136
INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS - GEOQUÍMICA FRANCISCO JAVIER BRICEÑO ZULUAGA RECONSTRUÇÃO DA VARIABILIDADE, TENDÊNCIAS E MECANISMOS CLIMÁTICOS NA PLATAFORMA CENTRAL DO PERU ATRAVÉS DOS APORTES TERRÍGENOS DOS ÚLTIMOS 1100 ANOS NITERÓI 2016

INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

  • Upload
    hakhanh

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

INSTITUTO DE QUÍMICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS - GEOQUÍMICA

FRANCISCO JAVIER BRICEÑO ZULUAGA

RECONSTRUÇÃO DA VARIABILIDADE, TENDÊNCIAS E MECANISMOS CLIMÁTICOS NA PLATAFORMA CENTRAL DO PERU ATRAVÉS DOS APORTES

TERRÍGENOS DOS ÚLTIMOS 1100 ANOS

NITERÓI

2016

Page 2: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

FRANCISCO JAVIER BRICEÑO ZULUAGA

RECONSTRUÇÃO DA VARIABILIDADE, TENDÊNCIAS E MECANISMOS

CLIMÁTICOS NA PLATAFORMA CENTRAL DO PERU ATRAVÉS DOS APORTES

TERRÍGENOS DOS ÚLTIMOS 1100 ANOS

Tese apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Geociências da

Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para a obtenção do Grau

de Doutor. Área de Concentração:

Geoquímica Ambiental.

Orientador:

Dr. Abdelfettah Sifeddine

NITEROI

2016

Page 3: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático
Page 4: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático
Page 5: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

AGRADECIMENTOS

Inicialmente quero agradecer profundamente ao meu orientador e amigo

Abdel por todos os ensinamentos proporcionados no nível acadêmico e no pessoal.

Os anos em que tive a oportunidade de trabalhar com ele foram realmente

inspiradores. Ele me ensinou a ter responsabilidade e rigor acadêmico, sem os quais

não poderia ter uma formação completa como pesquisador. Com seu jeito ganhou

minha lealdade e admiração. Assim, me sinto em dívida com ele por tudo que recebi

durante o doutorado. Agradeço todo o pessoal da Universidade Federal Fluminense,

do Institut de recherche pour le développement (IRD), especialmente Sandrine

Caquineau e, do Instituto do Mar do Peru (IMARPE), especialmente Federico

Velazco e Dimitri Gutierrez pelo aprendizado que adquiri trabalhando com eles ao

longo de todos esses anos. Tais experiências me enriqueceram pessoal e

professionalmente.

Agradeço também aos meus colegas e professores, disfrutei muito a

companhia de vocês. Aos membros da banca de avaliação, muito obrigado por suas

criticas construtivas e conselhos os quais enriqueceram a qualidade do trabalho. Um

agradecimento especial à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) pela bolsa de estudos. Aos meus pais, faço um reconhecimento

especial pelo seu apoio e carinho incondicional durante todos esses anos; acredito

que fiz valer a pena ficar longe deles. Meu pai, que sempre me ensinou seguir em

frente com um sorriso. Minha mãe que me ensinou acreditar em mim e nas pessoas.

Aos meus irmãos, sinto muito ter ficado longe, mas nunca me esqueci de vocês.

Agradeço aos meus amigos Maria P, Juli, Willy, Viviana e Lucho. Obrigado pela boa

energia que vocês me mandaram desde o começo. A Jorge, Javier, Isabel e Carine

obrigado pelos bons momentos e discussões cientificas. A James obrigado por me

abrir caminho na paleo e, por se converter em família. Ao Daniel e o seu pai pela

ajuda em Lima. A Marcia, que sempre me deu seu apoio e conselho, como se fosse

uma mãe. Finalmente quero agradecer profundamente a Barbara, por compartilhar

as alegrias e frustrações desse caminho comigo. Teu carinho é um sentimento que

aprecio dia a dia e, me ajuda a ser melhor pessoa e, acredito melhor profissional.

Page 6: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

RESUMO

Este trabalho apresenta o registro da distribuição granulométrica de sedimentos

laminados recuperados na plataforma continental de Pisco (Peru), que é

caracterizada pelos aportes fluviais regionais (relacionado com aumento das

precipitações) e pelo aporte eólico local (relacionado com a intensidade do vento

local). Esse registro vai desde a Anomalia Climática Medieval (ACM) até o Período

de Aquecimento Moderno (PAM) passando pela Pequena Idade do Gelo (PIG) numa

escala secular até subdecadal. As simulações da distribuição e trajetórias

atmosféricas do material eólico durante eventos registrados de erosão por

tempestades de areia na região realizadas em Hysplit4 são apresentadas. Os

resultados dessas simulações suportam o fato de que a origem eólica das partículas

grosseiras ocorre no sedimento marinho. Os componentes granulométricos

identificados são discutidos a partir do modelo matemático de fraccionamento de

GOMES et al., (1990). Este modelo assume que a composição mineral dos

sedimentos está composta por uma assembléia de diferentes populações de

partículas minerais com distribuições granulométricas logarítmicas normais. Foi

utilizada uma rotina interativa de mínimos quadrados para ajustar a distribuição

granulométrica em uma expressão matemática que permite quantificar e identificar

os diferentes componentes litológicos para depois inferir os mecanismos de

transporte envolvidos e a variação espacial e temporal. O objetivo deste estudo foi

separar os padrões de sedimentação do material terrígeno (eólico e fluvial) assim

como os processos mais importantes que controlam à entrada deste material para

entender como esses processos refletem a variabilidade climática e atmosférica

durante o ultimo milênio. Nossos resultados mostram um ativo transporte de

partículas eólicas durante a segunda metade da ACM com uma rápida diminuição da

ACM para a PIG. Durante a PIG a erosão eólica exibe uma diminuição na sua

atividade e assim, um enfraquecimento na intensidade do vento, ao mesmo tempo

um incremento na descarga fluvial é apresentada e, isto se relaciona com um

incremento na precipitação continental. Durante o PAM o transporte eólico apresenta

um rápido e progressivo incremento em relação com o ACM e a PIG, enquanto que

a aporte fluvial apresenta uma diminuição. Neste trabalho as simulações da

distribuição e trajetórias do material eólico durante os eventos de erosão é

Page 7: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

apresentado. Comparações com outros registros paleoambientais indicam que

essas mudanças estão vinculadas à mudanças no deslocamento meridional da Zona

de Convergência Intertropical (ZCIT) e Alta Subtropical do Pacífico Sul (ASPS) assim

como a atividade da circulação da célula de Walker em escala de tempo secular.

Finalmente a deposição eólica e em consequência a intensidade do vento e sua

variabilidade dos últimos 100 anos é muito mais forte que durante a ACM sob

condições similares na posição do sistema ZCIT-ASPS. Esta tendência sugere uma

forçante adicional na intensificação da circulação atmosférica, consistente com o

atual padrão da Oscilação multidecadal do Atlantico e a tendência de aquecimento

climático.

Palavras-chave: Variabilidade climática, Final do Holoceno, ENSO, Granulometria,

Peru.

Page 8: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

ABSTRACT

In this work are present record of laminated sediments cores retrieved in the

continental shelf of Pisco (Peru) that characterize fluvial regional discharge and the

wind local aeolian transport (related with the wind intensity) from Medieval Climate

Anomaly (MCA) to Little Ice Age (LIA) and the current warm period (CWP) at

centennial to sub-decadal resolution. The particle grain size components are

discussed using a mathematical model of fractionation. This model assumes that

lithological composition of the sediment is an assembled of several log-normally

distributed particle population. In this way, an interactive least square fitting routine is

used to fit the particle grain size collected with the mathematical expression. This

allows inferring the spatial and temporal variation of particles populations and thus

transport mechanisms involved. The aim of the study is unmixing and reconstructs

the patters of terrigenous (aeolian and fluvial) sedimentation as well as the most

important processes that control the input of this material to understand how these

components reflect atmospheric climate variability during the last millennium. Our

results presented in this work showed active aeolian erosion during the second half

of the MCA and rapid decrease from the MCA to the LIA. During the LIA the aeolian

erosion exhibit a decreased activity and them a weak in the atmospheric circulation

on the same time an increase of fluvial discharge is showed this is relate with an

increase of continental precipitation. During the CWP the aeolian erosion transport,

display a rapid and progressive increase in relation to MCA and LIA, whereas the

fluvial discharge exhibited a decrease. In this work simulation of the aeolian

distribution and their trajectories during erosion events are also presented.

Comparison with others records indicate that those changes are linked to change in

the meridional position of the Intertropical convergence zone (ITCZ) and South

Pacific Subtropical High (SPSH) at the centennial time resolution. Finally the CWP

show increase in the aeolian deposition and thus in the wind intensity over the past

two centuries likely represents the result of the modern position of the ITCZ–SPSH

system and the associated intensification of the local and regional winds.

Nevertheless, the aeolian deposition and in consequence the wind intensity and

variability of the last 100 yr are stronger than the second sequence of the MCA under

similar position of the ITZC-SPSH system. This trend suggests an additional forcing

Page 9: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

in the intensification of the atmospheric circulation, consistent with the current pattern

of climate change.

Keywords: Climate change, Late Holocene. ENSO, Grain size components, Peru.

Page 10: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Clorofila A (Chl-a) baseado em dados de Sea-WiFS (1997–2006),

velocidade dos ventos ao longo (ECMWF–ERA40) da zona costeira de Pisco e, a

temperatura superficial do mar (SST) na mesma área ............................................... 23

Figura 2 - Média mensal, no verão (Dezembro – Fevereiro) encima e Inverno (Julho-

Setembro) embaixo, da velocidade e direção dos ventos superficiais (resolução

1°x1°) em América do Sul de 1948 até 2015 (dados de reanalises de NCEP/NCAR

da NOAA/ESRL). ......................................................................................................... 25

Figura 3 - Média mensal de precipitação (mm/dd) comparativa entre um mês pico de

verão (Fevereiro-encima) e um mês pico de inverno (Agosto-abaixo) entre 1998 e

2010. Ressalta-se a variabilidade meridional e espacial da precipitação em função

da posição da ZCIT. Dados obtidos do 3B43 TRMM (resolução de 0.25°x 0.25°). As

imagens cobrem o globo de 50°N a 50°S. .................................................................. 33

Figura 4 - Rios ao longo da costa Peruana.. .............................................................. 34

Figura 5 - Evento de erosão com tempestade de areia (Ventos Paracas – VP) na

Região de ICA, Peru. Imagem MODIS Aqua-Terra, composição cor verdadeira com a

refletância de superfície (NASA). Na imagem pode-se observar a trajetória, cobertura

da dispersão de partículas eólicas sobre o continente e o oceano. ........................... 35

Figura 6 - Processo de emissão e transporte de partículas em relação com o seu

tamanho. ...................................................................................................................... 37

Figura 7 - Expressões semi-empíricas (linhas de cores) e medidas (símbolos) do

umbral de velocidade de fricção requerida para iniciar a saltação na Terra em

condições naturais. Medidas de umbral de fluido para areia e poeira (símbolos

cheios Bagnold 1937, Chepil 1945, Zingg 1953, Iversen et al. 1976) e, medidas de

umbral de fluido para outros materiais diferentes de areia e poeira (símbolos abertos

Fletcher 1976, Iversen et al. 1976).. ........................................................................... 38

Figura 8 - Relação entre a distribuição granulométrica e a latitude ao longo da costa

chilena.. ....................................................................................................................... 42

Figura 9 - Esquema da circulação oceânica do Pacífico Tropical Leste (Extraído e

modificado de MONTES et al., 2010). Contracorrente profunda em direção ao Polo

(CPP), Corrente costeira do peru (CCP), Corrente Sul Equatorial (CSE),

Page 11: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

Contracorrente primária sub-superficial do Sudeste (CpSS), Corrente secundária

sub-superficial do Sudeste (CsSS), Corrente Profunda Equatorial (CPE), Contra

Corrente Peru Chile (CCPC), Contra Corrente Norte Equatorial (CCNE), Corrente

Oceanica do Peru (COP) . .......................................................................................... 45

Figura 10 - Composição dos vetores de velocidade média dos ventos superficiais

m/s para verão (Dez-Fev) e inverno (Jul-Set) na região de sudoeste do Peru entre

1948 e 2015. Dados de reanalise do NCEP/NCAR. ................................................... 47

Figura 11 - Valores de produtividade primária média (gCm-2dia-1) ao longo da

margem Peruana. Valores são integrados para a zona fótica e representam uma

média para ~10 anos. Os principais núcleos da ressurgência onde a produtividade é

maior ficam em evidência incluindo a área de estudo.. .............................................. 49

Figura 12 - A) Região de estudo e evento de erosão com tempestade de Areia

(Ventos Paracas – VP) na Região de ICA, Peru. Imagem MODIS Aqua-Terra,

composição cor verdadeira com o reflexo de superfície (NASA). B) Dados da

distribuição granulométrica de armadilhas BSNE (2m) (em laranja) e do solo na

mesma área (em preto), estações MixPaleo e WindA demarcadas como triângulos

vermelhos no mapa. C) Distribuição granulométrica registrada no testemunho de

sedimento B06 (BRICEÑO ZULUAGA et al., 2015) demarcado como ponto amarelo.

..................................................................................................................................... 55

Figura 13 - Mastro (esquerda) e caixa de coleção de poeira tipo BSNE (direita) para

tempestades de areia, localizadas na estação WindA. .............................................. 57

Figura 14 - A) Áreas de emissão identificadas nas imagens MODIS B) Exemplos de

emissões de poeira mineral de diferentes intensidades. ............................................ 58

Figura 15 - Simulação da dispersão e trajetória das partículas de A) 3µm, B) 10µm e

C) 50µm e D)90 µm no modelo Hysplit4 para os eventos dos dias 23/Jul/2014 e

24/Fev/2015................................................................................................................. 61

Figura 16 - A) Campo de ventos, B) Velocidade da componente de vento Meridional

(V) m/s, C) Velocidade da componente de vento Zonal (U) m/s durante os VP

estudados. ................................................................................................................... 63

Figura 17 - Localização dos testemunhos de sedimento B040506 (B06 - círculo

preto) e G10-GC-01 (G10 - Triângulo preto) na margem continental central da

plataforma Peruana. As linhas batimétricas de contorno estão em intervalos de 25m,

de 100m a 500m de profundidade. ............................................................................. 69

Page 12: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

Figura 18 - Correlação cruzada da estratigrafia das sequências laminares (Imagens

SCOPIX) entre o box core B14 (O testemunho recuperado com as laminações mais

continuas, sem perturbação é com sequencias melhor preservadas), B06 e o gravity

core G10 todos recuperados na plataforma continental de Pisco. Na imagem

SCOPIX as cores foram invertidas, assim, as lâminas escuras representam o

sedimento mais denso. O número ao lado direito das imagens representa as

datações de 14C não calibrado. A linha amarela representa a posição do “shift”

(GUTIÉRREZ et al., 2009). A linha preta entre o B14 e B06 indica o começo da

atividade de 241Am. As linhas pretas à esquerda dos testemunhos indicam depósitos

homogêneos e colapsos, as linhas verdes colocadas à direita do testemunho

indicam a extensão de camadas de diatomáceas. Os marcadores estratigráficos

estão representados por linhas contínuas coloridas mais finas, que indicam

correlações menos óbvias possíveis, mais detalhes em SALVATTECI et al. (2014a).

..................................................................................................................................... 70

Figura 19 - A) Datações de AMS 14C do boxcore B06 e seu desvio padrão, B)

Modelo de idade do testemunho B06 (210Pb, 137Cs e 241Am mais 14C usando o ΔR

estimado). C) Datações de AMS 14C do gravity core G10 com desvio padrão e, D)

Modelo de idade do testemunho G10. ........................................................................ 71

Figura 20 - Distribuição granulométrica bruta correspondente ao registro completo

(sobreposição dos testemunhos B06 e G10). Uma distribuição bimodal é aparente. A

primeira composta por partículas finas de ~3 até 15µm; e a segunda por partículas

mais grosseiras entre ~50-120 µm. Em detalhe os períodos de ACM (Medieval

Climate Anomaly - MCA em inglês), PIG (Little Age Ice – LIA em inglês) e PAM

(Current Warm Period – CWP em inglês). .................................................................. 75

Figura 21 - Proporções de variabilidade (coeficiente de determinação) obtidas pela

análise de componentes principais (ACP) baseado na classificação granulométrica

de WENTWORTH, (1922). Quatro componentes podem explicar 97% da

variabilidade total da distribuição granulométrica das amostras. ............................... 76

Figura 22 - A) Descrição das quatro modas ajustadas calculadas (M1, M2, M3 eM4)

para a média granulométrica do registro total; em detalhe pode se ver um exemplo

do desvio padrão geométrico (Gsd) sua abundancia relativa dada em (%). ............. 77

Figura 23 - A) A variação da mediana granulométrica (D50) ao longo do registro e a

variação da abundância relativa dos componentes sedimentares: B) M1, C) Fluvial

(M2), D) Eólico (M3) e, o E) Eólico (M4) da distribuição granulométrica no registro

sedimentar F) As barras verdes representam as amostras onde foram encontradas

partículas muito grandes, relacionadas com ventos superficiais muito intensos na

região de Ica. ............................................................................................................... 82

Page 13: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

Figura 24 - Reconstrução de: A) Temperaturas do Indo-Pacífico (OPPO;

ROSENTHAL; LINSLEY, 2009), B) Fluxo de %Ti na bacia de Cariaco (PETERSON;

HAUG, 2006), C) Anomalias da Atividade da ZMO Re/Mo, valores positivos indicam

condições sub-oxicas e valores negativos indicam condições mais anóxicas nos

sedimentos (eixo invertido para melhor interpretação) (SALVATTECI et al., 2014b),

D) Fluxo de material terrígeno (minerais totais) nos sedimentos de Pisco por

Sifeddine et al (2008), E) Variabilidade da descarga Fluvial (M2) sobre a plataforma

continental, F) Variabilidade da intensidade do vento (M4/(M3+M4)). ....................... 86

Figura 25 - A e B). Apresentam o cenário com e sem emissão de poeira por erosão

eólica sobre o estado de Ica e a plataforma continental (Imagens do MODIS

Aqua/Terra composição de cor verdadeira com refletância superficial). C) A área de

coleta do testemunho de sedimento. .......................................................................... 93

Figura 26 - Perfil de excesso de 210Pb e 241Am no testemunho B040506.

Reconstrução da queda de 137Cs no Hemisfério Sul (UNSCEAR, 2000), e

precipitação da atividade específica de 137Cs em Buenos Aires (Ribeir; Arribére,

2002). As características mais representativas das mudanças (início e períodos pico,

foram sombreadas) utilizou-se para identificar três marcadores temporais no perfil da

atividade especifica do 241Am. Os intervalos de tempo para cada marcador foi

estimado pelo excesso de 210Pb derivado da taxa de sedimentação na camada

superior e da camada da amostra.. ............................................................................ 94

Figura 27 - A.) Imagens SCOPIX do testemunho B040506 as cores foram invertidas,

as lâminas escuras representam sedimento mais denso e as claras os sedimentos

menos denso; os primeiros centímetros (30) se mostram contínuos, não perturbados

e com sequências laminares bem preservadas. As linhas verdes indicam depósitos

homogêneos, ou slumps. B) Interpolação do registro temporal da distribuição

granulometria bruta. C) Registro temporal da mediana granulométrica (D50). O

registro temporal varia entre 1 a 5 anos, desta forma foram aglomeradas em

intervalos de 5 anos para ajustar a resolução da amostra em relação aos maiores

intervalos de resolução. .............................................................................................. 97

Figura 28 - Contribuição relativa da distribuição granulométrica calculada post-shift

para o testemunho B040506. ...................................................................................... 98

Figura 29 - A) Reconstrução da série temporal da variabilidade das descargas

fluviais. B) Reconstrução da variabilidade do transporte eólico por erosão das

partículas de ~50µm. C) Reconstrução da variabilidade do transporte eólico por

erosão das partículas de ~100µm. D) Reconstrução da variabilidade da intensidade

do vento. E) Registro de anomalias de temperatura baseado nos dados publicados

por GUTIERREZ et al. (2009) (Eixo invertido para melhor interpretação). F)

Anomalias da temperatura média global do ar superficial (SAT) adaptado da Figura

Page 14: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

1.1 de 2014 Arctic Report Card

(http://www.arctic.noaa.gov/reportcard/air_temperature.html). Os dados são da base

de dados do CRUTEM4v. G) Reconstrução da ODP (MANN ET AL.,2009) H)

Reconstrução da OMA (AMO-inglês) (MANN et al., 2009) I) Registro histórico da

variabilidade do ENOS (ENSO-inglês) mostrando eventos extremos e fortes La Niña

(X/xx, S/xx respectivamente) e eventos extremos e fortes El Niño (X/xy, S/xy

respectivamente). ...................................................................................................... 102

Figura 30 - Periodograma de Lamb das análises de série temporal da variabilidade

fluvial e eólica, com 95% e 90% de confiança (linhas vermelhas de cima para baixo

respectivamente). A) Partículas de ~50µm apresentam um primeiro pico

correspondente a períodos de 40 anos e um segundo a períodos de 10-12 anos. B)

Partículas de ~90 µm apresentam um pico correspondente a períodos de 21 anos.

C) Entrada de material fluvial, mostrando um primeiro pico correspondente a

períodos de 50-56 anos e, outros dois a períodos de 20anos e 16 anos. D) A

reconstrução da variabilidade da intensidade do vento mostrou um pico equivalente

a 21 anos. .................................................................................................................. 103

Figura 31 - Regressão sazonal dos dados de re-analise da velocidade dos ventos

superficiais meridionais (acima) e zonais (abaixo) (KALNAY et al., 1996) e a

Oscilação Decadal do Pacifico de 1948 até 2013 (Calculos e graficos foram

realizados no software da NOAA/ESRL Physical Sciences Division, Boulder

Colorado em http://www.esrl.noaa.gov/psd/). ........................................................... 105

Page 15: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Parâmetros meteorológicos para pontos hotspot derivados do modelo (lat

-14.50 long -75.29) durante eventos de emissão VP. ................................................ 64

Tabela 2 - Medias dos parametros (Diametro medio geometrico Gmd, Amplitud A e,

Desvio padrão geometrico Dsd) dos 4 modas log-normais (componentes)

identificadas a partir da distribuição granulométrica bruta das amostras dos

testemunhos de sedimento B06 e G10. ...................................................................... 79

Tabela 3 - Valores mínimos, máximos e médias das componentes granulométricas

obtidos ao longo do registro na plataforma central de Pisco. ..................................... 81

Page 16: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

LISTA DE ABREVIATURAS

A Amplitude

ACM Anomalia Climática Medieval

ASPS Alta Subtropical do Pacífico Sul

BSNE Big Spring Number Eigh

CCP Corrente costeira do peru

CEP Corrente Profunda Equatorial

CPP Contracorrente profunda em direção ao Polo

CpSS Contracorrente primária sub-superficial do Sudeste

CSE Corrente Sul Equatorial

CsSS Corrente secundária sub-superficial do Sudeste

D50 mediana granulométrica

ENOS El Niño Oscilação do Sul

GDAS sistema de assimilação de dados globais

Gmd média geométrica granulométrica

Gsd desvio padrão geométrico

HYSPLIT Hybrid Single-Particle Lagrangian Integrated Trajectory model

MODIS Espectro radiômetro de imagens de media resolução

ODP Oscilação Decadal do Pacífico

OIP Oscilação Interdecadal do Pacífico

OMA Oscilação Multidecadal do Atlântico

PAM Período de Aquecimento Moderno

PIG Pequena Idade do Gelo

SASM Monção Sul-Americana

SRCH Sistema de Ressurgência da Corrente do Humboldt

TSM Temperatura Superficial do Mar

Page 17: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

VP Ventos Paracas

ZCIT Zona de Convergência Intertropical

ZMO Zona de mínimo Oxigênio

Page 18: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................................................. 5

ABSTRACT.......................................................................................................................................... 7

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................................... 9

LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................ 14

LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................................... 15

SUMÁRIO ........................................................................................................................................... 17

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 18

2. OBJETIVOS ........................................................................................................................... 22

2.1. OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 22

2.1.1. Objetivos específicos .................................................................................................................. 22

3. BASE TEORICA .................................................................................................................... 23

3.1. SISTEMA DE RESSURGÊNCIA DA CORRENTE DO HUMBOLT ........................... 23

3.2. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO ULTIMO MILÊNIO E ÚLTIMO SÉCULO NO

CONTINENTE SUL AMERICANO ........................................................................................ 27

3.3. PROCESSOS DE APORTES DE MATERIAL TERRÍGENO À PLATAFORMA

CONTINENTAL PERUANA .................................................................................................. 32

3.4. INDICADORES PALEOAMBIENTAIS A PARTIR DO TAMANHO DAS PARTÍCULAS

39

4. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E DO FUNDAMENTO METODOLÓGICO ... 44

4.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO ............................................ 44

4.1.1. Fácies sedimentares e processos de sedimentação sobre a plataforma continental Peruana ..... 48

4.1.2. Modelo de distribuição granulométrica ................................................................................... 49

4.1.3. Modelo de Emissão Hysplit ..................................................................................................... 51

4.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 51

5. SIMULAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO E EVOLUÇÃO DOS “VENTOS PARACAS”

USANDO HYBRID SINGLE-PARTICLE LAGRANGIAN INTEGRATED TRAJECTORY

MODEL-HYSPLIT ............................................................................................................................. 53

5.1. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 53

5.1.1. Área de Estudo ........................................................................................................................ 53

5.1.2. Delimitação de fontes pontuais de emissão ............................................................................. 53

5.1.3. Modelo de trajetórias de emissão de Hysplit ........................................................................... 54

5.1.4. Medidas granulométricas de base para o modelo ....................................................................... 56

5.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 57

Page 19: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

5.2.1. Fontes potenciais de emissão de poeira ...................................................................................... 57

5.2.2. Padrão de emissões e dispersão de partículas durante os ventos Paracas (VP) .......................... 59

5.2.3. Características meteorológicas das emissões ............................................................................. 62

5.3. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 64

6. ENTRADA DE MATERIAL TERRÍGENO NA PLATAFORMA CENTRAL PERUANA

(PISCO 14°S) DURANTE OS ÚLTIMOS 1.100 ANOS: IMPLICAÇÕES

PALEOCLIMÁTICAS ....................................................................................................................... 65

6.1. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 65

6.1.1. Processos de sedimentação e características sedimentológicas sobre a plataforma

continental peruana .............................................................................................................. 65

6.1.2. Acoplamento testemunhos ....................................................................................................... 67

6.1.3. Análise de distribuição granulométrica.................................................................................... 72

6.1.4. Determinação dos componentes sedimentares e modelo de ajuste por deconvolução ............. 74

6.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 75

6.2.1. Bases para a interpretação ....................................................................................................... 75

6.2.2. Variabilidade da entrada de material fluvial e eólico durante os últimos ~1100 anos .............. 79

6.2.3. Interpretações Paleoclimáticas ................................................................................................. 84

6.3. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 90

7. MUDANÇAS NA DEPOSIÇÃO EÓLICA NA PLATAFORMA CONTINENTAL

CENTRAL DO PERU DURANTE O ÚLTIMO SÉCULO E SUA RELAÇÃO COM AS

CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS ..................................................................................................... 92

7.1. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................... 92

7.1.1. Testemunho marinho e analises granulométricas ....................................................................... 92

7.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 96

7.3. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 106

8. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 108

9. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 110

10. APENDICE ........................................................................................................................... 122

Page 20: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

18

1 INTRODUÇÃO

A região de Pisco, é a zona de ventos superficiais mais intensos ao

longo da costa Peruana e, por isso possui um dos principais núcleos da

ressurgência costeira (GUTIÉRREZ et al., 2011; SUESS; KULM; KILLINGLEY,

1987; SYDEMAN et al., 2014). Isto ocorre devido aos ventos intensos que

correm ao longo da costa, ocasionando a ressurgência e incrementando a

produtividade. Os ventos regionais podem ser afetados na escala de tempo

interanual pela variabilidade do ENOS, assim como na escala decadal, pela

ODP. Diferentes fontes e mecanismos controlam a entrada de material

terrígeno na plataforma continental Peruana. Saukel et al. (2011) encontraram

o vento como principal agente transportador de poeira para além do fosso de

Peru-Chile, entre 5° e 25°S. Flores-Aqueveque et al. (2012) mostraram que na

região árida do Norte de Chile partículas tão grosseiras, em torno de ~100µm,

podem ser transportadas pela ação dos ventos e, que este fenômeno está

relacionado a variabilidade na força do vento interanual.

A região de Pisco é caracterizada pela ocorrência de tempestades de

areia chamadas de “Vientos Paracas” (VP’s), que transporta poeira à

plataforma continental como resposta à intensificação dos ventos que

promovem erosão estacional e eventos de transporte de partículas liticas no

deserto de Ica (~15°S). Segundo Gay (2005) este processo reflete as

condições de estabilidade atmosférica e conexões com a temperatura da

superfície do mar costeiro. Este fenômeno pode afetar também a dinâmica

ecológica, assim como, a rotina e a saúde da população local, já que a poeira

pode afetar a qualidade do ar (IRI - INTERNATIONAL RESEARCH INSTITUTE

FOR CLIMATE AND SOCIETY, 2011).

A revisão bibliográfica mostra que existe pouca a quase nula informação

sobre o padrão sinótico deste fenômeno, a saber: dispersão, magnitude e

trajetória das plumas do material mineral. O algoritmo específico para emissões

de poeira do modelo de Hysplit empregado neste trabalho, apoiada pela

avaliação das imagens de satélite diárias, se apresenta como uma alternativa e

complemento aos trabalhos de campo (WANG et al., 2011). Os resultados

Page 21: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

19

destes modelos possibilitam uma revisão acerca da ocorrência deste

fenômeno, sua magnitude e localidades impactadas.

Em contraste, a descarga de sedimentos fluviais é importante no Norte

de Peru, região de rios de maior porte, mas que tem sua vazão reduzida em

direção ao sul, onde as condições áridas são dominantes (GARREAUD;

FALVEY, 2009; SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982). Este material é

redistribuído em direção ao sul pelas correntes costeiras ao longo da

plataforma continental (MONTES et al., 2010). Além disso, na área de estudo

existem somente pequenos rios, como o rio Pisco que pode aumentar seu fluxo

durante eventos do tipo El Niño (BEKADDOUR et al., 2014). Adicionalmente,

tem sido observado que os eventos do tipo El Niño que coincidem com uma

ODP positiva existe um incremento na precipitação, tendo como consequência

uma elevação de descarga de material fluvial, principalmente dos principais rios

(e.g., Rio Santa ao norte do Peru). Porem, durante eventos tipo La Niña

coincidente com uma ODP negativa há uma tendência de ocorrer o oposto

(BÖNING; BRUMSACK, 2004; LAVADO CASIMIRO et al., 2012; ORTLIEB,

2000; REIN, 2005, 2007; SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982; SEARS, 1954).

Assim, a plataforma continental de Pisco possui o conjunto de

características ideais para se estudar a circulação atmosférica local e regional

a partir do material litológico transportado para o oceano durante os eventos

VP’s e/ou aportes fluviais. A forte Zona Mínima de Oxigêno (ZMO), a qual

resulta em águas anóxicas e sedimentos sem bioturbação (BRODIE; KEMP,

1994; GUTIERREZ et al., 2006; SALVATTECI et al., 2014b), junto com a

reduzida velocidade das contracorrentes profundas e sua pouca, ou nula,

influência sobre a plataforma continental superior (REINHARDT et al., 2002;

SUESS; KULM; KILLINGLEY, 1987) fazem que esta área seja ideal para

reconstruções paleoambientais em alta resolução (BÖNING; BRUMSACK,

2004; GUTIÉRREZ et al., 2009, 2011; SIFEDDINE et al., 2008).

A distribuição granulométrica do material litogênico de origem terrígena

nos sedimentos marinhos pode ser usada para inferir a força relativa do vento e

as condições de aridez, supondo que a circulação atmosférica mais vigorosa

irá transportar partículas mais grosseiras a curta distância e que a relativa

Page 22: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

20

abundância de partículas de origem fluvial pode refletir mudanças no padrão de

precipitação (e.g., HESSE; MCTAINSH, 1999; PARKIN; SHACKLETON, 1973;

PICHEVIN et al., 2005; STUUT; LAMY, 2004). Em sedimentos marinhos a

distribuição granulometirca podem indicar diferentes fontes e/ou processos de

deposição, expressa em distribuições polimodais (PICHEVIN et al., 2005;

STUUT et al., 2002; SUN et al., 2002; WELTJE; PRINS, 2003, 2007). Este tipo

de distribuição torna a classificação da composição granulométrica um passo

essencial para identificação dos diferentes processos sedimentares e

condições ambientais do passado (ALFARO et al., 2011; BLOEMSMA et al.,

2012; FLORES-AQUEVEQUE et al., 2012, 2015; PICHEVIN et al., 2005;

RATMEYER; FISCHER; WEFER, 1999; SAUKEL et al., 2011; STUUT; PRINS;

WELTJE, 2005; SUN et al., 2002).

A reconstrução paleoclimática pode ser feita no pressuposto de que as

mudanças na distribuição granulométrica e suas fontes ocorrem em função das

mudanças climáticas e na circulação atmosférica (BRICEÑO ZULUAGA et al.,

2015; FLORES-AQUEVEQUE et al., 2014a; HOLZ et al., 2007; PRINS;

WELTJE, 2012; STUUT; PRINS; WELTJE, 2005; WELTJE; PRINS, 2003).

Assim, a distribuição granulometrica tem sido diversas vezes utilizada como

indicador da variabilidade de fontes e do transporte vinculado aos aportes

fluviais e a intensificação do vento (por aportes eólicos) (AN et al., 2012;

BRICEÑO ZULUAGA et al., 2015; HOLZ et al., 2007; HUANG et al., 2011; LIU

et al., 2014; PICHEVIN; GANESHRAM; GEIBERT, 2014). Desta maneira, os

aportes terrigenous permitem compreender a dinâmica das condições

atmosféricas e a relação destes com a intensificação ou enfraquecimento da

ressurgência (como com paleoventos), assim como a dinâmica dos modos

climáticos desde interanuais até multidecadais (BAKUN, 1990; BRICEÑO

ZULUAGA et al., 2015; FLORES-AQUEVEQUE et al., 2014a; GAY, 2005;

GUTIÉRREZ et al., 2011; SYDEMAN et al., 2014; VARGAS et al., 2007).

Considera-se que, no passado, as variações de longo tempo na

intensidade da ressurgência foram primariamente induzidas pelo

enfraquecimento e fortalecimento da força dos ventos. Isto se deve à

intensidade do vento que impulsiona a ressurgência costeira, além de ser

considerado um forçante na circulação superficial oceânica e, talvez, o

Page 23: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

21

responsável pela variabilidade da produtividade. Muitos estudos têm descrito a

climatologia, hidrologia e mudanças oceanográficas durante os últimos 2.000

anos na região leste do Pacífico (GUTIÉRREZ et al., 2009, 2011; MANN et al.,

2009; SALVATTECI et al., 2014b). Tais mudanças climáticas têm afetado o

sistema de circulação da corrente do Humboldt e o padrão de precipitação no

Pacífico sudeste em geral, especialmente na região de Pisco. Salvatteci et al.

(2014b) mostraram que durante a Anomalia Climática Medieval (ACM), o

sistema de ressurgência do Peru exibe dois padrões distintos caracterizados

por períodos de fraca/intensa produtividade marinha e oxigenação sub-

superficial, respectivamente, como resposta a variações na circulação de

Walker. Já durante a Pequena Idade do Gelo (PIG), um incremento no material

detrítico foi dirigido pelo deslocamento da Zona de Convergência Intertropical

(ITCZ) (GUTIÉRREZ et al., 2009; SALVATTECI et al., 2014b; SIFEDDINE et

al., 2008).

Além disso, os estudos tem demostrado que durante o Período de

Aquecimento Moderno (PAM), a ressurgência do Peru mostrou: 1) uma forte

Zona Mínima de Oxigêno (ZMO) e um incremento na produtividade marinha; 2)

uma redução da temperatura superficial do mar (~0.3-0.4°C década) e um

incremento na entrada de material continental (GUTIÉRREZ et al., 2011). Tais

mudanças vêm acontecendo durante o último milênio na região do Pacífico Sul

Oriental e parecem estar associadas aos fenômenos climáticos regionais e

locais, que, por sua vez, provocam um impacto significativo na precipitação

regional e na intensidade dos ventos. No entanto, pouco se sabe sobre como

os processos regionais e locais impactaram a variabilidade climática e os

processos de sedimentação (ou seja, Eólico / Fluvial) na região de Pisco.

Este estudo tem por objetivo reconstruir a variabilidade no fornecimento

de material terrigenos à plataforma continental central Peruana visando

determinar como as condições de descarga fluvial regional e o campo de

ventos local/regional afetaram os processos de sedimentação (na região de

Pisco) e desvendar os mecanismos climáticos envolvidos durante os últimos

~1.100 anos.

Page 24: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

22

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Reconstruir os padrões de variabilidade, tendências e os mecanismos

responsáveis pelo transporte e sedimentação das partículas de origem

terrígena na plataforma continental central do Peru durante os últimos 1100

anos.

2.1.1. Objetivos específicos

Caracterizar as fontes e padrões de deposição e emissão de partículas

eólicas durante os Ventos Paracas.

Usar a natureza e distribuição granulométrica do material litológico

transportado do continente para os sedimentos na plataforma continental

para obter uma melhor compreensão de suas fontes, transporte e

deposição.

Determinar as variações na frequência e intensidade dos ventos e sua

influência, na intensificação e no comportamento da ressurgência central

do Peru durante o último século.

Reconstruir as variações dos Paleoventos e transporte fluvial ao longo do

último milênio no SRCH

Page 25: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

23

3. BASE TEORICA

3.1. SISTEMA DE RESSURGÊNCIA DA CORRENTE DO HUMBOLT

O Sistema de Ressurgência da Corrente do Humboldt (SRCH) faz parte

do ecossistema de ressurgência de borde Leste do Pacifíco Sul. Estes

ecossistemas são importantes devido a suas altas produtividades,

representando 11% da produção global e, porque sustentam uma importante

rede trófica (MESSIÉ et al., 2009; PAULY et al., 1989). O SRCH destaca-se por

ser o mais importante dentre todos os grandes sistemas de ressurgência do

mundo (Benguela, Califórnia), por causa do grande interesse econômico uma

vez que sustenta toda uma indústria pesqueira na região (CHAVEZ et al., 2003,

2008; PAULY et al., 1989). Além disso, a SRCH apresenta uma Zona de

Mínimo Oxigênio (ZMO), com concentrações de < 5µM O2 em seu núcleo em

águas entre ~50 e 650 m (BÖNING; BRUMSACK, 2004; REINHARDT et al.,

2002) no talude superior, resultado de interação entre alta produtividade e

baixa ventilação. Embora o SRCH esteja presente ao longo do ano, este é mais

produtivo durante a primavera e o verão, quando as águas estão mais

estratificadas e menos produtivo durante o inverno, quando os ventos são mais

intensos (GUTIÉRREZ et al., 2011) (Figura 1).

Figura 1 - Clorofila A (Chl-a) baseado em dados de Sea-WiFS (1997–2006), velocidade dos ventos ao longo (ECMWF–ERA40) da zona costeira de Pisco e, a temperatura superficial do mar (SST) na mesma área. Fonte: Extraído de GUTIERREZ et al., 2011.

Page 26: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

24

A circulação e intensificação da SRCH tem um comportamento sazonal

que está associado à posição meridional da Alta Subtropical do Pacífico Sul

(ASPS), a qual está diretamente ligada à posição da Zona de Convergência

Intertropical (ZCIT), determinante na variabilidade da intensidade dos ventos

favoráveis à ressurgência. Além disso, também tem sido demonstrado que a

variabilidade no fortalecimento e enfraquecimento do SRCH também tem direta

relação com a circulação de Walker (BRICEÑO ZULUAGA et al., 2015;

GARREAUD; FALVEY, 2009; SALVATTECI et al., 2014b). A ASPS é

conhecida como a circulação de ventos em grande escala no sentido anti-

horário ao redor de uma região de alta pressão no sudeste do Pacífico. A

ASPS tem como limite a ZCIT, ao norte e a frente Polar, ao sul. Esta grande

massa de ar frio e seco produz uma circulação em forma de redemoinho e é

responsável pela formação do SRCH, já que regula os ventos meridionais à

costa. A localização do redemoinho tem variação sazonal, localizando-se mais

ao sul no verão austral e mais ao norte durante o inverno, determinando, assim

a sazonalidade da ressurgência. Nesse sentido, o sudoeste do Peru (entre 10 e

20°S e 75 – 85°W) representa a área onde os ventos são os mais fortes e

favoráveis à ressurgência dirigidos pela ASPS (Figura 2).

Page 27: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

25

Figura 2 - Média mensal, no verão (Dezembro – Fevereiro) encima e Inverno (Julho-Setembro) embaixo, da velocidade e direção dos ventos superficiais (resolução 1°x1°) em América do Sul de 1948 até 2015 (dados de reanalises de NCEP/NCAR da NOAA/ESRL).

Tem sido observado que a variabilidade da circulação da ASPS e do

SRCH possuem uma estreita relação com os principais modos de variabilidade

Page 28: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

26

de escala multidecal, como a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP) (FLORES-

AQUEVEQUE et al., 2015) e a Oscilação Interdecadal do Pacífico (OIP)

(MANTUA et al., 1997; SALINGER, 2001), à escala interanual, como o El Niño

Oscilação do Sul (ENOS) (ORTLIEB, 2000; REIN; LÜCKGE; SIROCKO, 2004;

VARGAS; RUTLLANT; ORTLIEB, 2006; VARGAS et al., 2007). O ENOS

produz anomalias de temperatura e pressão com periodos entre 2-7 anos que

conseguem modificar o padrão de circulação global. Da mesma forma o

comportamento da ASPS pode ser modificado e, assim, o padrão de

produtividade do SRCH. Deste modo, o ENOS oscila entre períodos de fraca

circulação da célula de Walker, águas costeiras quentes no Pacífico Leste,

pouca produtividade na ressurgência ou eventos tipo El Niño. Assim como,

períodos de águas mais frias no Pacífico central pela maior extensão da pluma

da ressurgência e condições de ventos mais intensos, portanto maior

produtividade e um incremento na circulação de Walker ou eventos tipo La

Niña. Os efeitos associados como resposta a esses eventos oscilam entre

variações na rede trófica (BAKUN; WEEKS, 2008; CARDICH et al., 2011;

JAHNCKE; CHECKLEY; HUNT, 2004; SALVATTECI et al., 2012), na dinâmica

física e biológica da ressurgência (CHAVEZ et al., 2003; GUTIERREZ et al.,

2006; NIXON; THOMAS, 2001), fortes secas e intensas precipitações em

diversas partes do continente Sul-Americano (COBB et al., 2003; COLAS et al.,

2008; GROVE, 1998; KEEFER; MOSELEY; DEFRANCE, 2003; LAVADO-

CASIMIRO; ESPINOZA, 2014; MONTES et al., 2011; ORTLIEB, 2000), assim

como diversas teleconexões no mundo, impactando diretamente na economia

de diversos países.

Diferentes estudos foram conduzidos para estudar a variabilidade, a

intensidade da ressurgência e sua relação com tendências dos modos

climáticos, especialmente aqueles relacionados com condições de tipo ENOS

ao longo do tempo (BÖNING; BRUMSACK, 2004; GUTIÉRREZ et al., 2009;

SIFEDDINE et al., 2008). No entanto, estes estudos não têm focado

diretamente nos mecanismos de circulação atmosférica responsável pela

variabilidade deste fenômeno. A estrutura da circulação regional do SRCH têm

sofrido mudanças na produtividade, temperatura e coluna d’água, às quais têm

sido registradas em testemunhos (GUTIÉRREZ et al., 2009). Mudanças na

Page 29: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

27

circulação atmosférica, principalmente na intensidade de precipitação e na

intensidade dos ventos, afetam diretamente o padrão de sedimentação

biogênica e litogênica na plataforma continental do Peru.

Na região de Pisco (Perú) os estudos identificaram que os sedimentos

tem um componente de material terrígeno (BRODIE; KEMP, 1994; SIFEDDINE

et al., 2008). A informação da circulação atmosférica e climática pode ser

registrada neste material terrígeno, devido à estreita relação que existe entre

sua disponibilidade, transporte e condições climáticas (FIKRY; KHAKAF; AL-

SALEH, 1985; MIDDLETON; GOUDIE, 2001; PROSPERO; BONATTI, 1969;

SCHMIDT; HINRICHS; ELVERT, 2010).

Nos últimos 1000 anos, mudanças na circulação atmosférica

acompanham os principais eventos climáticos como a Anomalia Climática

Medieval (ACM) entre 900 e 1300AD e a Pequena Idade do Gelo (PIG) entre

1400 e 1850AD (EHLERT et al., 2015; GUTIÉRREZ et al., 2011; SALVATTECI

et al., 2014a, 2014b; SIFEDDINE et al., 2008). Tais mudanças têm sido

relacionadas com variações na posição da ZCIT (GUTIÉRREZ et al., 2009;

HAUG et al., 2001) e na circulação da célula de Walker (condições do tipo El

Niño ou La Niña). Finalmente, durante o último século período denominado

como Periodo de Aquecimento Moderno (PAM), segundo Bakun, (1990) a

elevação da temperatura global poderia incrementar a intensidade do vento

pelo efeito do gradiente de temperatura entre o continente e o oceano.

3.2. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO ULTIMO MILÊNIO E ÚLTIMO

SÉCULO NO CONTINENTE SUL AMERICANO

Os estudos sobre as condições atmosféricas do último milênio tornam-se

importantes porque este período de tempo serve como época análoga da

resposta do sistema climático às mudanças globais. Principalmente destaca-se

por ter sido o último período conhecido que incluiu um subperíodo de

aquecimento devido à forçantes naturais o ACM. O último milênio foi marcado

por variabilidades em termo de forçantes externas (erupções vulcânicas,

Page 30: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

28

atividade solar, gases de efeito estufa, etc.). As relações entre a variabilidade

natural, as forçantes climáticas externas (como o vulcanismo e a variabilidade

solar) e suas retroalimentações revelam a complexidade da dinâmica do

sistema climático, cujo entendimento é crucial para a avaliação das mudanças

climáticas e predição do clima.

A ACM caracterizou-se por um incremento na temperatura média no

Hemisfério Norte (TROUET et al., 2009) e por mudanças no padrão de

circulação atmosférica e climática, assim como na circulação do inverno sobre

o Atlântico norte e a Eurásia (MANN et al., 2009). Este período é importante

porque tem servido como análogo às condições e tendências do atual

aquecimento global. O estudo deste período permite, então, diminuir as

incertezas sobre a os efeitos do aquecimento global pela influencia antropica e

avaliar as possíveis consequências nos níveis local e regional. Os registros da

reconstituição da temperatura superficial do mar indicam um aquecimento,

além da diminuição de gelo na Groenlândia (AHMED et al., 2013; MANN et al.,

2009). Os registros paleoclimáticos, por sua vez, mostram para esta ápoca

houve um período seco na África tropical oeste (ESPER et al., 2007). Durante

este período, as evidências geológicas apontam para a expansão e avanço de

dunas dentro das grandes planícies da América do Norte, ambas relacionadas

com a mobilização e incremento de poeira. Nestas áreas, as fontes de poeira

se amplificaram em relação ao aumento e persistência da magnitude das

épocas secas (PETER; STUUT, 2014). Estas condições são consistentes com

os registros de Trouet et al. (2013), os quais apresentam uma condição muito

árida na parte oeste da América do Norte. Adicionalmente, importantes eventos

sociais ocorreram durante esta época, como a colonização de ilhas ao norte da

península escandinava e leste de América do Norte, da Islândia, Groelândia e

de Newfounland (Terranova) pelos Vikings (MORENO et al., 2011).

A América do Sul também passou por mudanças durante este período,

conforme indicam os registros paleoclimáticos, tanto do continente

(APAÉSTEGUI et al., 2014b; BIRD et al., 2011; VUILLE et al., 2012), como do

oceano (SALVATTECI et al., 2014b; SIFEDDINE et al., 2008; SOUTO et al.,

2011). A ACM, nesta região, foi caracterizada por anomalias positivas no

Atlântico Norte-Equatorial e negativas no Atlântico Sul-Equatorial (HAUG et al.,

Page 31: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

29

2001; POLISSAR et al., 2006). Os registros paleoambientais regionais, durante

este período, mostram algumas incongruências relacionadas à ACM e a

ocorrência de condições tipo El Niño persistentes durante a primeira parte

deste período. Sendo assim, nesta primeira parte do ACM, a costa Peruana e

o setor oriental dos Andes (REIN; LÜCKGE; SIROCKO, 2004), junto com uma

fraca Monção Sul-Americana (SASM), apresentam condições úmidas (LEDRU

et al., 2012). A segunda parte do ACM apresenta características similares

àquelas relacionadas a ausência de precipitação na costa Peruana,

consequência de um enfraquecimento da SASM, (APAÉSTEGUI et al., 2014a)

e, em geral, da redução da precipitação no setor oeste da Amazônia. (BIRD et

al., 2011; REUTER et al., 2009).

Na região sul dos Andes este período também tem sido identificado

como fase seca do ACM (APAÉSTEGUI et al., 2014b; BIRD et al., 2011). Ao

mesmo tempo, verifica-se no Pacífico uma mudança no padrão de circulação

oceânica, aumentando, assim, a produtividade da ressurgência, diminuindo da

temperatura do mar e modificando as condições de oxigenação, apresentando

inclusive condições anóxicas (SALVATTECI et al., 2014b). Apresenta-se

também anomalias negativas de precipitação relacionadas com os padrões

interanual e interdecadal, prevalecendo condições tipo La Niña (REIN;

LÜCKGE; SIROCKO, 2004), mostrando que este foi um período dominado por

condições secas no sul do Equador.

A ACM foi imediatamente seguida por um período de baixa temperatura

no Hemisfério Norte, conhecida como Pequena Idade do Gelo (PIG). A PIG é

caracterizada, basicamente, por um esfriamento do Hemisfério Norte. Porém,

existem registros de áreas onde houve um incremento de temperatura (MANN

et al., 2009). A PIG é associada a um evento que é impulsionado pela

diminuição da radiação solar e pelo incremento da atividade vulcânica,

resultando na expansão das calotas glaciais, assim como de condições secas

(BIRD et al., 2011; MANN, 2002). A maioria dos registros existentes na

América do Sul apresenta consistência quanto ao início do efeito da PIG sobre

o continente e o oceano, marcando seu início por volta de AD1400. Os dados

também apresentam consonância em mostrar que esta foi uma época

preferencialmente úmida, favorecida pelo fortalecimento do SAMS na bacia

Page 32: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

30

Amazônica (APAÉSTEGUI et al., 2014a) e pela pouca variabilidade do tipo El

Niño oscilação do Sul (ENOS) em uma tendência preferencialmente tipo El

Niño (OPPO; ROSENTHAL; LINSLEY, 2009). Estas condições foram ambas

impulsionadas por uma ZCIT deslocada mais ao sul do continente (REUTER et

al., 2009; SACHS et al., 2009). Ao mesmo tempo, a bacia do Pacífico

apresentou um aumento no input de material detrítico, produto do incremento

das condições úmidas, o que sugere um período igualmente úmido (BENDIX et

al., 2002; REIN; LÜCKGE; SIROCKO, 2004; SIFEDDINE et al., 2008). Esta

ideia é fortalecida pelos registros de concentração de titânio (Ti) da bacia

Cariaco (Venezuela), que revelam uma época seca modulada por este mesmo

mecanismo (i.e., deslocamento ao sul da ITCZ) (HAUG et al., 2001;

PETERSON; HAUG, 2006).

No que se refere à circulação do SRCH, os diferentes autores sugerem

um persistente enfraquecimento da circulação de Walker (condições tipo El

Niño), e consequente enfraquecimento da circulação da ASPS (BRICEÑO

ZULUAGA et al., 2015; SALVATTECI et al., 2014b) durante o PIG. Isto resulta

em uma termoclina aprofundada ou relaxada. Estas condições resultaram em

uma temperatura d’água acima da média, baixa salinidade, águas oxigenadas

mais estratificadas e baixa produtividade (acompanhada de alterações na

cadeia trófica) (GUTIÉRREZ et al., 2009; NEWTON; THUNELL; STOTT, 2006;

SALVATTECI et al., 2014b). Não existe um consenso, entre os registros, para o

fim da PIG na América do Sul. Alguns registros continentais o colocam o fim da

PIG em 1800 A.D. (LEDRU et al., 2012) enquanto outros, como que registros

oceânicos e espeleotemas, em 1850 A.D. (APAÉSTEGUI et al., 2014a;

GUTIÉRREZ et al., 2009; SIFEDDINE et al., 2008). Com o inicio da PIG os

registros coincidem no começo de um período mais seco na maioria da

América do Sul e na Amazônia, produto de um enfraquecimento da SAMS

(APAÉSTEGUI et al., 2014a) e de um deslocamento da ZCIT para o norte

(HAUG et al., 2001).

Alguns registros, contudo, mostram para esta época um aumento da

precipitação em zonas elevadas dos Andes (LEDRU et al., 2012). Os últimos

~150 anos da PIG se caracterizam por apresentar maior variabilidade e

frequência de episódios extremos relacionados com os eventos tipo ENSO

Page 33: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

31

(GERGIS; FOWLER, 2009; LAVADO-CASIMIRO; ESPINOZA, 2014; ORTLIEB,

2000; SADEKOV et al., 2013; VARGAS et al., 2007). Este período também

apresenta uma persistente variabilidade decadal, que segue a Oscilação

Decadal Pacifico (ODP) no comportamento em baixa frequência da

ressurgência do Peru e Chile (FLORES-AQUEVEQUE et al., 2014a; VARGAS

et al., 2007). Uma das principais ou a mais notória feição da ODP é a mudança

de dominância na relação Anchova/Sardinha entre as fases fria e quente do

Pacífico equatorial (CHAVEZ et al., 2003). Por outro lado, na escala interanual,

o modo de variabilidade mais importante é do tipo ENOS, mecanismo de

controle climático mais representativo caracterizado por apresentar uma

componente oceânica e outra atmosférica. No Peru e no sudeste Brasileiro, por

exemplo, o El Niño caracteriza-se por anomalias positivas de precipitação, já a

La Niña, por anomalias negativas. Estes eventos podem variar sua intensidade

dependendo do gradiente de temperatura com o oceano Atlântico (ENGLAND

et al., 2014; MCGREGOR et al., 2014).

Gutiérrez et al., (2011a) mostram que no último século houve uma forte

tendência de intensificação da SRCH e uma consequente diminuição da

temperatura durante os últimos ~40 anos, o que sugere uma intensificação dos

ventos favoráveis à ressurgência como principal responsável. Flores-

Aqueveque et al. (2014a) mostraram que na costa chilena existe um

incremento na velocidade média do vento a partir da segunda metade do

século XX. Tal fato possui estreita relação com o aumento da diferença do

gradiente térmico produzido pela diminuição das nuvens, suportando o

proposto por Vargas et al., (2007a). Ao mesmo tempo, no sistema de

ressurgência da costa leste do Brasil (ressurgência de Cabo Frio) é descrita

uma intensificação e coerente redução de temperatura da superfície do mar

(CORDEIRO et al., 2014). Para estas duas localidades, a hipótese de um

fortalecimento dos ventos favoráveis à ressurgência como consequência da

influência antrópica é consistente com a tendência para o aquecimento global.

Bakun (1990) mostrou que existe uma intensificação dos ventos

favoráveis à ressurgência desde meados do século XX, como resposta à

retroalimentação terra/mar, induzida pelo incremento do CO2 como forçante

radiativa. Porém, novas evidências levantaram inconsistências na tendência

Page 34: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

32

das principais zonas de ressurgência em relação a esse padrão (SYDEMAN et

al., 2014). Todos estes trabalhos mostraram mudanças no SRCH relacionadas

à alterações na produtividade e temperatura, mas nenhum evidenciou

diretamente os mecanismos por detrás disso. Neste trabalho, são

apresentadas evidências diretas dos mecanismos associados as mudanças da

SRCH.

3.3. PROCESSOS DE APORTES DE MATERIAL TERRÍGENO À

PLATAFORMA CONTINENTAL PERUANA

A precipitação no continente Sulamericano é sazonalmente modulada

pelo deslocamento latitudinal da ZCIT, ao norte durante o inverno e, ao sul

durante o verão austral, contralando, assim, a época de chuva no continente

(Figura 3) (BIRD et al., 2011; GARREAUD; FALVEY, 2009; LAVADO

CASIMIRO et al., 2012; LAVADO-CASIMIRO; ESPINOZA, 2014). Na escala de

tempo interanual, a precipitação é modulada principalmente pelo

enfraquecimento da célula de Walker ou condições tipo El Niño (ORTLIEB,

2000). Por outro lado, em escalas de tempo centenárias, a variabilidade na

precipitação é controlada pela combinação da variabilidade da posição média

meridional da ZCIT, modulada pelas condições de fortalecimento ou

enfraquecimento centenal na célula de Walker (APAÉSTEGUI et al., 2014a;

BIRD et al., 2011; GUTIÉRREZ et al., 2009; KONECKY et al., 2013; RODYSILL

et al., 2011; SAIKKU; STOTT; THUNELL, 2009; SALVATTECI et al., 2014b;

SIFEDDINE et al., 2008). Essas condições aumentam a precipitação e o fluxo

de material detrítico na bacia do Pacífico Leste (BENDIX et al., 2002; KAYANO,

2009; LAVADO CASIMIRO et al., 2012; LAVADO-CASIMIRO; ESPINOZA,

2014).

O material fluvial acumulado nos sedimentos na plataforma central do

Peru tem origem na cadeia de rios situada ao longo da costa Peruana (Figura

4) (SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982). Esses rios apresentam maior vazão no

norte do Peru levando até 10gr/L de material em suspensão durante altas

vazões e diminuindo em direção ao sul, onde as condições são áridas

(BEKADDOUR et al., 2014; LAVADO-CASIMIRO; ESPINOZA, 2014; MORERA

et al., 2011; SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982).

Page 35: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

33

Figura 3 - Média mensal de precipitação (mm/dd) comparativa entre um mês pico de verão (Fevereiro-encima) e um mês pico de inverno (Agosto-abaixo) entre 1998 e 2010. Ressalta-se a variabilidade meridional e espacial da precipitação em função da posição da ZCIT. Dados obtidos do 3B43 TRMM (resolução de 0.25°x 0.25°). As imagens cobrem o globo de 50°N a 50°S.

O aumento do fluxo deste material detrítico tem assim uma estreita

relação com a precipitação no continente (LAVADO CASIMIRO et al., 2012;

LAVADO-CASIMIRO; ESPINOZA, 2014). Este material é posteriormante

transportado pelas correntes oceânicas costeiras em direção ao sul,

espalhando-se então pela plataforma continental peruana (REIN, 2007;

REINHARDT et al., 2002; SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982; SUESS; KULM;

KILLINGLEY, 1987). Portanto, é de se esperar um incremento no fluxo desse

material durante o aumento da precipitação, fato este que potencializa o uso do

mesmo como indicador da variabilidade das condições de tipo ENOS.

Page 36: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

34

Figura 4 - Rios ao longo da costa Peruana. Fonte: Extraido e modificado de SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982.

Nos depósitos sedimentares da plataforma continental de Pisco o

material eólico tem origem, principalmente, em um fenômeno local chamado de

“Vientos Paracas” (Ventos Paracas:VP) (ESCOBAR BACCARO, 1993; GAY,

2005; QUIJANO VARGAS, 2013). Este fenômeno tem como característica o

desenvolvimento de ventos fortes que conseguem iniciar tempestades de areia,

que atingem, principalmente, o município de Pisco, na região de Ica (Figura 5).

Estas tempestades de areia chegam a impossibilitar o uso do aeroporto local

pela redução da visibilidade e elevam o risco de doenças respiratórias na

população (IRI - INTERNATIONAL RESEARCH INSTITUTE FOR CLIMATE

AND SOCIETY, 2011). Segundo Escobar Baccaro (1993), o VP é um

fenômeno sazonal que apresenta maior frequência durante os invernos austrais

(70% dos eventos aconteceram entre Julho e Setembro), porém, podem

acontecer em qualquer época do ano especialmente em anos El Niño..

Embora estudos sistemáticos sobre o VP sejam escassos, o VP tem sido

descrito brevemente por alguns autores. Parker (1962) descreve o VP como o

movimento de areias eólicas na área entre Javier e Palpa, influenciado pelas

fortes correntes de ar e favorecida pela topografia local. Schweigger (1964) se

refere ao VP como produto da baixa pressão barométrica produzido pelo

Page 37: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

35

deserto entre Pisco e Lomas, o qual apresenta uma forte correlação com a

temperatura do ar. Quijano Vargas (2013) explica a origem do VP como

resultado de uma intensificação do vento frente à costa de Ica, produto de um

gradiente de pressão compreendido entre as latitudes 15°S – 20°S e a

longitude 75°W. Para este autor, este incremento na velocidade do vento é

devido à altitude da inversão térmica que modula o desenvolvimento vertical do

núcleo do jato, a 14 m/s localizado a 980 hPa. Da mesma maneira, Parker

(1992), também ressalta a influência da topografia como um fator chave no

desenvolvimento do VP.

Figura 5 - Evento de erosão com tempestade de areia (Ventos Paracas – VP) na Região de ICA, Peru. Imagem MODIS Aqua-Terra, composição cor verdadeira com a refletância de superfície (NASA). Na imagem pode-se observar a trajetória, cobertura da dispersão de partículas eólicas sobre o continente e o oceano.

A atividade eólica representa um conjunto de fenômenos de erosão,

transporte e sedimentação de partículas promovida pelo vento. Com relação ao

processo de transporte de partículas durante os eventos de erosão, a saltação

tem um papel muito importante. O processo de saltação também é responsável

Page 38: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

36

por engatilhar outras formas de transporte, incluindo a desagregação de

partículas e a emissão de aerossóis, que posteriormente serão transportados

em suspensão (KOK et al., 2012; MARTICORENA, 2014). Para nosso caso nos

eventos VP isto não é muito diferente. Para que a erosão eólica aconteça

(como nos eventos VP), certas condições são necessárias, são elas: (i) devem

prevalecer condições desérticas (solo erodível); (ii) baixa rugosidade do solo,

capaz de absorver uma fração da velocidade momentum do vento

(MARTICORENA; BERGAMETTI, 1995); (iii) a umidade tem que ser baixa, mas

não o suficiente para que a coesão entre as partículas não seja muito forte e

possa ser superada (REA, 1994). Finalmente, (iv) a velocidade de fricção do

vento (*U) tem que ser suficientemente alta para que supere o limite da

velocidade de fricção do vento (*Ut). A *Ut é basicamente a velocidade mínima

para que as partículas consigam começar a se movimentar (IVERSEN; WHITE,

1982).

O modo e a distância com que são transportadas as partículas vai

depender diretamente da relação entre a força do vento e o tamanho das

partículas em movimento. Partículas com diâmetro >1000µm se movimentam

principalmente rastejando. Partículas com diâmetro <1000µm até 70µm se

movimentam por episódios de saltação, podendo impactar o solo e liberar

outras partículas (que vão entrar em saltação e seguir a mesma trajetória)

levando a emissão de poeira (ou tempestades de areia) (ALFARO;

GAUDICHET; MAIL, 1997; GOMES et al., 1990; KOK et al., 2012). Partículas

de diâmetro ~70µm podem se manter em suspensão, pois sua velocidade de

queda é menor que a do vento vertical. Já as partículas com diâmetro <20 µm

conseguem se manter em suspensão por longos períodos de tempo (Figura 6).

Page 39: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

37

Figura 6 - Processo de emissão e transporte de partículas em relação com o seu tamanho.

Fonte: Extraido de KOK et al., (2012)

O total de partículas mobilizadas pelo vento de maneira horizontal

depende, principalmente, da relação entre a *Ut e o tamanho de partículas no

solo (IVERSEN; WHITE, 1982). Quando mobilizadas as partículas dependem,

para se manter no ar, da relação entre tamanho, densidade, forma e

intensidade do vento (MARTICORENA, 2014).

Pode-se pensar que as partículas que mais facilidade tem para se

movimentar são as mais finas, mas esta relação não é direta. As partículas

mais finas (<10µm) precisam de um *Ut muito forte para que sejam

arremessadas do solo e entrem no processo de saltação. O mesmo acontece

com as partículas de maior tamanho (>1000 µm) (IVERSEN; WHITE, 1982;

KOK et al., 2012; MARTICORENA; BERGAMETTI, 1995; MARTICORENA,

2014; SHAO; LU, 2000; SHAO, 2004, 2009; SHAO et al., 2011). As partículas

com diâmetro entre 30 e 110 µm precisam de uma menor *Ut e, portanto, uma

menor *U (~ 0,2m/s), para que sejam arremessadas do solo e entrem em

processo de transporte, esta característica já foi descrita por outros autores

(ver Figura 7).

Page 40: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

38

Figura 7 - Expressões semi-empíricas (linhas de cores) e medidas (símbolos) do umbral de velocidade de fricção requerida para iniciar a saltação na Terra em condições naturais. Medidas de umbral de fluido para areia e poeira (símbolos cheios Bagnold 1937, Chepil 1945, Zingg 1953, Iversen et al. 1976) e, medidas de umbral de fluido para outros materiais diferentes de areia e poeira (símbolos abertos Fletcher 1976, Iversen et al. 1976). Fonte: Extraído de KOK et al., 2012.

Assim, classes de tamanho de partículas (30-110µm) podem ser

definidas como o limiar ótimo de partículas que são facilmente erodidas. Este

fenômeno ocorre devido a força de coesão entre partículas e a gravidade e, por

isso, as partículas finas podem apresentar uma maior força de coesão

dificultando, desta forma, sua movimentação. Esta condição pode ainda ser

aprimorada quando a umidade do ambiente é maior e, mais ainda em

ambientes argilosos (KOK et al., 2012; SHAO, 2009; SHAO et al., 2011).

Quando a *U incrementa, durante eventos erosivos, a distribuição de tamanho

das partículas tendem a se parecer cada vez mais à distribuição de tamanho

do solo parental. Porém, existe um problema quando, no processo de saltação,

acontece a desagregação de partículas, ou seja, quando elas batem contra o

solo e liberam outras de tamanho diferente a do solo parental, nestes casos

pode haver uma modificação no *Ut (KOK et al., 2012; MARTICORENA, 2014).

Na região de Paracas já foram identificadas frações geomorfológicas

próprias que facilitam e permitem o fenômeno de erosão eólica por

tempestades de areia (HANEY; GROLIER, 1991). Para a região especifica da

Page 41: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

39

Península de Paracas, Quijano Vargas (2013) estimou o *Ut em 0,25 m/s,

momento no qual observou o início do movimento de partículas no solo. Porém,

a questão que persiste é se este *Ut pode ser aplicada para a toda a região de

Ica. As características das partículas que são produto da erosão eólica, como

aquelas relacionadas à quantidade e qualidade, não tiveram até o momento,

seu sinal identificado nos marcadores geoquímicos e minerais (SALVATTECI et

al., 2014b; SIFEDDINE et al., 2008), principalmente devido ao efeito de diluição

que o fluxo de material fluvial possui.

3.4. INDICADORES PALEOAMBIENTAIS A PARTIR DO TAMANHO DAS

PARTÍCULAS

A reconstrução das condições atmosféricas do passado é

significativamente mais difícil do que a reconstrução da circulação oceânica.

Um enfoque promissor é utilizar a granulometria do material sedimentar, uma

vez que ela permite rastrear as condições atmosféricas (precipitação e vento)

do passado de maneira mais precisa (AN et al., 2012; BRICEÑO ZULUAGA et

al., 2015; FLORES-AQUEVEQUE et al., 2014a; MULITZA et al., 2010; STUUT

et al., 2002). A composição granulométrica do material lítico nos depósitos

sedimentares pode ser produto de uma mistura de fontes e processos de

transporte pelo ar (material eólico) e pelos rios (material fluvial) até as

plataformas continentais (e.g., AN et al., 2012; FLORES-AQUEVEQUE et al.,

2015; STUUT; TEMMESFELD; DE DECKKER, 2014; STUUT et al., 2002;

WELTJE; PRINS, 2003, 2001). Em alguns casos, no entanto, podem existir

outros tipos de depósitos como contouritos, túrbidos e depósitos de origens

glaciais (PRINS et al., 2002; PRINS, 1999; REBESCO et al., 2014). Estes

processos fazem com que os sedimentos apresentem uma granulometria com

diferente distribuição de componentes mono/bi/poli – modal.

Assim, a distribuição granulométrica do material sedimentar pode ser

relacionada com variabilidade paleoambiental (e.g, FLORES-AQUEVEQUE et

al., 2014b; HOLZ et al., 2007; MCGEE et al., 2013; MULITZA et al., 2010;

PICHEVIN et al., 2005; STUUT et al., 2007; WAN et al., 2007 entre outros).

Nesse sentido, por exemplo, o incremento de material litológico (geralmente

fino) relacionado às descargas fluviais pode ser usado como indicador indireto

Page 42: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

40

do incremento da precipitação (AN et al., 2012; HOLZ et al., 2007; NIZOU;

HANEBUTH; VOGT, 2011; STUUT et al., 2007). Além disso, em áreas

próximas às fontes, como é no caso de Paracas, o efeito combinado do

incremento da velocidade dos ventos, produto das mudanças ambientais, e os

eventos de erosão eólica (tempestades de areia) oferecem uma oportunidade

promissora de uso da granulometria como indicador da velocidade do vento.

Mudanças temporais na precipitação sobre os continentes costumam ser

inferidas através das alterações dos conteúdos detríticos terrestres depositados

nos sedimentos, como por exemplo do alumínio (Al) e titânio (Ti) (HAUG et al.,

2001). Na plataforma continental na região de Pisco, o Ti pode ser usado como

indicador de escoamento fluvial (SALVATTECI et al., 2014b). No entanto, o

sinal eólico fica totalmente diluído perdendo informação sobre a variabilidade

da dinâmica atmosférica na região. Por outro lado, a alteração das razões dos

minerais formados pela decomposição hidrolítica de alumínio silicatos

primários, pode ser um bom indicador das fontes terrigenas. Como resultado

disso, informações sobre assembleias de minerais de argila podem ser usadas

para reconstruir as mudanças no clima terrestre. Por exemplo, supondo o

mesmo tipo de rocha, a montmorilonita será formada com as mais baixas taxas

de precipitação, a ilita e a vermiculita em taxas intermediárias e, a caulinita /

halosita nas mais altas intensidades de escoamento (SINGER, 1980). No

entanto, o uso das assembleias de minerais apresenta problema de diluição de

sinal eólico, o que dificulta o seu uso. Recentemente tem sido utilizadas as

variações de isótopos radiogénicos (εNd detrítico e 87Sr / 86Sr detrítico) como

indicador da variabilidade da entrada deste material (EHLERT et al., 2015; WEI

et al., 2000). Porém, nestes casos, existem problemas relacionados à

interpretação dos aportes específicos de material eólico, no sentido que é

possível identificar o sinal eólico, mas não as proporções dos aportes (MEYER;

DAVIES; STUUT, 2011).

O uso da granulometria do material terrígeno como indicador do

mecanismo de transporte e entrada de material fluvial e eólico oferce

excelentes resultados uma vez que o tamanho dos minerais sofre menos

intemperismo. Além disso, as partículas minerais podem ser transportadas por

Page 43: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

41

grandes distâncias e, ao mesmo tempo são mais especificas em relação aos

fenômenos físicos e geológicos que as originam (STUUT; TEMMESFELD; DE

DECKKER, 2014; STUUT et al., 2002, 2007). Segundo Koopmann (1981) as

descargas “ou aportes” de material fluvial são sempre carregadas em excesso

de frações de material muito fino, geralmente silte fino e, este pode ser

redistribuído pelas correntes. McCave, Manighetti E Robinson (1995)

mostraram que partículas de 10µm, na costa, podem proporcionar uma

ferramenta sensível para avaliar as mudanças na intensidade do transporte de

partículas fluviais por paleocorrentes, quando não existe erosão.

Stuut et al. (2007) mostraram que existe relação entre o tamanho das

partículas encontradas no sedimento superficial na costa chilena com o tipo de

origem que elas podem ter. Assim, partículas de diâmetro com modas de ~8µm

são encontradas no sul da plataforma continental da costa chilena (>37°S),

onde a entrada de material terrígeno é dominada por material de origem fluvial.

Por outro lado, ao norte (até os 29°S), a costa Chilena é caracterizada pela

dominância de sedimentação de material grosseiro (~100µm). A sedimentação

deste material resulta de condições mais áridas e ventos intensos nesta zona,

o que favorece o transporte e sedimentação de material eólico nos sedimentos

marinhos (Figura 8).

Page 44: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

42

Figura 8 - Relação entre a distribuição granulométrica e a latitude ao longo da costa chilena. Fonte: Extraído e modificado de STUUT et al., 2007.

As partículas de origem eólica nos sedimentos pelágicos fornecem

registros de longo prazo do transporte de poeira em relação à intensidade do

vento devido à relação entre o transporte deste material e as condições

atmosféricas, podendo ser interpretado em relação às mudanças do passado

climático (FLORES-AQUEVEQUE et al., 2015; PROSPERO; BONATTI, 1969).

O padrão global dos ventos erosivos está estreitamente relacionado com a

circulação geral da atmosfera. Como foi dito anteriormente, a região de Pisco,

onde os ventos são mais intensos é o lugar onde a ressurgência costeira se

apresenta com maior intensidade, o que a define como uma área sensível para

o estudo da dinâmica atmosférica e oceânica na região, mediante estes

indicadores.

A circulação atmosférica e climática da costa Peruana é fortemente

determinada pela configuração da ASPS, que modula o comportamento dos

Page 45: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

43

ventos alisios. Com a intensificação do ASPS, intensificam-se também os

ventos e o sistema de ressurgência, apresentando condições tipo La Niña.

Quando os ventos ficam mais fracos, apresenta-se um deslocamento do centro

anticiclônico para o sudoeste, a ressurgência enfraquece e apresenta

caracteristicas do sistema tipo El Niño.

Neste estudo são exploradas diferentes abordagens a fim de identificar

as populações (componentes) granulométricas, sua origem e seu transporte,

estudando assim a sua variabilidade ao longo do último milênio na plataforma

continental do Peru. Para isto, foram utilizados dois testemunhos (um box core

(B06) e um gravity core (G10)), coletados na plataforma central do Peru a

~14°S, dados de armadilhas de material eólico BSNE (Big Spring Number Eigh)

e, observações de imagens de satélite (MODIS AQUA/TERRA). Foram

realizadas ainda simulações de transporte de deposição de partículas usando o

algoritmo de emissão e dispersão de tempestades de areia de Hysplit4,

alimentado com dados dos tamanhos granulométricos (encontrado nos

testemunhos de sedimento, armadilhas e solo) e dados meteorológicos do

Sistema de Assimilação de Dados Globais (GDAS).

Page 46: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

44

4. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E DO FUNDAMENTO

METODOLÓGICO

4.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO

O sistema oceanográfico do SRCH é controlado basicamente por duas

correntes (SMITH, 1983; SUESS; KULM; KILLINGLEY, 1987). A Primeira é a

corrente superficial costeira em direção ao equador e, a segunda é a Corrente

Costeira do Peru (CCP) (que pode bifurcar e fluir na direção Oeste ~12°S). A

circulação e a intensificação da CCP pode ser favorecida pelos ventos mais

intensos prevalecentes do Sudeste durante o inverno austral. Logo depois de

fluir ao longo da costa peruana a CCP flui para Oeste a ~ 5°S para se converter

na Corrente Sul Equatorial (CSE) a qual flui também na direção Oeste.

Oposto à isto estão as correntes de sub-superfície frias, salgadas, ricas

em nutrientes e com baixo oxigênio (STRUB et al., 1998), as quais fluem

preferencialmente em direção ao sul. Há ainda a Contracorrente Profunda em

direção ao Polo (CPP), que flui ao longo da costa e tem sua origem nas

correntes Equatoriais sub-superficiais, a saber: a Contracorrente primária sub-

superficial do Sudeste (CpSS) e a Corrente secundária sub-superficial do

Sudeste (CsSS) e a Corrente Profunda Equatorial (CPE), (Figura 9)

(BROCKMANN et al., 1980; MONTES et al., 2010; SUESS; KULM;

KILLINGLEY, 1987).

Page 47: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

45

Figura 9 - Esquema da circulação oceânica do Pacífico Tropical Leste (Extraído e modificado

de MONTES et al., 2010). Contracorrente profunda em direção ao Polo (CPP), Corrente

costeira do peru (CCP), Corrente Sul Equatorial (CSE), Contracorrente primária sub-superficial

do Sudeste (CpSS), Corrente secundária sub-superficial do Sudeste (CsSS), Corrente

Profunda Equatorial (CPE), Contra Corrente Peru Chile (CCPC), Contra Corrente Norte

Equatorial (CCNE), Corrente Oceanica do Peru (COP).

Por outro lado, no continente, a temperatura média oscila entre 15,5°C

nos meses mais frios e e 22°C nos mais quentes. Esta região apresenta uma

precipitação média anual de 2 mm.ano-1. Quanto ao aspecto geológico, as

rochas mais antigas são Precambrianas e constituem o complexo basal da

costa. Este complexo basal é composto, principalmente, de rochas

metamórficas que estão instruídas por uma variedade de granitos e pórfiros

graníticos de cor vermelha de idade Paleozóica. O Quaternário está

representado por depósitos aluviais que atingem seu maior desenvolvimento

nas planícies costeiras, onde existem também, depósitos eólicos.

Page 48: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

46

Devido à ressurgência costeira a plataforma se caracteriza por ter alta

produtividade e alta taxa de sedimentação (GUTIÉRREZ et al., 2009). No

entanto, diferentes estudos tem ressaltado a importância dos aportes de origem

continental nos registros sedimentares (GUTIÉRREZ et al., 2006, 2009;

SIFEDDINE et al., 2008). As condições de vento favoráveis para a

ressurgência ao longo da costa Peruana se apresentam durante todo o ano e,

com maior intensidade entre os 14 °S e 16°S, onde os ventos são mais fortes,

especialmente durante o inverno (Figura 10). A força do vento, e os eventos de

ressurgência variam de dias a semanas, devido aos ventos marinhos

associados com o sistema de alta pressão (GUTIÉRREZ et al., 2009).

As condições áridas na costa Peruana são favorecidas pela interação

entre a ressurgência costeira e os Andes. Assim, existe uma permanente

inversão térmica, produto do ar frio proveniente da ressurgência que

impossibilita a formação de convecção. Ao mesmo tempo, os Andes favorecem

este bloqueio e impossibilitam a passagem de umidade que poderia vir da

bacia amazônica (MECHOSO et al., 2014).

Na região de Paracas, os depósitos eólicos se estendem da costa até à

base dos Andes e são favorecidos pela alta aridez, ventos persistentes,

contínuo fornecimento de areia pelas fontes e falta de vegetação. Os ventos do

Sudeste são o principal agente de erosão. Estes ventos correm paralelos à

costa, deixam sua marca nos principais depósitos eólicos e, como já foi dito,

são significativamente mais fortes durante a época de inverno (GUTIÉRREZ et

al., 2011). Ressalta-se que o padrão de transporte e deposição de areia

seguem o mesmo padrão dos ventos. Porém, na região norte da península de

Paracas os depósitos eólicos apresentam uma mudança de direção,

demostrando que os ventos mudam com prevalência dos ventos Noroeste (on-

shore) e este fato pode explicar a disposição final das dunas (GAY, 2005).

Embora seja uma zona desértica, eventos de pequena precipitação podem

acontecer sob condições tipo El Niño, fazendo com que, às vezes, pequenos e

intermitentes rios cortem o deserto. No entanto, a contribuição deles para a

erosão é desprezível nesta região (HANEY; GROLIER, 1991; SEARS, 1954).

Page 49: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

47

Figura 10 - Composição dos vetores de velocidade média dos ventos superficiais m/s para verão (Dez-Fev) e inverno (Jul-Set) na região de sudoeste do Peru entre 1948 e 2015. Dados de reanalise do NCEP/NCAR.

Page 50: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

48

4.1.1. Fácies sedimentares e processos de sedimentação sobre a

plataforma continental Peruana

Ao longo da costa Peruana, existem duas áreas de facies sedimentares

no talude superior com características bem delimitadas. (SUESS; KULM;

KILLINGLEY, 1987). Entre 6 e 10°S encontra-se a bacia de Salaverry,

caracterizada por ser uma área onde a ação CPP é muito forte (velocidade

média de até 25cm/s em seu núcleo a 90 m), o que dificulta a sedimentação do

material hemipelágico e o estabelecimento de material terrígeno. Além disso,

tem sido relatado que a CPP é especialmente forte durante eventos El Niño

(HILL et al., 1998). Esta região é caracterizada por apresentar sedimentos ricos

em materiais grosseiros, lama calcária e crostas fosfáticas. Por outro lado,

entre 11 e 16°S encontra-se a bacia de Lima. Nesta área da plataforma

continental a ação da CPP diminui sua influência, devido a que está se localiza

a uma maior profundidade (>500m) e menor velocidade (REINHARDT et al.,

2002), o que facilita a sedimentação do material orgânico produto da alta

produtividade, assim como do material terrígeno. Os sedimentos desta zona

caracterizam-se por sua riqueza em grãos finos, diatomáceas, matéria orgânica

e ausência de bioturbação (REINHARDT et al., 2002; SUESS; KULM;

KILLINGLEY, 1987). Além disso, esta zona apresenta um dos principais

núcleos da ressurgência (Figura 11).

Os sedimentos da plataforma continental de Pisco (~14°S) são

caracterizados por ser um arranjo de micro lâminas com densidade variável

(vistas como negras e brancas em imagens de raios X ou SCOPIX)

(SIFEDDINE et al., 2008). Essas estruturas laminares estão aparentemente

relacionadas com as complexas relações entre o input de material terrígeno e a

produtividade no sistema de ressurgência, o que resulta em mudanças no fluxo

de material orgânico, biogénico e litogênico (BRODIE; KEMP, 1994;

SALVATTECI et al., 2014a). O material terrígeno depositado na plataforma tem

sua origem na descarga de material fluvial sobre a margem Peruana e nos

aportes de erosão eólica, principalmente da região de Paracas (BRICEÑO

ZULUAGA et al., 2015).

Page 51: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

49

Figura 11 - Valores de produtividade primária média (gCm-2

dia-1

) ao longo da margem Peruana. Valores são integrados para a zona fótica e representam uma média para ~10 anos. Os principais núcleos da ressurgência onde a produtividade é maior ficam em evidência incluindo a área de estudo. Fonte: Extraído e modificado de SUESS; KULM; KILLINGLEY, 1987.

As condições anóxicas favorecidas pela intensa Zona Mínima de

Oxigênio (ZMO) (GUTIÉRREZ et al., 2006) e a baixa ação das correntes

(REINHARDT et al., 2002; SUESS; KULM; KILLINGLEY, 1987) permitem a

preservação das laminações sem bioturbação, o que favorece não só a

preservação dos registros paleoambientais, mas também o sinal paleoclimático

(BÖNING; BRUMSACK, 2004; BRODIE; KEMP, 1994; GUTIÉRREZ et al.,

2006, 2009, 2011; SIFEDDINE et al., 2008; SUESS; KULM; KILLINGLEY,

1987).

4.1.2. Modelo de distribuição granulométrica

Diferentes autores têm adotado distintas técnicas matemáticas e

estatísticas na busca por catalogar adequadamente os componentes

Peru

Page 52: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

50

polimodais em subpopulações (e.g., fluviais/eólicas) que possam garantir uma

interpretação física apropriada da granulometria (e.g.,GOMES et al., 1990;

HUANG et al., 2011; PICHEVIN et al., 2005; PRINS; WELTJE, 2012; PRINS,

1999; SUN et al., 2002; WELTJE, 1997; YU; COLMAN; LI, 2015). A maior parte

destes métodos consiste em calcular duas ou mais distribuições estatísticas

das principais componentes granulométricas. Cada componente é

caracterizado por apresentar uma moda (informação sobre o tipo de transporte

da partícula), uma forma (desvio padrão, que indica o tipo classificação das

partículas) e uma amplitude (percentual do aporte da contribuição relativa da

componente). O próximo passo é explicar como ocorre a mistura desses

componentes e qual a relação de domínio deles ao longo do tempo.

Para este estudo foi utilizada uma rotina interativa de ajuste de mínimos

quadrados baseada no modelo proposto por Gomes et al. (1990) (Eq. 1). Esta

rotina permite inferir a variação espacial e temporal das

populações/componentes granulométricas e assim, a variabilidade dos

mecanismos envolvidos. Segundo Gomes et al., (1990), com este

procedimento, as medidas de distribuição de massa são expressas na forma de

dM/d (log D), ajustando as distribuições modais e, cada uma apresenta uma

distribuição log-normal:

𝑑𝑀

𝑑(𝑙𝑜𝑔𝐷)= ∑

𝑀𝑗

√2𝜋𝑙𝑜𝑔𝜎𝑗

𝑛

𝑗=1

𝑒𝑥𝑝(𝑙𝑜𝑔𝐷 − 𝑙𝑜𝑔𝑀𝑀𝐷𝑗)

2

−2𝑙𝑜𝑔2𝜎𝑗 𝐸𝑞. 1

com Mj se referindo à fração de massa das partículas por moda j, MMDj

o diâmetro médio distribuição da massa e σj o desvio geométrico padrão. Foi

utilizado este modelo por ele permitir a modificação dos parâmetros para cada

amostra, sem a necessidade de fixar nenhum dos parâmetros e, considerando

assim, as eventuais mudanças ambientais para cada amostra. Esta abordagem

faz com que o modelo se ajuste amplamente às variações ambientais naturais

na perspectiva das mudanças climáticas ao longo do tempo, diminuindo assim

as incertezas. Comparado com outros modelos, onde alguns parâmetros (e.g.

moda) são fixos, isto representa uma enorme vantagem, uma vez que há uma

Page 53: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

51

improbabilidade dos parâmetros que controlam o transporte e deposição de

partículas litogênica permanecerem constantes no tempo.

4.1.3. Modelo de Emissão Hysplit

O modelo de Hysplit é feito para diagnostico rápido de emergências

atmosféricas, estúdios diagnósticos o analisis climáticos usando grades de

dados metereológicos. O método de calculo do modelo é um híbrido entre

enfoques Euraliano e Langraniano. O Hysplit possue um algoritmo especifico

que permite modelar as trajetórias das emissões de poeira durante

tempestades de areia. Este algoritmo funciona intengrando o conceito de lumiar

de fricção. Assim, só acontece emissão de partículas em áreas do solo onde

este lumiar é ultrapassado.

4.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o intuito de apresentar os resultados atingidos por esta pesquisa

foram estruturados em três capítulos apresentados aqui como: Capitulo V, VI e

VII, descritos brevemente a seguir, finalizado pelo capitulo V que apresenta as

principais conclusões.

Capitulo V: São abordadas as características sinóticas da dispersão e a

trajetórias das partículas eólicas em relação a seu tamanho durante as

tempestades de areia “Ventos Paracas”. Para isto, foram utilizados modelos,

com algoritmo especifico para tempestades de areia, de Hysplit para os dois

eventos Ventos Paracas estudados. Estes eventos aconteceram durante

épocas de verão e inverno. Foram utilizadas como referência informações

sobre o tamanho das partículas dos registros de campo e sedimentológicos. Os

resultados deste capítulo servem como suporte para elucidação da origem e

transporte das partículas eólicas, depositadas nos sedimentos marinhos, além

de fornecer dados importantes sobre a dispersão das plumas e impactos sob a

população.

Page 54: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

52

Capitulo VI: Neste capítulo explorou-se a problemática dos aportes de

material terrígeno, mais especificamente, como são identificadas as fontes das

partículas eólica e fluvial e, discute-se suas mudanças ao longo do registro

como mudanças ambientais e climáticas. O registro temporal dos aportes

fluviais e intensidade do vento foram comparados com outros registros

paleoambientais. A partir desse resultados, são discutidos os mecanismos que

modulam o transporte de partículas como mudanças na estrutura atmosférica

(precipitação e intensidade do vento) na escala decadal à secular durante o

último milênio. Para este trabalho, foi utilizada a integração de dois

testemunhos laminados coletados na plataforma continental de Pisco entre 200

e 300 m de profundidade. Tais testemunhos são: o boxcore B06, o qual registra

os últimos ~700 anos (idades calibradas com 5 datações de AMS14C, além de

210Pb, 241Am e 137Cs para os últimos 150 anos) e, uma parte do gravity core

G10 (SM5), que registra idades entre AD 900 e AD1400 (idades calibradas com

7 datações de AMS14C).

Capitulo VII: O foco deste capítulo é, principalmente, versar sobre a

variabilidade na intensidade do vento e sua relação com a variabilidade

climática no último século. Para isto, utilizou-se o testemunho B06 o qual

registra a sedimentação dos últimos 150 anos em alta resolução (1-7 anos) e,

que possui uma calibração de idade bem trabalhada (analises de 210Pb

suportadas com 241Am e 137Cs). A discussão deste capítulo trata da relação

entre o registro da variabilidade na intensidade do vento e os modos de

variabilidade climática na escala subdecadal à multidecadal e, sua relação com

o incremento da temperatura global. Nossos resultados também mostram que

nos últimos 150 anos, em escala de tempo multidecadal, menores

Temperaturas Superficiais do Mar (TSM) estão associadas com um incremento

da intensidade do vento e as tendências atuais de aquecimento global

superficial influenciada aparentemente pela Oscilação Multidecadal do Atlântico

(OMA).

Capitulo VIII: Este capitulo engloba as principais conclusões desta tese e

suas considerações finais.

Page 55: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

53

5. SIMULAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO E EVOLUÇÃO DOS “VENTOS

PARACAS” USANDO HYBRID SINGLE-PARTICLE LAGRANGIAN

INTEGRATED TRAJECTORY MODEL-HYSPLIT

5.1. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1.1. Área de Estudo

A área escolhida para o estudo sinótico do fenômeno de VP foi

delimitada entre as coordenadas, longitude -13.30 e, Latitude -74.44.

Incorporando assim, desde a região desértica da península de Paracas, em Ica

até o Noroeste de Arequipa (Figura 12A). Segundo Haney e Grolier (1991) e

Gay (2005) esta área é caracterizada por apresentar falta de vegetação, altos

depósitos eólicos (como dunas) e ventos fortes, os quais são feições

geomorfológicas e físicas, que facilitam e permitem o fenômeno de erosão

eólica por tempestades de areia.

5.1.2. Delimitação de fontes pontuais de emissão

Imagens diárias de satélite com resolução moderada (250 x 250 m por

pixel) e cor verdadeira do espectro radiômetro (MODIS), dos satélites Terra

(~8:30 GMT) e Aqua (~13:30 GMT), para os anos 2008, 2009, 2010, 2013,

2014 e 2015 foram usadas na análise (i.e. 2269 imagens individuais). Estas

imagens foram usadas para identificar visualmente as áreas exatas de emissão

de poeira com o intuito de identificar e delimitar os pontos de emissão para

alimentar o modelo de emissão de poeira de Hysplit. Num programa iterativo

estrito para R® na linguagem S (Perform visual classification of source state),

cada fonte de emissão foi identificada.

Page 56: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

54

5.1.3. Modelo de trajetórias de emissão de Hysplit

O Hysplit é um modelo de dispersão e trajetórias/retro-trajetórias de

partículas que usa uma combinação de enfoques Lagrangiano e Eureliano. O

modelo tem um algoritmo especifico para emissão de partículas por erosão

(tempestades de areia) com a condição de que a classificação do solo seja

dessértico e o vento supere o limiar de fricção (foi utilizado: 0.20 cm/s2,

baseado nos trabalhos de Iversen e White (1982), Marticorena e Bergametti

(1995) e Shao (2001), (2009). Este modelo utiliza ainda uma grade de dados

meteorológicos ou de reanalises para se retroalimentar e a sua exatidão

depende da resolução destes dados. Para este estudo foram utilizados dados

de reanalises do sistema de assimilação de dados GDAS fornecidos pela

NOAA com uma resolução de 0.25°x0.25°.

O modelo teve um total de 50.000 partículas por ciclo como limite para

rodar e uma emissão máxima de 100.000 por cada evento de emissão. Dois

eventos de VP (23-jul-2014 e 23-Fev-2015) foram selcionados por serem

representativos de épocas sazonais diferentes, inverno e verão,

respectivamente, e ambos foram catalogados, segundo metodologia proposta

por Escobar Baccaro (1993), como eventos fortes. O modelo Hysplit permite

avaliar a dispersão e trajetória de deposição das partículas durante os VP (com

movimento isobárico e para um total de 30 horas de simulação) em relação a

seu tamanho. No Hysplit, o algoritmo de massa para estimação de emissão de

poeira é baseado na descrição do fluxo vertical como uma fração de transporte

horizontal dada pela equação:

E = 𝐷𝑝

𝑔 𝑈∗(𝑈∗

2𝑈∗𝑡2 )𝐴.

onde o fluxo de massa vertical (E) é obtido a partir da velocidade de

fricção (U*), do limiar de velocidade de fricção (U*t) e, (D) que é o coeficiente de

textura do solo, que varia segundo seu tipo e uso.

Page 57: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

55

Figura 12 - A) Região de estudo e evento de erosão com tempestade de Areia (Ventos Paracas – VP) na Região de ICA, Peru. Imagem MODIS Aqua-Terra, composição cor verdadeira com o reflexo de superfície (NASA). B) Dados da distribuição granulométrica de armadilhas BSNE (2m) (em laranja) e do solo na mesma área (em preto), estações MixPaleo e WindA demarcadas como triângulos vermelhos no mapa. C) Distribuição granulométrica registrada no testemunho de sedimento B06 (BRICEÑO ZULUAGA et al., 2015) demarcado como ponto amarelo.

MixPaleo

WindA

A

)

B

)

C

)

Page 58: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

56

Esta abordagem é impossível quando estas características são desconhecidas,

como em nosso caso, é por isso que o modelo opta por simplificar a equação

para:

𝐸 = 0.001𝑈∗4𝐴

onde a emissão de partículas só pode acontecer se o vento exceder o

U*t≥28cm/s2 e, A representa a área de emissão em m2. A pluma de dispersão é

assumida como produto de uma função linear no tempo e, as concentrações no

nível do solo são calculadas como a média abaixo de 100m dentro do perfil

vertical. Os campos meteorológicos e o padrão de fluxo das partículas são

analisados num padrão 3D.

5.1.4. Medidas granulométricas de base para o modelo

Na Península de Paracas trabalhos de campo com armadilhas tipo Big

Spring Number Eight (BSNE) (Figura 13) em duas estações chamadas de

MixPaleo e WindA (Figura 12A) mostraram que a 2 m de altitude após um

episodio VP podem ser encontradas partículas de tamanhos que variam entre

<32µm e 250µm, com uma moda entre ~63 - 89µm (GUTIERREZ et al., 2010).

Já na superfície do solo a distribuição granulométrica varia de <32µm até

4000µm, com duas modas, uma em ~125 – 180µm e, outra em 1400 - 2000µm,

em ambas estações. Porém, a estação WindA apresenta uma moda adicional

entre ~350 - 500µm (Figura 12B).

Page 59: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

57

Figura 13 - Mastro (esquerda) e caixa de coleção de poeira tipo BSNE (direita) para tempestades de areia, localizadas na estação WindA.

Por outro lado, nos dados da distribuição granulométrica dos

testemunhos sedimentares marinhos encontraram-se quatro componentes

modais ~3µm, ~10µm, ~50µm e ~90µm. As duas últimas foram relacionadas

diretamente como produto da erosão eólica durante os VP’s (BRICEÑO

ZULUAGA et al., 2015) (Figura 12C). Foram selecionados os tamanhos das

partículas dos sedimentos marinhos como padrão para rodar o modelo. Isto

devido a que estes tamanhos são consistentes com as encontradas nas

armadilhas BSNE e, com a distribuição de tamanho de partículas que seriam

mais facilmente expelidas durante eventos de erosão VP (IVERSEN; WHITE,

1982; MARTICORENA; BERGAMETTI, 1995; MARTICORENA, 2014; SHAO,

2001, 2009). Tanto no evento do dia 23-jul-2014, como no dia 23-Fev-2015 foi

escolhida as 10:00 a.m. para começar a rodar o modelo durante 6 horas, os

valores são integrados para 24 horas.

5.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2.1. Fontes potenciais de emissão de poeira

Do total de 2269 imagens Aqua/Terra (MODIS) analisadas, 82

mostraram emissão de partículas (integrando todos os anos estudados), em

Page 60: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

58

eventos que variaram entre fortes e generalizados até fracos e pontuais. Com

esta informação identificaram-se 21 fontes ou áreas de emissão de poeira

(Figura 14). As imagens também mostram que estas emissões variam tanto em

extensão como em intensidade. As imagens de satélite mostraram também que

a península de Paracas não é a zona mais ativa de emissão e, mas sim a zona

sul na área costeira da região de Nazca.

Figura 14 - A) Áreas de emissão identificadas nas imagens MODIS B) Exemplos de emissões de poeira mineral de diferentes intensidades.

A região de Nazca no sul to Peru é caracterizada por possuir áreas

sensíveis a processos de erosão e altos depósitos eólicos (HANEY; GROLIER,

1991). Igualmente, a região da Península de Paracas também apresentou

intensa atividade de erosão e transporte eólico. Como o sugerido por Gay

(2005) grande parte do material transportado durante VP, segue em direção ao

continente, mais especificamente ao município de Paracas e em direção aos

depósitos de areia. Durante os grandes eventos de emissão identificados a

poeira consegue cobrir até 80% aproximadamente do departamento de Ica, o

que faz com que os pontos principais de emissão sejam difíceis de identificar.

Também foi observado nas imagens de satélite que grande parte deste

material lítico segue em direção ao Noroeste para o oceano.

Page 61: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

59

5.2.2. Padrão de emissões e dispersão de partículas durante os ventos

Paracas (VP)

Durante ambos os eventos seleccionados o modelo mostrou um padrão

similar de trajetória e dispersão em direção Noroeste. Porém, existe uma maior

concentração e dispersão de partículas durante o evento de inverno (Figura

15). A simulação da emissão e dispersão de partículas de 3µm mostra que a

pluma de poeira consegue se propagar por suspensão por mais de 300Km na

direção Noroeste, sendo que a maior parte da sua pluma se concentra no

continente, mas ainda assim há uma grande parte das partículas sobre o

oceano. Depois de passar pela Península de Paracas, as partículas tem a

tendência de seguir para direção Nordeste o que é consistente com os

depósitos eólicos descritos anteriormente por Gay (2005) e Haney e Grolier

(1991).

As partículas de 10µm apresentam um padrão de dispersão e trajetória

similar ao anterior, o que sugere que estas partículas também podem se

manter em suspensão por muito tempo e transportadas por longas distâncias.

Os resultados mostram concentrações >1.0E+05ug.m3-1 destas partículas

sobre as principais cidades costeiras (e.g., Pisco) durantes os VP’s. Por outro

lado, a simulação para as partículas de 50µm mostra que estas partículas são

dispersas ao longo da costa e, que provavelmente se transportam por eventos

curtos de suspensão se deslocando até por 80 Km em concentrações > 10.000

ug.m3-1.

O padrão de dispersão de poeira mostra que ao sul da Ilha “La

Independencia” as partículas fazem com que seu transporte e deposição ocorra

diretamente no oceano, em frente ao setor conhecido como “Zona de Reserva

San Fernando”. No setor norte da Península de Paracas pode-se ver como a

pluma de emissão passa por cima do município de Pisco-Ica até atingir o

município de Chincha Alta-Ica. Finalmente, para as partículas de 90µm a

simulação mostra um padrão de dispersão mais restrito, com partículas que

tendem a deslocar por saltação, transportadas por até 50km para além de sua

fonte. Os dados sugerem que as fontes próximas à costa conseguem

arremessar tais partículas ao oceano (Figura 15), o que é consistente com o

Page 62: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

60

encontrado nos testemunhos marinhos (BRICEÑO ZULUAGA et al., 2015).

Estes resultados são coerentes com o padrão da pluma de dispersão de poeira

observado nas imagens de satélite MODIS, sugerindo que o modelo (com o

tamanho de partículas escolhido) reproduz satisfatoriamente o padrão de

emissão e dispersão dos VP (Figura 15).

Page 63: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

61

Figura 15 - Simulação da dispersão e trajetória das partículas de A) 3µm, B) 10µm e C) 50µm e D)90 µm no modelo Hysplit4 para os eventos dos dias 23/Jul/2014 e 24/Fev/2015.

A

C

B

D

Page 64: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

62

5.2.3. Características meteorológicas das emissões

Os dados de campo de vento (10m acima do solo) indicam que durante

os eventos VP o vento na costa flui fortemente em direção S-N (ventos

meridionais de sul). Esse vento de sul é o principa responsável pela atividade

dos VP. Sua importância na região decorre porque eles também são o principal

motor da ressurgência costeira na região (GUTIÉRREZ et al., 2011). A

componente meridional do vento (V) durante o dia 23-jul-2014 atingiu

velocidades mais intensas, entre 9 e 12m/s, na região costeira, dado que é

consistente com as emissões de poeira. No dia 23-fev-2015 a mesma

componente atingiu valores entre 7 e 9 m/s para a mesma área (Figura 15).

Os resultados sugerem que 7 m/s (a 10m de altitude) poderia ser inferido

como valor médio mínimo para a emissão de poeira durante um VP. Os pontos

hotspot (maior emissão de partículas) derivados do modelo e suas

características são mostrados na Tabela 1. Porém, faz-se necessário abordar

trabalhos sistemáticos de campo que permitam validar os dados e assim

determinar os valores específicos de limiares de frição para as principais áreas

de emissão identificadas.

Page 65: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

63

Figura 16 - A) Campo de ventos, B) Velocidade da componente de vento Meridional (V) m/s, C) Velocidade da componente de vento Zonal (U) m/s durante os VP estudados.

B

A

C

Page 66: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

64

Tabela 1 - Parâmetros meteorológicos para pontos hotspot derivados do modelo (lat -14.50 long -75.29) durante eventos de emissão VP

5.3. CONCLUSÕES

As simulações de dispersão e trajetórias no modelo Hysplit demostram

claramente que são uma alternativa eficiente aos testes de campo para avaliar

sinoticamente o desenvolvimento e evolução do VP. Comparado com as

imagens MODIS o modelo Hysplit conseguiu reproduzir espacialmente a

trajetória e dispersão da pluma durante o VP. Os resultados mostraram que o

fluxo de partículas que se deslocam sobre a região de Ica tem seu início sobre

a zona costeira, onde os ventos são mais fortes durante os eventos VP. As

simulações mostraram que os mecanismos de saltação e suspensão foram,

provavelmente, os mais importantes no deslocamento das partículas durante

os VP. Embora o modelo não consiga calcular a velocidade limiar de fricção

para cada área de emisão especifica, os resultados mostram que ao atingir

7m/s (10m altitude) já existe transporte de partículas.

Comparativamente, os eventos estudados não mostraram muita

diferença em relação às trajetórias e dispersão de partículas. Porém, durante o

evento de inverno foram transportadas por extensões e concentrações

maiores, o que evidencia um evento mais forte. Os dados sugerem ainda que

durante os VP’s partículas são arremessadas ao oceano, desta forma, o

material eólico tem importância no material sedimentar. Com isto, este material

é importante no intuito da reconstrução da dinâmica eólica e dos paleo-ventos

na costa Peruana. Finalmente, um ponto importante sobre o transporte de

partículas sobre Pisco e Chincha Alta-Ica são as consequências deste evento

nos habitantes, no entanto, esta questão não foi explorada neste trabalho.

Evento Paracas

Pressão

Fluxo de

calor U10M V10M

Temperatura 2m

Cobertura média

nuvens

Velocidade de Fricção

Camada limite

Calculada

hPa W/m2 m/s m/s °C % cm/s m

23/jul/14 963 176 -0.90 4.2 17.3 36.0 24.5 106

23/fev/15 967 39.0 0.71 3.5 24.4 38 22.2 369

Page 67: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

65

6. ENTRADA DE MATERIAL TERRÍGENO NA PLATAFORMA CENTRAL

PERUANA (PISCO 14°S) DURANTE OS ÚLTIMOS 1.100 ANOS:

IMPLICAÇÕES PALEOCLIMÁTICAS1

6.1. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1.1. Processos de sedimentação e características sedimentológicas sobre a

plataforma continental peruana

Gutiérrez et al. (2006), Reinhardt et al. (2002) e Suess, Kulm e Killingley

(1987) descreveram as facies sedimentares na plataforma continental Peruana

e o papel desempenhado pelas correntes nos processos de erosão, assim

como na redistribuição e nos processos favoráveis a sedimentação

hemipelágica. Esses trabalhos mostraram que registros de alta resolução são

possíveis, mas só em localidades específicas da margem continental Peruana.

Suess, Kulm E Killingley (1987) descreveram a formação de duas fácies

sedimentares, uma entre 6 – 10°S, e outra entre 11 – 16°S. A primeira é

chamada de bacia de Salaverry, sendo caracterizada pela escassa, ou nula,

acumulação de sedimentos pela ação da corrente profunda em direção ao polo.

Nesta zona as correntes são fortes e tornam difícil a sedimentação

hemipelágica. A segunda fácie, chamada de Bacia Lima, é caracterizada por

apresentar centros de deposição ricos em matéria orgânica devido à dinâmica

oceanográfica da plataforma continental, como a posição e velocidade da

corrente profunda em direção ao polo.

Adicionalmente, um perfil de alta resolução foi obtido com uma sonda eco

Bathy 2000P durante o projeto "PaleoMap 2006" no cruzeiro RV Olaya, a fim

de determinar a natureza dos depósitos de lama e complementar a informação

sobre a plataforma continental, confirmando a presença de perfis sedimentares

laminares nesta bacia (SALVATTECI et al., 2014a). Este sedimento é

caracterizado pela presença de grãos finos, diatomáceas, alta concentração de

matéria orgânica e ausência de processos erosivos e de bioturbação.

1 Ver em Apêndice o artigo que se origina deste capitulo publicado na revista Climate of

the Past.

Page 68: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

66

Os sedimentos da plataforma continental de Pisco (~14°S) são

compostos de sedimentos laminados caracterizados por um conjunto de

camadas milimétricas escuras e claras mais ou menos densas (BRODIE;

KEMP, 1994; SALVATTECI et al., 2014a; SIFEDDINE et al., 2008). Esta

estrutura de lâminas está relacionada a uma complexa interação de fatores,

como a entrada de materiais terrígenos e a variabilidade da produtividade do

sistema de ressurgência, resultando em alterações dos fluxos de material

orgânico, biogênico e litogênico (BRODIE; KEMP, 1994; GUTIÉRREZ et al.,

2006; SALVATTECI et al., 2014b).

O material terrígeno depositado nos sedimentos é produto da entrada de

material fluvial e eólico. As condições anóxicas favorecidas por uma intensa

ZMO (GUTIÉRREZ et al., 2006) e a baixa ação das correntes (REINHARDT et

al., 2002; SUESS; KULM; KILLINGLEY, 1987) permitem a preservação do sinal

paleoambiental sem mudanças, possibilitando o registro, com sucesso, da

variabilidade climática.

O material litogênico fluvial provém de uma cadeia de rios ao longo da

costa Peruana, os quais tem uma vazão significativa bem ao norte da área de

estudo (BEKADDOUR et al., 2014; KEEFER; MOSELEY; DEFRANCE, 2003;

LAVADO-CASIMIRO; ESPINOZA, 2014; MCPHILLIPS et al., 2013; MORERA

et al., 2011; REIN, 2005; SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982; UNKEL et al.,

2007). A ação das correntes favorece a redistribuição deste material. De fato

SMITH (1983) aponta que material sedimentar pode ser transportado por

longas distancias na direção oposta dos ventos e as correntes superficiais

prevalecentes nas zonas de ressurgência.

Além disso, muitos trabalhos tem demostrado que a precipitação e,

portanto, a descarga fluvial, assim como a corrente profunda em direção ao sul

incrementa durante os eventos El Niño (BENDIX et al., 2002; HILL et al., 1998;

LAVADO-CASIMIRO; ESPINOZA, 2014; STRUB et al., 1998; SUESS; KULM;

KILLINGLEY, 1987). Este fato eleva o potencial das partículas fluviais como

indicador da variabilidade climática na plataforma continental do Peru.

Por outro lado, o material eólico tem sua origem principalmente pelo

fenômeno Ventos Paracas. Este fenômeno tem sido descrito por Escobar

Page 69: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

67

Baccaro (1993) como um evento sazonal de ocorrência no inverno. Porém,

eventos podem acontecer em qualquer época do ano com maior frequência

durante anos El Niño. Entretanto, continua sendo um desafio explicar a

variabilidade espacial e da intensidade deste fenômeno, devido à falta de

estudos sistemáticos de campo.

6.1.2. Acoplamento testemunhos

Os testemunhos de sedimento B040506 daqui para frente será referido

como “B06” e o G10-GC-01 como “G10”. Ambos foram recuperados na

plataforma central do Peru em 2004 durante o cruzeiro do projeto Paleo2

abordo do navio oceanográfico José Olaya Balantra (IMARPE) em 2007,

durante o cruzeiro Galathea (Figura 17). Com o objetivo de desenvolver um

registro sedimentar contínuo, elaborou-se um acoplamento entre os

testemunhos através de uma correlação cruzada em busca de um registro para

o ultimo milênio. Este registro foi elaborado tendo como base as discussões

levantadas por Salvatteci et al. (2014a) (Figura 18).

Esta metodologia consiste na identificação de feições comuns em todos

os testemunhos de sedimentos da mesma zona de amostragem e servem

como ponto de correlação entre eles. A mudança biogeoquímica abrupta

datada em AD1820±15, descrito em Gutiérrez et al., (2009) e Sifeddine et al.,

(2008), encontrada em todos os testemunhos da área foi utilizado como

marcador de correlação estatigráfica. Posteriormente foi feita uma inspeção

visual das imagens de Raio X e, elaborou-se uma correlação, seguindo os

padrões de tons produzidos pela diferença de densidade das lâminas. As

sequências e feições biogeoquímicas identificadas em todos os testemunhos

de sedimento foram definidas como pontos de união. Utilizou-se o box core

B14, também coletado na região de Pisco como referência, uma vez que suas

lâminas estavam melhor definidas, sua sequência laminar mais completa e por

ser o melhor conservado (Figura 18).

O testemunho B06 é um boxcore de 0.75 m, laminado e caracterizado

por apresentar um colapso visível em ~52cm e 3 depósitos homogêneos (que

variam entre 1.5 e 5.0 cm de espessura) identificados nas imagens SCOPIX

Page 70: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

68

(nenhuma amostra foi tomada nestas profundidades). Além disso, a presença

de filamentos da sulfobacteria gigante Thioploca spp, no topo do testemunho

confirma a recuperação, com sucesso, da interface água-sedimento. De acordo

com as análises biogeoquímicas descritas em Gutiérrez et al. (2009) (i.e.,

Palinofacies, Rock-eval, Carbono orgânico total e δ13C), o B06 tem como

característica uma mudança distintiva em ~30cm. Mais detalhes deste

testemunho são fornecidos por GUTIERREZ et al. (2009); SALVATTECI et al.

(2014A) e SIFEDDINE ET AL. (2008).

Page 71: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

69

Figura 17 - Localização dos testemunhos de sedimento B040506 (B06 - círculo preto) e G10-GC-01 (G10 - Triângulo preto) na margem continental central da plataforma Peruana. As linhas batimétricas de contorno estão em intervalos de 25m, de 100m a 500m de profundidade.

Page 72: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

70

Figura 18 - Correlação cruzada da estratigrafia das sequências laminares (Imagens SCOPIX) entre o box core B14 (O testemunho recuperado com as laminações mais continuas, sem perturbação é com sequencias melhor preservadas), B06 e o gravity core G10 todos recuperados na plataforma continental de Pisco. Na imagem SCOPIX as cores foram invertidas, assim, as lâminas escuras representam o sedimento mais denso. O número ao lado direito das imagens representa as datações de

14C não calibrado. A linha amarela representa a

posição do “shift” (GUTIÉRREZ et al., 2009). A linha preta entre o B14 e B06 indica o começo da atividade de

241Am. As linhas pretas à esquerda dos testemunhos indicam depósitos

homogêneos e colapsos, as linhas verdes colocadas à direita do testemunho indicam a extensão de camadas de diatomáceas. Os marcadores estratigráficos estão representados por linhas contínuas coloridas mais finas, que indicam correlações menos óbvias possíveis, mais dethales em SALVATTECI et al. (2014a).

O B06 perpassa os últimos ~700anos (Figura 19). Para o último século,

registrado somente no B06, o modelo cronológico foi baseado no excesso da

distribuição natural de 210Pb e 137Cs e apoiado pela distribuição de 241Am,

Page 73: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

71

derivado das bombas atômicas (Figura 26). O modelo cronológico revelou a

existência de dois grupos de acordo com as características da matéria orgânica

antes e depois de 1820AD. A taxa de acumulação depois de 1950AD é

0.036±0.001 gcm−2 y−1 e antes de 1820AD é 0.022±0.001 gcm−2 y−1. Por outro

lado, o G10 é um gravity core de 5.22m composto por seis seções (SM1, SM2,

SM3, SM4, SM5 e SM6, sendo SM1 a mais velha) e caracterizado pela

presença de múltiplos colapsos sedimentares. O modelo cronológico foi

construído com cinco amostras. O ΔR, para calibrar as idades do 14C, foi

estimado em 367±40 anos e calculado para o período entre a base, o core B-

14 e, a última idade derivada de 210Pb. Usou-se somente a seção SM5 (que

tem uma taxa de sedimentação de 0.05cm.yr-1), entre 18 e 51 cm (da seção), o

que, cronologicamente, corresponde ao período de ACM de ~900 a 1500AD

(Figura 19) e, não apresenta colapsos sedimentares (Figura 18). Para mais

detalhes da descrição e características cronológicas do modelo B06 consultar

Gutiérrez et al. (2006, 2009), ajustado posteriormente por Salvatteci et al.,

(2014a) e, para o G10, consultar Salvatteci et al. (2014b).

Figura 19 - A) Datações de AMS 14

C do boxcore B06 e seu desvio padrão, B) Modelo de idade do testemunho B06 (

210Pb,

137Cs e

241Am mais

14C usando o ΔR estimado). C) Datações de

AMS 14

C do gravity core G10 com desvio padrão e, D) Modelo de idade do testemunho G10.

A regularidade espacial da amostragem combinada com a variabilidade

natural na taxa de sedimentação implica em taxas de sedimento variáveis entre

as amostras (182 amostras em total). Cada amostra foi selecionada com a

resolução de 0.5cm para B06, o que usualmente inclui entre 1 – 2 lâminas. Por

Page 74: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

72

outro lado, no G10 cada amostra foi selecionada a cada 1cm, sendo que cada

uma com 3 – 4 lâminas. A diferença na taxa de sedimentação (entre períodos e

entre testemunhos) e as diferenças na espessura da sub-amostragem (entre

testemunhos) indica que o período de tempo médio de cada intervalo por

amostra durante o ACM, PIG e PAM foi de aproximadamente 18, 7 e 3 anos,

respectivamente. Um método de homogeneização da resolução foi aplicado a

fim de obter dados com intervalo regular. Este método compreende em três

passos: interpolação linear, média móvel e seleção de amostras.

Para cada testemunho, uma frequência de interpolação foi escolhida

baseada no período mais curto entre duas amostras (1 e 10 anos para B06 e

G10, respetivamente). Os dados foram interpolados formando, um grande

conjunto de valores. No passo seguinte, uma média móvel foi feita para esses

dados. Foi escolhida uma média móvel com uma janela de 20 anos, já que

corresponde ao maior intervalo de tempo encontrado nos dados originais,

assegurando pelo menos um dado real por janela. Esta seleção forneceu vários

conjuntos possíveis de datas entre os dados computados, dependendo do

ponto de partida. Com o intuito de extrair um conjunto de dados tão próximo

quanto possível das medições granulométricas reais, conjuntos de datas

regulares foram comparadas numericamente aos dados originais. Um “score”

que representa a soma das diferenças entre as datas originais e os seus

correspondentes dados interpolados foi atribuído a cada conjunto

anteriormente obtido. Finalmente, a matriz escolhida foi a que apresentou os

menores escores, o que representa que a amostra tem um valor muito próximo

à realidade.

6.1.3. Análise de distribuição granulométrica

Com o intuito de isolar a fração mineral foram sucessivamente

removidos de aproximadamente 100mg da amostra de sedimento a fração

orgânica, os carbonatos de cálcio e o sílicio biogênico usando H2O2 (30% em

50°C por 3 a 4 dias), HCl (10% por 12 horas) e Na2CO3 (1M em 90°C por 3

horas). Entre cada tratamento químico, as amostras foram repetidamente

lavadas, com água deionizada e centrifugadas a 4000 rpm até a solução

apresentar um pH neutro (pH:6-7). Depois do pré-tratamento, a distribuição

Page 75: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

73

granulométrica foi determinada através de um sistema automatizado de

análises de imagem (modelo FPIA3000, analisador de partículas por fluxo de

imagens, “Instrumentos Malvern”, no laboratório IRD, Bondy-França).

Este sistema consiste em uma câmera CCD (Charge Coupled Device)

que captura imagens de todas e cada uma das partículas homogeneamente

suspensas numa solução dispersora e colocadas numa célula de rotação a

600rpm. Após magnificação (10X), as imagens são analisadas

automaticamente e o equivalente a seu diâmetro esférico (definido como o

diâmetro da partícula esférica que tem a mesma superfície que a partícula

medida) é determinado. Esta magnificação implica no fato de que apenas

partículas com diâmetro equivalente a faixa entre 0.5 e 200µm são

computadas. De modo a certificar-se de que essa filtragem não consideraria

partículas superiores a 200µm, todas as amostras foram passadas por uma

peneira de 200µm antes da análise. Partículas maiores que 200µm nunca

foram encontradas nas amostras, o que significa que a distribuição de

tamanhos obtidos representa realmente o intervalo de tamanho completo dos

sedimentos marinhos. Vale a pena mencionar que este sistema, além de prover

a distribuição de tamanho, ele também exibe a imagem das partículas de

maneira individual. Além disso, o software traz cálculos instantâneos de

diferentes características (e.g., esfericidade, aspecto e distribuição de

tamanho).

A combinação de imagens com diferentes filtros oferece uma meticulosa

e cuidadosa medida das partículas litológicas no sedimento, mesmo que se

tenha milhões de partículas por amostra. Se forem ignoradas as imagens, este

método traz a mesma informação de distribuição granulométrica comparável

aos obtidos com granulometria a laser. No entanto, as imagens são uma

ferramenta muito útil na verificação da eficiência do pré-tratamento, e se for

necessário, as partículas de natureza não mineral, ou os agregados de

partículas, podem ser manualmente removidos da distribuição granulométrica.

A faixa de medição inteira é dividida em 225 seções ou degraus logarítmicos

iguais. Como os intervalos de tamanho selecionados pelo fabricante são muito

estreitos, a contagem do número de partículas em alguns casos pode ser

limitada a somente poucas unidades, nestes casos o erro relativo associado

Page 76: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

74

pode ser maior. Para reduzir o erro, decidiu-se por dividir os intervalos de

tamanho por um fator de 5 (usamos 45 no lugar de 225) e agrupou-se o

número de partículas contados em cada classe. Os valores de distribuição de

tamanho foram expressos como distribuição de porcentagem volume (%).

6.1.4. Determinação dos componentes sedimentares e modelo de ajuste por

deconvolução

Como diferentes processos de transporte / deposições de sedimentos

são conhecidos por influenciar a distribuição granulométrica da fração lítica dos

sedimentos (NA et al., 2012; GOMES et al., 1990; HOLZ et al., 2007;

PICHEVIN et al., 2005; PRINS et al., 2007; STUUT; PRINS; WELTJE, 2005;

STUUT et al., 2002; WELTJE; PRINS, 2003), identificar os componentes

individuais da distribuição polimodal granulométrica é um passo decisivo para a

reconstrução paleoambiental.

As características numéricas (e.g., Amplitude A, média geométrica

granulométrica Gmd e desvio padrão geométrico Gsd) das populações

granulométricas individuais, cuja combinação constitui a distribuição total

granulométrica, foram determinadas para todas as amostras analisadas usando

uma rotina interativa de modelo de mínimos quadrados, método descrito em

Gomes et al., (1990). Este método de ajuste procura minimizar a diferença

entre o volume medido das partículas em cada classe de tamanho, e aquele

que é computado da expressão matemática (baseado em funções logarítmicas

normais).

O número de populações granulométricas individuais a ser utilizado foi

escolhido pelo operador, e todos os parâmetros estatísticos (i.e., A, Gmd e

Gsd) puderam ser mudados de uma amostra para outra. Isto representa uma

grande vantagem quando comparada aos modelos tipo End-Member, no qual a

distribuição elementar é mantida constante para todas as amostras e só é

permitido mudar a amplitude relativa (contribuição). De fato, é improvável que

os parâmetros que governam tanto transporte, como deposição de material

litogênico e, desta forma, a distribuição granulométrica, permaneçam

Page 77: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

75

constantes no tempo. Isto pode levar a variações nos parâmetros estatísticos

(i.e., Gmd e Gsd).

6.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.2.1. Bases para a interpretação

Ambos os testemunhos de sedimento (B06 e G10) apresentam uma

robusta distribuição bimodal da distribuição do tamanho dos grãos

apresentando ampla variação na sua amplitude e no desvio padrão. Essas

modas correspondem a classes finas de tamanho compreendidas entre ~3 até

15 µm e partículas grosseiras entre ~50 até 120 µm (Figura 20). As partículas

finas dominam a sedimentação durante o período de PIG (LIA-em inglês).

Enquanto que as partículas grosseiras se mostram mais relevantes durante a

segunda metade do ACM e durante os últimos 200 anos período no qual esta

incluindo o PAM.

Figura 20 - Distribuição granulométrica bruta correspondente ao registro completo (sobreposição dos testemunhos B06 e G10). Uma distribuição bimodal é aparente. A primeira composta por partículas finas de ~3 até 15µm; e a segunda por partículas mais grosseiras entre ~50-120 µm. Em detalhe os períodos de ACM (Medieval Climate Anomaly - MCA em inglês), PIG (Little Age Ice – LIA em inglês) e PAM (Current Warm Period – CWP em inglês).

Uma análise de componentes principais (PCA) baseado na classificação

da distribuição granulométrica proposta por Wentworth (1922), identificou que

quatro modas granulometricas ou componentes que poderiam explicar a

variabilidade total contida dentro da distribuição granulométrica (Figura 21). As

Page 78: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

76

distribuições granulométricas medidas e calculadas apresentam uma alta

correlação, com R2 variando entre 0.75 e 0.95, atestando que o uso de 4

modas granulométricas apresenta um bom ajuste para as nossas amostras e,

demostrando que o modelo pode fornecer interpretações confiáveis (Figura 22).

Correlações baixas ocorreram só quando a proporção de material litológico foi

pequena em comparação com a sílica biogênica, a matéria orgânica e o bulk

carbonático (6 amostras do total). Esta situação apresentou-se quando o

número de partículas litológicas remanescentes, após o ataque químico, foi

significativamente inferior, colocando estas amostras no limite da

representação estatística. Porém, estas amostras foram consideradas na

análise porque todas tiveram uma alta contribuição de partículas grosseiras.

Figura 21 - Proporções de variabilidade (coeficiente de determinação) obtidas pela análise de componentes principais (ACP) baseado na classificação granulométrica de WENTWORTH, (1922). Quatro componentes podem explicar 97% da variabilidade total da distribuição granulométrica das amostras.

As quatro populações individuais de partículas (componentes) ao longo

do testemunho são resumidas na Tabela 2. Como pode-se apreciar, a primeira

moda (M1), apresentou uma Gmd de aproximadamente 3±1 µm e a segunda

(M2) apresentou uma Gmd de 10±2 µm e é caracterizada por apresentar uma

Gsd larga, o que indica um baixo grau de classificação. De acordo com Sun et

al., (2002), tal grau de classificação (Gsd ~2 σ) poderia se relacionar com um

Page 79: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

77

processo de deposição lento e contínuo. As modas grossas, M3 e M4,

apresentaram valores de Gmd de 54±12 µm e 90±13 µm, respectivamente.

Essas modas apresentaram uma Gsd com valores perto de 1 σ. Os valores das

duas modas grosseiras são consistentes com a ótima distribuição

granulométrica capaz de ser transportada com condições favoráveis a erosão

eólica do solo (i.e., falta de vegetação, baixo umbral de fricção, rugosidade da

superfície e baixa umidade do solo) e baixa velocidade limiar de fricção

(IVERSEN; WHITE, 1982; KOK et al., 2012; MARTICORENA; BERGAMETTI,

1995; MARTICORENA, 2014; SHAO; LU, 2000). Estas condições prevalecem

na área de estudo, já que a costa central e sul do Peru consiste de desertos de

areia caracterizados pela falta de chuva, falta de vegetação e ventos

persistentes (GAY, 2005; HANEY; GROLIER, 1991).

Figura 22 - A) Descrição das quatro modas ajustadas calculadas (M1, M2, M3 eM4) para a média granulométrica do registro total; em detalhe pode se ver um exemplo do desvio padrão geométrico (Gsd) sua abundancia relativa dada em (%).

Nas áreas vizinhas aos desertos, onde prevalece o transporte eólico

durante eventos de erosão, partículas com tamanho de grão tão grande quanto

~100µm podem se acumular em sedimentos marinhos (FLORES-

AQUEVEQUE et al., 2015; STUUT et al., 2007), ou ainda em sedimentos

lacustres (AN et al., 2012). De fato, Stuut et al. (2007) relata a presença de

distribuições típicas de erosão eólica (~80 µm) a ~29°S no norte de Chile, o

Page 80: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

78

que é consistente com nossos resultados. Na área de estudo, a emissão e

transporte de poeira está relacionada aos eventos chamados localmente como

“Vientos Paracas” (VP). Segundo Escobar Baccaro (1993) as emissões de

poeira durante os VP são caracterizadas por serem sazonais e, ocorrem

preferencialmente durante o inverno Austral (Julho-Setembro) e se devem a

intensificação dos ventos superficiais. Porem, eventos podem ocorrer durante o

ano todo. O gradiente de pressão do nível do mar entre 15°-20°S, 75°W é o

fator controlador dos ventos Paracas (QUIJANO VARGAS, 2013).

Adicionalmente, a topografia local também influencia estes eventos (GAY,

2005). As partículas grosseiras não poderiam ter sua origem no material fluvial

porque uma energia hidrodinâmica substancial seria necessária para mobilizar

partículas deste tamanho (50-100 µm) e, na região não existem grandes rios,

assim como fortes correntes para transportar este material (REINHARDT et al.,

2002; SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982; SUESS; KULM; KILLINGLEY, 1987).

Desta forma, as modas grosseiras (M3 e M4) podem ser interpretadas

como indicadoras do transporte eólico resultado dos processos de

intensificação dos ventos superficiais e processos de emissão de poeira (e.g.,

eventos Paracas) (FLORES-AQUEVEQUE et al., 2015; HESSE; MCTAINSH,

1999; MARTICORENA; BERGAMETTI, 1995; MCTAINSH; NICKLING; LYNCH,

1997; SUN et al., 2002). Esses dois componentes (M3 e M4) indicam uma área

local e próxima (i.e., Ventos Paracas) para o material eólico. Estes fatos

contradizem Ehlert et al. (2015) e Molina-Cruz (1977), que indicam ser o

Atacama a fonte principal de material eólica. Ehlert et al. (2015), que também

estudou o B06, também aponta dificuldades na interpretação do sinal dos

isótopos de Sr detrítico como indicador das fontes. Essas dificuldades podem

ser associadas com a variabilidade do 87Sr/86Sr associadas à distribuição

granulométrica (MEYER; DAVIES; STUUT, 2011). As partículas finas M1,

poderiam ser vinculadas à ambos os mecanismos de transporte (eólico e

fluvial), ou poderiam também ser transportadas como agregados de outras

partículas. Assim, sua origem é difícil de determinar, além disso, sua tendência

é diferente e relativamente independente dos outros componentes, nós não

iremos discriminar elas.

Page 81: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

79

A componente M2 é interpretada como sendo característica de descarga

e transporte fluvial (KOOPMANN, 1981; MCCAVE; MANIGHETTI; ROBINSON,

1995). A origem fluvial de M2 é também suportada por apresentar a mesma

tendência que os indicadores geoquímicos terrígenos como o incremento na

entrada de Ti (SALVATTECI et al., 2014b; SIFEDDINE et al., 2008) e pela

tendência da composição dos isótopos radiogênicos do componente detrítico

(EHLERT et al., 2015). Esta componente M2 é interpretada como vinculada as

descargas fluviais, as quais são mais significativas ao norte da costa Peruana e

são redistribuídas pelas correntes oceânicas em direção ao sul (MONTES et

al., 2010; REIN; LÜCKGE; SIROCKO, 2004; SCHEIDEGGER; KRISSEK, 1982;

UNKEL et al., 2007). Assim, a plataforma continental de Pisco recebe

partículas grossas de origem eólica por processos de saltação e suspensão

vinculada aos eventos Paracas assim como partículas finas de origem fluvial

que atingem esta região.

Tabela 2- Medias dos parametros (Diametro medio geometrico Gmd, Amplitud A e, Desvio padrão geometrico Dsd) dos 4 modas log-normais (componentes) identificadas a partir da distribuição granulométrica bruta das amostras dos testemunhos de sedimento B06 e G10

6.2.2. Variabilidade da entrada de material fluvial e eólico durante os últimos

~1100 anos

As variações dos componentes granulométricos (M1, M2, M3 e

M4:Tabela 3 - V) ao longo do registro (B06 e G10) mostram que as descargas

fluviais e a intensidade do vento mudaram em escalas de tempo que vão desde

multidecadal à secular. Esta variabilidade permite a identificação de três

M1 Não

determinado

M2

Fluvial

M3

Eólico

M4

Eólico

Gmd

(µm)

A

(%) Gsd

Gmd

(µm)

A

(%) Gsd

Gmd

(µm)

A

(%) Gsd

Gmd

(µm)

A

(%) Gsd

3±1 16±7 1.9±0.2 10±2 43±15 1.9±0.2 54±12 20±10 1.4±0.2 90±13 20±13 1.2±0.2

Page 82: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

80

períodos climáticos: a ACM, a PIG e, o PAM. Os sedimentos depositados

durante a ACM exibem dois padrões contrastantes na distribuição

granulométrica. No primeiro deles, datado de ~900 a 1170AD, baixos valores

de D50 (i.e., mediana da distribuição granulométrica segundo Blott, Pye (2001)

e Wentworth (1922) foram encontrados, os quais variaram ao redor de 16±6 µm

e são explicados por uma contribuição de 50 ± 10% M2, 18±7% M3, 21±8% M4

e 11±4% M1.

Page 83: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

81

Tabela 3 - Valores mínimos, máximos e médias das componentes granulométricas obtidos ao longo do registro na plataforma central de Pisco

Primeira fase ACM

900 – 1170 A.D.

Segunda fase

ACM

1170 – 1450 A.D.

PIG

1450 – 1800 A.D.

PAM

1900 A.D até o

presente

Componentes

Granulométricos dV/dlnd (%) dV/dlnd (%) dV/dlnd (%) dV/dlnd (%)

Av/Std.Dv.

Range

(Min.-Max.) Av/Std.Dv

Range

(Min.-Max.) Av/Std.Dv.

Range

(Min.-Max.) Av/Std.Dv.

Range

(Min.-Max.)

M1 11 ± 4 7 - 19 14 ± 6,0 5 - 27 15 ± 6 6 - 28 18 ± 7 4 - 40

M2 50 ± 10 33 - 64 41 ± 10 23 - 62 57 ± 13 25 - 80 34 ± 10 13 - 63

M3 18 ± 7 6 - 28 21 ± 9 0 - 39 16 ± 8 5 - 45 23 ± 10 6 - 44

M4 21 ± 8 8 - 42 24 ± 15 0 - 55 11 ± 7 0 - 24 25 ± 13 0 - 56

81

Page 84: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

82

Figura 23 - A) A variação da mediana granulométrica (D50) ao longo do registro e a variação da abundância relativa dos componentes sedimentares: B) M1, C) Fluvial (M2), D) Eólico (M3) e, o E) Eólico (M4) da distribuição granulométrica no registro sedimentar F) As barras verdes representam as amostras onde foram encontradas partículas muito grandes, relacionadas com ventos superficiais muito intensos na região de Ica.

82

Page 85: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

83

O segundo período do ACM, datado de 1170 até 1450AD, foi

caracterizado pelos altos valores de D50 que variaram ao redor de 28±17µm,

com uma contribuição média de 14±6% para M1 e 41 ± 10% para M2, e valores

ao redor de 21 ± 9% para M3 e 24 ± 15% para M4. Esses resultados indicam

alta variabilidade no transporte de partículas durante o ACM, com mais

descarga fluvial, de ~900 até 1170AD e, incremento na entrada de material

eólico entre 1170 e 1450AD, o que sugerem que este último período teve um

incremento na velocidade dos ventos superficiais (Figura 23D e, E).

Durante a PIG (~1450 – 1820AD), o depósito de partículas foi dominado

por partículas finas com um D50, que varia ao redor de 13±9µm, explicado pela

contribuição de 57±12% de M2. O M3 representa uma contribuição média de

16±8% variando de 5 a 45%, enquanto que M4 mostrou uma contribuição

média de 11±7%, variando entre 0 e 24%, durante o mesmo período. Esta

contribuição significativa de partículas finas M2 sugere uma alta descarga de

material fluvial durante esta época. É importante ressaltar que a contribuição de

M2 se eleva progressivamente desde o começo até o final da PIG, em

~1820AD, o que sugere um incremento gradual na descarga de sedimento

fluvial relacionado com um incremento na precipitação continental (Figura 23C).

De fato, em relação a PIG, nossos resultados corroboram com outros estudos

na região (APAÉSTEGUI et al., 2014a; GUTIÉRREZ et al., 2009; SALVATTECI

et al., 2014b) que indicam condições úmidas sobre as bacias de drenagem.

Esses resultados também implicam no fato de que este período foi caraterizado

por um enfraquecimento nos ventos superficiais.

Finalmente, durante os últimos 250 anos o D50 mostrou alta

variabilidade e foi caracterizado por apresentar dois períodos (1750 até

1850AD e 1900 até 1960AD contido dentro do PAM). Este período foi

caracterizado por apresentar altos valores de D50 ao redor de 45µm, com

aportes de ~40% e ~30% de M4 e M3, respectivamente. De 1850 até 1900AD

e, de 1960 a 2000AD durante o PAM, o D50 apresenta valores ao redor de

20µm explicado por contribuição de ~40% por parte de M2. Esses resultados

indicam um claro incremento no material grosseiro de origem eólica (M3 e M4)

depositado durante o PAM, especialmente para os períodos compreendidos de

1750 até 1850AD e 1900 até 1960AD. Além disso, também é notório que

Page 86: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

84

durante esses períodos que partículas tão grandes como ~120 µm foram

encontradas (contidas na componente M4) indicando assim, um período de

ventos superficiais muito intensos e uma forte atividade de erosão eólica

(Figura 23F). Por outro lado, a descarga de material fluvial foi significativa de

AD1850 até 1900, assim como de; AD1960 até 2000. O incremento das

partículas finas durante os últimos 50 anos sugere um incremento na descarga

fluvial e, portanto, no padrão de precipitação. Uma tendência similar foi

identificada no registro de fluxo de material terrígeno (minerais totais) tanto em

Callao como em Pisco (SIFEDDINE et al., 2008).

6.2.3. Interpretações Paleoclimáticas

Os resultados encontrados sugerem que uma combinação de mudanças

entre mecanismos locais e regionais controlam o padrão de sedimentação na

nossa área de estudo. O registro é localizado na passagem de uma

tempestade de poeira, mas também consegue registrar a descarga de material

fluvial, fornecido pelos rios da costa Peruana. Assim, este registro é

particularmente bem adaptado para a reconstrução das mudanças na

intensidade dos ventos e das descargas fluviais na plataforma continental

central do Peru no último milênio.

A interpretação das mudanças nos registos individuais dos componentes

(M2, M3 e M4) e as suas associações (e.g., proporções) podem refletir

variações paleoclimáticas em resposta a mudanças nas condições

atmosféricas. Foi utilizada a razão entre a contribuição dos componentes

eólicos, definida como a contribuição dos ventos mais fortes sobre a

variabilidade dos ventos totais: M4/(M3+M4) como um indicador da intensidade

dos ventos locais superficiais (Figura 24F). De fato, o uso de razões de

componentes granulométricas como indicador das condições atmosféricas e

circulação tem sido uma ferramenta utilizada com sucesso para explicar

diferentes registros (HOLZ et al., 2007; HUANG et al., 2011; PRINS, 1999;

SHAO et al., 2011; STUUT et al., 2002; SUN et al., 2002; WELTJE; PRINS,

2003).

Page 87: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

85

Como foi explicado anteriormente, a ACM foi caracterizada por

apresentar uma estrutura de pico sinuosa que retrata duas fases diferentes no

clima. A primeira fase, que vai de ~900 – 1170AD, é caracterizada por

apresentar alta descarga fluvial a qual está vinculada a um incremento da

precipitação (Figura 24E). Este incremento pode ser explicado pelo

deslocamento para o sul da ITCZ (Figura 24B) e pela redução da força na

circulação da ASPS (enfraquecimento dos ventos favoráveis a ressurgência ou

na intensidade dos ventos superficiais) (Figura 24E). Este padrão é vinculado à

reorganização da circulação atmosférica e oceânica, também mencionada por

Salvatteci et al. (2014b), que usando indicadores biogeoquímicos dos

sedimentos marinhos, mostrou condições sub-oxicas nos sedimentos durante

esta época (demostrado pelos valores altos da ração Re/Mo), indicando um

enfraquecimento da intensidade da ZMO (Figura 24C) provavelmente

associado a condições tipo El Niño.

Menos descarga fluvial (i.e., condições secas no continente) e ventos

superficiais mais intensos caracterizam a segunda parte do ACM (~1170 até

1350AD). Isto está vinculado à intensificação da ASPS como resposta de um

deslocamento meridional em direção norte do sistema ITCZ-ASPS e condições

do tipo La Niña. De fato, a tendência na intensidade do vento durante este

período é consistente com o registro de temperaturas no Oeste do Pacífico

(Figura 24A).

Page 88: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

86

Figura 24 - Reconstrução de: A) Temperaturas do Indo-Pacífico (OPPO; ROSENTHAL; LINSLEY, 2009), B) Fluxo de %Ti na bacia de Cariaco (PETERSON; HAUG, 2006), C) Anomalias da Atividade da ZMO Re/Mo, valores positivos indicam condições sub-oxicas e valores negativos indicam condições mais anóxicas nos sedimentos (eixo invertido para melhor interpretação) (SALVATTECI et al., 2014b), D) Fluxo de material terrígeno (minerais totais) nos sedimentos de Pisco por Sifeddine et al (2008), E) Variabilidade da descarga Fluvial (M2) sobre a plataforma continental, F) Variabilidade da intensidade do vento (M4/(M3+M4)).

Page 89: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

87

Estas características descritas anteriormente estão em fase também

com um período de forte ZMO na plataforma de Pisco (Figura 24C), que são

associadas com uma ressurgência mais intensificada devido à circulação de

Walker mais intensa. Em concordância com os resultados descritos em

Salvatteci et al. (2014b), esse padrão é consistente com condições persistentes

de verão austral. A associação do sistema oceano-atmosfera mostra que a

ACM esteve submetido a grandes e abruptas alterações na circulação

atmosférica em grande escala.

Estes resultados, combinados com outras reconstruções

paleoclimáticas, sugere que a PIG exibe um enfraquecimento da circulação

atmosférica regional e dos ventos favoráveis a ressurgência. Durante a PIG, o

estado do clima médio era controlado por uma intensificação gradual da

entrada de material litológico fluvial à plataforma continental, indicando

condições mais úmidas, as quais são consistentes com as condições

ambientais de tipo El Niño (Figura 24E). Essas condições são confirmadas pelo

incremento na entrada no fluxo do material terrígeno descrito em Gutiérrez et

al. (2009) e Sifeddine et al. (2008) (Figura 24C) e pela composição isotópica da

fração terrígena (EHLERT et al., 2015). Este incremento nas condições úmidas

é também evidenciado pela intensificação do Sistema de Monção Sul-

americana (SAMS).

Os registros de paleo-precipitação suportam estas hipóteses de

características regionais (APAÉSTEGUI et al., 2014a; HAUG et al., 2001;

PETERSON; HAUG, 2006). Essas condições foram consistentes tanto na bacia

Amazônica quanto na bacia do Pacifico e, sugerem uma direta relação com o

deslocamento meridional da ITCZ (Figura 24B e, E). Estas características

foram acompanhadas pelo predomínio de ventos superficiais fracos (Figura

24F) e notáveis condições sub-oxicas na superfície dos sedimentos (Figura

24C). Essas características também suportam a hipótese de deslocamento

meridional do sistema ITCZ-ASPS e é consistente com um enfraquecimento da

circulação da célula de Walker (Figura 24A).

A transição entre a PIG e o PAM se apresenta como um evento abrupto.

Este período evidencia uma progressiva intensificação nas anomalias positivas

Page 90: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

88

nos ventos mais intensos e uma forte e rápida diminuição na descarga de

material fluvial à plataforma continental (Figura 24E e F). Isto sugere uma

rápida mudança de dois fatores, a posição meridional do sistema (ITCZ-SPSH)

e a circulação de Walker, as quais controlam a entrada de material terrígeno.

Os resultados sugerem que o padrão de precipitação é afetado mais rápida e

abruptamente do que a intensidade dos ventos superficiais (pelo menos ventos

favoráveis à erosão eólica). Gutiérrez et al. (2009) encontrou evidência de uma

reorganização de grande escala no clima tropical do Pacífico com efeitos

imediatos no ciclo biogeoquímico e na estrutura do ecossistema durante este

período. O incremento na intensidade dos ventos sugere um deslocamento ao

Norte do sistema ITCZ-ASPS, o qual, por sua vez, incrementa a circulação dos

ventos regionais (favoráveis à ressurgência e a erosão eólica) e

simultaneamente leva a um incremento na ZMO, que está relacionada com

uma intensificação da ressurgência (Figura 24C).

Finalmente, durante o PAM (~AD1900 ao presente), anomalias

negativas na tendência da descarga de material fluvial, combinado com um

incremento na intensidade do vento, que se mostra acoplado a uma forte e

marcada ZMO, mostra uma ressurgência intensificada. Esta configuração

sugere uma forte modificação no regime atmosférico que determina a descarga

de material fluvial quando o sistema meridional ITCZ-ASPS está na sua

posição mais ao norte (Figura 24 E e, F). Esta hipótese é suportada por outros

estudos na plataforma continental do Peru (SALVATTECI et al., 2014b) e

também no oeste dos Andes onde um incremento na precipitação (entre ~10 e

20%) foi detectado durante a PIG, em comparação com os subsequentes ~200

anos (REUTER et al., 2009). Esta tendência é consistente ainda com um

incremento na intensidade dos ventos que é corroborada com um

aprimoramento na produtividade da ressurgência (GUTIÉRREZ et al., 2011;

SALVATTECI et al., 2014b; SIFEDDINE et al., 2008) e, confirma a relação

entre a intensificação na atividade da ressurgência induzida pela variabilidade

na intensidade dos ventos regionais relacionados com o deslocamento e

circulação da ASPS.

O incremento na intensidade dos ventos durante os últimos dois séculos

provavelmente representa o resultado da posição do sistema ITCZ-ASPS

Page 91: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

89

atualmente e, a intensificação associada dos ventos locais e regionais (Figura

24F). No entanto, a deposição do material eólico (Figura 23E e, F) e, em

consequência, a intensidade dos ventos e sua variabilidade é mais forte

durante os últimos 100 anos do que durante a segunda parte da ACM (Figura

24F), onde se apresentam similares condições (i.e., posição do sistema ITCZ-

ASPS). Esta tendência sugere uma forçante adicional responsável pela

intensificação da circulação atmosférica, consistente com o atual padrão de

mudança climática (ENGLAND et al., 2014; MCGREGOR et al., 2014;

SYDEMAN et al., 2014). Finalmente, a diminuição na descarga fluvial no

mesmo período mostrado por M2 reflete a tendência por condições mais secas

em comparação com PIG (Figura 24E). Além disso, durante o PAM, a

intensificação do vento mostra uma relação muito estreita com a variabilidade

da ZMO (Figura 24C), reforçando a interpretação da intensificação dos ventos

como consequência do fortalecimento da ASPS.

Variações na descarga de material fluvial (i.e., variabilidade na

precipitação) apresentam uma variabilidade secular ao longo do último milênio,

mostrando uma intensa descarga fluvial durante o primeiro período do ACM,

assim como durante a PIG. Assim, um estado médio do clima para este

período pode ser descrito como úmido, onde ao mesmo tempo se teve uma

reduzida intensidade do vento (Figura 24F). Em contraste, o segundo período

do ACM e durante o PAM se apresenta pouca descarga de material fluvial e

ventos muito mais intensos. Estas condições sugerem um mecanismo adicional

para o incremento da intensidade do vento, talvez, relacionado com as atuais

condições de mudanças climáticas. Uma boa relação entre o conteúdo de

titâtio (Ti) no registro da bacia de Cariaco (Figura 24B) e uma variação que vai

de multidecadal a secular no registro de descargas fluviais sobre a plataforma

continental suporta a hipótese de que ambos os sistemas são controlados por

um mecanismo climático comum.

Estas condições são relacionadas com um deslocamento da ITCZ

descrita por Haung et al. (2001a) e, mais recentemente, por Sachs et al.

(2009). Consequentemente, um deslocamento e fortalecimento ou

enfraquecimento da ASPS sobre o Pacífico Leste poderia ser esperado. Estas

condições irão determinar o enfraquecimento ou fortalecimento da intensidade

Page 92: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

90

dos ventos superficiais em escala de tempo multidecadal a secular. Essas

condições irão também regular o comportamento da estrutura geoquímica do

sistema de ressurgência do Peru.

6.3. CONCLUSÕES

Quatro componentes granulométricos foram identificados (M1, M2, M3 e

M4) no registro dos sedimentos marinhos e foram relacionados com diferentes

fontes e processos de transporte à plataforma continental durante o último

milênio. A moda M2 (~10µm) é um indicador de descarga fluvial relacionada

com a variabilidade regional de precipitação, enquanto que os componentes

M3 (54±11) e M4 (90±11) estão relacionados a transporte eólico e assim, com

a intensidade do vento local e regional. A entrada de ambos (material eólico e

fluvial) exibe uma variabilidade que vai desde decadal até secular e, mostram

uma estreita relação com as condições atmosféricas regionais. Os períodos da

ACM e o PAM mostram um incremento no transporte de partículas grosseiras

e, assim um aumento na intensidade dos ventos superficiais, enquanto que a

PIG foi caracterizada por uma intensa descarga de material fluvial marcada por

um transporte ativo de partículas M2.

A comparação com registros paleoambientais revela uma coerente

variabilidade entre o deslocamento do sistema ITCZ-ASPS e a descarga de

material fluvial e transporte de material eólico. A intensidade dos ventos e o

registro das condições anóxicas pelos sedimentos marinhos mostrou uma

estreita relação, o que sugere um mecanismo associado com o deslocamento

da ASPS como mecanismo comum para seu enfraquecimento/fortalecimento.

Mudanças na descarga de material fluvial e transporte de material eólico à

plataforma continental está vinculada ao deslocamento do sistema ITCZ-SPSH

e ao fortalecimento ou enfraquecimento zonal da célula de Walker. Esse

resultado mostra uma ativa descarga de material fluvial durante condições tipo

El Niño e, pelo contrário, um fortalecimento do transporte de partículas eólicas

e assim, da força do vento durante condições tipo La Niña.

O período de ACM mostra que foi um período que esteve submetido a

grandes e abruptas alterações na circulação atmosférica de grande escala

Page 93: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

91

associadas ao sistema oceano atmosfera. Os resultados mostram que durante

este tempo os ventos eram significativamente mais fortes e a precipitação era

altamente variável. Uma ativa descarga de material fluvial durante a PIG

evidenciou condições mais úmidas sobre o continente estreitamente

relacionado com condições persistentes do tipo El Niño. Uma progressiva

intensificação na intensidade dos ventos é registrada durante o PAM e pode

estar relacionada com o fortalecimento da circulação de Walker, favorecendo

maiores condições de tipo La Niña, as quais permitem o incremento na

intensidade dos ventos regionais e consequente intensificação da ZMO.

Page 94: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

92

7. MUDANÇAS NA DEPOSIÇÃO EÓLICA NA PLATAFORMA

CONTINENTAL CENTRAL DO PERU DURANTE O ÚLTIMO SÉCULO E

SUA RELAÇÃO COM AS CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS

7.1. MATERIAIS E MÉTODOS

7.1.1. Testemunho marinho e analises granulométricas

Para este estudo foi utilizado o testemunho B040506 (B06), que é um

boxcore, coletado aos 14° 07.90’ S, 76° 30.10’ W, a 299 m de profundidade

(Figura 25C). Este testemunho foi coletado em 2004 durante o cruzeiro Paleo2,

abordo da embarcação José Olaya Balandra, do Instituto do Mar do Peru

(IMARPE). A longitude desde testemunho é de 75 cm, porém para este

trabalho só serão considerados os primeiros 30 cm, correspondentes à secção

descrita como “post-shift” (mudança abrupta no padrão geoquimico) e que

equivale aos últimos ~150 anos (ver GUTIERREZ et al., 2006; SALVATTECI et

al., 2014a; SIFEDDINE et al., 2008 para mais informações). Cada amostra

corresponde a intervalos 0.5 a 1 cm de espessura, que usualmente inclui 1 a 2

laminas que representam depósitos de 1 a 7 anos entre elas. A presença de

filamentos da bactéria Thioploca spp no topo do testemunho foi considerado

um indicador de sucesso da recuperação da interface água - sedimento.

Page 95: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

93

Figura 25 - A e B). Apresentam o cenário com e sem emissão de poeira por erosão eólica sobre o estado de Ica e a plataforma continental (Imagens do MODIS Aqua/Terra composição de cor verdadeira com refletância superficial). C) A área de coleta do testemunho de sedimento.

O modelo cronológico para os últimos ~150 anos foi baseado na

distribuição natural do excesso de 210Pb e 137C ao longo do testemunho e pelo

241Am derivado da explosão de bombas atômicas (Figura 26). De acordo com o

modelo cronológico, a taxa de acumulação depois de 1950 AD foi de

0.036±0.001 gcm−2 y−1 e, antes de 1820AD foi 0.022±0.001 gcm−2 y−1. Para

mais detalhes sobre a descrição e características do modelo cronológico ver

Gutierrez et al. (2006, 2009), corrigido por Salvatteci et al. (2014a).

Page 96: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

94

Figura 26 - Perfil de excesso de 210

Pb e 241

Am no testemunho B040506. Reconstrução da queda de 137Cs no Hemisfério Sul (UNSCEAR, 2000), e precipitação da atividade específica de

137Cs em Buenos Aires (Ribeir; Arribére, 2002). As características mais representativas das

mudanças (início e períodos pico, foram sombreadas) utilizou-se para identificar três marcadores temporais no perfil da atividade especifica do

241Am. Os intervalos de tempo para

cada marcador foi estimado pelo excesso de 210

Pb derivado da taxa de sedimentação na camada superior e da camada da amostra. Fonte: Adaptado de GUTIERREZ et al., 2006.

A fração mineral de origem terrígena foi separada do “bulk” de

sedimentos pelágicos usando o método sugerido por Leinen et al. (1994);

Pichevin et al. (2005) e Weltje e Prins (2003). Esta metodologia consiste em um

ataque sequencial: primeiro as amostras (100mg aproximadamente) foram

tratadas com H2O2 (30% a 50°C durante 3 a 4 dias) para remover a fração

orgânica do material e depois foram tratadas com HCl (10% durante 12 horas)

para remover a fração carbonatica e finalmente com NaCO3 (1M a 90°C

durante 3 horas) com o intuito de eliminar a sílica biogênica.

Durante os tratamentos químicos, as amostras foram lavadas

repetidamente com água deionizada e centrifugadas a 4000 RPM até a solução

apresentar com pH neutro (pH:6-7). A fração remanescente foi peneirada a 200

µm para remover as partículas grandes. No entanto, partículas maiores que

Page 97: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

95

200 µm não foram encontradas, o que significa que a totalidade da amostra foi

considerada. Isto foi feito devido ao fato de que somente partículas menores

que 200 µm podem ser detectadas pelo método analítico usado. Após o pré-

tratamento, a distribuição granulométrica foi determinada com um sistema

automático de análises de imagens (modelo FPIA 3000, Malvem Instruments

no IRD, Bondy-França).

A análise de distribuição granulométrica foi realizada mediante uma

ampliação ótica (x10), uma vez que com esta configuração podem ser

analisadas partículas de 0,5 até 200µm. Este equipamento fornece a

distribuição de tamanho e volume, o que representa a distribuição de massa,

além do tamanho médio do grão. Esta tecnologia analisadora de fluxo de

partículas por imagens oferece como vantagem a observação de cada partícula

das amostras, o que assegura que se esteja analisando só partículas minerais,

avaliando desta forma, a eficiência do ataque químico. Ademais, o software

fornece a possibilidade de eliminar partículas de procedência não mineral

(fibras, as carapaças de algas remanentes, quando houver) e permite fazer

diversos cálculos simultâneos de diferenças de tamanho e característica de

forma de partículas (e.g. esfericidade, forma). A galeria das imagens em

combinação com as múltiplas funções de filtros suportam ainda a avaliação de

medidas nas partículas mesmo quando se apresentam milhões de partículas

por amostra.

Devido às propriedades físicas e ao transporte, a distribuição

granulométrica das partículas em movimento seguem uma distribuição e

classificação natural do tamanho de grão. Diferentes autores têm utilizado uma

variedade de modelos de ajustes com o objetivo de separar os componentes

granulométricos produtos do transporte físico natural e, as condições

ambientais, que podem variar dependendo das condições climáticas (e.g.

GOMES et al., 1990; HUANG et al., 2011; STUUT et al., 2002; SUN et al.,

2002; WELTJE, 1997). Estes modelos assumem que a composição litológica

do sedimento é composta de uma assembleia de diferentes distribuições log-

normais de populações granulométricas (polimodais).

Page 98: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

96

Neste trabalho usa-se uma rotina interativa de ajuste de mínimos

quadrados para determinar o número e as características das populações de

partículas individuais baseado no modelo de deconvolução proposto por

Gomes et al., (1990). Escolhou-se este modelo porque se adapta bem às

variações ambientais na perspectiva das mudanças climáticas ao longo do

tempo podendo assim, diminuir a incerteza. Parâmetros estatísticos foram

calculados para cada amostra de maneira independente ao longo do

testemunho. Assim, o desvio padrão (σ) o tamanho das partículas (µm) variam

entre 1.1 e 2 e entre 0.5 e 200µm, os quais representam a forma e a moda,

respectivamente, de cada população granulométrica. A contribuição destas

modas foi dada em (%).

7.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O registro temporal da mediana granulométrica (D50) mostra que se

apresentam dois períodos, com predominância de partículas grossas. O

primeiro compreende entre 1900-1920AD e o último entre 1940-1960AD. Além

disso, no final da década de 1850AD há um aparente período com dominância

de partículas grossas. Isto sugere que o incremento dessas partículas pode

estar relacionado com um aumento ou favorecimento da atividade natural

responsável por o seu transporte. Por outro lado, o período entre 1855-1890AD

e, os últimos 30 anos apresentam um domínio de partículas mais finas (Figura

27).

Page 99: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

97

Figura 27 - A.) Imagens SCOPIX do testemunho B040506 as cores foram invertidas, as lâminas escuras representam sedimento mais denso e as claras os sedimentos menos denso; os primeiros centímetros (30) se mostram contínuos, não perturbados e com sequências laminares bem preservadas. As linhas verdes indicam depósitos homogêneos, ou slumps. B) Interpolação do registro temporal da distribuição granulometria bruta. C) Registro temporal da mediana granulométrica (D50). O registro temporal varia entre 1 a 5 anos, desta forma foram aglomeradas em intervalos de 5 anos para ajustar a resolução da amostra em relação aos maiores intervalos de resolução.

A distribuição granulométrica relativa calculada mostra que as partículas

finas têm suas modas em 3 e 10 µm e, as grosseiras em 50-90µm (Figura 28),

resultados que estão em concordância com os resultados de trabalhos

anteriores (BRICEÑO-ZULUAGA et al., 2015). O modelo permite mostrar que

as partículas finas apresentam uma baixa classificação (ou σ) enquanto que as

componentes grosseiras mostram uma alta classificação e suas frequências

exibem uma ampla variabilidade ao longo do registro. Briceño-Zuluaga et al.,

(2015) ressaltaram a importância da distribuição granulométrica como indicador

dos processos de entrada de material sedimentar na plataforma continental

central do Perú. Assim, partículas finas, 10±2µm, foram relacionadas com

processos de descarga fluvial e as partículas grosseiras (54±11µm e 90±11µm)

com processos de erosão eólica. Resultados semelhantes foram obtidos por

Flores-Aqueveque et al. (2015) na Baia de Mejillones, no Chile. Eles

Page 100: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

98

relacionaram partículas >35µm como indicador da atividade de erosão eólica

sobre a pampa, e partículas >100µm como indicativas de ventos extremos

dessa erosão induzidos por ventos de alta velocidade, muito similares com a

conjutura feita na região de Pisco. No entanto, diferentemente da Baia de

Mejillones, a plataforma continental de Pisco recebe a entrada de material

fluvial, o que incrementa o potencial destes registros sedimentares como um

ambiente ideal para o estudo da dinâmica atmosférica e sua variabilidade do

Pacífico Leste.

Figura 28 - Contribuição relativa da distribuição granulométrica calculada post-shift para o testemunho B040506.

Como foi mencionado anteriormente, as partículas com moda ~10µm

são indicadoras de descarga fluvial (Figura 29B). A contribuição média destas

partículas oscilou entre 13.5 – 62.9%, com uma média de 35%. Os resultados

mostram que estas partículas tiveram uma boa correspondência entre as

anomalias positivas e os registros dos eventos tipo El Niño mais extremos

(Figura 29I). Durante os eventos El Niño existe um aumento na precipitação

sobre a bacia do Pacífico que incrementa o material detrítico que pode ser

levado à plataforma continental. De fato, o registro mostra que o grande pico,

Page 101: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

99

entre ~1920-1925AD, se relaciona com o El Niño mais extremo registrado. A

série temporal de descarga fluvial também não falha em registrar outros

grandes eventos tipo El Niño (e.g. 1983-84AD e 1997-98AD) (Figura 29 A e H).

Os aportes fluviais também mostram uma persistente anomalia positiva

multidecadal entre 1850 – 1925. Este período é consistente com anomalias de

temperatura superficial do mar (TSM) mais positivas segundo registros de

alkenones da plataforma continental, assim como uma OMA negativa (Figura

29H).

O período entre AD1940-1955 apresenta-se com fortes anomalias

negativas de aportes fluviais, o que indica condições mais secas. Este período

coincide com um período de persistentes eventos tipo La Niña fortes e

extremos. Finalmente, os últimos 30 anos apresentam uma persistente

variabilidade subdecadal. Lavado-Casimiro e Espinoza (2014) relatam para

este período um incremento na precipitação na bacia do Pacífico relacionada à

variabilidade interdecadal. Esses resultados são consistentes com a

variabilidade registrada no testemunho e poderia explicar a dominância no

registro do tamanho médio das partículas finas neste período.

As partículas eólicas de ~50µm apresentam uma contribuição média de

22.3% e variaram entre 5.6 – 40.6%. Por outro lado, a contribuição de

partículas mais grosseiras ~90 µm variou de 0.4 – 56.1% com uma média de

25.1%. As partículas ~90 µm, indicadoras de eventos VP’s mais fortes,

apresentam persistentes anomalias negativas de AD1850 até AD1930 (Figura

29C). Após este período, a série de tempo mostra um domínio predominante

de anomalias positivas até o final do registro (AD1930-AD2004), com picos

negativos consistentes com anos de eventos tipo El Niño extremos ou fortes.

Estes resultados sugerem uma diminuição da intensidade dos ventos

favoráveis a erosão eólica durante anos com eventos tipo El Niño.

Seguindo o princípio de usar as razões das partículas eólicas como

indicador da intensidade do vento (Figura 29D) (eg., BRICEÑO ZULUAGA et

al., 2015; HUANG et al., 2011) pode-se ver que os resultados mostram dois

períodos com condições persistentes. O primeiro deles, de 1855 - 1930AD,

mostra ventos preferencialmente mais fracos em relação ao segundo período,

Page 102: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

100

que vai de 1930 até o final do registro, onde se apresentam ventos mais

intensos. Uma correspondência notável pode ser notada em relação a

variabilidade multidecadal da intensidade do vento com as anomalias do TSM

registradas em alkenonas por Gutiérrez et al. (2011a) para o mesmo

testemunho. Ao mesmo tempo, esta tendência apresenta uma boa

concordância com a intensificação da temperatura global (Figura 29F) e é

consistente com uma ODP e, OMA positiva (Figura 29G e H).

Estes resultados sugerem uma possível conexão com a atual tendência

de aquecimento global, assim como com a variabilidade OMA como

mecanismo de intensificação dos ventos alísios e correspondente

intensificação da ressurgência. Tais fatos são consistentes com os

mecanismos de acoplamento atmosférico e oceânico entre as bacias Pacifico-

Atlântico, como mostrado nos modelos de McGregor et al. (2014) e

Timmermann et al. (2007). Da mesma forma, os mecanismos de intensificação

da ressurgência pela tendência de temperatura global são consistentes com os

relatados nos trabalhos de England et al. (2014) e Sydeman et al. (2014). Os

resultados de intensificação dos ventos, por sua vez, são consistentes com os

registrados por Flores-Aqueveque et al. (2015) para a mesma escala de tempo

na Baia de Mejillones, localizada ao Norte de Chile.

A fim de avaliar os principais modos de variabilidade climática e as

escalas de tempo relacionadas com as mudanças na variabilidade da descarga

fluvial e da intensidade do vento, foram feitas analises espectrais de séries

temporais (Figura 30). Os resultados mostram um primeiro pico que sugere que

a descarga fluvial é dirigida por períodos multidecadais equivalentes a 50-56

anos. O registro apresenta também um pico secundário que é corresponde a

períodos de 20 e 16 anos. Por outro lado, a deposição das partículas eólicas de

~50 µm mostra um primeiro pico que sugere que a sua deposição é controlada

por períodos de 40anos, assim como um segundo que sugere períodos de 10-

12 anos.

Além disso, as partículas eólicas de ~90µm mostraram que sua

deposição é dominada por período de 21 anos. A mesma metodologia para a

razão indicadora da intensificação de ventos mostrou que esta é dominada por

Page 103: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

101

períodos de 21 anos, o que era esperado, já que a deposição das partículas

mais grosseiras é controlada por este período. Estes resultados sugerem que a

erosão eólica produzida por ventos ao longo da costa e a entrada de material

fluvial do continente é principalmente modulada numa escala de tempo decadal

e multidecadal, o que é consistente com a variabilidade da ODP,

principalmente e presumivelmente influenciada pela OMA.

Page 104: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

102

Figura 29 - A) Reconstrução da série temporal da variabilidade das descargas fluviais. B) Reconstrução da variabilidade do transporte eólico por erosão das partículas de ~50µm. C) Reconstrução da variabilidade do transporte eólico por erosão das partículas de ~90µm. D) Reconstrução da variabilidade da intensidade do vento. E) Registro de anomalias de temperatura baseado nos dados publicados por GUTIERREZ et al. (2009) (Eixo invertido para melhor interpretação). F) Anomalias da temperatura média global do ar superficial (SAT) adaptado da Figura 1.1 de 2014 Arctic Report Card (http://www.arctic.noaa.gov/reportcard/air_temperature.html). Os dados são da base de dados do CRUTEM4v. G) Reconstrução da ODP (MANN ET AL.,2009) H) Reconstrução da OMA (AMO-inglês) (MANN et al., 2009) I) Registro histórico da variabilidade do ENOS (ENSO-inglês) mostrando eventos extremos e fortes La Niña (X/xx, S/xx respectivamente) e eventos extremos e fortes El Niño (X/xy, S/xy respectivamente), adaptado dos dados de GERGIS; GARDEN; FENBY (2010).

Page 105: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

103

Figura 30 - Periodograma de Lamb das análises de série temporal da variabilidade fluvial e eólica, com 95% e 90% de confiança (linhas vermelhas de cima para baixo respectivamente). A) Partículas de ~50µm apresentam um primeiro pico correspondente a períodos de 40 anos e um segundo a períodos de 10-12 anos. B) Partículas de ~90 µm apresentam um pico correspondente a períodos de 21 anos. C) Entrada de material fluvial, mostrando um primeiro pico correspondente a períodos de 50-56 anos e, outros dois a períodos de 20anos e 16 anos. D) A reconstrução da variabilidade da intensidade do vento mostrou um pico equivalente a 21 anos.

Uma vez identificado a ODP como o principal modo de variabilidade

climática responsável pela variabilidade na deposição das partículas, avaliou-

Page 106: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

104

se a relação entre a variabilidade da intensidade dos ventos (relacionada com a

atividade eólica) e a variabilidade da ODP nos últimos 50 anos (para os

invernos austrais especificamente). Para isto, aplicou-se uma regressão entre

os vetores de vento superficial meridional e zonal vs a variabilidade da ODP no

quadrante 6-30°S e 60-90°O (Figura 31).

Os resultados mostram uma relação positiva entre a variabilidade dos

ventos superficiais meridionais (ao longo da costa) e a variabilidade da ODP na

região costeira do estado de Ica e, o norte de Chile. De fato, a regressão

mostra que a maior significância se encontra localizada na Baia de Mejillones,

onde também existe atividade de erosão eólica (FLORES-AQUEVEQUE et al.,

2010) e sua atividade foi relacionada com a ODP (FLORES-AQUEVEQUE et

al., 2015). Apesar de a relação ter valores baixos, deve-se considerar a relação

na escala temporal e espacial de 65 anos sobre a grade escolhida (1°x1°). Para

isto correlações de 0.3 sugerem pelo menos uma significância ao nível local, de

acordo com Livezey e Chen, (1983).

A atividade eólica que está relacionada com ventos fortes (transporte de

partículas durante VP’s), identificados pelas partículas de ~50µm, mostra uma

concomitante variação com os períodos de anos tipo El Niño, o que é

consistente com a hipótese de intensificação dos costeiros ventos na presença

de eventos El Niño. Porém, os resultados sugerem que os ventos mais

intensos, os quais são indicados pelo transporte das partículas mais grosseiras

(i.e. ~90µm), são menos favoráveis nessas condições (i.e., tipo El Niño), já que

existe uma diminuição no transporte dessas partículas e, portanto, os ventos ao

longo da costa são menos intensos. Em contraste, os resultados mostram que

na presença das condições de tipo La Niña existe um transporte de partículas

mais grossas e, portanto, uma intensificação dos ventos. Estes resultados

também são consistentes com a escala de variabilidade centenal (BRICEÑO

ZULUAGA et al., 2015).

Page 107: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

105

Figura 31 - Regressão sazonal dos dados de re-analise da velocidade dos ventos superficiais meridionais (acima) e zonais (abaixo) (KALNAY et al., 1996) e a Oscilação Decadal do Pacifico de 1948 até 2013 (Calculos e graficos foram realizados no software da NOAA/ESRL Physical Sciences Division, Boulder Colorado em http://www.esrl.noaa.gov/psd/).

Page 108: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

106

A variabilidade da intensidade do vento mostra uma boa concordância

com a variabilidade da TSM e retrata o vínculo existente entre a variabilidade

da ressurgência e a atividade da erosão eólica, ambos modulados pela PDO

em escala de tempo decadal. Tanto a ressurgência como os ventos favoráveis

à erosão eólica são modulados pelo mesmo mecanismo, a circulação

atmosférica da ASPS. O registro mostra uma intensificação na intensidade dos

ventos em escala multidecadal a partir de 1930AD até o final do registro e nas

anomalias negativas de temperatura, o que é evidenciado também em outros

registros da região (FLORES-AQUEVEQUE et al., 2015; JAHNCKE;

CHECKLEY; HUNT, 2004; VARGAS et al., 2007). De fato, resultados

semelhantes foram obtidos por Flores-Aqueveque et al. (2015) nos registros de

intensidade de vento na Baia de Mejillones, no Chile. Nossos resultados

sugerem uma intensificação regional da ASPS em escala multidecal modulada

pela ODP e influenciada pela OMA, mas ao mesmo tempo parece existir um

link com a tendência de mudanças de temperatura relacionadas com as

mudanças globais.

7.3. CONCLUSÕES

Nossos resultados mostram que, embora durante os eventos El Niño se

apresente erosão eólica (ventos fortes), é durante eventos tipo La Niña que se

transportam as partículas mais grosseiras e, portanto, pode-se esperar uma

maior intensificação dos ventos. Aparentemente um incremento nos ventos

locais existe devido à intensificação da circulação da ASPS. As anomalias

positivas dos eventos tipo El Niño apresentam uma boa correspondência com o

registro da descarga de material fluvial. Tanto a intensidade dos ventos

regionais que controlam a atividade da ressurgência e os VPs, como a

descarga do material fluvial se mostram modulados pela variabilidade da ODP

e aparentemente influenciados pela OMA, evidenciando um mecanismo de

acoplamento atmosférico e oceânico entre bacias Pacifico-Atlântico, como

proposto em modelos em outros trabalhos. A tendência na diminuição da

temperatura da ressurgência é consistente com uma intensificação progressiva

dos ventos nos últimos 70 anos e também com a tendência de incremento de

temperatura global. Assim, a resposta local da região de Pisco é provavelmente

Page 109: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

107

vinculada ao resultado do estabelecimento de mudanças regionais

relacionadas com as atuas tendências de mudanças globais.

Page 110: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

108

8. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação visual de imagens de satélite (MODIS) durante os últimos

seis anos (aproximadamente) e a simulação do transporte das partículas

eólicas (para dois eventos Paracas) para determinar sua trajetória e dispersão,

mostraram que as tempestades de areia conseguem cobrir grande parte do

Departamento de Ica, no Sudeste de Perú. Os resultados da simulação

mostram que grande parte do material litológico durante os ventos Paracas é

transportado para o mar na zona da plataforma continental de Pisco,

confirmando assim a assinatura eólica nos sedimentos. A simulação também

mostrou que as partículas mais finas destas tempestades atingem várias

cidades (e.g., Pisco e Chincha Alta-Ica), o que pode trazer riscos para a

população (doenças respiratórias e perturbações para visibilidade etc.). A

variabilidade na entrada de material terrígeno na plataforma central de Pisco

mostra-se, assim, um vínculo importante com as mudanças globais do clima.

Os resultados obtidos neste trabalho confirmam a presença de quatro

componentes granulométricas nos sedimentos da plataforma continental de

Pisco (~14°S) M1, M2, M3 e M4. A componente de partículas litológicas finas

M2 é produto das descargas fluviais sobre a plataforma e assim, pode ser

usada como indicador das mudanças de precipitação continentais. Os

resultados também evidenciam que esta componente domina a sedimentação

em escala de tempo multidecadal a secular nos períodos de ~AD900 até 1170,

durante o ACM e, ~AD1450 até ~1800, durante a PIG, indicando assim,

condições preferencialmente úmidas sobre a bacia do Pacífico Sudoeste

nesses períodos. Entretanto, as componentes granulométricas grosseiras M3 e

M4 são produto do transporte de material litológico por erosão eólica iniciada

pelos ventos fortes durante as tempestades de areia do Vento Paracas. A

componente M3 é um indicador de ventos “intermediários” ou, ventos o

suficientemente forte, para o evento Paracas se desenvolver. Entretanto, a

componente M4 pode ser diretamente relacionada com ventos

significativamente mais fortes. Assim, a razão entre estas componentes

M4/(M3+M4) indica a variabilidade na intensidade do vento ao longo do tempo.

Os resultados mostram também que durante a segunda parte do ACM 1170 –

Page 111: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

109

1350AD e, durante os últimos dois séculos, os ventos superficiais foram

significativamente mais intensos, sendo que neste último período os ventos

superficiais foram mais intensos.

O último século mostra que a intensificação dos ventos tem uma boa

relação com a diminuição da temperatura do mar na ressurgência do Peru. Os

resultados sugerem ainda que a variabilidade na intensidade do vento é

modulada pela variabilidade na ODP em escala de tempo multidecadal com

uma componente de OMA. Por outro lado, em escala de tempo interanual, os

resultados mostram que existe uma relação com o transporte da componente

M3 e as condições de tipo El Niño. Porém, o transporte da componente M4

(relacionada com ventos mais intensos) mostra uma relação com condições

tipo La Niña. Tais relações permitem concluir que os ventos mais intensos se

apresentam quando as condições são mais próximas às do tipo La Niña. O

último século mostra ventos muito mais fortes que durante a ACM (segundo

período), quando as condições ambientais são similares (posição meridional do

sistema ITCZ-ASPS) e, a circulação de Walker. Este último ponto sugere que

existe uma forçante adicional que favorece a intensificação dos ventos e esta

tendência (i.e., intensificação dos ventos, diminuição TSM) mostra uma boa

relação com o incremento da temperatura global.

Page 112: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

110

9. REFERÊNCIAS

AHMED, M. et al. Continental-scale temperature variability during the past two millennia. Nature Geoscience, v. 6, n. 6, p. 503–503, 2013.

ALFARO, C.; GAUDICHET, A.; MAIL, M. Modeling the size distribution of a soil aerosol produced by sandblasting Soil-derived of mass size For the distributions aerosols Marticorena and modes and The second has. Journal of geophy, v. 102, n. D10, p. 239–249, 1997.

ALFARO, S. C. et al. A simple model accounting for the uptake, transport, and deposition of wind-eroded mineral particles in the hyperarid coastal Atacama Desert of northern Chile. Earth Surface Processes and Landforms, v. 36, n. 7, p. 923–932, 15 jun. 2011.

AN, F. et al. Distinguishing aeolian signature from lacustrine sediments of the Qaidam Basin in northeastern Qinghai-Tibetan Plateau and its palaeoclimatic implications. Aeolian Research, v. 4, p. 17–30, jun. 2012.

APAÉSTEGUI, J. et al. Hydroclimate variability of the northwestern Amazon Basin near the Andean foothills of Peru related to the South American Monsoon System during the last 1600 years. Climate of the Past, v. 10, n. 1, p. 1967–1981, 2014a.

APAÉSTEGUI, J. et al. Hydroclimate variability of the South American Monsoon System during the last 1600 yr inferred from speleothem isotope records of the north-eastern Andes foothills in Peru. Climate of the Past Discussions, v. 10, n. 1, p. 533–561, 10 fev. 2014b.

BAKUN, A. Global climate change and intensification of coastal ocean upwelling. Science. New York, v. 247, n. 4939, p. 198–201, 1990.

BAKUN, A.; WEEKS, S. J. The marine ecosystem off Peru: What are the secrets of its fishery productivity and what might its future hold? Progress in Oceanography, v. 79, n. 2-4, p. 290–299, 2008.

BEKADDOUR, T. et al. Paleo erosion rates and climate shifts recorded by Quaternary cut-and-fill sequences in the Pisco valley, central Peru. Earth and Planetary Science Letters, v. 390, p. 103–115, mar. 2014.

BENDIX, A. et al. The El Niño 1997 / 98 as seen from space - rainfall retrieval and investigation of rainfall dynamics with Goes-8 and TRMM DataIn: The 2002 EUMETSAT Meteor. Satellite Conf., Dublin, Ireland 02-06 Sept. 2002, EUM P 36. Anais...2002

BIRD, B. W. et al. A 2,300-year-long annually resolved record of the South American summer monsoon from the Peruvian Andes. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 108, n. 21, p. 8583–8, 24 maio 2011.

BLOEMSMA, M. R. et al. Modelling the joint variability of grain size and chemical composition in sediments. Sedimentary Geology, v. 280, p. 135–148,

Page 113: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

111

dez. 2012.

BLOTT, S. J.; PYE, K. GRADISTAT: a grain size distribution and statistics package for the analysis of unconsolidated sediments. Earth Surface Processes and Landforms, v. 26, n. 11, p. 1237–1248, 28 out. 2001.

BÖNING, P.; BRUMSACK, H. Geochemistry of Peruvian near-surface sediments. Geochimica et Cosmochimica Acta, v. 68, n. 21, p. 4429–4451, 2004.

BRICEÑO ZULUAGA, F. et al. Terrigeneous material supply to the Peruvian central continental shelf (Pisco 14° S) during the last 1100 yr: paleoclimatic implications. Climate of the Past Discussions, v. 11, n. 4, p. 3211–3239, 2015.

BROCKMANN, C. et al. The poleward undercurrent along the Peru coast: 5 to 15°C. Deep Sea Research, v. 27, p. 847–856, 1980.

BRODIE, I.; KEMP, A. E. S. Variation in Biogenic and Detrital Fluxes and Formation of Laminae in Late Quaternary Sediments from the Peruvian Coastal Upwelling Zone. Marine Geology, v. 116, n. 3-4, p. 385–398, 1994.

CARDICH, J. et al. Benthic Foraminiferal Communities and Microhabitat Selection on the Continental Shelf Off Central Peru. Anoxia. Cellular Origin, Life in Extreme Habitats and Astrobiology, v. 21, p. 323 – 340, 2011.

CHAVEZ, F. P. et al. From anchovies to sardines and back: multidecadal change in the Pacific Ocean. Science, New York, N.Y., v. 299, n. 5604, p. 217–21, 10 jan. 2003.

CHAVEZ, F. P. et al. The northern Humboldt Current System: Brief history, present status and a view towards the future. Progress in Oceanography, v. 79, n. 2-4, p. 95–105, 2008.

COBB, K. M. et al. El Niño/Southern Oscillation and tropical Pacific climate during the last millennium. Nature, v. 424, n. 6946, p. 271–276, 17 jul. 2003.

COLAS, F. et al. 1997–1998 El Niño off Peru: A numerical study. Progress in Oceanography, v. 79, n. 2-4, p. 138–155, out. 2008.

CORDEIRO, L. G. M. S. et al. Reconstruction of southwestern Atlantic sea surface temperatures during the last Century: Cabo Frio continental shelf (Brazil). Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 415, p. 1–8, 2014.

EHLERT, C. et al. Nutrient utilisation and weathering inputs in the Peruvian upwelling region since the Little Ice Age. Climate of the Past, v. 11, p. 187–202, 2015.

ENGLAND, M. H. et al. Recent intensification of wind-driven circulation in the Pacific and the ongoing warming hiatus. Nature Climate Change, v. 4, n. 3, p. 222–227, 9 fev. 2014.

ESCOBAR BACCARO, D. F. Evaluacion climatologica y sinoptica del

Page 114: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

112

fenómeno de vientos Paracas. [s.l.] Lima, Peru: Universidad Nacional Agraria La Molina, 1993.

ESPER, J. et al. Long-term drought severity variations in Morocco. Geophysical Research Letters, v. 34, n. 17, p. 1–5, 2007.

FIKRY, I.; KHAKAF, A.; AL-SALEH, S. Mineralogical composition and potential sources of dust fallout deposits in Kuwait, northern Arabian Gulf. Sedimentary Geology, v. 42, p. 255–278, 1985.

FLORES-AQUEVEQUE, V. et al. Aeolian erosion and sand transport over the Mejillones Pampa in the coastal Atacama Desert of northern Chile. Geomorphology, v. 120, n. 3-4, p. 312–325, ago. 2010.

FLORES-AQUEVEQUE, V. et al. Inter-annual variability of southerly winds in a coastal area of the Atacama Desert: implications for the export of aeolian sediments to the adjacent marine environment. Sedimentology, v. 59, n. 3, p. 990–1000, 20 abr. 2012.

FLORES-AQUEVEQUE, V. et al. Assessing the origin and variability of eolian lithic material for high-resolution paleoceanographic reconstructions off Northern Chile (23°S). Jurnal of Sediementary Research, v. 84, p. 897–909, 2014a.

FLORES-AQUEVEQUE, V. et al. Using Image-based size analysis for determining the size distribution and flux of eolian particles sampled in coastal northern Chile (23°S). Journal of Sedimentary Research, v. 84, p. 238–244, 2014b.

FLORES-AQUEVEQUE, V. et al. Aeolian particles in marine cores as a tool for quantitative high-resolution reconstruction of upwelling favorable winds along coastal Atacama Desert, Northern Chile. Progress in Oceanography, v. 134, p. 244–255, maio 2015.

GARREAUD, R. D.; FALVEY, M. The coastal winds off western subtropical South America in future climate scenarios. International Journal of Climatology, v. 29, n. 4, p. 543–554, 2009.

GAY, S. P. Blowing sand and surface winds in the Pisco to Chala Area, Southern Peru. Journal of Arid Environments, v. 61, n. 1, p. 101–117, abr. 2005.

GERGIS, J.; GARDEN, D.; FENBY, C. The Influence of Climate on the First European Settlement of Australia: A Comparison of Weather Journals, Documentary Data and Palaeoclimate Records, 1788-1793. Environmental History, v. 15, n. 3, p. 485–507, 7 jul. 2010.

GERGIS, J. L.; FOWLER, A. M. A history of ENSO events since A.D. 1525: Implications for future climate change. Climatic Change, v. 92, n. 3-4, p. 343–387, 2009.

GOMES, L. et al. Assessing the actual size distribution of atmospheric aerosols collected with a cascade impactor. Journal of Aerosol Science, v. 21, n. 1, p. 47–59, jan. 1990.

Page 115: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

113

GROVE, R. H. Global impact of the 1789-93 El Niño. Nature, v. 393, n. May, p. 318–319, 1998.

GUTIERREZ, D. et al. Anoxic sediments off Central Peru record interannual to multidecadal changes of climate and upwelling ecosystem during the last two centuries. Advances in geosciences, v. 6, p. 119–125, 2006.

GUTIERREZ, D. et al. Caracterización mineralógica y morfométrica de los sedimentos eólicos de la península de Paracas-Ica y su relación con las variables meteorológicas durante el invierno del año 2008. Lima - Peru: [s.n.].

GUTIÉRREZ, D. et al. Anoxic sediments off Central Peru record interannual to multidecadal changes of climate and upwelling ecosystem during the last two centuries. Advances in geosciences, v. 6, p. 119–125, 2006.

GUTIÉRREZ, D. et al. Rapid reorganization in ocean biogeochemistry off Peru towards the end of the Little Ice Age. Biogeociences, v. 6, p. 835–848, 2009.

GUTIÉRREZ, D. et al. Coastal cooling and increased productivity in the main upwelling zone off Peru since the mid-twentieth century. Geophysical Research Letters, v. 38, n. 7, p. 1–6, 2011.

HANEY, E. M.; GROLIER, M. J. Geologic map of major Quaternary eolian features, northern and central coastal Peru. United States Geological Survey, Miscellaneous Investigations, v. I-2162, 1991.

HAUG, G. H. et al. Southward migration of the intertropical convergence zone through the Holocene. Science, New York, N.Y., v. 293, n. 5533, p. 1304–8, 17 ago. 2001.

HESSE, P. P.; MCTAINSH, G. H. Last Glacial Maximum to Early Holocene Wind Strength in the Mid-latitudes of the Southern Hemisphere from Aeolian Dust in the Tasman Sea. Quaternary Research, v. 52, n. 3, p. 343–349, nov. 1999.

HILL, E. A. et al. Eastern Ocean Boundaries coastal segment (E). In: ROBINSON, A. R.; BRINK, K. H. (Eds.). . The Sea. New York: John Wiley & Sons Ltd, 1998. v. 11p. 29–67.

HOLZ, C. et al. Variability in terrigenous sedimentation processes off northwest Africa and its relation to climate changes: Inferences from grain-size distributions of a Holocene marine sediment record. Sedimentary Geology, v. 202, n. 3, p. 499–508, 2007.

HUANG, X. et al. Dust deposition in the Aral Sea: implications for changes in atmospheric circulation in central Asia during the past 2000 years. Quaternary Science Reviews, v. 30, n. 25-26, p. 3661–3674, dez. 2011.

IRI - INTERNATIONAL RESEARCH INSTITUTE FOR CLIMATE AND SOCIETY. Meningitis linked to mineral dust transport in the SahelAEMET. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://eprints.utas.edu.au/4774/>.

IVERSEN, J. D.; WHITE, B. R. Saltation threshold on Earth, Mars and Venus.

Page 116: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

114

Sedimentology, v. 29, p. 111–119, 1982.

JAHNCKE, J.; CHECKLEY, D.; HUNT, G. Trends in carbon flux to seabirds in the Peruvian upwelling system: effects of wind and fisheries on population regulation. Fisheries Oceanography, v. 13, n. 3, p. 208–223, 2004.

KALNAY, E. et al. The NCEP/NCAR 40 Year Reanalysis Project. Bams, v. 77, n. 3, p. 437–471, 1996.

KAYANO, M. Interannual relations between South American rainfall and tropical sea surface temperature anomalies before and after 1976. International Journal of …, n. 10, p. 1439–1448, 2009.

KEEFER, D. K.; MOSELEY, M. E.; DEFRANCE, S. D. A 38 000-year record of floods and debris flows in the Ilo region of southern Peru and its relation to El Niño events and great earthquakes. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 194, n. 1-3, p. 41–77, maio 2003.

KOK, J. F. et al. The physics of wind-blown sand and dust. Reports on Progress in Physics, v. 75, n. 10, p. 106901, 2012.

KONECKY, B. L. et al. Intensification of southwestern Indonesian rainfall over the past millennium. Geophysical Research Letters, v. 40, n. July 2008, p. 386–391, 2013.

KOOPMANN, B. Sedimentation von Saharastaub im subtropischen Nordatlantik während der letzten 25.000 Jahre. Meteor Forsch. ergeb. Reihe C, v. 35, p. 23–59, 1981.

LAVADO CASIMIRO, W. et al. Basin-scale analysis of rainfall and runoff in Peru (1969–2004): Pacific, Titicaca and Amazonas drainages. Hydrological Sciences Journal, v. 57, n. 4, p. 625–642, maio 2012.

LAVADO-CASIMIRO, W.; ESPINOZA, J. C. Impacts of El Nino and La Nina in the precipitation over Peru (1965-2007). Revista Brasileira de Meteorologia, v. 29, n. 2, p. 171–182, 2014.

LEDRU, M.-P. et al. The Medieval Climate Anomaly and the Little Ice Age in the Eastern Ecuadorian Andes. Climate of the Past Discussions, v. 8, n. 5, p. 4295–4332, 2012.

LEINEN, M. et al. Mineralogy of aeolian dust reaching the North Pacific Ocean 1. Sampling and analysis. Journal of Geophysical Research, v. 99, n. 10, p. 21017 – 21023, 1994.

LIU, Y. et al. A 1400-year terrigenous dust record on a coral island in South China Sea. Scientific Reports, v. 4, p. 1–8, 2014.

LIVEZEY, R. E.; CHEN, W. Y. Statistical Field Significance and its Determination by Monte Carlo Techniques. Monthly Weather Review, v. 111, n. 1, p. 46–59, 1983.

MANN, M. E. Little Ice Age. In: MUNN, T. (Ed.). . Encyclopedia of Global Environmental Change. [s.l.] John Wiley & Sons Ltd, 2002. v. 1p. 504–509.

Page 117: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

115

MANN, M. E. et al. Global signatures and dynamical origins of the Little Ice Age and Medieval Climate Anomaly. Science, New York, N.Y., v. 326, n. 5957, p. 1256–1260, 2009.

MANTUA, N. J. et al. A Pacific Interdecadal Climate Oscillation with Impacts on Salmon Production. Bulletin of the American Meteorological Society, v. 78, n. 6, p. 1069–1079, 1997.

MARTICORENA, B. Dust Production Mechanisms. In: KNIPPERTZ, P.; STUUT, J.-B. (Eds.). . Mineral Dust: A Key Player in the Earth System. New York: Springer, 2014. p. 93–120.

MARTICORENA, B.; BERGAMETTI, G. Modeling the atmospheric dust cycle: 1. Design of a soil-derived dust emission scheme. Journal of Geophysical Research, v. 100, n. D8, p. 16415, 1995.

MCCAVE, I. N.; MANIGHETTI, B.; ROBINSON, S. G. Sortable silt and fine sediment size/composition slicing: parameters for palaeocurrent speed and palaeoceanography. Paleoceanography, v. 10, n. 3, p. 593–610, 1995.

MCGEE, D. et al. The magnitude, timing and abruptness of changes in North African dust deposition over the last 20,000yr. Earth and Planetary Science Letters, v. 371-372, p. 163–176, jun. 2013.

MCGREGOR, S. et al. Recent {Walker} circulation strengthening and {Pacific} cooling amplified by {Atlantic} warming. Nature Climate Change, v. 4, n. 10, p. 888–892, 2014.

MCPHILLIPS, D. et al. Landscape response to Pleistocene-Holocene precipitation change in the Western Cordillera, Peru: 10 Be concentrations in modern sediments and terrace fills. Journal of Geophysical Research: Earth Surface, v. 118, n. 4, p. 2488–2499, 12 dez. 2013.

MCTAINSH, G. H.; NICKLING, W. G.; LYNCH, A. W. Dust deposition and particle size in Mali, West Africa. Catena, v. 29, n. 3-4, p. 307–322, maio 1997.

MECHOSO, C. R. et al. Ocean–Cloud–Atmosphere–Land Interactions in the Southeastern Pacific: The VOCALS Program. Bulletin of the American Meteorological Society, v. 95, n. 3, p. 357–375, 2014.

MESSIÉ, M. et al. Potential new production estimates in four eastern boundary upwelling ecosystems. Progress in Oceanography, v. 83, n. 1-4, p. 151–158, 2009.

MEYER, I.; DAVIES, G. R.; STUUT, J. B. W. Grain size control on Sr-Nd isotope provenance studies and impact on paleoclimate reconstructions: An example from deep-sea sediments offshore NW Africa. Geochemistry, Geophysics, Geosystems, v. 12, n. 3, p. 14, 2011.

MIDDLETON, N. J.; GOUDIE, A. S. Saharan dust: sources and trajectories. Transactions of the Institute of British Geographers, v. 26, n. 2, p. 165–181, 2001.

MOLINA-CRUZ, A. The relation of the southern trade winds to upwelling

Page 118: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

116

processes during the last 75,000 years. Quaternary Research, v. 8, n. 3, p. 324–338, 1977.

MONTES, I. et al. On the pathways of the equatorial subsurface currents in the eastern equatorial Pacific and their contributions to the Peru-Chile Undercurrent. Journal of Geophysical Research: Oceans, v. 115, n. 9, p. 1–16, 3 set. 2010.

MONTES, I. et al. Subsurface connections in the eastern tropical Pacific during la Nia 1999-2001 and El Nio 2002-2003. Journal of Geophysical Research: Oceans, v. 116, n. 12, p. 1–18, 16 dez. 2011.

MORENO, A. et al. Was there a common hydrological pattern in the Iberian Peninsula region during the Medieval Climate Anomaly? PAGES news., v. 19, n. 1, p. 16–18, 2011.

MORERA, S. et al. Tasas de erosión y dinámica de los flujos de sedimentos en la cuenca del río Santa , Perú. Revista Peruana Geo-Atmosférica RPGA, v. 37, n. 3, p. 25–37, 2011.

MULITZA, S. et al. Increase in African dust flux at the onset of commercial agriculture in the Sahel region. Nature, v. 466, n. 7303, p. 226–288, 8 jul. 2010.

NEWTON, A.; THUNELL, R.; STOTT, L. Climate and hydrographic variability in the Indo-Pacific Warm Pool during the last millennium. Geophysical Research Letters, v. 33, n. 19, p. L19710, 12 out. 2006.

NIXON, S.; THOMAS, A. On the size of the Peru upwelling ecosystem. Deep Sea Research Part I: Oceanographic Research Papers, v. 48, p. 2521–2528, 2001.

NIZOU, J.; HANEBUTH, T. J. J.; VOGT, C. Deciphering signals of late Holocene fluvial and aeolian supply from a shelf sediment depocentre off Senegal (north-west Africa). Journal of Quaternary Science, v. 26, n. 4, p. 411–421, 2011.

OPPO, D. W.; ROSENTHAL, Y.; LINSLEY, B. K. 2,000-year-long temperature and hydrology reconstructions from the Indo-Pacific warm pool. Nature, v. 460, n. 7259, p. 1113–6, 27 ago. 2009.

ORTLIEB, L. The Documented Historical Record of El Nino Events in Peru: An Update of the Quinn Record (Sixteenth throught Nineteenth Centuries). In: DIAZ, H. F.; MARKGRAF, V. (Eds.). . El Nino and the Southern Oscillation, Multiscale Variability and Global and Regional Impacts. New York: Cambridge University Press, 2000. p. 207–295.

PARKIN, D. W.; SHACKLETON, N. . Trade wind and temperature correlations down a deep sea core off the Sharan coast. Nature, v. 245, p. 455–457, 1973.

PAULY, D. et al. The Peruvian Upwelling Ecosystem : Dynamics and Interactions. Proceedings of the WORKSHOP ON MODELS FOR YIELD PREDICTION IN THE PERUVIAN ECOSYSTEM, 24-28 August 1987, Callao, Peru. Lima - Peru: Instituto del Mar del Peru (IMARPE), 1989.

Page 119: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

117

PETER, K.; STUUT, J.-B. W. Mineral Dust: A Key Player in the Earth System. New York: Springer, 2014.

PETERSON, L. C.; HAUG, G. H. Variability in the mean latitude of the Atlantic Intertropical Convergence Zone as recorded by riverine input of sediments to the Cariaco Basin (Venezuela). Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 234, n. 1, p. 97–113, 2006.

PICHEVIN, L. et al. A 190 ky record of lithogenic grain-size on the Namibian slope: Forging a tight link between past wind-strength and coastal upwelling dynamics. Marine Geology, v. 218, n. 1-4, p. 81–96, jun. 2005.

PICHEVIN, L.; GANESHRAM, R.; GEIBERT, W. Silica burial enhanced by iron limitation in oceanic upwelling margins. Nature, v. 7, n. June, p. 8–13, 2014.

POLISSAR, P. J. et al. Solar modulation of Little Ice Age climate in the tropical Andes. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 103, n. 24, p. 8937–42, 13 jun. 2006.

PRINS, M. Pelagic, hemipelagic and turbidite deposition in the Arabian Sea during the late Quaternary: Unravelling the signals of aeolian and fluvial sediment supply as functions of tectonics, sea-level and climate change by means of end-member modelling of silicic. [s.l.] Utrecht, Universiteit Utrecht, 1999.

PRINS, M. A. et al. Ocean circulation and iceberg discharge in the glacial North Atlantic: Inferences from unmixing of sediment size distributions. Geology, v. 30, n. 6, p. 555–558, 2002.

PRINS, M. A. et al. Late Quaternary aeolian dust input variability on the Chinese Loess Plateau: inferences from unmixing of loess grain-size records. Quaternary Science Reviews, v. 26, n. 1-2, p. 230–242, jan. 2007.

PRINS, M. A.; WELTJE, G. J. End-member modeling of siliciclastic grain-size distributions: The late Quaternary record of aeolian and fluvial sediment supply to the Arabian Sea and its paleoclimatic significance. SEPM (Society for Sedimentary Geology), v. 62, p. 91–111, 2012.

PROSPERO, J.; BONATTI, E. Continental dust in the atmosphere of the eastern equatorial Pacific. Journal of geophysical research, v. 74, n. 13, p. 3362–3371, 1969.

QUIJANO VARGAS, J. J. Estudio numerico y observacional de la dinámica de Viento Paracas, asociado al transporte eólico hacia el océano frente a la costa de Ica-Perú. [s.l.] Lima - Perú: Universidad Peruana Cayetano Heredia, 2013.

RATMEYER, V.; FISCHER, G.; WEFER, G. Lithogenic particle fluxes and grain size distributions in the deep ocean off northwest Africa: Implications for seasonal changes of aeolian dust input and downward transport. Deep Sea Research Part I: Oceanographic Research Papers, v. 46, p. 1289–1337, 1999.

REA, D. The paleoclimatic record provided by eolian deposition in the deep sea:

Page 120: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

118

The geologic history of wind. Reviews of Geophysics, 1994.

REBESCO, M. et al. Contourites and associated sediments controlled by deep-water circulation processes: State-of-the-art and future considerations. Marine Geology, v. 352, p. 111–154, 2014.

REIN, B. El Niño variability off Peru during the last 20,000 years. Paleoceanography, v. 20, n. 4, p. PA4003, 2005.

REIN, B. How do the 1982/83 and 1997/98 El Niños rank in a geological record from Peru? Quaternary International, v. 161, n. 1, p. 56–66, fev. 2007.

REIN, B.; LÜCKGE, A.; SIROCKO, F. A major Holocene ENSO anomaly during the Medieval period. Geophysical Research Letters, v. 31, n. 17, p. L17211, 2004.

REINHARDT, L. et al. High-resolution sediment echosounding off Peru Late Quaternary depositional sequences and sedimentary structures of a current-dominated shelf. Marine geophysical researches, v. 23, n. 1980, p. 335–351, 2002.

REUTER, J. et al. A new perspective on the hydroclimate variability in northern South America during the Little Ice Age. Geophysical Research Letters, v. 36, n. 21, p. L21706, 6 nov. 2009.

RODYSILL, J. R. et al. A paleolimnological record of rainfall and drought from East Java, Indonesia during the last 1,400 years. Journal of Paleolimnology, v. 47, n. 1, p. 125–139, 9 nov. 2011.

SACHS, J. P. et al. Southward movement of the Pacific intertropical convergence zone AD 1400–1850. Nature Geoscience, v. 2, n. 7, p. 519–525, 28 jun. 2009.

SADEKOV, A. Y. et al. Palaeoclimate reconstructions reveal a strong link between El Niño-Southern Oscillation and Tropical Pacific mean state. Nature communications, v. 4, p. 2692, 2013.

SAIKKU, R.; STOTT, L.; THUNELL, R. A bi-polar signal recorded in the western tropical Pacific: Northern and Southern Hemisphere climate records from the Pacific warm pool during the last Ice Age. Quaternary Science Reviews, v. 28, n. 23-24, p. 2374–2385, 2009.

SALINGER, M. Interdecadal Pacific oscillation and south Pacific climate. International Journal of Climatology, v. 1721, p. 1705–1721, 2001.

SALVATTECI, R. et al. Evaluating fish scale preservation in sediment records from the oxygen minimum zone off Peru. Paleobiology, v. 38, n. 1, p. 52–78, 2012.

SALVATTECI, R. et al. Cross-stratigraphies from a seismically active mud lens off Peru indicate horizontal extensions of laminae, missing sequences, and a need for multiple cores for high resolution records. Marine Geology, v. 357, p. 72–89, 2014a.

Page 121: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

119

SALVATTECI, R. et al. The response of the Peruvian Upwelling Ecosystem to centennial-scale global change during the last two millennia. Climate of the Past, v. 10, n. 1, p. 1–17, 6 jan. 2014b.

SAUKEL, C. et al. Distribution and provenance of wind-blown SE Pacific surface sediments. Marine Geology, v. 280, n. 1-4, p. 130–142, 2011.

SCHEIDEGGER, K. F.; KRISSEK, L. A. Dispersal and deposition of eolian and fluvial sediments off Peru and northern Chile. Geological Society of America Bulletin, v. 93, n. 2, p. 150–162, 1982.

SCHMIDT, F.; HINRICHS, K.; ELVERT, M. Sources , transport , and partitioning of organic matter at a highly dynamic continental margin. Marine Chemistry, v. 118, n. 1-2, p. 37–55, 2010.

SEARS, M. Notes on the Peruvian coastal current. 1. An introduction to the ecology of Pisco Bay. Deep Sea Research (1953), v. 1, n. 3, p. 141–169, abr. 1954.

SHAO, Y. A model for mineral dust emission. Journal of Geophysical Research, v. 106, n. 3, p. 20239, 2001.

SHAO, Y. Simplification of a dust emission scheme and comparison with data. Journal of Geophysical Research D: Atmospheres, v. 109, p. 1–6, 2004.

SHAO, Y. Physics and Modelling of Wind Erosion - Front Matter. In: MYSAK, L.; HAMILTON, K. (Eds.). . Physics and Modelling of Wind Erosion. Germany: Springer, 2009. v. 37p. i–xv.

SHAO, Y. et al. Parameterization of size-resolved dust emission and validation with measurements. Journal of Geophysical Research: Atmospheres, v. 116, n. January, p. 1–19, 2011.

SHAO, Y.; LU, H. A simple expression for wind erosion threshold friction velocity. Journal of Geophysical Research, v. 105, n. D17, p. 22437–22443, 2000.

SIFEDDINE, A. et al. Laminated sediments from the central Peruvian continental slope: A 500 year record of upwelling system productivity, terrestrial runoff and redox conditions. Progress in Oceanography, v. 79, n. 2-4, p. 190–197, out. 2008.

SINGER, A. The paleoclimatic interpretation of clay minerals in soils and weathering profiles. Earth-Science Reviews, v. 15, n. 4, p. 303–326, 1980.

SMITH, R. L. Circulation patterns in upwelling regimes. Coastal upwelling, p. 13–35, 1983.

SOUTO, D. D. et al. Marine sediments from southeastern Brazilian continental shelf: A 1200year record of upwelling productivity. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 299, n. 1-2, p. 49–55, jan. 2011.

STRUB, P. T. et al. coastal ocean circulation off western south america. In: ROBINSON, A. R.; BRINK, K. H. (Eds.). . The Sea. 11. ed. New York: Wiley,

Page 122: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

120

1998. p. 273–314.

STUUT, J. B. W.; TEMMESFELD, F.; DE DECKKER, P. A 550ka record of aeolian activity near north west cape, australia: Inferences from grain-size distributions and bulk chemistry of SE indian ocean deep-sea sediments. Quaternary Science Reviews, v. 83, p. 83–94, 2014.

STUUT, J. W.; PRINS, M. A.; WELTJE, G. J. The palaeoclimatic record provided by aeolian dust in the deep sea: proxies and problems. Geophysical Research Abstracts, v. 7, p. 10886, 2005.

STUUT, J.-B. W. et al. A 300-kyr record of aridity and wind strength in southwestern Africa: inferences from grain-size distributions of sediments on Walvis Ridge, SE Atlantic. Marine Geology, v. 180, n. 1-4, p. 221–233, fev. 2002.

STUUT, J.-B. W. et al. Sources and modes of terrigenous sediment input to the Chilean continental slope. Quaternary International, v. 161, n. 1, p. 67–76, fev. 2007.

STUUT, J.-B. W.; LAMY, F. Climate variability at the southern boundaries of the Namib (southwestern Africa) and Atacama (northern Chile) coastal deserts during the last 120,000 yr. Quaternary Research, v. 62, n. 3, p. 301–309, nov. 2004.

SUESS, E.; KULM, L. D.; KILLINGLEY, J. S. Coastal upwelling and a history of organic-rich mudstone deposition off Peru. Geological Society, London, Special Publications, v. 26, n. 1, p. 181–197, 1987.

SUN, D. et al. Grain-size distribution function of polymodal sediments in hydraulic and aeolian environments, and numerical partitioning of the sedimentary components. Sedimentary Geology, v. 152, n. 3-4, p. 263–277, out. 2002.

SYDEMAN, W. J. et al. Climate change and wind intensification in coastal upwelling ecosystems. Science, New York, v. 345, n. 6192, p. 77–80, 2014.

TIMMERMANN, A. et al. The influence of a weakening of the Atlantic meridional overturning circulation on ENSO. Journal of Climate, v. 20, n. 19, p. 4899–4919, 2007.

TROUET, V. et al. Persistent positive North Atlantic oscillation mode dominated the Medieval Climate Anomaly. Science, New York, N.Y., v. 324, n. 5923, p. 78–80, 3 abr. 2009.

TROUET, V. et al. A 1500-year reconstruction of annual mean temperature for temperate North America on decadal-to-multidecadal time scales. Environmental Research Letters, v. 8, n. 2, p. 024008, jun. 2013.

UNKEL, I. et al. Dating methods and geomorphic evidence of palaeoenvironmental changes at the eastern margin of the South Peruvian coastal desert (14°30′S) before and during the Little Ice Age. Quaternary International, v. 175, n. 1, p. 3–28, dez. 2007.

Page 123: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

121

VARGAS, G. et al. Enhancement of coastal upwelling and interdecadal ENSO-like variability in the Peru-Chile Current since late 19th century. Geophysical Research Letters, v. 34, n. 13, p. 1–6, 2007.

VARGAS, G.; RUTLLANT, J. A.; ORTLIEB, L. Onset of Modern ENSO teleconnections and climate mechanisms for Holocene debris along the hperarid coast of Northern Chile-Southern Peru.Proceedings of 8ICSHMO. Anais...Foz do Iguaçu - Brazil: 2006

VUILLE, M. et al. A review of the South American Monsoon history as recorded in stable isotopic proxies over the past two millennia. Climate of the Past Discussions, v. 8, n. 1, p. 637–668, 27 fev. 2012.

WAN, S. et al. Development of the East Asian monsoon: Mineralogical and sedimentologic records in the northern South China Sea since 20 Ma. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 254, n. 3-4, p. 561–582, out. 2007.

WANG, Y. et al. Global sand and dust storms in 2008: Observation and HYSPLIT model verification. Atmospheric Environment, v. 45, n. 35, p. 6368–6381, 2011.

WEI, G. et al. Strontium and neodymium isotopic compositions of detrital sediment of NS90-103 from South China Sea: Variations and their paleoclimate implication. Science in China Series D: Earth Sciences, v. 43, n. 6, p. 596–604, 2000.

WELTJE, G. J. End-member modeling of compositional data: Numerical-statistical algorithms for solving the explicit mixing problem. Mathematical Geology, v. 29, n. 4, p. 503–549, maio 1997.

WELTJE, G. J.; PRINS, M. A. Muddled or mixed? Inferring palaeoclimate from size distributions of deep-sea clastics. Sedimentary Geology, v. 162, n. 1-2, p. 39–62, nov. 2003.

WELTJE, G. J.; PRINS, M. A. Genetically meaningful decomposition of grain-size distributions. Sedimentary Geology, v. 202, n. 3, p. 409–424, dez. 2007.

WELTJE, G.; PRINS, M. Sources and dispersal patterns of deep-marine siliciclastics: inferences from end-member modeling of grain-size distributions. Proceedings of the 2001 Annual Conference of the …, p. 1–10, 2001.

WENTWORTH, C. K. A Scale of Grade and Class Terms for Clastic Sediments. The Journal of Geology, v. 30, n. 5, p. 377–392, 1922.

YU, S.-Y.; COLMAN, S. M.; LI, L. BEMMA: A Hierarchical Bayesian End-Member Modeling Analysis of Sediment Grain-Size Distributions. Mathematical Geosciences, 2015.

Page 124: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

122

10. APENDICE

Page 125: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

Clim. Past, 12, 787–798, 2016

www.clim-past.net/12/787/2016/

doi:10.5194/cp-12-787-2016

© Author(s) 2016. CC Attribution 3.0 License.

Terrigenous material supply to the Peruvian central

continental shelf (Pisco, 14◦ S) during the last 1000 years:

paleoclimatic implications

Francisco Javier Briceño-Zuluaga1,2, Abdelfettah Sifeddine1,2,3, Sandrine Caquineau2,3, Jorge Cardich1,2,

Renato Salvatteci5, Dimitri Gutierrez2,4, Luc Ortlieb2,3, Federico Velazco2,4, Hugues Boucher2,3, and

Carine Machado1,2

1Departamento de Geoquímica, Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói, RJ, Brazil2LMI PALEOTRACES (IRD-France, UPMC-France, UA-Chile, UFF-Brazil, UPCH-Peru), Brazil3IRD-Sorbonne Universités (UPMC, CNRS-MNHN), LOCEAN, IRD France-Nord, Bondy, France4Instituto del Mar del Peru IMARPE. Esquina Gamarra y General Valle s/n, Callao 22000, Peru5Institute of Geoscience, Kiel University, Kiel, Germany

Correspondence to: Francisco Javier Briceño-Zuluaga ([email protected])

Received: 16 June 2015 – Published in Clim. Past Discuss.: 17 July 2015

Revised: 13 February 2016 – Accepted: 15 March 2016 – Published: 31 March 2016

Abstract. In the eastern Pacific, lithogenic input to the ocean

responds to variations in the atmospheric and oceanic sys-

tem and their teleconnections over different timescales. At-

mospheric (e.g., wind fields), hydrological (e.g., fresh wa-

ter plumes) and oceanic (e.g., currents) conditions determine

the transport mode and the amount of lithogenic material

transported from the continent to the continental shelf. Here,

we present the grain size distribution of a composite record

of two laminated sediment cores retrieved from the Peru-

vian continental shelf that record the last ∼ 1000 years at a

sub-decadal to centennial time-series resolution. We propose

novel grain size indicators of wind intensity and fluvial in-

put that allow reconstructing the oceanic–atmospheric vari-

ability modulated by sub-decadal to centennial changes in

climatic conditions. Four grain size modes were identified.

Two are linked to aeolian inputs (M3: ∼ 54; M4: ∼ 91 µm

on average), the third is interpreted as a marker of sediment

discharge (M2: ∼ 10 µm on average), and the last is with-

out an associated origin (M1: ∼ 3 µm). The coarsest compo-

nents (M3 and M4) dominated during the Medieval Climate

Anomaly (MCA) and the Current Warm Period (CWP) pe-

riods, suggesting that aeolian transport increased as a con-

sequence of surface wind stress intensification. In contrast,

M2 displays an opposite behavior, exhibiting an increase in

fluvial terrigenous input during the Little Ice Age (LIA) in

response to more humid conditions associated with El Niño-

like conditions. Comparison with other South American pa-

leoclimate records indicates that the observed changes are

driven by interactions between meridional displacement of

the Intertropical Convergence Zone (ITCZ), the South Pacific

Subtropical High (SPSH) and Walker circulation at decadal

and centennial timescales.

1 Introduction

The Pisco region (∼ 14–15◦ S) hosts one of the most intense

coastal upwelling cells off Peru due to the magnitude and per-

sistence of alongshore equatorward winds during the annual

cycle (Fig. 1b). Regional winds can also be affected at inter-

annual timescales by El Niño–Southern Oscillation (ENSO)

variability (i.e., enhanced or weakened during La Niña and El

Niño events, respectively), as well as by the Pacific Decadal

Oscillation (PDO) at decadal timescales (Flores-Aqueveque

et al., 2015). These factors also affect the inputs of terrige-

nous material to the Peruvian continental shelf. Saukel et

al. (2011) found that wind is the major transport agent of

terrigenous material west of the Peru–Chile Trench between

5 and 25◦ S. Flores-Aqueveque et al. (2012) showed that, in

the arid region of northern Chile, transport of aeolian coarser

particles (approximately ∼ 100 µm) is directly related to in-

Published by Copernicus Publications on behalf of the European Geosciences Union.

Page 126: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

788 F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf

terannual variations in the domain of the strongest winds.

The Pisco region is also home to local dust storms called

Paracas, which transport dust material to the continental

shelf as a response to seasonal erosion and transport events

in the Ica Desert (∼ 15◦ S). This process reflects atmospheric

stability conditions and coastal sea surface temperature con-

nections (Gay, 2005). In contrast, sediment fluvial discharge

is more important on the northern coast of Peru, where there

are large rivers, and it decreases southward, where arid con-

ditions are dominant (Garreaud and Falvey, 2009; Scheideg-

ger and Krissek, 1982). This discharged material is redis-

tributed southward by coastal currents along the continental

shelf (Montes et al., 2010; Smith, 1983). In addition, small

rivers exist in our study area, such as the Pisco River, which

can increase their flow during strong El Niño events (Bekad-

dour et al., 2014). It has also been demonstrated that, dur-

ing El Niño events and coincident positive PDO, there is

an increase in precipitation along northern Peru and, conse-

quently, higher river discharge, mainly from the large rivers

(e.g., the Santa River), whereas an opposite behavior is ob-

served during La Niña events and the negative phase of

PDO (Bekaddour et al., 2014; Böning and Brumsack, 2004;

Lavado Casimiro et al., 2012; Ortlieb, 2000; Rein, 2005,

2007; Scheidegger and Krissek, 1982; Sears, 1954).

Grain size distributions in marine sediments may indicate

different sources and/or depositional processes that can be

expressed as polymodal distributions (e.g., Pichevin et al.,

2005; Saukel et al., 2011; Stuut and Lamy, 2004; Stuut et al.,

2002, 2007; Sun et al., 2002; Weltje and Prins, 2003, 2007).

The polymodal distribution makes the classification of grain

size composition an essential step in identifying the different

sedimentary processes and the past environmental conditions

behind them (e.g., climate, atmosphere and ocean circula-

tion) (Bloemsma et al., 2012; Flores-Aqueveque et al., 2012,

2015; Pichevin et al., 2005; Ratmeyer et al., 1999; Saukel et

al., 2011; Stuut et al., 2005, 2007; Sun et al., 2002). The grain

size distributions of lithogenic materials in marine sediments

can thus be used to infer relative wind strengths and aridity

on the assumption that more vigorous atmospheric circula-

tion will transport coarser particles to a greater distance and

that the relative abundance of fluvial particles reflects pre-

cipitation patterns (e.g., Hesse and McTainsh, 1999; Parkin

and Shackleton, 1973; Pichevin et al., 2005; Stuut and Lamy,

2004; Stuut et al., 2002).

A significant number of studies have described the cli-

matic, hydrologic and oceanographic changes during the last

1000 years on the Peruvian continental shelf (Ehlert et al.,

2015; Gutiérrez et al., 2011; Salvatteci et al., 2014b; Sifed-

dine et al., 2008). Evidence of changes in the Humboldt Cur-

rent circulation system and in the precipitation pattern has

been reported. Salvatteci et al. (2014b) show that the Me-

dieval Climatic Anomaly (MCA) exhibits two distinct pat-

terns of Peruvian upwelling characterized by weak/intense

marine productivity and sub-surface oxygenation, respec-

tively, as a response to the intensity of South Pacific Sub-

tropical High (SPSH) linked to the Walker circulation. Dur-

ing the Little Ice Age (LIA), an increased sediment discharge

over the Pisco continental shelf was described, as well as

a stronger oxygenation and lower productivity (Gutiérrez et

al., 2009; Salvatteci et al., 2014b; Sifeddine et al., 2008). In

addition, during the Current Warm Period (CWP), the Peru-

vian Upwelling Ecosystem exhibited (1) an intense oxygen

minimum zone (OMZ) and an increase in marine productiv-

ity, (2) a significant sea surface temperature cooling (∼0.3–

0.4 ◦C decade−1), and (3) an increase in terrigenous material

input (Gutiérrez et al., 2011).

Here we present new data regarding the effective mode of

transport of mineral fractions to the Pisco shelf during the

last millennium, confirming previous work and bringing new

knowledge about the climatic mechanism behind Humboldt

circulation and atmospheric changes, especially during the

MCA. Our results identify wind intensification during the

second part of the MCA and CWP, in contrast to a decrease

in the wind intensity during the LIA and the first part of the

MCA synchronous with fluvial discharge increases. Compar-

isons with other paleoclimate records indicate that the ITCZ

displacement, the SPSH and the Walker circulation were the

main drivers for the hydroclimate changes along the coastal

Peruvian shelf during the last millennium.

2 Sedimentary settings

Reinhardt et al. (2002), Suess et al. (1987) and Gutiérrez et

al. (2006) described the sedimentary facies in the Peruvian

shelf and the role of currents in the erosion process as well

as the redistribution and favorable hemipelagic sedimenta-

tion of material over the continental shelf. These studies

showed that high-resolution sediment records are present in

specific localities of the Peruvian continental margin. Suess

et al. (1987) described the two sedimentary characteristic fa-

cies between 6 and 10◦ S and between 11 and 16◦ S. The

first one, 6–10◦ S (Salaverry Basin), is characterized by the

absence of hemipelagic sediment accumulation, because in

this zone the southward poleward undercurrent is strong. The

second one, Lima Basin (11–16◦ S), is characterized by a

lens-shaped depositional center of organic-rich mud facies

favored by oceanographic dynamics from the position and

low velocity of the southward poleward current on the con-

tinental shelf (Reinhardt et al., 2002; Suess et al., 1987).

High-resolution sediment echo sounder profiles further char-

acterize the mud lens nature and complement the continental

shelf information (Salvatteci et al., 2014a). These upper mud

lenses are characterized by fine grain size, a diatomaceous,

hemiplegic mud with high organic carbon, and the absence

of erosive and bioturbation processes.

The Pisco continental shelf sediments are a composite of

laminated structures characterized by an array of more or less

dense sections of dark and light millimetric laminae (Brodie

and Kemp, 1994; Salvatteci et al., 2014a; Sifeddine et al.,

Clim. Past, 12, 787–798, 2016 www.clim-past.net/12/787/2016/

Page 127: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf 789

Figure 1. (a) Location of the sampling of the sediment cores B040506 (black circle) and G10-GC-01 (black triangle) in the central Peru

continental margin. Bathymetric contour lines are in 25 m intervals from 100 to 500 m depth. (b) Mean surface vector wind velocity (m s−1)

composite mean for summer (up) and winter (down) between 1948 and 2015 for South America. NCEP/NCAR Reanalysis data.

2008). The laminae structure and composition result from a

complex interplay of factors including the terrigenous mate-

rial input (both aeolian and fluvial), the upwelling produc-

tivity, and associated particle export to the seafloor (Brodie

and Kemp, 1994; Salvatteci et al., 2014a). The anoxic condi-

tions favored by an intense OMZ (Gutiérrez et al., 2006) and

weak current activity in some areas (Reinhardt et al., 2002;

Suess et al., 1987) favor the preservation of paleoenviron-

mental signals and consequently a successful recording of

the environmental and climate variability.

Along the Peruvian coast, lithogenic fluvial material is

supplied by a series of large rivers that are more signifi-

cant to the north of the study area (Lavado Casimiro et al.,

2012; McPhillips et al., 2013; Morera et al., 2011; Rein,

2005; Scheidegger and Krissek, 1982; Unkel et al., 2007).

In fact, Smith (1983) concluded that sedimentary material

can be transported for long distances in an opposite direc-

tion of prevailing winds and surface currents in upwelling

zones. In fact, the coastal circulation off Peru is dominated by

the poleward Peru–Chile undercurrent (PCUC), which flows

over the outer continental shelf and upper continental slope,

whereas the equatorward Peru coastal current is limited to

a few dozens of meters in the surface layer (Chaigneau et

al., 2013). On the other hand, several works have shown that

precipitation, fluvial input discharge (Bekaddour et al., 2014;

Bendix et al., 2002; Lavado-Casimiro and Espinoza, 2014),

and the PCUC increase during the El Niño events (Hill et

al., 1998; Strub et al., 1998; Suess et al., 1987). These obser-

vations suggest a potential for the fluvial particles to spread

over the continental margin under wet paleoclimatic condi-

tions (e.g., El Niño or El Niño-like). Lithogenic material in

the study area might also originate from wind-driven dust

storms or vientos Paracas, which are more frequent and in-

tense during austral winters (Escobar Baccaro, 1993; Gay,

2005; Haney and Grolier, 1991) and by the saltation and sus-

pension mechanisms with which this material reaches the

continental shelf.

3 Materials and methods

3.1 Stacked record

The B040506 (hereafter “B06”; 14◦07.90′ S, 76◦30.10′W;

299 m water depth) and the G10-GC-01 (hereafter “G10”;

14◦22.96′ S, 076◦23.89′W; 313 m water depth) sediment

cores were retrieved from the central Peruvian continental

shelf in 2004 during the Paleo2 cruise onboard the Peru-

vian vessel José Olaya Balandra (IMARPE) and in 2007

www.clim-past.net/12/787/2016/ Clim. Past, 12, 787–798, 2016

Page 128: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

790 F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf

during the Galathea-3 cruise, respectively (Fig. 1a). We

compared the age models and performed a laminae cross-

correlation between the two cores in order to develop a

continuous record for the last millennium (Salvatteci et al.,

2014a) (Fig. S1 in the Supplement). The choice of these two

cores was based on previous detailed stratigraphic investiga-

tions and available complementary multi-proxy reconstruc-

tions (Gutiérrez et al., 2006, 2009; Salvatteci et al., 2012,

2014a, b; Sifeddine et al., 2008). The box core B06 (0.75 m

length) is a laminated core with a visible slump at ∼ 52 cm

and three thick homogeneous deposits (1.5 to 5.0 cm thick)

identified in the SCOPIX images. These intervals were not

considered in our study (Fig. S1). The presence of filaments

of the giant sulfur bacteria Thioploca spp. in the top of core

B06 confirms the successful recovery of the sediment water

interface.

According to the biogeochemical analysis in Gutiérrez et

al. (2009) (i.e., palynofacies, oxygen index (Rock-Eval), to-

tal organic carbon and δ13C), B06 is characterized by a dis-

tinctive shift at ∼ 30 cm, more details are provided by Sifed-

dine et al. (2008) and Salvatteci et al. (2014a). The age

model of B06 was inferred from five 14C-calibrated accel-

erator mass spectrometry (AMS) age distributions (Fig. S1),

showing that this core covers the last ∼ 700 years. For the

last century, which is recorded only by B06, the age model

was based on downcore natural excess 210Pb and 137Cs dis-

tributions and supported by bomb-derived 241Am distribu-

tions (Fig. S2 and Gutiérrez et al., 2009). The mass accumu-

lation rate after ca. AD 1950 was 0.036± 0.001 g cm−2 yr−1

and before ca. AD 1820 was 0.022± 0.001 g cm−2 yr−1. On

the other hand, G10 is a gravity-laminated sediment core

of 5.22 m presenting six units and exhibiting some minor

slumping. The G10 age model was based on 31 samples

of 14C-calibrated AMS age distributions, showing that the

core covers the Holocene period (Salvatteci et al., 2014b,

2016). Here we used only a laminated section between ∼ 18

and 45 cm that chronologically covered part of the MCA pe-

riod (from ∼AD 1050 to 1500) and presented no slumps

(Fig. S1).

The spatial regularity of the initial core sampling com-

bined with the naturally variable sedimentation rate implied

variable time rates between samples (150 samples in total).

Each sample is 0.5 cm thick in B06 and usually includes 1–2

laminae. On the other hand, in core G10, each sample is 1 cm

thick, including 3–4 laminae. The results considering the sed-

imentation rates showed that the intervals during MCA, LIA

and CWP span 18, 7, and 3 years, respectively. Because of

differences in the subsampling thickness between cores and

variable sedimentation rates, results are binned by 20-year

intervals (the lowest time resolution among samples) after

linear interpolation and 20-year running mean of the original

data set.

3.2 Grain size analyses

To isolate the mineral terrigenous fraction, organic matter,

calcium carbonate and biogenic silica were successively re-

moved from approximately 100 mg of bulk sediment sam-

ple using H2O2 (30 % at 50 ◦C for 3 to 4 days), HCl (10 %

for 12 h) and Na2CO3 (1 M at 90 ◦C for 3 h), respectively.

Between each chemical treatment, samples were repeatedly

rinsed with deionized water and centrifuged at 4000 rpm un-

til neutral pH. After pre-treatment, the grain size distribu-

tion was determined with an automated image analysis sys-

tem (model FPIA3000, Malvern Instruments). This system

is based on a CCD (charge-coupled device) camera that cap-

tures images of all of the particles homogeneously suspended

in a dispersal solution by rotation (600 rpm) in a measure-

ment cell. After magnification (×10), particle images are

digitally processed and the equivalent spherical diameter (de-

fined as the diameter of the spherical particle having the same

surface as the measured particle) is determined. The opti-

cal magnification used (×10) allows the counting of particles

with equivalent diameters between 0.5 and 200 µm. Prior to

the FPIA analysis, all samples were sieved with a 200 µm

mesh in order to recover coarser particles. Since particles

> 200 µm were never found in any samples, the grain size dis-

tribution obtained by the FPIA method reliably represents the

full particle size range in the sediment. A statistically signif-

icant number of particles (in the hundreds of thousands, up

to 300 000) are automatically analyzed by FPIA, providing

particle size information comparable to that obtained with a

laser granulometer along with images of the individual par-

ticles. Using the images to check the efficiency of the pre-

treatments, we ensured that both organic matter and biogenic

silica had been completely removed from all the samples. Fi-

nally, particle counts were binned into 45 different size bins

between 0.5 and 200 µm instead of the 225 set by the FPIA

manufacturer in order to reduce errors related to the presence

of very few particles in some of the preselected narrow bins.

Grain size distributions are expressed as (%) volume distri-

butions.

3.3 Determining sedimentary components and the

de-convolution fitting model

As different particle transport/deposition processes are

known to influence the grain size distribution of the lithic

fraction of sediment (e.g., Holz et al., 2007; Pichevin et al.,

2005; Prins et al., 2007; Stuut et al., 2005, 2002; Sun et al.,

2002; Weltje and Prins, 2003, 2007; Weltje, 1997), identify-

ing the individual components of the polymodal grain size

distribution is decisive for paleoenvironmental reconstruc-

tions. The numerical characteristics (i.e., amplitude (A), ge-

ometric mean diameter (Gmd), and geometric standard de-

viation (Gsd) of the individual grain size populations whose

combination forms the overall grain size distribution) were

determined for all samples using the iterative least-squares

Clim. Past, 12, 787–798, 2016 www.clim-past.net/12/787/2016/

Page 129: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf 791

method of Gomes et al. (1990). This fitting method aims to

minimize the squared difference between the measured vol-

ume grain size distribution and the one computed from a

mathematical expression based on lognormal function. The

number of individual grain size populations to be used is de-

termined by the operator, and all statistical parameters (A,

Gmd and Gsd) are allowed to change from one sample to an-

other. This process presents a strong advantage compared to

end-member modeling (e.g., Weltje, 1997), in which the in-

dividual grain size distributions are maintained constant over

the whole time series, the only fitting parameter being the

relative amplitude, A. Indeed, it is unlikely that the param-

eters that govern both transport and deposition of lithogenic

material, and therefore grain size of particles, remain con-

stant over time. In turn, variations in these parameters are

expected to induce changes in the grain size distribution pa-

rameters such as Gmd and Gsd.

4 Results and discussion

4.1 Basis for interpretation

Both sediment cores (B06 and G10) exhibit a roughly bi-

modal grain size distribution presenting significant variation

in amplitude and width. These modes correspond to fine-

grain-size classes from ∼ 3 to 15 µm and coarser grain size

classes between∼ 50 and 120 µm (Fig. S3). A principal com-

ponent analysis (PCA) based on the Wentworth (1922) grain

size classification identifies four modes that could explain

the total variance of the data set (Fig. S4). The measured

and computed grain size distributions show high correlations

ranging from R2= 0.75 to 0.90, demonstrating that the use

of four grain size modes is well adapted to our sediment sam-

ples and that the computed ones may be reliable for further

interpretation (Fig. 2). Lower correlations only occurred for

six samples that are characterized by small proportions of ter-

rigenous material compared to biogenic silica, organic mat-

ter and carbonates. In these cases, the number of lithic par-

ticles remaining after chemical treatments was small, which

increased the associated relative error. However, these sam-

ples have been included in the data set since they all pre-

sented a high contribution of coarser particles.

Grain size parameters are presented in Table 1. The first

mode (M1), with a Gmd of approximately 3± 1 µm, and the

second one (M2), with a Gmd of 10± 2 µm, are character-

ized by large Gsd (∼ 2σ ), indicating a low degree of sorting.

Such a low degree of sorting suggests a slow and continuous

depositional process as occurs in other environments (Sun et

al., 2002). The coarsest modes, M3 and M4, display mean

Gmd values of 54± 12 and 91± 13 µm, respectively. These

modes present Gsd values close to 1σ . The Gmd values of the

two coarsest modes are consistent with the optimal grain size

transported under conditions favorable to soil erosion (lack

of vegetation, low threshold friction velocity, surface rough-

ness and low soil moisture) and low wind friction velocity

Figure 2. Comparison between a measured grain size distribution

and the fitted curve using lognormal function and its partitioning

into four individual grain size modes. The measured data are a mean

grain size distribution from all samples of B6 and G10 cores.

(Iversen and White, 1982; Kok et al., 2012; Marticorena and

Bergametti, 1995; Marticorena, 2014; Shao and Lu, 2000).

Such conditions prevail in the studied area because central

coastal Peru consists of a sand desert area characterized by

the absence of rain, a lack of vegetation and persistent wind

(Gay, 2005; Haney and Grolier, 1991).

In the vicinity of desert areas, where wind-blown trans-

port prevails, particles with grain size as high as ∼ 100 µm

can accumulate in marine sediments (e.g., Flores-Aqueveque

et al., 2015; Stuut et al., 2007) or even in lacustrine sedi-

ments (An et al., 2012). Indeed, Stuut et al. (2007) reported

the presence of distributions typical of wind-blown particles

with∼ 80 µm grain size (∼ 29◦ S North Chile), which is con-

sistent with our results. In the studied area, the emission

and transport of mineral particles are related to the strong

wind events called Paracas. Paracas dust emission is a lo-

cal seasonal phenomenon that preferentially occurs in winter

(July–September) and is due to an intensification of the local

surface winds (Escobar Baccaro, 1993; Haney and Grolier,

1991; Schweigger, 1984). The pressure gradient of sea level

between 15 and 20◦ S, 75◦W is the controlling factor of

Paracas winds (Quijano, 2013), along with local topogra-

phy (Gay, 2005). Coarse particles found in continental sed-

iments off Pisco cannot have a fluvial origin because sub-

stantial hydrodynamic energy is necessary to mobilize par-

ticles of this size (50–100 µm), and this region is devoid of

large rivers (Reinhardt et al., 2002; Scheidegger and Krissek,

1982; Suess et al., 1987).

Therefore, the coarsest modes (M3 and M4) can be in-

terpreted as markers of aeolian transport resulting from sur-

face winds and emission processes (Flores-Aqueveque et al.,

2015; Hesse and McTainsh, 1999; Marticorena and Berga-

metti, 1995; McTainsh et al., 1997; Sun et al., 2002) and

www.clim-past.net/12/787/2016/ Clim. Past, 12, 787–798, 2016

Page 130: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

792 F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf

Table 1. Averaged parameters (geometric mean diameter (Gmd), amplitude (A) and geometric standard deviation (Gsd)) of the four lognor-

mal modes (components) identified from measured size distributions of sediment samples (B6 and G10 cores).

M1 M2 M3 M4

Gmd (µm) A (%) Gsd Gmd (µm) A (%) Gsd Gmd (µm) A (%) Gsd Gmd (µm) A (%) Gsd

3± 1 16± 7 1.9± 0.2 10± 2 43± 15 1.9± 0.2 54± 12 20± 10 1.4± 0.2 90± 13 20± 13 1.2± 0.2

indicate a local and proximal aeolian source (i.e., Paracas

winds). This interpretation is in contrast to the Atacama

Desert source suggested by Ehlert et al. (2015) and Molina-

Cruz (1977). Ehlert et al. (2015), who used the same sed-

iment core (B06), and also indicated difficulties in the in-

terpretation of the detritical Sr isotopic signatures as an in-

dicator of the terrigenous sources. These difficulties can be

associated with the variability in the 87Sr / 86Sr due to grain

size (Meyer et al., 2011). The finest M1 component (∼ 3 µm)

may be linked to both aeolian and fluvial transport mecha-

nisms. Thus, because its origin is difficult to determine, and

because its trend appears to be relatively independent of the

other components, we do not use it further.

The M2 component (∼ 10 µm) is interpreted as an indi-

cator of fluvial transport (Koopmann, 1981; McCave et al.,

1995; Stuut and Lamy, 2004; Stuut et al., 2002, 2007). In-

deed, this is consistent with the report by Stuut et al. (2007)

for the fluvial mud (∼ 8 µm) in the south of Chile (> 37◦ S),

where the terrigenous input is dominated by fluvial origins.

A fluvial origin of this M2 component is also supported by

showing the same trend in the geochemical proxies, such

as radiogenic isotope compositions of detrital components

(Ehlert et al., 2015), mineral fluxes (Sifeddine et al., 2008)

or %Ti (Salvatteci et al., 2014b), indicating more terrige-

nous transport during the LIA, when humid conditions were

dominant. The M2 component is interpreted as being linked

to river material discharge, mostly from the north Peruvian

coast, and redistribution by the PCUC and bottom currents

(Montes et al., 2010; Rein et al., 2004; Scheidegger and Kris-

sek, 1982; Unkel et al., 2007).

4.2 Aeolian and fluvial input variability during the past

∼1000 years

Grain size component (M2, M3 and M4; Table 1) variations

in the composite records (B06 and G10) express changes in

wind stress and fluvial runoff at multidecadal to centennial

scales during the last millennium. The sediments deposited

during the MCA exhibit two contrasting patterns of grain

size distributions. A first sequence dated from AD 1050 to

1170 has low values ofD50 (i.e., median grain size) that vary

around 16± 6 µm and are explained by 50± 14 M2, 16± 8

M3, 21± 5 M4 and 13± 5 % M1 contributions. A second

sequence, dated from AD 1170 to 1450, was marked by high

values of D50 in the range of 34± 18 µm, with average con-

tributions of 36± 8 for M2, 21± 10 for M3, 29± 15 for M4

and 14± 6 % for M1 (Table 2). These results indicate high

variability in transport of particles during the MCA, with

more fluvial sediment discharge from 1050 to 1170, followed

by an aeolian transport increase between AD 1170 and 1450

(Fig. 3).

During the LIA (AD 1450–1800), the deposited particles

were dominated by fine grain sizes with a D50 varying

around an average of 15 µm, explained by 53± 15 % M2

contribution. In contrast, the contribution of M3 averaged

19± 9 % and ranged from 4 to 45 %, whereas M4 showed an

average contribution of 14± 11 % and varied from 0 to 44 %

during the same period. The dominant contribution of the

finest-sized particles of M2 suggests a high fluvial terrige-

nous input to the Peruvian continental shelf. It is important

to note that M2 contributions increased from the beginning

to the end of the LIA at ∼AD 1800, suggesting a gradual

increase in fluvial sediment discharge input related to the en-

hancement of the continental precipitation (Fig. 3c). Indeed,

during the LIA, our results confirm previous interpretations

of wet conditions along the Peruvian coast (Gutiérrez et al.,

2009; Salvatteci et al., 2014b; Sifeddine et al., 2008). These

results also imply that this period was characterized by weak

surface winds and hence a weaker coastal upwelling.

Subsequently, D50 variations show multidecadal variabil-

ity during the last ∼ 200 years that is divided into three dis-

tinctive periods. The first one, from ∼AD 1800 to 1850,

shows dominance of coarse particles around 50 µm, ex-

plained by the high contribution of M3 and M4 (up to 45

and 50 %, respectively) during this period. These results sug-

gest a period of drier climate and very strong wind con-

ditions. The second one, from AD 1850 to 1900, displays

values around ∼ 20 µm explained by ∼ 40 of M2, ∼ 20 of

M3 and ∼ 20 % of M4, suggesting that fluvial sediment dis-

charge was the dominant transport mechanism, although not

as significant as during the LIA. The third period spans from

AD 1900 to the final part of record and covers the CWP. Our

results reveal a dominance of coarse particles during the most

of this period (D50 up to of 80 µm) that arise from high con-

tributions of M3 and M4 (∼ 40 and ∼ 50 %, respectively).

However, a clear decrease in the D50 is displayed at the end

of this period that is explained by a decrease in contributions

of the aeolian component M4 (∼ 20 %), although the con-

tribution of M3 and M2 remain relatively stable (∼ 25 and

30 %, respectively). These conditions display no clear domi-

nance of a given transport mode during this time. In addition,

markedly coarser particles in the M4 component were very

Clim. Past, 12, 787–798, 2016 www.clim-past.net/12/787/2016/

Page 131: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf 793

Figure 3. (a) Median grain size (D50) variation along the record and variation in relative abundance of the sedimentary components: (b) M1,

(c) fluvial (M2), (d) aeolian (M3) and (e) aeolian (M4) of the grain size distribution in the record. (f) Samples where very large particles

related to extreme events were found.

Table 2. Minimum, maximum and average values of the grain size components in each climate unit obtained along the record in the Pisco

continental shelf.

First period MCA Second period MCA LIA CWP

AD 1050–1170 AD 1170–1450 AD 1450–1800 AD 1900 to present

Grain size

components

Amplitude (%) Amplitude (%) Amplitude (%) Amplitude (%)

Av.±SD Range Av.±SD Range Av.±SD Range Av.±SD Range

(min–max) (min–max) (min–max) (min–max)

M1 13± 5 8–19 14± 6 5–27 15± 6 6–29 18± 7 4–40

M2 50± 14 33–64 36± 8 23–60 53± 15 16–80 34± 10 13–63

M3 16± 8 6–28 21± 10 0–39 19± 9 4–45 23± 10 6–44

M4 21± 5 12–30 29± 15 10–55 14± 11 0–44 25± 13 0–56

common during this time (the last 200 years), indicating a

strong probability of extreme wind stress events (Fig. 3f).

4.3 Climatic interpretations

Our findings suggest a combination of regional and local at-

mospheric circulation mechanism changes that controlled the

pattern of sedimentation in the study region. Our record is lo-

cated under the contemporary seasonal Paracas dust storm

path, but it also records discharged fluvial muds that are

supplied by the rivers along the Peruvian coast. Hence, this

record is particularly well suited for a reconstruction of con-

tinental runoff/wind intensity in the central Peruvian conti-

nental shelf during the last millennium. The interpretation of

the changes in the single records of the components (M2, M3

and M4) and their associations (e.g., ratios) can reflect pale-

oclimatic variations in response to changes in atmospheric

conditions. Here, we used the ratio between the aeolian com-

ponents, defined as the contribution of the stronger winds

over total wind variability: M4 / (M3+M4). We consider

this ratio to be a proxy of the local wind surface intensity and

thus of the SPSH atmospheric circulation (Fig. 4a). Previous

studies have similarly and successfully used grain size frac-

tion ratios as paleoclimate proxies of atmospheric conditions

and circulation to explain other sediment records (Holz et

al., 2007; Huang et al., 2011; Prins, 1999; Shao et al., 2011;

Stuut et al., 2002; Sun et al., 2002; Weltje and Prins, 2003).

As explained above, the MCA was characterized by a sine-

like peak structure that depicts two different climate stages.

During the first stage, spanning from ∼AD 1050 to 1170,

the fluvial input show a peak centered at AD 1120 that was

linked to a precipitation increase accompanied by a decrease

www.clim-past.net/12/787/2016/ Clim. Past, 12, 787–798, 2016

Page 132: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

794 F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf

Figure 4. (a) Wind intensity (M4 / (M3+M4)) anomaly recon-

struction, (b) fluvial input (M2) anomaly reconstruction on the con-

tinental shelf, and records of (c) terrigenous flux (total minerals) in

Pisco continental shelf by Sifeddine et al. (2008), (d) OMZ activity

(Re /Mo anomalies) negative values indicate more anoxic condi-

tions (the axis was reversed) (Salvatteci et al., 2014b), (e) ITCZ mi-

gration (%Ti) (Peterson and Haug, 2006), (f) SAMS activity recon-

struction (δ18O Palestina Cave) (Apaéstegui et al., 2014), (g) east-

ern temperatures reconstruction (Rustic et al., 2015) and (h) Indo-

Pacific temperatures reconstruction (Oppo et al., 2009).

in wind intensity. Those results suggest a southward ITCZ

displacement (Fig. 4e) as a response to more El Niño-like

conditions as suggested by Rustic et al. (2015) (Fig. 4g and

h). In contrast, during the second stage the surface winds had

their greatest intensity with a peak centered at ∼AD 1200

as a consequence of displacement of the ITCZ–SPSH sys-

tem. The displacement of the SPSH core towards the east-

ern South American coast intensified alongshore winds as a

regional response to stronger Walker circulation. These fea-

tures are in agreement with the ocean thermostat mechanism

proposed by Clement et al. (1996). This mechanism produces

a shallow thermocline in the eastern Pacific (Fig. 4g and h)

and consequently more intense upwelling conditions and a

stronger OMZ offshore of Pisco recorded in low values of the

Re / Mo ratio (Fig. 4d). These two patterns (i.e., enhanced flu-

vial transport/enhanced wind intensity) might have been trig-

gered by the expression of Pacific variability at multidecadal

timescales with the combined action of the Atlantic Multi-

decadal Oscillation (AMO). Indeed, other works provide ev-

idence during the MCA for low South American monsoon

system (SAMS) activity at multidecadal timescales driven by

the AMO (Fig. 4f) (Apaéstegui et al., 2014; Bird et al., 2011;

Reuter et al., 2009). Thus, besides the displacement of the

ITCZ, the AMO could have modulated Walker circulation at

a multidecadal variability during the MCA through mecha-

nisms such as those described by McGregor et al. (2014) and

Timmermann et al. (2007).

Our results, combined with other paleo-reconstructions,

suggest that the LIA was accompanied by a weakening of

the regional atmospheric circulation and of the upwelling fa-

vorable winds. During the LIA, the mean climate state was

controlled by a gradual intensification of the fluvial input of

sediments to the continental shelf, thus indicating more El

Niño-like conditions (Fig. 4b). These features are confirmed

by an increase in the terrigenous sediment flux, as described

by Sifeddine et al. (2008) (Fig. 4c) and Gutiérrez et al. (2009)

and by changes of the radiogenic isotopic composition of

the terrigenous fraction (Ehlert et al., 2015). These wet con-

ditions are also marked by an intensification of the SAMS

and the southern meridional displacement of the ITCZ, as

evidenced by paleo-precipitation records in the Andes and

in the Cariaco Trench (Apaéstegui et al., 2014; Haug et al.,

2001; Peterson and Haug, 2006) (Fig. 4e). At the same time,

a prevalence of weak surface winds (Fig. 4a) and an increase

in subsurface oxygenation driving sub-oxic conditions in the

surface sediment are recorded (Fig. 4d). These characteris-

tics also support the hypothesis of the ITCZ–SPSH southern

meridional displacement and are consistent with a weakening

of the Walker circulation (Fig. 4g).

The transition period between the LIA and CWP appears

as an abrupt event showing a progressive positive anomaly in

the wind intensity synchronous with a rapid decrease in flu-

vial input to the continental shelf (Fig. 4a and b). This transi-

tion suggests a rapid change of meridional (ITCZ–SPSH) and

zonal (Walker) circulation interconnection, which controls

the input of terrigenous material (fluvial/aeolian). Gutiérrez

et al. (2009) found evidence of a large reorganization in the

tropical Pacific climate with immediate effects on ocean bio-

geochemical cycling and ecosystem structure at the transi-

tion between the LIA and CWP. The increase in the regional

wind circulation that favors aeolian erosive processes simul-

taneously leads to an increase in the OMZ intensity related

to upwelling intensification.

Finally, during the CWP (∼AD 1900 to present), a trend

to steadying of low fluvial input (Fig. 4b) was combined with

Clim. Past, 12, 787–798, 2016 www.clim-past.net/12/787/2016/

Page 133: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf 795

an increase in wind intensity (Fig. 4a) that was coupled to a

strong OMZ. This setting suggests the northernmost ITCZ–

SPSH system position. This hypothesis is supported by other

studies on the continental shelf of Peru (Salvatteci et al.,

2014b) and also in the eastern Andes, where a decrease in

rainfall of between∼ 10 and 20 % relative to the LIA was re-

ported for the last century (Reuter et al., 2009). Enhancement

of wind intensity is also consistent with the multidecadal

coastal cooling and increase in upwelling productivity since

the late nineteenth century (Gutiérrez et al., 2011; Salvatteci

et al., 2014b; Sifeddine et al., 2008) and confirms the rela-

tions between the intensification of the upwelling activity in-

duced by the variability in the regional wind intensity from

SPSH displacement.

The increase in the wind intensity over the past two cen-

turies likely represents a result of the modern positioning of

the ITCZ–SPSH system and the associated intensification of

the local and regional winds (Fig. 4a). The contributions of

aeolian deposition material (Fig. 3e and f) and, as a conse-

quence, the wind intensity and its variability during the last

100 years are stronger than during the second sequence of

the MCA (Fig. 4a) under similar conditions (i.e., position of

the ITCZ–SPSH system). This variability implies a forcing

mechanism in addition to the enhancement of the wind in-

tensity, one that may be related to the current climate change

conditions (Bakun, 1990; England et al., 2014; Sydeman et

al., 2014). Moreover, during the CWP, the wind intensity

showed a direct relation with OMZ strength (Fig. 4a and d)

that suggests an increase in the zonal gradient and thus in the

Walker circulation on a multidecadal scale.

Our record shows that on a centennial scale, the fluvial in-

put changes are driven by the meridional ITCZ position and

a weak gradient of the Walker circulation, consistent with

El Niño-like conditions. In contrast, variations in the surface

wind intensity are linked to the position of the SPSH mod-

ulated by both the meridional variation in the ITCZ and the

intensification of the zonal gradient temperature related to the

Walker circulation and expressing La Niña-like conditions. A

clear relation between the zonal circulation and wind inten-

sity at a centennial timescale is displayed. All these features

modulate the biogeochemical behavior of the Peruvian up-

welling system.

5 Conclusions

Study of the grain size distribution in laminated sediments

from the Pisco Peruvian shelf has allowed the reconstruction

of changes in wind intensity and terrigenous fluvial input at

centennial and multidecadal timescales during the last mil-

lennium. The long-term variation in the M2 (∼ 10 µm) mode

is an indicator of hemipelagic fluvial input related to the re-

gional precipitation variability. At the same time, the M3

(54± 11 µm) and M4 (91± 11 µm) components are related

to aeolian transport and thus with both local and regional

wind intensity. The temporal variations in these fractions in-

dicate that the MCA and CWP periods were characterized

by an increment in the coarse-particle transport (M3 and

M4) and thus an enhancement of the surface wind intensity,

whereas the LIA was characterized by stronger fluvial input

as evidenced from an increase in fine (M2) particles. Com-

parison between records reveals a coherent match between

the meridional displacement of the ITCZ–SPSH system and

the regional fluvial and aeolian terrigenous input variabil-

ity. The ITCZ–SPSH system northern displacement during

the second period of the MCA and the CWP was associated

with the intensification of the Walker cell and La Niña Like

conditions, resulting in stronger winds, upwelling-favorable

conditions, enhanced marine productivity and greater oxy-

gen depletion in the water column. In contrast, the south-

ward migrations of the ITCZ–SPSH system during the LIA

correspond to an enhancement to the South American mon-

soon circulation and El Niño-like conditions, driving the in-

crease in the precipitation and the terrigenous fluvial input to

the Pisco continental shelf, lower productivity and increased

oxygenation. Two patterns observed during the MCA, re-

spectively marked by fluvial intensification and wind inten-

sification, could have been forced by Pacific Ocean variabil-

ity at multidecadal timescales. Further studies of the paleo-

wind reconstruction at high time resolution, combined with

model simulation, are needed to better understand the inter-

play between the Pacific and Atlantic Ocean connection on

climate variability as evidenced by McGregor et al. (2014) in

the modern Pacific climate pattern.

The Supplement related to this article is available online

at doi:10.5194/cp-12-787-2016-supplement.

Acknowledgements. This work was supported by the Interna-

tional Joint Laboratory “PALEOTRACES” (IRD, France; UPMC,

France; UFF, Brazil; UA, Chile; UPCH, Peru), the Department

of Geochemistry of the Universidade Federal Fluminense (UFF,

Brazil), the ALYSES analytical platform (IRD/UPMC, supported

by grants from Région Ile-de-France), the Peruvian Marine

Research Institute (IMARPE) and the Geophysical Institute of Peru

(IGP). It was also supported by the collaborative project Chaire

Croisée PROSUR (IRD). We are deeply grateful to CAPES (Brazil)

for the scholarship to Francisco Briceño Zuluaga. We give special

thanks to Ioanna Bouloubassi and Phil Meyers for their comments

and suggestions. We are also grateful to the anonymous reviewers

for their constructive and helpful suggestions, which helped to

improve this manuscript.

Edited by: J. Martinez

www.clim-past.net/12/787/2016/ Clim. Past, 12, 787–798, 2016

Page 134: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

796 F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf

References

An, F., Ma, H., Wei, H., and Lai, Z.: Distinguishing aeolian signa-

ture from lacustrine sediments of the Qaidam Basin in northeast-

ern Qinghai-Tibetan Plateau and its palaeoclimatic implications,

Aeolian Res., 4, 17–30, 2012.

Apaéstegui, J., Cruz, F. W., Sifeddine, A., Vuille, M., Espinoza, J.

C., Guyot, J. L., Khodri, M., Strikis, N., and Perú, G.: Hydrocli-

mate variability of the northwestern Amazon Basin near the An-

dean foothills of Peru related to the South American Monsoon

System during the last 1600 years, Clim. Past, 10, 1967–1981,

doi:10.5194/cp-10-1967-2014, 2014.

Bakun, A.: Global climate change and intensification of coastal

ocean upwelling, Science, 247, 198–201, 1990.

Bekaddour, T., Schlunegger, F., Vogel, H., Delunel, R., Norton, K.

P., Akçar, N., and Kubik, P.: Paleo erosion rates and climate shifts

recorded by Quaternary cut-and-fill sequences in the Pisco val-

ley, central Peru, Earth Planet. Sc. Lett., 390, 103–115, 2014.

Bendix, A., Bendix, J., Gämmerler, S., Reudenbach, C., and Weise,

S.: The El Niño 1997/98 as seen from space – rainfall retrieval

and investigation of rainfall dynamics with Goes-8 and TRMM

Data, in The 2002 EUMETSAT Meteor. Satellite Conf., Dublin,

Ireland 2–6 September 2002, EUM P, 36, 647–652, 2002.

Bird, B. W., Abbott, M. B., Vuille, M., Rodbell, D. T., Stansell, N.

D., and Rosenmeier, M. F.: A 2,300-year-long annually resolved

record of the South American summer monsoon from the Peru-

vian Andes, P. Natl. Acad. Sci. USA, 108, 8583–8, 2011.

Bloemsma, M. R., Zabel, M., Stuut, J. B. W., Tjallingii, R., Collins,

J. A., and Weltje, G. J.: Modelling the joint variability of grain

size and chemical composition in sediments, Sediment. Geol.,

280, 135–148, 2012.

Böning, P. and Brumsack, H.: Geochemistry of Peruvian near-

surface sediments, Geochim. Cosmochim. Acta, 68, 4429–4451,

2004.

Brodie, I. and Kemp, A. E. S.: Variation in Biogenic and Detri-

tal Fluxes and Formation of Laminae in Late Quaternary Sedi-

ments from the Peruvian Coastal Upwelling Zone, Mar. Geol.,

116, 385–398, 1994.

Chaigneau, A., Dominguez, N., Eldin, G., Vasquez, L., Flores,

R., Grados, C., and Echevin, V.: Near-coastal circulation in the

Northern Humboldt Current System from shipboard ADCP data,

J. Geophys. Res.-Ocean., 118, 5251–5266, 2013.

Clement, A. C., Seager, R., Cane, M. A., and Zebiak, S. E.: An

ocean dynamical thermostat, J. Climate, 9, 2190–2196, 1996.

Ehlert, C., Grasse, P., Gutiérrez, D., Salvatteci, R., and Frank, M.:

Nutrient utilisation and weathering inputs in the Peruvian up-

welling region since the Little Ice Age, Clim. Past, 11, 187–202,

doi:10.5194/cpd-10-3357-2014, 2015.

England, M. H., McGregor, S., Spence, P., Meehl, G. A., Timmer-

mann, A., Cai, W., Gupta, A. Sen, McPhaden, M. J., Purich, A.,

and Santoso, A.: Recent intensification of wind-driven circula-

tion in the Pacific and the ongoing warming hiatus, Nature Cli-

matic Change, 4, 222–227, 2014.

Escobar Baccaro, D. F.: Evaluacion climatologica y sinoptica del

fenómeno de vientos Paracas, Universidad Nacional Agraria La

Molina, Lima-Peru, 1993.

Flores-Aqueveque, V., Alfaro, S. C., Caquineau, S., Foret, G., Var-

gas, G., and Rutllant, J. A.: Inter-annual variability of southerly

winds in a coastal area of the Atacama Desert: implications for

the export of aeolian sediments to the adjacent marine environ-

ment, Sedimentology, 59, 990–1000, 2012.

Flores-Aqueveque, V., Alfaro, S., Vargas, G., Rutllant, J. A., and

Caquineau, S.: Aeolian particles in marine cores as a tool for

quantitative high-resolution reconstruction of upwelling favor-

able winds along coastal Atacama Desert, Northern Chile, Prog.

Oceanogr., 134, 244–255, 2015.

Garreaud, R. D. and Falvey, M.: The coastal winds off western sub-

tropical South America in future climate scenarios, Int. J. Clima-

tol., 29, 543–554, 2009.

Gay, S. P.: Blowing sand and surface winds in the Pisco to Chala

Area, Southern Peru, J. Arid Environ., 61, 101–117, 2005.

Gomes, L., Bergametti, G., Dulac, F., and Ezat, U.: Assessing the

actual size distribution of atmospheric aerosols collected with a

cascade impactor, J. Aerosol Sci., 21, 47–59, 1990.

Gutiérrez, D., Sifeddine, A., Reyss, J., Vargas, G., Velasco, F., Sal-

vatteci, R., Ferreira, V., Ortlieb, L., Field, D., Baumgartner, T.,

Boussafir, M., Boucher, H., Valdes, J., Marinovic, L., Soler, P.,

and Tapia, P.: Anoxic sediments off Central Peru record interan-

nual to multidecadal changes of climate and upwelling ecosys-

tem during the last two centuries, Adv. Geosci., 6, 119–125,

2006.

Gutiérrez, D., Sifeddine, A., Field, D. B., Ortlieb, L., Vargas, G.,

Chávez, F. P., Velazco, F., Ferreira, V., Tapia, P., Salvatteci, R.,

Boucher, H., Morales, M. C., Valdés, J., Reyss, J.-L., Campu-

sano, A., Boussafir, M., Mandeng-Yogo, M., García, M., and

Baumgartner, T.: Rapid reorganization in ocean biogeochemistry

off Peru towards the end of the Little Ice Age, Biogeosciences,

6, 835–848, doi:10.5194/bg-6-835-2009, 2009.

Gutiérrez, D., Bouloubassi, I., Sifeddine, A., Purca, S., Goubanova,

K., Graco, M., Field, D., Méjanelle, L., Velazco, F., Lorre, A.,

Salvatteci, R., Quispe, D., Vargas, G., Dewitte, B., and Ortlieb,

L.: Coastal cooling and increased productivity in the main up-

welling zone off Peru since the mid-twentieth century, Geophys.

Res. Lett., 38, 1–6, 2011.

Haney, E. M. and Grolier, M. J.: Geologic map of major Quaternary

eolian features, northern and central coastal Peru, United States

Geol. Surv. Misc. Investig., I-2162, 1991.

Haug, G. H., Hughen, K. A., Sigman, D. M., Peterson, L. C., and

Röhl, U.: Southward migration of the intertropical convergence

zone through the Holocene, Science, 293, 1304–8, 2001.

Hesse, P. P. and McTainsh, G. H.: Last Glacial Maximum to Early

Holocene Wind Strength in the Mid-latitudes of the Southern

Hemisphere from Aeolian Dust in the Tasman Sea, Quaternary

Res., 52, 343–349, 1999.

Hill, E. A., Hickey, B. M., Shillington, F. A., Strub, P. T., Brink, K.

H., Barton, E. D., and Thomas, A. C.: Eastern Ocean Boundaries

coastal segment (E), in: The Sea, Vol 11, edited by: Robinson, A.

and Brink, K., John Wiley & Sons Ltd., 29–67, 1998.

Holz, C., Stuut, J. B. W., Henrich, R., and Meggers, H.: Variability

in terrigenous sedimentation processes off northwest Africa and

its relation to climate changes: Inferences from grain-size distri-

butions of a Holocene marine sediment record, Sediment. Geol.,

202, 499–508, 2007.

Huang, X., Oberhänsli, H., von Suchodoletz, H., and Sorrel, P.: Dust

deposition in the Aral Sea: implications for changes in atmo-

spheric circulation in central Asia during the past 2000 years,

Quaternary Sci. Rev., 30, 3661–3674, 2011.

Clim. Past, 12, 787–798, 2016 www.clim-past.net/12/787/2016/

Page 135: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf 797

Iversen, J. D. and White, B. R.: Saltation threshold on Earth, Mars

and Venus, Sedimentology, 29, 111–119, 1982.

Kok, J. F., Parteli, E. J. R., Michaels, T. I., and Karam, D. B.: The

physics of wind-blown sand and dust, Reports Prog. Phys., 75,

106901, doi:10.1088/0034-4885/75/10/106901, 2012.

Koopmann, B.: Sedimentation von Saharastaub im subtropischen

Nordatlantik während der letzten 25.000 Jahre, Meteor Forsch.

Ergeb. R. C, 35, 23–59, 1981.

Lavado-Casimiro, W. and Espinoza, J. C.: Impacts of El Nino and

La Nina in the precipitation over Peru (1965–2007), Rev. Bras.

Meteorol., 29, 171–182, 2014.

Lavado Casimiro, W., Ronchail, J., Labat, D., Espinoza, J. C., and

Guyot, J. L.: Basin-scale analysis of rainfall and runoff in Peru

(1969–2004): Pacific, Titicaca and Amazonas drainages, Hydrol.

Sci. J., 57, 625–642, 2012.

Marticorena, B.: Dust Production Mechanisms, in: Mineral Dust:

A Key Player in the Earth System, edited by: Knippertz, P. and

Stuut, J.-B., Springer, Dordrecht Heidelberg New York London,

93–120, 2014.

Marticorena, B. and Bergametti, G.: Modeling the atmospheric dust

cycle: 1. Design of a soil-derived dust emission scheme, J. Geo-

phys. Res., 100, 16415, doi:10.1029/95JD00690, 1995.

McCave, I. N., Manighetti, B., and Robinson, S. G.: Sortable

silt and fine sediment size/composition slicing: parameters for

palaeocurrent speed and Palaeoceanography, Palaeoceanogra-

phy, 10, 593–610, 1995.

McGregor, S., Timmermann, A., Stuecker, M. F., England, M. H.,

and Merrifield, M.: Recent Walker circulation strengthening and

Pacific cooling amplified by Atlantic warming, Nature Climatic

Change, 4, 1–5, 2014.

McPhillips, D., Bierman, P. R., Crocker, T., and Rood, D. H.: Land-

scape response to Pleistocene-Holocene precipitation change in

the Western Cordillera, Peru: 10 Be concentrations in modern

sediments and terrace fills, J. Geophys. Res. Earth Surf., 118,

2488–2499, 2013.

McTainsh, G. H., Nickling, W. G., and Lynch, A. W.: Dust deposi-

tion and particle size in Mali, West Africa, Catena, 29, 307–322,

1997.

Meyer, I., Davies, G. R., and Stuut, J. B. W.: Grain size con-

trol on Sr-Nd isotope provenance studies and impact on pale-

oclimate reconstructions: An example from deep-sea sediments

offshore NW Africa, Geochem. Geophyst. Geosys., 12, 14, 3,

doi:10.1029/2010GC003355, 2011.

Molina-Cruz, A.: The relation of the southern trade winds to up-

welling processes during the last 75,000 years, Quaternary Res.,

8, 324–338, 1977.

Montes, I., Colas, F., Capet, X., and Schneider, W.: On the pathways

of the equatorial subsurface currents in the eastern equatorial Pa-

cific and their contributions to the Peru-Chile Undercurrent, J.

Geophys. Res.-Ocans, 115, 1–16, 2010.

Morera, S., Condom, T., Crave, A., and Galvez, C.: Tasas de erosión

y dinámica de los flujos de sedimentos en la cuenca del río Santa,

Perú, Rev. Peru. Geo-Atmosférica, 37, 25–37, 2011.

Oppo, D. W., Rosenthal, Y., and Linsley, B. K.: 2,000-year-long

temperature and hydrology reconstructions from the Indo-Pacific

warm pool, Nature, 460, 1113–1116, 2009.

Ortlieb, L.: The Documented Historical Record of El Nino Events in

Peru: An Update of the Quinn Record (Sixteenth throught Nine-

teenth Centuries), in: El Nino and the Southern Oscillation, Mul-

tiscale Variability and Global and Regional Impacts, 207–295,

2000.

Parkin, D. W. and Shackleton, N.: Trade wind and temperature cor-

relations down a deep sea core off the Sharan coast, Nature, 245,

455–457, 1973.

Peterson, L. and Haug, G.: Variability in the mean latitude of the At-

lantic Intertropical Convergence Zone as recorded by riverine in-

put of sediments to the Cariaco Basin (Venezuela), Palaeogeogr.

Paleoceanogr., 234, 97–113, 2006.

Pichevin, L., Cremer, M., Giraudeau, J., and Bertrand, P.: A 190 ky

record of lithogenic grain-size on the Namibian slope: Forging a

tight link between past wind-strength and coastal upwelling dy-

namics, Mar. Geol., 218, 81–96, 2005.

Prins, M.: Pelagic, hemipelagic and turbidite deposition in the Ara-

bian Sea during the late Quaternary: Unravelling the signals of

aeolian and fluvial sediment supply as functions of tectonics, sea-

level and climate change by means of end-member modelling of

silicic, Utrecht, Universiteit Utrecht, 1999.

Prins, M. A., Vriend, M., Nugteren, G., Vandenberghe, J., Lu, H.,

Zheng, H., and Jan Weltje, G.: Late Quaternary aeolian dust in-

put variability on the Chinese Loess Plateau: inferences from

unmixing of loess grain-size records, Quaternary Sci. Rev., 26,

230–242, 2007.

Quijano Vargas, J. J.: Estudio numerico y observacional de la

dinámica de Viento Paracas, asociado al transporte eólico ha-

cia el océano frente a la costa de Ica-Perú, Universidad Peruana

Cayetano Heredia, Lima, Perú, 2013.

Ratmeyer, V., Fischer, G., and Wefer, G.: Lithogenic particle fluxes

and grain size distributions in the deep ocean off northwest

Africa: Implications for seasonal changes of aeolian dust input

and downward transport, Deep-Sea Res. Pt. I, 46, 1289–1337,

1999.

Rein, B.: El Niño variability off Peru during the last 20,000 years,

Paleoceanography, 20, PA4003, doi:10.1029/2004PA001099,

2005.

Rein, B.: How do the 1982/83 and 1997/98 El Niños rank in a geo-

logical record from Peru?, Quaternary Int., 161, 56–66, 2007.

Rein, B., Lückge, A., and Sirocko, F.: A major Holocene ENSO

anomaly during the Medieval period, Geophys. Res. Lett., 31,

L17211, doi:10.1029/2004GL020161, 2004.

Reinhardt, L., Kudrass, H., Lückge, A., Wiedicke, M., Wunderlich,

J., and Wendt, G.: High-resolution sediment echosounding off

Peru Late Quaternary depositional sequences and sedimentary

structures of a current-dominated shelf, Mar. Geophys. Res., 23,

335–351, 2002.

Reuter, J., Stott, L., Khider, D., Sinha, A., Cheng, H., and Edwards,

R. L.: A new perspective on the hydroclimate variability in north-

ern South America during the Little Ice Age, Geophys. Res. Lett.,

36, L21706, doi:10.1029/2009GL041051, 2009.

Rustic, G. T., Marchitto, T. M., and Linsley, B. K.: Dynamical ex-

citation of the tropical Pacific Ocean and ENSO variability by

Little Ice Age cooling, Science, 350, 1537–1541, 2015.

Salvatteci, R., Field, D. B., Baumgartner, T., Ferreira, V., and

Gutierrez, D.: Evaluating fish scale preservation in sediment

records from the oxygen minimum zone off Peru, Paleobiology,

38, 52–78, 2012.

Salvatteci, R., Field, D., Sifeddine, A., Ortlieb, L., Ferreira, V.,

Baumgartner, T., Caquineau, S., Velazco, F., Reyss, J. L.,

Sanchez-Cabeza, J. A., and Gutierrez, D.: Cross-stratigraphies

www.clim-past.net/12/787/2016/ Clim. Past, 12, 787–798, 2016

Page 136: INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2063/1/Briceño-Zuluaga 2016 Tese.pdf · identificados são discutidos a partir do modelo matemático

798 F. J. Briceño-Zuluaga et al.: Terrigenous material supply to the Peruvian central continental shelf

from a seismically active mud lens off Peru indicate horizontal

extensions of laminae, missing sequences, and a need for mul-

tiple cores for high resolution records, Mar. Geol., 357, 72–89,

2014a.

Salvatteci, R., Gutierrez, D., Field, D., Sifeddine, A., Ortlieb, L.,

Bouloubassi, I., Boussafir, M., Boucher, H., and Cetin, F.: The re-

sponse of the Peruvian Upwelling Ecosystem to centennial-scale

global change during the last two millennia, Clim. Past, 10, 1–17,

doi:10.5194/cp-10-1-2014, 2014b.

Salvatteci, R., Gutierrez, D., Sifeddine, A., Ortlieb, L., Druffel, E.,

Boussafir, M., and Schneider, R.: Centennial to millennial-scale

changes in oxygenation and productivity in the Eastern Tropical

South Pacific during the last 25,000 years, Quaternary Sci. Rev.,

131, 102–117, 2016.

Saukel, C., Lamy, F., Stuut, J. B. W., Tiedemann, R., and Vogt, C.:

Distribution and provenance of wind-blown SE Pacific surface

sediments, Mar. Geol., 280, 130–142, 2011.

Scheidegger, K. F. and Krissek, L. A.: Dispersal and deposition of

eolian and fluvial sediments off Peru and northern Chile, Geol.

Soc. Am. Bull., 93, 150–162, 1982.

Schweigger, E.: El litoral peruano (Segunda edicioìn), Lima, Uni-

versidad Nacional “Federico Villarreal”, 1964, 1984.

Sears, M.: Notes on the Peruvian coastal current, 1. An introduction

to the ecology of Pisco Bay, Deep-Sea Res., 1, 141–169, 1954.

Shao, Y. and Lu, H.: A simple expression for wind erosion

threshold friction velocity, J. Geophys. Res., 105, 22437,

doi:10.1029/2000JD900304, 2000.

Shao, Y., Ishizuka, M., Mikami, M., and Leys, J. F.: Parameteriza-

tion of size-resolved dust emission and validation with measure-

ments, J. Geophys. Res.-Atmos., 116, 1–19, 2011.

Sifeddine, A., Gutiérrez, D., Ortlieb, L., Boucher, H., Velazco, F.,

Field, D., Vargas, G., Boussafir, M., Salvatteci, R., Ferreira, V.,

García, M., Valdés, J., Caquineau, S., Mandeng Yogo, M., Cetin,

F., Solis, J., Soler, P., and Baumgartner, T.: Laminated sediments

from the central Peruvian continental slope: A 500 year record of

upwelling system productivity, terrestrial runoff and redox con-

ditions, Prog. Oceanogr., 79, 190–197, 2008.

Smith, R. L.: Circulation patterns in upwelling regimes, Coast. up-

welling, 13–35, 1983.

Strub, P. T., Mesías, J. M. J. M., Montecino, V., Rutllant, J. A., Sali-

nas, S., Robinson, A. R., and Brink, K. H.: Coastal ocean circu-

lation off western South America, The Sea, 11, 273–313., 1998.

Stuut, J.-B. W. and Lamy, F.: Climate variability at the southern

boundaries of the Namib (southwestern Africa) and Atacama

(northern Chile) coastal deserts during the last 120,000 yr, Qua-

ternary Res., 62, 301–309, 2004.

Stuut, J.-B. W., Prins, M. a., Schneider, R. R., Weltje, G. J., Jansen,

J. H. F., and Postma, G.: A 300-kyr record of aridity and wind

strength in southwestern Africa: inferences from grain-size dis-

tributions of sediments on Walvis Ridge, SE Atlantic, Mar. Geol.,

180, 221–233, 2002.

Stuut, J.-B. W., Prins, M. A., and Weltje, G. J.: The palaeocli-

matic record provided by aeolian dust in the deep sea: prox-

ies and problems, Geophys. Res. Abstr., 7, 10886, doi:10.1607-

7962/gra/EGU05-A-10886, 2005.

Stuut, J.-B. W., Kasten, S., Lamy, F., and Hebbeln, D.: Sources and

modes of terrigenous sediment input to the Chilean continental

slope, Quaternary Int., 161, 67–76, 2007.

Suess, E., Kulm, L. D., and Killingley, J. S.: Coastal upwelling and a

history of organic-rich mudstone deposition off Peru, Geol. Soc.

London, 26, 181–197, 1987.

Sun, D., Bloemendal, J., Rea, D., Vandenberghe, J., Jiang, F., An,

Z., and Su, R.: Grain-size distribution function of polymodal sed-

iments in hydraulic and aeolian environments, and numerical par-

titioning of the sedimentary components, Sediment. Geol., 152,

263–277, 2002.

Sydeman, W. J., García-Reyes, M., Schoeman, D. S., Rykaczewski,

R. R., Thompson, S. A., Black, B. A., and Bograd, S. J.: Climate

change and wind intensification in coastal upwelling ecosystems,

Science, 345, 77–80, 2014.

Timmermann, A., Okumura, Y., An, S. I., Clement, A., Dong, B.,

Guilyardi, E., Hu, A., Jungclaus, J. H., Renold, M., Stocker, T.

F., Stouffer, R. J., Sutton, R., Xie, S. P., and Yin, J.: The influence

of a weakening of the Atlantic meridional overturning circulation

on ENSO, J. Climate, 20, 4899–4919, 2007.

Unkel, I., Kadereit, A., Mächtle, B., Eitel, B., Kromer, B., Wagner,

G., and Wacker, L.: Dating methods and geomorphic evidence of

palaeoenvironmental changes at the eastern margin of the South

Peruvian coastal desert (14◦30′ S) before and during the Little

Ice Age, Quaternary Int., 175, 3–28, 2007.

Weltje, G. J.: End-member modeling of compositional data:

Numerical-statistical algorithms for solving the explicit mixing

problem, Math. Geol., 29, 503–549, 1997.

Weltje, G. J. and Prins, M. A.: Muddled or mixed? Inferring palaeo-

climate from size distributions of deep-sea clastics, Sediment.

Geol., 162, 39–62, 2003.

Weltje, G. J. and Prins, M. A.: Genetically meaningful decomposi-

tion of grain-size distributions, Sediment. Geol., 202, 409–424,

2007.

Wentworth, C. K.: A Scale of Grade and Class Terms for Clastic

Sediments, J. Geol., 30, 377–392, 1922.

Clim. Past, 12, 787–798, 2016 www.clim-past.net/12/787/2016/