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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM ASPECTOS DO COMPORTAMENTO REPRODUTIVO E A INFLUÊNCIA DE FATORES ECOLÓGICOS SOBRE O SUCESSO NO ACASALAMENTO DE COLOSTETHUS SP. NA AMAZÔNIA OCIDENTAL Jesus Rodrigues Domingos de Souza Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós- Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do Convênio Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia / Universidade Federal do Amazonas como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, Área de Concentração em Ecologia. g045 Manaus / Amazonas )a 2004

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA · Victor, pelo aprendizado pessoal convivendo com uma mistura tão seleta de "culturas". Aos amigos que fiz durante os cursos

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPAUNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM

ASPECTOS DO COMPORTAMENTO REPRODUTIVO E A INFLUÊNCIA DEFATORES ECOLÓGICOS SOBRE O SUCESSO NO ACASALAMENTO DE

COLOSTETHUS SP. NA AMAZÔNIA OCIDENTAL

Jesus Rodrigues Domingos de Souza

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais doConvênio Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia /Universidade Federal do Amazonas como parte dos requisitospara obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, Áreade Concentração em Ecologia.

g045 Manaus / Amazonas)a 2004

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPAUNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM

ÍMÜT09 íi^ra]

ASPECTOS DO COMPORTAMENTOFATORES ECOLÓGICOS SOBRE O SUCESSO NO ACASALAMENTO DEFATORES SP ̂ A AMAZÔNIA OCIDENTAL

Jesus Rodrigues Domingos de Souza

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais doConvênio Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia /Universidade Federal do Amazonas como parte dos requisitospara obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, Areade Concentração em Ecologia.

Manaus / Amazonas

2004

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA W*UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS UF

COLOSTETHUS SP. NA AMAZÔNIA OCIDEINI AL

Jesus Rodrigues Domingos de Souza

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pot-gSSÕ em Biologia Trapieal e Reeurs^Convênio Instituto nacional de Pesquisas da AmazôniaUniversidade Federal do Amazonas como parte dw requisitospara obtenção do título de Mestre em Ci&icias Biológicas, Áreade Concentração em Ecologia.

C\'>'

Orientadora: Dra. Albertina Pimentel Lima

Manaus / Amazonas2004

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Souza, Jesus Rodrigues Domingos de

Aspectos do comportamento reprodutivo e a influência de fatores

ecológicos sobre o sucesso no acasalamento de Colostethus sp. na

Amazônia Ocidental. / Jesus Rodrigues Domingos de Souza - 2004

52 f; il. color.

Dissertação (mestrado) - INPAAJFAM, 2004.

1. Colostethus 2. Sucesso no acasalamento 3. Comportamento social

4. Biologia reprodutiva 5. Amazônia Ocidental

CDD 19. ed. 597.8045

Sinopse:

Investigou-se aspectos do comportamento reprodutivo e social de

uma espécie de Colostethus que ocorre em uma floresta secimdáiia naAmazônia Ocidental. Detalhes do comportamento territorial, corte,

acasalamento, oviposição e cuidado paiental são descritos.

Também foram investigados os efeitos do comprimento do macho,

da disponibilidade de alimento, da disponibiüdade de folhas para

oviposição, do tamanho do território, da altura do poleiro e da cobertura

vegetal sobre o sucesso no acasalamento dos machos em uma estação

reprodutiva.

Palavras-chave: Colostethus, sucesso no acasalamento, comportamento

social, floresta secundária, biologia reprodutiva.

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AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPqpela bolsa concedida em parte do mestrado.

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia — INPA e UniversidadeFederal do Amazonas — UFAM por contribuírem em mais uma etapa de meuaprendizado.

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia — INP A pela passagem aéreano trecho Rio Branco-Manaus.

A Universidade Federal do Acre e a direção do Parque Zoobotâmco, porpermitirem o uso da área para realização desta pesquisa.

Ao Departamento de Ciências Agrárias por disponibilizarem os dadosmeteorológicos.

A Universidade Federal do Acre — UFAC e Direção do Parque Zoobotâmcopela gentileza de ter cedido a área para que o estudo fosse desenvolvido.

A Dra. Albertina Pimentel Lima, pelo desafio da orientação, pela paciência,ajuda financeira no período crítico de coleta de dados, pela ajuda durante a coleta dedados que foi crucid para realização deste trabalho e pelas valiosas sugestões quemelhoraram em muito este trabalho.

A Dra. Claudia Keller pela ajuda na coleta de dados e pelo suporte técnico nouso do programa Ranges V.

A M.SC. Carmozina Araújo, pela ajuda na seleção e pesagem dosinvertebrados do solo.

Aos integrantes da banca examinadora do plano de dissertação. Dr. WUsonSpironello, Dr. Flávio Luisão e Dra. Cláudia Keller, pelas importantes sugestões.

Ao Dr. Moisés B. de Souza, responsável direto pelos meus primeiros passosno estudo dos anuros e que me deu a oportimidade de conhecer um pouco mais essascriaturas tão maravilhosas.

Ao Dr. Walter Hõdl, pela ajuda na elaboração do abstract.

Ao pessoal da CPEc-INPA, professores e funcionários. De forma especial àIza e à Geize, que me socorreram nas dúvidas burocráticas constantes e problemas"informático-metafísicos".

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11

Aos meus ajudantes de campo em Rio Branco, Manlia Souza Chaves e MagnoSouza Chaves, sem os quais este trabalho não seria possível.

Aos amigos do mestrado (por ordem alfabética) i Adeilson, Amanda, Bruce,Cris, Fabiano, Fabrizio, Juliana, Karl, Maria Cecília, Maria Clara, Marcelo, Paula eVictor, pelo aprendizado pessoal convivendo com uma mistura tão seleta de"culturas".

Aos amigos que fiz durante os cursos de campoi Silves, Janauaca e ReservaDucke. Pelas boas conversas, pela ajuda e companheirismo nas diversas atividades e,pela oportunidade de estar presente em lugares tão especiais.

A Irlan R. Sandra, pelo empréstimo da filmadora, que permitiu entender umpouco mais sobre a biologia reprodutiva de Colostethus sp.

A Aélico P. Neto, pelas inúmeras vezes que pacientemente resolveu osproblemas relacionados à informática, permitindo dessa forma que parte do trabalhofosse realizado em Rio Branco.

A Maria Augusta B. Rosas, pelas inúmeras passagens aéreas no trecho RioBranco-Manaus-Rio Branco.

A família Crispim: Clarice (minha segunda mãe), Clara e Clecia (mi^ascunhadas predUetas) Rutemberg e Rutemarque (meus ̂jos da guarda) e Nil (o^aposemático), pelo carinho, pelas orações, pela paciência e pelo amor. Nada e taobom quanto ter amigos-irmãos-verdadeiros. Eu me sinto honrado em te-los em minhavida.

A minha mãe, Djanira, pela ajuda financeira durante minha estacüa emManaus, pela força que sempre me deu e ao meu urmão Reginaldo Domingos porestarem presentes em minha vida.

A minha esposa Clivia, pela paciência, pelo amor, pela ajuda e,principalmente por suportar a angústia da distância. Essa é a maior prova de amor queum homem pode ter. E ao nosso filho Lucas, nossa mais preciosa jóia, por tudo o queele trouxe de bom em nossas vidas.

Ao acaso de tudo, inclusive da evolução, sem a qual nada disso seria possível.

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111

A meu pai (em memória) por tudoque ele é e à minha mãe.

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IV

SUMÁRIO

Resumo..

Abstract.

Introdução geral.

Área de estudo....

Capítulo I

Biologia reprodutiva de Colostethus sp.

.VII

VIII

... 1

...5

Introdução

Material e métodos

Tamanho de machos e fêmeas e distribuição espacialPadrão anual e diário de atividade de vocalização

Estimativas de desovas e cuidado parental

Comportamento de corte, acasalamento e oviposiçãoResultados

Tamanho de machos e fêmeas e distribuição espacial

Padrão anual e diário de atividade reprodutiva

Padrão diário de vocalização

Padrão anual de vocalização

Comportamento de vocalização

Comportamento de corte, acasalamento e oviposição

Comportamento de corte e acasalamento18Comportamento de oviposição20

Retorno do macho90

Padrão anual de desovas e cuidado parental ^

I

9

9

10

10

II

12

12

15

15

. 15

. 16

. 17

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2"?Discussão

Distribuição espacial entre machos e fêmeas 23Padrão anual e diário de atividade de vocalização 25

Padrão anual de desovas

Comportamento de corte, acasalamento e oviposição 27

Cuidado parental

Capítulo II

Sucesso no acasalamento em Colostethus sp.

32Introdução

35Material e métodos

35Estimativa de sucesso no acasalamento

35Disponibilidade de alimento

Cobertura vegetal36

Número de folhas para oviposição37

Persistência na atividade de vocalização37

Altura do poleiro

Análise estatística

39Resultados

Discussão

Conclusões gerais

Referências bibliográficas

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VI

LISTA DE FIGURAS

Figuras do Capitulo 1:

Fig. 1 - Indivíduo macho de Colosteíhus sp. em atividade de vocalização 4

Fig. 2 — Indivíduo fêmea de Colosteíhus sp 4Fig. 3 - Mapa do Estado do Acre com destaque para a vista aérea do Parque

Zoobotânico ^

Fig. 4 - Diferença entre o número de machos e fêmeas capturados 13Fig, 5 _ Variação no comprimento rostro-uróstilo entre machos e fêmeas 13

Fig. 6 - Distribuição espacial de machos e fêmeas 14Fig. 7 - Número médio de machos vocalizando ao longo do dia 15Fig. 8 - Número médio de machos vocalizando em relação a

precipitação mensal

Fig. 9 — Comportamento de corte, acasalamento e oviposição de19

Colostethns sp

Fig. 10 — Número de desovas produzidas em relação aprecipitação mensal 21

Fig. 11 —Número de girinos transportados em relação ao comprimentorostro-uróstilo

Figuras do Capitulo II:

Fig. 12 — Relação entre as parciais do número de desovas por território e

as demais variáveis independentes 40

Fig. 13 - Relação entre o número de desovas por território e persistênciana atividade de vocalização 41

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vil

RESUMO

Neste trabalho eu investiguei aspectos do comportamento reprodutivo e social,

assim como o efeito de variáveis ecológicas sobre o sucesso no acasalamento de uma

espécie de Colostethus que ocorre em uma floresta secundária na Amazônia

Ocidental. O estudo foi realizado em uma área de 875 m^ no Parque Zoobotânico da

Universidade Federal do Acre, no município de Rio Branco, Acre. A área foi visitada

diariamente entre 0430 e 1830 de outubro de 2002 a maio de 2003 e semanalmente

em junho de 2003. A reprodução ocorre durante a estação chuvosa. Todos os animais

capturados dentro da área de estudo foram marcados individualmente através do corte

de um ou mais artelhos. Machos são menores que as fêmeas e vocalizaram

principalmente pela manhã e ao entardecer. Apenas os machos defenderam

territórios, enquanto as fêmeas se mantiveram em áreas em média maiores que os

territórios dos machos. A corte, acasalamento e oviposição ocorreram no período da

manhã. A oviposição ocorreu na face inferior de folhas, preferencialmente verdes, em

média a 7 cm do chão. O sistema de acasalamento é poligâmico com fêmeas

acasalando com mais de um macho e machos acasalando com mais de uma fêmea.

Machos cuidam da desova e depositam as larvas em poças temporárias. A análise de

regressão múltipla relacionando o tamanho do macho, a disponibilidade de alimento,

número de folhas para oviposição, atividade de vocalização, altura do poleiro e

tamanho do território ao número de desovas por macho, indicou que a atividade de

vocalização é o principal fator a influenciar o sucesso no acasalamento de

Colostethus sp.

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Vlll

ABSTRACT

I investigated the reproductive and social behavior as well as ecological

variables affecting the mating success of Colosíeíhus sp. inhabiting a secondaiy

forest in the Brazilian Amazon. I carried out the study in an area of 875 m within the

Parque Zoobotânico of the University of Acre, municipality of Rio Branco, Acre

state, Brazil. The area was visited daily between 0430 AM and 6:30 PM between

October 2002 and May 2003 and weekly in June 2003. Reproduction occurs during

the rainy season. Ali individuais caught within the sudy area were individually

marked by toe clipping. Females exceed males in body size. Male calling activity was

most intense in the moming and at dusk. Only males defended territories. Females

used areas that were geneially larger than the territories of males. Courtship, mating

and oviposition occurred in the moming. Oviposition generally occurred on

undersurfaces of green leaves that were, at a mean to 7 cm above the ground. The

mating system was polyginous and polyandrous with females mating with more than

one male and males mating with more than one female within the reproductive

season. Males guarded clutches and camed the tadpoles to temporary ponds. The

multiple regression analysis relating male's size, food availability, number of leaves

available for oviposition, calling activity, perch height and territorial size to number

of clutches obtained by each male, indicated that calling activity was the main factor

to influence mating success in this species.

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INTRODUÇÃO GERAL

O gênero Colostethus é considerado um grupo ancestral dentre os

dendrobatídeos pela ausência de alcalóides tóxicos e pela coloração cnptica da

pele (Myers et al, 1978). Todas as espécies ocorrem nas Américas Central e do

Sul, distribuindo-se da Costa Rica ao sudeste do Brasil e Ilha Martmica (Frost,

2002). São encontradas nos mais variados gradientes de altitude, tanto ao nível do

mar (Kaiser & Altig 1994) quanto em ambientes acima de3.000 m, como é o

caso do Colostethus thorntoni (Cochian & Goin, 1970).

O conhecimento, tanto taxonômico quanto ecológico, acerca das espécies

de Colostethus tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Atualmente

existem 113 espécies (Frost, 2003), sendo que nos últimos três anos foram

descritas cinco novas espécies (Grant & Rodriguez, 2001; Grant & Ardila-

Robayo, 2002; Lima & Caldwell, 2001; Caldwell & Lima, 2003), das quais, duasforam descritas paia Amazônia brasileira. Além disso, o conhecimento sobre

história natural, ecologia e biologia reprodutiva de Colostethus também têm

aumentado significativamente (Dole & Durant, 1974, Wells, 1980a, b, c,

Summers, 1990; Praderio & Robinson, 1990; Jimcá et al, 1994, Cummins &

Swan, 1995; Lüddecke, 1999; Lima et al, 2002; Boume et al, 2001; Lima &

Keller, 2003).

Todas as espécies conhecidas de Colostethus são diurnas, com exceção de

Colostethus subpunctatus (Fandino et al, 1997), que vocaliza e efetua o transporte

larval em períodos diurnos e noturnos. A maioria das espécies é encontrada

próxima a ambientes aquáticos, depositam ovos em ninhos terrestres e efetuam o

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transporte larval, exceto para espécies nas quais os girinos se desenvolvem

completamente em ninhos terrestres (Juncáeí a/, 1994;Kaiser&Altig, 1994;

Caldwell & Lima, 2003).

Apesar de ser um grupo com ampla distribuição, a biologia reprodutiva de

poucas espécies tem sido investigada. Entretanto, mesmo com poucos estudos,

tem-se registrado uma grande diversidade de modos e comportamentos

reprodutivos. É possível encontrar espécies com características ancestrais como

amplexo durante o acasalamento (e. g. Juncá, 1998; Lima & Keller, 2003) e,

espécies que realizam apenas interações táteis durante a corte (Wells, 1980b,

Lüddecke, 1999; Boume et al, 2002; Lima et al, 2002), o que se considera uma

característica derivada dentre os dendrobatídeos (Weygoldt, 1987).

Demonstrações de agressividade, geralmente estão associadas à defesa de

um território. Há espécies em que apenas os machos são agressivos (Lima et al,

2002). Em outras, notadamente Colostethus trinitatis (Wells, 1980a), as fêmeas

são mais territoriais que os machos, os quais raramente defendem territórios. Há

ainda espécies nas quais machos e fêmeas defendem territórios contra qualquer

indivíduo, inclusive de outras espécies (Wells, 1980b).

O cuidado com as desovas tem sido registrado apenas para machos, exceto

para Colostethus inguimlis (Wells, 1980c), na qual a fêmea realiza todo o cuidado

parental. O transporte de girinos pode ser efetuado exclusivamente por machos (e.

g. Fandino et al, 1997; Wells, 1980a; Lüddecke, 1999), por machos e

esporadicamente por fêmeas (Aichinger, 1991) ou exclusivamente por fêmeas

(Wells, 1980b). Além disso, apenas para C. inguinalis (Wells, 1980c) foi

registrado o crescimento de girinos durante o transporte larval, bem como cuidado

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biparental com provisão de alimento para as larvas, através de ovos infertilizados,

registrado para Coloslethus beebei (Boume et al. 2001), conhecido até então

apenas para o avançado gênero Dendrobates.

Girinos endotróficos, os quais desenvolvem-se completamente em ninhos

terrestres e zis larvas não são transportadas para ambientes aquáticos, já foram

registradas para Colostethus chalcopis (Kaiser & Altig, 1994), C stepheni (Juncá

et al 1994) e C nidicola (Caldwell & Lima, 2003). Há ainda um caso interessante

de endotrofia registrado para C. degranvillei cujas larvas completam o -

desenvolvimento no dorso do pai (Lescure, 1984).

A espécie objeto do presente estudo ainda não foi descrita, portanto será

referida como Colostethus sp. (Fig. 1 e 2). Trata-se de uma espécie de

dendrobatídeo encontrada em uma floresta secundána no município de Rio

Branco, Estado do Acre, que possui um modo de reprodução ainda não descrito

para a família Dendrobatidae, o que a toma um interessante objeto de estudo.

Nesta dissertação serão apresentados dados sobre a biologia e ecologia

comportamental de Colostethus sp., distribm'dos da seguinte forma:

No capítulo I, são apresentados dados de distribuição espacial de machos e

fêmeas, do comportamento de corte, acasalamento e oviposição, descrição do

comportamento de vocalização e do cuidado parental em uma estação reprodutiva.

No capítulo II, são avaliados a influência do tamanho do macho, do

tamanho do território, da atividade de vocalização, da disponibilidade de

alimento, da disponibilidade de locais para oviposição, da altura do poleiro e da

cobertura vegetal do território, sobre o sucesso no acasalamento dos machos.

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Fig. 1. Macho de Colostethus sp. em atividade de vocalização noParque Zoobotânico, Rio Branco, Acre.

Fig. 2. Fêmea de Colostethus sp. no Parque Zoobotânico, RioBranco, Acre.

h

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ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi desenvolvido na área do Parque Zoobotânico do Campus da

Universidade Federal do Acre, um fragmento florestal urbano localizado no

município de Rio Branco (09° ST S e 67° 52' O). O parque situa-se a oeste do

Campus, com cerca de 100 hectares de floresta secundária (Fig. 3). A porção norte

do parque possui remanescentes de floresta madura com algumas árvores

alcançando cerca de 30 m de altura e é drenada pelo igarapé Dias Martins. O

restante da área é caracterizado como floresta secundária em diferentes estágios de

recuperação, denominados localmente de "capoeira". De acordo com Meneses-

Filho et al, (1995) existem no parque três perfis de capoeira: Capoeira baixa onde

poucos indivíduos ultrapassam 15 m de altura; Capoeira média com alta

freqüência de indivíduos que alcançam 20 m de altura; Capoeira alta onde existe

alta freqüência de indivíduos que ultrapassam 20 m de altura e dossel fechado.

O clima do município de Rio Branco é segundo Kõppen, do tipo AM

(tropical úmido), caracterizando-se dessa forma por apresentar temperatura média

do mês mais frio sempre superior a 18° C. Possui uma estação seca ou estiagem

com poucas chuvas que ocorre de junho a setembro e outra bastante chuvosa de

outubro a maio.

A precipitação média anual ultrapassa 2.000 mm e a umidade relativa do

ar é considerada alta, apresentando valores anuais em tomo de 85%. A

temperatura média anual situa-se entre 26° e 27° C, com pequenas variações.

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Fig. 3. Mapa do Estado do Acre com destaque para a vista aérea do ParqueZoobotânico (PZ), no município de Rio Branco.Foto: Edson Guilherme.

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CAPÍTULO I

BIOLOGIA REPRODUTIVA DE Colostethus sp.

INTRODUÇÃO

Estudos sobre biologia reprodutiva do gênero Colostethus iniciaram com

Test (1954) que descreveu alguns detalhes do comportamento territorial de

Phyllobates {Colostethus) trinitatis. Posteriormente, Sexton (1960) descreveu

mais detalhadamente alguns aspectos do comportamento e estrutura do território

para a mesma espécie. Desde então, o conhecimento acerca do comportamento

social neste gênero vem crescendo e despertando interesse. Entretanto, ainda são

poucas as espécies de Colostethus que têm sido investigadas continuamente,

sendo que detalhes de biologia reprodutiva são conhecidos para somente cerca de

10 % das espécies.

Muitos aspectos do comportamento social, tais como o de defesa de uma

área temporária ou permanente e a agressividade de machos e fêmeas têm sido

investigados em algumas espécies (Dole, 1975; Durant & Dole, 1975; Wells,

1980a; Wells,1980b). Entretanto, somente para Colostethus inguinalis a

distribuição espacial de machos e fêmeas foi descrita (Wells,1980b). Da mesma

forma, aspectos do comportamento de corte são conhecidos para muitas espécies

de Colostethus (Dole & Durant, 1974; Wells, 1980a; Wells, 1980b; Juncá, 1998;

Lüddecke, 1999; Boume et al, 2001; Lima e al, 2002), porém, detalhes do

comportamento de acasalamento e da oviposição são descritos apenas para

Colostethus stepheni e C marchesianus (Juncá, 1998), C. palmatus (Lüddecke,

1999) e C. caeruleodactylus (Lima et al^ 2002).

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Com exceção de Colostethus inguinciilis (Wells, 1980b), C. trinitotis

(Wells, 1980a) e C beebei (Boume et ai 2001) que são ativos durante o ano

inteiro, a atividade reprodutiva de Colostethus ocorre apenas durante a estação

chuvosa. Entretanto o ciclo reprodutivo anual foi investigado apenas em C.

stepheni e C. marchesianus (Juncá, 1998) e o ciclo de atividade diária é conhecido

apenas para três espécies, C palmatus (Lüddecke, 1999), C stepheni e C.

marchesianus (Juncá, 1998).

Detalhes relacionados à fertilização dos ovos não foram descritos para

nenhuma espécie de Colostethus. Além disso, o cuidado parental foi investigado

detalhadamente apenas para Colostethus palmatus (Lüddecke, 1999) e C. beebei

(Boume et al, 2001) e o transporte larval é bem compreendido apenas em C.

inguinalis (Wells,1980c).

Apesar de ser considerado um gênero ancestral dentre os dendrobatídeos,

Colostethus possui espécies com comportamentos derivados, como, por exemplo,

C. beebei, cuja fêmea alimenta os girinos com ovos infertilizados (Boume et al,

2001), e espécies com girinos que se desenvolvem completamente em ninhos

terrestres (Kaiser & Altig, 1994; Juncá et ai 1994; Caldwell & Lima, 2003;

Lescure, 1984). Esta diversidade na biologia reprodutiva demonstra que estudos

detalhados são essenciais para o entendimento da evolução do comportamento

social e reprodutivo dentro do gênero Colostethus.

Neste capítulo descrevo um modo reprodutivo inédito para a família

Dendrobatidae. Além disso, investigo a distribuição espacial de machos e fêmeas,

o comportamento de corte, acasalamento e oviposição e o padrão anual e diário da

atividade de vocalização.

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MATERIAL E MÉTODOS

As observações de campo foram realizadas em uma parcela de 875 m na

porção cential do parque, caracterizada como capoeiras média e alta. A área foi

subdividida em um sistema de trilhas formando subparcelas de 5 x 5 m. A área foi

visitada diariamente (exceto aos domingos) entre 0430 e 1830 de outubro de 2002

a maio de 2003 e semanalmente em junho de 2003. Os dados de precipitação

foram obtidos da estação meteorológica da Universidade Federal do Acre,

localizada no Campus, a cerca de 500 m da área.

Rinmetria. marcação e distribuição espacial dos indivíduos

Os animais capturados dentro da parcela foram medidos, identificado o

sexo e marcados através do corte do artelho seguindo o sistema de Hero (1989). O

comprimento rostro-uróstilo foi medido com paquímetro com precisão de 0,1 mm.

Os indivíduos marcados foram devolvidos no mesmo local de captura. As

posições de captura e recaptura foram sinalizadas com bandeiras plásticas

numeradas. Apenas os machos que se mantiveram por mais de um mês

vocalizando na área de estudo foram considerados machos residentes. O tamanho

e a forma dos territórios (machos) ou área de vida (fêmeas) foram calculados

mapeando-se todas as posições de captura e recaptura, usando-se o método do

mínimo polígono convexo através do programa Ranges V (Kenward & Hodder,

1995).

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Padrão anual e diário de atividade de vocalização

Para estimar o número de machos vocalizando foram realizados censos

uma ou duas vezes por semana, com intervalo mínimo de dois dias entre censos,

iniciando às 0430 h e finalizando às 1830 h. Apartir das 1800 h já não havia

machos em atividade de vocalização. A contagem dos indivíduos foi realizada em

intervalos de uma hora percorrendo-se as trilhas dentro da área de estudo. Para

descrever o padrão diário da atividade de vocalização foram utilizados a média e o

desvio-padrão de dezesseis censos realizados entre-dezembro e março, período de

maior atividade de vocalização dos machos. Nas semanas que foi realizado mais

de um censo, foi escolhido aquele que apresentou o maior número de animais

vocalizando. Para o padrão anual de atividade de vocalização foram utilizados a

média e o desvio-padrão de quatro monitoramentos mensais realizados entre

outubro de 2002 e junho de 2003.

Estimativas de desovas e cuidado parental

O número de desovas dentro da área foi estimado por censos semanais.

Nestes censos as desovas foram procuradas em folhas secas e verdes até uma

altura de 30 cm. Nas desovas encontradas foram medidos os seguintes parâmetros:

(a) número de ovos ou embriões, (b) estágio de desenvolvimento da desova, (c)

altura em relação ao solo e (d) tipo de folha utilizada (verde ou seca). Cada desova

foi sinalizada com uma bandeira numerada e monitorada a cada dois dias para

observação do estágio de desenvolvimento. Machos transportando girinos foram

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capturados. O comprimento rostro-uróstilo foi medido e o número de larvas

transportadas foi quantificado.

Comportamento de corte, acasalamento e oviposicão

As trilhas foram percorridas silenciosamente no período da manhã

procurando-se fêmeas com região ventral dilatada próximas a machos em

atividade de vocalização. Uma vez localizado o casal em potencial, sentava-se

quietamente há uma distância de cerca de 2 m e efetuavam-se os seguintes

registros de comportamento: (a) início da corte (quando o macho avistou a fêmea

e passou a emitir vocalização de namoro); (b) distância entre o casal no início da

corte; (c) tempo gasto nas interações entre macho e fêmea sob a folha usada para

oviposição; (d) o momento em que o macho abandonou a folha de oviposição

(final da corte); (e) tempo gasto pela fêmea durante a oviposição; (f) tempo que o

macho gastou para retomar à desova e (g) tempo gasto sobre a desova.

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RESULTADOS

Dimorfismo sexual

Foram capturados 181 indivíduos, sendo 105 machos e 76 femeas. Em

outubro foram marcados 71 machos e 41 fêmeas, o que resultou em uma razao

sexual de aproximadamente 2il. Nos meses seguintes as novas capturas

reduziram-se e a razão sexual foi de 111, mantendo-se relativamente constante

para o resto do período reprodutivo (Fig. 4). Do total de machos marcados, apenas

38,1% (N=40) permaneceram na área e foram recapturados até o final da estação

reprodutiva. Do total de femeas, 47,3% (N=36) foram recapturadas nos meses

seguintes. O comprimento rostro-uróstilo dos machos variou de 15,2—18,1 mm

(média=16,7; DP ± 0,5; N=105) e das fêmeas de 16,5-18,5 mm (média=17,6; DP

± 0,5; N=76). Fêmeas foram significativamente maiores que os machos (ANOVA,

Fi.i79=123.68; P< 0,001; Fig. 5).

Distribuição espacial

Os territórios dos machos variaram no tamanho (6,0 a 40,0 m ,

média=17,4) e na forma (Fig. 6). Os machos residentes defenderam territórios

apenas contra outros machos conspecíficos. A distância mmima observada entre

machos vocalizando sem que houvesse interações agonísticas (vocalização de

encontro ou combates físicos) foi de aproximadamente 1 m. Apesar do

espaçamento ter sido bem definido, houve sobreposição parcial no limite dos

territórios entre machos vizinhos (Fig. 6). As fêmeas permaneceram em áreas que

variaram de 14,0 a 79,0 m^ (média=34,8) e sobrepuseram-se em territórios de 2 a

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5 machos (Fig. 6). Houve maior sobreposição de áreas entre fêmeas que entre

machos (Fig. 6) Não foram registradas interações agonísticas entre fêmeas.

machos

fêmeas

outubro novembro dezembro janeiro

Fig. 4. Freqüência de captura de machos (barras escuras) e fêmeas (barras claras) nãomarcados de Colostethus sp. de outubro de 2002 a janeiro de 2003.

19.00

18.25

■5) 17.50

16.75

S 16.00

15.25

14.50Fêmea Macho

Fig. 5. Variação no comprimento rostro-uróstilo entre machos efêmeas de Colosíetus sp.

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14

I

m

-1

Fig. 6. Distribuição espacial de machos (painel superior) e fêmeas (p^el intermediário) deColostethus sp. durante a época reprodutiva de 2003 no Parque Zoobotânico, Rio Branco (Acre).O painel inferior mostra a sobreposição entre os territórios dos machos (azul) e fêmeas (rosa). Oscírculos indicam o local da primeira captura. A linha pontilhada indica o gride da área de estudo(875 m^).

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Padrão anual e diário de atividade reprodutiva

Padrão diário de vocalização - Os machos iniciaram a atividade de vocalização

pouco antes do nascer do sol, entre 0445 e 0500 h. O maior número de machos

vocalizando ocorreu às 0530 h, reduzindo-se no período entre 0730 e 1230 h,

voltando a crescer entre 1330 e 1630h. Nenhum macho vocalizou apartir das

1800h (Fig. 7).

04:30 05:30 06:30 07:30 08:30 09:30 10:30 11:30 12:30 13:30 14:30 15:30 16:30 17:30 18:00Hora do dia

Fig. 7. Distribuição do número médio de machos de Colostethus sp. vocalizando aolongo do dia baseado em dezesseis censos diários realizados entre dezembro emarço. As barras verticais indicam o desvio-padrão.

Padrão anual de vocalização - A atividade reprodutiva ocorreu na estação

chuvosa. Alguns machos já estavam vocalizando quando iniciamos o estudo na

primeira semana de outubro. Entretanto, o número de machos vocalizando foi

baixo, indicando início da estação reprodutiva. O número de machos vocalizando

aumentou com o aumento da precipitação mensal e manteve-se alto entre

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dezembro e março, caindo bruscamente em abril (Fig. 8). Em maio foi registrado

apenas um indivíduo vocalizando e em junho nenhum macho vocalizou.

320

machos

• precipitação

-- 200

o 10

Meses

Fie. 8. Distribuição do número de machos de Colostethus sp. vocalizando emrelação à precipitação mensal de outubro de 2002 a junho de 2003. As barrasverticais indicam os desvios-padrões.

EE

o1(0o

(O

Q.

'ü2>Q.

Comportamento de vocalização

As observações de comportamento de vocalização foram realizadas ao

acaso, durante o período de estudo. Colostethus sp. possui cinco vocalizações. O

canto mais comum pode ser ouvido até cerca de 20 m de distância. Este canto foi

o mais freqüentemente emitido pelos machos e por esse motivo foi considerado

vocalização de anúncio. O segundo canto consistiu de uma seqüência de notas

repetidas mais rapidamente e com mais intensidade que a vocalização de anúncio.

Foi registrado apenas quando machos vizinhos estavam próximos (cerca de 1 m) e

pode ser ouvido até cerca de 10 m de distância. O terceiro canto foi emitido

quando machos se aproximaram cerca de 40 a 60 cm um do outro e logo em

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seguida iniciarain o combate físico. Ambos foram considerados vocalização de

encontro ou de defesa do território. Durante os combates físicos machos emitiram

"piados" audíveis a cerca de 1 m. O quarto e quinto cantos foram ouvidos quando

casais estavam em cortejo e foram considerados vocalização de namoro. O

primeiro pode ser ouvido há aproximadamente 5 m de distância e foi registrado

em duas situações: (a) quando machos empoleirados perceberam a aproximação

de fêmeas e (b) quando machos conduziram fêmeas para o local de oviposição. O

segundo canto foi ouvido apenas quando machos conduziram fêmeas para o local

de oviposição. Trata-se de uma vocalização baixa, audível a cerca de 1 m. Este

canto é freqüentemente emitido intercalado com o primeiro.

Comportamento de corte, acasalamento e oviposição

Comportamento de corte e acasalamento - A seguinte descrição generalizada é

baseada em observações de 24 pares em atividade de acasalamento. Machos

emitiram vocalização de anúncio em folhas, galhos, troncos e raízes na

serrapilheira. O par iniciou o "passeio nupcial" quando a fêmea chegou entre 30-

40 cm do macho. O macho conduziu a fêmea para o local de oviposição emitindo

canto de namoro. Somente em três observações fêmeas mudaram de direção.

Nestes casos, os machos retomaram rapidamente e posicionaram-se em locais

altos, passando a emitir vocalização de anúncio, este comportamento trouxe a

fêmea de volta. Houve apenas um caso em que o par não continuou a corte. Os

casais utilizaram folhas verdes ou secas dispostas acima do chão para efetuar a

oviposição. Ao chegar embaixo da folha, o macho saltou e agarrou-se à superfície

inferior (Fig. 9a). Ele sentou-se na folha com a região posterior colada à superfície

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e os membros dianteiros levemente erguidos. De lá emitiu vocalização de namoro.

Poucos minutos depois a fêmea posicionou-se embaixo da folha e saltou ao lado

do macho, permanecendo com a região ventral colada à superfície da folha (Fig.

9b). Em doze observações fêmeas efetuaram mais de um de salto para aderir à

folha. Em duas observações a fêmea desistiu do local antes de saltar. Nas duas

desistências, folheis tinham pêlos na superfície inferior e o macho conduziu a

fêmea para outro local. O casal só interagiu fisicamente quando esteve sob a folha.

O macho se posicionou atrás da fêmea na maioria das vezes, ou ao lado e, com um

dos membros dianteiros efetuou batidas na região posterior da fêmea. Em seguida

o macho subiu no dorso da fêmea e efetuou batidas com as duas patas dianteiras,

uma de cada vez, na região dorso-lateral da fêmea. Não houve amplexo (Fig. 9c).

Logo em seguida o macho deixou o sítio de oviposição e reiniciou a atividade de

vocalização. O tempo gasto nas interações sob a folha variou de 4 a 10 min.

(média= 6,7; DP ± 2,1). As cortes ocorreram entre 5:00 e 11:17 h e duraram de 17

a 257 min. (média=78; DP ± 55). Machos sentaram em substratos úmidos tais

como folhas com água (N=8) ou fezes recém-postas de minhocas (N=3) antes de

voltarem ao sítio de oviposição.

Comportamento de oviposição - Após a saída do macho, a fêmea permaneceu

imóvel por alguns instantes no sítio de oviposição. A região ventral da fêmea

permaneceu unida à superfície foliar. Em seguida ela girou entre 30 e 45° no

sentido horário ou anti-horário em tomo do seu próprio corpo e iniciou a postura.

Os ovos são liberados um a um. Após cada liberação, a fêmea efetuou novo giro

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de aproximadamente mesmo ângulo e efetuou nova deposição (Fig. 9d). Ela

repetiu este movimento 2 a 3 vezes e depois deixou o sítio de oviposição. Não

possível determinar quando ocorre a fecundação dos ovos. Entretanto, desovas

removidas logo após a saída da femea (portanto antes do retomo do macho)

desenvolveram normalmente (N=3), o que sugere que o esperma é liberado antes

da oviposição. As oviposições ocorreram entre 5:54 e 11:22 h e duraram de 5 a

13 min. (média=8,5; DP ± 2,2).

Fig. 9. Comportamento de corte, acasalamento e oviposição de Colostethus sp. a)macho sob a folha e fêmea preparando-se para saltar; b) macho e fêmea sob a folha; c)interações táteis entre o casal; c) oviposição.

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Retorno do macho - O macho retomou ao local de oviposição entre 38 e 242 min

(média=131; DP ± 54) após a saída da fêmea. O macho se posicionou embaixo da

folha e salta ao lado da desova. Ele acomodo-se sobre a desova e com a região

ventral comprimiu os ovos contra a superfície da folha. Em seguida com as patas

traseiras, uma de cada vez, movimentou os ovos. Em seguida girou o corpo em

tomo de si cerca de 15 a 30° e com as patas traseiras repetiu o procedimento

descrito acima. Ele efetuou vários giros, ora no sentido horário ora no sentido

anti-horário repetindo os movimentos com as patas traseiras em intervalos

aproximadamente iguais. Ele repousou sobre a desova por alguns instantes e em

seguida deixou a folha. A gelatina aumentou aproximadamente duas vezes após a

seiída do macho. O tempo gasto pelo macho sobre a desova variou de 20 a 37 min

(média=26; DP ± 3,8).

Padrão anual de desova e cuidado parental

As primeiras desovas foram registradas no final do mês de outubro. O

período de maior produção ocorreu entre dezembro e março (Fig. 10). O maior

número de desovas registradas ocorreu em janeiro e fevereiro, coincidindo com os

meses de maior volume de chuvas (286,5 mm e 266,5 mm respectivamente; Fig.

10). As desovas distribuíram-se em alturas que variaram de 0,5 a 23,0 cm

(média=7,3; DP ± 3,1; N=760) em folhas verdes (81,5%) ou secas (18,5%). Os

ovos são brancos e o tamanho da desova variou de 5 a 15 ovos (média=8,2; DP ±

1,4). O desenvolvimento das desovas (período entre a postura e o transporte das

larvas) variou de 11 a 26 dias (média=16,2; DP ± 3,2; N=57). Não foi possível

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quantificar o número de vezes que machos retomaram à desova até efetuar o

transporte das larvas. Entretanto, machos retomaram à desova mais de uma vez

para hidratá-las. Machos que efetuaram cuidado parental se mantiveram

vocalizando e acasalando com novas parceiras. Machos acasalaram mais de uma

vez com a mesma parceira (N=19), cuidaram de 1 a 5 desovas ao mesmo tempo

(média=3; N=10) e não retiraram ovos ou embriões não-desenvolvidos das

desovas.

O número de larvas transportadas variou 2 a 24 (média=10,6; DP ± 7,2,

N=16). Não houve relação significativa entre o comprimento rostro-uróstilo do

macho e número de larvas transportadas (1^=0.000; P=0.945; Fig. 11). Apesar de

observar apenas machos cuidando da prole, capturei uma femea transportando

quatro girinos em janeiro de 2003 e em fevereiro de 2003, após o desaparecimento

de um macho de seu território, uma fêmea, provavelmente dona da desova,

visitou-a em três ocasiões no período de uma semana, efetuando finalmente o

transporte das larvas após uma pesada chuva.

90

Í8 75CO>

8 600■o

-g 45O

0 30EoZ 15

Ifl

desovas

precipitação

300

250

200EE

150 «roo(O

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ECL

100

50

OUt junnov dez jan fev mar abr maiMeses

Fig. 10. Distribuição do número de desovas produzidas de Colosteíhus sp. em relação aprecipitação mensal no período de outubro de 2002 a maio de 2003. As barras verticaisindicam o desvio-oadrão.

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22

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Comprimento rostro-uróstilo (mm)

Fig. 11. Número de girinos transportados em relação ao comprimentorostro-uróstilo do macho de Colostethus sp. Cada ponto representa umúnico macho, (n=17).

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DISCUSSÃO

Distribuição espacial entre machos e fêmeas

A distribuição espacial dos machos foi marcadamente diferente das

fêmeas. Havendo uma clara segregação entre os territórios dos machos, com

alguma sobreposição nos limites dos territórios. As fêmeas tiveram áreas de vida

em média maiores que os territórios dos machos e houve sobreposição nas áreas

de vida entre fêmeas. Machos defenderam territórios durante toda a estação

reprodutiva enquanto fêmeas não demonstraram agressividade umas com as

outras ou com machos.

O padrão de distribuição espacial observado para machos de Colostethus

sp. é característico de espécies territoriais, nos quais o espaçamento entre machos

pode reduzir a interferência de outros machos e possibilitar uma melhor

localização pelas fêmeas (Whitney & Krebs, 1975). Vários autores têm

demonstrado a defesa de uma área em espécies da família Dendrobatidae (e. g.

Donnelly, 1989; Roithmair, 1992, Crump, 1972; Wells, 1980b; Juncá, 1998; Lima

et al 2002; Prõhl, 1997). A posse de um território pode permitir acesso direto às

fêmeas de uma área ou aumentar a atratividade do residente (Wells, 1977),

entretanto, a função do território é variável entre espécies.

Em Dendrobatespumilio (Prõhl, 1997), machos não defendem territórios

para assegurar recursos alimentares, o que talvez também ocorra em Colostethus

caeruleodactylus (Lima et al, 2002). Em C. inguinalis (Wells, 1980b) o território

pode proporcionar abrigo, umidade, e locais para alimentação, tanto para fêmeas

quanto para machos. Na estação chuvosa, territórios de machos são maiores e

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fêmeas não são territoriais. Provavelmente neste período fêmeas são os recursos

disputados pelos machos e territórios grandes podem reduzir a interferência de

outros machos durante a corte, além de limitar a disponibilidade de locais de

vocalização para os competidores (Wells, 1977). Machos residentes

permaneceram na mesma área desde a primeira captura (exceto dois machos),

alterando pouco o tamanho do território ao longo da estação. Entretanto, nas áreas

de sobreposição dos territórios, houve intensa disputa entre os machos.

Provavelmente uma série de recursos pode estar sendo disputado além de fêmeas

(Wells, 1980b), dentre eles locais adequeidos para oviposição que nesta espécie

parece ser lun fator limitante.

Fêmeas agressivas têm sido registradas em algumas espécies de

Colostethus (Durant & Dole, 1975; Wells, 1980a; Junca, 1998). Nestas espécies,

os machos são menos territoriais, movem-se mais freqüentemente de uma área

para outra e efetuam o transporte de larvas. Em espécies com fêmeas pouco

agressivas (Wells, 1980b), machos defendem territórios durante a estação

reprodutiva e fêmeas efetuam o transporte de larvas. Fêmeas de Colostethus sp.

não são territoriais e aparentemente não usam nenhum tipo de comportamento

agressivo com outros indivíduos. De acordo com Wells (1980a), uma provável

explicação para a agressividade da fêmea, está relacionada em parte ao diferente

papel no cuidado parental, sendo difícil para o indivíduo manter um território e

efetuar o transporte larval. No entanto, em Colostethus sp. os machos defenderam

territórios e efetuaram o transporte larval, sugerindo que outros mecanismos

possam determinar a relação entre agressividade e cuidado parental.

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Padrão anual e diário de atividade de vocalização

Machos de Colostethus sp. vocalizaram apenas durante o período diurno,

com picos de vocalização pela manhã e ao entardecer. Este padrão de vocalização,

já registrado para outras espécies (Jaeger et al.^ 1976; Juncá, 1988), indica que

fatores abióticos tais como temperatura, umidade e intensidade da luz podem

influenciar a atividade de vocalização. Por exemplo, Colostethus nubicola (Jaeger

et ai., 1976) aumenta ou diminui a atividade de vocalização de acordo com a

variação na intensidade da luz e C. palmatus (Luddecke, 1999) diminui a

atividade de vocalização em dias ensolarados e aumentam a taxa de repetição de

notas em temperatura mais elevadas.

Machos de Colostethus sp. vocalizaram apenas na estação chuvosa. Esse

padrão é semelhante a outras espécies de Colostethus (Wells, 1980c; Aichinger,

1991; Juncá, 1998; Lima et al, 2002) e provavelmente está relacionado ao modo

de reprodução destas espécies, que necessitam de ambientes aquáticos para

deposição de girinos. Em Colostethus sp. nenhum macho depositou larvas em

água corrente (observação pessoal) e o transporte de girinos só foi observado

quando poças temporárias haviam se formado. Mesmo em espécies que possuem

girinos endotróficos, que se desenvolvem completamente em ninhos terrestres,

como por exemplom Colostethus stepheni, o pico de reprodução ocorre durante a

estação chuvosa (Juncá, 1998), sugerindo que locais ideais para oviposição,

podem ser um fator limitante para esta espécie.

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Padrão anual de desovas

Fêmeas depositaram ovos apenas na estação chuvosa, com o pico de

produção coincidindo com o mês de maior volume de chuvas, que ocorreu em

meados da estação. Padrão similar foi registrado para Colostethus

caeruleodactylus (Lima et aí, 2002), onde o maior número de desovas

encontradas ocorreu em março, mês com o maior volume de chuvas para a região.

A atividade reprodutiva de Colostethus sp. difere marcadamente de C. inguinalis

que reproduz o ano inteiro(Wells, 1980b). Este comportamento sugere que fêmeas

necessitam de locais úmidos para efetuarem a oviposição, conforme ocorre com

C. stepheni (Juncá, 1998). Em Colostethus palmatus (Lüddecke, 2003) fêmeas

preferem cavernas úmidas para oviposição. Considerando que em Colostethus sp.

as folhas utilizadas para oviposição localizam-se acima da serrapilheira,

temperatura e umidade, provavelmente são fatores limitantes para a reprodução

desta espécie.

Existem poucos dados publicados sobre aparência dos ovos e tamanhos da

desova no gênero Colostethus. Em Colostethus sp. os ovos são brancos, envoltos

em um líquido gelatinoso transparente, sendo em média 8,2 ovos por desova. Este

padrão difere das demais espécies de Colostethus (Juncá, 1998; Lima et al, 2002,

Wells, 1980; Wells, 1980b) no qual os ovos são pigmentados. Esta diferença na

coloração provavelmente está relacionada ao uso do substrato utilizado para

deposição dos ovos. Ovos pigmentados ficam camuflados na serrapilheira, sendo

provavelmente um pouco mais difíceis de serem vistos por predadores potenciais.

Por outro lado, ovos brancos, posicionados na superfície inferior das folhas, acima

da serrapilheira, como em Colostethus sp., podem estar mais bem protegidos do

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calor ou de predadores de ovos, tais como lagartos, como observado para

Colostethus caeruleodactylus (Lima et al, 2002).

Comportamento de corte, acasalamento e oviposição

O comportamento de corte, acasalamento e oviposição em Colostethus sp.

é complexo e envolve um repertório de interações vocais e táteis. Durante a corte

os machos conduziram as fêmeas para o local de oviposição, emitindo vocalização

de namoro. Comportamento similar foi registrado para outras espécies de

Colostethus (Wells, 1980a,b; Juncá, 1998; Lima et al, 2002). Ao contráno de C.

palmatus (Lüddecke, 1999) e C. inguinalis (Wells, 1980b), Colostethus sp. não

utiliza o saco vocal como display visual durante a corte. Nestas espécies o display

do saco vocal, desempenha um importante papel para a continuidade da corte.

Lüddecke (1999), usando um modelo de borracha, comprovou que fêmeas de C.

palmatus não prosseguiram a corte quando apenas a vocalização do macho foi

emitida.

Machos vocalizaram em substratos elevados, de modo sunilar ao de outras

espécies de Colostethus (Juncá, 1998) e Dendrobates (Crump, 1972; Goodman,

1971; Silverstone, 1973; Prõhl e Hõdl, 1999). Este comportamento pode aumentar

as chances de ser ouvido por outros machos e parceiras potenciais, advertindo

sobre sua posição, aumentando dessa forma, as chances de acasalamento.

Também pode permitir que machos observem visualmente a área ao redor

(Crump, 1972) ou que o som seja propagado com mais intensidade (Naguib &

Wiley, 2001). Eu obtive alguma evidência de que machos mudam a orientação do

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canto quando vocalizam, como observado em outras espécies (Goodman, 1971;

Crump, 1972; Silvestone, 1973; Juncá, 1998).

Eu observei machos saltando em folhas dois ou três dias antes de serem

utilizadas para oviposição, sugerindo que eles avaliam as folhas antes de conduzir

as fêmeas para o local de oviposição. Este comportamento foi observado em C.

stepheni (Juncá, 1998) e, de acordo com a autora, pode evitar a perda de tempo

procurando por "ninhos" e a interrupção da corte por outros machos. Entretanto,

apesar da seleção prévia do macho, aparentemente a fêmea seleciona o local de

oviposição, rejeitando folhas inadequadas (com excesso de poeira ou pêlos).

A maioria das espécies de Colostethus realiza amplexo exceto nos grupos

considerado derivados (Crump, 1972). Em Colostethus sp. não houve amplexo e,

as interações táteis só ocorrem quando o casal está sob a folha. Aparentemente os

toques realizados pelo macho na região dorso-lateral da fêmea têm como função

estimular a oviposição, similar a outros machos dendrobatídeos que massageam a

região abdominal das fêmeas, quando em amplexo (Juncá, 1998).

Eu observei fêmeas realizando retração dos olhos durante as interações

táteis. Este comportamento foi também observado em C. palmatus (Lüddecke,

1999). É possível que a retração dos olhos, funcione como uma espécie de

sinalização para o macho, desencadeando a liberação do esperma, que ocorre

antes da deposição dos ovos. Com base em observações de campo, é provável que

o macho deposite o esperma na região cloacal da fêmea, pouco antes de deixar o

local de oviposição. Em alguns casais perturbados, o macho abandonou a folha,

presumivelmente antes da deposição do esperma, e nestes casos, a fêmea não

realizou a oviposição. Assim, eu hipotetizo que o principal estímulo para a

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deposição dos ovos seja a descarga de esperma na região cloacal da fêmea.

Devido à dificuldade de observar os casais sob a folha sem perturbá-los,

experimentos em campo e observações mais detalhadas sobre o comportamento

de acasalamento e oviposição devem ser conduzidos no futuro.

Cuidado parental

Sapos da família Dendrobatidae realizam um interessante modo de

cuidado parental. Produzem pequenas desovas de ovos terrestres que são

atendidas por um ou ambos os pais e os girinos são carregados para um ambiente

aquático (Weygoldt, 1987), exceto nas espécies com girinos endotróficos

(Lescure, 1984; Juncá et al„ 1994; Kaiser & Altig, 1994; Cald^vell & Lima,

2003). Cuidado biparental com alimentação de girinos com ovos infertilizados é

praticado apenas nos gêneros considerados mais avançados (Weygoldt, 1987).

Com exceção de C. beebei (Boume et al, 2001)

Machos de Colostethus sp. que praticaram cuidado parental visitaram as

desovas regularmente, provavelmente para hidratá-las e cuidaram em média de

três desovas ao mesmo tempo. Nesse período, mantiveram-se vocalizando e

atraindo novas parceiras. Desovas múltiplas já foram registradas para C

caeruleodactylus (Lima et al, 2002), C. marchesianus e C. stepheni (Juncá, 1998),

entretanto, nessas espécies, um grande número de oviposições foi realizado em

folhas que já continham pelos menos uma desova. Colostethus sp. freqüentemente

depositaram uma desova por folha. Nunca foi observado larvas em estágios

diferentes em uma mesma desova, mas, em duas ocasiões, foi observado duas

desovas na mesma folha separadas por aproximadamente 10 cm uma da outra e

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em estágios diferentes de desenvolvimento. Em pelo menos cinco ocasiões folhas

foram reutilizadas para novas oviposições. Isto sugere que locais ideais para

oviposição podem constituir um fator limitante nesta espécie.

Em Colostethus palmatus fêmeas depositam uma única desova por

"ninho" e o cuidado parental é realizado exclusivamente pelo macho desde da

saída da fêmea após a oviposição até o treuisporte dos girinos para a água, que

dura de 12 a 28 dias, dependendo da temperatura (Lüddecke, 1999). Os machos

cuidam de apenas uma desova e durante esse período não vocalizam. Lüddecke

(1999) sugeriu que cuidado parental contínuo é incompatível com a atividade de

vocalização e atender múltiplas desovas como ocorre em C. stepheni só é possível

devido a ausência de transporte larval. Além disso, o mesmo sugeriu que espécies

com machos cuidando de múltiplas desovas podem receber ajuda das fêmeas

durante o cuidado com a prole.

Em C. caeruleodactylus (Lima et al, 2002), C. marchesianus (Juncá, 1998;

Lima & Keller, 2003) machos transportam girinos, têm múltiplas desovas e

continuam a vocalizar e atrair novas parceuas. Entretanto, Fêmeas de C.

marchesianus foram observadas transportando girinos (Aichinger, 1991). Em C.

inguinalis apenas as fêmeas transportam os girinos (Wells,1980b) e em C.

trinitatis (Wells, 1980a) machos transportam girinos e fêmeas são mais agressivas

que os machos. Em Colostethus sp. apenas os machos foram observados cuidando

da prole (hidratando desovas e transportando larvas), entretanto em quatro

ocasiões observei fêmeas embaixo de folhas que continham desovas.

Possivelmente essas fêmeas estavam observando as condições da desova. Além

disso, uma fêmea visitou periodicamente uma desova depois que o macho

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desapareceu do território e efetuou o transporte das larvas, sugerindo que pode

haver ajuda da femea durante o cuidado parental, conforme sugestão de Lüddecke

(1999) ou cuidado uniparental facultativo, praticado por um ou por outro sexo

como observado em Eleutherodactylus johnstonei (Boume, 1998).

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CAPITULO II

SUCESSO NO ACASALAMENTO EM Colostethus sp.

INTRODUÇÃO

Diversos estudos têm investigado a seleção de parceiros por fêmeas em

anuros e, têm-se registrado que características dos machos estão entre os

principais fatores a determinar a formação de pares em uma população (e. g.

Wells, 1977,1979; Howard, 1978; Ryan, 1983; Haddad & Cardoso, 1991;

Roithmair, 1992; Tejedo, 1995; Prõhl & Hõdl, 1999).

Atributos ou "displays" comportamentais, podem influenciar a escolha do

parceiro e conseqüentemente determinar o sucesso no acasalamento. Por exemplo,

é sugerido que machos maiores podem vocalizar por mais tempo, em virtude de

terem mais energia, ou controlar territórios maiores, podendo assim monopolizar

recursos que podem ser essenciais para a reprodução (Wells, 1977). Alguns

autores têm demonstrado que machos maiores acasalam com um maior número de

fêmeas (Wells, 1977; Howard, 1978; Ryan, 1983; Tejedo, 1992). Também se têm

demonstrado, em algumas espécies, que machos maiores permanecem por mais

tempo defendendo um local de vocalização (Tejedo 1992; Roithmair, 1992) ou

possuem um território maior (Roithmair, 1992). Além disso, pequena diferença no

tamanho em relação ao oponente pode proporcionar a vantagem na competição

intra-sexual, deslocando outros machos já em amplexo (Wells, 1979; Ryan, 1983).

Algumas características podem eventualmente serem usadas pelas fêmeas

para avaliar a qualidade ou tamanho do macho e, dessa forma assegurar alguma

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vantagem adicional na reprodução. Por exemplo, fêmeas de Physalaemus

pustulosus selecionam machos que vocalizam em freqüências mais baixas, os

quais são os maiores dentro da população (Ryan, 1983). Fêmeas de Epipedobates

femoralis selecionam os machos que vocalizam por mais tempo, os quais possuem

os maiores territórios durante a estação reprodutiva (Roithmair, 1992). Machos

que vocalizaram por mais tempo durante a estação reprodutiva (Tejedo, 1995;

Prõhl & Hõdl, 1999) ou que vocalizaram em poleiros mais altos (Prol & Hõdl,

1999) ou que emitiram cantos mais complexos (Haddad & Cardoso, 1991)

atraíram um maior número de fêmeas.

Muitos machos de espécies com reprodução prolongada estabelecem

territórios através da vocalização, os quais são utilizados e defendidos

exclusivamente pelo residente e dentro do qual outros machos não são tolerados.

O macho que domina um território possui uma certa vantagem competitiva em

relação aos seus competidores. Neste senso, território é definido como um espaço

relacionado à dominância (Kaufinan, 1983), no entanto, a fimção do território é

altamente variável dentro das espécies, podendo conter recursos considerados

essenciais para o indivíduo e/ou altamente atrativos para as fêmeas, tais como,

abrigo para fugir de predadores, alimento e locais ideais para oviposição (Wells,

1977), os quais podem predizer o sucesso no acasalamento entre machos de uma

determinada espécie.

Apesar dos estudos mencionados, a formação de pares em uma população

ainda é um assunto pobremente investigando, fazendo-se necessário conhecer

mais profundamente quais os principais mecanismos que determinam este

processo.

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Neste capítulo eu investigo os efeitos do comprimento rostro-uróstiio

tamanho do território, persistência na atividade de vocalização, disponibilidade de

alimento dentro do território, disponibilidade de locais para oviposição, altura do

puleiro e cobertura vegetal do território sobre o sucesso no acasalamento dos

machos de Colostethiis sp.

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IMATERIAL E MÉTODOS

Estimativa do sucesso no acasalamento

O sucesso no acasalamento foi definido como o número de desovas

encontradas dentro dos territórios de cada macho. Todos os territórios foram

revisados semanalmente para registro de novas desovas (ver Cap. I). As desovas

em que o acasalamento não foi acompanhado foram monitoradas até o retomo do

macho e assim foi confirmada a paternidade.

Disponibilidade de alimento

Para estimar a disponibilidade de alimento (biomassa de invertebrados)

foram coletadas amostras de invertebrados, através de armadilhas de interceptação

e queda ("pet-pitfall") nos territórios dos machos residentes. O "pet-pitfall"

consiste de uma garrafa plástica "pet" de dois litros cortada longitudinalmente,

com uma abertura de 20 por 15 cm, com uma tela plástica transparente de 20 por

30 cm. As garrafas foram enterradas ao nível do solo e preenchidas com solução

de água e detergente (3 gotas de detergente/litro de água). Apenas uma armadilha

foi distribuída para cada território e esta permaneceu por um período de 12 horas

(6:00 às 18:00) no centro do território de cada macho. A biomassa de

invertebrados foi estimada com balança de precisão de 0,001 g após a remoção de

excesso de umidade, com papel toalha. Para pesagem, foram utilizados apenas os

invertebrados com o comprimento igual ou menor que a lau^gura média da boca de

machos capturados durante o estudo.

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Cobertura veseíal dos territórios

Para determinar a cobertura vegetal (herbácea e arbustiva) dos territórios

dos machos, foi utilizado o método adaptado de Bullock (1996), que consistiu no

seguinte: traçou-se uma linha com o uso de uma trena no sentido mais longo do

território e com uma vareta padronizada de (1,0 x 0,3 m), delimitou-se uma faixa

de 1,0 m de altura por 0,2 m de largura. Nessa faixa foram quantificadas todas as

folhas de plantas vivas e ao final, o somatório forneceu um indicativo da cobertura

vegetal. Este número posteriormente foi dividido pelo comprimento de cada

território e multiplicado por 100 resultando em um número que representa o

percentual de cobertura para cada território.

Número de folhas para oviDOsicão

Para estimar o número de folhas potenciais para oviposição, traçou-se uma

linha no sentido mais longo de cada território e delimito-se uma faixa de 20 cm de

largura. A altura máxima em que se observou folhas com desovas foi 23 cm,

entretanto, para se ter uma margem de segurança, optou-se por quantificar todas

as folhas que se encontravam até uma altura de no máximo 30 cm do chão. Todas

as folhas consideradas potencialmente utilizáveis para oviposição, isto é, aquelas

que não tinham pêlos ou pó, foram contábilizadeis. O somatório total de folhas foi

dividido pelo comprimento do território e multiplicado por 100, fornecendo um

percentual de número de folhas potencialmente utilizáveis.

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Persistência na alividade de vocalização

A persistência na atividade de vocalização foi estimada pela soma do

número de vezes que o indivíduo foi observado vocalizando durante toda a

estação reprodutiva. Para esta estimativa foram efetuados censos uma ou duas

vezes por semana no período das 0500 às 1800 h com intervalo de uma hora entre

cada visita. Para cada indivíduo, foi registrado o número 1 (um) quando em

atividade de vocalização e O (zero) quando em silêncio. O somatório total foi

utilizado na análise dos dados.

Altura do poleiro

Durante os censos para atividade de vocalização foi registrada a altura em

que cada macho vocalizava. A estimativa foi obtida através de uma medida visual

aproximada. Para tanto, efetuou-se um treinamento com uma régua de 30 cm com

precisão de 1 mm antes de começarem os registros. No final de cada censo foi

obtida uma média diária e no final do estudo foi obtida uma nova média apartir

das médias diárias. Esta média foi utilizada na análise dos dados.

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Análise estatística

Para testar o efeito das variáveis independentes sobre o número de desovas

por território, foi utilizado um modelo de regressão múltipla. As variáveis número

de folhas para oviposição e cobertura vegetal foram significativamente

correlacionadas (r^= 0,556; P < 0,001). Como não é adequado utilizar variáveis

correlacionadas em modelos de regressão múltipla, pois a adição de mais um fator

correlacionado diminui os graus de liberdade e não acrescenta variabilidade ao

modelo, apenas número de folhas potenciais para oviposição foi utilizado. Todas

as análises foram realizadas no programa SYSTAT 8.0 (Wilkinson 1998).

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RESULTADOS

O modelo de regressão múltipla relacionando comprimento rostro-uróstilo

(CR), tamanho do território (TT), persistência na atividade de vocalização (PA),

disponibilidade de alimento (DA), altura do poleiro (AP) e número de folhas para

oviposição (FO) ao número de desovas por macho (ND), explicou 49% da

variação nos dados (ND=42 - 2,65CR + 0,17TT + 0,1 IPA - 108,60DA + 0.05AP

+ 0,12FO; R^ = 0,49; F6,33 = 5,25; P = 0.001). Apenas persistência na atividade de

vocalização contribuiu significativamente para o modelo (P < 0,001; Fig. 12A).

Apesar de observar que alguns machos defenderam territórios muito maiores que

a média obtida para a população e, que durante a corte algumas fêmeas rejeitaram

locais de oviposição (veja Cap. I), tamanho do território (P = 0,20) e número de

folhas potenciais para oviposição (P = 0,53) não tenderam a influenciar o número

de desovas por território (Fig. 12B e 12F). As demais vanaveis, comprimento

rostro-uróstilo (P = 0,31), disponibilidade de alimento (P = 0,55) e altura do

poleiro (P = 0,88), também não influenciaram sigmficativãmente o número de

desovas por território (Fig. 120,12D e 12E).

O modelo de regressão linear simples relacionando persistência na

atividade de vocalização, com o número de desovas por macho, explicou 45% da

variação nos dados (r^= 0,45; Fi.38= 30,46; P < 0,001; Fig. 13), indicando que

esta variável sozinha explicou quase toda a variação do número de acasalamentos

obtidos pelos machos no modelo utilizado.

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40

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-14' ' ' ' ' -17^-110 -72 -34 4 42 80 -17 -7 3 13 23

Tamanho do territórioAtividade de vocalização

16.0

7.5-

-1.0-

-9.5-

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-

%•• • •

• A •—

(C)

-18.01

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17.0

-8.5-

-17.0.20 -0.62 -0.04 0.54 1.12 1.70 -Ò.018 -0.008 0.002 0.012 0.022

Comprimento rostro-uróstilò Disponibilidade de alimento

20

10

-3.5 2.0 7.5

Altura do poleíro

- -10

-20

(F)

13.0 -17.0 -8.5 0.0 8.5

Folhas potenciais17.0

Fig. 12. Relação entre as parciais do número de desovas. por território obtido pormachos de Colostethus sp. com as parciais, persistência na atividade de voc^ização(A); tamanho do território (B); comprimento rostro-uróstüo (C); disponibilidade dealimento (D); altura do poleiro (E) e número de folhas potencialmente utilizáveis (F).

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80 160Atividade de vocalização

240

Fig. 13. Regressão simples entre o número de desovas por território epersistência na atividade de vocalização de Colostethus sp. Cada pontorepresenta a atividade de vocalização de um único macho durante aestação reprodutiva.

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DISCUSSÃO

Wells (1977) sugeriu que atributos como disponibilidade de alimento e

sítios de oviposição podem refletir a qualidade do território e são extremamente

importantes para o sucesso do macho em atrair fêmeas. No presente estudo, a

atividade de vocalização foi o único fator capaz de predizer o sucesso no

acasalamento de Colostethus sp., enquanto o tamanho do território, tamanho do

macho, disponibilidade de alimento, altura do poleiro e locais adequados para

oviposição, não demonstraram ter influência sobre o número de acasalamentos

obtidos pelos machos.

O efeito de fatores ambientais ou ecológicos sobre o sucesso no

acasalamento de machos, até o momento foi investigado em apenas três outras

espécies de dendrobatídeos, Epipedohates femoralis (Roithmair, 1992), E.

trivitüttus (Roithmair, 1994) e Dendrobates pumilio (Prol & Hõdl, 1999). Em

Epipedohates femoralis e E. trivitattus a atividade de vocalização juntamente com

tamanho do território, foram os fatores determinantes do sucesso no acasalamento.

Nessas espécies o tamanho do território foi positivamente correlacionado com o

número de dias em atividade de vocalização. Em ambas espécies, machos

defendem grandes territórios na época reprodutiva. Com base no comportamento

de E. femoralis, cujos pares realizam um passeio nupcial pelo território do macho

e fêmeas selecionam parceiros com territórios maiores, Roithmair (1992) concluiu

que a escolha da fêmea é baseada na área defendida pelo macho e não em recursos

auditivos.

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Fêmeas de Colostethus sp. não selecionaram machos com base no tamanho

do território defendido e aparentemente não há nenhum ganho diferenciai nos

atributos do território, tais como disponibilidade de alimento e sítios apropriados

pzira oviposição. Adicionalmente, eu observei que as fronteiras dos territórios

geralmente foram expandidas quando machos efetuaram os "passeios nupciais" e,

em pelo menos três ocasiões, machos que acasalaram nas fronteiras dos

territórios, entraram em combate físico com machos vizinhos, logo após a saída

do sítio de oviposição. Whitney & Krebs (1975) sugeriram que o espaçamento

mantido entre machos em atividade de vocalização pode reduzir a interferência de

outros machos e permitir a localização por fêmeas receptivas. Além disso, locais

de vocalização e/ou áreas de corte podem ser monopolizados pelo residente,

reduzindo a ação de competidores (Wells, 1977). Assim eu hipotetizo que a

principal função do território para Colostethus sp. não é a de defender áreas com

mais alimento ou com mais locais para oviposição e sim proporcionar ao

residente, acasalamento sem interferência de outros machos.

Freqüência baixa de canto têm sido uma boa indicação do tamanho do

emissor e é sugerido que ela pode ser percebida e interpretada pela fêmea como

um indício confiável para a escolha de um parceiro grande (Howard, 1978; Wilbur

et ai, 1978; Lee & Crump, 1981; Ryan, 1983). Neste estudo, não houve relação

entre o tamanho do macho e o número de desovas obtidas ao longo da estação

reprodutiva, sugerindo que fêmeas de Colostethus sp. não utilizaram freqüências

de canto p£ira avaliar o tamanho do macho.

Machos de Colostethus sp. vocalizaram em substratos elevados e

constantemente mudaram a direção do canto (veja Cap. 1). Na área do Parque

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Zoobotânico a propagação do som provavelmente não é dificultada pela vegetação

arbustiva, bastante parecida com o sub-bosque de uma floresta primária e,

portanto, altura do poleiro não foi um fator limitante para o sucesso no

acasalamento dos machos, indicando que o uso de poleiro provavelmente serviu

apenas para visualizar a área ao redor conforme sugerido por Crump (1972) para

Dendrobates granuliferus.

A persistência na atividade de vocalização como o principal fator a

influenciar o sucesso no acasalamento, também foi registrado para Dendrobates

pumilio (Prõhl e Hõdl, 1999), uma espécie de reprodução prolongada na qual

fêmeas selecionaram machos que cantaram mais vezes durante toda a estação

reprodutiva e, em outras espécies de reprodução explosiva como Bufo woodhousei

(Woodward, 1982), Bufo calamita (Arak, 1983). Também foi registrado para duas

espécies de Centrolenidae (Jacobson, 1985), nas quais o sucesso no acasalamento

foi correlacionado com a permanência dos machos no sitio de reprodução.

Poucos estudos na região tropical e subtropical têm investigado a

freqüência com que fêmeas produzem ovos em uma estação reprodutiva (Wells,

1979; Kluge, 1981; Tsuji & Lue, 2000). Entretanto, tem-se investigado os custos

da reprodução em termos de taxa reprodutiva potencial (e. g. Kvamemo &

Ahnesjõ, 1996; Prõhl & Hõdl, 1999). O sexo com maior taxa reprodutiva

potencial é aquele que está pronto para acasalar mais rapidamente depois de um

evento reprodutivo e conseqüentemente compete mais intensamente por parceiros.

Machos de Colostethus sp. voltam a vocalizar pouco depois do acasalamento e

podem acasalar novamente no dia seguinte enquanto fêmeas podem acasalar

novamente cerca de dois a três dias depois (dados não publicados). Esta

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disponibilidade de fêmeas para acasalar em intervalos curtos e o fato de variáveis

ecológicas como sítios apropriados para oviposição, disponibilidade de alimento,

tamanho do território, altura do poleiro e tamanho do macho não serem fatores

limitantes, indicam que machos têm maiores chances de acasalar se vocalizarem

continuamente de um determinado local.

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CONCLUSÕES GERAIS

1. A atividade reprodutiva de Colostethus sp. em Rio Branco (Acre) occorre

na estação chuvosa. O padrão diário de vocalização é bimodal com picos

no período da manhã e ao entardecer.

2. Colostethus sp. possui dimorfismo sexual, com machos menores que as

fêmeas. Os machos defendem territórios durante a estação reprodutiva. As

fêmeas, ao contrário, não são agressivas e permanecem em áreas maiores

que os machos.

3. A corte, acasalamento e oviposição ocorrem apenas no período da manhã.

Não há amplexo e a deposição dos ovos é efetuada na face inferior de

folhas da vegetação arbustiva.

4. Machos cuidam da prole, podem efetuar o transporte de múltiplas desovas

e as larvas são depositadas apenas em poças temporárias.

5. O sucesso no acasalamento de Colostethus sp. pode ser previsto pela

variação na persistência da atividade de vocalização de cada macho

durante a estação reprodutiva, enquanto tamanho do território,

disponibilidade de alimento, tamanho do macho, altura do poleiro e

disponibilidade de folhas para oviposição não influenciam o número de

parceiras obtidas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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