INOVAÇÕES SUSTENTÁVEIS NA BASE DA PIRÂMIDE

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INOVAES SUSTENTVEIS NA BASE DA PIRMIDENisia Werneck Desde que Prahalad e Hart publicaram, em 2002, o artigo, A Fortuna na Base da Pirmide, notvel a expanso destas abordagens nos meios acadmicos, assim como uma maior percepo mercadolgica, no que tange s oportunidades potenciais de negcios com as camadas mais pobres, at ento altamente negligenciadas. O impacto destas idias no se restringiu a conquistar a ateno das empresas e da academia, mas, tambm dos organismos multilaterais e das ONGs internacionais, que comearam a se interessar pela atuao das empresas, no apenas no campo da filantropia tradicional, mas tambm atravs da incluso dos pobres nas suas cadeias de valor. As novas experincias empresariais inovadoras se multiplicaram assim como os estudos sobre elas. Outros se debruaram sobre as estratgias daquelas que sempre tiveram na base da pirmide o seu foco de atuao, buscando compreend las e dando-lhes um novo status. Analisando a bibliografia existente sobre o tema observa-se que ainda no h uma teoria estruturada. A maioria dos trabalhos tem carter exploratrio e emprico, buscando analisar conjuntos de determinadas experincias, selecionadas segundo critrios diferenciados, e identificar as lies aprendidas com cada uma delas; formando, desse modo, um corpo de recomendaes quelas empresas interessadas em inserir-se no mercado das classes C, D e E. A estrutura mais comum dos trabalhos inclui, alm de uma reviso bibliogrfica, um tpico onde so reforados argumentos para defender a entrada das empresas no mercado, ressaltando no apenas os seus benefcios, mas o de toda a sociedade. Geralmente, so seguidos por uma citao ou um relato de casos e conclui-se com uma anlise dos desafios identificados e as estratgias adotadas. O objetivo deste artigo sistematizar as propostas destes estudos e aes, identificando as suas convergncias e divergncias. 1- A BASE DA PIRMIDE COMO OPORTUNIDADE E NECESSIDADE Os argumentos utilizados no convencimento e estmulo atuao empresarial na base da pirmide podem ser classificados em dois grandes campos: o mercado e a sustentabilidade. A maioria dos estudos assume um dos campos como porta de entrada, como base de construo de sua argumentao, mas, no entanto, sempre destacam a importncia do outro campo. Por exemplo, o j citado artigo A Fortuna na Base da Pirmide, ressalta muito a magnitude das oportunidades e quantifica-as, chamando a ateno para os quatro bilhes de pessoas que formam o mercado das

classes menos favorecidas. Mas no deixa de citar, entre os benefcios econmicos (lucros e oportunidades de crescimento), as incalculveis contribuies humanidade, decorrentes do olhar para as estratgias de globalizao, com as novas lentes do capitalismo inclusivo. Quadro 1 Argumento e justificativa da ateno base da piramide Campo Mercado Foco Oportunidade Dimenso Econmica Argumento Tamanho do Mercado Terreno produtivo para a Inovao Risco de caos social Social Sustentabilidade Necessidade Ambiental Direito a uma vida melhor Impossibilidade de replicar o modo de vida.

1.1- Viso de Mercado Tamanho do mercado A saturao nos mercados j desenvolvidos e consolidados coloca a necessidade de se buscar novas alternativas para o crescimento empresarial. No primeiro momento, foram buscados os mercados dos pases emergentes, mas com foco nas suas elites, no topo da pirmide. As grandes empresas multinacionais abriram subsidirias nestes pases, oferecendo os mesmos produtos e servios das suas matrizes. As decises estratgicas e de inovao continuaram, na sua maioria, centralizadas nas matrizes ou em subsidirias dos pases desenvolvidos. Entretanto, este mercado relativamente pequeno se for considerado o tamanho do outro mercado, o da base da pirmide. Segundo o estudo de Prahalad e Hart (2002) a pirmide se comporta como na figura abaixo: Figura 1 Distribuio de renda e populao na pirmide social

(Fonte: Prahalad e Hart (2002) Destacou-se, portanto, um mercado imenso e negligenciado pelos setores empresariais: 4 bilhes de pessoas integram a base da pirmide, com renda per capita anual de menos de 1500 dlares . O estudo do RI ( orld Resources Institute) e da IFC (International Finance Corporation), coordenado por Allen Hammond (2007), recebeu o ttulo The Next 4 Billion: Market Size and Business Strategy at the Base of the Pyramid , destacando a significncia do mercado de baixa renda mundial. Um dos acadmicos mais crticos da valorizao do potencial do mercado da base da pirmide, por outro lado, Aneel Karnani, que considera as estimativas do tamanho do mercado da base da pirmide exageradas. Tanto Prahalad quanto Hammond estimam que ele represente mais de 10 trilhes de dlares no mundo. Para Karnani (2006,2009) ele estaria em torno de 350 bilhes, o que fez com que ele parodiasse Prahalad no ttulo de seu artigo The Mirage at the Botton of the Pyramid , alertando para o que ele chamou de viso romntica do tema Independente do tamanho, que em nenhum dos dois casos pequeno, o que no se pode perder de vista a enorme diversidade que o nmero total esconde. Neste campo tambm h uma divergncia entre Karnani e H art. Para Karnani, os pobres no estariam em posio de aproveitar -se das oportunidades que o mercado oferece, sendo, por isso, vulnerveis explorao . J para Hart (2005), tratam-se de indivduos na sua maioria vivendo no mundo rural, pouco educados - mas no estpidos - os quais no conhecemos e aos quais as corporaes nunca prestaram muita ateno. Tradicionalmente, este segmento tem a expectativa de atendimento a suas necessidades orientadas para governos, ONGs e pequenas empresas locais, no que Hart chamou de uma espcie de diviso internacional do trabalho. Coerente com esta leitura de Hart, Karnani cobra uma maior participao do governo na soluo dos problemas da pobreza e alerta para o risco das empresas estarem chamando para si uma responsabilidade que seria dele.

Soma-se ao tamanho do mercado da base da pirmide o fato de que eles no esto saturados e muitas vezes no se trata de enfrentar outros competidores, mas o no consumo de um bem ou servio. Com relao a outros bens e servio, os pobres so consumidores. Suas necessidades vm sendo atendidas por pequenas empresas locais, na sua maioria informais, que cobram preos mais altos que os praticados pelas empresas tradicionais. Na regio de Belo Horizonte, por exemplo, o sobre preo de um mesmo produto (no caso, um sabo em p) nos supermercados que atendem o topo da pirmide e os pequenos armazns da periferia e das vilas e favelas chega a 50%. Chamado nos estudos do PNUD (Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento) de castigo da pobreza, este fenmeno se estende para outros produtos e servios e encontrado nos mais diversos pases1. Outro aspecto que sempre lembrado, que as maiores taxas demogrficas esto neste segmento de renda. uma constatao real, mas sob certo aspecto cruel, e seu uso gera polmica: Na maioria das vezes este crescimento se d em funo do desconhecimento ou falta de acesso aos meios de controle de natalidade e se configura mais como reproduo da pobreza do que a realizao de uma opo das pessoas. Inovao Antes mesmo da publicao do artigo e do livro A Fortuna na Base da Pirmide, o potencial das classes menos favorecidas como mercado potencial para o desenvolvimento de inovaes, tanto pelos desafios que traz quanto pela ausncia de respostas consolidadas, j era reconhecido, como por exemplo, por Christensen, , Craig e Hart (2001) no artigo The Great Disruption, publicado em 2001 e aprofundado por Christensen e Hart em novo artigo em 2002.A base da pirmide apresentada como locus privilegiado para o desenvolvimento de tecnologias disruptivas, consideradas por eles como uma possvel chave para o desenvolvimento econmico dos pases pobres. Assumindo que as tecnologias disruptivas dificilmente ocorrem em situaes de estabilidade e sucesso, eles consideram que tendo como foco novos clientes, em mercados pouco mensurveis e de margens baixas, o desafio criao de produtos e servios totalmente novos grande. O artigo de Christensen e Hart (2002), The Great Leap: Driving Innovation From the Base of the Pyramid, ressalta que na base da pirmide que esto os mais estimulantes mercados do futuro e que nele que as tecnologias necessrias para enfrentar os desafios sociais e ambientais associados ao crescimento econmico podem ser melhor desenvolvidas.1

O levantamento foi feito no dia 22 -03-2009, pelos autores, considerando os supermercados Verdemar e Supernosso (orientados a clientes de alta renda) e 3 armazns em reas de populao de baixa renda: Veneza, Padre Miguel e Morro do Papagaio. Foi considerado o preo do sabo Omo.

Um estudo mais recente (2008), de Ricart e Mutis, apresenta a base da pirmide como campo de experimentao, e um mercado onde aprender Neste contexto . desafiador (populaes no dimensionadas com rigor, pouco educadas, vivend em o reas rurais isoladas ou em aglomerados urbanos no regulares, no bancarizadas, sem acesso a servios bsicos, etc) fazer negcios exige inovaes radicais tanto em tecnologia quanto em modelos de negcio. Em outro artigo, Disruptive Innovation for Social Change, Christensen e outros trs autores (Heiner Baumann, Rudy Ruggles e Thomas M. Sadtler) apresentam, com base nas inovaes apresentadas como soluo para problemas sociais o conceito , de inovaes catalticas que se assemelham ao conceito de inovaes disruptivas, de Clayton Christensen. As inovaes catalticas vo alm do status quo, oferecendo solues boas o suficiente para problemas sociais anteriormente no solucionados ou aparentemente no solucionveis So catalticas no sentido de . que aceleram os processos usando a interao entre os atores. Os autores listam cinco caractersticas dessas inovaes: 1- Promovem uma mudana social quando aplicadas em larga escala. 2- Resolvem problemas que no recebem muita ateno, seja porque a possvel soluo parece complexa demais ou simplesmente porque no recebem ateno mesmo. 3- Oferecem produtos e servios mais simples e mais baratos que as alternativas existentes, que, apesar de oferecerem uma performance de nvel abaixo da soluo tradicional, so considerados suficientemente bons. 4- Geram recursos inicialmente no atraentes para os competidores, tais como doaes e mo-de-obra voluntria. 5- So geralmente ignoradas, menosprezadas ou, at mesmo, encorajadas por quem no se interessa por aquele mercado, por no consider lucrativo. -lo Hall e Vrendenburg (2003) sistematizam os estmulos inovao representados pela sustentabilidade e as vantagens competitivas decorrentes no quadro abaixo:

Quadro 2 Estmulos a inovao na base da pirmide Estmulo Inovao Foras de Mercado Polticas Pblicas

Oportunidade de vantagem competitiva

Explorar as necessidades dos consumidores. Por exemplo, criando novos produtos e servios ou adaptando produtos e servios j existentes. Risco de fracasso ou obsolescncia Por exemplo, tecnologia ou modelo de negcios no competitivos.

Explorar as necessidades da sociedade Por exemplo, criao e distribuio de riqueza, proteo ao meio ambiente, segurana energtica, desenvolvimento local, etc. Risco de caos social Por exemplo, as caus adas pela degradao ambiental e desigualdade de renda.

Fonte de disrupo competitiva

Hart e Milstein (2003) organizam as oportunidades de criao de valor sustentvel para o acionista e para a sociedade segundo dois eixos que expressam as tenses que desafiam a empresa. O primeiro eixo se posiciona entre administrar a empresa de hoje, o que significa gerar valor no curto prazo, e construir as oportunidades de amanh, o que significa foco no longo prazo. No outro eixo est a tenso entre as habilidades, capacidades e presses internas e as demandas, expectativas e presses externas. A sntese encontra-se no quadro abaixo: Figura 2 - Criando Valor Sustentvel - modelo de Hart

Os exemplos de inovao na base da pirmide so muitos e j existem exemplos concretos em todos os quadrantes acima. A maioria deles incorpora aspectos citados como relevantes na teoria da inovao disruptiva no seu processo de desenvolvimento. Entre eles, destaca-se a co-criao e a participao dos usurios no desenvolvimento de solues. Apesar da maioria dos autores reconhecerem que o topo e a base da pirmide requerem diferentes estratgias, esperam que as solues geradas na base contribuam para inovar as ofertas no topo, muito embora ainda no se tenha exemplos concretos e significativos desta trajetria. importante destacar que uma das barreiras para a inovao, neste segmento social, a baixa regulamentao, no que tange garantia propriedade intelectual. Alm do desconhecimento da potencialidade deste segmento social - e o conseqente baixo interesse empresarial por estas oportunidades apresentam-se, tambm, os demais entraves inovao, independentemente do escopo: averso ao risco, regulamentao frgil, cultura mal estabelecida, estratgia mal definida, alinhamento dos processos s estratgias organizacoinais, dentre outros.

1.2- Viso da Sustentabilidade Desigualdade e Caos social Este aspecto citado com algum cuidado, mas alguns autores so explcitos ao argumentar que a pobreza e desigualdade geram descontentamento, aumentando a propenso ao radicalismo, podendo chegar ao extremismo, o que pode levar a privao de direitos na base da pirmide a comprometer o modo de vida no topo (Prahalad e Hart- 2002). O impacto do 11 de setembro certamente influenciou esta colocao de forma mais contundente. Hart e Prahalad (2002) ressaltam que tirar as pessoas da pobreza e dar a elas a chance de uma vida melhor crtico para a estabilidade e sade da economia global e o sucesso continuado das empresas multinacionais. Direito a uma vida melhor A atuao das grandes empresas internacionais nos pases emergentes ou nos mais pobres nunca foi movida por este modo de raciocnio. Algumas chegaram com uma atitude que os autores Rodriguez, Sabri e Sanchez (2004) no temem em qualificar de depredadora. Estavam ali unicamente para extrair riquezas, sem preocupaes com os impactos sociais ou ambientais causados. Outras vieram em busca do mercado do topo da pirmide desses pases. Criaram subsidirias que implementavam os mesmos produtos, servios e modelos de negcios com os quais competiam em seus pases de origem ou nos pases ricos, suficientes para atrair como clientes a classe mais abastada e esperar de forma passiva que o desenvolvimento dos pases fosse promovendo o crescimento de uma classe mdia

interessada em seus produtos e servios.2 Um terceiro grupo transferiu para estes pases parte de suas operaes em busca da mo de obra barata e contextos menos regulamentados e restritivos da atividade empresarial (legislao trabalhista, ambiental, dentre outros). Embora estas abordagens empresariais tenham, geralmente, promovido gerao de emprego e melhores nveis de renda, no contriburam para satisfazer as necessidades da base da pirmide nem para gerar uma melhor distribuio da renda nos pases em que operavam. Por outro lado, a atuao das ONGs e organizaes multilaterais no foram ao longo das ltimas dcadas capazes de gerar um efeito decisivo na mudana do cenrio de pobreza e desigualdade. Essa constatao tem levado a uma convergncia entre empresas e ONGs e organismos multilaterais na esperana de que os negcios possam vir a desempenhar um papel relevante no combate pobreza. Parte -se, no do temor que a insatisfao na base possa comprometer a qualidade de vida no topo, mas do reconhecimento da necessidade de contribuir e assegurar uma vida digna para todos. O potencial do mercado deixa o lugar de objetivo para ser um argumento para convencer os gestores de que se trata de uma ao do tipo ganha -ganha viso constatada com freqncia nas prticas de diversos atores. Nos organismos multilaterais de financiamento podem ser citadas as iniciativas do PNUD, Desenvolvendo Mercados Inclusivos3 e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Oportunidades para a Maioria. O seu objetivo estimular o crescimento e aumentar a renda dos 360 milhes de pessoas na Amrica Latina e Caribe que esto na base da pirmide4. Para tanto promove e financia modelos de negcio do setor privado que desenvolvem e entregam produtos e servios de qualidade, criam empregos e capacitam os empreendedores de baixa renda a participar da economia formal Entre as empresas, o Grupo Nueva, antigo proprietrio da Amanco e hoje dono da Masisa, empresa que produz artefatos de madeira para a construo, se imps uma meta ambiciosa: que 10% de suas vendas totais no ano de 2010 devero vir de negcios com a base da pirmide e de negcios inclusivos. Este grupo tem uma peculiaridade. Seu fundador criou uma holding que rene o Grupo empresarial e duas organizaes sem fins lucrativos: a Fundao Avina, que apia lideranas para o desenvolvimento sustentvel na sociedade civil da Ibero Amrica ( ww.avina.org), w e Fundes, organizao que promove o melhor desempenho de pequenas e mdias empresas (www.fundes.org). Doou suas aes do Grupo Nueva e uma carteira de2 3

IESE- Universidade de Navarra Criando Valores para Todos: Estratgias para Fazer Negcios com os Pobres PNUD, New York, .

NY, 2008.4

http://www.iadb.org/topics/privatesector/om/index.cfm capturado em 20-03-2009

investimentos Vida Trust e definiu uma viso no mnimo original, j que no se expressa como um desejo, mas como o desafio de comprovar uma hiptese: Comprovar que a cooperao entre um grupo empresarial e uma fundao filantrpica origina uma sinergia entre os dois universos, gerando um impacto visvel no que diz respeito a um desenvolvimento mais sustentvel da sociedade, como tambm na rentabilidade dos negcios, e estabelecendo um novo modelo de 5 gerncia empresarial orientada rumo ao triplo xito (triple bottom line) . Meio Ambiente e modo de vida Entre todos os atores comprometidos seja com a fortuna na base da pirmide, seja com os negcios inclusivos, h consenso de que a extenso do modo de vida e de consumo dos pases ricos a toda a populao da base da pirmide geraria um colapso ambiental. Especialmente nos ltimos 50 anos, a indstria se dedicou a produtos intensivos no uso de recursos naturais e energia e contribuiu significativamente para a poluio do planeta. Os Estados Unidos, com apenas 4% da populao mundial, consome cerca de 25% da energia, o que por si s demonstra a impossibilidade de reproduo de seu padro de consumo. O conceito de pegada ecolgica, criado no incio da dcada de 90 pelos especialistas William Rees e Mathis Wackernagel6 permite , medir o impacto gerado sobre o meio ambiente por pases e comunidades alm de alertar, de forma categrica, para os riscos da reproduo do modo de vida dos pases ricos. Fica ento reforada a oportunidade e necessidade da inovao, com foco na gerao de modelos de negcio inclusivos para atender ao aspecto social, e novas tecnologias para reduzir a poluio e o consumo de recursos naturais. Por isso preocupante a notcia de que o Nano - veculo produzido pela Tata Motors para ser o mais barato do mundo e custa, na ndia menos de 1500 euros - agrava em cerca de quatro vezes o seu preo na Europa como fruto da imposio de equipamentos obrigatrios na Unio Europia, principalmente em termos de segurana e de ambiente. Em setembro de 2009 vai entrar em vigor o pacote 'Euro 5', que limita as emisses (para um automvel ligeiro a gasolina, por exemplo) a 1000 miligramas de monxido de carbono por quilometro (mg/km). Tornando acessvel um veculo automotor a quase 200 milhes de indianos de menor poder aquisitivo, com emisses superiores quelas regulamentadas em diversos pases, embora obedecendo a atual legislao indiana, a Tata Motors pode estar gerando um grande problema ambiental.

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http://www.vivatrust.com capturado em 23-03-2009. Autores do livro Pegada Ecolgica reduzindo o impacto do ser humano na Terra

2- DESAFIOS PARA ATUAR NA BASE DA PIRMIDE Os estudos so prdigos na identificao de barreiras e desafios para a atuao das empresas na base da pirmide. Sero apresentados aqui os mais freqentemente citados, aqueles sobre os quais h algum grau de consenso. 2.1- Internos Medo de mudana Dirigir o foco para a base da pirmide representa uma mudana etambm desperta os mesmos sentimentos de insegurana, desconfiana e temor. Os riscos de insucesso existem, e no so poucos. A nica maneira de minimiz -los enfrentlos e desenvolver o trabalho com os cuidados necessrios. Um dos medos mais encontrados e um dos mais difceis de ser superado o medo do impacto do novo negcio sobre tudo que j foi conquistado pela empresa. Medo de que os novos produtos, com margens mais baixas, canibalizem os produtos mais rentveis e medo de que a entrada no mercado dos mais pobres comprometa o posicionamento da marca junto aos mais ricos, menosprezando oportunidades no apenas do ponto de vista da cidadania empresarial, mas comercial.. a convico de esta a coisa certa a ser feita, tanto do ponto de vista comercial quanto de cidadania empresarial que vai permitir sua superao. Necessidade de novas mtricas De uma forma geral, os ganhos na base da pirmide no vm das margens, mas do volume. Por isso, as mtricas tradicionais s vezes no so adequadas para reconhecer e avaliar o desempenho de projetos e de pessoas. Alm disso, tanto os custos quanto os benefcios esperados vo alm do econmico, afetando aspectos sociais e ambientais, tornando necessrio o desenvolvimento de indicadores adequados para sua avaliao. Novo perfil da liderana Alm dos atributos da liderana tradicional, outros se tornam necessrios para uma atuao na base da pirmide. Hart e Prahala sinalizam alguns: tolerncia d ambigidade, compreenso das sutilezas do desenvolvimento sustentvel no contexto da base da pirmide, habilidades interpessoais e interculturais para trabalhar com um leque amplo e diverso de pessoas e organizaes.

2.2- Externos Desconhecimento do mercado, do cliente e das estruturas sociais Esta uma das maiores e mais complexas barreiras que a empresa tem que superar se quiser fazer negcios na base da pirmide.

A maioria das grandes empresas multinacionais tem sua origem nos Estados Unidos e Japo, seguidos de outros pases igualmente desenvolvidos. Os Eexecutivos, tanto das sedes quanto das subsidiarias, esto condicionados, seja por origem, seja pelo processo de profissionalizao, a pensar no topo da pirmi e. Este processo d gera uma srie de preconceitos e pressupostos, desconsiderando a potencialidade associada s classes mais baixas., que comeam do ponto de vista do indivduo, que com freqncia no manifesta uma viso das potencialidades dos mais pobres . Eles so vistos pelo que no so e pelo que no tm: sem teto, descamisados, sem terra, sem educao. Depois se estende empresa, para quem os pobres so, na maioria das vezes, mquinas de sobreviver, sem desejos e sonhos, prisioneiros das necessidades imediatas. preciso, como assinalam Prahalad e Hart, imaginao e criatividade para ver mercado onde se v pobreza e desorganizao . Mas no so apenas os aspectos qualitativos que no so devidamente conhecidos. Mesmo aspectos mais simples, como o tamanho do mercado, so difceis de ser encontrados e, muitas vezes, diferentes fontes informam dados conflitantes, gerando a necessidade das empresas de investirem na sistematizao das experincias, com o intuito de gerar e disseminar conhecimento. . Isto tem gerado entre as empresas a necessidade de se ter uma preocupao e um investimento na sistematizao das experincias, com o objetivo de construir e disseminar conhecimento. Ambiente de negcios irregular e com marcos regulatrios frgeis Grande parte da populao da base da pirmide atua no setor informal da economia, que tambm o responsvel pelo atendimento de grande parte de suas necessidades. Economistas afirmam que nem sempre a arrecadao estatal diretamente proporcional aos tributos cobrados, na medida em que impostos altos, em proporo da renda, tendem a promover o mercado informal. importante destacar, contudo, que as razes da informalidade no se encontram, apenas, na sonegao fiscal, motivada pelos altos impostos, mas, tambm, pela burocratizao demandada para a insero no mercado formal. Estima-se que este setor seja, em alguns dos pases emergentes e em desenvolvimento, do mesmo tamanho ou at maior que o setor formal da economia. Para o desenvolvimento do mercado da base da pirmide necessrio, portanto, que as empresas criem pontes entre o setor formal e o informal e que os governos criem mecanismos para favorecer a maior formalizao da economia. Um desafio significativo diz respeito cultura criada por esta p resena forte da informalidade. Neste contexto as relaes so regidas por contratos sociais mais que por contratos legais formais, que so de difcil execuo. Por outro lado, h grande respeito aos compromissos assumidos com seus grupos e a presso de seus pares (NO ENTENDI MUITO BEM), o que tem orientado muitas operaes de microcrdito que se baseiam em um atendimento coletivo, em pequenos grupos.

Falta de infraestrutura Uma das caractersticas da base da pirmide que no se trata propriamente de um mercado pronto a ser conquistado, mas a ser construdo. A falta de infraestrutura outro dificultador empecilho para a criao de um mercado na base da pirmide, principalmente no que diz respeito logstica de distribuio. Perfil do cliente Um dos desafios para a atuao das empresas a comunicao e informao em um contexto cultural em que a palavra escrita no valorizada. Assim, comunicados, folhetos, manuais e outras peas podem no surtir o efeito desejado , simplesmente porque no foram sequer lidas. Considerar que muitas vezes o uso dos produtos e servios ofertados exige uma mudana de hbitos pode ser decisivo para a atuao e a venda de produtos. o caso Um exemplo sempre lembrado o, por exemplo, da Unilever, que precisou investir na educao das pessoas com relao ao hbito de lavar as mos com maior freqncia - por razes de sade pblica, mas, tambm, para que o mercado para seus produtos de higiene tomasse corpo. Percepo das empresas quanto aos Desafios Em um encontro das empresas que compem o Centro de Referncia de Inovao da FDC foi proposto aos executivos presentes que classificassem os desafios apresentados em uma lista segundo sua relevncia. O desafio sobre o qual houve maior consenso foi que este no um mercado j existente, mas a ser criado, o que exige o desenvolvimento do negcio segundo uma lgica totalmente nova. O segundo desafio mais citado foi a falta de experincia nas empresas, no que tange a articulao para a formao de alianas e parcerias, que a ajudariam a conhecer melhormais o consumidor da base da pirmide, alm de e a criar e operar um modelo de negcio adequado ao seu perfil. O resultado integral do levantamento encontra-se no Anexo 1. 3- ESTRATGIAS PARA ATUAR NA BASE DA PIRMIDE Entre as estratgias presentes nos artigos e casos estudados, duas tm mais destaque: a necessidade de alianas amplas e diversas e a co -criao de inovaes. Alm destas duas, de se destacar que os projetos exitosos comeam com uma base fortemente local e s em uma segunda etapa so disseminados ou ampliados. Outro aspecto que chama a ateno como condio de viabilidade e sucesso a criao de capacidades locais. H uma grande convergncia entre os estudos na indicao destas estratgias, mas h grande disperso quando se verifica a forma como elas foram implementadas., que se constitui em novos fatores de sucesso. Nos estudos analisados verifica-se

que no suficiente a adoo de uma delas, o seu conjunto que vai contribuir para criar as condies de sucesso. 3.1- Alianas amplas e diversas Diversas mudanas e tendncias na sociedade esto criando um ambiente favorvel para um novo tipo de alianas intersetoriais. Para fazer negcios na base da pirmide, desenvolver estas parcerias crucial. Esta a estratgia sobre a qual h maior convergncia. Entre os atores com quem a empresa deve buscar construir parcerias esto os governos, empresas e comunidades locais. As ONGs com atuao local tambm so parceiras importantes pelo conhecimento que tm da realidade, compromisso social, podendo complementar a viso da empresa . Figura 27- Estratgias para criar negcios inclusivos

De uma forma geral, coloca-se uma grande expectativa sobre estas parcerias. Espera-se que as ONGs vo permitir o aprendizado, possibilitando s empresas entender as condies nas quais pode m atender o mercado da base da pirmide de forma lucrativa. Vo tambm oferecer novas percepes para avaliar o impacto dos negcios no ambiente local. Atravs das parcerias, as empresas buscam fortalecer a legitimidade e favorecer a criao de relaes de confiana com as reas onde pretendem atuar, alm de criar uma base para a entrada em novos mercados.7

Extrado da a presentao Strategies for Doing Inclusive Business , de Andreas Grimberg, do

Grupo Nueva/Amanco. Apresentao feita em evento no BNDES, no Rio de Janeiro, em 07 -11-2006, .sem autorizao do autor.

Com o tempo, o papel destas ONGs tem mudado. Elas deixam de ser mediadoras nas interaes da empresa com as comunidades para serem facilitadoras de uma relao mais prxima e direta da empresa com seus parceiros. notria a importncia das parcerias com as entidades governamentais, na medida em que podem prover as infra-estruturas necessrias, em conjunto com as empresas beneficiadas. Desta forma, h um fortalecimento e maior integrao das polticas pblicas, contribuindo para o sucesso das iniciativas empresariais. A aliana com os governos locais tem tido, como principal foco, o compartilhamento dos investimentos na infra-estrutura de suporte para as operaes, alm da integrao com polticas pblicas que possam se fortalecer ao mesmo tempo em , que contribuem para o sucesso da iniciativa. 3.2- Inovao e co-criao No BoP Learning Laboratory (BoP-LL)8 vm sendo realizadas pesquisas sobre o mercado da base da pirmide desde 2000. Em 2005, foi lanado o Protocolo BoP, no qual se props uma metodologia e um conjunto de recomendaes para as empresas interessadas em fazer negcios na Base da Pirmide. Em 2008 foi publicada uma reviso do modelo, o Protocolo BoP.2.0. Esta mudana reflete a um aprofundamento das prticas que marca a passagem da primeira segunda gerao de estratgias, pautadasconsolidadas no quadro abaixo: Quadro 3 Protocolos BoP 1.0 e BoP 2.0 BoP 1.0 Pobres como consumidores Escuta profunda Reduo de preos Redesenhar embalagens e processo de distribuio Relaes mediadas por ONGs ou outros parceiros Vender para os Pobres BoP 2.0 Pobres como parceiros de negcios Dilogo Profundo Expanso da imaginao- Inovao Integrar capacidades e construir compromissos Relaes pessoais, diretas e facilitadas por ONGs Co-criar negcios

A passagem da primeira para a segunda gerao marca a mudana de uma atitude mais adaptativa, para uma situao onde a inovao participativa - a locomotiva da atuao da empresa. Enquanto no primeiro momento muitas empresas utiliza ram a reduo de custos de embalagem e a reduo de volume de produtos (sachets) para adequar o preo s possibilidades do consumidor, no segundo momento se a aposta na em co-criao de negcios, o que significa inovar em produtos, servios,8

O BoP Learning Laboratory (BoP-LL) est hoje vinculado ao Center for Sustainable Global

Enterprise da Johnson School of Management , na Cornell University. co -dirigido por Stuart Hart, Erik Simanis, Gordon Enk e Duncan Duke. http://www.bop-protocol.org/index.html

modelos de negcio e tticas de implementao. Eles seriam frutos, portanto, de uma interao e um comprometimento profundo da empresa com o mercado. Do um estudo desenvolvido pelo PNUD, Criando Valores para Todos: estratgias para fazer negcios com os pobres, Krmer e Belz(2008) selecionaram 10 inovaes mais significativas, e que contaram com a participao dos consumidores no seu desenvolvimento. Analisando os casos selecionados, concluram que em todos eles as inovaes foram cruciais para a entrada no mercado da base da pirmide.

Entre as inovaes de parceria destacam-se aquelas que visavam superar as barreiras de distribuio e comunicao, decorrentes da falta ou insuficincia de infra-estrutura. Como pode ser visto no grfico abaixo, cada projeto trouxe mais de uma inova o, de diferentes naturezas. A mdia foi de 3,1 inovaes por projeto. Figura 3 Natureza das inovaes para a base da pirmide

Nmero de Inovaes12 10

8 6 4 20 Inovaes nos Processos Inovaes nos Produtos Inovaes de Posicionamento Inovaes nas Parcerias

A co-criao implica na criao de solues locais, pelo menos no primeiro momento. A transposio para outros contextos acontece como parte da evoluo do negcio e aps verificao da adequao. Este processo, que vem sendo fator de sucesso na base da pirmide, contraria de certa forma o modelo de gesto corrente nas grandes empresas, que privilegia a economia de escala e o controle centralizado nas sedes. O modelo de base fortemente local, desenvolvida inicialmente em pequena escala e atravs de iniciativas descentralizadas. A viabilizao das solues se baseia, na maioria das vezes, em uma combinao de operaes comerciais e sem fins lucrativos, articulando benefcios econmicos, sociais e ambientais para a empresa e a sociedade. Esta opo pela inovao e co-criao implica no desenvolvimento das capacidades locais e envolve aes complementares no seu desenvolvimento, com investimentos

na criao e aprimoramento das condies de interao e participao. Tambm necessrio o aumento da capacidade de acesso a crdito, como condio de investimentos que muitas vezes vo viabilizar a insero produtiva dos consumidores locais na esfera produtiva - como fornecedores ou parceiros na comercializao e distribuio. Por isso, muitas vezes so articuladas iniciativas de micro crdito. Alm da co-criao e das alianas, o desconhecimento do mercado tem sido superado com a contratao de profissionais oriundos das reas a serem atendidas. Um exemplo de aproveitamento desta oportunidade a experincia da Nest, que l inovando os processos de embalagem e distribuio conseguiu oferecer seus produtos a preos mais baixos para este mercado com o apoio e participao de , moradores das comunidades.

Estudo de caso da Nestl No final de 2004 foi criada uma rea corporativa na Nestl, denominada atualmente , de Diretoria de Inovao, que desenvolveu os primeiros projetos voltados base da pirmide. At ento, a Nestl, que orientava seu modelo de negcios, majoritariamente, para as classes A e B, no possua conhecimento e estrutura adequados a este mercado. A deciso foi buscar uma ONG parceira, o Instituto Fernand Braudel, associado FAAP, para ajud-la no entendimento do mercado e na estruturao de um projeto para atend-lo..A diretoria, consciente da importncia de iniciar um projeto para baixa renda, criou um time multifuncional, com diversos setores corporativos, com o intuito de compreender as lgicas e sistemas peculiares a cada comunidade perifrica. A empresa realizou reunies com o

Instituto, com intuito de compartilar experincias sobre esta rea, compartilhando a experincia que tinha na rea at que, em uma reunio entre os diretores e presidentes,.decidiram contratar, atravs do prprio Instituto, pesquisadores habitantes das prprias moradores de comunidades perifricas - para apoiar o trabalho e a pesquisa. Ao trazer estes pesquisadores conseguiu um contato maior com a sua experincia de vida e com o pblico do novo projeto. A diretoria, consciente da importncia e especificidade de se iniciar um projeto para baixa renda, criou um time multifuncional, com diversos setores corporativos, com o intuito de compreender as lgicas e sistemas peculiares a cada comunidade perifrica. Essas pessoas foram levadas para diversas comunidades, e ntrando em contato direto com uma realidade muito distinta das que estavam acostumados. Em paralelo,

foi conduzida, pelos por pesquisadores contratados, uma pesquisa qualitativa emnas sua prpria comunidades onde viviam. Esses pesquisadores foram ,treinados pelo Instituto, montavam grupos que visitavam em casas indicadas por eles, onde. C conversavam por duas ou trs horas, sem mencionar a Nestl. Visitaram tambm, , os mercados e comrcios locais, com o intuito de conversar e conhecer oscom os empreendedores do bairro. Alm do aprendizado obtido nas comunidades, promoveram uma busca de maior conhecimento e informaes organizacionais, em vista das demais experincias da Nestl; o que poderia ser melhorado e quais experincias tinham sido feita atravs s, da analise das prticas de outras organizaes. Dessa forma, seria possvel entender quais so as oportunidades deste mercado, criar uma estratgia condizente com a estrutura da Nestl e conceber quais produtos seriam eventualmente desenvolvidos para atender esse consumidor. A partir deste processo de obteno de conhecimento, foi possvel iniciar a criao do modelo de negcios. A Nestl desenhou um modelo totalmente diferente daquele que j utilizava. Buscou um modelo que fosse factvel, no dispendioso, orientado para o mdio/longo prazo e que levasse em consideraoconsiderasse as necessidades e peculiaridades do mercado e a estrutura da Nestl A empresa percebeu a existncia, nas comunidades perifricas, de uma valorizao da marca Nestl e o reconhecimento da qualidade de seus produtos. Por mais pobre que fosse a comunidade, havia sempre o Leite Moa, o Ninho e o Nescau. Entendeu que o pblico alvo no queria um produto diferenciado e mais barato, mas os mesmos produtos voltados, primordialmente, para as classes A e B. Muitos produtos Nestl j eram vendidos nesses locais, porm o que acontecia era que os pequenos comerciantes da regio tinham adquiriam seus produtos nos grandes supermercados, para repassar populao local, embora por preo mais elevados. s Trata-se, portanto, de uma inovao para a base da pirmide onde no houve um modelo formal, devido inexistncia de um processo de desenvolvimento de produtos especiais para esse pblico. O que mudou, portanto, foi a estratgia: levar os mesmos produtos de forma barata e eficaz, para as reas perifricas. A empresa analisou a possibilidade de alocar micro- distribuidores da Nestl, prximos a esses bairros, e definiu que estes deveriam sermorar dna mesma localidade onde iriam atuar. Um micro--distribuidor da regio seria mais conhecido dentro da comunidade, mais adaptado s especificidades do bairro, e mais indicado a recrutar revendedoras. Estes micro-distribuidores recebiamDessa forma, eles recebiam os produtos da Nestl , distribuindo-os nas regies a ele designadas, atravs de revendedoras por ele recrutados e treinados pela prpria Nestl. As revendedoras deveriam atuar no bairro onde vivem, vendendo os produtos para as pessoas da vizinhana com carrinhos de produtos Nestl. Estas revendedoras conhecem, dessa forma, a restrio oramentria dos seus clientes, as vantagens e

peculiaridades dos produtos que esto ofertando, alm de estabelecerem uma relao de fidelizao com os consumidores. importante destacar que este projeto est alinhado com a estratgia da Nestl de Criao de Valor Compartilhado, visando a promoo de atividades econmicas sustentveis. Alm de disponibilizar seus produtos para as comunidades perifricas, o faz de forma a fomentar as transaes comerciais e o desenvolvimento scioeconmico local, na medida em que recruta distribuidores da prpria comunidade, que, por sua vez, tambm recrutam revendedoras na regio. . As revendedoras trabalham com horrios flexveis, sem qualquer rigidez diante s metas, embora tenham incentivos caso consigam aumentar suas vendas. Foram montados kits de produtos Nestl; alguns deles com preos mais acessveis. Os moradores dos bairros perifricos recebiam, em casa estes kits que vinham, geralmente, acompanhados de algum brinde (como, por exemplo, panos de prato, potes de plstico e livros de receita). Dessa forma, os clientes possuem uma condio especial, pois, alm de receberem os produtos em casa, podem pagar em vrias parcelas, contando com a confiana da revendedora. Esta, por sua vez, revendedora repassa o resultado das vendas para os micro-distribuidores que, por sua vez, encaminham-no para a Nestl. Trata-se, portanto, de um sistema altamente baseado na confiana entre os consumidores e revendedoras, que jamais poderia ser estabelecido sem uma relao de proximidade entre as partes. importante destacar que este sistema extremamente bem-sucedido, apresentando baixas taxas de inadimplncia. A comunidade piloto foi Guaianazes e, em poucos meses, j havia, aproximadamente, dez micro distribuidores em So Paulo e um no Rio de Janeiro. importante destacar, tambm, que, a partir da implementao do projeto nas primeiras comunidades, houve uma necessidade natural de adaptao e mudana no processo de distribuio, dada a necessidade de fornecer produtos para os micro- distribuidores em um prazo reduzido. Por se tratar de um negcio com amplos impactos sociais, as mtricas da inovao incluem, dentre outras, o nmero de pessoas envolvidas desde aquelas que planejaram, desenharam o plano de negcios, aos vendedores e micro distribuidores , a quantidade de venda e os ndices de crescimento. Os resultados, desde ento, tm se mostrado positivos e expressivos, influenciando, dessa forma, a deciso da matriz sua de transform-la em plataforma mundial, em um dos pilares da estratgia global da empresa.

Perspectivas As perspectivas quanto s inovaes sustentveis orientadas para a base da pirmide tm no trabalho de Muhammad Yunus um novo para digma.

Seu trabalho instaurou um novo conceito primeiramente no prmio que conquistou. Tradicionalmente o Prmio Nobel da Paz foi dado queles que conseguiam evitar ou negociar o fim de uma guerra, que tinham uma militncia contra ela ou contribuam para minimizar os danos s populaes em situao de guerra. Ao conced a -lo Yunus a Academia Sueca reconheceu que o combate pobreza e misria uma condio para a construo de uma paz duradoura. Outro paradigma quebrado a separao e, at certo ponto contradio em que se , colocam as empresas e as organizaes sem fins lucrativos. Yunus prope um novo tipo de organizao, que ele chama de empresa social que tanto pode ser visto , como uma evoluo de ONGs de atendimento pobreza quanto como a evoluo da ao social das empresas. A empresa social de Yunus , ao mesmo tempo uma , organizao social sem fins lucrativos e uma empresa orientada para o atendimento e superao da pobreza. Ela definida por algumas caractersticas centrais: y y y Uma empresa social movida por uma causa, em vez de ser impulsionada pelo lucro. Tal como outras empresas ela emprega funcionrios, cria bens e servios, mas fornece-os aos clientes a um preo compatvel com seu propsito. A empresa social tem proprietrios com o direito de recuperar seus investimentos. O investidor deve recuperar seu investimento, segundo um plano elaborado no incio do projeto, e continua sendo o dono da empresa. Ele decide a linha a linha de atuao da empresa e seus projetos futuros. A empresa, propriamente dita, pode obter lucro, que compensar os investiimentos e ser repassado para compensar o investimento e para ser repassado aos clientes sob a forma de novos produtos e servios, melhor acessibilidade ou outra maneira que gere benefcios para eles. M os as investidores que a bancam no retiram lucros da empresa, exceto a quantia equivalente recuperao do investimento. A empresa social no uma instituio de caridade. Ela tem de recuperar todas as suas despesas e, ao mesmo tempo, alcanar seus objetivos sociais. A empresa social vai competir nos mesmo mercados das empresas com fins lucrativos e, tambm, entre com outras empresas sociais, na busca de investidores. O critrio pelo qual deve ser avaliada o benefcio que cria para as pessoas cuja vida ela afeta. O que significa, pela eficincia no uso de seus recursos.

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Para Yunus impossvel pensar em um tipo hbrido de empresa, que alie a empresa tradicional e a empresa social, mas nem todos desistiram desta idia. Existem algumas instituies parceiras parcerias ao entre o Grupo Grammen que j esto implementadas. A primeira delas foi uma fbrica de iogurtes nutritivos em Bangladesh, com a Danone.

Em dezembro de 2009, Yunus anunciou mais uma Empresa Social em parceria com uma empresa multinacional, desta vez, com a BASF, a maior empresa qumica do mundo. A joint-venture BASF Grameen Ltd. tem o objetivo de melhorar a sade e oportunidades de negcios das populaes desfavorecidas do Bangladesh A BASF . Grameen Ltd. comercializar dois produtos do portflio da BASF: compleme nto alimentar contendo vitaminas e micro nutrientes vendido em sachets e redes mosquiteiras que oferecem proteo contra doenas transmitidas por insetos. Sob o conceito de Empresa Social, a BASF Grameen dever cobrir seus custos e possibilitar a recuperao do capital inicial investido. Nas alternativas at agora implementadas pelas empresas, e estudadas nos textos citados anteriormente, a parceria entre empresas e organizaes sociais n o alterava na essncia a identidade das duas organizaes. Na proposta se Yunus surge um tipo novo que no pode ser identificado nem com a empresa nem como uma ONG pura. Na empresa social h uma ntida diferena de conceito. Ainda sendo vista como uma evoluo mais do investimento social privado que da prtica de negcios, ela pode trazer novas aprendizagens que contribuam para o nascimento de um novo tipo de organizao orientado para a atuao no mercado da base da pirmide, A at agora, o mercado da base da pirmide era visto como um terreno desatendido, ainda que o fosse por pequenas (ou grandes) empresas orientadas para ele. Os produtos de baixa qualidade e com pouco uso de tecnologias mais modernas o colocam de fato como um oceano azul, para usar o conceito de W. Chan Kim e Rene Mauborgne: . Uum oceano desconhecido, com algumas ondas e um regime de mars diferente, mas ainda azul. Pode ser que, no futuro, um ator novo, a empresa Social esteja competindo por ele, em bases que podem dificultar a sua conquista e consolidao. 4- CONCLUSO A inovao visando a atuao no mercado da base da pirmide traz grandes desafios, mas absolutamente necessria para as empresas e para a sociedade. Para as empresas, porque representa oportunidades para os negcios e para contribuir com o desenvolvimento social de maneira mais efetiva e profunda. Para a sociedade, porque a magnitude das desigualdades sociais e a complexidade das questes ambientais exigem capacidade de articulao empresarial, e desenvolvimento de conhecimento, terreno em que as empresas podem contribuir, permitindo que no se fique na dependncia apenas dos governos e das organizaes voluntrias. Mas para isso necessria uma mudana cultural nas empresas. O grupo do BoP Learning Laboratory prope alguns Princpios Operacionais que podem representar um bom comeo para uma reflexo e um projeto.

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Suspenda a Descrena - ter disponibilidade para admitir o prprio desconhecimento. Coloque os ltimos em Primeiro Lugar - procurar as vozes raramente ouvidas. Demonstre respeito e humildade - todas as partes tm algo importante para contribuir. . Aceite e respeite opinies divergentes - no h apenas uma boa soluo. Reconhea os aspectos positivos - pessoas que sobrevivem com 1 dlar por dia devem estar fazendo algo certo. Co-desenvolva solues - a aprendizagem mtua entre as multinacionais, parceiros e pessoas da base da pirmide. Criar valor para todos - todas as partes devem se beneficiar em aspectos importantes para cada um deles. Comece pequeno - comear com pequenos projetos-piloto e com estrutura modular. Tenha pacincia - leva tempo para desenvolver o ecossistema e conquistar a confiana antes que o negcio decole.

ANEXO 1+ relevante Pirmide de Priorizao 2a 1 Falta de organizao das comunidades pobres que geram ambientes pouco seguros para os negcios Desinteresse das empresas que ganham mais dinheiro fazendo negcios com as camadas mdia e alta* Ausncia de Crdito * Modelo de Negcios* Ausncia de um ambiente regulatrio adequado No se trata de produzir para um mercado existente, mas de criar uma lgica totalmente nova para criar este mercado . Produtos inadequados s expectativas e habilidades das camadas mais pobres Dificuldade na obteno de informaes confiveis tanto sobre o tamanho deste mercado quanto sobre reais necessidades e desejos desta fatia da populao Desconhecimento das competncias que possam ser potencializadas em experincias de co-produo com os pobres Falta de experincia nas empresas na articulao para a formao de alianas e parcerias Variao e vulnerabilidade da renda mensal 2 2b Mdia relevncia 3a 3b 3c 6a 6b 7 - relevante

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