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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS JOÃO WILLIAM DA SILVA INOV AÇÃO E DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO DO BRASIL VITÓRIA DA CONQUISTA 2011

inovação e desenvolvimento

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB

CURSO DE CINCIAS ECONMICAS

JOO WILLIAM DA SILVA

INOVAO E DESENVOLVIMENTO:

UMA ANLISE SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE INOVAO DO BRASIL

VITRIA DA CONQUISTA

2011

JOO WILLIAM DA SILVA

INOVAO E DESENVOLVIMENTO:

UMA ANLISE SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE INOVAO DO BRASIL

Monografia apresentada ao curso de Cincias Econmicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia como pr-requisito para obteno do grau de Bacharel.

Orientador (a): Prof. Josias Alves de Jesus

VITRIA DA CONQUISTA

2011

JOO WILLIAM DA SILVA

INOVAO E DESENVOLVIMENTO:

UMA ANLISE SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE INOVAO DO BRASIL

Monografia apresentada ao curso de Cincias Econmicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia como pr-requisito para obteno do grau de Bacharel.

Aprovado em:___/___/2011

COMISSO EXAMINADORA

______________________________________________

Prof. Josias Alves de Jesus

Orientador

______________________________________________

2 membro

_______________________________________________

3 membro

AGRADECIMENTOS

Agradeo ao grande e eterno Deus que habita na eternidade, pois tudo que tenho e que sou vem de suas mos. Agradeo ao Senhor por conhecer cada um de meus passos, cada um de meus pensamentos. Impressiono-me em saber que um Deus to Grandioso que habita na eternidade tem cuidado de mim. A minha me Lavina Marques da Silva, o Senhor Deus me presenteou por t-la como minha genitora. Seu exemplo de vida sua simplicidade e humildade so as marcas registradas de uma vida dedicada ao que bom e reto. Espero que a singularidade desse momento possa encher seu corao de felicidade e orgulho. Espero ter correspondido a tudo que esperou de mim. A Jos Gonalves da Silva, meu pai, entristece-me lembrar de que a morte j nos separou mas conforto-me em saber que se ainda estivesse conosco estaria feliz e orgulhoso das conquistas realizadas. A Thiely Dias Sobrinho, minha noiva, agradeo-lhe imensamente por suas oraes por seu apoio e compreenso em momentos decisivos. Agradeo mais ainda pelos momentos em que disps-se a me ouvir quando falava apenas sobre monografia. Este trabalho tem a sua participao. A todos os meus irmos que jubilaram com minhas conquistas e me ajudaram a chorar quando eu no tinha mais foras para caminhar. Cada um de vocs esto presentes nos momentos mais belos de minha vida. Ao professor Josias Alves de Jesus, meu orientador, agradeo imensamente por seus ensinamentos, conselhos e orientaes. Tenho certeza que o Senhor Deus colocou sua presena neste trabalho. A todos os meus amigos que por serem muitos faltariam pginas para mencion-los. Sinto-me feliz em poder compartilhar cada uma de minhas vitrias com aqueles que colaboram direta ou indiretamente com o resultado deste trabalho.

"A caracterstica mais importante de um inovador no a sua imaginao, mas a sua perspiccia. A perspiccia o que permite transformar uma ideia, normal, como aquelas centenas que temos todos os dias, em algo especial. , simultaneamente, ter uma ideia, ter a capacidade de concretiz-la mentalmente e ter a sagacidade de v-la utilizada de uma forma inovadora. Depois, ter fora de vontade para faz-la acontecer, qualquer que seja o custo (CRUZ,Rui. Jornal de Negcios / 20070413).

"A inovao resulta de um processo de confronto contnuo entre o esforo de mudana tecnolgica e a capacidade de ajustamento social a essa mudana. Esta capacidade de ajustamento fortemente condicionada pelas mentalidades e pelos comportamentos estabelecidos" (SAMPAIO,Jorge. Pblico / 20031128).

RESUMO

Esta monografia buscou analisar as fragilidades do sistema nacional de inovao do Brasil. A importncia do tema abordado origina-se a partir da constatao de que as tecnologias de informao e conhecimento tem delineado o padro de crescimento das economias modernas. O presente trabalho identificou que o avano tecnolgico de um pas est indubitavelmente atrelado sua capacidade de gerar e acumular conhecimento verificou-se tambm criao de sistemas nacionais de inovao ou SNI's com motor do avano tcnico. Para a perfeita elucidao do tema proposto a pesquisa amparou-se nas contribuies tericas que vo desde Adam Smith at Schumpeter, onde tornou-se possvel discutir o conceito de inovao tecnolgica e sua importncia para o desenvolvimento econmico. Para a abordagem referente noo de sistemas nacionais de inovao, utilizou-se os estudos dos Neo-Schumpeterianos que singularmente demonstraram a importncia de um sistema planejado de fomento a inovao. O sistema nacional de inovao no Brasil foi analisado com base nos dados estatsticos da Pesquisa Industrial de Inovao Tecnologica (PINTEC) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e estatsticas (IBGE). Por meio desta pesquisa tornou-se possvel constatar a falta de interao entre governo, empresas e universidades como um dos principais obstculos do SNI no Brasil. Estas caractersticas foram analisadas a luz da teoria econmica. O estudo caracterizou-se por um cunho explicativo amparado por extensa pesquisa bibliografia.

PALAVRAS-CHAVE: Inovao. Desenvolvimento. Tecnologia.

ABSTRACT

This monograph seeks to analyze the weaknesses of national innovation system in Brazil, the importance of the subject stems from the fact that the technologies of information and knowledge has outlined the growth pattern of modern economies, this study has identified technological advancement of a country is undoubtedly tied to its ability to generate and accumulate knowledge, there was also the creation of national systems of innovation or SNI's engine of technological advance, for full comprehension of the proposed topic, research propped on the theoretical contributions ranging from Adam Smith to Schumpeter, where it became possible to discuss the technological innovation and its importance for economic development, referring to approach the notion of national innovation systems were used the study of Neo-Schumpeterian which uniquely , demonstrated the importance of a system designed to foster innovation, the national innovation system in Brazil, was analyzed based on the statistical survey of industrial innovation and technology (PINTEC) published by the Brazilian Institute of Geography and statistics (IBGE) through this research, it became possible to solve the lack of synergy between government, companies and universities as a major bottleneck of the NIS in Brazil, compared the light of economic theory the study was characterized by an explanatory nature supported by extensive research bibliography.

KEYWORDS: Innovation. Development. Technology.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Gasto em P&D em relao receita lquida por setor de atuao...........43Tabela 2 - Dispndio em relao a receita total, por tipo de inovao e por setor de atividade.....................................................................................................................45Tabela 3 - Inovao em cooperao com outras empresas por setor de atividade e faixa de pessoal ocupado...........................................................................................46Tabela 4 - Fontes de inovao na indstria por tipo e por faixa de pessoal ocupado......................................................................................................................47Tabela 5 - Fontes de Inovao no Setor de servios por tipo e por faixa de pessoal ocupado......................................................................................................................48Tabela 6 - Fontes de Inovao no setor de P&D por tipo e por faixa de pessoal ocupado......................................................................................................................48Tabela 7 - Principais obstculos Inovao por tipo e por setor de atividade..........49

Figura 1 - Sistema Nacional de Inovao31Figura 2 - Sistema Nacional de Inovao41LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SNI Sistema Nacional de Inovao

PINTEC - Pesquisa de Inovao Tecnolgica

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

MCT - Ministrio da Cincia e Tecnologia

FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

CNPq - Concelho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico

OCDE Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

C&T Cincia e Tecnologia

PED Plano Estratgico do Governo

SUMRIO

1. INTRODUO.......................................................................................................112. INOVAES TECNOLGICAS NA TEORIA ECONMICA................................142.1 INOVAO NA CONCEPO DOS ECONOMISTAS CLSSICOS...................152.2 INOVAO NA CONCEPO DE MARX...........................................................182.3 INOVAO NA TEORIA NEOCLSSICA............................................................212.4 INOVAO NA TEORIA SCHUMPETERIANA....................................................233 INOVAO TECNOLGICA NA VISO NEO-SHUMPETERIANA......................283.1 O SISTEMA NACIONAL DE INOVAO PARA OS NEO-SCHUMPETERIANOS...............................................................................................303.1.2 O Conceito de Sistemas Nacionais de Inovao...31

3.1.3 As dimenses do Sistema Nacional de Inovao..323.2 OS PARADIGMAS TCNICO-ECONMICOS....................................................344 O SISTEMA NACIONAL DE INOVAO NO BRASIL..........................................394.1 A PINTEC.............................................................................................................414.1.1 Fontes de Inovao...........................................................................................454.1.2 Apoio do Governo..............................................................................................464.1.3 Obstculos Inovao Tecnolgica..................................................................49 4.2 A ATUAO DO MINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIA (MCT).................505 CONSIDERAES FINAIS....................................................................................54REFERNCIAS..........................................................................................................571 INTRODUO

A partir do sculo XVIII, de forma mais intensa, uma srie de teorias econmicas buscaram identificar as variveis pelas quais se compreendem o fenmeno fundamental do desenvolvimento econmico.

O economista clssico Adam Smith (1996) apontou a diviso do trabalho como meio inovativo. Segundo ele, a fabricao de um bem mais rpida quando se divide as etapas de sua produo por mais de um trabalhador. Deste modo, ele tornou-se o pioneiro na inovao em processo.

O tambm economista clssico David Ricardo (1996) via a inovao como uma soluo aos rendimentos decrescentes na agricultura. Ricardo abordou que terras menos frteis e mais afastadas dos centros comerciais seriam utilizadas em escala cada vez maior, impactando em aumento dos custos e reduo dos lucros. A inovao seria a salvao da lavoura uma vez que aumentaria a produtividade e reduziriam os custos.

Karl Marx (1996) entendia que o progresso tcnico levaria ao aumento da produo e inicialmente ao aumento dos lucros dos capitalistas, mas ao longo do tempo, cria desemprego reduzindo o mercado consumidor. Assim, o desemprego dos trabalhadores, prejudica tambm os lucros do capitalista, levando o prprio sistema ao colapso.

Os economistas neoclssicos desconsideravam o valor das inovaes tecnolgicas para o desenvolvimento econmico. A anlise desta escola centra-se na firma como maximizadora de lucros. Assim, os neoclssicos consideravam a inovao tecnolgica como algo preestabelecido pelo sistema, cabendo s firmas apenas a sua adequao s modificaes postas.

Schumpeter (1996) trouxe para o centro da anlise econmica, a inovao tecnolgica. Sua teoria parte da noo de estado estacionrio ou equilbrio. Quando surge o novo, o equilbrio (estado estacionrio) rompido pela ocorrncia de grandes saltos de produtividade. As velhas formas de produo so suplantadas pela inovao ocorrendo o que se denominou de destruio criadora.

A riqueza das obras de Schumpeter deu origem a duas escolas no rivais; os evolucionistas e outra escola surgida na universidade Sussex (Reino Unido) representados por Freeman e Perez (1982 apud Jesus, 2006). Esses dois braos da teoria de Schumpeter so tambm chamados de Neo-Schumpeterianos.

Os Neo-Schumpeterianos trouxeram para o cerne da teoria econmica, uma abordagem composta pelo aprendizado cumulativo, argumentam tambm que a inovao tecnolgica pode ser produzida pelo esforo em conjunto dos diversos setores que compe a economia nacional, assim, surge noo de Sistemas Nacionais de Inovao (SNI), que se define como a seguir:

Pode-se definir um sistema de inovao como um conjunto de instituies pblicas e privadas que contribuem nos mbitos macro e microeconmico para o desenvolvimento e a difuso de novas tecnologias (PELAEZ e SZMRECSNYI, 2006, p. 125).

Mediante o conceito sobre os SNIs, justifica-se, pois, a investigao sobre o sistema nacional de inovao no Brasil. Assim, a presente pesquisa traz para o centro dessa investigao o seguinte questionamento:

Quais so as fragilidades do sistema nacional de inovao do Brasil? O objetivo geral dessa pesquisa analisar os gargalos que fragilizam o sistema nacional de inovao no Brasil.

Os objetivos especficos so:

a) Discutir o conceito de inovao tecnolgica na teoria econmica.

b) Discutir o conceito de Sistema Nacional de Inovao

c) Identificar os pontos de fragilidade do SNI no Brasil

O primeiro captulo dessa pesquisa composto por esta introduo, em que se discute a importncia do tema abordado, bem como a exposio do problema e objetivos da investigao.

No segundo captulo so trazidas para o debate, de forma mais aprofundada, as contribuies das diversas teorias econmicas, que vo desde os clssicos a Schumpeter.

No terceiro captulo discutido o conceito de Sistemas Nacionais de Inovao sob a tica dos Neo-Schumpeterianos.

No quarto captulo, so apresentados os dados da Pesquisa de Inovao Tecnolgica (PINTEC), elaborada trienalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Tambm nesse captulo, discutida a atuao do Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT), bem como da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq).

O quinto captulo traz as consideraes finais sobre o tema abordado, em que se define a existncia de um sistema nacional de inovao frgil e pouco eficiente, tendo como principal obstculo, a falta de sinergia entre os setores que compe a economia nacional.

A metodologia proposta por esta pesquisa de cunho explicativo, com uma abordagem qualitativa em que se utiliza extensa pesquisa bibliogrfica. Prope-se tambm um mtodo indutivo no qual so analisados os setores que compe o SNI no Brasil como meio de identificar os entraves ao desenvolvimento tecnolgico nacional.

2 INOVAES TECNOLGICAS NA TEORIA ECONMICA

H muito a teoria econmica ocupa-se em discutir os parmetros que explicam o fenmeno do desenvolvimento econmico. Muitas so as abordagens que circundam o tema e muitas divergncias h tambm entre os diversos autores do assunto. No entanto, mesmo em meio a tantas divergncias, existe de modo geral, consenso na ideia de que o desenvolvimento capitalista cclico sendo constitudo de momentos de prosperidade financeira alternados por momentos de crises econmicas.

Discutir o fenmeno do desenvolvimento econmico por esse ngulo cclico consiste essencialmente em reconhecer o desenvolvimento no linear, ou seja, uma trajetria econmica constituda de crises e prosperidade. As modificaes tcnicas ocorridas pelas diversas revolues industriais so responsveis pela centralizao do debate econmico em torno das inovaes tecnolgicas.

As inovaes tecnolgicas constituem um elemento fundamental para a economia capitalista. Por meios delas, surgem novas bases tecnolgicas que modificam radicalmente a vida social e produtiva de pases e regies.

Ao longo da histria do pensamento econmico, muitos tericos se debruaram sobre a rdua tarefa de explicar o fenmeno do desenvolvimento econmico. A abrangncia do tema, naturalmente, oferece uma pluralidade de conceitos. No entanto, mesmo em meio a diversidade de pensamentos facil identificar a inovao tecnolgica como algo sempre presente na teoria econmica, ainda que a inovao no tenha sido o foco entre os diversos autores.

Deste modo, entender o processo de inovao tecnolgica, requer uma anlise das diversas teorias sobre o desenvolvimento econmico. De modo a identificar as contribuies dessas teorias para a construo do conceito de inovao.

2.1 INOVAO NA CONCEPO DOS ECONOMISTAS CLSSICOS

Historicamente, a noo de desenvolvimento econmico emerge com os fisiocratas, que viam na agricultura o elemento central do desenvolvimento desconsiderando a indstria e o comrcio como geradores de riqueza.

A primeira revoluo industrial, ocorrida no sculo XVIII, possibilitou uma mudana no debate econmico, sendo esta revoluo, o palco, ou o cenrio para as grandes teorias que instituram um marco para a economia enquanto cincia.

A teoria clssica tem como seus principais expoentes Smith (1996) e Ricardo (1996). Smith (1996) publicou sua grande obra intitulada Riqueza das Naes em 1776 e Ricardo tem como sua obra principal: Princpios de Economia Poltica e Tributao de 1817. As ideias desses autores, entre outros, formam a teoria clssica do pensamento econmico.

Smith (1996) observou que a produo pelos moldes vigente poca, em que um operrio era responsvel por praticamente todas as etapas do processo de produo de um bem acarretava na perda de produtividade. Assim, delineou sua teoria com base na noo de que a diviso do trabalho aumenta a produtividade. Ou seja, a execuo de cada etapa do processo de fabricao de um produto sendo realizado por um operrio diferente, implicaria em uma melhor especializao deste na funo que desempenha, reduzindo assim, ou mesmo eliminando, o que se identifica como sendo os tempos mortos, ou seja, a perda de tempo na execuo das tarefas delegadas. Nas palavras do autor:

O maior aprimoramento das foras produtivas do trabalho, e a maior parte da habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho em toda parte dirigido ou executado, parecem ter sido resultado da diviso do trabalho (SMITH, 1996 p. 65).

O sentido da inovao para Smith (1996) tambm est relacionado introduo de ferramentas e novos processos produtivos. Neste sentido, a introduo da diviso do trabalho e de novos equipamentos leva aos poucos a substituio da fora humana pela fora motriz, gerada a partir de mquinas adequada ao processo.

Outro fator discutido por Smith (1996) relaciona-se ao papel do Estado dentro da economia. Segundo o autor, o mercado o seu prprio dono, no cabendo a nenhum agente externo, a introduo de algum tipo de controle. Para ele, o mercado possui formas prprias de regulao, sendo dirigido pela ao dos prprios agentes que ao desempenhar suas tarefas costumeiras, inconscientemente contribuem para a manuteno do mercado. A este estado de autonomia, Smith chamou de A mo invisvel que regula o prprio ambiente econmico.

A livre iniciativa privada a bandeira defendida por Smith (1996) como fator central para o desenvolvimento tecnolgico e social, cabendo ao governo a simples tarefa da manuteno de um ambiente propcio ao livre mercado, bem como a responsabilidade sobre setores relacionados aos bens pblicos em que a iniciativa privada no tem interesse ou condies de atuar como, por exemplo, a defesa nacional.

Ricardo (1996) procura explicar a distribuio da riqueza entre os capitalistas, os proprietrios de terra e os trabalhadores. Para isso, ele parte de uma anlise da produtividade na agricultura.

Quando, com o desenvolvimento da sociedade, as terras de fertilidade secundria so utilizadas para cultivo, surge imediatamente renda sobre as de primeira: a magnitude de tal renda depender da diferena de qualidade daquelas duas faixas de terra.

Quando uma terra de terceira qualidade comea a ser cultivada, imediatamente aparece renda na segunda, regulando-se como no caso anterior, pela diferena entre as foras produtivas de uma e de outra. Ao mesmo tempo, aumenta a renda da terra de primeira qualidade, pois esta deve ser sempre superior renda da segunda, de acordo com a diferena entre as produes obtidas numa e noutra com uma dada quantidade de capital e de trabalho. A cada avano do crescimento da populao, que obrigar o pas a recorrer terra de pior qualidade para aumentar a oferta de alimentos, aumentar a renda de todas as terras mais frteis (RICARDO, 1996 p. 51).

A queda da produtividade agrcola, ao que ele chamou de lei dos rendimentos decrescentes, centra-se na noo de que o cultivo de terras menos frteis e mais afastadas do mercado consumidor leva ao encarecimento da produo e reduo dos lucros produtivos, isso decorre do fato de que o crescimento populacional demanda uma maior produo de alimentos, o que leva tambm ao uso de terras menos frteis, fator que aumenta a renda da terra de primeira qualidade. Naturalmente, os custos de produo aumentam em detrimento dos lucros.

Para Ricardo (1996), o avano tcnico pela introduo de mquinas e equipamentos, constitui o freio do decrscimo da taxa de lucro. A mecanizao da agricultura permite uma maior produtividade. Assim, no havendo inovaes, esse estado de decrscimo dos lucros no pode ser contido.

Apesar de reconhecer que a introduo da maquinaria provoca desemprego, Ricardo (1996) argumenta que no longo prazo, os impactos da mecanizao por aumentar a produtividade, reduziriam os preos sendo, portanto, benficos tambm para o trabalhador. Eu julgava tambm que a classe de trabalhadores seria igualmente beneficiada pelo uso da maquinaria, na medida em que dispusesse dos meios para comprar mais mercadorias com o mesmo salrio (RICARDO, 1996 p. 288).

Aps a publicao da terceira edio de sua obra principal Ricardo (1996) passa a considerar o progresso tcnico como algo perverso para o trabalhador como comenta em suas palavras:

Essas eram minhas opinies, e elas seguem inalteradas no que diz respeito ao proprietrio da terra e ao capitalista. Mas estou convencido de que a substituio de trabalho humano por maquinaria frequentemente muito prejudicial aos interesses do trabalhador (RICARDO, 1996 p. 288).

Em outro comentrio, Ricardo acrescenta:

Meu erro consistia em supor que sempre que o rendimento bruto da sociedade aumentasse seu rendimento lquido tambm aumentaria. Agora, no entanto tenho razes suficientes para pensar que os fundos de onde os proprietrios de terra e os capitalistas obtm o seu rendimento pode aumentar enquanto o outro aquele de que depende principalmente a classe trabalhadora pode diminuir (RICARDO, 1996 p 288).

Nesta fantstica elucidao Ricardo deixa claro que os rendimentos da classe trabalhadora no so proporcionais aos rendimentos dos capitalistas. A lgica dessa abordagem simples: a introduo de mquinas e equipamentos reduz os custos e os preos, mas em contrapartida, provoca desemprego e reduo dos salrios.

A argumentao levantada por Ricardo que a reduo dos preos no suficiente para compensar as perdas salariais. Por outro lado, a realocao da fora de trabalho para outras atividades aps o desemprego provocado pelas mquinas no ocorre no mesmo ritmo das demisses oriundas do mesmo processo. Assim, a inovao tecnolgica, na concepo Ricardiana provoca desemprego medida que o uso de mquinas avana em substituio ao trabalho humano.

2.2 INOVAO NA CONCEPO DE MARX

Marx (1996) centrou sua teoria na noo de que o capitalismo caminha rumo a sua autodestruio. Para ele, o sistema capitalista excludente, pois acumula gradativamente a riqueza em torno dos detentores dos meios de produo em detrimento dos trabalhadores. Esse estado constante de luta entre capitalistas e trabalhadores teria em seu desfecho final a derrocada do sistema de produo capitalista dando origem a um novo sistema, o socialismo e posteriormente o comunismo.

A economia capitalista no pode ser considerada estacionria, pois est sempre sendo revolucionada por novos empreendimentos, pela introduo de novas mercadorias e novos mtodos de produo. A preocupao de Marx com a questo tecnolgica no estava restrita dinmica econmica, mas tambm em suas implicaes sociais.

A anlise marxista do desenvolvimento econmico e tecnolgico pode ser explicada por trs faces diferentes, a saber: a composio orgnica do capital, a mais-valia e a tendncia queda da taxa de lucro. Em suma, essas trs vertentes apontam para a evoluo tecnolgica como agente impulsionador do capitalismo.

De acordo com Marx (1996), o capital composto de duas partes, em que uma refere-se s mquinas e equipamentos ao qual ele chamou de capital constante, e outra referente fora de trabalho que ele denominou capital varivel. Esta , pois, a composio orgnica do capital.

Marx (1996) reconhecia a importncia das inovaes tecnolgicas no processo de produo capitalista. Como comenta o autor: A burguesia em si no poderia existir sem revolucionar constantemente os meios de produo (MARX, 1982 apud TIGRE, 2006 p.23).

Segundo Marx (1996), a introduo de mquinas e equipamentos, ou seja, o avano tcnico interfere na composio orgnica do capital, pois a parte do capital constante referente maquinaria aumentaria em relao ao capital varivel.

Como na concepo marxista a mais-valia, ou a apropriao de lucros excedente ocorre somente sobre a capital varivel, ou seja, sobre a fora de trabalho, o capitalista teria uma tendncia queda da taxa de lucro.

Isso poder ser entendido tambm mediante outro conceito importante dentro da teoria de Marx (1996). A expanso da maquinaria provoca desemprego ao substituir o trabalho humano pela mquina. A massa cada vez crescente de trabalhadores sem emprego forma o que Marx chamou de exrcito industrial de reserva.

A ideia marxista de que o capitalismo possui uma caracterstica excludente motivada pela busca desenfreada pelo lucro. Marx (1996) entendia que a introduo de mquinas como substituio do trabalho humano aumentaria de forma temporria os lucros do capitalista. Isto decorre do fato de que substituindo a mo de obra pela mquina, o empresrio reduz os custos de produo e aumenta a produtividade, porm provoca desemprego da mo de obra, aumentando o exercito industrial de reserva.

medida que o nmero de desempregados aumenta, diminui-se o mercado consumidor gerando prejuzos tambm para o capitalista. Por meio desses argumentos, Marx explicava tendncia a queda da taxa de lucro, argumentando assim que o capitalismo contm em si o prprio germe da sua destruio.

Interessante notar que a teoria marxista desvenda o papel desempenhado pelos agentes econmico dentro da economia. O capitalista apropria-se dos meios de produo sendo dono de todos os meios produtivos com exceo de um: a fora de trabalho.

Por outro lado, o trabalhador, quando na situao em que pode cultivar a terra e dela obter o seu sustento, dono de todos os meios de produo. No entanto, o sistema de produo capitalista, pela centralizao da renda em torno do capital, obriga o trabalhador da terra a tornar-se operrio, destituindo-o de todos os meios de produo.

Nesse instante, ao trabalhador resta-lhe a posse de um nico fator produtivo: a fora de trabalho. O capitalista agora compra essa mo-de-obra como uma mercadoria qualquer e torna-se dono de todos os meios produtivos, tanto do capital constante (maquinas e equipamentos), quanto do capital varivel (a fora de trabalho): O trabalhador trabalha sob o controle do capitalista a quem pertence seu trabalho (MARX, 1996 p. 304).

A mais-valia, ou mais valor, ocorre quando o capitalista apropria-se de um meio produtivo que no lhe pertence, aparentemente uma contradio, pois ele paga o salrio ao trabalhador. No entanto, ao considerar-se que a fora de trabalho no constante como nas mquinas, torna-se fcil perceber que o trabalhador pode despender a mo-de-obra alm do necessrio para fabricar mercadorias no valor compatvel ao pagamento do seu salrio, mas nem por isso receber mais pelo trabalho excedente.

Nesse instante ocorre a mais-valia, ou seja, a apropriao pelo capitalista por um trabalho no pago. Assim, conceitualmente pode-se definir a mais valia como sendo a diferena entre o trabalho socialmente necessrio e o trabalho efetivamente desempenhado.

H tambm a situao em que a mais-valia pode ocorrer em funo do aumento da produtividade pelo incremento de maquinaria fazendo com que o trabalhador produza mais em menos tempo. Deste modo, Marx (1996) ainda diferencia mais-valia relativa de mais-valia absoluta como em suas prprias palavras:

A mais-valia produzida pelo prolongamento da jornada de trabalho chamo de mais-valia absoluta; a mais-valia que, ao contrrio, decorre da reduo do tempo de trabalho e da correspondente mudana da proporo entre os dois componentes da jornada de trabalho chamo de mais-valia relativa (MARX, 1996 p. 430).

Assim, a teoria marxista considera a evoluo tecnolgica como cerne da acumulao do capital, sendo um elemento endgeno firma. Por outro lado, aponta os capitalistas como agentes constantemente vidos por lucros incessantes. Deste modo, para alcanar tal objetivo, esses, procuram substituir o homem pela mquina. Marx entendia tambm que a inovao era um meio de se obter um monoplio temporrio sobre uma tcnica superior ou produto diferenciado.

2.3 INOVAO NA TEORIA NEOCLSSICA

A teoria neoclssica tradicional estabelecida a partir dos modelos de equilibrio, tanto parcial quanto geral, no condiz com a realidade econmica. Seu foco de interesse restringe-se a teoria dos preos e na alocao dos recursos. Tigre (1998, p. 70).

A economia neoclssica nega a teoria do valor trabalho substituindo-a por um fator subjetivo a utilidade de cada bem e sua capacidade de satisfazer as necessidades humanas. Nesse modelo, a utilidade de um bem relaciona-se ao desejo do indivduo em obt-lo, bem como ao preo que este se dispe a pagar pelo produto. Assim, quanto maior for utilidade de um bem, maior ser o desejo de consumi-lo e maior tambm ser o preo aceito pelo consumidor.

De acordo com Jesus (2006), a teoria neoclssica, por valorizar demasiadamente a firma como maximizadora de lucros, bem como por considerar o ajuste automtico dos preos via mercado, desconsiderou a importncia das inovaes tecnolgicas como fator endgeno a firma.

A teoria neoclssica baseada no individualismo metodolgico e no subjetivismo (esttico). Ou seja, os fenmenos econmicos so consequncia das escolhas que os indivduos fazem. Esses indivduos fazem escolhas com base numa estrutura de meios e fins, que so dados. Os meios so limitados e os fins so ilimitados, caso contrrio no haveria nenhum problema de escolha, o individuo iria satisfazer todos os seus fins dados os meios suficientes.

Na teoria neoclssica a teoria da produo tem como nica funo explicar a determinao dos preos dos fatores. Logo, possvel compreender a formao dos preos dos bens de consumo apenas aplicando as propriedades da escolha individual racional frente a dotaes iniciais dos fatores distribudas por certa populao de indivduos. Cada indivduo vai realizar trocas com outros indivduos quando existirem desproporcionalidades das valoraes marginais. Nesse caso existe a possibilidade de ambos ficarem numa posio mais satisfatria apenas trocando bens de suas dotaes. Assim, o equilbrio obtido mediante a recombinao dos fatores produtivo torna-se o fator que explica o comportamento racional dos agentes.A teoria neoclssica estabeleceu, ao longo de dcadas, a tradio de compreender a firma como um mero agente maximizador de lucro, desprovido de outro interesse que no o de obter o maior excedente possvel dada as expectativas dos agentes e as condies que prevaleam no mercado. Embora esse conceito da firma facilitasse enormemente o trabalho de pesquisa e elaborao de modelos de equilbrio e crescimento econmico, ele logo se revelou incapaz de lidar satisfatoriamente com realidades mais complexas, tais como estruturas oligopolistas e imperfeies de mercado. A teoria neoclssica acabou dominada pelo modelo walrasiano que trata a firma como agente individual, atribuindo a esta um carter nico como maximizador de lucros.

Diante das apreciaes postas, fica evidente a inadequao da teoria neoclssica no que tange a captao da realidade econmica. Dentre os fatores que contribuem para tal inadequao, destaca-se o fato de os marginalistas isolarem a firma como uma caixa preta sem um mnimo de sinergia ao meio externo. Alm disso, a teoria marginalista considera o fator tecnolgico como endgeno organizao estabelecendo este como algo pr-estabelecido pelo sistema, retirando o carter dinmico que inegavelmente a evoluo econmica possui.2.4 INOVAO NA TEORIA SCHUMPETERIANAO desenvolvimento capitalista foi discutido por muitos autores. No entanto, Schumpeter (1996) captou com maestria e singularidade o fenmeno fundamental do desenvolvimento econmico. Joseph Alois Schumpeter nasceu em 1883 na cidade de Triesch, na Moravia, provncia austraca hoje pertencente Repblica Checa. A partir de 1932 fixou-se nos Estados Unidos sendo professor da Universidade de Harvard durante a maior parte do tempo.

Suas obras influenciaram decisivamente o a histria do pensamento econmico. Seu pensamento difcil de ser enquadrado em uma escola distinta, por isso, sua teoria possui uma escola prpria: a escola Schumpeteriana. Suas principais publicaes so: Teoria do desenvolvimento econmico (1912), Ciclos econmicos (1939), Capitalismo, socialismo e democracia (1942), Histria da anlise econmica (obra inacabada quando de sua morte, e publicada postumamente em 1954)De acordo com Schumpeter (1982), as inovaes caracterizam-se pela recombinao dos fatores produtivos gerando novos mercados e produtos. Esta definio induz ideia de que inovar no significa necessariamente criar algo que nunca existiu, mas que consiste tambm no aprimoramento das tcnicas produtivas que podem afetar desde a qualidade at as caractersticas fsicas do produto. Ainda segundo o autor, as inovaes caracterizam-se em cinco formas diferentes como mostradas a seguir:

Esse conceito engloba os cinco casos seguintes: 1) Introduo de um novo bem ou seja, um bem com que os consumidores ainda no estiveram familiarizados ou de uma nova qualidade de um bem. 2) Introduo de um novo mtodo de produo, ou seja, um mtodo que ainda no tenha sido testado pela experincia no ramo prprio da indstria de transformao, que de modo algum precisa ser baseada numa descoberta cientificamente nova, e pode consistir tambm uma maneira de manejar comercialmente uma mercadoria. 3) Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado em que o ramo particular da indstria de transformao do pas em questo no tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha antes existido ou no. 4) Conquista de uma nova fonte de oferta de matrias primas ou de bens semimanufaturados, mais uma vez independente do fato de que essa fonte j existia ou teve de ser criada. 5). Estabelecimento de uma nova organizao de qualquer indstria como a criao de uma posio de monoplio (por exemplo, pela trustificao) ou a fragmentao de uma posio de monoplio (SCHUMPETER, 1982, p. 48).

A inovao de produto, como o prprio nome indica, centra-se no desenvolvimento e melhoria das funes dos produtos. Neste primeiro tipo de inovao delineado por Schumpeter (1982), o inovador passa a introduzir novos bens e servios, produzir bens diferenciados. Essas modificaes produtivas podem ser incrementais ou radicais.

As transformaes radicais so em grande parte desvinculadas das tecnologias existentes, elas podem surgir em funo de um problema tcnico ou mesmo pela modificao esttica do produto, no entanto, provocam mudanas to profundas, que os bens e servios fabricados assumem caractersticas distintas de seu estado anterior.

interessante notar que a introduo de novos produtos no necessariamente surge em funo da demanda, mas os consumidores so incentivados a gostar ou mesmo ensinados a querer um produto que antes desconheciam, como comenta Schumpeter (1982);

(...) No entanto, as inovaes no sistema econmico no surgem, via de regra, de tal maneira que primeiramente as novas necessidades surgem espontaneamente nos consumidores e ento o aparato produtivo se modifica sob sua presso, (...) Entretanto, o produtor que, via de regra, inicia a mudana econmica, e os consumidores so educados por ele, se necessrio; so, por assim dizer, ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hbito de usar (SCHUMPETER 1982, p.48).

Segundo Tigre (2006), as inovaes viso principalmente a criao de novas necessidades. Assim, a inovao surge antes pelo lado da oferta, onde o empreendedor assume o risco da insero de um bem que pode no ser aceito pelo mercado.

As transformaes incrementais referem-se ao acrscimo de novas funes ou mudanas em design em produtos j existentes. De modo geral, objetivam melhorias em produtos que j possuem boa aceitao no mercado, mas tambm, podem ser implementadas no sentido de conquistar um pblico consumidor que ainda se mostra resistente a certos produtos. De acordo com Pelaez e Szmrecsnyi (2006), as inovaes incrementais representam o estgio de difuso de um modelo inovador.

Incrementar nada mais do que acrescentar novas funes aos bens produzidos. No entanto, existem os casos especiais em que o incremento de novas funes torna-se to intenso que o produto praticamente perde suas caractersticas originais.

medida que avanos incrementais introduzidos por uma empresa so bem sucedidos, suas concorrentes buscam fabricar o mesmo produto ou um substituto. Esta situao se permeia at que o mercado alcance um ponto de saturao, momento este em que as modificaes tecnolgicas j no so mais atrativas no que diz respeito a sua rentabilidade. Este ciclo de consumo revitalizado quando novos incrementos ou novos produtos so introduzidos no mercado.

As introdues de novos mtodos de produo referem-se s modificaes na maneira como o produto ou servio fabricado. Nesse caso, focaliza-se no aperfeioamento dos processos de fabrico e comercializao. Embora possa conduzir igualmente a melhorias nas caractersticas dos produtos, este no o objetivo primeiro da inovao de processo. Neste tipo de inovao busca-se muitas vezes minimizar custos de produo ou comercializao, atravs da maximizao da eficincia e da explorao dos meios disponveis.

O terceiro tipo de inovao admitido pela teoria Schumpeteriana est associado explorao de mercados recm-descobertos ou ainda inexplorados. As inovaes tecnolgicas criam novos produtos e naturalmente novas necessidades (TIGRE 2006) gerando novos mercados ou a possibilidade de explorao de mercados j existentes. Os avanos tecnolgicos oriundos da inveno da mquina a vapor, por exemplo, resultaram em novos produtos, novas mquinas, e obviamente novos consumidores a serem disputados.

A descoberta de novas fontes de fornecimento de matrias-primas constitui o quarto tipo de inovao delineada por Schumpeter (1982). Interessante notar que tal fenmeno independe se essa fonte j existia ou foi descoberta. Outro ponto a se destacar consiste no fato de que tal tipo de inovao, em geral, proporciona a criao de mercados altamente concentrados ou mesmo monopolizados. As descobertas no manejo do petrleo, por exemplo, constituram uma nova fonte de energia que passou a ser usada em larga escala a nvel global.

As criaes de novos mercados, em muitos casos, geram tambm a criao de situaes de mercados monopolizados, isto porque a descoberta ou criao de novos bens e servios, bem como a deteno de novas fontes de matria-prima, requerem custos demasiadamente expressivos. Assim, apenas as grandes organizaes, ou em alguns casos apenas os governos, so capazes de programar algum tipo de explorao dessas novas fontes.

A trajetria seguida pelo capitalismo, na viso de Schumpeter (1982), analisada por meio da admisso da existncia de ciclos econmicos, onde se entende que o desenvolvimento caracterizado por oscilaes entre momentos de prosperidade seguidos por momentos de depresso econmica.

Muitos autores discutiram as variveis que delimitam a ocorrncia de tais ciclos. No entanto, a teoria Schumpeteriana captou com maestria o fenmeno fundamental do desenvolvimento capitalista ao descrever a ocorrncia dos ciclos econmicos como sendo nada mais que o resultado do surgimento e desaparecimento das inovaes tecnolgicas. Assim comenta Schumpeter (1982, p.144): fato comprovado que o sistema econmico no anda sempre para frente de modo contnuo e sem tropeos. Ou seja, o avano econmico no se d conforme o crescimento de uma rvore; embora seja crescente ao longo do tempo, no contnuo, por vezes, interrompido pela ocorrncia de crises.

A origem dessas crises est no esgotamento dos velhos paradigmas que paulatinamente so substitudos por novas tecnologias que iniciaro um novo ciclo de prosperidade. interessante ressaltar que as crises podem ser consideradas como um perodo em que os agentes que no inovam so aos poucos suplantados pela concorrncia. Como afirma o autor, O novo no nasce do velho, mas aparece ao lado deste e o elimina na concorrncia (SCHUMPETER, 1982, p. 143). Esse processo de substituio de um padro tecnolgico por outro, gera o que Schumpeter chamou de destruio criadora.

A teoria Schumpeteriana, alm das elucidaes at aqui postas, tambm diferencia a figura do inovador e do empreendedor. Quem o inovador em Schumpeter? O senso comum aponta o diretor, gerente ou outro administrador, em geral o dono do negcio, mas a teoria schumpeteriana revela que o empresrio aquele que produz novas combinaes produtivas, no sendo obrigatoriamente o administrador da instituio.

Nem todos so inovadores, mas uma ideia inovadora pode sair de qualquer lugar, Assim como as novas combinaes que determinam quem o empresrio, no obrigatoriamente o proprietrio que se constitui o empresrio, sendo esta funo no necessariamente vinculada administrao.

Segundo Schumpeter (1996), os empresrios no formam uma classe social distinta. Isto reside no fato de que somente pode ser considerado como empresrio empreendedor aquele que realiza novas combinaes. Deste modo, qualquer um que realize novas combinaes pode ser empresrio. No sendo esta funo necessariamente ligada a administrao.

3 INOVAO TECNOLGICA NA VISO NEO-SHUMPETERIANA

A riqueza e a originalidade das obras de Schumpeter (1982) chamaram ateno de vrios autores e instigaram inmeros estudos. A teoria Neo-Schumpeteriana tem em sua origem forte vnculo com a teoria Schumpeteriana bem como evoluo biolgica das espcies.

A partir dessas discusses, duas escolas econmicas no rivais originaram-se da teoria Schumpeteriana; os evolucionistas encabeados pelos tericos Richard Nelson e Sidney Winter (1982 apud Jesus, 2006) entre outros, e outra escola oriunda da universidade de Sussex no Reino Unido dos quais so os principais tericos Cristopher Freemam e Carlota Perez (1982 apud Jesus, 2006). Sua construo terica, em grande parte, surge em funo da necessidade de se explicar a construo e evoluo do conhecimento tecnolgico nos pases desenvolvidos como os Estados Unidos, Japo e Coreia do Sul, bem como nos pases perifricos da Amrica Latina e Brasil.

A teoria Neo-Shumpeteriana, na presente pesquisa, ser abordada mediante os seguintes conceitos: as contribuies da evoluo biolgica Darwiniana, a noo de trajetria econmica, a abordagem dos Sistemas Nacionais de inovao e por ltimo a noo de paradigmas tcnico-econmicos.

Dentre os principais argumentos evolucionistas agregados teoria Neo-Schumpeteriana destacam-se: a seleo natural, a evoluo, e o aprendizado. A teoria da evoluo biolgica evoca a noo de que as espcies sofrem um processo seletivo em que somente os mais adaptados s condies impostas conseguem sobreviver. De igual modo, os evolucionistas da teoria econmica aplicam tal conceito como meio de explicar o desaparecimento das empresas e organizaes.

O mercado, em suas constantes mutaes, impe uma constante adaptao s condies estruturais da economia. Novas formas de produo, novos conceitos organizacionais, entre outros, so conceitos que se renovam a cada paradigma, obrigando os agentes econmicos a uma rpida adaptao ao cenrio vigente.

A teoria da evoluo biolgica, por meio da abordagem Lamarckista conhecida como lei do uso e desuso, argumenta que determinados membros de um organismo, ao serem usados de forma mais intensa, desenvolvem-se e evoluem, enquanto que determinados membros que no so usados se atrofiam ao longo do tempo.

Os Neo-Schumpeterianos afirmam que no mercado o conhecimento cumulativo e passvel de ser absorvidos pela concorrncia. De igual modo, afirmam tambm que a concorrncia um processo evolutivo e dinmico gerado a partir de fatores endgenos ao sistema econmico.

Dentro da abordagem Neo-Schumpeteriana a dinmica da inovao no depende apenas dos recursos destinados e esse fim, mas, sobretudo do aprendizado que cumulativo e sistmico. cumulativo no sentido de que o conhecimento reproduzido e aperfeioado com a experincia produtiva e sistmico no sentido de que a interao ou a universalizao do conhecimento algo imprescindvel evoluo tcnica.

Alm dos conceitos abstrados da biologia, os evolucionistas trouxeram para o centro do debate a noo de Trajetria tecnolgica, paradigmas tcnico-econmicos e de sistemas nacionais de inovao. Para Dosi, a tecnologia um conjunto de conhecimentos prticos e tericos, em que os problemas prticos relacionam-se com os problemas produtivos, enquanto que os problemas tericos esto ligados aos mtodos, procedimentos e experincias de sucesso e fracasso, Dosi (1988, p. 222 apud PELAEZ; SZMRECSNYI, 2006, p. 287)

O conceito de mudana tcnica relaciona-se com a direo tomada pelo desenvolvimento econmico, incorrendo em uma rota comum ao sistema, ou seja, todos os agentes passam a investir no mesmo tipo de paradigma tecnolgico. Estas consideraes levam ao que Dosi chama de "trajetria tecnolgica", definida como um caminho de evoluo tecnolgica permitido por um paradigma. Ela modelada pelas percepes de oportunidades, pelo mercado e por outros mecanismos de avaliao que determinam as melhorias passveis de ser rentveis. A trajetria abrange as mudanas marginais e contnuas ocorridas na expanso de uma tecnologia particular a partir de um ponto de descontinuidade.

Em resumo, a existncia de "paradigma" e de "trajetria" supe que a tecnologia evolui. Em geral, a evoluo de uma dada tecnologia contnua e progressiva dentro de uma unidade produtiva. Entretanto, num certo momento, esta tecnologia pode ser objeto de mudanas radicais provocando uma ruptura no processo de sua evoluo. A partir deste ponto de descontinuidade, emerge um novo conjunto de oportunidades ou alternativas das quais algumas podem tornar-se caminhos para novos processos tecnolgicos.

3.1 O SISTEMA NACIONAL DE INOVAO PARA OS NEO-SCHUMPETERIANOS

Dentre os principais conceitos abordados na teoria Neo-Schumpeteriana, destacam-se a necessidade de um vis tecnolgico para os pases que se encontram a margem da evoluo tcnica. A inovao tecnolgica o ponto central da teoria evolucionista, no entanto o alto custo da mudana tecnolgica implica em que esta se torna restrita aos agentes que possuem dominncia econmica e estrutural.

Nesse sentido, o atual paradigma torna o conhecimento em mercadoria como tambm traz em sim um carter excludente Lastres et all (2005), uma vez que o capital concentrado nas regies mais ricas do globo favorece as grandes organizaes no processo de criao, aquisio e aprimoramento de novas tecnologias, deixando a margem da fronteira tecnolgica pases em vias de desenvolvimento como os Latino-americanos e o Brasil.

Qual , pois, o vis que possibilitar a evoluo tcnica em regies desfavorecidas? A construo de um sistema nacional de inovao a resposta oferecida pelos Neo-Schumpeterianos ao entrave tecnolgico presente nos pases que se encontram fronteira do avano tcnico. Assim, os Sistemas Nacionais de Inovao originam-se a partir do esforo concentrado no sentido promover a inovao tecnolgica. A sinergia, ou seja, a interao entre os agentes que formam o SNI o elemento fundamental para a eficcia do mesmo.3.1.2 O CONCEITO DE SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAO.Cristopher Freemam (apud PELAEZ; SZMRECSNYI, 2006), foi o pioneiro na construo do conceito de Sistemas nacionais de Inovaes (SNIs). Sua publicao: Technology Policy and Economic Performance: Lessons from Japan de 1987 trata da evoluo tcnica no japo e traz para o centro do debate econmico a noo de Sistemas Nacionais de Inovao ou SNI.

O sistema de inovao conceituado como um conjunto de instituies distintas que contribuem para o desenvolvimento da capacidade de inovao e aprendizado de um pas, regio, setor ou localidade. Constituem-se de elementos e relaes que interagem na produo, difuso e uso do conhecimento. A ideia bsica do conceito de sistemas de inovao que o desempenho inovativo depende no apenas do desempenho de empresas e organizaes de ensino e pesquisa, mas tambm de como elas interagem entre si e com vrios outros atores, e como as instituies inclusive as polticas afetam o desenvolvimento dos sistemas. Entende-se, deste modo, que os processos de inovao que ocorrem no mbito da empresa so, em geral, gerados e sustentados por suas relaes com outras empresas e organizaes, ou seja, a inovao consiste em um fenmeno sistmico e interativo, caracterizado por diferentes tipos de cooperao. A figura 1 mostra o a interao entre as diversas instituies que compe o SNI.

Figura 1 Sistema Nacional de Inovao

Fonte: Elaborao prpria do autor.Percebe-se facilmente que os Sistemas Nacionais de Inovao dependem de um arranjo institucional envolvendo mltiplos participantes. Universidades (institutos de pesquisa e ensino), empresas (firmas e suas redes de cooperao e interao) e governos (sistemas financeiros, sistemas legais, sistemas mercantis e no mercantis) e todo o contexto macroeconmico devem funcionar em perfeita sinergia de modo a promover a inovao tecnolgica.3.1.3 AS DIMENSES DO SISTEMA NACIONAL DE INOVAO.A abordagem Neo-Schumpeteriana do Sistema Nacional de Inovao pode ser entendida mediante trs dimenses diferentes, a saber: a dimenso nacional, regional e setorial (ou local).

H vrios motivos para que a dimenso nacional seja escolhida para estudar um sistema de inovao (PEALEZ; SZMRECSNYI, 2006, p292). Entre eles destacam-se o fato de o processo de mudana tcnica ser essencialmente dependente de um aparato estrutural que o preceda. Desse modo presena governamental em mbito nacional deve ser amplamente discutida. As aes que promovam a ambincia necessria criao e aperfeioamento tcnico podem e devem ser alvo de uma poltica nacional de tecnologia. Estradas, portos, incentivos fiscais, financiamento inovao entre outros, so aes que incluem inexoravelmente a presena do agente governo em mbito nacional.

Na perspectiva referente s polticas nacionais, acrescenta-se a ao do governo na criao de contextos macroeconmicos favorveis inovao tecnolgica. A educao, por exemplo, necessria como condio bsica construo e consolidao de um SNI.

Na perspectiva regional, percebe-se que a discusso do conceito de Sistemas Nacionais de Inovao em mbito mais restrito origina-se do fato de que as abordagens nacionais por vezes impossibilitam a anlise das especificidades regionais prprias de pases como grande variedade cultural.

Alm das singularidades econmicas, cada regio possui um espao regional prprio, que lhe imputa uma gama de caractersticas distintas dos aspectos nacionais. A regio Nordeste do Brasil, por exemplo, praticamente um pas dentro do outro, contendo aspectos culturais e econmicos que, por conseguinte, conferem um espao geogrfico distinto de outras regies do pas. Assim, as polticas de desenvolvimento devem, naturalmente, ser diferenciadas para esta regio.

A questo do espao geogrfico possui grande relevncia para a presente pesquisa. O espao territorial delimitado por suas fronteiras fsicas. O espao geogrfico, no entanto, diferenciado pelos aspectos culturais da populao bem como pela identidade ideolgica, ou seja, os indivduos identificam-se como pertencentes a um grupo social ou como no caso a uma regio ou mesmo pela nao.

A implicao de tal regionalizao cultural e geogrfica reside no fato que a evoluo tecnolgica no ocorre de maneira uniforme em tais situaes. A evoluo tecnolgica nos estados do Sudeste do Brasil, como o estado de So Paulo, por exemplo, notadamente distinta de outras regies do pas. No que concerne ao mbito setorial, tal abordagem justifica-se a partir da caracterstica iterativa e sinrgica necessria ao aprendizado cumulativo que proporciona o cenrio ideal s firmas inovadoras.

As firmas no so como caixas-pretas, isoladas do meio externo, Este foi o erro conceitual dos marginalistas, como j explicitado no segundo captulo. A inovao um bem que deve ser adquirido pela firma e aperfeioado mediante suas rotinas que levam ao aprendizado cumulativo. Em alguns ramos industriais mesmo grandes empresas so incapazes de lanar um novo produto isoladamente. A construo de aeronaves, por exemplo, exige a utilizao de peas fabricadas em diversas partes do globo, imputando uma sinergia em escala colossal.

Diante do exposto, cabe responder ao seguinte questionamento: como se constri um SNI?. Percebe-se facilmente que a construo de um Sistema nacional de inovao no surge isoladamente ou ao prprio sabor do sistema econmico. Pelo contrario, ele e deve ser fruto de um esforo coordenado entre governo empresas e universidades no sentido de integralizar aes que promovam o avano tcnico. A prpria definio de um SNI aponta para esta abordagem. Um sistema nacional de inovao pode ser entendido como o conjunto de instituies governamentais e no governamentais que em cooperao mtua contribuem para a promoo do desenvolvimento tecnolgico.

Assim, a interao ou a sinergia entre os atores que compe o SNI a pea chave para a criao, manuteno e consolidao do mesmo. A atuao do governo pode ser implementada por meio da promoo de polticas pblicas de incentivo a um ambiente propcio ao ato inovador, tais como investimento macio na base educacional.

Pases consolidados tecnologicamente como Estados Unidos investiram em educao e pesquisa como meio de fortalecimento de seus respectivos SNIs (PELAEZ; SZMRECSNYI, 2006). A expanso tecnolgica norte americana no fim do XIX logo, como tambem aps o fim da segunda guerra combinou investimentos em infraestrutura e financiamento pesquisa cientfica; tal estrutura partiu da sinergia entre empresas, universidades e o governo.

3.2 OS PARADIGMAS TCNICO-ECONMICOS

Alm da noo de sistemas nacionais de inovao, os evolucionistas contriburam para sistematizao da noo de paradigmas econmicos. Historicamente, possvel distinguir grandes transformaes oriundas de avanos tecnolgicos que se tornaram paradigmas. necessrio ressaltar que no h consenso no que tange ao espao temporal entre um paradigma e outro, muito menos entre a definio de quais tecnologias so consideradas como modelo de produo tcnico-econmica. No presente estudo, adota-se a concepo de Carlota Perez e Christopher Freemam como referncia para a delimitao desses paradigmas tcnico-econmicos,

Segundo Freeman e Perez (1988, apud PELAEZ; SZMRECSNYI, 2006, p.422), cinco perodos podem ser delineados como marco de mudanas da estrutura econmica e produtiva oriundas do processo de inovaes tecnolgicas: a mecanizao, a mquina a vapor, a eletricidade, o fordismo e contemporaneamente, as tecnologias de informao.

A mecanizao caracterizou-se como sendo o primeiro grande paradigma do capitalismo contemporneo. Enquanto na Idade Mdia o artesanato era a forma de produzir mais utilizada, na Idade Moderna. A mecanizao trouxe uma destruio criadora.Um dos primeiros ramos industriais a usufruir dos avanos tecnolgicos foi indstria txtil, substituindo o tear manual pelas formas mecanizadas de produo. Sobre esse assunto, comenta Tigre (2006, p.7) que o principal fator indutor das inovaes na indstria txtil era a acelerao do processo produtivo de forma a obter economias de tempo.

Os insumos predominantes para este tipo de modelo tecnolgico, na concepo de Pelaez; Szmrecsnyi (2006, p.423), foram o ferro e o algodo. Por outro lado, o tipo de organizao industrial predominante perfazia-se em pequenas empresas locais. A grande feitura da mecanizao centrou-se no fato de romper com as velhas formas produtivas proporcionando ganhos de produtividade e realocando o capital, antes predominante na agricultura para o setor industrial.

At a inveno da mquina a vapor, praticamente s se dispunha de duas mquinas como fonte de energia: a roda hidrulica e o moinho de vento. No entanto, essas fontes de energia exigiam que as fbricas devessem ser construdas nos locais em que se dispunha de tal fora motora, criando o inconveniente, por exemplo, de uma indstria txtil colocar-se em uma localizao distante de seu mercado consumidor.

As locomotivas movidas a vapor e as mquinas geradoras de fora motriz na indstria txtil so exemplos clssicos que marcaram esses avanos, que por sua magnitude, promoveram verdadeiras revolues na indstria. Por isso, passaram a ser designadas como sendo a primeira revoluo industrial.

O principal insumo desse novo paradigma foi o carvo, principalmente o carvo mineral, o ferro e posteriormente o ao, e o tipo de organizao industrial predominante nesse modelo produtivo constitua-se tanto de pequenas e grandes empresas, como tambm houve um aumento significativo das sociedades annimas (PELAEZ; SZMRECSNYI, 2006 p.425).

As descobertas no campo da eletricidade, como a lmpada eltrica, datam do sculo XIX. Segundo Tigre (2006 p.34), as inovaes no campo da eletricidade geraram novas empresas que se tornaram paradigmas no sculo seguinte. Ainda segundo o autor:Primeiro, as novas fontes de energia permitiam a explorao mais ampla das economias de escala, atravs do desenvolvimento de mquinas maiores e mais eficientes e de sistemas integrados de produo, a exemplo da linha de montagem: segundo, a eletricidade permitiu a criao, por inventores empresrios, de grandes firmas inovadoras que praticamente monopolizaram o novo e dinmico setor de equipamentos de gerao, transmisso e aplicao de energia (TIGRE, 2006 p.35).

As modificaes introduzidas pelo uso dessa nova fonte de energia impactaram em mudanas to profundas que se constituiu na segunda revoluo industrial, em que saltos ainda maiores puderam ser efetuados em vrios setores principalmente na mecnica pesada com o uso de motores eltricos em substituio aos motores movidos a vapor. A energia eltrica est para a segunda revoluo industrial assim como a mquina a vapor esteve para a primeira.

Motores e mquinas menores e toda a parafernlia eletrnica subsequente permitiu o desenvolvimento de um grande nmero de utilidades domsticas que seriam os bens de consumo durveis que, juntamente com o automvel, constituem os maiores smbolos da sociedade moderna. O insumo predominante nesse paradigma foi o ao, e o tipo de organizao tpico dessa poca so os monoplios e oligoplios.

O uso da energia eltrica possibilitou a linha de montagem, esta por sua vez possibilitou um grande avano no processo de produo designado como modelo de produo fordista, sendo considerada a maior inovao em processo j percebida na histria moderna.

O fordismo foi idealizado por Henry Ford para a sua linha de produo de automveis. Sua ideia baseava-se no principio da diviso do trabalho idealizada por Adam Smith (1996). A ideia bsica consiste no fato de que o operrio, quando executando uma nica etapa do processo de fabricao era mais eficiente do que se realizasse todas as etapas do mesmo processo. Nesse mtodo cada trabalhador fica parado enquanto o automvel ou o produto a ser montado passa por uma esteira (linha de montagem) cabendo ao funcionrio execuo de uma ou poucas etapas de todo o processo.

O ganho de produtividade nesse novo modelo foi to expressivo que se tornou um paradigma produtivo, norteando a maneira como os bens deveriam ser produzidos e comercializados. Interessante notar, que o tipo de organizao predominante nesse perodo caracterizava-se pela pouca qualificao da mo de obra, bem como uma administrao hierarquizada e verticalizada.

Logo aps a segunda guerra mundial, a economia internacional comeou a passar por profundas transformaes. Elas caracterizaram a Terceira Revoluo Industrial, diferenciando-se das duas anteriores, uma vez que engloba mudanas que vo muito alm das transformaes industriais. Essas transformaes centraram-se no mbito das tecnologias da informao, decorrentes de uma integrao entre cincia e tecnologia, denominadas tambm de revoluo tcnico-cientfica ou terceira revoluo industrial.

O impacto das novas tecnologias da Terceira Revoluo Industrial no se restringe apenas s indstrias, mas afeta as empresas comerciais, as prestadoras de servios e at mesmo o cotidiano das pessoas comuns. Ou seja, trata-se de uma revoluo muito mais abrangente.

Em termos de magnitude e abrangncia a Terceira Revoluo Industrial no se restringe a alguns pases europeus, mas se espalha pelo mundo todo. causa e ao mesmo tempo consequncia de um processo capaz de universalizar a informao e o conhecimento de forma global.

As empresas passaram tambm por modificaes na sua forma organizacional, caracterizando-se por uma administrao mais flexvel com uma crescente exigncia de conhecimento como elemento central das organizaes. Os computadores e posteriormente a rede mundial de computadores, a internet, perfazem os cones que marcam esta revoluo.

Diante dos conceitos apresentados, verifica-se a importncia da inovao tecnolgica como item modificador da vida econmica. O avano tcnico produz novas formas de produo e novas trajetrias econmicas alm de exigir sistemas integrados que possibilite seu avano e, por fim, cria paradigmas que se tornam a base produtiva e mesmo social de um grupo, regio ou pas.

4 O SISTEMA NACIONAL DE INOVAO DO BRASIL

O tema da inovao tem ganhado um espao importante tanto na agenda pblica quanto na estratgia das empresas no Brasil.

Indubitavelmente, a consolidao do progresso tcnico requer o mximo de sinergia entre os agentes envolvidos. Assim, discutir o Sistema Nacional de Inovaes no Brasil implica tambm analisar a atuao dos principais agentes que integram o sistema de inovaes. O alvo desta anlise a interao entre os agentes que compe o SNI no Brasil, sobretudo o governo, as universidades e as empresas.A inovao tecnolgica impulsiona mudana na base produtiva de um pas. No Brasil, o processo de industrializao teve origem com a queda da lucratividade em virtude do colapso da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929. A economia brasileira, at os primeiros anos do sculo XX, apresentava-se inteiramente dependente da produo do caf, onde a indstria era incipiente e pouco competitiva. O choque econmico e sua repercusso nos anos que se seguiram dcada de 1930, obrigaram o Brasil a buscar uma mudana na sua base produtiva.

De acordo com Pelaez e Szmerecsnyi (2006), a participao estatal no processo de mudana da base produtiva foi um elemento central para a industrializao brasileir. Sobre isso comentam:

O Estado participou em reas estratgicas como a produo siderrgica, petrolfera e a extrao de minrio de ferro; criou tambm instituies pblicas de financiamento de grandes empreendimentos como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (BNDE, em 1952), e de financiamento de P&D com a financiadora de estudos e projetos (FINEP, em 1967) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq, em 1951) (PELAEZ; SZCNRECNYI, 2006, p. 432).

A politica tecnolgica no Brasil enfatizou a capacitao do pas com vistas substituio de importaes. O objetivo primordial consistia na reduo da dependncia em relao a fontes externas de tecnologias, objetivando tambm o aumento da capacidade produtiva por meio de tecnologia prpria. Nesse sentido, a industrializao brasileira passou a ser denominada como o processo de industrializao por substituio de importaes.

Os primeiros esforos da economia brasileira na mudana da base produtiva concentravam-se na indstria pesada e o desenvolvimento de infraestrutura com predominncia do capital estrangeiro. Embora tenha se observado um dinamismo da indstria nascente, a interao indstria e tecnologia, ou setor produtivo e pesquisa tecnolgica no estavam bem articuladas de tal modo que predominantemente as empresas estatais assumiam a poltica de desenvolvimento do pas. Isso est em conformidade com a afirmao de Schumpeter (1982) de que algumas inovaes, dado o elevado custo de sua implementao, somente iniciado por meio de grandes organizaes ou mesmo governos. Segundo Pelaez e Szmerecsnyi (2006), at o ano de 1979, o Brasil havia completado sua indstria de base.

Como explicitado acima, o Sistema Nacional de Inovao (SNI), surgi a partir da interatividade entre as diversas instituies que possuem como objetivo primrio, ofertar apoio ao empreendedorismo e a inovao. Assim, fcil perceber que em um pas ou regio perfeitamente possvel existncia de vrias instituies do gnero e ainda assim, no existir um sistema de inovao consolidado.

O Brasil um pas de industrializao tardia. A indstria brasileira s vai ganhar expresso de fato na metade do sculo XX, da mesma forma, tardia tambm so as universidades brasileiras, poucas so as instituies com mais de cem anos, por outro lado tambm, estas nasceram voltadas para o ensino em contrapartida, h registros de universidades voltadas tanto para ensino quanto para pesquisa na Itlia desde o sculo XV.

A induo ao avano tecnolgico um dos pontos cruciais do desenvolvimento econmico, o Estado Brasileiro; por meio de diversas instituies tem buscado promover o empreendedorismo inovativo no pas a sinergia entre os agentes o ponto central que consolida a eficcia do sistema nacional de inovaes. Assim, impossvel conceber um SNI sem a ideia de cooperao mtua entre os agentes que o compe. A interao do SNI mostrada na figura 2.Figura 2. O Sistema Nacional de Inovao no Brasil

Fonte: Elaborao Prpria do autor.4.1 A PINTEC

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) desenvolve a Pesquisa industrial sobre Inovao Tecnolgica (PINTEC), com periodicidade trienal. A PINTEC usa a metodologia proposta pelo manual de Oslo para mensurar a atividade inovadora no Brasil. Sua ultima publicao compreende o perodo de 2006 a 2008. Durante esse perodo a PINTEC coletou dados de 16.371 empresas divida em trs setores: indstria, servios e empresas do setor pesquisa. A PINTEC versa sobre indicadores que compreende os seguintes pontos:

1) Atividades internas de P&D compreende o trabalho criativo, empreendido de forma sistemtica, com o objetivo de aumentar o acervo de conhecimentos e o uso destes conhecimentos para desenvolver novas aplicaes, tais como produtos ou processos novos ou substancialmente aprimorados.

2) Aquisio externa de P&D compreende as atividades descritas acima realizadas por outras organizaes (empresas ou instituies tecnolgicas) e adquiridas pela empresa.

3) Aquisio de outros conhecimentos externos compreende a transferncia de tecnologia originados da compra de licena de direitos de explorao de patentes e uso de marcas, aquisio de know-how e outros tipos de conhecimentos tcnico-cientficos de terceiros, para que a empresa desenvolva ou implemente inovaes.

4) Aquisio de software compreende a aquisio de software (de desenho, engenharia, de processamento e transmisso de dados, voz, grficos, vdeos para automatizao de processos) especificamente comprados para a implementao de produtos ou processos novos ou substancialmente aprimorados. No inclui aqueles registrados em atividades internas de P&D.

5) Aquisio de maquinas e equipamentos compreende a aquisio de mquinas e equipamentos, hardware, especificamente comprados para a implementao de produtos ou processos novos ou substancialmente aprimorados.

6) Treinamento compreende o treinamento orientado ao desenvolvimento de produtos/processos novos ou substancialmente aprimorados e relacionados s atividades inovativas da empresa, podendo incluir aquisio de servios tcnicos especializados externos.

7) Introduo das inovaes tecnolgicas no mercado compreende as atividades de comercializao, diretamente ligadas ao lanamento do produto novo ou aperfeioado, podendo incluir: pesquisas de mercado, teste de mercado e publicidade para o lanamento. Exclui a construo de redes de distribuio de mercado para as inovao.

8) Projeto industrial e outras preparaes tcnicas para a produo e distribuio refere-se aos procedimentos, especificaes tcnicas e caractersticas operacionais necessrias implementao de inovaes processo ou de produto. Inclui mudanas nos procedimentos de produo, controle de qualidade, mtodos de padres de trabalhos e softwares requeridos para a implementao de produtos ou processos novos ou significativamente aperfeioados (...) (PINTEC, 2010 p.21).

A inovao por meio de pesquisa e desenvolvimento (P&D) caracteriza-se principalmente pelo esforo da empresa em desenvolver novos produtos ou processos. Os objetivos que impulsionam tal esforo centram-se na busca por maiores fatias de mercado, bem como uma melhor produtividade.

A inovao em P&D altamente dispendiosa, sendo, portanto, um processo mais presente em grandes organizaes. Vale ressaltar tambm que em geral as pesquisas concentram-se no desenvolvimento das etapas finais da inovao, levando-se em considerao que o produto lanado no mercado pode no ser bem aceito, bem como o alto custo de sua criao. Isso faz com que as empresas, estejam de um modo geral, tendenciosas a evitar esse risco e por isso concentram-se na elaborao incremental de produtos j consolidados.

Os dados da PINTEC abrangem trs setores: Indstria, Servios selecionados (empresas do setor de edio, telecomunicaes e informtica) e empresas que desempenham atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). De acordo com a pesquisa, no perodo entre os anos de 2006 a 2008, 70,7% das empresas industriais desenvolveram atividades internas de P&D de forma contnua sendo responsveis por 96,8% do gasto total em pesquisa e desenvolvimento. O setor de servios selecionados contabilizou que 86,4% das empresas realizaram atividades de P&D continuamente, perfazendo um gasto total de 98% do montante.

Outros ndices importantes apontados pela pesquisa demostram que 0,62% das receitas lquidas nas indstrias esto comprometidas com atividades internas de P&D. No setor de servios 0,93% e nas empresas que atuam no mbito prprio de pesquisa e desenvolvimento o dispndio representa a considervel marca de 66,67% de suas receitas comprometidas com atividades internas de P&D. Como mostra a tabela 1.

Tabela 1 - Gasto em P&D em relao receita lquida por setor de atuao

Dispndio em pesquisa e desenvolvimentoIndstriaServiosP&D

0,620,9366,7

Fonte: PINTEC (2010)

Ainda segundo a pesquisa, as indstrias dispenderam no perodo 2006-2008 apenas 0,10% da receita lquida em aquisio externa de P&D, enquanto que o setor de servios selecionados e as empresas de P&D desembolsaram respectivamente 0,33% e 0,88% de suas receitas lquidas; isso indica que a produo de P&D est predominantemente concentrada no mbito da prpria empresa com pouca interao entre o ambiente externo que pode compreender a interao com outras empresas. Por outro lado, esses dados mostram a falta de interao das empresas com o meio externo.

No que se refere aquisio de outros conhecimentos, os dados da PINTEC demostram que o percentual de receita lquida das empresas que se direciona a esta atividade apresenta-se de acordo com os seguintes ndices: 0,07% para a indstria, 0,28% para o setor de servios selecionados e 0,06% para as empresas de P&D. So dados que revelam a interiorizao da produo inovativa nas organizaes.

A aquisio de softwares tambm um fator de inovao. Neste ponto, os dados mostram que a indstria despende 0,07% de sua receita para essa atividade, enquanto que o setor de servios selecionados, 0,68% e as empresas de P&D investem 0,06% de suas receitas.

No quesito aquisio de mquinas e equipamentos, a PINTEC mostra que a indstria utiliza 1,25% de suas receitas liquidas para este fim. Vale ressaltar que a mesma pesquisa revela que 78,01% das empresas industriais atribuem alta importncia para a aquisio de mquinas e equipamentos, sendo, portanto, um meio predominante de inovao na indstria; o setor de servios selecionados e a empresas de P&D despendem 1,53% e 2,83% respectivamente.

A PINTEC revela tambm um dado preocupante, apenas 0,05% das receitas nas indstrias destina-se a treinamento de pessoal, percentual tambm muito baixo tanto para o setor de servios selecionados quanto para as empresas de P&D que apresentaram 0,08% e 0,15% respectivamente.

O esforo para introduzir um bem no mercado, tambm pode ser apontado como um fator de inovao tecnolgica, o marketing, de um modo geral busca fazer um produto ser conhecido ao publico a que se destina, neste escopo, a pesquisa demostra que o dispndio na indstria representa 0,15% de seu faturamento, j no setor de servios selecionados esse ndice representa 0,29% e nas empresas de pesquisa e desenvolvimento 0,27%.

Outro fator de extrema importncia no desenvolvimento de novas tecnologias consiste na preparao de projetos que ofeream suporte ao ato inovativo. Cada organizao possui um modo operacional prprio, sendo, portanto, necessrio o estudo prvio das tcnicas necessrias a consecuo de suas atividades rotineiras. Isto tambm um meio de inovao. Neste item, os dados da PINTEC demostram que 0,05% do faturamento lquido da indstria destinado a elaborao de projetos enquanto que o setor de servios investem 0,08% e as empresas de P&D despendem 0,27% de suas receitas.

Todas as informaes expostas demonstram que as empresas prprias do setor de P%D so, em via de regra, mais inovadoras que as do setor de servios e a indstria. De igual modo, o setor de servios possui melhores ndices inovativo que a indstria. Estes ndices so detalhados tabela 2.

Tabela 2 - Dispndio em relao a receita total, por tipo de inovao e por setor de atividade

Tipo de InovaoIndstriaServiosP&D

Atividades internas de P&D0,620,9366,67

Aquisio externa de P&D0,100,330,88

Aquisio de outros conhecimentos0,070,280,06

Aquisio de software0,070,680,06

Aquisio de maquinas e equipamentos1,251,532,83

Treinamento de pessoal0,050,080,15

Marketing0,150,290,27

Elaborao de projetos0,050,080,27

Fonte: PINTEC (2010)

Os dados expostos revelam que as empresas, de um modo geral, interiorizam o esforo inovativo no mbito da prpria instituio, revelando tambm, pouca interao com as formas externas de aquisio de conhecimento inovativo, como por exemplo, a interao com outras empresas ou instituies.

4.1.1 Fontes de Inovao

As relaes de cooperao estabelecida para o desenvolvimento das inovaes permitem conhecer melhor a interao entre os diversos agentes que compem o sistema nacional de inovao, e podem influenciar o fluxo de informaes, promovendo o aprendizado e a difuso de novas tecnologias.

De acordo com os dados da PINTEC, 10,4% das empresas inovadoras direcionaram suas aes inovativas com algum tipo de cooperao com outras instituies (PINTEC, 2010).

Uma anlise setorial revela que 10,1% das empresas industriais buscaram algum tipo de cooperao inovativa, quando se leva em considerao as empresas industriais com um faixa de pessoal ocupada acima de 500 pessoas, esse ndice bem superior (35,3%); mesma tendncia observada no setor de servios selecionados com 13,1% das empresas envolvidas em algum meio de cooperao inovativa, sendo que este percentual sobe para 33,8% quando se trata de empresas com pessoal ocupado acima de 500 pessoas (PINTEC, 2010);

Neste ponto, as empresas de P&D constituem uma particularidade apresentando quase que uma totalidade (92,3%) de cooperao com outras instituies para o esforo inovativo. Assim, observa-se uma relao positiva entre a faixa de pessoal ocupado e o nvel de arranjo cooperativo para inovao tecnolgica, como mostra a tabela 3.

Tabela 3 - Inovao em cooperao com outras empresas por setor de atividade e faixa de pessoal ocupado

IndstriaServiosP&D

Total10,113,192,3

De 10 a 498,411,8100

De 50 a 9911,313,666,7

De 100 a 24914,218,1100

De 250 a 49915,420,887,5

De 500 e mais35,333,8100

Fonte: PINTEC (2010)

Estes dados revelam que quanto maior a empresa, maior tambm a interao desta com as fontes externas de inovao tecnolgica. Por outro lado, revela que as fontes de inovao esto mais acessveis s grandes empresas, ou seja, a pequenas e medias empresas, de um modo geral, possuem pouca sinergia com o meio externo, isto um dado preocupante, haja vista que a interao um fator crucial para o aprendizado cumulativo.

4.1.2 Apoio do Governo

Para a perfeita articulao e sinergia do sistema nacional de inovao (SNI), totalmente necessria a forte participao do Estado. Este, por meio de suas diversas instituies e prerrogativas, deve promover um ambiente propcio ao desenvolvimento tecnolgico. A consolidao do SNI est diretamente ligada atuao do governo como agente capaz de interligar os diversos setores da economia no esforo para a inovao.

A pesquisa de inovao tecnolgica (PINTEC) evidencia os dados necessrios ao conhecimento da interao entre o governo e as empresas. Segundo a pesquisa, entre 2006 a 2008, 22,3% das empresas inovadoras utilizaram ao menos um incentivo governamental para inovar.

Uma anlise setorizada identifica que 22,8% das empresas industriais utilizaram ao menos um tipo de apoio governamental para inovao tecnolgica. vlido ressaltar que a quantidade de pessoal ocupado tem grande relevncia, pois, a pesquisa tambm aponta que no mesmo setor esse ndice sobe para 36,8% quando se trata de empresas com mais de 500 pessoas ocupadas.

No setor de servios, 15,3% das empresas entrevistadas utilizaram pelo menos um tipo de apoio do governo, ndice que sobe para 25% quando se refere empresas com numero de ocupados acima de 500 pessoas. J no setor de P&D esses ndices correspondem a 94,4% e chega a 100% quando se leva em considerao empresas com mais de 500 funcionrios. Esses dados so mais detalhados na tabela 4.

Tabela 4 - Fontes de inovao na indstria por tipo e por faixa de pessoal ocupado

Fontes de inovaoDe 10 a 99 De 100 a 499 De 500 ou mais

Total22,822,223,736,8

Outros programas de apoio7,17,07,69,2

Financiamento a P&D e compra de maq. e equipamentos14,214,314,712,1

Parceria com universidades e institutos de pesquisa0,80,71,14,2

Projetos sem parcerias com universidades e institutos de pesquisa1,41,30,94,7

Fonte: PINTEC (2010)

Como pde ser identificado, os dados demostram a tendncia do setor industrial em concentrar a maior parte de suas aes inovadoras em aquisio de mquinas e equipamentos, possuem pouca interao com as instituies de fomento a inovao tecnolgica e os benefcios governamentais so mais difundidos entre as organizaes de grande porte.

Tabela 5- Fontes de Inovao no Setor de servios por tipo e por faixa de pessoal ocupado

Fontes de inovaoDe 10 a 99De 100 a 499De 500 ou mais

Total15,314,126,225,0

Outros programas de apoio7,97,612,92,5

Financiamento a P&D e compra de maq. e equipamentos3,43,34,61,3

Parceria com universidades e institutos de pesquisa1,10,92,52,5

Fonte: PINTEC (2010)

O setor de servios apresenta taxas de inovao superiores indstria, porm, ainda assim inova pouco. Por outro lado, assim como na indstria, as grandes empresas se beneficiam da maior parte dos benefcios governamentais.

Tabela 6 - Fontes de Inovao no setor de P&D por tipo e por faixa de pessoal ocupado

Fontes de inovaoDe 10 a 99De 100 a 499De 500 ou mais

Total94,975,0100,0100,0

Outros programas de apoio61,537,557,983,3

Parceria com universidades e institutos de pesquisa71,837,578,983,3

Subveno econmica a P&D e insero de pesquisadores28,212,521,150,0

Fonte: PINTEC (2010)

O setor de P&D desponta como o diferencial da pesquisa PINTEC, quase a totalidade das empresas entrevistadas possuem vnculos governamentais e externos como meio de apoio a inovao. Mais uma vez, vale enfatizar que quanto maior o porte das empresas, maior a interao destas com os meios pblicos de apoio ao empreendedorismo.

Esses nmeros apontam que quanto maior o porte da organizao, maior o potencial inovador desta. Os dados demostram tambm que os recursos governamentais apresentam maior incidncia quando relacionados ao tamanho da empresa. Estas constataes revelam que existe um hiato, ou uma falha que separa os pequenos e mdios empreendimentos das aes pblicas de fomento inovao tecnolgica.4.1.3 Obstculos Inovao Tecnolgica

O processo de inovao tecnolgica nem sempre encontra canais suficiente para atingir a todos os setores ou a todas as organizaes. Nem todas as empresas participam do processo inovativo. Dentre as principais dificuldades apontadas para no inovar, destacam-se a falta de pessoal qualificado, o alto custo da inovao, a escassez de fontes de financiamento e os riscos econmicos excessivos, como mostra a tabela 7

Tabela 7- Principais obstculos Inovao por tipo e por setor de atividade

Principais obstculosSetor de atividade

IndstriaServiosP&D

Riscos econmicos excessivos65,962,663,3

Falta de pessoal qualificado57,870,446,7

Escassez de fontes de financiamento51,648,770

Elevado custo da inovao73,272,173,2

Fonte: PINTEC, (2010)

Vale ressaltar que 70% das empresas prprias do setor de pesquisa e desenvolvimento assinalaram a falta de fontes de financiamento como enorme obstculo a inovao. Assim, como possvel construir um sistema de inovaes consolidado quando nem mesmo as empresas de pesquisa e desenvolvimento dispe de recursos para pesquisa inovativa? Este , pois, um srio entrave consolidao do SNI no Brasil.

A ocorrncia de mudanas nos padres de produo e de desenvolvimento econmico comprova que as inovaes tecnolgicas constituem-se num fator fundamental para a competitividade de empresas e organizaes. Inovar no uma opo entre muitas outras. , na verdade, nica opo para que os agentes possam manter-se ativos no mercado.

4.2 A ATUAO DO MINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIA (MCT)

Como j explicitado, a interao entre os setores que compe o sistema nacional de inovao constitui a chave para a eficcia deste. Assim, necessrio uma anlise sobre algumas dessas entidades para a compreenso do funcionamento do SNI no Brasil.

O Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT) pertence administrao direta do governo federal do Brasil. Foi criado pelo Decreto 91.146, em 15 de maro de 1985. Sua rea de competncia est estabelecida noDecreto n 5.886, de 6 de setembro de 2006. Como rgo da administrao direta, o MCT tem como competncias os seguintes assuntos: poltica nacional de pesquisa cientfica, tecnolgica e inovao; planejamento, coordenao, superviso e controle das atividades da cincia e tecnologia; poltica de desenvolvimento de informtica e automao; poltica nacional de biossegurana; poltica espacial; poltica nuclear e controle da exportao de bens e servios sensveis. Logo aps sua criao, o MCT incorporou importante agncias de fomento a inovao como a seguir:

Com a incorporao das duas mais importantes agncias de fomento do Pas a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e suas unidades de pesquisa o Ministrio da Cincia e Tecnologia passou a coordenar o trabalho de execuo dos programas e aes que consolidam a Poltica Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao. O objetivo dessa poltica transformar o setor em componente estratgico do desenvolvimento econmico e social do Brasil, contribuindo para que seus benefcios sejam distribudos de forma justa a toda a sociedade (http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/105.html?execview).Dentre as diversas formas de induo inovao tecnolgica, a atuao do MCT no que concerne s suas formas de financiamento, pode se destacar a, Financiadores estudos e Projetos (FINEP); criada em 1967 para institucionalizar o fundo de financiamento de estudos e projetos, o principal rgo responsvel pela seleo, anlise e financiamento de estudos e projetos no Brasil. Uma das formas de atuao da FINEP consiste nos fundos de C&T (cincia e tecnologia), alm dos Fundos Setoriais de Cincia e Tecnologia, criados a partir de 1999. Estes so instrumentos de financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovao no Pas.

As etapas de um projeto so: anlise da consulta prvia, anlise da solicitao de financiamento, contratao, liberao dos recursos e prestao de contas. O processo de solicitao de financiamento feito por meio de chamadas pblicas projetos de diversas reas que so divulgadas pela FINEP.

A FINEP dispe de diferentes modalidades de apoio a aes de inovao empreendidas por organizaes brasileiras, que podem ser utilizadas de forma isolada ou combinada. Os financiamentos podem ser reembolsveis e no reembolsveis.

Os financiamentos reembolsveis constituem um crdito concedido a instituies que apresente condies para desenvolver projetos de P&D, Os prazos de carncia e amortizao, assim como os encargos financeiros, variam de acordo com as caractersticas, da modalidade de financiamento, do projeto e da instituio tomadora do crdito.

As modalidades de financiamento reembolsvel so as seguintes:

Financiamento com encargos reduzidos - Constitui-se de financiamento com encargos reduzidos para a realizao de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovao de bens, servios ou para capacitao tecnolgica de empresas brasileira.

Financiamento com juro real zero - Constitui-se em modalidade de financiamento para apoio a projetos desenvolvidos por micro e/ou pequenas empresas inovadoras, que representem uma inovao em seu setor de atuao, seja nos aspectos comerciais, de processo ou de produtos ou servios.

Interessante notar que a FINEP dispe de financiamento direcionado a pequenas, mdias e grandes empresas de praticamente todos os setores. Como, pois, a pesquisa PINTEC aponta 70% das empresas da rea de pesquisa relataram que as fontes de financiamento so escassas? A resposta simples, a falta de sinergia entre as entidades que financiam e as que necessitam de financiamento provoca um entrave, sendo um gargalo ao sistema de inovao no Brasil. Burocracia, falta de divulgao nas mdias, entre outros, podem ser apontados como fatores que dificultam o apoio a inovao tecnolgica.

Outro importante rgo governamental de apoio a inovao tecnolgica no Brasil o conselho nacional de desenvolvimento cientfico e tecnolgico (CNPq), criado em 1951 com o objetivo inicial de fomentar e institucionalizar a pesquisa cientfica no Brasil. Sua concepo inicial, vincula-se tambm, a questo nuclear em que o oriundo do fato de o Brasil possuir um enorme potencial atmico em funo de suas reservas minerais radioativas que possibilitavam o uso da energia atmica para fins pacficos.

A estratgia inicial do CNPq foi a capacitao de recursos humanos qualificados para a pesquisa cientifica, entre as aes de fomento esto:

a) Concesso de bolsas de estudos para o aperfeioamento de pesquisadores.

b) Apoio a realizao de reunies cientificas nacionais e internacionais

c) Apoio ao intercambio cientifico no pas e no exterior

Outro objetivo inegvel do CNPq era apoiar a industrializao que se tornou centro das politicas governamentais no Brasil nas dcadas posteriores a 1930.

Em 1967 com o Plano Estratgico do Governo (PED) as aes do CNPq centraram-se nas polticas governamentais de industrializao

Em 1985 com a criao Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT), o CNPq passou a ser vinculado ao recm-criado ministrio e sendo um executor das politicas nacionais de inovao promovidas pelo rgo nacional de controle de pesquisa no Brasil.

As questes postas expressam a realidade de um sistema nacional de inovao ainda muito frgil e ineficiente. Os canais de acesso a inovao tecnolgica no est disponvel todas as organizaes de forma que as empresas de maior porte so as mais beneficiadas pelas aes governamentais. A indstria brasileira apresenta ndices inovativos incipientes, sendo ultrapassada pelo setor de servios e pelas empresas prprias de P&D.

O desenvolvimento de novas tecnologias e sua difuso universal impe um novo padro de mudana institucional e de acmulo de conhecimento, a competio baseada na inovao derruba, a cada dia, barreiras tradicionais de comrcio e investimento. nesse contexto que pequenas empresas competem, buscando antes de tudo assegurar sua sobrevivncia. De acordo com o que comenta Tigre (2006).No momento em que uma empresa est introduzindo novos produtos, modernizando seus processos e alterando suas rotinas organizacionais, ela est i