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INTEGRAÇÃO 84 DBO outubro 2014 Fazenda Gamada: pioneirismo e eficiência na Amazônia. Propriedade produz gado de primeira, é pioneira em ILPF no norte do Mato Grosso e começa a adotar a pecuária de precisão. n ARIOSTO MESQUITA N os anos 1970 ele deixou Curitiba, PR, enveredou-se pelo Centro-Oeste e fin- cou pé na Amazônia. Foi um dos primeiros a adquirirem terras no extremo norte do Mato Grosso, onde hoje é o município de Nova Canaã do Norte. Tudo era difícil. A começar pela distância de 700 quilômetros de estrada de terra até a capital, Cuiabá. Inferior, no entanto, aos quase 800 km que se percorriam até a sede do município (na época, Chapada dos Guimarães). Com obs- tinação, paciência, e sempre aberto a novas tecnologias, o pecuarista Mário Wolf Filho construiu um patrimônio rural pioneiro, moderno e eficiente. Atualmente, com o apoio da mulher, Loreci Santos Pereira Wolf, toca três fazen- das (Fortuna, Fortuna do Tapaiúna e Gama- da), que ocupam 12.240 hectares no mu- nicípio, sendo mais da metade de floresta nativa – no período em que as propriedades foram adquiridas ainda não se exigiam os 80% de reserva para o bioma amazônico. A Gamada, a menor delas, é exemplo de efici- ência, diversificação e modernidade. A vedete pecuária de Mário Wolf é a produção de animais cruzados da raça Rú- bia Gallega com Nelore. Wolf é um dos 25 pecuaristas fornecedores de carne produ- to desse cruzamento para o programa do Grupo Pão de Açúcar, que a comercializa sob o selo Taeq Rúbia Gallega. Pela carne mais macia e com menor teor de gordu- ra dos cruzados, Wolf recebe um adicio- nal. No dia 19 de julho, quando um lote de 103 bovinos foi abatido, o preço da ar- roba Esalq de Cuiabá, MT, era de R$ 118. O adicional foi de 6%, reajustando o va- lor da arroba para R$ 125,08. O abate é feito na JBS de Colíder, MT, a 72 quilô- metros de Nova Canaã do Norte. Naquele dia, a idade média do lote foi de 22 meses e peso vivo de 606 quilos, com rendimen- to de 57,7% de carcaça, na média de 23,31 arrobas de carne. “Os custos de produção são maiores, mas esta diferença é cober- ta pela maior remuneração”, comemora o pecuarista. Além do bom adicional, a ga- rantia de pagamento é outro fator atrativo. “O Pão de Açúcar paga o frigorífico, que nos repassa o valor em até 30 dias, com o animal retirado na fazenda”, conta Wolf. PADRãO DE PRODUçãO _ Para manter a qualidade das carcaças, o pecuarista apos- ta todas as suas fichas no padrão de pro- dução. “Tenho de preservar o meu molde, que é a vaca Nelore. Por isso uso bons tou- ros da raça, para manter uma reposição de matrizes de qualidade; caso contrário, es- taria dando um tiro no pé”, diz. “Em rela- ção ao resultado do cruzamento com o Rú- bia Gallega, além da excelente conversão alimentar, a grande vantagem é a produ- ção dirigida aliada a uma boa e garantida remuneração.” A Rúbia Gallega é originária da Ga- lícia, na Espanha, e não conta com reba- nhos puros no Brasil; só o sêmen pode ser importado, pelo qual o criador pagava, em julho, R$ 14,75 a dose. Wolf faz insemi- nação artificial em tempo fixo (IATF) em 100% das vacas, com índice de prenhez de 55%. “As fêmeas de melhor fertilida- de geram os animais cruzados, enquanto as outras ficam responsáveis por gerar ani- mais Nelore”, explica. Após o parto, os trabalhos de cria (nas Fazendas Fortuna e Fortuna do Tapaiúna) e recria são feitos a pasto, com terminação em confinamento – com capacidade estáti- ca para 450 animais e ocupado o ano todo com o Rúbia Gallega. Os Nelore, tam- bém terminados para abate, não ocupam este espaço nas águas. “Assim, diminuí- mos a sujeira e o barro pelo pisoteio, além do fato de o Nelore não ter uma obrigato- riedade de abate sistemático, como a que temos com o Rúbia”, detalha Wolf. Em média, são 900 cruzados Rúbia e 1.200 Nelore produzidos por ano. A opção pelo Rúbia Gallega levou em conta uma série de fatores. “Este animal, cruzado com o Nelore, tem uma conver- Cruzados Rúbia Gallega são “encomenda” do Pão de Açúcar FOTOS: ARIOSTO MESQUITA

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Integração

84 DBO outubro 2014

Fazenda Gamada: pioneirismo e eficiência na Amazônia.

Propriedade produzgado de primeira,

é pioneira em ILPF no norte do Mato Grosso e

começa a adotar apecuária de precisão.

n Ariosto MesquitA

Nos anos 1970 ele deixou Curitiba, PR, enveredou-se pelo Centro-Oeste e fin-

cou pé na Amazônia. Foi um dos primeiros a adquirirem terras no extremo norte do Mato Grosso, onde hoje é o município de Nova Canaã do Norte. Tudo era difícil. A começar pela distância de 700 quilômetros de estrada de terra até a capital, Cuiabá. Inferior, no entanto, aos quase 800 km que se percorriam até a sede do município (na época, Chapada dos Guimarães). Com obs-tinação, paciência, e sempre aberto a novas tecnologias, o pecuarista Mário Wolf Filho construiu um patrimônio rural pioneiro, moderno e eficiente.

Atualmente, com o apoio da mulher, Loreci Santos Pereira Wolf, toca três fazen-das (Fortuna, Fortuna do Tapaiúna e Gama-da), que ocupam 12.240 hectares no mu-nicípio, sendo mais da metade de floresta nativa – no período em que as propriedades foram adquiridas ainda não se exigiam os 80% de reserva para o bioma amazônico. A Gamada, a menor delas, é exemplo de efici-ência, diversificação e modernidade.

A vedete pecuária de Mário Wolf é a produção de animais cruzados da raça Rú-bia Gallega com Nelore. Wolf é um dos 25 pecuaristas fornecedores de carne produ-to desse cruzamento para o programa do Grupo Pão de Açúcar, que a comercializa sob o selo Taeq Rúbia Gallega. Pela carne mais macia e com menor teor de gordu-ra dos cruzados, Wolf recebe um adicio-nal. No dia 19 de julho, quando um lote de 103 bovinos foi abatido, o preço da ar-roba Esalq de Cuiabá, MT, era de R$ 118. O adicional foi de 6%, reajustando o va-lor da arroba para R$ 125,08. O abate é feito na JBS de Colíder, MT, a 72 quilô-metros de Nova Canaã do Norte. Naquele dia, a idade média do lote foi de 22 meses e peso vivo de 606 quilos, com rendimen-to de 57,7% de carcaça, na média de 23,31

arrobas de carne. “Os custos de produção são maiores, mas esta diferença é cober-ta pela maior remuneração”, comemora o pecuarista. Além do bom adicional, a ga-rantia de pagamento é outro fator atrativo. “O Pão de Açúcar paga o frigorífico, que nos repassa o valor em até 30 dias, com o animal retirado na fazenda”, conta Wolf. PAdrão de Produção _ Para manter a qualidade das carcaças, o pecuarista apos-ta todas as suas fichas no padrão de pro-dução. “Tenho de preservar o meu molde, que é a vaca Nelore. Por isso uso bons tou-ros da raça, para manter uma reposição de matrizes de qualidade; caso contrário, es-taria dando um tiro no pé”, diz. “Em rela-ção ao resultado do cruzamento com o Rú-bia Gallega, além da excelente conversão alimentar, a grande vantagem é a produ-

ção dirigida aliada a uma boa e garantida remuneração.”

A Rúbia Gallega é originária da Ga-lícia, na Espanha, e não conta com reba-nhos puros no Brasil; só o sêmen pode ser importado, pelo qual o criador pagava, em julho, R$ 14,75 a dose. Wolf faz insemi-nação artificial em tempo fixo (IATF) em 100% das vacas, com índice de prenhez de 55%. “As fêmeas de melhor fertilida-de geram os animais cruzados, enquanto as outras ficam responsáveis por gerar ani-mais Nelore”, explica.

Após o parto, os trabalhos de cria (nas Fazendas Fortuna e Fortuna do Tapaiúna) e recria são feitos a pasto, com terminação em confinamento – com capacidade estáti-ca para 450 animais e ocupado o ano todo com o Rúbia Gallega. Os Nelore, tam-bém terminados para abate, não ocupam este espaço nas águas. “Assim, diminuí-mos a sujeira e o barro pelo pisoteio, além do fato de o Nelore não ter uma obrigato-riedade de abate sistemático, como a que temos com o Rúbia”, detalha Wolf. Em média, são 900 cruzados Rúbia e 1.200 Nelore produzidos por ano.

A opção pelo Rúbia Gallega levou em conta uma série de fatores. “Este animal, cruzado com o Nelore, tem uma conver-

Cruzados Rúbia Gallega são “encomenda” do Pão de Açúcar FO

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Programa quer fechar 2014 com 17.000 animais abatidosCriado há oito anos, o programa Rú-

bia Gallega, do Grupo Pão de Açúcar, está solidificado e com um nível de produtivi-dade crescente. No geral, os parceiros produzem dois pontos percentuais a mais de rendimento na desossa comparado ao início do programa. No primeiro ano de abate (2007/2008) foram embarcados para o frigorífico perto de 4.000 animais. A previsão é fechar 2014 com 17.000 ani-mais abatidos, sendo 11.000 novilhos (12 a 20 meses com 12 a 20 arrobas) e 6.000

terneiros (abate aos 8 meses com 12 a 13 arrobas), informa a coordenadora de Car-nes e Aves do GPA, Fabiana Farah.

Atualmente, 25 pecuaristas de Mato Grosso, Goiás e São Paulo participam do programa. A produção de terneiros é direcionada para os supermercados Pão de Açúcar de São Paulo. Já os novilhos atendem as mais de 300 lojas Pão de Açúcar e Extra Hipermercados do País. A oferta da carne é diária. Para cobrir todo este leque de consumo, os abates sema-

nais são agendados com antecedência, “para fornecer durante o ano todo”, diz.

Sobre a Fazenda Gamada, Fabiana Farah considera a propriedade como “referência para consulta e esclareci-mento de dúvidas” para um novo pro-dutor que pretenda entrar no programa. “O rendimento de carcaça médio no programa é de 57%, mas a Gamada fica sempre igual ou acima da média. Seu processo de produção e de terminação de animais é excelente”, garante.

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são melhor no cocho por causa da hetero-se. Normalmente, o Nelore obtém ganho de peso entre 1,4 e 1,5 quilo. Já o cruzado Rúbia Gallega varia de 1,6 a 1,8 quilo/dia”, comenta o pecuarista.

A nutrição é potencializada desde a desmama (aos 8 meses de idade), feita na Fazenda Fortuna (de cria), sendo o peso médio de 220 quilos (Nelore) e 250 quilos (Rúbia). “A partir deste momento, o Rú-bia segue a pasto na Fazenda Gama-da, recebendo proteinado de alto con-sumo. Animal suplementado desde cedo entra no confinamento ganhan-do menos peso vivo e mais carcaça”, afirma. No cocho, a dieta é 70% de concentrado e 30% de volumoso (si-lagem e ração a granel, produzidos na própria fazenda).

Mário Wolf mostra números finais em rendimento de carcaça de lotes embarcados para abate no fim do pri-meiro semestre: “O índice ficou perto de 55% para o lote de Nelore, enquan-to o de animais cruzados bateu em quase 59%. A média, nos últimos em-barques, ficou em torno de 54% para Nelore e 57% para o Rúbia Gallega. O Nelore é abatido em média com 28 meses e peso entre 18 e 19 arrobas. Já o animal cruzado segue para o frigorí-

fico com idade superior a 20 meses e peso entre 20 e 23 arrobas.

Mas de nada adiantaria bons resulta-dos sem demanda. Na verdade, Mário Wolf só entrou na produção de cruzados Rúbia Gallega quando viu que o mercado com-pensava. Tudo começou em 2006. “Vi uma reportagem na DBO sobre a decisão do Grupo Pão de Açúcar em apostar no forne-cimento de carne de novilho de qualidade,

Wolf, o filho Daniel e o gado

cruzado de Rúbia Gallega: arroba

valorizada e comprador certo.

padronizada e com regularidade e partir da genética de Rúbia Gallega. Procurei me in-teirar do sistema de produção e hoje faço parte do grupo de fornecedores”, conta.

No entanto, além de produtividade e demanda, o pecuarista vislumbrou uma excelente remuneração. “O Pão de Açúcar me paga o preço Esalq Cuiabá da arroba, mais 6% no macho. Este índice pode che-gar a 7%, caso se faça relatório socioam-

biental da fazenda. A fêmea é remu-nerada pelo preço do macho.”

orGAnizAção ProdutivA _ Produ-zir animais com sangue Rúbia Galle-ga não seria tão eficiente se não fos-se a engrenagem produtiva da Fazenda Gamada. A propriedade, adquirida em 1997, foi a primeira na região a cul-tivar grãos. Sendo a pecuária a ativi-dade base da família e, diante de um quadro de deterioração das pastagens – gerado, sobretudo, pela morte súbita das braquiárias –, Wolf buscou na tec-nologia uma saída, adotando o sistema de integração lavoura-pecuária (ILP). O mesmo é feito na Fazenda Fortuna (4.800 hectares, adquirida em 1980). Já a Tapaiúna (a segunda adquirida por Wolf, com 5.000 hectares) fica apenas com a pecuária, grande parte de cria.

Cuiabá

Nova Canaãdo Norte

CRUZADOS LEVAM VANTAGEM¹

Grupo racialRúbia

Gallega x Nelore

Nelore

Quantidade 103 91Consumo² 11,3 10,8Consumo³ 2,19 2,47Peso entrada4 426 368Peso saída4 606 507Dias de cocho 99 95Ganho de peso5 1,818 1,463Rendimento de carcaça6 57,7 55,2Carcaça inicial4 213 184Carcaça final4 348 280Ganho de carcaça7 1,364 1,009Rendimento do ganho de peso6 75 69

Eficiência biológica8 124,30 160,54

(1) Lotes provenientes da Fazenda Gamada abatidos na JBS de Colíder, MT, em 15/7 (Nelore) e 19/7/2014 (Cruzados Rúbia Gallega/Nelore); (2) Em kg/matéria seca/cabeça/dia; (3) Em % de peso vivo; (4) Em kg; (5) Em kg/cabeça/dia; (6) Em %; (7) Em kg/dia; (8) Em kg/matéria seca por arroba produzida. Fonte: Fazenda Gamada

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ComidA de CAsA _ Para quem está em uma região ainda distante das indústrias fornecedoras de suplementos e ração, sua aquisição pega pesado no custo final de produção. Wolf resolveu este problema em casa. Usando boa parte da matéria-pri-ma oriunda de sua agricultura, inaugurou em 2000 a Fortuna Nutrição Animal, uma fábrica dentro da Fazenda Gamada. Hoje, a unidade industrial, tocada pelo filho de Wolf, Daniel, produz 40.000 sacas/mês, entre suplementos minerais, proteinados, rações e núcleos.

“No começo, a demanda das fazendas representava 23% de tudo o que a indústria vendia. Hoje está em 6%”, comenta Daniel Wolf. A redução é apenas em percentual, e não em volume, pois a fábrica ganhou mer-cado. “São 500 clientes no norte do Mato Grosso”, completa.

A instalação da fábrica não foi esti-mulada apenas pela questão econômica.

Mário Wolf confessa que penava para en-contrar fornecedores de suplementos de qualidade: “Tem muita picaretagem; hoje faço análise até de adubo”.

A mobilidade e a diversidade produti-va da Fazenda Gamada acabaram por cha-mar a atenção de um grupo da Embrapa que estruturava, no fim da década passada, a primeira unidade da empresa no Mato Grosso (hoje Embrapa Agrossilvipasto-ril, de Sinop, MT). Foi proposto sediar a primeira unidade de referência tecnológi-ca de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) no Mato Grosso. A área de ILPF em sua fazenda foi a primeira a apresentar números de avaliação de desempenho no Mato Grosso (veja matéria na página 88) e hoje é uma vitrine. “Este projeto recebe visitantes do mundo inteiro. Já passaram por aqui estudiosos da África, da Alema-nha, da Suécia e dos Estados Unidos, entre outros países”, orgulha-se Wolf.

A fábrica de rações na

propriedade atende não

só ao próprio rebanho como ao da região.

A mais recente delegação a conhe-cer, não só a ILPF da Fazenda Gamada, mas toda a sua diversidade produtiva, é originária do próprio Mato Grosso. Pelo segundo ano consecutivo, a Federação da Agricultura e Pecuária do MT (Famato) incluiu a propriedade no roteiro do proje-to Futuros Produtores do Brasil, que tem como objetivo despertar a paixão pela agropecuária nos descendentes de pro-dutores rurais do Estado. A visita, che-fiada pelo diretor executivo da Famato, Walter Valverde, ocorreu em 19 de julho e reuniu 30 jovens, boa parte já nos bancos das escolas superiores de agronomia, zootecnia ou medicina veterinária. Além de ver de perto os projetos de vanguarda na Amazônia mato-grossense, o grupo manteve contato com a família de Mário

Wolf na sede da Fazenda Gamada.Inspirado no exemplo do filho Daniel,

hoje responsável pela indústria Fortuna Nutrição Animal, Mário Wolf põe fé nos seus três primeiros netos, filhos de Ma-riane, a filha mais velha: Eduardo, Leo-nardo e Henrique. O testemunho do mais velho, Eduardo Wolf, de 10 anos, conta-giou os jovens do programa: “Um amigo meu de escola me convidou para ir à Dis-ney, com tudo pago, mas eu disse que não poderia ir, pois tinha de ajudar meu avô a cuidar da boiada”.

Pecuária de precisão Para aumentar a lotação dos pas-

tos já a partir de 2015, Mário Wolf vem apostando na “pecuária de precisão”. Numa área de 100 hectares (ha) de pasto que se alterna com a agricultura _ e, por isso, tem maior produtividade _ ele fará recria intensiva, aumentando a lotação por meio da combinação en-tre o sistema de pastejo rotacionado, suplementação aditivada e adubação. “Será feita análise de solo, setor por setor, com medição da presença de macro e micronutrientes, avaliação das necessidades e atendimento a esta demanda”, explica o pecuaris-ta. Serão instalados quatro módulos de 21,4 ha cada, totalizando 85,9 ha. Praças de alimentação e corredores completam os 100 ha. A previsão de lotação média no primeiro ano é de 4,3 unidades animais por hectare (UA/ha), sendo 6 UA/ha nas águas e 1 UA/ha na seca. Para o segundo ano, a projeção de Wolf é a média de 5,67 UA/ha (8 UA/ha nas águas e 1,5 UA/ha na seca). O sistema deve iniciar o giro a partir de janeiro de 2015.

A Gamada, portanto, concentra o for-te do pacote tecnológico. Em 2000, ano da primeira lavoura de soja, a produti-vidade foi de 33 sacas/hectare. Na safra 2013/2014, atingiu 64 sacas/hectare. Dos 1.200 hectares agricultáveis da proprieda-de, a última safra ocupou 800 hectares com soja e 500 hectares com milho de segunda safra, e mais 80 hectares com milho para si-lagem. “Em silos de superfície guardamos este ano 2.960 toneladas de silagem, resul-tado de uma produtividade média de 37 to-neladas por hectare, para uso no cocho ao longo dos meses seguintes”, explica Wolf. A pastagem ocupa 140 hectares, com lota-ção média entre 1,5 e 2 Unidades Animais por hectare (UA/ha).

No que diz respeito à utilização de forrageiras, a ordem é diversificar, para fugir da braquiária vítima da morte súbita.“Estamos cultivando pasto com ca-pins massai, mombaça, dictioneura, con-vert e zuri, este último plantado em uma pequena área de 5 hectares, em dezembro de 2013, e que vem mostrando bom rendi-mento de massa e rebrota”, comenta.

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Gamada recebe visita de futuros produtores

AUnidade de Referência Tecnoló-gica de ILPF pioneira da Fazenda

Gamada foi instalada pela Embrapa e parceiros em 70 hectares em janeiro de 2009. O sis-tema está dividido em dez talhões, cada um com uma configuração. A agricultu-ra foi, nos três primeiros anos, a atividade onde foi possível mensurar resul-tados com mais clareza. A pecuária ocupou o espaço a partir de 2012. Já a flores-ta, com cinco anos de plan-tio, começou a apresentar os primeiros resultados. O pesquisador Flávio Jesus Wruck, da Embrapa Arroz e Feijão, de Santo Antonio de Goiás, GO, que acompanha a ILPF da Fazenda Ga-mada pela Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop, MT, fez uma análise técnica do desempenho de cada componente do sistema.Veja, a seguir, cada um deles:

AGriCulturA _ No primeiro ano foi cultivado arroz para terras altas entre renques dos componentes florestais. A produtividade, de 60 sacas/hectare, não foi afetada pelas árvores, ainda baixas. A soja ocupou o espaço no segundo e terceiro anos. Em seu primeiro ciclo, a leguminosa perdeu de 4 a 8 sacas/hec-tare (considerando produtividade de 66 sacas/ha fora da ILPF) no espaço entre renques com linhas trilhas (pau-de-bal-sa e pinho cuiabano) e entre linhas du-plas e triplas (eucalipto). Nos demais arranjos o resultado da soja não foi afe-tado. No terceiro ano, a oleaginosa não perdeu fôlego apenas nos talhões com eucalipto e pinho cuiabano em linhas simples. Nos demais, a redução na pro-dutividade ficou entre 10 e 20 sacas/ha (fora do sistema, a produtividade mé-dia da soja foi de 58 sacas/ha).

ilPF pioneira no mato Grosso mostra primeiros resultados

PeCuáriA _ Este componente ainda está sob observação, tanto no desen-volvimento das forrageiras (as braquiá-rias piatã, ruziziensis e convert) quanto no pastejo. Em três anos ficou patente a exigência de controle efetivo de en-trada e saída de animais de acordo com altura do pasto e atenta correção do solo e reposição de nutrientes. O gran-de gargalo é o manejo para entrada de luz no sistema, o que é normal, levan-do-se em conta a inexperiência dos pro-dutores com a silvicultura e o fato de ser a primeira URT instalada no Mato Grosso com o componente florestal. Nos primeiros lotes, o ganho médio de peso foi superior a 1 kg/animal/dia para os cruzados (Nelore x Rúbia) em recria no período das águas e suplementados (0,5% do peso vivo).

FlorestA _ Em 2014 (cinco anos após plantio) o eucalipto passou pelo pri-meiro desbaste. Cada mourão propor-cionou renda líquida de R$ 5. Foram retirados 30% das árvores. O bom re-sultado foi favorecido pela proximida-de (60 km da fazenda) de uma empresa

de tratamento de madeira. Eis os resul-tados desta primeira etapa:

1. renque simPles75 árvores/ha x 4 mourões por ár-

vore x 5 (R$/mourão) = R$ 1.500/ha ou R$ 300/ha/ano.

2. renque duPlo130 árvores/ha x 4 mourões/árvo-

re x 5 (R$/mourão) = R$ 2.600/ha ou R$ 520/ha/ano.

3. renque triPlo173 árvores/ha x 4 mourões/árvo-

re x 5 (R$/mourão) = R$ 3.460/ha ou R$ 692/ha/ano.

A teca entrou no sistema para produ-zir madeira serrada a partir do 12º ano. Em 2014 está em andamento o primeiro desbas-te. Em função do bom preço, a Embrapa pre-vê futuro promissor por se tratar de madeira nobre, com mercado e valor agregado. Para a Granada, a Embrapa está desaconselhando o investimento em pinho cuiabano e pau-de--balsa, pelo mercado restrito na região. n

Plantação de eucalipto faz parte de experimento da Embrapa. Ao lado, milho é plantado no limite da floresta amazônica.

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DBO viajou à Nova Canaã do Norte a convite da Famato.