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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO COPPEAD/UFRJ ESTRATÉGIAS DE INVESTIMENTO EM POSIÇÕES DELTA-NEUTRAS: UMA ANÁLISE BASEADA NA AUTO-CORRELAÇÃO TEMPORAL ALAN FUCHS MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ORIENTADOR: PROF. EDUARDO FACÓ LEMGRUBER RIO DE JANEIRO – RJ – BRASIL AGOSTO DE 2001

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO

COPPEAD/UFRJ

ESTRATÉGIAS DE INVESTIMENTO EM POSIÇÕES DELTA-NEUTRAS:UMA ANÁLISE BASEADA NA AUTO-CORRELAÇÃO TEMPORAL

ALAN FUCHS

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

ORIENTADOR: PROF. EDUARDO FACÓ LEMGRUBER

RIO DE JANEIRO – RJ – BRASILAGOSTO DE 2001

ii

ESTRATÉGIAS DE INVESTIMENTO EM POSIÇÕES DELTA-NEUTRAS:UMA ANÁLISE BASEADA NA AUTO-CORRELAÇÃO TEMPORAL

ALAN FUCHS

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EPESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DEJANEIRO – COPPEAD/UFRJ COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS ÀOBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS (M. Sc.) EM ADMINISTRAÇÃO

APROVADA POR:

Prof. Eduardo Facó Lembruber, Ph.D.

Prof. Eduardo Saliby, Ph.D.

Dr. Franklin O. Gonçalves, Ph.D.

RIO DE JANEIRO – RJ – BRASILAGOSTO DE 2001

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FICHA CATALOGRÁFICA

FUCHS, AlanEstratégias de Investimento em Posições Delta-Neutras:

Uma Análise Baseada na Auto-Correlação Temporal /Alan Fuchs. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2001.

x, 79p. il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio deJaneiro, COPPEAD, 2001. Orientador: Eduardo FacóLemgruber

1. Eficiência. 2. Opções 3. Tese (Mestr. –UFRJ/COPPEAD) 4. Eduardo Facó Lemgruber.I. Título

iv

AGRADECIMENTOS

À minha querida esposa Gabriela pelo apoio, amor e incentivos constantes dados ao longo daelaboração deste trabalho;

aos meus pais, que com amor e dedicação me educaram para vencer os desafios da vida;

ao orientador, Prof. Eduardo Facó Lemgruber pela pronta ajuda sempre que solicitado;

aos membros da banca, Prof. Eduardo Saliby e Dr. Franklin O. Gonçalves.

v

RESUMO

FUCHS, Alan. Estratégias de Investimento em Posições Delta-Neutras: Uma AnáliseBaseada na Auto-Correlação Temporal. Orientador: Eduardo Facó Lemgruber. Rio deJaneiro: UFRJ/COPPEAD, 2001. Dissertação (Mestrado em Administração)

Esta pesquisa propõe um teste de eficiência para o mercado brasileiro de opções no

período compreendido entre janeiro de 1997 e maio de 2000. Partindo-se da hipótese de que

as auto-correlações temporais de ordem 1 dos quadrados dos retornos não são iguais quando

calculadas nos dias de retornos negativos e positivos, estratégias de investimento são

construídas objetivando-se ganhos sistemáticos provenientes da formação de portfólios delta-

-neutros, comprados ou vendidos em volatilidade sobre Telebrás PN. Os resultados indicam

que o mercado não consegue valorar de maneira adequada a volatilidade implícita das opções

quando um alto retorno, positivo ou negativo é verificado em determinado pregão. Esta

conclusão é formulada tendo em vista os excessos médios de retorno sobre o CDI obtidos

mediante a manutenção dos portfólios por 1 dia. Os resultados permanecem igualmente

válidos quando custos de transação são considerados.

vi

ABSTRACT

FUCHS, Alan. Estratégias de Investimento em Posições Delta-Neutras: Uma AnáliseBaseada na Auto-Correlação Temporal. Orientador: Eduardo Facó Lemgruber. Rio deJaneiro: UFRJ/COPPEAD, 2001. Dissertação (Mestrado em Administração)

This research proposes a test of efficiency for the brazilian options market during the

period between January 1997 and May 2000. From the hypothesis that the squared returns

first order temporal autocorrelations are not the same when calculated at the negative and

positive returns days, investment strategies are built with the objective of obtaining

systematic gains derived from the delta-neutral portfolios, buying or selling volatility of

Telebrás PN. The results indicate that the market is not capable of properly value the options

implicit volatility when a high return, positive or negative is observed in itself. This

conclusion is formulated once the medium return excess over the CDI (interbank interest

rates) are verified when the portfolios are sustained for 1 day. The results are still valid when

transaction costs are considered.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 - Retornos Diários Telebrás PN Ajustados para Dividendos nos Anos de 1995 e 1996. Exemplos de Clusters de Volatilidade 23

Gráfico 3.1 - Normal 1 x Normal 2 x Mistura de Normais 29

Gráfico 3.2 - Normal (0,1) e Mistura de Normais (0,1) Gerada pelas Normais Apresentadas no Gráfico 3.1 30

Gráfico 4.1. a) Portfólio Delta-Neutro Comprado em Volatilidade 36Gráfico 4.1. b) Portfólio Delta-Neutro Vendido em Volatilidade 36

Gráfico 7.1 - Comparação da Distribuição Empírica dos Retornos Diários de Telebrás PN (1995 e 1996) e sua Modelagem pelas Distribuições Normais e Mistura de 2 Normais 62

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Fontes de Referências Bibliográficas 18

Tabela 6.1 - Valores da Função de Verossimilhança para Combinações dos Parâmetros u e v 51

Tabela 6.2 - Desvios-padrão das Variações das Volatilidades Implícitas e suas Correlações com os Retornos Diários de Telebrás PN. Valores Históricos Separados para os Grupos dos Retornos Positivos e Negativos 52

Tabela 7.1 - Resultados dos Testes Paramétricos das Estratégias de Venda e Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) Sem Custo de Corretagem 65

Tabela 7.2 - Resultados dos Testes Paramétricos da Estratégia de Venda de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) Sem Custo de Corretagem 65

Tabela 7.3 - Resultados dos Testes Paramétricos da Estratégia de Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) Sem Custo de Corretagem 65

Tabela 7.4 - Resultados dos Testes Paramétricos das Estratégias de Venda e Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) Com Custo de Corretagem 66

Tabela 7.5 - Resultados dos Testes Paramétricos da Estratégia de Venda de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) Com Custo de Corretagem 66

Tabela 7.6 - Resultados dos Testes Paramétricos da Estratégia de Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) Com Custo de Corretagem 66

Tabela 7.7 - Resultados dos Testes Não Paramétricos das Estratégias de Venda e Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) Sem Custo de Corretagem 67

Tabela 7.8 - Resultados dos Testes Não Paramétricos da Estratégia de Venda de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) Sem Custo de Corretagem 67

Tabela 7.9 - Resultados dos Testes Não Paramétricos da Estratégia de Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) Sem Custo de Corretagem 67

Tabela 7.10 - Resultados dos Testes Não Paramétricos das Estratégias de Venda e Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) Com Custo de Corretagem 68

ix

Tabela 7.11 - Resultados dos Testes Não Paramétricos da Estratégia de Venda de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) Com Custo de Corretagem 68

Tabela 7.12 - Resultados dos Testes Não Paramétricos da Estratégia de Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) Com Custo de Corretagem 68

Tabela 7.13 - Número de Operações de Investimento Realizadas entre 02/01/1997 e 22/05/2000 Através da Implementação em Conjunto das Estratégias de Venda e Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) 69

Tabela 7.14 - Número de Operações de Investimento Realizadas entre 02/01/1997 e 22/05/2000 Através da Implementação da Estratégia de Venda de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) 69

Tabela 7.15 - Número de Operações de Investimento Realizadas entre 02/01/1997 e 22/05/2000 Através da Implementação da Estratégia de Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) 70

Tabela 7.16 - Número de Médias e Medianas, para Cada uma das Tabelas de Resultados, com P-values Inferiores a 0,025, 0,05 e 0,1 71

x

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO 1 – Revisão Bibliográfica 31.1 – Introdução 31.2 – A Eficiência do Mercado de Opções 31.3 – O Mercado Brasileiro 61.4 – O Mercado Norte-Americano 91.5 – Conclusões 161.6 – As Estratégias de Investimento 17

CAPÍTULO 2 – A Auto-Correlação Temporal dos Retornos do Quadrados 19

CAPÍTULO 3 – A Mistura de Normais para a Determinação dos Altos Retornos 27

CAPÍTULO 4 - A Formação de Portfólios Delta-neutros e o Cálculo de seu VaR 334.1 – Os Portfólios Delta-Neutros 334.2 – VaR para Portfólios Delta-Neutros 37

CAPÍTULO 5 – Características da Amostra 46

CAPÍTULO 6 – Metodologia 486.1 – Introdução 486.2 – As Estratégias de Investimento 496.3 – A Determinação dos Altos e Baixos Retornos 506.4 – Montante Investido 516.5 – Rentabilidade das Operações 536.6 – Lucratividade das Estratégias 55

CAPÍTULO 7 – Resultados 597.1 – Introdução 597.2 – A Auto-correlação Temporal dos Retornos ao Quadrado 597.3 – A Adequabilidade da Função Mistura de Normais 617.4 – Teste de Acurácia do Modelo de VaR 637.5 – Resultados das Estratégias de Investimento 63

CAPÍTULO 8 – Conclusões 75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77

Introdução

A expressão algébrica do conhecido modelo de apreçamento de opções de Black &

Scholes (1973) apresenta como argumentos o preço do ativo-objeto, o preço de exercício e

o prazo de vencimento da opção, a taxa de juros livre de risco e a volatilidade futura

estimada para o ativo-objeto. Com exceção desta última variável, todos os outros

parâmetros podem ser facilmente observados no mercado.

Diversos estudos foram realizados com o objetivo de se testar a eficiência do

mercado de opções. Estas pesquisas procuram avaliar a consistência do valor da

volatilidade implícita das opções negociadas no mercado com o citado modelo de

apreçamento de Black & Scholes (1973). Para isso, são desenvolvidos testes estatísticos

que verificam a ocorrência de ganhos sistemáticos provenientes de operações baseadas em

portfólios “hedging”.

O presente estudo tem como principal objetivo verificar a existência de possíveis

ganhos sistemáticos provenientes de operações de investimento baseadas em portfólios

delta-neutros, comprados ou vendidos em volatilidade, sobre Telebrás PN. Através de uma

análise efetuada no período compreendido entre janeiro de 1997 e maio de 2000, tenta-se

corroborar a hipótese de que o mercado não consegue valorar de maneira adequada a

volatilidade implícita para o dia seguinte a um pregão no qual é observado um alto retorno.

O teste de eficiência é construído mediante a implementação de estratégias de

investimentos baseadas na suposição de que a auto-correlação temporal de ordem 1 dos

retornos ao quadrado de Telebrás PN é positiva para os dias de retorno negativo e próxima

de zero nos dias de retorno positivo. Assim, a probabilidade de se observar um alto retorno

(positivo ou negativo) após um dia de alto retorno negativo é mais alta se comparada à

mesma probabilidade para um dia não precedido por um alto retorno. Por sua vez, quando

é observado no mercado um alto retorno positivo, nada se pode afirmar acerca das chances

de ocorrência de um alto retorno no dia subseqüente.

2

A dissertação é desenvolvida em 8 capítulos. No primeiro é realizada uma revisão

bibliográfica dos principais trabalhos sobre a eficiência do mercado de opções aplicada aos

mercados brasileiro e norte-americano.

No segundo capítulo são discutidas questões referentes à auto-correlação temporal

dos retornos ao quadrado bem como sua utilização para o desenvolvimento das estratégias

de investimento construídas para se testar a eficiência do mercado de opções.

No terceiro capítulo é desenvolvida uma metodologia para a determinação dos altos

retornos baseada na utilização da função de probabilidade gerada a partir da mistura de

duas distribuições normais. A determinação dos altos retornos é de fundamental

importância para a implementação das operações de investimento.

O quarto capítulo apresenta as principais características dos portfólios delta-neutros

formados bem como um modelo de risco (VaR) sobre estas posições. O desenvolvimento

deste modelo ganha importância na medida que, através dele, é determinado o montante a

ser investido nos dias de alto retorno.

As características da amostra de dados utilizada para a construção dos testes

estatísticos são apresentadas no quinto capítulo. No sexto, é desenvolvida a metodologia

que dá suporte à formulação das operações de investimento. No sétimo capítulo são

expostos os resultados do trabalho para que finalmente, no oitavo, sejam apresentadas as

conclusões da pesquisa.

3

Capítulo 1 - Revisão Bibliográfica

1.1 - Introdução

Este capítulo tem como objetivo apresentar os trabalhos e artigos utilizados como

fontes de referência bibliográfica do presente estudo. A seção 1.2 faz uma introdução aos

conceitos e premissas geralmente adotados nos modelos de apreçamento de opções,

abordando, por fim, os aspectos teóricos básicos referentes ao estudo da eficiência do

mercado de opções.

Nas seções 1.3 e 1.4, são apresentados os trabalhos específicos que estudam a

eficiência do mercado de opções aplicada aos mercados brasileiro e norte-americano,

respectivamente. A seção 1.5 busca fazer uma síntese dos trabalhos citados, apresentando,

ao final, a motivação básica desta pesquisa.

A seção 1.6 tem a função de apenas citar os trabalhos que servem de referência ao

desenvolvimento dos argumentos e ferramentas que dão suporte à construção das

estratégias de investimento propostas por este estudo. Uma revisão bibliográfica específica

é realizada em cada um dos capítulos subseqüentes da dissertação.

1.2 – A Eficiência do Mercado de Opções

Diversos estudos na área de finanças vêm sendo realizados com o objetivo de se

verificar a possibilidade de geração de lucros econômicos sistemáticos através da adoção

de regras específicas de investimento em produtos derivativos. O lucro econômico deve ser

entendido como o retorno excessivo do investimento livre de despesas de negociação

associado ao seu nível de risco.

De acordo com a hipótese fraca de eficiência de mercado sugerida por Fama

(1970), os preços das ações devem refletir toda a informação que possa estar contida no

passado histórico dos ativos. Desta forma, nenhum tipo de informação passada observada

nos preços poderia gerar lucros consistentes através da implementação sistemática de

determinada estratégia de investimento.

4

O objetivo deste estudo é, justamente, estender o raciocínio acima para um portfólio

composto por opções. Assim, toda informação passada deveria estar plenamente refletida

nos preços das opções, evitando, desta forma, ganhos sistemáticos com a formação de

carteiras compostas por estes derivativos. Para a análise da questão, atenção especial deve

ser dada ao modelo de apreçamento de opções amplamente utilizado pelo mercado e

desenvolvido originalmente por Fischer Black e Myron Scholes.

Em seu artigo, Black & Scholes (1973) afirmam que, estando as opções

corretamente precificadas pelo mercado, não seria possível auferir, com pleno grau de

certeza, lucros através da formação de portfólios em posições compradas ou vendidas e

seus respectivos ativos.

Ao derivar a fórmula do preço das opções, os autores pressupõem algumas

condições ideais para a ação-objeto e para a opção: a) taxa de juros de curto prazo

conhecida e constante ao longo do tempo; b) os preços das ações seguem uma distribuição

log-normal e a variância dos retornos é constante; c) a ação não paga dividendos ou

qualquer distribuição; d) a ação é do tipo européia; e) não existem custos de transação para

a ação e para a opção; f) é permitido tomar dinheiro a taxa de curto prazo para compra de

qualquer fração do ativo; g) não existem penalidade para vendas a descoberto.

De acordo com estas premissas, o valor das opções dependem apenas dos preços

das ações, do tempo de vencimento e das variáveis consideradas constantes, como a taxa

de juros livre de risco, o preço de exercício da opção e a volatilidade do ativo-objeto. Na

realidade, aperfeiçoamentos posteriores foram feitos ao modelo, adaptando-os, desta

maneira, à realidade de mercado1.

De todas as premissas adotadas originalmente pelo modelo, deve-se dar maior

atenção à questão da variância constante ao longo do tempo. Taylor (1986) conclui em

1 Os modelos posteriores derivados da fórmula original de Black e Scholes incluem, por exemplo, opagamento de dividendos. Além disto, incluem, também, as opções americanas na análise.

5

seus estudos que o comportamento estocástico da volatilidade do ativo-objeto deve ser

levado em conta em um modelo de apreçamento de opções. “Ignorar possíveis mudanças

futuras na volatilidade pode resultar em um sério valor incorreto para a opção.” (Taylor,

1986, p. 233).

Alguns modelos de apreçamento de opções foram posteriormente desenvolvidos

procurando captar mudanças na volatilidade do ativo além de incorporar tendências nos

preços das ações. Estes modelos, no entanto, ganharam pouca popularidade, sendo,

portanto, pouco utilizados pelo mercado.

Segundo Taylor (1986), é bastante provável que a variância estimada através de

modelos econométricos possa ser mais próxima da variância verdadeira se comparada às

estimativas de mercado. Com isso, deve-se considerar a possibilidade de que ganhos

econômicos sistemáticos surjam com a negociação de opções.

Desta forma, supondo que o modelo de apreçamento de opções de Black & Scholes

está correto e que apenas a volatilidade do ativo-objeto não pode ser diretamente observada

pelos agentes de mercado, então, a única possível explicação para possíveis ineficiências

está associada ao fato de que seria possível construir modelos específicos que consigam

estimar ou prever, de forma mais eficiente do que o mercado, o comportamento futuro da

volatilidade dos ativos. A estimativa do mercado para a volatilidade futura do ativo é

refletida através da volatilidade implícita das opções2.

Como já mencionado, a ineficiência pode ser caracterizada quando ganhos

sistemáticos são obtidos para dado nível de risco. De acordo com o modelo de Black &

Scholes, quando portfólios “hedging” são construídos, para pequenas variações do ativo-

objeto seu valor não se altera. Portanto, o risco de mercado nesta situação não existiria,

fazendo com que o ganho justo esperado se igualasse à taxa livre de risco. Caso uma

estratégia de investimento em portfólios “hedging” seja adotada e o ganho sistemático

2 A volatilidade implícita é aquela que faz com que o preço das opções derivado do modelo de Black &Scholes se iguale ao preço observado no mercado.

6

apurado aparente ser maior do que a taxa livre de risco, então seria possível rejeitar a

hipótese de mercado eficiente.

A maior parte dos trabalhos relacionados ao tema busca, justamente através da

formação de portfólios “hedging” e de um modelo de previsão para a volatilidade futura do

ativo, encontrar ganhos sistemáticos anormais, tentando, assim, caracterizar a ineficiência

de mercado.

1.3 – O Mercado Brasileiro

Alguns estudos voltados para o mercado brasileiro buscam avaliar as possibilidades

de geração de lucros econômicos através de negócios com opções. Torna-se importante

mencionar que estes trabalhos, de alguma forma, procuram criar metodologias que têm

como objetivo averiguar as possíveis diferenças entre os preços derivados do modelo de

Black & Scholes associado a uma estimativa de volatilidade histórica para a ação e os

preços de mercado das opções. Baseadas nestas avaliações, as estratégias de compra e

venda dos derivativos são efetuadas.

Becker e Lemgruber (1989) testam em seu artigo a eficiência do mercado brasileiro

de opções, usando, para isso, o modelo de Black & Scholes aplicado a diversas estratégias

predeterminadas de investimento. O objetivo é verificar os possíveis ganhos de arbitragem

com operações baseadas em portfólios “hedging”. As evidências são obtidas através da

série de preços de opções de compra e das ações correspondentes das empresas

Paranapanema, Petrobrás e Sharp durante o período de 9 meses após fevereiro de 19863.

Dentre as várias estratégias sugeridas, deve-se dar atenção especial à operação de

compra de um portfólio “hedging” e o subseqüente fechamento da posição no dia seguinte.

Os portfólios são estruturados da seguinte forma: usando a fórmula de Black & Scholes, os

preços das opções são calculados com base nas volatilidades dos respectivos ativos-objeto

dos últimos 26 pregões e nos demais parâmetros observados no dia. Supondo que o preço

3 Período de vigência do Plano Cruzado.

7

calculado desta forma está correto, opções subavaliadas pelo mercado são compradas e as

superavaliadas vendidas. Neste mesmo instante, as ações correspondentes são vendidas ou

compradas na proporção correta para a formação do “hedge”.

Para este tipo de estratégia, os resultados indicam que os lucros não foram

diferentes de zero. Quando os custos de transação são considerados, prejuízos

significativos são observados.

Além desta estratégia, outras operações, tais como a manutenção do portfólio por

uma semana e/ou até o vencimento com e sem ajustes de “hedge” diários, são testadas.

Posições apenas nas “calls” com manutenção por 1 dia, por uma semana e até o

vencimento são igualmente avaliadas.

De forma geral, o estudo conclui que o mercado é eficiente, e, para as diversas

estratégias de negociação, os lucros somente foram obtidos antes de serem considerados os

custos de transação. Apenas na operação de posição a descoberto para opções de compra

com manutenção até o vencimento, lucros bastante elevados, após os custos de transação,

foram obtidos. Entretanto, cabe ressaltar que este tipo de estratégia é bastante arriscada,

uma vez que não envolve portfólios com a ação-objeto. Além disto, seus resultados advém

da baixa do mercado observada durante grande parte do período em análise. Caso o

mercado tivesse se comportado de maneira inversa, conseqüentes prejuízos seriam

constatados.

Ramos (1998) analisa em seu trabalho a eficiência do mercado brasileiro de opções

para o período posterior à implantação do Plano Real. O estudo baseia-se em uma amostra

de opções de compra de Telebrás para 14 vencimentos sucessivos, verificando, então, a

possibilidade de ganhos de arbitragem em posições “hedging”.

A metodologia aplicada à pesquisa sugere a formação de portfólios “hedging” no

29º dia útil anterior ao vencimento das opções com rebalanceamento diário, mantendo a

posição delta-neutra até a véspera do vencimento, quando, finalmente, a posição é zerada.

A adoção desta estratégia não implica em posições completamente neutras já que os

8

portfólios são ajustados pela taxa de “hedge” apenas uma vez ao dia e não a cada mudança

de preço do ativo-objeto.

Assim como no estudo de Becker e Lemgruber, Ramos avalia as possibilidades de

realização de arbitragem, optando por posições compradas ou vendidas, através da

associação do modelo de Black & Scholes a um procedimento de estimação para a

volatilidade histórica do ativo. Uma vez calculado o preço justo pelo modelo, uma

comparação posterior com os preços de mercado das opções é realizada. Opções

subavaliadas são compradas e as superavaliadas vendidas, além das respectivas vendas a

descoberto e compras da ação na proporção indicada para o “hedge” do portfólio. O estudo

também procura testar os ganhos de arbitragem através do método de estimação para a

volatilidade futura baseado em uma média das volatilidades implícitas ponderada por seus

respectivos gamas.

O trabalho conclui que os ganhos de arbitragem destacados por Becker e

Lemgruber permanecem somente quando os custos de transação são ignorados.

Adicionalmente, as análises de regressão desenvolvidas evidenciam que não existe relação

entre os ganhos de arbitragem e o conhecimento prévio dos indicadores de liquidez das

opções, corroborando, desta forma, a hipótese de que o mercado de opções de Telebrás no

Brasil é eficiente.

Calôba (2000) propõe em sua pesquisa um método para a previsão da variação

diária da volatilidade implícita de opções através da utilização de redes neurais. Aplicando

esta técnica de previsão às opções sobre Telebrás PN no período entre agosto de 1994 e

novembro de 1996, o autor busca verificar a existência de ganhos anormais através de

operações de compra ou venda de volatilidade por 1 dia.

Uma vez prevista a variação da volatilidade implícita para o dia seguinte através

das redes neurais, um suposto investidor opera no mercado comprando opções e vendendo

delta ativos-objeto (operação de compra de volatilidade) ou vendendo opções e comprando

delta ativos-objeto (venda de volatilidade). A lucratividade destas operações é, então,

apurada dia-a-dia.

9

Cabe ressaltar que, diferentemente dos estudos de Becker e Lemgruber (1989) e

Ramos (1998), Calôba não procura as oportunidades de arbitragem baseado em

discrepâncias entre os preços das opções, derivados da fórmula de Black & Scholes

associada à volatilidade histórica, e os preços de mercado. Na realidade, o autor, através de

uma metodologia específica associada à utilização de redes neurais, tenta provar que é

possível ter um grau satisfatório de sucesso no processo de previsão para o comportamento

da volatilidade implícita para o dia seguinte.

Calcado neste sucesso de previsão, o estudo verifica a possibilidade de obtenção de

lucros econômicos sistemáticos auferidos através das operações em portfólios delta-

neutros. Os resultados da pesquisa indicam que o lucro médio diário é significativamente

positivo, mesmo sendo desconsiderado o período da Crise do México, no qual grandes

lucros com a operação são obtidos. As conclusões permanecem válidas quando os custos

de transação são considerados.

Por fim, o autor argumenta que os lucros anormais obtidos com as operações

efetuadas ao longo de um grande período de tempo não parece representar uma

possibilidade de arbitragem, mas sim um retorno em função de um investimento em

tecnologia aplicado a uma ferramenta de previsão bastante complexa.

1.4 – O Mercado Norte-Americano

Alguns estudos aplicados ao mercado de capitais norte-americano procuram

igualmente verificar a existência de lucros econômicos sistemáticos provenientes de

operação com portfólios “hedging”. Parte das pesquisas, de forma semelhante à

metodologia aplicada aos trabalhos de Becker e Lemgruber (1989) e Ramos (1998),

procura estudar a eficiência de mercado através das operações baseadas nas diferenças

entre os preços de mercado das opções e dos preços derivados do modelo de Black &

Scholes vinculado a uma volatilidade histórica calculada.

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Mayhew (1995) faz uma revisão bibliográfica dos principais estudos que têm como

objetivo descobrir qual é o melhor estimador para a volatilidade futura dos ativos. As

pesquisas iniciais relatadas pelo citado pesquisador consideram três possibilidades:

volatilidade baseada no histórico dos preços; volatilidade implícita; ou combinação das

duas últimas. O autor mostra, segundo a literatura estudada, que a volatilidade implícita é a

melhor estimativa para a volatilidade futura do ativo.

Cabe ressaltar que, o autor, através de sua revisão bibliográfica, alerta para o fato

de que a volatilidade implícita obtida para um determinado ativo depende do tempo de

vencimento e do preço de exercício da opção usada para a realização dos cálculos4. Desta

forma, são sugeridas algumas técnicas de média ponderada das volatilidades implícitas

obtidas para um mesmo ativo com diversas opções. Mayhew afirma que as evidências

empíricas sugerem o uso da opção “mais próxima do dinheiro”5 para o cálculo da

volatilidade implícita uma vez que esta apresenta um poder de previsão para a volatilidade

futura do ativo tão bom quanto a média ponderada.

Mayhew prossegue sua análise através da revisão de alguns estudos que adotam

uma metodologia mais poderosa para estimar a volatilidade futura baseada no histórico dos

preços. Tais metodologias utilizam dados adicionais como preço máximo do dia, preço

mínimo, de abertura e de fechamento. Em geral, estes estimadores, apesar de serem muito

sensíveis a fatores como falta de liquidez e a diferenças entre ofertas de compra e venda,

possuem um bom poder de estimação para a volatilidade futura do ativo. Isto porque

quando a volatilidade implícita é adicionada de alguma forma ao cálculo destes

estimadores, pouco é acrescentado ao seu poder de previsão.

Mayhew também aborda em sua revisão bibliográfica as pesquisas que descrevem

as séries temporais dos ativos através do uso de modelos generalizados auto-regressivos de

heterocedasticidade condicional (GARCH). Especial atenção deve ser dada ao estudo de

4 O padrão da volatilidade implícita ao longo do tempo para o vencimento da opção é conhecido como“estrutura a termo das volatilidades implícitas” e o padrão em função do preço de exercício é chamado de“smile da volatilidade”. Este último termo também é comumente usado para descrever os dois tipos depadrões.

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Noh, Engle e Kane. Nesta pesquisa, é feita uma comparação entre o poder de previsão da

volatilidade implícita e da volatilidade derivada de um modelo GARCH. Esta análise é

realizada confrontando-se os retornos obtidos com portfólios delta-neutros, comprados e

vendidos em volatilidade, baseados no valor justo das opções calculados com os dois

estimadores de volatilidade. Os resultados mostram que a estratégia baseada no modelo

GARCH apresenta maiores retornos do que as baseadas na volatilidade implícita.

Segundo Mayhew, embora o debate ainda esteja aberto, as evidências apontam que,

para prever a volatilidade futura, a volatilidade implícita parece ser mais útil do que a

histórica. Modelos de séries temporais que incorporam as duas aparentam ser uma boa

alternativa para o futuro.

Dois trabalhos pioneiros que testam a eficiência do mercado de opções negociadas

na Bolsa de Opções de Chicago devem ser destacados: a pesquisa desenvolvida por Dan

Galai (1977) e o estudo apresentado por Chiras & Manaster (1978).

Galai (1977), utilizando os modelos de Black & Scholes e o CAPM6 procura testar

a eficiência do mercado de opções no período de 26 de abril de 1973 a 30 de novembro de

1973, verificando, para isso, a possibilidade de realização de lucros anormais dado o nível

de risco dos investimentos. Os testes são divididos em duas partes. Na primeira, o autor

examina a habilidade de uma regra específica de operação para separar investimentos

lucrativos e não lucrativos. Com este objetivo, testes ex-post são realizados, ou seja, as

operações de investimento são feitas com base no conhecimento antecipado dos preços de

fechamento das opções. Este teste indica o poder da regra utilizada e a acurácia do modelo

para explicar os preços observados.

Na segunda parte, testes ex-ante são efetuados. Estes testes efetivamente verificam

a eficiência do mercado já que as operações de investimento somente são realizadas no dia

seguinte à observação dos preços de fechamento das opções que servem de base para a

5 A opção “mais próxima do dinheiro” é aquela que, caso exercida imediatamente, irá gerar um fluxo decaixa mais próximo de zero.

12

decisão da compra ou venda dos portfólios. Nesta situação, é perfeitamente possível que

um investidor, replicando as estratégias propostas, obtenha os resultados encontrados.

6 O modelo CAPM (Capital-Asset-Pricing-Model) desenvolvido por Sharpe e Lintner é amplamentediscutido na literatura especializada.

13

Tanto os testes ex-ante como os ex-post obedecem a mesma lógica. Com base em

uma volatilidade histórica estimada, os preços de mercado são comparados com os preços

derivados do modelo de Black & Scholes. As opções são compradas quando o preço de

mercado está abaixo do preço indicado pelo modelo e vendidas quando o inverso ocorre.

Neste mesmo instante são vendidas ou compradas posições na ação correspondente de tal

forma que o “hedge” seja efetuado. Ao desenvolver os testes o autor faz uma análise de

sensibilidade variando a taxa de juros livre de risco e a forma de cálculo da volatilidade

histórica, medindo, por fim, o impacto destas variações nos resultados. Questões como

custo de transação e efeito dos dividendos sobre as opções são igualmente levadas em

conta.

Um aspecto bastante interessante desta pesquisa diz respeito à questão do risco das

operações realizadas. Regressões lineares dos ganhos obtidos em relação à variação do

índice de mercado indicam a inexistência de correlação, com significância estatística, entre

estas duas variáveis7. Desta forma, supondo a validade do modelo CAPM, as operações de

investimento não estariam incorrendo em risco sistemático e, como o risco não sistemático

pode ser diversificado, o prêmio de risco destas operações deveria igualar-se a taxa de

juros livre de risco. Portanto, quando o ganho médio das operações é significativamente

superior à taxa de juros livre de risco multiplicada pelo valor investido nos portfólios,

então, diz-se que o mercado de opções é não eficiente.

A pesquisa propõe a realização de testes semelhantes através da formação de

portfólios conhecidos como “spreads” somente compostos por opções de vencimentos

diferentes. O autor alega que, desta forma, questões vinculadas ao não sincronismo entre as

bolsas de Chicago e Nova York e a elevados custos transacionais poderiam ser eliminadas.

De forma geral a pesquisa chega as seguintes conclusões: a) as estratégias baseadas

no modelo de Black & Scholes têm boa performance nos testes de “hedge” ex-post; b) o

mercado parece ser não eficiente para os “market makers” uma vez que o lucro das

operações, apesar de usualmente ser não significativo, mostra uma forte tendência de ser

14

positivo. Para os não membros da bolsa, quando os custos de transação são considerados,

os ganhos anormais deixam de ser consistentes; c) os resultados são robustos quando os

parâmetros são alterados; d) o ajuste para dividendos deve ser considerado na elaboração

dos modelos; e) os teste com as estratégias de “spreads” obtêm resultados similares aos

alcançados com as estratégias de “hedge”.

Outro trabalho pioneiro, desta vez desenvolvido por Chiras & Manaster (1978),

procura testar a eficiência do mercado de opções negociadas na Bolsa de Opções de

Chicago no período compreendido entre junho de 1973 a abril de 1975 através da

utilização do modelo de apreçamento de opções de Black & Scholes ajustado para

dividendos. A pesquisa baseia-se no argumento de que o verdadeiro desvio-padrão do

retorno de uma ação é único e, com isso, a presença de múltiplas volatilidades implícitas

encontradas nas opções negociadas no mercado indica que as mesmas não estão em

equilíbrio.

O trabalho inicialmente propõe a construção de uma volatilidade implícita de

equilíbrio que seria calculada por meio de uma média ponderada das diversas volatilidades

implícitas obtidas das opções negociadas sobre uma mesma ação. Os índices de

ponderação devem refletir as elasticidades dos preços das opções em relação às mudanças

nos valores de suas volatilidades implícitas.

Na primeira etapa da pesquisa os autores procuram testar a hipótese de que esta

volatilidade obtida seria uma melhor estimativa para a volatilidade futura da ação se

comparada à volatilidade histórica. Através de regressões lineares chega-se à conclusão de

que a média ponderada das volatilidades implícitas consegue explicar as variações da

volatilidade futura da ação de forma mais eficiente do que a volatilidade histórica.

Com estes resultados iniciais os autores partem para o teste de eficiência de

mercado, simulando, para isso, operações com portfólios delta-neutros isentos de risco de

mercado para pequenas variações da ação. As opções escolhidas são aquelas que

7 A hipótese do β do modelo CAPM ser igual a 0 não é rejeitada para diversos níveis de significância

15

apresentam volatilidade implícita com discrepância de pelo menos 10% em valor sobre a

volatilidade ponderada calculada. As opções com volatilidade implícita superavaliada

ficam em posição vendida e as com volatilidade subavaliada em posição comprada. O

portfólio delta-neutro é formado com a compra ou venda simultânea das ações em

quantidades determinadas por suas respectivas taxas de “hedge”. O rebalanceamento dos

portfólios é feito diariamente e a posição é zerada ao final de 1 mês a partir da data de

início da operações.

O resultado dos investimentos é, então, apurado e, sendo o mercado eficiente, o

valor médio esperado com as operações deveria ser próximo de zero.8 Supondo que a

opção volte, dentro do período de 1 mês, para seu valor justo calculado com a volatilidade

ponderada, a pesquisa mostra que os ganhos previstos poderiam ser atribuídos a dois

fatores: a descontinuidade dos negócios e a ineficiência do mercado. Os ganhos reais

observados seriam atribuídos a estes dois fatores somados a um terceiro, associado a

possíveis erros do modelo de cálculo da volatilidade justa.

O estudo conclui que o mercado foi ineficiente dentro do período estudado tendo

em vista que os lucros das operações, já descontados dos custos de transação, podem ser

considerados anormais. Além disto, uma vez observada a diferença entre os ganhos

previstos e os reais observados, o modelo para o cálculo da volatilidade ponderada pode

ser considerado satisfatório, com exceção de sua aplicabilidade às opções previamente

identificadas como possíveis candidatas a uma superavaliação.9

Outros estudos aplicados ao mercado norte-americano buscam uma forma

alternativa de prever a volatiliade implícita para o dia seguinte e, baseados nesta previsão,

testam a eficiência de mercado com operações de volatilidade em portfólios delta-neutros.

Dentre as pesquisas, destaca-se o trabalho de Harvey & Whaley (1992) no qual um estudo

estatística.8 O valor do lucro esperado não é exatamente igual a zero uma vez que uma taxa livre de risco deve serobtida sobre o valor líquido de investimento nos portfólios. Uma vez que o período de análise (1 mês) ébastante curto, esta discrepância é desprezada no estudo.9 O modelo de apreçamento de opções de Black & Scholes supõe continuidade dos retornos dos ativos. Estapremissa pode provocar grandes distorções quando opções muito próximas do vencimento são avaliadas umavez que o mercado considera a possibilidade de saltos dos retornos.

16

bastante aprofundado sobre previsão de volatilidade implícita das opções sobre o índice

S&P 100 para o dia seguinte é realizado. Os dados referem-se aos anos de 1983 a 1989.

Uma regressão linear múltipla é realizada com o objetivo de se prever a variação da

volatilidade implícita das opções sobre o S&P 100 de um dia para o outro. A variação é

calculada tendo como base de referência a volatilidade implícita da opção “mais no

dinheiro” obtida por um modelo binomial ajustado para dividendos.

As variáveis independentes escolhidas pelo autor seguem algumas sugestões de

diversas fontes bibliográficas citadas no artigo. São elas: a) variável Dummy para

Segunda-feira; b) variável Dummy para Sexta-feira; c) retorno do S&P 100 no dia anterior;

d) mudança na volatilidade implícita da opção de compra nos dois dias anteriores; e)

variação na volatilidade implícita da opção de venda nos dois dias anteriores; f) mudança

na taxa de debêntures Baa-Aaa no dia anterior; g) mudança, no dia anterior, na taxa de

spread entre Aaa e T-bill de 90 dias; h) mudança na taxa da T-bill de 90 dias no dia

anterior; i) variação da base, no dia anterior, do contrato futuro sobre o índice S&P 500

mais próximo do vencimento.

Os resultados da regressão mostram-se bastante satisfatórios. O coeficiente de

correlação ajustado (R2) para as variações das volatilidades das opções de compra é igual a

0,228 enquanto que o valor para as de venda é de 0,207. Testes estatísticos indicam que

estes dois valores são significativamente diferentes de zero e que, portanto, a regressão

possui poder explicativo para as mudanças na volatilidade implícita para o dia seguinte.

Além disto, para as opções de compra, em 60,4% dos casos o sentido da mudança da

volatilidade implícita foi corretamente previsto pelo modelo. O mesmo valor para as

opções de venda foi de 53,5%.

Os testes t efetuados para cada uma das variáveis independentes indicam que

algumas não possuem relevante poder explicativo. Desta maneira, a mudança na taxa de

debêntures Baa-Aaa no dia anterior, a mudança, no dia anterior, na taxa de spread entre

Aaa e T-bill de 90 dias e a mudança, no dia anterior, na taxa da T-bill de 90 dias foram

descartadas para efeito de previsão da volatilidade no dia seguinte.

17

A partir das previsões feitas mediante o uso da regressão, operações de compra ou

venda de volatilidade por 1 dia com portfólios delta-neutros são realizadas10. As posições

são fechadas no dia subseqüente, caso haja uma mudança no sentido de variação da

volatilidade implícita prevista para o pregão seguinte, ou ajustadas para que portfólios

delta-neutro possam ser mantidos.

A pesquisa conclui que, apesar de ser possível construir um modelo de previsão

parcial para a volatilidade no dia seguinte, quando custos de transação são levados em

conta, os ganhos obtidos com as operações de arbitragem são perdidos.

1.5 – Conclusões

A análise agregada das pesquisas voltadas para o mercado brasileiro e norte-

americano pode ser dividida em dois grupos. O primeiro grupo de estudos11 busca as

oportunidades de arbitragem baseado na discrepância entre a volatilidade histórica e a

implícita. Pode-se dizer que, para os dois mercados, quando os custos de transação são

considerados, as estratégias de investimento mostraram-se pouco promissoras.

O segundo grupo de pesquisas12 procura as oportunidades de arbitragem através de

algum modelo alternativo de previsão da volatilidade para o dia seguinte. Para o mercado

norte-americano, os resultados demonstram que as oportunidades de ganhos anormais

somente são verificadas no estudo pioneiro desenvolvido por Chiras & Manaster (1978).

Uma possível explicação pode estar relacionada ao fato de que os dados utilizados para o

desenvolvimento desta pesquisa referem-se a um mercado em início de operação, portanto

sujeito a oportunidades de ganhos de arbitragem temporárias.

10 Uma vez que os custos de transação envolvidos na compra e venda de um portfólio composto por umacesta de ações equivalente ao índice S&P 100 são proibitivos, os autores optam por fazer o “hedge” dosportfólios através de contratos futuros de S&P 500.11 Grupo formado pelos trabalhos de Becker e Lemgruber (1989), Ramos (1998), Galai (1977) e por partedos estudos revistos por Mayhew (1995).12 Grupo formado pelos trabalhos de Calôba (2000) e Harvey & Whaley (1992) e Chiras & Manaster (1978).

18

A análise das demais pesquisas voltadas ao mercado norte-americano indica que os

ganhos anormais desaparecem quando os custos de transação são considerados. É

importante mencionar que estes trabalhos baseiam-se em modelos específicos de previsão

da volatilidade futura. Assim sendo, nada impede que resultados contrários sejam obtidos

em estudos apoiados no desenvolvimento de modelos alternativos.

Já para o mercado brasileiro, os resultados recentes obtidos por Calôba (2000)

apontam para a existência de um certo grau de ineficiência no mercado de opções. Isto

porque, mediante a utilização de uma ferramenta específica de previsão para a volatilidade

no dia seguinte, foi possível encontrar lucros anormais com as operações efetuadas.

Estes resultados servem de motivação à realização de novas pesquisas que estejam

baseadas na utilização de ferramentas alternativas para a previsão do comportamento

futuro das volatilidades implícitas das opções negociadas no mercado brasileiro. Através

de modelos específicos, estes estudos devem buscar novas oportunidades de arbitragem,

tentando, assim, corroborar a hipótese da ineficiência do mercado de opções.

O mercado pode ser considerado ineficiente uma vez que o lucro obtido com uma

regra específica de investimento é considerado anormal, ou seja acima do lucro esperado

dado o nível de risco da operação.

O presente estudo procura, através de uma argumentação específica baseada na

auto-correlação temporal dos retornos ao quadrado, prever o comportamento futuro da

volatilidade implícita das opções em determinadas circunstâncias. O poder de previsão é

então medido por meio da análise dos lucros e dos riscos associados à realização das

operações de compra e venda de volatilidade com portfólios delta-neutros.

1.6 – As Estratégias de Investimento

As estratégias de investimento propostas pelo estudo têm por objetivo tentar gerar

ganhos anormais para um investidor. Caso isto ocorra, pode-se corroborar a hipótese da

ineficiência do mercado de opções brasileiro em dado período. Estas estratégias baseiam-se

em argumentos e ferramentas de decisão específicos discutidos mediante uma revisão

19

bibliográfica minuciosa realizada ao longo dos capítulos subseqüentes. Desta forma, nesta

seção, as respectivas referências são apenas citadas.

No capítulo 2 é estudada a auto-correlação temporal dos retornos ao quadrado. A

pesquisa apoia-se em algumas fontes de referência bibliográfica. São elas: RiskMetrics:

Technical document (1996), Taylor (1986), Fama (1965), McLeod & Li (1983) e McClave

& Benson & Sincich (1998). O capítulo 3 introduz a função de probabilidade derivada da

mistura de duas normais, mostrando, por fim, sua utilização para a determinação dos altos

retornos. Para tanto, as seguintes fontes de referência são utilizadas: Kon (1984), Hull &

White (1998), Hamilton (1991), Finger & Kim (2000), Kim & Kon (1994) e Peters &

Summers (1973).

No capítulo 4 são abordadas questões específicas envolvendo a formação de

portfólios delta-neutros e o cálculo de seu VaR. As fontes de referência bibliográfica

utilizadas são: Hull (2000), Jorion (1998), Picanço (2000), Kupiec (1995), Malz (2000) e

Taylor (1986). Por fim, para se chegar às conclusões no que se refere à rentabilidade média

obtida com as estratégias de investimento, além dos testes de hipótese tradicionais para

médias, é utilizado um teste não paramétrico apresentado em McClave, Benson, Sincich

(1998, pp. 869-872).

A Tabela 1.1 fornece um panorama da literatura utilizada como fonte de referência

bibliográfica, associando os trabalhos a cada capítulo da dissertação.

Tabela 1.1Fontes de Referências Bibliográficas

Capítulos Referências Bibliográficas

Capítulo 1 - Revisão BibliográficaFama (1970), Becker e Lemgruber (1989), Ramos(1998), Calôba (2000), Mayhew (1995), Galai (1977),Chiras & Manaster (1978), Harvey & Whaley (1992)

Capítulo 2 – A Auto-correlaçãoTemporal dos Retornos ao Quadrado

RiskMetrics: Technical document (1996), Taylor (1986),Fama (1965), McLeod & Li (1983), McClave & Benson& Sincich (1998)

Capítulo 3 - A Mistura de Normais paraa Determinação dos Altos Retornos

Kon (1984), Hull & White (1998), Hamilton (1991),Finger & Kim (2000), Kim & Kon (1994), Peters &Summers (1973)

20

Capítulo 4 - A Formação de PortfóliosDelta-neutros e o Cálculo de seu VaR

Hull (2000), Jorion (1998), Picanço (2000), Kupiec(1995), Malz (2000), Taylor (1986)

Capítulo 6 - Metodologia McClave & Benson & Sincich (1998)

19

Capítulo 2 – A Auto-correlação Temporal dos Retornos ao Quadrado

Os resultados empíricos de diversos estudos tais como Fama (1965) e Taylor (1986,

pp. 52-55) apontam para a existência de auto-correlação de ordem 1 (correlação temporal

defasadas em 1 dia) dos retornos de ações ao quadrado.

O efeito desta auto-correlação implica em maiores chances de se observar um alto

retorno, positivo ou negativo, em determinado dia quando este é precedido por um pregão

no qual se verificou uma forte oscilação no preço do ativo. Portanto, sendo este fato

verdadeiro, é de se esperar que a volatilidade implícita das opções cresça quando um dia de

alto retorno é observado.

É interessante notar que a auto-correlação dos quadrados dos retornos diários

contínuos de uma ação pode ser significativamente diferente de zero apesar da constatação

da inexistência de auto-correlação dos retornos. Segundo o RiskMetrics (1996, p. 59), a

literatura acadêmica costuma utilizar a auto-correlação dos retornos ao quadrado para

mostrar a dependência entre os retornos diários. Desta forma, não se pode afirmar que os

retornos diários de uma ação são independentes através da simples constatação da

inexistência de auto-correlação temporal da série.

Para a realização de um teste de hipótese que tenha por objetivo verificar a

existência de auto-correlação de ordem 1 dos retornos ao quadrado, é necessário, a priori,

determinar uma distribuição de probabilidade para o parâmetro testado. Entretanto, antes

de ser realizado uma análise minuciosa das questões referentes à auto-correlação dos

retornos ao quadrado, torna-se importante entender melhor as características da auto-

correlação dos retornos diários das ações.

Segundo Taylor (1986, p. 24), uma série temporal de retornos diários pode ser

usada para estimar a auto-correlação do processo gerador das observações quando a

20

premissa de que o processo é estacionário é adotada1. Neste caso, a auto-correlação de

ordem p pode ser estimada pela seguinte auto-correlação amostral:

( )( )( )∑

=

=+

−−= n

tt

pn

tptt

p

rr

rrrrx

1

2

1 , 1≥p

O estimador xp , que pode ser considerado como o valor realizado de uma variável

aleatória ( )( ) ( )2∑∑ −−−= + RRRRRRX tpttp , é normalmente usado para se testar

hipóteses acerca da auto-correlação teórica pρ . De acordo com Taylor (1986, p. 48),

fórmulas alternativas são utilizadas por alguns autores com o objetivo de se eliminar o viés

causado pelo fato de existir um maior número de termos no denominador do que no

numerador. De qualquer forma, quando longas séries temporais são analisadas, o efeito do

viés torna-se desprezível.

A distribuição de Xp é conhecida para grandes amostras geradas por processos

lineares. Um processo estocástico é linear quando sua variável aleatória pode ser

determinada por uma combinação linear das variáveis presentes e passadas geradas por um

processo conhecido como “Strict White Noise”. Ao mesmo tempo, um processo

estocástico é conhecido como “Strict White Noise” quando suas variáveis aleatórias são

independentes e têm a mesma distribuição.

Como já mencionado anteriormente, não se pode afirmar que duas variáveis são

independentes simplesmente pelo fato delas não serem correlacionadas. Por outro lado,

quando as variáveis são independentes, então pode-se dizer que não são correlacionadas.

Um processo estocástico é chamado de “White Noise” quando é estacionário e não

correlacionado. Todo os processos “Strict White Noise” são também “White Noise”.

1 Um processo é dito estacionário quando os momentos da distribuição geradora das observações não sealteram ao longo do tempo.

21

Taylor (1986, p. 25) mostra que, para processo lineares, Xp é assintoticamente

distribuída por uma função normal com média igual a zero e variância igual a 1/n , onde n

é o tamanho da amostra. Resultados para processos não lineares não são conhecidos.

A partir desta distribuição assintótica, testes de hipóteses podem ser construídos.

Estes testes apresentam a seguinte estrutura:

0:0:

1

0

≠=

ρρ

HH

Taylor (1986, p. 25) alerta para a relevância de uma ampla compreensão das

premissas do teste. A partir destas premissas, conclusões apropriadas podem ser obtidas.

Em primeiro lugar, é importante mencionar que a distribuição anteriormente exposta não é

válida para processos não lineares, mesmo que estes sejam “White Noise”2. Desta forma,

se o teste de hipótese construído indicar que a auto-correlação amostral é

significativamente diferente de zero, então, não se pode rejeitar corretamente a hipótese de

que as variáveis não são correlacionadas. O máximo que pode ser dito é que as variáveis

não são independentes e identicamente distribuídas. Em segundo lugar, não é necessário

que as variáveis aleatórias estudadas tenham distribuição normal para que o teste continue

válido. A única premissa necessária acerca da distribuição das variáveis é a de que elas

possuam variância finita.

Sendo assim, o teste de hipótese não oferece uma resposta definitiva sobre a auto-

correlação temporal dos retornos diários quando a hipótese nula é rejeitada. Na realidade o

teste fornece uma indicação do tipo de processo gerador dos retornos. Uma vez rejeitada a

hipótese nula, então diz-se que o processo não é “Strict White Noise” com variância finita,

nada podendo ser afirmado acerca da auto-correlação dos retornos. No entanto, sendo a

hipótese nula aceita, há fortes indícios de que as variáveis aleatórias observadas são

independentes e conseqüentemente não correlacionadas.

Para que a hipótese de um processo “Strict White Noise” com variância finita possa

ser testada com mais eficiência, Taylor (1986, p. 52) sugere a idéia de transformar os

2 Para processos não lineares, a variância de Xp pode ser muito superior a 1/n.

22

retornos para posteriormente calcular a auto-correlação amostral. O autor afirma que se

uma variável aleatória Rt é “Strict White Noise”, então R2t também será. Além disto,

mostra que o erro-padrão do coeficiente calculado com o quadrado dos retornos será igual

ao erro-padrão calculado com os retornos caso estes apresentem kurtose finita.

O estimador para a auto-correlação dos retornos ao quadrado é, então, definido:

( )( )( )∑

=

=+

−−= n

tt

pn

tptt

p

rr

rrrry

1

222

1

2222

, 1≥p

Na realidade, supondo média zero para os retornos diários3, o estimador refere-se à

auto-correlação da variância dos retornos diários das ações. A relação entre o quadrado dos

retornos e a variância pode ser facilmente observada através da própria definição de

variância:

( )[ ] ( ) ( )[ ]2222ttttt rErErErE −=−=σ

Supondo que a média dos retornos diários é igual a zero, tem-se que ( ) 0=trE , logo

( )22tt rE=σ . Com isso, yp poderia ser assim definido:

( )( )

( )∑

=

=+

−−= n

tt

pn

tptt

p

r

rry

1

222

1

2222

σ

σσ , 1≥p

Taylor (1986, p. 55) diz em seu estudo que uma possível explicação para a auto-

correlação dos retornos ao quadrado pode estar diretamente relacionada a uma mudança na

variância dos retornos.

3 Segundo os resultados empíricos obtidos pelo RiskMetrics (1996, p. 91), é perfeitamente plausível adotar ovalor zero como sendo a média dos retornos diários contínuos de uma ação.

23

Através do gráfico abaixo, é possível verificar que os retornos diários de Telebrás

PN nos anos de 1995 e 1996 podem ser agrupados em “clusters”4 de volatilidade

demarcados pelas elipses. Isto ratifica a hipótese de que, uma vez iniciado um período de

alta volatilidade, então, existe uma forte tendência de que esta volatilidade persista por

algum tempo.

Gráfico 2.1Retornos Diários Telebrás PN Ajustados para Dividendos nosAnos de 1995 e 1996. Exemplos de Clusters de Volatilidade

As estatísticas que se referem à auto-correlação do quadrado dos retornos têm sido

alvo de discussões em diversos estudos.

O RiskMetrics (1996, p. 62) utiliza a estatística Box-Ljung para testar a auto-

correlação dos retornos diários contínuos ao quadrado, apesar de admitir que o intervalo de

confiança gerado pelo teste pode não ser apropriado uma vez que os dados utilizados não

se referem aos retornos diários, mas sim a seus quadrados. A estatística BL(p) têm

distribuição assintótica 2χ com p graus de liberdade e é assim definida:

4 Termo normalmente traduzido como agrupamento.

24

∑= −

+=p

k

k

knnnpBL

1

2

)2()(ρ

,

onde,p = número de dias decorridos entre dois retornos (auto-correlação de maior ordem)n = número de dados da amostra

McLeod & Li (1983) mostram que a estatística Box-Ljung aplicada ao quadrado

dos retornos somente apresenta distribuição assintótica 2χ com p graus de liberdade

quando os retornos testados são independentes. Desta forma, quando a hipótese nula é

rejeitada, o máximo que pode ser concluído é que os retornos não são independentes.

Conclusões acerca da auto-correlação dos quadrados dos retornos não podem ser obtidas.

De qualquer forma, este teste torna-se bastante útil quando as várias ordens de auto-

correlação temporal precisam ser testadas em conjunto. É importante lembrar que a

presente pesquisa tem por objetivo estudar apenas a auto-correlação de ordem 1 (p = 1) dos

retornos ao quadrado. Desta maneira, uma vez que o teste apresenta as mesmas

deficiências apontadas por Taylor (1986), sua aplicação no presente estudo não traz

nenhum ganho adicional de informação.

Outro procedimento bastante difundido quando o objetivo é testar a auto-correlação

de ordem 1 de uma série temporal é o Durbin-Watson (McClave & Benson & Sincich,

1998, p. 778). Este teste é normalmente utilizado para se verificar a existência de auto-

correlação entre resíduos de uma série temporal. Sua premissa básica é a de que os

resíduos são normalmente distribuídos. A aplicação deste teste ao quadrado dos retornos

não é recomendada uma vez que a premissa de normalidade é dificilmente aceita.

Apesar das dificuldades mencionadas para se obter um teste eficiente que possa

fornecer resultados definitivos acerca da auto-correlação dos quadrados dos retornos

diários contínuos de uma ação, algumas conclusões podem ser obtidas. O teste mais

coerente a ser utilizado parece ser o proposto por Taylor (1986) dada sua facilidade de

implementação. Sendo a hipótese nula aceita, então pode-se dizer com dado nível de

25

confiança5 que os retornos ao quadrado não são auto-correlacionados. Entretanto, sendo a

hipótese nula rejeitada, não se pode afirmar com o mesmo nível de confiança que os

retornos ao quadrado não são auto-correlacionados. De qualquer forma, através de uma

análise do valor encontrado para a auto-correlação amostral, algumas informações podem

ser obtidas.

Sendo este valor bastante diferente de zero, pode-se dizer, com algum nível de

confiança, que os retornos ao quadrado são auto-correlacionados O conceito de bastante

deve estar baseado em uma análise qualitativa e não em uma quantitativa, uma vez que,

neste caso, não é possível se obter com precisão a variância amostral associada a um teste

de hipótese da auto-correlação do quadrado dos retornos. O que se sabe é que esta

variância é maior do que 1/n. Esta análise qualitativa deve ser realizada tendo-se em mente

que os maiores e os menores valores possíveis para a auto-correlação são, respectivamente,

1 e –1.

Uma análise pouco usual da auto-correlação amostral é proposta pelo presente

estudo - o cálculo da auto-correlação temporal de ordem 1 dos retornos ao quadrado

quando estes são dividido em dois grupos: os retornos positivos e os negativos. Os valores

para as auto-correlações amostrais são dados pelas seguintes expressões:

( )( )( ) ( )∑∑

=++

=

=++

−−

−−=

n

ttt

n

ttt

n

ttttt

positivos

rrrr

rrrry

1

221

21

1

222

1

1

21

21

22

1 , se rt < 0, então t = t +1.

( )( )( ) ( )∑∑

=++

=

=++

−−

−−=

n

ttt

n

ttt

n

ttttt

negativos

rrrr

rrrry

1

221

21

1

222

1

1

21

21

22

1 , se rt ≥ 0, então t = t +1.

Cabe ressaltar que, no grupo dos retornos positivos, apesar de todos os rt serem

maiores ou iguais a zero, os retornos dos dias imediatamente posteriores (rt+1) podem

apresentar quaisquer valores. O mesmo raciocínio aplica-se ao grupo dos retornos

5 Nível de confiança determinado no teste de hipótese.

26

negativos. Além disto, os denominadores nas fórmulas que determinam as auto-

correlações amostrais não podem ser simplesmente iguais a ( )∑=

−n

tt rr

1

222 , como no caso da

expressão de auto-correlação inicialmente proposta no capítulo. Isto porque, sendo a

correlação entre duas variáveis x e y definida pela expressão ( )yx

yxyxCov

ρρρ ,

, = e, uma vez

que os retornos são divididos em dois grupos (retornos positivos e negativos), o conjunto

dos retornos rt não é igual ao conjunto dos rt+1, logo yx ρρ ≠ .

Como será visto mais adiante nos resultados da pesquisa, a análise empírica dos

retornos de Telebrás PN entre janeiro de 1995 e dezembro de 1996 indica a existência de

auto-correlação temporal de ordem 1 para os dias de retornos negativos e a inexistência de

auto-correlação (é aceita a hipótese nula com 5% de significância de que a auto-correlação

é igual a 0) para os dias de retornos positivos.

Com isso, a probabilidade de se observar um alto retorno (positivo ou negativo)

após um dia de alto retorno negativo6 é mais alta se comparada à mesma probabilidade

para um dia não precedido por um alto retorno. Por sua vez, quando se verifica no mercado

um alto retorno positivo, nada se pode afirmar acerca das chances de ocorrer um alto

retorno no dia seguinte.

A grande questão é saber se o mercado incorpora este efeito no preço das opções.

Para isso, em um dia de alto retorno negativo, o mercado deveria aumentar a volatilidade

implícita das opções ou não reduzi-las de forma drástica e, em dias de alto retorno positivo,

nenhum aumento substancial ou até mesmo uma queda na volatilidade deveria ser

observada. Baseadas nesta argumentação, as estratégias de investimento a serem testadas

pelo estudo procuram atuar justamente nos dias em que são notados comportamentos dos

retornos e das variações de volatilidade implícita de forma oposta aos acima citados.

6 No capítulo 3 serão discutidos os critérios para a determinação dos dias de alto retorno.

27

Capítulo 3 - A Mistura de Normais para a Determinação dos Altos Retornos

Há muitos anos, pesquisadores da área de finanças têm se preocupado em entender

e modelar o comportamento das ações no mercado financeiro. A premissa mais

conveniente adotada pela teoria financeira diz que os retornos contínuos dos ativos são

gerados por distribuições normais com parâmetros estacionários ao longo do tempo. Uma

vez que a distribuição normal é estável com a adição de suas variáveis aleatórias, qualquer

portfólio formado por ativos negociados no mercado também poderia ser modelado por

outra distribuição normal. Esta propriedade é igualmente válida quando a modelagem é

feita com parâmetros não estacionários. Apenas, neste caso, uma sofisticação nos cálculos

do modelo é requerida.

Entretanto, já em estudos pioneiros como os de Fama (1965), evidências indicam

que as distribuições dos retornos contínuos diários das ações diferem substancialmente de

amostras derivadas da curva normal. Os resultados empíricos indicam a presença de

distribuições leptocúrticas1, assimetria e “volatility clustering”2.

Kim & Kon (1994) sugerem em seu artigo algumas especificações de modelos

econométricos que visam explicar as características mais comumente observadas nas

distribuições empíricas dos retornos diários de ações. O estudo, baseado nos principais

índices de mercado de ações norte-americano compreendidos no período de 1962 a 1990,

indica os seguintes modelos, do melhor para o pior, como candidatos: (1) modelos de

dependência intertemporal, (2) Student t, (3) mistura generalizada de distribuições

normais, (4) Poisson jump, (5) normal estacionária.

Kon (1984) propõe e testa a mistura discreta generalizada de normais como uma

distribuição a ser utilizada para a modelagem dos retornos contínuos diários de ações e

índices. Neste modelo, cada retorno é uma observação independente derivada de uma das

inúmeras distribuições normais consideradas. Em tese, este modelo pode acomodar as

mudanças estruturais e cíclicas dos parâmetros das distribuições empíricas,

conseqüentemente explicando a assimetria e a kurtose das observações.

1 Possuem caudas maiores se comparadas à normal, tendo o coeficiente de kurtose maior do que 3.2 Termo normalmente traduzido como agrupamentos de volatilidade.

28

O autor, através de estimações dos parâmetros da distribuição por máxima

verossimilhança, conclui que, para uma amostra de 30 ações e 3 índices, 7 ações podem ser

modeladas por uma mistura de 4 normais, 11 ações por uma mistura de 3 normais e 12

ações por uma mistura de 2 normais. Os 3 índices poderiam ser modelados por uma

mistura de 3 normais.

Deve-se considerar inicialmente, devido à simplificação estatística, a mistura de

apenas duas normais como a distribuição a ser utilizada para modelar os retornos diários

contínuos das ações. A idéia que está por trás desta distribuição é a de que os retornos

diários de um ativo podem ser gerados por duas distribuições normais com médias e

desvios-padrão distintos. A primeira normal captura os movimentos mais freqüentes de

variação dos preços e a segunda procura modelar os dias de choques (fortes oscilações).

Como não é possível conhecer o retorno de dias futuros, considera-se que a probabilidade

de o retorno ser gerado pela primeira normal (de menor variância) é igual a p e que,

portanto, a probabilidade de o retorno ser gerado pela segunda normal (de maior variância)

é igual a 1 - p.

Uma simplificação adicional ao modelo pode ser atribuída. Segundo o RiskMetrics

(1996), é possível considerar a média da distribuição dos retornos diários de ações iguais a

zero. Desta forma, o modelo é testado inicialmente com as médias das duas normais

geradoras da mistura sendo iguais a zero. Esta simplificação visa facilitar o método de

estimação dos parâmetros da distribuição.

A modelagem dos retornos diários através da mistura de apenas duas normais

apresenta uma característica singular. Uma vez que o retorno de uma ação em determinado

dia pode ter sido gerado, com dada probabilidade, por uma das duas normais, é possível

classificar o módulo da variação de preços, a posteriori, como sendo grande ou pequeno.

Isto torna-se viável mediante à escolha de uma probabilidade específica como fronteira.

Caso a probabilidade de o retorno ter sido gerado pela normal de maior variância

ultrapasse o valor pré-estabelecido, então, este retorno é caracterizado como sendo alto, em

módulo. Para o caso inverso, diz-se, então, que a variação de preços foi pequena.

29

Frente a esta característica, a mistura de duas normais é testada como distribuição

para os retornos diários de Telebrás PN nos anos de 1996 e 1997. Para tanto, o teste para

adequabilidade de ajustamento de Kolmogorov-Smirnov é utilizado3.

Baseada no formato proposto por Hull & White (1998), a modelagem da

distribuição é descrita a seguir. Cabe ressaltar que, em seu artigo, os autores adotam

variância condicional para a distribuição, enquanto que, neste estudo, o modelo de

variância constante é utilizado. Os retornos diários contínuos (rt) são gerados pela mistura

de duas normais da seguinte forma:

),0(N)1(),0(N σσ vpuprt ×−+×≈ , onde

rt = retorno diário contínuo em tp = probabilidade da primeira normal1- p = probabilidade da segunda normaluσ = desvio-padrão da primeira normalvσ = desvio-padrão da segunda normalσ = desvio-padrão de toda a distribuição

No gráfico 3.1, pode-se visualizar um exemplo de uma função de probabilidade de

massa mistura de normais com parâmetro p = 0,8. A normal 1 tem média 0 e desvio-padrão

igual a 0,70. A normal 2 tem média 0 e desvio-padrão igual a 1,74. A mistura de normais

tem média igual a 0 e desvio-padrão igual a 1.

Gráfico 3.1Normal 1 x Normal 2 x Mistura de Normais

3 Para maiores detalhes ver: PETERS, W. S., SUMMERS, G. W. Análise Estatística e Processo Decisório.FGV, Ed. da Universidade de São Paulo, 1973.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

-4 -3,7

-3,4

-3,1

-2,8

-2,5

-2,2

-1,9

-1,6

-1,3 -1 -0,

7-0,

4-0,

1 0,2 0,5 0,8 1,1 1,4 1,7 2 2,3 2,6 2,9 3,2 3,5 3,8

Desvios

f(x)

Normal 1Normal 2Mistura de Normais

30

É relevante saber que não se está supondo um processo no qual o retorno está sendo

gerado por normais diferentes dependendo do dia, mas sim por uma única família de novas

distribuições que dependem dos parâmetros p, u, v e σ. Através do gráfico 3.2 é possível

visualizar que a função de probabilidade gerada pela mistura de normais não é uma curva

normal4, apresentando características diferenciadas, como, por exemplo, caudas mais

“gordas”.

Gráfico 3.2Normal (0,1) e Mistura de Normais (0,1) gerada pelas

Normais Apresentadas no Gráfico 3.1

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

-4

-3,7

-3,4

-3,1

-2,8

-2,5

-2,2

-1,9

-1,6

-1,3 -1

-0,7

-0,4

-0,1 0,2

0,5

0,8

1,1

1,4

1,7 2

2,3

2,6

2,9

3,2

3,5

3,8

Desvios

f(x) Normal

Mistura de Normais

A variância da distribuição mistura de normais é dada por:2222 )1( σσ vppu −+

e como esta variância deve ser igual a σ2, os parâmetros da distribuição devem seguir a

seguinte relação:

1)1( 22 =−+ vppu

O passo seguinte é calcular os parâmetros da distribuição que melhor se encaixa aos

retornos históricos de 1995 e 1996. O método de estimação por máxima verossimilhança é

a abordagem natural a ser utilizada. Através deste método, encontra-se os valores de u, v e

p que maximizam a função de verossimilhança definida como:

4 Neste exemplo as duas funções de probabilidade têm média 0 e desvio-padrão igual a 1.

31

( ) ∑

×−+

×=

i

ttt

rNp

rNprLR

σσσ 21 )1(ln, , onde

N1 = normal com média 0 e desvio-padrão uN2 = normal com média 0 e desvio-padrão v

No entanto, Hamilton (1991) aponta algumas dificuldades do método de máxima

verossimilhança tais como instabilidade, soluções não-globais e não-convergência. Sendo

assim, métodos de estimação por máxima verossimilhança Quasi-Bayesianos são

propostos. Estes métodos exigem uma estimativa prévia dos parâmetros da distribuição a

ser determinada.

Apesar dos problemas mencionados por Hamilton, optou-se por manter a máxima

verossimilhança como método de estimação dos parâmetros da distribuição. Isto porque,

uma vez que as médias das duas normais geradoras da mistura são estabelecidas como

sendo 0 e que existe uma relação entre p, u e v a ser respeitada, basta estimar dois

parâmetros (u e p) para que a distribuição esteja definida (v estará automaticamente

estimado). Com isso, encontrar valores de “chutes” iniciais que estejam próximos dos

valores finais verdadeiros a serem estimados torna-se uma tarefa mais fácil quando apenas

dois parâmetros são requeridos.

Com este objetivo, gera-se uma tabela com valores de u e p variando de 0,1 a 0,9 e,

para cada combinação dos dois parâmetros, um valor que corresponde à função de

verossimilhança. Os valores de u e p usados como valores iniciais serão aqueles que

maximizam o valor de uma das células da tabela.

Uma vez encontrados os valores iniciais para u e p, utiliza-se um método de

maximização não-linear (neste estudo foi utilizado o Solver do Excel®) para que os valores

finais estimados dos dois parâmetros sejam, finalmente, obtidos.

32

Neste momento, estando a distribuição parametrizada, o teste para adequabilidade

de ajustamento de Kolmogorov-Smirnov é realizado. O nível de significância escolhido

para a aceitação ou rejeição da hipótese nula5 é de 5%.

Por fim, uma vez aceita a hipótese nula, é possível utilizar a distribuição gerada

pela mistura de duas normais como ferramenta para a determinação dos dias de grande

oscilação de preços. Finger & Kim (2000), baseados na Regra de Bayes, apresentam em

seu trabalho o cálculo da probabilidade de um retorno, após sua observação, ter sido

gerado por uma das duas normais da mistura. A seguir é apresentada a probabilidade

)( trα de o retorno ter sido gerado pela normal de maior variância.

( )( ) ( )vrNpurpN

vrNpr

tt

tt ,0)1(,0

,0)1()(

−+−

Desta forma, para cada dia t, é possível associar o retorno à sua probabilidade de ter

sido gerado pela normal de maior variância. Uma vez estabelecida uma probabilidade

como valor de fronteira, diz-se, então, que o retorno de determinado dia é alto, em módulo,

quando a probabilidade )( trα for maior do que o valor limite pré-estabelecido. De forma

análoga, diz-se que um retorno observado em determinado dia é baixo, em módulo, quando

a probabilidade )( trα for menor do que o valor limite pré-estabelecido.

Assim, torna-se possível, após a observação dos retornos diários, caracterizá-los

como sendo altos ou baixos em módulo. Caso um determinado retorno seja considerado

alto, faz-se, então, uma análise do comportamento da volatilidade implícita da opção de

compra do ativo-objeto para finalmente decidir se neste dia deve ser realizada a operação

envolvendo portfólios “hedging” que se adeque à estratégia de investimento proposta pelo

estudo6.

5 Hipótese que estabelece a mistura de normais como a distribuição dos retornos de Telebrás PN nos anos de1996 e 1997.6 As estratégias de investimento serão discutidas no capítulo 6.

33

Capítulo 4 - A Formação de Portfólios Delta-neutros e o Cálculo de seu VaR

4.1 – Os Portfólios Delta-neutros

O delta de uma opção é definido como a taxa instantânea de variação do preço do

derivativo em relação ao ativo-objeto. De maneira semelhante, o delta de um portfólio

composto por opções sobre o mesmo ativo-objeto cujo preço é S é definido como:

S∂Π∂=∆ ,

onde Π é o valor do portfólio.

Segundo Hull (2000, p. 312), o delta de uma opção de compra européia que não paga

dividendos é dado pela expressão1:

)( 1dN=∆ , sendo ( ) ( )

TTrXSd

σσ 2ln 2

01

++= ,

onde,

N(x) = Função de probabilidade normal acumulada.S0 = valor do ativo-objeto.X = preço de exercício da opção.r = taxa de juros contínua.σ = volatilidade do ativo obtida com retornos contínuos.T = tempo para vencimento da opção medido em anos.

O delta de um portfólio pode ser obtido através dos deltas dos ativos que compõe a

carteira. A fórmula do delta de um portfólio composto por n ativos é dada pela seguinte

expressão:

∑=

∆=∆n

iiiw

1

onde wi representa a quantidade do ativo i e i∆ o delta do ativo i.

Por definição, o delta de uma ação é igual a 1. Isto porque a taxa instantânea de

variação2 de uma ação em relação a ela mesma é igual a 1.

1 Como no mercado brasileiro as opções são protegidas contra dividendos, esta mesma expressão é válidapara a obtenção do delta.2 Derivada de ordem 1.

34

Outra definição importante refere-se ao termo delta-neutro: “Um portfólio com o

delta igual a zero de tal forma que não há sensibilidade a pequenas variações do preço do

ativo correspondente.” (Hull, 2000, p. 662). Portanto, ao se construir portfólios delta-

-neutros (∆ = 0), o que se está buscando, na realidade, é uma proteção contra variações,

positivas ou negativas, no preço do ativo-objeto. Cabe ressaltar que esta proteção somente

é eficaz para pequenas variações no preço. Como o delta muda de valor no momento em

que o preço do ativo oscila, para uma proteção completamente eficaz, um rebalanceamento

da carteira se faz necessário para cada mudança de preço do ativo-objeto. Na prática, este

rebalanceamento instantâneo torna-se inviável devido aos altos custos operacionais

incorridos no processo.

Dentre as diversas maneiras de se obter um portfólio delta-neutro, a mais simples

corresponde à criação de uma carteira composta por 1 opção de compra e uma quantidade

determinada do ativo correspondente. O delta do portfólio é igual a 0 e corresponde à

seguinte expressão:

0=∆+∆=∆ AACC ww

onde

wC = quantidade de opções de compra = 1∆C = delta da opção de comprawA = quantidade de ativos∆A = delta do ativo = 1

Desta forma,

CAw ∆−=

Com isso, para a formação de portfólios delta-neutros com 1 opção de compra, tem-

se duas opções: a) ficar comprado em uma “call” e vendido em ∆C ativos; b) ficar vendido

em uma “call” e comprado em ∆C ativos.

A operação envolvendo a formação do primeiro portfólio é também conhecida

como compra de volatilidade e a do segundo portfólio é chamada de venda de volatilidade.

Tal denominação faz sentido uma vez que o portfólio está protegido contra pequenas

oscilações do ativo-objeto e, portanto, o único parâmetro que faz com que os portfólios

35

sofram mudança de valor é a volatilidade implícita das opções negociadas no mercado.

Caso esta volatilidade aumente, o valor das opções sobe, fazendo com que o investidor que

esteja comprado em volatilidade ganhe dinheiro. Para uma queda na volatilidade, quem

está vendido em volatilidade obtém um retorno positivo de seu investimento.

Para situações onde são observadas grandes oscilações nos preços dos ativos-

objetos, como visto anteriormente, os portfólios deixam de estar totalmente protegidos. O

risco referente a estas grandes oscilações é chamado de risco gama. O gama de uma opção

ou de um portfólio é definido como a taxa de variação do delta em relação ao ativo-objeto3.

2

2

S∂Π∂=Γ

O gama de um portfólio é, assim como o delta, o somatório dos gamas dos ativos

que compõe a carteira multiplicados por suas respectivas quantidades. O gama de um

ativo, por definição é igual a 0.

Para os portfólios comprados em volatilidade, o gama é positivo, logo, uma forte

oscilações nos preços dos ativos gera, ceteris paribus, ganhos adicionais ao investidor.

Para posições vendidas em volatilidade, o gama é negativo, gerando, conseqüentemente,

perdas para o detentor da carteira quando fortes oscilações dos ativos são observadas.

No gráfico 4.1 é exposto um exemplo hipotético de um portfólio delta-neutro

“hedging” quando o ativo valia 38,5. No gráfico 4.1.a observa-se que, para um portfólio

delta-neutro comprado em volatilidade4, grandes oscilações no preço do ativo geram

ganhos para o investidor. No gráfico 4.1.b, para um portfólio delta-neutro vendido em

volatilidade5, o inverso ocorre.

3 Corresponde à segunda derivada do portfólio em relação ao ativo.4 Portfólio com gama positivo.5 Portfólio com gama negativo.

36

Gráfico 4.1

Como visto pelos exemplos acima, o risco gama somente existe para portfólios

vendidos em volatilidade uma vez que, para posições compradas, qualquer oscilação maior

do ativo gera somente ganhos para o investidor.

No que se refere à volatilidade, denomina-se vega a taxa de variação do valor do

portfólio em relação à variação da volatilidade do ativo-objeto6. O risco vega relaciona-se,

desta forma, à exposição do portfólio ao efeito de variação da volatilidade implícita das

opções. Assim, para uma posição delta-neutra comprada em volatilidade, o risco vega é o

único fator de risco uma vez que o gama é positivo7. Já para uma posição delta-neutra

vendida em volatilidade, os riscos gama e vega devem ser considerados.

O fator tempo também deve ser abordado quando portfólios compostos por opções

são construídos. Quanto mais próxima do vencimento, menor é o valor de uma opção de

compra. O parâmetro theta mede, justamente, a taxa de variação de um portfólio em

relação ao tempo8. Uma vez que o tempo (dias para o vencimento da opção) é conhecido, o

theta não pode ser considerado como um fator de risco de um portfólio.

6 Derivada de ordem 1 do portfólio em relação à volatilidade do ativo.7 De qualquer forma o gama deve ser incorporado ao modelo uma vez que as oscilações do ativo atenuam aspossíveis perdas obtidas com uma queda da volatilidade implícita valorada pelo mercado.8 Derivada de ordem 1 do portfólio em relação à passagem do tempo.

a) Portfólio Delta-neutroComprado em Volatilidade

b) Portfólio Delta-neutroVendido em Volatilidade

37

Por fim, o impacto da variação da taxa de juros sobre os portfólios também pode ser

medido. O rho9 de um portfólio captura, exatamente, este efeito. Como a taxa de juros

muda de forma muito lenta em situações de estabilidade econômica e como estas pequenas

mudanças geram oscilações desprezíveis nos preços das opções, é perfeitamente viável

desconsiderar o risco rho para efeito de modelagem do risco em portfólios delta-neutros.

4.2 – VaR para Portfólios Delta-Neutros

“O risco pode ser definido, de modo geral, como a incerteza em relação a resultados.

Pode ser melhor compreendido em termos de probabilidade, ...” (Jorion, 1998, p. 65).

A metodologia de cálculo do VaR (value-at-risk), procura, justamente, associar o

conceito de risco às probabilidades de ocorrências de perdas em uma determinada carteira.

“..., o VaR sintetiza a maior (ou pior) perda esperada dentro de determinado período de

tempo e intervalo de confiança.” (Jorion, 1998, p. 82).

Existem diversas metodologias de cálculo do VaR para ativos não-lineares. Cada

uma delas apresenta vantagens e desvantagens que serão discutidas mais adiante10.

O método Delta-Normal pressupõe a normalidade dos retornos de todos os ativos-

objetos. Desta forma, os retornos de uma carteira, que é uma combinação linear de

diversos ativos, podem ser igualmente modelados por uma distribuição normal. Este

método é inadequado quando se deseja medir o risco de ativos não lineares tais como

portfólios compostos por opções. Isto porque, de acordo com esta metodologia, as posições

em opções são representadas apenas por seus deltas em relação aos ativos-objetos

correspondentes, tal como:

dSdc ∆≈

9 Derivada de ordem 1 do portfólio em relação à taxa de juros.10 Para maiores detalhes ver: PICANÇO, M. B. Valor-em-Risco para Ativos Não-Lineares: Análise dosResultados para Diferentes Metodologias de Cálculo para o Mercado de Opções e Spreads em AçõesTelebrás. COPPEAD – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, 2000.

38

Jorion (1998, p. 182) apresenta os problemas gerados por essa metodologia: o delta

da carteira poderá se alterar de forma muito rápida (carteiras com gama elevado); o delta

da carteira poderá ser diferente dependendo do sentido de variação dos preços do

ativo-objeto; e a pior perda poderá não corresponder às situações nas quais o preço do

ativo-objeto encontra-se em posições extremas. Especial atenção deve ser dada ao último

problema mencionado quando, por exemplo, o VaR de portfólios comprados em

volatilidade são calculados. Neste caso, o pior rendimento é obtido quando o preço do

ativo-objeto não oscila11. Desta maneira, não é suficiente considerar os preços extremos do

ativo para efeito de cálculo do VaR.

O método de Aproximação Delta-Gama procura adicionar o risco gama ao modelo.

Desta forma, quando uma aproximação linear não é suficientemente acurada, uma

aproximação de segunda ordem pode representar uma alternativa.12

2

21 dSdSdc Γ+∆≈

Apesar deste método ser mais acurado se comparado ao Delta-Normal, uma vez

que incorpora riscos não lineares à carteira, quando posições delta-neutras são formadas, o

terceiro problema atribuído por Jorion ao método Delta-Normal continua existindo. Isto é,

a pior perda poderá não corresponder às situações nas quais o preço do ativo-objeto

encontra-se em posições extremas. Além disto, como visto na seção 1 deste capítulo, o

parâmetro vega deve ser incorporado a modelos que procuram calcular o risco de

ocorrência de perdas para portfólios delta-neutros.

Buscando resolver estes problemas, uma alternativa aos métodos analíticos é

apresentada. São os chamados métodos de simulação. O mais simples utiliza a simulação

histórica como base de modelagem dos riscos. Este método consiste em recuar no tempo,

verificando o comportamento histórico e os riscos dos ativos que compõe um portfólio,

aplicando, posteriormente, os respectivos pesos destes ativos em relação ao valor da

carteira.

11 Resultado válido considerando todas as outras variáveis que afetam o preço da opção constantes.12 Esta aproximação representa a expansão de Taylor até a segunda ordem.

39

Como ressalta Picanço (2000, p. 29) em sua revisão bibliográfica, apesar de fácil

implementação, este método apresenta uma série de problemas. A grande questão refere-se

à escolha do período amostral para a obtenção dos dados. “Na verdade, o principal

problema com as metodologias de simulação histórica é a determinação de resultados a

partir de um conjunto de dados particular.” Picanço (2000, p. 29)

Por fim, uma vez que as metodologias acima citadas mostram-se inadequadas para

o cálculo do VaR de posições compradas ou vendidas em volatilidade, um método de

simulação mais elaborado, conhecido como Monte Carlo deve ser considerado.

Segundo Jorion (1998, p. 192) a Simulação de Monte Carlo é desenvolvida em duas

fases. Na primeira, é criado um modelo de risco no qual um processo estocástico para as

variáveis financeiras é definido. Além disto, os parâmetros deste processo, tais como

volatilidades e correlações são definidos através de dados históricos ou obtidos por meio

das opções. Na segunda fase, é feita uma simulação para os preços de todas as variáveis

envolvidas no processo, quando, então, para cada horizonte de tempo considerado13, a

carteira é marcada a mercado através da avaliação plena. Uma vez obtidos os valores

simulados para a carteira, é possível gerar uma distribuição dos retornos a partir do qual o

VaR pode ser determinado.

“A análise de Monte Carlo é o método mais potente de cálculo do valor em risco.

Ela captura grande quantidade de riscos, inclusive os não-lineares, os de volatilidade e, até

mesmo, os de modelo, podendo incorporar a variação temporal da volatilidade, caudas

grossas e cenários extremos.” (Jorion, 1998, p. 193)

O ponto de partida para a Simulação de Monte Carlo refere-se à descrição do

comportamento dos ativos-objeto através da escolha de um modelo estocástico para os

preços. De acordo com Hull (2000, p. 226), os ativos podem ser modelados através do

chamado Movimento Geométrico Browniano. A versão discreta do modelo é dada pela

seguinte expressão:

13 Como será visto no capítulo 6, o horizonte de análise das estratégias de investimento propostas por estapesquisa será de 1 dia.

40

tStSS ∆∈+∆=∆ σµ

onde, ∆S é a variação do preço da ação S em um pequeno intervalo de tempo ∆t, µ é o

retorno esperado da ação, σ é o desvio-padrão estimado da ação e ∈ é uma variável

aleatória derivada de uma distribuição normal padrão.

Ao modelar o retorno da ação através de taxas contínuas, criando, para isso, uma

variável G = ln(S), chega-se, através do Lema de Itô14, à seguinte expressão para o

comportamento dos preços:

dzdtdG σσµ +

−=

2

2

onde, dz é uma variável normalmente distribuída com média 0 e desvio-padrão igual 1. O

movimento descrito por essa variável é conhecido como Processo de Wiener que é um caso

particular do Processo de Markov. Segundo Hull (2000, p. 231), tendo em vista que µ e σ

são constantes, pode-se dizer que G segue um Processo de Wiener Generalizado com

tendência de deslocamento igual a 22σµ − e variância igual a 2σ . Assim, a variação de

G entre os tempos 0 e T é normalmente distribuída com média ( )T22σµ − e variância

T2σ .

Hull (2000, p. 248) também mostra que nenhuma das variáveis do modelo é afetada

pela preferência de risco dos investidores uma vez que na equação diferencial de Black-

Scholes-Merton15 o parâmetro µ desaparece, fazendo com que a solução não dependa desta

constante. Como a preferência pelo risco não interfere no modelo, qualquer valor poderia

ser adotado. Em particular, a hipótese mais simples de que os investidores são indiferentes

ao risco pode ser utilizada, fazendo com que µ assuma o valor da taxa de juros livre de

risco (µ = r).

14 Para maiores detalhes ver: HULL, J. C. Options, Futures, & Other Derivatives. 4.ed Upper Saddle River:Prentice Hall, 2000. P. 229-231.15 Equação que dá origem ao modelo de apreçamento de opções de Black & Scholes. Para maiores detalhesver: HULL, J. C. Options, Futures, & Other Derivatives. 4.ed Upper Saddle River: Prentice Hall, 2000. P.246-248

41

Baseada na equação que descreve o comportamento dos preços da ação, é criada

uma simulação, gerando-se, para isso, uma grande quantidade de números aleatórios

derivados de uma normal padrão16. Como será visto no capítulo 6, as estratégias de

investimento sugeridas por esta pesquisa possuem duração de apenas 1 dia. Após a

obtenção simulada dos preços da ação em t+1, torna-se necessário calcular uma estimativa

para a volatilidade implícita no dia seguinte. Com o preço e a volatilidade em t + 1 e

aplicando a fórmula de Black & Scholes, obtém-se os preços das opções e dos portfólios

delta-neutros no dia seguinte.

Uma questão bastante importante diz respeito à modelagem da variação da

volatilidade implícita das opções de um dia para o outro. Como visto na seção 1 deste

capítulo, o risco vega tem grande importância em modelos que trabalham com portfólios

delta-neutros. Desta forma, um modelo que possa valorar a volatilidade implícita em t+1

deve ser construído.

De acordo com Malz (2000) um problema surge quando o risco vega associado à

oscilação da volatilidade é derivado do modelo de Black & Scholes. Ao dizer que o

modelo supõe um movimento aleatório com volatilidade constante para os retornos das

ações, o risco vega deixa de existir. Este risco somente ocorreria em modelos que

incorporassem um processo estocástico para a volatilidade. A contradição surge, então, ao

se usar a volatilidade implícita e o vega calculadados através do modelo de Black &

Scholes, aplicando-os a modelos de risco.

“O modelo de Black & Scholes é somente uma primeira aproximação útil do

‘verdadeiro’ modelo que governa a volatilidade. Deste ponto de vista, a volatilidade

implícita de Black & Scholes não é mais necessariamente uma medida correta da

volatilidade antecipada. É, ao invés, um parâmetro ajustado pelo mercado à fórmula dos

preços das opções, sendo fortemente vinculada mas não idêntica à volatilidade

antecipada.” (Malz, 2000)

16 Nesta pesquisa foram geradas simulações com 1000 iterações para cada dia de cálculo do VaR.

42

Assim, apesar da volatilidade implícita não representar uma exata estimativa para a

média das possíveis volatilidades futuras geradas por um processo estocástico, esta

aproximação será utilizada neste estudo. Na realidade uma simplificação adicional é

adotada pela pesquisa uma vez que, segundo Malz (2000), os portfólios compostos por

opções estão também expostos aos efeitos conhecidos como estrutura a termo e smile da

volatilidade. O primeiro efeito refere-se ao fato de que opções com o mesmo preço de

exercício mas com datas de vencimento diferentes apresentam distintas volatilidades

implícitas sobre o mesmo ativo. O segundo efeito indica que opções com mesma data de

vencimento mas com preços de exercício diferentes possuem diferentes volatilidades

implícitas sobre o mesmo ativo17.

A simplificação surge no momento em que a volatilidade implícita adotada como

média do processo estocástico é calculada através de apenas uma opção. Como será visto

no capítulo 6, o critério de escolha da opção está baseado na liquidez do derivativo.

Desta forma, uma vez adotada esta simplificação, a modelagem das variações

percentuais, medidas em taxas contínuas, das volatilidades implícitas de um dia para o

outro segue uma distribuição normal com média igual a 0 e desvio-padrão histórico

calculado. Segundo Taylor (1986, p. 74), a modelagem das variações percentuais através

da função lognormal18 é de extrema importância, evitando, desta forma, que a distribuição

acumulada apresente probabilidade positiva de ocorrência de valores negativos para a

volatilidade.

Malz (2000), através dos resultados empíricos obtidos em sua pesquisa, alerta para

o fato de que a volatilidade da volatilidade sofre grandes variações dependendo do período

analisado. Estas observações fazem com que o período amostral usado para a obtenção do

desvio-padrão histórico da variação percentual da volatilidade implícita não seja muito

grande. Neste estudo, optou-se por uma estimativa histórica anual. Desta forma, a

estimativa para o ano de 1997 é obtida pelo histórico de 1996, a de 1998 pelo de 1997 e

17 De acordo com Malz (2000), opções fora do dinheiro apresentam maiores volatilidade implícitas secomparadas às opções no dinheiro.18 A modelagem das variações percentuais através da função lognormal é equivalente à modelagem dasvariações percentuais, medidas em taxas contínuas, por uma distribuição normal.

43

assim por diante. Para efeito de cálculo do desvio-padrão histórico, excluem-se os pregões

nos quais o vencimento da opção é inferior a 4 dias. Isto se deve ao fato de que o

comportamento da volatilidade implícita para opções muito próximas do vencimento

torna-se extremamente instável.19

Outra questão importante apontada por Malz (2000) diz respeito à correlação entre

as oscilações percentuais da volatilidade implícita e os retornos do ativo. De forma

semelhante à volatilidade da volatilidade, esta correlação histórica deve ser estimada. O

critério amostral adotado para a obtenção das correlações é igual ao adotado para o cálculo

dos desvios-padrão.

Portanto, a simulação de Monte Carlo gera, na realidade, números aleatórios

derivados de uma distribuição normal bivariada com média 0 e matriz de covariância igual

a:

devolatilidadevolatilidaação

devolatilidaaçãoação

σρρσ

,

,

Como visto anteriormente, o retorno da ação medido em taxas contínuas é

modelado por um Processo de Wiener Generalizado. Sendo assim, a variável aleatória

vinculada ao comportamento da ação é normal com desvio-padrão igual a 1. Portanto, o

valor de σação na matriz de covariância apresentada acima deve ser igual a 1.

Uma alternativa à metodologia proposta por Malz é apresentada nesta pesquisa. De

forma similar à abordagem realizada no capítulo 2, parece coerente analisar separadamente

os retornos positivos dos negativos. Desta forma, os desvios-padrão e as correlações

históricas devem ser calculadas para os retornos positivos e negativos de forma

independente. Assim sendo, para cada ano obtém-se dois desvios-padrão para a variação

percentual da volatilidade implícita e dois coeficientes de correlação entre o retorno da

ação e a variação percentual da volatilidade implícita.

19 Nestes dias, o mercado costuma desconsiderar a volatilidade para precificar as opções. O preço acabarefletindo uma “briga” entre comprados e vendidos nas opções que estão mais próximas do dinheiro.

44

De acordo com a fórmula do coeficiente de correlação, é necessário calcular uma

média para cada uma das duas variáveis envolvidas. Caso fossem calculadas as médias dos

retornos positivos e negativos separadamente, naturalmente estas médias seriam positivas e

negativas, respectivamente. No entanto, é importante mencionar que a média esperada dos

retornos diários é muito próxima de zero20. Desta forma, as médias dos retornos são

substituídas por 0 no cálculo das correlações, tanto para os retornos positivos quanto para

os negativos. A fórmula a seguir deve ser aplicada separadamente para os dias de retornos

positivos e negativos da ação.

( )( )( ) ( )∑ ∑∑

∆−∆−

∆−∆−=

22,

%%0

%%0

volvolr

volvolr

ação

açãodevolatilidaaçãoρ

onde,ração = retorno diário da ação medido em taxas contínuas para os dias positivos ounegativos∆vol% = variação percentual diária da volatilidade implícita nos dias de retornos positivosou negativos medida em taxas contínuas

%vol∆ = média diária da variação percentual da volatilidade implícita, medida em taxascontínuas, nos dias de retornos positivos ou negativos

Os desvios-padrão do Processo Generalizado de Wiener permanecem sendo iguais

a 1 para os retornos positivos e negativos. Além disto, os desvios-padrão para as variações

percentuais diárias da volatilidade implícita são calculados normalmente tanto para os

pregões nos quais são observados retornos positivos quanto negativos.

Uma vez calculados os parâmetros acima, é possível, então, realizar as simulações,

gerando-se, para isso, os números aleatórios através da normal bivariada. Uma primeira

simulação é gerada com os parâmetros referentes aos retornos negativos e uma segunda

com os parâmetros vinculados aos retornos positivos. Como resultado, obtém-se as

estatísticas das perdas e/ou ganhos advindas da manutenção, por um dia, dos portfólios

delta-neutros.

20 A média diária esperada é, na realidade, derivada do componente não estocástico do Processo

Generalizado de Wiener, correspondendo a 22σ−r , valor este muito próximo de zero.

45

Como será visto no capítulo 6, as estratégias de investimento determinam que nos

dias de retorno positivo, o investidor deve ficar posicionado em um portfólio delta-neutro

vendido em opções (vendido em volatilidade) e em um dia de retorno negativo,

posicionado em um portfólio delta-neutro comprado em opções (comprado em

volatilidade). Desta forma, nos dias de retorno positivo, as perdas/ganhos da simulação

devem se referir a um portfólio vendido em volatilidade e nos dias de retorno negativo, a

um portfólio comprado em volatilidade.

Com os resultados das duas simulações, o próximo passo consiste na escolha de um

nível de confiança para o VaR. Escolhendo-se, por exemplo, o nível de 95%, para cada dia

é verificada a perda que corresponde a uma probabilidade acumulada de 5% da

distribuição das perdas/ganhos21. Ao fim desta operação, obtém-se o VaR com nível de

confiança de 95% para os dias de retorno positivo (portfólios vendidos em volatilidade) e

negativos (portfólios comprados em volatilidade).

Para se medir a acurácia do modelo de risco, um teste “a posteriori” deve ser

realizado. É verificado o número de vezes em que a perda incorrida com a manutenção de

um portfólio vendido em volatilidade por um dia (dias de retorno positivo) foi maior do

que o VaR daquele dia. Cabe ressaltar que este VaR foi calculado com a simulação gerada

através dos parâmetros dos dias de retornos positivos. O mesmo procedimento é feito para

os pregões de retornos negativos. Ao final desta verificação, contabiliza-se, de forma

agregada, o número de vezes em que as perdas obtidas com a manutenção dos portfólios

delta-neutros foi maior do que o VaR calculado para cada respectivo dia.

Com um nível de confiança de 95%, espera-se que a proporção de “furos” do

modelo seja de aproximadamente 5%. Baseado nesta proporção, o teste de Kupiec (1995)

é, então, realizado com o objetivo de se aceitar ou refutar o modelo de risco.

21 Cauda esquerda da distribuição.

46

Capítulo 5 – Características da Amostra

A amostra utilizada para o desenvolvimento da pesquisa pode ser dividida em dois

grupos distintos. O primeiro é composto por preços ex-post (dados já conhecidos por um

suposto investidor) que dão suporte ao cálculo dos parâmetros a serem utilizados em

futuras estratégias de investimento. Este primeiro período amostral corresponde aos anos

de 1995 e 1996.

Através dos retornos diários de Telebrás PN1 observados nesta fase, são calculadas

as auto-correlações de primeira ordem dos retornos ao quadrado de acordo com a

metodologia exposta no capítulo 2. Além disto, com os dados deste primeiro grupo, são

calculados os parâmetros da distribuição gerada pela mistura de duas curvas normais que,

como visto no capítulo 3, tem o objetivo de auxiliar o processo de escolha dos dias de altos

retornos.

O segundo grupo é composto pelos preços de fechamento2 e pelas opções de

compra de Telebrás PN no período compreendido entre 2 de janeiro de 1997 a 22 de maio

de 2000 (preços ex-ante). Nesta fase são realizadas as operações de investimento de acordo

com a metodologia proposta no capítulo a seguir bem como o cálculo do VaR destas

posições3. É muito importante mencionar que os dados não são previamente conhecidos no

instante em que uma determinada estratégia de investimento é implementada. Isto faz com

que as conclusões acerca da rentabilidade média das operações tenham validade, uma vez

que as mesmas sempre são realizadas sem o conhecimento prévio de seus resultados.

O modelo de análise descrito no capítulo 6 supõe que, uma vez decidida a compra

de determinado portfólio com base nos parâmetros de final de pregão, este será obtido com

os preços de fechamento do mesmo pregão para a ação e sua opção correspondente. Na

realidade, este tipo de suposição poderia acarretar graves distorções na análise de

rentabilidade das operações caso fosse requerido um intervalo de tempo significativo entre

o processamento dos dados e a subseqüente ordem no pregão.

1 Preços de fechamento cotados na Bolsa de Valores de São Paulo ajustados para dividendos.2 Preços sem ajuste de dividendos.3 A metodologia de cálculo do VaR é abordada no capítulo 4.

47

Uma abordagem mais conservadora poderia utilizar, por exemplo, os preços das

ações 30 minutos antes do fechamento do pregão para a decisão da posição a ser assumida

a cada dia e os preços de fechamento das ações e das opções para o cálculo do portfólio

comprado. Entretanto, dado o avanço das ferramentas computacionais hoje disponíveis a

qualquer gestor de recursos, acredita-se que este intervalo de tempo acima exposto tende a

ser cada vez mais curto. Assim, a hipótese simplificadora de que tanto a decisão de

investimento quanto o valor da carteira formada têm como base os preços de fechamento

dos ativos supostamente não provocará distorções nas conclusões obtidas.

A razão da escolha da ação Telebrás PN e de suas opções de compra para o

desenvolvimento do trabalho se deve à liquidez e à representatividade destes ativos no

mercado brasileiro de capitais durante o período analisado. Em 18 de setembro de 1998, a

Telebrás foi dividida em diversas empresas, criando-se, então, o Recibo de Carteira

Telebrás, composto por todas as empresas resultantes da cisão ponderadas por seus

respectivos pesos. Portanto, após esta data, os ativos avaliados passam a ser o Recibo de

Carteira Telebrás PN e suas correspondentes opções de compra.

Dentre as diversas opções de compra sobre Telebrás PN negociadas diariamente,

optou-se sempre por aquela que apresentou maior liquidez a cada dia. O critério de

liquidez baseou-se no número de negócios realizados a cada pregão. Além disto, foram

excluídas da análise as opções com vencimento igual ou inferior a 3 dias. Como já visto no

capítulo 4, as volatilidades implícitas destas opções apresentam um comportamento

imprevisível, causando, desta maneira, grandes distorções quando decisões baseadas neste

comportamento são tomadas.

O banco de dados com as ações Telebrás PN e suas respectivas opções de compra

foi obtido junto à Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA). A taxa de juros livre de

risco coletada no banco de dados da Economática corresponde ao CDI pré-fixado de 30

dias over obtido a cada dia de negócios.

48

Capítulo 6 - Metodologia

6.1 – Introdução

A expressão algébrica do conhecido modelo de apreçamento de opções de Black &

Scholes é função das variáveis S (preço do ativo-objeto), K (preço de exercício da opção),

T (prazo de vencimento da opção), Rf (taxa de juros sem risco) e σ (volatilidade futura

estimada do ativo-objeto). Com exceção desta última variável, todos os outros parâmetros

podem ser facilmente observados no mercado.

Supondo a validade do modelo, para que o preço das opções possa ser considerado

justo, nenhum tipo de lucro sistemático deve ser obtido com a formação de portfólios

delta-neutros1. Assim, é importante que o único parâmetro estimado pelo mercado, ou seja,

a volatilidade futura do ativo-objeto refletida pela volatilidade implícita das opções, seja

coerente com o preço justo dos derivativos.

A metodologia desenvolvida neste estudo tem por objetivo tentar encontrar, sob

certas condições, um padrão de comportamento para a volatilidade futura do ativo-objeto

ainda não totalmente conhecido pelo mercado. Desta forma, a hipótese levantada por esta

pesquisa é a de que, em situações específicas, a volatilidade implícita das opções não

representa o melhor estimador para a volatilidade futura do ativo-objeto.

Para corroborar tal hipótese, estratégias de investimento baseadas em

argumentações específicas são construídas e seus retornos apurados. Caso lucros

sistemáticos sejam obtidos, diz-se que o mercado é não ineficiente já que, de acordo com a

definição de Dan Galai (1977), “O mercado somente pode ser dito ineficiente quando as

oportunidades de lucro podem ser exploradas.”

1 Como visto no capítulo 4, para que um portfólio delta-neutro seja considerado totalmente sem risco, umrebalanceamento a cada instante se faz necessário. No entanto, quando um teste de eficiência de opções érealizado com uma grande quantidade de dados, as possíveis perdas devidas à falta de rebalanceamentoinstantâneo são compensadas pelos ganhos provenientes do mesmo efeito. Desta forma, o ganho esperado érefletido apenas pela taxa de juros livre de risco.

49

6.2 - As estratégias de Investimento

As estratégias de investimento desenvolvidas nesta pesquisa partem das

argumentações apresentadas ao final do capítulo 2. Uma vez suposta a hipótese de que

existe auto-correlação temporal de ordem 1 dos retornos ao quadrado calculada entre os

dias de retornos negativos e os dias subseqüentes, então a probabilidade de se observar um

alto retorno (positivo ou negativo) após um dia de alto retorno negativo é maior quando

comparada à mesma probabilidade associada a um dia não precedido por um alto retorno

negativo. Por outro lado, uma vez suposta que esta auto-correlação inexiste para os dias de

retornos positivos, sendo observado no mercado um alto retorno positivo, nada se pode

concluir acerca das probabilidades de ocorrência de altos retornos no dia seguinte.

Caso estes efeitos realmente existam, o mercado, em um dia de alto retorno

negativo, deveria aumentar a volatilidade implícita das opções ou não reduzi-las de forma

drástica. Ao mesmo tempo, em dias de alto retorno positivo nenhum aumento substancial

ou até mesmo uma queda na volatilidade deveria ser esperada do mercado. Baseadas nestas

argumentações, as estratégias de investimento a serem testadas pelo estudo procuram atuar

nos dias em que são notados comportamentos dos retornos e das variações de volatilidade

implícita de maneira oposta aos acima citados. As estratégias são, portanto, as seguintes:

Estratégia 1: Em dias de alto retorno positivo conjugado com um aumento ou

pequena queda na volatilidade implícita, um suposto investidor deve vender opções e

comprar uma quantidade de ativos para ficar em posição “hedging”. Isto porque o preço da

opção estaria superavaliado (volatilidade implícita superavaliada pelo mercado). No dia

seguinte, a operação inversa seria realizada, ou seja, o investidor compraria a opção e

venderia o ativo. Esta operação é conhecida no mercado como venda de volatilidade por 1

dia. O lucro é, então, apurado ao longo do tempo para cada dia de operação.

Estratégia 2: Em dias de alto retorno negativo conjugado com uma queda ou

pequeno aumento na volatilidade implícita, um suposto investidor deve comprar opções e

vender uma quantidade de ativos para ficar em posição “hedging”. Isto porque o preço da

opção estaria subavaliado (volatilidade implícita subavaliada pelo mercado). No dia

seguinte, a operação inversa seria realizada, ou seja, o investidor venderia a opção e

50

compraria o ativo. Esta operação é conhecida no mercado como compra de volatilidade por

1 dia. O lucro é, então, apurado ao longo do tempo para cada dia de operação.

6.3 – A Determinação dos Altos e Baixos Retornos

O passo inicial para a implementação das estratégias de investimento propostas é a

determinação dos dias que podem ser considerados de alto retorno, em módulo. Conforme

a metodologia apresentada no capítulo 3, a função de distribuição gerada pela mistura de

duas normais é utilizada com este propósito.

Como já visto, o método de estimação por máxima verossimilhança é a abordagem

natural a ser utilizada para o cálculo dos parâmetros da distribuição que melhor se encaixa

aos retornos históricos de 1995 e 1996. Desta forma, é necessário obter os valores de u, v e

p que maximizem a função de verossimilhança definida como:

( ) ∑

×−+

×=

i

ttt

rNprNprLRσσ

σ 21 )1(ln, , onde

N1 = normal com média 0 e desvio-padrão uN2 = normal com média 0 e desvio-padrão v

A tabela 6.1 fornece os valores de LR para cada combinação dos parâmetros u e p

variando de 0,1 a 0,9. Para u igual a 0,7 e p igual a 0,9 tem-se o maior valor de LR na

tabela. Assim, utilizando estes parâmetros como “chutes” iniciais e, com a ajuda da

ferramenta Solver do software Excel®, encontra-se os valor de u e p iguais a 0,688 e 0,884.

Como p, u e v devem satisfazer a equação 1)1( 22 =−+ vppu , o valor de v é, então, igual a

2,239.

Com esses 3 parâmetros calculados, a distribuição gerada pela mistura de 2 normais

está totalmente definida. Para testar sua adequabilidade aos dados históricos de retornos

diários de Telebrás PN em 1995 e 1996, um teste para adequabilidade de ajustamento da

distribuição deve ser efetuado. Os resultados do teste de Kolmogorov-Smirnov são

apresentados no capítulo 7.

51

Tabela 6.1Valores da Função de Verossimilhançapara Combinações dos Parâmetros u e v

Tendo sido determinados os parâmetros u, v e p, o teste para adequabilidade de

ajustamento de Kolmogorov-Smirnov (Peters & Summers, 1973) é realizado. Uma vez

aceita a distribuição, calcula-se a probabilidade, para cada dia a partir 2 de janeiro de 1997,

do retorno ter sido gerado pela normal de maior variância. Conforme visto no capítulo 3,

esta probabilidade é dada pela seguinte expressão:

( )( ) ( )vrNpurpN

vrNpr

tt

tt ,0)1(,0

,0)1()(

−+−

O módulo do retorno diário de Telebrás PN é, então, considerado alto em

determinado dia caso esta probabilidade seja maior do que um valor limite estabelecido. Os

resultados das estratégias serão mais adiante analisados para vários valores de limites

escolhidos. Analogamente, o módulo do retorno é considerado baixo quando esta

probabilidade é menor do que o mesmo limite pré-estabelecido.

6.4 – Montante Investido

A lucratividade das operações deve ser medida de forma equivalente ao retorno de

um fundo de investimento que pode, eventualmente, se alavancar para obter melhor

rentabilidade. Isto porque a estratégia 2 gera um fluxo de caixa positivo para o investidor

no dia de sua implementação, tornando, assim, uma simples medição convencional de

retorno diário inadequada2.

2 O retorno diário de um ativo é normalmente obtido pela fórmula ln(At/At-1)

52

Por esta razão, é necessário se estabelecer o montante a ser investido nos dias em

que são efetuadas as operações de compra do portfólio “hedging”3. Para se determinar a

quantidade de posições “hedging”, é escolhido um percentual fixo do patrimônio do fundo

que pode ser colocado em risco. Assim, o número de portfólios formados é tal que o VaR4

de uma posição vezes o número de posições seja igual a um percentual do patrimônio do

fundo a cada dia. Este percentual é arbitrário, sendo adotado o valor de 5% neste estudo.

Desta forma, torna-se necessário calcular, para cada dia de negócios, o VaR das

posições “hedging” compradas e vendidas em opções. Através da metodologia

desenvolvida na seção 4.2, obtém-se o VaR diário para as duas possíveis posições

assumidas por um suposto investidor5. A tabela 6.2 fornece os desvios-padrão históricos

das variações contínuas das volatilidades implícitas6 bem como suas correlações com os

retornos contínuos diários de Telebrás PN para os anos compreendidos entre 1996 e 1999.

Cabe relembrar que estes valores são usados como estimativas para os parâmetros de

desvio-padrão e correlação para cada um dos anos subseqüentes. Estas estimativas são

necessárias para a realização da simulação de Monte Carlo e a conseqüente obtenção do

VaR diário.

Tabela 6.2Desvios-padrão das Variações das Volatilidades Implíticas e suas Correlações com os

Retornos Diários de Telebrás PN. Valores Históricos Separados para osGrupos dos Retornos Positivos e Negativos

Por fim, o teste de Kupiec (1995), conforme descrito ao final da seção 4.2, é

realizado com o objetivo de se medir a acurácia do modelo de risco (VaR) desenvolvido

3 Dias que satisfaçam as condições impostas pelas estratégias 1 e 2.4 Na pesquisa o VaR foi calculado com 95% de confiança.5 As posições possíveis são (+ C – ∆S) para os dias de retornos negativos e (– C + ∆S) para os dias deretornos positivos.6 As volatilidades implícitas são sempre calculadas com as opções sobre Telebrás PN que tiveram o maiornúmero de negócios a cada dia.

ANO

1996 0,113 -0,110 0,110 0,0061997 0,088 -0,493 0,103 -0,1771998 0,075 -0,308 0,087 0,1051999 0,068 -0,247 0,078 -0,261

Retornos Negativos(+ C - ∆∆∆∆S)

Retornos Positivos(- C + ∆∆∆∆S)

( )1ln −tt volvolσ ( ) ( )11 ln,ln −− tttt rrvolvolρ ( )1ln −tt volvolσ ( ) ( )11 ln,ln −− tttt rrvolvolρ

53

nesta pesquisa. Para a realização deste teste, expurgam-se os pregões nos quais as opções

estão muito próximas do vencimento (menor ou igual a 3 dias para o vencimento).

Conforme já mencionado, estes dias apresentam um comportamento totalmente atípico

para as variações das volatilidades implícitas, invalidando, desta forma, qualquer modelo

de risco que procure avaliar uma posição delta-neutra. Os resultados do teste de Kupiec são

apresentados no capítulo 7.

6.5 – Rentabilidade das Operações

Como já mencionado, o retorno das operações de investimento deve ser medido de

forma semelhante a um fundo de investimento. A partir de um montante arbitrário de

100.000 unidades monetárias em 1 de janeiro de 1997, o patrimônio do fundo sofre

alterações a cada dia da seguinte forma:

Dias de baixo retorno, em módulo

Nesses dias, as operações de investimento não são realizadas. Assim, a variação do

patrimônio do fundo em um dia corresponde apenas ao CDI diário.

Dias de alto retorno positivo

A primeira condição para se efetuar a estratégia 1 é satisfeita. No entanto, para que

a operação seja realizada é necessário verificar o comportamento da volatilidade implícita

da opção naquele dia. Caso esta volatilidade tenha aumentado ou sofrido uma pequena

queda em relação ao dia anterior, a operação de venda da “call” e compra de delta ações é

realizada (- C + ∆S). Esta pequena queda é definida como sendo um valor inferior, em

módulo, à média das variações diárias dos logaritmos neperianos das volatilidades

implícitas das opções nos anos de 1995 e 1996 menos um número determinado de desvios-

padrão. A média encontrada para as variações dos logaritmos neperianos das volatilidades

implícitas históricas anualizadas é de –0,0037 e o desvio-padrão é de 0,1997. Os resultados

7 Para o cálculo da média e desvio-padrão das variações diárias dos logaritmos neperianos das volatilidadesimplícitas anualizadas, foram consideradas iguais a zero os dias nos quais se verificou variação, em módulo,maior do que 1,5. Estas fortes oscilações correspondem aos períodos próximos do vencimento das opções,caracterizados por comportamentos atípicos de volatilidade implícita.

54

da pesquisa são apresentados mais adiante para vários números de desvios-padrão

arbitrados.

Se a variação da volatilidade implícita não apresentar comportamento compatível

com o acima descrito, a operação não é realizada. Com isso, o valor do patrimônio do

fundo é apenas corrigido pelo CDI diário.

Uma vez que esta operação implica em aporte de dinheiro (fluxo de caixa negativo)

e que este valor advém das considerações apresentadas na seção 6.4, caso este montante

ultrapasse o patrimônio do fundo naquela data, é considerado o pagamento de juros por 1

dia à taxa de CDI sobre o valor do empréstimo. Caso o valor investido seja inferior ao

patrimônio do fundo, a diferença é aplicada à mesma taxa.

No dia seguinte a operação é desfeita com a compra da “call” e a venda das ações a

preço de mercado (preços de fechamento). O retorno da operação é, então, medido com o

logaritmo neperiano da razão definida pelo patrimônio do fundo na data em que a operação

é desfeita sobre o patrimônio no dia anterior. Os resultados são apresentados com e sem

custo de corretagem. Este custo é estipulado em 0,03% sobre o financeiro total das

operações. Este percentual, apesar de parecer pequeno, reflete um custo operacional

diluído já que os grandes operadores de mercado pagam, normalmente, taxas fixas por

mês, podendo realizar um número indeterminado de operações.

Dias de alto retorno negativo

A primeira condição para se efetuar a estratégia 2 é satisfeita. No entanto, para que

a operação seja realizada é necessário verificar o comportamento da volatilidade implícita

da opção naquele dia. Caso esta volatilidade tenha diminuído ou sofrido um pequeno

aumento em relação ao dia anterior, a operação de compra da “call” e venda de delta ações

é realizada (+ C - ∆S). Este pequeno aumento é definido como sendo um valor inferior a

média dos logaritmos neperianos das variações diárias das volatilidades implícitas das

opções nos anos de 1995 e 1996 (µ = -0,0037) mais um número determinado de

55

desvios-padrão (σ = 0,199). Os resultados da pesquisa são apresentados mais adiante para

vários valores de desvios-padrão escolhidos.

Caso a variação da volatilidade implícita apresente comportamento incompatível

com o acima descrito, a operação não é realizada. Com isso, o valor do patrimônio do

fundo é apenas corrigido pelo CDI diário.

No dia seguinte a operação é desfeita com a venda da “call” e a compra das ações a

preço de mercado (preços de fechamento). Tendo em vista que esta operação implica em

fluxo de caixa positivo no dia de sua efetivação8, são somados os juros da aplicação desse

montante por 1 dia (CDI diário) ao patrimônio do fundo. O retorno da operação é, então,

medido com o logaritmo neperiano da razão definida pelo patrimônio do fundo na data em

que a operação é desfeita sobre o patrimônio no dia anterior. Para efeito de cálculo são

também considerados os efeitos dos custos de corretagem e do aluguel da ação Telebrás

PN9, necessário para a realização da venda a descoberto do ativo.

Como já mencionado, uma vez que o comportamento das volatilidades implícitas se

torna atípico quando a opção fica próxima de seu vencimento, optou-se por não realizar as

operações de investimento nos dias em que a opção mais líquida10 tem vencimento igual ou

inferior a 3 pregões.

6.6 – Lucratividade das Estratégias

A partir do retorno individual de cada um dos dias nos quais são realizadas as

operações de investimento, testes que tenham por objetivo apurar a lucratividade média das

estratégias devem ser construídos.

Dois tipos de procedimentos são propostos. O primeiro é um teste de hipótese

paramétrico no qual é suposto a normalidade da média dos excessos dos retornos das

8 Fluxo financeiro definido na seção 6.4.9 O valor do aluguel considerado foi de 6% ao ano sobre o valor da ação na data do contrato.10 Opção com maior número de negócios.

56

operações sobre o CDI diário11. Tendo em vista que a amostra não é grande, o teste t

mostra-se mais apropriado. Na realidade, o tamanho da amostra corresponde ao número de

dias nos quais são efetivadas as operações. Este número é função de 2 parâmetros

escolhidos: a definição de alto retorno, que depende do valor limite escolhido acima do

qual a probabilidade do retorno ter sido gerado pela normal de maior variância deve estar,

e o comportamento da variação da volatilidade implícita, que, para ser compatível com as

estratégias, deve ser inferior, em módulo, a média mais ou menos12 um número escolhido

de desvios-padrão da variação histórica diária do logaritmo neperiano da volatilidade

implícita anualizada calculada em 1995 e 1996.

A hipótese nula do teste é a de que a média dos logaritmos neperianos do excesso

de retorno das operações em relação ao CDI diário é igual a 0. A média é obtida pela

seguinte expressão:

n

CDIPLPL

Y t

t∑

−= −1

ln

onde,

PLt = patrimônio do fundo em tPLt-1 = patrimônio do fundo em t –1CDI = taxa de juros de CDI por 1 dian = número de operações realizadas

Desta forma, o teste de hipótese apresenta a seguinte estrutura:

0:0 =YH

0:1 >YH

Os resultados do teste para diversos níveis de significância (teste unicaudal) e

parâmetros escolhidos são apresentados no capítulo 7.

O segundo teste de hipótese é do tipo não paramétrico. O teste de sinal é um

simples procedimento para testar hipóteses de tendência central de uma função de

11 O excesso de retorno é assim definido já que, para pequenas variações do ativo-objeto, o retorno esperadode uma posição delta-neutra é igual a taxa de juros livre de risco.12 Média menos desvio-padrão para a estratégia 1 e média mais desvio-padrão para a estratégia 2.

57

distribuição não normal. Este tipo de teste faz inferências acerca da mediana da população

e não da média. Segundo McClave, Benson e Sincich (1998, pp. 869-872), uma vez que os

testes não paramétricos podem ser utilizados para qualquer tipo de distribuição, não

somente a normal, é razoável que estes estejam focados na mais robusta (menos sensível a

valores extremos) medida de tendência central, a mediana. A estatística do teste em função

da mediana η é construída da seguinte forma:

0:0 =ηH0:1 >ηH

O teste unicaudal é conduzido contando-se o número de vezes em que cada

observação, definida como o logaritmo neperiano do excesso de retorno em relação ao

CDI, é favorável à hipótese alternativa

S = número de vezes em que cada observação é maior do que 0.

A variável aleatória S têm distribuição binomial e, sendo a hipótese nula H0

verdadeira, a probabilidade p de que cada observação esteja abaixo ou acima de 0 é igual a

0,5. Portanto, qual seria a probabilidade de que as S ou mais observações advindas de uma

binomial sejam bem sucedidas (contrárias a hipótese H0) se a probabilidade de sucesso

individual é igual a 0,5?

p-value = ( ) ( ) kSxPSxP −=−≤−=≥ 111

onde k é uma distribuição binomial com S – 1 tentativas bem sucedidas, N tentativas

independentes (número de operações de investimento realizadas) e probabilidade de

sucesso de cada tentativa independente igual a 0,5.

Ao se conduzir o teste com nível de significância igual a 1 - α, a região de rejeição

pode ser expressa em termos do p-value:

Região de rejeição: p-value α≤

58

Assim, obtém-se, para cada conjunto de parâmetros de determinação de alto retorno

e comportamento da variação da volatilidade implícita, a aceitação ou rejeição da hipótese

de que as operações de investimento possuem, na maior parte das vezes, rentabilidade

superior à taxa de CDI diário. Os resultados do teste são apresentados no capítulo 7.

59

Capítulo 7 – Resultados

7.1 – Introdução

Os resultados da pesquisa são apresentados neste capítulo. A ordem de

apresentação destes resultados segue o formato geral de construção da dissertação.

Inicialmente são apresentados os resultados dos testes de auto-correlação do quadrado dos

retornos diários de Telebrás PN nos anos de 1995 e 1996. Os resultados deste primeiro

teste dão suporte à formulação das estratégias de investimento propostas na pesquisa.

Na seção 7.3 são apresentados os resultados que sustentam a adequabilidade da

função de distribuição derivada da mistura de duas normais como ferramenta de escolha

dos altos e baixos retornos de Telebrás PN.

A seção 7.4 mostra os resultados que sustentam a validade do modelo de VaR

desenvolvido no capítulo 4 e aplicado na determinação do montante a ser investido nas

operações de compra e venda de portfólios delta-neutros.

Por fim, os principais resultados da dissertação referentes à rentabilidade das

estratégias de investimento propostas são apresentadas na seção 7.5.

7.2 - A Auto-correlação Temporal dos Retornos ao Quadrado

Conforme exposto no capítulo 2, o teste mais indicado para se verificar a auto-

-correlação temporal de ordem 1 do quadrado dos retornos diários de Telebrás PN nos anos

de 1995 e 1996 é o proposto por Taylor (1986). Os testes foram realizados de acordo com a

metodologia previamente apresentada, dividindo os retornos diários em dois grupos: os

retornos positivos e os negativos.

Nos anos de 1995 e 1996, foram observados 260 retornos diários positivos e 233

retornos diários negativos1. Para o grupo dos positivos, a auto-correlação de ordem 1 do

quadrado dos retornos diários observada foi de 0,024. Mediante a utilização do teste de

1 Dias de retorno igual a 0 foram considerados positivos.

60

hipótese proposto por Taylor (1986), calcula-se o p-value (teste bicaudal), encontrando o

valor de 0,697. Assim, é aceita a hipótese nula de que a auto-correlação para este grupo de

retornos diários não é diferente de zero. Uma vez que o p-value obtido apresenta um valor

elevado, esta conclusão permanece válida para testes com baixa significância. Conforme

exposto no capítulo 2, tendo em vista que a hipótese nula não foi rejeitada, pode-se dizer,

com alto grau de confiança, que as variáveis aleatórias observadas são independentes e

conseqüentemente não correlacionadas.

Para o grupo dos negativos, a auto-correlação de ordem 1 do quadrado dos retornos

diários observada foi de 0,453. Novamente, através do teste de hipótese proposto por

Taylor (1986), calcula-se o p-value (teste bicaudal), encontrando o valor de 0,000. Este

resultado preliminar indicaria a rejeição da hipótese nula de que os retornos diários

negativos ao quadrado não são auto-correlacionados em primeira ordem, mesmo para

testes com alta significância. No entanto, conforme descrito no capítulo 2, quando a

hipótese nula é rejeitada, nada pode ser afirmado acerca da auto-correlação dos retornos. O

que pode ser concluído, entretanto, é que o processo gerador dos retornos diários negativos

não é do tipo “Strict White Noise” com variância finita. Assim, o máximo que pode ser

dito é que as variáveis não são independentes e identicamente distribuídas.

Estas conclusões estão baseadas no fato de que, somente para processo lineares, a

correlação amostral é assintoticamente distribuída por uma função normal com média igual

a zero e variância igual a 1/n , onde n é o tamanho da amostra. Para processos não lineares,

a variância é desconhecida, sendo maior do que 1/n.

Caso esta variância desconhecida fosse 12,5 vezes maior do que 1/n, então o p-

value calculado para o teste dos retornos diários negativos seria de 0,051. Nesta situação,

para um nível de significância igual a 95% (teste bicaudal), os testes estariam em uma

posição de fronteira entre aceitar e rejeitar a hipótese nula. De qualquer forma, supor que a

variância de uma variável aleatória gerada por um processo não linear é 12,5 maior do que

a de um processo linear obtido inicialmente sob o mesmo conjunto de dados2 não parece

razoável. Com isso, de forma intuitiva pode-se afirmar, com algum grau de confiança

2 Retornos diários de Telebrás PN nos anos de 1995 e 1996.

61

desconhecido, que existe auto-correlação de ordem 1 dos retornos ao quadrado no dias de

variação negativa.

Desta forma, pode-se dizer que a análise empírica dos retornos de Telebrás PN

entre janeiro de 1995 e dezembro de 1996 indica a existência de auto-correlação temporal

de ordem 1 para os dias de retornos negativos e a inexistência de auto-correlação (é aceita

a hipótese nula com 5% de significância de que a auto-correlação é igual a 0) para os dias

de retornos positivos.

Através desta verificação é, então, criada a hipótese de que a probabilidade de se

observar um alto retorno (positivo ou negativo) após um dia de alto retorno negativo é

mais alta se comparada à mesma probabilidade para um dia não precedido por um alto

retorno. Por sua vez, quando se verifica no mercado um alto retorno positivo, nada se pode

afirmar acerca das chances de ocorrer um alto retorno no dia seguinte.

7.3 – A Adequabilidade da Função Mistura de Normais

Conforme apresentado no capítulo 3, a função de distribuição gerada pela mistura

de 2 normais é utilizada, nesta dissertação, como ferramenta de análise e determinação dos

altos e baixos retornos diários de Telebrás PN a partir do ano de 1997. Para que a escolha

desta função possa ser considerada acertada, torna-se relevante testar sua adequabilidade

aos retornos históricos ajustados para dividendos de Telebrás PN nos anos de 1995 e 1996.

O teste para adequabilidade de ajustamento de Kolmogorov-Smirnov é, então, utilizado

com este propósito.

De acordo com a metodologia apontada por Peters e Summers (1973), o cálculo do

parâmetro ( ) ( )[ ]nDnDnZ −+ += , onde n é igual ao tamanho da amostra, ( )nD+ é igual a

diferença vertical máxima entre as duas distribuições de freqüência relativa cumulativa3 e

( )nD− é igual a diferença vertical mínima entre as distribuições de freqüência relativa

cumulativa, indica o valor Z = 1,368.

3 As duas distribuições são: a distribuição empírica dos retornos históricos e a mistura de 2 normais com osparâmetros u, v e p iguais a 0,688, 2,239 e 0,884, respectivamente.

62

O apêndice J apresentado pelos autores fornece a tabela com a distribuição

probabilística-limite para o parâmetro calculado. Desta forma, sendo a hipótese nula de que

os dados da amostra foram gerados pela distribuição mistura de 2 normais verdadeira, a

probabilidade de Z ser igual ou menor do que 1,368 está situada entre os valores 0,683 e

0,695. Com isso o p-value associado ao teste situa-se entre 0,305 e 0,317. Portanto, mesmo

para testes com baixo nível de significância, a hipótese nula não pode ser rejeitada.

Conclui-se, portanto, que a mistura de 2 normais com os parâmetros calculados pode ser

usada para modelar os retornos diários de Telebrás PN nos anos de 1995 e 1996.

Para efeito de comparação, o mesmo teste é efetuado com a hipótese nula de que a

distribuição normal com média e desvio-padrão amostral calculado se adequa à

modelagem dos retornos históricos de Telebrás PN nos anos de 1995 e 1996. Neste caso, o

valor de Z é igual a 3,731 e o p-value igual a 0, levando a conclusão de que a distribuição

normal não é indicada para a modelagem dos dados históricos.

Gráfico 7.1Comparação da Distribuição Empírica dos Retornos Diários de Telebrás PN (1995 e 1996)

e sua Modelagem pelas Distribuições Normais e Mistura de 2 Normais

O gráfico 7.1 permite visualizar o histograma dos retornos históricos, a distribuição

normal e a mistura de normais como funções de distribuição ajustadas aos dados. Torna-se

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

-4 -3,6

-3,2

-2,8

-2,4 -2 -1,

6-1,

2-0,

8-0,

4 0 0,4 0,8 1,2 1,6 2 2,4 2,8 3,2 3,6 4

Des

f(x) Distribuição Empírica

Distribuição NormalMistura de 2 Normais

63

igualmente evidente, através do gráfico, que a mistura de normais é mais adequada se

comparada à normal para a modelagem dos dados históricos.

7.4 – Teste de Acurácia do Modelo de VaR

Para se medir a acurácia do modelo de risco, o teste de Kupiec (1995) é realizado.

Analisando os pregões compreendidos entre 02 de janeiro de 1997 e 22 de maio de 2000,

verifica-se a existência de 425 dias de retornos positivos4 e 352 dias de retorno negativo.

Cabe ressaltar que os dias com vencimentos de opção inferior ou igual a 3 pregões foram

retirados da amostra.

Para os dias positivos, o número de vezes em que a perda de uma posição, de um

dia para o outro, vendida em “call” e comprada em delta ações (- C + ∆S) foi maior do que

o valor do VaR para esta carteira, é de 16. Para os dias de retorno negativo, o número

equivalente para uma posição comprada em “call” e vendida em delta ações (+ C - ∆S) é,

igualmente, 16. Assim, o número total de “furos” do modelo de VaR desenvolvido com

nível de confiança de 95% é de 32 para uma amostra total de 777 dias. A proporção de

“furos” do modelo é, então, de 32 / 777 = 0,0412.

Aplicando estes parâmetros na função de verossimilhança de Kupiec, obtém-se o

valor de 1,349 com p-value correspondente de 0,245. Assim para testes com nível de

significância superiores a 75,5%, a hipótese nula de que a proporção de erro do modelo é

de 5% não é rejeitada. Como, em geral, os testes de hipóteses são efetuados com alto nível

de significância, pode-se dizer que o modelo de risco desenvolvido nesta pesquisa

apresenta resultados bastante satisfatórios.

7.5 - Resultados das Estratégias de Investimento

Os resultados das operações de investimento são divididos em dois grupos

principais. Os testes de hipótese paramétricos e os não paramétricos. Em cada um destes

grupos, os resultados são apurados levando-se em conta os custos de corretagem e sem

custo de corretagem.

4 Incluindo os dias de retorno igual a 0.

64

Os resultados são também apresentados, tanto nos testes paramétricos como nos

não paramétricos, com as três combinações possíveis das estratégias 1 e 2 desenvolvidas

no capítulo 6: estratégias 1 e 2 efetivadas em conjunto (venda e compra de volatilidade nos

dias de alto retorno positivo e alto retorno negativo, respectivamente) e cada uma das

estratégias individualmente aplicadas sobre o conjunto de dados (operações somente para

dias de alto retorno positivo com venda de volatilidade e somente para os dias de alto

retorno negativo com compra de volatilidade).

As tabelas com os resultados apresentam o seguinte formato:

a) As colunas representam o parâmetro de probabilidade-limite do retorno ter sido

gerado pela normal de maior variância. Como exemplo, para a coluna 0,3, para um retorno

ser considerado alto, sua probabilidade de ter sido gerado pela normal de maior variância

deve ser igual ou maior do que 0,3. Se esta probabilidade for menor do que 0,3, o retorno é

classificado como baixo, portanto não satisfazendo ao critério inicial para a execução das

estratégias 1 e 2 desenvolvidas na pesquisa.

b) As linhas da tabela representam o número de desvios-padrão em relação à média

histórica das variações de volatilidade implícita. Como exemplo, para a linha 0,7, sendo

um retorno positivo classificado como alto, a operação de investimento somente é efetuada

caso a volatilidade implícita da opção correspondente5 tenha sofrido uma variação em

relação ao dia anterior superior à média menos 0,7 desvios-padrão da variação diária

histórica das volatilidades implícitas calculadas nos anos de 1995 e 1996. Sendo, neste

mesmo exemplo, um retorno negativo classificado como alto, a operação somente se

verifica caso a volatilidade implícita da opção correspondente tenha sofrido uma variação

em relação ao dia anterior inferior à média mais 0,7 desvios-padrão da variação diária

histórica das volatilidades implícitas calculadas nos anos de 1995 e 1996.

Os resultados são sempre apresentados com as médias (testes paramétricos) e

medianas (testes não paramétricos) e seus p-values correspondentes.

5 Opção com maior número de negócios.

65

Testes Paramétricos

Tabela 7.1Resultados dos Testes Paramétricos das Estratégias de Venda e Compra

de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) Sem Custo de Corretagem

Tabela 7.2Resultados dos Testes Paramétricos da Estratégia de Venda de

Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) Sem Custo de Corretagem

Tabela 7.3Resultados dos Testes Paramétricos da Estratégia de Compra de

Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) Sem Custo de Corretagem*A média da coluna 0,9, linha 0,1 não é calculada pois, sob estas condições, não são realizadas operações de investimento.

66

Tabela 7.4Resultados dos Testes Paramétricos das Estratégias de Venda e Compra

de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) Com Custo de Corretagem

Tabela 7.5Resultados dos Testes Paramétricos da Estratégia de Venda de

Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) Com Custo de Corretagem

Tabela 7.6Resultados dos Testes Paramétricos da Estratégia de Compra de

Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) Com Custo de Corretagem

*A média da coluna 0,9, linha 0,1 não é calculada pois, sob estas condições, não são realizadas operações de investimento.

67

Testes Não Paramétricos

Tabela 7.7Resultados dos Testes Não Paramétricos das Estratégias de Venda e Comprade Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) Sem Custo de Corretagem

Tabela 7.8Resultados dos Testes Não Paramétricos da Estratégia de Venda de

Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) Sem Custo de Corretagem

Tabela 7.9Resultados dos Testes Não Paramétricos da Estratégia de Compra deVolatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) Sem Custo de Corretagem

* A mediana da coluna 0,9, linha 0,1 não é calculada pois, sob estas condições, não são realizadas operações de investimento.

68

Tabela 7.10Resultados dos Testes Não Paramétricos das Estratégias de Venda e Comprade Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2) Com Custo de Corretagem

Tabela 7.11Resultados dos Testes Não Paramétricos da Estratégia de Venda de

Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1) Com Custo de Corretagem

Tabela 7.12Resultados dos Testes Não Paramétricos da Estratégia de Compra deVolatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2) Com Custo de Corretagem

* A mediana da coluna 0,9, linha 0,1 não é calculada pois, sob estas condições, não são realizadas operações de investimento.

69

Cabe ressaltar que, sendo os testes paramétricos e não paramétricos unicaudais, os

p-values das médias e medianas somente são calculados quando estas medidas assumem

valores positivos (maiores ou iguais a 0).

Para uma perfeita interpretação das tabelas acima, torna-se necessário ter em mente

o número de operações de investimento realizadas no período compreendido entre 2 de

janeiro de 1997 e 22 de maio de 2000 para cada uma das combinações das linhas e colunas

de cada tabela. O número de operações é computado para as estratégias 1 e 2 em conjunto,

para a estratégia 1 e para a estratégia 2 sendo efetivadas individualmente. O número de

operações das estratégias 1 e 2 efetivadas em conjunto é igual a soma dos números de

operações da estratégia 1 mais os números da estratégia 2.

Tabela 7.13Número de Operações de Investimento Realizadas entre 02/01/1997 e 22/05/2000

Através da Implementação em Conjunto das Estratégias de Venda eCompra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégias 1 e 2)

Tabela 7.14Número de Operações de Investimento Realizadas entre 02/01/1997 e 22/05/2000 Atravésda Implementação da Estratégia de Venda de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 1)

70

Tabela 7.15Número de Operações de Investimento Realizadas entre 02/01/1997 e 22/05/2000 Atravésda Implementação da Estratégia de Compra de Volatilidade de Telebrás PN (Estratégia 2)

Uma primeira análise das tabelas de resultados indica uma forte tendência de se

encontrar médias e medianas de excessos de retorno em relação ao CDI positivos. Para os

testes paramétricos, quando a estratégia 1 é efetuada separadamente (Tabela 7.2 e 7.5),

alguns excessos de retorno negativos para a coluna 0,1 são observados (8,3% do total das

médias de cada tabela). Para a estratégia 2 (Tabelas 7.3 e 7.6) apenas 1 média da coluna

0,9 é negativa (0,92% das médias).

Para os testes não paramétricos sem custo de corretagem, quando a estratégia 1 é

efetuada separadamente (Tabela 7.8) apenas 1 média da coluna 0,1 é negativa (0,92% das

médias). Sendo a estratégia 2 realizada em separado, 2 médias das colunas 0,4 e 0,9 são

negativas (Tabela 7.9). Com custo de corretagem, para as estratégias 1 e 2 em conjunto

(Tabela 7.10) , 3 médias da coluna 0,1 são negativas. Para a estratégia 1 (Tabela 7.11), 18

médias são negativas (16,6% do total de médias calculadas), já para a estratégia 2 (Tabela

7.12) apenas 2 médias são negativas.

A Tabela 7.16 fornece o número de médias e medianas, para cada uma das tabelas

de resultados, que possuem p-values menores ou iguais a 0,025, 0,05 e 0,1. Assim, obtém-

-se o número rejeições com níveis de significância iguais a 97,5%, 95% e 90%6, para cada

tabela de resultados, da hipótese nula da média ou mediana serem iguais a 0.

6 Testes de hipótese unicaudais.

71

Tabela 7.16Número de Médias e Medianas, para Cada uma das Tabelas de

Resultados, com P-values Inferiores a 0,025, 0,05 e 0,1

Através das tabelas 7.13, 7.14 e 7.15, percebe-se, conforme esperado, que quanto

maior for o valor limite de probabilidade para que um retorno possa ser considerado alto,

menor é o número de operações. Ao mesmo tempo, quanto menor for a restrição em

relação ao comportamento da variação diária da volatilidade implícita para a realização das

operações (traduzida por um maior número de desvios-padrão), maior é o número de

operações de investimento realizadas.

Desta forma, a análise dos resultados deve levar em conta o seguinte fato: Quanto

maior for o valor da probabilidade-limite e menor for o número de desvios-padrão7, maior

ênfase é dada às argumentações básicas utilizadas para o desenvolvimento das estratégias

de investimento. Por outro lado, sob estas condições, o número de operações torna-se cada

vez menor, reduzindo, assim, a significância estatística dos resultados.

7 Quanto mais próximo do canto superior direito das tabelas de resultado.

72

Uma observação mais cuidadosa da Tabela 7.1 traduz o raciocínio acima exposto.

Para todas as colunas, com exceção da coluna 0,18, o p-value das média diminui à medida

que o número de desvios-padrão aumenta, chegando a um valor mínimo, para depois subir

novamente. Este valor mínimo é, em geral, próximo da linha 0,6. Isto significa que o

estabelecimento de um valor de 0,6 desvios para o comportamento da variação diária da

volatilidade implícita como limitador das operações, ao mesmo tempo que vai de encontro

as argumentações básicas das estratégias de investimento, não limita, de forma drástica, o

número de operações realizadas, garantindo, assim, significância estatísticas aos testes de

hipótese.

A análise das médias da Tabela 7.1 também indica perfeita coerência com as

argumentações desenvolvidas através das estratégias de investimento. Com exceção da

coluna 0,99, quanto maior é o valor de probabilidade-limite para a determinação dos altos

retornos, maior é a média de excesso de retorno em relação ao CDI. Ao mesmo tempo,

quanto menor é a exigência em relação ao comportamento diário de variação para a

volatilidade implícita, menor é a média de excesso de retorno diário.

Esta análise das médias pode ser estendida, de forma geral, para todos os outros

testes (Tabelas 7.2 a 7.6). Assim, mesmo com custo de corretagem e com cada uma das

operações sendo realizadas separadamente, o comportamento das médias dos excessos de

retorno em relação ao CDI mostra-se coerente com as argumentações desenvolvidas na

pesquisa. Para algumas tabelas, a seqüência das médias, comparadas em uma mesma linha,

não obedece exatamente a uma suposta ordem crescente. Entretanto, este fato não invalida

a coerência com as argumentações do estudo uma vez que ocorre apenas para colunas

próximas e valores de médias não muito discrepantes.

Outra importante característica dos testes paramétricos (com e sem corretagem) diz

respeito à comparação das médias da estratégia 2 com a estratégia 1 (Tabela 7.2 com 7.3 e

8 O valor de 0,1 como probabilidade-limite é bastante baixo, portanto, pouco coerente com a definição de altoretorno necessária ao desenvolvimento das estratégias de investimento. Este fato pode explicar ocomportamento totalmente atípico desta coluna da tabela em relação às demais.9 Conforme observado na Tabela 7.13, o número de operações realizadas com probabilidade-limite igual a0,9 é pequeno, principalmente para baixos valores de desvios-padrão de variação diária da volatilidadeimplícita. Desta forma, a média amostral não é, provavelmente, uma boa medida de desempenho neste caso.

73

7.5 com 7.6). Com exceção da coluna 0,9 com linha 0,2 (número muito reduzido de

operações), todas as médias calculadas para a estratégia 2 são superiores às médias para a

estratégia 1. Isto significa que as argumentações das estratégias nos dias de retorno

negativo aparentam ser mais fortes se comparadas aos dias de retorno positivo. Assim, é

possível que o aprendizado do mercado em relação ao comportamento da volatilidade

implícita para os dias subseqüentes aos de alto retorno positivo esteja mais avançado em

relação aos dias de alto retorno negativo. Os valores mais baixos para as médias da

estratégia 1 também explicam o comportamento dos seus respectivos p-values, que,

diferentemente das estratégias 1 e 2 em conjunto e da estratégia 2 em separado, não

diminui à medida em que o número de desvios-padrão aumenta, portanto, não chegando a

um valor mínimo, para depois subir novamente.

Para a realização de uma análise minuciosa dos resultados dos testes não

paramétricos, torna-se importante ressaltar que o teste de sinal não se preocupa com a

intensidade dos excessos de retornos em relação ao CDI, mas sim se são ou não maiores do

que 0. Portanto, apesar da maior flexibilidade do teste (não supõe normalidade dos dados),

o comportamento da medida de tendência central avaliada, a mediana, não indicará,

necessariamente, ao contrário do que ocorre com as médias, perfeita coerência com as

argumentações da pesquisa10.

Isto se verifica na medida que, quando aumentada a probabilidade-limite para

definição dos altos retornos e as restrições em relação ao comportamento diário da

variação de volatilidade implícita (diminuindo o número de desvios-padrão), a mediana

dos testes não sofre acréscimos contínuos correlacionados. Este tipo de comportamento

pode ser justificado uma vez que, em situações nas quais a maioria dos excessos de retorno

é negativa, mesmo para grandes retornos positivos, a mediana será negativa.

10 Esta perfeita coerência dos resultados pode ser observada nas tabelas de resultados dos testes paramétricos:quanto maior os valores da probabilidade-limite para a determinação dos altos retornos e da exigência emrelação ao comportamento diário de variação da volatilidade implícita (menor número de desvios-padrão),maior é a média de excesso de retorno em relação ao CDI.

74

De qualquer forma, os testes não paramétricos sugerem que, para várias

combinações de probabilidade-limite e variações diárias de volatilidade implícita, a

mediana dos excessos de retorno em relação ao CDI são estatisticamente significativas.

Uma comparação entre as Tabelas 7.8 com 7.9 e 7.11 com 7.12 mostra que as

medianas, assim como as médias, são, em geral, mais altas na estratégia 2 se comparadas à

estratégia 111. No entanto, o maior número de rejeições da hipótese nula para os vários

níveis de significância dos testes não paramétricos através da implementação da estratégia

1 sem custo de corretagem indica que, talvez, esta estratégia esteja sujeita a uma menor

probabilidade de ocorrência de resultados negativos. Com custo de corretagem, entretanto,

o número de rejeições da estratégia 1 diminui drasticamente, indicando, assim, o pequeno

valor dos excessos de retorno desta estratégia na maior parte das operações.

11 Sem custo de corretagem, 86% das medianas são superiores na estratégia 2 se comparada a 1. Com custode corretagem esta proporção é de 89%.

75

Capítulo 8 – Conclusões

A metodologia proposta neste estudo visa a obtenção de ganhos sistemáticos

provenientes da implementação de estratégias de investimento baseadas em suposições

acerca do comportamento futuro da volatilidade de ativos. Assim, a hipótese levantada por

esta pesquisa é a de que, em situações específicas, a volatilidade implícita das opções não

representa o melhor estimador para a volatilidade futura do ativo-objeto.

Através da série histórica dos retornos diários de Telebrás PN nos anos de 1995 e

1996, observa-se auto-correlação temporal de ordem 1 dos retornos ao quadrado com

significância estatística apenas para os dias de retorno negativo. Baseadas nesta auto-

-correlação, estratégias de investimento com portfólios delta-neutros vendidos ou

comprados em volatilidade são implementadas no período compreendido entre 2 de janeiro

de 1997 e 22 de maio de 2000. As operações somente são realizadas nos dias de alto

retorno positivo associados a um aumento ou pequena diminuição da volatilidade implícita

das opções ou nos dias de alto retorno negativo associados a uma diminuição ou pequeno

aumento da volatilidade implícita das opções.

Os resultados dos testes paramétricos sugerem que as médias dos ganhos calculados

através dos excessos de retorno diário sobre o CDI mediante a manutenção dos portfólios

por 1 dia são estatisticamente significativas. A lucratividade das operações permanece

mesmo quando custos de transação são considerados. Testes não paramétricos são também

realizados, apontando resultados semelhantes para as medianas.

As médias calculadas são maiores na medida que é dada maior ênfase às

argumentações básicas da pesquisa. Ou seja, quanto maior é a definição de alto retorno e a

restrição imposta ao comportamento da volatilidade implícita para a realização das

operações de investimento, maiores são as médias. Entretanto, a conseqüente diminuição

do número de operações de investimento acaba implicando em menor significância

estatística para os resultados obtidos.

76

Os ganhos sistemáticos se devem à falta de um aprendizado por parte do mercado

em relação ao comportamento da volatilidade implícita das opções nos dias subseqüentes

aos pregões nos quais são observados altos retornos. Os resultados mostram, no entanto,

que os ganhos obtidos nos dias que sucedem aos de alto retorno negativo são superiores

aos de alto retorno positivo. Desta forma, o mercado parece conhecer melhor o

comportamento da volatilidade implícita nos dias seguintes aos pregões de alto retorno

positivo.

Através dos resultados observados conclui-se que, para o período analisado, o

mercado de opções sobre Telebrás PN aparenta ser ineficiente, já que, pela simples

utilização de preços passados é possível construir operações de investimento com ganhos

estatisticamente significativos.

Os resultados obtidos motivam a realização de estudos futuros que procurariam

aplicar a metodologia descrita de forma a testar a eficiência do mercado de opções sobre

outros ativos e em diferentes períodos de análise. Apesar de Telebrás PN ser um ativo com

alta liquidez e representatividade no mercado brasileiro dentro do período avaliado, os

resultados desta pesquisa não devem ser generalizados de forma ampla e irrestrita para

todo o mercado brasileiro de opções.

Além dos principais resultados acima mencionados, este estudo contribui para o

desenvolvimento de um modelo específico de risco (VaR) para os portfólios delta-neutros

baseado em simulação de Monte Carlo. Este modelo diferencia-se dos tradicionais pelo

fato de calcular duas vezes, uma para os retornos positivos e outra para os negativos, os

desvios-padrão históricos dos retornos do ativo-objeto e suas correlações com a variação

diária da volatilidade implícita das opções correspondentes. Através do Teste de Kupiec,

verifica-se que tal abordagem gera resultados extremamente satisfatórios.

77

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