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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - ICHS
MESTRADO EM EDUCAÇÃO – PPGE
GISELLE BARBOSA ANDRADE RODRIGUES
INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A
REPRESENTAÇÃO DE FORMIGAS NOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL
MARIANA
2019
GISELLE BARBOSA ANDRADE RODRIGUES
INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A
REPRESENTAÇÃO DE FORMIGAS NOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Dissertação apresentada em cumprimento parcial às
exigências do Programa de Pós-Graduação em Educação,
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) para
obtenção do Grau de Mestre.
Área de concentração: Educação
Orientadora: Profa. Dra. Sheila Alves de Almeida
MARIANA
2019
Catalogação: www.sisbin.ufop.br
R696i Rodrigues, Giselle Barbosa Andrade. Insetos na escola [manuscrito]: um estudo sobre a representação das formigasnos anos iniciais do ensino fundamental / Giselle Barbosa Andrade Rodrigues.- 2019. 147f.: il.: color; grafs; Quadros .
Orientadora: Profª. Drª. Sheila Alves de Almeida.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto deCiências Humanas e Sociais. Departamento de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Área de Concentração: Educação.
1. Formigas - Teses. 2. Desenho infantil - Teses. 3. Ciência - Teses. 4.Piaget, Jean, 1896-1980 - Teses. 5. Construtivismo (Educação) - Teses. I.Almeida, Sheila Alves de. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Titulo.
CDU: 37.01/.09
Para Maria Efigênia
Que desde sempre me mostrou que o conhecimento não ocupa espaço.
Para Iara
Minha inspiração para ser um ser humano melhor
e forte, que cotidianamente luta por dias melhores.
Escrevo para você.
AGRADECIMENTOS
À professora Sheila Alves de Almeida, por toda paciência, confiança e generosidade,
ao dividir comigo toda sua sabedoria, me fazendo acreditar que poderia ser uma
pesquisadora, me acolhendo e me ensinando diariamente o poder da educação em
transformar as pessoas.
A toda equipe da escola pesquisada e, em especial, às crianças que deram vida a este
trabalho.
À Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que não mediu esforços com a
concessão da bolsa para que pudesse ter a tranquilidade financeira em realizar a
pesquisa.
Aos queridos professores Rosa Maria da Exaltação Coutrim e Heron Laiber Bonadiman
que tanto contribuíram em minha banca de qualificação.
A Yara Elson, irmã que a universidade me trouxe para toda a vida, pelas noites em claro
juntas estudando e por sempre me encorajar a continuar, me mostrando que sou capaz.
Aos amigos do POSEDU, pelas trocas importantes vivenciadas durante as disciplinas e
encontros, em especial, a Michelle, pelo apoio incondicional.
Ao Burracha pela paciência e compreensão, por nem sempre poder estar junto nesse
período de dedicação à pesquisa.
À minha filha amada Iara, que me ajudou a querer ser uma pessoa melhor e entender o
quanto este trabalho é importante para mim.
A minha tia Zazá, que ouviu cada capítulo do trabalho atentamente, mesmo as vezes
estando bem cansada.
A toda equipe da Pós-Graduação da UFOP, especialmente a professora Regina Magna
Bonifácio de Araújo, que me encorajou a ser uma aluna melhor, sempre me dando
apoio.
A minha família, a quem tanto partilhei lágrimas de medo e de alegrias.
A minha mãe e meu pai, no qual sempre estive sob seus olhos.
A Deus, toda honra e toda glória!
RODRIGUES, G.B.A. Insetos na escola: um estudo sobre a representação de formigas
nos anos iniciais do ensino fundamental. Dissertação]. Universidade Federal de Ouro
Preto; 2019..
Resumo
Essa dissertação propõe uma reflexão sobre o estudo das representações de formigas
realizadas através do desenho das crianças de 9 e 10 anos, pautados em Jean Piaget. Nos
estudos piagetianos a representação é a capacidade de se lembrar, diante de uma
imagem ou signo, o objeto que não está presente ou o ato não realizado, embora o
pensamento não se reduza apenas às imagens, ele também se constrói por elas. Para
realizar essa pesquisa utilizou-se a metodologia qualitativa,caracterizada por estudo de
caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar
da criança em uma perspectiva cognitiva sobre as formigas. Para tanto, a permanência
na escola teve a duração de 6 meses, divididos em encontros semanais com
aproximadamente 110 minutos. A sala de aula era composta por crianças de perfis
diversificados, com níveis sócio-econômico-cultural diferentes. Foram contemplados 30 desenhos de 10 crianças que participaram de todas as aulas para serem analisados. Para
isso foi utilizado um quadro de categorias construídos pelas pesquisadoras.Por fim,
conclui-se que as crianças desenham muito mais do que veem. Verificou-se também que
a interação delas como o material didático apresentado culminou nas representações de
formigas com detalhes próximos do real e apropriaram-se dos conceitos apresentados,
comprovados na entrevista. Trabalhar com temas próximos as crianças faz que elas
tenham uma aprendizagem científica efetiva, vinculando à autonomia dos
conhecimentos a realidade. É importante oferecer às crianças a interação a diversas
linguagens, abrindo caminhos para que elas se manifestem de maneira espontânea e
significativa, os conhecimentos até então adquiridos.
Palavras-chave: formiga, desenho infantil, representação, ciências, Jean Piaget
RODRIGUES, G.B.A. Insects at school: a study on the representation of ants in the
early years of elementary school. Dissertation. Federal University of Ouro Preto; 2019.
Abstract
This dissertation proposes a reflection on the study of ant representations made through
the drawing of 9 and 10-year-old children, based on Jean Piaget. In Piagetian studies,
representation is the ability to remember, in front of an image or a sign, the object that is
not present or the act not performed, although thought is not only reduced to images, it
is also built by them. To carry out this research we used the qualitative methodology,
characterized by case study. As a tool, a didactic sequence was built to understand the
child's gaze from a cognitive perspective on ants. Therefore, the stay in school lasted 6
months, divided into weekly meetings with approximately 110 minutes. The classroom
consisted of children of diverse profiles with different socio-economic-cultural levels.
Thirty drawings of 10 children who participated in all classes to be analyzed were
contemplated. Finally, it follows that children draw much more than they see. It was
also verified that their interaction as the presented didactic material culminated in the
representations of ants with details close to the real and appropriated the presented
concepts, proven in the interview. Working with subjects close to children makes them
having an effective scientific learning, linking the autonomy of knowledge to reality. It
is important to offer children the interaction in different languages, opening ways for
them to manifest themselves in a spontaneous and meaningful way, the knowledge
acquired until then.
Keyword: ant, children's drawing, representation, science, Jean Piaget
Lista de Figuras
Figura 1: Formigas em grupo................................................................................. 13
Figura 2: Rainha e operária.................................................................................... 14
Figura 3: Formiga vermelha e amarela................................................................... 14
Figura 4: Anatomia da formiga.............................................................................. 15
Figura 5: Alimentação das formigas.......................................................................
Figura 6: Formigas em fila.....................................................................................
Figura 7: Formiga macho e fêmea..........................................................................
Figura 8: Voo nupcial.............................................................................................
Figura 9: Acasalamento das formigas....................................................................
Figura 10: Ovos da formiga....................................................................................
Figura 11: A metamorfose......................................................................................
Figura 12: Garatuja desordenada............................................................................
Figura 13: Garatuja ordenada.................................................................................
Figura 14: Garatuja identificada.............................................................................
Figura 15: Pré-esquematismo.................................................................................
Figura 16: Esquematismo.......................................................................................
Figura 17: Realismo...............................................................................................
Figura 18: Pseudo-naturalismo...............................................................................
Figura 19: Relação de vizinhança...........................................................................
Figura 20: Relação de separação............................................................................
Figura 21: Relação de ordem..................................................................................
Figura 22: Relação de ordem..................................................................................
Figura 23: Relação de fechamento.........................................................................
Figura 24: Relação de fechamento.........................................................................
Figura 25: Relação de continuidade.......................................................................
Figura 26: Ayla – 9 anos........................................................................................
Figura 27: Ayla – 9 anos........................................................................................
Figura 28: Ayla – 9 anos........................................................................................
Figura 29: Gabriel – 9 anos....................................................................................
Figura 30: Gabriel – 9 anos....................................................................................
Figura 31: Gabriel – 9 anos....................................................................................
Figura 32: Celita – 9 anos.......................................................................................
Figura 33: Celita – 9 anos.......................................................................................
Figura 34: Celita – 9 anos.......................................................................................
Figura 35: Valério – 9 anos....................................................................................
Figura 36: Valério – 9 anos....................................................................................
Figura 37: Valério – 9 anos....................................................................................
Figura 38: Hélade – 9 anos.....................................................................................
Figura 39: Hélade – 9 anos.....................................................................................
Figura 40: Hélade – 9 anos.....................................................................................
Figura 41: Rondinelle – 10 anos.............................................................................
Figura 42: Rondinelle – 10 anos.............................................................................
Figura 43: Rondinelle – 10 anos.............................................................................
Figura 44: Maria – 10 anos.....................................................................................
Figura 45: Maria – 10 anos.....................................................................................
Figura 46: Maria – 10 anos.....................................................................................
Figura 47: André – 10 anos....................................................................................
Figura 48: André – 10 anos...................................................................................
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Gráficos:
Gráfico IDEB
2017.................................................................................................................................62
Quadros:
Quadro socioeconômico dos sujeitos
pesquisados......................................................................................................................64
Quadro de categorias.......................................................................................................72
Figura 49: André – 10 anos....................................................................................
Figura 50: Andrezza – 10 anos...............................................................................
Figura 51: Andrezza – 10 anos...............................................................................
Figura 52: Andrezza – 10 anos...............................................................................
Figura 53: Geraldo – 10 anos.................................................................................
Figura 54: Geraldo – 10 anos.................................................................................
Figura 55: Geraldo – 10 anos.................................................................................
Figura 56: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................
Figura 57: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................
Figura 58: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................
Figura 59: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................
Figura 60: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................
Figura 61: www.alexanderwild.com......................................................................
Figura 62: www.alexanderwild.com......................................................................
Figura 63: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................
Figura 64: www.alexanderwild.com......................................................................
Figura 65: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................
Figura 66: printscreen da capa do filme Minúsculos.............................................
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Sumário 1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................................................11
1.1 Um breve estudo sobre as formigas ..................................................................................13
2 – OS DESENHOS INFANTIS COMO SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO SEGUNDO
PIAGET .....................................................................................................................................25
2.1 Desenho como sistemas de representação ........................................................................29
2.3 O desenho infantil sob outros olhares .............................................................................44
3 - OS ANIMAIS NOS DESENHOS DAS CRIANÇAS: UM PANORAMA SOBRE AS
PESQUISAS QUE INVESTIGAM A CONCEPÇÃO DE ANIMAIS NA INFÂNCIA .............47
3.1 Considerações sobre as pesquisas .....................................................................................57
4- METODOLOGIA ..................................................................................................................60
4.1 O processo de construção dos dados.................................................................................60
4.2 A escola ............................................................................................................................61
4.3 A professora participante da pesquisa ..............................................................................63
4.4 A sala de aula e as crianças ..............................................................................................63
4.5 A sequência didática .........................................................................................................66
4.6 Os desenhos e as entrevistas das crianças .........................................................................67
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...........................................................................................70
5.1 Breve resumo das aulas ....................................................................................................70
5.2 As formigas nos desenhos das crianças ............................................................................73
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................132
7 – Referências .........................................................................................................................136
ANEXOS ....................................................................................................................................140
11
1 – INTRODUÇÃO
Antes mesmo de entrar na escola, as crianças já apresentam conhecimentos sobre
o mundo natural. Desde os primeiros anos, elas observam os seres vivos, interagem com
eles. A construção do conceito de ser vivo nasce dessas experiências. Tal conceito é
fundamental para organizar as percepções do mundo em que vivemos. No campo da
didática das Ciências, por exemplo, os conhecimentos prévios são o ponto de partida
para a concepção construtivista de ensino e aprendizagem. Contudo, segundo Garcia
et.al (2015, p.20), a maioria dos estudos sobre ideias prévias dos estudantes são
realizados entre estudantes do ensino médio. Apenas 9% das investigações nesse campo
são realizadas entre crianças. Portanto, cremos que é necessário que as investigações
apontem para os conhecimentos prévios das crianças sobre os seres vivos para que a
escola tenha sucesso em sua tarefa de ensinar. Com relação ao conhecimento infantil
sobre os seres vivos, destacam-se os trabalhos de Jean Piaget. A partir dele, as
investigações realizadas têm ampliado conhecimento relativamente amplo sobre as
formas de raciocínio das crianças sobre os seres vivos e os processos biológicos
(MARTÍ, 2012). Costa-Neto (2000) por exemplo traz uma compilação de pesquisas
realizadas no Nordeste brasileiro acerca dos usos e percepções humanas dos insetos.
Segundo ele, as diversidades morfológicas (cores, formas e tamanhos) e ecológicas
(modos de vida e sons produzidos) causaram e causam impactos na cultura humana,
influenciando a língua e literatura; as artes plásticas, gráficas, cênicas e musicais; a
culinária; a medicina; o lazer; a religião e superstições sejam culturas tradicionais ou
não. Mesmo assim, segundo Costa-Neto (2000) , “para grande parte dos indivíduos da
cultura ocidental, os insetos são considerados animais nocivos, transmissores de
doenças e uma praga.”(COSTA-NETO, 2000, P.12)
Percepção diferente tem a maioria das crianças que se encantam com o pulo dos
grilos, ao canto da cigarra, ao passeio das abelhas pelas flores, a borboleta que voa, as
cores das joaninhas, as pequenas formigas que andam em fileiras e vivem em colônias.
Mas, ao caracteriza-las, geralmente, usam não só adjetivos próprios das relações
humanas mas também que expressam sentimentos de nocividade, repugnância,
periculosidade ou afetividade. As joaninhas, por exemplo, são citadas como
“bonitinhas”, “bichinho,” “fofinhas”. A cigarra é o “bicho feio”,os besouros os “bichos
nojentos”.
12
A propósito, nos anos 2000, um caso particular de uma menina de 7 anos se
tornou conhecido mundialmente, quando ela e um entomólogo profissional publicaram
um artigo sobre como as pessoas interagem com os insetos a partir das informações que
circulam nas redes sociais. (JACKSON & SPENCER 2017). Sophia, autora do artigo,
sofria “bullying” na escola por gostar de insetos e entomologia. Após a criação do tweet
# bugs, a discussão nas mídias sociais gerou um enorme apoio mundial a menina e
reverteu o quadro junto a outras crianças. Outra experiência interessante foi citada por
Medioli (2017), ao publicar em sua coluna de jornal suas recordações de infância
quando capturava formigas em vidros de maionese. Chama-lhe a atenção os corpos das
formigas, seus movimentos. Observava fascinada as formigas se alimentando, cavando
túneis, ovos que despontavam e larvas transparentes. Mediolli (2017) lembra que à noite
levava o vidro para o quarto e, em vez de ler livros, observava as formigas.
Diante da importância das formigas para o ambiente, da curiosidade e interação
dos seres humanos com esse inseto, a proposta desta investigação é compreender como
elas são representadas pelas crianças de 9 e 10 anos de idade, no interior de uma escola
pública estadual, do município de Ouro Preto, que cursam o 4º ano do ensino
fundamental. Para tanto, recorrendo-se aos estudos sobre o desenho infantil de Jean
Piaget (1896-1980), para analisar as ilustrações das crianças realizadas segundo a
sequência didática.
Desse modo, os caminhos percorridos nessa dissertação foram organizados em
seis capítulos. Na introdução, capítulo I, além da apresentação do trabalho de pesquisa,
apresentou-se um breve estudo sobre as formigas, explicitamos sua anatomia e meio de
vida. No segundo capítulo, apresentam-se os desenhos infantis como sistema de
representação da criança, mediante os estudos de Jean Piaget. Destacam-se nesse
capítulo, as condutas representativas do desenho e suas fases, as quais orientaram a
análise das concepções e significados das falas e desenhos realizados pelas crianças.
Já o terceiro capítulo é voltado para as pesquisas em que os autores se valeram
dos desenhos das crianças de 3 a 11 anos para investigar a representação de animais.
Com diferentes aportes teóricos, são apresentadas pesquisas consideradas relevantes ao
campo. No quarto capítulo são apresentados o processo de construção de dados e
contexto da presente pesquisa. No quinto capítulo, são descritos os resultados e
discussões dos dados coletados, resultantes de três aulas nas quais foram analisados os
desenhos e falas de dez alunos do 4º ano.
13
Por fim, a partir das análises realizadas, seguem-se algumas considerações,
relativas as análises dos desenhos e das falas das crianças.
1.1 Um breve estudo sobre as formigas
Pertencentes à família Formicidae e conhecidas pela complexidade de sua
sociedade, as formigas são lembradas em diversas ocasiões como símbolo de esforço e
controle. Afinal, muitas espécies parecem trabalhar incansavelmente e guardam um
número elevado de alimentos (LARA, 2010). Por se organizar em grupos e dividir o
trabalho, as formigas são consideradas insetos sociais, conforme pode ser observado na
figura abaixo:
Figura 1: Formigas em grupo
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
A organização das formigas constitui-se da seguinte forma: uma rainha que é
responsável pela reprodução; os machos que vivem o tempo necessário para que
aconteça o voo nupcial; as operárias, fêmeas estéreis responsáveis pelo formigueiro, ao
trabalho, a organização e proteção. Em algumas espécies, também, há as soldadas, que
são responsáveis pela guarda (LIMA, 2017). Rainhas e operárias apresentam aspectos
diferentes como mostram as figuras a seguir:
14
Figura 2: Rainha e operárias
As formigas geralmente têm o comprimento variável entre 1,6mm a quase 5 cm.
A maior parte das espécies apresentam cores vermelhas, negras, marrons ou amarelas,
mas há também formigas verdes ou azuis metálicas.
Figura 3: Formiga vermelha e amarela
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
15
Assim como todos os insetos, as formigas possuem um exoesqueleto
impermeável. Possuem 6 pernas e o corpo dividido em três segmentos: cabeça, tórax e
abdômen, como pode ser visto na figura abaixo:
Figura 4: Anatomia da formiga
O corpo da formiga também é composto por um pedicelo, ou seja, estreitamento
entre o tórax e o abdômen. Na cabeça é encontrado um par de olhos compostos,
capazes de perceber diferentes tipos de movimentos com rica percepção de detalhes. As
formigas se comunicam através das antenas, e a sua mandíbula, muito forte, é usada
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
16
para capturar e recolher alimentos, pois são capazes de matar, esmagar, cortar , mastigar
e carregar o alimento, alem de escavar o solo. (BRITES, 2007)
Figura 5: Alimentação da Formiga
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
Os corpos de grande parte das formigas são lisos ainda que apresentem algumas
projeções espinhosas. Outras possuem também glândulas, onde é produzido ácido
fórmico,o qual pode ser lançado contra seu inimigo, causando sensação de coceira ou
mesmo uma queimadura. Há, também, espécies de formigas venenosas. A formiga lava-
pés, por exemplo, possui um ferrão que além de causar dor extrema, pode levar ao óbito
não só o ser humano, como também outros animais. (LARA, 2010)
Quanto à comunicação das formigas, é realizada por meio de uma substância
química chamada feromônios. Há glândulas específicas para a produção dessa
substancia, fazendo com que o indivíduo do formigueiro perceba cheiros e sabores,
estabelecendo-se assim a comunicação necessária para a organização. (ÁVILA, 2013)
Por isso as formigas andam umas atrás das outras, em uma fila, como se observa na
figura abaixo:
Figura 6: Formigas em Fila
17
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
Como mostra a ilustração, a formiga que está à frente do grupo esfrega seu
abdômen no solo deixando a referida substância. Logo em seguida, a formiga que vem
atrás a identifica com suas antenas e repete a ação da primeira formiga, para que o
restante possa, também, seguir o caminho indicado. (LARA, 2010)
Quanto ao acasalamento das formigas, se dá quando a rainha e os machos
realizam o voo nupcial. Os machos morrem pouco tempo depois da fecundação e a
rainha perde suas asas, retornando ao formigueiro onde realiza a postura dos ovos.
Fecundados os ovos, são geradas outras formigas fêmeas. Os ovos que não são
fecundados desenvolvem-se através da partenogênese, nascendo, então, os machos. A
das formigas férteis ocorre no início do verão, quando o rei e a rainha saem para o voo
nupcial, fora da colônia, no ar. Após a cópula, os macho morrem. As rainhas que
sobrevivem são responsáveis não só por colocar os ovos, como também por fundar
novos formigueiros. Quando a rainha funda um novo formigueiro, ela leva uma pequena
bola de mofo na boca para dando início a uma nova colônia. As figuras a seguir (8,9 e
10) ilustram as fases do acasalamento das formigas.
Figura 7: Formiga macho e fêmea
18
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
Figura 8: Voo nupcial das formigas
19
Na sequência, a figura 9, mostra o acasalamento das formigas.
Figura 9: Acasalamento das formigas
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
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FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
Figura 10: Ovos da formiga
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
21
A metamorfose das formigas se inicia com os ovos, daí eclode uma larva que se
transformará em pupa e se desenvolve até se tornar uma formiga adulta. (BRITES,
2007), conforme ilustra essa figura:
Figura 11: A metamorfose
Tornar-se formiga- rainha ou operária dependerá da alimentação que é oferecida
as larvas. Há espécies que se alimentam de pequenos animais mortos, frutos, sementes,
folhas ou flores. Alimentos presentes na alimentação humana também são bem atrativos
às formigas, principalmente aqueles ricos em açúcar, como massas e doces. (BRITES,
2007)
Encontramos formigas em diversos lugares da terra, exceto nos polos. Hoje, são
descritas mais de 12.000 espécies, sendo encontradas no Brasil cerca de 2.500.( LIMA,
2017). Conforme Caldas (2007) sozinhas as formigas representariam de 10% a 15% da
biomassa total da Amazônia. Num formigueiro há várias castas. Com funções bem
FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants
22
definidas, cada formiga tem a sua tarefa diante essa organização. As rainhas são as
únicas férteis da espécie, conhecidas como iças. Os reis são as espécies de machos
férteis, conhecidos dentro da sociedade como bitus. Já as operárias, formigas estéreis, se
dividem em várias funções. Assim, as operárias, que tem uma mandíbula grande, são as
que defendem a sociedade das formigas. São como verdadeiros soldados protegendo sua
sociedade. As formigas cortadeiras-carregadoras se distinguem pelo porte médio e sua
principal função é trabalhar coletando e cortando folhas, para levar até a colônia uma de
cada vez. Já as formigas operárias jardineiras são responsáveis pelas funções na parte
interna da colônia, cuidando das crias e dos fungos.
Várias revistas apresentam artigos referentes à curiosidade da vida das formigas.
Marcelo T.C. Oliveira (1990), por exemplo, em seu artigo para a revista
Superinteressante relata a extraordinária capacidade de adaptação das formigas em
diversos lugares e sua divisão do trabalho. A matéria chama a atenção aos estudos de
Mário Autuori (1907-1982), autodidata, que dedicou mais de cinquenta anos da sua vida
para pesquisar as formigas. Foi ele o criador de uma espécie de viveiro de formigas,
local até hoje visitados por pessoas do mundo todo para observar os hábitos e o trabalho
subterrâneo delas. Dando destaque às formigas saúvas, Oliveira (1990) descreve os
hábitos desses insetos baseados nas observações de Autuori, chamando a atenção para o
importante papel ecológico das formigas, junto aos fungos, pois aceleram a reciclagem
dos nutrientes das plantas, retornando ao solo para serem novamente aproveitados.
Diante do exposto, a famosa afirmação do zeloso naturalista Saint-Hilaire (1779-
1853) endossada por uma campanha do Ministério da Agricultura brasileira na década
de 1940, “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”, não
procede.Visto por outros ângulos, acabar com as formigas saúvas pode acabar com o
Brasil.
Já Diego Bargas (2016) em artigo publicado na revista Mundo Estranho,
direcionada ao público adolescente, aguça o interesse desse público ao apontar que as
formigas são atraídas por alimentos doces, como o açúcar. São, pois, as formigas
operárias que vão à caça. Elas saem do ninho e procuram reconhecer as moléculas de
alimento no ambiente, por meio de receptores olfativos chamados sensilas, que ficam
localizados nas antenas. Ao encontrarem-nas retornam ao formigueiro para recrutar
novas formigas e reforçar o estoque de alimentos. Curioso é que as formigas, como
muitos pensam, não se perdem no caminho. Lembrando, Bargas (2016) isso se deve a
liberação dos feromônios, substancias químicas naturais formando uma trilha até a
23
comida encontrada. Mas, cada espécie tem uma preferência alimentar. As formigas
cortadeiras, por exemplo, preferem folhas. Buscam as folhas que produzem fungos, e
cultivam-nos no interior do formigueiro. O fungo é o alimento preferido dessa espécie.
Contudo, o açúcar ainda é uma boa pedida para as formigas. Além de ser fácil de
transportar, fornece a energia que elas precisam para trabalhar.
No ambiente doméstico, de acordo com Bargas (2016) comumente mais
encontradas as “formigas-fantasmas”. Trata-se de uma espécie bem pequena (1 a 1,5
mm) e podem até construir ninhos nas partes ocas das paredes, batentes das portas ou
até mesmo embaixo de móveis ou eletrodomésticos.
Considerando a curiosidade das crianças e os estudos sobre formigas, a revista
Ciências Hoje para Crianças também apresenta aspectos importantes sobre esses
insetos. Merece destaque nesse sentido, o artigo produzido por Fernanda Távora (2013)
no qual ela apresenta uma investigação realizada por cientistas suíços, descrevendo a
vida das formigas no interior dos formigueiros. Nesse artigo, a autora destaca que as
formigas são sempre observadas por serem superorganizadas, ou seja, andando em filas,
uma atrás das outras. Mas, o que provavelmente, as pessoas ficam curiosas para
saberem o que acontece quando elas entram no formigueiro. Távora (2013) recorreu aos
cientistas da Universidade de Lausanne, na Suiça para desvendar o mundo misterioso
das formigas. Eles instalaram microchips nas formigas e descobriram que, dentro do
formigueiro, as filas desaparecem, dando espaço a uma nova organização. E, mais, as
formigas no interior do formigueiro se organizam em grupos, de acordo com a idade de
cada uma.
Esclarecidas algumas particularidades da vida das formigas, optou-se, então,
pelo estudo da espécie Camponotus fellah podendo identificar três grupos. O primeiro
grupo refere-se às formigas mais jovens que passam mais tempo no interior do
formigueiro, pois são responsáveis por cuidar da formiga-rainha e dos filhotes. O
segundo grupo é composto por formigas mais maduras que desempenham o papel de
limpadoras. Compõe o terceiro grupo as formigas mais velhas, responsáveis pela busca
de alimentos. Assim, dentro da espécie Camponotus fellah, não há controle hierárquico,
as formigas agem instintivamente. Nem a rainha e nem qualquer outra formiga
determina qual trabalho precisa ser feito. Por fim, lembrando Caldas (2007), o estudo
sobre as formigas é muito importante, uma vez que elas são abundantes e interagem
com inúmeras espécies de plantas, micro-organismos e animais. Além disso seu campo
de estudo e suas interações são vastas e crescentes. Por sua vez, como ressalta
24
Dalladona (2013) os estudos relativos às formigas permitem a construção de conteúdos
alimentados pela curiosidade e interesses das crianças.
Diante da importância das formigas para o ambiente, pretende, neste estudo,
investigar as representações de formigas produzidas pelas crianças. Desse modo, no
próximo capítulo, serão apresentadas em linhas gerais estudos sobre o conceito de
representação e desenho infantil.
25
2 – OS DESENHOS INFANTIS COMO SISTEMA DE
REPRESENTAÇÃO SEGUNDO PIAGET
Dois conceitos são importantes para o desenvolvimento desse capítulo: o de
desenho e o de representação. Portanto, para o entendimento desse conceitos, recorreu-
se a alguns dicionários buscando certificar, primeiramente, o significados dessas
palavras, para, então, aprofundar a análise. Assim sendo, Michaeles1 assim define
representação: “imagem ou ideia que traduz nossa concepção de alguma coisa ou do
mundo; ato pelo qual se faz vir à mente a ideia ou o conceito correspondente a um
objeto que se encontra no inconsciente.” Já Aurélio2, acrescenta que a palavra é oriunda
do latim representatione, tendo como significado tornar presente, tendo no latim
clássico, sua utilidade apenas para objetos, sem ter relações com pessoas. E o dicionário
Informal3 define de representação como algo que “seria uma arte, uma representação de
algo da realidade ou simplesmente fictício”. Ainda apresenta 99 sinônimos para o
termo, entre eles imagem e apresentações. Por sua vez, André Giordan e Gérard de
Vecchi (apud WORTMANN, 2001), apresentam estudos importantes para o
desenvolvimento de trabalhos em Ciências, utilizando o termo representação em com
diferentes sentidos. Esses autores citam cerca de 30 significados dessa palavra que vão
de pré-representação remanescentes até a de pré-requisitos. Desta forma, segundo os
autores, o conceito de representação tende a ser um conceito frouxo, com sua definição
difusa. E como se vê, há multiplicidade de significados dicionarizados dessa palavra,
logo diferentes sentidos que cada autor atribui a ela. A proposta discutida por Giordan
e Gérard de Vecchi (apud WORTMANN, 2001) é substituir o termo representação por
concepção, ampliando-se assim a possibilidade operativa. É importante também
ressaltar que esses estudiosos buscaram, em suas investigações sobre representações, o
entendimento da maneira que se processa a cognição pelo acompanhamento da
evolução das ideias perante um assunto e, assim, as implicações diretas em ações
educativas, focalizando as dimensões cognitivas da aprendizagem.
1 MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998-(Dicionários Michaelis). 2259p. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010. 895 p. ISBN 978-85-385-4240-7. 3 INFORMAL, Dicionário de português gratuito para internet. 2006. Disponível em <htpp\\www.dicionarioinformal.com.br> Acesso em: 24/11/2018.
26
De outro modo, Stuart Wall (1997) define representações como algo que
envolve pensar o significado que está no objeto, pessoa, ideia ou evento real. Para esse
autor, a linguagem da representação funciona pela imitação da verdade que está
estabelecida no mundo. Destaca, também, que a representação está ligada à cultura do
sujeito e, ainda, que essa cultura está diretamente ligada aos significados partilhados, os
quais dão sentido às coisas, produzindo e dividindo significados. Wall (1997) ainda
afirma que a linguagem é um sistema de representação do qual fazemos uso de símbolos
e sinais, tais como:sons, palavras escritas, fotografias, desenhos animados, músicas,
desenhos e até objetos. Estes podem representar, de acordo, com a cultura, conceitos,
ideias e sentimentos.
Hoje em dia, muitas linhas de pesquisa utilizam o termo representação como
suporte teórico de seus trabalhos. Contudo, a maior parte dos trabalhos que levam a
palavra representação/representações em seus títulos, não apresentam uma reflexão
conceitual explícita a respeito desse termo (SANTOS, 2011) Desse modo, à luz de
Piaget e seus seguidores, apresenta-se um breve estudo do conceito “representação”,
bem como a contribuição deles para o objeto da presente pesquisa. A opção por Piaget e
seus seguidores se justifica por sua teoria nos fornecer pistas para o entendimento dos
desenhos que serão analisados, podendo então perceber a concepção das crianças sobre
as formigas expressa nos desenhos. Piaget não apenas define, mas apresenta dados que
possibilitam o entendimento da construção do conceito de representação pelo sujeito.
Assim sendo, representação para Piaget (1978, apud PILLAR, 1996) é a
capacidade de se lembrar, diante de uma imagem ou signo, o objeto que não está
presente, ou o ato não realizado, embora o pensamento não se reduza apenas às
imagens, ele também se constrói por elas. Para ele, a imagem será um significante e o
conceito o significado, e o pensar interligarão as significações. Dessa forma, dois
sentidos para o termo de representação são construídos e se relacionam entre si. O
primeiro mais amplo se apoia num sistema de conceito, e o segundo, mais restrito, são
as lembranças simbólicas da realidade. A representação demanda que a criança tenha
condições de construir novos esquemas e reformular estruturas para entender o que as
estruturas do período sensório motor não conseguiram, pois nesse estágio a criança não
apresenta condições de estabelecer novas diferenciações e representações, ou seja, no
estágio, sensório motor a criança apenas interage com os objetos e só mais tarde
enriquece sua interação mediante a representação dos objetos ausentes.
27
Contudo, Piaget (1978 p.345) ressalta que é próprio da representação
“ultrapassar o imediato, fazendo crescer dimensões no espaço e no tempo no campo da
adaptação e, portanto, evocar o que ultrapassa o domínio perceptivo e motor.” Nesse
sentido, representar é reconstruir, no plano mental, o que estava apenas estruturado no
campo das ações. Portanto, pode-se afirmar que há representações quando há imitações
do objeto que está ausente e que ela se inicia quando há, simultaneamente, diferenciação
e coordenação entre os significantes e significados/significações.
Ainda segundo Piaget, há condutas representativas com diferentes níveis de
compreensão, que surgem mais ou menos ao mesmo tempo. Como descritas a seguir:
a) Imitação diferida: É a primeira manifestação da função semiótica. A criança se
torna capaz de reproduzir o ato motor desvinculado do seu contexto e começa a
perceber a ausência do modelo e estabelecer o início do significante. A criança
imita os gestos ou comportamentos, mesmo com os modelos ausentes. Ela
manifesta seus pensamentos através do gesto imaginativo. Durante a imitação, a
acomodação predomina sobre a assimilação, reproduzindo com exatidão, objetos
ou pessoas que são lembrados. É a repetição de um comportamento em um
momento após o que realmente aconteceu. Essa conduta é quando as crianças
passam a imitar seus pais ou pessoas próximas de sua criação, estando distante
delas. Por exemplo, quando a criança começa a realizar gestos de quem está
cozinhando, lembrando-se da mãe ao preparar o jantar.
b) Jogo simbólico: A manifestação da função semiótica também pode ser chamada
de brinquedo de faz de conta. As representações em pensamentos são evidentes
e a criança faz uso de gestos e objetos para representar coisas e situações que ela
imagina. Uma escova de cabelos pode se tornar um microfone, e suas bonecas, à
plateia de um grande show de músicas. A assimilação, neste momento, supera a
acomodação. O real é assimilado às necessidades. Para a criança, nesse estágio,
o egocentrismo é percebido pela falta de limitações da brincadeira, onde o
importante é suprir as suas necessidades. Ainda nesse estágio, as crianças
mostram desejo de: ser livre para modificar e criar regras para suas brincadeiras;
desenvolver sua imaginação e a fantasia; criar sua lógica própria de acordo com
a realidade e assimilar a realidade do seu “eu”. Durante esse momento, a criança
exercita sua capacidade de reflexão e de pensamento e também suas habilidades
motoras.
28
c) Desenho ou imagem gráfica: Trata-se do intermediário entre o jogo simbólico,
no qual percebe o mesmo prazer na ação. Há um esforço para demonstrar a
imitação do real. Muitas crianças desenham seus familiares, com características
que lhes são marcantes. Por exemplo: se a mãe possui olhos grandes e chama a
atenção da criança, em seu desenho, o olho da mãe terá grandes proporções.
Inicia-se assim uma imitação interiorizada.
d) Imagem mental: A imagem mental começa com a imitação interiorizada. É
diferente das operações mentais e da percepção. As imagens não são ligadas a
conceitos, e sim aos objetos e às experiências dos sujeitos. Conforme as crianças
vão avançando os níveis operacionais, vão desenvolvendo mais imagens mentais
que podem ser usadas como forma de apoio durante o planejamento para uma
ação e para compreender a realidade e das transformações.
e) Evocação verbal: Trata-se da última conduta representativa da função
semiótica. Decorre diante das ações passadas através da linguagem. Neste
momento, a capacidade de verbalizar fatos e objetos desponta. A criança
consegue se comunicar com palavras, adquirindo progresso nas estruturas
gramaticais. Ela já pensa em espaço e tempo e já faz representações simultâneas.
Pillar (1996), em seus estudos sobre Piaget, ressalta que, em cada uma dessas
condutas citadas acima, há um caráter representativo, apesar de serem atividades
diferentes. A representação é uma condição básica para o pensamento existir, isto é, não
há pensamento, articulação e evocação de ações interiorizadas, sem representação.
Apesar de serem diferenciadas em suas estruturas, as funções do pensamento
permanecem constantes de um nível a outro.
Representação, pelo olhar da teoria piagetiana, se dá na função semiótica quando
a criança começa a trazer a lembrança e reorganizar, em pensamentos, situações
passadas, associando-as à atualidade. A função semiótica possibilita a expansão da
criança do tempo-espaço atual para o tempo-espaço contínuo, afastando-se do seu
universo, compreendendo o pensamento de outros sujeitos, incutindo os atos passados
para que o nível operatório possa associá-los. Após o surgimento da função semiótica, a
criança passa ter condições de representar suas experiências através do desenho e da
escrita. (PILLAR, 1996)
Para Piaget (1976 apud, PILLAR, 1996), entre as diversas formas de
pensamento representativos, há os que apresentam caráter independente e interagem,
29
evoluindo para o equilíbrio progressivo. Tem a função semiótica como recurso comum
aos distintos sistemas de representação.
Já os sistemas de representação são conjuntos de relações interligadas, formando
um todo com características regulares, que se mantêm preservadas apesar das mudanças
dos elementos, conceitua Piaget (1978). O seu funcionamento se dá pelas relações entre
os procedimentos práticos ou interiorizados, nos quais os elementos se transformam. O
sistema de representação possui estrutura, que mantém seu equilíbrio. Havendo
desestabilidade, desorganiza todo o sistema. Para reequilibrá-lo, o indivíduo constrói
uma nova estrutura, modificando-a e conservando seu funcionamento.
2.1 Desenho como sistemas de representação
Buscou-se nesse tópico, embasamento teórico para a análise dos desenhos
infantis, vistos como sistemas de representação, destacando Pillar (1996) cujos estudos
a esse respeito baseiam-se em Piaget. Assim, para ela, o desenho é um trabalho gráfico
resultante da interpretação do objeto pelo sujeito, como o objetivo de alcançar o
conhecimento. Tal conhecimento, porém, envolve características culturais e científicas
propriamente ditas. Inspirada nos estudos de Piaget, Pillar (1996) afirma que a criança
apresenta, em seus primeiros desenhos, muita influência do meio, ou seja, ela mais
copia modelos do que executa rabiscos. Ela desenha pelo simples prazer ou apenas
registrando o que observa sem interpretar.
Em adição o desenvolvimento cognitivo possibilita ao sujeito ser capaz de
apresentar atitudes estruturadas, gerando conteúdos ricos e complexos, provenientes de
seu pensamento ou memória. Neste momento, surge à interação com o objeto de estudo:
a criança interessa-se por compreendê-lo, expressando-se livremente até o ponto de criar
conceitos e estruturas.
Buscando compreender as diversas etapas que envolvem a criação de um
sistema, insere-se também, conforme Piaget (1978), outro elemento indispensável para
que ocorra o conhecimento, ou seja, dados mentais devidamente estruturados e
percebidos em sua totalidade. Somando-se a percepção, que é proveniente dos sentidos,
a inteligência progride e dá margem para estruturar um sistema.
Finalizando as condutas apontadas para a criação do sistema de representação,
segundo Piaget e sua teoria construtivista, a criança através do desenho, torna-se capaz
de interagir com o objeto de seu estudo, coordenando esquemas montadores do objeto
30
de modo a decompô-lo e recompô-lo para apreendê-lo, dos registros produzidos. E,
assim, constroem-se novas estruturas mentais, pois aí se impõe o momento em que o
sujeito interpreta ou representa determinado objeto para de compreendê-lo (PILLAR, p.
1996).
Percebidos os passos realizados para chegar ao sistema de representação do
desenho infantil, a autora chama a atenção para a importância de não interferir no
trabalho da criança ou sugerir algo no momento em que ela realiza sua atividade
criadora, deixando-a livre para representar o que vem do seu pensamento.
Conforme ressalta Pillar (1996) o mediador da experiência com o desenho junto
as crianças não pode interferir na atividade ou sugerir algo, pois poderá comprometer
diretamente o resultado final da obra.
Explicando melhor, inicialmente a criança e o objeto são indefinidos e, através
da interação, a criança constrói o objeto que se organiza com ela. Essa interação
proporciona que a criança, que tem sua inteligência pela vida orgânica, elabore novas
estruturas mentais com o objeto. (PILLAR, 1996).
E assim, ao desenhar, a criança constrói seu conhecimento correlatos ao que irá
representar interagindo com o objeto, pois ela não nasce sabendo desenhar. Ela desenha
o que as suas estruturas mentais possibilitam que perceba e não o que vê. Também, por
meio de suas estruturas mentais, interpreta o que representou. Assim, a criança é
responsável por seu processo e aprende a desenhar, construindo hipóteses e
interpretações do mundo a sua volta. (PILLAR, 1996)
Segundo Pillar (1996), Piaget supõe que o desenho é uma representação que
constrói uma imagem diferente da percepção. Ela também enfatiza que o desenho é
mais complexo que a reprodução do modelo interno, porque não se pode afirmar que a
representação expresse realmente o que ela pensava. Contudo apresenta indícios da sua
estruturação simbólica.
Retomando Piaget (1978) ao final do estágio sensório-motor, quando a criança
completa 1 ano e 6 meses a 2 anos, começa a fase da interiorização dos esquemas de
ação, que são as formas como o ser humano interage com o mundo, até então
construídos. Na passagem do estágio sensório-motor para o pré-operatório, os esquemas
são interiorizados, chamados por ele de função semiótica ou simbólica. Nesse estágio,
os instrumentos das crianças se aperfeiçoam, alterando as manifestações internas do que
é real. A inteligência representativa vai substituindo a inteligência prática.
31
De acordo com Pillar (1996), a função semiótica é fundamental para a evolução
das condutas inferiores, que é a condição de representar algo ou alguma coisa por meio
de um significante diferente e que será só para essa representação. Ainda ressalta que,
para Piaget, esse nome consegue englobar os signos, arbitrários e sociais. Essa função
possibilita que a criança represente objetos ou situações que não estão no seu campo
visual, mas, nas imagens mentais, desenhos e linguagem. A função semiótica colabora
para que a criança consiga diferenciar significantes dos significados. Quando a criança
apresenta essa capacidade, ela consegue realizar representações de um acontecimento
ou mesmo de um objeto mediante um significado diferente e específico para a
representação.
Por fim, as crianças, quando organizam suas experiências em sistemas de
significação, evidenciam a percepção, internalizam as imagens mentais, tornando-se
simbólicas. Assim, os significantes e significados se separam, mas se relacionam
simultaneamente. A criança, adquirindo a função semiótica, tem condições de lembrar e
reconstruir pelo pensamento atos passados e relaciona-los com atos presentes.
(PILLAR, 1996)
2.2 Fases do desenho segundo Piaget
Deve-se também a Piaget (1976 apud BOMBONATO, FARANGO, 2016) o
estudo do desenho infantil ao dividi-lo em cinco fases, que se relacionam. Segundo
Crespo (2012) Piaget ressalta que essas cinco etapas distintas, correspondem às fases
do seu desenvolvimento do desenho das crianças. Abaixo seguem as descrições dessas
etapas apontadas Jean Piaget:
1ª Etapa - Garatuja
Essa fase se dá durante o estágio sensório motor (0 a 2 anos), na qual a criança
ainda não adquiriu habilidades adquiridas e percebe o seu meio com simplicidade e
subjetividade. Essa etapa ainda continua na fase pré-operatória (2 a 7 anos): onde a
criança começa a construir sua linguagem e realiza um jogo de imitações, interagindo
com o mundo a sua volta. Durante esse período a criança demonstra prazer ao realizar
sua obra e não há menção à figura humana. As cores também ficam em segundo plano,
não apresentando tanta importância para a criança. Segundo Bombonato e Farango
(2016) a visão de Piaget e Luquet (1969), a respeito dessa fase, se assemelha, visto que
32
os dois estudiosos afirmam que durante este primeiro período da vida da criança elas
desenham por prazer. Afinal, a garatuja pode ser dividida em três estágios, a saber:
a) Garatuja desordenada - Os movimentos são amplos e desordenados, podendo
estar um traço sobre o outro. Parecem movimentos meramente motores.
Geralmente é o primeiro contato da criança com o lápis e o papel e segurando o
lápis de diversas maneiras. Desenha pelo prazer do movimento. É o que mostra
a figura seguinte:
Figura 12: Garatuja desordenada
b) Garatuja ordenada - Neste momento pode-se começar a surgir interesse pelas
formas. Os traços ainda são longitudinais e circulares. Não há ainda a presença
humana, apenas na imaginação, como na figura a seguir:
FONTE: Stabile, R.M. 1988. Garatuja Desordenada. A Expressão Artística na Pré-Escola. P. 16. São Paulo- FTD
33
Figura 13: Garatuja ordenada
c) Garatuja identificada - Durante esta fase, a criança realiza formas
irreconhecíveis no papel, contudo atribui significados a elas, nomeando e
contando histórias sobre sua obra. Durante essa fase, a criança diz o que vai
desenhar, mas não há relação fixa com o objeto. A criança pode afirmar que um
círculo é um foguete e mesmo antes de terminar, afirma ser um urso. No
desenho abaixo, a criança afirma que desenhou o seu cachorro.
Figura 14: Garatuja identificada
FONTE: Derdyk,E. 1996. Garatuja Ordenada. Formas de Pensar o Desenho. P. 67. São Paulo. Editora Scipione.
34
2ª Etapa - Pré-esquematismo
Essa fase se dá em parte do estágio pré-operatório (4 a 7 anos). Durante esse
período, a criança passa a realizar a junção entre o pensamento, desenho e realidade.
Percebe-se também que os elementos dos desenhos não se relacionam entre si, estando
dispersos na folha. Nessa etapa, aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo
através dos vínculos afetivos.
FONTE: Stabile, R.M. 1988. Garatuja Identificada. A Expressão Artística na Pré-Escola. P. 21. São Paulo- FTD
35
Figura 15: Pré-esquematismo
3ª Etapa: Esquemtismo
Nesta etapa a criança está passando pelo estágio das operações concretas (7 aos
10 anos). Os esquemas representativos são realizados com formas diferentes para cada
objeto. Aqui, a criança começa a dar visibilidade aos seus desenhos da forma humana.
Às vezes, podem ocorrer exageros, como um braço maior que o tronco ou mesmo
negligências, como desenhar um rosto sem o nariz. Também é característico dessa etapa
a criança desenhar seus personagens acompanhados de diálogos, representados em
balões ou palavras espalhadas em seu desenho. É nessa etapa que as crianças começam
a utilizar a linha como base. As cores passam a ter importância para a composição do
desenho e a criança passa a entender as relações, como maior e menor, maior peso,
menor peso... surgindo também à transparência e o rebatimento.
É, pois, nessa etapa que os esquemas conceituados por Piaget como as formas
diferentes de interagir com o mundo vão se tornando mais complexos a medida do
FONTE: Stabile, R.M. 1988. Pré-esquematismo. A Expressão Artística na Pré-Escola. P. 29. São Paulo- FTD
36
crescimento do sujeito, pois o desenho tem como característica principal a afirmação de
si mesmo mediante a repetição dos símbolos da forma. A figura humana ainda é
exagerada e pode haver omissão de partes que, na concepção da criança, não tem
importância. Conseguem desenhar o céu, no topo da folha e tendo o chão como a linha
de base. As cores são utilizadas conforme o padrão do objeto que elas têm na cabeça.
Realizam um desenho bidimensional, como se vê neste desenho:
Figura 16: Esquematismo
4ª Etapa: Realismo
Normalmente acontece ao fim do estágio operatório concreto (10 a 11 anos).
Passando pela pré-adolescência, a criança tem maior consciência sexual e autocrítica
formulada. Descobre quanto ao espaço o plano e a superposição, porém não utiliza mais
FONTE: Luquet,G.H. Trad. Azevedo, M.G.T.D.1969. Esquematismo. O Desenho Infantil. P. 165. Barcelona. Porto Civilização.
37
a linha de base. Seu desenho tem um número maior de figuras geométricas. Desenham
roupas diferentes para cada sexo e associam cores a eles.
A fase do realismo inicia-se junto à crise da adolescência, quando também
abandonam o esquema. As cores passam a ser mais realistas e podem ser influenciadas
pelas emoções. Procuram não utilizar borracha, tornando o erro parte da obra.
Desenvolvem a cooperação.A propósito, veja-se o desenho a seguir. Refere-se a
realidade de um pré-adolescente (12 anos), que vive diariamente o confronto existente
na Palestina, onde pessoas são mortas a todo momento. Ele representa um soldado
atirando em uma criança, segundo Mèredieu (1974)
Figura 17: Realismo
5ª Etapa: Pseudo-naturalismo
Esta etapa acontece quando a criança já está no estágio operacional formal (11
anos ou mais) e chega ao fim da arte com espontaneidade.Por isso, muitas não querem
FONTE: Mèrideu, F. 1974. Realismo. O Desenho da Criança. P. 62. São Paulo. Editora Cultrix.
38
mais desenhar. Agora ela já começa a descobrir sua personalidade, que é transferida,
muitas vezes, para o papel, traduzindo angustias e inquietações, típicas da adolescência.
Nessa fase, o realismo e a objetividade aparecem muito nos desenhos, também a
profundidade, o espaço e o uso consciente da cor. Muitas vezes, nos desenhos retratando
humanos, as características sexuais são representadas de forma exagerada. No desenho
abaixo, o autor queria demonstrar o medo relativo a seu pai. (MÈREDIEU, 1974)
Figuro 18: Pseudonaturalismo
Vale lembrar que, assim como Piaget outros autores como Vigotsky, Luquet
Florence, Victor Lowenfeld, apresentam diferentes contribuições para o estudo dos
desenhos. Sem exceções, todos eles reconhecem que o desenho das crianças passam
por etapas, períodos ou fases. Quanto as etapas elaboradas por Jean Piaget proporciona
visualizar a criança com um novo olhar, podendo, então, tomar novas atitudes. Afinal,
aprender é interagir com uma multiplicidade de imagens, palavras, expressões e
FONTE: Mèrideu, F. 1974. Pseudo-naturalismo. O Desenho da Criança. P. 89. São Paulo. Editora Cultrix.
39
observações do meio em que a criança está inserida. Assim, o grafismo pode ser o meio
pelo qual a criança manifesta toda sua visão do mundo que a cerca. Piaget nos mostra
que o desenho é um valioso instrumento onde a criança pode nos contar o que sabe e
entende do mundo, relacionando a um processo ativo no qual ela retrata o que conhece e
compreende sobre determinado fato, objeto ou meio de vida.
As estruturas espaciais e suas relações com o desenho também foram temas dos
estudos de Piaget, ele acrescentou ao desenvolvimento do desenho infantil uma análise
epistemológica, que já havia sido mencionada pelas formas do desenho estudados por
Luquet. De acordo com Padilha (1990 ) , Piaget se interessou pelo assunto devido:
[...] à consideração de que a evolução do desenho fornece o quadro
geral no qual se situam as análises que ele e laborou junto ao estudo
dos elementos e operações constitutivos da construção do espaço. Ao
estudá-la, observou-se que, tanto perceptivamente, quanto na ação
inter-objetal e posteriormente na representação (desenho), sucediam-
se na mesma ordem as mesmas relações topológicas. (PADILHA,
1990)
Ainda, segundo Padilha (1990) essas ações se apresentam nesta ordem: ação e
representação, verticalmente. Até os 4 meses de idade, a criança apresenta suas relações
perceptivamente. Apenas alguns anos depois, são reconstruídas essas relações e a
interação com o objeto. Posteriormente, as crianças alcançam o plano da representação.
Leivas (2009) e Padilha (1990) conceituam as relações topológicas fundamentadas nos
estudos piagetianos, conforme descritas a seguir:
a) Relação de vizinhança
É a fase compreende da descoberta dos elementos que podem estar em um
mesmo campo de observação. Durante esse estágio as funções evoluem com a idade, ou
seja, quanto mais nova a criança, mais ela se aproxima dos fatores de organização que a
beneficiam, como simetria ou semelhança. Essa relação acarreta uma organização
espacial dos elementos próximos dos outros, como representado na figura a seguir:
40
Figura 19: Relação de vizinhança
b) Relação de separação:
Esta relação, em uma percepção global, ocorre quando o bebê está ainda na
relação de vizinhança, contudo identifica claramente a separação de elementos do
desenho. Ao passar do tempo, essa relação de separação aumenta, consequentemente
diminuindo as relações de vizinhanças. Nesse ponto, há uma diferenciação dos
elementos vizinhos. Percebe-se isso quando a representação da relação se distingue, a
princípio de maneira rudimentar passando para situações com maior complexidade.
Pode-se observar no desenho abaixo que a figura humana está representada por dois
olhos.
Figura 20: Relação de separação:
FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Separação. A Criança e seu desenho. P. 182.
41
c) Relação de ordem:
Também chamada de sucessão espacial, esta relação estabelece uma sequencia
espacial e temporal ao mesmo tempo. É constituída junto das relações de vizinhança e
separação. Assim, quando o indivíduo segue ou realiza uma sequência de movimentos
ordenados no espaço e no tempo, estabelecem-se relações entre os elementos
desenhados ao mesmo tempo vizinhos e separados, pois são distribuídos em sequencias.
Primeiramente a criança manifesta, em seu desenho, pares de elementos, como mostra
na figura 20 em que ela realiza pares de pernas e braços, para, aos poucos, representar
todos os elementos no seu desenho, certificando sua organização, como na ilustra a
figura 22, ou seja, consegue realizar uma ordem espacial dos elementos, mostrando
noções de simetria.
Figura 21: Figura 22:
FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Separação. A Criança e seu desenho. P. 185.
42
d) Relação de fechamento:
Padilha (1990) cita a fase nomeada relação de fechamento, que se dá pela
relação de ordem. Nessa fase, as crianças realizam um fechamento unidimensional e
bidimensionalmente, conseguem perceber que os olhos (figura 23), por exemplo, são
desenhados dentro da face. Já tridimensionalmente, conseguem representar as relações
contidas no interior e exterior, como em um pacote de presente ou mesmo no interior de
uma casa, como ilustra a figura 24 abaixo. Já Silva (2004) e Leivas (2008) não a
mencionam, passando logo para as relações de continuidade.
Figura 23: Relação de fechamento: Figura 24: Relação de fechamento
FONTE: Stabile, R.M. 1988. Pré- Esquematismo. A Expressão Artística na Pré-Escola. P. 36. FTD.
FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Ordem. A Criança e seu desenho. P. 195.
FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Fechamento. A Criança e seu desenho. P. 195.
FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Fechamento. A Criança e seu desenho. P. 116
43
e) Relação de continuidade:
A última fase das relações espaciais denomina-se relação de continuidade.
Neste ponto, as formações dos limites dos elementos dentro do campo perceptivo
acontecem bem como a composição das relações anteriores. As crianças reconhecem as
figuras em constantes modificações. Essa relação de continuidade se dá quando a
criança consegue representar pontos sequenciados em um espaço. Nessa última etapa
encontram-se problemas projetivos e geométricos. Mas é impossível analisa-los, pois o
desenho é visto apenas pela ótica de quem o executa. A figura 25 exemplifica um
pouco dessa dificuldade, ou seja, os problemas topológicos aparecem apresentando
rebatimentos, impossibilidade de perceber em uma situação bidimensional, uma
situação tridimensional, misturando assim, os pontos de vista.
Figura 25: Relação de continuidade
Em suma, percebe-se o quão é importante conhecer as fases do desenho e as
relações das suas estruturas espaciais,pois, conforme o olhar de Piaget,desenhar não se
resume apenas no prazer de deslizar o lápis no papel. De acordo com Bombonato e
Farango (2016), realizar o desenho é a maneira como a criança começa a representar,
FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Continuidade. A Criança e seu desenho. P. 98. São Paulo. Artmed.
44
simbolicamente, o mundo e acontece o desenvolvimento motor, orgânico, rítmico e de
aprendizagem. Para desenhar, as crianças precisam ter liberdade para criar, imaginar e
inventar, atendendo às etapas do seu desenvolvimento simbólico.
Piaget (1971) afirma que a criança “reduz a imagem mental ou a recordação da
imagem, isto é, a evocação simbólica das realidades ausentes” (PIAGET, 1971, p. 87)
Diante disso, os desenhos das crianças são resultados das suas interações com o
meio e através deles, percebemos sua evolução mental. Os símbolos e as imagens
mentais surgem da reprodução, compondo pouco a pouco a estrutura do pensamento, e,
de acordo com Piaget (1971) a criança chega ao raciocínio lógico, após tomar
consciência.
2.3 O desenho infantil sob outros olhares
Georges Henri Luquet (1927) foi um dos pioneiros a estudar o desenho infantil.
Seu trabalho possibilita diversas maneiras de olhar os desenhos das crianças
relacionando-lhes conceitos importantes. Luquet (1910) defende que o estudo do
desenho infantil deve partir do ato de desenhar das crianças, acompanhando e
registrando todas as ações e falas ocorridas antes, durante e depois da realizção desenho.
Sua obra O Desenho Infantil de 1927 sintetiza seus trabalhos. Nessa obra, segundo
Duarte (2009) o autor estabelece elementos para a análise dos desenhos como: intenção,
interpretação, tipo, modelo interno e colorido. Portanto Luquet (1927) proporcionou
novas maneiras de olhar e compreender o desenho infantil. Em sua opinião é importante
investigar a produção gráfica das crianças em sua interação com o objeto para
compreender melhor o desenvolvimento do desenho na infância, podendo chegar a
observações importantes no processo de aprendizagem.
Já Lev Vygotsky (1988) apresenta diferentes características do desenho, uma
delas é relativa ao ato motor. Ele percebe o desenho como o registro do gesto,
realizando-o com a imagem. Ele acredita que o desenho é o percussor da escrita, pois,
com sua colaboração, as crianças começam a representar graficamente o mundo a sua
volta.
O ato de desenhar, prossegue Vygostky, contém um grau de abstração ao puxar
da memória lembranças para representá-las no papel. A fala também apresenta uma
importante função, sendo ela a base da linguagem gráfica. Falar sobre o desenho infantil
leva à reflexão sobre a linguagem, imaginação, percepção, memória, emoção,
45
significação.Portanto é preciso compreender os processos psicológicos que estão
envolvidos nesse ato. O desenho é um meio de comunicação muito importante para as
crianças. É uma fonte de fácil entendimento entre elas. (PEREIRA, 2016)
Por sua vez, Lowenfeld (1997) defende que o desenho é um veículo de
autoexpressão, e por meio dele, desenvolve-se a capacidade de representação e
ampliação da criatividade. Para ele, o desenho infantil, são apresentadas variações de
tamanhos em relação ao todo ou à parte. Não é necessário correções, pois assim
interfeririam no toque emocional que as crianças buscam representar em sua obra. A
interferência no desenho da criança, pode inibi-la a repassar para o papel suas
experiências subjetivas, tirando o que é importante de ser produzido.
Já, Derdyk (1989) afirma que a criança utiliza o desenho para diversos fins:
como modo de expressão, como linguagem, como diversão, quando ela realiza a tarefa
sozinha, não precisando de companheiros, ditando suas próprias regras, aprendendo a
estar só. O desenho, segundo Derdyk (1989), é o palco de suas criações, encenações e
este universo de construção é particularmente dela. Ainda na visão do autor, quando a
criança tem possibilidades de desenhar, tem condições de explorar maior número de
grafismos, proporcionando, assim, uma compreensão mais aguçada. Englobar o
imaginário (projetar, pensar, idealizar...) ao aspecto operacional (funcionamento,
materiais, espaço...) também é um ato do desenho, pois envolve o lúdico, fazendo a
criança pensar desde o funcionamento físico até a idealização..
Na opinião de Márcia Gobbi (2005), é possível conhecer as crianças desde bem
pequenas, a partir dos seus desenhos. Perceber as crianças sujeitos singulares,
possuidores e construtores de cultura, levou a estudiosa a pensar o desenho como uma
produção a ser analisada de forma séria e própria, distanciando a imagem da criança
como um pequeno adulto.
Tendo o desenho infantil como principal tema das suas pesquisas, Gobbi (2015),
em entrevista na página Centro de Educação Integral, para a colunista Ana Luíza
Basílio, adverte que, por os desenhos estarem sempre presentes no cotidiano escolar e
social, não devem ser esquecidos, pois deixa-se de perceber o que eles têm a nos dizer.
Nessa medida, observando-se as crianças atentamente pode-se compreender suas
práticas e lógicas infantis possibilitando perceber as diferenças e marcas, como gênero,
percepções, entre outras. Quanto à representatividade dos desenhos, a pesquisadora
ressalta a importância de observar a criança desenhando e pedir a ela que fale sobre sua
obra. Ela ressalta também que o desenho não é o produto final. E, simplesmente
46
recolhê-los e arquivá-los é uma perda de dados valiosos, pois não dá a oportunidade de
perceber o que foi representado em sua obra. Evidencia também que é importante que as
crianças discutam suas obras
Por isso, no próximo capítulo fará a apreciação de estudos sobre a concepção das
crianças sobre animais.
47
3 - OS ANIMAIS NOS DESENHOS DAS CRIANÇAS: UM
PANORAMA SOBRE AS PESQUISAS QUE INVESTIGAM A
CONCEPÇÃO DE ANIMAIS NA INFÂNCIA
Pretende-se neste capítulo, compreender as representações que as crianças e os
conhecimentos expressos por elas ao desenharem formigas. Para tanto recorreu-se a
estudos sobre a representação de diferentes animais, pelas crianças. Dada o grande
número de teses, dissertações, artigos a esse respeito, adotaram-se alguns critérios para
a seleção dos estudos a serem apresentados aqui como: pesquisas envolvendo sujeitos
de 3 a 11 anos de idade, em virtude da faixa etária presente investigação; pesquisas cujo
instrumento metodológico fosse o desenho; pesquisas na área de ciências; pesquisas
com o objetivo de investigar a representação de animais pelas crianças. Feita a leitura
dos resumos desses trabalhos, elegeram-se sete pesquisas por considera-las
representativas para o campo investigado. Também foram examinadas fontes de
publicações cientificas encontradas, nos últimos 12 anos, no Scielo, Portal da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); nas
bibliotecas virtuais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Revista de
Ensino de Biologia (SBEnBIO); Revista Ciências em Extensão da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP); Revista Ensaio; Periódico
Eletrônico do Fórum Ambiental da Alta Paulista; artigos do Congresso Nacional de
Educação (CONEDU); portal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP); artigos do XIV Congresso Internacional
de Tecnologia em Educação e Sapientia – Repositório da Universidade do Algarve.
Assim sendo, começando com Dominguez (2006) em sua pesquisa, buscou
entender o que as crianças, em situações de interação discursivas sob a mediação de
adultos, contam ao desenharem os seres vivos em estudo.
Essa pesquisadora realizou seu estudo em uma creche, localizada dentro do
campus da Universidade de São Paulo e, decorrente de 6 meses, acompanhou uma
turma de crianças de 4 anos. Considerando importante conhecer o contexto em que
seriam produzidos os desenhos, a pesquisadora optou por utilizar uma metodologia
qualitativa de pesquisa, permitindo interferências por parte do pesquisador. Ela
participou ativamente das rodas de conversas, caracterizando a pesquisa em questão em
observação participante.
48
Para compreender o relato das crianças sobre os seres vivos, ela estudou uma
situação particular da vida das borboletas. Dessa maneira, ela procurou compreender
como ocorre o processo de atribuições de significados, quando as crianças desenham
borboletas. Analisando a linguagem gráfica e verbal, Dominguez (2006) buscou
perceber a organização espacial e as concepções pedagógicas presentes na turma. O
caderno de campo serviu como estratégia para a realização dos registros, principalmente
quando não havia desenhos nem entrevistas programadas no encontro. Além disso,
todas as aulas foram gravadas em áudio e vídeo. As câmeras foram devidamente
ajustadas, com o enquadramento favorecendo os movimentos das crianças, dada a
intenção de acompanhar os detalhes a atividade. Para a realização dos desenhos,
inicialmente as crianças foram convidadas a produzir, em papel A4 e a lápis, desenhos
relacionados ao projeto. Desse processo participaram 7 crianças que foram divididas em
dois grupos. Também foram realizados passeios pelo bosque do campus e observações
no parquinho da creche. Às notações realizadas no caderno de campo, a pesquisadora
acrescentou as análises dos desenhos, tendo sempre atenção voltada às falas e obras das
crianças. Com o aporte de Vygotsky (1896-1934), ela buscou analisar os desenhos para
perceber quais os conhecimentos as crianças possuíam e quais adquiriram sobre as
borboletas. Os critérios para a análise dos desenhos não ficaram claro na pesquisa, pois
foram apresentadas apenas as características das borboletas nos desenhos. O interesse
das crianças pelo tema e o número de registros arquivados dos desenhos foram critérios
relevantes para escolha dos desenhos analisados. Essa tese focalizou quatro crianças que
produziram maior quantidade de desenhos.
A conclusão da autora foi que as crianças elaboraram suas concepções sobre o
modo de vida e características das borboletas. Os insetos adultos foram representados
com asas, embora não houvesse um padrão determinando a quantidade desenhada,
também acrescentaram antenas, cabeças e pernas. As borboletas apareciam sempre
interagindo com plantas ou outros animais. Vegetais apareciam ora como alimentos, ora
como esconderijo, ora como habitat.
Outra conclusão da autora foi que nos primeiros desenhos as crianças
representavam as borboletas com poucas características e utilizaram aspectos humanos.
Mas, com o desenvolvimento das falas e observações, ampliaram suas concepções,
inclusive abandonando aspectos humanos englobados anteriormente nas borboletas. E
então, acrescentam o que era mais real nas borboletas mostrando a evolução das
observações.
49
Por fim ela conclui que as crianças, ao final do trabalho realizado, conseguiram
visualizar o ciclo da vida da borboleta. Isso foi constatando isso pelos desenhos
apresentados e os comentários explicitados durante os encontros.
Por sua vez, a pesquisa de Silva e Bartosezeck (2011) dedicou à compreensão
do que pensam as crianças quando falam de aves. Silva e Bartosezeck (2011) fazem uso
do desenho seguido de entrevista. Com o aporte de Luquet (1927), desenvolveram esse
trabalho, com ênfase nos conhecimentos sobre aves e o desenho infantil.
Assim, em uma escola estadual de Pernambuco, os pesquisadores convidaram 77
crianças com idades entre 10 a 13 anos, que desenhassem aves em folhas A4 e lápis
preto e, após o desenho, participassem de uma entrevista semiestruturada que consistia
em responder cinco perguntas: A saber: 1. Quantas/quais aves você conhece?; 2.
Nomeia-as; 3. Onde você viu essa ave?; 4. Das aves que você conhece, onde as viu?. 5.
Diante de uma lista, com fotografias de aves (galo-de- ampina, para- arroz, juriti, anu,
rolinha, pica-pau, pintassilva, sangue-de-boi, patativa, beija-flor), os entrevistadores
questionaram às crianças o nome de cada ave e aonde elas a viram. Todas realizaram o
desenho, mas nem todas responderam às perguntas da entrevista.
Como os sujeitos da pesquisa apresentavam idades variadas, os pesquisadores
tiveram condições de realizar uma análise comparativa. Pelos desenhos, notaram que as
crianças mais novas (10 e 11 anos) representaram sua ave com menor identificação às
características morfológicas, além de incluírem semelhanças com figuras humanas.
Pássaros com sobrancelhas, cílios e boca foram encontrados, assim como um sol com
rosto. O ambiente doméstico também foi onde a maior parte das crianças representaram
suas aves: galinhas, pombas, patos e gansos. Poucas crianças desenharam suas aves com
detalhes, como: bicos, garras e penas. Elementos culturais também foram observados,
como representações de pássaros na gaiola.
Mas, todos os desenhos representaram aves com olhos arredondados. Em alguns
desenhos, as aves tinham cobertura em traços ora lineares, curvos, ora ondulados.
Algumas crianças representaram as aves pousando em superfícies, sedimentos ou base
que serviam de suporte aos organismos vivos e além de outros que os pesquisadores não
identificaram. E, em 24 desenhos, as aves apareceram pousadas em diferentes subtratos,
como: água, pedaço de pau, árvores, pedras e ninhos. Outras crianças representaram
suas aves voando ou com asas abertas.
Silva e Bartosezeck (2011) afirmam que o desenho contribui para conhecer o
que as crianças entendem quando se fala em aves. Assim as crianças de 10 e 11 anos de
50
idade associam sua representação à família e ao seu próprio corpo. Quanto às maiores
(13 anos), poucas representaram sua ave semelhante ao real. Para os autores, o trabalho
em questão colabora para a reflexão sobre o uso do desenho no processo de ensino e
mostra que a criança consegue repassar para sua produção muito do que conhece sobre
o determinado animal.
Em outra pesquisa sobre a representação infantil dos animais, Glória et al (2012)
analisaram as concepções de crianças de 6 a 8 anos de idade sobre o lobo ibérico. Para
tal, as autoras solicitaram às crianças de 164 escolas portuguesas que desenhassem um
lobo. Segundo os autores, essas crianças não apresentaram nenhum tipo de informação
formal dos hábitos e anatomia desse animal.
A pesquisa não buscou interpretar as razões que levaram essas crianças a
desenharem tal representação do lobo ibérico e sim falar da anatomia desse animal, o
contexto da sua representação e sua interação com o ser humano. Nesse sentido, foi
elaborado um quadro de categorias para codificar os desenhos que eram recolhidos
pelos pesquisadores. O olhar das crianças acerca do lobo ibérico também foi um ponto a
ser analisado, com o intuito de perceber se as crianças apresentavam concepção que
favorecesse a conservação da espécie, ou se se tratava apenas visão negativa, pautada
pelo medo e por informações errôneas.
Para sua análise desse material e com o objetivo de enriquecer o processo de
interpretação, os pesquisadores, em concordância com Bogdan e Biklen (1994),
analisaram coletivamente os desenhos a fim de diminuir as distorções provenientes da
análise de apenas um investigador. O quadro de categorias foi composto tendo em vista
as características do animal, como: reprodução, caça ao lobo ibérico, cativeiro,alcateia,
predação, temperamento, antropormifação, sons, enquadramento ecológico. Para as
produções que não enquadraram em nenhuma característica das categorias
mencionadas, foram atribuídas outras representações do lobo. Cada criança participante
da pesquisa realizou apenas um desenho, mas esse desenho poderia ser enquadrado em
diversas categorias do quadro, diante das características apresentadas. Inicialmente, os
pesquisadores utilizaram um procedimento quantitativo, contabilizando as obras. A
maior parte das crianças (75%) representou olobo no contexto ecológico, atestando que
elas possuem noções básicas sobre o ecossistema em que o animal vive. Em 34% dos
desenhos, o lobo foi associado a situações noturnas, uivando para a lua. Já 33% das
crianças desenharam o lobo com características antropomórficas. Quanto às
representações do lobo predador, apenas 12% das crianças desenharam-no nessa
51
perspectiva. Em 11% dos desenhos, as crianças representaram alcateias e em 13% dos
desenhos não foi possível encaixar as representações em nenhuma categoria, sendo
enquadradas como outras representações do lobo.
Diante desses resultados, as autoras concluíram que, apesar dos preconceitos
existentes na sociedade contra os lobos, foi possível perceber que as crianças
pesquisadas não generalizam o medo da espécie, mencionando sempre os lobos como
relevantes para a natureza. Concluíram as autoras que as crianças conheciam
características do lobo, dados que poderão ser relevantes ao se tratar da conservação das
espécies. Os pesquisadores concluíram que as crianças pesquisadas possuíam
conhecimentos adequados sobre os lobos. Porém, algumas ainda mantiam a visão
estereotipada e deturpada dos lobos, associando-os ou a seres agressivos ou a animais
que precisam ser caçados.
Já Santana e Fiamengue (2013) investigaram o conhecimento e a percepção das
crianças da 4ª série de uma escola municipal, em um vilarejo bahiano, cujas crianças
possuíam algum vínculo com pescadores, peixes e o mar. Ali buscaram entender a
interação das crianças com os animais marinhos e a construção desse conhecimento
entre as gerações. Para tal, se deslocavam até a escola do vilarejo onde realizavam
produções de texto e desenhos junto às crianças, buscando entender quais seriam os
conhecimentos que elas possuíam sobre os peixes.
Quanto às análises dos desenhos, tiveram como base os textos elaborados pelas
crianças. De posse dos desenhos das crianças, as pesquisadoras perceberam que elas
sabiam muito sobre os peixes. Foram apresentadas obras nas quais foi possível perceber
que as crianças conheciam peixes de diferentes tamanhos e cores, levando as
pesquisadoras a acreditarem que elas eram capazes de identificar inúmeras espécies e
em diferentes fases do desenvolvimento, mencionando, inclusive, aspectos
morfológicos de cada uma delas. Nos desenhos foi possível perceber peixes com
nadadeiras caudais diferentes. Também, alguns, apresentaram a cadeia alimentar dos
peixes, outros retrataram a interação do peixe com o ser humano, mostrando crianças
nadando junto com os peixes, outro, ainda, desenhou seu peixe no aquário, em ambiente
domiciliar.
Afinal, as pesquisadoras concluíram que os desenhos e os textos das crianças
transmitiam conhecimentos e sentimentos. Conhecimentos que foram construídos pela
interação delas com o animais e do conhecmentos produzido entre as gerações.
52
Mas, dado o objetivo do presente estudo, destaca-se, aqui, a dissertação de
Dallabona (2013) por estar próxima ao nosso objeto de estudo: as formigas. Com
objetivo de analisar o processo de ensino, conhecendo os aspectos essenciais das
atividades das crianças e o processo de construção do conhecimento científico,
Dalladona (2013) realizou seu estudo com crianças do 2º ano do Ensino Fundamental,
em uma escola pública localizada em Timbó, Santa Catarina. A diferença entre a
pesquisa de Dallabona (2013) e a presente investigação se deve ao fato da autora ter
analisado, em seu trabalho, diversos recursos para compreender o conhecimento das
crianças acerca das formigas. O foco desta pesquisa é a compreensão das representações
que as crianças construídas pelas crianças sobre as formigas detectadas de seus
desenhos e narrativas.
Centrando-se, então no trabalho de Dallabona, para responder a pergunta: Como
ocorre o processo de construção do conhecimento científico das crianças do 2º ano do
ensino fundamental de uma escola pública de Timbó/SC?, a pesquisadora adotou a
abordagem qualitativa. Os sujeitos pesquisados eram 20 crianças com idades entre 7 e 8
anos e a professora regente da turma. Ela observou as crianças nas aulas de Ciências, e
colaborando para que processos interativos entre as crianças, professora e
conhecimentos se estabelecessem. A sequência didática se deu pela interação da
professora regente e pesquisadora. Para a coleta de dados, Dallabona utilizou as
observações realizadas durante as aulas, devidamente registradas no diário de bordo.
Foram utilizadas fotos e as gravações em vídeos. Também, as produções dos alunos
realizadas em sala de aula, coletivamente ou individual, constituíram fontes de
informações importantes para a elaboração do resultado da pesquisa. Identificados os
conhecimentos prévios das crianças, a pesquisadora propôs algumas questões em sala
de aula. As primeiras hipóteses das crianças sobre as formigas foram: a formiga possui
8 patas, ela é pequena e mora no formigueiro. Ao serem convidadas para produzir um
desenho, as crianças discutiram vários aspectos das formigas ainda não comentados,
como a alimentação delas. O açúcar foi o alimento mais comentado pelas crianças,
enquanto algumas argumentaram que eram as folhas, o alimento preferido das formigas.
No decorrer da tarefa, surgiram dúvidas relativas aos números de pernas das formigas e
sobre as antenas. Os desenhos apresentados foram acompanhados por textos. Nos
desenhos, as formigas aparecem em sua maioria com o corpo segmentado, com antenas
e seis pernas. Assim, com aulas expositivas, experiências, passeios, palestras,
elaboração de registros, relatórios, modelos, leituras, pesquisas, entrevistas, reflexões,
53
desenhos entre outras atividades Dallabona conseguiu proporcionar as crianças um
conjunto de saberes mais próximos dos conhecimentos científicos sobre as formigas.
A dissertação teve como resultado do produto educacional, um portfólio para
investigação científica, a partir da sequência didática elaborada, com o tema voltado
para o ensino de formigas.
Por sua vez Filho et al (2016) realizaram um estudo para avaliar a concepção
das crianças de 3 a 12 anos de idade sobre os morcegos. Os pesquisadores montaram
uma tenda em praça pública onde eram expostos objetos e painéis informativos
relacionados aos morcegos, ressaltando a importância ecológica deles, inclusive
promovendo condições de tocar em um animal vivo. Também montaram uma caverna
de tecido, onde o visitante poderia vivenciar o habitat natural desses mamíferos. Entre
os diversos convidados para participar dessa experiência, os pesquisadores convidaram
crianças e 42 aceitaram o convite.
Para a coleta de dados, as crianças foram convidadas a desenhar o que sabiam
sobre os morcegos e relatar em entrevistas semiestruturadas elaboradas pelas autoras,
responder às seguintes perguntas: A idade da criança?; O que são os morcegos?; Já viu
algum?; O que eles comem?; Você tem medo deles? Se sim, por que?. Tanto o desenho,
quanto as respostas da entrevista foram espontâneas. Enquanto as crianças desenhavam,
os monitores realizavam a entrevista. Nem todas as crianças se interessavam em
responder às perguntas, bem diferente do interesse apresentado para a realização dos
desenhos.
Para a análise dos desenhos, foram determinadas cinco categorias, sendo elas:
antropormifação, caracterização estereotipada, outros animais, inserção no ambiente,
representações da tenda onde foram analisadas informações transmitidas durante a
interação. Totalizaram-se 42 desenhos, desse, 13 apresentaram o morcego com
características antropomórficas. A representação estereotipada dos morcegos, por
exemplo, sangue, olhos vermelhos e caninos exagerados apareceu em 15 desenhos. Em
13 desenhos, as crianças representaram seus morcegos com características de outros
animais, com asas semelhantes às dos insetos e patas de aves, enfim, grupo de animais
próximo do cotidiano delas. Ao analisar a inserção dos morcegos no ambiente, os
pesquisadores constataram maiores acertos: 18 crianças demonstraram possuir
conhecimentos sobre a ecologia dos morcegos. Seus desenhos mostraram morcegos
voando em meio às árvores, despertos à noite, próximos a cavernas e em grupos. Para a
categoria representação da tenda, apenas 3 crianças mencionaram-na. Em 2 desenhos,
54
foram visíveis a mudança de concepção da criança e a aquisição de novos
conhecimentos. Isso foi percebido nos detalhes como o formato dos olhos e asas,
detalhes no corpo.
Acerca das entrevistas, os autores seguiram a orientação de Gil (2008):
perguntas fixas e apresentadas igualmente a todos os entrevistados, perguntas
padronizadas, objetivas e discursivas. As respostas das crianças de 3 a 12 anos, foram
as seguintes: 6 crianças mencionaram que os morcegos são mamíferos; 5 crianças
afirmaram que são aves; 4 os classificaram em nenhum grupo de animais, mencionando
apenas sentimentos como medo; 7 crianças associaram os morcegos à alimentação, sem
relatar sua classificação; 1 criança afirma ser um personagem e 11 não souberam
responder. Quanto à alimentação dos morcegos, a maior parte indicou serem frutos e
sangue. 11 crianças não souberam responder e 6 crianças deram respostas variadas,
como alimentação de insetos e serpentes. Sobre o medo dos morcegos, apenas 12
crianças afirmaram sentir medo deles e apenas 3 nunca o viram. O restante afirmou não
sentir medo.
Finalmente, os pesquisadores concluíram que os morcegos ainda são cercados
por mitos, o que mantém o ser humano longe. Contudo, as crianças pesquisadas daquela
região não os veem como animais perigosos ou ruins. Acredita-se que essa mudança se
deu por trabalhos de divulgação científica e educação ambiental, garantindo acesso a
informações corretas e a melhora no processo de ensino.
Sobre a educação ambiental, no interior de duas escolas, uma localizada em área
urbana e outra em área rural, Jotta et al (2017) buscaram verificar quais as percepções
das crianças de 7 a 11 anos do ensino fundamental sobre aranhas, a fim de promover a
sensibilização para a Educação Ambiental. Utilizou-se, para esse fim, o desenho das
crianças, seguido de um questionário construído pelos pesquisadores sobre os seres
vivos, evidenciando as aranhas. Após essa etapa, as crianças foram chamadas para
serem entrevistadas, individualmente, fora da sala de aula. A entrevista consistiu na
apresentação das crianças de cartões com imagens, em preto e branco, de animais
invertebrados cujo o objetivo era dizer o nome dos animais. Os animais desenhados nos
cartões eram: borboleta, aranha, tatu de jardim, besouro, gafanhoto, minhoca. Ao
término da entrevista, as crianças voltaram à sala de aula onde houve uma explicação da
biologia dos seis animais, com ênfase na aranha. Os pesquisadores esperaram em torno
de 20 dias para retornar à escola e realizar o segundo momento da pesquisa: convite às s
crianças para desenharem uma aranha. Essa pausa foi proposital para que os
55
pesquisadores tivessem condições de obter dados para a realização de um estudo
comparativo entre os desenhos realizados pelas crianças.
Para a análise dos dados, organizaram três etapas: representação gráfica dos
animais; análise das entrevistas; representação gráfica das aranhas. Como foco do
estudo era o conhecimento das características morfológicas das aranhas, os
pesquisadores analisaram esses aracnídeos a partir de categorias. Para tanto, foi
construído um quadro com as seguintes categorias: quantidade de pernas (8); corpo
dividido (afalotórax e abdômen); presença de quelíceras (estruturas utilizadas para a
manipulação de alimentos e inoculação do veneno); presença de teia. Segundo os
pesquisadores, as crianças da escola urbana, após as explicações, desenharam a aranha
com o número correto de pernas, corpo dividido e quelíceras, em maior número que as
crianças da escola rural. Já a presença de teia apareceu em maior número nas obras das
crianças da escola rural, levando os pesquisadores a concluírem a valorização dessa
característica.
Concluíram Jotta et al (2017) que houve um aumento expressivo nos desenhos
das crianças, quanto aos aspectos morfológicos após o estudo formal, demonstrando a
capacidade da maior parte das crianças em reconhecer detalhes nos animais. Os autores
concluíram que o medo predominava quando o assunto era aranha, possivelmente por
vivências individuais de cada criança, mas há uma curiosidade enorme sobre elas. Na
opinião dos autores, a falta de informação gera sentimentos e afirmações infundadas,
cabendo ao educador observar atentamente as percepções das crianças.
Já Rodrigues e Almeida (2017) investigaram as representações de formigas por
crianças de 9 e 10 anos, que não tiveram nenhum estudo sistemático sobre esse inseto
em ambiente escolar. As pesquisadoras optaram por realizar uma pesquisa exploratória
qualitativa. A pesquisa ocorreu em uma escola pública sendo todos os encontros
devidamente gravados. A sala de aula era constituída por 26 crianças de 9 e 10 anos. Na
sala de aula foram distribuídas folhas A4 às crianças solicitando que realizassem um
desenho de uma formiga apenas com as lembranças desse inseto. Não foi realizada
nenhuma intervenção antes da aula, deixando-as livres para desenhar apenas as
características do inseto que se recordavam. Em seguida, foi realizada a escuta das falas
das crianças que explicitavam o que haviam desenhado. Após a entrevista, os desenhos
foram analisados minuciosamente. As pesquisadoras realizaram anotações no caderno
de campo pertinentes às singularidades de cada desenho. A partir das anotações e das
características recorrentes em cada obra sobre as formigas, elas elegeram categorias que
56
serviram de referencia para as análises dos desenhos. São elas: ciclo de vida,
alimentação, habitat, morfologia. Assim, foi possível reconhecer, em 11 desenhos,
características morfológicas.
Desse modo foram analisados todos os desenhos das crianças (26 desenhos). Em
15 produções foram observadas características de lagartas ou outros animais. Outras 22
crianças desenharam a formiga com antenas. O número de pernas desenhadas variam
entre 3 e 9. 16 crianças representaram a formiga com o corpo segmentado em três
partes. E, em apenas 3 desenhos, encontraram-se estruturas que lembram mandíbulas.
Olhos compostos também não foram representados. Uma das produções chamou a
atenção das pesquisadoras pela riqueza de detalhes presente no desenho, ou seja, o
formato da cabeça, presença de mandíbulas, antenas, segmentação do corpo e
disposição dos olhos. O número de pernas também foi corretamente desenhado, embora
tenha sido representado ao longo do corpo.
Quanto à alimentação das formigas, o estudo indica que apareceram nos
desenhos folhas e frutas. Em nenhum desenho foi encontrada a presença de ovos ou
algo que se referisse à metamorfose da formiga. Quanto à vida social, quatro crianças
desenharam-nas em fila e em dezessete representações foi possível notá-las em grupos.
E, em 1 desenho, a formiga está representada com uma coroa, o que levou as
pesquisadoras a inferirem que, possivelmente, a criança possuem uma compreensão da
organização hierárquica do formigueiro. Em 13 desenhos, foi possível perceber que as
crianças representaram suas formigas com características antropomórficas.
Sabendo que os desenhos são documentos de grande valia para constatar o nível
de conhecimentos das crianças, as pesquisadoras atentaram para outra questão muito
importante: ouvir as crianças enquanto desenham, as falas delas sobre o desenho, suas
falas sobre o desenho. Eis algumas falas encontradas nessa pesquisa: formigas são
bichos que carregam comida para sobreviver ou um bicho que trabalha o dia todo.
Também o pensamento antropomórfico foi dominante. Também para a maior parte das
crianças as formigas são insetos, animais pequenos, bichos ou pragas. De acordo com
algumas, elas vivem em formigueiros, nas sombras ou em buracos na parede. Duas
crianças referiram-se ao nascimento das formigas, indicando que nascem de ovos. Outra
criança afirmou que as formigas nascem das larvas da mãe. Quanto à utilidade das
formigas, elas afirmaram que elas são feitas para picar, trabalhar e alimentar seus
filhotes.
57
Em síntese, mais da metade das crianças representaram formigas parecidas com
lagartas ou outros insetos. Elas foram capazes de reconhecer a formiga no ambiente,
mas ao desenhá-las só as mencionaram no ambiente doméstico.
Os desenhos foram apresentados de diferentes tamanhos e cores. As
pesquisadoras concluíram que as crianças têm ideias quanto à variabilidade entre as
espécies. Diante dos expostos, concluíram Rodrigues e Almeida (2017) que para as
crianças aprenderem sobre formigas é necessário mais que falar ou mostrá-las em livros,
que elas conheçam as formigas do entorno e estudem sobre elas.
3.1 Considerações sobre as pesquisas
O desenho, como evidenciou o tópico anterior, é um instrumento valioso para a
pesquisa sobre animais. Todas as pesquisas descritas deram ênfase aos conhecimentos
morfológicos das crianças sobre diferentes classes de animais. Todas as pesquisas
descritas deram ênfase aos conhecimentos morfológicos das crianças sobre diferentes
classes de animais. Entre as pesquisas apresentadas, um estudo era relativo às aves, uma
com os aracnídeos, uma aos peixes, duas a mamíferos e três aos insetos.
O objetivo da maioria dos pesquisadores foi compreender o que as crianças
sabiam sobre o animal. Cinco pesquisadores tiveram seu foco no ensino fundamental
nos anos inicias, com crianças de 6 a 11 anos. Apenas uma pesquisadora trabalhou com
crianças da educação infantil, com o público composto por crianças de 4 anos. Uma
pesquisa contemplou ambas as escolaridades, com um público de crianças de 3 a 11
anos. Na maior parte das pesquisas, os animais faziam parte do cotidiano das crianças.
Apenas o lobo ibérico, animal nativo da região norte, oeste e centro da Península
Ibérica, embora não próximos das crianças, era muito popular no país onde foi realizada
a pesquisa. Os investigadores observaram, em alguns desenhos sobre animais, uma
visão estereotipada da espécie marcada pelo temor. E, desenhos de animais que faziam
parte do cotidiano delas se destacaram pela riqueza de detalhes e conhecimento que elas
possuíam.
Com referencia ao local das pesquisas, a maior parte ocorreu no ambiente
escolar. A facilidade dos pesquisadores de encontrar, no interior da escola, o público
desejado possivelmente foi a justificativa para tantas pesquisas realizadas na escola.
Apenas uma pesquisa foi realizada fora do ambiente escolar o que proporcionou aos
58
pesquisadores obter um conjunto de crianças com idades variadas, conseguindo, assim,
identificar diferentes percepções sobre o assunto estudado, em um mesmo grupo.
Quanto à metodologia das pesquisas, estudiosos como Ludke e André (1986)
Bogdan e Biklen (1994) e Flick (2004) deram suporte para a sua realização, contudo Gil
(2008) foi o mais utilizado pelos pesquisadores. Na maioria das pesquisas o desenho
não serviu como instrumento de intervenção, comparação ou debate entre as crianças.
Os desenhos foram realizados com as crianças em grupos sendo seguidos de entrevista,
predominantemente. Gloria et al (2012) não utilizaram falas das crianças como método
para análise, ficando apenas com o desenho, também realizado em grupo. Optaram
ainda por realizar as análises dos desenhos em grupo para, assim, tentarem diminuir as
distorções das interpretações visuais, seguindo a análise conforme o quadro de
categorias proposto e o enunciado pedido, sem a fala das crianças. Apenas uma pesquisa
citou as questões culturais envolvidas no ensino e aprendizagem sobre a representação
dos animais. Todos os pesquisadores corroboraram a ideia de que o desenho infantil é a
basearam-se para observar a evolução e concepções das crianças, mas a maioria das
pesquisas se basearam-se apenas no momento inicial do trabalho quando as crianças
eram convidadas a desenhar.
Por fim, Silva e Bartosezeck (2011) e Jotta et al (2017) realizaram um estudo
comparativo dos desenhos apresentados pelas crianças. Os dois primeiros autores
conseguiram realizar o estudo comparativo dada a participação da pesquisa de crianças
de diferentes faixas etárias. Já Jotta et al (2017) realizaram a investigação dando um
espaço de tempo entre os encontros, com o objetivo de avaliar as percepções reais que
foram construídas pelas crianças sem a influência imediata da intervenção realizada. Os
demais pesquisadores realizaram um estudo quantitativo, sem comparações.
Vale lembrar que o conceito de representação não foi definido na maioria das
pesquisas, embora os pesquisadores utilizem esse termo.
Com exceção de Dominguez (2006) que é doutora em educação, os demais
pesquisadores têm, como formação principal, a Biologia, o que pode estar relacionado
com a preocupação em enfatizar a morfologia dos animais nos desenhos. Estudos de
Piaget e Vygotsky foram pouco citados. Também não abordaram o significado de traços
e cores. E, quanto à metodologia os autores restringiram-se à observação de aspectos
morfológicos dos animais e não aos aspectos cognitivos e psicológicos do desenho
infantil. A maior parte dos pesquisadores não acompanhou a trajetória dos desenhos das
59
crianças. O desenho foi visto como instrumento para verificar o que as crianças sabiam
das questões morfológicas.
Tendo em vista que a presente investigação tem o mesmo propósito das
pesquisas citadas, a contribuição desses autores foi importante por indicar a necessidade
de olhar os desenhos das crianças sobre os animais no processo de construção da
atividade dando atenção à fala das crianças e a um olhar para além dos aspectos
morfológicos. Desse modo os caminhos trilhados neste estudo serão explicitados no
próximo capítulo.
60
4- METODOLOGIA
Tendo em vista o objetivo dessa pesquisa que é investigar, nos desenhos das
crianças, quais representações elas são capazes de construir sobre formigas mediante o
desenvolvimento de uma sequência didática. Optou-se por realizar uma pesquisa
qualitativa do tipo estudo de caso. Segundo Gil (2008), o estudo de caso é caracterizado
como uma investigação que permite a construção de conhecimentos amplos e
detalhados do que se pretende estudar. Para esse autor, esse tipo de pesquisa favorece a
interação entre os pesquisadores e os sujeitos a serem investigados. Yin (2001), apud
Gil, 2006) aponta o estudo de caso como o método mais adequado para a investigação
de um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real, percebendo melhor os
limites entre os fenômenos e o contexto. Em contrapartida, Gil (2006) define o estudo
de caso como um estudo exaustivo de um ou poucos objetivos, de maneira a permitir o
conhecimento amplo e detalhamento do que se pretende estudar. Para esses autores, um
projeto de pesquisa que envolva o estudo de caso se dá em três fases distintas: 1)
escolha de alguns referenciais teóricos sobre o qual se pretende trabalhar; seleção dos
casos e o desenvolvimento de um protocolo para a coleta de dados; 2) condução do
estudo de caso, com a coleta e análise de dados; 3) análise dos dados obtidos à luz das
teorias selecionadas, interpretando os resultados da pesquisa.
Para a realização dessa empreitada, selecionou-se uma turma de uma escola
estadual de Ouro Preto, com crianças matriculadas no 4º ano do Ensino Fundamental,
com idades entre 9 e 10 anos. O próximo tópico está destinado à apresentação da escola,
das crianças e da professora bem como a justificativa dessas escolhas.
4.1 O processo de construção dos dados
Durante o 1º semestre de 2017, algumas escolas do município de Ouro Preto
foram procuradas para realização do trabalho de campo. Alguns critérios foram
considerados importantes para a pesquisa. O primeiro era a necessidade de a escola
acolher a investigação. Para isso, procurou-se escola cujo a professora aceitasse
trabalhar em uma sequência didática sobre formigas e permitisse filmagens de áudio e
vídeo no interior da sala de aula. Algumas escolas, apesar de interessadas na pesquisa,
não consentiram na realização do trabalho, devido aos registros em vídeo, que deixaram
o corpo da escola pouco à vontade.
61
Já no início do 2º semestre de 2017, uma professora, indicada pela Secretaria
Municipal de Educação, de uma escola estadual do município de Ouro Preto
demonstrou interesse em participar da investigação. Nesse caso, uma reunião foi
marcada com a diretora, coordenadora e professora interessada na proposta. Na tarde do
dia 17 de julho de 2017 foram explicitados os objetivos e a metodologia da pesquisa
com a equipe. Diante do argumento de que as crianças poderiam aprender muito sobre
os insetos a partir do estudo das formigas, a pesquisa foi aceita pela escola. Após esse
contato, entrega-se à escola a Carta de Concordância (ANEXO A) para a autorização da
pesquisa. Depois da aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), os termos de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) (ANEXO B) foram encaminhados aos participantes às instruções e
demais explicações sobre a pesquisa. Escolhida a escola a professora e a sala de aula,
iniciamos nosso trabalho.
4.2 A escola
A escola, objeto dessa pesquisa, é uma instituição pública de ensino mantida
pelo Estado de Minas Gerais no município de Ouro Preto. Atende em dois turnos, em
regime regular e integral. No turno matutino, de 07h:00 às 11h:30 são realizadas as
aulas para alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. No turno vespertino, de
12h:30 às 16h:50 são atendidos os alunos de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental . O
ensino integral é destinado aos alunos do ensino fundamental dos anos iniciais, tendo
preferência àquelas crianças que os pais recebem o benefício do Bolsa Família4. A
época da execução desta pesquisa, eram atendidos na instituição 785 alunos sendo 60
do turno integral.
Os pais buscam essa escola para matricular seus filhos, haja vista que o trabalho
realizado na instituição tem reconhecimento na comunidade. O Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) confirmam a qualidade de ensino
ofertado pela escola em questão. No ano da realização da pesquisa (2017) o município
de Ouro Preto atingiu a meta e cresceu, alcançando nota 6,0, como mostra o gráfico
abaixo.
4 O Bolsa Família é um programa que contribui para o combate à pobreza e à desigualdade no Brasil. Ele foi criado em outubro
de 2003 e possui três eixos principais: complemento da renda, acesso a direitos e articulação com outras ações. O Programa Bolsa Família está previsto em lei — Lei Federal nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004 — e é regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, e outras normas. Disponível em http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e
62
Gráfico 1:
Gráfico IDEB 2017
A instituição fica em um bairro tradicional de Ouro Preto, que é sempre visitado
por turistas dado o seu valor histórico. Está instalada em um casarão tombado pelo
patrimônio histórico o qual chama a atenção dos visitantes da cidade. A escola atende
alunos prioritariamente do bairro, porém a procura por alunos de outras regiões também
é grande. Esse fator promove a diversidade socioeconômica cultural do público
atendido.
A escola conta com amplo espaço físico que se divide em: uma biblioteca, um
laboratório de Informática, um laboratório de ciências naturais, dois banheiros para os
docentes, dois banheiros para os discentes e um com acessibilidade para deficientes
físicos, uma cantina ampla com refeitório, quadra esportiva, dois pátios, jardim,
bebedouros, doze salas de aula, secretaria, sala dos professores, diretoria e uma sala de
recursos onde é realizado um trabalho efetivo de inclusão, sem ser restrito apenas aos
alunos da instituição. Portanto, alunos que necessitam de atendimento especializado e
estudam em outra escola da rede pública também são atendidos na sala de recursos.
Em relação ao quadro dos funcionários da escola é composto por: diretora, vice-
diretor, duas supervisoras pedagógicas que se dividem por turnos, dezoito professores
no período vespertino e vinte e sete, no período matutino. Conta também com duas
bibliotecárias, dez auxiliares de serviços gerais, uma secretária que trabalha com três
auxiliares e uma auxiliar financeira. Há, também, duas monitoras para auxiliar alunos
FONTE: https://www.qedu.org.br/
63
portadores de necessidades especiais e que também são responsáveis pela acessibilidade
na sala de recursos. Os profissionais dessa instituição, em sua maioria, são efetivos.
Segundo informações da direção da escola, sua proposta pedagógica visa o
respeito à diferença e preza uma educação formadora,ou seja, ensinar e aprender é uma
função social da escola, sempre respeitando as diferenças.
4.3 A professora participante da pesquisa
A professora que aceitou contribuir com o desenvolvimento da sequência
didática sobre formigas possui 44 anos de idade e 24 anos de experiência no magistério,
com crianças dos anos iniciais do ensino fundamental. Ela é natural de Ouro Preto-MG
e estudou sempre em escola pública. Formou-se em Magistério e logo em seguida,
conseguiu um contrato pelo Estado de Minas Gerais iniciando-se sua carreira na mesma
escola onde estudou. Em 1997, prestou concurso para a Prefeitura de Ouro Preto e
mantém atualmente os dois cargos. Ela cursou o Normal Superior e Pós-Graduação em
Psicopedagogia Institucional. Ministra aulas de Português e Ciências para as turmas de
3º, 4º e 5º ano respectivamente há 10 anos, nessa mesma escola.
Com referência a sequência didática sobre as formigas, foi apresentada a ela e
discutida.E, então, ela indicou a turma para o desenvolvimento da pesquisa, segundo
ela, de crianças com bom rendimento escolar, participativas, interessadas e
alfabetizadas..
4.4 A sala de aula e as crianças
A pesquisa realizou-se numa turma do 4º ano, composta por 26 alunos, com
idades entre 9 e 10 anos, sendo 16 meninas e 10 meninos. Do total de alunos da sala
pesquisada, 14 alunos foram frequentes a todas as aulas relativa a pesquisa. A maior
parte das crianças era negra. A maioria estudava na mesma sala desde a Educação
Infantil, portanto se conheciam há muito tempo. Possivelmente esse é um dos motivos
por serem tão participativas, pois já estavam bem entrosados com os colegas, tendo
liberdade para se expressarem devido ao grande tempo escolar que passaram juntos.
Eles frequentavam a escola durante o horário vespertino, de 12h:30 às 16h:50, e 7
participavam do período integral. No grupo pesquisado havia 4 crianças que
64
apresentavam problemas quanto à escrita e leitura, precisando de acompanhamento
mais atento da professora.
Com referência ao espaço físico, a sala de aula apresenta quatro janelas grandes,
o que proporcionava uma boa ventilação, mas o barulho externo às vezes atrapalhava
um pouco o ambiente. Um quadro de giz e dois armários, onde se guardam os cadernos
e livros didáticos compunham o espaço escolar. A maior parte dos alunos chegava à
escola por volta de 12h:15, aproveitavam esse tempo para brincar um pouco no pátio,
aguardando o primeiro sinal. Quando soava a sirene, as crianças se dirigiam à fila, junto
à professora que daria aula no primeiro horário. Depois das orações diárias e às sextas-
feiras, cantavam o hino da escola e as crianças se dirigiam à sala de aula.
Diariamente, o tempo de estudo era dividido em cinco aulas, divididas em 50
minutos cada. Três aulas realizavam-se antes do recreio e as duas restantes depois do
intervalo. O recreio durava cerca de 20 minutos, em que as crianças brincavam na
quadra ou no pátio.
As aulas eram ministradas por professoras diferentes, ou seja: Matemática,
História e Geografia eram lecionadas por uma professora, enquanto as disciplinas de
Português e Ciências por outra. A disciplina de Educação Física também tinha um
profissional específico e essas aulas aconteciam geralmente no primeiro horário. As
aulas de Ciências eram realizadas às quintas-feiras, nos últimos horários e às sextas-
feiras, nos primeiros horários.
O perfil socioeconômico dessa classe era diversificado, como mostra registrado
no quadro abaixo:
Quadro 1: Perfil socioeconômico dos sujeitos pesquisados
CRIANÇAS IDADE OCUPAÇÃO DA MÃE OCUPAÇÃO DO PAI
JOÃO 9 Acompanhante
hospitalar
Aposentado
LETÍCIA 9 Secretária (Secretaria de
saúde de Ouro Preto)
Vereador
RENATA 9 Autônomo Segurança
IARA 9 Professora Mecânico de máquinas
industriais
REGINA 9 Vendedora (balconista) Pedreiro
65
ALICE 9 Vendedora de cosméticos Ourives
ANTÔNIO 9 Sob os cuidados da avó
GERALDO 10 Representante\consórcio Psicóloga
EFIGÊNIA 9 Agente de saúde Bombeiro
MARIA 10 Cabeleireira Operador de som
GABRIEL 10 Cozinheira Pedreiro
CELITA 9 Técnica em contabilidade Proprietário e cozinheiro
de um tele sanduiche
ANDRÉ 9 Proprietária de um
mercado
Proprietário de um
mercado
ANDREZZA 10 Salgadeira Balconista de bar
MADALENA 10 Enfermeira Caminhoneiro
HÉLADE 9 Cozinheira Garçom
IAGO 10 Professora Vigia noturno
EDUARDA 10 Pizzaiola Desempregado
VALÉRIO 9 Auxiliar de limpeza geral Caminhoneiro
AYLA 9 Secretária Motorista de taxi
RONDINELLE 10 Dona de casa Pintor
REBECA 9 Confeiteira Desempregado
AFONSO 10 Professora Entregador de
mercadorias
LEONARDO 10 Professora Entregador de
mercadorias
KARINA 10 Auxiliar de cozinha
escolar
Marceneiro
ANDREA 10 Dona de casa Eletricista
Fonte: Produzido pelas autoras5
5 Os nomes dos alunos aqui e no desenvolvimento deste estudo são fictícios para
preservar a identidade deles, conforme explicitado no termo livre e esclarecido (anexo
B).
66
4.5 A sequência didática
Dentre os inúmeros enfoques possíveis para o planejamento de ensino a
sequência didática tem sido tema de interesse na área de educação há bastante tempo
(TARGINO, 2017). Segundo Targino (2017), em linhas gerais, a sequência didática
consiste em um planejamento com três etapas principais: aplicação de atividades com o
objetivo de conhecer as concepções prévias dos estudantes acerca do conteúdo que se
pretende desenvolver; desenvolvimento de atividades que têm como objetivo ensinar os
conceitos definidos no planejamento; avaliação dos resultados obtidos a partir da
aplicação da sequência. O planejamento e a avaliação são processos cíclicos de
elaboração e reelaboração do trabalho. A principal diferença ente sequencia didática e a
pedagogia de projetos é que os objetivos do segundo são mais flexíveis e orientados
para os interesses dos alunos, na maioria das vezes. Para Zabala (1998), sequências
didáticas são um conjunto de atividades, estruturadas e articuladas que visem a
objetivos educacionais e têm um principio e um fim, conhecido tanto pelos professores,
como pelos alunos.
Nessa perspectiva, a sequência didática desta investigação foi composta por
atividades diversas que encadearam questionamentos, procedimentos e ações ordenadas
de modo a perceber os conhecimentos prévios das crianças e compreender o
desenvolvimento das crianças neste caso, em relação ao estudo das formigas. Mas
apesar do planejamento da pesquisa ter incluído o desenho e entrevista com as crianças
após cada aula, em virtude do reduzido do tempo em sala de aula, em nem todas as
aulas foi possível realizá-los. Assim, na maioria das aulas da sequência didática, o
planejamento buscou privilegiar o tempo do desenho e da conversa, como pode ser
observado a seguir:
1ª aula: 14/09/2017 – Primeiro desenho das Formigas realizado pelas crianças
1) Apresentação da pesquisadora
2) Solicitação de desenho de formigas às crianças em folhas A4;
3) Entrevista com as crianças sobre os desenhos.
2 ª aula: 28/09/2017 – Produção de texto sobre as Formigas
1) Solicitação às crianças que escrevessem tudo o que sabiam sobre as formigas
3ª aula: 05/10/2017 – Exibição de imagens de formigas em power point
1) Exibição de imagens reais de formigas e conversa com as crianças sobre alguns
detalhes morfológicos e biológicos presentes nas imagens;
67
2) Desenho das crianças e entrevista sobre o desenho.
4ª aula: 20/10/2017- Exibição da animação: Lucas, um intruso no Formigueiro
1) Desenhos das crianças e entrevistas
5ª aula: 26/10/2017 – Conversa sobre as formigas vistas no filme “Lucas, um
intruso no formigueiro
6ª aula: 09/11/2017 – A vida das formigas
1) Leitura do livro A Vidas das Formigas de Francisco Martins Garcia;
2) Produção de texto pelas crianças sobre o que aprenderam sobre as formigas.
7ª aula: 16/11/2107 – Exibição da animação FormiguinhaZ
8ª aula: 17/11/2107 - Conversa sobre a animação FormiguinhaZ
1) Produção de texto coletiva sobre as formigas.
9ª aula: 23/11/2017 - Exibição da animação Minúsculos
1) Conversa sobre a animação.
10ª aula: 24/11/2017 – Conversa sobre a animação Minúsculos
1) Conversa sobre o filme Minúsculos;
2) Desenhos das crianças e entrevistas
4.6 Os desenhos e as entrevistas das crianças
Nesta pesquisa, os desenhos e as entrevistas a respeito das formigas constituíram
os dados mais relevantes para a nossa análise. Por conseguinte, a execução dessas
atividades foi rigorosamente observada. Conforme Gobbi (2005) associar o desenho à
oralidade colabora para que os estudiosos adquiram informações sobre as percepções
das crianças acerca determinado assunto. Também Pereira (2005) corrobora essa
afirmação, ao destacar a importância do desenho que acompanhado da entrevista, se
torna um importante material de estudo, ao possibilitar compreensão do pensamento da
criança. Quanto às entrevistas, foram realizadas na biblioteca, próxima a sala de aula.
Uma a uma, cada criança de posse do seu desenho ia até a pesquisadora relatar o que
havia desenhado. Suas falas eram gravadas por áudio e transcritas logo após o término
do encontro.
Em quatro encontros com as crianças, foi solicitado que elas desenhassem
formigas e todas demonstraram gostar muito desse momento. Os desenhos duravam
cercam de 30 a 40 minutos. Em média, 20 crianças participaram de todos os encontros,
68
colaborando para a obtenção de um número considerável de dados para a análise. Das
crianças presentes, nenhuma se recusou a participar das atividades propostas. Mas o
momento inicial das entrevistas foi um pouco tenso, pois não se tinha certeza se as
crianças se sentiriam à vontade para conversar sobre os desenhos. Contudo, elas sempre
se mostraram satisfeitas com o trabalho, todas iam até a biblioteca, com todo o cuidado
ao carregar seus desenhos, falar deles. Cada criança, ao seu modo, apresentavam os
detalhes desenhados, possibilitando-nos entender mais a sua obra. Envolvidas com a
sequência didática, sempre tinham uma história de uma formiga que observaram fora da
escola, nos momentos de lazer, para nos contar. Havia um pequeno grupo que estava à
caça de uma formiga-rainha, que ainda não havia perdido suas asas. Em alguns
momentos, observávamos as crianças no recreio, inventando brincadeiras que envolvia
o tema em estudo. Uma em especial nos chamou à atenção: uma espécie de pegador.
Consistia em uma criança imitar as mandíbulas da formiga e correr atrás das outras,
levando-as até o formigueiro.
Algumas crianças mesmo tímidas contava seus desenhos. Todos os desenhos
produzidos em classe, foram recolhidos, datados, identificados e cuidadosamente
armazenadas pela pesquisadora. As aulas foram gravadas por duas câmeras fixas em
sala. As entrevistas individuais foram gravadas em áudio.
Diante do número excessivo de desenhos disponíveis e do breve tempo para o
exame de todas as produções, decidiu-se analisar uma pequena amostra. Assim, para
representar o público pesquisado, optou-se por selecionar as crianças que frequentaram
todos os encontros, totalizando 14 crianças. E desse grupo, outros critérios foram
definidos para a amostra, como: crianças de 9 e 10 anos, meninos e meninas em
percentuais iguais. A diversidade de classe social também foi observada para a amostra.
Por fim, foram selecionadas as crianças que se encontravam em diferentes estágios do
desenho, possibilitando o trabalho com uma variedade de perfis. Assim, tendo em visto
os propósitos deste trabalho, elegemos uma amostra de 10 crianças. Diante do exposto,
foram analisadas três aulas, sendo elas: o primeiro desenho das crianças, no qual elas
expressaram algumas concepções sobre as formigas; o terceiro encontro, quando foram
discutidas e apreciadas as fotos de formigas reais. A escolha dos desenhos gerados
nessa aula foi determinada por referi-se ao momento em que às crianças observavam
imagens, comentavam a morfologia e vida das formigas apresentadas às crianças.
Nossa última aula, na qual as pesquisadoras e alunos assistiram ao filme Minúsculos,
filme esse escolhido por ser um desenho animado em que as formigas são representadas
69
de maneira muito próxima à realidade. A seguir, serão descritas com mais detalhes, as
aulas e os dados da análise.
70
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Pretende-se, nesse capítulo, descrever a sequência didática das aulas com o
objetivo de estudar as representações das crianças em diferentes momentos de ensino
sobre as formigas. A seguir, será apresentado um breve resumo dos acontecimentos de
cada aula dessa sequência.
5.1 Breve resumo das aulas
1ª aula analisada – 14/09/2017
A sala de aula das crianças foi o cenário para o primeiro encontro com as
crianças objetivando perceber nos desenho delas, o que sabiam sobre as formigas.
Inicialmente, elas acharam engraçado pedir que desenhassem esse inseto pois não
faziam parte da rotina da turma, o desenho livre e o desenho de um animal que, para
elas, era tão peculiar. Em meio a risadas, ouviam-se comentários como: “Desenhar uma
formiga? É muito fácil!” Questionaram se não havia algum tipo de instrução para
realizá-lo. “Mas tem que ser na folha em pé ou deitada?” “Precisa desenhar mais
alguma coisa6?” A mesma solicitação foi repetida sempre. O objetivo era deixar as
crianças livres e à vontade para representarem a formiga. Foram distribuídas às crianças
folhas em branco e em seus lugares, com seu material, individualmente, elas
desenharam uma formiga. Algumas crianças comentavam sobre o desenho, mas a
maioria, em silêncio, buscava realizar a atividade. Após o término dos desenhos, elas
seguiam para a biblioteca para serem entrevistadas. Na biblioteca, a maior parte das
crianças mantinha o seu desenho bem próximo ao seu corpo demonstrando cuidado
com o material produzido. A pergunta proposta para as entrevistas era: “Me conta
sobre o seu desenho?” Participaram dessa aula 26 crianças.
2ª aula analisada - 05/10/2017
A terceira aula iniciou-se com a apresentação das imagens reais sobre a vida das
formigas. Para tal, apoiou-se no blog de Alex Wild; um biólogo residente no Texas
(USA), que tem como hobby fotografar insetos. Ele iniciou seu trabalho em 2002, para
6 Os dados obtidos por informação verbal, em toda dissertação contrariando as normas da ABNT, serão apresentadas na íntegra, em itálico e entre aspas para não sobrecarregar o texto.
71
complementar, esteticamente, seu estudo científico sobre a taxonomia e evolução das
formigas. Wild é Pd.D em entomologia pela Universidade da Califórnia e ainda é
curador de entomologia da Universidade do Texas (Austin). Suas obras estão expostas
em vários museus de história natural, revistas, entre outras mídias. As imagens
apresentadas foram escolhidas no seu blog (https://www.alexanderwild.com/About-
Alex-Wild) As diversas imagens apresentam riqueza de detalhes das formigas.
Posto isto, as imagens foram organizadas em um arquivo de powerpoint para que
a visualização ocorresse de forma que as crianças pudessem enxergar os detalhes do
inseto. E, assim, as crianças fizeram vários comentários durante a exibição.
Acostumadas a ver formigas representadas de forma lúdica, em filmes direcionados a
crianças e na literatura infantil, suas reações demonstravam o quanto estavam
maravilhadas com aquelas imagens reais. Concomitantemente informações sobre cada
imagem foram sendo apresentadas: a primeira sobre as fases do desenvolvimento das
formigas. Após, chamou-se a atenção para a anatomia do inseto, cuja parte do corpo era
claramente observadas, passando para a alimentação das formigas. Elas empolgaram-se
ao perceber que elas bebem água.
Em síntese, essa aula deu a oportunidade de apresentar os termos corretos da
taxonomia das formigas. As crianças repetiram algumas palavras, tais como abdômen
ou invés de barriga e as mandíbulas deixaram de ser ferrões, por exemplo.
E assim, ao final da aula, as crianças foram convidadas a realizar um desenho
com base nas novas informações obtidas durante esse encontro. Já habituadas de como
seriam realizados os desenhos, elas se organizaram em suas carteiras e, com muito
cuidado, começaram a desenhar. Como no desenho anterior, as crianças também
demonstraram carinho pela obra, ficaram mais à vontade apesar da presença das
pesquisadoras e falaram com mais tranquilidade do que a primeira vez.
3ª aula analisada - 24/11/2017
Conforme indicado na sequência didática, no dia 23/11 exibiu-se para as
crianças o filme Minúsculos. Assim, em nossa última aula recordaram-se um pouco das
cenas desse filme. Por ser um filme mais longo, não foi possível realizar o desenho logo
após a exibição, ficando o desenho para os primeiros horários da aula seguinte. As
crianças comentaram sobre os hábitos das formigas, partes do corpo e alimentação.. Por
exemplo: “nossa, lá atrás eu achava mesmo que as formigas tinham rabo!” e “As
formigas do outro filme eram diferentes! Pareciam soldados...” Após a discussão, foi
72
realizado um desenho individual. As entrevistas foram realizadas na biblioteca, em meio
a comentários que sentiriam saudades dos nossos encontros e elogios a nossa prática.
Participaram dessa aula 19 crianças.
A sequência didática proposta, como já descrita anteriormente, foi composta por
10 encontros: destes 5 aulas para as crianças desenharam e falaram sobre o seu desenho.
No decorrer da pesquisa,foram recolhidos 93 desenhos, conforme indicado no capítulo
3. Analisaremos aqui 30 desenhos de 10 crianças.
Inspirando-se no Livro “Guia para os gêneros de formigas no Brasil” e nas
discussões de Piaget sobre o desenho infantil, construí-se um quadro de categorias para
a análise dos desenhos.
Quadro 2:
Quadro de categorias:
Categorias Características
1. Ciclo de vida Transformações dos indivíduos ao longo da vida
2. Vida social Formigas em grupo, em fila, no formigueiro, divisão
do trabalho e comunicação entre elas
3. Habitat Formigas na grama, no chão, na árvore, na parede, no
formigueiro, etc
4. Antropomorfismo Aspectos físicos e comportamentos humanos.
5. Interação Relação das formigas com outros organismos
6. Morfologia Corpo dividido em 3 partes, 6 pernas e antenas
7. Polimorfismo Diversidade de cor, forma e tamanho
8. Alimentação Frutas, açúcar, outros insetos, etc
9. Espaço Utilização de linhas como base para o desenho e
organização do desenho no espaço da folha
10. Desvios de Esquemas Exageros e omissões de partes do corpo da formiga
11. Rebatimento Representação dos lados da figura a ser representada –
visibilidade de todo o corpo da formiga
12. Transparência,
tridimensionalidade e
proporção
Representações das partes externas e internas da
formiga ou de outros objetos desenhados. Efeito visual
em largura, altura e profundidade, tamanho das
formigas relacionado à outros objetos, quando esses
estiverem presentes no desenho.
73
Para dar maior confiabilidade ao processo de interpretação das imagens, seão
analisados em conjunto, os desenhos, de acordo com Bogdan e Biklen (1994), a
análise conjunta dos dados reduz as distorções de interpretações provenientes de um
único investigador. Assim, além da pesquisadora e orientadora outros alunos do curso
do mestrado foram convidados à leitura das análises.
Assim sendo, serão apresentadas a seguir as criança, bem como suas
representações de formigas e as interpretações orais de seus desenhos. Assim, foram
traçadas algumas questões sobre o caminho para o estudo das representações de
formigas pelas crianças.
5.2 As formigas nos desenhos das crianças
Este item compõe-se de duas partes: apresentação das crianças; desenhos das
crianças realizadas em sala de aula e, a fala de cada uma sobre sua obra.
a) Aluna Ayla – 9 anos
Ayla é uma criança negra e nos primeiros encontros falava sempre em um tom
de voz baixo. Contudo, liderava nas brincadeiras no recreio e as conversas na sala de
aula. Em nossos encontros sempre demonstrou interesse na realização das atividades.
Seus pais trabalham em horários diferentes, sendo o pai taxista noturno e a mãe
secretária de um consultório médico durante o dia. Segunda Ayla, seu pai adora a
presenteá-la com revistas em quadrinhos, inclusive uma delas tinha como personagem
principal uma formiga, que brigava com a cigarra. Observe o primeiro desenho de Ayla
a respeito das formigas.
Figura 26: 1º Desenho de Ayla – 14/09/2017 – O primeiro desenho das
formigas solicitado às crianças
74
FONTE: Desenho de Ayla – 14/09/2017
Eis a explicação de Ayla acerca do seu desenho:
“O corpo da minha formiga tem duas partes, essa é a formiga rainha, têm árvores, sol,
pássaros, montanhas, flores...
Ela é a formiga rainha.
As outras formigas que estão procurando ela. A rainha!”
Ayla utiliza toda a folha do papel para desenhar Predominam o verde e o azul no
seu desenho, para representar elementos naturais, revelando que, possivelmente, ela
acredita que as formigas vivam em ambientes naturais. As cores têm importância para a
composição do desenho, pois o céu é azul, o tronco das árvores é marrom e suas copas,
verdes, etc. Isso demonstra que as cores seguem o padrão do objeto representado.
Observa-se que seu traço firme e a borracha foi pouco utilizada. As formigas
desenhadas não mostram todos os traços morfológicos desse grupo, mas podemos
reconhecer que Ayla desenhou insetos. Todas as formigas foram representadas na cor
preta. As que estão caminhando para o formigueiro são bem pequenas, fato que indica
o entendimento de que alguns desses insetos são muito pequenos. Ayla destaca a
formiga rainha, que foi desenhada longe do grupo e em tamanho maior, com traços
antropomórficos ressaltados, como o sorriso da formiga, bípede e a sua coroa. Para
75
representar à vida social e o habitat das formigas, elas aparecem no desenho em fila.
Como ela explica, as formigas estavam procurando a formiga-rainha em meio à
natureza. Suas formigas interagem com os elementos naturais representados, como
flores e árvores.
Em adição, as formigas desenhadas por Ayla são arredondadas e apresentam o
corpo segmentado em duas partes. Tem um par de antenas e duas pernas. As formigas-
operárias apresentam são menores que a rainha As outras formigas são desenhadas
como animais minúsculos, sem antenas e com duas pernas. Nota-se que apenas a rainha
aparece com olhos e boca. Nessa representação, não há menção à alimentação nem ao
ciclo de vida das formigas. Já para a utilização do espaço a ser desenhado, Ayla utiliza a
folha como base, realizando o desenho em todo o papel. Algumas partes do corpo das
formigas são omitidas. As flores representadas são do tamanho do formigueiro, o que
pode ser apontado como falta de proporcionalidade dos elementos no desenho. Não há
rebatimento nem transparência nos elementos desenhados.
O segundo desenho de Ayla foi realizado após a apresentação das imagens reais
de formigas.
Figura 27: 2º Desenho de Ayla – 05/10/2017 – Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
76
FONTE: Desenho de Ayla – 9 anos – 05/10/2017
E, assim, a aluna explicou seu desenho:
“Eu desenhei várias formigas indo atrás de um bolo, porque elas gostam de doce!
Eu desenhei também os ovinhos dela e o formigueiro!
Aqui são as formigas que voam, mas com o passar do tempo elas perdem suas asas.
Eu esqueci quando elas perdem as asas... mas elas perdem...
Elas tem pernas e antenas. E um negócio que é a boca. E o corpo é 3. É 3 bolinhas...”
Após a apresentação das imagens, pode-se observar que Ayla representa as
formigas com detalhes mais realistas ao contrário do primeiro desenho. Ela não utiliza
borracha em seu desenho. Também nessa produção as cores têm importância para a
composição de seu desenho. Sua produção apresenta várias cores e suas formigas são
representadas com alguns detalhes mencionados na aula. Elas já são reconhecidas como
formigas e não como insetos. As cores apresentam padrões do objeto que representa.
Ayla já menciona o ciclo de vida das formigas, desenhando ovos no interior do
formigueiro. Em sua fala ela mencionou as rainhas, que perdem suas asas após
reproduzirem. Ela retrata dentro do formigueiro larvas, escrevendo em seu desenho.
Para representar a vida social das formigas ela as desenha em filas e cuidando dos seus
ovos e sempre em grupos. Já o formigueiro é representado como o habitat das formigas
77
e em meio ao ar livre. As formigas não são representadas com características
antropomórficas. Ayla não desenha formigas interagindo outros seres vivos.
Quanto à morfologia da formiga, suas formigas são desenhadas com mandíbulas.
As antenas e asas também estão presentes. O corpo das formigas é representado em três
partes e apresenta seis pernas. A segmentação do corpo das formigas é salientada por
Ayla, embora não indique as diferentes proporções dessa segmentação, tais como o
tamanho do abdômen.Todas as formigas são do mesmo tamanho e cor, inferindo-se que
são todas da mesma colônia. Para Ayla o alimento preferido dessas formigas é bolo.
Concluindo, Ayla aproveita bem o espaço para desenhar. Seu trabalho preenche
toda folha e a linha da folha servindo de base. Não há desvios de esquemas ou
rebatimento. O desenho é bidimensional. É possível notar sinais de transparência,
quando representa o formigueiro e podemos observar o que acontece em seu interior.
Por fim, nota-se uma preocupação com a proporção a dos objetos representados.
Figura 28: 3º Desenho de Ayla - 24/11/2017 – Desenho realizado após
assistir “Minúsculos”
O terceiro desenho de Ayla foi realizado após as crianças assistirem
ao filme Minúsculos.
78
FONTE: Desenho de Ayla – 9n aos – 24/11/2017
Explica Ayla:
“Eu fiz meu desenho com as formigas vermelhas espiando as formigas pretas pegando
o açúcar.
O corpo da minha formiga tem 3 partes!
Cabeça, tórax e abdômen
Tem 6 pernas também
Elas estão carregando açúcar e algumas folhas.
E estão carregando pelas mandíbulas
Aqui elas não caem porque... é... porque... tem uns negócios nas patas que eu esqueci!”
Nota-se no desenho que Ayla destaca o título do filme, demonstrando que os
desenhos animados podem ser fonte de inspiração para a aprendizagem das crianças
sobre as formigas. Aliás, sua representação é influenciada pela cena do filme (ANEXO
C). As formigas são divididas em dois grupos diferentes, pretas e vermelhas,
interagindo na cena. Também nesse desenho, a cor tem muita importância para a sua
produção. O fato de realizar seu desenho com formigas de diferentes cores leva a pensar
que a aluna começa a estabelecer diferenças entre as formigas. Ela não utiliza borracha,
ocupando toda a folha para sua representação.
79
Apesar de algumas omissões, o inseto desenhado por Ayla é perfeitamente
reconhecido como formigas. Não há menção ao ciclo de vida das formigas. Elas são
desenhadas em grupos, enfileiradas, dividindo o trabalho, dando-se a aparência de
insetos sociais. Desenhadas em meio à natureza mostra ser o ambiente natural o local
em que as formigas vivem, mas não há formigueiro na representação. As formigas
representadas por Ayla não apresentam traços antropomórficos, apesar de a animação
apresentar insetos com alguns traços da vida humana.
Desenhou o corpo das formigas dividido em três partes. Em algumas, o abdômen
aparece mais volumoso. Ela indica em sua fala os nomes dos segmentos. As formigas
foram representadas com três pernas, antenas e mandíbulas para carregarem os
alimentos, apesar de algumas folhas serem carregadas pelas costas. Conforme o
desenho, todas as pernas desenhadas por Ayla saem do abdômen. Aliás, as mandíbulas
retratadas em seu desenho são muito destacadas na animação. Chama a nossa atenção
também a representação das formigas verticalmente, na parede do penhasco. O açúcar
também se destaca como alimento preferido das formigas, influencia do filme, mas as
formigas aparecem carregando folhas, o que pode sugerir que esses insetos têm
alimentação variada.
O desenho de Ayla é bidimensional. A folha é a base do desenho e é bem
aproveitada, sendo toda ocupada por sua representação. Não apresenta desvios de
esquemas. A toalha do piquenique apresenta sinais de rebatimento, dando-se a
impressão de ter uma toalha de espessura mais grossa. Não há transparência no desenho
e a proporção das figuras está adequada a que se propôs representar. Na fala de Ayla
pode-se observar a apropriação de muitos conceitos acerca da vida das formigas.
b) Aluno Gabriel – 9 anos
Gabriel é um menino que gosta de falar de jogos de computadores e celular.
Filho de mãe cozinheira e pai pedreiro, mora nos arredores da escola. Ele foi uma das
crianças que, em um primeiro momento, questionou o fato de desenhar formigas na sala
de aula. Em voz alta, afirmava que desenhar era coisa de menina e que ele queria ir
caçar as formigas no pátio.
Figura 29: 1º Desenho de Gabriel – 14/09/2017 - O primeiro desenho
das formigas solicitado às crianças
80
FONTE: Gabriel – 9 anos – 14/09/2017
Abaixo, ele explica seu desenho:
“Professora, aqui tem o formigueiro... ai tem as... a estradinha... que eles passam para
ir pegar flor.
Aqui é uma flor.Eles tá trazendo.
Ai tem a antena deles, ai tem outra estradinha para eles voltar e pegar, que eles... Ai tem o sol aqui... mas eu nem desenhei o sol... quando eu chegar lá eu desenho. Ai eles
ficam em cima e as mulher ficam embaixo.
Ai aqui elas levam aqui no... o que não precisam mais... e esses daqui eles traz o que
precisam...
Aqui é a antena deles.”
Em seu primeiro desenho, Gabriel chegou ansioso para nos contar o que
desenhara. A manifestação dele, antes do desenho das formigas, demonstrou a sua
curiosidade pelos insetos – não gostava de desenhar, mas gostava de caçar. No entanto,
quando convidado a desenhar, fez seu trabalho demonstrando vários conhecimentos
acerca das formigas. Aliás, ainda que elementos da morfologia não sejam representados
adequadamente, podem-se reconhecer as formigas em seu desenho. Não utiliza cores
em seu desenho que é feito com lápis preto, e não utilizou borracha. Nesse caso, as
cores parecem não ter importância para a composição do desenho. Em sua folha
81
realizou o desenho de várias formigas e um formigueiro no canto. As formigas são
representadas como insetos pequenos, o que parece indicar que Gabriel entende as
relações de maior e menor. Veem-se algumas árvores dando a impressão de estar
distante da cena em foco. Também representa, no topo da folha, nuvens, demonstrando
que as formigas estão ao ar livre. As suas formigas estão em grupo e em fila. Esse aluno
reconhece as formigas como insetos sociais. Não há menção quanto ao ciclo de vida
delas, mas em sua fala menciona formigas machos e fêmeas. Para ele há uma
organização que divide as formigas entre as formigas machos e fêmeas. A vida social
das formigas é representada pelo desenho e pela fala de Gabriel, que afirma que elas
trabalham organizadas, em grupo. As formigas apresentam poucos traços
antropomórficos, notados apenas nos olhos arredondados e algumas estão sorrindo.
Não há interação com outros organismos.
Quanto a descrição física das formigas, Gabriel desenhou antenas, e nelas, como
observa, há pequenos círculos nas pontas, diferentes das formigas reais. Seu corpo é
segmentado em duas partes e apresenta quatro pernas. Elas são desenhadas na posição
horizontal, andando sobre as quatro pernas que foram distribuídas nos dois segmentos.
A sua formiga carrega flores nas costas, sem presença de mandíbulas. As flores também
podem indicar que ele acredita que as formigas se alimentem delas. Pelo desenho e
comentários dele, pode-se inferir que já observara formigas carregando alimentos para
o formigueiro.Destaca, ainda, que elas caminham levando e descartando coisas.
Observa-se, ainda que Gabriel não utiliza a linha da folha como base, realizando
um traço para iniciar seu desenho. Não há desvios de esquemas. Também não há
rebatimento, podendo ver o desenho apenas em um plano. Há transparência em sua
representação, dando-se a oportunidade de perceber o trabalho da formiga no interior
da terra. Seu desenho também apresenta proporção.
A figura seguinte apresenta o desenho de Gabriel realizado na aula sobre
imagens de formigas reais:
Figura 30: 2º Desenho de Gabriel – 05/10/2017 - Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
82
FONTE: Gabriel – 9 anos – 05/10/2017
Explicando seu desenho, Gabriel diz:
“Eu desenhei elas indo pegar...cortar as flor, eessa daqui uma tava vindo para cá...
Aqui é... é... aquele trem de terra lá... (longa pausa)
Aqui elas levam as folhas para a casa delas... Esqueci o nome...
Elas são pequenas mesmo, bem pequenas
Tem pernas e antenas”
Gabriel utilizou pouco espaço da folha para realizar sua representação e também
não faz uso de cores. Utilizou borracha e suas formigas ocupam apenas a parte inferior
da folha. Elas são minúsculas, coerente com algumas espécies que observou durante a
aula sobre as formigas reais. Ele não menciona nem em sua fala nem em seu desenho,
o ciclo de vida das formigas. Elas são desenhadas trabalhando em grupos, em fila, o
que pode ser indícios de que ele percebe as formigas como insetos sociais. As formigas
também são mencionadas indo para casa - o formigueiro. Não apresentam traços
antropomórficos.
Quanto a morfologia das formigas foi mais evidente na fala de Gabriel. Afirma
que são seres bem pequenos, com duas pernas e antenas. Não há diversidades de cor ou
83
tamanho, sendo todas bem parecidas. As flores mencionadas, mais uma vez,
acreditando ele que seja um dos alimentos das formigas. Elas são representadas andando
em diferentes direções e de dentro de um formigueiro.
Em síntese, Gabriel utiliza pouco do espaço a ser desenhado. Usa a linha da
folha como base, mas não aproveita todo o espaço. Há alguns desvios de esquema,
como omissão das partes da formiga e a finalização para o formigueiro. Não há
rebatimento, podendo ser observado o desenho como um plano. O desenho apresenta
transparência, o que possibilita observar o interior do formigueiro e as formigas nas
folhas. Finalmente, os elementos desenhados apresentam proporção entre si.
Segue o terceiro desenho de Gabirel. Realizado após ter assistido o filme
Minúsculos.
Figura 31: 3º Desenho de Gabriel – 24/11/2017 - Desenho realizado
após assistir “Minúsculos”
FONTE: Gabriel – 9 anos – 24/11/2017
Neste trecho, Gabriel explica seu desenho:
84
“Eu desenhei aqui o castelo deles, ai eu queria desenhar os buracos, as panelas, mas
esqueci, agora que eu to lembrando...
Aqui é aquele açúcar que ele deu
Aqui as larvas que saiu...aquele trem que saiu da barriga deles. Ai tinha mais formigas,
mas elas estavam atrás...
O corpo eu desenhei em 3 partes, cabeça, tórax e abdômen.
Eu desenhei só com 2 pernas, mas as formigas tem 6 pernas
Aqui as formigas que estavam contra as pretas
E fiz a montanha também, que elas vivem.”
Como se, a produção de Gabriel apresenta mais detalhes de um inseto que pode
ser reconhecido como formiga. As cores passam a ter importância para a composição de
seu desenho. Nele, Gabriel introduziu algumas cores, como verde clarinho nos ovos e
fez uma formiga vermelha, inspirado no desenho animado a que assistiu. Utilizou todo o
espaço da folha e sua representação sugere uma história. Fez pouco uso da borracha..
Gabriel menciona em sua fala e em seu desenho rainhas, panelas, larvas e ovos. É
preciso lembrar que o desenvolvimento das formigas se dá em quatro estágios: ovo,
larva, pupa e adulta. As panelas, uma espécie de ninhos complexos e subterrâneos,
foram citados pelo aluno ao afirmar ter esquecido-se de desenhá-los. Os ovos e as
formigas adultas aparecem no desenho o que demonstra conhecimento do ciclo de vida
das formigas. Realizou a representação do castelo enorme, afirmando ser a moradia das
formigas, inspirado pelo filme Minúsculo (ANEXO D). Há poucas características
antropomórficas, contudo percebe-se no desenho uma espécie de pescoço, olhos e corpo
arredondados. As formigas não interagem com outros organismos, apenas entre elas.
Quanto à morfologia das formigas, a de Gabriel tem o corpo segmentado em 2
partes, mas em sua fala afirma ser 3. A formiga no castelo possivelmente é a
representação da formiga-rainha, que no desenho apresenta um exagerado abdômen. Ele
menciona termos utilizados para algumas partes do corpo das formigas. As formigas
vermelhas e sua distinguem-se da formiga-rainha. O maior destaque nesse desenho é a
formiga- rainha no castelo e seus ovos. Acerca do número de pernas, ele representa 2,
mas afirma que as formigas possuem 6. Não há presença de antenas. Em uma formiga,
há mandíbula. Nesta representação ele desenha formigas vermelhas e pretas, podendo se
pensar em sinais de polimorfismo. Ele ressalta que a alimentação das formigas é o
açúcar. Sua representação das formigas se aproxima das cenas da animação a que
assistiu.
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Desta vez, Gabriel utilizou quase todo o espaço da folha. Utiliza a linha da folha
como base. Há desvios de esquemas, como omissão de antenas, presença de mandíbulas
nas formigas e exagero do castelo. Não apresenta também rebatimento. A transparência
pode ser notada no interior do castelo, onde se encontraram a formiga-rainha, ovos e
larvas. Os elementos do seu desenho são proporcionais.
c) Aluna Celita - 9 anos
Celita adora balet e leva para a escola tudo relativo a esse assunto. Em meio a
seus penteados cheios de presilhas de cabelo cor-de-rosa, estava sempre atenta aos
encontros. De origem asiática, seus pais se separaram quando ela ainda era um bebê,
mas, pelo o que contou, tem uma relação bem presente com os dois. Sua mãe, técnica
em contabilidade, trabalha fora deixando-a com os avós durante a semana. Nos finais
de semana ela fica com o seu pai no restaurante, do qual ele é o proprietário. Durante os
encontros, ela se mostrou interessada pelo o assunto como revelam os resultados dos
seus desenhos e da sua fala.
Segue adiante o primeiro desenho de Celita das formigas:
Figura 32: 1º Desenho de Celita – 14/09/2017- O primeiro desenho das
formigas solicitado às crianças
86
FONTE: Celita – 9 anos – 14/09/2017
E, assim, ela esclareceu os elementos do seu desenho:
“No meu desenho tem boca, tem folhas para elas comerem, tem uma casinha, tem
flores, tem... matinhos, anteninhas, tem 3 corpinhos...
O corpo da formiga tem, é... 3 pedacinhos.
E elas comem folha.
Aqui é a... a antena!”
Ressalta Celita que em sua casa, sempre gostou de observar as formigas. Para
ela, esses insetos são fofinhos. Não associa as formigas a praga. Aliás, utiliza várias
palavras no diminutivo para se referir a esses insetos. Também utiliza toda a folha para
desenhar. As cores têm importância para a composição de sua obra, pois seu desenho é
colorido e suas formigas têm dimensões pequenas como as formigas que observa, não
representando características antropomórficas. Não utiliza a borracha. Com cores que
ressaltam as características da natureza, como o verde e o azul, desenhou formigas ao ar
livre, em meio à grama e flores, sob um dia ensolarado. Suas formigas são pretas,
podendo ser um indício das formigas que ela tem maior contato. As formigas estão em
grupos, enfileiradas, dando a ideia de estarem trabalhando, demonstrando aspectos da
87
vida social delas. Como ela explicou, desenhou a casinha das formigas em formato oval.
Na verdade, ela refere-se ao formigueiro, podendo ser o habitat das formigas. Não faz
menção do ciclo de vida das formigas.
O corpo é dividido em 3 partes e não há presença de pernas. As formigas são
pequenas e possuem olhos e 2 antenas. Algumas aparecem andando pela parede do
formigueiro, logo são desenhadas caminhando verticalmente. Afirma também que as
formigas se alimentam de folhas.
Resumindo, o desenho de Celita é bidimensional e ela utiliza como base a
margem da folha. Seu desenho não apresenta rebatimento, tem-se a impressão de ver
apenas um lado do que foi representado. Também não há transparência. Apresenta
desvios de esquemas como omissão das pernas de algumas formigas.
A seguir, apresenta-se o segundo desenho dessa aluna, quando apresentamos
imagens reais de formigas, em sala de aula:
Figura 33: 2º Desenho de Celita – 05/10/2017 – Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
FONTE: Celita – 9 anos – 05/10/2017
88
Segue abaixo a explicação de Celita do seu desenho:
“Eu desenhei umas formigas, duas formigas voando, uma flor, umas formigas
vermelhas pegando flores e a casinha delas. É ...Formigueiro
Aqui á as que ... que... voam... esqueci como que chama elas....
Elas tem o corpo pequenininho mesmo, com 3 pedaços
Ahhh, na minha casa vi uma formiga na rosa da minha vó!”
Retomando-se o desenho de Celita, vê-se que ela usou lápis de cor e quase
nenhum uso da borracha. Fez diferentes espécies de formigas, pretas e vermelhas, em
meio à natureza e de diferentes cores, sugerindo-se características do polimorfismo.
Trouxe da sua vivência a representação de uma rosa, na qual observou formigas reais.
Isso pode indicar que ela sabe que as formigas vivem em diferentes lugares, além de
formigueiros. Inspirada nas imagens apresentadas na aula, desenhou formigas pretas
voando, do tamanho maior que as vermelhas que caminham pelo chão. Pode-se, então,
supor que ela tenha conhecimento de que as formigas que voam para o voo nupcial, em
geral, são maiores que as outras formigas. Não menciona as formigas- rainhas e nem os
machos. Suas formigas são pequenas, para se aproximarem das reais, não apresentando
traços antropomórficos. Nesse desenho, as formigas estão juntas, sugerindo ser insetos
sociais que vivem em grupos. No centro da folha aparece um formigueiro.
Salienta-se em sua fala, a divisão do corpo das formigas e, em seu desenho, o
corpo está dividido em 3 partes, com 2 pernas e antenas. Em sua cabeça, aparece uma
espécie de mandíbula, contudo não foi mencionada na entrevista.. Celita não relata nada
quanto à alimentação das formigas, fala apenas que elas levam flores para o
formigueiro.
A aluna utiliza uma base para o seu desenho. O desenho é proporcional. . Há
poucos desvios de esquemas. A rosa está do tamanho do formigueiro, Não há
transparência e nem rebatimento, observando apenas um lado do seu desenho.
A seguir será apresentado o terceiro desenho de Celita, produzido após as
crianças terem assistidos o filme Minúsculos:
Figura 34: 3º Desenho de Celita - 24/11/2017 - Desenho realizado após
assistir “Minúsculos”
89
FONTE: Celita – 9 anos – 24/11/2017
Nesta fala, Celita chama a atenção dos elementos que compõe seu desenho:
“Eu desenhei uma rainha que estava botando seus ovos e uma joaninha e uma formiga
levando o bloco de açúcar para a rainha comer.Pela mandíbula, não pelas costas.
O corpo dela tem três partes, e ela tem uma asa, e ela tem a cabeça o tórax e abdômen,
mas essa aqui é a rainha.
E... e aqui são os ovos
Ai eu desenhei essa joaninha voando
Aqui é... é... no lugar onde ela fica lá... no formigueiro...
No corpo dela também tem a antena, a asa. Elas andam com as patas, mas esqueci de
desenhar. Ah, aqui também tem as pupas, que já cresceram dos ovos.”
Cheio de cores e elementos, Celita apresenta o seu desenho. Ela utiliza várias
cores e desenha em grande parte da folha. Nota-se que o ciclo de vida da formiga é
representado em seu desenho pelos ovos e pupas, confirmados por sua fala. As formigas
são desenhadas em grupos, em meio aos seus afazeres, sugerindo que a aluna sabe que
as formigas são insetos sociais. Seu desenho retrata o interior do formigueiro, afirmando
ser ali o seu habitat. Algumas formigas são representadas sorrindo, também as pupas,
90
evidenciando algumas características antropomórficas que podem estar associadas a
elementos da animação. As formigas interagem com a joaninha, possivelmente
inspirada pelo filme a que assistira (ANEXO E). Todas as suas formigas são pretas e
nãose podes afirmar que a aluna compreende as características do polimorfismo. Uma
formiga é desenhada andando sem patas na direção vertical.
Pelo que se observou, o desenho dessa aluna apresenta formigas-operárias,
formiga-rainha, pupas e ovos. As formigas-operárias e a rainha possuem corpo
segmentado em 3 partes e com antenas. Não são representadas pernas. No relato sobre o
desenho, ela fala das mandíbulas. A formiga-rainha apresenta asas, característica da
espécie. A rainha, assim como na animação, aparece em destaque com asas e abdômen
volumosos. Os ovos são verdes, como no filme e as pupas, parecem ter sido inspiradas
em pulgões, alimentos de algumas espécies de formigas, que também aparecem no filme
(ANEXO F).
Enfim,ela utiliza a maior parte do espaço para sua representação e Celita utiliza,
como base, a linha da folha. Ela organizou bem a cena a ser desenhada, com proporção.
Não há rebatimento. A coluna desenhada ao meio da folha lembra uma cena do filme
Minúsculos,(ANEXO G), sugerindo que as formigas estão no interior do formigueiro.
Alguns termos científicos são mencionados pela criança.
d) Aluno Valério – 9 anos
Valério é uma criança introvertida. De pele clara, é fã de futebol e sabe falar de
todos os jogadores do time do qual é torcedor. Seu pai é caminhoneiro e faz viagens
longas e ele fica com a mãe, que é auxiliar de limpeza na Universidade Federal de Ouro
Preto (UFOP). Ele demonstra gostar muito de desenhar. Já para falar, é tímido, muitas
vezes se mantinha distante do nosso gravador de áudio. Isso, porém, não foi empecilho
para colhermos os dados que ele apresentou de sua fala.
Segue abaixo o primeiro desenho de Valério referindo as formigas:
Figura 35: 1º Desenho de Valério – 14/09/2107 – O primeiro desenho
das formigas solicitado às crianças
91
FONTE: Valério – 9 anos – 14/09/2017
A respeito de seu desenho, Valério assim se expressou:
“É... tem 5 patas e 2 anteninhas e 1 boca e isso daqui é uma folha, isso é uma árvore,
isto daqui é... formigueiro e aqui é onde elas entram
Essas formigas aqui entram aqui (apontando para o formigueiro)
Aqui em cima são as folhas”
Com seu desenho bem colorido, Valério veio até as pesquisadoras contar o que
havia representado. E, assim, com traços firmes e sem uso de borracha, deparam-se
com uma representação rica em detalhes. Suas formigas são representadas em fila, indo
para o formigueiro. Tal representação sugere que ele as considera insetos sociais que
vivem em grupos. Elas não são coloridas, mas desenhadas com lápis preto. Acredita-se,
então, que o aluno não possua informações quanto ao polimorfismo. As formigas não
interagem com outros organismos. O formigueiro é bem destacado em seu desenho,
bem centralizado na folha de papel , o que sugere que Valério sabe que as formigas
92
vivem no formigueiro, em meio à natureza. Elas não apresentam traços
antropomórficos.
O desenho das formigas é tão tímido que não é possível observar como ele
compreende a morfologia das formigas em sua totalidade. O corpo da sua formiga não é
segmentado e se assemelha visualmente com as baratas. Mas ele explicou ter
representado antenas e 5 pernas, e que as formigas estavam carregando folhas. Ele
acredita ser a base da alimentação delas.
Concluindo, Valério utiliza a margem da folha como base para seu desenho.
Explora bem o espaço a ser desenhado. O formigueiro é representado quase do tamanho
da árvore, o que pode ser visto como exageros, um desvio de esquema. Não há
rebatimentos e nem transparência em sua obra.
O desenho a frente refere as imagens de formigas reais discutidas em sala de
aula:
Figura 36: 2º Desenho de Valério – 05/10/2017 - Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
FONTE: Valério – 9 anos – 05/10/2017
93
Oralmente, Valério explica:
“Desenhei uma formiga. Ela tem antena, o tórax, a mandíbula e as pernas aqui oh.
Ela tem 6 pernas.
O corpo dela não é dividido. Ahh não, é sim! Em 3!
Ela tá carregando uma flor, ahh não flor não é água! Ela ta tomando água!”
Hipnotizado pelas imagens das formigas apresentada em sala de aula, Valério
apresenta seu desenho onde aponta, com a escrita, as parte da formiga que conhecera.
Sua fala é objetiva. A princípio realiza seu desenho a lápis de escrever, cobrindo-o com
caneta esferográfica vermelha. Ao contrário do desenho anterior, seu foco não é mais o
formigueiro, mas uma formiga que é desenhada com muitos detalhes. Aparentemente
percebe-se que ele buscou retratar as formigas mais próximas possíveis das reais,
tentando diminuir os traços antropomórficos. A formiga é desenhada está sozinha, não
interagindo com nenhum outro tipo de organismo e em meio às montanhas. Não
menciona nada quanto ao ciclo de vida delas.
A formiga desenhada sobre uma montanha parece indicar que ele amplia a sua
noção de habitat das formigas, ou seja, elas podem ser encontradas em diferentes
lugares. Não representa as formigas em grupo. Tanto na fala, quanto no desenho nomeia
corretamente o corpo do inseto. Primeiramente nega que o corpo é segmentado, mas
logo volta atrás afirmando ser dividido em 3. Representa 2 antenas, 6 pernas e
mandíbulas. Observando o seu desenho, tem-se a impressão que a sua formiga estaria
carregando uma espécie de alimento, mas Valério explica que ela estava bebendo água.
A imagem das formigas bebendo água apresentadas na aula (ANEXO H) foi a que
causou grande comoção nas crianças, de maneira geral, quando descobriram que as
formigas bebem água, inspirando alguns desenhos.
Em resumo, Valério utiliza mais a parte inferior da folha do papel. Faz um
pequeno sol e representa sua formiga ao ar livre. Há uma proporção entre os elementos
desenhados. Acredita-se que ele busca representar tudo o que sabe das formigas e não
há desvios de esquemas. Não há em seu desenho presença de rebatimento ou mesmo
transparência. Valério se apropria de várias informações científicas para fazer e explicar
seu desenho.
Este desenho de Valério, apresentado a seguir, foi realizado em sala de aula,
após a classe ter assistido o filme Minúsculos.
94
Figura 37: 3º Desenho de Valério – 24/11/2017 - Desenho
realizado após assistir “Minúsculos”
FONTE: Valério – 9 anos – 24/11/2017
Assim, Valério esclareceu seu desenho:
“Eu desenhei um macho com asas e algumas formigas subindo com alimentos para
dentro do formigueiro
É... antena, o tórax, a mandíbula e as pernas e as asas
O corpo é dividido em três partes.
Isso aqui esqueci (apontando para o abdomen)
O meu macho tem as asas, o tórax, antenas e mandíbulas
O macho tem asas.”
Ao assistir o filme Minúsculos, apresentado na aula, Valério traz outras
inspirações para a sua representação. Apresenta o título do filme em destaque em seu
desenho e maiores detalhes. Utiliza apenas a parte inferior da folha e não utiliza cores.
Faz o seu desenho a lápis e não usa borracha, o que demonstra que ele teve segurança
para realizar seu desenho. As formigas estão interagindo entre elas, mas não com outros
organismos.Ele desenha-as trabalhando juntas, enfileiradas, o que revela que Valério
95
reconhece-as como insetos sociais e que o seu habitat é o formigueiro. Não menciona o
ciclo de vida das formigas, mas realiza seu formigueiro cheio de panelas. Sem utilizar
cores, não sugere ideias de polimorfismo. Sinais antropomórficos também são poucos,
resumindo-se apenas nos olhos.
Quanto à morfologia das formigas, Valério as representa com o corpo
segmentado em 3 partes e, em sua fala nomeia o tórax e a cabeça, esquecendo-se do
abdômen. Também há presença de antenas, mandíbulas e no macho ele apresenta um
de par de asas. Aliás, o macho voando e o formigueiro se destacam em seu desenho. O
corpo das formigas é apresentado com detalhes que lembram pelos e a asa do macho
também contém detalhes. A mandíbula do macho é diferente das outras formigas. Já as
demais levam folhas para o interior do formigueiro, sugerindo que o aluno percebeu que
as mandíbulas também são utilizadas para carregar seus alimentos.
Valério traça uma linha reta, próxima à parte inferior da folha, delimitando a
base de seu desenho, ou seja, do seu formigueiro. Ele apresenta o macho muito maior
que as demais formigas, ressaltando aqui um desvio de esquema - o exagero. A formiga
só pode ser vista por um lado, sendo ausentes características do rebatimento. Sendo
usado a transparência no desenho do formigueiro, pôde-se visualizar em seu interior.
e) Aluna Hélade – 9 anos
Hélade é uma criança negra, tem cabelos compridos e volumosos. Às vezes, sua
dificuldade em concentrar nas atividades escolares dificultava o trabalho em questão.
Seu pai é garçom no mesmo restaurante em que sua mãe é cozinheira, assim, passa
bastante tempo na casa da madrinha. A variedade de canetas e lápis coloridos que
possui sugere que gosta muito de desenhar. É uma criança muito falante, não
apresentando problemas para explicar suas representações.
A seguir, apresenta-se o primeiro desenho de Hálade, realizado na sala de aula:
Figura 38: 1º Desenho de Heláde – 14/09/2017 - O primeiro desenho
das formigas solicitado às crianças
96
FONTE: Hélade, 9 anos, 14/09/2017
Neste trecho, ela explica sua obra:
“Primeiro eu fui fazendo o tronco da árvore, ai fui fazendo assim, fui fazendo o
matinho, ai fui fazendo esses matinhos capinzinhos, ai fui fazendo as formiguinhas,
cabecinha, ai depois foi a parte do meio, ai fiz o bumbumzão ai depois eu fiz... e colori.
Isso aqui é a formiga!
Elas estão no mato, grama...
Aqui é a patinha.
É... 4, 4 patinhas para cada um.
O corpo é assim oh... é em círculo! Uma bolinha! E são 3.
Aqui é a antena. É a formiga tem antena.
E elas estão indo para o formigueiro!”
Como se vê, Hélade descreve cada detalhe do desenho até chegar às formigas. Já
no primeiro olhar sobre o seu desenho, percebe-se muitas cores e elementos naturais.
Seu desenho tomou conta de toda a folha. Não faz uso de borracha e a cor mais utilizada
é o verde. As formigas são pretas, possivelmente as mais observadas por ela. Ela
97
explica que elas estão na grama, no mato, mostrando ser o lugar em que elas costumam
ficar. Bem ao centro da sua representação, aparece uma estrutura similar ao
formigueiro, segundo ela, as formigas estão indo até lá. Conclui-se portanto que ela
reconhece o habitat desse inseto. As formigas interagem entre elas. Uma borboleta é
desenhada no cenário, mas não interage com as formigas. Deduz-se que a vida social
das formigas é representada porque desenha mais de uma, caminhando em fila. Não há
menção ao ciclo de vida e nem características antropomórficas.
Mais adiante, Hélade explica que desenhou o corpo da sua formiga com 3
bolinhas. Menciona a cabeça e chama o abdômen de bumbumzão. Desenha 4 pernas e
antenas. Diante dessas informações, pode-se pensar que ela sabe muito sobre a
morfologia das formigas, mencionado informações importantes, como corpo
segmentando. A alimentação das formigas não é citada pela aluna.
Por fim, toda a folha é utilizada. Com duas grandes árvores, a aluna preenche
todos os espaços destinados ao desenho e o tamanho das formigas é proporcional ao
restante da obra. Não há rebatimento, desvios de esquemas e nem transparência.
Segue abaixo o segundo desenho de Hélade realizado na aula acerca de imagens de
formigas reais:
Figura 39: 2º Desenho de Hélade – 05/10/2017 - Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
98
FONTE: Hélade – 9 anos – 05/10/2017
E assim, oralmente, ela explica o desenho:
“Eu desenhei uma abelha gigante... ohhh uma abelha não, uma formiga! Uma formiga
gigante! Com as asas, a rainha. Com seis patinhas, ai o biquinho dela, que eu esqueço
o nome... que é quando ela vai cortar. Os olhinhos pretinhos delas, que a gente pensa
que elas não tem olhos mais tem, que elas tem mesmo, pretinhos. As anteninhas dela,
que elas conversam, porque elas conversam pelas anteninhas. As asinhas delas que elas
vão fazer aqui em cima o voo nupcial. É voo nupcial mesmo né?
Elas perdem as asas depois de produzir, porque ai elas param de voar.”
Durante a apresentação das formigas reais, Hélade observou-se seu interesse
pelo modo de vida delas. Falava sem quase respirar e trouxe muitas informações sobre
as formigas. Quanto a produção de seu desenho a aluna não fez uso de cor. Não indica
sinais de polimorfismo. Seu desenho foi realizado com lápis preto e utilizou várias
vezes a borracha. Hélade destaca uma formiga. São desenhadas três formigas de
diferentes dimensões que não interagem entre si e nem com outros organismos. Ao ar
livre, sob um dia de sol, as representações das formigas sugerem que Hélade acredita
que elas que vivem em meio à natureza. Realizou uma estrutura semelhante ao
formigueiro, sugerindo ser habitat. Apresentando uma formiga sem asas, não deixa de
mostrar na cena a interação social entre elas e as rainhas. Em sua fala também afirma
que as formigas se comunicam pelas antenas, demonstrando mais um traço da vida
99
social. Seu desenho destaca a formiga-rainha. Afirma em sua fala que elas vão realizar
o voo nupcial, perdendo as asas após a reprodução.
Em relação às características morfológicas representadas no desenho por Hélade
são confirmadas em sua fala. Em seu desenho, todas as formigas foram desenhadas com
asas. Parece que esse foi um dado que impressionou a aluna. Hélade em sua fala faz
menção às abelhas e logo se corrige. Talvez essa menção se relacione ao fato de que os
insetos têm características comuns. Os corpos das formigas desenhadas são
segmentados em 3 partes, elas possuem antenas, asas e olhos. Percebe-se uma tentativa
de representar os olhos compostos da formiga, fazendo-os pretos e inteiros, diminuindo-
se, assim, as características antropomórficas. Faz 3 pernas, mas em sua fala afirma que
as formigas possuem 6. Também representa a mandíbula e não menciona o nome
correto, mas afirma ser o biquinho que elas utilizam para cortar. A aluna não menciona
nada quanto à alimentação das formigas.
Finalmente, Hélade utiliza todo o espaço do papel para ser desenhado. Suas
formigas são de tamanhos proporcionais, contudo há desvios de imagens, como o
exagero na representação da formiga rainha e no formigueiro, sendo este quase do
tamanho da árvore. Não há rebatimento, mas sinais de transparência. No interior do
formigueiro veem-se as formigas.
A figura a seguir mostra o terceiro desenho da aluna após assistir o filme
Minúsculos:
Figura 40: 3º Desenho de Hélade – 24/11/2017 - Desenho realizado após
assistir “Minúsculos”
100
FONTE: Hélade – 9 anos - 24/11/2017
E, assim, ela nos conta seu desenho:
“Eu comecei desenhando o matinho, ai eu desmanchei uma parte. Ai eu fiz um paninho
onde estava a comida, ai eu desenhei uma cereja, um sanduiche, ai eu desenhei as
formiguinhas levando as folhas, desenhei uma árvore, escrevi o nome do filme que a
gente viu,que é Minúsculos.
A formiga tem 6 patas, mas eu fiz só 4. Eu fiz 4 porque eu achei que ficou mais
bonitinho assim. Mas eu sei!
Eu fiz primeiro a cabeçinha, depois eu fiz o abdômen, depois o tórax. Oh o tórax depois
do abdômen.
Aqui ela tá carregando uma folha. Tá carregando pela mandíbula!”
Nota-se neste encontro que Hélade trouxe em sua representação inspirações do
filme Minúsculos. Aliás, o título do filme é destacado na copa da árvore desenhada.
Utiliza cores apenas na árvore e faz uso de borracha em alguns momentos. Tem-se a
ideia da reprodução de uma cena do filme, trazendo elementos como a toalha de
piquenique. Embora tenha desenhado duas joaninhas, nenhuma delas aparece em
interação com as formigas. O ciclo de vida não é apresentado naquele momento. A vida
social das formigas é bem representada mostrando-as em grupo, trabalhando em meio à
101
natureza, em busca de alimentos. Para ela, a alimentação das formigas são cerejas,
sanduíches e folhas. Não há sinais de polimorfismo no desenho e nem em sua fala.
Quanto à morfologia das formigas, a aluna representa-as arredondadas, com o
corpo segmentado em 3 partes nomeando-as corretamente. O abdômen das formigas
aparece volumoso. Faz antenas e 4 pernas. Justifica representar 4 pernas por achar mais
bonito esteticamente, mas afirma saber que as formigas possuem 6. Isso indica a
importância de conversar com as crianças sobre suas representações, pois, para Hélade,
não são as questões morfológicas que estavam em questão naquele momento do
desenho das pernas do inseto, mas questões estéticas. As pernas são desenhadas em
diferentes segmentos. Elas não possuem olhos e uma apresenta mandíbulas. As
mandíbulas são mencionadas em sua fala, indicando ser por ali que as formigas
carregam seus alimentos.
A margem inferior do papel serve-lhe de base para a representação da toalha do
piquenique. As formigas são desenhadas dando-se a impressão de tridimensionalidade,
andando pela grama. Há alguns desvios de esquemas, como a omissão de parte do corpo
da formiga e exagero. Transparências também não podem ser notadas.
f) Aluno Rondinelle - 10 anos
Rondinelle é negro e adora contar histórias do seu cotidiano com os pais. Sua
mãe é dona de casa e pela sua fala, gosta de tomar conta dos filhos e dos afazeres
domésticos, enquanto o seu pai é pintor de edificações, tendo trabalhos esporádicos.
Após os encontros, corria logo para o banheiro para se trocar para a aula de futebol, que
é uma das atividades favoritas dele. No primeiro encontro desta pesquisa, considerou
que desenhar era coisa de criancinha e que ele já estava crescido. No entanto, começou
a desenhar demonstrando satisfação na realização da tarefa.
Apresenta-se, a seguir, o primeiro desenho de Rondinelle realizado em sala de
aula:
.
Figura 41: 1º Desenho de Rondinelle – 14/09/2017 - O primeiro
desenho das formigas solicitado às crianças
102
FONTE: Rondinelle – 10 anos – 14/09/2019
Nos conta do seu desenho assim:
“É um... é um... é uns insetos que ficam levando alguma coisas paras o formigueiro
para que comem.
O meu desenho é uma formiga que leva uma garrafinha de água para o formigueiro
para tomar.
É uma... é uma for.. É a perna.
Eu desenhei 6.
É o rosto.Aqui é o rosto dela.
Elas tão indo pra... o... (apontando para o formigueiro desenhado)”
Rondinelle chegou ao local da entrevista demonstrando um pouco de
nervosismo, possivelmente pela insegurança em relação ao momento. Ele gaguejava até
terminar a frase. À primeira vista, percebe-se que Rondinelle não utiliza cores nas suas
representações. Desenha suas formigas com lápis preto e utiliza várias vezes a borracha.
Desenha mais de uma formiga, o que parece indicar que percebe as formiga como
insetos sociais. A seu desenho pode representar um formigueiro haja vista que
apresentam diferentes construções e estruturas. Ele não menciona o ciclo de vida das
formigas e elas interagem somente entre elas.
Embora represente as formigas com uma estrutura corporal parecendo uma
barata, com o corpo achatado, sem segmentos e antenas, o desenho apresenta patas e
103
uma mandíbula bem detalhadaRessalta que a formiga tem um rosto, apontando para sua
cabeça. Possui 6 pernas e mandíbulas. Apenas os olhos arredondados remetem-se a
características antropomórficas. Essas formigas bebem água, pois estão levando ao
formigueiro uma garrafa de água.
O seu desenho é realizado no meio da folha de papel. Embora seja um desenho
bidimensional, a sua representação de formigas vistas de cima deixa pistas de que o
desenho pode ser realizado em três dimensões – a mandíbula pode ser um exemplo
disso. São formigas em tamanhos grandes. Há omissões de detalhes como antenas e
partes do corpo. Não há também presença de rebatimento em sua representação e nem
transparência. Há proporção dos elementos representados.
O desenho a seguir teve como motivação uma aula sobre imagens reais das
formigas, apresentadas as crianças.
Figura 42: 2º Desenho de Rondinelle – 05/10/2017 - Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
104
FONTE: Rondinelle – 10 anos – 05/10/2017
Eis o que fala Rondinelle do seu desenho:
“Eu desenhei... é... eu desenhei umas formigas... é eles levam folhas para o, o,
formigueiro para que possa comer tudo
Ele tá carregando a folha na boca.
O corpo é dois, duas partes
Esqueci o nome... das partes
Tem 6 pernas
E aqui é a antena
A antena é para formiga escutar!”
Como se vê, o desenho de Rondinelle ocupou grande parte da folha e não
utilizou cores. A sua formiga não interage com outros organismos, apenas entre elas e
elementos naturais desenhados. Não menciona o ciclo de vida e sua vida social é
representada pelas formigas em grupo, uma atrás da outra, carregando folhas. O habitat
das formigas é mencionado como o formigueiro. Pelos elementos representados,
percebe-se que ele vê as formigas como insetos que vivem em meio à natureza o que é
confirmado em sua fala.
105
Em relação às características morfológicas das formigas, elas são representadas
por Rondinelle com o intuito de aproxima-las das formigas reais, contudo apresenta
traços antropomórficos, como por exemplo, nos olhos, arredondados e próximos aos
olhos humanos. O corpo é dividido em 3 partes, mas em sua fala afirma serem em 2.
Possivelmente o aluno desconsidera a cabeça da formiga como parte do corpo. Desenha
6 pernas e 2 antenas. Em sua cabeça há uma estrutura que lembra mandíbulas, mas não
são mencionadas em sua fala. Para esse aluno, a base da alimentação das formigas
sãoas folhas. Ele as representa carregadas pelas mandíbulas.
Por fim, o seu desenho inicia-se no meio da folha, dando a impressão da altura
da montanha. Daí, pode-se pensar, que a margem da folha serviu de base para sua
representação. Desenha as formigas de forma que elas aparentam estar enfileiradas,
utilizando mais a margem esquerda da folha. O destaque do desenho é uma grande
formiga. Não houve desvios de esquemas. Observa-se, ainda, nas mandíbulas da
formiga sinal de rebatimentos, dando-se a impressão da folha estar sendo carregada por
ela. Não há transparência. A proporção do seu desenho está condizente com sua
intenção.
O desenho seguinte realizou-se após as crianças terem assistido ao filme
Minúsculos:
Figura 43: 3º Desenho de Rondinelle – 24/11/2017 - Desenho realizado
após assistir “Minúsculos”
106
FONTE: Rondinelle – 10 anos – 24/11/2017
“O meu desenho é ... as formigas que pegam o açúcar, o negócio... é...a vasilha do
açúcar sumiu, ai elas pegaram a vasilha do açúcar na mandíbula e levaram para o
formigueiro.
Elas estão entrando no buraco aqui do formigueiro. No formigueiro.
Os bebês da formiga ficam nos buracos, é... panelas né?
O corpo é dividido em três partes e a perna é três.
Três pernas... não! 6 pernas.
Não lembro o nome das partesinhas do corpo, sei que é difícil falar o nome, mas
tem a cabeça a barriga e o bumbum
Mas elas carregam na mandíbula!”
O filme trouxe para Rondinelle novas informações. Utilizou a borracha para
desenhar, mas isso não parece representar insegurança, haja vista que seu desenho
possui muitos detalhes sobre a vida das formigas. Não utiliza cores para caracterizar
suas formigas nem em nenhum elemento. Não se verificou nenhum sinal de
características do polimorfismo. As formigas são representadas em grupo, enfileiradas,
levando alimento para o formigueiro, logo percebe-se que elas são insetos sociais. O
ciclo de vida foi representado pelas panelas internas do formigueiro. O aluno não
desenha ovos ou pupas nesse espaço, contudo esclarece em sua fala, que é ali que ficam
107
os ovos da formiga. Suas formigas também interagem com a joaninha que aparece na
fila. Provavelmente essa cena foi inspirada no filme. O habitat das formigas é
claramente representado em meio à natureza, com túneis subterrâneos, panelas e uma
estrutura semelhante a do formigueiro.
Já quanto à morfologia desse inseto, Rondinelle afirma que o corpo é
segmentado em 3 partes representandas em seu desenho e fala.Porém , não se lembra
dos termos corretos de cada segmento. Em dado momento afirma que as formigas
possuem 3 pernas, em seguida lembrando-se que são 6. As antenas não são desenhadas
e há presença de mandíbulas. Aliás, um traço marcante do desenho são as mandíbulas
apresentadas em todas as formigas. No seu desenho, as formigas seguem um padrão de
tamanho, fazendo-se entender que são da mesma colônia. Não utiliza cores, apenas o
seu lápis preto. Quanto a sua alimentação, ela ressalta que elas têm preferência por
açúcar, a principal fonte de alimentação delas. Vê-se no desenho de Rondinelle que elas
carregam torrões de açúcar para o formigueiro. Tal informação também foi inspirada
pela animação.
Como no desenho anterior, Rondinelle utiliza mais uma vez a linha da folha de
base para seu desenho. Há omissão de antenas das formigas, sendo um desvio de
esquema. Seu desenho não apresenta rebatimento que permite de observá-lo em apenas
um plano. Mas apresenta transparência, possibilitando observar a parte subterrânea do
formigueiro, onde estão as formigas passando em túneis e as panelas. As formigas são
proporcionais ao ambiente que ele representa.
g) Aluna Maria – 10 anos
Maria é uma criança loira e sorridente. Muito vaidosa, conta com alegria que sua
mãe é cabeleireira e cada dia apareceu nos encontros programados com seus cabelos
penteados de uma maneira diferente. Seu pai trabalha com som em festas no turno da
noite,o que lhe possibilita a oportunidade de acompanhá-la nos estudos, estando
presente durante a sua vida escolar. É que ele sempre a leva e busca na escola. Quando
anunciado o estudo sobre as formigas, ela ficou satisfeitíssima, pois adora observá-las
no quintal da sua casa. Curiosa, demonstrou grande interesse em participar da pesquisa
e realizou todos os desenhos solicitados revelando sempre entusiasmo em fazê-los.
A seguir, o desenho de Maria:
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Figura 44: 1º Desenho de Maria – 14/09/2017 - O primeiro desenho das
formigas solicitado às crianças
FONTE: Maria – 10 anos – 14/09/2017
Eis abaixo, a sua explicação do seu desenho:
“É... eu desenhei uma formiga... as formigas... uma formiga de guarda, é... a rainha e
as outras trabalhando. Ai eu desenhei uns pássaros aqui que eles estavam voando no
ar. Ai depois eles estavam pegando comida prá... umas pegou... é... folhas para cobrir o
berçário e outras pegaram comida para alimentar no inverno.
Aqui é a rainha. Ela está observando elas...”
É possível observar no desenho de Maria que os insetos representados são
formigas, mesmo com algumas omissões. As cores têm muita importância para a
composição do seu desenho. As montanhas verdes, as formigas marrons, nuvens, azuis
e sol amarelo indicam que elaobserva o ambiente. Em toda a folha desenhada, o verde é
a cor que mais se destaca, em grande parte do desenho, predominando nos elementos
109
naturais. Faz pouco uso da borracha e representa várias formigas, todas quase do mesmo
tamanho e marrons. Segunda ela informou, há uma formiga-rainha no topo do
formigueiro. Além do lugar que ela ocupa – acima das outras formigas - também é
recebe uma coroa. Também explica que há formigas de diferentes castas, citando
formigas de guarda e as formigas que trabalham, levando folhas para cobrir o berçário
das formiguinhas que virão a nascer. Infere-se, portanto, sugerindo que ela sabe como é
o ciclo de vida das formigas. No seu desenho Maria distribui bem as formigas,
realizando diversas tarefas. Desse modo, pode-se dizer que a aluna percebe bem a vida
social desses insetos, bem como o seu habitat. Assim ela as representa em meio à
natureza, buscando uma estrutura semelhante a de um formigueiro. As formigas não
interagem com outros organismos, apenas com as formigas da colônia..
Com referência ao corpo das formigas desenhadas por Maria, notam-se 3
partes, antenas e 2 pernas, e a formiga representada como rainha tem uma coroa em
sua cabeça, caracterizando traços antropomórficos. Elas são pequenas, lembram as
formigas já observadas por ela. Algumas formigas carregam folhas e comidas pelas
costas. Mas ela, em sua fala , não nomeia quais seriam os alimentos. Por conseguinte,
não se pode afirmar o que ela pensa quanto à alimentação das formigas. Para ela, as
folhas são utilizadas para cobrir o formigueiro. Não há presença de mandíbulas e
podemos afirmar que ela acredita que as formigas carregam tudo sobre suas costas.
A base do desenho de Maria é a margem inferior da folha. Organiza bem os
elementos, sendo bem distribuídos e proporcionais ao espaço. Há omissões da parte do
corpo da formiga, possivelmente pela sua falta de conhecimento, caracterizando-se,
assim, desvios de esquema. Não há rebatimento, levando-se a observar apenas uma
parte do desenho. Há transparência, logo é possível a observar o subsolo onde a
formiga caminha por uma espécie de túnel. As formigas são menores que os demais
elementos do desenho, o que indica proporcionalidade.
Adiante, o desenho de Maria que foi realizado após a aula de imagens de
formigas reais, apresentados pelas pesquisadoras:
Figura 45: 2º Desenho de Maria – 05/10/2017 - Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
110
FONTE: Maria – 10 anos - 05/10/2017
Resumidamente, a aluna assim explicou seu desenho:
“Eu desenhei as formigas voando, aqui... uma que estava alimentando os ovos, uma
bebendo água e uma comendo folhas.
111
Ela tem 3 partes no corpo.Eu desenhei com asas também”
Com efeito, após uma aula de encantamento com imagens reais das formigas,
Maria, apresenta seu desenho revelando fortes influências das imagens apresentadas
durante a aula, por exemplo, sua formiga tomando água. Naquele dia, a aluna estava
mais introspectiva, falou pouco, desenhou a maior parte dos elementos, todos eles
coloridos. Não utilizou a borracha, indicando segurança em sua representação. Em meio
à natureza, fez todas suas formigas pretas, do mesmo tamanho, porém realizando
diferentes tarefas. Contudo, não se pode afirmar que a aluna percebe as características
do polimorfismo. Em sua produção, as formigas só interagem com os elementos
naturais, como a rosa e a árvore e não com outros organismos. Menciona o ciclo de vida
das formigas ao afirmar que há uma delas cuidando dos ovos e representa as rainhas,
voando perto da árvore. A vida social pode ser vista ao desenhar as formigas em
grupo, contudo, cada uma faz uma atividade, como ela mesma afirma em sua fala. O seu
desenho indica que as formigas representadas por ela moram em árvores, pode-se
pensar então que ela acredita ser ali seu habitat.
Quanto à morfologia das formigas, Maria as desenha com o corpo segmentado
em 3 partes, 2 antenas e 4 pernas. As formigas-rainhas também apresentam asas e são
um pouco maiores que as outras. Em algumas colônias, pode-se encontrar entre uma a
dez rainhas no formigueiro, justificando a representação de Maria, que desenha 4
rainhas. Por outro lado, essa representação pode significar que a vida das rainhas foi o
elemento que mais lhe chamou a atenção durante as discussões em sala de aula sobre a
vida desses insetos. Observa-se traços antropomórficos nas suas formigas, como traços
humanos na cabeça, como aos olhos e o sorriso. As asas também são representadas
como uma espécie de coração. A alimentação delas, de acordo com Maria, são folhas e
água.
Diferentemente de seus colegas, Maria faz suas representações com a orientação
da folha no estilo retrato, deixando apenas a parte superior sem ilustrar. Usa como base
a margem inferior da folha e desenha proporcionalmente seus elementos. A formiga
desenhada no caule flor é um traço de rebatimento. Também não se nota transparência.
Há alguns desvios de esquemas, como partes do corpo da formiga, o número de pernas e
mandíbulas, pois já é do seu conhecimento.
Segue abaixo, o terceiro desenho da aluna Maria, apóa a exibição do filme
Minúsculos:
112
Figura 46: 3º Desenho de Maria – 24/11/2017 - Desenho realizado após
assistir “Minúsculos”
FONTE: Maria – 10 anos – 24/11/2017
Sobre seu desenho, ela comenta:
“Eu fiquei com medo de desenhar... Eu desenhei cada coisa que a gente viu... Ai eu
desenhei o formigueiro e as formigas rainhas. Com asas.
Ah, essa aqui está sem asas porque já caiu...
Eu desenhei formigas vermelhas e pretas.
Eu desenhei formigas com asas, com cabeça, tórax e abdômen. Com antenas e patas.
Eu sei agora que são 6 patas mas eu desenhei só quatro. Esqueci também da
mandíbula, mas elas tem.
Eu fiz o formigueiro, fiz um normal e fiz uns iguais das imagens, com entradas e com
panelas.”
Na nossa última aula da pesquisa, Maria demonstrou bastante insegurança,
possivelmente pelo excesso de informações recebidas sobre as formigas. De acordo com
113
sua fala ela escolheu desenhar formigas das animações que assistira durante a sequência
didática. Assim, ela desistiu do primeiro desenho, rasgou a folha sem que percebesse e
optou por uma folha de caderno. Focando então seu desenho, observa-se que ela não
usou tantas cores como nas representações anteriores. A folha foi dividida em quadros
e, em cada quadro, um desenho inspirado em uma animação apresentada, incluindo os
títulos do filme posto acima do seus desenhos. Ela enquadrara três momentos que,
foram importantes para ela e mais representativos. Ela utiliza cores escuras, como o
preto e o marrom. Assim, uma formiga marrom e duas vermelhas, uma em um tom
mais claro e outra mais escura, possivelmente por querer representar formigas de
diferentes colônias. Ela ressalta, em sua fala que desenhou uma preta, mas não aparece
essa cor. As diferenças entre as formigas, cores e tamanhos, podem trazer ideias de
polimorfismo, não explicitado pela aluna oralmente, mas notado por sua representação.
As formigas interagem apenas entre si e não com outros organismos. Em cada
enquadramento, a formiga aparece próxima só do formigueiro, sem presença de outras
formigas. Além disso, ela não nos diz nada sobre à vida social delas. O ciclo de vida
também não é claramente mencionando, apesar de representar as formigas- rainhas e
panelas, lugares específicos onde ficam os ovos e pupas. É evidente tanto em sua fala,
quanto em sua representação que, para essa aluna, as formigas vivem em formigueiros.
Observa-se que a primeira formiga é a rainha do desenho Lucas um intruso no
formigueiro. As asas e a posição dela nas ilustrações nos levam a essa conclusão. O
tamanho do abdômen e as asas das formigas desenhadas no segundo enquadramento
também podem ser vistas como reflexo das rainhas, observadas nas animações.Quanto
ao corpo das formigas representada por Maria, é segmentado em 3 partes e os nomeia
corretamente. Todas formigas possuem 2 antenas. Conforme ela esclarece, as formigas
possuem 6 pernas, mas são só representadas 4. Também menciona as mandíbulas, mas
não as representa. Esclareceu ainda que só representara formigas-rainhas e que uma
delas já perdera suas asas. Quanto as características antropomórficas,elas estão
presentes nas formigas sorrindo. Em seu formigueiro também há uma espécie de
escada, associada a hábitos humanos. Quanto à alimentação das formigas, a aluna não
representa nos seus desenhos nem fala nada a respeito.
Finalmente, utiliza uma folha de caderno, para fazer o seu desenho tendo a
margem da folha como base. Desse modo, representa proporcionalmente todos os
elementos. Não há desvios de esquemas. Há sinais de transparência, que permitem
114
enxergar dentro do solo, a escada representada por ela. Não há rebatimento nos
elementos desenhados.
h) Aluno André – 10 anos
Muito sorridente, André já veio curioso ao nosso primeiro encontro saber qual
seria o objetivo de tais pesquisadoras em sua sala de aula. Negro, é um líder dentro da
sala, sempre ditando as brincadeiras e risos na aula. Senta-se na primeira carteira, bem
perto da professora, possivelmente para que ela possa contralar melhor seu desempenho
nas aulas. Seus pais são comerciantes em um bairro periférico da cidade de Ouro Preto e
ele sempre está com o bolso cheio de balas e chicletes, o que traz à aula sempre uma
movimentação. Demonstrou muito interesse ao desenhar, contudo, ao falar, apresentava
um pouco de timidez.
A seguir, apresenta aqui o seu desenho:
Figura 47: 1º Desenho de André – 14/09/2017 - O primeiro desenho das
formigas solicitado às crianças
115
FONTE: André – 10 anos – 14/09/2017
Explica André:
“Eu fiz uma formiga com asas e o... Não, sem asas. Elas tem é... 5 partes, 8 patas e tem
as amigas delas saindo da casa delas. E tem árvore e tem o céu azul. Tá calor.
Porque essas de outro tipo... essas são vermelhas e essas são de outros tipos.
É, tem vários tipos de formigas”
Com seu desenho bastante colorido e com a folha toda preenchida por elementos
naturais, André veio ao encontro das pesquisadoras seguro e aparentemente orgulhoso
da sua representação. Passando as análises desse desenho, percebe-se que as cores têm
muita importância para a composição da obra de André. Utiliza lápis de cor em toda
sua obra e não utiliza a borracha. As formigas desenhadas por André podem não ser
reconhecidas como formigas, principalmente aquelas que sobem ou são projetadas do
formigueiro. Fez, como afirma em sua fala, dois tipos de formigas: as vermelhas e
pretas. As pretas possuem tamanho menor diante da vermelha, mas seu desenho sugere
que vivem todas juntas. Apesar de não poder-se afirmar que André percebe as
características polimórficas, em sua fala ele reforça que há muitos tipos de formigas.
Observando-se seu desenho percebe-se que referia a diferentes tamanhos e cores. As
formigas interagem apenas entre elas. O aluno não menciona nada quanto ao ciclo de
vida das formigas. Quanto à vida social das formigas, pode-se perceber que elas são
116
desenhadas em fila, indício de que o aluno sabe que as formigas são insetos
sociais.Além disso, as formigas são representadas em meio à natureza, com uma
estrutura semelhante ao formigueiro bem ao centro.
As formigas desenhadas por André apresentam o corpo segmentado em 3 partes,
mas oralmente, ele afirma que elas possuem o corpo dividido em 5 partes. Desenhou 8
pernas e em sua formiga vermelha há antenas, Percebe-se traços antropomórficos nos
olhos e boca da formiga. A alimentação das formigas não foi mencionada por André.
Por fim, André utiliza a margem inferior da folha como base. O formigueiro
apresentado tem um tamanho exagerado, caracterizando um desvio de esquema. Há
omissões das partes do corpo da formiga, possivelmente por desconhecê-los. Não há
sinais de rebatimento ou de transparência.
O segundo desenho de André, apresentado a seguir, diz respeito à aula em que
foram apresentadas às crianças imagens de formigas reais.
Figura 48: 2º Desenho de André – 05/10/2017 - Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
FONTE: André – 10 anos – 05/10/2017
117
Sinteticamente, ele descreve seu desenho:
“Eu fiz uma formiga com 5 partes, uma com 6 pernas, com a mandíbula, um ferrão, a
antena e a mandíbula.”
Após a uma aula em que as crianças observaram formigas, André trouxe seu
desenho utilizando pouco espaço da folha e sem cores, desenhando apenas uma formiga
com lápis preto. Não se observa o uso da borracha, manifestando confiança ao realizar
seu desenho. Também oralmente, falou pouco sobre o seu desenho, mas sua
representação de formiga apresenta muitos traços do inseto. Não cita nada quanto à vida
social da formiga, ciclo de vida e seu habitat. Também não há em sua fala ou em seu
desenho nenhum tipo de interação com outros organismos. O foco do seu desenho é
mesmo a morfologia da formiga.
Assim sendo, notam-se, em seu desenho, que ele buscou representar
principalmente detalhes desse inseto, possivelmente inspirado pelas fotografias
apresentadas em sala de aula. Ressalta que a formiga tem o corpo dividido em 5 partes.
Interessante observar que foi um dos poucos alunos que desenhou as pernas das
formigas saindo de segmentos que poderiam ser denominados como o tórax. Uma
imagem, apresentada na aula, em especial, talvez tenha chamado a atenção de André
(ANEXO I ) percebe-se, de fato, semelhanças entre ela e seu desenho. Ao observar a
foto da formiga Amblyopone, espécie que vive na Austrália, em pequenos grupos cuja
sua morfologia é pouco conhecida, ele mostrou-se intrigado e a todo o momento dividia
o tórax da formiga em mais pedaços. Contudo, sabe-se que os insetos têm, por
característica, o corpo dividido em 3 partes: cabeça, tórax e abdômen. André também
representa uma espécie de ferrão, nomeado assim por ele durante a entrevista. Seu
desenho mostra 2 antenas grandes, mandíbulas e 6 pernas. Não menciona nada quanto à
alimentação das formigas, e também não apresenta características antropomórficas. Ele
elabora o corpo da formiga de maneira quase proporcional. Repara-se que a formiga é
desenhada de outro ângulo – vista de cima, na tentativa de apresentar a formiga por
diferentes ângulos.
Por fim, sua formiga está no canto da folha, não utiliza qualquer margem como
base, tamanho é proporcional às partes do corpo. Há exagero na divisão do corpo da
formiga, especialmente no tórax, o que pode caracterizar desvio de esquema. Não há
transparência e o desenho é bidimensional, sem a presença de rebatimentos.
118
Apresenta-se, a seguir, o terceiro desenho de André, relacionado a exibição do
filme Minúsculos:
Figura 49: 3º Desenho de André – 24/11/2017 - Desenho realizado após
assistir “Minúsculos”
FONTE: André – 10 anos – 24/11/2017
Oralmente, assim ele descreve seu desenho:
“Eu desenhei o formigueiro, com as formigas trazendo açúcar para a rainha e as
formigas subindo. E ah, ah, joaninha.
Eu desenhei minha formiga com 3 partes, tórax, abdômen e o rosto. E com 6 pernas,
antena, mandíbula. Elas levam o... a... comida na mandíbula!
Aqui é dentro do formigueiro,onde tem as panelas.”
No nosso último dia de aula com André, ele chegou animado. Inspirado pelo
filme Minúsculo realizou um desenho com mais elementos, muitos detalhes sobre a
morfologia e a vida das formigas. Não utiliza cores e faz pouco uso da borracha. Como
119
se vê, há um grupo de formigas enfileiradas, levando alimentos ao formigueiro,
sugerindo que André percebe a vida social das formigas. Ainda trazendo informações
do filme, representa uma joaninha interagindo com as formigas. A formiga-rainha é
apresentada maior, em relação ao grupo desenhado, mas nãotem cores. Não pode
afirmar que ele perceba as características do polimorfismo. Quanto ao ciclo de vida, não
aparece nenhuma representação a esse respeito no desenho, mas, no interior do
formigueiro, André desenha panelas onde as formigas-operárias cuidam dos ovos e das
pupas. O habitat das formigas é representado por uma estrutura semelhante ao
formigueiro, com túneis subterrâneos.
Com referência à morfologia da formiga, ele a nomeada corretamente sendo
representada com o corpo segmentado em 3 partes. Há 2 antenas, mandíbulas e 6
pernas. A formiga que ele aponta ser a rainha é apresentada em tamanho maior e ferrão,
mas não apresenta as asas. Percebe-se uma tentativa de não representar características
antropomórficas, realizando as formigas do tamanho que ele costuma observar. A
alimentação das formigas, para André é a base de açúcar.
Concluindo, a margem inferior da folha foi à base para a representação de
André. Não percebem desvios de esquemas. Há sinais de uso de transparência no
desenho do formigueiro, dando-se condições de perceber o seu interior e o trabalho das
formigas. Não se verificou em sua representação rebatimento, já que se observa apenas
um lado do desenho.
A seguir, a análise da aluna Andrezza.
i) Aluna Andrezza – 10 anos
Andrezza é uma criança tímida, mas aos ser convidada a desenhar e falar dos
seus desenhos apresentou desenvoltura nas tarefas. Com um olhar atento à nossa
presença, se manteve-se sempre muito calada e quando falava, era sempre um tom bem
baixo. Ela é negra e adora desenhar, tendo sempre o incentivo dos seus familiares. Sua
mãe trabalha como salgadeira no mesmo bar em que o pai é o balconista e enquanto os
espera chegar do trabalho, fica na casa da avó.
Segue abaixo o primeiro desenho dessa aluna:
Figura 50: 1º Desenho de Andrezza – 14/09/2017 - O primeiro desenho
das formigas solicitado às crianças
120
FONTE: Andrezza – 10 anos – 14/09/2017
Eis, abaixo, as explicações de Andrezza:
“Eu desenhei, é... duas formigas pegando... pegando folha na árvore para levar para a
rainha
O corpo dela é cheio de bola. São três, é... três bolas.
Isso daí é chuva.
É a antena da... da formiga. É a boca e o olho”
Como de vê na figura acima, as formigas são desenhadas em grandes dimensões
e o desenho preenche todo o espaço do papel sugerindo segurança ao retratar o tema. A
maioria dos traços são contínuos, sem muito uso da borracha. O desenho é colorido.
Ressaltam na página o azul e o verde. Uma das formigas foi colorida com o lápis
vermelho, em tom claro e outra não foi colorida. Como não perguntou à criança a
respeito das diferentes cores das formigas, não podemos afirmar que ela compreende
algumas características do poliformismo. Em seu desenho, a rainha não aparece
desenhada, mas escrita em uma estrutura parecida com um formigueiro e, em sua fala,
121
ela faz menção à mesma. Andrezza menciona o fato de que as formigas colhem as
folhas para levar para a rainha. Isso pode indicar uma sujeição das formigas à rainha.
Conforme nossos estudos essa hierarquia não se manifesta nos formigueiros – a rainha
não ordena que as formigas trabalhem. Andrezza desenha apenas duas formigas. Isso
pode indicar que ela compreende que as formigas são insetos sociais. Há traços
antropomórficos nas formigas, pois elas aparecem sorrindo. Em seu desenho há vários
elementos diferentes, como árvores, mata e flores, mostrando a interação das formigas.
Andrezza divide o corpo da formiga em quatro partes e apresenta nove pernas.
Elas têm cabeças redondas e um par de antenas com uma bolinha na ponta que nada
disso se assemelha às formigas reais. Suas formigas lembram centopeias pela estrutura
do corpo. Embora elas não apareçam carregando nenhum alimento, na entrevista
Andrezza afirma que as folhas deverão ser levadas à rainha. Pode-se inferir que a aluna
tenha uma concepção de que as formigas se alimentam de vegetais. Ela utiliza a linha da
folha como base para o seu desenho e os elementos são apresentados de forma
organizada Desenha um sol junto à chuva, que pode revelar aspectos das suas vivências.
As formigas aparecem em destaque, muito maiores que as flores e as árvores,
nos levando a perceber sinais de desvios de esquema, como o exagero.Não há
rebatimento no desenho, pois observamos apenas um lado do que foi representado e
também não é apresentado transparência.
O desenho adiante tem, como referência, a aula em que a imagem reais de
formigas foram apresentadas as crianças.
Figura 51: 2º Desenho de Andrezza- 05/10/2017 - Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
122
FONTE: Andrezza – 10 anos – 05/10/2017
Tão sintético quanto o seu desenho é a explicação de Andrezza:
“É... eu fiz um desenho de uma formiga voando... é... e um...
Isso aqui esqueci o nome... serve para ela carregar as folhas.
O corpo tem 3 partes e fiz ela com asas...
Não lembro qual formiga tem asa não... não lembro o nome...”
Como se vê, a formiga desenhada não ocupa todo o espaço da folha, o que pode
sugerir mudanças em relação ao conhecimento sobre o tema. Podemos observar que o
desenho de Andrezza não é colorido, mas a maioria dos traços são contínuos, sem muito
uso da borracha. O desenho não apresenta o ciclo de vida da formiga, o contexto social,
o seu habitat ou interação com outros animais. . Esse foco tem relação com as
discussões realizadas em sala de aula. Haja vista que nessa aula, chamou-se a atenção
da característica desse inseto sem destacar a vida na colônia. Nesse sentido, ela produz
um desenho de uma formiga com características ressaltadas na aula. A formiga é
desenhada com um par de asas, uma estrutura que se assemelha a mandíbulas e um
abdome com linhas verticais que indica que aquela era a parte diferente no corpo do
inseto. A sua formiga já não apresenta nenhum tipo de característica antropomórfica,
dando maior relevância à parte morfológica da formiga.
123
Nessa medida, o corpo da formiga apresentado por Andrezza é dividido em três
partes, as formas circulares ainda continuam representando as partes do corpo como no
desenho anterior. Apesar de não ter antenas, as mandíbulas são representadas e
mencionadas em sua fala ao explicar que, a sua função é carregar folhas. Nesse ponto, a
aluna não demonstra que as formigas são insetos que também se alimentam de outros
insetos. As asas são destacadas no desenho e na fala de Andrezza. Pode-se pensar que
essas características foram mais marcantes para o aluno no estudo desse inseto. Há
várias omissões, como de pernas e antenas, já conhecidas como parte da formiga. Não
há rebatimento, fazendo-se observar apenas um lado da formiga. Por fim, as partes do
desenho são proporcionais à sua formiga. Não apresenta transparência, podendo apenas
observar-se o corpo externo da formiga.
A seguir, apresenta-se o terceiro desenho de Andrezza, após a exibição do filme
Minúsculos:
Figura 52: 3º Desenho de Andrezza – 24/11/2017 - Desenho realizado
após assistir “Minúsculos”
FONTE: Andrezza - 10 anos – 24/11/2017
124
Eis a explicação da aluna acerca do desenho:
“Essa é a rainha, as asas dela tá um pouquinho torta e as pretas, as formigas estão
levando para ela açúcar para ela botar bastante ovinhos, iguais esses aqui.
Eu desenhei o corpo dela fazendo uma bola, em três partes. Abdômen, tórax e a cabeça
Isso aqui é as... as... mandíbulas
Essa aqui é uma formiga que ainda não se transformou em adulta... é uma ... é pupa!
Elas estão carregando açúcar, pelas mandíbulas.”
Com efeito, a maior inspiração de Andrezza para a produção do seu desenho foi
a animação intitulada Minúsculos. Seu desenho retrata uma cena desse filme em que as
formigas pretas, dentro do formigueiro, interagem com a rainha.Assim,alguns detalhes
discutidos em aula são colocados em evidência. A cena representada faz parte do filme.
O abdômen da rainha é bem destacado, mas outros elementos compõem o desenho. A
ilustração preenche todo o papel sugerindo atenção a vida no interior do formigueiro. Os
traços são contínuos e firmes, sem uso da borracha. Ressaltam na página cores escuras.
Neste último desenho, nota-se que Andrezza faz menção ao ciclo de vida das formigas,
desenhando operários, a rainha, ovos e uma pupa. Na animação, o animal que fica ao
lado da rainha é um pulgão. A citação da pupa por Andrezza revela como as
informações do desenho e as discussões em sala de aula modificam o olhar da criança.
A ilustração deixa claro também a vida social das formigas, com as operárias em fila,
carregando alimentos pela mandíbula para a rainha que tem uma superalimentação.
Elas são desenhadas no interior do formigueiro, embora não haja menção às galerias ou
ao habitat. Os olhos das formigas nos parecem trazer algumas características
antropomórficas, assim também os da pupa. A relação entre os membros do formigueiro
fica clara dada à diversidade de elementos representada no desenho.
Quanto à morfologia, as representações da aluna mostram formigas com corpos
divididos em três partes, seis pernas, mandíbulas, antenas, asas na rainha. Em sua
representação, a cabeça e o corpo são circulares, mas o abdômen é a maior parte do
corpo. A pupa apresenta características bem próximas de uma pupa, arredondada. A
formiga-rainha apresenta cores e tamanho diferente das demais formigas. Suas formas
também são bem destacadas podendo indicar que a rainha tem papel de reprodutora na
colônia. A formiga-rainha aparece com um par de pequenas asas como representado na
animação. Um monte de ovos também são representados. Quanto à alimentação das
formigas é o mencionado açúcar como sua principal fonte de alimento das formigas.
125
Ressalta-se, ainda, que Andrezza utiliza a folha como base para o seu desenho.
Há os seguintes desvios de esquemas no desenho: o abdômen da rainha, os pés das
formigas e as antenas são representados de maneira exagerada, ou com detalhes
diferentes daqueles observados em sala de aula. Também não é apresentado
rebatimento, pois o desenho mostra apenas o lado da frente da formiga aparente.
Observa-se que seu desenho expressa o que ela acredita ser a vida das formigas e não
há transparência.
j) Aluno Geraldo - 10 anos
Geraldo é falante e já desde o primeiro momento da pesquisa se mostrou bem
interessado pelo tema em pauta: as formigas. É uma criança de cor branca, filho de mãe
psicóloga e pai vendedor de seguros, diagnosticado com transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade (TDAH). De fato, em alguns momentos da aula apresenta-se meio
distante, da nossa aula. Mas seu interesse por formigas levou-o a aula com
tranquilidade. Gosta muito de desenhar e não apresentou dificuldades na entrevista.
Segue abaixo o primeiro desenho das formigas, feita por Geraldo:
Figura 53: 1º Desenho de Geraldo - 14/09/2017 - O primeiro desenho
das formigas solicitado às crianças
126
FONTE: Geraldo – 10 anos- 14/09/2017
Neste trecho, ele explica seu desenho:
“Esse cara aqui é o homem formiga. E essa mulher aqui é a vespa. E esses putinho... pontinhos aqui que estão no homem formiga, são as formigas que estão subindo em
cima dele.Esses pontinhos são formiguinhas!
As formigas tem poderes! Esse é um humano! Que ganharam... que ganhou poderes,
que o uniforme deles tem poderes de formiga.
As formigas são essas pequenininhas aqui, na roupa...
Aqui tá o formigueiro, que ta sem... porque ele controla as formigas com a mente.Aqui
é a casa das formiguinhas.
Ah, eu desenhei uma formiga, é uma formiga... é uma formiga bola Desenhei ela no
chão também. Ela com as patas no chão. Essa aqui, é ajudante do homem formiga: a
vespa”.
Muito falante e mostrando-se satisfeito com seu desenho, Geraldo narra a sua
produção. Causando curiosidade, pois seu desenho retrata uma cena do filme “O homem
formiga”, e é representado em vários planos (relações geométricas). É um desenho que
se distingue dos demais porque é inspirado em um filme. Seu traço é firme e seguro,
não utilizou cores, apenas o lápis de escrever. A borracha quase não foi usada,
mostrando que sabia o que queria representar. A figura humana desenhada remete-se
aos personagens principais do filme (ANEXO J) e só percebe-se ao ouvir suas
explicações, com o olhar meio atento ao seu desenho. Suas formigas são minúsculas,
pretas, designadas por ele formigas-bola. São desenhadas em grupo, caracterizando a
127
vida social desse inseto e interagindo com os seres humanos. Não é mencionado o ciclo
de vida delas. O habitat da formiga é representado, no canto da folha, o local designado
por ele casa das formigas.
As concepções de Geraldo quanto à morfologia da formiga não são claramente
visíveis, por serem desenhos bem pequenos. Mas, em algumas nota-se que Geraldo
representou duas pernas e o corpo segmentado em duas partes. Não fez antenas, nem
mandíbulas. Elas não apresentam características antropomórficas. Ele também não diz
nada quanto à alimentação delas, nem oralmente nem em seu desenho.
Geraldo também não utiliza a linha da folha como base do seu desenho. Um
pouco acima da margem, traça uma linha dando-se a ideia de ser o chão onde os
elementos do desenho se apoiam. Observa-se preocupação do aluno com a proporção
das formigas, formando um conjunto como queria mostrar.
O desenho seguinte refere-se as imagens apresentadas em aula, sobre formigas
reais:
Figura 54: 2º Desenho de Geraldo – 05/10/2017 - Aula de imagens de
formigas reais apresentadas às crianças
FONTE: Geraldo – 10 anos – 05/10/2017
128
Explica Geraldo:
“Eu desenhei uma formiga,homem, uma formiga homem com asas. Com 3 patas, ela
tem uma boca bem afiada, 2 antenas, duas bolinhas no meio dela e uma bolinha que é a
cabeça.
Esqueci o nome das bolinhas... é... tava falando o tempo todo
Isso afiado é a boca! Mandíbulas!
São 3 pernas. 3 pernas de cada lado! Então são 6!”
Geraldo apresenta, em seu desenho, apenas uma formiga com muitos detalhes.
Utilizou caneta azul para representá-la. Com traços firmes, fez uma formiga
provavelmente inspirada nas imagens apresentadas durante a aula. (ANEXO K ) Não
apresentou nenhuma informação quanto ao ciclo de vida nem a vida social. O habitat
delas também não foi mencionado.
Como se vê, sua formiga tem o corpo segmentado em três partes que se
assemelham às formigas reais. Não dá nomes às partes do corpo das formigas, apenas a
cabeça e a mandíbulas. Representa a mandíbula, duas antenas e seis pernas. É
importante observar que as pernas das formigas são representadas no segmento que
corresponde às formigas reais. Os olhos se assemelham com os olhos compostos das
formigas reais e o macho possui um par de asas. Não apresenta características
antropomórficas.Também a alimentação delas não é citada pelo aluno, nem no desenho
e nem na fala.
Finalmente, Geraldo desenha a formiga no meio da folha. Como é uma espécie
que possui, como característica, asas, tem-se a impressão de que a intenção do aluno foi
fazê-la voando. Não há desvios de esquema. O rebatimento pode ser observado nas
pernas da formiga quando as desenha em outro plano. Parece que ele usou a
transparência nas asas.
Este desenho teve, como motivação, o filme Minúsculos apresentado às crianças:
Figura 55: 3º Desenho de Geraldo – 24/11/2017 - Desenho realizado
após assistir “Minúsculos”
129
FONTE: Geraldo – 10 anos – 24/11/2017
Sobre eu desenho, ele diz:
“O meu desenho é sobre aquele filme Minúsculos.
Eu desenhei a formiga, desenhei os detalhes dela
E eu desenhei a joaninha
Eu fiz uma coisa que parece um ovo, outra coisa que parece outro ovo. Ai juntei as
duas coisas, fiz as patinhas, os olhos e os olhos da joaninha também.
Tem 6 pernas
E o corpo 3
Eu lembro da mandíbula, do tórax e das patas
Aqui é o coração.
É porque eu vi no filme do Lucas que aqui o Lucas fez um sinal que é no coração do
humano, ai o coração das formigas são aqui, no bumbum
Então aqui é o Tórax e o coração”
De acordo com a fala de Geraldo, percebe-se que ele se inspirou muito nos
filmes aqui assistira durante os encontros nas aulas para apontar suas concepções sobre
as formigas. À primeira vista, já se nota em seu desenho ele procura retratar uma cena
do filme em que a formiga interage com a joaninha (ANEXO L). A joaninha é pintada
de vermelho e preto, como ele percebeu no filme. Desenha apenas uma formiga
utilizando lápis preto. A vida social das formigas também não é representada nem no
130
seu desenho e nem em sua fala. Também não refere-se ao ciclo de vida e ao habitat das
formigas, haja vista que priorizou uma cena.
Na verdade, Geraldo se preocupou em representar a sua formiga mais próxima
possível do que viu durante as aulas. Assim, o corpo dela é segmentado em três partes
mas ele não consegue se lembrar do nome correto do abdômen. Reconhece que é o lugar
aonde se encontra o coração, o coração das formigas está no abdômen e isso é explicado
em Lucas – um intruso no formigueiro. Sua formiga possui seis pernas, duas antenas e
mandíbulas. As partes do corpo da formiga têm um formato oval. Ele desenha as pernas
com alguns detalhes da articulação mostrando que faz observações apuradas do
desenho. Neste desenho, as pernas das formigas estão distribuídas ao longo dos
segmentos do corpo. Seus olhos são redondos, mas não remetem à antropoformzição.
Geraldo não menciona nada quanto à alimentação desses insetos.
Por fim, não há sinais no desenho da aula, de rebatimento e nem de
transparência. Há alguns desvios de esquema, como o exagero no tamanho da formiga e
da joaninha. Porém seus insetos são representados em dois planos: a formiga na frente
e a joaninha atrás.
A partir das análises, observou-se que, assim como afirma Piaget, as crianças de
9 e 10 anos, que se encontram na fase do esquematismo, desenham mais do que sabe do
que pretende representar, do que ela vê. Compreendemos nos desenhos, que à medida
que foram evoluindo os nossos encontros e mais informações científicas foram
repassadas as crianças, elas começaram a representar em seus desenhos partes
morfológicas da formiga com riquezas de detalhes, como por exemplo, as mandíbulas
da formiga, que não são vistas a olho nu com grande facilidade. Para essa representação,
as crianças utilizam processos diferentes como o rebatimento, à transparência e até
mesmo a mudança do ponto de vista. Em alguns desenhos podemos notar que as
crianças utilizam da transparência para representar a vida no interior dos formigueiros,
possibilitando o leitor a ver como é essa estrutura e até mesmo o modo de vida das
formigas (FIGURA 49) Também percebemos alguns sinais de rebatimento, mostrando
sua formiga representada em todos os lados (FIGURA 54) e a desenhando da maneira
que foi realmente pensada por ele. Observamos também que há legendas em algumas
produções, característicos para essa faixa etária (FIGURA 36) deixando assim os nomes
como parte importante da sua representação. Nesse estágio, ressalta Piaget (1982) e
como podemos visualizar nos dados dessa pesquisa, a criança não apresenta
preocupação da perspectiva visual e se preocupa em representar essencialmente os
131
atributos conceituais do modelo que pretende desenhar. As formigas, mesmo sendo
insetos pequenos, são representadas em tamanho maior para que os detalhes ficassem
aparentes aos nossos olhos, demonstrando assim tudo o que sabem sobre elas. A criança
desenha de acordo com que sabe das formigas naquele momento. Os primeiros
desenhos elas são apresentadas menores e com menos características morfológicas,
seguidos por formigas mais detalhadas e maiores. Ainda nesse estágio é que se inicia a
construção das relações projetivas, que é quando a criança diferencia e coordena os seus
pontos de vista, representando o objeto em uma única cena e muitas vezes dando ideia
de ter dois planos à cena. A relação euclidiana também se inicia nessa fase, quando a
criança começa a coordenar os objetos a serem representados, considerando a distância
e proporções.
Diante do exposto, podemos visualizar que os desenhos das crianças do gênero
feminino são realizados utilizando mais cores e mais detalhes. As meninas buscaram
representar suas formigas em meio a elementos naturais, em sua maioria, utilizando
cores. Já as crianças do gênero masculino, muitas vezes, utilizaram mais o lápis de
escrever, sendo mais objetivos no que gostariam de desenhar. Podemos afirmar que o
mais chamou a atenção do grupo dos desenhos das crianças analisadas foram às partes
do corpo da formiga. Em todos os desenhos foi perceptível a evolução dos traços
morfológicos. Diante das obras realizadas pelas crianças, constatamos que elas
ampliaram o seu conhecimento sobre formigas de forma prazerosa e eficaz.
132
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
É indiscutível que toda criança, quer por razões da curiosidade quer pela
vivência, adquire, mesmo antes do período escolar, condições de acelerar ou reter seu
pensamento, ou seja, de evoluir ou paralisar seu processo de cognição, incluindo-se
nele, também, o ciclo familiar, o contato com o meio, a questão social. Nesses
particulares da infância, destaca-se a fase dos porquês, da observação dos mínimos
detalhes que possam levar à satisfação do esclarecimento sobre aquilo que se passa a
sua volta. Assim, concorda-se com Hamburger e Lima (1989), ao afirmarem que a
aprendizagem da criança deve ser estimulada por meio de situações, fatos e seres
habitualmente observados por elas,nessa perspectiva, cabe ao educador estabelecer
condições que propiciem a interação das crianças com a realidade, com os
conhecimentos propostos , com que elas pensam com os conhecimentos que vão
adquirir em sala de aula, objetivando alcançar conhecimento formal e significativo
sobre qualquer assunto estudado. Sendo, pois, a formiga, objeto desta pesquisa, um
inseto próximo das crianças, poderá também ser um canal de acesso ao estudo de outros
insetos, dada a similaridade de características no grupo dos insetos, o que abre
perspectiva para o campo científico gerar conhecimento dessa classe.
Neste sentido, foram encontradas diversas pesquisas que investigam insetos a
partir da concepção das crianças. Extenso número delas utiliza o desenho como meio de
interpretação das ideias, contudo, a maioria não esclarece a análise sobre
representações. Diversos estudiosos do desenho infantil partem da premissa de que a
criança desenha menos o que vê e mais sobre o que pensa do objeto. Para alguns, a
percepção do objeto corresponde á atribuição do sentido que é dado pela criança,
estabelecendo-se a realidade conceituada e não material. Já Piaget (1973) reitera que o
desenho, entre o jogo simbólico e a imagem mental, submete-se às leis da percepção e
conceituação.
Neste trabalho, com o aporte dos estudos de Piaget, buscou-se compreender
como as formigas foram representadas pelas crianças de 9 e 10 anos. Para tal,
observaram-se representações realizadas que não focalizaram apenas a morfologia, mas
buscaram caminhos para compreender as representações das crianças em uma
perspectiva cognitiva. Assim sendo, segundo os dados analisados, a maioria das
crianças de 9 anos, sem nenhuma intervenção das pesquisadoras, desenharam formigas
com o corpo segmentado. Em uma das representações, a formiga era semelhante à
133
barata, com o corpo oval e achatado, com pernas e antenas. Em todas as representações
apareciam os formigueiros, ressaltando o habitat, em meio à natureza. Na maior parte
dos desenhos foram utilizadas cores para caracterizar as formigas e os elementos
naturais, predominando formigas pretas, coloridas nessa cor ou apenas desenhadas com
lápis preto. Percebem-se que as crianças de 9 anos não fazem uso de borracha,
sugerindo-se segurança na realização do desenho.Ademais, a proporcionalidade foi uma
característica dos desenhos. As crianças de 10 anos apresentaram os desenhos coloridos
e delimitados na folha, destacando-se as formigas que, em alguns casos, se
assemelhavam a outros insetos, mas todas tinham corpo segmentado, antenas e pernas.
Uma das crianças, possivelmente inspirada em suas vivências, apresentou as formigas
bem pequenas. Apenas uma criança utilizou borracha enquanto executava o desenho,
demonstrando insegurança sobre o que representava. Conclui-se, também, que a
presença de elementos proporcionais e bem divididos demonstraram que as formigas
eram insetos facilmente percebidos pelas crianças.
Após a primeira intervenção, trazendo informações cientificas sobre formigas,
observou-se, nas representações das crianças novas ideias, diminuindo-se
consideravelmente, os traços antropomórficos, ou seja, desenhavam tentando dar
veracidade às características morfológicas do inseto. Novos conceitos foram
introduzidos nos desenhos, como voo das formigas, mandíbulas e corpo segmentado
mais próximo do real, isso tanto pelas crianças de 9 como de 10 anos. A formiga-rainha
sobressaiu em todas as representações e possuía mandíbula. Dois desenhos
representaram as pernas das formigas saindo do tórax demonstrando que perceberam a
anatomia do inseto. A preocupação das crianças, aparentemente, não estava em ocupar
toda a folha do papel ou delimitá-la, mas sim representar o que percebiam no inseto,
após algumas aulas.
E, assim, ao fim dos dez encontros, marcados pelas trocas de informações sobre
as formigas, os desenhos das crianças receberam diversas influências, possivelmente
das aulas realizadas, e adquirindo um olhar mais atento ao mundo das formigas. Assim
sendo, todos os desenhos das crianças apresentaram partes semelhantes a do filme
Minúsculo, animação apresentada no último encontro da presente pesquisa. Desse
modo, a maior parte das crianças de 9 anos representaram formigueiros, ressaltando
características próprias do habitat das formigas, como panelas e elevações que são
apresentadas no filme, sendo o espaço onde as rainhas botam seus ovos e são
alimentadas pelas demais. A cena inicial do filme - as formigas estão em um
134
piquenique - também foi retratada, fazendo-se pensar que as formigas são seres que
vivem em meio à natureza. Todas as formigas apresentaram os corpos segmentados e
semelhantes aos das formigas reais, com mandíbulas, antenas e seis pernas. Este filme
foi fonte de inspiração também para as crianças de 9 a 10 anos representarem a formiga-
rainha cujo abdômen exagerado, parecido com das formigas-rainhas do filme. Com
referência as crianças de 10 anos, retrataram suas formigas no formigueiro. Algumas
entrando com alimentos e outras no seu interior. Desenharam os ovos, pupas e panelas,
mostrando, assim, que conheciam bem o ciclo de vida das formigas. Conforme
mencionado por uma criança, as aulas mais marcantes para ela foram as relativas aos
filmes de animação. Vale lembrar que ela representou uma formiga-rainha próxima ao
seu formigueiro, e cada personagem importante referia à história apresentação no filme.
Também um aluno se inspirou na capa do filme Minúsculo (ANEXO M), para
representar sua formiga. Certo que a maioria das crianças percebeu que o corpo das
formigas é segmentado, apenas alguns desenhos apresentaram sinais antropomórficos.
Os desenhos apresentaram asas, antenas, mandíbulas e pernas. Em todas as
representações, as crianças buscaram harmonizar o desenho com figuras proporcionais e
organizadas para dar sentido ao seu pensamento.
Por outra lado, aspectos polimórficos foram menos citados pelas crianças
pesquisadas, (de 9 e 10 anos), seguido por desenhos com ausência de rebatimento.
Na maior parte dos desenhos foi possível apenas visualiza-los em um plano. Os
materiais que selecionamos para apresentar as crianças pesquisadas foram fonte de
aprendizado efetivo a elas. Para as crianças todas as representações revelaram
influências diretas das aulas ministradas. Por exemplo, perceberam-se no desenho da
aluna Maria, certos aspectos oriundos das aulas, que foram marcantes para a aluna, em
sua última representação. Vivências contextuais em alguns casos, também foram
apresentadas nos desenhos como o do Geraldo que traz, em sua produção, personagem
de um filme visto junto à família.
Cabe ressaltar que durante a execução dos desenhos procurou-se ouvir os
comentários das crianças, uma vez que complementavam o trabalho, indicando suas
ideias tão importantes para o conhecimento da questão. Com afirma Alexandroff
(2010), a relação da fala da criança como o desenho é uma condição fundamental na sua
evolução. Primeiro o objeto é representado e só depois, após a fala da criança, é
reconhecido pelas pesquisadoras, identificando semelhanças com as ideias, é ai que se
dá o inicio do pensamento representativo.
135
Assim para a análise dos desenhos, considerou-se não só a idade, dos sujeitos
mas também a diferença de ideias entre meninos e meninas buscando verificar se esses
dados influenciaram as representações. Conclui-se que os desenhos das meninas
apresentavam maior número de dados, que elas eram capazes de perceber os detalhes
da relação da formiga em meio à natureza ou em outra situação, que seus desenhos eram
mais coloridos e instrutivos. Já os meninos apresentaram uma forma mais objetiva de
representar a formiga e explicar sua representação. Enfim, seus desenhos eram concisos
e sem preocupação com o entorno.
Com efeito, a presente pesquisa baseou-se no entendimento de que todo
conhecimento se desenvolve desde o nascimento do indivíduo. Portanto, o pensamento
infantil reflete experiências anteriores ao período escolar, logo vários fatores influem na
aquisição do conhecimento.
Desse modo, a interação das crianças com múltiplas linguagens abre caminho
para que elas manifestem, de maneira espontânea e significativa, os conhecimentos até
então adquiridos. Neste sentido, estudar as formigas na escola significou levar as
crianças a entender a diversidade, observando-as frequentemente em muitos lugares,
próximos a elas. Nessa perspectiva, o ensino oferece ferramentas para que a educação
científica seja significativa preocupando-se com a formação da autonomia, vinculada à
realidade.
136
7 – Referências
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ZABALA, A. A Prática de Educativa: Como ensinar. Editora Artmed. 1995.
140
ANEXOS ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS
RESPONSÁVEIS
UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto
ICHS - Instituto de Ciências Humanas e Sociais
POSEDU – Pós-Graduação em Educação
Mestrado em Educação
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Prezados pais ou responsáveis,
Senhores (as),
Pretendemos realizar na sala de aula do seu filho (a) uma pesquisa sobre as concepções
que as crianças têm sobre as formigas. O objetivo desse trabalho é entender quais os
conhecimentos que as crianças são capazes de construir sobre formigas através do
desenvolvimento de uma sequência didática, durante as aulas de ciências. Para tanto,
será necessário filmar as atividades realizadas na sala de aula. Por isso, vimos pedir
autorização dos Senhores (as), para uso dessas imagens para fins de estudo. Na
oportunidade, esclarecemos que esse material não terá nenhum destino que possa trazer
fins lucrativos. Essas filmagens serão usadas para a análise das aulas, com o objetivo de
desenvolver a dissertação do mestrado em educação e trabalhos acadêmicos sobre a
orientação da Prof. Dra.Sheila Alves de Almeida. Aproveitamos a oportunidade para
comunicar que a pesquisa trará benefícios à aprendizagem das crianças, que terá um
conteúdo todo pensado para ampliar seus conhecimentos sobre as formigas e atividades
que favorecerão a efetivação do processo de ensino e aprendizagem.
Certos de contar com o apoio dos Sr (as) colocamo-nos a disposição para quaisquer
esclarecimentos que se fizerem necessários.
Atenciosamente
Giselle Barbosa Andrade Rodrigues
Sheila Alves de Almeida
AUTORIZAÇÃO
Estou ciente dos objetivos da pesquisa e concordo com as filmagens para fins de estudo.
Assinatura do Responsável:
____________________________________________________________________
Ouro Preto, de de 2017.
141
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A
ESCOLA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ICHS- INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
POSEDU- PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – INSTITUIÇÃO
Prezados,
Pretendemos realizar uma pesquisa, com as crianças matriculadas nessa
instituição, tendo como objetivo entender quais os conhecimentos que as crianças são
capazes de construir, a partir do desenvolvimento de uma sequencia didática sobre
formigas. Por isso, vimos pedir autorização dos senhores para a utilização do espaço e
realização da pesquisa. Os dados para o estudo serão coletados por meio das aulas de
Ciências com as crianças do 4º ano I. Os instrumentos de avaliação serão aplicados
pelo(s) pesquisador(es) e tanto os instrumentos de coleta de dados quanto o contato
interpessoal não oferecem riscos previsíveis aos participantes. Em qualquer etapa do
estudo os participantes e a Instituição terão acesso ao pesquisador responsável para o
esclarecimento de eventuais dúvidas, e terão o direito de retirar-se do estudo a qualquer
momento, sem qualquer penalidade ou prejuízo. Aproveitamos a oportunidade para
comunicar que a pesquisa trará benefícios para à aprendizagem das crianças, que terão
contato com conteúdos científicos.
Desde já agradecemos a sua colaboração.
Atenciosamente
Giselle Barbosa Andrade Rodrigues
Sheila Alves de Almeida
Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram
esclarecidas pelo(s) pesquisador(es). Estou ciente que a participação da Instituição e dos
Sujeitos de Pesquisa é voluntária, e que, a qualquer momento ambos tem o direito de
obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar-se da mesma, sem qualquer
penalidade ou prejuízo.
Nome do Representante Legal da Instituição:
______________________________________
Assinatura do Representante Legal da Instituição:
__________________________________
142
Anexo C:
Figura 56 - FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos
Anexo D:
Figura 57 - FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos
Anexo E
143
Figura 58 - printscreen da cena do filme Minúsculos
Anexo F:
Figura 59 - FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos
Anexo G:
144
Figura 60: FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos
Anexo H:
Figura 11 - FONTE: www.alexanderwild.com
Anexo I:
145
Figura 62 - FONTE: www.alexanderwild.com
Anexo J:
Figura 63 - FONTE: printscreen da cena do filme Homem Formiga
Anexo K:
146
Figura 64 – FONTE: www.alexanderwild.com
Anexo L:
Figura 2 - FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos
147
Anexo M:
Figura 66 - FONTE: printscreen da capa do filme