Upload
vuongmien
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR – IM
Departamento de Educação e Sociedade – DES
Curso de Pedagogia
Um estudo sobre os processos de ensino e aprendizagem de
alunos com deficiência intelectual.
Cristiane Isquerdo Ferreira
Nova Iguaçu, novembro de 2014
INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR – IM
Departamento de Educação e Sociedade – DES
Curso de Pedagogia
Um estudo sobre os processos de ensino e aprendizagem de
alunos com deficiência intelectual.
Cristiane Isquerdo Ferreira
Monografia do Curso de Pedagogia da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à obtenção
do título de Licenciado em Pedagogia.
Orientador: Profª. Drª. Márcia Denise Pletsch
NOVA IGUAÇU
2 0 1 4
Um estudo sobre os processos de ensino e aprendizagem de
alunos com deficiência intelectual.
Cristiane Isquerdo Ferreira
Orientador: ___________________________________
Monografia do Curso de Pedagogia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Licenciado em Pedagogia.
Aprovada por:
___________________________________________
Presidente, Profª. Dr.ª Márcia Denise Pletsch
Universidade Federal Rural do Rio e Janeiro – UFRRJ
_____________________________________
Profª. Dr.ª Gabriela Rizzo
Universidade Federal Rural do Rio e Janeiro - UFRRJ
_____________________________________
Profª. Ms. Maíra Gomes de Souza da Rocha
Universidade Federal Rural do Rio e Janeiro - UFRRJ
Nova Iguaçu, novembro de 2014
A todos os alunos com deficiência intelectual
com quem pude conviver durante meu estágio, que, de uma forma tão
própria, arrebataram meu coração e às suas mamães, “anjos” a quem
Deus confiou suas vidas. Em especial, ao Mateus de Campos Maia
Desantis, razão pela qual decidi pesquisar sobre o tema desta
monografia, bem como sua mãe, Elisabete de Campos Maia Desantis,
a quem dedico toda minha admiração e respeito.
AGRADECIMENTOS
Na certeza de que sozinha não teria chegado até aqui, quero agradecer primeiramente ao meu
Deus, Senhor da minha vida, que manteve sua mão forte e poderosa sobre mim, não somente
neste desafio como universitária, mas em toda a minha existência.
A esta Universidade que, através do seu corpo docente, direção e administração,
proporcionaram oportunidades ímpares de crescimento pessoal e científico.
Agradeço ainda, a minha orientadora Profª. Drª. Marcia Denise Plestsch, que generosamente
aceitou meu pedido de orientação dividindo comigo seus conhecimentos, dando-me o suporte
devido na confecção deste trabalho.
Aos estimados professores que fizeram parte da construção do saber, proporcionando-me
formação profissional, cidadã e política, em especial à professora de Português e Literatura do
Ensino Médio, Gislane, sendo a primeira a enxergar em mim a capacidade de cursar uma
graduação em uma instituição federal. Jamais esquecerei seus recadinhos em meus trabalhos
acadêmicos: “Não deixe de cursar uma faculdade. Você é capaz!”.
A minha mãe que cultivou em mim o prazer e importância pelos estudos, “vibrando” com
cada resultado obtido desde as séries iniciais. Pena ela não poder neste momento entender a
dimensão desta nova conquista.
Não poderia de forma alguma deixar de citar meus amados filhos – Luane, Luan e Luiz –,
grandes parceiros desta jornada. Foram meus maiores fãs, companheiros, ajudadores,
assessores para assuntos tecnológicos e afins. Enfim, por vocês e para vocês foram todos
meus esforços nesta empreitada. Não poderia decepcioná-los de forma alguma.
Agradeço de coração a uma família em especial: família Sá Silva. Sr. Diogo, Jurema (ambos
in memorian), Ana Lúcia e Dione muito me incentivaram e apoiaram para a realização deste
sonho.
Meus agradecimentos à turma de Pedagogia 2010.2, parceiros nesta incrível experiência
universitária, com destaque para Renata Domes e Roberta Menezes, figurinhas certas na
elaboração dos trabalhos em grupo. Muitas vezes, quando pensávamos em desistir, uma
sempre motivava a outra a prosseguir. “Meninas conseguimos!!!”
Finalmente, a todos que direta e indiretamente participaram da realização deste grande sonho.
Recebam todos o meu muito obrigado!
RESUMO
Como resultado da política de inclusão, muitos deficientes intelectuais estão matriculados na
rede regular de ensino. Uma imensurável evolução de pensamento e modo de ver o deficiente
intelectual que outrora vivia em estado de segregação, que através da Declaração de
Salamanca, resultado da Conferência Mundial de Educação Especial, ocorrida em 1994, na
Espanha, vê sua condição social melhorar de forma significante, ainda que, haja muito por
fazer a este respeito. Esta declaração reafirmou o compromisso de uma escola “para todos”,
garantindo às pessoas com necessidades educacionais especiais o direito de serem incluídas
no sistema educacional. Entretanto, a inclusão não faria nenhum sentido, se a pessoa com
deficiência intelectual ficasse excluída do processo de ensino/aprendizagem. Este fato tem
gerado angústias entre os professores, um dos responsáveis pelo sucesso da inclusão. Qual é o
caminho de apropriação do conhecimento do deficiente intelectual? Como fazer para
internalizar os conteúdos? Como promover de forma eficaz seu desenvolvimento cognitivo e
social? São exemplos de questionamentos feitos por esses profissionais, que esta monografia
através de pesquisas qualitativas de análises bibliográficas, buscou refletir. Muitas teorias
abordam o desenvolvimento humano, mas foi na perspectiva vigotskiana que se estabeleceu a
diretriz desta pesquisa, e para tal foram utilizados diversos autores que basearam suas obras
sob estes preceitos, como: Jannuzzi, Mazzota, Mendes, Kassar, Pletsch entre outros.
Entendeu-se então, que em Vigotski, o desenvolvimento humano ocorre no meio social e
cultural. O homem não nasce pronto, é no convívio, na interação com o outro que vai se
configurando como ser humano. É justamente a qualidade dessa interação que viabilizará o
desenvolvimento e aprendizagem do deficiente intelectual. A mediação exercida por parceiros
mais competentes, seja o professor ou colegas de classe, que desafiem seu potencial, e
estimulem a ampliar sua capacidade cognitiva através de interferências direcionadas, é capaz
de torná-los cada vez mais habilitados a desenvolverem aprendizagens no âmbito curricular e
social.
Palavras-chave: deficiência intelectual; aprendizagem; ensino; desenvolvimento.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................01
CAPÍTULO I: TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL DO PERÍODO
IMPERIAL À DÉCADA DE 1990: AVANÇOS E
RETROCESSOS....................................................................................................................04
CAPÍTULO II: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL:
POLÍTICA DE INCLUSÃO ESCOLAR............................................................................17
CAPÍTULO III: O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: CAMINHOS E POSSIBILDADES...............24
3.1 Conceitos e pré-conceitos relacionados à deficiência intelectual..................................24
3.2. A deficiência intelectual e o processo de ensino e aprendizagem................................30
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................38
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é resultado de questionamentos e interesse a respeito de como se
ocorre o processo de ensino e aprendizagem em pessoas com deficiência intelectual. Quando
a deficiência é motora, auditiva ou de visão, quase sempre a capacidade cognitiva é
preservada, se este aluno recebe o devido suporte através das tecnologias assistivas1 e ou
outros recursos pedagógicos, ou seja, sua deficiência é compensada de alguma forma no
sentido vigostkiano. Em outros termos, a partir desses recursos a internalização e a
apropriação dos conteúdos não fica prejudicada, a partir do momento que se compensa2 suas
especificidades.
Entretanto, com a pessoa com deficiência intelectual, sujeito alvo desta pesquisa, a
dificuldade vai além de uma compensação física. Sua deficiência (em diferentes níveis) está
na dificuldade de capacidade de entendimento, abstração, concentração, raciocínio,
instrumentos primordiais para que ocorra aprendizagem (FONTES, et al, 2007).
Contudo, não é correto afirmar a inexistência de desenvolvimento e aprendizagem.
Vigotski (1995) afirmava que “uma criança com deficiência intelectual não é uma criança
com defeito, é uma criança”. Então, a questão é: se o aprendizado e desenvolvimento são
possíveis, quais são os caminhos? O que tornará possível a internalização e a apropriação dos
conhecimentos escolares para esses sujeitos?
Objetivando refletir sobre tais respostas para estes questionamentos, que não são
apenas nossos, mas compartilhados por aqueles responsáveis em gerar este processo de
ensino/aprendizagem dessas pessoas, se buscou pesquisar sobre o assunto. Com a atual
política de inclusão, faz-se necessário ter o domínio de tais conhecimentos a fim de
possibilitar-lhes uma inclusão verdadeira garantindo o direito de acesso, permanência e
desenvolvimento no espaço da classe comum.
O conceito atual de educação prisma por uma “educação para todos”, cuja meta é
desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano. Tal educação é
exercida pelas gerações adultas às crianças e jovens com o propósito de prepara-las à vida
social. Esse ideal de educação, de acordo com Brandão (2007), baseia-se em:
¹ A Tecnologia Assistiva é um termo ainda novo, utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços
que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e
consequentemente promover vida independente e inclusão (BERSCH, 2008 apud de SOUZA & PLETSCH,
2013). 2 Não temos a pretensão de discutir esse conceito aqui. Para tal sugerimos a leitura de Vigostki (1997).
Reproduzir uma ordem social idealmente concebida como perfeita e
necessária, através da transmissão, de geração a geração, das crenças,
valores e habilidades que tornavam um homem tão mais perfeito quanto
mais esperado para viver a cidade a que servia. E nada poderia haver de mais
precioso, a um homem livre e educado, do que o próprio saber e a identidade
de sábio que ele atribui ao homem (p.44).
Ainda de acordo com Brandão (2007) sobre essa educação, acrescentamos que:
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um
modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para
aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar, Para saber, para fazer, para
ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação (p.7).
Este fragmento do texto de Brandão é bastante apropriado para exemplificar o que se
busca com a educação. Com a política de inclusão, espera-se que ninguém escape da
educação escolar. E, logicamente, a pessoa com deficiência intelectual não passa incólume
por este ideal. A sociedade espera da escola o cumprimento da “missão” de reproduzir
também nas pessoas com deficiência intelectual esses valores, principalmente a autonomia e
as suas possibilidades de produção e participação social. Portanto, diante desta
responsabilidade social (e porque não dizer humana?), o comprometimento dos profissionais
de educação com a Educação Especial deve ser garantir o melhor resultado possível.
Esse esperado resultado é conquistado através de capacitação e de conhecimento
específico sobre a questão. Conhecimentos estes, disponibilizados nas literaturas destinadas a
este fim, o que dá a este trabalho sua principal relevância.
Para tal, a pesquisa qualitativa bibliográfica foi justamente o meio metodológico
utilizado para apreensão de tais conhecimentos. Foram selecionados autores como Jannuzzi
(2006), Mazzotta (1996), Mendes (2010) e Pletsch (2009, 2011, 2013, 2014) cujos textos
continham informações sobre a legislação, abordagem histórica, bem como, a perspectiva de
Vigotski sobre desenvolvimento humano e ensino/aprendizagem da pessoa com deficiência
intelectual. Esses são os principais direcionamentos para esta pesquisa, que tinha seu interesse
nos estudos e teorias sobre ensino/aprendizagem e desenvolvimento da pessoa com
deficiência intelectual.
O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro, buscou-se situar o leitor
quanto à parte histórica da deficiência na sociedade, mais precisamente na realidade
brasileira, desde os tempos do Império, que tinha toda uma visão médica da deficiência
intelectual, até o momento em que as políticas educacionais começaram a desenhar uma nova
perspectiva para as pessoas com tal deficiência.
O segundo capítulo traz os movimentos internacionais e, por conseguinte, nacionais,
que foram promovendo a transição de um modelo de educação, primeiro excludente, depois
institucional e, finalmente, o modelo atual de inclusão.
Finalizando a pesquisa, no terceiro capítulo, a temática foi a deficiência intelectual em
si. Sua terminologia, conceituação e processo de ensino e aprendizagem baseados nas teorias
vigotskianas.
CAPÍTULO I
TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL DO PERÍODO IMPERIAL À DÉCADA
DE 1990: AVANÇOS E RETROCESSOS
Há homens que lutam por um dia e são bons.
Há outros que lutam por um ano e são melhores.
Há outros ainda, que lutam por muitos anos e são muito bons.
Há, porém, os que lutam por toda a vida...
... Estes são imprescindíveis.
(Bertolt Bucht).
A proposta deste capítulo visa discorrer sucintamente sobre o longo percurso histórico
que a Educação Especial atravessou no Brasil desde o século XIX até o inicio dos anos de
1990. Neste sentido, serão utilizados como referências autores específicos e as diretrizes
políticas vigentes no país. Antes, porém, será apresentada uma abordagem breve às condições
desumanas com que as pessoas com deficiências eram tratadas devido ao desconhecimento
existente na época.
Quando uma família, em pleno século XXI, recebe em seu seio familiar um novo
integrante com o diagnóstico de uma criança “especial”, passa, a partir de então, por
momentos aflitivos, como medo, angústia e insegurança, resultado do desconhecimento sobre
este universo e de todas as incertezas quanto ao futuro deste ser. É possível imaginar como
deveria ser no passado, quando a ciência ainda não tinha tantas respostas e a sociedade era
despreparada para lidar com essa situação?
Sobre isso, Mazzotta (1996), revela que o modo como a sociedade lidava com as
pessoas deficientes, reconhecendo seus direitos e sua cidadania, é recente. O autor relata que,
para esta sociedade, até o século XVIII, as questões relacionadas às deficiências eram ligadas
ao misticismo e ocultismo. Contribuindo com esta situação, há a forte influência da religião,
que, ao afirmar ser o homem imagem e semelhança de um Deus que é perfeito, qualquer coisa
que destoar disto, deficiências e imperfeições, não está de acordo com a condição humana.
Por conta disso, essas pessoas eram segregadas e recolhidas no oculto de suas casas.
Segundo Mazzotta (1996), alguns líderes da sociedade se levantaram contra essa
situação através de discussões que buscavam encontrar formas de melhorar as condições de
vida das pessoas com deficiência. Estes movimentos que, a princípio, se deram na Europa
através de grupos sociais, estabeleceram medidas educacionais que foram sendo exportadas
para outros países chegando inclusive aqui no Brasil.
Em termos nacionais, o movimento de institucionalização do atendimento escolar
contou com dois marcos históricos: a fundação em 1854 do Imperial Instituto dos Meninos
Cegos, que, em 1890 passou a denominar-se Instituto Nacional de Cegos e em 1891 Instituto
Benjamin Constant (IBC); e, em 1857, a fundação do Imperial Instituto dos Surdos-mudos, o
qual, após seu centenário, teve seu nome mudado para Instituto Nacional de Educação de
Surdos (INES) (JANNUZZI, 2006). Um fato que chama atenção à criação destes institutos é
que, apesar de a obrigatoriedade e gratuidade do ensino elementar para todos determinada em
lei não terem sido cumpridas, os Institutos são criados por decretos sob a manutenção e
administração do poder central, a fim de beneficiarem pessoas de vulto próximas ao
imperador. Isso denota que foram iniciativas isoladas.
Ao traduzir e publicar aqui no Brasil o livro de J. Dondet “História do Instituto dos
meninos cegos de Paris”, José Álvares de Azevedo chamou a atenção do médico do
imperador, o francês José Francisco Xavier Sigaud, que o contratou para alfabetizar sua filha
que era cega. Junto com Couto Ferraz, o Dr. Sigaud encaminhou o projeto que resultou no
Imperial Instituto dos Meninos Cegos.
Da mesma forma, o francês E. Huet, que era surdo, apresenta ao imperador D. Pedro II
um relatório com a intenção de fundar uma escola para surdos no Brasil. O governo imperial
apóia a proposta de Huet e destaca o Marquês de Abrantes para acompanhar o processo de
criação da primeira escola para surdos no Brasil. Quanto a estes institutos, Jannuzzi (2006,
p.27) ainda vai afirmar que:
O Instituto Benjamin Constant e o Instituto Nacional de Educação de Surdos
de certa forma foram sempre privilegiados, pois estiveram ligados ao poder
central até 1973, quando então se subordinaram ao Centro Nacional de
Educação Especial (CENESP), primeiro órgão de política educacional para a
área (decreto nº 72.425 de 3 de julho de 1973, artigo 3º, inciso VI).
Cabe aqui uma colocação a respeito do modo como estes Institutos foram criados;
tudo aconteceu a partir de vontade política e até hoje é assim neste país. É preciso que haja
vontade política para que as leis saiam do papel e tornem-se uma grata realidade, como o
exemplo destes Institutos, que, com o intuito de educar e ensinar um ofício para as pessoas
com deficiências visuais e auditivas, até hoje têm sido referências nacionais para essas
pessoas com necessidades educacionais especiais.
No que se refere à pessoa com deficiência intelectual, Gilberta Jannuzzi, faz referência
à presença de deficientes mentais (termo da época) em 1874 no Hospital Juliano Moreira, que
outrora era intitulado Asilo para Alienados São João de Deus em Salvador (JANNUZZI,
2006). Ainda sobre esse fato, Mazzotta (1996) dirá que:
Sobre o tipo de assistência prestada há, no entanto, informações
insuficientes para sua caracterização como educacional. Poderia tratar-se
de Assistência Médica a crianças deficientes mentais e não propriamente
atendimento médico-pedagógico (p.30).
Segundo Jannuzzi (2004), cientes da importância da pedagogia no tratamento do
deficiente mental, os médicos foram os responsáveis por criar instituições de caráter
educacional junto a hospitais psiquiátricos.
No ano de 1903, Juliano Moreira (1873-1933), Antônio Fernandes Figueira (1863-
1928), inauguraram o Pavilhão Bourneville, anexo ao Hospital Psiquiátrico da Praia
Vermelha, no Rio de Janeiro, tendo como clientela crianças com deficiências e doenças
mentais, antes dessa iniciativa essas crianças dividiam o mesmo espaço com os adultos. Neste
pavilhão, passaram a receber orientação pedagógica e atendimento clínico. As crianças eram
divididas por sexo e gravidade das patologias, viviam em atividades e vigilância constantes.
Desde seus primórdios, a educação do deficiente teve forte participação médica. Essa
forte influência também pode ser constatada durante o século XIX no ensino regular. Os
médicos também foram os pioneiros no campo da produção teórica, seguidos pelos pedagogos
da rede regular de ensino que sofreram influências da psicologia.
Se em um primeiro momento, a questão da deficiência intelectual foi tratada em
pavilhões anexos aos hospitais, com o passar do tempo, vislumbrava uma tentativa de não
limitar o tratamento a essas pessoas apenas ao campo médico, já existia o desafio do campo
pedagógico em sistematizar conhecimentos que fizessem dessas crianças seres sociáveis,
desde a prática de hábitos de higiene, de alimentação e vestuário, ou seja, proporcionando-os
certa autonomia (JANNUZZI, 2006).
Em 1900, foi realizado o IV Congresso de medicina e cirurgia, no Rio de Janeiro.
Nesta ocasião, o Dr. Carlos Fernandes Eiras apresentou seu estudo tendo como título “Da
educação e tratamento médico-pedagógico dos idiotas”, que tinha como objeto o deficiente
mental profundo. Havia, contudo, a preocupação pedagógica no título, que apresentava a
possibilidade de um tratamento dual com a participação de médicos e educadores como vinha
acontecendo em Paris. Para Jannuzzi (2006), a medicina foi sendo substituída de forma
gradual pela psicologia, muito pela influência dos conceitos de Helena Antipoff, psicóloga
russa, nos cursos de formação de professores. De acordo com Mendes (2010),
Helena Antipoff (1892-1974), havia estudado psicologia na França, na
Universidade de Sorbonne, e no Brasil criou o laboratório de Psicologia
Aplicada na Escola de Aperfeiçoamento de Professores, em Minas Gerais,
em 1929. Seu trabalho inicial foi uma proposta de organização da educação
primária na rede comum de ensino baseado na composição de classes
homogêneas. Helena Antipoff foi também responsável pela criação de
serviços de diagnósticos, classes e escolas especiais. Em 1932 criou a
Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, que a partir de 1945, iria se expandir
no país (p.96).
No momento de estruturação da república, ocorreram várias mudanças político-
sociais, inclusive no que diz respeito à educação. Até então, se mantinha o sistema dualista,
servindo à elite e grande parte da classe média e as classes populares continuavam sem acesso
à escola. Neste período, o índice de analfabetismo era alarmante e precisava que a escola
primária fosse popularizada a fim de atender aos interesses econômicos e políticos da época.
A solução para se expandir o ensino primário foi a redução do tempo de estudo e a
multiplicidade dos turnos, caracterizada como uma política de educação popular reduzida
(MENDES, 2010).
Surge então, o movimento educacional Escola Nova, que visava criar um tipo de
escolas diferenciado das tradicionais que não correspondiam às transformações sociais. Em
1932, foi divulgado um documento intitulado “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”,
redigido por um grupo de educadores que defendiam o tipo de pedagogia da Escola-Nova,
que tinha em seus preceitos a atenção política e social e valorizava o interesse pelas pesquisas
científicas, redução das desigualdades sociais e liberdade individual da criança. O ideal destes
ativistas era preparar o país para o desenvolvimento através de reformas educacionais, bem
como, garantir o direito a todos de acesso à educação. Reivindicavam, ainda, a construção de
um sistema de ensino público estatal que fosse laico, gratuito, pelo qual seria o único meio de
combater as desigualdades sociais da nação (MENDES, 2010).
Mônica Kassar (2012), ao falar sobre este período, afirma que sob a ótica deste
movimento – escola-nova – a educação era vista como antídoto à marginalidade e ao atraso do
país. Comprovado pelo recorte de um trecho do Manifesto dos pioneiros da Educação nova,
de 1932:
Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e
gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe pode
disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução
orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições
econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais e o
desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que são os fatores
fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade (Manifesto, 1932
apud KASSAR 2012, p.836).
Durante a década de 1920, sob o ideário da Escola-nova, ocorreram mudanças
significativas na educação brasileira e, com o propósito de oferecer cursos aos educadores
brasileiros, foram trazidos professores-psicólogos europeus, o que influenciou a trajetória da
Educação Especial no Brasil. Destes profissionais que vieram da Europa, um nome que se
destacou foi o de Helena Antipoff, que chegou em Minas Gerais em 1929 e fundou a
Sociedade Pestalozzi mineira em 1932, tendo como alvo de ação os deficientes intelectuais. Já
existia a primeira escola “Pestalozzi” em Canoas, Rio Grande do Sul, desde 1927, porém a
psicóloga influenciou na expansão da rede das Sociedades e Institutos por todo país.
Contribuindo para a formação de um grande número de profissionais que foram trabalhar na
área da Educação Especial no decorrer dos anos, também foi responsável pelo Complexo
Educacional da Fazenda do Rosário e teve participação ativa no processo que resultou na
implantação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, em 1954 (JANNUZZI, 2006;
MENDES, 2010; PLETSCH, 2014).
Jannuzzi (2006), chama atenção para a contradição existente neste modelo de
educação seguido pelas instituições; ao segregar o excepcional, se mantém a situação
favorecendo o ensino das classes comuns sem a “turbulência”, a “amoralidade” os de “difícil
aprendizagem”. Contudo, a novidade do acesso ao ensino público gratuito de crianças com
algum prejuízo orgânico é de grande relevância para este segmento.
Nessa direção, Mendes (2010) dirá que ao analisar a influência do movimento escola-
novista na Educação Especial no Brasil,
Cunha (1988) considera que apesar de defender a diminuição das
desigualdades sociais, ao enfatizar as características individuais, a
proposição de ensino adequado e especializado, a adaptação de técnicas de
diagnósticos e especificamente do nível intelectual, muito contribuiu para a
exclusão dos diferentes das escolas regulares naquela época. A igualdade de
oportunidades tão pregada passou a significar a obrigatoriedade e gratuidade
do ensino, ao mesmo tempo em que a segregação daqueles que não
atendiam as exigências escolares, passou a ser justificada pela adequação da
educação que lhes era oferecida (p.97).
Com o advento do ideário da Escola-Nova, a psicologia ganhou espaço relevante na
educação e o uso de testes de inteligência – escala métrica de Binet-Simon que foi
desenvolvida entre 1904 e 1911 (JANNUZZI, 2006) – foi incorporado às escolas, com o
intuito de identificar deficiências intelectuais. Sobre estes testes, Mendes (2010) traz:
Em 1913 o professor Clemente Quaglio da Escola Normal de São Paulo
introduziu a escala Binet-Simon e publicou a primeira mostra estatística.
Baseada nos dados de cerca de 150 crianças de escolas públicas, este autor
conclui que 13% delas eram anormais da inteligência (p.96).
Ainda sobre esta escala, que servira de instrumento para uma educação dita
“especializada” e “emendativa” e tinha como propósito corrigir falta, tirar defeito, suprir
falhas decorrentes da anormalidade, Kassar (2012) registra que:
Para uma educação eficiente, as crianças deveriam ser separadas a partir de
suas características. Baseados na aplicação dos estudos de Alfred Binet
(1857-1911) e Theodore Simon (1872-1961), os serviços de higiene dos
diferentes estados brasileiros passaram a classificar os alunos entre normais
e anormais, iniciando um processo de “patologização” escolar, ao adotar
uma visão psicopedagógica no atendimento aos alunos com deficiências
(JANUZZI, 1985,2004 apud KASSAR, 2012).
Ainda sobre avaliações de capacidade, Pletsch (2014) acrescenta que o quociente de
inteligência (QI), criado em 1916, tinha como finalidade calcular a inteligência fazendo uma
relação entre a idade mental e cronológica do sujeito. De acordo com seu resultado,
pressupunha se era um ser educável, treinável, treinável para profundo ou profundo. Quanto
ao seu uso, Pletsch menciona que:
Os testes de QI eram usados nos anos de setenta e nas décadas anteriores
para justificar o encaminhamento daqueles sujeitos que apresentavam
comportamentos sociais não desejáveis para instituições ou classes especiais,
assim como para classificar os alunos em “imaturos”, “prováveis
excepcionais” e “maduros” para a aprendizagem (termos da época). Tal fato,
segundo Schneider (2003) contribuiu sobremaneira para ampliar a
segregação em classes ou instituições especializadas dos alunos com
deficiência intelectual e outros que apresentassem problemas de
aprendizagem ( PLETSCH, 2014, p. 07).
Nesta direção, na análise de Jannnuzzi (2006), mesmo ocorridas às reformas no
sistema educacional, pouco havia sido feito em direção à Educação Especial. Se em 1930
existiam 16 locais direcionados a deficientes mentais, em cinco anos apenas mais seis
estabelecimentos foram direcionados para este fim.
As muitas discussões sobre educação protagonizadas pelos “pioneiros” e “católicos”,
ocorridas entre 1930 e 1934, resultaram em algumas conquistas na Constituição de 1934 para
ambos, sendo o excepcional (termo da época) sequer mencionado. Entretanto, “o art. 149
afirma que a educação é direito de todos, que deve ser gratuita e obrigatória e que isto se
estenderia progressivamente ao ensino superior, a fim de torná-lo mais acessível a todos”
(JANNUZZI, 2006). Todavia, este “todos” não comportava aqueles que eram marginalizados
na sociedade, como os moradores do meio rural e principalmente as pessoas com algum tipo
de deficiência, especialmente a mental.
Ainda sobre a Constituição de 1934, a educação ficou sob a responsabilidade do
Estado, cabendo a ele traçar as diretrizes nacionais, sendo reiterada essa posição pela
Constituição de 1937. Na Constituição de 1946, de forma inédita, a educação passa a ser
reconhecida como um direito universal (PLETSCH, 2014).
Foi na década de 1950 que ocorreu uma maior expansão de estabelecimentos
destinados a deficientes intelectuais. A este respeito Jannuzzi (1992) sinaliza que foram cerca
de 190 estabelecimentos no final desta década no país, sendo a grande, maioria (cerca de
77%) públicos e em escolas regulares.
Nesta década, precisamente em 1954, é criada a primeira escola de Associação de Pais
e Amigos dos Excepcionais (APAE), no Rio de Janeiro, com a participação do casal de norte-
americanos Beatrice Bemis e George Bemis, membros da National Association for Retarded
Citizens (NARCH). Ao visitarem o Brasil, estimulavam a criação de associações desta
natureza (MENDES, 2010).
Nesta época, devido à carência e ao abandono da educação dos deficientes, houve
aumento de instituições de caráter privado e filantrópico inseridos no contexto educacional
brasileiro, incentivados pelo governo. Desta forma, suas obrigações com esta clientela eram
repassadas para certo segmento da sociedade. Não se pode negar a importância dessas
entidades no que diz respeito à constituição da Educação Especial neste país e, de certo modo,
“confundindo-se com o próprio atendimento público aos olhos da população, pela gratuidade
dos serviços” (KASSAR, 2013 apud PLETSCH, 2014, p.6). Ainda de acordo com Pletsch
(2014):
A criação dessas instituições se deu pela omissão do Estado em garantir os
direitos educacionais e sociais dessas pessoas, o que obrigava suas famílias a
recorrerem a instituições de caráter filantrópico-assistencial. Significa dizer
que a Educação Especial, no Brasil, formou-se mediante a criação de
instituições de caráter privado, sob a forma de prestação de serviços,
subsidiadas com recursos públicos (p.6).
Com o apoio técnico e financeiro do governo federal, diversas campanhas a nível
nacional foram realizadas reivindicando os direitos educacionais e sociais das pessoas com
deficiências, a primeira delas direcionada para os interesses dos deficientes auditivos:
Campanha para Educação do Surdo Brasileiro (CESB), em 1957; Campanha Nacional de
Educação e Reabilitação dos Deficitários Visuais (CNERDV), em 1958; e Campanha
Nacional de Educação do Deficiente Mental (CADEME), EM 1960 (MENDES, 2010;
PLETSCH, 2014).
Apesar dos contínuos debates sobre educação popular, reforma universitária e os
diversos movimentos em prol da educação dos deficientes, inclusive as campanhas, a
Educação Especial ainda estará durante a década de 60 com sua ação muito restrita às
instituições especializadas, especialmente pelas privadas.
A partir de algumas iniciativas oficiais como CESB, CNEC e CADEME, mais
entidades civis APAE e Pestalozzi, a educação dos deficientes tem seu marco inicial, que é o
Conselho Federal de Educação, criado pela Lei 4.024 de Diretrizes e Bases promulgadas em
20 de dezembro de 1961, em cujos artigos (88 e 89) será denominada como “educação de
excepcionais”.
Sobre a aprovação do artigo 88 da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, “que previa a matrícula dos excepcionais, quando possível, enquadrada no sistema
geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade” (Brasil, 1961), KASSAR (2012)
deduz ser fruto da influência de posicionamentos e leis internacionais, bem como acordos
formulados pela ONU (Organização das Nações Unidas), a respeito dos direitos fundamentais
em relação as pessoas com deficiência. Segundo o sueco Bengt Nirje (2008), autor que
defendia o conceito de normalização no trato com os deficientes,
Todas as pessoas com deficiências teriam o direito de vivenciar:
experiências normais do ciclo da vida; o respeito e direito à sua
autodeterminação; uma vida sexual normal para os padrões pertinentes à sua
cultura; vivenciar o envolvimento em atividades econômicas comuns à sua
sociedade; possuir direitos sociais; e compartilhar um ambiente normal
relativo aos padrões e regras aceitos em sua comunidade (KASSAR, 2012,
p. 838).
Sobre esses movimentos de normalização, Pletsch (2014) afirma que, diferentemente
do que ocorria em outros países, a proposta que vigorava aqui, mantinha o modelo médico da
deficiência:
Durante a década de 1970, iniciaram-se em nível nacional os movimentos
pró-integração e normalização, sob a premissa básica de que todas as
pessoas com deficiência tinham o direito de usufruir das condições de vida
mais comuns ou normais possíveis. Em linhas gerais, a integração pregava a
preparação prévia dos alunos com necessidades educacionais especiais para
que demonstrassem ter condições de acompanhar a turma no ensino regular,
mediante apoio especializado paralelo. Em outras palavras, pode-se dizer
que a proposta de integração continuava tendo como base o modelo médico
da deficiência, que centrava o problema nos alunos e desresponsabilizava a
escola a qual caberia tão-somente educar os alunos que tivessem condições
de acompanhar as atividades regulares, concebidas sem qualquer
preocupação com as especificidades dos alunos com necessidades
educacionais especiais.
Nas palavras de Jannuzzi (2006), na década de 1960, no Brasil, o número de escolas
de ensino especial aumentou consideravelmente. No ano de 1969 já se contabilizava mais de
800 estabelecimentos de ensino especial para deficientes mentais, quatro vezes mais do que a
quantidade existente em 1960. Possivelmente, devido a este crescimento, ocorreu na década
de 70 a necessidade de estabelecer as bases legais e técnico-administrativas para o
desenvolvimento da Educação especial no país (MENDES, 2010).
Os artigos 175 e 177 da Constituição de 1967 vão tratar de algumas questões
pertinentes a Educação Especial. O primeiro define que lei especial disporá sobre a educação
de excepcionais; o segundo responsabiliza a cada sistema de ensino a garantia de eficiência
escolar, bem como, a melhoria da condição social e econômica, assegurado por uma educação
especial e gratuita.
Em 1971, a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 5.692/71 alterou os
níveis de ensino. (O 1º grau passava a ser composto de 8 séries anuais e obrigatório dos 7 aos
14 anos) e ainda o 2º grau com duração mínima de 3 anos e formação técnica obrigatória.
Quanto à Educação Especial, o art. 9º da referida lei define o perfil da clientela deste tipo de
educação, que seriam “os alunos que apresentassem deficiências físicas ou mentais, os que se
encontrasse em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula, além dos
superdotados” (MENDES, 2010). Ao incorporar ao perfil de quem seria o aluno da Educação
Especial os que se encontrassem em atraso escolar, deixa de considerar outras causas, como a
ineficiência da educação, e passa a considerar apenas como deficiência do indivíduo. Através
do Decreto 72.425, de 3 de julho de 1973, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial
(Cenesp), junto ao Ministério de Educação, sendo este o primeiro órgão educacional do
governo federal, ficando sob sua responsabilidade a definição da política de educação especial
(MENDES, 2010). Ao elaborar o I Plano para a Educação Especial Nacional (1977/1979), O
Cenesp contemplou a iniciativa privada fortalecendo-a em detrimento dos serviços públicos
de ensino especial. Nas secretarias estaduais de educação, são criados setores responsáveis
pela educação especial que administravam os recursos financeiros repassados pelo Cenesp,
tendo foco na formação de professores (MENDES,2010; PLETSCH, 2014). Os primeiros
cursos de formação de professores no segmento da Educação Especial em nível de graduação
e pós-graduação foram implantados no final da década de 1970.
Em relação à questão da formação de professores especializados apontamos que:
Em decorrência da Lei nº 5.692/71, a formação em Educação Especial se
tornou obrigatória nos cursos de Pedagogia. Também foram criados no
período o primeiro curso de Licenciatura em Educação Especial na
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e inúmeros cursos de
pedagogia com Habilitação em Educação Especial. Igualmente, aumentaram
os encontros e pesquisas científicas na área (PLETSCH, 2014, p.9).
É correto afirmar que, durante o período da ditadura militar, iniciada em 1964, a
Educação Especial, foi conquistando espaços, possivelmente por ser um governo com
perspectivas assistencialista-filantrópica. Com o processo de redemocratização, após vinte
anos de ditadura militar, através da abertura política, durante a década de 1980, os deficientes
saíram à rua com o apoio da sociedade brasileira, engrossando as vozes dos que
historicamente foram excluídos, como as mulheres, homossexuais, negros, resultando em
algumas conquistas. A principal delas talvez fosse passar a ter rosto e voz, passando a ter
visibilidade.
O ano de 1981 foi eleito pela ONU como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes,
pela primeira vez os deficientes foram chamadas de pessoas, até então eram conhecidos como
“os deficientes”, “os incapacitados”, este ano serviu para chamar atenção para o fato de que
este tema deveria ser tratado como tema social e não de saúde.
Em 1985 o Cenesp deixa de ser um órgão do governo federal e assume status de
Secretaria de Educação Especial. Um comitê nacional é criado para, de forma conjunta,
elaborar política que aprimorasse a Educação Especial e integrar à sociedade pessoas com
deficiências, problemas de conduta e superdotados.
No ano seguinte, 1986, surgiu o “Plano Nacional de Ação Conjunta” e, pelo Decreto
nº 93.481, é instituída a Coordenaria para a Integração da Pessoa com Deficiência (Corde),
que através da Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, é reestruturada, passando a ter
autonomia administrativa e financeira, com recursos específicos.
Uma nova Constituição foi promulgada em 1988. Nela, direitos sociais, educacionais e
de saúde foram assegurados às pessoas com deficiências. Destacando a área da educação, o
texto diz ser “dever do Estado e determina que o atendimento educacional especializado para
portadores de deficiência ocorra preferencialmente, no ensino regular”. Pela primeira vez, o
Estado se responsabiliza pela educação especial, com prioridade para escolas regulares, com
garantias de um atendimento educacional especializado (MENDES, 2010; PLETSCH, 2014).
Apesar das conquistas sociais e do aumento de leis regulamentando a Educação
Especial, no final dos anos 1980, o clima era de insatisfação, pois ainda existia a segregação
de pessoas com deficiências Buscava-se a integração, mas as políticas públicas careciam de
continuidade em suas ações, e o assistencialismo continuava predominando. As instituições
privadas continuavam com o apoio técnico e financeiro por parte do governo, mantendo a
maior parte das matrículas (PLETSCH, 2014).
Em 1989, foi criado o Ministério do Bem Estar Social, que, em discordância com a
Constituição, fortaleceu o modelo centralizado, sendo a LBA (Legislação Brasileira de
Assistência) - uma agência federal que ao longo de sua existência em um instrumento de
clientelismo e a serviço de interesses particulares - a concentrar os recursos financeiros, além
de formular e gerir a política social que estivera monopolizando até 1995. Com a extinção da
LBA em 1995, os recursos foram transferidos para os Fundos Municipais de Assistência
Social, buscando, desta forma, mais autonomia e responsabilidade local no que diz respeito à
assistência social. A extinção da LBA acaba por repercutir na educação, sobretudo na
Educação Especial. Por ela ser responsável por financiar as instituições, tinha o poder de
definir quem receberia ou não, o resultado era uma política mais assistencialista que
educacional. Contudo, outros mecanismos de financiamento foram criados em substituição,
dando continuidade a prática de financiamento da educação especial em instituições privadas
(MENDES,2010).
Até meados da década de 1990, o maior problema do sistema educacional público do
Brasil era a repetência no ensino de primeiro grau. Os números eram desastrosos: em média,
os alunos levavam 12 anos na escola para completarem as oito séries do primeiro grau,
quando permaneciam na escola e não optavam pela evasão. Como a repetência vinha sendo
critério para diagnosticar a deficiência intelectual, aqueles que tinham baixo rendimento
escolar eram facilmente direcionados para a educação especial. Este problema era agravado
pelo alto índice de pobreza e desigualdade social. Desta forma, o conceito de deficiência
estava sendo distorcido, uma vez que a clientela deste segmento passou a ser aqueles que
apresentavam fracasso escolar, que vinham da camada pobre da sociedade com história de
repetências, e eram esses que mobilizavam a educação especial nas escolas de todo país
(MENDES,2010).
Devido às reformas administrativas, reestrutura do Ministério da Educação, os órgãos
oficiais relacionados à Educação Especial sofrem transformações. No dia 15 de março de
1990 a SESPE é extinta, assim, a Educação Especial fica a cargo da Secretaria Nacional de
Educação Básica (SENEB). Através do Decreto nº 99.678, de 8 de novembro de 1990 o
Departamento de Educação Supletiva e Especial (DESE) é incluído como órgão da SENEB
com a função específica para as questões da Educação Especial. Em 1992, nova reforma no
Ministério da Educação recria a Secretaria de Educação Especial (SEESP), órgão específico
do ministério da Educação.
Diante de todo movimento que vinha sendo feito sobre a política de educação
brasileira e educação especial, é inegável a existência de um direcionamento para uma
educação que fosse mais atenta às necessidades das pessoas com necessidades educacionais
especiais, ora com avanços, ora retrocessos, que vinham acompanhados de mudanças nas
legislações. Todavia, a educação especial no Brasil ainda mantinha uma forte tendência
assistencialista e a grande maioria dos deficientes intelectuais ainda eram institucionalizados,
pois havia, por parte do governo, um incentivo às instituições privadas nas ações sociais.
Contudo, diante da pressão internacional que era feita aos “países em desenvolvimento” por
uma melhora nos índices da educação e implantação da política de inclusão das pessoas com
deficiência na rede educacional de ensino. Alguns eventos internacionais foram sendo
organizados com a intenção de promover estas mudanças. Com destaque para dois deles: “A
Conferência Mundial sobre Educação para Todos”, ocorrida em 1990, na Tailândia, mais
precisamente em Jomtien; e “A Conferência Mundial sobre Educação Especial”, realizada em
Salamanca, Espanha no ano de 1994. Tais documentos serão abordados com mais atenção no
próximo capítulo que focará as chamadas políticas de inclusão escolar com mais afinco.
CAPÍTULO II
NOVAS PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: POLÍTICA DE
INCLUSÃO ESCOLAR
“Reinventar a educação” é uma expressão cara a Paulo Freire [...].O mais
importante nesta palavra, “reinventar”, é a ideia de que a educação é uma
invenção humana e, se em algum lugar foi feita um dia de um modo, pode
ser mais adiante refeita de outro, diferente, diverso, até oposto (BRANDÃO,
2007, p. 99).
Assim como anunciado no capítulo anterior neste entraremos com as diretrizes
internacionais que influenciaram e continuam influenciando a tomada de posições no Brasil
no que diz respeito a falada política de inclusão escolar.
No primeiro caso, ocorrido em 1990, a Conferência Mundial sobre a Educação para
Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, em Jomtien, Tailândia, resultou
na “Declaração de Educação para Todos”, com o propósito de garantir igualdade de acesso à
educação de pessoas que tenham qualquer tipo de limitação. O Brasil participou ativamente
do evento, tornando-se um dos seus signatários. A descontinuidade dos governos impediu que
as metas fossem cumpridas e, em 1993, o Brasil recebe um novo convite: participar da
Conferência de Dakar, junto com os oito países mais populosos do mundo, a finalidade da
conferência era avaliar os encaminhamentos de Jomtien e planejar novas metas para a
educação (PLETSCH, 2010).
Com o mesmo propósito foi realizada em 1994, ocorrida em Salamanca, Espanha, a
Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: acesso e qualidade, Nesta
ocasião um documento foi elaborado ficando conhecido como a Declaração de Salamanca,
que propõe aos governos a responsabilidade por uma educação baseada na igualdade de valor
entre as pessoas, garantindo-lhes o acesso irrestrito a uma educação de qualidade. Ainda
houve a Convenção de Guatemala (1999) e a Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiências (Brasil, 2008), todas imbuídas de um mesmo propósito: garantir o direito de
todas as pessoas ao acesso a uma educação de qualidade, acessível e humana. Essas
Convenções:
Fortaleceram o discurso em prol dos direitos sociais e educacionais das
pessoas historicamente excluídas, dentre as quais as pessoas com
necessidades educacionais especiais em decorrência de deficiências e outras
condições atípicas do desenvolvimento. Em grande medida fortemente
amparada no discurso humanitário e na universalização da educação básica,
a consigna da educação inclusiva se disseminou e institucionalizou.
(PLETSCH, 2014, p.10).
Por toda a década de 90, estes princípios foram sendo adotados pelas políticas
educacionais brasileiras, organismos internacionais, como UNESCO e Banco Mundial, que
têm pressionado o país a cumprirem as metas estabelecidas. Pletsch (2010) chama à atenção
para as reais intenções do Banco Mundial a respeito da educação; para ela, é preciso analisar
essas propostas na perspectiva político-econômica, não só apenas questões técnicas como são
propagados em seu discurso. Essas prescrições do Banco Mundial como orientador intelectual
das políticas públicas do Brasil, assim como em outros países, visa à manutenção da
governabilidade:
Outra dimensão das prescrições do Banco para a educação é a articulação
com uma agenda mais ampla de políticas de contenção, redução da pobreza e
neutralização de tensões sociais. É o que comumente aparece no discurso
dessa instituição como “manutenção da governabilidade” (PLETSCH, 2014,
p.10).
Esse discurso está alinhado com o conceito neoliberal, quando as políticas de inclusão
têm em sua finalidade formar capital humano, oferecendo o mínimo de direitos de bem estar
social básicos ao cidadão, de modo que o responsabilize pelo seu sucesso ou fracasso, quer na
escola, quer em outros segmentos da vida em sociedade. A esse respeito Pletsch (2014)
conclui: “enquanto ampliam-se as políticas de inclusão, continua-se excluindo o sujeito, pois
não se oferece condições efetivas para a integração e a mobilidade social no sistema
econômico vigente”(p.10).
Com o compromisso de cumprir as metas concordadas nas conferências, o sistema
brasileiro de educação, nas esferas municipal, estadual e federal, cria novos mecanismos
como obrigatoriedade de matrícula, a idade de ingresso, duração dos níveis de ensino,
avaliações nacionais do rendimento escolar, diretrizes curriculares nacionais e as definições
para a escolarização dos alunos com necessidades educacionais especiais, buscando garantir
não só o ingresso de todos à escola, mas a sua permanência (PLETSCH, 2011).
Durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso, mais precisamente no ano de
1994, a Política Nacional de Educação Especial, foi elaborada em substituição às Diretrizes
Básicas para a Ação do Centro Nacional de Educação Especial remanescente da ditadura
(BRASIL, 1974 apud PLETSCH 2014).
Foi em 1996, através da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN, Lei 9.394/96), que verdadeiramente a política de “educação inclusiva” é discutida
em âmbito nacional. Estando de acordo com a Declaração Mundial sobre Educação para
todos, essa lei instituiu a “década da educação” para os dez anos seguintes (PLETSCH, 2011).
Esta LDBEN/96 traz pela primeira vez um capítulo exclusivo à Educação Especial e foi
elaborada de acordo com os dispositivos da Constituição de 1988, comentados anteriormente.
Em especial à pessoa com deficiência mental (termo usado no documento), esta Lei
9.394/96 traz a questão da terminalidade específica compreendendo a possibilidade da pessoa
com a deficiência mental devido sua limitação, não conseguir atingir o nível de conclusão do
Ensino Fundamental. Essa terminalidade é definida através da emissão de certificado de
conclusão de escolaridade que difere do Certificado de conclusão do Ensino Fundamental
(PLETSCH, 2014).
Novamente mencionando Pletsch (2014) entendemos que a crítica existente a esta
terminalidade, se baseia na questão de que não existe regulamentação de como deva ser
realizada, possibilitando que haja diferentes modos de aplicá-la, e, consequentemente, levar à
expulsão de muitos alunos do sistema escolar. Outro problema na tomada desta decisão é:
como se consegue avaliar o potencial do sujeito, ou seja, até quando ele é capaz de aprender?
Não existe estudo científico que respalde tal decisão. Além de infringir a lei, que garante às
pessoas com deficiência o direito à educação e ao aprendizado ao longo de sua existência, a
questão da terminalidade não tem respaldo legal.
O Ministério da Educação no ano de 2001 incorporou os pressupostos da educação
inclusiva, através das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica
(Brasil, 2001). Sancionando em todo território nacional os termos “educação inclusiva” e
“necessidades educacionais especiais”, estas diretrizes ainda regulamentaram a organização e
a função da Educação Especial nos sistemas de ensino. Abordou, ainda, as modalidades de
atendimento e apresentou a proposta de flexibilização e adaptação curricular (PLETSCH,
2011; PLETSCH, 2014).
Inserir o aluno com necessidades educacionais especiais em classes comuns não é o
bastante para efetivar uma educação inclusiva, “é preciso garantir o seu direito de acesso aos
processos de ensino e aprendizagem e consequentemente, ao seu desenvolvimento” (ROCHA
& PLETSCH, 2013), outrossim, não tem sentido pensar na proposta de inclusão sem
considerar a melhoria da educação como um todo, considerando que o sistema educacional
brasileiro é fortemente marcado pelo fracasso e evasão escolar (PLETSCH,2009, p. 153).
Ainda no ano de 2001, ocorreu a promulgação da Convenção Interamericana para a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as pessoas Portadoras de Deficiência
(Declaração de Guatemala), trazendo aos deficientes garantias de caráter legislativo, social e
educacional, trabalhista. Em suma, resguarda a pessoa com deficiência de qualquer tipo de
discriminação, visando sua completa integração à sociedade.
Em 2002, através da Lei 10.436, regulamentada pelo decreto 5.626/05, foi incorporada
a obrigatoriedade do ensino da Língua Brasileira de sinais (LIBRAS) durante a formação de
professores para o exercício do magistério em nível médio e superior e nos cursos de
Fonoaudiologia. Essa iniciativa foi de grande relevância para que houvesse uma educação
inclusiva eficaz (PLETSCH, 2011).
Inegavelmente, foi no governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) que a
educação inclusiva teve forte investimento público em diversos setores. Seu objetivo era o de
“combater as mazelas socioeconômicas características da parcela de baixo poder aquisitivo da
população e, dessa forma, promover condições de inclusão social a todos os segmentos da
sociedade, em especial aos que se encontra em situação de desvantagem” (SOARES, 2010;
p.31 apud PLETSCH, 2014).
O Ministério da Educação desse governo implantou um conjunto de programas e
ações que possibilitaram a formação da política de educação inclusiva. As ações citadas
abaixo foram elaboradas para cumprir este propósito:
Programa Nacional de Formação Continuada de Professores na Educação
Especial e Formação de Professores para o Atendimento Educacional
Especializado; Programa de Salas de Recursos Multifuncionais; Escola
Acessível, que visa a adaptação arquitetônica das escolas; Programa
Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, de formação de multiplicadores
para a transformação de sistemas educacionais comuns em sistemas
inclusivos; Programa Incluir, para o acesso às instituições federais de ensino
superior aos alunos com deficiências ( KASSAR,2012).
Estas ações, apesar de fazerem parte de programas separados, visam o mesmo objetivo
e atingem diferentes regiões do Brasil. Elas vão favorecer a política de matrícula de crianças
com deficiências nas escolas regulares, sem restrições. Qualquer coisa que destoasse disso
poderia ser uma atitude discriminatória e iria de encontro com a Convenção Interamericana
para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadores de
Deficiências.
No ano de 2007, o Ministério da Educação lançou um plano inspirado no movimento
de empresários da educação que se chamava “Todos pela Educação”. Denominado de Plano
de Desenvolvimento da Educação (PDE) mantém o modelo de parcerias público-privadas
herdado do governo de Fernando Henrique Cardoso, além de estabelecer um conjunto de
programas independentes, metas para o acesso e permanência no ensino regular, bem como o
atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo o acesso nas
escolas públicas (BRASIL, 2007).
Dando continuidade à política de inclusão, o governo lança em 2008 a atual Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, implementada pelo
Decreto nº 6.571/2008, pressupondo o atendimento especializado em salas de recursos
multifuncionais e em centros especializados de referência transformados a partir das escolas
especiais. Em 2009, o governo apresenta a Resolução que cria as Diretrizes operacionais para
o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica. Nele o Atendimento
Educacional Especializado (AEE) é definido como
O conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos
organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou
suplementar à formação dos alunos no ensino regular (art.1º,§ 1º) e tem
como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio
da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que
eliminem as barreiras para a sua plena participação na sociedade e
desenvolvimento de sua aprendizagem (Brasil, 2009ª, p.1, apud Pletsch
2011).
Essas diretrizes na concepção de Pletsch (2014), durante o governo de Dilma Roussef
(2011-2014) foram mantidas, assim como o compromisso assumido com a Declaração da
Organização das Nações unidas (ONU), a qual é reconhecida nacionalmente como emenda
constitucional. Por isso, em 2011 o governo apresentou à sociedade o Plano Nacional dos
Direitos das pessoas com Deficiência, conhecido como Viver sem limites, através do Decreto
7.612, com o objetivo de “desenvolver ações em diferentes áreas, como educação, saúde,
inclusão social e acessibilidade, para melhorar a vida das pessoas com deficiência (Brasil
2011, 2013)”, tendo metas a serem cumpridas até o ano de 2014 (PLESTCH, 2014).
Com o objetivo de intensificar o processo de inclusão social e educacional das pessoas
com diferentes deficiências, destacam-se aqui algumas ações e iniciativas Pletsch (2014)
indica a criação de diferentes programas. Vejamos: Programa Escola Acessível; a ampliação
de números de salas de recursos multifuncionais a serem implementadas; aquisição de ônibus
escolares acessíveis; a ampliação do Benefício da Prestação Continuada (BPC) na escola –
garante às pessoas com deficiência o benefício mensal de um salário mínimo – a formação
continuada de professores e gestores prioritariamente por meio da educação à distância.
Ao se propor debruçar sobre os registros históricos e todas as legislações que serviram
para normatizar este módulo de educação, a Educação Especial, o que se constata é a história
de lutas de pessoas que já nasceram em condições desfavoráveis ou que, por algum infortúnio,
passou a fazer parte deste grupo. Para aqueles que se encontram dentro dos padrões de
normalidade física e mental da sociedade, dificilmente compreenderão o valor destas
conquistas. Estar incluído, fazer parte da sociedade, apesar das limitações, das
especificidades, serem reconhecidos como sujeitos que têm os mesmos direitos e deveres, mas
que precisa de algo a mais tem sido a luta dos que enfrentam todos os dias as dificuldades
impostas por sua deficiência. É preciso que a sociedade tenha o discernimento de que não é
o deficiente que deve se aproximar, ou melhor, se adaptar, ao modo de vida social; ao
contrário, é a sociedade como um todo que precisa se adequar para atender as necessidades
especiais do sujeito.
Apesar de todos os avanços legais, das conquistas aqui mencionadas, não se deve
ignorar o fato de que por diversas razões a educação inclusiva, atualmente, ainda enfrenta
problemas, alguns deles são: escassez de recursos financeiros e humanos (falta de
profissionais devidamente qualificados que promova uma inclusão eficaz); dificuldades com
infraestrutura, materiais e recursos que viabilizem o desenvolvimento destes alunos;
transportes adaptados que promovam a acessibilidade do aluno à escola; uso de práticas
curriculares condizentes com as especificidades dos alunos incluídos; falta de integração com
profissionais de outras áreas que atendam as diversas demandas possibilitando o
desenvolvimento integrado; dificuldade de se garantir o aprendizado da maioria dos alunos
com deficiência intelectual. Infelizmente, essas dificuldades não são exclusivas da Educação
Especial, a falta de atenção, incentivos, e continuidade nos programas de educação também é
uma realidade na educação como um todo PLETSCH (2014).
A garantia de sucesso da educação inclusiva e, por conseguinte a real promoção do
ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual, assim como dos demais alunos,
passa pela melhoria de investimentos na educação e incentivo às pesquisas; estabelecendo
parcerias das escolas com as universidades promovendo assim um diálogo que fomentará a
contínua progressão da educação, que precisa ser inclusiva, solidária, justa, laica, agregadora,
eficiente e comprometida com o direito à diversidade.
Encontrar caminhos que promovam o processo de ensino e aprendizagem no aluno
com deficiência intelectual, considerando suas limitações, porém não minimizando sua
capacidade será o assunto do terceiro e último capítulo dessa monografia.
CAPÍTULO III
O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL: CAMINHOS E POSSIBILDADES
É importante ter uma visão positiva da deficiência, pois uma criança com
deficiência não é uma criança defeituosa.
Lev Seminovich Vigotski
Este capítulo tem como propósito analisar as conceituações sobre deficiência
intelectual, pois passaram por várias reformulações ao longo do tempo, bem como refletir
sobre o processo de ensino e aprendizagem de pessoas com deficiência intelectual. Diferente
de outras deficiências como as sensoriais e/ou motoras, a deficiência intelectual tem suas
especificidades e distintos graus de comprometimento da capacidade de cognição.
Em vista disso, o processo de ensino e aprendizagem requer uma compreensão de
como os conhecimentos são internalizados e apropriados pelos sujeitos com deficiência
intelectual. Para tal, serão estudadas literaturas especializadas, bem como as indicações da
Associação Americana de Deficiência Intelectual e Desenvolvimento (AADID, 2010),
anteriormente denominada de Associação Americana de Retardo Mental (AAMR, 2006).
A opção por citar os aportes da teoria histórico cultural ao final do capítulo se deve por
também este referencial ser considerado por diversos autores como o mais adequado para o
entendimento dos processos de desenvolvimento das pessoas com deficiência.
3.1 Conceitos e pré-conceitos relacionados à deficiência intelectual
Como mostrado por Fontes et al (2009) e Pletsch (2010), ao longo da história, a
deficiência intelectual recebeu várias denominações como: idiotia (século XIX), debilidade
mental e infradotação (inicio do século XX), imbecilidade e retardo mental (divididos em três
níveis: leve, severo e profundo) e, no final do século XX, déficit intelectual/cognitivo. Com a
intenção de amenizar a carga negativa existente nos termos daquela época e estabelecer um
padrão internacional, o Congresso de Genebra que ocorreu em 1939, criou o termo deficiência
mental. O termo utilizado atualmente é deficiência intelectual, por estar de acordo com as
mudanças propostas pela Associação Americana de Deficiência Intelectual e
Desenvolvimento (AADID, 2010), órgão que vem liderando:
o campo de estudo sobre deficiência intelectual, definindo conceituações,
classificações, modelos técnicos e orientações de intervenção em diferentes
áreas. Dedica-se à produção de conhecimentos, que tem publicado e
divulgado em manuais, contendo avanços e informações relativas à
terminologia e classificação (FIAROVANTE, 2011 p.14).
Diversas definições sobre a deficiência intelectual foram sendo construídas ao longo
da história. Entretanto, foi em 1937 que Tredgold divulgou esta conceituação: “[...] um estado
de desenvolvimento mental incompleto de tal tipo e grau que torna o indivíduo incapaz de se
adaptar ao ambiente normal de seus semelhantes, de maneira a manter uma existência
dependente de supervisão, controle externo ou apoio” (MUNIZ, 2008, p.4). Ainda nesta linha,
Doll em 1941 conceituou a deficiência intelectual da seguinte forma: “[...] uma maturação
mental incompleta que aparece desde o nascimento, ou em uma idade relativamente precoce,
como conseqüência de possibilidades inatas limitadas, ou de influências variadas que detêm o
crescimento normal” (MUNIZ, 2008, p.4).
A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1954, sugeriu que fossem substituídas
as subcategorias bobos, imbecis e idiotas, que, até então, eram utilizadas para classificar as
pessoas com deficiência intelectual, pelos adjetivos leve, moderado, severo e profundo. Antes
classificadas através de parâmetros baseados na causa orgânica da deficiência, agora, passaria
a observar a interação e comportamento do sujeito nas relações com seu meio social.
(MUNIZ, 2008, p.5).
Em sua quinta definição e classificação da deficiência intelectual, a AAMR publicou
em 1959 um conceito referindo-se ao
funcionamento intelectual geral abaixo da média que se origina durante o
período de desenvolvimento ( do nascimento até mais ou menos dezesseis
anos ) e está associado a uma deficiência em uma ou mais áreas , no que
concerne o amadurecimento , aprendizagem e ajustamento social (AAMR,
2006).
A AAMR em 1961 apresentou sua sexta revisão de conceituação de deficiência
intelectual, sendo esta considerada um marco na trajetória da definição da deficiência
intelectual, permitindo avaliar o sujeito a partir de sua interação social, bem como de seu
amadurecimento, aprendizagem e ajustamento social. Esta nova conceituação entende a
deficiência intelectual “como o funcionamento intelectual geral abaixo da média que se
origina durante o período do desenvolvimento (do nascimento até os dezesseis anos) e está
associado com deficiência no comportamento adaptativo” (AAMR, 2006 apud REDIG,
2010).
Sobre esse conceito, Muniz (2008, p.6) reconhece seu valor em relação à novidade
sobre a avaliação da pessoa com deficiência intelectual a partir de sua interação com o meio
social. Contudo, em relação à sua praticidade faz uma ressalva, pois “não ofereceu maiores
respaldos para que as formas classificatórias dos testes de QI, utilizados por profissionais
envolvidos com a questão da deficiência mental, fossem definitivamente abandonadas”.
Em 1973, a AAMR edita a sétima definição de deficiência intelectual classificando
que: “o retardo mental refere-se a um funcionamento intelectual geral significativamente
abaixo da média, existente ao tempo com déficits no comportamento adaptativo e manifestado
durante o período desenvolvimental”. Neste momento, o período de desenvolvimento passa a
ser do nascimento até os dezoito anos (AAMR, 2006, p.31).
Uma década após a última definição de deficiência intelectual, mais precisamente em
1983, ocorre uma nova revisão proposta pela AAMR. Esta oitava edição conceitua deficiência
intelectual como: “funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média,
resultando em ou associado a deficiências concomitantes no comportamento adaptativo e
manifestado durante o período de desenvolvimento”. O período de desenvolvimento que
passou a ser considerado nesta definição foi do momento da concepção até os dezoito anos,
considerando o desenvolvimento desde sua concepção (AAMR, 2006, p.32).
A nona revisão da AAMR ocorre em 1992, trazendo significativas mudanças. Nela, a
definição intelectual passou a reportar-se às:
limitações substanciais no funcionamento atual. É caracterizado por um
funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, existente ao
mesmo tempo com limitações relacionadas em duas ou mais das seguintes
áreas de habilidades adaptativas aplicáveis (AAMR,2006, pp.32-33).
Quanto a essas áreas de habilidades adaptativas “estão relacionadas à comunicação,
auto-cuidado, vida doméstica, habilidades sociais, uso da comunidade, auto-direcionamento,
saúde e segurança, aprendizagem funcional, lazer e trabalho” (REDIG, 2010, p.56). O período
de desenvolvimento continua sendo da concepção até dezoito anos nesta definição e, diferente
das outras revisões, é considerado para efeito de diagnóstico, além dos testes de QI os testes
de habilidades de comportamento adaptativo, além das observações de profissionais
especializados.
Este modelo de definição da AAMR de 1992 foi muito criticado, e, segundo Pletsch a
concepção de 1992, desagradou por:
enfatizar demasiadamente o sujeito e suas limitações com base em
resultados psicométricos sem levar em consideração o contexto social,
especialmente pelos teóricos que discutiam a deficiência como uma
‘construção social’ [...] Para a maioria, a deficiência não era algo que
emergia exclusivamente com o nascimento, mas se construía no grupo
social na qual a pessoa estava inserida (OMOTE, 1994). Ou seja, a
deficiência não era vista apenas como uma condição intrínseca orgânica do
sujeito, mas sim também produzida a partir do meio social em que ele vive.
(PLETSCH,2009, p.79-80).
Em resposta às muitas críticas ao modelo de definição de 1992 da AAMR, mais uma
revisão foi estabelecida, a décima, ocorrida em 2002, Luckasson definiu deficiência
intelectual como “uma incapacidade caracterizada por importantes limitações, tanto no
funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo, expresso nas habilidades
adaptativas conceituais, sociais e práticas. Essa incapacidade tem início antes dos dezoito
anos de idade”. (AAMR, 2006, p.20).
Para a finalidade de aplicação dessa definição, cinco situações foram pontuadas pela
AAMR (2006), sendo elas:
1) as limitações no funcionamento atual devem ser consideradas a partir do
contexto social, das características da mesma faixa etária e cultural do
sujeito; 2) a avaliação deve ponderar a diversidade lingüística e cultural,
bem como as diferenças na comunicação, nos fatores sensoriais, motores e
comportamentais; 3) as limitações do indivíduo coexistem com as
potencialidades; 4) cada indivíduo tem um perfil específico de suportes que
necessita para seu desenvolvimento; 5) com os apoios personalizados
adequados as peculiaridades de cada pessoa, o desenvolvimento do sujeito
com deficiência intelectual tende a melhorar. (AAMR, 2006).
Em relação à avaliação para o diagnóstico da pessoa com deficiência intelectual, o que
mudou foi o acréscimo do uso de medidas e processos de avaliação válidos. A intensidade do
apoio, variação do QI, limitações do comportamento adaptativo, categorias de saúde mental
entre outros, determinarão o grau de comprometimento da deficiência intelectual.
As limitações no comportamento adaptativo têm influência no cotidiano da pessoa,
assim como na capacidade de reagir a mudanças. Essas considerações foram reconhecidas
neste último modelo. Existem cinco dimensões que foram definidas pela AAMR que devem
ser consideradas, conforme tabela a seguir:
Fonte: REDIG, A. G., 2013.
A décima primeira edição da Associação Americana de Deficiência Intelectual e
Desenvolvimento (AADID) só trouxe de novidade a substituição do termo deficiência mental
para deficiência intelectual. Mantendo a compreensão da deficiência intelectual em cinco
dimensões, concernente às perspectivas do desenvolvimento do deficiente intelectual
(PLETSCH & OLIVEIRA, 2013).
Outro conceito e classificação usada em termos nacionais e internacionais se refere a
Classificação internacional de Doenças (CID 10) entende deficiência intelectual como
uma condição de desenvolvimento paralisado ou incompleto da mente, que
é especialmente caracterizado pela deficiência das habilidades manifestadas
durante o período desenvolvimental, habilidades que contribuem para o
nível geral de inteligência, isto é, as habilidades cognitivas, de linguagem,
motoras e sociais. [...] os graus de retardo mental são convencionalmente
estimados por testes de inteligência padronizados. [...] o diagnóstico deve
ser baseado nos níveis atuais de funcionamento (REDIG, 2010 p.54).
Essa classificação passou a dividir a deficiência intelectual em graus a partir do
resultado dos testes de QI, apresentados por (AAMR, 2006 apud REDIG, 2010 p.55) como:
1. Retardo mental leve: extensão aproximada de QI de 50 a 69, resultando
em algumas dificuldades de aprendizagem na escola. Alguns adultos
conseguirão trabalhar, manter relacionamentos sociais e contribuir para a
sociedade.
2. Retardo mental moderado: QI de 35 a 49, resultando em significativos
atrasos de desenvolvimento na infância, todavia a maioria pode aprender a
desenvolver a independência no auto cuidado, habilidades na comunicação
e acadêmico. Os adultos irão precisar suportes para trabalhar e viver em
sociedade.
3. Retardo mental grave: QI de 20 a 34, podendo necessitar de apoio
contínuo para exercer as atividades.
4. Retardo mental profundo: QI inferior a 20, resultando limitação severa na
autonomia e no desenvolvimento de tarefas.
5. Retardo mental não especificado: quando há suspeita de deficiência
intelectual, porém não há condições de diagnosticar por instrumentos
padronizados, como no caso de bebês.
Em relação a CID-10, convém ressaltar que
não é um manual diagnóstico detalhado, mas um sistema para designar
códigos estatísticos para a identificação das condições de saúde. Como a
CID é amplamente utilizada no campo médico, é freqüentemente usada
pelos profissionais para identificar o retardo mental, dar entrada com o
diagnóstico nos sistemas de dados de atenção à saúde. A CID-10 não
pretende ser e nem é adequada para objetivos de avaliação ou para a
determinação de apoios (AAMR, 2006, p.105-106).
Como se pôde observar nesta retrospectiva das conceituações da deficiência
intelectual, é inegável a evolução do reconhecimento da pessoa com deficiência intelectual
como alguém possível de interagir com meio social, apreender e produzir conhecimentos. Se
no passado o sujeito era visto como alguém incapaz de viver em sociedade, dependente de
supervisão e controle por toda sua existência, hoje a realidade é diferente. Através de uma
nova mentalidade, estudos, pesquisas empíricas e observações resultaram em diversas
concepções e, por conseguinte, em um novo olhar para o deficiente intelectual.
A postura segregacionista foi dando lugar a um ideal de inclusão, onde a pessoa com
deficiência pode alcançar certa autonomia, bem como ser perfeitamente adaptável ao meio
social. Todavia, não se deve desprezar a necessidade do devido suporte individualizado que
apoiará o sujeito na construção e apreensão do conhecimento, introduzindo-o numa
perspectiva “ecológica” interagindo com o meio ambiente promovendo seu desenvolvimento
funcional. Esse conceito vem ao encontro da teoria vigotskiana, que atribui à mediação um
importante instrumento no processo de ensino e aprendizagem, o qual será aprofundado no
próximo tópico.
3.2. A deficiência intelectual e o processo de ensino e aprendizagem
O princípio de educação inclusiva, que garantiu ao deficiente intelectual o direito de
freqüentar a escola regular dos sistemas de ensino, inegavelmente trouxe um ganho
imensurável à pessoa com este tipo de deficiência. Como relatado no capítulo anterior, eles
viviam segregados da sociedade, recolhidos ao ambiente familiar ou, quando muito, eram
matriculados em instituições especializadas baseadas em modelo médico, convivendo apenas
com outros semelhantes, de forma que o deficiente intelectual era infantilizado e visto como
incapaz por toda sua vida.
A partir do momento que se entende ser possível, através da educação – baseada na
interação com o outro “normal” e com o meio –, desenvolver sua cognição, autonomia e
participação social, um grande desafio é estabelecido para as famílias e profissionais da
educação, que deverão, através de estímulos adequados e intencionais, propiciar estes
desenvolvimentos.
A fim de entender como este processo de ensino e aprendizagem se materializa no
sujeito, o presente texto usará como referência a abordagem histórico-cultural nas proposições
do autor soviético Lev Semenovich Vigotski (1896-1933), autor que esteve na vanguarda no
conceito de inclusão. Sobre o desenvolvimento humano, um pressuposto básico da obra de
Vigotski é que:
As origens das formas superiores de comportamento consciente –
pensamento, memória, atenção voluntária etc. –, formas essas que
diferenciam o homem dos outros animais, devem ser achadas nas relações
sociais que o homem mantém. Mas Vigotski não via o homem como um ser
passivo, conseqüência dessas relações. Entendia o homem como ser ativo,
que age sobre o mundo, sempre em relações sociais, e transforma essas
ações para que constituam o funcionamento de um plano interno ( BOCK,
FURTADO & TEIXEIRA, 2002, p.107).
Segundo Vigotski, o homem e seu mundo psíquico é uma construção histórica e social
da humanidade, que vai sendo materializada no decorrer de sua história. Vigotski morreu
antes de completar sua obra, porém, alguns princípios foram deixados aos seus seguidores.
São eles:
A compreensão das funções superiores do homem não pode ser alcançada
pela psicologia animal, pois os animais não têm vida social e cultural.
• As funções superiores do homem não podem ser vistas apenas como
resultado da maturação de um organismo que já possui, em potencial, tais
capacidades.
• A linguagem e o pensamento humano têm origem social. A cultura faz
parte do desenvolvimento humano e deve ser integrada ao estudo e à
explicação das funções superiores.
• A consciência e o comportamento são aspectos integrados de uma unidade,
não podendo ser isolados pela Psicologia.
Vigotski desenvolveu, também, uma estrutura teórica marxista para a
psicologia:
• Todos os fenômenos devem ser estudados como processos em permanente
movimento e transformação.
• O homem constitui-se e se transforma ao atuar sobre a natureza com sua
atividade e seus instrumentos.
• Não se pode construir qualquer conhecimento a partir do aparente, pois não
se captam as determinações que são constitutivas do objeto. Ao contrário, é
preciso rastrear a evolução dos fenômenos, pois estão em sua gênese e em
seu movimento as explicações para sua aparência atual.
• A mudança individual tem sua raiz nas condições sociais de vida. Assim,
não é a consciência do homem que determina as formas de vida, mas é a
vida que se tem que determina a consciência (BOCK, FURTADO &
TEIXEIRA, 2002, p.87).
Luria e Leontiev, parceiros de trabalho de Vigotski, e outros teóricos assumiram este
desafio, pensar o psiquismo humano a partir das condições sociais. Essas teorias contribuíram
para uma educação com princípios interacionistas e construtivistas que condizem com o
paradigma do princípio educacional inclusivo das pessoas com deficiência intelectual.
Sobre as proposições de Vigotski o desenvolvimento humano está fundamentado em
sua gênese nas relações sociais, em interações intersubjetivas, significando o mundo para nós
pela mediação do outro. Bentes (2011) vai afirmar que para Vigotski:
O desenvolvimento é um processo dialético complexo, ou seja, “implica
revolução, evolução, crises, mudanças desiguais de diferentes funções,
incrementos e transformações qualitativas de capacidades” (GÓES, 19--?,
p.03). E é nessa perspectiva que a criança desde que nasce é um ser social
que vai se singularizando e nesse movimento em que vai compartilhando
com o adulto seus modos de viver, internaliza os significados que foram
produzidos e acumulados historicamente pela cultura humana, e ao se
constituir como pessoa ocorre justamente com sua aprendizagem como
membro da cultura, ou seja, o desenvolvimento implica enraizamento na
cultura (GÓES, [19--?], p.03).
Em sua obra Fundamentos de Defectologia (1997), Vigotski trata das questões da
deficiência intelectual, surdez, cegueira, bem como suas necessidades e possibilidades no que
diz respeito ao desenvolvimento e educação, abordando as noções de “caminhos alternativos”
e “recursos especiais” utilizados neste processo. Baseados em suas proposições, não se deve
reduzir o diagnóstico da pessoa deficiente a apenas causa orgânica. Conhecer suas
manifestações no ambiente, interações com seus pares – condições básicas para compreender
o funcionamento psíquico – é indispensável para entender a deficiência daquela pessoa e
propor uma intervenção pedagógica a contento. Não se deve negar o déficit orgânico, pois é
real e desafiador, mas será na vida social que as possibilidades emergirão para o
desenvolvimento.
É possível haver desenvolvimento em uma criança com deficiência intelectual, assim
como ocorre com seus contemporâneos normais. Contudo, seu desenvolvimento dependerá de
“caminhos alternativos” ou “recursos especiais” que os estimulem em suas potencialidades
Vigostki (1997).
Quanto a esse processo de desenvolvimento, que necessita de “caminhos alternativos”
ou “recursos especiais”, entendemos que a mediação serve a estes propósitos no que se refere
ao ensino, Garcia (2012), traz o entendimento de que:
Para Vigotski (1997), o processo de desenvolvimento da criança não se
adianta ao processo de aprendizagem, ou melhor, caminha de forma mais
lenta. Segundo o autor, é a aprendizagem que promove o desenvolvimento,
que por sua vez, possibilita novas aprendizagens. Desse entendimento surge
o que Vigotski denominou de zona de desenvolvimento proximal, que se
refere à distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de
desenvolvimento potencial da criança. É aí que o ensino deve atuar,
possibilitando possível desenvolvimento (p.80).
O desenvolvimento e a aprendizagem da criança com deficiência intelectual passam
pela mediação, interação, desenvolvimento de técnicas que desafiem suas capacidades por
atividades dinâmicas que os levem a romper com as percepções concretas, estimulando a
função psicológica superior. Vigotski criticava a prática de se basear a aprendizagem nas
funções sensoriais, por serem elementares ao ser humano. É mais eficaz desenvolver
caminhos alternativos que exijam de suas potencialidades, que os façam avançar na
construção do conhecimento. É imprescindível romper com o modo de lidar com o deficiente
intelectual “de quem não se espera que aprenda a pensar, mas a distinguir odores, matizes de
cor, sons etc” (VIGOTSKI, 1989 p.181 apud BENTES, 2011).
Em Pletsch (2014), fica salientado que a aprendizagem ocorre partindo da mediação
em sala de aula e das interações ali estabelecidas baseadas em “propostas pedagógicas
individualizadas e desafiadoras, coerentes com as possibilidades (perceptivas, sensitivas, de
atenção, mnemônicas, cognitivas e motoras) de cada aluno”. Chama atenção, ainda, para o
oferecimento de um currículo que “privilegie ações que tenham sentido e significado e que
possibilitem aos mesmos a construção de uma rede conceitual cognitiva, motora, afetiva,
lingüística, entre outras” (p.12).
Em se tratando de mediação no ensino e aprendizagem, para Pimentel (2012, p.71),
“significa fornecer níveis de ajuda planejados de forma intencional e que se ajustem às
necessidades dos educandos”. A autora traz a analogia do professor com o andaime, pelo
mesmo servir de apoio e suporte que proporcionam avanços na aquisição da aprendizagem do
estudante através de condições apropriadas para que ela aconteça. Cabe ao mediador, segundo
Vigotski, promover a autonomia da pessoa com deficiência, assessorá-lo de tal forma que
aquilo que hoje ele faz com ajuda, consiga no futuro fazê-lo sozinho.
Diante do exposto, é fundamental considerar a necessidade de uma metodologia
diferenciada para a pessoa com deficiência intelectual que atenda suas condições e
peculiaridades, com um tempo prolongado, uso de recursos e etc., pois seu desenvolvimento
ocorre de forma diferente. Contudo, este mesmo cuidado deve ser dirigido a todas as crianças
que enfrentem alguma dificuldade no aprendizado.
Outro fator a ser observado é que não se tem limites predeterminados do que ela possa
alcançar, até onde chegará. Portanto, não se deve subestimar a criança com deficiência, seja
ela qual for. Os conteúdos curriculares, a consciência de seu lugar na sociedade devem ser os
mesmos almejados para as demais crianças. Todavia, que se tenha em mente que a pessoa
com deficiência intelectual não responderá da mesma forma que outra criança que não tenha
nenhum comprometimento cognitivo.
Segundo Carvalho (1997, p.147 apud BENTES, 2011), uma criança com deficiência
intelectual não está “apto a desenvolver as capacidades de compreensão, abstração,
planejamento das próprias ações etc.”, necessitando, assim, de suporte que propicie o
desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores que são exclusivos do ser humano,
através de estímulos e desafios que as leve a romper com suas limitações físicas, emocionais e
cognitivas.
Em razão de tudo que pôde ser visto neste capítulo a respeito do processo de ensino e
aprendizagem do deficiente intelectual, intensificou em nós a responsabilidade de
proporcionar a este alunado, que busca no ambiente escolar novas descobertas, significações e
aprendizagens, uma inclusão verdadeira e plena. É primordial desconstruir todos os estigmas
que a muito acompanham o aluno deficiente. O mediador precisa ser a “ponte” que irá
conduzi-lo aos conhecimentos científicos e sociais, sem menosprezá-lo, acreditando sempre
em sua capacidade de romper com suas limitações a seu tempo e a seu modo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
... é preciso reconhecer a voz dos sujeitos com deficiência intelectual e suas
famílias, ouvindo-os, e não falar por eles. Certamente eles têm muito a nos
dizer e contribuir ( PLETSCH,2014).
Pesquisar sobre o histórico da deficiência intelectual, seus avanços e conquistas, sua
terminologia e conceituações que passaram por significativas mudanças ao longo dos anos,
mudanças, que lhes garantiram o direito de serem reconhecidos como pessoas com deficiência
intelectual, ao invés de “idiotas”, “débeis mentais” e tantos outros termos pejorativos, além da
questão primaz, que foi sobre o processo de ensino e aprendizagem, tornou possível conhecer
caminhos eficazes para a promoção deste processo nas pessoas com deficiência intelectual,
bem como seu desenvolvimento, cumprindo assim, o principal objetivo deste trabalho.
Para tanto, fez-se uso da pesquisa bibliográfica, que se mostrou bastante pertinente
devido a inúmeras obras de conceituados autores e pesquisadores que abordaram este tema.
Do mesmo modo, foram analisados documentos normativos federais que respaldaram todas as
mudanças referentes à Educação Especial. De posse desses conhecimentos, podemos afirmar
que a falta de conhecimento dos professores e profissionais de educação a respeito do
universo do deficiente intelectual, por muito tempo, tem sido uma das possibilidades de
muitos fracassos na vida escolar das pessoas com essa deficiência. Aquilo que não se
consegue entender ou não se domina pode causar angústia ou desinteresse pelo assunto e/ou
situação. E infelizmente, esse processo pode ocorrer nas duas partes envolvidas – professor e
aluno – justificando assim a relevância dessa pesquisa. Inegavelmente, sair de um modelo
segregacionista para o de inclusão promoveu uma revolução no sistema educacional
brasileiro.
Todavia, apenas mudar a lei não foi o bastante para se efetivar tamanho ideal. Para
Pletsch (2009), não basta garantir a matricula do aluno na escola é preciso fazer com que ele
permaneça e, ao permanecer, que aquele ambiente tenha significado para ele, certamente uma
formação adequada do professor permitirá que ele desenvolva estratégias de ensino que
diminua o fracasso escolar, a evasão e a segregação. Muitos são os casos de alunos que
incluídos na rede regular de ensino ficam marginalizados na sala de aula, não se desenvolvem,
não aprendem e por isso, vão ficando pelos cantos com “folhinhas” para rabiscar. Isso se dá
por não serem capazes de aprender? De modo algum. A verdadeira causa é o
desconhecimento do percurso para que este desenvolvimento aconteça, assim como das
condições estruturais e outras que aqui não abordaremos.
Nossa pesquisa evidenciou a partir das proposições de Vigotski, que o aprendizado é
real e contínuo. Há que se considerar a pessoa como ser único, que tem seu próprio tempo
para interiorizar o aprendizado. Existem caminhos para se estabelecer este processo de ensino
e aprendizado, e, segundo Vigotski, a cultura e o meio social em que se está inserido é o
principal deles. A validação da política de inclusão passa pelo pleno direito do deficiente
intelectual ter acesso aos mesmos conteúdos que os outros alunos de sua classe têm, apenas
deve lhes ser apresentado de certo modo que seja significativo e coerente com a sua realidade.
É verdade que a função primeira da escola é preparar o homem para viver em sociedade e isso
também se aplica a este alunado. Através da troca e das vivências, eles vão se desenvolvendo
e, dependendo da qualidade dessa interação, podem conquistar certo grau de autonomia e
adaptação ao ambiente social. Porém, este desenvolvimento social não deve ser o objetivo
único na educação da pessoa com deficiência intelectual; o estímulo ao aprendizado dos
conteúdos do currículo é fundamental para o sucesso desta escolarização. Contudo, não se
pode deixar de considerar as especificidades do indivíduo, suas necessidades e condições que,
através de “caminhos alternativos” e “recursos especiais” como: mediação, interação, desafios
propostos, ações pedagógicas que estimulem o desenvolvimento, intervenções direcionadas e
qualificadas, se estabelecerá o processo de ensino e aprendizagem.
A este respeito quando o professor reconhece sua função de mediador entre o sujeito e
o conhecimento e proporciona oportunidades de aprendizado e enriquecimento do seu
vocabulário, provoca-o a ir além dos supostos limites, desenvolve seu senso crítico e
autocrítico, conduzindo esta pessoa com deficiência intelectual a um sem limites de
descobertas e aprendizagens. O problema é: a grande maioria desses professores que são
responsáveis por esse aluno sente-se despreparados e desorientados para mediá-lo. Muitos
deles, em sua formação, não tiveram a oportunidade de cursar sobre Educação Especial. Por
outro lado, quando se tem essa disciplina na formação profissional, esta se deu de forma
aligeirada, não sendo capaz de lhes dar segurança. Sendo assim, é imprescindível a formação
continuada, a troca com os professores do AEE ( Atendimento Educacional Especializado), e
a persistência na realização deste ideal. Mas, sobretudo, é fundamental que se acredite no
potencial e possibilidades das pessoas com deficiência intelectual em detrimento do estigma
de incapacitado.
Para finalizar, verificamos ao longo de nossa reflexão que este trabalho
irrefutavelmente não trouxe nenhuma novidade além das que existem nos compêndios
literários. Entretanto, traz a proposta que se repense os paradigmas relacionados às
potencialidades e possibilidades da pessoa com deficiência intelectual, bem como a figura do
professor. É possível realizar uma inclusão pertinente e eficaz, para que se fortaleçam esses
novos parâmetros educacionais, que visam construir uma sociedade cada vez mais justa e
humanizada.
AAMR. Retardo Mental: definição, classificação e sistemas de apoio. 10ª edição Porto
Alegre, Artmed, 2006.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (Lei no 9394/96 de 20
de dezembro de 1996). Disponível no site www.mec.gov.br Acesso em novembro de 2014.
BRASIL. Constituição Brasileira de 1934, promulgada em 16 de julho de 1934.
______. Constituição Brasileira de 1946, promulgada em 18 de setembro de 1946.
______. Constituição Brasileira de 1967, promulgada em 15 de março de 1967.
______. Constituição Brasileira de 1988, promulgada em 05 de outubro de 1988.
______. Parâmetros curriculares Nacionais – adaptações curriculares: estratégias de ensino
para educação de aluno com necessidades educacionais especiais. Brasília, MEC/SEF/SEESP,
1998.
______. Lei Federal n° 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Disponível em <http://www2.camara.leg.br/> Acesso em novembro
2014.
______. Lei Federal n° 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Disponível em <http://www2.camara.leg.br/> Acesso em janeiro de
2014.
______. Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Disponível em <http://www2.camara.leg.br/> Acesso em janeiro de 2014.
______. Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002a. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em janeiro de 2014.
______. Lei Federal nº 7.853, de 29 de outubro de 1989. Acesso em novembro de 2014.
Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm Acesso em novembro de 2014.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. Lei Federal nº 7.612, de 17 de novembro de 2011. Institui o Plano Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7612.htm Acesso em
novembro de 2014.
______. Decreto n° 99.678, de 8 de Novembro de 1990a. Disponível em
<http://www.senado.leg.br/legislacao/>. Acesso em novembro de 2014.
______. Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008a. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/Decreto/D6571.htm>. Acesso em
novembro de 2014.
______. Decreto nº 93.481, de 29 de outubro de 1986. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/1985-1987/D93481.htm Acesso em
novembro de 2014.
______. Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de
abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no
10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm Acesso em
novembro de 2014.
______. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, 2011.
Disponível em http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB017_2001.pdf Acesso em
novembro de 2014.
______. Plano Decenal de Educação para Todos. Versão acrescida. 136 p. Brasília: MEC,
1993. Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.br/>. Acesso em novembro de 2014.
______. Parâmetros curriculares nacionais – Adaptações curriculares: estratégias para a
educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: MEC/SEF/SEESP,
1998.
______. Ministério da educação. Programa de Formação Continuada de Professores em
Educação Especial – NOVO. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17431&Itemid=
817>. Acesso em novembro de 2014.
____. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Portaria
nº 948, de 09 de outubro de 2007. In: Inclusão: Revista da Educação Especial. v.4, nº. 1, p.7-
17. Brasília: MEC/SEESP, 2008b.
BENTES, N.O. Vigotski e a Educação Especial: notas sobre suas contribuições. UEPA,
2011. Disponível em: pagina.uepa.br/seer/index.php/cocar/article/view/41/31 acessado em:
28/10/14.
BOCK, A.M.B.; FURTADO,O & TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao estudo
da psicologia. 13ª edição reformulada e ampliada – São Paulo, Saraiva, 2002.
BRANDÃO, C.R. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007 (Coleção Primeiros
Passos).
Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de Jomtien – 1990), 5 a 9 de
março de 1990. Disponível em: http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10230.htm Acesso
em novembro de 2014.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das
Necessidades Educativas Especiais, 1994. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/txt/salamanca.txt Acesso em novembro de 2014.
FIAROVANTE, D. Inclusão Social da Pessoa com Deficiência intelectual e MÚLTIPLA:
trabalho, emprego e renda. Organizador Sérgio Sampaio Bezerra, Brasília, Federação
Nacional das APAES, 2011.
FONTES, R.; PLETSCH, M. D.; BRAUN, P.; GLAT, R. Estratégias pedagógicas para a
inclusão de alunos com deficiência mental no ensino regular. In: In: GLAT, R. (org.).
Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. (Coleção Questões atuais em Educação
Especial, v. VI), Editora Sete Letras, Rio de Janeiro, p. 79-96, 2007.
JANNUZZI, G.S.M. A Educação do Deficiente no Brasil dos Primórdios ao Início do Século
XXI. 2ª edição, Campinas – São Paulo. Autores Associados, 2006. (Coleção Educação
Contemporânea).
KASSAR, M.C.M. Educação Especial no Brasil: desenvolvimento e desafios no
reconhecimento da diversidade. Educ.Soc. Campinas, v.33, Nº 120, p. 833- 849, 2012.
Disponível em: <http: //www.cedes.unicamp.b>
MANTOAN, M.T.E., GOMES, A.L.L.V., FERNANDES, A.C.,BATISTA,C.A.M.,
SALUSTIANO,D.A. & FIGUEIREDO, R.V.de. Formação Continuada à Distância de
Professores para o Atendimento Educacional Especializado – Deficiência Mental.
SEESP/SEED/MEC, Brasília/ DF – 2007. Disponível em:
portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf acessado em 01/11/14.
MAZZOTTA, M.J.S. Educação Especial no Brasil: histórias e políticas públicas. São Paulo,
Cortez, 1996.
MENDES, E.G. Breve histórico da Educação Especial no Brasil. Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil, 2010. Revista Educación y Pedagogia, vol. 22, Nº 57,
2010.
MIRANDA, A.A.B. Educação Especial no Brasil: desenvolvimento histórico. Cadernos de
História da Educação, Nº. 07, 2008. Disponível em:
www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/1880/1564 acessado em 30/9/14.
MUNIZ,E.P. Conceito de deficiência mental no século XX: construção e a (des)construção do
conceito com ênfase patológica. In: III Congresso Brasileiro de Educação Especial e IV
Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial. pp. 1-9 São
Carlos: UFSCar, 2008.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, de
10 de dezembro de 1948. Disponível em
<http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm> Acesso em janeiro
de 2014.
PIMENTEL, S.C. Conviver com a Síndrome de Down em Escola Inclusiva. Mediação
Pedagógica e formação de Conceitos. Editora Vozes, 2012.
PLETSCH, M. D. & OLIVEIRA, A. A. S. de. O Atendimento Educacional Especializado
(AEE): análises da sua relação com o processo de inclusão escolar na área da deficiência
intelectual. In MILANEZ, S. G. C.; oliveira, A. A. S. de.; MISQUIATTI, A.R. N. (orgs)
Atendimento Educacional Especializado para Alunos com Deficiência Intelectual e
Transtornos Globais do Desenvolvimento. Editora Cultura Acadêmica, São Paulo/SP, 2013,
p.61-82.
PLETSCH, M. D. A Formação de Professores para a Educação Inclusiva: legislação,
diretrizes políticas e resultados de pesquisas. In: Educar em Revista, Nº 33, p. 143-156,
Editora UFPR, 2009.
_________.Escolarização de Pessoas com Deficiência Intelectual no Brasil: da
Institucionalização às Políticas de Inclusão. (1973-2013). AAPE /EPAA VOL.22, Nº. 81,
2014.
_________.A dialética da inclusão/exclusão nas políticas educacionais para pessoas com
deficiências: um balanço do governo Lula (2003- 2010) Revista Teias,V.12, Nº 24, p.39-55,
2011. Movimentos Sociais Processos de Inclusão e Educação.
_________.Repensando a Inclusão Escolar de Pessoas com Deficiência Mental: diretrizes,
políticas, currículo e práticas pedagógicas / Márcia Denise Pletsch – 2009. 254 f. Orientadora:
Rosana Glat – Tese (doutorado) – Universidade Estadual do Rio de janeiro – Faculdade de
Educação.
REDIG, A. G. Ressignificando a Educação Especial no Contexto da Educação Inclusiva: a
visão de professores especialistas. 2013 183f Dissertação (Mestrado) Faculdade de Educação
– Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
ROCHA, M. G. S.da, PLETSCH, M. D. O Atendimento Educacional Especializado (AEE)
para Alunos com Deficiência frente à Políticas de inclusão Escolar: um estudo sobre as
práticas pedagógicas. Revista Aleph, Ano VIII – Nº20, p. 222-240, 2013 disponível em:
revistaleph.uff.br/index.php/REVISTALEPH/article/download/70/63.
SHIMAZAKI, E.M. PACHECO, E.R. Orgs. Deficiência e Inclusão Escolar. Aprendizagem e
Desenvolvimento das Funções Complexas do Pensamento e a Deficiência Intelectual na
Perspectiva histórico-cultural. GARCIA, D.I.B. Maringá – Eduem, 2012.
UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades
básicas de aprendizagem. Jomtien, 1990. 1998.
VIGOTSKI, L.S. Fundamentos da defectologia. Obras escogidas V. Visos. Madrid, 1997.