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1 INDICADORES SOCIOAMBIENTAIS em um modelo de representação espacial para o Estado de São Paulo CAMILA GROSSO Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente Universidade Estadual Paulista, como requisito à obtenção do título de Doutora em Geografia. Orientador: Prof. Dr. João Lima Sant’Anna Neto Presidente Prudente - SP 2013

INND DICCAADO ORRE ESS AS … · os altos e baixos, por sempre enxergar uma esperança no fim do ... Tabela 01 - Morbidade ... construir um modelo de representação espacial sob

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IINNDDIICCAADDOORREESS SSOOCCIIOOAAMMBBIIEENNTTAAIISS

eemm uumm mmooddeelloo ddee rreepprreesseennttaaççããoo

eessppaacciiaall ppaarraa oo EEssttaaddoo ddee SSããoo PPaauulloo

CAMILA GROSSO

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geografia da Faculdade de

Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente –

Universidade Estadual Paulista, como requisito à

obtenção do título de Doutora em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. João Lima Sant’Anna Neto

Presidente Prudente - SP

2013

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IINNDDIICCAADDOORREESS SSOOCCIIOOAAMMBBIIEENNTTAAIISS

eemm uumm mmooddeelloo ddee rreepprreesseennttaaççããoo

eessppaacciiaall ppaarraa oo EEssttaaddoo ddee SSããoo PPaauulloo

CAMILA GROSSO

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geografia da Faculdade de

Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente –

Universidade Estadual Paulista, como requisito à

obtenção do título de Doutora em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. João Lima Sant’Anna Neto

Presidente Prudente - SP

2013

3

FICHA CATALOGRÁFICA

Grosso, Camila.

S--- Indicadores socioambientais em um modelo de representação espacial

para o Estado de São Paulo /Camila Grosso. - Presidente Prudente : [s.n], ano

2013 f. : il.

Orientador: João Lima Sant’Anna Neto

Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

Ciências e Tecnologia

Inclui bibliografia

1. Geografia. 2. Indicadores Socioambientais. 3. Geografia da Saúde. I.

Grosso, Camila. II. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e

Tecnologia. III. Indicadores socioambientais em um modelo de representação

espacial para o Estado de São Paulo.

4

TTooddaass aass ccooiissaass ddeevveemm sseerr ffeeiittaass ddaa ffoorrmmaa mmaaiiss ssiimmpplleess ppoossssíívveell,,

ppoorréémm nnããoo mmaaiiss ssiimmpplleess qquuee oo ppoossssíívveell..

AALLBBEERRTT EEIINNSSTTEEIINN

5

AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOO

Gostaria de expressar meu agradecimento a todos, que

contribuíram, de diversas formas, ao longo da jornada na

elaboração da tese que a seguir apresento.

Pessoas e instituições, colaboradores, das quais sou

profundamente grata pelas possibilidades e respaldo para que

tudo pudesse ser realizado da forma mais eficaz e bela nesta

dissertação.

Mas, gostaria de destacar o meu agradecimento ao

Programa de Pós-Graduação em Geografia da Unesp de

Presidente Prudente, por me propiciar chegar até essse

momento.

Agradeço à banca, por se disponibilizar à ler o meu

trabalho final, discutir, e acrescentar infindávies contribuições

acadêmicas.

O meu “muito obrigada”, mais que especial, ao meu

querido marido Yuri, por me confortar nos momentos que chorei

de desespero, por me abraçar e me reerguer nos momentos em

que eu já não acreditava mais, por me cobrar essa conquista

que não é mais só minha, é nossa a conquista de finalizar,

imprimir e entregar essa tese. Meu amor, o seu “acreditar” foi

muito mais que fundamental, foi o impulsionar desse momento,

6

foi o propiciar, o realizar, o concretizar e tornar realizade essa

tese.

Para a minha família, em toda a sua extensão, em todos os

graus de parentescos, o meu muito obrigada por sempre se

importar, sempre perguntar “como anda a tese?”,“quando vai

defender?”, e me forçar a superar os obstáculos, cansaço e

desânimo que surgiram ao longo do seu desenrrolar.

Ao meu querido orientador e grande amigo João Lima, o

qual tenho o prazer de conviver à mais de 12 anos, quem eu

pude compartilhar todo o meu crescimento acadêmico, medos,

angústicas e conquistas. Obrigada por acreditar na minha

capacidade, por nunca desistir da minha tese, apesar de todos

os altos e baixos, por sempre enxergar uma esperança no fim do

túnel, sem você, sem o seu apoio, seria impossível essa

realização.

Finalizando, o que é difícil de realizar sucintamente,

principalmente, encerrar em tão poucas palavras, gostaria de

salientar que, aqui, nessas páginas, seria impossível citar cada

um dos muitos que, comigo, participaram indiretamente, cuja

forma de apoio e atenção me foram, constantemente

prestados.

7

-- SSUUMMÁÁRRIIOO --

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... 10

LISTA DE GRÁFICOS ...................................................................................................... 11

LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... 12

RESUMO ......................................................................................................................... 13

ABSTRACT ...................................................................................................................... 14

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 15

OBJETIVOS ..................................................................................................................... 24

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................................... 28

CAPÍTULO 01 .................................................................................................................. 37

CLIMA, RISCOS E VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ...................................... 38

Estado de alerta: clima urbano e qualidade do ar ..................................... 42

Mudanças climáticas e a saúde ..................................................................... 46

Vulnerabilidade: dinâmica socioambiental ................................................. 56

Risco: exposição, complexidade e incerteza .............................................. 61

CAPÍTULO 02 .................................................................................................................. 68

EXPOSIÇÃO À POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA VEICULAR: INFLUÊNCIAS NA

QUALIDADE DE VIDA ...................................................................................................69

Frota nacional e consumo de combustíveis ................................................. 74

Frota no Estado de São Paulo ......................................................................... 76

Veículos no Estado de São Paulo .................................................................... 79

Poluentes Gerados e seus agravantes ........................................................... 81

Programas de Controle de Emissões de Poluentes ...................................... 84

PROCONVE .............................................................................................. 85

Plano de controle de poluição veicular ............................................. 88

CETESB ...................................................................................................... 90

PRONAR .................................................................................................... 93

8

CAPÍTULO 03 .................................................................................................................. 95

A PROCURA DE UM MODELO: UM GERAL SEM GERERALIZAR ............................... 96

As doenças respiratórias no Estado de São Paulo: espacialização, modelo

e discussão .................................................................................................................... 99

Indicadores socioambientais: uma ferramenta ........................................... 102

Indicadores socioambientais: integração vertical e horizontal ............... 106

Modelo socioambiental: saúde e suas relações ........................................ 109

A procura de um modelo cartográfico ....................................................... 113

Cidades de expressão no modelo cartográfico ......................................... 129

CAPÍTULO 04 ................................................................................................................ 137

A SAÚDE E O AMBIENTE URBANO EM BUSCA DE QUALIDADE DE VIDA .............. 138

A cidade... e a saúde? ................................................................................... 138

A saúde na cidade ......................................................................................... 150

Qualidade de vida .......................................................................................... 153

Acesso ao Serviço de Saúde ......................................................................... 160

CONSIDERAÇÕES ....................................................................................................... 163

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 172

9

-- LLIISSTTAA DDEE FFIIGGUURRAASS --

Figura 01 - Exposição da sociedade aos riscos e a vulnerabilidade .................. 39

Figura 02 - O desenvolvimento tecnológico e a poluição antropogênica ....... 40

Figura 03 - Esquema representativo do Canal II - Subsistema Físico-Químico .. 45

Figura 04 - Atitudes perante exposição aos riscos ........................................ 66

Figura 05 - Espacialização das internações por doenças respiratórias .......... 119

Figura 06 – Concentração da Vegetação no Estado de São Paulo ............... 122

Figura 07 – Média da Umidade Relativa para o Estado de São Paulo ............. 122

Figura 08 – Cultivo da cana-de-açúcar para o Estado de São Paulo .............. 123

Figura 09 – Usinas credenciadas a União da Indústria de cana-de-açúcar .... 124

Figura 10 – Classificação do Monteiro para o Clima do Estado de São Paulo 125

Figura 11 - Composição do modelo paulista para as doenças respiratórias . 127

Figura 12 - Do modelo geral ao kirigami .............................................................. 127

Figura 13 - Do modelo teórico ao modelo específico ....................................... 128

Figura 14 – Climogramas das cidades onde há concentração dos casos de

internação por Doenças Respiratórias segundo o modelo cartográfico .........134

Figura 15 – Total de veículos licenciados por municípios ................................... 135

Figura 16 - Saúde e ambiente urbano em busca de qualidade de vida ....... 154

Figura 17 - Qualidade de vida e suas condições variadas .................... 155

Figura 18 - Conceito de qualidade de vida e seus desfechos ............... 157

10

-- LLIISSTTAA DDEE GGRRÁÁFFIICCOOSS --

Gráfico 01 - Internações por doenças respiratórias. Estado de São Paulo, 2000-

2010 ............................................................................................................................... 75

Gráfico 02 – Consumo de Gasolina (m³) no Brasil (2000-2010) ........................ 75

Gráfico 03 - Consumo de óleo diesel (m³) no Brasil (2000-2010) ...................... 76

Gráfico 04 - Consumo de etanol (m³) no Brasil (2000-2010) ............................... 77

Gráfico 05 - Crescimento do n⁰ de automóveis no Estado de São Paulo (2000-

2010) .............................................................................................................................. 78

Gráfico 06 - Crescimento de veículos por tipo no Estado de São Paulo (2000-

2010) ............................................................................................................................. 79

Gráfico 07 – Consumo de Gasolina (m³) no Estado de SP (2000-2010) ........... 79

Gráfico 08 - Consumo de óleo diesel (m³) no Estado de SP (2000-2010) ........ 80

Gráfico 09 - Consumo de etanol (m³) no Estado de SP (2000-2010) .................81

11

-- LLIISSTTAA TTAABBEELLAASS --

Tabela 01 - Morbidade Hospitalar por Capítulo do CID-10, em todo o Brasil . 83

Tabela 02 - Principais poluentes atmosféricos, efeitos sob a saúde ................84

Tabela 03 - Emissões veiculares por diferentes categorias ................................. 87

Tabela 04 - Diminuição da Emissão dos Poluentes devido ao PROCONVE . 104

12

-- RREESSUUMMOO --

Esta tese buscou estabelecer relações entre os

diferentes indicadores socioambientais e a saúde, considerando

seus diversos agravantes gerando uma gama de sintomas,

enfermidades e mudanças no quadro clínico de saúde, o qual é

resultante das reações do organismo humano às condições

atmosféricas. Nessa perspectiva, a tese teve como objetivo

construir um modelo de representação espacial sob o fim de

analisar a influência dos indicadores socioambientais na

incidência de casos de doenças do aparelho respiratório,

relacionando com os dados demográficos e socioeconômicos,

numa conjuntura de desigualdade social e diferenciação nas

condições de vida da população áreas urbanas do interior do

Estado de São Paulo. Na modelização, o exemplo representado

foi considerado uma forma simples o qual facilita ao seu leitor

visualizar e entender os processos geográficos, na conjuntura, a

distribuição da incidência de casos de doenças respiratórias no

Estado de São Paulo, junto às variáveis favoráveis para a

temática. A falta de vegetação nativa, com a expansão de

pastagens e de cultivos agrícolas, a cultura da cana-de-açúcar,

o uso intensivo de queimadas, a circulação atmosférica e o gás

carbônico inter-estadual demonstraram uma contribuição

significativa para a incidência e o agravo das doenças

respiratórias. Acredita-se que seja necessário refinar os modelos

de análise das relações dos diversos elementos que interferem

direta e indiretamente sob a qualidade de vida e saúde a fim

de compreender a relação entre desigualdades sociais e

ambientais e o processo saúde-doença da população.

13

-- AABBSSTTRRAACCTT ––

This thesis sought to establish relationships between different

social environmental indicators and health, considering their

various aggravating generating a considerable range of

symptoms, diseases and clinical changes in health, which is a

result of the reactions of the human organism to atmospheric

conditions. In this perspective, the thesis aimed to construct a

model of spatial representation in order to analyze the influence

of social environmental indicators in the incidence of respiratory

diseases cases, relating to the demographic and socioeconomic

data, in a context of social inequality and differentiation in living

conditions of the urban area population in the inner west of São

Paulo state. In modeling, the example depicted was considered

a simple form which facilitates your reader visualize and

understand geographical processes in the environment, the

distribution of the incidence of respiratory diseases in the State of

São Paulo, with the favorable variables to the theme. The lack of

native vegetation, with the expansion of pastures and crops, the

cultivation of cane sugar, intensive use of burning technics of the

crops, atmospheric circulation and the presence of carbon in

the interstate air demonstrated a significant contribution to the

incidence and injury of respiratory diseases. It is believed that it is

necessary to refine the models of analysis of the relationship of

the various elements that interfere directly and indirectly on the

quality of l ife and health in order to understand the relationship

between social and environmental inequalities and the questions

of health-disease of population.

14

15

IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

A emergência e a re-emergência de uma série de

enfermidades e o aumento de outras ressaltam os desequilíbrios

provocados pelo paradigma da dominação antropocêntrica da

natureza e da dominação econômica de classes, grupos e

países ameaçando a saúde de todos os seres vivos e mais

particularmente do ser humano.

Estudos que incorporam esta perspectiva de

pensamento podem contribuir para a reflexão e discussão de

políticas públicas para a solução de parte dos problemas

enfrentados por nossa sociedade, pois possibilitam indicar quais

grupos de pessoas estão mais vulneráveis, bem como podem

auxiliam as diversas instituições do Estado a repensar seus

serviços para atender melhor a um número maior de pessoas

que possuem maior probabilidade de contrair uma morbidade

especifica e relacionada aos poluentes atmosféricos, que são o

foco avaliado por esta pesquisa.

Já está bem estabelecida a relação entre o agravo da

qualidade de vida e a poluição atmosférica produzida pela

queima de combustíveis fósseis e de biomassa, porém a maioria

dos estudos sobre os efeitos da poluição atmosférica

16

proveniente da queima de biomassa foi baseada em eventos

agudos e episódicos, como as queimadas de florestas.

Entretanto, existem populações expostas há cerca de quatro

décadas, durante 6 meses, todos anos, à queima de biomassa. É

o caso de várias regiões do Brasil, especialmente do Estado de

São Paulo, no qual se cultiva a cana-de-açúcar em extensas

áreas, util izando como prática a queima dos canaviais na pré-

colheita.

Do ponto de vista médico, o interesse pelo problema

reside no fato de que muitos pacientes com doenças crônicas

do aparelho respiratório, principalmente bronquite crônica,

enfisema e asma, referem-se ao agravamento dos seus sintomas

no período do ano que coincide com a safra da cana-de-

açúcar. A presença na atmosfera de resíduos grosseiros

(fuligem) resultantes da combustão da palha da cana-de-

açúcar aparece, para a população em geral, como uma

evidência marcante de que os sintomas respiratórios dependem

da poluição ambiental gerada pelas queimadas, ou são

agravadas por ela.

Cabe ressaltar que um dos aparatos do corpo humano

com maior intercâmbio com o meio ambiente é o aparelho

respiratório. Dada a grande quantidade de ar que o ser humano

17

respira, qualquer modificação em sua composição -

propriedades físicas e químicas - podem constituir-se num

verdadeiro problema para o indivíduo.

Avaliar os efeitos sobre a saúde, por meio da análise da

poluição do ar proveniente das queimadas de biomassa a céu

aberto é uma tarefa difícil. Vários fatores devem ser

considerados, tais como, as características dos poluentes, a

população exposta, o grau de exposição e a sucetibil idade

individual, fatores de confusão, como a temperatura e a

umidade relativa do ar, além da intensidade e da gravidade

dos efeitos sobre a saúde.

Porém, é importante ressaltar que a maioria das pessoas

que compõem a população de risco demanda um número

muito maior de consultas de emergência, de atendimentos

ambulatoriais, de medicações e internações. Tudo isso traduz

um ônus muito grande que atinge não só os serviços médicos,

mas também a qualidade de vida e econômica da população

exposta e dos municípios, pelos elevados custos da saúde.

É de fundamental importância, na perspectiva da

Geografia da Saúde, relacionar os dados referentes às

enfermidades com informações ambientais e, desta forma,

compreender as relações entre os níveis de exposição aos

18

poluentes e seus efeitos sobre a saúde, na tentativa de preservar

a população exposta. A grande maioria dos estudos

epidemiológicos que analisam os efeitos da poluição

atmosférica sobre a saúde humana tem sido realizados em

países desenvolvidos, ou em grandes centros urbanos dos países

em desenvolvimento, e estimativas de seus impactos têm servido

para gerar medidas prioritárias (algumas bem suscedidas) no

controle da emissão de poluentes.

Do ponto-de-vista ambiental acredita-se que o

desenvolvimento sustentado é impossibilitado pela interligação

de três fenômenos: o crescimento econômico de forma

desenfreada, pautada numa sociedade de consumo; o

aumento da população (muitas vezes, superior à capacidade

suporte dos ambientes); e a intensificação da poluição, em suas

distintas formas, proporcionando diferentes efeitos e afetando,

principalmente, a qualidade de vida de numerosos grupos

sociais. Em relação ao terceiro problema, acredita-se na

necessidade de considerar a possibilidade do fator

“consciência”, pelo qual a sociedade possa vir a controlá -lo,

minimizando, assim, seus efeitos.

O principal desafio que se coloca nos dias atuais é que

a cidade, inserida em diferentes metamorfoses urbanas, cria

19

variadas situações de risco, vulnerabil idade e problemas que

degradam a vida do citadino, há então, que criar condições

para assegurar a qualidade de vida.

Muitos estudos já foram realizados no Brasil e no exterior

no que diz respeito ao tema em pauta, poluição atmosférica. É

inegável que ao longo do tempo tais estudos vêm cada vez

mais se aprofundando e analisando mais concisamente as reais

necessidades mais prementes da sociedade. Não cabe mais

somente fazer um trabalho de medição e monitoramento

quantitativo dos níveis padrões aceitáveis de materiais nocivos

ao ser humano em suspensão no ar, e de fatores climáticos e

geomorfológicos. Além disso, devem-se fazer avaliações e

análises de outras diversas relações que dizem respeito ao meio,

ao homem, à sociedade e à sua complexa dinâmica de

funcionamento, para que possamos descongestionar e otimizar

os serviços.

Para esta tese, partiu-se da premissa que há uma

relação direta e indireta entre diferentes fatores ambientais,

sociais, econômicos e os casos de doenças respiratórias. Sendo

assim, denominamos estes fatores como indicadores

socioambientais, e procuramos selecionar aqueles que

20

demonstraram relação expressiva nos agravos da saúde da

população.

Sendo assim, esta tese foi dividida em quatro capítulos,

norteados por um objetivo e procedimentos metodológicos que

possibilitaram a construção de um pensamento multifacetado.

No primeiro capítulo a tese discute sobre a relação

entre o clima e o conceito de risco(exposição), permeando

ainda sobre o conceito de vulnerabilidade socioespacial.

Destaca ainda pontos importantes como o clima urbano e as

mudanças climáticas como influência direta na dinâmica

socioambiental e na saúde.

No segundo capítulo o destaque é a exposição do

homem para com a poluição atmosférica veicular e suas

influências na qualidade de vida. Ressaltando dados de grande

importância para tal fator, como: a frota de veículos, o consumo

de combustíveis, os poluentes gerados por estes combustíveis

automotores. Finalizando, o capítulo cita também os diversos

tipos de programas de Controle de Emissões de Poluentes

Atmosféricos norteando possibilidade de controle para um ar

mais saudável.

O terceiro capítulo da tese é o ponto alto da tese, pois,

discute de forma mais profunda sobre as doenças respiratórias

21

no Estado de São Paulo e suas relações com os indicadores

socioambientais (destacando cada um deles). Neste momento a

tese apresenta um modelo cartográfico espacializando

diferentes dados de diversas fontes, estes então são

sobreprostos gerando uma área de preocupações e risco para a

saúde daquela população ali localizada. Neste capítulo ainda,

são destacadas seis cidades de médio porte, localizadas nesta

área crítica, enfatizando a relação com o total de veículos e as

condições climáticas de cada uma, fatores potencializadores

para o aumento das infecções no trato respiratório.

Já finalizando a tese, o quarto capítulo vem debater

sobre as relações da saúde no meio urbano apontando para a

busca de uma qualidade de vida urbana e o acesso dos

serviços de saúde.

Sendo assim, acredita-se, então, que a proposta de um

modelo espacial, ou mesmo um modelo cartográfico, possa ser

uma porta, ou mesmo janela, na procura de proporcionar

melhor compreensão e diagnosticar de forma mais concisa e

precisa os problemas já existentes.

O que se pretende salientar é que o nosso ambiente

está sendo degradado diante de nossos olhos e que parte disso

está passando despercebida por grande parcela da população.

22

Todo esse esforço teórico se justifica pela necessidade

de se construir uma „pedagogia preventiva‟ ou de „promoção

de saúde‟ e de qualidade de vida que não reduza os problemas

a simples processos de causa-efeito.

Nesta perspectiva, considera-se relevante analisar a

influência dos fatores ambientais urbanos no agravo das

enfermidades respiratórias, assim como os casos de internação

hospitalar por doenças do aparelho respiratório, relacionando-

os com os dados demográficos e sócio-econômicos, numa

conjuntura de desigualdade social e diferenciação nas

condições de vida da população das áreas urbanas do Estado

de São Paulo.

23

24

OOBBJJEETTIIVVOO

A presente tese tem como objetivo principal propor um

modelo espacial de indicadores socioambientais para o Estado

de São Paulo, no qual visa identificar e analisar os casos de

internação hospitalar por doenças respiratórias e suas relações

com o ambiente, assim como o agravo dos riscos climáticos e a

vulnerabilidade socioespacial em que se encontra a sua

população.

OObbjjeett iivvooss EEssppeeccíí ff iiccooss

Construir e analisar um modelo socioespacial sobrepondo

dados socioambientais como clima, vegetação, cultivo de

cana-de-açúcar, queimadas, e o grau de risco municipal

por casos de doenças respiratórias;

Articular as possibil idades de uma construção teórica-

prática das relações entre saúde e ambiente em níveis

sociais, articulados, ampliados e reduzidos de modo em

25

que possa haver diferentes níveis de atuação e

planejamento.

Analisar e buscar diferentes abordagens conceituais que

melhor representam a exposição aos riscos e a

vulnerabilidade, além dos indicadores socioambientais ;

Analisar a exposição da saúde humana junto as emissões

de poluentes veiculares, e sua influência na qualidade de

vida urbana

Abordar a forma e a estrutura dos órgãos de gestão e de

avaliação, os emergenciais e os preventivos, a fim de

analisar as medidas atenuantes para a vulnerabilidade da

população, junto aos riscos, e sobre as fontes geradoras de

poluentes veiculares;

articular as possibilidades de correlações entre as

mudanças climáticas e suas efeitos potencializadores na

saúde

Cabe ressaltar que, quanto a complexidade do objeto,

há uma quantidade de componentes, dados e indicadores a

serem abordados, mediante a diferentes modelos de atuação,

como também propostas e questionamentos. Todos podem e

muitas vezes devem ser aticulados entre si, de forma que

26

agil izem a possibilidade de realizar uma leitura integrada da

multiplicidade de variáveis envolvidas tanto para a área

ambiental, da saúde e de diferentes fatores envolvidos nesta

temática.

27

28

PPRROOCCEEDDIIMMEENNTTOOSS MMEETTOODDOOLLÓÓGGIICCOOSS

Diante dos desafios metodológicos, enfrentados no

desenvolvimento desta pesquisa, é fundamental uma ampla e

profunda revisão bibliográfica. Para a tomada de decisão dos

passos e encaminhamentos metodológicos, foi relevante estudar

a produção acadêmica existente a respeito da Geografia da

Saúde e Climatologia Geográfica, assim como da epidemiologia

das doenças respiratórias. Transitando entre as obras clássicas e

os artigos atuais, foi necessário um aprofundamento nas

discussões sobre os temas abordados e o recorte espacial

estudado.

Esta tese é marcada por várias etapas buscando uma

análise multifacetada e integradora de diferentes tipos de

fontes e dados.

Aspectos que permeiam o problema comum de

pesquisa relacionam-se aos fatores naturais, culturais, sociais,

políticos, econômicos e tecnológicos, os quais são analisados

direta ou indiretamente, pois os mesmos que interagem sobre as

condições de vida.

Com base no quadro de saúde da população

brasileira, fornecido pelo Departamento de Informática do

29

Sistema Único de Saúde (DATASUS), nos últimos anos, as doenças

respiratórias estão entre as maiores causas de morbidade e

internações, e de forma similar o Estado de São Paulo segue

com as mesmas tendências.

Localizado no Sudeste brasileiro, o Estado de São Paulo

compartilha, semelhantemente, as informações do quadro de

saúde nacional. Inserido numa área de transição climática, esse

se caracteriza por distintas unidades geoambientais, com

particularidades de relevo, regime pluviométrico e uso e

ocupação de solo.

Sob a proposta da criação de um modelo

representativo que envolva diferentes variáveis ambientais,

sociais e de saúde, da temática proposta, para a

espacialização, foram util izados os dados de população,

publicados no Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), e os dados mensais de incidência de casos de

internação por doenças respiratórias, do DATASUS, do ano de

2000 a 2010.1

1 De acordo com Souza (2007), o ano de 2001 se apresentou, de 2000 a 2005, como o período mais

representativo para análises sobre as doenças respiratórias, no Estado de São Paulo, pelo fato dos demais apresentarem inconsistências e discrepâncias de dados.

30

A análise e a espacialização dos dados de internação

foram a partir da escala sazonal, segundo o calendário civil.2

A base estatística foi uniformizada por meio da seguinte

fórmula:

LEGENDA:

RDR – grau de risco de doenças respiratórias;

DRest – total por estação de incidência de casos de internação por doenças

respiratórias;

pop – total de população do município;

* cálculo por 1000 habitantes.

A pesquisa documental consistiu-se da busca de dados

de morbidade, populacional, informações ambientais e

socieconômicas e bases cartográficas para a elaboração deste

trabalho.

Para a modelização, as variáveis foram obtidas por

meio dos referidos dados do DATASUS, de 2000 a 2008; do

relatório anual, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), de

2008; dos mapas da expansão da cultura da cana-de-açúcar,

da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), de

2007; das imagens de satélite do monitoramento de focos de

queimada, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos

Climáticos (CPTEC) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

2 Verão – jan., fev., mar.; Outono – abr., maio, jun.; Inverno – jul., ago., set.; Primavera – out., nov., dez.

31

(INPE), além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA), de 2000 a 2008; e dos dados do trabalho

desenvolvido por Monteiro (1973).

Util izou-se o programa Microsoft Office Excel 20073, para

o tratamento dos dados estatísticos; Philcarto 4.54, para a

confecção dos mapas; e CorelDRAW X35, para a criação e o

aprimoramento do modelo.

Este é um estudo que se caracteriza pelo enfoque de

um grupo de indivíduos de uma determinada região geográfica,

como, por exemplo, a população de um bairro, de uma cidade,

de um Estado ou de um país. Não há dados individuais,

desconhecendo-se as proporções de expostos e doentes,

conforme as suas singularidades e identidades imunológicas

particulares. Serão analisados apenas os valores marginais,

como o total de expostos e não expostos, e de doentes e não

doentes, os quais são acessíveis (MORGENSTERN, 1982;

MORGENSTERN, 1995).

Isso voltado à avaliar os impactos sociais ou

populacionais de uma determinada variável, como, por

exemplo, a poluição atmosférica, novos programas de saúde e

mudanças na legislação. São estudos classicamente util izados 3 Excel é marca registrada da Microsoft Corporation.

4 Philcarto é marca registrada por Philippe Waniez.

5 CorelDRAW é marca registrada do Corel Corporation.

32

para gerar hipóteses a serem investigadas individualmente ou

para avaliar o impacto de programas de intervenção sobre

populações.

Os dados secundários de morbidade referente às

internações hospitalares registadas nas AIHs – Autorizações de

Internações Hospitalares –foram obtidos no Sistema de

Informações Hospitalares do Sistema único de Saúde (SIH/SUS),

disponíveis no sítio do DATASUS.

O SIH-SUS é um banco de dados administrativo cujo

objetivo é viabiliza o pagamento dos serviços prestados pelo SUS

e que contém informações sobre as internações hospitalares.

Trata-se de informações relevantes, que permitem avaliar o

perfil epidemiológico de uma determinada população. Cabe

ressaltar que a amostra selecionada refere-se somente aqueles

pacientes que util izam o Sitema único de Saúde (SUS).

A Rede Interagencial de Informações para a Saúde -

RIPSA, criada por iniciativa conjunta do Ministério da Saúde e

da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), reúne

instituições representativas dos segmentos técnico-científicos

diretamente envolvidos na produção e anál ise de dados de

interesse para a saúde no país. Seu propósito é subsidiar, com

informações relevantes, os processos de formulação, gestão e

33

avaliação de políticas e ações públicas de importância

estratégica para o sistema de saúde brasileiro. A Rede

pressupõe compromissos de parceria permanente na produção

e uso de dados e informações necessárias para caracterizar o

estado de saúde, as respostas do aparelho prestador de serviços

e os fatores socioeconômicos que condicionam o quadro

sanitário.

Os Indicadores e Dados Básicos para a Saúde (IDB) são

produto dessa ação integrada, diretamente trabalhado pelas

instituições responsáveis pelos principais sistemas de informação

de base nacional util izados - Ministério da Saúde, Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA) e Ministério da Previdência Social .

Espera-se que estes Indicadores e Dados Básicos sejam

oportunamente util izados na produção de análises sobre a

situação de saúde e suas tendências, subsidiando os poderes

públicos em todos os níveis de gestão e participação social do

SUS, bem como a comunidade técnico-científica e as instâncias

de representação política do país. Todos os usuários desse

instrumento estão convidados a contribuir com comentários e

sugestões para o contínuo aperfeiçoamento do sistema de

atenção e saúde.

34

O estudo realizado por Ribeiro (2006) possibil itou traçar

o perfil sociodemográfico da população usuária do SUS apontou

que os util izadores do sistema concentram-se nas camadas mais

pobres da população e com maiores necessidades de saúde,

com predomínio de pretos (negros) e pardos, baixa

escolaridade e sem posse de plano de saúde privado, o que

possivelmente pode gerar dados tendenciosos à esse tipo de

perfil socioeconômico.

Alguns autores, Bittencourt et al (2006); Veras e Martins

(1994), avaliam a confiabil idade das informações hospitalares e

constataram algumas limitações: com relação aos diagnósticos;

ao uso da internação como unidade de análise do sistema ao

invés do indivíduo; a ausência de dados acerca das condições

sociais e econômicas; à definição a respeito da inclusão ou

exclusão dos serviços de assistência hospitalar no SIH/SUS

mediante o estabelecimento de normas e a mudança periódica

de portarias e de política de reembolso. A despeito dessas

limitações, os autores consideram que a qualidade das

informações disponíveis no banco de dados das AIHs é superior

à que geralmente lhe é atribuída e apresentou avanços com

relação a registros de diagnósticos.

35

Durante o processo de tratamento dos dados das AIHs

(Autorização de Internação Hospitalar), alguns problemas foram

detectados: a duplicação da informação, principalmente no

que se refere às internações de longa duração; o grande

intervalo de tempo entre as ocorrências e a inserção das

informações no banco de dados – uma internação ocorrida em

maio de 2003, por exemplo, pode aparecer no banco somente

em dezembro de 2006; a ausência de registro do CEP ou a

informação sobre o CEP do indivíduo nem sempre corresponde

ao de sua residência, podendo constar o CEP do hospital em

que ele for internado.

As dificuldades investigativas levantadas não são

exclusividades do Brasil. Na maioria dos países em

desenvolvimento, o principal desafio é a falta de dados

adequados. No entanto, isto não pode ser um impedimento

mas, pelo contrário, deve ser uma motivação para a busca de

soluções importantes para os problemas de saúde pública.

Acredita-se que diversas alternativas metodológicas podem ser

empregadas no sentido de complentar os estudos já existentes e

futuros.

36

37

CCLLIIMMAA,, RRIISSCCOOSS EE VVUULLNNEERRAABBIILLIIDDAADDEE SSOOCCIIOOAAMMBBIIEENNTTAALL

Nesse, como em outros campos da análise ambiental,

um dos principais desafios para o cientista social é a precisão

conceitual. O aprofundamento de conceitos adotados de um

vocabulário não-científico, dotando-os de significados mais

densos e vinculados a quadros teóricos abrangentes, é uma

exigência inescapável. Vulnerabilidade e risco são conceitos

desse tipo, pois ermitem, em particular, associar fatores dos

mundos natural e social, uma necessidade imposta pela

realidade ambiental. Mas é preciso ir alem do senso comum na

construção de uma sociologia ou demografia ambiental.

Acredita-se que, o risco e a vulnerabil idade (Figura 01)

descreve o grau com que um sistema natural ou social é

suscetível de suportar ou não os efeitos adversos, considerando

o seu nível de exposição, sua sensibilidade e sua capacidade de

adaptação.

As condições materiais e de trabalho dos indivíduos e

grupos, assim como sua vulnerabil idade aos impactos

ambientais estão fortemente influenciadas pela posição social

que ocupam e que pode se definida por meio de uma série de

variáveis.

38

Figura 01 - Exposição da sociedade aos riscos e a vulnerabilidade. Fonte: SOUZA, 2007.

Organização: GROSSO, 2011.

Grande parte do trabalho analítico do desenvolvimento

de uma abordagem para a análise de vulnerabilidade e risco

tem sido realizada em contextos em que a escassez de

alimentos é o ponto central. Especialmente na África, a

vulnerabilidade de populações rurais a secas e quebras de

colheitas tem inspirado esforços no sentido de refinar os

conceitos necessários para análise, previsão e

prevenção/mitigação (HENNINGER, 1998). Apesar dessas

preocupações não serem irrelevantes no contexto da América

Latina, a característica urbana dessa região nos leva a examinar

outros fatores com sérios impactos no bem estar dessas

populações: acesso l imitado a serviços de saneamento (água

39

tratada, coleta e tratamento de esgotos, coleta e disposição

final do lixo, pavimentação de ruas), susceptibil idade a

inundações, deslizamentos e poluição do ar. Esses fatores

representam tanto situações de ameaça à vida quanto

situações de exposição a um amplo espectro de doenças

relacionadas com ar e com a água.

Desta forma, acretida-se que a expansão territorial

urbana, assim como o desenvolvimento tecnológico (figura 02),

geram um aumento no consumo de energia, com ostransportes,

com a indústria e as devidascondições de comodidades

cotidianas, criando então uma poluição antropogênica

gerando agravos diretos na qualidade de vida urbana.

Figura 02: Desenvolvimento tecnológico e a poluição

antropogênica Organização: GROSSO, 2011

Segundo David Pimentel (1998), cerca de 40% das

mortes que ocorrem no mundo são causadas por poluição e

outros fatores ambientais, sendo que a poluição do ar afeta a

40

saúde de 4 a 5 bilhões de pessoas; a esquistossomose causa a

morte de um número estimado em 1 milhão de pessoas; a

fumaça resultante do processo de preparar alimentos em

cozinhas fechadas mata 4 milhões de crianças a cada ano; e a

falta de condições sanitárias contribui para 4 milhões de mortes

por ano – principalmente de crianças nos países em

desenvolvimento.

Para Brandão (2005) embora pesem, favoravelmente, o

grande avanço tecnológico atual e os esforços para o

conhecimento das forças da natureza, as sociedades modernas

permanecem, ainda, bastante vulneráveis diante de eventos

naturais extremos, particularmente os de natureza

meteorológica.

Sob o rótulo genérico de eventos naturais extremos, que

geram risco e vulnerabilidade, afetando de formas diversas a

sociedade urbana, encontra-se uma gama de fenômenos,

variada em quantidade e complexa em intensidade. A grande

maioria dos mais freqüentes e intensos, eventos está l igada,

direta ou indiretamente, á atmosfera: enchentes, seca,

nevoeiros, geadas, granizos, descargas elétricas, nevascas,

ondas de calor, ciclones tropicais e vendavais, complementados

por desmoronamentos-deslizamentos de vertentes e ressacas,

41

acrescidos por impactos pluviais concentrados, que afetam os

domínios intertropicais (BRANDÃO, 2005).

Estado de Alerta: clima urbano e qualidade do ar

Os produtos resultantes das alterações antropogênicas

no sistema climático são perceptíveis de modo mais eficiente

nas áreas urbanas e se expressam por meio dos canais de

percepção humana, conforme proposto por Monteiro (1976): o

do conforto térmico, o da qualidade do ar e o do impacto

meteórico, que se manifestam em eventos, já corriqueiros nas

metrópoles, como poluição do ar, alterações na ventilação,

configurações de ilhas de calor, desconforto térmico, impacto

pluvial extremo dentre outros. Portanto é difícil dissociar

atributos climáticos de qualidade ambiental, visto que são

componentes do sistema urbano, inteiramente relacionados e

dependentes entre si (MONTEIRO, 1976).

A qualidade do ar nas cidades não depende somente

da quantidade de poluentes existentes (lançados por diversas

fontes emissoras), mas, também, pela forma de como a

atmosfera age, tendo seu papel fundamental para a dispersão

ou, até mesmo, concentração desses.

42

Os sistemas atmosféricos se organizam em níveis

escalares diferentes, da camada superior para a inferior,

influenciando, diretamente, na dispersão e concentração de

poluentes, em função do estado (precipitação e temperatura),

a velocidade e a direção dos ventos na atmosfera. Há também,

diferenças regionais, o clima local e, até mesmo, o clima urbano

(ilhas de calor e circulação do ar), que, somados com as

características do ambiente urbano (a topografia, as

edificações, a impermeabilização, a circulação de veículos e

pessoas e os diferentes usos e ocupações do solo), interferem na

qualidade de vida do indivíduo.

Segundo Monteiro (1976), o clima urbano é definido

como sendo um sistema complexo, aberto e adaptativo,

abrangendo o clima de um dado espaço terrestre e, também,

sua urbanização.

O Sistema Clima Urbano (S.C.U.), proposto por Monteiro

(1976), é composto por três canais de percepção humana, que,

nos estudos de clima urbano, consideram-se três subsistemas: o

Termodinâmico, o Físico-Químico e o Hidrometeórico, num

aprofundamento sobre o conforto térmico, a qualidade do ar e

o impacto meteórico, respectivamente.

Sob um breve enfoque, buscou-se compreender o

Subsistema Físico-Químico (Figura 3), uma vez que diferente dos

43

outros canais de percepção, o trânsito no sistema se dá de

operando ao operador, partindo da produção humana na

cidade e interferindo, assim, no clima e na qualidade do ar do

ambiente urbano.

Segundo Monteiro (2003), diagnosticar a poluição

atmosférica da cidade requer vários cuidados. Em primeiro

lugar, certa acuidade na mensuração da qualidade do ar,

acompanhada do levantamento das fontes poluidoras. Como

produção humana, ela deve ser corrigida na fonte de emissão e

não atribuída ao comportamento do ar sobre cujos insumos

energéticos o homem não dispõe de controle.

É possível observar os diferentes níveis do Subsistema do Canal

II - insumo, transformação, produção, percepção e ação. Várias

medidas minimizantes podem ser criadas para diminuir, de forma

regressiva, os problemas gerados, principalmente os de origem sanitária,

e os relacionados com os diversos complicadores da saúde humana;

mesmo que ainda não se esteja no “estado de alerta”, uma “ação

decisiva” pode ser tomada.

44

Figura 3 - Esquema representativo do Canal II - Subsistema Físico-

Químico Fonte: MONTEIRO, 2003

Organização: SOUZA, 2007.

45

Não se trata de ver o espaço e seus fenômenos

subordinados, mas como fundamentais em todo o acontecer

urbano. Não é apenas espaço-tempo unificados e

indissociáveis, mas também espaço-sociedade, espaço-

ambiente, espaço-homem, espaço-espaços. Nesta dimensão

(espacial/ambiental), não estão apenas fenômenos materiais

(objetivos), como o sítio urbano, a geomorfologia, o clima, mas

também estão estreitamente vinculados alguns fenômenos

imateriais (subjetivos), como a percepção geográfica, os

discursos e as práticas espaciais (MARANDOLA JÚNIOR, 2004).

Mudanças climáticas e a saúde

A discussão entre mudanças climáticas e saúde no

contexto urbano está tomando cada vez mais força nas

discussões sob a luz do século XXI. Em associação a essa

dinâmica natural, está a capacidade humana em manipular e

modificar o sistema ambiental, evidenciada de modo

incontestável nas últimas décadas, alterando o equilíbrio físico-

químico do planeta, tanto em sua superfície como também sob

a velocidade dos processos.

Para Saldiva (2011) as mudanças climáticas poderão

provocar uma série de impactos que deixarão vulneráveis

46

milhões de pessoas, especialmente as de baixa renda, que

enfrentarão com mais dificuldade os problemas relativos à

sobrevivência e à adaptação.

Segundo Sant‟Anna (2011), nos últimos 50 anos o

crescimento populacional das áreas urbanas em todo o planeta

é impressionante. Em 1950, cerca de 737 milhões de habitantes

(29,1%) viviam em cidades. Os dados para 2010 apontam para

mais de 3,5 bilhões de seres humanos morando em áreas

urbanas, ou seja, aproximadamente 50,6% da população

mundial.

Embora a mudança de clima seja um fenômeno global,

suas conseqüências não são igualmente distribuídas. A

combinação de crescimento populacional, pobreza e

degradação ambiental aumentam a vulnerabilidade às

catástrofes climáticas.

Vormittag (2011) ressalta que a alteração do clima

afeta mais as áreas urbanas que as rurais, sobretudo por causa

das emissões veiculares e a abundância de superfícies que

retêm o calor, as chamadas ilhas urbanas de calor.

A mesma autora aborda que estimativas da

Organização Mundial da Saúde - OMS mostram que a mudança

do clima causa 150 mil mortes anuais e 5,5 milhões de anos de

vida perdidos ajustados por incapacidade.

47

Segundo Saldiva (2009) as mudanças climáticas estão

vinculadas diretamente e indiretamente no cotidiano do ser

humano bem como com a sua saúde, O autor destaca o

aumento da mortalidade e também morbidade pela exposição

constante (direta ou indiretamente) aos poluentes, a

antecipada escassez de água em áreas carentes (no nosso

caso, a região Nordeste do Brasil), a escassez de alimentos

decorrentes da desertificação do solo, o aumento das doenças

infecciosas que possuem insetos como vetores (dengue e

malária, por exemplo), a maior frequência de desastres naturais

como inundações e ventos intensos, variações extremas de

temperatura (para mais ou para menos) e seus efeitos adversos

à saúde, a deterioração da qualidade das águas pela

salinização dos aqüíferos.

Um dos grandes instrumentos de divulgação e

politização do processo das mudanças do clima, que vem se

agravando nas últimas décadas, são os Relatórios do Painel

Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), de forma

integrada e muitas vezes polêmicas lançam à sociedade e aos

setores de governo um desafio sobre as causas e o papel das

alterações ambientais sobre as condições de saúde.

Dentre os efeitos já estimados, no campo da saúde

humana, destacam-se a propagação de doenças infecciosas,

48

em especial aquelas de transmissão vetorial, aquelas com

reservatórios animais em sua cadeia de transmissão e as de

transmissão hídrica ou alimentar; os danos à saúde decorrente

dos desastres de origem natural ou antropogênicos; doenças

crônicas não infecciosas relacionadas às modificações

ambientais e deficiências nutricionais. Estes efeitos são pouco

perceptíveis em análises de curto prazo, exceto em situações de

exposição aguda, como no caso de desastres, mas apresentam

um grande potencial de intensificação, o que pode se

analisado por meio de séries históricas e com a util ização das

ferramentas adequadas.

De acordo com diversos autores, que se diferenciam e

complemente em suas áreas como climatologia, meteorologia,

agrometeorologia, geografia, biologia e até mesmo medicina,

dentre outras disciplinas, os riscos associados às mudanças

climáticas globais devem ser considerados no contexto da

globalização, das alterações ambientais, das políticas públicas

e da governança. Portanto, cabe a diversos setores, bem como

o setor saúde, colaborar com soluções mitigatórias para

redução das vulnerabil idades sociais e ambientais.

A ocorrência e potencialização dos processos de

mudanças climáticas, principalmente, aquelas devidas ao

aquecimento global induzido pelas atividades vinculadas à

49

ação humana, foi indicado como alertada desde décadas

atrás. Ao longo dos anos 70, cresceu a preocupação de

pesquisadores ligados a questões ambientais, com o impacto

dessas mudanças sobre os ecossistemas. Na década de 90,

foram desenvolvidos modelos que permitiram, de um lado,

explicar a variabilidade de clima ocorrida ao longo do século,

e, de outro lado, avaliar a contribuição de componentes

naturais e antropogênicos (emissão de gases do efeito estufa,

desmatamento e queimadas, destruição de ecossistemas, etc.)

sobre essas variações.

Porém, é importante destacar que o clima da Terra

esteve, desde sempre, sujeito a mudanças, naturais, produzidas

por ciclos longos ou curtos, que estão registrados na história da

Humanidade.

Esses ciclos podem ter sua origem explicada por

processos naturais, l igados a alterações no eixo de rotação da

terra, explosões solares e dispersão de aerossóis emitidos por

vulcões. Outros fenômenos climáticos, mais localizados no

espaço e mais concentrados no tempo, são bastante

freqüentes, como os furacões, enchentes decorrentes de chuvas

intensas ou degelo, ondas de calor, entre outras.

As mudanças climáticas podem ser entendidas como

qualquer mudança no clima ao longo dos anos, devido à

50

variabil idade natural ou como resultado da atividade humana

(IPCC, 2007a).

É importante frisar que, o aumento do efeito estufa é

responsável por parte dos fenômenos atmosféricos, inerente aos

ciclos naturais, tornando uma importante parcela na discussão

que vem sendo travada nos fóruns acadêmicos sobre clima e diz

respeito à parcela atribuível desses fenômenos às mudanças

climáticas globais.

Segundo McMICHAEL (1999) e CONFALONIERI et al,

(2002) as mudanças climáticas refletem o impacto de processos

socioeconômicos e culturais, podendo ser destaque o

crescimento populacional, a urbanização, a industrialização e o

aumento do consumo de recursos naturais.

Acredita-se que os problemas de saúde humana

associados às mudanças climáticas não têm sua origem

necessariamente nas alterações climáticas, e sim essas

potencializam situações e vulnerabil idades já existentes. A

população humana sob influência das mudanças climáticas

apresentará os efeitos, de origem multicausal, de forma

exacerbada ou intensificada.

A avaliação dos efeitos sobre a saúde relacionados

com os impactos das mudanças climáticas é extremamente

complexa e requer uma avaliação integrada com uma

51

abordagem interdisciplinar dos profissionais de saúde,

climatologistas, meteorologistas, cientistas sociais, biólogos,

físicos, químicos, epidemiologistas, dentre outros, para analisar

as relações entre os sistemas sociais, econômicos, biológicos,

ecológicos e físicos e suas relações com as alterações climáticas

(McMICHAEL, 2003).

As mudanças climáticas podem produzir impactos sobre

a saúde humana por diferentes vias e em diferentes formas. Por

um lado o impacto pode ser de forma direta, como no caso das

mortes por ondas de calor, ou até mesmo óbtos ocasionados

por diferentes eventos extremos como inundações ou até

mesmo furações. Mas muitas vezes, esse impacto pode ser

considerado indireto, sendo ocasionado por alterações no

ambiente, como a mudanças de ecossistemas e de ciclos

biológicos, que podem angariar a incidência de doenças o até

mesmo infecciosas, transmitidas por vetores e também doenças

cardiorespiratórias e até mesmo por disfunções mentais.

A ocorrência de variações nas respostas humanas

podem estar relacionadas às mudanças climáticas por estarem

diretamente vinculadas às questões de vulnerabil idade

individual e até mesmo coletiva, sendo potencializadas por suas

condições socioeconômicas e fisiológicas.

52

Variáveis como idade, perfil de saúde, resiliência

fisiológica e condições sociais contribuem diretamente para as

respostas humanas relacionadas às variáveis climáticas

(MARTINS et al, 2004). Alguns estudos também apontam para

fatores que aumentam a vulnerabil idade dos problemas

climáticos, que podem ser uma combinação de crescimento

populacional, pobreza e degradação ambiental

(McMICHAEL,2003).

As alterações no ciclo do regime de chuvas, da

temperatura e também da umidade relativa podem agravar os

efeitos das doenças respiratórias, assim como proporcionar

alterações nas condições de exposição à concentração de

poluentes atmosféricos. Dada tamanha diversidade de

evidências na relação entre alguns efeitos potencializadores no

agravo das condições de saúde devido às variações climáticas

e os níveis de concentração da poluição atmosférica, tais como

a inversão térmica, a potencialização e o aumento dos níveis de

poluição e o agravo de problemas respiratórios, parece

inevitável que as mudanças climáticas de longo prazo possam

exercer diversos efeitos junto à saúde humana em diferentes

intensidades e escalas, transitando entre local e até mesmo

global.

53

De acordo com Saldiva (1994) em áreas urbanas alguns

efeitos da exposição a poluentes atmosféricos são

potencializados quando ocorrem alterações climáticas,

principalmente as inversões térmicas. O autor salienta que isto se

verifica em relação a asma, alergias, infecções bronco-

pulmonares e infecções das vias aéreas superiores (sinusite),

principalmente nos grupos mais susceptíveis, que incluem as

crianças menores de 5 anos e indivíduos maiores de 65 anos de

idade.

Estudos epidemiológicos evidenciam um incremento de

risco associado às doenças respiratórias e cardiovasculares,

assim como da mortalidade geral e específica associadas à

exposição a poluentes presentes na atmosfera (POPE et al.,

1995; OPAS, 2005; ANDERSON et al., 1996; RUMEL et al., 1993;

CIFUENTES et al., 2001).

Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que

50% das doenças respiratórias crônicas e 60% das doenças

respiratórias agudas estão associadas diretamente, ou indireta,

à exposição a poluentes atmosféricos. Estudos como

SALDIVA(1994) e GOUVEIA(2006), relacionando os níveis de

poluição do ar arcando como efeitos à saúde, desenvolvidos

em áreas metropolitanas, mostram associação da carga de

morbidade e mortalidade por doenças respiratórias, com

54

incremento de poluentes atmosféricos, principalmente de

material particulado.

Não se pode descartar que as condições sociais como

situação de moradia, alimentação e acesso aos serviços de

saúde são fatores que aumentam a vulnerabilidade de

populações expostas aos episódios das mudanças climáticas.

Esses fatores somados a exposição a poluentes atmosféricos,

propiciam o aumento de internações e agravamento de

quadros clínicos (MARTINS et al., 2004).

Discuti-se que o mundo vem passando por mudanças e

transformações que não estão l imitadas apenas a aspectos

climáticos. De encontro aos processos de mudanças climáticas,

vem a globalização, as mudanças ambientais e a precarização

de sistemas de gestão pública (reduzindo investimentos em

saúde, aumentando a dependência de mercados e

aumentando as desigualdades sociais), que todos unidos

expõem ainda mais a população às adversidades agravando e

gerando vulnerabilidades.

De acordo com Confalonieri(2005), as vulnerabilidades

são conformadas pelas condições sociais, marcadas pelas

desigualdades, as diferentes capacidades de adaptação,

resistência e resiliência.

55

Essas avaliações são baseadas no pressuposto de que

grupos populacionais com piores condições de renda,

educação e moradia sofreriam os maiores impactos das

mudanças ambientais e climáticas.

Porém, acredita-se que, somente prevenir esses riscos

fornecendo respostas para os impactos causados pelas

mudanças ambientais e climáticas, mas também atuar na

redução de suas vulnerabilidades sociais, por meio de

mudanças no comportamento individual, social e político, por

um mundo mais justo e mais saudável.

Vulnerabilidade: dinâmica socioambiental

O conceito de vulnerabilidade tem atraído estudiosos

das mudanças ambientais de várias áreas do conhecimento,

mas apesar disso continua existindo pouco consenso sobre

definições apropriadas. Essa diversidade conceitual na literatura

tem levado muitos pesquisadores, como Liverman (1990) a usar

uma abordagem ampla: ser vulnerável a seca significa falta de

defesas ambientais, tecnológicas, econômicas ou políticas

contra seus impactos. Cutter (1996), em sua revisão sobre o

conceito, identifica 18 definições diferentes. Ela agrupa essas

definições em três categorias: vulnerabil idade como condições

56

pré-existentes, vulnerabilidade como resposta moderada e

vulnerabilidade como risco do lugar). Nosso uso se aproxima da

categoria citada por último, uma vez que incorpora

características sócio-demográficas e econômicas da população

como aspectos intrínsecos da vulnerabil idade.

A noção de vulnerabil idade ganhou força em finais dos

anos 90 nas ciências sociais, e seu conceito continua sendo

discutido e aprimorado por diversos autores, aplicando ao tema

população e desenvolvimento (DESCHAMPS, 2004).

A vulnerabilidade varia tanto no espaço, quanto no

tempo. Essa pode estar inserida em diferentes escalas de análise

e efeito. Dentre a escala temporal, podem se diferenciar entre

horas, meses, décadas e até mesmo séculos, e na escala

espacial, a graduação dimensional encontra-se entre local

(casa, bairro ou cidade), regional (zona ou Estado) e até mesmo

em grandes dimensões como nacional ou continental,

chegando a nível global.

Os fatores socioeconômicos, em razão da

vulnerabilidade, podem aumentar e gerar um quadro muito mais

agravado junto às populações que se encontram ameaçadas

ou já envolvidas por um risco.

57

A vulnerabilidade de mede pela estimativa dos

danos potenciais que podem afetar um alvo, tal

como o patrimônio construído ou população [...]

pode ser compartilhada por um grupo social

(probabilidade anual de um conjunto de

indivíduos ser morto em razão do mesmo

acontecimento), ela é, então, função em grande

medida, da distribuição da população em torno

do local de risco (VEYRET, 2007, p. 39).

Segundo Confalonieri (2003), a vulnerabil idade pode ser

definida como o produto da exposição física perante um perigo

natural e sua capacidade em poder se preparar e recuperar

diante dos impactos negativos de um desastre, sendo, também,

as características de um grupo, ou mesmo uma pessoa, em

poder se antecipar, resistir e solucionar junto aos impactos,

podendo ser eles, os agravados pela influência do clima. O

autor ainda ressalta:

[...]a redução dos impactos causados pela

variabilidade climática na população brasileira só

pode ser efetuada com o entendimento e a

modificação dos fatores de vulnerabilidade social

que afetam essas populações em seus contextos

geográficos específicos” (CONFALONIERI, 2003,

p.203).

Para que se possam propor medidas, que contribuam

para uma melhoria da qualidade de vida no ambiente urbano,

58

é importante que se tenha conhecimento das especificidades

de cada cidade.

É necessário articular um conjunto de ações visando à

redução de riscos nas áreas urbanas, ações que, associadas aos

sistemas emergenciais, de apoio e preventivo, avancem no

sentido de incorporar as necessárias atividades para uma

gestão do território urbano e estejam em concordância com os

programas de urbanização de áreas mais vulneráveis e que

contam com baixa infra-estrutura e equipamentos urbanos. Esta

ação de gestão e prevenção de riscos baseia-se principalmente

no tripé que une os órgãos competentes (responsáveis pelo

poder executivo, legislativo e judiciário), os órgãos emergenciais

(defesa civil, corpo de bombeiros e polícia) e a comunidade

(participando por meio de fóruns e eventos, representados pelo

seus líderes comunitários).

Entre os desafios da construção da sustentabil idade

ambiental urbana está a aceitação de que esta, assim como a

sustentabil idade mais ampla, é um processo e não algo já

definido a ser atingido; de que tal processo deve envolver

questões além das estritamente ambientais; uma melhor

definição de que propostas poderão contribuir para o seu

avanço. Para Magalhães (2006), a resposta para isso se

59

encontra na criatividade na concepção de bons projetos e a

capacidade de se evitar os falsos atalhos.

A problemática ambiental urbana representa, por um

lado, um tempo muito propício para aprofundar a reflexão em

torno do restrito impacto das práticas de resistência e expressão

de demandas da população, das áreas mais afetadas, pelos

constantes e crescentes agravos ambientais. Por outro lado

representa, também, a possibil idade de abertura de espaços

estimulantes para implementar alternativas diversificadas de

democracia participativa, notadamente a garantia do acesso à

informação e consolidação de canais abertos, para uma

participação plural.

Há diferentes formas de conseqüências da alteração

na paisagem, principalmente, ambientais e sociais. O resultado

destas ocasionam impactos, os quais criam riscos e geram

vulnerabilidades.

Nas áreas urbanas, há situações distintas no que refere

a condições de vida: segregação espacial , crescimento de

favelas e exclusão social são diferentes aspectos da não

inclusão no estilo de vida dominante. A falta de acesso ao

mercado de consumo é acompanhada pela falta de serviços

públicos, agravando as condições de vida dessas populações

vulneráveis. Entendendo a vulnerabilidade como um processo

60

que envolve tanto a dinâmica social quanto as condições

ambientais, compreende-se que a comparação das

características sócio-demográficas da população dentro da

malha urbana nos mostra quem está sendo levado a ocupar as

áreas periféricas e quem se estabelece nas áreas de maior risco.

Assim, a vulnerabil idade encontra-se diretamente

relacionada com grupos vulvenáveis, ou seja, indivíduos que,

por determinadas caracterísitcas ou contingências, são menos

propensos a uma resposta positiva mediante algum evento

adverso.

Risco: exposição, complexidade e incerteza

… o risco interroga necessariamente a geografia

que se interessa pelas relações sociais e por suas

traduções espaciais (VEYRET, 2007:p.11)

Embora todos tenham idéia, por experiência e uso, do

que possa ser „felicidade‟, „justiça‟, „verdade‟, „saúde‟ ou

„risco‟, de imediato não podem ser tão facilmente conceitudas.

Para Lieber (2002), conceituar „risco‟ é, portanto, uma

tarefa „arriscada‟, pois é um embate contra o mito, contra a

onipotência da racionalidade científica e contra o poder, mas

também o é contra a miséria e contra a iniquidade.

61

Adentrando na questão dos riscos urbanos, há

diferentes abordagens sobre e do risco, há de se fazer um

diálogo entre eles, numa busca de complementaridades. Vários

outros conceitos se cruzam e se relacionam com os riscos,

tornando-o uma importante categoria de análise para os

preocupados tanto com as questões políticas, sociais,

econômicas e até mesmo culturais da problemática ambiental.

Definido por Marandola Júnior (2004), o risco é uma

relação de insegurança e incerteza do que pode vir afetar ou

mesmo transtornar aquela população em seu meio, rotina ou

modo de vida. Concordando com o autor, acredita-se que risco

esteja vinculado diretamente com uma exposição à natureza,

tornando-se assim assunto complexo, e ao mesmo tempo

dinâmico, gerando então, incertezas sobre como influenciam

direta, ou indiretamente, no cotidiano .

Para Ana Monteiro (1997), o conceito de risco permeia

na probabil idade de acontecimentos indesejáveis que ocorram

a partir de um risco potencial ou de exposição deliberada ou

acidental a um perigo existente. Segundo a autora, é um

fenômeno ou processo natural que representa um perigo para o

bem-estar humano.

A noção de risco na sociedade moderna está l igada às

condições de incerteza, insegurança e falta de proteção, que

62

se manifestam nas esferas econômicas, ambiental, social e

cultural, em que se misturam progresso e risco, dialética

apontada por Beck(1986).

Complementando, Freitas (2007) analisa como risco a

probabil idade de danos ou prejuízos ao homem em decorrência

de processos do meio físico (tais como escorregamento, erosão,

inundação e abalo sísmico), do meio biótico (pragas, redução

drástica da biodiversidade e outros problemas com a fauna e a

flora) e do meio antrópico (acidentes tecnológicos,

criminalidade, doenças, fome, desemprego e incêndio, entre

outros). A possibilidade de ocorrência isolada ou mútua desses

eventos estabelece os riscos ambientais.

O risco, objeto social, define-se com a percepção

do perigo, da catástrofe possível. Ele existe apenas

em relação a um indivíduo e a um grupo social ou

profissional, uma comunidade, uma sociedade que

o apreende por meio de representações mentais e

com ele convive por meio de práticas específicas.

Na há risco sem uma população ou indivíduo que

o perceba e que poderia sofrer seus efeitos.

Correm-se riscos, que são assumidos, recusados,

estimados, avaliados, calculados. O risco é a

tradução de uma ameaça, de um perigo para

aquele que está sujeito a ele e o percebe como tal

(VEYRET, 2007, p. 11).

63

De acordo com a autora, o risco hoje supõe uma ação

antrópica, voluntária ou não. Há que se pensar nas diferentes

formas, ações e resultados de um risco, para isto uma visão

integradora, complexa e preventiva. É preciso gerenciar o risco,

em sua posição no campo social, variando ao longo do tempo e

intensidade. Para isso há a necessidade de enfatizar três tipos

de abordagens, de ações e medidas, a ação, a informação, a

prevenção. Há que se planejar e elaborar um sistema que

articule práticas de gestão, atores e espaços segundo diversas

lógicas em diferentes planos.

Então, como estudar os riscos a partir de uma

perspectiva geográfica?

...trata-se não de abordar a questão no embate

espaço-tempo na interação social e na produção

do espaço, mas de dar um passo atrás, por assim

dizer, e retomar a uma das preocupações mais

tradicionais da ciência geográfica: as relações

entre homem-meio e sociedade-natureza.

(MARANDOLA JÚNIOR, 2004: p.320)

O que procuramos levantar são alguns pontos que são

necessários rever em nossa forma de pensar a intervenção e a

própria cidade. Não se trata apenas de ter consciência da

força avassaladora dos riscos na vida do homem urbano hoje,

mas, trata-se, isto sim, de convencer-se de que os problemas

64

relacionados à contemporaneidade estão repletos de incertezas

e inseguranças, marcas da Sociedade de Risco, que envolve o

questionamento das ordens estabelecidas.

Nogueira (2006) enfatiza que o termo risco indica a

probabil idade de ocorrência de algum dano a uma população

(pessoas ou bens materiais); “é uma condição potencial de

ocorrência de um acidente”. Complementa, ainda, que se

[...] ao olharmos para uma situação de risco,

devemos, em primeiro lugar, identificar qual é o

perigo, que processos naturais ou da ação

humana o estão produzindo, em que condições a

sua evolução poderão produzir um acidente e,

qual a probabilidade deste fenômeno físico

ocorrer. Após chegar a este ponto – o de

vislumbrar o processo gerador do acidente –

devemos avaliar as conseqüências que ele

causará. Não há risco sem alguma probabilidade

de acidente nem acidente sem qualquer

conseqüência de perda ou dano (NOGUEIRA, 2006,

p. 29).

As atitudes perante a uma situação de r isco, como

aquele em que acreditamos que a sociedade convive,

atualmente, são diversificadas, múltiplas e de diferentes efeitos

e de prevenções (Figura 04).

65

Figura 04 - Atitudes perante exposição aos riscos. Fonte: ANA MONTEIRO, 1997.

Organização: SOUZA, 2008.

Para diferentes riscos, há diferentes ações. Os riscos

podem ser estritamente naturais, variando em espaços de

tempo, longos ou curtos, ou eles podem ser agravados e

potencializados antropicamente, gerando e ocasionando

diferentes efeitos e com diferentes graus de intensidade. Podem,

então, em um contexto social, cultural, econômico e até mesmo

ambiental (envolvendo elementos naturais), apresentar

diferentes sistemas, complexos e que, geram vulnerabil idade,

variando conforme o contexto e sistema.

Pretende-se contribuir e demonstrar a util idade de

encontrar atitudes e elementos com eficácia, de forma

adequada, para solucionar e evitar os riscos e seus impactos na

sociedade, de forma a que as ações políticas, sociais e

econômicas incluam, cada vez mais, a noção de um

66

desenvolvimento sustentável e com um suporte ambiental

adequado e disponível.

Assiste-se ao surgimento de uma sociedade que produz

e distribui, de forma desigual, os riscos ambientais e sociais. No

entando, como salienta Acselrad (2002), os teóricos da

Sociedade de Risco não incorparam em suas análises a

diversidade social na construção do risco e nem a presença de

uma lógica política que orienta a distribuição desigual dos

danos ambientais.

Sendo assim, a noção de risco ambiental liga-se às

ciências da natureza e às ciências da sociedade, e conduz a

uma abordagem dual e de interface que concebe os riscos

urbanos como produto combinado de um fenômeno aleatório e

de uma vulnerabilidade.

67

68

EEXXPPOOSSIIÇÇÃÃOO ÀÀ PPOOLLUUIIÇÇÃÃOO AATTMMOOSSFFÉÉRRIICCAA VVEEIICCUULLAARR::

IINNFFLLUUÊÊNNCCIIAASS NNAA QQUUAALLIIDDAADDEE DDEE VVIIDDAA

A poluição atmosférica tem efeitos sobre o bem estar

da população, da fauna, flora e também pode deteriorar

materiais. Os efeitos podem se manifestar de forma aguda e

intensa, e amena e duradoura, podendo também gerar

respostas crônicas e degenerativa com sintomas irritantes ou

tóxicos, que acontecem decorrente de concentrações muito

elevadas.

Segundo Vormittag(2011) a poluição atmosférica

urbana provoca cerca de 1,2 milhões de mortes todos os anos

no mundo e 6,4 milhões de anos de vida perdidos por morte

prematura, devido a três desfechos principais: câncer do

pulmão e vias aéreas superiores; arritmias e infarto agudo do

miocárdio; e bronquite crônica e asma. Alarmantes estimativas

globais atribuem aos efeitos da poluição do ar cerca de 3% dos

óbitos por doenças cardiopulmonares, 5% dos cânceres de

pulmão e 3% dos óbitos em crianças até cinco anos de idade.

Na cidade de São Paulo ocorrem aproximadamente 4.000

mortes ao ano e uma redução de 1,5 anos de vida, com custos

que podem chegar a mais de um bilhão de dólares.

69

A mesma autora ainda ressalta que há maior risco de

morte por doenças cardiovasculares e respiratórias em áreas de

ilhas de calor mais intensas. Cidadãos do mundo consomem 68

milhões de veículos ao ano! Em vista da magnitude do risco e da

exposição da população, a poluição atmosférica e o tráfego,

em conjunto são a primeira ameaça para infarto do miocárdio

dentre os fatores de risco evitáveis (tais como stress, tabagismo,

exercício físico e outros).

Como já dito, o impacto da poluição do ar na saúde,

no Brasil, tem sido amplamente documentado na literatura.

Vários estudos enfocam os efeitos de curto prazo provocados

pela poluição do ar, embora esse fenômeno possa também

provocar danos à saúde a médio e londo prazos. Os estudos

epidemiológicos util izados na maioria das pesquisas sobre a

relação “exposição e efeito da poluição do ar” fazem uso de

dados secundários. Desses podem ser citados o número de

óbitos, internações hospitalares, atendimentos realizados na

rede básica de saúde, uso de medicamentos, dentre outros

indicadores de saúde escolhidos, que podem ser apresentados

de forma diária, semanal ou mensal. Os estudos como Saldiva

(1995) e Toledo (2002) tem mostrado que aumento nos níveis de

poluentes do ar se associam a aumentos na mortalidade e na

morbidade, tanto por problemas respiratórios como

70

cardiovasculares, em especial entre idosos e crianças. Outros

efeitos referem-se a perdas econômicas, aumento no

absentísmo escolar, e até mesmo dias de trabalho perdidos

(quadro 01).

Quadro 01: Principais efeitos da queima de combustíveis fósseis sob a

qualidade de vida

Organização: GROSSO, 2011.

Fonte: SALVIVA, 20106

Na década de 1990, as primeiras estimativas de efeito

da poluição atmosférica mostraram que a mortalidade total de

idosos está diretamente associada com a variação do material

particulado inalável (PM ₁₀), pois variações de 10µg/m³ nas suas

concentrações aumentam as mortes de idosos em 3% (Saldiva,

1995). Além do PM₁₀, outros poluentes como o dióxido de enxofre

6 Dados oriundos da palestra proferida pelo Prof. Paulo Saldiva na FCT/UNESP em Presidente Prudente.

71

e o monóxido de carbono também estão diretamente ligados a

efeitos adversos à saúde.

Toledo (2010), foi verificou que, na cidade de São

Paulo, o aumento de 10µg/m³ de SO₂ resultava em um aumento

de 2,4% na mortalidade diária de idosos, com um intervalo de 3

dias entre o aumento da poluição e o aumento da mortalidade.

A autora também verificou que um incremento de 10µg/m³ de

PM₁₀ resultou em um aumento de 1,4% a 14,2% na chance de

morte por problemas respiratórios e, ainda, relatou-se que as

maiores taxas de mortalidade foram observadas com piores

condições socioeconômicas.

Em outro estudo, Lin (2003), verificou que todos os

poluentes, mas especificamento o CO₂ , estavam associados a

um aumento da procura de serviços de emergências por casos

de angina e infarto agudo do miocárdio.

Santos (2008) identificou que os efeitos da poluição do

ar na arritimia cardíaca é predominantemente agudo e inicia-se

em concentrações abaixo dos padrões atuais de qualidade do

ar e, ainda, que as concetrações de CO e NO ₂ têm importante

relação com o a intensidade do tráfego.

O trabalho de Martins (2001), avaliou a influência dos

poluentes emitidos por veículos à saúde da população,

analisando a correlação entre os níveis de CO, O ₃, SO₂, NO₂ e

72

PM₁₀ e problemas respiratórios em idosos, antes e após a

implementação do progrma a de restrição de circulação de

veículos na região central da cidade de São Paulo, denominado

„rodízio‟, e, verificou que este reduziu a concentração dos

poluentes sem, entretanto, influenciar positivamente a saúde

dos idosos.

Segundo Vormittag(2011) os custos de saúde devido

aos danos do uso de combustíveis fósseis foram estimados para

Xangai: US$ 730 milhões; Cracóvia: US$ 87 milhões e Santiago:

US$ 780 milhões. A mesma autora ainda ressalta que caso todos

os veículos a gasolina e todos os ônibus a diesel passassem a

usar etanol em um ano, haveria a redução das internações

hospitalares e da mortalidade com economia de US$ 43,10 e US$

1463,46 milhões, respectivamente.

O que acontece diariamente é que estamos respirando

um ar que muitas vezes não irrita, que no cotidiano em situações

climáticas normais não sentimos de imediato nenhum efeito

tóxico. O conhecimento sobre os efeitos em longo prazo é muito

mais difícil e geralmente é pesquisado através de estudos

epidemiológicos. Estes examinam a distribuição e freqüência de

morbidade (doenças) e mortalidade na população e pesquisam

os fatores causadores.

73

Frota Nacional e Consumo de Combustíveis

Segundo dados do DETRAN (2010) o Brasil conta com

uma frota veicular de mais de 64 milhões de veículos registrados

e licenciados. Até dezembro de 2010, a região sudeste do país

possuia cerca de 33 milhões de veículos, sendo que 20 milhões

concentrados no Estado de São Paulo. Destes, mais de 13

milhões são automóveis, veículos leves.

Considerando que no Brasil cerca de 60% da matriz dos

transportes é rodoviário, que o crescimento da frota veicular é

cada vez mais significativo e que a maioria dos veículos é

movida por combustíveis derivados do petróleo, ressalta-se a

necessidade de se pensar na busca pela sustentabilidade do

sistema, agindo em diferentes escalas.

Conforme os gráficos 01, 02 e 03, nota-se o crescimento

do consumo de gasolina, óleo disel e etanol hidratado no Brasil,

entre os anos de 2000 e 2010. Com destaque para o consumo de

óleo disel, pois o transporte brasileiro, principalmente entre

municípios e estados, é predominantemente realizado por

caminhões e ônibus, tanto de produtos como de pessoas.

74

Gráfico 01: Consumo de Gasolina (m³) no Brasil (2000-2010)

Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis(2011)

Organização: SOUZA(2011).

Gráfico 02: Consumo de óleo diesel (m³) no Brasil (2000-2010)

Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis(2011)

Organização: SOUZA(2011).

O aumento do consumo de etanol hidratado, segundo

os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustível, (gráfico 03) pode ser compreendido devido a

implementação de automóveis com sistema de “abastecimento

flex”, o qual possibil ita a util ização tanto de gasolina como

75

etanol hidratado e, uma vez que no mercado o etanol

hidratado se encontra com preços mais acessíveis, o util itário

obta pelo consumo deste.

Gráfico 03: Consumo de etanol hidratado (m³) no Brasil (2000-2010)

Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis(2011)

Organização: SOUZA(2011).

Cabe ainda ressaltar que o ingresso da frota de

veículos movidos a Gás Natural Veicular e/ou caráter flexível

(álcool/gasolina) deve modificar o quadro de emissões atuais,

promovendo a melhoria da qualidade do ar. E, do ponto de

vista ambiental, o Brasil já produz um dos melhores combustíveis

do mundo, sendo pioneiro em relação à adição de compostos

oxigenados à gasolina - atualmente em 25% de álcool – etanol

hidratado.

Frota no Estado de São Paulo

O Estado de São Paulo, segundo o censo realizado pelo

IBGE(2010) possui uma população 41.252.160 de habitantes, com

76

um índide de motorização de 1 automóvel para cada 3

habitantes (DETRAN/SP, 2010).

Nos últimos 10 anos, o Estado de São Paulo registrou um

aumento na ordem de 44% do total de automóveis registrados

pelo DETRAN/SP (gráfico 04), em que os automóveis, são

destaques comparados com outro tipo de veículos como motos,

caminhonetas, caminhões e ônibus (gráfico 05).

Esse crescimento demonstra a necessidade de focar

ainda mais na importância da implantação de diretrizes para o

sistema de gestão e controle da emissão de poluentes veicular e

do consumo de combustíveis.

Gráfico 04: Crescimento do n⁰ de automóveis no Estado de São Paulo

(2000-2010)

Fonte: DETRAN/SP(2010)

Organização: GROSSO, 2011.

77

Gráfico 05: Crescimento de veículos por tipo no Estado de São Paulo

(2000-2010)

Fonte: DETRAN/SP(2010)

Organização: GROSSO, 2011.

Cabe ressaltar que, além do grande número de

veículos, a idade da frota é outro fator agravante da poluição.

Com destaque para os carros fabricados em anos anteriores a

1997, em que não dipunham de sistemas de controle de

poluição e muitos não eram submetidos à manutenção

periódica, para garantir o funcionamento adequado do motor e

minimizar a emissão de poluentes.

O consumo de combustíveis fósseis no Estado de São

Paulo, gasolina e óleo diesel, nos últimos anos, foi marcado por

um aumento gradual (gráfico 06 e gráfico 07).

78

Gráfico 06: Consumo de Gasolina (m³) no Estado de São Paulo (2000-

2010)

Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis(2011)

Organização: SOUZA(2011).

Gráfico 07: Consumo de óleo diesel (m³) no Estado de São Paulo (2000-

2010)

Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis(2011)

Organização: SOUZA(2011).

Com destaque para o óleo diesel (gráfico 07), cuja a

explicação se encontra na análise do quadro do consumo

nacional, com transporte de produtos predominantemente via

79

caminhões, apesar do Brasil possuir uma grande quantidade de

rios, possibilitando o escoamento de produtos por transportes

hidroviários, de custos mais baixos e menor agressão com

poluentes atmosféricos.

O aumento do consumo de etanol hidratado, segundo

os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustível, (gráfico 08), com a mesma expressão que os

números nacionais, pode ser explicado também pelo

“abastecimento flex”, porém podendo oscilar conforme os

preços do mercado uma vez que o etanol hidratado tem o

rendimento de 70% comparado com a gasolina. Vale ressaltar

que, o consumo deste combustível ocorre, principalmente, nas

grandes regiões metropolitanas, aumentando ainda mais a

emissão de poluentes.

Gráfico 08: Consumo de etanol hidratado (m³) no Estado de São Paulo

Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis(2011)

Organização: SOUZA(2011).

80

Poluentes Gerados e seus agravantes

A existência de padrões de qualidade do ar é muito

importante, pois eles definem até que nível a presença de certa

substância no ar que respiramos é legalmente tolerada. Eles

representam, portanto, aquele limite de aceitabil idade acima

do qual podemos chamar o ar de “poluído”.

O perfil da emissão de poluentes, com relação à

quantidade, depende do tipo de combustível e do motor

empregado. Os veículos novos são menos poluidores devido às

soluções tecnológicas fornecidas pelas indústrias automo-

bilísticas e à melhoria da qualidade dos combustíveis. Da mesma

forma que o veículo movido a gasolina emite poluentes

diferenciados do veículo a álcool, a diesel ou uma motocicleta.

Cabe ressaltar que o Brasil, país dito em desenvolvimento, ainda

possui uma quantidade significativa de frota antiga (anterior a

1997) sendo que estes veículos não dipunham de sistemas de

controle de poluição.

Vários elementos e compostos químicos constam da

lista de poluentes atmosféricos. A OMS, propõe como uma das

formas de classificação separá-los em clássicos (Material

Particulado-PM10, Monóxido de Carbono-CO, Dióxido de

Nitrogênio-NO2, Ozônio-O3 e Dióxido de Enxofre-SO2) e não

81

clássicos (os demais). Os poluentes não clássicos são originários,

na maioria das vezes, de fontesestacionárias e sua presença

depende das características locais. Os poluentes clássicos são

provenientes devárias fontes, estacionárias ou não, e estão

presentes na maioria dos centros urbanos. Os carros são os

maiores responsáveis por emissões de monóxido de carbono,

óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos, embora também

emitam partículas.

Para Gomes (2002), a poluição atmosférica tem efeitos

realmente preocupantes sob o aparelho respiratório.

Destacando que, a cada 75 mortes causadas pela poluição7, há

265 internações por asma e sintomas respiratórios agudos.

Na Tabela 01 demonstra-se um quadro geral dos principais

poluentes, considerados como indicadores de qualidade do ar.

Gomes (2002) ainda destaca que a exposição aos

poluentes pode fazer conseqüências para a saúde de forma

aguda ou até mesmo crônica. A exposição crônica ocorre

durante um largo período de tempo, atuando por vários anos. A

forma aguda está relacionada a um período curto de tempo, de

algumas horas ou dias, com concentrações elevadas de

poluentes.

7 Baseado no documento “State of the Air”, pela American Lung Association.

82

Tabela 01 - Principais poluentes atmosféricos, origem e efeitos sob a

saúde.

POLUENTE ORIGEM E EFEITOS SOB A SAÚDE

O3 – Ozônio

Resultado de combustões a temperaturas elevadas, seus

níveis são mais elevados no verão e durante a tarde.

Atenua as doenças respiratórias pré-existentes. A exposição

prolongada provoca sintomas como bronquite.

NO2 - Dióxido de

Nitrogênio

É liberado, predominantemente, por veículos motores,

centrais elétricas e processos industriais. Seu efeito tóxico é

mais acentuado nas crianças e os asmáticos têm uma

resposta brônquica aumentada.

SO2 - Dióxido de

Enxofre

É produzido pela combustão de combustíveis fósseis (como

o petróleo) em centrais elétricas. Seus níveis estão

relacionados com os de material particulado e com maior

mortalidade e morbidade por doenças respiratórias,

particularmente com a asma brônquica e bronquite

crônica.

Aerossóis e Material

Particulado

A exposição aguda e crônica, perante as partículas

inaladas (principalmente de pequenas dimensões), está

associada aos efeitos adversos sobre o aparelho respiratório

e maior mortalidade. Derivam de diversos poluentes, que,

quando respiráveis, são, muitas vezes, depositadas no

pulmão.

CO -Monóxido de

Carbono

Produzido pela combustão incompleta em veículos

automotores, a exposição aos altos níveis de CO está

associada aos prejuízos dos reflexos, capacidade de estimar

intervalos de tempo, no aprendizado, trabalho e visual.

Fumo e Tabaco

Merecem maior aprofundamento na pesquisa, mas sabe-se

que, mesmo sendo de origem natural, seus efeitos, perante

o câncer de pulmão e as diversas complicações nas vias

aéreas, já foram comprovados em diversas pesquisas.

Fonte: GOMES, 2002.

Organização e Adaptação: SOUZA, 2007.

Segundo os dados da CETESB, contidos no Relatório da

Qualidade do Ar no Estado de São Paulo 2005, a Tabela 02,

expõe os dados de emissões veiculares por diferentes

categorias. Para isso, os diferentes tipos de combustíveis em

diferentes categorias de veículos produzem diferentes

graduações de poluentes. Os veículos podem ser divididos em

83

pesados (caminhões e ônibus), leves (carros movidos à gasolina,

álcool e flex) e motocicletas.

Tabela 02: Emissões veiculares por diferentes categorias

Classe

Veicular

CO (g/Km) NOx (g/km) MP₁₀ (g/Km)

Gasolina 10,70 0,66 0,08

Álcool 19,70 1,16 0,00221

Flex 0,44 0,11 0,00221

Diesel 15,00 10,74 0,57

Moto 16,40 0,12 0,05

Organização: SOUZA(2011)

Fonte: CETESB(2005)

Sendo assim, acredita-se que o objeto principal para o

qual se propôs a realização do estudo que é o ser humano, e

que a pesquisa deve ser elaborada visando o bem estar da

sociedade e um nível crescente no que diz respeito à qualidade

de vida.

Programas de Controle de Emissões de Poluentes

As fontes móveis (ônibus, caminhões, automóveis,

motos, entre outos) contribuem significativamente para o

comprometimento da qualidade do ar. Dependendo das

condições atmosféricas (chuva, intensidade e direção dos

ventos, temperatura, inversão térmica) a mesma quantidade de

poluentes lançados na atmosfera pode provocar concentrações

mais altas ou mais baixas.

84

A necessidade de se criar um programa nacional que

contemplasse as emissões atmosféricas de origem veicular,

começou a tomar corpo no início dos anos oitenta, a partir da

constatação de que a grave poluição ambiental verificada nos

grandes centros urbanos era causada predominantemente pelos

poluentes atmosféricos gerados na queima de combustíveis em

veículos automotores.

PROCONVE

Procurando viabilizar um programa de controle de

emissões veiculares que fosse tecnicamente factível e

economicamente viável o Conselho Nacional de Meio Ambiente

- CONAMA criou, em 1986, o Programa de Controle da Poluição

do Ar por Veículos Automotores-PROCONVE. Programa bem

aceito e elogiado por todos os segmentos envolvidos,

considerado, mesmo a nível internacional, como um dos mais

bem elaborados para o controle de emissão em fontes móveis.

O PROCONVE tem como objetivos a redução dos níveis

de emissão de poluentes nos veículos automotores além de

incentivar o desenvolvimento tecnológico nacional, tanto na

engenharia automotiva, como em métodos e equipamentos

para a realização de ensaios e medições de poluentes.

85

Os limites máximos de emissão de poluentes foram fixados, com

um cronograma específico para três categorias distintas de

veículos, são elas: "Veículo Leve de Passageiros" (automóveis);

"Veículo Leve Comercial" (pick-up, van, util itários, etc) e "Veículo

Pesado" (ônibus e caminhões).

Para o cumprimento destes l imites, é necessário a

aplicação de tecnologias e sistemas que otimizem o

funcionamento dos motores para proporcionar uma queima

perfeita de combustível e conseqüente diminuição das emissões

bem como do consumo de combustível. Na fase implantada em

1992, a util ização de catalisadores se fez necessária. Para a fase

atual de exigências, que teve início em 1997, além do

catalisador, é preciso também, que se acrescente novos

dispositivos, tais como: a injeção eletrônica e outros

componentes que compõem a chamada eletrônica

embarcada.

Os resultados do Programa de Controle da Poluição do

Ar por Veículos Automotores-PROCONVE, práticos e positivos

alcançados até 2000, podem ser vistos na tabela 03, que mostra

redução de até 98% dos índices de emissão de monóxido de

carbono (CO), hidrocarbonetos (HC) óxidos de nitrogênio (NOx),

e de aldeídos (CHO) por veículos leve.

86

A melhoria da qualidade de nossos combustíveis

também está sendo perseguida pelo PROCONVE, que, em

parceria com a PETROBRÁS e ANFAVEA vem conseguindo

resultados expressivos: a retirada do chumbo da gasolina, a

adição de álcool à gasolina a redução gradativa do teor de

enxofre do óleo Diesel, são alguns exemplos.

Tabela 03: Diminuição da Emissão dos Poluentes devido ao PROCONVE.

CO– Monóxido de Carbono, HC– Hidrocarbonetos, NOx– Óxido de Nitrogênio ,

CHO– Aldeído

Fonte: PROCONVE (2000)

87

Plano de controle de poluição veicular

Recentemente, a Resolução CONAMA Nº 418, de 25 de

novembro de 2009 estabeleceu prazo para que os órgãos

estaduais e municipais de meio ambiente apresentem o seu

Plano de Controle de Poluição Veicular.

Essa determinação tem como objetivo o

desenvolvimento de estratégias para a redução da poluição

veicular, especialmente em áreas urbanas com problemas de

contaminação atmosférica e poluição sonora, além de rever,

atualizar e sistematizar a legislação referente à inspeção

veicular ambiental, tendo em vista a evolução da tecnologia

veicular e o desenvolvimento de novos procedimentos de

inspeção visando ao aperfeiçoamento contínuo das políticas

públicas de controle da poluição do ar.

O Plano de Controle de Poluição Veicular – PCPV

constituise importante instrumento do Programa Nacional de

Controle da Qualidade do Ar – PRONAR e do Programa de

Controle de Veículos Automotomotores –PROCONVE, que tem

como escopo o estabelecimento de diretrizes básicas que visam

o atendimento aos Padrões de Qualidade do Ar, promovendo o

desenvolvimento tecnológico nacional, tanto na engenharia

automobilística, como também em métodos e equipamentos

88

para ensaios e medições da emissão de poluentes, gerando

melhoria das características técnicas dos combustíveis líquidos,

postos à disposição da frota nacional de veículos automotores,

visando a redução de emissões poluidoras à atmosfera.

Seus principais objetivos são:

reduzir os níveis de emissão de poluentes por veículos

automotores visando o atendimento aos Padrões de

Qualidade do Ar, especialmente nos centros urbanos;

promover o desenvolvimento tecnológico nacional,

tanto na engenharia automobilística, como também em

métodos e equipamentos para ensaios e medições da

emissão de poluentes;

criar programas de inspeção e manutenção para

veículos automotores em uso;

promover a conscientização da população com

relação à questão da poluição do ar por veículos

automotores;

estabelecer condições de avaliação dos resultados

alcançados;

promover a melhoria das características técnicas dos

combustíveis líquidos, postos à disposição da frota

nacional de veículos automotores, visando à redução de

emissões poluidoras à atmosfera;

89

CETESB

O monitoramento da qualidade do ar no Estado de São

Paulo é uma responsabilidade da CETESB (Companhia de

Tecnologia e Saneamento Ambiental). Essa tarefa é

desenvolvida diariamente e o resultado do monitoramento, está

consubstanciado nos “Relatórios de Qualidade do Ar” emitidos

anualmente. Os ralatórios apresentam a consolidação e a

interpretação os dados coletados, no período, nas sessenta e

oito Estações de Monitoramento da Qualidade do Ar, instaladas

na Região Metropolitana de São Paulo e em municípios do litoral

e interior. O acompanhamento desses dados permite CETESB,

verificar a efetividade de seus programas de controle, planejar

futuras ações e corrigir eventuais desvios. Com o

desenvolvimento desse monitoramento, ao longo dos últimos dez

anos, é possível observar que a poluição do ar no Estado de São

Paulo vem apresentando uma melhora consistente para a

maioria dos poluentes monitorados.

Estes relatórios também apresentam a concentração e

classificação de saturação de poluentes para os municípios

abrangidos pela rede de monitoramento da CETESB,

considerando o Decreto Estadual Nº 52.469 de 12 de dezembro

de 2007, o qual, além da classificação de saturação, qualifica

as áreas consideradas saturadas em termos de severidade. A

90

partir dessa informação é possível identificar os municípios em

que os novos empreendimentos terão regras específicas de

licenciamento ambiental conforme os critérios estabelecidos

neste mesmo regulamento.

Segundo a CETESB (2009), os principais objetivos do

monitoramento da qualidade do ar são:

fornecer dados para ativar ações de controle

durante períodos de estagnação atmosférica, quando os

níveis de poluentes na atmosfera possam representar risco

à saúde pública;

avaliar a qualidade do ar à luz de limites

estabelecidos para proteger a saúde e o bem estar das

pessoas;

obter informações que possam indicar os impactos

sobre a fauna, flora e o meio ambiente em geral;

acompanhar as tendências e mudanças na

qualidade do ar devidas à alterações nas emissões dos

poluentes, e assim auxiliar no planejamento de ações de

controle;

informar à população, órgãos públicos e sociedade

em geral os níveis presentes da contaminação do ar.

91

fornecer dados para ativar ações de controle,

quando os níveis de poluentes na atmosfera possam

representar risco à saúde pública;

fornecer dados para subsidiar estudos

epidemiológicos;

subsidiar o planejamento de ações de controle e

licenciamento ambiental.

Os padrões de qualidade do ar são baseados em

estudos científicos dos efeitos produzidos por poluentes

específicos, sendo fixados em níveis que possam propiciar uma

margem de segurança adequada. Um Padrão de Qualidade do

Ar (PQAR), segundo a CETESB, define, legalmente, o l imite

máximo para a concentração de um componente atmosférico

que garanta a proteção da saúde e do bem-estar das pessoas.

Os parâmetros regulamentados são os seguintes: as

partículas totais em suspensão, a fumaça, as partículas inaláveis,

o dióxido de enxofre, o monóxido de carbono, o ozônio e o

dióxido de nitrogênio.

A Legislação do Estado de São Paulo (Decreto Estadual

no 8468 de 08/09/76) também estabelece padrões de qualidade

do ar e critérios para episódios agudos de poluição do ar,

entretanto, abrangendo um número menor de parâmetros. Os

92

parâmetros fumaça, partículas inaláveis e dióxido de nitrogênio

não têm padrões e critérios estabelecidos na Legislação

Estadual. Os parâmetros comuns às legislações federal e

estadual têm os mesmos padrões e critérios, com exceção aos

critérios de episódio para ozônio. Nesse caso, a Legislação

Estadual é mais rigorosa para o nível de atenção (200µg/m3).

Os dados de qualidade do ar e meteorológicos das

estações automáticas de monitoramento são divulgados e

continuamente atualizados no endereço eletrônico da CETESB

(www.cetesb.sp.gov.br), que apresenta ainda a classificação da

qualidade do ar e, dependendo dos níveis monitorados,

informações de prevenção de riscos à saúde. Diariamente, é

divulgado o Boletim de Qualidade do Ar, com a classificação e

os índices de cada estação.

PRONAR

A RESOLUÇÃO CONAMA Nº 005, de 15 de junho de 1989,

institui O Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar -

PRONAR, como um dos instrumentos básicos da gestão

ambiental para proteção da saúde e bem estar das populações

e melhoria da qualidade de vida com o objetivo de permitir o

desenvolvimento econômico e social do país de forma

93

ambientalmente segura, pela limitação dos níveis de emissão de

poluentes por fontes de poluição atmosférica com vistas a: uma

melhoria na qualidade do ar; o atendimento aos padrões

estabelecidos; e o não comprometimento da qualidade do ar

em áreas consideradas não degradadas.

A estratégia básica do PRONAR é limitar, a nível

nacional, as emissões por tipologia de fontes e poluentes

prioritários, reservando o uso dos padrões de qualidade do ar

como ação complementar de controle.

Salienta-se que, este trabalho não tem como intensão

tomar como certas políticas públicas governamentais, ou fazer

apologia às mesmas. Apesar do caminho percorrido e indicado

pelas mesmas estar correto, ainda há muitas falhas e

necessidades de adaptações com a realidade vivida no país.

Cabe ressaltar que ainda há muitas medidas aplicáveis e a

serem criadas para combater a poluição atmosférica.

94

95

DDOOEENNÇÇAASS RREESSPPIIRRAATTÓÓRRIIAASS EE OO EESSTTAADDOO DDEE SSÃÃOO PPAAUULLOO::

AA PPRROOCCUURRAA DDEE UUMM MMOODDEELLOO CCAARRTTOOGGRRÁÁFFIICCOO

Um dos grandes destaques nacional, o Estado de São Paulo é

a mais populosa unidade territorial do país. Além disto tem sido palco

de profundas alterações na paisagem, provocadas por derivações

antropogênicas.

Como já discorrido na dissertação de SOUZA(2007), o território

paulista apresenta complexidade e magnitude, em escala,

urbanização, diversidades (culturais, ambientais, econômicas, etc.),

singularidades e dinamicidades espaciais, o que o torna um complexo

campo de investigação.

Localizado ao Sul da Região Sudeste, seus limites encontram-

se entre o Estado de Minas Gerais (N e NE), do Rio de Janeiro (SE), do

Paraná (S e SO), do Mato Grosso do Sul (O) e Oceano Atlântico (L).

Contando, aproximadamente, com uma área de 248.000 km2 (apenas

3% do território nacional), abriga mais de 40 milhões de habitantes –

cerca de 20% da população (IBGE, 2010).

No aspecto político-administrativo, o Estado é composto por

645 municípios distribuídos em 42 Regiões de Governo, 14 Regiões

Administrativas e três Regiões Metropolitanas (São Paulo, Baixada

Santista e Campinas).

O clima é caracterizado por estações úmidas e secas bem

definidas na maior parte do Estado, exceto nas encostas da Serra do

Mar, próximo ao litoral, onde não há estação seca. Embora o clima

seja, basicamente, tropical, geadas esporádicas podem ocorrer

durante o inverno (junho-agosto), em regiões de baixa altitude do

centro-oeste (depressão periférica do Planalto Ocidental) e,

regularmente, nas montanhas acima de 1.200m de altitude.

96

Segundo Monteiro (1976), dentre as unidades do território

nacional, o Estado de São Paulo possui um dos espaços mais alterados

em seu ambiente natural. Essa realidade é, principalmente, devida a

sua forma de ocupação e suas transformações antrópicas, as quais

visaram o “progresso”, com a industrialização, a criação de pastagens e

os cultivos de produtos agrícolas, além da metamorfose causada pela

urbanização. Segundo o autor, esse complexo universo proporcionou

um excelente recorte para as análises climatológicas.

De maneira geral, as precipitações no Estado de São

Paulo diminuem de sudoeste para noroeste, ou seja, do

litoral para o interior, demonstrando o efeito da

continentalidade, que só é anulado pela presença das

formações mais elevadas do relevo como aquelas da

linha de cuestas, as localizadas a nordeste, na região de

Franca e a Serra da Mantiqueira (SANT‟ANNA NETO,

1995, p.53).

Do ponto-de-vista da dinâmica natural, o Estado de São

Paulo localiza-se em plena faixa de transição zonal, entre os

climas tropicais e extra-tropicais, o que lhe confere uma enorme

variabil idade climática tanto interanual , quanto sazonal.

Devido às grandes alterações antrópicas neste

território, diferentes elementos, somados, promoveram um

significativo desaparecimento das reservas de matas primitivas,

degradação de rios, córregos e ribeirões, contribuindo para a

transformação da paisagem natural. Desta forma, a região

apresenta uma alta sensibilidade às intervenções

97

antropogênicas sob seus sistemas naturais, repercutindo, de

alguma forma, na própria organização espacial.

O território paulista é formado, basicamente, por uma

planície litorânea estreita, l imitada pela serra do Mar, e de

planaltos e depressões no restante de seu território.

À medida que o homem avança na ocupação do

território, seja para a produção agrícola, para o

desenvolvimento do parque industrial e, mesmo, para a

expansão dos centros urbanos, constitui -se então no principal

agente modificador do ambiente.

A degradação ambiental é um dos principais

problemas da sociedade moderna. O desenvolvimento

tecnológico, o crescimento demográfico (e sua concentração

no meio urbano), a industrialização e o uso de novos métodos e

técnicas na agricultura são alguns dos fatores contribuintes para

a introdução de diferentes substâncias químicas, sintéticas e,

até mesmo, naturais8 no ambiente, que geram efeitos adversos

sobre o meio ambiente e os seres vivos.

Dentre as principais causas das enfermidades da

sociedade está a questão da qualidade socioambiental. Sem

minimizar os aspectos endógenos, os fatores externos ao corpo

humano estão no cerne de muitas das moléstias, responsáveis 8 A simples poeira, originada do manuseio da terra, pode se tornar um poluente e agravante para as

doenças respiratórias.

98

pelo agravamento da saúde da população urbana. Além disso,

o processo adaptativo do homem à cidade, ao longo da

história, implicou no aumento de casos de doenças crônicas, à

medida que as condições do ambiente, de forma cumulativa, se

degradaram.

As doenças respiratórias no Estado de São Paulo

O sistema respiratório é um dos complexos do corpo

humano com maior relação com o meio ambiente. Devido a

grande quantidade de ar que o homem respira, qualquer

alteração na sua composição ou em suas propriedades físicas e

químicas podem constituir-se num verdadeiro problema para a

qualidade de vida do mesmo.

Cada ser humano possui uma particularidade no seu

nível de resistência imunológica, tornando-se é peculiar e

singular. Sendo assim, cada grupo de pessoas de uma

determinada região possui uma imunidade particular, em que o

seu ambiente o qual esta inserido (clima, revelo, vegetação e

demais aspectos físicos deste ambiente), juntamente com a

alterações antrópicas, tais como concentração de poluentes,

ou mesmo o tempo de exposição e a alimentação irão

99

influenciar na qualidade de vida e na classificação da

imunidade das pessoas que habitam a região.

Conforme a Tabela 04, as principais causas de

internação no SUS no território brasileiro, nos dez anos, deveram -

se à gravidez, o parto e o puerpério (C15), seguidos pelas

doenças do aparelho respiratório (C10) e, em terceiro lugar, as

doenças do aparelho circulatório (C09). Essas últimas estão

vinculadas, diretamente, com as interferências dos diferentes

tipos de tempo e clima, assim como a qualidade de vida

registrada na população, principalmente urbana.

Cabe ressaltar que os casos de internações por

doenças respiratórias houve um declínio no decorrer dos anos, e

o total de internações por doenças do aparelho circulatório

aumentaram. Isso pode ser explicado devido aos planos de

preveção como Campanha Nacional de Vacinação contra a

Influenza, que, segundo o Ministério da Saúde (2011), desde que

a vacina contra a gripe foi implementada no Brasil, há 13 anos,

as internações por pneumonia tiveram uma redução de 60%.

100

Tabela 04: Morbidade Hospitalar por Capítulo do CID-10, em todo o

Brasil.

CAP 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

C01 94.389 101.229 109.867 112.678 108.326 110.428 108.190 105.340 95.608 91.978 108.744

C02 85.456 87.420 111.257 116.221 120.794 132.014 134.724 141.566 119.112 130.557 141.576

C03 13.999 14.523 16.584 17.283 16.821 16.624 16.059 16.468 15.284 16.303 17.059

C04 63.200 64.272 63.042 59.420 56.257 55.027 53.558 51.775 48.051 50.892 53.976

C05 118.358 102.635 72.118 90.462 76.493 85.898 85.677 77.769 81.812 71.978 75.860

C06 50.955 46.887 40.332 43.171 47.119 53.956 55.345 50.764 45.694 45.132 45.954

C07 23.346 19.598 19.885 20.419 20.324 25.189 26.753 29.272 17.409 21.723 24.951

C08 9.811 7.843 6.371 6.701 6.398 6.986 7.377 7.578 6.666 6.592 7.259

C09 230.351 237.162 245.481 252.842 257.065 258.690 255.567 263.284 242.400 256.419 264.409

C10 274.513 266.733 262.424 267.987 263.731 250.059 260.797 257.749 231.511 260.825 265.128

C11 191.603 193.900 196.044 194.388 197.081 205.879 207.493 216.457 206.572 221.537 231.187

C12 27.471 26.637 26.967 32.490 31.889 34.332 33.335 35.916 37.942 42.366 46.450

C13 53.049 55.123 59.523 58.325 58.274 61.591 63.553 65.265 55.293 50.374 51.372

C14 139.063 132.876 137.168 146.484 145.419 153.082 148.893 156.616 136.891 156.629 167.542

C15 501.599 486.556 481.570 463.661 476.911 470.643 452.169 452.546 423.163 444.937 441.919

C16 44.700 44.832 40.239 39.852 42.381 46.198 46.030 49.368 43.314 49.348 51.343

C17 26.685 18.728 20.692 21.359 20.607 22.426 21.677 23.482 20.511 21.073 21.803

C18 45.719 43.985 38.654 37.242 38.628 41.332 43.655 48.586 40.085 38.595 42.985

C19 153.249 148.810 168.287 177.704 183.312 194.017 192.316 206.530 186.137 213.714 223.083

C20 14.150 13.668 4.277 335 662 992 513 459 631 813 1.248

C21 35.414 43.106 34.581 33.380 37.814 39.265 43.757 48.244 90.617 63.817 60.331

Legenda: C01 – Algumas doenças infecciosas e parasitárias C02 – Neoplasias (tumores) C03 –

Doenças sangue órgãos C04 – Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas C05 –

Transtornos mentais e comportamentais C06 – Doenças do sistema nervoso C07 – Doenças do

olho e anexos C08 – Doenças do ouvido e da apófise mastóide C09 – Doenças do aparelho

circulatório C10 – Doenças do aparelho respiratório C11 – Doenças do aparelho digestivo

C12 – Doenças da pele e do tecido subcutâneo C13 – . Doenças sistema osteomuscular e

tecido conjuntivo C14 – Doenças do aparelho geniturinário C15 – Gravidez parto e puerpério

C16 – Algumas afecções originadas no período perinatal C17 – Malformação congênita e

anomalias cromossômicas C18 – Sintomas anormais clínicos e laboratoriais C19 – Lesões

envenenamento e causas externas C20 – Causas externas de morbidade e mortalidade C21 –

Contatos com serviços de saúde

Fontes: SIH/DATASUS, 2000 a 2010.

Organização: GROSSO, 2011.

Ainda é importante destacar que, o aumento dos casos

de doenças circulatórias pode estar vinculado com a qualidade

de vida urbana, as formações de ilhas de calor nas áreas

101

urbana, a alteração na rotina de transito nos grandes centros

urbanos, gerando sintomas como stress, e outros agravos que

potencializam o aumento da pressão arterial.

Indicadores socioambientais: uma ferramenta

Os problemas ambientais atuais e seus conseqüentes

efeitos à saúde necessitam ser discutidos pela sociedade a fim

de gerar, adotar e implementar uma gama de ações corretivas

e preventivas. Estas ações devem ser tomadas com a finalidade

de minimizar ou controlar os riscos e introduzindo medidas de

controle e de monitoramento. As ações de longo prazo mais

efetivas, entretanto, são aquelas que abordam o tema de

maneira preventiva, visando diminuir ou eliminar as forças

motrizes.

Os indicadores são necessários para monitorar o

progresso nas distintas dimensões, funcionando como

ferramentas de apoio aos tomadores de decisões e àqueles

responsáveis pela elaboração de políticas em todos os níveis,

além de serem norteadores para que se mantenha o foco em

direção ao desenvolvimento sustentável (GARCIA e GUERRERO,

2006). Além disso, os indicadores podem servir de alerta no

sentido de prevenir e/ou amenizar os impactos econômicos,

102

sociais e ambientais decorrentes de uma determinada

atividade.

A definição de McQueen e Noak (1988) trata um

indicador como uma medida que resume informações

relevantes de um fenômeno particular ou um substituto dessa

medida, semelhante ao conceito de Holling (1978) de que um

indicador é uma medida do comportamento do sistema em

termos de atributos expressivos e perceptíveis.

Algumas definições colocam um indicador como uma

variável que está relacionada hopoteticamente com outra

variável estudada, que não pode ser diretamente osbervada

(Chevalier et al., 1992). Essa também é a opinião de Gallopin

(1996), que afirma que os indicadores, num nível mais concreto,

devem ser entendidos como variáveis.Uma variável é uma

representação operacional de um atributo (qualidade,

característica, propriedade) de um sistema. Segundo o autor,

para ser representativo, o indicador tem de ser considerado

importante tanto pelos tomadores de decição quanto pelo

público.

Segundo Bellen (2005), o objetivo dos indicadores é

agregar e quantificar informações de modo que sua

significância fique mais aparente. Eles simplificam as

103

informações sobre fenômenos complexos tentando melhorar

com isso o processo de comunicação.

Meadows (1998) afirma que a util ização de indicadores

é uma maneira intuitiva de monitorar complexos sistemas, que a

sociedade considera importantes e precisa controlar. Eles são

elementos importantes da maneira como a sociedade entende

seu mundo, toma suas decisões e planeja a sua ação. Também

podem ser úteis como ferramentas para disseminar idéias,

pensamentos e valores.

Os indicadores são medidas selecionadas para

representar um fenômeno de interesse (COLE et al, 1998) ou que

não pode ser observado diretamente (CHEVALIER, 1992).

Portanto, a construção de indicadores é precedida por um

entendimento do fenômeno a ser estudado.

Para Bellen (2005), os indicadores são de fato um

modelo da realidade, mas não podem ser considerados a

própria realidade, entretanto devem ser analiticamente

legítimos e construídos dentro de uma metodologia coerente de

mensuração.

O objetivo dos indicadores socioambientais para um

desenvolvimento mais sustentável é o de promover uma maior

consciência acerca das implicações da problemática ambiental

e do desenvolvimento.

104

Segundo a agência ambiental norte-americana (USEPA,

1995), os indicadores ambientais são medidas ou observações

que possuem informações sobre padrões ou tendências no

estado do ambiente, em atividades humanas que afetam ou são

afetadas pelo ambiente.

Segundo Veiga (2009), a dimensão ambiental

compreende três variáveis relativas ao tema "Saneamento",

duas relativas ao tema "Atmosfera", e apenas uma relativa ao

tema "Terra". As do "Saneamento" são três "proporções de

moradores com acesso a": (i) sistema de abastecimento de

água; (ii) coleta de l ixo doméstico; (iii) esgotamento sanitário. As

do tema "Atmosfera" são: (iv) Frota de veículos automotores por

cem habitantes; (v) potencial de poluição industrial por mil

habitantes. E a única do tema "Terra" é: (vi) percentual de área

de vegetação remanescente sobre área total.

O trabalho de seleção de indicadores parte, portanto,

da busca de variáveis e fontes de informações que melhor

representem essa relação, saúde e ambiente.

Para Barcellos (2002), um indicador serve, antes de

tudo, para comparação (de lugares, grupos, períodos). O

mesmo autor ainda ressalta que o uso de indicadores para o

diagnóstico e acompanhamento de condições sociais e

ambientais parte, portanto, de um processo de simplicação

105

(mas não de simplicidade) dos objetos estudados, tendo em

consideração o caráter instantâneo dos indicadores , que

devem representar processos dinâmicos, bem como a

transformação de processos complexos em variáveis

unidimensionais.

É importante destacar que os indicadores só poderão

ser elaborados com a disponibilização de informações e estas

devem expressar a realidade das ações nas unidades para que

se possam analisar os fatores que estão contribuindo ou gerando

"efeitos" na saúde dos profissionais destas instituições e que

merecem uma "ação".

A geração de informações para tomada de decisões

implica um processo de síntese e agrupamento em diferentes

etapas. Para conhecer e atuar sobre as condições de saúde da

população se faz necessário trabalhar com meios que permitam

observar a distribuição desigual da situação de risco e dos

problemas de saúde, com dados demográficos,

socioeconômicos e ambientais, promovendo a integração

dessas informações.

Indicadores socioambientais: integração vertical e horizontal

Trabalhando em diferentes escalas, um dos objetivos

desta tese é discutir as estratégias para a construção de

106

sistemas de indicadores socioambientais baseados na sua

integração vertical, integrando os diversos níveis em que um

mesmo problema se manifesta, e horizontal, isto é, sobre uma

base comum, que permita comprar diferentes problemas que

afetem uma determinada população.

Cabe ressaltar que, um dos maiores problemas da

integração vertical de indicadores talvez seja a diversidade de

fontes de informações util izadas. Um sistema de vigilância

ambiental em saúde é composto por dados epidemiológicos,

sociais, ambientais, de qualidade de vida, emissão de

contaminantes e poluentes, procurando integrar estes e outros

em um determinado recorte espacial e temporal.

Para isso é importante que se faça uma abordagem

integrada, que considere os indicadores como elementos

interdependentes, já que, na prática, estão referidos a uma

realidade dinâmica, em que diferentes aspectos se integram e

relacionam.

Para Paim (1997), a análise multivariada de um

conjunto de indicadores socioambientais obtidos dos censos

demográficos tem sida uma das formas mais util izadas para a

discriminação das regiões que formam um mosáico. A

pluralidade de bases de dados existentes, várias delas

disponíveis, pemite a construção de indicadores dob diferentes

107

enfoques. Essa diversidade de recortes, antes de representar

uma contradição entre dados, possibil ita a validação desses e a

construção de indicadores mais específicos para o problema de

saúde enfocado.

A construção de indicadores, para a identificação de

riscos à saúde originados de condições ambientais, depende de

um conjunto de sistemas de informação, compreendidos como

meios que permitem a coleta, o armazenamento, o processo e a

recuperação de dados (MACIEL FILHO, 1999).

Segundo Barcellos (2002), os principais objetivos do uso

de indicadores socioambientais para a saúde é detectar

situações de risco relacionadas a problemas ambientais,

monitorar tendências no ambiente, identificar riscos potenciais à

saúde, monitorar tendências na saúde resultantes de exposições

a fatores ambientais de risco, comparar condições ambientais e

de saúde em diferentes áreas permitindo a identificação de

áreas prioritárias, além de avaliar o impacto de políticas e

intervenções sobre as condições de saúde e ambiente.

O propósito de util izar estes indicadores é tentar refleti r

e mensurar as inter-relações das distintas dimensões

socioecossistêmicas, convertendo-se desta maneira, em

ferramentas para o estabelecimento de estratégias e tomadas

108

de decisões que visem o planejamento para o desenvolvimento

sustentável.

Modelo socioambiental: saúde e suas relações

Os efeitos da contaminação atmosférica, sobre o

homem e o ambiente, podem ser diretos e indiretos. Os diretos

são os efeitos sob o meio alterado e o receptor, gerando

problemas agudos, ou mesmo crônicos, devido à exposição

contínua num longo período. Os indiretos surgem como

resultado de mudanças nas propriedades físicas do sistema

atmosférico, como é o caso da alteração do equilíbrio pelo

carbono.

Para Sales e Martins (2006), a poluição do ar agrava as

doenças respiratórias (como a asma, a bronquite e, até mesmo,

o enfisema pulmonar) e o desconforto físico (como a irritação

dos olhos, do nariz e da garganta, dor de cabeça, sensação de

cansaço e tosse), agrava as doenças cardiorespiratórias e

contribui para o desenvolvimento de câncer pulmonar. Isso tudo

é somado com os gastos no tratamento das enfermidades, as

perdas de horas de trabalho e a redução de produtividade e da

qualidade de vida.

109

O papel dos elementos do clima e da qualidade do ar,

na incidência destas enfermidades, não pode ser

negligenciado. Estudos a respeito da influência dos elementos

meteorológicos e da variabilidade climática sobre a

manifestação de diversas doenças, epidemias e endemias

humanas, em geral, tratam do tema de forma segmentada.

Serrano et al. (1993) ressalta que, inseridos numa

realidade em que as mudanças e as alterações do meio são,

cada vez, mais rápidas, estas defesas naturais e operantes no

sistema respiratório acabam tornando-se insuficientes.

Segundo Souza et al. (2007), é importante frisar que,

mesmo mantidas as emissões de poluentes, a qualidade do ar

pode mudar em função das condições meteorológicas,

determinantes em maior ou menor diluição dos poluentes. É por

isso que a qualidade do ar piora em relação aos parâmetros de

monóxido de carbono (CO), material particulado (MP) e dióxido

de enxofre (SO2), durante os meses de inverno, quando as

condições meteorológicas são mais desfavoráveis à dispersão

dos poluentes, momentos em que há mais estabilidade. Já em

relação à formação do ozônio, esse poluente apresenta maiores

concentrações na primavera e verão, devido à maior

intensidade da luz solar. A interação entre as fontes de poluição

e a atmosfera vai definir o nível de qualidade do ar, que

110

determina, por sua vez, o surgimento de efeitos adversos da

poluição do ar sobre os receptores.

Um dos maiores complicadores para saúde respiratória

é o material particulado – sem minimizar a importância dos

outros poluentes. Trata-se de um conjunto de poluentes

constituído de diversos tipos de poeiras, fumaças e todo e

qualquer material sólido e líquido, que se mantém suspenso na

atmosfera por causa de seu pequeno tamanho. Resulta de

processos industriais, desgaste de pneus e freios e,

principalmente, queima incompleta de combustíveis e seus

aditivos. Este material particulado diferencia-se em diferentes

tamanhos. Entre as partículas inaláveis, as mais grossas ficam

presas na parte superior do sistema respiratório, enquanto as

mais finas, devido a seu pequeno tamanho, podem chegar a

atingir os alvéolos pulmonares, que se localizam na região mais

profunda do sistema respiratório.

As condições estáveis do tempo são desfavoráveis à

dispersão dos poluentes na atmosfera, como os ventos fracos e

as calmarias, a umidade relativa baixa e a ausência de

precipitação. Ao contrário, os tipos de tempo instáveis, como os

sistemas frontais, possibilitam um ambiente favorável, com

ventilação e precipitação, facil itando a dispersão de poluentes.

111

A chuva exerce um papel fundamental e muito

importante, “lavando” a atmosfera e reduzindo,

consideravelmente, os níveis de contaminantes, especialmente

de material particulado suspenso, uma vez que a poluição se dá

num processo cumulativo.

Considerando os dados de internações para o Estado

de São Paulo no período de 2000 a 2010, observa-se que o maior

número de internações por doenças do aparelho respiratório

ocorreram nos meses de início do outono e final do inverno

(entre abril e setembro), período em que as temperaturas

mínimas diminuem, assim como ocorrem os maiores períodos de

estiagem e ausência de precipitações (Gráfico 09).

Gráfico 09 – Internações por doenças respiratórias. Estado de São Paulo,

2000-2010.

Fonte: SIH/DATASUS, 2000-10.

Organização: SOUZA, 2010.

112

Como um agravamento destas condições no inverno

(estiagem), acrescenta-se volumosas quantidades de partículas

em suspensão no ar, provenientes tanto da queima de

combustíveis fósseis, provocadas pela circulação dos veículos,

quanto da queima da cana-de-açúcar, na produção do álcool

– uma das principais bases da economia do interior paulista.

Desta forma, o material particulado emitido,

principalmente pela combustão da palha da cana-de-açúcar,

praticada pela grande maioria de produtores de álcool,

acentua o quadro clínico de internações por doenças

respiratórias.

A procura de um modelo cartográfico

A visualização cartográfica consiste em explicitar os

dados e possibilita a compreensão de novas informações, por

meio do mapeamento, desenvolvendo imagens que permitem

obter informações antes não visíveis.

A Cartografia Temática é a ciência da representação e

do estudo da distribuição espacial dos fenômenos naturais e

sociais, assim como de suas relações e transformações ao longo

do tempo, por meio de representações cartográficas (modelos

icônicos), que reproduzem este ou aquele aspecto da realidade

113

de forma gráfica e generalizada (SALICHTCHEV, 1978, apud

MARTINELLI, 1991).

Enquanto o ramo da cartografia temática trata de

temas ligados a diversas áreas do conhecimento, com

documentos cartográficos de fenômenos sobre um fundo

geográfico básico, em qualquer escala, o ramo da topográfica

trata os detalhes planialtimétricos, que possibil itam a

determinação de altitudes e a avaliação precisa de direções e

distâncias, assim como da localização de pormenores, com grau

de precisão compatível com a escala.

Para Martinelli (1990), os mapas sempre estiveram

associados à Geografia, podendo afirmar que, de todas as

ciências ligadas à Cartografia, a Geografia é uma das mais

importantes, à medida que os fatos e os fenômenos se originam

de diversos ramos geográficos – físico, humano, econômico,

político, dentre muitos outros.

Desta forma, é inadmissível o atual geógrafo

menosprezar o papel dos mapas, quando prega uma Geografia

com a finalidade de servir ao “progresso” social, ao invés de ser

crítica (MARTINELLI, 1990). A geografia precisa reencontrar o

mapa perdido, repensar e avaliar quais representações do

espaço seriam aquelas da Cartografia para a Geografia, não

114

mais aceitando mapas como meras ilustrações, que

desempenham um papel decorativo.

O objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico;

portanto o objeto da representação da Cartografia

Temática de interesse da Geografia é este espaço, um

espaço social, resultante da produção humana ao longo

do tempo (DI MAIO MANTOVANI, 1999, p. 4).

Portanto, uma proposta para a Cartografia da

Geografia deve partir de uma posição crítica, segundo Martinelli

(1990), deixando de conceber o mapa como um código e

passando a concebê-lo como um sistema semiológico

monossêmico, que dispensa, completamente, qualquer

convenção.

Nesta concepção, adentra-se à Cartografia Geográfica

Crítica (CGC), a qual é, para Girardi (2008), uma práxis

cartográfica, que compreende, simultaneamente, a teoria, o

método e a técnica.

Com fundamento teórico na leitura „desconstrucionista

do mapa‟9, uma crítica à concepção tradicional positivista, o

mapeador não é, apenas, um transcritor do espaço, mas sim,

um contribuinte direto para sua produção.

9 HARLEY, J. B. Deconstructing the map. Cartographica, v. 26, n. 2, p. 1-20, 1989.

115

Já o método, representa e analisa o espaço,

compreendendo, desta forma, sua intencionalidade. Da mesma

forma que a Geografia Crítica, a ênfase é, também, os

problemas sociais, promovendo uma cartografia geográfica

com preocupações sociais.

No tocante à técnica, a análise espacial se dá, de

acordo com a teoria crítica do mapa e de forma

intercomplementar, por meio das seguintes abordagens

cartográficas: semiologia gráfica; visualização cartográfica ; e

modelização gráfica.

A semiologia gráfica possui como princípio o sistema de

signos, que são indispensáveis para a representação gráfica.

Esses são concebidos pela mente humana, com o intuito de

guardar, compreender e transmitir informações relevantes.

Assim, a semiologia permite avaliar, segundo Archela e

Théry (2008), as vantagens e os l imites da percepção

empregada na simbologia cartográfica e, portanto, formular as

regras de uma util ização racional da l inguagem cartográfica,

reconhecida, atualmente, como a gramática da linguagem

gráfica, na qual a unidade lingüística é o signo.

A modelização gráfica consiste num método inovador

de análise regional, desenvolvido a partir das décadas de 1980

e 1990, por um grupo de geógrafos franceses, reunidos por

116

Roger Brunet, no Groupemente d’Intérêt Public (GIP) Reclus

(THÉRY, 2007).

Na história, os modelos passam a fazer parte da ciência

geográfica no decorrer dos anos de 1960 e 1970, demarcando o

apogeu da Geografia Teorética-Quantitativa. No entanto,

somente em 1980 que se manifesta a primeira formulação

teórica, por Brunet.10

Segundo Théry (2004), a modelização detecta as

estruturas essenciais do espaço e reconstrói as lógicas de sua

constituição. Trata-se de um processo dedutivo de análise e de

síntese que representa as estruturas elementares espaciais.

Deste modo, a modelização apresenta as configurações

espaciais, as interações e as combinações entre objetos e

ações, assim como as localizações, produzindo uma abordagem

síntese do espaço geográfico.

Desta forma, o modelo é um instrumento de rápida

leitura e apreensão do território, pois a disposição e a

localização das cores representam vários territórios e lugares

socialmente produzidos; no entanto, a modelização gráfica não

deve ser compreendida como uma generalização do espaço,

mas sim, uma generalização das formas de representar (THÉRY,

2004). 10

BRUNET, R. La composition des modèles dans l’analyse spatiale. L’Espace Géographique, n. 4, p. 253-65, 1980.

117

Apartir destas constatações procurou-se construir um

modelo cartográfico para o Estado de São Paulo unindo

variáveis socioambientais e de saúde. Para isso, foram util izados

dados como os da frequência de morbidades respiratórias no

Estado de São Paulo, dados relacinados com clima, o cultivo de

cana-de açúcar, os focos de queimadas, o total de veículos

dentre os municípios de porte médio para a região de destaque,

e outros mais que possam agregar na interpretação de

indicadores intensificadores para os problemas respiratórios .

No Estado de São Paulo, a espacialização sazonal das

incidências dos casos de doenças respiratórias pode ser

conferida na Figura 05.

118

119

Na escala estadual, o maior número de internações por

doenças do aparelho respiratório ocorreu em meses de início do

outono e final do inverno (entre abril e setembro), período em

que as temperaturas mínimas diminuem e as estiagens e a

ausência de precipitações aumentam. Nesse mesmo período,

ocorrem as maiores concentrações mensais de focos de

queimadas, registrados por satélite, sendo provenientes de

diversas causas, tanto naturais, quanto antrópicas.

É notável que a distribuição da morbidade respiratória,

no Estado de São Paulo, organiza-se em formas diferentes,

conforme as estações do ano. A concentração dos casos ocorre

nos meses que compreendem o outono, devido ao fato de ser

uma estação de transição, marcada por períodos de estiagens

mais longos e mudanças bruscas nas temperaturas. Além disso a

população se encontra vulnerável às adversidades climáticas

(uso de agasalhos e umidificação do ambiente). Nota-se,

também, uma situação parecida com os meses da primavera.

É possível observar grande diferença entre as estações

de verão e as de inverno, as quais são opostas quanto as suas

características climáticas; realidade que, no tocante a do

inverno, potencializa os casos de morbidade do trato

respiratório.

120

No âmbito da modelização, a princípio foram util izados

seis indicadores, que têm tanto l igações diretas, quanto l igações

indiretas, com os casos de internação por doenças respiratórias,

no território paulista.

Inicialmente foram utilizados como indicadores:

1. Doenças respiratórias

Avaliadas por meio da distribuição espacial do número

total de casos de internação nos municípios do interior do

Estado de São Paulo, excluindo as regiões metropolitanas

para que não haja distorções dos dados. (Figura 05 citada

anteriormente)

2. Vegetação

Com o desmatamento(figura 06) e a expansão de culturas

agrícolas e de pastagens, o território se torna mais

propenso às ações de partículas em suspensão, as quais

potencializam as infecções do trato respiratório,

principalmente, das vias aéreas superiores;

Outro fator que se vincula diretamente com a

concentração das áreas verdes é a umidade

relativa(figura 07), fundamental quando os seus níveis

estão muito baixos, potencializando os casos de

internação.

121

Figura 06- Concentração da vegetação no Estado de São Paulo Fonte: EMBRAPA (2010)

Figura 07- Média da Umidade Relativa para o Estado de São Paulo Fonte: CEPAGRI/UNICAMP(2011)

122

3. Cana-de-açúcar

O cultivo da cana-de-açúcar vem se expendindo pelo

território paulista (figura 08) e junto com essas plantações

estão a instalação das Usinas Sulcroalcoleiras ( figura 09).

A combustão da palha dessa cultura agrícola (em

expansão territorial) é uma fonte expressiva de fuligem e

material particulado em suspensão, de diversas

gramaturas, além da fumaça e seus diferentes gases

poluentes, potencializando seus efeitos sob os casos de

internação por doenças respiratórias;

Figura 08- Cultivo da Cana-de-açúcar para o Estado de São Paulo Fonte: CATI (2009)

123

Figura 09- Usinas credenciadas à União da Indústria de Cana-de açúcar Fonte: UNICA (2012)

4. Queimadas

Elas possuem grande potencial a concentração das

enfermidades respiratórias, por seu papel na combustão

de biomassa, propiciando a emissão de Material

Particulado à atmosfera em diferentes gramaturas.

Segundo Cançado(2003), no Estado de São Paulo,

principalmente nos períodos de estiagens e secas

prolongadas, aumentam a ocorrência de focos de

queimadas, relacionadas principalmente com a

agricultura, mais especificamente à cultura de cana-de-

açúcar. Segundo o autor, o Estado produz mais de 50%

produção do total distribuida no país, dos cerca de 80%

são queimados na pré-coleita, emitindo grande quatidade

de material particulado na atmosfera, com um total

estimado em 20 toneladas ao ano.

124

5. Clima

Acredita-se que o sistema de circulação de massas de ar e

de frentes possui relevância perante a dispersão ou

concentração de poluentes, amenizando ou agravando os

casos de doenças, respectivamente, para isso util izou-se

como referência a classificação do Monteiro ( figura 10);

Figura 10- Classificação do Monteiro para o clima do Estado de SP.

Fonte: Monteiro(1969)

6. CO inter-estadual

Segundo Aires e Kirchhoff (2001), mesmo não produzindo,

certas regiões recebem grande parte do monóxido de

carbono proveniente de demais regiões produtoras, via

125

„corredor de circulação de massa de ar‟, direcionado

pelos ventos.

Para isso foram analisados dados coletados pelo

CPTEC/INPE sobre a transição do CO entre os Estados do

Mato Grosso do Sul e São Paulo.

Somando todos indicadores ambientais, procurou-se

integrar todos os elementos em uma única representação, uma

vez que cada um possui uma fonte e formatação diferente.

Sendo assim, para chegar ao método de

representação de fenômenos geográficos, foi necessário util izar

o „método coremático‟, designação devido aos coremas, base

de elementos fundamentais da organização dos territórios,

representados por modelos gráficos.

Assim, com base conceitual nos coremas, propostos por

Brunet (1990, apud GIRARDI, 2008), elaborou-se a composição

do modelo de incidência das doenças respiratórias, no Estado

de São Paulo (Figura 11).

126

Figura 11 – Composição do modelo paulista para as doenças

respiratórias. Organização: SOUZA, 2010.

Tal composição geral torna-se melhor visualizada por

meio dos procedimentos da Figura 12, com base na técnica

japonesa kirigami, a qual se util iza, ao mesmo tempo, de

dobraduras (origami) e de cortes no papel.

Figura 12 – Do modelo geral ao kirigami. Fonte: THÉRY, 2007.

A presente técnica permite a elaboração da Figura 13,

a qual compreende do modelo teórico ao específico.

127

Figura 13 – Do modelo teórico ao modelo específico. Organização: SOUZA, 2010.

Como podem ser notados, os casos de morbidade

respiratória se concentram na região Noroeste, Central e parte

do Oeste do Estado de São Paulo. Dentre os motivos, têm-se os

resquícios de mata atlântica, localizados, apenas, na região

litorânea, ao Leste do Estado; a cultura agrícola da cana-de-

128

açúcar, concentrada em áreas Norte e Noroeste, com expansão

para a região Oeste do Estado; as queimadas, as quais

convergem, principalmente, para as áreas Norte e Noroeste,

expansivas para o Oeste do Estado e promovidas pelas usinas

sucroalcooleiras.

Além destes, têm-se os fatores climáticos, dinamizados

por correntes tropicais e polares; e o CO inter-estadual, que,

pelo fato de fazer fronteira com o Estado do Mato Grosso do Sul,

o Estado de São Paulo recebe, via circulação atmosférica,

grande parte do monóxido de carbono, assim como da fuligem

e da fumaça, provenientes de queimadas.11

Cidades de expressão no modelo

Para compreender a paisagem urbana e suas

características ambientais, é necessário aprofundar os efeitos

dos processos temporais e da produção socioeconômica e

ambiental do espaço.

A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto

urbano marcado pela degradação permanente do meio

ambiente e do seu ecossistema, não pode omitir a análise do

determinante do processo, nem os atores envolvidos e as formas 11

Atualmente, o Estado do Mato Grosso do Sul se apresenta como importante parcela no cenário da agropecuária brasileira, com o desenvolvimento de extensas áreas agrícolas e da pecuária de corte.

129

de organização social que aumenta o poder das ações

alternativas de um novo desenvolvimento, numa perspectiva de

sustentabil idade.

Sob o enfoque desta área de concentração dos casos

de internação e a sobreposição dos demais indicadores, foram

selecionadas seis cidades de porte médio e com expressão

regional para somar informações complementares e agravantes

para os casos de internações por doenças respiratórias.

Desta forma, foram escolhidas as seis principais cidades

localizadas na área de concentração dos casos de doenças

respiratórias. Ppssibil itando unir dados urbanos que influenciam

diretamente nos agravos das internações como o total de

veículos automotores, consequentimente na concentração de

poluentes atmosféricos provenientes da queima de combustível

fóssil.

O principal desafio que se coloca nos dias atuais é que a

cidade, inserida em diferentes metamorfoses urbanas, cria

variadas situações de risco, vulnerabil idade e problemas que

degradam a vida do citadino, há então, que criar condições

para assegurar uma qualidade de vida.

Neste sentido, as cidades escolhidas foram: Bauru,

Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto,

Araçatuba e Ourinhos.

130

Em uma breve descrição, a cidade de Bauru, com cerca

de 350mil habitante(IBGE,2010), apresenta relativa infertil idade

em suas terras, e facilidade de transporte provocada pelo

entroncamento rodo-ferroviário existente no município, isto

possibilita ao municío um fortalecimento no setor de serviços e

comércio, a principal atividade econômica do município.

Presidente Prudente, a capital do Extremo Oeste Paulista, é

um importante centro regional de serviços, principalmente, para

sua população de 210mil habitante (IBGE,2010). Possui grande

expressão no setor agropecuário, e atualmente uma grande

expansão no setor canavieiro.

Sendo também um município marcado pelo setor

sucroalcoleiro (o que além de indicar um crescimento

econômico em potencial, também proporcina diversos

problemas ambientais e de saúde), a cidade de Ribeirão Preto,

com uma população de 550mil moradores (IBGE,2010), destaca-

se por ser uma das mais ricas do estado de São Paulo

apresentando elevado padrão de vida (renda, consumo,

longevidade). Além disso, possui bons indicadores sociais

(saúde, educação e saneamento), uma localização

privilegiada, próxima a importantes centros consumidores, e

acesso facilitado devido à boa qualidade da infra-estrutura de

transportes e comunicação.

131

São José do Rio Preto (com 350mil habitantes), é

considerado um pólo regional de grande expressão e sob

crescimento acelerado. É a maior cidade do noroeste do

Estado, com uma economia baseada no comércio, prestação

de serviços, diversas indústrias e agricultura.

A cidade de Araçatuba é a 2ª maior do Oeste Paulista,

com uma população de 200mil habitantes. O município foi se

desenvolvendo e influenciado por diferentes fases econômicas,

como o café, o algodão, a pecuária, e atualmente sua

economia é marcada fortemente pelo setor sucro-alcooleiro.

O município de Ourinhos, que conta com uma

população aproximada de 100mil habitantes (IBGE,2010), tem

grande influência econômica do cultivo da cana-de-açúcar e

seus produtores. Seus moradores vivem sob a influência direta

da fuligem do processo de combustação da palha da cana,

potencializando os casos de internações por doenças

respiratórias, além de conviver com o material particulado

trazidos pelos ventos para a região urbana.

Acredita-se que a juventude das cidades brasileiras

apresenta imaturidade com questões urbanas, políticas e

técnicas, aplicações e medidas preventivas, porém, atualmente,

muito tem sido debatido e estudado. Sabemos que o ar não

pode ser espacializado. Quando o homem respira não util iza o

132

ar de um dado espaço, pois ele não possui fronteiras ou limites,

apenas barreiras físicas (relevo). Homens de classes sociais bem

diferentes util izam-se do ar como um bem comum e passam a

lutar pelo mesmo ideal, o de terem o direito de respirar um ar

mais leve e natural, indo ao encontro dos ideais daqueles

poucos que, como podem decidir entre poluir ou não, decidem

pela maioria que “nada” pode fazer, embora ambos estejam

sendo intoxicados sem nenhuma distinção.

Os produtos resultantes das alterações

antropogênicas no sistema climático são perceptíveis de modo

mais eficiente nas áreas urbanas e se expressam por meio dos

canais de percepção humana, conforme proposto por Monteiro

(1976): o do conforto térmico, o da qualidade do ar e o do

impacto meteórico, que se manifestam em eventos, já

corriqueiros nas metrópoles, como poluição do ar, alterações na

ventilação, configurações de ilhas de calor, desconforto

térmico, impacto pluvial extremo dentre outros. Portanto é difícil

dissociar atributos climáticos de qualidade ambiental, visto que

são componentes do sistema urbano, inteiramente relacionados

e dependentes entre si ( MONTEIRO, 1976).

Na busca de quantificar elementos que possam somar

nos agravos das doenças respiratórias, util izou-se os climogramas

dos municípios selecionados (figura 14), formulados com a

133

média das temperaturas máximas e mínimas e o total

pluviométrico mensal. Uma vez que já foi citado que o clima é

um importante indicador para potencializar os casos de

internações por doenças respiratórias.

Figura 14: Climogramas das cidades onde há concentração dos

casos de internação por doenças respiratórias segundo o

modelo cartográfico.

Fonte: INMET (2012).

Para Oke (1978), a urbanização é o processo de

conversão do meio físico natural para o assentamento humano,

acompanhado de drásticas mudanças do uso do solo, gerando

uma nova configuração do espaço.

Sendo assim, ainda complementado os indicadores

sócio-ambientais, espacializamos no modelo cartográfico o total

de veículos licenciados por município segundo o banco de

dados junto ao Detran/SP.

134

Sendo assim, é possível observar na Figura 15 o total de

veículos licenciados nos municípios de Presidente Prudente,

Araçatuba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Bauru e

Ourinhos. Ainda há a necessidade se ressaltar que estas cidades

são de grande importância para a economia regional em que

cada uma se insere, havendo também uma quantidade

expressiva de veículos transitando por esses centros comerciais,

intensificando a poluição atmosférica, bem como todo o

material produzido pela queima do combustível fóssil.

Figura 15: Total de veículos licenciados por município.

Fonte: DETRAN/SP (2012).

Acredita-se que, o referido modelo cartográfico é uma

importante ferramenta que vem para somar, ajudando e

esclarecendo no que lhe compete, na orientação para a

realização de ações e planejamentos. Sendo que os dados

135

observacionais devem ser distribuidos e analisados conforme

suas diferentes escalas, tanto de ação, como também de

planejamento. É possível a interligação entre as diferentes

escalas havendo articulação entre diferentes tipos de atuação.

136

137

AA SSAAÚÚDDEE EE OO AAMMBBIIEENNTTEE UURRBBAANNOO::

AA BBUUSSCCAA PPEELLAA QQUUAALLIIDDAADDEE DDEE VVIIDDAA

A cidade... e a saúde?

A urbanização, o crescimento do transporte e das

indústrias, assim como a expansão da fronteira agrícola, criaram

as condições propícias para uma permanente exposição de

contingentes populacionais, progressivamente maiores, à

poluição atmosférica. Esta poluição é gerada por fontes fixas e

móveis de emissão de poluentes, devido as mudanças no uso de

hábitos cotidianos da sociedade, provocando, como

consequência, efeitos adversos sobre a saúde das populações

expostas.

Desde os princípios da humanidade, o ser humano

procurou proteger-se do ambiente adverso, estruturando sua

moradia com materiais disponíveis nos arredores desse meio. As

construções possuíam a finalidade de extinguir, ou pelo menos

atenuar, as intempéries climáticas, como o frio, o calor, a secura

e a umidade. No decorrer de sua evolução, o homem passou a

buscar materiais vindos de outros ambientes, ainda que

distantes. A ostentação do “progresso”, da economia e da

138

tecnologia fez com que a questão ambiental fosse

desconsiderada na arquitetura e no processo de urbanização,

criando um padrão globalizado nas formações das cidades.

As cidades são imbricações históricas consideradas

como sistemas complexos, marcadas pela lógica espacial,

constituindo uma totalidade e diversidade de relações políticas,

econômicas, sociais, culturais, e até mesmo ambientais, sendo

que a parte dominante ou preponderante dessas influencia na

determinação de suas particularidades estruturais. Desta forma,

a alteração da natureza, a qual gerou profundas alterações,

evidenciando as interferências ocasionadas pelas anomalias

urbanas, produzidas pelas relações entre os agentes sociais de

produção.

“Os espaços onde se faz planejamento

estão em constantes alterações; os c idadãos para

os quais se faz planejamento estão em constante

modificação de expectativas.” Ana Monteiro,

(2007)

Para Sant‟Anna Neto (2011) a produção do espaço

urbano segue a lógica da reprodução capitalista, portanto

gerador de espaços segregados e fragmentados, longe de se

produzir um sistema que respeite e se adapte às condições

ambientais e naturais, é de se esperar que esta contradição

139

resulte em impactos altamente sensíveis aos diversos grupos

sociais que habitam a cidade, também de forma desigual,

tornando as desigualdades sociais, ainda mais agudas.

O mesmo autor ainda salienta que eventos extremos

como ondas de calor, chuvas intensas, inundações repentinas,

vendavais, elevada amplitude térmica diuturna, tempo seco e

estável propício à formação de ilhas de calor, ou concentração

de poluentes na atmosfera, são alguns dos exemplos de

configurações climáticas que afetam, de forma mais tangente

ou mais profunda a economia e a qualidade de vida dos

diversos grupos sociais.

Em uma perspectiva histórica, a história da cidade

pode ser dividida em diferentes períodos, que são constituídos

pelas formas e pelos tipos de produção do homem nos

ecossistemas naturais, transformando-os significamente. Num

estudo detalhado, Benevolo (2003)12 e Mumford (1998)13

delimitaram esses distintos períodos.

A partir deste autor (2003, p. 13), há dezenas de

milhares anos, os homens paleolíticos começaram sua

adaptação ao meio, sendo que “o ambiente construído não

12

Em “História da cidade”, o autor inicia-se no ambiente pré-histórico para se chegar à situação e configuração atual das cidades, passando por importantes períodos, por exemplo, o da Grécia, de Roma, da Idade Média, da Renascença, da Revolução Industrial e do modernismo. 13

“A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas” é um estudo urbano minucioso, que vai, segundo o próprio autor, desde o núcleo social embrionário até as complexas formas de sua maturidade e a desintegração corporal de sua velhice.

140

passava de uma modificação superficial do ambiente natural,

imerso e hostil, no qual o homem começou a mover-se: o abrigo

era uma cavidade natural ou um refúgio de peles sobre uma

estrutura simples de madeira [...]”.

No decorrer dos séculos, o mesmo afirmou que ocorreu

uma “revolução urbana” no oriente próximo, a qual foi

originada em desertos africanos e asiáticos e montes que

encerram ao Norte do Mediterrâneo ao Golfo Pérsico, quando

A cidade - local de estabelecimento aparelhado,

diferenciado e ao mesmo tempo privilegiado,

sede da autoridade - nasce da aldeia, mas não é

apenas uma aldeia que cresceu. Ela se forma,

como podemos ver, quando as indústrias e os

serviços já não são executados pelas pessoas que

cultivam a terra, mas por outras que não têm esta

obrigação, e que são mantidas pelas primeiras

como excedente do produto total. [...] A

sociedade se torna capaz de evoluir e de projetar

a sua evolução (BENEVOLO, 2003, p. 23).

Assim, o centro motor destes acontecimentos, a cidade,

torna-se maior do que seu primitivo embrião, a aldeia,

transformando-se, também, com maior velocidade.

Temporalmente, a nova história civil é assinalada da seguinte

forma:

141

[...] as lentas transformações do campo (onde é

produzido o excedente) documentam as

mudanças mais raras da estruturação econômica;

as rápidas transformações da cidade (onde é

distribuído o excedente) mostram, ao contrário, as

mudanças muito mais profundas da composição e

das atividades da classe dominante, que influem

sobre toda a sociedade. Tem início a aventura da

„civil ização‟, que corrige continuamente as suas

formas provisórias (BENEVOLO, 2003, p. 26).

Contudo, todo este “progresso” civil implicou novas

formas de apropriação espacial, junto a seus novos usos.

Alcançado a adaptação ao meio natural, a busca torna-se,

neste momento, a conquista territorial, fundamental para o

desenvolvimento de uma sociedade próspera.

Desarmado, exposto, nu, o homem primitivo tinha

sido suficientemente experto para dominar todos

os seus rivais naturais. Entretanto, agora, criara

afinal um ser cuja presença repetidamente levaria

o terror a sua alma: o Inimigo Humano, seu outro

eu e correspondente, possuído por outro deus,

congregado em outra cidade, capaz de atacá-lo

[...] (MUMFORD, op cit, p. 60).

Tal fato desencadeou, posteriormente, numa seqüência

de períodos urbanos, diferenciando-os segundo as formas de

construção de cidades. Sinteticamente, Benevolo (2003) e Goitia

142

(1982) delimitaram, semelhantemente, a seguinte ordenação

temporal da história da urbanização: o ambiente pré-histórico; a

cidade antiga, no oriente; a cidade livre, na Grécia; a cidade

imperialista, em Roma; as cidades muçulmanas (islâmicas); a

cidade na Idade Média (medieval); as cidades renascentistas;

as cidades do colonialismo europeu; a cidade barroca; as

cidades na Revolução Industrial; a cidade moderna, no século

XX; e as cidades atuais.

Para Benevolo (1994), dois casos extremos polarizaram

as primeiras tentativas para corrigir os males da cidade

industrial: defender a necessidade de recomeçar do princípio,

contrapondo-se novas formas de convivência - ditadas,

exclusivamente, pela teoria - à cidade existente; e procurar

resolver os problemas singulares e remediar os inconvenientes

isoladamente, sem ter em conta suas conexões, nem uma visão

global do novo organismo citadino. Essas tentativas marcaram

os ideais dos urbanistas, caracterizando-se os primeiros por

serem utópicos, enquanto os segundos, realistas.

Aos olhos dos contemporâneos, é toda a cidade

que está doente. Ela é considerada um tecido

patológico, doentio. [...] Uma série de pensadores

repudia a noção tradicional de cidade e elabora

modelos que permitem reencontrar uma ordem

perturbada pelo maquinismo. É dessa pesquisa

143

que nasce a principal corrente do urbanismo

moderno, a corrente progressista, que deixa para

trás as correntes humanista e naturalista

(HAROUEL, op cit, p. 115).

Pelos estabelecimentos das diretrizes gerais da política

urbana, a partir da aprovação do Estatuto da Cidade14, o

planejamento territorial brasileiro incorporou uma série de

princípios, instrumentos e práticas direcionados à ação pública

dos governos municipais, em relação ao planejamento e gestão

de cidades democráticas, includentes e sustentáveis (FREITAS,

2007; SOUZA, 2002). No âmbito da cidade, o instrumento básico

dessa política de desenvolvimento e expansão urbana é o Plano

Diretor Municipal (PDM), considerado uma base estratégica e

orientadora do planejamento.

O novo significado (dimensional) do Plano Diretor

Municipal coloca-o diante de um cenário de enormes desafios

sociais, econômicos e ambientais nos espaços urbanos,

oferecendo um tratamento prioritário e participativo ao

planejamento territorial, com o dever de identificar e analisar as

características físicas, as atividades predominantes e as

vocações da cidade, junto a seus problemas e suas

potencialidades.

14

Lei federal nº. 10.257, de 10 de julho de 2001.

144

Na constituição, sua participação é - ou, pelo menos,

deveria ser - ampla e conjunta, englobando os mais variados

setores e segmentos da sociedade, como os setores do governo

(prefeitura, poder público estadual e federal), os segmentos

populares (conselhos comunitários, associações e sindicatos), os

segmentos empresariais (incorporadores imobiliários,

comerciantes e sindicatos patronais) e os segmentos técnicos

(universidades, ONG‟s e conselhos regionais).

Em síntese, pode-se dizer que o planejamento urbano

tem como objetivo a busca do equilíbrio das relações e

inúmeras atividades sociais e econômicas numa determinada

cidade, aproveitando seu espaço territorial da melhor forma

possível; como disse Benevolo (1994, p. 13), “para melhorar a

distribuição territorial das actividades humanas é necessário

melhorar as relações económicas e sociais de que dependem

essas actividades; por outro lado, não basta melhorar as

relações económicas e sociais para que as espaciais fiquem,

automaticamente, corrigidas”.

O planejamento urbano também deve visar a

qualidade de vida do ser inserido em uma lógica de mutação e

metamorfose constante. Mudanças contínuas em sua estrutura,

em seus fixos e fluxos, criando e recriando situações que

potencializam efeitos adversos sob a saúde e o cotidiano.

145

As cidades enquanto locais de apropriação e

degradação do clima e demais recursos naturais implicam

diretamente na qualidade de vida.

Dando início ao planejamento urbano moderno, a

primeira lei promulgada e introdutora de um método de

controle e intervenção do Estado na ordenação de cidades

inglesas, a “Public Health Act”, de 1848, abriu caminho para

diversas outras leis no âmbito da Europa, como a de 1866, que

permitia a desapropriação de edificações deterioradas e

insalubres, por meio de valores abaixo do mercado imobil iário.

A cidade e o campo sempre se comportaram como

rivais, buscando atrair maior número de pessoas para si. Ambos

possuem inúmeras vantagens, como altos salários,

oportunidades sociais e de emprego, locais de lazer, ruas bem

iluminadas; beleza e riqueza natural, paisagens e bosques

exorbitantes, ar puro, água limpa, respectivamente. No entanto,

essas se confrontam com suas desvantagens, por exemplo, altos

preços e aluguéis, jornada de trabalho excessiva, enormes

distâncias entre local de trabalho e moradia, ar poluído,

edifícios suntuosos e cortiços aterrorizantes; falta de vida social

e capital, inexistência de entretenimento, salários baixos,

desemprego, respectivamente.

146

Defronte a este impasse, Howard (op cit, p. 110) propõe

a fundição dos dois ambientes num só, afirmando que “a

sociedade humana e as belezas naturais foram criadas para

serem fruídas em conjunto. [...] Cidade e campo devem estar

casados, e dessa feliz união nascerá uma nova esperança, uma

nova vida, uma nova civil ização”. Assim, o referido

agrupamento humano equilibrado iria usufruir das vantagens da

cidade e do campo, evitando a deficiência de ambos e

criando, principalmente, lugares de baixos custos e com alta

qualidade ambiental e de vida.

Para Paul Singer (1980) a cidade é uma imensa

concentração de gente exercendo as mais diferentes

atividades, sendo assim, o solo urbano seria disputado por

inúmeros usos. Esta disputa se pauta pelas regras do jogo

capitalista, que se fundamenta na propriedade privada do solo,

a qual - por isso e só por isso - proporciona renda e, em

conseqüência, é assemelhada ao capital. Isso torna esse

ambiente em constante transformação, potencializando

situações adversas a âmbito econômico, cultural e natural.

Ao longo dos anos, as configurações dos espaços

urbanos sempre estiveram em constantes modificações, sejam

por pressões locais e/ou globais. Atualmente, o Estado se

apresenta, junto ao capital, como um dos principais produtores,

147

transformadores e modeladores das cidades, constituindo-se,

desta maneira, o principal meio para compreender a

reestruturação histórica das mesmas15. Desta forma, o mesmo

agente também tem papel na estruturação da cidade, bem

como a busca por qualidade de vida e condições favoráveis

para uma vida urbana mais saudável.

O espaço socioambiental é aquele onde são

articuladas as relações sociais e o ambiente (SANTOS 1996). A

natureza do espaço inclui a forma e os conteúdos, que podem

ser naturais ou produzidos pelas atividades humanas. Assim, a

condição de pobreza de uma determinada população está

estreitamente vinculada à condição de vulnerabil idade

socioambiental.

É importante frisar que existe a armadilha de reduzir o

sentido da cidade àquela de condição da reprodução do

capital ou da dominação do Estado, ambas esvaziadas do

sentido da vida humana, entrando no chamado “movimento

anti-urbano”, como enfatizou Ana Fani Alessandri Carlos (2004).

Para iluminar tal armadilha, a autora (op cit, p. 17) apontou a

necessidade da produção de um conhecimento que dê conta

da construção de uma teoria da prática sócio-espacial,

15

Para a pesquisa, a importância da presente temática se faz nas mudanças que este “processo reestruturador” provoca numa cidade planejada, isto é, entender, sucintamente, as causas e conseqüências da reestruturação urbana em espaços previamente planejados, visto que esse jogo de interesse é responsável por boa parte do decréscimo da qualidade urbana.

148

realizada na cidade “[...] enquanto desafio para desvendar a

realidade urbana em sua totalidade, bem como, das

possibilidades que se desenham no horizonte para a vida

cotidiana na cidade”.

Assim, o espaço urbano apresenta um sentido

profundo, pois se revela enquanto condição, meio

e produto da ação humana - pelo uso -, ao longo

do tempo. Este sentido aponta a superação da

idéia de cidade considerada como simples

localização dos fenômenos (da indústria, por

exemplo), para revelá-la na condição de sentido

da vida humana em todas as suas dimensões - de

um lado enquanto acumulação de tempos, mas

de outro enquanto possibilidade sempre renovada

de realização da vida. Assim a cidade-obra se

realiza enquanto lugar do possível - aberta para o

futuro (CARLOS, op cit, p. 7).

Enfim, entende-se a reestruturação urbana como novos

usos, funções e formas da cidade, com significativas mudanças

nos modos de vida; uma complexa redefinição sócio-espacial.

Tal se situa na pós-modernidade da Geografia, marcada pela

reestruturação espacial, temporal e social contemporânea

(SOJA, op cit).

Para Sant‟Anna Neto (2011) o cerne do problema é o

interesse, a vontade e a capacidade dos agentes e atores

149

sociais em transformar os territórios urbanos em espaços de bem

estar e qualidade vida a todos os seus habitantes.

Em relação à melhoria da qualidade do ar, medidas

que priorizem a redução dos poluentes acarretam benefícios

imediatos, como a prevenção e redução da incidência de

doenças respiratórias, cardiovasculares, problemas oftálmicos,

câncer, doenças reprodutivas e outras doenças crônico-

degenerativas, diabetes, sedentarismo, obesidade e a redução

dos acidentes de trânsito.

Não se trata apenas de ter consciência da força

avassaladora dos riscos na vida do homem urbano hoje, mas,

trata-se, isto sim, de convencer-se de que os problemas

relacionados à contemporaneidade estão repletos de incertezas

e inseguranças, marcas da Sociedade de Risco, que envolve o

questionamento das ordens estabelecidas.

A saúde na cidade

As condições de saneamento, aglomeração e

circulação de pessoas favorecem a transmissão de parasitas,

hepatites, diarréias infecciosas, infecções respiratórias agudas,

tuberculoses, hanseníase e doenças sexualmente transmissíveis.

Endemias cujas presenças estavam circunscritas a áreas rurais,

150

como a malária, leishmoanioses, esquistossomose entre outras,

adaptaram-se a certas condições de transmissão em focos

urbanos. Outra grande transformação e adapção, é a dengue,

que a cada dia necessita de maior atenção e cuidados por

parte da população e os orgãos gestores.

As mudanças nos padrões alimentares vêem

aumentando o risco de sobrepeso e obesidade, constituem de

forma importante para o aparecimento de doenças crônicas e

incapacidades, incluindo desde condições debilitantes que

afetam a qualidade de vida, tais como dificuldades

respiratórias, osteoartrite, problemas musculares, problemas

cardíacos, infertil idade, diabetes tipo 2, entre outras.

Para a Organização Mundial de Saúde o ambiente é

definido como “a totalidade de elementos externos que influem

nas condições de saúde e qualidade de vida dos indivíduos ou

de comunidades”. Obviamente, esta noção de ambiente tem

um carácter menos teórico que operacional, por não considerar

a dinâmica do ambiente em si (e seus componentes físicos,

sociais e biológicos), mas somente sua interação com as

populações humanas.

Segundo Sabroza (2001), o binômio saúde-doença se

constitui como um processo coletivo, portanto, é preciso

recuperar, coletivo, o sentido do „lugar‟ como o espaço

151

organizado para análise e intervenção, buscando identificar, em

cada situação específica, as relações entre as condições de

saúde e seus determinantes culturais, sociais e ambientais,

dentro de ecossitemas modificados pelo trabalho e pela

intervenção humana.

Ressalta-se que, há que se pensar na saúde como parte

essencial das questões sociais e ambientais agudas, decorrentes

das desigualdades, da exclusão e da injustiça. A degradação

ambiental, as doenças e a saúde, refletem a herança

predatória social e ambiental vivida pela sociedade durante sua

história. Construir soluções e interferir em sistemas evolutivos

complexos requer, antes de qualquer coisa, análises

multidisciplinares e complexas.

Segundo Minayo (2002), quando se estuda uma

situação com seu carácter complexo, não é necessário analisar

todos os seus elementos com alta precisão. O importante é o

questionamento e o estabelecimento de relações entre os

elementos. Torna-se assim um sistema aberto e sem contornos

rígidos.

Para Edgar Morin (1997) o pensamento complexo visa a

integração, permite escapar da visão mecânica, determinista,

de causalidade linear.

152

Porém, não se deve confundir „complexidade‟ dos

fenômenos com „dificuldade‟ da sociedade em lidar com eles.

Na perspectiva da complexidade, as fontes poluidoras são

indicadores expressivos, pois podem haver várias variáveis e

objetos dentro de um mesmo indicador.

Qualidade de vida

O conceito de Qualidade de Vida vem sendo

empregado em diferentes contextos, seja dentro de uma

perspectiva analítica em disciplinas específicas, seja dentro de

uma visão multisetorial. Tem sido aplicado na área da saúde, na

política, nos estudos urbanos e ambientais, mas com uma certa

dificuldade conceitual, conforme aponta Machado (2003).

Assim é que, numa tentativa universalizante, Rogerson (1995)

elabora qualidade de vida contemplando saúde e meio

ambiente, pois concebe que estes dois pontos são reflexos do

conjunto de vida.

Concordando com Magalhães (2006), a palavra de

ordem é qualidade de vida, pois compreende um ambiente

global no sentido multidimensional, não setorial, um ambiente

perceptível, estético, cultural, natural, social e psicológico.

153

Para Ribeiro e Vargas (2001), as avaliações de

qualidade de vida devem iniciar-se pela caracterização do

meio ambiente urbano, com sua história, o quadro

socioeconômico e cultural da população, seus aspectos físicos,

recursos disponíveis, fatores influentes na saúde, e outros.

Ressaltando que o ambiente urbano deve oferecer um nível de

atividades necessário à sua própria qualificação.

Desta forma a saúde, juntamente com o ambiente

urbano, criam condições e situações adversas e comuns, que,

conforme sua inserção social, ambiental ou econômica, gera

uma qualidade de vida positiva, ou mesmo negativa (Figura 16).

Figura 16: Saúde e ambiente urbano em busca de qualiade

de vida Organização: GROSSO, 2011.

Segundo Wilheim e Déak (1970), a qualidade de vida

está l igada à satisfação de aspectos objetivos representados

154

pela renda, emprego, objetos possuídos e qualidade de

habitação.

Cutter (1985) propõe o uso de indicadores de 3 ordens

gerais: a social, o ambiental e o perceptivo. Para o autor, a

qualidade do ambiente é julgada mediante valores da

sociedade.

Para Santos & Martins (2002), qualidade de vida é a

soma de fatores das condições ambientais, materiais coletivas,

econômicas, e da sociedade (figura 17). Ressaltando que, há

singularidades e individualidades para cada pessoa inserida em

diferentes situações e condições na sociedade.

Figura 17: Qualidade de vida e suas condições variadas Fonte: SANTOS & MARTINS, 2002

155

Segundo Santos &Martins (2002), o primeiro fator são as

condições ambientais relacionadas com o ambiente em geral,

que remete para os aspectos naturais e físicos da cidade

(ar, água, verde, resíduos...). O segundo são as condições

materiais coletivas, relativas aos equipamentos e infraestruturas

relacionadas com as condições coletivas de vida na cidade nas

áreas de cultura, desporto, ensino, saúde, assistência social,

transportes, comércio e serviços. Tratam-se, assim, de

indicadores relacionados com as condições existentes na

cidade, comuns para todos, e que condicionam, naquelas

áreas, a vivência da cidade. O terceiro domínio são as

condições econômicas, na qual pretende analisar a cidade

quanto núcleo de atividade econômica e as questões daí

decorrentes l igadas às condições individuais e vida na cidade:

rendimento e consumo, mercado de trabalho, habitação,

dinâmica econômica. Por último, um quarto domínio, designado

por sociedade, que integra os indicadores ligados a dimensão

social da cidade e ao relacionamento entre as pessoas, ou

seja, questões relacionadas com as escolhas individuais e

com a participação dos cidadãos (SANTOS & MARTINS, 2002).

Ampliando o quadro, o conceito de qualidade de vida

permeia diferentes escalas de percepção e atuação, vinculado

diretamente com a saúde, o meio ambiente, as políticas

156

públicas e a dinâmica cultural de cada indivíduo ou grupo

(figura 18).

Figura 18: Conceito de qualidade de vida e seus desfechos. Organização: SOUZA (2011).

O papel das exposições múltiplas sobre a saúde

humana, decorre de riscos ambientas, quando analisado na

pespectiva da „forças motrizes‟ e das „pressões‟ que se exercem

sobre o meio ambiente e sobre as coletividades, melhora a

compreensão-explicação do problema, como também permite

identificar e estabelecer ações de transformação do status quo

não só limitado ao „tratamento do efeito‟.

Proporcionar saúde significa, além de evitar doenças e

prolongar a vida, assegurar meios e situações que ampliem a

157

qualidade da vida "vivida", ou seja, ampliem a capacidade de

autonomia e o padrão de bem-estar que, por sua vez, são

valores socialmente definidos, importando em valores e

escolhas. Nessa perspectiva, a intervenção sanitária refere-se

não apenas à dimensão objetiva dos agravos e dos fatores de

risco, mas aos aspectos subjetivos, relativos, portanto, às

representações sociais de saúde e doença.

Desta forma, a triangulação metodológica e a

interdisciplina-riedade constituem chaves para a análise dessas

situações complexas e para resolver a validação de indicadores

compostos, uma vez que eles não estão relacionados às

condições específicas e resumidos apenas às operações de

mensuração quantitativa.

Isso pode ser considerado abrangente ou reducionismo

dos problemas e soluções, mas, cabe ressaltar que são

tentativas de respostas a problemas concretos de qualidade de

vida da população urbana, unindo e sobrepondo diferentes

reflexões de cientistas, sociedade civil e gestores públicos.

… é como se fosse uma medida que juntasse, ao

mesmo tempo, o sentimento de bem-estar, a visão

da finitude dos meios para alcança-lo e a

disposição para, solidariamente, ampliar as

possibilidade presentes e futuras … é como um

guarda-chuva onde estão ao abrigo nossos desejos

158

de felicidade, nossos parâmetros de direitos

humanos, nosso empenho em apliar as fronteiras

aos direitos sociais e das condições de ser

saudável e de promover a saúde. (MINAYO, 2002:

p.174)

Pensar em saúde significa, a priori, reconhecê-la como

parte das necessidades básicas da sociedade e, portanto,

paradigma do desenvolvimento social. Particularmente em

países como o Brasil e outros da América Latina, a particular

distribuição de renda desigual, o analfabetismo e o baixo grau

de escolaridade, assim como as condições precárias de

habitação e ambiente têm um papel muito importante na

qualidade de vida, propriamente nas condições de vida e na

saúde.

Assim, demonstrar que as codições de vida afeta a

saúde e que esta influencia fortemente a qualidade de vida não

é o único desafio. Embora já demonstradas, restam ainda muitas

questões a serem resolvidas e respondidas neste campo de

investigação, inclusive no que diz respeito às intervenções que,

a partir do setor saúde, possam, mais eficazmente, influenciar de

forma favorável a qualidade de vida.

159

Acesso ao Serviço de Saúde

Os serviços de saúde possuem a capacidade de

diminuir a exposição aos fatores de risco para a saúde de

indivíduos e grupos, asssim como a vulnerabilidade e,

principalmente, as consequências da exposição a esses fatores

de risco. O acesso equitativo aos serviços de saúde é, portanto,

de grande importância para diminuir os diferenciais observados

em relação a estes aspectos.

A Constituição de 1988, além de reconhecer a saúde

como direito de todo cidadão e dever do Estado, estabeleceu

as bases do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o

texto constitucional, o SUS tem três princípios constitucionais e

três princípios organizativos.

Os princípios constitucionais incluem a universalização

da assistência, garantida a todo cidadão; a integridade da

atenção, incluindo todas as ações necessárias à promoção,

prevenção, tratamento e reabil itação; e a equidade, ofertando

serviços e bens segundo as necessidades.

Os princípios organizativos são a descentralização da

gestão, com participação das esferas federal, estadual e

municipal; a regionalização e hierarquização das redes de

160

serviços; e a participação da comunidade na gestão do

sistema.

Cabe ressaltar que, a organização dos serviços de

saúde no Brasil é do tipo misto, com um sistema público de

acesso universal (SUS) e um sistema privado de seguros e planos

de saúde, sendo que a cobertura deste último está relacionada

ao nível de renda.

Há tempos, Osvaldo Cruz, organizado com o seu grupo

sanitarista, enfatizou a importância do controle das doenças

através da articulação de planos de ações sanitárias, que

combinavam a compreensão dos problemas sociais, culturais,

políticos e econômicos. (MINAYO, 2002).

No debate sobre promoção da saúde e qualidade de

vida, um especial destaque deve ser dado ao tema das políticas

públicas saudáveis, da governabilidade, da gestão social

integrada, da intersetorialidade, das estratégias dos municípios

saudáveis e do desenvolvimento local. Assim, entende-se que,

estes são mecanismos operacionais concretos para a

implementação da estratégia da promoção da saúde e da

qualidade de vida, com ênfase particular no contexto do nível

local.

Finalizando, destaca-se que a perspectiva das políticas

públicas saudáveis distingue-se e ultrapassa em abrangência as

161

ações ambientais da saúde pública tradicional e, mesmo, as

políticas urbanas de expansão de serviços e bens de consumo

coletivo. Propociona assim, então, implicar uma abordagem

mais complexa, devendo ser compreendida como uma

(re)formulação inovadora tanto do conceito de saúde quanto

do conceito de Estado (e, portanto, de política pública) e de

seu papel perante a sociedade.

162

163

PPEENNSSAANNDDOO EEMM CCOONNCCLLUUIIRR

A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto

urbano marcado pela degradação permanente do meio

ambiente e do seu ecossistema, não pode omitir a análise do

determinante do processo, nem os atores envolvidos e as formas

de organização social que aumenta o poder das ações

alternativas de um novo desenvolvimento, numa perspectiva de

sustentabil idade.

Tendo em vista a qualidade de vida e os anseios da

sociedade moderna em um desenvolvimento crescente, mas de

forma sustentável, quem vive nos grandes centros urbanos, ou

até mesmo em cidades de porte médio, deve ficar mais atento

à questão da poluição atmosférica.

Na espacialização das doenças respiratórias, no

território paulista, considerando as áreas urbanas não

metropolitanas, observou-se que a concentração se dá na

região Noroeste, Central e parte do Oeste. Em períodos de

estiagem prolongada e de mudanças bruscas de temperaturas

(principalmente, as mais amenas), houve grande concentração

de casos de morbidade respiratória, como é o caso das

164

estações de outono e de primavera. A estação de inverno

apresentou, também, número considerável de casos.

Na modelização, o exemplo representado é uma forma

simplificada de visualizar e entender os processos geográficos

de benefício ao trabalho, na conjuntura, a distribuição da

incidência de casos de doenças respiratórias no Estado de São

Paulo, junto às variáveis favoráveis para a temática. Mas apesar

de simplificada, a modelização permite uma possibil idade de

interpretação mais conjuntiva e qualitativa. A falta de

vegetação nativa, com a expansão de pastagens e de cultivos

agrícolas, a cultura da cana-de-açúcar, o uso intensivo de

queimadas, a circulação atmosférica e o gás carbônico inter -

estadual demonstraram uma contribuição significativa para a

incidência e o agravo das doenças respiratórias.

Deste modo, há necessidade de se pensar em soluções

para o desenvolvimento social e a criação de políticas públicas,

um dos melhores e mais eficazes instrumentos de melhoria de

qualidade de vida e bem-estar; pois, vivendo um momento em

que as altas tecnologias e a rapidez da modernidade crescem a

cada dia, é possível tomar algumas medidas não tecnológicas,

visando à redução da poluição atmosférica.

É importante destacar, também, a necessidade de

políticas públicas de controle da qualidade do ar em diferentes

165

escalas, estadual, regional e intermunicipal, que busquem a

qualidade de vida e o bem-estar da população.

Deve-se ressaltar que a l imitação da amostra, ou seja,

os dados das internações – relativos ao SUS – referem-se, de

forma geral, à camada mais pobre da população. A ausência

de informações sistematizadas e confiáveis relacionadas às

internações na rede hospitalar privada não permitiu avaliar o

universo mais amplo e as diferenças entre os grupos

socioeconômicos.

É importante destacar que, em sua capacidade de

síntese, o modelo de representação espacial para o Estado de

São Paulo elaborado nesta tese possui l imitações. Aos mesmo

tempo que otimiza a sobreposição de informações em

diferentes camas, somando elementos em uma só imagem, sua

representação é, ao mesmo tempo, específica (em suas

informações) e genérica (em sua escala).

O que realizamos nesta tese é a soma de informações

complementares em um mesmo recorte espacial, possibilitando

a correlação de diferentes fontes, complementares, criando um

modelo cartográfico facilitador e ágil para a compreensão de

diferentes fatores agindo sobre o mesmo problema.

Considera-se, portanto, que informações mais

abrangentes sobre doenças necessitam ser produzidas e

166

sistematizadas a fim de ampliar o conhecimento dos diversos

efeitos socioambientais sobre a saúde e propiciar a busca por

soluções para a melhoria dos ambientes urbanos e,

consequentemente, para a saúde da população.

A concentração dos poluentes na atmosfera depende,

basicamente, da quantidade dos poluentes emitidos pelas

fontes e das condições meteorológicas reinantes. O Estado de

São Paulo possui variações sazonais significativas das condições

atmosféricas, distinguindo-se, nitidamente, as condições

climáticas de inverno e verão.

A estiagem, ao provocar a queda na umidade do ar,

resseca as mucosas nasais, propiciando irritações nas vias

aéreas superiores. As baixas temperaturas, por outro lado,

quando ocorrem quedas bruscas, causam a proliferação de

vírus, principalmente em ambientes fechados, acentuando a

disseminação das doenças respiratórias.

Como um agravamento destas condições no inverno

(estiagem) acrescentam-se volumosas quantidades de

partículas em suspensão no ar provenientes tanto da queima de

combustíveis fósseis provocadas pela circulação dos veículos,

quanto da queima da palha da cana-de-açúcar, para a

produção do álcool - uma das principais bases da economia do

interior paulista.

167

Desta forma, o material particulado emitido,

principalmente pela combustão da palha da cana-de-açúcar,

praticada pela grande maioria de produtores de álcool,

acentua o quadro clínico de internações por doenças

respiratórias.

Acredita-se que seja necessário refinar os modelos de

análise das relações dos diversos elementos que interferem

direta e indiretamente sob a qualidade de vida e saúde. Pois,

além das características peculiares e da grande diversidade

socioespacial, torna-se necessário expandir as pesquisas a fim

de compreender a relação entre desigualdades sociais e

ambientais e o processo saúde-doença da população.

Podemos concluir que, mesmo abaixo dos padrões de

qualidade do ar, o efeito da poluição atmosférica existe,

embora estejam limitados a um nível aceito pelos órgãos

responsáveis por sua gestão e controle. Portanto, um

decréscimo das concentrações de poluentes ambientais sempre

significa um ganho na qualidade de vida.

Vale a pena ressaltar que, com padrões de aplicação

mundial para a qualidade do ar, novos l imites para poluição do

ar foram fixados pela OMS (Organização Mundial de Saúde)

impondo um alerta ao Brasil.

168

Como a legislação nacional é menos exigente, enormes

contingentes populacionais do país podem estar respirando um

ar mais comprometido do que se imagina. A iniciativa de

definição de padrões mais rigorosos é justificada pela l igação

cada vez mais comprovada entre ar poluído e danos a saúde

pública.

Cabe salientar que existe a necessidade de estudos na

área de poluição atmosférica, visando medir a quantidade dos

elementos: partículas totais em suspensão (PTS), partículas

inaláveis menores que 10 microns (PM10), dióxido de enxofre

(SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), ozônio (O3) e monóxido de

carbono (CO), na atmosfera, além da umidade, pluviosidade,

direção e velocidade dos ventos, irradiação solar, temperatura,

pressão atmosférica e etc, ver se estão dentro dos padrões

técnicos aceitáveis (ditados pelas NBR‟s e pelo CONAMA), e

tentam apontar “possíveis” fontes de emissão (culpados pelo

problema).

Acredita-se que, as emissões de automóveis são

responsáveis por alterações climáticas em escalas locais e

regionais, como ilhas de calor no centro dos conglomerados

urbanos.

Apesar da pequena escala desses gradientes, relativa à

taxa de variação da temperatura ou mesmo das condições

169

climáticas, a alta densidade populacional em áreas

metropolitanas coloca em risco um grande número de

indivíduos. Por esse motivo, crê-se que a maior parte do impacto

das mudanças climáticas na saúde deverá ser experimentada

no cenário urbano.

Os problemas de saúde pública constituem então um

componente crítico das dimensões humanas das mudanças

ambientais globais.

O estabelecimento de critérios de qualidade ambiental

depende, em grande parte, da mensuração dos seus efeitos

sobre os sistemas biológicos, em especial sobre a saúde e a

sobrevivência humana. Entretanto, não se conhece o suficiente

sobre a ampla gama de possíveis conseqüências para a saúde

dos complexos processos que fazem parte das mudanças

globais.

Assim, tornam-se necessárias mais pesquisas, tanto em

nível conceitual como também empírico. Isso traz um importante

desafio para os pesquisadores em saúde pública uma vez que,

para que esses conhecimentos sejam obtidos, a transposição de

limites disciplinares tradicionais deverá acontecer.

O estudo não tem a pretensão de encerrar o assunto,

mas deixá-lo em aberto para que futuras pesquisas possam se

orientar através dos resultados do trabalho, inclusive com novas

170

metodologias, como também que o mesmo possa ter uma

repercussão positiva. Ao ser disponibil izado, torna-se algo

concreto como fonte de consulta tanto para a comunidade

acadêmica como divulgado para a sociedade em geral. Além

de o estudo servir como instrumento para os órgãos públicos

para ser usado como subsídio para Políticas Públicas ligadas ao

planejamento urbano.

Finalmente, acredita-se que esta tese possa servir de

subsídio para algumas políticas públicas que visem a melhoria

da qualidade de vida da população bem como a qualidade do

atendimento médico-hospitalar. Contudo, é preciso realizar um

planejamento que realmente leve às mudanças necessárias e

não apenas termine em meros devaneios e especulações.

171

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