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INFRAESTRUTURAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE BRASIL E DEMAIS PAÍSES DO MERCOSUL: A IIRSA ENQUANTO POSSIBILIDADE 1 Vitor Helio Pereira de Souza [email protected] Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (campus de Presidente Prudente) da Universidade Estadual Paulista-UNESP Márcio Rogério Silveira [email protected] Professor do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNESP, Campus de Presidente Prudente/SP Eixo Temático - Desenvolvimento e Espaço: ações, escalas e recursos . Resumo: No início do século XXI, foi elaborado o Plano de Ação para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), que embora com certas limitações, representa uma evolução na tentativa de consolidar a integração entre os diversos países da América do Sul e, por conseguinte, ampliar os fluxos comerciais entre Brasil e os demais países do Mercosul. Vale frisar também que, as obras de infraestrutura indicadas na IIRSA devem contemplar vários países, através de investimentos em áreas que já são economicamente dinâmicas e que concentram uma grande intensidade de fluxo. O objetivo é propiciar o aproveitamento das condições de escala e demanda para atrair a participação da iniciativa privada nos investimentos necessários. Consecutivamente, busca-se utilizar a experiência na promoção dessas infraestruturas, através da participação do capital privado para a realização dos futuros projetos da IIRSA e perde-se a possibilidade de elaborar políticas que propiciem repasses de investimentos para áreas que são menos interessantes ao capital privado e que poderiam atuar na redução das assimetrias regionais. Palavras-chave: Brasil, Mercosul, infraestrutura de integração, fluidez territorial, IIRSA. Abstract: Between the 30’s and 70’s, which was the time when the model of "import substitution" was holded, the Brazilian government directed most of the investments in transport infrastructure to carry out the physical integration between the various "islands geoeconomic" in the national territory. Already, after the end of the Cold War, a rearrangement of the world economy was established, with the emergence of economic blocs, while countries conduct a firmer insertion in the globalized world, as was the case of the consolidation of Mercosur, there was a need to direct investments, also for the physical integration in the international scope. In this meaning, the beginning of the 21st century, a Plan of Action for the Integration of Regional Infrastructure in South America (IIRSA) was elaborated. Thus, we set off to a matrix analysis of transportation in the Mercosur and the possibilities that these new investments may represent to the territorial development in its various scales. Key words: Brazil, Mercosur, integration infrastructure, territorial fluidity, IIRSA 1 Eixo 7. Desenvolvimento e Espaço: ações, escalas e recursos

INFRAESTRUTURAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE BRASIL E … · Professor do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC e do Programa de Pós-Graduação

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INFRAESTRUTURAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE BRASIL E DEMAIS PAÍSES

DO MERCOSUL: A IIRSA ENQUANTO POSSIBILIDADE 1

Vitor Helio Pereira de Souza [email protected]

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (campus de Presidente Prudente) da

Universidade Estadual Paulista-UNESP

Márcio Rogério Silveira

[email protected]

Professor do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC e do

Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNESP, Campus de Presidente Prudente/SP

Eixo Temático - Desenvolvimento e Espaço: ações, escalas e recursos .

Resumo: No início do século XXI, foi elaborado o Plano de Ação para a Integração da Infraestrutura

Regional Sul-Americana (IIRSA), que embora com certas limitações, representa uma evolução na

tentativa de consolidar a integração entre os diversos países da América do Sul e, por conseguinte,

ampliar os fluxos comerciais entre Brasil e os demais países do Mercosul. Vale frisar também que, as

obras de infraestrutura indicadas na IIRSA devem contemplar vários países, através de investimentos em

áreas que já são economicamente dinâmicas e que concentram uma grande intensidade de fluxo. O

objetivo é propiciar o aproveitamento das condições de escala e demanda para atrair a participação da

iniciativa privada nos investimentos necessários. Consecutivamente, busca-se utilizar a experiência na

promoção dessas infraestruturas, através da participação do capital privado para a realização dos futuros

projetos da IIRSA e perde-se a possibilidade de elaborar políticas que propiciem repasses de

investimentos para áreas que são menos interessantes ao capital privado e que poderiam atuar na redução

das assimetrias regionais.

Palavras-chave: Brasil, Mercosul, infraestrutura de integração, fluidez territorial, IIRSA.

Abstract: Between the 30’s and 70’s, which was the time when the model of "import substitution" was

holded, the Brazilian government directed most of the investments in transport infrastructure to carry out

the physical integration between the various "islands geoeconomic" in the national territory. Already,

after the end of the Cold War, a rearrangement of the world economy was established, with the

emergence of economic blocs, while countries conduct a firmer insertion in the globalized world, as was

the case of the consolidation of Mercosur, there was a need to direct investments, also for the physical

integration in the international scope. In this meaning, the beginning of the 21st century, a Plan of Action

for the Integration of Regional Infrastructure in South America (IIRSA) was elaborated. Thus, we set off

to a matrix analysis of transportation in the Mercosur and the possibilities that these new investments may

represent to the territorial development in its various scales.

Key words: Brazil, Mercosur, integration infrastructure, territorial fluidity, IIRSA

1 Eixo 7. Desenvolvimento e Espaço: ações, escalas e recursos

2

INTRODUÇÃO

Com a mundialização do capital (CHESNAIS, 1996) intensificada no final do século XX,

houve uma rápida ampliação dos circuitos espaciais de produção2 (SANTOS, 1998), possibilitada devido

à evolução das técnicas e das normatizações aplicadas à logística3, que relativizam, cada vez mais, o

tempo necessário para percorrer distâncias, tornando possível uma maior coesão entre os mercados

globais4. Tal dinâmica é compreendida através das “revoluções e evoluções logísticas” (SILVEIRA,

2009) que permitiram às empresas fragmentarem sua cadeia produtiva, em busca de vantagens

comparativas que o espaço pudesse oferecer, como menores custos de produção e, consecutivamente,

maior conquista de novos mercados consumidores.

Já com o aumento das terceirizações, ampliou-se drasticamente o setor terciário,

intensificando o movimento circulatório do capital e, consecutivamente, interferindo na mobilidade

geográfica do capital. O uso do espaço pelo capital tornou-se pulverizado devido à redução do tempo de

circulação e à ideia de distance decay (ULLMAN, 1972) – ou seja, quanto maior for a distância, menor

será o fluxo entre os espaços – tornou-se relativizada. As comunicações (telégrafo, telefonia móvel, etc.)

“descolaram-se” dos sistemas de movimento tangíveis (meios e vias de transportes) e o ato de transportar,

devido às técnicas e às normas, proporcionou interações espaciais em múltiplos circuitos e em diferentes

distâncias havendo geralmente interações mais intensas entre duas metrópoles do que entre a metrópole e

uma cidade circunvizinha (CORRÊA, 1997).

Acrescenta-se a este contexto, modificações no mercado doméstico brasileiro, uma vez que, a

partir da década de 1980, o modelo de desenvolvimento pautado na substituição de importações passa a

dar sinal de esgotamento (POCHMANN, 2001). Por outro lado, na Europa, os dez primeiros anos da

existência da Comunidade Européia, resultavam em saldos positivos devido a ampliação do comércio

intrabloco, que passou a ter importante papel para esses países superarem a crise desencadeada na

economia mundial (OLIVEIRA, 2003).

Concomitantemente, em outras partes do globo, também houve a emergência de outras formas

de regionalismo5, sendo na conjuntura desta “Nova Ordem Internacional” que os governantes dos países

latino-americanos passaram a buscar a reativação do crescimento econômico do país, através da “(...)

promoção de associações minilaterais que dinamizem o comércio intrazonal” (ARROYO, 2002) como

forma de enfrentar ou readequar-se ao fenômeno (OLIVEIRA, 2003).

Assim, foram dados os primeiros passos do que seria futuramente o Mercado Comum do Sul

(Mercosul). Primeiramente, por meio da integração entre Brasil e Argentina, através da Declaração de

2 Estes seriam as diversas etapas pelas quais passaria um produto, desde o começo do processo de produção até chegar ao

consumo final. (...) "Discutir os circuitos espaciais da produção é discutir a espacialização da produção-distribuição-troca-

consumo como movimento circular constante. Captar seus elementos determinantes é dar conta da essência de seu movimento"

(MORAES 1985 apud SANTOS 2008). 3 Entendemos a logística pela concepção de Silveira (2009, p.14). Assim, a “(...) logística, especificamente, a de transportes

(estratégia, planejamento e gestão da circulação), no nosso entender, condiciona a aplicação e a evolução dos sistemas de

movimento e fluxos políticos, sociais e econômicos no território”. Portanto, antes de haver estritamente uma ‘revolução nos

transportes’ há uma revolução logística (condicionada por um ou diversos fatores). A logística ultrapassa qualquer modo de

produção ou fase dele, entretanto, é condição fundamental para a aceleração contemporânea vivenciada atualmente, em menor

ou maior grau, por todos nós. A logística, lato sensu, é a estratégia, o planejamento, a gestão para transportar, armazenar e

estocar. A logística varia em grau de intensidade de sofisticação e pode ser utilizada nas ações civis (públicas e privadas) e

militares, pode estar relacionada nos níveis organizacionais, territoriais, globais (macrologística) e intra-firma (micrologística). 4 Ao alcançar a escala global, conforme está ocorrendo no fim do século XX, o capitalismo altera, anula ou recria

configurações nacionais que pareciam estabelecidas, inabaláveis. “As economias nacionais tornam-se cada vez mais

interdependentes, e os processos inter-relacionados de produção, troca e circulação adquirem um caráter global”

(CAMILLERI; FALK 1992 apud, IANNI, 1999, p.113). 5 (...) O regionalismo envolve a formação de sistemas econômicos que redesenham e integram economias nacionais,

preparando-as para os impactos e as exigências ou as mudanças e os dinamismos do globalismo (IANNI, 1999, p. 101).

3

Iguaçu, em 1985 e do Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE)6, em 1986, além de uma

sequência de outros tratados, em que o processo de integração foi guiado, através de uma orientação

desenvolvimentista7, em que houve o estímulo à modernização das empresas argentinas e brasileiras, para

uma inserção mais competitiva no sistema econômico internacional, entre outras medidas (RAMANZINI

JUNIOR; VIGEVANI, 2010). Já a partir do governo de Collor de Mello, no Brasil, e de Carlos Menem,

na Argentina, o processo de integração adquiriu um caráter liberalizante, que substitui a ideia de

desenvolvimento industrial em conjunto, para a simples abertura de mercado e a promoção dos fluxos

comerciais (RAMANZINI JUNIOR; VIGEVANI, 2010).

A adoção do comércio exterior enquanto estratégia de desenvolvimento (por meio

desenvolvimentista ou liberalizante) colocou em foco a problemática das infraestruturas de transporte

precárias, que realizavam (e realizam) a ligação entre os estados brasileiros e os países vizinhos. Deve-se

destacar que, entre as décadas de 1930 e 1970, momento em que vigorou o modelo de “substituições de

importações”, o governo brasileiro havia orientado grande parte dos investimentos em infraestruturas de

transporte para realizar a integração física entre os diversos “arquipélagos geoeconômicos” existentes no

território nacional. Já com a ampliação da circulação de mercadorias entre o Brasil e os demais países do

Mercosul, no final do século XX, constatou-se a necessidade de orientar investimentos, também para a

integração física no âmbito internacional a fim de possibilitar maior fluidez territorial para a circulação de

mercadorias.

A primeira iniciativa neste sentido foi no ano 2000, por meio da Primeira Reunião dos

Presidentes da América do Sul, precedida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que resultou no

Plano de Ação para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA). Este ratificou um

esforço entre Brasil e demais países da América do Sul (Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia,

Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana e Suriname), no que tange as proposições infraestruturais

(transporte, energia e telecomunicações), jurídicas, socioculturais e ambientais, possibilitando uma

aproximação efetiva, entre os países da América do Sul e, principalmente, no âmbito do Mercosul.

No entanto, foi a partir de 2003 que houve maiores avanços na direção da integração regional

dos países do Cone Sul. Tal condição foi validada devido às modificações na política doméstica dos

países integrantes do Mercosul, decorrentes da subida ao poder de governos mais alinhados a esquerda,

como no Uruguai (Tabaré Vázquez), Argentina (Néstor Kirchner) e no Brasil (Luiz Inácio Lula da Silva),

que deram novo “fôlego” ao discurso integracionista (HOFFMANN; COUTINHO; KFOURI, 2008).

No caso brasileiro tal mudança foi percebida no governo Luiz Inácio Lula da Silva, através

de uma política externa marcada pelo altruísmo, que passou a destinar grandes esforços para a defesa da

soberania nacional e a busca pela ampliação das relações sul-sul8 (ALMEIDA, 2004). Toma-se como

exemplo o caso da IIRSA que tinha como principais financiadores o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), Corporação Andina de Fomento (CAF) e o Fundo para o Desenvolvimento da

Bacia do Prata (FONPLATA) e, a partir do ano de 2003, passou a contar também com a participação do

6 Conforme Arroyo (2002, p.125-126) “(...) Um dos objetivos mais significativos do PICE é promover uma especialização

intra-setorial, na qual se priorizava o intercâmbio de bens análogos com certo grau de diferenciação. Isto implica uma divisão

do trabalho por produtos mais que por ramos de produção, estimulando uma diversificação das estruturas produtivas e o

aproveitamento das economias de escala.” 7 Este viés é percebido na concepção original de regionalismo econômico, formulada pela Cepal em 1959, que entendia a

integração econômica como forma de amparar a industrialização por substituição de importações, possibilitando incrementar as

economias de escala com o aumento do mercado para os fluxos comerciais. (...) havia uma preocupação com o fato de a

integração dar-se entre países com estruturas produtivas distintas (...). Nos anos 1990 a proliferação de acordos de livre

comércio afastou-se desta concepção e orientou necessidade de responder competitivamente ao movimento “globalizante”,

intenção corporificada na forma de “regionalismo aberto” (DEOS; WEGNER, 2009). 8 O conceito de autonomia por participação presente no governo Fernando Henrique Cardoso, evoluiu no governo Luiz Inácio

Lula da Silva, para autonomia pela diversificação, intensificando-se a busca de inserção do Brasil no cenário mundial (...). Se a

economia brasileira se fortalece num contexto internacional conturbado, essa condição aumenta o interesse dos vizinhos do

bloco pelo Brasil. Um cenário global, político e econômico, de maior equilíbrio, reduz em termos relativos o papel do

Mercosul e da América do Sul e Latina para o Brasil, mas pode aumentar o interesse dos vizinhos pelo Brasil. Essa percepção

é também importante para compreender as motivações da política regional. O fortalecimento do país teria consequências

benéficas para a região. Mesmo admitindo-se certa razoabilidade para esse argumento, sabemos que não substitui a

necessidade da construção da integração (RAMANZINI JUNIOR; VIGEVANI, 2010).

4

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um dos maiores bancos de

investimentos do mundo, enquanto financiador dos projetos (COUTO, 2010).

Caminha-se assim, embora a passos lentos, para a integração do bloco. Vale lembrar que

“essa integração não ocorre concreta e fisicamente, sem um aparato infraestrutural de suporte”

(LAMOSO, 2009), sendo necessária a resolução dos gargalos logísticos que dificultam a efetiva

integração no âmbito do bloco. Deve-se considerar que o custo do frete em relação às importações no

Brasil é de 6,8%, percentual considerado elevado, uma vez que na América Latina (excluindo o México)

o mesmo é de 8,3%, enquanto nos Estados Unidos este custo é de apenas 3,8% e em relação ao restante

do mundo é em média de 5,3% (IIRSA, 2006).

Neste sentido, a resolução dos entraves logísticos configura-se enquanto um ponto estratégico

para a consolidação e ampliação das interações espaciais tanto no âmbito nacional, como internacional, ao

considerar que uma redução de 10 pontos percentuais no custo de transporte poderia acarretar em uma

elevação de até 20% em relação ao volume do comércio exterior (IIRSA, 2006).

1. Evolução do comércio exterior entre Brasil e demais países do Mercosul

O comércio internacional entrou em foco no momento em que o modelo de substituição de

importações, pautado no mercado interno, tornou-se ineficiente para a acumulação capitalista

(necessidade de buscar fora do Brasil a ampliação complementar de um efeito multiplicador interno) e se

ressaltou a criação de blocos econômicos (“Áreas de Livre Comércio”, “Uniões Aduaneiras” e “Mercados

Comuns”), que passaram a contribuir para o efeito multiplicador interno.

O Brasil nas últimas décadas vem se consolidando enquanto um global trader9, através da

atuação do Estado, por meio de uma política externa que já foi tachada até mesmo de “controvertida”,

entretanto resultou na diversificação dos parceiros tradicionais, como Estados Unidos, União Européia e

Japão, visando a conquista de novos mercados, tais como: China, África, Oriente Médio, Europa Oriental

e os países da América Central. A consequência foi a redução da vulnerabilidade do país em relação às

crises externas de demanda. Sendo assim, os principais mercados de destino das exportações brasileiras,

entre os anos de 2009 e de 2010, foram a Ásia, America Latina e Caribe, União Européia, Demais países

da América Latina e Caribe, Estados Unidos, Mercosul, África, Oriente Médio e Europa Oriental, cujo os

principais produtos exportados10

foram: 44,7% produtos básicos (primários); 19,8% manufaturados e

13,7% semifaturados.

Esta diversificação de parceiros pode ser conferida também no desempenho apresentado pelo

país nas importações realizadas entre os anos de 2009 e 2010, em que se constata do mesmo modo, uma

diversificação dos principais mercados fornecedores para o Brasil, que teve como destaque a participação

do mercado Asiático, União Européia, América Latina e Caribe, Estados Unidos, Mercosul, demais países

da América Latina e Caribe, África, Oriente Médio e Europa Oriental, em que os principais produtos

importados11

foram: 46,2% de bens intermediários; 22,5% bens de capital; 16,9% bens de consumo e

14,3% de petróleo e combustível.

No caso das relações comerciais entre Brasil e demais países do Mercosul, deve-se ressaltar

que estas perpassaram por diversas variações nos últimos anos, conforme Hoffmann, Coutinho e Kfouri

(2008), destacam-se três períodos principais: primeiramente de 1991 a 1997, momento em que houve a

consolidação da estrutura institucional do bloco, foi quando o comércio no âmbito do bloco apresentou

9 No ano de 2010 o Brasil ocupou a 24ª posição no ranking de principais países importadores e 22ª entre os principais países

exportadores (DEPLA, 2010). 10

Destacam-se como principais produtos exportados: Minério (14,2%), petróleo e combustíveis (11,3%), material de

transporte (10,4%), complexo soja (10,3%), carnes (6,85%), químicos (6,8%), açúcar e etanol (6,6%), produtos metalúrgicos

(6,2%), máquinas e equipamentos (4,0%), papel e celulose (3,4%), café (2,6%), equipamentos elétricos (2,5%), calçados e

couro (1,85%), fumo e sucedâneos (1,5%), metais e pedras preciosas (1,1%) (DEPLA, 2010). 11

Destacam-se como principais produtos importados: combustível e lubrificantes (17%), equipamentos mecânicos (15,6%),

equipamentos elétricos e eletrônicos (12,6%), automóveis e partes (9,4%), químicos orgânicos e inorgânicos (5,6%), ferro, aço

e obras (4,3%), plásticos e obras (3,6%), farmacêuticos, instrumentos de ótica de precisão (3,4%), fertilizantes (2,4%),

borracha e obras (2,2%), cereais e produtos de moagem (1,6%), cobre e suas obras (1,3%), aeronaves e peças (1,2%),

filamentos e fibras sintéticas e artificiais (1,1%) (DEPLA, 2010).

5

maior crescimento, com saldos positivos nas exportações de aproximadamente 17,07% para o ano de

1997.

Já no período de 1998 a 2002, as transações inter-regionais foram reduzidas devido às

diversas crises originadas em outros países, mas que influíram no domínio do Mercosul, como a Crise

Asiática de 1997, a Crise Russa de 1998, a crise do próprio Brasil em 1999 e a crise da Argentina que

eclodiu no ano de 2002, momento em que o país decretou moratório da dívida externa. Todos estes

acontecimentos desencadearam o baixo desempenho nas transações econômicas no âmbito do bloco e

incertezas em relação à viabilidade do Mercosul.

Somente a partir do ano de 2003 que o comércio entre Brasil e demais países do Mercosul

voltou a crescer, devido a estabilidade econômica alcançada na economia brasileira e argentina, ambas de

maior peso no bloco. Sendo assim, houve queda nas transações, somente no ano de 2009, resultado da

crise financeira internacional (subprimes12

), que deprimiu o comércio externo de uma forma generalizada

pelo mundo. Todavia, o país saiu rapidamente desta crise, apresentando, no ano de 2010, a retomada do

crescimento das exportações.

Deve-se notar que para o ano de 2010 (dados referentes ao período de janeiro a novembro),

dos US$ 20.116.512.219 exportados pelo Brasil ao Mercosul13

, o mercado Argentino foi o destino de

US$ 16.455.720 (82%) das exportações brasileiras, seguido pelo Paraguai com US$ 2.292.025 (11%) e

pelo Uruguai com US$ 1.368.768 (7%). No caso das importações não foi diferente, dos US$

15.028.749.718 de mercadorias importadas pelo Brasil com origem nos demais países do Mercosul,

US$13.089.553 (87%) das mercadorias foram provenientes da Argentina, US$ 1.388.189 (9%) do

Uruguai e apenas US$ 551.008 (4%) do Paraguai14

.

Destarte, houve um aumento de 49% das exportações no ano de 2010 em relação ao ano

anterior (momento marcado pela crise do subprime), as exportações movimentaram US$ 20.116.512.219,

configurando-se enquanto destino de 11,1% das exportações brasileiras para o mundo. O mesmo ocorreu

com as importações, que cresceram 28,29% em relação ao ano anterior e movimentaram US$

5.087.762.501, que representou 9,05% das importações realizadas pelo país neste ano (vide a tabela 01 e

gráfico 01).

TABELA 01: Intercâmbio comercial entre Brasil e demais países do MERCOSUL para o período de 1989 a 2010.

ANO

Exportação Importação Resultados Cobertura

US$ F.O.B. Var.

%

Part %

(**)

US$ F.O.B. Var(*)% Part%

( **)

Saldo A/B

1989 1.379.717.221 --- 4,01 2.191.679.110 --- 12,00 -811.961.889 0,63

1990 1.320.244.279 -4,31 4,20 2.311.826.777 5,48 11,19 -991.582.498 0,57

1991 2.309.352.601 74,92 7,30 2.242.704.519 -2,99 10,66 66.648.082 1,03

1992 4.097.469.283 77,43 11,45 2.228.563.468 -0,63 10,84 1.868.905.815 1,84

1993 5.386.909.641 31,47 13,97 3.378.254.340 51,59 13,38 2.008.655.301 1,59

1994 5.921.475.981 9,92 13,60 4.583.270.397 35,67 13,86 1.338.205.584 1,29

1995 6.153.768.222 3,92 13,23 6.843.923.909 49,32 13,70 -690.155.687 0,90

1996 7.305.281.948 18,71 15,30 8.301.547.326 21,30 15,56 -996.265.378 0,88

1997 9.045.110.950 23,82 17,07 9.426.133.443 13,55 15,78 -381.022.493 0,96

1998 8.878.233.843 -1,84 17,36 9.416.203.081 -0,11 16,30 -537.969.238 0,94

1999 6.778.178.415 -23,65 14,12 6.719.244.536 -28,64 13,63 58.933.879 1,01

2000 7.739.599.181 14,18 14,04 7.796.208.525 16,03 13,96 -56.609.344 0,99

2001 6.374.455.028 -17,64 10,94 7.009.674.042 -10,09 12,61 -635.219.014 0,91

12

Subprime é o nome pelo qual ficou conhecida a crise financeira desencadeada no ano de 2008 nos Estados Unidos, após a

quebra do banco de investimentos Lehman Brothers. 13

No ano de 2010, as exportações brasileiras destinadas ao Mercosul tiveram origem em vinte oito estados brasileiros. Sendo

que os cinco principais estados exportadores foram: São Paulo com US$ 9.917.695.540, Rio Grande do Sul com US$

2.644.670.701, Paraná com US$ 2.219.634.336, Minas Gerais com US$ 2.217.311.390 e Bahia com US$ 1.216.300.023. Logo

a soma dos cinco principais estados exportadores atingiu US$ 18.215.611.990 (DEPLA, 2010). 14

Para alguns autores, esta assimetria entre as economias dos países pertencentes ao Mercosul, justificaria a adoção de um

“Mercosul em duas velocidades”, ou com uma “Geometria variável” através adoção de uma estratégia bilateral entre Brasil-

Argentina (para constituição de um mercado comum) e outra para o restante do bloco. (GIAMBIAGI, BARENBOIM, 2005).

6

2002 3.318.675.277 -47,94 5,49 5.611.720.224 -19,94 11,88 -2.293.044.947 0,59

2003 5.684.309.729 71,28 7,77 5.685.228.972 1,31 11,76 -919.243 1,00

2004 8.934.901.994 57,19 9,24 6.390.492.978 12,41 10,17 2.544.409.016 1,40

2005 11.746.011.414 31,46 9,91 7.053.699.272 10,38 9,58 4.692.312.142 1,67

2006 13.985.828.343 19,07 10,15 8.967.386.709 27,13 9,82 5.018.441.634 1,56

2007 17.353.576.477 24,08 10,80 11.624.752.344 29,63 9,64 5.728.824.133 1,49

2008 21.737.308.031 25,26 10,98 14.934.111.721 28,47 8,63 6.803.196.310 1,46

2009 15.828.946.773 -27,18 10,35 13.107.418.656 -12,23 10,26 2.721.528.117 1,21

2010 20.116.512.219 49,05 11,11 15.028.749.718 28,29 9,05 5.087.762.501 1,34

Fonte: SECEX/MDIC, 2010. Dados de 2010 referentes ao período de janeiro a novembro. (*) Var % Critério de calculo: Anual –

sobre o ano anterior na mesma proporção mensal/ Mensal – Sobre o mês anterior (**) Part% Participação percentual sobre o total

geral do Brasil. Importação- Base ALICE – NOV/ 10, País de Origem. Dados definitivos, até Dez/ 96. Dados preliminares para os

meses seguintes. Exportação- Base ALICE- NOV/ 10. País de destino final. Obs.: O FOB (Free on Board) é o valor

correspondente às mercadorias embarcadas para o exterior, sem retorno previsto.

Os principais produtos brasileiros exportados ao Mercosul, foram: US$ 1.440.167.378

(6,37%) de produtos básicos (primários), US$ 20.563.209.200 (90,98%) de manufaturados, US$

559.415.706 (2,47%) de semimanufaturados e US$ 38.708.675 (0,17%) de operações especiais. Já no

caso das importações originadas pelo Brasil, provenientes da Argentina foram: US$ 2.031.992.917

(14,08%) de produtos básicos, US$ 11.986.113.321 (83,06%) manufaturados e US$ 412.095.313 (2,85%)

semimanufaturados; enquanto no Uruguai, US$ 641.536.739 (40,75%) foram de produtos básicos, US$

915.238.124 (58,14%) manufaturados e US$ 17.409.084 (1,10%) semimanufaturados e no Paraguai, US$

401.738.238 (65,7%) foram de produtos básicos, US$ 175.137.087 (28,64%) manufaturados e US$

34.525.876 (5,64%) semimanufaturados.

As exportações realizadas pelo Brasil com destino ao MERCOSUL para o mesmo ano,

tiveram origem em vinte oito estados brasileiros. Sendo que, os cinco principais estados exportadores,

foram: São Paulo com US$ 9.917.695.540, Rio Grande do Sul com US$ 2.644.670.701, Paraná US$ com

2.219.634.336, Minas Gerais com US$ 2.217.311.390 e Bahia cm US$ 1.216.300.023. Logo a soma dos

cinco principais estados, exportadores atingiu US$ 18.215.611.990 e 6.460.613.614 kg. (tabela, 02).

Tabela 02: Exportações dos estados brasileiros para os demais países do Mercosul, no ano de 2010.

Descrição da UF US$ FOB Kg Líquido de

1. São Paulo 9.917.695.540 2.279.112.932

2. Rio grande do sul 2.644.670.701 1.636.735.480

3. Paraná 2.219.634.336 1.282.886.669

4. Minas Gerais 2.217.311.390 1.261.878.533

5. Bahia 1.216.300.023 865.648.456

6. Rio de Janeiro 1.058.224.222 319.617.132

7. Santa Catarina 843.820.011 613.139.137

8. Espírito Santo 639.413.171 3.524.135.082

9. Amazonas 449.718.534 17.349.427

10. Mato Grosso do Sul 346.293.516 634.657.665

11. Ceara 155.642.972 21.897.237

12. Pernambuco 158.469.532 64.115.636

13. Para 122.639.969 544.775.923

14. Maranhão 90.058.508 427.963.898

15. Goiás 75.802.719 61.254.244

16. Rio Grande do Norte 26.259.670 21.652.158

17. Paraíba 23.396.502 2.991.395

18. Mato Grosso 17.236.450 15.690.918

19. Rondônia 8.316.637 6.836.355

20. Sergipe 2.691.539 470.902

21. Distrito Federal 1.268.288 60.210

22. Piauí 768.521 419.672

7

23. Alagoas 602.719 1.078.765

24. Amapá 366.096 38.311

25. Tocantins 222.675 130.745

26. Acre 173.608 172.113

27. Roraima 939 374

Fonte: ALICE Web/ MDIC, 2010.

Neste ínterim, cabe questionar por qual modal essas mercadorias são importadas e exportadas

entre o Brasil/Mercosul? Deve-se salientar que, a circulação de mercadorias no âmbito do bloco não

difere do padrão de circulação do mercado doméstico brasileiro, como poderá ser verificado a seguir o

modal rodoviário apresenta grande participação nas transações no âmbito do bloco.

2. A circulação de mercadorias entre Brasil /Mercosul: indícios de uma matriz de transporte

desequilibrada

No ano de 2010, as rodovias foram responsáveis pela circulação do maior valor de

mercadorias exportadas entre Brasil e Mercosul, totalizando US$ 11.565.035.838, seguido pelo marítimo

com US$ 8.641.949.882, o aéreo com US$ 1.187.910.607, o ferroviário com US$ 142.418.731 e o fluvial

com US$ 300.858.711. Já ao levar em consideração a tonelagem de mercadoria transportada, o modal

marítimo ocupou o primeiro lugar com 8.401.907.410 kg, na sequência, com quase metade do total

transportado pelo modal marítimo, aparece o modal rodoviário com 4.287.597.801 kg, seguido pelo

fluvial com 3.588.685.681 kg, o ferroviário com 279.706.484 kg e por fim o aéreo com 17.096.418 kg

(vide, tabela 03).

Tabela 03: Exportação Brasileira para o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) conforme via de transporte para o

período de 01/2010 a 12/2010 TIPO DE MODAL US$ FOB PESO LIQUIDO KG

Rodoviária 11.565.035.838 4.287.597.801

Marítima 8.641.949.882 8.401.907.410

Aérea 1.187.910.607 17.096.418

Ferroviária 142.418.731 279.706.484

Fluvial 300.858.711 3.588.685.681

Meios próprios 419.062.533 113.075.426

Tubo-conduto 343.176.663 53

Fonte: ALICE Web/ MDIC, 2010.

O mesmo é verificado ao avaliar os cinco estados brasileiros que mais exportaram (São Paulo,

Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Bahia) para o Mercosul, em que se constatou em relação ao

valor exportado a maior participação do modal rodoviário, uma vez que, este tende a ser utilizado para o

transporte de cargas com maior valor agregado, seguido pelo modal marítimo (em que há o

prevalecimento de bens primários, caracterizados por elevado volume e peso e baixo valor agregado) e os

demais modais. No quesito tonelagem transportada, verifica-se que o modal rodoviário liderou em São

Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, seguido pelo modal marítimo e os demais modais. O modal marítimo

passa a ocupar maior peso, somente no caso de Minas Gerais e Bahia em que a distância (física) aumenta

em relação aos mercados de destino, elevando os custos do transporte rodoviário. No entanto, mesmo

estes últimos estados apresentando uma distância relativa em relação aos demais países membros do

Mercosul, o modal rodoviário apresentou peso relevante em relação às cargas transportadas neste

itinerário.

O mesmo é verificado ao avaliar os cinco estados brasileiros que mais exportaram para o

MERCOSUL, em que se constatou em relação ao valor exportado uma maior participação do modal

rodoviário, uma vez que, este tende a ser utilizado para o transporte de cargas com maior valor agregado,

seguido pelo modal marítimo e os demais modais. No quesito tonelagem transportada, verifica-se que o

8

modal rodoviário liderou em São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, seguido pelo modal marítimo e os

demais modais. O modal marítimo passa a ocupar o primeiro lugar somente no caso de Minas Gerais e

Bahia em que a distância aumenta em relação aos mercados de destino, elevando os custos logísticos do

transporte rodoviário. No entanto, mesmo estes últimos estados apresentando uma distância relativa em

relação aos países membros do MERCOSUL, o modal rodoviário ocupou o segundo lugar em relação às

cargas transportadas neste itinerário (tabela, 04 e 05).

Tabela 04: Valor das cargas transportadas pelos cinco estados que mais exportaram para o Mercosul, por tipo de

modal, para o período de 01/2010 a 12/2010. VALOR EM US$ FOB DAS CARGAS TRANSPORTADAS

Modais São Paulo Rio Grande do Sul Paraná Minas Gerais Bahia

Rodoviário 5.227.146.991 1.995.602.288 1.401.373.356 1.259.849.807 128.877.246

Marítima 3.538.286.442 492.856.402 715.954.064 867.192.862 1.062.300.548

Aéreo 798.192.508 21.654.467 45.401.400 24.572.730 2.036.985

Ferroviário 10.550.879 47.627.246 40.579.236 28.334.014 -

Fluvial 3.119.646 - 7.416 - -

Tubo-conduto 26.914.654 75.980.505 2.495.264 35.203.590 22.826.641

Meios próprios 368.399.159 10.949.303 13.822.760 2.158.387 258.603

Fonte: ALICE Web/ MDIC, 2010.

Tabela 05: Tonelada das cargas transportadas pelos cinco estados que mais exportaram para o Mercosul, por tipo

de modal, para o período de 01/2010 a 12/2010. TONELADAS DE CARGA TRANSPORTADAS

Modais São Paulo Rio Grande do Sul Paraná Minas Gerais Bahia

Rodoviário 1.326.831.795 802.979.429 1.012.861.832 275.161.384 33.851.099

Marítima 849.116.420 705.378.697 196.797.019 922.014.067 831.272.634

Aéreo 10.212.880 1.042.626 1.047.719 1.156.304 438.084

Ferroviário 19.211.036 122.759.626 42.595.871 63.116.201 -

Fluvial 5.274.190 - 672 - -

Tubo-conduto 52 1 0 0 0

Meios próprios 68.389.881 4.575.098 29.583.549 430.577 86.639

Fonte: ALICE Web/ MDIC, 2010.

Constata-se, assim, a elevada participação do modal rodoviário, não somente para a circulação

de mercadorias no mercado nacional, que é de aproximadamente 60%, mas também para a circulação

internacional de mercadorias, no âmbito do Mercosul.Tal fato justifica-se devido à falta de investimentos

em busca de uma matriz de transporte mais equilibrada no país e no âmbito do bloco e a proximidade dos

principais estados exportadores em relação aos mercados de destino, entre outros fatores. Portanto, a

ampliação das exportações brasileiras destinadas ao Mercosul está, em parte, condicionada à resolução

dos gargalos infraestruturais de transportes no âmbito nacional e internacional, produto de uma matriz de

transportes deficiente, que nesta conjuntura, em que o comércio exterior torna-se estratégico, passa a ser

repensada por meio da consolidação da IIRSA.

3. Algumas inferências sobre o Plano de Ação para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-

Americana (IIRSA).

O projeto IIRSA foi organizado em dez Eixos de Integração e Desenvolvimento: Andino do

Sul, Capricórnio, Hidrovia Paraguai-Paraná, Amazonas, Escudo Guayanés, do Sul, Interoceánico Central,

Peru-Brasil-Bolívia e Mercosul-Chile (abarca a região do Mercosul, mais o Chile). Esses foram

delimitados, conforme a vocação produtiva e a potencialidade de desenvolvimento, através de uma visão

de negócios estabelecida para cada região.

Sendo assim, o projeto almeja se estabelecer enquanto uma medida efetiva para consolidação

das infraestruturas de integração, objetivando a integração física no âmbito do bloco e a consecutiva

ampliação das relações comerciais intra-bloco, através da redução do “custo transporte” nos países

membros do Mercosul, além da ampliação das relações comerciais extra-bloco, com a ampliação das

9

relações comerciais com os mercados asiáticos (destaque para a China), através da facilitação do acesso

aos portos chilenos.

Na VI Reunião do Comitê de Direção Executiva da IIRSA, ocorrida entre 23 e 24 de

novembro de 2004, foram analisados 337 projetos destinados a integração dos países sul-americanos. O

resultado foi a seleção de um conjunto de 31 projetos, considerados de maior relevância, para serem

implantados no período de 2005 a 2010.

No Brasil tais projetos escolhidos foram incorporados no ano de 2006 ao Plano Nacional de

Logística e Transporte (PNLT), por meio de uma parceria entre o Ministério da Defesa, através do

CENTRAN (Centro de Excelência em Engenharia de Transportes) e do Ministério dos Transportes, que

por sua vez serviu para elaboração do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Governo Luís

Inácio Lula da Silva, possibilitado a complementaridade aos demais projetos levados a cargo pelo

governo brasileiro. De modo que o Brasil tornou-se responsável ou tem participação mais direta em sete

desses projetos que estão sendo, totalmente ou parcialmente, contemplados no PAC (VITTE, 2009).

Já no domínio do Mercosul, este foi contemplado segundo a IIRSA, através do Eixo de

Integração e Desenvolvimento “Mercosul-Chile”, uma área que concentra aproximadamente 70% das

atividades econômicas15

na América do Sul e um Produto Interno Bruto (PIB) de aproximadamente US$

469,7 milhões. Foram selecionadas 7 obras, distribuídas entre Brasil, Argentina, Uruguai e Chile (o

Paraguai não foi contemplado com investimentos direcionados ao eixo Mercosul-Chile, mas sim no Eixo

de Integração e Desenvolvimento de Capricórnio e no Interoceánico Central). Destacam-se os seguintes

projetos: cinco rodoviários, um ferroviário e um gasoduto (vide a tabela 04 e figura 01).

Tabela 04: Dentre os 31 projetos da agenda consensuada para o período de 2005 a 2010 o eixo Mercosul-Chile foi

contemplado com 7 dos projetos acordados. País

responsável

Modal Projeto Financiamento

Brasil Rodoviário Duplicação do tramo Palhoça -

Osório (Rodovia Mercosul)

O financiamento de 60% da obra esta sendo

negociado com o BID e 40% ficarão a cargo de

consórcio ganhador da licitação

Argentina Rodoviário e

Gasoduto

Duplicação da Rota 14 e construção

do Gasoduto do Nordeste Argentino

BID, fontes do Tesouro Nacional e Fundos

Fiduciários.

Uruguai Rodoviário Adequação do corredor Rio Branco -

Montevidéu - Colônia - Nova

Palmira

BID

Chile Ferroviário e

Rodoviário

Projeto ferroviário Andes-Mendonça

e Rota internacional 60 CH (setor Val

Paraíso - Andes)

A cargo de consórcio ganhador da licitação

Brasil e

Uruguai

Rodoviário Construção da Ponte Internacional

Jaguarão - Rio Branco

Os investimentos serão 50% público (dividido

entre Brasil e Uruguai) e 50% a cargo de

consórcio ganhador da licitação

Fonte: IIRSA, 2010.

15

O eixo Mercosul-Chile possui atividades diversificadas, como: as indústrias de couro e têxteis, agrícolas e agroindustrial,

agropecuárias e graneleiras, indústria de veículos e material de transporte, indústria aeronáutica, serviços industriais

metalúrgicas metal-mecânica e mecânicas, turismo, químicos, celulose, madeira e papel, hidrocarbonetos, maquinas agrícolas,

indústria vitivinícola (produção de vinhos), produção mineral metálica, recursos florestais, produtos químicos e indústria

manufatureira (IIRSA, 2010).

10

Figura 01: Localização das principais obras destinadas ao Mercosul (Eixo de Desenvolvimento e

Integração Mercosul-Chile) na IIRSA, para o período de 2005 a 2010.

Entre os principais impactos ambicionados com os investimentos em obras de infraestruturas

no Mercosul, destaca-se a intensificação das interações espaciais entre os núcleos urbanos de diversos

tamanhos que se encontram distribuídos no decorrer das rodovias, facilitando transações entre os diversos

municípios que compõem a rede urbana regional. Deve-se considerar ainda que, municípios pouco

incluídos no circuito do capital, podem vir a servir de ponto de apoio para a conformação de novas

cadeias de produção, possibilitando o desenvolvimento de novas áreas produtivas e a consecutiva

desconcentração do emprego para estas novas localidades (IIRSA, 2006).

Por fim, ressalta-se que a melhoria desses trechos poderá apresentar, também,

desdobramentos em escala nacional, toma-se como exemplo o caso do Brasil em que será possível reduzir

o “custo de transporte”, principalmente de mercadorias originadas nas Regiões Sul e Sudeste

(responsáveis por grande parte das exportações e importações do país) com destino ao Mercosul, uma vez

que o modal rodoviário é o responsável pela circulação de grande parcela das mercadorias originadas

nessas áreas com destino ao Mercosul. Além do mais, deve-se considerar que há desdobramentos no

contexto macroeconômico, pois os “(...) investimentos em infraestrutura são fundamentais para a

expansão da economia e seus reflexos diretos e indiretos contribuem para a elevação das taxas de

emprego formal, oportunidades de negócio e o aumento da arrecadação do Estado sem o aumento da

carga fiscal e tributária, entre outros” (LAMOSO, 2009).

11

Considerações

Ao que tudo indica a retomada de investimentos em infraestuturas de transporte no âmbito

nacional e internacional, através do IIRSA, destaque para o eixo Mercosul-Chile, não se trata apenas de

um discurso altruísta, mas sim de uma política efetiva na tentativa de estabelecer um espaço fluido, que

poderá ocasionar a ampliação do comércio entre os países membros do bloco e constituir-se em

possibilidade efetiva de desenvolvimento regional e nacional, contribuindo para a geração do efeito

multiplicador interno, contudo há alguns fatores que parecem limitantes no projeto.

Devido a proximidade dos países membros do bloco e a necessidade de realizar menores

investimentos, grande parte dos projetos definidos pela agenda consensuada para o ano de 2005 a 2010

são destinados ao modal rodoviário, reduzindo a possibilidade de promover uma matriz de transporte

mais equilibrada no âmbito do bloco, uma vez que, o modal hidroviário e o ferroviário podem ser 62% e

37% respectivamente mais “baratos” que o transporte rodoviário.

Logo, as obras de infraestrutura indicadas na IIRSA devem contemplar vários países, através de

investimentos em áreas que já são economicamente dinâmicas e que concentram uma grande intensidade

de fluxo. O objetivo é propiciar o aproveitamento das condições de escala e demanda para atrair a

participação da iniciativa privada nos investimentos necessários. Consecutivamente, busca-se utilizar a

experiência na promoção dessas infraestruturas, através da participação do capital privado para a

realização dos futuros projetos da IIRSA e perde-se a possibilidade de elaborar políticas que propiciem

repasses de investimentos para áreas que são menos interessantes ao capital privado e que poderiam atuar

na redução das assimetrias regionais.

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