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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X INTELECTUAIS NEGRAS: PROSA NEGRO-BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Mirian Cristina dos Santos 1 Resumo: Objetivando discutir o papel da mulher negra enquanto intelectual engajada na luta pela transformação da sociedade brasileira, a partir de narrativas afro-brasileiras contemporâneas, esta apresentação tem como corpus os livros Becos da Memória (2006) e Mulher Mat(r)iz (2011), das escritoras Conceição Evaristo e Miriam Alves, respectivamente. Para isso, analisarei, os textos das escritoras supracitadas a partir de questões sobre o público e o privado(PISCITELLI, 2005), “políticas do cotidiano” (hooks, 1995), o papel do intelectual(SAID, 2005) e, mais especificamente, sobre a intelectual negro-brasileira (SOUZA, 2010). Palavras-chave: Intelectuais negras. Conceição Evaristo. Miriam Alves. Ao pensar a intelectual negra, a partir de narrativas de escritoras negro-brasileiras, há que se considerar reflexões acerca da noção de intelectual 2 . Edward Said (2005), ao refletir sobre as facetas do intelectual, aponta que: “A questão central para mim, penso, é o fato de o intelectual ser um indivíduo dotado de uma vocação para representar, dar corpo e articular uma mensagem, um ponto de vista, uma atitude, filosofia ou opinião para (e também por) um público” (SAID, 2005, p. 25). Sendo assim, o intelectual pode ser considerado um sujeito que assume para si responsabilidades para com os outros, a partir da produção de conhecimentos. Atualmente há alguns trabalhos esparsos sobre os intelectuais negros no Brasil. Em proporção ainda menor, algumas considerações acerca da intelectual negra já começam a ser observadas. Nessas análises são pontuadas reivindicações desse grupo para a inserção na sociedade brasileira: “Desejam produzir, circular e legitimar-se no campo dos saberes ligados à tradição ocidental e, por outro lado, produzir, fazer circular pensamentos que evidenciem uma visão crítica desses saberes” (SOUZA, 2010, p. 184). Ainda de acordo com Florentina Souza, essa luta por um lugar no espaço cultural brasileiro leva a uma necessidade de “investir contra um dos principais móveis ideológicos do pensamento ocidental: a discriminação e a exclusão”. (op. cit.). Tal questionamento necessário e legítimo dos intelectuais negros, de forma geral, certamente leva a discussão para questões mais amplas, uma vez que o espaço restrito ocupado e reservado ao negro na sociedade brasileira fica em evidência. Assim, em torno dessa questão, temas como alfabetização, 1 Doutoranda em Letras, Estudos Literários, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Juiz de Fora, MG, Brasil. Agência de Fomento: Capes. E-mail: [email protected] 2 Este artigo representa um recorte de uma discussão mais ampla que será apresentada quando da defesa da tese Intelectuais negras: prosa negro-brasileira contemporânea, que se encontra em andamento, orientada pela Profª. Dra. Márcia de Almeida, no Programa de Pós-graduação em Letras-Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

INTELECTUAIS NEGRAS: PROSA NEGRO-BRASILEIRA … · 1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN

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    Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

    INTELECTUAIS NEGRAS: PROSA NEGRO-BRASILEIRA CONTEMPORNEA

    Mirian Cristina dos Santos1

    Resumo: Objetivando discutir o papel da mulher negra enquanto intelectual engajada na luta pela

    transformao da sociedade brasileira, a partir de narrativas afro-brasileiras contemporneas, esta

    apresentao tem como corpus os livros Becos da Memria (2006) e Mulher Mat(r)iz (2011), das

    escritoras Conceio Evaristo e Miriam Alves, respectivamente. Para isso, analisarei, os textos das

    escritoras supracitadas a partir de questes sobre o pblico e o privado (PISCITELLI, 2005),

    polticas do cotidiano (hooks, 1995), o papel do intelectual (SAID, 2005) e, mais

    especificamente, sobre a intelectual negro-brasileira (SOUZA, 2010).

    Palavras-chave: Intelectuais negras. Conceio Evaristo. Miriam Alves.

    Ao pensar a intelectual negra, a partir de narrativas de escritoras negro-brasileiras, h que se

    considerar reflexes acerca da noo de intelectual2. Edward Said (2005), ao refletir sobre as facetas

    do intelectual, aponta que: A questo central para mim, penso, o fato de o intelectual ser um

    indivduo dotado de uma vocao para representar, dar corpo e articular uma mensagem, um ponto

    de vista, uma atitude, filosofia ou opinio para (e tambm por) um pblico (SAID, 2005, p. 25).

    Sendo assim, o intelectual pode ser considerado um sujeito que assume para si responsabilidades

    para com os outros, a partir da produo de conhecimentos.

    Atualmente h alguns trabalhos esparsos sobre os intelectuais negros no Brasil. Em

    proporo ainda menor, algumas consideraes acerca da intelectual negra j comeam a ser

    observadas. Nessas anlises so pontuadas reivindicaes desse grupo para a insero na sociedade

    brasileira: Desejam produzir, circular e legitimar-se no campo dos saberes ligados tradio

    ocidental e, por outro lado, produzir, fazer circular pensamentos que evidenciem uma viso crtica

    desses saberes (SOUZA, 2010, p. 184). Ainda de acordo com Florentina Souza, essa luta por um

    lugar no espao cultural brasileiro leva a uma necessidade de investir contra um dos principais

    mveis ideolgicos do pensamento ocidental: a discriminao e a excluso. (op. cit.). Tal

    questionamento necessrio e legtimo dos intelectuais negros, de forma geral, certamente leva a

    discusso para questes mais amplas, uma vez que o espao restrito ocupado e reservado ao negro na

    sociedade brasileira fica em evidncia. Assim, em torno dessa questo, temas como alfabetizao,

    1 Doutoranda em Letras, Estudos Literrios, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Juiz de Fora, MG, Brasil. Agncia de Fomento: Capes. E-mail: [email protected]

    2 Este artigo representa um recorte de uma discusso mais ampla que ser apresentada quando da defesa da tese Intelectuais negras: prosa negro-brasileira contempornea, que se encontra em andamento, orientada pela Prof. Dra. Mrcia de Almeida, no Programa

    de Ps-graduao em Letras-Estudos Literrios da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

    mailto:[email protected]
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    emprego, moradia, representao, violncia e autorepresentao afloram na literatura negro-

    brasileira.

    Em seus livros, Conceio Evaristo e Miriam Alves abordam as principais demandas da

    mulher negra na contemporaneidade, do visibilidade s culturas africanas e afro-brasileiras,

    denunciam a condio marginalizada e subalternizada do negro e fazem da literatura negra escrita

    por mulheres local de fora, resistncia, afirmao e denncia. Sendo assim, objetivando discutir o

    papel da mulher negra enquanto intelectual engajada na luta pela transformao da sociedade

    brasileira, a partir de narrativas negro-brasileiras contemporneas, este artigo tem como corpus os

    livros Becos da Memria (2006) e Mulher Mat(r)iz (2011), das escritoras supracitadas. Para isso,

    observarei o texto literrio dessas escritoras enquanto espao de luta por participao e

    transformao poltico-social.

    Fernanda Figueiredo (2009), ao analisar contos dos Cadernos Negros, observa como a

    violncia, em suas diferentes nuances, se faz recorrente nas narrativas, fato tambm observado em

    Becos da memria e Mulher Mat(r)iz. De acordo com a pesquisadora, as cenas, personagens e

    enredos carregam a dor e a amargura entrelaadas s malhas do texto, num movimento constante,

    revelando as marcas que o preconceito deixa na histria individual (p. 44). Tais fatos, bastante

    pertinentes, revelam, atravs do texto literrio, a realidade vivida por milhares de brasileiros, que

    carregam a mancha de sculos de escravido.

    Consoante uma proposta de anlise das referidas obras, lembro o lema da luta feminista por

    emancipao, de que o pessoal poltico. Diante dessa ampliao da discusso sobre o pblico e

    o privado, poltica passava a envolver qualquer relao de poder, independentemente de estar, ou

    no, relacionada com a esfera pblica (PISCITELLI, 2005, p. 47). Assim, para essa leitura,

    considerarei a importncia de repensar os espaos privados, juntamente com suas implicaes nas

    experincias de mulheres negras. Nessa perspectiva, devido a questes socioculturais, histricas e

    de formao, a produo da mulher negra intelectual tambm est no acmulo de tudo que ouviu e

    viveu (DUARTE, 2010, p. 231). nesse aspecto que a associao entre a intelectual negra e a

    poltica do cotidiano, proposta por hooks (1995), se faz pertinente, uma vez que a escrita na

    literatura negra no se d dissociada da realidade.

    Conceio Evaristo: pelas malhas da violncia

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    Becos da Memria, publicado em 2006, traz luz o cotidiano de pessoas que vivem em uma

    favela. As personagens dessa narrativa vivem margem da sociedade: empregadas domsticas,

    diaristas, prostitutas, pedreiros, ex-escravos, lavadeiras, desempregados. Na narrativa de Conceio

    Evaristo, as violncias so muitas, e as mulheres, por vezes, so as maiores vtimas de inmeras

    agresses. Nesse processo, olhos e ouvidos testemunham barbaridades, e nem sempre a interveno

    de terceiros suficiente para modificar a realidade. Nessa trilha pelo cotidiano das pessoas da

    favela, o espao privado da menina Fuizinha aparece permeado pelas violncias fsicas e de gnero.

    A me da menina, passiva e temerosa (EVARISTO, 2006, p.75)3, apanha at a morte.

    Ao relembrar Fiuzinha, Maria-Nova aponta me e filha como vtimas da misria do homem:

    Um tipo de misria que nem o amor de pessoas como V Rita, como Bondade e como Negro

    Alrio, que chegou ali bem mais tarde, podia resolver (BM, p. 74). Isto , embora vrias pessoas

    tentem intervir, a humilhao e a violncia persistem naquele barraco.

    O pai, Fuinha conversava, andava, falava, trabalhava normalmente. Aparecia no armazm

    de seu Ladislau, [...] bebia uns goles de pinga, falava e at ria um pouco para alguns (BM, p. 75),

    comportamento tpico de um homem comum. Fuinha desconta as frustraes cotidianas naquelas

    que possuem menos fora. Apesar de o seu nome estar no diminutivo, dentro de seu barraco esse

    homem torna-se grande e mostra para todos, mediante a escuta de gritos das mulheres, a potncia

    de sua masculinidade. Pode-se observar que este tipo de violncia sofrida pela personagem

    Fuizinha, que aparece-nos nos mais diversos meios tnicos, sociais, religiosos e culturais em geral,

    constitui uma forma de dominao ou de imposio do poder da parte agressora sobre a

    vitimizada (CANTERA, 2007 apud SOUZA, 2011, p.134, grifos da autora), estabelecendo-se

    tambm como uma opresso etria.

    Nesse processo, considera-se que trazer para a literatura a representao da violncia contra

    mulheres negras torna-se necessrio, uma vez que a recorrncia da violncia faz parte da realidade

    de muitas mulheres brasileiras. Consoante isso, Conceio Evaristo faz da literatura territrio de

    denncia desse grave e recorrente problema social. Dessa forma, escrita de dentro (e fora) do

    espao marginalizado, a obra contaminada da angstia coletiva, testemunha a banalizao do mal,

    da morte, a opresso de classe, gnero e etnia (DUARTE, 2010, p. 233). E nesse espao que,

    assim como Fuizinha e sua me, Custdia tambm se apresenta como vtima da violncia

    domstica. No entanto, diferentemente daquelas, que so agredidas por um homem, esta por vezes

    sofre com agresses fsicas da sogra, especialmente quando se encontra grvida.

    3 Doravante o texto ser referenciado como BM, seguido do nmero da pgina.

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    Acerca dessa relao conflituosa, seguem alguns apontamentos. De acordo com Saffioti,

    apesar de o vetor mais amplamente difundido da violncia de gnero caminha[r] no sentido

    homem contra mulher (SAFFIOTI, 2015, p. 75, grifo da autora), a violncia de gnero tambm

    pode ser praticada por um homem contra outro ou por uma mulher contra outra. Em vertente

    semelhante, a pesquisadora Snia Maria Arajo Couto entende a violncia domstica como

    masculina, no importando o sexo do agressor, pois corresponde ao esteretipo de

    macho/dominador que considera que da condio natural que os grandes oprimam os pequenos

    (COUTO, 2005, p. 25). Nesse sentido, a violncia familiar, compreendida na violncia de gnero,

    engloba todos os membros da famlia.

    Mediante declaraes acerca da violncia sofrida, Custdia apresenta-se como uma mulher

    aparentemente conformada com a vida que tem, relevando at mesmo o problema de alcoolismo do

    marido. Neste percurso, o alcoolismo constante perdoado devido s dificuldades do cotidiano.

    Tonho bebia o cansao da semana anterior e o cansao da semana posterior. Bebia pelo msero

    salrio. Bebia pelas compras, os quilinhos de arroz quebradinho, o feijo duro que era preciso pr

    de molho, o acar que era regado durante toda a semana (BM, p. 79). No entanto, o vcio do

    marido tambm justificado pela presena da me, que, na manuteno do controle, invalida a

    masculinidade do filho: Tambm, ele ali ajudaria to pouco!... Se a sogra ainda no existisse,

    talvez fizesse alguma coisa. Por que o Tonho deixava que a me mandasse tanto nele? (BM, p. 78).

    O questionamento acerca da relao de Dona Santinha e Tonho sinaliza um desejo de mudana,

    principalmente porque Custdia, por delegao, tambm faz parte dessa cadeia de controle.

    O nome da sogra, Dona Santinha, tambm deve ser observado. Aos olhos de Custdia, a

    mulher que vive sempre rezando e com a Bblia na mo no pode ser a responsvel pela morte de

    seu filho, ainda no ventre: Custdia apanhava da sogra, que gritava como se fosse Tonho o

    agressor (BM, p. 80). Conforme a narrativa, a sogra figura-se ainda mais cruel quando se observa

    que ela aproveita-se da situao em que Tonho chega bbado para bater em Custdia, e livrar-se do

    neto indesejado.

    No momento da mudana, a mulher violentada ainda sofre hemorragia: Custdia no

    entendia por que Dona Santinha fizera aquilo (BM, p. 80). No entanto, embora se admita o

    requinte de crueldade da situao, percebe-se que, diante da vida difcil que levam, ainda mais

    considerando o processo de desfavelizao, mais uma criana sinaliza mais dificuldades, mais

    faltas, mais misria. Principalmente quando se leva em conta que Tonho tambm bebe pela

    frustrao em no poder realizar os pequenos desejos dos quatro filhos: Sonhos to pobres, mas

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    que ele no podia realizar. Uma semana ou outra, em vez de beber, eram doces e biscoitos que ele

    levava para casa. Ento ficava de garganta seca, engolindo o dio que tinha da vida. Eram os piores

    dias (BM, p. 79). Talvez, a ao de Dona Santinha embora questionvel do ponto de vista

    religioso, j que se aprecia a vida como um bem maior, e essa no uma atitude esperada de

    algum que anda com a Bblia na mo possa ser interpretada como uma tentativa de amenizar o

    sofrimento do filho. Nesse processo, as reflexes da professora e pesquisadora Constncia Lima

    Duarte sobre as narrativas de Evaristo tornam-se pertinentes: A autora pontua poeticamente

    mesmo as passagens mais brutais, e cada personagem tem a conscincia de pertencimento a um

    grupo social oprimido, e traz na pele a cor da excluso (DUARTE, 2010, p. 230). Assim, a histria

    de Custdia, mais do que a soma de mais uma narrativa de violncia na favela, ou de uma ttica de

    esterilizao da mulher negra, ou ainda da perversidade de uma mulher que carrega a Bblia, pode

    ser entendida como uma atitude desesperada de uma mulher-negra-me, que revela a personagem

    de Dona Santinha, consciente das precrias condies de sobrevivncia da maioria dos negros

    brasileiros, para suavizar o sofrimento do filho.

    Ainda sobre a violncia constante sofrida pelas moradoras da favela, a personagem Ditinha

    aparece enquanto vtima das violncias tnica, fsica e social, ao ocupar um ambiente fora da favela,

    ainda que esse espao ainda fosse o privado. Essa mulher mora junto com os filhos, o pai paraltico

    e a irm prostituta. A misria e a solido para cuidar das coisas prticas da vida so companheiras

    constantes nos dois pequenos cmodos do barraco. Assim como a maior parte das mulheres negras,

    Ditinha empregada domstica. Na casa grande, bairro nobre onde trabalha, os elogios da patroa

    so para o trabalho da empregada, que sente o contraste entre ela e a patroa: Como D. Laura era

    bonita! Muito alta, loira, com os olhos da cor daquela pedra de joias. [...] Olhando e admirando a

    beleza de D. Laura, Ditinha se sentiu mais feia ainda (BM, p. 94). mediante comparaes entre

    as duas mulheres que se d o embate entre suas casas e aparncias, j que a ideia de bonito ligada ao

    consumismo e ao branqueamento perpassa o discurso: o bairro nobre e a favela, a casa e o barraco,

    uma bonita e a outra feia.

    Ao ocuparem o mesmo ambiente, Ditinha sente-se incomodada: Olhou-se no espelho e

    sentiu-se to feia, mais feia do que normalmente se sentia (BM, p. 93). A moa nem sequer se

    permite a hiptese de possuir as joias, sapatos e roupas da patroa, visto que no possui boa

    aparncia: E se eu tivesse vestidos e sapatos e soubesse arrumar os meus cabelos? (Ditinha

    detestava o cabelo dela). Mesmo assim eu no assentaria com essas joias (BM, p. 93). Os

    esteretipos de mulher feia, favelada, que no sabe se vestir, nem mesmo se tivesse os desejados

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    produtos de consumo, fazem Ditinha se sentir como uma mulher submissa e incapaz. Ento, um

    impulso, um furto, uma ao inconsciente no sabe sequer o que fazer com a joia leva-a para a

    priso, um outro espao perifrico tambm relegado principalmente para a populao negra: E a

    vergonha?! Ela j tinha tanta vergonha de Dona Laura. Julgava a patroa to limpa, ela to suja. E

    agora, ainda por cima, ladra (BM, p. 111). Em virtude do acontecido, Ditinha amargar sete

    meses no presdio de onde retorna inerte, culpada, sem nimo para recomear a vida, e sem

    coragem para enfrentar o olhar dos outros (SCHMIDT, 2010, p. 211). Nesse processo, uma

    mistura de culpa e medo o estopim para desencadear uma srie de cobranas, que sustentam o

    sentimento de fracasso.

    Enfim, trazer o corpo negro para a literatura brasileira enquanto proposta poltica requer

    revisitar de forma crtica histrias das diferenas e das desigualdades, a exemplo da representao

    das personagens Fiuzinha, Custdia e Ditinha ainda pode-se lembrar das personagens Outra,

    Cidinha-Cidoca e Fil Gazognia, todas vtimas de uma espcie de violncia social , para sinalizar

    um projeto de mudana, a partir da construo de uma nova histria, permeada pela constatao da

    dura realidade vivida, mas marcada pelo desejo de transformao dessa mesma realidade.

    Miriam Alves: outras violncias

    Na coletnea de contos Mulher Mat(r)iz (2011), de Miriam Alves, das onze narrativas

    reunidas, a violncia atravessa pelo menos nove delas. Mesmo quando ela no aparece enquanto

    principal elemento ou de forma explcita, ela tangencia temas centrais e se insere no desenrolar das

    histrias. No conto Um s gole, atravs de um surto de conscincia da narradora-personagem,

    tem-se acesso aos danos causados pela violncia do racismo. Em meio a reflexes sobre suas

    angstias e pensamentos suicidas, a narradora relembra o racismo sofrido na infncia, o que teria

    desencadeado a vontade do no-viver.

    Pela ocasio do Natal, Ergos faria representar o nascimento de Jesus. Na escolha das

    personagens, eu escolhi ser Maria. Foi um riso s. Ria Ergos. Riam os meus colegas, menos

    o Joozinho, que queria ser Jos Carpinteiro. Fiquei olhando todos, magoada, sem entender.

    Ergos tentou convencer-me a fazer a camponesa No, dizia eu. Afinal, tinha me sado

    bem no papel anterior. Os risos aumentavam de intensidade. Diante de minha obstinao,

    Ergos disse: - Maria no pode ser da sua cor. Chorei. Lgrimas corriam entrecortadas por

    soluos. Isto fazia a hilaridade da crianada que improvisava o coro: - Maria no preta,

    Nossa Senhora. Maria no preta, me de Jesus (ALVES, 2011, p. 82)4.

    4 Doravante o texto ser referenciado como MM, seguido do nmero da pgina.

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    Percebe-se que Maria Pretinha, ao ocupar o espao pblico, a escola, se depara com as

    consequncias da escravido. A menina negra, personagem ideal para representar a escrava

    humilhada, no se encaixa no papel de Maria, me de Jesus. De acordo com as lembranas da

    moa, foi a partir da que ela comeou a ausentar-se de [si] (op. cit., p. 82). Assim, ferida pelo

    racismo, a narradora, ainda criana, j comea a sofrer os traumas advindos do preconceito. Trauma

    este que a acompanhar, rumo margem, ao longo de sua vida: Afastei-me para nunca mais

    voltar (op. cit.).

    Um s gole passa-se predominantemente nas margens do rio ftido, lugar relegado

    narradora personagem. Os meus ps levam-me sem rumo, como sempre. O que importam os

    rumos? Num estalo de segundo, percebi que eu estava margeando o rio Mandaqui, andando numa

    marcha abobalhada, de l para c, daqui para l (MM, p. 80). Contudo, esse (no)lugar vivido por

    Maria Pretinha bastante sintomtico na narrativa, uma vez que, conforme apontado pela

    professora Regina Dalcastagn (2012), ao observar o espao urbano na literatura brasileira

    contempornea, para essas pessoas, ocupar um espao sinnimo de se contentar com os restos

    as favelas, a periferia, os bairros decadentes, os prdios em runas. Mesmo o trnsito por

    determinados lugares e ruas lhes vetado (2012, p. 120). Sendo assim, de fato, o espao da cidade

    acaba se consolidando enquanto territrio de segregao (op. cit.), onde a mulher negra fadada

    margem, pobreza, submisso.

    J em outra narrativa da coletnea, Alice est morta, a mulher negra nela representada no

    consegue livrar-se dos percalos cotidianos: tomava grandes porres de esperanas que a deixava

    aturdida quando a bebedeira passava (MM, p. 37). Neste texto, diferentemente dos demais, o ento

    companheiro de Alice quem narra seus descompassos. A moa, que se embriagava de esperana,

    fumando estranhos cigarros de crena [,] dopava-se (MM, p. 38) mesmo antes de ir morar com o

    narrador. Ele, desquitado h anos, com mulher e filhos espalhados neste mundo de Deus, tratava-a

    como amiga (op. cit.). Ambos trabalhavam fora e tentavam lidar com a nova relao. Relao essa

    descrita como de mtua dependncia.

    O conto fala de amor, de dor, de cuidado e de morte. A narrativa comea e termina da

    mesma forma, o narrador com Alice, semelhante boneca negra de pano (MM, p. 37), no cho, nos

    braos, no colo. Ao discutir as principais nuances desse texto, o reconhecimento do prprio

    narrador da adorao que ele sente pela moa faz-se importante, uma vez que naquela mesma noite

    ele mata-a. Nesse processo, considerando que a literatura escrita por mulheres negras

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    constantemente revisita a histria ficcionalizando as vivncias da populao negra, principalmente

    , o assassinato do ente querido pode ser interpretado enquanto prova de amor ou empatia pela

    situao vivida, visto que a morte pode ser interpretada como privao do martrio. apegado a isso

    que o narrador-personagem justifica o assassinato de Alice:

    Comeou a esmurrar-me. Exigia suas alegrias de volta. Arranhou-me o rosto na altura da

    barba recm escanhoada. Doeu. Doeu mais no ter o que ela pedia. No havia nem pra

    mim. O poo estava seco. Tinha apenas para continuar acordando, dormindo, trabalhando,

    tomando cerveja nos dias de pagamento (MM, p. 40).

    No entanto, embora haja a possibilidade por mim escolhida de aproximar literatura e aluso

    histrica para justificar a escolha do narrador, no se pode deixar de destacar o comportamento

    machista do narrador-personagem ao decidir o destino da moa, mesmo considerando uma dita

    inteno boa de acabar com o sofrimento da mesma. Nota-se que a relao saudvel e ideal

    enquanto Alice no impe nenhuma condio: era o meu par perfeito. No exigia nada (MM, p.

    38). Nesse sentido, a escolha do ttulo, Alice est morta, aponta para uma corrente interpretativa

    que j estabelece o (no)lugar da moa na histria: Ela resmungava e choramingava. Queria vida.

    Ser que ela sabia o que isto significava? (MM, p. 39). Mais uma vez, a fala do homem paternal

    vem indicar um caminho, nesse caso, apontando a morte como opo.

    Dessa forma, percebe-se que a escritora Miriam Alves denuncia a situao precria vivida

    por mulheres negras atravs da literatura. Assim, nos contos supracitados, a violncia atravessa os

    espaos pblicos e privados ocupados por essas mulheres. De forma que o racismo aparece

    enquanto causa e elemento desencadeador da narrativa, no texto Um s gole, ou tangenciando-a,

    em Alice est morta, quando nos deparamos com a violncia simblica vivenciada no cotidiano

    de mulheres negras, que procuram recursos em bebidas alcolicas, nos cigarros ou nas drogas como

    forma de suprir a carncia, a depresso ou o preterimento.

    A violncia do racismo, respaldada por um racismo brasileira5, atravessa outros contos de

    Mulher Mat(r)iz, por exemplo, Os Olhos verdes de Esmeralda. Nessa narrativa, as personagens

    so agredidas fsica e emocionalmente tambm em virtude de sua condio tnica. Nesse sentido, o

    trecho um processo correndo sem testemunhas (MM, p. 69), fechamento do texto, denuncia a

    fragilidade da lei: s so consideradas discriminatrias atitudes preconceituosas tomadas em

    pblico. Atos privados ou ofensas de carter pessoal no so imputveis, mesmo porque

    5 De acordo com a pesquisadora Lilia Moritz Schwarcz (2012), Tudo indica que estamos diante de um tipo particular de racismo,

    um racismo silencioso e sem cara que se esconde por trs de uma suposta garantia da universalidade e da igualdade das leis, e que

    lana para o terreno do privado o jogo da discriminao (p. 182).

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    precisariam de testemunha para a confirmao (SCHWARCZ, 2012, p. 209). Salvo ressalva que as

    moas foram agredidas no espao pblico, esse aspecto tambm se aproxima de Um s gole.

    Contudo, testemunhas no so suficientes para denunciar a violncia sofrida, uma vez que, nas

    narrativas, essas tambm so coniventes com o racismo.

    Em A cega e a negra uma fbula, Miriam Alves mais uma vez traz a mesma denncia.

    Aqui, o racismo brasileira mais argucioso, no confronta o sujeito negro diretamente, mas se

    vale de estratgias sutis para selecionar ou restringir o acesso desse a determinados espaos.

    justamente a partir da percepo de tais restries que a personagem Ceclia questiona: No

    entendia por que as portas giratrias no giravam na sua vez de adentrar o recinto. Passou a no

    portar mais bolsa, somente o necessrio nos bolsos. Mesmo assim, l vinha a voz do segurana:

    Tem chave? Guarda-chuva? Celular? Moedas? Objetos metlicos? (MM, p. 33). No texto, a unio

    de Ceclia, mulher negra, com Flora, deficiente visual, faz-se potente no combate ao racismo,

    sobretudo, porque se subentende que Flora seja rica, logo, Ceclia livrava-se das travas das portas

    do mundo. Os porteiros e seguranas, com salamaleques, abriam as portas, envoltos em sentimentos

    de piedade e puxa-saquismo (MM, p. 35).

    Fechando a coletnea, o conto Brincadeira volta a trazer a violncia do racismo como

    foco. Nessa narrativa, diferentemente das demais, a vtima reage brincadeira racista e faz justia

    com as prprias mos.

    Zinho resolveu ignorar e seguir em frente. No queria se atrasar para a aula. Os maiores

    cercaram-lhe o caminho, derrubando-o. Livros e cadernos espalhados no cho da rua

    enlameada. O esforo do seu Raimundo coberto de lama vermelha. Zinho no mediu

    tamanho nem idade. Atingiu um deles na perna, derrubando-o. Continuou fazendo justia.

    Empunhava a lei. Batia. Batia. Batia, ignorando os gritos vindos do cho. Os outros

    tentaram apazigu-lo: Ei, menino, brincadeira (MM, p. 87).

    Brincadeira, texto curto, de longo flego, incomoda e aponta a violncia das brincadeiras

    racistas. Joo, o menino inteligente, que sabia o peso das responsabilidades em relao aos sonhos

    da famlia, bate e mata, cobrando de seus agressores o suor do pai para comprar o material escolar.

    Mas, ao mesmo tempo, o sangue de seu algoz tingia o material escolar novinho, melando o sonho

    de Joo, Raimundo e Josefa (MM, p. 87), e impingindo Joo, o Zinho, garoto inteligente, rosto

    negro e mido, sorriso brilhante, portador de uma felicidade infantil, a uma espcie de morte

    social (Cf., Cruz, 2010).

    bastante sintomtico observar que o ltimo conto da coleo apresenta a violncia do

    racismo levada s ltimas consequncias. Uma leitura possvel denuncia o quanto o racismo

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    perverso, roubando sonhos e transformando vtimas em algozes. Nesse sentido, ao aproximar essa

    representao a um realismo social, questiona-se quantos meninos negros, menores infratores, no

    carregam consigo as consequncias de uma brincadeira racista, sendo condenados pela sociedade

    mesmo antes de crescerem plenamente.

    Logo, percebe-se que nos contos supracitados o preconceito racial atravessa as narrativas

    negro-brasileiras que trazem a representao das possveis consequncias advindas dessa violncia.

    A escrita ser, portanto, um espao de resistncia, a literatura afro-brasileira abrir caminhos

    dantes obliterados pelos preconceitos, lanando mo da crtica e reflexo como substratos

    (FIGUEIREDO, 2009, p. 103). Para isso, a escritora e intelectual Miriam Alves faz da escrita negra

    instrumento de reivindicao e denncia, afinal, conforme afirmado pela autora em entrevista, a

    ao de militante maior de um escritor escrever, produzir textos [...]. Escrever uma ao

    poltica (ALVES, 2016, p. 175).

    Consideraes finais

    Tratando-se especificamente da mulher intelectual negra, bell hooks afirma que os trabalhos

    das mulheres so raramente reconhecidos como atividades intelectuais, uma vez que, quando se

    pensa em intelectuais negros, quase sempre vida e obras de homens so lembradas, embora as

    mulheres negras tivessem tido um papel importante em suas comunidades, enquanto professoras,

    crticas, entre outros (hooks, 1995). A pesquisadora ainda associa trabalho intelectual e poltica do

    cotidiano, pois seria por meio do conhecimento que a intelectual entenderia a sua realidade e o

    mundo a sua volta (p. 466). Dessa forma, nota-se essa aproximao entre a atividade intelectual e a

    realidade do seu grupo condizente com anlises da produo de mulheres negras brasileiras na

    atualidade, j que constantemente as diversas violncias do cotidiano, bem como suas vivncias, se

    fazem presentes.

    Em Becos da Memria, de Conceio Evaristo, constri-se uma memria coletiva de uma

    localidade em crise, ao se narrar histrias de submisso, opresso e violncia tnica, etria, de

    gnero e de classe, como de Fuizinha, Custdia e Ditinha, e a narradora-personagem Maria-Nova

    percebe que outra histria possvel, mas para isso ser necessrio (re)contar a histria e (re)nascer,

    mediante a construo de uma nova histria, permeada pela constatao da dura realidade vivida,

    mas marcada pelo desejo de transformao dessa mesma realidade.

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    J em Mulher Mat(r)iz, de Miriam Alves, considerando alguns contos da coletnea Olhos

    Verdes de Esmeralda, Um s gole, Xeque-mate, A cega e a Negra, Alice est morta ,

    sintomtico o espao predestinado s mulheres: Maria Pretinha passa a maior parte da narrativa s

    margens de um rio ftido; Alice jogada ainda viva em uma ribanceira usada como lixo e desova

    de presunto de polcia (MM, p. 40); Irene, Marina e Esmeralda tm seus corpos violados, enquanto

    Ceclia luta para destravar todas as portas do preconceito. Nessas representaes possvel

    empreender a denncia do corpo negro, principalmente o feminino, tido como sujo e violado, por

    isso ocupando o espao das margens ou da submisso, o que denuncia uma (des)ordem social que

    enquadra o (no)lugar da mulher negra na sociedade.

    Nessa perspectiva, ao pensar a mulher negra intelectual na contemporaneidade, Conceio

    Evaristo e Miriam Alves carecem ser consideradas, uma vez que a literatura afrofeminina aqui

    apresentada funciona como um lugar para repensar uma realidade social em crise e, ainda mais, atua

    como espao de reflexo para problematizar as relaes sociais e culturais assimtricas e inquas

    que tm perpetuado divises de gnero e tnico-sociais ao longo da histria do Brasil.

    Referncias

    ALVES, Miriam. Mulher Mat(r)iz. Belo Horizonte: Nadyala, 2011.

    ALVES, Miriam. Entrevista. In: DUKE, Dawn. A Escritora Afro-Brasileira: ativismo e arte

    literria. Belo Horizonte: Namdyala, 2016, p. 171-179.

    COUTO, Sonia Maria Arajo. A violncia e a agressividade. In: COUTO, Snia. Violncia

    domstica uma nova interveno teraputica. Belo Horizonte: Autntica/FCH-FUMEC, 2005, p.

    21-30.

    CRUZ, Adlcio de Sousa. Trs vises literrias da violncia: Clarice Lispector, Conceio Evaristo

    e Patrcia Melo. In: Fazendo Gnero 9- Disporas, Diversidades, Deslocamentos, 2010, p. 1-10.

    DALCASTAGN, Regina. Literatura brasileira contempornea: um territrio contestado.

    Vinhedo: Editora Horizonte, 2012.

    DUARTE, Constncia Lima. Gnero e Violncia na literatura afro-brasileira. In: DUARTE,

    Constncia Lima; DUARTE, Eduardo de Assis; ALEXANDRE, Marcos Antnio (Orgs.). Falas do

    Outro: Literatura, gnero, etnicidade. Belo Horizonte: Nadyala; NEIA, 2010, p. 226-233.

    EVARISTO, Conceio. Becos da memria. Belo Horizonte: Mazza Edies, 2006.

    FIGUEIREDO, Fernanda Rodrigues de. A mulher negra nos Cadernos Negros: autoria e

    representaes. Dissertao de Metrado ao Programa de Ps-Graduao em letras. Belo Horizonte:

    Faculdade de Letras da UFMG, 2009.

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    hooks, bell. Intelectuais Negras. Trad. Marcos Santarrita. In: Estudos feministas, ano 3, n.2, p.464-

    478, 1995. Disponvel em: .

    Acesso em 30 de maio de 2015.

    PISCITELLI, Adriana. Reflexes em torno do gnero e do feminismo. In: COSTA, Claudia de

    Lima; SCHIMIDT, Simone Pereira (Orgs). Poticas e Polticas feministas. Florianpolis: Ed.

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    SAFFIOT, Heleieth. Gnero, Patriarcado, Violncia. So Paulo: Expresso Popular: Fundao

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    SAID, Edward W. Representaes do intelectual: as conferncias Reith de 1993. Traduo Miltom

    Hatoum. So Paulo: Companhia das Letras, 2005.

    SCHMIDT, Simone Pereira. Sobre favelas e musseques. In: IPOTESI. Juiz de Fora, v. 14, n.2, p.

    207-214, jul./dez., 2010. Disponvel em:

    . Acesso em

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    SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrrio: cor e raa na intimidade.

    In:______. (org.) Histria da Vida Privada no Brasil: Contrastes da intimidade contempornea. So

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    SOUZA, Adriana Soares de. Costurando um tempo no outro: vozes femininas tecendo memrias

    no romance de Conceio Evaristo. Dissertao de Mestrado apresentada ao programa de Ps-

    graduao em Literatura. Santa Catarina: 2011.

    SOUZA, Florentina. Autorrepresentao e interveno cultural em textualidades afro-brasileiras. In:

    Revista da ABPN, v. 1, n. 2, julho-outubro de 2010, p. 183-194. Disponvel em: <

    https://abpn1.websiteseguro.com/Revista/index.php/edicoes/article/view/88/66> Acesso em 10 de

    junho de 2015.

    Black woman intellectuals: contemporary black-brazilian prose

    Astract: Aiming to discuss the role of the black woman as an intellectual, engaged in the struggle

    for the transformation of Brazilian society, this presentation has as corpus the contemporary afro-

    brazilian women narratives Becos da Memria (2006) and Mulher Mat(r)iz (2011), by Conceio

    Evaristo and Miriam Alves, respectively. For this, I will analyze the texts of these women writers,

    dealing with questions like "the public and the private" (PISCITELLI, 2005), "everyday politics"

    (hooks, 1995), "the role of the intellectual (SAID, 2005), and, more specifically, about the black-

    brazilian woman intellectuals (SOUZA, 2010).

    Keywords: Black woman intellectuals. Conceio Evaristo. Miriam Alves.