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PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO PRÊMIO CARLOS LACERDA INOVAÇÕES NA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro 2007

INOVAÇÕES NA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL DA CIDADE …smaonline.rio.rj.gov.br/documentos/CSRH/ConcursoMonografia/Marcia... · da educação e da escolarização do surdo balizado

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PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO

PRÊMIO CARLOS LACERDA

INOVAÇÕES NA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL DA CIDADE DO RIO DE

JANEIRO

Rio de Janeiro

2007

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO

PRÊMIO CARLOS LACERDA

INSTITUTO HELENA ANTIPOFF E GESTÃO PÚBLICA: RUPTURAS, AÇÕES E

INOVAÇÕES

Concurso de monografia sobre administração

pública e gestão governamental, apresentada à

Secretaria Municipal de Administração da

Cidade do Rio de Janeiro.

Por

Ana Clara

Rio de Janeiro

2007

EPÍGRAFE

O universalismo que queremos hoje é aquele que tenha como

ponto em comum a dignidade humana. A partir daí, surgem

muitas diferenças que devem ser respeitadas. Temos direito

de ser iguais quando a diferença nos inferioriza e direito de

ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.

Boaventura de Souza Santos

RESUMO

A monografia discorre sobre o Instituto Helena Antipoff (IHA), órgão que integra a

Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e que sob a ótica da inclusão rompe com

modelos segregacionistas na Educação, gerencia e inova, produzindo conhecimentos para o

desenvolvimento dos alunos com necessidades especiais e investindo na formação continuada de

professores, de modo a convergir em superações do fracasso escolar e das práticas didático-

pedagógicas excludentes. Sendo assim, abordou-se a historicidade da relação social educativa da

pessoa com deficiência, fazendo um recorte na escolarização do surdo e descreveu-se a

competência e ações inovadoras dessa instituição.

SUMÁRIO

Epígrafe.....................................................................................................................................03

Resumo......................................................................................................................................04

1. Introdução................................................................................................................................06

2. O contexto sócio-educativo da pessoa com deficiência........................................................08

3. Flashes da escolarização do surdo..........................................................................................13

4. Inovações do Instituto Helena Antipoff.................................................................................19

5. Conclusão.................................................................................................................................27

Referências bibliográficas .....................................................................................................29

1. INTRODUÇÃO

Requisitada pelo Instituto Helena Antipoff (IHA) para atuar como professora regente de

classe especial para surdo na rede pública do ensino da cidade do Rio de Janeiro há quase uma

década e considerando, também, que nessa trajetória testemunhei ações no sentido de construir

em parceria com as escolas, um território educacional mais significativo para os alunos com

necessidades especiais e que fui sujeito de investimento desse órgão, é que emergiu o desejo de

discorrer sobre as inovações administrativas desse instituto.

A educação é uma prática social importante para todas as sociedades e as escolas como

instituições centrais do sistema educacional tem um papel relevante no desenvolvimento da

sociedade. Embora, não se possa negar que a escola visa a sociedade e as necessidades da

mesma, cuja homogeneização deve ser compreendida como uma tentativa natural da sociedade

estruturar valores, sentimentos, práticas e introjetá-los nos seus indivíduos para que estes

convivam sob regras.

No entanto, essa escola está em crise. Crise cultural, social e de paradigmas que não dão

conta do mundo contemporâneo, cujo sintoma crônico é constatado através do insucesso escolar,

que tem se configurado em múltiplas negações, dentre as quais se coloca a negação da

legitimidade das diversas culturas que fazem-se presentes no cotidiano escolar.

Em face disso, o IHA como órgão responsável pela elaboração e implementação de

políticas em Educação Especial vem atuando no sentido de dirimir a relação de exclusão,

fracasso vivenciada pela pessoa com deficiência em suas interfaces com o contexto escolar.

Norteada por essas pontuações e objetivando refletir sobre a gestão do Instituto Helena

Antipoff é que este estudo evidenciou o contexto sócio-educativo da pessoa com deficiência e os

problemas relativos à exclusão social propiciada pelos estigmas que foram construindo uma

aparência do deficiente. Depois pretendeu trazer alguns flashes que admitam analisar o presente

da educação e da escolarização do surdo balizado pelas leituras e interpretações do passado,

traçando primeiramente as explicações para o enraizamento da dificuldade de aprendizagem

existente no âmbito geral de educação e que culminaram em insucesso escolar e a seguir

clarificou essa dificuldade relacionada à educação de pessoas surdas, a partir da concepção que

se tem do surdo, do modelo de atendimento pedagógico e que ideologia tem se difundido na

sociedade e refletido dentro do espaço das salas de aula e finalizou descrevendo a competência e

ações de inovação do IHA.

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2. O CONTEXTO SÓCIO-EDUCATIVO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

A pesquisa acerca dos paradigmas que norteiam a imagem de homem e mundo sobre o

deficiente tem direcionado, sobretudo, o olhar para a diferença, para o recorte no par deficiência

e eficiência, buscando o seu percurso na sociedade, cultura, religião e educação, conjugando o

binômio inclusão e exclusão e o mergulhar no universo das políticas públicas de Educação

Especial.

A pessoa portadora de necessidades especiais física, sensorial ou mental tem vivido

subjacente à hegemonia e prática social, legitimando a condição de excluído e marginalizado.

Todavia, essa situação não é atual, ela existe desde os períodos mais remotos da história da

humanidade, conforme Vizim (2003, p. 57): “[...] Do período da Grécia Antiga até a Idade

Média, os princípios e os valores socioculturais [sic] literalmente caracterizavam a exclusão dos

deficientes da sociedade [...]”.

Ao investigar o atendimento oferecido aos deficientes encontram-se, por exemplo, em

Esparta os surdos sendo jogados do alto dos rochedos, pois não havia espaço na sociedade para

indivíduos considerados incompletos ou falhos, em Atenas eram rejeitados, abandonados nas

praças públicas e nos campos, também postos à margem do convívio social e em Roma, eram

considerados como incompetentes. Aristóteles ao conceber a idéia de superioridade do mundo

das idéias, da abstração e da razão representada pela palavra, atribuiu à linguagem como evento

sine qua non para a condição de humanidade (Skliar, 2004).

É importante mencionar que os surdos eram submetidos a um processo de

“normalização”, disciplinamento e aqueles que não se expressavam oralmente perdiam seus

direitos legais e o exercício pleno de sua cidadania. Lopes (2007, p. 41) clarifica: “Era necessário

que os filhos surdos de nobres aprendessem a falar, ler, escrever, fazer contas, rezar, assistir à

missa e confessar-se mediante o uso da palavra oralizada”.

Dessa maneira, a relação do homem com a deficiência demonstra, desde os séculos

passados, o modo excludente como as sociedades se organizaram, ficando revelado, na forma

como a dinâmica social foi marcada pela valorização da eficiência, o preterimento do deficiente,

atribuindo-lhe uma imagem negativa e reducionista. O ideal platônico citado por Fonseca (1995

apud VIZIM, 2003, p. 57) declarava: “[...] mas os filhos dos inferiores, ou dos superiores quando

surjam deficientes ou deformados, serão postos fora, num lugar misterioso e desconhecido, onde

deverão permanecer”.

Vizim (2003, p.58) explicita: “A identidade sobrenatural dos deficientes cooperava para a

promoção de um espírito de superstição na comunidade que justificava práticas de eliminação

como seres demoníacos ou a exorcização através da visão de endemoninhados”.

Práticas de rejeição furtaram das pessoas deficientes o convívio com os indivíduos

considerados normais e, ainda, foram atravessados pela concepção moral, religiosa e

supersticiosa da deficiência, a qual lhes atribuía uma identidade sobrenatural - feiticeiros,

diabólicos e endemoninhados, dentre outras.

Na Idade Média acreditava-se que os surdos não possuíam almas, por isso não poderiam

ser considerados seres imortais. A partir do século XVIII emergem explicações naturalistas para

o comportamento dos deficientes.

Todavia, o deslocamento do eixo religioso para o científico não significou mudança na

visão sobre a pessoa com necessidades especiais. Os mitos e superstições construídos em volta

da imagem da deficiência foram aos poucos sendo redirecionados para a busca da cura, o que

não culminou efetivamente na redução da discriminação social de que eram vítimas, mas num

marco referencial intervencionista das questões relativas ao atendimento às necessidades básicas

de saúde.

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Neste sentido, os estudos na área da medicina elucidaram que muitas deficiências eram

resultantes de lesões físicas, sensoriais, mentais e disfunções no organismo. Tais descobertas

proporcionaram tratamento médico e alívio à sobrecarga da família e da sociedade, mas também

resultaram nas ações homogeneizadora das diferenças, à medida que isolaram as pessoas com

deficiência em asilos e hospitais, enquadrando na mesma ordem prostitutas, loucos e

delinqüentes, em um movimento de alienação e segregação.

Surge no século XIX, a didática sensorialista, sob a responsabilidade do médico francês

Jean Itard (1774-1838), que propiciou uma visão médico-terapêutica, voltada para a reabilitação

das funções das pessoas com deficiência.

Mazzotta (2003, p. 20):

Reconhecido como a primeira pessoa a usar métodos sistematizados para o ensino de deficientes ou retardados mentais, Itard trabalhou durante cinco anos com Vítor, uma criança de doze anos, menino selvagem capturado na floresta de Aveyron, no sul da França, por volta de 1800. Em 1801, publicou em Paris o livro onde registrou suas tentativas e que é tido como o primeiro manual de educação de retardados: De I'Éducation d'un Homme Sauvage.

Esse fato demarca um novo paradigma para a pessoa deficiente, que passa a ser objeto de

uma educação. Contudo, esta surge e é estruturada no campo médico e não no educativo

propriamente dito, onde reabilitação se confunde com o processo educacional, atenuando a

relevância do conhecimento e da formação profissional. Mazzotta (2003, p. 17) coloca que, “[...]

sob o título de Educação de Deficientes encontram-se registros de atendimentos ou atenção com

vários sentidos: abrigo, assistência, terapia etc”.

Vizim (2003) esclarece que, ainda nos dias de hoje, separados por dois séculos da

metodologia difundida por Jean Itard, encontram-se nas instituições de ensino práticas

pedagógicas balizadas em princípios de atendimento clínico, onde a processo reabilitatório é

marcado pela apreensão dos conteúdos voltados para a habilidade, o treinamento de forma

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descontextualizada, assim, esvaziados da realidade na construção da identidade e na formação do

exercício da cidadania, além de contribuir no aumento dos mecanismos excludentes, através da

distorção conceitual da deficiência1, associando-a à incapacidade, à insuficiência, à falta2, à

idéia de inutilidade e dependência, que se tem configurado na imagem negativa da pessoa com

deficiência. Logo, influenciando as formas de exclusão da convivência social e da qualidade dos

conhecimentos.

A definição que ratifica essa premissa é oferecida por Wainer (1998 apud PINHEIRO,

2003, p. 113):

O termo deficiência surgiu para substituir anormalidade, seguindo um processo que tem como base uma lógica de institucionalização e segregação das diferenças. Entretanto, lida-se com a deficiência como se ela fosse natural, estática, definitiva. Porém esse é um fenômeno relacional (depende do contexto, de situação, da cultura em questão etc.,) a explicação sob o referencial organicista não dá conta dos critérios de agrupamento e não justifica a exclusão. Poder-se dizer que a prática dessa área se caracteriza pela manutenção do conceito de deficiência, reputada a causas biológicas, emocionais ou sociais. Mesmo quando relativizada (considerando deficiência como construção) afirma a existência de uma identidade deficiente. A preservação desse conceito, ao mesmo tempo que estigmatiza e marginaliza alguns grupos sociais, obscurece os efeitos de poder nesses grupos.

A difusão do estigma é um fator negativo na construção da imagem do deficiente,

acarretando entraves para a eliminação dos preconceitos. Também o modelo médico da

deficiência é um dos responsáveis pela resistência da sociedade em rever os paradigmas,

estruturas e atitudes relacionadas ao convívio salutar com as diferenças e práticas das ações de

eqüidade.

Ressalta-se que nas narrativas históricas descritas devem ser difundidos a relação social

1 Segundo o dicionário da língua portuguesa Michaellis (1998, p.645), o significado de “deficiência” é falta,

lacuna, imperfeição, insuficiência. 2 Esse termo refere-se restritamente a um dos significados de deficiência, conforme nota nº 1.

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de igualdade, respeito e acolhimento, o atendimento médico e clínico e o trabalho educacional

inclusivo, onde os profissionais do ensino invistam nas necessidades educativas especiais, na

potencialidade e habilidade dos educandos, para que se possa romper com a perversa cultura

marginal, segregadora dos direitos das pessoas com deficiência.

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3. FLASHES DA ESCOLARIZAÇÃO DO SURDO

Discorrer sobre a trajetória educacional do surdo compreende adentrar no binômio

sucesso e fracasso existentes na escolaridade que lhe é oferecida no âmbito educativo e

problematizar sobre como e quando ocorre o fracasso.

Sabe-se que a educação brasileira tem escrito a própria história atrelada às oscilações e

transformações políticas, econômicas, culturais e sociais, servindo essas, como indicadoras da

origem contextual do insucesso escolar, gerando questionamentos paradoxais sobre as suas

causas. Por exemplo, a dificuldade de aprendizagem que culmina em reprovação e na evasão

revelam o estado de cronificação em que se encontra a instituição em face do seu procedimento

engessado ao relacionar-se com a heterogeneidade de alunos, incorrendo assim, nos altos índices

de repetência.

De modo geral, essa situação desvela a complexidade do processo psicossocial, onde os

comportamentos atitudinais imprimiram no espaço da escola a seletividade, a competitividade, o

individualismo e o confronto entre desiguais sem gerar o tratamento com eqüidade para os

provenientes das classes populares.

Patto (2002) tece críticas às pseudo-pesquisas sobre o fracasso escolar, que originaram as

teorias do dom, a racista e da carência cultural, que se propuseram elucidar este processo.

Destaca-se, aqui, a teoria do dom, que apresenta um discurso científico baseado na Psicologia

diferencial e na psicometria, ramos da Psicologia que legitimam desigualdades e diferenças pela

medição das aptidões intelectuais e prontidão para a aprendizagem.

Entende-se, intrinsicamente, que ela revela a face perversa das naturalizações e

determinismos que transformam o homem em um ser domesticado. A própria nomenclatura da

teoria, isto é, “ideologia do dom” sugere, carrega e apreende uma marca distintiva e divina, onde

alguns indivíduos eleitos são abençoados e iluminados por um ser supremo que os predestina ao

sucesso, enquanto que os demais ficam fadados a viver com o infortúnio da seleção, do

insucesso.

Sendo assim, balizados pelas diferenças de aptidões, o indivíduo se posicionaria na

hierarquia social, ou seja, os mais dotados formariam a classe dominante e sócio-

economicamente favorecida, enquanto que os menos abastados constituiriam a dominada, sendo

a desfavorecida.

É importante ressaltar, ainda, que essas pessoas eleitas, dotadas compreendem em sua

maioria, os indivíduos privilegiados financeiramente da sociedade, restando apenas inferir sobre

o porquê dos ricos terem dom e os desfavorecidos não; também se essa teoria emerge da ciência

ética ou do cientificismo econômico, instrumento da manutenção da hierarquia social.

Da mesma forma, a história da educação dos surdos foi construída por diferentes

filosofias que refletiram o ideário e interesses hegemônicos em cada época e em cada sociedade.

Essas filosofias corporificaram o imaginário e as representações sociais sobre os surdos, sob a

ótica da inferioridade, limitação, incapacidade, déficit e subalternidade.

Dessa maneira, partindo da percepção acima é possível inferir que a educação de surdos

foi traçada por elementos limitadores do sucesso escolar e das oportunidades sociais. Ressalta-se

que a materialização das diferentes metodologias de trabalho foram associadas à visão

meramente genética e estrutural do desenvolvimento humano, atreladas também aos paradigmas

educacionais que emergiam ao longo da história da educação. Conseqüentemente refletem-se em

posturas pedagógicas que não atendem aos anseios e as necessidades dos sujeitos envolvidos no

processo educativo, pois são pensadas e concretizadas nos espaços de sala de aula, tendo

estratégias consideradas eficazes no ensino de pessoas ouvintes ou nas práticas adaptadas aos

alunos surdos, porém, sem as devidas atualizações epistemológicas.

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Nessa direção, as escolas que atendem alunos surdos têm vivenciado uma realidade

simplificadora no que se refere à apropriação da leitura e escrita. Como por exemplo, relega-se

para uns a condição de analfabetos funcionais, inclusive aqueles que tiveram a oportunidade de

freqüentá-la e a outros que foram alfabetizados, mas sem atingir os níveis mais elaborados do

conhecimento.

Os especialistas da educação diante desse fenômeno excludente, que é o fracasso escolar,

reconhecem-no e procuram em suas prerrogativas interpretar, justificar e representar esse

insucesso, listando os motivos da dificuldade de aprendizagem, atribuindo culpabilidade e

responsabilidade à falta de qualificação profissional dos professores para o exercício da profissão

e aos métodos de ensino.

No entanto torna-se necessário pensar e traçar a trajetória da escolarização do surdo,

procurando apreender qual concepção do educador sobre a pessoa surda, qual o modelo de

atendimento que emergiu no cotidiano das práticas educacionais e a ideologia que se tem

difundido a partir das dicotomias ouvinte e surdo, normalidade e anormalidade, maioria ouvinte

e minoria surda, oralidade e gestualidade. Skliar (2005, p. 19) coloca que: “[...] a educação dos

surdos não fracassou, ela apenas conseguiu os resultados previstos em função dos mecanismos e

das relações de poderes e de saberes atuais”.

Sabe-se que no decorrer dos tempos, diferentes concepções acerca da pessoa surda foram

surgindo, procurando enquadrá-la nos modelos clínico-terapêutico da surdez ou sócio-

antropológico, resultando em metodologias de trabalho que atendesse a essas demandas. Skliar

(2004, p.82) explicita que “[...] os livros de psicologia da surdez define os surdos como

lingüísticamente pobres, intelectualmente primitivos e concretos, socialmente isolados e

psicologicamente imaturos e agressivos”.

Portanto, é pertinente esclarecer que o enfoque deste estudo se deu no recorte das

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dicotomias ouvinte e surdo, oralidade e gestualidade, por entender-se que a compreensão destes

elementos são essenciais para a compreensão do fracasso escolar que atingiu o aluno surdo.

O modelo clínico-terapêutico da surdez criou e impôs para o surdo uma realidade que o

aprisionou dentro da concepção patológica e os encaminhamentos oferecidos eram para que se

alcançasse a cura, tornando-os o mais uniforme possível dos ouvintes, objetivando a

normalização.

Skliar (2004, p.79) esclarece que “[...] O modelo clínico-terapêutico impôs uma visão

estritamente relacionada com a patologia, com o déficit biológico, com a surdez do ouvido, e se

traduziu educativamente em estratégias e recursos de índole reparadora e corretiva”.

Nessa perspectiva, a escola abriu mão do trabalho pedagógico e consolidou no espaço

educativo uma proposta clínica de atendimentos a portadores de surdez, ou seja, ela assumiu a

educação de surdos, sendo que ao invés de realizar um trabalho destinado à escolarização, foi

disseminando um trabalho terapêutico de desenvolvimento da audição e dos órgãos

fonoarticulatórios.

Na opinião de Skliar (2005, p.16): “[...] a conjunção das representações clínicas e

terapêuticas levou historicamente, em primeiro lugar, a uma transformação do espaço educativo

e escolar em territórios médico-hospitalares”.

Desse modo, a escola subjacente a esse modelo acabou consolidando umas propostas

clínicas de atendimento à alunos surdos, cuja meta era fazer com que eles tivessem base oralista

de comunicação e adquirissem o padrão lingüístico das pessoas normais, tornando suas vidas o

mais parecida possível com a dos ouvintes, à medida que ocorria assimilação da língua e cultura

destes.

Tal comportamento delineou uma configuração do poder ouvinte sobre o surdo, tornando

a cultura ouvinte hegemônica e a do surdo inferior, reservando-lhe o papel de carente de funções

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ou de processos psicológicos superiores. Além disso, a ideologia desenvolveu no surdo dois

tipos de identidade cultural: a deficitária e a surda (Skliar, 2004, p. 81), estabelecendo, dessa

maneira uma crise de identidade, fazendo emergir problemas de ordem psicossociais e

dificultando a construção de sua territorialidade.

Skliar (2005, p.15) nomeia essa ideologia dominante de ouvintismo e a explicita:

Trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte. Além disso, é nesse olhar-se, e nesse narrar-se que acontecem as percepções do ser deficiente, do não ser ouvinte; percepções que legitimam as práticas terapêuticas habituais.

Percebe-se nessas práticas o prejuízo na escolaridade dos alunos surdos que se viram

diante de atividades mecanicistas, de treinamento auditivo e leitura-labial, distanciadas de

significação cognitiva, visando à reprodução da fala, sem oferecer trocas lingüísticas

significativas para os próprios surdos e processos dialógicos efetivos, que lhes permitam

compartilhar pensamentos, sentimentos, desejos, inquietações, dúvidas, argumentações,

concordância ou mesmo discordância de pontos de vista.

Tais ações fragmentadoras do saber obstaculizaram a construção de aprendizagens, nas

relações afetivas e interativas com o conhecimento, cujo resultado tem corroborado para silenciar

e estigmatizar o surdo, causando implicações na constituição de suas subjetividades e servindo

como fator de exclusão social e educacional.

Ao refletir-se sobre essa temática fica evidente que a educação está vivenciando uma

crise aguda na escolarização de alunos surdos ou não, isto porque, neglicencia a diferença e não

sabe lidar com a heterogeneidade dos sujeitos, em sua maioria pertencentes à classe popular.

Observa-se que o fracasso dos alunos nos espaços escolarizados tem se concretizado em

um movimento cristalizado da não aceitação das diferenças e se configurado através da baixa

17

auto-estima, da evasão e repetência, à medida que a instituição tem dificuldades em construir

estratégias promotoras do desenvolvimento cognitivo e social deles, contribuindo assim, para o

agravamento da falta de qualidade do ensino.

A escola diante disso tem trabalhado o aluno surdo sob a ótica dos ouvintes,

desrespeitando as especificidades que marcam as diferenças humanas, ratificando o hegemônico

paradigma ouvinte, retirando o elemento identitário dos surdos - a língua de sinais - regulando,

inclusive, o seu sentimento de pertencimento a uma cultura.

A concepção ideológica e pedagógica, em seus aspectos multifacetados, tem

fundamentado atitudes paternalistas e o racismo cultural, julgando a pessoa surda como

culturalmente inferior, contribuindo, ainda, para a solidificação de formas excludentes, opacas e

homogeneizadoras na relação surdo e sociedade, exemplificando a baixa expectativa do

professor quanto ao bom resultado de um trabalho pedagógico, também no olhar limitador das

possibilidades de sucesso escolar por colocar-se o foco na deficiência e na negação do

acolhimento a sua diversidade social e lingüística.

18

4. INOVAÇÕES DO INSTITUTO HELENA ANTIPOFF

Criado em 1974 e integrando a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro (SME/RJ), o

Instituto Helena Antipoff é o órgão responsável pela elaboração e implementação de políticas em

Educação Especial.

Considerado o único de referência em todo o país, ao IHA compete a organização e o

desenvolvimento de ações dirigidas aos alunos com necessidades especiais, a saber: portadores

de deficiências sensoriais (auditiva e visual), deficiência mental, transtornos severos de

comportamento ou condutas típicas (autismo e psicoses), deficiências múltiplas (paralisia

cerebral, surdocegueira), altas habilidades (superdotados) e deficiências físicas. Também é

responsável pela formação continuada dos professores das classes regulares que recebem estes

alunos, assim como dos que atuam nas modalidades especializadas ou de suporte.

Com 67 profissionais, ele produz conhecimentos em educação especial, possui um Centro

de Transcrição a Braille, para atendimento de alunos cegos e com baixa visão, confecciona

recursos multissensoriais que contribuem para a atualização dos professores e para o

desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, mantem oficinas de teatro, dança, música,

informática, oficina vivencial de ajudas técnica e pedagógica, ginástica, artes plásticas e

brinquedoteca.

Na oficina vivencial de ajudas técnicas e pedagógicas, são estudados os materiais que

trazem benefícios ao aluno portados de necessidade educativa especial, em relação ao seu

conforto e autonomia. As pesquisadoras observam como as crianças se saem nas atividades e que

dificuldades apresentam – sobretudo de locomoção – procurando desenvolver materiais sob

medidas, que melhorem o desenvolvimento, a autonomia e a conforto dos alunos (Prefeitura do

Rio de Janeiro, 2007).

É notório que o Rio de Janeiro possui a maior rede municipal de Educação da América

Latina, perfazendo até setembro de 2007, um total de 1058 escolas de Ensino Fundamental e

Educação Infantil, além de contar com 245 creches, mais de trinta e cinco mil professores e

setecentos mil alunos matriculados, sendo mais de 8.500 atendidos pela Educação Especial

(Prefeitura do Rio de Janeiro, 2007).

As dez Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) distribuídas por todo o município

da cidade do Rio de Janeiro, são responsáveis pelo gerenciamento das escolas de uma

determinada região. Contam com os agentes de Educação Especial, que são profissionais

encarregados de articular as ações da Educação Especial em todas as divisões da CRE, ou seja,

encarregados pelos programas, condução e acompanhamento dos encaminhamentos dos alunos

especiais, no âmbito de sua respectiva CRE, articulando ações conjuntas com o IHA. Os

professores especializados são lotados em uma dessas CREs e distribuídos pelas escolas que

recebem apoio da equipe do IHA. Cabe aqui explicitar que são dez equipes de acompanhamento

do IHA, uma para cada CRE.

As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001) defendem

uma inclusão escolar que coexista com todas as modalidades de atendimento e suporte

educacional da Educação Especial, ao afirmarem que a Educação Especial é um “processo

educacional escolar definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços

educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar

e, alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação

escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam

necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica”

(BRASIL, 2001, p. 69).

Nesta perspectiva, o projeto político pedagógico da SME/RJ estabelece uma proposta de

Educação Inclusiva, onde os alunos com deficiências ou outras necessidades especiais têm

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matrícula assegurada em qualquer escola e o IHA garante para os alunos que se escolarizam

nesta rede, variadas modalidades de atendimentos:

a) Escola Especial: destinadas a alunos com necessidades educacionais que precisem de uma

quantidade maior de adaptações físicas, materiais e curriculares, assim como funcionários de

apoio, para realizar sua locomoção e higiene. Há 10 unidades escolares que funcionam neste

molde.

b) Classes Especiais - funcionam em escolas regulares, sendo uma das alternativas de educação

inclusiva.

c) Classes Hospitalares: são abertas em hospitais conveniados com a Prefeitura da cidade do Rio

de Janeiro para atender a crianças e adolescentes internados em enfermarias, a fim de

proporcionar-lhes aprendizado.

d) Salas de Recursos – estas prestam atendimento educacional a alunos especiais, matriculados

nas classes regulares, cujo objetivo é atender às necessidades educacionais destes, auxiliando-os

no desenvolvimento do aprendizado, através de recursos específicos. A freqüência à sala de

recursos é em horário oposto ao da classe regular.

e) Professor Itinerante: assessora o trabalho desenvolvido com os alunos especiais, já integrado

em turma regular. Ele acompanha e dá suporte ao professor, à escola que atende este aluno e ao

responsável.

f) Professor Itinerante Domiciliar: atende os alunos com necessidades educacionais especiais em

suas respectivas residências.

21

g) Pólos de Educação Infantil: são pólos destinados ao trabalho educacional de alunos especiais,

na faixa etária compreendida de 0 a 3 anos e 11 meses.

O homem vem se transformando dia-a-dia e a educação contemporânea pautada na visão

inclusiva precisa acompanhar essas mudanças, preparando-se para absorver diferentes realidades

educativas dos diferentes educandos da educação básica3 e da educação especial4, garantindo-

lhes o acesso e permanência no espaço escolar, com qualidade do conhecimento e olhar voltado

para o educar, com o foco na transformação social.

Para tanto, é necessário que se promova melhoria na qualidade de ensino, investindo, por

exemplo, na formação do professor, para que este se contraponha a continuar sendo um

instrumento de legitimação do modelo reprodutor das ideologias dominantes e ressignifique sua

ação no sentido de concretizar uma educação para todos5, oferecendo adequadas condições aos

alunos, que vai além da ocupação e uso do espaço físico da escola.

Nessa intenção, o IHA tem oferecido subsídios aos professores que atuam com alunos

que apresentam necessidades especiais, com a preocupação de difundir a inclusão de seus

sujeitos e de romper com uma história de segregação e exclusão social.

3 A educação básica compreende a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, conforme Art.XXX da

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. 4 Segundo o artigo 3º da Resolução nº 2, de 2001, “por educação especial, modalidade de educação escolar,

entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica”.

5 Segundo o art. 1.1 da Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de

aprendizagem, “cada pessoa – criança, jovem ou adulto – deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas) quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes) necessários para que os seres humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidades, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo”.

22

Ele vem avançando na implementação e implantação de diversas ações que se direcionem

à construção da escola inclusiva, contribuindo para atenuar o hiato existente entre o ensino

comum e o especial e, propiciando aos alunos com necessidades especiais iguais oportunidades

de aprendizagem e desenvolvimento.

Verifica-se dentre essas ações do IHA, a publicação da revista Mediação que traz à tona

elementos significativos para a reflexão sobre a educação de crianças e jovens com necessidades

especiais; o acompanhamento do trabalho pedagógico efetuado com o aluno deficiente através de

consultorias e o investimento na formação continuada de professores em cursos de capacitação,

onde são partilhados saberes sustentados em bases teóricas e práticas, que vão além da

atualização ou treinamento, realizando, por exemplo, estudos sobre currículos, adaptações

curriculares e flexibilização pedagógica, de modo que as aprendizagens destes conhecimentos

esteja integrados no cotidiano da sala de aula, através das condições educacionais adequadas,

resgatando-se o caráter educacional de atendimento oferecido pela rede pública municipal e

contribuindo para a eliminação das desigualdades educacionais.

Soares (2002, p. 15) elucida:

[...] compete àqueles que estão envolvidos com a educação escolar de surdos voltar suas atenções para as questões que estou chamando de pedagógicas e comecem a desenvolver projetos que possam minimizar o fracasso escolar existente não somente nas escolas públicas, mas também, nas instituições especializadas que contam com profissionais habilitados [...].

É importante registrar, que o IHA tem avançado no enfrentamento do problema do

fracasso escolar, instituindo como prioridade a qualificação dos professores, estando em

conformidade com a determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,

1996, p. 27.839) que, em seu artigo 59, inciso III, prevê:

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Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.

Em cumprimento a essa diretriz, o IHA disponibiliza equipes que atuam no

acompanhamento, orientação, capacitação e atualização de professores de forma continuada, que

atendem alunos, desde a educação infantil, incluindo as creches, até a 3ª etapa do 3º Ciclo do

ensino fundamental, fornecendo apoio técnico pedagógico para a execução do trabalho nas

Unidades Escolares.

As equipes realizam encontros com os diversos profissionais do ensino, compartilhando

saberes sob a forma de consultoria; reuniões de atualização, onde acontecem os estudos de casos,

as trocas de informações, socialização de práticas pedagógicas bem sucedidas e relevantes para a

aprendizagem, formação de grupos de trabalhos que pesquisam uma temática específica e

apresentam para os demais colegas o resultado do estudo; também, as indicações de leituras e

reflexões, tendo como elemento motivador a análise de vídeo ou leitura de textos; observam os

alunos no espaço da sala de aula, como forma de acompanhar o desenvolvimento dos mesmos e,

quando necessário, efetuam encaminhamentos médicos ou metodológicos, entendendo este

último não como um ato de ingerência, mas como fonte de apoio e inspiração na re-elaboração

da ação pedagógica.

Além disso, o instituto tem promovido Jornadas de Educação Inclusiva e cursos para

professores desta rede, que se interessem ou mesmo desejem atuar atendendo alunos com

necessidades especiais, de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, de extensão em Educação

Especial por área de deficiência em parceria com uma universidade privada. O ambiente é

fraterno e instigador de aprendizagens, envolve a equipe técnica do Instituto, os professores de

classe especial, turma regular, sala de recursos e itinerantes que participam de palestras e

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oficinas e dialogicamente expressaram suas inquietações e alegrias, resultando numa experiência

vivencial, onde os conteúdos são introjetados como valores.

Segundo Soares (2002, p. 16):

Nesse momento em que se discute uma política de inclusão, torna-se necessário que as redes públicas de ensino, as instituições especializadas e as universidades que possuem cursos voltados à educação de surdos, principalmente aqueles destinados à formação de professores, envidem esforços na elaboração de projetos voltados à escolaridade e que esses projetos resultem em pesquisas para que sejam produzidos a esses respeitos. Acredito que, somente a partir da criação desse contexto, poderemos obter os elementos que servirão como base da análise das possibilidades e dificuldades de determinados alunos surdos em relação a um determinado conteúdo escolar.

O Projeto Educação Bilíngüe para Surdos, projeto piloto que foi iniciado em 1999 é outro

exemplo de investimento do IHA para o êxito escolar de alunos surdos da rede municipal, que

teve como meta desenvolver um trabalho com a língua de sinais e a língua portuguesa, onde um

especialista em surdez dessa instituição acompanhou a execução do projeto nas salas de aula e de

conversação, assessorando no planejamento e replanejamento das aulas, promovendo encontros

com os professores envolvidos, para discutir a práxis pedagógica que estava sendo efetuada

nesses espaços.

Cabe reiterar que essas e outras ações do IHA envolvem diretamente a atuação do

professor nas salas de aula e são medidas cabíveis à superação do fracasso escolar dos alunos

deficientes. Assim, elas representam passos para a inclusão escolar e não a delegação de

responsabilidade ao professor pelo insucesso, pela ineficácia dos resultados obtidos.

Analisa-se que o IHA, de forma positiva, tem sido um pilar na gradativa minimização de

práticas pedagógicas que promovam a exclusão dos alunos deficientes na Cidade do Rio de

Janeiro. O enfrentamento de mitos e certezas têm sido a tônica de sua atuação, subjugando

práticas segregacionistas da constituição de subjetividades.

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Um aspecto que ainda distancia o IHA de uma inovação efetiva é o fato de ter em seu

quadro um baixo percentual de professores portadores de necessidades especiais. Embora se

saiba que a sua administração tem a verticalidade da SME/RJ e que portanto deve se submeter ao

sua administração, sendo o IHA uma referência em educação especial espera-se um

vanguardismo em relação ao que é vigente e previsto pela legislação sobre o quadro de

funcionários portadores de deficiência. Desta forma, atender essa legislação o torna apenas um

reflexo da sociedade.

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5. CONCLUSÃO

Ao investigar os elementos significativos na compreensão da história do deficiente e

especificamente a da pessoa surda no contexto social e educacional, áreas que se

correlacionaram na problematização desse estudo, identifiquei práticas cotidianas, concepções

acerca do deficiente que fizeram emergir ações que acarretaram em entraves para a eliminação

de preconceitos e exclusão social, à medida que imprimiram para a pessoa com deficiência o

papel do “ser objeto”, incapaz, limitado e ineficiente, retirando-o do lugar de sujeito histórico-

social que tem direitos.

A escola como agência de transformação, possibilita a construção de conhecimento,

identidade, afeto, confrontando valores, moral, ética e estética, promovendo a formação integral

do homem, cuja demanda aponta para práticas educacionais diferenciadas, potencializadoras do

diálogo entre indivíduo e sociedade, resultando numa nova configuração deste homem e

contribuindo para o desenvolvimento de competências e habilidades que o instrumentalize no

enfrentamento dos desafios cada vez mais complexos da sociedade.

O Instituto Helena Antipoff como órgão responsável pela Educação Especial da rede

municipal de ensino tem investido em um relacionamento humanizado entre equipes do instituto,

professores e alunos com deficiência, numa interação onde coexistam acolhimento e respeito.

Tudo isso implica em influências e manifestações culturais ricas, diversificadas e plurais, em

ciranda de idéias e ideais, de relação, de subjetividade, encontros e desencontros, estabelecidos

através de redes de convivência.

Ele tem investido também para a concretização da escola inclusiva, que é, sem dúvida,

um dos desafios da gestão pública da Educação neste século, elaborando inovações através de

ações prospectivas no processo de escolarização de pessoas com necessidades especiais e na

formação continuada de professores com qualidade do conhecimento.

E, produzindo conhecimento em Educação Especial, confeccionando recursos

multissensorias, pesquisando novos recursos e metodologias para o desenvolvimento dos alunos

especiais, criando materiais sob medidas para conforto e autonomia dos mesmos e mantendo

oficinas de teatro, dança, música, informática, oficina vivencial de ajudas técnicas e pedagógicas,

ginástica, artes plásticas e brinquedoteca, o IHA tem ratificado, dia-a-dia, o seu lugar de

referência na área de Educação Especial do Brasil.

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