90
INSTITUTO DANTE PAZZANESE DE CARDIOLOGIA DIVISÃO DE CIRURGIA SERVIÇO DE CIRURGIA CARDIOVASCULAR MONOGRAFIA Gabriel Cremasco Scardini Getúlio da Silva Lubanco filho Jenny Lourdes Rivas Barreto Pablo Ernesto Alban Yanez Simon Octávio Echeto Inciate AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CIRURGIA DA VALVA AÓRTICA TRANSCATETER São Paulo-SP 2012

INSTITUTO DANTE PAZZANESE DE CARDIOLOGIArepositorio.educacionsuperior.gob.ec/bitstream/28000/2670/1/T... · A primeira troca de valva transcateter foi em 2002 por Cribier e colaboradores(13),

  • Upload
    builiem

  • View
    220

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

INSTITUTO DANTE PAZZANESE DE CARDIOLOGIA

DIVISÃO DE CIRURGIA

SERVIÇO DE CIRURGIA CARDIOVASCULAR

MONOGRAFIA

Gabriel Cremasco Scardini

Getúlio da Silva Lubanco filho

Jenny Lourdes Rivas Barreto

Pablo Ernesto Alban Yanez

Simon Octávio Echeto Inciate

AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CIRURGIA DA VALVA

AÓRTICA TRANSCATETER

São Paulo-SP

2012

2

AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA CIRURGIA DA VALVA

AÓRTICA TRANSCATETER

Monografia para a realização do

Trabalho do Curso de Residência

Médica em Cirurgia Cardiovascular,

apresentado ao instituto Dante

Pazzanese.

Orientadora: DraMagaly Arrais

São Paulo- SP

2012

3

SUMÁRIO

Tabla de contenido

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 5

2. OBJETIVOS ................................................................................................................................. 8

3. DESENVOLVIMENTO ................................................................................................................... 9

3.1. HISTÓRICO ............................................................................................................................. 9

3.2. ANATOMIA CIRÚRGICA DO COMPLEXO VALVAR AÓRTICO ..................................................... 13

3.3. ESTENOSE AORTICA .............................................................................................................. 18

3.4. INDICAÇÃO PARA A COLOCAÇÃO DE BIOPRÓTESE TRANSCATETER ......................................... 23

3.4.1. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO (65,66,67) .................................................................................. 23

3.4.2. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO (65,66,67) .................................................................................. 24

3.5. AVALIAÇÃO PRÉ CIRÚRGICA .................................................................................................. 26

3.5.1. ESTUDOS DE IMAGEM (68) ............................................................................................... 26

3.5.1.1. ECOCARDIOGRAFIA ...................................................................................................... 26

3.5.1.1.1. MORFOLOGIA DA VALVA AÓRTICA ............................................................................... 27

3.5.1.1.2. DIMENSIONAMENTO DO ANEL DA VALVA AÓRTICA ...................................................... 29

3.5.1.1.3. DIMENSÕES E FUNÇÃO DO VENTRÍCULO ESQUERDO ..................................................... 30

3.5.1.2. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA MULTISLICE (MSCT) ............................................... 31

3.5.1.2.1. DIMENSIONAMENTO DO ANEL AÓRTICO PELA TOMOGRAFIA ........................................ 34

3.5.1.3. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (MA) .................................................................................. 36

3.5.1.3.1. AVALIAÇÃO DA RAIZ DA AORTA E ARTÉRIAS CORONÁRIAS. ........................................... 38

3.6. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO PARA IMPLANTAÇÃO DA PRÓTESE AÓRTICA TRANSCATETER ....... 39

3.7. ACESSOS .............................................................................................................................. 41

4

3.8. TIPOS E EVOLUÇÃO DAS PRÓTESES AÓRTICAS TRANSCATETER .............................................. 44

4. TÉCNICA CIRÚRGICA ................................................................................................................. 48

5. TÉCNICA CIRÚRGICA ............................................................... ¡ERROR! MARCADOR NO DEFINIDO.

5.1. IMPLANTE DA VALVA EDWARDS SAPIEN (104) ...................................................................... 51

5.2. IMPLANTE TRANSAPICAL. (105). ........................................................................................... 52

5.3. IMPLANTE DA COREVALVE REVALVING SYSTEM (106). .......................................................... 53

6. SALA HÍBRIDA .......................................................................................................................... 54

7. RESULTADOS E COMPLICAÇÕES ................................................................................................ 56

7.1. OUTROS RESULTADOS CLÍNICOS ........................................................................................... 61

7.2. PREDITORES DE MORTALIDADE ............................................................................................ 61

7.2.1. COMPLICAÇÕES VASCULARES MAIORES. (115) .................................................................. 62

8. EXPERIÊNCIA DO INSTITUTO DANTE PAZZANESE DE CARDIOLOGIA ............................................ 68

9. DISCUSSÃO .............................................................................................................................. 72

10. CONCLUSÕES........................................................................................................................ 74

11. PERSPETIVAS ........................................................................................................................ 75

5

1. INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta uns dos melhores índices sociais da América Latina, evoluindo com

maior urbanização, envelhecimento populacional progressivo, entretanto apresenta índice

de Desenvolvimento Humano (IDH) médio de 0,699, mortalidade infantil média de 19,3

por mil nascidos vivos, expectativa de vida de 72,4 anos, o que classifica o pais no

ranking mundial, respetivamente, na 73ª, 106ª e 92ª posições (1)(2)( 3).

Apresenta grande número de internações por doença cardiovascular, uma significativa

parte pela doença valvar, que tem como principal etiologia a febre reumática,

representada por 70% dos casos, no território brasileiro, diferente dos países

desenvolvidos. Os dados atuais sobre febre reumática são obtidos no site DATASUS, que

não expõe a real prevalência da doença, necessitando de melhores busca de dados

(4)(5).

Nos países em desenvolvimento a febre reumática esta estimada em 20 milhões de

pessoas, sendo a principal causa de morte cardiovascular durante as primeiras 5ª

décadas de vida, com uma incidência de 19 casos por 100 000 habitantes. A febre

reumática pode ocorrer em qualquer idade, principalmente entre 5 e 15 anos. Nos EUA e

outros países desenvolvidos a incidência é de 2 a 14 casos por 100.000 habitantes. O que

reflete provavelmente nos melhores padrões de higiene e tratamento com antibióticos nas

faringites agudas (6).

As doenças das valvas cardíacas, incluindo as secundarias, representam 29% das

causas de insuficiência cardíaca, e são responsáveis, no Brasil, por aproximadamente

31% das cirurgias cardíacas em adultos, particularmente de causa reumática. (7)

A valvopatia mitral reumática mais comum é a dupla disfunção não balanceada

(insuficiência e estenose) manifesta entre a 2ª e 5ª décadas de vida. Caracteristicamente

a insuficiência corresponde a lesão aguda e a estenose a crônica, podendo apresentar

graus variados de estenose e insuficiência concomitantes. O prolapso de valva mitral no

6

Brasil é a segunda causa de insuficiência mitral, cuja evolução é dependente da

intensidade do prolapso e tem idade media de apresentação em torno de 50 anos.

(7)(8)(9)

A valva aórtica tem apresentação bimodal é menos acometida do que a mitral, sendo o

seu comprometimento mais comum no sexo masculino, a cardiopatia reumática e doença

congênita bicúspide em indivíduos jovens, entretanto as doenças valvares podem ter

múltiplas etiologias como por exemplo, aterosclerose da raiz da aorta, necrose cística da

media, degeneração mixomatosa, doença isquémica, calcificação senil, dilatação

ventricular, endocardites e rutura de cordoalhas. (10,11)

A população geriátrica cada vez mais frequente em internação e unidades hospitalares

apresenta índices elevados de calcificação e disfunção valvar, sendo comuns achados de

lesão valvar nesses indivíduos assintomáticos, uma vez que são sedentários ou fazem

pouca atividade física. Além disso, constata-se um aumento de pacientes com co –

morbidades associadas, com limitação para avaliação e tratamento convencional (12).

Assim, nessa última década ocorreu um incremento de novos procedimento e técnicas,

com a necessidade de união entre hemodinamicistas, clínicos e cirurgiões, associando a

novas tecnologias, afim de obter melhores resultados em idosos com co – morbidades

graves, ao passo de contraindicação para tratamentos convencionais, melhorando assim

qualidade de vida.

As novas técnicas de troca de valva percutânea estão sendo aprimoradas e

executadas, principalmente, em grandes centros, com baixa morbidade, tento indicações

ainda restritas, necessitando de estudos e tempo para obter resultados. Porém, novas

tecnologias são necessárias para adequar as dificuldades emergentes encontradas. Ainda

o alto custo freia esse avanço.

O Tratamento padrão ouro da estenose aórtica grave é a troca valvar cirúrgica

comprovada com resultados a longo prazo. No entanto, com o envelhecimento dessa

população associado a co – morbidades graves e ao alto risco cirúrgico, a intervenção

7

valvar transcateter, possibilitou um tratamento com menor morbidade, uma vez que evita

toracotomia e o bypass cardiopulmonar.(12)

A primeira troca de valva transcateter foi em 2002 por Cribier e colaboradores(13), em

um homem com 57 anos com anel valvar calcificado, estenose aórtica com área de 0,6

cm, com FE 14%. Desde então, essa alternativa terapêutica vem sendo discutida e

testada. Sete anos mais tarde mais de 8000 pacientes foram tratados com implante de

prótese valvar transcateter em todo o mundo (14), sendo utilizados dois tipos de próteses:

Edwards SAPIEN uma prótese balão expansiva, com folhetos de pericárdio bovino e a

COREVALVE uma prótese autoexpansiva, folhetos de pericárdio de porco, estando

autorizada sua comercialização em 2007 pela sociedade europeia (15). A seleção de

pacientes para o implante por cateter de prótese valvar aórtica deve obedecer alguns

critérios: 1) presença de estenose valvar aórtica acentuada, sintomática, definida como

orifício valvar aórtico com área< 1 cm² 2) idade > 75 anos e alta probabilidade de

morbidade e mortalidade cirúrgica pela presença de comorbidades. 3) presença de

condição anatômica e morfológica favorável para o procedimento por cateter.

Adicionalmente, em pacientes com estenose aórtica acentuada e alto risco cirúrgico, o

implante por cateter apresenta-se como alternativa eficaz capaz de alterar o curso natural

da doença. (14)

O Brasil iniciou sua experiência em 2008 após aprovação e a disponibilidade do

sistema CoreValve com posterior aprovação da Edwards-SAPIENS, com criação de um

registro nacional para acompanhamento dos resultados do implante de bioproteses

aórticas (14).

Vem surgindo um novo conceito na cardiologia, um conceito de parceria, afim de

complementar as técnicas já existentes, unindo cirurgiões cardiovasculares e

cardiologistas intervencionistas, denominada terapia hibrida.

8

2. OBJETIVOS

O objetivo geral deste levantamento bibliográfico é a atualização no desenvolvimento

no tratamento híbrido transcateter da doença da valva aórtica, principalmente de

pacientes em alto risco, geralmente em idade avançada.

Além disso, socializar e difundir este novo tipo de tratamento disponível para pacientes

graves, geralmente com múltiplas co – morbidades e que tem neste procedimento uma

esperança maior de vida.

Assim este trabalho visa conhecimento e entendimento para direcionar os pacientes

para um tratamento de eleição.

9

3. DESENVOLVIMENTO

3.1. HISTÓRICO

A Cirurgia Cardiovascular vem aumentando em complexidade e permitindo melhores

abordagens para o tratamento dos pacientes. Não há dúvida que a circulação

extracorpórea (CEC) foi um grande avanço nesta especialidade, já que permitiu desde a

primeira cirurgia com sucesso em 1953, a realização de cirurgias para correção de

defeitos intracardíacos, antes impossíveis. Os trabalhos desenvolvidos inicialmente por

Gibbon Jr., Clarence Dennis, Walton Lillehey, De Wall, Kirklin, Cooley e outros

propiciaram a evolução da Cirurgia Cardíaca como nós a conhecemos no momento

(16,17,18).

Na doença da valva aórtica, no início do século passado, a ciência médica declarava

não haver tratamento para um paciente com estenose severa, apenas um

acompanhamento clínico até o final de seus dias, (19) embora Tuffier em 1912 realizasse

dilatação digital (17). Anos depois, em 1947 na Universidade de Carolina do Sul, Smithy e

Parker fizeram os primeiros trabalhos de valvulotomia aórtica por dispositivos

transventriculares ou digitais, todos sem acesso intracardíaco. (20).

Anos mais tarde desenvolviam-se próteses de gaiola-bola em posição heterotópica

(colocadas na aorta descendente) para o tratamento da insuficiência aórtica em 1952.

Como já dito, com a introdução da CEC, iniciou-se a intervenção valvar sobre visão direta,

com a substituição dos folhetos aórticos por dispositivos de Ivalon suturados ao anel

valvar aórtico, os quais calcificavam e tinham curta vida útil (19,20). Após, conseguiu-se

em 1963 (21,22) a colocação ortotópica de uma prótese de gaiola-bola, conhecida como

Star-Edwars, com uma boa durabilidade. Começou então um continuo trabalho para

melhorar os modelos, os materiais e o funcionamento destas próteses valvares, passando

por sistemas de mono disco, duplo disco e prótese biológicas de diferente tipo de tecido

(19) além de desenvolver técnicas e materiais que tornaram mais segura a circulação

extracorpórea (23,24).

10

As intervenções percutâneas na valva aórtica começaram por Lababidi em 1984, com o

tratamento em crianças e jovens com estenose aórtica congênita não calcificada com

valvuloplastia por balão (25,26) obtendo resultados bons no curto e no longo prazo

(26,27,28).

Para valvas aórticas calcificadas a intervenção percutânea é mais restrita (25). Foi

reportada pela primeira vez em 1986 (29), como um procedimento menos invasivo e como

alternativa à cirurgia aberta de troca valvar em pacientes de alto risco. Não obstante,

pacientes tratados com valvoplastia por balão obtiveram altas taxas de recorrência e

complicações, com diminuição da sobrevida. Não sendo constatada diferença a longo

prazo entre tratamento clinico medicamentoso e percutâneo com balão (30,31,32). É por

isso que tem indicações restritas como, por exemplo, o choque cardiogênico por estenose

aórtica como mecanismo de ponte para a cirurgia aberta, estenose aórtica sintomática em

necessidade de cirurgia não cardíaca de urgência, alto risco cirúrgico, idade maior de 90

anos e teste diagnóstico nos casos de baixo gradiente de pressão e baixa velocidade de

fluxo transaórtico (25).

Por outro lado, a experiência com prótese aórtica transcateter iniciou em 1965 com

Hywel que publicou uma experiência em cachorros na colocação por via arterial de um

dispositivo em guarda-chuvas, a prótese de Hufnagel, na aorta descendente, indicando

que poderia ser utilizada em pacientes com insuficiência aórtica severa que estão

gravíssimos, em falência cardíaca e com alto risco cirúrgico (33).

Os experimentos com animais continuaram e em 1992, Andersen et.al., publicaram

seus trabalhos com uma prótese aórtica expansível implantada transcateter em porcos

(34). Em 2000, Bonhoeffer et.al., publicam uma técnica em cordeiros para colocação de

uma prótese valvar biológica em posição pulmonar. Esta prótese era composta por uma

veia jugular dissecada, preparada e suturada dentro de um stent de platina, contendo a

prótese biológica dentro da veia. A prótese foi inclusa em um sistema de cateter-balão,

inserida e liberada percutâneamente na posição pulmonar (35). Dois anos mais tarde o

mesmo autor publicava o sucesso em oito pacientes com estenose e/ou insuficiência

11

pulmonar tratados com esta técnica (36) além da descrição de uma adaptação para

colocar-se em posição aórtica e os resultados desta num estudo em cordeiros (37).

Cribier et.al. publicam no mesmo ano, 2002, a primeira descrição de implante de uma

valva protética aórtica percutânea em um paciente com estenose aórtica calcificada; o tipo

de prótese utilizada foi biológica, montada num stent expansível por balão. A via de

abordagem foi pela veia femoral, com ingresso transseptal às cavidades cardíacas

esquerdas. O paciente além da estenose aórtica tinha comorbidades e instabilidade

hemodinâmica com risco cirúrgico muito elevado (13).

Em 2004, Alain Cribier et al., publicam novamente uma serie de seis pacientes com

estenose aórtica severa calcificada, com indicação cirúrgica de troca valvar, mas com

tratados com a colocação de próteses aórticas por via transseptal, porque apresentavam

instabilidade hemodinâmica e/ou severas comorbidades que tornavam a conduta cirúrgica

proibitiva. Ele utiliza uma prótese biológica formada por três folhetos de pericárdio equino,

montadas sobre um stent de aço inoxidável, expansível com balão (38).

Grube, et.al., apresentam um novo modelo de prótese valvar aórtica, com um conceito

de colocação autoexpansível, no lugar da utilização de um stent balão expansível, no ano

de 2005 (39). Esta prótese é conhecida como CoreValve (39,40).

Em 2006, foram apresentados os resultados de trinta e seis pacientes de

características similares aos prévios, começando o I-REVIVAL (Initial Registry of

Endovascular Implantation of Valves in Europe trial). Neste trabalho inicia-se a

enumeração das limitações no uso desta técnica, como anel aórtico maior de 24mm ou

menor de 19mm de diâmetro (41). Nesta época houve uma mudança na prótese utilizada,

da Cribier-Edwards valve originalmente de pericárdio equino para uma de segunda

geração, a Edwards-Sapienvalve da Edwards LifesciencesInc, de pericárdio bovino (42).

Além disso, o I-REVIVAL muda pra o RECAST trial (Registry of Endovascular Critical

Aortic Stenosis Treatment trial) (41).

Neste mesmo ano, 2006, publicam-se os primeiros trabalhos do acesso transapical das

próteses Criebier-Edwards, primeiro Walther et.al.com trabalhos experimentais em porcos

12

(43) e logo Lichtenstein e Ye no Canadá com os primeiros experimentos em humanos

tratados com esta técnica (44,45).

Nos últimos anos, novas técnicas de aceso vascular foram descritas, como através da

artéria axilar (46,47) e subclávia esquerda (48,49) em 2009, trans-aórtica por

minitoracotomia com aceso pela aorta ascendente (50) em 2012. E recentemente um

aceso pela artéria carótida esquerda (51).

Por último, no princípio deste ano, uma experiência em porcos foi reportada sobre a

ressecção transapical da válvula aórtica por um sistema laser, com uso de CEC. As

perspectivas desse trabalho são ressecar os folhetos aórticos calcificados, previamente à

colocação de uma prótese pela mesma abordagem transapical, sem uso de CEC, e desta

forma diminuir a incidência de refluxo para-valvar pela presença de cálcio em grande

quantidade no anel e os folhetos valvares (52).

A cardiologia intervencionista desenvolveu-se durante as últimas décadas. Seu

progresso abre novas direções para o tratamento dos defeitos cardíacos. Hoje, muitas

lesões simples e complexas são adequadas para a correção ou tratamento paliativo no

laboratório de cateterismo (53).

No meio da década do 1990, procedimentos cirúrgicos e intravasculares foram fundidos

para realizar o que se conhece genericamente como operações híbridas. Elas surgem a

partir dos esforços colaborativos de cirurgiões, cardiologistas intervencionistas,

ecocardiografistas, anestesiologista e radiologistas. A ideia é a de desenvolver terapias

que ofereçam as vantagens da cirurgia e das técnicas intervencionistas no mesmo

cenário (54).

Com este histórico, compreende-se que se exige hoje que o cirurgião cardiovascular

seja capaz de ultrapassar as fronteiras do tratamento padrão e criar novas estratégias

para terapêutica de seus pacientes.

13

3.2. ANATOMIA CIRÚRGICA DO COMPLEXO

VALVAR AÓRTICO

Para o implante de próteses aórticas transcateter, necessita-se, além do conhecimento

geral da anatomia da valva aórtica e seus folhetos, que se repare em detalhes da

morfologia do seio de Valsalva e das estruturas adjacentes, conhecida como “raiz aórtica”.

A importância destes detalhes é permitir uma correta escolha da prótese a ser implantada

e garantir o sucesso posterior (55) (41).

A via de saída do ventrículo esquerdo se continua com a raiz aórtica, sempre colocada

como centro anatômico do coração. Um corte no feixe curto pode-se observar a valva

aórtica e as origens das artérias coronárias adjacentes ao tronco da artéria pulmonar,

dirigindo-se ao sulco atrioventricular (Figura 1).(56)

Figura 1 Feixe curto do coração. Imagem na

peça anatômica e no eco-transesofágico

O limite superior da raiz aórtica é a junção sinotubular, que se continua com a aorta

ascendente; o limite inferior é o aceso basal dos folhetos e sua comunicação com o

ventrículo esquerdo (Figura 2). (56)

Ao seu redor mantém relação com todas as quatro cavidades cardíacas. Os dois terços

da circunferência da porção basal da raiz aórtica está em relação com a porção muscular

14

do septo interventricular, o terço restante se continua com a porção fibrosa do folheto

anterior da valva mitral. Para a face anterior e esquerda tem relação com o infundíbulo

subpulmonar, na porção septal (Figura 2, 3 e 5). (56)

Figura 4. Raiz da aorta aberta por uma incisão anterior. Os anexos semilunares dos

folhetos têm a dobradiça do folheto apoiada por outro seio não coronário, destacado como

a linha azul pontilhada. Note-se também que uma parte dos folhetos surge do septo

ventricular muscular (linha a tracejado vermelho), mas as restantes partes dos folhetos

estão em continuidade fibrosa com a valva mitral (linha tracejada verde). A coronária

direita é mostrada pela estrela vermelha e a coronária esquerda com a estrela azul.

Figura3: Feixe curto do coração.

Observa-se a relação da valva aórtica

Figura2: Feixe longo do coração. Nota-se a

continuidade da via de saída do VE e a raiz aórtica

Figura3: Feixe curto do coração. Observa-se a

relação da valva aórtica com o septo, a valva

mitral e o infundíbulo

15

Figure 5 Raiz aórtica, num corte longitudinal. A linha tracejada vermelha mostra a união

anatômica ventrículo-aórtica

Os seios de Valsalva levam o nome segundo a artéria coronária que se origina nele.

Assim: seio coronário direito, seio coronário esquerdo e seio não coronariano (Figura 1).

As paredes laterais são formadas pelo mesmo tecido de fibro-colágeno da aorta, em

união com o tecido muscular do ventrículo esquerdo; os folhetos valvares formam uma

semilua, com a concavidade em direção à aorta. Desta forma os bordos laterais da

semilua de cada folheto formam um triângulo de base inferior em relação com a via de

saída do VE (Figures 5 e 6). Parte dos folhetos valvares está saindo do tecido fibro-

colágeno aórtico e parte da área muscular (Figure 6) (56)

16

Figure 6: União fibrosa mitro-aórtica (trígono fibroso)

Anéis da raiz aórtica. O anel aórtico, de fundamental importância na implantação

cirúrgica da valva aórtica, não é mais do que a união das linhas semilunais dos folhetos

com a parede do seio de Valsalva. Porém, anatomicamente na raiz aórtica pode-se

observar três anéis (Figura 7) (56):

17

Figure 7: Anéis virtuais da raiz aórtica. O desenho mostra em verde o anel basal, em

amarelo a união anatômica entre o ventrículo esquerdo e a artéria aorta, em azul a união

sino-tubular e em vermelho as linhas de união dos folhetos semilunais. Ao lado os

diâmetros que correspondem a estes anéis.

1. Anel basal: Formado pela união virtual dos pontos de inserção basal dos folhetos da

valva aórtica. Constitui a junção da via de saída do VE com o seio de Valsalva ou a

raiz aórtica. Os ecocardiografistas reportam o diâmetro deste anel como “anel

aórtico”, mas, essa medida não constitui um diâmetro, na realidade é uma tangente;

para fazer uma medição do diâmetro é necessário medir um ponto de inserção

basal de um folheto até o triangulo de separação dos folhetos opostos.

2. União anatômica ventrículo-aórtica. É a continuidade entre o tecido fibroso da

parede aórtica com o músculo ventricular. Como foi discutido previamente, isto

ocorre no folheto coronariano direito e parte dos outros dois folhetos, desta forma

grande parte do folheto não coronariano e o folheto coronariano esquerdo são uma

continuação fibrosa do folheto anterior da valva mitral (Figure 2).

3. União sino-tubular: corresponde aos cumes sinusais, que são sítios de

espessamento nas zonas de união dos folhetos valvares. Este anel marca a

continuidade entre a raiz aórtica e o tubo aórtico.

Nos extremos desta área de continuidade fibrosa há um espessamento que forma o

chamado trígono fibroso que ancora a unidade valvar mitro-aórtica com o teto do VE.

Na estenose aórtica, a raiz aórtica se alonga, sem variar o diâmetro do anel basal.

Este jeito semilunar perde sua forma e adquire uma estrutura mais parecida a um anel

propriamente dito, acrescentando a estenose e a insuficiência. (56)

Artérias coronárias. Normalmente as artérias coronárias nascem dos seios de

valsalva adjacentes à artéria pulmonar, abaixo do anel da junção sino-tubular. É

18

importante conhecer a distância entre a porção inferior do seio de valsalva e a origem das

artérias coronárias, devido a que algumas próteses têm uma saia no anel de implantação

que poderia cobrir os orifícios de origem das coronarias. Além disso, os folhetos nativos

da valva aórtica também podem obstruir a origem das artérias coronarias no momento de

se juntar na parede da raiz aórtica. (56)

Sistema de condução. Desde o átrio direito pode-se observar triângulo de Koch,

formado pelo tendão de Todaro, o bordo superior do folheto septal da valva tricúspide e o

orifício do seio coronário. Pelo vértice formado pelo tendão de Todaro e o folheto septal

da valva tricúspide, encontra-se a porção membranosa do septo atrioventricular. Neste

lugar está localizado o nodo atrioventricular, perto da região subaórtica e membrana

septal da via de saída do ventrículo esquerdo. (56)

3.3. ESTENOSE AORTICA

Os primeiros trabalhos para tratamento da doença valvar aórtica com dispositivos

valvulares introduzidos por cateter foram enfocados na insuficiência severa (33), hoje os

pacientes com estenose aórtica severa são os únicos beneficiados deste tipo de

procedimentos. Por essa razão a continuação tem um resumo breve desta doença.

A estenose aórtica é a doença valvar mais comum e a terceira causa de doença

cardiovascular do mundo ocidental, principalmente em idosos (55), além de estar

presente importantemente nos países não desenvolvidos como consequência da febre

reumática, geralmente pacientes jovens (57). Esta enfermidade ocorre quando existe uma

obstrução à ejeção do sangue desde o ventrículo esquerdo até a aorta, podendo ser esta

obstrução subvalvar, valvar (a mais comum) e supravalvar (58).

As causas mais comuns de estenose aórtica são (58):

1. Congênita

1. Valva unicúspide

2. Valva bicúspide

19

2. Reumática

3. Degenerativa ou calcificada (inflamatória) (55)

4. Outras causas não frequentes

a. Hipercolesterolemia homocigótica tipo II

b. Doença de Paget

c. Insuficiência renal

d. Exposição à radiação

A doença reumática da valva aórtica gera fusão comissural e posterior engrossamento,

fibrose e calcificação do folheto (58). Na doença valvar aórtica conhecida ate vários anos

como degenerativa, agora é classificada como inflamatória, nestes casos o fluxo de

sangue anormal através da valva aórtica gera dano endotelial com inflamação

subendotelial posterior e acumulação de lipoproteínas de baixa densidade (LDL, low

density lipoprotein), que se continua com a acumulação de depósitos de cálcio no

endocárdio, com uma fisiopatologia similar à arterosclerose e a elastocalcinose (55,59).

Existem fatores de risco para a calcificação da valva aórtica e estes são os mesmos da

aterosclerose, como idade avançada, sexo masculino, tabaco, hipertensão, LDL

colesterol, lipoproteína e proteína C reativa elevadas (55,60). Por isso, alguns pacientes

têm como comorbidade manifestações deste processo patológico em outros órgãos alvos,

apresentando hipertensão arterial ou doença coronária (59).

O processo de obstrução valvar geralmente desenvolve-se gradualmente em anos ou

décadas (61). O sintoma mais comum e frequente é a dispneia ou a intolerância aos

exercícios. Os sintomas típicos da estenose aórtica são angina, síncope e falha cardíaca,

Figure 8 Sobrevida dos pacientes com estenose aórtica

no tempo (41)

20

que se manifestam tardiamente no curso da doença, e estão associados com 50% de

mortalidade aos 5, 3 e 2 anos respetivamente se não fosse tratada a doença. (55,58).

Esses dados foram confirmados no Trial PARTNER que evidenciou uma mortalidade de

50% em um ano, nos pacientes com estenose aórtica grave e que fora descartado o

tratamento cirúrgico convencional (62).

A calcificação valvar aórtica, em presença de valva bicúspide congênita provavelmente

é consequência às profundas anormalidades no fluxo de sangue nesta estrutura (55).

Outras enfermidades associadas com uma evolução acelerada da estenose aórtica, além

da doença reumática, são a insuficiência renal crónica, doença de Paget, exposição à

radiação e hipercolesterolemia homozigótica familiar (55).

Fisiopatologicamente, um aumento na pós carga do ventrículo esquerdo se apresenta

cada vez maior conforme progride a estenose da valva, concomitantemente com um

aumento no stress da parede ventricular. A pressão ventricular esquerda aumenta tanto

na fase sistólica como a diastólica, junto com a espessura das paredes ventriculares. Ao

final da enfermidade o ventrículo esquerdo desenvolve dilatação e cardiomiopatia junto

com disfunção sistólica (55).

O ecocardiograma constitui a principal prova para avaliar o diagnóstico e a severidade

da estenose aórtica. Os critérios de severidade atuais são (55,58,61):

Tabela 1. 2006 ACC/AHA Gradação da estenose aórtica

EA leve EA moderada EA severa

AVA (cm2) >1,5 1,5 – 1,0 <1,0

AVA index (cm2/m2) ˂0,6

Gradiente médio (mmHg) ˂25 25 – 40 >40

21

Velocidade de fluxo aórtico (m/seg) <3,0 3.0 – 4,0 >4,0

ACC/AHA: American College of Cardiology/American Heart Association. EA:

Estenose aórtica. AVA: Área valvar aórtica.

A cirurgia de troca valvar é o único tratamento considerado classe I pelas guias de

tratamento da doença valvar aórtica da ACC/AHA e Europeiasem pacientes adultos com

sintomas severos. A prótese a ser implantada pode ser mecânica ou biológica; a

mecânica é durável, com excelente hemodinâmica e com necessidade de anticoagulação

indefinida, porem a prótese biológica não precisa de tratamento anticoagulante, mas esta

apresenta uma duração menor (61,64).

Não existe tratamento medicamentoso comprovado que controle a progressão da

doença valvar aórtica. Estudos sobre uso de acido acetil salicílico com ou sem

hipolipemiantes foram realizados, mas, nenhum mostrou diferença significativa nem no

grau de estenose, nem na evolução ao longo do seguimento. O objetivo geral do

tratamento medicamentoso consiste em tratar doenças sobrepostas que possam

exacerbar o processo evolutivo da doença valvar (55).

O tratamento cirúrgico (troca valvar) na estenose aórtica está indicado nas seguintes

condições segundo o Colégio de Cardiologistas dos Estados Unidos (61):

1. Estenose aórtica severa em paciente sintomático (Classe I, Nível de Evidencia B).

2. Estenose aórtica severa em pacientes que será submetido a cirurgia de coronárias

(Classe I, Nível de Evidencia C).

3. Estenose aórtica severa em pacientes que serão submetidos a cirurgia de aorta ou

de outra valva (Classe I, Nível de Evidencia C).

4. A troca da valva aórtica é recomendada na estenose aórtica severa com disfunção

sistólica do ventrículo esquerdo (fração de ejeção menor de 50%) (Classe I, Nível

de Evidencia C)

22

5. A troca da valva aórtica é razoável para pacientes com estenose aórtica moderada

que serão submetidos a cirurgia de revascularização coronária ou na aorta ou outra

válvula (Classe IIa, Nível de Evidencia B)

6. Troca da valva aórtica pode ser considerada em pacientes assintomáticos com

estenose aórtica severa e resposta anormal ao exercício, seja desenvolvimento de

sintomas ou hipotensão assintomática (Classe IIb, Nível de Evidencia C)

7. Troca da valva aórtica pode ser considerada em pacientes adultos com estenose

aórtica severa, assintomáticos, se tem a alta possibilidade de uma rápida

progressão pela idade, calcificação ou doença coronária ou se a cirurgia pode ser

atrasada até os sintomas aparecer (Classe IIb, Nível de Evidencia C).

8. Troca valvar pode ser considerada em pacientes assintomáticos com estenose

aórtica extremadamente severa, área valvar menor de 0,6cm2, gradiente médio

maior de 60mmHg e velocidade do jato maior de 5.0m/s quando o risco cirúrgico de

mortalidade é de 1% ou menor (classe IIb, NE C).

23

Figure 3 Tratamento cirurgico da estenose aórtica (55) (41)

3.4. INDICAÇÃO PARA A COLOCAÇÃO DE

BIOPRÓTESE TRANSCATETER

3.4.1. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO (65,66,67)

1) Estenose aórtica grave:

1.1-Conforme o Guideline de 2008 da ACC/AHA estenose aórtica grave é definida

como, área valvar <1cm, gradiente transvalvar maior 40mmHg ou velocidade do jato

maior 4 m/seg. Essas medidas devem ser feitas por ecocardiograma e validadas até 45

dias.

2) Indicação confirmada para intervenção cirúrgica

24

2.1-Paciente sintomáticos com estenose aórtica grave.

2.2-Pacientes com estenose aórtica grave que ira ser submetido a outra cirurgia

cardíaca.

2.3-Pacientes com estenose aórtica grave com disfunção ventricular esquerda com

FE < 50%.

3) Paciente de alto riso:

3.1-Para ser considerado paciente de alto risco um intervencionista cardiovascular

e dois experientes cirurgiões cardiovasculares tem que concordar, uma vez que o

tratamento cirúrgico aberto excede a probabilidade de melhora significativa, com maior

morbi-mortalidade. Esses cirurgiões devem especificar os fatores médicos ou anatômicos

que levam a essa conclusão e incluir uma cópia do cálculo do STS (STS score >10% é

grave) e/ou euroSCORE(Euro SCORE >20% é grave) para identificar os riscos do

paciente. Um dos cirurgiões tem que avaliar e examinar o paciente.

Paciente com mais 80 anos, obesidade mórbida, pequeno anel valvar, DPOC grave,

aorta calcificada, reoperações e acidentes vasculares cerebrais devem ser avaliados e

reforça ainda mais a gravidade do caso.

A avaliação geral de todos os consensos sobre o beneficio desses procedimentos

baseia-se na maior qualidade de vida em populações com expectativa de vida menor que

1 ano.

3.4.2. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO (65,66,67)

1) Evidências de um infarto agudo do miocárdio em menos de um mês (30 dias) antes

do tratamento pretendido. (definido como onda Q patológica e CKMB ou troponina

aumentadas maior que duas vezes o normal).

2) Valvulopatía aórtica congênita unicúspide ou bicúspide, ou não calcificada.

25

3) Doença da valva aórtica mista (estenose aórtica e regurgitação aórtica com

insuficiência aórtica predominante maior que 3 +).

4) Instabilidade hemodinâmica ou respiratória, necessitando de drogas vasoativas,

ventilação mecânica, ou assistência circulatória dentro de 30 dias da avaliação.

5) Necessidade de cirurgia de emergência por qualquer motivo.

6) Cardiomiopatia hipertrófica com ou sem obstrução.

7) Disfunção ventricular esquerda grave, com FEVE <20%.

8) Hipertensão pulmonar grave e disfunção do Ventricular Direita.

9) Evidência ecocardiográfica de massa intracardíaca, trombo ou vegetação.

10)Contraindicação conhecida ou hipersensibilidade a todos os regimes de

anticoagulação, ou incapacidade de ser anticoagulado para o procedimento.

11) Anel aórtico nativo com tamanho de anel <18 mm ou> 25 mm, medida pelo

ecocardiograma.

12) AVC ou AIT dentro de 6 meses (180 dias) do procedimento, confirmada com

ressonância magnética.

13) Insuficiência renal (creatinina> 3,0 mg / dL) e / ou estágio final da doença renal

crônica com necessidade de diálise no momento da triagem.

14) Expectativa de vida estimada <12 meses (365 dias), devido a causas não-

cardíacas.

15) Demência grave que incapacita.

16) Doença da aorta significativa: incluindo aneurisma de aorta abdominal ou torácica

com luz igual ou maior que 5 cm de diâmetro, tortuosidade acentuada, arco aórtico

ateromatoso com espessamento > 5 mm (saliente ou ulcerada) ou estreitamento

26

(especialmente com calcificação e irregularidades de superfície) da aorta abdominal ou

torácica com grave "desdobramento" e tortuosidade da aorta torácica.

17) Regurgitação mitral severa.

3.5. AVALIAÇÃO PRÉ CIRÚRGICA

3.5.1. ESTUDOS DE IMAGEM (68)

A seleção adequada do paciente constitui a principal determinante de sucesso para

o implante de protese Aortica Transcateter, sendo isto de responsabilidade da equipe

multidisciplinar, constituida por cardiologistas clínicos, cirurgiões e intervencionistas

cardiovasculares, especialistas em imagem, e anestesistas.

Na seleção dos candidatos, a confirmação da gravidade da estenose aórtica,

avaliação dos sintomas, expectativa de vida e qualidade de vida, bem como risco de

cirurgia juntamente com a avaliação da viabilidade da protese valvar aórtica transcateter,

devem ser considerados.

A gravidade de estenose aórtica, a avaliação da aorta, do sistema arterial ílio-

femoral são critérios que determinam a inclusão / exclusão para implantação percutânea

da prótese aórtica e têm implicações importantes para o planejamento pré-procedimento

da via de acesso e dimensionamento da prótese. Neste respeito, atuais modalidades de

imagem, incluindo ecocardiografia, tomografia computadorizada multislice (MSCT) e

ressonância magnética (MRI) permitem a avaliação da morfologia da valva aórtica, grau

de estenose desta e anatomia da aorta, e do sistema arterial ílio-femoral juntamente com

dimensões e função ventricular esquerda.

3.5.1.1. ECOCARDIOGRAFIA

O Diagnóstico qualitativo e a avaliação da gravidade da estenose aórtica

dependem principalmente de técnicas de imagem, entre estes, o ecocardiograma.

27

A Ecocardiografia bidimensional permite avaliar a anatomia valvar aórtica

(tricúspide / bicúspide), função com visualização direta do movimento restritivo de uma ou

mais cúspides. No entanto, para estimar precisamente a gravidade da estenose da valva

aórtica requer metodologia Doppler.

A Avaliação da morfologia da valva aórtica e da gravidade da estenose aórtica é

crucial antes da implantação da valva aórtica transcateter. Apenas os pacientes com

estenose aórtica grave sintomática serão candidatos para este procedimento de acordo

com recomendações atuais.

Além disso, uma valva aórtica bicúspide pode determinar uma má adaptação da

prótese, por ser mais elíptica. A ecocardiografia ainda permite a avaliação da função

ventricular esquerda e a avaliação da insuficiência aórtica ou doença da valva mitral

concomitante.

Portanto, a ecocardiografia e suas diferentes metodologias desempenham um

papel central na avaliação do paciente antes do implante da valva aórtica transcateter.

3.5.1.1.1. MORFOLOGIA DA VALVA AÓRTICA

Antes da implantação da valva aórtica transcateter, é extremamente importante

determinar a anatomia da aorta e morfologia da valva, compreendendo a extensão e

localização da calcificação.

A ecocardiografia transtorácica facilmente determina a anatomia valvar aórtica

bicúspide. Em diástole, a partir do eixo curto para-esternal, vê-se a típica coaptação em

“Y" das três cúspides, enquanto a valva bicúspide mostra duas cúspides, com dois seios e

uma única comissura linear. Algumas vezes, um rafe pode estar presente, fortemente

calcificado com fusão comissural, tornando desafiador a diferenciação entre bicúspide ou

tricúspide. Nos casos em que a janela acústica não permita a adequada visualização da

valva aórtica, o ecocardiograma transesofágico vai definir sua morfologia. A presença de

uma valva bicúspide tem sido proposta como contraindicação para este procedimento. No

28

entanto, poucas séries demonstraram que o implante de valva aórtica transcateter é viável

neste tipo de morfologia, embora possa ocorrer uma implantação incompleta.

Recentemente, Zegdi etal. descrevem uma série de 16 pacientes com estenose

aórtica grave com valva bicúspide com implantação da valva aórtica transcateter. Em

todos os pacientes foi usada uma prótese auto-expansível, e foi observada uma única má

adaptação não-circular do stent (69).

Fortemente relacionada ao envelhecimento, a calcificação da valva aórtica é um

achado comum em pacientes idosos com estenose aórtica grave, não considerados

adequados para a substituição cirúrgica da valva aórtica. A extensão e localização das

calcificações determinam o sucesso do procedimento (69).

Calcificações volumosas localizadas ao longo dos folhetos ou nas comissuras

dificultam a ancoragem e implantação da armação do dispositivo e, finalmente, pode levar

a uma complicação com risco de vida, tal como oclusão dos óstios coronarianos (70).

No entanto, a avaliação da extensão e localização das calcificações da aorta e da

valva aórtica são mais evidentes na tomografia cardíaca multicortes (MSCT), a

modalidade de imagem ideal para esta finalidade.

As diretrizes da American Heart Association estebelecem vários parâmetros

hemodinâmicos para definir a gravidade da estenose aórtica: velocidade máxima,

gradiente transvalvar e área valvar (71). Estes parâmetros podem ser obtidos com

Doppler. A estimativa precisa da estenose aórtica requer a obtenção correta da

velocidade do jato máximo através do orifício estenótico. É a medição mais reprodutível e

preditor mais forte de desfecho clínico (72).

No eixo longo da janela transtorácica apical, o feixe de ultrassom Doppler é

alinhado com a direcção do fluxo de sangue através do orifício estenótico. O Doppler

colorido e útil para conseguir um alinhamento adequado. A partir da gravação contínua do

Doppler, é medida a velocidade máxima e, com base na equação de Bernoulli

simplificada, calcula-se o gradiente de pressão máxima transaórtica: Pmax = 4Vmax2.

29

A equação de continuidade para calcular a área da válvula aórtica, é o método

mais utilizado (72). Esta equação requer uma medição da área de secção transversal do

ventrículo esquerdo e da via de saída, a integral da velocidade-tempo do fluxo na via de

saída do ventrículo esquerdo e no orifício estenótico. Na prática, as integrais de

velocidade-tempo são substituídas pelas velocidades máximas, desta maneira se faz a

equação de continuidade simplificada AVA = CSALVOT × VLVOT / VAS (Onde AVA é

área da valva aórtica, CSALVOT é a área da secção transversal da via de saída do

ventrículo esquerdo, VLVOT é a velocidade máxima na via de saída do ventrículo

esquerdo, e VAS é máxima velocidade na valva aórtica) (72).

De acordo com as diretrizes atuais, a estenose aórtica grave é definida por uma

velocidade do jato >4 m/s, gradiente de pressão médio da valva >40 mmHg, ou área

aórtica <1,0 cm2 (71).

3.5.1.1.2. DIMENSIONAMENTO DO ANEL DA

VALVA AÓRTICA

Para evitar complicações graves, como a migração da prótese, e para minimizar o

risco de refluxo paravalvar significativo após implante da prótese, é obrigatória uma

avaliação precisa das dimensões do anel da valva aórtica. No entanto, não há um padrão

estabelecido de um método ouro para medir o anel da valva aórtica.

O ecocardiograma transtorácico é o primeiro método usado para estimar o

diâmetro do anel da valva aórtica. A partir do eixo longo para esternal mede-se o diâmetro

do anel da valva aórtica. Da mesma forma o ecocardiograma transesofágico, no eixo

longo, fornece uma excelente avaliação do trato de saída do ventrículo esquerdo, anel da

valva aórtica e raiz da aorta. No entanto, o ecocardiograma transesofágico geralmente

produz valores maiores do que o ecocardiograma transtorácico. Portanto, em casos

controversos com valores limítrofes, a avaliação com ecocardiograma transesofágico no

laboratório de cateterismo torna-se importante para a tomada da decisão.

30

A experiência tem mostrado que a valva balão expansível de 23-mm é adequada

quando a dimensão do anel varia entre 18 e 22 mm, enquanto que de 26 mm é preferido

nos casos com diâmetro anelar entre 21 e 26 mm (73).

No que diz respeito a prótese auto-expansível, o dispositivo de 26 mm é apropiado

para um tamanho do anel de 20-24mm e o dispositivo de 29mm é mais adequado para

um anel de 24-27 mm (74).

Finalmente, de acordo com as recomendações atuais, o implante da valva aórtica

transcateter deve ser contraindicado quando o tamanho do anel da valva aórtica é <18

mm ou> 25 mm, para dispositivos balão-expansíveis, e <20 mm ou>27mm, para próteses

auto-expansíveis (74).

3.5.1.1.3. DIMENSÕES E FUNÇÃO DO

VENTRÍCULO ESQUERDO

Em pacientes com estenose aórtica grave, a fração de ejeção do ventrículo

esquerdo é uma das principais determinantes na decisão cirúrgica para substituição da

valva (75). Uma fração de ejeção ventricular esquerda deprimida (<30%) aumenta o risco

operatório, mas, em pacientes não operados, determina um mau prognóstico (75). Um

procedimento menos invasivo, como o implante da valva aórtica transcateter pode

constituir uma opção terapêutica para aqueles pacientes com disfunção ventricular

esquerda severa.

O ecocardiograma transtorácico é o método mais disponível para avaliação da

função ventricular esquerda. Afere-se os volumes diastólico final e sistólico final do

ventrículo esquerdo, e a fração de ejeção do ventrículo esquerdo pelo método de

Simpson (76). Este método da ecocardiografia bidimensional é o mais preciso e confiável

para medir dimensões do ventrículo esquerdo e fração de ejeção em pacientes com

geometria ventricular esquerda anormal, comumente encontrado em pacientes com

estenose aórtica grave (77).

31

Além disso, a hipertrofia ventricular esquerda e septo sigmoide são achados

comuns nestes pacientes. Em pacientes com septo sigmoide pronunciado prefere-se a

abordagem transapical em vez da transfemoral, pois o posicionamento e fixação da

prótese com a abordagem transapical são mais estáveis (74).

Finalmente, uma das contraindicações para realizar implante de valva aórtica

transcateter é a presença de trombo no ventrículo esquerdo (74). A Ecocardiografia com

contraste constitui uma ferramenta de imagem para descartar a presença de trombos

intracavitarios.

Todas estas avaliações são de forma não invasiva e facilmente realizada com

ecocardiografia. No entanto, tendo em conta a natureza tridimensional da valva aórtica, a

medição do anel da valva aórtica, o tamanho do ventrículo esquerdo e da via de saída,

podem estar sujeitos a geometria estimada com consequentes erros na medida da

gravidade da doença.

Na verdade, o anel da valva aórtica é mais elíptico que circular e da mesma forma

a via de saída do ventrículo esquerdo pode aparecer mais elíptica, principalmente quando

existe hipertrofia septal sigmoide. Portanto, técnicas de imagem tridimensionais podem

constituir métodos mais precisos para avaliar os potenciais candidatos para implante de

valva aórtica transcateter. Neste sentido, estudos clínicos têm demonstrado a maior

precisão de tempo-real da ecocardiografia tridimensional para avaliar a gravidade da

estenose da aorta em relação à ecocardiografia bidimensional.

3.5.1.2. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

MULTISLICE (MSCT)

A Tomografia computadorizada multislice é a modalidade de imagem não invasiva

mais completa para avaliar potenciais candidatos para o implante da valva aórtica

transcateter. Esta técnica de imagem tridimensional fornece informações precisas sobre

aspectos anatômicos da valva aórtica, raiz da aorta e das estruturas adjacentes (tais

como as artérias coronárias), arco da aorta, aorta descendente e artérias periféricas.

32

As primeiras experiências têm demonstrado a alta precisão da técnica para avaliar

a área da valva aórtica por planimetria do orifício estenótico e, além disso, com a

utilização de conjuntos de dados multifásicos obtidos durante o ECG, pode-se avaliar o

movimento das válvulas, assim como as dimensões e função ventricular esquerda

reconstruídos em cada 10% do intervalo R-R (77,78,79).

De acordo com as recomendações atuais na seleção de pacientes para implante

da valva aórtica transcateter (74), a MSCT é uma valiosa ferramenta de imagem não

invasiva para confirmação da gravidade da estenose aórtica, avaliação da viabilidade do

procedimento, dimensionamento do dispositivo, avaliação das artérias periféricas e aorta,

viabilidade da implantação percutânea da prótese aórtica, especialmente considerando a

abordagem transfemoral. A abordagem, depende fortemente do tamanho, calcificação e

tortuosidade das artérias ilio-femorais e aorta.

A angiografia pré-procedimento é a técnica de imagem padrão ouro. No entanto, a

MSCT fornece dados sobre o diâmetro transversal, extensão da calcificação e

tortuosidade ao longo do curso das artérias ilio-femorais e da aorta abdominal e torácica.

Dispositivos atuais exigem bainhas introdutoras de 18, 22 ou 24-F, de modo que

diâmetros transversais das artérias ílio-femorais <6 mm contra-indicam uma abordagem

transfemoral (74). Calcificações volumosas e angulações pronunciadas da aorta torácica

podem recomendar uma abordagem transapical em vez da abordagem transfemoral.

Em particular, em pacientes com estenose aórtica grave com aorta em porcelana, a

abordagem transapical pode constituir a única alternativa para realizar a implantação da

prótese aórtica transcateter, devido ao elevado risco de complicações vasculares com a

abordagem transfemoral (80).

Finalmente, independentemente do acesso vascular a dilatação da aorta no nível

da junção sinotubular (> 45 mm) é considerada uma contraindicação para a prótese

autoexpansível (74).

A introdução de sistemas de MSCT de 64 a 320 canais tem levado a uma melhor

qualidade tridimensional da imagem com menor tempo de digitalização.

33

Consequentemente, tornou-se uma ferramenta de imagem não invasiva valiosa

permitindo a representação exata da anatomia valvar aórtica. Nos pacientes com janela

acústica pobre e contraindicações para o ecocardiograma transesofágico (modalidade de

imagem semi-invasiva), a MSCT produz dados extensos sobre a anatomia valvar aórtica e

a raiz da aorta.

A aquisição de dados na MSCT é normalmente realizada em uma única pausa

respiratória de cerca de 5-10 segundos, sincronizando a aquisição de dados com o realce

de contraste. O uso de um agente de contraste não iónico intravenoso é necessário, de

60 a 100 mL, dependendo do tipo de scanner, tamanho do paciente, e frequência

cardíaca. Quando a deteção de realce automatizada atinge o pico 100 unidades

Hounsfield na aorta descendente, a aquisição de dados para o ECG é iniciada.

Posteriormente, conjuntos de dados multifásicos são reconstruídos a cada 10% do

intervalo R-R, ou em 30% a 35% e 75% depois da onda R (fase sistólica e diastólica,

respetivamente), com uma espessura de corte de 0,5 mm e um intervalo de reconstrução

de 0,3 mm (81).

A análise da imagem é feita com a reconstrução de uma vista coronal, oblíqua e

sagital através da valva aórtica. A vista oblíqua transversal ao nível da valva aórtica

mostra a anatomia exata da mesma (tricúspide / bicúspide) que pode definir a dimensão e

localização das calcificações (na borda das cúspides, nas comissuras, ou nas articulações

das cúspides contra a parede da aorta). Do ponto de vista coronal e sagital a presença de

calcificações volumosas pode se apresentar em uma valva aórtica tricúspide normal que

mostra as três cúspides e os três seios ou numa valva aórtica bicúspide que mostra

apenas dois seios e uma comissura.

Além disso, a área da valva aórtica pode ser estimada através da incidência

transversal oblíqua, através das pontas das cúspides reconstruída na fase sistólica.

Delineando as bordas das cúspides na abertura máxima da válvula, a área da valva

aórtica pode ser obtida com precisão. Em uma série anterior de 48 pacientes com doença

valvar aórtica, Pouleur et al. (77) demonstraram que MSCT rendeu medições

planimétricas da área da mesma comparáveis aos obtidos com ecocardiograma

34

transesofágico ou ressonância magnética, sem viés significativo (0,1 ± 0,3 cm2vs

ecocardiograma transesofágico, p = 0,21; 0,0 ± 0,3 cm2vs ressonância magnética, p =

0,99) (77).

3.5.1.2.1. DIMENSIONAMENTO DO ANEL

AÓRTICO PELA TOMOGRAFIA

Um dos pontos-chave para alcançar um bem-sucedido implante da valva aórtica

transcateter é a medição precisa do anel aórtico. Uma prótese subdimensionada pode

resultar em uma ancoragem instável, com migração do dispositivo, regurgitação aórtica

grave. Em oposição, uma prótese muito grande pode não ser capaz de atravessar o anel

da valva aórtica.

Técnicas Tridimensionais de imagem tais como MSCT permitem uma avaliação

precisa da forma e tamanho do anel aórtico. Nas incidências oblíquas, o anel aórtico

aparece em forma elíptica, em vez de circular, e o diâmetro obtido a partir da vista coronal

é geralmente maior do que o diâmetro medido na vista sagital (81). A vista sagital em

MSCT corresponderia ao eixo longo para esternal da ecocardiografia, e geralmente

produz menores diâmetros do anel da valva aórtica que a vista coronal, refletindo sua

forma elipsoide (81,82). Ambas as técnicas com rendimentos comparáveis na

determinação do tamanho do anel com um viés não significativo.

O tamanho da prótese usada deveria basear-se no maior diâmetro anelar da valva

aórtica e, neste sentido, o ecocardiograma transtorácico pode ser menos preciso em

comparação com a MSCT.

As dimensões da raiz aórtica e sua relação com as artérias coronárias, podem ser

medidas com MSCT. As dimensões do seio de valsalva são avaliadas com as projeções

sagital e coronal com a reconstrução dupla oblíqua. A forma particular da raiz da aorta ao

nível dos seios tem implicações importantes para a implantação percutânea da valva

aórtica, neste ponto, três diâmetros diferentes dos seios podem ser avaliados, no entanto,

35

a implicação dessas medições em implante de valva aórtica transcateter precisa ser

elucidada em estudos futuros.

Além disso, o diâmetro da junção sino – tubular é medida no plano sagital, coronal

e duas oblíquas, mostrando muitas vezes uma forma circular. A medição precisa da

junção sinotubular tem sérias implicações para o implante percutâneo da prótese aórtica.

Particularmente para prótese auto-expansível, um diâmetro da junção sinotubular> 45 mm

é considerado um contraindicação (74).

Finalmente, deve ser avaliada a aorta transversal. A angulação pronunciada

entre a raiz e aorta ascendente em relação ao ventrículo esquerdo pode indicar acesso

transapical de um dispositivo balão expansível (74).

A avaliação das artérias coronárias é obrigatória antes do implante protético aórtico

transcateter. A MSCT fornece dados exatos sobre a anatomia coronária e quantificação

precisa da estenose da artéria coronária, quando presente (83).

Consenso recente da Associação Europeia de Cirurgia Cardio-Torácica, Sociedade

Europeia de Cardiologia e da Associação Europeia de Intervenções Cardiovasculares

Percutânea não recomendou implante de prótese aórtica transcateter em pacientes com

estenose grave da artéria coronariana proximal não passível de intervenção percutânea

(74). Por último, a posição relativa dos óstios coronários ao anel da valva aórtica e o

comprimento das válvulas ou folhetos da valva aórtica deve ser avaliadas. Distância

variável entre o anel da valva aórtica e o óstio coronário foi descrito anteriormente, com

uma distância média de 14,4 mm para o óstio coronário esquerdo e 17,2 mm para o óstio

coronário direito (81).

A altura da prótese Edwards-SAPIEN balão expansível é 14.5mm, e seu

posicionamento deve ser abaixo do nivel dos óstios das coronárias. A Prótese auto-

expansível (Sistema Revalving CoreValve) tem uma altura de 50 mm, mas o desenho

característico deste dispositivo, com uma cintura na parte do meio torna improvável a

oclusão dos óstios coronários. Tendo em conta a manga de vedação anular localizado no

36

dois terços inferior do dispositivo, ainda há a possibilidade desta complicação com o

procedimento, se a distância entre o óstiocoronariano e anel da valva aórtica for menor.

Dimensões do ventriculo esquerdo e função ventricular esquerda podem ser

avaliadas com precisão com MSCT. Além disso, outros aspetos que podem determinar ou

contra – indicar a abordagem processual, como o septo interventricular sigmoide ou

trombo no ventrículo esquerdo. A representação exata da valva aórtica, indicando a

localização e a extensão das calcificações, a área valvar aórtica precisa e a estimativa e o

dimensionamento do anel aórtico, da raiz da aorta, juntamente com a sua relação espacial

com as artérias coronárias também são obtidos com o MSCT. Além disso, o estudo da

aorta descendente e das artérias ilio-femorais fornecem informações importantes para

decidir sobre a abordagem processual. Portanto, a MSCT é uma técnica de imagem

excelente para avaliar os candidatos potenciais para implante de valva aórtica

transcateter. No entanto, a exposição a radiação e a presença de taquicardia ou arritmias

cardíacas podem limitar a sua viabilidade.

3.5.1.3. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (MA)

Os avanços técnicos e a disponibilidade cada vez maior dos últimos anos têm

aumentado o interesse para ressonância magnética cardíaca como uma modalidade de

imagem não invasiva para doenças cardiovasculares.

A ressonância magnética é uma técnica de imagem tridimensional com alta

resolução espacial e não usa radiação ionizante. Na avaliação da doença da valva

aórtica, a ressonância magnética fornece estimativas altamente reprodutíveis de inúmeras

variáveis estruturais e funcionais (84), permitindo a caracterização exata da anatomia

valvar aórtica e suas dimensões, além de dados quantitativos sobre a gravidade da

estenose aórtica por meio da avaliação da velocidade de pico de fluxo (85).

Além disso, a ressonância magnética pode fornecer informações valiosas sobre as

dimensões do ventrículo esquerdo, função, e quantificação precisa da massa ventricular

esquerda (86). Finalmente, a MR permite avaliação da doença da artéria coronária e

constitui uma técnica de imagem para avaliar o sistema vascular periférico (87). Portanto,

37

a ressonância magnética seria uma técnica de imagem valiosa para selecionar potenciais

candidatos para implante da prótese aórtica transcateter, dando informações sobre a

gravidade da estenose aórtica, viabilidade processual, e dimensionamento do dispositivo.

No entanto, a ressonância magnética tem contra-indicações (pacientes com

implantes metálicos, marca-passos, ou claustrofobia) que limitam a utilização mais

generalizada desta técnica.

Na avaliação de artérias periféricas e da aorta, a angiografia invasiva é o método

de referência para avaliar o tamanho e tortuosidade das artérias periféricas, angio-MR

pode ser uma técnica de imagem não invasiva alternativa ideal em pacientes com

insuficiência renal. O gadolínio na MR angiografica fornece avaliação precisa da

gravidade da estenose das artérias ilíacas (87,88). Além disso, permite a caracterização

da parede do vaso com uma qualidade elevada de imagem, e pode ser detectada

aterosclerose e trombose da parede arterial (89). Como já foi mencionado para MSCT, o

diâmetro da secção transversal das artérias ilíacas, irá determinar a abordagem do

procedimento recomendando a abordagem transapical quando este diâmetro é <6 mm.

Além disso, a presença de aneurismas da aorta torácica ou abdominal com trombose

mural vai contra-indicar a abordagem transfemoral.

Em contraste com a MSCT, a extensão e localização das calcificações não podem

ser avaliadas com a RM.

A avaliação da gravidade da estenose aórtica pode ser também realizada com

ressonância magnética ou por planimetria direta do orifício estenótico ou pela velocidade,

com técnicas que quantificam a velocidade do fluxo de pico (85,90).

Vários estudos têm demonstrado a precisão da ressonância magnética para avaliar

a área por planimetria valvar aórtica, com excelente concordância em relação ao

ecocardiograma transesofágico (90). No entanto, esta medida não reflete a carga de

trabalho do ventrículo esquerdo, mais relacionado com a área do orifício eficaz,

geralmente menor do que a área anatómica da válvula aórtica. Neste sentido, a

38

velocidade da ressonância magnética codificada permite a avaliação da área de orifício de

fornecimento eficaz, com estimativas comparáveis aos obtidos com o doppler (85).

Recentemente, numa série de 24 doentes com estenose aórtica grave, Caruthers

et al. (85) demonstraram a precisão da velocidade codificada pela ressonância magnética

para estimar gradiente de pressão média e pico transvalvar por meio da equação de

Bernoulli modificada e estimativa da área da valva aórtica por meio da equação de

continuidade. As estimativas derivadas da MRI apresentou uma forte correlação com o

parâmetros obtidos por ecocardiografia (85). Como uma limitação, a velocidade pela MRI

pode subestimar a gravidade da estenose da aorta quando a integral velocidade-tempo é

maior 0,8 m (85).

O tamanho exato do anel aórtico é um dos pilares do sucesso do procedimento.

Semelhante para MSCT, a RM é uma técnica de imagem tridimensional que oferece a

caracterização exata da geometria e dimensões do anel aórtico (91). Recentemente,

Burman et al. (91) demonstraram em 120 indivíduos estudados, a geometria elipsóide do

anel aórtico que aparece delimitada por uma combinação de componentes musculares

fibrosos (91). Consistentemente, o anel aórtico é significativamente menor no plano

sagital (22,2 ± 2,4 mm para homens e 19,9 ± 1.9mm para mulheres) do que no plano

coronal (26,2 ± 2.3mm em homens e 23,0 ± 2,1 mm para mulheres) (91). Esta descoberta

destaca o grande valor de técnicas de imagens tridimensionais, como a ressonância

magnética ou MSCT, o dimensionamento do anel aórtico tem um alto impacto sobre a

selecção do tamanho do dispositivo.

3.5.1.3.1. AVALIAÇÃO DA RAIZ DA AORTA E

ARTÉRIAS CORONÁRIAS.

A maior série avaliando as dimensões da raiz da aorta com ressonância magnética

foi publicada recentemente por Burman et.al. (91). Um total de 120 pacientes de idades

diferentes proporcionando uma útil padronização de medidas de ressonância magnética

de raiz da aorta e rendimento dos valores normais (91). A medição da junção sinotubular

tem implicações importantes para a implantação percutânea da prótese aórtica. Diâmetro

39

da junção sinotubular de 45mm constitui uma contra-indicação relativa ao uso de um

dispositivo auto-expansível (74).

A avaliação da anatomia coronaria também é fundamental antes da implantação da

prótese aórtica transcateter. Embora a possibilidade de MRI para a angiografia não-

invasiva tem sido demonstrada, a precisão de ressonância magnética para detectar

estenoses da artéria coronária é mais baixa em comparação com MSCT (92).

3.6. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO PARA

IMPLANTAÇÃO DA PRÓTESE AÓRTICA

TRANSCATETER

Recentemente, a atenção tem sido dirigida no sentido da viabilidade de algoritmos

de risco para prever resultados em pacientes de alto risco submetidos a substituição da

valva aórtica (93,94). Pacientes que estão atualmente avaliados para implante de prótese

aórtica formam uma população de seleção que não é representativa das populações que

foram usados para desenvolver os modelos de risco existentes. É axiomático, portanto,

que estes modelos podem não funcionar bem quando aplicadas a essa população.

Justificada ou não, o EuroSCORE logístico e o STS (Sociedade de Cirurgiões

Torácicos) score, são os modelos de risco mais comumente usados para orientar o

recrutamento de pacientes de "alto risco" para ensaios TAVI (Implante Valvar Aórtico

Transcatéter).

Atualmente, não existe um modelo de risco validado para fins de TAVI. Embora

alguns modelos de risco pudessem ser mais precisos do que os outros, isso não significa

necessariamente que eles são apropriados para TAVI. Modelos de risco específicos para

identificar pacientes de alto risco cirúrgico para TAVI devem ser o foco de estudos futuros

(95).

As taxas de mortalidade prevista para um paciente em particular podem variar de

acordo com o modelo de risco utilizado. Estas variações podem ser explicadas pela

40

inclusão de variáveis de previsões diferentes, bem como diferentes pesos relativos

atribuídos a variáveis semelhantes incluídas nestes modelos. Ensaios TAVI têm

tipicamente utilizado um EuroSCORE de 15% ou STS de 10%, como critérios de inclusão.

No entanto, o EuroSCORE e STS score de um paciente hipotético de 80 anos de idade,

com história prévia de AVC é de 16% e 2,9%, respetivamente. Este paciente seria

incluído num ensaio utilizando um EuroSCORE de 15%, mas este mesmo paciente não

seria elegível para um julgamento através de um STS score de 10%. Este exemplo

evidencia as limitações do uso de escores de risco atuais para decisão clínica ou de

pesquisa.

Um banco de dados prospetivo multicêntrico com o objetivo de coletar dados sobre

todas as intervenções valvares, cirúrgicas e percutâneas seria ideal.

O julgamento clínico deve desempenhar um papel fundamental na seleção de

pacientes para TAVI. Fatores como a qualidade dos dados, características da coorte,

ponto final de definições e tipos de fator de risco, são variáveis que desempenham um

papel importante no desempenho e aplicabilidade geral dos modelos de risco.

Embora os modelos derivados de grandes grupos possam ter a capacidade para

identificar um grande número de variáveis independentes, o significado clínico das

variáveis sempre precisa ser avaliado.

O STS foi capaz de predizer mortalidade peri-operatória e de longo prazo para os

pacientes de maior risco que tiveram substituição da valva aórtica (96). O EuroSCORE

superestima o risco de mortalidade nos pacientes com substituição da valva aórtica (93),

sendo maior em pacientes de alto risco (97).

Os pacientes podem estar em alto risco de mortalidade operatória, mas ainda ter

baixa pontuação. Isso devido as inúmeras comorbidades não registradas tanto no

EuroSCORE como no sistema de pontuação STS, como aorta em porcelana, radiação da

parede torácica, deformidade da parede torácica, função respiratória altamente

comprometida, fragilidade, e outros.

41

Houve tentativa para quantificar o índice de fragilidade (94), e correlacionar o índice

de fragilidade com os resultados (95), no entanto, a análise da fragilidade é

particularmente difícil e muitas vezes não é quantificável. O julgamento clínico de

cirurgiões cardíacos experientes tem um papel fundamental na avaliação da mortalidade

operatória nesses casos.

Os sistemas de pontuação de risco validados atualmente disponíveis não têm

capturado os pacientes "não operáveis". A definição de inoperabilidade é difícil e requer

frequentemente o consenso de diversos cirurgiões. É importante destacar que esses

sistemas de pontuação não são destinados a serem utilizados como substitutos para

tomada de decisão clínica.

Um acesso vascular adequado é um dos mais importantes determinantes de

sucesso do procedimento e/ou complicações.

3.7. ACESSOS

A bainha de 22 e 24-F, utilizadas para entrega de valvas de 23 e 26-mm, requerem

um diâmetro mínimo do vaso de 7 e 8 mm, respetivamente. Três modalidades de imagem

são disponíveis para avaliar os vasos de acesso: angiografia, tomografia

computadorizada (TC) com contraste, ultrassom intravascular (UIC). Muitas vezes não há

discrepância entre os resultados obtidos por estas técnicas. Achamos que a alta

qualidade da TC fornece a mais precisa e a mais útil informação para prever viabilidade

da abordagem transfemoral.

A angiografia dá excelentes imagens, com a subtração digital permite a mesmas ou

melhores imagens com menor quantidade de contraste (10-15 cc).

As medições precisas de vasos são realizadas em locais múltiplos na femoral

comum, femoral superficial, artérias ilíacas externa e comum. Diâmetros mínimos de 7

mm para a valva de 23 mm e de 8 mm para a valva de 26 mm são necessários.

Tortuosidade excessiva no vaso pode impedir o avanço da bainha de 22 ou 24-F para a

aorta abdominal, tortuosidade com um lúmen grande e sem calcificação não é um

42

problema para o uso da bainha, é esticado por um fio e não impede o procedimento.

Tortuosidade com calcificação acentuada não permite o avanço das bainhas grandes. A

calcificação muitas vezes não é bem apreciada pela angiografia. Muitos casos onde a

angiografia iliofemoral mostrou trajetos adequados para o acesso percutâneo, e a TC

revelou calcificação grave, contra - indicaram o paciente para o acesso transfemoral. Uma

detalhada análise na TC é muito importante e pode prever possíveis problemas de

acesso. A avaliação pré-procedimento dos vasos de acesso permite a escolha da melhor

técnica.

A artéria femoral pode ser acessada por punção ou a traves de dissecção cirúrgica.

O acesso percutâneo é uma excelente escolha em pacientes com vasos grandes e sem

calcificação o com calcificação leve.

A aorta torácica e abdominal, e o arco aórtico geralmente tem um diâmetro

adequado para bainhas grandes de 22 - a 24-F. Ocasionalmente a TC mostra segmentos

de estreitamento significativo com intensa calcificação na aorta abdominal, o que exclui o

paciente para o acesso transfemoral, e pacientes com aterosclerose extensa da aorta

com trombo, estão em alto risco de eventos neurológicos durante o procedimento.

Os aneurismas da aorta geralmente não apresentam nenhum problema para fazer

avançar os cateteres e valvas, mas podem aumentar o risco de desalojamento da placa

ou do trombo. Enxertos da aorta torácica e abdominal não representam nenhum problema

para fazer avançar o sistema de entrega, mas enxertos aorto-ilíacos, especialmente ao

longo da ilíaca não permitem avançar uma bainha grande. Mesmo que o diâmetro pareça

adequado, eles bloqueiam quando a bainha é avançada. Em caso de doença periférica

grave ou grande ateroma na aorta é melhor mudar a estratégia para a abordagem

transapical. Imagens de tomografia de tórax são úteis para planejar o procedimento

transapical.

A calcificação excessiva da valva aórtica pode causar problemas para expansão

plena e simétrica da prótese.

43

A medição do diâmetro do anel aórtico antes do procedimento é crucial,

especialmente em pacientes com acesso vascular limítrofe devido aos diâmetros

pequenos das artérias ilíacas. O tamanho do anel vai determinar qual vai ser o tamanho

da valva a utilizar: 23 - 26 mm para o tamanho do anel de 16-21 e 22 a 24,

respetivamente. A Medição do anel por ecocardiografia transtorácica normalmente

subestima o diâmetro correto. O Ecocardiograma transesofágico é agora o padrão para a

determinação final das dimensões anelares. Nos casos em que, possivelmente, requerem

uma valva de 26 mm e tem tamanho da artéria ilíaca limítrofe, deve-se fazer o

ecocardiograma transesofágico (ETE) antes do procedimento de implante protético

percutâneo para assegurar que a prótese de 23 mm será suficiente.

A distância entre anel aórtico e óstios coronários mostrou uma grande variabilidade

e é independente da altura do paciente. A distância média entre o óstio da artéria

coronária e a base do seio de Valsalva tem uma grande variação desde 7,1-22,7 com

média de 14,4 ± 2,9 mm. Em quase 50% dos casos, a distância entre o óstio e o anel foi

menor que o comprimento do folheto coronário esquerdo e isto podem aumentar o risco

de oclusão coronária durante o implante valvar aórtico percutâneo (98). No caso de uma

baixa origem do tronco da artéria coronária esquerda, recomenda-se fazer um aortograma

durante a valvoplastia para determinar se o folheto aórtico poderia obstruir o óstio da

artéria coronária esquerda. A obstrução de óstio coronário pode ocorrer também durante

a valvoplastia.

Em casos de disfunção ventricular muito grave, a reserva de contratilidade do VE

pode ser avaliada com Testes de dobutamina. Isto é útil para prever a capacidade para

sobreviver ao procedimento, bem como recuperação da função do VE.

A Regurgitação mitral severa orgânica deve ser uma exclusão para o implante de

valva aórtica transcateter. Para avaliar quanto a regurgitação mitral (RM) pode ser

secundária a estenose aórtica grave, pode-se realizar plastia aórtica e ver os resultados

através das próximas semanas. Em muitos pacientes, a função do VE melhora e a RM

diminui significativamente após a valvoplastia. Na maioria dos casos, o grau de RM

permanece igual, numa minoria que podem melhorar ou piorar.

44

Nos pacientes com hipertrofia ventricular esquerda, com via de saída estreita ou

com hipertrofia acentuada do septo, o posicionamento preciso da valva percutânea pode

ser dificultada: durante a insuflação do balão a falta de espaço pode espremer o balão

para a aorta antes das aberturas de stent/válvula, e a válvula irá subir com o risco de mal

posicionamento ou mesmo embolização.

3.8. TIPOS E EVOLUÇÃO DAS PRÓTESES

AÓRTICAS TRANSCATETER

Em 1965 iniciou-se os primeiros estudos da implatação valvar transcateter em cães.

Eram próteses em forma de cone montada num cateter cardíaco de calibre 5F (cinco

french), no formato de um paraquedas que oferece pouca resistência ao fluxo sanguíneo

em direção a circulação sistêmica. (33)

Posteriormente uma nova valva percutânea foi criada (Percutaneous Valve

Technologies, Inc), que consistia de três folhetos de pericárdio bovino formando um stent

de aço inoxidável, expansível por balão, montados dentro de uma fenda tubular, de 14

mm de comprimento, concebido para alcançar um diâmetro de 21 a 23 mm (13), Assim

começaram a fazer testes em carneiros.

Em 2002, recomeçaram estudos e tentativas de novas próteses, usando um segmento

venoso naturalmente valvulado colhidas a partir da veia jugular bovina, que foi montado

como descrito anteriormente, em um stent de platina e irídio, desenvolvido inicialmente

para substituição de valva pulmonar. Essas válvulas sofreram modificações para serem

implantadas em posição aórtica, uma vez que poderiam obstruir os óstios coronarianos.

Essas modificações consistiam em uma dissecção da parede venosa que foi suturada

com fio prolene 7.0 ao longo das comissuras para permitir o fluxo para o óstio

coronariano. Assim o suporte dos folhetos foi preservado a fim de evitar a insuficiência

estrutural e fixada em um stent de nitinol auto-expansivel com ramos congruentes, as

comissuras das válvulas não eram suturadas, para que fossem independentes do fio de

platina do stent e não poderem ser aplicados separadamente.

45

Assim, quando o stent de platina foi reduzido, os ramos não suturados do stent de

nitinol foram implantados, de forma que o espaço livre entre o stent interno com válvula e

o stent de nitinol foi destinado a acomodar o folheto nativo da valva (37).

Os primeiros casos clínicos de substituição da válvula percutânea em cardiopatias

congênitas foram relatados por Bonhoeffer et al. (99,36) o implante foi bem sucedido a

partir das próteses valvares da veia jugular de bovino e montados em um stent de platina-

irídio e colocado no ventrículo direito com condutos pulmonares estenóticos, tendo assim

bons resultados imediatos e a longo prazo.

As complicações como a re-estenose após a dilatação da válvula com balão foram

finalmente tratadas em 1999 com o desenvolvimento de uma válvula cardíaca

bioprotética, que foi suturada sobre um stent balão expansível (Percutaneous Válvula

Technologies, EdwardsLifesciences, Irvine, California) (Fig. 10).

Apesar de tentativas anteriores de substituição percutânea da valva aórtica ter sido

limitada pela aplicabilidade para os seres humanos (38,39), esta válvula cardíaca

percutânea (PHV) foi implantado com sucesso em 16 de abril de 2002, em um paciente

com estenose aórtica inoperável e com risco de morte e comorbidades. (100).

O primeiro implante em humanos foi realizada em um homem de 57 anos com

estenose aórtica calcificada, choque cardiogênico, isquemia subaguda, e outras doenças

não cardíacas associadas. (37) Os resultados iniciais de substituição da válvula

percutânea foram promissores, esta foi realizada por Cribier em 2002 na posição aórtica.

(100,101).

Em 2004 desenvolveu uma válvula cardíaca original percutânea (PHV), que foi

inicialmente composta de três folhetos de pericárdio bovino montados dentro de um stent

de aço inoxidável balão expansível (Percutaneous Válvula Technologies Inc., Fort Lee,

New Jersey) com o objetivo de tratar pacientes não cirúrgicos em estágio final da doença

(estenose aórtica). O stent é de 14 mm de comprimento e atinge um diâmetro máximo de

23 mm após o enchimento do balão (102) em acompanhamento por 5 anos, prótese

Cribier-Edwards (Edwards Lifesciences Inc, Irvine, Califórnia).

46

A válvula de Edwards Sapiens é construída a partir de um stent de aço inoxidável

tubular fundida com uma válvula de três folhetos, anexado ao pericárdico bovino (Figura

10), uma bainha de tecido com cobre, a porção ventricular esquerda da prótese.

As próteses são fornecidas estéreis, em glutaraldeído com um dispositivo mecânico de

compressão que é utilizado para fixar a prótese para um cateter balão de implante

especialmente construído com o sistema de entrega de primeira geração. A abordagem

retrógrada - que foi tentada em sete pacientes - foi transitoriamente abandonada. Avançar

o dispositivo de grande perfil através vasos doentes e tortuoso (artérias fêmoro-ilíacas) e

cruzando a válvula calcificada nativa poderia ser alcançado em apenas 57% dos casos.

Melhorias técnicas foram necessárias para reviver esta abordagem mais simples para a

substituição da válvula aórtica.

Isto foi obtido com o desenvolvimento de um cateter com guia flexível (cateter

retroflex). Ao mesmo tempo, uma maior válvula (26mm) foi fornecido para reduzir a

elevada incidência (19%) de grave (grau 3) vazamento paravalvar, que foram observados

em particular quando a prótese foi implantada com 23 milímetros de anel aórtico de

grandes dimensões.

Para a abordagem transapical, a saia de tecido oclusivo deve ser montada sobre o

cateter balão na região proximal. Nestes casos iniciais de acesso apicais, utilizaram a

válvula idêntica e sistema de entrega de cateter feito para via femoral. Neste sistema, a

haste do cateter de balão de entrega está contida dentro de um cateter de guia dirigível,

que pode ser flexionado ativamente através da rotação de um externo lidar. (38)

No ano de 2005 fizeram o primeiro implate de uma válvula aórtica transcateter

autoexpansivel de CoreValve, esta prótese (AVP) consiste em uma válvula bioprostética

comercializado feita de tecido de pericárdio bovino, que é montado e suturado num stent

auto-expansível de nitinol (Fig. 11). A armação da prótese (stent) é fabricado por corte a

laser de um tubo de metal de nitinol 50 mm de comprimento. A parte inferior tem uma

força radial alta para afastar os folhetos calcificados e evitar o recuo, a parte do meio é

limitado para evitar obstrução das coronárias e carrega a válvula, enquanto que a parte

superior se expande para fixação na aorta ascendente e os eixos do sistema. O diâmetro

47

real da válvula interna é 21-22 mm. A AVP é entregue através de um cateter 25 french,

que abriga o stent na porção distal. Para o implante do stent, o acesso mais usando para

abordagem retrógrada é o da artéria ilíaca comum.

O procedimento é inteiramente realizado em anestesia geral com ecografia

transesofágico para orientação e assistência femoro-femoral cardíaca como um requisito,

por motivos de segurança (34). A primeira geração do dispositivo utilizava tecido de

pericárdio bovino e foi construído dentro de uma bainha 24F. O segundo dispositivo

incorporava uma válvula de tecido pericárdico porcino dentro de uma bainha 21F, o perfil

de redução permitiu o acesso através de menor diâmetro vasculares. Este dispositivo é

também caracterizado por um amplo segmento superior por mais uma fixação segura na

aorta ascendente, permitindo a inclusão de pacientes com um diâmetro da aorta

ascendente até 45 mm (13).

O projeto de auto-expansão da prótese CoreValve oferece várias vantagens potenciais

sobre um dispositivo balão-expansível que são:

Primeiro e mais importante, é uma prótese percutânea da válvula aórtica que pode

minimizar a ocorrência de vazamentos paravalvar e permitir o tratamento de pacientes

com insuficiência aórtica. Segundo, evitar trauma do balão com os folhetos da válvula, o

projeto de auto-expansão, pode, teoricamente, prolongar a durabilidade da válvula.

Terceiro, o segmento de auto-expansão superior da válvula proporciona uma fixação

segura na aorta ascendente, e nenhum caso de migração da prótese ou deslocamento

foram vistos após a implantação do dispositivo.

No prazo de dois anos, varias modificações foram feitas nos dispositivos, levando a

uma redução do tamanho da bainha de 24F a 21F e 18F para chegar nos dispositivos de

terceira geração. Os tamanhos dos três sistemas de entrega posteriormente

desenvolvidos têm sido gradualmente reduzidos de 25F a 18F ao longo do tempo para

facilitar o acesso vascular e implantação do dispositivo. Com a terceira geração (18F), há

dois tamanhos diferentes de dispositivo disponíveis para diferentes dimensões de anel,

por exemplo, o anel de 26 mm para os tamanhos de prótese da válvula aórtica do anel 20-

24 mm e 29 mm para os tamanhos de prótese da válvula aórtica do anel 24-27 mm. (103)

48

Figure 10.Sapien Valve. Reprinted with permission from Edwards Lifesciences.

Figure 11CoreValve. Reprinted with permission from Medtronic, Inc.

3.9. TÉCNICA CIRÚRGICA

A valva de Hufnagel era colocada por arteriotomia no cachorro de estudo, e era

introduzida por um cateter cardíaco de 5F para ser colocada na aorta descendente em

1965, visualizando a sua utilização na insuficiência desta valva (33). Os primeiros

procedimentos de valvuloplastia da valva aórtica para estenose severa utilizaram a via

femoral direita em pacientes jovens com estenose congénita (26), logo pela artéria

braquial para as primeiras tentativas de tratamento em pacientes idosos com valva aórtica

calcificada (29).

49

A primeira prótese valvar colocada em posição pulmonar foi pelo acesso da veia

femoral direita (35). Interessantemente não foi o acesso arterial femoral o primeiro em se

ocupar para a colocação da primeira prótese em posição aórtica, mas sim a veia femoral

direita. Um guia era colocado atravessava o septo interatrial para que um cateter que

permita a passagem de outro guia mais fino pelo átrio e ventrículo esquerdos, a valva

aórtica até que chegasse a aorta descendente. Este guia era substituído por um guia

rígido que chegava até a artéria femoral. Um dilatador de 10mm era passado pelo septo

antes do sistema de liberação (13). Além de via transeptal é conhecida com anterógrada

(50).

Em modelos animais começaram a utilizar acesso transapical do ventrículo esquerdo e

retrógrado pela artéria femoral em novos modelos de prótese expansíveis com balão,

fazendo um comentário do grande perfil dos introdutores necessários neste tipo de

procedimento (51).

A prótese autoexpansível iniciou sua colocação pela artéria ilíaca comum esquerda e,

com o suporte da CEC (52). O mesmo grupo anos depois em um reporte de 25 pacientes

submetidos a este procedimento indica o acesso vascular via artéria ilíaca comum, artéria

subclávia e femoral comum. Os acessos por artérias menores foram conseguidos com a

evolução do dispositivo a um menor perfil (22Fr). Ainda usou suporte de CEC (53).

Sistemas de menor perfil e de sutura vascular dos acesos dos cateteres permitem hoje o

uso da via artéria femoral numa forma segura, sem complicações logo da intervenção

(54), sendo o aceso mais comum a se-utilizar desde o 2005 (50).

No Canadá fora utilizada a mini-toracotomia anterolateral esquerda. Conhecida como

via transapical, consiste numa incisão de 5 a 8 cm no sexto espaço intercostal, até

visualizar o pericárdio, atraves do espaço pleural. O pericárdio é incisado e identificado o

ápex cardíaco. Identifica-se a porção delgada do ventrículo esquerdo por palpação direta

e pela ecografia transesofágica e são feitas duas suturas com fio reforçado com pledget

que permita a introdução de um cateter 24Fr. Um fio de marca-passo epicárdico poessem

colocar ou uma lead temporária por punção venosa no ventrículo direito. Neste caso, não

50

se utiliza suporte com CEC, foi feita uma sobrestimulação cardíaca durante a liberação do

dispositivo e usou-se a prótese expansível com balão (44,45).

A disponibilidade de dispositivos como a CoreValve Re-valving, com diâmetro de 18Fr,

além da dificuldade na progressão do sistema de liberação e a valva pela aorta

descendente quando é muito tortuosa e outras co-morbidades, abriu a procura de novas

vias de entrada como a artéria subclávia/axilar (46). A artéria subclávia distal ou axilar

proximal foi exposta por uma pequena incisão infra-clavicular e isolada com fitas de nylon.

Logo da colocação de heparina (3000-5000UI), um guia metálico é inserido por punção da

artéria e colocado na ponta do ventrículo esquerdo, a artéria axilar é clampada e feita uma

arteriotomia transversal para a colocação de um introdutor 18Fr diretamente dentro do

vaso e colocado perto da valva aórtica (46) (55). Este acesso permitiria melhor

manipulação dos cateteres e os dispositivos de liberação do que o acesso femoral (56).

Outra via de aceso é a trans-aórtica, desenvolvida por mini-torocotomia com parcial

esternotomia superior, acesso ao pericárdio e exposição da aorta ascendente. Identifica-

se então uma porção de aorta livre de cálcio, além de permitir colocar um introdutor em

linha direta para liberar o dispositivo e mantenha uma distancia adequada entre a ponta

do introdutor e a valva aórtica que permita a expansão completa do balão no momento

que o dispositivo seja implantado (50).

Por último, recentemente foi reportado o uso da artéria carótida comum. Foi avaliada e

realizada em pacientes com diâmetro arterial maior ou igual a 7,5mm e preferindo a

esquerda por ter uma direção mais favorável para o implante. Foi monitorizada oximetría

cerebral para avaliar perfusão cerebral durante o procedimento. A incisão foi realizada

sobre a clavícula, a artéria dissecada foi separada do nervo vagus. Uma incisão mais

distal à anterior foi realizada para direcionar melhor os introdutores mantendo o sistema

padrão de dilatação e liberação da prótese (57).

51

3.10. TÉCNICA CIRÚRGICA

3.11. IMPLANTE DA PRÓTESE EDWARDS SAPIEN

(104)

A valva Edwards SAPIEN é uma valva biológica de pericárdio bovino, construída dentro

de um stent de aço expansível por balão, envolto numa tela selada de PET (Tereftalato de

Polietileno) sintético. Atualmente tem 2 tamanhos, com diâmetro externo de 23 ou de 26

mm e comprimento de 14,28 e 16,07mm. As novas SAPIEN XT substituíram o aço por

alheação de cromo cobalto, que permite uma estrutura mais fina e células mais apertas.

Expandidas as próteses de 23 e 26 mm SAPIEN XT têm comprimentos de 14,34 e 17,02

mm.

A escolha da valva a colocar permitira o melhor fechamento da parede da prótese com

a parede da raiz aórtica. A indicação atual é colocar uma valva de 23 mm se o diâmetro

do anel esta entre 18 e 22 mm e pode-se colocar a valva de 26 mm se o anel é de 21 a 25

mm.

O diâmetro do anel é medido por ecocardiografia transesofágica, marcando a distancia

entre a inserção basal do folheto não coronariano e do folheto coronariano direito, sem

ser um diâmetro certo, sendo esta a prova mais útil neste sentido.

A tomografia multislice (MSCT), permite uma visualização em dois planos do anel,

amostrando uma imagem mais oval do que circular. Ainda não foi padronizado o uso da

MSCT.

A posição ideal da prótese SAPIEN é entre a valva nativa, o marco se estende dentro

do ventrículo justo suficiente para se-ancorar e se-selar junto ao anel subvalvar.

Posicionamento: A imagem é muito importante para obter um ótimo posicionamento da

prótese. O primeiro a se-distinguir é a localização do cálcio na valva, que pode ser na

ponta ou na base dos folhetos ou no anel valvar. O plano da valva tem que ser definido

52

com precisão por meio de um aortograma. Um cateter pigtail é colocado diretamente

sobre a valva aórtica e injeta-se 20 ml de contraste em 2 segundos. Uma visão

Anteroposterior (AP) caudal ou Obliqua Anterior Esquerda (OAE) cranial são as utilizadas

para centrar o campo de visão. A aortografia é repetida até que as três cúspides sejam

vistas de perfil no mesmo plano horizontal. Esta imagem será a selecionada para o

posicionamento da valva.

O cateter de pigtail colocado sobre a valva é uma marca para o posicionamento.

Durante a liberação do balão e o stent temos que ter precaução para evitar a

mobilização deles, especialmente pelo fluxo de saída do VE.

Uma estimulação rápida por um marca-passo externo é realizada, aproximadamente a

200 batimentos por segundo, para diminuir o fluxo de saída de sangue do VE e o

movimento do VE. Neste momento é inflado completamente o balão rapidamente com

contraste diluído a 10%, por 3 segundos, e o marca-passo é desligado. Uma vez

desinsuflado o balão é retirado e colocado na aorta ascendente, conservando o fio guia

no VE. Nesse momento da liberação da prótese, os folhetos da valva aórtica são

afastados entre o folheto da valva e a parede aórtica. Uma primeira avaliação é feito por

ecografia transesfágica da posição de valva e de haver regurgitação. Se a posição da

valva e a regurgitação para valvar não é severa retira-se o fio guia.

3.11.1. IMPLANTE TRANSAPICAL. (105).

A liberação da valva Edward SAPIEN é realizada pelo sistema Ascendra da Edwards

Lifescience. Os passos a seguir são:

1. Medição do anel aórtico por ecografia transesofágica e eventualmente adicional

tomografia para escolher o tamanho da prótese a ocupar.

2. Colocação de um introdutor na artéria femoral, para introdução de um cateter pigtail

e um guia metálico na veia femoral para segurança.

53

3. Realização de mini-toracotomia no sexto espaço intercostal para obter aceso ao

ápex do ventrículo esquerdo, pericardiotomia e realização de uma bolsa reforçada com

almofadas de PTFE.

4. Colocação de um fio de marca-passo epicárdico

5. Preparação do cateter de aplicação

6. Punção apical e progressão de um guia metálico suave a traves da valva aórtica e

logo um guia rígido.

7. Valvuloplastia da valva aórtica nativa durante um episódio rápido de sobre-

estimulação eléctrica (Overdrive).

8. Colocação de um introdutor 26-F e posicionamento da valva corrugada dentro do

anel aórtico.

9. Implantação da valva durante um período de Overdrive

10. Controle do funcionamento da prótese com ecografia transesofágica e angiografia.

11. Fechamento de rotina da bolsa do VE e ferida operatória.

3.12. IMPLANTE DA COREVALVE REVALVING

SYSTEM (106).

A CoreValve Revalving System (CRS) têm 2 tamanhos segundo o diâmetro do anel

inferior. Um de 26 mm para pacientes com anéis aórticos de 20 a 23 mm e outro de 29

mm para pacientes com anéis aórticos de 24 a 27 mm. A correta escolha da prótese evita

complicações como refluxo ou embolização no caso de ser pequena ou disfunção no

longo prazo si houver distorção dos folhetos ou dano no tecido local si fosse maior. A

medição da base do anel aórtico é recomendada fazer por MSCT em modalidade 3D, que

tem uma ótima resolução da imagem, maior do que a tomografia e a ecografia em 2D.

54

A CRS tem que ser posicionada de tal jeito de que a base ou a porção de entrada da

malha seja localizada na via de saída do VE e base do anel aórtico. Esta porção da

prótese tem a cobertura de pericárdio de 12 mm de longitude. O fim da CRS ventricular

tem que ser preferentemente a 6 mm, mas não mais profundo do que 8 mm baixo a base

do anel aórtico. Uma profundidade além de 12 mm é associada com regurgitação para

valvar.

A visualização exata da base do anel aórtico é muito importante para a colocação da

CRS. Pelo Rx têm que se colocarem os três folhetos aórticos numa linha, um junto a outro

para o centro, com uma completa visualização do VE, da via de saída do VE e a aorta

ascendente.

Um pigtail colocado no folheto não coronariano é usado como referência e

posicionamento da prótese. Este folheto é utilizado por se situar mais baixo do que os

coronarianos.

Com a guia do Rx o sistema CRS fechado é introduzido por um cateter de liberação 18-

F e levado até a via de saída do VE com uma camisa protetora. O CRS é introduzido

dentro da via de saída do ventrículo esquerdo a poucos milímetros baixo o plano da base

do anel aórtico.

A liberação da prótese consiste numa ação coordenada de dois operações, enquanto o

primeiro operador controla o posicionamento da prótese, o segundo executa uma gentil e

controlada rotação do micro-botão que resulta numa gradual retirada da bainha protetora.

É importante verificar a permeabilidade das artérias coronárias logo da liberação da

prótese, com uma angiografia realizada nesse momento.

3.13. SALA HÍBRIDA

A sala hibrida é composta por uma sala de operação, com amplo espaço interno e

de uma sala de hemodinâmica, em que são adicionadas monitorização, mesa cirúrgica

radiopaca, equipamento de anestesia, ecocardiograma transesofágico, dentro do

ambiente de centro cirúrgico esterilizado. Tem como destaque um equipamento robótico

55

que faz radiografia e tomografia, durante o procedimento, para tratamento cada vez

menos invasivo. (19)

O procedimento híbrido consiste de uma cirurgia convencional feita com auxilio de

imagem sofisticada ou de uma intervenção percutânea com auxilio de cirurgia

convencional. (19)

Nesse espaço os pacientes de moderada a alta complexidade podem ser tratados

simultaneamente com o cateter e o bisturi. Assim unindo equipes de especialistas de

diferentes áreas, como cardiologistas clínicos, cirurgiões cardíacos, médicos

intervencionistas, especialistas em exames de imagem e anestesistas, juntos formam o

Heart team.

São exemplos de procedimentos cardiovasculares e vasculares que podem ser

executado nas salas hibridas: implante de endoprótese aórtica, operações com derivação

dos troncos supraaórticos e implante de endoprótese em arco aórtico, troca valvar aórtica

percutânea, revascularização cirúrgica do miocárdio e uso de stents coronarianos, troca

valvar convencional complementada por "stent" coronariano, revascularização de membro

inferior através da associação de enxerto venoso com angioplastia ou implante de stent.

As complicações da intervenção percutânea que necessitam tratamento cirúrgico

imediato são melhor resolvidas na sala hibrida: perfuração cardíaca, dissecção aórtica;

complicação do acesso vascular; necessidade de troca valvar aórtica devido a

dificuldades ocorridas durante o procedimento percutâneo, necessidade de suporte

circulatório mecânico. Algumas complicações de procedimento cirúrgico, como a oclusão

coronariana durante implante de válvula aórtica pela ponta do ventrículo esquerdo, são

melhores resolvidas por intervenção percutânea. (19)

56

4. RESULTADOS E COMPLICAÇÕES

Resultados

A estenose aórtica é uma doença insidiosa com um longo período de latência, seguido

de uma progressão rápida, após o aparecimento de sintomas, resultando numa taxa

elevada de mortalidade (aproximadamente 50% durante os primeiros 2 anos depois do

aparecimento dos sintomas) em pacientes não tratados (107,108-110).

Sabe-se que, na prática clínica, cerca de 30% dos pacientes com estenose aórtica

sintomática severa não são submetidos a troca valvar cirúrgica, seja pela idade avançada,

pela disfunção ventricular severa ou por numerosas comorbidades. (111-113)

Desde o primeiro caso reportado de implante percutâneo transcateter, em novembro de

2002, na “Circulation” (114) e seus resultados a curto prazo, tem havido um crescimento

rápido na sua utilização em todo o mundo para o tratamento de estenose aórtica grave

em pacientes que estão em alto risco cirúrgico.

Em Junho de 2011 tivemos os resultados do primeiro estudo randomizado que

comparou troca valvar aórtica transcateter (TAVR. TranscatetherAortic-

ValveReplacement) e cirurgia convencional. Publicado no New England Journal of

Medicine. O estudo PARTNER inicialmente avaliou os resultados com “end point” primário

de mortalidade em um ano por qualquer causa. A a hipótese a demostrar era que a troca

transcateter não era inferior à cirurgia.

Entre maio de 2007 e agosto de 2009 foram enrolados 699 pacientes com estenose

aórtica severa sintomática (Classe Funcional da NYHA II ou maior) em 22 centros dos

Estados Unidos, 2 centros de Canadá e 1 centro na Alemanha, todos tinham indicação

cirurgica de troca valvar convencional. Todos eles foram considerados de alto risco de

comorbidades e morbidade cirúrgica em 30 dias. Excluíram os pacientes com valva

aórtica bivalvar e não calcificada, doença coronária que necessite cirurgia de

revascularização, fração de ejeção menor a 20% e diâmetro do anel aórtico menor de

57

18mm ou maior de 25mm, insuficiência aórtica ou mitral severas, evento vascular cerebral

recente e insuficiência renal severa.

No grupo randomizado TARV, 244 pacientes tiveram acesso vascular aceitável e foram

tratados por meio da abordagem transfemoral, e os restantes 104 pacientes foram

tratados por via transapical. Substituição cirúrgica padrão foi realizada em 351 pacientes.

Figura 13, mostra o grupo-estudo e o acompanhamento.

58

Todos os pacientes foram acompanhados por pelo menos 2 anos (média de 727

dias, máximo de 1490 dias).

A população total do estudo foi de idosos (idade média, 84,1 ± 6,6 anos), associada

a graves sintomas cardíacos (94,1% tinham NYHA classe III ou IV), e frequentes

comorbidades (75,5% tinham um histórico de doença arterial coronariana, 43,0% tinha um

histórico revascularização cirúrgica 42,4% tinham doença vascular periférica, 43,3%

tinham doença pulmonar, e 41,3% tinham diabetes).

Os grupos TAVR e cirurgia eram semelhantes em relação às características basais,

exceto para uma incidência ligeiramente maior de disfunção renal no grupo TAVR

Figura 13. Curvas de tempo ao evento para o evento primário e outros eventos.

59

(creatinina> 2 mg por decilitro [177 mol por litro] : 10,8%, em comparação com 6,4% no

grupo da cirurgia, P = 0,04). A Sociedade de Cirurgiões Torácicos previu risco de morte

em 30 dias de 11,8 ± 3,4%.

Dos 699 pacientes estudados, 42 não receberam a terapia atribuída: 4 no grupo

TAVR e 38 no grupo cirurgia. As principais razões para falta de tratamento foram retirada

do estudo e decisão do paciente de não se submeter à cirurgia (28 pacientes).

Mortalidade e AVC

Na análise intenção-de-tratar, as taxas de morte por qualquer causa em 30 dias

foram de 3,4% no grupo percutâneo e 6,5% no grupo cirúrgico (P = 0,07) (Tabela 2).

60

Durante o teste, não houve diferenças significativas na sobrevivência entre os

grupos de cirurgia e TAVR, e em ambos a análise de intenção de tratar (risco relativo com

TAVR, 0,90; intervalo de confiança de 95% [IC], 0,71-1,15, P = 0,41) ou a análise como

tratado (risco relativo, 0,98, 95% IC 0,76-1,25, P = 0,85).Entre 1 e 2 anos, houve 32

mortes adicionais no grupo TAVR e 25 no grupo de cirurgia. Em 2 anos, não houve

diferenças significativas na mortalidade por qualquer causa entre o grupo TAVR (33,9%,

IC 95%, 28,9-39,0) e do grupo de cirurgia (35,0%, IC 95%, 29,8-40,2, P = 0,78).

Mortalidade cardiovascular em 2 anos também foi semelhante nos grupos TAVR e cirurgia

(21,4% [IC 95%, 16,8-26,0] e 20,5% [IC 95%, 15,8-25,3], respetivamente, P = 0,80).

Da mesma forma, a análise relativa aos tratados, os grupos TAVR e cirurgia não

diferiram significativamente em respeito a todas as causas de mortalidade (33,9% e

32,7%, respetivamente, com P = 0,75) ou de mortalidade cardiovascular (20,8% e 18,5%,

respetivamente; P = 0,50).

Entre 1 e 2 anos, oito AVEs ocorreram (quatro no grupo TAVR e quatro no grupo

de cirurgia) e três ataques isquémicos transitórios (dois no grupo TAVR e uma no grupo

de cirurgia). A frequência de todos os eventos neurológicos (AVC e ataques isquémicos

transitórios) aos 2 anos foi maior com TAVR do que com substituição cirúrgica (11,2% vs

6,5%, P = 0,05). No entanto, não houve diferença significativa no número de acidentes

vasculares cerebrais globais entre a TAVR e grupos de cirurgia (taxa de risco de 1,22, IC

95%, 0,67-2,23, P = 0,52).

Após o início de um aumento de risco de acidente vascular cerebral, nos primeiros

30 dias associados com TAVR (4,6% com TAVR vs 2,4% com substituição cirúrgica, P =

0,12), houve 8 AVEs adicionais no grupo TAVR e 12 no grupo de cirurgia, tais que o

número total de AVE são longo do período de seguimento (36 meses) foi de 24 no grupo

TAVR e 20 no grupo de cirurgia. A composição da taxa de morte por qualquer causa ou

acidente vascular cerebral não diferiram significativamente entre os dois grupos de

tratamento (risco relativo, 0,93, 95% IC, 0,73-1,18, P = 0,55), menos 2 anos, o taxa foi de

37,1% no grupo TAVR e 36,4% no grupo de cirurgia (P = 0,85).

61

4.1. OUTROS RESULTADOS CLÍNICOS

Principais complicações vasculares e grandes eventos hemorrágicos foram

freqüentes complicações relacionadas ao procedimento nos grupos TAVR e cirurgia,

respectivamente, mas depois de um ano, esses eventos eram raros e não diferiram

significativamente entre os grupos. Nenhum paciente foi tratado com valvoplastia aórtica

ou repetição TAVR entre 1 e 2 anos. Endocardite foi rara e ocorreu a uma taxa

semelhante nos dois grupos (1,5% no grupo TAVR e 1,0% no grupo de cirurgia, P = 0,61).

Nenhum dos pacientes em ambos os grupos tiveram deterioração estrutural valvar com

necessidade de substituição cirúrgica durante o acompanhamento.

Em dois anos, não houve diferença significativa na taxa de re-hospitalização entre

os grupos TAVR e cirurgia (24,7% e 21,7%, respectivamente, P = 0,41). Entre os

sobreviventes aos dois anos, a classe NYHA média foi semelhante nos grupos TAVR e

cirurgia (1,72 e 1,70, P = 0,87), e a maioria dos pacientes em ambos os grupos tiveram

NYHA classe I ou II (83,9% no grupo TAVR e 85,2% no grupo de cirurgia).

4.2. PREDITORES DE MORTALIDAD

Preditores de mortalidade para a coorte de ensaio geral, bem como para cada um

dos grupos randomizados são apresentados na tabela abaixo. Designação do tratamento

não foi um preditor significativo do risco de morte.

62

Acidente vascular encefálico aumentou consideravelmente o risco de morte nos

dois grupos (TAVR: taxa de risco, 2,47, 95% IC, 1,42-4,30; P <0,001. Cirurgia: risco

relativo, 5,20, 95% CI, 3,07-8,80, P <0,001). Sangramento importante também aumentou

o risco de morte nos dois grupos (TAVR: risco relativo, 2,11, 95% CI, 1,41-3,17, P <0,001.

Cirurgia: taxa de risco, 2,94, 95% CI, 2,08-4,15, P <0,001). Complicações vasculares

maiores afetaram a sobrevivência apenas no grupo TAVR (risco relativo, 1,71, 95% CI,

1,07-2,73, P = 0,02).

4.2.1. OUTRAS COMPLICAÇÕES. (115)

Qualquer dissecção vascular:

Local de acesso ou acessos relacionada acesso a lesão vascular (dissecação,

estenose, perfuração, ruptura, Fístula Artério-venosa, pseudoaneurisma,

hematoma, lesão irreversible do nervo ou síndrome compartimental) levando à

morte de ambos, necessidade significativa de transfusões de sangue de (4 U),

63

planejadas ou não de intervenção percutânea ou cirurgica, ou dano de órgão

final irreversível (por exemplo, arterio oclusão hipogástrica causando isquemia

visceral ou lesão de artéria espinal causando deficiência de neurologica)

Embolização distal (não cerebral) que necessita de uma cirurgia de origem

vascular ou resultando em amputação ou dano irreversível ao órgão.

Complicações vasculares menores

Lesão de acesso ou relacionados ao acesso vascular (dissecação, estenose,

perfuração, ruptura, fístula arteriovenosa ou pseudoaneurisma que exigem

compressão ou terapia de injeção trombolítica ou hematomas que requerem

transfusão de mais de 2 ou 4 U) não requerendo intervenção cirúrgica ou

percutânea não planejada e não resultando em danos irreversíveis ao órgão

Embolização Distal tratados com embolectomia ou trombectomia e não

resultando em amputação ou dano irreversível ao órgão.

Falência do fechamento no acesso percutâneo resultando em uma correção

intervencionista (por exemplo, stent-enxerto) ou cirúrgica e não associado com

morte, necessidade de transfusões de sangue significativos (4 U), ou dano

irreversível ao órgão.

Mortalidade Cardiovascular (115)

Qualquer um dos seguintes critérios:

Qualquer morte por causa cardíaca (por exemplo, infarto do miocárdio, doenças

cardíacas, tamponamento, agravamento da insuficiência cardíaca).

Morte sem testemunhas e morte de causa desconhecida.

Todas as mortes relacionadas ao procedimento, incluindo aqueles relacionados

a uma complicação do procedimento ou tratamento de uma complicação do

processo.

Morte causada por condições vasculares como AVCi, embolia, doença

pulmonar, aneurisma de aórta roto, aneurisma dissecante,ou outras doenças

vasculares

64

Infarto do miocárdio

Infarto do miocárdio peri procedimento (≤72 horas após o procedimento)

Novos sintomas isquêmicos (por exemplo, dor no peito ou falta de ar), ou novos

sinais isquêmicos (arritmias ventriculares, por exemplo, nova ou piora da

insuficiência cardíaca, novas alterações do segmento ST, instabilidade

hemodinâmica, ou de imagem evidênciando perda de miocárdio viável ou nova

parede com anormalidade), e

Elevação dos Biomarcadores cardíacos (de preferência CK-MB) dentro de 72

horas após o procedimento, consistindo em duas ou mais amostras após o

procedimento que deveram estar acima de 0,6 com intervalo de 8 horas entre as

amostras.tendo a segunda amostra um aumento de 20% e umvalor de pico

superior a 10 vezes URL do percentil 99, ou um valor de pico superior a 5 vezes

URL do percentil 99 com novas ondas Q patológicas em, pelo menos, duas

derivações contíguas.

Infarto Miocardico espontânea (˃ 72 h após o procedimento)

Qualquer um dos seguintes critérios:

Detecção do aumento e / ou diminuição dos biomarcadores cardíacos (de

preferência troponina) compelo menos, um valor acima do percentil 99 URL, em

conjunto comevidência de isquemia do miocárdio, com pelo menos uma das

seguintes características:

Alterações eletrocardiográficas indicativas de nova isquemia (alteração de

seguimento ST ou BRE novo)

Novas ondas Q patológicas em pelo menos duas derivações contíguas

Evidência de imagem com nova perda de miocárdio viável ou nova parede com

movimentoanormais

Inesperada morte cardíaca, envolvendo parada cardíaca, muitas vezes

comsintomas sugestivos de isquemia miocárdica, e acompanhado pornova

elevação do segmento ST ou novo BRE, e / ou embolizações novas por

65

angiografia coronária e / ou na autópsia, masmorte ocorrendo antes das

amostras de sangue podem ser obtidas, ou em um momentoantes do

aparecimento de marcadores cardíacos no sangue.

Achados patológicos de um infarto agudo do miocárdio.

Sangramento (115)

Risco de vida ou incapacitação pelo sangramento

Hemorragia fatal ou sangramento em uma área crítica ou órgão, tais como

intracraniana, intra-ocular, ou pericárdica necessitando de pericardiocentese, ou

debridamento intramuscular para síndrome compartimental ou

Sangramento levando ao choque hipovolêmico ou hipotensão grave

necessitando vasopressores ou cirurgia ou

Origem evidente de hemorragia com queda da hemoglobina de ≥5 g / dl ou

sangue total ou transfusão de glóbulos vermelhos ≥4 bolsas *

Grandes sangramentos

Sangramento evidente ou associada a uma queda no nível de hemoglobina no

pelo menos 3,0 g / dl, ou que requer transfusão de duas ou três bolsas de

sangue.

Não cumprir os critérios de risco de vida ou incapacitação pelo sangramento

Pequenos sangramentos

Qualquer sangramento digno de menção clínica (por exemplo, hematoma no

local do acesso) que não se qualifica como uma ameaça à vida.

Acidente vascular encefálico (115)

Critérios diagnósticos

66

Déficit neurológico focal ou global de início súbito com pelo menos um

dosseguintes:

Alteração do nível de consciência, hemiplegia, hemiparesia,dormência ou perda

sensorial que afeta um lado do corpo, ou disfasia, afasia, hemianopsia,

amaurose fugaz, ou outros sinais neurológicos ousintomas consistentes com

derrame.

Duração de um déficit neurológico focal ou global ≥24 h; OU ˂ 24 h,

seintervenção terapêuticas foram realizadas (por exemplo, a terapia trombolítica

ouangioplastia intracranianas); ou neuroimagem com uma nova hemorragia ou

infarto; ou déficit neurológico resultando em morte.

Outro fator, exceto AVC, identificável para a apresentação clínica (por

exemplo,tumor cerebral, trauma, infecção, lesão de hipoglicemia,

periférico,influências farmacológicas) *

A confirmação do diagnóstico de pelo menos um dos seguintes:

Neurologia ou neurocirurgião

Neuroimagem (MR ou tomografia computadorizada ou angiografia cerebral)

Punção lombar (ou seja, análise do líquido espinhal hemorrágico)

Definições de AVC

Ataque isquêmico transitório:

Déficit neurológico focal novo com resolução rápida dos sintomas (normalmente

de 1 a 2 h), sempre dentro de 24 h

Neuroimagem sem lesão do tecido

AVC (diagnóstico com estudo de neuroimagem positivo)

Insuficência Renal Aguda (115)

Variação da creatinina sérica (até 72 h), em comparação com os valores basais

67

Fase 1- Aumento da creatinina sérica de 150% a 200% (1,5 a 2,0) em

comparação aos valores de base.ou aumento ≥ 0,3 mg / dl (≥ 26,4 mmol / l)

Fase 2- Aumento da creatinina sérica de 200% a 300% (2,0-3,0) aumento em

comparação com os valores basais) ou aumento de ≥ 0,3 mg / dl (≥ 26,4 mmol /

l) e menor que 4,0 mg / dl (˂ 354 mmol/l)

Fase 3- Aumento da creatinina sérica maior que 300% (≥ 3 X) aumento em

comparação com valores basais) ou da creatinina sérica de ≥4,0 mg / dl (≥ 354

mmol / l), com um aumento agudo de pelo menos 0,5 mg / dl (44 mmol / l)

Achados ecocardiográficos

As melhorias iniciais hemodinâmicas que foram vistas tanto com a substituição

cirúrgica quanto com a TAVR foram mantidas por 2 anos, sem mudanças significativas

nas áreas de válvulas ou gradientes médios. Regurgitação Aórtica para valvar moderada

ou grave era mais comum após TAVR que após a substituição cirúrgica em ambos os

primeiro e segundo anos (7,0% versus 1,9% em 1 ano, e de 6,9% contra 0,9% em 2 anos,

P <0,001 para ambos comparações). Entre os 143 pacientes que foram submetidos a

tuaçãoeval-ecocardiográfico 2 anos após TAVR, para valvar aórtica re-efervescência

permaneceu inalterada em 46,2% dos pacientes, foi melhorada em 31,5%, e foi pior em

22,4%.

A presença de aorta para valvar ou total re efervescência-(leve, moderada ou grave

versus ausência ou vestígios) após TAVR foi associada com aumento de mortalidade

tardia (hazard ratio, 2,11, 95% CI, 1,43-3,10, P <0,001). O efeito da regurgitação aórtica

na mortalidade era proporcional à severidade da regurgitação (Fig. 3), mas ainda

regurgitação aórtica leve foi associada a uma taxa de mortes tardias.

68

5. EXPERIÊNCIA DO INSTITUTO DANTE PAZZANESE DE

CARDIOLOGIA

O procedimento de troca valvar transcateter iniciou-se em nossa instituição em

novembro de 2009 graças aos esforços em conjunto de cirurgiões, intervencionistas,

cardiologistas, tomografistas, ecocardiografistas e anestesista.

Desde então, até setembro do corrente ano soma-se noventa e três pacientes com

média de idade de 81,6 anos. A maioria em classe funcional NYHA III e IV (72,8%) e

insuficiência renal, que foi definido como clearance de creatinina<60ml/min. Os dados

podem ser observados na tabela que se segue:

Características Clínicas N = 93

Idade, anos 81,6 ± 7,0

Sexo feminino 60 (65,2%)

Peso, kg 66 ± 10,8

Altura, cm 157,7 ±19,5

Classe III / IV NYHA 67 (72,8%)

Diabetes 24 (26,1%)

69

HAS 60 (65,2%)

DPOC 8 (8,7%)

FA / Flutter 11 (11,9%)

Insuficiência renal 71 (77,2%)

STS score, % 6,13 ± 4,1 %

EuroSCORE logístico, % 19,9 ± 11,6 %

No que tange aos acessos vasculares, o mais utilizado foi o femoral com mais de 91%

dos casos. Utilizou-se ecografia transesofágica em quase a totalidade dos pacientes. A

prótese mais frequente foi a Core Valve, em 75%. Esses dados estão contidos na tabela:

Anestesia

Geral

Sedação

89 (96,7%)

3 (3,3%)

Eco transesofágico 89 (96,7%)

Acesso vascular

70

Femoral

Transapical

Subclávia

Transaórtico

84 (91,3%)

5 (5,4%)

1 (1,1%)

2 (2,2%)

Prótese utilizada, n (%)

Corevalve®

Sapien XT®

AcurateSymetis®

69 (75%)

14 (15,2%)

9 (9,8%)

Os resultados ecocardiográficos obtidos no pré e pós operatórioforam analisados, que

expõe uma diminuição do gradiente transaórtico, sendo o gradiente máximo de 55,9 ±

15,22 e o gradiente mínimo de 11,5 ± 4,2 com significância estatística. Mostrou um

aumento da área valvar após o procedimento com um “p” significativo, que variou de 0,65

± 0,15 a 1,8 ± 0,29.

Foram analisados 93 pacientes em 30 dias em relação aos eventos cardíacos

adversos, com uma mortalidade e complicações exposto na tabela.

Eventos cardíacos adversos em até 30 dias

Mortalidade 15 (16,3%)

71

Mortalidade cardiovascular 11 (11,9%)

Acidente Vascular Cerebral 2 (2,2%)

Infarto Agudo do miocárdio 0

Complicações vasculares totais 6 (6,5%)

Complicações vasculares maiores 2 (2,2%)

Complicações hemorrágicas totais 7 (7,6%)

Complicações hemorrágicas maiores 5 (5,4%)

Necessidade de marcapasso 13 (15,6%)

Assim a experiência do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia aumenta cada dia

sendo a maior do Brasil, no mês de outubro foram realizados mais sete casos.

Em suma o Instituto tem contribuído para cardiologia mundial com grande apreço e

respeito da classe médica.

72

6. DISCUSSÃO

Em virtude dos aspectos apresentados, não resta duvida que a adoção do implante

transcateter de valva aórtica deve ser implementado em políticas publicas de saúde.

Quando analisamos o procedimento fica claro a oportuna discussão:

9. As próteses devem ser registradas na Anvisa, com devida autorização;

10. O ministério da Saúde em 2006 criou a Comissão de Incorporação de

Tecnologia do ministério da saúde (CITEC) cujo objetivo é racionalizar e

modernizar o fluxo de incorporação de novas tecnologias do sistema de saúde

(SUS) e na saúde suplementar.

11. O papel exercido pelo Conselho Regional de Medicina responsável pela

fiscalização do exercício profissional e também disposição legal. Nesse

particular, da lei 9.656, a qual no inciso IX do artigo 10, exclui de cobertura pelos

planos de saúde os tratamentos ilícitos ou antiéticos, assim definidos pelo

aspecto médico ou não reconhecido pelas autoridades competentes.

12. A incorporação de uma nova técnica na política de saúde do Brasil garante seu

reembolso pelos agentes provedores de saúde, SUS e Agencia Nacional de

saúde.

Apesar dos resultados clínicos favoráveis ao emprego do implante por cateter de

bioproteses na valva aórtica demostrados na literatura especializada, esse método

não esta liberado pela Agencia Nacional de Saúde. Mesmo assim já foram

realizados centenas desses procedimentos no Brasil com vários conflitos judiciais

entre pacientes e operadoras de planos de saúde.

73

Assim o médico fica o cargo de gerenciar e esclarecer para o paciente sobre

essas novas abordagens de maneira ética.

74

7. CONCLUSÕES

A implantação de prótese aórtica transcateter é uma terapia emergente que se tornou

nos últimos anos numa esperança real para pacientes sintomáticos com estenose aórtica

grave não são considerados adequados para substituição da valva por procedimentos

cirúrgicos.

Futuros avanços tecnológicos e treinamento rigoroso nesse campo promissor da

cardiologia intervencionista vai resultar em maiores taxas de sucesso

e reduzir as taxas de complicação.

A seleção precisa de pacientes para esta terapia que constitui um dos principais

determinantes do sucesso desse procedimento.

Estudos de imagem cardíaca desempenham um papel central na selecção dos

doentes e na implantação do dispositivo.

75

8. PERSPETIVAS

Como o avanço da tecnologia os pacientes podem ser enquadrados para o

tratamento com implante de próteses aórtica transcateter, com atenção e foco para

outras áreas que merecem atenção especial, que são: a "válvula em válvula"

técnica em pacientes com biopróteses aórticas disfuncionais, pacientes com

estenoses de válvula aórtica bicúspide, e aplicação em pacientes de baixo risco

cirúrgico. Outras populações de pacientes, como aqueles com crônica ou fase final

da doença renal, também podem ser candidatos para esta tecnologia e irá ser

objeto de futuras investigações.

76

9. BIBLIOGRAFIA

1. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Ranking do índice do

desenvolvimento humano (IDH). Disponível em http://www.pnud.org.br

2- United Nations World Population prospects: The 2006 Revision. 2006. Disponível

em: www.un.org.

3- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2010). Disponível em:

www.ibge.gov.br.

2. Ministério da saúde: informação de saúde. Disponível em: www.portal.saude.gov.br

3. Meira ZM, Goulart EM, Colosimo EA, Mota CC. Long term follow up of rheumatic

fever and predictors of severe rheumatic valvar disease in Brazilian children and

adolescents. Heart. 2005;91(8):1019-22.

4. Gibofsky, A., Zabriskie, J.: Epidemiology and pathogenesis of acute rheumatic

fever. Uptodate. 2012. Sept. Disponível em:

www.uptodate.com/contents/epidemiology-and-pathogeness-of-acute-rheumatic.

5. Huffman MD, Bonow Ro. Clinical practice guidelines and scientific evidence. JAMA.

2009;302(2):144-5; author reply6-7.

6. Flack J, Kvasnicka JH, Gardin JM, GIdding SS, Manolio TA, Jacobs DR Jr.

Anthropometric and physiologic correlates of mitral valve prolapsed in a biethnic

cohort of young adults: the CARDIA study. Am Heart Journal 1999;138(3Pt1):486-

92.

7. Moises VA. Doenças das valvas cardíacas. Em: Atualização terapêutica de Prado,

Ramos e Valle 2012//2013: Diagnóstico e Tratamento. 24ª edição. São Paulo.

2012. Pg 101-108.

77

8. Otto, CM; Bonow, RO. Valvular Heart Disease. Em: Braunwald’s Heart Disease. A

Text Book of Cardiovascular Medicine. Oitava edição. Editorial Saunders Elsevier.

2008. p.1625-1712.

9. Varadarajan, P., Kapoor, N., Bansal, RC., Pai RG.: Clinical profile and natural

history of 453 nonsurgically managed patients with severe aortic stenosis.

AnnThorac Surg. 2006;82:2111-5.

10. Cribier A, Eltchaninoff H, Bash A, Borenstein N, Tron C, Bauer F, et al.

Percutaneous transcatheter implantation of an aortic valve prosthesis for calcific

aortic stenosis: first human case description. Circulation. 2002;106:3006-8.

11. Brito Jr FA, Neto PAL, Siqueira D, et al. Consenso de especialista sobre o implante

por cateter de bioproteses valvares para o tratamento da estenose aórtica de alto

risco cirúrgico: relato da sociedade brasileira de hemodinâmica e

cardilogiaintervencionista. Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva. 2011,

vol19(2) 200-7.

12. Eltchaninoff H, Prat A, Gilard M, et al. Transcatheter aortic valve implantation: early

results of the France (FRench Aortic National Corevalve and Edwards registry).

European Heart Journal (2011) 32,191-197.

13. Souza, M, Elias, D. Circulação Extracorpórea. Histórico e Desenvolvimento. Em:

Circulação Extracorpórea. Segunda Edição. Rio de Janeiro: Centro Editorial Alfa

Rio, 2003.

14. Stephenson, L. History of Cardiac Surgery. Em: Lawrence Cohn. Cardiac Surgery

in the Adult. Third Edition. Massachusetts: McGraw-Hill Medical, 2003.

15. Kouchoukos, N, et al. Hypothermia, Circulatory Arrest, and Cardiopulmonary

Bypass. Em: Kirklin/Barratt-Boyes Cardiac Surgery. Third Edition. Birmingam:

Churchill Livingstone. 2003.

78

16. Emery R, Emery A, Knutsen A, Raikar G. Aortic Valve Replacement with a

Mechanical Cardiac Valve Prosthesis. Em: Lawrence Cohn. Cardiac Surgery in the

Adult. Boston: McGraw-Hill Medical. 2008.

17. Kouchouskos, N, et al. Adquired valvar heart disease. Aortic Valve Disease. Em:

Kirklin/Barrats-Boyes Cardiac Surgery. Third Edition. Birmingam: Churchill

Livingstone. 2003.

18. Bristow, J, McCord, C, Starr, A, Ritzmann, L, Griswold, H. Clinical and

Hemodynamic Results of Aortic Valvular Replacement with a Ball-Valve Prosthesis.

Circulation. April. 1964 (29). Suppl. 36-46.

19. Wheat, Jr, Linhart, J, Bartley, T, Taylor, W, Crevasse, L, Gree, Jr. Aortic Ball-Valve

(Starr-Edwards) Prostheses: A Follow-Up Evaluation. Annals of Thoracic Surgery.

1966, (2), pp. 166-179

20. Weisse, A. Cardiac Surgery. A Century of Progress. Journal of the Texas Heart

Institute. 38(5): 486-490.

21. Brian, B. The Engineering of Cardiopulmonary Bypass. Em: Montenegro, L, Beck,

J. On Bypass. Advanced perfusion techniques. New York: Humana Press. 2008.

22. Fledman, T. Percutaneous Therapies for Valvular Heart Disease. Em: Grossman's

Cardiac Catheterization, Angiography & Intervention. 7th Edition. Boston: Lippincott

Williams & Wilkins, 2006.

23. Lababidi, Z, Wu, JR, Walls, J. Percutaneous Ballon Aortic Valvuloplasty: Results in

23 Patients. American Journal of Cardiology. 1984;53: 194-197.

24. Rocchini AP, Beekman RH, Ben Shachar G, Benson L, Schwartz D, Kan JS.

Balloon aortic valvuloplasty: results of the Valvuloplasty and Angioplasty of

Congenital Anomalies Registry. American Journal of Cardiology, 1990 Mar

15;65(11): 784-789.

79

25. Rao PS, Thapar MK, Wilson AD, Levy JM, Chopra PS. Intermediate-Term Follow-

Up Results of Ballon aortic Valvuloplasty in Infants and Children with Special

Reference to Causes of Restenosis. The American Journal of Cardiology. 1989 Dec

1;64(19):1356-60.

26. Cribier A, Savin T, Saoudi N, Rocha P, Berland J, Letac B. Percutaneous

Transluminal Valvuloplasty of Acquired Aortic Stenosis in Elderly Patients: An

Alternative to Valve Replacement?.The Lancet. 1986 Jan 11;1(8472):63-7.

27. Ben-Dor I, Pichard AD, Satler LF, et al. Complications and Outcome of Ballon Aortic

Valvuloplasty in High-Risk or Inoperable Patients. JACC Cardiovasc Interv. 2010

Nov;3(11):1150-6.

28. Otto CM, Mickel MC, Kennedy JW, et al. Three-year outcome after ballon aortic

valvuloplasty. Insights into prognosis of valvular aortic stenosis. Circulation. 1994

Feb;89(2):642-50.

29. National Heart, Lung and Blood Institute. Percutaneous ballon aortic valvuloplasty.

Acute and 30-days follow-up results in 674 patients from the NHLBI Ballon

Valvuloplasty Registry. Circulation. 1991 Dec;84(6):2383-97.

30. Davies, H. Catheter-Mounted Valve for Temporary Relief of Aortic Insufficiency. The

Lancet. 1965 Jan; 1:250.

31. Andersen, HR, Knudsen, LL, Hasemkam, JM. Transluminal implantation of artificial

heart valves: description of a new expandable aortic valve and initial results with

implantation by catheter technique in closed chest pigs Eur Heart J. 1992

May;13(5):704-8.

32. Bonhoeffer P, Boudjemline Y, Saliba Z, et al. Transcatheter Implantation of a

Bovine Valve in Pulmonary Position: A Lamb Study. Circulation. 2000 Aug

15;102(7):813-6.

80

33. Bonhoeffer P, Boudjemline Y, Qureshi SA, et al. Percutaneous Insertion of the

Pulmonary Valve. J Am Coll Cardiol. 2002 May 15;39(10):1664-9.

34. Boudjemline Y, Bonhoeffer P. Steps Toward Percutaneous Aortic Valve

Replacement. Circulation. 2002 Feb 12;105(6):775-8.

35. Cribier A, Eltchaninoff H, Tron C, et al. Early Experience With Percutaneous

Transcatheter Implantation of Heart Valve Prosthesis for the Treatment of End-

Stage Inoperable Patients With Calcific Aortic Stenosis. J Am Coll Cardiol. 2004

Feb 18;43(4):698-703.

36. Grube E, Laborde JC, Zickmann B, et al. First report on a human percutaneous

transluminal implantation of a self expanding valve prosthesis for interventional

treatment of aortic valve stenosis. Catheter Cardiovasc Interv. 2005 Dec;66(4):465-

9.

37. Grube E, Schuler G, Buellesfeld L, et al. Percutaneous aortic valve replacement for

severe aortic stenosis in high-risk patients using the second- and current third-

generation self-expanding CoreValve prosthesis. Device success and 30-day

clinical outcome. J Am Coll Cardiol. 2007 Jul 3;50(1):69-76.

38. Cribier A, Eltchaninoff H, Tron C, et al. Treatment of Calcific Aortic Stenosis With

the Percutaneous Heart Valve. Mid-Term Follow-Up From the Initial Feasibility

Studies: The French Experiencie. J Am Coll Cardiol. 2006 Mar 21;47(6):1214-23.

39. Cribier, Alain. Percutaneous Implantation of Aortic Valve Prostheses in Patients

with Calcific Aortic Stenosis-Technical Advances. Touch Briefings - Touch

Cardiology. [Online] 2007 Cited: 2012 ] Disponivel em:

http://www.touchbriefings.com/pdf/2898/cribier.pdf.

40. Walther T, Dewey T, Wimmer-Greinecker G, et al. Transapical approach for

sutureless stent-fixed aortic valve implantation: experimental results. Eur J

Cardiothorac Surg. 2006 May;29(5):703-8.

81

41. Lichtenstein SV, Cheung A, Ye J, et al. Transapical Transcatheter Aortic Valve

Implantation in Humans. Initial Clinical Experience. Circulation. 2006 Aug

8;114(6):591-6.

42. Ye J, Cheung A, Lichtenstein SV, et al. Transapical aortic valve implantation in

humans. J Thorac Cardiovasc Surg. 2006 May;131(5):1194-6.

43. De Robertis F, Asgar A, Davies S, et al. The left axillary artery - a new approach for

transcatheter aortic vavle implantation. Eur J Cardiothorac Surg. 2009

Nov;36(5):807-12.

44. Asgar AW, Mullen MJ, Delahunty N, et al. Transcatheter aortic valve intervention

through the axillary artery for the treatment of severe aortic stenosis. J Thorac

Cardiovasc Surg. 2009 Mar;137(3):773-5.

45. Bojara W, Mumme A, Gerckens U, et al. Implantation of the CoreValve self-

expanding valve prosthesis via a subclavian artery approach: a case report. Clin

Res Cardiol. 2009 Mar;98(3):201-4.

46. Karavolias GK, Georgiadou P, Houri M, et al. Percutaneous Aortic Valve

Implantation of the Medtronic CoreValve Self-Expanding Valve Prosthesis via Left

subclavian Artery Access: The First Case Report in Greece. Hellenic J Cardiol.

2010 Jul-Aug;51(4):362-7.

47. Bapat V, Thomas M, Hancock J, Wilson K. First successful trans-catheter aortic

valve implantation through ascending aorta using Edwards SAPIEN THV system.

Eur J Cardiothorac Surg. 2010 Dec;38(6):811-3.

48. Modine T, Sudre A, Delhaye C, et al. Transcutaneous Aortic Valve Implantation

Using the Left Carotid Access: Feasibility and Early Clinical Outcomes. Ann Thorac

Surg. 2012 May;93(5):1489-94.

82

49. Bombien Quaden R, Leester-Schaedel M, Lozonschi L, Lutter G. Transcatheter

aortic valve replacement: transapical resection of the aortic valve in vivo. Interact

Cardiovasc Thorac Surg. 2012 Sep;15(3):348-51.

50. Baim, D. Cardiac Catheter History and Current Practice Standars. Grossman's

Cardiac Catheterization, Angiography & Intervention. 7th edition. Boston: Lippincott

Williams & Wilkins, 2006.

51. Solenkova NV, Umakanthan R, Leacche M, et al. The New Era of Cardiac Surgery.

Hybrid Therapy for Cardiovacular Disease. Innovations (Phila). 2010 Nov;5(6):388-

93.

52. Sawaya F, Liff D, Stewart J, et al. Aortic Stenosis: A Contemporary Rewiew. Am J

Med Sci. 2012 Jun;343(6):490-6.

53. Andreson, R, Becker, A, Piazza, N. The Anatomy of the Aortic Valvar Complex. Em:

Serruys, P, Piazza, N, Cribier, A, et al. Transcatheter Aortic Valve Implantation.

Tips and Tricks to Avoid Failure. First Edition. New York: Informa Healthcare. 2010.

54. Gerber MA, Baltimore RS, Eaton CB, et al. Prevention of Rheumatic Fever and

Diagnosis and Treatment of Acute Streptococcal Pharyngitis: A Scientific Statement

From American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki

Disease in the Young, the Interdisciplinary council on Functional Genomics and

Translational Biology, and the Interdisciplinary Council on Quality of Care and

Outcomes Research: endorsed by the American Academy of Pediatrics. Circulation.

2009 Mar 24;119(11):1541-51.

55. Shavelle, D, Otto, C. Aortic Stenosis. Em: Crawford, M, Di Marco, J, Paulus, W.

Cardiology. Third Edition. Philadelphia: Mosby - Elsevier, 2010.

56. Pibarot P, Dumesnil JG. Improving Assessment of Aortic Stenosis. J Am Coll

Cardiol. 2012 Jul 17;60(3):169-80.

83

57. Stewart BF, Siscovick D, Lind BK, et al. Clinical Factors Associated With Calcific

Aortic Valve Disease. J Am Coll Cardiol. 1997 Mar 1;29(3):630-4.

58. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, et al. 2008 Focused update incorporated

into the ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular

heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart

Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to Revise the

1998 Guidelines for the Management of Patients With Valvular Heart Disease):

endorsed by the Society of Cardiovascular Anesthesiologists, Society for

Cardiovascular Angiography and Interventions, and Society of Thoracic Surgeons.

Circulation. 2008 Oct 7;118(15):e523-661.

59. Leon MB, Smith CR, Mack M, et al. Transcatheter Aortic-Valve Implantation for

Aortic Stenosis in Patients Who Cannot Undergo Surgery. N Engl J Med. 2010 Oct

21;363(17):1597-607.

60. Dominik, J, Zacek, P. Heart Valve Surgery. An Illustrated Guide. Praga: Springer,

2008. pp. 105-173.

61. Vahanian A, Alfieri O, Andreotti F, et al. Guidelines on the management of valvular

heart disease (version 2012): The Joint Task Force on the Management of Valvular

Heart Disease of the European Society of Cardiology (ESC) and the European

Association for Cardio-Thoracic Surgery (EACTS). Eur J Cardiothorac Surg. 2012

Oct;42(4):S1-S44.

62. Thomas M, Schymik G, Walther T, et al. One-year outcomes of cohort 1 in the

Edwards SAPIEN Aortic Bioprosthesis European Outcome (SOURCE) registry: the

European registry of transcatheter aortic valve implantation using the Edwards

SAPIEN valve. Circulation. 2011 Jul 26;124(4):425-33.

63. Smith CR, Leon MB, Mack MJ, et al. Transcatheter versus surgical aortic-valve

replacement in high-risk patients. N Engl J Med. 2011 Jun 9;364(23):2187-98.

84

64. Holmes DR Jr, Mack MJ, Kaul S, et al. 2012 ACCF/AATS/SCAI/STS expert

consensus document on transcatheter aortic valve replacement: developed in

collaboration with the American Heart Association, American Society of

Echocardiography, European Association for Cardio-Thoracic Surgery, Heart

Failure Society of America, Mended Hearts, Society of Cardiovascular

Anesthesiologists, Society of Cardiovascular Computed Tomography, and Society

for Cardiovascular Magnetic Resonance. J Thorac Cardiovasc Surg. 2012

Sep;144(3):e29-84.

65. Delgado, V, Tops, L, Van Der Kley, F, et al. Imaging – How Can It Help Before

Transcatheter Aortic Valve Implantation?. Em: Serruys, P, et al. Transcatheter

Aortic Valve Implantation. Tips and Tricks to Avoid Failure. First Edition. New York:

Informa Healthcare. 2010.

66. Zegdi R, Ciobotaru V, Noghin M, et al. Is it reasonable to treat all calcified stenotic

aortic valves with a valved stent? Results from a human anatomic study in adults. J

Am Coll Cardiol 2008; 51:579–584.

67. Webb JG, Chandavimol M, Thompson CR, et al. Percutaneous aortic valve

implantation retrograde from the femoral artery. Circulation 2006; 113:842–850.

68. Bonow RO, Carabello BA, Kanu C, et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the

management of patients with valvular heart disease: A report of the American

College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice

Guidelines (writing committee to revise the 1998 Guidelines for the Management of

Patients With Valvular Heart Disease): Developed in collaboration with the Society

of Cardiovascular Anesthesiologists: Endorsed by the Society for Cardiovascular

Angiography and Interventions and the Society of Thoracic Surgeons. Circulation

2006; 114:e84–e231.

69. Otto CM. Valvular aortic stenosis: Disease severity and timing of intervention.

JAmColl Cardiol 2006;47:2141–2151.

85

70. Moss R, Ivens E, Pasupati S, et al. Role of Echocardiography in Percutaneous

AorticValve Implantation. JACC Cardiovasc Imaging 2008; 1:15–24.

71. Vahanian A, Alfieri O, Al-Attar N, et al. Transcatheter valve implantation for patients

with aortic stenosis: A position statement from the European Association of Cardio-

Thoracic Surgery (EACTS) and the European Society of Cardiology (ESC), in

collaboration with the European Association of Percutaneous Cardiovascular

Interventions (EAPCI). Eur Heart J 2008; 29:1463–1470.

72. Iung B, Cachier A, Baron G, et al. Decision-making in elderly patients with severe

aortic stenosis: Why are so many denied surgery? Eur Heart J 2005; 26:2714–

2720.

73. Lang RM, Bierig M, Devereux RB, et al. Recommendations for chamber

quantification: A report from the American Society of Echocardiography’s

Guidelines and Standards Committee and the Chamber Quantification Writing

Group, developed in conjunction with the European Association of

Echocardiography, a branch of the European Society of Cardiology. J Am Soc

Echocardiogr 2005;18:1440–1463.

74. Poh KK, Levine RA, Solis J, et al. Assessing aortic valve area in aortic stenosis by

continuity equation: A novel approach using real-time three-dimensional

echocardiography. Eur Heart J 2008; 29:2526–2535

75. Reant P, Lederlin M, Lafitte S, et al. Absolute assessment of aortic valve stenosis

by planimetry using cardiovascular magnetic resonance imaging: Comparison with

transesophageal echocardiography, transthoracic echocardiography, and cardiac

catheterisation. Eur J Radiol 2006; 59:276–283.

76. Henneman MM, Schuijf JD, Jukema JW, et al. Assessment of global and regional

left ventricular function and volumes with 64-slice MSCT: A comparison with 2D

echocardiography. J Nucl Cardiol 2006; 13:480–487.

86

77. Rodes-Cabau J, Dumont E, De LaRochelliere R, et al. Feasibility and initial results

of percutaneous aortic valve implantation including selection of the transfemoral or

transapical approach in patients with severe aortic stenosis. Am J Cardiol 2008;

102:1240–1246.

78. Tops L,Wood D, DelgadoV, et al. Noninvasive Evaluation of the Aortic RootWith

Multislice Computed Tomography Implications for Transcatheter Aortic Valve

Replacement. JACC Cardiovasc Imaging 2008; 1:321–330

79. Doddamani S, Grushko MJ, Makaryus AN, et al. Demonstration of left ventricular

outflow tract eccentricity by 64-slice multi-detector CT. Int J Cardiovasc Imaging

2009; 25:175–181.

80. Schuijf JD, Pundziute G, Jukema JW, et al. Diagnostic accuracy of 64-slice

multislice computed tomography in the noninvasive evaluation of significant

coronary artery disease. Am J Cardiol 2006; 98:145–148.

81. Burman E, Keegan J, Kilner P. Aortic root measurement by cardiovascular

magnetic resonance: Specification of planes and lines of measurement, and

corresponding normal values. Circ Cardiovasc Imaging 2008; 1:104–113.

82. Caruthers SD, Lin SJ, Brown P, et al. Practical value of cardiac magnetic resonance

imaging for clinical quantification of aortic valve stenosis: Comparison with

echocardiography. Circulation 2003;108:2236–2243.

83. Constantine G, Shan K, Flamm SD, et al. Role of MRI in clinical cardiology. Lancet

2004; 363:2162–2171.

84. Auerbach EG, Martin ET. Magnetic resonance imaging of the peripheral

vasculature.AmHeart J 2004;148:755–763.

85. Swan JS, Kennell TW, Acher CW, et al. Magnetic resonance angiography of aorto-

iliac disease. Am J Surg 2000; 180:6–12.

87

86. Iozzelli A, D’Orta G, Aliprandi A, et al. The value of true-FISP sequence added to

conventional gadolinium-enhanced MRA of abdominal aorta and its major

branches. Eur J Radiol 2008.

87. Pouleur AC, le Polain deWaroux JB, Pasquet A, et al. Planimetric and continuity

equation assessment of aortic valve area: Head to head comparison between

cardiac magnetic resonance and echocardiography. J Magn Reson Imaging 2007;

26:1436–1443.

88. Burman E, Keegan J, Kilner P. Aortic root measurement by cardiovascular

magnetic resonance: Specification of planes and lines of measurement, and

corresponding normal values. Circ Cardiovasc Imaging 2008; 1:104–113.

89. Schuijf JD, Bax JJ, Shaw LJ, et al. Meta-analysis of comparative diagnostic

performance of magnetic resonance imaging and multislice computed tomography

for noninvasive coronary angiography. Am Heart J 2006; 151:404–411.

90. Nashef SA, Roques F, Michel P, et al. European system for cardiac operative risk

evaluation (EuroSCORE). Eur J Cardiothorac Surg 1999; 16:9–13.

91. Nowicki ER, Birkmeyer NJ, Weintraub RW, et al. Multivariable prediction of in-

hospital mortality associated with aortic and mitral valve surgery in Northern New

England. Ann Thorac Surg 2004;77:1966–1977.

92. Jin R, Grunkemeier GL, Starr A. Validation and refinement of mortality risk models

for heart valve surgery. Ann Thorac Surg 2005; 80:471–479.

93. Parsonnet V, Dean D, Bernstein AD. A method of uniform stratification of risk for

evaluating the results of surgery in acquired adult heart disease Circulation 1989;

79:I3–I12.

94. Rankin JS, Hammill BG, Ferguson TB Jr., et al. Determinants of operative mortality

in valvular heart surgery. J Thorac Cardiovasc Surg 2006; 131:547–557.

88

95. Edwards FH, Peterson ED, Coombs LP, et al. Prediction of operative mortality after

valve replacement surgery. J Am Coll Cardiol 2001; 37:885–892.

96. Bonhoeffer P, Boudjemline Y, Saliba Z, et al. Percutaneous replacement of

pulmonary valve in a right-ventricle to pulmonary artery conduit with valve

dysfunction. Lancet 2000;356:1403–5.

97. Grube E, Laborde JC, Gerckens U, et al. Percutaneous implantation of the

CoreValve self-expanding valve prosthesis in high-risk patients with aortic valve

disease: the Siegburg first-in-man study. Circulation. 2006 Oct 10;114(15):1616-24.

98. Lichtenstein SV, Cheung A, Ye J, et al. Transapical transcatheter aortic valve

implantation in humans: initial clinical experience. Circulation. 2006 Aug

8;114(6):591-6.

99. Moulopoulos SD, Anthopoulos L, Stamatelopoulos S, Stefadouros M. Catheter-

mounted aortic valves. Ann Thorac Surg. 1971 May;11(5):423-30.

100. Grube E, Buellesfeld L, Mueller R, et al. Progress and current status of

percutaneous aortic valve replacement: results of three device generations of the

CoreValve Revalving system. Circ Cardiovasc Interv. 2008 Dec;1(3):167-75.

101. Nietlispach, F, Webb, J. Implantation of the Edwards SAPIEN Valve. Em: Serruys,

P, et al. Transcatheter Aortic Valve Implantation. Tips and Tricks to Avoid Failure.

First Edition. New York: Informa Healthcare. 2010.

102. Walther, T, Kemfert, J, Dewey, T. Transapical Aortic Valve Implantation –

Procedural Steps. Em: Serruys, P, et al. Transcatheter Aortic Valve Implantation.

Tips and Tricks to Avoid Failure. First Edition. New York: Informa Healthcare. 2010.

103. Jaegere, P, Piazza, N, Tzikas, A, et al. Implantation of the CoreValve ReValving

System. Em: Serruys, P, et al. Transcatheter Aortic Valve Implantation. Tips and

Tricks to Avoid Failure. First Edition. New York: Informa Healthcare. 2010.

104. Ross J Jr, Braunwald E. Aortic stenosis. Circulation 1968;38:61-7.

89

105. Turina J, Hess O, Sepulcri F, Krayenbuehl HP. Spontaneous course of aortic valve

disease. Eur Heart J 1987;8:471-83.

106. Kelly TA, Rothbart RM, Cooper CM, Kaiser DL, Smucker ML, Gibson RS.

Comparison of outcome of asymptomatic to symptomatic patients older than 20

years of age with valvular aortic stenosis. Am J Cardiol 1988;61:123-30.

107. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, et al. 2008 Focused update incorporated

into the ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular

heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart

Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to Revise the

1988 Guidelines for the Management of Patients With Valvular Heart Disease):

endorsed by the Society of Cardiovascular Anesthesiologists, Society for

Cardiovascular Angiography and Interventions, and Society of Thoracic Surgeons.

Circulation 2008;118(15):e523-e661.

108. Bouma BJ, van den Brink RBA, van der Meulen JHP, et al. To operate or not on

elderly patients with aortic stenosis: the decision and its consequences. Heart 1999;

82:143-8.

109. Lung B, Cachier A, Baron G, et al. Decision-making in elderly patients with severe

aortic stenosis: why are so many denied surgery? Eur Heart J 2005;26:2714-20.

110. Varadarajan P, Kapoor N, Bansal RC, Pai RG. Clinical profile and natural history of

453 nonsurgically managed patients with severe aortic stenosis. Ann Thorac Surg

2006;82:2111-5. 17. Bach DS, Siao D, Girard SE, Duvernoy C, McCallister BD Jr,

Gualano SK. Evaluation of patients with severe symptomatic aortic stenosis who do

not undergo aortic valve replacement. Circ Cardiovasc Qual Outcomes 2009;2:533-

9

111. Cribier A, Eltchaninoff H, Bash A, et al. Percutaneous transcatheter implantation of

an aortic valve prosthesis for calcific aortic stenosis: first human case description.

Circulation 2002;106:3006-8.

90

112. Leon etal.VARCEndpoints consenso após TAVI para Estenose Aórtica de Alto

Risco em 18 de janeiro, 2011.JACC Vol. 57, No. 3, 2011:253-69