INSTRUMENTOS PERFURO CONTUNDENTES – LESÕES POR PROJÉTEIS

Embed Size (px)

Citation preview

1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE DIREITO

Denis Endo Nicolini 4065080-5 Felipe Mateos Silva 4060788-7 Fernanda Dias 4065202-5 Flavio Thom 3075588-3 Gabriela Segarra 4063961-4 Julio Uras - 4064131-7 Ricardo Capelli 4060841-7

INSTRUMENTOS PERFURO CONTUNDENTES LESES POR PROJTEIS

So Paulo 2011

2

Denis Endo Nicolini 4065080-5 Felipe Mateos Silva 4060788-7 Fernanda Dias 4065202-5 Flavio Thom 3075588-3 Gabriela Segarra 4063961-4 Julio Uras - 4064131-7 Ricardo Capelli 4060841-7

INSTRUMENTOS PERFURO CONTUNDENTES LESES POR PROJTEIS

Iniciao Cientfica apresentada Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Orientadora: Prof. Dr. Irene Batista Muakad

So Paulo 2011

3

SUMRIO

Introduo......................................................................................................... 5 Captulo 1- Noes Gerais de Medicina Legal .............................................. 7 Captulo 2 Traumatologia Forense ............................................................ 12 2.1 Classificao das Leses ................................................................ 12 2.2 Natureza dos Traumas .................................................................... 13 2.3 Traumas de Natureza Mecnica ..................................................... 14 2.4 Traumas de Natureza Fsica ........................................................... 16 2.5 Traumas de Natureza Qumica ....................................................... 19 2.6 Traumas de Natureza Fsico-Qumica ............................................ 20 2.7 Traumas de Natureza Bioqumica ................................................... 21 2.8 Traumas de Natureza Biodinmica ................................................. 22 2.9 Traumas de Natureza Mista ............................................................ 23 Captulo 3 Instrumentos Perfuro Contundentes Leses por Projteis........................................................................................................... 24 3.1 Instrumentos Perfuro Contundentes ............................................... 24 3.2 Armas de Fogo em Ao ................................................................ 28 3.3 Orifcio de Entrada .......................................................................... 30 3.4 Orlas de Contuso, Enxugo e Escoriao ...................................... 35 3.5 Zonas de Esfumaamento, Chamuscamento e Tatuagem ............. 37 3.6 Trajetria do Projtil ........................................................................ 39 3.7 Orifcio de Sada .............................................................................. 41 3.8 As Vestes ........................................................................................ 43 3.9 Disparos Encostados ...................................................................... 43 3.10 Disparos em Ossos ....................................................................... 44

4

3.11 Problemas Periciais ....................................................................... 44 3.12 Interesse Jurdico .......................................................................... 46 Captulo 4 Balstica Forense ...................................................................... 47 4.1 Conceito .......................................................................................... 47 4.2 As Armas de Fogo ........................................................................... 47 4.3 Classificao das armas de Fogo .................................................. 48 4.3.1 Classificao das armas de Fogo Quanto a Alma do Cano ...... 48 4.4 Breves Consideraes Sobre o Revlver ....................................... 49 4.5 Algumas Consideraes Sobre as Pistolas Semi Automticas ...... 50 4.6 Calibre das Armas de Fogo ............................................................. 51 4.7 Calibre das Armas de Alma Raiada, de seus Cartuchos de Munio e Projteis ................................................................................................ 51 4.8 Calibre das Armas de Alma Lisa ..................................................... 52 4.9 Munio ........................................................................................... 52 Concluso ....................................................................................................... 53 Bibliografia ..................................................................................................... 54

5

INTRODUO

No Brasil, cerca de 17 milhes de armas de fogo esto em circulao no pas, sendo que apenas 49% delas seriam de uso legal, 28% ilegais e 23% alm de ilegais, seriam para o uso do crime. As consequncias desse cenrio refletem na taxa de homicdio, em que 21,72 bitos a cada 1000.000 habitante devido a arma de fogo, sendo que tais ndices triplicaram em um perodo de 20 anos. Alm disso, tais taxas colocaram o Brasil em 2 lugar no pdio de homicdios causados por armas de fogo, perdendo apenas para Venezuela.1

Hodiernamente, o aumento significativo do uso da arma de fogo vem sendo demonstrado nas estatsticas, vez que j atingiu o ndice de 63,9% dos homicdios.

Diante desse nefasto cenrio, de extrema relevncia o estudo das leses que esses instrumentos, mormente as armas de fogos, causam nos serem humanos.

Assim sendo, esse trabalho trata acerca dos instrumentos prfuros contundentes, em especial as leses por eles causadas, sendo que tais instrumentos abarcam como caractersticas centrais a funo de cortar e contundir ao mesmo tempo.

No trabalho desenvolvido, com o fito de contribuir para a melhor compreenso da questo, foi realizada uma anlise das noes gerais da

1

EM PROFUNDIDADE Armas de Fogo, Veja online, So Paulo. Disponvel em: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/armas_fogo/contexto_armas.html. Acesso em 28 de janeiro de 2011.

6

medicina legal. Alm disso, no foi olvidado de trazer baila a moderna doutrina construda sobre a matria.

No primeiro captulo desse trabalho ser explorado os conceitos referentes medicina legal. As distines entre as correntes extensivas, restritivas e intermedirias. Alm de uma breve anlise acerca dos peritos e das percias.

J no segundo captulo, este foi ocupado em estudar as classificaes das leses (leve, grave, gravssima, leso seguida de morte), em seguida, os diversos tipos de traumas.

A pretenso do terceiro captulo, por sua vez, foi em conceituar os instrumentos prfuros contundentes, alm de elucidar o funcionamento das armas de fogo, bem como todos os efeitos por elas causadas: os orifcios de entrada e de sada, as orlas, as zonas e as trajetrias.

Por fim, o quarto captulo destina-se ao estudo da balstica, tratando de forma detalhada as caractersticas e classificaes das armas de fogo, alm de explanar acerca dos calibres e munies desses instrumentos.

Fica consignado, desde j, que esse trabalho no tem a pretenso de esgotar a matria, sobretudo em razo das inmeras peculiaridades e facetas que esse fascinante tema possui.

7

CAPTULO 1 - NOES GERAIS DE MEDICINA LEGAL

Antes de adentramos no estudo do principal tema aqui abordado, necessrio se faz uma breve anlise dos aspectos que abrangem a Medicina Legal, para que assim possamos situar dentro do contexto jurdico a importncia e o papel da percia realizada sob as leses advindas de armas de fogo.

Sendo assim, para que a aplicao da norma jurdica seja eficaz e equilibrada, ou seja, condizente com a realidade que nos cerca em ordem para alcanar os parmetros necessrios concreo da justia, o operador do direito precisa do auxlio de outros ramos da cincia.

Este o papel que desempenha a Medicina Legal, sendo uma cincia que visa interligar o direito aos conhecimentos mdico-biolgicos, com o fim de colaborar com o sistema jurdico, amoldando a norma a realidade ftica dos casos que necessitem de sua incidncia.

Nesse sentido esclarece-nos Odon Ramos Maranho:

O Direito no pode prescindir dos conhecimentos mdico-biolgicos, pois evidente que os Institutos Legais existem para servir o homem e freqentemente se aplicam s reas da Sade. Para saber se se trata de morte natural ou violenta, para avaliar uma ofensa integridade fsica de algum, para concluir pela imputabilidade ou no de um agente criminal, para verificar se a doena do reclamando

8transmissvel por contgio ou herana, tornam-se indispensveis os conhecimentos de natureza mdico-biolgica. E essas so, apenas, algumas instncias em que a colaborao da Medicina ao Direito se faz necessria. Se considerarmos, de outra parte, que o jurista lida com a norma legal em princpio e o mdico com o caso objetivo em concreto, concluiremos, desde logo, pela indispensabilidade de se estabelecer um liame entre dois raciocnios dspares e at certo ponto distanciados. Da a procura de uma verdadeira ponte entre diversificadas reas do conhecimento humano, para amold-las, relacion-las e obter eficaz colaborao bilateral, a servio do Homem, para que existem e para quem buscam o bem comum. Essa a pesada tarefa da Medicina Legal.2

No tocante a conceituao dada pela doutrina Medicina Legal, so trs as correntes existentes, quais sejam: a extensiva, a restritiva e intermediria.

A primeira, que estabelece o conceito extensivo, preconiza que a Medicina Legal seria um ramo autnomo, possuindo metodologia, objeto e objetivos distintos. Atualmente este entendimento no mais aceito, sob o fundamento de que a Medicina Legal no possui os requisitos aqui mencionados, utilizando-se de mtodos dos mais diversos ramos da cincia mdico-biolgica em ordem para auxiliar o direito.

A segunda corrente, ou seja, a restritiva, adota a posio de que no existiria uma cincia denominada Medicina Legal, tratando-se na realidade de meras questes mdicas a serem analisadas para a soluo de determinado caso jurdico. De acordo com este entendimento, qualquer indivduo legalmente habilitado a praticar a medicina poderia servir Justia.

MARANHO, Odon Ramos. Curso Bsico de Medicina Legal, 8 edio, So Paulo: Editora Malheiros, 2005, pg. 23.

2

9

As duas correntes de pensamento acima demonstradas no so capazes de conceituar validamente a cincia em comento, uma vez que so posies extremadas, no condizendo com a amplitude e a importncia das funes desempenhadas pela Medicina Legal no auxlio do Poder Judicirio.

Nesse

Sentido,

seguindo

o

entendimento

majoritrio

entre

os

doutrinadores, consolidou-se a posio intermediria, que nas palavras de Odon Ramos Maranho conceitua a Medicina Legal:

Pode ser assim expressa: Medicina Legal a cincia de aplicao dos conhecimentos mdico-biolgicos aos interesses do Direito constitudo, do Direito constituendo e fiscalizao do exerccio mdico-profissional.3

Nesta esteira, o liame entre a Medicina Legal e o Direito se encontra na atuao dos peritos no direito constitudo e no direito constituendo. Na primeira hiptese, encontramos a necessidade do judicirio de uma analise aprofundada de determinada situao ftica, dependendo para tanto da atuao de um perito, ou seja, de um indivduo experiente dentro de certo campo de atuao. Como exemplo, podemos citar a atuao de um mdico especialista que avaliaria as extenses dos danos causados a uma vtima de leso corporal, ou as causas da morte de um indivduo em um suposto acidente. J na segunda hiptese, encontramos o auxlio da Medicina Legal, atravs dos conhecimentos mdico-biolgicos, para a confeco de leis capazes de normatizar as situaes fticas de forma mais eficaz, condizendo de maneira mais adequada a realidade que nos cerca.

na primeira hiptese que se enquadra o presente estudo, pois pretendemos analisar a importncia e as formas que se do as leses3

Ibid. p. 25.

10

ocasionadas por disparo de armas de fogo, bem como a maneira que esta auxilia na elucidao dos casos prticos.

Por fim, cumpre-nos analisarmos neste tpico a figura do perito e a percia, posicionando-os dentro do sistema jurdico, sem os quais no se concretizaria a to necessria interligao entre a Medicina e o Direito.

Acerca desta questo, ensina-nos Odon Ramos Maranho:

So inmeras as eventualidades em que a autoridade judiciria precisa de exames especializados para servirem de provas, os quais sero o fundamento objetivo da sentena. Conforme a natureza do exame a ser feito, freqentemente a autoridade se defrontar com situaes em que no pode prescindir da colaborao do tcnico. Assim, se socorrer de especialistas, que podem ser engenheiros, mdicos, assistentes sociais etc. Os exames realizados por tcnicos, a servio da justia, so as percias. O que define a espcie de percia a ser feita , evidentemente, a natureza da matria a ser examinada. Em outros termos, cada observao de interesse jurdico requer um determinado e especfico observador: o especialista ou tcnico. Esses profissionais que esclarecem os julgadores a respeito de assuntos prprios de suas profisses so chamados peritos. Uma vez feito o exame, dele resultar um documento, para fazer parte integrante do Processo Judicirio, que recebe o nome de percia. Diramos, de outra forma, que o exame de interesse judicirio, relatado em juzo, a percia, e o examinador que a produziu o perito.4

No que diz respeito a classificao da percia, pode ela ser direta ou indireta. A percia direta aquela realizada pelo perito diretamente em contato com o indivduo a ser analisado; j nos casos em que isso no possvel,4

Ibid. p. 31.

11

encontramos a percia indireta, ou seja, aquela realizada por meio de documentos. Nesse ltimo caso, o especialista encarregado de auxiliar o Poder Judicirio analisa diversos documentos, como, por exemplo, registros hospitalares, confeccionando, posteriormente, seu laudo pericial.

Em via de regra, o laudo pericial deve sempre ser realizado pelo perito oficial, qual seja, o especialista que funcionrio da prpria instituio ou repartio pblica. Porm, muitas vezes, esse profissional no existe, ou no h nmero suficiente deles para atender toda a demanda, motivo pelo qual fica possibilitada autoridade pblica a nomeao de um perito no oficial. Este profissional de gozar da confiana do magistrado e ser reconhecidamente competente dentro de sua rea de atuao. H ainda a possibilidade das partes formularem quesitos a serem respondidos pelo perito, bem como a existncia da figura do assistente tcnico, ou seja, o profissional especialista contratado por elas que ir acompanhar a realizao da percia.

dentro deste contexto geral que iremos estudar e analisar as implicaes dos danos ocasionados pelo disparo de armas de fogo, ou seja, as feridas perfuro contundentes, que sero abordadas nos prximos tpicos.

12

CAPTULO 2 - TRAUMATOLOGIA FORENSE

A Traumatologia Forense estuda as leses resultantes de traumatismos, tanto na esfera fsica quanto na mental e moral.

Primeiramente h que se demonstrar a diferena entre leso e trauma. Pois, este se refere ao capaz de gerar uma alterao; aquele diz respeito alterao em si. dizer que, o trauma a causa do dano e sua conseqncia a leso.

Assim, o termo leso corporal usado para designar os danos sofridos pela vtima. De acordo com o Cdigo Penal, leso corporal so ofensas integridade fsica ou psquica de outrem.

2.1 Classificao das Leses:

As leses corporais podem ser classificadas quanto intensidade:

A) Leves No h perigo de morte ou de grandes complicaes para a vtima. Atingem o corpo ou a sade de forma superficial. simples, luxaes, entorses e edemas. B) Graves Se resulta: incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de trinta dias; perigo de vida; debilidade permanente de membro, sentido ou funo; acelerao de parto. So representadas pelas escoriaes, equimoses hematomas, contuses

13

C) Gravssimas Se resulta: incapacidade permanente para o trabalho; enfermidade incurvel; perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo; deformidades permanentes; aborto. D) Leses corporais seguidas de morte H que se analisar a inteno em provocar a morte.

2.2 Natureza dos Traumas

Partindo do conceito que o trauma a ao causadora de um dano, devemos saber que so vrios os tipos de energia capazes de gerar danos. So elas:

A) Trauma de natureza mecnica: A energia envolvida cintica, isto , de movimento do objeto vulnerante, da vtima ou de ambos. B) Traumas de natureza fsica: A energia envolvida radiante, como a luminosa, a trmica, a eltrica, a sonora, a nuclear e a radiolgica, alm das variaes de presso.

C) Trauma de natureza qumica: Nesta ao so utilizados produtos qumicos que produzem leses teciduais, na maioria das vezes externas, ou produzem alteraes funcionais, podendo levar a morte. D) Trauma de natureza fsico-qumica: impede o envio de ar nos pulmes o que altera a composio qumica sangunea. O que resultar asfixias.

14

E) Trauma de natureza bioqumica: perturbaes alimentares, autointoxicaes e infeces. F) Trauma de natureza biodinmica: Aqui se encaixam os choques e a falncia de mltiplos rgos.

G) Trauma de natureza mista: resulta da associao destes dois ltimos.

Estudaremos

em

separado

algumas

particularidades

dos

traumas

apresentados, bem como das leses decorrentes:

2.3 Traumas de natureza mecnica

Importante frisar que o uso que se faz de um instrumento o que servir para classific-lo. Portanto, no h um instrumento exclusivamente perfurante, contundente ou cortante, por exemplo. Assim, um revolver pode ser usado com o fim de se aplicarem coronhadas, gerando leses contusas, ao invs de ser utilizado para atirar.

No que diz respeito s leses deste tipo de ao, de acordo com o doutrinador Leonardo Mendes Cardoso:

(...) Caso o objeto adentre cavidades naturais do corpo craniana, torcica, abdominal ou plvica, vaginal, anal, oral, nasal etc. , diremos que houve penetrao; caso ultrapasse todos os limites corporais, falaremos em transfixo; caso permanea dentro de um tecido diremos que houve alojamento.5

5

CARDOSO, Leonardo Mendes, Medicina Legal para o acadmico de direito, 2 edio. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2009. pg. 47

15

Vejamos algumas peculiaridades:

A leso incisa e inciso representam os cortes advindos de instrumentos com borda afiada. As incisas possuem cauda de escoriao (de arrasto) voltada para o lado do trmino da leso. O que a diferencia das incises que possuem mesma intensidade por todo trajeto. A cauda te importncia no mbito jurdico, uma vez que informa o sentido em que a leso foi provocada e com isso a possvel posio do agressor em relao a vitima.

A contuso causada por objeto com superfcie plana ou romba que entra em contato com a regio afetada de modo mais amplo. Assumem diferentes formas: rubefao, escoriao, equimose, hematomas, bossas sanguneas, ruptura de rgos ou vsceras, fraturas, luxaes e entorses.

A perfurao fruto de instrumentos com ponta muito afilada e sem gume, como as agulhas e os espinhos. Tais objetos agem com presso localizada sobre um ponto mnimo. So chamadas tambm por leses punctrias ou puntiformes, pois deixam a marca de um ponto;

E o restante das leses, quais sejam: prfuro-incisa, perfuro-contusa, corto-contusa, entre outras, correspondem s associaes das leses anteriores, mas com caractersticas misturadas.

Necessrio se faz explicar o ferimento por projtil de arma de fogo, por ser um tipo juridicamente especial de leso.

16

Sabemos que no a arma que causa a leso, exceto quando usada como instrumento contundente. A arma somente propicia o mecanismo de propulso para os projteis. Nem mesmo as balas so as geradoras.

O fato comum a todos os projteis que todos so objetos perfurocontundentes. O projtil pode se alojar no tecido muscular, cutneo, adiposo ou sseo. Pode at mesmo penetrar uma cavidade ou transfixar parte do corpo. Portanto, um projtil determina somente um orifcio de entrada ou um de entrada e outro de sada. Sendo ainda possvel, alguns orifcios de entrada e de sada para o mesmo projtil.

Conforme

a

distancia

do

disparo

pode-se

ter

alteraes

nas

caractersticas das mesmas:

A) Tiro de encosto todos os elementos provenientes do disparo sero injetados nos tecidos onde o projtil causou um orifcio de entrada. B) Tiro a curta distancia conhecido como tiro a queima roupa, h um orifcio de entrada com forma ovalada, com borda invertida, orla de escoriao, halo de enxugo e de tatuagem, orla de esfumaamento, zona de queimadura e de compresso dos gases.

Nos tiros distancia, a leso representa a forma arredondada, orla de escoriao, halo de enxugo, arola equimtica e bordas invertidas.

2.4 Traumas de Natureza Fsica

A) Temperatura

17

Tanto o frio quanto o calor podem causar leses, bem como as variaes bruscas, chamadas de choques trmicos.

A ao pelo frio compromete o sistema nervoso, causando sonolncia, convulses, delrios, letargia e comprometimento dos movimentos, necrose dos membros no todo ou em parte.

A alterao pelo calor resulta intermao (onde a fonte o excesso de calor devido a locais confinados ou mal-arejados) ou insolao (onde a causa o calor de lugares abertos e expostos ao sol). Por ao de calor direto, as queimaduras so as conseqncias. Podendo ser de primeiro grau (quando atinge apenas a epiderme); de segundo grau (quando atinge apenas a epiderme, mas forma bolhas serosas, alm da vermelhido); de terceiro grau (quando o msculo atingido, podendo causar deformao no momento da cicatrizao); e de quarto grau (representadas ela carbonizao).

J as variaes bruscas possuem importncia na rea trabalhista, nos casos de acidente de trabalho e de doenas ocupacionais.

B) Eletricidade

A descarga de eletricidade natural os raios pode causar queimaduras, rupturas dos vasos sanguneos, bem como tecidos, hemorragias, ruptura do corao, fluidez do sangue, comprometimento respiratrio, congesto de mltiplas vsceras, e fulminao, quando h morte.

A descarga de eletricidade artificial, aquelas produzidas por mecanismos fabricados pelo homem, se provocar a morte configura a eletrocusso, caso

18

contrrio configura-se a eletroplessao. Podem causar comprometimento superficial da pele at o extremo, com a carbonizao do corpo. Geralmente, o que justifica a morte so os casos de parada cardaca, respiratria e hemorragia intracraniana.

C) Radioatividade

a energia liberada pelos aparelhos de raios-X, causam danos por descargas radioativas. As leses podem ir de queimaduras simples at cnceres e carbonizao.

D) Presso atmosfrica

A presso atmosfrica, quando da sua diminuio, em grandes altitudes aonde o ar rarefeito diminui a concentrao de oxignio, pode causar falta de ar, nuseas, taquicardia, torpor e ate mesmo perda de conscincia. Quando do seu aumento, em regies profundas, pode acarretar intoxicao pelos gases da corrente sangunea. E descompresso sbita, gerando embolias.

E) Luz e Som A energia luminosa so menos freqentes, ocorrendo na maioria dos casos, com soldadores desprotegidos, sem os culos de proteo. Quanto energia sonora, os ouvidos humanos no suportam volumes com freqncia acima de 85 decibis. Acidentes so possveis, como exploses. So conseqncias comuns os zumbidos perenes, disfunes com comprometimento da capacidade auditiva, bem como do labirinto, com vertigens e dores de ouvido.

19

Referente a este tema, o ilustre doutrinador Leonardo Mendes Cardoso, ainda acrescenta:

Atualmente tem-se notado uma importncia crescente em relao aos acidentes envolvendo aparelhos celulares e de microondas. Ambos podem, teoricamente, representar risco de danos ao organismo, uma vez que tambm envolvem o uso de energia radiante. (...) Mas tudo isso ainda carece de maiores pesquisas e comprovaes.6

2.5 Traumas de natureza qumica

Encontram-se aqui os cidos, bases, medicamentos ou venenos, substncias que podem causar danos ao organismo.

Os dois primeiros constituem um grupo parte, os custicos. Estes podem provocar efeitos coagulantes (desidratam os tecidos criando uma espcie de queimadura local seca) ou liquefacientes (geram queimaduras midas).

Os venenos, quanto origem, podem ser sintticos (de origem animal, vegetal ou mineral); quanto ao estado fsico podem ser pode ser slidos, lquidos, pastosos e gasosos; quanto ao fim, podem ser agrotxicos, medicinais, cosmticos, de uso domstico ou industrial; quanto funo qumica, podem ser xidos, bases ou sais.

6

Inbid. p. 59

20

Ainda sobre os traumas de natureza qumica e as leses decorrentes destes, vale ressaltar a respeito dos medicamentos, que as quantidades usadas que iro definir-los como txicos. Nas palavras do prefalado autor:

Importante lembrar que todo medicamento possui uma dose considerada teraputica e outra txica. A distncia entre tais doses (intervalo de segurana) nos informa acerca da sua segurana de uso. Quanto maior for esta distncia entre as doses teraputica e txica, mais seguro ser o remdio. Quanto menor, maior o risco que representa. Como j dissemos, variveis devem ser analisadas, como resistncia do organismo, interao medicamentosa, etc.7 prazo de validade do produto, comprometimento de rins ou de fgado, reaes alrgicas,

2.6 Traumas de natureza fsico-qumica

So aqueles que alteram a composio sangunea no que se refere aos gases desta, aumentando sua acidez ou alcalinizao, resultando as asfixias em geral. O principal dano provocado a morte neuronal causando a perda de funes vitais.

As asfixias podem ser: por confinamento, d-se pela permanncia de uma ou mais pessoas em ambientes fechados, nos quais no h circulao de oxignio, isto , no h renovao do ar; por monxido de carbono, d-se pela competio do transporte pela hemoglobina entre o oxignio e o monxido de carbono; e por sufocao, d-se pela privao de ar nas vias areas, podendo

7

Ibid. p. 61.

21

ser por via direta (aspiraes de corpos estranhos) ou por via indireta (impedimento dos movimentos inspiratrios e expiratrios).

As asfixias ocorrem acidentalmente atravs do suicdio, bem como do homicdio. Como nos casos de soterramentos, afogamentos, estrangulamentos e enforcamentos. No h que se confundir estes dois ltimos termos. O estrangulamento demonstra o dano decorrente da fora aplicada por outrem, e o sulco deixado horizontalizado e regularmente ininterrupto. J o enforcamento, o dano devido constrio do pescoo por meio da fora aplicada pelo peso do prprio corpo que pende sob o lao, e o sulco deixado interrompido no ponto perto do n.

Desse modo, para completar os mecanismos de asfixia, encontramos a esganadura. Esta a ao provocada no pescoo da vitima pelas mos do agressor, sendo, geralmente encontradas marcas de unhas em torno do pescoo. Referem-se, portanto, aos casos de homicdios.

2.7 Traumas de natureza bioqumica

Vejamos as condies que aqui se enquadram:

A) Inanio - decorre da falta de alimentao, privando o individuo dos elementos nutricionais bsicos para a sua sobrevivncia. Pode se dar de forma acidental (local sem acesso aos alimentos), voluntaria (greves de fome), culposa (por negligncia) ou criminosa (casos de bebs abandonados e alguns seqestros).

22

B) Doenas carenciais - decorrem da alimentao insuficiente. Ocorrem mais por falta de recursos ou por negligncia dos responsveis.

C) Intoxicaes alimentares - acontecem pela ingesto de alimentos mal conservados ou contaminados.

D) Auto-intoxicaes - so alteraes advindas da ingesto de alimentos, cuja biotransformao resulta na formao de substancias nociva ao organismo.

E) Infeces - so contaminaes de pessoas atravs de microorganismos capazes de produzir mudanas que comprometam a sade.

2.8 Traumas de natureza biodinmica

So os choques e a falncia mltipla de rgos.

O choque uma resposta do organismo devido a uma agresso externa como meio de proteo. Ocorre a liberao de substncias para manter o fluxo cerebral e coronrio, o que pode gerar morte celular. Um dos grandes sinais a hipotenso arterial frente vasodilatao que geralmente ocorre.

J a falncia mltipla de rgos uma disfuno generalizada de vrios rgos, com serias alteraes bioqumicas, o que causa hipotenso arterial, taquicardia, insuficincia respiratria aguda e alterao do ritmo cardaco.

23

Por fim, para encerrar este captulo de estudo da Traumatologia Forense, nos resta a ltima natureza de traumas e as leses decorrentes deste:

2.9 Traumas de natureza mista

Neste trauma associam-se as energias de ordem bioqumica e biodinmica. Encontramos a fadiga - excesso de esforo fsico, desequilibrando o funcionamento do organismo; as doenas parasitrias - mais relacionadas com negligncia com crianas e idosos; e as leses decorrentes de maus tratos - ligada mais intimamente com a esfera penal.

24

CAPTULO 3 - INSTRUMENTOS PERFURO CONTUNDENTES LESES POR PROJTEIS

3.1 Instrumentos Perfuro Contundentes

As leses causadas pelos instrumentos perfuro contundentes so caracterizadas pela ao de um mecanismo que perfura e contunde ao mesmo tempo, sendo que tais ferimentos so geralmente produzidos pela utilizao de armas de fogo, que ser o objeto do presente trabalho.

As armas de fogo esto presente em grandes porcentagem como instrumentos utilizados para a pratica de crimes dolosos e para o suicdio, sendo comum tambm figurarem como responsveis por leses corporais ou homicdios culposos.

A arma de fogo um objeto caracterizado por possuir uma abertura em uma de suas extremidades e ser parcialmente fechado na parte de trs, por onde inserido o projtil. Quando da realizao do disparo, o projtil impulsionado a grande velocidade pela abertura da arma atravs da rpida expanso de gases provocado pela repentina queima de plvora. Importante frisar, que junto com o instrumento perfuro contundente, ou seja, o projtil ou projteis, escapam, tambm, pela boca da arma, outros elementos que contribuem para a formao e caracterizao da leso, a saber, gases superaquecidos, chama, fumaa e grnulos de plvora que no se incendiaram.

Conforme preleciona Almeida Junior, em sua obra Lies de Medicina Legal:

25

Nas armas de fogo, o instrumento vulnerante, de ao perfurocontundente, e representado pela bala ou pelos gros de chumbo , cabendo a arma, em si mesma, a tarefa de impelir violentamente o projetil em direo ao alvo. A exploso da plvora, na parte posterior do cano, fechada, produz sbito e considervel desenvolvimento de gases, os quais, por sua enorme forca expansiva, obrigam o projtil a sair pela nica abertura que lhe oferece, isto e, a da parte anterior.8

No tocante as armas de fogo, devemos levar em considerao as particularidades em relao ao cano, a percusso, ao numero de tiros e a munio.

Ao falarmos do cano, o seu comprimento nos permite distinguir as armas de cano longo (fuzis, espingardas etc) e armas de cano curto (revolveres e pistola). Sendo estas as mais frequentes em pericias criminais.

O interior, ou alma do cano, apresenta sulcos helicoidais raias que tem como escopo imprimir ao projetil, ao sair, um movimento giratrio, o que faz com que o projetil tenha a sua trajetria mais constante. A largura e inclinao das raivas variam segundo o tipo de arma utilizado.

O calibre pode ser real ou nominal. O calibre real e o prprio da arma, medido na boca do cano. O calibre nominal e o da capsula, o qual se excede ligeiramente o da arma respectiva.

8

ALMEIDA JUNIOR, Antnio Ferreira de, Lies de Medicina Legal, 22 edio, So Paulo: Companhia

Editora Nacional, 1998, p. 140

26

O modo de percusso das armas atuais se da por meio do choque entre o percussor e a escorva da arma, resultando em sua detonao. Nas espingardas e nas garruchas de carregar pela boca, a percusso se aplica sobre a espoleta colocada no ouvido. Porem se a arma exige capsulas, estas recebem na escorva a pancada do percussor.

Quanto ao numero de tiros, existem armas de um s tiro, sendo necessrio carreg-las outras vez, para que se possa atirar novamente. Outras podem dar diversos tiros sem a necessidade de recarreg-las. Isto, conforme Almeida Junior se consegue graas a dispositivos vrios:a) A arma pode ter dois e mesmo quatro canos: espingardas de caca, certas pistolas no automticas. b) A arma tem um cano nico; mas atrs deste existe um tambor com determinado numero de cmaras , cada uma das quais se carrega com um cartucho: a medida que se dao os tiros, o tambor vai girando e colocando assim, nova cmara carregada em correspondncia com a culatra. Sao os revolveres. c) A arma tem um cano nico e no possui tambor. O pente de balas e posto no deposito, atrs do cano. Logo depois de ter dado um tiro, o atirador, mediante movimentos de uma alavanca, extrai a capsula detonada, coloca no cano novo cartucho e arma outra vez o gatilho para o tiro seguinte. So as armas de repetio: certas pistolas, certos fuzis de caca, os fuzis de guerra. d) A arma e semelhante as do tipo anterior: cano nico, ausncia de tambor, carga de um pente de balas na parte traseira. Mas e a prpria forca da plvora, em cada tiro, que prepara a arma para o tiro seguinte, com o novo cartucho, o rearmamento do gatilho. So armas automticas: pistolas automticas, fuzis automticos.9

A munio e outro aspecto que deve sempre ser levado em conta, nas armas de carregar pela boca a munio vai sendo introduzida no cano com o9

Ibid. p. 141.

27

auxilio de uma vareta, primeiro a plvora, e em seguida a bucha, o projetil e por ultimo uma nova bucha que segurara o chumbo. Uma espoleta, cobrindo o ouvido da arma, sofrera a pancada do cao ao ser puxado o gatilho.

J as armas de carregar pela culatra ou armar de retrocara, recebem os mesmo elementos, mas arranjados em um cartucho. O cartucho e composto de 5 partes:

1) O estojo: pode ser metlico ou de papelo.

2) A plvora: pode ser negra, ou seja, compe-se de salitre, enxofre e carvo em propores variveis; ou plvora sem fumaa, que e constituda essencialmente por nitrocelulose ou nitrocelulose acrescida de nitroglicerina.

3) A bucha: pode ser feita das mais diversas substancias, entre elas pano, papel, papelo, cortia, disco metlico, disco de ouro, etc.

4) A espoleta: constituda por uma mistura que devera explodir ao toque do percussor, e difere de acordo com o fabricante.

5) O projtil: ora e formado por chumbo, ora por bala.

28

3.2 As Armas de fogo em Ao

A arma e acionada assim que o gatilho e puxado, disparando-se o tiro. Isto resulta em uma marcao tanto na arma como fora dela, alm da criao de resduos, e estes elementos contribuiro para a soluo dos problemas periciais.

Primeiramente o co percute a espoleta do cartucho, o que ocasiona a exploso que se propaga para a plvora, cuja exploso forca a bala atravs do cano e a impele em direo ao alvo, e ao mesmo tempo descartando o estojo, que fica preso pelo extrator e e expelido para fora da arma.

Um vez forcada a bala no interior do cano, recebe ela as impresses correspondentes a radiao da arma. Este e um fato importantssimo, pois as particularidades da raiao da arma funcionam como se fossem impresses digitais, permitindo que a arma seja identificada.

Como regra, todos os elementos contidos no cartucho deveriam queimarse totalmente dentro do cano, mas na realidade tal situao no ocorre. Tanto que fica dentro do cano um resido, o sarro, varivel no aspecto e na medida que os dias passam. O sarro pode informar a natureza da plvora utilizada e a data que o disparo foi feito.

Dado o tiro, o que sai da boca da arma e um conjunto heterogneo composto pela bala, gases da exploso, grnulos de plvora ainda incombusta, chama, fumaa e resto da bucha. Neste sentido, nos ensina o prefalado autor:

29

O todo forma um cone de pice voltado para o interior do cano e de base para o lado de fora. A base tem, naturalmente, um dimetro que ser tanto maior quanto mais afastado estiver da arma.10

Em resumo, o aspecto mais importante em relao aos efeitos do tiro, e que nos tiros de perto o alvo recebera alm da bala, as impresses dos elementos do cone, tais como o chamuscamento, esfumaamento, e ate incrustaes de grnulos de plvora (tatuagem). Isto se constitui, como se vera, importante fator de analise para laudos periciais.

A bala, apos deixar o cano, segue uma trajetria retilnea a principio e se encurva um pouco para o solo. Em sua progresso vai girando em torno de seu prprio eixo longitudinal, o que mantem a bala com a sua ponta para a frente. Porem, a medida que a velocidade da bala se reduz, existe a possibilidade de mudana na posio, o que devera dificultar o sucesso ao atingir o alvo desejado.

Todos os elementos supracitados contribuem para a anlise do ferimento, possibilitando que o perito determine uma srie de fatores que contribuem para a elucidao da forma em que se deu a agresso.

Por possurem multiplicidade de caractersticas, e por geralmente fornecerem elementos essenciais para a determinao da causa jurdica, da materialidade do fato, bem como da possvel autoria, o estudo das leses produzidas pelos projteis faz-se excepcionalmente necessria.

10

Ibid. p. 143.

30

O perito ao analisar os ferimentos produzidos por projteis de arma de fogo deve ater-se aos seguintes pontos:

1- Forma, dimenses, e contorno das zonas do orifcio de entrada e sada;

2- A trajetria do projtil no interior do corpo, alm das descries das leses internas;

3- A orientao do disparo em relao posio do corpo;

4- A provvel distncia do disparo.

Passaremos a seguir ao estudo mais aprofundado dos ferimentos perfuro contundentes, suas descries e determinaes.

3.3 Orifcio De Entrada

Ocasionados

pela

entrada

do

projtil

no

corpo

da

vtima,

as

caractersticas dos ferimentos de entrada dependem fundamentalmente do tipo de munio empregada, angulo de incidncia, e distncia do disparo.

Conceitua, de forma brilhante tal ponto o professor Almeida Junior:

31Orifcio de entrada quase sempre localizado na pele (excepcionalmente na boca, nos olhos, no reto), e, na grande maioria da vezes, um so para cada bala. Ha dois quando esta, antes de penetrar no corpo, atravessa determinado segmento: a glndula mamaria pendente, o brao.11

Analisando-se o tipo de munio empregada, nos disparos efetuados com munio de projteis mltiplos, o aspecto da leso depende da distncia em que houve o disparo, uma vez que, em disparos prximos ou encostados ao corpo da vtima tem-se grande destruio do tecido humano, feridas irregulares, alm de significativa perda de massa corprea.

J nos disparos efetuados longa distncia por mltiplos projteis, verifica-se a existncia de leses mltiplas, distribudas ao redor de um ponto central, e que se afastam dependendo da distncia entre o atirador e a vtima.

Ao se analisar os ferimentos produzidos por projteis unitrios deve-se observar o ngulo em que o tiro foi dado, pois este determinar o formato da leso nica. Geralmente observa-se o formato circular ou elptico do projtil nico, dependendo do ngulo de incidncia e das linhas de tenso que atuam sobre a pele.

Vale ressaltar, como ensina-nos Odon Ramos Maranho, que a forma tomada pelo orifcio de entrada da leso depende da maneira pela qual o projtil atinge o alvo.12

11

12

Ibid. p. 144. MARANHO, Odon Ramos. Op. cit., p. 298

32

Os projteis nicos podem tambm produzir feridas maiores quando o tiro for dado com maior proximidade pele da vitima, ocasionando grande dilacerao desta acompanhada por grande perda de substncia. Isto se d devido fora expansiva dos gases associada ao poder vulnerante do projtil.

Comumente, a penetrao da bala produz uma ferida circular ovalar, excepcionalmente, os orifcios de entrada produzidos pelos projteis nicos podem ter formato atpico, nos casos em que o projtil perde velocidade podendo ferir pelo flanco ou pela base, ou quando o projtil atinge um alvo intermedirio antes de incidir sobre o corpo da vtima.

A leso tambm ser atpica nas hipteses em que o projtil atinge a vtima "de raspo", ou seja, de maneira tangencial pele. Este tipo de ferida no penetra no corpo no podendo, dessa forma, referir-se a orifcio de entrada, j que foi produzida apenas uma escoriao de formato alongado.

Alm do que j foi mencionado, deve-se observar com relao tambm forma do orifcio de entrada, que este possui geralmente bordas invertidas, invaginadas, voltadas para o interior do corpo.

Ao se mencionar as dimenses do orifcio de entrada, este nem sempre o mesmo em relao ao projtil, j que, em razo da distncia em que o disparo foi efetuado e da elasticidade da pele, este pode ser maior, menor ou igual ao dimetro do projtil.

Nesse mesmo sentido, Odon Ramos Maranho comenta sobre as dimenses do orifcio de entrada causado pelas armas de fogo:

33

O orifcio de entrada usualmente menor do que o calibre do projtil que o produziu e com ele guarda proporo direta. O exame do orifcio sugere, com boa aproximao, o calibre da bala vulnerante.13

Posto isso, importante comentar que o disparo muito prximo d origem a orifcio maior do que se espera, sendo exceo neste sentido. O dimetro geralmente menor que o orifcio de sada, no constituindo verdadeira regra, devendo esta comparao ser feita com cuidado, pois pode induzir a erro.

Comparando o orifcio de sada, ao de entrada, este se mostra geralmente menor, pois em virtude da elasticidade da pele, esta e distendida pela bala antes de ser perfurada. Nos tiros muito prximos, entretanto, o dimetro da ferida e maior que o da bala.

Por fim, importante comentar, que a entrada do projtil na vtima deixa determinados sinais que contornam o orifcio de entrada, sendo conhecidos como orlas e zonas. Os sinais provocados pelo projtil denominam-se orlas, j as zonas se caracterizam pela carga explosiva. Quatro espcies devem ser consideradas. Vejamos:

1) Orla de contuso. Ao penetrar do projtil, a pele se invagina como um dedo de luva e se rompe. Devido diferena de elasticidade existente entre a epiderme e a derme, forma-se uma orla escoriada, contundida.14

13 14

MARANHO, Odon Ramos. Op. cit., p.. 299

Ibid. p. 299.

34

2) Orla de enxugo. Devido maneira pela qual o projtil penetra na pele, carregando impurezas provenientes da plvora e dos meios anteriormente atravessados. A bala, por atrito, se limpa, formando a orla de enxugo;

No mesmo sentido, entendo Almeida Jnior:

Ao atravessar o cano da arma, a bala se cobre de resduos que ai existem sarro da plvora, ferrugem. Entrando na pele, ela se limpa dessas impurezas, enxuga-se nas bordas da ferida. Assim se forma a orla de enxugo, tambm caracterstica do orifcio de entrada.15

3) Zona de tatuagem. No removvel. Tambm conhecida como tatuagem verdadeira, caso o tiro seja efetuado de curta distancia, os grnulos o atingiro, e se depositaro em torno do orifcio de entrada, em uma zona circular tanto mais ampla e mais rarefeita quanto maios a distancia. Esta zona e muito importante, porque, alm de assinalar com segurana o orifcio de entrada, pode informar quanto a distancia e direo do tiro e quanto a quantidade de plvora.

4) Zona de esfumaamento. removvel, consiste em simples depsito de plvora incombusta e impurezas (MARANHO, Odon Ramos. Curso Bsico de Medicina Legal. 8 ed., So Paulo: Malheiros, 2005, pp. 298-397) (p. 300). A importncia diagnostica da zona de esfumaamento e menor que a da Zona de tatuagem, se bem que aquela possa indicar o orifcio de entrada, distancia e direo do tiro.

15

ALMEIDA JUNIOR, Antnio Ferreira de. Op. cit., p 146.

35

Estudaremos os sinais supramencionas de forma mais pormenorizada adiante.

3.4 Orlas de Contuso, Enxugo e Escoriao

Tratam-se de regies circunscritas, que circundam o orifcio de entrada, dando-lhe caractersticas aptas a reconhecer o ferimento produzido por instrumentos perfuro contundentes.

A orla de contuso ocorre devido contuso que o projtil causa na rede de capilares da pele no momento em que se encontra com a epiderme, causando ento uma pequena zona equimtica.

Aps a contuso e a passagem do projtil pela epiderme, esta se rasga dando margem conseqente exposio da derme, camada mais elstica, que encapsula e acompanha o projtil antes de se romper. exposio da derme ocasionada pela passagem do projtil por esta d-se o nome de orla de escoriao.

Deve o perito ter ateno ao identificar a orla de escoriao j que esta pode ser normalmente impedida de ser observada devido orla de enxugo que fica parcialmente sobreposta a ela.

Nas palavras do ilustre doutrinador Eduardo Roberto Alcntara DelCampo:

36

Na verdade, a orla de escoriao corresponde diminuta exposio da derme sobre a leso causada na epiderme, em razo da diferena de elasticidade entre as camadas. A orla de contuso, por outro lado, indica uma rea maior, que circunda o ferimento, e formada pelo halo hipermico decorrente da leso dos capilares da rea atingida pelo embate do projtil.16

Nesse sentido, cumpre-nos explicitar que, a pele se constitui de duas camadas distintas, a primeira mais fina e menos elstica, a epiderme, no deixa-se quase distender, rompendo-se facilmente, e a segunda, mais elstica, deixa-se distender em maior mbito. Dessa forma, o orifcio da epiderme tornase muito maior que o da derme.

Cumpre-nos tambm ressaltar a meno do douto doutrinador em relao orla de contuso, sendo esta um anel de colorao escura ao redor do orifcio de entrada, decorrente do embate do projtil contra a pele.

A orla de enxugo recebe esse nome devido ao projtil, recoberto de resduos de plvora, fuligem, e ferrugem, trazidos no momento em que este atravessa o cano da arma, enxuga-se ao atravessar a derme, depositando na superfcie desta todas estas impurezas.

Os ferimentos de entrada produzidos pelos instrumentos perfuro contundentes em sua grande maioria apresentam as descritas orlas, de contuso, de escoriao, e de enxugo.

16

DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcntara; Medicina Legal; 4 ed.; So Paulo: Saraiva; 2007, p. 183

37

3.5 Zonas de Chamuscamento, Esfumaamento e Tatuagem

Passamos agora a tratar das outras caractersticas essenciais para a anlise das feridas perfuro contusas.

No momento do disparo do projtil, alm deste, encontra-se expelido pela arma outras substncias que servem para identificar algumas caractersticas das feridas produzidas por estes. expelido pelo cano da arma: Fumaa, variando de acordo com o propelente utilizado, gases em alta temperatura e em combusto, gros de plvora, que podem ter entrado ou no em combusto, bem como micropartculas metlicas, que se desprendem do projtil no momento em que este produz atrito com o cano da arma.

Dependendo da distncia em que o disparo foi efetuado, da idade e conservao da arma, esses componentes diversos do projtil podem, ou no, atingir a vtima, j que no possuem fora suficiente para ir alm de poucos centmetros do cano da arma.

Como j mencionado como uma das substncias que podem deixar o cano da arma juntamente com o projtil, os grnulos de plvora que no entraram em combusto, podero se depositar em torno do orifcio de entrada, dependendo da distncia do disparo.

Importante se faz, para o perito, observar a zona de tatuagem, j que, esta, alm de assinalar claramente o orifcio de entrada, lhe informar sobre a distncia em que o disparo foi efetuado e tambm sobre a qualidade da plvora que foi utilizada.

38

A zona de tatuagem, em relao distncia, ter um dimetro maior ao redor do orifcio de entrada se o tiro foi dado de maior distncia, e, dimetro menor caso o disparo seja feito de menor distncia. Os grnulos de plvora ficaram tambm mais acumulados quanto mais prximo tenha ficado a vtima no momento do disparo.

Poder tambm, o perito, verificar a qualidade da plvora, segundo o exame dos pontos arredondados desta ou incrustaes lineares de variada colorao produzida. A plvora sem fumaa tatua menos intensamente j que queima de melhor maneira.

Importante tambm se faz, observar o perito que, no indivduo que se mantinha vivo ao receber o disparo, os grnulos de plvora permanecero, em parte, incrustados na pele deste, e, alguns sero expulsos pela cicatrizao da pele. Isso no ocorre no indivduo morto, j que no haver tal cicatrizaro.

Entre os elementos que deixam o cano da arma no momento do disparo, comporo a zona de esfumaamento, os elementos de plvora que incompletamente entraram em combusto, depositando-se, nos casos de disparos prximos ao alvo, em torno do orifcio de entrada. Tais elementos, por permanecerem de modo superficial, podem ser facilmente removidos por lavagem. Assim cabe ao perito observ-los e descrev-los antes e depois da lavagem.

Verifica-se

a

importncia

da

zona

de

esfumaamento,

pois,

semelhantemente zona de tatuagem, esta servir para que o perito identifique o orifcio de entrada, a distncia e a direo do disparo.

39

Quanto zona de chamuscamento, refere-se tal zona a regio da pele e dos pelos da vtima que possa vir a ser queimada pelos gases superaquecidos ou grnulos de plvora que se queimam fora do cano da arma, nos casos de disparos a curta distncia.

3.6 Trajetria Do Projtil

O projtil ao atingir e adentrar no corpo da vtima produzir um trajeto no interior deste. Quando o projtil no atravessa o corpo da vtima tal trajeto ser um canal fechado, quando de outra forma estar-se- diante de um canal aberto. Tal trajeto no existir caso o projtil ferir superficialmente a vtima, ou no caso de o tiro estourar a parte atingida dilacerando o corpo da vtima.

O trajeto poder ser nico para cada projtil, ou mltiplo, caso haja a fragmentao do mesmo. O projtil ter percurso retilneo, ou poder sofrer desvios.

Acerca da trajetria do projtil dentro do corpo da vtima, esclarece Odon Ramos Maranho:

As leses produzidas por disparo de arma de fogo se devem, mais freqentemente, s balas do que carga de chumbo (grnulos). Por isso, necessrio dar ateno a este tipo de ferimento. Quando o projtil atinge o organismo e nele penetra pode atravess-lo ou ficar nele retido. Se considerarmos o tnel que o projtil cria no corpo da vtima,

40veremos que pode ser penetrante ou transfixante.17

Sobre a penetrao transfixante, ensina-nos Odon Ramos Maranho acerca das leses assim provocadas:

Quando h orifcios de entrada e de sada, possvel o estudo do percurso da bala no organismo. Em situao mais simples, unindose os dois pontos (entrada e sada) temos a direo e o percurso do projtil. Entretanto, nem sempre to fcil assim, como ocorreu com um indivduo que tentou suicdio disparando a arma no ouvido direito e o projtil, depois de bater no rochedo, caminhou entre o couro cabeludo e a camada ssea, saindo junto ao pavilho da orelha esquerda... Quando se trata de regies moles, o percurso direto, mas, se houver interposio de ossos ou vasos, tudo se modifica. A reconstituio da trajetria , por vezes, difcil e at impossvel.18

Em se havendo a arma suspeita de ter sado os disparos, deve-se verificar a sua compatibilidade com o disparo que veio a matar uma pessoa. Deve haver compatibilidade com o calibre da arma, em no existindo, pra-se aqui o estudo. O segundo elemento o nmero de raias da arma. Estas provas, todavia, so genricas e podem ser inconclusivas, devendo-se proceder o estudo de estriao lateral fina, este por sua vez especfico e determinante.

17 18

MARANHO, Odon Ramos. Op. cit., p. 298.

Ibid. p. 303.

41

3.7 Orifcio de Sada

Em regra, o orifcio de sada maior que o orifcio de entrada, um ferimento irregular, e possui tecidos orgnicos voltados para fora da ferida, isto visto que o projtil se deforma por ser freqentemente deformado pelos ossos e tecidos orgnicos durante sua trajetria pelo corpo. Ademais, o orifcio de sada no apresenta orlas de contuso, escoriao, ou de enxugo, nem zonas de chamuscamento, esfumaamento ou tatuagem.

Com ateno a diferena entre o orifcio de sada e o de entrada, apresenta o professor Almeida Junior trs pontos:

1) o projetil sai que sai do corpo nao e igual ao que entrou, pois, alm de possivelmente deformado pelos ossos, ainda traz consigo fragmentos de tecidos; 2) o complexo epiderme-derme e evertido, de dentro para fora; 3) a bala se enxuga na face profunda da derme, e no em sua face superficial. Acresce que a forca viva, na sada, e menor que na entrada.19

Ressalta o festejado doutrinador Del-Campo acerca do tema: "Alguns projteis especiais, de alta energia, com velocidades superiores a 750 m/s, em razo das ondas de choque produzidas pelo seu deslocamento, costumam produzir ferimentos de sada de grandes propores."20

Sobre o orifcio de sada, importante comentarmos acerca de suas diferenas para com o orifcios de entrada. A doutrina geralmente cita quatro1920

ALMEIDA JUNIOR, Antnio Ferreira de. Ob. cit., p. 147/148 DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcntara. Ob. cit., p. 179.

42

diferenas, seno vejamos: 1) o orifcio de sada dilacerado; 2) evertido; 3) desproporcional ao projtil (maior); 4) no tem orlas e nem zonas21

Estas diferenas podem no ser to evidentes e esquemticas em cada caso, pois a bala pode ter diferentes caractersticas, por exemplo: se penetrar no corpo aps ricochetear, no traa caractersticas to claras o orifcio de sada.

Quanto terceira diferena apresentada, recentemente o filme Tropa de Elite 2 fez meno ela: logo no incio do filme, o personagem de Wagner Moura, o Capito Nascimento, descreve o estrago que uma bala de uma arma em especfico faz ao sair do corpo, causando verdadeiro rombo na nuca do personagem interpretado por Seu Jorge, demonstrando a relao entre o orifcio de entrada e o de sada, sendo este verdadeiramente maior, como demonstrado no filme.

Por fim, necessria se faz uma breve considerao acerca dos projteis retidos, ou seja, aqueles que se alojam no corpo da vtima, no resultando, por conseqncia, em um orifcio de sada.

O perito, ao deixar de encontrar um orifcio de sada deve presumir que o projtil esteja retido no corpo da vtima, devendo encontr-lo atravs de uma procura minuciosa. Por vezes, a bala se aloca no intestino da vtima, ou cai na corrente sangunea, o que pode dificultar em muito o trabalho do mdicolegista.

21

MARANHO, Odon Ramos. Ob. cit., p. 301.

43

3.8 As Vestes

Certas vezes existem orifcios no vesturio da vtima que correspondem aos feitos pelos projteis, em outras ocasies as vestes mostraro sinais de combusto produzidos pelos gazes superaquecidos, e sinais de resqucios de plvora que saram do cano da arma.

Os panos que a bala atravessa antes de atingir o corpo da vitima fornecem fragmentos que, acompanhando o projetil, ora se mantem presos a ele, ora se distribuem ao longo da leso. Em alguns casos, na bala se grava, em impresses indumentrias, o desenho do tecido.

Dessa forma podem as vestes, em determinadas ocasies, servir para que o perito descubra caractersticas do disparo e da arma utilizada.

3.9 Disparos Encostados

Nesses tipos de disparo, importa diferenciar se estes foram deferidos apenas contra tecidos corpreos, ou se incidiram sobre partes do coroe que recobrem ossos planos.

Na primeira ocasio descrita, o projtil e os demais elementos que saem do cano da arma no momento do disparo penetram no interior do corpo da vitima causando uma grande leso interna, levando as zonas de chamuscamento, esfumaamento, e tatuagem, a ficarem todas no interior do corpo, e, ficando o orifcio de entrada com forma circular ou elptica.

44

Dependendo da fora em que a arma foi pressionada na regio da pele em que foi feito o disparo, faz-se possvel a evidncia da marca do cano da arma nesta regio.

Na segunda ocasio, por ter uma regio ssea na regio atingida pelo disparo, o projtil poder, ou no, perfurar tal regio, no conseguindo os gases e a plvora, em hiptese alguma, perfur-la. Por ter nestes casos, um refluxo dos gases, haver uma exploso dos tecidos formando um ferimento de bordas invertidas e com formato estrelado. Tal ferimento denominado como mina de Hoffmann.

3.10 Disparos em Ossos

Freqentemente so produzidas fraturas caso o disparo seja feito contra ossos longos. Podendo, inclusive, haver mais de um orifcio de sada ocasionado pelas partculas de ossos que se despedaam com o impacto do projtil.

Nos casos dos ossos planos diferencia-se facilmente o orifcio de entrada do de sada em razo do cone de disperso formado pelos fragmentos sseos.

3.11 Problemas Periciais

Nesta parte iremos analisar os problemas mdico-legais, de maior incidncia, na leses por armas de fogo.

45

1)

Identificao do atirador pelo exame da arma: Para se verificar o autor do disparo, deve-se verificar a presena, em uma superfcie lisa, da impresso digital. Para tal, se faz necessrio que haja cautela ao se manipular a arma, a fim de preservar este vestgio.

2)

Determinao da qualidade da plvora: Para se determinar se o disparo foi feito com plvora negra ou plvora sem fumaa a partir do exame do sarro.

3)

Data do ultimo disparo: Quando se tratar de plvora negra, as informaes so imprecisas e quando foi usada plvora sem fumaa, sero nulas. No caso de plvora negra , apos o tiro, percebe-se a presena de gs sulfdrico no cano, mas esse gs logo desaparece, sendo possvel durante algumas horas, assinalar a presena de sulfitos, os quais gradualmente se convertem em sulfato. Quando se trata de plvora sem fumaa, pesquisamos nitrito e nitrato. O sarro preexistente antes do disparo pode prejudicar tais exames e falsear os resultados.

4)

Identificao da arma pelo exame do estojo: Os estojos encontrados no local do crime, devem ser devidamente recolhidos e encaminhados ao laboratrio para exames. Com efeito, o estojo contem marcas mais ou menos individualizadoras da arma a que serviram: marcas produzidas pela parte interna do cano; marca do percussor sobre a espoleta; marca da espalda do cano sobre o talo; marca do extrator na gola do estojo. Tais impresses variam de arma para arma.

5)

Identificao da arma pelo exame da bala: O cano imprime a bala um certo numero de marcas capazes de informar, no s a respeito do tipo, mas tambm da prpria individualidade da arma.

6)

Qual a mo que atirou: Esta questo surgira no caso de suspeita de

46

suicdio, e poder complicar-se caso a arma tenha sido posta, intencionalmente, na mo do cadver, a fim de simular o suicdio.

7)

Distancia do tiro: Quesito de suma importncia, pois a partir dele, poderemos elucidar da maneira mais clara algum delito resultante de leso por arma de fogo. Ha tiros encostados, isto e com a boca da arma tocando o alvo; tiros prximos, dados no mximo, a alguns decmetros (entre eles se acham os tiros a queima roupa, de pouqussimos centmetros) e tiros a distancia.

8)

Direo do tiro: A direo do tiro em relao o corpo da vitima ser indicada por duas ordens de elementos: os caracteres no orifcio de entrada e a direo do trajeto da leso.

3.12 Interesse Jurdico

Diversos so os interesses jurdicos resultantes da realizao da percia em leses perfuro contusas, em especial aquelas provocadas por meio do disparo de armas de fogo, acerca do tema Odon Ramos Maranho destaca os principais:

So vrios os problemas periciais de interesse jurdico: a) natureza do fato: acidente, suicdio ou homicdio; b) distncia do disparo, para estudo da autoria; c) identificao da arma tambm visando o estabelecimento da autoria; d) saber se se trata de leso mortal (produzida em vida) ou ps-mortal (delito22

impossvel); e) na hiptese da leso no ser mortal, quais as sequelas restantes.

22

MARANHO, Odon Ramos. Ob. cit., p. 307.

47

CAPTULO 4 - BALSTICA FORENSE

4.1 Conceito

Trata-se de balstica forense a matria que disciplina, sinteticamente, as armas de fogo, seus tipos de munies, bem como os efeitos resultantes de seus disparos, com o intuito de que seja esclarecido questes concernentes ao exerccio judicial.

Nesse sentido, elucida o ilustre doutrinador Eraldo Rabello acerca do acima disposto:

(...) A parte do conhecimento criminalstico e mdico legal que tem por objeto especial o estudo das armas de fogo, da munio e dos fenmenos e efeitos prprios dos tiros destas armas, no que tiverem de til ao esclarecimento e prova de questes de fato, no interesse da justia tanto penal como civil.23

Aps a devida conceituao do tema em tratamento no presente captulo deste trabalho, faz-se necessrio frisar, que determinados conceitos so extremamente relevantes para que se compreenda o estudo da balstica e melhor elucide-se as leses decorrentes dos disparos provocados por armas de fogo. Tema este ser tratado nos tpicos que se seguem.

4.2 As armas de fogo De acordo com os ensinamentos do aclamado professor Eduardo Roberto Alcntara Del-Campo, as armas de fogo so conceituadas como:23 RABELLO, Eraldo; Balstica Forense; 3 ed.; Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1995. p. 19

48

(...) engenhos mecnicos destinados a lanar projteis no espao pela ao da fora expansiva dos gases oriundos da combusto da plvora.24

O funcionamento das armas de fogo se do, basicamente, com o aproveitamento da grande quantidade de gases advindos da combusto qumica do propelente, qual seja a plvora contida no interior da cpsula dos projeteis, para que dessa forma seja obtida a energia mecnica suficiente para que o projtil seja disparado.

4.3 Classificao das armas de fogo

Existe uma gama abrangente de classificaes que podem ser atribudas s armas de fogo, em consonncia com a caracterstica a ser analisada.

Importa salientar, que para o devido estudo das feridas perfuro contundentes faz-se necessrio aprofundar-nos na classificao das armas de fogo de acordo com a alma do cano, a seguir pormenorizada.

4.3.1 Classificao das armas de fogo quanto alma do cano

Quanto alma do cano, as armas de fogo podem ser classificadas como lisas ou raiadas, estas podendo ainda ser pares ou mpares em relao ao numero de raias, bem como dextrogiras ou sinistrogiras quanto ao seu sentido.

24 DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcntara; Ob. cit., p. 167

49

Cumpre-nos, primeiramente, explicitar o significado das denominadas raias nas armas de fogo. O professor Eduardo Roberto Alcntara Del-Campo brilhantemente define:

As raias so sulcos ou escavaes produzidas na parte interna do cano (alma) por meio de fresas apropriadas, dando origem a um determinado nmero de ressaltos e cavados, dispostos de forma helicoidal, cuja finalidade principal imprimir ao projtil um movimento de rotao ao redor de seu prprio centro- longitudinal.25

As armas de fogo de porte individual so distintas como as que possuem a parte interna de seu cano lisa, denominadas de alma lisa, e as que possuem no interior de seu cano raias, classificadas como de alma raiada.

So armas de alma raiada aquelas que utilizam cartuchos de munio com projteis unitrios , e armas de alma lisa aquelas que utilizam cartuchos de munio com mltiplos projteis.

4.4 Breves consideraes sobre o revolver

O revolver tem por caracterstica primordial possuir um nico cano para muitas cmaras de combusto. Este definido como uma arma curta, no automtica, de repetio, que tem por composio, uma armao, tambor, cano desprovido de cmara de combusto, e mecanismo. Cumpre-nos ressaltar que h uma grande variao entre as armas no que se refere ao comprimento do cano, o nmero de raias, a direo do raiamento, o tamanho

25 DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcntara. Ob. cit., p. 170

50

da armao, a capacidade do tambor , e o tipo de mecanismo. Particularidades estas que colaboram para a identificao da arma.

Em relao ao disparo do instrumento em questo, este ocorre quando por liberao do co devido presso na tecla do gatilho, impulsionado pela chamada mola real, atinge a base do cartucho de munio, impulsionando o projetil em razo da combusto da plvora e expanso dos gases. Posteriormente, para que novo disparo seja efetuado, deve o atirador pressionar novamente a tecla do gatilho, tal presso ir rotacionar o tambor para que se alinhe com o cano outra cmara de combusto, e, concomitantemente afastar o co.

4.5 Algumas consideraes sobre as pistolas semi automticas

As armas semi automticas funcionam de maneira similar ao revlver, entretanto, no revolver, por ser a culatra fixa, a fora exercida pela presso dos gases no momento do disparo perdida. Em contrapartida, para que tal energia seja aproveitada, as armas semi automticas utilizam a supracitada fora exercida sobre o estojo, para a realimentao.

Desta feita, as mencionadas pistolas so definidas pelo professor Eduardo Roberto Alcntara Del-Campo como:

(...) as armas que aproveitam a fora expansiva dos gases para a sua alimentao, dependendo, entretanto, cada disparo, do acionamento do gatilho pelo atirador.26

26 Ibid. p. 170

51

4.6 Calibre das armas de fogo

Ao se produzir uma arma de fogo faz-se uma perfurao em seu cano que ir determinar o calibre da arma de acordo com o dimetro de tal perfurao.

Assim o calibre de uma arma de fogo nas palavras do doutrinador Eduardo Roberto Alcntara Del-Campo definido como:

(...) a medida utilizada para indicar o dimetro interno de seu cano e a munio correspondente.27

Frise-se que h um calibre nominal e um calibre real, o primeiro referese ao valor comercial da arma que serve para a caracterizao da arma e de sua munio, j o segundo refere-se a medida real do dimetro interno do cano ou o dimetro efetivo do projtil. Desta forma, importante frisar nos tpicos que seguem os tipos de calibre para cada tipo diferente de arma.

4.7 Calibre das armas de alma raiada, de seus cartuchos de munio e projteis

O calibre real do projtil em armas de alma raiada varia se esse nmero de raia par ou mpar. Nas armas em que o nmero de raias par, o dimetro se d correspondentemente dois sulcos e nas armas em que o nmero de raias mpar o calibre corresponde distncia entre um espao cheio e o ressalto diametralmente oposto.27 Ibid. p. 173

52

4.8 Calibre das armas de alma lisa

Diferentemente das armas de alma raiada, o calibre nas armas de alma lisa medido pelo nmero de esferas de chumbo puro, de dimetro igual ao do cano em referncia, necessrio para atingir uma libra de peso, correspondente 454g.

Assim, aduz o ilustre professor Eduardo Roberto Alcntara Del-Campo referente ao calibre das armas de alma lisa:(...) a medida indica apenas uma conveno, ou seja, tomam-se esferas de chumbo imaginrias, de dimetro igual ao cano da arma, e contam-se quantas esferas so necessrias para compor uma libra de peso. O nmero encontrado indicar o calibre nominal da arma.28

4.9 Munio

A munio refere-se projteis, plvoras, e demais artefatos que componham armamento para as armas de fogo. Importante se faz mencionar sucintamente os principais componentes de um cartucho. Este ser composto de estojo, espoleta com mistura iniciadora, plvora, projtil e, para os cartuchos dotados de projteis mltiplos, destinados s armas de alma lisa, tambm o embuchamento.

28 Ibid. p. 175

53

CONCLUSO

Objetivou-se com o presente trabalho esclarecer acerca das leses perfuro contundentes, sem exaurir a matria, sendo de extrema importncia a produo acadmica acerca da temtica, pois contribui e, por vezes, define contendas na seara jurdica de forma definitiva, constituindo meio de prova importante a integrar a livre persuaso do magistrado.

Dado o crescimento vertiginoso dos homicdios cometidos mediante uso de arma de fogo, conforme demonstrado anteriormente (ver Introduo), o aprimoramento e aprofundamento dos estudos em medicina forense encontram respaldo na atualidade, cuja contemporaneidade patente.

Isto porque, na rdua misso das cincias jurdicas de se fazer justia e pacificar as relaes sociais, a correta apurao de autoria de crimes, bem como a gravidade das leses causadas, se mostram necessrias ao decisum a ser proferido pelo magistrado competente, sendo que o laudo do perito ser o principal suporte em processos cujo cerne verse acerca de crimes cometidos mediante o uso de arma de fogo, mas no somente.

Posto isto, estudos como este ho de fazer avanar o complexo exame de ferimentos oriundos de projteis, sendo que o conhecimento aqui produzido pelos operadores do Direito , inclusive, essencial ao aperfeioamento do profissional que estar melhor capacitado para ler e interpretar laudos, atuando de maneira mais completa no mbito processual.

54

BIBLIOGRAFIA

1. LIVROS

ALMEIDA JUNIOR, Antnio Ferreira de, Lies de Medicina Legal, 22 edio, So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1998. CARDOSO, Leonardo Mendes, Medicina Legal para o acadmico de direito, 2 edio. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2009 DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcntara; Medicina Legal; 4 ed.; So Paulo: Saraiva, 2007. MARANHO, Odon Ramos. Curso Bsico de Medicina Legal, 8 edio, So Paulo:Editora Malheiros, 2005. RABELLO, Eraldo; Balstica Forense; 3 ed.; Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1995. 2. INTERNET

EM PROFUNDIDADE Armas de Fogo, Veja online, So Paulo. Disponvel em: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/armas_fogo/contexto_armas.html. Acesso em 28 de janeiro de 2011.