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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - ICHS MESTRADO EM EDUCAÇÃO PPGE GISELLE BARBOSA ANDRADE RODRIGUES INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO DE FORMIGAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL MARIANA 2019

INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO … · caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar da criança em uma perspectiva

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Page 1: INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO … · caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar da criança em uma perspectiva

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - ICHS

MESTRADO EM EDUCAÇÃO – PPGE

GISELLE BARBOSA ANDRADE RODRIGUES

INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A

REPRESENTAÇÃO DE FORMIGAS NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

MARIANA

2019

Page 2: INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO … · caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar da criança em uma perspectiva

GISELLE BARBOSA ANDRADE RODRIGUES

INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A

REPRESENTAÇÃO DE FORMIGAS NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às

exigências do Programa de Pós-Graduação em Educação,

da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) para

obtenção do Grau de Mestre.

Área de concentração: Educação

Orientadora: Profa. Dra. Sheila Alves de Almeida

MARIANA

2019

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Catalogação: www.sisbin.ufop.br

R696i Rodrigues, Giselle Barbosa Andrade. Insetos na escola [manuscrito]: um estudo sobre a representação das formigasnos anos iniciais do ensino fundamental / Giselle Barbosa Andrade Rodrigues.- 2019. 147f.: il.: color; grafs; Quadros .

Orientadora: Profª. Drª. Sheila Alves de Almeida.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto deCiências Humanas e Sociais. Departamento de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Área de Concentração: Educação.

1. Formigas - Teses. 2. Desenho infantil - Teses. 3. Ciência - Teses. 4.Piaget, Jean, 1896-1980 - Teses. 5. Construtivismo (Educação) - Teses. I.Almeida, Sheila Alves de. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Titulo.

CDU: 37.01/.09

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Para Maria Efigênia

Que desde sempre me mostrou que o conhecimento não ocupa espaço.

Para Iara

Minha inspiração para ser um ser humano melhor

e forte, que cotidianamente luta por dias melhores.

Escrevo para você.

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AGRADECIMENTOS

À professora Sheila Alves de Almeida, por toda paciência, confiança e generosidade,

ao dividir comigo toda sua sabedoria, me fazendo acreditar que poderia ser uma

pesquisadora, me acolhendo e me ensinando diariamente o poder da educação em

transformar as pessoas.

A toda equipe da escola pesquisada e, em especial, às crianças que deram vida a este

trabalho.

À Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que não mediu esforços com a

concessão da bolsa para que pudesse ter a tranquilidade financeira em realizar a

pesquisa.

Aos queridos professores Rosa Maria da Exaltação Coutrim e Heron Laiber Bonadiman

que tanto contribuíram em minha banca de qualificação.

A Yara Elson, irmã que a universidade me trouxe para toda a vida, pelas noites em claro

juntas estudando e por sempre me encorajar a continuar, me mostrando que sou capaz.

Aos amigos do POSEDU, pelas trocas importantes vivenciadas durante as disciplinas e

encontros, em especial, a Michelle, pelo apoio incondicional.

Ao Burracha pela paciência e compreensão, por nem sempre poder estar junto nesse

período de dedicação à pesquisa.

À minha filha amada Iara, que me ajudou a querer ser uma pessoa melhor e entender o

quanto este trabalho é importante para mim.

A minha tia Zazá, que ouviu cada capítulo do trabalho atentamente, mesmo as vezes

estando bem cansada.

A toda equipe da Pós-Graduação da UFOP, especialmente a professora Regina Magna

Bonifácio de Araújo, que me encorajou a ser uma aluna melhor, sempre me dando

apoio.

A minha família, a quem tanto partilhei lágrimas de medo e de alegrias.

A minha mãe e meu pai, no qual sempre estive sob seus olhos.

A Deus, toda honra e toda glória!

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RODRIGUES, G.B.A. Insetos na escola: um estudo sobre a representação de formigas

nos anos iniciais do ensino fundamental. Dissertação]. Universidade Federal de Ouro

Preto; 2019..

Resumo

Essa dissertação propõe uma reflexão sobre o estudo das representações de formigas

realizadas através do desenho das crianças de 9 e 10 anos, pautados em Jean Piaget. Nos

estudos piagetianos a representação é a capacidade de se lembrar, diante de uma

imagem ou signo, o objeto que não está presente ou o ato não realizado, embora o

pensamento não se reduza apenas às imagens, ele também se constrói por elas. Para

realizar essa pesquisa utilizou-se a metodologia qualitativa,caracterizada por estudo de

caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar

da criança em uma perspectiva cognitiva sobre as formigas. Para tanto, a permanência

na escola teve a duração de 6 meses, divididos em encontros semanais com

aproximadamente 110 minutos. A sala de aula era composta por crianças de perfis

diversificados, com níveis sócio-econômico-cultural diferentes. Foram contemplados 30 desenhos de 10 crianças que participaram de todas as aulas para serem analisados. Para

isso foi utilizado um quadro de categorias construídos pelas pesquisadoras.Por fim,

conclui-se que as crianças desenham muito mais do que veem. Verificou-se também que

a interação delas como o material didático apresentado culminou nas representações de

formigas com detalhes próximos do real e apropriaram-se dos conceitos apresentados,

comprovados na entrevista. Trabalhar com temas próximos as crianças faz que elas

tenham uma aprendizagem científica efetiva, vinculando à autonomia dos

conhecimentos a realidade. É importante oferecer às crianças a interação a diversas

linguagens, abrindo caminhos para que elas se manifestem de maneira espontânea e

significativa, os conhecimentos até então adquiridos.

Palavras-chave: formiga, desenho infantil, representação, ciências, Jean Piaget

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RODRIGUES, G.B.A. Insects at school: a study on the representation of ants in the

early years of elementary school. Dissertation. Federal University of Ouro Preto; 2019.

Abstract

This dissertation proposes a reflection on the study of ant representations made through

the drawing of 9 and 10-year-old children, based on Jean Piaget. In Piagetian studies,

representation is the ability to remember, in front of an image or a sign, the object that is

not present or the act not performed, although thought is not only reduced to images, it

is also built by them. To carry out this research we used the qualitative methodology,

characterized by case study. As a tool, a didactic sequence was built to understand the

child's gaze from a cognitive perspective on ants. Therefore, the stay in school lasted 6

months, divided into weekly meetings with approximately 110 minutes. The classroom

consisted of children of diverse profiles with different socio-economic-cultural levels.

Thirty drawings of 10 children who participated in all classes to be analyzed were

contemplated. Finally, it follows that children draw much more than they see. It was

also verified that their interaction as the presented didactic material culminated in the

representations of ants with details close to the real and appropriated the presented

concepts, proven in the interview. Working with subjects close to children makes them

having an effective scientific learning, linking the autonomy of knowledge to reality. It

is important to offer children the interaction in different languages, opening ways for

them to manifest themselves in a spontaneous and meaningful way, the knowledge

acquired until then.

Keyword: ant, children's drawing, representation, science, Jean Piaget

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Lista de Figuras

Figura 1: Formigas em grupo................................................................................. 13

Figura 2: Rainha e operária.................................................................................... 14

Figura 3: Formiga vermelha e amarela................................................................... 14

Figura 4: Anatomia da formiga.............................................................................. 15

Figura 5: Alimentação das formigas.......................................................................

Figura 6: Formigas em fila.....................................................................................

Figura 7: Formiga macho e fêmea..........................................................................

Figura 8: Voo nupcial.............................................................................................

Figura 9: Acasalamento das formigas....................................................................

Figura 10: Ovos da formiga....................................................................................

Figura 11: A metamorfose......................................................................................

Figura 12: Garatuja desordenada............................................................................

Figura 13: Garatuja ordenada.................................................................................

Figura 14: Garatuja identificada.............................................................................

Figura 15: Pré-esquematismo.................................................................................

Figura 16: Esquematismo.......................................................................................

Figura 17: Realismo...............................................................................................

Figura 18: Pseudo-naturalismo...............................................................................

Figura 19: Relação de vizinhança...........................................................................

Figura 20: Relação de separação............................................................................

Figura 21: Relação de ordem..................................................................................

Figura 22: Relação de ordem..................................................................................

Figura 23: Relação de fechamento.........................................................................

Figura 24: Relação de fechamento.........................................................................

Figura 25: Relação de continuidade.......................................................................

Figura 26: Ayla – 9 anos........................................................................................

Figura 27: Ayla – 9 anos........................................................................................

Figura 28: Ayla – 9 anos........................................................................................

Figura 29: Gabriel – 9 anos....................................................................................

Figura 30: Gabriel – 9 anos....................................................................................

Figura 31: Gabriel – 9 anos....................................................................................

Figura 32: Celita – 9 anos.......................................................................................

Figura 33: Celita – 9 anos.......................................................................................

Figura 34: Celita – 9 anos.......................................................................................

Figura 35: Valério – 9 anos....................................................................................

Figura 36: Valério – 9 anos....................................................................................

Figura 37: Valério – 9 anos....................................................................................

Figura 38: Hélade – 9 anos.....................................................................................

Figura 39: Hélade – 9 anos.....................................................................................

Figura 40: Hélade – 9 anos.....................................................................................

Figura 41: Rondinelle – 10 anos.............................................................................

Figura 42: Rondinelle – 10 anos.............................................................................

Figura 43: Rondinelle – 10 anos.............................................................................

Figura 44: Maria – 10 anos.....................................................................................

Figura 45: Maria – 10 anos.....................................................................................

Figura 46: Maria – 10 anos.....................................................................................

Figura 47: André – 10 anos....................................................................................

Figura 48: André – 10 anos...................................................................................

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Gráficos:

Gráfico IDEB

2017.................................................................................................................................62

Quadros:

Quadro socioeconômico dos sujeitos

pesquisados......................................................................................................................64

Quadro de categorias.......................................................................................................72

Figura 49: André – 10 anos....................................................................................

Figura 50: Andrezza – 10 anos...............................................................................

Figura 51: Andrezza – 10 anos...............................................................................

Figura 52: Andrezza – 10 anos...............................................................................

Figura 53: Geraldo – 10 anos.................................................................................

Figura 54: Geraldo – 10 anos.................................................................................

Figura 55: Geraldo – 10 anos.................................................................................

Figura 56: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................

Figura 57: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................

Figura 58: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................

Figura 59: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................

Figura 60: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................

Figura 61: www.alexanderwild.com......................................................................

Figura 62: www.alexanderwild.com......................................................................

Figura 63: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................

Figura 64: www.alexanderwild.com......................................................................

Figura 65: printscreen da cena do filme Minúsculos.............................................

Figura 66: printscreen da capa do filme Minúsculos.............................................

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Sumário 1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................................................11

1.1 Um breve estudo sobre as formigas ..................................................................................13

2 – OS DESENHOS INFANTIS COMO SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO SEGUNDO

PIAGET .....................................................................................................................................25

2.1 Desenho como sistemas de representação ........................................................................29

2.3 O desenho infantil sob outros olhares .............................................................................44

3 - OS ANIMAIS NOS DESENHOS DAS CRIANÇAS: UM PANORAMA SOBRE AS

PESQUISAS QUE INVESTIGAM A CONCEPÇÃO DE ANIMAIS NA INFÂNCIA .............47

3.1 Considerações sobre as pesquisas .....................................................................................57

4- METODOLOGIA ..................................................................................................................60

4.1 O processo de construção dos dados.................................................................................60

4.2 A escola ............................................................................................................................61

4.3 A professora participante da pesquisa ..............................................................................63

4.4 A sala de aula e as crianças ..............................................................................................63

4.5 A sequência didática .........................................................................................................66

4.6 Os desenhos e as entrevistas das crianças .........................................................................67

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...........................................................................................70

5.1 Breve resumo das aulas ....................................................................................................70

5.2 As formigas nos desenhos das crianças ............................................................................73

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................132

7 – Referências .........................................................................................................................136

ANEXOS ....................................................................................................................................140

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1 – INTRODUÇÃO

Antes mesmo de entrar na escola, as crianças já apresentam conhecimentos sobre

o mundo natural. Desde os primeiros anos, elas observam os seres vivos, interagem com

eles. A construção do conceito de ser vivo nasce dessas experiências. Tal conceito é

fundamental para organizar as percepções do mundo em que vivemos. No campo da

didática das Ciências, por exemplo, os conhecimentos prévios são o ponto de partida

para a concepção construtivista de ensino e aprendizagem. Contudo, segundo Garcia

et.al (2015, p.20), a maioria dos estudos sobre ideias prévias dos estudantes são

realizados entre estudantes do ensino médio. Apenas 9% das investigações nesse campo

são realizadas entre crianças. Portanto, cremos que é necessário que as investigações

apontem para os conhecimentos prévios das crianças sobre os seres vivos para que a

escola tenha sucesso em sua tarefa de ensinar. Com relação ao conhecimento infantil

sobre os seres vivos, destacam-se os trabalhos de Jean Piaget. A partir dele, as

investigações realizadas têm ampliado conhecimento relativamente amplo sobre as

formas de raciocínio das crianças sobre os seres vivos e os processos biológicos

(MARTÍ, 2012). Costa-Neto (2000) por exemplo traz uma compilação de pesquisas

realizadas no Nordeste brasileiro acerca dos usos e percepções humanas dos insetos.

Segundo ele, as diversidades morfológicas (cores, formas e tamanhos) e ecológicas

(modos de vida e sons produzidos) causaram e causam impactos na cultura humana,

influenciando a língua e literatura; as artes plásticas, gráficas, cênicas e musicais; a

culinária; a medicina; o lazer; a religião e superstições sejam culturas tradicionais ou

não. Mesmo assim, segundo Costa-Neto (2000) , “para grande parte dos indivíduos da

cultura ocidental, os insetos são considerados animais nocivos, transmissores de

doenças e uma praga.”(COSTA-NETO, 2000, P.12)

Percepção diferente tem a maioria das crianças que se encantam com o pulo dos

grilos, ao canto da cigarra, ao passeio das abelhas pelas flores, a borboleta que voa, as

cores das joaninhas, as pequenas formigas que andam em fileiras e vivem em colônias.

Mas, ao caracteriza-las, geralmente, usam não só adjetivos próprios das relações

humanas mas também que expressam sentimentos de nocividade, repugnância,

periculosidade ou afetividade. As joaninhas, por exemplo, são citadas como

“bonitinhas”, “bichinho,” “fofinhas”. A cigarra é o “bicho feio”,os besouros os “bichos

nojentos”.

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A propósito, nos anos 2000, um caso particular de uma menina de 7 anos se

tornou conhecido mundialmente, quando ela e um entomólogo profissional publicaram

um artigo sobre como as pessoas interagem com os insetos a partir das informações que

circulam nas redes sociais. (JACKSON & SPENCER 2017). Sophia, autora do artigo,

sofria “bullying” na escola por gostar de insetos e entomologia. Após a criação do tweet

# bugs, a discussão nas mídias sociais gerou um enorme apoio mundial a menina e

reverteu o quadro junto a outras crianças. Outra experiência interessante foi citada por

Medioli (2017), ao publicar em sua coluna de jornal suas recordações de infância

quando capturava formigas em vidros de maionese. Chama-lhe a atenção os corpos das

formigas, seus movimentos. Observava fascinada as formigas se alimentando, cavando

túneis, ovos que despontavam e larvas transparentes. Mediolli (2017) lembra que à noite

levava o vidro para o quarto e, em vez de ler livros, observava as formigas.

Diante da importância das formigas para o ambiente, da curiosidade e interação

dos seres humanos com esse inseto, a proposta desta investigação é compreender como

elas são representadas pelas crianças de 9 e 10 anos de idade, no interior de uma escola

pública estadual, do município de Ouro Preto, que cursam o 4º ano do ensino

fundamental. Para tanto, recorrendo-se aos estudos sobre o desenho infantil de Jean

Piaget (1896-1980), para analisar as ilustrações das crianças realizadas segundo a

sequência didática.

Desse modo, os caminhos percorridos nessa dissertação foram organizados em

seis capítulos. Na introdução, capítulo I, além da apresentação do trabalho de pesquisa,

apresentou-se um breve estudo sobre as formigas, explicitamos sua anatomia e meio de

vida. No segundo capítulo, apresentam-se os desenhos infantis como sistema de

representação da criança, mediante os estudos de Jean Piaget. Destacam-se nesse

capítulo, as condutas representativas do desenho e suas fases, as quais orientaram a

análise das concepções e significados das falas e desenhos realizados pelas crianças.

Já o terceiro capítulo é voltado para as pesquisas em que os autores se valeram

dos desenhos das crianças de 3 a 11 anos para investigar a representação de animais.

Com diferentes aportes teóricos, são apresentadas pesquisas consideradas relevantes ao

campo. No quarto capítulo são apresentados o processo de construção de dados e

contexto da presente pesquisa. No quinto capítulo, são descritos os resultados e

discussões dos dados coletados, resultantes de três aulas nas quais foram analisados os

desenhos e falas de dez alunos do 4º ano.

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Por fim, a partir das análises realizadas, seguem-se algumas considerações,

relativas as análises dos desenhos e das falas das crianças.

1.1 Um breve estudo sobre as formigas

Pertencentes à família Formicidae e conhecidas pela complexidade de sua

sociedade, as formigas são lembradas em diversas ocasiões como símbolo de esforço e

controle. Afinal, muitas espécies parecem trabalhar incansavelmente e guardam um

número elevado de alimentos (LARA, 2010). Por se organizar em grupos e dividir o

trabalho, as formigas são consideradas insetos sociais, conforme pode ser observado na

figura abaixo:

Figura 1: Formigas em grupo

FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

A organização das formigas constitui-se da seguinte forma: uma rainha que é

responsável pela reprodução; os machos que vivem o tempo necessário para que

aconteça o voo nupcial; as operárias, fêmeas estéreis responsáveis pelo formigueiro, ao

trabalho, a organização e proteção. Em algumas espécies, também, há as soldadas, que

são responsáveis pela guarda (LIMA, 2017). Rainhas e operárias apresentam aspectos

diferentes como mostram as figuras a seguir:

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Figura 2: Rainha e operárias

As formigas geralmente têm o comprimento variável entre 1,6mm a quase 5 cm.

A maior parte das espécies apresentam cores vermelhas, negras, marrons ou amarelas,

mas há também formigas verdes ou azuis metálicas.

Figura 3: Formiga vermelha e amarela

FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

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Assim como todos os insetos, as formigas possuem um exoesqueleto

impermeável. Possuem 6 pernas e o corpo dividido em três segmentos: cabeça, tórax e

abdômen, como pode ser visto na figura abaixo:

Figura 4: Anatomia da formiga

O corpo da formiga também é composto por um pedicelo, ou seja, estreitamento

entre o tórax e o abdômen. Na cabeça é encontrado um par de olhos compostos,

capazes de perceber diferentes tipos de movimentos com rica percepção de detalhes. As

formigas se comunicam através das antenas, e a sua mandíbula, muito forte, é usada

FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

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para capturar e recolher alimentos, pois são capazes de matar, esmagar, cortar , mastigar

e carregar o alimento, alem de escavar o solo. (BRITES, 2007)

Figura 5: Alimentação da Formiga

FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

Os corpos de grande parte das formigas são lisos ainda que apresentem algumas

projeções espinhosas. Outras possuem também glândulas, onde é produzido ácido

fórmico,o qual pode ser lançado contra seu inimigo, causando sensação de coceira ou

mesmo uma queimadura. Há, também, espécies de formigas venenosas. A formiga lava-

pés, por exemplo, possui um ferrão que além de causar dor extrema, pode levar ao óbito

não só o ser humano, como também outros animais. (LARA, 2010)

Quanto à comunicação das formigas, é realizada por meio de uma substância

química chamada feromônios. Há glândulas específicas para a produção dessa

substancia, fazendo com que o indivíduo do formigueiro perceba cheiros e sabores,

estabelecendo-se assim a comunicação necessária para a organização. (ÁVILA, 2013)

Por isso as formigas andam umas atrás das outras, em uma fila, como se observa na

figura abaixo:

Figura 6: Formigas em Fila

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FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

Como mostra a ilustração, a formiga que está à frente do grupo esfrega seu

abdômen no solo deixando a referida substância. Logo em seguida, a formiga que vem

atrás a identifica com suas antenas e repete a ação da primeira formiga, para que o

restante possa, também, seguir o caminho indicado. (LARA, 2010)

Quanto ao acasalamento das formigas, se dá quando a rainha e os machos

realizam o voo nupcial. Os machos morrem pouco tempo depois da fecundação e a

rainha perde suas asas, retornando ao formigueiro onde realiza a postura dos ovos.

Fecundados os ovos, são geradas outras formigas fêmeas. Os ovos que não são

fecundados desenvolvem-se através da partenogênese, nascendo, então, os machos. A

das formigas férteis ocorre no início do verão, quando o rei e a rainha saem para o voo

nupcial, fora da colônia, no ar. Após a cópula, os macho morrem. As rainhas que

sobrevivem são responsáveis não só por colocar os ovos, como também por fundar

novos formigueiros. Quando a rainha funda um novo formigueiro, ela leva uma pequena

bola de mofo na boca para dando início a uma nova colônia. As figuras a seguir (8,9 e

10) ilustram as fases do acasalamento das formigas.

Figura 7: Formiga macho e fêmea

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FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

Figura 8: Voo nupcial das formigas

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Na sequência, a figura 9, mostra o acasalamento das formigas.

Figura 9: Acasalamento das formigas

FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

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FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

Figura 10: Ovos da formiga

FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

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A metamorfose das formigas se inicia com os ovos, daí eclode uma larva que se

transformará em pupa e se desenvolve até se tornar uma formiga adulta. (BRITES,

2007), conforme ilustra essa figura:

Figura 11: A metamorfose

Tornar-se formiga- rainha ou operária dependerá da alimentação que é oferecida

as larvas. Há espécies que se alimentam de pequenos animais mortos, frutos, sementes,

folhas ou flores. Alimentos presentes na alimentação humana também são bem atrativos

às formigas, principalmente aqueles ricos em açúcar, como massas e doces. (BRITES,

2007)

Encontramos formigas em diversos lugares da terra, exceto nos polos. Hoje, são

descritas mais de 12.000 espécies, sendo encontradas no Brasil cerca de 2.500.( LIMA,

2017). Conforme Caldas (2007) sozinhas as formigas representariam de 10% a 15% da

biomassa total da Amazônia. Num formigueiro há várias castas. Com funções bem

FONTE: https://www.alexanderwild.com/Ants

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definidas, cada formiga tem a sua tarefa diante essa organização. As rainhas são as

únicas férteis da espécie, conhecidas como iças. Os reis são as espécies de machos

férteis, conhecidos dentro da sociedade como bitus. Já as operárias, formigas estéreis, se

dividem em várias funções. Assim, as operárias, que tem uma mandíbula grande, são as

que defendem a sociedade das formigas. São como verdadeiros soldados protegendo sua

sociedade. As formigas cortadeiras-carregadoras se distinguem pelo porte médio e sua

principal função é trabalhar coletando e cortando folhas, para levar até a colônia uma de

cada vez. Já as formigas operárias jardineiras são responsáveis pelas funções na parte

interna da colônia, cuidando das crias e dos fungos.

Várias revistas apresentam artigos referentes à curiosidade da vida das formigas.

Marcelo T.C. Oliveira (1990), por exemplo, em seu artigo para a revista

Superinteressante relata a extraordinária capacidade de adaptação das formigas em

diversos lugares e sua divisão do trabalho. A matéria chama a atenção aos estudos de

Mário Autuori (1907-1982), autodidata, que dedicou mais de cinquenta anos da sua vida

para pesquisar as formigas. Foi ele o criador de uma espécie de viveiro de formigas,

local até hoje visitados por pessoas do mundo todo para observar os hábitos e o trabalho

subterrâneo delas. Dando destaque às formigas saúvas, Oliveira (1990) descreve os

hábitos desses insetos baseados nas observações de Autuori, chamando a atenção para o

importante papel ecológico das formigas, junto aos fungos, pois aceleram a reciclagem

dos nutrientes das plantas, retornando ao solo para serem novamente aproveitados.

Diante do exposto, a famosa afirmação do zeloso naturalista Saint-Hilaire (1779-

1853) endossada por uma campanha do Ministério da Agricultura brasileira na década

de 1940, “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”, não

procede.Visto por outros ângulos, acabar com as formigas saúvas pode acabar com o

Brasil.

Já Diego Bargas (2016) em artigo publicado na revista Mundo Estranho,

direcionada ao público adolescente, aguça o interesse desse público ao apontar que as

formigas são atraídas por alimentos doces, como o açúcar. São, pois, as formigas

operárias que vão à caça. Elas saem do ninho e procuram reconhecer as moléculas de

alimento no ambiente, por meio de receptores olfativos chamados sensilas, que ficam

localizados nas antenas. Ao encontrarem-nas retornam ao formigueiro para recrutar

novas formigas e reforçar o estoque de alimentos. Curioso é que as formigas, como

muitos pensam, não se perdem no caminho. Lembrando, Bargas (2016) isso se deve a

liberação dos feromônios, substancias químicas naturais formando uma trilha até a

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comida encontrada. Mas, cada espécie tem uma preferência alimentar. As formigas

cortadeiras, por exemplo, preferem folhas. Buscam as folhas que produzem fungos, e

cultivam-nos no interior do formigueiro. O fungo é o alimento preferido dessa espécie.

Contudo, o açúcar ainda é uma boa pedida para as formigas. Além de ser fácil de

transportar, fornece a energia que elas precisam para trabalhar.

No ambiente doméstico, de acordo com Bargas (2016) comumente mais

encontradas as “formigas-fantasmas”. Trata-se de uma espécie bem pequena (1 a 1,5

mm) e podem até construir ninhos nas partes ocas das paredes, batentes das portas ou

até mesmo embaixo de móveis ou eletrodomésticos.

Considerando a curiosidade das crianças e os estudos sobre formigas, a revista

Ciências Hoje para Crianças também apresenta aspectos importantes sobre esses

insetos. Merece destaque nesse sentido, o artigo produzido por Fernanda Távora (2013)

no qual ela apresenta uma investigação realizada por cientistas suíços, descrevendo a

vida das formigas no interior dos formigueiros. Nesse artigo, a autora destaca que as

formigas são sempre observadas por serem superorganizadas, ou seja, andando em filas,

uma atrás das outras. Mas, o que provavelmente, as pessoas ficam curiosas para

saberem o que acontece quando elas entram no formigueiro. Távora (2013) recorreu aos

cientistas da Universidade de Lausanne, na Suiça para desvendar o mundo misterioso

das formigas. Eles instalaram microchips nas formigas e descobriram que, dentro do

formigueiro, as filas desaparecem, dando espaço a uma nova organização. E, mais, as

formigas no interior do formigueiro se organizam em grupos, de acordo com a idade de

cada uma.

Esclarecidas algumas particularidades da vida das formigas, optou-se, então,

pelo estudo da espécie Camponotus fellah podendo identificar três grupos. O primeiro

grupo refere-se às formigas mais jovens que passam mais tempo no interior do

formigueiro, pois são responsáveis por cuidar da formiga-rainha e dos filhotes. O

segundo grupo é composto por formigas mais maduras que desempenham o papel de

limpadoras. Compõe o terceiro grupo as formigas mais velhas, responsáveis pela busca

de alimentos. Assim, dentro da espécie Camponotus fellah, não há controle hierárquico,

as formigas agem instintivamente. Nem a rainha e nem qualquer outra formiga

determina qual trabalho precisa ser feito. Por fim, lembrando Caldas (2007), o estudo

sobre as formigas é muito importante, uma vez que elas são abundantes e interagem

com inúmeras espécies de plantas, micro-organismos e animais. Além disso seu campo

de estudo e suas interações são vastas e crescentes. Por sua vez, como ressalta

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Dalladona (2013) os estudos relativos às formigas permitem a construção de conteúdos

alimentados pela curiosidade e interesses das crianças.

Diante da importância das formigas para o ambiente, pretende, neste estudo,

investigar as representações de formigas produzidas pelas crianças. Desse modo, no

próximo capítulo, serão apresentadas em linhas gerais estudos sobre o conceito de

representação e desenho infantil.

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2 – OS DESENHOS INFANTIS COMO SISTEMA DE

REPRESENTAÇÃO SEGUNDO PIAGET

Dois conceitos são importantes para o desenvolvimento desse capítulo: o de

desenho e o de representação. Portanto, para o entendimento desse conceitos, recorreu-

se a alguns dicionários buscando certificar, primeiramente, o significados dessas

palavras, para, então, aprofundar a análise. Assim sendo, Michaeles1 assim define

representação: “imagem ou ideia que traduz nossa concepção de alguma coisa ou do

mundo; ato pelo qual se faz vir à mente a ideia ou o conceito correspondente a um

objeto que se encontra no inconsciente.” Já Aurélio2, acrescenta que a palavra é oriunda

do latim representatione, tendo como significado tornar presente, tendo no latim

clássico, sua utilidade apenas para objetos, sem ter relações com pessoas. E o dicionário

Informal3 define de representação como algo que “seria uma arte, uma representação de

algo da realidade ou simplesmente fictício”. Ainda apresenta 99 sinônimos para o

termo, entre eles imagem e apresentações. Por sua vez, André Giordan e Gérard de

Vecchi (apud WORTMANN, 2001), apresentam estudos importantes para o

desenvolvimento de trabalhos em Ciências, utilizando o termo representação em com

diferentes sentidos. Esses autores citam cerca de 30 significados dessa palavra que vão

de pré-representação remanescentes até a de pré-requisitos. Desta forma, segundo os

autores, o conceito de representação tende a ser um conceito frouxo, com sua definição

difusa. E como se vê, há multiplicidade de significados dicionarizados dessa palavra,

logo diferentes sentidos que cada autor atribui a ela. A proposta discutida por Giordan

e Gérard de Vecchi (apud WORTMANN, 2001) é substituir o termo representação por

concepção, ampliando-se assim a possibilidade operativa. É importante também

ressaltar que esses estudiosos buscaram, em suas investigações sobre representações, o

entendimento da maneira que se processa a cognição pelo acompanhamento da

evolução das ideias perante um assunto e, assim, as implicações diretas em ações

educativas, focalizando as dimensões cognitivas da aprendizagem.

1 MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998-(Dicionários Michaelis). 2259p. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010. 895 p. ISBN 978-85-385-4240-7. 3 INFORMAL, Dicionário de português gratuito para internet. 2006. Disponível em <htpp\\www.dicionarioinformal.com.br> Acesso em: 24/11/2018.

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De outro modo, Stuart Wall (1997) define representações como algo que

envolve pensar o significado que está no objeto, pessoa, ideia ou evento real. Para esse

autor, a linguagem da representação funciona pela imitação da verdade que está

estabelecida no mundo. Destaca, também, que a representação está ligada à cultura do

sujeito e, ainda, que essa cultura está diretamente ligada aos significados partilhados, os

quais dão sentido às coisas, produzindo e dividindo significados. Wall (1997) ainda

afirma que a linguagem é um sistema de representação do qual fazemos uso de símbolos

e sinais, tais como:sons, palavras escritas, fotografias, desenhos animados, músicas,

desenhos e até objetos. Estes podem representar, de acordo, com a cultura, conceitos,

ideias e sentimentos.

Hoje em dia, muitas linhas de pesquisa utilizam o termo representação como

suporte teórico de seus trabalhos. Contudo, a maior parte dos trabalhos que levam a

palavra representação/representações em seus títulos, não apresentam uma reflexão

conceitual explícita a respeito desse termo (SANTOS, 2011) Desse modo, à luz de

Piaget e seus seguidores, apresenta-se um breve estudo do conceito “representação”,

bem como a contribuição deles para o objeto da presente pesquisa. A opção por Piaget e

seus seguidores se justifica por sua teoria nos fornecer pistas para o entendimento dos

desenhos que serão analisados, podendo então perceber a concepção das crianças sobre

as formigas expressa nos desenhos. Piaget não apenas define, mas apresenta dados que

possibilitam o entendimento da construção do conceito de representação pelo sujeito.

Assim sendo, representação para Piaget (1978, apud PILLAR, 1996) é a

capacidade de se lembrar, diante de uma imagem ou signo, o objeto que não está

presente, ou o ato não realizado, embora o pensamento não se reduza apenas às

imagens, ele também se constrói por elas. Para ele, a imagem será um significante e o

conceito o significado, e o pensar interligarão as significações. Dessa forma, dois

sentidos para o termo de representação são construídos e se relacionam entre si. O

primeiro mais amplo se apoia num sistema de conceito, e o segundo, mais restrito, são

as lembranças simbólicas da realidade. A representação demanda que a criança tenha

condições de construir novos esquemas e reformular estruturas para entender o que as

estruturas do período sensório motor não conseguiram, pois nesse estágio a criança não

apresenta condições de estabelecer novas diferenciações e representações, ou seja, no

estágio, sensório motor a criança apenas interage com os objetos e só mais tarde

enriquece sua interação mediante a representação dos objetos ausentes.

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Contudo, Piaget (1978 p.345) ressalta que é próprio da representação

“ultrapassar o imediato, fazendo crescer dimensões no espaço e no tempo no campo da

adaptação e, portanto, evocar o que ultrapassa o domínio perceptivo e motor.” Nesse

sentido, representar é reconstruir, no plano mental, o que estava apenas estruturado no

campo das ações. Portanto, pode-se afirmar que há representações quando há imitações

do objeto que está ausente e que ela se inicia quando há, simultaneamente, diferenciação

e coordenação entre os significantes e significados/significações.

Ainda segundo Piaget, há condutas representativas com diferentes níveis de

compreensão, que surgem mais ou menos ao mesmo tempo. Como descritas a seguir:

a) Imitação diferida: É a primeira manifestação da função semiótica. A criança se

torna capaz de reproduzir o ato motor desvinculado do seu contexto e começa a

perceber a ausência do modelo e estabelecer o início do significante. A criança

imita os gestos ou comportamentos, mesmo com os modelos ausentes. Ela

manifesta seus pensamentos através do gesto imaginativo. Durante a imitação, a

acomodação predomina sobre a assimilação, reproduzindo com exatidão, objetos

ou pessoas que são lembrados. É a repetição de um comportamento em um

momento após o que realmente aconteceu. Essa conduta é quando as crianças

passam a imitar seus pais ou pessoas próximas de sua criação, estando distante

delas. Por exemplo, quando a criança começa a realizar gestos de quem está

cozinhando, lembrando-se da mãe ao preparar o jantar.

b) Jogo simbólico: A manifestação da função semiótica também pode ser chamada

de brinquedo de faz de conta. As representações em pensamentos são evidentes

e a criança faz uso de gestos e objetos para representar coisas e situações que ela

imagina. Uma escova de cabelos pode se tornar um microfone, e suas bonecas, à

plateia de um grande show de músicas. A assimilação, neste momento, supera a

acomodação. O real é assimilado às necessidades. Para a criança, nesse estágio,

o egocentrismo é percebido pela falta de limitações da brincadeira, onde o

importante é suprir as suas necessidades. Ainda nesse estágio, as crianças

mostram desejo de: ser livre para modificar e criar regras para suas brincadeiras;

desenvolver sua imaginação e a fantasia; criar sua lógica própria de acordo com

a realidade e assimilar a realidade do seu “eu”. Durante esse momento, a criança

exercita sua capacidade de reflexão e de pensamento e também suas habilidades

motoras.

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c) Desenho ou imagem gráfica: Trata-se do intermediário entre o jogo simbólico,

no qual percebe o mesmo prazer na ação. Há um esforço para demonstrar a

imitação do real. Muitas crianças desenham seus familiares, com características

que lhes são marcantes. Por exemplo: se a mãe possui olhos grandes e chama a

atenção da criança, em seu desenho, o olho da mãe terá grandes proporções.

Inicia-se assim uma imitação interiorizada.

d) Imagem mental: A imagem mental começa com a imitação interiorizada. É

diferente das operações mentais e da percepção. As imagens não são ligadas a

conceitos, e sim aos objetos e às experiências dos sujeitos. Conforme as crianças

vão avançando os níveis operacionais, vão desenvolvendo mais imagens mentais

que podem ser usadas como forma de apoio durante o planejamento para uma

ação e para compreender a realidade e das transformações.

e) Evocação verbal: Trata-se da última conduta representativa da função

semiótica. Decorre diante das ações passadas através da linguagem. Neste

momento, a capacidade de verbalizar fatos e objetos desponta. A criança

consegue se comunicar com palavras, adquirindo progresso nas estruturas

gramaticais. Ela já pensa em espaço e tempo e já faz representações simultâneas.

Pillar (1996), em seus estudos sobre Piaget, ressalta que, em cada uma dessas

condutas citadas acima, há um caráter representativo, apesar de serem atividades

diferentes. A representação é uma condição básica para o pensamento existir, isto é, não

há pensamento, articulação e evocação de ações interiorizadas, sem representação.

Apesar de serem diferenciadas em suas estruturas, as funções do pensamento

permanecem constantes de um nível a outro.

Representação, pelo olhar da teoria piagetiana, se dá na função semiótica quando

a criança começa a trazer a lembrança e reorganizar, em pensamentos, situações

passadas, associando-as à atualidade. A função semiótica possibilita a expansão da

criança do tempo-espaço atual para o tempo-espaço contínuo, afastando-se do seu

universo, compreendendo o pensamento de outros sujeitos, incutindo os atos passados

para que o nível operatório possa associá-los. Após o surgimento da função semiótica, a

criança passa ter condições de representar suas experiências através do desenho e da

escrita. (PILLAR, 1996)

Para Piaget (1976 apud, PILLAR, 1996), entre as diversas formas de

pensamento representativos, há os que apresentam caráter independente e interagem,

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evoluindo para o equilíbrio progressivo. Tem a função semiótica como recurso comum

aos distintos sistemas de representação.

Já os sistemas de representação são conjuntos de relações interligadas, formando

um todo com características regulares, que se mantêm preservadas apesar das mudanças

dos elementos, conceitua Piaget (1978). O seu funcionamento se dá pelas relações entre

os procedimentos práticos ou interiorizados, nos quais os elementos se transformam. O

sistema de representação possui estrutura, que mantém seu equilíbrio. Havendo

desestabilidade, desorganiza todo o sistema. Para reequilibrá-lo, o indivíduo constrói

uma nova estrutura, modificando-a e conservando seu funcionamento.

2.1 Desenho como sistemas de representação

Buscou-se nesse tópico, embasamento teórico para a análise dos desenhos

infantis, vistos como sistemas de representação, destacando Pillar (1996) cujos estudos

a esse respeito baseiam-se em Piaget. Assim, para ela, o desenho é um trabalho gráfico

resultante da interpretação do objeto pelo sujeito, como o objetivo de alcançar o

conhecimento. Tal conhecimento, porém, envolve características culturais e científicas

propriamente ditas. Inspirada nos estudos de Piaget, Pillar (1996) afirma que a criança

apresenta, em seus primeiros desenhos, muita influência do meio, ou seja, ela mais

copia modelos do que executa rabiscos. Ela desenha pelo simples prazer ou apenas

registrando o que observa sem interpretar.

Em adição o desenvolvimento cognitivo possibilita ao sujeito ser capaz de

apresentar atitudes estruturadas, gerando conteúdos ricos e complexos, provenientes de

seu pensamento ou memória. Neste momento, surge à interação com o objeto de estudo:

a criança interessa-se por compreendê-lo, expressando-se livremente até o ponto de criar

conceitos e estruturas.

Buscando compreender as diversas etapas que envolvem a criação de um

sistema, insere-se também, conforme Piaget (1978), outro elemento indispensável para

que ocorra o conhecimento, ou seja, dados mentais devidamente estruturados e

percebidos em sua totalidade. Somando-se a percepção, que é proveniente dos sentidos,

a inteligência progride e dá margem para estruturar um sistema.

Finalizando as condutas apontadas para a criação do sistema de representação,

segundo Piaget e sua teoria construtivista, a criança através do desenho, torna-se capaz

de interagir com o objeto de seu estudo, coordenando esquemas montadores do objeto

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de modo a decompô-lo e recompô-lo para apreendê-lo, dos registros produzidos. E,

assim, constroem-se novas estruturas mentais, pois aí se impõe o momento em que o

sujeito interpreta ou representa determinado objeto para de compreendê-lo (PILLAR, p.

1996).

Percebidos os passos realizados para chegar ao sistema de representação do

desenho infantil, a autora chama a atenção para a importância de não interferir no

trabalho da criança ou sugerir algo no momento em que ela realiza sua atividade

criadora, deixando-a livre para representar o que vem do seu pensamento.

Conforme ressalta Pillar (1996) o mediador da experiência com o desenho junto

as crianças não pode interferir na atividade ou sugerir algo, pois poderá comprometer

diretamente o resultado final da obra.

Explicando melhor, inicialmente a criança e o objeto são indefinidos e, através

da interação, a criança constrói o objeto que se organiza com ela. Essa interação

proporciona que a criança, que tem sua inteligência pela vida orgânica, elabore novas

estruturas mentais com o objeto. (PILLAR, 1996).

E assim, ao desenhar, a criança constrói seu conhecimento correlatos ao que irá

representar interagindo com o objeto, pois ela não nasce sabendo desenhar. Ela desenha

o que as suas estruturas mentais possibilitam que perceba e não o que vê. Também, por

meio de suas estruturas mentais, interpreta o que representou. Assim, a criança é

responsável por seu processo e aprende a desenhar, construindo hipóteses e

interpretações do mundo a sua volta. (PILLAR, 1996)

Segundo Pillar (1996), Piaget supõe que o desenho é uma representação que

constrói uma imagem diferente da percepção. Ela também enfatiza que o desenho é

mais complexo que a reprodução do modelo interno, porque não se pode afirmar que a

representação expresse realmente o que ela pensava. Contudo apresenta indícios da sua

estruturação simbólica.

Retomando Piaget (1978) ao final do estágio sensório-motor, quando a criança

completa 1 ano e 6 meses a 2 anos, começa a fase da interiorização dos esquemas de

ação, que são as formas como o ser humano interage com o mundo, até então

construídos. Na passagem do estágio sensório-motor para o pré-operatório, os esquemas

são interiorizados, chamados por ele de função semiótica ou simbólica. Nesse estágio,

os instrumentos das crianças se aperfeiçoam, alterando as manifestações internas do que

é real. A inteligência representativa vai substituindo a inteligência prática.

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De acordo com Pillar (1996), a função semiótica é fundamental para a evolução

das condutas inferiores, que é a condição de representar algo ou alguma coisa por meio

de um significante diferente e que será só para essa representação. Ainda ressalta que,

para Piaget, esse nome consegue englobar os signos, arbitrários e sociais. Essa função

possibilita que a criança represente objetos ou situações que não estão no seu campo

visual, mas, nas imagens mentais, desenhos e linguagem. A função semiótica colabora

para que a criança consiga diferenciar significantes dos significados. Quando a criança

apresenta essa capacidade, ela consegue realizar representações de um acontecimento

ou mesmo de um objeto mediante um significado diferente e específico para a

representação.

Por fim, as crianças, quando organizam suas experiências em sistemas de

significação, evidenciam a percepção, internalizam as imagens mentais, tornando-se

simbólicas. Assim, os significantes e significados se separam, mas se relacionam

simultaneamente. A criança, adquirindo a função semiótica, tem condições de lembrar e

reconstruir pelo pensamento atos passados e relaciona-los com atos presentes.

(PILLAR, 1996)

2.2 Fases do desenho segundo Piaget

Deve-se também a Piaget (1976 apud BOMBONATO, FARANGO, 2016) o

estudo do desenho infantil ao dividi-lo em cinco fases, que se relacionam. Segundo

Crespo (2012) Piaget ressalta que essas cinco etapas distintas, correspondem às fases

do seu desenvolvimento do desenho das crianças. Abaixo seguem as descrições dessas

etapas apontadas Jean Piaget:

1ª Etapa - Garatuja

Essa fase se dá durante o estágio sensório motor (0 a 2 anos), na qual a criança

ainda não adquiriu habilidades adquiridas e percebe o seu meio com simplicidade e

subjetividade. Essa etapa ainda continua na fase pré-operatória (2 a 7 anos): onde a

criança começa a construir sua linguagem e realiza um jogo de imitações, interagindo

com o mundo a sua volta. Durante esse período a criança demonstra prazer ao realizar

sua obra e não há menção à figura humana. As cores também ficam em segundo plano,

não apresentando tanta importância para a criança. Segundo Bombonato e Farango

(2016) a visão de Piaget e Luquet (1969), a respeito dessa fase, se assemelha, visto que

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os dois estudiosos afirmam que durante este primeiro período da vida da criança elas

desenham por prazer. Afinal, a garatuja pode ser dividida em três estágios, a saber:

a) Garatuja desordenada - Os movimentos são amplos e desordenados, podendo

estar um traço sobre o outro. Parecem movimentos meramente motores.

Geralmente é o primeiro contato da criança com o lápis e o papel e segurando o

lápis de diversas maneiras. Desenha pelo prazer do movimento. É o que mostra

a figura seguinte:

Figura 12: Garatuja desordenada

b) Garatuja ordenada - Neste momento pode-se começar a surgir interesse pelas

formas. Os traços ainda são longitudinais e circulares. Não há ainda a presença

humana, apenas na imaginação, como na figura a seguir:

FONTE: Stabile, R.M. 1988. Garatuja Desordenada. A Expressão Artística na Pré-Escola. P. 16. São Paulo- FTD

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Figura 13: Garatuja ordenada

c) Garatuja identificada - Durante esta fase, a criança realiza formas

irreconhecíveis no papel, contudo atribui significados a elas, nomeando e

contando histórias sobre sua obra. Durante essa fase, a criança diz o que vai

desenhar, mas não há relação fixa com o objeto. A criança pode afirmar que um

círculo é um foguete e mesmo antes de terminar, afirma ser um urso. No

desenho abaixo, a criança afirma que desenhou o seu cachorro.

Figura 14: Garatuja identificada

FONTE: Derdyk,E. 1996. Garatuja Ordenada. Formas de Pensar o Desenho. P. 67. São Paulo. Editora Scipione.

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2ª Etapa - Pré-esquematismo

Essa fase se dá em parte do estágio pré-operatório (4 a 7 anos). Durante esse

período, a criança passa a realizar a junção entre o pensamento, desenho e realidade.

Percebe-se também que os elementos dos desenhos não se relacionam entre si, estando

dispersos na folha. Nessa etapa, aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo

através dos vínculos afetivos.

FONTE: Stabile, R.M. 1988. Garatuja Identificada. A Expressão Artística na Pré-Escola. P. 21. São Paulo- FTD

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Figura 15: Pré-esquematismo

3ª Etapa: Esquemtismo

Nesta etapa a criança está passando pelo estágio das operações concretas (7 aos

10 anos). Os esquemas representativos são realizados com formas diferentes para cada

objeto. Aqui, a criança começa a dar visibilidade aos seus desenhos da forma humana.

Às vezes, podem ocorrer exageros, como um braço maior que o tronco ou mesmo

negligências, como desenhar um rosto sem o nariz. Também é característico dessa etapa

a criança desenhar seus personagens acompanhados de diálogos, representados em

balões ou palavras espalhadas em seu desenho. É nessa etapa que as crianças começam

a utilizar a linha como base. As cores passam a ter importância para a composição do

desenho e a criança passa a entender as relações, como maior e menor, maior peso,

menor peso... surgindo também à transparência e o rebatimento.

É, pois, nessa etapa que os esquemas conceituados por Piaget como as formas

diferentes de interagir com o mundo vão se tornando mais complexos a medida do

FONTE: Stabile, R.M. 1988. Pré-esquematismo. A Expressão Artística na Pré-Escola. P. 29. São Paulo- FTD

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crescimento do sujeito, pois o desenho tem como característica principal a afirmação de

si mesmo mediante a repetição dos símbolos da forma. A figura humana ainda é

exagerada e pode haver omissão de partes que, na concepção da criança, não tem

importância. Conseguem desenhar o céu, no topo da folha e tendo o chão como a linha

de base. As cores são utilizadas conforme o padrão do objeto que elas têm na cabeça.

Realizam um desenho bidimensional, como se vê neste desenho:

Figura 16: Esquematismo

4ª Etapa: Realismo

Normalmente acontece ao fim do estágio operatório concreto (10 a 11 anos).

Passando pela pré-adolescência, a criança tem maior consciência sexual e autocrítica

formulada. Descobre quanto ao espaço o plano e a superposição, porém não utiliza mais

FONTE: Luquet,G.H. Trad. Azevedo, M.G.T.D.1969. Esquematismo. O Desenho Infantil. P. 165. Barcelona. Porto Civilização.

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a linha de base. Seu desenho tem um número maior de figuras geométricas. Desenham

roupas diferentes para cada sexo e associam cores a eles.

A fase do realismo inicia-se junto à crise da adolescência, quando também

abandonam o esquema. As cores passam a ser mais realistas e podem ser influenciadas

pelas emoções. Procuram não utilizar borracha, tornando o erro parte da obra.

Desenvolvem a cooperação.A propósito, veja-se o desenho a seguir. Refere-se a

realidade de um pré-adolescente (12 anos), que vive diariamente o confronto existente

na Palestina, onde pessoas são mortas a todo momento. Ele representa um soldado

atirando em uma criança, segundo Mèredieu (1974)

Figura 17: Realismo

5ª Etapa: Pseudo-naturalismo

Esta etapa acontece quando a criança já está no estágio operacional formal (11

anos ou mais) e chega ao fim da arte com espontaneidade.Por isso, muitas não querem

FONTE: Mèrideu, F. 1974. Realismo. O Desenho da Criança. P. 62. São Paulo. Editora Cultrix.

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mais desenhar. Agora ela já começa a descobrir sua personalidade, que é transferida,

muitas vezes, para o papel, traduzindo angustias e inquietações, típicas da adolescência.

Nessa fase, o realismo e a objetividade aparecem muito nos desenhos, também a

profundidade, o espaço e o uso consciente da cor. Muitas vezes, nos desenhos retratando

humanos, as características sexuais são representadas de forma exagerada. No desenho

abaixo, o autor queria demonstrar o medo relativo a seu pai. (MÈREDIEU, 1974)

Figuro 18: Pseudonaturalismo

Vale lembrar que, assim como Piaget outros autores como Vigotsky, Luquet

Florence, Victor Lowenfeld, apresentam diferentes contribuições para o estudo dos

desenhos. Sem exceções, todos eles reconhecem que o desenho das crianças passam

por etapas, períodos ou fases. Quanto as etapas elaboradas por Jean Piaget proporciona

visualizar a criança com um novo olhar, podendo, então, tomar novas atitudes. Afinal,

aprender é interagir com uma multiplicidade de imagens, palavras, expressões e

FONTE: Mèrideu, F. 1974. Pseudo-naturalismo. O Desenho da Criança. P. 89. São Paulo. Editora Cultrix.

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observações do meio em que a criança está inserida. Assim, o grafismo pode ser o meio

pelo qual a criança manifesta toda sua visão do mundo que a cerca. Piaget nos mostra

que o desenho é um valioso instrumento onde a criança pode nos contar o que sabe e

entende do mundo, relacionando a um processo ativo no qual ela retrata o que conhece e

compreende sobre determinado fato, objeto ou meio de vida.

As estruturas espaciais e suas relações com o desenho também foram temas dos

estudos de Piaget, ele acrescentou ao desenvolvimento do desenho infantil uma análise

epistemológica, que já havia sido mencionada pelas formas do desenho estudados por

Luquet. De acordo com Padilha (1990 ) , Piaget se interessou pelo assunto devido:

[...] à consideração de que a evolução do desenho fornece o quadro

geral no qual se situam as análises que ele e laborou junto ao estudo

dos elementos e operações constitutivos da construção do espaço. Ao

estudá-la, observou-se que, tanto perceptivamente, quanto na ação

inter-objetal e posteriormente na representação (desenho), sucediam-

se na mesma ordem as mesmas relações topológicas. (PADILHA,

1990)

Ainda, segundo Padilha (1990) essas ações se apresentam nesta ordem: ação e

representação, verticalmente. Até os 4 meses de idade, a criança apresenta suas relações

perceptivamente. Apenas alguns anos depois, são reconstruídas essas relações e a

interação com o objeto. Posteriormente, as crianças alcançam o plano da representação.

Leivas (2009) e Padilha (1990) conceituam as relações topológicas fundamentadas nos

estudos piagetianos, conforme descritas a seguir:

a) Relação de vizinhança

É a fase compreende da descoberta dos elementos que podem estar em um

mesmo campo de observação. Durante esse estágio as funções evoluem com a idade, ou

seja, quanto mais nova a criança, mais ela se aproxima dos fatores de organização que a

beneficiam, como simetria ou semelhança. Essa relação acarreta uma organização

espacial dos elementos próximos dos outros, como representado na figura a seguir:

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Figura 19: Relação de vizinhança

b) Relação de separação:

Esta relação, em uma percepção global, ocorre quando o bebê está ainda na

relação de vizinhança, contudo identifica claramente a separação de elementos do

desenho. Ao passar do tempo, essa relação de separação aumenta, consequentemente

diminuindo as relações de vizinhanças. Nesse ponto, há uma diferenciação dos

elementos vizinhos. Percebe-se isso quando a representação da relação se distingue, a

princípio de maneira rudimentar passando para situações com maior complexidade.

Pode-se observar no desenho abaixo que a figura humana está representada por dois

olhos.

Figura 20: Relação de separação:

FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Separação. A Criança e seu desenho. P. 182.

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c) Relação de ordem:

Também chamada de sucessão espacial, esta relação estabelece uma sequencia

espacial e temporal ao mesmo tempo. É constituída junto das relações de vizinhança e

separação. Assim, quando o indivíduo segue ou realiza uma sequência de movimentos

ordenados no espaço e no tempo, estabelecem-se relações entre os elementos

desenhados ao mesmo tempo vizinhos e separados, pois são distribuídos em sequencias.

Primeiramente a criança manifesta, em seu desenho, pares de elementos, como mostra

na figura 20 em que ela realiza pares de pernas e braços, para, aos poucos, representar

todos os elementos no seu desenho, certificando sua organização, como na ilustra a

figura 22, ou seja, consegue realizar uma ordem espacial dos elementos, mostrando

noções de simetria.

Figura 21: Figura 22:

FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Separação. A Criança e seu desenho. P. 185.

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d) Relação de fechamento:

Padilha (1990) cita a fase nomeada relação de fechamento, que se dá pela

relação de ordem. Nessa fase, as crianças realizam um fechamento unidimensional e

bidimensionalmente, conseguem perceber que os olhos (figura 23), por exemplo, são

desenhados dentro da face. Já tridimensionalmente, conseguem representar as relações

contidas no interior e exterior, como em um pacote de presente ou mesmo no interior de

uma casa, como ilustra a figura 24 abaixo. Já Silva (2004) e Leivas (2008) não a

mencionam, passando logo para as relações de continuidade.

Figura 23: Relação de fechamento: Figura 24: Relação de fechamento

FONTE: Stabile, R.M. 1988. Pré- Esquematismo. A Expressão Artística na Pré-Escola. P. 36. FTD.

FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Ordem. A Criança e seu desenho. P. 195.

FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Fechamento. A Criança e seu desenho. P. 195.

FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Fechamento. A Criança e seu desenho. P. 116

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e) Relação de continuidade:

A última fase das relações espaciais denomina-se relação de continuidade.

Neste ponto, as formações dos limites dos elementos dentro do campo perceptivo

acontecem bem como a composição das relações anteriores. As crianças reconhecem as

figuras em constantes modificações. Essa relação de continuidade se dá quando a

criança consegue representar pontos sequenciados em um espaço. Nessa última etapa

encontram-se problemas projetivos e geométricos. Mas é impossível analisa-los, pois o

desenho é visto apenas pela ótica de quem o executa. A figura 25 exemplifica um

pouco dessa dificuldade, ou seja, os problemas topológicos aparecem apresentando

rebatimentos, impossibilidade de perceber em uma situação bidimensional, uma

situação tridimensional, misturando assim, os pontos de vista.

Figura 25: Relação de continuidade

Em suma, percebe-se o quão é importante conhecer as fases do desenho e as

relações das suas estruturas espaciais,pois, conforme o olhar de Piaget,desenhar não se

resume apenas no prazer de deslizar o lápis no papel. De acordo com Bombonato e

Farango (2016), realizar o desenho é a maneira como a criança começa a representar,

FONTE: Greig,P. Trad. Murad, F. 2004. Relação de Continuidade. A Criança e seu desenho. P. 98. São Paulo. Artmed.

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simbolicamente, o mundo e acontece o desenvolvimento motor, orgânico, rítmico e de

aprendizagem. Para desenhar, as crianças precisam ter liberdade para criar, imaginar e

inventar, atendendo às etapas do seu desenvolvimento simbólico.

Piaget (1971) afirma que a criança “reduz a imagem mental ou a recordação da

imagem, isto é, a evocação simbólica das realidades ausentes” (PIAGET, 1971, p. 87)

Diante disso, os desenhos das crianças são resultados das suas interações com o

meio e através deles, percebemos sua evolução mental. Os símbolos e as imagens

mentais surgem da reprodução, compondo pouco a pouco a estrutura do pensamento, e,

de acordo com Piaget (1971) a criança chega ao raciocínio lógico, após tomar

consciência.

2.3 O desenho infantil sob outros olhares

Georges Henri Luquet (1927) foi um dos pioneiros a estudar o desenho infantil.

Seu trabalho possibilita diversas maneiras de olhar os desenhos das crianças

relacionando-lhes conceitos importantes. Luquet (1910) defende que o estudo do

desenho infantil deve partir do ato de desenhar das crianças, acompanhando e

registrando todas as ações e falas ocorridas antes, durante e depois da realizção desenho.

Sua obra O Desenho Infantil de 1927 sintetiza seus trabalhos. Nessa obra, segundo

Duarte (2009) o autor estabelece elementos para a análise dos desenhos como: intenção,

interpretação, tipo, modelo interno e colorido. Portanto Luquet (1927) proporcionou

novas maneiras de olhar e compreender o desenho infantil. Em sua opinião é importante

investigar a produção gráfica das crianças em sua interação com o objeto para

compreender melhor o desenvolvimento do desenho na infância, podendo chegar a

observações importantes no processo de aprendizagem.

Já Lev Vygotsky (1988) apresenta diferentes características do desenho, uma

delas é relativa ao ato motor. Ele percebe o desenho como o registro do gesto,

realizando-o com a imagem. Ele acredita que o desenho é o percussor da escrita, pois,

com sua colaboração, as crianças começam a representar graficamente o mundo a sua

volta.

O ato de desenhar, prossegue Vygostky, contém um grau de abstração ao puxar

da memória lembranças para representá-las no papel. A fala também apresenta uma

importante função, sendo ela a base da linguagem gráfica. Falar sobre o desenho infantil

leva à reflexão sobre a linguagem, imaginação, percepção, memória, emoção,

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significação.Portanto é preciso compreender os processos psicológicos que estão

envolvidos nesse ato. O desenho é um meio de comunicação muito importante para as

crianças. É uma fonte de fácil entendimento entre elas. (PEREIRA, 2016)

Por sua vez, Lowenfeld (1997) defende que o desenho é um veículo de

autoexpressão, e por meio dele, desenvolve-se a capacidade de representação e

ampliação da criatividade. Para ele, o desenho infantil, são apresentadas variações de

tamanhos em relação ao todo ou à parte. Não é necessário correções, pois assim

interfeririam no toque emocional que as crianças buscam representar em sua obra. A

interferência no desenho da criança, pode inibi-la a repassar para o papel suas

experiências subjetivas, tirando o que é importante de ser produzido.

Já, Derdyk (1989) afirma que a criança utiliza o desenho para diversos fins:

como modo de expressão, como linguagem, como diversão, quando ela realiza a tarefa

sozinha, não precisando de companheiros, ditando suas próprias regras, aprendendo a

estar só. O desenho, segundo Derdyk (1989), é o palco de suas criações, encenações e

este universo de construção é particularmente dela. Ainda na visão do autor, quando a

criança tem possibilidades de desenhar, tem condições de explorar maior número de

grafismos, proporcionando, assim, uma compreensão mais aguçada. Englobar o

imaginário (projetar, pensar, idealizar...) ao aspecto operacional (funcionamento,

materiais, espaço...) também é um ato do desenho, pois envolve o lúdico, fazendo a

criança pensar desde o funcionamento físico até a idealização..

Na opinião de Márcia Gobbi (2005), é possível conhecer as crianças desde bem

pequenas, a partir dos seus desenhos. Perceber as crianças sujeitos singulares,

possuidores e construtores de cultura, levou a estudiosa a pensar o desenho como uma

produção a ser analisada de forma séria e própria, distanciando a imagem da criança

como um pequeno adulto.

Tendo o desenho infantil como principal tema das suas pesquisas, Gobbi (2015),

em entrevista na página Centro de Educação Integral, para a colunista Ana Luíza

Basílio, adverte que, por os desenhos estarem sempre presentes no cotidiano escolar e

social, não devem ser esquecidos, pois deixa-se de perceber o que eles têm a nos dizer.

Nessa medida, observando-se as crianças atentamente pode-se compreender suas

práticas e lógicas infantis possibilitando perceber as diferenças e marcas, como gênero,

percepções, entre outras. Quanto à representatividade dos desenhos, a pesquisadora

ressalta a importância de observar a criança desenhando e pedir a ela que fale sobre sua

obra. Ela ressalta também que o desenho não é o produto final. E, simplesmente

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recolhê-los e arquivá-los é uma perda de dados valiosos, pois não dá a oportunidade de

perceber o que foi representado em sua obra. Evidencia também que é importante que as

crianças discutam suas obras

Por isso, no próximo capítulo fará a apreciação de estudos sobre a concepção das

crianças sobre animais.

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3 - OS ANIMAIS NOS DESENHOS DAS CRIANÇAS: UM

PANORAMA SOBRE AS PESQUISAS QUE INVESTIGAM A

CONCEPÇÃO DE ANIMAIS NA INFÂNCIA

Pretende-se neste capítulo, compreender as representações que as crianças e os

conhecimentos expressos por elas ao desenharem formigas. Para tanto recorreu-se a

estudos sobre a representação de diferentes animais, pelas crianças. Dada o grande

número de teses, dissertações, artigos a esse respeito, adotaram-se alguns critérios para

a seleção dos estudos a serem apresentados aqui como: pesquisas envolvendo sujeitos

de 3 a 11 anos de idade, em virtude da faixa etária presente investigação; pesquisas cujo

instrumento metodológico fosse o desenho; pesquisas na área de ciências; pesquisas

com o objetivo de investigar a representação de animais pelas crianças. Feita a leitura

dos resumos desses trabalhos, elegeram-se sete pesquisas por considera-las

representativas para o campo investigado. Também foram examinadas fontes de

publicações cientificas encontradas, nos últimos 12 anos, no Scielo, Portal da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); nas

bibliotecas virtuais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Revista de

Ensino de Biologia (SBEnBIO); Revista Ciências em Extensão da Universidade

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP); Revista Ensaio; Periódico

Eletrônico do Fórum Ambiental da Alta Paulista; artigos do Congresso Nacional de

Educação (CONEDU); portal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP); artigos do XIV Congresso Internacional

de Tecnologia em Educação e Sapientia – Repositório da Universidade do Algarve.

Assim sendo, começando com Dominguez (2006) em sua pesquisa, buscou

entender o que as crianças, em situações de interação discursivas sob a mediação de

adultos, contam ao desenharem os seres vivos em estudo.

Essa pesquisadora realizou seu estudo em uma creche, localizada dentro do

campus da Universidade de São Paulo e, decorrente de 6 meses, acompanhou uma

turma de crianças de 4 anos. Considerando importante conhecer o contexto em que

seriam produzidos os desenhos, a pesquisadora optou por utilizar uma metodologia

qualitativa de pesquisa, permitindo interferências por parte do pesquisador. Ela

participou ativamente das rodas de conversas, caracterizando a pesquisa em questão em

observação participante.

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Para compreender o relato das crianças sobre os seres vivos, ela estudou uma

situação particular da vida das borboletas. Dessa maneira, ela procurou compreender

como ocorre o processo de atribuições de significados, quando as crianças desenham

borboletas. Analisando a linguagem gráfica e verbal, Dominguez (2006) buscou

perceber a organização espacial e as concepções pedagógicas presentes na turma. O

caderno de campo serviu como estratégia para a realização dos registros, principalmente

quando não havia desenhos nem entrevistas programadas no encontro. Além disso,

todas as aulas foram gravadas em áudio e vídeo. As câmeras foram devidamente

ajustadas, com o enquadramento favorecendo os movimentos das crianças, dada a

intenção de acompanhar os detalhes a atividade. Para a realização dos desenhos,

inicialmente as crianças foram convidadas a produzir, em papel A4 e a lápis, desenhos

relacionados ao projeto. Desse processo participaram 7 crianças que foram divididas em

dois grupos. Também foram realizados passeios pelo bosque do campus e observações

no parquinho da creche. Às notações realizadas no caderno de campo, a pesquisadora

acrescentou as análises dos desenhos, tendo sempre atenção voltada às falas e obras das

crianças. Com o aporte de Vygotsky (1896-1934), ela buscou analisar os desenhos para

perceber quais os conhecimentos as crianças possuíam e quais adquiriram sobre as

borboletas. Os critérios para a análise dos desenhos não ficaram claro na pesquisa, pois

foram apresentadas apenas as características das borboletas nos desenhos. O interesse

das crianças pelo tema e o número de registros arquivados dos desenhos foram critérios

relevantes para escolha dos desenhos analisados. Essa tese focalizou quatro crianças que

produziram maior quantidade de desenhos.

A conclusão da autora foi que as crianças elaboraram suas concepções sobre o

modo de vida e características das borboletas. Os insetos adultos foram representados

com asas, embora não houvesse um padrão determinando a quantidade desenhada,

também acrescentaram antenas, cabeças e pernas. As borboletas apareciam sempre

interagindo com plantas ou outros animais. Vegetais apareciam ora como alimentos, ora

como esconderijo, ora como habitat.

Outra conclusão da autora foi que nos primeiros desenhos as crianças

representavam as borboletas com poucas características e utilizaram aspectos humanos.

Mas, com o desenvolvimento das falas e observações, ampliaram suas concepções,

inclusive abandonando aspectos humanos englobados anteriormente nas borboletas. E

então, acrescentam o que era mais real nas borboletas mostrando a evolução das

observações.

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Por fim ela conclui que as crianças, ao final do trabalho realizado, conseguiram

visualizar o ciclo da vida da borboleta. Isso foi constatando isso pelos desenhos

apresentados e os comentários explicitados durante os encontros.

Por sua vez, a pesquisa de Silva e Bartosezeck (2011) dedicou à compreensão

do que pensam as crianças quando falam de aves. Silva e Bartosezeck (2011) fazem uso

do desenho seguido de entrevista. Com o aporte de Luquet (1927), desenvolveram esse

trabalho, com ênfase nos conhecimentos sobre aves e o desenho infantil.

Assim, em uma escola estadual de Pernambuco, os pesquisadores convidaram 77

crianças com idades entre 10 a 13 anos, que desenhassem aves em folhas A4 e lápis

preto e, após o desenho, participassem de uma entrevista semiestruturada que consistia

em responder cinco perguntas: A saber: 1. Quantas/quais aves você conhece?; 2.

Nomeia-as; 3. Onde você viu essa ave?; 4. Das aves que você conhece, onde as viu?. 5.

Diante de uma lista, com fotografias de aves (galo-de- ampina, para- arroz, juriti, anu,

rolinha, pica-pau, pintassilva, sangue-de-boi, patativa, beija-flor), os entrevistadores

questionaram às crianças o nome de cada ave e aonde elas a viram. Todas realizaram o

desenho, mas nem todas responderam às perguntas da entrevista.

Como os sujeitos da pesquisa apresentavam idades variadas, os pesquisadores

tiveram condições de realizar uma análise comparativa. Pelos desenhos, notaram que as

crianças mais novas (10 e 11 anos) representaram sua ave com menor identificação às

características morfológicas, além de incluírem semelhanças com figuras humanas.

Pássaros com sobrancelhas, cílios e boca foram encontrados, assim como um sol com

rosto. O ambiente doméstico também foi onde a maior parte das crianças representaram

suas aves: galinhas, pombas, patos e gansos. Poucas crianças desenharam suas aves com

detalhes, como: bicos, garras e penas. Elementos culturais também foram observados,

como representações de pássaros na gaiola.

Mas, todos os desenhos representaram aves com olhos arredondados. Em alguns

desenhos, as aves tinham cobertura em traços ora lineares, curvos, ora ondulados.

Algumas crianças representaram as aves pousando em superfícies, sedimentos ou base

que serviam de suporte aos organismos vivos e além de outros que os pesquisadores não

identificaram. E, em 24 desenhos, as aves apareceram pousadas em diferentes subtratos,

como: água, pedaço de pau, árvores, pedras e ninhos. Outras crianças representaram

suas aves voando ou com asas abertas.

Silva e Bartosezeck (2011) afirmam que o desenho contribui para conhecer o

que as crianças entendem quando se fala em aves. Assim as crianças de 10 e 11 anos de

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idade associam sua representação à família e ao seu próprio corpo. Quanto às maiores

(13 anos), poucas representaram sua ave semelhante ao real. Para os autores, o trabalho

em questão colabora para a reflexão sobre o uso do desenho no processo de ensino e

mostra que a criança consegue repassar para sua produção muito do que conhece sobre

o determinado animal.

Em outra pesquisa sobre a representação infantil dos animais, Glória et al (2012)

analisaram as concepções de crianças de 6 a 8 anos de idade sobre o lobo ibérico. Para

tal, as autoras solicitaram às crianças de 164 escolas portuguesas que desenhassem um

lobo. Segundo os autores, essas crianças não apresentaram nenhum tipo de informação

formal dos hábitos e anatomia desse animal.

A pesquisa não buscou interpretar as razões que levaram essas crianças a

desenharem tal representação do lobo ibérico e sim falar da anatomia desse animal, o

contexto da sua representação e sua interação com o ser humano. Nesse sentido, foi

elaborado um quadro de categorias para codificar os desenhos que eram recolhidos

pelos pesquisadores. O olhar das crianças acerca do lobo ibérico também foi um ponto a

ser analisado, com o intuito de perceber se as crianças apresentavam concepção que

favorecesse a conservação da espécie, ou se se tratava apenas visão negativa, pautada

pelo medo e por informações errôneas.

Para sua análise desse material e com o objetivo de enriquecer o processo de

interpretação, os pesquisadores, em concordância com Bogdan e Biklen (1994),

analisaram coletivamente os desenhos a fim de diminuir as distorções provenientes da

análise de apenas um investigador. O quadro de categorias foi composto tendo em vista

as características do animal, como: reprodução, caça ao lobo ibérico, cativeiro,alcateia,

predação, temperamento, antropormifação, sons, enquadramento ecológico. Para as

produções que não enquadraram em nenhuma característica das categorias

mencionadas, foram atribuídas outras representações do lobo. Cada criança participante

da pesquisa realizou apenas um desenho, mas esse desenho poderia ser enquadrado em

diversas categorias do quadro, diante das características apresentadas. Inicialmente, os

pesquisadores utilizaram um procedimento quantitativo, contabilizando as obras. A

maior parte das crianças (75%) representou olobo no contexto ecológico, atestando que

elas possuem noções básicas sobre o ecossistema em que o animal vive. Em 34% dos

desenhos, o lobo foi associado a situações noturnas, uivando para a lua. Já 33% das

crianças desenharam o lobo com características antropomórficas. Quanto às

representações do lobo predador, apenas 12% das crianças desenharam-no nessa

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perspectiva. Em 11% dos desenhos, as crianças representaram alcateias e em 13% dos

desenhos não foi possível encaixar as representações em nenhuma categoria, sendo

enquadradas como outras representações do lobo.

Diante desses resultados, as autoras concluíram que, apesar dos preconceitos

existentes na sociedade contra os lobos, foi possível perceber que as crianças

pesquisadas não generalizam o medo da espécie, mencionando sempre os lobos como

relevantes para a natureza. Concluíram as autoras que as crianças conheciam

características do lobo, dados que poderão ser relevantes ao se tratar da conservação das

espécies. Os pesquisadores concluíram que as crianças pesquisadas possuíam

conhecimentos adequados sobre os lobos. Porém, algumas ainda mantiam a visão

estereotipada e deturpada dos lobos, associando-os ou a seres agressivos ou a animais

que precisam ser caçados.

Já Santana e Fiamengue (2013) investigaram o conhecimento e a percepção das

crianças da 4ª série de uma escola municipal, em um vilarejo bahiano, cujas crianças

possuíam algum vínculo com pescadores, peixes e o mar. Ali buscaram entender a

interação das crianças com os animais marinhos e a construção desse conhecimento

entre as gerações. Para tal, se deslocavam até a escola do vilarejo onde realizavam

produções de texto e desenhos junto às crianças, buscando entender quais seriam os

conhecimentos que elas possuíam sobre os peixes.

Quanto às análises dos desenhos, tiveram como base os textos elaborados pelas

crianças. De posse dos desenhos das crianças, as pesquisadoras perceberam que elas

sabiam muito sobre os peixes. Foram apresentadas obras nas quais foi possível perceber

que as crianças conheciam peixes de diferentes tamanhos e cores, levando as

pesquisadoras a acreditarem que elas eram capazes de identificar inúmeras espécies e

em diferentes fases do desenvolvimento, mencionando, inclusive, aspectos

morfológicos de cada uma delas. Nos desenhos foi possível perceber peixes com

nadadeiras caudais diferentes. Também, alguns, apresentaram a cadeia alimentar dos

peixes, outros retrataram a interação do peixe com o ser humano, mostrando crianças

nadando junto com os peixes, outro, ainda, desenhou seu peixe no aquário, em ambiente

domiciliar.

Afinal, as pesquisadoras concluíram que os desenhos e os textos das crianças

transmitiam conhecimentos e sentimentos. Conhecimentos que foram construídos pela

interação delas com o animais e do conhecmentos produzido entre as gerações.

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Mas, dado o objetivo do presente estudo, destaca-se, aqui, a dissertação de

Dallabona (2013) por estar próxima ao nosso objeto de estudo: as formigas. Com

objetivo de analisar o processo de ensino, conhecendo os aspectos essenciais das

atividades das crianças e o processo de construção do conhecimento científico,

Dalladona (2013) realizou seu estudo com crianças do 2º ano do Ensino Fundamental,

em uma escola pública localizada em Timbó, Santa Catarina. A diferença entre a

pesquisa de Dallabona (2013) e a presente investigação se deve ao fato da autora ter

analisado, em seu trabalho, diversos recursos para compreender o conhecimento das

crianças acerca das formigas. O foco desta pesquisa é a compreensão das representações

que as crianças construídas pelas crianças sobre as formigas detectadas de seus

desenhos e narrativas.

Centrando-se, então no trabalho de Dallabona, para responder a pergunta: Como

ocorre o processo de construção do conhecimento científico das crianças do 2º ano do

ensino fundamental de uma escola pública de Timbó/SC?, a pesquisadora adotou a

abordagem qualitativa. Os sujeitos pesquisados eram 20 crianças com idades entre 7 e 8

anos e a professora regente da turma. Ela observou as crianças nas aulas de Ciências, e

colaborando para que processos interativos entre as crianças, professora e

conhecimentos se estabelecessem. A sequência didática se deu pela interação da

professora regente e pesquisadora. Para a coleta de dados, Dallabona utilizou as

observações realizadas durante as aulas, devidamente registradas no diário de bordo.

Foram utilizadas fotos e as gravações em vídeos. Também, as produções dos alunos

realizadas em sala de aula, coletivamente ou individual, constituíram fontes de

informações importantes para a elaboração do resultado da pesquisa. Identificados os

conhecimentos prévios das crianças, a pesquisadora propôs algumas questões em sala

de aula. As primeiras hipóteses das crianças sobre as formigas foram: a formiga possui

8 patas, ela é pequena e mora no formigueiro. Ao serem convidadas para produzir um

desenho, as crianças discutiram vários aspectos das formigas ainda não comentados,

como a alimentação delas. O açúcar foi o alimento mais comentado pelas crianças,

enquanto algumas argumentaram que eram as folhas, o alimento preferido das formigas.

No decorrer da tarefa, surgiram dúvidas relativas aos números de pernas das formigas e

sobre as antenas. Os desenhos apresentados foram acompanhados por textos. Nos

desenhos, as formigas aparecem em sua maioria com o corpo segmentado, com antenas

e seis pernas. Assim, com aulas expositivas, experiências, passeios, palestras,

elaboração de registros, relatórios, modelos, leituras, pesquisas, entrevistas, reflexões,

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desenhos entre outras atividades Dallabona conseguiu proporcionar as crianças um

conjunto de saberes mais próximos dos conhecimentos científicos sobre as formigas.

A dissertação teve como resultado do produto educacional, um portfólio para

investigação científica, a partir da sequência didática elaborada, com o tema voltado

para o ensino de formigas.

Por sua vez Filho et al (2016) realizaram um estudo para avaliar a concepção

das crianças de 3 a 12 anos de idade sobre os morcegos. Os pesquisadores montaram

uma tenda em praça pública onde eram expostos objetos e painéis informativos

relacionados aos morcegos, ressaltando a importância ecológica deles, inclusive

promovendo condições de tocar em um animal vivo. Também montaram uma caverna

de tecido, onde o visitante poderia vivenciar o habitat natural desses mamíferos. Entre

os diversos convidados para participar dessa experiência, os pesquisadores convidaram

crianças e 42 aceitaram o convite.

Para a coleta de dados, as crianças foram convidadas a desenhar o que sabiam

sobre os morcegos e relatar em entrevistas semiestruturadas elaboradas pelas autoras,

responder às seguintes perguntas: A idade da criança?; O que são os morcegos?; Já viu

algum?; O que eles comem?; Você tem medo deles? Se sim, por que?. Tanto o desenho,

quanto as respostas da entrevista foram espontâneas. Enquanto as crianças desenhavam,

os monitores realizavam a entrevista. Nem todas as crianças se interessavam em

responder às perguntas, bem diferente do interesse apresentado para a realização dos

desenhos.

Para a análise dos desenhos, foram determinadas cinco categorias, sendo elas:

antropormifação, caracterização estereotipada, outros animais, inserção no ambiente,

representações da tenda onde foram analisadas informações transmitidas durante a

interação. Totalizaram-se 42 desenhos, desse, 13 apresentaram o morcego com

características antropomórficas. A representação estereotipada dos morcegos, por

exemplo, sangue, olhos vermelhos e caninos exagerados apareceu em 15 desenhos. Em

13 desenhos, as crianças representaram seus morcegos com características de outros

animais, com asas semelhantes às dos insetos e patas de aves, enfim, grupo de animais

próximo do cotidiano delas. Ao analisar a inserção dos morcegos no ambiente, os

pesquisadores constataram maiores acertos: 18 crianças demonstraram possuir

conhecimentos sobre a ecologia dos morcegos. Seus desenhos mostraram morcegos

voando em meio às árvores, despertos à noite, próximos a cavernas e em grupos. Para a

categoria representação da tenda, apenas 3 crianças mencionaram-na. Em 2 desenhos,

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foram visíveis a mudança de concepção da criança e a aquisição de novos

conhecimentos. Isso foi percebido nos detalhes como o formato dos olhos e asas,

detalhes no corpo.

Acerca das entrevistas, os autores seguiram a orientação de Gil (2008):

perguntas fixas e apresentadas igualmente a todos os entrevistados, perguntas

padronizadas, objetivas e discursivas. As respostas das crianças de 3 a 12 anos, foram

as seguintes: 6 crianças mencionaram que os morcegos são mamíferos; 5 crianças

afirmaram que são aves; 4 os classificaram em nenhum grupo de animais, mencionando

apenas sentimentos como medo; 7 crianças associaram os morcegos à alimentação, sem

relatar sua classificação; 1 criança afirma ser um personagem e 11 não souberam

responder. Quanto à alimentação dos morcegos, a maior parte indicou serem frutos e

sangue. 11 crianças não souberam responder e 6 crianças deram respostas variadas,

como alimentação de insetos e serpentes. Sobre o medo dos morcegos, apenas 12

crianças afirmaram sentir medo deles e apenas 3 nunca o viram. O restante afirmou não

sentir medo.

Finalmente, os pesquisadores concluíram que os morcegos ainda são cercados

por mitos, o que mantém o ser humano longe. Contudo, as crianças pesquisadas daquela

região não os veem como animais perigosos ou ruins. Acredita-se que essa mudança se

deu por trabalhos de divulgação científica e educação ambiental, garantindo acesso a

informações corretas e a melhora no processo de ensino.

Sobre a educação ambiental, no interior de duas escolas, uma localizada em área

urbana e outra em área rural, Jotta et al (2017) buscaram verificar quais as percepções

das crianças de 7 a 11 anos do ensino fundamental sobre aranhas, a fim de promover a

sensibilização para a Educação Ambiental. Utilizou-se, para esse fim, o desenho das

crianças, seguido de um questionário construído pelos pesquisadores sobre os seres

vivos, evidenciando as aranhas. Após essa etapa, as crianças foram chamadas para

serem entrevistadas, individualmente, fora da sala de aula. A entrevista consistiu na

apresentação das crianças de cartões com imagens, em preto e branco, de animais

invertebrados cujo o objetivo era dizer o nome dos animais. Os animais desenhados nos

cartões eram: borboleta, aranha, tatu de jardim, besouro, gafanhoto, minhoca. Ao

término da entrevista, as crianças voltaram à sala de aula onde houve uma explicação da

biologia dos seis animais, com ênfase na aranha. Os pesquisadores esperaram em torno

de 20 dias para retornar à escola e realizar o segundo momento da pesquisa: convite às s

crianças para desenharem uma aranha. Essa pausa foi proposital para que os

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55

pesquisadores tivessem condições de obter dados para a realização de um estudo

comparativo entre os desenhos realizados pelas crianças.

Para a análise dos dados, organizaram três etapas: representação gráfica dos

animais; análise das entrevistas; representação gráfica das aranhas. Como foco do

estudo era o conhecimento das características morfológicas das aranhas, os

pesquisadores analisaram esses aracnídeos a partir de categorias. Para tanto, foi

construído um quadro com as seguintes categorias: quantidade de pernas (8); corpo

dividido (afalotórax e abdômen); presença de quelíceras (estruturas utilizadas para a

manipulação de alimentos e inoculação do veneno); presença de teia. Segundo os

pesquisadores, as crianças da escola urbana, após as explicações, desenharam a aranha

com o número correto de pernas, corpo dividido e quelíceras, em maior número que as

crianças da escola rural. Já a presença de teia apareceu em maior número nas obras das

crianças da escola rural, levando os pesquisadores a concluírem a valorização dessa

característica.

Concluíram Jotta et al (2017) que houve um aumento expressivo nos desenhos

das crianças, quanto aos aspectos morfológicos após o estudo formal, demonstrando a

capacidade da maior parte das crianças em reconhecer detalhes nos animais. Os autores

concluíram que o medo predominava quando o assunto era aranha, possivelmente por

vivências individuais de cada criança, mas há uma curiosidade enorme sobre elas. Na

opinião dos autores, a falta de informação gera sentimentos e afirmações infundadas,

cabendo ao educador observar atentamente as percepções das crianças.

Já Rodrigues e Almeida (2017) investigaram as representações de formigas por

crianças de 9 e 10 anos, que não tiveram nenhum estudo sistemático sobre esse inseto

em ambiente escolar. As pesquisadoras optaram por realizar uma pesquisa exploratória

qualitativa. A pesquisa ocorreu em uma escola pública sendo todos os encontros

devidamente gravados. A sala de aula era constituída por 26 crianças de 9 e 10 anos. Na

sala de aula foram distribuídas folhas A4 às crianças solicitando que realizassem um

desenho de uma formiga apenas com as lembranças desse inseto. Não foi realizada

nenhuma intervenção antes da aula, deixando-as livres para desenhar apenas as

características do inseto que se recordavam. Em seguida, foi realizada a escuta das falas

das crianças que explicitavam o que haviam desenhado. Após a entrevista, os desenhos

foram analisados minuciosamente. As pesquisadoras realizaram anotações no caderno

de campo pertinentes às singularidades de cada desenho. A partir das anotações e das

características recorrentes em cada obra sobre as formigas, elas elegeram categorias que

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serviram de referencia para as análises dos desenhos. São elas: ciclo de vida,

alimentação, habitat, morfologia. Assim, foi possível reconhecer, em 11 desenhos,

características morfológicas.

Desse modo foram analisados todos os desenhos das crianças (26 desenhos). Em

15 produções foram observadas características de lagartas ou outros animais. Outras 22

crianças desenharam a formiga com antenas. O número de pernas desenhadas variam

entre 3 e 9. 16 crianças representaram a formiga com o corpo segmentado em três

partes. E, em apenas 3 desenhos, encontraram-se estruturas que lembram mandíbulas.

Olhos compostos também não foram representados. Uma das produções chamou a

atenção das pesquisadoras pela riqueza de detalhes presente no desenho, ou seja, o

formato da cabeça, presença de mandíbulas, antenas, segmentação do corpo e

disposição dos olhos. O número de pernas também foi corretamente desenhado, embora

tenha sido representado ao longo do corpo.

Quanto à alimentação das formigas, o estudo indica que apareceram nos

desenhos folhas e frutas. Em nenhum desenho foi encontrada a presença de ovos ou

algo que se referisse à metamorfose da formiga. Quanto à vida social, quatro crianças

desenharam-nas em fila e em dezessete representações foi possível notá-las em grupos.

E, em 1 desenho, a formiga está representada com uma coroa, o que levou as

pesquisadoras a inferirem que, possivelmente, a criança possuem uma compreensão da

organização hierárquica do formigueiro. Em 13 desenhos, foi possível perceber que as

crianças representaram suas formigas com características antropomórficas.

Sabendo que os desenhos são documentos de grande valia para constatar o nível

de conhecimentos das crianças, as pesquisadoras atentaram para outra questão muito

importante: ouvir as crianças enquanto desenham, as falas delas sobre o desenho, suas

falas sobre o desenho. Eis algumas falas encontradas nessa pesquisa: formigas são

bichos que carregam comida para sobreviver ou um bicho que trabalha o dia todo.

Também o pensamento antropomórfico foi dominante. Também para a maior parte das

crianças as formigas são insetos, animais pequenos, bichos ou pragas. De acordo com

algumas, elas vivem em formigueiros, nas sombras ou em buracos na parede. Duas

crianças referiram-se ao nascimento das formigas, indicando que nascem de ovos. Outra

criança afirmou que as formigas nascem das larvas da mãe. Quanto à utilidade das

formigas, elas afirmaram que elas são feitas para picar, trabalhar e alimentar seus

filhotes.

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Em síntese, mais da metade das crianças representaram formigas parecidas com

lagartas ou outros insetos. Elas foram capazes de reconhecer a formiga no ambiente,

mas ao desenhá-las só as mencionaram no ambiente doméstico.

Os desenhos foram apresentados de diferentes tamanhos e cores. As

pesquisadoras concluíram que as crianças têm ideias quanto à variabilidade entre as

espécies. Diante dos expostos, concluíram Rodrigues e Almeida (2017) que para as

crianças aprenderem sobre formigas é necessário mais que falar ou mostrá-las em livros,

que elas conheçam as formigas do entorno e estudem sobre elas.

3.1 Considerações sobre as pesquisas

O desenho, como evidenciou o tópico anterior, é um instrumento valioso para a

pesquisa sobre animais. Todas as pesquisas descritas deram ênfase aos conhecimentos

morfológicos das crianças sobre diferentes classes de animais. Todas as pesquisas

descritas deram ênfase aos conhecimentos morfológicos das crianças sobre diferentes

classes de animais. Entre as pesquisas apresentadas, um estudo era relativo às aves, uma

com os aracnídeos, uma aos peixes, duas a mamíferos e três aos insetos.

O objetivo da maioria dos pesquisadores foi compreender o que as crianças

sabiam sobre o animal. Cinco pesquisadores tiveram seu foco no ensino fundamental

nos anos inicias, com crianças de 6 a 11 anos. Apenas uma pesquisadora trabalhou com

crianças da educação infantil, com o público composto por crianças de 4 anos. Uma

pesquisa contemplou ambas as escolaridades, com um público de crianças de 3 a 11

anos. Na maior parte das pesquisas, os animais faziam parte do cotidiano das crianças.

Apenas o lobo ibérico, animal nativo da região norte, oeste e centro da Península

Ibérica, embora não próximos das crianças, era muito popular no país onde foi realizada

a pesquisa. Os investigadores observaram, em alguns desenhos sobre animais, uma

visão estereotipada da espécie marcada pelo temor. E, desenhos de animais que faziam

parte do cotidiano delas se destacaram pela riqueza de detalhes e conhecimento que elas

possuíam.

Com referencia ao local das pesquisas, a maior parte ocorreu no ambiente

escolar. A facilidade dos pesquisadores de encontrar, no interior da escola, o público

desejado possivelmente foi a justificativa para tantas pesquisas realizadas na escola.

Apenas uma pesquisa foi realizada fora do ambiente escolar o que proporcionou aos

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pesquisadores obter um conjunto de crianças com idades variadas, conseguindo, assim,

identificar diferentes percepções sobre o assunto estudado, em um mesmo grupo.

Quanto à metodologia das pesquisas, estudiosos como Ludke e André (1986)

Bogdan e Biklen (1994) e Flick (2004) deram suporte para a sua realização, contudo Gil

(2008) foi o mais utilizado pelos pesquisadores. Na maioria das pesquisas o desenho

não serviu como instrumento de intervenção, comparação ou debate entre as crianças.

Os desenhos foram realizados com as crianças em grupos sendo seguidos de entrevista,

predominantemente. Gloria et al (2012) não utilizaram falas das crianças como método

para análise, ficando apenas com o desenho, também realizado em grupo. Optaram

ainda por realizar as análises dos desenhos em grupo para, assim, tentarem diminuir as

distorções das interpretações visuais, seguindo a análise conforme o quadro de

categorias proposto e o enunciado pedido, sem a fala das crianças. Apenas uma pesquisa

citou as questões culturais envolvidas no ensino e aprendizagem sobre a representação

dos animais. Todos os pesquisadores corroboraram a ideia de que o desenho infantil é a

basearam-se para observar a evolução e concepções das crianças, mas a maioria das

pesquisas se basearam-se apenas no momento inicial do trabalho quando as crianças

eram convidadas a desenhar.

Por fim, Silva e Bartosezeck (2011) e Jotta et al (2017) realizaram um estudo

comparativo dos desenhos apresentados pelas crianças. Os dois primeiros autores

conseguiram realizar o estudo comparativo dada a participação da pesquisa de crianças

de diferentes faixas etárias. Já Jotta et al (2017) realizaram a investigação dando um

espaço de tempo entre os encontros, com o objetivo de avaliar as percepções reais que

foram construídas pelas crianças sem a influência imediata da intervenção realizada. Os

demais pesquisadores realizaram um estudo quantitativo, sem comparações.

Vale lembrar que o conceito de representação não foi definido na maioria das

pesquisas, embora os pesquisadores utilizem esse termo.

Com exceção de Dominguez (2006) que é doutora em educação, os demais

pesquisadores têm, como formação principal, a Biologia, o que pode estar relacionado

com a preocupação em enfatizar a morfologia dos animais nos desenhos. Estudos de

Piaget e Vygotsky foram pouco citados. Também não abordaram o significado de traços

e cores. E, quanto à metodologia os autores restringiram-se à observação de aspectos

morfológicos dos animais e não aos aspectos cognitivos e psicológicos do desenho

infantil. A maior parte dos pesquisadores não acompanhou a trajetória dos desenhos das

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crianças. O desenho foi visto como instrumento para verificar o que as crianças sabiam

das questões morfológicas.

Tendo em vista que a presente investigação tem o mesmo propósito das

pesquisas citadas, a contribuição desses autores foi importante por indicar a necessidade

de olhar os desenhos das crianças sobre os animais no processo de construção da

atividade dando atenção à fala das crianças e a um olhar para além dos aspectos

morfológicos. Desse modo os caminhos trilhados neste estudo serão explicitados no

próximo capítulo.

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4- METODOLOGIA

Tendo em vista o objetivo dessa pesquisa que é investigar, nos desenhos das

crianças, quais representações elas são capazes de construir sobre formigas mediante o

desenvolvimento de uma sequência didática. Optou-se por realizar uma pesquisa

qualitativa do tipo estudo de caso. Segundo Gil (2008), o estudo de caso é caracterizado

como uma investigação que permite a construção de conhecimentos amplos e

detalhados do que se pretende estudar. Para esse autor, esse tipo de pesquisa favorece a

interação entre os pesquisadores e os sujeitos a serem investigados. Yin (2001), apud

Gil, 2006) aponta o estudo de caso como o método mais adequado para a investigação

de um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real, percebendo melhor os

limites entre os fenômenos e o contexto. Em contrapartida, Gil (2006) define o estudo

de caso como um estudo exaustivo de um ou poucos objetivos, de maneira a permitir o

conhecimento amplo e detalhamento do que se pretende estudar. Para esses autores, um

projeto de pesquisa que envolva o estudo de caso se dá em três fases distintas: 1)

escolha de alguns referenciais teóricos sobre o qual se pretende trabalhar; seleção dos

casos e o desenvolvimento de um protocolo para a coleta de dados; 2) condução do

estudo de caso, com a coleta e análise de dados; 3) análise dos dados obtidos à luz das

teorias selecionadas, interpretando os resultados da pesquisa.

Para a realização dessa empreitada, selecionou-se uma turma de uma escola

estadual de Ouro Preto, com crianças matriculadas no 4º ano do Ensino Fundamental,

com idades entre 9 e 10 anos. O próximo tópico está destinado à apresentação da escola,

das crianças e da professora bem como a justificativa dessas escolhas.

4.1 O processo de construção dos dados

Durante o 1º semestre de 2017, algumas escolas do município de Ouro Preto

foram procuradas para realização do trabalho de campo. Alguns critérios foram

considerados importantes para a pesquisa. O primeiro era a necessidade de a escola

acolher a investigação. Para isso, procurou-se escola cujo a professora aceitasse

trabalhar em uma sequência didática sobre formigas e permitisse filmagens de áudio e

vídeo no interior da sala de aula. Algumas escolas, apesar de interessadas na pesquisa,

não consentiram na realização do trabalho, devido aos registros em vídeo, que deixaram

o corpo da escola pouco à vontade.

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Já no início do 2º semestre de 2017, uma professora, indicada pela Secretaria

Municipal de Educação, de uma escola estadual do município de Ouro Preto

demonstrou interesse em participar da investigação. Nesse caso, uma reunião foi

marcada com a diretora, coordenadora e professora interessada na proposta. Na tarde do

dia 17 de julho de 2017 foram explicitados os objetivos e a metodologia da pesquisa

com a equipe. Diante do argumento de que as crianças poderiam aprender muito sobre

os insetos a partir do estudo das formigas, a pesquisa foi aceita pela escola. Após esse

contato, entrega-se à escola a Carta de Concordância (ANEXO A) para a autorização da

pesquisa. Depois da aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), os termos de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) (ANEXO B) foram encaminhados aos participantes às instruções e

demais explicações sobre a pesquisa. Escolhida a escola a professora e a sala de aula,

iniciamos nosso trabalho.

4.2 A escola

A escola, objeto dessa pesquisa, é uma instituição pública de ensino mantida

pelo Estado de Minas Gerais no município de Ouro Preto. Atende em dois turnos, em

regime regular e integral. No turno matutino, de 07h:00 às 11h:30 são realizadas as

aulas para alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. No turno vespertino, de

12h:30 às 16h:50 são atendidos os alunos de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental . O

ensino integral é destinado aos alunos do ensino fundamental dos anos iniciais, tendo

preferência àquelas crianças que os pais recebem o benefício do Bolsa Família4. A

época da execução desta pesquisa, eram atendidos na instituição 785 alunos sendo 60

do turno integral.

Os pais buscam essa escola para matricular seus filhos, haja vista que o trabalho

realizado na instituição tem reconhecimento na comunidade. O Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) confirmam a qualidade de ensino

ofertado pela escola em questão. No ano da realização da pesquisa (2017) o município

de Ouro Preto atingiu a meta e cresceu, alcançando nota 6,0, como mostra o gráfico

abaixo.

4 O Bolsa Família é um programa que contribui para o combate à pobreza e à desigualdade no Brasil. Ele foi criado em outubro

de 2003 e possui três eixos principais: complemento da renda, acesso a direitos e articulação com outras ações. O Programa Bolsa Família está previsto em lei — Lei Federal nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004 — e é regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, e outras normas. Disponível em http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e

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Gráfico 1:

Gráfico IDEB 2017

A instituição fica em um bairro tradicional de Ouro Preto, que é sempre visitado

por turistas dado o seu valor histórico. Está instalada em um casarão tombado pelo

patrimônio histórico o qual chama a atenção dos visitantes da cidade. A escola atende

alunos prioritariamente do bairro, porém a procura por alunos de outras regiões também

é grande. Esse fator promove a diversidade socioeconômica cultural do público

atendido.

A escola conta com amplo espaço físico que se divide em: uma biblioteca, um

laboratório de Informática, um laboratório de ciências naturais, dois banheiros para os

docentes, dois banheiros para os discentes e um com acessibilidade para deficientes

físicos, uma cantina ampla com refeitório, quadra esportiva, dois pátios, jardim,

bebedouros, doze salas de aula, secretaria, sala dos professores, diretoria e uma sala de

recursos onde é realizado um trabalho efetivo de inclusão, sem ser restrito apenas aos

alunos da instituição. Portanto, alunos que necessitam de atendimento especializado e

estudam em outra escola da rede pública também são atendidos na sala de recursos.

Em relação ao quadro dos funcionários da escola é composto por: diretora, vice-

diretor, duas supervisoras pedagógicas que se dividem por turnos, dezoito professores

no período vespertino e vinte e sete, no período matutino. Conta também com duas

bibliotecárias, dez auxiliares de serviços gerais, uma secretária que trabalha com três

auxiliares e uma auxiliar financeira. Há, também, duas monitoras para auxiliar alunos

FONTE: https://www.qedu.org.br/

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portadores de necessidades especiais e que também são responsáveis pela acessibilidade

na sala de recursos. Os profissionais dessa instituição, em sua maioria, são efetivos.

Segundo informações da direção da escola, sua proposta pedagógica visa o

respeito à diferença e preza uma educação formadora,ou seja, ensinar e aprender é uma

função social da escola, sempre respeitando as diferenças.

4.3 A professora participante da pesquisa

A professora que aceitou contribuir com o desenvolvimento da sequência

didática sobre formigas possui 44 anos de idade e 24 anos de experiência no magistério,

com crianças dos anos iniciais do ensino fundamental. Ela é natural de Ouro Preto-MG

e estudou sempre em escola pública. Formou-se em Magistério e logo em seguida,

conseguiu um contrato pelo Estado de Minas Gerais iniciando-se sua carreira na mesma

escola onde estudou. Em 1997, prestou concurso para a Prefeitura de Ouro Preto e

mantém atualmente os dois cargos. Ela cursou o Normal Superior e Pós-Graduação em

Psicopedagogia Institucional. Ministra aulas de Português e Ciências para as turmas de

3º, 4º e 5º ano respectivamente há 10 anos, nessa mesma escola.

Com referência a sequência didática sobre as formigas, foi apresentada a ela e

discutida.E, então, ela indicou a turma para o desenvolvimento da pesquisa, segundo

ela, de crianças com bom rendimento escolar, participativas, interessadas e

alfabetizadas..

4.4 A sala de aula e as crianças

A pesquisa realizou-se numa turma do 4º ano, composta por 26 alunos, com

idades entre 9 e 10 anos, sendo 16 meninas e 10 meninos. Do total de alunos da sala

pesquisada, 14 alunos foram frequentes a todas as aulas relativa a pesquisa. A maior

parte das crianças era negra. A maioria estudava na mesma sala desde a Educação

Infantil, portanto se conheciam há muito tempo. Possivelmente esse é um dos motivos

por serem tão participativas, pois já estavam bem entrosados com os colegas, tendo

liberdade para se expressarem devido ao grande tempo escolar que passaram juntos.

Eles frequentavam a escola durante o horário vespertino, de 12h:30 às 16h:50, e 7

participavam do período integral. No grupo pesquisado havia 4 crianças que

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apresentavam problemas quanto à escrita e leitura, precisando de acompanhamento

mais atento da professora.

Com referência ao espaço físico, a sala de aula apresenta quatro janelas grandes,

o que proporcionava uma boa ventilação, mas o barulho externo às vezes atrapalhava

um pouco o ambiente. Um quadro de giz e dois armários, onde se guardam os cadernos

e livros didáticos compunham o espaço escolar. A maior parte dos alunos chegava à

escola por volta de 12h:15, aproveitavam esse tempo para brincar um pouco no pátio,

aguardando o primeiro sinal. Quando soava a sirene, as crianças se dirigiam à fila, junto

à professora que daria aula no primeiro horário. Depois das orações diárias e às sextas-

feiras, cantavam o hino da escola e as crianças se dirigiam à sala de aula.

Diariamente, o tempo de estudo era dividido em cinco aulas, divididas em 50

minutos cada. Três aulas realizavam-se antes do recreio e as duas restantes depois do

intervalo. O recreio durava cerca de 20 minutos, em que as crianças brincavam na

quadra ou no pátio.

As aulas eram ministradas por professoras diferentes, ou seja: Matemática,

História e Geografia eram lecionadas por uma professora, enquanto as disciplinas de

Português e Ciências por outra. A disciplina de Educação Física também tinha um

profissional específico e essas aulas aconteciam geralmente no primeiro horário. As

aulas de Ciências eram realizadas às quintas-feiras, nos últimos horários e às sextas-

feiras, nos primeiros horários.

O perfil socioeconômico dessa classe era diversificado, como mostra registrado

no quadro abaixo:

Quadro 1: Perfil socioeconômico dos sujeitos pesquisados

CRIANÇAS IDADE OCUPAÇÃO DA MÃE OCUPAÇÃO DO PAI

JOÃO 9 Acompanhante

hospitalar

Aposentado

LETÍCIA 9 Secretária (Secretaria de

saúde de Ouro Preto)

Vereador

RENATA 9 Autônomo Segurança

IARA 9 Professora Mecânico de máquinas

industriais

REGINA 9 Vendedora (balconista) Pedreiro

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ALICE 9 Vendedora de cosméticos Ourives

ANTÔNIO 9 Sob os cuidados da avó

GERALDO 10 Representante\consórcio Psicóloga

EFIGÊNIA 9 Agente de saúde Bombeiro

MARIA 10 Cabeleireira Operador de som

GABRIEL 10 Cozinheira Pedreiro

CELITA 9 Técnica em contabilidade Proprietário e cozinheiro

de um tele sanduiche

ANDRÉ 9 Proprietária de um

mercado

Proprietário de um

mercado

ANDREZZA 10 Salgadeira Balconista de bar

MADALENA 10 Enfermeira Caminhoneiro

HÉLADE 9 Cozinheira Garçom

IAGO 10 Professora Vigia noturno

EDUARDA 10 Pizzaiola Desempregado

VALÉRIO 9 Auxiliar de limpeza geral Caminhoneiro

AYLA 9 Secretária Motorista de taxi

RONDINELLE 10 Dona de casa Pintor

REBECA 9 Confeiteira Desempregado

AFONSO 10 Professora Entregador de

mercadorias

LEONARDO 10 Professora Entregador de

mercadorias

KARINA 10 Auxiliar de cozinha

escolar

Marceneiro

ANDREA 10 Dona de casa Eletricista

Fonte: Produzido pelas autoras5

5 Os nomes dos alunos aqui e no desenvolvimento deste estudo são fictícios para

preservar a identidade deles, conforme explicitado no termo livre e esclarecido (anexo

B).

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4.5 A sequência didática

Dentre os inúmeros enfoques possíveis para o planejamento de ensino a

sequência didática tem sido tema de interesse na área de educação há bastante tempo

(TARGINO, 2017). Segundo Targino (2017), em linhas gerais, a sequência didática

consiste em um planejamento com três etapas principais: aplicação de atividades com o

objetivo de conhecer as concepções prévias dos estudantes acerca do conteúdo que se

pretende desenvolver; desenvolvimento de atividades que têm como objetivo ensinar os

conceitos definidos no planejamento; avaliação dos resultados obtidos a partir da

aplicação da sequência. O planejamento e a avaliação são processos cíclicos de

elaboração e reelaboração do trabalho. A principal diferença ente sequencia didática e a

pedagogia de projetos é que os objetivos do segundo são mais flexíveis e orientados

para os interesses dos alunos, na maioria das vezes. Para Zabala (1998), sequências

didáticas são um conjunto de atividades, estruturadas e articuladas que visem a

objetivos educacionais e têm um principio e um fim, conhecido tanto pelos professores,

como pelos alunos.

Nessa perspectiva, a sequência didática desta investigação foi composta por

atividades diversas que encadearam questionamentos, procedimentos e ações ordenadas

de modo a perceber os conhecimentos prévios das crianças e compreender o

desenvolvimento das crianças neste caso, em relação ao estudo das formigas. Mas

apesar do planejamento da pesquisa ter incluído o desenho e entrevista com as crianças

após cada aula, em virtude do reduzido do tempo em sala de aula, em nem todas as

aulas foi possível realizá-los. Assim, na maioria das aulas da sequência didática, o

planejamento buscou privilegiar o tempo do desenho e da conversa, como pode ser

observado a seguir:

1ª aula: 14/09/2017 – Primeiro desenho das Formigas realizado pelas crianças

1) Apresentação da pesquisadora

2) Solicitação de desenho de formigas às crianças em folhas A4;

3) Entrevista com as crianças sobre os desenhos.

2 ª aula: 28/09/2017 – Produção de texto sobre as Formigas

1) Solicitação às crianças que escrevessem tudo o que sabiam sobre as formigas

3ª aula: 05/10/2017 – Exibição de imagens de formigas em power point

1) Exibição de imagens reais de formigas e conversa com as crianças sobre alguns

detalhes morfológicos e biológicos presentes nas imagens;

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2) Desenho das crianças e entrevista sobre o desenho.

4ª aula: 20/10/2017- Exibição da animação: Lucas, um intruso no Formigueiro

1) Desenhos das crianças e entrevistas

5ª aula: 26/10/2017 – Conversa sobre as formigas vistas no filme “Lucas, um

intruso no formigueiro

6ª aula: 09/11/2017 – A vida das formigas

1) Leitura do livro A Vidas das Formigas de Francisco Martins Garcia;

2) Produção de texto pelas crianças sobre o que aprenderam sobre as formigas.

7ª aula: 16/11/2107 – Exibição da animação FormiguinhaZ

8ª aula: 17/11/2107 - Conversa sobre a animação FormiguinhaZ

1) Produção de texto coletiva sobre as formigas.

9ª aula: 23/11/2017 - Exibição da animação Minúsculos

1) Conversa sobre a animação.

10ª aula: 24/11/2017 – Conversa sobre a animação Minúsculos

1) Conversa sobre o filme Minúsculos;

2) Desenhos das crianças e entrevistas

4.6 Os desenhos e as entrevistas das crianças

Nesta pesquisa, os desenhos e as entrevistas a respeito das formigas constituíram

os dados mais relevantes para a nossa análise. Por conseguinte, a execução dessas

atividades foi rigorosamente observada. Conforme Gobbi (2005) associar o desenho à

oralidade colabora para que os estudiosos adquiram informações sobre as percepções

das crianças acerca determinado assunto. Também Pereira (2005) corrobora essa

afirmação, ao destacar a importância do desenho que acompanhado da entrevista, se

torna um importante material de estudo, ao possibilitar compreensão do pensamento da

criança. Quanto às entrevistas, foram realizadas na biblioteca, próxima a sala de aula.

Uma a uma, cada criança de posse do seu desenho ia até a pesquisadora relatar o que

havia desenhado. Suas falas eram gravadas por áudio e transcritas logo após o término

do encontro.

Em quatro encontros com as crianças, foi solicitado que elas desenhassem

formigas e todas demonstraram gostar muito desse momento. Os desenhos duravam

cercam de 30 a 40 minutos. Em média, 20 crianças participaram de todos os encontros,

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68

colaborando para a obtenção de um número considerável de dados para a análise. Das

crianças presentes, nenhuma se recusou a participar das atividades propostas. Mas o

momento inicial das entrevistas foi um pouco tenso, pois não se tinha certeza se as

crianças se sentiriam à vontade para conversar sobre os desenhos. Contudo, elas sempre

se mostraram satisfeitas com o trabalho, todas iam até a biblioteca, com todo o cuidado

ao carregar seus desenhos, falar deles. Cada criança, ao seu modo, apresentavam os

detalhes desenhados, possibilitando-nos entender mais a sua obra. Envolvidas com a

sequência didática, sempre tinham uma história de uma formiga que observaram fora da

escola, nos momentos de lazer, para nos contar. Havia um pequeno grupo que estava à

caça de uma formiga-rainha, que ainda não havia perdido suas asas. Em alguns

momentos, observávamos as crianças no recreio, inventando brincadeiras que envolvia

o tema em estudo. Uma em especial nos chamou à atenção: uma espécie de pegador.

Consistia em uma criança imitar as mandíbulas da formiga e correr atrás das outras,

levando-as até o formigueiro.

Algumas crianças mesmo tímidas contava seus desenhos. Todos os desenhos

produzidos em classe, foram recolhidos, datados, identificados e cuidadosamente

armazenadas pela pesquisadora. As aulas foram gravadas por duas câmeras fixas em

sala. As entrevistas individuais foram gravadas em áudio.

Diante do número excessivo de desenhos disponíveis e do breve tempo para o

exame de todas as produções, decidiu-se analisar uma pequena amostra. Assim, para

representar o público pesquisado, optou-se por selecionar as crianças que frequentaram

todos os encontros, totalizando 14 crianças. E desse grupo, outros critérios foram

definidos para a amostra, como: crianças de 9 e 10 anos, meninos e meninas em

percentuais iguais. A diversidade de classe social também foi observada para a amostra.

Por fim, foram selecionadas as crianças que se encontravam em diferentes estágios do

desenho, possibilitando o trabalho com uma variedade de perfis. Assim, tendo em visto

os propósitos deste trabalho, elegemos uma amostra de 10 crianças. Diante do exposto,

foram analisadas três aulas, sendo elas: o primeiro desenho das crianças, no qual elas

expressaram algumas concepções sobre as formigas; o terceiro encontro, quando foram

discutidas e apreciadas as fotos de formigas reais. A escolha dos desenhos gerados

nessa aula foi determinada por referi-se ao momento em que às crianças observavam

imagens, comentavam a morfologia e vida das formigas apresentadas às crianças.

Nossa última aula, na qual as pesquisadoras e alunos assistiram ao filme Minúsculos,

filme esse escolhido por ser um desenho animado em que as formigas são representadas

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de maneira muito próxima à realidade. A seguir, serão descritas com mais detalhes, as

aulas e os dados da análise.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Pretende-se, nesse capítulo, descrever a sequência didática das aulas com o

objetivo de estudar as representações das crianças em diferentes momentos de ensino

sobre as formigas. A seguir, será apresentado um breve resumo dos acontecimentos de

cada aula dessa sequência.

5.1 Breve resumo das aulas

1ª aula analisada – 14/09/2017

A sala de aula das crianças foi o cenário para o primeiro encontro com as

crianças objetivando perceber nos desenho delas, o que sabiam sobre as formigas.

Inicialmente, elas acharam engraçado pedir que desenhassem esse inseto pois não

faziam parte da rotina da turma, o desenho livre e o desenho de um animal que, para

elas, era tão peculiar. Em meio a risadas, ouviam-se comentários como: “Desenhar uma

formiga? É muito fácil!” Questionaram se não havia algum tipo de instrução para

realizá-lo. “Mas tem que ser na folha em pé ou deitada?” “Precisa desenhar mais

alguma coisa6?” A mesma solicitação foi repetida sempre. O objetivo era deixar as

crianças livres e à vontade para representarem a formiga. Foram distribuídas às crianças

folhas em branco e em seus lugares, com seu material, individualmente, elas

desenharam uma formiga. Algumas crianças comentavam sobre o desenho, mas a

maioria, em silêncio, buscava realizar a atividade. Após o término dos desenhos, elas

seguiam para a biblioteca para serem entrevistadas. Na biblioteca, a maior parte das

crianças mantinha o seu desenho bem próximo ao seu corpo demonstrando cuidado

com o material produzido. A pergunta proposta para as entrevistas era: “Me conta

sobre o seu desenho?” Participaram dessa aula 26 crianças.

2ª aula analisada - 05/10/2017

A terceira aula iniciou-se com a apresentação das imagens reais sobre a vida das

formigas. Para tal, apoiou-se no blog de Alex Wild; um biólogo residente no Texas

(USA), que tem como hobby fotografar insetos. Ele iniciou seu trabalho em 2002, para

6 Os dados obtidos por informação verbal, em toda dissertação contrariando as normas da ABNT, serão apresentadas na íntegra, em itálico e entre aspas para não sobrecarregar o texto.

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complementar, esteticamente, seu estudo científico sobre a taxonomia e evolução das

formigas. Wild é Pd.D em entomologia pela Universidade da Califórnia e ainda é

curador de entomologia da Universidade do Texas (Austin). Suas obras estão expostas

em vários museus de história natural, revistas, entre outras mídias. As imagens

apresentadas foram escolhidas no seu blog (https://www.alexanderwild.com/About-

Alex-Wild) As diversas imagens apresentam riqueza de detalhes das formigas.

Posto isto, as imagens foram organizadas em um arquivo de powerpoint para que

a visualização ocorresse de forma que as crianças pudessem enxergar os detalhes do

inseto. E, assim, as crianças fizeram vários comentários durante a exibição.

Acostumadas a ver formigas representadas de forma lúdica, em filmes direcionados a

crianças e na literatura infantil, suas reações demonstravam o quanto estavam

maravilhadas com aquelas imagens reais. Concomitantemente informações sobre cada

imagem foram sendo apresentadas: a primeira sobre as fases do desenvolvimento das

formigas. Após, chamou-se a atenção para a anatomia do inseto, cuja parte do corpo era

claramente observadas, passando para a alimentação das formigas. Elas empolgaram-se

ao perceber que elas bebem água.

Em síntese, essa aula deu a oportunidade de apresentar os termos corretos da

taxonomia das formigas. As crianças repetiram algumas palavras, tais como abdômen

ou invés de barriga e as mandíbulas deixaram de ser ferrões, por exemplo.

E assim, ao final da aula, as crianças foram convidadas a realizar um desenho

com base nas novas informações obtidas durante esse encontro. Já habituadas de como

seriam realizados os desenhos, elas se organizaram em suas carteiras e, com muito

cuidado, começaram a desenhar. Como no desenho anterior, as crianças também

demonstraram carinho pela obra, ficaram mais à vontade apesar da presença das

pesquisadoras e falaram com mais tranquilidade do que a primeira vez.

3ª aula analisada - 24/11/2017

Conforme indicado na sequência didática, no dia 23/11 exibiu-se para as

crianças o filme Minúsculos. Assim, em nossa última aula recordaram-se um pouco das

cenas desse filme. Por ser um filme mais longo, não foi possível realizar o desenho logo

após a exibição, ficando o desenho para os primeiros horários da aula seguinte. As

crianças comentaram sobre os hábitos das formigas, partes do corpo e alimentação.. Por

exemplo: “nossa, lá atrás eu achava mesmo que as formigas tinham rabo!” e “As

formigas do outro filme eram diferentes! Pareciam soldados...” Após a discussão, foi

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realizado um desenho individual. As entrevistas foram realizadas na biblioteca, em meio

a comentários que sentiriam saudades dos nossos encontros e elogios a nossa prática.

Participaram dessa aula 19 crianças.

A sequência didática proposta, como já descrita anteriormente, foi composta por

10 encontros: destes 5 aulas para as crianças desenharam e falaram sobre o seu desenho.

No decorrer da pesquisa,foram recolhidos 93 desenhos, conforme indicado no capítulo

3. Analisaremos aqui 30 desenhos de 10 crianças.

Inspirando-se no Livro “Guia para os gêneros de formigas no Brasil” e nas

discussões de Piaget sobre o desenho infantil, construí-se um quadro de categorias para

a análise dos desenhos.

Quadro 2:

Quadro de categorias:

Categorias Características

1. Ciclo de vida Transformações dos indivíduos ao longo da vida

2. Vida social Formigas em grupo, em fila, no formigueiro, divisão

do trabalho e comunicação entre elas

3. Habitat Formigas na grama, no chão, na árvore, na parede, no

formigueiro, etc

4. Antropomorfismo Aspectos físicos e comportamentos humanos.

5. Interação Relação das formigas com outros organismos

6. Morfologia Corpo dividido em 3 partes, 6 pernas e antenas

7. Polimorfismo Diversidade de cor, forma e tamanho

8. Alimentação Frutas, açúcar, outros insetos, etc

9. Espaço Utilização de linhas como base para o desenho e

organização do desenho no espaço da folha

10. Desvios de Esquemas Exageros e omissões de partes do corpo da formiga

11. Rebatimento Representação dos lados da figura a ser representada –

visibilidade de todo o corpo da formiga

12. Transparência,

tridimensionalidade e

proporção

Representações das partes externas e internas da

formiga ou de outros objetos desenhados. Efeito visual

em largura, altura e profundidade, tamanho das

formigas relacionado à outros objetos, quando esses

estiverem presentes no desenho.

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Para dar maior confiabilidade ao processo de interpretação das imagens, seão

analisados em conjunto, os desenhos, de acordo com Bogdan e Biklen (1994), a

análise conjunta dos dados reduz as distorções de interpretações provenientes de um

único investigador. Assim, além da pesquisadora e orientadora outros alunos do curso

do mestrado foram convidados à leitura das análises.

Assim sendo, serão apresentadas a seguir as criança, bem como suas

representações de formigas e as interpretações orais de seus desenhos. Assim, foram

traçadas algumas questões sobre o caminho para o estudo das representações de

formigas pelas crianças.

5.2 As formigas nos desenhos das crianças

Este item compõe-se de duas partes: apresentação das crianças; desenhos das

crianças realizadas em sala de aula e, a fala de cada uma sobre sua obra.

a) Aluna Ayla – 9 anos

Ayla é uma criança negra e nos primeiros encontros falava sempre em um tom

de voz baixo. Contudo, liderava nas brincadeiras no recreio e as conversas na sala de

aula. Em nossos encontros sempre demonstrou interesse na realização das atividades.

Seus pais trabalham em horários diferentes, sendo o pai taxista noturno e a mãe

secretária de um consultório médico durante o dia. Segunda Ayla, seu pai adora a

presenteá-la com revistas em quadrinhos, inclusive uma delas tinha como personagem

principal uma formiga, que brigava com a cigarra. Observe o primeiro desenho de Ayla

a respeito das formigas.

Figura 26: 1º Desenho de Ayla – 14/09/2017 – O primeiro desenho das

formigas solicitado às crianças

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FONTE: Desenho de Ayla – 14/09/2017

Eis a explicação de Ayla acerca do seu desenho:

“O corpo da minha formiga tem duas partes, essa é a formiga rainha, têm árvores, sol,

pássaros, montanhas, flores...

Ela é a formiga rainha.

As outras formigas que estão procurando ela. A rainha!”

Ayla utiliza toda a folha do papel para desenhar Predominam o verde e o azul no

seu desenho, para representar elementos naturais, revelando que, possivelmente, ela

acredita que as formigas vivam em ambientes naturais. As cores têm importância para a

composição do desenho, pois o céu é azul, o tronco das árvores é marrom e suas copas,

verdes, etc. Isso demonstra que as cores seguem o padrão do objeto representado.

Observa-se que seu traço firme e a borracha foi pouco utilizada. As formigas

desenhadas não mostram todos os traços morfológicos desse grupo, mas podemos

reconhecer que Ayla desenhou insetos. Todas as formigas foram representadas na cor

preta. As que estão caminhando para o formigueiro são bem pequenas, fato que indica

o entendimento de que alguns desses insetos são muito pequenos. Ayla destaca a

formiga rainha, que foi desenhada longe do grupo e em tamanho maior, com traços

antropomórficos ressaltados, como o sorriso da formiga, bípede e a sua coroa. Para

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representar à vida social e o habitat das formigas, elas aparecem no desenho em fila.

Como ela explica, as formigas estavam procurando a formiga-rainha em meio à

natureza. Suas formigas interagem com os elementos naturais representados, como

flores e árvores.

Em adição, as formigas desenhadas por Ayla são arredondadas e apresentam o

corpo segmentado em duas partes. Tem um par de antenas e duas pernas. As formigas-

operárias apresentam são menores que a rainha As outras formigas são desenhadas

como animais minúsculos, sem antenas e com duas pernas. Nota-se que apenas a rainha

aparece com olhos e boca. Nessa representação, não há menção à alimentação nem ao

ciclo de vida das formigas. Já para a utilização do espaço a ser desenhado, Ayla utiliza a

folha como base, realizando o desenho em todo o papel. Algumas partes do corpo das

formigas são omitidas. As flores representadas são do tamanho do formigueiro, o que

pode ser apontado como falta de proporcionalidade dos elementos no desenho. Não há

rebatimento nem transparência nos elementos desenhados.

O segundo desenho de Ayla foi realizado após a apresentação das imagens reais

de formigas.

Figura 27: 2º Desenho de Ayla – 05/10/2017 – Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

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FONTE: Desenho de Ayla – 9 anos – 05/10/2017

E, assim, a aluna explicou seu desenho:

“Eu desenhei várias formigas indo atrás de um bolo, porque elas gostam de doce!

Eu desenhei também os ovinhos dela e o formigueiro!

Aqui são as formigas que voam, mas com o passar do tempo elas perdem suas asas.

Eu esqueci quando elas perdem as asas... mas elas perdem...

Elas tem pernas e antenas. E um negócio que é a boca. E o corpo é 3. É 3 bolinhas...”

Após a apresentação das imagens, pode-se observar que Ayla representa as

formigas com detalhes mais realistas ao contrário do primeiro desenho. Ela não utiliza

borracha em seu desenho. Também nessa produção as cores têm importância para a

composição de seu desenho. Sua produção apresenta várias cores e suas formigas são

representadas com alguns detalhes mencionados na aula. Elas já são reconhecidas como

formigas e não como insetos. As cores apresentam padrões do objeto que representa.

Ayla já menciona o ciclo de vida das formigas, desenhando ovos no interior do

formigueiro. Em sua fala ela mencionou as rainhas, que perdem suas asas após

reproduzirem. Ela retrata dentro do formigueiro larvas, escrevendo em seu desenho.

Para representar a vida social das formigas ela as desenha em filas e cuidando dos seus

ovos e sempre em grupos. Já o formigueiro é representado como o habitat das formigas

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e em meio ao ar livre. As formigas não são representadas com características

antropomórficas. Ayla não desenha formigas interagindo outros seres vivos.

Quanto à morfologia da formiga, suas formigas são desenhadas com mandíbulas.

As antenas e asas também estão presentes. O corpo das formigas é representado em três

partes e apresenta seis pernas. A segmentação do corpo das formigas é salientada por

Ayla, embora não indique as diferentes proporções dessa segmentação, tais como o

tamanho do abdômen.Todas as formigas são do mesmo tamanho e cor, inferindo-se que

são todas da mesma colônia. Para Ayla o alimento preferido dessas formigas é bolo.

Concluindo, Ayla aproveita bem o espaço para desenhar. Seu trabalho preenche

toda folha e a linha da folha servindo de base. Não há desvios de esquemas ou

rebatimento. O desenho é bidimensional. É possível notar sinais de transparência,

quando representa o formigueiro e podemos observar o que acontece em seu interior.

Por fim, nota-se uma preocupação com a proporção a dos objetos representados.

Figura 28: 3º Desenho de Ayla - 24/11/2017 – Desenho realizado após

assistir “Minúsculos”

O terceiro desenho de Ayla foi realizado após as crianças assistirem

ao filme Minúsculos.

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FONTE: Desenho de Ayla – 9n aos – 24/11/2017

Explica Ayla:

“Eu fiz meu desenho com as formigas vermelhas espiando as formigas pretas pegando

o açúcar.

O corpo da minha formiga tem 3 partes!

Cabeça, tórax e abdômen

Tem 6 pernas também

Elas estão carregando açúcar e algumas folhas.

E estão carregando pelas mandíbulas

Aqui elas não caem porque... é... porque... tem uns negócios nas patas que eu esqueci!”

Nota-se no desenho que Ayla destaca o título do filme, demonstrando que os

desenhos animados podem ser fonte de inspiração para a aprendizagem das crianças

sobre as formigas. Aliás, sua representação é influenciada pela cena do filme (ANEXO

C). As formigas são divididas em dois grupos diferentes, pretas e vermelhas,

interagindo na cena. Também nesse desenho, a cor tem muita importância para a sua

produção. O fato de realizar seu desenho com formigas de diferentes cores leva a pensar

que a aluna começa a estabelecer diferenças entre as formigas. Ela não utiliza borracha,

ocupando toda a folha para sua representação.

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Apesar de algumas omissões, o inseto desenhado por Ayla é perfeitamente

reconhecido como formigas. Não há menção ao ciclo de vida das formigas. Elas são

desenhadas em grupos, enfileiradas, dividindo o trabalho, dando-se a aparência de

insetos sociais. Desenhadas em meio à natureza mostra ser o ambiente natural o local

em que as formigas vivem, mas não há formigueiro na representação. As formigas

representadas por Ayla não apresentam traços antropomórficos, apesar de a animação

apresentar insetos com alguns traços da vida humana.

Desenhou o corpo das formigas dividido em três partes. Em algumas, o abdômen

aparece mais volumoso. Ela indica em sua fala os nomes dos segmentos. As formigas

foram representadas com três pernas, antenas e mandíbulas para carregarem os

alimentos, apesar de algumas folhas serem carregadas pelas costas. Conforme o

desenho, todas as pernas desenhadas por Ayla saem do abdômen. Aliás, as mandíbulas

retratadas em seu desenho são muito destacadas na animação. Chama a nossa atenção

também a representação das formigas verticalmente, na parede do penhasco. O açúcar

também se destaca como alimento preferido das formigas, influencia do filme, mas as

formigas aparecem carregando folhas, o que pode sugerir que esses insetos têm

alimentação variada.

O desenho de Ayla é bidimensional. A folha é a base do desenho e é bem

aproveitada, sendo toda ocupada por sua representação. Não apresenta desvios de

esquemas. A toalha do piquenique apresenta sinais de rebatimento, dando-se a

impressão de ter uma toalha de espessura mais grossa. Não há transparência no desenho

e a proporção das figuras está adequada a que se propôs representar. Na fala de Ayla

pode-se observar a apropriação de muitos conceitos acerca da vida das formigas.

b) Aluno Gabriel – 9 anos

Gabriel é um menino que gosta de falar de jogos de computadores e celular.

Filho de mãe cozinheira e pai pedreiro, mora nos arredores da escola. Ele foi uma das

crianças que, em um primeiro momento, questionou o fato de desenhar formigas na sala

de aula. Em voz alta, afirmava que desenhar era coisa de menina e que ele queria ir

caçar as formigas no pátio.

Figura 29: 1º Desenho de Gabriel – 14/09/2017 - O primeiro desenho

das formigas solicitado às crianças

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FONTE: Gabriel – 9 anos – 14/09/2017

Abaixo, ele explica seu desenho:

“Professora, aqui tem o formigueiro... ai tem as... a estradinha... que eles passam para

ir pegar flor.

Aqui é uma flor.Eles tá trazendo.

Ai tem a antena deles, ai tem outra estradinha para eles voltar e pegar, que eles... Ai tem o sol aqui... mas eu nem desenhei o sol... quando eu chegar lá eu desenho. Ai eles

ficam em cima e as mulher ficam embaixo.

Ai aqui elas levam aqui no... o que não precisam mais... e esses daqui eles traz o que

precisam...

Aqui é a antena deles.”

Em seu primeiro desenho, Gabriel chegou ansioso para nos contar o que

desenhara. A manifestação dele, antes do desenho das formigas, demonstrou a sua

curiosidade pelos insetos – não gostava de desenhar, mas gostava de caçar. No entanto,

quando convidado a desenhar, fez seu trabalho demonstrando vários conhecimentos

acerca das formigas. Aliás, ainda que elementos da morfologia não sejam representados

adequadamente, podem-se reconhecer as formigas em seu desenho. Não utiliza cores

em seu desenho que é feito com lápis preto, e não utilizou borracha. Nesse caso, as

cores parecem não ter importância para a composição do desenho. Em sua folha

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realizou o desenho de várias formigas e um formigueiro no canto. As formigas são

representadas como insetos pequenos, o que parece indicar que Gabriel entende as

relações de maior e menor. Veem-se algumas árvores dando a impressão de estar

distante da cena em foco. Também representa, no topo da folha, nuvens, demonstrando

que as formigas estão ao ar livre. As suas formigas estão em grupo e em fila. Esse aluno

reconhece as formigas como insetos sociais. Não há menção quanto ao ciclo de vida

delas, mas em sua fala menciona formigas machos e fêmeas. Para ele há uma

organização que divide as formigas entre as formigas machos e fêmeas. A vida social

das formigas é representada pelo desenho e pela fala de Gabriel, que afirma que elas

trabalham organizadas, em grupo. As formigas apresentam poucos traços

antropomórficos, notados apenas nos olhos arredondados e algumas estão sorrindo.

Não há interação com outros organismos.

Quanto a descrição física das formigas, Gabriel desenhou antenas, e nelas, como

observa, há pequenos círculos nas pontas, diferentes das formigas reais. Seu corpo é

segmentado em duas partes e apresenta quatro pernas. Elas são desenhadas na posição

horizontal, andando sobre as quatro pernas que foram distribuídas nos dois segmentos.

A sua formiga carrega flores nas costas, sem presença de mandíbulas. As flores também

podem indicar que ele acredita que as formigas se alimentem delas. Pelo desenho e

comentários dele, pode-se inferir que já observara formigas carregando alimentos para

o formigueiro.Destaca, ainda, que elas caminham levando e descartando coisas.

Observa-se, ainda que Gabriel não utiliza a linha da folha como base, realizando

um traço para iniciar seu desenho. Não há desvios de esquemas. Também não há

rebatimento, podendo ver o desenho apenas em um plano. Há transparência em sua

representação, dando-se a oportunidade de perceber o trabalho da formiga no interior

da terra. Seu desenho também apresenta proporção.

A figura seguinte apresenta o desenho de Gabriel realizado na aula sobre

imagens de formigas reais:

Figura 30: 2º Desenho de Gabriel – 05/10/2017 - Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

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FONTE: Gabriel – 9 anos – 05/10/2017

Explicando seu desenho, Gabriel diz:

“Eu desenhei elas indo pegar...cortar as flor, eessa daqui uma tava vindo para cá...

Aqui é... é... aquele trem de terra lá... (longa pausa)

Aqui elas levam as folhas para a casa delas... Esqueci o nome...

Elas são pequenas mesmo, bem pequenas

Tem pernas e antenas”

Gabriel utilizou pouco espaço da folha para realizar sua representação e também

não faz uso de cores. Utilizou borracha e suas formigas ocupam apenas a parte inferior

da folha. Elas são minúsculas, coerente com algumas espécies que observou durante a

aula sobre as formigas reais. Ele não menciona nem em sua fala nem em seu desenho,

o ciclo de vida das formigas. Elas são desenhadas trabalhando em grupos, em fila, o

que pode ser indícios de que ele percebe as formigas como insetos sociais. As formigas

também são mencionadas indo para casa - o formigueiro. Não apresentam traços

antropomórficos.

Quanto a morfologia das formigas foi mais evidente na fala de Gabriel. Afirma

que são seres bem pequenos, com duas pernas e antenas. Não há diversidades de cor ou

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tamanho, sendo todas bem parecidas. As flores mencionadas, mais uma vez,

acreditando ele que seja um dos alimentos das formigas. Elas são representadas andando

em diferentes direções e de dentro de um formigueiro.

Em síntese, Gabriel utiliza pouco do espaço a ser desenhado. Usa a linha da

folha como base, mas não aproveita todo o espaço. Há alguns desvios de esquema,

como omissão das partes da formiga e a finalização para o formigueiro. Não há

rebatimento, podendo ser observado o desenho como um plano. O desenho apresenta

transparência, o que possibilita observar o interior do formigueiro e as formigas nas

folhas. Finalmente, os elementos desenhados apresentam proporção entre si.

Segue o terceiro desenho de Gabirel. Realizado após ter assistido o filme

Minúsculos.

Figura 31: 3º Desenho de Gabriel – 24/11/2017 - Desenho realizado

após assistir “Minúsculos”

FONTE: Gabriel – 9 anos – 24/11/2017

Neste trecho, Gabriel explica seu desenho:

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“Eu desenhei aqui o castelo deles, ai eu queria desenhar os buracos, as panelas, mas

esqueci, agora que eu to lembrando...

Aqui é aquele açúcar que ele deu

Aqui as larvas que saiu...aquele trem que saiu da barriga deles. Ai tinha mais formigas,

mas elas estavam atrás...

O corpo eu desenhei em 3 partes, cabeça, tórax e abdômen.

Eu desenhei só com 2 pernas, mas as formigas tem 6 pernas

Aqui as formigas que estavam contra as pretas

E fiz a montanha também, que elas vivem.”

Como se, a produção de Gabriel apresenta mais detalhes de um inseto que pode

ser reconhecido como formiga. As cores passam a ter importância para a composição de

seu desenho. Nele, Gabriel introduziu algumas cores, como verde clarinho nos ovos e

fez uma formiga vermelha, inspirado no desenho animado a que assistiu. Utilizou todo o

espaço da folha e sua representação sugere uma história. Fez pouco uso da borracha..

Gabriel menciona em sua fala e em seu desenho rainhas, panelas, larvas e ovos. É

preciso lembrar que o desenvolvimento das formigas se dá em quatro estágios: ovo,

larva, pupa e adulta. As panelas, uma espécie de ninhos complexos e subterrâneos,

foram citados pelo aluno ao afirmar ter esquecido-se de desenhá-los. Os ovos e as

formigas adultas aparecem no desenho o que demonstra conhecimento do ciclo de vida

das formigas. Realizou a representação do castelo enorme, afirmando ser a moradia das

formigas, inspirado pelo filme Minúsculo (ANEXO D). Há poucas características

antropomórficas, contudo percebe-se no desenho uma espécie de pescoço, olhos e corpo

arredondados. As formigas não interagem com outros organismos, apenas entre elas.

Quanto à morfologia das formigas, a de Gabriel tem o corpo segmentado em 2

partes, mas em sua fala afirma ser 3. A formiga no castelo possivelmente é a

representação da formiga-rainha, que no desenho apresenta um exagerado abdômen. Ele

menciona termos utilizados para algumas partes do corpo das formigas. As formigas

vermelhas e sua distinguem-se da formiga-rainha. O maior destaque nesse desenho é a

formiga- rainha no castelo e seus ovos. Acerca do número de pernas, ele representa 2,

mas afirma que as formigas possuem 6. Não há presença de antenas. Em uma formiga,

há mandíbula. Nesta representação ele desenha formigas vermelhas e pretas, podendo se

pensar em sinais de polimorfismo. Ele ressalta que a alimentação das formigas é o

açúcar. Sua representação das formigas se aproxima das cenas da animação a que

assistiu.

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Desta vez, Gabriel utilizou quase todo o espaço da folha. Utiliza a linha da folha

como base. Há desvios de esquemas, como omissão de antenas, presença de mandíbulas

nas formigas e exagero do castelo. Não apresenta também rebatimento. A transparência

pode ser notada no interior do castelo, onde se encontraram a formiga-rainha, ovos e

larvas. Os elementos do seu desenho são proporcionais.

c) Aluna Celita - 9 anos

Celita adora balet e leva para a escola tudo relativo a esse assunto. Em meio a

seus penteados cheios de presilhas de cabelo cor-de-rosa, estava sempre atenta aos

encontros. De origem asiática, seus pais se separaram quando ela ainda era um bebê,

mas, pelo o que contou, tem uma relação bem presente com os dois. Sua mãe, técnica

em contabilidade, trabalha fora deixando-a com os avós durante a semana. Nos finais

de semana ela fica com o seu pai no restaurante, do qual ele é o proprietário. Durante os

encontros, ela se mostrou interessada pelo o assunto como revelam os resultados dos

seus desenhos e da sua fala.

Segue adiante o primeiro desenho de Celita das formigas:

Figura 32: 1º Desenho de Celita – 14/09/2017- O primeiro desenho das

formigas solicitado às crianças

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FONTE: Celita – 9 anos – 14/09/2017

E, assim, ela esclareceu os elementos do seu desenho:

“No meu desenho tem boca, tem folhas para elas comerem, tem uma casinha, tem

flores, tem... matinhos, anteninhas, tem 3 corpinhos...

O corpo da formiga tem, é... 3 pedacinhos.

E elas comem folha.

Aqui é a... a antena!”

Ressalta Celita que em sua casa, sempre gostou de observar as formigas. Para

ela, esses insetos são fofinhos. Não associa as formigas a praga. Aliás, utiliza várias

palavras no diminutivo para se referir a esses insetos. Também utiliza toda a folha para

desenhar. As cores têm importância para a composição de sua obra, pois seu desenho é

colorido e suas formigas têm dimensões pequenas como as formigas que observa, não

representando características antropomórficas. Não utiliza a borracha. Com cores que

ressaltam as características da natureza, como o verde e o azul, desenhou formigas ao ar

livre, em meio à grama e flores, sob um dia ensolarado. Suas formigas são pretas,

podendo ser um indício das formigas que ela tem maior contato. As formigas estão em

grupos, enfileiradas, dando a ideia de estarem trabalhando, demonstrando aspectos da

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vida social delas. Como ela explicou, desenhou a casinha das formigas em formato oval.

Na verdade, ela refere-se ao formigueiro, podendo ser o habitat das formigas. Não faz

menção do ciclo de vida das formigas.

O corpo é dividido em 3 partes e não há presença de pernas. As formigas são

pequenas e possuem olhos e 2 antenas. Algumas aparecem andando pela parede do

formigueiro, logo são desenhadas caminhando verticalmente. Afirma também que as

formigas se alimentam de folhas.

Resumindo, o desenho de Celita é bidimensional e ela utiliza como base a

margem da folha. Seu desenho não apresenta rebatimento, tem-se a impressão de ver

apenas um lado do que foi representado. Também não há transparência. Apresenta

desvios de esquemas como omissão das pernas de algumas formigas.

A seguir, apresenta-se o segundo desenho dessa aluna, quando apresentamos

imagens reais de formigas, em sala de aula:

Figura 33: 2º Desenho de Celita – 05/10/2017 – Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

FONTE: Celita – 9 anos – 05/10/2017

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Segue abaixo a explicação de Celita do seu desenho:

“Eu desenhei umas formigas, duas formigas voando, uma flor, umas formigas

vermelhas pegando flores e a casinha delas. É ...Formigueiro

Aqui á as que ... que... voam... esqueci como que chama elas....

Elas tem o corpo pequenininho mesmo, com 3 pedaços

Ahhh, na minha casa vi uma formiga na rosa da minha vó!”

Retomando-se o desenho de Celita, vê-se que ela usou lápis de cor e quase

nenhum uso da borracha. Fez diferentes espécies de formigas, pretas e vermelhas, em

meio à natureza e de diferentes cores, sugerindo-se características do polimorfismo.

Trouxe da sua vivência a representação de uma rosa, na qual observou formigas reais.

Isso pode indicar que ela sabe que as formigas vivem em diferentes lugares, além de

formigueiros. Inspirada nas imagens apresentadas na aula, desenhou formigas pretas

voando, do tamanho maior que as vermelhas que caminham pelo chão. Pode-se, então,

supor que ela tenha conhecimento de que as formigas que voam para o voo nupcial, em

geral, são maiores que as outras formigas. Não menciona as formigas- rainhas e nem os

machos. Suas formigas são pequenas, para se aproximarem das reais, não apresentando

traços antropomórficos. Nesse desenho, as formigas estão juntas, sugerindo ser insetos

sociais que vivem em grupos. No centro da folha aparece um formigueiro.

Salienta-se em sua fala, a divisão do corpo das formigas e, em seu desenho, o

corpo está dividido em 3 partes, com 2 pernas e antenas. Em sua cabeça, aparece uma

espécie de mandíbula, contudo não foi mencionada na entrevista.. Celita não relata nada

quanto à alimentação das formigas, fala apenas que elas levam flores para o

formigueiro.

A aluna utiliza uma base para o seu desenho. O desenho é proporcional. . Há

poucos desvios de esquemas. A rosa está do tamanho do formigueiro, Não há

transparência e nem rebatimento, observando apenas um lado do seu desenho.

A seguir será apresentado o terceiro desenho de Celita, produzido após as

crianças terem assistidos o filme Minúsculos:

Figura 34: 3º Desenho de Celita - 24/11/2017 - Desenho realizado após

assistir “Minúsculos”

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FONTE: Celita – 9 anos – 24/11/2017

Nesta fala, Celita chama a atenção dos elementos que compõe seu desenho:

“Eu desenhei uma rainha que estava botando seus ovos e uma joaninha e uma formiga

levando o bloco de açúcar para a rainha comer.Pela mandíbula, não pelas costas.

O corpo dela tem três partes, e ela tem uma asa, e ela tem a cabeça o tórax e abdômen,

mas essa aqui é a rainha.

E... e aqui são os ovos

Ai eu desenhei essa joaninha voando

Aqui é... é... no lugar onde ela fica lá... no formigueiro...

No corpo dela também tem a antena, a asa. Elas andam com as patas, mas esqueci de

desenhar. Ah, aqui também tem as pupas, que já cresceram dos ovos.”

Cheio de cores e elementos, Celita apresenta o seu desenho. Ela utiliza várias

cores e desenha em grande parte da folha. Nota-se que o ciclo de vida da formiga é

representado em seu desenho pelos ovos e pupas, confirmados por sua fala. As formigas

são desenhadas em grupos, em meio aos seus afazeres, sugerindo que a aluna sabe que

as formigas são insetos sociais. Seu desenho retrata o interior do formigueiro, afirmando

ser ali o seu habitat. Algumas formigas são representadas sorrindo, também as pupas,

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evidenciando algumas características antropomórficas que podem estar associadas a

elementos da animação. As formigas interagem com a joaninha, possivelmente

inspirada pelo filme a que assistira (ANEXO E). Todas as suas formigas são pretas e

nãose podes afirmar que a aluna compreende as características do polimorfismo. Uma

formiga é desenhada andando sem patas na direção vertical.

Pelo que se observou, o desenho dessa aluna apresenta formigas-operárias,

formiga-rainha, pupas e ovos. As formigas-operárias e a rainha possuem corpo

segmentado em 3 partes e com antenas. Não são representadas pernas. No relato sobre o

desenho, ela fala das mandíbulas. A formiga-rainha apresenta asas, característica da

espécie. A rainha, assim como na animação, aparece em destaque com asas e abdômen

volumosos. Os ovos são verdes, como no filme e as pupas, parecem ter sido inspiradas

em pulgões, alimentos de algumas espécies de formigas, que também aparecem no filme

(ANEXO F).

Enfim,ela utiliza a maior parte do espaço para sua representação e Celita utiliza,

como base, a linha da folha. Ela organizou bem a cena a ser desenhada, com proporção.

Não há rebatimento. A coluna desenhada ao meio da folha lembra uma cena do filme

Minúsculos,(ANEXO G), sugerindo que as formigas estão no interior do formigueiro.

Alguns termos científicos são mencionados pela criança.

d) Aluno Valério – 9 anos

Valério é uma criança introvertida. De pele clara, é fã de futebol e sabe falar de

todos os jogadores do time do qual é torcedor. Seu pai é caminhoneiro e faz viagens

longas e ele fica com a mãe, que é auxiliar de limpeza na Universidade Federal de Ouro

Preto (UFOP). Ele demonstra gostar muito de desenhar. Já para falar, é tímido, muitas

vezes se mantinha distante do nosso gravador de áudio. Isso, porém, não foi empecilho

para colhermos os dados que ele apresentou de sua fala.

Segue abaixo o primeiro desenho de Valério referindo as formigas:

Figura 35: 1º Desenho de Valério – 14/09/2107 – O primeiro desenho

das formigas solicitado às crianças

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FONTE: Valério – 9 anos – 14/09/2017

A respeito de seu desenho, Valério assim se expressou:

“É... tem 5 patas e 2 anteninhas e 1 boca e isso daqui é uma folha, isso é uma árvore,

isto daqui é... formigueiro e aqui é onde elas entram

Essas formigas aqui entram aqui (apontando para o formigueiro)

Aqui em cima são as folhas”

Com seu desenho bem colorido, Valério veio até as pesquisadoras contar o que

havia representado. E, assim, com traços firmes e sem uso de borracha, deparam-se

com uma representação rica em detalhes. Suas formigas são representadas em fila, indo

para o formigueiro. Tal representação sugere que ele as considera insetos sociais que

vivem em grupos. Elas não são coloridas, mas desenhadas com lápis preto. Acredita-se,

então, que o aluno não possua informações quanto ao polimorfismo. As formigas não

interagem com outros organismos. O formigueiro é bem destacado em seu desenho,

bem centralizado na folha de papel , o que sugere que Valério sabe que as formigas

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vivem no formigueiro, em meio à natureza. Elas não apresentam traços

antropomórficos.

O desenho das formigas é tão tímido que não é possível observar como ele

compreende a morfologia das formigas em sua totalidade. O corpo da sua formiga não é

segmentado e se assemelha visualmente com as baratas. Mas ele explicou ter

representado antenas e 5 pernas, e que as formigas estavam carregando folhas. Ele

acredita ser a base da alimentação delas.

Concluindo, Valério utiliza a margem da folha como base para seu desenho.

Explora bem o espaço a ser desenhado. O formigueiro é representado quase do tamanho

da árvore, o que pode ser visto como exageros, um desvio de esquema. Não há

rebatimentos e nem transparência em sua obra.

O desenho a frente refere as imagens de formigas reais discutidas em sala de

aula:

Figura 36: 2º Desenho de Valério – 05/10/2017 - Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

FONTE: Valério – 9 anos – 05/10/2017

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Oralmente, Valério explica:

“Desenhei uma formiga. Ela tem antena, o tórax, a mandíbula e as pernas aqui oh.

Ela tem 6 pernas.

O corpo dela não é dividido. Ahh não, é sim! Em 3!

Ela tá carregando uma flor, ahh não flor não é água! Ela ta tomando água!”

Hipnotizado pelas imagens das formigas apresentada em sala de aula, Valério

apresenta seu desenho onde aponta, com a escrita, as parte da formiga que conhecera.

Sua fala é objetiva. A princípio realiza seu desenho a lápis de escrever, cobrindo-o com

caneta esferográfica vermelha. Ao contrário do desenho anterior, seu foco não é mais o

formigueiro, mas uma formiga que é desenhada com muitos detalhes. Aparentemente

percebe-se que ele buscou retratar as formigas mais próximas possíveis das reais,

tentando diminuir os traços antropomórficos. A formiga é desenhada está sozinha, não

interagindo com nenhum outro tipo de organismo e em meio às montanhas. Não

menciona nada quanto ao ciclo de vida delas.

A formiga desenhada sobre uma montanha parece indicar que ele amplia a sua

noção de habitat das formigas, ou seja, elas podem ser encontradas em diferentes

lugares. Não representa as formigas em grupo. Tanto na fala, quanto no desenho nomeia

corretamente o corpo do inseto. Primeiramente nega que o corpo é segmentado, mas

logo volta atrás afirmando ser dividido em 3. Representa 2 antenas, 6 pernas e

mandíbulas. Observando o seu desenho, tem-se a impressão que a sua formiga estaria

carregando uma espécie de alimento, mas Valério explica que ela estava bebendo água.

A imagem das formigas bebendo água apresentadas na aula (ANEXO H) foi a que

causou grande comoção nas crianças, de maneira geral, quando descobriram que as

formigas bebem água, inspirando alguns desenhos.

Em resumo, Valério utiliza mais a parte inferior da folha do papel. Faz um

pequeno sol e representa sua formiga ao ar livre. Há uma proporção entre os elementos

desenhados. Acredita-se que ele busca representar tudo o que sabe das formigas e não

há desvios de esquemas. Não há em seu desenho presença de rebatimento ou mesmo

transparência. Valério se apropria de várias informações científicas para fazer e explicar

seu desenho.

Este desenho de Valério, apresentado a seguir, foi realizado em sala de aula,

após a classe ter assistido o filme Minúsculos.

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Figura 37: 3º Desenho de Valério – 24/11/2017 - Desenho

realizado após assistir “Minúsculos”

FONTE: Valério – 9 anos – 24/11/2017

Assim, Valério esclareceu seu desenho:

“Eu desenhei um macho com asas e algumas formigas subindo com alimentos para

dentro do formigueiro

É... antena, o tórax, a mandíbula e as pernas e as asas

O corpo é dividido em três partes.

Isso aqui esqueci (apontando para o abdomen)

O meu macho tem as asas, o tórax, antenas e mandíbulas

O macho tem asas.”

Ao assistir o filme Minúsculos, apresentado na aula, Valério traz outras

inspirações para a sua representação. Apresenta o título do filme em destaque em seu

desenho e maiores detalhes. Utiliza apenas a parte inferior da folha e não utiliza cores.

Faz o seu desenho a lápis e não usa borracha, o que demonstra que ele teve segurança

para realizar seu desenho. As formigas estão interagindo entre elas, mas não com outros

organismos.Ele desenha-as trabalhando juntas, enfileiradas, o que revela que Valério

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reconhece-as como insetos sociais e que o seu habitat é o formigueiro. Não menciona o

ciclo de vida das formigas, mas realiza seu formigueiro cheio de panelas. Sem utilizar

cores, não sugere ideias de polimorfismo. Sinais antropomórficos também são poucos,

resumindo-se apenas nos olhos.

Quanto à morfologia das formigas, Valério as representa com o corpo

segmentado em 3 partes e, em sua fala nomeia o tórax e a cabeça, esquecendo-se do

abdômen. Também há presença de antenas, mandíbulas e no macho ele apresenta um

de par de asas. Aliás, o macho voando e o formigueiro se destacam em seu desenho. O

corpo das formigas é apresentado com detalhes que lembram pelos e a asa do macho

também contém detalhes. A mandíbula do macho é diferente das outras formigas. Já as

demais levam folhas para o interior do formigueiro, sugerindo que o aluno percebeu que

as mandíbulas também são utilizadas para carregar seus alimentos.

Valério traça uma linha reta, próxima à parte inferior da folha, delimitando a

base de seu desenho, ou seja, do seu formigueiro. Ele apresenta o macho muito maior

que as demais formigas, ressaltando aqui um desvio de esquema - o exagero. A formiga

só pode ser vista por um lado, sendo ausentes características do rebatimento. Sendo

usado a transparência no desenho do formigueiro, pôde-se visualizar em seu interior.

e) Aluna Hélade – 9 anos

Hélade é uma criança negra, tem cabelos compridos e volumosos. Às vezes, sua

dificuldade em concentrar nas atividades escolares dificultava o trabalho em questão.

Seu pai é garçom no mesmo restaurante em que sua mãe é cozinheira, assim, passa

bastante tempo na casa da madrinha. A variedade de canetas e lápis coloridos que

possui sugere que gosta muito de desenhar. É uma criança muito falante, não

apresentando problemas para explicar suas representações.

A seguir, apresenta-se o primeiro desenho de Hálade, realizado na sala de aula:

Figura 38: 1º Desenho de Heláde – 14/09/2017 - O primeiro desenho

das formigas solicitado às crianças

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FONTE: Hélade, 9 anos, 14/09/2017

Neste trecho, ela explica sua obra:

“Primeiro eu fui fazendo o tronco da árvore, ai fui fazendo assim, fui fazendo o

matinho, ai fui fazendo esses matinhos capinzinhos, ai fui fazendo as formiguinhas,

cabecinha, ai depois foi a parte do meio, ai fiz o bumbumzão ai depois eu fiz... e colori.

Isso aqui é a formiga!

Elas estão no mato, grama...

Aqui é a patinha.

É... 4, 4 patinhas para cada um.

O corpo é assim oh... é em círculo! Uma bolinha! E são 3.

Aqui é a antena. É a formiga tem antena.

E elas estão indo para o formigueiro!”

Como se vê, Hélade descreve cada detalhe do desenho até chegar às formigas. Já

no primeiro olhar sobre o seu desenho, percebe-se muitas cores e elementos naturais.

Seu desenho tomou conta de toda a folha. Não faz uso de borracha e a cor mais utilizada

é o verde. As formigas são pretas, possivelmente as mais observadas por ela. Ela

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explica que elas estão na grama, no mato, mostrando ser o lugar em que elas costumam

ficar. Bem ao centro da sua representação, aparece uma estrutura similar ao

formigueiro, segundo ela, as formigas estão indo até lá. Conclui-se portanto que ela

reconhece o habitat desse inseto. As formigas interagem entre elas. Uma borboleta é

desenhada no cenário, mas não interage com as formigas. Deduz-se que a vida social

das formigas é representada porque desenha mais de uma, caminhando em fila. Não há

menção ao ciclo de vida e nem características antropomórficas.

Mais adiante, Hélade explica que desenhou o corpo da sua formiga com 3

bolinhas. Menciona a cabeça e chama o abdômen de bumbumzão. Desenha 4 pernas e

antenas. Diante dessas informações, pode-se pensar que ela sabe muito sobre a

morfologia das formigas, mencionado informações importantes, como corpo

segmentando. A alimentação das formigas não é citada pela aluna.

Por fim, toda a folha é utilizada. Com duas grandes árvores, a aluna preenche

todos os espaços destinados ao desenho e o tamanho das formigas é proporcional ao

restante da obra. Não há rebatimento, desvios de esquemas e nem transparência.

Segue abaixo o segundo desenho de Hélade realizado na aula acerca de imagens de

formigas reais:

Figura 39: 2º Desenho de Hélade – 05/10/2017 - Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

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FONTE: Hélade – 9 anos – 05/10/2017

E assim, oralmente, ela explica o desenho:

“Eu desenhei uma abelha gigante... ohhh uma abelha não, uma formiga! Uma formiga

gigante! Com as asas, a rainha. Com seis patinhas, ai o biquinho dela, que eu esqueço

o nome... que é quando ela vai cortar. Os olhinhos pretinhos delas, que a gente pensa

que elas não tem olhos mais tem, que elas tem mesmo, pretinhos. As anteninhas dela,

que elas conversam, porque elas conversam pelas anteninhas. As asinhas delas que elas

vão fazer aqui em cima o voo nupcial. É voo nupcial mesmo né?

Elas perdem as asas depois de produzir, porque ai elas param de voar.”

Durante a apresentação das formigas reais, Hélade observou-se seu interesse

pelo modo de vida delas. Falava sem quase respirar e trouxe muitas informações sobre

as formigas. Quanto a produção de seu desenho a aluna não fez uso de cor. Não indica

sinais de polimorfismo. Seu desenho foi realizado com lápis preto e utilizou várias

vezes a borracha. Hélade destaca uma formiga. São desenhadas três formigas de

diferentes dimensões que não interagem entre si e nem com outros organismos. Ao ar

livre, sob um dia de sol, as representações das formigas sugerem que Hélade acredita

que elas que vivem em meio à natureza. Realizou uma estrutura semelhante ao

formigueiro, sugerindo ser habitat. Apresentando uma formiga sem asas, não deixa de

mostrar na cena a interação social entre elas e as rainhas. Em sua fala também afirma

que as formigas se comunicam pelas antenas, demonstrando mais um traço da vida

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social. Seu desenho destaca a formiga-rainha. Afirma em sua fala que elas vão realizar

o voo nupcial, perdendo as asas após a reprodução.

Em relação às características morfológicas representadas no desenho por Hélade

são confirmadas em sua fala. Em seu desenho, todas as formigas foram desenhadas com

asas. Parece que esse foi um dado que impressionou a aluna. Hélade em sua fala faz

menção às abelhas e logo se corrige. Talvez essa menção se relacione ao fato de que os

insetos têm características comuns. Os corpos das formigas desenhadas são

segmentados em 3 partes, elas possuem antenas, asas e olhos. Percebe-se uma tentativa

de representar os olhos compostos da formiga, fazendo-os pretos e inteiros, diminuindo-

se, assim, as características antropomórficas. Faz 3 pernas, mas em sua fala afirma que

as formigas possuem 6. Também representa a mandíbula e não menciona o nome

correto, mas afirma ser o biquinho que elas utilizam para cortar. A aluna não menciona

nada quanto à alimentação das formigas.

Finalmente, Hélade utiliza todo o espaço do papel para ser desenhado. Suas

formigas são de tamanhos proporcionais, contudo há desvios de imagens, como o

exagero na representação da formiga rainha e no formigueiro, sendo este quase do

tamanho da árvore. Não há rebatimento, mas sinais de transparência. No interior do

formigueiro veem-se as formigas.

A figura a seguir mostra o terceiro desenho da aluna após assistir o filme

Minúsculos:

Figura 40: 3º Desenho de Hélade – 24/11/2017 - Desenho realizado após

assistir “Minúsculos”

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FONTE: Hélade – 9 anos - 24/11/2017

E, assim, ela nos conta seu desenho:

“Eu comecei desenhando o matinho, ai eu desmanchei uma parte. Ai eu fiz um paninho

onde estava a comida, ai eu desenhei uma cereja, um sanduiche, ai eu desenhei as

formiguinhas levando as folhas, desenhei uma árvore, escrevi o nome do filme que a

gente viu,que é Minúsculos.

A formiga tem 6 patas, mas eu fiz só 4. Eu fiz 4 porque eu achei que ficou mais

bonitinho assim. Mas eu sei!

Eu fiz primeiro a cabeçinha, depois eu fiz o abdômen, depois o tórax. Oh o tórax depois

do abdômen.

Aqui ela tá carregando uma folha. Tá carregando pela mandíbula!”

Nota-se neste encontro que Hélade trouxe em sua representação inspirações do

filme Minúsculos. Aliás, o título do filme é destacado na copa da árvore desenhada.

Utiliza cores apenas na árvore e faz uso de borracha em alguns momentos. Tem-se a

ideia da reprodução de uma cena do filme, trazendo elementos como a toalha de

piquenique. Embora tenha desenhado duas joaninhas, nenhuma delas aparece em

interação com as formigas. O ciclo de vida não é apresentado naquele momento. A vida

social das formigas é bem representada mostrando-as em grupo, trabalhando em meio à

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natureza, em busca de alimentos. Para ela, a alimentação das formigas são cerejas,

sanduíches e folhas. Não há sinais de polimorfismo no desenho e nem em sua fala.

Quanto à morfologia das formigas, a aluna representa-as arredondadas, com o

corpo segmentado em 3 partes nomeando-as corretamente. O abdômen das formigas

aparece volumoso. Faz antenas e 4 pernas. Justifica representar 4 pernas por achar mais

bonito esteticamente, mas afirma saber que as formigas possuem 6. Isso indica a

importância de conversar com as crianças sobre suas representações, pois, para Hélade,

não são as questões morfológicas que estavam em questão naquele momento do

desenho das pernas do inseto, mas questões estéticas. As pernas são desenhadas em

diferentes segmentos. Elas não possuem olhos e uma apresenta mandíbulas. As

mandíbulas são mencionadas em sua fala, indicando ser por ali que as formigas

carregam seus alimentos.

A margem inferior do papel serve-lhe de base para a representação da toalha do

piquenique. As formigas são desenhadas dando-se a impressão de tridimensionalidade,

andando pela grama. Há alguns desvios de esquemas, como a omissão de parte do corpo

da formiga e exagero. Transparências também não podem ser notadas.

f) Aluno Rondinelle - 10 anos

Rondinelle é negro e adora contar histórias do seu cotidiano com os pais. Sua

mãe é dona de casa e pela sua fala, gosta de tomar conta dos filhos e dos afazeres

domésticos, enquanto o seu pai é pintor de edificações, tendo trabalhos esporádicos.

Após os encontros, corria logo para o banheiro para se trocar para a aula de futebol, que

é uma das atividades favoritas dele. No primeiro encontro desta pesquisa, considerou

que desenhar era coisa de criancinha e que ele já estava crescido. No entanto, começou

a desenhar demonstrando satisfação na realização da tarefa.

Apresenta-se, a seguir, o primeiro desenho de Rondinelle realizado em sala de

aula:

.

Figura 41: 1º Desenho de Rondinelle – 14/09/2017 - O primeiro

desenho das formigas solicitado às crianças

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FONTE: Rondinelle – 10 anos – 14/09/2019

Nos conta do seu desenho assim:

“É um... é um... é uns insetos que ficam levando alguma coisas paras o formigueiro

para que comem.

O meu desenho é uma formiga que leva uma garrafinha de água para o formigueiro

para tomar.

É uma... é uma for.. É a perna.

Eu desenhei 6.

É o rosto.Aqui é o rosto dela.

Elas tão indo pra... o... (apontando para o formigueiro desenhado)”

Rondinelle chegou ao local da entrevista demonstrando um pouco de

nervosismo, possivelmente pela insegurança em relação ao momento. Ele gaguejava até

terminar a frase. À primeira vista, percebe-se que Rondinelle não utiliza cores nas suas

representações. Desenha suas formigas com lápis preto e utiliza várias vezes a borracha.

Desenha mais de uma formiga, o que parece indicar que percebe as formiga como

insetos sociais. A seu desenho pode representar um formigueiro haja vista que

apresentam diferentes construções e estruturas. Ele não menciona o ciclo de vida das

formigas e elas interagem somente entre elas.

Embora represente as formigas com uma estrutura corporal parecendo uma

barata, com o corpo achatado, sem segmentos e antenas, o desenho apresenta patas e

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uma mandíbula bem detalhadaRessalta que a formiga tem um rosto, apontando para sua

cabeça. Possui 6 pernas e mandíbulas. Apenas os olhos arredondados remetem-se a

características antropomórficas. Essas formigas bebem água, pois estão levando ao

formigueiro uma garrafa de água.

O seu desenho é realizado no meio da folha de papel. Embora seja um desenho

bidimensional, a sua representação de formigas vistas de cima deixa pistas de que o

desenho pode ser realizado em três dimensões – a mandíbula pode ser um exemplo

disso. São formigas em tamanhos grandes. Há omissões de detalhes como antenas e

partes do corpo. Não há também presença de rebatimento em sua representação e nem

transparência. Há proporção dos elementos representados.

O desenho a seguir teve como motivação uma aula sobre imagens reais das

formigas, apresentadas as crianças.

Figura 42: 2º Desenho de Rondinelle – 05/10/2017 - Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

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FONTE: Rondinelle – 10 anos – 05/10/2017

Eis o que fala Rondinelle do seu desenho:

“Eu desenhei... é... eu desenhei umas formigas... é eles levam folhas para o, o,

formigueiro para que possa comer tudo

Ele tá carregando a folha na boca.

O corpo é dois, duas partes

Esqueci o nome... das partes

Tem 6 pernas

E aqui é a antena

A antena é para formiga escutar!”

Como se vê, o desenho de Rondinelle ocupou grande parte da folha e não

utilizou cores. A sua formiga não interage com outros organismos, apenas entre elas e

elementos naturais desenhados. Não menciona o ciclo de vida e sua vida social é

representada pelas formigas em grupo, uma atrás da outra, carregando folhas. O habitat

das formigas é mencionado como o formigueiro. Pelos elementos representados,

percebe-se que ele vê as formigas como insetos que vivem em meio à natureza o que é

confirmado em sua fala.

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Em relação às características morfológicas das formigas, elas são representadas

por Rondinelle com o intuito de aproxima-las das formigas reais, contudo apresenta

traços antropomórficos, como por exemplo, nos olhos, arredondados e próximos aos

olhos humanos. O corpo é dividido em 3 partes, mas em sua fala afirma serem em 2.

Possivelmente o aluno desconsidera a cabeça da formiga como parte do corpo. Desenha

6 pernas e 2 antenas. Em sua cabeça há uma estrutura que lembra mandíbulas, mas não

são mencionadas em sua fala. Para esse aluno, a base da alimentação das formigas

sãoas folhas. Ele as representa carregadas pelas mandíbulas.

Por fim, o seu desenho inicia-se no meio da folha, dando a impressão da altura

da montanha. Daí, pode-se pensar, que a margem da folha serviu de base para sua

representação. Desenha as formigas de forma que elas aparentam estar enfileiradas,

utilizando mais a margem esquerda da folha. O destaque do desenho é uma grande

formiga. Não houve desvios de esquemas. Observa-se, ainda, nas mandíbulas da

formiga sinal de rebatimentos, dando-se a impressão da folha estar sendo carregada por

ela. Não há transparência. A proporção do seu desenho está condizente com sua

intenção.

O desenho seguinte realizou-se após as crianças terem assistido ao filme

Minúsculos:

Figura 43: 3º Desenho de Rondinelle – 24/11/2017 - Desenho realizado

após assistir “Minúsculos”

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FONTE: Rondinelle – 10 anos – 24/11/2017

“O meu desenho é ... as formigas que pegam o açúcar, o negócio... é...a vasilha do

açúcar sumiu, ai elas pegaram a vasilha do açúcar na mandíbula e levaram para o

formigueiro.

Elas estão entrando no buraco aqui do formigueiro. No formigueiro.

Os bebês da formiga ficam nos buracos, é... panelas né?

O corpo é dividido em três partes e a perna é três.

Três pernas... não! 6 pernas.

Não lembro o nome das partesinhas do corpo, sei que é difícil falar o nome, mas

tem a cabeça a barriga e o bumbum

Mas elas carregam na mandíbula!”

O filme trouxe para Rondinelle novas informações. Utilizou a borracha para

desenhar, mas isso não parece representar insegurança, haja vista que seu desenho

possui muitos detalhes sobre a vida das formigas. Não utiliza cores para caracterizar

suas formigas nem em nenhum elemento. Não se verificou nenhum sinal de

características do polimorfismo. As formigas são representadas em grupo, enfileiradas,

levando alimento para o formigueiro, logo percebe-se que elas são insetos sociais. O

ciclo de vida foi representado pelas panelas internas do formigueiro. O aluno não

desenha ovos ou pupas nesse espaço, contudo esclarece em sua fala, que é ali que ficam

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os ovos da formiga. Suas formigas também interagem com a joaninha que aparece na

fila. Provavelmente essa cena foi inspirada no filme. O habitat das formigas é

claramente representado em meio à natureza, com túneis subterrâneos, panelas e uma

estrutura semelhante a do formigueiro.

Já quanto à morfologia desse inseto, Rondinelle afirma que o corpo é

segmentado em 3 partes representandas em seu desenho e fala.Porém , não se lembra

dos termos corretos de cada segmento. Em dado momento afirma que as formigas

possuem 3 pernas, em seguida lembrando-se que são 6. As antenas não são desenhadas

e há presença de mandíbulas. Aliás, um traço marcante do desenho são as mandíbulas

apresentadas em todas as formigas. No seu desenho, as formigas seguem um padrão de

tamanho, fazendo-se entender que são da mesma colônia. Não utiliza cores, apenas o

seu lápis preto. Quanto a sua alimentação, ela ressalta que elas têm preferência por

açúcar, a principal fonte de alimentação delas. Vê-se no desenho de Rondinelle que elas

carregam torrões de açúcar para o formigueiro. Tal informação também foi inspirada

pela animação.

Como no desenho anterior, Rondinelle utiliza mais uma vez a linha da folha de

base para seu desenho. Há omissão de antenas das formigas, sendo um desvio de

esquema. Seu desenho não apresenta rebatimento que permite de observá-lo em apenas

um plano. Mas apresenta transparência, possibilitando observar a parte subterrânea do

formigueiro, onde estão as formigas passando em túneis e as panelas. As formigas são

proporcionais ao ambiente que ele representa.

g) Aluna Maria – 10 anos

Maria é uma criança loira e sorridente. Muito vaidosa, conta com alegria que sua

mãe é cabeleireira e cada dia apareceu nos encontros programados com seus cabelos

penteados de uma maneira diferente. Seu pai trabalha com som em festas no turno da

noite,o que lhe possibilita a oportunidade de acompanhá-la nos estudos, estando

presente durante a sua vida escolar. É que ele sempre a leva e busca na escola. Quando

anunciado o estudo sobre as formigas, ela ficou satisfeitíssima, pois adora observá-las

no quintal da sua casa. Curiosa, demonstrou grande interesse em participar da pesquisa

e realizou todos os desenhos solicitados revelando sempre entusiasmo em fazê-los.

A seguir, o desenho de Maria:

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Figura 44: 1º Desenho de Maria – 14/09/2017 - O primeiro desenho das

formigas solicitado às crianças

FONTE: Maria – 10 anos – 14/09/2017

Eis abaixo, a sua explicação do seu desenho:

“É... eu desenhei uma formiga... as formigas... uma formiga de guarda, é... a rainha e

as outras trabalhando. Ai eu desenhei uns pássaros aqui que eles estavam voando no

ar. Ai depois eles estavam pegando comida prá... umas pegou... é... folhas para cobrir o

berçário e outras pegaram comida para alimentar no inverno.

Aqui é a rainha. Ela está observando elas...”

É possível observar no desenho de Maria que os insetos representados são

formigas, mesmo com algumas omissões. As cores têm muita importância para a

composição do seu desenho. As montanhas verdes, as formigas marrons, nuvens, azuis

e sol amarelo indicam que elaobserva o ambiente. Em toda a folha desenhada, o verde é

a cor que mais se destaca, em grande parte do desenho, predominando nos elementos

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naturais. Faz pouco uso da borracha e representa várias formigas, todas quase do mesmo

tamanho e marrons. Segunda ela informou, há uma formiga-rainha no topo do

formigueiro. Além do lugar que ela ocupa – acima das outras formigas - também é

recebe uma coroa. Também explica que há formigas de diferentes castas, citando

formigas de guarda e as formigas que trabalham, levando folhas para cobrir o berçário

das formiguinhas que virão a nascer. Infere-se, portanto, sugerindo que ela sabe como é

o ciclo de vida das formigas. No seu desenho Maria distribui bem as formigas,

realizando diversas tarefas. Desse modo, pode-se dizer que a aluna percebe bem a vida

social desses insetos, bem como o seu habitat. Assim ela as representa em meio à

natureza, buscando uma estrutura semelhante a de um formigueiro. As formigas não

interagem com outros organismos, apenas com as formigas da colônia..

Com referência ao corpo das formigas desenhadas por Maria, notam-se 3

partes, antenas e 2 pernas, e a formiga representada como rainha tem uma coroa em

sua cabeça, caracterizando traços antropomórficos. Elas são pequenas, lembram as

formigas já observadas por ela. Algumas formigas carregam folhas e comidas pelas

costas. Mas ela, em sua fala , não nomeia quais seriam os alimentos. Por conseguinte,

não se pode afirmar o que ela pensa quanto à alimentação das formigas. Para ela, as

folhas são utilizadas para cobrir o formigueiro. Não há presença de mandíbulas e

podemos afirmar que ela acredita que as formigas carregam tudo sobre suas costas.

A base do desenho de Maria é a margem inferior da folha. Organiza bem os

elementos, sendo bem distribuídos e proporcionais ao espaço. Há omissões da parte do

corpo da formiga, possivelmente pela sua falta de conhecimento, caracterizando-se,

assim, desvios de esquema. Não há rebatimento, levando-se a observar apenas uma

parte do desenho. Há transparência, logo é possível a observar o subsolo onde a

formiga caminha por uma espécie de túnel. As formigas são menores que os demais

elementos do desenho, o que indica proporcionalidade.

Adiante, o desenho de Maria que foi realizado após a aula de imagens de

formigas reais, apresentados pelas pesquisadoras:

Figura 45: 2º Desenho de Maria – 05/10/2017 - Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

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FONTE: Maria – 10 anos - 05/10/2017

Resumidamente, a aluna assim explicou seu desenho:

“Eu desenhei as formigas voando, aqui... uma que estava alimentando os ovos, uma

bebendo água e uma comendo folhas.

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Ela tem 3 partes no corpo.Eu desenhei com asas também”

Com efeito, após uma aula de encantamento com imagens reais das formigas,

Maria, apresenta seu desenho revelando fortes influências das imagens apresentadas

durante a aula, por exemplo, sua formiga tomando água. Naquele dia, a aluna estava

mais introspectiva, falou pouco, desenhou a maior parte dos elementos, todos eles

coloridos. Não utilizou a borracha, indicando segurança em sua representação. Em meio

à natureza, fez todas suas formigas pretas, do mesmo tamanho, porém realizando

diferentes tarefas. Contudo, não se pode afirmar que a aluna percebe as características

do polimorfismo. Em sua produção, as formigas só interagem com os elementos

naturais, como a rosa e a árvore e não com outros organismos. Menciona o ciclo de vida

das formigas ao afirmar que há uma delas cuidando dos ovos e representa as rainhas,

voando perto da árvore. A vida social pode ser vista ao desenhar as formigas em

grupo, contudo, cada uma faz uma atividade, como ela mesma afirma em sua fala. O seu

desenho indica que as formigas representadas por ela moram em árvores, pode-se

pensar então que ela acredita ser ali seu habitat.

Quanto à morfologia das formigas, Maria as desenha com o corpo segmentado

em 3 partes, 2 antenas e 4 pernas. As formigas-rainhas também apresentam asas e são

um pouco maiores que as outras. Em algumas colônias, pode-se encontrar entre uma a

dez rainhas no formigueiro, justificando a representação de Maria, que desenha 4

rainhas. Por outro lado, essa representação pode significar que a vida das rainhas foi o

elemento que mais lhe chamou a atenção durante as discussões em sala de aula sobre a

vida desses insetos. Observa-se traços antropomórficos nas suas formigas, como traços

humanos na cabeça, como aos olhos e o sorriso. As asas também são representadas

como uma espécie de coração. A alimentação delas, de acordo com Maria, são folhas e

água.

Diferentemente de seus colegas, Maria faz suas representações com a orientação

da folha no estilo retrato, deixando apenas a parte superior sem ilustrar. Usa como base

a margem inferior da folha e desenha proporcionalmente seus elementos. A formiga

desenhada no caule flor é um traço de rebatimento. Também não se nota transparência.

Há alguns desvios de esquemas, como partes do corpo da formiga, o número de pernas e

mandíbulas, pois já é do seu conhecimento.

Segue abaixo, o terceiro desenho da aluna Maria, apóa a exibição do filme

Minúsculos:

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Figura 46: 3º Desenho de Maria – 24/11/2017 - Desenho realizado após

assistir “Minúsculos”

FONTE: Maria – 10 anos – 24/11/2017

Sobre seu desenho, ela comenta:

“Eu fiquei com medo de desenhar... Eu desenhei cada coisa que a gente viu... Ai eu

desenhei o formigueiro e as formigas rainhas. Com asas.

Ah, essa aqui está sem asas porque já caiu...

Eu desenhei formigas vermelhas e pretas.

Eu desenhei formigas com asas, com cabeça, tórax e abdômen. Com antenas e patas.

Eu sei agora que são 6 patas mas eu desenhei só quatro. Esqueci também da

mandíbula, mas elas tem.

Eu fiz o formigueiro, fiz um normal e fiz uns iguais das imagens, com entradas e com

panelas.”

Na nossa última aula da pesquisa, Maria demonstrou bastante insegurança,

possivelmente pelo excesso de informações recebidas sobre as formigas. De acordo com

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sua fala ela escolheu desenhar formigas das animações que assistira durante a sequência

didática. Assim, ela desistiu do primeiro desenho, rasgou a folha sem que percebesse e

optou por uma folha de caderno. Focando então seu desenho, observa-se que ela não

usou tantas cores como nas representações anteriores. A folha foi dividida em quadros

e, em cada quadro, um desenho inspirado em uma animação apresentada, incluindo os

títulos do filme posto acima do seus desenhos. Ela enquadrara três momentos que,

foram importantes para ela e mais representativos. Ela utiliza cores escuras, como o

preto e o marrom. Assim, uma formiga marrom e duas vermelhas, uma em um tom

mais claro e outra mais escura, possivelmente por querer representar formigas de

diferentes colônias. Ela ressalta, em sua fala que desenhou uma preta, mas não aparece

essa cor. As diferenças entre as formigas, cores e tamanhos, podem trazer ideias de

polimorfismo, não explicitado pela aluna oralmente, mas notado por sua representação.

As formigas interagem apenas entre si e não com outros organismos. Em cada

enquadramento, a formiga aparece próxima só do formigueiro, sem presença de outras

formigas. Além disso, ela não nos diz nada sobre à vida social delas. O ciclo de vida

também não é claramente mencionando, apesar de representar as formigas- rainhas e

panelas, lugares específicos onde ficam os ovos e pupas. É evidente tanto em sua fala,

quanto em sua representação que, para essa aluna, as formigas vivem em formigueiros.

Observa-se que a primeira formiga é a rainha do desenho Lucas um intruso no

formigueiro. As asas e a posição dela nas ilustrações nos levam a essa conclusão. O

tamanho do abdômen e as asas das formigas desenhadas no segundo enquadramento

também podem ser vistas como reflexo das rainhas, observadas nas animações.Quanto

ao corpo das formigas representada por Maria, é segmentado em 3 partes e os nomeia

corretamente. Todas formigas possuem 2 antenas. Conforme ela esclarece, as formigas

possuem 6 pernas, mas são só representadas 4. Também menciona as mandíbulas, mas

não as representa. Esclareceu ainda que só representara formigas-rainhas e que uma

delas já perdera suas asas. Quanto as características antropomórficas,elas estão

presentes nas formigas sorrindo. Em seu formigueiro também há uma espécie de

escada, associada a hábitos humanos. Quanto à alimentação das formigas, a aluna não

representa nos seus desenhos nem fala nada a respeito.

Finalmente, utiliza uma folha de caderno, para fazer o seu desenho tendo a

margem da folha como base. Desse modo, representa proporcionalmente todos os

elementos. Não há desvios de esquemas. Há sinais de transparência, que permitem

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enxergar dentro do solo, a escada representada por ela. Não há rebatimento nos

elementos desenhados.

h) Aluno André – 10 anos

Muito sorridente, André já veio curioso ao nosso primeiro encontro saber qual

seria o objetivo de tais pesquisadoras em sua sala de aula. Negro, é um líder dentro da

sala, sempre ditando as brincadeiras e risos na aula. Senta-se na primeira carteira, bem

perto da professora, possivelmente para que ela possa contralar melhor seu desempenho

nas aulas. Seus pais são comerciantes em um bairro periférico da cidade de Ouro Preto e

ele sempre está com o bolso cheio de balas e chicletes, o que traz à aula sempre uma

movimentação. Demonstrou muito interesse ao desenhar, contudo, ao falar, apresentava

um pouco de timidez.

A seguir, apresenta aqui o seu desenho:

Figura 47: 1º Desenho de André – 14/09/2017 - O primeiro desenho das

formigas solicitado às crianças

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FONTE: André – 10 anos – 14/09/2017

Explica André:

“Eu fiz uma formiga com asas e o... Não, sem asas. Elas tem é... 5 partes, 8 patas e tem

as amigas delas saindo da casa delas. E tem árvore e tem o céu azul. Tá calor.

Porque essas de outro tipo... essas são vermelhas e essas são de outros tipos.

É, tem vários tipos de formigas”

Com seu desenho bastante colorido e com a folha toda preenchida por elementos

naturais, André veio ao encontro das pesquisadoras seguro e aparentemente orgulhoso

da sua representação. Passando as análises desse desenho, percebe-se que as cores têm

muita importância para a composição da obra de André. Utiliza lápis de cor em toda

sua obra e não utiliza a borracha. As formigas desenhadas por André podem não ser

reconhecidas como formigas, principalmente aquelas que sobem ou são projetadas do

formigueiro. Fez, como afirma em sua fala, dois tipos de formigas: as vermelhas e

pretas. As pretas possuem tamanho menor diante da vermelha, mas seu desenho sugere

que vivem todas juntas. Apesar de não poder-se afirmar que André percebe as

características polimórficas, em sua fala ele reforça que há muitos tipos de formigas.

Observando-se seu desenho percebe-se que referia a diferentes tamanhos e cores. As

formigas interagem apenas entre elas. O aluno não menciona nada quanto ao ciclo de

vida das formigas. Quanto à vida social das formigas, pode-se perceber que elas são

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desenhadas em fila, indício de que o aluno sabe que as formigas são insetos

sociais.Além disso, as formigas são representadas em meio à natureza, com uma

estrutura semelhante ao formigueiro bem ao centro.

As formigas desenhadas por André apresentam o corpo segmentado em 3 partes,

mas oralmente, ele afirma que elas possuem o corpo dividido em 5 partes. Desenhou 8

pernas e em sua formiga vermelha há antenas, Percebe-se traços antropomórficos nos

olhos e boca da formiga. A alimentação das formigas não foi mencionada por André.

Por fim, André utiliza a margem inferior da folha como base. O formigueiro

apresentado tem um tamanho exagerado, caracterizando um desvio de esquema. Há

omissões das partes do corpo da formiga, possivelmente por desconhecê-los. Não há

sinais de rebatimento ou de transparência.

O segundo desenho de André, apresentado a seguir, diz respeito à aula em que

foram apresentadas às crianças imagens de formigas reais.

Figura 48: 2º Desenho de André – 05/10/2017 - Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

FONTE: André – 10 anos – 05/10/2017

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Sinteticamente, ele descreve seu desenho:

“Eu fiz uma formiga com 5 partes, uma com 6 pernas, com a mandíbula, um ferrão, a

antena e a mandíbula.”

Após a uma aula em que as crianças observaram formigas, André trouxe seu

desenho utilizando pouco espaço da folha e sem cores, desenhando apenas uma formiga

com lápis preto. Não se observa o uso da borracha, manifestando confiança ao realizar

seu desenho. Também oralmente, falou pouco sobre o seu desenho, mas sua

representação de formiga apresenta muitos traços do inseto. Não cita nada quanto à vida

social da formiga, ciclo de vida e seu habitat. Também não há em sua fala ou em seu

desenho nenhum tipo de interação com outros organismos. O foco do seu desenho é

mesmo a morfologia da formiga.

Assim sendo, notam-se, em seu desenho, que ele buscou representar

principalmente detalhes desse inseto, possivelmente inspirado pelas fotografias

apresentadas em sala de aula. Ressalta que a formiga tem o corpo dividido em 5 partes.

Interessante observar que foi um dos poucos alunos que desenhou as pernas das

formigas saindo de segmentos que poderiam ser denominados como o tórax. Uma

imagem, apresentada na aula, em especial, talvez tenha chamado a atenção de André

(ANEXO I ) percebe-se, de fato, semelhanças entre ela e seu desenho. Ao observar a

foto da formiga Amblyopone, espécie que vive na Austrália, em pequenos grupos cuja

sua morfologia é pouco conhecida, ele mostrou-se intrigado e a todo o momento dividia

o tórax da formiga em mais pedaços. Contudo, sabe-se que os insetos têm, por

característica, o corpo dividido em 3 partes: cabeça, tórax e abdômen. André também

representa uma espécie de ferrão, nomeado assim por ele durante a entrevista. Seu

desenho mostra 2 antenas grandes, mandíbulas e 6 pernas. Não menciona nada quanto à

alimentação das formigas, e também não apresenta características antropomórficas. Ele

elabora o corpo da formiga de maneira quase proporcional. Repara-se que a formiga é

desenhada de outro ângulo – vista de cima, na tentativa de apresentar a formiga por

diferentes ângulos.

Por fim, sua formiga está no canto da folha, não utiliza qualquer margem como

base, tamanho é proporcional às partes do corpo. Há exagero na divisão do corpo da

formiga, especialmente no tórax, o que pode caracterizar desvio de esquema. Não há

transparência e o desenho é bidimensional, sem a presença de rebatimentos.

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Apresenta-se, a seguir, o terceiro desenho de André, relacionado a exibição do

filme Minúsculos:

Figura 49: 3º Desenho de André – 24/11/2017 - Desenho realizado após

assistir “Minúsculos”

FONTE: André – 10 anos – 24/11/2017

Oralmente, assim ele descreve seu desenho:

“Eu desenhei o formigueiro, com as formigas trazendo açúcar para a rainha e as

formigas subindo. E ah, ah, joaninha.

Eu desenhei minha formiga com 3 partes, tórax, abdômen e o rosto. E com 6 pernas,

antena, mandíbula. Elas levam o... a... comida na mandíbula!

Aqui é dentro do formigueiro,onde tem as panelas.”

No nosso último dia de aula com André, ele chegou animado. Inspirado pelo

filme Minúsculo realizou um desenho com mais elementos, muitos detalhes sobre a

morfologia e a vida das formigas. Não utiliza cores e faz pouco uso da borracha. Como

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se vê, há um grupo de formigas enfileiradas, levando alimentos ao formigueiro,

sugerindo que André percebe a vida social das formigas. Ainda trazendo informações

do filme, representa uma joaninha interagindo com as formigas. A formiga-rainha é

apresentada maior, em relação ao grupo desenhado, mas nãotem cores. Não pode

afirmar que ele perceba as características do polimorfismo. Quanto ao ciclo de vida, não

aparece nenhuma representação a esse respeito no desenho, mas, no interior do

formigueiro, André desenha panelas onde as formigas-operárias cuidam dos ovos e das

pupas. O habitat das formigas é representado por uma estrutura semelhante ao

formigueiro, com túneis subterrâneos.

Com referência à morfologia da formiga, ele a nomeada corretamente sendo

representada com o corpo segmentado em 3 partes. Há 2 antenas, mandíbulas e 6

pernas. A formiga que ele aponta ser a rainha é apresentada em tamanho maior e ferrão,

mas não apresenta as asas. Percebe-se uma tentativa de não representar características

antropomórficas, realizando as formigas do tamanho que ele costuma observar. A

alimentação das formigas, para André é a base de açúcar.

Concluindo, a margem inferior da folha foi à base para a representação de

André. Não percebem desvios de esquemas. Há sinais de uso de transparência no

desenho do formigueiro, dando-se condições de perceber o seu interior e o trabalho das

formigas. Não se verificou em sua representação rebatimento, já que se observa apenas

um lado do desenho.

A seguir, a análise da aluna Andrezza.

i) Aluna Andrezza – 10 anos

Andrezza é uma criança tímida, mas aos ser convidada a desenhar e falar dos

seus desenhos apresentou desenvoltura nas tarefas. Com um olhar atento à nossa

presença, se manteve-se sempre muito calada e quando falava, era sempre um tom bem

baixo. Ela é negra e adora desenhar, tendo sempre o incentivo dos seus familiares. Sua

mãe trabalha como salgadeira no mesmo bar em que o pai é o balconista e enquanto os

espera chegar do trabalho, fica na casa da avó.

Segue abaixo o primeiro desenho dessa aluna:

Figura 50: 1º Desenho de Andrezza – 14/09/2017 - O primeiro desenho

das formigas solicitado às crianças

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FONTE: Andrezza – 10 anos – 14/09/2017

Eis, abaixo, as explicações de Andrezza:

“Eu desenhei, é... duas formigas pegando... pegando folha na árvore para levar para a

rainha

O corpo dela é cheio de bola. São três, é... três bolas.

Isso daí é chuva.

É a antena da... da formiga. É a boca e o olho”

Como de vê na figura acima, as formigas são desenhadas em grandes dimensões

e o desenho preenche todo o espaço do papel sugerindo segurança ao retratar o tema. A

maioria dos traços são contínuos, sem muito uso da borracha. O desenho é colorido.

Ressaltam na página o azul e o verde. Uma das formigas foi colorida com o lápis

vermelho, em tom claro e outra não foi colorida. Como não perguntou à criança a

respeito das diferentes cores das formigas, não podemos afirmar que ela compreende

algumas características do poliformismo. Em seu desenho, a rainha não aparece

desenhada, mas escrita em uma estrutura parecida com um formigueiro e, em sua fala,

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ela faz menção à mesma. Andrezza menciona o fato de que as formigas colhem as

folhas para levar para a rainha. Isso pode indicar uma sujeição das formigas à rainha.

Conforme nossos estudos essa hierarquia não se manifesta nos formigueiros – a rainha

não ordena que as formigas trabalhem. Andrezza desenha apenas duas formigas. Isso

pode indicar que ela compreende que as formigas são insetos sociais. Há traços

antropomórficos nas formigas, pois elas aparecem sorrindo. Em seu desenho há vários

elementos diferentes, como árvores, mata e flores, mostrando a interação das formigas.

Andrezza divide o corpo da formiga em quatro partes e apresenta nove pernas.

Elas têm cabeças redondas e um par de antenas com uma bolinha na ponta que nada

disso se assemelha às formigas reais. Suas formigas lembram centopeias pela estrutura

do corpo. Embora elas não apareçam carregando nenhum alimento, na entrevista

Andrezza afirma que as folhas deverão ser levadas à rainha. Pode-se inferir que a aluna

tenha uma concepção de que as formigas se alimentam de vegetais. Ela utiliza a linha da

folha como base para o seu desenho e os elementos são apresentados de forma

organizada Desenha um sol junto à chuva, que pode revelar aspectos das suas vivências.

As formigas aparecem em destaque, muito maiores que as flores e as árvores,

nos levando a perceber sinais de desvios de esquema, como o exagero.Não há

rebatimento no desenho, pois observamos apenas um lado do que foi representado e

também não é apresentado transparência.

O desenho adiante tem, como referência, a aula em que a imagem reais de

formigas foram apresentadas as crianças.

Figura 51: 2º Desenho de Andrezza- 05/10/2017 - Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

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FONTE: Andrezza – 10 anos – 05/10/2017

Tão sintético quanto o seu desenho é a explicação de Andrezza:

“É... eu fiz um desenho de uma formiga voando... é... e um...

Isso aqui esqueci o nome... serve para ela carregar as folhas.

O corpo tem 3 partes e fiz ela com asas...

Não lembro qual formiga tem asa não... não lembro o nome...”

Como se vê, a formiga desenhada não ocupa todo o espaço da folha, o que pode

sugerir mudanças em relação ao conhecimento sobre o tema. Podemos observar que o

desenho de Andrezza não é colorido, mas a maioria dos traços são contínuos, sem muito

uso da borracha. O desenho não apresenta o ciclo de vida da formiga, o contexto social,

o seu habitat ou interação com outros animais. . Esse foco tem relação com as

discussões realizadas em sala de aula. Haja vista que nessa aula, chamou-se a atenção

da característica desse inseto sem destacar a vida na colônia. Nesse sentido, ela produz

um desenho de uma formiga com características ressaltadas na aula. A formiga é

desenhada com um par de asas, uma estrutura que se assemelha a mandíbulas e um

abdome com linhas verticais que indica que aquela era a parte diferente no corpo do

inseto. A sua formiga já não apresenta nenhum tipo de característica antropomórfica,

dando maior relevância à parte morfológica da formiga.

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Nessa medida, o corpo da formiga apresentado por Andrezza é dividido em três

partes, as formas circulares ainda continuam representando as partes do corpo como no

desenho anterior. Apesar de não ter antenas, as mandíbulas são representadas e

mencionadas em sua fala ao explicar que, a sua função é carregar folhas. Nesse ponto, a

aluna não demonstra que as formigas são insetos que também se alimentam de outros

insetos. As asas são destacadas no desenho e na fala de Andrezza. Pode-se pensar que

essas características foram mais marcantes para o aluno no estudo desse inseto. Há

várias omissões, como de pernas e antenas, já conhecidas como parte da formiga. Não

há rebatimento, fazendo-se observar apenas um lado da formiga. Por fim, as partes do

desenho são proporcionais à sua formiga. Não apresenta transparência, podendo apenas

observar-se o corpo externo da formiga.

A seguir, apresenta-se o terceiro desenho de Andrezza, após a exibição do filme

Minúsculos:

Figura 52: 3º Desenho de Andrezza – 24/11/2017 - Desenho realizado

após assistir “Minúsculos”

FONTE: Andrezza - 10 anos – 24/11/2017

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Eis a explicação da aluna acerca do desenho:

“Essa é a rainha, as asas dela tá um pouquinho torta e as pretas, as formigas estão

levando para ela açúcar para ela botar bastante ovinhos, iguais esses aqui.

Eu desenhei o corpo dela fazendo uma bola, em três partes. Abdômen, tórax e a cabeça

Isso aqui é as... as... mandíbulas

Essa aqui é uma formiga que ainda não se transformou em adulta... é uma ... é pupa!

Elas estão carregando açúcar, pelas mandíbulas.”

Com efeito, a maior inspiração de Andrezza para a produção do seu desenho foi

a animação intitulada Minúsculos. Seu desenho retrata uma cena desse filme em que as

formigas pretas, dentro do formigueiro, interagem com a rainha.Assim,alguns detalhes

discutidos em aula são colocados em evidência. A cena representada faz parte do filme.

O abdômen da rainha é bem destacado, mas outros elementos compõem o desenho. A

ilustração preenche todo o papel sugerindo atenção a vida no interior do formigueiro. Os

traços são contínuos e firmes, sem uso da borracha. Ressaltam na página cores escuras.

Neste último desenho, nota-se que Andrezza faz menção ao ciclo de vida das formigas,

desenhando operários, a rainha, ovos e uma pupa. Na animação, o animal que fica ao

lado da rainha é um pulgão. A citação da pupa por Andrezza revela como as

informações do desenho e as discussões em sala de aula modificam o olhar da criança.

A ilustração deixa claro também a vida social das formigas, com as operárias em fila,

carregando alimentos pela mandíbula para a rainha que tem uma superalimentação.

Elas são desenhadas no interior do formigueiro, embora não haja menção às galerias ou

ao habitat. Os olhos das formigas nos parecem trazer algumas características

antropomórficas, assim também os da pupa. A relação entre os membros do formigueiro

fica clara dada à diversidade de elementos representada no desenho.

Quanto à morfologia, as representações da aluna mostram formigas com corpos

divididos em três partes, seis pernas, mandíbulas, antenas, asas na rainha. Em sua

representação, a cabeça e o corpo são circulares, mas o abdômen é a maior parte do

corpo. A pupa apresenta características bem próximas de uma pupa, arredondada. A

formiga-rainha apresenta cores e tamanho diferente das demais formigas. Suas formas

também são bem destacadas podendo indicar que a rainha tem papel de reprodutora na

colônia. A formiga-rainha aparece com um par de pequenas asas como representado na

animação. Um monte de ovos também são representados. Quanto à alimentação das

formigas é o mencionado açúcar como sua principal fonte de alimento das formigas.

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Ressalta-se, ainda, que Andrezza utiliza a folha como base para o seu desenho.

Há os seguintes desvios de esquemas no desenho: o abdômen da rainha, os pés das

formigas e as antenas são representados de maneira exagerada, ou com detalhes

diferentes daqueles observados em sala de aula. Também não é apresentado

rebatimento, pois o desenho mostra apenas o lado da frente da formiga aparente.

Observa-se que seu desenho expressa o que ela acredita ser a vida das formigas e não

há transparência.

j) Aluno Geraldo - 10 anos

Geraldo é falante e já desde o primeiro momento da pesquisa se mostrou bem

interessado pelo tema em pauta: as formigas. É uma criança de cor branca, filho de mãe

psicóloga e pai vendedor de seguros, diagnosticado com transtorno de déficit de atenção

e hiperatividade (TDAH). De fato, em alguns momentos da aula apresenta-se meio

distante, da nossa aula. Mas seu interesse por formigas levou-o a aula com

tranquilidade. Gosta muito de desenhar e não apresentou dificuldades na entrevista.

Segue abaixo o primeiro desenho das formigas, feita por Geraldo:

Figura 53: 1º Desenho de Geraldo - 14/09/2017 - O primeiro desenho

das formigas solicitado às crianças

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FONTE: Geraldo – 10 anos- 14/09/2017

Neste trecho, ele explica seu desenho:

“Esse cara aqui é o homem formiga. E essa mulher aqui é a vespa. E esses putinho... pontinhos aqui que estão no homem formiga, são as formigas que estão subindo em

cima dele.Esses pontinhos são formiguinhas!

As formigas tem poderes! Esse é um humano! Que ganharam... que ganhou poderes,

que o uniforme deles tem poderes de formiga.

As formigas são essas pequenininhas aqui, na roupa...

Aqui tá o formigueiro, que ta sem... porque ele controla as formigas com a mente.Aqui

é a casa das formiguinhas.

Ah, eu desenhei uma formiga, é uma formiga... é uma formiga bola Desenhei ela no

chão também. Ela com as patas no chão. Essa aqui, é ajudante do homem formiga: a

vespa”.

Muito falante e mostrando-se satisfeito com seu desenho, Geraldo narra a sua

produção. Causando curiosidade, pois seu desenho retrata uma cena do filme “O homem

formiga”, e é representado em vários planos (relações geométricas). É um desenho que

se distingue dos demais porque é inspirado em um filme. Seu traço é firme e seguro,

não utilizou cores, apenas o lápis de escrever. A borracha quase não foi usada,

mostrando que sabia o que queria representar. A figura humana desenhada remete-se

aos personagens principais do filme (ANEXO J) e só percebe-se ao ouvir suas

explicações, com o olhar meio atento ao seu desenho. Suas formigas são minúsculas,

pretas, designadas por ele formigas-bola. São desenhadas em grupo, caracterizando a

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vida social desse inseto e interagindo com os seres humanos. Não é mencionado o ciclo

de vida delas. O habitat da formiga é representado, no canto da folha, o local designado

por ele casa das formigas.

As concepções de Geraldo quanto à morfologia da formiga não são claramente

visíveis, por serem desenhos bem pequenos. Mas, em algumas nota-se que Geraldo

representou duas pernas e o corpo segmentado em duas partes. Não fez antenas, nem

mandíbulas. Elas não apresentam características antropomórficas. Ele também não diz

nada quanto à alimentação delas, nem oralmente nem em seu desenho.

Geraldo também não utiliza a linha da folha como base do seu desenho. Um

pouco acima da margem, traça uma linha dando-se a ideia de ser o chão onde os

elementos do desenho se apoiam. Observa-se preocupação do aluno com a proporção

das formigas, formando um conjunto como queria mostrar.

O desenho seguinte refere-se as imagens apresentadas em aula, sobre formigas

reais:

Figura 54: 2º Desenho de Geraldo – 05/10/2017 - Aula de imagens de

formigas reais apresentadas às crianças

FONTE: Geraldo – 10 anos – 05/10/2017

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Explica Geraldo:

“Eu desenhei uma formiga,homem, uma formiga homem com asas. Com 3 patas, ela

tem uma boca bem afiada, 2 antenas, duas bolinhas no meio dela e uma bolinha que é a

cabeça.

Esqueci o nome das bolinhas... é... tava falando o tempo todo

Isso afiado é a boca! Mandíbulas!

São 3 pernas. 3 pernas de cada lado! Então são 6!”

Geraldo apresenta, em seu desenho, apenas uma formiga com muitos detalhes.

Utilizou caneta azul para representá-la. Com traços firmes, fez uma formiga

provavelmente inspirada nas imagens apresentadas durante a aula. (ANEXO K ) Não

apresentou nenhuma informação quanto ao ciclo de vida nem a vida social. O habitat

delas também não foi mencionado.

Como se vê, sua formiga tem o corpo segmentado em três partes que se

assemelham às formigas reais. Não dá nomes às partes do corpo das formigas, apenas a

cabeça e a mandíbulas. Representa a mandíbula, duas antenas e seis pernas. É

importante observar que as pernas das formigas são representadas no segmento que

corresponde às formigas reais. Os olhos se assemelham com os olhos compostos das

formigas reais e o macho possui um par de asas. Não apresenta características

antropomórficas.Também a alimentação delas não é citada pelo aluno, nem no desenho

e nem na fala.

Finalmente, Geraldo desenha a formiga no meio da folha. Como é uma espécie

que possui, como característica, asas, tem-se a impressão de que a intenção do aluno foi

fazê-la voando. Não há desvios de esquema. O rebatimento pode ser observado nas

pernas da formiga quando as desenha em outro plano. Parece que ele usou a

transparência nas asas.

Este desenho teve, como motivação, o filme Minúsculos apresentado às crianças:

Figura 55: 3º Desenho de Geraldo – 24/11/2017 - Desenho realizado

após assistir “Minúsculos”

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FONTE: Geraldo – 10 anos – 24/11/2017

Sobre eu desenho, ele diz:

“O meu desenho é sobre aquele filme Minúsculos.

Eu desenhei a formiga, desenhei os detalhes dela

E eu desenhei a joaninha

Eu fiz uma coisa que parece um ovo, outra coisa que parece outro ovo. Ai juntei as

duas coisas, fiz as patinhas, os olhos e os olhos da joaninha também.

Tem 6 pernas

E o corpo 3

Eu lembro da mandíbula, do tórax e das patas

Aqui é o coração.

É porque eu vi no filme do Lucas que aqui o Lucas fez um sinal que é no coração do

humano, ai o coração das formigas são aqui, no bumbum

Então aqui é o Tórax e o coração”

De acordo com a fala de Geraldo, percebe-se que ele se inspirou muito nos

filmes aqui assistira durante os encontros nas aulas para apontar suas concepções sobre

as formigas. À primeira vista, já se nota em seu desenho ele procura retratar uma cena

do filme em que a formiga interage com a joaninha (ANEXO L). A joaninha é pintada

de vermelho e preto, como ele percebeu no filme. Desenha apenas uma formiga

utilizando lápis preto. A vida social das formigas também não é representada nem no

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seu desenho e nem em sua fala. Também não refere-se ao ciclo de vida e ao habitat das

formigas, haja vista que priorizou uma cena.

Na verdade, Geraldo se preocupou em representar a sua formiga mais próxima

possível do que viu durante as aulas. Assim, o corpo dela é segmentado em três partes

mas ele não consegue se lembrar do nome correto do abdômen. Reconhece que é o lugar

aonde se encontra o coração, o coração das formigas está no abdômen e isso é explicado

em Lucas – um intruso no formigueiro. Sua formiga possui seis pernas, duas antenas e

mandíbulas. As partes do corpo da formiga têm um formato oval. Ele desenha as pernas

com alguns detalhes da articulação mostrando que faz observações apuradas do

desenho. Neste desenho, as pernas das formigas estão distribuídas ao longo dos

segmentos do corpo. Seus olhos são redondos, mas não remetem à antropoformzição.

Geraldo não menciona nada quanto à alimentação desses insetos.

Por fim, não há sinais no desenho da aula, de rebatimento e nem de

transparência. Há alguns desvios de esquema, como o exagero no tamanho da formiga e

da joaninha. Porém seus insetos são representados em dois planos: a formiga na frente

e a joaninha atrás.

A partir das análises, observou-se que, assim como afirma Piaget, as crianças de

9 e 10 anos, que se encontram na fase do esquematismo, desenham mais do que sabe do

que pretende representar, do que ela vê. Compreendemos nos desenhos, que à medida

que foram evoluindo os nossos encontros e mais informações científicas foram

repassadas as crianças, elas começaram a representar em seus desenhos partes

morfológicas da formiga com riquezas de detalhes, como por exemplo, as mandíbulas

da formiga, que não são vistas a olho nu com grande facilidade. Para essa representação,

as crianças utilizam processos diferentes como o rebatimento, à transparência e até

mesmo a mudança do ponto de vista. Em alguns desenhos podemos notar que as

crianças utilizam da transparência para representar a vida no interior dos formigueiros,

possibilitando o leitor a ver como é essa estrutura e até mesmo o modo de vida das

formigas (FIGURA 49) Também percebemos alguns sinais de rebatimento, mostrando

sua formiga representada em todos os lados (FIGURA 54) e a desenhando da maneira

que foi realmente pensada por ele. Observamos também que há legendas em algumas

produções, característicos para essa faixa etária (FIGURA 36) deixando assim os nomes

como parte importante da sua representação. Nesse estágio, ressalta Piaget (1982) e

como podemos visualizar nos dados dessa pesquisa, a criança não apresenta

preocupação da perspectiva visual e se preocupa em representar essencialmente os

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atributos conceituais do modelo que pretende desenhar. As formigas, mesmo sendo

insetos pequenos, são representadas em tamanho maior para que os detalhes ficassem

aparentes aos nossos olhos, demonstrando assim tudo o que sabem sobre elas. A criança

desenha de acordo com que sabe das formigas naquele momento. Os primeiros

desenhos elas são apresentadas menores e com menos características morfológicas,

seguidos por formigas mais detalhadas e maiores. Ainda nesse estágio é que se inicia a

construção das relações projetivas, que é quando a criança diferencia e coordena os seus

pontos de vista, representando o objeto em uma única cena e muitas vezes dando ideia

de ter dois planos à cena. A relação euclidiana também se inicia nessa fase, quando a

criança começa a coordenar os objetos a serem representados, considerando a distância

e proporções.

Diante do exposto, podemos visualizar que os desenhos das crianças do gênero

feminino são realizados utilizando mais cores e mais detalhes. As meninas buscaram

representar suas formigas em meio a elementos naturais, em sua maioria, utilizando

cores. Já as crianças do gênero masculino, muitas vezes, utilizaram mais o lápis de

escrever, sendo mais objetivos no que gostariam de desenhar. Podemos afirmar que o

mais chamou a atenção do grupo dos desenhos das crianças analisadas foram às partes

do corpo da formiga. Em todos os desenhos foi perceptível a evolução dos traços

morfológicos. Diante das obras realizadas pelas crianças, constatamos que elas

ampliaram o seu conhecimento sobre formigas de forma prazerosa e eficaz.

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6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

É indiscutível que toda criança, quer por razões da curiosidade quer pela

vivência, adquire, mesmo antes do período escolar, condições de acelerar ou reter seu

pensamento, ou seja, de evoluir ou paralisar seu processo de cognição, incluindo-se

nele, também, o ciclo familiar, o contato com o meio, a questão social. Nesses

particulares da infância, destaca-se a fase dos porquês, da observação dos mínimos

detalhes que possam levar à satisfação do esclarecimento sobre aquilo que se passa a

sua volta. Assim, concorda-se com Hamburger e Lima (1989), ao afirmarem que a

aprendizagem da criança deve ser estimulada por meio de situações, fatos e seres

habitualmente observados por elas,nessa perspectiva, cabe ao educador estabelecer

condições que propiciem a interação das crianças com a realidade, com os

conhecimentos propostos , com que elas pensam com os conhecimentos que vão

adquirir em sala de aula, objetivando alcançar conhecimento formal e significativo

sobre qualquer assunto estudado. Sendo, pois, a formiga, objeto desta pesquisa, um

inseto próximo das crianças, poderá também ser um canal de acesso ao estudo de outros

insetos, dada a similaridade de características no grupo dos insetos, o que abre

perspectiva para o campo científico gerar conhecimento dessa classe.

Neste sentido, foram encontradas diversas pesquisas que investigam insetos a

partir da concepção das crianças. Extenso número delas utiliza o desenho como meio de

interpretação das ideias, contudo, a maioria não esclarece a análise sobre

representações. Diversos estudiosos do desenho infantil partem da premissa de que a

criança desenha menos o que vê e mais sobre o que pensa do objeto. Para alguns, a

percepção do objeto corresponde á atribuição do sentido que é dado pela criança,

estabelecendo-se a realidade conceituada e não material. Já Piaget (1973) reitera que o

desenho, entre o jogo simbólico e a imagem mental, submete-se às leis da percepção e

conceituação.

Neste trabalho, com o aporte dos estudos de Piaget, buscou-se compreender

como as formigas foram representadas pelas crianças de 9 e 10 anos. Para tal,

observaram-se representações realizadas que não focalizaram apenas a morfologia, mas

buscaram caminhos para compreender as representações das crianças em uma

perspectiva cognitiva. Assim sendo, segundo os dados analisados, a maioria das

crianças de 9 anos, sem nenhuma intervenção das pesquisadoras, desenharam formigas

com o corpo segmentado. Em uma das representações, a formiga era semelhante à

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barata, com o corpo oval e achatado, com pernas e antenas. Em todas as representações

apareciam os formigueiros, ressaltando o habitat, em meio à natureza. Na maior parte

dos desenhos foram utilizadas cores para caracterizar as formigas e os elementos

naturais, predominando formigas pretas, coloridas nessa cor ou apenas desenhadas com

lápis preto. Percebem-se que as crianças de 9 anos não fazem uso de borracha,

sugerindo-se segurança na realização do desenho.Ademais, a proporcionalidade foi uma

característica dos desenhos. As crianças de 10 anos apresentaram os desenhos coloridos

e delimitados na folha, destacando-se as formigas que, em alguns casos, se

assemelhavam a outros insetos, mas todas tinham corpo segmentado, antenas e pernas.

Uma das crianças, possivelmente inspirada em suas vivências, apresentou as formigas

bem pequenas. Apenas uma criança utilizou borracha enquanto executava o desenho,

demonstrando insegurança sobre o que representava. Conclui-se, também, que a

presença de elementos proporcionais e bem divididos demonstraram que as formigas

eram insetos facilmente percebidos pelas crianças.

Após a primeira intervenção, trazendo informações cientificas sobre formigas,

observou-se, nas representações das crianças novas ideias, diminuindo-se

consideravelmente, os traços antropomórficos, ou seja, desenhavam tentando dar

veracidade às características morfológicas do inseto. Novos conceitos foram

introduzidos nos desenhos, como voo das formigas, mandíbulas e corpo segmentado

mais próximo do real, isso tanto pelas crianças de 9 como de 10 anos. A formiga-rainha

sobressaiu em todas as representações e possuía mandíbula. Dois desenhos

representaram as pernas das formigas saindo do tórax demonstrando que perceberam a

anatomia do inseto. A preocupação das crianças, aparentemente, não estava em ocupar

toda a folha do papel ou delimitá-la, mas sim representar o que percebiam no inseto,

após algumas aulas.

E, assim, ao fim dos dez encontros, marcados pelas trocas de informações sobre

as formigas, os desenhos das crianças receberam diversas influências, possivelmente

das aulas realizadas, e adquirindo um olhar mais atento ao mundo das formigas. Assim

sendo, todos os desenhos das crianças apresentaram partes semelhantes a do filme

Minúsculo, animação apresentada no último encontro da presente pesquisa. Desse

modo, a maior parte das crianças de 9 anos representaram formigueiros, ressaltando

características próprias do habitat das formigas, como panelas e elevações que são

apresentadas no filme, sendo o espaço onde as rainhas botam seus ovos e são

alimentadas pelas demais. A cena inicial do filme - as formigas estão em um

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piquenique - também foi retratada, fazendo-se pensar que as formigas são seres que

vivem em meio à natureza. Todas as formigas apresentaram os corpos segmentados e

semelhantes aos das formigas reais, com mandíbulas, antenas e seis pernas. Este filme

foi fonte de inspiração também para as crianças de 9 a 10 anos representarem a formiga-

rainha cujo abdômen exagerado, parecido com das formigas-rainhas do filme. Com

referência as crianças de 10 anos, retrataram suas formigas no formigueiro. Algumas

entrando com alimentos e outras no seu interior. Desenharam os ovos, pupas e panelas,

mostrando, assim, que conheciam bem o ciclo de vida das formigas. Conforme

mencionado por uma criança, as aulas mais marcantes para ela foram as relativas aos

filmes de animação. Vale lembrar que ela representou uma formiga-rainha próxima ao

seu formigueiro, e cada personagem importante referia à história apresentação no filme.

Também um aluno se inspirou na capa do filme Minúsculo (ANEXO M), para

representar sua formiga. Certo que a maioria das crianças percebeu que o corpo das

formigas é segmentado, apenas alguns desenhos apresentaram sinais antropomórficos.

Os desenhos apresentaram asas, antenas, mandíbulas e pernas. Em todas as

representações, as crianças buscaram harmonizar o desenho com figuras proporcionais e

organizadas para dar sentido ao seu pensamento.

Por outra lado, aspectos polimórficos foram menos citados pelas crianças

pesquisadas, (de 9 e 10 anos), seguido por desenhos com ausência de rebatimento.

Na maior parte dos desenhos foi possível apenas visualiza-los em um plano. Os

materiais que selecionamos para apresentar as crianças pesquisadas foram fonte de

aprendizado efetivo a elas. Para as crianças todas as representações revelaram

influências diretas das aulas ministradas. Por exemplo, perceberam-se no desenho da

aluna Maria, certos aspectos oriundos das aulas, que foram marcantes para a aluna, em

sua última representação. Vivências contextuais em alguns casos, também foram

apresentadas nos desenhos como o do Geraldo que traz, em sua produção, personagem

de um filme visto junto à família.

Cabe ressaltar que durante a execução dos desenhos procurou-se ouvir os

comentários das crianças, uma vez que complementavam o trabalho, indicando suas

ideias tão importantes para o conhecimento da questão. Com afirma Alexandroff

(2010), a relação da fala da criança como o desenho é uma condição fundamental na sua

evolução. Primeiro o objeto é representado e só depois, após a fala da criança, é

reconhecido pelas pesquisadoras, identificando semelhanças com as ideias, é ai que se

dá o inicio do pensamento representativo.

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Assim para a análise dos desenhos, considerou-se não só a idade, dos sujeitos

mas também a diferença de ideias entre meninos e meninas buscando verificar se esses

dados influenciaram as representações. Conclui-se que os desenhos das meninas

apresentavam maior número de dados, que elas eram capazes de perceber os detalhes

da relação da formiga em meio à natureza ou em outra situação, que seus desenhos eram

mais coloridos e instrutivos. Já os meninos apresentaram uma forma mais objetiva de

representar a formiga e explicar sua representação. Enfim, seus desenhos eram concisos

e sem preocupação com o entorno.

Com efeito, a presente pesquisa baseou-se no entendimento de que todo

conhecimento se desenvolve desde o nascimento do indivíduo. Portanto, o pensamento

infantil reflete experiências anteriores ao período escolar, logo vários fatores influem na

aquisição do conhecimento.

Desse modo, a interação das crianças com múltiplas linguagens abre caminho

para que elas manifestem, de maneira espontânea e significativa, os conhecimentos até

então adquiridos. Neste sentido, estudar as formigas na escola significou levar as

crianças a entender a diversidade, observando-as frequentemente em muitos lugares,

próximos a elas. Nessa perspectiva, o ensino oferece ferramentas para que a educação

científica seja significativa preocupando-se com a formação da autonomia, vinculada à

realidade.

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7 – Referências

ALEXANDROFF, M.C. Os caminhos paralelos do desenvolvimento do desenho e da

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140

ANEXOS ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS

RESPONSÁVEIS

UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto

ICHS - Instituto de Ciências Humanas e Sociais

POSEDU – Pós-Graduação em Educação

Mestrado em Educação

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Prezados pais ou responsáveis,

Senhores (as),

Pretendemos realizar na sala de aula do seu filho (a) uma pesquisa sobre as concepções

que as crianças têm sobre as formigas. O objetivo desse trabalho é entender quais os

conhecimentos que as crianças são capazes de construir sobre formigas através do

desenvolvimento de uma sequência didática, durante as aulas de ciências. Para tanto,

será necessário filmar as atividades realizadas na sala de aula. Por isso, vimos pedir

autorização dos Senhores (as), para uso dessas imagens para fins de estudo. Na

oportunidade, esclarecemos que esse material não terá nenhum destino que possa trazer

fins lucrativos. Essas filmagens serão usadas para a análise das aulas, com o objetivo de

desenvolver a dissertação do mestrado em educação e trabalhos acadêmicos sobre a

orientação da Prof. Dra.Sheila Alves de Almeida. Aproveitamos a oportunidade para

comunicar que a pesquisa trará benefícios à aprendizagem das crianças, que terá um

conteúdo todo pensado para ampliar seus conhecimentos sobre as formigas e atividades

que favorecerão a efetivação do processo de ensino e aprendizagem.

Certos de contar com o apoio dos Sr (as) colocamo-nos a disposição para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessários.

Atenciosamente

Giselle Barbosa Andrade Rodrigues

Sheila Alves de Almeida

AUTORIZAÇÃO

Estou ciente dos objetivos da pesquisa e concordo com as filmagens para fins de estudo.

Assinatura do Responsável:

____________________________________________________________________

Ouro Preto, de de 2017.

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ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A

ESCOLA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ICHS- INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

POSEDU- PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – INSTITUIÇÃO

Prezados,

Pretendemos realizar uma pesquisa, com as crianças matriculadas nessa

instituição, tendo como objetivo entender quais os conhecimentos que as crianças são

capazes de construir, a partir do desenvolvimento de uma sequencia didática sobre

formigas. Por isso, vimos pedir autorização dos senhores para a utilização do espaço e

realização da pesquisa. Os dados para o estudo serão coletados por meio das aulas de

Ciências com as crianças do 4º ano I. Os instrumentos de avaliação serão aplicados

pelo(s) pesquisador(es) e tanto os instrumentos de coleta de dados quanto o contato

interpessoal não oferecem riscos previsíveis aos participantes. Em qualquer etapa do

estudo os participantes e a Instituição terão acesso ao pesquisador responsável para o

esclarecimento de eventuais dúvidas, e terão o direito de retirar-se do estudo a qualquer

momento, sem qualquer penalidade ou prejuízo. Aproveitamos a oportunidade para

comunicar que a pesquisa trará benefícios para à aprendizagem das crianças, que terão

contato com conteúdos científicos.

Desde já agradecemos a sua colaboração.

Atenciosamente

Giselle Barbosa Andrade Rodrigues

Sheila Alves de Almeida

Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram

esclarecidas pelo(s) pesquisador(es). Estou ciente que a participação da Instituição e dos

Sujeitos de Pesquisa é voluntária, e que, a qualquer momento ambos tem o direito de

obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar-se da mesma, sem qualquer

penalidade ou prejuízo.

Nome do Representante Legal da Instituição:

______________________________________

Assinatura do Representante Legal da Instituição:

__________________________________

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Anexo C:

Figura 56 - FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos

Anexo D:

Figura 57 - FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos

Anexo E

Page 144: INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO … · caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar da criança em uma perspectiva

143

Figura 58 - printscreen da cena do filme Minúsculos

Anexo F:

Figura 59 - FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos

Anexo G:

Page 145: INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO … · caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar da criança em uma perspectiva

144

Figura 60: FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos

Anexo H:

Figura 11 - FONTE: www.alexanderwild.com

Anexo I:

Page 146: INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO … · caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar da criança em uma perspectiva

145

Figura 62 - FONTE: www.alexanderwild.com

Anexo J:

Figura 63 - FONTE: printscreen da cena do filme Homem Formiga

Anexo K:

Page 147: INSETOS NA ESCOLA: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO … · caso. Como ferramenta, foi construída uma sequência didática para compreender o olhar da criança em uma perspectiva

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Figura 64 – FONTE: www.alexanderwild.com

Anexo L:

Figura 2 - FONTE: printscreen da cena do filme Minúsculos

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Anexo M:

Figura 66 - FONTE: printscreen da capa do filme