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1 INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA IEP Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Educação em Diabetes Sheila Mara Silva de Oliveira DIABETES E ANALFABETISMO: ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DE ESTRATÉGIA EDUCACIONAL PARA TRATAMENTO INDEPENDENTE Belo Horizonte 2015

INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA – IEP Curso de Pós

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INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA – IEP

Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu

Mestrado Profissional em Educação em Diabetes

Sheila Mara Silva de Oliveira

DIABETES E ANALFABETISMO: ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DE

ESTRATÉGIA EDUCACIONAL PARA TRATAMENTO INDEPENDENTE

Belo Horizonte

2015

2

Sheila Mara Silva de Oliveira

DIABETES E ANALFABETISMO: ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DE

ESTRATÉGIA EDUCACIONAL PARA TRATAMENTO INDEPENDENTE

Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação

do Instituto de Ensino e Pesquisa – IEP do grupo Santa

Casa de Belo Horizonte, como requisito parcial para

obtenção de título de Mestre em Educação em Diabetes.

Orientadora: Profa. Janice Sepúlveda Reis

Belo Horizonte

2015

3

“Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por

qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa,

desde que citada à fonte.”

OLIVEIRA, Sheila Mara Silva de. O482d Diabetes e analfabetismo: elaboração e avaliação de estratégia

educacional para tratamento independente./ Sheila Mara Silva de Oliveira. – Belo Horizonte, 2015.

97f.: il. Orientadora: Janice Sepúlveda Reis. Dissertação (Programa de Pós-graduação Stricto Sensu. Mestrado Profissional em Educação em Diabetes).

1. Diabetes Mellitus. 2. Escolaridade. 3. Educação. I. OLIVEIRA, Sheila Mara Silva de II. Título. III. Grupo Santa Casa de Belo Horizonte. IV. IEP.

CDD: 616.462

4

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por iluminar meu caminho.

De forma especial, a minha filha Isabela. A florzinha que chegou para encantar

nossas vidas.

Ao meu marido André, por estar sempre ao meu lado, pelo incentivo,

compreensão e por ser meu grande amor.

A minha mãe Dalva, que sempre me apoiou para que eu seguisse meus

sonhos.

Aos meus irmãos Gustavo e Gabriela, pelas demonstrações de afeto nos

pequenos-grandes gestos cotidianos.

Ao meu pai Léo (in memorian), que mesmo “distante”, continua me guiando.

A minha orientadora, professora Dra. Janice Sepúlveda Reis, pela constante

dedicação e por ter ampliado meus conhecimentos na educação em diabetes.

Aos colegas do centro de saúde Mariano de Abreu pela colaboração. À Marina,

pela disponibilidade e apoio, à Kelly, pelas boas ideias e dicas importantes e

em especial a minha equipe de PSF (Idelma, Aline, Elcio, Marcia, Joelma,

Valquíria, Shirley e Letícia) pela grande ajuda e dedicação.

Aos pacientes, que dedicaram seu tempo e atenção para que meu trabalho

pudesse ser realizado.

Aos meus familiares por acreditarem em mim.

Aos amigos, em especial à Vanessa, Núbia, Érika, Suelen, Carol, Tati, Natália,

Luciana, Fabiana, Cinthia, Maira e Paula pelos momentos de alegria,

desconcentração e carinho.

6

RESUMO

Introdução: Diabetes Mellitus (DM) é um problema de saúde pública no Brasil

e o analfabetismo é um obstáculo ao controle da doença, população essa que

muitas vezes não é atendida corretamente no Sistema Único de Saúde (SUS).

Objetivo: Desenvolver e avaliar material educativo para as pessoas com DM

tipo 2 analfabetas ou analfabetas funcionais em saúde atendidas no SUS.

Métodos: Material didático foi elaborado com imagens de alimentos e

tamanhos de porções, correspondendo ao plano alimentar, a partir de grupos

de alimentos baseados em quantidade de calorias e de carboidratos

semelhantes e lista de medicamentos identificados por cores diferentes.

Literacia em saúde foi medida com o Brief Test of Functional Health Literancy

in Adults (B-TOFHLA) em pacientes com DM tipo 2 em um Centro de Saúde

em Belo Horizonte-MG. Programa educativo foi realizado em quatro reuniões

semanais, baseado no material educativo elaborado, em grupos com 10 a 15

pessoas, direcionado ao uso de medicamentos e nutrição, auxiliando na

identificação dos medicamentos por cores diferentes, orientando as refeições

com um plano alimentar individualizado e uma lista de alimentos adaptados a

esta realidade. Avaliação clínica e exames bioquímicos foram avaliados antes e

três meses após a última reunião. Resultados: Quarenta pacientes foram

incluídos no estudo, classificados como analfabetos ou analfabetos funcionais

em saúde. Após 3 meses, houve melhora significativa na glicemia de jejum

(p=0.004) e A1c (p=0.044), colesterol total (p=0.048), LDL (p=0.046), VLDL

(p=0.013) e triglicérides (p=0.023), além da redução na pressão arterial

sistólica (p<0.001) e diastólica (p<0.001), entre os indivíduos medicados. Não

houve alterações no peso, IMC e perímetro abdominal ou alterações nas doses

das medicações ou do nível de atividade física durante o estudo. Conclusão:

O material educacional mostrou-se viável na atenção primária com as

mudanças de comportamento em pacientes com DM tipo 2 analfabetos e

analfabetos funcionais em saúde, gerando maior controle dessa condição.

Educadores em diabetes devem reconhecer que o analfabetismo em saúde é

comum e que os cuidados de diabetes podem ser ainda mais desafiadores

para este grupo.

7

Palavras-chave: Diabetes Mellitus; analfabetismo; educação.

8

ABSTRACT

Introduction: Diabetes Mellitus (DM) is a public health problem in Brazil and

illiteracy is an obstacle in controlling the disease, with this population often not

answered properly in Public Health System (PHS). Objective: To develop and

evaluate educational material to people with type 2 diabetes health illiteracy or

illiteracy, attended by PHS, evaluating its benefits. Methods: Educational

material was prepared with food and size of portions images, corresponding to

the eating plan, from food groups based on similar amount of calories and

carbohydrates and medication list identified by different colors. Health literacy

was measured with the brief-form Test of Functional Health Literacy (B-

TOFHLA) in 53 patients with type 2 DM in a single Public Health Center in Belo

Horizonte-MG. Educational program was conducted in four weekly meetings, in

groups with 10 to 15 people, directed to use of drugs and nutrition, advising how

to identify drugs by different colors, guiding meals with an individualized eating

plan and a list of food adapted to this reality. The meetings were based on

educational material. Clinical evaluation and biochemical tests were analyzed

before and three months after the last meeting. Results: Forty patients were

included in the study, classified as illiteracy or health illiteracy. After 3 months,

there were improvements in fasting glucose (p=0.004) and A1c (p=0.044), total

cholesterol (p=0.048), LDL cholesterol (p=0.046), VLDL cholesterol (p=0,013)

and triglycerides (p=0,023) and reduction in systolic (p<0,001) and diastolic

(p<0,001) blood pressure among participants treated. There were no changes

in weight, BMI and abdominal girth. Without change in dose of medication or

level of physical activity throughout the study. Conclusion: The educational

material proved to be feasible in primary care with the changes of behavior in

patients with type 2 DM illiterate and health illiteracy, generating greater control

of this condition. Diabetes educators must recognize that health illiteracy is

common and that diabetes care can be even more challenging for this group.

Keywords: Diabetes Mellitus; health illiteracy; education.

9

LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 1 ............................................................................................ 21

Quadro 2 ............................................................................................ 36

Figura 1 .............................................................................................. 28

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 ............................................................................................... 37

Tabela 2 ............................................................................................... 39

11

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

A1c Hemoglobina glicada

ACS Agente comunitário de saúde

B-TOFHLA Brief Test of Functional Health Literancy in Adults

CT Colesterol total

DM Diabetes Mellitus

DP Desvio padrão

ED Educação em Diabetes

HDL Higth density lipoprotein

IMC Índice de massa corporal

Kcal Quilocaloria

LDL Low density lipoprotein

LFS Letramento Funcional em Saúde

MS Ministério da Saúde

PA Perímetro abdominal

PAD Pressão arterial diastólica

PAS Pressão arterial sistólica

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TG Triglicérides

VLDL Very low density lipoprotein

12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................13

2 OBJETIVOS..................................................................................................15

3 REFERENCIAL TEÓRICO ..........................................................................16

3.1 Atenção primária à saúde ......................................................................16

3.2 Tratamento do diabetes ..........................................................................16

3.3 Saúde literária e diabetes .......................................................................17

3.3.1 Definição ............................................................................................... 17

3.3.2 Educação em Saúde, alfabetização e letramento ................................. 17

3.3.3 Avaliação ............................................................................................. 20

3.4 Educação em diabetes .......................................................................... 23

3.5 Problematização da educação em diabetes ........................................ 24

3.6 Comunicação e atendimento do analfabeto ........................................ 26

4 METODOLOGIA ......................................................................................... 27

4.1 Seleção dos participantes ..................................................................... 27

4.2 Avaliações .............................................................................................. 29

4.3 Programa de educação .......................................................................... 30

4.4 Análise estatística .................................................................................. 35

5 RESULTADOS ........................................................................................... 37

6 DISCUSSÃO ............................................................................................... 40

7 CONCLUSÃO ............................................................................................. 48

8 PERSPECTIVAS PARA O EDUCADOR EM DIABETES........................... 49

9 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 50

10 APÊNDICES E ANEXOS .......................................................................... 55

13

1. INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus (DM) é um conjunto de alterações metabólicas

caracterizadas por hiperglicemia crônica, em decorrência da destruição das

células beta do pâncreas, resistência à ação e/ou distúrbios da secreção da

insulina (1).

No Brasil, 11.9 milhões de pessoas são acometidas por DM (dados de 2013), e

a previsão é que este número aumente para 19.2 milhões de pessoas até 2035

(2). Dentre os tipos de DM, o tipo 2 compreende 90% dos agravos presentes

no mundo (3). O aumento da prevalência do DM, aliado à complexidade de seu

tratamento, reforçam a necessidade de programas educativos eficazes e

viáveis aos serviços públicos de saúde (4).

Um processo educativo deve estimular o desenvolvimento de habilidades

intelectuais, compartilhando responsabilidades e possibilitando a pessoa ser

sujeito de seu tratamento. Nesse sentido, a educação permeia a sociedade,

constituindo um elemento propulsor de acesso ao conhecimento e capacidade

para tomada de decisões fundamentadas no princípio da liberdade e

autonomia. Assim, para que ela exista é necessário fazê-lo capaz de interpretar

a realidade que o cerca, realizar e experimentar opções e transformá-las em

decisões (5).

Há estudos mostrando que o analfabetismo é um obstáculo no controle do DM

em decorrência da dificuldade de comunicação. Uma comunicação clara e uma

boa compreensão são essenciais em todas as interações médico-pessoa, mas

pode ser especialmente importante para pacientes com diabetes, onde a

educação e o aconselhamento são de suma importância na gestão desta

condição (6).

A incapacidade de ler a forma adequada de uso da medicação no receituário

ou de identificar na caixa ou na cartela o remédio que está usando, pode

acarretar o uso incorreto e ineficaz das drogas e, consequentemente, levar ao

fracasso do tratamento e persistência da patologia. Muitos passam

despercebidos pelos profissionais de saúde, por desconhecimento ou

14

indiferença, aumentando chances de descompensação, maior procura por

serviços de saúde, além de aumento das chances de complicações (7).

Com relação à alimentação e nutrição, em que são usados muitas vezes o

plano alimentar, o analfabeto também encontra obstáculos, pois há dificuldade

para se encontrar um que seja voltado para este público (contendo apenas

símbolos e figuras), para melhor compreensão.

Assim, pretende-se com este estudo possibilitar aos profissionais de saúde

uma reflexão crítica das ações de educação em saúde, criando material

próprio, voltado para o analfabeto, com símbolos e figuras, implementando a

partir dele intervenções que levem aos pacientes a mudanças na alimentação e

no uso correto dos medicamentos.

15

2. OBJETIVOS

OBJETIVO PRIMÁRIO

Desenvolver e avaliar material educativo que atenda às pessoas com diabetes

tipo 2 analfabetas ou analfabetas funcionais em saúde, atendidas pelo Sistema

Único de Saúde (SUS).

OBJETIVOS SECUNDÁRIOS

▪ Aumentar a adesão medicamentosa, diminuir a dependência para o

tratamento, na tentativa de melhorar o perfil lipídico, pressórico e glicêmico.

▪ Orientar as refeições através da introdução de um plano alimentar

individualizado, com uma lista de substituição adaptada para este grupo.

16

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAUDE

O Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao DM,

proposto pelo Ministério da Saúde (MS) em 2002 descreve que pelo menos

65% dos casos de hipertensão arterial e DM podem ser tratados e

acompanhados na atenção básica (8).

A unidade de Saúde da Família é uma unidade pública de saúde destinada a

realizar atenção contínua nas especialidades básicas, com uma equipe

multiprofissional habilitada para desenvolver as atividades de promoção,

proteção e recuperação, características do nível primário de atenção (9).

3.2. TRATAMENTO DO DIABETES

Quando o paciente recebe o diagnóstico de DM tipo 2, junto com as medidas

que orientam modificações adequadas no seu estilo de vida (educação em

saúde, orientação nutricional e atividade física), o médico em geral prescreve

um agente antidiabético. A meta é a normoglicemia, devendo dispor de boas

estratégias para sua manutenção em longo prazo, reduzindo complicações

crônicas da doença (10).

A orientação nutricional feita pelos profissionais de saúde tem por objetivo

promover mudanças de hábitos alimentares, visando à saúde global do

indivíduo e à prevenção de doenças. É baseada numa dieta variada em

alimentos, manutenção do peso ideal, dieta pobre em gorduras saturadas e

colesterol, rica em vegetais, frutas, grãos e derivados dos grãos e moderado

consumo de sal, sódio, bebidas alcoólicas e açucares. Deve ser dinâmica,

permitindo flexibilidade para a escolha dos alimentos (11).

Uma das ferramentas utilizadas é a lista de substituição de alimentos que

consiste em alimentos agrupados em porções equivalentes de calorias,

carboidratos e demais nutrientes, ou seja, alimentos com características

nutricionais semelhantes, apresentados geralmente em medidas caseiras. A

17

lista permite a rápida confecção de cardápios individualizados e ao paciente a

possibilidade de montar seu próprio programa alimentar (12).

Os antidiabéticos orais, quando ingeridos, tem a finalidade de baixar a glicemia

e mantê-la normal (de uma maneira geral, glicemia capilar em jejum 70 - 130

mg/dl e pós-prandial <180mg/dl). Se estiver relacionado a outros fatores de

risco, como dislipidemia, hipertensão, obesidade, tabagismo, passado de

infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico, doença arterial

periférica, há a necessidade de utilizar outras medicações, dificultando seu uso

regular e contínuo (10).

3.3. SAÚDE LITERÁRIA E DIABETES

3.3.1. Definição:

A alfabetização inclui habilidades e demandas relacionadas às informações

(leitura e escrita), à comunicação oral (fala e escuta), numeramento e atenção

para a relevância cultural. Cada um destes domínios contribui para a prática de

cuidados de pacientes com DM (13).

O analfabeto sente dificuldades de integração e de comunicação, em face de

não saber ler nem escrever. Como a escrita é um dos meios de comunicação

mais populares, sua falta faz com que o processo de comunicação e

compreensão do analfabeto seja prejudicado (14). Também é classificado

como analfabeto aquele que não sabe ler ou escrever, mas que assina o

próprio nome (15).

O analfabeto funcional é aquele indivíduo que mesmo sabendo ler e escrever,

não possui habilidades de leitura, escrita e de cálculo necessárias para

viabilizar seu desenvolvimento pessoal e profissional (16).

3.3.2. Educação em Saúde, alfabetização e letramento

Há um vínculo muito estreito entre a Educação e a Saúde: "[...] educação para

a saúde é resultante da confluência desses dois fenômenos" (17). O Ministério

da Saúde (MS) define Educação em Saúde como:

18

[...] um conjunto de práticas pedagógicas e sociais, de conteúdo técnico,

político e científico, que no âmbito das práticas de atenção à saúde deve ser

vivenciada e compartilhada pelos trabalhadores da área, pelos setores

organizados da população e consumidores de bens e serviços de saúde.

O conceito de Educação em Saúde encontra-se articulado por um conjunto de

disciplinas que dialogam entre si, em uma perspectiva interdisciplinar. A

educação, a saúde, a psicologia, a sociologia, a filosofia e a antropologia são

as principais áreas de conhecimento que contribuem para a formação desse

campo multifacetado (17).

Quanto à alfabetização, esta tem sido considerada um conceito plural e

dinâmico, de acordo com a United Nations Educational, Scientific and Cultural

Organization (Unesco, 2009), com muitas "facetas”, sendo sua definição: a

habilidade de identificar, compreender, interpretar, criar, comunicar e assimilar,

utilizando materiais impressos e escritos associados a diversos contextos. A

alfabetização envolve um continuum de aprendizagem que permite que

indivíduos atinjam seus objetivos, desenvolvam seus conhecimentos e

potencial e participem plenamente na sua comunidade e na sociedade em

geral (17).

Para a Unesco, nenhuma definição de alfabetização pode ter um caráter

permanente, sobretudo, porque esta deve ser tomada como um processo, a

entrada para a educação básica e um meio que conduz à aprendizagem ao

longo da vida, e não como um ponto de chegada (17).

Contrapondo-se à definição acima descrita, Soares (2008) discute criticamente

sobre a tendência que se tem, na atualidade, de imprimir à alfabetização um

significado muito abrangente, quando esta é considerada como um processo

permanente, que se estenderia por toda a vida e que não se esgotaria na

aprendizagem da leitura e da escrita. Para a autora, a aquisição da língua,

tanto escrita quanto oral, é diferente do seu desenvolvimento (17).

Acerca do fenômeno letramento, este é um vocábulo traduzido para o

português a partir da palavra inglesa literacy, definida pelos dicionários

19

como the condition of being literate (condição de ser letrado). Pode ser

conceituado como "Resultado da ação de ensinar e aprender as práticas

sociais de leitura e escrita"; "O estado ou condição que adquire um grupo social

ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita e de suas

práticas sociais" (17).

Dessa forma, embora na Língua Portuguesa exista a palavra alfabetismo

dicionarizada como "estado ou qualidade de alfabetizado", não é um termo

utilizado correntemente. De acordo com Soares (2006), talvez seja essa a

razão da transposição do termo literacy do inglês para o português, sendo

criado, assim, um neologismo na Língua Portuguesa, o letramento. Portanto, a

alfabetização enfoca a aquisição da leitura e da escrita e o letramento focaliza

os aspectos sócio-históricos do referido fenômeno. Soares (2004) discute que

em países desenvolvidos, como França e Estados Unidos, por exemplo, essa

diferenciação é clara, mas que, no Brasil, "os conceitos de alfabetização e

letramento se mesclam" (17).

Não há ainda um consenso quanto à definição do letramento em saúde (do

inglês health literacy) (17).

Os conceitos de letramento em saúde mais citados na literatura são os da

Organização Mundial da Saúde (OMS), do Institute of Medicine (IOM) e da

American Medical Association (AMA) (17). A OMS se refere ao constructo

como as "competências cognitivas e sociais que determinam a motivação e a

capacidade dos indivíduos para obter acesso, compreender e utilizar a

informação em meios que promovem e mantém uma boa saúde". Quanto à

AMA, o LFS é "[...] uma constelação de habilidades, incluindo a capacidade de

realizar leitura básica e as tarefas necessárias para a função numérica no

ambiente de saúde. Os pacientes com o letramento adequado em saúde

podem ler, entender e agir sobre a informação de saúde [...]".

Para o IOM (2004) e o U.S. Department of Health and Human Services

(USDHHS, 2000), letramento em saúde é "o grau pelo qual os indivíduos têm a

capacidade para obter, processar e entender informações básicas de saúde e

serviços necessários para a tomada de decisões adequadas em saúde" (17).

20

O IOM (2004) considera que os contextos de saúde imprimem uma demanda

de letramento em saúde que exige, além da habilidade de leitura:

competências na escrita, no numeramento, habilidade de fala, audição, o uso

de tecnologia etc. Essas competências incluem, entre outros: entender,

interpretar e analisar informações de saúde; aplicar informações de saúde em

uma variedade de eventos e situações de vida; entender e dar consentimento

etc (17).

A falta de um consenso nas definições de LFS mostra incompletude conceitual,

denotando um fenômeno em evolução, em construção, não conseguindo

abranger toda a complexidade do constructo (17).

De acordo com Passamai, antes do termo LFS, tanto a educação como a

comunicação em saúde já estavam bem estabelecidas como integrantes da

relação paciente-profissional de saúde e é de suma importância situar o

constructo LFS como um conceito mensurável, que indica o quanto a pessoa é

capaz de ser bem sucedida nos diferentes contextos de saúde, a saber:

compreender bem os rótulos de medicamento, navegar no sistema de saúde,

aplicar as orientações dos guias de saúde em sua vida diária, etc (17).

3.3.3. Avaliação

Os principais instrumentos para rastreamento do nível de letramento em saúde

utilizados na literatura, bem como aqueles disponíveis na língua portuguesa

brasileira, foram listados pelo IOM (Institute of Medicine) 2013 (Quadro 1) (18).

Dentre os instrumentos mais utilizados na literatura para mensuração do

Letramento Funcional em Saúde (LFS) destacam-se o Test of Functional

Health Literacy in Adults (TOFHLA), o Short Assessment of Health Literacy for

Spanish-Speaking Adults - SAHLSA e o Rapid Estimate of Adult Literacy in

Medicine (REALM) (18).

21

Quadro 1: Instrumentos para mensuração do letramento em saúde

Instrumentos Autor (ano) Versão em Português

WRAT - Wide Range Achievement Test

Jastak;Wilkinson (1993) _

REALM - Rapid Estimate of Adult Literacy in Medicine - Ingles/ Espanhol

Davis et al. (1993) _

TOFHLA - Test of Functional Health Literacy in Adults

Nurss et al (1995) Paker et al. (1995)

_

STOFHLA - Short Test of Functional Health Literacy in Adults

Nurss et al. (1995) _

B-TOFHLA - Brief Test of Functional Health Literacy in Adults

Nurss et al. (1995) Baker et al. (1999)

Carthery-Goulart et al. (2009)

MART - Medical Achievement Reading Test

Hanson - Divers (1997) _

LAD - Literacy Assessment for Diabetes

Nath et al.(2001) _

NAAL - National Assessments of Adult Literacy

National Center for Education Statistics – NCES (2003)

_

NVS - Newest Vital Sign Weiss (2005) _

SIRACT - Stieglitz Informal Reading Assessment of Cancer Text

Agre; Stieglitz; Milstein (2006) _

SAHLSA - Short Assessment of Health Literacy for Spanish-speaking Adults

Lee et al. (2006) Apolinário et al. (2012)

REALD - 30 - Rapid Estimate of Adult Literacy in Dentistry

Lee et al. (2007) Junkes (2013)

HALS - Health Activities Literacy Scale

Ruud (2007) _

Fonte: Moraes, 2014

O instrumento SAHLSA avalia a capacidade do indivíduo para pronunciar e

discriminar o significado de 50 termos médicos. REALM é um dos testes mais

utilizados na literatura, juntamente com o TOFHLA. Tal qual ao SAHLSA, o

REALM é um instrumento de avaliação da capacidade do indivíduo em

22

pronunciar 66 termos médicos, com reconhecimento e pronunciamento de

palavras, não medindo a capacidade de compreensão e habilidades numéricas

(18, 19).

O TOFHLA avalia a habilidade de leitura e a compreensão textual do leitor

além de mensurar a habilidade do paciente de compreensão para o uso de

medicação, valor da monitorização glicêmica, aprazamento da data de consulta

e obtenção da assistência financeira (18).

Existe a versão curta do TOFHLA denominada Short Test of Functional Health

Literacy - STOFHLA / S-TOFHLA contendo 36 itens de compreensão,

elaborada para mensuração do letramento no aspecto leitura. Outra versão

originada do TOFHLA é denominada versão breve - Brief Test of Functional

Health Literacy - B-TOFHLA. Nessa versão, além dos 36 itens de

compreensão, há o acréscimo de quatro itens de mensuração da habilidade de

numeramento (18). Se o investigador não pretende aplicar a versão longa do

TOFHLA, por questões de exequibilidade, nem a curta, por esta medir apenas

a compreensão de leitura e desejar avaliar também o numeramento,

considerando sua importância no processo geral de LFS, a versão breve do

TOFHLA é uma alternativa, divididas em passagens A, B e C (19).

As passagens A e B do B-TOFHLA, têm o intuito de medir o nível de

compreensão dos pacientes sobre informações de saúde, e compõe-se de 36

itens de compreensão de leitura com preparação para um exame

gastrointestinal e os direitos dos pacientes, bem como termos de

responsabilidade. Entregam-se as folhas com as passagens para o

participante, explicando que em cada frase faltam palavras e onde faltam essas

palavras, há um espaço em branco e 4 palavras para escolher. Há necessidade

de escolher uma dessas 4 palavras, para dar sentido à frase, fazendo um

círculo na alternativa escolhida. Para cada item é atribuído um peso 2, dando

um total de 72 pontos (19).

Para a habilidade numérica (passagem C), são entregues quatro cartões com

as seguintes questões: horário de tomada de medicamentos; julgamento sobre

um resultado de exame de glicemia e habilidade de verificar o agendamento de

23

uma consulta. Em seguida, o entrevistador pede ao paciente para ler cada

cartão individualmente, explicando-lhe que serão feitas perguntas orais com

base nas informações dos cartões (convertidos para uma escala de vinte e oito

pontos, sendo sete pontos para cada resposta correta). Conforme pontuação, o

indivíduo é classificado em três níveis de letramento: inadequado (0-53);

limitado (54-66) e adequado (67-100). O tempo permitido é de sete minutos

para a parte de Compreensão de Leitura e Escrita e cinco minutos para o item

Numérico, mas o respondente não é avisado antecipadamente que é

cronometrado. Se extrapolar o tempo permitido, o questionário é interrompido e

delicadamente o instrumento é recolhido (ANEXO 1) (19).

Os indivíduos classificados como Inadequado ou Limitado (baixo LFS), terão

dificuldade na leitura, na compreensão e interpretação da maioria dos materiais

em saúde. Eles não serão capazes de ler e entender as orientações para o

cuidado com a sua saúde; provavelmente poderão tomar a medicação prescrita

incorretamente e poderão falhar na dieta ou no esquema de tratamento que

forem prescritos (19).

As pessoas com baixo letramento costumam mascarar suas dificuldades de

leitura, alegando que não conseguem ver bem o material que lhes é fornecido.

Teste de acuidade visual procura, então, verificar de maneira objetiva a queixa

desses pacientes. Os autores do B-TOFHLA consideraram, para a elaboração

final do instrumento, como uma acuidade visual adequada, o limite mínimo de

20/50, segundo a Escala de Sinais de Snellen (19).

Os pacientes com pontuação maior ou igual a 67 no B-TOFHLA (são capazes

de ler, entender e interpretar a maioria dos textos de saúde), são classificados

como Adequado Letramento Funcional em Saúde (19).

3.4. EDUCAÇÃO EM DIABETES

Uma das propostas do MS é que intervenções sejam feitas através de grupos,

com a finalidade de melhorar o atendimento, conhecidos pelos profissionais de

saúde como grupos operativos (9).

24

A sua sistematização foi feita por Pichon Riviére que definiu grupo operativo

como "um conjunto de pessoas com um objetivo em comum". Os grupos

operativos trabalham na dialética do ensinar-aprender (20).

Mas como fazer grupos operativos com analfabetos?

O paciente tem direito às informações sobre sua saúde, medicamentos que

deverá utilizar, objetivos e riscos de seu tratamento, sendo dever dos

profissionais da saúde fazer com que tais informações cheguem a ele de forma

clara e objetiva, para que possa seguir de maneira eficiente tais

recomendações (21).

Embora existam muitos fatores determinantes que contribuem para o processo

de cuidados de saúde e os resultados para os pacientes com doença crônica

complexa, ao longo das últimas duas décadas, a literatura vem crescendo,

ilustrando o conceito de conhecimento em saúde como um fator relevante e

influente relacionado ao DM (13).

Mais recentemente, tem havido uma maior ênfase na perspectiva de que o

conhecimento em saúde representa não só as habilidades necessárias para

um indivíduo para processar a informação relacionada com a saúde, mas

também as exigências do sistema de saúde em termos de entrega de

informações ou instruções (13).

3.5. PROBLEMATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO EM DIABETES

No contexto da educação em diabetes (ED), a leitura, a discussão, o

treinamento de habilidade, simulação, material escrito e audiovisual são as

estratégias de ensino mais utilizadas, quer se trate de ensino individual e/ou

em grupo. Essas, se bem planejadas e adequadamente utilizadas, são

ferramentas auxiliares eficazes e indispensáveis na elaboração do plano

instrucional. A Associação Latino-Americana de Diabetes destaca a

importância da ED indicando e ressaltando o uso do material escrito,

audiovisual e dos meios de comunicação de massa no processo educativo do

paciente e da comunidade (22).

25

Um material bem escrito ou uma informação de fácil entendimento melhora o

conhecimento e a satisfação do paciente, desenvolve atitudes e habilidades,

facilita a autonomia, promove a adesão, torna-o capaz de entender como as

próprias ações influenciam o padrão de saúde e favorece a tomada de decisão,

além de contribuir na redução do uso dos serviços e dos custos com a saúde

(22).

É comum encontrar-se impressos apresentando ilustrações fora do contexto

sociocultural, impressão pouco legível, textos com linguagem bastante técnica,

períodos e palavras longas. Essas características que podem diminuir o

interesse pela leitura e/ou dificultar a compreensão, tornam o material

inadequado à maioria da clientela, dificultando não só a compreensão, mas

também interferindo no processo educativo e comprometendo o controle do

paciente (22).

Plimpton e Root destacam a importância da comunicação para promoção da

saúde e prevenção de doenças. Contudo as informações em saúde estão

escritas num nível elevado, dificultando a compreensão de forma que 30 a 50%

do público-alvo possivelmente não vão entendê-las. Acrescenta ainda que

muito material educativo disponível não é lido até mesmo pelas pessoas que

têm mais habilidade de leitura porque estas não têm tempo nem muito

interesse para decifrá-los (22).

Cerca de 30% da população adulta mundial não é capaz de ler e escrever e

nos países pobres mais de 50% da população adulta é analfabeta. No Brasil,

tanto a baixa escolaridade quanto o analfabetismo são problemas cruciais (22).

O problema do analfabetismo ou da baixa escolaridade compromete a

qualidade de vida e a saúde, pois elimina ou reduz o acesso à informação

gráfica amplamente utilizada na nossa sociedade. Os profissionais,

comunicadores e educadores de saúde devem considerar esse problema, não

equiparar limitação de escolaridade com limitação ou incapacidade de

compreensão e adotar mecanismos que favoreçam o processo de

comunicação (22).

26

3.6. COMUNICAÇÃO E ATENDIMENTO DO ANALFABETO

Torna-se necessário entender como a pessoa com diabetes percebe a si

própria, vivenciando um mundo de muitas limitações, ou seja, enquanto ser

integral, dotado de compreensão, afetividade e ação, dentro da sua própria

perspectiva de mundo (23).

Ter que mudar hábitos de vida que já estão consolidados e assumir uma rotina

que envolve disciplina rigorosa do planejamento alimentar, da incorporação, ou

incremento de atividade física, e uso permanente e contínuo de medicamentos

impõem a necessidade de entrar em contato com sentimentos, desejos,

crenças e atitudes (23).

Assim, tem-se visto implementação de programas multidisciplinares voltados às

pessoas com diabetes, na tentativa de melhorar a adesão e o controle da

doença, sendo que o alcance destes objetivos depende tanto da pessoa a ser

tratada quanto dos profissionais que o estão acompanhando, porém, em muitos

destes programas, há grandes índices de má adesão ou abandono do

tratamento e consequente aparecimento de complicações precoces da doença.

Neste sentido, a educação em saúde voltada para o analfabeto é parte

importante do tratamento, pois os pacientes com DM tipo 2 analfabetos ou

baixo LFS têm dificuldade na compreensão das orientações e prescrições, pois

são utilizadas na forma escrita, havendo necessidade de personalização do

tratamento por parte dos profissionais. Assim, devem-se planejar ações

educativas, visando desenvolver atitudes e práticas relacionadas ao

autocuidado, aumentando sua autonomia e diminuindo a dependência de

familiares no controle da doença.

27

4. METODOLOGIA

O projeto foi realizado no centro de saúde Mariano de Abreu, localizado na

região Leste de Belo Horizonte, que atende uma área com aproximadamente

23.000 pessoas, composto por cinco equipes, identificadas por números

(equipes 1 a 5). Participaram deste estudo pacientes da equipe 5.

Estão cadastrados no centro de saúde 553 pessoas com DM tipo 2 (402 estão

em uso de medicamentos orais e 151 em uso de insulina com ou sem

medicamentos orais), e destes, 157 são cadastrados na equipe 5, sendo 106

em uso de medicamentos orais e 51 em uso de insulina com ou sem

medicamentos orais. Foram identificados indivíduos com dificuldade de leitura

e compreensão pelos agentes comunitários de saúde (ACS) em visitas

domiciliares, e por enfermeira e médica nas consultas, o total de 53 pessoas,

todos estes convidados a participar do estudo (APÊNDICE A).

4.1. Seleção dos participantes:

Uma consulta foi agendada um mês antes do primeiro encontro (denominado

de semana 1) para avaliação da acuidade visual, aplicação do B-TOFHLA e

preenchimento da ficha de identificação (APÊNDICE A):

Acuidade visual: Foi utilizada a tabela E de Snellen. Esta avaliação foi feita

com o participante sentado a uma distância de três metros da tabela E de

Snellen. Aqueles que utilizavam óculos, foram solicitados que o usassem

durante o exame. Com os olhos abertos, um deles foi ocluído com uma folha

de papel. Como nesta tabela a letra E sofre rotação, o participante relatava

para que lado ela estava, até a menor linha de letras. O processo é repetido

com o outro olho ocluído. Considerado adequado o valor mínimo 20/50.

B – TOFHLA (ANEXO A): para medir o nível de compreensão e classificá-los,

a exceção dos que se declararam analfabetos (seis participantes declararam

não saber ler ou escrever). Cinco participantes foram excluídos, pois foram

classificados como adequado LFS e 42 participantes foram classificados como

baixo LFS (analfabetos funcionais em saúde), com exclusão de 8 até o final do

28

estudo (2 por mudanças da medicação ao longo do acompanhamento e 6 por

não participarem de todos os encontros) (Figura 1).

Critérios de inclusão: DM tipo 2, analfabetos ou baixo LFS (analfabetos

funcionais em saúde, classificados no B-TOFHLA), maiores de 18 anos de

idade, cadastrados no centro de saúde Mariano de Abreu, em uso de dois ou

mais medicamentos orais (pelo menos um deles sendo anti-hipertensivo,

antidiabético ou estatina, associados ou não à insulina), com acuidade visual

mínima de 20/50 na escala E de Snellen.

Critérios de exclusão: DM em uso exclusivo de insulina, portadores de

insuficiência renal avançada (estágio IV e V, por exigências alimentares

diferenciadas), transtorno psicótico, demência e pacientes sem acompanhante.

Figura 1: seleção dos participantes. Fonte: elaborado pelo autor

48 pacientes analfabetos e/ou baixo LFS

Excluídos 2 pacientes por mudança de medicação e 6 por

não participarem de todos os encontros

40 entraram no estudo: 28 em uso exclusivo de medicamentos

orais; 12 em uso de medicamentos orais e insulina

157 com DM cadastrados na equipe 05: 106 em uso de medicamentos orais; 51 em uso de

insulina com ou sem medicamentos orais

53 pacientes identificados com dificuldade de leitura e compreensão pelos ACS, enfermeira e médica e

submetidos ao B - TOFHLA

5 pacientes adequado LFS

Centro de saúde Mariano de Abreu com 23.000 cadastrados

553 pacientes com DM cadastrados: 402 em uso de medicamentos orais; 151 em uso de insulina

com ou sem medicamentos orais

29

4.2. Avaliações:

Com a identificação e seleção dos participantes, todos foram submetidos às

seguintes avaliações:

Avaliação bioquímica: Os exames de glicemia de jejum, hemoglobina glicada

(A1c), colesterol total e frações (LDL, VLDL, HDL), triglicérides e creatinina

foram avaliados no prontuário eletrônico ou solicitados, em caso de exames

com mais de 60 dias. Creatinina foi solicitada somente para avaliação da

função renal.

Avaliação alimentar: Realizado um recordatório alimentar para conhecimento

dos hábitos alimentares (APÊNDICE C) e quantificação do nível de atividade

física.

Avaliação clínica: Aferição da pressão arterial foi realizada com aparelho

calibrado da marca Glicomed, antes e depois dos encontros (semana 1 e

semana 16, respectivamente)

Avaliação antropométrica: Para avaliação do estado nutricional, foram

calculados o índice de massa corporal (IMC) e o perímetro abdominal (PA) nas

semanas 1 e 16. O peso e a estatura foram medidos por balança de marca

Filizola e o PA por fita métrica. O IMC foi calculado da seguinte forma: peso

dividido pelo quadrado da estatura e o PA medido ao nível da cicatriz umbilical

com uma fita métrica de 1,5m.

Avaliação da aderência medicamentosa: Na semana 2, aos pacientes foram

entregues uma receita nova e medicamentos para trinta dias. Todos foram

orientados a procurar a médica da equipe no centro de saúde, de 7:00 às

16:00, para devolução das cartelas (vazias ou não), em qualquer dia da

semana, na quarta semana após esta entrega, mesmo se todos os

medicamentos ainda não tivessem sido utilizados e novas cartelas com

medicamentos para mais trinta dias foram entregues, possibilitando a

contabilidade dos comprimidos e avaliação da aderência medicamentosa

(APÊNDICE D). Este procedimento foi feito durante três meses consecutivos.

30

Nenhum participante foi avisado que somente três classes de medicamentos

foram contabilizados: anti-hipertensivos, antidiabéticos e estatina, apesar de

serem entregues medicamentos de outras classes que o participante já fazia

uso (distribuídos pelo sistema único de saúde (SUS)).

4.3. Programa de educação

Os grupos operativos foram realizados em quatro encontros semanais,

denominados semana 1, 2, 3 e 4, com duração de 1 hora. Os participantes

foram divididos em três grupos, em dias diferentes, com 15 pessoas

participando às terças – feiras de manhã, 10 pessoas às quartas – feiras à

tarde e 15 às quintas – feiras à tarde.

Com a finalidade de aumentar a adesão na participação dos grupos, o

participante que não pudesse comparecer no dia combinado, poderia ir a

qualquer um dos outros dias da mesma semana, pois os assuntos abordados

com a apresentação do material educativo foram os mesmos durante a

semana. Nos dois primeiros encontros (semana 1 e 2) foi solicitada a presença

de um acompanhante para auxiliá-los, pois precisariam assinar o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), saber o seu papel no projeto,

receber orientações quanto à fisiopatologia do diabetes e as consequências no

mau controle (APÊNDICE P).

Material educativo

Foi desenvolvido um material educativo, para atendimento em grupo ou

individual, composto por símbolos e fotos de horários e de alimentos com

medidas caseiras, no intuito de facilitar a gestão das medicações e melhorar o

padrão alimentar. Foi elaborado, assim, um quadro de horários e uma lista de

substituição com um plano alimentar.

Quadro de horários: Este quadro foi dividido em seis horários,

correspondentes às refeições (café da manhã, colação, almoço, café da tarde,

jantar/lanche e ceia), com foto de um relógio acima de cada figura da refeição

(7:00, 10:00, 12:00, 15:00, 19:00 e 22:00, respectivamente). As figuras das

31

refeições foram colocadas para que o participante ficasse familiarizado com as

fotos, pois as mesmas foram utilizadas no plano alimentar (APÊNDICE E).

Para identificação dos comprimidos, cada medicação recebeu uma cor

padronizada. O participante recebeu ajuda do acompanhante para desenhar

bolinhas coloridas correspondentes à cor padronizada (APÊNDICE F) no

horário correto de tomada dos medicamentos, logo abaixo das figuras no

quadro de horários com o relógio, para lembra-los do horário de tomada dos

medicamentos além de evitar identifica-los pelo formato ou cor, diminuindo

assim o risco de uso indevido e descontrole da(s) doença(s).

Lista de substituição dos alimentos: Para diversificar os alimentos

consumidos diariamente, estes foram divididos em grupos de acordo com a

quantidade de energia e de carboidratos por porção, cada grupo representado

por um símbolo. Esses grupos também foram separados pelos nutrientes

predominantes: carboidrato no grupo do pão e arroz, gordura no grupo do óleo,

proteína no grupo do carne, leite e derivados e fibras, vitaminas e minerais no

grupo das frutas. Todos os alimentos foram legendados, e quando necessário,

receberam fotos das medidas caseiras ideais para consumo, possibilitando a

ajuda de familiares (APÊNDICE G).

Estes grupos foram separados por: verduras e legumes, divididos em A

(vegetais que podem ser ingeridos à vontade) e B (vegetais que podem ser

ingeridos no máximo 4 colheres de sopa cheia), frutas (também dividido em

dois grupos (A e B) devido à diferença de calorias e quantidade de

carboidratos), carnes, arroz, feijão, leite e derivados, pães e óleos.

Os símbolos foram:

▪ Grupo 1A: identificado por um semáforo com a luz verde acesa (ingesta

liberada), contendo 0g de carboidrato e aproximadamente 24 Kcal (um pires

cheio);

▪ Grupo 1B: identificado por um semáforo com a luz amarela acesa

(ingesta moderada), contendo 5g de carboidrato e 44 Kcal;

32

▪ Grupo 2A: identificado por uma laranja, contendo 10g de carboidrato e

44 Kcal;

▪ Grupo 2B: identificado por uma banana, contendo 15g de carboidratos e

64 Kcal;

▪ Grupo 3: identificado por um bife de boi, com 0 g de carboidrato e 161

Kcal;

▪ Grupo 4: identificado por um prato com arroz, com 15g de carboidrato e

90 Kcal;

▪ Grupo 5: identificado por uma travessa com feijão, com 15g de

carboidrato e 70 Kcal;

▪ Grupo 6: identificado por um copo de leite, com 12g de carboidrato e 70

Kcal;

▪ Grupo 7: identificado por um pão francês, com 15g de carboidrato e 70

Kcal;

▪ Grupo 8: identificado pela margarina na ponta da faca, com 0g de

carboidrato e 72 Kcal.

Plano alimentar: Composto por seis refeições ao dia, contendo os símbolos

dos grupos da lista de substituição e a quantidade de cada grupo por refeição,

além das medidas caseiras. Foram montados planos alimentares de 1.600,

1.800, 2.000 e 2.200 kcal, sendo este cálculo baseado na FAO/OMS 2001 (24).

Para identificação dos horários/refeições, foram colocadas as mesmas fotos

utilizadas no quadro de horários, para facilitar a familiarização com os

desenhos (APÊNDICES H, I, J, K, L, M, N, O).

Semana 1 – avaliação clínica e antropométrica:

Neste primeiro encontro, todos os participantes e acompanhantes receberam

informações sobre a proposta do projeto de pesquisa, seus objetivos e

intenções. Após esclarecimentos, todos assinaram o TCLE (APÊNDICE B),

concordando em participar de todas as etapas da pesquisa. Apesar do

analfabetismo, todos assinavam, não havendo necessidade de impressão

datiloscópica. Receberam também instruções básicas sobre a doença

(realizada uma breve aula, com duração de 20 minutos, em Power point

33

utilizando fotos e desenhos esquemáticos sobre a fisiopatologia do diabetes e

as alterações provocadas pelo mau controle (APÊNDICE P)).

Após a aula, foram feitas as avaliações antropométrica e clínica e os valores

anotados na ficha de identificação individual (APÊNDICE A).

No final do encontro, foi solicitado a todos levarem as cartelas dos

medicamentos (vazias ou não) para o próximo encontro.

Resultado dos exames bioquímicos foram visualizados no prontuário eletrônico

após o encontro e também anotado na ficha de identificação.

Semana 2 - quadro de horários:

No segundo encontro foram dadas explicações para os pacientes e

acompanhantes no que diz respeito ao uso dos medicamentos e entregues a

prescrição e o quadro de horários (APÊNDICE E). Os participantes receberam

ajuda dos acompanhantes quando foram orientados a desenhar as bolinhas

coloridas correspondentes à cor padronizada no horário correto de tomada dos

medicamentos (APÊNDICE F). Todas as cartelas com os medicamentos foram

recolhidas e novas cartelas foram distribuídas com medicamentos suficientes

para trinta dias, sendo considerada esta data como marco zero para contagem

de comprimidos anti-hipertensivos, antidiabéticos e estatina (APÊNDICE D).

No final deste encontro, foi solicitado que cada participante trouxesse de casa

uma colher de sopa para o próximo encontro, para entendimento e

padronização da medida caseira no uso da lista de substituição.

Semana 3 – lista de substituição:

No terceiro encontro, foi apresentada a lista de substituição de alimentos,

dividida em oito grupos (APÊNDICE G). Foi realizada uma atividade dinâmica

objetivando a memorização do conceito de substituição de alimentos e a

quantidade por porção: os participantes foram instruídos a identificar os

alimentos que apareciam nas fotos e a medida caseira, utilizando como

referência a colher de sopa que trouxeram de casa. Após esta apresentação,

34

foram mostrados de forma aleatória alguns alimentos de cada grupo e todos

deveriam reconhecê-los e identificar a medida caseira para aquele alimento e a

quantidade por porção. A importância desta reunião foi mostrar a possibilidade

de troca dos alimentos dentro do mesmo grupo, flexibilizando a dieta.

Semana 4 – plano alimentar:

No quarto encontro foram expostos exemplos de dietas, com desenhos de seis

refeições (café da manhã, colação, almoço, café da tarde, jantar/lanche e ceia)

e fotos dos símbolos dos grupos, para serem utilizadas com a lista de

substituição (APÊNDICES H, I, J, K).

Havia dietas de 1.600, 1.800, 2.000 e 2.200 Kcal, divididas em seis refeições.

O cálculo foi realizado, baseando-se na idade, sexo, nível de atividade física e

peso (FAO/OMS 2001). Foi ofertado um plano alimentar alternativo contendo

um lanche no lugar do jantar, sem modificação das Kcal (APÊNDICES L, M, N,

O). Ao final do encontro, foi disponibilizado um tempo para tirar dúvidas.

Critérios de avaliação depois dos encontros:

Todos foram convocados a comparecer no centro de saúde um dia da semana

6, 10 e 14 (30, 60 e 90 dias após o segundo encontro, referente à entrega das

cartelas) para serem recolhidas todas as cartelas dos medicamentos (vazias ou

não) utilizadas nas últimas quatro semanas, para que os comprimidos fossem

contabilizados e novos medicamentos fossem entregues (APÊNDICE D).

Novas medidas antropométricas (peso, altura, cálculo do IMC, perímetro

abdominal) e clínica (aferição da pressão arterial) foram realizadas em uma

consulta marcada na semana 16 (ou seja, 90 dias após o último encontro).

Novos exames de sangue foram solicitados nesta mesma consulta

(hemoglobina glicada, glicemia de jejum e perfil lipídico) e visualizados no

prontuário eletrônico. Medidas e resultados anotados na ficha de identificação

(APÊNDICE A).

No quadro 2 é apresentado o cronograma das atividades realizadas.

35

4.4. Análise estatística

Para as variáveis categóricas foram calculados a frequência e proporção, como

visto na Tabela 1. A comparação entre os grupos foi realizada através do teste

de Wilcoxon. Foi considerado um nível de significância de 5%. As análises

foram realizadas no software STATA (Stata Corporation, College Station,

Texas) versão 12.0.

36

Quadro 2. Cronograma

Avaliações/ações implementadas

Seleção dos participantes

Semana 1

Semana 2

Semana 3

Semana 4

Semana 6

Semana 10

Semana 14

Semana 16

B-TOFHLA/ Avaliação acuidade visual

X

Avaliação alimentar X

Informações a respeito do projeto e noções básicas da doença

X

Avaliação clínica, antropométrica e bioquímica

X

X

Educação sobre uso dos medicamentos através de cores padronizadas; entrega do quadro de horários, nova receita e cartelas com medicamentos para 30 dias.

X

Dinâmica com explicações sobre o uso da lista de substituição

X

Entrega e explicações sobre o uso do plano alimentar

X

Avaliação da aderência medicamentosa e entrega de cartelas com medicamentos para 30 dias.

X X X

Fonte: elaborado pelo autor

37

5. RESULTADOS

Concluíram o estudo 40 pessoas com diabetes tipo 2, com média de idade de

63.8 anos, tempo após o diagnóstico de 6.8 anos e renda familiar média inferior

a 3 salários mínimos (Tabela 1). Vinte e oito participantes usavam

medicamentos orais e 12 faziam uso adicional de insulina NPH, com uma

média de 35 ± 17 UI/dia.

Durante o acompanhamento, não houve alterações nas doses de

medicamentos orais ou intervenção relacionada à insulina (como mudanças de

doses ou ações no programa de educação), que pudessem influenciar nos

resultados. Quanto à prática de atividade física, não ocorreram alterações na

frequência ou intensidade ao longo do estudo.

Tabela 1. Características dos participantes.

Características n (%)/ média ± DP

n=40

Sexo Feminino

26 (65)

Masculino 14 (35)

Idade (anos) 63.8 ± 9.7

Tempo de diabetes (anos) 6.8 ± 6.9

Letramento funcional em saúde Analfabetos

6 (15)

Analfabetos funcionais em saúde 34 (85)

Renda mensal familiar

≤ 2 salários mínimos*

12 (30)

> 2 e ≤ 5 salários mínimos* 28 (70)

Pessoas/ renda* * ≤ 2 pessoas

19 (47.5)

> 2 pessoas 21 (52.5)

* Valores calculados com base no salário mínimo vigente – R$ 724,00 de acordo com o Decreto-lei nº 8.166, 2013, aplicado no Brasil em 1º de janeiro de 2014.

* *Número de pessoas que dependem da renda; DP - desvio padrão. Fonte: dados da pesquisa

38

A tabela 2 mostra os resultados clínico e bioquímicos antes e depois dos

encontros, de acordo com os medicamentos utilizados. Não houve mudança

nos valores de IMC, PA e peso.

A aderência medicamentosa foi avaliada durante doze semanas, em três

momentos (semanas 6, 10 e 14, ou seja, 30, 60 e 90 dias após distribuição dos

medicamentos). Dos 40 participantes, 35 utilizavam anti-hipertensivos (87.5%),

21 estatina (52.5%) e 34 antidiabéticos orais (85%).

Houve distribuição de medicamentos suficientes para 30 dias e todos foram

orientados a retornar ao centro de saúde, com todas as cartelas, vazias ou não,

na quarta semana após a entrega, para contabilização de anti-hipertensivos,

antidiabéticos e estatina e distribuição de novos medicamentos para mais 30

dias. Essa troca era feita com aproximadamente 28 dias, assim, muitas cartelas

devolvidas continham ainda comprimidos.

Considerou-se boa adesão quando o participante utilizasse no mínimo 80% dos

medicamentos, proporcional ao tempo de utilização dos comprimidos (25).

Observa-se que pelo menos 70% dos participantes tiveram boa adesão até o

final do estudo, sendo avaliados nas semanas 6, 10 e 14 (correspondentes a 4,

8 e 12 semanas após distribuição dos medicamentos), para os em uso de anti-

hipertensivos (n=35; 80,71.4, 74.3%), antidiabéticos orais (n=34; 76.4, 73.5,

70.6%) e estatinas (n=21; 76.2, 71.4, 76.2%), respectivamente (p > 0.05).

Melhora significativa na pressão arterial, controle glicêmico e lipídico foram

encontrados (Tabela 2).

A taxa de adesão medicamentosa antes dos encontros não foi quantificada em

decorrência da indisponibilidade de alguns medicamentos no centro de saúde

durante um determinado período.

39

Tabela 2. Avaliação clínica e bioquímica relacionadas ao uso de medicações.

Medicamentos Variável

Antes Depois

p Média ± DP Média ± DP

Anti hipertensivos

PAS 142.5 ± 17.0 129.1 ± 16.5 <0.001

n=35 PAD 86.2 ± 10.3 78.8 ± 10.7 <0.001

Antidiabéticos Glicemia de jejum 132.2 ± 33.0 120.0 ± 46.5 0.004

n=34 A1c 7.4 ± 1.6 6.9 ± 1.2 0.044

Estatina Colesterol total (mg/dL) 186.8 ± 35.1 172.9 ± 43.4 0.048

n=21 HDL (mg/dL) 47.1 ± 17.3 47.9 ± 17.8 0.549

LDL (mg/dL) 102.4 ± 31,6 91.3 ± 29.1 0.046

VLDL (mg/dL) 33.6 ± 20.9 26.2 ± 15.9 0.013

Triglicérides (mg/dL) 187.7 ± 135.1 144.6 ± 79.4 0.023

Valores expressos em média ± DP; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; A1c: hemoglobina glicada; Teste de Wilcoxon significativo a 5%

Fonte: dados da pesquisa

40

6. DISCUSSÃO

Este estudo utilizou uma metodologia de educação voltada para pacientes com

DM tipo 2 analfabetos e analfabetos funcionais em saúde, com resultados

significativos quanto à melhora da pressão arterial, do controle glicêmico e do

perfil lipídico.

A educação em diabetes é considerada uma modalidade terapêutica e pode

ser definida como o processo ensino/aprendizagem de conhecimentos,

habilidades e atitudes relacionadas ao controle do diabetes com o objetivo de

promover as mudanças necessárias ao alcance de um bom status de saúde e

otimizar a adaptação psicossocial e a qualidade de vida (22).

Os participantes deste estudo apresentavam baixo letramento em saúde,

mensurado pelo B-TOFHLA. Este assunto tem recebido muita atenção como

um fator de risco para a baixa adesão ao tratamento e os resultados adversos

em vários ambientes de cuidados de saúde, incluindo a gestão do diabetes.

Como um baixo letramento em saúde pode limitar a capacidade do paciente

em participar dos cuidados de saúde e na troca de informações, a associação

entre o letramento dos pacientes e autogestão do diabetes deve ser explorada

em detalhe (26).

Em 2004, 92 pacientes participaram de um estudo para avaliar a associação

entre letramento em saúde em pacientes com DM e a autogestão no Hospital

da Universidade da Pensilvânia. Foram identificados pelo S-TOFHLA 23%

como tendo letramento limitado e o baixo letramento foi associado aos

indivíduos mais velhos, com menor tempo de estudo, baixa renda e com mais

complicações do DM (27).

Os indivíduos devem entender sua doença e serem encorajados a seguir as

orientações educativas (4). A educação e a transferência de conhecimento é

um processo difícil, especialmente no caso do DM, uma doença que afeta

indivíduos de todas as idades, com diferentes graus educacionais e com

diferentes bases sociais e ambientais (4).

41

Educadores em diabetes desempenham um papel fundamental como parte da

equipe de cuidados do paciente, avaliando comportamentos de autocuidado e

passando conhecimento e autogestão (28).

A American College of Physicians Foundation desenvolveu uma intervenção

centrada no paciente com baixa alfabetização, promovendo o autocuidado do

diabetes. Foi criado: um Guia de Diabetes, usando uma linguagem simples e

fotografias descritivas para ensinar conceitos básicos de diabetes e capacitar

pessoas para iniciar mudanças de comportamento; desenvolveu estratégias de

aconselhamento para ajudar os pacientes a desenvolver metas a curto prazo

(planos de ação); um módulo de formação para os profissionais de saúde

(médicos, enfermeiros, assistentes médicos) que prepara-los para assumir

funções de educador utilizando o Guia de Diabetes como uma ferramenta de

ensino e monitoramento eletrônico voltado para cuidados na atenção primária.

Como resultado, houve melhora do conhecimento do paciente, adotando

mudanças de comportamentos, reduzindo assim complicações relacionadas ao

diabetes (29).

Wolf et al. utilizaram o Guia de Diabetes em dois grupos de pacientes com DM

tipo 2, com abordagens de aconselhamento realizadas pelos profissionais de

saúde. Ao todo, foram 486 pacientes: o primeiro grupo recebeu uma

abordagem baseada na educação breve sobre diabetes, serviços de

aconselhamento, sem recursos financeiros adicionais e o outro uma

abordagem terceirizada em que o paciente recebe orientações de um

educador. Em ambos, o acompanhamento era feito por telefone, mas no

segundo grupo, esse acompanhamento era feito exclusivamente pelo

educador. O resultado foi valores de A1c, LDL e pressão sistólica menores no

grupo que recebeu orientações do educador durante os seis meses de

acompanhamento, com diferença significativa (p < 0.05) (29).

Os educadores de saúde são necessários para ajudar a população a melhor

compreender os efeitos de seus comportamentos na sua saúde, trabalhando

para encorajar estilos de vida saudáveis e bem estar através da educação de

pessoas e comunidades (30).

42

O enfoque na educação em saúde é de fundamental importância para que o

indivíduo consiga cuidar de si e agir em prol da promoção e prevenção de

agravos à saúde (18). Ela é vista como um meio de influenciar pacientes para

seguir as recomendações do tratamento a fim de melhorar seu controle

glicêmico e previnir complicações a curto e longo prazo (31).

Os pacientes deste estudo apresentavam níveis iniciais de A1c acima do

recomendado (> 7%), portanto com maior risco de desenvolver complicações

micro e macrovasculares decorrentes do DM ou de acelerar as já existentes

(10). A intervenção, utilizando o material educativo, mostrou-se eficaz para o

controle glicêmico, uma vez que, em um período de dezesseis semanas, houve

a redução significativa dos níveis de A1c e glicemia de jejum.

Além do controle glicêmico, a melhora do perfil lipídico é um dos pilares no

tratamento do diabetes e na redução de complicações micro e

macrovasculares (10). Neste estudo, encontramos melhora significativa do

perfil lipídico, provavelmente associada às mudanças dos hábitos alimentares e

maior adesão medicamentosa, pois não houve mudança de dose ou introdução

de novos medicamentos e o nível de atividade física se manteve ao longo do

estudo.

Outro fator de risco importante para complicações é a hipertensão arterial em

que ensaios clínicos randomizados têm demonstrado benefícios (redução de

eventos coronarianos, acidente vascular cerebral e doença renal) com redução

da pressão arterial para <140 mmHg de sistólica e <90 mmHg de diastólica em

indivíduos com diabetes (1). Neste estudo, houve redução significativa na

pressão arterial sistêmica sistólica e diastólica, entre os hipertensos

medicados, atribuídos a maior aderência medicamentosa, uma vez que não

houve alterações no tratamento clínico.

Estes resultados corroboram outros estudos, em que evidenciaram a eficácia

de intervenções com programas de educação no controle glicêmico e também

lipídico e pressórico (7, 32, 33).

43

Silva et al. propuseram uma intervenção de 30 meses, que alterasse o

seguimento de hipertensos e com diabetes, baseada em estratégias de ações

educativas e terapêuticas, com redução da pressão arterial e da glicemia de

jejum (32).

Em um estudo realizado no México, os autores programaram e executaram

uma intervenção educativa com o objetivo de mostrar as vantagens da

modificação da dieta no controle do colesterol LDL em paciente com DM tipo 2,

tendo como característica, a baixa alfabetização dos participantes. Obtiveram

como resultado redução significativa do LDL após a intervenção (33).

Castro implantou em uma unidade de saúde, estratégia lúdica para melhor

entendimento da prescrição médica, tendo como participantes pacientes

hipertensos analfabetos funcionais, havendo melhora da aderência

medicamentosa e redução considerável dos níveis pressóricos, mostrando a

importância da educação em saúde voltada para analfabetos (7).

A maioria dos estudos, ao falar sobre adesão medicamentosa, foca na grande

dúvida que atormenta os profissionais de saúde: por que certos pacientes não

aderem ao tratamento medicamentoso? Esta questão está incluída na lista de

preocupações dos profissionais de saúde (25).

Durante a prática ambulatorial, observou-se que um dos motivos é a dificuldade

do analfabeto/analfabeto funcional de identificar os medicamentos, utilizando

como método para reconhecê-los, muitas vezes, a cor dos comprimidos ou o

formato.

A não adesão é um problema de saúde pública e tem sido denominada de

“epidemia invisível”, variando de 15 a 93%, com média estimada de 50%,

dependendo do método empregado para a medida. Existem várias estratégias

para avaliar a adesão ao tratamento, no entanto, não há consenso sobre um

padrão ouro (34).

Definir adesão constitui algo complexo, pois não há consenso sobre o que

constitui uma definição ideal, variando entre diversos autores, não havendo

44

também consenso acerca da taxa ideal de adesão de pessoas com uma ou

mais condições crônicas de saúde, como DM (35).

Para a OMS, adesão consiste na extensão pela qual o comportamento de uma

pessoa, frente ao tratamento proposto, corresponde às recomendações

realizadas pelos profissionais da saúde. Já para Miller et al. trazem o conceito

de adesão como um meio para se alcançar um fim, uma forma de manter ou

melhorar a saúde, com vistas à redução dos sinais e sintomas de uma doença

(35).

Outros descrevem o termo adesão como a utilização dos medicamentos

prescritos, ou outros procedimentos, em pelo menos 80% do seu total,

observando horários, doses, tempo de tratamento (25).

Sendo assim, no estudo, adotamos a definição de adesão a medicamentos

como a utilização dos medicamentos prescritos em pelo menos 80% de seu

total, tendo como estratégia de avaliação a contagem de comprimidos, que

requer colaboração do participante, retornando com todas as cartelas de

medicamentos entregues no mês anterior. Essa contagem manual de

comprimidos é uma alternativa mais fácil e barata, utilizada para estimar as

doses tomadas. Ela verifica o grau de coincidência entre a quantidade de

comprimidos utilizada pelo paciente em um determinado intervalo de tempo e a

quantidade que deveria ter sido utilizada neste intervalo de tempo (de acordo

com o regime terapêutico prescrito). Para isto, é efetuada a contagem manual

dos comprimidos restantes nas cartelas de cada medicamento, comparando

com o regime terapêutico prescrito (36).

A estimativa da adesão medicamentosa através da contagem de comprimidos

antes dos encontros não foi possível, pois muitos dos medicamentos estavam

em falta neste período no centro de saúde, assim, muitos participantes

adquiriam os medicamentos nas farmácias populares ou não usaram até a

normalização das entregas. Na avaliação da adesão após os encontros,

observou-se que tiveram boa adesão mais de 70% dos participantes.

45

Quando os pacientes estão envolvidos em um plano terapêutico proposto por

profissionais de saúde, se sentem mais motivados, superando suas

preocupações sobre a medicação prescrita, resultando em uma maior

aderência à terapia proposta (37). Apesar de não ter sido possível a

comparação da adesão antes e depois dos encontros, acredita-se que, por

estarem em acompanhamento em um programa específico neste estudo,

passaram a utilizar de forma mais correta estes medicamentos.

Em relação à aderência medicamentosa e a doença, a literatura mostra uma

associação significativa entre mudanças nos níveis de A1c e adesão do

paciente à terapia medicamentosa no controle do diabetes. Para cada melhoria

de 10% na adesão a antidiabéticos orais, os níveis de A1c foram reduzidas em

cerca de 0.19% (P <0.0001) (37), assim como foi observado aumento da

adesão e redução do colesterol LDL (38), maior adesão medicamentosa e

controle pressórico adequado (7, 39). Nossos participantes tiveram melhora

significativa nos exames laboratoriais, provavelmente por utilizarem de forma

mais correta os medicamentos.

Outro fator que pode ter contribuído para a provável melhora da aderência foi a

inclusão de pacientes que já tinham como objetivo aumentar os seus

conhecimentos sobre diabetes, aceitando participar do estudo, resultado este

visto também por Gimenes et al. (37).

Sabemos que tanto a melhora da aderência medicamentosa, quanto a

mudança de comportamento com melhora da alimentação, trazem benefícios

para o tratamento de pacientes com diabetes (1). Neste estudo observamos

redução significativa dos valores glicêmicos, lipídico e pressórico entre os

indivíduos medicados (Tabela 2.), mostrando que provavelmente, a melhora da

aderência medicamentosa foi o fator que mais influenciou nos resultados.

Assim, a associação de educação em saúde e terapia de comportamento, pode

produzir grandes benefícios para os indivíduos com diabetes, fortalecendo e

encorajando a decisão de sustentarem o regime terapêutico (4).

46

O cuidado eficaz do diabetes requer uma série de habilidades e conhecimentos

(40), como o planejamento e avaliação do consumo dietético, monitoramento

da glicemia e administração de medicamentos, que são muitas vezes

fortemente dependentes de acesso, compreensão e processamento de

informações de saúde complexas. Especificamente para pacientes com

diabetes com baixo nível de alfabetização estão associados a um

conhecimento pobre da doença e de piores resultados clínico. Além disso,

baixa alfabetização em numeramento está relacionada com autogestão em

diabetes deficiente e pior controle glicêmico (28).

Letramento em saúde e habilidades matemáticas são fundamentais para o

entendimento de informações nutricionais e pode afetar a compreensão dos

rótulos nutricionais e tamanho das porções (28).

Sampaio et al. encontrou como fatores relacionados ao letramento em saúde e

o mal controle glicêmico a idade e a escolaridade abaixo de 8 anos, revisando

prontuários de 82 pacientes com DM tipo 2 em um ambulatório de

endocrinologia de um hospital público. Utilizando o B-TOFHLA, observou que

ao fazer a análise estratificada por numeramento e capacidade de leitura,

houve associação entre maiores níveis de glicemia de jejum e numeramento

inadequado (40).

Resultado semelhante foi visto por Cavanaugh et al. que evidenciou uma média

de A1c maior naqueles indivíduos com poucas habilidades matemáticas (41).

Sabe-se que habilidades de numeramento são importantes para a pessoa com

diabetes, considerando os cálculos que a mesma terá que fazer, por exemplo,

na contagem de carboidratos na dieta, ou quanto às dosagens, horários e

intervalos de medicação, além da própria interpretação de sua glicemia (40,

41).

Os resultados de estudos divulgados na literatura têm reforçado a importância

das estratégias promotoras de mudanças comportamentais, incluindo a

informação, a educação e a comunicação interpessoal (profissional/indivíduo)

adaptada aos objetivos, ao contexto sociocultural e ao estilo de vida do

indivíduo com diabetes. Nessa perspectiva, é necessário um processo de

47

aprendizagem sobre a doença, opções de tratamento, custos, riscos e

benefícios para cada uma dessas estratégias para gestores, profissionais e

portadores decidirem sobre os caminhos do regime terapêutico no dia-a-dia

(42).

A incidência de diabetes é inversamente proporcional ao nível educacional,

além de que a possibilidade de desenvolvimento de complicações é maior em

indivíduos com menor escolaridade, razão por que enfatizamos a importância

de material educativo como instrumento efetivo de mudança de

comportamento, com potencial para possibilitar redução de complicações,

desde que seja elaborado de modo que a leitura e a compreensão sejam

facilitadas (22).

48

7. CONCLUSÃO

A construção de novos conhecimentos conduz à aquisição de comportamentos

preventivos e estimula o indivíduo a compreender seus problemas e escolher a

solução apropriada para o gerenciamento dos cuidados da doença (4). A

linguagem clara e simples do material educativo utilizado no programa de

educação em grupo mostrou-se viável na atenção primária com as

modificações do comportamento nos pacientes com DM tipo 2 analfabetos e

analfabetos funcionais em saúde, gerando um melhor controle desta condição,

com redução dos níveis de hemoglobina glicada e glicemia de jejum, além de

redução dos níveis de colesterol total e LDL e pressão arterial, podendo

prevenir doenças cardiovasculares.

49

8. PERSPECTIVAS PARA O EDUCADOR EM DIABETES

Educadores em diabetes devem reconhecer que a alfabetização inadequada é

comum e que os cuidados com o diabetes pode ser ainda mais desafiador para

estes pacientes. Os médicos e educadores devem proporcionar informações

fáceis e reduzir sua complexidade quando desenvolvem planos de cuidado

com este público. Os dados da literatura, bem como deste estudo, reforçam a

necessidade de uma educação continuada, a fim de melhorar a autogestão e a

qualidade de vida e principalmente, incentivar a independência deste grupo

específico de pessoas no tratamento do diabetes.

50

9. REFERÊNCIAS

1. American Diabetes Association. Cardiovascular disease and risk

management. Diabetes Care. 2015:374.

2. Federacíon Internacional de Diabetes. Atlas de la diabetes de la FID.

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compreendendo as competências dos profissionais da saúde. Texto Contexto

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programa educativo em diabetes. Rev saúde pública. 2009;43(2):291-8.

5. Xavier ATF. Educação em saúde como intervenção de enfermagem com

pacientes adultos diabéticos: uma análise de estudos que trazem evidências.

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medicamentoso dos pacientes hipertensos analfabetos da equipe de saúde da

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Minas Gerais; 2011.

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9. Ministério da Saúde. Cadernos de atenção básica. 2006.

10. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de

Diabetes. 2015.

51

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um programa de extensão em nutrição clínica de uma instituição de Santa

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pacientes em tratamento pré-dialítico de um hospital de ensino. 2014.

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Saúde Coletiva. 2011;16(7):3277-83.

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22. Moreira MF, Silva MIT. Legibilidade do material educativo escrito para

pacientes diabéticos. Online braz j nurs. 2005;4(2).

23. Péres DS, dos Santos MA, Zanetti ML, Ferronato AA. Dificuldades dos

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comportamentos. Revista Latino-Americana de Enfermagem. 2007;15(6):1105-

12.

24. Fundação Nacional de Desenvolvimento da Educação. Caderno de

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25. Leite SN, Vasconcellos MdPC. Adesão à terapêutica medicamentosa:

elementos para a discussão de conceitos e pressupostos adotados na

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28. Bowen ME, Cavanaugh KL, Wolff K, Davis D, Gregory B, Rothman RL.

Numeracy and dietary intake in patients with type 2 diabetes. Diabetes Educ.

2013;39(2):240-7.

29. Wolf MS, Seligman H, Davis TC, Fleming DA, Curtis LM, Pandit AU, et

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intervention. J Gen Intern Med. 2014;29(1):59-67.

30. Gabriel HMN. Profissão: Educador de Saúde: UNIVERSIDADE

TÉCNICA DE LISBOA; 2013.

53

31. Scain SF. Avaliação do efeito de um modelo de educação para

pacientes com diabetes mellitus tipo 2 que não usam insulina. 2008.

32. Silva TR, Feldmam C, Lima MHA, Nobre MRC, Domingues RZ. Controle

de diabetes Mellitus e hipertensão arterial com grupos de intervenção

educacional e terapêutica em seguimento ambulatorial de uma Unidade Básica

de Saúde. Saúde e Sociedade. 2006;15(3):180-9.

33. Cabrera-Pivaral CE, González-Pérez G, Vega-López MG, Centeno-

López M. Efectos de una intervención educativa sobre los niveles plasmáticos

de LDL-colesterol en diabéticos tipo 2. salud pública de méxico.

2001;43(6):556-62.

34. Borges JWP. Instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da

hipertensão arterial: desenvolvimento e validação de conteúdo. 2012.

35. Faria HTG. Desafios para a atenção em saúde: adesão ao tratamento e

controle metabólico em pessoas com diabetes mellitus tipo 2 no município de

Passos, MG: Universidade de São Paulo; 2011.

36. Freitas JGA. O impacto do farmacêutico clínico na adesão ao tratamento

farmacológico de pacientes idosos hipertensos. 2014.

37. Gimenes HT, Zanetti ML, Haas VJ. Fatores relacionados à adesão do

paciente diabético à terapêutica medicamentosa. Revista Latino-Americana de

Enfermagem. 2009;17(1):46-51.

38. Eizerik DP, Costa AF, Manfroi WC. Educação de pacientes em

dislipidemia: revisão sistemática. Rev Bras Farm. 2008;89(3):207-10.

39. Sousa DA, Diniz NB, Vidal CC, Santos BRM, Garcia MLB, Braga LF, et

al., editors. Adesão ao tratamento farmacológico, controle da pressão arterial e

qualidade de vida em pacientes hipertensos. I Encontro de Iniciação Científica-

2011 (ENCERRADO); 2011.

54

40. Sampaio HAC, Carioca AAF, Sabry MOD, santos PM, Coelho MAM,

Passamai MdPB. Letramento em saúde de diabéticos tipo 2: fatores

associados e controle glicêmico. Ciência & Saúde Coletiva. 2015;20(3):865-74.

41. Cavanaugh K, Huizinga MM, Wallston KA, Gebretsadik T, Shintani A,

Davis D, et al. Association of numeracy and diabetes control. Annals of Internal

Medicine. 2008;148(10):737-46.

42. Torres HC, Pereira FRL, Alexandre LR. Avaliação das ações educativas

na promoção do autogerenciamento dos cuidados em diabetes mellitus tipo 2.

Revista da Escola de Enfermagem da USP. 2011;45(5):1077-82.

55

10. APÊNDICES E ANEXOS

ANEXO A - B – TOFHLA

56

57

58

59

60

61

62

63

64

APÊNDICE A- FICHA DE IDENTIFICAÇÃO

NOME:______________________________________________________________

Data de nascimento ____/____/____ Idade: _____

Sexo: ( )feminino ( )masculino

Reside: ( )sozinho ( )família ( )outros

Número de pessoas da família:______________ Número de filhos:___________

Situação civil: ( )casado ( )viúvo ( )separado/divorciado ( )solteiro ( )outro

Acuidade visual: OD: ______ OE: _______

Ocupação: ____________________________________________________________

Data da entrevista: ____/____/______

Tempo de diabetes: ___ anos (data do diagnóstico: ___/___/_____)

1.2 Renda Familiar

( ) menos de 01 salário

( ) entre 01 e 02 salários mínimos;

( ) entre 02 e 03 salários mínimos

( ) entre 03 e 04 salários mínimos

( ) mais de 04 salários mínimos

Nº de pessoas que dependem dessa renda _______

1.3 Letramento funcional em saúde

( ) Não alfabetizado

( ) Analfabeto funcional em saúde – B_TOFHLA = _____

65

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA

ATÉ 90 DIAS ANTES DO PRIMEIRO

ENCONTRO

90 DIAS DEPOIS DO ÚLTIMO ENCONTRO

Glicemia de jejum

A1c

Colesterol total

HDL

LDL

VLDL

Triglicérides

Creatinina X

Avaliação oftalmológica X

AVALIAÇÃO CLÍNICA /ANTROPOMÉTRICA

PRIMEIRO ENCONTRO

90 DIAS DEPOIS DO ÚLTIMO ENCONTRO

Pressão arterial

Peso

Altura

IMC

Perímetro abdominal

66

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(TCLE)

Este estudo intitulado “Desenvolvimento de estratégia educacional para

tratamento independente para diabéticos tipo 2 analfabeto”, tem como objetivo

criar material próprio com roteiro voltado para o diabético tipo 2 analfabeto,

com foco no uso correto dos medicamentos e utilização de um plano alimentar.

Serão convidados a participar do estudo pacientes com diagnóstico de

diabetes tipo 2 analfabetos/analfabetos funcionais, respeitando-se os critérios

de inclusão e exclusão do estudo.

Os pacientes serão submetidos a um programa de educação com maior

envolvimento com o plano alimentar personalizado e uso correto dos

medicamentos utilizando desenhos e cores padronizadas.

Serão analisados a adequação nutricional com o plano alimentar por

recordatório alimentar de 24 horas, além de contagem de comprimidos 28 dias

após o segundo encontro, durante três meses consecutivos.

Serão propostos quatro encontros para o programa de educação, um em

cada semana, com duração de 1 hora, durante 1 mês, além de encontros de

entrevistas e avaliações, sendo esses antes do programa de educação e após

90 dias do término do mesmo. Neste acompanhamento, serão solicitados

exames de sangue (glicemia de jejum, hemoglobina glicada, colesterol total e

frações, creatinina, triglicérides), além de medidas de pressão, perímetro

abdominal, peso, altura e índice de massa corporal.

Os resultados serão comparados por período, antes e após o programa

de educação.

67

Após realização de entrevista com o paciente e assinatura deste termo,

não será alterado a conduta inicial do médico assistente, que estará livre para

fazê-lo, independente desse estudo, ao ter acesso aos resultados do mesmo.

Os participantes serão informados sobre todos os procedimentos

realizados e poderão se recusar a participar da pesquisa, ou retirar o

consentimento, mesmo após a assinatura deste termo. Os mesmos

permanecerão anônimos no estudo, não constando em nenhum arquivo o

nome completo e/ou endereço, apenas iniciais e números.

Os resultados serão apresentados em reunião clínica, nas instituições

ligadas ao estudo, ao final do trabalho e estarão disponíveis inclusive para os

participantes. Este projeto visa também publicação dos resultados em revistas

especializadas e dissertação de tese de mestrado.

Caso o participante necessite utilizar um meio de transporte, o

responsável pelo projeto fará o ressarcimento. Nem o pesquisador nem o

participante serão remunerados. O interesse é apenas científico. O participante

será indenizado caso lhe sobrevenha algum dano decorrente da participação

na pesquisa.

Poderá haver aumento discreto nos níveis de glicemia, cabendo ao

responsável pelo estudo fazer as mudanças na medicação ou na alimentação,

a fim de melhorar o controle glicêmico do participante. Outro risco é de

constrangimento durante a entrevista, já que será questionado sobre hábitos

alimentares e testado o nível de alfabetização.

Em qualquer época do estudo o paciente poderá solicitar

esclarecimentos ao investigador principal, Sheila Mara Silva de Oliveira, que

68

poderá ser encontrada no centro de saúde Mariano de Abreu, localizado na

Rua Fernão Dias, 220, de 7:00 às 16:00, celular (31) 9109-0720. Se tiver

alguma dúvida sobre a ética da pesquisa, poderá consultar o Comitê de Ética

em Pesquisa – Rua Domingos Vieira, 519 - 9o andar – telefone: 3238 – 8838.

Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte: Rua Frederico Bracher

Júnior, 103/3º andar/sala 02 - Padre Eustáquio - Belo Horizonte - MG. CEP:

30.720-000. Telefone: 3277-5309.

Assinatura do paciente

Assinatura do acompanhante participante

Belo Horizonte, ___/___/2014.

Declaro que obtive, de forma apropriada e voluntária, o Consentimento

Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal, para participação

neste estudo.

Assinatura do responsável pelo estudo

Belo Horizonte, ___/___/2014.

69

APÊNDICE C- RECORDATÓRIO ALIMENTAR

Alimentos/

Frequência

Porção

ingerida/

n0 /dia

>2x dia 1x/dia Maioria

dos dias

da semana

1x por

semana

1x/ mês Nunca

Refeições/dia

-------

-------

-------

--------

-------

------

Água

Frutas

Verduras/

Legumes

Leite integral

Leite

desnatado

Derivados do

leite

Derivados do

leite light

Pães

Pão integral

Massas

Manteiga/

Margarina/

Maionese

Manteiga/

Margarina/

Maionese light

Carne

Doces

Frituras

Refrigerante

70

APÊNDICE D- TABELA DE AVALIAÇÃO DA ADERÊNCIA MEDICAMENTOSA Nome: _____________________________________________________________

Data inicial: ________________________________

Medicações

10 mês

N0

comprimidos

na cartela/

Data

20 mês

N0

comprimidos

na cartela/

Data

30 mês

N0

comprimidos

na cartela/

Data

Anlodipino

Atenolol

Enalapril

Furosemida

Glibenclamida

Hidralazina

Hidroclorotiazida

Losartana

Metformina

Nifedipina

Propranolol

Sinvastatina

71

APÊNDICE E - QUADRO DE HORÁRIOS IDENTIFICADO POR FIGURAS

CAFÉ DA MANHÃ COLAÇÃO ALMOÇO CAFÉ DA TARDE JANTAR CEIA

72

APÊNDICE F- LISTA DE MEDICAMENTOS IDENTIFICADOS POR CORES

Medicações

Cores

Ácido acetilsalicílico

Alopurinol

Anlodipina

Atenolol

Bromazepam/ Clonazepam/ Diazepam

Enalapril

Fluoxetina/ Sertralina

Furosemida

Glibenclamida

Hidralazina

Hidroclorotiazida

Levotiroxina

Losartana

Metformina

Nifedipina

Nortriptilina/ Amitriptilina

Omeprazol

Propranolol

Sinvastatina

73

APÊNDICE G- LISTA DE SUBSTITUIÇÃO DE ALIMENTOS

1A) Sinal verde

Abobrinha Alface Berinjela Brócolis Cebola

Couve Couve – flor Jiló Pepino Pimentão

Repolho Tomate Alho Canela Cebolinha

*

Orégano Pimenta Limão Salsinha

74

1B) Sinal amarelo

Abóbora

Beterraba

Cenoura

Chuchu

Quiabo

Vagem

75

2A) Frutas grupo A

1 Laranja

Abacaxi 2 rodelas

1 Goiaba

1 Maracujá

1 fatia de melancia

1 fatia de melão

7 morangos

76

2B) Frutas grupo B

1 Banana

1 maçã

1 fatia de mamão

1 manga pequena

1 pêra pequena

11 uvas

77

3) Bife de boi = Palma da

mão

BOI Bife de boi Palma da mão

Carne de boi cozida 3 colheres de sopa

Carne moída 2 colheres de sopa

FRANGO Coxa de frango assada Palma da mão

Filé de frango Palma da mão

1 ovo frito

2 ovos cozidos

Frango desfiado 4 colheres de sopa

PEIXE Filé de peixe Palma da mão

78

PORCO 1 fatia de lombo Palma da mão

1 linguiça

4 fatias de presunto

79

4) ARROZ

Arroz 3 colheres de sopa

Farofa 1 colher de sopa

Mandioca 2 colheres de sopa

Macarronada 3 colheres de sopa

Batata cozida 3 colheres de sopa

Batata frita 3 colheres de sopa

Angu 4 colheres de sopa

80

5) FEIJÃO

Feijão 5 colheres de sopa

Grão de bico 3 colheres de sopa

Lentilha 4 colheres de sopa

Soja 7 colheres de sopa

81

6) COPO DE LEITE

1 copo de leite

Coalhada 1 copo americano

Leite em pó 2 colheres de sopa

1 pote de iogurte

82

7) PÃO

1 pão de sal

2 fatias de pão de forma

1 pão de batata

2 bisnaguinhas

6 pães de queijo

2 fatias de bolo diet

2 fatias de bolo de chocolate diet

6 bolachas água e sal

83

9 bolachas Maria

2 biscoitos recheados

6 wafers

14 biscoitos polvilho

4 torradas

84

8) MARGARINA

Manteiga Margarina Ponta de faca

Margarina Light 2 pontas de faca

13 azeitonas

Maionese 1 colher de sopa

Creme de leite 2 colheres de sopa

Requeijão 1 colher de sobremesa

Queijo minas 1 fatia

85

APÊNDICE H - PLANO ALIMENTAR DE 1600 Kcal

Café da manhã

+ +

Colação

Almoço

+ + +

+ +

Café da tarde

+ +

Jantar

+ + +

+ +

Ceia

+ .

86

APÊNDICE I - PLANO ALIMENTAR DE 1800 Kcal

Café da manhã

+ +

Colação

Almoço

+ + +

+ +

Café da tarde

+ +

Jantar

+ + +

+ +

Ceia

+ +

87

APÊNDICE J - PLANO ALIMENTAR DE 2000 Kcal

Café da manhã

+ +

Colação

Almoço

+ + +

+ +

Café da tarde

+ +

Jantar

+ + +

+ +

Ceia

+

+

88

APÊNDICE K - PLANO ALIMENTAR DE 2200 Kcal

Café da manhã

+ +

Colação

Almoço

+ + +

+ +

Café da tarde

+ +

Jantar

+ + +

+ +

Ceia

+

+

89

APÊNDICE L – PLANO ALIMENTAR DE 1600 Kcal

Café da manhã

+ +

Colação

Almoço

+ + +

+ +

Café da tarde

+ +

Lanche

+ + +

+ +

Ceia

+ .

90

APÊNDICE M - PLANO ALIMENTAR DE 1800 Kcal

Café da manhã

+ +

Colação

Almoço

+ + +

+ +

Café da tarde

+ +

+

Lanche

+ + +

+ +

Ceia

+

+

91

APÊNDICE N – PLANO ALIMENTAR DE 2000 Kcal

Café da manhã

+ +

Colação

+

Almoço

+ + +

+ +

Café da tarde

+ +

+

Lanche

+ + +

+ +

Ceia

+

+

92

APÊNDICE O - PLANO ALIMENTAR DE 2200 Kcal

Café da manhã

+ +

+

Colação

+

Almoço

+ + +

+ +

Café da tarde

+ +

+

Lanche

+ + +

+ + +

Ceia

+

+

93

APÊNDICE Q – AULA POWER POINT

94

95

APÊNDICE R – Parecer consubstanciado do CEP

96

97

APÊNDICE S – Carta de anuência