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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical Estudo etnobotânico de plantas de uso medicinal e místico na comunidade da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Rúbia Graciele Patzlaff 2007

Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · Ao meu marido, Elielton Resende ... Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, pela grande ajuda e pela força

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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de JaneiroEscola Nacional de Botânica Tropical

Estudo etnobotânico de plantas de uso medicinal e místico nacomunidade da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de

Janeiro, RJ, Brasil

Rúbia Graciele Patzlaff

2007

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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de JaneiroEscola Nacional de Botânica Tropical

Estudo etnobotânico de plantas de uso medicinal e místico nacomunidade da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de

Janeiro, RJ, Brasil

Rúbia Graciele Patzlaff

Dissertação apresentada ao Programa dePós-Graduação em Botânica, EscolaNacional de Botânica Tropical, doInstituto de Pesquisas Jardim Botânicodo Rio de Janeiro, como parte dosrequisitos necessários para a obtenção dotítulo de Mestre em Botânica.

Orientadora: Ariane Luna Peixoto

Rio de Janeiro

2007

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Patzlaff, Rubia GracieleP322e Estudo etnobotânico de plantas de uso medicinal e místico na

comunidade da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro,RJ, Brasil / Rubia Graciele Patzlaff . – Rio de Janeiro, 2007. xiv, 124f. : il.

Dissertação (mestrado) – Instituto de Pesquisas Jardim Botânicodo Rio de Janeiro/Escola Nacional de Botânica Tropical, 2007.

Orientadora: Ariane Luna PeixotoBibliografia.

1. Etnobotânica. 2. Plantas Medicinais. 3. Pedra de Guaratiba (RJ)4. Rio de Janeiro (Estado). I. Título. II. Escola Nacional de BotânicaTropical.

CDD 581.63

iv

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Dedico este trabalho à Serra da Capoeira

Grande e aos moradores de seu entorno. Que as

linhas escritas aqui, que mostram um pouco da

beleza e do potencial do conhecimento existente

na região, possam servir de inspiração e

sensibilização para que providências sejam

tomadas em relação aos problemas ali

existentes.

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“Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o

dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações”.

Artigo 225 da Constituição da República Federativa

do Brasil, Capítulo VI - Do Meio Ambiente

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Ó garrafada das ervas maceradas do breu das brenhasSe adonai de mim e do meu peito lacerado

Ó senhora dos remédios

ó doce donaó chá

ó unguentoó destilado

ó camomilaó belladonnaó phármakon

Respingai grossasgotas de vossos venenos

ó doce donaó camomila

ó belladonna

Serenais minhas irremediáveis pupilas dilatadasÓ senhora dos sem remédios

Domai as minhas brutas ânsias acrobáticasQue suspensas piruetam pânicas nas janelas do caos

Se desprendem dos trapéziosE, tontas, buscam o abraço fraterno e solidários dos espaços vácuos

Ó garrafada das maceradas ervas do breu das brenhasAdonai-vos do peito lacerado e do lenho oco que ocupo.

FEITIO DE ORAÇÃO

(Poema de Wally Salomão/CD CânticosPreces e Súplicas à Senhora dos Jardins do

Céu, Maria Bethânia)

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AGRADECIMENTOS

Ao meu marido, Elielton Resende Coelho, por toda força e incentivo para recomeçar um

mestrado e por toda paciência durante este processo, até agora no final (que diga-se de

passagem, é a parte mais difícil de se aturar um mestrando!!), conseguiu manter o bom

humor me chamando “carinhosamente” de M.M. - Mulher Monografia!!!

À minha orientadora, Ariane Luna Peixoto, pela confiança e coragem em aceitar uma

“aspirante a parasitologista molecular” para fazer um trabalho em etnobotânica”!

Ao Giovanni Battista Antonio Lucente Gazzo e à Fernanda Fracalanza, pela amizade e

pelo apoio, sem os quais muito provavelmente este trabalho não teria tanto êxito;

Aos informantes, pessoas maravilhosas, a alma deste trabalho, pela confiança, pelo

carinho, e por toda contribuição!

À Inês Machline, doutoranda da Escola Nacional de Botânica Tropical e professora da

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, pela grande ajuda e pela força em todos os

momentos;

Ao Grupo de Estudos de Etnobotânica, que está conseguindo reunir pessoas e profissionais

muito bons, pela troca de experiência que tem sido maravilhosa, Juliana Posse, Dra. Maria

Carmem Pirassinunga Reis, Paulo Henrique Oliveira Leda, Ivone Manzali e a todos do

grupo, obrigada!

Ao grupo do Módulo do Programa de Saúde da Família do Jardim Cinco Marias, em

especial à enfermeira Silvia Regina Maurílio Lima, pelo aprendizado e pela amizade;

Ao grupo da disciplina Etnobotânica do Museu Nacional, incluindo a professora Mara

Zélia de Almeida, da Universidade Federal da Bahia, pela imensa ajuda em todas as

minhas infindáveis dúvidas, e pelas sugestões e críticas, além claro da agradável

convivência;

viii

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À professora Luci Vale Senna, do Museu Nacional, que além de ter coordenado a

disciplina acima que foi incrível, contribui muito também sendo revisora da prévia desta

dissertação;

Á professora Regina Helena Potsch Andreata, da Universidade Santa Úrsula, pela

contribuição tanto no meu projeto de mestrado quanto na finalização deste.

Aos especialistas em taxonomia do Jardim Botânico e a Carlos Henrique Reif de Paula

(Caíque), Universidade Santa Úrsula e Fátima Regina Gonçalves Salimena, Universidade

Federal de Juiz de fora, pelas identificações dos grupos Loranthaceae e Verbenaceae

respectivamente;

Aos companheiros de mestrado Maria Otávia Crepaldi, Rodrigo Borges, Felipe de Araújo

Pinto Sobrinho e Marcos Gonzales, pelas trocas de informações, pela companhia e pelos

desabafos;

Aos colegas de turma do mestrado pela convivência muito bacana nas disciplinas, pelos

almoços, conversas, trocas de desesperos e desabafos (rs...) e pelas sugestões no trabalho.

Este trabalho é dedicado a todos vocês, pessoas que acreditaram nele e deram todo

seu apoio.

O meu MUITO OBRIGADA a todos vocês!!!

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RESUMO

A Serra da Capoeira Grande, em Pedra de Guaratiba, é uma das duas áreas de proteçãoambiental (APA) desta localidade. Pedra de Guaratiba é o principal núcleo urbano dobairro de Guaratiba, localizado na Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro. A APA daSerra da Capoeira Grande, em processo de regulamentação, é um importante remanescentede floresta atlântica de baixada que possui espécies ameaçadas de extinção entre as quais opau-brasil. A expansão urbana em direção à Zona Oeste vem alterando o perfil dosmoradores do entorno da Serra da Capoeira Grande, antes predominantemente pequenosagricultores, hoje convivendo com pessoas que optaram por sair dos grandes centrosurbanos em direção a áreas menos urbanizadas. Este trabalho objetivou conhecer eregistrar o saber sobre as plantas de uso medicinal e místico dos moradores do entorno daAPA da Serra da capoeira Grande e sua relação com o ambiente. A pesquisa de campo foirealizada entre junho de 2005 e setembro de 2006 através de entrevistas abertas ecaminhadas pelos quintais de 10 moradores (seis homens e quatro mulheres). A escolhados informantes foi realizada através da técnica bola-de-neve, a partir de contato inicialcom a associação de moradores local. A idade dos informantes variou entre 40 e 77 anos etodos eles concordaram em gravar as entrevistas. Foram indicadas como de uso medicinale/ou místico 114 espécies botânicas pertencentes a 42 famílias. Espécimes foramcoletados, identificados e depositados no herbário RB do Jardim Botânico do Rio deJaneiro. As famílias que apresentaram o maior número de espécies foram Lamiaceae (13)Asteraceae (9), Solanaceae e Leguminosae (6). Entre as espécies medicinais indicadasencontram-se plantas nativas dos ecossistemas locais, subespontâneas e cultivadas. Entreas primeiras destacam-se: aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi), ipê-roxo (Tabebuiaimpetiginosa (Mart.ex DC.) Standl. ), carobinha (Jacaranda puberula Cham.) e cinco-folhas (Sparattosperma leucanthum (Vell.)Schum.); entre as subespontâneas a erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides L.), picão (Bidens pilosa L.), parietária(Acalypha comunis Mull. Arg.), quebra-pedra (Phyllanthus niruri L. e P. tenellus Roxb.); eentre as exóticas, eucalipto (Eucaliptus citriodora Hook) e colônia (Alpinia zerumbet(Pers.) B.L.Burtt & R.M.Sm.). As espécies mais citadas foram erva-cidreira (Lippia alba(Mill.) N.E.Br. ex Britton & P.Wilson) e capim-limão (Cymbopogon citratus Stapf.). Asfolhas e a decocção como forma de preparo foram as mais utilizadas. Os moradorescultivam e incentivam plantas de uso medicinal e místico em seus quintais, utilizando-semuito pouco de canteiros específicos para tal finalidade ou vasos. As plantas místicasforam bem representadas pela família Lamiaceae. A espécie medicinal mais versátil e a demaior importância relativa (IR=2) foi Schinus terebinthifolius e as doenças mais tratadascom plantas foram as infecciosas e parasitárias. Lippia alba (CUP=85,7%;como calmante)e Chenopodium ambrosioides (CUP=70%; contra vermes) foram as plantas com maiorConcordância de Uso Principal. Os resultados mostram que o conhecimento dosinformantes está bem consolidado e reforça a necessidade de conhecer e preservar oconhecimento desta população, principalmente tendo em vista o fato de que a importânciados quintais parece diminuir na comunidade, com a pressão de urbanização. Desta forma,com o passar do tempo, poderá ser perdido um acervo de conhecimento valioso para anossa geração e para as gerações futuras, referente à relação homem-natureza.

Palavras-chave: Etnobotânica, plantas medicinais, conhecimento popular, quintais.

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ABSTRACT

Serra da Capoeira Grande is one of two Environmental Protection Areas in Pedra deGuaratiba, the main urban core of Guaratiba quarter, located in the western region of Riode Janeiro city. The Serra da Capoeira Grande Environmental Protection Area, underregulamentation process, is an important remnant of the Lowlands Atlantic Rain Forest,which presents extinction threatened species including brazilwood. Urban expansiontowards western region of the city is altering the profile of the population residing aroundSerra da Capoeira Grande, which used to be mainly composed by small farmers, andcurrently is cohabiting with people who decided to leave big urban centers towards lessurbanized areas. This work aims to experience and record the knowledge of the residentsaround the Serra da Capoeira Grande Environmental Protection Area about medicinal andmystic plants uses and their relantionship with the environment. The field research wasconducted from june/2005 to september/2006 through open interviews and walks in thehomegardens of 10 local inhabitants (six males and four females). The selection of theinformers was done through snowball technique, started in an inicial contact with the localresidents association. Informers age ranged from 40 to 77 years old and all of them agreedto have their statements recorded in interviews. A total of 114 botanical species, belongingto 42 families, were indicated as medicinal or mystic use. Specimens were collected,identified and deposited in the RB herbarium. Families presenting the greater number ofspecies were Lamiaceae (13) Asteraceae (9), Solanaceae e Leguminosae (6). Among themedicinal plants indicated, from local ecosystems natives, subspontaneous and cultivatedplants are encountered. The main native species were aroeira (Schinus terebinthifoliusRaddi), ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa (Mart.ex DC.) Standl. ), carobinha (Jacarandapuberula Cham.) and cinco-folhas (Sparattosperma leucanthum (Vell.)Schum.); the mainsubspontaneous: erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides L.), picão (Bidenspilosa L.), parietária (Acalypha comunis Mull. Arg.), quebra-pedra (Phyllanthus niruri L.and P. tenellus Roxb.); and among the exotic plants, the main were: eucalipto (Eucaliptuscitriodora Hook) and colônia (Alpinia zerumbet (Pers.) B.L.Burtt & R.M.Sm.). The mostcited species were erva-cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex Britton & P.Wilson) andcapim-limão (Cymbopogon citratus Stapf.).Leaves and the way of preparation bydecoction were the most used ones. Residents cultivate and encourage mystic andmedicinal useful plants in their homegardens, with little use of plots or vases for thisspecific purpose. Mystic plants are well represented by the Lamiaceae family. The mostversatile and important (IR=2) medicinal species was Schinus terebinthifolius and the mostfrequent illnesses treated with plants were the infectious and parasitic ones. Lippia alba(CUP=85,7%; as tranquilizer) and Chenopodium ambrosioides (CUP=70%; againstworms) were the plants with the greater Principal Use Concordance Index. The resultsshow that informers knowledge is consolidated and reinforces the need of knowing andpreserving this population's knowledge, mainly considering the fact that homegardensimportance seems to decrease in the community, with the urbanization pressure. By thisway, as time goes by, a precious knowledge collection for us and future generations aboutthe relation human-nature may be lost.

Key-words: Ethnobotany, medicinal plants, popular knowledge, homegardens.

xi

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Lista de Figuras

Figura 1 - Localização de Pedra de Guaratiba no Município do Rio de Janeiro e da

Comunidade da Capoeira Grande.

12

Figura 2 - APA da Serra da Capoeira Grande e entorno. Adaptado de Google Earth:

http:// earth.google.com. Acesso em 27/09/2006.

13

Figura 3. APA da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ. 13Figura 4a,b - Prospecto de vendas de lotes no Jardim Garrido em 1955. 23/24Figura 5. Partes das plantas empregadas na preparação de remédios caseiros ou de uso

místico, na comunidade do entorno da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba,

Rio de Janeiro, RJ.

38

Figura 6. Formas de emprego nas preparações de remédios caseiros, ou místicas na

comunidade do entorno da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de

Janeiro, RJ.

38

Figura 7 - Croqui de quintal da informante 1 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

54

Figura 8. Croqui do quintal da informante 2 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

55

Figura 9. Croqui do quintal da informante 3 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

56

Figura 10. Croqui do quintal do informante 4 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

57

Figura 11. Croqui do quintal da informante 5 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

58

Figura 12. Quintais dos informantes residentes no entorno da APA da Serra da

Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro: A. Cajueiro; B. Aroeira; C.

Plantas em vasos; D. Vista geral de um quintal; E. Mangueira e milharal;

F.Ornamentais; G.Ornamentais na entrada; H. Canteiro de boldo-do-chile.

59

Figura 13. Algumas plantas de uso medicinal e místico citadas pelos moradores do

entorno da APA da Serra da Capoeira Grande. A.Pinhão-roxo; B.Colônia; C.Erva-

macaé; D. Algodão; E. Erva-de-santa-maria; F.Erva-cidreira; G.Vidros dona Zelinda;

H. Erva-doce; I.Cajueiro.

60

Figura 14. Categorias de doenças mais tratadas com plantas, citadas pelos informantes

da Capoeira Grande, Rio de Janeiro, segundo a décima revisão da Classificação

Internacional de Doenças, Injúrias e Causas de Morte (CID-10 2005). Ver códigos no

Tabela 1.

98

Lista de Tabelas

xii

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Tabela 1. Classificação Internacional de doenças, injúrias e causas de morte

(WHO, 2003)

19

Tabela 2. Informantes e respectivas idades, níveis de escolaridade e tempo de

residência na comunidade da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de

Janeiro.

27

Tabela 3. Lista de espécies medicinais e místicas citadas por moradores do

entorno da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ

(me. medicinal, mi. mística, fo. folha, fl. flor, pl. planta inteira, muc. mucilagem,

ra. raiz, cas. casca, sem. sementes, fr. fruto, cas/fr. casca do fruto, br/fo. broto

das folhas; E. espontânea; C. cultivada; 1. comprada; 2. entorno do bairro; 3.

APA da Serra da Capoeira grande; 4. entorno da APA; 5. quintal).

39

Tabela 4. Plantas místicas citadas pelos informantes da Capoeira Grande, Pedra

de Guaratiba, Rio de Janeiro.

71

Tabela 5. Plantas de uso medicinal citadas pelos informantes do entorno da

APA da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ, em

ordem alfabética de nome popular e classificadas de acordo com a décima

revisão da Classificação Internacional de Doenças, Injúrias e Causas de Morte

(CID-10 2005).

85

Tabela 6. Importância Relativa das espécies citadas por mais de 2 informantes

da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

101

Tabela 7 - Concordância de uso principal para espécies medicinais e místicas

citadas por mais de 2 informantes da Capoeira Grande, por ordem crescente da

CUPc (CUP=concordância quanto ao uso principal; Fc= fator de correção;

CUPc=concordância de uso principal corrigida).

104

xiii

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SUMÁRIO

Lista de Figuras xiiLista de Tabelas xiii1. INTRODUÇÃO 11.1. A utilização das plantas pelo homem 11.2. A Etnobotânica 52. MATERIAIS E MÉTODOS 92.1. Área de Estudo 92.2. Metodologia de trabalho 143. RESULTADOS E DISCUSSÃO 203.1. Caracterização da área de trabalho 203.1.1. Histórico 203.1.2 Caracterização dos informantes 253.1.2.1. Relação com o ambiente e com as plantas, e a transmissão do

conhecimento27

3.2. Plantas utilizadas e suas indicações 313.3.Caracterização e organização das plantas nos quintais dos informantes

residentes no entorno da APA da Serra da Capoeira Grande50

3.4. As plantas nas crenças e religião: influências observadas na Capoeira Grande 613.5. Formas de Preparo de remédios caseiros na Capoeira Grande 743.6. Análises quantitativas 833.6.1. Importância relativa (IR) 993.6.2. Concordância de Uso Principal (CUP) 1034. CONCLUSÕES 1105. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 113ANEXOS 125

xiv

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1. INTRODUÇÃO

1.1 A utilização das plantas pelo homem No curso de sua história, o ser humano acumulou informações sobre o ambiente

que o cerca e, sem dúvida, esse acervo baseou-se na observação dos fenômenos e

características da natureza e na experimentação empírica desses recursos. A preocupação

com a descoberta e resgate do conhecimento referente ao uso que outros povos fazem dos

elementos de seu ambiente natural, vem desde a Antigüidade. Neste, inserem-se os saberes

relativos ao mundo vegetal.

Com o avanço da ciência, principalmente da Arqueologia e Antropologia foram

possíveis descobertas de verdadeiras farmacopéias ligadas a uma determinada cultura ou

civilização.

Exemplos destes fatos são documentos escritos em placas de barro, atualmente

conservados no British Museum, onde se encontram registrados, em caracteres cuneiformes

por ordem do rei assírio Ashurbanipal, documentos suméricos e babilônicos, datando

alguns mais de 3000 anos antes da era Cristã. Destas placas várias receitas foram

traduzidas, como o uso da beladona, fonte de atropina, do cânhamo da índia, a Cannabis

sativa L. indicada para dores em geral, bronquite e insônia. Em uma destas placas há a

descrição da coleta do “Gil”, que significa prazer, em referência à coleta e uso ritual da

papoula, Papaver somniferum L. (Almeida 1993; Almeida 2003). No código de Hamurabi,

já se descreve o ópio, o gálbano, a assafétida, o meimendro e muitos outros produtos

vegetais (Cunha 2005).

Outro documento escrito, o papiro decifrado em 1873 pelo egiptólogo alemão

Georg Ébers, apresenta a seguinte frase introdutória: “Aqui começa o livro relativo à

preparação dos remédios para todas as partes do corpo humano”. Este papiro representa o

primeiro tratado médico egípcio conhecido, datado de aproximadamente 1500 anos antes

da era Cristã em que, parte de seu texto é destinado ao tratamento das doenças internas e o

restante dá indicações sobre a constituição dos medicamentos a serem empregados (Cunha

2005). Desta forma o mundo tomou ciência de uma farmacopéia egípcia contendo a

descrição de espécies vegetais como a mirra, de uso adstringente e antiinflamatório, o látex

do olíbano, para inflamações bucais, o sândalo como antidiarréico. A papoula, fonte do

ópio era chamada de “remédio para acabar com a choradeira”. Uma outra grande fonte

histórica é a Bíblia Sagrada (Almeida 1993; Almeida 2003; Cunha 2005).

xv1

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Nas culturas chinesa e indú, o conhecimento sobre as plantas também se estende

por milênios. Na China é célebre a obra denominada Pent Ts´ao, escrito pelo herborista

chinês Shen Nung, datado de 2800 antes da era Cristã. É constituída de vários volumes

onde existem referências a inúmeros fármacos, entre os quais a Ephedra, que só entrou na

terapêutica dos povos de cultura ocidental já no final do século XIX. A Índia foi

considerada por alguns autores como o “Eldorado dos Medicamentos Ativos”, pela riqueza

de sua flora medicinal. Comercializava drogas vegetais provavelmente desde 2500 anos

antes da era Cristã, seu maior legado está citado nos Vedas, principalmente em sua parte

“Athatva Veda”, e na tradição dos sábios “Vaidya”, no império do Vale do rio Indo, a

noroeste da Índia (Almeida 2003; Cunha 2005).

Em relação a civilizações mais recentes, clássicas, uma contribuição importante é

dada pelos povos helênicos, que ao receberem dos persas muitos produtos orientais,

tiveram grandes médicos como Hipócrates, o “pai da medicina”, Galeno que criou formas

farmacêuticas, sendo que algumas são precursoras das que ainda são usadas hoje e

Teofrasto que, com a sua “História das plantas”, deixa descrições botânicas muito precisas,

acompanhadas de indicações sobre efeitos tóxicos e propriedades curativas. Contudo,

quem posteriormente se destaca no campo das plantas medicinais é Dioscórides, que, ao

acompanhar os exércitos romanos na Península Ibérica, no Norte de África e na Síria,

recolhe abundante informação sobre plantas dessas regiões. Escreve o tratado “De Materia

Medica” que representa um marco histórico no conhecimento de numerosos fármacos,

muitos dos quais ainda hoje são usados. Nele, se descrevem cerca de 600 produtos de

origem vegetal, animal e mineral, com indicações sobre o seu uso médico. Foi tal a

projeção da obra de Dioscórides que, tendo sido escrita no ano 78 da nossa era, passa a ser

usada como guia de ensino no mundo romano e no árabe, continuando em vigor até final

da Idade Média, sendo feitas ainda no século XV cópias em latim dessa obra. Acredita-se

que a matéria-médica, transformada em disciplina didática, deu origem à moderna

Farmacognosia (Almeida 2003; Cunha 2005).

Com a queda do império Romano, a Europa atravessou um longo período de

obscurantismo científico entre os séculos V e XV, a chamada Idade Média. Neste mesmo

período, de forma paralela, o mundo árabe emergiu com grande atividade científica,

surgindo a “Medicina Árabe”. Estes, ao dominarem a partir do século VIII o comércio do

oceano Índico e os caminhos das caravanas provenientes da Índia e da África, tiveram

acesso a muitas plantas dessas regiões, tais como o ruibarbo, a cânfora, o sândalo, a noz

moscada, o tamarindo e o cravinho. Destaca-se, no século XIII, o médico árabe Ibn Al

xvi2

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Baitar, de Granada, que na sua enciclopédia médico-botânica “Corpus simplicium

medicamentarium” incorpora os conhecimentos clássicos e a experiência árabe,

caracterizando mais de 2000 produtos, dos quais cerca de 1700 são de origem vegetal

(Almeida 2003; Cunha 2005).

Ibn Sina, conhecido como Avicena, considerado o maior filósofo do Islamismo e "o

Filósofo dos Árabes", também se destaca neste período. Atribui-se a Avicena cerca de

duzentas obras. Muitas destas, na área da medicina, foram utilizadas na Idade Média. O

Livro de cura é uma delas, enciclopédia composta de 18 volumes, abrange metafísica,

matemática, psicologia, física, astronomia e lógica. Outra obra foi o Cânon de Medicina,

em cinco volumes: o volume I trata dos princípios gerais da medicina; o volume II aborda

a maneira de determinar a natureza dos remédios e uma lista de 760 produtos

farmacêuticos; o volume III aborda a etiologia, sintomas, diagnósticos, prognósticos e o

tratamento sistemático das doenças; o volume IV trata das enfermidades em geral; e o

volume V é um formulário que contém prescrições para diversas doenças. O Cânon de

Medicina foi traduzido para o latim no final do século XII e foi estudado nas universidades

européias até o século XVII. Através da península Ibérica os conhecimentos árabes

ganharam toda a Europa, quando novas drogas foram introduzidas na terapêutica européia

(Iskandar 1999; Almeida 2003, Grandes Cientistas muçulmanos 2006).

Com o Renascimento, o charlatanismo e o empirismo da medicina e da farmácia da

Idade Média, cedem lugar, pouco a pouco à experimentação, ao mesmo tempo em que vão

sendo introduzidos na terapêutica novas drogas vegetais, com a chegada dos nossos

antepassados à África, à Índia e ao Brasil e, dos espanhóis, aos outros países da América

do Sul (Cunha 2005).

A medicina popular brasileira formou-se e desenvolveu-se devido à confluência de

três correntes básicas: a cultura negra africana, a indígena e a européia. Atualmente é muito

difícil identificar tais influências, já que o contato entre estas culturas tem sido uma

característica fundamental da formação social brasileira (Almeida 2003; Camargo 2000,

2005). No livro Medicinal Plants of Brazil (Mors et al. 2000) pode ser encontrado um

interessante histórico da herança cultural do uso das plantas medicinais pelos índios e

primeiros colonizadores, assim como uma compilação dos primeiros trabalhos realizados

com as plantas medicinais brasileiras.

Os negros africanos vieram como escravos para o Brasil, trazendo espécies vegetais

que se adaptaram bem neste país e tornaram-se espontâneas, como a mamona, o dendê, o

quiabo, o inhame, o tamarindo e a jaca. Os libertos e seus descendentes, que voltaram às

xvii3

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terras de origem, levaram milho, guiné, pinhão branco, batata doce, fumo e algumas

espécies de Annona (pinha, fruta do conde, gravilola) (Almeida 2003).

Os primeiros colonizadores chegaram ao Brasil, no séulo XVI, trazendo com eles

as missões religiosas que desempenhavam trabalhos de catequese junto aos habitantes

nativos das terras conquistadas. Neste fato têm início as primeiras relações interculturais

(Camargo 1998).

Alguns naturalistas que acompanhavam as expedições exploratórias às terras do

Novo Mundo se referiam às plantas, sem, contudo, contextualizar seu manejo pelas

sociedades consideradas primitivas, tais como observado em Thevet (Pires 1984), outros,

entretanto, relatam alguns dados sobre o uso e manejo de plantas. Assim, comerciantes,

missionários, antropólogos e naturalistas registraram os usos de plantas por culturas

diferentes daquelas presentes no continente europeu (Davis 1995).

No Brasil, no período da colonização holandesa no Nordeste (no século XVII),

Wilhelm Piso e Georg Marggraf, coletaram plantas e registraram usos conhecidos pelos

habitantes locais; estes espécimes constituem as primeiras plantas herborizadas do país

(Moulin et al, 1986; Peixoto 1999). Os alemães J. B. von Spix e Carl F. P von Martius, no

início do século XIX, fizeram notas do uso de plantas pelos indígenas e outros grupos

humanos, este último dedicando-se especialmente a documentação da flora brasileira,

sendo farta a documentação em espécimes herborizados e publicações (Spix e Martius

1938; Martius 1979; Emmerich 1994).

Com o desenvolvimento da ciência médica, as plantas medicinais passam a ser

associadas a profissões, principalmente à farmacêutica. O impulso tecnológico gerado

pelos investimentos internacionais durante a Segunda Guerra Mundial, leva as indústrias

multinacionais a colocarem no mercado novos medicamentos que superam os fitoterápicos

em rapidez e eficiência de cura e também na agilidade de produção, e com isso, o mercado

de plantas medicinais tem seu declínio (Almeida 2003).

Porém, o uso das espécies vegetais com fins de tratamento/cura de

doenças/sintomas se perpetuou na história da civilização humana. Inicialmente através da

transmissão oral e posteriormente através de documentos manuscritos, o ser humano foi

acumulando informações sobre plantas com uso medicinal e descrevendo seus valores

terapêuticos através de muitos séculos, até chegar aos dias atuais. Hoje, vê-se um crescente

interesse pelo uso de plantas medicinais, sendo amplamente utilizadas por grande parte da

população mundial como eficaz fonte terapêutica. O estudo científico das plantas

medicinais constitui um dos programas prioritários da Organização Mundial da Saúde

xviii4

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(OMS), como parte do programa “Saúde para Todos no Ano 2000”. Segundo a OMS, 80%

da população mundial se utiliza de plantas medicinais tradicionais para suprir suas

necessidade de assistência médica primária (WHO 1978; Almeida 2003).

1.2. A Etnobotânica Em 1895 o americano J. W. Harshberger designou formalmente o termo

Etnobotânica, como sendo o estudo de plantas usadas por povos primitivos e aborígines e,

por força desta definição inicial, durante muito tempo foi entendida com base neste

conceito (Amorozo 1996). Porém, para Amorozo (1996), Harshberger só apontou maneiras

pelas quais a etnobotânica poderia servir à investigação científica.

Para Prance (1995) foi a partir dos trabalhos de Carl Linnaeus que se inicia a

história da etnobotânica, porque seus diários de viagens continham dados referentes às

culturas visitadas, os costumes de seus habitantes e o modo de utilização das plantas. Em

1886, Alphonse de Candolle publica “Origin of cultivated plants”, onde dados

etnobotânicos foram empregados nos estudos sobre a origem e distribuição de plantas

cultivadas (Albuquerque 2002).

Segundo Martin (1995), a Etnobotânica é a ciência que estuda as interações entre

populações humanas e as plantas, assim como investiga novos recursos vegetais.

Uma definição mais completa é dada por Alexiades (1996), onde diz que a

Etnobotânica compreende o estudo das sociedades humanas, passadas e presentes, e suas

interações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas.

Atualmente, com base nos trabalhos já realizados, pode-se entender a Etnobotânica

como sendo o estudo das inter-relações (materiais ou simbólicas) entre o ser humano e as

plantas, devendo-se somar a este os fatores ambientais e culturais, bem como os conceitos

locais que são desenvolvidos com relação às plantas e ao uso que se faz delas (Ming et al.

2002).

A prática etnobotânica recebeu diferentes enfoques com o passar do tempo, cada

qual refletindo a formação acadêmica dos pesquisadores envolvidos. Sendo de natureza

interdisciplinar, permitiu e permite agregar colaboradores de diferentes ciências, com

enfoques diversos como o social, cultural, da agricultura, da paisagem, da taxonomia

popular, da conservação de recursos genéticos, da lingüística e outros (Ming et al. 2002).

xix5

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Existem duas linhas filosóficas distintas dentro da etnobotânica: a escola dos países

do Norte e as do Sul. As escolas dos países do Norte possuem como principal objetivo

descobrir espécies que possibilitem novos mercados e/ou patenteamento de princípios

ativos. Já as do Sul, procuram o conhecimento da biodiversidade regional para a

manutenção do meio ambiente (Lima & Guedes-Bruni 1996).

A Etnobotânica hoje tem merecido destaque devido ao crescente interesse pelos

produtos naturais. No entanto, a degradação dos sistemas de vida tradicionais que

acompanha a devastação do ambiente e a intrusão de novos elementos culturais, ameaça

muito de perto um acervo de conhecimentos empíricos e um patrimônio genético de valor

inestimável para as gerações futuras (Amorozo & Gély 1988).

Pesquisas nesta área facilitam a determinação de práticas apropriadas ao manejo da

vegetação com finalidade utilitária, pois empregam os conhecimentos tradicionais obtidos

para solucionar problemas comunitários ou para fins conservacionistas (Beck & Ortiz

1997). Aplica-se o termo “conhecimento tradicional” para referir-se ao conhecimento que

o povo local, isto é residentes da região sob estudo, conhece sobre o ambiente natural

(Martin 1995). Podem ainda subsidiar trabalhos sobre o uso sustentável da biodiversidade

através da valorização e do aproveitamento do conhecimento empírico das sociedades

humanas, a partir da definição dos sistemas de manejo, incentivando a geração de

conhecimento científico e tecnológico voltados para o uso sustentável dos recursos naturais

(Fonseca-Kruel & Peixoto 2004).

Neste sentido, Schultes & Reis (1995) listam alguns aspectos de contribuição da

etnobotânica para o progresso da ciência: proteção de espécies vegetais em perigo de

extinção; registro do conhecimento sobre os vegetais das culturas que estão em perigo de

desaparecimento; domesticação de novas plantas úteis e conservação de germoplasma de

plantas de importância econômica.

Estudos etnobotânicos, especialmente os referentes à plantas de uso medicinal, são

importantes no Brasil uma vez que seu território abriga uma das floras mais ricas do globo,

da qual 99,6% é desconhecida quimicamente (Gottlieb et al. 1996). A forte pressão

antrópica que os ecossistemas vêm sofrendo tem levado à perda de extensas áreas verdes,

da cultura e de tradições das comunidades que habitam estas áreas, que dependem de

recursos do meio para sobreviver. Estes fatores demonstram a necessidade de continuar

desenvolvendo estudos sobre Etnobotânica e Botânica Econômica no Brasil (Fonseca & Sá

1997).

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Neste sentido, órgãos mundiais estão se mobilizando, como é o caso das “Diretrizes

sobre Conservação de Plantas Medicinais”, elaboradas pela OMS, IUCN e WWF,

objetivando estabelecer um marco para a conservação e o uso sustentável das plantas

medicinais (OMS, IUCN &WWF 1993)

Estudos desta natureza tornam-se ainda mais necessários na zona costeira brasileira,

onde os diversos ecossistemas que a compõem, como manguezal, restinga, mata atlântica e

estuários vêm sendo fortemente impactados devido às atividades de especulação

imobiliária e expansão urbana. Fonseca & Sá (1997) constataram que os trabalhos sobre

Etnobotânica e Botânica Econômica desenvolvidos entre 1985 e 1995 além de serem em

número reduzido, concentraram-se predominantemente no Estuário Amazônico e na região

Sudeste. Os recursos da biodiversidade são fundamentais para o desenvolvimento

econômico, social e cultural das sociedades humanas.

O homem faz uso das plantas, pela necessidade de sobrevivência, desde o início da

civilização, levando a descoberta de possíveis aplicações terapêuticas de determinadas

espécies (Ribeiro 1996). A transmissão oral do conhecimento sobre este uso por

sociedades humanas é praticada a gerações. Porém, o processo de aculturação, onde as

novas gerações buscam meios mais modernos de comunicação, causa a perda desta tão

valiosa transmissão oral. Outro fator que se soma a esta perda cultural é a destruição do

habitat natural onde estão inseridas estas sociedades (Brito & Brito 1996).

O Estado do Rio de Janeiro, anteriormente ao descobrimento, possuía uma área

florestada que cobria cerca de 97% de seu território. Em 500 anos de diferentes ciclos

econômicos, baseados essencialmente na exploração de recursos naturais, acarretaram

enormes perdas na área anteriormente coberta por mata atlântica. Hoje esta se resume a

fragmentos isolados que, somados, perfazem 7.346,29 km ², ou seja, cerca de 17,10% da

cobertura original (SEMA 2001). Estudos sobre a composição florística de fragmentos

florestas, vêm sendo realizados no Estado do Rio de Janeiro. Peixoto et al. (2004) citam 19

trechos de floresta inventariados. Além destes, outros trechos também foram objeto de

inventários. Estes estudos abrangem fragmentos de diferentes tamanhos, muitos deles

protegidos em unidades de conservação (UCs) já devidamente regulamentadas, outros,

porém, não protegidos ou em UCs ainda não regulamentadas, estando, portanto, sujeitas a

diferentes processos de devastação.

Pedra de Guaratiba, bairro da zona oeste do município do Rio de Janeiro, possui, na

Serra da Capoeira Grande um pequeno fragmento florestado, que foi objeto de inventário

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florístico e fitossociológico (Peixoto et al. 2004, 2005) cuja criação de uma APA ainda não

está regulamentada.

Antes área de predomínio de comunidades de pescadores artesanais, pequenos

agricultores e pequenos pecuaristas, hoje têm seu modo de vida em acelerado processo de

transformação devido à expansão urbana em direção à zona oeste. O presente estudo teve

como objetivo conhecer o saber popular sobre as plantas de uso medicinal e místico, e a

relação com o ambiente da comunidade residente no entorno da APA da Serra da Capoeira

Grande, parte mais rural do bairro, buscando testar a seguinte hipótese: os moradores da

Capoeira Grande, embora pressionados pela expansão urbana, com conseqüente perda de

suas características rurais, fazem uso ainda de um grande número de espécies medicinais

nativas da região e/ou cultivadas em seus quintais.

Para isso, objetivou-se, especificamente, fazer o levantamento das plantas

medicinais e místicas utilizadas pela população, detectando seu modo de uso terapêutico

e/ou místico; Verificar a identidade botânica das mesmas, coletando e herborizando

exemplares para documentação em herbário; Registrar os nomes vernáculos atribuídos pela

população;

Verificar se há um padrão de organização dos canteiros e/ou vasos mantidos nos quintais;

Verificar s

e há plantas nativas dos ecossistemas locais, encontradas nas áreas do bairro e/ou

cultivadas, utilizadas pelos moradores.

xxii

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2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de EstudoGuaratiba é um bairro localizado na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.

Abriga três núcleos urbanos – Pedra de Guaratiba, Barra de Guaratiba e Ilha de Guaratiba.

O primeiro abriga o principal núcleo urbano do bairro e tem duas Áreas de Proteção

Ambiental, uma regulamentada, a APA das Brisas, e outra em processo de regulamentação

já há alguns anos, a APA da Serra da Capoeira Grande.

É um bairro que embora venha sofrendo intenso e desordenado processo de

urbanização, continua mantendo, em parte de seu território, características

predominantemente rurais e reúne ainda parte da agricultura e pecuária praticadas no

município do Rio de Janeiro. Abriga trechos naturais de mata atlântica, manguezais e

restingas. A pesca e comercialização de pescados são o esteio de dezenas de famílias da

região. Suas características peculiares bastante diferenciadas de outras regiões da cidade, o

coloca como pólo turístico da zona oeste, com vocação, principalmente, para o turismo

ecológico e a gastronomia.

Pedra de Guaratiba está passando por significativas transformações espaciais,

ambientais e sócio-econômicas nas últimas décadas e as comunidades residentes têm sido

muito afetadas por estas mudanças. Hoje, pode-se reconhecer quatro atividades principais

que englobam grande parte da população local: a pesca e o comércio de pescados,

incluindo aqui os restaurantes; o comércio e atividades de serviços diversos no próprio

bairro e em bairros próximos; atividades rurais em pequenas propriedades, criação de gado

e cavalos; lazer de habitantes de fins de semana e veranistas.

Em Guaratiba a temperatura do ar média anual é de 23,6ºC, sendo o mês de

fevereiro o mais quente, com temperatura média de 26,7ºC, e junho, o mais frio, com

média de 21,0ºC. O total médio anual de precipitação é de 1.027,2 mm, sendo o mês de

agosto o mais seco, com 47,4 mm e março o mais chuvoso, com 140,6 mm (Menezes &

Araujo 1999). De acordo com o sistema de Köppen, o clima da região é do tipo Aw -

Clima Tropical Chuvoso, com chuvas abundantes no verão e escassas no inverno (Peixoto

et al. 2004).

O presente estudo foca o conhecimento e as mudanças ocorridas na comunidade

residente no entorno da Serra da Capoeira Grande que ainda mantém suas características

rurais (Fig. 1). Neste local uma Área de Proteção Ambiental (APA) foi requerida à

prefeitura do Rio de Janeiro pela população, sendo esta criada no dia 30 de Julho de 1999,

xxiii9

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através da Lei nº. 2.835. Esta área era habitada predominantemente por pequenos

agricultores e pecuaristas. Nas últimas décadas o perfil dos moradores vem mudando e

convivem lado a lado os antigos moradores, pessoas que saíram de outras áreas do Rio de

Janeiro em busca de moradia a menor custo e com mais segurança e outros mais abastados

que optaram por morar fora dos grandes centros urbanos.

A Serra da Capoeira Grande (22º59’03”S e 43º38’59”W) (Fig. 2 e 3) embora

pertença ao Complexo Geológico do Maciço da Pedra Branca, não se insere nos limites do

Parque Estadual da Pedra Branca. Essa Serra se destaca na planície da região de Guaratiba

por alcançar altitude de até 159 m sustentando um pequeno remanescente da mata de

planície litorânea (Peixoto 1992) abundante no município no passado e hoje escassamente

representada. O solo muito raso e rochoso na porção médio-superior da serra cria ambiente

com limitações em oferta hídrica e de profundidade, restringindo maior desenvolvimento

das árvores (Peixoto et al. 2004).

A floresta da APA da Serra da Capoeira Grande (Fig. 3) representa importante

remanescente da Floresta Atlântica, com a presença de duas espécies arbóreas que estão na

lista oficial da flora brasileira ameaçada de extinção: Caesalpinia echinata Lam.,

Cariniana ianeirensis R.Knuth, e outras duas que estão na lista das espécies ameaçadas de

extinção no município do Rio de Janeiro: Acosmium lentiscifolium Schott e Machaerium

incorruptibile Benth (Peixoto et al. 2004).

Estudos sobre a composição florística e a estrutura fitossociológica da APA da

Serra da Capoeira Grande foram realizados por Peixoto et al. (2004, 2005). Estes autores

encontraram, utilizando a metodologia de quadrantes e considerando os indivíduos

amostrados nos quadrantes e os coletados fora da amostra, 69 espécies, pertencentes a 58

gêneros e 29 famílias. As famílias que apresentaram maior número de espécies foram

Leguminosae, com 13 espécies (Mimosoideae com sete, Papilionoideae com cinco e

Caesalpinioideae com uma), Myrtaceae com seis, Euphorbiaceae representada por cinco

espécies e Bignoniaceae, Bombacaceae, Celastraceae, Flacourtiaceae, Moraceae,

Rubiaceae e Solanaceae, representadas por três espécies cada uma. Segundos os autores, a

baixa representatividade de Lauraceae e Rubiaceae, ambas com muitas espécies tardias,

pode sugerir que a floresta da Serra da Capoeira Grande se encontra em processo de

sucessão secundária. Na distribuição das espécies em grupos sucessionais, a predominância

de espécies secundárias iniciais e tardias mostrou o avanço da sucessão no fragmento

estudado da APA da Serra da Capoeira Grande. Porém, quando avaliaram os grupos

sucessionais em relação ao número de indivíduos, notaram clara predominância de

xxiv10

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indivíduos pertencentes ao grupo das secundárias iniciais, o que indica que a área ainda

não alcançou seu desenvolvimento total, ou que existe algum fator que está impedindo o

pleno desenvolvimento esta floresta. Sugerem que, entre os fatores que podem estar

retardando o avanço sucessional neste trecho, estão a ocorrência de fogo e o corte seletivo

de algumas espécies, eventos que acontecem até os dias de hoje, principalmente por este

fragmento estar inserido em área residencial, fato este percebido também pelo grande

número de espécies frutíferas exóticas que ocorrem no local.

xxv11

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xxvi

Figura 1 - Localização de Pedra de Guaratiba no município do Rio de Janeiro e daComunidade da Capoeira Grande em Pedra de Guaratiba.

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xxvii

Figura 2 - APA da Serra da Capoeira Grande e entorno. Adaptado de Google Earth:http:// earth.google.com. Acesso em 27/09/2006

Figura 3. APA da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

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2.2. Metodologia de trabalhoO trabalho de campo foi realizado no período de abril de 2005 a setembro de 2006.

As primeiras duas visitas à área de estudo tiveram a finalidade de estabelecer contato com

os moradores, conhecer seus hábitos e contactar a Associação de Moradores local. Após

estas visitas, foi realizada uma explanação da proposta de pesquisa, mediada pela

Associação de Moradores da Capoeira Grande. Terminadas estas etapas, iniciou-se visitas

a casa dos moradores, em companhia, a princípio, de um dos integrantes da Associação de

Moradores. A cada morador visitado, fez-se uma explanação dos objetivos da pesquisa,

questionando se teriam interesse em participar. Nesta primeira entrevista, empregou-se a

técnica Bola de Neve (Patton 1990), que consiste em perguntar à pessoa entrevistada se ela

conhece alguém que poderia contribuir para a pesquisa, aumentando a amostra e

direcionando para os especialistas locais, que foram o foco desta pesquisa. Especialistas

locais são aquelas pessoas reconhecidas em sua comunidade como conhecedoras de plantas

da região, e neste caso conhecedoras de plantas de uso medicinal (Albuquerque & Lucena

2004a).

Após terem sido selecionados os informantes e, estes concordado em participar da

pesquisa, foi redigido um termo de concordância que foi assinado pela Presidente da

Associação de Moradores, reconhecida por todos como representante da comunidade.

Entrevistas semi-estruturadas (Bernard 1988) foram realizadas, utilizando-se como

base um questionário adaptado de Cunningham (2000) e Camargo (2003), com perguntas

abertas e fechadas (Albuquerque & Lucena 2004b). O questionário utilizado encontra-se

no Anexo 1.

Também utilizou-se a técnica de História de Vida, onde a partir de uma pergunta

deixou-se o informante falar de sua história, privilegiando-se assim os relatos orais da

comunidade. Esta técnica tem a peculiaridade de focalizar a coleta sobre a reconstrução das

experiências vividas pelo informante (Minayo 1994; Albuquerque & Lucena 2004b). A

partir desta técnica podem-se encontrar explicações ou justificativas para problemas,

dúvidas, ou simplesmente resultados encontrados durante a pesquisa. Além de permitir

traçar o perfil dos informantes como moradores do bairro.

Após esta etapa, visitas mensais à comunidade foram realizadas, adaptadas à

disponibilidade dos informantes. Cada informante foi entrevistado individualmente e as

entrevistas gravadas em mini-fitas cassete, com prévia concordância dos entrevistados.

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As espécies de uso medicinal e místico cultivadas pelos informantes em seus

quintais, e aquelas que provenientes de outros sítios, foram coletadas (com a autorização

dos mesmos) e registradas em fotografias e com informações referentes à nomenclatura

popular, indicação terapêutica, modo de preparo, dosagem de uso, parte utilizada,

procedência e outras questões relevantes. Os termos a seguir foram utilizados para

categorização de procedência: comprada - quando o informante compra a planta in natura

ou seca; entorno do bairro: quando a planta é encontrada pelo informante em locais como

beira de estradas, calçadas e terrenos baldios; APA da Serra da Capoeira Grande: quando a

planta é encontrada pelo informante dentro da APA; entorno da APA: quando a planta é

encontrada nos ambientes naturais no entorno da APA e quintal: quando a planta é

encontrada no quintal do informante. O termo “espontânea” foi utilizado para classificação

das plantas de ocorrência natural na área, tanto as nativas quanto as espontâneas

naturalizadas. As plantas que não puderam por algum motivo ser coletadas nos quintais,

foram coletadas em outras localidades ou compradas, no caso de plantas ritualísticas, e

levadas até os informantes para serem reconhecidas.

O material botânico coletado foi herborizado segundo Mori et al. (1985) e incluído

no herbário do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB).

A identificação do material coletado foi realizada utilizando bibliografia

especializada, comparação com acervo do herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

(RB), além de consultas a especialistas, quando necessário. As espécies estão classificadas

seguindo-se APG II (2003). A classificação para a família Leguminosae é aquela que a

subdivide em três subfamílias Caesalpinioidea, Mimosoideae e Papilonoidea.

A organização das plantas nos quintais foi avaliada visualmente através da

comparação de croquis dos quintais. Para a realização desta análise foram selecionados

aqueles quintais cujos donos (informantes) se dedicam com freqüência aos seus cuidados.

Alguns informantes possuem uma área em sua casa, no entanto esta não se caracteriza

como quintal, pois não há cuidado com o mesmo, nada é cultivado ou incentivado. Desta

forma, foram confeccionados croquis dos quintais de cinco informantes, com sua estrutura

horizontal, levando em consideração a posição das plantas em relação à casa. Os croquis

foram confeccionados pelo paisagista Leandro Martins com base em anotações e desenhos

feitos pela autora, in loco. Os informantes foram tratados neste tópico por números com o

objetivo de evitar exposição dos mesmos, embora esta solicitação não tenha sido feita.

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Para determinar as espécies mais importantes na comunidade, foi calculada a Importância

Relativa (IR) para cada espécie medicinal, utilizando o número de propriedades

farmacológicas (NP) e o número de sistemas corporais (NSC) afetados, com base na

proposta de Bennett & Prance (2000). A importância relativa é uma medida de

versatilidade.

O cálculo da importância relativa foi realizado de acordo com a fórmula:

IR = NSC + NP

onde NSC = número de sistemas corporais tratados por uma determinada espécie (NSCE)

dividido pelo número total de sistemas corporais tratados pela espécie mais versátil

(NSCEV); NP = número de propriedades atribuídas a uma determinada espécie (NPE)

dividido pelo número total de propriedades atribuídas à espécie mais versátil (NPEV). A

espécie mais versátil é aquela que trata o maior número de sistemas corporais e a qual é

atribuído maior número de propriedades. As propriedades utilizadas neste índice são as

propriedades terapêuticas para cada planta de uso medicinal citadas pelos informantes.

Para categorização dos sistemas corporais, a partir dos dados obtidos com o

levantamento etnobotânico sobre as indicações terapêuticas das plantas, foi realizada a

decodificação das doenças/sintomas citadas pelos informantes de acordo com o sistema

biomédico convencional, seguindo a classificação adotada pela décima revisão da

Classificação Internacional de Doenças, Injúrias e Causas de Morte (CID-10 2005),

realizada pela Organização Mundial da Saúde em 2003 (WHO 2003). Ela agrupa as

doenças em 21 categorias como pode ser observado na Tabela 1. A partir desta

decodificação pode ser traçado o perfil epidemiológico da comunidade (Almeida 1997).

Segundo Novais et al. (2004), “as categorias terapêuticas mais citadas são aquelas que

mais afetam a população estudada” e, uma tentativa de definir este perfil para esta

comunidade foi realizada.

Para avaliar a concordância entre as respostas dos informantes sobre o uso

medicinal e místico das plantas, utilizou-se o cálculo de porcentagem de Concordância de

Uso Principal (CUP) descrito por Amorozo & Gely (1988) a partir de uma adaptação da

metodologia de Friedman et al. (1986). Este tipo de técnica quantitativa está assentada na

idéia de que cultura é conhecimento compartilhado. A partir deste cálculo podem-se

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avaliar as condições da cultura desta área, em que nível os informantes compartilham seu

conhecimento, como o conhecimento sobre a planta se encontra distribuído entre eles.

A CUP, para cada espécie, é encontrada da seguinte forma:

O uso principal é aquele mais citado em comum pelos informantes. Para realização

deste cálculo utilizaram-se apenas aquelas plantas citadas por mais de dois informantes.

Para evitar distorções entre as plantas citadas por muitos informantes e as citadas

por poucos, o valor da CUP encontrado foi multiplicado por um fator de correção (FC),

que corresponde a:

Então, a CUP corrigida (CUPc) é dada pela fórmula:

CUPc = CUP x FC

Como meio de devolução do conhecimento de forma sistematizada à comunidade

da Capoeira Grande, foram realizadas algumas atividades abordando o tema da pesquisa,

conforme recomendação contida na Declaração de Belém (Campos 2002). Até o momento

foi realizada uma palestra na escola pública Emma Dávila Camillis, única escola dentro da

comunidade, no II Fórum de Meio Ambiente realizado lá (Anexo 3), sobre a importância

do conhecimento dos mais velhos e dos quintais. Na semana de Ciência e Tecnologia de

Guaratiba de 2005 (Anexo 2), foram elaborados folhetos com informações sobre oito

plantas que a comunidade da Capoeira Grande utiliza. Estes folhetos foram distribuídos e

discutidos com a população no dia de culminância do evento, realizado na praça Dr. Raul

17

CUP =

FC =nº de informantes que citaram a espécie

nº de informantes que citaram a espécie mais citada

nº de informantes que citaram usos principais para a sp x 100

nº de informantes que citaram usos para a sp

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Capelo Barroso da Pedra de Guaratiba. Em 2006, no mesmo evento, foi realizada uma

oficina de fabricação de xampu contra piolhos, em conjunto com o grupo de fitoterapia do

Módulo de Saúde do Programa de Saúde da Família (PSF) do Jardim Cinco Marias de

Pedra de Guaratiba (Anexo 4). Foram afixados na barraca onde a oficina foi realizada,

pôsteres com informações sobre plantas tóxicas, e com informações sobre o Programa de

Fitoterapia do Município do Rio de Janeiro, do qual este módulo de saúde faz parte, afim

de se discutir estas informações com os participantes. Também foram distribuídos

panfletos informativos sobre o Programa de Fitoterapia e a Coleção de Plantas Medicinais

do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Além disso, a horta de plantas medicinais da

Secretaria Municipal de Saúde, localizada na Fazenda Modelo em Guaratiba, cedeu para

esta oficina mudas de plantas medicinais, que foram utilizadas para a fabricação dos

xampus, reconhecimento e discussão com os participantes e, ao final do evento foram

sorteadas entre os participantes.

Ao final da pesquisa uma nova palestra será realizada na mesma escola, abordando

os resultados principais. Uma apresentação dos resultados do trabalho também será

realizada na Associação de Moradores do Bairro. Será elaborada uma cartilha com as

plantas citadas pelos informantes, seus nomes vernáculos e científicos e o uso indicado,

contendo orientações sobre comprovação científica, quando houver, e possíveis efeitos

tóxicos.

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Tabela 1. Classificação Internacional de doenças, injúrias e causas de morte (WHO

2003)I - Algumas doenças infecciosas e parasitáriasII - Neoplasias [tumores]III - Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitáriosIV - Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicasV - Transtornos mentais e comportamentaisVI - Doenças do sistema nervosoVII - Doenças do olho e anexosVIII - Doenças do ouvido e da apófise mastóideIX - Doenças do aparelho circulatórioX - Doenças do aparelho respiratórioXI - Doenças do aparelho digestivoXII - Doenças da pele e do tecido subcutâneoXIII - Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivoXIV - Doenças do aparelho geniturinárioXV - Gravidez, parto e puerpérioXVI - Algumas afecções originadas no período perinatalXVII - Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicasXVIII - Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não

classificados em outra parteXIX - Lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências de causas externasXX - Causas externas de morbidade e de mortalidadeXXI - Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde

.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Caracterização da área de trabalho

3.1.1 HistóricoEste tópico objetiva inserir o estudo no contexto histórico da região de Guaratiba,

no entanto, cabe salientar que este relato constitui apenas uma parte da trajetória deste

bairro na história, sendo relatado apenas os fatos de interesse para a presente pesquisa.

Guaratiba possui uma história muito rica que não caberia no espaço aqui disponível, além

de não ser o foco do presente estudo.

Guaratiba se insere na história nacional em períodos de grande riqueza e também de

decadência. Sua área foi intensamente explorada nos grandes ciclos da agricultura. No

período colonial integrou a Fazenda Santa Cruz, a mais importante e próspera propriedade

dos Jesuítas no Brasil (Freitas 1985).

É parte do que foi conhecido como o Sertão Carioca. O Almanaque de Laemmert de

1900 informava que a circunscrição de Guaratiba, a outrora “mais rica e florescente” do

Distrito Federal, encontrava-se com seus cafezais destruídos, seus vastos campos de

criação em agonia, infestada por doenças. A única coisa que talvez destoasse desse

desalento era o desenvolvimento da pequena lavoura. Noronha Santos, escrito no mesmo

ano, é emblemático dessa visão calcada na idéia da decadência. Escrevia ele que em

Guaratiba, que pese o desenvolvimento da pequena lavoura e outras atividades como a

extração de madeira, “sua decadência é sensível devido às secas que têm consumido suas

plantações e importantes cafezais” (Santos 1965).

Já nas três primeiras décadas do século XX a região era vista como importante

centro de abastecimento da então capital federal. Delgado de Carvalho notava que em

Guaratiba, “o mais rico de todos os distritos agrícolas”, mais precisamente na “encosta

ocidental do maciço da Pedra Branca”, havia grandes pomares, plantações extensas de

bananeiras, de laranjeiras e de outras frutas. Segundo o censo de 1920, os distritos rurais

concentravam o maior número de cabeças de gado, tinham maior produção de arroz, feijão,

e outros, eram os únicos que produziam algodão e mamona, e que tinham a segunda maior

produção de café, milho e mandioca (Santos 1965). No entanto, estes mesmos distritos

começavam a ser alcançados pela ação de um mercado de terras orientado por uma lógica

não agrícola. Por ela, as terras comercializadas passavam a combinar usos agrícolas e

urbanos, eram os chamados terrenos de veraneio (Santos 2005).

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Entretanto, as décadas de 30 e 40 testemunharam o desenvolvimento de um evento

que parecia justamente reforçar ainda mais a imagem da zona rural como uma espécie de

celeiro do Distrito Federal: a exemplo do que acontecia na Baixada Fluminense houve

grande disseminação da cultura da laranja por praticamente toda a região. As principais

regiões atingidas pelo “mar de laranjas” foram Campo Grande, Realengo, Santa Cruz,

Guaratiba e em menor escala Jacarepaguá (Musumeci 1987). As obras realizadas pela

Diretoria de Saneamento da Baixada Fluminense (DSBF) nas baixadas de Jacarepaguá e

Sepetiba foram outro importante acontecimento verificado na zona rural nesta época. Junto

com a “febre da laranja”, essas obras ajudaram a consolidar a imagem da zona rural como

uma região de “cinturão verde” capaz de promover o abastecimento quase completo do

Distrito Federal. Mas a importância daquelas obras reside também no fato de ter feito da

zona rural uma área de expansão não apenas para a agricultura. Com os melhoramentos da

DSBF a região estava definitivamente aberta para uma outra expansão, a dos negócios

imobiliários. Estes, por sua vez, eram cada vez mais regidos por uma nova modalidade: a

produção em massa de lotes urbanos (Santos 2005).

Tamanho era o crescimento dos negócios imobiliários na década de 50 que ela

ficaria conhecida como a época da “febre imobiliária” (Abreu 1988). Quarenta por cento

do total de loteamentos feitos durante o século XX nos distritos de Campo Grande,

Guaratiba e Santa Cruz - quase todo o Sertão Carioca - datam da década de 50, quando

ocorre uma significativa redução da área agricultável do Sertão Carioca. A imprensa

noticia o papel exercido pela expansão das loteamentos na retração da agricultura do

Distrito Federal. Mais que isso, a “febre imobiliária” estaria criando uma grave questão

social com a expulsão de centenas de lavradores de suas terras. Desta forma, os antigos

lavradores acabaram por assumir uma nova identidade, a de posseiros, travando uma árdua

luta pelo direito a terra (Pedroza 2003; Santos 2005).

Guaratiba hoje continua mantendo algumas características rurais e reúne ainda parte

da agricultura e floricultura praticada no município do Rio de Janeiro. Abriga trechos

naturais de mata atlântica, manguezais, apicuns e restingas. A pesca e comercialização de

pescados são o esteio de dezenas de famílias da região. Suas características peculiares

bastante diferenciadas de outras regiões da cidade, a coloca como pólo turístico da zona

oeste, com vocação, principalmente, para o turismo ecológico e a gastronomia. Este bairro

abriga três núcleos urbanos – Pedra de Guaratiba, Barra de Guaratiba e Ilha de Guaratiba.

O primeiro abriga o principal núcleo urbano do bairro e tem duas Áreas de Proteção

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Ambiental, uma regulamentada, a APA das Brisas, e outra em processo de regulamentação,

a APA da Serra da Capoeira Grande.

Segundo o Censo 2000 (IBGE 2006), Pedra de Guaratiba possui 2.905 domicílios

com 9.656 moradores, sendo, em média, 3,32 moradores por domicílio. A Fundação Xuxa

Meneguel, localizada em Pedra de Guaratiba, estima que este número seja hoje de 15.000

habitantes (Fundação Xuxa Meneguel 2006). Segundo censo que está sendo realizado pela

Associação de Moradores e Amigos da Capoeira Grande - AMA Capoeira Grande, estima-

se que esta área, que possui trinta e seis ruas não asfaltadas, possua 500 domicílios com

3.000 moradores, sendo uma média de 6 habitantes por domicílio (Associação de

Moradores da Capoeira Grande, comunicação pessoal).

Em relação à meios de transporte, Pedra de Guaratiba é servida por poucas linhas

de ônibus que passam pelo bairro em direção a Santa Cruz e Campo Grande, e na direção

contrária, indo para a Barra da Tijuca e para o Castelo, centro do Rio de Janeiro. Os

transportes mais utilizados em Pedra de Guaratiba são combis e vãs, que aproveitam a falta

de transporte regulamentado e criam uma nova categoria de serviço. Além deste transporte

informal há transporte por moto, também informal, conhecido no bairro como mototaxi. A

Capoeira Grande não é servida por nenhuma linha de ônibus; o transporte mais utilizado é

o mototaxi ou, em alguns horários, combis. Além disso, na localidade existe apenas uma

escola, nenhuma farmácia, sendo a mais próxima, assim como o posto de saúde mais

próximo ficam no centro de Pedra de Guaratiba, relativamente distante para pessoas idosas

e crianças irem à pé, levando em consideração o problema de transporte.

Giovani, Diretor de Coordenadorias da AMA Capoeira Grande, conta como foi

quando começaram a vender os lotes nesta área, e fala do transporte:

“A Capoeira Grande que é mais conhecida como Capoeira Grande por

causa da Serra da Capoeira Grande, que eu sinto um orgulho do meu lugar

ser Capoeira Grande, mas na verdade o nome disso daqui é Jardim

Garrido. Na época que lotearam lá por 1955 eu tive com um prospecto da

época, então eles diziam, eles comentavam ali que era farta condução,

bonde, lotação e ônibus [Figuras 4a,b]. Quer dizer, hoje...bonde já não

existe mais no Rio desde 77, 78 por aí, lotação muito menos e ônibus

escasseou, em Pedra de Guaratiba toda, não é só na Capoeira. O que nós

temos é transporte alternativo, também não temos ruas que possam

transitar ônibus, no prospecto dizia que eram ruas pavimentadas, asfalto,

saneamento básico, água, tudo que falta pra gente”.

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Figura 4a - Prospecto de vendas de lotes no Jardim Garrido em 1955. Capa e contra capa.

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3.1.2. Caracterização dos informantes

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Figura 4b - Prospecto de vendas de lotes no Jardim Garrido em 1955. Interior.

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O bairro de Pedra de Guaratiba atualmente está num processo de transformação, principalmente com a expansão urbana em direção à

zona oeste, com o crescimento do turismo e oferta de novas atividades e produtos. O confronto entre modos de pensar e agir mais comuns ao

meio rural e novas idéias e costumes trazidos com o contato intensificado, nas décadas recentes, com a sociedade mais urbanizada refletem-se

também nas questões ligadas a doença e saúde. Apesar desta expansão ainda se concentrar em outras áreas do bairro, a área da Capoeira

Grande também tem sido alvo destas transformações, com invasões de terrenos e especulação imobiliária. O resultado disso é a reunião de

pessoas de diversas regiões formando uma população mista, que hoje se encontra sob o mesmo contexto histórico, político e cultural. Nas

populações brasileiras esta característica é muito comum. Este fato é corroborado por Renan (1997), “Não existem grupos racialmente puros,

mas populações que esqueceram o fato de serem originárias de uma fusão”. Como já dito anteriormente, esta área ainda, apesar de se localizar

num centro urbano, acumula características rurais e, aliado ao fato de se localizar no entorno de uma Área de Proteção Ambiental, se

diferencia do restante do bairro.

Através da técnica bola de neve, chegou-se aos especialistas locais da comunidade, pessoas indicadas pela associação de moradores e

por outros moradores do bairro, como grandes conhecedores de plantas. Alguns destes especialistas, apesar de participarem de uma entrevista

prévia, onde os objetivos do trabalho foram explanados, não quiseram participar da pesquisa. Este foi o caso de um senhor, indicado por mais

de três pessoas como conhecedor da mata, suas ervas místicas e medicinais. O motivo para esta decisão foi certa insegurança, pois ficou

preocupado com as perguntas que lhe seriam feitas e, para onde seria levado seu conhecimento. Este caso faz pensar que, talvez, esta pessoa

possa ter sofrido algum tipo de preconceito relacionado com seu conhecimento sobre as plantas. Isto poderia explicar seu “medo” em falar

sobre este assunto para pessoas de fora da comunidade. Outro motivo pode ser o fato da pessoa interessada estar no papel de pesquisadora,

fazer parte de um instituto de pesquisas. Este rótulo muitas vezes atrapalha as pesquisas, principalmente quando a comunidade já possui uma

experiência não muito boa com pesquisadores, como relatado por Edwards et al. (2005).

Concordaram em participar mais de dez especialistas locais, no entanto, decidiu-se realizar o trabalho com dez deles, quatro mulheres e

seis homens. Na comunidade os homens indicados como especialistas locais foram maioria o que contraria alguns trabalhos, pois na maior

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parte das vezes, as pessoas que mais têm intimidade com as plantas, especialmente em quintais, são as mulheres (Ceccolini 2002; Blanckaert

et al. 2004; Oakley 2004; Silva, 2004; Silva & Ribeiro 2004).

A idade varia entre 40 e 77 anos, sendo que apenas dois estão na faixa dos 40 anos, e os outros têm mais de 53 anos, confirmando a

informação de que normalmente as pessoas que conhecem as plantas são as mais velhas (Ribeiro 1996; Amorozo & Gely 1988; Begossi et al.

1993; Boscolo 2003;). Em relação ao nível de escolaridade, dois informantes não tiveram ensino formal, cinco cursaram o ensino

fundamental, dois o ensino médio e uma o ensino superior (Tabela 2). Amorozo (2002), Pinto et al. 2006 e Hanazaki et al. 2006 obteveram

resultados semelhantes em relação à idade em trabalho realizado com populações rurais no Mato Grosso, onde os entrevistados tinham idade

acima de 50 anos. No entanto, os resultados do presente trabalho diferem dos anteriores no que diz respeito ao grau de escolaridade. Em

Amorozo (2002) os informantes não ultrapassam as quatro primeiras séries do primeiro grau e 24% não têm nenhuma escolaridade ou são

analfabetos funcionais. Em Pinto et al. (2006) 42% dos informantes não tiveram ensino formal e 54% não completaram o ensino médio. No

presente trabalho encontrou-se dois informantes com ensino médio e um informante com nível superior. Este fato é interessante, pois mostra

que o nível de escolaridade não segrega os moradores conhecedores de plantas medicinais.

Grande parte dos informantes está ou esteve durante a maior parte de sua vida, ligada a atividades agrícolas. O mesmo foi encontrado

por Amorozo (2002), Pinto et al. 2006 e Hanazaki et al. 2006.

O tempo de moradia na comunidade variou muito. Apesar de alguns deles morarem há pouco tempo neste local, conhecem muito de

sua história e principalmente a APA e as plantas, pois residiam anteriormente em bairros próximos. Este é o caso do informante Antônio que

apesar de residir na Capoeira Grande há apenas três anos, morou desde os nove anos de idade num bairro próximo, e devido ao contato que

sempre teve com a área, a conhece muito. Portanto, o tempo de residência na comunidade não foi pré-requisito para a escolha dos informantes

e variou entre três e 48 anos (Tabela 2).

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Alguns informantes, devido à idade avançada, têm problemas de saúde. Por este motivo, muitos deles não puderam ir à campo. Um

exemplo disso é o caso de algumas pessoas conhecerem a APA, por já terem feito uso das plantas no passado, mas não terem condições de ir

até lá para coletar plantas.

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Tabela 2. Informantes e respectivas idades, níveis de escolaridade e tempo deresidência na comunidade da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro.

Informante Idade Nível deescolaridade

Tempo deresidência na

Capoeira GrandeDona Antônia 77 Ensino

fundamental+14 anos

Seu Manoel 68 Não teve ensinoformal

Mais de 30 anos

Dona Zelinda 68 Ensino superior 10 anosSeu Antônio 66 Ensino fundamental 48 anosSeu Joaquim 64 Não teve ensino

formal8 anos

Dona Cremilda 59 Ensino fundamentalincompleto

20 anos

Dona Lúcia 54 Ensino fundamental 27 anosGiovani 53 Ensino médio 25 anosAntônio 41 Ensino fundamental

incompleto3 anos

Fábio 40 Ensino médio 10 anos+ Refere-se ao ensino de primeira a oitava série.

3.1.2.1. Relação com o ambiente e com as plantas, e a transmissão do

conhecimentoInicia-se este tópico com uma frase retirada de Boscolo (2003), se referindo ao

fato de que o conhecimento sobre as plantas está geralmente com os mais idosos: isso

ocorre “talvez porque essas gerações viveram em outras condições, em áreas rurais,

distantes de qualquer assistência médica e farmacêutica e mais próximos à natureza, o

que tornava mais fácil de achar a planta perto de casa ou plantada em seu quintal”. Essa

ainda é a realidade na comunidade da Capoeira Grande. Além das pessoas ainda terem

uma convivência próxima com a natureza, e este ser um dos motivos da expansão em

direção a esta área, estão também distantes de uma assistência médica eficaz. Porém, os

informantes já sentem falta de algumas plantas que, devido ao processo de loteamento e

transformações no bairro não são mais encontradas:

“Dava muito na areia [cânfora] agora não existe [...] mas esse nãotinha pra ninguém, ele curava tudo. Ele dava rasteiro pela areia[...]acabou com minha sinusite”.

Dona Lúcia

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“A folha dela é um santo remédio, erva-de-bicho, pra coceira né.Essa sumiu tudo depois que o home aterro [dono do terreno que elecuida], só dá em brejo”.

“Seu” Manoel

“Tinha outro aí [assapeixe] também que era muito bom mas acabouporque o homem aterrou”.

“Seu” Manoel

Mesmo com modo de vida ainda predominantemente rural a comunidade do

entorno da APA da Serra da Capoeira Grande, com a chegada do “progresso”, e a

“melhora” do sistema de saúde (entre aspas, pois esta melhora é em relação a alguns

anos atrás, quando eles precisavam se deslocar para o Campo Grande, Santa Cruz ou

centro do Rio para ter acesso à postos de saúde), aliada ao aparente desinteresse em

relação ao aprendizado sobre as plantas por parte dos mais jovens, as pessoas tendem

cada vez mais a depender dos postos de saúde e dos remédios que eles, por vezes,

oferecem. Na área em estudo, encontramos pessoas que praticam os antigos costumes e

entendem como este aprendizado pode ser útil no atendimento primário à saúde,

expressando a vontade que têm que as pessoas voltem a se interessar e continuem a

praticá-los, como é o caso de Seu Manoel.

“As pessoas não sabem o que eles recebem de bom. Não é verdade?Aí cê fala pra uma pessoa, vamos dizer assim, que é ingnorante, quevocê entrou ali dentro [na Capoeira Grande] você já fica bem já sesente bem, porque ele não sabe o que é a natureza. Aqui a pessoaconsegue viver um pouco, dentro do mato, porque aqui cê só recebecoisas boas [...]. Muitas pessoas num sabe disso né, fala até que agente é ingnorante”.

“Capim-limão com erva-cidreira misturada, é gostoso, te faz bem.Mas tem gente que diz “ aaahh...isso aí num vale nada não, eu vou éali na farmácia”, vai lá...não vou dizer que a pessoa não vai nafarmácia né, cada um tem um jeito né, não vou obrigar ela a seguir oque eu sigo né”.

“Seu” Manoel

Através destes comentários fica exposto a valorização deste conhecimento pelos

informantes e a vontade que eles têm de que as pessoas reconheçam o valor das plantas

para a saúde. No entanto, existe uma dificuldade de transmitirem seu conhecimento, e

em alguns casos percebe-se até uma desistência para cumprir este papel. Este trabalho

não abordou o conhecimento dos mais jovens, no entanto, segundo os informantes, os

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mais jovens não têm interesse em ouvir suas histórias, ou aprender sobre as plantas.

Geralmente procuram estas pessoas pedindo uma planta pra tratar algum mal, mas não

se interessam por tê-la em casa, nem sobre o uso de outras plantas.

“ Já fui muito, já fui muito, [procurada por pessoas pra pedir plantasou remédios] mas de alguns anos pra cá eu me lacrei aqui dentro”.

Dona Lucia

“...mas a noitezinha o pessoal vai ali fora, nossa mãe do céu, é umagarotada, uma meninada, não tem nada, cê não aproveita nada, cê vêsó imundiça, é...só imundiça...é um ambiente que só serve pra elesné? [...] Aí as pessoas começa a me dizer assim: aaahh rapaz, cê numta gostando porque cê é do tempo antigo...eles fala...brincando elesfala [...]. Eu até dou razão a eles, porque a minha criação era umacivilidade muito muito bonita, muita bonita mesmo, era muitobrilhante, a educação da gente com os outros, respeito, então hoje emdia hoje não tem mais nada disso”.

“Seu” Manoel falando docomportamento dos jovens de hoje naCapoeira Grande.

“Pessoas da minha faixa de idade que já tiveram algum contato complanta que já ouviram, ainda tem algum interesse, mas o pessoal maisjovem...basta te dizer que esta menina aqui que a mãe tinha umconhecimento grande, a filha nunca se interessou [falando de DonaMaria, uma senhora que todos dizem que conhecia muito as plantasmedicinais, que faleceu e a filha nunca se interessou peloconhecimento da mãe]”.

Dona Zelinda

Apesar da maioria dos comentários acenarem para o fato de que os jovens não se

interessam pelo conhecimento dos mais velhos, uma das informantes teve uma

experiência diferente:

“Tava até falando pro meus filhos, tem que catá [plantas] né, porquea pessoa chega na maioridade e não entende nada, aí vai descartandotudo, ah esse é mato [...] Não, não se interessam, não queremaprender. Se interessam não. A mais velha se interessa, a única, osoutros mais ninguém. Ela pergunta, ela faz também, ela pega a erva,ela conhece. Ela se interessa muito muito mesmo”.

Dona Cremilda falando sobre a tentativade ensinar aos filhos sobre a importânciadas plantas.

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Segundo Amorozo (2002), a “modernização” traz consigo novas opções de

cuidados com a saúde, e uma certa desvalorização da cultura local, à qual os jovens são

o grupo mais sensível, reforçando a tendência à perda ou abandono das práticas

tradicionais. Pode-se dizer que na comunidade da Capoeira Grande, além de alguns dos

mais velhos terem se decepcionado com os mais jovens, outros parecem não terem mais

oportunidades de transmitir seu conhecimento. Segundo Amorozo (1996), o

conhecimento em comunidades locais - o saber - aparece sempre ligado ao seu aspecto

prático - o fazer - ou seja, os saberes estão interligados a uma vivência, a uma

interferência real no ambiente que a comunidade ocupa, sendo muitas vezes esta ação o

fator de origem e surgimento de novos saberes. Desta forma, o saber local sofre

mudanças espaço-temporais e possui um modo de transmissão essencialmente oral e

gestual que se comunica através da família e da vizinhança.

Na Capoeira Grande os jovens parecem não demonstrar mais interesse em

aprender. Desta forma, os mais velhos têm poucas oportunidades de contar suas

histórias – o saber, coletar e preparar as plantas – o fazer. Este contato está muito

fragilizado atualmente e parece haver um rompimento de elos importantes nesta

corrente de transmissão do conhecimento. Para Amorozo (1996), não existe

discriminação entre saber teórico e prático, sendo ambos adquiridos ao mesmo tempo,

na medida em que as crianças participam das tarefas cotidianas da comunidade e

absorvem aos poucos explicações verbais e codificações sobre elas, enquanto aprendem

a fazê-las. O que se sabe deve ter sempre um objetivo e resultado prático.

Além disso, o problema é acentuado com a fragmentação e transformação da

paisagem. A pressão da urbanização acelerada somada a especulação imobiliária que

vem crescendo no local acaba por romper os elos interpessoais dentro da comunidade.

Não só dos mais velhos com os jovens, mas entre eles mesmos, acabando por afastar

famílias e amigos, grupos sociais onde o conhecimento era repassado. O papel do

narrador é delegado principalmente ao idoso, que tem o dom do conselho e seu talento

de narrar vem da experiência, como afirma Bosi (1979). Benjamim (1985) afirma que

“[...] a arte de narrar está em vias de extinção”. Este autor quando aborda o papel do

narrador afirma que a mudança social causa a perda do elo com o passado. A sociedade

industrial está provocando a perda desta tradição, da arte de narrar e de ouvir. E hoje as

comunidades que antes conseguiam manter esta tradição estão sendo ameaçadas pelo

crescimento da urbanização. O que vem acontecendo na Capoeira Grande é que os

informantes, na maioria idosos, por serem pouco ouvidos, têm pouca oportunidade de

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passar a sua sabedoria adquirida ao longo dos anos. Desta forma, a mudança espacial,

dos lugares de convivência de alguns grupos, e a saída de outros prejudica o contato

entre as pessoas da mesma geração e de diferentes gerações.

Quando acontece de alguém se interessar por suas histórias, elas correm o risco

de estarem já fragmentadas pelo tempo. Um exemplo disso neste trabalho aconteceu

com a planta Physalis angulata (Camapú). Um dos informantes reconheceu a planta,

sabia que era utilizada para fazer remédio, mas não tinha segurança no nome nem para

qual finalidade era utilizada e o modo de preparo. Neste trabalho este foi um caso

isolado; no entanto, em relação à dosagem das plantas isso aconteceu muitas vezes.

Esta fragmentação, portanto, pode ter então algumas causas possíveis, às quais o

pesquisador deve estar atento para não fazer falsas inferências: uma delas é o fato de

realmente não se lembrarem porque perderam o contato com a planta, ou seja, esta não é

mais encontrada nos arredores; outra é o que já foi dito anteriormente, ainda têm contato

com a planta, mas não têm oportunidade de ensinar sobre sua utilidade; e por fim o fato

de, como explicado por Amorozo (2002), a tradição da transmissão do conhecimento

sempre ter sido ligada à prática, à vivência. O fato de se estar conversando (em uma

entrevista ou informalmente), e o informante não estar vivendo sua rotina, preparando o

remédio, ensinando na prática, e em alguns casos nem vendo a planta, pode funcionar

como um bloqueio de sua lembrança. Além disso, pode ser que estes fatores atuem em

conjunto.

Frases como: “Ah, é só fazer um chazinho, é só ferver a erva” relacionadas à

falta de um modo claro de preparo, ou “Não tem problema não, pode tomar a vontade”,

ou “Pode tomar quando tiver sede”, relacionadas à falta de preocupação com a dosagem

são comuns de serem ouvidas. Por outro lado, observa-se também na Capoeira Grande

uma série de formas de preparo de ervas detalhadas e complexas. Isso será abordado no

tópico “Formas de Preparo de remédios caseiros na Capoeira Grande”.

3.2. Plantas utilizadas e suas indicaçõesO conhecimento das plantas medicinais é geralmente familiar e passado a outras

gerações oralmente. No entanto, a Capoeira Grande possui atualmente influências “de

fora” que foram observadas, como é o caso dos nomes populares. O informante seu

Joaquim, mora há oito anos na comunidade mas veio do Estado de Minas Gerais,

citando muitas plantas utilizadas lá e com seus nomes locais, como quina-cruzeiro,

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buta-preta, cana-de-macaco (outro nome para cana-do-brejo), poejinho-do-brejo, etc.

(Tabela 3). Esta variação pode causar alguns equívocos no uso das plantas em regiões

onde pessoas de diferentes lugares convivem, principalmente através da troca de

indicações e modos de preparo entre vizinhos, se estes não apresentam a planta.

Entretanto, este informante mostrou muitas vezes que tem conhecimento sobre os

diferentes nomes comuns regionais para a mesma espécie.

“Brincava quando criança de fazer guizadinho com a planta, e a vóchamava de língua-de-vaca, em Juiz de Fora, mas aqui se chamamaria- gorda e língua-de-vaca é outra coisa. A maravilha, eu tenhouma amiga do Ceará que disse que lá chama bonina, a mesmaplanta”.

Dona Zelinda

“A única que tem aqui é cana-de-macaco, conhece? [...] É, igual, é amesma coisa, em Minas chama cana-da-macaco e aqui chama cana-do-brejo. Muito bom esse aí”.

“Seu” Joaquim

De modo geral, os informantes demonstraram conhecer os perigos de algumas

plantas e seus efeitos colaterais. Entretanto encontrou-se também situações opostas onde

a frase “se é natural, mal não faz” apareceu algumas vezes. Alguns informantes não

reconhecem os efeitos tóxicos das plantas. Frases como “Não tem problema, se não

fizer bem, mal não vai fazer” ou “Não, a planta só faz bem, não nada a ver não esse

negócio de fazer mal” também foram comuns de serem ouvidas.

“Tem uma variedade de plantas que não são venenos, mas ela passaa ser, se por exemplo uma mulher gestante tomar”.

Antônio

“Uma coisa que eu acho mais complicada no uso da planta é adosagem, porque as vezes a planta até um certo limite é benéfica,depois ela passa a ser tóxica. As vezes você compra aquela erva ali eali não tem nenhuma indicação de quanto que usa. Você lembra umaépoca que falaram tanto em confrei, e depois passado algum tempoque todo mundo tava com mania de tomar confrei eu também ouviuma entrevista dizendo que fazia mal.”

Dona Zelinda

“[...] mas mulher grávida não pode tomar um chá de cidreira assimmuito forte, senão pode abortar né, pode tomar assim um golinho decoisa fraco né”.

Dona Antônia

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“Você coloca num litro d´água uma folhinha de cana-do-brejo, umafolhinha de abacateiro, faz um chazinho num litro d´água e toma duasvezes ao dia só. Nunca durante a noite, ele é diurético. Se você nãoseguir e usar mais de duas vezes por dia, pode dar um balanço na suapressão. Por que tudo que você usa que é diurético vai mexer com apressão”.

Dona Lúcia

“ Isso aí [falando da erva-de-santa-maria] a pessoa pode fazer usotodo dia que não faz mal, só faz bem![...] O chá não tem muitocontrole não, eu faço tomo um copo, dois, mas se fizer ela de modo aespremer só o sumo não dá pra tomar um copo não. É muita reação,a ação dele é muito forte. Eu abusei aí um dia, fui fazer um copoduplo, fui obrigado a sentar e dar um tempo [...] Tive que sentar,fiquei tonto, aquilo correu o corpo assim, fiquei tonto, aí tive quediminuir a dose. Aí eu tomo assim pouco agora. O chá não, podetomar um dois copo. Mas o sumo se tomar já sabe que vai ter reação.Principalmente de noite. É...ele é danado. Essas coisas a gente nãoprecisa ficar doente pra tomar não. O chá é bom. Mas eu até gosteide sentir a reação, é, foi bom”.

Seu Manoel

Porém, nem sempre são entendidos os efeitos ‘colaterais’ ou ‘tóxicos’ das

plantas. Na fala acima nota-se que quando se perguntou se a planta fazia mal ou era

tóxica ele disse que não, que pode tomar que ela só faz bem. Mas depois diz que o sumo

faz “...muita reação, a ação dele é muito forte”, ele “é danado”. Ele sabe que o sumo é

mais concentrado, no entanto não acredita que a planta realmente faça mal, que ela é

tóxica, mas sim que ela é muito boa, que o efeito dela está ligado à quantidade que se

usa. Ou seja, a planta não prejudica, ele é que, num determinado momento, não a usou

corretamente. Esta percepção do “fazer mal”, “da reação” que a planta causa é

compartilhada por outros informantes. No entanto, até o momento, não se encontrou

referência na literatura que discuta esta percepção.

“Isso aí Rubia depende muito da necessidade, que ele tiver passandoné, sofrendo, uma dor. É, o certo é esse. Quando tiver precisando,porque do contrário pode até fazer mal a ele, é verdade. Me atrapaio,eu tava bem e fiquei mal. Isso que eu falo pra você, não dá certo, foimais uma que eu aprendi. Eu tomei tava bom, aí depois piorou tudo.Eu senti tonteira, ele é muito forte. Só é bom quando você taprecisando. Já sei o que eu to precisando, vou lá pego faço um chá etomo. Aí fico tranqüilo”.

“Seu” Manoel

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“Tem que dizer uma coisa, a erva faz muito bem a saúde, ah erva fazmal? Não, erva não faz mal, depende do jeito que você usar ela.”

Dona Cremilda

Matos (1989) ressalta os riscos da utilização indiscriminada de plantas

medicinais. Dentre os principais riscos estão o desconhecimento da toxicidade e a

utilização de plantas que contenham substâncias tóxicas de ação retardada. Drew &

Myers (1997) relatam a dificuldade que os profissionais da área da saúde têm para

identificar uma intoxicação por uso de plantas devido à falta de informações disponíveis

na literatura, e alertam para a importância de se registrar estes efeitos adversos.

Matos (op cit.) também ressalta os problemas que podem ocorrer com o uso de

plantas mofadas por terem sido mal preparadas e mantidas em recipientes e locais

impróprios, o uso das plantas indicadas ou adquiridas erroneamente e com plantas

adquiridas secas ou compradas em feiras. No entanto, estes não são problemas no caso

da comunidade em estudo, pois eles raramente compram plantas secas, justamente por

não confiarem no que tem dentro dos pacotes:

“Raramente eu compro. Na verdade eu prefiro colher, porque eu seiquando estou colhendo, dá pra confiar mais porque estes pacotinhosvocê nem sabe quando foi empacotado e ali você nem identifica aerva, quer dizer, pode ser qualquer mato aí”.

Dona Zelinda

“Eu não gosto muito de comprar porque geralmente quando vocêcompra é seca e eu não sei, as vezes já vem muito seca e vem todaquebrada, quase pó e eu não sei se aquilo é mesmo verdade ou não,eu prefiro apanhar”.

Giovani

Fato importante também, e que nas falas abaixo se expressa bem, é a

constante preocupação com a limpeza das ervas por parte de todos os

informantes:

“[...] outra coisa, as ervas tem que ser muito bem lavadas, passabicho, tem poeira, aqui tem muita poeira”.

Dona Cremilda

“[...] não pode ser ervas danificadas, com fungos ou picotadas deinsetos. Não. Ela tem que estar intacta, o fruto também”.

Dona Lucia

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Eles também raramente secam as plantas para estocarem, a utilização é sempre

realizada com a planta fresca, colhida no momento de fazer o preparado, com exceção

de Dona Zelinda que gosta de ter à disposição algumas plantas secas (Fig. 13G):

“Agora mesmo quando sair daqui vou levar umas folhas de capimlimão pra casa, pra fazer um chá pra mim tomar de noite, não tosentindo nada mas eu gosto de vez em quando tomar um chá né, eusei que é bom, eu sinto que é bom...é bom, pra mim é bom”.

“Seu” Manoel

Observamos que a maiorias das plantas de uso medicinal e místico citadas pelos

informantes da Capoeira Grande são de plena concordância entre eles e de uso

consagrado pela população brasileira. São exemplos disso o alho, a babosa, o capim-

limão e a erva-cidreira.

Foram identificadas 114 espécies pertencentes a 42 famílias. Destas famílias,

45% (19) são representadas por apenas uma espécie. As que apresentaram o maior

número de espécies foram Lamiaceae (13), Asteraceae (9), Solanaceae (6),

Leguminosae (6), Euphorbiaceae (5), Brassicaceae (5), Rutaceae (5) e Myrtaceae (5)

(Tabela 3). Asteraceae, Lamiaceae e Solanaceae estão também entre as famílias com

maior número de espécies citadas em diversos trabalhos, como Vargas & Rios (1990),

Waizel (1990), Stalcup (2000), Schardong & Cervi (2000), Di Stasi et al. (2002),

Medeiros et al. (2004) (Tabela 3). Segundo Schardong & Cervi (2000), a

representatividade da família Asteraceae se deve ao fato desta família apresentar um

grande número de espécies medicinais popularmente difundidas e, além disso, a maioria

delas são espécies ruderais de fácil acesso, podendo-se dizer o mesmo da família

Lamiacae.

A representatividade da família Solanaceae num primeiro momento pode ser

preocupante, pois as espécies do gênero Solanum, citadas pelos informantes, são

portadoras de um alcalóide, a solanina que, embora em sua forma natural não seja bem

absorvida, produz por hidrólise subseqüente à sua ingestão uma outra substância, esta

absorvível e responsável pelos fenômenos de intoxicação (Parente & Rosa 2001). No

entanto, nota-se na Tabela 3, que apenas uma espécie de Solanum (jurubeba) tem uso de

forma oral.

As espécies mais citadas são erva-cidreira (Lippia alba) e capim-limão

(Cymbopogon citratus), por 7 informantes; aroeira (Schinus terebinthifolius) citadas por

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6 informantes; cajueiro (Anacardium occidentale) e erva-de-santa-maria (Chenopodium

ambrosioides), por 4 informantes; saião (Kalanchoe brasiliensis), picão (Bidens pilosa),

boldo (Plectranthus grandis), pitanga (Eugenia uniflora), erva-de-passarinho

(Struthanthus marginatus), eucalipto (Eucalyptus citriodora), colônia (Alpinia

zerumbet), laranja-da-terra (Citrus aurantium), assapeixe (Vernonia cognata) e ipê-roxo

(Tabebuia impetiginosa), todos citadas por 4 dos 10 informantes (Tabela 7). A colônia,

além de medicinal, é também utilizada como mística em banhos de descarrego (Tabela

4).

As espécies Lippia alba, Cymbopogon citratus e Chenopodium ambrosioides

também foram as mais citadas em Schardong & Cervi (2000) em Campo Grande, MS. E

as espécies Chenopodium ambrosioides, Alpinia zerumbet, Cymbopogon citratus foram

as mais citadas em Medeiros et al. (2004) na Reserva Rio das Pedras em Mangaratiba,

RJ. Di Stasi et al. (2002) também encontraram como mais citadas as espécies

Cymbopogon citratus, Lippia alba e Vernonia cognata, no Vale do Ribeira, SP.

Roveratti (1998) em sua análise comparativa de espécies medicinais utilizadas

em diferentes regiões do Brasil, refere-se a cinco espécies como sendo as de maior

freqüência em todos os levantamentos, dentre elas se encontram Cymbopogon citratus e

Vernonia condensata. Este mesmo autor ressalta o regionalismo relacionado à utilização

de Chenopodium ambrosioides, citada em 70% dos levantamentos realizados nas

comunidades das regiões Norte e Nordeste, enquanto que nos Estados do Sul e Sudeste

notou ser uma espécie pouco utilizada. Este fato não foi observado no presente trabalho,

já que 50% dos informantes a utilizam e a incentivam em seus quintais, já que é uma

espécie espontânea na região.

Chama atenção a utilização de espécies alimentícias com finalidades medicinais

pelos informantes. Além das frutas, encontrou-se no presente estudo alho (Allium

sativum), cebola (Allium cepa), serralha (Sonchus oleraceus), couve (Brassica

oleracea), agrião (Nasturtium officinale), abóbora (Cucurbita sp.), chuchu (Sechium

edule), quiabo (Abelmoschus esculentus), cana (Saccharum officinale), milho (Zea

mays), jiló (Solanum gilo) e tomate (Solanum lycopersicum), todas com uso medicinal.

Bennett & Prance (2000) afirmam que a dicotomia entre alimento e remédio é em

grande parte ausente entre populações indígenas e rurais. Segundo eles, no norte da

América do Sul as mais importantes plantas alimentícias introduzidas são avaliadas

também como medicinais.

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Para todas as plantas empregadas, os informantes citaram 238 vezes as

partes/estruturas em diferentes preparações. As folhas foram as mais citadas, 166

citações (70 %); seguidas de casca, com 20 citações (8%); planta inteira com 10

citações (4%); sementes com 8 citações (3%); frutos, flores e “outros” com 7 citações

cada (3%); raiz e mucilagem com 5 citações cada (2%). Como “outros” incluiram-se as

partes utilizadas com duas ou menos citações. Nesta categoria incluem-se: pau de

canela, dentes de alho, casca de frutos com 2 citações cada um; látex com 1 citação. O

que é aqui denominado mucilagem é referente à babosa (Aloe vera), uma única planta

com representatividade de 2% (Fig. 5).

Foram citadas dez formas de preparo das espécies utilizadas. A decocção é a

forma mais utilizada com 133 citações (57,3 %), seguida de infusão com 27 citações

(11,7 %), ao natural com 17 citações (7,4 %), cataplasma com 15 citações (6,5 %),

sumo com 13 citações (5,7 %). Menos representativas foram as formas de xarope e

garrafada com 9 citações cada uma (3,9 %) e as formar classificadas como “outros” com

7 citações (3 %). A categoria “outros” inclui as formas menos representadas, com três

ou menos citações: defumação (1), pó (2), inalação (3), supositório (1) (Fig. 6).

Garrafada, neste trabalho, se refere à deixar as plantas imersas em álcool por alguns dias

em um recipiente de vidro e utilizar o álcool resultante da imersão topicamente (7), ou

ainda pingar gotas deste álcool em água para beber (1). Também se inclui em garrafada

deixar cascas imersas em água por alguns dias na geladeira, para beber a água depois

(1). A forma de preparo ao natural refere-se ao uso da planta em sucos, consumo de

frutos ou na alimentação. A maior utilização das folhas e como forma de preparo a

decocção é reportada em vários trabalhos, Coe & Anderson (1999) na Nicarágua,

Ribeiro (1996), Stalcup (2000), Medeiros et al. (2004) e Pilla et al. (2006), na região

Sudeste do Brasil; Amorozo (2002) no Mato Grosso e Pinto et al. (2006) na Bahia. A

maior utilização das folhas é um caráter de conservação do recurso vegetal, pois não

impede o desenvolvimento e a reprodução da planta, se a retirada da parte aérea não for

excessiva (Martin 1995).

Há grande número de citações de plantas associadas a práticas místicas ou

mágico-religiosas, utilizadas na forma de banhos, na maioria, “banhos de descarrego”.

Isto se dá devido à influência de religiões de matriz africana como a Umbanda e o

Candomblé na área de estudo, e também da tradição das rezadeiras. Este assunto será

abordado no tópico “As plantas nas crenças e religião: influências observadas na

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Capoeira Grande”. Esta informação não aparece na Figura 6 por se tratar o banho de

uma forma de administração.

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3%

2%

3%

3%

4%

3%

8%

2%

70%

FolhasFloresCascaFrutoMucilagemRaizPlanta inteiraSem entesOutros

Figura 5. Partes das plantas empregadas na preparação de remédios caseiros ou de uso

místico, na comunidade do entorno da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba,

Rio de Janeiro, RJ.

05

1015202530354045505560(%)

Decocção

Infusão

Ao natural

Cataplasm a

Sum o

Xarope

Garrafadas

Outros

Figura 6. Formas de emprego nas preparações de remédios caseiros, ou místicas na

comunidade do entorno da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de

Janeiro, RJ.

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Tabela 3. Lista de espécies medicinais e místicas citadas por moradores do entorno da

Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ (me. medicinal, mi.

mística, fo. folha, fl. flor, pl. planta inteira, muc. mucilagem, ra. raiz, cas. casca, sem.

sementes, fr. fruto, cas/fr. casca do fruto, br/fo. broto das folhas; E. espontânea; C.

cultivada; 1. comprada; 2. entorno do bairro; 3. APA da Serra da Capoeira grande; 4.

entorno da APA; 5. quintal).

Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

ALISMATACEAE

Echinodorus grandiflorus

(Cham. & Schltdl.) Micheli

(chapéu-de-couro)

me rins; reumatismo; torcecolo fodecocção

cataplasma

2

(alagados)E

ALLIACEAE

Allium cepa L.

(cebola)me má digestão: "arrotando azedo". cas decocção 1

Allium sativum L.

(alho, alho-roxo)

me/

mi

resfriado e tosse; banho de

descarrego“dentes”

decocção

infusão

banho

xarope

1

AMARANTHACEAE

Chenopodium ambrosioides L.

(erva-da-santa-maria)me

calmante; contra vermes; para

tuberculose; contra pulgas; dores

de cabeça; dores no peito;

pancadas; destroncados; cabelos

fo

sem

sumo

ao natural

cataplasma

sumo: um copo por dia,

em jejum, fdecocto -

dois copos

5 E

ANACARDIACEAE

Anacardium occidentale L.

(cajueiro, cajueiro-roxo)me

cicatrizante; hemorroidas;

diabetes; afordisíaco; inflamação

vaginal, inflamação no útero.

cas/fr

decocção

banho

infusão

ao natural

Toma durante o dia todo;

faz o banho até curar.5 E

Mangifera indica L.

(mangueira)me bronquite asmática cas/fr xarope

2, 3 vezes ao dia, "2

dedinhos"5 E

Schinus terebinthifolius Raddi

(aroeira, aroeira-vermelha,

aroeira-banca)

me/

mi

inchaço, irisipela; limpa o

sangue: coceiras; hemorroidas,

estômago; antiinflamatório,

cicatrizante, pra machucado

infeccionado. Reposição

hormonal - menopausa.

Inflamação vaginal; sangramento

na gengiva; pulmão: gripe e tosse

cas

fo

sem

decocção

banho

xarope

2,3 E

Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

38

Cont. Tabela 3...

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ANNONACEAE

Annona muricata L.

(graviola)me diabetes

fr

foInfusão 5 C

APIACEAE

Pimpinella anisum L.

(erva-doce)

me/

mi

irritação das mucosas; calmante;

gases; pra rezar criançasem

infusão

decocção5 C

ARACEAE

Pistia stratiotes L.

(erva-de-santa-luzia)me/

mi

“lavar as vistas” no candomblé,

problemas de visãofo banho 5 C

ASTERACEAE

Acanthospermum hispidum DC.

(amor-do-campo, carrapichinho-

do-campo,carrapichinho)me urina presa (diurético) pl decocção 2,4 E

Ageratum conyzoides L.

(erva-de-são-joão, catinga-de-

bode)me

antidepressivo; problemas renais;

abortiva; circulaçãofo

infusão

decocção5 E

Arnica montana L.

(arnica-montana)

(da farmácia)

mecólicas, gases, diarréia e

estômagofl

tintura

alcoólica

30 gotas em 1 copo de

água 1

Baccharis dracunculifolia DC.

(alecrim-do-campo, alecrim-do-

mato)

me/

mi

afasta proga; utilizado pra fazer

própolis verde; antibiótico

natural; afasta “o mal” de casa.

fodecocção

defumação

quando está em crise2, 3, 5 E

Bidens pilosa L.

(picão)

me/

mi?

hepatoprotetor, problemas renais;

hepatite; cirrose

fo

pl

(exceto

ra)

decocção

banho 5,2,4 E

Eupatorium maximiliani Schrad.

ex DC.

(arnica, arnica-do-campo)

meinchaços; torçoes, quebraduras;

reumatismofo

decocção -

banho

garrafada

sumo

2,4,5 E

Mikania laevigata Sch.Bip. ex

Baker

(guaco)

me tosse fo

xarope

decocto3 xícaras (ou 3 copos

americanos) por dia 5 C

Solidago microglossa DC.

(arnica)me

reumatismo; dores de contusão e

de coluna

fo

flgarrafada 5 E

39

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Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

ASTERACEAE (cont.)

Sonchus oleraceus L.

(serralha)me

depurativo do sangue: para

vitiligofo

decocção

salada

refogada

2,4,5 E

Vernonia cognata Less.

(assapeixe, assapeixe-roxo)me

pneumonia, para os bronquios;

pulmão, tossefo

decocção

sumo

xarope

4,5 E

BIGNONIACEAE

Jacaranda puberula Cham.

(carobinha)me

Infecções de pele: sangue ruim,

coceira, irritação.

Antiinflamatório, pra banhar

machucados

fo

decocção

banho

infusão

vinho

Vinho e chá: 2 vezes por

dia2,3 E

Sparattosperma leucanthum

(Vell.)Schum.

(cinco-folhas, cinco-chagas,

trevo-de-cinco-folhas, sete-

chagas)

me antiinflamatório; erisipela fodecoção

banho

3 xícaras (ou 3 copos

americanos) por dia 3 E

Tabebuia impetiginosa ( Mart.ex

DC.) Standl.

(ipê)

mefortalece o sistema imunológico;

hepatite; depurativo do sangue;

cancer

fo

casdecocção 3 E

BORAGINACEAE

Cordia verbenacea DC.

(erva-baleeira)me

estimula o sistema imunológico;

antibiótico naturalfo decocção

3 xícaras (ou 3 copos

americanos) por dia 2,4,5 E

Symphytum officinale L.

(confrei)

me para os cabelos fo xampu 5 C

BRASSICACEAE

Brassica oleracea L.

(couve)me estômago:úlcera fo ao natural 1

Cleome aculeata L.

(erva-de-macaco)

me para dores nas costas pl garrafada 5 E

Cleome diffusa Banks ex DC.

(erva-gambá) me para dores musculares,

principalmente nas costas

pl garrafadaUsa-se quando se sente

dor.5 E

Lepidium pseudo-didymus Thell.

ex Druce

(mastruço)

me pnemonia: para os bronquios fo decocção 5 C

40

Cont. Tabela 3...

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Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

BRASSICACEAE (cont.)

Lepidium virginicum L.

(vassourinha-de-pulga) me contra pulgas pl

esfregar no

cachorro ou

varrer o

terreno

5 E

Lepidium cf.ruderale L.

(agrião-do-mato)me pneumonia fo ao natural

comer as folhas como

salada

2,4 E

Nasturtium officinale R.Br.

(agrião) me pulmão; tosse, gripe foao natural

sumo

xarope

1

CARICACEAE

Carica papaya. L.

(mamão-macho)me Gripe; tira manchas de roupa

fl

fo

decocção

ao natural5 C

CLUSIACEAE

Garcinia cola Heckel

(orobô)mi

sem

"fava"banho 1

COSTACEAE

Costus spicatus (Jacq.) Sw.

(cana-do-brejo, cana-de-macaco)

me/

mi

infecção renal; cistite - diurético;

folha de Nanãfo

infusão

decocção2 vezes ao dia

2,5

(alagados)E

CRASSULACEAE

Kalanchoe brasiliensis Cambess.

(saião)me

contusão;pulmão:resfriado, tosse,

tosse coqueluxe; furúnculo;

destroncado; estômago.

fo

cataplasma

xarope

ao natural

Pulmão: Tomar 2 copos

uma vez ao dia por no

máximo uma semana.

5

C

(vas

os)Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.

(folha-da-fortuna)mi

sorte; banho de descarregofo 4 E

CUCURBITACEAE

Cucurbita sp. L.

(abóbora)me vermes sem ao natural 1

Momordica charantia L.

(melão-de-são-caetano)me

reumatismo; tira mancha de

roupas; febre

fo

plgarrafada

decocção2,3,4

E

Sechium edule (Jacq.) Sw.

(chuchu)me baixa a pressão fr cozido

1

5C

EUPHOBIACEAE

Acalypha comunis Müll.Arg.

(parietária)me infecção urinária. fo

infusão

decocção5 E

Euphorbia prostrata Aiton

(quebra-pedra)me rins pl decocção 2 E

Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

EUPHORBIACEAE (cont.)

41

Cont. Tabela 3...

Cont. Tabela 3...

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Jatropha gossypiifolia L.

(pinhão-roxo)mi banho de descarrego fo banho 1,2,5 E

Phylanthus niruri L.

(erva-pombinha, quebra-pedra)

me para os ins plinfusão

decocção2,4,5 E

Phylanthus tenellus Roxb.

(falso-quebra-pedra, erva-

pombinha, quebra-pedra, quebra

-edra-do-norte)

me para os ris pldecocção

infusão2,4,5 E

LAMIACEAE

Leonotis nepetifolia (L.) R. Br.

(cordão-de-frade)me bronquite fr decocção 3 E

Leonurus sibiricus L.

(erva-macaé, macaé)me

pneumonia;febre;estômago;

fígadofo

decocção

sumo

ao natural

5 E

Mentha pulegium L.

(poejo)

me pra criança fo infusão 5 C

Mentha x piperita var. citrata

(Ehrh.) Briq.

(hortelã, elevante)

me/

mi

Diarréia de criança; estômago;

vermes; pra rezar criança; rinsfo

decocção

sumo

ao natural

decocção

2, 3 vezes por dia 1,5 C

Ocimum cf. basilicum L.

(manjericão, alfavaca)

me/

mi/

temp

expectorante para infecção

pulmonar; tuberculose crônica;

mal olhado; banho de

descarrego; coração; proteção de

Oxalá.

fo

infusão

xarope

decocção

banho.

5 C

Ocimum officinalis L.

(alfavacão) me tosse de coqueluxe fo xarope 2 E

Origanum vulgare L.

(orégano)me "pra ficar de bem com a vida" fo decocção duas xícaras por dia 1

Plectranthus amboinicus (Lour.)

Spreng.

(hortelã-pimenta)

me/

tempvermes; dor de cabeça fo

ao natural

Infusão 5 E

Plectrantus grandis (Cramer)

R.H.Willemse

(boldo)

meproblemas digestivos;estômago;

ressaca.fo

decocção

sumo

um copo quando não se

sente bem, ou antes de

beber.

5 E

42

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Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

LAMIACEAE (cont.)

Plectrantus neochilus Schltr.

(boldo-do-chile)

me má digestão; pro fígado, ressaca fodecocção

sumo 5 C

Rosmarinus officinalis L.

(alecrim, alecrim-de-casa,

alecrim-da-horta)

me/

mi

"pra ficar de bem com a

vida";para os

cabelos;reumatismo; banho de

descarrego

fo

decocção

banho

xampu

duas xícaras por dia

passar nas juntas5 C

Salvia officinalis L.

(salvia)

me/

tempAsma: expectorante fo infusão 5 C

LAURACEAE

Cinnamomum zeylanicum Breyn.

(canela)me

"pra ficar de bem com a vida";

Menstruação atrasada quando

chá de cidreira não adiantou.

“pau”

cas

decocção

decocção

com vinho

tinto

2 xícaras por dia 1

Laurus nobilis L.

(louro)

me má digestão "rotando azedo" fo decocção 1 C

Persea americana Mill.

(abacateiro)me

diurético; baixa a pressão;

expectorante; corta gases

acumulados

fo decocção2 vezes ao dia. Nunca

durante a noite.5 C

LEGUMINOSAE

CAESALPINIOIDEAE

Bauhinia variegata L.

(pata-de-vaca, pé-de-vaca)me infecção renal. fo decocção 2 copos por dia 5 C

Hymenaea sp.

(Jatobá)me para os ossos cas garrafada

busca fora do

bairro

MIMOSOIDEAE

Mimosa pudica L.

(dormideira)me dor de dente ra

decocção -

bochecho 2,4,5 E

PAPILIONOIDEAE

Cajanus flavus DC.

(Guando)me Hemorragia menstrual fo decocção 3 E

Desmodium barbatum (L.) Benth.

in Miq.

(amor-do-campo, carrapichinho)

meantiinflamatório, diurético, para

pedr anos rinspl decocção 2,4,5 E

43

Cont. Tabela 3...

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Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

PAPILIONOIDEAE (cont.)

Desmodium purpureum Hook. &

Arn.

(amor-do-campo, carrapichinho-

do-campo, carrapicho,

carrapichinho)

me corrimentos vaginais. fo

decocção

-banho

decocção -

chá

tomar durante o dia todo 5 E

LILIACEAE

Aloe vera (L.) Burm.f.

(babosa)me

hemorróidas; cicatrizante; para

os cabelos; cancer; estômagomuc

supositórios

cataplasma

ao natural

5 C

Dracaena fragrans Ker Gawl.

(peregun-de-oxum, peregum-de-

oxalá)

mi folhas de Oxum e Oxalá fo quinadas 5 C

Sansevieria trifasciata Prain

(espada-de-são-jorge)mi

afasta más influências, olho

gordo, mal olhadofo

ter plantada em

ambientes de

grande

circulação de

pessoas, como

entrada de

casas

5 C

LORANTHACEAE

Struthanthus marginatus (Desr.)

Blume

(erva-de-passarinho)

me

para desinchar torção;

pneumonia: para os bronquios;

tosse de resfriado; pulmão

fo

pl

cataplasma

decocção

sumo

2,5 E

LYTHRACEAE

Cuphea balsamona Cham. &

Schltdl.

(sete-sangrias)

me/

mi?

glicemia alta; desentope vasos.

Diarréia de sangue.dor de

barriga.

fo

ra

decocção

banho2,4,5

C-5

E-4

MALPIGHIACEAE

Malpighia punicifolia L.

(acerola)me gripes e resfriados

fo

frdecocção 5 C

MALVACEAE

Abelmoschus esculentus (L.)

Moench

(quiabo)

me para furunculos fr cataplasma 1,5 C

Cola acuminata Schott & Endl.

(obi)

mi sem

"fava"banho 1

Gossypium arboreum L.

(algodão)me

aumentar as contrações e

dilatação uterina durante o parto

(parteiras); infecções uterinas

fodecocção

banho5 C

Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

MARSILEACEAE

44

Cont. Tabela 3...

Cont. Tabela 3...

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Marsilea sp.

(trevo-de-quatro-folhas)mi Boa sorte fo

folha seca

sempre junto

à pessoa

5 C

MELIACEAE

Melia azedarach L.

(para-raio, para-raio-de-xango)

me/

mi

Para dores na coluna; planta de

Xangô e Yansã

fr

fogarrafada 4,5

C

E

MORACEAE

Morus nigra L.

(amoreira)

me/

mi

garganta inflamada com pus, no

candomblé usa-se os galhos para

fazer varinhas "trabalhadas" para

espantar os Eguns.

fodecocção

-bochechos5 C

MYRTACEAE

Blepharocalyx salicifolius

(Kunth) O. Berg

(murta)

mepra secar umbigo de criança

(parteiras)fl não sabe 5

C

E

Eucalyptus citriodora Hook.

(eucalipto)me resfriado, sinusite; estômago fo

decocção -

inalação

decocção -

chá

ao natural

xarope.

3 vezes ao dia 2,3 C

Eugenia uniflora L.

(pitanga)me tosse, refriado, febre fo

decocção

xarope

infusão

4 vezes por dia 5 E

Myrciaria sp.

(jabuticabeira)

me. diarréia de sangue em adultos cas decocção5

(vizinhos)

Psidium guajava L.

(goiabeira)me

para diarréia em adultos

confecção dos Atoris, varas para

tocar atabaques.

br/fo-

adultos

fr

verdes-

crianças

decocção 5 E

NYCTAGINACEAE

Mirabilis jalapa L.

(maravilha)me

Para furúnculos; feridas

infeccionadas; infecções de pele.

fo

sem

cataplasmas

Aplica-se até o furúnculo

estourar. 5 E

PHYTOLACACEAE

Galesia integrifolia (Spreng.)

Harms.

(pau-d´alho)

me queda de cabelos fo

decocção

para fazer

xampu

3 E

Petiveria alliacea L.

(guiné, guiné-pipiu)

me/

midente inchado; mal olhado;

banho de descarrego

fo

decocção

-bochecho

Banho

5 E

45

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Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

PIPERACEAE

Peperomia pellucida (L.) Kunth

(oriri, língua-de-sapo)mi planta de Oxum folhas banho

3, 4 (locais

úmidos)E

POACEAE

Coix lacryma-jobi L.

(lágrima-de-nossa-senhora, conta-

de-nossa-senhora)

me tônico para os músculos “contas” infusão 5 E

Cymbopogon citratus Stapf.

(capim-limão, capim-santo,

capim-cidreira)

me

calmante;pra dormir bem e

acordar disposto no outro dia;

digestiva; tosse e resfriado;

vômito; diarréia

fodecocção

xarope5 vezes por dia 1 colher 5 C

Saccharum officinale Salisb.

(cana)

me rins fo decocção 1

Zea mays L.

(cabelo-de-milho)me problemas renais; para a urina

(diurético)

fl

“cabelo

do

milho”

decocção1,5

(vizinhos)

PLANTAGINACEAE

Plantago major L.

(transagem)me

bronquite; antiinflamatório;

antibiótico naturalfo decocção 5 E

PUNICACEAE

Punica granatum L.

(romãzeira)me infecção na garganta; resfriados

cas

fl

decocção

infusão5 C

ROSACEAE

Fragaria vesca L.

(morango) me "pra ficar de bem com a vida" fo decocção 2 xícaras por dia 1

Rosa sp. L.

(rosa-branca)

me/

mi prisão de ventre; mal-olhado.

fl

(pétalas)

infuso

decocção

Banho

1,5 C

RUBIACEAE

Genipa americana L.

(jenipapo) me

quebraduras não expostas;

"repõe tudo que o organismo

necessita"; expectorante:para

tuberculose crônica.

fo

fr

sumo

ao natural5 E

Simira glaziovii (K.Schum.)

Steyerm.

(quina-rosa)

me depurativo do sangue cas decocçãobusca fora do

bairro

46

Cont. Tabela 3...

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Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

RUTACEAE

Citrus aurantifolia Sw.

(lima-da-pérsia)me Diabetes; resfriado, gripe.

fo

fr decocção 1

RUTACEAE (cont.)

Citrus aurantium L.

(laranja-da-terra)me

resfriado, tosse. Fonte de

vitamina C.

cas

fo

fr

decocção

xarope

ao natural

5 C

Citrus limon (L.) Burm. F.

(limão)me Resfriado, fonte de vitamina C. fo

decocção

infuso1,5 C

Citrus sinensis (Osbeck)

(laranja)

meTosse, gripe, resfriado, fonte de

vitamina C.

fo

frdecocção 1,5 C

Ruta graveolens L.

(arruda)

me/

mi

ventre virado; cólicas; banho de

descarrego.fo

banho

infuso1,5 C

SCHIZAEACEAE

Lygodium volubile Sw.

(abre-caminho)mi

banho de descarrego; folha de

Ogumfo banho 3,5 C

SOLANACEAE

Capsicum frutescens L.

(pimenta-malagueta)

me/

temppara furunculos

fo

fr

sumo

ao natural5 C

Physalis angulata L.

(camapú)

me

Solanum americanum Mill.

(rrva-moura)

me tira verrugas e cravos nos pés fo sumo 2,4,5 E

Solanum gilo Raddi

(jiló)

me dente inchado fr decocção 1

Solanum lycopersicum L.

(tomateiro)

me Inchaços br/fodecocção

-banho.5 C

Solanum paniculatum L.

(jurubeba)

meobesidade, baixa o colesterol,

cura hepatite C; problemas no

fígado. Anemia.

fr

fo

ra

elixir

decocção

vinho

Vinho: 2 vezes por dia5

(vizinho)E

47

Cont. Tabela 3...

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Família/Espécies/Nome popular Usos Indicações de usoParte

usada

Preparo e

usoDose (quantidade) Procedência C/E

URTICACEAE

Cecropia cf. lyratiloba Miq.

(embaúba)me pulmão: tosse, gripe.

"bananinh

a"xarope 5

C

E

Urera caracasana (Jacq.)

Gaudich. ex Griseb.

(urtiga-branca)

me diabetes; purificação do sangue fo decocção 5 C

VERBENACEAE

Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex

Britton & P.Wilson

(erva-cidreira, cidreira, capim-

limão)

mebaixa pressão; calmante;

digestiva; menstruação atrasadafo

decocção

infusão

refresco

1 ou 2 copos depois do

almoço ou quando se

sente mal, antes de

dormir ou quando está

muito nervoso.

5 E

Stachytarpheta cayennensis

(Rich.) J.Vahl

(gervão-roxo)

me/

mi

mastite; furunculose. Problemas

no estômago: gastrite, úlcera,

dores. Folha de oxalá

focataplasma

infusão5 E

ZINGIBERACEAE

Alpinia zerumbet (Pers.)

B.L.Burtt & R.M.Sm.

(colônia)

me/

mi

acalma, antidepressiva. Diabetes.

Rins. Angina, broncodilatador.

Coração; pressão; banho de

descarrego

fo

fl

infusão

decocção

banho

quando sentir sede 5 C

Zingiber officinale Roscoe

(gengibre)me antibiótico natural ra decocção 5 C

48

Cont. Tabela 3...

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3.3. Caracterização e organização das plantas nos quintais dos

informantes residentes no entorno da APA da Serra da Capoeira

GrandeEsta análise objetivou saber quais plantas os informantes cultivam ou incentivam

em seus quintais e se estes possuem algum tipo de organização sistemática das plantas

em torno da casa, de acordo com a classificação destas, medicinais, ornamentais,

místicas, alimentícias ou outra. Não foi objetivo analisar a diversidade florística dos

quintais.

Seguindo Vogl et al. (2004) definiu-se como quintal -homegarden, o espaço

adjacente à casa da(s) pessoa(s) que os cultiva ou mantém-gardener(s). Ou seja,

quintais são uma extensão da casa, fazendo parte desta. Eles podem ser urbanos,

privados e adjacentes à uma casa na cidade; ou rurais, quintais adjacentes a uma casa na

zona rural. Nos quintais estudados por etnobotânicos geralmente se cultivam frutas,

vegetais, ervas e plantas ornamentais, primariamente para subsistência e para sua

própria satisfação. Mas os usos dos quintais variam, alguns os utilizam também para

produção comercial de vegetais, enquanto outros têm somente um gramado e plantas

ornamentais.

Os quintais dos informantes residentes no entorno da APA da Serra da Capoeira

Grande se dividem e se mesclam entre quintais urbanos e rurais. Isto porque a área de

estudo é ainda predominantemente rural em um grande centro urbano. Encontramos

quintais onde existem plantas ornamentais e aqueles onde alimentos ainda são

cultivados para o consumo dos moradores (Fig. 7-12). Os quintais variam em tamanho,

mas em geral circundam toda a casa. Os terrenos dos informantes têm em média 400m2

e as plantas estão, em geral, dispostas no entorno da casa, com exceção dos quintais

representados nas Figuras 7 e 10, onde as plantas ficam respectivamente na frente e nos

fundos das casas, e são retangulares. Estes dois quintais possuem aproximadamente

150m2. O quintal da Figura 8 é uma exceção em relação à extensão, pois se localiza

num terreno de 15000m2. O informante 2 é caseiro deste terreno cujo dono raramente

vai ao local e permanece por pouco tempo. Este informante mora num terreno ao lado,

onde também cultiva algumas plantas. Devido à criação de galinhas que tem em sua

casa, ele cultiva tudo que precisa no terreno onde é caseiro. Apesar de ser muito maior

que os demais terrenos, neste estudo considera-se como um quintal, pois é a extensão da

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casa do informante, nele ele cultiva frutas e vegetais para sua própria subsistência, e

incentiva plantas medicinais, que usa como remédio.

As plantas destacadas em negrito nas legendas são aquelas utilizadas pelos

informantes como medicinais e/ou místicas. Notamos que estas são muito

representativas nos quintais, sendo, em geral, representadas por mais da metade das

plantas existentes. Em geral, observam-se nos croquis que as herbáceas e os arbustos

são predominantes nos quintais dos informantes, sendo as árvores e arvoretas menos

representadas: aroeira (Fig. 12B), embaúba, abacateiro, acerola, amoreira, goiabeira,

jenipapo, caju (Fig. 12A; 13I), mangueira (Fig. 12E), romãzeira, laranjeira, limoeiro,

louro, pitanga, eucalipto, graviola, jabuticabeira utilizadas como medicinais; macieira,

tangerina, coqueiros, caqui, sapoti, carambola, fruta-do-conde, jamelão, jambo, ameixa,

frutíferas e para sombrear; cravo-da-índia, sabugueiro, pata-de-elefante, flamboyant,

paineira, amendoeira, castanheira como ornamentais, temperos e para sombrear.

As ervas mais bem representadas nos quintais são: manjericão ou alfavaca

(Ocimum basilicum) e acerola (Malpighia punicifolia) encontradas em todos os quintais

analisados; abacateiro (Persea americana), cajueiro (Anacardium occidentale) (Fig.

12A; 13I), quebra-pedra (Phylanthus tenellus e P. niruri), goiabaeira (Psidium

guajava), erva-cidreira (Lippia alba) (Fig. 13F) e aroeira (Schinus terebinthifolius) (Fig.

12B), encontradas em 3 quintais; hortelã (Mentha x piperita var. citrata), boldo

(Plectranthus grandis), transagem (Plantago major), elevante (Mentha piperita),

mangueira (Mangifera indica), pimenta-malagueta (Capsicum frutescens), limão

(Citrus limon) e pitanga (Eugenia uniflora) encontradas em 2 dos quintais analisados.

Vale salientar que estas plantas são muito sensíveis às variações ambientais por se

tratarem de pequenas ervas. Erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides) (Fig.

13E), por exemplo, analisando os croquis, é encontrada somente em um dos quintais, no

entanto, esta espécie está presente em todos os quintais, dependendo da época do ano.

A maioria dos informantes não possui uma horta, não cultiva vegetais para sua

subsistência com exceção do informante 2 (Fig. 8) que produz alguns alimentos para si

próprio e do informante 4 (Fig. 10) que possui uma horta de couve. Entretanto esta não

é uma atividade prioritária para os informantes, e isso pode se explicar pelo fato de

residirem próximo a centro urbano, e relativa facilidade de encontrarem “sacolão” e

supermercados onde podem comprar alimentos. Por outro lado, observando as figuras

vê-se que a maioria das espécies presentes nos quintais são de uso medicinal.

50

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A maioria das plantas de uso medicinal presentes nos quintais não são

cultivadas. Elas são espontâneas na região, e os moradores tendo conhecimento de suas

propriedades medicinais às incentivam em seus quintais, ou seja, não as considerando

ervas-daninhas e sendo estas na sua maioria pequenas ervas, têm o cuidado de protegê-

las quando limpam os quintais. As árvores na sua maioria foram plantadas, com exceção

da aroeira que segundo todos os informantes que a têm no quintal, ela é espontânea na

área. Algumas herbáceas e arbustivas exóticas são cultivadas, como é o caso daquelas já

consagradas como medicinais na população brasileira: erva-cidreira (Fig. 13F), alecrim,

manjericão e hortelãs.

Das plantas de uso místico foram encontradas nos quintais, pereguns,

manjericão, rosa-branca, espada-de-são-jorge, colônia (Fig. 13B) e trevo-de-quatro-

folhas que são plantadas e da guiné que é espontânea na área. As demais utilizadas por

eles são adquiridas em lojas especializadas em religiões de matriz-africana.

A organização das plantas em relação às casas não segue o padrão de canteiros,

mas são espalhadas em torno da casa, com exceção do informante 1 (Fig. 7), que separa

temperos de plantas medicinais em canteiros diferentes (Fig. 12 H). Como a maioria é

incentivada e não cultivada, elas permanecem onde nascem. O local escolhido para as

poucas que são plantadas é selecionado de acordo com a preferência da planta por sol,

por água, próximo a muros ou algum lugar para que as trepadeiras se apóiem.

É pouco comum a utilização de vasos para as plantas, como pode ser observado

nos quintais, todas as plantas estão no solo, exceto nas figuras 11 e 12C, onde

observam-se alguns vasos. Este é o quintal do informante 5, que divide o terreno com

um filho. Este começou uma criação de galinhas que comeram todas as plantas do

informante 5. Desta forma ele se viu obrigado a colocar as plantas em vasos. Vê-se que

num mesmo vaso possuem muitas plantas. No entanto, o fato de ter suas plantas em

vasos não o agrada, pois como ele as utiliza muito, sempre precisa ficar plantando mais.

A troca de mudas entre vizinhos é muito comum. Em trabalho realizado no Rio

Grande do Sul, Somavilla & Canto-Dorow (1996) citam que 76% das plantas utilizadas

como medicinais são obtidas através de amigos e também pelo hábito de cultivo caseiro.

Alguns moradores como é o caso do informante 4, fazem mudas de todas as suas

plantas para o caso de alguém solicitar (Fig. 10).

A tentativa de trazer algumas plantas espontâneas da região para os quintais

também foi observada, como por exemplo, o chapéu-de-couro, que nasce em alguns

locais alagados do entorno da APA. No entanto, como a maioria dos lotes foi aterrado,

51

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as tentativas de cultivá-lo são frequentemente frustradas. Desta forma, quando precisam

desta planta eles a procuram nos terrenos alagados. Este é um fato importante, pois

ainda hoje a especulação imobiliária na área de estudo é muito forte, e mais lotes estão

sendo cercados e aterrados, acabando, principalmente com as plantas herbáceas

utilizadas pela comunidade. A erva-de-bicho (Fig. 8), também era uma planta freqüente

no terreno do informante 2 e hoje não é mais encontrada. O informante justifica o

desaparecimento desta planta devido aos vários aterros que foram feitos no terreno.

Foram citadas tentativas de trazer para os quintais algumas plantas da APA da

Serra da Capoeira Grande utilizadas por eles, como é o caso da unha-de-gato. No

entanto, por vários motivos não foi possível, principalmente devido às características

das plantas, que segundo eles são de mata fechada e quando retiradas da mata não se

desenvolvem nos quintais. As diferenças nas características do solo também foram

responsáveis. No entanto, esta é uma preocupação recente, pois no passado a mata era o

quintal das pessoas que residiam na Capoeira Grande, e havia uma certa tranqüilidade

de que se precisassem, as plantas estariam lá. É o que conta Dona Antônia:

“Nasci e fui criada na Capoeira Grande. [...] antigamente tudo aliera chácara, agora é eucalipto. Lá não tinha médico, minha mãe eraparteira e ela curava aquele pessoal todo com ervas. [...] Minha mãetinha tudo isso no litro [garrafadas]. Quando chegava gente assim eladava”.

Embora pesquisadores tenham procurado padrões para a estrutura dos quintais

em vários locais, a conclusão geral a que eles chegaram é que esta estrutura é

extremamente variável (Barrera 1980; Vara 1980; Rico-Gray et al. 1990; Caballero

1992, 1994; Albuquerque et al. 2005). Também, os quintais dos informantes do entorno

da APA da Serra da Capoeira Grande não seguem um padrão definido de canteiros ou

separação das plantas de acordo com seu uso. No entanto, pode-se identificar um padrão

próprio nestes, com as seguintes características: incentivar ervas medicinais

espontâneas, escolher o local para plantar, plantar segundo as exigências das plantas, de

modo geral não usam vasos, não há divisão de canteiros com espécies medicinais,

alimentícias ou temperos e as árvores são espalhadas beirando o muro ou distribuídas no

quintal em forma de pomar.

Há plantas para vários usos nos quintais estudados, o que mostra a importância

destes na conservação, principalmente, das plantas medicinais e místicas, e do

conhecimento sobre seus usos, não só para a área de estudo, mas para todo o bairro de

Pedra de Guaratiba.

52

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53

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Legenda (Escala 1: 200)

1.Abacateiro

2.Hortelã-pimenta

3. Boldo-do-chile

4. Manjericão

5. Macieira

6. Cará

7. Rosa branca

8. Uva

9. Uva Moscatel

10. Uva Rubi

11.Cravo-da-india

12. Sabugueiro

13. Mamão

14. Erva doce

15. Tangerina

16. Canapú

17.Erva pombinha

18.Acerola

19. Coqueiro

20.Guiné

21. Erva de Macaco

22. Transagem

23. Alfavacão

24. Elevante

25.Roseira

26. Trevo de 4 folhas

27. Lágrima-de-nossa-

senhora

28. Goiabeira

29. Jenipapo

30. Algodão

31.Chapéu-de-couro

32.Erva cidreira

33. Uva Itália

34. Uva rosada

54

Entrada

Estrada da Capoeira Grande

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Figura 7 - Croqui de quintal da informante 1 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

Legenda (Escala 1: 200)

1. Caju

2. Caqui

3. Sapoti

4. Mangueira

4´.

Mangueira com

erva-de-

passarinho

5. Abacateiro

6. Carambola

7. Mamão

8. Banana

9. Acerola

10. Cajá

11. Embu

12. Pimenta

Malagueta

13. Pata-de-

elefante

14. Romã

15. Erva-de-

santa-maria

16. Erva-

cidreira

17. Fruta-do-

conde

18. Limão

19. Laranja

20. Tangerina

21. Quebra-

pedra

22. Pitanga

23. Taioba

24. Alfavaca

25. Goaibeira

26. Cambota

27. Coité

28. Azaléia

29. Colônia

30. Flamboyant

31. Paineira

32. Árvore semidentificação

55

Entrada

Frente da casa

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Figura 8. Croqui do quintal da informante 2 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

Legenda (Escala 1: 200)

Permanentes

1. Amora

2. Erva-de-

são-joão

3. ?

4. Limão

5. Acerola

6. Babosa

7. Romã

8. Boldo

9. Erva-

cidreira

10. Alfavaca

11. Capim-

limão

12. Cana-do-

brejo

13. Jasmim

14. Caju

15. Coqueiro

16. ?

17. Aroeira

18. Carambola

19. Eucalipto

20. Jamelão

21. Amêndoa

22. Erva-

baleeira

23. Coqueiro

Temporárias

Erva-de-

passarinho

Amor-do-campo

Erva-tostão

Covinha-de-macaco

Parietária

Quebra-pedra

Tanchagem

Tiririca

Picão

Melão-de-são-

caetano

Gervão-roxo

56

Entrada

Frente da casa

Estrada da Capoeira Grande

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Figura 9. Croqui do quintal da informante 3 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

Legenda (Escala 1: 200)

1. Castanha

2. Bananeira

3. Castanha

4. Capim-

limão

5. Limão

6. Erva-gambá

7. Aroeira

8. Castanha

9. Boldo

10. Coqueiro

11. Acerola

12. Goiabeira

13. Abacaxi

14. Graviola

15. Quiabo

16. Mangueira

17. Mamão

macho

18/19. Cajueiro

20. Mamão

21. Jambo

22. Cajueiro-

roxo

23. Abacateiro

24. Pitanga

25. Pata-de-

vaca

26. Mudas de

eucalipto

27. Jaboticabeir

a

28. Ornamentais

29. Ameixa

30. Roseira

31. Babosa

32. Saião

33. “Flor

japonesa”

35. Cana

36. Pimenta-

malagueta

37. Arnica

38. Pimenta-dedo-de-

moça

39. Laranja-da-terra

40. Hibiscus

Figura 10. Croqui do quintal do informante 4 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

57

Entrada

Entrada casa da filha

Entrada principal casa de “Seu” A.

Estrada da Capoeira Grande

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Legenda (Escala 1: 200)

1. Espada-de-são-jorge

2. Boldo

3. Aroeira

4. Peregum-de-oxalá

5. Peregum-de-oxum

6. Embaúba

7. Acerola

. Vasinhos: manjericão, elevante, hortelã,

hortelã-pimenta, alecrim e ornamentais.

Várias plantas num mesmo vaso.

Figura 11. Croqui do quintal da informante 5 do entorno da Serra da Capoeira Grande,

Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

58

Entrada principal

Frente da casa

Estrada da Capoeira Grande

5

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Figura 12. Quintais dos informantes residentes no entorno da APA da Serra da Capoeira Grande, Pedra de

Guaratiba, Rio de Janeiro: A. Cajueiro; B. Aroeira; C. Plantas em vasos; D. Vista geral de um quintal; E.

Mangueira e milharal; F.Ornamentais; G.Ornamentais na entrada; H. Canteiro de boldo-do-chile.

59

A B

C D

E F

G H

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A B

C D E

F G

H I

60

Figura 13. Algumas plantas de uso medicinal e místico citadas pelos moradores do entorno daAPA da Serra da Capoeira Grande. A.Pinhão-roxo; B.Colônia; C.Erva-macaé; D. Algodão; E.Erva-de-santa-maria; F.Erva-cidreira; G.Vidros dona Zelinda; H. Erva-doce; I.Cajueiro

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3.4. As plantas nas crenças e religião: influências observadas na Capoeira

Grande Na Capoeira Grande foram encontradas 30 espécies de uso místico (Tabela 4).

Destas, Jatropha gossypifolia, Lygodium volubile, Petiveria alliaceae e Sansevieria

trifasciata são citadas em trabalhos de Albuquerque & Chiapetta (1994; 1995 e 1996)

sobre rituais afro-brasileiros e em Parente & Rosa (2001) que listam plantas místicas

comercializadas em Barra do Piraí, RJ; Momordica charantia e Ruta graveolens foram

encontradas por Schardong & Cervi (2000) no Mato Grosso do Sul.

No Brasil, há forte aproximação do uso de plantas para tratamento caseiro de

doenças com os mais diferentes sistemas de crenças. Entre as formas adotadas para a

realização das curas, estão os procedimentos de caráter mágico religioso, a fim de

reforçarem as terapias adotadas. Nesses casos, são comuns os passes, orações, medalhas,

patuás, crucifixos, etc. Essa religiosidade presente na medicina popular deve-se em parte à

herança portuguesa dos primórdios do Brasil, a qual trouxe a crença nas curas milagrosas

através da intercessão de santos católicos junto aos poderes de Deus (Camargo 2000).

Santos (1992) fala sobre a medicina em Portugal do século das luzes, que estava

incrivelmente agarrada a práticas e superstições ancestrais, algumas bem obscurantistas e,

segundo o autor, se o século XVIII foi uma época de luzes, tentando impor a razão, foi ao

mesmo tempo a época das trevas, confundindo-se religião com ciência, conforme mostram

receitas médicas indicadas para as doenças correntes.

A colonização portuguesa nos séculos XVI e XVII deixou profundas marcas nas

práticas médicas populares do Brasil de hoje. A medicina era exercida pelos físicos,

cirurgiões e barbeiros, como eram denominados aqueles que sabiam curar e sangrar.

Exerciam também essa tarefa os padres da Companhia de Jesus, pois tinham noções de

primeiros socorros médicos e conheciam botânica, embora tivessem vindo com a

incumbência principal de desempenhar o trabalho de catequese junto aos indígenas. Esses

profissionais praticavam uma medicina impregnada de espírito de religiosidade marcada

pela fé cristã, tal como era em Portugal, onde a medicina era ensinada nos conventos e

onde, também, os livros médicos eram escritos. Nesta época discutia-se quanto o homem

tem o direito de intervir na doença, visto que a Igreja admitia ser castigo de Deus, por seus

pecados. Antes de se iniciar qualquer tratamento era necessário ouvir um conselho

eclesiástico. Se o doente até o terceiro dia não se confessasse a um padre, o médico era

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obrigado a interromper o tratamento sob pena de castigo de perder o direito de exercer a

medicina (Camargo 1998, 2000).

Era uma medicina que recorria aos santos advogados e estes eram tantos que havia

no século XVIII em Portugal um catálogo elucidativo com os males do corpo e do espírito

e os santos advogados, em número de 80 (Camargo 2000).

A medicina popular de hoje continua a se apoiar fortemente na fé religiosa que

reforça o sentimento de culpa e do castigo divino, quando diante de problemas de saúde.

As terapias adotadas são sempre acompanhadas de orações, penitências, promessas visando

o merecimento da graça da cura.

Dessa tradição portuguesa herdou-se a crença em santos cujas orações a eles

dedicadas são comuns no Brasil, a exemplo: Santa Luzia catalogada em Portugal no século

XVIII protetora dos olhos está, também no Brasil presente em rezas tal como relata

Langowiski (1973):

Santa Luzia passai por aqui, com seu cavalinho comendo capím,

sangue de Cristo, pingai aqui.

E, ainda, registrada por Campos (1955):

Corre, corre, cavaleiro Pela porta de São Pedro Vai dizer a Santa Luzia

Que me mande o lenço branco Pra tirar esse argueiro

Na Capoeira Grande encontraram-se dois “rezadores” que benzem e rezam

utilizando plantas, práticas essas ligadas a um catolicismo que se popularizou através das

crenças nas forças protetoras de santos católicos. É o caso de uma erva aquática batizada

com o nome de Santa Luzia (Pistia stratiotes), conhecida dos moradores da Capoeira

Grande, utilizada para problemas de visão.

Segundo Camargo (2000) os “benzimentos”, que geralmente acompanham as

orações, transformaram algumas plantas introduzidas no Brasil pelos portugueses em

instrumentos de valores mágicos. Alguns “rezadores” acompanham a reza com um

raminho verde de preferência arruda ou alecrim.

As plantas desempenhavam importante papel na preparação dos remédios. Os

jesuítas as conheciam muito bem, visto que mantinham boticas onde atendiam aos doentes

e forneciam-lhes as plantas, quase todas vindas de Portugal. Dentre essas plantas estavam:

manjericão, salsa, arruda, bredo, hortelã, coentro, berinjela, alho, ervilha, lentilha, pepino,

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melão (França 1926). Com as dificuldades que tinham para receber tais plantas, visto que

as viagens através dos mares levavam muito tempo, eles passaram a substituí-las por

plantas indígenas, pois seu contato com os indígenas lhes proporcionou oportunidades de

aprenderem, e assim muitas plantas nativas foram incorporadas às coleções mantidas nas

boticas (Camargo 2000). “Dos índios aprenderam o emprego de infinitas ervas medicinais,

cujas virtudes ensinaram, aos outros jesuítas dos 180 colégios, dos 90 seminários, das 160

residências, quantos haviam espalhados pelo mundo no fim do século XVII” (Calmon

1935).

Dois dos informantes que contribuíram para este trabalho, Dona Antônia e Seu

Joaquim, se intitulavam “rezadores”.

“Toninha, sou rezadeira. Já rezei muita criança e muito adulto.Minha vó rezava, minha mãe rezava e eu rezo. Sou católica, gostode ir a missa, de ir a procissão, mas sei também banho dedescarga”.

Dona Antônia

“Sou católico [...] faço benzeção também, graças a Deus. Aprendicom minha avó. É. Ela morreu com 125 anos de idade, é por causadela que eu to vivo aqui hoje”.

Seu Joaquim

Pode-se notar que nem todo católico é “rezador”. Desta forma, possuir esta

característica é considerado uma dádiva. Também nas frases acima fica marcado que eles

são rezadores e pertencem à religião de matriz católica.

Além dos santos para quais as rezas são direcionadas, existem certas doenças que,

popularmente, somente as rezas curam. É o caso do “ventre virado”, doença que

geralmente dá em crianças, e a “espinhela caída”. Segundo Camargo (2000), trata-se de

dor na região epigástrica decorrente de uma deformação do apêndice xifóide, provocando

dores de estômago, vômitos, além de problemas respiratórios. Estes realmente foram os

sintomas citados pelos informantes. As plantas místicas e seus usos podem ser observadas

nas Tabelas 3 e 4.

“Uma vez uma menina tava internada no hospital, já tavam procurandoo pesinho porque não achavam mais veia da menina, aí a mãe passouaqui chorando e eu disse, que foi Maria? Ai Tonia, minha filha tá nasúltimas! Já furou até a solinha do pé que não acham mais veia. Mas oque ela tem? Eu perguntei. Ah tá vomitando, com uma diarréia desangue, que só sai água de sangue. Olha a maluquice que eu fiz, pareceintuição da gente né, eu disse, tira sua filha de lá, e traz aqui porque é

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ventre virado. Ela trouxe, eu rezei com azeite a barriguinha dela,mandei ela dá banho de sete-sangrias que eu tinha aqui, chá de hortelã ea menina ficou boa. Era ventre virado, e médico não cura não, ventrevirado é tombo ou susto que faz isso”.

Dona Antônia

“Esse aqui é muito bom pra banho, é bom pra quando ta com espinhelacaída sabe, com aquela dor de estômago de espinhela caída toma chá deelevante. Toma banho também é bom, elevante é bom pra levantar oastral, é menina [risos]”.

Dona Cremilda

“Eu curo qualquer criança, com o ventre virado, eu boto aqui no colo,agora mesmo tá bom, viu. Uma folha de arrudazinha, eu boto numleitinho de uma menina, de uma dona aí, boto numa canequinha, numcopinho, né, o leitinho dela. Vô molhando a arruda no leitinho, batendonas anquinha dele e falando as palavra, daqui a três dias o menino tabom, disvira. É, disvira. É, o ventre virado a gente acabou de benze elevirou ele assim de cabeça pra baixo, ele torna a vira, o ventrinho”.

Seu Joaquim

As ervas usadas pra banho também são muito comuns entre eles, o banho é sempre

destinado ao “descarrego”, que pra eles é limpeza e proteção contra coisas ruins como o

“mal-olhado” e “olho-gordo” (Tabela 4). Não só os que se definem como “rezadores”

utilizam e recomendam estes banhos, mas outros informantes também os utilizam, como é

o caso de Dona Lúcia e Dona Cremilda.

“Aí pode tomar banho de arruda prá olho grande. Quando está com ocorpo esquisito assim, o corpo meio doendo assim, mal humorado, aítoma um banho de arruda, toma um banho de sabão primeiro, depoispega arruda assim passa ela no corpo. Você pega assim um balde comágua, com água morna e esfrega ela no corpo”.

Dona Cremilda

“Na parte espiritual as pessoas usam [o elevante] pra quebrar mauolhado nas crianças, dando banho”.

Dona Lucia

“E esse aqui serve pra tomar banho também, pra olho grande, é bom emcriança. Às vezes ta enjoadinho, pequeninho, enjoadinho, que nem agente mesmo né. Aí pega as folhas do manjericão, esfrega assim naágua, bota um pouquinho e água quente e esfrega no corpo”.

Dona Cremilda

“Pega a folha [de cana-do-brejo] e vai num balde e quina, esfrega né,deixa ela que nem um bagaço né, de tanto esfregar, aí depois de quinadané, bota num meio balde com água, aí cê pega a folha que cê quinou e

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aferventa de água, aí cê pega um pouco de água morna, pra lavar dacabeça aos pés, pra botar os pés, mas não enxuga não, só as partes né,assim né, aí veste uma roupa clara né, pra dormir, uma camisa limpinhané. É muito bom. Porque a gente ta vivendo num mundo muito assimambicioso, muito invejoso, muito negativo sabe, as pessoas tem inveja devocê, inveja de tudo. Aí é bom sabe, você tomar um banho assim”.

Dona Cremilda

“Abre-caminho, é pra descarrego. Aquilo quando você trabalha comespírito, cê toma um banho dele, acabo de toma o banho você já recebeo santo. Ferve a folha. Banha do pescoço pra baixo, a cabeça não”.

Seu Joaquim

Segundo Camargo (1988) as ervas nos banhos são destinadas a induzir o bem-estar

e segundo seus informantes, têm o poder de afastar os maus-espíritos, mau-olhado,

quebranto, etc. Autores como Camargo (op. cit), Verger (1995) entre outros

desenvolveram trabalhos relacionados a esta forma de utilização, destacando a importância

de uma investigação de caráter farmacobotânico das plantas em função dos princípios

ativos, responsáveis pelos efeitos que causam àqueles que delas se utilizam.

Percebe-se que as crenças se fundem, o ser católico, faz “rezação”, e trabalha com

espíritos. Estas são características dos informantes neste trabalho. Seu Joaquim conta como

são os espíritos que o ajudam a trabalhar com as plantas:

“Tem vez aqui ó, eu sozinho aqui, faço minha jantinha, ponho ali, tomoum banhinho ali, visto minha ropinha branca, viu, coloco uns colarzinhoaqui, e eu vejo quando ele encosta pertinho de mim, o velhozinho né,encosta pertinho de mim, ele encosta porque não tem ninguém praatender ele! Quando ele tem alguém pra atender, ele abaixa, ele gosta,ele adora. Ele fica aqui, pertinho, a gente fica vendo aquela sombra né,Graças a Deus, é por isso que eu curo quase todo mundo, viu, graças aDeus. [E esse velho que ajuda o senhor tem nome?] Tem. [Pode falar?]Pode, Seu Maravilha. É um velho que tem 365 anos de idade, já fezmuita barbaridade. Agora que Deus ta botando ele no caminho, de tantabarbaridade que ele fez. Ele já matou muita gente, ele me conta. Agoraele ta ajudando pra mode ele ganhá a salvação, Deus ta botando ele nolugarzinho dele. O congo-monjolo também é muito bom, viu, o congomonjolo de tão velho que ele é quando ele arria na gente, precisa degente pra ajudar aqui senão eu caio aí”.

Seu Joaquim

Santa Bárbara é um dos santos católicos que aparecem nas citações:

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“A erva-de-santa-bárbara também, é muito boa. Pra banho dedescarrego também. Cê desculpa de eu te falar viu, cê é filha de SantaBárbara, eu conheço, cê é filha de Santa Bárbara. Cê tomá umbanhozinho dela cê recebe ela na hora, ii, na hora. Ce não me enganaviu! [...] É uma velha, uma velha muito boa que trabalha muito bem, dáremédio muito bem, ela só baixa pra dá remédio, mal não. A erva desanta bárbara é uma árvore assim, em cima é verdinha, embaixo ébranquiiinha, é uma coisa tão linda menina. É duas cor, coisa maislinda que tem e dá no mato”.

Seu Joaquim

Os banhos também são associados a rezas e à administração de chás para cura de

doenças em crianças:

“Pra diarréia ela [sua mãe] dava hortelã e banho de sete-sangriasquando a criança tava com diarréia de sangue”.

Dona Antônia

Além dos banhos, as plantas são utilizadas também de outras formas mágico-

religiosas, como por exemplo, para espantar o mal de casa, através de defumação:

“O alecrim-do-campo é pra defumação de dentro de casa. Cê apanhaele, deixa ele secar um pouquinho, uns dois ou três dias, põe ele nodefumador, bota um foguinho nele com uma palha de alho, vai lá edefuma a casa toda. Ali nada mal fica”.

Seu Joaquim

Segundo Camargo (2000), as plantas originárias da Europa, principalmente da

Região Mediterrânea, introduzidas no Brasil pelos portugueses, ganham tal aceitação a

ponto de hoje fazerem parte do universo mágico-religioso dos sistemas de crenças de

origem e influência africana, onde desempenham papel litúrgico e terapêutico, além de

terem seu espaço garantido no panteão das divindades que regem as religiões afro-

brasileiras. Dentre essas plantas estão o alecrim, arruda, alfazema, manjericão, entre muitas

outras. São plantas que em Portugal, além de desempenharem seu papel terapêutico,

faziam parte do universo mágico da feitiçaria européia do século XVI e que hoje no Brasil

transformaram-se em símbolos de valor litúrgico junto às divindades das religiões afro-

brasileiras Foram os negros, evidentemente, que influenciaram tais transformações, pois

sendo grandes conhecedores das plantas rituais e de poderes mágicos, facilmente

absorveram os conhecimentos sobre as plantas trazidas pelos portugueses e as

incorporaram em seu universo mágico-religioso.

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Desta forma, do ponto de vista religioso, está nas religiões de origem e influência

africana como candomblé e umbanda a maior incidência quanto ao uso de plantas, tanto

nas cerimônias religiosas como nos rituais de cura (Camargo 1998; Almeida 2003).

Com a chegada ao Brasil dos primeiros africanos de origem banto, oriundos de

regiões localizadas abaixo do Equador, começaram os contatos destes com os indígenas,

que foram passando seus conhecimentos sobre as plantas nativas e os papéis que as

mesmas desempenhavam em seus rituais religiosos e de cura. A partir dai os negros

passaram a usá-las, também, em suas reuniões religiosas. É tal a importância das plantas

nesses sistemas de crenças, que sem elas, certamente tais religiões não existiriam

(Camargo 1998).

Dentre os informantes deste trabalho, dois afirmaram ter religiões de matrizafricana.

“Sou espírita, da Umbanda”.Dona Cremilda

“Minha profissão atual é pai-de-santo. Eu com 13 anos de idade eutinha tido uma manifestação espírita [...] 20 anos depois... em meio aomeu desespero emocional, físico, sei lá, eu pedi pelo amor de deus a ele[um pai de santo conhecido] que ele abrisse um jogo, jogo de búzios, praver o que tava acontecendo comigo porque eu não sabia. [...] resolvi meiniciar [...]. Aí, na iniciação você já aprende o uso litúrgico mesmo daservas.”

FábioPor ser pai-de-santo, Fábio foi o informante principal para plantas de uso

místico. Ele confirma a afirmação feita por Camargo (op. cit.):

“É praticamente impossível você não conhecer, porque você não faznada dentro da religião sem as plantas. Porque sem as plantas você nãoconsegue a ligação com o orixá, você não consegue a cura dedeterminadas doenças causadas por alguns orixás”.

Camargo (1998) informa que as plantas nestas religiões estão presentes nas

preparações de banhos de defesa, de limpeza, de purificação; nas preparações de comidas,

bebidas e remédios; nas cremações em incensórios, cachimbos, charutos e cigarros.

Segundo Albuquerque (1994) o uso ritual de plantas no combate às doenças e no

restabelecimento da saúde constitui prática comum nos cultos afro-brasileiros, revelando

acentuado hábito cultural, com grande rede de influencia social.

Nas falas abaixo de Fábio, percebemos que no candomblé as plantas são utilizadas

tanto com efeito mágico-religioso como com efeito terapêutico, e muitas vezes estes dois

conceitos se fundem:

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“Eu tenho uma filha minha, que por um acaso é de Yemanjá, ela tavacom uma inflamação vaginal que não curava, aí eu fui e arranquei acasca da aroeira-vermelha e preparei”.

“O gervão-roxo, além de ser uma folha de Oxalá, determinado Deusnosso, como ela é usada da mesma maneira, quinada, etc, ele tambémtem o uso terapêutico que me curou de uma úlcera gástrica que eu tive”.

Nas práticas místico-religiosas existentes na Capoeira Grande, as folhas são as

partes mais utilizadas, mas se utilizam também as sementes, que são denominadas de

favas. A forma de preparo é sempre o sumo das folhas “quinadas”. Este sumo é na maioria

das vezes utilizadas para diversos banhos (Tabela 4). Segundo Fábio e Dona Cremilda,

quinar é um processo pelo qual o sumo é retirado das folhas, através do ato de esfregar,

macerar.

“A folha é mais usada, mas o caule também é utilizado porque tem muitosumo nele. A semente é utilizada naquilo que a gente chama de fava, quenada mais é do que a semente. A gente usa pra determinados banhos euma fava que a gente chama de obi, que é africana e que foi plantadaaqui no Brasil, que eu acho que vem da época da escravidão mesmo emque os sacerdotes vieram pro Brasil, porque a maioria dos escravos queforam comercializados eram sacerdotes e eles trouxeram muitas coisasde lá inclusive o obi que é a noz-de-cola. E o obi pra gente éimprescindível, você não raspa sem o obi, não tem como. A gente só usaas coisas da natureza”.

Fábio

“ [...] o grande poder da planta ta exatamente no sumo dela. Nocandomblé a gente tem uma coisa, as plantas da gente são semprearrancadas a luz do dia, por que? Porque ela é mais forte, ela tem maispoder energético, então como a gente quina as folhas, que esse é oprocesso de você tirar o sumo. É macerado, como se você tivesselavando roupa, você esfrega bastante. Hoje algumas casas ainda deixamas folhas. A gente não, a gente côa, a gente aproveita aquele sumo,acrescenta um pouco mais de água e aquele banho, ou pode ser pralimpeza, normalmente é pra limpeza do seu corpo, agora há outrosbanhos relacionados com perebas, relacionados com feridas”.

Fábio

“As plantas são usadas como banho, ou você deita sobre elas pra pegara energia, e geralmente são processadas, maceradas, até ficar com osumo bem escuro”.

Fábio

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“Vou explicar o seguinte, digamos que você seja de Yemanjá, então vocêvai se iniciar no culto do candomblé, você raspar o orixá. Todas asfolhas relacionadas com o seu Orixá vão estar dentro de uma palha,devidamente quinada, porque você vai tomar banho diariamente comaquilo. Porque ali ta o encantamento, aquelas folhas foram cantadas,foram encantadas. E as folhas, também as mesmas que foram pro“abo”, as vezes podem ser as mesmas que vão pra um determinado localem que vai estar recolhida. Por que? Exatamente porque estas são asfolhas que representam este orixá”.

FábioExiste uma divindade responsável pelas plantas:

“Ossain é o Deus das folhas, o grande feiticeiro das matas. Ossain é ogrande feiticeiro das folhas, é ele que detém o poder das folhas, é eleque sabe o que vai ser usado”.

Fábio

Segundo Verger (1981) Ossain é a divindade das plantas medicinais e litúrgicas.

Sua importância é fundamental, pois nenhuma cerimônia pode ser feita sem a sua presença,

sendo ele o detentor do àse (poder), imprescindível até mesmo aos próprios deuses. O

nome das plantas e sua utilização e as palavras (ofò), cuja força desperta seus poderes, são

os elementos mais secretos do ritual no culto dos deuses iorubás.

As folhas para serem utilizadas precisam passar por um processo que eles chamam

de “cantar” ou “encantar”. Este processo tem o objetivo de multiplicar o poder da folha, e o

responsável por isso é Ossain:

“A gente tem os encantamentos que são chamadas “sassain”, que nopopular eles falam sassanha. Que é um encantamento, Ossain é o Deusdas folhas, é o responsável por isso, e você pra encantar uma folha, prachamar a energia do orixá, você precisa cantar esta folha, então vocêcanta determinadas folhas, pra encantar, o poder da erva multiplicaassim a quinta potência, décima potência”.

Fábio

Camargo (1998) afirma que com relação aos rituais afro-brasileiros atuais é

possível verificar que, além das plantas exóticas muitas plantas nativas brasileiras fazem

parte destes rituais, deixando evidenciar certo distanciamento com relação à mãe África

Verger (1995) demonstra isso em seu trabalho quando divulga grande número de receitas

para as mais variadas finalidades, ditadas por religiosos na África, quando nelas

predominam plantas africanas, não usadas no Brasil em receitas para fins semelhantes.

Segundo Almeida (2003), com a vinda dos africanos para o Brasil, muitas foram as

espécies trazidas, as substituídas por outras de morfologia externa semelhante e muitas

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foram também as levadas daqui para o continente africano. Os negros introjetaram as

plantas nativas do Brasil na sua cultura, através de seu efeito médico-simbólico.

Plantas psicoativas utilizadas, por exemplo, em transes, não foram mencionadas

pelos informantes da Capoeira Grande, o que não quer dizer que elas não sejam utilizadas.

Alguns ritos do Candomblé e da Umbanda não puderam ser revelados:

“Usamos o sumo da folha, a folha vai dentro de alguns rituais que édentro daí do quarto ritualístico, que eu não posso revelar o que é, masé usada pra um encantamento de orixá, pra trazer o orixá”.

Fábio Camargo (1998) diz que muitas plantas usadas nos rituais religiosos e de cura são

também de uso medicinal, pois de certa forma, fazem parte da formação cultural do

brasileiro, transmitida pelos antepassados e que hoje permanecem na memória daqueles

que, em sua medicina caseira, as utilizam. Este fato pode ser observado nas falas dos

moradores da Capoeira Grande.

Dentro deste contexto, é importante destacar na história de utilização de plantas

para tratamento de doenças/sintomas no Brasil, os procedimentos terapêuticos de caráter

mágico-religioso nas práticas de cura trazem em seu bojo certos traços da feitiçaria

européia que remontam ao período medieval. Certamente, com as perseguições impostas

pela Inquisição as fugas para o Brasil propiciaram a introdução de práticas de feitiçaria,

então em voga na Europa do século XVI, fazendo com que tais práticas passassem a ser

conhecidas das populações das localidades para onde os fugitivos passavam a residir

(Camargo 1998).

Como dito anteriormente, a própria utilização de plantas medicinais voltada a

práticas religiosas ditadas pelo cristianismo do século XVI, presente em Portugal na época

do descobrimento do Brasil, que invocava santos protetores a fim de intercederem nas

curas das mais diversas doenças, se mantém ainda viva entre os brasileiros de hoje (com os

“rezadores”), mantendo também vivo o ato de recorrer aos intercessores terrestres. Santos

(1992) expõe como era a utilização de plantas medicinais voltada a estas práticas religiosas

definindo estes intercessores terrestres - "os feiticeiros, os bruxos, os próprios curandeiros -

que ao uso de certos produtos naturais, manipulados com maior ou menor dose de perícia,

juntavam benzeduras, orações, gestos exóticos que constituíam o ritual indispensável à

libertação do mal, físico ou psíquico”.

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Vale a pena salientar que para que possamos compreender o uso de plantas

envolvendo curas de males físicos e espirituais, é importante que as atenções se voltem

para todos os elementos de que compõem os processos de cura e tentar compreender a rede

de inter-relações e os processos interativos que se estabelecem em perfeita coerência com a

cosmovisão dos integrantes. O ideal seria ter uma visão holística desta realidade.

As plantas citadas pelos informantes da Capoeira Grande como místicas podem ser

observadas na Tabela 4.

Tabela 4. Plantas místicas citadas pelos informantes da Capoeira Grande, Pedra de

Guaratiba, Rio de Janeiro.

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Nomes populares Nomes científicos Usos

Abre-caminho Lygodium volubile Sw. “banhos de descarrego”; banhopara receber espíritos.

Alecrim Rosmarinus officinalis L. indicado por um pai de santopara paralisia da perna.

Alecrim-do-mato Baccharis dracunculifolia DC. defumação de casa, para afastaros maus espíritos.

Amoreira Morus nigra L.

utilizada no candomblé naconfecção de varinhas“trabalhadas” que servem paramanter o Eguns afastados. “OsEguns são espíritos ancestraisligados à morte”.

Aroeira Schinus terebinthifolius Raddi “banho de descarrego”.

Arruda Ruta graveolens L. “rezar” ventre virado; banhopara “olho grande”.

Cana-do-brejo Costus spicatus (Jacq.) Sw. banho contra “olho gordo”;planta da orixá Nanã.

Capeba não coletada encantamentos de orixás nocandomblé

Colônia Alpinia zerumbet (Pers.) B.L.Burtt & R.M. Sm.

utilizada para banho dedescarrego na Umbanda eCandomblé.

ElevanteMentha piperita var. citrata(Ehrh.) Briq.Outra sp. não coletada

Banho “quebrar mau-olhado”em criança; banho pra“espinhela caída” e para“levantar o astral”.

Erva-de-santa-bárbara não coletada banho para receber espíritos eajuda de Santa Bárbara

Nomes populares Nomes científicos Usos

Erva-de-santa-luzia Pistia stratiotes L. para “lavar as vistas” antes dejogar búzios.

Erva-doce Pimpinella anisum L. pra “rezar criança”

Espada-de-são-jorge Sansevieria trifasciata Prain afasta más influências, olhogordo, mal olhado

Folha-da-fortuna Kalanchoe pinnata (Lam.)Pers.

atrair dinheiro e sorte; “banhode descarrego”

Gervão-roxo Stachytarpheta cayennensis(Rich.) J.Vahl folha de Oxalá

Goiabeira Psidium guajava L.

confecção dos Atoris ouAquidauis, varinhas que se usapara tocar atabaque nocandomblé.

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Cont. Tabela 4...

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A maioria das plantas utilizadas como místicas também é utilizada como medicinal,

semelhante ao encontrado por Camargo (1998). A maioria já está aclimatada no Brasil,

como erva-doce, colônia, manjericão, outras são nativas, como a aroeira, e a guiné.

Algumas delas ainda têm que ser compradas, como é o caso das “favas” Obi e Orobô.

Segundo Almeida (2003), o Obi e o Orobô estão entre as espécies que foram trazidas da

África e aqui permaneceram. E a guiné está entre as que foram levadas para a África, após

a abolição, durante o chamado refluxo migratório.

Algumas plantas não foram coletadas, tanto místicas quanto medicinais, pois os

informantes não as têm mais em casa ou porque quando precisam compram em pequenas

lojas de produtos religiosos localizadas na região, ou nos grandes mercados distribuidores

do Rio de Janeiro como Mercadão de Madureira, por exemplo. As indicações terapêuticas

destas plantas e outras informações podem ser observadas na Tabela 3.

O diagnóstico das doenças, na maioria das vezes, é realizado através de consulta

aos oráculos, que determinam os sintomas, identificam males e orientam os procedimentos

de cura. Segundo Almeida (2003) pode-se observar nas religiões de matriz africana duas

grandes categorias de doenças: os distúrbios que se apresentam sob a forma de desordem

física, que podem ocorrer ou não no iniciado e que são relacionados com a atuação das

divindades principais do indivíduo. A segunda categoria compreende as doenças

endêmicas em geral como varíola, gripe, resultante da ação genérica dos orixás Obaluaê e

Omolú, considerados “os senhores da vida e da morte”.

Segundo o informante Fábio, em se tratando de iniciados, a sintomatologia pode

exprimir a “marca” ou sinal de sua divindade principal ou de um orixá que faça parte de

seu “carrego de santo”. Esta informação é corroborada por Almeida (2003).

Neste estudo, um exemplo desta relação pode ser realizada para Costus spicatus,

planta do Orixá Nanã, utilizada para problemas renais. Segunda Almeida (2003) as

doenças renais, assim como o reumatismo são vistos como “males de velhos”, sendo

atribuídos a Oxalá e Nanã, orixás primordiais da criação.

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3.5. Formas de Preparo de remédios caseiros na Capoeira GrandeAlguns informantes utilizam compostos de plantas, com algumas formas de preparo

detalhadas, informações muito longas para constarem em uma tabela. Neste tópico serão

descritas estas formas de preparo. As transcrições em itálico correspondem às informações

gravadas. As demais correspondem às anotações em diário de campo.

Para torção

“Você vê como o troço é abençoado esta tal de erva-de-passarinho:uma vez eu subi aí pra pegar uns galho seco desta planta aí, aseriguela. Aí eu subi, o galho quebrou comigo, caí, torci este braço, obraço incho, aí tinha um rapaz aqui que perguntou o que tinhaacontecido. E me perguntou se eu não sabia o que era bom pra isso, eudisse não sei não...eu sei o saião, não moço, cê não vai fazer só comsaião não...faz com erva-de-passarinho, soca tudo junto, faz aqueleemplasto, bota num pano e amarra no braço, depois se pega um vinagree dá um banho de vinagre em cima. Menina, mas foi uma benção docéu. Quando foi de noite eu deitei, ainda tava doendo, mas eu senti obraço fazendo assim [mostrando o braço destorcendo], parecia quetinha uma pessoa mexendo nele pra botar o osso no lugar, no outro diaeu já tava varrendo aí as folha com a vassoura, com três dia eu fiqueibonzinho. Mas o osso chegou a sair do lugar mesmo legal, mas fiqueibom, o saião socado com erva-de-passarinho e sal grosso. Parecementira mas é bom mesmo”.

Seu Manoel

Algodão para contrações uterinas

“Ele era muito usado pelos antepassados né. Usado num banho praaumentar as contrações na hora de nascer o bebê, pelas parteiras. Chá dafolha pra qualquer tipo de infecção uterina. Pro banho também as folhas,botava a água e as folhas pra pessoa sentar e se banhar, pra ajudar nascontrações uterinas”.

Dona Lucia

Para fraturas que não sejam expostas

“Você conhece o Genipapo? É esta árvore. Os frutos e as folhas. Se vocêtem uma quebradura que não seja exposta, você soca ele e côa ele bem ebota a raspa, junta os ossos no lugar. E o fruto maduro o suco dele é ricoem tudo, repõe tudo que o ser humano necessita no seu organismo”.

Dona Lúcia

Elixir que combate a obesidade e o colesterol

“...composto de jurubeba, alcachofra, espinheir-santa, chapéu-de-couro.É a mesma coisa só que estas outras passam por laboratório, por químicané. Então você tem ela dentro de casa, ce tem o elixir. Combate a

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obesidade, o colesterol. Combate também, é uma cura total contra ahepatite C... Eu uso só o fruto, eu faço um elixir do fruto aí, normalmentese eu tenho a folha do chapéu de couro eu uso né, porque ajuda acombater o colesterol. Eu trituro ele todo [o fruto da jurubeba], deixo eminfusão por uma hora numa panela de ágata bem limpinha que não soltaresíduo de alumínio né, aí depois eu trabalho ele num processo que eutambém posso fazer ele com o álcool, álcool natural só pra garrafadas. Aífaço, cozinho, e, é uma coisa como se tivesse passado por um laboratório.É trabalhoso. Tem que esterilizar ele todo, fruto por fruto, cada coisa queeu vou por junto. [E como a senhora estereliza?] Eu tenho as bacias dasminhas ervas, só pra isso. Aí eu coloco tudo lavo bem em água corrente ajurubeba eu tiro todas aquelas bolinha por bolinha, daqueles cachinhos elavo muito bem lavado em água corrente, depois eu coloco uma colher deágua sanitária dentro da bacia com água deixo em torno de umas duashoras, depois eu lavo, lavo em água corrente novamente, boto numapeneira pra escoar, e depois que ela escoa bem escoadinha aí é que euvou fazer, triturar ela”.

Dona Lúcia

Contra vermes

“Isso [erva-de-santa-maria] aí antigamente no interior. De manhã a gentelevantava né, aí a mãe da gente falava, hoje não vâmo tomar café, vâmotomar remédio de verme, tomava com leite, leite de cabrito. Aí fazia e nóistomava. Socava aquilo no pilão, tirava aquele sumo e misturava no leitede cabrito. E a gente chama no peito. Nunca ninguém sofria nada, ficavaamarelo por causa de verme nem por causa de nada não. Só se usava issopra verme”.

Seu Manoel

Xarope pra tosse

“Eu uso o capim-limão pra fazer um xarope. Quer vê, anota aí: capimlimão, pitanga, laranja-da-terra e...um dentinho de alho. Você bota umasfolhinha de laranja da terra, pitanga, capim limão e um dentinho de alhonuma panela com um pouquinho de água e o resto põe açúcar. Faz aquelecaldo grosso e tá pronto”.

Seu Antônio

Garrafada para dores musculares, principalmente nas costas, na coluna“Essa é aquela que quando você dá uma pancada né, ou uma dor nacoluna, você tira com raiz e tudo [erva-gambá], bota numa garrafa né,junta arnica, cobre com álcool, aí daqui dois dia, três dia, e passa. Elatem um cheirinho, você conhece gambá conhece? Olha aquió...[esmagando uma folhinha pra eu cheirar] parece o cheiro da defesa dogambá né, por isso o nome de erva-gambá”.

Seu Antônio

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Garrafada pro homem se sentir mais jovem“Aqui o caju-roxo, a casca, o pessoal tira, de vez em quando eu tiro praum senhor aqui...tira pra fazer garrafada né. Só do roxo, outro não tem.Aí bota numa garrafa com água, bota na geladeira, pra beber. Diz né...osenhor que vem pegá aí que diz...vâmo dizer assim...um rapaz de 60 anosfica igual um de 40”.

Seu Antônio

Pra tirar furúnculos

“Esquenta [a folha do saião] no fogo com um pouquinho de azeite, praficar bem quente, ai coloca em cima do olho né, aí sai aquele carnegão. Ésó espremer que sai o carnegão. Pode amarrar um pano pra segurar umpouco né”.

Seu Antônio

Supositórios para tratar hemorróidas

“ Uma senhora tava me contanto que gastou dinheiro pra caramba comhemorróide, aí uma mulher falou pra ela...ué, você não tem babosa, tenho,você faz assim como se fosse um supositório né...aí você coloca nocongelador, da geladeira né, não no freezer, aí tira e usa. Tira um pedaçoda folha aqui assim, faz assim um palitinho [com a mucilagem] né, e botano congelador. Ela usou e curou”.

Seu Antônio

Contra vermes

“Eu uso hortelã-pimenta é bom pra verme. Aí bota hortelã-pimenta ehortelã-de-horta, bota os dois e bate no liquidificador com leite e toma demanhã em jejum, é muito bom pra verme”.

Dona Cremilda

Para dor de cabeça

“É bom pra dor de cabeça também o hortelã-pimenta. Esse pra dor decabeça a gente faz o chá, pega o hortelã faz chá e toma. Lava bem asfolhinhas, bota água pra ferver, bota dentro e abafa e deixa abafado lá.Depois, deixa esfriar e bebe. Bebe frio. Bebe umas duas, três vezes no dia. Ébom pra dor de cabeça”.

Dona Cremilda

Para sangramento na gengiva

“O meu escape da periodontite foi a casca da aroeira. Você faz, ferve, elatem muita cica, é horrível. Bochecha. Assim, se você tiver sangramento nagengiva, acaba”.

Fábio

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Para furúculo

Pega-se um punhado de folhas de maravilha, coloca-se para aquecer nafrigideira com um pouco de azeite. Quando estiver quente, no limitesuportado pela pessoa, colocar em cima do furúnculo com um algodão.Quando esfriar, esquentar novamente e aplicar denovo. Aplica-se até ofurúnculo estourar. Se depois de um dia de aplicação ou dois o furúnculo nãoestourar, parar o tratamento porque possivelmente não é furúnculo e podeprecisar ser lancetado.

Dona Zelinda

Para fortalecer o sistema imunológico

Utiliza um galho de eva-baleeira pra 1 litro de água para fazer o chá. Masainda tem dúvidas sobre esta medida, por ela não ser exata. Toma-se 3xícaras (ou 3 copos americanos) por dia - café da manhã, almoço e jantar.

Dona Zelinda

Para problemas renais

Picão: a preparação do chá segue o mesmo processo de preparo da erva-baleeira. Usa a planta toda exceto a raiz. Para uma planta de uns 20cm dealtura meio litro de água.

Dona Zelinda

Para resfriados, tosse, tuberculoses, pneumonia

Saião com leite – meio litro de leite para 6 folhas. Bate tudo noliquidificador. Tomar 2 copos uma vez ao dia por no máximo uma semana.Esta receita foi indicada pelo médico para o filho da empregada. Ainformação que o médico passou pra ela foi que se esta dose for maior podeser tóxica, formando água na pleura.

Dona ZelindaPara contusão

Socar as folhas do saião e usar como cataplasma num tecido ou algodão. Onúmero de folhas socadas depende da extensão do machucado.

Dona Zelinda

Contra pulgasAmassar as folhas de erva-de-santa-maria e espalhar pelo quintal. Pode-seamassar a folha e esfregar no corpo do cachorro.

Dona Zelinda

Para corrimentos vaginais

Um punhado de folhas de carrapicho, sem o carrapicho para um litro de água.Toma durante o dia todo.

Dona Zelinda

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Para relaxar e digestivo

Usa-se para fazer o chá 7 folhas de erva-cidreira para um copo de água.Toma-se depois do almoço, ou quando se sente mal do estômago, ou aindaantes de dormir ou quando se está muito nervoso.

Dona Zelinda

Digestivo

Uma touceira de capim-limão com oito folhas usa-se somente quatro emmeio litro de água. Mas se tomar muito se tornar laxante.

Dona Zelinda

Para sinusite

Um galho de eucalipto de mais ou menos 30 cm para meio litro de água,arranca as folhas e ferve. Inala e toma como chá 3 vezes por dia.

Dona Zelinda

Para dores no estômago, ou para “quando se bebe demais”

“Pega as folhas [do boldo], bota num copo soca bem, bota uma água gelada,coa e bebe. Mas é gostoso”!

Seu Antônio

Para dor de dente

“A raiz da dormideira, só a raiz que é a parte ativa dela, pra inflamaçãodentária. Ferve ela, ela quente ainda faz um bochecho”.

Antônio

Para lavar machucados inflamados

“O chá das folhas da carobinha, o próprio banho, banho que eu falo é umpouco de água que vai banhar aquela perna, se tiver uma ferida crônica,uma inflamação. Então, ele pode beber um pouquinho daquela água antes dabanhar, e o que sobrou ele vai usar pro banho. Ferve [as folhas], por cincominutos deixa um pouco, bebe e consumir este banho logo no período de 24horas. [...] o trevo de cinco folhas, conhecido também como sete chagas. Aino morro tem bastante. É pra banho também, antiinflamatório, faz da mesmaforma”.

Antônio

Para cicatrizar machucados

“Uma outra árvore que é remédio também é a aroeira. Ela éantiinflamatório também, pra banho também, pra cicatrizar machucado.Pode beber também. Pra machucado infeccionado. Ferve [as folhas], porcinco minutos deixa um pouco, bebe e consumir o banho logo no período de24 horas também”.

Antônio

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Depurativo do sangue

“O ipê roxo também é bom, depurativo do sangue. Ferve as folhas por cincominutos para fazer o chá”.

Antônio

Para cravos e verrugas

“Usa o sumo da folha da erva-moura, coloca em cima da verruga. Pro cravotambém, a pessoa corta a pele do cravo até ficar bem fininho e coloca osumo. Ela tem que ser usada sempre verde né”.

Antônio

Para anemia

“Minha mãe fazia raiz da jurubeba no vinho moscatel. Raspava a raiz,botava de molho uns 3 dias, depois dava um cado no almoço e outro najanta”.

Dona Antônia

Para diarréia

“A casca da jaboticabeira é boa pra diarréia, aquela diarréia braba, acasca da jaboticabeira com broto de goiaba, juntos, ferve tudo”.

Dona Antônia

Para menstruação atrasada

“A erva cidreira, quando a pessoa não quer menstruar, minha mãe dava cháde cidreira, ou então vinho tinto fervido com canela. As vezes a pessoa tavacom a menstruação atrasada bebia o chá de cidreira, mas se não resolvesse,bebia vinho tinto com canela fervido”.

Dona Antônia

Para resfriado com febre

“O limão com folha de laranja da terra, um dente de alho é bom praresfriado, cozinha a folha da laranja, com um pedaço de limão e um dente dealho, mas não soca o dente de alho, só descasca e cozinha. Quando temfebre bota folha de pitanga junto”.

Dona Antônia

Para má digestão, “arrotando azedo”

“O louro também, casca de cebola com folha de louro é bom pra quando apessoa ta rotando azedo. Toma uma vez ou duas. Ta com a barriga inchada,rotando azedo, casca de cebola com folha de loro, para na hora”.

Dona AntôniaPara os rins

“Pra rins é parietária, quebra pedra e folha de cana, é melhor do que canade brejo. Folha da cana que a gente chupa a urina sai fresca, a cana dobrejo sai com aquele cheiro ativo. Ferve tudo junto”.

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Dona Antônia

Para erisipela

“Pra erisipela é bom folha de cinco chagas pra lavar [ferve a folha] e passarazeite doce”.

Dona Antônia

Para dente inchado

“O guiné serve até pra buchechar o dente, quando o dente ta inchado, podebuchechar com folha de guiné, ou então cortar o jiló, cozinhar o jiló eaquela água buchechar com sal, mas a água do jiló com um pouquinho desal serve pra desinchar o dente”.

Dona Antônia

Garrafada para dores na coluna

“A fruta do para raio, bota sete caroço dentro de um litro de álcool, servepra dor na coluna”.

Dona Antônia

Para úlcera

“A folha da couve em jejum pro estômago, pra ulcera, bate no liquidificadore tomar aquele suco”.

Dona Antônia

Para bronquite asmática

“Qualquer manga, se for um litro de água, pega 3 manga, tira a casca, podecomer a manga, cozinha ela, bate no liquidificador, côa e leva no fogo comaçúcar, faz aquele xarope. Não pode botar álcool, tem que levar nageladeira. Aí, vai bebendo umas duas vezes ao dia, pode beber até 3 vezes aodia. Assim uns dois dedinhos, quando acabar aquele litro tem maisbronquite”.

Dona Antônia

Contra vermes

“Hortelã e santa-maria. Chá, ou então o sumo, bate no liquidificadorhortelã e santa-maria. Caroço de abóbora pode bater junto, descasca e botajunto e bebe, bota verme”.

Dona AntôniaPara destroncados

“Santa-maria com saião pra destroncado, pode botar em cima, soca e bota emcima”.

Dona AntôniaContra pulgas

“Esfrega a planta inteira [vassourinha-de-pulga] no cachorro, ou se tempulga na casa varre a casa com ela”.

Dona Antônia

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Para reumatismo

“Melão-de-são-caetano serve pra reumatismo, bota a folha no álcool epassa”.

Dona AntôniaPara diabetes

“A casca do cajueiro é bom pra diabetes. Faz um chá da casca do cajueiro.se você tirar uma lasca de casca ele se regenera. Vai tomando durante odia”. “A graviola é também pra diabetes, a própria fruta ou o chá da folha. Umafolha daquela dá pra fazer um chá pra dois litros. Todos os chá que eu façoeu deixo ferver a água e depois é que eu ponho a folha e tampo. O idealmesmo é nem deixar a água ferver, quando tiver próximo de ferver eudesligo, quando tiver fazendo aquelas bolinhas pequenininhas”.

Giovani

Para tirar o mal da casa

“O alecrim-do-campo é pra defumação de dentro de casa. Se panha ele,deixa ele seca um pouquinho, uns dois ou três dias, pões ele no defumador,bota um foguinho nele com uma palha de alho, vai lá e defuma a casa toda.Ali nada mal fica”.

Seu Joaquim

Para dores nas juntas

“O alecrim-de-casa é pra ponha nas juntas, viu, fez um chazinho ali né,bebeu um poquinho, passa na junta as junta amolece todinha, não fica duranão. [E como o senhor faz chá?] Ferve a plantinha. Boto a planta dentro daágua e bota ferve”.

Seu JoaquimPara o fígado

“Mastiga uma folhinha dele [erva-macaé] bota uma água gelada pra engoliraquele cardinho margano, quando bateu lá no fígado, fica bonzinho”.

Seu JoaquimPara febre

“O melão-de-são-caetano é pra febre. Usa o lacinho dele todo. Panhô ele,lavo ele, boto no fogo ferve e bebe, ah não tem febre que resista”.

Seu JoaquimPara torcicolo

“Faz chá, ferve na água. E depois esquenta a folha dele no fogo e bota nopescoço, o torcecolo não volta mais”.

Seu Joaquim

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Para diarréia

“Ah, sete sangrias. É pra dor de barriga, viu. As vezes ce ta desandado quenum para nada no estomago, num para nada na barriga, aí ce tomo elaacabo. Põe ela ferve e bebe o chá”.

Seu Joaquim

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3.6. Análises quantitativas

Segundo Almeida (1997), a partir da decodificação das doenças/sintomas citadas

pelos informantes de acordo com o sistema biomédico convencional, seguindo a

classificação adotada pela décima revisão da Classificação Internacional de Doenças,

Injúrias e Causas de Morte (CID-10 2005), pode-se traçar o perfil epidemiológico da

comunidade. Esta classificação agrupa as doenças em 21 categorias (Tabela 1), e através

dela foi feita a decodificação para as doenças/sintomas citadas pelos informantes da

Capoeira Grande (Tabela 5).

Após a decodificação dos usos das plantas citados pelos informantes para as

categorias da CID, foram encontradas 18 categorias, somando um total de 352 citações

(Tabela 5, Fig. 12). Destas, 75 (22%) foram referentes à categoria I que corresponde a

doenças infecciosas e parasitárias, seguida de 46 citações (13%) na categoria X, doenças

do aparelho respiratório. A categoria XI, doenças do sistema digestivo, aparece em terceiro

lugar com 42 citações (11%), juntamente com a categoria XIV, doenças do sistema

genitourinário com 41 citações (11%). Dentre todas as citações, 31 (8%) estão na categoria

XVIII, que corresponde a sintomas e sinais não classificados em outra parte. Nesta

categoria se encaixam os sintomas que podem ser devidos a diversas doenças, como por

exemplo, febre ou dor de cabeça. As demais categorias encontradas foram: IX e XIX com

16 citações (4,5%); XII com 15 citações (4,2%); XX e V com 14 citações (3,9%); XIII

com 11 citações (3%); IV e VI com 9 citações (2,5%); XV com 6 citações (1,2%); as

categorias III, II , VII e XVI somam juntas 7 citações (1,9%) (Fig.12).

De acordo com Novais et al. (2004), “as categorias terapêuticas mais citadas são

aquelas que mais afetam a população estudada”. No caso deste trabalho, é mais correto

dizer que as categorias mais citadas são aquelas que são mais tratadas utilizando-se plantas.

As entrevistas foram realizadas com questões sobre as plantas que tratam doenças, e não

doenças que são tratadas com plantas, o que pode causar uma diferença nas respostas,

fazendo com que o informante se lembre de usos relacionados às plantas que eram feitos

há tempos atrás, e não necessariamente refletindo tratamentos realizados no presente.

Desta forma, os dados obtidos podem apenas servir de base para trabalhos futuros que

tenham como objetivo traçar o provável perfil epidemiológico da comunidade.

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Estes resultados são semelhantes aos de estudos realizados em áreas urbanas e

rurais localizadas dentro ou no entorno de fragmentos de Mata Atlântica, como o de Di

Stasi et al. (2002) e Pinto et al.(2006), onde os sistemas corporais mais afetados são em

geral o respiratório, o digestivo (gastrointestinal) e doenças infecciosas e parasitárias. Di

Stasi et al.(op. cit.) explica este fato devido às condições sócio-econômicas encontradas

nas populações por eles estudadas, onde as condições de saúde e alimentação são muito

precárias. Sendo assim, a predominância de doenças infecciosas e parasitárias, aliadas a

doenças dos sistemas respiratório e digestivo são indicadas por este autor como problemas

que podem ser vinculados às condições sanitárias deficitárias. Na comunidade em estudo

embora as condições sanitárias e de alimentação sejam melhores do que aquelas citadas

por Di Stasi, elas não são ideais.

Em geral, doenças do sistema digestivo, aliado às doenças infecciosas e parasitárias

são predominantes em regiões tropicais e subtropicais. Nos trabalhos de Amoroso & Gely

(1988), Ming (1995), Schardong & Cervi (2000), Bennett & Prance (2000) e Medeiros et

al. (2004); Pilla et al.(2006) também são citadas as doenças do aparelho respiratório como

tendo maior número de plantas indicadas. Almeida & Albuquerque (2002) também relatam

a predominância de doenças dos sistemas digestivo e respiratório entre as predominantes

em sua área de estudo. Os resultados de Johns et al. (1994) vêm confirmar a importância

do conhecimento de plantas para tratar problemas gastrointestinais e respiratórios em

diversas culturas. No estudo que realizaram junto aos Batemi, na Tanzânia, estas duas

categorias concentraram, juntas, o total de 62 registros de remédios. Segundo Troter &

Logan (1986), Ugarte (1997), Heinrich et al.(1998), Bennett & Prance (2000) e Almeida &

Albuquerque (2002) o tratamento de doenças do sistema gastrointestinal e do sistema

respiratório, juntamente com o de problemas de pele são os mais frequentemente relatados

através do mundo.

No presente estudo, doenças do sistema genitourinário aparecem em terceiro lugar

com 11% das citações, juntamente com as doenças do sistema digestivo. Esta categoria de

doenças é citada entre as predominantes em Silva (1997), pelos índios Xucuru

(Pesqueira/PE) e Nicholson & Arzeni (1993) em mercado no México e em Pilla et al.

(2006) em São Paulo.

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Tabela 5. Plantas de uso medicinal citadas pelos informantes do entorno da APA da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de

Janeiro, RJ, em ordem alfabética de nome popular e classificadas de acordo com a décima revisão da Classificação Internacional de Doenças,

Injúrias e Causas de Morte (CID-10 2005).

Nome popular Nome cientìfico Informantes Propriedades Terapêuticas CID10

Abacateiro Persea americana

S. Antônio Diurético XIV

D. LúciaDiurético; expectorante; corta gases

acumuladosXIV; X; XI

D. Antônia Para urina, baixar a pressão XIVAbóbora Cucurbita sp. D. Antônia Vermes IAcerola Malpighia punicifolia D. Lúcia Gripes, resfriados X

Agrião Nasturtium officinale D. CremildaD. Antônia Pulmão: Tosse, gripe X

XAgrião-do-mato Lepidium cf. ruderale Giovani Pulmão: pnemonia X

Alecrim Rosmarinus officinalis Seu Joaquim Reumatismo XIIIAlecrim-do-campo Baccharis dracunculifolia Antônio Antibiótico natural IAlfavaca-da-horta Não coletada

Alfavacão Ocimum officinalis D. Antônia Coração IXTosse coqueluche I

Algodão Gossypium arboreum D. LúciaAumentar contrações e dilatação no

parto; infecção uterinaXV; XIV

Alho Allium sativumS. AntônoD. AntôniaGiovani

Resfriados e tosse XXX

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Nome popular Nome cientìfico Informantes Usos medicinais CID10Amor-do-campo; carrapicho;

carrapichinho-do-campoDesmodium purpureum

D. Zelinda Corrimentos vaginais I; XIVD. Antônia Corrimentos vaginais I; XIV

Amoreira Morus nigra D. Zelinda Reposição hormonal - menopausa IVS. Antônia Garganta inflamada X; XVIII

Arnica; Arnica-montana;

Arnica-do-campoEupatorium maximiliani

S. Manoel Inchaços por pancadas, torções. XIX; XXAntônio Quebraduras, torções XIX; XXD. Atnônia Joelho inchado, reumatismo XIII

Arnica; Arnica-montana Solidago microglossa S. AntônioContusão; dores musculares; dores de

pancada.XIX; XX; XIII

D. Lúcia Dores musculares, Reumatismo XIIIArnica-montana Arnica montana (da farmácia) D. Antônia Cólicas, gases, diarréia, estômago XI

Aroeira; Aroeira-branca;

Aroeira-vermelhaSchinus terebinthifolius

S. Manoel Inchaços; cortes abertos; “eripsela”. XIX; XX; I; XIID. Antônia Hemorróidas; estômago IX; XI

D. Cremilda

Limpa o sangue, coceira. “Inflamação

de barriga” - lavagem vaginal.

Machucados inflamados. Pulmão:

gripe, tosse

I; XIV;X

AntônioAntiinflamatório; cicatrizante; para

machucado inflamadoXVIII; XII; I

Fábio Corrimentos vaginais I; XIVArruda Ruta graveolens D. Clemilda Cólicas menstruais XIV

Cont. Tabela 5...

86

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Nome popular Nome cientìfico Informantes Usos medicinais CID10

Assapeixe; assapeixe-roxo Vernonia cognata

S. Manoel Pneumonia.I; X

S. LúciaPara os brônquios, infecção pulmonar,

tosse.I; X

D. Cremilda Pulmão, gripe, tosse I; XSeu Joaquim Pulmão I; X

Artemísia Sem coleta D. Antônia Má circulação e manchas na pele IX; XII

Babosa Aloe veraS. Antônio cura hemorróidas IX

Giovani Cicatrizante; câncer. XII; IID. Antônia estômago XI

Boldo Plectrantus grandis

S. Antônio Para ressacas e problemas no estômago XI

D. ZelindaDigestivo, neutraliza acidez do

estômago.XI

D. cremildaDigestivo, problemas do fígado,

ressaca: dor de barriga, dor de cabeçaXI

Fábio Ressaca XI

Boldo-do-chile Plectrantus neochilusD. Lucia Estômago, má digestão XI

D. Antônia Estômago, má digestão XIAntônio Fígado, depois do porre XI

Buta-preta Sem coleta Seu Joaquim Dor de cabeça XVIII

Cont. Tabela 5...

87

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Nome popular Nome cientìfico Informantes Usos medicinais CID10

Cabelo-de-milho Zea mays D. Zelinda Problemas renais I; XIVD. Antônia Para urina I; XIV

Cajueiro

Cajueiro-roxo Anacardium occidentale

S. Manoel Cicatrizante, diabetes XII; IVGiovani Diabetes IV

D. Cremilda“Inflamação de barriga” - lavagem

vaginalI; XIV

D. Antônia Hemorróidas IXS. Antonio Tônico sexual XVIII

Cana Saccharus officinale D. Antônia rins I; XIVCana-crioula Sem coleta D. Antônia Corrimento vaginal XIV

Cana-do-brejo; cana de-

macacoCostus spicatus

Fábio Infecção Renal I; XIVD. Lucia Cistite; diurética I; XIVSeu Joaquim rins I; XIV

Canela Cinnamomum zeylanicum D. Antônia Menstruação atrasada XIV; XV

Cânfora Sem coleta D. Lúcia Dor de cabeça de sinusite. XSem coleta Seu Joaquim Pras juntas XIII

Capim-limão; cidreira; erva-

cidreira; capim-cidreira;

Capim-santo

Cymbopogon citratus

S. Manoel Calmante. Tranqüilizante. V; VI; XVIIID. Zelinda Digestiva XIS. Antonio Tosse e resfriados XFábio Sistema nervoso, histerismo. V; VIGiovani calmante V; VID. Antônia Vômito; diarréia I; XI; XVIIID. Lucia Calmante; digestivo V; VI; XVIII; XI

Cardo-santo Sem coleta Seu Joaquim Dor de cabeça XVIII

Cont. Tabela 5...

88

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Nome popular Nome cientìfico Informantes Usos medicinais CID10

Carobinha Jacaranda puberula

S. AntônioD. Cremilda

Para infecções de pele: sangue ruim,

coceira, irritação.

XIIXII

AntônioAntiinflamatório, pra banhar

machucadosXVIII; XIX

Carrapichinho; amor-do-

campoDesmodium barbatum Antonio

Antiinflamatório; diurético; para pedra

nos rinsXVIII; XIV

Carrapichinho; amor-do-

campoAcanthospermum hispidum

Catuaba Sem coletaSeu Joaquim

Urina presa XIV

estômago XI

Cebola Allium cepa D. Antônia Má digestão “rotando azedo”. X

Chapéu-de-couro Echinodorus grandifoliusS. Manoel Para os rins I; XIVD. Lúcia Combate o colesterol IXSeu Joaquim Ossos, torcicolo XIII

Chuchu Sechium edule D. AntôniaPara urina e baixar a pressão

(diurético)XIV

Cinco-chagas; trevo-de-cinco-

folhas; sete-chagas Cinco-chagas

Sparattosperma leucanthumAntônio Antiinflamatório XVIII

D. Antonia Erisipela I

Cipó-chumbo Sem coleta D. Antônia Gripe, rouquidão X

Colônia Alpinia zerumbet

S. Manoel Diabetes; problemas renais IV; I; XIVFábio Acalma, antidepressiva V; VI; XVIIID. Cremilda Pro coração, pressão IXGiovani Angina, broncodilatador IX; X?

Cont. Tabela 5...

89

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Nome popular Nome cientìfico Informantes Usos medicinais CID10Cordão-de-frade Leonotis nepetifolia Seu Joaquim Bronquite X

Couve Brassica oleraceaCurvim Sem coleta D. Antônia Estômago, úlcera XI

“grão grande” ?

Dormideira Mimosa pudica Antônio Pra dor de dente I; XISem coleta S. Antônio Calmante, sedativo, para dormir. V; VI; XVIII

ElevanteSem coleta D. Lúcia Para resfriado, renite, corisa X

Mentha x piperita var. citrata D. CremildaDor no peito, dor no estômago de

espinhela caídaXVIII

Embaúba Cecropia cf. lyratiloba D. Cremilda Pulmão: gripe, tosse X

Erva-baleeira Cordia verbenacea D. Zelinda Estimulador do sistema imunológico IIIAntônio Antibiótico natural I

Erva-cidreira; Cidreira;

Capim-limãoLippia alba

S. Manoel Para pressão; calmante IX; V; XVIIIS. AntônioGiovaniAntônio

CalmanteV; XVIIIV; XVIIIV; XVIII

D.Zelinda Digestiva. Relaxante. XIFábio Sistema nervoso, histerismo. V; VID. Antônia Menstruação atrasada XV; XIV

Erva-de-bicho Sem coleta S. Manoel Coceira XIISem coleta Antônio Micose, frieira I

Erva-de-bicho; cambará Sem coleta D. Antônia sarna IErva-de-macaco Cleome aculeata D. Lúcia Dores musculares XIII; XIX; XX

Cont. Tabela 5...

90

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Nome popular Nome científico Informantes Usos medicinais CID10

Erva-de-passarinho Struthanthus marginatusS. Manoel

Para torção, inchaços por contusões;

pneumonia.XIX; XX; I;X

D. Lucia Para os brônquios, resfriado, tosse. XSeu Joaquim Pulmão X

Erva-de-lanta-luzia Pistia stratiotes Fábio Para problemas de visão VII

Erva-de-santa-mariaChenopodium ambrosioides

S. Manoel

Para verme; calmante; tosse em

criança; contra pulgas; para dores no

peito (cardíaca).

I; V; VI; X; IX

D. Zelinda Contra pulgas; Vermes. I

S. Antônio

Para dores de cabeça; dores e inchaços

de pancadas; contra vermes; contra

pulgas.

XVIII; XIX; XX; I

D. Lúcia Para verme; Tuberculose ID. Antônia Vermes; destroncado I; XIX; XX

Erva-de-são-joão; catinga-de-

bodeAgeratum conyzoides

D. Zelinda Problemas renais. Circulação. I; XIV; IXAntônio Abortiva XVD. Lúcia Antidepressivo V

Erva-doce Pimpinella anisum D. LúciaInfecção das mucosas; para acalmar;

para gases.I; V; VI; XI

Erva-gambá Cleome diffusa S. AntônioDores musculares, especialmente nas

costas (coluna) ou pancadas.XIII; XIX; XX

Erva-moura Solanum americanum Antônio Tira Verrugas e cravos nos pés. I

Cont. Tabela 5...

91

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Nome popular Nome científico Informantes Usos medicinais CID10

Erva-pombinha; quebra-pedra Phylanthus niruri D. Lúcia Para os rins I; XIVAntônio Para os rins I; XIV

Erva-tostãoSem coleta D. Zelinda Infecções do sistema genito-urinário XIVSem coleta D. Lúcia Baixar o colesterol IXSem coleta D. Antônia Hepatite I

Espinheira-santa Verbenaceae AntônioD. Lucia Ulcera no estomago XI

XI

Eucalipto Eucalyptus citriodora

S. Antonio Sinusite e resfriados XD. Zelinda Sinusite e resfriados XAntônio Sinusite e resfriados XD. Antônia Estômago XI

Gengibre Zingiber officinalis D. Lúcia Antibiótico natural I

Gervão-roxo Stachytarpheta cayennensisD.Lúcia Mastite; furunculose XIV; XV; XVI; XII

FábioProblemas no estômago: gastrite,

úlcera, dores.XI

Goiabeira Psidium guajavaS. Manoel Diarréia I; XID. Antônia Diarréia em adulto I; XIFábio Diarréia I; XI

Grama-listrada Sem coleta D. Antônia Hemorragias (Menstrual) XIV

Graviola Annona muricata S. AntônioGiovani Diabetes IV

IVGuaco Mikania laevigata Seu Manoel Para tosse X

Guando Cajanus flavosGuiné; guiné-pipiu Petiveria alliaceae D. Antônia Hemorragias (menstrual) XIV

Dente inchado I; XINome popular Nome científico Informantes Usos medicinais CID10

HortelãMentha x piperita var. citrata

Mentha villosa

D. Antônia Diarréia em criança; verme; estômago I; XID. Clemilda Vermes. Rins. I; XIVS. Manoel Para criança

Cont. Tabela 5...

Cont. Tabela 5...

92

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Hortelã-pimenta Plectranthus amboinicus D. Cremilda Vermes; dor de cabeça I; XVIII

Ipê-roxo Tabebuia impetiginosa

D. Antônia Hepatite XI

D. LúciaFundamental para o sistema

imunológicoIII

Antônio Deputativo do sangue XIISeu Joaquim Câncer II

Jabuticabeira Myrsiaria sp. D. Antônia Diarréia de sangue I; XIJatobá Hymeneia sp. Seu Joaquim ossos XIII

Jenipapo Genipa americana D. Lúcia

Quebradura que não seja exposta; suco

do fruto repões o que o organismo

necessita; expectorante - cura

tuberculose crônica

I; X; XIX

Jiló Solanum gilo D. Antônia Dente inchado I; XI

Jurubeba Solanum paniculatum D. LúciaObesidade; baixar o colesterol;

problemas no fígado, hepatite C. IV; IX; XI; I

D. Antônia anemia IIILágrima-de-nossa-senhora;

conta-de-nossa-senhoraCoix lacryma-jobi D. Lucia Tônico para os músculos XIII

Laranja Citrus sinensis D. Cremilda Pro pulmão: tosse, gripe XD. Lúcia Resfriado X

Nome popular Nome científico Informantes Usos medicinais CID10

Laranja-da-terra Citrus aurantium

S. AntônioD AntôniaS. ManoelD. Lúcia

Resfriado, gripe e tosse.XXXX

Lima-da-persia, Lima Citrus aurantifolia D. Antônia diabetes IVD. Lúcia Resfriado, gripe X

Cont. Tabela 5...

93

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Limão Citrus limonD. AntôniaD. LuciaGiovani

Resfriado, gripeXXX

Losna Sem coleta D. Antônia Febre XVIIILouro Laurus nobilis D. Antônia Má digestão “rotando azedo”. X

Macaé, erva-macaé Leonurus sibiricus Seu Manoel Pneumonia; Febre I; XVIIISeu Joaquim Estômago, fígado XI

Mamão-macho Carica papaya S. Antônio Gripe XMangueira Mangifera indica D. Antônia Bronquite asmatica X

Manjericão

Manjericão-branco

Manjericão-roxo

Ocimum cf. basilicum

D. Cremilda Para o coração IX

D. Lúcia Tuberculose, expectorante para

infecção pulmonar; resfriadoI; X

Para o coração IX

Maravilha Mirabilis jalapa D. ZelindaFurúnculos, feridas infeccionadas e

infecções de pele. Espinhas.I; XII

Maria-da-glória Sem coleta D. Antonia Erisipela IMaricá Sem coleta D. Cremilda Pro pulmão: Tosse, gripe. X

Nome popular Nome científico Informantes Usos medicinais CID10Mastruço Lepidium pseudo-didymus D. Lúcia Para os brônquios, pneumonia I; X

Melão-de-são-caetano Momordica charantia D. Antônia reumatismo XIIISeu Joaquim febre XVIII

Murta Blepharocalyx salicifolius Giovani Secar umbigo de criança XVNovalgina Sem coleta

Oriri Sem coleta Fábio Dor e mal-estar XVIIIInfecção renal I; XIV

Para-raio-de-xangô Melia azedarach D. Antônia coluna XIII

Parietária Acalypha comunis D. Antônia Infecção urinária I; XIVD. Lúcia rins I; XIV

Pata-de-vaca Bahunia variegata S. Manoel Infecção renal I; XIVPau d´alho Galesia integrifolia D. Antônia Queda de cabelos XII

Cont. Tabela 5...

94

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Pau-pereira Sem coleta Seu Joaquim Febre; estômago XVIII; XIPé-de-galinha Sem coleta D. Antônia Desinchar dentes I; XI

Picão Bidens pilosa

D. Zelinda Hepatoprotetor; rins I; XI; XIVD. Lúcia Hepatoprotetor I; XID. Antônia Hepatite I; XIAntônio Fígado, hepatite, cirrose I; XI

Pimenta-malagueta Capsicum frutescens S. Manoel Furunculo XII

Pitanga Eugenia uniflora

S. Manoel Para tosse XS. Antonio Para tosse, resfriados, gripe XGiovani Febre, resfriado XVIII; XD. Antônia Febre XVIII

Quebra-pedra Euphorbia prostrata D. Antônia Para os rins I; XIV

95

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Nome popular Nome científico Informantes Usos medicinais CID10

Quebra-pedra; erva-pombinha Phylanthus tenellus D. Cremilda Para os rins I; XIVD. Antônia Para os rins I; XIV

Quiabo Abelmoschus esculentus S. Manoel Para furúnculos. XIIQuina-cruzeiro Sem coleta Seu Joaquim Febre XVIII

Quina-rosa Simira glaziovii Antônio Depurativo do sangue XIIRabo-de-macaco Sem coleta Fábio Queima e tira verrugas. I

Romã Punica granatumRosa-branca Rosa sp. D. Lúcia Infecção de garganta, resfriados X;XVIII

Prisão de ventre XI

Saião Kalanchoe brasiliensis

S. AntônioContusão; resfriados e tosse;

furunculosXIX; XX; X; XII

S. Manoel Contusão XIX, XXD. Zelinda Contusão; Pulmão XIX; XX; XD. Cremilda Pulmão: gripe, tosse. Estômago. X; XID. Antônia Tosse coqueluxe; destroncado I; XIX; XX

Sálvia Salvia officinalis D. Lúcia Expectorante, para asma. XSerralha Sonchus oleraceus Antônio Depurativo do sangue, vitiligo XII

Sete-sangrias Cuphea balsamonaD. Lúcia

Glicemia alta; desentope vasos

sanguíneosXVIII; IX

D. Antônia Diarréia de sangue I; XISeu Joaquim Dor de barriga XI; I

Tomateiro Solanum lycopersicum S. Manoel Inchaços por pancadas, torções. XIX; XXTransagem Plantago major

Urtiga-branca Urera caracasana D. Lúcia Bronquite; antiinflamatório; antibiótico X; I; XVIIIDiabetes; purificação do sangue IV; XII

Nome popular Nome científico Informantes Usos medicinais CID10Vassourinha-de-pulga Lepidium virginicum D. Antônia Para matar pulgas I

Velame Sem coleta D. Zelinda Problemas renais I; XIV

Cont. Tabela 5...

Cont. Tabela 5...

96

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3.6.1. Importância relativa (IR)Na Tabela 6 observa-se que a espécie de maior IR é Schinus terebinthifolius, a

aroeira, atingindo o valor máximo para este índice que é IR=2. Esta espécie é também a

mais versátil, tendo dez propriedades atribuídas, e indicada para o tratamento de nove

sistemas corporais. Esta informação torna-se mais importante quando se leva em

consideração que esta é uma espécie nativa na região. Esta árvore atualmente não está

em perigo de extinção (IBAMA 1992), porém a região de Guaratiba está sofrendo

profundas transformações, com redução das áreas de florestas naturais, o que é

percebido pelos informantes através da redução de populações de algumas espécies, e a

aroeira é uma delas. Entretanto a espécie é incentivada em alguns quintais:

“Isso aí [a aroeira] tá tão em extinção né, aqui tinha muito, cada umaenorme. Isso aí tem mil e uma utilidade. Eu plantei essa aí”.

Dona Cremilda

À Chenopodium ambrosioides e Alpinia zerumbet foram atribuídas sete

propriedades e ambas tratam oito sistemas corporais. C. ambrosioides é uma espécie

espontânea na região e A. zerumbet é cultivada.

Outras espécies naturais de ecossistemas da área, ou que também ocorrem

espontâneamente que recebem destaque no IR são Lippia alba, Cymbopogon citratus,

Anacardium occidentale, Kalanchoe brasiliensis, Tabebuia impetiginosa, Ageratum

conyzoides e Starchytarpheta cayennensis. Nota-se a importância para os informantes

de espécies medicinais naturais da área de estudo. As propriedades terapêuticas

atribuídas e os sistemas corporais tratados podem ser observados na Tabela 5.

Cymbopogon citratus, Kalanchoe brasiliensis e Mentha villosa estão entre as

espécies mais versáteis encontradas por Medeiros et al. (2004) com três propriedades

cada, em Mangaratiba, RJ. As propriedades citadas por estas autoras para C. citratus

(calmante e para gripe) e K. brasiliensis (bronquite, gripe, machucado), também foram

encontrados no presente estudo (Tabela 5). Já para M. villosa apenas a propriedade

“contra vermes” coincide com os encontrados neste estudo.

Bennett & Prance (2000), em trabalho com plantas introduzidas no norte da

América do Sul, que incluiu os índios Tikuna e Yanomamis do Brasil, encontraram

muitas espécies também utilizadas pelos informantes da Capoeira Grande. No entanto,

eles encontraram plantas com 15 ou mais propriedades atribuídas, como é o caso de

99

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Rosmarinus officinalis, segunda planta mais versátil com 17 propriedades atribuídas,

sendo a espécie mais importante encontrada por estes autores, com IR=1,83. No

presente estudo esta planta apresentou baixo índice de importância relativa, apenas 0,31.

O mesmo aconteceu com Aloe vera que teve IR=1,58 no trabalho acima e IR=0,84 no

presente trabalho. Cymbopogon citratus o índice encontrado pelos autores supracitados

foi IR= 1,37 e neste trabalho IR= 1,16. Citrus limon aparece com IR=0,28 neste mesmo

estudo e IR= 0,21 no presente trabalho. Citrus sinensis aparece em ambos os trabalhos

com IR=0,2 (Tabela 6).

Almeida & Albuquerque (2002) também utilizaram o cálculo de IR em trabalho

realizado em Pernambuco. A espécie mais versátil encontrada por eles, Sideroxylon

obtusifolia, foi indicada para oito sistemas corporais. Neste mesmo trabalho,

Anacardium occidentale apresentou IR=1,16, muito próximo do encontrado no presente

estudo (IR=1,19); o mesmo acontece com Aloe vera (IR=0,93 no trabalho citado e no

presente estudo IR=0,84). Ao contrário, Lippia alba (IR=0,74) e Chenopodium

ambrosioides (IR=0,52) apresentaram baixa importância, sendo que no presente estudo

ambas as plantas possuem alto IR (IR=1,17 e IR=1,58), sendo C. ambrosioides a

segunda planta em importância para os informantes da Capoeira Grande (Tabela 6).

100

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Tabela 6. Importância Relativa das espécies citadas por mais de 2 informantes da Serra

da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ.

Espécie

Nº.

Propriedades

atribuídas

Nº. Sistemas

corporais

tratados

IR

Schinus terebinthifolius 10 9 2Chenopodium ambrosioides 7 8 1,58Alpinia zerumbet 7 8 1,58Lippia alba 4 7 1,17Cymbopogon citratus 5 6 1,16Anacardium occidentale 5 6 1,16Kalanchoe brasiliensis 5 6 1,16Tabebuia impetiginosa 4 5 0,95Ageratum conyzoides 4 5 0,95Starchytarpheta cayennensis 3 5 0,85Aloe vera 4 4 0,84Cuphea balsamona 4 4 0,84Echinodorus grandiflorus 4 4 0,84Leonurus sibiricus 4 4 0,84Strutanthus marginatus 3 4 0,74Mentha villosa 4 3 0,73Mentha x piperita var. citrata 4 3 0,73Eugenia uniflora 3 3 0,63Eupatorium maximiliani 3 3 0,63Persea americana 3 3 0,63Solidago microglossa 3 3 0,63Ocimum cj. basilicum 3 3 0,63Solanum paniculatum 4 2 0,62Bidens pilosa 2 3 0,53Jacaranda puberula 2 3 0,53Morus nigra 2 3 0,53Vernonia cognata 3 2 0,52Costus spicatus 3 2 0,52

Espécie

Nº.

Propriedades

atribuídas

Nº. Sistemas

corporais

tratados

IR

Citrus aurantifolia 2 2 0,42Eucaliptus citriodora 2 2 0,42Acalypha communis 2 2 0,42Cordia verbenacea 2 2 0,42Momordica charantia 2 2 0,42Sparattosperma leucanthum 2 2 0,42Plectranthus grandis 3 1 0,41

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Psidium guajava 1 2 0,32Phyllanthus niruri 1 2 0,32Phyllanthus tenellus 1 2 0,32Desmodium purpureum 1 2 0,32Zea mays 1 2 0,32Plectranthus neochilus 2 1 0,31Baccharis dracunculifolia 2 1 0,31Rosmarinus officinalis 2 1 0,31Citrus limon 1 1 0,21Citrus aurantium 1 1 0,21Citrus sinensis 1 1 0,21Nasturtium officinale 1 1 0,21Anona muricato 1 1 0,21Allium sativum 1 1 0,21

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3.6.2. Concordância de Uso Principal (CUP)Através do cálculo de porcentagem de Concordância de Uso Principal (CUP)

descrito por Amorozo & Gely (1988) a partir de uma adaptação da metodologia de

Friedman et al. (1986), pode-se avaliar o nível de compartilhamento do saber sobre o

uso referente às plantas. Vários pesquisadores vêm adotando esta mesma metodologia

(Dias 1999; Souza 2000; Gonçalves 2002; Silva 2006).

Pode-se notar que a concordância entre os informantes da Capoeira Grande

(Tabela 7) é maior para aquelas plantas de uso já apontadas em vários estudos como de

uso medicinal, caracterizando assim uma planta de uso “consolidado” entre diferentes

comunidades brasileiras, como é o caso de Lippia alba com 85,7% de concordância

para o uso como calmante, Chenopodium ambrosioides com 70% de concordância para

uso contra vermes, Citrus aurantium com 60% de concordância para uso contra

resfriados e gripe. Bidens pilosa (para o fígado), Vernonia cognata (para o pulmão),

Plectranthus grandis (problemas no estômago) e Kalanchoe brasiliensis (para

contusões) tiveram 50% de concordância dos informantes para seus usos. Psidium

guajava teve CUP=40% para seu uso contra diarréia. Para o limão obteve-se CUP=

40% de concordância para resfriados (Tabela 7). A aroeira (Schinus terebinthifolius) a

espécie mais versátil e com maior número de propriedades atribuídas (Tabela 5), chama

atenção ao CUP apenas para machucados inflamados e cortes (40%). Silva (2006)

aponta CUP=43% para o uso desta espécie para “inflamação de mulher”. Na Capoeira

Grande esta espécie também foi citada para este uso (inflamações, corrimentos vaginais)

por dois informantes, mas não foi o uso principal na comunidade (Tabelas 4 e 5).

Outros trabalhos mostram que CUPs mais elevados foram encontrados para

espécies já bem conhecidas na nossa cultura, como é o caso de Schardong & Cervi

(2000), em trabalho no Mato Grosso do Sul, onde o boldo (Plectranthus barbatus) teve

CUP=85% para problemas de estômago e o capim-limão (Cymbopogon citratus) para

pressão alta CUP=81,3% em Silva (op. cit.) em trabalho realizado na Bahia. É

interessante destacar que em Schardong & Cervi (op.cit.), a goiaba (Psidium guajava)

teve CUP=54% em seu uso para diarréia e em Silva (op. cit.) CUP=25% para o mesmo

uso. O limão (Citrus limon) aparece em Schardong & Cervi (op. cit.) com 30% de

concordância para os problemas respiratórios e infarte, e com 25% de concordância para

uso de gripe em Silva (2006).

103

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Tabela 7 - Concordância de uso principal para espécies medicinais e misticas citadas por mais de 2 informantes da Capoeira Grande, por ordem

crescente da CUPc (CUP=concordância quanto ao uso principal; Fc= fator de correção; CUPc=concordância de uso principal corrigida).

Espécie/Nome popularNº.

Informantes

Nº.

UsosUso principal

Informantes/U

so principalCUP Fc CUPc

Lippia albaErva-cidreira 7 4 Calmante,

tranquilizante 6 85,7 1 85,7

Chenopodium ambrosioides Erva-de-santa-maria

5 7 Contra vermes 5 100 0,7 70

Citrus aurantiumLaranja-da-terra 4 1 Resfriado, gripe 4 100 0,6 60

Biden pilosa Picão

4 2 Para o fígado 4 100 0,5 50

Vernonia cognata Assapeixe

4 3 Para o pulmão 4 100 0,5 50

Plectranthus grandis Boldo

4 3 Problemas noestômago 4 100 0,5 50

Kalanchoe brasiliensis Saião

4 5 Contusão 4 100 0,5 50

Cymbopogon citratus Capim-limão

7 5 Calmante,tranquilizante 3 42,8 1 42,8

104

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Espécie/Nome popularNº.

Informantes

Nº.

UsosUso principal

Informantes/U

so principalCUP Fc CUPc

Schinus terebinthifoliusAroeira

6 10 Machucado inflamado,corte 3 50 0,8 40

Citrus limon 3 1 Resfriado, gripe 3 100 0,4 40Limão

Plectranthus neochilus Boldo-do-chile

3 2 Problemas noestômago 3 100 0,4 40

Psidium guajavaGoiabeira

3 1 Diarréia 3 100 0,4 40

Costus spicatus Cana-do-brejo

3 3 Para os rins 3 100 0,4 40

Struthanthus marginatus Erva-de-passarinho

3 3 Para os pulmões 3 100 0,4 40

Persea americana Abacateiro

3 3 Diurético 3 100 0,4 40

Eucalyptus citriodoraEucalipto

4 2 Resfriado e sinusite 3 75 0,5 37,5

Citrus sinensisLaranja 2 1 Resfriado, gripe 2 100 0,3 30

105

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Espécie/Nome popularNº.

Informantes

Nº.

UsosUso principal

Informantes/U

so principalCUP Fc CUPc

Anacardium occidentaleCajueiro 5 5 Diabetes 2 40 0,7 28

Eupatorium maximilianiArnica-do-campo

3 3 Inchaços por torçõesou pandacas 2 66,6 0,4 26,6

Cuphea balsamona Sete-sangrias

3 4 Diarréia 2 66,6 0,4 26,6

Mentha villosaHortelã 3 4 Contra vermes 2 66,6 0,4 26,64

Mentha x piperita var. citrataHortelã 3 4 Contra vermes 2 66,6 0,4 26,64

Eugenia uniflora Pitanga

4 3 Gripe com febre 2 50 0,5 25

Alpinia zerumbet Colônia

4 7 Para o coração 2 50 0,5 25

Solidago microglossa Arnica

2 3 Dores musculares 2 100 0,2 20

Ocimum cf. basilicumManjericão

2 3 Para o coração 2 100 0,2 20

Acalypha communisParietária

2 2 para os rins 2 100 0,2 20

106

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Espécie/Nome popularNº.

Informantes

Nº.

UsosUso principal

Informantes/U

so principalCUP Fc CUPc

Phyllanthus niruri Quebra-pedra 2 1 para os rins 2 100 0,2 20

Phyllanthus tenellus Quebra-pedra

2 1 para os rins 2 100 0,2 20

Desmodium purpureumAmor-do-campo/carrapicho

2 1 corrimentos vaginais 2 100 0,2 20

Nasturtium officinale Agrião

2 1 para os pulmões 2 100 0,2 20

Annona muricataGraviola

2 1 diabetes 2 100 0,2 20

Allium sativum Alho

2 1 Resfriado e tosse 2 100 0,2 20

Zea mays Cabelo-de-milho

2 1 para os rins 2 100 0,2 20

Citrus aurantifoliaLima-da-persia, lima 2 2 sem uso principal 0 0 0 0

Tabebuia impetiginosaIpê-roxo

4 4 sem uso principal 0 0 0,5 0

Ageratum conyzoides Erva-de-são-joão

3 4 sem uso principal 0 0 0,4 0

107

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Espécie/Nome popularNº.

Informantes

Nº.

UsosUso principal

Informantes/U

so principalCUP Fc CUPc

Aloe vera Babosa 3 4 sem uso principal 0 0 0,4 0

Jacaranda puberula Carobinha

3 2 sem uso principal 0 0 0,4 0

Echinodorus grandiflorus Chapéu-de-couro

3 4 sem uso principal 0 0 0,4 0

Baccharis dracunculifolia Alecrim-do-campo

2 2 sem uso principal 0 0 0,2 0

Rosmarinus officinalisAlecrim

2 2 sem uso principal 0 0 0,2 0

Leonurus sibiricus Macaé

2 4 sem uso principal 0 0 0,2 0

Stachytarpheta cayennensis Gervão-roxo

2 3 sem uso principal 0 0 0,2 0

Solanum paniculatumJurubeba

2 4 sem uso principal 0 0 0,2 0

Cordia verbenacea Erva-baleeira

2 2 sem uso principal 0 0 0,2 0

Morus nigra Amoreira

2 2 sem uso principal 0 0 0,2 0

Espécie/Nome popular Nº. Nº. Uso principal Informantes/U CUP Fc CUPc

108

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Informantes Usos so principalMomordica charantia

Melão-de-são-caetano 2 2 sem uso principal 0 0 0,2 0

Sparattosperma leucanthumCinco-chagas 2 2 sem uso principal 0 0 0 0

109

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4. CONCLUSÕES

Os informantes da Capoeira Grande, mesmo com as influências de um centro urbano,

devido a sua longa tradição rural aliada à prática da manutenção de quintais, são

detentores de um conhecimento consolidado sobre plantas medicinais que deve ser

conservado. Há reconhecimento e valorização deste saber por parte dos próprios

informantes e pela comunidade.

A pressão da urbanização acelerada somada a especulação imobiliária que vem

crescendo no local, parecem propiciar o rompimento de elos interpessoais dentro da

comunidade. Não só dos mais velhos com os jovens, mas entre os mais velhos. Não foi

possível detectar se os jovens valorizam o saber sobre as plantas medicinais e místicas,

embora algumas informações nos ofereçam indícios de que não há muito interesse

neste assunto por parte deles.

Os informantes têm uma grande preocupação com o trato e a limpeza das plantas que

utilizam como medicinais e místicas, e também, mostram preocupação com a dosagem

e com a toxicidade na utilização das plantas.

Grande parte das plantas citadas pelos informantes da Capoeira Grande são de uso

consagrado pela população em outras comunidades no Brasil. As famílias que

apresentam o maior número de espécies indicadas como de uso medicinal e místico

são: Lamiaceae (13) e Asteraceae (9), sendo as espécies mais citadas erva-cidreira

(Lippia alba), capim-limão (Cymbopogon citratus) e aroeira (Schinus terebinthifolis).

Folha é a parte das plantas mais empregadas nas preparações, e a decocção a forma de

preparo mais utilizada.

Os informantes fazem uso de plantas nativas dos ecossistemas da região, especialmente

daquelas encontradas na APA da Serra da Capoeira Grande e no seu entorno.

Entretanto, esse uso parece não causar qualquer distúrbio aos ecossistemas locais.

Porém a maioria dos informantes cultiva e/ou incentiva plantas de uso medicinal e

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místico sejam arbóreas ou herbáceas. Nos quintais o predomínio é de plantas

herbáceas, medicinais que são distribuídas aleatoriamente no entorno das casas.

O conhecimento em relação às plantas de uso místico-religioso é bem difundido entre

os informantes. São utilizadas por católicos “benzedores”, em religiões de matriz-

africana (umbanda e candomblé) e por pessoas de matriz religiosa não definida.

As plantas medicinais são o principal instrumento na atenção primária à saúde dos

informantes. As doenças que são tratadas com plantas, mais citadas pelos informantes,

são as infecciosas e parasitárias, do aparelho respiratório, doenças do sistema digestivo

e do sistema genitourinário.

A aroeira, Schinus terebinthifolius é a planta de maior importância relativa para os

informantes, sendo também a espécie mais versátil, possuindo maior número de

indicações e tratando mais sistemas corporais. Entretanto, a concordância de uso

principal entre os informantes é maior para Lippia alba como calmante, Chenopodium

ambrosioides contra vermes e Citrus aurantium contra resfriados e gripes. Estas três

espécies e seus usos principais são de modo geral de uso consagrado em várias

comunidades brasileiras.

As alterações ocasionadas por mudanças nos padrões de uso local do ambiente natural

(crescimento urbano, perda de habitats, etc), ocorridas no entorno da Serra da Capoeira

Grande, onde crescem muitas espécies medicinais, poderão futuramente acarretar a

diminuição da disponibilidade e uso de plantas nativas e espontâneas para fins

terapêuticos.

Os dados levantados no presente estudo, somados àqueles oriundos dos trabalhos de

Peixoto et al. (2004; 2005) realizados na APA da Serra da Capoeira Grande, darão

subsídios aos moradores do bairro para, junto à prefeitura, reivindicarem a delimitação

e a implantação definitiva da APA através de sua regulamentação.

Estudos sobre o uso de plantas medicinais e místicas em comunidades como a Capoeira

Grande, ainda com características rurais, tendo seus moradores relação de proximidade

diária com a natureza, demonstram grande importância para que valiosas informações

111

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não se percam e continuem sendo transmitidas. Devido ao número de informantes

entrevistados neste trabalho, muitas informações não podem ser inferidas à toda

população. Por este motivo, sugere-se que novos estudos sejam realizados, abrangendo

um número maior de informantes, principalmente jovens e crianças, além de detentores

de conhecimento sobre as plantas místicas.

112

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ANEXOS

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Anexo 1 – Questionário preliminar para obtenção de dados etnobotânicos. (Adaptado de

Cunningham, 2000 e Camargo, 2003).

1 -Dados do Entrevistado:

Data entrevista:

Nome do entrevistado:

Apelido:

Sexo / idade: ( ) masculino ( ) feminino / ____ anos.

Grau de instrução:

Quantas pessoas têm na família?

Qual seu trabalho?

Onde nasceu e foi criado ?:

Há quantos anos vive na comunidade ?: ____ anos.

Religião:

Conhece outras pessoas que possam contribuir para este trabalho? Quem?

Dados da Etnobotânicos

2- Questões gerais:

Utiliza plantas no seu dia-a dia?

Para que finalidade?

Como e com quem aprendeu a utilizá-las?

Onde você as encontra?

Historia do jardim: origem (construído ou sempre esteve aí?)

Organiza as plantas ou elas simplesmente crescem? Seleciona as plantas?

Você sabe que tem uma mata aqui perto? Vai até lá buscar?

Alguém traz de outro lugar?

Quais são as mais utilizadas?

3- Questões específicas para cada planta utilizada

Quais são os nomes pelos quais a planta é conhecida?

Você a utiliza?

Qual foi a ultima vez que utilizou?

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Onde consegue?Compra (de quem ?) / Vende (para quem ?) Cultiva?

Se cultiva, como cultiva?

Como coleta? Em que épocas?

Facilidade com que é encontrada:

De onde veio? Como veio parar no quintal?

Para que se usa?

Parte usada: (casca /raiz /caule /folha /flor /fruto /semente /planta inteira / outra)

Seca ou fresca?

Como se prepara? Quantidades.

Associação com outras plantas?

Como se armazena?

Como se utiliza? Doses.

Receita a alguém?

Em que ocasiões usa?

Quando não é usada?

Como e com quem aprendeu a usar a planta?

Cuidados especiais com as plantas?

Já passou mal utilizando a planta ou soube de alguém que tenha passado mal depois deutilizá-la?

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Anexo 2. Semana de C&T em Guaratiba, Pedra de guaratiba, Rio de Janeiro, 2005. Moradora do bairro conversando sobre o folheto explicativo a esquerda e à direita os folhetos.

Anexo 3. II Fórum de Meio Ambiente, Colégio Emma D´ávila Camillis, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, 2006. À esquerda o tema do fórum e à direita alunos em uma das oficinas e a Serra da Capoeira Grande ao fundo.

Anexo 4. Semana de C&T em Guaratiba, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, 2006. Oficina de xampu contra piolhos. À esquerda a enfermeira Silvia Regina do Módulo de Saúde PSF Jardim Cinco Marias fazendo o xampu e à direita mudas de plantas medicinais cedidas pela horta de plantas medicinais do Programa de Fitoterapia – SMS, Fazenda Modelo, Pedra de Guaratiba.

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AB

C

D

E F

Anexo 5. Informantes residentes no entorno da APA da Serra da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro. A. Antônio; B. Dona Antônia; C. Giovani; D.Seu Antônio; E. Seu Joaquim; F. Seu Manoel

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Anexo 6 - Artigo

A Pesquisa em Etnobotânica e o Retorno do Conhecimento Sistematizado à

Comunidade - Um Assunto Complexo

Rúbia Graciele Patzlaff1 & Ariane Luna Peixoto2.

1,2Escola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio

de Janeiro, Rua Pacheco Leão, 2040. CEP 22460-038, Rio de Janeiro, RJ.

E-mail: [email protected], [email protected].

ResumoComo retornar o saber investigado em pesquisa etnobotânica ao o meio social no qual elefoi gerado? O que deve ser levado à comunidade? Estas perguntas motivaram oacompanhamento de três pesquisas etnobotânicas e suas respectivas propostas de comoretornar à comunidade o conhecimento associado às plantas, sistematizado pelo cientista. Éusual a devolução dos dados da pesquisa à comunidade na forma de manuais ou cartilhas,listas ilustradas de plantas, palestras e cursos. Entretanto, têm-se elaborado juntamente coma comunidade outras formas que caracterizam troca de saberes entre o cientista e acomunidade, com ganhos mútuos. A presente pesquisa corrobora com estas alternativas, esugere que a definição das atividades de retorno do conhecimento sistematizado àcomunidade, mesmo proposto e acordado no início da pesquisa, seja flexível,possibilitando a inclusão de novas demandas nascidas durante a execução da pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Etnobotânica, Conhecimento tradicional, Retorno, Devolução,

Plantas Medicinais.

Introdução

Etnobotânica é o estudo das relações (materiais ou simbólicas) entre o ser humano e

as plantas, incluindo os fatores ambientais, culturais e os conceitos locais que são

desenvolvidos com relação a estas e ao seu uso (Jorge e Morais, 2003). A etnobotânica

aplicada ao estudo de plantas medicinais trabalha em estreita cumplicidade com outras

disciplinas correlatas como, por exemplo, a etnofarmacologia. Segundo Bruhn e Holmstedt

(1980) a etnofarmacologia consiste “na exploração científica interdisciplinar de agentes

biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem”. No

contexto da investigação etnobotânica, o pesquisador procura conhecer a cultura e o dia-a-

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dia da comunidade pesquisada, os conceitos locais de doença/saúde, o modo como a

comunidade se vale dos recursos naturais para a “cura” de seus males, atrair ou afastar

animais, construir habitações mais adequadas ao local e outros. Ele procura repassar o

conhecimento apreendido para o meio científico sem incorrer em erros de interpretação. É

recomendado que a relação do pesquisador com a comunidade não entre no campo do

envolvimento pessoal, entretanto, freqüentemente ela ultrapassa a barreira de

pesquisador/pesquisado e vínculos afetivos são criados, sobretudo com os indivíduos que

mais freqüentemente acompanham e guiam o pesquisador no contato com a comunidade e,

quando necessário, nas florestas, hortas ou quintais onde se encontram as plantas

utilizadas. Surgem laços de amizade e a troca de conhecimentos, que é inerente ao

trabalho, freqüentemente vem acompanhada de trocas de vivências, de presentes.

O pesquisador olha a comunidade como um espaço de aprendizagem e, de modo

geral, procura mostrar que está aí para aprender e trocar conhecimentos. No momento em

que se insere no cotidiano local e atende aos preceitos anteriormente assinalados, o

pesquisador, passa a contar com o respeito da comunidade e é neste espaço de respeito

mútuo que o saber local pode ser melhor apreendido, entendido e posteriormente relatado

em crônicas e textos científicos (Amorozo, 1996). No Brasil, a literatura é farta de relatos

de viajantes e cientistas que desde os primeiros séculos após o descobrimento e até hoje,

mostraram o quanto comunidades locais conhecem sobre as plantas e seus usos. Entretanto,

também há riscos nestas atividades. Há relatos de viajantes e pesquisadores que se

apaixonaram pela comunidade estudada, por sua cultura, se identificando de tal forma a

abandonar a vida construída até então e inserir-se definitivamente na comunidade. Por

outro lado, há também alguns relatos de dificuldades de relacionamento entre

pesquisador/comunidade ou na definição de estratégias ou produtos que retornam à

comunidade pesquisada (Rodrigues, Assimakopoulos e Carlini, 2005).

Há muitos indicativos de que no contexto da pesquisa etnobotânica, retribuir a

comunidade pelo acolhimento, respeito e a ajuda na pesquisa, mas especialmente pelo

compartilhamento do saber sobre as plantas foi sempre uma preocupação dos cientistas.

Nos últimos dez anos a discussão do tema tem predominantemente como foco a sua

regulamentação. O presente texto não tem como foco este aspecto. Tomando como base

três estudos etnobotânicos realizados, focará o retorno do conhecimento apreendido pelo

pesquisador na comunidade pesquisada, de forma sistematizada, e a troca de saberes entre

pesquisador/comunidade, numa relação de parceria.

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Um pouco de história

A preocupação em buscar formas de valorizar o saber das comunidades

tradicionais1 sobre os recursos naturais ou de retornar às comunidades o conhecimento

sistematizado, visando predominantemente a permanência deste conhecimento tradicional,

está presente em textos científicos e crônicas de cientistas que desenvolveram pesquisas no

Brasil em diferentes épocas (e.g. Martius, (1844) 1939). À medida que a pesquisa

etnobotânica passou a ser desenvolvida por cientistas que tinham a possibilidade de voltar

às comunidades pesquisadas essa preocupação tornou-se mais evidente, tornando-se

mesmo um compromisso. Mas, qual seria a melhor maneira de levar os resultados das

investigações para o meio social no qual elas se iniciaram? Embora uma questão antiga, ela

ainda hoje é discutida e toma força acompanhando a evolução da sociedade brasileira e,

principalmente diante dos compromissos desta sociedade com conservação, uso sustentável

e repartição de benefícios derivados da utilização da biodiversidade em um país

megadiverso2.

Caballero (1983) sugere que a Etnobotânica deixe de ser um exercício acadêmico e

coloque-se a serviço das comunidades fonte das informações. Neste sentido Martin (1986)

enfatiza que a própria comunidade deve participar do desenvolvimento da pesquisa, pois o

fazer etnobotânico promoverá a conservação e o desenvolvimento dos recursos naturais, o

desenvolvimento cultural e a execução de tarefas derivadas da investigação, como por

exemplo, a formação de hortas medicinais empregadas pela própria comunidade. Formas

de retorno das informações às comunidades usuárias e conhecedoras de plantas medicinais

foram discutidas também por Elisabetsky (1987), Martin (1995) e Alexiades (1996) que

afirmam que o estudo deve beneficiar, de alguma forma as pessoas envolvidas,

individualmente ou em comunidade, ou ambos. De La Cruz Mota (1997) afirma que a

devolução elaborada dos dados oriundos da pesquisa etnobotânica às populações de origem

pode contribuir para que estes conhecimentos, seus informantes, suas comunidades e as

espécies por eles utilizadas sejam melhor compreendidas e valorizadas. Em artigo que

discute ética na pesquisa científica, predominantemente em Antropologia, elaborado por

Debert (2003), encontra-se a mesma preocupação, “...ganha centralidade nos debates que a

disciplina [Antropologia] atualmente vem promovendo, o tema dos modos de restituição

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aos sujeitos pesquisados do saber que construímos a partir deles. Devem eles ter acesso em

primeira mão à obra produzida?”.

Então, como retornar o conhecimento?

Em etnobotânica, a forma mais usual de retorno do saber construído pelo cientista a

partir das informações obtidas na comunidade tem sido a devolução dos dados

sistematizados, ou seja, a devolução dos dados da pesquisa na forma de manuais, cartilhas,

painéis expositivos e similares, além da entrega de cópias de artigos formalmente

publicados, dissertações e teses. Entretanto, outras formas têm sido propostas em projetos

ou praticadas, tais como o registro das histórias que estavam quase esquecidas ou que são

do domínio de poucos (Soler, 2005), a confecção de material didático para escolas da

região a partir dos resultados da pesquisa (Jorge e Morais, 2003), mapas georefenciados

apontando os pontos de importância histórica local (Fonseca-Kruel, 2002), ou apontando

as florestas e cursos d’água utilizados pela comunidade (Soler, 2005), fotografias de

famílias, da vegetação e das plantas locais (Blanckaert et al., 2004; Soler, 2005),

implantação de hortas medicinais (Boscolo, 2003), entre outras.

A fim de fomentar discussões em busca das respostas a esta questão, podem-se

considerar as seguintes perguntas: O que retornar à comunidade e qual a melhor forma de

fazê-lo? A elaboração da proposta de restituição do conhecimento à comunidade deve

partir de quem? A proposta do retorno deve estar clara já na elaboração do projeto? Deve

ser elaborado durante a convivência com a comunidade? Os interesses da pesquisa devem

preceder os interesses do grupo pesquisado?

As perguntas motivaram o acompanhamento e a discussão de três pesquisas

etnobotânicas e suas respectivas propostas/execuções de retorno do conhecimento às

comunidades, que serão apresentadas abaixo. O objetivo não é impor regras de como esta

atividade deva ser conduzido, mas estimular o debate, levando estudantes e pesquisadores

a refletir sobre o tema de modo a aprimorar mecanismos que sejam proveitosos e benéficos

às comunidades de onde se originaram os conhecimentos, aos informantes e colaboradores,

individualmente ou em grupo, e aos cientistas.

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Estudo de casos

Caso 1

Patzlaff, em seu trabalho “Estudos Etnobotânicos de plantas de uso medicinal e

místico na comunidade da Capoeira Grande, Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, RJ,

Brasil”, ainda em desenvolvimento na zona oeste do Rio de Janeiro, explicitou em seu

projeto de pesquisa que após a realização do trabalho, juntamente com a comunidade,

elaboraria uma forma de retorno da pesquisa. Iniciado o trabalho de campo, e após alguns

meses em contato com a Associação de Moradores e com a comunidade local, foi-lhe

solicitado colaborar na elaboração de um projeto de horto, incluindo neste um jardim de

plantas medicinais. Ainda na mesma pesquisa, uma comunidade vizinha (Jardim Cinco

Marias, Pedra de Guaratiba) que através do Programa de Fitoterapia do município do Rio

de Janeiro está implementando um grupo de estudos sediado no Módulo do Programa de

Saúde da Família (PSF), solicitou a colaboração da pesquisadora na identificação das

plantas que a comunidade utiliza. Essa colaboração levou à participação em reuniões na

comunidade e o estabelecimento de um jardim de plantas medicinais. O convite se

estendeu à sua participação em um curso sobre identificação e utilização de plantas

medicinais. Um fato a ser destacado é que, quem ministra o curso é uma senhora da própria

comunidade, considerada por eles uma autoridade no assunto, uma das pessoas mais

respeitadas, e dele participam os agentes de saúde e uma enfermeira do módulo citado

acima, além de outras pessoas da comunidade (Figura 1).

Verifica-se então que: 1) o retorno foi requerido antes mesmo de a pesquisadora sugeri-

lo ou ter a oportunidade de consultar os líderes e as pessoas da comunidade sobre o

assunto. Quando ocorre fato como este, o trabalho do pesquisador é facilitado. Da mesma

forma, mostra que o tempo da pesquisadora na comunidade foi suficiente para criar um

vínculo de confiança e de intimidade, que permitiu à comunidade tomar esta iniciativa; 2)

o trabalho realizado pela pesquisadora na comunidade vizinha foi suficiente para sua

aceitação que se desdobrou na solicitação de colaboração com o grupo de estudos de

fitoterapia; 3) a comunidade demonstra ter aceito a pesquisadora como igual, como um dos

seus, pois a convida para um curso com pessoas locais ou parceiros definidos com uma

finalidade estabelecida, ministrado por uma pessoa respeitada localmente.

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Caso 2

Machline desenvolve a pesquisa “Etnobotânica e comercialização de plantas

medicinais e de uso religioso no município do Rio de Janeiro”. Trata-se de um trabalho de

etnobotânica que visa entender a dinâmica de comercialização de espécies vegetais entre

dois grandes mercados fornecedores e as feiras-livres da cidade (Figura 2). Durante o

processo de implantação do projeto, foi idealizada a organização de um evento com palestras

e cursos no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, nos quais os erveiros seriam o público alvo.

A idéia inicial era definir, juntamente com eles, quais seriam os temas de interesse a serem

abordados no evento e como trabalhar pesquisadores e erveiros de modo mais estreito,

trocando conhecimentos. Ao iniciar a discussão do tema, para estabelecimento de um

primeiro evento com palestras e/ou cursos, a pesquisadora foi surpreendida com a

manifestação de uma informante: “Gostei muito da idéia. Eu posso ir ensinar pra eles, eu

posso ir dar o curso”. E ainda acrescentou “Você não pode conseguir uma apresentação no

programa da Ana Maria Braga? Eu posso ensinar muita coisa”. Com o prosseguimento do

trabalho a pesquisadora percebeu que, de modo geral, à exceção desta senhora e de outra

erveira (entre 15 entrevistados), os demais não estão estimulados a participar de cursos e/ou

palestras. O que de fato foi solicitado pela maioria, foi a organização de uma visita ao Jardim

Botânico, para passeio, juntamente com os familiares. Apenas uma erveira verbalizou o

interesse em adquirir informações sobre as espécies por ela comercializadas (Machline,

comunicação pessoal).

Esta situação compartilhada entre pesquisador/pesquisado evidencia a auto-

confiança dos erveiros nas informações veiculadas no mercado em relação às propriedades

etnofarmacológicas das espécies. Situações similares que ocorrem durante a pesquisa de

campo são interessantes de serem relatadas, pois mostram comunidades ou grupos de

pessoas que se auto-reconhecem como detentores de conhecimentos. Entretanto, a pesquisa

mostra a necessidade de compartilhar com os erveiros envolvidos na pesquisa uma lista de

espécies identificadas com acurácia, associada a informações e/ou imagens que

possibilitem o seu fácil reconhecimento.

Em duas situações distintas a pesquisadora sentiu-se útil por poder atendê-los: na

doação, para dois erveiros, de sementes por eles requeridas, e na identificação para uma

erveira, de uma espécie até então desconhecida que havia sido encaminhada, por um

fornecedor, na tentativa de introdução da mesma no mercado. Isso mais uma vez mostra a

importância da convivência do pesquisador com a comunidade, o contato com suas

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experiências e a atenção a seus interesses e necessidades. Destaca-se também a percepção e

a maturidade do pesquisador que vem aprimorando seu planejamento inicial, adaptando-o à

realidade.

Caso 3

Soler (2005), ao planejar a sua pesquisa “Levantamento florístico e etnobotânico

em um hectare de floresta de terra firme na região do Médio Rio Negro, Roraima, Brasil”

optou pela elaboração de uma listagem de espécies da floresta, ordenadas por nomes

comuns e dados sobre o uso informado pela comunidade, para ser distribuído na

comunidade pesquisada. Essa listagem foi entregue à comunidade ao final da pesquisa. No

entanto, na percepção do pesquisador, suas maiores contribuições à comunidade e que

aparentemente foram assim também avaliadas pela própria comunidade foram 1) jogar

capoeira com as crianças e adolescentes, ao final do dia de campo, durante os três meses

vividos na comunidade, usando as músicas e os movimentos como oportunidade para

compartilhar vivências sobre conservação de espécies e de conhecimento local; 2) um

mapa colorido da região, copiado em papel e plastificado, com a localização da

comunidade e assinalando os cursos d’água e a floresta, acompanhando uma legenda

descritiva; 3) diversas fotografias de moradores da vila em suas atividades do cotidiano

(trabalho artesanal, lavar roupa no rio, fazer farinha, etc.) e do conjunto de crianças da

escola local (Figura 3); 4) aulas de inglês ministradas para alguns caboclos que desejavam

ter mais facilidade de comunicação com turistas que algumas vezes visitam a região. Por

outro lado, a convivência prolongada e diária do pesquisador e o compartilhamento do dia-

a-dia, desde a pesca para a própria alimentação à pesquisa de campo, tornou mais visível

para a comunidade que há um saber local sobre as plantas e seu uso que é valorizado

também fora da comunidade (Soler, comunicação pessoal).

O pesquisador elaborou sua forma de retorno idealizando uma situação que

acreditava ser valiosa para a comunidade. Entretanto, durante a pesquisa, ao ter um contato

mais próximo com as pessoas, dividir suas experiência e ouvir as deles, reconheceu suas

necessidades e seus interesses mais imediatos, e percebeu que estes eram distintos daqueles

que havia idealizado. Usou o seu lastro de “cultura formal” que lhe possibilitou jogar

capoeira com crianças e adolescentes e dividir outros conhecimentos que possuía. Atendeu

às solicitações da comunidade, sem, entretanto, abrir mão do seu planejamento inicial. Em

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argüições feitas para apresentar no presente texto, o pesquisador assim se manifestou: “eu

apresentei para comunidade todo o resultado da pesquisa feita e deixei a listagem

comentada, além de mapas e fotografias. Senti, na apresentação feita em forma de palestra,

que havia pessoas que não entendiam e pareciam não interessadas pelo assunto. Estavam

presentes àquele encontro pelos laços e compromissos que se havia estabelecido desde o

início da pesquisa. Hoje, analisando aquele momento, reconheço que deveria ter utilizado

uma linguagem mais simples. Porém considero a apresentação dos resultados à

comunidade um ato importante. Afirmo ainda que a comunidade local pode não perceber

de imediato a importância dos resultados que se obtém em trabalho com etnobotânica.

Entretanto ele deve ser deixado e exposto localmente, pois no futuro podem se tornar

documentos valiosos para a comunidade. É importante deixar os documentos com vários

líderes locais, pois eles podem compartilhá-los com lideranças de outras comunidades. Os

resultados podem ser úteis também para outras comunidades que estejam vivenciando

outro momento em seu desenvolvimento e estejam interessados na conservação de recursos

biológicos e do saber local. O desenvolvimento dos projetos e seus resultados podem ser

úteis desde a obtenção de seus resultados ou a longo prazo” (Soler, comunicação pessoal).

Discussão e Considerações

Os casos descritos mostram que algumas vezes as demandas e solicitações da

comunidade se tornam, de imediato, mais importantes do que o compromisso

anteriormente assumido de repassar o conhecimento. Entretanto para os cientistas

envolvidos nestas pesquisas as solicitações de curto prazo atendidas total ou parcialmente

não substituíram e nem comprometeram a atividade planejada no início da pesquisa.

A valorização do conhecimento dos informantes e da comunidade pelo pesquisador foi

importante nas três situações para a aceitação e reconhecimento do saber dos pesquisadores

pela comunidade. Estimular o auto-reconhecimento dos informantes e o reconhecimento

por pares é importante para a auto-estima (dos informantes e da comunidade) e fortalece a

unidade da comunidade. Além disso, a participação na pesquisa propicia o resgate de

conhecimentos pouco ou não valorizados, e em algumas situações, “esquecidos" pelo

próprio informante, mas que estavam na memória de algumas pessoas. Este complexo de

situações é mediado pelo pesquisador, que, nos dias atuais, se torna um ator importante na

manutenção do conhecimento da comunidade na própria comunidade.

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Nota-se também que nem sempre o retorno do conhecimento esperado pela

comunidade está inteiramente ligado ao tema da pesquisa. O pesquisador está coletando

informações, ouvindo e aprendendo com eles. Sobre este tema a vida já os tornou

especialistas e eles querem ser respeitados como tal. Isso fica claro em dois dos casos

descritos. Devido ao fato de que o retorno esperado pela comunidade pode não estar ligado

ao tema da pesquisa o pesquisador deve ter percepção e maturidade para aprimorar seu

planejamento inicial, sem fugir deste, adaptando-o à realidade. Posey em 1986, já alerta:

“...os informantes podem ser especialistas de uma determinada área de conhecimento

dentro de sua própria cultura e, portanto, devem ser tratados com o mesmo respeito que

dispensamos aos especialistas em nossa própria cultura”.

Alexiades (1996) salienta que uma compensação precisa ser feita quando há um uso

extensivo do tempo e da experiência das pessoas locais. No entanto, o tipo de compensação

irá variar em forma, de área para área e também dependendo do tipo da pesquisa. Afirma

ainda que é interessante discutir o que seria um bom retorno com as contra-partes locais,

sua liderança e com organizações de pesquisa. Chama a atenção para outro tipo de retorno

que o pesquisador pode dar para a comunidade em estudo - o reconhecimento intelectual.

Este reconhecimento pode ser vantajoso e/ou desejado pela comunidade. Em alguns casos,

um informante ou toda a comunidade pode requerer este reconhecimento como ocorrido

em Baker e Mutitjulu Community (1992); em outros, dependendo da pesquisa, o

anonimato é requerido e preferido em relação ao reconhecimento público. Quando e como

este reconhecimento deve ser feito, ou ainda se é desejável, também deve ser discutido

com a comunidade e sua liderança, e o pesquisador deve estar preparado para esta situação.

A menos que o anonimato seja requerido, este reconhecimento deve ser realizado de forma

apropriada, e inclusive é sugerido pelo acordo de Melaka (ASOMPS, 1994), onde consta,

além de outras sugestões, que editores de periódicos e revisores de artigos devem garantir

que o devido reconhecimento seja realizado pelos pesquisadores em seus artigos.

As experiências resumidas nestes três casos, cotejados com extensa literatura,

corroboram com alternativas de retorno do conhecimento sistematizado à comunidade

levantadas por alguns pesquisadores, levando-nos a acreditar que a convivência com a

comunidade é de extrema importância para o reconhecimento de suas necessidades e seus

interesses devem prevalecer no momento da elaboração do retorno sem, entretanto, se

perder de vista uma perspectiva futura do uso dos resultados formais da pesquisa realizada.

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Mostram também que cada comunidade estudada é única, com suas próprias

características que devem ser levadas em consideração no momento de elaboração do

retorno. Este fato evidencia que tal atividade não pode ser padronizado para toda e

qualquer comunidade, sendo, portanto, difícil estabelecer-se a priori uma metodologia. É

indispensável, entretanto, apontar-se, no planejamento, possíveis caminhos a serem

buscados para que a comunidade também aprenda com a pesquisa realizada. Reafirmam

também a importância de se elaborar este retorno à comunidade pesquisada como uma das

formas de reconhecimento pela ajuda e pelo tempo despendido, e, principalmente, pelo

compartilhamento do saber.

Sugere-se que a proposta de retorno do conhecimento sistematizado à comunidade

apresentada no início da pesquisa não tenha predomínio sobre outras formas surgidas

durante a pesquisa e a convivência com a comunidade, enfatizando que esta convivência é

de vital importância num trabalho em Etnobotânica e disciplinas relacionadas.

Agradecimentos

Agradecemos a Juan Gabriel Soler Alarcon e a Inês Machline Silva pela discussão

de diferentes etapas de suas pesquisas, compartilhando as experiências vividas e pela

leitura crítica do manuscrito.

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de Janeiro. 2005.

Notas

Comunidade tradicional é aqui considerada segundo Diegues e Arruda (2001) em estudo

realizada após a Convenção sobre Diversidade Biológica-CDB, buscando implementar

aspectos relevantes da convenção.2 O Brasil é o mais rico entre os países megadiversos. Detém cerca de 20% do número total

de espécies do planeta. Detém a flora mais rica, com cerca de 56 mil espécies de

fanerógamos (plantas superiores) descritas, ou 22% do total mundial (Mittermeier et al,

1999). Os 12 países que compõem o grupo dos megadiversos são: Brasil, China, México,

Índia, Colômbia, Venezuela, Peru, Costa Rica, Equador, África do Sul, Quênia e

Indonésia. Estes países possuem cerca de 70% da biodiversidade mundial.

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