso, os resultados fiscais devero melhorar significativamente at o fim de 2015. Pelo lado das despesas, o con-tingenciamento de R$ 70,8 bilhes em despesas no obrigatrias feito pelo Governo Federal e as novas regras para a concesso do Seguro Desemprego devero fazer com que o ritmo de queda das despesas de custeio e capital se intensifique no restante do ano. Alm disso, o ritmo de retrao real nas despesas de pessoal deve ser mantido e o crescimento real das despesas previdencirias deve se reduzir. Dessa forma, a CNI estima que as despesas do Governo Federal devem encerrar 2015 com retrao real de 3,1%.

    Pelo lado das receitas, o aumento das alquotas de diversos tributos deve fazer com que as receitas tributrias revertam a queda real observada nos primeiros cinco meses do ano e encerrem 2015 es-tveis, em termos reais, quando comparadas a 2014. Alm disso, as projees do Governo Federal para as receitas no administradas pela Receita Federal indicam uma reduo do ritmo de queda real at o fim do ano. Por outro lado, as receitas previdencirias devem continuar se deteriorando com a acentuao da queda real na mas-sa salarial. Assim, a CNI estima que a receita lquida do Governo Federal deve encerrar 2015 com queda real de 0,6%, na comparao com 2014.

    Nesse cenrio, o Governo Federal deve registrar supervit primrio de R$ 10,5 bilhes (0,2% do PIB estimado pela CNI). No caso dos go-vernos regionais, a queda nas despesas e a melhora nas receitas, em funo do impacto do aumento de preos de energia e combustveis na arrecadao de ICMS, devem proporcionar, ao menos, o cumpri-mento da meta de supervit primrio de R$ 11,0 bilhes (0,2% do PIB). Com isso, o supervit primrio do setor pblico consolidado deve ser de R$ 22,5 bilhes (0,4% do PIB) em 2015.

    Esse resultado ficaria aqum da meta de supervit primrio de R$ 66,3 bilhes para 2015. Para o cumprimento da meta, o Governo Fe-deral deveria promover contingenciamento adicional de R$ 44,7 bi-lhes. Entretanto, esse montante parece invivel, uma vez que a base

    contingencivel reduziu-se a R$ 122 bilhes aps o primeiro con-tingenciamento. Uma alternativa seria a combinao de um con-tingenciamento adicional menor com a obteno de receitas ex-traordinrias, como seria o caso da oferta pblica de aes da Caixa Seguradora.

    O contingenciamento de R$ 70,8 bilhes ficou em linha com a estimativa da CNI no primei-ro Informe Conjuntural de 2015 para cumprimento da meta de supervit primrio. A necessida-de de contingenciamento adi-cional de R$ 44,7 bilhes pode ser explicada por dois fatores. O primeiro o prazo e a forma como medidas do ajuste fiscal foram aprovadas no Congresso Nacional, o que fez com que o Governo Federal obtivesse cerca de R$ 16,0 bilhes a menos em reduo de despesas e aumento de receitas em 2015. O segundo fator a deteriorao da ativi-dade econmica, mais forte do que a esperada, e seu impacto na arrecadao.

    Com isso, caso a projeo de supervit primrio do setor p-blico consolidado de R$ 22,5 bi-lhes (0,4% do PIB) se confirme, o dficit nominal deve ser de 6,45% em 2015. Essa estimativa considera que as despesas com juros nominais, atualmente em 7,2% do PIB, devam se retrair para 6,85% do PIB at o fim do ano, com a reduo do impacto da desvalorizao cambial so-bre os custos com swaps cam-biais. O dficit nominal elevado e o baixo crescimento do PIB nominal devem fazer com que a relao Dvida Lquida/PIB atin-ja 36,4%, do PIB em dezembro de 2015.

    O supervit primrio do setor pblico consolidado deve ser de R$ 22,5 bilhes (0,4% do PIB) em 2015

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    No segundo trimestre de 2015, observou-se uma pequena va-lorizao do real frente ao dlar americano e uma reduo em sua volatilidade, quando com-parada a observada no primeiro trimestre. Paralelamente, a ba-lana comercial brasileira pas-sou a ser superavitria a partir de maro. Contudo, no primor-dialmente porque as exporta-es aumentaram substancial-mente, mas sim devido queda nas importaes. Alm disso, o dficit nas transaes correntes manteve sua tendncia de que-da em 2015, frente a um cenrio de depreciao anual do Real e de retrao da atividade econ-mica brasileira.

    DESVALORIZAO DO REAL PERDE FORA E A SUA VOLATILI-DADE DIMINUI. O Real atingiu a cotao de R$ 3,10/US$ no final de junho, acumulando uma des-valorizao de 15,2% de janeiro a junho desse ano. No segundo trimestre houve uma valoriza-o do Real de 2,25%, quando se considera a taxa mdia mensal de cmbio de abril a junho. Pa-ralela a essa valorizao, a taxa de cmbio (Real/Dlar) tambm foi menos voltil no segundo tri-mestre em relao ao primeiro trimestre de 2015. A diferena entre a cotao diria mxima e a mnima no segundo trimes-tre foi de R$ 0,28 /US$, ou 9,8% da cotao mmina, enquanto no primeiro trimestre essa amplitu-de havia sido de R$ 0,69 /US$, ou 26,9% da cotao mmina. A efe-tivao de algumas das medidas

    Comrcio externo atenua os efeitos da reduo da demanda internaDesvalorizao do Real afeta positivamente a balana comercial

    S E TO R E X T E R N O

    Fonte: Banco Central do Brasil

    Taxa de cmbio fica menos voltil no segundo trimestreTaxa de cmbio em 2015R$/US$

    do ajuste fiscal e o abrandamento do embate poltico podem ter atenuado as incerte-zas de curto prazo sobre a poltica econmica brasileira. Com isso, promoveram uma reduo da volatilidade da taxa de cmbio.

    QUEDA ACENTUADA DAS IMPORTAES SUSTENTA SUPERVIT COMERCIAL. No acu-mulado do ano at junho, o supervit da balana comercial alcanou US$ 2,2 bilhes, resultado muito superior ao dficit de US$ 2,4 bilhes de dlares registrado no mes-mo perodo do ano passado. A queda mais intensa das importaes explica o resulta-do da balana comercial no primeiro semestre.

    No acumulado at junho, as importaes atingiram US$ 92,1 bilhes no ano, valor 18,5% inferior ao registrado no mesmo perodo de 2014. Comparando os primeiros cinco meses de 2015 contra os respectivos meses de 2014, os ndices de preo e quan-tum de importao da Funcex recuaram 10% e 9,9%, respectivamente.

    A queda nas importaes ocorreu em todas as categorias de uso. De janeiro a maio desse ano, a queda nas importaes de combustveis e lubrificantes foi de 36,4% e a de bens de consumo durveis foi de 21,3% em relao ao mesmo perodo de 2014. Essas categorias tm os piores resultados em termos de valor importado no ano. As importaes de bens de capital e de bens de consumo durveis mostraram as maiores quedas em termos de quantidade at maio desse ano: 19,1% e 20,1%, respectivamente.

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    Taxa diria de cmbio Taxa mdia mensal de cmbio

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    Dado o uso especifico desses bens, como mquinas e equipamentos, a reduo desse tipo de importao preocupa porque aponta para queda de investimentos.

    A desvalorizao e a forte reduo da atividade, do investimento e do consumo explicam a queda intensa e generalizada das importaes. Como no h expectativas de mudanas nesse cenrio para o segundo semestre, a perspectiva de manuteno do ritmo de queda. Com isso, a CNI estima que as importaes de 2015 totalizem US$ 197 bilhes.

    As exportaes totalizaram US$ 94,3 bilhes no primeiro semestre do ano, o que representa uma reduo de 14% em relao ao valor exportado no mesmo perodo de 2014. O ndice de preo de expor-tao, calculado pela Funcex, mostra queda de 19,7% de janeiro a maio de 2015 em relao ao mesmo perodo de 2014, enquanto nesse perodo, o ndice de quantum teve um aumento de 3,6%.

    A forte queda dos preos das commodities a principal responsveis pela queda nos preos de exportao. Contudo, a queda dos preos no se restringe aos bens bsicos. Na comparao entre os primeiros cinco meses de 2015 e 2014, os preos de exportao de bsicos re-cuaram 30,1%, os de semimanufaturados 9,9% e os de manufaturados 7,4%. Na mesma comparao, o volume exportado de bsicos e de semimanufaturados aumentaram 9,5% e 6,4%, respectivamente. En-quanto o volume de exportaes de manufaturados caiu 4,5%.

    A mdia diria de exportaes em junho recuou 8,7% na comparao com o mesmo ms de 2014, queda inferior a registrada no acumulado do ano at maio (16,2%). Contribuiu para esse resultado a contabili-zao de uma exportao de uma plataforma de petrleo no valor de US$ 690 milhes em junho. Alm disso, percebe-se um bom desem-

    penho das exportaes em junho, indicando uma possvel recupe-rao impulsionada pela desva-lorizao cambial. Essa relativa melhora das exportaes dever se manter no segundo semestre, mas no ser ampliada. Com tudo isso, a CNI estima que as exporta-es de 2015 totalizem US$ 202 bilhes. Assim, o saldo comercial ao fim de 2015 totalizar US$ 5 bilhes.

    DFICIT EM TRANSAES COR-RENTES CONTINUA DIMINUINDO. O dficit em transaes corren-tes acumulado em 2015 alcan-ou US$ 35,8 bilhes em maio, uma reduo de 20,3% na com-parao com o registrado no mesmo perodo de 2014. Essa reduo no dficit se deve em parte depreciao anual do Real e em parte fraca atividade econmica brasileira. Alm disso, a melhora na balana comercial tambm auxiliou na reduo do dficit de transaes correntes.

    O dficit com viagens interna-cionais alcanou US$ 5,7 bilhes, 25% menor do que o mesmo pe-rodo de 2014. Essa queda seria mais uma das consequncias da desvalorizao do Real em 2015, que encareceu os gastos dos brasileiros no exterior e ajudou na reduo do dficit de transa-es correntes.

    Parte do dficit em transaes correntes foi financiada por in-vestimentos diretos. Aps a que-da de janeiro, o investimento externo direto voltou a crescer e o seu saldo acumulado no ano atingiu U$ 25 bilhes em maio. Contudo, esse valor 35% me-nor que o saldo observado no mesmo perodo de 2014.

    A CNI prev que o dficit de transaes correntes continue caindo at o fim do ano e alcan-ce US$ 81 bilhes, uma queda de 23% na comparao com o registrado em 2014.

    Fonte: Funcex

    Preos Quantum

    A desvalorizao e a forte reduo da atividade, do investimento e do consumo explicam a queda intensa e generalizada das importaes

    Queda dos preos de exportao no se restringe aos bens bsicosVariaes de preo e de quantum das exportaes por classe de produto entre jan-mai/2014 e jan-mai/2015Variao percentual (%)

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    Bsicos Semi-manufaturados Manufaturados

  • Informe ConjunturalISSN 1983-621X Ano 31 Nmero 02 abril/junho de 2015

    2013 2014

    2015 projeo anterior

    (14/04/2015)

    2015 projeo atual (09/07/2015)

    ATIVIDADE ECONMICAPIB(variao anual)

    2,7% 0,1% -1,2% -1,6%

    PIB industrial(variao anual) 1,8% -1,2% -3,4% -3,8%

    Consumo das famlias(variao anual) 2,9% 0,9% -0,6% -1,2%

    Formao bruta de capital fixo(variao anual) 6,1% -4,4% -6,2% -7,7%

    Taxa de Desemprego(mdia anual - % da PEA) 5,4% 4,8% 6,7% 6,7%

    INFLAOInflao(IPCA - variao anual) 5,9% 6,4% 8,1% 9,1%

    TAXA DE JUROSTaxa nominal de juros(taxa mdia do ano) 8,29% 10,96% 13,12% 13,47%(fim do ano) 10,00% 11,75% 13,50% 14,25%Taxa real de juros(taxa mdia anual e defl: IPCA) 2,0% 4,3% 4,7% 4,4%

    CONTAS PBLICASResultado nominal(% do PIB)

    -3,05% -6,23% -4,97% -6,45%

    Resultado primrio(% do PIB)

    1,77% -0,59% 1,13% 0,40%

    Dvida lquida(% do PIB) 31,5% 34,1% 35,7% 36,4%

    TAXA DE CMBIOTaxa nominal de cmbio - R$/US$(mdia de dezembro) 2,35 2,64 3,10 3,25(mdia do ano) 2,15 2,35 3,10 3,10

    SETOR EXTERNOExportaes(US$ bilhes)

    242,2 225,1 208,0 202,0

    Importaes(US$ bilhes) 239,0 229,0 207,0 197,0

    Saldo comercial(US$ bilhes) 2,6 -4,0 1,0 5,0

    Saldo em conta corrente(US$ bilhes)

    * -104,8 * -81,0

    P E R S P E C T I VA S D A E C O N O M I A B R A S I L E I R A

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    * Dado indisponvel por conta de mudana metodolgica no balano de pagamentos promovida pelo Banco Central do Brasil.