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INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO DA RESISTÊNCIA ÀS DROGAS USADAS NO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE NO BRASIL 1995-97 - IERDTB PARTE I: ASPECTOS METODOLÓGICOS José Ueleres Braga 1 , Angela M. W. Barreto 2 e Miguel Aiub Hijjar 2 Resumo Este é o primeiro de três artigos sobre o Inquérito epidemiológico da resistência às drogas usadas no tratamento da tuberculose no Brasil – IERDTB - que foi conduzido entre 1995 e 1997. Nessa primeira publicação da série, estão apresentados os aspectos metodológicos mais importantes desta pesquisa que é reconhecida por sua importância no programa de investigação da tuberculose no nosso país. Esta pesquisa, depois de divulgada por diversos meios e para diferentes platéias seu planejamento, sua metodologia, seu desenvolvimento - seus resultados são agora apresentados de modo sistemático, para que uma clientela que, até agora, a ela não teve acesso, passe a conhecê-la. Os detalhes do planejamento desta pesquisa, incluindo a apresentação das opções metodológicas, são apresentados pela publicação na íntegra do protocolo de pesquisa, para que, em seguida, outros dois artigos sejam publicados. O primeiro, sobre a validação e confiabilidade das medidas realizadas neste estudo, e o segundo, com a descrição dos resultados, sua discussão e as principais conclusões desta investigação. Espera-se com esta trilogia completar o ciclo de divulgação desta investigação que teve início nas discussões com técnicos da Organização Mundial de Saúde, das Secretarias Estaduais de Saúde e dos Laboratório de Saúde Pública do Brasil. Palavras-chave: Tuberculose, resistência às drogas, métodos epidemiológicos Summary This is the first of three papers about the National Survey on Tubercukosis Drug Resistance (1995-97) in Brazil (IERDTB). This paper presents the main methodological aspects involved in the survey, which is considered very important for the study of tuberculosis in Brazil. Although the results of this study have already been divulgated through different systems for different groups, they are shown here on a systematic way for those who weren´t aware of them. The authors present the details of the planning step of the survey, including the methodological options that were analized. Next paper will discuss the validation and reliability of the data presented, The last one will focus on the results, presenting the main conclusions of the study. The authors expect that this trilogy ends the initial discussion with representants from World Health Organization, State Health Secretaries and brazilian Public Health laboratories. Key words:Tuberculosis, drug resistance, methods epidemiologic 1- Centro de Referência Prof. Hélio Fraga. FUNASA/MS e Universidade do Estado do Rio de Janeiro. UERJ; 2- Centro de Referência Prof. Hélio Fraga. FUNASA/MS - Endereço para correspondência: Estrada de Curicica, 2000 Jacarepaguá, Rio de Janeiro, RJ Cep: 22710-550 Protocolo de pesquisa

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INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO DA RESISTÊNCIA ÀS DROGASUSADAS NO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE

NO BRASIL 1995-97 - IERDTB PARTE I: ASPECTOS METODOLÓGICOS

José Ueleres Braga1, Angela M. W. Barreto2 e Miguel Aiub Hijjar2

Resumo

Este é o primeiro de três artigos sobre o Inquérito epidemiológico da resistência às drogas usadas no tratamento datuberculose no Brasil – IERDTB - que foi conduzido entre 1995 e 1997. Nessa primeira publicação da série, estãoapresentados os aspectos metodológicos mais importantes desta pesquisa que é reconhecida por sua importância noprograma de investigação da tuberculose no nosso país.Esta pesquisa, depois de divulgada por diversos meios e para diferentes platéias seu planejamento, sua metodologia,seu desenvolvimento - seus resultados são agora apresentados de modo sistemático, para que uma clientela que, atéagora, a ela não teve acesso, passe a conhecê-la.Os detalhes do planejamento desta pesquisa, incluindo a apresentação das opções metodológicas, são apresentadospela publicação na íntegra do protocolo de pesquisa, para que, em seguida, outros dois artigos sejam publicados. Oprimeiro, sobre a validação e confiabilidade das medidas realizadas neste estudo, e o segundo, com a descrição dosresultados, sua discussão e as principais conclusões desta investigação.Espera-se com esta trilogia completar o ciclo de divulgação desta investigação que teve início nas discussões comtécnicos da Organização Mundial de Saúde, das Secretarias Estaduais de Saúde e dos Laboratório de Saúde Públicado Brasil.

Palavras-chave: Tuberculose, resistência às drogas, métodos epidemiológicos

Summary

This is the first of three papers about the National Survey on Tubercukosis Drug Resistance (1995-97) in Brazil(IERDTB). This paper presents the main methodological aspects involved in the survey, which is considered veryimportant for the study of tuberculosis in Brazil. Although the results of this study have already been divulgatedthrough different systems for different groups, they are shown here on a systematic way for those who weren´t awareof them. The authors present the details of the planning step of the survey, including the methodological options thatwere analized. Next paper will discuss the validation and reliability of the data presented, The last one will focus onthe results, presenting the main conclusions of the study.The authors expect that this trilogy ends the initial discussion with representants from World Health Organization,State Health Secretaries and brazilian Public Health laboratories.

Key words:Tuberculosis, drug resistance, methods epidemiologic

1- Centro de Referência Prof. Hélio Fraga. FUNASA/MS e Universidade do Estado do Rio de Janeiro. UERJ; 2- Centro de Referência Prof. Hélio Fraga.

FUNASA/MS - Endereço para correspondência: Estrada de Curicica, 2000 Jacarepaguá, Rio de Janeiro, RJ Cep: 22710-550

Protocolo de pesquisa

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Boletim de Pneumologia Sanitária - Vol. 10, Nº 1 - jan/jun - 2002

1. Estimar a prevalência da resistência às dro-gas em M. tuberculosis isolados de pacientes admitidospara tratamento de tuberculose pulmonar bacilífera noBrasil em 1995;

2. Estimar a prevalência da resistência do M.tuberculosis às drogas usadas para o tratamento da tu-berculose nos seguintes sub-grupos: (a) pacientes semtratamento especifico prévio, (b) pacientes que tiveramtratamento especifico prévio e, (c) pacientes assistidosnas unidades de saúde em cada uma das cinco regiõesfisiográficas brasileiras: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul eCentro-Oeste.

3. ldentificar possíveis associações entre a re-sistência bacteriana às drogas e as seguintes característi-cas epidemiológicas dos pacientes: (a) idade ao diagnós-tico, (b) sexo, (c) região geográfica de procedência e, (d)tratamento específico anterior com a droga que apresen-tar resistência.

Desenho do estudo

Será conduzido um estudo transversal (survey) en-volvendo um subconjunto, isto é, uma amostra dos paci-entes com tuberculose pulmonar bacilífera inscritos noprograma de controle da tuberculose no Brasil em 1995.Variáveis e características de interesse serão observadase mensuradas para cada individuo participante do estu-do. Estas mensurações serão agregadas para todos osindivíduos da amostra para a obtenção de uma estatísti-ca sumária (proporção de casos de M. tuberculosis re-sistente às drogas em estudo) para a amostra. É a partirdesta estatística sumária que extrapolações são feitas arespeito da população inteira (população-alvo). A vali-dade e a confiabilidade destas extrapolações dependemde “quão bem” a amostra é selecionada e de “quão bem”as mensurações são feitas(8) .

Por isto, discute-se a seguir cinco aspectosmetodológicos relevantes: (1) estratégia de amostragem,(2) o tamanho amostral mínimo, (3) o processo de coletade dados, (4) a organização do trabalho de campo e (5) oprocessamento e a análise de dados.

Estratégia de amostragem

A definição de uma estratégia de amostragemconsidera pelo menos os seguintes aspectos: (a) amagnitude esperada e a variabilidade do fenômeno aser estudado, (b) os possíveis limitantes de naturezalogística e, (c) a disponibilidade de recursos humanos

e financeiros. Estes aspectos serão discutidos ao longodeste protocolo, porém o ponto inicial para o planeja-mento do desenho amostral é a definição clara de trêsgrupos de elementos: a população-alvo, o universoamostral e a amostra.

Neste estudo a população-alvo é formada de paci-entes que adoeceram de tuberculose pulmonar no Brasilem 1995. O universo amostral constitui-se dos pacientesportadores de tuberculose pulmonar bacilífera admitidospara tratamento nas unidades de saúde do programa decontrole da tuberculose do Brasil em 1995. A amostradeverá ser formada apenas dos pacientes portadores detuberculose pulmonar bacilífera que serão selecionadospara a pesquisa. O parâmetro a ser estimado é a propor-ção de pacientes portadores de tuberculose pulmonarbacilifera com M. tuberculosis resistentes às drogas usa-das no seu tratamento.

O universo amostral deste inquérito apresenta asseguintes características:

1. Não é disponível no inicio do estudo umalistagem de todos os indivíduos elegíveis para a pesquisa;

2. Cada indivíduo elegível está vinculado auma unidade de saúde;

3. É possível obter a listagem de todas as uni-dades de saúde que desenvolvem as atividades de detecçãodestes pacientes;

4. As unidades de saúde podem ser utilizadascomo unidades amostrais de listagem intermediária até aseleção dos pacientes.

A primeira característica permite excluir dese-nhos do tipo: amostragem aleatória simples,amostragem sistemática e amostragem estratificadaaleatória. Entretanto as demais características suge-rem fortemente o uso de uma estratégia de amostragemem múltiplos estágios por clusters ou conglomerados.Esta estratégia é logisticamente adequada e viável seconsiderarmos os recursos humanos dos programasestaduais de controle da tuberculose.

Assim, propõe-se um processo de amostragem comtrês estágios: o primeiro, refere-se à formação dos estra-tos correspondentes às regiões fisiográficas brasileiras;o segundo, consiste na identificação e seleção dos clustersdo tipo unidades de saúde em cada região geográfica,dependendo da disponibilidade de recursos humanose financeiros; e o terceiro estágio é a seleção de paci-entes em cada cluster (unidade de saúde) até que sejaarrolado o tamanho amostral mínimo no período pre-visto de até nove meses.

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Após a confirmação do diagnóstico pelo laborató-rio, a Coordenação Local da Pesquisa (CLP) realiza en-trevista com o paciente selecionado para a pesquisa pre-enchendo-se o formulário-FICHA I. A segunda parte desteformulário refere-se à caracterização da condição que opaciente já fez tratamento especifico para tuberculose an-teriormente. É registrado então se o paciente pode serconsiderado suspeito de retratamento, o que implicaránuma “investigação” pela Coordenação Estadual da Pes-quisa (CEP) em outras fontes indicadas que poderão con-firmar esta suspeita e identificar a droga e a freqüênciaque a droga foi usada. Estes dados serão registrados naterceira parte da FICHA I e posteriormente armazenadosem um banco de dados informatizado pela CEP.

Para que isto ocorra, as FICHAS I são recolhidassemanalmente nas unidades de saúde, pela CEP que, nestemomento, checará se todos pacientes com examebaciloscopico direto positivo foram entrevistados e se osformulários estão completamente e adequadamente pre-enchidos. Também serão recolhidos os espécimes positi-vos, os acompanhados das FICHAS II, com a parte refe-rente à identificação preenchida, e transportados para oLaboratório Central (LACEN) pela CEP. Este é o únicocontato da CEP com a CLP.

No Laboratório Central, o Técnico do Laborató-rio Central (TLC) realizará o exame de cultura para oisolamento do M. tuberculosis e testes de sensibilidadeàs drogas usadas no tratamento da tuberculose. Os re-sultados destes testes serão registrados na FICHA II eencaminhadas a CEP.

A CEP encaminhará fotocópia dos formulários FI-CHA I e FICHA II, juntamente com um disquete comcópia do banco de dados para a Coordenação Nacionalda Pesquisa (CNP) no Centro de Referência Prof. HélioFraga (CRPHF), Rio de Janeiro.

A CNP encaminhará mensalmente para o TLC umalistagem dos números de pesquisa correspondentes aosmeios de cultura amostrados para exame de replicação.Após o recebimento dos meios de cultura provenientesdo LACEN, a CNP realizará no CRPHF os exames dereplicação previstos. Metade do número de meios de cul-tura encaminhados para a replicação, também serão en-caminhados ao laboratório de referência para a OPAS,no Instituto Nacional de Proteccion de Alimentos yZoonosis (INPPAZ) situado na Argentina.

Após o processamento dos dados dos exames dereplicação, a CNP produzirá uma análise de concordân-cia para os resultados dos testes laboratoriais que seráenviada à CEP que realizará, quando necessário, os ajus-tes para que seja garantida a qualidade destes resultados.

Nas situações em que o LACEN não realizar ostestes de sensibilidade ocorrerá o envio de material (mei-os de cultura) para realização destes exames em um La-boratório Regional que retornará os resultados aoLACEN.

Exames laboratoriais

A baciloscopia das amostras de escarro será reali-zada pelo método de Ziehl-Neelsen. O pote com o escar-ro positivo deverá ser mantido sob refrigeração até o en-caminhamento para o LACEN, onde será processado paraa cultura. O escarro será descontaminado pelo métodode Pethoff e será cultivado em tubos contendo meio deLowenstein-Jensen (3 tubos) e incubado a 37°C até adetecção de crescimento visível de colônias ou então, até60 dias de incubação. As culturas positivas deverão sersubmetidas ao teste de sensibilidade às drogas usadas notratamento da tuberculose e de PNB e TCH (utilizadaspara a identificação do M. tuberculosis). Os laboratóri-os deverão manter todos os isolados em estoque, emfreezer a -20°C, em suspensões em meio líquido 7H9(10).

Coleta de dados

Os dados a serem coletados foram propositada-mente classificados para fins de organização, em doistipos: dados epidemiológicos e dados laboratoriais. Es-tes dados serão coletados em dois momentos distintos:imediatamente após a seleção do paciente (dadosepidemiológicos) e após a realização dos exameslaboratoriais para a identificação dos casos de resistên-cia às drogas (dados laboratoriais). Serão utilizados for-mulários padronizados para a coleta destes dados.

Dados epidemiológicos

Os dados epidemiológicos são coletados no for-mulário FICHA I, que apresenta três partes: a primeirade identificação do paciente, a segunda da caracteriza-ção do tratamento e a terceira com informações sobre asdrogas já usadas anteriormente e sua regularidade.

A FICHA I tem inicialmente dois campos a serempreenchidos: a data da entrevista e o número da pesquisa. Adata da entrevista será preenchida pela CLP, bem como asduas primeiras partes. Já o número da pesquisa, será defini-do pela CEP que atribuirá um número de seqüência para ospacientes daquela unidade federada. Também a terceira parte(uso de drogas anteriormente) será preenchida pela CEPatravés de consulta a outros bancos de dados.

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Nenhum dado da primeira parte pode ficar sempreenchimento, enquanto que na segunda parte, a unida-de de saúde onde o paciente for atendido e toda a terceiraparte será preenchida somente para os casos suspeitos deretratamento.

Dados laboratoriais

Será utilizado o formulário FICHA II para a cole-ta dos dados laboratoriais que apresenta inicialmente doisdados: a data de chegada do material e o número da pes-quisa. O primeiro deverá ser preenchido pelo TLC, en-quanto que o segundo já estará preenchido ao chegar noLACEN. A primeira parte deste formulário (identifica-ção do paciente) também deverá estar preenchida e este acargo da CLP.

O número de rotina do laboratório será preenchi-do antes que os exames a serem registrados na segunda eterceira partes se efetuem. Os resultados da cultura, adata de semeadura para este exame e sua leitura sãoregistrados na segunda parte. Os testes de sensibilidadeserão registrados de modo que para cada droga e para ocontrole serão observadas as diferenças correspondentesao critério padronizado de sensibilidade e resistência.

Processamento e análise de dados

Os dados registrados nos formulários FICHA I eFICHA II serão armazenados em bancos de dadosinformatizados criados através de aplicativo EpiInfo6.0(11). A entrada dos dados será validada e os dois ban-cos apresentarão variáveis comuns que permitirão a com-binação e atualização destes arquivos. Haverá produçãodestes bancos de dados em cada unidade federada e pelaCNP, o que também permitirá a comparação destes ar-quivos. Também será criado um banco de dados para osresultados da replicação dos exames.

As estruturas dos bancos de dados FICHA-I.RECe FICHA-II.REC serão fornecidas pela CNP e os proce-dimentos da entrada padronizados para todas as unida-des federadas participantes do estudo.

Serão produzidos três tipos de análises nesta in-vestigação:

1. Análise de concordância dos resultados dosexames laboratoriais (cultura e testes de sensibilidade),

2. Produção e interpretação das estimativaspontuais e intervalares dos parâmetros de interesse rela-

tivos à proporção de indivíduos portadores do M.Tuberculosis resistente às drogas e,

3. Produção e interpretação das estimativaspontuais e intervalares da medida de associação do tiporazão de chances através de análise multivariada.

A análise de concordância dos resultados dos exa-mes laboratoriais se fará com o banco de dados que in-clue os resultados dos exames de replicação e dos Labo-ratórios estaduais. Serão estimados os coeficientes de con-cordância Kappa apropriados para dados categóricoscomo estes resultados de exames(12). Será consideradopara a garantia de qualidade dos resultados destes testesum valor do coeficiente de Kappa igual ou superior a0,95. Portanto, caso este indicador assuma valor abaixode 95%, serão tomadas as medidas cabíveis para a situ-ação. Estas medidas incluem a paralização temporáriada investigação naquela unidade federada, o retreinamentoda equipe e o exame do material de laboratório utilizado.

Atendendo aos objetivos 1 e 2 desta pesquisa (pá-gina 3) serão produzidos os estimadores de ponto e osintervalos de confiança de 95% pelo método quadráticode Fleiss para os seguintes parâmetros: (a) proporção depacientes com M. tuberculosis resistentes à lsoniazida,(b) proporção de pacientes com M. tuberculosis re-sistentes à Rifampicina, (c) proporção de pacientescom M. tuberculosis resistentes à Pirazinamida, (d)proporção de pacientes com M. tuberculosis resisten-tes à Estreptomicina, (e) proporção de pacientes comM. tuberculosis resistentes ao Etambutol, (f) propor-ção de pacientes com M. tuberculosis resistentes àEtionamida, (g) proporção de pacientes com M.Tuberculosis resistentes a mais de uma destas drogas,para os seguintes grupos de participantes do estudo:(I) pacientes com tratamento especifico prévio, (II)pacientes sem tratamento especifico prévio, (III) pro-venientes da região Norte, (IV) provenientes da re-gião Nordeste, (V) provenientes da região Sudeste,(VI) provenientes da região Sul, (VII) provenientesda região Centro-Oeste e (VIII) para o Brasil.

Para que o objetivo 3 do estudo seja atendidoserá produzida a análise de dados para a estimaçãopontual e o intervalo de confiança da razão de chances(odds ratio) visando-se a detecção da associação en-tre região geográfica de procedência e (ou) tratamen-to especifico anterior e a resistência às drogas, ajus-tada para sexo e idade. Esta análise multivariada bemcomo os demais procedimentos analíticos serão feitosatravés do aplicativo estatístico SPLUS for Windows.

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Equipes de investigação

A equipe de investigação será formada por profis-sionais ligados a um dos quatro seguintes sub-grupos:

1. Coordenação Local da Pesquisa,2. Coordenação Estadual da Pesquisa,3. Técnico do Laboratório Central e,4. Coordenação Nacional da PesquisaSegue uma descrição do perfil e atribuições de cada

um destes grupos.

1. Coordenação Local da Pesquisa (CLP):

Perfil: Técnico de nível superior, de preferência comcarga horária semanal de 40 horas.Participantes: Um técnico para cada unidade de saúdeparticipante.Atribuições: 1). Coletar os dados sobre as resultadosdos exames de bacilocospia direta realizados diariamen-te na unidade de saúde participante da pesquisa; 2). Re-alizar entrevista com os pacientes com baciloscopia po-sitiva eleitos para a pesquisa e, preencherpadronizadamente o formulário - FICHA 1; ldentificaros pacientes eleitos para a pesquisa que não comparece-ram à consulta agendada ( e entrevista) até 3 dias do diamarcado e providenciar visita domiciliar para garantir aadesão dos pacientes; 3). Preencher a parte inicial, rela-tiva à identificação do paciente, do formulário FICHA IIe, preparar os espécimes que serão encaminhados sema-nalmente para o Laboratório Central Estadual de SaúdePública - LACEN.

2. Coordenação Estadual da Pesquisa (CEP):

Perfil: Técnico de nível superior e membro da equipe doPrograma Estadual de Controle da Tuberculose, de pre-ferência com carga horária semanal de 40 horas.Participantes: Um ou dois técnicos para cada estado par-ticipante.Atribuições: 1). Coletar, semanalmente, os formulários- FICHA I - produzidos nas unidades de saúde partici-pantes da pesquisa. Neste momento, checar se a listagemde pacientes novos baciliferos inscritos (Livro Preto)corresponde aos dos formulários - FICHA I - preenchi-dos pela CLP; 2). Preencher as FICHAS I e II com onúmero de registro da pesquisa (neste momento defini-do) para cada paciente arrolado para a pesquisa nas uni-dades de saúde participantes e transportar os espécimes(escarros) para o LACEN; 3). Preencher o quadro daFICHA I referente ao tratamento anterior, os casos sus-peitos de retratamento. Os dados utilizados poderão per-

tencer ao registro geral do Programa Estadual de Con-trole da Tuberculose, ao cadastro de pacientes de outrasunidades de saúde ou até aos prontuários hospitalares;4). Preencher um banco de dados informatizado relativoà FICHA I de todas as unidades de saúde do estado; 5).Receber semanalmente os formulários FICHA II doLACEN e preencher um banco de dados informatizadopara estes dados; 6). Encaminhar, mensalmente, (1) fo-tocópias das FICHAS I e II e (2) um diskete com cópiado banco de dados para a Coordenação Nacional da Pes-quisa (CNP) no Centro de Referência Prof. Hélio Fraga(CRPHF), Rio de Janeiro; 7). Receber trimestralmente,da CNP a informação sabre a análise de concordânciados resultados laboratoriais dos exames realizados noestado e no CRPHF.

3. Técnico do Laboratório Central (TLC):

Perfil: Microbiologista com experiência nos testeslaboratoriais da pesquisa, de preferência com carga ho-rária semanal de 40 horas.Participantes: Um ou dois técnicos para cada estado par-ticipante.Atribuições: 1). Realizar exame convencional de isola-mento do M. Tuberculosis através de cultura e teste desensibilidade às drogas usadas no tratamento da tuber-culose em todos os espécimes encaminhados pelas uni-dades de saúde participantes da pesquisa no estado; 2).Preencher o formulário FICHA II com os resultados dosexames realizados para a pesquisa; 3). Encaminhar, àCEP, através da direção do LACEN, as FICHAS II pre-enchidas; 4). Receber mensalmente, da CNP, umalistagem com números dos meios de cultura e encaminhá-los ao CRPHF para os exames de replicação; 5). Enca-minhar (quando necessário) os espécimes com resultadopositivo ao exame de cultura, para o Laboratório Regio-nal de Referência (LRR) e receber seus resultados.

4. Coordenação Nacional da Pesquisa (CNP):

Participantes: (1) Microbiologista do Centro de Refe-rência Prof. Hélio Fraga, responsável pela elaboração doprotocolo desta pesquisa: Dra. Angela Maria WerneckBarreto - Pesquisadora Principal; (2) Epidemiologista doCentro de Referência Prof. Hélio Fraga, responsável pelaelaboração do protocolo desta pesquisa: Dr. José UeleresBraga - Pesquisador Principal; (3) Microbiologista doCentro de Referência Prof. Hélio Fraga que participou daelaboração do protocolo desta pesquisa: Dra. Fátima Ma-ria Martins, (4) Sanitarista - Gerente da Programa Naci-onal de Pneumologia Sanitária - Dr Miguel Aiub Hijjar.

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6. Michael M, Boyce WT, Wilcox AJ. Biomedical bestiary: anepidemiologic guide to flaws and fallacies in the medicalliterature. 1st ed. Boston, MA: Little Brown; 1984.

7. Barreto A, Martins F. Estudo da resistência primária no Brasilno período de 1986 a 1988. Bol CNCT 1988;2(1):21-5.

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