INOVAÇÃO, FORMAÇÃO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    1/248

    MARA LUISA GARCA ALONSO

    INOVAO CURRICULAR, FORMAO DE

    PROFESSORES E MELHORIA DA ESCOLA

    UMA ABORDAGEM REFLEXIVA E RECONSTRUTIVA SOBRE

    A PRTICA DA INOVAO/FORMAO

    (VOL. II)

    Dissertao de Doutoramento em Estudos da

    Criana, na rea de conhecimento de Currculo

    e Metodologia, apresentada Universidade do

    Minho.

    INSTITUTO DE ESTUDOS DA CRIANAUNIVERSIDADE DO MINHO

    BRAGA/1998

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    2/248

    NDICE - Vol. II

    CAPTULO VI

    PERCURSOS E ENCRUZILHADAS DA MUDANA: O PROCESSO DE INOVAOE FORMAO NO PROJECTO PROCUR 465

    Introduo ..................................................................................................... 466

    1. Objecto de estudo e processo metodolgico ............................................. 466

    1.1. O Projecto PROCUR enquanto objecto de estudo de caso .................... 4671.1.1. O contexto das escolas da rede PROCUR .......................................... 4691.2. A perspectiva qualitativa do estudo ....................................................... 4761.3. As questes de investigao ................................................................... 4811.4. O percurso de investigao .................................................................... 4831.5. O desenho de investigao ..................................................................... 4871.5.1. A recolha e registo de dados .............................................................. 4881.5.2. A anlise interpretativa dos dados ..................................................... 497

    2. A cultura predominante da escola e da formao ..................................... 503

    3. A perspectiva de inovao adoptada ........................................................ 5124. As motivaes e expectativas cerca da inovao .................................... 519

    5. Os dispositivos para a inovao e a formao no PROCUR .................... 5245.1. A cultura de colaborao no PROCUR ................................................. 5245.1.1. O emergir de uma cultura de colaborao .......................................... 5255.1.2. A organizao das equipas inter-anos ................................................. 5275.1.3. As potencialidades do trabalho colaborativo entre professores ......... 5305.1.4. A colaborao a nvel dos alunos ........................................................ 5395.1.5. A colaborao com a comunidade eduactiva ...................................... 543

    5.2. A investigao-aco reflexiva no processo de construo doconhecimento profissional .................................................................... 5475.2.1. O encontro entre a teoria e a prtica ................................................... 5495.2.2. Os processos reflexivos ....................................................................... 5515.2.3. Os registos como estratgia reflexiva na investigao-aco ............. 5535.2.4. A perspectiva sobre a formao .......................................................... 5595.2.5. A visibilidade e disseminao interna e externa do conhecimento

    profissional ......................................................................................... 5625.3. O assessoramento interno e externo s escolas ...................................... 5685.3.1. O assessoramento e coordenao internos .......................................... 5685.3.2. O assessoramento externo ................................................................... 576

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    3/248

    6. O contedo da inovao: o desenvolvimento integrado do currculo ....... 5846.1. Os projectos curriculares integrados ...................................................... 5856.2. As actividades integradoras ................................................................... 588

    6.3. As alternativas ao manual ...................................................................... 5906.4. A metodologia de investigao de problemas ........................................ 5936.5. O prazer e a emoo da aprendizagem ................................................... 5956.6. A abertura ao meio como fonte de aprendizagem .................................. 5976.7. Uma escola com sentido ........................................................................ 6016.8. Os valores e atitudes .............................................................................. 603

    7. As dificuldades, constrangimentos e conflitos ......................................... 605

    8. A percepo das mudanas ....................................................................... 614

    Referncias Bibliogrficas ............................................................................ 618

    REFLEXO FINAL, INTERROGAES E PERSPECTIVAS DE FUTURO ................. 621

    Referncias Bibliogrficas ............................................................................ 632

    ANEXOS

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    4/248

    NDICE DE QUADROS E FIGURAS

    Quadro 1 Corpo docente e discente ..................................................................... 475

    Quadro 2 Corpo no docente ............................................................................... 475

    Quadro 3 Habilitaes acadmicas dos pais ........................................................ 475

    Quadro 4 Situao social dos pais ....................................................................... 476

    Quadro 5 Procedimentos metodolgicos no estudo de caso ................................ 489

    Quadro 6 Motivaes para participar no PROCUR ........................................... 520

    Quadro 7 Potencialidades do trabalho colaborativo ............................................ 547

    Quadro 8 Aspectos positivos da formao na investigao-aco ...................... 567

    Quadro 9 Evoluo dos projectos curriculares no PROCUR .............................. 585

    Quadro 10 As visitas de estudo no PROCUR ....................................................... 600

    Figura 1 Dispositivos para a inovao na rede PROCUR ................................. 469

    Figura 2 Investigao-aco no PROCUR ......................................................... 485

    Figura 3 Nveis e procedimentos de investigao-aco no PROCUR ............. 486

    Figura 4 Processo cclico de investigao etnogrfica (Spradley, 1980) ........... 488

    Figura 5 Mapa conceptual do estudo de caso PROCUR ................................... 501

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    5/248

    CAPTULO 6

    PERCURSOS E ENCRUZILHADAS DA MUDANA:

    O PROCESSO DE INOVAO E FORMAO NO PROJECTO PROCUR

    "No ano passado, vi os professores...

    Entusiasmados

    Atarefados

    Reunidos

    Em desacordo

    Criativos...,

    e senti vontade de pertencer a esse grupo e...

    descobri que o que os cativava era o PROCUR.

    Porque proporcionava a dita investigao-aco

    Reunia os professores para o trabalho de grupoObrigava a sair da rotina

    Construam o seu prprio currculo

    Unia os professores e alunos na conquista do saber

    Recriar, renovar, renascer...era o seu lema"

    Depoimento de uma professora (Relatrio Final de 1996, Caxinas-1)

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    6/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 466

    Introduo

    A finalidade principal da investigao qualitativa a compreenso e interpretaoda realidade tal como entendida pelos sujeitos participantes nos contextos estudados. Ao

    concluir este estudo etnogrfico sobre o Projecto PROCUR, em que pretendemos conhec-

    lopordentro e a partir dedentro, para desvelar os seus sentidos, torna-se agora necessrio

    partilhar com os seus protagonistas e tambm com o resto da comunidade cientfica e

    profissional os resultados e achados mais significativos desta pesquisa. Entenda-se este

    relatrio de investigao como um passo, necessariamente provisrio, na procura de um

    melhor esclarecimento sobre os processos de inovao e de formao nas escolas. Na sua

    redaco investimos muitas energias intelectuais e afectivas, no sentido de transmitir uma

    viso holstica deste Projecto, dando voz aos seus actores, num dilogo intersubjectivo com

    a nossa prpria voz. Nele se recolhem tanto a discusso dos resultados como dos processos

    metodolgicos, que nos permitiram aceder, analisar e interpretar esta realidade singular e

    notvelo projecto PROCURem que tivemos o privilgio de participar.

    1. Objecto de estudo e processo metodolgico

    Os processos de inovao curricular, entendidos simultaneamente como processosde formao, que constituem o objecto de estudo desta dissertao precisam, pela sua

    prpria natureza, de abordagens de investigao qualitativas, que permitam dar conta da

    sua multidimensionalidade, complexidade e dinamicidade e faam ressaltar as

    componentes pessoais, culturais, organizativas e polticas que se cruzam na vivncia desses

    processos. Diferentemente do positivismo que procura explicaes causais e leis universais

    dos fenmenos, a opo prioritariamente interpretativa deste tipo de investigao traduz

    uma concepo da realidade como socialmente construda pelas pessoas em interaco

    entre elas e com os contextos sociais, interessando-se pelos significados que aquelasatribuem sua experincia e pela interpretao que o investigador capaz de realizar ao

    aceder e desvendar esses significados.

    Representando o Projecto PROCUR uma tentativa terico-prtica de produzir

    inovao/formao nas escolas do Ensino Bsico, o estudo dos processos mediante os quais

    os participantes foram construindo significados acerca do sentido da mudana que se ia

    verificando nas suas prticas, atravs do processo de investigao-aco colaborativa que

    presidiu o seu desenvolvimento, pareceu-nos um desafio estimulante em termos de

    pesquisa. No mbito da investigao qualitativa, o estudo de caso etnogrfico deste

    projecto, enquanto realidade singular com significado e valor prprio, abordado de forma

    intensiva e aprofundada no seu contexto real de vida, apresentou-se-nos como a orientao

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    7/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 467

    mais adequada sua compreenso holstica e existencial (Goetz & LeCompte, 1988;

    Anderson & Biddle, 1989).

    Se, como assinala Walker (1983:45), um estudo de caso se caracteriza por ser o

    "exame de um exemplo em aco", que permite um estudo global e significativo de um

    acontecimento ou fenmeno contemporneo, no contexto real em que se produz (Ying, 1987),

    ao contemplar o Projecto PROCUR como um caso, propusemo-nos: (a) analis-lo

    (compreender, interpretar, elaborar hipteses) de forma sistemtica, detalhada, intensiva,

    interactiva e em profundidade (Bogdan & Biklen, 1994); (b) entend-lo como unidade de

    estudo caracterizada pela sua "integridadefenomenolgica" ou totalidade holstica (Marcelo,

    1991); e (c) contemplar a sua natureza dinmica, vivae evolutiva. Pretendemos, ento, que a

    pesquisa que realizmos assumisse e respeitasse algumas das caractersticas dos estudos decaso realadas por Marcelo (Ibid.:14-15), tais como: totalidade, particularidade, realidade,

    participao, negociao, confidencialidade e acessibilidade.

    1.1. O Projecto PROCUR enquanto objecto de estudo de caso

    O Projecto "PROCUR Projecto Curricular e Construo Social", tal como

    evidencimos na apresentao realizada na introduo deste trabalho, surge como uma

    proposta de inovao educativa centrada na ideia de Projecto Curricular Integrado (vercaptulo anterior) em que, ao articular estreitamente os processos de formao de

    professores com o desenvolvimento curricular assente nos contextos reais das escolas, se

    pretende conseguir uma melhor qualidade educativa, aproximando o currculo das

    necessidades dos alunos e responsabilizando toda a comunidade escolar pelo sucesso

    educativo, atravs da emergncia de um clima de colaborao e participao.

    Iniciada esta experincia em 1990 em contextos de formao inicial e contnua

    (CESE'S) de professores, em 1994, sentiu-se a necessidade de constituir uma rede de

    escolas em que a inovao pretendida pudesse ser iniciada, desenvolvida, apropriada einstitucionalizada, utilizando, para isso, uma abordagem cultural da inovao aberta e

    evolutiva , que possibilitasse que os professores se tornassem os protagonistas na

    construo da mudana. Para isso, foram disponibilizadas uma srie de condies que a

    investigao realizada neste campo (ver Captulo IV) tem evidenciado como

    imprescindveis ocorrncia da mudana, e das quais daremos conta ao longo deste relato

    de investigao: constituio de equipas docentes, assessoramento externo, formao

    continuada, investigao-aco, encontros peridicos, centro de recursos, etc.

    A fim de facilitar e regular este processo, constituiu-se uma equipa de

    coordenao/investigao/formao sediada no Instituto de Estudos da Criana da

    Universidade do Minho, formada por um grupo de pessoas com formaes e valncias

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    8/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 468

    diversificadas, embora todas partilhando da filosofia do Projecto Curricular Integrado.

    Assim, esta equipa interdisciplinar integrava docentes e investigadores universitrios da

    rea de Currculo e professoras do ensino bsico com alguma formao especializada(CESE'S e mestrado) em Currculo, em Administrao Escolar e em Sociologia da

    Educao. Integrava, tambm, como colaboradores, formadores especializados nas

    Didcticas das diferentes reas do currculo do 1 Ciclo do Ensino Bsico.

    Relativamente aos critrios para a constituio da rede, pensmos que seria

    interessante, em termos de aprendizagem sobre inovao, o trabalhar com um conjunto

    diversificado de escolas do 1 Ciclo do Ensino Bsico que, de alguma forma, fosse

    representativo da heterogeneidade das escolas deste nvel de ensino: urbanas, semi-urbanas

    e rurais; do litoral e do interior; grandes, mdias e pequenas. Este desafio tornou-se

    possvel quase de forma natural pois, atravs dos contactos e da seleco que se foi

    estabelecendo inicialmente, recorrendo a professores que tinham realizado ou se

    encontravam a realizar um CESE na Universidade do Minho, conseguiu-se a constituio

    inicial de uma rede de 7 escolas, expressiva da heterogeneidade desejvel. Com a

    desistncia precoce de duas dessas escolas, foram cinco as que constituram a rede inicial:

    S. Lzaro, Caxinas, Bom Sucesso, Lemenhe e Cachada. No segundo ano do projecto viriam

    a integrar a rede mais trs escolas, sendo uma delas uma EB 2, 3, que, pela complexidade

    que requereria a sua anlise, no contemplamos neste estudo. As duas novas escolas do 1

    Ciclo foram: Carand e S. Joo de Souto, as quais rapidamente se integraram na dinmicado projecto, ainda que no sem sobressaltos e conflitos.

    Assim, foi com estas sete escolas que, ao longo de trs anos, desenvolvemos este

    estudo de caso de inspirao etnogrfica que, se por um lado, entende o Projecto PROCUR

    como uma unidade singular e global, no deixa de contemplar a diversidade de dinmicas e

    processos que se foram gerando no seu seio, obrigando a uma ateno constante ao

    pormenor de cada um dos contextos escolares e das equipas e pessoas, sem por isso perder

    de vista a globalidade da ideia de projecto em rede. Na figura seguinte (Figura 1)

    pretendemos mostrar esta realidade de projecto em rede, contemplando alguns dosdispositivos fundamentais utilizados para o desenvolvimento da inovao.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    9/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 469

    S. Lzaro e Priscos(equipa)

    Bom Sucesso(equipa)

    Cachada(equipa)

    S. Joo de Souto(equipas)

    Lemenhe(equipa)

    Carand(equipas)

    Caxinas(equipas)

    INVESTIGAO/ACO

    ENCONTROS

    FOLHA INFORMATIVA

    CENTRO DERECURSOS

    FORMAO

    PROJECTO CURRICULARINTEGRADO

    PROJECTO CURRICULARINTEGRADO

    COORDENAO

    ACOMPANHAMENTO

    Figura 1. Dispositivos para a inovao na rede PROCUR

    1.1.1. O contexto das escolas da rede PROCUR

    Passaremos agora a fazer uma breve caracterizao de cada uma das escolas, para a

    qual recorreremos fundamentalmente ao Questionrio sobre "Condies do Contexto

    Escolar", respondido pelas escolas em 1996 e no qual foi possvel ampliar e actualizar

    informao recolhida num outro questionrio do contexto realizado no lanamento do

    projecto em 1994. Nesta caracterizao, centrar-nos-emos prioritariamente, nos aspectos

    geogrficos, fsicos e scio-culturais das escolas, deixando as dimenses organizacionais,

    curriculares e pedaggicas para outros pontos deste relatrio.

    AEscola das Caxinas,localizada numa zona urbana do litoral piscatrio nortenho,

    do Concelho de Vila do Conde, caracteriza-se por ser a maior escola do 1 Ciclo do pas,

    com um corpo docente de 58 professores e 845 alunos, organizados em 44 turmas, numa

    mdia de 19 alunos por turma. Dispe de um corpo docente relativamente estvel (31 do

    Q.G., 12 do Q.D.V. e 1 do P.C.), possuindo a maioria uma experincia de mais de 10 anos

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    10/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 470

    de servio. Existem 8 professores em apoio educativo a actividades diversas: mediateca,

    alunos com necessidades educativas especiais e alunos com dificuldades de aprendizagem.

    Possui 13 auxiliares de aco educativa, 2 funcionrios administrativos, um psiclogo e umtcnico de sade escolar.

    No que respeita caracterizao scio-profissional dos pais, a grande maioria (78%)

    pertence s "classes populares" situando-se na categoria de "assalariados da pesca", seguida

    de "trabalhadores da produo fabril" e de "pescadores independentes". Quanto

    escolaridade, 60% dos pais s possuem o 4 ano de escolaridade e 10% so analfabetos ou

    no concluram o 4 ano. Esta caracterizao outorga populao escolar traos culturais,

    sociais, econmicos e familiares muito especficos, que se traduzem em taxas elevadas de

    insucesso escolar, nomeadamente num nmero considervel de alunos com dificuldades de

    aprendizagem (20%), para alm de 25 crianas com necessidades educativas especiais.

    Devido a estes factores, esta escola tem sido considerada como de interveno prioritria,

    verificando-se frequentemente "distrbios comportamentais, desmotivao, falta de

    assiduidade e pouco acompanhamento familiar, assim como dificuldades de concentrao".

    Do mesmo modo, um nmero elevado de crianas acede escola sem ter frequentado o

    jardim de infncia. A necessidade de combater este insucesso foi o que, entre outros

    factores, levou a maioria dos professores a aderir ao Projecto PROCUR.

    A escola, bem integrada no espao que a rodeia, est distribuda em trs edifcios

    independentes que partilham o mesmo recreio, sendo um do tipo Pr-fabricado, outro dotipo P3 e um terceiro do Plano Centenrio. Dispe de equipamentos como: biblioteca,

    mediateca, pequeno ginsio, sala de msica, sala de apoio educativo, apetrechados com o

    material considerado necessrio.

    Existe uma Associao de Pais, que colabora no ATL, mas, no que respeita

    participao dos pais na vida da escola, esta pontual e limitada quelas situaes em que

    existem problemas com os filhos, ou em que so solicitados pelos professores, tendo-se

    avanado bastante nesta rea como fruto da interveno do PROCUR. No que respeita a

    parcerias com instituies, a escola tem boas relaes com alguns parceiros sociais, queparticipam em alguns projectos da escola, tais como autarquia, associaes locais, rdio,

    servios de sade, parquia, empresas, Universidade do Minho, etc.

    Relativamente participao do corpo docente em diferentes aspectos da vida da

    escola, verifica-se um forte envolvimento de um grupo de professores, muito dinmico e

    quase todos eles integrando o projecto PROCUR. Para alm do Projecto PROCUR, a

    escola tem outros projectos tais como: rancho e coro infantil, artesanato, despertar para a

    Arte (ballet), rdio/jornal, mediateca, os jovens e a sade, etc.

    Nesta escola encontram-se envolvidos no Projecto PROCUR 32 professores

    organizados em 5 equipas, aproximadamente dois teros do corpo docente, tendo-se

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    11/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 471

    verificado um aumento do nmero de professores desde o incio e alguma variabilidade em

    algumas equipas, enquanto que outras permaneceram estveis desde o incio do projecto.

    AEscola de S. Lzaro, uma escola urbana, situada no centro da cidade de Braga,

    capital de distrito, sendo constituda por trs edifcios prximos que partilham o mesmo

    recreio, um deles tipo P3, outro Plano Centenrio e um terceiro Pr-fabricado, onde

    funciona o Jardim de Infncia. O seu corpo docente formado por 23 professores e o

    discente por 328 alunos, agrupados em 15 turmas que funcionam em regime normal, numa

    mdia de 22 alunos por turma. Possui um corpo docente relativamente estvel 15 do

    Q.G. e 2 do Q.D.V. Tem 5 Auxiliares de Aco Educativa.

    No que respeita caracterizao scio-profissional dos pais, esta representa uma

    populao heterognea, distribuda entre as classes populares (40%) e a classe mdia

    (23%), situando-se 16% na classe mdia alta e 4% na burguesia. Isto deve-se ao facto de

    existirem muitas crianas oriundas de freguesias rurais circundantes da cidade que

    frequentam a escola ao abrigo da "Lei do trabalho" do encarregado de educao.

    Como equipamentos possui uma biblioteca, razoavelmente apetrechada, e um

    polivalente para actividades diversas.

    Escola com alguma tradio pedaggica, devido a, durante anos, ter funcionado

    como anexa Escola de Magistrio, continua a colaborar com o Instituto de Estudos da

    Criana na formao de professores com a realizao da Prtica Pedaggica. Tem umProjecto Educativo em que participa todo o corpo docente e vrias actividades de animao

    scio-educativa e cultural centradas em festividades, em que participa a comunidade.

    Existe uma Associao de Pais que colabora no ATL, no almoo das crianas e

    atravs de apoio econmico em actividades pontuais.

    Esta escola foi aquela em que a equipa PROCUR sofreu uma maior variabilidade,

    pois estando inicialmente constituda por 8 professores, alargou-se depois a quase todo o

    corpo docente, voltando posteriormente, devido a vrios factores de instabilidade que

    teremos oportunidade de tratar ao longo deste trabalho, a ficar reduzida a um grupo de 8,actualmente estabilizado. No 3 ano do Projecto passou a integrar as duas professoras de

    uma pequena escola rural prxima da cidade - Escola de Priscos, que faz parte do Conselho

    Escolar.

    A Escola do Carand, localizada num bairro da cidade de Braga, funciona num

    edifcio de construo recente, bem integrado no espao que o rodeia, com salas amplas e

    luminosas, mas sem espao coberto de recreio.

    Possui um corpo docente de 25 professoras para uma populao escolar de 305

    alunos organizados em 15 turmas, funcionando em regime duplo, o que resulta numa mdia

    de 20 alunos por turma. Tem 9 alunos com Necessidades Educativas Especiais e 17 com

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    12/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 472

    dificuldades de aprendizagem, apoiados por duas professoras e uma educadora de infncia.

    Tem um corpo docente relativamente estvel20 do Q.G., 3 do Q.D.V. e uma professora

    e uma educadora em regime de contratao.Tem uma populao de provenincia social heterognea em que a situao scio-

    profissional dos pais se distribui pelas classes populares (37%) e pelas classes mdia,

    mdia alta e burguesia (41%), situando-se a mdia das habilitaes acadmicas no 9 ano

    de escolaridade.

    Quanto a equipamentos existe uma biblioteca, razoavelmente apetrechada, e um

    centro de recursos com T.V., vdeo, mquinas fotogrficas, gravadores, etc ...

    Esta escola tem um nvel positivo de relacionamento com instituies e parceiros

    sociais, com quem colabora para a realizao de inmeras actividades, aquisio de

    equipamentos e arranjos. Existe, tambm, uma Associao de Pais que apoia

    economicamente e organiza algumas actividades como ATL, Ingls e desporto. Colabora

    com a Universidade do Minho e com o Instituto Piaget na Prtica Pedaggica da formao

    de professores.

    Nesta escola aderiu inicialmente ao PROCUR uma equipa de 8 professoras que se

    incrementou para 12 no segundo ano, passando actualmente a abranger quase todo o corpo

    docente.

    S. Joo de Souto, uma escola urbana situada centro histrico da cidade de Braga.Possui 20 professores para 303 alunos, organizados em 12 turmas que funcionam em

    regime duplo nas seis salas do edifcio escolar, numa mdia de 25 alunos por turma. Possui

    um corpo docente relativamente estvel, a maioria com mais de 10 anos de servio. Tem 4

    auxiliares de aco educativa.

    A provenincia social dos alunos situa-se sobretudo na classe mdia e mdia alta

    (65%), sendo na sua maioria empregados do comrcio e servios, quadros tcnicos e

    pequenos empresrios da indstria e comrcio.

    O edifcio escolar, de traa romntica, adaptado h mais de cem anos para o ensino,no se distingue das demais casas da praa onde se localiza. No tendo sido projectado para

    fins escolares, apresenta muitas deficincias nas suas condies pedaggicas,

    nomeadamente a falta de um recreio adequado e de um ambiente sonoro propiciador de um

    clima de sossego e silncio. To-pouco tem refeitrio.

    Como equipamentos possui uma pequena biblioteca sem organizao, uma sala de

    msica bem apetrechada e uma sala de expresses. Estas salas e outros equipamentos e

    materiais foram conseguidas graas ao empenhamento dos professores e da Associao de

    Pais, que muito dinmica e participativa. A escola tem um bom relacionamento com

    vrias instituies e parceiros sociais, que ajudam a concretizar os vrios projectos e

    actividades de animao scio-educativa e cultural, sejam estes promovidos pela escola ou

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    13/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 473

    pela comunidade, dando-lhe assim uma grande projeco e visibilidade no meio

    envolvente.

    A quase totalidade do corpo docente est envolvido no Projecto PROCUR, estandoos professores organizados em duas equipas correspondentes uma ao turno de manh e

    outra ao da tarde.

    A Escola de Lemenhe, constituda por trs estabelecimentos de ensino (duas

    escolas do 1 Ciclo e um Jardim de Infncia) que funcionam em 2 edifcios localizados em

    diferentes lugares da mesma freguesia de Lemenhe, no Concelho de Vila Nova de

    Famalico. No edifcio de tipo indefinido, localizado beira da estrada municipal,

    funciona, numa sala, o Jardim de Infncia e na outra uma turma do 1 Ciclo que engloba os

    4 anos de escolaridade. No outro edifcio, tipo Plano Centenrio, situado na encosta de um

    monte de onde se divisam campos e prados verdes, no lugar mais populoso da freguesia,

    funcionam duas salas com trs turmas, em regime duplo. O estado dos edifcios era

    razovel, tendo vindo a melhorar, especialmente o de tipo indefinido, com a instalao de

    uma cantina e de um parque infantil no logradouro.

    O corpo docente formado por 5 professores e 1 educadora de infncia, para uma

    populao escolar de 71 alunos agrupados em 5 turmas, numa mdia de 14 alunos por

    turma. Uma professora acompanha 3 alunos com NEE e apoia 9 com dificuldades de

    aprendizagem. Tem duas auxiliares de aco educativa.A situao scio-profissional dos pais insere-se, na sua maioria, nas classes

    populares trabalhadores da produo (operrios) e agricultores independentes. As

    habilitaes acadmicas dos pais correspondem globalmente ao 4 ano de escolaridade, no

    existindo nenhum encarregado de educao com habilitaes superiores ao 6 ano de

    escolaridade.

    Com a participao no Projecto PROCUR criaram-se novas dinmicas de relao

    com a comunidade e com outras instituies, que levaram criao de condies para uma

    melhoria substancial da escola, tanto a nvel fsico e de equipamentos como a nvelorganizativo e pedaggico.

    A equipa PROCUR constituda por todo o corpo docente incluindo a educadora de

    infncia, conseguindo-se uma estabilidade do grupo, que tem conseguido integrar os novos

    docentes colocados na escola.

    A Escola de Bom Sucesso situa-se no centro de Prado, vila semi-urbana do

    Concelho de Vila Verde, junto a uma estrada nacional, o que levanta problemas de

    segurana. Possui um corpo docente de 5 professores (3 pertencentes ao Q.G e 2 ao QDV)

    para um nmero de 73 alunos, organizados em 4 turmas numa mdia de 18 alunos/turma,

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    14/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 474

    dos quais 13 esto caracterizados como possuindo dificuldades de aprendizagem. Tem uma

    auxiliar de aco educativa.

    A escola funciona num edifcio construdo em 1887, pertencendo denominao"outros tipos". Possui trs salas de aula funcionando em regime duplo, uma pequena rea

    coberta para recreio e um logradouro em mau estado de conservao e vedao. Quando se

    iniciou o PROCUR, o estado do edifcio e dos equipamentos estava muito degradado, sem

    que os professores conseguissem mobilizar-se para modificar as condies existentes. Com

    o aumento do nvel de participao e colaborao da comunidade escolar e educativa,

    conseguiu-se uma melhoria substancial das condies fsicas e estticas da escola,

    encontrando-se em desenvolvimento o projecto de instalao de uma biblioteca, mediateca

    e ludoteca escolar.

    A situao scio-econmica dos pais situa-se preferencialmente no nvel das classes

    populares (56%), seguida da classe mdia (33%), sendo a maioria trabalhadores da

    produo, pequenos empresrios da indstria e comrcio e empregados do comrcio e

    servios. Os professores atribuam ao desinteresse e insuficiente nvel cultural dos pais o

    fraco aproveitamento escolar dos alunos, o que, com o andamento do projecto, se est a

    modificar. A maioria dos pais possui apenas o 4 ano de escolaridade.

    Todos os professores da escola se integraram desde o incio no PROCUR, tendo

    sido possvel, graas aos destacamentos, que a equipa mantivesse a sua continuidade ao

    longo destes trs anos.

    A Escola da Cachada, fica situada numa pequena freguesia rural, denominada

    BriteirosSanta Leocdia, do Concelho de Guimares, numa zona frondosa e florestal do

    Minho, funcionando numa vivenda doada por um benemrito, pelo que no rene as

    condies ptimas para as funes de ensino. Quando o PROCUR se iniciou, a

    comunidade educativa encontrava-se j num processo de melhoria das condies fsicas e

    ecolgicas da escola, tendo conseguido pr em funcionamento uma cantina para a refeio

    das crianas e dos professores. No primeiro ano de funcionamento do PROCUR, o projectoeducativo/curricular centrou-se na ideia de "Humanizar a escola", conseguindo-se uma

    melhoria substancial, tanto no clima pedaggico como nos espaos interiores e exteriores.

    Na cave do edifcio funciona um Jardim de Infncia.

    O corpo docente constitudo por 5 professores e uma educadora de infncia para

    uma populao escolar de 73 alunos, divididos em 5 turmas, a funcionar em regime duplo,

    numa mdia de 15 alunos/turma. Uma professora acompanha dois alunos com

    Necessidades Educativas Especiais e apoia 10 alunos com dificuldades de aprendizagem.

    Tem duas auxiliares de aco educativa.

    Vrios factores familiares (violncia, alcoolismo), culturais (a maioria dos pais s

    possui o 4 ano de escolaridade, isolamento, ausncia de oferta cultural) econmicos (baixo

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    15/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 475

    rendimento econmico, emprego instvel, pertencendo a maioria dos pais s classes

    populares trabalhadores da produo e pequenos agricultores) so vistos pelos

    professores como contribuindo para o insucesso escolar. Estas condies concorreram,entre outros factores, para a adeso ao PROCUR.

    A equipa PROCUR, constituda por todo o corpo docente, tem mantido uma certa

    estabilidade ao longo destes trs anos, graas aos destacamentos dos professores.

    Em sntese, apresentamos os quadros ns 1, 2, 3 e 4, com dados relevantes para

    caracterizar algumas dimenses das escolas.

    ESCOLAS Professores Turmas Alunos Mdia dealunos/turma

    AlunosNEE

    Al. C/Dif.Aprendiz

    Caxinas 58 44 845 19 25 171S. Lzaro 23 15 328 22 13 25Carand 25 15 305 20 9 17

    S. Joo de Souto 20 12 303 25 0 0Lemenhe 5 5 71 14 3 9

    Bom Sucesso 5 4 73 18 0 13Cachada 5 4 58 15 2 10

    Quadro 1. Corpo Docente e Discente

    ESCOLAS Alunos Auxiliares Alunos/Auxiliar

    Pessoaladministr

    Psiclogo SadeEscolar

    Caxinas 845 13 65 2 1 1S. Lzaro 328 5+1 65 0 1 0Carand 305 3+1 101 0 0 0

    S. Joo de Souto 303 4 75 0 0 0Lemenhe 71 2 29 0 0 0

    Bom Sucesso 73 1 73 0 0 0Cachada 58 2 29 0 0 0

    Quadro 2. Corpo no docente

    ESCOLAS

    Analfab. Saber ler e

    escrever s/ a4 classe

    4 classe 6 ano 9ano Ensino

    mdio

    Ensino

    superior

    Caxinas 0 9 60 21 0 0 0S. Lzaro 0 0 29 24 20 14 11Carand 0 0 23 15 26 15 19

    S. Joo de Souto 0 0 18 18 42 9 13Lemenhe 0 0 60 30 0 0 0

    Bom Sucesso 0 0 47 28 0 0 0Cachada 0 0 58 26 0 0 0

    Quadro 3. Habilitaes acadmicas dos pais (%)

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    16/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 476

    ESCOLAS Classespopulares

    Classe mdia Classe mdiaalta

    Burguesia Outros

    Caxinas 78 10 5 1 6S. Lzaro 40 23 16 4 17Carand 37 7 30 4 12

    S. Joo de Souto 18 39 26 7 10Lemenhe 82 8 0 0 10

    Bom Sucesso 56 33 4 0 7Cachada 75 7 0 0 18

    Quadro 4. Situao social dos pais (%)

    Ao contemplar esta pluralidade e diversidade de contextos educativos que

    caracterizam a rede do Projecto PROCUR, pareceu-nos que o desenho multicaso holstico

    (Ying, 1987) era o que mais se adequava ao nosso contexto, dando ateno maneira comoo PROCUR, considerado como uma unidade organizacional com uma fundamentao,

    objectivos e metodologia prprios, se desenvolvia e era assimilado de forma idiossincrtica

    pelas diferentes escolas e equipas que integravam a rede.

    1.2. A perspectiva qualitativa do estudo

    Ao adoptar, no estudo deste caso, uma perspectiva epistemo-metodolgicaeminentemente qualitativa e etnogrfica, isto veio reforar ou acrescentar a necessidade de

    respeitar algumas caractersticas prprias desta abordagem. Nas diferentes tradies

    existentes (Miles & Huberman, 1994) dentro da investigao qualitativa: interpretativismo

    e fenomenologia, antropologia social ou etnografia, investigao-aco colaborativa,

    podemos encontrar alguns traos recorrentes que configuram a posio especfica deste tipo

    de investigao no estudo da realidade.

    Conjugando contributos de autores como Goetz & LeCompte (1988); Erickson

    (1989); Miles & Huberman (1994) e Bogdan & Biklen (1994), em que nos baseamos para

    justificar a nossa opo pela investigao qualitativo-etnogrfica, consideramos que alguns

    dos atributos fundamentais que a sustentam, vm caracterizados pelos seguintes elementos

    metodolgicos:

    a) Na investigao qualitativa, tambm denominada "naturalista", a fonte directa

    dos dados o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal. Isto

    implica que a permanncia prolongada do investigador na organizao, comunidade ou

    outro contexto estudado, estabelecendo um contacto directo e personalizado com a

    realidade, se torne indispensvel. A observao-participante, as entrevistas emprofundidade, o dilogo informal e a ateno a todos os pormenores e acontecimentos, que

    fazem parte da vida quotidiana dos indivduos, grupos ou organizaes, no dispensa a

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    17/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 477

    presena do investigador no contexto real em que o "caso" se desenvolve. Pretende-se com

    esta presena, "adquirir uma viso 'holstica', integrada e sistmica do contexto em estudo:

    a sua lgica e sistema de regras implcitas e explcitas" (Miles & Huberman, 1994:6).Sendo o investigador o instrumento fundamental da investigao, o risco de

    enviesamento est sempre presente, pelo que este deve prestar uma especial ateno a este

    perigo para no introduzir distores na sua apreciao, salvaguardando assim a validade

    da investigao (Spector, 1984).

    Ao longo do estudo dos trs anos de desenvolvimento do Projecto PROCUR, a

    nossa condio de coordenadora do mesmo, exigiu-nos e permitiu-nos estar intensivamente

    presente nos dois principais contextos em que o projecto se desenvolveu escolas e

    universidade nas suas diversas manifestaes: reunies da equipa de coordenao e

    investigao, reunies de acompanhamento com as equipas de professores, sesses de

    formao, encontros inter-escolas, observao directa de actividades pedaggicas, reunies

    de convvio, numa diversidade de interaces formais e informais, que nos facilitou a

    aquisio da tal viso sistmica e holstica acerca do mesmo.

    Esta "observao persistente" (Lincoln & Guba, 1985), apoiada numa

    multiplicidade de procedimentos utilizados para a recolha e contrastao dos dados, assim

    como a discusso permanente acerca dos mesmos, com diferentes participantes no projecto,

    permitiu-nos salvaguardar o perigo de enviesamento acima levantado. A nossa funo nem

    sempre foi fcil, pois ao assumir um papel de participante "autntico" "the influentialtrue participant observer" (Cohn, 1979) que nos permitia exercer influncia nas

    interaces, actividades e resultados do projecto, exigia-nos, simultaneamente, "distanciar-

    nos", para manter uma conscincia crtica acerca do mesmo. O papel de estar ao mesmo

    tempo "dentro e fora", "comprometido e separado", que pede conjugar a empatia com a

    conteno e o rigor, foi um dos grandes desafios que se nos colocaram nesta investigao,

    solicitando de ns algumas das atitudes assinaladas por Woods (1993:23) como necessrias

    ao investigador etnogrfico: curiosidade, agudeza intuitiva, discrio, pacincia, deciso,

    vigor, memria e arte de escutar e observar.Assim, este estudo responde a quatro das condies consideradas necessrias ao

    papel de observao-participante, prpria dos estudos etnogrficos de caso: observao

    directa in situ, liberdade de acesso, intensidade da observao e triangulao e

    multimtodos (Smith, 1982).

    b) O significado de importncia vital na investigao qualitativa. Por isso, a

    compreenso das perspectivas dos participantes (Erickson, 1989), enquanto tecidos de

    significao que as pessoas constroem para dar sentido s sua vidas, em interaco com as

    peculiaridades ecolgicas prprias dos cenrios de vida das organizaes, exige uma

    cincia interpretativa capaz de dar conta dessas perspectivas. Como afirma Sarmento

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    18/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 478

    (1997:256), o interesse do investigador dirige-se "tanto para os comportamentos e atitudes

    sociais, quanto para as interpretaes que eles fazem desses comportamentos e para os

    processos e contedos de simbolizao do real". Trata-se de perceber "aquilo que ossujeitos da investigao experimentam, o modo como eles interpretam as suas experincias

    e o modo como eles prprios estruturam o mundo social em que vivem" (Psaths, 1973,

    citado por Bogdan & Biklen, 1994:51).

    Assim, como Amiguinho (1992:166), defendemos uma perspectiva construtivista e

    ecolgica, em que "partimos do pressuposto de que os indivduos possuem capacidades

    para agir sobre as situaes que vivem, no quadro dos constrangimentos prprios de cada

    uma delas, para conferir sentido a essas aces, interpretando-as e exprimindo verbalmente

    o seu significado". A possibilidade de captar "de dentro" do grupo e "de dentro" das

    perspectivas dos membros do grupo estes significados (Woods, 1994:18), atravs da

    "compreenso emptica", o que caracterizou o nosso posicionamento indagativo.

    Foi por isso que, neste trabalho, decidimos dar voz aos actores participantes no

    projecto PROCUR: professores, acompanhantes, investigadores, alunos, atravs dos "seus

    discursos sobre o vivido", discursos esses proferidos em diferentes circunstncias e

    contextos ao longo do processo de investigao-aco e registados numa diversidade de

    documentos, tais como: transcrio de entrevistas, relatrios, respostas a questionrios,

    dossiers, jornais, gravaes em audio e vdeo, actas de reunies, notas de campo, etc. O

    registo da aco, que em si mesmo implica um acto de reflexo e de construo desentidos, de forma a melhorar a racionalidade e justia das prticas e dos contextos sociais

    em que se desenvolvem (Carr & Kemmis, 1988), foi algo constante no desenvolvimento do

    PROCUR, o que nos ofereceu um manancial de dados riqussimos para orientar a

    investigao e enformar a tomada de decises. Os sujeitos participantes na investigao-

    aco tratam de recolher dados acerca da sua aco, a fim de a poder compreender melhor.

    Para Kemmis & McTaggart (1988:19), "Considera-se dado toda a informao sobre o

    processo da aco, os seus efeitos, tanto esperados como inesperados, as circunstncias em

    que aquela acontece e as limitaes, assim como o modo em que circunstncias elimitaes perturbam ou favorecem a aco planeada e os seus efeitos". Para estes autores,

    a investigao-aco tem um conceito amplo e flexvel do que pode constituir-se como

    provas ou dados, j que no se trata s de registar descritivamente aquilo que ocorre, mas

    tambm de recompilar as opinies, reaces e concepes dos participantes (Ibid.:32).

    Os estudos interpretativos so tambm estudos da cultura, em contextos sociais e

    polticos que favorecem ou limitam a aco e, por isso, o seu desvelamento exige um olhar

    crtico. Estas perspectivas crticas da investigao esto presentes no nosso estudo, ao

    tentar questionar e problematizar as condies ideolgicas e de poder prevalecentes na

    cultura das escolas e que suscitaram conflitos e problemas que, ao serem

    consciencializados e interpretados pelos professores, levaram a procurar formas mais

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    19/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 479

    autnomas e participadas de estar na profisso, descobrindo novas possibilidades de aco

    (Sarmento, 1997:258). Como sugere este autor (Ibid.) baseando-se em Quantz et al.,

    (1992:107), toda a investigao ganha ao curar de no esquecer que "a linguagem da crticadeve sempre conter a linguagem da possibilidade e a linguagem da possibilidade deve

    sempre conter a linguagem da crtica".

    O estudo da cultura que se foi gerando no PROCUR, atravs das concepes,

    crenas, normas, valores e pautas de aco, partilhados pela comunidade de pertena ao

    projecto, entendida como uma cultura de mudana e transformao da realidade educativa

    existente, faz parte tambm desta aproximao interpretativa e crtica ao nosso objecto de

    estudo.

    c) Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que pelosresultados ou produtos. Em consequncia da intencionalidade fenomenolgica e

    construtivista deste tipo de investigao, evidente que a preocupao pelos processos de

    construo de significados acerca da aco antepe-se preocupao pelos resultados.

    Quais as expectativas e motivaes dos professores para participar no PROCUR? Como

    que as pessoas foram assimilando a mudana em termos de novos conceitos a ser

    interiorizados? Como foram evoluindo as prticas, atravs da integrao de novas

    metodologias? Como se foram desenvolvendo as formas de cultura colaborativa que

    definem novas pautas de interaco? Como foram ultrapassados os conflitos cognitivos esociais que acompanham os processos de mudana? so algumas das questes que

    caracterizaram o interesse pelos processos de inovao e formao neste estudo.

    Como assinalam Bogdan & Biklen (1994), as metodologias quantitativas,

    recorrendo a pr-teste e ps-teste demonstraram que as mudanas se verificam. As

    estratgias qualitativas patentearam o modo como as expectativas se traduzem nas

    actividades, procedimentos e interaces dirias. Assim, no estudo do PROCUR,

    interessou-nos especialmente oporque o comodo acontecer da mudana, a sua vivncia e

    apropriao, atravs do questionamento sobre as formas de interveno, os modos de

    interaco e os dispositivos e condies que favorecem ou limitam a formao e construo

    do conhecimento prtico pelos professores. Sendo estes processos lentos e evolutivos,

    colocou-se-nos a necessidade de lhes dar uma ateno constante ao longo do Projecto, num

    desenho progressivo e aberto da investigao, atentos consecuo, tanto dos objectivos

    esperados, como dos no previstos.

    d) Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma

    indutiva. Ao contrrio da investigao positivista que procede atravs da confirmao ou

    infirmao de hipteses previamente definidas para elaborar teorias formais, a nossainvestigao pretendeu sobretudo gerar teorias "substantivas" ou fundamentadas na aco

    (de "baixo para cima") no sentido em que este termo foi definido por Glasser & Strauss

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    20/248

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    21/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 481

    e) A investigao qualitativa descritiva, atravs das palavras, constituindo-se

    como a base fundamental para aceder ao pensamento e experincia das pessoas,

    considerando que os significados no podem ser reduzidos a smbolos numricos. Na suabusca de conhecimento, os investigadores qualitativos tentam analisar os dados discursivos

    em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto possvel, a forma em que estes foram

    registados ou transcritos (Bogdan & Biklen, 1994:48). Na procura de uma compreenso da

    realidade em estudo, o mais esclarecedora possvel, o investigador tenta pintar um quadro

    que capte, tanto as caractersticas gerais e essenciais, como a mirade de pormenores mais

    finos e especficos (Woods, 1986), examinando o mundo com a ideia de que nada trivial

    ou pode ser tomado como um dado adquirido.

    Segundo Gil (1994:29), os dados qualitativos, em geral, so elaboraes de

    natureza descritiva que recolhem uma rica, ampla e diversa gama de informao; so

    polissmicos (mostram e ocultam mltiplos significados); consideram-se vlidos, mas de

    pouca fiabilidade, dificilmente reprodutveis, dado que so especficos de um momento e

    contexto determinados. So dados que mantm a sua frescura natural, so muito densosdo

    ponto de vista informativo e requerem uma mnima instrumentaopara serem recolhidos.

    Recolhem-se mais a partir de procedimentos do que de instrumentos.

    Neste estudo, como veremos mais adiante, trabalhamos com uma grande variedade

    de fontes de dados, a maior parte deles de natureza descritiva, fossem eles registados pelo

    prprio investigador, como no caso das entrevistas e das notas de campo, ou criados pelosparticipantes no processo de investigao-aco, tais como documentos de fundamentao,

    relatrios, dossiers, artigos de jornal, imagens, comunicaes, registos de reunio,

    reflexes, etc. No relato de investigao que apresentamos neste captulo, tivemos o

    cuidado de mostrar o discurso directo e genuno dos actores em dilogo com a nossa

    interpretao.

    1.3. As questes de investigao

    Num estudo desta natureza, em que a intencionalidade fundamental da pesquisa se

    situa no poder de compreenso e interpretao da aco, em ligao com o pensamento que

    a sustenta, as questes do tipo "por qu", "como", "qual", parecem as mais adequadas ao

    interesse interpretativo que a preside. O problema central da ligao entre a inovao

    curricular e a formao de professores, que remete para o problema mais geral das relaes

    teoria-prtica em educao e do papel da investigao educativa, apresentado e discutido ao

    longo deste trabalho, permitiu-nos, ao olhar para o Projecto PROCUR, levantar a seguinte

    questo geral: "Como, em que medida, e em que condies, os professores participantes no

    Projecto de investigao-aco se apropriaram, ao longo do seu desenvolvimento, da

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    22/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 482

    inovao/formao no contexto escolar?" Decorrentes desta problemtica central,

    formulamos outras questes especficas, a fim de poder compreender melhor a

    complexidade das dimenses nela implicadas. Algumas destas questes foram emergindo eclarificando-se ao longo do processo de investigao, medida que amos contrastando os

    dados com a teoria.

    Quais as expectativas e motivaesdos professores para aderir e dar continuidade

    ao Projecto PROCUR

    Dos diferentes dispositivos utilizados para facilitar a inovao/formao, quais

    foram os mais determinantes para a mudana: trabalho colaborativo,

    acompanhamento, formao formal, encontros, organizao em rede, folha

    informativa, registos, investigao-aco. Quais as potencialidades e limitaes? Quais os traos e as potencialidades das culturas de colaborao nas escolas, em

    que condies se podem induzir e quais os constrangimentos para a sua

    continuidade?

    Que papel e modalidades revestiu a metodologia de investigao-aco no

    projecto PROCUR e quais as suas maiores potencialidades para a

    inovao/formao?

    Qual o papel dos agentes internos e externos (acompanhantes e responsveis de

    equipa) na facilitao da mudana, e quais as condies mais adequadas para oexerccio das suas funes?

    Em que medida a teoria do Projecto Curricular Integrado tem potencialidades

    para melhorar a aprendizagem dos alunos e a organizao da escola para o

    sucesso?

    Quefases se podem conceptualizar no processo de inovao/formao, ao longo

    de trs anos de desenvolvimento do Projecto PROCUR?

    Quais os maiores constrangimentos para a inovao/formao e a melhoria da

    escola e como foram ultrapassados?

    Em que medida e como a participao no projecto PROCUR afectou o

    desenvolvimento pessoal e profissionaldos professores?

    Quais as mudanas mais significativas produzidas ao longo do Projecto

    PROCUR e como as poderemos caracterizar?

    O que mudou na maneira de entender e viver a profisso docente com a

    experincia de participao no PROCUR?

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    23/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 483

    1.4. O percurso de investigao

    Decorrente destas questes e do posicionamento interpretativo-crtico queadoptmos, e tendo em conta que o nosso papel de investigadora se situou num contexto de

    investigao-aco colaborativa,tendente a facilitar processos de mudana e de formao

    na escola, as provas e dados aqui utilizados foram emergindo do prprio processo de

    investigao-aco, atravs da espiral introspectiva (Kemmis & McTaggart, 1988),

    baseada em ciclos continuados e sistemticos de planificao-aco-observao-reflexo,

    que o caracterizou. O papel de investigadores assumido pelos professores, ao longo do

    Projecto PROCUR, pressups que "os prticos deixaram de ser meros objectos de

    investigao, para passarem a ser, simultaneamente, criadores da realidade e produtores desentido dessa realidade" (Vielle, 1988, citado por Cadima et al. 1995:295). Como assinala

    Elliott (1990), a prtica reflexiva social que caracteriza a investigao-aco, implica a no

    distino da prtica sobre a qual se investiga do processo de investigar sobre ela,

    considerando-se, assim, a prtica do ensino intimamente ligada ao processo de

    investigao.

    A dimenso colaborativa e participativadesta investigao e o seu compromisso

    crticocom a mudana educativa, atravs da compreenso das contradies entre as ideias

    e as prticas institucionalizadas, mediante as quais essas ideais so traduzidas em aco

    social (Carr, 1995), so algumas das condies bsicas para a definio da investigao-

    aco, entendida como um "modelo de investigao dentro do paradigma qualitativo, que

    observa e estuda, de forma reflexiva e participativa, uma situao social para a melhorar"

    (Rodriguez, 1991:60).

    Assim, "colaborao", "reflexo" e "pesquisa" (Clift, 1992), constituem-se como

    conceitos chave da investigao-aco, entendidos estes com o seguinte significado:

    Colaborao: o acordo explcito entre duas ou mais pessoas para reunir e trabalhar

    conjuntamente na procura de objectivos especficos comuns, num determinado espao de

    tempo. O conceito de participao democrtica fundamental, no sentido em que todos osparticipantes tm as mesmas oportunidades de exprimir as suas ideias e influenciar a

    tomada de decises.

    Reflexo: processos mentais que operam interactiva e retroactivamente quando um

    educador ou grupo de educadores reconhecem uma situao problemtica relacionada com

    a sua prtica profissional, e procuram compreender, investigar e resolver essa situao,

    ampliando e melhorando as suas concepes acerca dessa prtica.

    Pesquisa: tentativa deliberada de recolher sistematicamente dados que possam

    oferecer uma melhor percepo e iluminao da prtica profissional. A investigao colaborativa quando todas as partes concordam que os dados podem contribuir para a

    consecuo de objectivos comuns.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    24/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 484

    Neste sentido, a investigao-aco constitui-se como um tipo de pensamento e

    metodologia que implica o uso da reflexo e da pesquisa, enquanto formas de compreenso

    das condies que sustentam ou limitam a mudana, da natureza da prpria mudana (ouda interveno), do seu processo de construo e dos resultados que dela se obtenham

    (Ibid.:54). Isto, como reconhece Elliott (1993:71), permite aos professores melhorar as suas

    prticas mediante o desenvolvimento das capacidades de discernimento e de julgamento

    profissional (prudncia prtica) para decidir o curso correcto da aco, nas situaes

    concretas, complexas e problemticas, que caracterizam o ensino.

    No que diz respeito ao Projecto PROCUR, o objecto de mudana desejvel

    centrava-se na melhoria da integrao do currculo escolar, adequando-o s necessidades

    dos contextos educativos, uma vez que se constatava que essa falta de integrao e

    adequao constitua um problema central que incidia no insucesso educativo dos alunos.

    Isto iria exigir dos professores novos papis e atitudes perante o processo de

    desenvolvimento curricular, nomeadamente os relativos colaborao, reflexo a

    pesquisa.

    Em torno deste problema foi-se criando uma comunidade crtica (Kemmis, 1993)

    de investigao, constituda por equipas de professores/investigadores das escolas e por

    uma equipa de coordenao/investigao que, com uma perspectiva colaborativa, baseada

    em processos de negociao de objectivos e metodologias, pretendiam produzir um

    conhecimento capaz de enformar a progressiva transformao e mudana das prticas e doscontextos sociais, ao mesmo tempo que as estratgias investigativas se iam traduzindo em

    estratgias formativas. Assim, o modelo que orienta o PROCUR organiza-se em dois

    planos que se cruzam e interagem entre si, enriquecendo-se mutuamente: o plano da

    investigao realizada pelas equipas de professores ao nvel da prtica dos Projectos

    Curriculares que desenvolvem, em que a equipa de coordenao/formao tem uma funo

    facilitadora ou de recurso; e o plano de investigao realizado pela equipa de

    coordenao/investigao, mais distanciado do quotidiano das prticas, com a

    intencionalidade de avaliar e fazer crescer o projecto como um todo. A Figura 2 pretenderepresentar esta viso do "investigador colectivo" no Projecto PROCUR.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    25/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 485

    Difuso

    Divulgao

    Trocas

    Produo deinstrumentos Tratamento de dados Disponibilizao dedocumentao Formao Acompanhamento Avaliao

    Produo deinstrumentos

    Tratamento de dados Planificao Interveno Reflexo Pesquisas Registos da p rtica Avaliao

    DIFUSO

    DEVOLUO

    RETRO-ACO

    EQUIPAS ESCOLARESEQUIPA COORDENADORA

    PRODUO DECONHECIMENTO PRODUO DECONHECIMENTO

    COMUNIDADE

    INVEST

    IGAO

    REFLE

    XO

    MUDANA

    DESENV.PROFISSIONAL

    COLABORAO

    Figura 2. Investigao-Aco no PROCUR

    Ressalta neste esquema a perspectiva colaborativa entre investigadores acadmicos

    e prticos (Marcelo, 1995; Oja & Smulyan, 1989) no sentido de estimular os processos de

    reflexo crtica mediante os quais se consiga elaborar uma teoria sustentada na prtica e

    relevante para a sua transformao e melhoria. Ao mesmo tempo, estes processos de

    investigao e reflexo constituem-se como processos de desenvolvimento profissional dos

    professores e tambm dos prprios facilitadores.

    Isto indica a importncia da investigao no PROCUR, entendida como uma

    espcie de lanterna que ilumina as prticas, tornando-as visveis e inteligveis para ns e

    para os outros. atravs da investigao-aco que os professores promovem a sua

    autonomia como profissionais reflexivos, melhorando a construo do seu conhecimento

    prtico e do seu juzo profissional.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    26/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 486

    A metodologia de investigao utilizada foi fundamentalmente qualitativa, embora

    em certos momentos se recorresse, complementarmente, utilizao de dados

    quantitativos, capazes de oferecer uma informao mais sinttica. A Figura 3 pretendemostrar a diversidade de procedimentos de investigao e formao desenvolvidos pelas

    equipas de professores em torno da planificao, desenvolvimento e avaliao/reflexo dos

    Projectos Curriculares, apoiados e sustentados pelos procedimentos de investigao e

    formao utilizados pela equipa de coordenao/investigao, num fluxo permanente de

    troca de informao entre ambas.

    PROJECTO PROCUR

    PROJECTO CURRICULAR

    PRODUO DECONHECIMENTO

    DIVULGAO

    INVES

    TIGAO

    INVES

    TIGAO

    PLANIFICAO

    ACO

    REFLEXO

    Questionrios

    Entrevistas

    Registosdiversos

    Notas de

    campo

    Pesquisas

    diversas

    Inquritos

    Entrevistas

    Pesquisas

    diversas

    Registos

    diversificados

    Relatrios

    de equipa

    Dossiers

    de equipa

    Dirios

    individuais

    Dirios

    de turma

    Registos

    diversificados

    Discusso

    em equipa

    Relatrios

    anuais do

    Projecto

    Encontros

    PROCUR

    Acompan-hamento

    Discussa

    inter-equipas

    Anlise

    dossiers

    Registos

    diversos

    Em equipa

    Na escola/comunidade

    Em Encontros PROCUR

    Em outros Foruns

    Em jornais

    Em exposies

    Em literatura cientfica Figura 3. Nveis e procedimentos de Investigao-Aco no PROCUR

    Esta desejvel convergncia, em torno de objectivos comuns dos dois planos de

    investigao, conseguiu-se atravs da disponibilizao de situaes diversificadas, em que

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    27/248

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    28/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 488

    RECOLHADE DADOS

    REGISTOETNOGRFICO

    ANLISEDE DADOS

    LEVANTAMENTODE QUESTES

    SELECO DEUM PROJECTO

    REDACO DEUMA ETNOGRAFIA

    Figura 4. Processo cclico da investigao etnogrfica (Spradley, 1980:29)

    Tendo em conta estas premissas, passaremos a explicar as decises e operaes

    realizadas em cada uma destas fases.

    1.5.1. A recolha e registo de dados

    Ao pretender realizar um estudo de caso do PROCUR, perante o manancial de

    informao produzido durante o processo de investigao-aco, vimo-nos confrontados

    com a necessidade de fazer uma seleco de dados susceptveis de revelar umamultiplicidade de mtodos, de pessoas, de situaes e de variveis, que nos permitisse

    construir a desejada viso holstica do Projecto.

    Para isso, decidimos realizar uma amostra que fosse representativa de diferentes

    procedimentos metodolgicos utilizados longitudinalmente ao longo dos trs anos, e

    atravs dos quais pudssemos obter dados representativos de diferentes pontos de vista

    acerca duma pluralidade de dimenses do projecto. Ao optar por um posicionamento

    prioritariamente interpretativo, limitmos esta amostragem aos dados de natureza

    explicitamente qualitativa e textual. Devido impossibilidade de tratar tanta informao

    com o rigor desejvel, deixmos de lado muitos elementos que possivelmente viriam

    enriquecer este estudo, entre os quais assinalamos, de maneira especial, os Dossiers do

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    29/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 489

    Projecto Curricular das equipas escolares. Esto actualmente a ser estudados, com vista a

    uma publicao.

    Assim, podemos associar os dados utilizados em trs grandes procedimentosmetodolgicos, que agrupam, por sua vez, diversos tipos de instrumentos e de tcnicas:

    A observao-participante: notas de campo, dirio de investigao.

    O inqurito: entrevistas em profundidade e questionrios semiestruturados.

    A anlise documental do processo de investigao-aco: relatrios diversos,

    jornais, documentos de fundamentao, registos de reunio.

    No quadro seguinte apresentamos, numa perspectiva longitudinal, a relao

    pormenorizada dos procedimentos utilizados e que pensamos representar esta pluralidade

    metodolgica desejvel. importante salientar que os dados obtidos atravs destes diversosinstrumentos foram produzidos, analisados e interpretados ao longo do processo de

    investigao-aco, servindo como base para a produo de conhecimento e para a tomada

    de decises tendente a influenciar a melhoria das prticas. Esta recolha, anlise e

    interpretao, feita pela equipa de coordenao/investigao, em interaco com as equipas

    escolares, foi coordenada por ns enquanto Responsvel do Projecto. No terceiro ano de

    vida do PROCUR, esta coordenao foi realizada por uma colega da equipa a fim de nos

    permitir uma certa distanciao, com vista realizao deste estudo. No entanto, a

    responsabilidade da realizao das notas de campo, entrevistas e alguns questionriosabertos foi exclusivamente nossa.

    Ano uestionrio Entrevistas Relatrios Jornais Registos Docu-mentos

    Notas decampo

    1994/95 Q.P.C.Q.D.

    Q.C.C.E.

    Q.A.F.

    E.A.I.E.E.C.

    R.A.E.R.A.P.R.R.E.

    F.I. R.R E.C.R.R.A.

    D.F.P. N.C.

    1995/96Q.D.

    Q.A.F.E.E.E.

    R.A.E.R.A.P.R.R.E.

    F.I. R.R E.C.R.R.A.

    D.F.P. N.C.

    1996/97 Q.R.E.Q.M.E.Q.A.F.

    E.E.E.E.E.C.

    R.A.E.R.A.P.R.R.E.

    F.I. R.R E.C.R.R.A.

    D.F.P. N.C.

    Quadro 5. Procedimentos metodolgicos no estudo de caso

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    30/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 490

    Passamos a explicar sucintamente cada um destes instrumentos, de forma a permitir

    um melhor entendimento do seu significado no processo investigativo:

    Questionrios

    Apesar do questionrio ser considerado como um instrumento caracterstico da

    investigao quantitativa, quando utilizado em conjugao com outros procedimentos,

    como o caso, pode revelar-se de grande interesse no sentido de complementar, contrastar,

    confirmar/infirmar informao recolhida por outras vias. Os questionrios utilizados ao

    longo do processo de investigao-aco do projecto PROCUR foram desenhados no

    sentido de procurar, sobretudo, informao qualitativa ao lado da meramente descritiva,

    pelo que obedecem a um tipo de formato que conjuga uma combinao de tipos de

    perguntas, que pressupem vrios modelos de resposta, entre as quais prevalece o modelo

    de resposta no estruturada ou semi-estruturada. Na sua maioria, a anlise dos dados foi

    partilhada com todos os participantes no Projecto, atravs da devoluo e discusso da

    informao e interpretao obtida. Nesta nossa investigao limitar-nos-emos utilizao

    dos dados recolhidos atravs de questes abertas ou semi-estruturadas que precisaram de

    um tratamento especificamente qualitativo.1

    Q.P.C.Questionrio sobre "Perspectivas Curriculares". Com este questionrio,aplicado no incio do Projecto a todos os professores participantes, pretendia-se fazer um

    levantamento das concepes que orientavam as prticas curriculares predominantes nas

    escolas da rede.

    O questionrio estava organizado em torno das seguintes dimenses: grau de

    participao em Projectos, conhecimento do Programa do 1 Ciclo, papel e modalidades de

    planificao, organizao das reas do currculo, relao com o meio, adequao

    diversidade, avaliao, rea-Escola e trabalho em equipa. A fim de permitir a obteno de

    respostas livres que pudessem fornecer informao mais rica e diversificada, cada uma das

    questes oferecia a possibilidade de respostas estruturadas e abertas, o que sups que o

    tratamento fosse particularmente complexo e moroso. Os resultados deste questionrio

    foram apresentados e discutidos com os responsveis de equipa num encontro organizado

    com este fim.

    Q.C.C.E. "Questionrio sobre Condies do Contexto Escolar". Este

    instrumento foi aplicado no incio do Projecto a todas as escolas da rede a fim de recolher

    elementos que nos permitissem adquirir uma viso global e especfica de cada uma das

    1 Exemplos destes questionrios e dos seus relatrios de anlise podem encontrar-se noAnexo 2.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    31/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 491

    escolas que configuravam a rede PROCUR. Simultaneamente, permitia aos professores

    fazer uma caracterizao dos seus contextos educativos com os seus recursos e

    necessidades, a fim de poderem elaborar Projectos Curriculares relevantes e adequados aesses contextos. Este primeiro Questionrio foi melhorado e ampliado numa segunda

    verso, no segundo ano de funcionamento do projecto. O questionrio organizava-se nas

    seguintes dimenses: populao escolar, contexto familiar, aproveitamento escolar,

    recursos materiais, relaes com a comunidade educativa e participao na vida da escola.

    Em vrios Encontros do PROCUR foram devolvidos e discutidos com os professores os

    dados relativos a este questionrio.

    Q.A.F. "Questionrio de Avaliao Final". Com este questionrio semi-

    estruturado, aplicado no final de cada uma das fases do projecto, pretendia-se recolherinformao sobre o processo de inovao no PROCUR, a fim de orientar a tomada de

    decises em cada uma das fases subsequentes. O questionrio prioritariamente de resposta

    estruturada com opo livre, com excepo das duas ltimas questes de resposta livre

    limitada, que foram de grande interesse para recolher o ponto de vista pessoal dos

    professores sobre o Projecto, revelou-se de grande utilidade para a contrastao das

    representaes finais dos professores com o conhecimento adquirido ao longo do ano,

    permitindo informar as decises sobre as mudanas a introduzir nos dispositivos de

    acompanhamento do Projecto. O questionrio estava estruturado segundo as seguintescategorias: motivaes, organizao, coordenao e acompanhamento, dificuldades e

    limitaes, percepo sobre as mudanas, grau de satisfao, auto-avaliao, aspectos a

    melhorar. Os dados fornecidos por estes questionrios foram utilizados como um dos

    elementos importantes na elaborao dos Relatrios Anuais do Projecto.

    Q.D.Questionrio "Diagnstico".Este instrumento de tipo semi-estruturado, foi

    respondido no incio de cada ano pelos professores a fim de percepcionar os seus motivos,

    expectativas e grau de formao em relao ao Projecto. As questes de tipo "resposta

    estruturada com opo livre" e "resposta livre limitada" organizavam-se em torno dasdimenses: motivos, expectativas, dificuldades, grau de preparao, reas de formao,

    disponibilidade de tempo e tipo de apoio desejado. Os dados fornecidos foram discutidos

    com os professores nos Encontros Intermdios do PROCUR.

    Q.R.E Questionrio aos Responsveis de Equipa para "Interpretao do seu

    Papel". Este inqurito foi respondido por todos os responsveis de equipa em Abril de

    1997, a fim de poder compreender melhor a maneira como estes professores

    percepcionavam o seu papel de responsveis na liderana das equipas escolares. O

    instrumento, de "resposta livre limitada" era constitudo por 6 questes abertas que nos

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    32/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 492

    ofereceram dados qualitativos muito relevantes para interpretar os significados dos

    responsveis de equipa acerca do seu papel.

    Q.M.E.Questionrio "Motivos e Expectativas em relao ao PROCUR".Este

    instrumento de "tipo resposta livre limitada" foi respondido por todos os professores no

    final do ano lectivo 96-97, a fim de possibilitar uma reflexo individual sobre os motivos

    de participao no projecto PROCUR, as suas preocupaes e as perspectivas de futuro

    para o mesmo. Os dados obtidos com este questionrio revelaram-se de grande significado

    para a compreenso do sentido que os professores atribuam sua participao no Projecto

    Entrevistas

    Constituindo a entrevista, em conjunto com a observao, o corao da investigao

    qualitativo/etnogrfica, a sua utilizao, nas suas diferentes modalidades, esteve sempre

    presente ao longo do desenvolvimento do PROCUR. As conversaes e discusses, como

    as prefere chamar Woods (1993:82), num clima "livre, aberto, democrtico, bidireccional e

    informal", no qual os participantes pudessem manifestar-se genuinamente, sem se sentir

    presos a papis pr-determinados, constituram o dia-a-dia do Projecto, pautando as

    interaces nos seus diferentes contextos de desenvolvimento. Nesta investigao referir-

    nos-emos especificamente s entrevistas ou conversaes em profundidade, noestruturadas mas realizadas com uma intencionalidade explcita, atravs da colocao de

    determinadas questes, a fim de penetrar nas ideias, crenas, representaes e explicaes

    dos entrevistados acerca da realidade a pesquisar (Rodriguez, Gil & Garca, 1996).

    Tentmos salvaguardar nestas entrevistas a confiana, a curiosidade e a

    naturalidade, atributos que, segundo Woods (Ibid.:77), caracterizam este procedimento de

    investigao. Confiana, baseada numa clarificao de intenes e interesses, no sentido de

    evitar os possveis escolhos de atitudes de defesa ou de "construir mscaras", ou, ainda, de

    tentar satisfazer as expectativas do entrevistador. Curiosidade, no sentido de noscolocarmos numa posio de escuta activa e atenta das opinies, percepes e sentimentos

    dos entrevistados, explorando conjuntamente os significados atravs da "construo de um

    conhecimento mutuamente partilhado, radicado na intersubjectividade da interaco"

    (Meason & Sikes, 1992, citados por Vasconcelos, 1997:56).Naturalidade, porque no nos

    posicionmos como "especialistas" ou "investigadores distanciados", mas antes tentmos

    construir um clima de descontrao e espontaneidade, em que as pessoas se sentissem

    vontade para exprimir as suas opinies e sentimentos. Como assinala Vasconcelos

    (Ibid:57), na sua opo pelo que denomina entrevistas criativas, "esta abertura mtua

    contribuu para um maior equilbrio de poderes na interaco".

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    33/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 493

    Todas as entrevistas foram realizadas em grupo, quer equipa de coordenao do

    Projecto, quer s equipas de professores das escolas, obedecendo a um guio aberto que foi

    lido e discutido inicialmente, mas que foi seguido de forma flexvel, deixando-nos guiarpelo livre fluir das intervenes, sem, no entanto, perder de vista os temas contidos nas

    questes. No tipo de perguntas que fomos colocando ao longo das entrevistas, jogamos

    com a classificao apresentada por Spradley (1979) numa combinao entre as questes

    descritivas, estruturais e de constraste, a fim de considerar formas diferentes de

    aproximao ao conhecimento dos problemas e temas ali tratados. Os diferentes modos de

    apoiar os entrevistados na discusso, na busca da preciso, da compreenso e da

    integridade, bem exemplificados por Woods (1993:94), serviram-nos de grande ajuda na

    orientao das entrevistas. Entre estes destacamos: controle de contradies aparentes,

    pedido de esclarecimento e explicaes, procura de comparaes e exemplificaes,

    prossecuo da lgica de um argumento, esforo por ir mais alm, diferente formulao das

    coisas, expresso de incredulidade ou surpresa, resumos ocasionais e parfrases, adopo

    do papel do "advogado do diabo", etc.

    Todas estas entrevistas, que duraram aproximadamente duas horas cada uma, foram

    gravadas, transcritas, codificadas e interpretadas, tal como exporemos mais adiante2.

    E.A.I. "Entrevista de Avaliao Intermdia do PROCUR". Trata-se de uma

    entrevista de grupo aos responsveis de equipa e directores de escolas, realizada pelaequipa de coordenao do Projecto em Maro de 1995, no mbito de Seminrio "O

    PROCUR em Reflexo". Pretendia-se com esta entrevista semi-estruturada e orientada com

    flexibilidade, recolher informaes sobre os seguintes pontos do desenvolvimento do

    projecto: papel do "responsvel de equipa", aspectos organizativos, relaes com o meio

    envolvente, relaes com o resto da escola, mediao entre as Escolas e a equipa

    coordenadora do PROCUR, mudanas j observadas. Como se constata no Relatrio desta

    entrevista, que foi gravada e posteriormente submetida a anlise de contedo, importa

    sublinhar a "forma implicada, participativa e responsvel dos entrevistados. O dilogo foi

    rico e espontneo, no tentaram fugir s questes, procurando responder com sinceridade e

    autenticidade. Para isso, contribuu o clima favorvel que foi criado, em que se estimulou o

    esprito crtico e se valorizaram as opinies discordantes".

    E.E.C."Entrevista Equipa de Coordenao".Trata-se de duas entrevistas em

    profundidade, realizadas pela coordenadora do Projecto equipa de coordenao e

    investigao do PROCUR em Junho de 1995 e Junho de 1997, respectivamente. Pretendia-

    se com estas entrevistas semi-estruturadas e abertas fazer uma reflexo conjunta sobre o

    2 No Anexo 3 encontram-se os guies de entrevista, exemplos de transcrio dasmesmas, assim como o sistema de categorizao e codificao.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    34/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 494

    PROCUR, a fim de questionar, entre outros temas, o papel dos agentes externos enquanto

    facilitadores de formao/inovao. Assim, os tpicos abordados estavam relacionados

    com: as motivaes para participar no Projecto, a organizao da equipa, a vivncia dopapel de acompanhante, as potencialidades dos dispositivos utilizados, as dificuldades e

    constrangimentos, a percepo das mudanas, os aspectos a melhorar, etc.

    E.E.E. "Entrevista s Equipas Escolares". No final do primeiro ano de sua

    participao no PROCUR (Junho de 1996) e negociado com uma das equipasescola do

    Carand foi realizada pela coordenadora do Projecto uma entrevista em profundidade a

    toda a equipa. No final dos trs primeiros anos de vida do Projecto PROCUR (Junho e

    Julho de 1997) foi realizada tambm pela coordenadora do Projecto uma entrevista em

    profundidade a cada uma das equipas das escolas da rede. Estas entrevistas decorreramnum clima de descontrao e autenticidade, dadas as relaes de empatia existentes,

    construdas entre ns ao longo do Projecto. Assim o reconhecia numa nota de campo sobre

    este acontecimento: "Sinto que este tipo de discusses comigo so muito importantes para

    os professores, algum que valoriza o seu trabalho e que se coloca como seu interlocutor.

    Mostram uma grande disponibilidade para realizar a entrevista, para responder s questes

    com abertura e reflexividade. Apesar de me colocar numa posio de escuta e aceitao,

    tambm aproveito para ir clarificando conceitos e posies, questionando-os ou fazendo-os

    reflectir sobre determinados aspectos. Para o ano deveria fazer isto mais vezes" (Notas decampo, Julho, 97).

    No entanto, tendo em conta a grande extenso de cada uma das entrevistas

    (aproximadamente 2 horas), assim como a complexidade de ser uma entrevista grupal, que

    traz problemas acrescidos na sua transcrio, decidimos, com vista a este relatrio

    etnogrfico, realizar uma amostra representativa, que deu lugar utilizao das seguintes

    entrevistas:

    - 1 entrevista a duas equipas na escola das Caxinas (Entrev. Caxinas-1, 97) e

    (Entrev. Caxinas-4, 97)- 2 entrevistas na equipa da escola do Carand (Entrev.Carand, 96) e (Entrev.

    Carand, 97)

    - 1 entrevista equipa da escola de Lemenhe (Entrev. Lemenhe, 97)

    - 1 entrevista equipa da escola do Bom Sucesso (Entrev. Bom Sucesso, 97)

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    35/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 495

    Relatrios de Avaliao/Reflexo

    Ao longo do desenvolvimento do Projecto PROCUR e com uma finalidade

    reflexiva e avaliativa, a fim de poder orientar e informar as decises sobre a continuidade

    do Projecto, ao mesmo tempo que se respondia s exigncias externas da entidade

    financiadora (neste caso, o Programa Educao para Todos), foram sendo elaborados

    Relatrios de Avaliao Formativa, tanto pelas equipas de escola como pela equipa de

    coordenao do Projecto.

    Com este propsito, no final de cada ano lectivo, realizou-se uma sesso de trabalho

    com todas as equipas de professores, para discutir e fundamentar as orientaes acerca da

    elaborao do Relatrio de Equipa, posteriormente escrito por cada uma delas e entregue

    coordenao do Projecto. Depois, estes relatrios parciais foram analisados pela equipa deinvestigao, servindo, junto com outra documentao produzida ao longo do ano, como

    base para a elaborao dos Relatrios Anuais do Projecto, os quais, uma vez devolvidos e

    discutidos de novo com as equipas de professores, seriam divulgados em diferentes

    contextos, encontrando-se um deles publicado e outro em fase de publicao.

    Tendo em conta a nossa participao activa no tratamento dos Relatrios Anuais de

    Equipa, com vista sua incluso nos Relatrios Anuais do Projecto (com excepo do

    Relatrio de 1996-97, em que nos mantivemos distanciadas desta tarefa), nesta

    investigao utilizaremos como fonte prioritria de dados os Relatrios Finais do Projecto,aos quais recorreremos permanentemente para ouvir as vozes dos participantes. No entanto,

    em alguns momentos, por considerar que algumas ideias no esto suficientemente

    contidas naqueles Relatrios do Projecto, utilizaremos em primeira mo os Relatrios de

    Equipa3. Assim, as siglas que utilizaremos para referenciar estes documentos so:

    R.A.E. (95, 96 e 97).Relatrio Anual de Equipa

    R.A.P.(95, 96 e 97).Relatrio Anual do Projecto

    Para alm destes relatrios, utilizaremos tambm como fonte de dados, alguns dos

    Relatrios de Reflexo sobre os Encontros "PROCUR". Estes relatrios foram elaborados

    por ns ou por outros participantes, a seguir a estes Encontros, os quais se realizaram com

    uma periodicidade trimestral ao longo do desenvolvimento do Projecto. A sigla utilizada

    para nos referirmos a eles ser:

    R.R.E. "Relatrio de Reflexo sobre os Encontros", referenciando o n e o ano

    correspondente ao Encontro.

    Jornais

    3 No Anexo 4, apresentaremos alguns exemplos destes Relatrios de Avaliao.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    36/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 496

    Desde o incio do PROCUR que se tornou necessria a existncia de um rgo de

    informao interescolas, que viesse sustentar a ideia de rede, atravs de um sistema de

    comunicao em que a equipa de coordenao e cada uma das escolas e equipas pudessemtransmitir experincias, ideias, opinies, reflexes, eventos, avisos, etc. Surge assim, a

    Folha Informativa-PROCUR,com uma periodicidade sensivelmente trimestral, que se viria

    a revelar um documento importante para fazer a histria de vida deste Projecto: a sua

    orientao terica, o modelo organizativo, os dispositivos de inovao, os projectos

    curriculares das escolas, a formao, o acompanhamento, as festas e outros muitos

    pormenores que fazem parte do quotidiano de um projecto4. Assim, neste nosso estudo

    utilizaremos, em vrias ocasies, informao contida neste orgo de comunicao, quando

    ela se torne relevante para os temas tratados. Utilizaremos a siglaF.I.acompanhada do seu

    nmero e ano.

    Registos de reunio

    De entre a multiplicidade de registos das muitas reunies que caracterizam o

    trabalho colaborativo no PROCUR, seleccionmos uma amostra de dois tipos de reunio

    onde se encontram consignadas ideias, reflexes e decises relevantes para a realizao

    deste estudo de caso5. Estas duas modalidades so:

    R.R.E.C.Registo de Reunies da Equipa de Coordenao.

    R.R.A.Registo de Reunies de Acompanhamento.

    As Reunies da Equipa de Coordenao do Projecto, realizadas na Universidade,

    com uma periodicidade quinzenal, tinham como finalidade cotejar informao,

    acompanhar, avaliar e ir tomando decises sobre o andamento do PROCUR. As Reunies

    de Acompanhamento eram realizadas nas escolas, conforme as necessidades das equipas, a

    fim de apoiar e estimular a reflexo e a tomada de decises daquelas acerca dos seus

    Projectos Curriculares.

    4

    No Anexo 5, podem consultar-se alguns exemplares desta Folha Informativa-PROCUR.5 Um exemplo de cada um destes Registos de Reunio encontra-se consignado no

    Anexo 6.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    37/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 497

    Documentos de fundamentao do projecto

    Numa fase de preparao e ao longo do desenvolvimento do PROCUR, foi sendo

    elaborada diversa documentao para fundamentar e sustentar teoricamente o Projecto,

    assim como para divulgar o conhecimento produzido no processo de investigao-aco.

    Utilizaremos a siglaDFPpara nos referirmos a este tipo de textos.

    Notas de Campo

    Entendidas no sentido restrito, j que num sentido mais amplo todos os

    procedimentos anteriores poderiam ser contemplados como notas de campo (Bogdan &

    Biklen, 1994:150), estas abrangem o "relato escrito daquilo que o investigador ouve, v,experiencia e pensa, no decurso da recolha e reflectindo sobre os dados". Durante o

    processo de desenvolvimento do PROCUR e especialmente nos momentos que

    considermos mais significativos, fomos construindo uma espcie de dirio, em que

    pretendemos retratar de forma descritiva e reflexiva acontecimentos e actividades que nos

    chamaram particularmente a ateno, por os considerarmos relevantes para este estudo de

    caso. Elas seriam de uma grande ajuda na elaborao do relatrio de investigao j que,

    em conjugao com os outros procedimentos, nos ajudaram a manter viva a memria do

    processo.

    Tendo em conta esta diversidade de procedimentos de recolha de dados, registados

    em aproximadamente 1000 pginas de texto escrito, a sua anlise tornou-se uma aventura

    morosa e minuciosa e, simultaneamente, um repto nossa capacidade investigadora.

    1.5.2. A anlise interpretativa dos dados

    A tarefa do investigador qualitativo reveste uma grande complexidade, devido

    prpria natureza dos dados, caracterizada pela sua enorme extenso, riqueza e polissemia,ao que se juntou, no nosso caso, a pluralidade de fontes e procedimentos de recolha. Se

    bem verdade que o processo de anlise, entendido como "a forma de extrair sentido dos

    dados" (Tesch, 1990, citado por Gil, 1994:39), requer do investigador atitudes e qualidades

    de criatividade, intuio, sensibilidade terica e "olfacto de detective" (Woods, 1989) para

    ser capaz de transcender a sua prpria perspectiva, de forma a poder conhecer as

    perspectivas dos sujeitos objecto de estudo, preciso tambm um grande esforo de

    sistematizao e de utilizao de metodologias de anlise que permitam transpor os

    enfoques meramente intuitivo-artsticos, oferecendo consistncia e rigor ao processoanaltico.

  • 8/12/2019 INOVAO, FORMAO e MELHORIA ESCOLA (VOL II) [UM - 1998]

    38/248

    Percursos e encruzilhadas da mudana 498

    Ainda reconhecendo a necessidade de que cada investigador desenvolva o seu

    prprio mtodo, de acordo com as caractersticas da prpria investigao (Taylor &

    Bogdan, 1986), vrios autores (Glasser & Strauss, 1967; Miles & Huberman, 1994) tmdesenvolvido enfoques de procedimentoque descrevem com maior ou menor pormenor as

    operaes, passos e regras utilizados na reduo, apresentao e extraco de concluses

    dos dados.

    No que respeita a este estudo, assumimos uma posio intermdia entre os enfoques

    artsticos e tcnicos (Gil, 1994), pelo que tentaremos explicitar sucintamente os

    procedimentos interpretativos (Erickson, 1989) utilizados ao longo da anlise dos dados

    recolhidos, reconhecendo, no entanto, a importncia que a intuio e a criatividade tiveram

    neste processo, o que, por vezes, tornar difcil a explicao racional e sistemtica de todos

    os passos.

    a)Leitura/audio dos dados

    A audio e leitura reiterada dos dados textuais, medida que se iam produzindo,

    permitiu-nos adquirir uma viso global do contedo dos mesmos, descobrindo relaes,

    contradies, tendncias e vnculos que marcariam uma orientao inicial para a anlise do

    corpus, identificando grandes temas que se viriam a tornar fonte de categorias iniciais para

    a codificao dos dados. Estes grandes temas iniciais coincidiam com o quadro conceptual

    que sustenta este estudo, girando volta dos seguintes eixos: inovao e mudana,

    desenvolvimento profissional, desenvolvimento curricular, desenvolvimento do ensino-

    aprendizagem, desenvolvimento organizacional.

    b