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1 INSTRUMENTO PARA CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DE SÍTIO CIRURGICO EM NEUROCIRURGIA Autora: Elsie Storch Borges Orientadora: Prof a Dr a Simone Cruz Machado Ferreira Linha de Pesquisa: O contexto do cuidar em saúde Niterói, fevereiro de 2016

INSTRUMENTO PARA CONTROLE E PREVENÇÃO DE …app.uff.br/riuff/bitstream/1/3063/1/Elsie Storch Borges.pdf · relacionada ao controle e prevenção das Infecções do Sítio Cirúrgico

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  • 1

    INSTRUMENTO PARA CONTROLE E PREVENO DE INFECO

    DE STIO CIRURGICO EM NEUROCIRURGIA

    Autora: Elsie Storch Borges

    Orientadora: Prof a

    Dra Simone Cruz Machado Ferreira

    Linha de Pesquisa: O contexto do cuidar em sade

    Niteri, fevereiro de 2016

  • 2

    INSTRUMENTO PARA CONTROLE E PREVENO DE

    INFECO DE STIO CIRURGICO EM

    NEUROCIRURGIA

    Autora: Elsie Storch Borges

    Orientadora: Prof a

    Dra

    Simone Cruz Machado Ferreira

    Dissertao do Mestrado Profissional Enfermagem Assistencial da

    Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da

    Universidade Federal Fluminense/UFF

    como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre.

    Niteri, fevereiro de 2016

  • 3

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM ASSISTENCIAL

    INSTRUMENTO PARA CONTROLE E PREVENO E DE

    INFECO DE STIO CIRURGICO EM NEUROCIRURGIA

    Linha de Pesquisa: O contexto do cuidar em sade

    Autora: Elsie Storch Borges

    Orientadora: Prof a

    Dra

    Simone Cruz Machado Ferreira

    Banca Examinadora

    Presidente: Prof. Dr Simone Cruz Machado Ferreira - EEAAC/UFF

    ____________________________________________________

    1 Examinadora: Snia Regina de Souza - EEAP/UNIRIO

    ____________________________________________________

    2 Examinadora: Prof. Dr Ana Karine Ramos Brum - EEAAC/UF

    ____________________________________________________

    Suplentes

    Prof. Dr Graciele Oroski Paes - EEAN/UFRJ

    ____________________________________________________

    Prof. Dr Gisella de Carvalho Queluci - EEAAC/UFF

    ____________________________________________________

  • 4

    Ficha catalogrfica

    B 732 Borges, Elsie Storch.

    Instrumento para controle e preveno de infeco de stio

    cirrgico em neurocirurgia. / Elsie Storch Borges. Niteri:

    [s.n.], 2016.

    92 f.

    Dissertao (Mestrado Profissional em Enfermagem

    Assistencial) Universidade Federal Fluminense, 2016.

    Orientador: Prof. Simone Cruz Machado Ferreira.

    1. Controle de Infeces. 2. Infeco da Ferida Operatria.

    3. Vigilncia. 4. Neurocirurgia I. Ttulo

    CDD 616.9

  • 5

    Dedicatria

    Ao meu esposo Guilherme e ao meu filhinho Pedro, por serem a minha fora

    e estmulo de tudo o que me move;

    Aos meus pais Dcio e Melita, por serem responsveis por formar o melhor

    que h em mim.

  • 6

    Agradecimentos

    Primeiramente a Deus, por dar-me sade, inteligncia e perseverana e por responder

    minhas preces quando mais precisei;

    Aos meus queridos pais, que sempre me apoiaram e incentivaram a encontrar o meu

    melhor;

    minha orientadora querida, que sempre disse a coisa certa na hora certa, e por ter

    depositado confiana em mim, mesmo quando eu mesma no a tinha!

    banca de qualificao, me impulsionar a buscar outros caminhos para um melhor

    resultado;

    Aos meus colegas de trabalho da CCIH do INCA: Dr. Velasco, Dra Ianick, Dra Marianne,

    Dr. Carlos, s queridas enfermeiras Vnia e Ana Paula e tambm ao Tito. Obrigada pela

    pacincia com minhas ausncias e por me ensinarem todos os dias. Este ttulo e tudo o que

    aprendi sero usados para o nosso servio;

    Aos colegas de trabalho da CCIH do Hospital Federal da Lagoa: Dra Rosana, Dra Ana

    Lcia, Dr. Vitor e minhas queridas amigas Bianca e Ins. Obrigada pela amizade e por me

    apoiarem sempre. Este ttulo e todo o conhecimento adquirido sero tambm para o nosso

    servio.

    Em especial enfermeira e amiga Bianca, sempre me dando tantas ideais geniais!

    Obrigada tambm por ter me ajudado na coleta de dados, voc foi fundamental! Obrigada!!

    s minhas amigas do MPEA Rita, Carla e Paula, vocs foram a melhor surpresa do

    mestrado! Sem vocs essa trajetria teria sido muito mais rdua;

    E por ltimo e no menos importante ao meu querido esposo e filhinho! Obrigada pela

    pacincia e pela compreenso com minha ausncia. Vocs so o motivo de tudo o que me

    move! Amo vocs!

  • 7

    Abstract

    Methodological study with quantitative approach, with the aim of drawing up a reasoned

    check instrument in the assessment of actions for evaluation and follow-up of patients

    undergoing neurosurgery, with views to the control of surgical site infections (ISC),

    understand that your filling is performed by professional surveillance action of hospital

    infection control Committee (CCIH). For both, this instrument has been built and validated

    as five methodological steps: 1-bibliographic survey; 2-construction of the first version of

    the instrument based on literature; 3-data collection with content validation by judges-

    experts; 4-analysis and discussion of the validation performed by the judges-experts; 5-

    production of the final version of the instrument. In the first phase was carried out

    bibliographical through integrative review, with search in the databases LILACS,

    CINAHAL, PUBMED, LILACS and portal CAPES. 23 articles were selected. This search

    three categories emerged which gave rise to the first version of the instrument that was

    subdivided into checking: pre-operative actions, intra operative and post operative, with 24

    items to be checked for appropriateness. For the validation step, judges were selected

    experts with expertise in pre, intra or post-operative neurosurgery between nurses and

    doctors, each professional assessing the issues pertinent to your practice. For obtaining the

    consensus of experts, it was used a questionnaire with Likert type scale of four points,

    numbered from 1 to 4, where 1 corresponds to the lowest agreement, and 4, the larger

    agreement. Analysis was used to calculate content Validity index (CVI), where he was

    found 0.96. The instrument demonstrated content validity in the opinion of experts. It is

    concluded that this instrument may facilitate work processes of the CCIH professionals,

    enabling the monitoring of potential risks to the patient submitted to Neurosurgery.

    Keywords: Neurosurgery, Surgical Wound Infection, Infection Control.

  • 8

    Resumo

    Estudo metodolgico com abordagem quantitativa, com o objetivo de elaborar instrumento

    de checagem fundamentado no levantamento das aes para avaliao e acompanhamento

    dos pacientes submetidos neurocirurgia, com vistas ao controle das Infeces do Stio

    Cirrgico (ISC), entendendo que o seu preenchimento se constitui em ao de vigilncia

    realizada pelos profissionais da Comisso de Controle de Infeco Hospitalar (CCIH). Para

    tanto, este instrumento foi construdo e validado de conforme cinco etapas metodolgicas:

    1- Levantamento bibliogrfico; 2- Construo da primeira verso do instrumento com base

    na literatura; 3- Coleta de dados com a validao de contedo por juzes-especialistas;4-

    Anlise e discusso da validao realizada pelos juzes-especialistas ;5- Produo da

    verso final do instrumento. Na primeira etapa foi realizado levantamento bibliogrfico por

    meio de reviso integrativa, com busca nas bases de dados LILACS, CINAHAL,

    PUBMED, LILACS e portal CAPES. Foram selecionados 23 artigos. Desta busca

    emergiram trs categorias as quais deram origem primeira verso do instrumento de

    checagem que foi subdividido em: aes pr operatria, intra operatria e ps operatria,

    com 24 itens a serem checados quanto sua adequao. Para a etapa de validao, foram

    selecionados juzes especialistas com atuao no pr, intra ou ps operatrio de

    neurocirurgia entre enfermeiros e mdicos, cada profissional avaliando as questes

    pertinentes sua prtica. Para obteno do consenso dos especialistas, foi utilizado um

    questionrio com Escala do tipo Likert de quatro pontos, numeradas de 1 a 4, onde 1

    corresponde menor concordncia, e 4, maior concordncia. Utilizou-se a anlise com o

    clculo de ndice de Validade de Contedo (IVC), onde foi encontrado 0,96. O

    instrumento demonstrou validade de contedo na opinio de especialistas. Conclui-se que

    este instrumento poder facilitar os processos de trabalho dos profissionais da CCIH,

    possibilitando a vigilncia de potenciais riscos ao paciente submetido neurocirurgia.

    Descritores: Neurocirurgia, Infeco da Ferida Operatria, Controle de Infeco.

  • 9

    Sumrio

    LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ 11 LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... 12 LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................ 13

    1.INTRODUO ................................................................................................................ 14 1.1 Justificativa ................................................................................................................ 16 1.2 Objetivos .................................................................................................................... 19

    1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 19 1.2.2 Objetivos Especficos ......................................................................................... 19

    2. BASES CONCEITUAIS ................................................................................................. 19 2.1 O Contexto de Segurana do Paciente e a Infeco de Sitio Cirrgico como Evento

    Adverso ............................................................................................................................ 19

    2.3 Infeco de stio cirrgico ......................................................................................... 26 2.3.1 Etiologia ............................................................................................................. 27 2.3.2 Definies ........................................................................................................... 28 2.3.3 Fatores de risco ................................................................................................... 29

    2.4 Vigilncia das infeces do stio cirrgico ................................................................ 30 2.4.1 Vigilncia de processos ...................................................................................... 30

    2.4.2 Clculo de taxa de ISC ....................................................................................... 31 3. METODOLOGIA ............................................................................................................ 32

    3.1 Tipo de estudo ........................................................................................................... 32 3.2 Cenrio ...................................................................................................................... 34

    3.3 Participantes do estudo: juzes especialistas .............................................................. 35 3.4 Percurso Metodolgico .............................................................................................. 36

    3.4 Validao do instrumento .......................................................................................... 37 3.6 Coleta de dados .......................................................................................................... 37 3.7 Anlise dos dados ...................................................................................................... 38

    3.8 Aspectos ticos da Pesquisa ...................................................................................... 39 4 - APRESENTAO, ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS: AS CINCO

    FASES DO PERCURSO METODOLGICO ................................................................... 39 4.1 Fase 1: levantamento bibliogrfico ........................................................................... 39

    4.1.1 Anlise dos artigos selecionados ........................................................................ 43

    4.2 Fase 2: Construo do Instrumento: Processo de elaborao da verso a ser validada

    ......................................................................................................................................... 50 4.3 Fase 3: validao de contedo pelos juzes- especialistas ........................................ 51

    4.4- Anlise e discusso .................................................................................................. 56 4.4.1- Validao dos itens relacionados ao pr operatrio: ......................................... 56 4.4.2- Validao dos itens relacionados ao intra operatrio: ....................................... 58 4.4.3- Validao dos itens relacionados ao ps operatrio: ........................................ 59

    4.4 Verso final do instrumento validado:.................................................................... 60

    5- CONCLUSO: ............................................................................................................... 64 6. REFERNCIAS .............................................................................................................. 66

    APNDICE ......................................................................................................................... 75 Apndice I Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................... 75

    Apndice II Carta Convite ................................................................................................ 76 Apndice III Orientaes para o preenchimento do formulrio ................................... 77 Apndice IV - Instrumento elaborado pela autora 1

    a verso ........................................ 78

  • 10

    Apndice V- Questionrio para os especialistas.............................................................. 83 Apndice VI Resumo dos peridicos selecionados para o estudo ................................ 84

    ANEXOS ............................................................................................................................. 90 Anexo I- Parecer consubstanciado do CEP ..................................................................... 90 Anexo II - Autorizao da diretoria do HFL ................................................................... 91

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Patgenos mais comuns reportados ao CDC........................................................27

    Tabela 2: Fatores de risco para ISC de acordo com as caractersticas do paciente e

    caractersticas da cirurgia.....................................................................................................30

    Tabela 3: Distribuio dos itens classificados em 3 ou 4 em uma escala Likert fr quatro

    pontos entre 24 especialistas. Niteri, 2016.........................................................................35

  • 12

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Critrios para seleo dos participantes. Niteri, 2016........................................35

    Figura 2: Fluxograma de seleo dos estudos. Niteri, 2016...............................................42

    Figura 3: Identificao das publicaes quanto ao ano, resta, Qualis Capes e nvel de

    evidcia. Niteri, 2016.........................................................................................................44

    Figura 4: Aes agrupadas em categorias relacionadas aos artigos de reviso integrativa.

    Niteri, 2016.........................................................................................................................47

  • 13

    LISTA DE SIGLAS

    ISC - Infeco do stio cirrgico

    CCIH - Comisso de Controle de Infeco Hospitalar

    IRAS Infeces relacionadas a assistncias Sade

    IHI - Institute for Healthcare Improvement

    OMS - Organizao Mundial da Sade

    ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    HFL - Hospital Federal da Lagoa

    IBEAS - Estudo Ibero-Americano de Eventos Adversos na Ateno Sade

    ICPS -International Classification for Patient Safety

    SOA - Society of Actuaries

    CDC - Disease Control and Prevention

    SAS - Secretaria de Ateno Sade

    MS- Ministrio da Sade

    PNSP- Programa Nacional de Segurana do Paciente

    PNPCIRAS - Programa Nacional de Preveno e Controle das Infeces

    Relacionadas Sade

    CBA - Consrcio Brasileiro de Acreditao

    NNIS - National Nosocomial Infections

    MRSA - Staphylococcus aureus resistente a oxacilina

    SNC - Sistema nervoso central

  • 14

    1.INTRODUO

    O objeto deste estudo foi o desenvolvimento de instrumento para vigilncia

    relacionada ao controle e preveno das Infeces do Stio Cirrgico (ISC), em

    neurocirurgia, destinado a direcionar as aes da Comisso de Controle de Infeco

    Hospitalar (CCIH). Sua construo se deu a partir da identificao das aes de maior

    impacto para o controle dessas infeces com base na literatura atual, luz dos conceitos

    de Segurana do Paciente e com a validao do seu contedo por juzes- especialistas.

    A escolha deste tema est ligada a experincia da autora de aproximadamente 10

    anos como enfermeira na rea de Controle de Infeco Hospitalar, onde so vivenciadas

    dificuldades enfrentadas no dia a dia para implantao de uma vigilncia para a ISC

    efetiva.

    As definies de procedimentos cirrgicos, infeco e indicadores constituem a

    base que norteia o trabalho da CCIH. A utilizao uniforme de definies, procedimentos e

    critrios para diagnosticar uma infeco de modo harmonizado, possibilitam a vigilncia

    efetiva e fidedigna, permitindo a comparao entre os dados e a atuao correta da

    comisso. Do contrrio, os dados podem ser interpretados de forma errada.

    H praticamente um consenso atual sobre a necessidade de novas prticas que

    resultem em indicadores e taxas que realizem no s a vigilncia epidemiolgica, mas

    avaliem a qualidade das prticas de controle de infeco na assistncia. Uma maneira para

    a avaliao de qualidade nas prticas assistenciais a construo de instrumentos para

    checagem das chamadas vigilncias de processos e estruturas. Estes contemplam a

    verificao de itens desejveis, que estejam ou no em conformidade para preveno de

    determinada infeco, medidos de forma contnua ou peridica, para que se verifique

    deficincias em determinadas reas da assistncia ou estruturas, favorecendo a melhor ao

    da CCIH. Estes instrumentos auxiliam ainda na mensurao para mudanas na rea

    assistencial, porque podem mostrar a realidade para quem no est inserida nela, a

    exemplo dos gestores e gerentes das instituies. 1

    Para se conseguir dados fidedignos no que se refere ISC, faz-se necessria a

    obteno de taxas e comparao destas, vigilncia e interveno baseadas na mesma

    especialidade cirrgica. possvel afirmar que os procedimentos cirrgicos de diferentes

  • 15

    especialidades no podem ser comparados, uma vez que os fatores predisponentes para

    ISC nos diversos tipos de cirurgias diferem muito.

    Na unidade de sade, cenrio deste estudo, j existe aes que visam o controle das

    ISC desenvolvidas pela CCIH, tais como: Prevalncia pontual com levantamento mensal

    das infeces nas clnicas cirrgicas; Visitas semanais ao Centro Cirrgico para avaliao

    dos procedimentos e estruturas; Visita peridica Central de esterilizao para anlise dos

    processos ali desenvolvidos; Busca ativa de casos de ISC nas cirurgias que envolvem

    prteses; Auditoria de processos nas unidades cirrgicas, entre outras aes. Porm, trata-

    se de uma unidade hospitalar que realiza cerca de 500 procedimentos cirrgicos por ms,

    com um Centro Cirrgico com 11 salas de operao, com a atuao de inmeras equipes

    multiprofissionais e grande quantidade de processos envolvidos. Faz-se necessria busca

    ativa e sistemtica das adequaes relacionadas ao controle das infeces, tornando-se

    ainda mais relevante em se tratando de cirurgias limpas, como as realizadas pela

    neurocirurgia.

    Atualmente, dados internacionais nos mostram que as ISC contribuem em cerca de

    15% de todas as infeces relacionadas a assistncia a sade e cerca de 37% das infeces

    de pacientes cirrgicos adquiridas em hospital . 2,3

    Dois teros das infeces do stio

    cirrgico so incisionais e um tero confinado ao espao orgnico. Em pases ocidentais, a

    freqncia de tais infeces de 1520% de todos os casos, com uma incidncia de 215%

    em cirurgia geral. Nos EUA pelo menos 780.000 infeces do stio cirrgico ocorrem a

    cada ano, com altas taxas como 13% para cirurgias de clon de alto risco. 2,4

    Antes do incio do movimento de segurana do paciente, a preveno das chamadas

    infeces relacionadas assistncia sade era vista como um trabalho de epidemiologia

    hospitalar. Essas infeces eram consideradas como danos inerentes ao tratamento. No

    entanto, vem se acumulando evidncias de que algumas medidas podem diminuir de

    maneira significativa a ocorrncia dessas infeces. Muitas infeces relacionadas a

    dispositivos, como pneumonias associadas ventilao mecnica (PAV) e infeco de

    corrente sangunea associada a cateteres centrais podem ser prevenidas e controladas

    atravs da implementao de estratgias bem definidas. 5

  • 16

    Ao utilizarmos os conceitos de segurana do paciente, podemos considerar as

    Infeces Relacionadas Assistncia Sade (IRAS) como eventos adversos evitveis,

    visto que podem ocorrer como resultado de falha de adeso s prticas baseadas em

    evidncias. Os profissionais de sade que prestam cuidados aos pacientes so elementos

    chave no processo de evitar erros referentes aos cuidados e tambm, de assumir um papel

    de liderana no avano e no uso de estratgias para promover a segurana e qualidade do

    cuidado.4 Porm, cabe CCIH normatizar e implementar medidas, bem como, realizar

    vigilncia dos processos para diminuir os riscos de eventos adversos evitveis, tais como as

    ISC.

    Devido problemtica explicitada, foi escolhida a neurocirurgia como foco deste

    estudo, por ser uma modalidade cirrgica que possui poucos riscos extrnsecos para

    aquisio de ISC na condio de cirurgia limpa, porm com grande potencial para

    complicaes graves caso ocorra uma ISC. Na unidade hospitalar onde o estudo foi

    desenvolvido, ocorrem em mdia 10 neurocirurgias por ms, que considerado um

    quantitativo expressivo para aquisio de ISC, porm factvel de realizar acompanhamento

    pela CCIH. Nesta perspectiva, podemos sumarizar a situao problema deste estudo no

    seguinte hiptese: As ISC podem ser avaliadas e acompanhadas por um instrumento de

    vigilncia das aes nas etapas de pr, trans e ps operatrio de pacientes submetidos

    neurocirurgia.

    1.1 Justificativa

    As infeces em neurocirurgia so complicaes graves, que atingem diretamente o

    prognstico do paciente, com alta letalidade e grande nmero de sequelas entre os

    sobreviventes. um assunto bastante explorado e estudado apesar da baixa prevalncia

    absoluta de ISC (1% a 11%), visto que so associadas alta morbidade e letalidade.

    Todavia, sabido que podem ser evitadas ou tratadas precocemente. Essas infeces so

    tambm responsveis pelo aumento de dias de internao em unidade de tratamento

    intensivo (UTI) e ainda podem ocasionar reabordagem cirrgica. 6

    A maior parte da literatura encontrada sobre o assunto utiliza a definio de

    infeco do sistema nervoso central (SNC) do Centro de Controle de Doencas/The

    National Healthcare Safety Network (CDC/ NHSNE) 7 que as divide como: 1) infeco

  • 17

    superficial, 2) infeco intracraniana: abscesso cerebral, infeco subdural ou peridural,

    encefalite; 3) meningite ou ventriculite; 4) abscesso espinal sem meningite. A maior

    incidncia de infeces superficiais. Num estudo, foi vista a incidncia de infeces ps

    craniotomia em 2.994 pacientes, desses 117 (4%) evoluram com infeco de sistema

    nervoso e em 30 deles foi detectada infeco de stio cirrgico. 8

    A incidncia de ISC em neurocirurgia tem correlao com o potencial de

    contaminao: 1% a 5% para cirurgias limpas, 3% a 11% para cirurgias potencialmente

    contaminadas, 10% a 17% para cirurgia contaminada e maior que 27% para cirurgias

    infectadas. 9

    As manifestaes infecciosas ps craniotomias mais comuns so: a infeco de

    ferida cirrgica, ostemielite craniana, meningite, ventriculite, encefalite, abscesso cerebral

    e empiema subdural ou epidural. 6

    Aps a inoculao inicial, so necessrios cerca de 1000 organismos bacterianos

    por grama de tecido para que haja infeco no local ou outras complicaes infecciosas.

    Os organismos mais comuns a infectar o stio cirrgico so em geral patgenos comuns

    flora da pele. Staphylococcus aureus o patgeno mais incidente em infeces incisionais

    e profundas em neurocirurgia, mas Staphylococcus epidermidis tambm frequentemente

    isolado em pacientes com quadro de ISC. Estudos demonstram a incidncia de ISC em

    neurocirurgia por Propionibacterium acnes, considerada uma bactria contaminante dos

    folculos pilosos presente no couro cabeludo e clinicamente insignificante. No entanto, por

    vezes so responsveis por infeces intracranianas.8,10,11

    Estudo recente demonstrou que os fatores de risco para ISC em craniotomia tm

    relao com cirurgias por trauma, reoperao, operao no turno vespertino e doenas

    crnicas. O mesmo estudo demonstra que os fatores extrnsecos tm 1,7 vezes mais risco

    para desenvolver ISC se comparado aos fatores intrnsecos. 12

    Outro estudo mostrou

    atravs de anlise multivariada que a presena de fstula liqurica e reoperao no mesmo

    stio so fatores fortemente associados aquisio de ISC em neurocirurgia. 13

    Outro

    estudo encontrou ainda fatores de risco independentes para ISC onde neurocirurgias foram

    realizadas por mdicos menos experientes ou a cirurgia foi feita para causas infecciosas. 14

  • 18

    Muitos so os fatores de risco atribudos ISC em neurocirurgia especificamente.

    Porm as pesquisas sobre fatores de risco ainda so recentes. As novas tecnologias,

    disponibilidade de profilaxia antimicrobiana e informao dos profissionais de sade

    trouxeram avanos no controle dessas infeces. No entanto, ISC continua a ser uma causa

    de mortalidade e morbidade entre pacientes submetidos a essas cirurgias. Isto ocorre

    tambm devido ao aumento do aparecimento de patgenos resistentes aos antimicrobianos,

    ao aumento do nmero de pacientes cirrgicos que so idosos e / ou so acometidos por

    doenas crnicas ou so imunocomprometidos.

    Apesar da importncia atribuda a ISC em neurocirurgia, as variveis mostram-se

    difceis de serem controladas e observadas sistematicamente na prtica diria, devido

    diversidade de situaes e fatores que podem desencadear este evento. Desenvolver uma

    lista de verificao ou checagem que atenda ao proposto no uma tarefa fcil. Por

    exemplo, possvel citar todas as listas utilizadas e recomendadas hoje pela Organizao

    Mundial da Sade (OMS) que passaram por modificaes e adaptaes at chegarem sua

    forma final. Porm, podemos constatar atravs de exemplos da indstria e tambm dos

    exemplos atuais em sade, que essas listas tm sido bastante importantes na preveno de

    erros e eventos adversos.2,5,15

    No entanto, apesar da existncia dos mais variados tipos de

    instrumentos de avaliao e checagem encontrados na literatura, a ausncia de

    instrumentos construdos para a avaliao de determinadas variveis torna necessria a

    elaborao de novos instrumentos, ao passo que muitos destes no foram construdos com

    preocupao em apresentar caractersticas psicomtricas satisfatrias, sendo estas

    caractersticas obscuras ou inexistentes. 16

    Assim, o produto deste trabalho, que consiste num instrumento de checagem para

    vigilncia de ISC em neurocirurgia, concretiza uma iniciativa de obteno de dados

    confiveis e mensurveis que auxiliem o trabalho da CCIH.

    Acredita-se que esse estudo venha contribuir para fornecer um instrumento de

    checagem validado, que possa servir de base para utilizao em diversos cenrios de sade.

    Pretende-se tambm fomentar a discusso acerca deste tema na realidade estudada, tendo

    como principal contribuio preveno de ISC em neurocirurgia na assistncia em sade.

  • 19

    1.2 Objetivos

    1.2.1 Objetivo Geral

    Elaborar instrumento de checagem baseado em evidncias sobre as aes de

    controle das Infeces do Stio Cirrgico em neurocirurgia.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    1) Identificar as evidncias disponveis na literatura acerca das aes de controle das ISC

    em neurocirurgia.

    2) Elaborar instrumento de checagem para vigilncia relacionada preveno e controle

    das ISC em neurocirurgia.

    3) Validar o instrumento de checagem elaborado.

    2. BASES CONCEITUAIS

    2.1 O Contexto de Segurana do Paciente e a Infeco de Sitio Cirrgico como Evento

    Adverso

    Atualmente a segurana do paciente uma das questes mais crticas para a sade.

    A necessidade crescente de diminuir complicaes evitveis e prevenir os erros serve como

    impulso para incentivar o uso da prtica baseada em evidncias, possibilitando a

    diminuio de complicaes indesejveis.

    No final de 1999, o Institute for Healthcare Improvement (IHI) dos Estados Unidos

    da Amrica (EUA) publicou o relatrio To Err is Human: Building a Safer Health

    System (Errar Humano: Construindo um sistema mais seguro de sade), no qual os

    autores estimaram que entre 44mil e 98 mil norte-americanos morrem a cada ano devido a

  • 20

    erros associados aos cuidados em sade. O relatrio ainda destacou a necessidade de

    trabalhar as questes relacionadas com a segurana do paciente, colocando este assunto

    como uma importante prioridade para as autoridades de sade dos EUA. Desde ento, a

    presso para aumentar a segurana do paciente tem crescido continuamente em todo o

    mundo. 17

    Confrontada pelas evidncias mundiais de danos substanciais na sade pblica

    devido segurana inadequada do paciente e em ateno a Resoluo 55.18, da 55

    Assemblia Mundial da Sade ocorrida em maio de 2002, a Organizao Mundial da

    Sade (OMS) lanou, em outubro de 2004 a Aliana Mundial para a Segurana do

    Paciente. Essa Aliana tem o objetivo de despertar a conscincia profissional e o

    comprometimento poltico para uma melhor segurana na assistncia sade e apoiar os

    Estados Membros no desenvolvimento de polticas pblicas e na induo de boas prticas

    assistenciais. Assim, com a finalidade de diminuir a incidncia desses erros evitveis, deu-

    se o incio do lanamento de campanhas com objetivos e diretrizes claros. Os chamados

    Desafios Globais para a Segurana do Paciente, previstos na Aliana Mundial para a

    Segurana do Paciente, orientam a identificao de aes que ajudem a evitar riscos para

    os pacientes e ao mesmo tempo, norteiam os pases que tenham interesse em implant-los.

    2,18

    A cada ano, a Aliana organiza programas que buscam melhorar essa segurana, e a

    cada dois anos um novo desafio formulado para fomentar o comprometimento global e

    destacar temas correlacionados e direcionados para uma rea de risco identificada como

    significativa em todos os Estados Membros da OMS. 2

    O primeiro desafio global, no binio 2005-2006, focou-se nas infeces

    relacionadas assistncia sade, com o tema Uma Assistncia Limpa uma Assistncia

    mais Segura. O propsito era promover a higiene das mos como mtodo sensvel e

    efetivo para a preveno das infeces. 9

    No Brasil, a OMS vem trabalhando este tema em parceria com a Agncia Nacional

    de Vigilncia Sanitria (ANVISA), envolvendo aes de promoo e preveno de

    infeco em servios de sade desde 2007, aps a assinatura da Declarao de

    Compromisso na Luta contra as IRAS, pelo Ministro da Sade, neste mesmo ano .20

  • 21

    Entre 2007 e 2009, realizou-se o estudo Ibero-Americano de Eventos Adversos na

    Ateno Sade (IBEAS) em cinco pases da Amrica Latina.21

    Este estudo mostrou que

    10,5 % dos pacientes hospitalizados sofrem algum tipo de evento adverso e destes, 58,9%

    poderiam ter sido evitados. A estimativa de que, aproximadamente, uma em cada 10

    admisses hospitalares resulta na ocorrncia de pelo menos 1 evento adverso alarmante,

    ainda mais se considerarmos que metade destes incidentes poderiam ter sido evitados. No

    Brasil, estudo realizado em trs hospitais de ensino evidenciou a incidncia de eventos

    adversos de 7,6%, dos quais 66,7% foram considerados evitveis.20,22

    De acordo com a Classificao Internacional para a Segurana do Paciente

    (International Classification for Patient Safety ICPS), um evento adverso, no contexto da

    rea da sade, um incidente ou circunstncia que resulta em dano desnecessrio.5,23

    ainda definido como leso no intencional causada pela assistncia em sade e no pela

    evoluo natural da doena de base.17,24

    importante destacar que, os efeitos adversos devem ser distinguidos em efeitos

    adversos resultantes da assistncia mdica e efeitos adversos resultantes da morbidade e

    mortalidade que os pacientes sofrem em consequncia de uma condio mdica adjacente.

    Os primeiros so conhecidos ainda como danos e foram definidos pelo IHI como:

    Leso corporal no intencional resultante de ou promovida por cuidados mdicos

    (incluindo a ausncia de tratamento mdico indicado) que exige um acompanhamento

    adicional, tratamento ou hospitalizao, ou que resulta em bito.25

    A segunda categoria de

    eventos se referem a efeitos nocivos inerentes ao tratamento mdico na ausncia de

    quaisquer erros (p ex. devido a efeitos colaterais de quimioterapia). Portanto, a literatura da

    segurana do paciente separa os eventos adversos como evitveis e no evitveis. 5,20, 21, 23,

    Outro estudo nos EUA conduzido pela Society of Actuaries (SOA) verificou que

    eventos adversos previsveis custariam 19,5 bilhes em 2008 ao sistema de sade

    americano. No ranking relacionado ao nmero de eventos, a quantidade de Infeces Ps-

    Operatrias ficou na segunda colocao, estando atrs apenas do evento lcera por

    Presso. A estimativa de Infeces Ps-Operatrias de 252.695 nmeros de eventos,

    com um custo total de US$3.676 bilhes. 19,26

  • 22

    O Center for Disease Control and Prevention (CDC) estima que 1 em cada 10 a 20

    pacientes hospitalizados desenvolvero uma Infeco Relacionada Assistncia Sade

    (IRAS) e que estas so responsveis por 100 mil mortes por ano nos EUA. Refere ainda

    que a estas infeces atribudo um custo em torno de 30 a 40 bilhes de dlares. A

    grande maioria destas infeces poderia ser evitada com a adeso de medidas simples,

    como a adoo de bundles, ou com a correta higienizao das mos. 27

    Em sade, nem todos os erros culminam em eventos adversos e nem todos os

    eventos adversos so resultantes de erros. Fazer essa diferena torna-se importante para a

    implementao de estratgias de preveno, em especial de eventos adversos consequentes

    de erros. 20,23

    Nem sempre o agravo ao paciente advm de grandes falhas realizadas em

    atividades com sistemas complexos, mas podem advir de pequenos deslizes capazes de

    ocasionar consequncias fatais, dependendo das condies do paciente.20

    Os erros que ocorrem na assistncia sade no so decorrentes de aes

    intencionais e nem significam falta de treinamento ou comprometimento dos profissionais

    de sade. Eles advm de sistemas ou processos que tm outras prioridades, como o lucro

    ou cuidado individual e no a cultura de segurana do paciente. Neste sentido, os

    profissionais de sade foram chamados de segundas vtimas, pois apesar da boa

    formao e comprometimento, muitas vezes exercem sua profisso em sistemas caticos,

    sem processos estabelecidos, propiciando a ocorrncia de erros. 28

    Em 2009, a OMS definiu a data de 5 de maio para instalao da Campanha Mundial

    de higiene das mos. O objetivo foi convidar os pases membros e os servios de sade a

    promoverem iniciativas sobre a temtica higiene das mos destinadas tanto aos

    profissionais de sade como aos cidados. 19

    J o segundo Desafio Global (2007-2008) para a Segurana do paciente dirigiu a

    ateno para os fundamentos e prticas da segurana cirrgica, que so,

    inquestionavelmente, componentes essenciais da assistncia sade. A estratgia consistiu

    em definir um conjunto bsico de normas de segurana dirigidas preveno das infeces

    ps-cirrgicas, a segurana dos procedimentos anestsicos e das equipes cirrgicas e a

    mensurao dos indicadores cirrgicos. Esse desafio Global tem como objetivo aumentar

    os padres de qualidade nos procedimentos cirrgicos, diminuindo a ocorrncia de erros e

  • 23

    morbimortalidade causada pelas intervenes cirrgicas. Sumariza-se com os seguintes

    itens: 1) preveno de infeces de stio cirrgico; 2) anestesia segura; 3) equipes

    cirrgicas seguras; e 4) indicadores da assistncia cirrgica.

    2,18

    O programa A Cirurgia Segura Salva Vidas pretende melhorar a segurana

    cirrgica e reduzir o nmero de mortes e complicaes cirrgicas de quatro maneiras.2,18

    1) fornecendo aos mdicos, administradores hospitalares e funcionrios pblicos de Sade,

    informao sobre a funo e os padres de segurana cirrgica em sade pblica;

    2) definindo um conjunto mnimo de medidas uniformes ou de indicadores cirrgicos,

    para a vigilncia nacional e internacional da assistncia sade;

    3) identificando um conjunto simples de padres de segurana que possam ser usados em

    todos os pases e cenrios e que sejam compilados em uma lista de verificao de

    segurana cirrgica para uso nas salas de operao; e

    4) testando a lista de verificao e as ferramentas de vigilncia em stios - piloto em todas

    as regies da OMS e ento distribuindo a lista de verificaes para hospitais de todo o

    mundo.

    O programa da OMS prope ainda dez objetivos bsicos e essenciais em qualquer

    procedimento cirrgico:

    1. A equipe operar o paciente certo e o local cirrgico certo.

    2. A equipe usar mtodos conhecidos para impedir danos na administrao de anestsicos,

    enquanto protege o paciente da dor.

    3. A equipe reconhecer e estar efetivamente preparada para perda de via area ou de

    funo respiratria que ameacem a vida.

    4. A equipe reconhecer e estar efetivamente preparada para o risco de grandes perdas

    sanguneas.

  • 24

    5. A equipe evitar a induo de reao adversa a drogas ou reao alrgica sabidamente

    de risco ao paciente.

    6. A equipe usar de maneira sistemtica, mtodos conhecidos para minimizar o risco de

    infeco no stio cirrgico.

    7. A equipe impedir a reteno inadvertida de instrumentais ou compressas nas feridas

    cirrgicas.

    8. A equipe manter seguros e identificar, precisamente, todos os espcimes cirrgicos.

    9. A equipe se comunicar efetivamente e trocar informaes crticas para a conduo

    segura da operao.

    10. Os hospitais e os sistemas de sade pblica estabelecero vigilncia de rotina sobre a

    capacidade, volume e resultados cirrgicos.

    O produto deste binio foi divulgao de uma lista de verificao de segurana

    cirrgica nos servios de sade, com uma avaliao integral do paciente previamente a

    cada procedimento cirrgico, na qual realizada verificaes em trs momentos: antes da

    induo anestsica, antes da cirurgia comear e antes do paciente sair da sala cirrgica. 2,18

    No Brasil, o tema do segundo desafio vem sendo desenvolvido junto Secretaria de

    Ateno Sade (SAS) e ANVISA, do Ministrio da Sade (MS),20,23

    que lanaram este

    desafio em 13 de maio de 2010 mostrando a preocupao e interesse nacionais para com

    esse tema. 2

    Dentro deste contexto esto inseridos tambm o controle e preveno de

    Infeces do Stio Cirrgico.

    Em consonncia com as recomendaes mundiais, em julho 2013 foi publicada pela

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) a RDC n 36, que institui aes para

    a segurana do paciente em servios de sade. Nela, formaliza-se a obrigatoriedade da

    formao de um Ncleo de Segurana do Paciente, onde devero ser desenvolvidas aes

    nesse sentido. Torna-se obrigatrio a notificao de eventos adversos, sendo todas as

    Infeces Relacionadas Assistncia Sade, consideradas como eventos adversos. 29

  • 25

    O Programa Nacional de Segurana do Paciente foi institudo atravs de Portaria n

    529, de 1 de abril de 2013. direcionado aos gestores, profissionais e usurios da sade e

    tem como objetivo geral contribuir para a qualificao do cuidado em sade em todos os

    estabelecimentos de sade do territrio nacional. O programa aborda vrios aspectos

    relacionados segurana do paciente, porm a insero deste trabalho se d nos artigos 5

    e 7. 30

    O Artigo 5 Constitui estratgias de implementao do PNSP, onde, entre outras

    estratgias, est tambm descrito a implementao de sistemtica de vigilncia e

    monitoramento de incidentes na assistncia sade, com garantia de retorno s unidades

    notificantes (Artigo 5 - V). O artigo 7 diz respeito s competncias do Comit que

    dever realizar a implantao do programa, onde so includas a elaborao e validao de

    protocolos, guias e manuais voltados segurana do paciente em diferentes reas, tais

    como infeces relacionadas assistncia sade e procedimentos cirrgicos. 30

    O Programa Nacional de Preveno e Controle das Infeces Relacionadas Sade

    (PNPCIRAS) foi publicado em setembro de 2013 pela Agncia Nacional de Vigilncia

    Sanitria (ANVISA) e traa objetivos especficos para a reduo de Infeces

    Relacionadas Sade (IRAS) entre os anos de 2013 e 2015. Dentre os quatro objetivos

    estabelecidos pelo programa, dois deles possuem articulao com o estudo proposto, a

    saber: Objetivo II. Reduzir Infeces do Stio Cirrgico (ISC) e Objetivo III. Estabelecer

    mecanismos de controle sobre a Resistncia Microbiana (RM) em Servios de Sade. 31

    O programa tem o foco inicial no controle das ISC nas cirurgias cesreas31

    , mas

    nota-se a importncia desse tema como um todo, tendo em vista a sua incluso como um

    dos quatro objetivos estabelecidos. possvel inferir que a incluso somente desse tipo de

    cirurgia se d pela ausncia de dados significativos a respeito de ISC no Brasil atualmente,

    fazendo com que a ANVISA iniciasse a vigilncia nacional por apenas um tipo de cirurgia,

    para posterior abrangncia das aes no sentido de obter dados consolidados e coesos a

    respeito das taxas de ISC em todo o Brasil.

  • 26

    2.3 Infeco de stio cirrgico

    As Infeces de Stio Cirrgico (ISC) so infeces que ocorrem no local do

    procedimento cirrgico e podem ocorrer nas camadas superficiais ou profundas da inciso,

    rgos ou espao que foi manipulado ou traumatizado, tais como o espao peritoneal,

    espao pleural, mediastino ou espao articular. 32

    As tentativas de reduzir a taxa de infeces de stio cirrgico datam do incio do

    sculo XIX com o estudo da epidemiologia e preveno da febre cirrgica, por James

    Young Hamilton. Posteriormente, Joseph Lister foi pioneiro no uso de anti-spticos para a

    preveno de infeco cirrgica ortopdica, em 1865. Felizmente, foram feitos muitos

    avanos no que se refere cirurgia e controle de infeco ao longo dos ltimos 150 anos.

    No entanto, medida que a medicina tem avanado novos tipos de riscos de infeco tm

    emergido. Por exemplo, ao longo dos ltimos 50 anos, a frequncia de cirurgias aumentou,

    tambm os procedimentos tornaram-se mais invasivos, com maior proporo de tcnicas

    operatrias com a insero de corpos estranhos e os procedimentos so realizados em uma

    populao de pacientes cada vez mais predisposta a complicaes devido sua morbidade

    prvia. Como resultado, ISC permanece como uma das principais causas de morbidade e

    mortalidade em cuidados de sade modernos. 33

    As infeces de stio cirrgico levam a um aumento mdio da durao da

    internao hospitalar em 4-7 dias. Esses pacientes tm duas vezes mais chance de ir a

    bito, duas vezes mais chance de serem internados numa unidade de tratamento intensivo e

    cinco vezes mais chance de serem readmitidos aps a alta. Os custos da assistncia sade

    aumentam substancialmente para pacientes com ISC. 2,18,34

    Alm disso, h o sofrimento

    emocional e fsico do paciente acometido devido ao prolongamento da doena e

    hospitalizao, o que causa tempo maior de afastamento de suas atividades, convvio social

    e transtornos familiares em funo da piora de seu estado e incerteza quanto ao agravo

    sade.

    No Brasil, a ISC ocupa a terceira posio entre todas as infeces em servios de

    sade, compreendendo 14% a 16% daquelas encontradas em pacientes hospitalizados.

  • 27

    Estudo nacional realizado pelo Ministrio da Sade no ano de 1999 encontrou uma

    taxa de ISC de 11% do total de procedimentos cirrgicos analisados. Esta taxa atinge

    maior relevncia em razo de fatores relacionados populao atendida e procedimentos

    realizados nos servios de sade. Recentemente, sua prevalncia tem sido usada como um

    indicador da qualidade dos hospitais e cirurgies. 18,32

    2.3.1 Etiologia

    A contaminao microbiana durante um procedimento cirrgico um precursor

    da infeco do stio cirrgico. A maioria das feridas cirrgicas contaminada

    por bactrias, mas apenas uma minoria progride para infeco clnica. A

    infeco no ocorre na maioria dos pacientes porque as defesas inatas do

    hospedeiro eliminam os contaminantes no stio cirrgico de maneira eficiente.

    H pelo menos trs importantes determinantes para que a contaminao leve a

    infeco do stio cirrgico: a dose de contaminao bacteriana, a virulncia das

    bactrias e a resistncia do paciente. A probabilidade de infeco aumenta

    proporcionalmente com o aumento do nmero e virulncia das bactrias.

    Caractersticas locais da ferida, tais como tecido necrtico residual, presena de

    drenos ou sutura, podem agravar a ISC. Portanto, quanto mais virulento for o

    contaminante bacteriano, maior a probabilidade de infeco. 32,35

    Tabela 1: Os patgenos mais comuns em ISC reportados ao CDC.

    Patgeno %

    Staphylococcus aureus 20

    Staphylococcus coagulase negativa 14

    Enterorococcus 12

    Pseudomonas aeruginosa 8

    Echerirchia coli 8

    Enterobacter spp 7

    Proteus mirabilis 3

    Streptococcus 3

    Klebsiella pneumoniae 3

    Candida albicans 2

    Fonte: National Nosocomial Infections Surveillance (NNIS) reportados de Outobro1986 a Abril

    1996, emitido em maio de 1996. 24

  • 28

    As principais bactrias causadoras de ISC so as que esto presentes na microbiota

    da pele. Staphylococcus aureus a causa mais comum de ISC, ocorrendo em 20% dos

    casos reportados para o CDC, atravs do sistema de vigilncia de IRAS americano, o

    National Nosocomial Infections Surveillance (NNIS). 36

    (tabela 1) Esse dado relevante e

    devido a alta incidncia de S. aureus resistente a oxacilina (MRSA), tem um papel

    importante na gravidade e desfecho das ISC. 37

    2.3.2 Definies

    Por definio, as ISC so divididas em: ISC superficial, ISC profunda e ISC

    rgos/cavidade. 38,39

    1) Incisional superficial Ocorre nos primeiros 30 dias aps a cirurgia e envolve

    apenas pele e subcutneo;

    2) Incisional profunda Ocorre nos primeiros 30 dias aps a cirurgia ou at UM

    ano, se houver colocao de prtese, e envolve tecidos moles profundos

    inciso (ex: fscia e/msculos);

    3) rgo / cavidade - Ocorre nos primeiros 30 dias aps a cirurgia ou at UM ano, e

    envolve qualquer rgo ou cavidade que tenha sido aberta ou manipulada

    durante a cirurgia.

    Os procedimentos cirrgicos so classificados de acordo com o seu potencial de

    infeco, e normalmente utilizada a definio do CDC: 7

    1) Feridas limpas: Uma ferida operatria no infectada na qual nenhuma inflamao

    encontrada e os tratos respiratrio, alimentar, genital ou urinrio no infectado

    no so penetrados. So fechadas por primeira inteno e, se necessrio,

    drenados por drenagem fechada. As feridas incisas operatrias que so

    conseqncia de trauma no penetrante devem ser includas nesta categoria.

    2) Feridas limpas contaminadas: Feridas operatrias nas quais os tratos

    respiratrio, alimentar, genital ou urinrio so penetrados sob condies

    controladas e sem contaminao incomum. Especificamente, cirurgias

  • 29

    envolvendo o trato biliar, apndice, vagina e orofaringe so includas nesta

    categoria, contanto que nenhuma evidncia de infeco ou de quebra importante

    na tcnica seja encontrada.

    3) Feridas contaminadas: Incluem feridas abertas, recentes, acidentais. Alm disso,

    cirurgias com quebras importantes na tcnica estril ou exposio grosseira do

    trato gastro intestinal e incises nas quais inflamao aguda, no purulenta seja

    encontrada so includas nesta categoria.

    4) Feridas sujas ou infectadas: Incluem feridas traumticas antigas com tecido

    desvitalizado ou aprisionado e as que envolvem infeco clnica existente ou

    vsceras perfuradas. Esta definio sugere que microrganismos causadores de

    infeco ps operatria estavam presentes no campo operatrio antes da

    cirurgia.

    2.3.3 Fatores de risco

    As caractersticas e co-morbidades dos pacientes so determinantes na ocorrncia

    de ISC. Estudos mostram que infeces em outros locais diferentemente do local operado,

    (principalmente a colonizao por S.aureus), diabetes mellitus mal controlado, tabagismo,

    uso de corticides sistmicos e outras medicaes imunossupressoras, obesidade, extremos

    de idade, estado nutricional debilitado, transfuso sangunea, e internao pr e ps

    operatria prolongadas aumentam o risco de ISC. 40-48

    Outro fator de risco encontrado com frequncia na literatura idade avanada. Em

    um estudo de coorte com mais de 144.000 pacientes, o risco para ISC em pacientes acima

    de 65 anos foi significativo quando comparado a idades inferiores a 65 anos.48

    Portanto, os fatores de risco para ISC podem ser advindos das caractersticas do

    paciente ou das caractersticas da cirurgia, como listados na tabela 2:

  • 30

    Tabela 2: Fatores de risco para ISC de acordo com as caractersticas do paciente e

    caractersticas da cirurgia.

    Caractersticas do paciente Caractersticas da cirurgia

    Idade Preparo pr operatrio da pele

    Estado nutricional Tricotomia pr operatria

    Diabetes Profilaxia antimicrobiana

    Fumo Antissepsia pr operatria das mos e

    antebraos da equipe cirrgica

    Obesidade Ambiente da sala de operao

    Colonizao por microorganismos Roupas e campos cirrgicos

    Resposta imune alterada Esterilizao dos instrumentos

    Durao da internao pr e ps operatrio

    Tcnica cirrgica: hipotermia, trauma aos

    tecidos, visceras ocas, remoo de tecido

    desvitalizado, drenos cirrgicos, material

    de sutura e erradicao de espao morto

    Fonte: Cirurgias seguras salvam vidas. Organizao Mundial da Sade. 2010 p102

    2.4 Vigilncia das infeces do stio cirrgico

    2.4.1 Vigilncia de processos

    A vigilncia tem sido descrita como a contnua e sistemtica coleo, anlise,

    avaliao e disseminao de dados e amplamente utilizada pela CCIH como ferramenta

    para obteno e comparao de dados. Os sistemas de monitoramento usam critrios de

    avaliao baseados em definies padronizadas, ajustes para riscos, habilidade para coletar

    e validar e analisar dados. Atravs da vigilncia, a CCIH pode fornecer s equipes

    assistenciais informaes importantes para a otimizao do cuidado ao paciente. Um

    programa ativo de vigilncia necessrio para identificao das infeces de ferida

    operatria (IFO) e uma das ferramentas que podem ser utilizadas o check list. 2

    As listas de verificao ou listas de checagem tm sido amplamente utilizadas em

    todas as reas da segurana do paciente. Apesar de aparentemente simples, esse mtodo

    tem se mostrado eficaz para preveno de erros e eventos adversos. 5

    Ao liderar o estudo

  • 31

    multicntrico que validou a lista de segurana cirrgica da Organizao Mundial da Sade

    (OMS), o cirurgio Atul Gawande conclui que o valor desta simples lista de verificao

    se d no somente na verificao de itens em si, mas da padronizao e disseminao de

    procedimentos que se incorporam prtica com o decorrer do tempo. Gawande reflete

    sobre esta prtica naturalmente incorporada rea de aviao, onde as listas de verificao

    so comuns e incorporadas ao dia a dia, porm, na sade h uma grande resistncia apesar

    de serem realizados procedimentos to ou mais complexos. De acordo com o autor, as

    listas de verificao no podem resolver todos os problemas, mas elas, alm de outras

    aes orientadas para a segurana, como padronizao, simplificao, funes foradas e

    dupla checagem, podem nos auxiliar a prestar um cuidado de sade mais seguro e

    confivel. 15

    H que se levar em conta na construo e implantao de uma lista de verificao

    de processos clnicos complexos ou simples, as questes culturais, de mo de obra e

    operacionais. 5,15

    Por isso a importncia da sua validao, com adaptaes para cada

    cenrio.

    2.4.2 Clculo de taxa de ISC

    De acordo com orientao da ANVISA, as taxas de ISC e vigilncias de processos

    devem ser obtidas pela CCIH de cada unidade hospitalar e deve priorizar procedimentos

    com menor risco intrnseco de infeco. A escolha do procedimento para vigilncia deve

    levar em conta ainda: 32

    1) Frequncia da realizao na unidade e/ou

    2) Procedimentos limpos de grande porte ou complexidade e/ou

    3) Procedimentos limpos com uso de prteses e/ou

    4) Outros procedimentos relevantes para a instituio.

    A frmula para o clculo da taxa deve ter como numerador todas as infeces

    diagnosticadas no procedimento submetido avaliao. As infeces devem ser

    computadas na data em que o procedimento correspondente foi realizado e no na data do

    diagnstico da ISC. Como denominador devem ser includos todos os procedimentos em

  • 32

    anlise no perodo. A razo multiplicada por 100 (cem) e expressa na forma de

    percentual:

    Taxa de ISC = n de ISC no procedimento escolhido X 100

    n total do procedimento escolhido

    As vigilncias de processos e estruturas tambm devero gerar taxas que so

    expressas atravs da razo entre n de observaes totais sobre o n de observaes

    adequadas multiplicados por 100. E expressa sob forma percentual. Por exemplo:

    Taxa de adequao a procedimentos X=

    N de adequaes a um determinado processo ou estrutura X100

    N total de um determinado processo ou estrutura

    A ANVISA sugere indicadores para acompanhamento e controle, porm, outros itens para

    vigilncia podem ser acrescentados de acordo com sua relevncia no procedimento

    escolhido. Os indicadores sugeridos pela ANVISA so:32

    1) Tempo de internao pr operatria 24h

    2) Tricotomia com intervalo 2h

    3) Tricotomia com aparador e tesoura

    4) Antibiticoprofilaxia realizada at 1h antes da inciso

    5) Antissepsia do campo operatrio

    6) Durao da antibioticoprofilaxia

    7) Inspeo da caixa cirrgica

    3. METODOLOGIA

    3.1 Tipo de estudo

    Trata-se de um estudo metodolgico com abordagem quantitativa para validao de

    contedo de um instrumento para vigilncia da CCIH relacionada a ISC em neurocirurgia.

    A pesquisa metodolgica pode ser definida como a investigao controlada dos aspectos

    tericos e aplicados de matemtica, estatstica, mensurao e os meios de reunir e analisar

    os dados49

    . aquela que se refere s investigaes dos mtodos de obteno, organizao e

    anlise dos dados, tratando-se da elaborao de instrumento para coleta e anlise de

  • 33

    dados50

    , aqui entendidos como aspectos referentes ao controle das ISC. Os estudos

    metodolgicos visam investigao de mtodos para coleta e organizao dos dados, tais

    como: desenvolvimento, validao e avaliao de ferramentas e mtodos de pesquisa, o

    que favorece a conduo de investigaes com rigor acentuado.49,50

    A pesquisa metodolgica tem como uma estratgia utilizar de maneira sistemtica os

    conhecimentos existentes, visando elaborar uma nova interveno, ou melhorar uma

    interveno, ou ainda, elaborar ou melhorar um instrumento, um dispositivo ou um mtodo de

    medio. 50,51

    Basicamente, um estudo metodolgico abrange as seguintes etapas:

    Definir o construto ou comportamento a ser medido

    Formular os itens da ferramenta

    Desenvolver instrues para os usurios e respondentes

    Testar a confiabilidade e validade da ferramenta. 49

    As trs primeiras etapas requerem uma reviso da literatura especfica e exaustiva para

    obter bases slidas para o construto. No entanto, ao optar pela construo de um novo

    instrumento, o pesquisador tem a responsabilidade de garantir que este, de fato, apresente

    caractersticas psicomtricas satisfatrias, que lhe atribuam fidedignidade dos resultados, o

    que requer sua validao para verificar se o instrumento capaz de medir ou avaliar aquilo

    a que se prope medir ou avaliar. 16

    O aspecto mais significativo e criticamente importante da pesquisa metodolgica

    abordado em mensurao e estatstica chamado de psicometria. Este tipo de mensurao

    estatstica fundamenta-se na teoria da medida em cincias para explicar o sentido que tm

    as respostas dadas pelos sujeitos a uma srie de tarefas e propor tcnicas de medida dos

    processos mentais 49

    . A psicometria lida com a teoria e o instrumento de medio (p. ex.

    questionrios), ou tcnicas de medio (p.ex. ferramentas de observao) ao longo do

    processo de pesquisa. A psicometria lida, portanto, com a medio de um conceito com

    ferramentas confiveis e vlidas. 49,52,53

  • 34

    Como referencial metodolgico para elaborao e anlise dos itens do instrumento,

    utilizou-se estudos de Fernandes 54, Alexandre & Colucci55 e Silva56.

    3.2 Cenrio

    O cenrio da realizao deste estudo foi o Hospital Federal da Lagoa (HFL). O

    HFL uma Unidade de Sade Pblica com gesto direta do Ministrio da Sade. Situa-se

    no Municpio do Rio de Janeiro e tem ampla atuao desde a ateno bsica, passando pela

    ateno de mdia e alta complexidade, sendo realizadas por atendimento ambulatorial e de

    internao. No h setor de Emergncia nesta Unidade. Acontecem na Unidade cerca de

    500 procedimentos cirrgicos por ms, sendo esses de baixa, mdia e alta complexidade. 57

    So realizadas cerca de 10 neurocirurgias por ms.

    Em resposta s demandas internacionais e nacionais com a preocupao com

    questes relacionadas Segurana do Paciente e Qualidade, o Hospital Federal da Lagoa

    vem construindo nos ltimos anos sua prpria estrutura para a gesto e implementao

    nesse sentido. A partir de 2009 iniciou-se um movimento com vistas adequao nos

    moldes do Consrcio Brasileiro de Acreditao (CBA), que usa diretrizes da The Joint

    Comission para conceder selos de qualidade e acreditao hospitalar. Buscou-se

    consultoria para iniciar um diagnstico do hospital nesta direo.

    O setor de Gerncia da Qualidade foi formalmente constitudo no ano de 2010,

    composto por profissionais da rea mdica, enfermagem e administrao, envolvidos na

    busca de qualidade e segurana do paciente e desde ento vem desenvolvendo aes neste

    sentido. A Comisso de Controle de Infeco Hospitalar (CCIH) desta unidade tambm

    participa ativamente deste processo, no intuito de unir foras e utilizar as mesmas diretrizes

    para otimizao dos resultados.

    A escolha desse cenrio se deve pelo nmero significativo de neurocirurgias

    realizadas e pela necessidade de sistematizar a vigilncia das ISC na CCIH deste hospital .

    Os critrios dessa escolha se justificam nas recomendaes da ANVISA, onde cada

    unidade de sade deve escolher os procedimentos para vigilncia a partir dos critrios pr

    estabelecidos e de acordo com a freqncia da realizao na unidade. 54

  • 35

    3.3 Participantes do estudo: juzes especialistas

    Os participantes do estudo foram os juzes-especialistas, que so profissionais

    com reconhecida especializao e/ou experincia profissional no assunto-foco. Ressalta-se

    que, para a seleo dos participantes na validao de um instrumento de extrema

    importncia o nvel de qualificao profissional e/ou experincia prtica sobre a rea

    temtica a ser estudada para que se possa obter consenso de idias especializadas. A

    seleo da amostra considerada no aleatria, de convenincia ou intencional e se

    justifica uma vez que o interesse selecionar juzes especialistas na temtica de estudo.55

    De acordo com critrios encontrados na literatura, o grupo de avaliadores deve ser

    constitudo com 9 a 15 integrantes para uma validao consistente. 58

    Assim, para ser

    considerado participante desta pesquisa, foi caracterizado o perfil descrito abaixo:

    Figura 1: Critrios para a seleo de participantes. Rio de Janeiro, 2015

    Critrios para seleo dos participantes

    1. Ser graduado em medicina ou enfermagem e

    2. Ter prtica de pelo menos dois anos em uma das seguintes reas de atuao:

    Comisso de Controle de Infeco Hospitalar, neurocirurgia ou pr e ps

    operatrio de pacientes neurocirrgicos e/ou

    3. Ter capacitao (especializao / residncia) nas reas citadas; e

    4. Trabalhar na instituio em que o instrumento foi validado.

    Itens obrigatrios: 1 e 4. Adicionar os itens 2 ou 3.

    Tais critrios foram estabelecidos por acreditar que estes profissionais renem

    requisitos quanto ao conhecimento terico-prtico essenciais proporcionando uma

    validao consistente do instrumento, visto ser um instrumento para uso essencialmente na

    prtica.

    O grupo de avaliadores foi escolhido considerando a sua atuao nas etapas do

    tratamento cirrgico. Assim, para validar o contedo referente s informaes acerca do

    preparo pr-operatrio, buscou-se as enfermeiras das unidades cirrgicas, que executam ou

    supervisionam a execuo desses procedimentos. Os juzes-especialistas no que se refere

    ao contedo das informaes intra-operatrias, foram os neurocirurgies, cujo

    conhecimento e atuao avalizam sua anlise acerca do momento operatrio propriamente

  • 36

    dito. Na mesma lgica, para responder o instrumento de validao acerca do ps-operatrio

    foram selecionadas as enfermeiras do Centro de Tratamento Intensivo (CTI), que prestam

    cuidados a esses pacientes no ps-operatrio e possuem expertise nos procedimentos

    realizados nesse perodo. Ressalta-se que todos os pacientes realizam o ps operatrio no

    CTI.

    Tambm, como pblico de interesse na utilizao do instrumento em situao de

    validao, foi includo como parte do grupo de juzes especialistas, os membros da CCIH,

    que se dispuseram a valid-lo no que se refere adequao do instrumento quanto sua

    utilizao para vigilncia de ISC em neurocirurgia.

    Cada grupo de participantes realizou a avaliao dos itens do instrumento

    referente sua prtica, com a exceo do grupo de juzes dos profissionais da CCIH, que

    avaliaram todos os itens.

    Assim, o grupo de juzes-especialistas foi constitudo por 6 enfermeiras das

    clnicas cirrgicas, 5 neurocirurgies, 8 enfermeiras do CTI e 5 membros da CCIH.

    3.4 Percurso Metodolgico

    Para melhor entendimento, este trabalho foi didaticamente separado em 5 fases:

    1 Fase: Levantamento bibliogrfico;

    2 Fase: Construo do instrumento e dos kits para validao do instrumento;

    3 Fase: Coleta de dados: validao de contedo por juzes-especialistas;

    4 Fase: Anlise e discusso da validao realizada pelos juzes-especialistas

    5 Fase: Produo da verso final do instrumento

    Por tratar-se de uma pesquisa metodolgica, o detalhamento de cada fase do percurso

    metodolgico se deu no captulo a seguir, com os elementos que significam o movimento

    de pesquisa e a sua respectiva descrio.

  • 37

    3.4 Validao do instrumento

    No processo de construo de um instrumento, a avaliao determinada por

    variveis que podem ser denominadas como propriedades psicomtricas, dentre as quais se

    destacam a confiabilidade e validade. A confiabilidade pode ser resumida como medir

    fielmente o que se pretende avaliar. J a validade consiste em medir com preciso o que o

    seu objetivo prope avaliar. 16,50

    A validade pode ser verificada atravs da Validade de Contedo, Validade

    Prtica ou de Critrio e Validade de Construo. A Validao de Contedo o mtodo

    mais utilizado na rea de sade e pretende medir com exatido a capacidade que o

    instrumento possui para aferir o fato estudado. Busca verificar quo representativas so as

    perguntas que foram elaboradas para determinado tpico. 16,50,55

    Neste estudo utilizou-se o mtodo de Validade de Contedo pelo julgamento de

    especialistas, referindo-se consistncia e valor de cada item para avaliar as prticas a que

    se destinam ao controle de ISC em neurocirurgia.

    Para obteno do consenso dos especialistas, foi utilizado um questionrio com

    Escala do tipo Likert de quatro pontos. A Escala Likert uma escala no comparativa,

    onde se obtm itens relacionados opinio do avaliador. Quando conta com quatro pontos,

    o avaliador classifica as questes quanto a discordo totalmente, discordo parcialmente,

    concordo parcialmente e concordo totalmente.59

    Posteriormente utilizou-se a anlise com o clculo de ndice de Validade de

    Contedo (IVC) para efetiva validao do instrumento. 55

    3.6 Coleta de dados

    A coleta de dados neste estudo teve por finalidade a validao de contedo por

    juzes-especialistas do instrumento elaborado com base em levantamento bibliogrfico

    feito pela autora.

    Aps a seleo dos juzes-especialistas foram realizados dois blocos com duas

    reunies cada. O primeiro bloco de reunies aconteceu em 03/03/2015 s 09h e 09/03/2015

    s 14h. Este primeiro grupo consistiu de mdicos da neurocirurgia e profissionais da

    CCIH. O segundo bloco de reunies aconteceu em 26 e 28 de outubro/2015, ambas s

  • 38

    14h e foi realizado com enfermeiros do CTI e enfermeiros da unidade cirrgica. Este

    espao de tempo ocorreu por problemas de sade da pesquisadora. Nessas reunies

    ocorreu a explicao dos objetivos e procedimentos da pesquisa. Aps alguns

    questionamentos e esclarecimentos, houve a concordncia de todos e assim, assinaram o

    termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), (APNDICE I). Foi tambm garantido

    o anonimato e foi ressaltado que a participao seria voluntria. Ainda, nessas ocasies, foi

    entregue a cada participante, um kit contendo a carta convite do estudo (APNDICE II),

    orientaes para o preenchimento do formulrio de avaliao (APNDICE III),

    instrumento elaborado pela autora (APNDICE IV) e formulrio com as questes para

    avaliao dos itens do instrumento (APNDICE V). Os kits foram recolhidos aps as

    respostas dos juzes-especialistas, pela prpria pesquisadora, num prazo de uma a duas

    semanas de acordo com a data das reunies.

    O formulrio com as questes para avaliao dos itens pelos especialistas foi

    confeccionado com base na Escala Likert de 4 pontos com as seguintes variaes: 1= No

    claro, 2= Pouco claro, 3= Claro, 4= Muito claro. Ao final do formulrio havia um espao

    em aberto para o juiz-especialista dar sua contribuio/opinio.

    Vale ressaltar que, como dito anteriormente, cada juiz-especialista recebeu

    formulrio para validao referente sua rea de especialidade. Somente os profissionais

    da CCIH realizaram a avaliao de todo o instrumento.

    3.7 Anlise dos dados

    Nesse estudo, os dados foram obtidos atravs das respostas dos juzes-

    especialistas ao instrumento de validao, cuja anlise quantitativa e expressa valorao

    que melhor representou o grau atribudo pelo participante em cada item do instrumento.

    Para considerar um item validado, foi utilizado o ndice de Validade de Contedo (IVC),

    que se refere proporo ou porcentagem de juzes que esto em concordncia sobre

    determinados aspectos do instrumento e de seus itens. 55

    Esta medida permite que

    inicialmente se analise cada item do instrumento e depois o instrumento como um todo.50,55

    Foram considerados os seguintes critrios para a taxa de concordncia aceitvel

    entre os especialistas: nos grupos com at cinco participantes, todos devem concordar, e no

    caso de seis ou mais participantes, a concordncia deve apresentar uma taxa de ndice de

  • 39

    Validade de Contedo maior que 0,78. O escore do ndice calculado por meio da soma de

    concordncia dos itens que foram marcados por 3 e 4. Os itens que receberam a

    pontuao 1 e 2 foram eliminados. 50, 55,56

    Os itens foram avaliados separadamente quanto proporo de concordncia

    entre os especialistas, usando o clculo da mdia dos valores de cada questo dividido pelo

    nmero de itens considerados na avaliao. Este clculo pode ser expresso pela frmula:

    IVC = nmero de respostas 3 ou 4/ nmero total de respostas. 50, 55, 56

    Para o instrumento completo, foi calculado o ndice de Validade de Contedo por

    Escala (IVCE), que traz a proporo dos itens com escore 3 e 4 por todos os

    avaliadores envolvidos. Para este clculo, no h um consenso sobre como faz-lo50,55

    . No

    presente estudo, ser utilizada a mdia dos valores dos itens calculados separadamente, isto

    , somando-se todos os IVC calculados separadamente divididos pelo nmero de itens

    considerados na avaliao. Para verificar a validade de novos instrumentos, como nesta

    pesquisa, concordncia mnima deve ser de 0,80 a 0.90. 50,55

    3.8 Aspectos ticos da Pesquisa

    A pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa do Hospital Universitrio

    Antonio Pedro, em 08/08/2014, sob parecer n 725.095, registro CAAE:

    31289314.0.0000.5243 (ANEXO I), de acordo com a resoluo 466/2012.

    A coleta de dados iniciou-se no Hospital Federal da Lagoa com o consentimento

    formal da direo do hospital (ANEXO II).

    Como dito anteriormente, os participantes da pesquisa assinaram o termo de

    consentimento livre e esclarecido (TCLE) ao incio da coleta de dados (APNDICE I).

    4 - APRESENTAO, ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS: AS

    CINCO FASES DO PERCURSO METODOLGICO

    4.1 Fase 1: levantamento bibliogrfico

  • 40

    A identificao, com base na literatura, das aes de maior relevncia no controle

    das ISC em neurocirurgia constitui na ntegra um dos trs objetivos deste trabalho, sendo

    necessria uma busca cuidadosa e minuciosa para cumprir o objetivo proposto. Trata-se de

    uma reviso integrativa da literatura que consiste em sintetizar mltiplos estudos

    publicados sobre determinado assunto e identificar lacunas que precisam ser preenchidas

    com a realizao de novos estudos. 60

    Para operacionalizar a reviso foi adotada a sequncia das seguintes etapas: 1-

    identificao do tema e seleo da questo de pesquisa; 2- estabelecimento de critrios

    para incluso e excluso de estudos/amostragem; 3- definio das informaes a serem

    extradas dos estudos selecionados/categorizao dos estudos; 4- avaliao dos estudos

    includos; 5- interpretao dos resultados e 6- apresentao da reviso/sntese do

    conhecimento. 60

    Foi realizado por meio da busca online de artigos a fim de responder a seguinte

    questo de pesquisa: Quais so as aes de maior relevncia no controle e diminuio das

    infeces de stio cirrgico em neurocirurgia, passveis de interveno da CCIH?

    A busca foi realizada nas Bases de Dados a Literatura Latino-Americana e do

    Caribe em Cincias da Sade (LILACS), na Cumulative Index to Nursing and Allied

    Health Literature (CINAHL), na US National Library of Medicine (PUBMED), Biblioteca

    Virtual em Sade (BVS) e portal da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel

    Superior (CAPES). Foram utilizados os descritores em cincias da sade (DeCS):

    Neurocirurgia, infeco de ferida operatria, controle de infeco, com suas respectivas

    tradues padronizadas no Medical Subject Heading (MESH): neurosurgery, surgical

    wound infection, infection control e em espanhol: Neurocirurga, infeccin de la herida e

    control de infeccin. Em razo das caractersticas especficas de cada base de dados, as

    estratgias de busca foram adaptadas de acordo com o objetivo e os critrios de incluso

    deste estudo.

    A busca foi realizada no perodo de 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015, sendo

    estabelecidos limites de 10 anos quanto ao ano de publicao (2004 a 2014). Os estudos

    foram selecionados mediante os seguintes critrios de incluso: artigos cientficos, teses ou

    dissertaes publicados nos idiomas ingls, portugus ou espanhol que abordassem

  • 41

    medidas para controle, preveno e vigilncia de infeco do stio cirrgico em

    neurocirurgia e disponveis na ntegra nas bases de dados selecionadas, ou atravs de

    contato com os autores ou compra virtual. Consideraram-se apenas estudos com

    neurocirurgias, com ou sem dispositivos e estudos que expusessem alguma ao com

    alguma influncia sobre a incidncia de ISC, que pudesse ser executada (ou deixar de ser

    executada), passveis de implantao, execuo ou vigilncia pela CCIH. Foram excludos

    os artigos que abordassem tcnicas ou procedimentos cirrgicos, cirurgias de trauma e

    emergncias e artigos que trouxessem fatores de risco intrnsecos para ISC, tais como

    comorbidades, tempo de internao pr operatrio e tempo de cirurgia. Foram encontrados

    muitos artigos com a temtica de ISC por S.aureus com protocolos para controle e

    vigilncia deste patgeno. No entanto, optou-se pela excluso devido especificidade

    desse assunto. Os relatos de casos informais, captulos de livros, artigos de reflexo,

    reportagens, editoriais de jornais sem carter cientfico, revises sistemticas e integrativas

    tambm foram excludos.

    Iniciou-se pela base de dados PUBMED, utilizando o formulrio avanado com as

    combinaes dos descritores. Seguiu-se a consulta nas bases; CINAHL, LILACS, CAPES

    e BVS. A busca realizou-se pelos descritores individualmente, em seguida, fizeram-se os

    cruzamentos, utilizando o operador booleano and, entre os descritores. Aps os

    cruzamentos, foram encontradas 1.182 publicaes. Ao final da busca, foram encontrados

    23 artigos. O processo de seleo dos artigos se encontra na Figura 2:

  • 42

    Figura 2: Fluxograma de seleo dos estudos. Rio de Janeiro, 2015

    PUBMED

    n= 416

    CINAHAL

    n=122

    LILACS

    n=14

    CAPES

    n=329

    BVS

    n=301

    Estudos encontrados a partir da associao de descritores:

    APLICADO CRITRIO TEMPORAL

    PUBMED

    n=194 LILACS

    n=6

    CAPES

    n=99

    BVS

    n=146

    CINAHL

    n= 50

    Excluses aps a leitura de resumos:

    No respondem questo norteadora: 102

    No atendem aos critrios pr estabelecidos: 81

    Repetidos: 288

    PUBMED

    n=09 CINAHL

    n=0 LILACS

    n=4

    CAPES

    n= 3

    BVS

    n=7

    Estudos includos: 23 artigos

    Total

    1182

    Total 495

  • 43

    Foi utilizado um instrumento de coleta de dados para avaliao das publicaes

    selecionadas. Ele contempla itens relativos ao artigo, tais como: identificao,

    caractersticas metodolgicas, e relativas ao contedo, como: objetivos, mtodo,

    intervenes mensuradas e resultados encontrados. Aps a leitura na ntegra dos artigos

    selecionados, foram extrados os itens para preencher o instrumento de avaliao. Os dados

    foram digitados em uma planilha eletrnica tipo Microsoft Excel 2007 para anlise

    descritiva. Em seguida, foram sintetizados em tabelas para a sntese das informaes, que

    encontra-se no APNDICE VI.

    Para a avaliao do nvel de evidncia cientfica foi utilizada a classificao de sete

    nveis: nvel 1- reviso sistemtica ou metanlise de relevantes ensaios clnicos

    randomizados controlados ou oriundas de diretrizes clnicas baseadas em revises

    sistemticas de ensaios clnicos randomizados controlados; nvel 2- derivadas de pelo

    menos um ensaio clnico randomizado controlado bem delineado; nvel 3- ensaios clnicos

    bem delineados sem randomizao; nvel 4- estudos de coorte e de caso-controle bem

    delineados; nvel 5- reviso sistemtica de estudos descritivos e qualitativos; nvel 6-

    estudo descritivo ou qualitativo e nvel 7- opinio de autoridades e/ou relatrio de comits

    de especialistas. 61

    4.1.1 Anlise dos artigos selecionados

    A maior concentrao de publicaes foi nos EUA (N=6) e Europa (N=8). O

    Brasil foi responsvel por trs publicaes. A maior parte dos peridicos foi elaborada por

    profissionais mdicos. Enfermeiros foram responsveis pela publicao de cinco artigos.

    No foram encontradas publicaes de outras categorias de profissionais. Quanto ao tipo

    de publicao, todos foram artigos cientficos.

    O Qualis - Peridicos o conjunto de procedimentos utilizados pela Comisso de

    Aperfeioamento de Pessoal do Nvel Superior (Capes) para estratificao da qualidade da

    produo intelectual dos programas de ps-graduao. Como resultado, disponibilizado

    uma lista com a classificao dos veculos utilizados pelos programas de ps-graduao

    para a divulgao da sua produo. A classificao de peridicos pela Capes realizada

    pelas reas de avaliao e atualizada anualmente. Esses peridicos so enquadrados em

  • 44

    estratos indicativos de qualidade - A1 (o mais elevado); A2; B1; B2; B3; B4; B5; C (com

    peso zero) 62

    . Para esta anlise, as revistas nas quais no havia a rea de avaliao

    Enfermagem, foi utilizada a rea de avaliao Medicina.

    A tabela 1 apresenta as caractersticas dos artigos quanto ao nome do peridico em que foi

    publicado, ano e a nota Qualis da Capes e grau de evidncia segundo a AHRQ.

    Figura 3- Identificao das publicaes quanto ao ano, revista, Qualis Capes e nvel de

    evidencia (N=23). Rio de Janeiro, 2015.

    Estudo Revista Qualis Ano Nvel de

    evidncia

    Estudo 163

    - Craniotomia sem tricotomia: avaliao

    de 640 casos

    Arquivos de

    Neuropsiquiatria A1 2004 4

    Estudo 2 64

    - The importance of protecting surgical

    instrument tables from intraoperative contamination

    in clean surgeries

    Revista Latina

    Americana de

    Enfermagem

    A2 2013 2

    Estudo 3 65

    - Protocolo de curativo em craniotomia:

    incidncia de infeco

    Acta paulista de

    enfermagem A2 2004 4

    Estudo 4 66

    Is the tricotomy needed in the usual

    craniotomy practices?

    Revista Chilena

    de neurocirurgia B4 2007 4

    Estudo 5 67

    Prescription of prophylactic antibiotics

    for neurosurgical procedures in teaching hospitals in

    Iran

    Americam

    Journal of

    Infection

    Control

    A1 2007 4

    Estudo 6 68

    - Risk factors for neurosurgical site

    infections: an 18-month prospective survey

    Journal of

    Neurosurgery A2 2008 4

    Estudo 7 69

    - Zero tolerance to shunt infection: can it

    be achived?

    Journal of

    neurological and

    neurosurgical

    psychiatry

    A2 2004 3

    Estudo 870

    - Risk factors and outcomes associated

    with surgical site infections after craniotomy or

    craniectomy

    Journal of

    Neurosurgery A2 2014 4

    Estudo 971

    - Effect of an intraoperative double-

    gloving strategy on the incidence of cerebrospinal

    fluid shunt infection

    Journal

    neurosurgery

    pediatrics

    B2 2006 3

  • 45

    Estudo 1072

    - Impact of surgical site infection

    surveillance in a neurosurgical unit

    Journal of

    Hospital

    Infection

    A1 2011 4

    Estudo 11 73

    - A standardized protocol to reduce

    pediatric spine surgery infection: a quality

    improvement initiative

    Journal

    neurosurgery

    pediatrics

    B2 2014 3

    Estudo 12 74-

    Surgical site infection surveillance for

    Neurosurgical procedures: A comparison of passive

    surveillance by surgeons to active surveillance by

    infection control professionals

    Americam

    Journal of

    Infection

    Control

    A1 2007 4

    Estudo 13 75

    - Risk factors for neurosurgical site

    infections after craniotomy: a critical reappraisal of

    antibiotic prophylaxis on 4,578 patients

    British Journal

    of Neurosurgery B2 2005 4

    Estudo 14 76

    - Shampoo after craniotomy: a pilot

    study

    Canadian of

    neurosciense

    nursing

    B4 2007 4

    Estudo 1577

    - Sterile surgical technique for shunt

    placement reduces the shunt infection rate in

    children: preliminary analysis of a prospective

    protocol in 115 consecutive procedures

    Child's Nervous

    System B2 2007 2

    Estudo 1678

    - Reduction in surgical site infections in

    neurosurgical patients associated with a bedside hand

    hygiene program in Vietnam.

    Infection control

    and hospital

    epidemiology

    A1 2007 3

    Estudo 17 79

    - Bandages, dressings, and cranial

    neurosurgery

    Journal of

    Neurosurgery A2 2007 4

    Estudo 18 80

    - Risk factors for adult nosocomial

    meningitis after craniotomy: role of antibiotic

    prophylaxis

    Neurosurgery A2 2006 2

    Estudo 19 81

    - Does shaving the incision site increase

    the infection rate after spinal surgery?

    Spine (

    Philadelphia

    PA. 1976)

    B1 2007 2

    Estudo 20 82

    - Nonconcordance with surgical site

    infection prevention guidelines and rates of surgical

    site infections for general surgical, neurological, and

    orthopedic procedures

    Antimicrobial

    agents and

    chemotherapy

    A1 2011 4

    Estudo 21 83

    - A simple method to reduce infection of

    ventriculoperitoneal shunts

    Journal

    neurosurgery

    pediatrics

    B2 2010 2

    Estudo 22 84

    - Surgical safety checklist is associated

    with improved operating room safety culture,

    reduced wound complications, and unplanned

    readmissions in a pilot study in neurosurgery

    Scandinavian

    Journal of

    Surgery

    2013 3

  • 46

    Estudo 2385

    - Risk factors for surgical site infection

    following spine surgery: efficacy of intraoperative

    saline irrigation

    Journal of

    neurosurgery:

    spine

    B1 2007 4

    Fonte: Elaborado pela autora

    A maior parte dos artigos foi publicada em 2007 (N=9), com publicaes em

    quase todos os anos do perodo determinado para a presente pesquisa. Os artigos foram

    distribudos em 16 revistas. Dessas, dez possuem a avaliao do Capes Qualis A,

    considerado o melhor conceito em publicao. Quanto ao nvel de evidncia dos artigos

    selecionados, catorze artigos foram categorizados com nvel 4, quatro com nvel 3 e cinco

    com nvel 2.

    Os resultados desta pesquisa foram organizados em 4 categorias: aes Pr

    operatrias, Intra operatrias, Ps operatrias e Vigilncia. Esta ltima categoria foi

    acrescentada devido sua relevncia no contexto da temtica deste trabalho e ao nmero

    de publicaes encontradas. A tabela 2 mostra os artigos subdivididos de acordo com as

    categorias.

    Categoria 1: Aes no pr operatrio

    Nesta categoria ressalta-se a tricotomia como tema prevalente, emergindo em trs

    das quatro publicaes deste grupo. Trata-se especificamente a respeito da realizao ou

    no da raspagem dos cabelos nas craniotomias e dos plos nas cirurgias de coluna cervical.

    Estes estudos trazem resultados contrrios ou indiferentes prtica da tricotomia no

    impacto s ISC. Os achados destas produes corroboram com outras publicaes

    encontradas, a exemplo de reviso sistemtica que buscou as evidncias a respeito das

    vantagens e desvantagens dessa prtica. Nesta, foram avaliadas 21 publicaes, onde os

    autores concluram que no h nenhuma evidncia para apoiar a realizao rotineira de

    tricotomia no pr-operatrio de neurocirurgia para a preveno de ISC 86

    .

  • 47

    Figura 4 Aes agrupadas em categorias relacionadas aos artigos da reviso integrativa.

    Rio de Janeiro, 2015.

    Categorias Aes Cdigo do artigo Total de artigos

    Aes no pr operatrio

    Tricotomia 1,2,4,19 4

    Limpeza do ambiente

    Aes no intra operatrio

    Paramentao 5,6,7,8,9,13,15,

    18,20,21,23

    11

    Antibioticoterapia

    Derivao ventricular

    Irrigao do campo operatrio

    Aes no ps operatrio

    Protocolo de curativos 3, 14, 16, 17 4

    Manuteno de Derivao

    Ventricular Externa (DVE)

    Lavagem dos cabelos

    Higiene das mos

    Vigilncia

    Vigilncia passiva versus

    vigilncia ativa

    10,11,12,22 4

    Lista de verificao

    Implantao de protocolo

    Fonte: Elaborado pelas autoras

    Categoria 2: Aes no intra-operatrio

    O maior nmero de artigos encontrados nesta busca se referiu a alguma ao no

    intra-operatrio (11 artigos). As publicaes desta categoria se dividiram basicamente em

    artigos que buscaram evidncias sobre a importncia do uso correto da

  • 48

    antibioticoprofilaxia e em artigos focados em aes especficas durante o procedimento

    cirrgico.

    A antibioticoprofilaxia cirrgica correta depende de fatores como horrios de

    administrao durante a cirurgia, posologia e durao do tratamento. Trs artigos

    selecionados tiveram a i